Hoje Macau 26 JUN 2020 # 4555

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

CINEMATECA PAIXÃO

A TWILIGHT ZONE

SEXTA-FEIRA 26 DE JUNHO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4555

MOP$10

hojemacau

GRANDE PLANO

FUNÇÃO PÚBLICA

Férias forcadas ´

PÁGINA 5

OPINIÃO

SARA

ESCOLA PORTUGUESA

Fora do prazo PÁGINA 6

UM GRANDE FALHANÇO

GONÇALO M. TAVARES

QUE DEUS NÃO PERDOE!

ANTÓNIO CABRITA

h

AS ALTURAS DA VIDA

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ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO

Sagrados cheques Os cheques pecuniários vão-se manter intactos e a salvo da austeridade anunciada pelo orçamento da RAEM para 2021. Ho Iat Seng deixou ontem a promessa, mas referiu ser necessário congelar os salários da Função Pública. O Chefe do Executivo apontou ainda a hipótese de anunciar a abertura faseada das fronteiras com Hong Kong no próximo mês. PÁGINA 4

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JOÃO ROMÃO


2 grande plano

CINEMATECA

26.6.2020 sexta-feira

SEMPRE O MESMO FUTURA GESTORA APRESENTA DIRECÇÃO ARTÍSTICA E POUCO MAIS

A Companhia de Produção de Entretenimento e Cultura In Limitada, que vai gerir a Cinemateca Paixão, continua envolta em mistério. A direcção artística será composta por Tung Mei Yi e June Wu, ambas ligadas ao IFFAM. O site da empresa está a ser construído e os detalhes do projecto vencedor continuam colados ao caderno de encargos

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C o m p a n h i a de Produção de Entertenimento e Cultura In Limitada, que vai gerir a Cinemateca Paixão nos próximos três anos, continua a revelar poucos dados sobre o modo de operação que pretende implementar no espaço e a sua experiência passada na área do cinema. Numa conferência de imprensa na passada quarta-feira, convocada com o objectivo de esclarecer as mui-

tas dúvidas que têm vindo a ser levantadas desde que foi anunciado que a In venceu o concurso de gestão da Cinemateca Paixão, as novidades passaram somente pela contratação de duas pessoas para a direcção artística do espaço. Tung Mei Yi (Hong Kong) e June Wu (Taiwan) vão assumir respectivamente os cargos de directora de operações e consultora, já a partir de Agosto. Ambas as profissionais da área do cinema estiveram ligadas

RECOLHA DE MEMÓRIAS

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movimento “Macau Cinematheque Matters” (em português “A Cinemateca de Macau Importa”), constituído por aficionados e profissionais do cinema, está a pedir às pessoas que escrevam cartas que descrevam as memórias que têm da Cinemateca Paixão. Os textos são depois partilhados nas redes sociais, numa campanha de solidariedade contra a decisão de entregar a gestão do espaço à

empresa In e, com a autorização dos autores, enviados para o Executivo de Ho Iat Seng. A campanha tem como nome “Uma Pessoa, Uma Carta”. Anteriormente, o grupo foi responsável pela entrega de uma petição ao Governo a contestar o resultado do concurso público. A petição foi entregue a 19 deste mês, com mais de 250 assinaturas, mas até ontem não era conhecida uma resposta oficial.

Sobre os proprietários da empresa e a sua ligação com a indústria cinematográfica, Kathy Wong, coordenadora de eventos da In, limitou-se a referir apenas que o sócio

à organização do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM na sigla inglesa). Quanto ao trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pela In nos últimos anos continuou a ficar muito por dizer, apesar de a companhia apontar que tem uma vasta panóplia de clientes em diversas áreas da cinematografia. Pedidos exemplos concretos de trabalhos realizados, a responsável presente remeteu mais informações para a futura página oficial da In na internet, que está neste momento a ser criada. “Temos clientes em diferen-

tes campos e estamos neste momento a trabalhar na criação da página de internet da empresa. Por isso, vamos

“Temos clientes em diferentes campos e estamos neste momento a trabalhar na criação da página de internet da empresa.” KATHY WONG COORDENADORA DE EVENTOS DA IN

divulgar mais informações em breve”, apontou Kathy Wong, coordenadora de eventos da In. Sobre a empresa fundada em 2015, Kathy Wong afirmou que “tem experiência anterior na coordenação de festivais de cinema, tanto a nível local como no estrangeiro” e que o negócio abrange todo o tipo de operações na área do cinema como “legendagem, promoção e distribuição de filmes”. Adicionalmente, foi revelado que a In presta serviços ao nível da operação de salas de cinema, captação de conteúdos promocionais,

projecções ao ar-livre e tradução de legendas.

ORÇAMENTO SUFICIENTE

Quando questionada se o orçamento apresentado pela In é suficiente para manter a qualidade da programação da Cinemateca Paixão nos próximos três anos, Kathy Wong afirmou que o valor foi calculado, tendo por base “a experiência da equipa e o tipo de filmes que a audiência vai querer ver”, com rigor orçamental alcançando um equilíbrio entre as receitas e despesas. Quanto à contratação de pessoal, a responsável afirmou que “não serão mais de 14”.


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sexta-feira 26.6.2020

FILME

15,43 MILHÕES PARA TRÊS ANOS E

ntre as cinco propostas que concorreram ao concurso público promovido pelo Instituto Cultural para a gestão da cinemateca, a Companhia de Produção e Entretenimento e Cultura In Limitada foi a vencedora com um preço de 15,43 milhões de patacas para um contrato com três anos. O preço era um dos principais factores a considerar para a adjudicação, com um peso de 40 por cento na avaliação das propostas. Por sua vez, a Cut Limitada, empresa que forneceu o serviço anteriormente, apresentou um valor de 34,81 milhões de patacas, ou seja, superior em quase 20 milhões de patacas. Quanto às concorrentes Criação Surpreendente Limitada e Grupo de Convenções Internacionais Macau China, Limitada, apresentaram propostas com orçamentos de 27,80 milhões e 22,94 milhões de patacas, respectivamente. A empresa O2 Media também participou no concurso, com uma proposta de 7,86 milhões de patacas, mas acabou excluída, por não apresentar um documento que provava que mais de 50 por cento do capital social da companhia pertencia a um residente de Macau.

Sobre os proprietários da empresa e a sua ligação com a indústria cinematográfica, Kathy Wong limitou-se a referir apenas que o sócio maioritário da empresa é Ieong Chan Veng.

SEGUIR O GUIÃO

maioritário da empresa é Ieong Chan Veng

A garantia de que a qualidade dos filmes a exibir foi assegurada também por Tung Mei Yi, directora de operações, que participou no evento por videoconferência. “Estamos ainda a decidir que filmes vão ser exibidos, mas a escolha não terá a ver com a popularidade dos actores ou dos realizadores. Adoro cinema e o nosso objectivo é que a Cinemateca seja uma plataforma para que o público veja filmes diferentes dos comerciais”, explicou. Tung Mei Yi, que referiu ter trabalhado 30 anos na indústria cinematográfica

em Hong Kong, afirmou ainda estar entusiasmada com “este novo começo”, que é uma “oportunidade para explorar a indústria de Macau” e estreitar relações com os profissionais do território vizinho. Recorde-se que o montante apresentado pela companhia In no concurso público (15,24 milhões de patacas) é consideravelmente inferior ao apresentado pela Cut Limitada, a empresa que geriu até ao final do ano passado a Cinemateca Paixão e que colocou em cima da mesa uma proposta de 34,8 milhões de patacas.

Durante a conferência de imprensa, a coordenadora de eventos da In avançou ainda que, por ano, serão projectados 576 filmes (48 por mês) e realizados cinco festivais internacionais de cinema. Kathy Wong acrescentou ainda que os objectivos traçados pela companhia passam por criar uma plataforma de intercâmbio entre profissionais de cinema locais e promover uma atmosfera criativa para o sector. Além disso, espera contribuir para o aumento de espectadores, a integração de recursos locais e ainda, o intercâmbio entre as indústrias cinematográficas locais e estrangeiras. Contudo, tanto os números como os objectivos avançados correspondem integralmente aos critérios definidos no caderno de encargos do concurso público, repetidos em outras ocasiões. Pedro Arede

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EMPRESÁRIO ALVIN CHAU NÃO AFASTA POSSÍVEL ENVOLVIMENTO NA EMPRESA GESTORA

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empresário Alvin Chau não nega estar envolvido com a Companhia de Produção e Entretenimento e Cultura In Limitada. Num primeiro momento, os representantes do grupo Suncity garantiram ao HM, por escrito, que Alvin Chau não é “accionista” nem “director” na empresa que vai gerir os destinos da Cinemateca Paixão. A informação prestada corresponde ao registo comercial da empresa, que apenas apresenta como accionistas Ieong Chan Veng e Ho Sio Chan, em regime de bens adquiridos, e ainda Tung Wing Ha. No entanto, quando o HM insistiu se havia “qualquer outro tipo de envolvimento” do proprietário do grupo Suncity com a In, a pergunta ficou sem resposta. Por outro lado, o também presidente da Associação de Cultura e Produções de Filmes e Televisão de Macau (MFTPA, na sigla PUB

inglesa) negou haver ligação entre a colectividade e a In. “A Associação de Cultura e Produções de Filmes e Televisão de Macau não é uma investidora nem accionista na Companhia de Produção e Entretenimento e Cultura, nem esta envolvida nos negócios da In”, foi clarificado.

A MFTPA faz parte da organização do Festival Internacional de Cinema de Macau e no seu portal não divulga os órgãos sociais. Até 2018, teve como presidente do Conselho Fiscal Lei Cheok Kuan, que é o proprietário do espaço onde a In estabeleceu sede, no Pátio Travessa da Fortuna.


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26.6.2020 sexta-feira

HOJE MACAU

Uma mão amiga

RAEM assina acordo para apoiar distrito na província de Guizhou

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ACAU vai apoiar o distrito de Congjiang, na província de Guizhou, no combate à erradicação da pobreza durante o ano de 2020. Numa reunião de trabalho realizada por videoconferência, que juntou representantes do Governo de Macau, do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM e o Governo da província de Guizhou, foram assinados nove acordos de projectos específicos sobre o plano de apoio da RAEM ao combate à pobreza de Congjiang. Segundo um comunicado divulgado na quarta-feira pelo Gabinete da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, os acordos preveem que Macau apoie a região na exploração de medicina ervanária, através de donativos para a construção

de instalações educativas, promoção da língua portuguesa, instalação de postos filantrópicos, acções de combate à pobreza através de consumo, e ainda, contribuições destinadas à aquisição de equipamentos médicos. Num encontro que contou com a presença da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Leong, a responsável sublinhou que “Macau tem vindo a assumir (…) a sua responsabilidade histórica na revitalização da nação” e que o Governo da RAEM tem participado de “de forma activa nos trabalhos de combate à pobreza”, em áreas como a educação, saúde, turismo, cultura e indústria.

DEPOIS DA COVID-19

Segundo o comunicado, a secretária acrescentou ainda

que o Governo vai fazer todos os esforços para “superar o impacto da epidemia e continuar a consolidar a base de cooperação no combate à pobreza com Guizhou”. Já o subdirector do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM,Yao Jin, relembrou que desde o começo da cooperação entre Guizhou e Macau, foi estabelecido, como princípio, aproveitar as vantagens de Macau para corresponder às necessidades de Congjiang, sendo que “já foram implementados dezoito acordos assinados, os quais obtiveram boa resposta por parte da sociedade”. A reunião foi presidida por Li Jian, vice-secretário-geral do comité provincial de Guizhou do PCC e chefe do gabinete de combate à pobreza da província. P.A.

CARTÃO DE CONSUMO KAIFONG QUER 3ª FASE

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presidente da secção dos Kaifong, responsável pela zona da 5 de Outubro quer que o Governo avalie a possibilidade de lançar uma terceira fase do projecto de cartão de consumo, noticiou o jornal Ou Mun. Para isso, sugere que quando as primeiras duas fases terminarem, o Executivo tenha em consideração a tendência da pandemia, a operação das pequenas e médias empresas (PME) e a situação de emprego dos residentes. Lam Kam Tin apontou que as zonas antigas, como a Rua de Cinco de Outubro, sofrem inundações e têm menos turistas, e são mais vulneráveis

economicamente, mesmo com o lançamento do cartão de consumo em tempo oportuno para aliviar a situação. Como as sondagens da associação mostram que a maioria dos residentes gastou quase todo o valor do cartão, o dirigente sugeriu que o Governo aumente o limite máximo diário. Chan Peng Peng, vice-presidente da Direcção da Aliança de Povo de Instituição de Macau, espera que na próxima fase haja maior flexibilidade no levantamento do cartão dos menores. A associação recebeu várias opiniões de residentes na China Continental ou no exterior, que não podem representar

os seus filhos menores para o levantamento de cartão de consumo, porque ainda não voltaram para Macau, e isso só pode ser feito pelos pais ou tutores. No sentido de diminuir as restrições, deu como exemplo que os familiares dos menores possam representá-los mediante a entrega da declaração de responsabilidade. Para além de apelar aos estabelecimentos comerciais para não subirem os preços, Chan Peng Peng propõe que a Macau Pass e as PME colaborem e lancem ofertas, com vista a estimular o consumo da população. PUB

ANÚNCIO (92/2020) Faz-se saber que, em relação ao concurso público para “OBRA DE RENOVAÇÃO DAS FRACÇÕES DE HABITAÇÃO SOCIAL DO ANO DE 2020 (05)”, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 24, II Série, de 10 de Junho de 2020, foram prestados esclarecimentos, nos termos do artigo 2.2 do programa do concurso, e foi feita aclaração complementar conforme necessidades, pela entidade que realiza o concurso e juntos ao processo do concurso. Os referidos esclarecimentos e aclaração complementar encontram-se disponíveis para consulta, durante o horário de expediente, no Instituto de Habitação, Estrada do Canal dos Patos, n.º 220, Macau. Instituto de Habitação, aos 18 de Junho de 2020. O Presidente, Arnaldo Santos

AUSTERIDADE HO PROMETE CONTINUAR COM “CHEQUES” AOS RESIDENTES

Política intocável

O Chefe do Executivo insiste na necessidade de congelar salários na Função Pública e avança que no próximo mês pode ser anunciado um programa com quotas que permita ir a Hong Kong sem fazer quarentena

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PESAR de o Orçamento da RAEM para 2021 prever um corte de 10 por cento nas despesas, Ho Iat Seng garante que o programa de comparticipação pecuniária vai permanecer intacto.As declarações foram feitas ontem à margem das Regatas Internacionais Barcos-Dragão, onde o Chefe do Executivo confirmou ainda o congelamento dos salários da Função Pública. Segundo o Chefe do Executivo, o programa que atribui 10 mil patacas por ano aos residentes permanentes e 6 mil patacas aos residentes não-permanentes vai se manter intacto. Ho Iat Seng justificou a decisão por considerar os

cheques pecuniários uma despesa que serve o “bem-estar” da população e que assume grande importância nas famílias mais desfavorecidas. O líder máximo da RAEM explicou também que os cortes vão focar principalmente gastos vistos como excessivos, que não têm impacto nos serviços e subsídios sociais. No entanto, um dado praticamente adquirido é o congelamento dos salários na Função Pública, para acompanhar a tendência do resto da sociedade. Ho Iat Seng defendeu que no sector privado o momento é de reduções salariais, devido aos impactos da covid-19, e que as pessoas não iriam compreender se os funcionários públicos fossem aumentados em contraciclo.

No que diz respeito à economia, Ho foi também questionado sobre a vaga de despedimentos e lay-off que varreu o sector do jogo. O Chefe do Executivo pediu à população que compreenda que a situação que se atravessa é excepcional, e afirmou que não é conveniente haver demasiada interferência do Governo nos assuntos das empresas privadas. Ho apontou também que as concessionárias têm assegurado os trabalhos dos residentes, uma medida que é bem vista pelo Executivo. Também ontem, o líder do Governo afastou a hipótese, para já, de haver uma terceira fase do cartão de consumo. Ho explicou que a segunda fase começa em Agosto, termina em Dezembro e que até essa data há a esperança que os problemas económicos causados pela covid-19 estejam ultrapassados com a vinda de turistas do Interior.

SEM QUARENTA PARA HONG KONG

Em relação à abertura das fronteiras com Hong Kong, Ho Iat Seng admitiu que está a ser negociado um programa piloto que deverá arrancar no próximo mês. A circulação sem quarentena deverá ser semelhante ao esquema actualmente em vigor com Zhuhai, ou seja, com quotas diárias e apenas para algumas pessoas, nomeadamente empresários, pessoas a precisar de cuidados médicos e visitas familiares. Em relação ao Interior, Ho admitiu que face à grande procura de residentes que querem atravessar a fronteira sem fazer quarentena, vai tentar aumentar a quota diária, que actualmente é de 1.000 pessoas. Por outro lado, reconheceu que estava previsto uma maior abertura das fronteiras para o mês de Junho, mas que os planos foram abortados devido ao surto comunitário que surgiu num mercado de Pequim. Outro dos assuntos abordados foi a construção de habitação pública na Zona A dos Novos Aterros. Os planos do Governo preveem que sejam construídas 28 mil fracções públicas, mas Ho Iat Seng não garante que as primeiras 3.000 casas fiquem prontas no final do actual mandato, ou seja, em Dezembro de 2024. João Santos Filipe com N.W.

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política 5

TRABALHO LEI CHAN U QUER QUE FERIADOS TRADICIONAIS SEJAM OBRIGATÓRIOS

TIAGO ALCÂNTARA

sexta-feira 26.6.2020

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Governo deve transformar os festivais tradicionais, como o do barco-dragão, em feriados obrigatórios. É esta a sugestão do deputado Lei Chan U, de acordo com o jornal Ou Mun. Em causa está o esquecimento dos festivais tradicionais, que assim se tornam menos importantes. Para Lei Chan U, o Governo e os diversos sectores da sociedade devem pensar em como reforçar a protecção destes festivais, que promovem a cultura tradicional chinesa. O também vice-presidente da direcção da FAOM apontou que aos olhos dos residentes, sobretudo dos jovens, estes eventos são cada vez menos atractivos por causa do impacto da cultura exterior e escassez de promoção. Algo que para Lei Chan U também reflete que há falta do sentido de pertença relativamente à cultura tradicional chinesa em alguns residentes. O deputado frisou ainda que, embora alguns festivais tradicionais estejam na lista de protecção do património cultural intangível nacional, não significa que estejam completamente protegidos. Como tal, o deputado ligado aos Operários considera que é preciso valorizar a tradição e a cultura, através da promoção educativa em diferentes meios, para que os residentes reforcem o seu reconhecimento.

GCS Inês Chan assume direcção a partir de 1 de Julho

Inês Chan vai assumir o cargo de directora do Gabinete de Comunicação Social (GCS) a partir de 1 de Julho. A informação foi publicada na quarta-feira em Boletim Oficial (BO), especificando ainda que a nomeação é válida pelo período de um ano. Inês Chan, que ingressou na Função Pública em 1990, era actualmente chefe do departamento de licenciamento e inspecção da Direcção dos Serviços de Turismo, tendo no presente ano participado em mais de 100 conferências de imprensa do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus. Inês Chan vai substituir assim Victor Chan na direcção do GCS. Quanto a Vitor Chan, segundo um despacho do secretário para a Economia e Finanças publicado também em BO, passa a assumir o cargo de assessor do gabinete da respectiva tutela, também a partir do dia 1 de Julho.

SAFP TRABALHADORES ACONSELHADOS A TIRAR FÉRIAS PARA FAZER QUARENTENA

Vá para dentro, cá dentro Os funcionários públicos que queiram sair de Macau devem tirar férias a contar com o período de quarentena obrigatório no regresso – segundo uma orientação lançada pelos Serviços de Administração e Função Pública, a que o HM teve acesso. No entanto, a lei determina que essas faltas, na Administração Pública, se consideram justificadas

O

S Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) emitiram uma orientação a indicar que os trabalhadores que viajem para fora devem tirar dias de férias para cobrir o período de quarentena obrigatório aquando do regresso a Macau. O apelo foi lançado no âmbito das medidas de controlo da Lei de prevenção, controlo e tratamento de doenças transmissíveis e as actuais medidas de entrada implementadas pelo Governo. Recorde-se que é requerido a quem entrar em Macau que fique durante 14 dias em observação médica, excepto casos especiais aprovados pelo Chefe do Executivo. “De acordo com a opinião dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), tendo em consideração que os funcionários já sabem do requisito (...) antes da partida, devem pedir para usar férias anuais para os 14 dias mencionados para o período de quarentena/observação médica”, diz a orientação a que o HM teve

acesso. No entanto, a mesma Lei de prevenção, controlo e tratamento de doenças transmissíveis prevê que as faltas dadas por força de isolamento obrigatório se consideram “justificadas para quaisquer efeitos legais no caso dos trabalhadores da Administração Pública”. José Alvares considera que a medida “é perfeitamente legítima” e que “os SAFP podem perfeitamente emitir esta orientação”. E notou que a linguagem utilizada expressa uma recomendação e não uma obrigação. No entanto, ao nível do sancionamento para quem não cumprir o recomendado, o advogado disse ao HM que seria “difícil” colocar um procedimento disciplinar, tendo em conta que, de acordo com a lei, a falta teria de ser justificada. Assim sendo, José Álvares entende que os serviços teriam de analisar outras formas de sancionar a conduta, como por exemplo ao nível da avaliação, já que um trabalhador que não respeite a orientação “está a demonstrar

alguma desconsideração pelos serviços públicos”.

LIBERDADE NECESSÁRIA

Para António Katchi, a sujeição a isolamento obrigatório também implica faltas justificadas, não o recurso a dias de férias. “Quando muito, o trabalhador teria o direito de optar pelo ‘gozo’ de dias de férias a fim de evitar as faltas justificadas, mas isso seria opção sua, nunca lhe poderia ser imposto. E nem é de excluir a faculdade de o próprio empregador lhe indeferir esse pedido, argumentando com as finalidades e com a irrenunciabilidade do direito a férias”, explicou. Assim, descreveu como o internamento, seja em casa ou num hotel, impede o trabalhador e os familiares na sua dependência de gozarem as vantagens associadas ao direito a férias anuais pagas – ressalvando que é um direito fundamental consagrado no Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais. “Aliás, férias sem liberdade não são férias!”, reforçou o jurista.

Neste sentido, António Katchi aconselha o trabalhador a averiguar se está em causa uma sugestão ou “uma ordem ‘simpaticamente’ disfarçada” como tal. No caso de ser efectivamente uma sugestão – defende que o trabalhador pode simplesmente não a seguir – entendendo que, do ponto de vista jurídico, não poderia sofrer qualquer sanção, já que a recusa de uma sugestão não implica violação do dever de obediência. E se se tratar de uma ordem? “Então o trabalhador poderia, desde logo, solicitar a redução da ordem a escrito - se ainda não o tivesse sido - e o esclarecimento das respectivas razões, de facto e de direito”. Um passo que não exclui a possibilidade de usar sucessivamente os meios ao seu dispor para contestar: reclamação, recurso hierárquico e recurso contencioso. Salomé Fernandes e J.L. info@hojemacau.com.mo


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TIAGO ALCÂNTARA

26.6.2020 sexta-feira

Quarentena Pedidos de isenção para Zhuhai feitos no Pac On

A partir de hoje os pedidos de isenção de quarentena por parte dos residentes de Macau para entrarem em Zhuhai passam também a ser feitos presencialmente no terminal do Pac On. Até aqui, estes procedimentos apenas podiam ser requisitados através da internet. Mas, para “aliviar” a elevada procura, passam a poder ser feitos de forma presencial. A revelação foi feita por Ma Chio Hong, do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), na conferência de imprensa sobre a situação da pandemia do Covid-19. O atendimento será nos dias úteis das 9h às 17h45, e à sexta-feira o horário de fecho é encurtado para as 17h30.

Farol da Guia Projecto de edifício gerou mais de 200 opiniões

Chan Pou Ha, presidente do CPU “Temos de seguir os trabalhos segundo as circunstâncias enunciadas na lei. São sempre bem-vindos a apresentar opiniões nos termos da lei, mas fora desse prazo legal não podemos fazer”,

CPU PROJECTO DE EXPANSÃO DA EPM APROVADO SEM DISCUSSÃO

O fim do tempo

O Conselho do Planeamento Urbanístico aprovou a planta de condições urbanísticas da Escola Portuguesa de Macau sem discussão. A presidente do organismo disse não ser possível esperar pelo relatório da Docomomo porque chegou ao fim o período de consulta pública

A

planta de condições urbanísticas para a expansão da Escola Portuguesa de Macau (EPM) foi aprovada pelo Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) sem discussão, noticiou a TDM - Rádio Macau. A organização não-governamental Docomomo Internacional pretendia enviar ao Conselho de Planeamento Urbanístico, no prazo de um mês, um relatório sobre o projecto de expansão do edifício, alegando que põe em risco a preservação do que já está construído. No entanto, Chan Pou Ha, presidente do CPU, apontou que não é

possível esperar por opiniões apresentadas depois do período de consulta. “Temos de seguir os trabalhos segundo as circunstâncias enunciadas na lei. São sempre bem-vindos a apresentar opiniões nos termos da lei, mas fora desse prazo legal não podemos fazer”, explicou. A consulta pública sobre a planta de condições urbanísticas terminou a 15 de Junho. Entre as três opiniões recolhidas sobre a planta de condições urbanísticas houve quem defendesse que “o afastamento mínimo entre edifícios no interior do lote, em que um deles tem valor patrimonial,

não deve caber ao proprietário ou projectista” e que “esta PCU assume os mesmos princípios universais para uma configuração tipo pódio-torre, ignorando a pré-existência Modernista com valor patrimonial”.

DEFESA DE PATRIMÓNIO

Para além disso, foi defendida uma “altimetria intermédia” para a área do lote mais próxima do volume do ginásio para “assegurar a integração urbana entre os edifícios existentes no lote, de alto valor patrimonial e as novas construções”. Além disso, sugeriu-se realização de um estudo para verificar se o pátio central, salas de aula e

ginásio vão receber luz natural suficiente. A falta de luz natural foi uma preocupação expressa por Rui Leão e pela Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau (APEP) no ano passado. Em causa está a construção de uma torre com 50 metros de altura, que pode ficar a menos de 1,5 metros dos edifícios já existentes. À saída da reunião de quarta-feira, a vice-presidente do Instituto Cultural, que também integra o CPU, reconheceu que a maior preocupação é a proximidade entre os edifícios na escola, mas defendeu não haver conflito com a protecção do conjunto já edificado. A responsável sublinhou a necessidade de preservar a arquitectura existente e de manter espaço livre entre os topos do pódio. De acordo com a TDM - Rádio Macau, Leong Wai Man afirmou que o Instituto Cultural “não emitiu nenhuma opinião sobre a altura” da futura torre, que vai ficar com 50 metros, mas que tem “algumas exigências” em relação seu desenvolvimento. A mesma fonte avançou ainda que a EPM vai ter um novo auditório, para servir tanto a escola como a população, e que a expansão vai demorar entre três a três anos e meio para ficar concluída. S.F.

Foram apresentadas mais de 200 opiniões sobre o projecto de construção de um edifício na Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues com altura prevista de 90 metros. O volume de reacções levou a que a planta de condições urbanísticas ainda não tenha sido agendada para discussão, noticiou a TDM - Rádio Macau. O projecto gerou contestação por parte da Associação Novo Macau e do Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia, que alertaram para o impacto da construção na paisagem envolvente ao farol. À margem da reunião do Conselho de Planeamento Urbanístico, a presidente do organismo não avançou uma data, mas disse esperar que seja discutida em breve – se possível, na próxima reunião.

Covid-19 576 pessoas regressaram a Macau pelo aeroporto de HK

Do total das 1243 pessoas inscritas para usar o corredor marítimo entre o aeroporto de Hong Kong e Macau, 576 já regressaram a Macau. Em sentido contrário, 178 pessoas usaram o serviço para viajar de Macau para Hong Kong. Lau Fong Chi, representante dos serviços de turismo que ocupa agora o lugar de Inês Chan nas conferências de imprensa sobre a covid-19, revelou que o tempo de espera para se chegar a Hong Kong foi alargado. Em vez do transporte marítimo ser assegurado apenas para quem tem chegada prevista entre as quatro da manhã e as 22h, os residentes poderão usar o serviço para vir para a Macau “até 24 horas após a sua chegada a Hong Kong”. O corredor especial está em funcionamento até 16 de Julho.

IAS 90 centros sociais abrem a partir do próximo mês

Ao todo, 90 equipamentos sociais a cargo do Instituto de Acção Social (IAS) como centros de serviço familiar e comunitário, centros de convívio, centros de dia para idosos e espaços dedicados aos jovens vão retomar o seu funcionamento a partir de 1 de Julho. A informação foi avançada na quarta-feira por Tang Yuk Wa, vice-presidente do IAS. No entanto, segundo o responsável, a retoma será faseada, de forma a cumprir as regras de prevenção epidémica. “Considerando as diferenças em termos de natureza, características e destinatários, os equipamentos sociais vão retomar o seu funcionamento de forma faseada para diminuir a concentração da população, manter o distanciamento social e garantir a eficiência do funcionamento”, anunciou Tang Yuk Wa.


sociedade 7

CTM Registadas quebras nas receitas de 13 por cento

TIAGO ALCÂNTARA

sexta-feira 26.6.2020

A Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) apresentou um resultado líquido de 1.010 milhões de patacas em 2019, mais 7 por cento em relação a 2018. De acordo com a informação divulgada esta quarta-feira em Boletim Oficial, a CTM obteve uma receita de 4.243 milhões de patacas, menos 13 por cento em relação ao período homólogo do ano anterior. A empresa apontou ainda ter investido 240 milhões de patacas “em projectos de investimento ao longo do ano”, menos 47 milhões de patacas do que no ano anterior. “Os maiores projectos da empresa em 2019 foram a expansão das principais redes, em particular a LTE (4G), Internet e circuitos alugados, e ainda o desenvolvimento do Sistema de Gestão de Apoio ao Cliente”, lê-se na nota.

TCM Lucro líquido superior a 72 milhões de patacas

A TCM, uma das três operadoras de autocarros no território, registou lucros líquidos superiores a 72,3 milhões de patacas o ano passado, aponta o relatório e contas da empresa publicado esta quarta-feira em Boletim Oficial. A TCM aumentou também os salários dos trabalhadores em 500 patacas, sendo que “alguns funcionários com desempenho notável receberam ainda um aumento adicional”. A empresa transportou mais de 300 mil passageiros, em média, por dia, com cerca de seis mil frequências. Durante o período das celebrações da Implantação da República Popular da China, entre 3 e 4 de Outubro, o número de passageiros transportados diariamente pela TCM atingiu 400 mil pessoas, “um novo recorde histórico”, aponta o relatório.

Transmac Operadora diz estar a negociar renovação de contrato

O relatório e contas de 2019 da operadora de autocarros Transmac diz que a empresa pretende renovar o contrato de concessão até final deste ano. A garantia é dada por Liu Hei Wan, presidente do Conselho de Administração da Transmac. “O prazo do contrato da Transmac relativo ao ‘Serviço Público de Transportes Colectivos Rodoviários de Passageiros’ já foi prolongado até 31 de Dezembro de 2020. Actualmente, a Transmac encontra-se em negociações estreitas com os serviços públicos competentes sobre a renovação do contrato”, lê-se no relatório publicado quarta-feira em Boletim Oficial. Em 2019 foram transportados mais de 105 milhões de pessoas, mais 6 por cento em relação a 2018, e 46,3 por cento do número total de passageiros em Macau. A empresa reporta lucros depois do pagamento de impostos de mais de 45,26 milhões de patacas.

RELATÓRIO ECONOMIA LOCAL PODE CONTRAIR 70 POR CENTO EM 2020

A covid faz das suas

Os números da última análise da Economist Intelligence Unit sobre a economia de Macau não são animadores e apontam para a maior contração económica da história do território, na ordem dos 70 por cento. A taxa de desemprego deverá manter-se nos 2,6 por cento, enquanto que as poucas receitas de jogo vão depender de “um grupo de jogadores VIP”

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M relatório publicado pela Economist Intelligence Unit (EIU, na sigla inglesa), ligado à publicação The Economist, prevê uma contração da economia de Macau na ordem dos 70 por cento, apontada como a maior e mais severa da história económica do território. Os dados são citados pelo portal informativo Macau News Agency. Os analistas preveem ainda que a recuperação para níveis económicos pré-pandemia só poderá surgir em finais de 2021, com a economia local a crescer cerca de 31 por cento no próximo ano. A contração e “os fracos dados do jogo e do turismo” explicam-se, em parte, pelas restrições nas viagens, que gerou menos fluxo de turistas e, consequentemente, grandes quebras no consumo. Por esses motivos, a EIU prevê que o desempenho econó-

mico no segundo trimestre “será apesar de ser expectável que o difícil”. Relativamente às baixas Produto Interno Bruto desça 27,1 receitas de jogo registadas nos por cento este ano. primeiros meses do ano, devemRelativamente à taxa de -se a “um grupo de jogadores desemprego de 2020 e também VIP” que conseguiram viajar até para o próximo ano, deverá ser de Macau. 2,6 por cento. A EIU des- Os analistas preveem A EIU acredita taca ainda o facas medidas ainda que a recuperação que to de as baixas de estímulo ao receitas geradas para níveis económicos emprego impelas indústrias pré-pandemia só poderá plementadas do jogo e do pelo Governo turismo terem surgir em finais de 2021, poderão conter levado a uma com a economia local a a subida dos quebra do condo decrescer 31 por cento no números sumo de 35,5 semprego por cento, bem próximo ano à quebra de 61,5 UM ANO DIFÍCIL por cento no investimento, por Desde o início da pandemia da oposição ao aumento de 20,6 por covid-19, sem surpresas, as várias cento nas despesas do Governo. análises feitas ao desempenho O relatório destaca, no entan- económico de Macau não são to, que as reservas financeiras de animadoras. Em Abril, o Fundo que o Governo dispõe permitem Monetário Internacional (FMI) assegurar “robustez” orçamental, estimou uma regressão de 29,6

por cento, quando em 2019 tinha regredido apenas 4,7 por cento. No entanto, a previsão do FMI de crescimento económico para 2021, é na ordem dos 32 por cento, valores que se assemelham à previsão feita pelo EIU. O FMI estimou uma taxa de desemprego de 2 por cento. Relativamente a 2021, o desemprego deverá ser de 1,8 por cento. O mau desempenho económico de Macau não é, no entanto, único num mundo que sofre os impactos devastadores da covid-19. O FMI previu uma recessão da economia mundial de 3 por cento este ano, devido às medidas de confinamento que pararam quase por completo o consumo e a produção de bens e produtos. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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Longe da vista, lo LIVRO MACAENSES NA DIÁSPORA SENTEM-SE MAIS AFASTADOS DA SUA GASTRONOMIA

“The Making of Macau’s Fusion Cuisine - From Family Table to World Stage” é o mais recente livro de Annabel Jackson sobre culinária macaense que analisa não só a relação dos macaenses, dentro e fora de Macau, com a sua comida, mas as influências de Malaca nas receitas. Uma das conclusões é que o macaense que vive em Macau sente-se mais próximo da sua gastronomia, do que reside em Hong Kong ou na diáspora

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O M o apoio do Instituto de Estudos Europeus de Macau e outras entidades, Annabel Jackson acaba de lançar um novo livro sobre gastronomia macaense intitulado “The Making of Macau’s Fusion Cuisine - From Family Table to World Stage”, uma edição da Hong Kong University Press. A obra resulta de inquéritos à comunidade macaense, dentro e fora de Macau, a partir de 2017, e de trabalho de campo efectuado em Malaca. Numa obra que olha para a relação dos macaenses com a sua comida, é argumentado que quanto mais a comunidade está longe de Macau, menos relação tem com a gastronomia macaense. Os dados revelam que, na diáspora, apenas 65 por cento dos inquiridos considera a gastronomia macaense importante para a sua identidade

cultural, e apenas 42 por cento comem pratos macaenses, pelo menos, uma vez por semana. A autora considera que os dados sobre a comunidade macaense em Hong Kong “são relativamente semelhantes”. Na diáspora, sem incluir Hong Kong, 61 por cento afirmou que a comida macaense é a sua favorita, enquanto que em Hong Kong 57 por cento mostraram a mesma predilecção.

“Um turista encontra restaurantes macaenses e há comida macaense nos hotéis, mas há um problema de comunicação.” ANNABEL JACKSON AUTORA

Em Macau, os números são bem mais expressivos. 75 por cento dos macaenses que vivem na RAEM dizem que a comida macaense é a sua favorita, a mesma percentagem dos que afirmam que a gastronomia macaense é importante para a sua identidade cultural. Deste universo de residentes na RAEM, também 75 por cento não dispensam a culinária macaense, pelo menos, uma vez por semana, e quase 50 por cento afirma deliciam-se diariamente. Ao HM, Annabel Jackson diz que um dos factores que justificam estes números prende-se com o facto de, em Macau, ser muito mais fácil aceder a comida macaense fora de casa. “Se se quiser comer comida macaense pode-se facilmente ir a um local, encomendar e levar para casa, como por exemplo no [restaurante] Riquexó, mas em Hong Kong é praticamente impossível arranjar comida macaense. Há no Club Lusitano, mas é preciso ser membro.” Para esfrutar desta faceta da cultura macaenses fora de Macau é preciso cozinhar em casa, além do facto de, em Hong Kong, “a comida cantonense se ter tornado muito comum e barata, com [a existência] de bons restaurantes]”, acrescentou. Annabel Jackson diz que não está em causa o difícil acesso aos ingredientes típicos, “por serem muito semelhantes aos que se encontram em Macau”, mas há diferenças em termos de identidade cultural. A autora entende que quem nasce em Macau sente-se mais próximo da sua comunidade do, por exemplo, quem nasce em Hong Kong ou mesmo na diáspora.

IMPORTÂNCIA LÁ FORA

Apesar de apenas 65 por cento ter respondido que a gastronomia macaense é importante para a identidade cultural, Annabel Jackson denota grande ligação afectiva de quem vive no estrangeiro aos pratos macaenses.

“O que mais me surpreendeu foi a forma como a comida é importante na diáspora. E mesmo que comam apenas uma vez por ano, é fundamental para a sua identidade. Não é apenas o acto de comer, mas a memória da comida, o significado.” E aqui o minchi surge como o prato icónico, mesmo que seja comido apenas em dias de festa. “As pessoas falam sempre no minchi, que se tornou num símbolo de Macau. Há pratos que são como lugares, nunca pensei que houvesse esse sentimento em relação à comida”, frisou a autora. Neste sentido, as Casas de Macau no mundo desempenham um papel de preservação e construção do elo com a gastronomia macaense. Para Annabel Jackson, estas

associações “têm feito um trabalho incrível”.

DA MESA PARA OS HOTÉIS

Annabel Jackson, que começou a escrever sobre a gastronomia macaense nos anos 90 e residiu em Hong Kong, recorda que hoje é possível encontrar mais restaurantes de comida macaense e até alguns pratos nos menus dos hotéis. Exemplos que demonstram que é uma gastronomia que consegue sair do lugar exclusivo que ocupava nas mesas familiares. “Hoje podemos encontrar várias pesquisas sobre a comida macaense. Quando lancei o meu primeiro livro, em 1994, foi a primeira vez que se escreveu sobre esta gastronomia. Mas agora, há todo o tipo de programas de televisão, embora seja uma

cozinha de nicho. É uma gastronomia mais falada.” O título “From Family Table to World Stage” é também um reflexo dessa mudança. “Quando comecei a fazer pesquisa para o meu livro de 1994, havia apenas um restaurante. [Esta gastronomia] passou de algo que as famílias macaenses cozinhavam em casa, ou que se encontrava em alguns restaurantes em Macau, para uma cozinha que se encontra em hotéis de cinco estrelas de grupos internacionais”, apontou a autora. Ainda sobre o título da obra, Annabel Jackson confessou não estar completamente à vontade com o mesmo, por ainda não ter certezas sobre o que verdadeiramente significa o termo comida de fusão. “O conceito de comida de fusão é algo complicado. Uma


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onge do coração

facto de a culinária macaense ser “invisível”, uma vez que a autora considera que há um problema na forma como é transmitida ao público. “Um turista encontra restaurantes macaenses e há comida macaense nos hotéis, mas existe um problema de comunicação. Fiz alguma análise aos menus dos hotéis e têm pratos locais, mas muitas vezes o que é macaense é chamado de português, ou vice-versa, ou então não existem pratos macaenses de todo, e esse é o problema.”

“Durante o período português em Malaca foi criado um novo molho de camarão fermentado, conhecido como cincaluk. Parece que o macaense balichão é uma espécie de versão do cincaluk” cozinha pode ir mudando ao longo dos tempos devido às circunstâncias ou percepções das mudanças dos tempos. Não gosto do termo de fusão, porque é um termo muito moderno. Em Los Angeles e Londres, nos anos 80 e 90, tornou-se uma tendência.” Nesse sentido, “não acho que o termo [de cozinha de fusão] dê grande ajuda, sobretudo no caso de Macau”, referiu. “O. conceito de fusão sugere que é comida com qualquer coisa, e sugere que foi algo da comida portuguesa que se fundiu com algo. E os portugueses estiveram em sítios como Malaca. Estou certa de que poderemos encontrar cozinhas semelhantes na América do Sul, por exemplo. A UNESCO disse que era uma das primeiras cozinhas de fusão, mas na verdade não

sei o que significa esse termo”, explicou Jackson.

AS INFLUÊNCIAS

O debate em torno da possibilidade de a comida macaense ser muito mais do que a fusão

Apesar de apenas 65 por cento ter respondido que a gastronomia macaense é importante para a identidade cultural, Annabel Jackson denota grande ligação afectiva aos pratos macaenses na diáspora

da comida portuguesa com a chinesa é longe e controversa. Nesta obra, Annabel Jackson descreve as influências da comunidade Kristang, em Malaca, na comida macaense, fruto de um trabalho de campo realizado em 2018. Além dos ingredientes, parece haver uma influência forte no nome de alguns pratos. “A maioria dos pratos macaenses descendem de Malaca e se olharmos para alguns pratos de Malaca, da comunidade Kristang, são quase idênticos, à excepção de que em Malaca adicionam alguns picantes. As comidas macaenses parecem ser mais naturais e menos picantes”, descreve Jackson. Um dos exemplos é o uso de uma pasta de peixe fermentado que está associada a territórios como Indonésia e

Malásia. “Durante o período português em Malaca foi criado um novo molho de camarão fermentado, conhecido como cincaluk. Parece que o macaense balichão é uma espécie de versão do cincaluk; o balichão também aparece em Goa com nomes semelhantes, como ballchow ou balchao”, lê-se na obra. Annabel Jackson escreve ainda que o balichão, através de Macau, “terá tido a inspiração do condimento de peixe fermentado cantonense [yulu 魚露 ]”. A cozinha cantonense acabou por influenciar a macaense ao longo de todo o século XX, com “algumas adaptações” como, por exemplo, o Merenda Man, o homem que vendia snacks macaenses, como chilicotes, à comunidade macaense de

Hong Kong. Apesar de muitas mulheres de empresários terem levado receitas para o território vizinho, à medida que os anos passaram “os snacks [macaenses] tornaram-se mais ‘cantoneses’ com o uso de ingredientes locais baratos”. Annabel Jackson dá conta que “algumas das coisas que os portugueses mais adoram, como batatas, cebolas e frango, já existiam muito [na altura] e não era difícil replicar a comida portuguesa em Macau. Mesmo que os sabores fossem diferentes. Mas o que o livro diz é que quando os portugueses chegaram a Malaca já tinham os seus próprios pratos de fusão”, frisou.

FALHAS DE COMUNICAÇÃO

O livro de Annabel Jackson faz também uma referência ao

“É quase impossível para um visitante saber com toda a certeza se está a comer um prato macaense, português ou do sudeste asiático. Por isso digo que a comida macaense é invisível, pela forma como é comunicada.” Neste sentido, Annabel Jackson defende a criação de um organismo na Direcção de Serviços de Turismo (DST) responsável pela gestão da gastronomia macaense. “Seria frustrante se isso não acontecesse, e agora que Macau é cidade gastronómica da UNESCO gostaria de ver algo mais sistematizado, sem diferentes interpretações, mais centralizado”, rematou. Andreia Sofia Silva

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O terceiro passo

Empresa chinesa inicia fase 3 de teste de vacina nos EAU

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f a r macêutica estatal chinesa Sinopharm vai iniciar, nos Emirados Árabes Unidos (EAU), a fase 3 dos testes clínicos para uma possível vacina para a covid-19, informou na quarta-feira o portal noticioso Caixin. Segundo o portal, a vacina está a ser desenvolvida em conjunto pelo Instituto de Produtos Biológicos e Virologia de Wuhan e a Academia Chinesa da Ciência. A fase 3 dos ensaios envolve milhares de participantes e normalmente ocorre em países onde o vírus está disseminado, para que a eficácia da vacina possa ser observada no quotidiano. A razão pela qual a Sinopharm escolheu os EAU para a fase 3 dos testes deve-se à escassez de casos activos na China, segundo a publicação oficial. Caso esta fase seja superada, as autoridades podem, PUB

teoricamente, aprovar a vacina para uso público. Embora, por vezes, seja necessária uma quarta fase, com estudos mais aprofundados. O período para uma vacina estar disponível para uso em massa é, normalmente, de pelo menos 12 a 18 meses, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), embora a China tenha acelerado o processo devido à emergência de saúde global, o que permitiu que alguns estudos fossem realizados ao mesmo tempo na primeira e na segunda fase.

CONCORRÊNCIA EM OSAKA

O ministério da Saúde dos Emirados Árabes Unidos aprovou a realização dos testes, em conjunto com a empresa local Grupo 42. A vacina candidata é baseada numa versão inactiva do sars-cov-2, o coronavírus que causa a doença covid-19. No dia 16, o Instituto de Produtos Biológicos Wuhan, afi-

liado à Sinopharm, anunciou que as duas primeiras fases dos testes não apresentaram efeitos colaterais graves. A farmacêutica nipónica Agnes anunciou ontem que começará na próxima semana a testar em humanos uma potencial vacina genética contra a covid-19, com o objectivo de poder produzi-la em grande escala em 2021. A empresa iniciará os ensaios clínicos para obter a autorização de um painel de especialistas em saúde do Hospital Universitário de Osaka (oeste do Japão), que colabora com o projecto, depois de ter testado com êxito a vacina em ratos, segundo em comunicado. A vacina, a primeira dirigida à covid-19 que será testada em humanos no Japão, contém ADN modificado para codificar as proteínas do novo coronavírus, perante as quais o sistema imunitário do doente responderá gerando anticorpos contra a doença.

Caso esta fase seja superada, as autoridades podem, teoricamente, aprovar a vacina para uso público. Embora, por vezes, seja necessária uma quarta fase, com estudos mais aprofundados

O fármaco será ministrado inicialmente a 30 profissionais de saúde do Hospital Universitário de Osaka a partir de terça-feira. Até Outubro os testes vão estender-se a várias centenas

de pessoas para analisar a segurança e possíveis efeitos secundários, explicou a empresa. Caso os testes avancem de forma positiva, a farmacêutica espera obter autori-

zação para poder produzir e distribuir a vacina a nível nacional a partir de Março ou Abril do próximo ano.


sexta-feira 26.6.2020

“Implorei ao punhal veloz dar-me a liberdade”

António Cabrita

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CORDO assarapantado: no meu sonho uma brigada fundamentalista assaltava as bibliotecas e incendiava todos os exemplares do Moby Dick porque, espumavam com verdadeira incontinência, no romance de Melville se matam baleias. Passei os últimos dias a reler o romance e estou literalmente esmagado com a magnitude de Melville e a violência do seu fracasso. O livro, de 1851, foi zurzido pela crítica e o principal motivo para o declínio da carreira do autor. Moby Dick é um romance tingido por reflexões éticas e filosóficas que também se manifestariam em Pierre or the ambiguities (1852), outra obra-prima, desta feita uma obscura exploração alegórica da natureza do mal em quinhentas páginas. Mas se Moby Dick não foi um sucesso comercial, Pierre or the Ambiguities foi um fiasco retumbante. O que levou o seu editor a recusar o manuscrito, hoje perdido, do livro seguinte: The Isle of the Cross. Herman Melville morreu em 28 de setembro de 1891, aos 72 anos, em Nova York, na total obscuridade – quarenta anos depois de ter assistido à sua derrocada. Aliás, além de The Isle of the Cross, Melville só voltaria a escrever Billy Budd, publicado trinta e alguns anos depois da sua morte, e passaria as suas últimas três décadas de vida em deceptiva congelação, sem chegar a adivinhar o sucesso que a sua obra alcançaria no século seguinte. Face a Moby Dick, escrito com um domínio total sobre todos os recursos técnicos do romance e as suas modulações expressivas, é monstruoso pensar na solidão de Melville e na desproporção entre a sua natural consciência de quanto os seus livros valiam e a frustre recepção dos mesmos – a mágoa com que abandonou a sua arte é, para nós, incomensurável. Entretanto, registe-se esta curiosidade no Moby Dick, no capítulo 41: «(...) as realidades da vida rivalizam com os prodígios das lendas antigas, mesmo quando se trata de uma velha história como a da serra da Estrela, em Portugal, onde se diz existir perto do cume um lago em cuja superfície flutuam carças de navios naufragados no oceano.» A serra da Estrela, à qual Melville, no original, chama “montanha interior” mas que na edição brasileira da Cosac & Naify é amesquinhada, não passando de um “monte da Estrela”. Pois no futuro será a cordilheira-Melville que vai voltar a ser aplainada sob a vaga dos literalistas que dominarão as próximas décadas. Como escreveu Pacheco Pereira: «Ninguém liga nenhuma

Que deus não perdoe! FRANCISCO DE GOYA

diario de prospero

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ao facto de uma certa forma de ignorância agressiva estar a crescer, e a como isso se está a tornar um grave problema social, e político (...) será um retrocesso civilizacional (...) A dificuldade de separar a verdade da mentira, o crescimento das teorias conspirativas, as ideias contra a ciência, tudo isto está a ganhar terreno. O populismo moderno dá-lhes uma expressão política eficaz.». E como são literalistas, tudo o que seja expressão simbólica escapa-lhes, e até o melhor da emulação desportiva e

da sua dupla significação de redenção e sacrifício será desentendido. Aí, igualmente o boxe será banido: serão postas numa pira os filmes Body and Soul, do Robert Rossen, The set-up, de Robert Wise, O Touro Enraivecido, de Scorsese, e A Million Dollar Baby, de Clint Eastwood - quatro obras-primas a arder, sob a fúria iconoclasta. Receio que os esbirros, o pesadelo advertiu-me, venham cá a casa incendiar o belíssimo On Boxing, da insuspeita Joy-

E como são literalistas, tudo o que seja expressão simbólica escapa-lhes, e até o melhor da emulação desportiva e da sua dupla significação de redenção e sacrifício será desentendido. Aí, igualmente o boxe será banido

ce Carol Oates e o impagável The fight, a genial reportagem que Normal Mailer escreveu sobre the rumble in the jungle, a mítica disputa do título dos pesos-pesados, entre Muhammad Ali e George Foreman, em Kinshasa, no antigo Zaire. São duzentas e trinta páginas trepidantes, do melhor New Journalism. Norman Mailer escrevia sobre boxe como quem soltava rápidos jabs, e aí se lia: «Talvez que a doença resulte de uma falha de comunicação entre a mente e o corpo. Isso é certamente verdadeiro no caso de uma doença tão rápida como o nocaute. A mente não consegue mais transmitir uma palavra sequer aos membros. O extremo dessa teoria, exposta por Cus D’Amato quando treinava Floyd Patterson e José Torres, é que um pugilista com desejo autêntico de vencer não pode ser nocauteado se vê o soco aproximar-se, pois então não sofre nenhuma interrupção dramática de comunicação. O soco pode machucar, mas não é capaz de liquidá-lo.» The rumble in the jungle, tinha eu quinze anos, em 30 de Outubro de 1974, motivou uma das minhas primeiras «directas», para conseguir ouvir às quatro da manhã, pelo rádio, a reportagem do combate. Noite sobre a qual escreveria um poema, que assim termina: «(...) E o tempo, sorna, de sorriso a tiracolo, a descarnar-me as gengivas,/ a enrodilhar-me nas suas veias de lobo,/ enquanto Ali - grafitos indeléveis no céu/ de Órion ginga ao canto, furtando-se/ ao amasso de Foreman, e resiste,/ uma e outra vez, dando enlace e realce/ ao delicado equilíbrio das estrelas ascendentes.» Tudo isso será queimado e já começou. Começou no silêncio que tem vigorado sobre os cinquenta e dois jovens executados no distrito de Muidumbe, pelos terroristas de Cabo Delgado. Executados porquê? Porque, na aldeia de Xitaxi, quando os grupos armados tentavam recrutar jovens no distrito de Muidumbe, estes ofereceram resistência a ser instrumentos do Mal, a qual provocou a ira dos invasores, que os balearam indiscriminadamente. O silêncio oficial que se abateu sobre estes jovens que rejeitaram servir a ignomínia – lembremos que o nocaute começa numa falha de comunicação entre a mente e o corpo -, aliada à abóbada de indiferença com que os media internacionais, tão ocupados nas estatísticas do Covid ou nas últimas traquinices de Trump, amorteceram o impacto do caso, reflecte um franco declínio civilizacional, nem que seja porque talvez, diria Melville, as almas daquelas cinquenta e uma vitimas fossem afinal a quinta roda que fazia mover a carroça. E eu, como apóstata, confesso: estamos fodidos!


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tonalidades António de Castro Caeiro

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EPRESENTAMOS o tempo como uma linha recta, traçada no quadro da sala de aula. À esquerda fica o passado. À direita, o futuro. Mesmo ao meio, à nossa frente, o tempo presente. Como é que o agora não coincide com os nossos olhos, mas está ali à nossa frente no quadro, no ponto zero? Esta representação é a vários títulos ilusória. Temos de mergulhar para dentro da linha. A linha geométrica não tem interior, mas tem de ter extensão. O tempo estende-se. Não me mexi desde que comecei a escrever estas linhas para além dos dedos. E, contudo, o tempo passou. Não precisamos de entrar para lado nenhum. Estamos já no lado de dentro do tempo. Entramos já desde sempre no movimento do tempo que se distende. Se mergulharmos para a linha das abcissas, deixaria de haver lado esquerdo a prolongar-se imaginariamente para a eternidade no passado. Deixaria de haver lado direito, a prolongar-se para o futuro. Haveria, quando muito frente e trás, se fosse uma linha recta ou subidas e descidas sinuosas se representarmos a recta como um rio sinuoso, como o caudal rápido e fluído da corrente de um rio, mas sem sabermos bem onde está a foz e onde está a nascente. Mantidas as regras, o que para nós está à esquerda, estaria atrás de nós, seria a nascente. O que para nós, ao olhar para o quadro, está à direita, o futuro, estaria à nossa frente. Podemos imaginar que a nascente tem o leito do rio mais estreito e que a foz o tem mais largo. Mas podemos imaginar que estamos na parte estreita do rio sem sabermos se estamos a descer para a foz ou a subir para a nascente. Não importa aqui saber se estamos virados para a nascente ou a montante para a nascente. A jusante ou a montante estamos lá dentro, vamos ao sabor da corrente ou debatemo-nos a nadar ou a navegar. O que importa é que estamos na recta, na linha e não estamos de fora a olhar para o que está traçado no quadro ou na nossa imaginação. Mas a imagem não é adequada se pensarmos que estamos lá metidos de uma forma comprimida. A compressão no tempo é de uma outra ordem. A linha do rio é a vida toda. Quando estamos num espaço fechado e estreito como um saco-cama ou uma carruagem apinhada de gente ou quando estamos no cimo de uma montanha a céu aberto, estamos metidos na mesma recta do quadro, embora não o percebamos. Quando estamos a olhar para as nuvens a passar lá em cima, muito altas, no céu, podemos imaginar que elas estão paradas e que somos nós que nos estamos a deslocar. Cada secção da linha é

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As alturas da vida (I) AVE CALVAR

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tão extensa que abrange o universo e assim não tem nem exterior nem interior, não tem limite. A sua dimensão é temporal. Tudo transcorre no interior. Não tem exterior. Mas de onde vem o tempo, para onde vai? O trânsito do tempo, o seu caudal, o seu fluxo, a sua correnteza, as

suas marés, são precisamente as fases, as épocas com diferentes alturas. Mas há uma estrutura ainda mais complexa. Estamos a ver tudo à superfície e estamos a boiar, por assim dizer, e a nossa relação com a água não é só a relação com a superfície. A superfície pressupõe camadas mais profundas até atin-

O trânsito do tempo, o seu caudal, o seu fluxo, a sua correnteza, as suas marés, são precisamente as fases, as épocas com diferentes alturas. Mas há uma estrutura ainda mais complexa. Estamos a ver tudo à superfície e estamos a boiar, por assim dizer, e a nossa relação com a água não é só a relação com a superfície.

gir o fundo. Há alturas, por isso dizemos que um rio é fundo, muito fundo ou pouco fundo. A navegação pressupõe diversas alturas e por isso é perigosa consoante a altura dos cascos e a natureza da navegação. É no mergulho e na profundidade que vemos diversas correntes tridimensionais com diversos lençóis de água e numa relação entre superfície e fundo, imersão e emersão, afundamento e naufrágio, vinda à superfície. A vida implica a compreensão desta representação de ir ao fundo das coisas que não é apenas uma ideia da espeleologia, mas do mergulho, formas de descida até ao fundo do mar e do rio. E subidas formas de emersão à superfície. Ficar escondido do inimigo, os submarinos, os homens rã, os tesouros, o mundo das sombras. O que está escondido no fundo do mar.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

sexta-feira 26.6.2020

FICÇÃO, ENSAIO, POESIA, FRAGMENTO, DIÁRIO

entre oriente e ocidente Gonçalo M. Tavares

Um grande falhanço contos da cidade berço Eram os chamados APAGADORES, um grupo de sujeitos perigosos que acreditava que se um homem andasse cem metros para a frente e depois cem metros para trás tudo ficaria igual. O homem acabaria no sítio onde estava inicialmente e, por isso, acreditavam eles, nada teria acontecido. Mas claro que tal não é verdadeiro. Um homem que anda cem metros para trás e cem metros para a frente, caminha, no total, pelas contas antigas, duzentos metros; e duzentos metros não são o mesmo que zero metros. Ninguém pode apagar aquilo que se fez. Mesmo que ande para trás. Mas esse tal grupo, os APAGADORES, queria apagar o espaço. E por vezes até sonhavam em conseguir apagar o tempo. Pegavam na borracha, atiravam-se contra o solo, e tentavam, vigorosamente, raspar a borracha contra o atrito do solo do mundo apagando indícios, pegadas, vestígios e até objectos concretos: mas nada. O solo não se apagava, o chão não desaparecia debaixo dos pés, a cadeira ficava no mesmo sítio; e, com a borracha na mão, ali terminava, derrotado, o grupo dos APAGADORES: não dá para apagar o mundo, exclamavam, desiludidos. Mas, de facto, era o tempo que verdadeiramente obcecava esse conjunto de homens. Olhemos para eles. Ali estão, agora, em redor de um relógio. Tentaram primeiro, simbolicamente, usar a borracha para apagar o ponteiro dos segundos, dos minutos e das horas. Mas a borracha não conseguiu fazer isso. Depois usaram a força bruta e destruíram os ponteiros à mão, com raiva; e usaram ainda um martelo para destruir o próprio mecanismo do relógio. E sim, haviam derrotado, dizimado, apagado aquele relógio. Aquele relógio, especificamente, jamais assinalaria de novo o tempo. Porém, algo continuava ali, em redor dos ouvidos. Isso mesmo: o som do tempo a passar: um outro relógio e um outro e outro e outro. O número de relógios era infinito; eles, os APAGADORES, nunca conseguiriam destruir todos os relógios e, mesmo que o conseguissem, o tempo continuaria, algures por aí, afastado dos mecanismos que o medem. Se destruíres todos os relógios, o tempo não irá desaparecer. Se destruíres todas as réguas e fitas métricas, o espaço não irá desaparecer. E se riscares uma frase para a esconder, essa frase – podes ter a certeza - irá aparecer noutro lado; e com letras grandes.

ILUSTRAÇÃO ANA JACINTO NUNES


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ONWARD [B] FALADO EM CANTONÊS Um filme de: Dan Scanlon 14.30, 16.30, 19.30

DIGIMON ADVENTURE LAST EVOLUTION KIZUNA [A] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADA EM CHINÊS Um filme de: Tomohisa Taguchi 21.30

INHERITANCE [C] Um filme de: Vaughn Stein

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6 4 1 7 5 2 7 3 1

C I N E M A

SALA 1

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SOLUÇÃO DO PROBLEMA 25

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S U D O K U 26

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70-95%

Em Rumšiškes, na Lituânia, as celebrações do Festival Rasos são tão tradicionais como o equivalente lusitano: as festas de

MERGULHO NAS CHAMAS

Cineteatro

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Com: Lily Collins, Simon Pegg, Connie Nielsen 14.30, 21.30

FUKUSHIMA [B] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Setsuro Wakamatsu Com: Koichi Sato, Ken Watanabe 16.45, 19.00 SALA 3

THE HIGH NOTE [B] Um filme de: Nisha Ganatra Com: Dakota Johnson, Tracee Ellis Ross, Kevin Harrison Jr. 14.30, 17.00, 19.15, 21.30

EURO

8.94

BAHT

São João. Durante a celebração, saltam-se fogueiras, uma tradição transversal a muitas culturas. O festival marca o solstício de

UM LIVRO HOJE Fez ontem anos 9 anos que abri um dos mais felizes capítulos de prazer literário com o primeiro livro de Thomas Pynchon que me veio parar às mãos. Há anos que o namorava. Um pequeno livro intitulado “The Crying of Lot 49”.Ao princípio, fiquei sem saber o que pensar, mesmo desarmado com geniais composições de palavras num enredo, por vezes, impossível de seguir, secundário. Sem perceber, acabara de passar pela louca porta de Pynchon, mas só com “Gravity’s Rainbow” percebi ter descoberto mais um autor essencial para mim. Senti a mesma exaltação quando descobri 31Rimbaud, Kafka, Thompson, Cossery, Céline e outros. Pode parecer triste e limitado, o desinteresse por autores novos. Tenho muitos do Pynchon para ler, Faulkner por despachar por completo e o DeLillo continua a escrever. João Luz

0.25

YUAN

1.12

Verão, uma festividade com raízes pagãs que se manteve, com adaptações, com a chegada do Cristianismo.

THE CRYING OF LOT 49” | THOMAS PYNCHON

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opinião 15

sexta-feira 26.6.2020

confeitaria

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JOÃO ROMÃO

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OMEÇÁMOS desde cedo a tentar fintar o covid, num permanente jogo de escondidas em que somos sempre nós a esconder-nos, ou um jogo do apanha, como lhe chamávamos em terras da raia algarvia, em que é sempre o vírus a apanhar. E nós a fugir, fugir sempre, fugir na medida do possível. Estávamos perto do epicentro desta propagação atroz que viria a enfiar em casa, ou nas barracas, parte muito significativa da população do planeta. Wuhan não será assim tão perto mas nas primeiras semanas de propagação em terras da China pouco se sabia sobre o inimigo que se ía instalando entre nós. Hokkaido, onde vivíamos na altura, é por acaso destino turístico particularmente atractivo para grupos alargados de viajantes chineses e ainda em Janeiro começaram a identificar-se os primeiros casos na região mais a norte do território japonês. Vivemos desde o primeiro momento com o medo desse poderoso e desconhecido inimigo, enquanto lia as piadas e comentários vagamente xenófobos que se iam produzindo sobre o assunto em terras europeias e outras, quer na imprensa, quer nas chamadas “redes sociais”. Hokkaido é uma grande ilha, quase do tamanho de Portugal, relativamente inóspita e por isso isolada. O clima é agreste e as contingências da geografia fazem com que seja o território mais a sul do planeta onde se fazem sentir os efeitos glaciares do Ártico. Ainda que a respectiva capital (Sapporo) tenha sensivelmente a mesma latitude que a cidade francesa de Bordéus, os invernos são longos e frios, com a neve a cobrir as ruas de Outubro a Abril, meio ano com os sons e as cores amortecidas pelo manto branco que cobre permanentemente a vida na cidade. Só no fim do século XIX a população japonesa se veio instalar nesta ilha e a cidade é um exemplo dessa modernidade, com amplas ruas e avenidas, infra-estruturas pesadas para tornar a vida confortável face às agruras do clima, uma zona urbana planeada e preparada para tornar confortável a vida humana num lugar improvável. Sapporo havia de se tornar a quinta maior cidade do Japão, com quase dois milhões de pessoas e uma universidade com mais de 20 mil alunos e um extraordinário campus em pleno centro da cidade. Coincidências da vida e vontades da alma trouxeram-me a este sítio, onde vivi e trabalhei durante algum tempo.

Sara

Outras motivações trouxeram também o turismo chinês para esta ilha, este território vulcânico onde além de uma surpreendentemente confortável cidade se pode desfrutar da vastidão de magníficas paisagens naturais, de majestosas montanhas e férteis planícies, peixes e mariscos variados, abundantes e deliciosos, águas termais para repousar o corpo e a mente, fauna e flora diversificadas em terra, mar e água. São muitos, portanto, os turistas que procuram esta zona - e não é por isso surpresa que esta tivesse sido uma das primeiras e mais importantes portas de entrada do covid-19 no Japão: em meados de

Fevereiro, Hokkaido era a região japonesa com mais casos de infecções, o governo regional decretou as emergências possíveis, e nós impusemo-nos o máximo auto-recolhimento: trabalho doméstico sempre que pudesse ser, compras com entrega ao domicilio e saídas reduzidas ao essencial, sempre com as devidas máscaras preventivas e evitando as concentrações humanas das estações e transportes públicos. As circunstâncias excepcionais a isso obrigavam. Essas circunstâncias haviam de se alterar, no entanto: por motivos profissionais, mudámos para o sul do Japão no início de Abril,

A Sara está connosco desde esta semana e vamos dar-lhe mais do que tudo o que nos for possível, porque o possível é hoje muito pouco: é um mundo de competição desenfreada, com fracos espaços de solidariedade, em sistemática auto-destruição

já a propagação do covid tinha parecido controlada e começavam a notar-se os sinais de uma segunda ronda, com o aparecimento de novos surtos, aparentemente sem ligação com os anteriores. Instalámo-nos então em Hiroshima, a cidade mártir da segunda guerra mundial, esse símbolo urbano da importância da paz, até então relativamente poupado a uma epidemia que nessa altura ja era global. Ainda assim, o número de casos aumentava, os receios eram muitos e a nossa posição continuava vulnerável neste contexto adverso. Mais uma vez, só saídas essenciais e máximo de compras com entregas ao domicílio, ainda que eu fosse obrigado a deslocar-me diariamente à bela universidade onde comecei a trabalhar, usando transportes públicos felizmente quase vazios. Quando a epidemia ameaçou aumentar a intensidade as aulas passaram a ser dadas à distância, penoso exercício sobretudo quando não se tem contacto prévio com os alunos, e só em Junho voltaria a estar numa sala de aula, quando mais de um mês tinha passado sem qualquer caso de contágio na região. Foi então que nasceu a Sara, o motivo dos nossos cuidados extremos, das precauções máximas, do medo sistemático de que pudéssemos contaminar este fruto magnífico que tanto trabalho nos tinha dado a semear - e que nos obrigou a viver escondidos por tanto tempo, numa semi-clandestinidade facilmente suportável pela expectativa da sua chegada ao planeta, lá pelo princípio do verão, como tinha sido previsto pelos médicos, aliás com precisão matemática. A esses profissionais também devemos muito para que este inusitado acontecimento tivesse sido possível: gerar uma nova vida em contexto de adversidade máxima, quando é a morte que toma conta do planeta; abrir uma nova esperança quando se instalam o medo e a insegurança; semear o amor quando é o ódio a desconfiança que dominam as agendas quotidianas de políticas várias. A Sara está connosco desde esta semana e vamos dar-lhe mais do que tudo o que nos for possível, porque o possível é hoje muito pouco: é um mundo de competição desenfreada, com fracos espaços de solidariedade, em sistemática auto-destruição. É a esta decadente comunidade que a trazemos, num planeta cujos recursos parecemos prestes a esgotar mas cuja destruição aceleramos, ainda assim. Temos que lhe dar muito melhor do que temos e do que somos só para lhe devolver o que já nos ofereceu nos poucos dias que passou connosco: a evidência de que tudo afinal é possível, que tudo está por aprender, que tomar conta uns dos outros é nossa obrigação primordial e que viver melhor connosco e com quem nos rodeia é o programa mínimo para uma mudança máxima.


O segredo do meu universo: imaginar Deus sem a imortalidade humana. PALAVRA DO DIA

Albert Camus

TUI Dois milhões ganhos no jogo revertem para a RAEM

Educação Sector defende mais protecção para alunos abusados

No programa Fórum Macau da TDM, Loi I Weng, secretária-geral adjunta da Associação de Educação de Macau, afirmou que os casos de abuso de estudantes são intolerantes, devendo ser melhorada a ética de professores e o mecanismo de denúncia imediata, noticiou o jornal Ou Mun. Por sua vez, Wan Sou Leng, membro do Conselho de Educação para o Ensino Não Superior, indicou que os professores conhecem os alunos, e que lhes vão dar mais apoio se mostrarem emocionalmente agitados ou agirem fora da normalidade. Indicou ainda que quando se tratarem de incidentes na escola, os professores têm ética e dão prioridade à protecção de alunos, não encobrem casos. E apontou a necessidade de melhorias na cooperação entre a escola e a família. Chau Un Ian, coordenadora do Gabinete de Serviços Sociais da União Geral das Associações dos Moradores de Macau defendeu que quando há assédio na escola os familiares devem acreditar nas crianças, para estas se sentirem seguras.

Desporto SJM vence corrida das Regatas de Barcos-Dragão

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A equipa da Sociedade de Jogos de Macau conquistou ontem a prova principal da edição deste ano das Regatas Internacionais de Barcos-Dragão. Equipados com as cores amarela e verde da concessionária, os remadores demoraram 2:02.037 a percorrer os 500 metros na final. O pódio da prova rainha da edição deste ano ficou completo com as equipas da Suncity, com um tempo de 2:02.608, e ainda com a formação da concessionária Wynn, que levou 2:03.586 a percorrer a distância dos 500 metros. A outra prova do dia, os 500 metros para senhoras, terminou com a vitória das remadoras da Associação para o Desenvolvimento da Juventude de Macau, que levou 2:21.401 a percorrer a distância. No pódio ficaram ainda a operadora MGM, com um tempo de 2.21:786, e a equipa Lótus da SJM, com um registo de 2:28.520.

sexta-feira 26.6.2020

O Tribunal de Última Instância (TUI) manteve uma decisão das instâncias anteriores de reverter 2,806 milhões de dólares de Hong Kong a favor da RAEM por se entender que o dinheiro foi benefício resultante de um empréstimo ilegal. A informação foi avançada num comunicado do gabinete do presidente do TUI. O montante foi apreendido no caso de uma pessoa a quem foi facultado dinheiro para jogar. O apostador ganhou fichas no valor de 4,806 milhões de dólares de Hong Kong e posteriormente pediu apoio à polícia quando lhe foi exigido que pagasse metade da quantia que ganhara. Quatro indivíduos foram constituídos arguidos, acusados da prática de um crime de usura para jogo, mas apenas um condenado a pena de nove meses de prisão, suspensa na sua execução por dois anos. Os restantes foram absolvidos.

O último adeus Funeral de Stanley Ho está marcado para 10 de Julho em Hong Kong

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funeral de Stanley Ho está agendado para 10 de Julho, um dia depois da cerimónia pública que vai recordar o Rei do Jogo, e dois dias depois da cerimónia familiar. A informação foi divulgada na quarta-feira, por representantes das quatro famílias do magnata em comunicado à imprensa de RAEHK. No que diz respeito aos eventos locais para recordar Stanley Ho, a Torre de Macau foi o local escolhido, apesar de ainda não haver data definida. Até ao momento, de acordo com o jornal Oriental Daily, apenas se sabe que deverá haver uma cerimónia nas duas semanas seguintes ao funeral. Em relação a Hong Kong, está marcada para o dia 8 de Julho uma cerimónia privada em que os familiares se vão despedir do patriarca. No dia seguinte, haverá uma cerimónia pública, com restrições relacionadas com as medidas de controlo da pandemia da covid-19. Finalmente, no dia 10 de Julho realiza-se o funeral. Contudo, o corpo não será logo enterrado no Cemitério de Chiu Yuen. De

acordo com o Oriental Daily, um mestre de feng shui disse à família que este ano não é bom para fazer enterros, pelo que o corpo de Stanley Ho, que já foi embalsamado, vai ser guardado até ao próximo ano nas instalações da Tung Wah Coffin Home ou da Hong Kong Funeral Home. Até ao fim do mês, as famílias deverão ainda publicar um obituário oficial do magnata.

MORTE AOS 98 ANOS

Stanley Ho morreu a 26 de Maio, com 98 anos, depois de ter construído um Império do Jogo. Nascido a 25 de Novembro de 1921, em Hong Kong, Ho fugiu à ocupação japonesa e radicou em Macau, onde fez fortuna ao lado da mulher macaense, Clementina Leitão, oriunda de uma das

No que diz respeito aos eventos locais para recordar Stanley Ho, a Torre de Macau foi o local escolhido, apesar de ainda não haver data definida

mais influentes famílias locais da altura. Na década de 1960, conquista com a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), o monopólio de exploração do jogo, que manteve por mais 40 anos, até à liberalização, que trouxe a concorrência dos norte-americanos, ainda assim longe de lhe roubar a hegemonia. Stanley Ho viria a deixar o seu ‘cunho’ na transformação de Macau - desde a dragagem dos canais de navegação - uma das imposições do próprio contrato de concessão de jogos - à construção do Centro Cultural de Macau, do Aeroporto Internacional ou à constituição da companhia aérea Air Macau. No que diz respeito à vida familiar teve quatro mulheres e sobrevivem-lhe três mulheres, Lucina Laam, Ina Chan e Angela Leong. Clementina Leitão morreu em 2004. Em relação aos filhos, teve 16 conhecidos, sendo que quatro foram do casamento com Clementina, nomeadamente Jane, Robert, Angela e Deborah. Os dois primeiros filhos do magnata faleceram em 2014 e 1981, respectivamente, e todos os outros encontram-se vivos. J.S.F.

Hotel Galaxy DST investiga erro de preços de quartos

A Direcção dos Serviços de Turismo está a investigar um erro de preços num resort. O Macau Daily Times noticiou que o Hotel Galaxy alegadamente recusou estadia a vários clientes que reservaram quarto através de agências de viagem online (OTA, na sigla inglesa) por valores tão baixos como 19 dólares de Hong Kong por noite. Durante o check-in, os hóspedes foram avisados que houve um erro de preços, causado por um problema técnico. O jornal observa que de acordo com publicações em redes sociais, alguns hóspedes já teriam feito check-in quando o problema foi identificado, e foi-lhe pedido que saíssem dos quartos em 20 minutos. O Galaxy Macau indicou no Facebook que houve um erro no custo de algumas reservas em plataformas online, que foi rectificado. “Aconselhamos os hóspedes que foram afectados (para reservas feitas nos OTA a 23 de Junho, 2020) para contactarem as suas OTA para soluções viáveis, incluindo cancelamentos gratuitos e confirmação das reservas com as taxas actuais”, pode ler-se.

Covid-19 Novo caso importado depois de 79 dias

Foi ontem diagnosticado um novo caso importado de pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus, o 46.º caso confirmado em Macau. O doente, nacional das Filipinas, 57 anos de idade, residente de Macau, apanhou o voo CX906 da Cathay Pacific de Manila, Filipinas, para Hong Kong das 10h45 do dia 25 de Junho. Chegou ao aeroporto de Hong Kong e apanhou o barco especial das 14h até Macau. Na altura da entrada, não apresentou sintomas de desconforto nem febre. Após a colheita de amostra no Terminal Marítimo da Taipa, foi enviado para um hotel para observação médica em isolamento. Porém, o resultado do teste de ácido nucleico deu positivo. O doente foi encaminhado para o Centro Hospitalar Conde de São Januário para tratamento em isolamento.


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