DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
PLÁSTICO
SEM FIM À VISTA UNIVERSIDADE DE MACAU
PÁGINA 4
PRÓS E CONTRAS YASUYOSHI CHIBA
PÁGINA 6
WORLD PRESS PHOTO
FORÇA E ESPERANÇA
BERNFRIED JÄRVI ANTÓNIO CABRITA
MEDO DO DELÍRIO LUÍS CARMELO
hojemacau
Há defesa A segurança interna continua a ser uma preocupação central na RAEM. Enquanto o sistema de videovigilância cresce a olhos vistos, Macau além de ter adquirido armas e sistemas anti-drone, a países como a Itália ou a República Checa, possui desde 2015 um IMSI Catcher importado da Suíça. O equipamento intercepta dados de telemóveis e a sua utilização está envolvida em alguma polémica por poder colocar em risco o direito à privacidade. Em 2019, a Suíça rejeitou dois novos pedidos vindos de Macau.
EVENTOS
OPINIÃO
ECONOMIA DIGITAL NA CHINA I JORGE RODRIGUES SIMÃO
GRANDE PLANO
www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau
PLANO DIRECTOR
h
MOP$10
QUINTA-FEIRA 24 DE SETEMBRO DE 2020 • ANO XX • Nº 4619
2 grande plano
Em Macau existe tecnologia que permite interceptar dados de telemóveis. Uma entidade pública comprou em 2015 um IMSI catcher através do Governo suíço, e no ano passado foram rejeitadas mais duas encomendas. Além disso, Macau foi destino de armas de pequeno calibre, munições e de um sistema anti-drone, para dar alguns exemplos de equipamentos encomendados nos últimos anos a diversos países
24.9.2020 quinta-feira
LISTA DE COMPRAS SEGURANÇA
N
ARMAS E EQUIPAMENTO DE VIGILÂNCIA IMPORTADOS POR MACAU
O céu multiplicam-se os olhos, enquanto a vigilância se estende em terra. Em 2015, as autoridades de Macau importaram um IMSI catcher, um equipamento de vigilância que permite a intercepção de dados de telemóveis. “Podemos confirmar que a 21 de Agosto de 2015, foi aprovada a mediação e exportação de um IMSI catcher para uma agência governamental anti-corrupção”, respondeu ao HM o Consulado Geral da Suíça em Hong Kong. De resto, a base de dados sobre tecnologia de vigilância “Surveillance Industry Index” mostra que Macau adquiriu tecnologia de intercepção em 2015, através do Governo suíço. Questionado sobre a tentativa de comprar material militar e de vigilância a outros países, e de que se trata em concreto, o gabinete do secretário para a Segurança respondeu não ter informações a prestar. O Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) também optou pelo silêncio. “Não temos comentário às suas questões”, foi a resposta dada ao pedido de confirmação do uso de um IMSI-catcher em investigações, quanto tempo os dados são mantidos e se são partilhados com outras entidades. Um IMSI catcher funciona como uma falsa torre de rede móvel, levando telemóveis que estejam perto a conectar-se. Através deste mecanismo, pode ser
partilhada a identidade do cartão SIM e revelada a localização do utilizador. Alguns podem também interceptar mensagens de texto GSM (Sistema Global para Comunicações Móveis) e chamadas. Há relatos de uso de IMSI catchers por forças policiais em vários locais do mundo. O Consulado explicou que em Maio de 2015 o Governo da Suíça reforçou os critérios de avaliação para exportações e intermediação de mercadorias para vigilância da internet e telemóveis. A licença é negada se houver motivos para acreditar que os bens a ser exportados ou mediados vão ser usados como meio de repressão. A avaliação é feita de acordo com critérios internacionais da legislação de controlo de mercadorias. Os equipamentos para vigilância da Internet e de telemóveis integram os chamados bens de uso duplo – podem ser utilizados a nível militar e civil. “A exportação de tais bens da Suíça é controlada desde 2012 com base em acordos internacionais. Para exportações da Suíça, a licença deve ser obtida através da Secretaria de Estado para os Assuntos Económicos SECO, com base na legislação de controlo de mercadorias”. A procura por um IMSI catcher por autoridades da RAEM voltou a acontecer no ano passado, mas a representação consular indica que o licenciamento se tornou mais restritivo ao longo dos anos. “A 1 de Abril de 2019, não foram apro-
vados pela Secretaria de Estado dos Assuntos Económicos SECO novos pedidos de exportação de dois IMSI catchers adicionais para destinatários governamentais”, disse o Consulado Geral da Suíça, acrescentando que “devido à situação actual, tais mercadorias não seriam autorizadas no presente”.
ATENÇÃO À PROPORCIONALIDADE
A advogada Catarina Guerra Gonçalves considera que a utilização deste tipo de equipa-
MAIS CÂMARAS
O
secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, autorizou a instalação e utilização de mais 37 câmaras de videovigilância. De acordo com o despacho publicado ontem em Boletim Oficial, 33 destinam-se ao posto de migração do terminal marítimo do Porto Interior e de Iates da Divisão de Controlo Fronteiriço Marítimo e Aéreo do Departamento de Controlo Fronteiriço. A gestão do sistema de videovigilância fica sob a responsabilidade do Corpo de Polícia de Segurança Pública.
mento coloca em risco o direito à privacidade. Em causa está a possibilidade de aceder a dados de tráfego (que permitem identificar para quem se liga, quando, com que duração e frequência), conteúdo e localização celular através do IMSI catcher. A advogado alerta que a Lei Básica protege especificamente a liberdade e o sigilo dos meios de comunicação dos residentes de Macau e que nenhuma autoridade pública pode violar os mesmos, excepto por razões de segurança pública ou de investigação criminal. “Tanto a obtenção de dados de localização celular como de dados de tráfego afronta o direito fundamental à inviolabilidade das telecomunicações, (...) e só pode ser feito nas situações excepcionais aí previstas e com respeito dos princípios da proporcionalidade, adequação e necessidade”, analisou a especialista da área de protecção de dados pessoais. A jurista deu como exemplo a impossibilidade de abranger um conjunto de pessoas que tenham telemóveis que não estejam envolvidas na prática de um crime, sendo “erigidas à categoria de suspeitos” pela circunstância de estarem no local e no momento em que ele é cometido. “Ora, aparentemente, o IMIS catcher permite precisamente abranger todas as pessoas que estejam próximas do mesmo e que não se aperceberão que o seu telemóvel
grande plano 3
quinta-feira 24.9.2020
“A 1 de Abril de 2019, não foram aprovados pela Secretaria de Estado dos Assuntos Económicos SECO novos pedidos de exportação de dois IMSI catchers adicionais para destinatários governamentais.” CONSULADO GERAL DA SUÍÇA
está a ligar-se a uma torre móvel falsa, o que constitui uma clara violação da privacidade”, declarou ao HM. Na óptica de Catarina Guerra Gonçalves, “dificilmente, o IMIS catcher pode ser usado proporcionalmente devido à forma como opera”. A advogada observou ainda que a intercepção ou gravação de comunicações depende de ordem ou autorização do juiz, e que se os elementos recolhidos não forem relevantes devem ser imediatamente destruídos, com base no Código de Processo Penal. Num tom mais geral, Julien Chaisse, professor de Direito na City University of Hong Kong e especialista na Plataforma de Política de Dados do Fórum Económico Mundial, comentou que os governos justificam o uso de IMSI
catchers “em resposta à ameaça para fins de investigação ou, mais geralmente, para propósitos de segurança interna”, e que se tornaram “uma ferramenta poderosa para exercer vigilância sobre indivíduos seleccionados”. Ao HM, explicou que, na maioria das jurisdições, são utilizados pela polícia ou serviços de inteligência, mas que o seu uso por vezes é ilegal por razões de liberdade civil ou protecção da privacidade. E aponta que o recurso a esta tecnologia está “bastante difundido”, com governos como o do Reino Unido, China e França a utilizá-la. O docente considera que a interceptação de comunicações só deve ser feita depois de autorização judicial. “No entanto, parece que as autoridades supervisoras têm meios técnicos para usar IMSI-catchers quando querem e contornar esta limitação real ou potencial. Na verdade, há muito pouco controlo em jurisdições como os Estados Unidos, Inglaterra, França... Portanto, é difícil provar se foram feitas escutas fora da estrutura de controlo judicial”, apontou. Julien Chaisse ressalvou ainda assim que os dados recolhidos ilegalmente podem constituir evidência inadmissível perante um julgamento.
DEFESAS ERGUIDAS
Encontra-se informação dispersa sobre importações de equipamento militar e de uso duplo para a RAEM
em documentos de governos que passaram licenças de venda. Um relatório sobre o controlo de exportações do Departamento do Comércio Internacional do Reino Unido de 2015 mostra as licenças autorizadas para bens com destino a Macau. A nível militar foi autorizada uma licença para munição de armas de pequeno calibre para finalidade de treino. Entre o material não militar foi dada luz verde a câmaras, software e equipamento de segurança de informação, bem como equipamento de intercepção de telecomunicações. O valor total destes bens foi na ordem dos 5,4 milhões de libras. Por outro lado, foi rejeitada a venda de granadas de gás lacrimogéneo. No relatório da entidade britânica surge uma licença rejeitada no relatório de 2017, referente a equipamento de protecção para substâncias usadas em controlo de motins, como por exemplo gás pimenta ou lacrimogéneo. No entanto, receberam autorização para munições de armas de pequeno calibre, equipamento de segurança de informação, e de identificação/ detecção de explosivos civis. O HM consultou dados do Ministério da Economia, Indústria e Competitividade de Espanha que indicam duas licenças autorizadas de exportação de material de defesa e uso duplo em 2017para Macau, num valor de 15.246 euros. Os documentos apontam que o usuário final foi um privado.
CÉU E INFERNO
A União Europeia (EU) adoptou em 2008 uma posição comum
“Dificilmente, o IMIS catcher pode ser usado proporcionalmente devido à forma como opera.” CATARINA GUERRA GONÇALVES ADVOGADA
No relatório da entidade britânica surge uma licença rejeitada no relatório de 2017, referente a equipamento de protecção para substâncias usadas em controlo de motins, como por exemplo gás pimenta ou lacrimogéneo
sobre o controlo da exportação de equipamento e tecnologia militar. “O objectivo da Posição Comum é assegurar a exportação responsável de armas pelos Estados-Membros, nomeadamente de forma a que a mesma não contribua para repressão interna, instabilidade regional ou agressão internacional, graves violações dos direitos humanos ou do direito internacional humanitário”, lê-se num relatório sobre a aplicação das regras de exportação. A União Europeia frisa que “uma política responsável em matéria de comércio de armas contribui para a manutenção da paz e da segurança internacionais”. O documento mostra a exportação de armas da EU em 2018, por destino, um deles foi Macau. A Áustria emitiu seis licenças numa categoria que abrange armas de
calibre inferior a 20mm, armas automáticas com calibre inferior a 12,7mm, assessórios ou componentes deste material, e uma licença para munições. Esta compras tiveram um preço de cerca de 69 mil euros. Da República Checa as licenças atingem 90.863 euros para adquirir munições. Também Itália emitiu uma licença em 2018, no valor de 17.850 euros. O Consulado Geral de Itália em Hong Kong explicou ao HM que o equipamento em causa é um sistema anti-drone, comprado por uma entidade governamental, e que foi fornecido de acordo com todos os procedimentos internacionais e nacionais. Mais recentemente, um relatório do Ministério da Economia e Energia alemão de 2019 revela que o país rejeitou a exportações para Macau, no valor de 17.680 euros. Quando questionado sobre o produto em causa e se era destinado a uma entidade governamental ou privada, o Consulado Geral alemão em Hong Kong não quis comentar.
RISCOS INFORMADOS
O jurista António Katchi defende que o Governo devia esclarecer a população sobre os equipamentos usados pelas autoridades e entidades públicas em investigações. “As pessoas têm o direito de saber a que riscos estão expostas, quer nas suas comunicações, quer quando participem em manifestações, quer, inclusivamente, quando desobedecem a uma ordem policial”, disse ao HM. Para além disso, considera que os médicos e enfermeiros devem ser esclarecidos sobre os materiais e equipamentos de que o Governo dispõe para operações repressivas, para poderem explicar os riscos da sua utilização e preparar-se adequadamente “para o tratamento das pessoas que viessem a ser atingidas”. Sobre a rejeição da venda a Macau de equipamento militar e tecnologia de uso duplo por outros países, António Katchi entende que “poderá – ou deveria – constituir uma reacção à paulatina fascização do regime político de Macau, que tem tido como traço mais saliente o fortalecimento do poder, tanto jurídico como de facto, das autoridades policiais, quer perante os particulares, quer perante os demais poderes públicos”. No seu entender “o cenário está a ser montado para que, quando houver agitação social em Macau, a PSP e a PJ possam impunemente ‘partir a espinha’ aos ‘agitadores’, então convenientemente apodados de ‘terroristas’ ou ‘separatistas’ a soldo de forças estrangeiras”. Salomé Fernandes
info@hojemacau.com.mo
4 política
24.9.2020 quinta-feira
AMBIENTE DSPA NÃO DEFINE METAS PARA REDUZIR USO DE PLÁSTICO
Conselho de Consumidores Wong Hon Neng lidera mais um ano
Wong Hon Neng foi reconduzido como presidente da Comissão Executiva do Conselho de Consumidores (CC), de acordo com um despacho publicado ontem no Boletim Oficial (BO). A nova comissão de serviço de Wong começa a partir de 29 de Setembro deste ano e vai prolongar-se por um ano. A decisão, assinada por Ku Mei Leng, chefe do Gabinete do secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, foi justificada com a “capacidade de gestão e experiência profissional adequadas para o exercício das suas funções”.
Academia Médica Carlos Canhota deixa Conselho de Especialidades
Jorge Sales Marques e Carlos Canhota estão de saída do Conselho de Especialidades da Academia Médica. A saída de Sales Marques já era conhecida, uma vez que o médico revelou anteriormente que ia para Portugal. Por esse motivo, e a seu pedido, deixou de ser membro do conselho no dia 1 deste mês. Quanto a Carlos Canhota, vai abandonar a comissão a partir de 4 de Janeiro do próximo ano e, segundo um despacho publicado ontem no Boletim Oficial (BO), a decisão partiu do próprio médico. Ao mesmo tempo, foi divulgado que Ieong Kin Mui e Cheang Seng Ip vão começar a fazer parte do conselho, a primeira a partir de 6 de Março e o segundo a partir de 4 de Janeiro e até 6 de Março do próximo ano. O despacho do BO foi assinado pelo Chefe do Executivo Ho Iat Seng.
PUB
AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL 1. Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, chegou ao seu término, e, que de acordo com o artigo 53.º da Lei n.º 10/2013 <<Lei de Terras>>, de 2 de Setembro, conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que devem os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Localização dos terrenos: - Estrada da Penha, n.ºs 4 e 6, em Macau; - Estrada da Penha, n.ºs 8 e 10, em Macau; - Estrada Governador Albano de Oliveira, s/n, na Ilha da Taipa (Edifício Bairro Residencial do Hipódromo e Jardim do Hipódromo); - Estrada de Nossa Senhora de Ká-Ho, n.ºs 206 e 898, na Ilha de Coloane (Edifício Fábrica de Cimentos). 2. Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam à Recebedoria destes serviços, situada no rés-do-chão do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Serviços da RAEM das Ilhas, para os efeitos do respectivo pagamento. 3. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada.
Aos, 30 de Setembro de 2020. O Director dos Serviços de Finanças Iong Kong Leong
Toda a tranquilidade
O Governo não se compromete com metas ou medidas restritivas para prevenir o uso de plástico. A resposta da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, à interpelação de Sulu Sou, esbarra no pedido de acção de activistas de defesa do ambiente e na urgência de travar o poluente que está em todo o lado
O
Governo não vai estabelecer metas, nem prazos, para a redução do uso de plástico, é a principal conclusão que se retira da resposta da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSAP) a uma interpelação escrita de Sulu Sou. Posição que esbarra não só no pedido do deputado, mas também na expectativa de activistas ambientais, como Annie Lao da Macau for Waste Reduction. “Acho que o Governo é muito lento a agir. Para mim, não são sérios em relação ao ambiente, por isso só conseguem dar passinhos pequenos”, reagiu a activista que tem movido uma cruzada contra o plástico de uso único. A resposta assinada por Raymond Tam refere que está “previsto um novo estudo no 4º trimestre do corrente ano, com vista a comparar a tendência da variação dos sacos de compra abandonados, incluindo os sacos de plástico”. O director da DSAP acrescenta que será feita uma avaliação regular, mas, “por enquanto, não há uma meta de redução”. Posição que não surpreende Annie Lao, mas que testa a paciência. “Dizem que vão continuar a estudar e estudar. De quantos estudos precisam para perceberem o problema ambiental que existe há tantos anos? O mundo está cheio de plástico, o tempo de fazer estudos acabou, é preciso passar à acção imediata, agir. Façam algo. Apelo ao Governo para agir com coragem, ambição, para ser ousado”, desabafa a ambientalista. Ainda no capítulo dos estudos, importa referir que todos os anos, cada pessoa consome, pelo menos, 50 mil partículas de microplásticos e respira a mesma quantidade, indicou um relatório publicado em 2019 na revista científica Environmental Science and Technology. No mês passado, outro estudo científico demonstrou que se
pode encontrar plástico em órgãos vitais como pulmões e fígado, mas também nos rins e baço.
FIM DA ESFEROVITE
A resposta de DSPA refere ainda que “existem diferentes opiniões na sociedade sobre a implementação de medidas restritivas” e que o Governo “deve ponderar a sua operacionalidade” e eficácia. Entretanto, a entidade liderada por Raymond Tam
garante que vai continuar a apostar na sensibilização da sociedade para “promover práticas mais amigas do ambiente”. Uma atitude louvável, na óptica de Annie Lao, que reconhece o papel pedagógico do Executivo. Porém, considera que “sem regulamentação é impossível consciencializar as pessoas.” Fica o compromisso de restringir, de forma faseada, o uso de utensílios de mesa de plástico descartáveis” e
“De quantos estudos precisam? O mundo está cheio de plástico, o tempo de fazer estudos acabou, é preciso passar à acção imediata, agir. Façam algo. Apelo ao Governo para agir com coragem, ambição, para ser ousado.” ANNIE LAO ACTIVISTA AMBIENTAL
no próximo ano o plano é “proibir a importação de utensílios de mesa de esferovite”. Medida aplaudida pela activista, principalmente porque as embalagens de esferovite não podem ser recicladas em Macau, ao contrário das de plástico. Mas que peca pelo impacto menor, por não ser tão utilizado por restaurantes como o plástico. Uma outra questão que Annie Lao gostaria de ver respondida é o impacto da pandemia na questão ambiental. “Neste momento, devido à pandemia, as pessoas têm a tendência para pedir mais takeaway. Portanto, presumo que o uso de plástico vai aumentar ainda mais”. João Luz
info@hojemacau.com.mo
política 5
quinta-feira 24.9.2020
O
S deputados ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) ainda não chegaram a consenso quanto à possibilidade de apresentarem um novo projecto de lei sindical na Assembleia Legislativa (AL). Na conferência de imprensa de ontem, que serviu para fazer um balanço da última sessão legislativa, foram apresentadas posições diferentes sobre o assunto. Para Lam Lon Wai, eleito pela via indirecta, cabe ao Governo apresentar a proposta, ouvindo as posições do Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) e da população. “A lei sindical só tem vantagens para a sociedade e estamos optimistas em relação à legislação”, disse. Ella Lei lembrou que o Governo prometeu avançar para a lei sindical, defendendo uma discussão com a sociedade sobre a elaboração do diploma, a fim de incluir os direitos sindicais e o direito de participação dos trabalhadores. Já Lei Chan U, frisou que a lei sindical já foi chumbada no hemiciclo mais de dez vezes, mas que o consenso em torno desta questão ainda está a ser construído junto da sociedade. O deputado lembrou que o último relatório do CPCS PUB
Balanço inconclusivo FAOM sem consenso sobre possível apresentação na AL de projecto de lei sindical
sobre este assunto revela que há uma maior proporção de pessoas a pedir a lei sindical o quanto antes. Lei Chan U sublinhou que este diploma é necessário, além de já ter sido prometido pelo actual Chefe do Executivo, Ho Iat Seng.
Ella Lei lembrou que o Governo prometeu avançar para a lei sindical, defendendo uma discussão com a sociedade sobre a elaboração do diploma, a fim de incluir os direitos sindicais e o direito de participação dos trabalhadores
DÚVIDAS E PANDEMIA
Relativamente ao trabalho desenvolvido na qualidade de deputados, Lei Chan U lembrou que a FAOM recebeu, em contexto de pandemia, muitos pedidos de ajuda da parte de trabalhadores do sector da restauração, construção civil, logística e jogo. O deputado disse que na próxima sessão legislativa é importante melhorar a questão dos salários em atraso e implementar uma maior regulação das licenças sem vencimento, bem como reforçar o combate ao trabalho ilegal. Além das preocupações relacionadas com a pandemia, a FAOM lidou também com queixas sobre habitação e trânsito. Os deputados, como Ella Lei, expressaram o desejo de que o
da Ilha de Hengqin. Além disso, o tribuno defendeu que o Governo deve recorrer aos terrenos não aproveitados para criar mais parques de estacionamento provisórios. Ainda na área do planeamento urbano, Lam Lon Wai pede o aproveitamento de 40 terrenos que
Governo possa melhorar o planeamento urbanístico e a utilização dos terrenos. Ella Lei frisou que é necessário estabelecer um calendário na área da habitação pública, a pensar nos candidatos em lista de espera e pede a construção de mais apartamentos T2 ou T3 para os candidatos com
famílias maiores, além de dizer ser necessário criar mais políticas de habitação para a chamada classe sanduíche. O deputado Leong Sun Iok afirmou esperar que o Executivo apresente o projecto completo do metro ligeiro com mais detalhes sobre o orçamento e o segmento
ainda estão por recuperar, como é o caso do terreno à entrada da Taipa destinado ao parque temático Oceanis ou onde está a velha fábrica de panchões Iec Long. O deputado deseja ainda que sejam criadas mais zonas verdes nos novos aterros ou em zonas costeiras na península e ilhas. A.S.S. e N.W.
6 sociedade
24.9.2020 quinta-feira
PLANO DIRECTOR ESPECIALISTAS QUEREM VISÃO A LONGO PRAZO E MAIS DADOS
Como andar aos papéis
O
“
que vejo é que não existe coordenação suficiente e é por isso que trouxemos aqui especialistas de diferentes sectores”, afirmou ontem Agnes Lam, à margem de um encontro promovido pela Universidade de Macau (UM) sobre os planos previstos na área dos transportes e da cidade inteligente, que constam no Plano Director. Numa sessão que juntou, académicos e técnicos ligados à engenharia e ao planeamento urbanístico, foi consensual a ideia de que o Governo deveria partilhar mais informações e dados concretos, que estiveram na base das decisões apresentadas no plano que se encontra em consulta pública até 2 de Novembro. Lee Hay Ip, presidente honorário da Associação de Engenharia Geotécnica e membro do Conselho de Planeamento Urbanístico (CPU) afirmou estar preocupado com a construção da linha leste do Metro Ligeiro, nomeadamente, com o facto de não existir nenhum estudo comparativo que indique as vantagens e desvantagens de fazer a obra acima do subsolo, recorrendo a uma ponte, ou debaixo da terra, através de um túnel subaquático, sendo esta última, a opção em cima da mesa. “Devia existir um intervalo de custos de construção, para o público ter noção, de que se trata de uma obra de 50 milhões ou de 500 mil milhões. Deviam listar os prós e os contras e o custo correspondente de cada opção de forma a que a população de Macau tenha dados suficientes. Para
UNIVERSIDADE DE MACAU
Especialistas ligados à engenharia e ao planeamento urbanístico esperam que o Executivo possa ser mais transparente em relação ao Plano Director, apresentando os prós e contras de construir a linha Leste do Metro Ligeiro à superfície ou debaixo da terra. Agnes Lam considera faltar coordenação ao Governo
pelo menos, que o plano que previa ligar a Barra às Portas do Cerco “não seja esquecido”. “Não quero continuar a ouvir que o Metro Ligeiro é para os turistas. Esta linha poderia mudar essa concepção, ou seja, que é também capaz de servir uma grande fatia da população de Macau. Por isso, é possível fazer uma obra que sirva a população e que não tem obrigatoriamente de passar no meio da cidade”, referiu o académico. Também Lee Hay Ip considerou que a passagem pelo centro de Macau “é muito importante para os residentes”, apesar de compreender que “é muito difícil em termos de engenharia”. “Neste caso, fazer o metro passar por baixo da terra pode ser uma boa solução”, acrescentou. Agnes Lam espera igualmente que o Governo volte a pôr no plano “a intenção de colocar o metro a passar pelo centro de Macau”. “O traçado actual não está suficientemente focado no dia-a-dia das pessoas e da comunidade. Alguns desses planos já existiam e, se não os podemos concretizá-los, é preciso explicar porque não podem ser feitos”, vincou a deputada.
ONDAS DE CHOQUE
Chan Mun Fong, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Macau “Não quero continuar a ouvir que o Metro Ligeiro é para os turistas. Esta linha [entre a Barra e Portas do Cerco] poderia mudar essa concepção, ou seja, que é também capaz de servir uma grande fatia da população de Macau.”
já, não temos nada. Além disso, não sabemos quais os custos de operação, a longo prazo, de fazer um túnel”, apontou. Devido às mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global, Lee Hay Ip apontou ainda que “ir para debaixo da terra” acarreta outros riscos, tal como o aterro da Zona A poder vir a inundar, colocando em causa o projecto, que assegura o transporte de passageiros, mesmo quando é içado o nível 10. “O nível das inundações que resultam do “storm surge” tem vindo a aumentar desde o Hato. Se demorarmos 10 anos a construir a
linha leste, quer dizer que em 2030, quando estiver operacional, e com uma perspectiva de utilização de 20 anos, em 2050, com o nível das inundações a aumentar, o próprio aterro da Zona A pode ficar abaixo do nível da água. Será seguro manter o metro a funcionar nestas condições e com tantas pessoas debaixo da terra?”, sublinhou engenharia geotécnico. Por seu turno, Sio Chi Veng, Presidente da Associação dos Engenheiros de Macau alertou para a importância de não descurar os interesses de turistas e residentes e os gastos a longo prazo, inerentes
Hac Sá Agnes Lam questiona projecto do parque de campismo Agnes Lam tem dúvidas se o novo projecto do parque de campismo de Hac Sá está de acordo com o Plano Director, segundo o Jornal do Cidadão. Segundo a deputada, a zona deve ser preservada e caso o projecto tenha fim turístico, a preservação da montanha pode ficar em risco, defendendo também que a zona da praia não deve ser demasiado desenvolvida. Lo Chi Kin, vice-presidente do conselho de administração do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM),
disse no programa Fórum Macau, do canal chinês da Rádio Macau, que o projecto de renovação do parque de campismo não deve ser “de nível internacional”, explicando que a intenção do Governo é disponibilizar instalações municipais de boa qualidade aos residentes. Lo Chi Kin disse que o projecto do novo parque de campismo deve estar de acordo com o Plano Director, actualmente em consulta pública, algo que motivou o adiamento dos trabalhos do IAM.
à manutenção das infra-estruturas previstas no Plano Director, sobretudo porque “Macau tem muito dinheiro”. “Não podemos pensar que [o Plano Director] apenas vai afectar os próximos 20 anos, mas talvez os próximos 100. Estas infra-estruturas vão afectar a vida de Macau depois de 2040. Macau (…) não se preocupa com quanto tem de gastar com a manutenção. Mas se compararmos com outras regiões, que têm limitações financeiras, as estações (…) incluem, por exemplo, um centro comercial ou uma área residencial, para a tornar lucrativa e funcional. Acho importante considerar o panorama geral, a longo prazo, e não apenas os custos iniciais”, defendeu
SÓ PARA TURISTAS?
Outra das preocupações apontadas prende-se com o facto de o Plano Director não prever a passagem do Metro Ligeiro no centro de Macau. Para Chan Mun Fong, professor adjunto da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UM, a decisão “foi uma grande desilusão”, esperando,
Para Agnes Lam, a falta de coordenação na forma como o Plano Director foi apresentado está relacionada com o facto de o Governo de Ho Iat Seng ser relativamente recente. “O conflito deve-se também, a meu ver, com o facto de Macau ter mudado de Governo há pouco tempo. Alguns departamentos já tinham feito parte do planeamento, mas, ao mesmo tempo, há indicações em sentido contrário. Acho que o Governo, especialmente o novo Chefe do Executivo, que parece ser mais determinado a tomar decisões, deve dar atenção à forma como os trabalhos estão a ser coordenados”, explicou a deputada ao HM. De acordo com a deputada, um exemplo disso é a possibilidade de o Executivo deixar cair os planos previstos para a Zona D, para construir o novo aterro que vai ligar a Zona A ao nordeste de Macau, algo que estará a ser negociado com o Governo Central. “Há uma intenção substancialmente diferente em relação ao que consta no Plano Director e o Governo tem de explicar a razão, fornecendo dados, o que justificou essa decisão. Se consideram que a Zona D não é boa ideia (…) têm de traduzir isso em números, porque, neste momento, não é possível compreender como foi tomada esta decisão”, explicou. Pedro Arede
pedro.arede.hojemacau@gmail.com
sociedade 7
quinta-feira 24.9.2020
DESEMPREGO NÚMERO DE PEDIDOS DE SUBSÍDIO QUASE DUPLICOU FACE A 2019
O presidente da Associação dos Hoteleiros de Macau, Cheung Kin Chung, revelou ontem que, a actual taxa média de ocupação hoteleira de Macau situa-se entre 10 e 20 por cento. Segundo o canal chinês da TDM-Rádio Macau, o mesmo responsável apontou ainda que, devido à situação peculiar que o território está a viver devido à pandemia, é difícil prever com precisão, qual será a taxa de ocupação hoteleira durante a semana dourada, mas que a maioria dos visitantes serão turistas individuais. Cheung Kin Chung frisou ainda que, de acordo com a experiência de anos passados, a taxa de ocupação irá ainda aumentar com o aproximar das datas festivas. Já Wong Fai, presidente da Direcção da Associação de Indústria Turística de Macau, considerou que a semana dourada irá servir de barómetro para avaliar a situação económica de Macau, já que é a primeira festividade importante a acontecer em Macau após a estabilização da pandemia no território.
DST Helena de Senna Fernandes mantém liderança no Turismo
Numa altura em que o número de visitantes no território sofre quebras históricas, devido à pandemia da covid-19, Maria Helena de Senna Fernandes voltou a merecer a confiança do Governo para ficar à frente da Direcção dos Serviços de Turismo (DST). A decisão foi publicada ontem no Boletim Oficial e está assinada por Ho Ioc San, chefe do Gabinete da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura e justificada, como normalmente acontece nestes casos, com “a experiência e capacidade profissional adequadas para o exercício das suas funções”. Maria Helena de Senna Fernandes assumiu o controlo da DST em Dezembro de 2012 e segundo o despacho relevado ontem vai permanecer à frente do turismo até 19 de Dezembro do ano que vem.
A crise no El Dourado
Entre Janeiro e Agosto, o Fundo de Segurança Social aprovou mais de 3.400 pedidos de atribuição de subsídio de desemprego. Este aumento fez disparar os custos com o apoio social de 14,4 milhões para 38,6 milhões de patacas
N
OS primeiros oito meses do ano houve mais de 3.400 pedidos de subsídio de desemprego, o que representa quase o dobro face ao montante total do ano passado, quando 3.511 pessoas requisitaram o apoio. Os valores foram revelados por Iong Kong Io, presidente do Conselho de Administração do Fundo de Segurança Social (FSS), ontem à margem da celebração do 30.º aniversário do organismo que dirige. “Ao longo dos oitos meses do ano recebemos cerca de 3.400 pedidos de subsídio de desemprego. Este número envolve um pagamento de 38,6 milhões que já é superior ao do ano passado, quando foram pagos 14,4 milhões de patacas”, afirmou Iong Kong Io. Os números avançados pelo Governo revelam também que desde Março até Agosto houve um aumento de cerca de 2.264 pedidos, uma vez que nos primeiros três meses do ano, segundo as estatísticas do portal do FSS, tinham sido aprovados 1.136 novos pedidos. Segundo a legislação em vigor, o valor do subsídio de desemprego é de 150 patacas por dia e pode estender-se num máximo de 90 dias por ano, o que significa um montante anual máximo de 13.500 patacas por ano. Esgotados os 90 dias, as pessoas precisam de esperar mais 12 meses para poderem
neste ano a distribuição das sete mil patacas, que em condições normais só podem ser levantadas depois completados 65 anos, custou aos cofres da RAEM 2,8 mil milhões de patacas.
RÓMULO SANTOS
Semana Dourada Ocupação hoteleira entre 10 e 20 por cento
RESPOSTA À CRISE
voltar a candidatar-se ao apoio. Os números acompanham assim o crescimento da taxa de desemprego que de Dezembro do ano passado para Julho deste ano saltou de 1,7 por cento para 2,9 por cento. Em clima de crise económica, ficou por confirmar a injecção por parte do Governo das habituais 7 mil patacas nas contas individuais do regime de previdência central não-obrigatório. A atribuição da
verba está dependente dos excedentes orçamentais, mas como o orçamento para este ano deve ser deficitário, existe o risco de não ser distribuído no próximo ano. “Temos de avaliar a situação financeira para decidir a questão de voltar a atribuir a verba no próximo ano. O problema vai ser avaliado pelo Governo e até Novembro, nas Linhas de Acção Governativa, vai ser falado”, comentou o presidente do FSS. Só
Por outro lado, o responsável sublinhou a importância das medidas adoptadas pelo Governo, numa altura de dificuldades, e diz que poderá haver mais iniciativas no futuro. “Com o surto da epidemia a nível mundial muitos sectores da sociedade estão a ser afectados. Muitas pessoas estão a sofrer dificuldades financeiras e o Governo da RAEM já lançou uma série de políticas para aliviar as dificuldades [...] Com base nas nossas receitas vamos ter um plano para continuar a responder à situação”, apontou. Na cerimónia de celebração de 30 anos do Fundo de Segurança Social foi revelado que, desde 2018, 232 empregadores aderiram ao regime de previdência central não obrigatório. O sistema envolve assim mais de 21.700 trabalhadores e os empregadores foram ontem distinguidos por terem aderido à iniciativa. A Escola Portuguesa de Macau foi uma das instituições louvada pelo Governo por ter aderido ao regime de previdência central não obrigatório. João Santos Filipe
joaof@hojemacau.com.mo
COVID-19 UTILIZAÇÃO DE MÁSCARAS OBRIGATÓRIO NOS CASINOS ATÉ MARÇO DE 2021
T
ODOS os trabalhadores dos casinos de Macau vão continuar a ser obrigados a utilizar máscara até 22 de Março de 2021, segundo um despacho divulgado ontem pelo director dos Serviços de Saúde.
A medida tinha sido imposta a 22 de Janeiro, no mesmo dia em que Macau registou o primeiro caso do novo tipo de coronavírus no território, através de uma mulher de 52 anos, comerciante, oriunda da cidade chinesa de Wuhan, onde a
pandemia começou. “Todos os trabalhadores, sem excepção, que prestam serviço nos casinos, e durante todo o seu horário de trabalho, são obrigados a utilizar máscara de protecção respiratória”, lê-se no despacho que tem sido alargado ao longo do
ano e que agora está em vigor até ao dia 22 de Março de 2021. O director Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, justificou que “em função da evolução da doença do novo tipo de coronavírus, se determinou o prolongamento
do período de vigência da medida de controlo”. As autoridades testaram mais de 50 mil trabalhadores nas seis operadoras de jogo e as autoridades garantem a fiscalização rigorosa nos casinos, como o reforço da limpeza e de-
sinfecção das instalações, medição da temperatura à entrada e ainda a obrigatoriedade de os clientes apresentarem certificado de resultado negativo do teste de ácido nucleico para poderem entrar nos espaços de jogo.
8 eventos
24.9.2020 quinta-feira
“É importante ter uma pres NICOLAS ASFOURI
YASUYOSHI CHIBA
MARK PETERSON
MARIKA CUKROWSKI CURADORA DO WORLD PRESS PHOTO
A exposição das fotografias vencedoras do World Press Photo, promovida pela Casa de Portugal de Macau, é hoje inaugurada na Casa Garden, às 18h30, onde pode ser vista até ao dia 18 de Outubro. Ao HM, Marika Cukrowski, curadora de um dos maiores concursos de fotografia do mundo, falou de uma edição cheia de imagens de esperança e força. As manifestações que decorreram em vários lugares do mundo, incluindo Hong Kong, são um tema central
U
M jovem toca no peito, à noite, enquanto grita qualquer coisa, que soa como uma mensagem de esperança. A mensagem é poesia recitada no meio de uma manifestação
no Sudão, a 19 de Junho de 2019. Enquanto recita poemas, o jovem é iluminado por telemóveis empunhados por outros jovens. Esta imagem, captada pelo fotógrafo japonês Yasuyoshi Chiba, da agência France-
-Press, venceu a edição deste ano do World Press Photo e pode ser vista até ao dia 18 de Outubro na Casa Garden, numa iniciativa que conta mais uma vez com o apoio da Casa de Portugal. O regresso da mostra a Macau deixa
Marika Cukrowski, uma das curadoras do World Press Photo, muito satisfeita. “Estamos muito empolgados com o facto de esta exposição acontecer como habitualmente, mesmo com todas as alterações que decorreram este ano. Podemos não estar presentes na inauguração, mas assegurámos a sua continuação. É importante para nós ter esta presença [em Macau] para diversificar ao máximo o concurso e Macau é sempre um lugar interessante para estarmos, por ser um local onde várias culturas existem”, contou ao HM. Esta é uma edição muito marcada por protestos em vários pontos do mundo, incluindo Hong Kong. São protestos que se calaram subitamente devido à pandemia da covid-19, mas cujas mensagens e ideias continuam a existir.
Os protestos de Hong Kong que decorreram em força o ano passado são um dos temas dominantes da edição deste ano do World Press Photo “Temos várias histórias e imagens simbólicas de manifestações em vários lugares no mundo. Temos a Foto do Ano, tirada no Sudão, temos os protestos de Hong Kong, uma imagem sobre os protestos no Chile. Mesmo a História do Ano é sobre os protestos na Argélia [Kho, the genesis of a revolt, de Romain Laurendeau]. Não se trata apenas de um lugar, mas é uma espécie de onda que chegou em 2019.” Marika Cukrowski considera que a Foto do Ano é,
sem dúvida, uma das imagens mais impressionantes do concurso. “Esta é uma imagem que sobressai em relação às outras, porque não é gráfica e está cheia de esperança. É muito representativa do tema deste ano. Desde 2018 que temos tido essencialmente temas ligados a manifestações e jovens que protestam sem recorrer a qualquer tipo de violência.”
BATALHAS DE HONG KONG
Os protestos de Hong Kong que decorreram em força no ano passado são um dos temas dominantes da edição deste ano do World Press Photo. Exemplo disso é o trabalho vencedor na categoria storytelling “Interactive of the Year”, intitulado “Battleground PolyU”. Com produção de DJ Clark e China Daily, trata-se de um trabalho digital de storytelling sobre os intensos protestos que
eventos 9
quinta-feira 24.9.2020
sença em Macau” ROMAIN LAURENDEAU
decorreram nas instalações do Instituto Politécnico de Hong Kong. “Foi sem dúvida um grande acontecimento que decorreu durante muito tempo. Há muitas imagens diferentes, tiradas durante um longo período de tempo, e todas elas são muito poderosas e simbólicas”, disse a curadora do concurso. O trabalho de Nicolas Asfouri, intitulado “Hong Kong Unrest”, nomeado para a categoria “Story of the Year” é outro exemplo da forte presença das manifestações de 2019 no concurso. “Ele cresceu na Dinamarca e viajou para Hong Kong para cobrir os protestos, embora já tivesse feito a cobertura das manifestações durante o movimento dos guarda-chuvas. Disse estar surpreendido por estar tudo muito bem organizado e por haver muitos jovens
desta vez”, contou Marika Cukrowski. Para a responsável, a fotografia mais importante desta série de 10 imagens é o retrato de várias estudantes, com os seus uniformes escolares, de mãos dadas. “Normalmente associamos esta imagem a estudantes a caminharem nos corredores das escolas, mas aqui estão nas ruas, de mãos dadas, com as máscaras colocadas. É uma imagem muito poderosa e representativa das pessoas que se mantiveram de pé, a lutar pela sua liberdade.”
AMBIENTE E NEONAZISMO
Além dos protestos, as questões ambientais voltam a marcar presença na edição deste ano, não só numa categoria em nome próprio, mas também na categoria de questões contemporâneas. “Temos imagens sobre os fogos na Austrália e também sobre os incêndios na
Califórnia, ou sobre lagos que estão a secar em vários pontos do mundo. Este é sem dúvida um tema que está presente em várias categorias e assim vai continuar.” Marika Cukrowski destaca também o trabalho do fotógrafo Mark Peterson, e que é o retrato de vários membros do grupo neonazi Shield Wall Network a celebrar o aniversário de Adolf Hitler num barco, no estado de Arkansas, EUA. Esta imagem ficou em terceiro lugar na categoria de questões contemporâneas. “É uma imagem de confronto. Nem sempre é óbvio que os neonazis existem, mas a verdade é que nos EUA estes grupos estão a crescer. Esta foto é importante porque revela isso mesmo, bem como o facto de as pessoas não terem mais receio de pertencer a grupos neonazis. Esta é uma questão contemporânea preocupante. Parece ser uma
minoria, mas a verdade é que está a crescer”, frisou. Em primeiro lugar na categoria de questões contemporâneas, mas com uma única imagem, ficou o trabalho de Nikita Teryoshin, intitulado “Nothing Personal - The Back Office of the War”, tirada em Abu Dhabi por ocasião do International Defence Exhibition and Conference (IDEX). “Esta imagem documenta o negócio da venda de armas e é algo muito poderoso. Este ano os protestos estão muito presentes no concurso, mas nos últimos anos a guerra foi um tema dominante. Então é interessante perceber de onde vêm estas armas e esse é um assunto que esta imagem explora, há muito dinheiro envolvido. Ele [Nikita Teryoshin] foi lá fotografar as pessoas sem revelar os seus rostos”, concluiu a curadora. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
CINEMA HOWARD DIRIGE FILME SOBRE PIANISTA LANG LANG
A
vida do pianista Lang Lang vai ser adaptada ao cinema pelo realizador Ron Howard, a partir do livro de memórias “Journey of a Thousand Miles”, escrito pelo músico da Deutsche Grammophon, com David Ritz. A notícia, avançada pelo jornal especializado The Hollywood Reporter, citava a produtora Imagine Entertainment, de Ron Howard e Brian Grazer, adiantando que “Journey of a Thousand Miles”, uma “viagem de mil milhas” desde a infância de Lang Lang, no nordeste da China, até às principais salas de concerto a nível mundial, será adaptada pelos argumentistas Michele Mulroney e Kieran Mulroney, os responsáveis pelos guiões de “Power Rangers” e “Sherlock Holmes: A Game of Shadows”. “A história de Lang Lang é de determinação, paixão, sacrifício e de força interior contra a adversidade”, disseram Ron Howard e o produtor Brian Grazer, a propósito do pianista de origem chinesa, nascido em 1982, quando a Revolução Cultural dava lugar à estratégia “um país, dois sistemas”, de Deng Xiaoping. “Este filme é uma ponte
entre duas culturas que partilham verdades universais sobre as dificuldades que atravessamos na procura de grandeza”, acrescentaram. Lang Lang será produtor executivo do filme, com Jean-Jacques Cesbron, presidente da Columbia Artists, que o representa. A Polygram Entertainment, do grupo Universal, que também detém a Deutsche Grammophon, associa-se ao projecto. “Sonha em grande, trabalha duramente e acredita sempre em ti mesmo”, disse Lang Lang sobre o projecto, que acredita poder vir a inspirar jovens em todo o mundo a nunca se esquecerem de que “são totalmente únicos”. No início do mês, Lang Lang, 38 anos, publicou o seu mais recente álbum, dedicado às “Variações Goldberg”, de Johann Sebastian Bach.
Doca dos Pescadores Festival gastronómico a partir de sexta-feira A partir da próxima sexta-feira, a Doca dos Pescadores vai acolher o 11º Festival Internacional de Cultura e Gastronomia. O evento irá realizar-se consecutivamente durante 10 dias e inclui 101 bancas de comida, sendo que, destas, 40 por cento nunca participaram no evento. De acordo com presidente da Associação de Retalhistas e Serviços de Turismo de Macau, Yip Wing Fat Frederick, citado pelo canal chinês da TDM-Rádio Macau, com o objectivo de permitir que
turistas e residentes desfrutem das receitas em segurança, foram reforçadas as medidas de prevenção epidémica do certame, tais como o distanciamento de um metro entre mesas que, no máximo, poderão acolher quatro participantes e a utilização obrigatória de máscara. O mesmo responsável afirmou ainda que o evento irá contar com promoções online e offline e a atribuição de prémios que podem ser convertidos em refeições ao longo dos dias.
Seminário de S. José Manutenção do Tesouro da Arte Sacra em curso O Instituto Cultural (IC) vai realizar trabalhos de manutenção nas instalações do Tesouro de Arte Sacra do Seminário de S. José a partir desta sexta-feira, dia 25, incluindo a reparação de infiltrações de água no tecto
e nas paredes. A conclusão das obras está prevista para finais de Dezembro, sendo que as instalações do Tesouro de Arte Sacra do Seminário de S. José vão estar encerradas durante o período de manutenção.
10 china
O
24.9.2020 quinta-feira
presidente rotativo da Huawei, Guo Ping, reconheceu ontem que a “incessante agressão” dos EUA colocou o grupo de tecnologia chinês sob “forte pressão” e que o seu objectivo agora é lutar para “sobreviver”. “A Huawei está numa situação difícil”, disse Guo, na abertura da conferência anual ‘Huawei Connect’, que decorre em Xangai, a “capital” financeira da China. “A agressão implacável exercida pelos Estados Unidos colocou-nos sob pressão significativa”, acrescentou. Trata-se da primeira declaração pública do presidente do grupo chinês desde a entrada em vigor, na semana passada, das mais recentes medidas de Washington. O Departamento de Comércio dos EUA anunciou que, a partir de 15 de Setembro, os fornecedores globais da Huawei que usam tecnologia norte-americana no desenvolvimento ou produção dos seus produtos devem primeiro obter autorização de Washington para
HUAWEI LUTAR PELA “SOBREVIVÊNCIA” FACE A “INCESSANTE AGRESSÃO” DOS EUA
A batalha mais longa
Guo Ping, presidente rotativo da Huawei “A agressão implacável exercida pelos Estados Unidos colocou-nos sob pressão significativa.”
venderem componentes essenciais à empresa chinesa. A Huawei e os seus fornecedores de ‘chips’
electrónicos criaram reservas e tentaram concluir as entregas antes da entrada em vigor daquelas medidas. PUB
ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 27/P/20
ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.º 36/P/20
Faz-se público que, por despacho da Ex.ma Senhora Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, de 10 de Setembro de 2020, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento de Máscaras Cirúrgicas aos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 23 de Setembro de 2020, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP48,00 (quarenta e oito patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 20 de Outubro de 2020. O acto público deste concurso terá lugar no dia 21 de Outubro de 2020, pelas 15,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP100.000,00 (cem mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/ Seguro-Caução de valor equivalente.
Faz-se público que, por despacho da Ex.ma Senhora Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, de 10 de Setembro de 2020, se encontra aberto o Concurso Público para a «Prestação de Serviços de Transporte e Armazenagem de Produtos Congelados aos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 23 de Setembro de 2020, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP 34,00 (trinta e quatro patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 20 de Outubro de 2020. O acto público deste concurso terá lugar no dia 21 de Outubro de 2020, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP50.000,00 (cinquenta mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/ Seguro-Caução de valor equivalente.
Serviços de Saúde, aos 17 de Setembro de 2020
Serviços de Saúde, aos 17 de Setembro de 2020
O Director dos Serviços Lei Chin Ion
O Director dos Serviços Lei Chin Ion
Guo disse que a empresa continua a “avaliar cuidadosamente os impactos” e sublinhou que a “batalha pela sobrevivência” é agora o seu principal objectivo. O presidente lembrou que a Huawei vai continuar a investir em conectividade, computadores de alto desempenho ou em Inteligência Artificial (AI). A “sinergia” entre esses campos é fundamental não só para a Huawei, mas para o sector como um todo, afirmou. Alguns fabricantes dos EUA, como a Intel ou a
AMD, anunciaram que obtiveram a aprovação de Washington para fornecerem alguns produtos à Huawei, embora não tenham detalhado quais. Outros fornecedores não norte-americanos pediram a licença de Washington para trabalharem com a empresa chinesa, mas ainda não receberam resposta.
CAMINHO LIMITADO
A Huawei Technologies Ltd., a primeira marca global de tecnologia da China e líder no fabrico
de equipamentos de rede e dispositivos móveis, está no centro de um conflito entre EUA e China motivado pelas ambições tecnológicas de Pequim. Os Estados Unidos acusam a empresa de estar sujeita a cooperar com os serviços de inteligência chineses e lançaram uma intensa campanha para convencer os países aliados a excluírem-na das suas redes de quinta geração, a Internet do futuro. Austrália, Estados Unidos, Nova Zelândia, Reino Unido ou Japão baniram já a participação da empresa nos seus mercados. Vários países europeus estão também a limitar a participação da Huawei nas suas infraestruturas. Em Maio, a administração de Donald Trump estipulou também que os fabricantes estrangeiros de semicondutores que usem tecnologia norte-americana devem obter licença para vender semicondutores fabricados para a Huawei, dificultando ainda mais o acesso da empresa a componentes essenciais. A Huawei nega as acusações dos Estados Unidos e as autoridades chinesas dizem que o Governo de Donald Trump está a usar leis de segurança nacional para restringir um rival que ameaça o domínio exercido pelas empresas de tecnologia norte-americanas.
FRONTEIRA CHINA E ÍNDIA CONCORDAM EM ACABAR COM REFORÇO DE PRESENÇA MILITAR
C
HINA e Índia concordaram em não enviar mais tropas para a área na fronteira disputada, numa nova tentativa de resolver a disputa pacificamente e “evitar acções que possam complicar a situação”, revelaram num comunicado conjunto. Os dois países comprometeram-se a fazer tudo o possível para “evitar mal-entendidos e erros de cálculo” e concordaram em “abster-se de mudar a situação no terreno de forma unilateral”. Os dois países vão também tentar “implementar com
rigor o consenso alcançado pelos líderes” e fortalecer a comunicação “no local”, segundo o comunicado. As duas partes acordaram realizar uma sétima reunião a nível de comandantes militares o mais rápido possível, lê-se na mesma nota. China e Índia registam há três meses tensões e confrontos na área fronteiriça, que deixaram pelo menos vinte soldados indianos mortos e dezenas de feridos. Os governos de ambos os países reiteraram a necessidade de as tropas na fronteira de ambos os lados continuarem a dialogar, manterem
a distância apropriada e aliviarem as tensões. Ambos os exércitos continuaram, no entanto, a fortalecer a sua presença na fronteira e as negociações não impediram os dois lados de reforçarem a sua capacidade militar com o envio de tropas e materiais. As tensões aumentaram em 15 de Junho passado, após um confronto no Vale de Galwan, no oeste dos Himalaias, quando as duas nações vivenciaram o pior incidente naquela área em 45 anos, que resultou na morte de pelo menos 20 soldados indianos.
quinta-feira 24.9.2020
O meu país é o que o mar não quer
Diário de próspero António Cabrita
20/08/20
“Aprende como aprendem as folhas a cair/ Fora de perigo, por amor”, escreveu o poeta inglês James Fenton, e disse tudo sobre o que um Estado, em últimas instâncias, deve proporcionar aos seus cidadãos: condições para aceitar a morte, por amor. Nos antípodas do que aconteceu com aquela mulher em Cabo Delgado, que foi interpelada por soldados e teve o destino lancetado por um ímpeto de crueldade. É irrelevante saber se os soldados eram do exército regular ou se eram insurgentes camuflados para denegrir os supostos legítimos. Foi um resultado do mesmo clima que fez brotar insurgentes nos ramos de cada cajueiro e transformou o estupro na única regra moral. Profusos, multiplicam-se e pendem como frutos, depois de se sentirem maltratados, esquecidos, tratados como gado, escarnecidos das suas expectativas e do sonho de serem engenheiros de pontes ou informáticos de ponta. Foram abandonados nas mãos dos radicais islâmicos e de outros recrutadores da rebelião. Quando não se dá educação, é isto que acontece. Quando não se dá habitação é isto que acontece. Quando não se dá oportunidades iguais, é isto que acontece. Quando se abandona tudo aos encarniçamentos tribais, é isto que acontece. Quando se pensa mais na riqueza das minas do que na saúde das pessoas, é isto que acontece. Quando se pensa na política como um modo de extorsão e não como um Meio para o desenvolvimento sustentável... ei-los que pendem estranhos frutos, tão intragáveis como os da canção de Billie Holliday.
21/08/20
Uma boa malha é este pequeno (grande) livro que agora comecei a ler, uma das minhas compras felizes em Lisboa, Cadernos de Bernfried Järvi, do Rui Manuel Amaral (Livraria Snob). Ainda só li um terço do livro mas é uma delícia. A epígrafe do livro talvez lhe dê uma chave de leitura. É uma frase de Erik Satie: “Chamo-me Bernfried Järvi como toda a gente” (sublinhado meu) e no fundo Rui Manuel Amaral procede a uma imensa paráfrase do enigma que se coloca de imediato: quem é afinal este anónimo Silva? Numa pulsão diarística, o livro expõe uma sensibilidade que parece nascida de uma liga que fundisse Bernardo Soares, Kafka (o dos Diários), os delírios de Arlt, e os cafés de Cela (o de A Colmeia), com uma especiosa precisão na linguagem e recursos imagéticos tanto mais ricos quando “acontecem” de um modo imanente,
Cadernos de Bernfried Järvi “como quem não quer a coisa”. Aliás, de x em x páginas a narrativa é interrompida por uma irónica “manobra de abrandamento das espectativas” que introduz blocos informativos (O que são as nuvens?/ Como se originam as nuvens?/ Qual é a causa da neve?/ Porque não damos pelo movimento de rotação da terra?/ Que efeitos produzem os eclipses nos homens, nos animas e nas plantas; etc.), os quais, à maneira de um flaubertiano dicionário de ideias feitas, nos
pretendem advertir sobre a inutilidade de esperar-se demais da narrativa ou do putativo personagem que é o polinizador destes cadernos. Entretanto, degustamos (inúmeros) fragmentos como este: «Mais uma noite sem dormir. Para não enlouquecer, fecho os olhos e imagino-me a arrancar ervas daninhas num jardim. Imagino os dedos a envolver cada caule e a força exercida pela minha mão para desenterrar os filamentos vivos da terra. O mes-
Se o conseguimento de uma narrativa se afere pela sua capacidade em criar um mundo autónomo, de uma lógica de funcionamento própria, com personagens e figurantes congruentes com a sua refracção do mundo, a aposta de Rui Manuel Amaral está plenamente realizada
h
11
mo gesto, uma e outra vez, toda a noite até o pálido rubor da aurora estremecer perto dos subúrbios de Aachen. O jardim é muito amplo e há uma quantidade infinita de ervas daninhas: cardos, chicória, beldroegas, trevo branco, funcho, dentes-de-leão. De quando em quando, por entre o verde exuberante das folhas, avisto a sombra indolente de um gafanhoto, um escaravelho em fuga, pequenos objectos, abundantes tesouros: pregos, cacos, vidrinhos afiados, uma chave. Mas não me deixo distrair do meu objectivo. Perto das seis da manhã, exausto, emocionado, orgulhoso, contemplo a minha obra.» (pág. 22) Vou ainda na pág. 45 mas uma coisa me é evidente: se o conseguimento de uma narrativa se afere pela sua capacidade em criar um mundo autónomo, de uma lógica de funcionamento própria, com personagens e figurantes congruentes com a sua refracção do mundo, a aposta de Rui Manuel Amaral está plenamente realizada. E acaso os meus amigos já deram conta da excelente colecção que o Rui Manuel Amaral dirige na Exclamação, a Colecção Avesso onde já sairam livros do Rubén Dario, do Charles Cros, do Alphonse Allais, do Arlt, de Félix Fénéon, ou de Alexandre Andrade, entre outros? Um percurso intelectual muito sério que merece ser acompanhado.
22/08/20
Na recta final da tradução de um longo poema de Chantal Maillard, o primeiro passo para a tradução completa do seu livro, que foi prémio nacional em Espanha, Matar Platão. Deste poema de 18 páginas divulgo o seu poderoso desenlace: «escrever/ como alguém que foge de um hospital e arrasta atrás de si/ o soro, o seu gotejar, a máscara de oxigênio e corre/ sobre agulhas envenenadas // Despertai!/ ninguém pode evitá-lo!/ é só uma questão de tempo/ contai os gritos sonhados/ no fundo da água/ Contai os gritos!// Cada qual com a sua dor a sós/ a mesma dor de todos. // - Alguém dissimula./ Sorri,/ devolvo o sorriso. Sei-o/ já no umbral obscuro./ Também ele sabe./ Mas esforça-se. Todos/ nos esforçamos./ Gritar é esforçar-se./ Gritar é rebelar-se. –// Escrever/ porque alguém se esqueceu de gritar/ e agora ficou um espaço em branco,/ que o habita// escrever porque é a forma/ mais rápida que tenho para me mover// escrever// e não fazer literatura?/ ... / e o que mais dá!?// há demasiada dor/ no poço deste corpo/ para que me seja importante/ uma questão deste/ tipo. // Escrevo// para que a água envenenada/ possa beber-se.»
12
h
24.9.2020 quinta-feira
´
O medo do delírio
retrovisor Luís Carmelo
D
ESDE os inícios do século XX que se tornou corrente criar um texto literário e, ao mesmo tempo, concebê-lo como um vórtice que se recorta, que se adia e que se procura. Um texto à procura de si mesmo no modo como se organiza, como se desmonta e como se repõe diante dos olhos do leitor. Se as teorias desconstrutoras, como a de Derrida, parecem por vezes muito próximas do delírio, ainda que sejam paradoxalmente realistas (o delírio advém da dificuldade em expor de modo racional o que não cabe na expressão necessariamente lógica), na sua aplicação à leitura literária, contudo, elas reaparecem com alguma nitidez. Deixo para reflexão um conto de José Cardoso Pires, intitulado ‘Uma Simples Flor nos teus Cabelos Claros’, publicado no ano de 1963 no volume Jogos de Azar*. O conto propõe um esquema de montagem alternada e faz lembrar as aventuras visuais que Jean-Luc Godard estava a experimentar na época. Trata-se de um processo de ‘mise en abyme’ que vai colocando face a face situações diferenciadas, embora surjam sequencialmente entremeadas. Dois casais cruzam as suas histórias: Quim e Lisa estão no mesmo quarto a horas tardias: “[S] ão quase duas horas da manhã...”. Paulo e Maria, por sua vez, são personagens de uma história que Quim está a ler. Deambulam numa praia, em final de Inverno, durante o entardecer: “[...] os dois numa arrancada, correram pelo areal, saltando poças d’água [...]”. O contraste entre as duas situações é radical. Lisa e Quim partilham um universo de angústia (percorre-os um ambiente de corte, de alheamento e de acenos rudes), enquanto a poética e uma conjunção quase ideal de afectos dominam o ambiente em que Paulo e Maria se enunciam. Ao fim e ao cabo, nenhuma das duas histórias se impõe à outra. Antes se misturam e caminham para uma espécie de indefinida fusão em que o sentido se
subentende e se interroga mais do que se clarifica. O início da enredo (o único ‘incipit’ que conheço que se inicia com a adversativa “mas”) situa a leitura de Quim e é aí que surge em cena o que, para ele, são personagens que saltitam em modo duplo: Paulo e Maria (ainda que a personagem feminina não apareça com iniciativa própria, mas apenas de uma maneira indirecta). Afinal, temos sobretudo Paulo que se debate com um outro interveniente não menos importante: a natureza abrupta e imprevista do mar. O texto avança e reflui, tal como as marés, e constrói-se ao mesmo tempo que se cinde consigo mesmo. Para que este objectivo se vá materializando, é de crucial importância a presença de uma poética rica e de uma potente afirmação das ferramentas e dos materiais literários. Ao contrário da teoria (que se enclausura nos seus sintagmas rígidos e que passa o tempo a augurar legitimidades), a autonomia do texto artístico permite diluir identidades, complementar remissões, gerir as mais diversas elipses, jogar com o
É a flutuar nas águas agitadas da nossa consciência que a mais genuína expressão do delírio leva a cabo as suas travessias naturais, sem que o medo e o preconceito nos agarrem com a mão e nos afoguem em tabus e preconceitos
plano das decisões aparentemente definitivas, flutuar a bordo da instabilidade do discurso e, em primeiro lugar, nunca visar um desígnio ou um final derradeiro. A grande literatura, no fundo, consegue levar a cabo a orquestração turbulenta da nossa própria consciência. É nesse interface que a denegação, a cesura, a sobreposição súbita e o ‘não dito’ integram a fluência de uma mesma equipa. Por outras palavras: é a flutuar nas águas agitadas da nossa consciência que a mais genuína expressão do delírio leva a cabo as suas travessias naturais, sem que o medo e o preconceito nos agarrem com a mão e nos afoguem em tabus e preconceitos. Leiamos este trecho do conto que serve de clister e de expiação ao mesmo tempo: “Quim.../ Outra vez?/ Desculpa, era só para baixares o candeeiro. Que maçada, estou a ver que tenho de tomar outro comprimido./ Lê um bocado, experimenta. / Não vale de nada, filho. Tenho a impressão de que estes comprimidos já não fazem efeito. Talvez mudando de droga... É isso, preciso de mudar de droga./ – Tão bom, Paulo. Não está tão bom?/ – Está óptimo. Está um tempo espantoso./ Maria continuava sentada na areia. Com os braços envolvendo as pernas e apertando as faces contra os joelhos, fitava o nada, a brancura que havia entre ela e o mar, e os olhos iam‐se‐lhe carregando de brilho./ – Tão bom – repetia./– Sim, mas temos que ir./ Com o cair da tarde a névoa desmanchava‐se pouco a pouco. Ficava unicamente a cobrir o mar, a separá‐lo de terra como uma muralha apagada, e, de surpresa, as dunas e o pinhal da costa surgiam numa claridade humilde e entristecida.”. Pires, José Cardoso. ‘Uma Simples Flor nos Teus Cabelos Claros’ em ‘Jogos de Azar’. Lisboa, Dom Quixote, (1963) 1999.
(f)utilidades 13
quinta-feira 24.9.2020
TEMPO POSSIBILIDADE DE TROVOADAS MIN 25 MAX 29 HUM 75-95% • EURO 9.31 BAHT 0.25 YUAN 1.17 ´
ENCALHADAS
26
6 3 5
2 3 3 6 7 1 0 9 6 1 0 2 7
25 3 7 8 4 3 8 9 0 6 1 1 2 5 6 0 2 7
28
1 5 6 6 7 2 8 3 4 9 0
9 2 5 3 0 4 5 8 7 7 8 6 1
5 9
0 1 7 8 9 8 7 5 6 6 3 2 4
4 2 9 1 3 2
8 5 7 1
6 3
4 0 3 2 6 0 3 9 1 7 9 58 8
6 3 2 0 5 1 1 9 2 83 47 7
6 4 2 4 0 8 6 4 3 0 7 9 4
8 9 0 1 2 4 78 0 6 36 5
2 4 7 0 6 3 34 50 1 8 9
7 8 9 3 4 5 0 9 2 1 6
26
5 6 4 9 0 1 8 8 27 41 05 7 39
6 3 8 1 9 5 4 2 0 7
8 6
S0 4U7 8D3 6O5 1K9 U 2 5 7 1 2 5 8 3 7 3 9 4 9 2 6
2 6 5 8 9 3 4 7 1 0
9 6 4 0 1 5 3 3 2 8 2
2 0 7 4 9 4 1 6 5 39
0 7 4 1 8 9 2 3 6 5
9 3 7 4 6 1 8 5 0 2
1 2 6 0 5 7 9 8 3 4
1 5 2 6 2 1 8 6 9 8 73 4 0 7
8 2 1 0 37 99 72 54 1 45 3
3 4 12 6 0 2 9 86 7
5 0 8 3 2 4 6 1 9 7
4 9 0 5 1 2 3 6 7 8
6 1 2 7 0 8 5 9 4 3
7 8 5 4 6 06 2 3 9 4
4 7 3 12 5 6 89 03 2 8
08 9 83 79 3 44 1 67 5
7 8 3 6 4 0 1 2 5 9
3 5 9 2 7 6 0 4 8 1
8 4 1 9 3 5 7 0 2 6
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 29
29
6 3 9 5 0 2 8 0 7 7 9 1 1
PROBLEMA 30
30
Parques Naturais da Tasmânia, Nic Deka, à agência de notícias France-Presse (AFP). Aquele responsável precisou ainda que "30 ainda estão vivas e 50 já foram resgatadas". Cerca de 500 baleias-piloto foram encontradas nos últimos dias encalhadas na costa australiana, o maior incidente do género registado no país.
1 8 6
2 1 0 4
27
Pelo menos 380 baleias-piloto presas numa baía remota da Tasmânia morreram, apesar dos intensos esforços para tentar salvá-las, informou ontem um responsável pelos serviços de socorro. "Temos um número mais preciso e podemos confirmar que 380 cetáceos estão mortos", disse o director dos
7 5 0 6 3 1 8 4 2 9
2 9 1 7 6 0 5 8 4 3
Cineteatro 28
8 6 1 3 4 2 9 5 4 0 7 6 GREENLAND [B] Um filme de: Ric Roman Waugh 1 0 5 Com: Gerard Butler, Morena Baccarin, 7 Scott2 Glenn 8 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 6 2 8 4 1 9 7 3 0 5 9 3 SALA 1
TENET [B]
Um filme de: Cristopher Nolan Com: John David Washington, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki 14.30, 18.00, 21.00 SALA 2
30
4 0 2 3 7 9 6 1 5 8
8 4 5 9 1 3 2 7 6 0
0 2 4 8 5 7 1 9 3 6
7 9 8 1 3 6 0 5 4 2
3 5 0 9 2 4 7 8 6 1
SALA 3
9 7 6 4 2 8 3 0 1 5
3 1 9 0 4 6 7 5 8 2
5 8 3 2 0 4 9 6 7 1
1 6 7 5 8 2 0 3 9 4
C I N E M A
7 2 9 1 8 4 0 3 5 6 7 4 3 0 6 8 1 8 4 0 9 5 3 7 6 7 5 2 2 9 1 5 4 3 8 9 www. hojemacau. 0 com.mo 1 2 6
2 0 5 9 4 6 7 8 1 0 1 3 6 7 2 4 2 3 5 8 PENINSULA [C] FALADO EM COREANO 9 8 4 6 7 LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Yeon Sang-ho 5Gang9Dong-won,0Lee Jung-hyun 3 1 Com: 16.45, 21.15 3 1 9 4 5 7 6 2 0 3 8 5 1 2 9 0 4 7 8 6
31 5 6 1 8 0 7 3 4 2 9
9 3 7 4 2 0 1 8 5 6
4 2 3 1 6 9 0 7 8 5
0 8 5 2 7 3 6 9 4 1
6 9 8 5 4 1 2 3 7 0
7 0 9 6 5 4 8 1 3 2
1 4 2 3 8 6 5 0 9 7
33 DISCO HOJE UM
34 5 0 2 6 1 8 7 3 4 9
5 7 4 3 9 1 2 6 0 8
36
7 8 9 3 4 0 6 5 2 1
1 8 0 4 6 3 5 7 2 9
3 6 2 5 0 8 9 4 1 7
8 1 9 7 4 2 0 3 6 5
2 5 8 6 7 9 1 0 4 3
7 3 1 0 8 5 6 2 9 4
9 0 3 1 2 4 8 5 7 6
4 2 5 9 3 6 7 1 8 0
BOXER | THE NATIONAL | 2007
4 3 6 7 9 2 1 8 5 0
1 2 0 8 5 7 3 9 6 4
9 5 4 1 0 6 8 7 3 2
3 9 8 5 2 4 0 6 1 7
2 1 7 0 3 5 9 4 8 6
6 4 5 9 8 1 2 0 7 3
6 4 7 8 1 0 3 9 5 2
9 8 6 5 1 3 7 4 2 0
35
Pedro Arede
4 5 1 6 9 8 0 7 3 2
0 9 6 2 5 7 4 8 3 1
5 6 0 3 4 8 7 6 2 5 8 3 9 1 0 4 7 1 5 4 0 2 8 3 6 2 1 5 9 7 6 8 4 3 0 7 5 2 6 1 9 0 3 2 6 9 5 7 1 4 9 8 2 0 1 3 1 9 4 2 3 8 7 0 6 5 8 9 3 7 1 0 4 2 5 1 7 4 5 2 GREENLAND 9 0 3 1 6 9 4 5 8 2 7 6 2 8 3 4 9 1 0 7 6 9 3 7 5 2 9 5 0 1 6 7 3 4 8 2 4 5 7 0 2 6 3 8 9 8 2 1 6 0 4 6 7 5 4 1 2 0 3 9 8 1 8 9 5 6 7 2 4 0 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; 3 Colaboradores 4 8 1Anabela 9 Canas; 0 António Cabrita; António 4 8 9 7 2 6 1 5 3 0 5João Santos 6 4Filipe;8Pedro3Arede;1Salomé 0 Fernandes 9 2 de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; 4 Gonçalo 0 Lobo 6 Pinheiro; 8 3Gonçalo 7 M.Tavares;JoãoPaulo2Cotrim;0JoséDrummond; 8 3 José 5 Navarro 9 de6Andrade; 7 José4Simões 1 Morais;LuisCarmelo;2Michel0Reis;Nuno 1 Miguel 9 Guedes; 5 3Paulo6JoséMiranda; 7 8 Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Namora; David 0 Chan; 5 João7Romão; 2 Jorge 6 Rodrigues 1 Simão; Olavo Rasquinho; 5 2Paul6Chan Wai 8 Chi;0Paula1Bicho;4Tânia9dos Santos 7 Grafismo 3 Paulo Borges, Rómulo 9 7Santos0Agências 1 Lusa; 8 Xinhua 4 Fotografia 5 6 Hoje3 Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare 7 Morada 3 Calçada 9 4deSanto 8 Agostinho, 5 n.º19,CentroComercial 3 1Nam7Yue,6.º9andar4A,Macau 0 Telefone 8 228752401 5 Fax628752405 e-mail info@hojemacau.com.mo 3 4 6 2 Sítio7www.hojemacau.com.mo 8 9 5 1
estrada fora.
0 7 3 2 8 4 6 1 5 9
2 7 4 0 1 8 9 5 6 3
8 7 3 2 6 9 4 1 0 5
FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Wong Hing Fan Com: Aaron Kwok, Miriam Yeung, Alen Man 14.30, 19.00
7 1 9 8 3 0 2 5 6 4
3 1 6 7 9 5 4 2 0 8
0 6 1 4 7 3 5 2 9 8
I’M LIVING’ IT [B]
6 1 3 2 8 5 9 8 9o quarto 3 0álbum 6 2 Em4Boxer, dos7 norte-americanos The 0 2 6 5 8 4 National, é possível ver alguns rasgos 5 de 4 luz7 a sobressaírem 9 1 3 0 do reportório habitualmente 1 melancólico 5 0 4 do7grupo. 2 6 mais “Fake Empire”, “Slow Show” 9 2 6 5 3 1 7 ou “Start a War” fazem parte 7 incluídos 1 8 na9obra 4e 5 dos3êxitos que, com o tempo, se tornaram 8 6 4 0 2 9 3 incontornáveis na carreira dos The2 National. 9 8 Boxer 7 4é uma 0 1 banda sonora infalível para 0 3 5qualquer 1 6viagem 7 8 acompanhar
8 5 0 9 3 2 7 6 1 4
32
14 opinião
24.9.2020 quinta-feira
A economia digital “China’s biggest messaging app WeChat helped create 29 million job opportunities last year and has since helped stabilise the country’s employment situation in the time of the coronavirus pandemic.” Yujie Xue
Q
UANDO o WeChat começou a espalhar-se na China com algum espanto, muitos residentes estrangeiros assistiram a um espectáculo nunca antes visto, pois os chineses andavam a falar com os seus smartphones, quase descansando os lábios sobre eles, como se fosse um tiro no queixo. Enviavam mensagens de voz e corria o ano de 2011. O aparecimento deste hábito poderia marcar simbolicamente o início da era WeChat na China. Como tantas outras coisas que pareciam absurdas e apareceram primeiro na China, as mensagens de voz tornaram-se gradualmente habituais também no Ocidente. Nesse ano começou um período de grandes mudanças no mundo da tecnologia chinesa. Sabemos que as ferramentas tecnológicas que utilizamos mudam os hábitos pessoais, sociais e de trabalho, e no caso dos telemóveis até a nossa postura física (ombros ligeiramente curvados, olhando para baixo). Na China, a mudança com o advento do WeChat mudou totalmente a abordagem à rede e, consequentemente, pouco a pouco, a vida quotidiana. Por exemplo, as mensagens de correio electrónico desapareceram rapidamente. O Gmail não fazia sentido, não tinha qualquer utilidade, excepto perder tempo à espera que as páginas fossem carregadas tão lentamente que levava à exasperação. Tudo passou para o WeChat, que provou ser rápido, imediato, uma farpa. Substituiu rapidamente até velhos hábitos por novas formas de relacionamento. Um grande clássico na China, por exemplo, eram os cartões-de-visita, mesmo no caso de actividades bastante fantasiosas e improváveis, era bom creditar a sua existência com um cartão-de-visita. E na China pode-se imprimir milhares deles por alguns yuans. Até os estrangeiros aprenderam rapidamente, pois recebiam o cartão com duas mãos e entregavam o seu da mesma forma. O WeChat marcou o fim de um mundo e até os cartões-de-visita desapareceram. Tornou-se habitual digitalizar o Qrcode em vez dos cartões-de-visita. E começaram a digitalizar o Qrcode em todo o lado e a obter qualquer coisa como benefícios, descontos ou para participar em eventos. Foram inauguradas novas danças sociais como aproximar os telemóveis e digitalizar os Qrcodes uns dos outros, a forma de “conectar”. Novos hábitos e novos dilemas.
A pessoa que digitaliza, ou a que é digitalizada é mais importante? Mas depois de tudo, veio a conclusão da mudança em curso. E veio como se fosse natural, como se todo o país estivesse à sua espera. A certa altura foi possível ligar a sua conta a uma conta bancária chinesa (obtida por ocidentais graças a muitos saldos burocráticos na fase inicial do WeChat, enquanto hoje tudo é mais rápido, mesmo que haja muitas mais limitações para os estrangeiros) e finalmente poder comprar qualquer coisa com o seu smartphone. A partir desse dia, até a carteira se tornou inútil. Mesmo os cartões de crédito, para aqueles que os possuíam, tornaram-se desnecessários. O WeChat lançou o desafio aos chineses sobre dois conceitos, o tempo e a velocidade, transformando uma sociedade clamorosamente dependente do papel, carimbos, passos burocráticos numa sociedade subitamente sem dinheiro e sem a necessidade de imprimir e nada carimbar. Mas o que é exactamente o WeChat? Explicar a um ocidental pode ser complicado. Algumas pessoas tentam descrevê-lo como sendo a “aplicação de aplicações”, ou seja, contém dentro, o que estamos habituados a utilizar separadamente. Se o quisermos descrever através de uma comparação com o nosso mundo tecnológico, podemos dizer que é como um contentor gigante que reúne o Facebook, Instagram, Twitter, Uber, Deliveroo e todas as aplicações que utilizamos. É uma explicação que tem a sua lógica, mas não está completa. Em primeiro lugar porque, cada vez que se utiliza o WeChat, descobre-se novas funções recém-desenvolvidas, novos usos que depois podem transformar-se em novos hábitos. É habitual, por exemplo, reservar exames médicos, pagar impostos ou contas através do WeChat; ou encontrar-se, andando pelas ruas das metrópoles chinesas, sem-abrigos que mostram aos transeuntes uma placa com um Qrcode para receber esmolas. As esmolas, também na China são feitas através
do WeChat. Além disso, se é verdade que o WeChat também pode ser descrito como uma soma de aplicações que conhecemos e utilizamos, também contém uma característica muito especial em comparação com as nossas aplicações, pois pode ser utilizado para pagar qualquer coisa. Cada conta WeChat está de facto ligada à conta bancária do utilizador e, através da leitura dos vários Qrcode, pode comprar tudo, desde uma viagem de táxi a fruta numa loja na rua, desde livros numa loja online a snacks postados via WeChat por um amigo no chat privado. Com o WeChat pode até fazer todos os cartões para o casamento. E mesmo o divórcio, pois pressionar o botão do pedido é tudo o que é preciso para começar a papelada. O WeChat sabe
tudo sobre quem o utiliza, conhece os movimentos tanto online como offline, graças à possibilidade de pagar qualquer negócio e ser tão “rastreado” mesmo quando pensa que não está no ciberespaço. O super apêndice acabou por criar uma espécie de ecossistema dentro do qual nada mais é necessário, porque é capaz de cuidar de todos os aspectos da vida quotidiana. Em algumas cidades, o perfil WeChat é utilizado como um documento de identidade. Tudo está dentro do WeChat e isto significa que na China, se não tiver “a aplicação de aplicações”, está completamente fora do mundo. Não descarregar o WeChat é uma escolha da vida real. Aqueles que tentam resistir, têm uma existência infernal.
opinião 15
quinta-feira 24.9.2020
perspectivas
JORGE RODRIGUES SIMÃO
da China (I) Há quem decida viver sem a aplicação. O que motiva esta escolha é a certeza de que os seus dados serão recolhidos e utilizados, e não empregar a aplicação é uma forma quiça de “dignidade” ou não. Quem decidiu não usar e cada vez que recebe um novo cliente, este deve ser avisado dessa escolha, porque é dado por garantido que todos têm WeChat. Quando se viaja para o estrangeiro com os seus colegas, outros podem facilmente ligar-se ao WeChat utilizando o WiFi disponível, “mas se quiserem falar com quem não usa a aplicação têm de pagar para ligar ou enviar mensagens”. Até os familiares dos poucos que não usam a aplicação tentam que reconstituam os seus passos e descarreguem a aplicação. Isto acontece porque quando falamos do WeChat não estamos a falar de uma simples aplicação pois dentro do WeChat navegamos, como se a aplicação fosse a própria rede, pois de facto existem “mini-programas” (como por exemplo o de um restaurante mongol ou uma loja de robots), ou seja, mini-sites inseridos dentro da aplicação, onde a vida de todo o sistema de Internet chinês tem lugar. E os serviços continuam a aumentar, tal como as aplicações. Eis um exemplo simples de um mini-programa que é o correspondente Instagram chinês e é uma das muitas aplicações, mas está dentro do WeChat. Parece ser uma coisa pequena, mas não é, numa economia que se baseia agora na exploração de “grandes dados”. O WeChat evoluiu para uma espécie de sistema operativo dentro do qual todos os programas funcionam. É uma porta de entrada para tudo o que se pode fazer com um smartphone na rede e offline, capaz de canalizar uma enorme quantidade de dados e dinheiro de diferentes formas com publicidade também, mas a maior parte das receitas depende dos gadgets e jogos na aplicação, dos serviços premium para os utilizadores e especialmente da percentagem que assume cada pagamento. Mas não só, pois a quantidade de dados que a empresa possui fornece aos seus clientes comerciais (os produtores de “mini-programas”) uma personalização cada vez mais direccionada dos seus utilizadores. O WeChat tornou-se a memória histórica dos gostos, paixões, ideias, inclinações, potencial de gastos de mais de um milhar de milhão de pessoas e que sabe o que fazer com todos estes dados. O impacto da “revolução tecnológica” chinesa não é apenas mensurável com a tentativa do Facebook de capturar os segredos comerciais do WeChat. O Ocidente neste momento é confrontado com produtos chineses de alta tecnologia no mercado mundial. A China é um concorrente dos países ocidentais pelo domínio do mercado de Inteligência Artificial, 5G e do mundo dos “grandes dados”. Por esta razão, é importante analisar o nascimento do WeChat, um evento capaz de fornecer chaves para estudar melhor o impacto do desenvolvimento chinês de alta tecnolo-
gia em todo o mundo. Para compreender porque é que o Facebook está interessado no WeChat, porque é que o Google teria cooperado com o governo chinês para criar um motor de busca, porque é que o “Great Firewall” (o sistema que bloqueia a visão do conteúdo indesejado) é uma espécie de guia para todos os Estados interessados no controlo da informação (especialmente na Europa Oriental), porque é que o próximo desafio entre a China e o mundo ocidental será o 5G e a Inteligência Artificial e o seu potencial de controlo científico, comercial e social, é necessário olhar cuidadosamente para a história dos actuais líderes do mercado chinês. A história do WeChat e Tencent, a empresa que “inventou” a famosa aplicação, conta muito sobre o que a China é, o que poderíamos ser amanhã, e também esclarece a forma como as empresas chinesas foram capazes de tornar o seu know-how ocidental próprio para produzir novos produtos capazes de se imporem no mercado global. O universo tecnológico chinês é um território onde as empresas treinadas por uma concorrência muito dura se movem, onde não faltam golpes que são proibidos e onde se sente a presença constante do Estado. Neste sentido deve ser feito um esforço pois a China, para além de ser liderada por um governo forte, tem um mercado interno muito vivo, complicado e em constante mudança. A história do WeChat tem as suas raízes em Shenzhen, uma cidade do sudeste da China. Nos anos 1970, o então líder chinês Deng Xiaoping compreendeu a necessidade do país de entrar no mercado mundial para tirar a sua população da pobreza geral. E como parte do plano de “aberturas e reformas”, a aldeia piscatória de Shenzhen tornou-se uma “zona económica especial” e, como tal, foi esmagada pelo rápido desenvolvimento. A passagem de centenas de milhões de pessoas acima do limiar da pobreza ao longo de duas décadas é um acontecimento único na história humana e explica em parte porque é que o Partido Comunista Chinês, o criador e líder deste processo, é ainda hoje tão central para a sociedade. Desde o final dos anos 1970, os agricultores ou camponeses tornaram-se progressivamente a força de trabalho especializada na produção manufactureira. As grandes empresas estatais foram privatizadas, chegaram as primeiras joint-ventures com utilização de capital estrangeiro. Baixos salários, alta intensidade de trabalho, preços baixos nos mercados ocidentais - a “fábrica do mundo” estava em pleno andamento, moendo o PIB, inundando os mercados ocidentais com os seus produtos. Com o tempo, esta riqueza começou a circular e os que tinham melhores ligações puderam aproveitar ao máximo a enorme urbanização do país. A produção industrial e imobiliária começou a estar cada vez mais ligada e apareceram os primeiros bilionários chineses, os que atraíram a maior atenção dos meios
de comunicação ocidentais. Mas não é tudo pois nesses anos, os rebentos de uma classe média amadureceram, o que constitui um motor fundamental do país. As três gerações da família representam esta evolução de uma forma plástica, o avô era agricultor, o pai era comerciante de meias produzidas em Shenzhen, o filho tornou-se um empresário no mundo da tecnologia e produz micro baterias movida a energia solar. À medida que o destino das pessoas mudava, o mesmo acontecia com as cidades. Durante a década de 1970, Shenzhen tinha-se tornado um dos centros de fabrico do mundo a partir de um pequeno porto. Nos anos de 1990, começou a tornar-se uma incubadora de empresas tecnológicas.
A história do WeChat e Tencent, a empresa que “inventou” a famosa aplicação, conta muito sobre o que a China é, o que poderíamos ser amanhã, e também esclarece a forma como as empresas chinesas foram capazes de tornar o seu know-how ocidental próprio para produzir novos produtos capazes de se imporem no mercado global Actualmente é considerado o Vale do Silício chinês (em Shenzhen tem os seus escritórios também a Huawei, uma empresa líder na produção de smartphones e infra-estruturas de rede). Em Shenzhen, em 1998, Ma Huateng, de 27 anos de idade, fundou a Tencent, uma empresa tecnológica cujo produto principal era um sistema de mensagens, QQ, inspirado por uma tecnologia israelita (ICQ, produzida pela empresa de arranque Tel Aviv Mirabilis) e muito semelhante ao “Messenger” do Microsoft Windows ou AOL (que no final dos anos de 1990 denunciou a Tencent por ter copiado o seu próprio Messenger). Mas Huateng pressentiu a possibilidade de melhorar a tecnologia israelita, graças à experiência adquirida na sua actividade anterior no negócio “pager”. Pony Ma, como ele próprio se chama e como Ma Huateng é conhecido em todo o mundo, decidiu acrescentar algumas características ao QQ e permitiu primeiro a cada utilizador aceder à sua conta a partir de qualquer computador da rede. De facto, deve considerar-se que até pouco antes apenas se podia aceder à sua QQ a partir de um local fixo do qual a sementeira foi descarregada. Neste sentido, Pony Ma apenas adaptou a sua criatura ao progresso da rede no país. Até esse momento, de facto, os chineses ligavam-se à Internet princi-
palmente em cibercafés, lugares famosos por serem frequentemente fetiches. Mas Huateng percebeu o potencial da Internet na China, o que resultou na explosão das vendas de computadores pessoais, computadores portáteis e redes privadas de Internet. É de recordar que em 2006, a ligação doméstica estava aliada à rede com um ADSL e custava quase 8 euros por mês e dentro de quatro anos, o WiFi estaria em todo o lado a um custo muito mais baixo. Pony Ma foi capaz de capturar e explorar esta mudança de época. Em segundo lugar, graças a um acordo inicial com a companhia telefónica estatal da região de Guangdong (em 2001 tinha feito acordos em todo o país), Pony Ma permitiu também conversas entre computadores pessoais e o sistema de mensagens para telemóveis. Finalmente, colocou nos jogos de software, gadgets (os mais populares foram os avatares QQ) que deram vida aos lucros a Ma e aos seus associados que aumentaram ainda mais a partir daí, com a criação de uma plataforma QQ de bloggers. Mais uma vez, os lucros vieram dos gastos dos utilizadores para melhorar e personalizar o seu blogue. O processo de transformação da economia chinesa deu uma viragem fundamental em 2008, quando o contexto mudou completamente. A crise do subprime e, de um modo mais geral, a economia ocidental tinha levado a liderança chinesa a repensar o seu modelo de desenvolvimento baseado nas exportações. Até esse ano, o sucesso e crescimento da China dependiam quase exclusivamente da sua função de “fábrica do mundo”, ou seja, produtora de quantidades gigantescas de bens de baixo custo. Em 2008, este sistema foi radicalmente alterado pois a queda nas encomendas de produtos chineses dos mercados ocidentais obrigou o governo chinês a alterar o seu sistema de produção económica. O mantra que acompanhou o crescimento da “sociedade harmoniosa” começou a ser “menos quantidade, mais qualidade”. Também começou a ser concebido um abrandamento económico, a fim de garantir um desenvolvimento mais sustentável e, sobretudo, um maior impacto em termos de rendimentos. Graças aos recursos económicos acumulados nos anos anteriores e ao regresso de muitos chineses que tinham estudado e trabalhado no estrangeiro, o governo decidiu investir fortemente na inovação e nas novas tecnologias. Em 2008 teve início a transformação da China num país impulsionado pela economia digital. Os líderes no poder tinham insinuado que o futuro do país passaria pelo mercado interno e a capacidade de inovação das empresas nacionais. O sentimento era o de viver num país em grande transformação, com uma energia ilimitada e uma população que começava a perceber que estava em meados do seu “século”. Parecia apto para encerrar o processo que tinha feito da China um lugar onde as competências estrangeiras eram muito procuradas; após a crise de 2008 no Ocidente, depressa se tornou claro que a China estava agora preparada para o fazer sozinha.
Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direcção. PALAVRA DO DIA
Antoine de Saint-Exupéry
TÓQUIO2020 RESTRINGIDAS DESLOCAÇÕES DE ATLETAS
MP PENA SUSPENSA PARA HOMEM QUE CUSPIU EM MÁSCARAS
O
O
homem que em Fevereiro deste ano cuspiu em cerca de 300 máscaras, numa altura em que este recurso era escasso, foi condenado a uma pena de 10 meses de prisão, que fica suspensa por dois anos. A revelação foi feita ontem pelo Ministério Público (MP), através de um comunicado, que apontou que o tribunal deu como provado que foi cometido o crime de dano qualificado, por se tratar de “coisa destinada ao uso e utilidade públicos”. O caso aconteceu em Fevereiro quando o homem estava no Centro de Coloane na fila para comprar as máscaras distribuídas pelo Executivo e ficou insatisfeito com os produtos que lhe tinham sido vendidos. Como teve de voltar à fila de espera para que lhe fossem trocadas as máscaras ficou impaciente e cuspiu num lote de 300 máscaras, que ficaram assim inutilizáveis. No mesmo comunicado foi também revelado que um residente de Hong Kong, que violou por duas vezes as regras de quarentena, foi considerado culpado da prática de dois crimes de “de infracção de medida sanitária preventiva”. Na sequência da sentença foi-lhe aplicada uma pena de prisão de 10 meses, suspensa dois anos, que passa a efectiva se o homem não fizer um pagamento de 80 mil patacas a uma instituição social. O homem foi levado ao tribunal depois de ter saído do quarto do hotel onde estava de quarentena para ir às compras, de carro, além de ter recebido familiares nesse mesmo quarto.
GCS “A mudança de pessoal é um procedimento comum e a Delegação Económica e Cultural de Macau em Taiwan continua a funcionar.”
Em Taiwan nada de novo Governo descarta que saída de Ho Weng Wai seja retaliação da Formosa
O
Governo nega que a saída de Ho Weng Wai da posição de chefe da Delegação Económica e Cultural de Macau em Taiwan esteja relacionada com uma retaliação do Governo da Ilha Formosa. “Ho Weng Wai cessa, a seu pedido e por motivos pessoais, a comissão de serviço como chefe da Delegação Económica e Cultural de Macau em Taiwan, a partir de 26 de Setembro de 2020; a partir do mesmo dia, Lam Chi I, funcionária da Delegação, é nomeada chefe, substituta”, pode ler-se no comunicado emitido pelo Gabinete de Comunicação Social. “A mudança de pessoal é um procedimento comum e a Delegação Económica e Cultural de Macau em Taiwan continua a funcionar com a devida normalidade”, é acrescentado. Foi a 16 de Setembro que o processo da saída de Ho Weng
Wai começou a gerar controvérsia. Isto porque anteriormente a imprensa de Taiwan havia avançado que o visto de trabalho do dirigente do Escritório Económico e Cultural de Taipei na RAEM tinha sido recusado, por este ter alegadamente afastado qualquer hipótese de assinar um documento a reconhecer o princípio “Uma só China”. Segundo o consenso de 1992, o Governo da República Popular da China e de Taiwan reconhecem que só há uma única China, mas deixam a interpretação sobre quem tem legitimidade para governar em aberto.
DÚVIDAS DISSIPADAS
Além do caso de Macau, as autoridades de Hong Kong confirmaram ter recusado dois vistos a representantes de Taiwan na RAEHK, por estes se terem recusado a assinar declarações semelhantes.
Face a estas situações, geraram-se várias dúvidas não só sobre a saída de Ho Weng Wai, mas também da possibilidade da representação de Macau em Taiwan encerrar ou deixar de fornecer alguns dos serviços para os cidadãos da RAEM. Também este cenário foi desmentido pelo Governo de Ho Iat Seng. “A Delegação Económica e Cultural de Macau em Taiwan vai, tal como sempre, permanecer firme na defesa do princípio de “uma só China”. Continuará a promover activamente e a apoiar as associações de Macau em actividades de intercâmbio e cooperação com a sociedade de Taiwan, nas áreas da economia, cultura, educação, desporto e turismo”, foi escrito. “A Delegação também disponibiliza todos os serviços e apoios necessários aos residentes de Macau que se encontrem em Taiwan”, é concluído. J.S.F.
UL Equipa vence Concurso Mundial de Tradução Chinês-Português Uma equipa da Universidade de Lisboa (UL) venceu ontem a 4.ª Edição do Concurso Mundial de Tradução Chinês-Português, um concurso organizado pelo Governo de Macau que atraiu mais de PUB
quinta-feira 24.9.2020
200 equipas de 50 universidades de todo o mundo. A cerimónia de entrega dos prémios realizou-se online e mais de 500 concorrentes e professores orientadores da Ásia, África, Europa e América
do Sul marcaram ‘presença’ para “celebrar em conjunto o encerramento deste concurso internacional”, indicou em comunicado o Instituto Politécnico de Macau, coorganizador do evento juntamente
com a Direcção dos Serviços do Ensino Superior de Macau. Renata André Véran de Azevedo de Moura e Cheng Xiaoyu, da Universidade de Lisboa, foram os grandes vencedores do concurso.
S organizadores dos Jogos Olímpicos Tóquio2020, a realizar em 2021, pretendem restringir as deslocações dos atletas ao mínimo necessário, dos alojamentos para os locais de treino e competição, para evitar possíveis infecções de covid-19, foi ontem anunciado. Esta medida está contemplada na proposta de protocolo de segurança sanitária para a chegada dos atletas olímpicos ao Japão e sua permanência durante o evento, a decorrer de 23 de Julho a 8 de Agosto, que será agora discutida com o Comité Olímpico Internacional (COI) e federações. Os atletas não serão obrigados a cumprir o período de isolamento de 14 dias actualmente imposto a pessoas que chegam ao Japão de uma ampla lista de países estrangeiros, embora tenham de se submeter a testes constantes e terão seus movimentos limitados para evitar o contacto com os cidadãos locais. “Os atletas têm de ser protegidos e se entrarem em contacto com o público podem infectar-se. Temos também de proteger os cidadãos de possíveis infecções”, explicou o director executivo da comissão organizadora, Toshiro Muto, na apresentação do protocolo de segurança sanitária. O protocolo para atletas e equipas técnicas exigirá que estes façam um teste para o novo coronavírus 72 horas antes de viajar para o Japão e tenham um atestado médico com resultado negativo, ao qual uma segunda análise será adicionada na chegada ao território nipónico. Os atletas só se podem deslocar entre o aeroporto, os locais de alojamento (os sítios que vão acolher as equipas olímpicas antes dos Jogos e a Aldeia Olímpica de Tóquio durante a competição) e as instalações desportivas, para treinos e provas.