DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
SEXTA-FEIRA 25 DE OUTUBRO DE 2019 • ANO XIX • Nº 4399
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O melhor do mundo Sheldon Adelson apareceu pela primeira vez em público, após o anúncio da sua luta contra um cancro, para agradecer o apoio recebido e elogiar Macau. Apesar da quebra de receitas, o patrão da Las Vegas Sands
congratulou-se com a abertura da Ponte HKZM e o desenvolvimento da Grande Baía. “Acreditamos que Macau é o melhor mercado do mundo e por isso continuamos a investir o nosso capital no território”, disse.
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REINO UNIDO
CRIMES ECONÓMICOS
GRANDE PLANO
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MORRER EM BUSCA DE VIDA
COMBATES PERDIDOS
OPINIÃO
JORGE NETO VALENTE JORGE MENEZES
2 grande plano
CRIME
39 MORTOS ENCONTRADOS EM CAMIÃO ERAM DE NACIONALIDADE CHINESA
25.10.2019 sexta-feira
Depois da detenção do camionista que conduziu o veículo onde foram encontrados 39 corpos, as autoridades investigam uma possível ligação a redes de crime organizado. Os imigrantes, que teriam nacionalidade chinesa, foram vítimas de um horripilante episódio revelador dos riscos que os imigrantes estão dispostos a correr para procurar uma vida melhor
MORTE SOBRE C RODAS
OMEÇAM a surgir detalhes que traçam mais definidamente a história de horror iniciada com a descoberta de um camião que continha no interior 39 pessoas mortas, em Dover, na Inglaterra. Ontem, a BBC noticiou que as vítimas são de nacionalidade chinesa. Informação que foi confirmada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, de acordo com o jornal oficial Global Times. O
Diário do Povo referiu que não serão adiantadas mais informações, mas que a Embaixada da China no Reino Unido irá publicar um comunicado depois de investigar o caso. Esta foi a mais mortífera ocorrência do género no Reino Unido desde a bizarra descoberta de 58 mortos, também chineses, encontrados num contentor no porto de Dover, no condado de Kent, em 2000. Uma das pistas que a polícia britânica está a seguir é o caminho
que o camião fez. A polícia britânica informou que o camião entrou no Reino Unido na noite de terça-feira para quarta-feira pelo porto de Purfleet, no rio Tamisa, procedente de Zeebruges, na Bélgica. “Pensamos agora que o camião viajou de Zeebruges para Purfleet”, onde chegou por volta das 00h30 hora local (07h30 em Macau), indicou um comunicado da polícia de Essex, que anteriormente tinha avançado que o veículo teria entrado no país pelo porto de Holyhead (País de Gales), na costa oeste, que serve a cidade de Dublin (Irlanda). O camião, que transportava um contentor onde estavam os 39 cadáveres, foi encontrado na madrugada de quarta-feira na zona do Parque Industrial de Waterglade em Grays (condado de Essex), a leste de Londres. Depois de buscas na noite de quarta-feira, as autoridades detiveram o camionista, Mo Robinson, residente de Portadown, que é agora suspeito de homicídio. Ao mesmo tempo que o suspeito de 25 anos é interrogado, a polícia está a investigar a possível ligação do macabro achado a redes de crime organizado. Ontem, até ao fecho da edição, a polícia tinha investigado três propriedades privadas na busca de indícios de associação criminosa. Importa realçar que se têm multiplicado os casos de pessoas que tentam trazer imigrantes ilegalmente para o Reino Unido. Findas as análises iniciais, o camião foi conduzido do local onde foi encontrado, passando por um cordão de pessoal das forças de segurança e bombeiros, que tiraram o chapéu e fizeram uma vénia à passagem do veículo. O camião tinha uma unidade de refrigeração Carrier. Segundo alguns órgãos de comunicação social locais, a refrigeração poderia estar ligada, atingindo temperaturas de -25 graus, apontando para a possibilidade de os imigrantes terem morrido de frio. Porém, ainda não existem informações forenses precisas sobre a causa e hora da morte dos imigrantes. De acordo com o Ministério Público belga, na passada terça-feira, às 14h29 locais, chegou um contentor a Zeebrugee que saiu do porto na mesma tarde. Até ao momento, não é claro se as vítimas já vinham no contentor, ou se entraram posteriormente já em solo belga. Lucy Moreton, da União de Serviços de Imigração, disse à BBC que face ao número de contentores que entra diariamente no Reino Unido é impossível verificar o interior de todos. “Não temos infra-estruturas para fiscalizar a vasta maioria dos contentores que entram no Reino Unido. Mas uma coisa é certa, os contentores de mercadorias móveis e cister-
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“Que ninguém duvide que a derradeira responsabilidade por estas mortes é das políticas do Governo, que deliberadamente decidiu fechar as rotas para se entrar legalmente e em segurança no Reino Unido.” COMUNICADO DO CONSELHO PARA O BEM-ESTAR DOS IMIGRANTES
nas, que podem ser transportados separadamente, têm menos probabilidades de ser vistos. A não ser que haja informação que levante suspeitas”, referiu a responsável britânica.
ONDAS DE CHOQUE
A Agência Nacional de Crime tem alertado para o aumento de sofisticação e da crueldade dos métodos das associações criminosas que se dedicam ao tráfico humano. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, juntou-se ao tributo às vítimas revelando-se “chocado com a tragédia”. PUB
Citado pelo The Guardian, o capitão Andrew Mariner, da polícia de Essex referiu que as investigações estão em curso para apurar o que aconteceu. “Estamos a proceder à identificação das vítimas, algo que prevejo ser um processo moroso”, projectou. O antigo director das autoridades de imigração, David Wood, revelou à BBC que a rota que o camião fez é pouco usual. “Fez um trajecto estranho, porque Zeebrugee é um porto de carga e contentores, portanto, não é um porto onde se dê prioridade a fiscalização de imigração. À primeira vista, diria que é uma rota apetecível para este tipo de organizações criminosas”, aponta David Wood. À medida que as formas de entrar no Reino Unido legalmente diminuem, os métodos de transporte que colocam em perigo a vida dos imigrantes aumentam. Tais métodos incluem “empilhar” pessoas em pequenos compartimentos na parte refrigerada no fundo do camião, ou fazer travessias arriscadas por mares revoltos em pequenas embarcações.
CÚMULO DO DESESPERO
De acordo com dados oficiais, este ano até Junho, o Reino Unido concedeu asilo, protecção humanitária e outras formas de autorização de permanência a 18.519 pessoas. Po-
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, juntou-se ao tributo às vítimas revelando-se “chocado com a tragédia”
rém, de acordo com o The Guardian, é difícil conseguir asilo no Reino Unido, que acolhe apenas 1 por cento de todos os refugiados do mundo. Além disso, as políticas de imigração estão a seguir caminhos cada vez mais hostis para os que chegam às fronteiras britânicas, como a detenção sem tempo máximo, algo que pode afastar quem procura asilo das autoridades, por receio de serem detidos. Sem papas na língua, o Conselho para o Bem-estar dos Imigrantes emitiu um comunicado a criticar as políticas públicas, ligando-as ao episódio macabro do camião. “Que ninguém duvide que a derradeira responsabilidade por estas mortes é das políticas do Governo, que deliberadamente decidiu fechar as rotas para se entrar legalmente e em segurança no Reino Unido. Precisamos de muito mais que do que expressões vazias de choque e pesar de Priti Patel e Boris Johnson. Precisamos de um compromisso para a abertura de vias legais e seguras de acesso, assim como de decisões rápidas para quem procura uma vida melhor no Reino Unido. As pessoas movem-se, sempre o fizeram, sempre o vão fazer e ninguém deveria ter de arriscar a vida por isso”. No ano passado, mais de 35 mil tentativas de atravessar o Canal da
Esta foi a mais mortífera ocorrência do género no Reino Unido desde a bizarra descoberta de 58 mortos, também chineses, encontrados num contentor no porto de Dover, no condado de Kent, em 2000 Mancha ilegalmente foram travadas pelas autoridades. Durante o mesmo período de tempo, mais de 8 mil pessoas foram detectadas, já em solo britânico em portos de entrada, por terem passado a fronteira de automóvel sem cumprirem os requisitos legais para o fazer. Em 2018, as 10 nacionalidades que mais frequentemente foram apanhadas em postos de controlo eram nacionais da Eritreia, Iraque, Afeganistão, Irão, Albânia, Sudão, Vietname, Paquistão, Síria e Etiópia. João Luz com agências info@hojemacau.com.mo
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SOFIA MARGARIDA MOTA
gãos de soberania. Tudo para que se possa melhorar “esse processo (das eleições) desde sua origem, visando o futuro e a dignidade dos que vivem no estrangeiro”. Como exemplo de medidas a apresentar, o CCP defende como sendo “fundamental a uniformização dos actos eleitorais para as Comunidades, objectivando-se que, após alterações constitucional e legais, haja a opção do voto presencial, do voto postal e do voto electrónico à distância (Internet) em todas as eleições (Presidencial, Legislativa e ao Parlamento Europeu) conforme a manifestação atempada do eleitor, visando garantir a plena participação das portuguesas e dos portugueses que vivem no estrangeiro”.
MAIS CCP
José Pereira Coutinho, conselheiro do Conselho das Comunidades Portuguesas por Macau
PORTUGAL CONSELHO DAS COMUNIDADES QUER REUNIR COM GOVERNO
A voz de quem está longe O Conselho das Comunidades Portuguesas mostra-se disposto a reunir com o Governo português depois de 22 por cento dos votos dos círculos da emigração terem sido anulados nas últimas eleições para a Assembleia da República. Pereira Coutinho, conselheiro por Macau, continua em silêncio face à investigação da Comissão Nacional de Eleições
C
HAMA-SE “As comunidades querem votar” e é a mais recente carta entregue à Comissão Nacional de Eleições (CNE) por parte do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), assinada
pelo presidente do conselho permanente, Flávio Martins. A missiva surge depois da realização das eleições legislativas para a Assembleia da República (AR) em Portugal, em que 22 por cento dos votos dos círculos da emigração foram considerados
Poluição luminosa DSPA estuda mudanças A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) garantiu, em resposta a uma interpelação escrita do deputado Lam Lon Wai, que vai estudar, no próximo ano, possíveis mudanças nas regras de controlo da poluição ambiental. “A DSPA tem estado atenta às recentes regulamentações das regiões vizinhas quanto ao controlo da poluição luminosa. As 'instruções para controlo da poluição luminosa proveniente dos painéis publicitários, das iluminações decorativas e dos monitores LED no
exterior dos edifícios', vigentes em Macau, são comparáveis com os critérios adoptados nas regiões vizinhas. A DSPA planeia iniciar o estudo sobre as medidas de controlo da poluição luminosa no próximo ano”, lê-se na resposta assinada por Raymond Tam, director da DSPA. Além disso, Raymond Tam disse ao deputado que “a DSPA está também a comunicar com as empresas de hotelaria para reforçar a implementação de instruções para controlo da poluição luminosa”.
nulos. Nesse contexto, o CCP mostra vontade de reunir com representantes de organismos públicos portugueses. “O Conselho Permanente do CCP apoia a realização de reflexões críticas e investigações aprofundadas acerca de todo o processo do último acto eleitoral, desde a falta de sensibilização à pouca informação nas Comunidades, e juntar-se-á a esse indispensável trabalho a ser realizado pelos órgãos competentes de melhoria a este processo por meio da reflexão.” É já em Novembro que deverá ser feita uma “apresentação de propostas concretas”, disponibilizando-se o CCP ao diálogo com a Comissão Nacional de Eleições (CNE), o Ministério da Administração Interna, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, as forças políticas na AR e os demais ór-
É já em Novembro que deverá ser feita uma “apresentação de propostas concretas”, disponibilizando-se o CCP ao diálogo com a Comissão Nacional de Eleições (CNE), o Ministério da Administração Interna, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, as forças políticas na AR e os demais órgãos de soberania
Para o CCP, “algumas das análises que tem sido veículadas acerca da participação cívica das Comunidades no acto eleitoral revelaram a falta de conhecimento da realidade da Diáspora”. Nesse sentido, o manifesto apresentado começa por chamar a atenção para o aumento do número de emigrantes a ir às urnas, o que constitui “uma vitória da Democracia”, ainda que “as comunidades sejam historicamente relegadas a segundo plano nos processos cívico-eleitorais”. O CCP lamenta ainda o facto de ter alertado partidos políticos e demais organismos sobre a “falta de informação durante todo o processo eleitoral”, sendo que “pouco foi feito” no acto eleitoral de 6 de Outubro. “Ante as novidades do recenseamento automático e da possibilidade de opção pelo voto postal ou pelo presencial, a verdade é que essas fundamentais informações ocorreram muito timidamente e as Comunidades, em sua maioria, foram apanhadas de surpresa. A auscultação do CCP, que diversas vezes alertou para isso em reuniões ou em seus documentos, poderia ter minimizado o efeito negativo de tal facto”, acrescenta a carta. José Pereira Coutinho, conselheiro do CCP por Macau, difundiu esta carta junto dos órgãos de comunicação social, mas não quis comentar a investigação de que está a ser alvo por parte da CNE. Em causa está um alegado envolvimento da associação que preside, a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), na realização de chamadas para eleitores, onde se afirmava que a ATFPM poderia reencaminhar os votos por correspondência para Portugal. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
política 5
sexta-feira 25.10.2019
Os desafios do sector privado da saúde foram ontem abordados na reunião da 2.ª Comissão Permanente, e Chan Iek Lap defendeu que as clínicas deviam poder guardar e administrar vacinas para “ganharem mais um bocado de dinheiro”
O
AL DEPUTADO QUER GOVERNO A INJECTAR MAIS DINHEIRO NAS CLÍNICAS PRIVADAS
Só mais um subsídio
deputado Chan Iek Lap, representante do sector médico naAssembleia Legislativa (AL), defendeu ontem na 2.ª Comissão Permanente a necessidade do Governo atribuir mais subsídios e apoios às clínicas privadas. As declarações foram prestadas durante a reunião e reveladas pelo presidente da comissão, Chan Chak Mo. “Na reunião de hoje [ontem], o deputado que representa o sector da saúde desabafou um bocado sobre a capacidade das clínicas privadas face às instituições públicas”, começou por contextualizar Chan. “Ele apontou as diferenças entre os sectores e quis saber se no futuro vai haver mais garantias e subsídios do Governo para as clínicas privadas”, acrescentou. A comissão encontra-se a discutir o diploma com o nome
poderem guardar nem administrar vacinas, o que no seu entender seria uma medida positiva para os médicos do privado “ganharem mais um bocado de dinheiro”. Contudo, este cenário tem sido recusado pelo Governo, que ainda recentemente penalizou uma clínica privada que guardava vacinas e administrava produtos desta natureza fora do prazo de validade.
SANÇÕES PESADAS
Já no que diz respeito à lei que vai regular o registo dos profissionais
“Será que há negligência quando um médico tem muitos pacientes à espera no consultório e não está a atendê-los, porque o seu telemóvel não pára de receber chamadas de familiares, que querem saber se vai jantar a casa? CHAN CHAK MO
de saúde, os deputados falaram sobre o facto das sanções aplicáveis poderem ser demasiado pesadas. Por outro lado, os deputados consideram que nem sempre é claro as situações em que uma sanção é aplicável, pelo que pretendem que o documento seja mais específico. “A multa a aplicar nos casos de negligência e má compreensão dos deveres pode chegar até às 100 mil patacas. Mas temos de perguntar o que se entende por estes conceitos, principalmente por negligência”, apontou Chan Chak Mo. “Será que há negligência quando um médico tem muitos pacientes à espera no consultório e não está a atendê-los, porque o seu telemóvel não pára de receber chamadas de familiares, que querem saber se vai jantar a casa? Os pacientes podem ouvir as chamadas e apresentar queixa”, exemplificou.
Abrir a caixa de pandora
Comissário do MNE acha que Hong Kong contaminou o mundo com violência
está a ser copiada por outras cidades, além de entender que existe uma ligação íntima entre os manifestantes e Hong RTHK
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M cancro terrorista, pior que o vírus da SARS. Foi assim que o comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China em Hong Kong, Xie Feng, descreveu os protestos que têm assolado a região vizinha nos últimos cinco meses. As declarações foram proferidas no Fórum internacional da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, que se realizou ontem na RAEHK, e que contou com a participação do secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong. Além de criticar a violência que ameaça a vida das pessoas, assim com a paz social, Xie Feng considera que a violência de Hong Kong
de regime legal da qualificação e inscrição para o exercício de actividade dos profissionais de saúde. Ontem, o deputado que preside à comissão reconheceu que as questões de Chan Iek Lap estão pouco relacionadas com a nova lei, mas foram ouvidas pelos legisladores como uma forma de se familiarizarem melhor com o sector privado da saúde e perceberem os problemas que aí se enfrentam. Neste sentido, o deputado e médico questionou igualmente o facto de as clínicas privadas não
Kong e forças separatistas estrangeiras. Como tal, o representante do Governo Central na RAEHK acha que
os protestos de Barcelona e Chile são inspirados em Hong Kong. Não houve qualquer referência a outros casos de
Esta é uma das questões que vai ser levantada junto do Governo, assim como os casos em que é aplicada a pena de “inactividade”, ou seja as situações em que os profissionais do sector ficam proibidos de exercer a profissão. A punição de inactividade é aplicada quando se suspeita de “encobrimento” e “participação em encobrimento” dos direitos de personalidade do doente. Os deputados não compreendem os conceitos. “Será que basta um médico responder a um paciente que está a fazer demasiadas perguntas para haver uma violação dos direitos de personalidade?”, questionou Chan Chak Mo. Os deputados devem voltar a reunir na próxima semana para continuarem a analisar a futura lei.
protestos violentos ocorridos antes das manifestações na região vizinha, como os violentos protestos que ficaram conhecidos como coletes amarelos, em França.
A MÃO NEGRA
Durante o discurso no evento sobre a Grande Baía, segundo a Ou Mun Tin Toi, Xie Feng referiu que a humanidade enfrenta um período catastrófico, depois da abertura “da caixa de pandora da violência de rua”, e da violação da lei como método para atingir um sentido de justiça. Nesse contexto, todos os países do mundo podem ser afectados. O mesmo responsável apontou a cabecilhas locais que em conjunto com pode-
João Santos Filipe
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res estrangeiros estão a espalhar o caos em Hong Kong para derrubar o Governo e tomá-lo à força, destruir o princípio “Um País, Dois Sistemas”, e procurar a independência. O representante de Pequim declarou também que os Estados Unidos estão do lado dos desordeiros e que a comunidade internacional não pode ficar calada e observar à distância passivamente, uma vez que é imperativo que o caos termine o mais rapidamente possível, e que se trave a “mão negra” que incita à violência nas ruas. João Luz
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25.10.2019 sexta-feira
Hospital das Ilhas Escola de Enfermagem está concluída
A Escola de Enfermagem do Hospital das Ilhas ficou concluída na terça-feira, de acordo com a informação revelada ontem pelo Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas. O primeiro edifício do novo hospital a ficar concluído vai ser utilizado pelo Instituto de Enfermagem do Kiang Wu, que tem ligações à família do actual Chefe do Executivo, Chui Sai On. Anteriormente esta opção foi questionada por vários deputados, entre os quais José Pereira Coutinho, que em Dezembro de 2018 questionava: “Por que razão se vão entregar gratuitamente instalações que irão custar muitos milhões de patacas do dinheiro da população a uma entidade privada que só visa o lucro?”
IH Vítimas de incêndio pedem residência temporária
Si Ka Lon, deputado e responsável pela Aliança do Povo de Instituição de Macau, deslocou-se ao Instituto de Habitação (IH) a fim de facilitar o processo de pedidos de residência temporária para as vítimas do incêndio que deflagrou num prédio habitacional na Areia Preta. Além disso, como os desalojados estão preocupados com o mau estado em que ficaram as suas casas, esperam que o IH possa custear as obras através do Fundo de Reparação Predial. Arnaldo Santos, presidente do IH, prometeu rapidez na atribuição destas habitações temporárias, tendo garantido também apoio na reparação dos apartamentos em condições semelhantes às que foram atribuídas aquando da passagem do tufão Hato. O IH compromete-se a enviar técnicos para ajudar nos trabalhos de reparação, a fim de concluir uma finalização rápida e uma redução do impacto junto dos moradores. PUB
Aviso sobre o pedido de junção de resto mortais em sepulturas perpétuas Eu, Chang Pui Leng, nos termos da alínea 5) do n.º 1 e dos n.ºs 2, 3 e 4 do artigo 26.º -A do Regulamento Administrativo n.º 37/2003, alterado pelo Regulamento Administrativo n.º 22/2019, apresento o pedido relativo à junção das cinzas de Chan Kam, que era cônjuge de 曾平, inumado na sepultura n.º CT-1-A1-639 do Cemitério Sá Kong da Taipa, nessa sepultura. Venho por este meio informar as pessoas indicadas no n.º 1 do artigo 26.º -A do Regulamento Administrativo acima referido de que podem apresentar objecção por escrito no prazo de 30 dias, contados a partir da data da publicação do aviso, ao IAM. A objecção escrita deve ser entregue no escritório dos assuntos de cemitérios da Divisão de Higiene Ambiental do IAM, sito no 3.º andar do Edifício Comercial Nam Tung, na Avenida da Praia Grande n.º 517. Se o IAM não tiver recebido objecção por escrito dentro do prazo determinado, o pedido de junção pode ser autorizado. Aos 25 de Outubro de 2019 Chang Pui Leng
CONFERÊNCIA MACAU E CHINA INEFICAZES NA INVESTIGAÇÃO DE CRIMES ECONÓMICOS
As falhas do sistema
Liu Jianhong, presidente da Sociedade Asiática de Criminologia, teceu críticas em relação à pouca eficácia no combate aos crimes de natureza económica. O vice-presidente da Associação Internacional de Criminologia de Língua Portuguesa defendeu que deve haver mais convergência entre os países lusófonos ao nível dos sistemas jurídicos
O
p re s i d e n t e da Sociedade Asiática de Criminologia disse ontem à Lusa que tanto em Macau como na China continental as investigações dos crimes de ‘colarinho branco’ e empresariais não estão a ser eficazes e resultam em poucas condenações. “As consequências dos crimes empresariais são muito sérias e não estão a ser bem estudadas”, tanto em Macau como na China continental, afirmou Liu Jianhong à margem da 12.ª Conferência Internacional sobre Reformas Jurídicas de Macau no Contexto Global. O também professor na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Macau defendeu que há “muito pouco estudo” e que a criminologia é fulcral para o Direito Criminal, que está a ser vista como um parente menor tanto em Macau como em Hong Kong. Entre 1987 e 2007 foram publicados
apenas 147 estudo de criminologia empírica em toda a China, observou durante a sua apresentação na conferência. A criminologia na China “precisa de mais reconhecimento e apoio por parte do Governo”, observou o presidente da Sociedade Asiática de Criminologia. O combate à corrupção tem sido uma das bandeiras desde que Xi Jinping subiu ao cargo de Presidente da China, em 2013. Lançada depois de ascender ao poder, o combate à corrupção já puniu mais de um milhão e meio de
“As consequências dos crimes empresariais são muito sérias e não estão a ser bem estudadas.” LIU JIANHONG PRESIDENTE DA SOCIEDADE ASIÁTICA DE CRIMINOLOGIA
funcionários do Partido Comunista Chinês (PCC). Em relação a este tópico, Liu Jianhong, afirmou que Xi Jinping conseguiu “resultados tremendos”. “Xi conseguiu punir muitos políticos corruptos e isso foi muito bom”, sublinhou, ressalvando, contudo, que os “investigadores de Direito Criminal devem alterar o seu processo de trabalho, para produzirem mais regulação”. “Penso que o Partido Comunista chinês está a fazer isso mesmo”, concluiu.
MAIOR CONVERGÊNCIA
No mesmo encontro, o vice-presidente da Associação Internacional de Criminologia de Língua Portuguesa defendeu que deve haver mais convergência entre os países lusófonos porque os seus sistemas jurídicos são semelhantes. A semelhança dos sistemas jurídicos e a própria lógica do sistema penal, são “dados para que o saber criminológico seja partilhado nos países
lusófonos”, afirmou à Lusa o especialista brasileiro Marcus Alan de Melo Gomes. O investigador brasileiro e professor do Instituto de Ciências Jurídicas da Universidade Federal do Pará (UFPA) defendeu também, que por haver parecenças no funcionamento das polícias, que “devem ser analisados, estudados e avaliados por metodologias comuns”. O investigador teceu elogios à qualidade da criminologia que é produzida nos países lusófonos isoladamente. “Mas não há intercâmbio, não há uma aproximação”, disse. “Há muita coisa a ser feita, muito valiosa em Portugal, no Brasil, em África, como em Angola, Moçambique e até em Cabo Verde”, afirmou. “Mas não há um intercâmbio efectivo, não há diálogo, quer pelas universidades, quer pelos centros e núcleos de investigação”, concluiu.
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sexta-feira 25.10.2019
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S lucros da Las Vegas Sands, empresa que detém a concessionária Sands China, registaram uma quebra de 6,7 por cento durante o terceiro trimestre, de 571 milhões de dólares americanos para 533 milhões. Os resultados foram revelados ontem, num dia que ficou marcado pelo regresso do presidente do grupo, Sheldon Adelson, que nos últimos meses esteve em tratamentos contra um cancro no sangue. No que diz respeito às receitas em Macau, o grupo teve uma quebra de 30 milhões de dólares, de 2.152 milhões no terceiro trimestre do ano passado para 2.112 milhões no último trimestre. Esta é uma redução de 1,9 por cento em Macau, que envolve não só as receitas das mesas e nos quartos de hotel, mas também nas operações dos ferries. Em termos da Cotai Waterjet, as receitas líquidas tiveram uma quebra de 38,1 por cento de 41 milhões para 26 milhões, o que também se explica pelo facto de os turistas preferirem viajar através da Ponte Hong KongZhuhai-Macau. No último trimestre as receitas brutas do jogo tiveram uma quebra de 4,1 por cento de 73 mil milhões de patacas, no terceiro trimestre de 2018, para 70 mil milhões. Contudo, Sheldon Adelson não deixou de elogiar Macau, que apontou, com a construção da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, ter todas as condições para ser a capital de convenções e exposições da Ásia. “Acredito que Macau é o melhor mercado do mundo e por isso continuamos a investir o nosso capital no território. Estamos ansiosos para continuar a investir e contribuir para a diversificação da economia e para a evolução e criação de um centro de turismo e lazer”, afirmou o milionário, de 86 anos. “Com a abertura da Ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai, e com o desenvolvimento das iniciativas à volta da Grande Baía, acreditamos que Macau tem o potencial para se tornar na capital de Exposições e Convenções da Ásia. E queremos contribuir totalmente
SANDS RECEITAS EM MACAU COM QUEBRA DE 30 MILHÕES DE DÓLARES
Impacto mínimo
A contracção da indústria do jogo teve um impacto pouco significativo para a Las Vegas Sands. No entanto, a nível global a empresa de Sheldon Adelson viu os lucros caírem 6,7 por cento. Já o milionário regressou à “praça pública” pela primeira vez, após ter sido divulgado que estava a lutar contra um cancro
CHAN CHAK MO PAGA 394 MIL POR MÊS
A
empresa Future Bright, detida pelo deputado Chan Chak Mo, revelou ontem em comunicado à bolsa que vai pagar 394.255 dólares de Hong Kong por mês à Sands China, pelo arrendamento de um restaurante no casino Venetian, no Cotai. De acordo com a informação revelada, o contrato tem a duração de três anos e o restaurante vai servir comida chinesa. Além da renda mensal, se as receitas geradas pelos negócios ultrapassarem o montante anual da renda, ou seja cerca de 4,7 milhões de dólares de Hong Kong, a empresa tem ainda de pagar 12 por cento desse excedente à operadora. A empresa do deputado teve ainda de pagar uma caução de 2,37 milhões de dólares de Hong Kong.
para esse objectivo, através dos nosso investimentos existentes e futuros”, acrescentou.
DE REGRESSO
Contudo, a conferência de apresentação dos resultados da operadora que controla casinos como o Venetian, Parisian, ou Sands Macao, ficou marcada pelo regresso à actividade de Sheldon Adelson. “Gostava de começar por dizer que me sinto bem e que estou muito feliz por estar aqui [...] Também gostava de dizer que fiquei extremamente emocionado com todos os telefonemas e emails que recebi nos últimos meses. Estou muito agradecido por todos os desejos de melhoras que recebi e quero agradecer a todos. Significou muito para mim”, disse Adelson, que nos últimos meses esteve a lutar contra um cancro no sangue. Ainda sobre o seu estado de saúde, o milionário recusou a ideia de estar já a 100 por cento, mas considerou que se encontra a 95 por cento. Sheldon Adelson “Gostava de dizer que fiquei extremamente emocionado com todos os telefonemas e emails que recebi nos últimos meses”
João Santos Filipe joaof@hojemacau.com
JOGO TRABALHADORES DA WYNN RESORT RECOLHEM ASSINATURAS PARA AUMENTOS SALARIAIS
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LOEE Chao, presidente da direcção da Associação dos Direitos dos Trabalhadores de Jogo, está a recolher assinaturas junto dos croupiers da empresa Wynn Resorts em Macau a fim de pedir um aumento salarial, para que os ordenados sejam iguais ou
superiores aos que são pagos pelas restantes operadoras de jogo. “AAssociação tem recebido mais de mil queixas dos trabalhadores de jogo de Wynn, referindo que na Melco, Galaxy e MGM a renumeração dos seus empregados tem vindo a ser aumentada. No caso da MGM os sa-
lários situam-se nas 22,1 mil patacas por mês. No entanto, os trabalhadores da Wynn Macau recebem apenas 20,7 mil patacas mensais, o valor mais baixo de todas as operadoras”, frisou a dirigente ao HM. Cloee Chao explicou ainda que, em 2016, a situação económica em
Macau não era a ideal, o que levou a que os salários não tenham registado um aumento. No ano seguinte, houve aumentos entre 2,5 e nove por cento, mas ainda assim não foi suficiente para aqueles que ganham cerca de 16 mil patacas, um valor que, para a dirigente associativa,
não consegue acompanhar a inflação social. A responsável acrescenta que esta é uma boa fase para proceder a aumentos salariais, esperando poder entregar mais de duas mil assinaturas dos croupiers da Wynn aos dirigentes da empresa. J.N.C. com A.S.S.
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sexta-feira 25.10.2019
TÚNEL SUBAQUÁTICO PRESIDENTE DO LECM AFASTA MÉTODO QUE PODE IMPACTAR PONTE
Os pilares da criação TIAGO ALCÂNTARA
Durante a consulta pública, foi sugerido o método de escavação a céu aberto do túnel subaquático que vai ligar a península de Macau à Taipa. O presidente do Laboratório de Engenharia Civil de Macau, Ao Peng Kong, afasta essa possibilidade por entender que pode afectar a Ponte Governador Nobre de Carvalho
E
O projecto terá um comprimento de aproximadamente 2.400 metros, seis faixas de rodagem de duplo sentido, e velocidade máxima permitida de 60 quilómetros horários
No entanto, o responsável adiantou que, de acordo com sua experiência, a intensidade dos lodos sedimentados entre Macau-Taipa é muito fraca, e que por isso este método pode causar alguns impactos aos edifícios na zona ribeirinha, assim como à Ponte Governador Nobre de Carvalho.
trabalhos de conservação da Ponte Governador Nobre de Carvalho. O engenheiro referiu na Ou Mun Tin Toi que será necessário ajustar os canais marítimos de forma a resolver o problema de transportações dos componentes originado pelo raso relevo oceânico da área.
Segundo as autoridades, o projecto terá um comprimento de aproximadamente 2.400 metros, seis faixas de rodagem de duplo sentido, e velocidade máxima permitida de 60 quilómetros horários. O túnel vai ligar as zonas B e D dos Novos Aterros
Urbanos de Macau, terá início na intersecção entre a Avenida Dr. Sun Yat-Sen e a Avenida 24 de Junho da Zona B, e terminará numa nova via situada na Zona D, no sentido Leste-Oeste. Juana Ng Cen com João Luz info@hojemacau.com.mo
CONSERVAÇÃO NECESSÁRIA
Já o engenheiro civil Chan Mun Fong, que também pertence à Associação de Empresas de Consultores de Engenharia de Macau, considera que o prazo das obras de construção do túnel subaquático é mais em comparação com outras pontes, e que será mais dispendioso. Chan concorda com o método de escavação adoptado, mas ressalva que se devem proceder a
NQUANTO termina a segunda fase da consulta pública (5 de Novembro) da construção do túnel subaquático que vai ligar a península de Macau à Taipa, e ainda se discutem métodos de proceder à obra, Ao Peng Kong, presidente do Laboratório de Engenharia Civil de Macau (LECM), deixou a sua experiência falar mais alto para alertar para um método de construção sugerido durante a consulta. Ao Peng Kong, em declarações à Ou Mun Tin Toi, alertou para o impacto que a obra pode ter para a integridade da Ponte Governador Nobre de Carvalho se for usado o método de escavação a céu aberto. Este método de construção, que implica drenagens de segmentos de rio, terá sido sugerido durante a primeira fase da consulta pública.
Passadeiras Defendida a instalação de lombas
Wong Man Pan, membro do Conselho Consultivo do Trânsito, defendeu a necessidade de instalar lombas antes das passadeiras em Macau, para garantir a segurança dos peões, que atravessam as estradas. Foi desta forma que Wong reagiu ao acidente de quarta-feira, quando um autocarro atingiu uma mulher, na Estrada de São Francisco. Segundo Wong, o autocarro circulava a velocidade relativamente
rápida, e quando o condutor viu a mulher a passar a rua já foi demasiado tarde. Por este motivo, o membro do Conselho Consultivo do Trânsito defende que o Governo instale lombas antes das passadeiras. Além disso, como o ambiente de tráfico de Macau é bastante complicado, Wong aponta que todos os condutores devem reduzir a velocidade quando se aproximam de uma passadeira.
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25.10.2019 sexta-feira
“Não há como esc LITERATURA HM LANÇA SEGUNDO SUPLEMENTO ESPECIAL EM
MED
Lançado na última edição do Festival Literário de Óbidos, em Portugal, o suplemento “O Medo”, hoje publicado com o HM, é a segunda parceria do género entre o jornal e a editora portuguesa Abysmo, dirigida por João Paulo Cotrim, depois do lançamento do suplemento “As Nuvens” na Feira do Livro de Lisboa
O
HM voltou a juntar-se à editora portuguesa Abysmo, fundada pelo editor João Paulo Cotrim, para lançar um novo suplemento especial que olha de forma aprofundada para a temática do Medo. Além dos colaboradores habituais do suplemento H, que diariamente são publicados nas páginas do HM, o suplemento conta com novos autores, como é o caso de David Soares, autor de romances ligados ao universo do terror e do fantástico, do poeta José Anjos ou das psicoterapeutas Ana Sanganha e Patrícia Câmara, que tentam desmistificar, pela via da psicologia, o sentimento do medo na vida humana. O suplemento “O Medo” foi lançado na última edição do Festival Literário Internacional de Óbidos (FOLIO), que decorreu entre os dias 10 e 20 de Outubro na histórica cidade portuguesa. Ao HM, João Paulo Cotrim conta que o suplemento foi muito bem recebido, sobretudo depois do lançamento “As Nuvens” na Feira do Livro de Lisboa, fruto da mesma parceria. Além disso, “tendo em conta o tema da edição deste ano do FOLIO, que tinha a ver com o Medo, um tema que é caro ao Carlos Morais José, achámos graça prolongar e repetir o suplemento com o mesmo tema. É uma forma de intervenção num festival literário de algum modo original e por outra muito interessante, porque prolonga a vida daquilo que é a mesa de debate”.
O lançamento do suplemento contou também com a colaboração da livraria portuguesa Ler Devagar, uma das organizadoras do FOLIO. “Não há como escapar ao medo, é algo que nos acompanha ao longo da vida. Quando fizemos a apresentação o suplemento foi distribuído gratuitamente ao longo do festival e foi muito bem acolhido. A mesa de debate no festival também acabou por ser muito interessante do ponto de vista do conteúdo e muito participada, estavam umas 70 pessoas na sala.” João Paulo Cotrim assegura que este suplemento “é uma perspectiva jornalística de perceber este fenómeno, o que significa o medo, a importância que ele tem nas nossas vidas e no modo como nos relacionamos com o mundo. Fomos à procura das várias perspectivas. Há um eixo grande à
“Não há como escapar ao medo, é algo que nos acompanha ao longo da vida. Quando fizemos a apresentação o suplemento foi distribuído gratuitamente ao longo do festival e foi muito bem acolhido.” JOÃO PAULO COTRIM EDITOR DA ABYSMO
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sexta-feira 25.10.2019
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capar ao PARCERIA COM EDITORA ABYSMO
volta do tempo, o medo do passado, presente e futuro, com textos de cariz filosófico como é o caso do texto do António de Castro Caeiro, ou ensaístico, como é o caso do David Soares e do António Eloy. Estes autores têm um eixo principal que analisa o fenómeno do medo. E depois há uma análise, de uma perspectiva mais intimista, do que é o medo. Há uma interpretação do fenómeno.”
UM NOVO CAMINHO
João Paulo Cotrim não tem dúvidas de que a publicação de crónicas no suplemento H dá ao HM “um lugar único na imprensa de expressão lusófona pela quantidade de cronistas, os estilos e os temas que são tratados”. Para o editor da Abysmo, o jornal “tem criado um espaço que é muito interessante e original. De algum modo o suplemento também é uma ampliação dessa dinâmica que acontece diariamente e que tem sido fulcral”. “Parece-me interessante e importante este percurso do HM nestas páginas de cultura, pois tem feito um
caminho que acaba por ser muito influente no panorama literário português e estes suplementos são sinal disso mesmo, o prolongar além do quotidiano essas reflexões”, acrescentou João Paulo Cotrim. Apresentando ligeiras diferenças face ao que foi lançado em Óbidos, o suplemento hoje publicado “tem
um outro tempo e respiração, mas é interessante ver como estes objectos ganham vidas diferentes”. É como se “o medo também ganhasse rostos diferentes”, assegura João Paulo Cotrim, que adianta que poderão ser lançados novos suplementos no futuro. “Creio que pelo modo como foram acolhidos estes dois é bastante provável que num próximo festival ou numa outra circunstância qualquer avancemos com uma coisa semelhante.” Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
Ondjaki em Macau
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Música e poesia em espectáculo do escritor angolano
escritor angolano Ondjaki vai apresentar, em Novembro, em Macau, um "encontro surpresa" entre "a leitura de poemas e a música", disse ontem à Lusa a delegada da Fundação Oriente no território, Ana Paula Cleto. O espectáculo do poeta e da violoncelista brasileira Maria Clara Vale "Chão de Novo" vai marcar, em 2 de Novembro, o arranque do "Salão de Outono", que comemora este ano o 10.º aniversário. É "uma oportunidade fantástica" trazer Ondjaki a Macau para assinalar a data do certame, que tem funcionado como uma plataforma de visibilidade para artistas locais e este ano propõe quase 80 obras de meia centena de autores, acrescentou Ana Paula Cleto. “Já tinha conhecimento de que ele [Ondjaki] fazia espectáculos de ‘spoken word’ e, em parceria com o Arte Institute (…) surgiu a ideia de trazer” ao território um dos escritores angolanos mais conhecidos em Portugal, indicou a responsável. No mesmo dia, será atribuído na Casa Garden o prémio da Fundação Oriente para as Artes Plásticas, cujo vencedor será, à
semelhança de anos anteriores, convidado a visitar Portugal para uma residência artística de um mês. “Fazemos um programa para estes jovens artistas que inclui visitas a ateliês de artistas portugueses e visitas a alguns museus e galerias mais importantes”, explicou Ana Paulo Cleto, acrescentando que o 'feedback' dos últimos anos “tem sido excelente”. No âmbito desta residência artística, a Fundação Oriente tem uma parceria com a galeria Arte Periférica, no Centro Cultural de Belém (CCB), onde os jovens têm espaço para trabalhar e na qual realizam uma exposição individual.
ENCONTRO DE ARTES
O certame anual possibilita aos “artistas mais jovens de Macau mostrarem aquilo que fazem”, já que nem todos teriam facilmente a possibilidade de fazer exposições no território, disse. Entre as quase 80 obras expostas ao público até 30 de Novembro, encontram-se pinturas a óleo e acrílico, aguarela, desenho, escultura, fotografia e instalação. Todos os artistas seleccionados, embora de diferentes origens, trabalham e vivem em Macau, segundo a Fundação Oriente.
IPIM INSTITUTO RECEBE PRÉMIO DE“MELHOR DESTINO DE MARKETING”
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Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) recebeu, na passada sexta-feira, o prémio de “Melhor Destino de Marketing” no evento “MICE China Awards”. De acordo com uma nota oficial do IPIM, este prémio representa “mais um reconhecimento externo no seguimento da atribuição do prémio 'Melhor Organismo Público de Convenções e Exposições' na Cerimónia de Entrega de Prémios TTG Travel, no ano passado, sem esquecer a distinção de Macau com o prémio de “Melhor Cidade MICE da Ásia” em Singapura, em Agosto deste
ano . O novo prémio foi recebido pela Presidente do IPIM, Irene Va Kuan Lau. O prémio “Melhor Destino de Marketing” “visa coroar as maneiras inovadoras de divulgação em marketing de MICE e as instituições bem-sucedidas em promoção de destinos no mercado MICE chinês”, destaca a mesma nota. Além do IPIM, a Agência de Convenções da Alemanha, a Direcção dos Serviços de Convenções de Hamburgo, o Singapore Tourism Board e a Agência de Convenções & Incentivos da Suíça também foram galardoados com o mesmo prémio.
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25.10.2019 sexta-feira
PRÉMIO SAKHAROV DISTINÇÃO DE ILHAM TOHTI ILUSTRA PRESSÃO INTERNACIONAL
Luzes sobre Xinjiang
A questão dos abusos sobre a minoria ética uigur, em Xinjiang, volta a estar na ribalta, após o professor de economia Ilham Tohti, condenado a prisão perpétua por separatismo, ter sido distinguido pelo Parlamento Europeu com o Prémio Sakharov
I
LHAM Tohti, que foi ontem distinguido pelo Parlamento Europeu com o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, denunciou nas últimas décadas os abusos sofridos pela minoria étnica chinesa uigur no extremo noroeste da China. Tohti, que era professor de Economia numa universidade de Pequim, até ter sido condenado à prisão perpétua por separatismo, em 2014, começou a escrever sobre as tensões e os abusos na região de Xinjiang nos anos 1990. Com uma área quase 18 vezes superior à de Portugal
e situada na fronteira com o Paquistão, Afeganistão e várias ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central, Xinjiang é uma região rica em petróleo e gás natural, mas com reduzida densidade populacional. Os uigures constituem mais de um terço dos seus 21 milhões de habitantes. “Em textos e palestras, Ilham destacava as políticas do Governo que limitam o uso da língua uigur, restringem a capacidade dos uigures de praticar a sua própria religião, bloqueiam as suas possibilidades de conseguir um emprego e encorajam a PUB
HM • 2ª VEZ • 25-10-19
ANÚNCIO * EXECUÇÃO ORDINÁRIA nº CV2-18-0094-CEO
2º JUIZO CIVEL
EXEQUENTE: LONG KAM SENG, casado, de nacionalidade chinesa, e residente na Estrada Almirante Magalhães Correia, n.º 239, Jardim Hoi Wan, Hoi Wan Kok, 20º andar AB, Taipa, Macau EXECUTADO: CHE SEAK MAN, casado, de nacionalidade chinesa, e residente na Avenida Almirante Lacerda, Centro Comercial WaPo, 4º andar, Macau. *** FAZ-SE SABER, que nos autos de execução ordinária acima identificados foi ordenado a venda por meio de propostas em carta fechada, tendo sido designado o dia 06/11/2019 às 09h:30m, dos seguintes bens penhorados ao executado: IMÓVEIS Fracção autónoma designada por “B1”, do 1.º andar “B”. ____ Fracção autónoma designada por “B5”, do 5.º andar “B”. ____ Fracção autónoma designada por “C1”, do 1.º andar “C”, todas para habitação, todas do prédio sito em Macau, na Rua do Bispo Enes, n.º 11, freguesia de Santo António, descrito na Conservatória do Registo Predial sob o n.º 1264, a fls. 282V do livro B7. O Valor base da venda para a fracção “B1”, do 1.º andar “B”: MOP$.2.888.200,00 (dois milhões, oitocentas e oitenta e oito mil e duzentas patacas), correspondendo a 100% do valor base do imóvel. O Valor base da venda para a fracção “B5”, do 5.º andar “B”: MOP$.2.372.450,00 (dois milhões, trezentas e setenta e duas mil e quatrocentas e cinquenta patacas), correspondendo a 100% do valor base do imóvel. O Valor base da venda para a fracção “C1”, do 1.º andar “C”: MOP$.3.300.800,00 (três milhões, trezentas mil e oitocentas patacas), correspondendo a 100% do valor base do imóvel. O preço da proposta deve ser superior aos valores das bases das vendas acima indicados. *** Os interessados na compra devem entregar a sua proposta em carta fechada, com indicação nos envelopes das propostas, a seguinte expressão “PROPOSTA EM CARTA FECHADA”, “2º JUIZO CÍVEL” bem como o “PROCESSO NÚMERO: CV2-18-0094CEO”, na Secção Central deste Tribunal, até ao dia 05/11/2019, até às 17h:45m, podendo os proponentes assistir ao acto da abertura das propostas. É fiel depositário a Srª. LAM SUT MAN, com domicílio profissional na Avª. da Praia Grande, nº 409, Edifício China Law, 25º andar, Macau, telefone nº 28372299, que está obrigado, durante o prazo do edital e anúncio, a mostrar os bens móveis a quem pretenda examiná-los, podendo fixar as horas em que, durante o dia, facultará a inspecção. Quaisquer titulares de direito de preferência na alienação do imóvel supra referido, podem, querendo, exercerem o seu direito no próprio acto da abertura das propostas, se alguma proposta for aceite, nos termos do art. 787.º do C.P.C.M. Faz-se consignar que se encontram pendentes os autos apensos de embargos de executado – artº. 786º nº5 do CPC. *** R.A.E.M., 21 de Outubro de 2019
migração dos Han para a região”, descreveu a Amnistia Internacional. A República Popular da China - o país mais populoso do mundo, com cerca de 1.400 milhões de habitantes - define-se como “uma nação multiétnica”, formada por 56 etnias. Como os Han constituem cerca de 92% do conjunto, as outras são minorias étnicas. Impedido pela censura chinesa de difundir o seu trabalho, o escritor criou o portal em chinês uighurbiz. net, que denunciava abusos dos direitos humanos sofridos pelos uigures. O portal foi bloqueado pelas autoridades chinesas por várias vezes: primeiro antes dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, e depois entre Março e Abril do ano seguinte. Depois de, em 2009, a capital de Xinjiang, Urumqi, ter sido o palco dos mais violentos conflitos étnicos registados nas últimas décadas na China, entre os uigures e os han, predominantes em cargos de poder político e empresarial regional, Tohti denunciou casos de uigures que foram presos, mortos ou desapareceram. Na sequência daquele caso, o intelectual chinês ficou detido por várias semanas. “O principal conflito em Xinjiang não se deve ao terrorismo ou ao contraterrorismo, mas antes à desigualdade e abuso de poder”, acusou Tohti, na altura. “Trata-se antes de como poderosos interesses instalados monopolizam os recursos do desenvolvimento”, descreveu.
PRISÃO PERPÉTUA
Em 15 de janeiro de 2014, Ilham Tohti foi levado da sua casa em Pequim pela polícia. Durante cinco meses, permaneceu incontactável e em local incerto, até que,
em 23 de Setembro, foi condenado à prisão perpétua por “separatismo”. Acusações de separatismo na China são frequentemente usadas pelas autoridades para suprimir críticas às políticas do Governo. Pequim considera que qualquer crítica às suas políticas étnicas visa promover disfarçadamente ideias separatistas. “Embora Ilham se opusesse abertamente ao separatismo e quisesse apenas mostrar como as políticas de Pequim estavam a alimentar a polarização étnica, o governo concluiu que o seu trabalho estava a lançar muita luz sobre a terrível situação dos uigures”, descreveu a Amnistia Internacional.
CAMPOS DE REEDUCAÇÃO
A distinção atribuída pelo Parlamento Europeu ilustra também a crescente pressão diplomática que Pequim enfrenta, devido às acusações de que mantém detidos cerca de um milhão de uigures em centros de doutrinação política em Xinjiang. Antigos detidos revelaram que foram forçados a criticar o islão e a sua própria cultura e a jurar lealdade ao Partido Comunista Chinês (PCC), num reminiscente da Revolução Cultural (19661976), lançada pelo fundador da República Popular da China, Mao Zedong. O Governo chinês, que primeiro negou a existência destes campos, afirmou, entretanto, tratar-se de centros
de formação vocacional que visam integrar os uigures na sociedade. Habitualmente, o presidente de cada governo regional pertence à mais importante minoria étnica da região, mas o líder da organização local do Partido
“Em textos e palestras, Ilham destacava as políticas do Governo que limitam o uso da língua uigur, restringem a capacidade dos uigures de praticar a sua própria religião, bloqueiam as suas possibilidades de conseguir um emprego e encorajam a migração dos Han para a região” AMNISTIA INTERNACIONAL
Comunista - a verdadeira sede do poder político - costuma ser de etnia Han. O actual secretário em Xinjiang, Chen Quanguo, é conhecido pelas políticas duras que promulgou anteriormente, enquanto ocupou o mesmo cargo no Tibete, outra região chinesa vulnerável ao separatismo. Desde que, em 2016, foi transferido para o Xinjiang, a região converteu-se num Estado policial, com pontos de controlo policial e câmaras de circuito fechado, equipadas com reconhecimento facial, a tornarem-se omnipresentes.
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sexta-feira 25.10.2019
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Estamos todos juntos Centenas concentrados em Hong Kong em solidariedade com catalães
AFP
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ENTENAS de pessoas concentraram-se ontem em Hong Kong para manifestar solidariedade e apoio, segundo destacaram os próprios manifestantes, à “luta” dos “semelhantes catalães” pela “liberdade”. A concentração, intitulada “Solidariedade entre Hong Kong e Catalunha”, começou com um minuto de silêncio dedicado “às pessoas que sacrificaram as respectivas vidas a lutar contra as ditaduras em todo o mundo”. Após este momento, uma tela de grandes dimensões colocada no local da concentração mostrou imagens da polícia espanhola a investir contra os manifestantes na Catalunha, comunidade autónoma espanhola que testemunhou na semana passada violentos distúrbios e grandes manifestações independentistas. Algumas pessoas agitavam bandeiras catalãs e entoavam frases de ordem como “Apoiar Hong Kong, Apoiar Catalunha”. Os recentes protestos na Catalunha também tiveram
Sobre o debate que suscitou a convocatória desta marcha em Hong Kong, Ernesto Chow assegurou que o objectivo da acção “não tem nada a ver” com um eventual apoio à independência da Catalunha. Entre os participantes na concentração também estavam catalães que actualmente trabalham em Hong Kong. Uma dessas pessoas, identificada pela EFE como Marina, afirmou estar “impressionada” pelo facto de os manifestantes de Hong Kong terem decidido “ampliar os horizontes” e prestar este gesto aos “semelhantes” catalães.
PENAS PESADAS
eco em Hong Kong e chamaram a atenção de muitas pessoas naquela região administrativa da China, que nos últimos quatro meses também tem sido palco de grandes manifestações e de confrontos entre manifestantes e as forças policiais. No entanto, e segundo relatam as agências internacionais, este gesto de
solidariedade para com a Catalunha provocou nos últimos dias um intenso debate dentro do movimento pró-democracia de Hong Kong. Enquanto algumas vozes defenderam o gesto de solidariedade para com os protestos e os manifestantes catalães, outras recearam que tal associação poderia diminuir o apoio internacio-
nal aos protestos realizados em Hong Kong. O organizador da concentração, Ernesto Chow, disse, em declarações à agência espanhola EFE, que o objectivo da iniciativa era “condenar a brutalidade policial contra os manifestantes na Catalunha, especialmente contra quem protestou de forma pacífica”.
O Supremo Tribunal espanhol condenou, a 14 de Outubro, os principais dirigentes políticos envolvidos na tentativa de independência da Catalunha a penas que vão até um máximo de 13 anos de prisão. A sentença motivou protestos independentistas, que começaram no próprio dia do anúncio do Supremo e se repetiram ao longo de vários dias em Barcelona e em outras cidades da região autónoma.
Ernesto Chow assegurou que o objectivo da acção “não tem nada a ver” com um eventual apoio à independência da Catalunha A par de várias manifestações pacíficas, a vaga de contestação ficaria igualmente marcada por distúrbios e violentos confrontos entre manifestantes mais radicais e as forças de segurança. Hong Kong, antiga colónia britânica, está a atravessar a pior crise política desde a sua transferência para as autoridades chinesas em 1997. Nos últimos quatro meses, o território semiautónomo tem sido palco de manifestações pró-democracia que muitas vezes têm degenerado em confrontos entre as forças policiais e activistas mais radicais.
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PLANO DE CORTE
AKIRA FUJIMOTO
José Navarro de Andrade
25.10.2019 sexta-feira
Quem nos deu asas para andar de rastos?
A cultura da suspeita
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O outro dia demorei a explicar a um cismático que da criação ao abate a carne de consumo alimentar – por exemplo a bovina – é regulamentada, identificada, monitorizada, inspeccionada, analisada segundo as rígidas normas e directivas que regem a produção no Mercado Único Europeu, sem dúvida as mais apertadas, eficientes e fiáveis do planeta. Ao bezerro acabado de nascer é atribuído um número de identidade específico em todo o gado existente da ponta de Sagres a Utsjoki no extremo Norte finlandês. Na couvette que de maneira cândida e maquinal se retira da prateleira do supermercado consta um código de barras e uma numeração de matrícula que rastreiam a origem e percurso da peça desde a sua saída do matadouro até à região e propriedade em que se desenvolveu. Todas as fases da produção à distribuição estão cobertas de regulamentação e procedimentos definidos e não faltam intervenientes a queixarem-se desta malha como de um garrote. Um trejeito de descrença descrédito nunca se dissipou do rosto do meu interlocutor. Aquele semblante do escrupuloso devoto que escuta louvores a um Deus que ele tem como indubitavelmente falso. E lá vieram as objecções genéricas, vagamente axiológicas, inconsistente e apócrifas: “A carne está cheia de esteróides…” A carne é analisada várias vezes antes de chegar ao teu prato e os esteróides são proibidos…
Vai portanto prevalecendo uma cultura da suspeita, que se manifesta de maneira automática, impermeável e tenaz, que em vez de acender a luz imagina demónios em todas as sombras. Este território nublado e difuso da desconfiança é sumamente propício a teorias da conspiração
“Ah, mas está nas rações…” como qualquer outro produto alimentar a composição das rações vem impressa nas embalagens e só é posta à venda depois de analisada... “…Ainda no outro dia a ASAE apreendeu…” Exacto! Por essa Europa fora as “ASAEs” são bastante pró-activas e detectam infracções e fraudes – todas? Claro que não… Mas muitas… “…Uma foto obscena de animais horrivelmente maltratados no transporte…” Onde foi tirada essa foto, na Europa? Muito provavelmente não. Como é evidente, ao meu interlocutor apenas entupi não o convenci. Os seus juízos sendo decorrentes de um pano de fundo moral pré-estabelecido e arreigado eram da ordem da fé, das convicções e não da razão. Nesta modalidade de discurso todas as alegações têm ligação próxima e directa com os princípios que as fundamentam. Tudo é essencial à coerência moral, nada é susceptível à dúvida ética, sob pena de um só micróbio contaminar de impureza letal todo o organismo – basta um pecado para corromper a alma inteira, diriam os piedosos. Porque se tomam como evidentes, quase axiomáticos, não há problema que os argumentos sejam débeis; eles valem por si e quem não os compreende nem aceita é infame. Esta malformação intelectual nada deve a um saudável e fulcral cepticismo que questiona as conclusões indagando a prova, a verificação e a consistência dos processos mentais. Ela é um avatar do sentencioso “espírito crítico” mal instruído e mal leccionado, que de tão vulgarizado adstringiu na sua fórmula mais simples: uma coisa esconde sempre outra coisa por detrás e o que “eles” dizem é o que “eles” querem que acreditemos não o que “eles” querem dizer. Vai portanto prevalecendo uma cultura da suspeita, que se manifesta de maneira automática, impermeável e tenaz, que em vez de acender a luz imagina demónios em todas as sombras. Este território nublado e difuso da desconfiança é sumamente propício a teorias da conspiração. Quanto menos plausíveis e mais rebuscadas mais inteligentes parecem, dado que nessas torções proporciona o conforto de uma explicação redonda e acessível. De caminho assiste-se ao abastardamento da noção de resistência, que sem substância se deturpa como adjectiva, porque indeterminada e sem objecto. E o mais curioso é que ninguém se reverá nesta descrição – l’enfer c’est les autres.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 15
sexta-feira 25.10.2019
ARQUIVO MO
OFício dos ossos
Valério Romão
E
STIVE em Óbidos quatro dias, a convite do Fólio. Óbidos é uma vila medieval com óbvio interesse patrimonial e turístico. É também, ao que parece, a capital da ginja em copo de chocolate. E tem livrarias, imensas livrarias. É no entanto uma vila pequena, e percorrer Óbidos de lés a lés a pé não leva mais de dez minutos. O que Óbidos não tem, no entanto, é um minimercado. Ou uma tasca. Não tem nenhuma das coisas que esperamos encontrar numa vila daquela dimensão. A rua principal de Óbidos – a Rua Direita – exibe de um lado e outro uma monocromática série de estabelecimentos onde se vende a inevitável ginja em copo de chocolate, pão com chouriço feito em forno de lenha, bricabraque de vaga inspiração medieval e garrafinhas de água para o turista incapaz de fazer duzentos metros em linha recta sem desidratar. Tudo feito a pensar no turista. O turista, já se sabe, tem horror à diversidade de oferta. Não quer, para além da dificuldade de escolher o sítio onde consumir aquilo que esperam que consuma, ter ainda de escolher o que consumir. Sítio que se quer turístico tem que reduzir a oferta a um cabaz de, no máximo, seis produtos, e concentrar esforços em
Na rua Direita encaminhar a horda de consumidores aos sítios onde os produtos escolhidos podem ser adquiridos sem demoras. É assim que funcionam, por exemplo e há largos anos, os pastéis de belém (tirando obviamente a parte da demora). Óbidos tem também meia dúzia de restaurantes, mais ou menos disseminados pelas ruas paralelas à rua Direita, destinados ao turista que se esqueceu de trazer o tupperware para a excursão. Embora não sejam de facto o core business da vila, constituem um não despiciendo apoio logístico. Óbidos tem também hosteis, gesthouses de múltiplas cilindradas e hotéis que vão do clássico ao conceptual. Ao longo do ano recebe e promove imensos festivais. Desde o Fólio, de literatura, ao festival Internacional do Chocolate ou ao festival Medie-
val. E tem turistas, milhares de turistas falando dezenas de línguas diferentes. Chineses, russos, franceses, alemães, uzbeques, you name it. É uma babel de línguas numa rua com pouco mais de duzentos metros. O que Óbidos não tem, e parece não querer de todo ter, é habitantes. Haverá um ou outro resistente, não duvido, pessoas que dada a idade ou condição socioeconómica não conseguiram sair dali. Pessoas, no fundo, condenadas a viver num parque de diversões aberto todos os dias. Essas pessoas quando querem beber um café ou comprar um maço de cigarros deslocam-se até à bomba de gasolina, que fica a uns meros 550 metros da porta da vila. Se quiserem ir ao supermercado, têm apenas de percorrer cerca de um quilómetro. Na vila muralhada propriamente
O turismo, quando levado ao expoente da caricatura, não produz qualquer tipo de experiência duradoura. É uma máquina de vaivém na qual o objectivo é tirar peso dos bolsos transferindo-o para às mãos. Óbidos é apenas um exemplo do estado terminal a que se pode chegar
dita, não há quase nada de extra-turístico. A eficiência do modelo de core business é absolutamente notável. Dado que uma elevadíssima percentagem do turismo de Óbidos é de curta duração (excursões de autocarros que despejam centenas de turistas de manhã para os recolherem à tarde), o atendimento não é propriamente excepcional. Não precisa de o ser: o bicho turista entra e sai dos sítios simplesmente porque os sítios estão ali. Não havendo qualquer diversidade de oferta e muito pouca variação de preços, o critério acaba por ser o acaso. Pelo que as pessoas atrás do balcão não estão de todo preocupadas com a fidelização dos clientes que passam pela porta. A simpatia no atendimento pode corresponder, no máximo e marginalmente, a uma ou outra gorjeta. O turismo, quando levado ao expoente da caricatura, não produz qualquer tipo de experiência duradoura. É uma máquina de vaivém na qual o objectivo é tirar peso dos bolsos transferindo-o para às mãos. Óbidos é apenas um exemplo do estado terminal a que se pode chegar. O Chiado e a baixa de Lisboa, embora até podendo levar muito mais tempo a descaracterizar desta forma tão grotesca, estão no bom caminho.
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Folhetim Fernando Sobral
25.10.2019 sexta-feira
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A Grande Dama do Chá
O
fumo criava desenhos estranhos nas salas do “Bambu Vermelho”, agitado pelas ventoinhas colocadas no tecto. Pareciam dragões ou grandes peixes que se moviam sem parar, como se fossem fantasmas que ora apareciam, ora desapareciam e se transformavam noutros seres. As mesas estavam repletas de chineses que, encostados uns contra os outros, fumavam e apostavam em todo o tipo de jogos. Muitos deles, refugiados da guerra, tinham muitas histórias, algumas inacreditáveis, para contar. Mas, de noite, escondiam-nas nas profundezas da alma e libertavam todos os outros sentimentos. De vez em quando sorriam, quando as raparigas que deambulavam pelas salas se encostavam a eles e lhes propunham outros jogos, mais físicos. A maioria recusava. Não estavam alegres nem tristes. As suas faces apenas denotavam uma falta de energia, a pouca que lhes restava, e um instinto de sobrevivência que os mantinha vivos. O jogo era uma transfusão de sangue. Luc LeFranc estava numa mesa discreta, longe daquelas onde se jogava mah-jong e outros jogos chineses, com outros três jogadores. O póquer era a sua vida naquela noite. Numa pequena sala, resguardada por um biombo, Cândido Vilaça estava sentado com Marina Kaplan e Jin Shixin. O fumo torna a vista viciada, o que nem sempre nos permite perceber a realidade. Mas locais como aquele desejavam que a irrealidade absorvesse a nitidez. Para que todos se sentissem donos de uma felicidade aparente, aquela que todos buscavam mas era impossível de descobrir, pensou Cândido. Sentia-se destroçado pela fuga, sem explicações, de Prazeres da Costa. Marina olhava para ele e tentou confortá-lo. Mais fria, Jin explicou-lhe que, para fugir, ele precisava de cortar todos os laços emocionais. De outra forma, não poderia desaparecer sem deixar rasto. - Meu querido Cândido, cada tempo cria as suas próprias ilusões. Muitas vezes prometem o céu e trazem apenas o inferno. - Sempre sonhei que ia descobrir o paraíso. Marina tocou com os dedos no braço dele, antes de dizer: - Não foi isso que imaginámos todos? Jin Shixin agarrou no seu copo de vodka e bebeu um pouco. Passou a língua pelos lábios, num gesto desafiador. O seu olhos estavam fixos em Cândido. Marina compreendeu, e sorriu. Jin disse: - Tudo acaba mal na vida. Os finais felizes são uma invenção dos filmes, daqueles que às vezes iamos ver nos finais de tarde em Xangai, Marina. - Nesses dias pensávamos que o mundo
não ia acabar. Mas viviamos num equívoco. Ou melhor, eu vivia. A Jin sempre seguiu um caminho desenhado pelo seu mestre Du. Eu acomodava-me. Mas não era uma fiel, como ela. Não era uma crítica. Era uma constatação. Jin fechou os olhos, numa secreta concordância. - E Du, onde está ele, Jin? Em Hong Kong? - Acredito que sim. A sua voz era convincente. Mas Marina, que tinha outros meios de informação, sorriu. A intervenão de Luc LeFranc no caso da resolução da dívida de Prazeres da Costa não tinha tido só o dedo de Jin. Esta olhou para a russa e, compreendendo o que ela estava a pensar, disse: - Isso é irrelevante. O que importa e que os japoneses não saibam onde ele está. Ninguém consegue voltar atrás, Marina. O mal que os homens fazem, persiste. Não há cura para que o que fazemos. Cada acção é absoluta e eterna a sua consequência. Nem o vosso Deus vos salva disso. - Talvez não, Jin. Mas nós, que acreditamos mais ou menos em Deus, acreditamos na salvação final. E tu, Cândido? - Eu sou um refugiado dum mundo mágico que não domino. - Só quando tocas o teu saxofone e pões as pessoas a dançar consegues iludir o feitiço. - Ou quando estou apaixonado. Olhou para Jin. Esta desviou os olhos. Estava inquieta. Marina levantou-se e saiu da sala. Ia ver como estava
o ambiente, incluindo nas salas reservadas, onde o ópio era servido aos clientes que se deitavam à espera de pacificarem os seus corpos e pensamentos. Luc LeFranc, por momentos, deixou de olhar para as cartas e para as faces dos outros jogadores e seguiu-a com o olhar. De repente Marina reviu Li Pao. A sua face estava envelhecida, mas era o mesmo fotógrafo que, em anos anteriores, era conhecido como aquele que transformava os corpos das raparigas de Xangai em motivos de desejo, através de calendários e postais muito coloridos e belos. - Que fazes aqui, Li Pao? Ele surpreendeu-se e depois fez um sorriso triste: - Estou a repousar durante uns dias. Vou para as Filipinas. Por lá há paz. - Por enquanto. - Achas que a guerra chegará lá? Eu apenas desejo fazer as minhas fotos. - Ninguém é inocente num mundo de pecadores, Li Pao. E as raparigas ficaram em Xangai. Em Manila são menos inocentes. Marina colocou-lhe a mão no ombro. Junto deles estava uma rapariga filipina que o levou para uma das salas de ópio. Li Pao parecia vergado ao peso das suas dúvidas. Nesse momento deparou-se com Popoff. O sempre glacial russo, parecia transtornado. Ele perguntou: - A menina Jin está por cá? - Está. Eu levo-te até ela. Caminharam um pouco até chegarem ao reservado onde Jin e Cândido, de
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mãos dadas, falavam. A chinesa mostrou um ar surpreendido com a chegada do russo: - O que aconteceu, Patapoff. - Uma coisa muito estranha, menina Jin. Um grupo de pescadores chegou há pouco a Macau com um corpo que estava a boiar e que eles recolheram. Pelos vistos estava preso a algo pesado, mas as cordas desprenderam-se e veio à superfície. Como são nossos amigos chamaram-me antes de contactarem a polícia. Era o corpo de uma mulher branca. Tinha sido morta com um tiro junto ao coração. Os olhos de Jin brilharam: - Sabes quem era? - Penso não me ter enganado. Mas acho que era o corpo da senhora Amélia, com quem o senhor Prazeres da Costa fugira, segundo me tinham contado. Cândido sabia que fora Jin que informara Potapoff. Mas este acontecimento contradizia Nomura. Ou Prazeres da Costa fugira e matara, por uma razão desconhecida, Amélia. Ou ambos tinham sido mortos pelos japoneses. E só faltava encontrar o corpo do português. Olhou para Jin e, depois, para Marina. Ambos estavam a pensar o mesmo. Jin disse então: - Agora sim, os dados estão lançados. Não há mais tempo para jogos nas sombras. Virou-se para Potapoff e acrescentou: - Vai informar quem deve saber de tudo isto. Depois, quando regressares, falaremos. Potapoff fez uma ligeira vénia e saiu. Jin virou-se para Cândido: - Tens medo, Cândido? - Deixei de saber o que é isso. Marina sentou-se junto a eles, depois de ter ido buscar uma garrafa de vodka. Despejou uma boa porção em três copos e agarrou num deles. Bbbeu o seu conteúdo de um trago. Virou-se para Cândido: - Sabes, um dia conheci um padre jesuíta em Xangai. Definia-se como um marinheiro do Papa. E disse-me que que com eles tinha aprendido lógica, metodologia e sentido de justiça. - É preciso que se faça justiça por Prazeres da Costa. Mesmo apesar dos seus erros. - Sim, o que custa é morrer para nada. Jin disse, numa voz firme: - Neste caso poderemos perecer. Mas será por uma causa. O olhar de Jin faiscava. Cândido nunca vira tanta certeza concentrada nas íris de uma mulher. Horas mais tarde, quando Potapoff se foi embora da casa de Jin, esta veio ter com Cândido. Este estava deitado na cama. Ela voltou a despir-se e colocou-se em cima dele. Nas guerras não há empates. E, nessa noite, Jin derrotou-o. Só parou, quando ele lhe pediu para dormir.
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EXPOSIÇÃO | “QUIETUDE E CLARIDADE: OBRAS DE CHEN ZHIFO DA COLECÇÃO DO MUSEU DE NANJING” MAM | Até 17 /11
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SALA 1
MALEFICENT:MISTRESS OF EVIL [B] FALADO EM INGLÊS LEGENDADO EM CHINÊS Um filme de: Joachim Ronning Com: Angelina Jolie, Elle Fanning, Chiwetel Ejiofor, Sam Riley 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2
A WITNESS OUT OF BLUE [C] FALADO EM CANTONÊS
LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Chih-Chiang Fung Com: Louis Koo, Louis Cheung, Jessica Hsuan, Cherry Ngan, Philip Keung 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 3
JOKER [C] Um filme de: Todd Phillips Com: Joaquin Phoenix, Robert de Niro, Zazie Beetz 14.30, 16.45, 19.15, 21.30
MAIS UM RONALDO! 49
Mario Ho, filho de Stanley Ho e Angela Leong, foi ontem pai pela primeira vez de um menino que se vai chamar Ronaldo Ho. A notícia foi partilhada nas redes sociais pelo empresário, que é casado com a mãe da criança, a modelo Ming Xi.
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“Shaun of the Dead” é um 7 melhores 43 5resultados 3 18da0 4dos parceria entre Simon Pegg 23O 7filme 2 6Frost. 4 3que41 e8 Nick retrata o apocalipse zombie 9 82 6 piscando 2 40o1 à moda inglesa, olho clássico 3 ao75 0 5do mestre 26 8 George Romero, é um filme 0 o54fim37 onde do 4 mundo 6 71é6 relativizado por humor bri6 9Shaun, 1 52 3 1 4 interpretado tânico. por Simon Pegg, aproveita 2 18 7para 0 8endireitar 9 05 9 o apocalipse a sua vida. Faz as pazes com o padrasto enquanto ele vira zombie, coloca a relação com a namorada no 2 caminho, 1 48e3resolve 5 8 a5 bom situação de co-dependência 5 o6seu 9melhor 2 3 6com 2 73amigo. Este foi o primeiro filme 0 7 1 6 9 de4 7trilogia protagonizada pela 8 britânica 5 06Pegg 97e Frost, 6 7 5dupla intitulada “Three Flavours 3 48 20João8Luz 1 09 1 Cornetto”.
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Tenham vergonha na cara! O caso do homem que matou, involuntariamente, a estudante de 22 anos é uma página negra para a História da RAEM. É impensável que a Justiça, com a conivência dos Serviços de Alfândega, permita que o homem regresse ao Interior da China, de onde não vai voltar mais. Se calhar quem está no poder acha que o pagamento de 8 milhões de patacas resolve tudo e que a vida de um residente nem vale assim tanto... Não me admirava. É uma Justiça para ricos e amigos. As autoridades já por várias vezes mostraram aquilo que em Portugal se chama a ética republicana: para os amigos tudo, para os outros a lei. Quando Albano Martins mostrou um vídeo de um agente a espancar um cão, conseguiram pegar no caso e constituí-lo arguido. Imperou o bom-senso de alguém para ilibá-lo, mas a “mensagem pretendida” passou para a sociedade. Quando os manifestantes do Pearl Horizon bateram nos agentes da PSP, o secretário fechou os olhos, porque “o Governo tem simpatia” com a causa dos manifestantes. É pena que9se preocupe 6 3 mais 1 com 0 os5agentes 7 8 de Hong Kong do que com os de Macau. Quando7o filho 2 de8uma6pessoa 3 rica 4 andou 5 9 a fazer grafitis, que ainda estão numa das 4 1histórica 9 da 2 RAEM, 6 8as 7 paredes0da zona autoridades agiram como se nada se tivesse 7 é tudo 2 tão 0 imundo 8 9e tão1às 4 passado.5Enfim claras que devia envergonhar 3 8 5 4 1 quem 7 9tem 2 responsabilidades. Só que não envergonha, como ainda 6 é1motivo 0 de2orgulho 4 pelo 8 “sen3 5 tido de missão”. E no meio disto tudo, quem menos interessa locais, 4 9 são7os residentes 3 6 0 2de 1 quem apenas se espera que fiquem calados, 8 3 4e batam 5 palmas, 7 2 apesar 6 0 sejam patrióticos das constantes provocações gratuitas, como 1por0parte9de quem 8 manda... 5 3 Depois 4 6 mais esta, disto, ainda têm dificuldades em perceber a 2ao reconhecimento 5 6 7 9mútuo1da carta 0 3 oposição de condução? João Santos Filipe
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SOLUÇÃO DO PROBLEMA 49
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S U D O K U
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MALEFICENT:MISTRESS OF EVIL
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“SENTIDO DE MISSÃO”
EXPOSIÇÃO | EXPOSIÇÃO DE PINTURA LUSÓFONA Clube Militar | 26 de Outubro
C I N E M A
YUAN
VIDA DE CÃO
EXPOSIÇÃO | “LÍNGUA FRANCA – 2ª EXPOSIÇÃO ANUAL DE ARTES ENTRE A CHINA E OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA” Vivendas Verdes e Antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino Até 8 de Dezembro
Cineteatro
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SHAUN OF THE DEAD | EDGAR WRIGHT
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de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
18 opinião
25.10.2019 sexta-feira
um grito no deserto
E
Os próximos dois meses
M menos de dois meses Macau vai celebrar o 20º aniversário do Regresso à Mãe Pátria. Nessa altura, de acordo com a prática habitual, o Presidente Xi Jinping irá estar presente nas celebrações. Mas, não posso deixar de me interrogar em que ponto estará a situação de Hong Kong por essa altura? Os protestos e as manifestações continuam a acontecer em Hong Kong há mais de quatro meses. Não terminaram com a promulgação da “Lei Anti-Máscaras” e, antes pelo contrário, estas acções têm vindo a intensificar-se. Os conflitos entre a Polícia e os manifestantes não mostram sinais de chegar ao fim. Nas reportagens transmitidas na televisão, podemos ver que ambas as partes se insultam mutuamente. Estes insultos são mais chocantes por parte dos agentes da autoridade, na medida em que a sua formação profissional os deveria impedir de ter estes comportamentos. Lembro-me de há muitos anos atrás ter ido com uns amigos ver um jogo de futebol ao Campo Militar (que já foi demolido) na zona da Areia Preta. Como o Campo não estava aberto ao público, um polícia apareceu e mandou-nos sair. O acontecimento em si não teve nada de especial, mas como éramos muito jovens, reagimos impulsivamente e discutimos com o polícia. Como sabiamos que insultar um agente da autoridade é incorrer em delito, argumentámos com respeito. No entanto, o jovem polícia não conseguiu conter-se e utilizou palavras insultuosas e menos apropriadas. Lembrámo-lo de imediato que, enquanto vestisse uniforme, não podia usar aquela linguagem. Os agentes da autoridade estão proíbidos de utilizar palavrões e insultos, uma regra que visa manter o respeito e a cortesia da polícia na sua relação com a população e, sobretudo, a boa imagem da Força Policial. Depois de ter sido chamado à atenção pela escolha desapropriada de palavras, o jovem polícia acalmou-se e foi embora em paz. Hoje, ouvi claramente, na reportagem a que estava a assitir na TV, os polícias de Hong Kong chamaram aos manifestantes “lixo”, “vocês não passam de lixo”. Se a polícia mantiver uma relação tensa com a população, não vai ter capacidade para controlar os protestos e a violência. Antes pelo contrário, como a violência gera violência, a escalada de distúrbios vai continuar. Exemplo disso é o incidente do passado domingo, em que a Mesquita em Tsim Sha Tsui foi acidentalmente atingida por jorros de água tingida de azul, com que a polícia procurava dispersar os manifestantes.
No dia seguinte (segunda-feira), a Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, e o Comissário da Polícia foram pessoalmente ao local pedir desculpas, de forma a evitar que este episódio pudesse vir a assumir proporções dramáticas, o que revelou uma atitude digna de apreço. Se o Governo de Hong Kong tivesse agido de forma semelhante noutras situações conflituosas, estou em crer que muitos dos problemas que entretanto surgiram já estariam sanados. Infelizmente, nem toda a gente pensa que esta é a forma correcta de agir. Antes da promulgação da “Lei Anti-Máscaras” em Hong Kong, comentei com várias pessoas a lei só viria piorar a situação e provocar mais conflitos. Os problemas que Hong Kong enfrenta actualmente não podem ser resolvidos desta forma. O Governo vai ter de encontrar maneira de lidar com as exigências
dos manifestantes criando uma comissão de inquérito independente para averiguar a actuação da Polícia e restabelecendo a credibilidade das forças da autoridade. A promulgação da “Lei Anti-Máscaras” provou ser um passo em falso de Carrie Lam, que tem apostado
Se a situação de Hong Kong não se puder resolver nos próximos dois meses, o Governo de Macau vai ter muita dificuldade em organizar a vinda do líder da China para presidir às cerimónias do 20º aniversário do Regresso de Macau à Mãe Pátria
Ex-deputado e antigo membro da Associação Novo Macau Democrático
PAUL CHAN WAI CHI
em medidas paliativas, incapazes de sarar os problemas sociais que afligem Hong Kong. Espero que o Governo de Hong Kong venha a tirar ilações desta situação que se arrasta há mais de quatro meses, e que procure de forma empenhada ultrapassar as contradições sociais nos dois meses que se avizinham. Espero também que não promulgue mais medidas restritivas, nem que adie ou cancele as eleições para o Conselho Distrital. Se a situação de Hong Kong não se puder resolver nos próximos dois meses, o Governo de Macau vai ter muita dificuldade em organizar a vinda do líder da China para presidir às cerimónias do 20º aniversário do Regresso de Macau à Mãe Pátria. Se este problema não se resolver, virá a afectar a população de Macau e, possivelmente, os resultados das eleições gerais de Taiwan, que vão ter lugar em Janeiro de 2020.
opinião 19
sexta-feira 25.10.2019
JORGE MENEZES *
A
S declarações do Dr. Jorge Neto Valente, para os microfones e as câmaras de televisão, sobre uma ameaça grave recentemente noticiada (com base numa carta que enviara para Lisboa), surpreenderam-me. Foi penoso ouvi-las: pela minha família, pelos advogados que ele representa e por Macau. As pessoas que me conhecem formarão livremente o seu julgamento. Os que não me conhecem, porém, terão só o benefício das declarações públicas do presidente da Associação dos Advogados de Macau (AAM), pois não farei aqui uma defesa da minha integridade. Para além de terem desviado a atenção sobre o que realmente interessava – a ameaça –, as declarações surpreenderam-me pela falta de elevação, de postura institucional, pela pessoalização e, acima de tudo, pela insensibilidade humana que revelaram. Foi pena, pois vieram na sequência de declarações lúcidas suas sobre o Acórdão do TUI proibindo manifestações em Macau. O Dr. Neto Valente começou como terminou, insistindo e repetindo que desconhecia, ao final da tarde, uma notícia dada de manhã, com grande destaque, sobre ameaças a um advogado. No dia de abertura do ano judiciário, não viu jornais, nem falou com quem os tivesse visto. Perguntado se achava normal um advogado, que já fora atacado, voltar a ser ameaçado, respondeu “não sei, não sei, não sei”. Daí em diante partiu para a pessoalização: “não vou pronunciar-me sobre um advogado com quem, aliás, não tenho boas relações, por razões que ele sabe quais são”. “Mas o Dr. é presidente da AAM”, retorquiu o jornalista, “mas eu não sou obrigado a aturar…” e, quando o jornalista notou, “mas ele pode ser…”, o presidente da AAM interrompeu: “ele pode ser o que ele quiser, mas comigo não é nada, porque eu já o conheço há muitos anos, há mais de 20 anos que o conheço, e não quero comentar sobre a personalidade dele, porque se eu comentar sobre a personalidade dele, é ele que vai fazer queixa de mim, percebe… O que eu penso sobre ele é susceptível de fundamentar uma queixa dele contra mim por achar que eu o estou a difamar, compreende?” Apesar de o jornalista reiterar que não estava em causa a pessoa, mas a ameaça, prosseguiu, “O que eu penso dele é bastante mau e não vou dizer mais nada”. Perante a insistência, “o Dr. é presidente da Associa-
Jorge Neto Valente ção dos Advogados…”, respondeu “Mas, e então, acha que eu sou polícia?”. Pressionado por inúmeras insistências dos jornalistas, após dizer “são casos pessoais, não interessam a ninguém”, acabou por conceder, no final, “com certeza que eu não vou defender que algum advogado seja ameaçado ou atacado”. Com certeza que não. Foi isto que o presidente da AAM teve para dizer quando instado a comentar uma ameaça grave a um familiar de um advogado inscrito na associação a que preside. Pareceu questionar a sua veracidade (“ele diz que foi ameaçado, então…”), desvalorizou-a e, em vez de se revoltar contra os autores de uma ameaça cruel, atacou o advogado ameaçado. Eu também conheço o Dr. Neto Valente há mais de 20 anos, dois dos quais passados no seu escritório. E bem. Fui, aliás, o advogado que ele escolheu para o representar numa causa sua, pessoal. Quando foi raptado, há 19 anos, escrevi-lhe de Inglaterra, estava ele no hospital,
expressando revolta pela barbaridade do rapto e felicidade por o saber de saúde, pronto para retomar o seu rumo. Escrever-lhe-ia, de novo, carta idêntica se aquele brutal infortúnio tivesse ocorrido hoje. O Dr. Neto Valente, um advogado muito inteligente, tem tantas razões para não ter boas relações comigo quantas as vezes que critiquei ou discordei de posições que veiculou. A grandeza de espírito manifesta-se em saber distinguir questões ‘pessoais’ de deveres institucionais. E em saber ouvir críticas. Porém, e para que fique cristalinamente claro, os nossos diferendos não são pessoais. Os nossos diferendos são profissionais, deontológicos e cívicos. Para quem critica os tribunais assiduamente, num tom nem sempre decoroso, saber aceitar discordâncias não lhe ficaria mal: as liberdades afirmam-se exercitando-as, não tanto apregoando-as. Se os juízes julgassem causas com a parcialidade anunciada por
este presidente, viveríamos num ‘estado do torto’, não num estado de direito. Lamento que não tenha tido a coragem para declamar a trova que anunciara, partilhando o que de terrível disse saber sobre mim desde há 20 anos. Esquivou-se, encolhido, sem mais dizer, atrás do receio confessado de que eu o processasse por difamação. Deixo aqui a garantia pública de que não processarei o Dr. Neto Valente por difamação, se ele tiver a integridade de revelar aquilo que diz que sabe que eu sei. Mais tudo o resto. E não o processaria de qualquer modo. Acredito que a liberdade de expressão não deve ser criminalizada, salvo em casos extremos, e que palavras se combatem com palavras, não com tribunais e polícias. Garanto, ainda, que, se tiver a coragem de revelar aquilo que tem em mente, não serei tímido: responderei, documentadamente. Não é edificante o presidente insinuar que um advogado é pessoa indigna sem dizer porquê, impedindo que o mesmo faça a defesa do seu carácter, quando o exercício da advocacia depende da nossa reputação. Não revela coragem. Não revela verticalidade. Fiquei a saber que, apesar de ser membro da AAM desde 1998, não posso contar com ela, porque o presidente não gosta das minhas críticas e opiniões. Se dúvidas houvesse, o presidente desfê-las: não dá apoio àqueles de quem não gosta. A AAM existe para quem se cale, concorde ou amigue do presidente. Estas suas declarações, de tão insensatas, visarão, talvez, descredibilizar futuras divergências que o presidente receie possam ocorrer. De ora em diante, crítica que lhe fizesse seria vista como resposta a esta arremessada, como decorrência de uma mera “questiúncula pessoal”, um pueril esbracejar no ringue, não já como uma tomada de posição séria, isenta e ponderada sobre valores estruturantes da nossa comunidade. É uma táctica antiga: golpear o mensageiro para suprimir a mensagem. Não se consegue, porém, perceber por que razão o presidente da AAM escolheu este, de todos os momentos possíveis, para expressar tamanha animosidade para com um colega, quando era seu dever institucional, e da Direcção a que preside, manifestar solidariedade como tantos informalmente fizeram. De facto, sentido de oportunidade não lhe faltou: Jorge Neto Valente lançou este ataque, tão infame quanto vácuo, no dia em que foi tornado público que máfias locais, apercebendo-se que ameaças contra mim não surtiram efeito, terão tentado coarctar e controlar o exercício livre e convicto da minha profissão, dirigindo uma ameaça grave àqueles cuja protecção jurei assegurar e cuja existência dá sentido à vida. Contexto mais vil do que este não conheço. * Advogado
Quando não se pensa no que se diz, diz-se o que se pensa. PALAVRA DO DIA
Jacinto Benavente y Martinez
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Valores de bolso Bolsonaro diz que China é um "país capitalista"
O
Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, recusou ontem, à chegada à China, qualquer problema em reunir-se com o homólogo chinês e secretário-geral do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, considerando estar num "país capitalista". Em declarações aos jornalistas no hotel onde está alojado, em Pequim, Bolsonaro assinalou que quer integrar-se "sem qualquer preconceito ideológico nas economias do mundo" e que fará "o que for possível para o desenvolvimento do país". "Estou num país capitalista", disse o Presidente brasileiro, eleito pelo Partido Social Liberal (PSL), de direita, perante a insistência dos jornalistas sobre se seria problemático encontrar-se com os dirigentes comunistas chineses. Adiantou ainda que o Brasil não pretende imiscuir-se na guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, considerando que não é "uma luta" brasileira.
A China é, desde 2009, o maior parceiro comercial do Brasil, com as trocas bilaterais a atingirem os 98.900 milhões de dólares em 2018 Por outro lado, quando questionado sobre se os investimentos da multinacional tecnológica chinesa Huawei seriam bem acolhidos no Brasil, Jair Bolsonaro considerou que "por agora, essa hipótese está fora do radar". Os Estados Unidos pressionaram o Brasil para que a Huawei - empresa com a qual as companhias norte-americanas estão proibidas de fazer negócios - seja impedida de participar em licitações no país. Jair Bolsonaro afirmou-se ainda satisfeito com a posição "equidistante" da China na questão dos incêndios na Amazónia,
mostrando-se convicto de que continuará assim.
O GRANDE PARCEIRO
O Presidente do Brasil chegou ontem a Pequim, mas a visita oficial ao país só começará na sexta-feira quando se reunir com o Presidente da China, Xi Jinping, e com o primeiro-ministro Li Keqiang, além de participar num encontro empresarial entre o Brasil e a China. A China é, desde 2009, o maior parceiro comercial do Brasil, com as trocas bilaterais a atingirem os 98.900 milhões de dólares em 2018. Em 2018, as exportações para a China representaram 26,8 por cento do total das vendas do Brasil ao exterior e atingiram um pico de 64,2 mil milhões de dólares, beneficiando em parte das disputas comerciais entre Pequim e Washington. No entanto, o Governo chinês afirmou ontem olhar a cooperação com o Brasil de uma perspectiva "estratégica" e a "longo prazo", considerando que a cooperação bilateral "não se deve restringir à economia e comércio". Em declarações à agência Lusa, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês disse que os dois países devem "orientar o desenvolvimento em todas as dimensões". "Esperamos que esta visita sirva para avançar com a cooperação e gerar novas perspectivas", afirmou Hua Chunying. A eleição de Bolsonaro foi inicialmente recebida com apreensão pelas autoridades chinesas, face à sua aproximação a Taiwan e críticas feitas ao investimento chinês durante a campanha. Bolsonaro tomou posse no início deste ano com a promessa de reformular a política externa brasileira, com uma reaproximação aos Estados Unidos, e pondo em causa décadas de aliança com o mundo emergente. O Presidente brasileiro tem promovido um alinhamento com o homólogo norte-americano, Donald Trump, que deverá ter consequências directas nos fóruns multilaterais, negociações sobre o clima, Defesa ou conflito Israel-Palestina.
sexta-feira 25.10.2019