SEXTA-FEIRA 26 DE MAIO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3820 TATIANA LAGES
DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
CASAMENTO GAY
Tem nó de mim
MOP$10
OPINIÃO
Brincar aos chefes
GRANDE PLANO
ISABEL CASTRO
LIGA DE ELITE
Tudo ou nada
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hojemacau
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
TIAGO ALCÂNTARA
PÁGINA 19
TÁXIS GOVERNO PROPÕE NOVA SUBIDA DE TARIFAS
Senta-te e paga PÁGINA 9
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ANÁLISE MACAU DISTANTE DO EXEMPLO DE TAIWAN NO QUE TOCA A DIREITOS LGBT
GRANDE PLANO
TAO PERTO... O Tribunal Constitucional de Taiwan decidiu que os casais do mesmo sexo podem contrair matrimónio, ficando em pé de igualdade de direitos com os casais heterossexuais. Taiwan torna-se assim no primeiro país asiático a legalizar o casamento gay. Apesar da conquista pioneira da Ilha Formosa, em Macau os direitos LGBT parecem congelados
VIVER NA SOMBRA
Quando a Associação Arco-Íris se formou, a comunidade estava muito escondida em Macau, uma
“Acho que um dia poderá ser atingido em Macau, mas ainda é cedo para se falar em igualdade no casamento, para já é apenas um sonho.” ANTHONY LAM PRESIDENTE DA ARCO-ÍRIS MACAU
situação que conheceu poucos avanços até hoje. Os gays e lésbicas do território “tendem a ser invisíveis porque não sentem apoio suficiente para saírem do armário e viverem confortavelmente como eles próprios”, releva Anthony Lam. Assumir a identidade sexual pode levar a “discriminação, pressão familiar e de amigos, e há o medo de perder o emprego porque os patrões podem não gostar da sua orientação”, explica o activista. O presidente da Arco-Íris encontra vários empecilhos institucionais na luta pela igualdade, nomeadamente uma classe política e legislativa que não apoia a comunidade LGBT. “As autoridades têm implementada uma política “dont ask, dont tell”, ou seja, é como se não existissem, ficando sem capacidade para influenciar as esferas de poder. Algo que empurra as pessoas para a obscuridade. Melody Lu, académica especialista em questões ligadas ao género, considera que em Macau a comunidade gay e lésbica tende a agrupar-se mais num sentido social. Existem alguns focos de activismo, mas sem a força mobilizadora capaz de pressionar o poder. “Pelo que vejo, na generalidade, as pessoas em Macau não são muito dadas a activismo, excepto um pequeno número de pessoas”, conta a académica. Assumir a sexualidade enquanto gay, ou lésbica, é um passo complicado, em especial numa sociedade asiática. Mesmo em Hong Kong, ou Taiwan, “ainda se vive muito um estilo de vida influenciado pelo tabu social e as pessoas só se assumem num grupo pequeno e selectivo”, revela Melody Lu. Muitas vezes, nem os próprios pais sabem da orientação sexual dos filhos. A académica vê em Macau uma particularidade que não ajuda. “É
CLIPARTBAY
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OUCO mais de 800 quilómetros separam Taiwan de Macau, uma viagem de avião que demora uma hora e pouco. Descolar, ler um capítulo de um livro e a descida para aterrar inicia-se. Porém, em termos de igualdade e de luta pelos direitos civis a distância é grande. Esta semana, uma longa batalha de um activista de Taiwan culminou numa decisão histórica do Tribunal Constitucional, que declarou que pessoas do mesmo sexo têm o direito a casarem. A Ilha Formosa abre, assim, o caminho na Ásia no que toca a igualdade perante a lei, sendo o primeiro território asiático a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A decisão do tribunal superior deu dois anos ao legislador para alterar o Código Civil, que define o casamento como um contrato apenas entre um homem e uma mulher, a fim de respeitar o direito à igualdade. Anthony Lam, presidente da Arco-Íris de Macau, quando questionado se acha possível seguir os passos de Taiwan, ri-se antes de responder. “Acho que um dia poderá ser atingido em Macau, mas ainda é cedo para se falar em igualdade no casamento, para já é apenas um sonho.” Na opinião do activista de direitos LGBT, a situação é complicada, uma vez que não se protesta a favor da união de facto, nem contra a não inclusão de casais do mesmo sexo na lei da violência doméstica. A apatia na luta por direitos iguais é transversal à comunidade. “Do que percebi da situação da comunidade em Macau, acho que é muito difícil mobilizar as pessoas LGBT para a causa política, para que advoguem pelos seus direitos, ou mesmo assumirem-se em público”, conta Melody Lu, do departamento de sociologia da Universidade de Macau.
HOJE MACAU
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...E TAO LONGE uma cidade pequena no sentido em que tem várias redes sociais que se interligam, a palavra circula rápido, se te assumes para um pequeno grupo, toda a gente sabe”, explica. No fundo, a identidade LGBT tende a ficar restrita no grupo. “Portanto, os encontros sociais são tão importantes, porque é a única forma que encontram para serem eles próprios, em que não têm de se esconder”, esclarece Melody Lu. A académica entende as razões para esta clausura identitária, que é um mecanismo de defesa, mas considera que “assim é muito difícil avançarem para o próximo patamar”.
HOJE MACAU
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PIONEIROS PRECISAM-SE
S. é uma mulher na casa dos 20 anos que diz não sentir na pele muita discriminação, inclusive não vê problemas em dar a mão à namorada nas ruas de Macau. Porém, considera que “a sociedade de Macau continua a ver muito mal, sobretudo, os homens gays”, revela. Encontra o preconceito mais enraizado nas famílias mais tradicionais, algo que é transversal à idade e grau de ensino. Anthony Lam alarga o espectro preconceituoso, que não se circunscreve apenas a famílias chinesas, mas também a algumas portuguesas que reagem muito mal quando um familiar se assume como homossexual. O activista acha que a falta de sensibilidade das autoridades para os assuntos LGBT não ajuda a população a mudar de mentalidade, daí a importância da vitória dos activistas de Taiwan. “É um exemplo para toda a Ásia e que mostrará que a igualdade não terá efeitos negativos na sociedade”, projecta o presidente da Arco-Íris Macau. O caso taiwanês não surge do nada, mas é resultado de um longo
“Em Macau é muito difícil mobilizar as pessoas LGBT para a causa política, para que advoguem pelos seus direitos, ou mesmo para assumirem-se em público.” MELODY LU DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE MACAU
percurso de várias décadas. “Há 20 ou 30 anos estavam iguais a Macau, nem podiam assumir para eles a sua própria identidade, mas de repente aparece uma pessoa com coragem suficiente para se assumir”, conta Melody Lu. Chi Chia-wei, um gay que saiu do armário há mais de 40 anos, foi o autor do processo que terminou na decisão histórica do Tribunal Constitucional. “A longa jornada de aceitação e legalização de relações entre pessoas do mesmo sexo partiu de um indivíduo e agora mais de 250 mil pessoas participaram no último protesto”, contextualiza a académica. Muitos jovens seguiram o exemplo de coragem de Chi Chia-wei, que abriu as portas para muitos jovens. Na leitura de Melody Lu, “é preciso uma geração para mudar a atitude social”. A geração de S. pode ser fundamental para a revolução de mentalidades que urge impor-se em Macau. A jovem “gostaria de, no futuro, ter o direito de poder escolher casar”. Hoje em dia vive com a companheira com quem tem uma relação há quatro anos e faz parte de uma geração que pode ser rastilho da mudança. Para já, S. sente-se uma cidadã de segunda classe, por não ter os mesmos direitos dos seus amigos heterossexuais. A decisão desta semana do Tribunal Constitucional de Taiwan está a levar a um interesse entre a comunidade LGBT chinesa com os requisitos para emigrar para a ilha. É de salientar que apenas em 2001 as autoridades chinesas retiram a homossexualidade da lista de doenças mentais. Li Yinhe, professor da Academia Chinesa de Ciências Sociais, comentava ao South China Morning Post há uns anos que mesmo com a legalização do casamento gay em países ocidentais, Pequim ignoraria este progresso social justificando inacção com as diferenças culturais e de valores entre Ocidente e a China. O académico disse ao jornal baseado em Hong Kong que “não existe um único
S. “gostaria de no futuro ter o direito de poder escolher casar”. Hoje em dia vive com a companheira com quem tem uma relação há quatro anos e faz parte de uma geração que pode ser rastilho da mudança
legislador na Assembleia Popular Nacional que represente os interesses da comunidade LGBT”. Tanto por parte do Governo Central, como das autoridades de Macau, as questões relativas à homossexualidade são relegadas para o plano da insignificância. Tirando pontuais contactos com poucos resultados práticos, a invisibilidade atira uma comunidade para a inexistência em termos institucionais. Para a sociedade avançar no sentido de reconhecer a igualdade de direitos da comunidade LGBT, são necessários indivíduos que ajudem à evolução mentalidade. Pessoas como Anthony Lam e S.. João Luz
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4 POLÍTICA
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Deficiência DEFENDIDA OBRIGATORIEDADE DE CONTRATAÇÃO
Olhar para os outros O deputado Ng Kuok Cheong defendeu que as grandes empresas deviam ser obrigadas a contratar uma percentagem de trabalhadores deficientes, medida a aplicar também às operadoras do jogo. O Fundo de Segurança Social está a estudar a manutenção dos apoios à invalidez para quem tem emprego GCS
S apoios e a integração dos portadores de deficiência no mercado de trabalho foram ontem debatidos pelos deputados da Assembleia Legislativa (AL) numa sessão plenária reservada a interpelações orais. O deputado Ng Kuok Cheong sugeriu que as grandes empresas, incluindo as operadoras do jogo, deveriam ser obrigadas a contratar portadores de deficiência. “Qual o número de deficientes que são contratados pelas concessionárias de jogo? [O Governo deveria] obrigar as empresas a contratar, respeitando uma determinada percentagem de contratação de deficientes, para que haja um maior efeito”, disse ontem o deputado do campo pró-democrata. O deputado sugeriu mesmo que tal regra seja incluída aquando da revisão dos contratos de concessão do jogo. “Pode ser incluída nos novos contratos a obrigatoriedade das concessionárias em contratar mais deficientes”, acrescentou. Ng Kuok Cheong apontou ainda o dedo ao Governo, uma vez que, actualmente, apenas 73 funcionários públicos são portadores de deficiência, ou seja, menos de um por cento. “O Governo tem de levar a cabo uma revisão para que haja um maior acolhimento dos deficientes na Função Pública”, defendeu o deputado, que lembrou a necessidade de implementar o salário mínimo universal. Tal daria uma maior folga financeira a quem possui deficiência. “O Governo já prometeu implementar o salário mínimo universal, e as medidas devem ter em conta a nossa estrutura económica e as nossas vantagens, para que se consiga oferecer mais condições de trabalho a essas pessoas”, frisou. No seguimento das declarações de Ng Kuok Cheong, a deputada Angela Leong garantiu que as concessionárias do jogo contratam portadores de deficiência. “Muitas empresas, incluindo as seis operadoras, contratam deficientes, mas a conta não é feita dessa maneira. O Governo não deve descontar os subsídios aos deficientes que trabalham, porque muitas vezes são os idosos que têm de tomar conta
representante do Instituto de Acção Social (IAS) deixou no ar a ideia da implementação de “autocarros de reabilitação”. “Vamos tentar definir os itinerários percorridos por estes autocarros, para que os deficientes não necessitem de ficar à espera”, apontou. Já a deputada Chan Hong lançou críticas aos poucos resultados das medidas de reabilitação e integração dos portadores de deficiência. “Em 2007 o Governo lançou as medidas, e passaram dez anos. Porque é que os resultados não são notórios? Poucas empresas participam no plano e há muitas pessoas que dizem que o Governo não tem instruções e regras normativas para lidar com esta situação. O Governo apoia as pessoas em termos numéricos, mas em termos de sistema… Não sei se o Governo vai mudar o sistema”, declarou a deputada, referindo-se aos poucos apoios dados às empresas sociais.
“Vamos fazer uma revisão ao nível interno sobre o mecanismo de reintegração no mercado de trabalho das pessoas com deficiência.” RESPONSÁVEL DO FUNDO DE SEGURANÇA SOCIAL
dos seus filhos”, disse a deputada, que é também directora-executiva da Sociedade de Jogos de Macau.
OS ESTUDOS DO FSS
Muitos deputados quiseram saber por que motivo os portadores de deficiência deixam de ter alguns subsídios assim que encontram um emprego. A representante do Fundo de Segurança Social (FSS) garantiu que o organismo irá estudar
deputado Chui Sai Peng sugeriu ontem, na Assembleia Legislativa (AL), o alargamento do serviço de WiFi GO às Pequenas e Médias Empresas (PME) locais. “Muitas PME pretendem promover as suas actividades e produtos. Não sei se é viável, através do WiFi GO, a transmissão de informações comerciais. Poderiam
a possibilidade de manutenção do subsídio provisório de invalidez. “Vamos fazer uma revisão ao nível interno sobre o mecanismo de reintegração no mercado de trabalho das pessoas com deficiência. Vamos estudar se um deficiente que receba o subsídio de invalidez pode continuar a trabalhar sem que seja cancelado o subsídio”, prometeu. Na sua interpelação oral, a deputada Wong Kit Cheng fazia
referência ao facto de os portadores de deficiência receberem subsídios aquando da realização de acções de formação, sendo que, assim que arranjam um trabalho, as famílias perdem o apoio financeiro. Vários deputados lembraram que, para que exista uma maior integração dos deficientes na sociedade, é necessário construir ruas sem barreiras e autocarros com equipamentos para esse fim. Um
Rede só para alguns Governo não quer expandir WiFi GO a empresas
ser maximizados recursos e oferecer mais oportunidades às PME”, apontou. Contudo, Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, negou essa possibilidade. “Não temos a
intenção de proporcionar outros serviços a não ser o serviço de WiFi GO que já existe”, disse ontem no debate. Derbie Lau, directora dos Serviços de Correios e Telecomunicações, pro-
A única voz do contra foi a do deputado Tsui Wai Kwan, que considerou que o Governo deve ser poupado a críticas. “Desde o tempo em que Chui Sai On era secretário [dos Assuntos Sociais e Cultura] até agora, o apoio destinado aos deficientes nunca sofreu cortes. Quando dizem que o Governo é desumano, eu acho que não se justificam estas declarações. Se há espaço de melhoria? Há. O apoio aos que têm necessidades não sofreu cortes, mesmo com queda das receitas. Porque é que acusam o Governo de ser desumano?”, questionou.
meteu um reforço da rede e da transmissão de dados do sistema, após um relatório do Comissariado da Auditoria ter feito referência ao mau funcionamento do serviço. Raimundo do Rosário garantiu que não é objectivo do Governo disponibilizar o serviço de Wi-Fi Go em todos os pontos do território, mas naqueles mais
Andreia Sofia Silva
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frequentados, e apenas caso o aumento do turismo e da população o justifique. “Quando houver uma maior frequência de visitantes e residentes, o serviço vai ser alargado. Queremos proporcionar as estruturas básicas de uma cidade inteligente”, rematou. A.S.S.
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caso dos recrutamentos ilegais levados a cabo pelo Instituto Cultural (IC) foi tornado público na primeira metade de Março mas, na visão dos deputados à Assembleia Legislativa, há ainda muitas perguntas sem resposta. No debate de ontem, a deputada Song Pek Kei questionou as razões da permanência de Leung Hio Ming como presidente do IC. “O actual presidente está a ser alvo de uma investigação, como é que consegue continuar no cargo? É como se fosse um arguido”, acusou a deputada, fazendo referência ao processo disciplinar que foi instaurado a Leung Hio Ming e a outras chefias do IC à data dos factos, por ordem do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. “Será que apenas uma investigação interna consegue levar à recuperação da confiança por parte da população?”, perguntou ainda. Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça, deu ontem respostas a cinco interpelações orais dos deputados que versaram não só sobre o caso do IC, mas também sobre os recentes relatórios elaborados pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC) e Comissariado da Auditoria (CA). Alguns membros do hemiciclo alertaram para o facto de relatórios sucessivos apontarem, na sua maioria, ilegalidades e erros cometidos por funcionários públicos, sendo que nunca há respostas concretas por parte do Governo. Apesar das várias críticas, Sónia Chan considera que os trabalhadores que não cumprem a lei são uma minoria dentro da Administração. “As ovelhas negras são uma minoria. Estamos perante um ou outro caso, não é como disse o deputado Leong Veng Chai, que falou de muitos casos”, alegou a secretária. Em resposta ao deputado Ng Kuok Cheong, Sónia Chan afirmou que “o Governo já examinou a situação de contratação de pessoal por aquisição de bens e serviços, existindo presentemente cerca de dez casos semelhantes, que estão a ser resolvidos”. A secretária disse ainda que a aposta para melhorar a situação
AL QUESTIONADA CONTINUAÇÃO DO
PRESIDENTE DO INSTITUTO CULTURAL
“Ovelhas negras são minoria”
A deputada Song Pek Kei questionou ontem a continuidade de Leung Hio Ming à frente do Instituto Cultural, numa altura em que é alvo de um processo disciplinar. Num debate em que foi lembrado o caso dos terrenos da fábrica de panchões, Sónia Chan garantiu que os funcionários públicos incumpridores “são uma minoria” passa pelo reforço da formação dos funcionários públicos. “Devemos dar formação ao pessoal. Os serviços públicos na minha tutela vão rever toda a sua estrutura para
ver se há situações que devam ser melhoradas”, acrescentou. A falta de conhecimentos jurídicos foi levantada por vários deputados, mas Sónia Chan garantiu
“Os serviços públicos na minha tutela vão rever toda a sua estrutura para ver se há situações que devam ser melhoradas.”
que esse tipo de formação tem sido feito. E garante que há mudanças ao nível da transparência. “Temos envidado grandes esforços ao nível da reforma da Administração e foi elaborado um plano que teve o aval do Chefe do Executivo. Os relatórios das viagens realizadas ao exterior serão divulgados e haverá a divulgação dos concursos públicos. Na área da Administração e Justiça temos servido de referência”, considerou.
SÓNIA CHAN SECRETÁRIA PARA A ADMINISTRAÇÃO E JUSTIÇA
MALDITOS PANCHÕES
O relatório do CCAC referente aos terrenos localizados na zona da antiga fábrica de panchões, na Taipa, foi abordado no debate. Um responsável da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) falou dos detalhes mais recentes do caso. “Sabemos que o acordo assinado [permuta de terrenos] não satisfaz os requisitos legais e incorre numa nulidade. No local detectámos a existência de lixo e vários resíduos, e descobrimos que há parcelas privadas, bem como parcelas do Governo. Há parcelas que podem ser retomadas por órgãos públicos. Já enviámos cartas aos indivíduos para remover os resíduos. Vamos continuar a acompanhar o caso”, explicou. O deputado Au Kam San foi um dos que fez referência ao relatório dos terrenos na Taipa, tendo clamado pela construção de um
ambiente no território sem indícios de corrupção. “Será que os responsáveis pela permuta dos terrenos receberam alguns subornos ou receberam ordens superiores? Temos de apanhar os corruptos, mas as condições actuais permitem o aparecimento da corrupção. Como se pode melhorar esse ambiente?”, inquiriu. A pergunta ficou por responder. Sobre o relatório referente ao mau funcionamento do sistema WiFi GO, outro dos assuntos em destaque, Sónia Chan afiançou que a Direcção dos Serviços de Correios e Telecomunicações “está a empenhar-se em rever a qualidade dos serviços de operação e o trabalho de fiscalização”.
ELEIÇÕES ACTIVISMO PARA A DEMOCRACIA ENTREGA ASSINATURAS
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POLÍTICA
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movimento liderado por Lee Kin Yun, a Associação Activismo para a Democracia de Macau, entregou ontem cerca de 320 assinaturas junto da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa, num primeiro passo para formalizar a candidatura ao sufrágio
directo nas eleições de Setembro. A principal proposta de Lee Kin Yun é uma luta já antiga: o activista pretende lutar pelo sufrágio universal para as eleições do Chefe do Executivo e da Assembleia Legislativa. O cabeça-de-lista promete apresentar em breve o programa político da lista
que, para já, tem mais dois candidatos: Iam Weng Hong e Wu Shao Hong. O momento da entrega das assinaturas serviu para deixar algumas críticas ao modo como funcionam as autoridades responsáveis pelo controlo da legalidade das eleições. Lee Kin Yun conta que alguns dos
eleitores que inicialmente o apoiaram pediram, mais tarde, para que as assinaturas fossem apagadas, uma vez que “algumas associações e companhias grandes pediram aos seus trabalhadores” que se juntassem às suas candidaturas. “O Governo deve fiscalizar este fenómeno, não deve?”, lança
Andreia Sofia Silva
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o activista, dizendo que esta situação se verifica no sector do jogo. O responsável pela Associação Activismo para a Democracia de Macau garante ainda que há associações “ligadas à China” que continuam a recolher assinaturas mesmo depois de terem atingido o limite definido por lei, o que tem impacto negativo nas restantes candidaturas. V.N.
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7 POLÍTICA
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O Fórum Internacional sobre o Investimento e Construção de Infra-estruturas vai receber, nos dias 1 e 2 do próximo mês, representantes de 43 Estados e regiões, incluindo de oito países de língua portuguesa
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“sucesso” do fórum internacional “marcou o início de uma nova fase para a iniciativa, no que se refere à sua plena implementação”, afirmou, em conferência de imprensa, o presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), entidade organizadora. Jackson Chang destacou que o Fórum Internacional sobre o Investimento e Construção de Infraestruturas (IIICF, sigla em inglês) “terá um significado mais prático”. O fórum vai contar com 55 quadros de nível ministerial de 43 países e regiões, incluindo 12 abrangidos pela iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” e oito provenientes dos países de língua portuguesa, indicou a organização. No evento, que visa “proporcionar uma plataforma diversificada e inovadora de cooperação”, Portugal vai fazer-se representar pelos secretários de Estado da
Fórum sobre investimento MAIS DE 40 PAÍSES REPRESENTADOS EM MACAU
Tudo a olhar para a rota
Indústria e da Internacionalização, João Vasconcelos e Jorge Oliveira, respectivamente. Jorge Oliveira será um dos oradores de um seminário sobre a capacidade industrial e a cooperação financeira entre a China e os países de língua portuguesa, ao lado designadamente do ministro da Energia e Indústria da Guiné-Bissau, Florentino Mendes Pereira, e do chefe da divisão de investimentos do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Carlos Ribeiro Santana. Na parte da área financeira, participam ainda a secretária de Estado do Tesouro da Guiné-Bissau, Felicidade Abelha, o director do Património do Estado de São Tomé e Príncipe, António Aguiar, e o subdirector do Gabinete de Planeamento,
A AGENDA PORTUGUESA
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lém da participação no fórum, os secretários de Estado da Indústria e da Internacionalização portugueses vão marcar presença noutros eventos em Macau e na China. João Vasconcelos vai visitar empresas e aceleradoras de ‘startups’ em Shenzhen, e centros para jovens empreendedores na Ilha da Montanha, de acordo com o programa oficial da visita. Já no próximo dia 31, o secretário de Estado da Indústria inaugura a primeira exposição individual em Macau do artista português Alexandre Farto, conhecido como Vhils. Na deslocação, que começa na próxima segunda-feira, João Vasconcelos vai estar em Shenzhen para visitar a segunda maior empresa de telecomunicações chinesa, ZTE, e o acelerador de ‘startups’ de ‘hardware’ Hax.
O fórum vai contar com 55 quadros de nível ministerial de 43 países e regiões, incluindo 12 abrangidos pela iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais de Portugal, Luís Saramago.
A POLÍTICA DO MOMENTO
O destaque vai a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” – versão simplificada de “Faixa Económica da Rota da Seda e da Rota Marítima da Seda para o Século XXI” – sobretudo devido ao recente impulso do projecto de investimento em infra-estruturas liderado pela China. Este mês, durante o fórum internacional sobre as novas rotas da seda – que juntou líderes de três dezenas de países, em Pequim –, o Presidente da China, Xi Jinping, anunciou milhares de milhões de dólares para projectos que integrem o conceito, que o líder chinês apresentou, em 2013, durante uma visita à Ásia Central. A vice-presidente da Associação dos Constru-
tores Civis Internacionais da China, que também organiza o evento, anunciou que um dos principais PUB
destaques desta edição do fórum vai ser o lançamento do “Índice de Desenvolvimento de Infra-estruturas
na Estratégia ‘Uma Faixa, Uma Rota” e de um relatório. Esse relatório, baseado “principalmente em estudos aprofundados e avaliação sistemática” da “actual situação, tendências de desenvolvimento, oportunidades e riscos”, vai incluir “análises e interpretações” relativas ao “desenvolvimento de infra-estruturas nos oito países de língua portuguesa”, afirmou Yu Xiaohong, em conferência de imprensa. O fórum espera a participação de “mais de 14 mil quadros superiores de governos e elites do mundo empresarial e da área académica provenientes de mais de 60 países e regiões”.
8 SOCIEDADE
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TRABALHO MÃO-DE-OBRA IMPORTADA CONTINUA A ENCOLHER
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universo de mão-de-obra importada de Macau continuou a diminuir em Abril, em termos anuais homólogos, fixando-se em 179.662 trabalhadores não residentes. De acordo com dados da Polícia de Segurança Pública (PSP), disponíveis no portal da Direcção dos
Serviços para os Assuntos Laborais, Macau perdeu 1701 trabalhadores do exterior no intervalo de um ano e 217 em termos mensais, ou seja, face a Março. A China figura como a principal fonte da mão-de-obra importada de Macau, com 114.860 trabalhadores (63,9
por cento do total), mantendo uma larga distância das Filipinas, que ocupa o segundo lugar (27.255). Em terceiro lugar, surge o Vietname (14.803). O sector dos hotéis, restaurantes e similares absorve a maior fatia (50.039), seguido do da construção (34.869), ramo que registou
a maior quebra: no intervalo de um ano perdeu 8985 trabalhadores não residentes. Essa forte diminuição foi atenuada nomeadamente pelo aumento do número de trabalhadores no exterior nos hotéis, restaurantes e similares (mais 2677), de empregados domésticos (mais 2136) ou
do sector de actividades imobiliárias e serviços prestados às empresas (mais 1094) face a Abril de 2016. A mão-de-obra importada equivalia a 46,3 por cento da população activa e a 47,3 por cento da população empregada, estimadas no final de Março.
Ponte do Delta MACAU NÃO COMENTA CASO DE SUSPEITAS DE CORRUPÇÃO
O problema dos vizinhos O projecto é conjunto mas, por enquanto, Macau não se pronuncia sobre a questão, apesar de envolver a segurança de todos os futuros utentes. Em Hong Kong, as autoridades falaram mais do que é hábito, em nome da preocupação que a descoberta está a causar
• Tommy Lau deputado e empreiteiro “Nesta fase não deveríamos comentar o caso porque, se houver alguns riscos, temos de garantir que tudo está correcto.”
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notícia da detenção em Hong Kong de 21 funcionários de uma empresa acusada de falsificar testes ao betão usado na Ponte do Delta está a ser recebida em Macau com silêncio. Desde que, na passada terça-feira, se soube que a Comissão Independente contra a Corrupção (ICAC, na sigla inglesa) tinha este caso em mãos que o HM tem estado a tentar perceber, sem sucesso, como é que autoridades de Macau estão a seguir o processo. Até à hora de
fecho desta edição, não tinha sido possível obter qualquer comentário oficial. Esta semana, o ICAC anunciou que, na sequência de uma operação lançada na passada semana, deteve dois executivos, 14 técnicos de laboratório e cinco assistentes de laboratório que trabalhavam para uma empresa contratada pelo Departamento de Engenharia Civil e Desenvolvimento de Hong Kong. Os 21 funcionários da empresa, que não foi identificada pelas autoridades, foram libertados sob
fiança enquanto decorrem as investigações. O Governo de C.Y. Leung prometeu, de imediato, examinar a construção da ponte. “Se a situação não for assim tão grave, rever a existente construção é suficiente. Caso contrário, iremos tomar medidas sérias e consequentes acções”, garantiu o secretário para o Desenvolvimento, Eric Ma Siu-cheung. Fonte do HM conhecedora da obra, e que prefere não ser identificada, explica o que está em causa
quando existem dúvidas sobre a qualidade do betão utilizado. “Por norma, antes de um projecto começar, há testes para determinar as propriedades da mistura a utilizar”, contextualiza. Já no estaleiro, “fazem-se testes de controlo na chegada do betão à obra, a todos os camiões”. Uma vez que o material já foi utilizado, “terá de se fazer uma cabotagem e testar o betão de novo para ver se está ou não de acordo com os padrões”. Já foram levados a cabo alguns testes que não revelaram quaisquer
problemas, mas as operações de controlo de qualidade vão continuar nas próximas semanas.
SEM COMENTÁRIOS
A ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau é um projecto tripartido que envolve o Governo Central e os executivos das duas regiões administrativas especiais. Apesar de Macau ter uma participação directa na obra, o deputado Tommy Lau, oriundo do sector da construção civil, entende que o território não se deve pronunciar sobre a matéria. “O que sei dos media é que há uma investigação em curso e que está a ser feita de acordo na jurisdição de Hong Kong. Nesse contexto, não me cabe a mim comentar este caso”, disse ao HM. “Nesta fase não deveríamos comentar o caso porque, se houver alguns riscos, temos de garantir que tudo está correcto.” O empresário ressalva que, até ao momento, “não há nada que diga que, no que diz respeito a Macau, não existe o cumprimento das regras e padrões na construção da ponte”. Em Hong Kong, num gesto nada usual, o ICAC prestou esclarecimentos adicionais. “Tendo em conta a grande preocupação da população”, a comissão emitiu um comunicado em que assegurou que não há funcionários do Governo envolvidos na polémica. Para ontem estavam ainda prestados esclarecimentos adicionais por parte do Governo e de peritos em engenharia. Iniciadas em Dezembro de 2009, as obras de construção da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, com um comprimento de 29,6 quilómetros, deviam ter terminado no ano passado.Ainda não foi acordada uma data entre as três jurisdições para a abertura da estrutura. A ponte começa em San Shek Wan, na ilha de Lantau, e atravessa o Delta do Rio das Pérolas até Zhuhai e Macau. Parte da travessia será realizada através de um túnel subaquático de 6,7 quilómetros, que irá fazer a ligação entre duas ilhas artificiais, uma junto ao Aeroporto Internacional de Hong Kong e outra entre Zhuhai e Macau. Isabel Castro e Andreia Sofia Silva info@hojemacau.com.mo
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Táxis GOVERNO APRESENTOU ONTEM SUGESTÕES PARA AUMENTO DE TARIFAS
Os Serviços de Tráfego propuseram ontem o aumento das tarifas de táxis. De acordo com Lam Hin San, trata-se de uma subida razoável. Membros do Conselho consideram contudo que, sem o melhoramento dos serviços, pagamentos maiores não fazem sentido
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MA nova proposta de actualização das tarifas de táxis foi ontem apresentada pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT). A intenção foi avançada pelo director dos serviços, Lam Hin San, após uma reunião do Conselho Consultivo de Trânsito. De acordo com o responsável, a DSAT recebeu várias propostas de alteração por parte das associações do sector. Os valores dos aumentos vão dos 18 aos 22 por cento. Onze por
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• Lam Hin San, director dos Assuntos de Tráfego “A DSAT tomou em consideração vários dados estatísticos, incluindo a inflação registada nos últimos anos, e vai sugerir um aumento de duas patacas na bandeirada.”
cento terá sido o valor consensual e que foi proposto ontem pelo Governo. “A DSAT tomou em consideração vários dados estatísticos, incluindo a inflação registada nos últimos anos, e vai sugerir um aumento de duas patacas na bandeirada”, disse Lam Hin San. A distância de cada fracção pode também vir a sofrer alterações. Se até agora por cada 260 metros de trajecto eram cobradas duas patacas, a proposta da DSAT é que o valor se mantenha, mas por cada 240 metros.
MACAU A SALVO
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elativamente aos casos de falsificação de relatórios na construção da ponte que liga Hong Kong, Macau e Zhuhai, Lam Hin San entende que não há, para já, razões para preocupação. “A parte da ponte que abrange Hong Kong não tem qualquer problema”, começou por referir o director da DSAT, instado a comentar o assunto. O responsável avançou ainda que em Macau não há ainda conhecimento de qualquer situação que ponha em risco o troço que se junta ao território, “não tendo sido detectadas, até agora, quaisquer falhas ou irregularidades”, sublinhou. O responsável pela DSAT afirmou também que “a segurança da ponte não está posta em causa e está tudo a seguir o calendário previsto”.
As tarifas especiais também foram acolhidas. Foi sugerido um acréscimo de cinco patacas para quem vá para o novo Terminal Marítimo da Taipa ou para a Universidade de Macau. Pelo caminho ficou a proposta das associações de taxistas de subida das tarifas durante o período do Ano Novo Chinês.
QUALIDADE DUVIDOSA
Já o vogal do Conselho Consultivo do Trânsito Kuok Keng Man não deixou de frisar que “há muita gente que não está satisfeita com os serviços prestados pelos taxistas locais”. Por isso, os membros do conselho mostram-se relutantes em relação a uma actualização das tarifas. No entanto, refere o vogal, “há ainda quem considere que, para que existam melhorias de serviço, é necessária a garantia de uma remuneração adequada”. O Conselho Consultivo de Trânsito sugere que a DSAT considere a criação de um mecanismo de avaliação dos serviços para que haja um
aperfeiçoamento. Kuok Keng Man deu a entender que caberá às associações de taxistas a apresentação de uma proposta preliminar à DSAT, sendo que posteriormente será o Governo a avaliar o mecanismo, bem como a sua viabilidade.
MEDIDA PERMANENTE
Foi de acordo geral que a medida de tomada e largada de passageiros de autocarros de turismo na Rua D. Belchior de Carneiro passe de temporária a permanente. A decisão é implementada no dia 1 de Junho. Sobre as obras nas ruas, Lam Hin San diz que o Governo pretende dividir as estradas em quatro categorias, conforme a prioridade. “Vai ainda ser feita, de uma só vez, trabalhos de instalação de cabos eléctricos e de gás natural na zona norte para evitar obras repetidas”, rematou. Sofia Margarida Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
SOCIEDADE
NEGÓCIOS NOVO BANCO ÁSIA VENDIDO
O
Novo Banco concretizou a venda de 75 por cento do capital social do Novo Banco Ásia a um grupo de investidores liderado pela Well Link Group, com sede em Hong Kong, por 145,8 milhões de euros, anunciou a entidade. “O acordo de venda assinado prevê ainda um conjunto de opções de compra e venda, com condições já acordadas, que cobrem os restantes 25 por cento e são exercíveis num prazo até cinco anos, perfazendo um preço total para os 100 por cento de 183 milhões de euros”, revelou o Novo Banco no comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Segundo a entidade liderada por António Ramalho, a conclusão da primeira fase da transacção, nos termos e condições agora definidos, terá um impacto positivo significativo, estimado em 25 a 30 pontos base no rácio de capital ‘common equity tier 1’ (CET1) do Novo Banco. “Esta transacção representa mais um importante passo no processo de desinvestimento de activos não estratégicos do Novo Banco, prosseguindo a sua estratégia de foco no negócio bancário doméstico e ibérico”, salientou o banco de transição resultante da intervenção das autoridades no antigo Banco Espírito Santo (BES), no Verão de 2014. “No entanto, a manutenção de uma presença accionista do Novo Banco no capital do Novo Banco Ásia nos próximos cinco anos permitirá desenvolver o seu pilar estratégico de apoio à exportação e internacionalização das empresas portuguesas numa zona geográfica tão importante, designadamente em toda a sua componente do ‘trade finance’”, rematou o banco português.
DELTA RELATÓRIO MOSTRA AR COM MAIS QUALIDADE EM 2016
O ar do Delta do Rio das Pérolas no ano passado foi melhor do que em 2015. É a conclusão que se retira do Relatório sobre a Qualidade do Ar de 2016, publicado ontem. O documento baseia-se na medição da rede de monitorização, composta por 23 estações instaladas em Guangdong, Macau e Hong Kong, que concluiu que a qualidade atmosférica melhorou no ano transacto. As estações supervisionam os seus principais poluentes atmosféricos, ou seja, o dióxido de enxofre, dióxido de azoto, ozono, partículas inaláveis, partículas finas e monóxido de carbono. Os valores médios anuais do dióxido de enxofre e das partículas inaláveis detectadas no Delta do Rio das Pérolas desceram, respectivamente, oito e seis por cento face a 2015. Já os valores de dióxido de azoto subiram seis por cento no passado. Em comparação com 2006, os valores anuais de dióxido de enxofre e partículas inaláveis diminuíram, respectivamente, 74 e 38 por cento.
10 CHINA
hoje macau sexta-feira 26.5.2017
acusou Pequim de espiar o correio electrónico no Gmail de dissidentes e rejeitou compactuar com a censura do regime. Desde então, o motor de busca encontra-se bloqueado no país. A resposta de Pequim ilustra o conflito entre as ambições do Governo em desenvolver a tecnologia do país e em limitar o acesso do público à informação. O Partido Comunista Chinês encoraja os cibernautas a usar a Internet para negócios e ensino, mas censura conteúdo considerado subversivo. Fontes oficiais chinesas indicam que o país emprega dois milhões de pessoas na monitorização permanente da rede. Outra medida ‘orwelliana’ inclui a contratação de internautas para fazerem comentários pró-Governo em fóruns ‘online’.
DA PERFEIÇÃO
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M computador derrotou ontem pela segunda vez o campeão chinês de go, jogo de tabuleiro oriundo da China, num teste à capacidade de intuição da inteligência artificial, que Pequim tem censurado por envolver a Google. Ke Jie voltou a perder, apesar de o sistema criado pela Google AlphaGo indicar que foi o melhor jogo que qualquer adversário já realizou contra si, segundo Demis Hassabis, fundador da subsidiária que desenvolveu o computador. Na terça-feira, o Alpha Go tinha já derrotado Ke, um prodígio de 19 anos, no primeiro jogo de uma série de três que decorre em Wuzhen, costa leste da China, parte de um evento que coloca computadores a competir contra os melhores jogadores chineses. O derradeiro confronto realiza-se no sábado. Desde há alguns anos que os computadores dominam o xadrez e outros jogos, nas devido à intui-
Go COMPUTADOR VOLTA A DERROTAR CAMPEÃO CHINÊS
Aquela máquina ção necessária para jogar go, os jogadores esperavam que fosse preciso mais uma década até que os sistemas de inteligência artificial conseguissem disputá-lo. Em 2015, no entanto, o AlphaGo surpreendeu ao derrotar o
campeão europeu. No ano passado, venceu um dos melhores jogadores sul-coreanos. Apesar de decorrer na China e envolver o campeão chinês, a televisão estatal CCTV e os grandes serviços de transmissão via internet do país,
O AlphaGo foi projectado para simular a intuição na resolução de problemas complexos. Funcionários da Google dizem que querem aplicar aquela tecnologia em áreas como assistência para smartphones e na resolução de problemas do mundo real
como os gigantes Tencent e Sina, não transmitiram o jogo em directo. A única plataforma de partilha de vídeos que transmite em directo os confrontos é o Youtube, que está bloqueado na China. O evento tem tido também pouca cobertura na imprensa estatal. Segundo informa o jornal South China Morning Post, a imprensa chinesa recebeu ordem para não mencionar a Google ao noticiar o torneio e para referir apenas a DeepMind, a subsidiária da Google, com sede no Reino Unido, que desenvolveu o AlphaGo.Amultinacional norte-americana mantém um diferendo com o Governo chinês desde 2010, quando
O sistema AlphaGo considerou ontem que Ke Jie fez um jogo “perfeito” nas primeiras 100 jogadas, afirmou Hassabis em conferência de imprensa. “Nas primeiras 100 jogadas é o melhor jogo que algumas vez vimos alguém fazer contra a versão mestre do AlphaGo”, disse. Ke disse que o computador fez jogadas inesperadas. “Da perspectiva de um ser humano, alargou-se um pouco e eu fiquei surpreendido a certo ponto”, disse. “Eu também pensei que estava perto de vencer o jogo a meio”, afirmou. “Podia sentir o meu coração a pulsar. Mas talvez por estar demasiado excitado, fiz algo de errado ou jogadas estúpidas. Será esse talvez o ponto mais fraco dos seres humanos”, acrescentou. Oriundo da China, o go é considerado mais difícil do que o xadrez, devido ao número quase infinito de possíveis posições que as pedras pretas e brancas vão alternadamente ocupando. O AlphaGo foi projectado para simular a intuição na resolução de problemas complexos. Funcionários da Google dizem que querem aplicar aquela tecnologia em áreas como assistência para smartphones e na resolução de problemas do mundo real. Com cerca de 730 milhões de cibernautas, a China tem a mais larga população ‘online’ do mundo.
MAR DO SUL PEQUIM URGE WASHINGTON A CORRIGIR “MÁ CONDUTA”
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China pressionou ontem os Estados Unidos a “corrigir a má conduta” no Mar do Sul da China, depois de um contratorpedeiro norte-americano ter navegado no território, o primeiro desde que Donald Trump assumiu o poder. O porta-voz do ministério de Defesa chinês,
Ren Guoqiang, revelou que Pequim apresentou um protesto formal aos EUA e afirmou que a decisão norte-americana mina a “estabilidade” na região. Este tipo de “erros” levam a China a “ampliar a sua capacidade militar e a reforçar a sua Defesa”, diz.
O contratorpedeiro USS Dewey navegou na quarta-feira a menos de 20 quilómetros de uma das ilhas artificiais construídas por Pequim em águas disputadas com países vizinhos no Mar do Sul da China. É a primeira operação do género efectuada pela marinha norte-americana desde
que Trump assumiu o poder. Washington insiste que tem o direito de navegar naquelas águas porque são território internacional, mas Pequim reclama a quase totalidade do Mar do Sul da China, apesar dos protestos dos países vizinhos. O ministério da Defesa explicou que os navios militares
chineses “advertiram” o USS Dewey para que abandonasse a zona, depois de uma incursão “não autorizada”. Numa outra conferência de imprensa, o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Geng Shuang disse que Pequim está “muito descontente”. Geng considerou que os EUA
prejudicam a boa tendência que se vive na região, num momento em que a tensão entre os países envolvidos tem “diminuído”. A atitude norte-americana “não levará a nada de bom”, disse.
11 hoje macau sexta-feira 26.5.2017
FUTEBOL NOVAS REGRAS NA CONTRATAÇÃO DE ESTRANGEIROS
A Federação Chinesa de Futebol (FCF) anunciou ontem que vai impor novas restrições aos clubes de forma a limitar as avultadas verbas na contratação de jogadores estrangeiros. Os clubes deficitários que contratarem novos jogadores terão de canalizar uma verba semelhante para um fundo governamental que visa a formação de jovens e promoção da modalidade no país. A partir da próxima época, todos os clubes deverão ter no ‘onze’ inicial o mesmo número de jogadores estrangeiros e jovens chineses sub-23. Nesta temporada, a FCF já tinha limitado de quatro para três o número de estrangeiros no ‘onze’ inicial, bem como a obrigação de alinhar com, pelo menos, dois jogadores sub-23. Segundo a FCF, estas limitações visam desencorajar os clubes “a procurar resultados a curto prazo e contratar jogadores estrangeiros em grande quantidade, o que inflaciona o valor das transferências”. Durante a última janela de transferências, os clubes chineses investiram 338 milhões de euros na contratação de jogadores. PUB
Maus achados no parque Greenpeace encontra 226 substâncias nocivas próximo de zona industrial
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organização ambiental Greenpeace revelou ontem ter encontrado 226 substâncias poluentes em amostras de águas, ar e solo, recolhidas em torno de um conhecido parque industrial químico no leste da China. “O parque de Lianyungang demonstra uma chocante negligência em termos de segurança”, assegurou ontem em comunicado Cheng Qian, responsável da Greenpeace no leste asiático. Segundo a organização, o complexo recebeu desde a abertura mais de duzentas multas, tanto das autoridades provinciais como municipais, “por incumprimento das normas ambientais”. “Os trabalhadores, a saúde pública e o meio ambiente estão em sério risco devido aos danos causados pelos químicos”, acrescentou. A Greenpeace detectou ainda nas amostras três Poluidores Orgânicos Persistentes - substâncias químicas tóxicas para a saúde e o meio-ambiente - e assegurou que aquelas substâncias são “ilegais”, segundo a legislação chinesa e internacional. A investigação, realizada nas imediações do Parque Químico In-
dustrial Lianyungang, revelou que entre as referidas substâncias nocivas havia “até 16 de tipo cancerígena para o ser humano”, sobretudo metais prejudiciais para a saúde.
PONTA DO ICEBERG
“Os trabalhadores, a saúde pública e o meio ambiente estão em sério risco devido aos danos causados pelos químicos.” GREENPEACE
CHINA
Os resultados da investigação são “sintomáticos de um problema muito maior de gestão negligente da indústria química na China”, nota a organização. Apesar de a China ser o maior produtor de químicos do mundo e onde o sector cresce ao ritmo mais acelerado, a gestão desta indústria no país é “extremamente negligente”, denuncia. A Greenpeace aconselha as autoridades a adoptar um sistema para que a “indústria não se desenvolva como uma bomba relógio”. Em 2016, a indústria química chinesa alcançou 8,7 biliões de yuan em volume de negócios, com 25.000 empresas a operar no sector, entre as quais 18.000 produzem “químicos nocivos”. A Greenpeace estima que a indústria química chinesa crescerá em média 66%, por ano, entre 2012 e 2020. Acidentes complexos químicos acontecem regularmente. Em Agosto de 2015, uma explosão num armazém no porto de Tianjin, no norte do país, devido á armazenagem ilegal de químicos, provocou 173 mortos.
12 Livro “OLHARES AMENDOADOS”, DE ÓSCAR GOMES DA SILVA
EVENTOS
DA MEMORIA Q ´
TEATRO COMPANHIA PORTUGUESA COLABORA COM ESCOLAS DA RAEM
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RRANCA na próxima segunda-feira uma série de apresentações do projecto “As Raposas”. O espectáculo nasceu da simbiose entre a companhia portuguesa “Cabeça no Ar e Pés na Terra” e escolas de Macau, a convite do IPOR. O projecto partiu da dramatização dos textos em português das “Fábulas de La Fontaine” e começou em Novembro do ano passado, quando se iniciou nas escolas e turmas participantes a leitura e exploração didáctica da obra do francês Jean de La Fontaine. Como a personagem central da narrativa é uma raposa, o nome do projecto estava mesmo à mão de semear, daí “As Raposas”. A elaboração dos figurinos que os actores da companhia de teatro vão usar na apresentação da peça teve um processo original. Primeiro, as crianças envolvidas no projecto desenharam
as personagens da história e enviaram esses esboços para a companhia. A partir da imaginação das crianças os figurinos foram construídos. A peça terá como base uma selecção de textos de “O Corvo e a Raposa”, “A Raposa e as Uvas”, “ARaposa e a Cegonha”, “O Galo e a Raposa”, “O Gato e a Raposa” e “O Lobo e a Raposa”. O espectáculo une a cenografia em que os alunos participaram à representação em palco dos actores da “Cabeça no Ar e Pés na Terra”. As apresentações começam na Escola Portuguesa de Macau na segunda-feira, na Escola Luso-Chinesa da Flora na quarta-feira, no Jardim D. José da Costa Nunes na quinta-feira e na Escola Oficial Zheng Guanying na sexta-feira. Além disso, haverá ainda uma sessão aberta na quarta-feira, às 17h30, no Café Oriente do IPOR.
Encontrou na escrita a forma de dar a volta ao texto dos anos. Para não esquecer, para que outros também não esqueçam, Óscar Gomes da Silva, antigo residente de Macau, escreveu um livro que transporta o leitor para outros dias do território
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“
M mar de juncos oprime as águas do rio, que sofre com a sua pequenez. De vários feitios e tamanhos, as embarcações amarram-se umas às outras. Mulheres cozinham arroz ou lavam roupa. Homens arrumam o convés, secam peixe e armazenam mercadorias. Crianças choram e brincam.” Quando Óscar Gomes da Silva chegou a Macau, em 1978, o território ainda era um sítio de barcos, pescadores, mulheres e crianças no rio. Da sua segunda vida na cidade, as recordações são outras, mais próximas do “império que chegou ao fim”. As memórias das passagens por esta Ásia estão agora reunidas em livro, um conjunto de apontamentos a que deu o nome “Olhares Amendoados – Reminiscências do Extremo Oriente”. “Não me considero escritor, mas gosto de escrever”, conta Óscar Gomes da Silva. “É uma forma de ocupar o tempo e de exercitar a mente. Depois de ter publicado em 1993 ‘Civilizações e Especiarias’, um trabalho sobre o antigo Estado Português da Índia, iniciei um conjunto de crónicas sobre Macau e o Extremo Oriente com base nas minhas observações e vivências.” O autor diz que hesitou em avançar para a publicação, mas acabou por considerar que “deveria dá-las a conhecer aos eventuais leitores”.
OS ANOS DA DIFERENÇA
Gomes da Silva nasceu em Goa, onde viveu até ir para Portugal estudar na então Escola do Exército. Licenciado em Ciências Militares, esteve na Índia, em Moçambique, Angola e em Macau. Aqui viveu, pela primeira vez, de Janeiro de 1978 a Setembro de 1980. Com o posto
À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA O LUTO DE ELIAS GRO • João Tordo
Numa pequena ilha perdida no Atlântico, um homem procura a solidão e o esquecimento, mas acaba por encontrar muito mais. “O Luto de Elias Gro” é o romance mais atmosférico e intimista de João Tordo, um mergulho na alma humana, no que ela tem de mais obscuro e luminoso.
O ENIGMA DE SAGRES • Jorge M. Fazenda
RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET
Vencedor do concurso literário Book.it Sagres, 1940 Eduardo retirou-se da marinha. Vive agora em Sagres, é lá que refaz a vida, como guardião do farol. A Europa está em guerra, mas Portugal insiste em ser neutral. E, naquele canto do mundo, nada parece importunar a sua paz… Até ao dia em que, mesmo à frente dos seus olhos, ao largo do Forte de Beliche, vê a torre negra de um submarino. E, pintada no metal, inequívoca, a cruz suástica dos nazis. Na Marinha todos tentam abafar o caso. Mas Eduardo é tão teimoso como desconfiado. Suspeita que talvez Salazar esteja a fazer um jogo duplo, e a trair a aliança histórica com os ingleses. E decide investigar, mesmo correndo o risco de pôr em perigo a mulher que ama…
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QUE NAO FOGE ˜
de Major, tinha o cargo de Chefe do Estado-Maior das Forças de Segurança de Macau. Voltou em 1993, já coronel na Reserva. Foi director executivo de uma empresa de segurança durante um ano. Entre 1994 e 1997, foi secretário-geral do Gabinete Coordenador de Segurança. Poucos anos depois do regresso a Portugal, foi viver para o Brasil. “Conheci diversos países ao longo da minha vida. Mas os anos que vivi em Macau foram de um enorme enriquecimento cultural, de uma experiência notável e aprendizagem singular, quer em termos profissionais, quer do ponto de vista sociológico, bem como de relações com as comunidades macaense e chinesa”, afirma.
“É como um álbum de memórias, reflexões e ensinamentos, onde a ficção se funde com a realidade e a história.” ÓSCAR GOMES DA SILVA AUTOR Depois de 1997, Óscar Gomes da Silva não voltou a Macau, por questões de saúde que o têm impedido de fazer viagens longas. “Olhares Amendoados” é, também por isso, um livro que parte de recordações. “É como um álbum de memórias, reflexões e ensinamentos, onde a ficção se funde com a realidade e a história”, resume. “Olhares Amendoados – Reminiscências do Extremo Oriente” é uma publicação da Chiado Editora. Isabel Castro
isabelcorreiadecastro@gmail.com
CINEMA “ROULETTE CITY”, DE THOMAS LIM, CHEGA À CHINA EM JUNHO
EVENTOS
hoje macau sexta-feira 26.5.2017
É já a partir do dia 8 de Junho que o filme “Roulette City”, do cineasta Thomas Lim, pode ser visto na China Continental. É comercializado com um título chinês, cuja tradução significa “Roulette City: O Deus dos Jogadores”. Citado por um comunicado, Thomas Lim comentou a mudança do nome do filme pensada para o mercado chinês. “Todos os chineses conhecem um icónico filme dos anos 80 chamado ‘Deus dos Jogadores’, com Chow Yun-fat. Acredito plenamente na escolha da empresa que distribui o filme na China, porque conhece melhor o gosto do público chinês do que nós”, referiu. As negociações para a distribuição do filme na China começaram em Janeiro deste ano. Entretanto, o filme “Sea of Mirrors”, totalmente filmado em Macau com recurso ao iPhone, deverá estar finalizado ainda este ano, refere o mesmo comunicado.
Camões no mundo
Documentário sobre português filmado em Macau
O
projecto online “@ Nossa Língua” já vai na segunda edição e tem como objectivo a gravação de um documentário sobre o idioma de Camões em Macau. Já foi iniciada uma campanha de recolha de fundos, bem como contactos com entidades locais. Primeiro foram as imagens no Instagram, agora as imagens reais, em formato documentário. O projecto online “@Nossa Língua” visa abordar a forma como a língua portuguesa é falada e transmitida em vários países. Em Macau, o documentário que será gravado não esquecerá o patuá. Ao HM, os directores do projecto “@Nossa Língua”, Luciane Araújo e Júlio Silveira, falam da iniciativa que requer, para já, apoio financeiro para que possa ser realidade. “Estamos em contacto com autoridades, fundações, institutos e outras organizações [de Macau]”, disseram. “A Direcção dos Serviços de Turismo de Macau sinalizou um apoio para o alojamento, mas ainda estamos a aguardar resposta”, acrescentaram. A Fundação Oriente foi outra das entidades que já foi contactada, embora ainda não haja uma resposta em concreto. Foi também contactado o Instituto Camões ou a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), entre outras instituições. “Acreditamos que o projecto @NossaLíngua seja a concretização da missão dessas organizações: o estreitamento da cooperação entre os povos lusófonos”, apontaram os mentores da iniciativa. Há dois anos, o “@ NossaLíngua” dava os primeiros passos através da publicação de fotografias na rede social Instagram. Estas deveriam mostrar a forma como a língua portuguesa é manifestada nos vários países ou regiões onde é língua oficial. Em cada um desses lugares, existia um representante a coordenar a iniciativa, que foi transformada em livro. A próxima etapa é a gravação de um documentário, sendo que esse projecto já foi feito em Cabo Verde, Portugal e
Brasil. “O filme foi seleccionado e exibido no Festival de Cannes 2016, na Mostra Short Film Corner, e teve exibições em Cabo Verde e Brasil”, explicaram Luciane e Júlio.
VAMOS CONVERSAR
Para pensar o documentário que será realizado em Macau, Luciane Araújo e Júlio Silveira partiram de duas perguntas. “Nós efectivamente falamos a mesma língua? Se falamos a mesma língua, por que não conversamos?”, revelaram. “Na tentativa de responder a essas perguntas, mostramos como o idioma português é visto ou vivido em cada lugar; falamos sobre as línguas que derivam do idioma, como o patuá de Macau e o crioulo de Cabo Verde, além de investigarmos as influências culturais e políticas entre os países lusófonos. Mostramos ainda como cada país vê o outro e como entende a lusofonia”, referiram. Nos documentários já realizados, participam escritores como Mia Couto, José Luís Peixoto, Germano Almeida e Ondjaki. Há também “professores e gente da rua”. “Também tentamos mostrar o que nos faz parecidos e o que cada lugar tem de único.” Os mentores do “@ NossaLíngua” afirmam já ter conseguido obter um terço do orçamento necessário. “Esperamos que o público de Macau possa ter conhecimento desse projecto através desse material. Todos podem participar e ainda ganhar brindes.” Os interessados podem fazer a sua contribuição através de uma plataforma de crowdfunding. Para Luciane Araújo e Júlio Silveira, esta iniciativa está apenas no começo. “@ NossaLíngua é na verdade um movimento: viemos descobrindo e estreitando amizades em nove países diferentes. O primeiro episódio nos uniu mais ainda (especialmente Cabo Verde e Brasil) e a continuação se impõe. Não podemos deixar as amizades para trás: é muito rico o potencial de intercâmbio cultural, económico e de afecto entre os povos”, concluíram. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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José Simões Morais
Pedro Alexandrino da Cunha
Governador de Macau por 37 dias
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EDRO Alexandrino da Cunha nasceu a 31 de Outubro de 1801 na freguesia de Santos-o-Velho, Lisboa e com um percurso promissor de estudante feito no Colégio da Luz, após terminar o curso em 1819, logo iniciou a carreira militar. Assentou praça na Brigada Real da Marinha onde, a 22 de Março de 1821 passou a Alferes, mas integrado nos quadros do Estado-Maior do Exército. Estudava Matemáticas na Academia da Marinha quando a 30 de Abril de 1824, por ser um convicto liberal, durante a perseguição miguelista foi preso com outros oficiais no Forte de Peniche. Após nove dias na prisão, foi libertado e voltando à Academia terminou o curso, inscrevendo-se logo de seguida na Academia de Fortificação, onde em Julho de 1827 foi promovido a Tenente, ficando no Regimento 13 de Infantaria. Devido a D. Miguel ocupar a Coroa de Portugal em 1828, Pedro Alexandrino da Cunha emigrou, como tantos outros oficiais, para Inglaterra. Encontrando-se Portugal dominado pelos absolutistas, ocorre uma guerra civil, estabelecendo os liberais o seu quartel-general na Ilha Terceira, nos Açores. Para aí seguiu Pedro Alexandrino a reparar as fortificações e integrar o governo liberal da Terceira e onde na Batalha da Praia em Janeiro de 1829 os realistas são derrotados. Ingressou na Armada em 1831 e rapidamente subiu de posto enquanto vai comandando alguns navios de guerra. Preparou no Porto a chegada de D. Pedro, que regressava do Brasil para lutar contra o irmão D. Miguel pela Coroa, organizando aí as guarnições ligadas à Marinha. Na arrojada expedição ao Mindelo veio ele igualmente, fazendo parte da esquadra libertadora, comandada pelo Vice-Almirante R. G. Sertorius. Após a vitória dos liberais em 1834, Pedro Alexandrino da Cunha navegou até ao Brasil e seguiu depois para África, onde passou cinco anos. Mais tarde, a 6 de Setembro de 1845 tomou posse como Governador de Angola, ficando com o posto de Capitão-de-Mar-e-Guerra. Encontrava-se no Brasil, numa missão comercial, quando por decreto de 5 de Novembro de 1849 foi nomeado para o cargo de Governador de Macau, altura em que fica a saber ter o seu amigo, o Capitão-de-Mar-e-Guerra João Maria Ferreira do Amaral sido assassinado pois, esse decreto também exonerava o Capitão Feliciano António
A cólera ataca os mais pobres
Marques Pereira do Governo interino de Macau, que substituíra o falecido Governador. Após Ferreira do Amaral (1846-1849), Pedro Alexandrino da Cunha viria a ser o segundo Governador-Geral de Macau pois, pelo decreto do Governador da Índia, José Ferreira Pestana (1844-51), em 20 de Setembro de 1844 dera-se a criação da Província de Macau, Timor e Solor. O Governador dessa nova província ficou independente da jurisdição do Governo de Goa, que deixava de o nomear, passando ele a residir em Macau, e Timor, com Solor, tinha um governador seu subalterno.
ATAQUE DE CÓLERA
Como Governador, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Pedro Alexandrino da Cunha, desembarcou em Macau a 26 de Maio de 1850 e tomou posse a 30 deste mês. Após um mês de governação, “com a tomada de uma porção de neve (gelados de creme e de limão e em seguida geleia e whisky)” a gastrenterite crónica de que padecia agravou-se. Tomás José de Freitas auscultou-o pela primeira vez a 5 de Julho e tratou-o durante a doença, mas esta “degenerou num fulminante e insidioso ataque de cólera, que, dentro em poucas horas, o privou inteiramente de vida.” No relatório do Serviço de Saúde de 1862, o Dr. Lúcio Augusto da Silva escreveu: “A doença do Governador Pedro Alexandrino da Cunha começou por abundante diarreia, vómitos, sede, ansie-
dade e abatimento geral. O facultativo assistente observou na sua primeira visita: prostração, voz rouca, vómitos e dejecções de um líquido escuro e fétido, pulso filiforme, suor copioso e frio, resfriamento nas extremidades e dores nos joelhos. Mais tarde teve o doente dejecções de líquido amarelo claro, turvo e inodoro, resfriamento pronunciado e quase geral, lábios arroxeados, sede ardente, língua esbranquiçada, pouco húmida e não fria, dor intensa no epigastro. Depois supressão de evacuações, excepto a urinosa, pulso imperceptível, voz rouca, palavra difícil, conservando porém intacta a inteligência, olhos encovados, pálpebras entreabertas, feições alteradas, sem contudo ocultar de todo a fisionomia; finalmente suores viscosos, respiração curta, cianose em diferentes partes do corpo, sendo mais pronunciada nas mãos e nos pés, alguma magreza e o estado rugoso da pele, foram os sintomas que completaram aquele quadro e que o acompanharam até o fim da existência. Estes sintomas e muitos casos que então apareceram com eles fazem acreditar que houve efectivamente uma epidemia de cólera-morbus em Macau no ano de 1850.” Mas porquê esta dúvida? Num opúsculo sobre <Pedro Alexandrino da Cunha>, o autor Joaquim Duarte Silva diz <que a morte súbita de Pedro Alexandrino despertou desde logo, em Macau, suspeitas de que ele fora envenenado>. Tal tese devia-se ao pouco conhecimento da existência em Macau de casos de cólera, que começaram a
Governador de Macau por 37 dias, Pedro Alexandrino da Cunha faleceu com 48 anos de idade pelas três e meia da tarde do dia 6 de Julho de 1850 e foi uma das primeiras vítimas da epidemia de cólera, que grassou na cidade
grassar na cidade nesse ano. O seu cadáver foi autopsiado por cinco cirurgiões militares e da armada que no relatório descreveram minuciosamente todas as lesões anátomo-patológicas, classificando a doença de gastroenterite. O relatório da autópsia termina: <A causa da morte seria simplesmente gastroenterite ou, concorreria também alguma influência meteorológica? Não sabemos! Contudo é possível admitir-se a existência de alguma causa especial que actuasse na produção dos sintomas mais graves, que ao mesmo tempo dirige a sua influência sobre muitos indivíduos, atendendo a aparição de três casos quase análogos a este, que tiveram a mesma terminação, e de outros muitos que têm continuado a aparecer com sintomas tão graves e que não têm sido fatais>. O Dr. Peregrino da Costa em Relatórios das Epidemias de Cólera de 1937 e 1938 refere, <Estas considerações dão a impressão de que estando-se em plena epidemia de cólera, embora no seu início, como mais tarde se veio a confirmar, os médicos da época – os cinco cirurgiões militares e médicos da armada que assinam o relatório da autópsia e no qual aliás as lesões anátomo-patológicas são minuciosamente descritas, ou não quiseram aceitar logo a evidência dos factos, para não atemorizar a população já alarmada com o assassinato de Ferreira do Amaral, ou pretenderam então afastar, por razões políticas, a ideia de o Governador ter sido vítima de cólera>. Governador de Macau por 37 dias, Pedro Alexandrino da Cunha faleceu com 48 anos de idade pelas três e meia da tarde do dia 6 de Julho de 1850 e foi uma das primeiras vítimas da epidemia de cólera, que grassou na cidade. Sepultado no Cemitério de S. Paulo em Macau, segundo o Padre Manuel Teixeira, é “provável que os seus restos mortais fossem removidos com outros para o Cemitério de S. Miguel, construído quatro anos depois, mas hoje desconhecesse o local onde eles repousam.” Pagas as dívidas do finado e deduzidas as custas e despesas legais, o produto líquido dos seus bens foram introduzidos no Cofre da Fazenda Pública de Macau. Se em Macau Pedro Alexandrino da Cunha não teve tempo para governar, ficam os seus relevantes serviços prestados a Angola como Governador-Geral, cargo que exerceu de 31 de Maio de 1845 a 18 de Fevereiro de 1848, a justificar a sua estátua na cidade de Luanda.
15 hoje macau sexta-feira 26.5.2017
em modo de perguntar
Paulo José Miranda
Karadeniz
(continuação) E quais são os factos, Karadeniz? Os factos são o ódio que passei a ter aos animais, por causa da minha mulher. A minha mulher gostava mais de animais do que de pessoas, especialmente gatos. O seu amor aos animais era inversamente proporcional ao amor pelas pessoas: quanto mais se aproximava dos animais mais se afastava das pessoas. Os animais, especialmente os gatos, eram quase tudo para ela. Pôs a casa cheia de gatos. De tal modo que se tornou impossível viver nesta casa. O cheiro dos animais, dos seus excrementos, das suas diferentes comidas. Divisões da casa fechadas com animais que não podiam misturar-se com os outros. Enfim, um inferno para um ser humano. A sua afectividade sempre foi mais extensa e efectiva para com os animais do que para comigo. Era uma vida frustrante, a minha. Não sabia dessa afeição da sua mulher pelos animais, antes de casar? Não sabia que era tão grave. Não era apenas afeição, era uma obsessão. Levava os gatos da rua para casa; saía todas as noites para alimentar os gatos da rua à volta destes quarteirões. Enfim, tratava dos gatos como não tratava de mim, nem dela, nem, mais tarde, do seu próprio filho. Não tenho dúvidas de que amava o filho, mas o filho não era gato, nem cão, nem pássaro. Ela amava-o a si? Julgo que sim, mas de um modo bastante distorcido, pois era incapaz de demonstrar o seu amor. Incapaz de me acariciar o rosto ou o corpo como o fazia aos animais, por vezes horas a fio. Aos poucos, afastou-se da comida. Começou a comer como um pássaro: sementes, vegetais, arroz. Passou a não comer, nem peixe, nem carne. Não comia animais. Por outro lado, eu ia ganhando um ódio irreversível aos animais, especialmente aos gatos. Eu que até aí tinha vivido de matar pessoas, comecei a não conseguir fazê-lo mais. Comecei a querer salvar as pessoas, a salvá-las dos gatos. A minha mulher saía para cuidar dos gatos e eu para matá-los. Muitas vezes cheguei a disparar deste terraço para tudo o que era gato que se mexesse aqui à volta, nos telhados ou lá em baixo nas ruas. Matar os gatos era um modo de repor a justiça no mundo. De repor a afectividade de novo nos eixos, a afectividade de novo nos humanos. Porque é que não se separou simplesmente dela? Porque havia sempre a esperança de que a situação mudasse; havia a esperança de
“Não se pode andar a trabalhar carregado de ódio” que ela ainda pudesse transferir a sua obsessão pelos gatos para um filho, assim que engravidasse. Mas não foi nada disso que se passou. Depois, aos poucos, sem dar por isso fui ficando doente. Um dia percebi que odiava de morte os gatos e que havia de passar a viver para os matar, para os fazer sofrer. Então essa é que é a verdadeira razão para ter abandonado a sua actividade profissional tão cedo?
Por conseguinte, ainda antes do trabalho em Dallas! Sim! Mas durante esse ano encontrámo-nos apenas quatro ou cinco vezes e não vivíamos juntos. Aliás, nesse ano julgo que nem sequer cheguei a ir a sua casa. Que idade é que ela tinha e como é que se conheceram? Ela tinha 24 anos, eu tinha 36 e conhecemo-nos numa loja onde ela trabalhava. Entrei lá para comprar uns discos de jazz.
“A minha mulher saía para cuidar dos gatos e eu para matá-los.” É! Não se pode andar a trabalhar carregado de ódio. Não se pode matar pessoas estando doente. Ou era os homens ou os gatos! E os gatos tornaram-se uma obsessão impossível de ultrapassar. O último trabalho que fiz, em 1966, já foi o focinho de um gato que vi na mira da arma e não o rosto de um homem. Assim, não era possível trabalhar. Mais tarde ou mais cedo iria falhar. Mais tarde ou mais cedo a raiva e o ódio iriam deitar tudo a perder. Quando e onde é que conheceu a sua mulher? Conheci a B. em Londres em finais de 1962.
Apareci lá passados três dias e convidei-a para beber café. Depois é o que sempre acontece. Ela vivia sozinha, em Londres, com o ordenado de empregada de loja? Vivia, mas não era com esse ordenado. A B. era uma mulher muito especial. Tinha tido uma educação tão privilegiada quanto a minha e havia-se formado em Literatura Inglesa. Mas recusou continuar a estudar ou dar aulas. O dinheiro dela vinha de uma herança de família. Aos 21 anos herdou a parte que lhe cabia da morte do pai, quando ela ainda só tinha 12 anos. Trabalhava naquela loja porque era a loja de uma amiga, porque gostava de jazz
e porque o tempo em que lá estava não deixava que a sua cabeça se ocupasse com pensamentos mórbidos, que usualmente a assaltavam. Era bonita? Era lindíssima, mas não acreditava que fosse. Vivia como se fosse uma rapariga feia e desinteressante, que nada tivesse para dizer a quem quer que fosse. De cada vez que a elogiava, reagia mal. No início, tem o seu encanto, mas depois começa a atingir o nosso próprio juízo de gosto. Quando é que se casaram? Casámo-nos no Verão de 1964. Por essa altura já eu tinha conhecimento da sua obsessão por gatos, mas sempre julguei que o casamento alterasse isso e que a mudança para Istambul também tivesse um efeito semelhante. Decidimo-nos por viver aqui, porque era melhor para os meus negócios. (pausa) Sabes que houve um homem que não morreu por causa do meu ódio de morte aos gatos, Paulo? Como assim, Karadeniz? A seguir ao meu último trabalho de que te falei, que vi o focinho de um gato em vez do rosto do homem, fui contratado para um outro serviço, que acabei por rejeitar fazer, por causa do que se estava a passar. O Jesuíta não estava disponível, eu sabia disso, e acabaram por contratar um inexperiente que acabou por ser apanhado antes de ter realizado o seu trabalho. Depois disso, desistiram completamente, para evitar problemas maiores com a Interpol. Ficaram escaldados. Mas o interessante desta história é que se fosse eu a fazer o trabalho esse homem teria sido morto e, assim, acabou por viver. Tudo pelo meu ódio de morte aos gatos. Tudo pelo amor enorme da minha mulher pelos gatos. (pausa) Meu amigo deixa-me dar-te um conselho: se queres continuar a escrever, não te cases! Como é que a sua mulher morreu? Morreu num desastre de viação. Um jovem bêbado foi bater com o seu carro contra o dela. Parece que foi morte imediata. Em Londres? Sim, nos arredores de Londres. E o seu filho, passou a viver consigo? Não. O T. já estudava nos EUA. Regressou para o funeral e para aquelas questões chatas e práticas das heranças, mas partiu logo de seguida para a América. O que é que ele estudou na América? Economia, finanças, gestão… esse tipo de coisas. (continua)
16
h
M
EIO da tarde, ponto nenhum no mapa conhecido. Tempo indefinido e pessoa vaga. A luz em tudo. É o que é mais do que em outros dias. A luz por excesso como uma camada espessa de silêncio. A querer escrever aqui, escrevendo, sem palavras. Hoje estou assim. Ou procurar as imagens possíveis em tonalidade musical, que se somem às palavras e ao silêncio das palavras como só aí é possível. Preferia ser compositora a usar estes utensílios letais. Hoje estou assim. É isso. Já tentei as cores mas nem sempre me acontecem. Cores limpas, transparentes e claras. Mas nada serve a esta luz crua e a este sentir leve. Denso. Tantas vezes. As cores nas palavras. Mas há sempre qualquer coisa fugidia. Qualquer coisa proibida que se escapa e ensaia na dança vertiginosas mentiras. Por querer ou sem ele. Como se fosse por amor ou sem ele. Como se fosse indiferente. Que loucas. Desvairadas, mesmo. Mas como dizer letal sem dizer veneno e armas…anjos carrancudos e infantis a mastigar pastilha elástica. Furiosamente e também eles fustigados no calor da tarde. Coisas cépticas. Quando os dias me aparecem de repente como montanhas íngremes a escalar obrigatoriamente e me lembro daquela subida a pique às costas do besouro cor de pérola e com quatro olhos. E como me deixava apeada a meio, bem a meio da subida. E o monte da fortaleza ficava até novos desenvolvimentos de fortaleza inexpugnada. Pesavamlhe o rabo, a carapaça e os costados curvos e calvos. Pesava-lhe o motor de vida atrás, que fazer? Senão deixá-lo agir no seu peso bruto a puxar para trás e curvar ligeiramente para que durma confortável na beira. Não há quem vença a inércia de um motor que se recusa se o caminho é a subir. Que mais valia termos subido separados e encontrado os dois lá em cima. Mas não, não se faz isso. Mas hoje, ontem - bem, não interessa - procurar o bicho enorme no seu silêncio de cidade. E no meu e também ela um. Não há como contornar a dor senão neste desapego de sentidos. Como uma esquina indiferente. Numa visão microscópica do dia. E surpreendentemente passo por um enorme casarão que toca música. Sozinho na rua deserta. E era, afinal o conservatório de música. Como muito bem sabia num outro momento antes e depois daquele. Em que ali estava, casa grande e distraída de gente, e sem ninguém a dar corda à chave daquele relógio concebido para tocar horas num ritmo livre e lírico. Fantasio, que é bom. Aquela subtil trepidação. Uma tremura tão quase invisível, mesclada do sorriso esfíngico por não se estar a lembrar um icebergue estético a
ANABELA CANAS
Meio da tarde,
17 hoje macau sexta-feira 26.5.2017
iluminação artificial
Anabela Canas
ponto nenhum atravessar tempos através dos tempos. E do silêncio aparente a um olhar desprevenido, faz-se um indistinto murmúrio que vem do mistério do tempo sem tempo de uma imagem. A imperfeição topológica da paisagem a lembrar-nos numa jangada batida de ondas, balançada. Não pelas do mar mas aquelas concêntricas e suavemente marulhantes em círculos perfeitos em torno do lugar líquido onde caiu uma pedra. O erro da linha do horizonte partida a lembrar como se é humano, precariamente humano e atingível. Como falhamos o momento do olhar e do outro olhar. Não sendo estáticos, nós e este. E tudo isso a lembrar do invisível. Do excesso dos sentidos. Da inconsolável exasperação dos dias ruidosos. Deste desejo imenso, intenso, de viajar, e de repente. E de repente, assim. Um simples recanto do mapa conhecido da cidade do costume, um simples abandono, à hora a que o encontro, como se estrangeiro no mapa e na topografia de tantos passos desfiados ali. Basta o silêncio mesmo num lugar desarranjado. Até a distracção desleixada e esquecida de uns papéis amarrotados no chão, como nós, às vezes. E o sol inclemente de quase verão. Este sol ensurdecedor a arrasar tudo o mais e a apagar como se de nódoas de tintas impertinentes, outros ruídos. Com esta possibilidade intrigante de tudo anular na crueza da temperatura. E o meio da tarde. E uma veia deste bicho-cidade, um pouco esquecida da circulação. E um banco. E um cigarro de tabaco demasiado seco como na praia. E o meu ser parado com tudo o resto a voltear suavemente embalado deste nada diferente. Bom. Três invisíveis centímetros - só três – de liberdade. Face voltada de través à gravidade da terra, à gravidade da vida feita e desfeita. Tudo fantasioso, a bem dizer. E por momentos a cidade é estrangeira em mim tanto como eu nela. E às vezes, simplesmente desenhos de fotografias de memórias de paisagens de viagens. Imaginárias. E chega. Desenhar com ou sem palavras para povoar o meu mundo de caminhos. De presenças e de ausências. E na tipografia desconhecida desta calçada, a estranheza de uma língua também desconhecida por momentos, a poupar sentidos, resumida a sons musicais. Quase. O desconhecido e o do silêncio necessário. A senti-lo chegar. Naquela reentrância abrupta de uma rua. Uma fonte parada do fluir do tempo nas águas que seriam circulares e assim, não. E um banco. De costas para tudo o resto. É assim que o tempo pára. Mas nunca retrocede. Sim, aquela reverberação quase invisível que era preciso somar às palavras tão brutais tão cruas para atingirem os lugares certos e não ao lado, ao lado. Ficando na bruta insuficiência de dizer verdade. Incompleta incompreensível verdade mentirosa por pequena. As cores, as cores sem simbologia mas
pura sensação. As suaves as embaladoras as subtis as que não doem no doer necessário mais do que isso. A cor de verdade. Ou talvez a voz. Ou melhor ainda a música. Que nunca fere nem engana. Diz sempre outra coisa. Do coração. Ouvir do coração. O que procuro nestes dias de viagem senão o subtil que se derrama do óbvio, se retido todo o ruído lateral. O invisível, mesmo. Mesmo o invisível não visível mesmo. Mesmo o que não está. Às vezes sofro de excesso de sinais. O mundo a parecer falar por linhas tortas e travessas. Chega, o que é demais. Portanto, parto. Atravesso um quarteirão e com sorte o mundo. Conhecível. Como uma meditação zen, na azáfama desesperante das perplexidades e das perguntas infantis. Das certezas nos erros e nos erros das certezas. E intermutáveis incontáveis variantes. E querer somente um momento de hoje, aqui agora, e estou. Num recanto da cidade desconhecida. De sempre. A um quarteirão ou na pior das hipóteses, dois. Daqui. E é assim que no momento algo de impreciso, também trepida e tremeluz alguma coisa em mim e por dentro. Não, não o corpo mas uma memória impraticável e subliminar como metáfora. Talvez. Algo se conforta no silêncio desconhecido e ancorado no vazio de um qualquer fio cronológico. De um qualquer mapa de estradas interiores. De um qualquer GPS de pouca confiança. E, como poisando a cabeça de lado ao rés da água, a contemplar os círculos calmos e sem reflexo humano mas tão somente o céu. Que está acima. Essas pequenas grandes coisas que trazem plenitude. É quando em mim o bicho enorme adormece. Ou não sei. Talvez por isso. Sentado ao lado, talvez um metro além. Descarnado do labirinto. Inundado daquela luz crua também ele, extenuado de trevas, é claro calmo e silencioso. Com os pequenos brilhos da cidade sobre o pêlo macio, suave e lustroso. E é quando o monstro sem dar por se ter aproximado, como por magia, poisou a cabeça e serenou. No colo. Com todo o peso diluído na respiração suave. Meio escondido na cegueira da luz. Pequenos rugidos de ferocidade latente mas em tonalidade onírica. Sem saber poiso a mão escondida, descansada e ávida nos intervalos. Daquela respiração ou talvez meus. Da alma em ligeiro e leve alvoroço. Talvez a bonança em mar alto. Mas não sei quando aconteceu. Se já se ainda ou se talvez não. Ou nem ainda nem já nem já não. Só uma espécie de verdade. Os tempos dão estranhas reviravoltas na crueza desta luz a cegar. De frente para trás. Ou de agora em diante. Sempre às voltas com os tempos de Borges. Difíceis de distinguir nas cores do sonho.
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hoje macau sexta-feira 26.5.2017
19 DESPORTO
hoje macau sexta-feira 26.5.2017
LIGA DE ELITE
ANTEVISÃO DA JORNADA da 15ª jornada por João Maria Pegado
TATIANA LAGES
Fim-de-semana decisivo
A
jornada 15 do campeonato da liga elite poderá ser importante para o desenrolar final do campeonato, os líderes jogam entre si e também haverá desafios relativos às equipas que lutam pela manutenção . Na sexta feira terá lugar o encontro Kei Lun Vs CPK. A equipa de Inácio Hui, que neste momento tem menos um jogo realizado, tem nesta partida uma oportunidade de continuar a pressionar o Benfica ou ultrapassar o Monte Carlo na segunda posição da tabela. Contudo o seu adversário não é o ideal para contar com uma vitória garantida. A equipa de Josi Cler tem estado a jogar o seu melhor futebol da época, prova disso foi o empate na jornada anterior frente ao Monte Carlo. O jogo será disputado no Estádio de Macau às 21:00.
SÁBADO, JOGO GRANDE
O CPK em caso de vitória será um espectador atento ao grande jogo da
jornada que vai pôr frente a frente o primeiro contra o segundo classificado, Monte Carlo Vs Benfica De Macau. O Benfica tem continuado a somar vitórias e neste momento tem quatro pontos de vantagem sobre o seu adversário, em caso de vitória aumentará para sete pontos essa diferença, ficando apenas nove pontos em disputa. Com este cenário a equipa de Henrique Nunes estará completamente focada nesse objectivo de colocar o Monte Carlo numa posição muitíssimo difícil de conseguir atingir o primeiro lugar. Ficando unicamente o CPK com essa responsabilidade(em caso de vitória na sexta-feira) de impedir que o Benfica se torne novamente campeão. Curiosamente o jogo CPK Vs Benfica será já na próxima semana. O Monte Carlo por sua vez entra neste jogo, após ter goleado os jovens da associação por 5-0, o que terá sido porventura um bom teste para o jogo deste fim-
-de- semana. Para garantir os três pontos frente aos encarnados, o treinador do canarinhos deverá apostar numa estratégia diferente da que foi usada na primeira volta, onde foi goleado com sete golos sem resposta. Grande jogo na Taipa a partir das 20:30, que pode clarificar muito os primeiros lugares da tabela final. Ainda no sábado às 18:30 Policia Vs Kai.
DOMINGO, DIA VIRADO PARA A PERMANÊNCIA
A tarde começa com o jogo entre Development Team Vs Cheng Fung. A equipa da associação vai querer pontuar frente a equipa do Cheng Fung, para poder de seguida observar com atenção ao jogo entre o Lai Chi Vs Sporting De Macau. Os leões do território têm um jogo de extrema importância, ao jogar com um adversário directo na luta pela permanência, contudo terão pela frente os velozes que vêem neste
jogo a sua última esperança para poderem continuar acreditar numa possível manutenção. No lado do verde e branco uma possível vitória, e as derrotas de Policia e Develo-
pment Team, darão um passo de gigante para garantir a manutenção, grande objectivo da época quando poucos acreditavam nessa hipótese no início deste campeonato.
CLASSIFICAÇÃO 1 - BENFICA
Jogos V E D GM GS DIF P 14 12 2 0 68 4 64 38
2 - MONTE CARLO 14 11 1 2 53 18 35 34 3 - C.P.K
13 11 0 2 38 10 28 33
4 - KEI LUN
14
7
2
5
39
26
13
23
5 - CHING FUNG 14 5 6 3 25 24 1 21 6 - TAK CHUN KA I
14
5
1
8
21
34
-13
16
7 - SPORTING
14 3 2 9 10 38 -28 11
8 - POLICIA
14 2 3 9 8 31 -23 9
9 - DEVELOPMENT 13 2 1 10 11 44 -33 7 10 - LAI CHI
14
1
2
11
11
55
-44
5
20 OPINIÃO
hoje macau sexta-feira 26.5.2017
um grito no deserto
PAUL CHAN WAI CHI
TERENCE FISHER, SWORD OF SHERWOOD FOREST
Primeira volta da batalha eleitoral
A
sexta eleição para a Assembleia Legislativa está marcada para 17 de Setembro e prevê-se que, enquanto eleição directa, venha a ser a mais competitiva desde o regresso à soberania chinesa. Até ao momento os preparativos de constituição das comissões de candidaturas, a cargo de alguns candidatos potenciais, têm mantido a Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa muito ocupada. De acordo com a legislação eleitoral de Macau, os candidatos que pretendam concorrer às eleições, sem pertencer a quaisquer associações políticas, deverão formar uma Comissão de Candidatura apoiada pelos eleitores. A Comissão necessita de um mínimo de 300 assinaturas e de um máximo de 500. Conforme estipulado pela alínea 3 do Artigo 27 da Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa, “cada eleitor só pode subscrever uma lista de candidatos”. No entanto não especifica quais as penalizações em caso de transgressão. Segundo práticas anteriores, se alguém assinar dois pedidos de reconhecimento de constituição de comissões de candidatura, é anulada a subscrição apresentada em segundo lugar. Desta vez, a Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) já
divulgou alguns comunicados de imprensa onde se refere à situação de eventuais subscrições múltiplas, nos seguintes termos “… a CAEAL considera que tais casos constituem, eventualmente, uma violação às legislações vigentes, pelo que os mesmos foram submetidos ao Corpo de Polícia de Segurança Pública para uma investigação”. A partir do momento em que esta informação foi divulgada, muitos dos eleitores que tinham subscrito mais do que um pedido de reconhecimento de constituição de comissões de candidatura, intencionalmente ou não, ficaram muito assustados. Alguns deles procuraram ajuda junto da Associação de Novo Macau.
Para que a sexta eleição para a Assembleia Legislativa venha a ser equitativa, justa, transparente e íntegra, a CAEAL terá de agir em conformidade. O seu trabalho terá de se apoiar na monitorização de diferentes sectores sociais, para que venha a existir “transparência, igualdade, justiça e integridade” no processo eleitoral
Relativamente a este assunto, a Associação de Novo Macau encaminhou as apreensões dos eleitores para a CAEAL e solicitou uma reunião para analisar em profundidade estas questões, nomeadamente no que concerne às “candidaturas plúrimas”. Mas a Comissão não conseguiu programar o encontro por sobrecarga de agenda. No entanto emitiu um comunicado de imprensa durante a tarde de 18 de Maio para lembrar “os eleitores para assinarem um único pedido de reconhecimento de constituição de comissão de candidatura” para que sejam evitadas situações punidas por lei, conforme estipulado nos Artigos 150 e 186 da Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa. Mas a Associação de Novo Macau descobriu que estes dois Artigos só são aplicáveis a casos de “candidaturas plúrimas”, que devem obedecer a certas circunstâncias factuais, a saber, “nomear a mesma pessoa a candidato por diferentes listas de candidatura, para a mesma eleição”. No quadro das próximas eleições, é praticamente impossível virem a ocorrer “candidaturas plúrimas”. Membros da Associação de Novo Macau preocupados com o processo eleitoral e, numa tentativa de apoiar os esforços desenvolvidos pela CAEAL, têm-se dedicado ao estudo da legislação eleitoral de Macau. Descobriram que já existiam mediadas penalizadoras (multas) para actos de “proposituras plúrimas”, antes do regresso à soberania chinesa. Mas na sequência da revisão da Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa, já depois do regresso à soberania chinesa, o termo “proposituras plúrimas” foi substituído por “candidaturas plúrimas”, tendo sido acrescentadas emendas aos conteúdos, numa versão da Lei Chinesa. No entanto, tem graça que não tenha sido feita qualquer outra alteração à Lei Portuguesa, para além do montante da multa. Na procura de esclarecimento para esta situação e, de forma a superar as preocupações dos eleitores que terão assinado “proposituras plúrimas”, a Associação de Novo Macau encaminhou o assunto para a CAEAL, na expectativa de que esta possa esclarecer o público com prontidão. No entanto, até terça feira a Comissão ainda não tinha dado qualquer resposta. Para que a sexta eleição para a Assembleia Legislativa venha a ser equitativa, justa, transparente e íntegra, a CAEAL terá de agir em conformidade. O seu trabalho terá de se apoiar na monitorização de diferentes sectores sociais, para que venha a existir “transparência, igualdade, justiça e integridade” no processo eleitoral. De outra forma, as eleições directas passam a ser um jogo político que terá por protagonistas os poderosos e os influentes e não serão representativas da população. A sociedade ficará à mercê do sofrimento. Para incrementar a cultura política de Macau, a monitorização efectiva da sexta eleição para a Assembleia Legislativa e da constituição das Comissões de Candidatura terão de ser implementadas escrupulosamente. Também não podem ser subvalorizadas as tentativas de manipulação dos eleitores.
Ex-deputado e membro da Associação Novo Macau Democrático
21 hoje macau sexta-feira 26.5.2017
OPINIÃO
contramão
ISABEL CASTRO
Brincar aos chefes
D
ESTA vez, foram os buracos que se abrem nas ruas, que tanto chateiam quem tem de se mexer no território sem batedores à frente a garantir o espaço necessário para passar. O Comissariado da Auditoria (CA) divulgou esta semana um relatório em que chega a duas grandes conclusões: o grupo de coordenação interdepartamental criado para o efeito não serve para coisa alguma; o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais não cumpre com as suas obrigações, que passam pelo planeamento e a fiscalização das obras nas estradas. Mas o comissariado de Ho Veng On não se limita ao elenco de questões técnicas e jurídicas. Na versão resumida do relatório enviada à imprensa, a Auditoria tece uma série de considerações sobre o modo como se comportam aqueles que têm responsabilidades públicas. É dado um puxão às orelhas que se recusam a ouvir as queixas da população. Escreve o Comissariado que, “por entre dúvidas e críticas dos cidadãos, as entidades públicas envolvidas nestes trabalhos continuam a agir como muito bem entendem e a defender que os seus procedimentos e métodos de trabalho são eficazes”. A Auditoria lamenta ainda que estas entidades públicas destaquem “os pequenos sucessos, ignorando no entanto o alto preço pago, em termos de perda de qualidade de vida, pelos cidadãos”. Infelizmente, a ferida em que o CA põe o dedo não se resume ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais e ao tal grupo de coordenação sem serventia conhecida. As queixas que, durante estes anos, foram feitas pelos diferentes sectores do território são, grosso modo, recebidas com a indiferença e os tiques de superioridade de quem acha que, no momento em que tomou posse, lhe foi dada toda a impunidade, nas suas mais variadas dimensões. Em termos gerais, a reacção à crítica tem o mérito de ser altamente democrática. Só mudará, porventura, o polimento da retórica consoante o autor do reparo – um director de serviços não responderá com os mesmos modos ao Comissariado contra a Corrupção, ao jornalista anónimo e ao cidadão sem direito a existência cívica activa. Mas a todos responde com a mesma sobranceria. Com algumas (poucas) excepções, as chefias em Macau sofrem de dois grandes problemas. O primeiro tem que ver com o que lhes foi dado a ver antes de chegarem ao topo onde se encontram: as visitas de estudo em que participaram não chegaram para alargar horizontes, porque as pessoas não crescem em encarneiradas e burocráti-
ROBERT ALTON, MERTON OF THE MOVIES
isabelcorreiadecastro@gmail.com
cas viagens. Falta-lhes literatura, cinema, música, vida e, acima de tudo, contacto com a diferença. Depois, sofrem da síndroma do novo-riquismo, que associo, ainda, ao facto de se terem feito gente num território administrado por outros que não eles. A partir do momento em que se viram com a faca e o queijo na mão, muitas destas pessoas esqueceram-se que o instrumento afiado que lhes foi dado serve para trabalhar e não para arma ao serviço dos seus interesses. Por entre as dúvidas e críticas dos cidadãos referidas pelo Comissariado da Auditoria, quem tem poder público no território vai vivendo bem, porque os autores
dos reparos não têm qualquer poder. Não são eles que escolhem os governantes, não têm qualquer intervenção na construção das elites. Porque também falta, a quase
A reacção à crítica tem o mérito de ser altamente democrática. Só mudará, porventura, o polimento da retórica consoante o autor do reparo
todos, a vida que abre horizontes, os protestos não vão além dos desabafos. Quanto às elites, que poderiam contribuir de forma determinante para a construção de uma cidade mais equilibrada, sabemos todos de que são feitas: papel e plástico. O papel do dinheiro e o plástico das fichas de jogo. Não há conversa possível. Não sei como é que se dá a volta à falta de ética política apontada pelo Comissariado da Auditoria, porque consciência e responsabilidade são coisas que não se compram ao quilo nos supermercados da cidade. Só sei que, às vezes, tudo isto, mesmo que bem contado, ninguém acredita.
22 (F)UTILIDADES TEMPO
MUITO
hoje macau sexta-feira 26.5.2017
?
NUBLADO
O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje
MIN
23
MAX
30
HUM
65-90%
•
EURO
9.00
BAHT
CONCERTO | O MANIPULADOR Live Music Association | 23h30 FAM | TEATRO “A GAIVOTA” Centro Cultural de Macau | 19h30 FAM | TEATRO ITINERANTE “MACAU REMOTO” Vários locais | 11h30 e 16h30 FAM | DANÇA “DOUBLE BILL”, DE HIROAKI UMEDA Centro Cultural de Macau | 20h00
O CARTOON STEPH DE
SUDOKU
Domingo
JAZZ SUNDAY SESSIONS Live Music Association | A partir das 20h00 FAM | TEATRO “A GAIVOTA” Centro Cultural de Macau | 19h30 FAM | TEATRO ITINERANTE “MACAU REMOTO” Vários locais | 11h30 e 16h30 FAM | TEATRO “A MANO” Auditório do Conservatório | 15h00
Diariamente
FAM – EXPOSIÇÃO “A ARTE DE ZHANG DAQIAN” Museu de Arte de Macau | Até 5/8 SOLUÇÃO DO PROBLEMA 44
EXPOSIÇÃO DE DANIEL VICENTE FLORES Albergue SCM | Até 4/6 EXPOSIÇÃO | “TENTATIVE NOTEBOOK WORKS BY RUI RASQUINHO” Art for All Society, Jardim das Artes | Até 14/06 EXPOSIÇÃO DE AGUARELAS DE CHU JIAN & HERMAN PEKEL Fundação Rui Cunha | Até 25/5 EXPOSIÇÃO “AMOR POR MACAU” DE LEE KUNG KIM Museu de Arte de Macau | Até 9/7
Cineteatro
C I N E M A
1.16
SEGUE O COELHO BRANCO
Amanhã
FAM | TEATRO “A MANO” Auditório do Conservatório | 11h00 e 17h00
YUAN
AQUI HÁ GATO
FAM | DANÇA “DOUBLE BILL”, DE HIROAKI UMEDA Centro Cultural de Macau | 20h00 FAM | TEATRO “A MANO” Auditório do Conservatório | 20h00
0.23
PROBLEMA 45
UM DISCO HOJE
Uma das melhores representações zoológicas em ficção do ser humano é o coelho branco do clássico “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll. Sempre a correr e atrasado, escravo de um relógio de bolso que lhe dita urgência e pupilas dilatadas. O jornalismo de hoje segue o coelho branco de ontem, como Neo no Matrix, numa insaciável fome para alimentar a cabeça, como dizia Grace Slick na voz dos Jefferson Airplane. Busca-se a ordem do dia, a agenda ditada pelo poder, apanham-se migalhas da realidade num pé de microfone. Que belo conceito: “Ordem do dia”. Como bicho nocturno, prefiro a desordem da noite, o caos depois do sol posto, onde as coisas ganham perspectiva. A ordem do dia é como uma lupa que permite inspeccionar um fragmento da verdade, sem fazer o zoom out que dá o quadro inteiro. Como focar um inocente passarinho no “Jardim das Delícias Terrenas” de Bosch e pensar que o quadro é uma ode à pureza e à ornitologia. E lá vai o coelho branco, arrastando uma turba de jornalistas de gravador em riste em direcção ao mundo atrás do espelho. Todos o seguem em direcção a um abismo alucinado, com a mesma perdição frenética no olhar. Gosto deste espectáculo colorido e de pompa e circunstância. Delicio-me com a faustosa festa. Entretanto, eu, Gato de Cheshire, sento-me numa árvore, invisível, só com um sorriso rasgado a ver o circo passar. Pu Yi
“DRINKING SONGS” | MATT ELLIOTT
“Drinking Songs” é um álbum que, como o próprio nome indica, está indicado ser ouvido à mesa. De Matt Elliot, que assegura a interpretação de todos os instrumentos e vozes, o disco traz canções indefinidas. Talvez por isso deixam espaço para um diálogo com elas. Encaixam-se bem com um copo de vinho e pensamentos fortuitos. Não distraem, mas acompanham, e dirigem uma viagem sem que seja necessário sair do sítio. São bonitas e este é um álbum que, pelo sim pelo não, deve andar por perto. Sofia Margarida Mota
ALIEN: COVENANT SALA 1
ALIEN: COVENANT [C] Fime de: Ridley Scott Com: Michael Fassbender, Katherine Waterston 14.30, 16.45, 19.15, 21.30
SALA 3
BAYWATCH [C] Fime de: Seth Gordon Com: Dwayne Johnson, Zac Efron, Alexandra Daddario 14.30, 16.45, 21.30
SALA 2
GET OUT [C]
THE CIRCLE [B]
Fime de: Jordan Peele Com: Daniel Kaluuya, Allison Williams, Bradley Whitford 14.00, 16.00
Fime de: James Ponsoldt Com: Tom Hanks, Emma Watson, John Boyega 19.30
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23 hoje macau sexta-feira 26.5.2017
PERFIL
NUNO GRAÇA, ARQUITECTO
T
EM 36 anos e é natural de Vila do Conde. Nuno Graça está em Macau há quase um ano na sequência de um convite de trabalho. “Não podia recusar”, diz ao HM. A razão, apontou, foi sobretudo a dificuldade de emprego em Portugal, principalmente no ramo da construção. A chegada a Macau foi sentida como abrupta e sem tempo para pensar muito. “Cheguei num dia à noite e, no dia seguinte pela manhã, estava a trabalhar”, explica o arquitecto. Apesar de já ter trabalhado em vários pontos do mundo, a vinda para Macau não tinha sido equacionada. Para o arquitecto, “Macau é muito diferente, parece um microcosmos”. É uma zona marcada pelo contraste. “Tanto há o tradicional, como o moderno. O luxo dos casinos contrapõe-se à simplicidade, principalmente das pessoas.” Foi esta simplicidade que “mais chocou e agradou ao mesmo tempo”. Do convívio com os “novos” amigos, Nuno Graça não esquece quem o tem ajudado a passar pelos momentos menos felizes. Com uma filha de quatro anos, “a distância não está a ser fácil”.
Das casas ao baixo No entanto, o território continua a ser visto como um lugar com futuro e que confere ao arquitecto alguma segurança. Por outro lado “Macau não pára”. Para Nuno Graça, o movimento trazido até pelo próprio jogo faz com que exista uma vida permanente, dia e noite. É também uma cidade segura e um dos passatempos do arquitecto é perder-se pelo território. “Apanho um autocarro e vou por aí”, diz.
POR GOSTO
A opção pela arquitectura aconteceu naturalmente. É arquitecto porque gosta. “Quando era miúdo toda a gente me dizia que desenhava bem e, por isso, iria ser arquitecto. Pensava que ser arquitecto era desenhar casas e fui. Apercebi-me depois que é mais do que isso: ser arquitecto é também ter consciência social”, explica. Nuno Graça já passou por vários campos da arquitectura, mas não tem preferências de área. A carreira tem-se desenvolvido naturalmente. “Deixo as coisas andar e esta forma de estar tem acabado por me levar a sítios interessantes”, refere. “Quando acabei o curso estive a trabalhar em Nova Iorque, por exemplo. Quando
regressei fui trabalhar com o Siza Vieira. Quando saí do Siza fui para um gabinete e mais tarde, segui para Angola. Agora estou cá”, elenca Nuno Graça. As experiências foram muitos diferentes. Nos Estado Unidos fez aeroportos, em Portugal casas. A passagem por Angola não lhe sai da memória: “Do trabalho fazia parte a visita às terras do fim do mundo, as aldeias que ficam perto da fronteira com a Namíbia e em que me vi numa realidade muito diferente”, comenta. Já Macau é o mundo dos casinos, mas não só. “O território tem sido um centro de misturas culturais e esse aspecto reflecte-se muito no planeamento urbanístico. No entanto, penso que a zona dos casinos é a que tem a atenção desse planeamento, enquanto o resto do território parece estar esquecido”, afirma. Mas foi a experiência com Siza Vieira que marcou um ponto de viragem, mesmo na forma de encarar a própria profissão. “Eu nem gostava muito do trabalho do Siza, era a escola do Porto, toda a gente tomava como referência e eu questionava as razões de ninguém fazer diferente”,
confessa. Mas a opinião foi mudando. “Comecei a estudar mais e a trabalhar com ele e cheguei à conclusão de que, se calhar, não valia a pena fazer diferente. Comecei a achar que a caixa branca tinha muito mais conteúdo do que aquilo em que estava a pensar e que não tinha sido ainda totalmente explorada.” Do arquitecto Siza Vieira guarda também o exemplo. “É um senhor que nasceu em 1933, continua a ser o primeiro a chegar e o último a sair do escritório, e penso que isso só mostra a dedicação que tem à própria arquitectura”, diz. Além da profissão, Nuno Graça tem outro gosto especial: o baixo. “Toco baixo muito alto”, brinca. O gosto veio de casa, porque o pai também toca, e considera que se trata de um instrumento especial. “É, ao mesmo tempo, bateria e guitarra. É o instrumento que, no fundo, faz vibrar tudo.” Sofia Margarida Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
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sexta-feira 26.5.2017
Se a sua rubrica/é/ao ler-se/MÁ/ai o seu fadário/como findará?!”
Benjamim Videira Pires
Automobilismo ANDRÉ COUTO VAI GUIAR UM BENTLEY NOS ESTADOS UNIDOS
A descoberta da America `
EUA DÉFICE COM A CHINA NÃO CAUSA PERDA DE EMPREGO
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défice comercial de Washington com Pequim não “está directamente relacionado” com a perda de empregos na indústria manufactureira norte-americana, assegurou ontem o ministério do Comércio chinês, num relatório sobre a relação entre as duas economias. “Uma série de estudos evidenciou que a redução de postos de trabalho na indústria manufactureira dos Estados Unidos deve-se aos avanços tecnológicos e à modernização da indústria. O que não está directamente relacionado com o défice comercial dos EUA com a China”, referiu o documento. De acordo com um relatório do Departamento de Comércio de Washington, o défice comercial dos EUA com a China cresceu cerca de 7%, em Março, face a Fevereiro, para 24.600 milhões de dólares. Pequim afirmou ter realizado “grandes esforços” para equilibrar a balança comercial e transmitiu a disposição para alcançar uma relação “mais equilibrada”, no intercâmbio de mercadorias e investimento. “A China está disposta a realizar esforços conjuntos com os Estados Unidos para encorajar as empresas chinesas a participar na construção de infra-estruturas nos EUA, abrir mais mercados, promover investimentos em ambos os lados e as negociações de acordos bilaterais de investimento”, apontou. A China poderá também aumentar as importações de energia, produtos agrícolas, alta tecnologia ou serviços norte-americanos. O elevado défice comercial dos Estados Unidos com a China foi central durante a campanha eleitoral de Donald Trump, que chegou a acusar Pequim de manipular a divisa para obter benefícios comerciais e ameaçou impor elevadas taxas sobre os produtos chineses.
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A
NDRÉ Couto vai para o terceiro fim-de-semana consecutivo de corridas. O piloto de Macau foi chamado pela Bentley Team Absolute para substituir o suíço Alexandre Imperatori na prova do campeonato norte-americano Pirelli World Challenge SprintX no circuito de Lime Rock, localizado na região da Nova Inglaterra. “Esta será a minha primeira experiência aos comandos do Bentley Continental GT3”, disse André Couto. “É muito bom poder correr na América porque há muito tempo que não tinha essa hipótese. Eu testei Champ Car em 2001 e a minha primeira corrida aqui foi de karting em 1994”, acrescentou. Na corrida deste fim-de-semana, Couto fará equipa com o piloto sino-americano Yufeng Luo que este ano está a dar os primeiros passos nas corridas de GT. “Antes de tudo posso dizer que a pista é bastante interessante, bastante exigente, com curvas de grande velocidade, especialmente as últimas”, disse o piloto luso que este ano está a disputar o Campeonato da China de GT e algumas corridas do campeonato japonês Super GT na classe GT300. Na terça-feira, numa sessão privada de testes em que várias equipas marcaram presença, Couto teve um primeiro contacto com o Bentley Continental GT3 na pista de Lime Rock e ficou satisfeito com as primeiras sensações ao volante do carro britânico: “Já tive a oportunidade de conduzir vários carros
• André Couto, piloto “Estou bastante satisfeito por estar aqui e acredito que nos podemos sair bem. O campeonato tem um nível muito alto e estou desejoso por começar.”
da categoria GT3 e posso dizer que o Bentley é um carro muito bom”, salientou. Também conhecido por Campeonato Americano de GT, o campeonato Pirelli World Challenge, cujo o campeão em título é o português Álvaro Parente, que também este fim-de-semana competirá em Lime Rock mas ao volante de um McLaren 650S GT3, é considerado um dos mais fortes a nível mundial, muito devido à presença de várias marcas representadas oficialmente. Apesar de ser um campeonato de Sprint na sua essência, de apenas um piloto por carro, no formato SprintX, como este fim-de-semana, o bólide é partilhado por dois pilotos. O programa terá duas corridas de uma hora cada, uma disputa-se já esta sexta-feira e a outra no sábado.
“Estou bastante satisfeito por estar aqui e acredito que nos podemos sair bem. O campeonato tem um nível muito alto e estou desejoso por começar”, afirma Couto em jeito de antevisão para o fim-de-semana que ai vem.
BOM INÍCIO NO JAPÃO
Antes de viajar para terras do “Tio Sam”, o piloto da RAEM teve a sua primeira corrida de 2017 no Japão. No circuito de Fuji, no passado fim-de-semana, o piloto do território levou o Porsche 911 GT3 R da equipa D’Station Racing à sétima posição entre os concorrentes da classe GT300 do campeonato nipónico Super GT. “Nós começamos em 16º e terminamos em 7º. Significa muito para mim ter contribuído com pontos para a equipa”, verbalizou
Couto após a corrida, ele que fez equipa com o experiente piloto local Tomonobu Fujii. “O traçado deste circuito não beneficia as características do Porsche, logo não tínhamos carro ambicionar o primeiro lugar. Contudo, foi muito bom eu e o Tomo (Tomonobu Fujii) termos conseguido subir na classificação numa pista com tão poucas áreas para ultrapassagens”, sublinhou o piloto português que regressa ao Japão no próximo mês, para disputar a quarta ronda do campeonato na pista de Sugo. Este ano, o vice-campeão da categoria GT300 em 2015, não está a disputar a totalidade do campeonato, tendo apenas nos seus planos realizar três provas. Sérgio Fonseca
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BENFICA AILTON, CARLINHOS E BRUNO GOMES ASSEGURADOS
De uma assentada, o Benfica assegura as contratações de três jogadores do Estoril. Os brasileiros Ailton, Carlinhos e Bruno Gomes, figuras dos estorilistas na segunda metade da temporada, vão representar os encarnados a partir da próxima época. De acordo com informações recolhidas por A BOLA, o lateral-esquerdo e os dois avançados já têm exames médicos marcados, obrigatórios para, de seguida, assinarem pelos encarnados e concluírem o processo. O investimento da SAD das águias pelos três jogadores poderá atingir mais de três milhões de euros.