Hoje Macau 27 JUN 2017 #3840

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ PUB

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

ASSINATURAS

Guerra junto à fronteira

TERÇA-FEIRA 27 DE JUNHO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3841

MOP$10

hojemacau

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PRESIDENTE DA ANM PROIBIDO DE ENTRAR EM HONG KONG

h PAULO JOSÉ MIRANDA

ESCOLA PORTUGUESA

Carneiro ameaça Fundação Oriente

Reciprocidade Scott Chiang ia ao médico e de consulta marcada, mas a polícia de Hong Kong, com explicações vagas e pouco credíveis, impediu-o de entrar na ex-colónia britânica. Tal como a polícia de Macau

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impede os activistas da RAEHK de entrar na RAEM. É convicção geral que tal aconteceu devido à proximidade da visita de Xi Jinping, por ocasião dos 20 anos da transferência de soberania.

SOFIA MARGARIDA MOTA

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JOÃO GUEDES

‘‘Macau não podia parar no tempo’’ ENTREVISTA

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Notas sobre Pessoa


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JOÃO GUEDES

Quando chegou a Macau, a cidade era feita de segredos, um passado irresistível para João Guedes. Apaixonado por história desde cedo, porque ela apareceu no quintal da casa de infância, o jornalista é o responsável por uma palestra marcada para o próximo sábado, que marca os 12 anos da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau. O autor do único livro em português sobre as seitas no território promete outras obras para breve. Para que o passado não desapareça no vai e vem de pessoas “Quando nos interessamos pelos becos e pelos sítios que não conhecemos, começamos a gostar, mesmo que os becos sejam feios e a realidade seja, muitas vezes, pouco agradável.”

SOFIA MARGARIDA MOTA

ENTREVISTA

JORNALISTA E INVESTIGADOR

“A memória perde-se muito rapidamente”

São quase 40 anos de Macau. Veio viver para cá em 1980, num contexto bastante diferente. Como é que foi a chegada? Cheguei num momento muito interessante da história de Macau, o momento em que a imprensa se começava a profissionalizar. Havia, na altura, dois jornais: a Gazeta Macaense, com um senhor que se dedicava muito ao seu jornal, o Leonel Borralho, mas não era um jornalista profissional; o outro era O Clarim, da Igreja Católica, que tinha também belíssimos colaboradores. Por outro lado, tínhamos uma rádio com um profissional, o Alberto Alecrim, mas que vivia sozinho na sua rádio. Era o director e era o resto. Tinha colaboradores que, normalmente, vinham em comissão de serviço para Macau. Gostavam de falar na rádio, de fazer programas, de pôr discos. Era assim. Cheguei no momento em que se estava a pensar fazer a televisão em Macau. A rádio deu um salto qualitativo muito importante e, por arrastamento, os jornais. Foi uma altura em que vieram para Macau vários jornalistas profissionais. Vim eu, a Judite de Sousa, que hoje está na TVI, o José Alberto de Sousa da RTP, que faleceu há uns anos, o Fernando Maia Cerqueira, da RTP também, o Afonso Rato, que era o chefe da equipa, o Rodrigues Alves, um dos fundadores de O Jornal, que é hoje a revista Visão, e o Gonçalo César de Sá. A Rádio Macau transformou-se, de um momento para o outro, de uma emissora oficial que dava os comunicados do Governo e que punha música numa rádio normal, com noticiários de hora a hora, o que era uma coisa espantosa, nunca se tinha feito isso em Macau. Eu fui o crucificado, porque fui encarregado de ler os intercalares, fui literalmente lançado aos bichos. Tudo isto era para a criação da televisão, mas a rádio ainda ficou bastante tempo a ser dona das ondas hertzianas, porque o projecto da televisão demorou bastante tempo a ser concretizado. Houve percalços políticos, alterações de Governo. Os governadores em Macau costumavam ter um prazo de validade médio de mais ou menos dois anos. Com a mudança de Governador, não era só o ajudante de campo que mudava também – toda a Administração ia embora para Portugal e vinha um novo Governador com os chefes de repartição. Quando o PSD estava no poder, o PS vinha para cá exilado. Quando era o PS no poder, o PSD vinha exilado para cá. Finalmente, em 1984, ficaram reunidas todos as condições para a televisão poder avançar. E avançou com um projecto muito profissional a todos os níveis – técnico, da qualidade dos jornalistas, da qualidade da informação que se fazia. Foi um abanão muito grande no “status quo” de então em Macau. Foi nessa altura que se verificou uma transformação na imprensa. A Gazeta Macaense deixou de deter o monopólio das notícias da imprensa e surgiram dois jornais novos: a Tribuna de Macau e o Jornal de Macau.


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A Tribuna de Macau, sob a batuta de José Rocha Dinis, e o Jornal de Macau com João Fernandes, que acabou por ir embora. Deu-se então a fusão entre os dois. Ambos os jornais trouxeram equipas de redactores também profissionais. Por aqui se pode ver a profundíssima alteração que ocorreu na década de 1980 no jornalismo em Macau. De lá para cá, houve outros momentos de grandes alterações na comunicação social local. Como é que olha para o jornalismo de língua portuguesa que hoje se faz em Macau? Há muitos profissionais que vieram depois da transferência de administração, para um território que já não pertencia a Portugal e às suas extensões. Foi outra alteração tão profunda como a que acabei de referir, ou talvez ainda mais profunda. Vivi numa colónia portuguesa. Por muito que se diga que não era colónia, porque o poder económico esteve sempre na mão dos chineses, o espírito era esse. Quem mandava era Portugal. Surgiu 1999 e deu-se uma alteração do panorama que teve que ver principalmente com um factor: antigamente, a comunicação social ignorava o mundo chinês, os mais de 90 por cento da população, tratava das notícias e das análises sobre o que se passava com a comunidade ocidental que aqui vivia, com a comunidade portuguesa, que nunca ultrapassou as 10 mil pessoas. De repente, começou a tornar-se importante ouvir o deputado chinês na Assembleia Legislativa. Antes, quem ouvia os deputados chineses eram os repórteres chineses, não éramos nós que os íamos ouvir, porque quem contava politicamente eram os deputados portugueses. Aqui está uma alteração completamente radical. Hoje, Ng Kuok Cheong, Mak Soi Kun e todos esses nomes estão presentes nos diários. Isto representa a tal alteração estatutária de Macau que, de repente, passou a ser um local de emigração. O que vejo hoje é que as pessoas que vieram depois estão aqui como emigrantes. Às vezes custa-me perceber essa nova forma de estar em Macau, porque não me sinto emigrante e até posso ser considerado passadista. Mas leva-me muitas vezes a considerar a minha função de jornalista e a ter em conta a imagem do meu país. Hoje, o jornalista que está aqui, não precisa de ter isso em conta: tem em conta as regras da profissão e já lhe chega. O facto de não se sentir emigrante faz com que encare o exercício da cidadania de outra forma? Sim, talvez, porque gosto de Macau. Gosto de Macau por duas razões: primeiro, porque estou cá há muito tempo; e depois porque gosto muito de história, sempre gostei de saber o que se passava, e quando nos interessamos pelos becos e pelos sítios que não conhecemos, começamos a gostar, mesmo que os becos sejam feios e a realidade seja, muitas vezes, pouco agradável. É uma forma de estar bastante diferente da de um emigrante que está aqui, com toda a honestidade, a fazer o seu trabalho, mas que não tem

entre mergulharem na criminalidade comum e depois em ciclos políticos de transformação. Por isso é que são importantes. Não é um assunto tão sensível como isso.

quaisquer obrigações morais para com o sítio onde está. Como é que surge o interesse por história? Vem de longe. Nasce porque sou de uma aldeia do Alto Douro, muito pequenina, que hoje só já tem 22 habitantes. Lá no alto da aldeia há um monte que é um crasto antigo, romano. No meu quintal, encontravam-se muitas coisas que vinham com as enxurradas. Lembro-me que tinha uma colecção de moedas com vários sestércios romanos. Encontrei um anel árabe, várias coisas. E isso despertou-me o interesse. Andavam por ali arqueólogos da Universidade de Coimbra, que era na altura a única universidade que fazia esses estudos. E como é que esse interesse se materializou em Macau? Pouco tempo depois de cá ter chegado, apareceu-me uma pessoa que me entregou muito discretamente um documento sobre uns acontecimentos que, dizia, tinham sido terríveis aqui em Macau: os tumultos de 1922. Foi um caso grave na história de Macau porque houve uma greve geral que durou um ano, estiveram aqui os anarquistas em força a agitar as massas, houve tiroteios, os militares saíram para a rua, houve 70 mortos e mais de 200 feridos. Deram-me esse papel por acharem que daria uma boa história. Antes, esses assuntos não eram tratados, eram praticamente segredos. Olhei para aquilo: o documento que me foi entregue não era uma carta privada. Era um Boletim Oficial de 1922 que relatava os acontecimentos. Achei piada porque, na altura, em Macau era tudo secreto. Caí que nem peixe na água, porque aí comecei a investigar tudo o que era secreto. Mais secreto ainda do que 1922 – uma data tão remota que não percebia por que tinha algum grau de secretismo –, era 1966, o chamado “1-2-3”. Esse era ainda pior, ninguém falava e muito menos

publicava alguma coisa sobre isso. Tudo isto me despertou para a história de Macau, que verifiquei ser muito interessante. Macau estava cheio de história, cheio de histórias, que se desconheciam, por estes preconceitos agravados pela ditadura e pelo monopólio da inteligência do clero local. O clero constituía a intelectualidade de Macau e exercia uma censura férrea a todos os níveis. Temos um exemplo muito interessante, o do Padre Teixeira. Foi o homem que escreveu sobre tudo quanto havia para escrever, mas havia determinados temas sensíveis em que não hesitava em adulterar por completo o que se passou, para se coadunar com aquilo que ele pensava ser correcto – e ele era um salazarista, um homem da extrema-direita, com todos aqueles preconceitos muito antigos, um reaccionário. Macau, apesar de já estarmos muito para lá do 25 de Abril, continuava envolto neste ambiente de censura, embora já não existisse censura. Tudo isto me impeliu a ir vasculhar, para saber quais eram as outras histórias que não

“Macau, apesar de já estarmos muito para lá do 25 de Abril, continuava envolto neste ambiente de censura, embora já não existisse censura. Tudo isto me impeliu a ir vasculhar, para saber quais eram as outras histórias que não sabia.”

sabia e que tinha obrigação de dar a conhecer. A partir daí começa também a investigar as seitas, numa altura em que não havia em português nada escrito sobre este tipo de organizações. Sim, mas pior: continua a não haver. O meu interesse pelas seitas não começa aqui, mas sim quando pertencia à Polícia Judiciária, em Portugal. Por qualquer razão, tudo quanto dizia respeito a Macau acabava por vir parar à minha secretária. Tive de começar a estudar. Ainda me lembro que o primeiro processo que me caiu era de um homem da 14 Kilates, de maneira que tive de ir ver o que era a 14 Kilates. Não encontrei nada em português porque ninguém tinha escrito sobre isso, a não ser um pequeno livro que pouco ficou na história da literatura portuguesa, de um autor de viagens chamado António Maria Bordalo. Fez aquela que, estou convencido, será a primeira novela policial escrita em português. Era sobre as seitas em Macau na sequência da explosão da Fragata D. Maria II, em 1850. Era a única coisa que existia. Depois disso, escrevi o livro “Histórias do Crime e da Política em Macau – As Seitas”, e estava à espera de abrir caminho a outros interessados. Mas não, infelizmente continua a ser o único livro sobre as seitas em Macau. Ao contrário do que previ, Macau tem mais jornalistas do que tinha antes da transição. Pode ser que algum se interesse por esse tema, porque mesmo entre gente da universidade ninguém se interessou até ao momento. O tema é demasiado sensível? Se calhar. Ou as pessoas pensam que é demasiado sensível. Eu acho que não é. É um tema cultural, como qualquer outro. Por exemplo, Sun Yat-sen, o primeiro Presidente da República da China, era um homem das seitas e nunca omitiu esse facto na sua biografia política. As seitas oscilam

Nos últimos anos, tem feito muito trabalho de levantamento histórico para programas da TDM. Fazem falta mais exercícios de explicação do sítio onde estamos, até pela falta da escrita da história de Macau? O problema de Macau foi sempre a população mudar muito rapidamente, e não só a portuguesa. Se virmos as estatísticas, temos uma percentagem altíssima de pessoas que têm menos de sete anos de residência em Macau. A memória não fica preservada. Como disse, os governadores mudavam de dois em dois anos, com toda a Administração, pelo que se perdia a memória daqueles dois anos. Lembro-me de ser repórter e de chegar um Governador, anunciar que ia fazer um estudo sobre determinado assunto, e dois anos antes tinha sido feito um estudo sobre o mesmo tema. A memória perde-se muito rapidamente. Se calhar, as pessoas que agora vêm de Portugal ficarão mais de dois anos mas, de qualquer maneira, não permanecem aqui muito tempo. Quanto ao meu trabalho, porquê pequenos programas? Não pretendo fazer um compêndio da história de Macau – isso é a Universidade de Macau que deve fazer. O que pretendo é divulgá-la, da melhor forma, de maneira a que as pessoas se interessem. Quanto à feitura da história de Macau, acho que não existe uma história de Macau, de facto, mas também não sei que história se poderá fazer. A rádio, a televisão e os jornais são efémeros. Há possibilidade de passar esses apontamentos para livro? Sim, porque só depende da minha disponibilidade. Como estou na reforma, já tenho bastante mais tempo. Há muitos temas que são tratados de uma forma na rádio ou na televisão mas que, em livro, podem ser abordados de uma maneira mais profunda e elucidativa, e menos efémera. Podemos então esperar mais livros de João Guedes? Com certeza que sim. Quase 40 anos depois de ter chegado, gosta da Macau que temos? Gosto, gosto disto. Tem muitos problemas. Estou a ver a Ponte Sai Van e a quantidade de trânsito que tem. Depois a poluição. Há uma série de coisas terríveis e é preciso fazer pressão para que isto melhore. Mas, apesar disso, gosto muito de Macau e não sou nada saudosista dos tempos em que havia as casas baixinhas da Praia Grande. Gosto muito de ver essas gravuras, mas Macau não podia parar no tempo. Já teria desaparecido, obliterado por Hong Kong. Eu e quem achar que sim tem a obrigação de fazer os possíveis por corrigir estas coisas caóticas, torná-las melhor e transformar esta cidade para que dê gosto viver nela, sem tantas obras, sem tantos carros e outras coisas que não são boas. Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com


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GCS

POLÍTICA

O

caso toca em dois assuntos sensíveis no território: a entrada nos serviços do Governo sem concurso público e a contratação de trabalhadores não residentes. Em causa está uma aluna finalista, proveniente do Interior da China, que está a concluir o curso de tradução de línguas chinesas e portuguesa no Instituto Politécnico de Macau (IPM), e que terá sido convidada para um cargo público através de uma recomendação de um professor. Durante uma entrevista, a aluna afirmou ter entrado na Função Pública através de “via específica” para trabalhar como tradutora. A secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, respondeu à situação declarando que o Governo da RAEM não dispõe dessa via no recrutamento de pessoal. A dirigente dos serviços acrescentou ainda que não tem qualquer informação sobre o caso concreto. Sónia Chan disse ainda que os serviços que tradução que tem sob a sua tutela usam, sobretudo, tradutores locais e que só em caso de emergência recorre ao recrutamento de quadros no exterior. A secretária desmentiu a existência de qualquer via específica de con-

Função Pública CASO DE TRADUTORA LANÇA DÚVIDAS SOBRE CONTRATAÇÕES

Tem via ou não tem? Em resposta ao caso da tradutora, oriunda do Interior da China, que terá sido contratada por via específica, Sónia Chan recusou a existência de tal mecanismo de recrutamento na Função Pública. Ng Kuok Cheong não parece satisfeito com a explicação e pede ao Governo a divulgação dos dados relativos à contratação de pessoal tratação e lembrou que o regime em causa existe desde 1989.

PETIÇÃO ENTREGUE

Na sequência desta situação, Ng Kuok Cheong pediu a divulgação dos dados relativos ao recrutamento de pessoal pela Função Pública em 2017, assim como uma resposta oficial do Executivo quanto ao caso em concreto. O deputado vincou, em comunicado, a necessidade de os serviços públicos assumirem responsabilidades, e serem rigorosos e justos na contratação de pessoal.

Em resposta à polémica, o IPM esclareceu não existir qualquer via específica de recrutamento através de recomendação pessoal. Porém, Ng Kuok Cheong diz ter recebido informações de cidadãos que garantem que as relações pes-

soais com quadros dos serviços do Governo servem de alavanca para a entrada de novos trabalhadores.

TODOS NA MESA

Para clarificar toda esta confusão, o deputado pede ao Governo a

Ng Kuok Cheong pede ao Governo a divulgação do número total de trabalhadores não residentes contratados este ano como técnicos profissionais, assim como a sua categoria de especialidade

divulgação do número total de trabalhadores não residentes contratados este ano como técnicos profissionais, assim como a sua categoria de especialidade. O tribuno exige ainda que sejam tornados públicos quantos trabalhadores são contratados através de concursos públicos, quantos são por recomendação pessoal e quantos por via do regime de aquisição de bens e serviços. No seguimento deste caso, também a Associação Novo Macau pediu esclarecimentos ao Executivo quanto à existência de uma via específica de recrutamento para a Função Pública. O pedido de informações motivou ontem a entrega de uma petição dirigida à secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, pedindo explicações e transparência na admissão de trabalhadores não residentes. Vítor Ng e João Luz

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GRANDE BAÍA O QUE PENSA O THINK TANK DE MA CHI SENG

A

Associação Grand Thought Think Tank de Macau, presidida pelo deputado nomeado Ma Chi Seng, apresentou ontem por escrito as suas opiniões sobre o projecto da Grande Baía Guangdong-

-Hong Kong-Macau junto do Gabinete de Estudo de Políticas (GEP). Segundo um comunicado oficial, a associação defende que Macau deve ser o território que organiza e que estabelece

os contactos no “grupo de desenvolvimento dos principais sectores da Grande Baía”. O território deve ainda transformar-se numa “plataforma de informações comerciais responsáveis pelas ligações

entre a Grande Baía e os países que integram o conceito ‘Uma faixa, Uma Rota’”. Macau deve ser ainda, no futuro, “um centro de serviços financeiros com características próprias”, com foco também

para a área das ciências e da tecnologia. A RAEM deverá também ter o papel de “centro de turismo e lazer da Grande Baía”, bem como de “centro de intercâmbio e difusão de culturas”.

As sugestões do think tank de Ma Chi Seng têm em conta, segundo o comunicado, “o regime jurídico, a capacitação, a aceitação social, as análises e os estudos da construção da Grande Baía”.


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POLÍTICA

Malditas assinaturas

SCOTT CHIANG BARRADO À ENTRADA DE HONG KONG

E

Em vésperas da visita de Xi Jinping a Hong Kong, Scott Chiang, presidente da Associação Novo Macau (ANM), foi proibido de entrar no território. Não lhe foram dadas explicações, mas o activista pró-democrata vai exigir respostas das autoridades da região vizinha

FAOM e Sonho Macau com relações tensas

RA para ser ontem, mas não foi. A entrega das assinaturas que faltavam para o reconhecimento da comissão de candidatura às eleições daAssociação Sonho Macau, presidida por Carl Ching, não aconteceu porque os membros chegaram atrasados à sede da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa. Mas não se tratou do único percalço. A entrega das assinaturas por parte da associação foi precedida, no domingo, por um incidente que envolve a lista de Carl Ching e, alegadamente, a Federação das Associações de Operários de Macau (FAOM). Não tendo apresentado o número suficiente de apoiantes para o reconhecimento de comissões de candidatura, Carl Ching deslocou-se à zona das Portas do Cerco para conseguir os apoios em falta.

FAOM OU TALVEZ NÃO

Na actividade de recolha de assinaturas, diz Carl Ching, foi abordado por uma pessoa que alegava pertencer aos Operários. “Identificou-se como sendo apoiante da FAOM e disse que eu estava a perturbar a recolha de assinaturas”, explicou ao HM. A actividade pré-eleitoral ficou suspensa. Agentes da Polícia de Segurança Pública acabaram por ser chamados ao local, tendo o presidente da Sonho Macau sido levado para a esquadra. De acordo com Carl Ching, foi nesse momento que se apercebeu de que era suspeito de difamação, numa denúncia feita pela FAOM. Para o presidente da Sonho Macau, o objectivo dos Operários é “ameaçar outros candidatos que estejam na corrida eleitoral”. Em causa está a diminuição dos candidatos, refere.

NÃO TEMOS NADA COM ISSO

Já o director da FAOM, Leong Wai Fong, considera que o incidente ocorrido com a recolha de assinaturas de Carl Ching poderá em nada ter que ver com a associação que lidera. No entanto, não deixou de referir ao HM que “se calhar alguns membros da FAOM não estão satisfeitos com as actividades da Sonho Macau e tentaram comunicar com o responsável”, disse. No que diz respeito às acusações de difamação, Leong Wai Fong admite que o caso está a ser tratado pelas autoridades, sendo que, refere, ainda não tem qualquer dado acerca do seu desenvolvimento. Em causa estão os acontecimentos de sábado. “Nesse dia descobrimos que existiam grupos na zona das Portas do Cerco a empunhar cartazes com conteúdos contra os Operários”, refere. Leong Wai Fong fala em ameaças físicas e acusações de que a FAOM estaria a contratar trabalhadores não residentes, bem como a receber subsídios em excesso por parte do Governo. Vítor Ng com Sofia Margarida Mota info@hojemacau.com.mo

Com o nariz na porta

S

COTT Chiang deslocava-se à antiga colónia britânica para ir a uma consulta médica de rotina, à qual vai todos os meses, mas acabou detido durante hora e meia numa sala da imigração do Terminal de Ferries em Sheung Wan. A máquina que faz o controlo automático da identificação de quem passa nos serviços de imigração não abriu. Em seguida, o activista foi abordado por um agente das autoridades de imigração que o conduziu a uma sala onde foi entrevistado. Scott Chiang recusa caracterizar esta conversa como “um interrogatório”. Em primeiro lugar foi-lhe perguntada a razão para a visita a Hong Kong. “Contei-lhes que

tinha uma consulta marcada”, recorda. O pró-democrata não tinha qualquer documento que comprovasse o carácter clínico da ida ao território vizinho, apesar de ter o medicamento que provava a sua condição médica. O líder da ANM disse não estar “obrigado a apresentar motivos para a estada em Hong Kong” e que “não era assim que as coisas funcionavam”.

PARA LÍDER VER

De acordo com Scott Chiang, o interrogatório a que foi submetido incidiu

muito sobre o que iria fazer depois da consulta médica, se iria encontrar-se com alguém, se tinha ligações a associações. Foi-lhe também perguntado quanto dinheiro tinha consigo e quanto tinha em cartão. Oficialmente, a razão pela qual lhe foi proibido entrar em Hong Kong prende-se com uma falha em preencher os requisitos de entrada. Scott Chiang perguntou que requisitos eram esses, tendo-lhe sido recusada uma resposta concreta. Porém, o activista não tem dúvidas de que foi

Scott Chiang não tem dúvidas de que foi impedido de entrar em Hong Kong devido à proximidade da visita de Xi Jinping ao território

impedido de entrar em Hong Kong devido à proximidade da visita de Xi Jinping ao território. Aliás, quando da sua detenção, o presidente da Novo Macau recordou aos agentes que ainda era dia 26, faltando ainda três dias para a chegada do líder chinês a Hong Kong. Em seguida recebeu duas notificações, uma sobre a recusa de entrada e outra sobre a razão pela qual foi detido. O activista não recebeu qualquer cópia destes documentos, tendo-lhe sido também proibido fotografá-los. Passado uma hora e meia era recambiado de volta a Macau. Esta foi a primeira vez que Scott Chiang passou por algo semelhante, um incidente que o fez sentir-se injustiçado e zangado. O activista ex-

plicou ainda que “Macau tem feito isto a pessoas de todo o mundo, há muitos anos, não só a dissidentes políticos, mas também a pessoas que têm o mesmo nome”, numa referência ao embaraçoso caso que envolveu uma criança barrada na fronteira. O líder da Novo Macau considera que o Governo de Hong Kong foi demasiado sensível e espera que esta não seja uma nova política. Scott Chiang diz ter pena que as autoridades da região vizinha achem que “é assim que podem impressionar o líder chinês”, com actos que classifica, sem rodeios, como “abuso de poder”. João Luz

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LEONG VENG CHAI PEDE PAVIMENTOS MAIS SEGUROS

O

deputado Leong Veng Chai entregou uma interpelação escrita ao Governo onde exige que sejam construídos pavimentos nas ruas mais seguros para que os invisuais não tenham acidentes no seu dia-a-dia. “Há associações de apoio aos cegos que indicam que os materiais e a concepção das instalações para os invisuais não cumprem os padrões internacionais. Por exemplo, os sulcos não têm profundidade suficiente”, referiu o número dois de José Pereira Coutinho na Assembleia Legislativa. O problema parece afectar até mesmo as pessoas que não sofrem de deficiência visual, aponta o deputado. “Perante estas queixas, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM)

HOJE MACAU

Passeios com armadilhas

respondeu à imprensa que ia fazer uma revisão e utilizar tijolos com alta capacidade anti-derrapante, com vista a disponibilizar aos cidadãos um ambiente pedonal seguro e sem barreiras.”

Ainda assim, Leong Veng Chai questiona se o IACM “tem padrões uniformizados para as obras de colocação e instalação, bem como para a utilização de materiais”. O deputado

pretende ainda saber se são adoptados diferentes padrões para as obras, alertando para o facto de terem sido feitos trabalhos de pavimentação recentes no bairro do Iao Hon.

“O Governo continua a realizar obras de instalação de piso táctil para os invisuais, por exemplo, na zona do Iao Hon, e as referidas obras foram feitas há pouco tempo. Em relação às obras adjudicadas, o Governo deve uniformizar os padrões, no âmbito da técnica e da qualidade dos materiais”, adiantou ainda, alertando para os custos em excesso que poderão ser cobrados pelas empresas de construção. “Quando as obras não atingem as exigências, necessitam de ser realizadas de novo, e quem paga o respectivo preço são todos os contribuintes de Macau. Para além de gastar o erário público, a realização de novas obras produz barulhos e leva a incómodos para as pessoas que caminham a pé, situação que é desnecessária”, conclui. A.S.S.

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HINO LEI NACIONAL, IMPLEMENTAÇÃO LOCAL

A bandeira e o hino nacionais são símbolos do país, e, como tal, devem ser implementados no território. A ideia foi ontem deixada por Paula Ling, advogada e delegada da RAEM à Assembleia Popular Nacional. Em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, Ling sublinhou que, caso seja aprovada, a lei do hino nacional deve ser implementada no território. De acordo com a advogada, trata-se de um diploma que não precisa de entrar em processo legislativo. A medida está prevista no Anexo III da Lei Básica.


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SOCIEDADE

QUARTA PONTE EMPRESA DE HONG KONG GERE PROJECTO

Foi adjudicada à empresa Ove Arup & Partners Hong Kong Limited a prestação de serviços de fiscalização, gestão de projectos e de preços para a construção da quarta ponte entre Macau e a Taipa. De acordo com um despacho do Chefe do Executivo publicado ontem em Boletim Oficial, o contrato celebrado envolve uma quantia superior a 188,375 milhões de patacas. O valor está dividido por cinco anos, até 2021. A Ove Arup & Partners oferece diferentes tipos de serviços ligados à construção. Foi criada em 1976 e tem trabalho feito em vários projectos públicos da região vizinha, muitos deles ligados ao sector dos transportes. A empresa está também envolvida em obras transfronteiriças, como a linha ferroviária Cantão-Shenzhen-Hong Kong e a Ponte do Delta.

DSAT NÃO HOUVE VIOLAÇÃO DE NORMAS EM ACIDENTES FATAIS

PRÉMIO UM CRIA SISTEMA QUE AJUDA CEGOS A ANDAR DE AUTOCARRO

O concurso internacional IEEE, que reconhece trabalhos na área da tecnologia, premiou um projecto da Universidade de Macau (UM) que auxilia invisuais no uso de autocarros. O programa usa frequências de rádio para ajudar os deficientes visuais a comunicarem com as paragens de autocarro através de um sistema de linguagem gestual. O concurso que procura inovação em aplicações para “cidades inteligentes” destina-se a participantes do mundo inteiro. Entre as propostas apresentadas foram escolhidas quatro equipas para passarem para a fase final, realizada em Phoenix, nos Estados Unidos. O projecto “made in Macau” é um dos primeiros no mundo a usar um sistema de análise da relação entre a energia absorvida por uma antena e uma etiqueta RFID. A equipa da UM propôs a instalação do sistema nas bengalas permitindo aos cegos interagir com as paragens através de gestos simples (horizontal e vertical).

TIAGO ALCÂNTARA

Não houve violação das normas de segurança nos acidentes de trabalho mortais registados este ano, cujas investigações já foram concluídas. A informação foi avançada pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) à Rádio Macau. “A DSAL recebeu oito participações de acidentes de trabalho mortais, tendo, após investigação, verificado que cinco dos casos não envolveram violação ao diploma de segurança e saúde ocupacional”, afirmaram os serviços liderados por Wong Chi Hong. Os outros três processos, que ainda estão em fase de investigação, são referentes ao corrente mês. Dois trabalhadores morreram nas obras de construção do novo edifício do Ministério Público, depois de terem sido atingidos por uma viga de aço, no passado dia 12. A outra vítima foi registada nos estaleiros do Grand Lisboa Palace, no Cotai. O trabalhador terá caído de uma altura de dez metros, no dia 18. A DSAL explica que, desde Janeiro, instaurou procedimentos punitivos em nove casos de acidentes de trabalho, tendo sido registadas 11 violações das normas. No total, foram aplicadas multas no valor de 49.500 patacas. No ano passado, morreram 27 trabalhadores em acidentes laborais. A DSAL indica que houve violação da legislação sobre a segurança e saúde ocupacional em cinco casos.

EPM FUNDAÇÃO NÃO NEGA ACÇÃO JUDICIAL PARA REAVER DÍVIDA

Amigos, amigos, negócios à parte

A Fundação da Escola Portuguesa de Macau não descarta uma acção judicial caso a Fundação Oriente não pague a dívida de 21,4 milhões de patacas. O seu presidente, Roberto Carneiro, prevê que no ano lectivo de 2020/2021 as obras da EPM estejam concluídas

U

M relatório de auditoria encomendado pelo Ministério da Educação em Portugal revelou que a Fundação Oriente (FO) deve 21,4 milhões de patacas à Fundação da Escola Portuguesa de Macau (FEPM), mas a dívida ainda não foi saldada. Em declarações ao HM, à margem de um evento público, Roberto Carneiro, presidente do conselho de administração da FEPM, garante que, caso a dívida não seja paga, já está a ser preparada uma acção judicial contra a FO, presidida por Carlos Monjardino. “Está pensada uma acção judicial, mas penso que vão chegar a acordo. Mas a acção judicial está pronta, caso não se chegue a acordo”, apontou Roberto Carneiro, que se mostrou, no

entanto, optimista quanto a uma resolução pacífica do assunto. “Essa questão tem sido discutida com Carlos Monjardino e com o ministro da Educação. Não sei quando será, mas penso que será em breve”, disse. A dívida da FO é relativa a falhas nas transferências de fundos para o funcionamento da escola desde o ano lectivo de 1999/2000, pois nem sempre a FO terá cumprido escrupulosamente a percentagem de contribuições que tinha ficado decidida. O relatório mostra que houve anos em que a FO não deu qualquer financiamento à escola, outros em que deu apenas uma parte, enquanto nalguns anos lectivos houve um financiamento por inteiro. A auditoria realizada em Portugal faz ainda referência à má gestão por parte da FEPM,

ao nível da falta de organização de documentos, da inexistência de actas do Conselho Fiscal ou do não cumprimento da realização de assembleias-gerais. Para Roberto Carneiro, está tudo regularizado. “São questões pu-

“Está pensada uma acção judicial, mas penso que vão chegar a acordo. Mas a acção judicial está pronta.” ROBERTO CARNEIRO PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA FUNDAÇÃO DA ESCOLA PORTUGUESA DE MACAU

ramente burocráticas. Não está nada pendente neste momento.”

ESCOLA PRONTA EM 2020

Questionado sobre o projecto de renovação da EPM, o antigo ministro da Educação em Portugal garantiu que o processo está a ser analisado pelos Serviços de Educação e Juventude, bem como pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. As obras “vão levar o tempo normal que estas coisas burocráticas levam”, frisou. “No ano lectivo de 2020/2021 teremos o novo bloco de aulas pronto. [O edifício] vai crescer em altura, vai haver uma parte do bloco novo, a cantina, um auditório novo e um pavilhão também.” Roberto Carneiro falou ao HM à margem da apresentação do livro “Português Global 4”, um lançamento do Instituto Politécnico de Macau. O presidente da FEPM está no território para desenvolver o projecto de ensino de línguas europeias na EPM, para que a escola tenha “uma componente europeia”. “Queremos abrir as suas portas aos alunos chineses que queiram estudar línguas europeias, como o espanhol, francês ou italiano, línguas que não sejam ensinadas aqui. São línguas que são igualmente procuradas na China, mas teremos sempre o português e o inglês.” Daqui a cinco anos essa iniciativa deverá ser uma realidade. “Tem de ser algo negociado com a União Europeia e as autoridades de Macau, é uma coisa complicada”, concluiu. Andreia Sofia Silva

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TIAGO ALCÂNTARA

O recurso e o erro

TUI rejeita apelo da CESL Ásia/Focus Aqua sobre ETAR de Macau

O

Tribunal de Última Instância (TUI) rejeitou um recurso interposto pelas empresas CESL Ásia e Focus Aqua por erro na forma de processo. De acordo com um comunicado enviado ontem pelo TUI, o caso diz respeito ao concurso público para a prestação de serviços de operação e manutenção da Estação de Tratamento de Águas Residuais da Península de Macau, um processo lançado em Abril do ano passado. Segundo a mesma nota de imprensa, a proposta da CESL Ásia, em consórcio com FocusAqua, foi excluída pela comissão de avaliação do concurso por não reunir os requisitos de qualificação exigidos no programa. Em Setembro último, os serviços foram adjudicados a outro concorrente, o consórcio BEWG-Waterleau. Inconformadas, a CESL Ásia e a Focus Aqua interpu-

seram recurso contencioso do despacho do secretário para os Transportes e Obras Públicas que aprovou o programa, o caderno de encargos e outras peças procedimentais para o concurso público em questão. O Tribunal de Segunda Instância (TSI) rejeitou o recurso por erro na forma de

‘‘A proposta da CESL Ásia, em consórcio com Focus Aqua, foi excluída pela comissão de avaliação do concurso por não reunir os requisitos de qualificação exigidos no programa.’’

processo, pelo que as duas empresas decidiram apelar ao TUI, que conheceu do caso. Adecisão da Última Instância manteve o entendimento do TSI. O TUI fez uma distinção entre normas regulamentares e actos administrativos, para concluir que “os textos que regulam o concurso dos autos e o respectivo caderno de encargos (...) aplicam-se a todos os concorrentes ao concurso público em causa, [pelo que] são normas regulamentares e não actos administrativos”. O tribunal faz ainda uma explicação sobre os meios para impugnar normas regulamentares, para indicar em seguida que houve “uma errada escolha da forma de processo”, dando razão ao TSI. “Por outro lado, esta decisão também não violou o princípio da tutela jurisdicional efectiva, porque este resultado foi causado pelas recorrentes por desconhecerem as regras processuais”, acrescenta o TUI, negando provimento ao recurso. HM

PUB HM • 2ª VEZ • 27-6-17

HM • 2ª VEZ • 27-6-17

ANÚNCIO Execução Ordinária n.º

CV1-16-0029-CEO

FINANÇAS INVESTIMENTOS EXTERNOS DE RESIDENTES SOMAM QUASE 500 MIL MILHÕES

ANÚNCIO 1º Juízo Cível

Execução por custas (Apenso) n.º

CV2-15-0025-CPE-A

2º Juízo Cível

Exequente: FONG CHI HOU, casado, de nacionalidade chinesa, titular do B.I.R.M., residência em Macau, na Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida, n.º 15. ------Executado: ZENG JIN HONG, casado, de nacionalidade chinesa, titular do B.I.R.M., com última residência conhecida em Macau, “聖德倫街416號獲多利大廈 3樓 AC 座 ”, ora ausente em parte incerta. --------------------------------------------------

Exequente: MINISTÉRIO PÚBLICO (檢察院). Executada: ACADEMIA MACAU TALENTOS LDA (澳門才華學會有限公司), com última sede conhecida em Macau, na Alameda Dr. Carlos D`Assumpção n.ºs 336-342, Edifício Jardim Fu Tat, 14.º andar.

***

***

----FAZ-SE SABER que nos autos acima indicados são citados os credores desconhecidos do Executado para, no prazo de QUINZE DIAS, que começam a correr depois de finda a dilação de vinte dias, contados da data da segunda e última publicação do anúncio, reclamar o pagamento dos seus créditos pelo produto do bem penhorado sobre que tenha garantia real e que é o seguinte:------------------------------Imóvel penhorado ----Denominação: fracção autónoma, “AC3” do 3.º andar “AC”.----------------------------Situação: sito em Macau, n.º 316 a 362 da Avenida Sir Anders Ljungstedt, n.º 396 a 506 da Rua Cidade de Santarém, n.º 3 a 113 da Rua Francisco H. Fernandes e n.º 315 a 363 da Alameda Dr. Carlos D´Assumpção.----------------------------------------------Finalidade: para habitação.--------------------------------------------------------------------Número de matriz: 073073.-------------------------------------------------------------------Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: n.º 22223, a fls. 168 do Livro B3K. --------------------------------------------------------------------------------------Número de inscrição da propriedade horizontal: n.º 15188 do Livro F46K. -----------Número de inscrição de proprietário n.º 24276G. --------------------------------------* Na R.A.E.M., 13/06/2017 O JUIZ

Correm éditos de trinta (30) dias, contados da segunda e última publicação do anúncio, notificando a Executada ACADEMIA MACAU TALENTOS LDA, da realização da penhora ordenada pelo Mm.º Juiz deste Tribunal dos seguintes bens: Verba n.º 1 Saldo da conta do Banco Nacional Ultramarino, na quantia de MOP25.000,00. Verba n.º 2 Saldos das contas do Banco Luso Internacional, nas quantias de HKD3.762,18 e MOP1.915,57. As penhoras acima referidas foram realizadas em 07/02/2017 e 20/02/2017 respectivamente. É notificada a Executada para, querendo, no prazo de dez (10) dias, decorrido que seja o dos éditos, pagar ao Exequente a quantia exequenda no montante de MOP18.840,00 e acréscimos legais, ou deduzir embargos de executado ou oposição à penhora, e ainda requerer a substituição dos bens penhorados por outro de valor suficiente, tudo conforme no art.º 820º do C.P.C.M., sob pena de, não o fazendo no referido prazo, seguir o processo os ulteriores termos até final à sua revelia. Os duplicados da petição inicial encontram-se aguardados nesta secretaria do 2º Juízo Cível, poderão ser levantados nas horas normais de expedientes. Macau, aos 19 de Junho de 2017.

D

E acordo com a Autoridade Monetária de Macau (AMCM), em 31 de Dezembro de 2016, os residentes locais tinham investimentos em títulos externos no total de 484,7 mil milhões de patacas. Esta soma representou um crescimento de 10,5 por cento em relação ao ano anterior. Em média, cada residente de Macau tinha investido em títulos externos 752 mil patacas no final do ano passado. Entre os vários componentes da carteira, os títulos representativos de capital chegaram aos 183,9 mil milhões, o que representou 37,9

por cento dos investimentos. As obrigações a longo prazo são os produtos financeiros mais populares entre os residentes de Macau, chegando ao montante de 285,9 mil milhões de patacas, uma parcela equivalente a 59 por cento dos investimentos. Quanto às obrigações a curto prazo, a soma chegou aos 14,9 mil milhões de patacas, ou seja, 3,1 por cento do capital investido. No que diz respeito à distribuição geográfica onde o dinheiro foi aplicado, a região asiática deteve a maior fatia de investimentos externos dos residentes de Macau, com 56,6 por cento. Em segundo lugar fica a área equivalente ao Atlântico Norte e Caraíbas, para onde foram 15 por centos dos investimentos. A Europa vem em terceiro lugar, representando 12,3 por cento do capital investido, em seguida fica a América do Norte (10,4 por cento) e, finalmente, a Oceânia (5,1 por cento). JL


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SOCIEDADE

HOJE MACAU

Pátria e línguas Publicadas competências básicas para o ensino secundário

F IPM SUCESSÃO DE CARLOS ANDRÉ ESTÁ A SER PENSADA

“Já planeámos o futuro” Lei Heong Iok, presidente do Instituto Politécnico de Macau, garante não estar preocupado com a sucessão de Carlos André na direcção do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa. Quanto ao ensino do mandarim, defende que não deve ser obrigatório

J

Á planeámos o futuro do ensino do português em Macau.” Foi desta forma que Lei Heong Iok, presidente do Instituto Politécnico de Macau (IPM), deixou claro que a sucessão de Carlos André à frente do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa não deverá ser um problema. “O professor Carlos André vai deixar o cargo de director do centro, mas tenho a certeza de que vai manter a ligação ao IPM. Temos de escolher um novo director e, neste momento, não estou muito preocupado com isso, porque temos vários colegas com esse perfil”, apontou. “Neste momento ainda não tenho um nome. Já planeamos o futuro do ensino do português em Macau e temos gerações jovens que vão continuar com esta causa muito importante”, disse ontem Lei Heong Iok à margem da cerimónia de lançamento do livro “Português Global 4”, destinado aos alunos chineses que já aprendem um grau mais avançado da língua. Carlos André, que foi director da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, chegou ao IPM em 2012 com a missão de colocar os professores de português da China a terem mais

formação. Deverá reformar-se no ano que vem. Na visão do presidente do IPM, o centro “tem feito um trabalho magnífico”. O manual que foi ontem lançado, com revisão científica de João Malaca Casteleiro, põe fim a uma “maratona” de quase dez anos, que começou a ter resultados visíveis em 2011, quando foi lançado o “Português Global 1”, para alunos que começam a dar os primeiros passos na língua. “Este projecto está finalizado, finalmente. Não só para mim, mas para esta casa e os meus colegas tem sido uma maratona de cerca de dez anos. Há muito tempo começámos a definir uma estratégia para o ensino e divulgação da língua e cultura portuguesa, não só

“O professor Carlos André vai deixar o cargo de director do centro, mas tenho a certeza de que vai manter a ligação ao IPM.” LEI HEONG IOK PRESIDENTE DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE MACAU

em Macau, como na grande China”, referiu o presidente do IPM. O manual tem sido utilizado em 30 universidades do Continente, estando nas mãos de cerca de mil alunos de licenciaturas, sem contar com alunos que aprendem português e que são de outras áreas.

MANDARIM SÓ POR ESCOLHA

Confrontado com as últimas notícias que falam da possibilidade de o ensino do mandarim vir a ser incentivado nas escolas, Lei Heong Iok referiu que tal não deve ser obrigatório. “É importante o ensino do mandarim, tal como do português, cantonês e outras línguas. Mas é melhor não impor ou obrigar alguém a fazer coisas. É melhor respeitar a vontade das escolas e dos próprios estudantes. Para o ensino do português, a partir do ensino primário ou secundário também é preciso vontade própria e mobilizar, semear e plantar, e só colher os frutos anos depois”, disse. O próprio secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, disse recentemente que o Governo não vai impor o ensino do mandarim no ensino não superior. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

ORAM ontem publicadas em Boletim Oficial (BO) as competências básicas que devem ser seguidas por escolas e alunos do ensino secundário geral e complementar, segundo a Lei de Bases do Sistema Educativo Não Superior. Nos últimos meses, foram publicadas as competências que devem ser seguidas nos ensinos infantil e primário. As competências são dirigidas às escolas que funcionam com as duas línguas oficiais, sem esquecer o inglês. Segundo um comunicado da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), a implementação plena destas competências vai demorar cerca de três anos, prevendo-se que, a partir do ano lectivo de 2019/2020, as novas regras sejam seguidas em todas as escolas secundárias. As novas competências serão dirigidas aos docentes especializados nas diversas disciplinas, tendo como objectivo a expansão dos conhecimentos dos alunos, para que estes possam melhorar as suas capacidades de comunicação e coordenação. No despacho publicado em BO é referido que, nas escolas chinesas, os alunos devem desenvolver “o entusiasmo pela língua e cultura chinesas, bem como o sentimento de amor à pátria e a Macau”. Deve haver uma orientação para que os alunos alarguem “o seu horizonte cultural, para respeitarem e entenderem as diferentes culturas, aspirando à essência da cultura humana e elevando as suas próprias qualidades culturais”. Há ainda directrizes como “ler obras excelentes antigas da China”, para formar “a base da cultura tradicional”.

Para as escolas que ensinam português, seja como língua veicular ou língua estrangeira, deve ser feita a “valorização da aprendizagem de línguas estrangeiras”, bem como ser promovido o domínio escrito e oral do idioma. Ao nível do inglês, o Governo considera que o idioma serve como “um meio para o desenvolvimento pessoal, tanto intelectual como estético, uma vez que actualmente muitas informações e artes oriundas de línguas mundiais são expressadas em inglês”. Nas escolas que têm o inglês como língua veicular será importante “ajudar os alunos a desenvolverem em pleno a sua capacidade comunicativa nessa língua, melhorando a sua eficiência de aprendizagem nas várias disciplinas”. As escolas devem “também ajudar os alunos a melhorarem a motivação de aprender o inglês, formando uma autoconfiança para comunicar nessa língua”.

FORMAR DOCENTES

A DSEJ explica ainda que o trabalho de reforma visa a realização de mais de 70 actividades de formação de professores, a realização de sessões de esclarecimento e a coordenação de materiais educativos, para que os professores possam ter conhecimento sobre os métodos de aplicação das novas directrizes. No mesmo comunicado, a DSEJ aponta que, no futuro, vai procurar melhorar as capacidades dos professores e a qualidade dos cursos. Esse projecto passa pela realização de docentes de excelência da China a Macau, tal como a publicação de novas instruções para a realização de cursos.


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Joel Brandão AUTOR DE UM DOCUMENTÁRIO SOBRE COMUNIDADES LO

EVENTOS HOJE MACAU

Veio para Macau terminar o mestrado na Universidade Católica do Porto. Como surgiu o interesse em retratar as diferentes comunidades do território? Terminei agora o mestrado em Cinema, que inclui o estágio. Quis fazer uma coisa diferente e propus à faculdade vir para Macau para fazer um documentário. Aceitaram e eu vim, sendo que o financiamento é meu. Foi uma aventura e um projecto pessoal. O tema foi discutido com o meu orientador, o José Manuel Simões da Universidade de São José. Tinha conhecimento de que ele já tinha abordado os temas relacionados com as ligações entre as comunidades de Macau. Ele, melhor do que eu, conhece o território e, após algumas conversas, achei que seria um tema com interesse. Do trabalho que desenvolveu até agora neste projecto, o que é que mais o surpreendeu? O que mais me impressionou foram as condições. Filmei num estabelecimento de comidas chinês e não fazia ideia de que aquele lugar tinha aquelas condições. Outra coisa que, de alguma maneira, também me surpreendeu foi a dificuldade de interacção entre a comunidade chinesa e as restantes. Penso que a comunidade chinesa tem uma mentalidade muito mais fechada e não se dá tanto a conhecer. Têm uma cultura muito intrínseca, em que vivem muito para eles e para as suas famílias. Também aprendi que é uma comunidade que, depois de ganhar alguma confiança em nós e se sentir mais à vontade, é capaz de nos ter como bons amigos. Talvez a parte mais fechada desta cultura seja mais visível nas gerações mais antigas. As gerações mais novas já têm outros recursos, sabem inglês e têm mais formas de comunicar. Estava à espera de que as comunidades comunicassem mais entre elas? Sem dúvida. Existem muitas comunidades diferentes no território. A comunidade filipina é muito grande. Mesmo assim, sinto que, antes do do-

O

filme “Colo”, da realizadora portuguesa Teresa Villaverde, foi distinguido com o grande prémio Bildrausch Ring of CinemaArt, no festival suíço Bildrausch, na cidade de Basileia. O festival, criado em 2011, classifica-se como um “festival de festivais” e é dedicado ao cinema de autor, tendo premiado, em 2016, Apichatpong Weerasethakul e Ruth Beckermann, ‘ex-aequo’, e, no ano anterior, Guy Maddin e Evan Johnson, a par de Shinya Tsukamoto. O júri da competição internacional do Bildrausch Filmfest deste ano, considerada o “coração” do evento, foi composto pelo realizador filipino Lav Diaz, pela produtora holandesa Ilse Hughan e pela montadora austríaca Monika Willi. Em comunicado, a Portugal Film salientou que o evento “convida

Um filme (afinal) feliz

Teresa Villaverde é a grande vencedora de festival em Basileia

novos filmes que pela sua linguagem cinemática idiossincrática e abordagem diferente à narração provocaram alguma agitação no circuito internacional dos festivais”. Além de ter marcado presença com “Colo” numa competição internacional que incluía nomes como o sul-coreano Kim Ki-Duk ou o inglês Terence Davis, Teresa Villaverde foi objecto de uma secção própria sob o nome “Punk frágil”, na qual foram exibidos quatro filmes da cineasta: “A Idade Maior”, “Três Irmãos”, “Os Mutantes” e “Transe”. “A acumulação de acontecimentos fatídicos desenvolve-se em

histórias que têm um tipo de urgência dramática raras vezes vista no ecrã hoje em dia. Ela teimosa, delicada, resoluta e consistentemente rejeita imagens falsas e narrativas embelezadas, quer no seu cinema quer na vida em geral”, pode ler-se na descrição da secção dedicada a Villaverde disponível na página do festival.

HISTÓRIAS DO CANSAÇO

“Colo” é a mais recente longa-metragem de Teresa Villaverde e estreou-se, em Fevereiro, no festival de Berlim, tendo desde então passado por festivais em Hong Kong, Áustria,

Fragmentos outros fragm Natural do Porto, o mestrando em cinema quis fazer diferente e propôsse filmar Macau e as suas gentes. O documentário estreia em Setembro no território, mas o objectivo de Joel Brandão é levá-lo a festivais de cinema por esse mundo fora

cumentário e depois das gravações, há ainda muito a trabalhar no que respeita à ligação e aos pontos de comunicação entre as diferentes comunidades que convivem aqui. O que é que este documentário pode vir a transmitir? Faço um documentário muito aberto. A ideia é que o espectador, ao ver o filme, crie a mensagem que posso querer transmitir. Filmei de uma forma diferente. Filmei três comunidades através do acompanhamento de apenas uma pessoa. Escolhi uma pessoa chinesa, uma filipina e uma portuguesa. Foquei-me

Uruguai e Turquia, além de ter sido o filme de abertura do IndieLisboa deste ano. Protagonizado por Beatriz Batarda e João Pedro Vaz, “Colo” é um filme com pouca esperança, sobre “sociedades exaustas” e sobre “a ideia do direito à felicidade, uma coisa de que praticamente já nem se fala”, disse a realizadora à Lusa em Fevereiro.

na forma como estas pessoas interagem com as outras no seu dia-a-dia, na forma como interagem com a cidade e com o que lhes é próximo. No caso do português e do filipino quis saber como se relacionavam, por exemplo, com as mulheres. Com o protagonista chinês quis saber como é que interage com os clientes no café. Os locais foram escolhidos por estas pessoas. O espectador vai ver nestas imagens como estas pessoas falam, se relacionam e como lidam com o quotidiano e vai criar, internamente, a ligação entre estas pessoas. Apesar de aberto, é um filme em que é possível perceber a opinião de cada uma destas personagens reais e a opinião que têm de Macau quanto ao seu passado, presente e futuro.

Têm sido feitos vários documentários sobre Macau. Acha que este filme vai trazer alguma coisa de diferente e dar uma imagem do território contemporânea? Penso que tenho uma forma diferente de fazer os meus documentários, que é visível no tipo de linguagem e de composição que faço. Coloco-me na intimidade das pessoas mesmo estando do lado de fora. É quase como estar na berma da estrada a filmar para dentro de um café e deixar as coisas acontecerem naturalmente. O que posso trazer de novo é a temática, que é sempre diferente. A nossa forma de ver as coisas é sempre diferente da dos outros. Depois, é a forma como filmo e edito, que penso que também é só minha. Tem sentido dificuldades em fazer o seu trabalho aqui em Macau? É fácil produzir um filme no território?

São personagens desamparadas, vítimas de um problema de comunicação: “Estão nitidamente perdidos, sem colo e sem saber sequer onde é que hão-de procurar esse colo e resolver as coisas. E eu, que estou a olhar para eles, também não sei o que lhes hei-de dizer. O filme é muito isso”, descreveu a realizadora. Nascida em Lisboa em 1966, trabalhou com João César Monteiro, José Álvaro Morais e João Canijo antes de se estrear como realizadora nos anos 90. É da mesma geração de realizadores como Pedro Costa e João Pedro Rodrigues, que também têm feito um percurso premiado e reconhecido por festivais internacionais. “Três Irmãos” (1994) teve estreia mundial em Veneza, “Os Mutantes” (1998) e “Transe” (2006) estrearam-se em Cannes, por exemplo.


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OCAIS

e mentos

Nesta área é preciso muito trabalho de campo. É necessário andar muito pelas ruas e o material é pesado. Este clima que agora se sente, abafado e húmido, é uma das grandes dificuldades. Em termos artísticos e narrativos é fácil conseguir um retrato de Macau. É um espaço muito interessante e não há muitos locais em que isto se possa fazer. Só o facto de estar a fazer um trabalho na Ásia, com uma cultura completamente diferente e ainda ter esta mistura de comunidades, é excelente e muito diferente. Há ainda um grande desconhecimento de Macau por parte dos portugueses. Acha que este documentário vai ajudar na divulgação de Macau junto do público português? Sim, sem dúvida. Neste filme não retrato apenas as comunidades.Tenho imagens da cidade, de paisagens e de locais característicos do território. Os portugueses PUB

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que vão ver este documentário vão ter uma percepção completamente diferente do que é Macau. Concordo quando fala que há muito desconhecimento em Portugal acerca do território. Estava à espera de encontrar esta herança portuguesa aqui, nomeadamente ao nível do património? Da primeira vez que cá vim, não contava nada com esta presença. Já tinha lido acerca de Macau e sabia que havia edifícios com características idênticas aos de Portugal. Mas chegar aqui e ver a calçada portuguesa e esta arquitectura, ver as ruas com o nome em português e tantos portugueses, foi uma surpresa. Como foi a escolha dos protagonistas deste documentário? Primeiro escolhi as comunidades que queria retratar. Só tinha dois meses de trabalho pela frente e tinha de ser objectivo. Peguei naquelas que me pareceram as comunidades mais óbvias aqui. Depois foi muito simples, o protagonista chinês, o William Chen, era o dono do café onde eu ia todos os dias tomar o pequeno-almoço e criei uma empatia com ele, já da primeira vez que cá estive. Quando regressei, voltei ao estabelecimento para comer e ele lembrava-se de mim. Fomos conversando, acabei por convidá-lo e

ele mostrou-se muito receptivo. O protagonista português apareceu porque estava a filmar pela rua e cruzei-me com a mulher dele. Ela perguntou-me o que é que estava aqui a fazer. Expliquei-lhe e disse que precisava de conhecer pessoas portuguesas. Ela sugeriu o marido que já cá está há 25 anos. E assim foi. Este documentário é, portanto, um resultado de vários acasos? Sim, quase lhe chamava fragmentos. São pequenas peças que vou encontrando e vou juntando. Mas este também é o segredo do documentário, o de registar o que se vai vendo e o que vai aparecendo. Tinha uma ideia diferente do documentário antes da sua produção e, depois de começar a filmar e de ver as imagens, vamos ter um resultado muito diferente dessa ideia. No documentário estamos sempre sujeitos a alterações. É o género de que mais gosta? Gosto de contar histórias, quer seja em documentário, ficção ou animação. Penso que, para qualquer realizador, o segredo é contar uma história em que de alguma forma, acredite. Acredito nas histórias que faço. Se são bem ou mal contadas, cabe aos críticos dar essas opiniões. Andreia Sofia Silva (com S.M.M.) andreia.silva@hojemacau.com.mo

EVENTOS

João Botelho e outras histórias

Películas do Indie Lisboa chegam à Cinemateca Paixão

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já esta sexta-feira que os filmes do Indie Lisboa chegam a Macau, inseridos na iniciativa “Junho, Mês de Portugal”, tendo o apoio da Fundação Oriente, da Casa de Portugal em Macau e do Consulado-geral de Portugal no território. Entidades como o Instituto Português do Oriente e da empresa XCESSU também apoiam a organização. Todos os filmes serão exibidos na Cinemateca Paixão. O documentário “O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu”, do realizador João Botelho, será o primeiro a ser exibido, às 19h30. A película retrata a relação dos dois cineastas. No sábado, dia 1 de Julho, a Cinemateca Paixão exibe um conjunto de curtas-metragens a partir das 18h. Incluem-se a animação “Macabre”, de Jerónimo Rocha e João Miguel Real, “Campo de Víboras”, de Cristèle Alves Meira, e “Pedro”, de André Santos e Marco Leão. Às 19h30, será exibido “Treblinka”, de Sérgio Tréfaut.

O domingo será outro dia dedicado às curtas-metragens. Serão projectados, a partir das 18h, “Ascensão”, de Pedro Peralta, “Swallows”, de Sofia Bost, e “O Corcunda”, de Gabriel Abrantes e Ben Rivers. No mesmo dia será também exibido “Estive em Lisboa e Lembrei de Você”, de José Barahona. Segundo um comunicado, “os filmes escolhidos representam esse espírito independente que caracteriza muito do cinema português e que tem conquistado o público e os júris dos principais festivais internacionais por esse mundo fora”.


12 CHINA

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PEQUIM MEDEIA ENTRE AFEGANISTÃO E PAQUISTÃO

Juizinho é muito bonito Pequim surge como mediador entre dois vizinhos problemáticos. A China age agora, claramente, como uma nova superpotência

Coreia do Norte é a prioridade na relação com a China. Logo a seguir, vem o défice comercial

O

O

m i n i s t r o dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, visitou o Afeganistão e o Paquistão nos dias 24 e 25 tendo, durante a sua visita, as três partes trocado opiniões sobre as relações entre Afeganistão e Paquistão e a cooperação entre as três partes, chegando a “amplos consensos”, segundo um comunicado final. Afeganistão e Paquistão acusam-se mutuamente de fechar os olhos aos militantes que operam ao longo da sua fronteira. O Paquistão construiu um muro ao longo de uma parte da fronteira, o que também causou tensões, uma vez que o Afeganistão não reconhece a linha da era colonial como uma fronteira internacional. Agora, segundo o comunicado, China, Afeganistão

Embaixador dos EUA grava vídeo

e Paquistão “dedicar-se-ão à defesa da paz e estabilidade da região, ao reforço da interligação e interconexão regional e cooperação económica e à promoção da segurança e desenvolvimento comuns.”

CONTINUAR A CONVERSA

Ainda segundo o comunicado, “Afeganistão e Paquistão afirmaram o seu desejo de melhorar as relações bilaterais, aumentar a confiança política mútua e reforçar cooperações

em diversas áreas, incluindo o combate antiterrorista. Ambas as partes ainda concordaram em estabelecer um mecanismo de controlo e prevenção de riscos”. Por outro lado, os três países resolveram estabelecer um mecanismo de diálogo de MNEs e consideram que deve ser retomado o grupo de coordenação composto por Afeganistão, Paquistão, China e EUA, com o objectivo de criar boas condições para que os talibãs integrem o processo de paz.

Além disso, as três partes apoiam o Processo de Cabul e concordam que é necessário retomar os trabalhos do Grupo de Ligação OSX (Organização de Cooperação de Xangai) – Afeganistão, a fim de promover o processo de paz. No domingo, o MNE chinês, Wang Yi, havia dito que Pequim manteria um diálogo com o Afeganistão e o Paquistão para ajudar melhorar as relações entre os dois vizinhos.

LIU XIAOBO LIBERTADO APÓS DIAGNÓSTICO DE CANCRO TERMINAL

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prémio Nobel da Paz chinês, Liu Xiaobo, foi libertado da prisão depois de lhe ter sido diagnosticado um cancro no fígado em fase terminal no mês passado, anunciou ontem o seu advogado. “Há cerca de um mês que está a ser tratado no hospital de Shenyang [na província de Liaoning, nordeste da China]. Não tem nenhum projecto em particular. Está apenas a receber tratamento”, disse, citado pela agência France Press, o advogado Mo Shaoping, precisando que Liu Xiaobo recebeu o diagnóstico no passado dia 23 de Maio e foi libertado alguns

dias mais tarde. Liu está preso em Jinzhou desde 2009, acusado de tentar “subverter as instituições do Estado” por ter participado na elaboração da Carta 08, um documento que celebrava o 60.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Em 2010, o escritor foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz, tornando-se na terceira pessoa a receber o prémio durante o cumprimento de uma pena de prisão, depois do alemão Carl von Ossietzky, em 1935, e a birmanesa Aung San Suu Kyi, em 1991. A atribuição do Nobel a Liu foi muito mal

recebida pelas autoridades chinesas, que censuraram todas as notícias sobre o assunto e desencadearam uma onda de repressão contra outros activistas. A mulher do escritor, Liu Xia, está desde 2010 detida em prisão domiciliária, embora nunca tenha sido formalmente acusada. “As autoridades devem imediatamente e de forma incondicional levantar todas as restrições à sua mulher e permitir que os dois se voltem a encontrar o mais depressa possível”, afirmou o investigador da Amnistia Internacional, Patrick Poon, citado pelo The Guardian.

novo embaixador norte-americano na China, Terry Branstad, afirmou num vídeo difundido ontem na plataforma chinesa ‘Ai qiyi’ (IQIYI, na sigla inglesa), que a Coreia do Norte é uma prioridade nas relações bilaterais com o país. “Resolver a desigualdade comercial entre os dois países, deter a ameaça norte-coreana e reforçar os laços entre os nossos povos são as minhas principais prioridades”, afirmou Branstad na gravação, difundida na IQIYI, uma espécie de Youtube chinês que em 2014 tinha 345 milhões de utilizadores. “Partilhamos [Estados Unidos e China] muitos dos desafios que ambos enfrentamos”, acrescentou Branstad, que assegurou que uma relação “forte” entre os dois países pode ajudar a encontrar “soluções” para questões de emprego, educação, saúde ou envelhecimento da população. O novo embaixador norte-americano conta, no vídeo, como em 1984 conheceu o agora Presidente chinês Xi Jinping, quando este fez a sua primeira viagem oficial ao país como secretário local do Partido Comunista Chinês (PCC). “Mais de três décadas e cinco viagens à China depois, espero poder trabalhar com o povo chinês na construção dos futuros laços entre os Estados Unidos e a China”, afirmou Branstad. Em intervenções anteriores, Branstad já tinha manifestado a sua postura de respeito para com a China, que diz ser um parceiro essencial para a resolução do conflito na península coreana, e também noutros desafios, como as disputas no Mar do Sul da China, direitos humanos e novos avanços da cibersegurança. O republicano Terry Branstad foi governador do estado de Iowa em duas ocasiões: entre 1983 e 1999, e desde 2014 até Maio deste ano, quando Donald Trump o nomeou para o novo carga.

HK DEZ ACTIVISTAS PROTESTAM EM VÉSPERAS DA VISITA DO PRESIDENTE

Activistas pró-democracia içaram ontem uma bandeira negra sobre uma estátua que simboliza o retorno de Hong Kong à China, em protesto pela iminente visita do Presidente Xi Jinping, para comemorar o 20.º aniversário da transferência. Joshua Wong, um dos rostos do Occupy Central, juntou-se ontem de manhã a uma dezena de manifestantes no porto de Hong Kong para cobrir a estátua. Os activistas gritaram ‘slogans’ como “autodeterminação democrática para o futuro de Hong Kong” e “‘Um país, dois sistemas’ foi uma mentira durante 20 anos”, enquanto protestavam levaram a cabo o acto, que foi repreendido pela polícia, sem que fossem feitas detenções. A bandeira negra foi retirada pouco depois sem incidentes. O protesto acontece a três dias da visita de Xi a Hong Kong, a primeira desde que tomou posse como Presidente da China, em Março de 2013.


13 hoje macau terça-feira 27.6.2017

CHINA

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EDITAL N.º 04/DSO/2017 Processo n.º 8179.02 Assunto: Notificação de despejo do terreno com a área de 3 459,30 m2, situado em Coloane, junto à povoação de Hac-Sá, descrito na CRP sob o n.º 21 200, demarcado e assinalado pelas parcelas com as letras A1, B e C, na Planta Cadastral n.º 4588/1993 de 28 de Novembro de 2008

A

S operações de resgate dos 93 desaparecidos no deslizamento de terras no sul da China, no sábado, estão a ser afectadas por novos desabamentos que estão a obrigar a retirada das equipas de socorro. O gabinete de segurança da província de Sichuan, no sul da China, emitiu uma ordem de retirada da zona da aldeia de Xinmo, soterrada desde sábado, por ter sido detectado, por radar, um novo movimento de terras que pode ser igualmente perigoso para os socorristas. Na madrugada de sábado a intensidade da chuva

Adeus Xinmo Trabalhos de resgate perturbados por novos deslizamentos de terras, mas continuam provocou o desabamento de terras sobre a povoação situada numa zona de montanha de difícil acesso. Pelo menos uma extensão de dois quilómetros do leito de um rio e mais de um quilómetro de estrada, próximo da aldeia, ficaram completamente soterrados por terra e rochas. Até ao momento, foram encontradas com vida três habitantes

que se encontravam sob os escombros. Durante os trabalhos de resgate foram também retirados os cadáveres de dez pessoas que viviam na aldeia de Xinmo. Segundo a estação de televisão chinesa CCTV as equipas de socorro estavam a abrir um corredor com seis metros de largura com o objetivo de facilitar as operações de resgate.

CHINA VAI LANÇAR LONGA MARCHA-5 Y2

UM CÃO INCONSOLÁVEL

A

S redes sociais chinesas acompanhavam neste domingo um cão branco com olhar triste que procurava o seu dono entre os escombros de Xinmo. A emissora oficial em inglês CGTN mostrou imagens de um socorrista a tentar afastar o cão dos escombros, mas o animal não queria se mexer. “Há alguma coisa? Cãozinho, onde está o teu dono?”, diz a socorrista nas imagens, onde se vê o animal sentado sobre os escombros com as orelhas caídas. “Um cão que espera o seu dono e

se nega a deixar os escombros comove o coração do país”, escreveu a CGNT no Twitter. Na rede social chinesa Weibo, muitos internautas preocupavam-se com o futuro do animal e propunham-se a adoptá-lo. “Isto mostra que os cães são realmente capazes de amar”, escreveu um utente. Outros aproveitaram para denunciar o consumo de carne de cão, coincidindo com a celebração em 21 de Junho da polémica festa da carne de cachorro em Yulin, denunciada dentro e fora do país.

A China vai lançar o foguete Longa Marcha-5 Y2 entre os dias 2 e 5 de Julho, de acordo com a Administração Estatal de Ciência, Tecnologia e Indústria para a Defesa Nacional. Com o satélite de comunicação Shijian-18 a bordo, o foguete foi transferido nesta segunda-feira, na posição vertical, para a área de lançamento no Centro de Lançamento Espacial de Wenchang, na província de Hainan, uma ilha no sul do país. O Shijian-18 testará tecnologiaschave da plataforma de satélite de nova geração Dongfanghong-5 e realizará experiências em órbita. Depois de chegar ao centro de lançamento, no dia 5 de Maio, o foguete foi submetido a montagem e testes. Esta é a segunda missão de lançamento para este modelo de foguete. O Longa Marcha-5 é um foguete de transporte de nova geração e não é tóxico nem poluidor. O equipamento representa o nível mais alto de inovação de foguetes de transporte da China.

Li Canfeng, director da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, nos termos do n.º 2 do artigo 72.º e do artigo 139.º do «Código do Procedimento Administrativo», aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, faz-se saber por este meio aos herdeiros do ex-concessionário Alfredo Augusto Galdino Dias e demais interessados ou ocupantes, o seguinte: 1.

Por despacho do Chefe do Executivo, de 8 de Novembro de 2016, foi declarada a caducidade da concessão do terreno em epígrafe, a que se refere o Processo n.º 22/2016 da Comissão de Terras, e uma vez que tinha decorrido o prazo pelo decurso do seu prazo, nos termos e fundamentos do parecer do Secretário para os Transportes e Obras Públicas, de 20 de Setembro de 2016, os quais fazem parte integrante do referido despacho;

2.

A declaração de caducidade da concessão acima referida foi publicada, por despacho do STOP n.º 46/2016, no Boletim Oficial da RAEM n.º 47, II Série, de 23 de Novembro de 2016, e foi notificada mediante o Edital n.º 001/DAT/2016 publicado nos jornais em línguas chinesa e portuguesa de 12 de Dezembro de 2016;

3.

Nestas circunstâncias, nos termos do n.º 1 do artigo 179.º da Lei n.º 10/2013 «Lei de terras», por despacho do Secretário para os Transportes e Obras Públicas, de 27 de Abril de 2017, são ordenados os destinatários acima referidos para a desocupação do terreno referido em epígrafe, devendo também demolir os prédios sitos no local, no prazo de 60 dias a contar da publicação do presente edital. As benfeitorias por qualquer forma incorporadas são revertidas para a RAEM, livre de quaisquer ónus ou encargos, sem direito a qualquer indemnização;

4.

Esta Direcção de Serviços deve ser notificada por escrito após a conclusão da desocupação acima referida, a fim de proceder à respectiva vistoria de recepção;

5.

Em caso de incumprimento de ordem que lhe seja transmitido através do presente edital, nos termos do n.º 2 do artigo 179.º da «Lei de terras» e do artigo 56.º do Decreto-Lei n.º 79/85/M, de 21 de Agosto «Regulamento Geral da Construção Urbana», esta Direcção de Serviços, em conjunto com outros serviços públicos e com a colaboração das Forças de Segurança de Macau, procederá, a partir do termo do referido prazo de 60 dias, à execução coerciva dos referidos trabalhos de despejo, devendo as respectivas despesas ser de responsabilidade dos destinatários em epígrafe;

6.

Os objectos, materiais e equipamentos abandonados no terreno serão tratados de acordo com o artigo 210.º da «Lei de terras».

RAEM, aos 21 de Junho de 2017. O Director de Serviços Li Canfeng


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

14

Destruir a morte à custa da vida

A

heteronímia está longe de ser mero artifício literário. Ela é expressão de profunda convicção do que deve ser o humano, daquilo que deve ser a vida humana na sua excelência. A heteronímia é expressão de uma nova weltenschaung (mundivisão), de uma nova visão do ser humano. O que está em causa no processo heteronímico de Pessoa é a excelência humana, a possibilidade de alcançar a excelência humana, isto é, a possibilidade do ser humano ser melhor do que é, de ser melhor do que lhe é imediatamente dado. Excelência essa que não visa uma prática religiosa ou ética, mas estética. Mas há um Fernando Pessoa heterónimo, que se iguala ou mesmo perde em existência para os outros heterónimos, e há um outro anterior: o que rejeita a vida para poder escrever. Aquele que rejeita a vida para criar o complexo jogo existencial é anterior a toda a criação, como o Criador é anterior à obra criada ou como a existência de algo antes do Big Bang. Por conseguinte, o privilégio deste Pessoa-criador é mais do que o do registo civil, é o privilégio do criador em relação à sua obra. Privilégio esse que lhe confere, entre outros, o privilégio da consciência da obra e dos esforços necessários para realizá-la; neste caso, a abdicação de vida, como ele tantas vezes escreve. E é precisamente nesta consciência de realização da obra, da sua obra, que a heteronímia não tem uma raiz ontológica, e sim estética. Pois tudo é jogo, nada mais do que jogo. Tudo é lúdico. Existir é brincar às existências. A ontologia aparecerá nos vários heterónimos que ele projecta, nos vários heterónimos que ele é, mas não na totalidade da obra, não na concepção da obra. Por outro lado, não se pense que esta consciência da existência como uma impossibilidade de escapar do lúdico traz em si uma facilidade para a existência, que não traz em si mesma um terrível drama. Haverá dor maior do que ter consciência de não haver verdade, de não haver existência para além do jogo, do lúdico, e ver isso com uma claridade tão grande que se recusa a vida? Fernando Pessoa deixou sempre claro ao longo dos seus textos o primado da escrita sobre a vida. A vida não interessa a ninguém. A vida só pode interessar aos animais ou à parte animal que nos habita,

DESENHOS DE JÚLIO POMAR

Pequeno apontamento acerca de Fernando Pessoa

a parte animal que somos, nunca ao espírito, à parte espiritual que somos. Tanto no Livro do Desassossego, § 149, quanto em Reflexões Pessoais (374-5) Pessoa refere uma frase do biologista Haeckel (entre o macaco e o homem normal há menos diferença do que entre o homem normal e um homem de génio) para dissertar acerca desta distinção que lhe parece evidente e fundamental, isto é, viver segundo a carne, a mundanidade ou segundo o espírito. O que está aqui em causa, neste projecto de Pessoa, é, literalmente, à imagem da metafísica ou ontologia cristã: ganhar a vida perdendo-a. Ganha-se a vida se fizermos dela uma coisa maior do que ela é, se lhe encontrarmos um sentido que valha a pena ser seguido, fazer da vida algo que valha a pena. Por outro lado, ganhar a vida perdendo-a, já é muito diferente. Ganhar a vida perdendo-a, é um ponto de vista do entendimento ontológico ou metafísico cristão. E, embora Fernando Pessoa não fosse cristão, não acreditasse em Cristo, o seu entendimento ontológico ou metafísico da vida aproxima-se do entendi-

mento ontológico cristão. O que é que aproxima e afasta Fernando Pessoa, e seu projecto de existir, da ontologia cristã? Imediatamente devemos responder: o para além da vida. A saber, ganhar a vida, perdendo-a, em sentido cristão, implica estar certo de haver uma vida depois da morte, uma vida em Deus para além desta vida terrena. Para Fernando Pessoa, a vida terrena esgota-se e tudo se esgota. O para além da vida, em Pessoa, é na vida. Perder a vida é perder tudo o que se tem em troca de nada. Fernando Pessoa, embora também rejeite a vida terrena, não espera alcançar Deus. Pessoa não abdica da sua vida para Deus, nem sequer para si mesmo, mas para o seu jogo. E, neste sentido, bem podemos falar de um cristianismo pagão. Fernando Pessoa, embora não numa linguagem filosófica, compreendia a falência da metafísica, isto é, da ontologia tradicional metafísica. Fernando Pessoa compreendia que a metafísica não dava conta do mistério. No fundo, podemos agora dizê-lo, a metafísica deixava escapar o jogo. Era deste modo que Pessoa compreendia a metafí-

sica. Veja-se algumas passagens: “A metafísica – caixa para conter o Infinito (...)”; “Negada a verdade, não temos com que entreter-nos senão a mentira. Com ela nos entretenhamos, dando-a porém como tal, que não como verdade; se uma hipótese metafísica nos ocorre, façamos com ela não a mentira de um sistema (onde possa ser verdade) mas a verdade de um poema ou de uma novela – verdade em saber que é mentira, e assim não mentir.” Chega mesmo a pôr em causa, através de uma inversão completa, a posição socrática do conhecimento: “Conhecer-se é errar (...). Desconhecer-se conscientemente, eis o caminho.” Há uma total desconfiança por parte de Fernando Pessoa em relação à metafísica e à possibilidade do conhecimento dos fundamentos, daquilo que faz do humano o humano, daquilo que faz do mundo o mundo, daquilo que faz do universo o universo. Uma coisa ele sabe: ele desconhece-se. Do centro deste desconhecer-se, Fernando Pessoa irá traçar uma poderosa e profunda forma de pensar que será projectada na sua própria vida. Fernando Pessoa vive o que pensa. Não há propriamente uma redução da vida ao pensar, mas há uma formalização dessa relação. A vida é uma arca vazia, que foi feita para encher de coisas. O conceito central e fundante de todo o pensamento de Fernando Pessoa é o conceito de vida. Vida é aquilo que nos é dado, aquilo que partilhamos com tudo o que há, com tudo o que existe. Por conseguinte, também a pedra tem vida. Vida é estar no universo. Mas este estar é sempre dependente de uma consciência. A frase com que termina as suas Reflexões Pessoais é: “Vida é consciência.” Vida é existir para uma consciência. Ao tornar-se um dado da consciência a pedra torna-se vida, pertence à vida, assim como os sapatos que calço ou o meu vizinho do lado. Assim a vida não nos pertence. Só somos vida para um outro. A vida é nos dada, ao nascer, e depois continuamente dada pela consciência de um outro. “Assim é a vida, mas eu não concordo.” A partir daqui, a vida assume-se claramente como inimigo, adversário ou algo incómodo. A vida é aquilo que nos mata, aquilo que nos reduz, que nos impede de sermos nós próprios. “Nunca saímos do cárcere de viver, nem com a morte que é a vida individual das muitas de que a nossa unidade ficticiamente se forma.” A vida


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máquina lírica

é uma servidão. Todo o projecto de Fernando Pessoa é uma guerra contra a vida, contra a servidão e a impossibilidade de, nela, sermos nós próprios. Como pode isso ser possível? Como pode Fernando Pessoa dizer estas frases: “Que tenho eu com a vida?” ou “Que coisa reles e baixa que é a vida!” Como pode ele escapar da vida? Como se pode escapar da vida? Para Pessoa, faz sentido dizer que ele não quer ganhar a vida, ele quer ganhar à vida. Ele quer aumentar-se, quer tornar-se maior do que é, quer tornar-se à sua medida. Tornar-se à medida do humano que se pode ser para além da menoridade da vida. Esta noção de aumentar-se aparece em Reflexões Pessoais (embora seja desenvolvida de múltiplas formas em Livro do Desassossego): “2. Aumentar é aumentar-se. // 3. Invadir a individualidade alheia é. Além de contrário ao princípio fundamental [1. Cada um de nós não tem de seu nem de real senão a própria individualidade.], contrário (por isso mesmo também) a nós mesmos, pois invadir é sair de si, e ficamos sempre onde ganhamos. (Por isso o criminoso é um débil, e o chefe um escravo. ) (O verdadeiro forte é um despertador, nos outros, da energia deles. O verdadeiro Mestre é um mestre de não o acompanharem.) // 4.

Atrair os outros a si é, ainda assim, o sinal da individualidade.” Pessoa perde a vida, não para ganhar Deus ou a si mesmo, mas para ganhar os outros. Aumentar-se é aumentar o número de si mesmo, desdobrar-se em muitos, fazer de si mais do que é, alargar o espaço e o tempo do que é. Veja-se a nota do filósofo António C. Caeiro à sua tradução das Píticas de Píndaro: “Apenas a vitória consegue anular a solidão máxima da disputa. O campeão granjeia a fama e a glória. O triunfo altera quem o obtém. Permite o reconhecimento, um identificação e um ‘lugar’ para ser. O brilho esplendoroso da vitória amplia. Potencia a vida. Ao vencer-se é-se maior do que se era, é-se falado. Transcende-se o espaço que se ocupa e o tempo durante o qual se existe. Expande-se e propaga-se. Mas a derrota é uma desgraça. Uma calamidade. Quem perde não apenas é esquecido como também não quer ser lembrado. A derrota extirpa a simples hipótese de ainda ser possível. Deixa o perdedor entregue a si, desamparado. Sem ilusões. Não pode senão sobreviver-se. Infame.” Por conseguinte, não se pense apressadamente que este aumentar-se está na origem da heteronímia, pois seria errado pensar assim. A heteronímia é a expres-

são do si mesmo, da individualidade de Pessoa; o aumentar-se é o sinal da individualidade nos outros, isto é, o reflexo da sua própria individualidade no mundo. Posso expressar-me sem que haja sinal disso, mas o sinal da minha expressão é o reflexo que o mundo dá da minha individualidade. Fernando Pessoa dá a vida em troca do mundo. Escreve ele numa das páginas dos seus diários: “Não faço visitas, nem ando em sociedade alguma – nem de salas, nem de cafés. Fazê-lo seria sacrificar a minha unidade interior, entregar-me a conversas inúteis, furtar tempo se não aos meus raciocínios e aos meus projectos, pelo menos aos meus sonhos, que sempre são mais belos que a conversa alheia. // Devo-me à humanidade futura. Quanto me desperdiçar desperdiço do divino património possível dos homens de amanhã; diminuo-lhes a felicidade que lhes posso dar e diminuo-me a mim próprio, não só aos meus olhos reais, mas aos olhos possíveis de Deus. // Isto pode não ser assim, mas sinto que é meu dever crê-lo.” A vitória é aumentar-se. Multiplicar-se pelo tempo futuro. Esta multiplicação é, simultaneamente, superar as condições que esmagam o humano. Se me entregar à vida e aos seus prazeres, jamais serei lembrado, jamais conseguirei um lugar para ser. “O prazer é para os cães (…)”, escreve Pessoa enquanto Barão de Teive. Que devemos então fazer? “Reduzir as necessidades ao mínimo, para que em nada dependamos de outrem. // É certo que, em absoluto, esta vida é impossível. Mas não é impossível relativamente.” Há nesta redução das necessidades, de algum modo, um projecto de âmbito estóico. Não podemos esquecer que os estóicos e os santos sempre atraíram Fernando Pessoa. Sempre lhe atraíram as formas mais radicais do humano, de ser humano. Por outro lado, o seu livro, atribuído ao semi-heterónimo Barão de Teive, denomina-se a educação do estóico. Mas mais do que um projecto estóico, trata-se de um projecto de lucidez humana, um projecto de aproveitamento máximo dos recursos de uma possibilidade de excelência humana. Não no sentido do humanismo, mas no sentido do humano, no sentido do jogo. A redução das necessidades não tem como fundo a contenção do sofrimento e da alegria, mas a contenção do outro, isto é, a amplificação da possibilidade máxima de se estar a só consigo mesmo. Porque o outro nos escraviza. O humano ou é só, ou é um escravo. Escreve em O Livro do Desassossego: “Toda a alma digna de si própria deseja viver a vida em Extremo. Contentar-se com o que lhe dão é próprio dos escravos. (...) Viver a vida em Extremo significa vivê-la até ao limite (...).” E que limite é este, que aqui se fala e que devemos alcançar, se não é um limi-

Paulo José Miranda

te de estóico? A resposta é-nos dada no mesmo livro, em menos de vinte páginas adiante: “Achei sempre que a virtude estava em obter o que não se alcançava, em viver onde não se está, em ser mais vivo depois de morto que quando se está vivo (...) durar depois de não existir.” Chegamos por fim ao centro do vulcão. Aquilo que verdadeiramente importa é destruir a morte. Derrotar a morte e a realidade do mundo, os dois opressores do humano. A morte, porque nos faz desaparecer para sempre; a realidade do mundo que nos limita, nos sufoca enquanto existimos. O que esta em causa, tal como vimos para Píndaro, é a vitória. A vitória aqui não é vencer na vida, mas uma vitória mais radical: vencer da vida. Esta vitória sobre a vida é simultaneamente a vitória sobre a morte e sobre a realidade do mundo. Para se ser mais vivo depois de morto do que quando se está vivo é fundamental e necessário vencer a vida em vida. Vencer a vida no seu próprio terreno. Há como que uma estética da abstenção, uma estética que abstém-se de tudo o que não seja a própria arte a ser feita. Não é a arte pela arte, é a vida pela arte. Viver é criar. Outras frases fortes: “Viver é não pensar.; e Viver é ser outro.” Viver é ser outro, porque aquilo que somos é seres que criam, seres criadores, e na vida deixamos de ser o que somos. A vida mata-nos mais do que a morte. Mais do que viver, é necessário criar. É preciso dar a vida pela arte.


16 DESPORTO

hoje macau terça-feira 27.6.2017

LIGA DE ELITE

Suspense mesmo até ao fim

vencedor da Liga de Elite vai ser decidido na última jornada. Benfica e Monte Carlo venceram os seus jogos e assim o suspense será mesmo até final do campeonato. Quem já está fora da corrida do titulo é o CPK, que empatou frente a uma Polícia que assim pode respirar um pouco mais no que diz respeito à manutenção, ganhando um pouco de ar sobre o Lai Chi e Development Team. Manutenção essa que foi também garantida pelo Sporting de Macau que assim fica entre os melhores para próxima época. Ainda como motivo de interesse para última jornada, o quarto lugar do campeonato, com três equipas a disputarem essa posição: Kei Lun,Cheng Fung e Ka I.

TATIANA LAGES

O

ANÁLISE da 9ª jornada por João Maria Pegado

TEMPO DE CELEBRAR

Sexta-feira os leões do território conseguiram uma das vitórias mais saborosas dos últimos tempos. A uma jornada do fim atingiram o objectivo proposto no inicio da época. E muitas dúvidas houve no início do campeonato que esse objectivo fosse conseguido, mas a resiliência de uma nova direcção e o trabalho incansável de uma equipa técnica nova deram a tranquilidade necessária para os jogadores conseguirem exprimir a sua qualidade em campo. Mais: em tempo de vacas magras vimos alguns jovens a despontar para o futebol local. Parabéns da “Análise da Jornada” a todos os envolvidos nesta permanência. Quanto ao jogo de realçar a vitória leonina, Sporting 2 vs 1 Development, que deixa a equipa da associação em último lugar do campeonato a três pontos da salvação.

a crescer nas asas de Edgar Teixeira e no abre-latas Pang Chi Hang que, com uma assistência e um penálti ganho, garantiu os três pontos para a sua equipa. Com esta vitória os

encarnado entram na última jornada a precisarem de uma vitória no dérbi lisboeta de Macau. Quanto ao Kei Lun tem a quarta posição para defender contra a Polícia.

CONTAS DO TÍTULO

EQUIPA DA SEMANA

A caminhada para o título começou no sábado, com o líder do campeonato a vencer: Benfica 2 Vs 0 Kei Lun. Num jogo em que a equipa liderada por Henrique Nunes tinha duas baixas por suspensão, Torrão e Bernardo, o Kei Lun vendeu cara a derrota e só na segunda parte é que o Benfica decidiu o jogo a seu favor, o que muito se ficou a dever à reposição do meio-campo encarnado que, durante a primeira parte, viu Cuco a central. Com o 10 benfiquista na sua posição de origem foi ver o Benfica

No domingo estavam reservados os outros dois encontros com candidatos ao título, Monte Carlo 3 Vs 2 Ching Fung. Tal como o líder, os canarinhos não tiveram tarefa fácil frente a um Ching Fung que ainda quer alcançar o Kei Lun na quarta posição. Tudo parecia bem encaminhado quando no primeiro minuto, Leandro Tanaka fez o que sabe fazer melhor:marcar. Contudo, o Ching Fung igualou ainda na primeira parte, dando o mote para uma grande partida que teve incerteza no resultado até ao fim. Com esta vitória, o Monte Carlo terá que vencer o seu último jogo frente ao Lai Chi e esperar que o Benfica não ganhe. Quem ficou de fora da rota do título foi o CPK, que se mostrou deveras afectado com a derrota contra o Benfica na última jornada, tendo agora empatado — CPK 1 Vs Po-

JOGADOR DA JORNADA #8 BENFICA DE MACAU PANG CHI Hang – E a duas jornadas do fim o melhor jogador do campeonato passado mostra estar de volta às grandes exibições. Não tem sido fácil destacar-se numa equipa recheada de bons jogadores mas no sábado o palco foi dele.

licia 1 — com o golo do empate aparecer no último minuto.

KA I NÃO DESISTE

De início condenado a um campeonato para permanecer na Liga de Elite, a equipa do Ka I entra nesta ultima jornada com hipóteses de acabar em quarto lugar, ao aproveitar muito bem com uma vitória — KA I 3 Vs 1 Lai Chi — a derrota de Kei Lun e Ching Fung.


17 hoje macau terça-feira 27.6.2017

TEMPO

?

AGUACEIROS

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

MIN

27

MAX

32

HUM

65-95%

EURO

8.71

BAHT

Amanhã

TEATRO | FESTIVAL BOK “MODERATION” Edíficio Antigo Tribunal | 20h00 | Até sexta-feira TEATRO | FESTIVAL BOK “2.0 PICTURESQUE” Edíficio Antigo Tribunal | 20h00 | Até sexta-feira

Diariamente

EXPOSIÇÃO “25+10” DE RODRIGO DE MATOS Consulado de Portugal | Até 30/06

O CARTOON STEPH

EXPOSIÇÃO “CONTELLATION” DE NICOLAS DELAROCHE Galeria do Tap Seac | Até 08/10 EXPOSIÇÃO “O MAR” DE ANA MARIA PESSANHA Casa Garden | Até 31/08 EXPOSIÇÃO “A ARTE DE ZHANG DAQIAN” Museu de Arte de Macau | Até 5/8 EXPOSIÇÃO “AMOR POR MACAU” DE LEE KUNG KIM Museu de Arte de Macau | Até 9/7

Cineteatro

C I N E M A

TRANSFORMERS: THE LAST NIGHT SALA 1

Fime de: Pierre Coffin, Kyle Balda, Eric Guillon 16.30

Fime de: Michael Bay Com: Mark Wahlberg, Laura Haddock Anhtony Hopkings 14.00, 16.45, 21.30

TRANSFORMERS: THE LAST NIGHT [3D][B]

TRANSFORMERS: THE LAST NIGHT [2D][B]

THE MUMMY [2D][C] Fime de: Alex Kurtzman Com: Tome Cruise, Sofia Boutella, Annabelle Wallis, Jake Johnson 19.30 SALA 2

RESIDENT EVIL: VENDETTA [C] Falado em inglês legendado em chinês Fime de: Takanori Tsujimoto 14.30, 21.45

DISPICABLE ME 3 [2D][A] Falado em cantonês

Fime de: Michael Bay Com: Mark Wahlberg, Laura Haddock Anhtony Hopkings 19.00

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 65

PROBLEMA 66

UM DISCO HOJE

SUDOKU

DE

EXPOSIÇÃO “NOCTURNO” DE FILIPE DORES Albergue SCM | Até 09/07

EXPOSIÇÃO “AS MUDANÇAS DE HENGQIN” Armazém do Boi | Até 16/07

YUAN

1.14

ARTISTAS COMO CHAPÉUS

CINEMA | “DÉCALOGO – PRIMEIRO”, DE KRZYSZTOF KIESLOWSKI Cinemateca Paixão | 20h00 (Até 5 de Julho)

EXPOSIÇÃO “DESTROÇOS” DE VHILS Oficinas Navais, nº. 1 | Até 31/11

0.23 AQUI HÁ GATO

PALESTRA | “BREXIT: AN IRISH PERSPECTIVE”, COM PETER RYAN Fundação Rui Cunha | 18h30

EXPOSIÇÃO “COLOUR/SHAPE/LOVE” DE JOAQUIM FRANCO Macau Art Garden | Até 16/07

(F)UTILIDADES

Pensem nos concentrados de fruta. Agora pensem em arte. Macau é como um frasco de concentrado de artistas. Podia perfeitamente exportar pintores, designers, escultores e todo um sortido tutti frutti de criadores. Aos compradores interessados basta adicionar água para diluir a densidade criativa e servir com moderação. Gosto das artes e de tudo o que implique devaneio, estados de consciência que nos abram outras perspectivas estéticas, outros ângulos de significado. Mas uma sociedade não pode viver apenas da fixação pelo belo, de explosões de sensibilidade contidas em salas com ar condicionado. É preciso apreciadores e críticos, pessoas indiferentes, braço de ferro entre o pragmatismo e a imaginação. Por cá atira-se um artista ao ar e as possibilidades de aterrar noutro artista, ou numa exposição, são grandes. O que é óptimo, não me interpretem mal. Mas é matéria para análise. O que tem Macau de tão inspirador? Serão os golfinhos cor-de-rosa? O Oriente que abraça o Ocidente? Ou os rios de patacas aliados a um território quase virgem em termos de expressão artística contemporânea? A resposta ilude-me, como contemplativo gato que sou. Não me incomoda nada a busca do sublime, principalmente face à presença de croquetes e vinho generoso. Um dia destes quero uma exposição de croquetes e presunto, enchidos e copos de espumante a ocupar as salas nobres das galerias. A um discreto canto, uma mesa lateral onde artistas servem amostras de artes várias para quem tem fome de beleza. Pu Yi

THE STOOGES | THE STOOGES

O álbum de estreia da banda do Michigan apresentava ao mundo um furacão chamado Iggy Pop. O disco homónimo acrescentou o punk ao rock, mais de meia dúzia de anos antes dos Sex Pistols rebentarem do outro lado do Atlântico. Produzido por John Cale, “The Stooges” soa cru, como uma pedrada no charco do rock dos anos 1960. Editado no Verão de 1969, o disco de estreia da banda norte-americana tem hinos intemporais como “Wanna Be Your Dog”, “No Fun”, “We Will Fall” e “1969”. “The Stooges” é um virar de página que anunciou as revoluções musicais que chegaram com a década de 1970. João Luz

SALA 3

A FAMILY MAN [2D][B] Fime de: Mark Williams Com: Gerard Butler, Gretchen Mol, Williem Dafoe, Allison Brie 14.30, 16.30, 21.30

OUR SEVENTEEN [2D][B] Falado em cantonês legendado em chinês e inglês Fime de: Emily Chan Nga Lei Com: Sean Pang, Angela Yuen, King Wu Kyle Li, Mary MA 19.30

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Sofia Margarida Mota Colaboradores António Cabrita; Anabela Canas; Amélia Vieira; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; João Paulo Cotrim; João Maria Pegado; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Manuel Afonso Costa; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fa Seong; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


18 OPINIÃO

hoje macau terça-feira 27.6.2017

macau visto de hong kong

A Torre do Inferno HIERONYMUS BOSCH, O CARRO DE FENO (DETALHE)

N

O dia 14 deste mês, o website da BBC divulgava uma notícia sobre um incêndio que tinha acabado de deflagrar em Londres. A Torre Grenfell, situada no Norte de Kensington, estava a arder. No dia 19, um porta voz do Governo veio comunicar que se presumia que o número de vítimas mortais ascendesse a 79, 74 das quais estavam desaparecidas, estando 5 cadáveres já identificados. Este incêndio já é considerado o mais grave de sempre no Reino Unido desde que há registos conhecidos, ou seja, desde o início do séc. XX. A Torre Grenfell foi renovada em 2016. Foram instaladas novas janelas e foi colocado um revestimento de alumínio sobre as placas de isolamento térmico que, supostamente, se destinava a embelezar o edifício. Os peritos afirmaram que este revestimento pode ter estado na origem da propagação muito rápida do incêndio. O espaço que existia entre o revestimento e as placas de isolamento criou uma espécie de chaminé por onde o fogo alastrou. A cobertura ardeu e derreteu, o que prova que era feita de material inflamável. No dia 23, a Superintendente Fiona McCormack comunicou que a polícia tinha provas de que o incêndio não tinha origem criminosa e que teria começado com a combustão de um frigorífico, modelo Hotpoint FF175BP. McCormack acrescentou que, “As amostras do revestimento recolhidas para análise chumbaram em todos os testes de segurança.” A investigação prossegue para a apurar responsabilidades pelos crimes de homicídio por quebra de normas de segurança. Por enquanto ainda é cedo para apontar culpados. No entanto, se se vier a provar de forma inequívoca que o revestimento de alumínio esteve na origem da propagação incontrolável do incêndio, os seus fabricantes virão a ser acusados. Será também acusado de cumplicidade quem contratou esta empresa e decidiu revestir o edifício com o referido material. É sabido que essa responsabilidade pende sobre a construtora. Neste caso poderá a construtora ser acusada de homicídio? À luz da lei do Reino Unido, a resposta é “sim”. No Reino Unido, e não só, um homicídio pode ser considerado voluntário ou involuntário. Considera-se homicídio involuntário quando as mortes são provocadas por irresponsabilidade ou negligência. Neste caso é muito provável que se estabeleça

DAVID CHAN

uma acusação de homicídio involuntário, devido à utilização de materiais altamente inflamáveis para o revestimento do edifício. Segundo a lei inglesa, o responsável directo e o indirecto respondem pela mesma acusação. Ou seja, quer o fabricante quer o construtor estão sujeitos à mesma pena. O responsável da construtora estará pessoalmente sujeito a acusação idêntica. A figura jurídica que suporta esta acusação é designada por “desconsideração da personalidade jurídica empresarial” e permite responsabilizar as pessoas que estão por trás da empresa e, desta forma, obrigá-las a cumprir a lei. Se uma empresa for acusada de um crime, mas os seus responsáveis não forem, a punição não fará sentido porque a empresa não é uma pessoa real; responsabilizar as pessoas que a dirigem é a única forma de prevenir o crime.

Esta tragédia é um aviso claro para Macau e para Hong Kong quanto ao perigo do uso dos revestimentos de alumínio em edifícios. Ninguém quer assistir a casos idênticos. A prevenção é sempre o melhor remédio. É necessário tomar medidas imediatas para garantir que este material não venha a ser usado Esta tragédia é um aviso claro para Macau e para Hong Kong quanto ao perigo do uso dos revestimentos de alumínio em edifícios. Ninguém quer assistir a casos idênticos. A prevenção é sempre o melhor remédio. É necessário tomar medidas imediatas para garantir que este material não venha a ser usado. Macau é uma cidade pequena. Se uma situação destas aqui viesse a ocorrer, é fácil imaginar as consequências que teria. Sabe-se que no edifício Wing On em Hong Kong foram usados estes materiais. Será bom que o seu proprietário e quem o administra tomem medidas para evitar uma tragédia. No entanto, parece que ainda não é chegada a altura de legislar sobre a utilização de revestimentos de alumínio na construção. Teremos de escutar as opiniões dos peritos em segurança, das construtoras e do público em geral antes de ser tomada a decisão final.

Professor Associado do IPM • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau • legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


19 hoje macau terça-feira 27.6.2017

OPINIÃO

ANTÓNIO SARAIVA

R

ECENTEMENTE relataram os “media” que o antigo chefe do Instituto Cultural de Macau, Ung Vai Meng, estava sujeito a um processo disciplinar por irregularidades na admissão de pessoal. É sempre delicado comentar processos em curso. De facto, embora tenha a ideia que Ung Vai Meng é um homem sério, que serviu com brilho a RAEM não posso afirmar com absoluta certeza que não possa ter infringido um ou outro artigo da lei. Menos delicado é no entanto discutir na generalidade as normas que regulam a Admissão de Pessoal. De facto, a partir de 2012 que foi alterado o regime de recrutamento – este, que até aí feito por cada serviço, passou, no caso dos técnicos, a ser feito por um serviço centralizado - âmbito que foi alargado em 2016 a todas as carreiras (salvo com algumas excepções) (Regulamento Administrativo nº 14/2016). Um método de recrutamento que tem quanto a mim numerosos e graves inconvenientes.

PIETER BRUEGEL, BODA CAMPÓNIA

Cozinhando com carne de segunda

OS “CANDIDATOS ADEQUADOS”

O primeiro, e facilmente compreensível, é o do desconhecimento de um serviço central das reais necessidades do serviço para onde o trabalhador irá prestar serviço. De facto, e embora a lei preveja que o serviço que necessita de pessoal tenha de enviar aos serviços centrais de recrutamento (Serviços de Administração e Função Pública, SAFP) o “perfil” dos candidatos a admitir, facilmente se compreende que uma tarefa tão importante como a admissão de pessoal não se deverá limitar a dados “objectivos”: a expressão facial, a postura, a vivacidade, a forma de andar, a forma de responder às questões, são características importantes que essa suposta objectividade ignora. E isto supondo que o serviço sabe definir com precisão as características dos candidatos a admitir. Note-se que o serviço central de recrutamento, que irá influir directamente, pelas escolhas que faz, na qualidade dos vários serviços da administração – não tem responsabilidade nessas escolhas, passando a “batata quente” para os outros. As chefias intermédias podem ver-se assim na posição do cozinheiro que tem de apresentar pratos de boa qualidade com carne de segunda.

CHEFIAS SEM FACE

O segundo é o da perda de face do chefe, e as consequências na disciplina do pessoal. Se o chefe nem teve o poder de me escolher (e também não pode adquirir artigos, função também desviada para uma “central de compras”) – pensará o novo funcionário -

Numa cidade pequena como Macau, em que quase todos se conhecem, é por vezes difícil ignorar pedidos de familiares e amigos ou simples conhecidos (ou inversamente esquecer certas antipatias antigas) será que o tenho mesmo de respeitar? Devo respeitar é quem me escolheu! Para mais sabendo-se que a cultura chinesa é muito baseada no “face to face”.

ordem como sua a chefia está a equiparar as suas funções às de um secretário, ou telefonista.

E QUE PENSARÁ O CHEFE?

De perto relacionado com esta questão está o trabalho de disciplinar o pessoal. Se o chefe não admitiu o funcionário, terá que se queixar às chefias superiores, dos seus subordinados – o que também é sinal de fraqueza e fonte de conflitos. Suponhamos que alguém convida um amigo para jantar em sua casa mas, no dia aprazado, o amigo verifica que não há jantar. O dono da casa “explica” que a mulher não fez o jantar. Que pensará o convidado?

Salvo os casos em que o ou os escolhidos correspondam às expectativas da chefia, restará ao chefe puxar os cabelos (felizmente que em Macau a calvície é rara) – queria uma pessoa com estas e estas qualidades (ou mesmo, em casos específicos, queria Fulano) — e mandam-me para aqui este mastronço! Isto é o primeiro passo para o desmotivar. E fruto desta desmotivação baixa o empenho na tomada de decisões e no instruir, disciplinar, e ajudar nas dificuldades o pessoal. O chefe é um como os outros, as coisas são para se “ir fazendo”. Para mandar executar as suas ordens mais facilmente é muito possível cair-se no “são ordens de cima”. Ora ao não assumir uma

AS “QUEIXAS”

CORRUPÇÃO E JUSTIÇA

Um dos argumentos para justificar um sistema de admissões centralizado é o de evitar a corrupção e colocar todos os cidadãos em pé de igualdade para concorrer aos lugares públicos. Mas como, infelizmente, sabemos a defesa contra a corrupção não está nas

leis – existem leis punindo a corrupção em todos os países, mas o nível da corrupção varia muito sensivelmente de país para país, e de região para região – mas na melhoria do nível moral geral da população. Nunca se descobriu uma fechadura que não pudesse ser violada. Por outro lado, numa cidade pequena como Macau, em que quase todos se conhecem, é por vezes difícil ignorar pedidos de familiares e amigos ou simples conhecidos (ou inversamente esquecer certas antipatias antigas).

O EGO

Sinceramente penso que o actual sistema apenas enche o ego das “chefias ao mais alto nível” que assim pensam melhor controlar a admissão de pessoal; enquanto descredibiliza as chefias a nível de serviços e departamentos – as que ao fim e ao cabo, são as que têm de apresentar resultados visíveis; sem esquecer que justifica a especialidade de “recursos humanos” (como se, desde que somos bebés, não tivéssemos que ter conhecimentos aprofundados nessa área para poder sobreviver). Ora é pelos resultados que um serviço deve ser julgado, e não pelo cumprimento de um mar de regulamentos feitos por vezes por quem não tem a experiência de se debater com problemas concretos.


“experimentá-lo é melhor do que julgá-lo / julgue-o quem não pode experimentá-lo ”

Luis Vaz de Camões

terça-feira 27.6.2017

Tribunais vão ter menos juízes portugueses

Inevitável mudança CAEAL APROVA LISTA DA NOVA ESPERANÇA

A Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) já aprovou a comissão de candidatura às eleições da lista de José Pereira Coutinho e Leong Veng Chai, intitulada Nova Esperança. Segundo um comunicado, coube a Leong Veng Chai dirigir-se à sede da CAEAL para recolher a carta que comprova a validade da candidatura, juntamente com a mandatária da lista, Rita Santos. Gilberto Camacho e Mónica Tang também compõem a lista da Nova Esperança.

LONDRES MORTE DE PORTUGUÊS PROVOCA CONFRONTOS

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Seis agentes ficaram feridos e quatro pessoas foram presas na sequência de uma manifestação em Londres no domingo à noite contra a morte do português Edir da Costa, informou a polícia britânica esta segunda-feira. A manifestação, que terá contado com várias dezenas de pessoas, começou ao fim do dia de domingo junto da esquadra de polícia de Forest Gate, no este da cidade, tendo de seguida passado para a área de Stratford. Apesar dos esforços das autoridades para tentar acalmar os ânimos e dispersar a multidão, uma parte dos manifestantes voltou para Forest Gate, onde arremessaram objetos contra a polícia e incendiaram alguns caixotes do lixo, levando à intervenção dos bombeiros. Os confrontos continuaram até de madrugada, quando o grupo finalmente dispersou. Os protestos pretendiam denunciar as alegadas circunstâncias da morte do jovem de 25 anos, que morreu na passada quarta-feira no hospital na sequência de uma operação policial. A família de Edir Frederico da Costa, conhecido pelos próximos como Edson, alega que o jovem foi vítima de violência dos agentes que o tentaram prender a 15 de Junho. O caso está a ser seguido pela Comissão Independente de Queixas contra a Polícia (IPCC), que indicou, na sexta-feira, que uma primeira autópsia não encontrou fracturas ou lesões no pescoço ou na coluna da vítima.

A

NA Meireles e Mário Meireles, juízes do Tribunal Judicial de Base (TJB), vão deixar o território. A notícia foi ontem avançada pela Rádio Macau, que explica que os magistrados portugueses terminam o actual contrato de dois anos no próximo dia 1 de Setembro. O vínculo de ambos não vai ser renovado, por opção própria. Os juízes estão em Macau em comissão de serviço desde Setembro de 2009. Sobre a substituição, a Comissão Independente para a Indigitação de Juízes não prestou declarações. Mas o Conselho Superior de Magistratura de Portugal avançou à emissora de língua portuguesa que, até agora, não recebeu qualquer pedido das autoridades de Macau.

No entanto, foi solicitada a renovação dos contratos dos juízes Jerónimo Santos e Rui Ribeiro, ambos do TJB. O vínculo que têm também termina no próximo dia 1 de Setembro. “O Conselho Superior de Magistratura recebeu, no dia 19 de Junho, dois pedidos de renovação de contrato relativos aos senhores juízes Jerónimo Alberto Gonçalves Santos e Rui Carlos dos Santos Pereira Ribeiro”, cita a Rádio Macau. Rui Ribeiro desempenha as funções de juiz presidente de tribunal colectivo dos Tribunais de Primeira Instância. A diminuir está também o número de juízes de Portugal no Tribunal de Segunda Instância (TSI). João Gil de Oliveira está de saída, em Novembro, por atingir o limite de idade. Neste caso, o Conselho Superior de

Magistratura de Portugal também refere que não foi feito qualquer pedido de substituição do magistrado, que se encontra em Macau desde Setembro de 1993. Mais uma vez, a Comissão Independente para a Indigitação de Juízes não faz comentários. Com as saídas confirmadas de Ana Meireles, Mário Meireles e João Gil de Oliveira, os tribunais vão passar a ter cinco juízes contratados em Portugal. Actualmente, são oito (cinco no TJB, dois no TSI e um no Tribunal de Última Instância) de um total de 45. ARádio Macau apurou ainda que, recentemente, foi concluída a formação de 14 magistrados locais. Se todos obtiverem aprovação, vão ser distribuídos pelos tribunais e também pelo Ministério Público.

LULA LIDERA INTENÇÃO DE VOTO NAS PRESIDENCIAIS

O ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera a corrida presidencial do Brasil em 2018 com 29% a 30% da preferência dos eleitores, segundo uma pesquisa divulgada hoje pelo Instituto Datafolha. A sondagem indica que a ambientalista Marina Silva, juntamente com o deputado federal de extrema-direita Jair Bolsonaro, disputam o segundo lugar na preferência dos eleitores, oscilando entre 13% e 15% nos cenários em que Lula da Silva é citado. Outro nome que aparece na pesquisa é o do expresidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, que recolhe 10% a 11% das preferências. Se Lula da Silva não se candidatar para as presidenciais em 2018, Marina lidera o cenário, com 22%. Bolsonaro aparece em seguida, com 16%, e Joaquim Barbosa, com 12% ou 13%. Apesar de ter declarado publicamente que está pronto para concorrer, a participação de Lula da Silva no escrutínio não é certa porque ele é arguido em diversos processos da Lava Jato, uma operação policial que investiga crimes de corrupção cometidos na petrolífera estatal Petrobras e noutros órgãos públicos do Brasil.

MANILA CEMITÉRIO DE HABITAÇÃO

“Rezem”, pediu piloto da Air Asia R

EZEM, pediu o piloto. O susto foi grande para os passageiros do voo da companhia Air Asia X (uma low cost pertencente à Air Asia), que seguia de Perth, na Austrália, para Kuala Lumpur, na Malásia. Um problema técnico nos motores do Airbus 330-300, fabricados pela Rolls-Royce, fez com que o avião começasse a tremer,

obrigando-o a voltar atrás. Acabou por aterrar em segurança e de forma suave. “Estávamos a dormir e ouvimos um estrondo grande. O avião esteve a tremer durante todo o caminho de volta, que durou quase duas horas”, relatou à CNN Damian Stevens, um dos passageiros a bordo. Ainda não é claro o

que terá estado na origem do problema. “Pensei que podia morrer”, escreveu Saya Mae, no Instagram, tendo ainda publicado um vídeo feito durante a viagem e que mostra o avião a tremer. A bordo do avião seguiam 359 passageiros. Segundo Stevens o piloto pediu por duas vezes para que rezassem.

O cemitério do Norte de Manila, inaugurado em 1904, é um dos mais antigos e maiores das Filipinas. Ao longo do espaço, mausoléus decorados e complexos coabitam com túmulos simples e humildes. No mesmo local onde descansa cerca de um milhão de mortos há vida: alguns milhares de pessoas vivem no cemitério. Se o cemitério é a última morada de figuras icónicas e ricas, também é casa para aqueles que pouco têm. E é nas famílias ricas que encontram patrões, ao serem pagos por cuidarem dos seus mausoléus. Contudo, outros ofícios surgem por lá. Ferdinand Zapata, de 39 anos, cresceu no cemitério e criou dois filhos no mesmo local. Habituou-se, desde 2007, a cinzelar os nomes dos defuntos nas lápides de mármore. “Pedreiros que criam nichos e mausoléus podem ganhar mais”, diz, citado pelo The New York Times. Outros vendem velas e outros produtos a quem visita os túmulos dos familiares.


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