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a natureza humana: na antiga tradição confucionista

do há harmonia completa entre o ren e o li --este é o equilíbrio perfeito, uma meta difícil mas não impossível. Deve ser possível adaptar ritos e convenções sociais às mudanças implícitas numa sociedade em rápida evolução, de outro modo eles correm o risco de serem repetidos mecanicamente como gestos gratuitos e cristalizações formais. Isto é possível graças ao yi [ 義], a capacidade para avaliar e reconhecer o que é justo, adequado e correcto, o fundamento do sentimento de justiça que anima o homem de grande virtude, a base do seu elevado sentido do dever, de rectidão e de moral: [君子

義以爲質,禮以行之,孫以出之,信以

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成之。君子哉] “O verdadeiro cavalheiro tem a moralidade como elemento básico, faz o seu desempenho de acordo com os rituais, espalha-a com humildade e completa-a com confiança--este é o verdadeiro cavalheiro”.21

As normas cerimoniais e as convenções sociais estabelecidas ao longo dos séculos devem ser olhadas como o resultado final e síntese de escolhas anteriores, condicionadas e determinadas pelo julgamento moral. De acordo com Confúcio, é graças à interacção harmoniosa destes princípios --ren, li e yi-- que o homem é capaz de se dominar e cultivar as suas qualidades morais e intelectuais: [克己復禮為仁。一

日克己復禮,天下歸仁焉。為仁由己, dadoso que zela e coordena cada acção de modo que a representação final seja tão perfeita e harmoniosa quanto possível.20

Se a aplicação das normas tradicionais das cerimónias rituais não fossem precedidas e acompanhadas pelo refinamento da personalidade de cada um, elas transformar-se-iam em regras formais vazias de conteúdo, paródias sem sentido, que em breve seriam abandonadas, abrindo, assim, a sociedade aos riscos de degeneração e à desordem e anarquia. A sua principal função teria falhado. Por outro lado, se a educação fosse, simplesmente, um facto privado sem projecção para o exterior, não beneficiaria a sociedade e o homem teria falhado o principal objectivo da sua vida. A relação simbólica entre o ren e o li é, deste modo, evidente: o estado ideal pode ser atingido apenas quan-

而由人乎哉?] “É pela disciplina e submissão à observância dos ritos que um homem se torna de grande virtude” Se durante um só dia alguém se submetesse à obediência dos ritos através da auto-disciplina, então, o mundo inteiro encontraria a virtude. Contudo, para se tornar um homem de grande virtude ele depende apenas de si próprio, e não dos outros”.

Cultivar as próprias qualidades significa aplicar-se diligentemente ao estudo, cuja intenção é [為己] “aperfeiçoar-se” mais do que [為己] “impressionar os outros”.22 O homem tem de se devotar à aquisição e interiorização dos li, que são a forma mais alta de conhecimento moral. Confúcio, também ele teve de dedicar-se diligentemente: [

我非生而知之者,好古,敏以求以者也] “Não nasci com o conhecimento, mas amando a cultura antiga, mais depressa chego a ele”.23 O processo de maturação interior pode levar uma vida inteira, como foi o caso de Confúcio que confiou que [吾十有五而志于學,三十

十而耳顺,七十而從心所欲,不踰矩 ] “Aos quinze entreguei o meu coracão ao conhecimento; aos trinta manifestei o meu ponto de vista; aos quarenta perdi as dúvidas; aos cinquenta compreendi a vontade do Céu; aos sessenta ouvia atentamente; aos setenta segui os desejos do meu coração sem transgredir no que era justo”.24

Um estudo sistemático e completo da herança cultural é insuficiente; deve ser auxiliado pelo pensamento e pela reflexão, uma das faculdades peculiares do homem, que lhe permite elaborar, com originalidade e criatividade o que aprendeu para o adaptar à realidade social em constante mudança, onde ele está inserido: [學而不思則罔,思而 不學則殆] “Se se aprende dos outros e não se pensa, ficar-se-á desorientado. Se, por outro lado, se pensa mas não se aprende dos outros, correr-se-ão perigos”.25 Neste sentido, Confúcio está a sublinhar a importância do estudo das normas tradicionais de conduta: [吾嘗 終日不食,終夜不寢,以思,無益, 不如學也] “Uma vez passei o dia sem comer, e a noite sem ir à cama, mergulhado no meu pensamento. Não me beneficiou nada. Teria sido melhor ter gasto o tempo na aprendizagem”.26 Reflectindo sobre os li depois de os ter aprendido a reconhecer e pô-los em prática correctamente, é considerado um exercício essencial no longo percurso que conduz à total compreensão do Caminho. Não é por acaso que o Lunyu começa com uma exaltação do sentimento de realização interior experimentado durante esta caminhada longa e laboriosa: [學而時习,不亦 説乎] “Não é uma alegria, tendo aprendido algo, experimentá-lo na altura certa?”27 É graças à interacção construtiva entre o pensamento e a aprendizagem que o indivíduo consegue alcançar a percepção real, a compreensão real, o reconhecimento escrupuloso da realidade circundante. Aprendizagem, reflexão e profundo conhecimento são, por isso, elementos complementares, embora distintos do projecto global de crescimento intelectual do indivíduo, do qual Confúcio foi proponente e seguidor.

Acabaram as diferentes interpretações do papel do si (pensamento) e xue (aprendizagem) no processo de crescimento interior do indivíduo que Mêncio e Xunzi tinha colocado em diferentes caminhos.

Notas

13 Ibid., 3.14.

14 Ibid., 3.11.

15 Ibid., 15.29.

16 Ibid., 1.2.

17 “Trabalhar para as coisas a que as pessoas comuns têm o direito e manter a distância em relação aos deuses e espíritos enquanto se lhes mostra o devido respeito — tal pode ser chamado de sabedoria” Afirma Confúcio em Lunyu, 6.22. Ver também Lunyu, 7.22 e 11.12.

18 Mengzi, 7B.16

19 Lunyu, 12.2.

20 Ibid., 1.12.

21 Ibid., 15.18.

22 Ibid., 14.24.

23 Ibid., 7.20.

24 Ibid., 2.4.

25 Ibid., 2.15.

26 Ibid., 15.31.

27 Ibid., 1.1.

UCRÂNIA CHINA VAI MANTER UM “PAPEL CONSTRUTIVO”

Oministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, afirmou ontem que a China “vai continuar a desempenhar um papel construtivo na crise ucraniana”, apelando a que “não se alimente a chama da guerra”.

Durante um evento sobre questões de segurança, organizado pelo ministério dos Negócios Estrangeiros, Qin instou ainda “alguns países” a “pararem com provocações”, quando afirmam que ‘a Ucrânia de hoje é a Taiwan de amanhã’.

O ministro assegurou que a China está “pronta para trabalhar a nível multilateral e bilateral com todos os países” e afirmou que Pequim “vai defender o consenso de que ‘uma guerra nuclear não deve e não pode ser travada’”. A China “rejeita uma corrida ao armamento” e “encoraja soluções políticas para o conflito”, disse o ministro.

RELATÓRIO EUA ACUSADOS DE QUEREREM MANTER “HEGEMONIA MUNDIAL”

proposto pelo Presidente chinês, Xi Jinping, em Abril de 2022, e que estipulou como objectivos o respeito à integridade territorial de todos países e a não interferência nos assuntos internos de outras nações.

A iniciativa “apoia uma estrutura de governação internacional liderada pelas Nações Unidas” e o papel da organização multilateral na “prevenção de guerras e na manutenção da paz”, disse Qin, acrescentando que a “segurança é um direito de todos os países e não uma patente exclusiva de alguns”. Durante um discurso na Conferência de Segurança de Munique, o Director do Gabinete para as Relações Externas do Partido Comunista da China (PCC), Wang Yi, reiterou que a China vai continuar a fazer “esforços” em prol da paz na Ucrânia e que o seu país sugeriu que

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