Festival Fringe transforma-se em atentado à língua portuguesa. Tente decifrar o programa cultural centrais
executivo promete medidas para evitar falência dos investidores menos informados página 8
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Director carlos morais josé • sexta-feira 22 de outubro de 2010 • ANO X • Nº 2235
Amélia António e Leonel Alves | Críticas a Ho Chio Meng e Sam Hou Fai
Exercício teórico e subversão A importação casuística de mecanismos e princípios da Common Law aplicada em Hong Kong seria “subverter o sistema judicial local e criar uma manta de retalhos que não funcionaria”, afirmou ao Hoje Macau a advogada Amélia António. Leonel Alves, por seu lado, considera que essa importação de medidas avulsas “iria perturbar o edifício jurídico existente” e classifica este tipo de hipóteses como um “mero exercício teórico, na ânsia de encontrar soluções para simplificar os problemas existentes”. >página 4
Macau recebe exposição inédita do arquitecto brasileiro no próximo ano
Nunca se viu Niemeyer assim Página 11
Democratas
Contagem decrescente para habitação pública • P.5
Inflação
Bens essenciais mais caros • P. 7
Futebol
Sporting diz adeus à Bolinha • P.10
Urbanismo
32 milhões para planeamento dos novos aterros • Última
MIF
É agora que os artistas vão • P.6
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actual
China nega embargo à exportação de minerais de terras raras
Torneira mantém-se aberta O Ministério do Comércio da China desmentiu ontem uma reportagem segundo a qual Pequim teria embargado a exportação de terras raras aos Estados Unidos e à Europa. Ao desmentir a alegação, o ministério assegurou que a China “continuará a fornecer terras raras para o mundo”. De acordo com o ministério, as reportagens veiculadas pela imprensa sobre o embargo são “falsas” e “sem fundamento”. A China é responsável por 97% da produção mundial de minerais de terras raras, um conjunto de substâncias de ampla aplicação nas indústrias militar e de alta tecnologia. O uso das terras raras por essas indústrias vai da construção de painéis solares e turbinas eólicas à de mísseis teleguiados. O jornal norte-americano New York Times noticiou anteontem na sua página na Internet que, semanas depois de ter embargado a exportação de terras raras ao Japão, a China teria passado a aplicar a suspensão também aos compradores nos EUA e na Europa. O periódico norte-americano cita fontes anó-
nimas para informar que autoridades alfandegárias chinesas começaram a impor as restrições na manhã da última segunda-feira, depois de semanas de atrasos na entrega de alguns carregamentos de terras raras para o Ocidente. A revelação veio à tona no mesmo dia em que a imprensa chinesa noticiou que Pequim planeia reduzir as quotas de exportação de minerais de terras raras em 2011. De acordo com empresas de carga, empresas de exportação e compradores desses minerais, a alfândega chinesa tem examinado mais detalhadamente os carregamentos destinados à exportação, normalmente a alegar como motivo a intenção de reprimir o comércio ilegal de minerais de terras raras. Mark A. Smith, executivo-chefe da Molycorp, maior produtora de terras raras dos Estados Unidos, não demonstrou preocupação com a aparente suspensão das exportações, mas observou que a estratégia chinesa de limitar as exportações expõe a necessidade de se buscar fornecedores alternativos das matérias-primas. pub
Em Berlim, o ministro da Economia da Alemanha, Rainer Bruederle, disse ontem que o gabinete de governo do país aprovou uma nova estratégia com o objectivo de desenvolver parcerias com outros países produtores de minerais de terras raras, informa a agência Associated Press. Ainda segundo o ministro, a Alemanha também colocará o tema em debate nas próximas reuniões do Grupo dos Oito (G-8, composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia) e do Grupo dos 20 (G-20, que reúne as nações mais industrializadas e as principais potências emergentes do mundo).
O MAIOR CENSO DO PLANETA
Toca a contar A China vai contar a sua população entre 1 e 10 de Novembro, num censo de porta-a-porta que se realiza uma vez por década e que mobilizará este ano cerca de seis milhões de pessoas. No último censo, em 2000, a China tinha 1.265.830.000 habitantes, mas 1,8% da população (quase 23 milhões) não foi contabilizada, disse ontem o director do departamento de demografia do Instituto Nacional Estatísticas, Feng Nailin. Pela primeira vez, serão também abrangidos os estrangeiros e os “compatriotas de Hong Kong, Macau e Taiwan”. Cada recenseador será responsável por “um bloco de 250 a 300 pessoas”, através de mais de 300 cidades e 680 mil aldeias, indicou Feng Nailin. Segundo o mesmo responsável, a operação está orçada em oito mil milhões de yuans e os resultados vão demorar um ano a processar. As “maiores dificuldades” dizem respeito aos trabalhadores
migrantes, estimados em cerca de 200 milhões, e ao “receio” de muitas famílias de serem multadas se declararem a existência de um segundo filho, reconheceu o responsável. Em Julho passado, a ministra Li Bin, directora da Comissão Nacional da População e Planeamento Familiar, estimou que em 2015 a China chegará aos 1400 milhões – mais 80 milhões que no final de 2008 – e, pela primeira vez, a maioria viverá em cidades. Nos primeiros 30 anos de governo comunista, até ao final da década de 1970, a população quase triplicou, para cerca de mil milhões, mas o crescimento caiu 40 por cento com a política de “um casal, um filho”, imposta em 1980. Pelas estimativas do Instituto de Estatísticas da China, no final de 2009, o país tinha cerca de 1340 milhões de habitantes mais de um quinto de toda a Humanidade.
Crescimento chinês abranda
A economia chinesa cresceu 9,6% no terceiro trimestre de 2010, um abrandamento de 1,5 pontos em relação à média do primeiro semestre do ano, anunciou ontem o Instituto Nacional de Estatísticas da China. Um porta-voz do Instituto atribuiu o abrandamento à redução dos efeitos dos estímulos ao crescimento lançados pelo governo após a crise financeira de 2008, mas salientou que “de um modo geral, o desempenho económico é bom”. Entre Julho e Setembro, o PIB chinês cresceu 9,6% em relação a igual período de 2009, abaixo do crescimento no primeiro e segundo trimestres do ano (11,9% e 10,3%, respectivamente).
Indústria Produção cresce 16,3%
O Ministério da Economia chinês divulgou ontem que a produção industrial cresceu 16,3% no período entre Janeiro e Setembro, em comparação com o mesmo intervalo do ano passado. A informação foi divulgada pelo ministro da Indústria e Tecnologia da Informação, Li Yizhong, em comunicado. O documento não detalhou dados somente do mês de Setembro. Analistas consultados numa pesquisa da agência Reuters previam alta de 13,6% em Setembro sobre igual mês de 2009. Nos primeiros oito meses do ano, a indústria apresentou crescimento de 16,6%, sendo que apenas no mês de Agosto teve alta de 13,9% na comparação anual. A produção industrial deve fechar o ano com crescimento de mais de 13%, segundo o ministro Li.
Economia Inflação sobe a pique
O índice chinês de preços no consumidor, um dos principais indicadores da inflação, subiu em Setembro 3,6%, o valor mais alto dos últimos 23 meses, anunciou ontem o Instituto Nacional de Estatística da China. Com a subida de 0,6 pontos percentuais registada em relação a Agosto, a média da inflação desde o início do ano atingiu os 2,9%, ameaçando a meta de “cerca de 3%” fixada pelo governo para 2010. Ao mesmo tempo, as vendas a retalho de bens de consumo nos primeiros nove meses do ano aumentaram 18,3% em relação a igual período de 2009. Trata-se de um importante indicador do consumo interno, cujo aumento está a ser incentivado pelo governo para compensar o declínio das exportações.
O FIMM que, se calhar, nunca foi, agora foi-se. Perdeu definitivamente a identidade e as características que deveriam ser próprias. A sua programação enche o olho com a ópera, mas os critérios de escolha de artistas e etc. ficaram bem à mostra. Ao invés de servir os interesses da população e de Macau, serve claramente outros. Carlos Morais José, P.22
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EUA e China não se entendem quanto ao Prémio Nobel
munições chinesas em Darfur em análise
Os EUA e a China têm uma “divergência fundamental” sobre o caso do dissidente Liu Xiaobo, prémio Nobel da Paz de 2010, afirmou ontem em Pequim o procurador-geral norteamericano, Eric Holder. Holder disse que mencionou o caso de Liu Xiaobo durante a visita ao país, depois de ter afirmado na
A China qualificou de infundadas as informações da ONU sobre o suposto uso de munições de fabricação chinesa em Darfur contra os soldados responsáveis pela manutenção da paz. “É inconveniente que a comissão referida emita em seu relatório anual acusações infundadas contra Estados membros com base em informações não confirmadas”, declarou a porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Ma Zhaoxu. “Pedimos à comissão que seja objectiva e responsável”, completou. A China tenta vetar a publicação de um relatório das Nações Unidas que afirma que munição de fabricação chinesa foi utilizada em Darfur contra os soldados que integram a força de manutenção de paz,
Uma divergência chamada Liu terça-feira que não tinha certeza se abordaria a questão do vencedor do Nobel em Pequim. “A questão foi abordada. É um tema no qual os Estados Unidos e a China têm uma divergência fundamental”, declarou Holder em conferencia de imprensa concedida no segundo dia da sua visita a Pequim.
Liu Xiaobo, detido numa prisão na região nordeste da China, é o primeiro cidadão do país a receber o Nobel da Paz. O intelectual de 54 anos cumpre pena de 11 anos de prisão por ter sido um dos autores da “Carta 08”, um texto que defendia uma China democrática.
Mais tensões nas ilhas Diaoyu
Batalha naval A China voltou a enviar barcos de patrulha às imediações do arquipélago disputado por Tóquio e Pequim, após a crise diplomática entre os dois países devido à apreensão
de um pesqueiro chinês na área, informou ontem a imprensa japonesa. Estas ilhas desabitadas, conhecidas como Senkaku no Japão e Diaoyu na China, são admi-
As balas da discórdia
nistradas por Tóquio, mas China e Taiwan também reivindicam soberania sobre o território. No começo de Setembro, a apreensão do barco chinês pela Guarda
Costeira japonesa perto do arquipélago, no Mar da China Oriental, desencadeou um grave atrito diplomático entre os dois países. Ontem, a agência de notícias japonesa Jiji informou que a China enviou uma patrulha para a região com a missão de “proteger os direitos legítimos dos pescadores chineses”.
informou ontem uma fonte diplomática em Nova Iorque. A comissão de sanções do Conselho de Segurança da ONU reuniu-se na quarta-feira para abordar o documento. O grupo supervisiona o embargo sobre armas imposto em Darfur, localidade do oeste do Sudão que é cenário de uma guerra civil desde 2003. “A China aplicou as resoluções do Conselho de Segurança da ONU contra o Sudão de maneira séria e precisa”, completou a porta-voz. A China, um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, com direito a veto, mantém relações privilegiadas com o Sudão, principal destino dos investimentos chineses na África e terceiro parceiro comercial de Pequim no continente.
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NOTIFICAÇÃO EDITAL (Reparação voluntária)
N.º 266/2010
Raimundo Vizeu Bento, Chefe do Departamento de Inspecção do Trabalho, manda que se proceda, nos termos do n.º 2 do artigo 50.º do Decreto-Lei n.º 24/89/M, de 3 de Abril conjugado com o artigo 58.º e o n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, à notificação de Zeng Guanming, entidade empregadora do estabelecimento “ORIENTAL VIP CLUB (ORIENTAL)”, sita na Avenida da Amizade, n.os 956-1110, HOTEL GRAND LAPA, 3.º andar, Macau, para no prazo de 10 (dez) dias, a contar do 1.º dia útil seguinte ao da publicação dos presentes éditos, proceder à regularização voluntária do conflito laboral do processo n.º 1643/2008, instaurado pelo Departamento de Inspecção do Trabalho, proveniente da reclamação apresentada nestes Serviços pela trabalhadora CHAN HENG LAN e relativamente à matéria de descanso anual. A notificação para reparação voluntária e o mapa de apuramento das quantias em dívidas à trabalhadora no valor total de Mop$11.997,00 deverão ser levantados, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Inspecção do Trabalho (DIT), sito na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.os 221-279, Edf. Advance Plaza, 1.º andar, Macau, e é facultado a consulta do processo em causa instruído por estes Serviços. Decorridos o prazo, sem que tenha sido dado cumprimento à presente notificação, seguir-se-á a tramitação da fase coerciva através do levantamento de auto de notícia. Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais – Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 15 de Outubro de 2010.
O Chefe de Departamento
Raimundo Vizeu Bento
NOTIFICAÇÃO EDITAL N.º 267/2010 (Solicitação de Comparência do Trabalhador)
Nos termos das alíneas b) do n.º 1 do artigo 6.º do Regulamento da Inspecção do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 60/89/M, de 18 de Setembro, conjugado com o artigo 58.º e n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica-se CHEANG WA, para no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do primeiro dia útil seguinte à da publicação dos presentes éditos, comparecer no Departamento de Inspecção do Trabalho, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.os 221 a 279, Edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, Macau, a fim de prestar declarações no processo n.º 6221/2009, proveniente do acidente de trabalho ocorrido em 14 de Agosto de 2009, em que o notificado foi vítima. Mais se comunica que nos termos da alínea a), n.º 2 do artigo 103.º do aludido Código, o procedimento é extinto quando por causa imputável ao notificando este esteja parado por mais de seis meses. Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais – Departamento da Inspecção do Trabalho, aos 13 de Outubro de 2010.
A Chefe do Departamento,
Raimundo Vizeu Bento
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4 hojemacau@yahoo.com
De recordar que, naqueles discursos, tanto o procurador da RAEM, Ho Chio Meng, como o presidente do Tribunal de Última Instância, Sam Hou Fai, sugeriram que fossem aplicadas em Macau mecanismos, práticas e normas específicas da Common Law de HK, nomeadamente em matéria de Processo Penal. De entre as ideias avançadas, destacam-se a transferência para as autoridades policiais do poder de deduzir acusação após a investigação, que é actualmente uma competência exclusiva do Ministério Público. Outra proposta concreta seria a concessão de autorização para que os próprios bancos-credores de hipotecas sobre imóveis procedessem às diligências e à execução das hastas públicas para liquidação das dívidas, em vez de serem os tribunais a dirigir e autorizar todo o processo. Saliente-se ainda que o procurador Ho Chio Meng afirmou que “o trabalho mais árduo será a instilação do espírito e conteúdo próprios da cultura jurídica de Macau nos sistemas vazios transplantados, porque não há nenhum sistema de sociedade que pode mostrar vitalidade sem que reflicta a sua própria cultura local”.
Discursos do procurador da RAEM e presidente do TUI em foco
Manta de retalhos
Amélia António, ex-dirigente da Associação de Advogados, e o deputado da Assembleia Legislativa Leonel Alves discordam abertamente das principais propostas avançadas por Ho Chio Meng e Sam Hou Fai nos seus discursos durante a cerimónia de abertura do Ano Judicial, na quarta-feira. António Falcão | bloomland.cn
Paulo Reis
Política
O que diz a Lei Básica
Matriz
Mas para Amélia António, “não há nenhum sistema jurídico vazio em Macau, há sim um sistema cuja matriz é o Direito português e cujo conteúdo foi, ao longo de muitos anos, desenvolvido e adaptado de forma a poder ser melhor aplicado e resolver as questões e problemas locais”, disse a advogada ao Hoje Macau. “Esse conteúdo, a experiência das pessoas, os estudos e os trabalhos feitos nessa área, tudo isso é que é, de facto, a cultura jurídica de Macau”. Querer “importar” seja o que for para preencher o tal alegado vazio do sistema jurídico local é uma contradição com a Lei Básica, que diz claramente que o actual sistema judicial se deve manter inalterado, afirmou ao Hoje Macau a advogada.
pela AL, e que garante o direito à assistência de um advogado, a qualquer pessoa que seja questionada pelas autoridades policiais, independentemente de o seu estatuto ser o de testemunha, suspeito ou mero declarante: “Esta é a ‘pedra de toque’ da cultura jurídica local e um princípio que tem que ser desenvolvido”, salientou. Quanto à possibilidade de alterações do Processo Penal, o deputado lembra que “é preciso muito diálogo e esse diálogo tem que ser travado entre especialistas”. “Quando se fala de Processo Penal, é algo complexo. Quanto ao Código Penal, qualquer pessoa se pode pronunciar, por aí, trata-se de um questão em que todos podem ter opinião, tem um fundo mais ou menos filosófico. No Processo Penal, o diálogo tem que ser entre especialistas e tem que se encontrar um consenso”, com o objectivo “de se encontrarem soluções que melhorem o sistema e concretizem o que está definido na Lei Básica”.
“Podemos olhar para outros lados e ver qual a melhor solução encontrada para problemas que também enfrentamos, aprender e escolher os caminhos mais adequados”, acrescentou. “Mas importar soluções parciais, de sistemas estranhos, é subverter o nosso sistema e criar uma manta de retalhos que não funcionaria”. Leonel Alves, por seu
lado, diz “interpretar” as referências de Ho Chio Meng “num sentido evolutivo” e como “um apelo” para que se trabalhe em prol da evolução e desenvolvimento do quadro jurídico local, lembrando que nenhum sistema pode ser estático ou intocável. “Passados quase dez anos após a transição, será talvez o momento para parar, pensar e ver que
alterações podem ser introduzidas para melhorar o funcionamento do sistema”, acrescentou. “Mas não estou a dizer que isso signifique a substituição do sistema em vigor, só se houvesse algo melhor aqui perto”, salientou Leonel Alves. Exercício teórico
Quanto à ideia de trazer para o Processo Penal as práticas
da Common Law de Hong Kong, o deputado à Assembleia Legislativa tem uma opinião muito clara sobre a razão desta proposta: “Acho que se trata de um exercício meramente teórico, na ânsia de encontrar soluções para simplificar os problemas existentes”. Nesta matéria, Leonel Alves lembrou a lei aprovada há cerca de um ano,
As referência da mini-constituição de Macau acerca da manutenção dos princípios, bases e filosofia do actual sistema judicial, plasmadas da Declaração Conjunta LusoChinesa, são bem explícitas. Depois de se referir, no artigo 5º, que “na Região Administrativa Especial de Macau não se aplicam o sistema e as políticas socialistas, mantendo-se inalterados durante cinquenta anos o sistema capitalista e a maneira de viver anteriormente existentes”, a Lei Básica vai mais longe e adianta, no artigo 11.º: “De acordo com o artigo 31.º da Constituição da República Popular da China, os sistemas e políticas aplicados na Região Administrativa Especial de Macau, incluindo os sistemas social e económico, o sistema de garantia dos direitos e liberdades fundamentais dos seus residentes, os sistemas executivo, legislativo e judicial, bem como as políticas com eles relacionadas, baseiamse nas disposições desta Lei. Nenhuma lei, decreto-lei, regulamento administrativo ou acto normativo da Região Administrativa Especial de Macau pode contrariar esta Lei.”
Instituto de Acção Social já tem presidente Depois de ontem ter sido oficializada a saída de Ip Peng Kin da presidência do Instituto de Acção Social (IAS) a partir do dia 1 de Novembro, já se sabe quem ficará temporariamente incumbido de liderar o organismo. Iong Kong Io, vice-presidente, assume interinamente as funções pelo prazo de um ano, segundo informações confirmadas por Cheong U, secretários para os Assuntos Sociais e Cultura, à Rádio Macau. Ip Keng Kin deixa o IAS para presidir o Conselho de Administração do Fundo de Segurança Social, após a saída de Fung Ping Kuen, que vai agora ser subdirector do Centro de Estudos de cultura Sino-Ocidental do Instituto Politécnico.
Democratas lançam “countdown” da habitação pública
Anda hoje à roda António Falcão
hojemacau@yahoo.com
É mais uma actividade da associação Novo Macau Democrático (NMD), que vai desta vez para o ar à porta da sua sede na zona norte da cidade. Lançado online no mês transacto o countdown da habitação pública vai ter agora uma versão em “carne e osso” que irá deixar cair, um a um, os dias até ao ano 2012, altura em que o sino irá tocar aos ouvidos do Executivo como termo para a promessa governamental de erguer 19 mil apartamentos de habitação pública. “Os chineses gostam muito de countdowns”, explica Jason Chao, o jovem presidente do NMD, apontado o exemplo dos Jogos Olímpicos em Pequim, em que um destes aparelhos ficou pub
sediado na Praça de Tiananmen à espera que o evento se iniciasse marcando a “ocasião importante”. Esta é uma forma de colocar nas folhas do calendário dos residentes de Macau a tenção do Governo. “Funciona como uma lembrança de criar uma sensação diária nos habitantes [da zona norte da cidade]”, esclarece Jason. Mas o presidente do NMD assegura que o acontecimento “não tem a intenção de fazer pressão ao Governo” - quer apenas deixar claro que as promessas são para cumprir, deixando uma “ideia positiva”. Paralelamente, o NMD lança também o seu projecto “Governo da Juventude na Sombra”, que tem como objectivo encorajar os jovens locais na participação cívica e
política. “Queremos criar uma plataforma onde os jovens se possam expressar”, define Jason Chao. Na finalidade de escrutinar a população mais jovem, “entre os 16 e os 25 anos”, os democratas alargam assim o seu campo de acção para a informação das suas políticas. Alertar a juventude para a exposição nos meios de comunicação social e para uma linha de intervenção na sociedade são alguns dos esclarecimentos que a associação, que têm a maior fatia no elenco de deputados eleitos da Assembleia Legislativa, quer promover nos adolescentes. “Gostávamos de os ouvir e esperar que eles possam contribuir com as suas ideias.” O objectivo do NMD é, como sempre, “criar uma sociedade mais transparente e mais aberta”.
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Novo Macau Democrático pede liberdade de imprensa
Tudo por causa de Ava Gonçalo Lobo Pinheiro hojemacau@yahoo.com
A Associação Novo Macau entregou ontem de manhã um documento em que apela ao Governo que tenha mão na TDM. O acto foi realizado à porta da sede do Governo, onde três representantes da associação liderada por Jason Chao entregaram à segurança da portaria um documento com três itens. A carta apela à liberdade de imprensa e, a grosso modo, à necessidade de reestruturação dos quadros da TDM ao nível da sua administração. “É necessária a reforma dos administradores da empresa. Têm tido um comportamento muito pouco profissional”,
disse Jason Chao no final do acto. Para a associação, o “caso Ava” é um exemplo de “vingança contra os jornalistas. “Ajornalista que foi suspensa é o bode expiatório para todos os outros jornalistas. É certo que ela gravou conversas não autorizadas, mas não podemos tolerar o comportamento inadequado por parte da TDM”, afirmou Chao. O líder dos democratas acusou a administração da empresa de radiodifusão, o director e a chefe de redacção da informação em chinês de terem forjado um depoimento na resposta à interpelação feita pelo deputado Paul Chan Wai Chi, acerca das gravações efectuadas por Ava Chan
sem consentimento da fonte. No entanto, já se sabe, que essa fonte negou ter feito tal queixa à TDM. O presidente da Novo Macau acredita que “o Governo deve entrar em acção rapidamente, pois tem total controlo sobre a TDM desde 2005, pela sua quota máxima de acções, e neste momento são os pressupostos de liberdade de imprensa que começam a estar em causa”. Chao defende ainda que num futuro o melhor para a Teledifusão de Macau é que a sua administração seja escolhida por recrutamento e não por indigitação e que quem for recrutado deve ter experiência efectiva na área da comunicação social.
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sociedade
MIF garante desenvolvimento das indústrias culturais no seu primeiro dia
Artistas com um pé nos negócios Gonçalo Lobo Pinheiro
Gonçalo Lobo Pinheiro hojemacau@yahoo.com
ministro defende mais cooperação com Portugal
O livro que veio de Malaca
Gonçalo Lobo Pinheiro
energias renováveis”, disse o ministro português. António Serrano vincou que Macau será sempre uma porta privilegiada de entrada no mercado chinês. “Queremos continuar a aprofundar os laços com a China. Portugal tem qualidade no agro-alimentar e acho que esse é um mercado que queremos explorar na China”, referiu. Ta m b é m J a c k s o n Chang, presidente do Instituto de Promoção
do Comércio e do Investimento (IPIM), defendeu que “Macau pode transformar-se, se assim os governantes quiserem, num centro mundial de turismo e lazer e, ao mesmo tempo, plataforma regional de serviços económicos e comerciais”. Chang disse ainda que o território “continuará a desenvolver a cooperação económica e o intercâmbio com o exterior e a valer-se das novas oportunidades surgidas”. – G.L.P.
que procuraram desenvolver cooperações e agarrar oportunidades. Negócio é a palavra de ordem. Durante a cerimónia de abertura oficial, o secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, afirmou que “Macau torna-se, cada vez mais, um destino predilecto dos investidores”, mostrando-se “ilimitadas as oportunidades de negócio que irão surgir no território e na região onde está inserido”. A presença lusa no certame tem vindo a ser menor nas últimas edições, mas Portugal mantém o seu pavilhão no evento, onde este ano se promovem quatro empresas do sector agroalimentar - Casa Angola Internacional, Next Factor, Riberalves e Quinta do Pinto. Em 2009, 15 empresas representaram o país. A MIF decorre até domingo no Venetian, apresentando 1400 stands de 760 expositores do mundo inteiro.
Tendências para todos os gostos no 1º Festival de Moda
Glamour e casual na passerelle Viram-se roupas para todos os gostos e feitios. Umas mais clássicas outras mais informais e casuais, mas todas criativas e chiques. O desfile de ontem, realizado pela primeira vez no âmbito da Feira Internacional de Macau (MIF), mostrou criações de nove estilistas de Macau: Akina Lee, Carla Brito, Fanny Lan, Kitty Ng, San Lee, Stella Tang, Venessa Cheah, Wanda Sousa e Youko Chan. Com vista a impulsionar o desenvolvimento dos sectores de design e de vestuário de Macau e apoiar os estilistas locais à sua internacionalização, este novo evento conta com passagens de modelos diárias, instalação de zona de exposição de mostruários e organização de bolsas de contactos para o sector do vestuário. “Vamos continuar a intensificar a cooperação com os operadores das indústrias culturais e criativas de Macau e apoiar com maior intensidade o desenvolvimento destas indústrias, no seu processo de rumo à internacionalização”, disse Irene Lau antes do início da mostra. – G.L.P.
Gonçalo Lobo Pinheiro
O ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas português, António Serrano, recebeu um livro sobre o património português de Malaca. A oferta, feita por uma desconhecida, aconteceu ontem durante o Fórum Internacional Económico e Internacional que paralelamente decorre com a Feira Internacional de Macau (MIF). O responsável da pasta da agricultura de Portugal sentiu-se lisonjeado com tal oferta que agradeceu amavelmente. Antes disso, António Serrano, defendeu que “Portugal pode ajudar Macau em matéria de turismo de qualidade”. “Acho que Portugal tem ‘background’ suficiente para ajudar Macau em questões ligadas ao turismo e ao lazer. Podemos, em cooperação, ajudar o território a desenvolver-se de modo sustentável, pois Portugal é uma referência mundial em matéria de ambiente e
A Feira Internacional de Macau (MIF) abriu ontem as suas portas com uma série de bolsas de negócio agendadas entre artistas locais e investidores, que podem vir a revelar-se um bem precioso para o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas. Cheong U, secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, garantiu que o Governo está a apostar em grande no sector cultural, como uma forma de diversificação da economia. “A diversificação da economia é uma das políticas do Governo e, nesse sentido, pretendemos desenvolver as indústrias culturais”, afirmou, em declarações aos jornalistas. “O Instituto Cultural está também a aperfeiçoar as políticas de apoio aos artistas e associações locais”, acrescentou. As indústrias criativas, pela primeira vez represen-
tadas em pavilhão, tiveram um especial destaque nesta edição da MIF - cerca de 20 associações culturais de Macau - com a equipa de Ung Vai Meng e do Instituto Cultural (IC) a elaborar um espaço próprio que integra os mais variados exemplos do brilho criativo de Macau. O Pavilhão Criativo de Macau é uma réplica de uma casa “tulou”, típica do povo Hakka que se pode encontrar em províncias chinesas como Guangdong. Facto que tem marcado as acções do IC, de onde se realça a recente participação numa feira cultural em Hangzhou, dando asas à itinerância do seu pavilhão criativo. Este é um esforço que vem sendo fomentado para o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas locais promovendo os seus produtos e marcas junto do público. No seu primeiro dia, a MIF esteve repleta de visitantes profissionais
Autoridades apanham 64 trabalhadores ilegais De acordo com dados estatísticos do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) e da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) relativos ao combate de trabalhadores ilegais durante o mês de Setembro, nas diversas operações efectuadas foram fiscalizados 367 locais, nos quais foram encontrados 64 trabalhadores ilegais. As operações de fiscalização foram efectuadas individualmente e em conjunto, concentrando-se na maior parte dos casos em obras de construção civil, estabelecimentos comerciais e residências.
Uma subida de quase 4% no Índice de Preços no Consumidor (IPC) referente ao mês passado – em comparação com o mesmo período no ano anterior – foi registada pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos. O IPC geral atingiu em Setembro o nível 104,66 e o aumento de 3,83% fica a dever-se sobretudo à ascensão dos preços de produtos alimentares e bebidas não alcoólicas, vestuário e calçado, e produtos e serviços diversos. A roupa e os sapatos foram os artigos que tiveram uma maior subida de preços (8,40%); seguidos de “produtos e serviços diversos” (6,82%); saúde (5,78%); produtos alimentares e bebidas não alcoólicas (5,09%); recreação e cultura (4,68%); e transportes (4,56%). Ao pormenor, os artigos em que mais se notou a subida foram o vestuário para homem e o calçado feminino; os artigos de joalharia em pub
Preços ao consumidor aumentam quase 4% em Setembro
Sobe sobe, inflação, sobe ouro; os produtos frescos do mar; os produtos hortícolas; a gasolina; os bilhetes de avião e as excursões turísticas ao exterior; os serviços médicos; e as refeições adquiridas fora de casa. A registar há ainda uma subida nos preços relativos à educação – mais 1,29% no mês em análise, face ao período homólogo do ano passado – devido sobretudo ao aumento das propinas das escolas. Em sentido contrário, esteve apenas o sector da comunicação, cujo índice de preços caiu 3,6% em comparação com Setembro de 2009, graças à descida dos preços no serviço de telemóveis.
O aumento dos preços dos produtos levou o secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, a assumir ontem o compromisso de que o Governo estará atento à subida da taxa de inflação e de que irá lançar “em tempo adequado” medidas para aliviar as dificuldades dos cidadãos. Tam revelou ainda, citado pelo Gabinete para a Comunicação Social (GCS), que na noite do dia 19, o Banco Popular da China (BPC) anunciou a subida da taxa básica de juros de 0,25% nos depósitos e
empréstimos das instituições financeiras, em yuans, a partir do dia 20. O secretário disse acreditar que esta medida terá efeitos positivos no controlo do mercado imobiliário e da inflação. Seja como for, a tendência para a subida do IPC geral é evidente, seja qual for o período de tempo escolhido para comparação. Em relação ao mês anterior, o índice subiu 0,27%; no treceiro trimestre
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de 2010, o IPC geral aumentou 3,11% em relação ao trimestre homólogo de 2009; nos primeiros nove meses do ano, o índice médio do IPC geral dilatou-se 2,43% face ao mesmo período em 2009; e nos 12 meses terminados no mês de referência, em relação aos 12 meses imediatamente anteriores, o índice cresceu 1,78%. O IPC geral, com o novo período base deAbril de 2008 a Março de 2009, permite conhecer a influência da variação de preços na generalidade
da população de Macau. Citado uma vez mais pelo GCS, Francis Tam admitiu não ter dúvidas de que o aumento contínuo dos preços e o alto nível da taxa de inflação afectavam directamente a vida dos residentes.
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sociedade
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Polícia Judiciária anda à procura de investigadores A Polícia Judiciária de Macau já conseguiu contratar 1365 profissionais em diversas áreas, mas ainda continua à procura de mais 500 para ter a organização a funcionar à velocidade de cruzeiro. A maior lacuna prende-se aos postos de investigadores, profissão que requer formação de mais de um ano e que não tem despertado interesse aos candidatos. Ainda assim, os responsáveis da PJ acreditam que em cinco anos vão conseguir ter uma equipa mais recheada, a pensar em investigações não só em casos a envolver residentes do território, mas também os mais de 20 milhões de turistas que por cá passam todos os anos.
Novas medidas para proteger investidores a serem lançadas no próximo mês
Impedir novo naufrágio Kahon Chan
hojemacau@yahoo.com
As pessoas que investiram num tipo de notas de crédito conhecido pela designação em inglês “Octave Notes” (em chinês, utiliza-se uma expressão traduzível como "títulos inteligentes"), que perderam todo o seu valor como consequência indirecta da crise do “Subprime” em 2008, temem que o mesmo se possa passar com outras séries de notas semelhantes. A Autoridade Monetária de Macau (AMM) garante que continuam a ser feitos esforços para “acompanhar” os casos e que novas medidas a adoptar a partir de 1 de Novembro deverão provavelmente colocar os investidores menos informados numa posição menos frágil. Já passaram seis meses desde que os investidores ficaram a saber que as séries 21 e 22 das “Octave Notes” tinham passado a valer zero. Esses tacticamente embalados investimentos derivados de retorno fixo foram vendidos de forma maciça como se fossem obrigações convencionais de crédito ligadas à China, mas na verdade eram assegurados por valores mobiliários complexos e “títulos subjacentes” não convencionais, incluindo de corporações desmoronadas com a crise do “Subprime” como Lehman Brothers, Freddiemac e Fanniemae. Os instrumentos financeiros que “sustentavam” as notas de crédito não valiam um avo em Fevereiro
deste ano, quando o gigante banco de investimento Morgan Stanley os colocou à venda para determinar o valor residual. Onze investidores e os seus representantes, que chamaram o produto posto à venda de um autêntico “embuste” para tirar vantagem do patriotismo das pessoas de Macau com aquele produto emitido em Hong Kong, estiveram reunidos na terça-feira, numa conferência de imprensa em que deram conta dos últimos desenvolvimentos. Já antes tinham sido recebidos por Francis Tam, secretário para a Economia e Finanças, a 29 de Setembro, num encontro em que Tam pediu aos investidores que “interrompessem os protestos por
enquanto” para estabelecer um prazo até 31 de Outubro para que o banco ICBC (Macau) propusesse uma solução. Na segunda semana de Outubro, foram arranjadas reuniões em separado com alguns investidores envolvidos em menores quantidades de investimento e com um dos grandes investidores. Àqueles foi oferecido um pacote de compensação de 70% sob condições que incluíam um acordo confidencial, o compromisso de não processarem o banco e o levantamento permanente de qualquer futura campanha de “Octave Notes”. A oferta iria expirar uma semana após a primeira proposta. O investidor que tinha aplicado
uma percentagem considerável das suas poupanças nas notas de crédito, no entanto, não recebeu nenhuma proposta. De acordo com uma declaração do grupo de investidores, ter-lhe-á sido dito que o maior banco do mundo (o ICBC China) não iria infringir a lei, estando todos os documentos aprovados por advogados, pelo que o investidor estaria à vontade para apresentar queixa à PJ se tivesse alguma prova do contrário. A ver navios
A maioria dos 27 queixosos, contudo, não foi ainda contactada pelo banco e planeia estabelecer uma associação semelhante à que foi feita em Hong Kong para os “mi-
nibonds”, em preparação de futura acção legal. O Sr. Fung, que tem um familiar entre os queixosos, disse na quarta-feira ao Hoje Macau que, após uma investigação aprofundada de todas as séries de “Octave Notes”, ficou no ar a suspeita de que os investidores de outras séries poderiam acabar igualmente por perder todo o investimento no final, mesmo que as notas não estejam a ser resgatadas pelo emissor. Com cerca de 270 investidores potencialmente afectados, Fung espera conseguir elevar a preocupação da opinião pública em relação às “Octave Notes” no futuro, com a ajuda dos média. “Trata-se de investidores conservadores e podem perder tudo. Ao contrário dos 'minibonds', penso que há um enorme sentimento de fraude no produto, que pode vir a ser pior.” O ICBC Macau disse na terçafeira à MASTV que os investidores foram perfeitamente informados dos riscos potenciais antes do acordo de compra dos produtos de investimento. O presidente do conselho de administração da AMM, Teng Lin Seng, assegurou que estavam a decorrer negociações com o banco. Além disso, a nova regulamentação para a venda de produtos financeiros entraria em vigor a partir de 1 de Novembro, que irá introduzir a separação física entre as áreas de negócios de investimento e de serviços bancários normais dentro das agências dos bancos, um dispositivo de gravação a ser usado durante a oferta de produtos financeiros, a avaliação completa dos investidores e um período de arrefecimento para uma tomada de decisão ponderada. Teng afirmou que a avaliação do risco era mais importante e que deveria ser dada mais atenção a esse aspecto.
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Anúncio para a aquisição de equipamentos- equipamentos informáticos para Novas Instatações e Residências de Estudantes do Instituto Politécnico de Macau (Concurso Público n.o 01/DOA/2010) Após a reunião de esclarecimento para a aquisição de equipamentos- informáticos para Novas Instalações e Residências de Estudantes do Instituto Politécnico de Macau, existe presentemente disposições mais específicas. Assim, por favor de consultar o webside do Instituto Politécnico de Macau através de www.ipm.edu.mo, ou contacta com a Divisão de Obras e Aquisicões através dos números de telefones 8599 6140 ou 8599 6153.
Macau, aos 21 de Outubro de 2010 O Presidente do IPM Lei Ieong Iok
AVISO
Avisa-se que dada a existência de lapsos na versão portuguesa do aviso sobre a admissão de três técnicos superiores de 2.ª classe (referência n.º 80306/04-TS), publicado nos dias 11 e 12 de Junho de 2009, e a fim de defender os interesses dos candidatos, o mesmo processo de admissão é anulado, sendo os interessados notificados por estes Serviços através de ofício. Aos 22 de Outubro de 2010.
O Director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion
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NOTIFICAÇÃO EDITAL N.º 265/2010 (Solicitação de Comparência do Trabalhador)
NOTIFICAÇÃO EDITAL N.º 268/2010 (Solicitação de Comparência do Empregador)
Nos termos das alíneas b) do n.º 1 do artigo 6.º do Regulamento da Inspecção do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 60/89/M, de 18 de Setembro, conjugado com o artigo 58.º e n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica-se CHAO LENG, ex-trabalhadora residente da sociedade “MELCO CROWN HOSPITALIDADE E SERVIÇOS, LIMITADA”, para no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do primeiro dia útil seguinte à da publicação dos presentes éditos, comparecer no Departamento de Inspecção do Trabalho, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.os 221 a 279, Edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, Macau, a fim de prestar declarações no processo n.º 5660/2009, proveniente do acidente de trabalho ocorrido em 11 de Julho de 2009, em que o notificado foi vítima.
Nos termos das alíneas b) e c) do n.º 1 do artigo 6.º do Regulamento da Inspecção do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 60/89/M, de 18 de Setembro, conjugado com o artigo 58.º e n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica-se o representante legal da sociedade “Companhia de Gestão de Participações Paradigm, Limitada”, sita na Rua de Paris, n.os 107-111, Tai Fung Plaza, R/C, Loja R&Q, Macau, para no prazo de 10 (dez) dias, a contar do 1.º dia útil seguinte à da publicação dos presentes éditos, comparecer no Departamento de Inspecção do Trabalho, sito na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.os 221-279, Edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, Macau, a fim de prestar declarações no processo n.º4268/2010, proveniente da queixa apresentada nestes Serviços em 15/06/2010, pela trabalhadora Loi Si Wai e relativamente à matérias de salários. Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais – Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 20 de Outubro de 2010.
Mais se comunica que nos termos da alínea a), n.º 2 do artigo 103.º do aludido Código, o procedimento é extinto quando por causa imputável ao notificando este esteja parado por mais de seis meses. Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais – Departamento da Inspecção do Trabalho, aos 18 de Outubro de 2010. A Chefe do Departamento, Raimundo Vizeu Bento
NOTIFICAÇÃO EDITAL N.º 269/2010 (Solicitação de Comparência do Empregador) Nos termos das alíneas b) e c) do n.º 1 do artigo 6.º do Regulamento da Inspecção do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 60/89/M, de 18 de Setembro, conjugado com o artigo 58.º e n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica-se o Choi Keng Sang, entidade patronal do Estabelecimento de Comidas Kok Chai Tak Koi Ngau Pa (Kok Chai), sita na Rua Nam Keng, Edf. Lei Seng, n.º 65, LJ.BA RC, para no prazo de 10 (dez) dias, a contar do 1.º dia útil seguinte à da publicação dos presentes éditos, comparecer no Departamento de Inspecção do Trabalho, sito na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.os 221-279, Edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, Macau, a fim de prestar declarações no processo n.º4215/2010, proveniente da queixa apresentada nestes Serviços em 14/06/2010, pela trabalhadora Kou Mei Chok e relativamente às matérias de descanso semanal, descanso anual, feriados obrigatórios e indemnizações rescisórias. Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais – Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 20 de Outubro de 2010. O Chefe de Departamento, Raimundo Vizeu Bento
O Chefe de Departamento, Raimundo Vizeu Bento
NOTIFICAÇÃO EDITAL (Exercício do direito de defesa)
N.º 270/2010
Considerando que não se revela possível notificar, nos termos dos artigos 10.º e 58.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, Chan Hon Kuan, proprietário de “M & J Engineering Consulting Service”, sita na Alameda Dr. Carlos D´Assumpção, n.º 258, Edifício Kin Heng Long Plaza, 17.º andar B, em Macau, pessoalmente, por ofício, telefone, ou outra forma, sobre a matéria acusada pela eventual infracção ao disposto do artigo 3.º e artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 58/93/M, de 18 de Outubro, Raimundo Vizeu Bento, Chefe do Departamento de Inspecção do Trabalho (DIT), manda que se proceda, nos termos do n.º 2 do artigo 11.º do Decreto-Lei n.º 52/99/M, de 4 de Outubro, conjugado com o artigo 94.º do mesmo código, à notificação Chan Hon Kuan, proprietário de “M & J Engineering Consulting Service”, em virtude da referida empresa não efectuou a inscrição do ex-trabalhador Chan Kam Wa ao F.S.S. nem efectuou o pagamento das contribuições durante o período de 19/06/2009 a 22/03/2010, tendo eventualmente cometido infracção ao disposto do n.º 1 do artigo 3.º e do artigo 42.º do Decreto-Lei n.º58/93/M, de 18 de Outubro. Dos factos acima referidos, de acordo com o n.º 1 do artigo 49.º do mesmo decreto-lei, é punido com multa de Mop$200,00 a Mop$1.000,00 por cada trabalhador não inscrito, de acordo com o n.º 2 do artigo 49.º do mesmo decreto-lei, o não pagamento das contribuições decorridos 60 dias após o termo dos prazos previstos no artigo 42.º é punido com multa de Mop$500,00 a metade do valor das contribuições em dívida. Assim, para no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do 1.º dia útil seguinte ao da publicação do presente edital, exercer por escrito o seu direito de defesa. A notificação da acusação em causa pode ser levantada no DIT, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.os 221-279, edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, dentro das horas de expediente, sendo também permitida a consulta do respectivo processo. A falta de apresentação da defesa escrita pelo notificado, dentro do prazo acima referido, implica a elaboração do auto de notícia pelo DIT, remetendo em seguida o auto para o F.S.S. para os seus efeitos legais. Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, aos 18 de Outubro de 2010. O Chefe do Departamento Raimundo Vizeu Bento
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O Sporting Clube de Macau despediu-se ao início da noite de ontem da edição de 2010 do Campeonato da 2ª Divisão da Bolinha, ao não conseguir superar o sete do Toi San Chi Iao em partida a contar para a segunda ronda eliminatória da competição. Num desafio duro, em que o futebol acabou relegado para segundo plano, os leões do território não conseguiram responder com eficácia ao golo madrugador apontado pelos homens do conjunto adversário logo aos quatro minutos. Em vantagem no placard, a formação do Toi San Chi Iao optou por uma táctica de contenção, fechando-se no seu próprio terreno e recorrendo com frequência à falta para travar a progressão dos pupilos de Agostinho Caetano.
Sporting derrotado pelo Toi San Chi Iao por uma bola
Jogo duro abate o leão António mil-homens
Marco Carvalho
desporto
Aos seis minutos, numa altura em que o Sporting já se encontrava em desvantagem no marcador e procurava recuperar margem de mano-
bra, Rui Silva foi derrubado em pleno coração da área do Toi San Chi Iao, depois de ter desviado a bola do alcance do guarda-redes adversário.
O banco do conjunto verde e branco levantou-se de imediato, exigindo em uníssono a marcação da grande penalidade, mas o árbitro da partida fez
Futebol | Benfica já sofreu tantas derrotas como em toda a época passada
Uma somatória de desaires em 12 jogos O Benfica sofreu em Lyon na noite de quarta-feira a sexta derrota nesta temporada – perdeu por 2-0 -, igualando em apenas 12 encontros ofi-
2009-10
51 Jogos 38 Vitórias (74,5%) 7 Empates (13,7%) 6 derrotas (11,8%)
ciais de 2010-11 o número de desaires de toda a temporada passada. Desde o início da época, o Benfica perdeu com o FC Porto (na Supertaça), Académica, Nacional e Vitória de Guimarães (no campeonato português) e Schalke 04 e Lyon (na Liga dos Campeões). A equipa de Jesus fez 12 encontros oficiais na presente
temporada, somando 50% de derrotas e outros 50% de vitórias. Curiosamente, a equipa não regista qualquer empate.
2010-11 12 Jogos 6 Vitórias (50%) 0 Empates 6 Derrotas (50%)
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Na época passada, a equipa de Jorge Jesus apenas foi derrotada por seis vezes em 51 jogos oficiais. Vorskla Poltava, AEK de Atenas e
orelhas moucas aos protestos dos leões do território. A partir de então o desafio evoluiu ao sabor de duas posturas antagónicas, a da insistência do Sporting e da resistência do Toi San Chi Iao, matizado com frequência por lances e entradas duras que deitaram a perder o potencial do encontro. Anormalmente violento, o desafio terminou com ambas as formações reduzidas a seis unidades, depois de Sérgio Gaspar ter visto o cartão vermelho na sequência de uma entrada sobre um adversário ao meio-campo e de um jogador do Toi San Chi Iao ter seguido pelo mesmo
caminho pouco depois, num lance da mesma índole. Sem conseguir quebrar com sucesso a resistência do sete adversário, o Sporting Clube de Macau acabou por não conseguir carimbar a passagem aos oitavos de final da edição de 2010 do Campeonato da 2ª Divisão da Bolinha, igualando o desempenho do sete da Casa do Sport Lisboa e Benfica em Macau. Na terça feira, as águias do território golearam o Hong Lok por cinco bolas a zero, tornando-se na primeira formação de matriz portuguesa a aceder aos oitavos de final da prova. A formação orientada por Rui Cardoso pode ainda ter a companhia do Papa-Tudo na terceira ronda eliminatória do Campeonato da 2ª Divisão da Bolinha, caso a equipasatélite do Sporting consiga vencer o encontro que tem agendado para esta noite.
Liverpool (todas na Liga Europa), Braga e FC Porto (na Liga portuguesa) e Vitória de Guimarães (Taça de Portugal) foram as poucas equipas que conseguiram bater o Benfica na temporada transacta. Ao todo, a equipa de Jesus acumulou 38 vitórias, sete empates e seis derrotas nos 51 jogos de 2009-10.
Sporting recruta adolescente guineense
15 anos e um contrato O futebolista Armindo Bangna, conhecido como Bruma, de 15 anos, vai assinar, na segunda-feira, contrato profissional com o Sporting válido por três anos, disse ontem à agência Lusa fonte do clube de Alvalade. O avançado, que é internacional pelas selecções jovens portuguesas, tem idade de juvenil, mas integra já a equipa de juniores dos “leões”. Em entrevista publicada na quarta-feira no site do clube, o jogador garantiu que o seu sonho “é chegar à equipa principal do Sporting” e minimizou o assédio de clubes como o Chelsea e o Manchester City.
“Isso não é comigo, passa-me ao lado. A mim, o que me interessa e preocupa é trabalhar diariamente para cumprir o sonho de representar a equipa principal do Sporting. Esse é o meu único objectivo”, afirmou Bruma, que está ao serviço dos “leões” há quatro anos. Bruma, de origem guineense, chegou a Alvalade através de Catio Balde, o seu empresário, e admite, na entrevista, que a adaptação não foi fácil. “Para ser sincero a minha adaptação ao Sporting não foi fácil. Vinha de uma realidade muito diferente. Mas, com o passar do tempo, comecei a
adaptar-me à minha nova realidade e agora estou perfeitamente integrado. Vim da Guiné para o Sporting e iniciei uma nova etapa da minha vida”, disse. O avançado elogiou as condições da Academia do clube e garantiu que lhe deram o exemplo do trabalho que Cristiano Ronaldo fazia quando estava na sua situação. “Deram-me o exemplo do trabalho que Cristiano Ronaldo fazia quando estava na minha situação, comecei a ‘imitá-lo’ a esse nível e sinto-me muito feliz pelo resultado do meu trabalho”, afirmou.
cultura Niemeyer chega a Macau com exposição inédita em 2011
Algumas das principais obras 1. Ministério da Educação e Saúde (co-autor, 1936) 2. Obra do Berço (1937) 3. Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova Iorque (1939) 4. Conjunto Arquitectónico da Pampulha (1940) 5. Igreja São Francisco de Assis (1943) 6. Sede das Nações Unidas (co-autor, 1947) 7. Banco Boavista (1948) 8. Casa das Canoas (1952) 9. Parque do Ibirapuera (1954) 10. Igrejinha da 307/308 Sul (1958) 11. Palácio da Alvorada (1960) 12. Palácio do Planalto (1960) 13. Catedral Metropolitana da Nossa Senhora Aparecida (1960) 14. Edifício do Congresso Nacional (1960) 15. Edifício Copan (1966) 16. Mesquita de Argel, na Argélia (1970) 17. Centro Cultural Le Havre, França (1970) 18. Sede do Partido Comunista Francês (1970) 19. Casino do Funchal, Portugal (1976) 20. Casa do Cantador (1986) 21. Terminal Rodoviário de Londrina (1988) 22. Memorial da América Latina (1989) 23. Museu de Arte Contemporânea de Niterói (1996) 24. Museu Oscar Niemeyer (2002) 25. Auditório Ibirapuera (2005) 26. Museu Nacional Honestino Guimarães (2006) 27. Estação Cabo Branco (2008) 28. Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte (2008) 29. Cidade Administrativa de Minas Gerais (2010) 30. Universidade de Música e Arte de Araraquara (2010)
Novinho em folha
Gonçalo Lobo Pinheiro hojemacau@yahoo.com
Maquetas, filmes, esquissos, fotografias, livros e até desenhos originais de Oscar Niemeyer vão chegar ao território no primeiro trimestre de 2011 para uma exposição inédita no Museu de Arte de Macau. “Vamos ter obras originais do arquitecto”, garantiu o comissário da exposição, Rui Leão. O Prémio Pritzker de Arquitectura de 1988, actualmente com 102 anos, por intermédio da sua Fundação e da Universidade de São Paulo vai disponibilizar parte do seu espólio a Macau no sentido de mostrar a “sua forma de estar brasileira” ao povo da RAEM. Segundo o arquitecto Rui Leão, a inauguração está agendada para o segundo trimestre do próximo ano mas ainda não se sabe o dia certo. “Isto é tudo uma questão de logística. Por enquanto, só posso adiantar que o espólio chegará no início do próximo ano, sendo que quando o material estiver todo reunido então vamos criar a exposição”. Organizada pelo Museu de Arte de Macau, pela Fundação para a Pesquisa Ambiental (FUPAM) e pela Universidade de São Paulo (USP), a exposição mostra “uma compreensão das cidades e da vida muito humanitária”, pois a arquitectura de Niemeyer é feita para pessoas que admirem o sentido estético da sua arte como também o seu aspecto prático e funcional.
“Não é o ângulo recto que me atrai, nem a linha recta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein” Oscar Niemeyer A exposição tem como curadores os brasileiros Glauco Campello e Lauro Cavalcanti.Aliás, Campello, que foi presidente do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional do Brasil de 1994 a 1998, chegou a trabalhar directamente com o “pai” de Brasília na construção da capital brasileira e foi responsável pelo projecto de Niemeyer em Milão.
Para Campello, existe a preocupação de transportar a ideia da relação que Niemeyer tem com as coisas e com a sua própria arquitectura. “É de todo o interesse bra-
sileiro divulgar a obra de Niemeyer no Oriente e em especial na China e o Museu de Arte de Macau esteve sempre na linha da frente no apoio à vinda da obra para o território”, afirmou Rui Leão. Não é reposição, é original
A mostra que vai estar no território não é uma reposição de outra qualquer exposição do arquitecto, vai ocupar todo o primeiro andar do museu e é original. Quem o garante é Rui Leão. “É um desejo que vem desde 2003, quando estive no Rio de Janeiro. Sempre quis que acontecesse algo deste género e, para mim, é essencial aproximar Brasil de Macau”. O arquitecto defende, igualmente, que a arquitectura brasileira funciona como instrumento de identidade intencional e isso também tem que acontecer na RAEM. “Penso que o Brasil é
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11 um país com semelhanças a este território”, constatou. Paralelamente à exposição, o Museu de Arte de Macau vai promover workshops e seminários sobre o trabalho de Niemeyer e a arquitectura brasileira. Espera-se a presença de personalidades brasileiras na inauguração do evento, de onde se destaca o reitor da USP, os curadores Glauco Campello e Lauro Cavalcanti e outros arquitectos. Uma coisa é certa, toda a gente pode agora compreender a arquitectura de Niemeyer. “A obra de Oscar não é um fenómeno codificado. É uma chave única. Uma real forma de estar brasileira. Um dia estive no Brasil para assistir a uma palestra de Niemeyer no Centro de Congressos da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Isto aconteceu em 2003. Uma sala repleta de gente para ouvir aquele senhor baixinho e de ponta de cigarro na boca a explicar a história de um edifício enquanto o desenha ao mesmo tempo. Fiquei pasmado. É uma forma sofisticada de ensinar”, enfatizou Rui Leão. Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho nasceu no Rio de Janeiro a 15 de Dezembro de 1907. Formou-se na Universidade do Brasil em 1935 e aos 102 anos ainda está no activo. Trabalhou com o conceituado arquitecto suíço Le Corbusier, no revolucionário desenho do edifício dos Ministérios da Saúde e da Educação brasileiros, que foi concluído em 1936. Entre os muitos edifícios que Niemeyer desenhou estão a igreja de São Francisco de Assis, que tem uma estrutura tão radical que a sua consagração foi atrasada até 1959, embora a igreja tivesse sido terminada em 1943. A originalidade e a imaginação que Niemeyer revelou nos seus trabalhos valeram-lhe uma reputação de líder na arquitectura moderna. Embora altamente variado, o seu trabalho inclui sempre um enorme espaço vazio integrado em formas muito invulgares. Altos edifícios suportados por pilares de betão ou aço caracterizam a obra do arquitecto. Niemeyer foi o mais importante desenhador dos edifícios do Estado em Brasília, a capital do Brasil.
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cultura
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Portugal perde uma das grandes senhoras do teatro A actriz Mariana Rey Monteiro, que estava afastada dos palcos já há algum tempo, morreu ontem, aos 87 anos, disse à agência Lusa uma neta da actriz. O actor Ruy de Carvalho afirmou que Mariana Rey Monteiro “tinha alguns problemas” de saúde, nomeadamente “de vista e artroses”. Nascida em 1922, em Lisboa, filha de Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro, Mariana Rey Monteiro desde cedo se sentiu atraída pelo teatro, representando papéis de destaque em inúmeras peças, merecendo grandes aplausos do público e elogiosas referências da crítica. Ruy de Carvalho lamentou a perda de “uma grande senhora, uma grande actriz e uma grande amiga”.
Pavilhão de Singapura
Uma imagem de mund Tiago Quadros* hojemacau@yahoo.com
Da autoria do atelier de Kay Ngee Tan, o pavilhão de Singapura, denominado de Sinfonia Urbana, apresenta-se como um tributo à harmonia entre culturas. Ao fazer a analogia de uma caixa de música, traduz todo um conjunto de variações que remete para o ritmo próprio de elementos de uma orquestra – os movimentos da água da fonte na praça, o ritmo das fenestrações na fachada, o jogo de sons e imagens nos diferentes pisos, a mistura da flora no jardim da cobertura. Modelador de volumes, Kay Ngee Tan opta por uma escultura que é, simultaneamente, de articulação precisa e de acumulação excessiva. Em movimento de construção e de expansão, a volumetria resulta de uma acção de modelação dos volumes, isto é, de adição de elementos. A água e os jardins são dois elementos que sintetizam o conceito elaborado pelo atelier de Kay Ngee Tan, e que do ponto de vista ambiental têm sido integrados, mantidos e preservados no contexto do crescimento de Singapura. As quatro colunas que sustentam todo o sistema estrutural do pavilhão, distinguem-se em forma e tamanho. Simbolizam as quatro principais raças da cidade-estado a partilharem o mesmo solo. A experiência proposta ao visitante evoca os sentidos. Ao entrar no pavilhão, o visitante é convidado a assistir à projecção de uma série de curtas-metragens. Residentes de Singapura, provenientes de contextos variados, contam as suas histórias, e com elas, vislumbres de fragmentos de vida na cidade
jardim. O segundo piso acolhe três anfiteatros de diferentes tamanhos destinados à promoção de artistas naturais de Singapura. De acordo com a equipa de programadores culturais da representação singapuriana, este espaço tem procurado destacar uma subcultura criativa de Singapura que raramente é observada fora do país. Os pisos superiores surgem em balanço, avançados sobre as quatro colunas. As rampas e escadas de acesso a estes pisos surgem também em consola. Todos os sistemas estruturais foram definidos e implementados pela Arup. Do ponto de vista da climatização, o pavilhão de Singapura apresenta o perímetro da fachada arrefecido por via da utilização da água, tornando o espaço central do
piso de entrada mais confortável, sem que para isso se dependa de um consumo energético massivo. Do ponto de vista dos materiais de construção, tanto a estrutura em aço, como o alumínio utilizado nos painéis que revestem a fachada, serão reciclados após o encerramento da Exposição Universal de Xangai. O pavilhão de Singapura partilha uma praça pública com outros países provenientes da Oceania, podendo ser observado das pontes pedonais que equipam o recinto,
assim como da ponte Lupo, ícone de Xangai que liga a área Este de Pu-Dong, recentemente requalificada, à antiga área Oeste de Pu-Xi. A equipa de projectistas do atelier de Kay Ngee Tan soube tirar partido da implantação do pavilhão de Singapura. A primeira aproximação à praça faz do encontro com a cidade jardim, um surpresa por poucos aguardada. Todavia, a flora, que faz de Singapura uma cidade jardim, está também presente na cobertura do edifício. A realização
da intervenção contou com o apoio do Parque Nacional de Singapura e pode ser contemplada de locais como o topo da ponte Lupo. Ao atingir a cobertura, o visitante é recebido por um exuberante jardim tropical. A diversidade da flora reflecte uma sinfonia olfactiva, visual e auditiva. Na arquitectura de Kay Ngee Tan o pavilhão de Singapura protagoniza a função de uma paisagem humanizada, de um quotidiano onde a arquitectura se exaspera entre uma ideia de comunicação e uma ideia de sedução. Mais do que comunicar, a arquitectura do pavilhão de Singapura aspira a seduzir, aspira a ser uma arquitectura à conquista do espaço. Formado em 1990, o atelier de Kay Ngee Tan desenvolveu inúmeros projectos, de diversas escalas e tipologias. A obra produzida foi, por diversas vezes, reconhecida internacionalmente. A metodologia do atelier, inicialmente sediado em Londres, procura desafiar convenções numa constante busca de novas abordagens adequadas à cultura, clima e geografia da Ásia e da Europa. No ano de 2000 o atelier de Kay Ngee Tan esteve envolvido na proposta vencedora do concurso para a Universidade de Gestão de Singapura. Em 2001 foi uma das doze equipas seleccionadas para projectar habitações unifamiliares
Agora chamem-lhe Lady Paula Rego A pintora portuguesa Paula Rego recebeu a Ordem do Império Britânico com o grau de Dama Oficial pela sua contribuição para as artes. No Palácio de Buckingham, Paula Rego considerou a distinção, que a tornou na quarta pintora a receber o grau de Dama, “uma experiência maravilhosa”. Na cerimónia de investidura, que acontece quatro meses após um primeiro anúncio (a 12 de Junho), para assinalar o aniversário da Rainha Isabel II, a pintora portuguesa considerou o grau de Dama Oficial como “um grande reconhecimento”, mas ressalvou: “Também é bom conseguir vender as obras - demorei tantos anos até conseguir fazê-lo”, disse.
do
para a Comuna na Grande Muralha da China, em Pequim. O projecto foi amplamente difundido em publicações da especialidade, tendo sido distinguido com a medalha de prata da Bienal de Veneza. O atelier de Kay Ngee Tan está actualmente a trabalhar em projectos que vão desde o Japão, à Turquia, passando pela China. A prática conduzida pelo atelier de Kay Ngee Tan traduz-se num trabalho transdisciplinar que coloca em confronto áreas como a arquitectura, o teatro, a literatura, a fotografia, o artesanato e o trabalho de curadoria. É convicção de Kay Ngee Tan que o desenho representa o envolvimento amplo de todas as artes na vida. Exercício de um espectáculo inquietante da vida urbana, a atitudeacção de Kay Ngee Tan é a de uma mecânica cuja actividade parece residir em acontecimentos que se sustentam numa simbólica de um apocalipse mecânico. Kay Ngee Tan percorre, nos objectos-máquinas, a simultaneidade de uma poética da máquina e a sua inevitável futilidade. Ou da imagem revisitada síntese dos mundos? Muito provavelmente a imagem revisitada de uma imagem de mundo. *Arquitecto. Mestre em Cor na Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
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cultura
O Festival Fringe 2010 apresentou-se em bom “pretuguês”
Tem Fringe, tem teatro pequeno, tem gato António Falcão
hojemacau@yahoo.com
Foi apresentada mais uma edição do Festival Fringe de Macau, que desta vez irá decorrer entre os dias 12 e 28 de Novembro. Cartaz à parte, decifrar o programa em português do evento não é tarefa fácil. Na informação tornada pública sobre o certame pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), responsável pela iniciativa, abundam erros de língua portuguesa, com frases sem sentido aos longo de mais 100 páginas. Aqui ficam alguns excertos do bom “pretuguês” para decifrar durante o fim-de-semana. O evento veste a cidade ao longo dos dias com espectáculos alternativos que envolvem a população nos seus actos performativos. No seu âmago, o Fringe é um festival de rua reflectindo sobre a cultura urbana. O certame arranca, no entanto, dois dias antes da data marcada, no dia 10 com um fórum dedicado à crítica de arte. A organização chama-lhe um encontro de preparação que antecede todo o bloco do festival. Explicando-o do seguinte modo: “Existe uma balção da cidade há muitos anos-uma cidade tourística, o patromónio em todo o lado”, neste âmbito discute-se o equilíbrio da cidade com o seu desenvolvimento. “Como experimenta na vida dia-a-dia?”, perguntam os críticos tentando elucidar o público. O encontro traz ao território críticos da China continental, Hong Kong e Taiwan, que se vão debruçar sobre a concepção genérica do que é um festival fringe, que em Macau se reparte por três pontos: “Tempo de internet,teatro”,”A construição de uma plantaforma entre os críticos de arte chineses” e em resumo, “A Fringe de Cidade de Macau mais um ano,O que acha?” E assim entramos no percurso do evento. No dia 12, é inaugurada a instalação “Átomo de Água”, de Wong Ka Long, no relvado junto à estátua de Jorge Álvares que reflecte sobre a possibilidade de uma cidade idealizada: “Baseando-se em água do lago Sai Van, trata-se de um sentimento
relativo a esta, que tinha dado impulso a uma criança, a um comportamento e a uma sonhada fantasia à sociedade quanto à infância.” No mesmo dia, no Tap Seac, um espectáculo de mímica de Taiwan que visa “adaptar os contos infatis, as mímicas e os guiões do Teatro musical dos ocidentais.” Por perto Morgan O’Hara, que desenha enquanto toca um instrumento musical: “A Morgon não só consegue desenhar a sua pensamento inteiro de improviso, mas também consegue pegar várias canetas com duas mãos ao mesmo tempo a fazer obras para as coisas na sua frente.” A sua participação chama-se “Transmissão ao vivo” e corre até ao dia 21. De Itália chega o grupo Massiomo Godoli Peli que, também no Tap Seac, desenrolarão os seus fantoches contando histórias do quotidiano. Do Meow Space, um projecto cultural de apoio aos animais, vêm gatos o “Mia em todo o lado”, um dispositivo no Lou Lim Ieoc e no jardim da Montanha Russa que segue “os gatos para sentir as características especiais de Macau”. Entre os dias 13 e 14 chega o grupo de teatro Ho de Taiwan, que em mandarim apresentam a peça “Fúria”. “A história descreve um grupo de pessoas que vive numa casa pública à margem de cidade, a vida é como poeira, está a sofre grande tormento, mas nunca foi tomado atenção por outros.” “O Ovo Fantástico da Minha Casa” representa a história do teatro com o grupo “Legend of the Myth” de Hong Kong que conta a história de um pai águia que tenta ensinar a voar o seu filho tartaruga mas que no final: “no caminho de procurar, o que aonteceu? Qual o resultado deste conto?” Ninguém sabe. De Hong Kong chega também o Coro da Capella Orange, “um novo coro da música vocal sem aconpanhamento instrumental de HongKong.” No dia 14, o representante de Macau Pakeong Sequeira vai usar os seus dons artísticos desenhando através de um iPad os edifícios do Tap Seac num efeito projectado denominado “graffiti sem poluição.” No dia 15, temos uma “palestra
de pequeno teatro da Malásia” que “observará a estrutura de pegada de cultura.” O pequeno teatro é levado ao palco nos dias 16 e 17 com o grupo “Out Production” de Taiwan. “Demonstração? Explicação? Filme? A definição nova de pequeno teatro.” E pergunta-se: “Porque Leonardo Dicaprio não pode actuar pequeno teatro?” Não sabemos. Mas “pequeno teatro duvida tudo, mas se atrevê a desconfiar o seu próprio?” Dias 18 e 19 é a vez da arte indiana, com um espectáculo de dança do grupo “Violeta” e Fanishwar Bhasker, de Macau, um dançarino famoso que liga a dança tradicional indiana à dança moderna. Nele poderemos ver demonstrações de “Katthakali, Bharat Natyam e Chhau”, elementos da dança clássica indiana. Pelo Tap Seac vão ainda passar a multimédia de YuenCHao “Avançar”. Entre os dias 23 e 28, a associação naTerra irá mostrar o seu projecto Raio de Sol “Um sorriso, sustente o futuro”, como educação para a sustentabilidade. Pakeong volta com os seus Bladmark para um concerto multimédia na Avenida Comendador Ho In. O grupo Comuna de Pedra leva até ao espaço de churrasco da praia de Hac Sá, no dia 27, a peça “Na praia----não “viu” o acontecimento” “Dois performances 1+1 de dois criadores de Macau, parecendo separados, realizam-se por causalidade no mesmo dia na mesma praia.” Uma advertência da organização: “Os actores dentro da gaiola são mansos e não são agressivos.” A fechar o festival, o concerto da banda de Macau Forget the G, no Armazém do Boi. Este é um festival que ocupará as ruas de Macau mas que não se preocupou com a sua apresentação em língua portuguesa, uma organização a cargo dos Serviços Culturais e Recreativos do IACM, que tinha o hábito de não nos deixar ficar mal. * texto baseado em informação fornecida pelo catálogo do Fringe em www.macaucityfringe. gov.mo
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ideias l u z de i n ver n o Boi Luxo
Nippon Sengo Shi: Madamu Onboro No Seikatsu (a History of Postwar Japan as Told by a Bar Hostess), 1970
Shohei Imamura
Ao contrário dos outros documentários, este é filmado no Japão, e no seu decorrer invade-nos o odor bolorento das casas fechadas e das pequenas existências que vamos encontrar em muitos dos seus filmes de ficção. O filme é a preto e branco (penso que é o único caso em que isso acontece) e a vida das frequentadoras de bares e dos americanos de Yokosuka será sempre para nós a preto e branco, tal como o casamento do imperador e a morte de Kennedy
É difícil não se sentir uma atracção profunda por esta mulher. É também difícil não se sentir uma atracção profunda por Imamura e pela atitude e dedicação que o leva a filmar repetidamente a vida daqueles, inventadas ou reais, a quem uma posição baixa na escala social afasta do contar da história. Aqui passa-se o contrário - um exemplo coberto do brilho desintelectualizado da história contada a partir da parte de baixo. Acontece o mesmo com outros documentários deste autor que já aqui foram alvo de admirada apreciação, e em que através do concurso de figuras que protagonizaram episódios menos claros da história do Japão, sobre eles tenta lançar alguma luz. Que este filme comece por nos mostrar imagens cruas de um matadouro (provavelmente clandestino como o que fora gerido pela família da colorida entrevistada), que comece por nos mostrar imagens de uma actividade a que Imamura esteve ligado - o mercado negro – predispõe-nos a olhar o mundo através do seu tradicional distanciamento e misto de cinismo e amor. Porque é sempre um olhar amoroso que Imamura dispensa às suas figuras, mesmo que a severidade recta com que o parece fazer nos possa levar a pensar o contrário. Adepuração que a prática do documentário trouxe a um realizador cansado de alguns dos incómodos que a ficção lhe impunha não deixa de nos contagiar. Esta circunstância, aliada a problemas de financiamento próprios da produção cinematográfica japonesa da altura,
reteve Imamura na produção de documentários para cinema e para televisão (este é para o cinema) durante praticamente uma década. Nunca esta veia observadora o abandonará, assim nunca abandonará o seu longo desejo de construir um retrato fiel de um Japão oculto e tribal, um esforço que exibe desde o início da sua carreira. Só os mais inocentes poderão estranhar que mais tarde se tenha apercebido que, afinal, a ficção é um meio com mais apetrechos para lidar com o real (mesmo um real “directo”) do que o documentário e o seu cortejo de desenganos. Ao contrário dos outros documentários, este é filmado no Japão, e no seu decorrer invade-nos o odor bolorento das casas fechadas e das pequenas existências que vamos encontrar em muitos dos seus filmes de ficção. O filme é a preto e branco (penso que é o único caso em que isso acontece) e a vida das frequentadoras de bares e dos americanos de Yokosuka será sempre para nós a preto e branco, tal como o casamento do imperador e a morte de Kennedy. Esta é, como o soldado de Muhomatsu Kokyo Ni Kaeru (Muhomatsu Returns Home, 1973) uma figura típica do universo de Imamura, “simples, honesto e directo”, uma mulher extraordinária na sua simplicidade e no modo directo como exerce o seu fascínio e expõe carnalmente as suas falhas. Tal como acontece com as personagens femininas dos seus filmes de ficção. O que se passa aqui é fácil de apresentar. O realizador faz uma série de perguntas a uma
antiga proprietária de um bar frequentado por soldados americanos durante o período do pósguerra. O bar, reaberto para receber a equipa de filmagem, situava-se em Yokosuka, onde existia (e existe) uma base militar americana. Ao longo da entrevista Imamura confronta a entrevistada com actualidades filmadas na altura: Hiroxima e o fim da guerra, a libertação dos presos políticos comunistas, a independência japonesa da administração americana ou o fausto que acompanhou o casamento do actual imperador. Confundem-se as duas histórias, a história do Japão do pós-guerra e a história pessoal da dona do bar Onboro, um desfile de amores intensos e mal sucedidos onde a fronteira entre o amor do Amor e a necessidade do interesse é uma zona algo nebulosa. Ficamos a conhecer os seus encontros furtivos com um amante, Shimura, com quem se encontra várias vezes em Tóquio na pensão em que a mãe dele alugava quartos a estudantes como aconteceu no dia 1 de Maio de 1952, o mesmo dia em que as manifestações do Dia do Trabalhador resultaram em pancadaria geral e em notícia nacional. O que nós vemos são imagens de noticiários, o ruído dos revoltados e a reacção violenta da polícia. O que nós ouvimos contar são pormenores do seu encontro com o amante, o que nós construimos é o momento do encontro, o odor do quarto, os tempos do amor nocturno. O documentário tem este dom de nos tornar voyeurs, de nos fazer construir em solidão e em absoluto silêncio a ficção que são todos os filmes. Porque o documentário, mais do que
a ficção, obriga-nos a um jogo, obriga-nos a que construamos a nossa própria ficção, a ficção inevitável que parte de qualquer filme, que é sempre uma encenação, que é sempre uma re-apresentação de algo e um conjunto de escolhas. No filme de ficção grande parte desse jogo já está feito e não nos exige assim esse tipo de participação. Esta mulher perde o sentido da orientação e a sua vida parece vaguear ao sabor das circunstâncias (um privilégio dos fracos e dos marginais), assim como o filme o parece fazer, livre de quase tudo excepto de uma obrigação despreocupada e intoxicada de ir contando. O início dos anos 60 e o assassinato de Kennedy e o assassinato (também em directo) do líder do Partido Socialista japonês por um extremista de direita coincidem com o período em que Madamu Onboro, cansada dos homens japoneses, se torna amante de americanos: Ken, que fica para a história como mau amante, Jean, Robert (de quem tem uma filha), Joe, Mojoe, Chuck, Harry (com quem acaba por casar e partir para a América). Ao Japão chegam soldados americanos feridos que combateram no Vietname. À base de Yokosuka chegam porta-aviões e submarinos nucleares e marinheiros e nós ficamos a saber da vida de uma das suas filhas e das vidas dos americanos e chegamos praticamente ao fim dos anos 60 com drogas e sexo como em Kagirinaku tomei ni chikai buru (Almost Transparent Blue), de Murakami Ryu. Resta-nos juntar tudo e construir a nossa própria ficção.
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15 Como nunca ages como se fosses grande, podes, por isso, tornar-te grande.
Capítulo 121, parte I Lao Tzu disse: governar o mundo através da Via não é uma questão de mudar a natureza humana; outrossim, baseia-se naquilo que o povo tem, trazendo isso à luz e o desenvolvendo. Confiar numa base conduz à grandeza, mas a artificialidade conduz à pequenez. Em tempos recuados, os que abriram canais para a água confiaram nas correntes dos rios; aqueles que produziam colheitas adaptaram-se às condições do solo; aqueles que partiam em expedições seguiam os desejos da populaça. Todos os que se souberem adaptar adequadamente não têm inimigos neste mundo inteiro. As coisas devem ser naturais antes que os assuntos humanos sejam ordeiros. É por esse motivo, que as regulações e leis de antigos reis se baseavam na natureza
do povo, agindo para a moderar e refinar. Sem essa natureza, é impossível ser forçado a seguir qualquer ensinamento; se se tiver a natureza , mas não o carácter, é impossível ser forçado a seguir um caminho. A natureza humana inclui as qualidades de bondade e dever, mas a menos que sejam guiadas por sábios, não é possível dirigi-las bem. Ao proibir condutas desordeiras com base naquilo que o povo detesta, os códigos criminais não precisam de ser ameaçadores para serem eficazes. Conforma-te com a sua natureza e todos no mundo obedecerão. Se forem contra a natureza do povo, as regulações e leis podem bem ser publicadas, mas não serão observadas. A virtude da Via é a raiz do mérito e da honra, guardados no coração do povo. Quando o povo os mantém no seu
coração, mérito e honra se estabelecem. Bons lideres, em tempos antigos, tomaram exemplo dos rios e oceanos. Os rios e oceanos nada fizeram para serem tão enormes; foi por serem ocos e baixos que se tornaram tão vastos. É por isso que puderam durar. Sendo vales do mundo, são plenas suas qualidades; por nada fazerem conseguem acomodar um cento de rios. Conseguem ganhar pois não procuram e conseguem chegar porque não partem. Este é o modo de tomar o mundo inteiro sem tentar. És rico porque não te elevas a ti próprio; és iluminado porque não te vês a ti próprio; e és longevo porque não te orgulhas de ti próprio. Habitando o reino da não-possessão, podes, por isso, ser rei do mundo; como não pelejas, ninguém contigo peleja. Como nunca ages como se fosses grande, podes, por isso, tornar-te grande.
Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho
O texto conhecido por Wen Tzu, ou Wen Zi, tem por subtítulo a expressão “A Compreensão dos Mistérios”. Este subtítulo honorífico teve origem na renascença taoista da Dinastia Tang, embora o texto fosse conhecido e estudado desde pelo menos quatro a três séculos antes da era comum. O Wen Tzu terá sido compilado por um discípulo de Lao Tzu, sendo muito do seu conteúdo atribuído ao próprio Lao Tzu. O historiador Su Ma Qian (145-90 a.C.) dá nota destes factos nos seus “Registos do Grande Historiador” compostos durante a predominantemente confucionista Dinastia Han. A obra parece consistir de um destilar do corpus central da sabedoria Taoista constituído pelo Tao Te Qing, pelo Chuang Tzu e pelo Huainan-zi. Para esta versão portuguesa foi utilizada a primeira e, até à data, única tradução inglesa do texto, da autoria do Professor Thomas Cleary, publicada em Taoist Classics, Volume I, Shambala, Boston 2003. Foi ainda utilizada uma versão do texto chinês editada por Shiung Duen Sheng e publicada online em www.gutenberg.org.
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Ideias
16 per s pecti va s Jorge Rodrigues Simão
Novas tecnologias ambientais “There is no doubt that most of the environmental problems, which we are dealing with, are a result of improper management of industrial activities. Available techniques are used to reduce the emissions and the impact on the ecosystem, but stresses on the ecosystem continue. Besides the development of environmentally sound technologies based on waste minimization, energy efficiency and better use of resources, environmental technology research and development continues to lower future expenditures, to address specialized problems more efficiently and to achieve the required industrial and environmental standards.”
n
Environmental Technologies, New Developments E. Burcu Özkaraova Güngör
o passado, as novas tecnologias passaram rapidamente a fazer parte das nossas vidas, e os seus custos sociais e ambientais só se manifestaram mais tarde. Será possível, fazer antecipadamente e com rigor, análises de custo-benefício das novas tecnologias? A história diz-nos que não. Somos tão ignorantes quanto à natureza biofísica do planeta, que não conseguimos prever as consequências, a longo prazo, da maior parte dos acontecimentos. Tomem-se dois exemplos. Quando foi construída a primeira bomba atómica, a que conclusões se teria chegado com uma análise custo-benefício? As vantagens consistiam no facto de as bombas, poderem apressar o fim de uma guerra suja e, desse modo, salvarem inúmeras vidas. Sabia-se vagamente que as radiações provocavam mutações. Talvez um futurista destemido, tivesse previsto uma corrida aos armamentos à escala mundial, embora a ex-União Soviética, não fosse na altura o inimigo do Ocidente. Mas ninguém poderia ter previsto, a poeira radioactiva que foi descoberta no Atol de Bikini, nas Ilhas Marshall, as bombas de hidrogénio, as vibrações electromagnéticas de raios gama ou o inverno nuclear, porque tais revelações se deram após o fim da II Grande Guerra Mundial. Pensemos nos pesticidas. Se na época em que do Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) começou a ser usado como pesticida, se tivesse sido feita uma análise de custo-benefício, as vantagens em matar os insectos nocivos à agricultura, os transmissores de doenças ou apenas os insectos importunos eram óbvias. Os geneticistas teriam sugerido que, ao seleccionaram genes resistentes, os pesticidas depressa perderiam a sua eficácia, e os ecologistas poderiam ter assinalado que, como os insectos correspondem a 90 por cento das espécies animais, são o mais omnipresente e decerto, o mais importante grupo de animais na Terra.
Quando só uma em mil espécies de insectos, é nociva ao homem, a pulverização com produtos químicos que matam todos os insectos, só para atingir um que nos incomoda, não faz muito sentido em termos ecológicos. Mas ninguém se teria referido à bioampliação, o processo através do qual os níveis de concentração de moléculas são centenas, milhares ou até milhões de vezes superiores à cadeia alimentar. É por isso que só tivemos conhecimento do fenómeno da bioampliação, quando certas aves, como as águias começaram a desaparecer devido aos níveis elevados de DDT. Acrise económica mundial atingiu severamente a indústria automobilística, e a atenção dos fabricantes concentrou-se nos países emergentes, em particular na China, que substituiu os Estados Unidos, como primeiro mercado mundial. O Salão do Automóvel de Paris, teve a sua abertura dia 2, e pelo período de duas semanas, e nele foram apresentados modelos de luxo, os italianos da Ferrari, franceses da Citroën, Renault e Peugeot, alemães da. Mercedes e americanos da Ford. Porém, foram os carros eléctricos, as estrelas do salão. Mais de trezentos fabricantes de automóveis, de vinte países, fizeram-se representar, num mercado que começa a preparar a pós-crise económica mundial, com dezenas de novos modelos em que sobressaem os carros eléctricos. O endurecimento das leis sobre as emissões de gases de efeito estufa, as preocupações com o meio ambiente, e a incerteza sobre os preços do petróleo, influem presentemente de forma estável no sector automóvel. Por isso, os fabricantes de automóveis continuam a investir com entusiasmo, nas novas tecnologias para reduzir o consumo e as emissões de dióxido de carbono (CO2). A parte visível do iceberg são as novas tecnologias, mas os factos reais, demonstram que as vendas de grande envergadura, continua a ser dos veículos muito tradicionais. O Salão do Automóvel de Paris é o mais frequentado do mundo, e teve acima de 1,5 milhões de visitantes. A China produzirá um milhão de veículos eléctricos em 2020. Os carros eléctricos, são a chave do desenvolvimento do mercado do automóvel e, por este motivo, decidiu
A China produzirá um milhão de veículos eléctricos em 2020. Os carros eléctricos, são a chave do desenvolvimento do mercado do automóvel e, por este motivo, decidiu apostar neste sector. Trata-se, de uma forma de combater a poluição, calculando-se que 70 por cento desta contaminação, provêm da emissão de gases resultantes da combustão de combustíveis líquidos, produzidos pelos carros e ciclomotores, e a fim de aumentar o uso do transporte público apostar neste sector. Trata-se, de uma forma de combater a poluição, calculando-se que 70 por cento desta contaminação, provêm da emissão de gases resultantes da combustão de combustíveis líquidos, produzidos pelos carros e ciclomotores, e a fim de aumentar o uso do transporte público. Neste sentido, o governo chinês também pretende intervir ao máximo neste tipo de produção sustentável, tendo intenções de mudar gradualmente a actual frota de transportes públicos, por veículos eléctricos. A partir de 2009, o automóvel eléctrico foi adquirindo importância, e consolidou-se como uma quota de mercado cada vez mais viável e sólida, tendo sido investido no sector o equivalente a 1,5 mil milhões de dólares. A China é o líder mundial no mercado automobilístico, dado que no passado ano foram vendidas 13,64 milhões de unidades, e este ano o sector crescerá cerca de 47,5 por cento. O governo chinês anunciou em Junho, que subvencionaria a compra de carros eléctricos, com o objectivo de reduzir as emissões. Em cidades como Xangai, Shenzhen Hangzhou e outras, serão dados subsídios, até cerca do
equivalente de nove mil dólares, para que os cidadãos adquiram este tipo de automóvel. A lição que a história nos dá é que as vantagens das novas tecnologias são imediatas e óbvias, e é por isso que gostamos tanto da novidade. Todas as tecnologias têm custos, por muito benéficas que sejam, não sendo possível prever com antecedência, se produzirão mais prejuízos que benefícios, porque pouco podemos adivinhar em termos de consequências futuras. A economia é uma criação humana, que parece querer andar, cada vez mais desfasada do mundo real, como caminha o mundo da juridicidade. A maioria dos mais proeminentes economistas, não fala dos limites do crescimento ou dos recursos. Consideram talvez, que sendo a mente humana, o maior recurso, tem um potencial ilimitado. Acreditam quiçá, que serão descobertos novos recursos quando esgotarmos os actuais, e que inventaremos novas tecnologias ou alternativas, ou que transitaremos para outros lugares do universo. O que é ainda mais pernicioso, é que o ar, a água, o solo e a biodiversidade, são classificados como factores externos da economia; nem sequer são uma parte central dessa criação. Isto permite, que os principais actores da ciência económica tenham construído, um sistema de valores baseado na utilidade humana. Se algo nos for útil, então tem um determinado valor. Se não for, não vale nada. É um enorme chauvinismo do ser humano, uma espécie entre trinta milhões de outras, que atribuamos um valor a tudo. A economia global que atormenta os países em todo mundo, parece ser a chave do seu progresso e da sua prosperidade futura. O dinheiro não se baseia, presentemente na realidade, acabando por se representar apenas a si próprio, e pode multiplicar-se sem qualquer relação com o mundo real. A luta de governos e bancos no sentido de controlar deficits e valores monetários, revelou ao longo destes três últimos anos, algo de terrível, dado que os especuladores gastaram e continuam, mais de um trilião de dólares nos mercados monetários, atrofiando a maior parte das economias. Nada têm feito em favor do planeta, excepto fabricar dinheiro.
perfil
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Kim Kuok Ip | compositor
Nas notas do fado e do pop cantonense Vanessa Amaro
hojemacau@yahoo.com
Um piano na sala de estar
da irmã mudou a vida de Kim Kuok Ip. Há sete anos deixou a sua Macau natal para tirar o curso superior em Gestão na cidade de Manchester, na Inglaterra. A licenciatura corria bem, até começar a ocupar as horas livres e os dias chuvosos e frios – que contavam-se a perder de vista – a experimentar os teclados do piano da irmã. De repente, uma decisão. “Descobri que tinha talento para música. Dei por mim a pensar em largar o curso de Gestão e a investir naquilo em que achava que seria bom.” A família torceu o nariz imediatamente. “Músico? Mas como assim, músico? Foram as primeiras perguntas que os meus pais fizeram. Acharam que eu estava a ficar maluco”, conta, a rir-se. Até então, o único contacto que Kim Kuok Ip, agora com 25 anos, tinha tido com a música clássica foi na sua tenra infância, quando dividia o assento com a irmã que estava a receber lições de piano numa escola. “Ela ensinava-me algumas canções e eu gostava de as treinar sozinho.” Era um rapaz tímido e introvertido. Não tinha muitos amigos, não se metia em traquinices, mas também não era o grande destaque da turma da escola. “Passava desapercebido. Era um estudante banal.” Quando saía das aulas, o destino era quase todos os dias o mesmo: a loja de tecidos da mãe, na zona do Mercado Vermelho. Lá passava os finais de tarde, entre clientes a tocar aqui e ali nos panos, e o telefone a tocar. “Não era de brincar muito na rua.” Kim diz que não precisava de grandes convívios. Os seus pensamentos levavam-no sempre para longe e transportavam-no para um mundo à parte, onde só ele cabia. “Gosto sobretudo de pensar, de ter o cérebro sempre a trabalhar. Passava horas a imaginar coisas, a criar letras de música.” No secundário, o jovem de Macau começa a abrir-se aos convívios, mas só por causa da música. Criou uma banda com os colegas de turma e ali sim fez grandes amigos. “São pessoas com quem até hoje mantenho contacto.” Acabado o ensino obrigatório sob a asa da família, Kim quis mudarse para Inglaterra, onde a irmã
estava a viver. Conseguiu entrar para a Universidade de Salford, em Manchester, para o curso de Gestão. Abandonou entretanto as contabilidades e conseguiu ingressar na licenciatura de Música, com ênfase em composição. Desde então, sentese um peixe livre no oceano. “Fazer música é o que me dá prazer e é o que me sustenta.” Voltou a Macau em meados deste ano, arranjou emprego como professor de música na secção chinesa do Colégio Sacred Heart Canossian, onde ensina desde bebés da creche até matulões do secundário. O estilo clássico não está no topo das suas preferências. “Prefiro antes pop cantonense, hip-hop, R&B e música chinesa. São esses estilos que lecciono, também para tornar as aulas mais interessantes para os meus alunos.” Ainda não conseguiu realizar o sonho de compor música para filmes internacionais – “tenho feito material para documentários e filmes locais”, ressalva – e gostava mesmo era de ser como John Williams, compositor do repertório de produções como Star Wars ou Harry Potter. E sabe que pode fazer a diferença, graças aos laços históricos de Macau. “O fado é dos sons mais brilhantes que existe. Mariza é a minha cantora preferida, tenho todos os seus álbuns. Quando componho, uso elementos do fado combinados ao pop cantonense. Acaba por ser um produto diferenciado.” Nos próximos meses, sem saber exactamente quando, Kim deve voltar a arrumar as malas para regressar a Manchester. Depois de concluir a licenciatura, teve um convite para saltar o mestrado e ingressar directamente num doutoramento em composição. A estada pode ser longa, mas no final de contas, Kim sabe onde vai parar. “Macau, com certeza”, responde com um largo sorriso. “Há muito espaço aqui para o meu crescimento. Sou um filho da terra e sinto-me na obrigação de regressar e desenvolver o sector musical daqui. Vejo uma grande pulsação, começa a haver investimentos públicos na cultura e as pessoas já não olham para a música apenas como um hobby. Vá onde for, o meu potencial estará sempre em Macau.”
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entrevista
LUIS BERNARDO HONWANA, ESCRITOR MOÇAMBICANO
“A cultura é o cimento mais adequado reflectia preocupações, mas não era através dela que pensávamos resolver os problemas políticos. A solução política tinha o empenhamento, a militância, foi um processo diferente. Como olha para o Moçambique de hoje por comparação com o Moçambique do período logo após a independência? Há quem faça o confronto entre épocas, entrando no jogo das hipóteses, eu não vejo assim. A independência resulta de um período revolucionário, violento, que envolveu luta armada e que depois se resolveu numa tentativa de dar ao novo país uma orientação de conceitos socialistas que na altura se tinham como adequados. Não vamos fazer a revisão da história, fez-se o que se fez, naturalmente com muitas asneiras à mistura, mas não devemos deixar de reconhecer que esse período é a matriz do que Moçambique é hoje. O sentimento de moçambicanidade que é
António Falcão | bloomland.cn
Luis Bernardo Honwana está em Macau para apresentar o documentário “A Ilha dos Espíritos”, de Licínio de Azevedo, com argumento seu, e para participar num debate sobre literaturas africanas. Questionado sobre a sua vida de jovem moçambicano opositor ao regime colonial (sofreu prisão política alguns anos), até à sua actividade de intelectual e político, gosta de falar primeiro de sua mulher, Suzete Honwana que, entre outras criações é a autora das célebres bonecas moçambicanas “Tiassu”. Bonecas cheias de expressão e significados, como que com vida própria, como é possível admirarmos na exposição integrada no Festival da Lusofonia, “Festa da Ilha”, na Casa Garden, a partir de dia 27, por iniciativa da Associação dos Amigos de Moçambique em Macau, tal como a presença entre nós de Luis Bernardo Honwana, nome forte de ex-jornalista (activado quando entende), ex-chefe do gabinete do presidente Samora Machel, expolítico activo, ex-ministro da Cultura, (circunstância que o levou a conhecer a China continental em 1982), homem de cultura sempre, autor da famosa reunião de contos intitulada “Nós Matámos o Cão Tinhoso”, que teve a primeira publicação em 1964, investigador, palestrante, argumentista, mais do que certo concentrando-se na auto-escrita permanente. O seu nome fica para sempre ligado ao livro “Nós Matámos o Cão Tinhoso”. Isso incomoda-o, que sensação lhe dá? Dá-me uma sensação estranha estar ligado a uma obra que, por razões várias, incluindo as conjunturais, acabou, realmente, por ser tomado como um clássico. Se me permite, não somente um clássico da literatura moçambicana, mas da literatura africana de uma maneira geral.
de realizar todas essas coisas. Talvez a ideologia fosse um elemento mobilizador dentro da classe política, e mesmo dentro desta, num grupo relativamente reduzido. Mas os grandes objectivos de acabar com a pobreza, a miséria, engrandecer a dignificação do homem, esses agregavam toda a gente, tinham um grande potencial mobilizador. Em termos estratégicos ou mesmo geo-estratégicos, quase tudo estava errado, as fórmulas já a História as tinha analisado e condenado, mas enfim, a vida dos homens é assim. Como homem de cultura, pensa que hoje em Moçambique a ideologia já não se sobrepõe à cultura, sendo que a cultura voa agora mais amplamente? Infelizmente, não. Penso que a cultura talvez seja o cimento mais adequado à construção dum novo país com as características de Moçambique. Não temos utilizado esse cimento tanto quanto o deveríamos fazer. Por algumas razões
Penso que a cultura talvez seja o cimento mais adequado à construção dum novo país com as características de Moçambique. Não temos utilizado esse cimento tanto quanto o deveríamos fazer Isso também é perturbador. Acabo por achar natural, os textos tiveram e têm impacto, particularmente junto de todos aqueles interessados na história recente do nosso país e da evolução da escrita na África que fala português. Então, se os textos possuem essa valência, acho natural que seja inquirido a propósito. Ainda são úteis esses textos? Bom, isso é uma outra questão, são textos que
pretendem ser literários. E com alguma intenção panfletária? Esforcei-me para que não houvesse essa parte panfletária. Devo dizer que me sinto gratificado, pois o eventual valor literário dos textos transcende o valor informativo deles sobre uma determinada época. Portanto, não são apenas testemunho duma época, mas também como construção literária, um exercício ficcional. Não acrescenta que teve
intenção denunciadora? O livro acabou por também ter essa função, mas gosto de ressalvar que, na altura em que produzi esses textos, eu também tinha outras vias para manifestar as minhas ideias políticas. Não eram dias fáceis, vivia-se numa época em que a circulação de ideias sofria fortes restrições, até físicas, como também comprovei. Eu fazia panfletos e tinha actividades então classificadas de subversivas. Obviamente que a actividade literária
a base do nosso projecto neste momento, nasce das frases mobilizadoras que então eram verdades, valiam como tal. E foram momentos de enorme generosidade em que toda a gente deu o seu melhor, não havia cálculo sobre ganhos pessoais, sobretudo existia preocupação séria de elevação do nível cultural, económico, de bem estar das massas populares. Isso era genuíno. E ideológico... A ideologia é o processo
especiais? Diversas, essencialmente porque não aprofundámos muito as questões culturais. Como sabe, somos um país de grande multiplicidade cultural, então de que maneira se faz a gestão dessa diversidade? De que modo as diferentes nações pré-existentes naquilo que é Moçambique se vêem reflectidas no projecto nacional global? No tempo em que existia uma visão ideológica destas coisas, a noção de
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com Helder Fernando
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à construção dum novo país” classe sobrepunha-se, as ideias dominantes valiam na condução do trabalho cultural, o tal homem novo, as manhãs vermelhas... Eram as novas fórmulas identitárias... Neste momento temse a ideia de que o país se constrói com os moçambicanos. Essa construção significa trabalho, investigação, participação sobretudo. Talvez ainda não tenhamos encontrado as fórmulas apropriadas para que, no jogo social, na actividade política, na realidade económica, as existências de facto se manifestem e constituam uma possibilidade de alavancar o processo de desenvolvimento, dado a convicção de não termos resolvido ainda todos os problemas. O necessário é não impor determinadas concepções, mas ler a realidade. O ambiente artístico moçambicano está organizado em movimentos associativos? A questão das pessoas pensarem nos seus movimentos específicos, com as respectivas sensibilidades diferentes, já vem do meu tempo no governo, por exemplo quando os escritores foram encorajados a organizaremse em associação, tal como os músicos, os fotógrafos, as pessoas do teatro. Pertenço a várias delas,algumas como fundador. Trabalhou directamente com Samora Machel e, antes ainda, com Joaquim Chissano... Sim, tenho militância política antes da Independência. Mas quanto a trabalhar oficialmente, primeiro fui assessor do primeiro-ministro Joaquim Chissano, no governo provisório, imediatamente antes da independência. A minha função era administrativa, uma
tentativa de estruturar uma organização que pudesse responder às tarefas que se esperavam dum primeiro-ministro. Depois da independência, fui trabalhar com Samora Machel, exactamente nas mesmas funções, como que inventar uma Presidência, uma função organizativa. Samora Machel é, para si, uma figura inesquecível? Sem dúvida, uma pessoa cuja importância nos vamos apercebendo melhor à medida que o tempo corre. Claro que, como todas as grandes figuras, uma pessoa com excessos, mas com grande coragem, particularmente com a coragem de se questionar a si próprio. Talvez poucas pessoas saibam, mas é provável que o Presidente Samora seja a pessoa a quem eu mais disse coisas desagradáveis que ele obviamente não tolerava, designadamente se fosse em público. Era um indivíduo autoritário, mas por estranho que possa parecer, ele tinha o sentido do contraditório, tinha preocupação em ouvir as pessoas, criava condições para isso, mesmo em momentos de maior tensão, abria-se ao diálogo. Isso, para mim, define a grandeza do homem. Pensa que o país ganharia se ele estivesse mais tempo na presidência? Não quero discutir as coisas nesse sentido, mas talvez seja útil indicar um facto público mas pouco citado. Foi Samora Machel quem começou o processo de revisão da tese socialista, quem inicia os contactos com os países ocidentais e as negociações com o FMI e o Banco Mundial. Ele apreciava colocar em causa as coisas, não como cedência, mas como dúvida se, efectivamente, estaria no caminho correcto. Samora foi essencialmente um nacionalista. Chissano, uma
personalidade completamente diferente... Completamente. Joaquim Chisssano era um negociador nato, um senhor do mundo que teve capacidade de, em condições muito difíceis, fazer o acordo de paz e transformar a política económica e o ambiente de liberdade de opinião e expressão. Não se lhe pode negar este valioso mérito. Fale-nos da sua experiência com a Unesco. Colaborei com a Unesco desde 1982, quando ainda não tinha responsabilidades governamentais. Mais tarde fui eleito para o Conselho Executivo da Unesco, cumpri o meu
permanência tem realizado palestras, entrado em debates por várias partes do mundo. Sim, é uma actividade agradável, gratificante, que obriga a estudar, obriga a ouvir, sobretudo a ter cuidado com o que diz. Ganha-se melhor consciência, por vezes, do pouco que se sabe sobre matérias da maior potência. Tenho tido essa sorte. Literatura moçambicana, como vai? A literatura moçambicana está num momento excepcional que dura há alguns anos com o surgimento de novos nomes. O público leitor de Moçambique identifica-se
oficial portuguesa, de uma biblioteca básica que apoiasse o ensino, a formação técnica, permitindo a aquisição cultural, enfim que apoiasse o uso da língua portuguesa como nossa língua de comunicação. Onde estariam presentes os clássicos portugueses, os exemplos mais importantes das obras literárias do Brasil e de todos os países falantes da língua. Um projecto muito apoiado em várias frentes, desde a Fundação Gulbenkian ao British Council, Alliance Française. Tinha duas vertentes, a da leitura e distribuição e a vertente da produção. Fui pai
A literatura moçambicana está num momento excepcional que dura há alguns anos com o surgimento de novos nomes. O público leitor de Moçambique identifica-se com os seus escritores, uma meta que poucas literaturas conseguem, que é mérito dos nossos escritores. O problema é a edição dos livros, incluindo o livro escolar, que tem de ser feita no exterior do país mandato, uma experiência excelente. Foi desde a altura da Conferência sobre Desenvolvimento, no México, todo um processo que terminou, mais de dez anos depois, no relatório sobre Cultura e Desenvolvimento feito pela respectiva Comissão Mundial a que presidi. Mais tarde ainda fui convidado para ser membro do secretariado da Unesco, o que aconteceu quando deixei o governo de Moçambique. Praticamente em regime de
com os seus escritores, uma meta que poucas literaturas conseguem, que é mérito dos nossos escritores. O problema é a edição dos livros, incluindo o livro escolar, que tem de ser feita no exterior do país. Essa sua entrada pareceme um desafio ao investidor. Olhe, eu sou subscritor de vários projectos falhados, um deles chama-se Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa. Um esforço de constituição, nos cinco países africanos de língua
e mãe deste projecto grande nos anos 90`. Não foi avante porque o negócio dos editores portugueses foi mais apoiado pelas entidades oficiais do que apoiaram a necessidade de existir esse Fundo. Os livreiros portugueses acharam que esse Fundo Bibliográfico seria uma excelente ideia para resolver o problema dos monos, dos livros invendáveis. E também imaginaram logo que seria óptimo para as suas edições,
teriam um mercado muito maior, viabilizaria a indústria da produção do livro em Portugal. Lamentavelmente, a nossa indústria gráfica não se reciclou, não evoluiu, quer dizer, no século 21 Moçambique importa livros dos seus escritores que chegam de avião a preços altíssimos. Estou zangado com esta situação. O que pensa da palavra lusofonia? Não gosto muito, ponho algumas reticências... Mas vamos ser pragmáticos, sem discussão moral dos conceitos. Se os homens entendem que é importante, demonstrem a importância disso através de actos concretos e não somente a nível do discurso. Ainda no âmbito da sua actividade cultural, o que está próximo na sua agenda? Estamos a trabalhar, com alguns linguistas na Universidade Eduardo Mondlane sobre as relações do português com as línguas moçambicanas. Não sou académico, sou “artista convidado”, cada um de nós elaborará um texto e depois, no próximo ano, os textos aparecerão num livro. Desde os problemas teóricos no ensino, até à influência das línguas-mãe no português que se ensina, nos vícios desse português que os alunos falam, o que é a má qualidade do ensino, e também reflectir sobre o prejuízo pelo facto de as línguas moçambicanas não terem um espaço, o que isto produz, as pessoas não têm palavra, uma vez que o discurso é, invariavelmente, na língua portuguesa. Isso desconstrói a identidade... Quando não há um debate, não fazemos o aprofundamento das instituições democráticas. Então, as pessoas expressam a sua opinião em explosões porque não há possibilidade de, continuamente, opinarem. Quando perdemos a possibilidade de articular verbalmente, fazemo-lo através do gesto, e o gesto pode ser violento.
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o Hoje [r]ecomenda
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[f]utilidades Su doku [ ] Cruzadas
CRUZADA EM BRANCO SIMÉTRICA (27 CASAS NEGRAS)
HORIZONTAIS: 1 – Conselho de Imprensa (abrev.); elemento de formação de palavras, de origem grega, que exprime a ideia de falso. 2 – Grito de dor, de alegria; estado de quem não faz nada; bismuto (s.q.). 3 – Planta crucífera de raiz carnuda, branca, arredondada ou pontiaguada; tumor a que também se dá o nome de arrieira. 4 – Aquelas; relativo ao que não está escrito; estado da Índia, cuja capital é Pangim. 5 – Grande quantidade; mover-se de um sítio para outro; substância resultante da combinação de um ácido com uma base. 6 – Guarnecido com abas; olhar fixamente para. 7 – Curso de água natural, mais ou menos caudeloso, que desagua em outro curso de água, num lago ou no mar; nome da letra grega que corresponde ao P latino; dama de companhia. 8 – Mesiricordiosa; círculo laminoso que se observa às vezes no disco do Sol e dos planetas; fluido gasoso, transparente e invisível que constitui a atmosfera. 9 – Graceja; fisionomia. 10 – Medida itinerária da China; designação extensiva a várias espécies de peixes seláquios, com corpo achatado e largo; a unidade. 11 – Galanteio; nona letra do alfabeto (pl.). VERTICAIS: 1 – Haste delgada e flexível de árvore ou arbusto; selo antigo com uma bola de metal pendente. 2 – Caminhava; sobreiro. 3 – Índio (s.q.); emitir raios luminosos ou caloríficos. 4 – Contr da prep. a com o art. def. o; primeira nota da escala musical; cólera. 5 – Frugal; antes do meio-dia (abrev.). 6 – Repetir; torcida fina envolvida em cera que serve para alumiar. 7 – Designa dor, admiração, repugnância (interj.); adoptar como filho. 8 – Título honorífico; sétima nota da escala musical; aqueles. 9 – Quartzo translúcido de cores variadas; designa alternativa. 10 – Árvore leguminosa cesalpinácea; terceira nota da escala musical. 11 – Exclamação de aplauso, de felicitação; pouco frequente.
Soluções do problema HORIZONTAIS: 1-CI. PSEUDO. 2-AI. OCIO. BI. 3-NABO. MA. 4-AS. ORAL. GOA. 5-ROR. IR. SAL. 6-ABADO. FITAR. 7-RIO. PI. AIA. 8-BOA. HALO. AR. 9-RI. VISO. 10-LI. RAIA. UM. 11-NAMORO. I. VERTICAIS: 1-VARA. BULA. 2-IA. SOBRO. 3-IN. RAIAR. 4- AO. DO. IRA. 5-SOBRIO. AM. 6-ECOAR. PAVIO. 7-UI. FILIAR. 8-DOM. SI. OS. 9-AGATA. OU. 10-OLAIA. MI. 11-VIVA. RARO.
REGRAS |
Insira algarismos nos quadrados de forma a que cada linha, coluna e caixa de 3X3 contenha os dígitos de 1 a 9 sem repetição solução do problema do dia anterior
«Written In The Stars», Tinie Tempah
Para um primeiro disco, «Written In The Stars» chega a ser prometedor, sobretudo quando Tinie Tempah fica quieto naquela que é muito claramente a sua zona de conforto: o universo suburbano. O que não significa que traia um sentido de eloquência muito apurado e que o distingue dos demais. A postura é muito semelhante à de Kanye West, plena de ambição, com propósitos artísticos e comerciais.
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[O]bjectiva António Falcão
21 Raio [X] O efeito borboleta da realidade paralela Sofia Pinto Correia Melo
Um cavalo e uma esperança de homem
Para[ ]comer • Pérola 3/F, Sands, Largo de Monte Carlo, no.203 8983 82222888 3352 http://www.sands.com.mo • VINHA Alm Dr. Carlos d' Assumpção 393 r/c AC 2875 2599vinha@macau.ctm.net http://www.vinha.com.mo • FAT SIU LAU (SINCE 1903) Av.Dr.Sun Yat-Sen,Edf.Vista Magnifica Court Rua de Felicidade No.64, R/C Macau 2857 3585fsl1903@macau.ctm.net http://www.fatsiulau.com.mo
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• Sawasdee Thai Av Sid Pais 43AE 2857 1963 • Aquamarine Thai Café (Tp) Jardm Nova Taipa bl 21 2883 0010 • Bangkok Pochana Ferrª Amaral 31 2856 1419 • Kruatheque Henrique Macedo 11-13 2835 3555 • Restaurante Thai Abreu Nunes 27E 2855 2255
• Afonso III Central 11A 2858 6272
• LA COMEDIE CHEZ VOUS Ed Zhu Kuan S/N G (Oppsite Cultural Centre) 2875 2021
• Bar Oporto Tv Praia 17 2859 4643 • Maria’s Comida Portuguesa Patane 8A 2823 3221
• LE BISTROT (Tp) Nova Taipa Garden Block 27, G/F 2884 37392884 3994
• Restaurante Pinocchio (Tp) Regedor 181-185 2882 7128 • Canal dos Patos Parque Municipal Sun Yat Seng 2822 8166
• CHURRASCÃO Nova Taipa Garden, Block 27 G/F, Taipa 2884 37392884 3994 • Yin Alª Dr Carlos d’Assumpção 33 2872 2735
frozen Cineteatro | PUB
• Fogo Samba VENETIAN-Grand Canal Shoppes Apt 2412 2882 8499
[ ] Cinema
Sala 1 Perfect Wedding [B] (legendado em inglês) Um filme de: Barbara Wong Com: Miriam Yeung, Raymond Lam 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
Sala 3 frozen [C] Um filme de:Adam Green Com: Kevin Zegers, Shawn Ashmore, Emma Bell 14.30, 16.30, 21.30
SALA 2 seven days in heaven [C] (legendado em inglês) Um filme de: Wang Yu-Lin Com: Wu Peng Feng, Wang Li Wen 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
Sala 3 Resident evil afterlife [C] Um filme de: Paul W. S. Anderson Com: Milla Jovovich, Ali Larter, Wentworth Miller 19.30
Quando no teclado escrevia palavra após palavra, sem olhar essas palavras escritas, só as letras, como agora. Cada tecla, cada som. Construía a história, punha-te nela, falava-te, assassinavate em mais palavras de ódio e depois de amor. Chorava, gritava, murmurava, semicerrava os olhos e muitas vezes desaparecia. Beijava-te, batia-te, tocava-te. Dentro das palavras que nem via escreverem-se. Vivia a tua voz, a tua sombra no teclado. O teu rosto, a expressão que deixavas na penumbra. Sonhava acordada o futuro, imaginava mil cenas, mil encontros. E depois, novamente palavras, escritas à pressa, num diálogo. Dia após dia, mês após mês. Nas entrelinhas, eu via o esboço do sorriso intemporal. Via o fumo. Via as paixões, a vida. Paralela. Paralelas. Via o olhar. O cheiro. Nas palavras que ia escrevendo, construindo uma torre alta, com janelas, feita de páginas frágeis, talvez não fossem verdadeiras, talvez verdadeiras as entrelinhas, os espaços, a pontuação. Uma torre que ardia agora. O isqueiro no teclado, a chama que se aproxima das palavras e as vai apagando. Delete, delete, delete. A chama que vai apagando as entrelinhas, o sorriso que desaparece na cinza do ecrã. O olhar na penumbra. Páginas brancas e só o pulsar do cursor no branco da história que fui construindo. Com rosto dentro, com mãos, com música. Bittersweet. Agridoce. Com gatos ao colo, melros e morcegos na noite. Auscultadores, chá verde, de tília, cerveja preta, leite ou whisky com cola. Noite após ano, dia após século. Não sei. Cabelos grisalhos, olhares frágeis, dedos infinitos no teclado. Lágrimas, frases feitas, descobertas, o que é a vida, a honra, a morte, a dependência, a doença, o amor, a mulher, os livros, o homem, os povos, o cheiro, a esperança, uma tempestade, o deus e os deuses, os lugares. Delete, delete, delete. E o cursor a pulsar. Qual era a resposta? Sim. A resposta era sim. A torre de páginas frágeis vai desabando no fumo, no teclado e fica a palavra, a palavra, a palavra, a palavra…
[Teoricamente, Sofia é arqueogenealogista, entre outras coisas. E está em Asgard, Valhala]
sexta-feira 22.10.2010 www.hojemacau.com
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opinião ediCarlos tor ial Morais José
As prima donnas A reportagem que ontem publicámos sobre o Festival Internacional de Música de Macau mostra, entre outras coisas, como tem o governo da RAEM andado desatento em relação às questões da Cultura. O FIMM, criado e lançado nos tempos da administração portuguesa, foi-se afirmando ao longo dos anos como uma referência no panorama da música erudita nesta região. Contudo, sempre enfermou de duas doenças: a primeira, ser demasiado subsidiário de Hong Kong e outras cidades da região, perdendo por isso identidade; a segunda, não se aproximar da população local, contribuindo com isso para a elevação cultural das gentes de Macau. Isto não significa, ao contrário do que muitos pensam, baixar o nível com o género easy listening de um Richard Clayderman, mas levar o festival à população através de uma programação consistente e de um marketing de proximidade. O FIMM que, se calhar, nunca foi, agora foi-se. Perdeu definitivamente a identidade e as características que deveriam ser próprias. A sua programação enche o olho com a ópera,
ca r t o o n por Steff
O facto do tenor insistir em contratar através da sua própria agência prefigura uma situação desconfortável para qualquer patrão, mas o IC simplesmente olhou para o outro lado e nada vê, nada cheira e pouco ouve. Outras entidades da RAEM também nunca entenderam investigar estes casos com a argúcia, o denodo e a eficácia que a situação exigiria. mas os critérios de escolha de artistas e etc. ficaram bem à mostra. Ao invés de servir os interesses da população e de Macau, serve claramente outros. E isto sempre com o beneplácito distante do Instituto Cultural que manteve, ao longo do reinado Mok, uma distância cautelosa do evento, como se pouco tivesse a ver com ele. O facto do tenor insistir em contratar através da sua própria agência prefigura uma situação desconfortável para qualquer patrão, mas o IC simplesmente olhou para o outro lado e nada vê, nada cheira e pouco ouve. Outras entidades da RAEM também nunca entenderam investigar estes casos com a argúcia, o denodo e a eficácia
que a situação exigiria. Resultado: o FIMM foi-se apagando aos poucos, foi-se dissolvendo da memória colectiva, até ser o que é hoje: um conjunto de concertos espraiados no tempo, com uma bela e muitos senãos. Tudo isto mostra como o governo da RAEM tem dificuldade em lidar com a Cultura. Depois de todos estes ano, seria de pensar em renovação, em mudança, em alteração de liderança. Os motivos, artísticos, sociais, existem. Mas existem outros também, extensamente descritos na reportagem assinada por António Falcão. É tempo de dizer basta e partir em busca de outra solução, de outro
Greve em frança
figurino, de outro director artístico, explicando de início, a quem quer que venha, que devem existir incompatibilidades entre quem escolhe e quem lucra à margem do ordenado que é pago para a execução da tarefa. São casos muito aborrecidos que, afinal, desprestigiam Macau que, com este tipo de ocorrência, acaba por surgir aos olhos do mundo como a terra onde tudo é permitido e onde é fácil enganar os pategos. Ao permitir isto o governo da RAEM dá ao mundo um exemplo de como pode ser enganado pela primeira prima donna que por aqui arriba. É pena. * Um senhor jurista da RAEM defendeu uma tese em Xangai onde afirma que a legislaçnao de Macau “não tem alma”, porque sofre de demasiada influência do Direito português. Esquece-se, com certeza por lapso, que Macau só tem Direito por influência portuguesa e que foi o enquadramento dado por esse Direito que lhe permitiu tirar um curso reconhecido em contexto internacional. Se não que outro sistema aqui vigoraria? O que foi influenciado pelo marxismo-leninismo e implementado por militares? A própria República Popular da China reconhece hoje as suas lacunas jurídicas e aproxima-se de outros sistemas para as suplantar. Contudo, por aqui, talvez porque pouco têm para dizer, há ainda quem queira tapar o vazio com uma peneira e atirar a culpa para os que vieram antes. É uma táctica frustre, pobre e que nada de bom trás a ninguém. Isto para além de pôr a claro uma gigantesca ingratidão. Com tudo isto não quero dizer que a legislação de Macau não deva sofrer alterações e que se mantenha como está. Obviamente que não. No entanto, se perder a sua actual alma – aquilo que o excelso jurista afirma não ter –, ou seja os valores humanistas que subjazem à legislação portuguesa, nada de bom auguro a este território. Afinal, quando queremos arredar o Homem do centro das preocupações, quem pretendemos colocar no seu lugar? O Estado, os interesses económicos, o capitalismo selvagem, a ditadura de alguns? Creio que a população de Macau se revê mais na sua actual legislação – o contexto jurídico que lhe permitiu prosperar – do que invenções apressadas de quem não tem experiência nem provas dadas na matéria. Quando os jovens turcos tomam o poder, o mundo pode ser mesmo muito perigoso. Por tudo isto, é melhor que as primma donnas pensem bem antes de elevar as vozes e cantarem árias para as quais não têm, obviamente, garganta suficiente.
É tão fácil fazer
felizes os outros! Basta um pequeno presente.
Padre Manuel teixeira [1912-2003]
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Da defesa dos superiores Interesses nacionais portugueses
P
Vitório Rosário Cardoso* Macau e a Antiga Lusitana Liberdade
ortugal comemorou no passado dia 5 de Outubro o 867º aniversário da sua fundação como Estado Soberano e Independente, pelo então Tratado de Zamora em 1143. Este Estado-Nação quase milenar e com as fronteiras terrestres definidas e mais antigas do continente europeu, sem contudo fazer agora alusão à disputa fronteiriça de Olivença, ainda por resolver entre Portugal e o Estado Espanhol, ou ainda da possibilidade de aumentar o “Mar Português” para os mais de cinco milhões de quilómetros quadrados, através da extensão da plataforma continental, podemo-nos orgulhar para além das suas antiguidade e dimensão, também dos seus legados histórico, cultural, religioso, social, económico e político deixados na Ásia, e em particular, em Macau. Em tempos conturbados que atingem a Nação e a Pátria portuguesas torna-se num imperativo que estejamos sólidos quanto à nossa identidade, à nossa história, sabermos quem somos, o que queremos e para onde vamos, para assim podermos aproveitar todo o conhecimento válido do nosso passado, para no presente projectarmo-nos num futuro livre e próspero. Não está no domínio dos segredos diplomáticos portugueses a existência “de facto” de um vasto capital histórico-cultural e de simpatia que Portugal tem pela vasta Ásia marítima, mas estas vantagens comparativas perante as demais potências, devem-se, acima de tudo, às gentes destas paragens orientais que as têm preservado ao longo dos tempos, à revelia dos interesses imediatos, tanto do Reino como da República portuguesas. São eles, os chamados “filhos da terra” ou a diáspora portuguesa; faço a minha homenagem ao Doutor Henrique de Senna Fernandes, o exemplo de um bom português, sólido na sua portugalidade, imbuído na sua visão armilar e modo de ser e de estar da mais bela tradição do universalismo português. São também eles os locais que convivem amistosamente com os portugueses e porque não, também os respeitáveis e honrados adversá-
Macau foi há mais de quatro séculos herdeira de uma das mais importantes virtudes políticas de Portugal, da sua Antiga Lusitana Liberdade. Assim, em 1583 nasceu o primeiro órgão de governo local de cariz democráticoliberal na Ásia, o Leal Senado, onde os “homens bons” da Cidade eram eleitos directamente pelo povo, pelos habitantes de Macau. rios de Portugal, à boa maneira dos códigos de cavalaria ou marciais do Oriente. Macau foi há mais de quatro séculos herdeira de uma das mais importantes virtudes políticas de Portugal, da sua Antiga Lusitana Liberdade. Assim, em 1583 nasceu o primeiro órgão de governo local de cariz democrático-liberal na Ásia, o Leal Senado, onde os “homens bons” da Cidade eram eleitos directamente pelo povo, pelos habitantes de Macau. Esta foi a primeira de todas as manifestações de cariz político-administrativo dos então territórios ultramarinos e hoje, apesar de extinto, é considerado um objecto de estudo e de referência nas academias. Deste legado em Macau, tem-se consolidado ao longo dos séculos (dinastias, das três repúblicas, regimes e soberanias), o bem essencial para qualquer sociedade materialmente e espiritualmente próspera e evoluída: a Liberdade. O facto é que com a liberdade religiosa em Macau, que data de muito antes de 1910, da afrancesada revolução republicana, o território tornou-se numa plataforma de encontro harmonioso entre os mais variados credos e terreno fértil da Igreja Católica para o desenvolvimento do ensino i.e. Colégio Universitário de São Paulo. O mesmo, com
a liberdade económica, Macau tornou-se num privilegiado entreposto comercial para as mais importantes rotas regionais e internacionais, com a liberdade política, o que permitiu que todas estas manifestações se materializassem. Não quero deixar de fazer menção à liberdade de expressão, que se foi consolidando formalmente em Macau a partir do reinado de Dom João VI (Setembro de 1822), com o nascimento do primeiro jornal impresso, a “Abelha da China”, considerado uma novidade nos espaços do então império chinês. Em 1839, no reinado de Dona Maria II surge o primeiro jornal em língua chinesa, o “Jornal das Notícias de Macau”, depois, em 1893, na vigência do reinado de Dom Carlos I, nasce a imprensa bilingue luso-chinesa, o “Echo Macaense” e ainda antes do golpe de Estado dos republicanos, em 1897, surge o segundo jornal em língua chinesa, o “Reformador da China”. Durante a II República e Estado Novo, sob a presidência do Marechal Óscar Carmona, um iniciado na maçonaria que coabitou um quarto de século com o governo do Professor Doutor António de Oliveira Salazar, surgiram mais seis títulos dando um novo impulso à imprensa macaense.
A proliferação dos jornais aos moldes actuais aconteceu só a partir do ano da tomada de posse do VI Governo Constitucional da III República, liderado por Francisco Sá Carneiro e a sua Aliança Democrática, formada por sociais-democratas, democratas-cristãos e monárquicos. O futuro próspero e livre de uma qualquer nação civilizada e decente passa pela assumpção da sua história e daí saber-se extrair os seus dividendos, as suas vantagens e no nosso caso, no seu relacionamento com a Ásia, jamais deveremos menosprezar o que constitui as nossas vantagens, do seu capital histórico, cultural e de simpatia que são elementos fundamentais para uma bem sucedida fórmula de projecção económica e comercial, de capacidade de influência e visibilidade. A atitude honrada de qualquer nacional português pelo mundo repartido passa também pelo respeito pela nossa própria história, pelos nossos Chefes de Estado, de Dom Afonso Henriques ao Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva. Portugal é uma Nação muito antiga, sobrevivente das mais exigentes, duras e difíceis provas imemoriais dos tempos, das crises e dos homens e se nos soubermos respeitar e valorizar, naturalmente nos faremos respeitar e prezar. Em diplomacia, como na vida, a idade não deixa de ser um posto, assim, não nos deveremos olvidar que Portugal e a sua acção no mundo são realidades com a devida antiguidade e lugar, e não são passíveis de qualquer subtracção de ordem temporal nem diminuída nos seus mais do que comprovados históricos feitos e felizes legados. Por isso, Portugal foi eleito para membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU. Folgar-me-ia chegar um dia ao conhecimento que a maioria dos servidores do Estado português, no País ou no estrangeiro, não revelam a mínima suspeita de uma supina e intolerável ignorância nos discursos por eles proferidos, tanto no quotidiano, como nestas e noutras comemorações das grandes datas nacionais que unem os portugueses. Estou certo que nesse dia motivar-se-iam todos os bons portugueses para continuarem a Servir e a Sacrificar-se pela Nação. *Membro da DECIDE - Associação de Jovens Auditores para a Defesa, Segurança e Cidadania de Portugal
Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José editorES Paulo Reis; Vanessa Amaro Redacção António Falcão; Gonçalo Lobo Pinheiro; Kahon Chan; Rodrigo de Matos Colaboradores Carlos Picassinos; João Carlos Barradas; José Manuel Simões; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas Arnaldo Gonçalves; Boi Luxo; Correia Marques; Gilberto Lopes; Hélder Fernando; João Miguel Barros; Jorge Rodrigues Simão; José I. Duarte; Marinho de Bastos; Paul Chan Wai Chi; Pedro Correia Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges; Catarina Lau Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia António Falcão; António Mil-Homens; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Laurentina Silva (hojemacau@gmail.com) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Av. Dr. Rodrigo Rodrigues nº 600 E, Centro Comercial First Nacional, 14º andar, Sala 1407 – Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail hojemacau@yahoo.com Sítio www.hojemacau.com
a fechar sexta-feira 22.10.2010
FIFA Portugal e Espanha sob investigação
O jornal “Daily Telegraph” afirmou ontem que as candidaturas ibérica e do Qatar estão a ser investigadas pela comissão de ética da FIFA, por suspeitas de corrupção nos processos de atribuição dos Mundiais de 2018 e 2022. Em causa está uma alegada troca de votos. A FIFA remete para meados de Novembro uma decisão final sobre as duas investigações que estão a decorrer (uma quanto à venda de votos e outra quanto a alegados acordos para troca de votos). O "Daily Telegraph" adianta que caso se confirmem as suspeitas quanto à candidatura ibérica, a punição pode ser mesmo a exclusão da corrida à organização dos Mundiais de 2018 e 2022.
Portugal 21% em privação material
No ano passado, 21,4% dos portugueses viviam em privação material, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). Tradução prática: tinham dificuldade, por exemplo, em pagar as rendas sem atraso, manter a casa aquecida ou fazer uma refeição de carne ou de peixe pelo menos de dois em dois dias. As famílias compostas por um adulto e uma ou mais crianças e as famílias com dois adultos e pelo menos três crianças registavam as taxas de privação mais altas (46,8 e 47,5%, respectivamente).
Brasil Candidato presidencial agredido
José Serra, o candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) à presidência, foi atingido na cabeça com um rolo de autocolantes, durante uma caminhada no calçadão do Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro, num tumulto com militantes do Partido dos Trabalhadores (PT), que traziam bandeiras e o insultaram. Protegendo a cabeça com as mãos, Serra refugiou-se numa farmácia. Os insultos continuaram quando saiu, para ser levado a uma clínica em Botafogo, onde fez uma tomografia que não acusou irregularidades.
Assassínio Príncipe saudita condenado
Um dos numerosos netos do rei Abdallah da Arábia Saudita, Saud Bin Abdulaziz Bin Nasir al Saud, foi condenado ontem, em Londres, a prisão perpétua pelo assassínio de um empregado, Bandar Abdullah Abdulaziz. O assassínio de Abdulaziz, que era tratado como "pau para todo o serviço", ocorreu depois de uma noite de São Valentim, envolvendo muita bebida e conotações sexuais, segundo o tribunal. O juiz condenou Al Saud, de 34 anos, neto do rei Abdallah (por parte da mãe), a prisão perpétua, com uma pena mínima de 20 anos. Al Saud, um dos milhares de príncipes sauditas, invocou a imunidade diplomática aquando da sua detenção. Mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico determinou que a imunidade não podia ser considerada.
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Estudo sobre planeamento urbano dos novos aterros estará concluído em 2012
Novos quilómetros a caminho O estudo sobre o planeamento urbano dos novos aterros de Macau, com 361 hectares, vai ser realizado por duas instituições da China continental e concluído até 2012, representando um investimento de 32 milhões de patacas. O Governo assinou, a 15 de Outubro em Chongqing, um acordo de cooperação com a “Urban Planning Society of China” e a “China Academy of Urban Planning & Design” para a elaboração do estudo sobre o planeamento urbano dos novos aterros, cuja execução foi autorizada pelo Conselho de Estado chinês em Novembro de 2009, refere uma nota oficial ontem divulgada. O estudo, orçado em 32 milhões de patacas, estará concluído no segundo trimestre de 2012 e vai realizar-se em duas fases. Na primeira fase, até Agosto de 2011, será feito o estudo para a “definição de várias alternativas para o plano de distribuição da malha urbana dos novos bairros urbanos, que depois será novamente lançado a consulta pública”, e a segunda culminará na entrega
do relatório técnico sobre o plano director dos novos aterros, explica a nota do Gabinete de Comunicação Social. O processo envolve várias consultas públicas, que estão a cargo de um grupo
interdepartamental do Governo, que está já a analisar as opiniões recolhidas numa consulta que terminou em Setembro. A “Urban Planning Society of China” e a “China Academy of Urban Planning & Design” são ainda responsáveis pelo desenvolvimento do Plano Geral dos Novos Bairros Urbanos de Macau, que definirá o aproveitamento dos terrenos. A execução dos novos aterros está inserida nas Linhas Gerais do Planeamento para a Reforma e Desenvolvimento da Região do Delta do Rio das Pérolas, onde Macau surge com a definição estratégica de Centro Mundial de Lazer e Turismo, e que pretende transformar a região na mais dinâmica da Ásia até 2020. O Governo de Macau já anunciou que pretende destinar os novos aterros à construção de instalações públicas, espaços verdes e habitação pública. Em 1989, Macau dispunha de 17,4 quilómetros quadrados. Dez anos depois, o território já apresentava 23,8 quilómetros quadrados e actualmente dispõe de 29,5 quilómetros quadrados.
Filho de magnata apanhado no balão
Megi | sinal 8 durante o dia de hoje
O filho mais novo de Timothy Fok e neto do magnata Henry Fok confessouse ontem num tribunal de Hong Kong culpado de conduzir sob o efeito do álcool, revelando também sofrer de depressão. Estudante universitário, Jeremy Fok Kai-yan, de 22 anos, admitiu em tribunal a sua culpa na sequência de uma acusação de condução perigosa e outra de condução de veículo motorizado com uma taxa de alcoolemia a exceder o limite estabelecido. No dia 17 de Julho, depois de beber em demasia, Jeremy conduzia o seu carro pela Bonham Road, na Ilha de Hong Kong, quando terá falhado a trajectória, entrando na contra-mão e embatendo nos rails de protecção. O teste do balão revelou um nível de álcool mais de três vezes acima do limite. À polícia, admitiu
O tufão Megi estava ontem à tarde a cerca de 490 quilómetros a sudeste de Macau, dirigindo-se lentamente para norte, disse à agência Lusa o director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos. Fong Soi Kun explicou que a tempestade, classificada de super tufão e considerada a mais forte dos últimos 20 anos, continua a “deslocar-se muito lentamente” para norte, prevendose que, a manter a rota, passe hoje no ponto mais próximo de Macau, entre 200 e 250 quilómetros a este. “A manterem-se as previsões, o sinal número oito será hasteado durante o dia de sexta-feira”, disse Fong Soi Kun. O responsável recordou que o Megi é considerado um super-tufão, que tem ventos de 173
Conduzir bêbado é para quem Fok
ter bebido “três ou quatro copos de vinho” antes de pegar no volante. Sublinhando que o rapaz desde sempre cooperou com a polícia e que ninguém saiu ferido do acidente, a defesa alegou que Jeremy sofria de doença depressiva derivada da pressão a que é submetido nos estudos, no University College de Londres. O tribunal adiou a sentença até 3 de Novembro e o filho mais novo de Timothy Fok – ex-legislador de Hong Kong e actual directorexecutivo da SJM Holdings –, e neto do magnata prócomunista Henry Fok – que chegou a ser parceiro de Stanley Ho na altura da atribuição de concessões aos casinos de Macau sob o regime português – pôde sair em liberdade mediante o pagamento de fiança, e regressar aos estudos em Inglaterra.
Ventania e grandes molhas pela manhã quilómetros por hora e que uma tempestade de sinal oito – que paralisa a cidade com o encerramento de escolas, comércio e serviços públicos e privados – tem ventos superiores a 70/80 quilómetros por hora. “É um grande tufão que poderá passar ainda longe, mas devido à sua dimensão vai ter bastante influência em Macau”, disse Fong Soi Kun, que previa inundações na noite de ontem e durante hoje nas zonas baixas da cidade como o Porto Interior. Na sua passagem pelo norte das Filipinas, o tufão Megi provocou, pelo menos, 27 mortos, segundo o último balanço divulgado ontem à tarde pelo Governo e pela Cruz Vermelha do país. A agência oficial Nova China anunciou que mais de 150 mil pessoas na província de Fujian foram retiradas dos locais costeiros e 53.100 barcos de pesca dirigiram-se para portos de abrigo como medidas de precaução devido à aproximação do tufão. As autoridades meteorológicas chinesas prevêem que o tufão atinja as regiões de Guangdong e de Fujian amanhã.