Hoje Macau 23 OUT 2019 # 4396

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ANGELOS TZORTZINIS/AFP/GETTY IMAGES

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

hojemacau

REFUGIADOS GRANDE PLANO

ECONOMIA

Zona de turbulência PÁGINA 4

ESTUDO

SER GAY

A inclusão de pessoas com deficiência na proposta de lei do salário mínimo está a ser equacionada, mas implica uma avaliação de produtividade, o que pode fazer baixar os salários em vigor. Já as

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INCÊNDIO

As falhas do sistema

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Margens da lei

HERÓIS DO MAR

empregadas domésticas, continuam fora da lei. “O aumento (dos salários) pode ser muito pesado para as famílias”, apontou Chan Chak Mo, presidente da comissão que analisa a proposta na AL.

PÁGINA 5 SOFIA MARGARIDA MOTA

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MOP$10

QUARTA-FEIRA 23 DE OUTUBRO DE 2019 • ANO XIX • Nº 4397

PAULO JOSÉ MIRANDA

VIDA E OBRA DE MANOEL DE OLIVEIRA

EVENTOS

h

PLANTANDO PEÓNIAS LI HE

DITO E POR DIZER JOÃO PAULO COTRIM

OBRIGADO SR. BLOOM PUB

NUNO MIGUEL GUEDES


2 grande plano

23.10.2019 quarta-feira

Quase todos os imigrantes que cruzam o Mediterrâneo para entrar de forma irregular na Europa indicaram que voltariam a fazê-lo, apesar dos perigos, segundo um estudo apresentado ontem pelas Nações Unidas (ONU). Entretanto, o número mortes na travessia do Mediterrâneo desceu para mais de metade este ano

ANGELOS TZORTZINIS/AFP/GETTY IMAGES

POR MARES MUITO

A

PENAS 2 por cento das quase 2.000 pessoas entrevistadas disse que teria permanecido no seu país de origem ao conhecer os riscos que enfrentava. Isto, apesar de 93 por cento dos entrevistados reconhecer estar em perigo durante a sua viagem, de acordo com os dados recolhidos pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Com o objectivo de entender melhor as motivações dos africanos que decidem emigrar para a Europa de forma irregular, a agência da Nações Unidas (ONU) recolheu depoimentos de 1.970 pessoas de 39 países africanos que actualmente residem em 13 países europeus e que

não procuram asilo ou protecção, mas que migraram por outros motivos. A idade média dos participantes no estudo era de 24 anos quando chegou à Europa, e 94 por cento tinha menos de 35 anos. Os emigrantes que ainda não tinham 18 anos completos quando fizeram a travessia totalizam 18 por cento. “A juventude dos emigrantes indica restrições no acesso

a oportunidades em África por parte dos mais novos. As gerações mais novas esbarraram nas escassas hipóteses de perseguir os seus sonhos e aspirações, nem de conseguir corresponder a realidade às suas perspectivas de vida e das suas famílias no contexto dos seus países de origem”, lê-se no relatório que acompanha o estudo.

Apenas 2 por cento das quase 2.000 pessoas entrevistadas ficaria no país de origem ao conhecer os riscos que enfrentava. Isso, apesar de 93 por cento reconhecer estar em perigo durante a sua viagem

Para o administrador do PNUD, Achim Steiner, o estudo mostra que a migração é uma consequência do ritmo de desenvolvimento na África, que, apesar dos progressos, permanece desigual e não é suficientemente rápido para responder às aspirações de muitas pessoas. Assim, o relatório conclui que a maior parte das pessoas que emigra da África para a Europa não é pobre no contexto africano e possui níveis de educação acima da média, com a maioria a trabalhar ou a estudar no momento da sua partida. Quase dois terços dos entrevistados indicaram que se sentia tratado de forma injusta pelo seu Governo e muitos assinalaram a etnia ou ideias políticas como o motivo.


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quarta-feira 23.10.2019

O NAVEGADOS “Dentro de cinco anos vejo-me de regresso ao meu país. Há cinco anos que a minha família não se vê. Portanto, um dia destes teremos de nos reunir outra vez. Quando regressar ao meu país será para ficar.” MAHAMADOU INQUIRIDO PARA O ESTUDO DA ONU

Uma grande maioria, 77 por cento, disse achar que a sua voz não seria ouvida no seu país ou que o sistema político não permitia influenciar de forma alguma no Governo. Assim, 41 por cento dos inquiridos mencionaram que “nada” teria mudado a sua decisão de emigrar. Um dos inquiridos para o estudo, aponta razões bem práticas para controlar o fluxo de emigrantes que arriscam tudo e se fazem à perigosa viagem marítima rumo à Europa. “A ideia de tentar reduzir o peso da emigração passa por olhar para as suas causas. São as políticas governamentais que conduzem as pessoas à pobreza, nada se desenvolve. As escolas não existem, a saúde pública é uma miséria, e reina a corrupção e a repressão”, diz Serge.

a minha filha e mulher para trás. Mas que tipo de pai seria se tivesse ficado e não lhes pudesse dar uma vida decente?”, questiona Yerima, um dos participantes no estudo, cujo nome a ONU não divulgou para proteger a sua identidade. As mulheres, de acordo com o estudo do PNUD, ganham, em média, mais que os homens e enviam mais dinheiro para as suas casas, uma situação que contrasta com a que têm na África, onde o seu rendimento é significativamente menor que o dos homens. Uma vez na Europa, as mulheres tendem a ganhar 11 por cento mais que os homens, uma inversão em relação ao que se passava nos países de origem, onde os homens ganhavam, em média, mais 26 por cento.

“Dentro de cinco anos vejo-me de regresso ao meu país. Há cinco anos que a minha família não se vê. Portanto, um dia destes teremos de nos reunir outra vez. Quando regressar ao meu país será para ficar”, perspectiva Mahamadou, um dos inquiridos para o estudo que tem uma visão partilhada por muitos emigrantes africanos. Aliás, o estudo revela que para a maioria, o objectivo não é estabelecer-se no país de destino, mas regressar posteriormente a casa. A vergonha de não poder enviar fundos para os seus familiares é um factor chave para quem decide não retornar, uma vez que 53 por cento dos entrevistados realçaram que receberam algum tipo de apoio financeiro para pagar a sua viagem. Quando estão na Europa, 78 por cento envia dinheiro para as suas famílias, em média um terço do que ganha mensalmente, o que representa 85 por cento do que recebia no seu país de origem. “Quem tem uma família tem de assegurar que têm comida, abrigo, medicamentos e educação. Eu tenho uma filha muito nova e há quem pergunte que tipo de pai sou para deixar

REUTERS

AJUDAR QUEM FICOU

“O objectivo foi fazer dinheiro. Pensei na minha mãe, pai, nas minhas irmãs. Quis ajudá-las, foi por isso que vim para a Europa”, revela outra participante no estudo, identificada como Drissa. Outro indicador revelado pelo estudo refere-se à exposição à criminalidade. Neste parâmetro, as emigrantes do sexo feminino revelaram maior probabilidade de serem vítimas de crimes, nos seis meses anteriores ao inquérito, do que os homens. Probabilidade que aumenta significativamente quando estão em causa crimes de natureza sexual.

SEM FUTURO

O relatório alerta que a migração está a deixar o continente africano sem muitas pessoas com mais

ONU

ESTUDO REVELA QUE QUEM CRUZA O MEDITERRÂNEO VOLTARIA A FAZÊ-LO

aspirações, precisamente aquelas que beneficiaram dos progressos de desenvolvimento das últimas décadas. Nesse sentido, o estudo adverte que, embora a imigração tenha sido reduzida recentemente, é provável que, à medida que a África continue a avançar, haja cada vez mais pessoas que queiram emigrar. Os especialistas do PNUD fazem uma série de recomendações, incluindo a expansão de oportunidades na África, dando mais poder aos jovens para decidirem o caminho dos países ou criarem economias mais inclusivas. Além disso, aconselham o aumento dos canais legais de migração, facilitando uma migração “circular” que permite que os africanos trabalhem

Até 13 de Agosto deste ano, perderam a vida na travessia do Mediterrâneo 844 pessoas, um decréscimo de quase 55 cento face ao mesmo período de 2018, quando o número de casualidades se fixou em 1.541

do outro lado do Mediterrâneo, ganhem dinheiro e depois retornem aos seus países de origem e também regularizem as pessoas que já estão na Europa. Várias organizações dentro das Nações Unidas têm destacado a necessidade de investir fortemente em soluções que resolvam o problema do desemprego e da falta de oportunidades dos jovens. A probabilidade de desemprego aumenta para o dobro se quem procura trabalho em África for jovem, com variações significativas de país para país, de acordo com um estudo do Banco Africano de Desenvolvimento. O continente africano tem cerca de 420 milhões de jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 35 anos. Deste universo, um terço está no desemprego numa situação desencorajadora, outro terço está numa situação de precariedade laboral, ou sente a estabilidade do seu trabalho em risco. Entre os inquiridos, apenas um em cada seis é remunerado.

MAR CEMITÉRIO

Na semana passada, as autoridades italianas apuraram que, pelo menos, 12 pessoas se afogaram num naufrágio ocorrido nas águas perigosas ao largo da Ilha de Lampedusa. A mórbida descoberta surgiu uma semana depois das autoridades italianas terem resgatado 22 sobreviventes de um barco que originalmente transportava meia centena. À altura, foram recuperados os corpos de 13 emigrantes do sexo feminino, onde se incluía o corpo de uma criança de 12 anos. Depois de ouvidos os testemunhos dos sobreviventes, ficou claro que várias dezenas de pessoas, incluindo 8 crianças, permaneciam desaparecidas. Este tipo de situação tornou-se normal nos últimos anos no mar de mediterrâneo, apesar de 2019 ter sido um ano de redução tanto nas chegadas como nas fatalidades. De acordo com a Organização Internacional para as Migrações, entidade que pertence à ONU, até 13 de Agosto de 2019 entraram na Europa 43.584 emigrantes e refugiados, uma descida de quase 31 por cento em relação ao mesmo período do ano passado, quando chegaram ao continente europeu 63.142 pessoas. Também as mortes baixaram. Segundo os dados da Organização Internacional para as Migrações, até 13 de Agosto deste ano, perderam a vida na travessia do Mediterrâneo 844 pessoas, o que corresponde a um decréscimo de quase 55 cento face ao mesmo período de 2018, quando o número de casualidades se fixou em 1.541. João Luz com agências info@hojemacau.com.mo


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23.10.2019 quarta-feira

TNR ELLA LEI QUESTIONA AVANÇOS DA ALTERAÇÃO À LEI

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Lionel Leong “Durante os mandatos há sempre turbulência. Então, cada Governo, no mundo, tem de se preparar para este tipo de turbulência. Este tipo de mudanças pode ser um desafio.”

ECONOMIA LIONEL LEONG ADMITE QUE CRESCIMENTO SEJA AFECTADO “POR TURBULÊNCIAS”

Em dias de tempestade

A economia de Macau pode ser contaminada pela instabilidade financeira que afecta os mercados mundiais e pela turbulência de “mercados próximos”. Como solução para contornar a conjuntura, Lionel Leong aponta a parcerias com o mundo lusófono

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secretário para a Economia e Finanças de Macau, Lionel Leong, admitiu em declarações à Lusa que o crescimento económico de Macau poderá ser afectado “por turbulências” no mundo e nos “mercados próximos”. Quando questionado sobre se os protestos e confrontos em Hong Kong poderiam afectar a economia de Macau, Lionel Leong, sem nunca se referir directamente àquela situação, respondeu: “A longo prazo, Macau depende definitivamente do crescimento económico do nosso país, China. Sobre isto não há dúvidas. Mas, a curto prazo (...) a turbulência está a acontecer, não só à volta do mundo, mas perto do nosso mercado”.

“Há coisas novas que estão a acontecer, as quais são imprevisíveis. Durante os mandatos há sempre turbulência, com maior ou menor intensidade. Então, cada Governo, no mundo, tem de se preparar para este tipo de turbulência. Esta mudanças podem ser um desafio [...], depende da forma como as enfrentamos, e como as atacamos ou como as superamos”, acrescentou, em declarações à Lusa, à margem de um evento em Lisboa.

PONTE PARA LISBOA

Porém, Lionel Leong acredita que as “fortes fundações” da economia de Macau assegurarão um caminho cada vez “melhor”. E quando a procura crescer os investimentos “vão chegar”,

Religião Ng Kuok Cheog pede respeito por símbolos O deputado Ng Kuok Cheong escreveu uma interpelação a pedir ao Governo que tome medidas para garantir que os símbolos religiosos são respeitados na RAEM. Foi desta forma que o deputado pró-Democracia reagiu ao caso das celebrações da criação da República Popular da China, quando os símbolos do partido foram projectados sobre a fachada das Ruínas de São Paulo. Ng recordou que a projecção resultou em várias críticas por parte dos cidadãos que

se sentiram desrespeitados e questionou o Executivo sobre o que vai ser feito para evitar a repetição de casos semelhantes. Ainda neste sentido, o legislador pergunta igualmente se o Executivo tem planos para implementar mecanismos de auscultação pública nos casos em que pretenda fazer projecções sobre edifícios qualificados como património mundial. Na mesma interpretação, Ng Kuok Cheong pede ao Governo que reconheça que a projecção foi erro.

destacando-se também os da área financeira, defendeu. O que para aquele responsável representa “também a mais importante oportunidade para os negócios entre os países de língua portuguesa e a China”. Macau pode ajudar às ligações entre Cantão, ou Hong Kong, por exemplo, à América Latina, através de Portugal e do Brasil, ou a Moçambique, Angola, e outros países africanos de língua portuguesa, também através do mercado português, diz o ainda secretário para a Economia e Finanças daquele território. “Isto é a plataforma de Macau, a que chamamos de serviços financeiros” entre a China e os países de língua portuguesa, afirmou.

Por isso, deixou uma mensagem de encorajamento para que mais pessoas de Macau venham a Portugal, com o objectivo de investir neste país, porque a China “tem muitos tipos de empresas, especialmente as nacionais, que têm milhões de dólares de lucros por ano e todo o interesse em investir nos mercados de língua portuguesa”, mas precisam de um parceiro. Esse parceiro é Portugal: “Macau e Portugal podem fazer isso”. “Temos amigos portugueses, parceiros estratégicos, e os investidores chineses de mãos dadas com investidores portugueses podem explorar as oportunidades nos países de língua portuguesa”, defendeu Lionel Leong.

deputada Ella Lei pediu ao Governo para fazer um ponto de situação sobre a alteração da Lei da contratação de trabalhadores não residentes (TNR). “A situação de trabalhadores ilegais [...] ainda é grave no território. Como a pena para os infractores é ligeira, apenas alguns milhares de patacas, o efeito dissuasor é insuficiente”, escreveu Ella Lei, no documento. Segundo a legisladora, a situação do trabalho ilegal não tem conhecido melhorias nos últimos anos porque a lei é insuficiente para castigar os infractores. Por isso, apelou para que haja revisão das leis de forma a preencher as lacunas existentes. A deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), recordou ainda que a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) tinha previsto a conclusão da proposta para alterar a lei no terceiro trimestre deste ano, mas tal não aconteceu. Ella Lei pede assim às autoridades que expliquem o progresso dos trabalhos e se vão terminá-los até ao fim do mandato de Chui Sai On, em Dezembro. Por outro lado, a membro da AL pede que apontem os valores monetários que estão a ser estudados para as novas multas.

HENGQIN PROPOSTA PREVÊ QUE A RAEM GIRA A FRONTEIRA

O

Governo da RAEM deverá passar a ter a responsabilidade do posto transfronteiriço da ilha de Hengqin. É o que consta da proposta que foi ontem analisada na 14º sessão da 13ª Assembleia Popular Nacional (APN). A garantia foi dada pelo vice-director do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado, Deng Zhonghua. A proposta inclui a autorização de gestão concedida pelo Governo Central à RAEM nas zonas do Posto Fronteiriço da Ilha da Montanha, Ponte Flor de Lótus, ponte de ligação entre a Universidade de Macau e o posto fronteiriço de Hengqin (excluindo o cais), e o espaço reservado para a extensão do metro ligeiro e o posto fronteiriço de Hengqin. Esta autorização deverá vigorar até ao dia 19 de Dezembro de 2049, ano em que chega ao fim o período de semi-autonomia do território determinado na Declaração Conjunta, assinada em 1987. Esse prazo poderá ser renovado por decisão do Comité Permanente daAPN. Cabe ao Conselho de Estado decidir as datas para a mudança de jurisdição consoante as zonas.


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quarta-feira 23.10.2019

SALÁRIO MÍNIMO GOVERNO ESTUDA INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Um sistema alternativo cento, ou seja 4.890, receberam o cartão devido a dificuldades motoras.

TIAGO ALCÂNTARA

“Se calhar todos [os deputados] têm trabalhadoras domésticas em casa.” Foi esta a hipótese avançada por Chan Chak Mo para o consenso entre os legisladores de excluir as empregadas domésticas da proposta de salário mínimo

DOMÉSTICAS DE FORA

Se a questão da inclusão das pessoas com deficiência está a ser estudada, o mesmo não acontece com as empregadas domésticas. Esta possibilidade está completamente afastada e não se vai materializar, por opção do Governo, que conta com o apoio de todos os deputados da comissão. “A proposta não vai incluir as trabalhadoras domésticas porque o aumento pode ser muito pesado para as famílias. E estas trabalhadoras são muito importantes para as famílias e por isso o Governo afastou esta possibilidade”, justificou Chan Chak Mo.

A

inclusão dos trabalhadores com deficiência na proposta que estabelece um salário mínimo universal de 6.656 patacas por mês esteve ontem a ser discutida entre os deputados da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa. No final, o presidente da comissão, Chan Chak Mo, revelou que está em cima da mesa a criação de um mecanismo para avaliar a incapacidade das pessoas com deficiência. “Actualmente temos um regime de avaliação do grau de deficiência das pessoas, Depois da avaliação, as pessoas recebem um cartão. Mas num regime como o que existe em Hong Kong há uma avaliação da produtividade dessas pessoas. Só que este é um regime que exige médicos especializados”, explicou Chan Chak Mo.

“Se um sistema de avaliação da capacidade [das pessoas com deficiência] for criado existe o risco de haver diminuição dos salários pagos.” CHAN CHAK MO DEPUTADO

EMPREGO PARA 70 PESSOAS

C

erca de 70 pessoas com deficiência arranjaram até Agosto trabalho no âmbito do programa relativo ao incentivo de emprego de beneficiários da pensão de invalidez, promovido pelo Instituto de Acção Social (IAS). Os números foram revelados pelo Governo, na resposta a uma interpelação da deputada Wong Kit Cheng, ligada à Associação Geral das Mulheres. De acordo com os dados revelados, foram 153 participantes no programa, dos quais 70 arranjaram emprego, cerca de 45,75 por cento. Outras 32 pessoas estão a trabalhar de forma experimental e 51 tiveram de voltar a receber apoios do IAS, uma vez que não foram contratadas após o período de trabalho experimental.

O Governo comprometeu-se a avaliar a sugestão, mas os deputados deixaram o aviso que a partir do momento em que houver um mecanismo que avalie a produtividade os salários para as pessoas com deficiência poderão levar um corte. “Se um sistema de avaliação da capacidade for criado existe o risco de haver diminuição dos salários pagos”, apontou. Segundo Chan Chak Mo, os trabalhadores com deficiência não estão incluídos na proposta, mas o Governo subsidia os empregos destes, para que no final do mês levem 5 mil patacas para casa. Assim, caso arranjem emprego e recebam, por exemplo, 3 mil patacas, o Governo paga-lhes as restantes 2 mil patacas. Se no início o Governo excluiu os deficientes da proposta

de salário mínimo, por considerar que limitaria as oportunidades de emprego, a mudança do cenário está agora a ser equacionada. O Executivo de Chui Sai On comprometeu-se a repensar a questão, depois de uma associação de pais

de pessoas com deficiência ter enviado uma carta à comissão que está a analisar o diploma do salário mínimo universal. Até ao final de Setembro, 13.731 pessoas tinham o cartão de pessoas com deficiência. Cerca de 35 por

Por outro lado, o deputado recusou dizer se acha esta opção “boa ou má”, mas realçou que há um consenso entre os deputados sobre a leitura do Executivo face à questão. “Os deputados concordam [que o Governo não inclua as empregadas domésticas na lei]. Se calhar todos [os deputados] têm empregadas domésticas em casa”, admitiu. No entanto, o mesmo deputado realçou que o Executivo não vai aceitar salários para esta classe inferiores a 3 mil patacas. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

Cuidadores Programa piloto a caminho

O Governo está a estudar a introdução de um sistema de subsídio para que as pessoas que necessitam possam contratar cuidadores, mas antes deverá arrancar um projecto piloto. Esta hipótese foi avançada pelo Instituto de Acção Social (IAS) numa resposta a uma interpelação do deputado José Pereira Coutinho. “O Governo da RAEM está a estudar a aplicação de um programa piloto que consiste em considerar certos grupos em situação vulnerável como destinatários para serem os primeiros a receberem, de forma experimental, o subsídio em causa”, foi revelado. Numa primeira fase, um estudo encomendado pelo Governo para subsidiar cuidadores tinham considerado a implementação do sistema difícil, mas mesmo assim o Executivo decidiu avançar com a ideia e está a trabalhar na criação da legislação necessária.


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23.10.2019 quarta-feira

Anúncio Concurso Público para

«EMPREITADA DE REPARAÇÃO E MELHORIA DO TÚNEL SUBAQUÁTICO DA UNIVERSIDADE DE MACAU E REFORMA E MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA ELECTROMECÂNICO»

1. 2. 3. 4. 5.

Entidade que põe a obra a concurso: Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas. Modalidade de concurso: concurso público. Local de execução da obra: Túnel subaquático do Campus da Universidade de Macau Objecto da empreitada: Reparação da parte estrutural do túnel subaquático e reforma e modernização do sistema electromecânico. Prazo máximo de execução: 5.1 O prazo máximo de execução para o acesso rodoviário tubular no sentido de Universidade de Macau para Taipa, corredor de cabos eléctricos e passagem pedonal é de 550 (quinhentos e cinquenta) dias de trabalho; 1.ª Meta obrigatória: O prazo máximo de execução dos ensaios de infiltração das respectivas estruturas, impermeabilização e reforço das estruturas do acesso rodoviário tubular no sentido de Universidade de Macau para Taipa é de 180 (cento e oitenta) dias de trabalho; 2.ª Meta obrigatória: O prazo máximo de execução dos trabalhos da empreitada de reparação e melhoria e de reforma e modernização das respectivas instalações do acesso rodoviário tubular no sentido de Universidade de Macau para Taipa e de conclusão dos respectivos testes de operação é de 400 (quatrocentos) dias de trabalho; 5.2 O prazo máximo de execução para o acesso rodoviário tubular no sentido de Taipa para Universidade de Macau é de 300 (trezentos) dias de trabalho; 3.ª Meta obrigatória: O prazo máximo de execução dos ensaios de infiltração das respectivas estruturas, impermeabilização e reforço das estruturas do acesso rodoviário tubular no sentido de Taipa para Universidade de Macau é de 150 (cento e cinquenta) dias de trabalho; (Indicado pelo concorrente; Deve consultar os pontos 7 e 8 do Preâmbulo do Programa de Concurso). 6. Prazo de validade das propostas: o prazo de validade das propostas é de noventa dias, a contar da data do encerramento do acto público do concurso, prorrogável, nos termos previstos no Programa de Concurso. 7. Tipo de empreitada: a empreitada é por série de preços. 8. Caução provisória: $5 000 000,00 (Cinco milhões de patacas), a prestar mediante depósito em dinheiro, garantia bancária ou seguro-caução aprovado nos termos legais. 9. Caução definitiva: 5% do preço total da adjudicação (das importâncias que o empreiteiro tiver a receber, em cada um dos pagamentos parciais são deduzidos 5% para garantia do contrato, para reforço da caução definitiva a prestar). 10. Preço base: não há. 11. Condições de admissão: São admitidos como concorrentes as pessoas, singulares ou colectivas, inscritas na DSSOPT para execução de obras, bem como as que à data do Concurso tenham requerido ou renovado a sua inscrição, sendo que neste último caso a admissão é condicionada ao deferimento do pedido de inscrição ou renovação. As pessoas, singulares ou colectiva, por si ou em agrupamento, só podem submeter uma única proposta. As sociedades e as suas representações são consideradas como sendo uma única entidade, devendo submeter apenas uma única proposta, por si ou agrupada com outras pessoas. Os agrupamentos, de pessoas singulares ou colectivas, devem ter no máximo até três (3) membros, não sendo necessário que entre os membros exista qualquer modalidade jurídica de associação. 12. Modalidade jurídica da associação que deve adoptar qualquer agrupamento de empresas a quem venha eventualmente a ser adjudicada a empreitada: consórcio externo nos termos previstos no Código Comercial, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 40/99/M, de 3 de Agosto. 13. Local, dia e hora limite para entrega das propostas: Local: sede do GDI, sita na Av. do Dr. Rodrigo Rodrigues, Edifício Nam Kwong, 10.º andar; Dia e hora limite: 18 de Novembro de 2019 (segunda-feira), até às 17:00 horas. Em caso de encerramento do GDI no dia e hora limites para apresentação de propostas por motivos de força maior ou qualquer outro facto impeditivo, a data limite para apresentação das propostas será transferida para o primeiro dia útil seguinte a mesma hora. 14. Local, dia e hora do acto público do concurso: Local: sede do GDI, sita na Av. do Dr. Rodrigo Rodrigues, Edifício Nam Kwong, 10.º andar, sala de reunião; Dia e hora: dia 19 de Novembro de 2019. (terça-feira), pelas 9:30 horas. Em caso de encerramento do GDI no dia e hora fixados para a realização do acto público de abertura das propostas por motivos de força maior ou qualquer outro facto impeditivo, a data para realização do acto público de abertura das propostas será transferida para o primeiro dia útil seguinte a mesma hora. Os concorrentes ou seus representantes deverão estar presentes ao acto público do concurso para os efeitos previstos no artigo 80.º do Decreto-Lei n.º 74/99/M, e para esclarecer as eventuais dúvidas relativas aos documentos apresentados no concurso. 15. Local, hora e preço para obtenção da cópia digital (em formato PDF) e consulta do processo: Local: sede do GDI, sita na Av. do Dr. Rodrigo Rodrigues, Edifício Nam Kwong, 10.º andar; Hora: horário de expediente; Preço: $1 000,00 (mil patacas). 16. Critérios de apreciação de propostas e respectivas proporções: - Preço da obra 50%; - Prazo de execução: 15%; - Plano de trabalhos: 15%; - Experiência e qualidade em obras: 20%; Critério de adjudicação: a) Caso o número de propostas admitidas for igual ou superior a 11, de acordo com o relatório de avaliação das propostas, os cinco concorrentes com pontuação global mais elevada serão ordenados do preço mais baixo ao preço mais alto e classificados em primeiro a quinto lugar, e a adjudicação será efectuada de acordo com a respectiva ordenação. b) Caso o número de propostas admitidas for inferior a 11, de acordo com o relatório de avaliação das propostas, os três concorrentes com pontuação global mais elevada serão ordenados do preço mais baixo ao preço mais alto e classificados em primeiro a terceiro lugar, e a adjudicação será efectuada de acordo com a respectiva ordenação. Critério de desempate: Caso, após ordenação, houver concorrentes com iguais propostas de preço mais baixo, a empreitada será adjudicada ao concorrente que tiver melhor pontuação global. 17. Junção de esclarecimentos: Os concorrentes poderão comparecer na sede do GDI, sita na Av. do Dr. Rodrigo Rodrigues, Edifício Nam Kwong, 10.º andar, a partir de 11 de Novembro de 2019. (segunda-feira), inclusive, e até à data limite para a entrega das propostas, para tomar conhecimento de eventuais esclarecimentos adicionais. Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas, aos 17 de Outubro de 2019 (quinta-feira). O Coordenador, Lam Wai Hou

DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE TURISMO ANÚNCIO Torna-se público que, de acordo com o Despacho de 11 de Outubro de 2019 do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, se encontra aberto concurso público para adjudicação do serviço de realização do Espectáculo de Lançamento de Fogo-deArtifício para a Celebração do Ano Novo Lunar 2020. Desde a data da publicação do presente anúncio, nos dias úteis e durante o horário normal de expediente, os interessados podem examinar o Processo do Concurso na Direcção dos Serviços de Turismo, sita em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 335-341, Edifício Hotline, 12.o andar, e ser levantadas cópias, incluindo o Programa do Concurso, o Caderno de Encargos e demais documentos suplementares, encontrando-se o referido processo igualmente patente no website da Direcção dos Serviços de Turismo (http://industry.macaotourism.gov.mo), podendo os concorrentes fazer “download” do mesmo. O limite máximo do valor global da prestação de serviço é de MOP1.500.000,00 (um milhão e quinhentas mil patacas). Critérios de apreciação das propostas e percentagem: Critérios de adjudicação Preço A quantidade de disparos Criatividade - Descrição do tema do espectáculo de fogo-de-artifício - Utilização de tecnologia nova (descrição de utilização de criatividade ou produto específico, ou descrição de efeitos espectaculares) - Descrição do plano do lançamento e dos seus efeitos - Descrição do equipamento a ser utilizado Maior garantia de segurança e eficiência na prestação do serviço - Plano de transporte dos materiais pirotécnicos - Plano do lançamento - Plano de segurança na operação do lançamento - Mapa do traçado do local do lançamento Experiência do concorrente

Factores de ponderação 30% 10% 20%

30%

10%

Os concorrentes deverão apresentar as propostas na Direcção dos Serviços de Turismo, sita em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 335-341, Edifício Hotline, 12.o andar, durante o horário normal de expediente e até às 17:45 horas do dia 14 de Novembro de 2019, devendo as mesmas ser redigidas numa das línguas oficiais de RAEM ou em inglês, prestar a caução provisória de MOP30.000,00 (trinta mil patacas), mediante 1) depósito em numerário à ordem do “Fundo de Turismo” no Banco Nacional Ultramarino de Macau 2) garantia bancária 3) depósito nesta Direcção dos Serviços em numerário, em ordem de caixa ou em cheque, emitidos à ordem do “Fundo de Turismo” (número da conta:8003911119) 4) por transferência bancária na conta do Fundo do Turismo do Banco Nacional Ultramarino de Macau. Acto público do concurso, no Auditório da Direcção dos Serviços de Turismo, sito em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 335-341, Edifício Hotline, 14.o andar pelas 10:00 horas do dia 15 de Novembro de 2019. Os representantes dos concorrentes deverão estar presentes no acto público de abertura das propostas para efeitos de apresentação de eventuais reclamações e/ou para esclarecimento de eventuais dúvidas dos documentos apresentados ao concurso, nos termos do artigo 27.o do Decreto-Lei n.o 63/85/M, de 6 de Julho. Os representantes legais dos concorrentes poderão fazer-se representar por procurador devendo, neste caso, o procurador apresentar procuração notarial conferindo-lhe poderes para o acto público do concurso. Em caso de encerramento destes Serviços por causa de tempestade ou por motivo de força maior, o prazo de entrega das propostas e de abertura das propostas serão adiados para o primeiro dia útil imediatamente seguinte, à mesma hora. Direcção dos Serviços de Turismo, aos 17 de Outubro de 2019. A Directora dos Serviços Maria Helena de Senna Fernandes


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quarta-feira 23.10.2019

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SEXUALIDADE 16% DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DIZEM SER GAYS

Saída do armário surpresa, não esperávamos que a percentagem fosse tão elevada.” Esta percentagem representa um total de 170 alunos, ainda que menos de um terço tenha admitido ter tido experiências sexuais. Spencer Li referiu que “determinadas orientações sexuais parecem estar associadas a problemas de comportamento psicológico”, ainda que o estudo não se tenha debruçado de forma mais aprofundada sobre esse assunto. “Quem não é heterossexual tende a ter mais distúrbios de saúde mental e a consumir mais álcool e

drogas. Provavelmente devido ao facto de experienciar mais stress por causa da discriminação ou vitimização. É uma possibilidade, mas não estudámos isso”, acrescentou o académico. No que diz respeito aos quatro comportamentos de risco analisados no estudo, os heterossexuais são mais propensos a ter mais parceiros sexuais sem que, no entanto, utilizem sempre preservativo. Para Spencer Li, o estudo revela que ser gay não influencia directamente a existência de comportamentos de risco.

“A orientação sexual não parece estar associada a comportamentos de risco, em termos gerais”, adiantou o docente. O estudo concluiu ainda que onze dos alunos ouvidos admitiram ter sido sujeitos a sexo forçado. Os dados foram recolhidos o ano passado, tendo sido extraídos de um questionário feito com o apoio do Instituto de Acção Social.

A Direcção dos Serviços de Ensino Superior, em conjunto com a Faculdade de Educação Continuada da Universidade Tsinghua, estão a organizar um curso de 7 dias em que 30 alunos vão ter a oportunidade de receber formação sobre “a realidade nacional”. Todos os alunos se podem inscrever, mas apenas são seleccionados os “principais membros das associações das instituições de ensino superior” que tenham BIR válido e que frequentem cursos durante o ano lectivo 2019/2020. Segundo um comunicado da DSES, o itinerário inclui a participação em diferentes tipos de palestras temáticas para conhecer a situação e o desenvolvimento da história, cultura, sociedade e economia do país de várias perspectivas, bem como visitar os pavilhões de grandes eventos nacionais, os locais históricos e culturais e trocar impressões com as associações de estudantes, entre outros.

“Mais de 16,5 por cento dos estudantes universitários identifica-se como homossexuais, bissexuais ou outros. É uma surpresa, não esperávamos que a percentagem fosse tão elevada.”

O HM recolheu comentários junto de Anthony Lam e Jason Chao, dirigentes da Associação Arco-Íris

SPENCER LI PROFESSOR E AUTOR DO ESTUDO

“Há poucas pessoas que são absolutamente homossexuais ou heterossexuais. Mas os números não me surpreendem. Estamos contentes com o facto de a geração mais jovem estar mais aberta à diversidade da orientação sexual”, disse Jason Chao. Este é o primeiro estudo do género a ser feito por uma entidade pública. Em 2014, a Associação Arco-Íris anunciou um segundo inquérito dirigido à comunidade LGBT do território, com o primeiro a revelar que, de 200 pessoas, 20 por cento assumiram já ter pensado em cometer suicídio. ParaAnthony Lam este número é “muito preocupante". A associação prepara-se para lançar este sábado um novo inquérito à comunidade LGBT, cujos resultados deverão ser conhecidos em Novembro, adiantou Jason Chao ao HM.

ÃO números surpreendentes, numa sociedade onde o tema ainda é tabu. Um estudo realizado pelo departamento de sociologia da Universidade de Macau (UM), ontem divulgado, conclui que 16 por cento dos alunos universitários ouvidos, de uma amostra superior a mil estudantes, afirma ser homossexual. De acordo com a Rádio Macau, o autor do estudo, o professor Spencer Li, mostrou-se surpreendido com os resultados. “Descobrimos um nível surpreendentemente alto de indivíduos que se identificam como tendo uma orientação sexual não tradicional, e por tradicional entende-se heterossexual. Mais de 16,5 por cento dos estudantes universitários identifica-se como homossexuais, bissexuais ou outros. É uma

Ensino Alunos de Macau em Pequim para conhecer “realidade nacional”

de Macau, que defende os direitos da comunidade LGBT. Jason Chao também considera tratar-se de “um número elevado”, mas alerta para o facto da orientação sexual não ser algo que se possa categorizar na totalidade, além de que muitos jovens se possam sentir confusos sobre aquilo que sentem.

TRABALHO INÉDITO

GONÇALO LOBO PINHEIRO

Um estudo levado a cabo pelo departamento de sociologia da Universidade de Macau conclui que 16 por cento dos estudantes universitários ouvidos assume ser homossexual. A Associação Arco-Íris de Macau preparase para lançar um terceiro inquérito à comunidade LGBT este sábado

Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

QUINTA PONTE MACAU-TAIPA NOVA CONSULTA ATÉ 5 DE NOVEMBRO

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ECORRE até 5 de Novembro a segunda fase da consulta pública sobre o relatório de avaliação do impacto ambiental da quinta ligação Macau-Taipa, que será um túnel subaquático a erguer ao lado da Ponte Governador Nobre de Carvalho. Coube à empresa “Shanghai Investigation, Design & Research Institute Co, Ltd” a realização do referido relatório, que respeitou as exigências constantes do “The environmental impact assessment law of the

People's Republic of China” e das “Medidas Provisórias para a Participação Pública na Avaliação do Impacto Ambiental”. De acordo com um comunicado da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), o relatório sujeito a consulta pública revela que a construção de um túnel subaquático terá um certo impacto no ambiente circundante, mas em geral será temporário e reversível”, sendo que “através de medi-

das de protecção ambiental adequadas o mesmo poderá ser minimizado”. O mesmo documento prevê que “depois de concluída a construção, o ambiente ecológico voltará ao seu estado inicial, por isso, prevê-se que não haja impactos significativos no sistema ecológico da zona”. Nesse sentido, “em termos de impacto ambiental, este projecto de construção é viável e satisfaz os requisitos da respectiva legislação e do planeamento da protecção ambiental”.

O túnel subaquático terá um comprimento de aproximadamente 2.400 metros, seis faixas de rodagem de duplo sentido, sendo a velocidade máxima permitida de 60 quilómetros por hora. O túnel ligará as zonas B e D dos Novos Aterros Urbanos de Macau, terá início na intersecção entre a Avenida Dr. Sun Yat-Sen e a Avenida 24 de Junho da Zona B e terminará numa nova via situada na Zona D no sentido leste-oeste.


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23.10.2019 quarta-feira

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 556/AI/2019 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora ZHANG ZHI, portadora do Passaporte da RPC n.° E78219xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 51/ DI-AI/2018, levantado pela DST a 14.03.2018, e por despacho do signatário de 30.09.2019, exarado no Relatório n.° 412/DI/2019, de 30.08.2019, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua Cidade de Santarém n.° 423, Praça Wong Chio, 13.° andar Y onde se prestava alojamento ilegal.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. -----------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 30 de Setembro de 2019. O Director dos Serviços, Subst.°, Hoi Io Meng

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 580/AI/2019 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora WU QIONGHUA, portadora do Passaporte da RPC n.° EA7008xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 87/DI-AI/2018, levantado pela DST a 30.04.2018, e por despacho do signatário de 03.10.2019, exarado no Relatório n.° 433/ DI/2019, de 06.09.2019, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua de Xangai n.° 21-E, I Keng Fa Un, I Tou Kok, 20.° andar C onde se prestava alojamento ilegal.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. -----------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 3 de Outubro de 2019. O Director dos Serviços, Subst.°, Hoi Io Meng

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 598/AI/2019

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 605/AI/2019

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora LI LIHUA, portadora do passaporte da RPC n.° G28830xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 148/DI-AI/2017 levantado pela DST a 07.06.2017, e por despacho da signatária de 26.09.2019, exarado no Relatório n.° 445/DI/2019, de 13.09.2019, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.os 361-B 361-K, Edf. I On Kok, 14.° andar H, Macau.---------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo DecretoLei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.----------------------------------Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-----------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.-------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.--------------------------------

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor CHAN KIN HOU, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.° 51775xx(x), que na sequência do Auto de Notícia n.° 258/DIAI/2017 levantado pela DST a 08.11.2017, e por despacho da signatária de 26.09.2019, exarado no Relatório n.° 451/DI/2019, de 18.09.2019, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Travessa Quarta do Patio do Jardim n.° 2-B, Hing Cheong Kok, 1.° andar A, Macau onde se prestava alojamento ilegal.---------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 30 dias, conforme o disposto na alínea a) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo DecretoLei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.----------------------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.-------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.--------------------------------

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 26 de Setembro de 2019.

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 26 de Setembro de 2019.

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.º 48/P/19 Obra de remodelação de gabinetes para serviços administrativos no Centro Hospitalar Conde de São Januário 1. Entidade que põe a obra a concurso: Serviços de Saúde. 2. Modalidade de concurso: Concurso Público. 3. Local de execução da obra: Centro Hospitalar Conde de São Januário. 4. Objecto da Empreitada: Realização da obra de remodelação de gabinetes para serviços administrativos no Centro Hospitalar Conde de São Januário. 5. Prazo máximo de execução: 180 (cento e oitenta) dias de trabalho. 6. Prazo de validade das propostas: O prazo de validade das propostas é de 90 dias (noventa dias), a contar da data do Acto Público do Concurso, prorrogável, nos termos previstos no Programa de Concurso. 7. Tipo de empreitada: A empreitada é por série de preços. 8. Caução provisória: MOP 154 000,00 (cento e cinquenta e quatro mil patacas), a prestar mediante depósito em dinheiro, garantia bancária ou seguro-caução, aprovado nos termos legais. 9. Caução definitiva: 5% (cinco por cento) do preço total da adjudicação (das importâncias que o empreiteiro tiver a receber, em cada um dos pagamentos parciais são deduzidos 5% (cinco por cento) para garantia do contrato, para reforço da caução definitiva a prestar). 10. Preço Base: Não há. 11. Condições de Admissão: Serão admitidas como concorrentes as entidades inscritas na DSSOPT para execução de obras, bem como as que à data do concurso, tenham requerido a sua inscrição, neste último caso a admissão é condicionada ao deferimento do pedido de inscrição. 12. Local, dia e hora limite para entrega das propostas: Local: Secção de Expediente Geral dos Serviços de Saúde, que se situa no r/c do Edifício do Centro Hospitalar Conde de São Januário; Dia e hora limite: Dia 10 de Dezembro de 2019 (terça -feira), até às 17,45 horas. Em caso de encerramento dos Serviços Públicos da Região Administrativa Especial de Macau, em virtude de tempestade ou motivo de força maior, a data e a hora estabelecidas para a entrega de propostas, serão adiadas para o primeiro dia útil seguinte, à mesma hora. 13. Local, dia e hora do acto público: Local: Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C - «Sala de Reunião». Dia e hora: Dia 11 de Dezembro de 2019 (quarta-feira), às 10,00 horas. Em caso de encerramento dos Serviços Públicos da Região Administrativa Especial de Macau, em virtude de tempestade ou motivo de força maior, a data e a hora estabelecidas para o acto público de abertura das propostas do concurso público, serão adiadas para a mesma hora do dia útil seguinte. Os concorrentes ou seus representantes deverão estar presentes ao acto público de abertura de propostas para os efeitos previstos no artigo 80.º do Decreto-Lei n.º 74/99/M, de 8 de Novembro, e para esclarecer as eventuais dúvidas relativas aos documentos apresentados no concurso. 14. Visita às instalações: Os concorrentes deverão comparecer no Departamento de Instalações e Equipamentos do Centro Hospitalar Conde de São Januário, no dia 28 de Outubro de 2019 (segunda-feira), às 10,00 horas, para visita ao local da obra a que se destina o objecto deste concurso. 15. Local, hora e preço para consulta do processo e obtenção da cópia: Local: Divisão de Aprovisionamento e Economato dos Serviços de Saúde, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. Hora: Horário de expediente (das 9:00 às 13:00 horas e das 14:30 às 17:30 horas). Preço: MOP105,00 (cento e cinco patacas), local de pagamento: Secção de Tesouraria destes Serviços de Saúde. 16. Critérios de apreciação de propostas e respectivos factores de ponderação: A Preço razoável Experiência em execução das obras B B1. Experiência em obras semelhantes - 20% B2. Estrutura das equipas executoras da obra e alocação dos recursos humanos - 10% C Programa de execução da obra

40%

D Programa de trabalhos

10%

30% 10%

E Prazo de execução da obra 5% Integridade e honestidade Declaração de Integridade e Honestidade - 2% F F1. F2. Declaração de compromisso do concorrente em que não foi sentenciado pelo Tribunal ou órgão administrativo por ter empregue trabalhadores 5% ilegais, ter contratado trabalhadores não destinados para o exercício de funções ou para a devida actividade - 3% 17. Junção de esclarecimentos: Os concorrentes poderão comparecer na Divisão de Aprovisionamento e Economato dos Serviços de Saúde, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, a partir de 23 de Outubro de 2019 (quarta-feira) até à data limite para a entrega das propostas, a fim de tomar conhecimento de eventuais esclarecimentos adicionais. Serviços de Saúde, aos 16 de Outubro de 2019 O Director Lei Chin Ion


sociedade 9

quarta-feira 23.10.2019

INCÊNDIO CONTENÇÃO DE CUSTOS EXPLICA EXTINTORES FORA DO PRAZO

JOGO SANFORD C. BERNSTEIN VÊ EM ALTA ESTIMATIVA DE RECEITAS DE OUTUBRO

A

consultora Sanford C. Bernstein emitiu um comunicado em que revê em alta a previsão das receitas dos casinos para Outubro. Numa estimativa anterior, as receitas das concessionárias caíam entre 3 e 6 por cento, uma perspectiva que melhora na nova avaliação que coloca as receitas entre a queda de 3 por cento e 0 por cento, face ao período homólogo do ano passado. “É possível que se verifique uma revisão em alta se a nossa estimativa para o segmento VIP se aguentar na taxa acima do normal”, refere a nota dos analistas da consultora. O comunicado estima que as receitas entre 1 e 20 de Outubro se fixaram em 18,6 mil milhões de patacas, com um total apurado diariamente de cerca de 930 milhões de patacas. A Nomura também deu uma perspectiva mais optimista, em relação a estimativas anteriores. Numa nota emitida na segunda-feira, os analistas da Nomura previram que as receitas originadas pelo segmento de massas tivessem crescido 13 a 14 por cento, em relação ao mesmo período de 2018 e que as variações no segmento VIP se mantivessem dentro da margem normal, sem quebras significativas. J.L.

Austeridade inflamável

O presidente da empresa responsável pela gestão do prédio na Areia Preta onde ocorreu um incêndio no passado domingo apontou a falta de investimento como justificação para extintores fora do prazo e alarmes antigos. Multiplicam-se os pedidos de revisão legal para solucionar o problema das falhas na prevenção e alerta para incêndios

O

incêndio que deflagrou no Edifício Jardim Kong Fok Cheong, na Areia Preta, trouxe ao de cima problemas ao nível das leis e regulamentos na prevenção e combate aos incêndios. O deputado, e presidente da Associação dos Engenheiros de Macau, Wu Chou Kit, entende que deveria ser obrigatório instalar sistemas automáticos de aspersão de água nas habitações de edifícios altos. Em declarações ao Ou Mun, o deputado deu como exemplo Taiwan, onde este sistema é obrigatório em prédios de grande dimensão. “Em Macau exige-se aos edifícios industriais e comerciais a colocação de um sistema automático de aspersão de água, não havendo, no entanto, o mesmo requisito para residências”, frisou. Também o dirigente da Associações dos Operários de Macau (FAOM) Lee Chong Cheng é da opinião de que é urgente reformar a lei para resolver os problemas de gestão de edifícios na prevenção e combate a incêndios. Citado pelo Jornal do Cidadão, Lee refere que muitas vezes as administrações de condomínio desligam os alarmes de incêndios para não incomodar e que é fre-

quente os moradores usarem as bocas de incêndio para outros fins que não o combate às chamas. O responsável da FAOM pede que o Governo lance uma campanha

“A associação de proprietários apenas concedeu 3 mil patacas. Não é suficiente para mudar todos os extintores de incêndio.” IEONG WAI IAM GERÊNCIA DO EDIFÍCIO JARDIM KONG FOK CHEONG

de sensibilização para evitar este tipo de comportamento.

REDUZIR CUSTOS A TODO O CUSTO

Entretanto, a empresa que administra o bloco do edifício onde se deu o incêndio tem sido alvo de muitas críticas. Ieong Wai Iam, presidente do conselho de administração de Macau Crown Group, afirmou que a associação dos proprietários do edifício Kuong Fok Cheong não quis aumentar despesas. Facto que levou a empresa a reduzir o pessoal encarregue da gestão do prédio, para uma pessoa, e que justifica os extintores largamente fora do prazo de validade.

“A associação de proprietários apenas concedeu 3 mil patacas. Não é suficiente para mudar todos os extintores de incêndio. Para pedir mais financiamento era preciso realizar uma reunião com os proprietários, ou seja, questões de verbas e procedimentos complexos”, sublinhou Ieong Wai Iam. Em relação ao alarme durante o incêndio, o responsável apontou também para a “idade” dos equipamentos, que implica que se parta um vidro para activação e não liga automaticamente se houver fumo. A advogada e vice-presidente da Associação de Intercâmbio e Promoção Jurídica de Macau, Cheng Ka Man refere que segundo o Regulamento de Segurança contra Incêndios, todos os edifícios têm de fazer inspecção anual dos equipamentos e sistemas de protecção contra incêndios. As vistorias são efectuadas por entidades reconhecidas pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Se for apurado que acidentes foram causados por deficiências dos aparelhos ou sistemas, estas empresas podem ser responsabilizadas civil e penalmente. João Luz com Juana Ng Cen info@hojemacau.com.mo

TURISMO MAIS DE 30 MILHÕES DE VISITANTES ATÉ SETEMBRO

M

AIS de 30 milhões de pessoas visitaram Macau até Setembro, um aumento de 17 por cento face a igual período do ano passado, segundo dados oficiais divulgados ontem. Entre Janeiro e Setembro, o número de excursionistas (15.929.175) e de turistas (14.273.731) aumentou

30,6 por cento e 4,9 por cento respectivamente, em termos anuais, totalizando 30.202.906 de visitantes. Por visitante entende-se qualquer pessoa que tenha viajado para Macau por um período inferior a um ano, um termo que se divide em turista (aquele que passa pelo menos uma noite) e

excursionista (aquele que não pernoita). Nos meses em análise, os visitantes permaneceram no território por um período médio de 1,2 dias, de acordo com a Direcção dos Serviços e Estatísticas e Censos (DSEC). A maioria dos visitantes que entrou em Macau,

até Setembro, é oriunda do interior da China (21.455.294), mais 17,7 por cento em relação ao período homólogo de 2018. Já os visitantes da Coreia do Sul (609.833), de Hong Kong (5.560.117) e de Taiwan (815.838) cresceram 0,4 por cento, 22,3 por cento e 1,5 por cento,

respectivamente. Só no mês de Setembro, visitaram Macau 2.764.924 de pessoas, um aumento de 8 por cento em relação ao mesmo mês do ano passado. Em 2018, Macau bateu o número recorde de turistas: 35,8 milhões, um aumento de 9,8 por cento em relação ao ano anterior.


10 eventos

Poeta e colaborador do HM, Paulo José Miranda aceitou, pela primeira vez, embrenhar-se no género da biografia por ser um apaixonado pelo cinema de Manoel de Oliveira. No livro, contam-se os segredos de uma vida e de uma obra que acompanha quase a história do próprio cinema. Editado pela Contraponto em Portugal, a publicação chega à Livraria Portuguesa na próxima segunda-feira Disse esperar que esta biografia chame mais a atenção do público português para as obras de Manoel de Oliveira. Os seus filmes foram sempre muito esquecidos pelos portugueses, mas aclamados fora de Portugal? Isso aconteceu desde o primeiro filme, filmado em 1931. Manoel de Oliveira sempre foi muito mais apreciado por estrangeiros do que pelos portugueses. A partir de uma certa altura ele passou a ser muito conhecido, mas esse conhecimento tinha a ver com várias razões que não propriamente as razões de apreciação da sua obra. E depois com os prémios lá fora e as críticas sempre muito boas, mais o facto de trabalhar sempre com bons actores, foi criando uma certa maturidade em Portugal. Mas a verdade é que a maioria das pessoas continuava a não ver os seus filmes e a falar deles de um modo depreciativo sem os ver. São filmes muito teatrais, muito longos. Isso poderá ter afastado o público? Primeiro que tudo trata-se de um cinema na maioria das vezes muito experimental, completamente fora do mainstream, anti-naturalista. É sempre muito difícil, porque as pessoas cada vez mais se

SOFIA MARGARIDA MOTA

23.10.2019 quarta-feira

PAULO JOSÉ MIRANDA AUTOR DA BIOGRAFIA SOBRE MANOEL DE OLIVEIRA

“A sua vida é tudo menos trivial”

interessam pelo cinema como divertimento, vão ao cinema como se aquilo estivesse mesmo a acontecer. Essa é uma das razões principais que afasta o público do cinema de Manoel de Oliveira. Mas também podemos dizer isso em relação à literatura ou à música. Porquê o título “A morte não é prioritária”? Esse título aparece logo quando comecei a trabalhar no livro, em 2017, quando me sentei a ver vários documentários sobre Manoel de Oliveira. No primeiro que vi, de Sérgio Andrade, uma das pessoas que estavam a ser entrevistadas falava da longevidade de Manoel de Oliveira e dizia que, em relação a ele, a morte não era prioritária. Eu achei que aquela frase se coadunava com o Manoel de Oliveira. Aí disse ao meu editor que já tínhamos título e ele achou extraordinário. De qualquer modo, tem muito a ver com ele. Qual foi o primeiro filme que viu que o fez perceber que era fã do cinema de Oliveira? Quando vi o primeiro filme do Manoel de Oliveira era muito jovem, tinha 23 anos, e foi “Os Canibais”, que tinha acabado de sair. Eu já gostava

de cinema e, para um jovem de 23 anos, “Os Canibais” era uma obra extremamente nova, revolucionária. Aliás, várias pessoas escreveram na altura que parecia o filme de um jovem que estava a começar e não de um homem com 80 anos.

O livro revela alguns segredos? Há várias informações que surgem que nunca tinham vindo a lume, algumas porque as pessoas não sabiam, porque foram reveladas por pessoas particulares, e outras tinham a ver com uma certa formalidade

ou um trato que o Manoel de Oliveira tinha tido com Paulo Branco (produtor), por exemplo, para não falar daquilo que os tinha levado a separar. Depois da morte, isso deixa de fazer sentido manter-se, então há coisas que se revelam. A biografia não pretende trazer

coisas que ninguém saiba, embora apareçam, mas quer acima de tudo contar a história de um homem que é bastante singular, bem como a sua história de vida e obra. Não é só a obra de Manoel de Oliveira que está neste livro, mas a sua vida, que é tudo menos trivial.


eventos 11

quarta-feira 23.10.2019

Faltava contar a história de vida de um dos maiores cineastas portugueses? Há muitas reflexões à volta de Manoel de Oliveira, muitos textos sobre ele em Portugal e no estrangeiro, sobretudo em países anglo-saxónicos. Mas acho que era importante haver uma biografia e sobretudo uma como a que fiz, em que o confronto da vida com a obra está todo lá. O Luís Manuel Cintra dizia-me que não era possível fazer a biografia dele sem ter um conhecimento profundo e sem ter visto todos os filmes dele. Foi esse o trabalho que fiz e julgo que fazia sentido. Poderá voltar ao género da biografia? A poesia está sempre presente. Não me parece que volte à biografia pois é um trabalho muito exigente e que só se faz por uma grande paixão.

“Era importante haver uma biografia e sobretudo uma como a que fiz, em que o confronto da vida com a obra está todo lá.”

A vida de Manoel de Oliveira acompanha a história do cinema português. A história do cinema mundial, quase, porque o cinema tinha 13 anos quando ele nasceu. Ele começa a filmar no cinema mudo e termina a filmar com o digital.

Nestes dois anos de intenso trabalho quais foram os maiores desafios com que se deparou? Uma das dificuldades prendia-se com a longevidade dele. O colocar em 500 páginas, que acabaram por ser mais, uma vida tão grande

e extensa, fez-me planear o que ia deixar de fora. Não é possível colocar uma vida inteira dentro de um livro. Numa aproximação mais rigorosa teriam de ser seis mil páginas, no mínimo. A técnica que escolhi foi a mesma que os cineastas utilizam em

relação aos romances. Pegam num romance de 500 páginas e escrevem um guião para um filme de hora e meia. Eu fiz um guião como se a vida do Manoel de Oliveira fosse um romance, e fazer esse guião sem perder a riqueza do romance foi o maior desafio.

Durante a elaboração desta biografia quais foram as fontes consultadas, que entrevistas fez? Manoel de Oliveira deixou quatro filhos, que continuam vivos. Uma das filhas, a Adelaide, que secretariava o pai, disse-me que a família não tinha nada contra a biografia, mas que preferia não participar porque teria sido essa a vontade do pai quando era vivo. Por intermédio de outra pessoa, José Roque de Pinho, falei com Manuel Casimiro (filho de Manoel de Oliveira) que, a partir de 2005, era a pessoa responsável por terminar os filmes caso o pai morresse. Era preciso determinar isso nos contratos. (Manoel de Oliveira morreria dez anos depois, com 106 anos de idade). Foi uma preciosa ajuda nas questões dos anos mais antigos, não me falou da infância e da adolescência do pai, mas falou do pai com 40 ou 50 anos. Falei também com pessoas que trabalharam com Manoel de Oliveira, com muitos actores e algum pessoal da parte técnica. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

OFICINAS NAVAIS MOSTRA DE TRABALHOS DE JOVENS CHINESES ATÉ FEVEREIRO

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HAMA-SE “O Mundo como Vontade e Representação – Exposição Colectiva dos Artistas Emergentes do Interior da China” e é a mais recente exposição patente no Centro de Arte Contemporânea de Macau - Oficinas Navais N.º 1. A mostra, da responsabilidade do Instituto Cultural (IC), foi inaugurada esta segunda-feira e conta com curadoria da profissional de Sun Feng. De acordo com uma nota oficial, esta convidou cinco jovens artistas contemporâneos do Interior da China, tal como Ouyang Sulong, Yuan Song, Liang Manqi, Hu Weiyi e Ying Xinxun, para apresentar um total de 26 obras de arte de grandes dimensões e de vários tipos, incluindo instalações de desenho espacial, instalações de vídeo interactivas, impressões em 3D, fotografias, vídeos e esculturas. A mesma nota dá conta que “os artistas desenvolveram os seus estilos inovadores e muito próprios combinando diferentes técnicas de forma harmoniosa”, com as suas obras a “procurar transmitir as suas visões únicas sobre a vida quotidiana e questões sociais e examinando igualmente os seus próprios sentidos internos e a sua filosofia, reflectem as características estéticas da arte contemporânea chinesa”. O IC aponta que através dos trabalhos, os cinco artistas “expressam uma tentativa de interpretar imagens espirituais, conduzindo os visitantes numa viagem de percepção e compreensão e inspirando-os a explorar e a reflectir sobre si mesmos e o mundo exterior”. Esta mostra estará patente até ao dia 23 de Fevereiro de 2020 no Centro de Arte Contemporânea de Macau - Oficinas Navais N.º 1 (Rua de S. Tiago da Barra). O horário de abertura é entre as 10h00 e 19h00, de terça-feira a domingo, incluindo dias feriados.


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23.10.2019 quarta-feira

HONG KONG CONFLITO COM TAIPÉ SOBRE CASO QUE MOTIVOU PROTESTOS

HK MNE CRITICA VIOLÊNCIA QUE DIZ SER APOIADA POR FORÇAS ESTRANGEIRAS

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ministro dos Negócios Estrangeiros chinês Wang Yi criticou segunda-feira “a violência pura e simples” dos manifestantes em Hong Kong, afirmando que foi “encorajada por forças estrangeiras”, em entrevista à agência de notícias francesa AFP. “O que se passa hoje em Hong Kong não tem nada a ver com manifestações pacíficas. É violência pura e simples. São actos inaceitáveis em qualquer país”, declarou Wang Yi, evocando “manifestantes que atacam transeuntes”, a polícia e “paralisam os transportes”. O chefe da diplomacia chinesa afirmou à AFP que “há forças estrangeiras que encorajam esse género de violência nas ruas com o objectivo de desestabilizar Hong Kong, de semear o caos (…) para destruir o progresso histórico alcançado com a aplicação da política ‘um país, dois sistemas’”. “Posso dizer-vos que tais acções nunca serão bem-sucedidas”, afirmou. Wang Yi afirmou-se igualmente convicto de que “o Governo da região administrativa

especial conseguirá restabelecer a ordem social e o respeito pelo Estado de direito em conformidade com a lei” e que, com o apoio de Pequim, Hong Kong “vai continuar a aplicar a política de ‘um país, dois sistemas’”. “Neste momento, o mais importante, e para o que mais precisamos de apoio, é o fim da violência, restabelecer a ordem económica e gerir os assuntos relacionados com o Estado de direito”, disse. Wang Yi sublinhou que “nenhum descontentamento pode servir de pretexto para a violência”. O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês criticou ainda que “certos meios de comunicação social estrangeiros, num desprezo total pela realidade, classifiquem essa violência de ‘movimento democrático e pacífico’ e não hesitam em classificar a acção da polícia como violenta”. “Se essas alegações podem ser entendidas como a realidade, como é possível imaginar que ainda exista justiça no mundo?”, interrogou-se o ministro.

É que não havia necessidade

No dia em que a lei de extradição deverá ser formalmente e definitivamente afastada é também posto em liberdade o suspeito de homicídio que desencadeou os problemas que se têm vivido na antiga colónia britânica. O homem pretende entregar-se às autoridades de Taiwan, mas as autoridades de Taipé querem um acordo de assistência mútua

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Governo de Hong Kong pediu ontem a Taiwan que não coloque a “política acima da justiça”, numa alusão à entrega de um suspeito de homicídio, um caso na origem da crise política na região. “Em vez de permitirem que considerações políticas se sobreponham ao Estado de direito e à justiça, complicando uma questão simples, espero que as autoridades de Taiwan consigam ser pragmáticas e pró-activas. Quando um homem procurado quer entregar-se, por que razão se insiste num acordo de assistência mútua”, questionou o secretário para a Administração de Hong Kong, Matthew Cheung. PUB

O governante falava ontem de manhã antes de presidir à reunião semanal do Conselho Executivo, numa altura em que a chefe do governo de Hong Kong, Carrie Lam, se encontra no Japão, de acordo com o jornal South China Morning Post. Chan Tong-kai, o suspeito do homicídio que levou Hong Kong a apresentar uma proposta de emendas à lei de extradição vigente, na base da contestação social desde Junho, vai sair em liberdade esta quarta-feira, após 18 meses atrás das grades sob acusações de lavagem de dinheiro. O residente de Hong Kong é procurado pelas autoridades de Taiwan pelo alegado envolvimento no assassínio da namorada grávida, Poon Hiu-wing, de 20 anos, em Fevereiro de 2018, quando ambos se encontravam de férias na ilha Formosa. Matthew Cheung, que falava na qualidade de chefe do Governo interino, garantiu que o executivo de Hong Kong examinou já “todas as opções disponíveis”, tendo concluído que a melhor solução será deixar Chan entregar-se livremente às autoridades de Taiwan. No entanto, Taipé respondeu que só iria receber Chan depois de um acordo de assistência mútua, uma decisão que o Governo da antiga colónia britânica disse esconder motivações políticas.

DE SAÍDA

As emendas à lei de extradição teriam permitido a transferência de fugitivos para jurisdições com as quais Hong Kong não tem acordo prévio, incluindo Taiwan e a China continental. Contudo, a proposta desencadeou protestos maciços contra a alegada crescente interferência de Pequim nos assuntos de Hong Kong, desencadeando a pior crise política desde a transferência de soberania do Reino Unido para a China, em 1997.

“Em vez de permitirem que considerações políticas se sobreponham ao Estado de direito e à justiça, complicando uma questão simples, espero que as autoridades de Taiwan consigam ser pragmáticas e próactivas.” MATTHEW CHEUNG SECRETÁRIO PARA A ADMINISTRAÇÃO DE HONG KONG

Desde o início, a região administrativa especial chinesa é palco de protestos e ações violentas quase diárias contra o que os manifestantes definem como a erosão das liberdades no território. De acordo com Matthew Cheung, a proposta vai ser formalmente retirada esta quarta-feira, depois de o Governo já ter anunciado a decisão, a 9 de Setembro.


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quarta-feira 23.10.2019

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suspeito de uma fraude que envolve empréstimos sobre ouro adulterado, que provocou perdas totais superiores a 2,4 mil milhões de euros em vários bancos do noroeste chinês, terá fugido para Portugal, informou ontem a imprensa local. O esquema remonta a 2015, quando um primeiro empréstimo de 20 milhões de yuan foi concedido a um agricultor chamado Yang Jun pela Cooperativa de Crédito Rural do Condado de Tongguan, na província de Shaanxi, escreve a revista chinesa Caixin. Como garantia sobre o empréstimo, Yang deixou 26 barras de ouro, com o peso total de 100 quilos. Com mais de 154 mil habitantes, estima-se que Tongguan possua 110 toneladas de depósitos de ouro nas montanhas de Qinling. A mineração de ouro representa mais de 70 por cento da economia local. “A cena não surpreendeu ninguém na Cooperativa de Tongguan, que está encarregue de atender às necessidades financeiras de um condado conhecido por ricas reservas de ouro”, explica-se na publicação. “Fazendeiros que carregavam barras de ouro para obter empréstimos era um cenário comum na Cooperativa”, acrescenta-se no artigo.

CRIME SUSPEITO DE FRAUDE COM BARRAS ADULTERADAS FUGIU PARA PORTUGAL

O ouro e o bandido

Muralha informativa

23% dos órgãos estrangeiros acreditados banidos da rede

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MA análise do Clube de Correspondentes Estrangeiros na China concluiu que a censura do regime chinês bloqueia o acesso a quase um quarto das versões ‘online’ de órgãos noticiosos estrangeiros acreditados no país. Entre os 215 órgãos de comunicação estrangeiros com correspondentes na China, 23 por cento estão inacessíveis para internautas chineses, ilustrando a dimensão da censura na Internet chinesa, num sistema conhecido como Grande Muralha Cibernética da China. A mesma fonte detalha que, entre as organizações que publicam conteúdo em inglês, a língua estrangeira mais falada na China, a proporção sobe para 31 por cento. “As autoridades chinesas referem frequentemente o seu compromisso com a abertura e a cooperação no ciberespaço, mas a censura da Internet da China bloqueia uma lista crescente de fontes globais de notícias”, aponta em comunicado o Clube de Correspondentes Estrangeiros. Em simultâneo, Pequim, que há muito se queixa que a empresa ocidental domina o discurso global e alimenta preconceitos contra a China, tem investido milhares de

milhões de dólares para convencer o mundo de que o país é um sucesso político e cultural.

POR OUTRO LADO

A agência noticiosa Xinhua, o jornal oficial em língua inglesa China Daily ou a televisão estatal CGTN contam já com centenas de delegações além-fronteiras e têm agressivamente procurado parcerias no exterior, visando publicar conteúdo aprovado pela Propaganda do Partido Comunista Chinês, sob o selo de órgãos de comunicação independentes. “A China está a tentar transformar o ambiente da informação global com injecções maciças de dinheiro: financiar publicações, coberturas jornalísticas e mensagens positivas”, descreve Louisa Lim, pesquisadora e professora na Universidade de Melbourne, à agência Lusa. Desde 2017, o China Daily gastou quase 16 milhões de dólares para publicar suplementos em jornais norte-americanos, segundo dados reportados ao abrigo da Lei de Registo de Agentes Estrangeiros, que exige que entidades que representam os interesses de outros países divulguem as suas finanças.

No entanto, a confiança naquele esquema de crédito foi abalada em Abril de 2016, quando após Yang Jun não ter saldado a sua dívida, a Cooperativa de Crédito Rural de Tongguan começou a derreter as barras de ouro. “Após o ouro brilhante à superfície derreter, revelou-se uma placa de tungsténio negro, e a Cooperativa de Tongguan descobriu que afinal as barras de Yang continham apenas 36,5% de ouro puro”, escreveu a Caixin. Uma inspecção subsequente do principal órgão regulador bancário da China encontrou toneladas de ouro adulterado nos cofres de vários bancos nas províncias de Shaanxi e Henan, incluindo as filiais locais de dois dos maiores bancos da China, o Commercial and Industrial Bank of China (ICBC) e o Postal Savings Bank of China (PBS). O ouro adulterado serviu como garantia para um total de 19 mil milhões de yuans em empréstimos. Segundo a Caixin, a investigação apurou que a maioria dos empréstimos fluiu para cinco contas pessoais controladas pelo empresário Zhang Qingmin, fundador da refinaria de ouro Lingbao Boyuan Mining Industry Co. Ltd., e seus associados. Zhang terá fabricado as barras de ouro adulteradas e contratado pessoas para solicitar os emprés-

timos, detalhou a Caixin, que cita fontes próximas da investigação.

EM FUGA

A polícia chinesa prendeu quatro dos cinco principais suspeitos e dezenas de cúmplices, que foram já julgados e aguardam veredicto. Oito funcionários da Cooperativa de Tongguan foram também acusados criminalmente. No entanto, Zhang Qingmin, 34 anos, e o principal suspeito de liderar o esquema, terá escapado com a família assim que as barras de ouro adulteradas chamaram a atenção dos reguladores. Segundo registos da polícia chinesa citados pela Caixin, Zhang Qingmin voou para Portugal via Chipre em 12 de Maio de 2016. A Interpol emitiu já um alerta vermelho e mandado de captura internacional. Em Maio de 2016, a polícia encerrou a refinaria da Lingbao Boyuan Mining Industry, criada por Zhang Qingmin e o irmão Zhang Shumin, em 2007. Era uma das principais refinarias da cidade de Lingbao e fornecedora oficial de barras de ouro padrão para a Bolsa de Ouro de Xangai. No complexo fabril, a polícia encontrou as instalações ocultas onde eram fabricadas as barras de ouro adulteradas com tungsténio.

PUB HM • 1ª VEZ • 23-10-19

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 44/P/19 Faz-se público que, por despacho do Ex. Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 3 de Outubro de 2019, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento de Material de Consumo Clínico para o Centro de Transfusões de Sangue dos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 23 de Outubro de 2019, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP 47,00 (quarenta e sete patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,30 horas do dia 22 de Novembro de 2019. O acto público deste concurso terá lugar no dia 25 de Novembro de 2019, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP100.000,00 (cem mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/SeguroCaução de valor equivalente. mo

Serviços de Saúde, aos 17 de Outubro de 2019 O Director dos Serviços Lei Chin Ion

ANÚNCIO Proc. Ordinário de Execução n.º

CV3-13-0044-CEO

3º Juízo Cível

EXEQUENTE: MELCO CROWN (MACAU), S.A., com sede em Macau, na Avenida Dr. Mário Soares, n.º 25, Edifício Montepio, 1.º andar, Comp.13, Macau. EXECUTADOS:1.CLUBE DE VIP INTERNACIONAL WAN TONG SOCIEDADE UNIPESSOAL LIMITADA, ausente em parte incerta, e com última sede conhecida em Macau, na Avenida do Governador Jaime Silvério Marques nº438, Edifício Magnificente Court, Rés-do-chão A; 2. LEONG WAI MAN, casada, ausente em parte incerta, e com última residência conhecida em Macau, na Rua de Malaca, Centro Internacional de Macau, Bloco 10, 8º andar F. *** FAZ-SE SABER que, nos autos acima indicados, são citados os credores desconhecidos da executada para, no prazo de QUINZE DIAS, que começa a correr depois de finda a dilação de VINTE DIAS, contada da data da segunda e última publicação do anúncio, reclamarem o pagamento dos seus créditos pelos produtos dos bens penhorados, sobre que tenham garantia real, e que são os seguintes: BENS PENHORADOS DA 2ª EXECUTADA MÓVEL Quota detida pela 2ª Executada na sociedade comercial denominada “GRUPO INTERNACIONAL WAM TONG, LIMITADA”, registada na Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis sob o n.º 35829 (SO) com o valor nominal de MOP$15,000.00.--------------------------------------MONTANTES 1. Depósito bancário, na conta de poupança nº24-11-10-035107 do Banco da China, Limitada, no montante de HKD488,31; nº21-11-10-074431, no montante de HKD3.564,55. ------------------------2. Depósito bancário, na conta de poupança nº 001-475623-095 do The HongKong and Shanghai Banking Corporation Limited, no montante de HKD8.709,41. -------------------------------------------3. Depósito bancário, na conta de poupança nº10521-105659-9 do Banco Luso Internacional, S.A., montante de MOP4.535,85; nº10521-204770-4, no montante de HKD4.492,57 e nº10521200246-7, no montante de HKD9.514,55. ------------------------------------------------------------------------4. Montante penhorado no Processo do 3º Juízo do Tribunal Judicial de Base, sob o n.º CV3-130054-CEO, transferido para este processo na conta nº 01-03-17-030718 do Banco da China, Limitada, no valor de MOP2,625,512.00. -------------------------------------------------------------------------------------Macau, 02 de Setembro de 2019. O Juiz,


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Há palavras que nos beijam

A Poesia Completa de Li He

牡 丹 種 曲 蓮枝未長秦蘅老,走馬馱金斸春草。 水灌香泥卻月盤,一夜綠房迎白曉。 美人醉語園中煙,晚華已散蝶又闌。 梁王老去羅衣在,拂袖風吹蜀國弦。 歸霞帔拖蜀帳昏,嫣紅落粉罷承恩。 檀 郎 謝 女 眠 何 處 ? 樓 台 月 明 燕 夜 語 。

Canção: Plantando Peónias Quando os talos de lótus vão meio crescidos, E a escumilha e ásaro fenecem, Montados vamos carregados de ouro A buscar peónias. A água encharca a lama fragrante Nos seus vasos e, passada uma noite, Aposentos verdes saúdam a aurora. Cantam ébrias as meninas, Jardins pesados de bruma. Pétalas da tarde agora espalhadas, Borboletas esmorecem. O Príncipe de Liang envelheceu e se foi, Restam vestes de sândalo, De mangas a bater na brisa que toca

“Cítaras de Shu”. Névoa ondulante regressa em fiapos, Vermelhos deslumbrantes desfazem-se em pó, Dignos já de nenhuma atenção. O Mestre Tan e a menina de Xie – 1 Onde dormirão? A lua brilha e cintila no terraço e na torre, Andorinhas palram toda a noite.

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Referência ao poeta Pan Yue, também conhecido por Tan-hu (floruit século III), é uma das personagens favoritas de Li He. A rapariga de Xie é uma referência à famosa concubina-cantora pertença do grande estadista Xie Na (320-85).

Tradução de Rui Cascais • Ilustração de Rui Rasquinho Li He (790 a 816) nasceu em Fu-chang durante a Dinastia Tang, pertencendo a um ramo menor da casa imperial. A sua morte prematura aos vinte e sete anos, a par da escassez de pormenores biográficos, deixam-nos apenas com uma espécie de fantasma literário. A Nova História dos Tang (Xin Tang shu) diz-nos que He “nunca escrevia poemas sobre um tópico específico, forçando os seus versos a conformarem-se ao tema, como era prática de outros poetas [...] Tudo quanto escrevia era inquietantemente extraordinário, quebrando com a tradição literária.” Segundo um crítico da Dinastia Song, o alucinátorio idioma poético de Li He é a “linguagem de um imortal demoníaco.” A versão inglesa de referência aqui usada é a tradução clássica da autoria de J.D. Frodsham, intitulada Goddesses, Ghosts, and Demons, publicada em São Francisco, em 1983, pela North Point Press.


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Diário de um editor João Paulo Cotrim

Do dito e do por dizer

CASA DA MÚSICA, ÓBIDOS, 12 OUTUBRO Não consigo desembaraçar-me, aquele mínimo que seja, da âncora dos afazeres para voar baixinho deleitando-me nos interstícios dos encontros que um festival pode fazer acontecer. Ou estou preocupado ou já me cansei. Este dia pedia-me dúplice, capaz de subir a Norte sem sair do Oeste. Corro para, em sala cheia, saber com que linhas se cosem o Mathias Énard e o Valério [Romão] mais as coordenadas dos Orientes anunciados no tema, mas a conversa com a Ana [Sousa Dias] deve ter começado antes e o que oiço são minudências, pontas soltas. ARTES E LETRAS, ÓBIDOS, 12 OUTUBRO Apesar do cansaço, o Luís [Gomes] acolhe-nos com o sorriso de sempre, com as lombadas frágeis a servir de encosto, enquanto o Valério [Romão] lê fragmentos de «O da Joana», sobre o planante fundo do Henrique [Manuel Bento Fialho] na guitarra e do Miguel Costa em instrumento chamado computador. Celebrava-se a reedição, e também do ansiado «Da Família», mas este falhámos, por dificuldades de produção, pontas soltas, detalhes. Antes, o Henrique havia entregado em mão o convite para pernoitar na sua «Estalagem» (ed. Medula), onde descubro, por entre os brilhos da impressão digital, este «Oração», que começa assim a explicar-me os dias: «Senhor, perdoa-me as faltas, andar/ aos encontrões distraído com fainas/ dispendiosas, sem sossego para preces/ nem inquietações, bolsos cheios de asma». O poema faz-se cruzamento do dia a dia com a carne da consciência. Desperta-me o modo dos versos se contornarem na quebra, a queda feita esquina de rua interminável e o poema um só trilho, corda de guitarra. TENDA DOS EDITORES E LIVREIROS, ÓBIDOS, 13 OUTUBRO Temia pela hora matinal, mas a sala compôs-se, com chuva e sol e sinos e tudo. O Paulo [José Miranda] ignorou com elegância o que lhe atirava para o fazer falar e tratou de dizer, sem espinhas, o essencial sobre a criação. «Um Prego no Coração» investiga a ideia de obra acabada, no caso em Cesário Verde, erguida para despertar incessantes leituras, até de críticos, com afecto e agudeza. «Natureza Morta», que lhe valeu o primeiro Prémio José Saramago há uns redondos vinte anos, permite espreitar no jardim de inverno do espírito em acção, com recuos e maturações, desperdício e momento. Em fundo, «ouvimos» João Domingos Bomtempo. Finalmente, «Vício», que nos permite o convívio com os cruéis demónios do abandono, da desistência. Corre límpida a frase, de par com o pensamento, para alimentar raiz, ramo e copa destas figuras frondosas. Como deve ser, a biografia faz-se aqui pretexto, linha

para horizonte maior, movediço, aqui e ali perturbador. Manda o protocolo que se libertem pela voz umas passagens e o Paulo acedeu a fazê-lo, tanto mais que há muito não regressava a estes textos. Difícil foi depois pará-lo, tal o gozo que ia extraindo e oferecendo. Ninguém arredou pé. Com o fim da tarde não chegou apenas o vento frio, mas a conversa das que nos ajuda invariavelmente a definir perfis, os nossos e o dos outros, à maneira do medo a indicar-nos os contornos do mundo. O espaço Ó, como o próprio nome indica, fez-se centro de encontros, sem muralhas nem ameias. No instante que encaixa na data foi com o Paulo e a Inês [Fonseca Santos], mas outros houve. Noite dentro, manhã abaixo. HORTA SECA, LISBOA, 14 OUTUBRO São como jardins, as telas de Manuel Amado (1938-2019). Entramos para ficar, a ver o restolhar, a ouvir o tempo que passa, apenas deixam que aconteça uma dança de luz e silêncio. O rigor absoluto da geometria pulsa de humano, na aparência, ausente. Tudo respira nestes enigmas, que tanto podem ser narrativos suscitando uma miríade de acontecimentos, como paisagem contemplativa na qual a respiração nos permite o encontro connosco. A cidade revela-se nos interstícios, nas dobras, quando o exterior se assoma ao dentro. A luz é-nos indispensável, mas precisamos tanto de silêncio… SANTA BÁRBARA, LISBOA, 15 OUTUBRO O labirinto à beira-rio chamava-me, mas não consegui meter pés ao caminho e arriscar a festa, que me apetecia muito. E apetecia nada. Lisboa inteira esteve por

lá a empurrar a noite dançando. Nunca uma manhã me custou assim. OGIVA, ÓBIDOS, 16 OUTUBRO Esta PIM!, Mostra de Ilustração Para Imaginar o Mundo, faz isso mesmo, sob arguta orquestração da Mafalda [Milhões]. Na bela galeria Ogiva, que me parece ora gruta, ora miolo de esfera, acontecem suaves firmamentos. Somos recebidos pelas máquinas de gritar ou sussurrar sons de dentro e de fora, nada a temer, que estamos escoltados pelos figurões de tinta e cerâmica da Marta [Madureira], abraços estendidos ao tamanho da parede. A casa, ainda que contendo universos, pode bem ser protectora. Este jogo entre interior e fora, ameaça e acolhimento, espalha-se pelas paredes de cada andar, convertendo o conjunto em movente organismo. Um bicho que ora desafia, ora oferece serenidade. As ilustrações domesticam bem o mundo, ainda que este não deixe de nos morder. TENDA DOS EDITORES E LIVREIROS, ÓBIDOS, 16 OUTUBRO Desconsegui e o José [Pinho] relembra-o com verve e humor na dedicatória: «gratidão especial por não ter querido escrever». Ele sabe que não dependeu do querer. Por vezes, a realidade vence-nos, apesar do Zé teimosamente o desmentir. Descobri que reencarna o coyote dos desenhos animados, aquele que se locomove a tão altas velocidades que atravessa o vazio que une montanhas. Não lhe digam, tão só, onde está. Este saboroso «20 anos a Ler Devagar» pára no ar para fazer um impossível e importante ponto da situação. Impossível por que tal não

se aplica a seres vivos. Importante para que não se esqueça o quanto se deve a este lugar de altos andamentos. A cidade, com tantos pontos tocados, o panorama literário, a desembocar nos festivais de Óbidos, enfim, esse monstro chamado cultura, nada ficou como dantes. Para se entender a fundo o sentido da palavra empresa havia que abysmar-se nesta experiência, com o que trouxe de idealismo e leitura prática da realidade, de puro gozo e busca de sentido. Nesta reserva natural não há muitos coyotes visionários. HORTA SECA, LISBOA, 18 OUTUBRO Enquanto o Sporting moribundeia, morre-nos o Jordão [1952-2019]. Está dito e redito: era um fora de série. Na minha infância, o futebol não me incendiava por aí além, mas o Jordão vinha de outro mundo. Fazia sonhar, claro. Ainda que o rosto o desmentisse, o corpo continha uma alegria que se soltava de modo exaltante. Pressentíamos o quanto de alma um jogador consegue ser além das jogadas e dos golos? Depois do futebol, o desaparecimento. Acrescento mais cinzento à minha tristeza por só agora ter percebido que pintava. A vida sabe fintar-nos e alguns golos sabem a verdade. Jordão sabia do que falava. «A estética do futebol marcou-me e ajudou a definir-me o caráter. Em certos movimentos que fazia dentro do campo é possível ver coreografias, traços que provavelmente também se manifestam naturalmente no pincel. São duas linguagens muito diferentes, no entanto, é possível encontrar semelhanças. Mas o que o futebol não tem é o silêncio que preciso para mostrar a verdade que, enquanto jogador, ocultei. Talvez falte mais silêncio ao futebol.»


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O homem que ensinou a ler Divina Comédia Nuno Miguel Guedes

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problema, em alturas como esta, é sempre o mesmo: como agradecer. Como retribuir o tanto que alguém nos deu sem nunca nos conhecer; como transformar essa dádiva numa proporção justa, benéfica para ambas as partes. Como dizer o que nos aconteceu e como nos aconteceu e como, depois desse acontecer, os nossos olhos se abriram para uma luz que nunca tinham visto e que estava ali, mesmo à nossa frente. E sob essa luz, tantos e tantos mundos à nossa espera. Como agradecer a quem nos ensinou a ler, outra vez? A resposta é fácil, de tão óbvia e imediata: todos os agradecimentos serão poucos. Mas são necessários e é isso que agora faço, da forma modesta e muito imperfeita que estas linhas transmitem. Morreu Harold Bloom. Os factos, a sua vida, por esta hora já os sabemos. Bloom era um extraordinário crítico literário, possuidor de conhecimentos enciclopédicos e alguém que colocava o coração em tudo o que escrevia e defendia. Era também por isso um pedagogo fascinante, maior do que a vida e que transmitia o seu entusiasmo a quem o lia ou ouvia. Ninguém poderia ficar indiferente a frases como “Shakespeare é Deus”. Uma dessas frases – uma crença profunda que Bloom defendeu contra tudo e todos, usei-a já várias vezes nestas crónicas, reparo agora:

Shakespeare, o homem que nos inventou. O inventor do humano, diria o mestre. Bloom foi também um homem de grande coragem. Desafiou da melhor maneira a ortodoxia académica e cultural vigente, sem medos ou reservas. Não foi fácil proclamar a superioridade de um cânone ocidental que incluía nomes como Shakespeare, Kafka, Chaucer ou Dante (o meu amor por este autor devo-o ao homem) num mundo que crescia cada vez mais para o estudo das minorias deixando para trás um óbvio legado maior. As críticas foram imediatas: todos os autores defendidos por Bloom eram brancos e mortos. A crítica literária, completamente devedora do flagelo francês do estruturalismo e a inanidades como a “morte do autor”, proclamada por Barthes, não via com bons olhos um homem que desprezava a análise do texto pelo texto e incluído nas correntes políticas, sociais e histórico-económicas em que era escrito. A essa “Escola do Ressentimento”, como ele a baptizou – e que incluía multiculturalistas, feministas, marxistas e neoconservadores – Bloom

contrapunha a leitura pelo prazer estético, longe da propaganda ou da mensagem. “Politicizing literary study has destroyed literary study, and may yet destroy study itself”, escreveu em 1997 no prefácio a A Ansiedade da Influência (1973), um dos seus livros mais importantes e onde apresentou a teoria de que toda a poesia – e por extensão, toda a criação literária – era uma resposta ou uma defesa a um poema anterior. Uma teoria que deve muito ao Édipo freudiano: escrevemos para matar quem nos antecede e influenciou e encontrarmos enfim a nossa voz. Mas havia mais: Bloom escrevia sem jargão académico, com uma preocupação pela forma que de imediato criou anti-corpos nos académicos ortodoxos. A sua escrita é reminiscente dos grandes exercícios de estilo e uso da língua que eram os panfletos ingleses no século XVIII – época que, não por acaso, era uma das preferidas do crítico. Todas as suas escolhas pareciam ir propositadamente contra os escolhos da crítica vigente: ao New Criticism de Eliot e outros - árido e analíti-

O que Bloom combateu está agora no seu auge: a arte tem de ser propaganda, tem de ter uma mensagem política ou social relevante sob pena de não ser considerada arte ou, no melhor dos casos arte menor. A possibilidade de ser apenas arte – arte, prazer estético solitário e inútil - parece estar excluída

co - respondia com uma imensa paixão pelos Românticos, então completamente desacreditados. E o que mais doía à comunidade académica: o homem era um best-seller. Os seus livros vendiam e muito – facto absolutamente impensável para os seus adversários, que consideravam que para ter credibilidade era necessário obscuridade. Ah, Bloom foi um grande homem. Excessivo, polémico, falstaffiano por vezes. A sua velocidade de leitura e de apreensão do texto era lendária, a ponto de vários amigos dizerem que não era boa coisa assistir a Bloom lendo. Sabia de cor muitíssimos poemas, e o Shakespeare todo. Repito: todo. E faz tanta falta. Há pouco tempo, num festival literário a que tive o prazer de ser convidado, ouvi um poeta que não irei denunciar repetir a velha ladainha estruturalista da “a análise antes da interpretação”, a propósito da forma como deveríamos olhar para um poema. Pensei: “Harold, eles vivem”. O que Bloom combateu está agora no seu auge: a arte tem de ser propaganda, tem de ter uma mensagem política ou social relevante sob pena de não ser considerada arte ou, no melhor dos casos arte menor. A possibilidade de ser apenas arte – arte, prazer estético solitário e inútil - parece estar excluída. Senhor Bloom, este seu soldado vai tentar continuar a luta com as suas fracas possibilidades. É o mínimo que posso fazer para retribuir quem me ensinou a ler, quem inoculou a paixão sustentada da literatura e dos autores. Senhor Bloom: obrigado.


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23.10.2019 quarta-feira

3 4 5 2 B 9AHT 0.26 YUAN 8 1 VIDA DE CÃO 0 6 7

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MAIORIA PERDIDA

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4 9 6 1

provisórios, o Partido Liberal (PL) de Trudeau deverá garantir 156 dos 338 deputados da Casa dos Comuns, 14 menos do que o necessário para governar sem o apoio de outros grupos políticos. Nas eleições de 2015, os liberais conquistaram 184 mandatos.

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51 0 1 63 48 3 82 9 2 4 2 76 8 6 1 9 3 0 3 89 47 95 7 5 0 21 6 9 10 38 0 87 26 7 6 5 62 7 29 50 94 01 48 1 8 9 28 91 83 14 3 45 6 50 7 85 63 5 37 01 7 1 42 9 1 5 02 79 23 9 3 8 4 7 3 6 48 5 8 2 09 1 4 0 42 91 2 1 67 5 7 3 SOLUÇÃO DO PROBLEMA 47

UM DISCO HOJE

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PROBLEMA 48

1.14

A UM NÃO SE CONHECE

S U D O K U

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8 7 4 6 0 5 9 3 2 1

A Universidade de Macau (UM) tem sido palco de acontecimentos, no mínimo estranhos, para uma instituição pública de ensino que se quer internacional e com alunos vindos dos quatro cantos do mundo. É a liberdade académica, é a língua portuguesa, e agora são os rostos brancos, sejam portugueses ou estrangeiros. Todos estes casos só mostram que a UM está a seguir um caminho contrário aos objectivos para os quais foi criada, nos idos tempos da Administração portuguesa. A história conta-nos que a primeira fase da Universidade da Ásia Oriental já contemplava o ensino da língua portuguesa e do Direito de Macau, ou seja, duas das áreas onde esses “rostos brancos” deram o seu contributo. O facto de a UM ter nos seus quadros um académico, ainda por cima formado no Canadá, um país onde as liberdades individuais são respeitadas, sem esquecer os direitos das minorias, que afirma que a grande vantagem do sistema judiciário local é ter poucas “pessoas brancas”, é um tiro no pé. Mais, é a UM a ignorar por completo a sua história e a seguir um caminho que já muitos perceberam qual é. Recordo-me do comentário de Jorge Rangel, ex-secretário adjunto de Rocha Vieira com a pasta do ensino superior, a criticar o rumo que a UM estava a tomar, voltando as costas ao território. O Centro de Estudos de Macau dedica-se a estudar Macau, tal como o nome indica, mas ter nos seus quadros um académico com este discurso retira-lhe toda a credibilidade. Enquanto isso, a UM e governantes assobiam para o lado. Andreia Sofia Silva

PHAROAH SANDERS | KARMA (1969)

“Karma” é um colossal disco com duas músicas apenas. O épico “The Creator Has a Master Plan”, a sequela avant-garde do clássico “A Love Supreme” de John Coltrane, e “Colors” formam uma autêntica viagem espiritual liderada pelo saxofone tenor de Pharoah Sanders. Lançado em 1969, “Karma” é um marco no free jazz, na criatividade que escapa aos tradicionais cânones do jazz, “a nova cena” e um testemunho na forma como os anos 1960 mudaram os paradigmas de vários estilos musicais rumo a novas experimentações e novos sonos. Uma belíssima forma de começar a conhecer a discografia de Pharoah Sanders, descrito pela lenda do free jazz Ornette Coleman como “provavelmente o melhor saxofonista tenor do mundo”. João Luz GEMINI MAN SALA 1

SALA 3

Um filme de: Joachim Ronning Com: Angelina Jolie, Elle Fanning, Chiwetel Ejiofor, Sam Riley 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

Um filme de: Teruo Noguchi, Kiyoshi Yamamoto Com: Kentaro Sakaguchi, Kotaro Yoshida 14.30, 16.45, 19.15

MALEFICENT:MISTRESS OF EVIL [B] BRAVE FATHER ONLINE [B]

SALA 2

GEMINI MAN [C] Um filme de: Ang Lee Com: Will Smith, Mary Elizabeth Winstead, Clive Owen, Benedict Wong 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

JOKER [C] Um filme de: Todd Phillips Com: Joaquin Phoenix, Robert de Niro, Zazie Beetz 21.30

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Juana Ng Cen; Colaboradores Amélia Vieira; António Cabrita; António Castro Caeiro; António Falcão; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


opinião 19

quarta-feira 23.10.2019

sexanálise

TÂNIA DOS SANTOS

O

início da revolução sexual começou com a introdução da pílula na vida sexual - gravidezes indesejadas deixaram de ser um problema. Há quem, até, responsabilize a pílula pela crescente presença feminina no mercado de trabalho. Depois de 60 anos em que se deram como garantidas as vantagens deste contraceptivo hormonal, parece que há um declínio no seu uso, como se já não estivesse na moda. Os jovens detentores de útero estão cada vez menos interessados em utilizar esta forma de regulação hormonal, que ao longo do tempo foi sistematicamente prescrita não só para a prevenção da gravidez, mas para a eliminação do acne ou para regular ciclos menstruais mais incertos e dolorosos. A pílula imita a segunda fase do ciclo menstrual, pesado em progesterona, durante os 28 dias. O cérebro, ao entender os níveis de hormonas no corpo, assume que a ovulação não deve ocorrer e não envia os sinais necessários para ordenar

Dilemas da pílula

a libertação do folículo. As menstruações tornam-se mais leves e menos dolorosas, e a pele mais limpa. A longo prazo a pílula também reduz o risco de cancro nos ovários e no endométrio. A pílula também traz efeitos secundários indesejados – curioso que a pílula para os que têm um pénis viu uma saída tardia para o mercado, exactamente porque os efeitos secundários eram bastante explícitos (mas deixemos estas desigualdades de corpos). A biologia da pílula tem muito que se lhe diga. Há riscos claros de cancro da mama, criação de coágulos sanguíneos, ataque cardíaco e outras alterações no corpo mais visíveis. Recentemente uma psicóloga social debruçou-se sobre as alterações no cérebro sobre o efeito da pílula também. Algo que

Será necessária mais investigação para perceber, de facto, como é que a pílula afecta o nosso cérebro e a nossa sensação de ser. Também porque existem discursos contraditórios acerca da sua utilidade e segurança

muito se havia especulado por que os efeitos secundários da pílula também incluem depressão, ansiedade e suicídio. O pior é que o cérebro, nestes estudos, é tido como uma máquina biológica. Há conclusões tão geniais quanto – a pílula enche os corpos de hormonas que podem participar na escolha de um parceiro não-viril (!), e por isso a investigadora alerta para o perigo de se parar a pílula durante um relacionamento com o parceiro que tenha sido ‘escolhido’ durante a enchente de progesterona – e assim a escolha pode deixar de fazer sentido. Estes estudos vêm reforçar uma perspectiva psicológica que simplifica em demasia os processos envolvidos no sexo. A psicologia evolutiva tenta perceber como é que o corpo pode participar nas nossas escolhas, neste caso, nas escolhas sexuais e românticas. Por isso é que há quem a entenda como adequada para perceber processos tão fisiológicos como o uso de pílulas hormonais. Mas é preciso olhar para o cérebro como co-criador da nossa realidade, e não uma máquina reactiva que se rege por impulsos que orientaram os pré-históricos a agir sobre o mundo. Felizmente que há neurocientistas que entendem o cérebro como dialógico com o que nos envolve. Será necessária mais investigação para perceber, de facto, como é que a pílula

afecta o nosso cérebro e a nossa sensação de ser. Também porque existem discursos contraditórios acerca da sua utilidade e segurança. Há quem esteja a tomar a pílula sem parar para não passar por menstruações que já não servem aos detentores de úteros que não têm interesse em parir. Outros detentores de úteros estão a abandonar a pílula por completo. A prescrição indiscriminada de pílulas já começa a ser contestada e é importante perceber porquê. A hegemonia da pílula deixa por discutir as menstruações que ainda são tabu, as dores que ainda são normalizadas e que não lhes é dada a atenção devida, ou as depressões e as ansiedades. Deixa por discutir a co-responsabilização que deveria existir por uma gravidez indesejada e a importância de dar prioridade (também) à prevenção de DST’s. Para que os detentores de úteros possam tomar decisões informadas sobre os seus corpos, é preciso ver a pílula como um dilema também. Mesmo que a comunidade médica continue com uma postura de autoridade face aos nossos corpos e decisões, a investigação mostra as incertezas da área. Os detentores de úteros têm direito de perceber mais sobre os seus próprios corpos, sobre o seu funcionamento, e sobre os significados (contra a naturalização dos mesmos) que as sociedades propõem.


A literatura é essencialmente solidão. Paul Auster

Toca a despachar PM diz que retira legislação se aprovação acelerada do ‘Brexit' for recusada

A

legislação para regular o ‘Brexit’ será retirada se os deputados votarem contra o calendário previsto pelo Governo, desencadeando eleições legislativas, confirmou ontem o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. “De forma alguma vou permitir mais meses disto [debate sobre ‘Brexit’]. Se o parlamento recusar que o ‘Brexit’ aconteça e, em vez disso, decidir adiar tudo até Janeiro ou por mais tempo, em nenhuma circunstância o governo vai continuar com isto”, afirmou. “Lamentavelmente, a proposta de lei terá que ser retirada e teremos que avançar para

eleições legislativas. E nessas eleições, eu vou defender que se deixe concluir o ‘Brexit”, acrescentou. Boris Johnson referia-se ao risco de os deputados chumbarem a moção com o calendário de aprovação do texto, que o governo pretende acelerar e concluir em três dias, até quinta-feira. Além de cinco horas do debate de ontem, até às 19:00 horas, prevê 12 horas de debate esta quarta-feira e mais oito horas de debate e a votação na especialidade na quinta-feira. O acordo, que negociou com Bruxelas, “não nos dá tudo o que queremos e todos nós podemos encontrar cláusulas e disposições que

podemos rejeitar”, admitiu o primeiro-ministro. Mas também lembrou que “durante três anos e meio, este Parlamento está preso a um impasse criado por si próprio. E a verdade é que todos nós temos responsabilidade”. Mas o líder do partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, considera que “17 horas não são muito para analisar 40 cláusulas e 110 páginas” e acusou o primeiro-ministro de “tentar tapar os olhos a este Parlamento para forçar o acordo”. Corbyn lembrou que o Governo tinha dito antes que o parlamento precisaria de quatro semanas para analisar e aprovar esta legislação.

PALAVRA DO DIA

SERÁ QUE O MEDO COME MESMO A ALMA?

Japão Imperador Naruhito proclama entronização O imperador Naruhito do Japão proclamou ontem a entronização durante uma cerimónia no Palácio Imperial em Tóquio, na presença de dois mil convidados, entre eles chefes de Estado e representantes de cerca de 180 países. "Perante o país e o mundo, proclamo a minha entronização", disse Naruhito, ao lado da imperatriz Masako, ambos vestidos com um vestido tradicional reservado para este ritual. O imperador prometeu respeitar a Constituição e cumprir todas as responsabilidades inerentes às

quarta-feira 23.10.2019

funções. O novo soberano, de 59 anos, tornou-se no 126.º imperador do Japão em 1 de Maio, no dia seguinte ao pai, Akihito, de 85 anos, ter abdicado, uma decisão inédita nesta dinastia de mais de dois séculos. Naruhito e Masako têm uma filha, a princesa Aiko, de 17 anos, que a lei imperial não autoriza a assumir o trono. O irmão mais novo do actual imperador, o príncipe Akishino, de 53 anos, é o primeiro na linha de sucessão ao trono, à frente do filho Hisahito, de 13 anos.

sexta-feira , 25 de Outubro


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