Hoje Macau 27 JUL 2020 # 4576

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COVID-19

INJECÇÕES BOLSISTAS

ANIMAIS

POLÉMICAS ALIMENTARES PÁGINA 5

MUST

ATAQUE A MARTE ÚLTIMA

OPINIÃO

CIÊNCIA E TRABALHO II JORGE RODRIGUES SIMÃO

hojemacau

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HOJE MACAU

GRANDE PLANO

MOP$10

SEGUNDA-FEIRA 27 DE JULHO DE 2020 • ANO XIX • Nº4576

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

Promocões de Verão ´ A colocação de autocolantes de promoção da Lei de Segurança Nacional em Hong Kong, em vários táxis, alegadamente a troco de 100 patacas, está a ser investigada pelo Ministério Público. “Tudo isto aconteceu por causa da detenção das filhas de Au Kam San. Não passa de uma tempestade num copo de água”, diz o presidente da Federação ligada ao sector, Wong Pek Kei, acrescentando que as “autoridades precisam de fazer este teatro”. PÁGINA 4

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PÁTIO INTERIOR ANABELA CANAS

PINTURA DE LI TANG PAULO MAIA E CARMO


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27.7.2020 segunda-feira

A DOENCA COVID-19

ENQUANTO SE DEBATE A ACESSIBILIDADE DA VACINA, ESPECULAÇÃO BOLSISTA GERA BILIÕES

Entre farmacêuticas que negam a intenção de lucrar com a vacina contra a covid-19 e dúvidas quanto à base de custos, pequenas empresas e laboratórios que procuram a tão aguardada inoculação tornam-se estrelas do mercado bolsista. O mundo aguarda a vacina e o número de infecções sobe em flecha, quase à mesma velocidade dos lucros dos executivos de topo das empresas do sector

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S leis não escritas dos mercados estão de novo a trocar as prioridades de governos e povos. Os números de novas infecções de covid-19 continuam a subir vertiginosamente, à medida que, um pouco por todo o mundo, se intensificam esforços para encontrar a tão desejada vacina, que restitua a normalidade ao mundo de pernas para o ar. Pelo meio, muito dinheiro é feito na bolsa, com os Estados Unidos a encabeçar a capitalização da ciência nos mercados bolsitas, mas empresas chinesas não ficam atrás no lucro das subidas vertiginosas de acções. Antes da análise ao valor das empresas, o futuro custo da própria vacina ainda está envolto em

mistério, sem certezas de vir ser acessível às populações. Na semana passada, representantes das farmacêuticas Moderna Inc e Merck & Co foram ouvidos no Congresso norte-americano para apresentar uma estimativa quanto ao lucro que esperam obter assim que for aprovada uma vacina contra a covid-19. A representante da Merck, Julie Gerberding, expressou incerteza

quanto à possibilidade de a vacina ser acessível a todos. “Não iremos vender a nossa vacina a um preço elevado, mas ainda é prematuro dizê-lo, porque estamos longe de compreender as bases do custo produtivo”, referiu em audiência, citada pela agência Reuters.AMerck ainda não começou a fazer testes em humanos, o que a coloca uns passos atrás de outros candidatos na corrida científica. Directores executivos da Johnson & Johnson e da AstraZeneca declararam que vão colocar o preço a um nível que coloca de parte o lucro, enquanto a pandemia estiver em expansão. Na mesma audiência perante congressistas, enquanto os representantes da Merck e da Moderna não admitiram os preços que têm em mente, a Pfizer mostrou intenção de lucrar se a sua vacina for aprovada. Convém referir que, ao contrário da Moderna e da AstraZeneca, a Pfizer não recebeu fundos públicos para desenvolver uma vacina. Apenas dois dias depois da audiência, segundo o The Washington Post, a Pfizer e uma empresa de biotecnologia alemã de nome BioNTech assinaram um acordo com o Governo norte-americano para a entrega de 100 milhões de doses a troco de 1,95 mil milhões de dólares, o maior investimento da Casa Branca num produto ainda não aprovado. O Governo norte-americano tem ainda opção para comprar mais 500 milhões de doses. Estes acordos podem conduzir à compra da larga maioria das vacinas que a Pfizer planeia fazer até ao fim de 2021, às quais se acrescenta a compra de 300

“Alguns países mais ricos estão a arrebatar as empresas candidatas a conseguir uma vacina. Isto pode colocar de parte populações, que enfrentam maiores riscos face à pandemia, que assim ficam desprotegidas.” PETER LURIE CENTRO PARA A CIÊNCIA E INTERESSE PÚBLICO

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Os executivos da Regeneron, e membros do conselho de administração, venderam quase 700 milhões de dólares em acções. O CEO, Leonard Schleifer, ganhou num dia 178 milhões de dólares

milhões de doses da AstraZeneca e 100 milhões da Novavax. Em declarações ao The Washington Post, o presidente do Centro para a Ciência e Interesse Público, Peter Lurie, alertou para a possibilidade destes negócios aumentarem o risco de exclusão de populações de países em desenvolvimento. “Basicamente, alguns países mais ricos estão a arrebatar as empresas candidatas a conseguir uma vacina. Isto pode colocar de parte populações, que enfrentam maiores riscos face à pandemia, que assim ficam desprotegidas.”

A GRANDE FARRA

Em Wuhan, onde começou a pandemia, os testes para a vacina Ad5 vão na segunda fase de testes aleatórios num estudo com placebo-controlado. Para já, os resultados são animadores, com a maioria dos participantes a adquirir imunização. De acordo com o Diário do Povo, as injecções começaram a ser ministradas a meio de Abril. As “cobaias” foram adultos com mais de 18 anos que nunca testaram positivo à covid-19. Os 603 voluntários foram aleatoriamente escolhidos para tomar diferentes doses da vacina ou um placebo, sem nunca lhes ser comunicado o que haviam tomado. Citado pelo Diário do Povo, Fengcai Zhu, do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças da província de Jiangsu, mostrou-se optimista com o avanço. “A segunda fase dos testes acrescenta provas da segurança e imunogenicidade numa amostra populacional maior do que a da primeira fase”, revela o investigador que trabalha já na terceira fase. Os avanços e a potencialidade da vacina produzida pela Cansino

Biologics levaram à febre bolsista, com as acções da empresa chinesa a subirem 1.74 por cento na semana passada, quando foram divulgados os resultados dos testes. Numa análise comparada ao ano, as acções da Cansino Biologics subiram 183 por cento, impulsionadas pelas in-


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A DA CURA vestigações à covid-19. O caso da Cansino Biologics está longe de ser único, ou de exemplificar o cúmulo da ganância. Através do espectro das indústrias médica e farmacêutica, executivos de topo e membros da administração estão a capitalizar em força com a corrida à vacina. Sempre que são feitos anúncios de progressos conquistados, incluindo financiamento público, são feitos milhões nas bolsas. O The New York Times noticiou este fim-de-semana que, depois dos anúncios de progressos científicos, executivos de, pelo menos, 11

empresas, algumas de pequenas dimensões, venderam acções num valor que ultrapassou os mil milhões de dólares desde Março. Alguns “insiders” estão a lucrar com compensações que já estavam calendarizadas ou com trocas automáticas de acções, mas, em muitas situações, executivos de topo aproveitam a subida vertiginosa do valor das acções das suas empresas para arrecadar lucros milionários. Aliás, existem casos em que foram atribuídas opções de compra de acções momentos antes de

“Todos os dias, acordamos e fazemos sacrifícios durante esta pandemia. As empresas farmacêuticas encaram isto como uma oportunidade para lucrar.” BEN WAKANA ONG A FAVOR DE MEDICAÇÃO A PREÇOS ACESSÍVEIS

anúncios sobre progressos científicos que levariam a grandes valorizações.

VELOCIDADE WARP

Algumas destas empresas são de pequena dimensão e muitas vezes a sua sobrevivência depende do

desenvolvimento bem-sucedido de apenas um fármaco. A Vaxart, sediada no Sul de São Francisco, na Califórnia, é um bom exemplo do esquema milionário que surge, à semelhança de outros casos, com um anúncio aparentemente inesperado. A empresa anunciou que a vacina contra a covid-19 em que está a trabalhar foi seleccionada para o programa do Governo norte-americano “Operation Warp Speed”, que financia projectos para chegar o mais rapidamente possível à inoculação. O anúncio levou à subida galopante das acções da Vaxart, cujos executivos, semanas antes, tinham recebido opções de compra de acções cujo valor cresceu para seis vezes mais. O The New York Times avança que um fundo de investimento que controla parcialmente a Vaxart ganhou automaticamente mais de 200 milhões de dólares. Várias empresas estão a atrair o escrutínio do Governo e das autoridades reguladoras por usarem a Operação Warp Speed como esquema de marketing. O diário nova-iorquino exemplifica com o título do comunicado de imprensa de São Francisco: “A vacina contra a covid-19 da Vaxart foi seleccionada pelo Governo norte-americano para a Operação Warp Speed”. Porém, a realidade é mais complexa do que aparenta o comunicado da empresa. A vacina da Vaxart foi aceite como candidata para testes em primatas organizados por uma agência federal, em conjunto com a Operação Warp Speed. Mas a empresa não está entre as seleccionadas para receber o financiamento prestado pelo pro-

grama para a produção em massa de vacinas. Também ainda não é conhecida qualquer investigação das autoridades que fiscalizam os mercados bolsitas, nomeadamente por conhecimento interno que desvirtua a concorrência.

ALTO GRAU DE CONTÁGIO

Ouvido pelo The New York Times, Ben Wakana, director da ONG a favor de medicação a preços acessíveis, sublinhou ser “inapropriado os executivos de empresas farmacêuticas lucrarem com uma crise”. “Todos os dias, acordamos e fazemos sacrifícios durante esta pandemia.As empresas farmacêuticas encaram isto como uma oportunidade para lucrar”, rematou ao diário. É longa a lista de executivos que acumularam lucros na ordem dos sete e oito dígitos graças à busca pela vacina e formas de tratamento para a covid-19. As acções da Regeneron, uma empresa de biotecnologia de Nova Iorque, subiram quase 80 por cento desde Fevereiro, quando anunciaram a colaboração com o Governo federal na busca por tratamento. Desde então, os executivos no topo da hierarquia empresarial, e membros do conselho de administração, venderam quase 700 milhões de dólares em acções. O CEO, Leonard Schleifer, ganhou num dia apenas 178 milhões de dólares no passado mês de Maio. Em todo o mundo, estão a ser investigadas e desenvolvidas mais de 150 vacinas contra o novo tipo de coronavírus, com duas dúzias já a ser testadas em humanos. O objectivo de encontrar uma forma que garanta a segurança e saúde de milhares de milhões de pessoas afectadas pela pandemia é todos os dias minado pela ganância de poucos, em detrimento de muitos. João Luz com agências info@hojemacau.com.mo


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RÓMULO SANTOS

27.7.2020 segunda-feira

Surdez Prometidos mais serviços em linguagem gestual

LEI DA SEGURANÇA NACIONAL MINISTÉRIO PÚBLICO INVESTIGA ALEGADOS PAGAMENTOS A TAXISTAS

Dúvidas que persistem

O Ministério Público está a investigar alegados pagamentos a taxistas para divulgarem mensagens de apoio à Lei da Segurança Nacional de Hong Kong nos seus veículos. Wong Pek Kei, presidente da Federação dos Negócios de Táxis de Macau, fala em “tempestade num copo de água”, uma vez que as autoridades de Macau apoiam a lei

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EPOIS de o portal Macau Concelears ter avançado, em Junho, que alguns taxistas teriam sido pagos para colocar nos seus veículos autocolantes com mensagens de apoio à Lei da Segurança Nacional de Hong Kong, eis que o Ministério Público (MP) decidiu investigar esses alegados pagamentos.Agarantia foi dada pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) numa resposta ao HM. “O CPSP tomou conhecimento das notícias de que haveria uma actividade de promoção de autocolantes no exterior dos táxis junto ao posto fronteiriço da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau a 6 de Junho de 2020 e de imediato iniciou uma investigação. Depois de uma análise aprofundada das circunstâncias específicas e factos objectivos da actividade, o CPSP continua com dúvidas relativamente às circunstâncias relacionadas [com o caso].” Desta forma, “o CPSP elaborou um relatório que enviou para o MP para o acompanhamento [do caso] com base na lei e nos procedimentos

relevantes, e irá investigar e analisar a actividade de forma mais aprofundada com base na coordenação e liderança do MP”, lê-se ainda na resposta. Segundo a notícia de Junho, alguns taxistas terão recebido cerca de 100 patacas para colocar as mensagens no exterior dos veículos. Wong Pek Kei, presidente da Federação dos Negócios de Táxi de Macau, adiantou mesmo o nome da entidade que distribuiu esse material junto dos taxistas do território. “Foi-me dito que a Associação dos Comerciantes e Operários de Automóveis de Macau ofereceu os stickers”, revelou o responsável. Na altura, o dirigente declarou também não ver qualquer problema na possibilidade do próprio Governo de Hong Kong ter disponibilizado o

material de apoio à lei. “Não tenho certeza se os autocolantes foram, ou não, oferecidos pelo Governo de Hong Kong, mas mesmo que tenham oferecido não vejo qual é o problema.” Os autocolantes colados nos táxis contêm mensagens como “Apoio à lei de segurança nacional em Hong Kong. Para preservar o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’, para contrariar independentistas e traidores e para que Hong Kong e o País sejam seguros”.

“TEMPESTADE NUM COPO DE ÁGUA”

Confrontado com a notícia da investigação levada a cabo pelo MP, Wong Pek Kei desvalorizou a gravidade do caso. “Tudo isto aconteceu por causa das filhas do deputado do campo da oposição

“O CPSP elaborou um relatório que enviou para o MP para o acompanhamento [do caso] com base na lei e nos procedimentos relevantes, e irá investigar e analisar a actividade de forma mais aprofundada.”

[Au Kam San] terem sido detidas e de terem feito queixa. O nosso Chefe do Executivo expressou que apoia claramente a lei da segurança nacional de Hong Kong e acho que tudo isto é uma tempestade num copo de água.” “Claro que as autoridades precisaram de fazer este teatro, porque alguém se queixou de que as meninas foram detidas na noite de 4 de Junho”, acrescentou Wong Pek Kei. “Macau é um sítio onde existe lei, mas se este caso for ou não alvo de punição, não comento”, frisou. Lin Sai Hou, presidente da direcção da Associação Geral dos Comerciantes de Trânsito e de Transporte de Macau, disse “não se recordar” da entidade ou pessoa que lhe deu o material de apoio para colocar nos veículos. Lin Sai Hou garantiu também que ainda não foi ouvido como testemunha nem foi informado de mais detalhes sobre o processo de investigação. “Apesar de estar a decorrer a investigação, a polícia não me disse nada”, rematou. Andreia Sofia Silva, S.F e N.W.

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O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, assegurou que o Governo vai continuar a promover serviços em língua gestual, não só em conferências de imprensa oficiais, mas também em noticiários televisivos. A garantia foi dada na passada sexta-feira na Sede do Governo, por ocasião de um encontro com os representantes da “Macau Association of the Hearing Impaired”, organização dedicada a indivíduos com deficiência auditiva. Segundo Ho, o objectivo passa por “permitir que os deficientes auditivos tenham acesso a informações, políticas e medidas de desenvolvimento anunciadas pelo Governo”. O Chefe do Executivo sublinhou ainda que, além de incentivar as empresas a recrutar pessoas portadoras de deficiência, o Governo tem procurado criar condições de acessibilidade, para que os idosos possam utilizar instalações e equipamentos sem entraves.

Restaurantes Mak Soi Kun quer reforço da segurança alimentar

Através de uma interpelação escrita, Mak Soi Kun refere que o caso do fornecedor ilegal de peixe que operava numa fracção habitacional na Taipa é apenas a “ponta do iceberg”, ao nível da falta de inspecção da segurança alimentar em restaurantes e negócios take away. Por essa razão, o deputado quer saber que medidas estão a ser tomadas pelo Governo, de forma a assegurar a qualidade alimentar dos residentes, sobretudo quando, devido à pandemia, a procura pelo take away tem vindo a aumentar. Por escrito, Mak Soi Kun refere ainda que os residentes desconfiam da inspecção feita por parte das autoridades aos alimentos importados e que o aumento do aquecimento global tem contribuído para que os produtos se estraguem mais facilmente. O deputado lembra também que o caso do fornecedor ilegal só foi descoberto após denúncia e que, por isso, é muito provável “que existam lacunas ao nível do mecanismo de inspecção”.


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segunda-feira 27.7.2020

ANIMAIS SULU SOU PEDE REVISÃO DA LEI APÓS APELO DO IAM

Alimentos proibidos

José Tavares acha que alimentar animais vadios, mesmo com boas intenções, pode ter consequências negativas, como a propagação de ratos e o incentivo ao abandono. Em reacção, Sulu Sou pede que a lei seja revista, para se focar na “protecção dos animais”. Albano Martins considera que o IAM deve agir em vez de fazer apelos

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ULU Sou pede que sejam revistos os mecanismos de aplicação da lei de protecção dos animais. Isto porque, segundo o deputado, é incompreensível que, ao mesmo tempo que são aplicadas sanções a quem alimenta animais vadios ou trata inadequadamente excrementos, há muitos casos de abuso e maus tratos de animais que passam impunes. A reacção de Sulu Sou, surge após declarações proferidas por José Tavares na passada quarta-feira, quando o presidente do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) deixou um apelo para cidadãos e associações protectoras deixarem de alimentar animais vadios nas ruas de Macau, devendo

Máscaras Nova fábrica inaugurada em Macau

sim “cooperar com o IAM” para lidar com a situação. Segundo o jornal Cheng Pou, por ocasião de um colóquio sobre assuntos comunitários, o presidente do IAM considerou o acto de alimentar animais vadios uma “boa intenção que tem efeitos negativos”. Isto porque, para José Tavares, a alimentação de cães e gatos nas ruas contribui, não só para incentivar o abandono de animais, mas também para a propagação de ratos. Indicando que com este tipo de discurso o IAM, em vez de contribuir para a resolução do problema e valorização do trabalho voluntário, só faz com que os cidadãos se sintam ainda mais frustrados, Sulu Sou questiona o Governo sobre

Macau tem, desde sábado, mais uma fábrica de máscaras cirúrgicas. Chama-se “853 face mask”. De acordo com Chan Chi Meng, presidente da Macaufacture Medical Supplies Limited, que detém a infra-estrutura, a nova fábrica foi fundada em Março de 2020 e começou a produzir em Junho. Para já, com três máquinas dedicadas à produção de máscaras, a fábrica tem capacidade de produzir 150 mil unidades por dia. Segundo o jornal Ou Mun, as máscaras estão à venda em mais de 20 farmácias do território e custam 2,5 patacas por unidade. Questionado sobre a razão do preço elevado das máscaras fabricadas pela “853 face mask”, Chan Chi Meng apontou que o objectivo foi apostar na qualidade e fazer com que os utilizadores se sintam seguros. A responsável admitiu ainda que, no futuro, podem ser abertas novas linhas de produção e que o preço pode baixar se o valor das matérias primas baixar.

Sulu Sou deputado “Querem assistir à morte dos animais vadios nas ruas?”

quando será novamente aplicado o programa de recolha e esterilização de animais de rua, entretanto interrompido em 2015. “O IAM tem apelado constantemente para que os animais de rua não sejam alimentados, anulando o trabalho dedicado de muitos voluntários. Querem assistir à morte dos animais vadios nas ruas?”, questionou o deputado. Contactado pelo HM, Albano Martins, ex-presidente da ANIMA considera que o IAM deve ter uma “postura mais interventiva”, não bastando fazer apelos “que não valem a pena” e não têm capacidade para chegar a todas as pessoas. “Na minha opinião, o IAM tem de ter uma postura mais interventiva, no sentido de não matar, de ajudar a

apanhar e a esterilizar. Se não houver essa intervenção, vai estar sempre a matar, matar e matar, mas nunca a resolver”, partilhou com o HM. Sobre a alimentação de animais vadios, Albano é da opinião que as pessoas devem ajudar, desde que respeitem as regras. “Sou contra deixar comida nos sítios. Só isso não funciona. As pessoas devem alimentar os animais de forma limpa (…), mas claro que há muita gente que não faz isso, nomeadamente as pessoas mais humildes”, aponta.

MELHORAR A ARTICULAÇÃO

acusados, nem os casos investigados. O deputado pede, por isso, que seja feito mais ao nível da coordenação entre o IAM e as autoridades e ao nível do investimento na capacitação de pessoal especializado. “Será possível aperfeiçoar o mecanismo de comunicação e investigação interdepartamental entre o IAM e o CPSP, bem como melhorar a capacidade dos profissionais ligados às ciências forenses dos animais, de forma a realizar autópsias conclusivas e impedir que os infractores fiquem impunes?”, questinou Sulu Sou.

Sobre os casos de abuso, maus tratos e mortes, Sulu Sou aponta que a grande maioria “não são resolvidos”, acabando os agressores por não ser

Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com

UM QUASE 200 ALUNOS FREQUENTAM CURSO ONLINE DE PORTUGUÊS

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UASE duas centenas de estudantes estão a frequentar o curso de Verão de português da Universidade de Macau, um “número muitíssimo bom” para um curso leccionado pela primeira vez online devido à covid-19, disse à Lusa o coordenador. “Há muito tempo que não via tanto interesse” por parte dos alunos, afirmou à Lusa José Pascoal, acrescentando estar “profundamente admirado”. Após uma semana de aulas virtuais, José Pascoal garantiu que “o curso está a correr bastante bem”, apesar de ser “a pri-

meira vez que se faz um curso de português nesta universidade”. A universidade teve de passar pela experiência de aulas virtuais devido à pandemia da covid-19, durante o primeiro semestre, mas desta vez é diferente: os alunos queriam mesmo participar no curso, sublinhou. Dos mais de 180 alunos a frequentar, explicou o docente, 55 nunca tinham aprendido por-

tuguês, a maioria dos quais proveniente da China continental. Há ainda estudantes “do Ban-

gladesh, do Reino Unido, do Canadá, de França, da Coreia e do Japão. Alguns estudantes, com formação asiática (principalmente malaia e chinesa), frequentam este curso em países como o Brasil, a Austrália, a França, Portugal, o Reino Unido, Angola, onde vivem, estudam ou trabalham”, lê-se num comunicado divulgado pela universidade. O programa, que termina esta semana, oferece

cursos de língua e ainda cursos temáticos, como gastronomia e música “Nos cursos temáticos temos grupos relativamente grandes”, indicou José Pascoal. Foram gravados vídeos de Gastronomia de Cabo Verde, Moçambique, Portugal, Macau, Brasil e Timor-Leste, explicou. Já os de música em língua portuguesa é cantada pelos músicos da Casa de Portugal em Macau, havendo ainda música tradicional portuguesa poesia e fado.


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27.7.2020 segunda-feira

ASSALTO DETIDO HOMEM QUE ROUBOU OURIVESARIA EM 320 MIL PATACAS

Escolhidas a dedo

Um homem de 46 anos, viciado em jogo, foi detido no bairro de Iao Hon depois de ter fugido de uma ourivesaria com três peças de ouro nas mãos. O suspeito, que vai agora responder pelo crime de furto qualificado, foi neutralizado por um funcionário da PJ que estava de folga e um transeunte

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Á fugas que quase nem chegam a sê-lo. Um residente do Interior da China com 46 anos, foi detido no passado sábado, pouco tempo depois de ser saído com três peças de ouro no valor de 320 mil patacas, de dentro de uma ourivesaria localizada no bairro de Iao Hon. O homem, que roubou duas pulseiras e um colar à ourivesaria Chong Fok, foi interceptado, com a ajuda de um transeunte, por um funcionário da Polícia Judiciária (PJ) que se encontrava de folga nesse dia.

De acordo com os dados que a PJ conseguiu apurar após investigação, antes de executar o roubo, o homem terá ido à ourivesaria durante a manhã, por volta das 10h00, alegando estar interessado em adquirir várias peças de ouro, dado que se encontrava a tratar dos preparativos para um casamento. Depois de analisar algumas joias e de assinalar, de antemão, as duas pulseiras e o colar que viria mais tarde a roubar, o suspeito informou a funcionária da loja que voltaria mais tarde

com o dinheiro necessário para fazer a compra. O homem cumpriu a sua palavra e, por volta das 13h00 regressou à ourivesaria. Do outro lado do balcão, esperando rece-

O suspeito alegou (…) ter dívidas de mais de 100 mil patacas para saldar junto de familiares e amigos

ber 320 mil patacas em troca, a funcionária entregou ao homem as três peças previamente reservadas. Contudo, em vez de pagar, o suspeito pegou nos objectos e iniciou a fuga. Já na rua, o alerta foi dado pela funcionária do estabelecimento ao gritar por socorro, enquanto perseguia o assaltante.

FOLGA DOURADA

Perante o aparato, um funcionário do departamento civil da PJ que se encontrava de folga conseguiu interceptar o suspeito com a ajuda de outra pessoa que assistia à fuga. O homem, que viria a ser detido por agentes do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), admitiu mais tarde a prática do crime, tendo declarado ser viciado em jogo. Segundo a PJ, o suspeito alegou mesmo ter dívidas de mais de 100 mil patacas para saldar junto de familiares e amigos, após perder muito dinheiro nos casinos de Macau. O caso seguiu já para o Ministério Público (MP), onde o homem vai ser investigado pela prática do crime de furto qualificado, podendo ser punido com uma pena de prisão entre os dois e os 10 anos. Pedro Arede

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Turismo Agência penalizada por entupir sistema para viagem de helicóptero

A Direcção dos Serviços de Turismo anunciou que a agência de viagens que entupiu o sistema de inscrições para o roteiro de viagem de helicóptero foi suspensa do “uso do sistema de inscrições por 14 dias. Em caso de nova infracção, a agência poderá ser banida de participar nas excursões ‘Vamos! Macau!’.” Após averiguação, detectou-se que uma agência acedeu ao sistema de inscrições através de um programa de registo externo, que em poucos minutos submeteu um elevado número de inscrições. Num curto espaço de tempo gerou grande volume de consultas, causando sobrecarga e avaria do sistema, que ficou paralisado durante um dia.

Vamos! Macau! Pedida extensão do programa e aumento de vagas

A deputada Wong Kit Cheng disse, segundo o jornal Ou Mun, que a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) deveria manter o programa “Vamos! Macau” até ao final do ano, bem como aumentar o número de vagas de inscrição além das actuais 1500 disponíveis. A deputada lembrou que, em época de pandemia, as excursões em Macau são as únicas opções de viagem para os residentes, esperando que as autoridades possam reforçar a promoção desta iniciativa e introduzir mais espectáculos nas visitas comunitárias. Wong Kit Cheng dá como exemplo a organização de espectáculos musicais e de dança por parte do Instituto Cultural em alguns locais de visita, além de serem criados locais para fotografias, a fim de atrair a participação dos residentes. A deputada citou também dados oficiais do programa, onde se revela que apenas 66 por cento das pessoas se inscrevem em roteiros de lazer, enquanto 34 por cento das inscrições são viradas para os roteiros comunitários.

Caritas Três mil inscrições para receber alimentos

DST ORÇAMENTO COM CORTE DE 35 POR CENTO EM RELAÇÃO A 2019

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ELENA de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo (DST), assegurou à TDM que o orçamento para a sua direcção de serviços sofreu um corte de 35 por cento face aos 2.300 milhões de 2019. No total,

o orçamento da DST para este ano é de apenas 1,5 mil milhões de patacas. Este corte orçamental deve-se ao congelamento de despesas como consequência da crise causada pelo novo coronavírus, a que se junta o cancelamento

de uma série de eventos e actividades, como é o caso do Festival Internacional de Fogo de Artifício. Os cortes orçamentais deverão permanecer em 2021 pelo mesmo motivo, esperando-se um aumento do orçamento não superior

a 20 por cento. “Temos de submeter a proposta de orçamento este mês. Esta será a primeira proposta e achamos que satisfaz as actividades mais básicas. Não é como se não tivéssemos sido cautelosos [com o dinheiro] antes,

mas, no que toca ao controlo de custos, há sempre mais cuidado quando o orçamento não aumenta. Portanto, vamos pedir a colaboração da indústria para ver como poderemos compensar algumas das despesas”, disse à TDM.

Paul Pun, secretário-geral da Caritas, disse, segundo o jornal Ou Mun, que cerca de três mil pessoas se candidataram ao programa de fornecimento temporário de alimentos da Caritas no primeiro semestre do ano, representando um aumento de cinco por cento em relação a igual período de 2019. Caso a pandemia se prolongue nos próximos meses, Paul Pun estima que a procura pelo fornecimento de alimentos pode aumentar, mas assegura que as reservas por parte da Caritas são suficientes. Este programa abrange todos aqueles que não recebem subsídios por parte do Instituto de Acção Social (IAS). Relativamente aos pedidos de apoio psicológico na linha disponibilizada pela Caritas, Paul Pun falou de um aumento de dois por cento em relação ao ano passado. Para o segundo semestre, o responsável adiantou que pretende consolidar os apoios já existentes ao invés de despender mais recursos em novos serviços.


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segunda-feira 27.7.2020

CASO IPIM TYLOR IAN PODE SER O PRÓXIMO A ENTRAR NA LISTA DE ARGUIDOS

Quem se junta à festa TIAGO ALCÂNTARA

O caso dos processos de fixação de residência do IPIM pode ter mais um arguido. Tylor Ian estava a prestar depoimento como testemunha quando o tribunal alertou para indícios de crimes de violação de segredo e abuso de poder. Uma funcionária do IPIM reconheceu negligência interna

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Ministério Público (MP) poderá constituir Tylor Ian, a actual chefia do Departamento Jurídico e de Fixação de Residência, como arguido no caso dos processos do Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM). Tyler Ian prestou depoimento na sexta-feira de manhã. “O tribunal entende que os seus actos, entretanto, também podem constituir um crime”, disse a juíza, depois de exibidas conversas entre a testemunha e Glória Batalha. O funcionário foi confrontado com conversas sobre uma professora assistente que ia trabalhar na área de medicina tradicional chinesa. De acordo com a prova exibida em tribunal, Ian deu informações sobre o caso antes de ser submetido ao IPIM, nomeadamente se faltaria pontuação e quanto à possibilidade de apresentar ligações à área da medicina tradicional chinesa em Macau sem ser apenas por via do ensino. A testemunha que pode ser promovida a arguido terá também prestado informações sobre o valor salarial apropriado. Tylar Ian respondeu que transmitiu as informações a Glória Batalha por ser sua superior, apesar de indicar que em situações habituais não as teria divulgado. Já depois de o processo ser entregue ao IPIM, Tylor Ian partilhou o estado do processo, apontando que a avaliação era “basicamente positiva”, mas que ainda não se podia autorizar o ordenado e posição, havendo inclusive registo de

ter dito que ia “promover” o processo junto de Irene Lau. Tylor Ian disse ter respondido às perguntas de Glória Batalha sobre processos de residência depois de receber o aval de Jackson Chang. Referiu ainda que na altura não foi usada a expressão “pré-avaliação”, mas antes tomar conhecimento adiantado dos casos. O tribunal entende que “há indícios” de ter cometido violação de segredo, avisando o Ministério Público (MP) de que podia abrir inquérito e constituir Tylor Ian como arguido. Para salvaguardar o direito da testemunha, o tribunal informou-o de que podia optar pelo silêncio e arranjar um advogado. “Escolho não responder”, disse a testemunha. O Ministério Público também entendeu haver suspeitas do crime de violação de segredo e que iria apresentar os factos de que Tyler Ian estava acusado. “Tentou, em prejuízo da minha constituinte, lavar as mãos”, declarou Pedro Leal, advogado de Glória Batalha, defendendo que não tendo havido queixa, Tylor Ian não era arguido e tinha de continuar o depoimento. Face a estes argumentos, a juíza acrescentou a possibilidade de abuso de poder. Pedro Leal ar-

gumentou então que as declarações da testemunha não tinham valor, alegando que “estava sob juramento e mentiu”. Um ponto sobre o qual o tribunal ainda vai decidir. “Quanto ao grau de credibilidade, cabe ao tribunal apreciar”, declarou a juíza.

“NEGLIGÊNCIA” A EXPLICAR

O IPIM vai ter de disponibilizar ao tribunal informações de um pedido de fixação de residência de 2015, para saber se foi a própria requerente a apresentar o pedido ao organismo. Solicitou ainda informações do funcionário encarregado do trabalho, que pode depois ser chamado a testemunhar. A assinatura no pedido de residência não foi identificada em tribunal. As irregularidades com documentos entregues ao IPIM volta-

O tribunal entende haver indícios de ter cometido violação de segredo, avisando o MP de que podia abrir inquérito e constituir Tylor Ian como arguido

ram a gerar críticas do tribunal. Diferenças de dados financeiros não detectadas num processo levaram o tribunal a considerar que houve “negligência” e a classificar o erro como “notório”. Em resposta, a testemunha, Cláudia Chio, disse que na altura não se prestava muita atenção ao formulário, admitindo que havia negligência internamente. “Neste caso, houve negligência, cometemos este erro”, assumiu. Por outro lado, a mesma funcionária reconheceu que “legalmente não havia sistema de pontuações” e que a falta de publicação não se deveu a motivos de sigilo, mas à preocupação com incompatibilidade legal. Feita a análise, entendeu-se que em termos legais e documentais esse mecanismo e o que já existia “não eram tão compatíveis”.

TRAÇAR O CARÁCTER

A antiga secretária de Jackson Chang, funcionária no IPIM durante 15 anos, reconheceu que a pedido do ex-presidente colocava perguntas sobre o andamento de processos de fixação de residência junto dos dirigentes do respectivo departamento e que depois transmitia ao superior as informações obtidas. Em tribunal, declarou não

saber onde iam depois parar os dados. Mas não considerou problemático um dirigente procurar saber informações de processos. Quanto à possibilidade de Jackson Chang fazer parte de uma associação criminosa, a sua antiga secretária respondeu negativamente, falando a favor do carácter do arguido. Descreveu-o como “boa pessoa”, “com talento” e “bom chefe”. “No tempo que trabalhei com ele nunca vi nada de anormal”, comentou. Um membro da comissão executiva do IPIM disse conhecer Zeng Chun Mei, a alegada amante de Jackson Chang, mas desconhecia haver alguma relação especial entre os dois. Foram várias as falhas de memória da testemunha, que não se recordava se tinha participado numa viagem fora de Macau com o ex-presidente do IPIM, nem de uma conversa exibida em que questionou Jackson Chang sobre um pequeno-almoço com Zeng Chun Mei. Colocou apenas como hipótese que Jackson Chang marcasse almoços ou pequenos-almoços com empresários. Salomé Fernandes

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8 eventos

27.7.2020 segunda-feira

Bonecos se N

GUINNESS CANTOR NORUEGUÊS BATE RECORDE MUNDIAL AO INTERPRETAR ELVIS PRESLEY DURANTE 50 HORAS

EXPOSIÇÃO “DINO ART TOY BOOM” REVELA A PERSONAGEM DO ILUS

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M cantor norueguês que imita Elvis Presley bateu, este sábado, em Oslo, um recorde mundial, ao interpretar, durante mais de 50 horas consecutivas, temas da lenda musical norte-americana, numa iniciativa difundida na internet. A maratona musical de ‘Kjel Elvis’, nome artístico de Kjell Henning Bjornestad, durou 50 horas, 50 minutos e 50 segundos, batendo em sete horas um anterior recorde, comprovado pelo Guinness, que há 16 anos pertencia ao alemão Thomas “Curtis” Gäthje. “Nunca mais farei isto de novo” confessou o sósia de Elvis Presley, em declarações ao canal de televisão norueguês NRK, no final da sua actuação. Bjornestad, de 52 anos, começou o desafio às 8:00 de quinta-feira, num bar no centro do Oslo, capital da Noruega, surgindo trajado a rigor com

roupas semelhantes às usadas por Elvis Presley em palco. Segundo o empresário do artista, durante a maratona musical ‘Kjel Elvis’ foi aconselhado a não abusar do café durante as duas noites em que se manteve acordado, alimentando-se de batidos, frutas e barras energéticas para tentar manter a voz, que nas últimas horas da actuação

já surgiu bastante rouca. Bjornestad, que já por duas vezes tinha batido o recorde do mundo a interpretar de forma consecutiva êxitos de Elvis Preseley, nomeadamente em 2003 quando cantou durante 26 horas consecutivas, apelou a doações no site deste evento para serem destinadas à construção de hospitais na Birmânia. PUB

ÃO fosse o pai ter trabalhado numa fábrica de produção de bonecos, ou os colegas da faculdade serem apaixonados pela ilustração, e a vida de Siomeng Chan teria sido certamente diferente. Estes dois episódios foram fundamentais para fazer dele um ilustrador e designer que decidiu juntar o trabalho ao mundo dos bonecos, apreciados por miúdos e graúdos. A actividade de Siomeng Chan associada aos bonecos, em particular a um por si criado em 2016, de nome Dino, pode agora ser vista na galeria de At Light. Ao HM, Siomeng Chan explicou como surgiu esta oportunidade de transformar o Dino num objecto artístico. “O Dino foi um dos trabalhos de ilustração que fiz em 2016. Na altura o cliente não escolheu este desenho, que foi deixado de lado. Mas como gostei do personagem decidi pegar nele e redesenhá-lo, para que agora possamos ter esta imagem actual do Dino”, disse. A exposição conta com seis trabalhos de Siomeng Chan e outros de 30 artistas de todo o mundo, convidados pelo artista de Macau. Desta forma, o boneco Dino ganha assim diferentes perspectivas e interpretações. “Decidi convidar 30 artistas ligados a vários tipos de arte, como a tatuagem, a ilustração ou a escultura. Dei-lhes o boneco Dino e deixei-os criar ou transformar o Dino segundo o seu estilo artístico ou a sua visão. Esta era uma experiência que queria fazer, ver quais são os limites para este tipo de bonecos.” Isto porque, para Siomeng Chan, os bonecos são muito mais

Foi inaugurada ontem a exposição “Di At Light, que revela seis trabalhos de Macau que decidiu virar-se para o mu personagem criado em 2016, ganha n através da pintura, escultura e outras

do que meros brinquedos usados pelas crianças. “A maioria dos bonecos ditos normais são brinquedos para crianças. Mas acho que não tem de ser assim. Podem ser peças de arte sem qualquer tipo de limitações. Quero quebrar essas regras e criar algo de infinito”, contou o autor. Os trabalhos com a assinatura de Siomeng Chan são diversos. Um deles, intitulado “Dino

“Não há pessoas que trabalhem ne área, combinando arte com os bonec Penso que é um n movimento que se criar em Macau.” SIOMENG CHAN ILUSTRADOR E

ÓBITO FUNDADOR DOS FLEETWOOD MAC MORREU AOS

P

ETER Green, guitarrista e fundador da banda de rock Fleetwood Mac, morreu sábado, aos 73 anos, disse um escritório de advogados que representa a sua família. “É com pesar que a família de Peter Green anuncia a sua morte, este fim-de-semana, pacificamente, enquanto dormia”, diz um comunicado, em que se adianta que nos próximos dias haverá mais

informações. Nascido no bairro londrino de Bethnal Green, numa família judaica, em 29 de Outubro de 1946, Green fundou a banda Fleetwood Mac, juntamente com o baterista Mick Fleetwood, o guitarrista Jeremy Spencer e o baixista John McVic. Green abandonou a banda, que chegou a vender mais de 120 milhões de álbuns em todo o mundo, quando se viu afectado por


eventos 9

segunda-feira 27.7.2020

em limites

STRADOR SIOMENG CHAN

ino Art Toy Boom”, na galeria e Siomeng Chan, ilustrador de undo dos bonecos. “Dino”, o novas versões e perspectivas s representações artísticas

esta oa cos. novo e pode ” DESIGNER

Boom”, não é mais do que “uma grande caixa com mais de 80 bonecos Dino lá dentro”. Segue-se uma pintura, intitulada “The First Day of Adventure”, que conta a história da amizade do boneco Dino com mais três amigos. “Eu desenhei o primeiro dia em que começaram a sua aventura”, declarou o ilustrador. Nos restantes trabalhos, o artista assume que quis trabalhar de “uma forma

mais abstracta” em ilustrações mais pequenas.

ESPÉCIE DE MOVIMENTO

Siomeng Chan acredita ser o único artista em Macau que associa o trabalho de ilustração ao mundo dos bonecos e deseja mesmo instituir uma espécie de novo movimento com esta exposição. “Não há muitas pessoas que desenhem bonecos em Macau, penso mesmo que sou o único que faz este trabalho a tempo inteiro. Por isso penso que existe potencial para o design de bonecos em Macau.” A ideia é expandir este ramo para outros países na Ásia, Europa ou América, confessou. “Não há pessoas que trabalhem nesta área, combinando a arte com os bonecos. Penso que é um novo movimento que se pode criar em Macau”, frisou. A exposição conta, além dos trabalhos de Siomeng Chan e de artistas por si convidados, de uma linha cronológica que revela o percurso artístico e de vida do ilustrador. “O meu pai trabalhava numa fábrica de bonecos e quando eu era criança aprendi muito sobre esse mundo. Na universidade muitos dos meus colegas também gostavam muito de ilustração e isso levou-me a descobrir esta profissão. Sou ilustrador e designer por causa deles, e penso que os bonecos associados ao design e à ilustração são os elementos que fazem de mim aquilo que sou hoje”, rematou. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

73 ANOS uma doença mental, tendo sido diagnosticado com esquizofrenia. Green foi um dos mais respeitados guitarristas da sua geração e lançou vários álbuns a solo e outros com alguns membros da banda que ajudou a formar. Peter Green foi eleito para o Rock and Roll Hall of Fame, em 1998. O seu último trabalho de estúdio foi Say You Will, em 2003.

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10 china

27.7.2020 segunda-feira

Dos 46 novos casos, 11 são oriundos do exterior, espalhados por várias regiões. No Xinjiang, foram adoptadas medidas de prevenção drásticas para conter o surto, detectado na semana passada, o mais rapidamente possível

A

China diagnosticou 46 casos de covid-19 nas últimas 24 horas, valor diário mais alto em mais de um mês, 22 dos quais na região de Xinjiang e 13 na de Liaoning, indicaram ontem as autoridades chinesas. O país registou 11 casos em viajantes oriundos do exterior, os chamados casos importados, cinco na região da Mongólia Interior, três na província de Cantão, e um também em Fujian, Shandong e Tianjin.

COVID-19 PAÍS COM 46 NOVOS CASOS, VALOR DIÁRIO MAIS ALTO EM MAIS DE UM MÊS

Alerta contra novo surto Urumqi, a capital da região autónoma de Xinjiang, no extremo noroeste da China, detectou um surto há mais de uma semana, interrompendo um período de quase duas semanas sem novos casos por contágio local na China. Xinjiang implementou medidas de prevenção, incluindo a suspensão do metropolitano local e o cancelamento de centenas de voos, e iniciou uma campanha maciça de testes para tentar conter o surto o mais rapidamente possível, noticiou a imprensa local. Em Dalian, cidade portuária no nordeste do país, as autoridades declararam “estado de guerra”, para evitarem novo surto do coronavírus. As autoridades ordenaram o encerramento de mercados de frutos do mar, após terem detectado os primeiros casos numa fábrica de processamento, segundo o jornal estatal Global Times.

PLANO DE CONTENÇÃO

Para impedir que o aglomerado de casos dê origem a um novo surto, o

governo local tomou várias medidas, incluindo exigir testes de ácido nucleico a quem usar a linha 3 do metropolitano local, que passa pela planta de processamento afectada. O governo local ordenou ainda o encerramento de jardins de infância e exigiu a “desinfecção generalizada” de centros comerciais e mercados.

Em Dalian, cidade portuária no nordeste do país, as autoridades declararam “estado de guerra”, para evitarem novo surto do coronavírus

As autoridades de saúde acrescentaram que, até à meia-noite de sábado, tiveram alta 19 pacientes, fixando o número total de casos activos no país em 288. De acordo com os dados oficiais, desde o início da epidemia a China registou 83.784 infectados e 4.634 mortos devido à covid-19, a doença causada pelo novo coronavirus.

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COMISSÃO DE REGISTO DOS AUDITORES E DOSCONTABILISTAS

Aviso

Torna-se público, de acordo com o n.º 4 do ponto 5.º dos Regulamentos para a prestação de provas para inscrição inicial ou revalidação de registo como auditor de contas, contabilista registado e técnico de contas, elaborados nos termos do artigo 18.º do Estatuto dos Auditores de Contas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 71/99/M, de 1 de Novembro, do artigo 13.º do Estatuto dos Contabilistas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 72/99/M, de 1 de Novembro, e da alínea 3) do artigo 1.º do Regulamento da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 2/2005, de 17 de Janeiro, que se encontra afixada, na sobreloja da Direcção dos Serviços de Finanças, sito na Avenida da Praia Grande nos 575, 579 e 585, e colocado no respectivo “Web-site”, no local relativo à CRAC e para efeitos de consulta, a lista provisória dos candidatos à prestação de provas para inscrição inicial ou revalidação de registo como Auditor de Contas, Contabilista Registado e Técnico de Contas no ano de 2020, elaborada e homologada por deliberação do Júri designado para o efeito. Em caso de dúvidas, agradecemos o contacto com a CRAC, durante as horas de expediente, através do telefone número 85995344 ou 85995342. Direcção dos Serviços de Finanças, aos 15 de Julho de 2020 O Presidente do Júri, Iong Kong Leong

DIPLOMACIA PEQUIM ACUSA POLÍCIA DOS EUA DE INVASÃO INDEVIDA DE CONSULADO EM HOUSTON

ONU AUSTRÁLIA RECUSOU REIVINDICAÇÕES DE PEQUIM SOBRE O MAR DA CHINA

O

A

Governo chinês acusou sábado a polícia norte-americana de ter entrado indevidamente no seu consulado em Houston, Texas, que recebeu ordem de encerramento no meio de um conflito diplomático. Na quarta-feira, a China anunciou que fora forçada pelos Estados Unidos a encerrar o seu consulado em Houston, numa medida descrita por Pequim como uma “provocação” e justificada por Washington como uma “medida preventiva” contra roubos de propriedade intelectual. Na sexta-feira, a China ordenou o encerramento do consulado dos Estados Unidos em Chengdu, em retaliação, alegando que a decisão constitui “uma resposta legítima e necessária às medidas irracionais dos Estados Unidos”. Sábado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês acusou as autoridades norte-americanas de terem entrado indevidamente nas instalações do consulado de Houston, no momento em que foi decretada a ordem do seu encerramento. “Quanto à entrada forçada pelos EUA nas instalações do

Consulado Geral da China em Houston, a China expressa forte insatisfação e oposição resoluta”, lê-se num comunicado da diplomacia chinesa. “A China dará uma resposta adequada e necessária a isto”, acrescenta o mesmo comunicado. A declaração explica que o consulado de Houston era propriedade chinesa e que, sob tratados diplomáticos, as autoridades americanas não tinham o direito de ali entrar. Estes episódios acontecem num momento de escalada de tensões entre os EUA e a China, envolvendo uma guerra comercial e acusações mútuas de má gestão política da pandemia de covid-19, levando o Presidente norte-americano, Donald Trump, a ter declarado, em Junho, que admitia a possibilidade de cortar todas as relações diplomáticas com Pequim.

Austrália recusou as alegações de soberania de Pequim sobre o mar da China Meridional, numa declaração formal às Nações Unidas, alinhando com as posições dos EUA, revelaram sábado os ‘media’ australianos. Num documento apresentado à ONU, a Austrália sustenta que “não há base legal” para as reivindicações da China, que chegou a construir ilhas artificiais no mar da China Meridional, apesar da oposição de vários países na região, que disputam esse espaço. “A Austrália rejeita a reivindicação da China pelos direitos históricos ou pelos interesses marítimos no mar da China Meridional”, pode ler-se num comunicado apresentado quinta-feira junto das Nações Unidas e sábado divulgado pelos ‘media’ australianos. O texto, que se refere a uma decisão de 2016 do Tribunal Permanente de

Arbitragem, acrescenta que “não há base legal para a China traçar linhas rectas conectando os pontos mais extremos das zonas marítimas ou ‘grupos de ilhas’ no mar do Sul da China”. A declaração de Camberra surge depois Washington, em 13 de Julho, ter rejeitado formalmente todas as reivindicações de soberania chinesa naquele território, alegando serem ilegais. Nessa altura, a resposta de Pequim foi imediata e a sua embaixada em Washington apelidou as acusações dos EUA de “injustificadas”, considerando que “incitavam confrontos na região”. A China reivindica quase todo o mar da China Meridional, um espaço estratégico essencial para o comércio internacional e rico em recursos naturais, que também são parcialmente reivindicados por vários países, incluindo o Brunei, Filipinas, Malásia e Vietname.


segunda-feira 27.7.2020

caminha para o mar pelo verão

Anabela Canas

A

esfera e o pátio. Volto sempre, a pensar na fenomenologia de continentes e de conteúdos. Inexistentes uns sem a presença ou ausência implícita dos outros. Noções que se adivinham e se querem mutuamente. O côncavo e o convexo na consciência de lugar. O interior e o exterior, o que se incorpora e o que se expande. Quem somos e que lugar é esse que apresenta mutações e se apresenta assim e também na aparência do seu contrário, faz-me pensar que ninguém nos diz ao nascer, que vamos ficar aqui dentro. Fechados a sete chaves e a construir metrópoles. E que o desafio é não enlouquecer delas e para fora delas. Olho o mapa estendido sobre a mesa e todas as possibilidades de caminho e, no entanto, reunido ali todo o mistério de sentido em cada escolha. E então dobro-o, por uma vez em quatro, depois em mais quatro e ainda mais duas vezes até à aniquilação da superfície nunca possível. Muitas rugas vão advir daí. Circunscrever o macromundo a uma rua da cidade e mesmo assim sobrarem trezentos números de porta e muitos mais olhares para pátios interiores. Reabrir e poder dobrar em barco, avião ou pássaro, com diferentes feridas desenhadas no curso de rios ou na erupção de montanhas, mas amarrotar como se a rearrumar o mundo com novas e aleatórias coordenadas, numa bola. Retoma quase a forma de esfera que lhe compete, a rolar na inércia do conhecido, aqui sobre a mesa, como um dado lançado, pleno de franjas desconhecidas e abismais. E ficar, por hoje, neste simples espaço, de acesso confortável. A serenidade a excluir os ruídos da cidade em volta. Tenaz mas inglória, bem sei. Vejo-me de alma residente numa vila meridional virada para um pátio interior, como um continente que cerca o sentido tendendo ao centro. No aveludado de tapetes berberes, que são ásperos ao toque mas amaciam os sons. Em íntimo movimento redondo, sujeito às forças centrífugas que atiram para fora o que o movimento força interior e em simultâneo às que de igual sinal mas opostas, centrípetas, que a mantêm no interior do pátio, como no circuito fechado de uma máquina de lavar, esse côncavo aconchegante ou aprisionante. O exercício da razão, como o das pseudo-forças centrífugas e centrípetas. Inimigas inseparáveis. Se inimigos são os opostos que inevitavelmente se equilibram numa espécie de anulação. E quando desaparece o atrito entre pés e terra, sai disparada e tangencial em linha recta rolando como uma esfera densa e convexa, puro conteúdo em fuga mórbida para fora. Do ínfimo individual para a grandeza do universo entrevisto. E na inércia de movimento perpétuo, mas pura ilusão,

Pátio interior ANABELA CANAS

Cartografias

h

11

esta. O dinamismo psíquico a ensaiar o movimento para fora de si – sempre de ida e volta - e desse encerramento metafórico que é a própria noção de si, contrário ao mergulho a fundo no poço do íntimo mais íntimo desse pátio interior, para onde tende o olhar da casa. E encontra-se como em férias na pequena casa sobre penhascos. Monobloco de uma única divisão. Cristalina e estanque. Quase nada, face ao tudo em redor. Uma esfera sólida e parada. Estável na inércia de estar. Como um terminal de chegadas e partidas. As pessoas vêm e partem. Vêm e vão e desaproximam-se dos olhos como

se nunca tivessem lá estado mas ficaram gravadas nos registos de viagem e desgravar não é competência da vontade. Como nos meios digitais, apagar de um gesto. Somos um simples banco com vista para a linha. Ou o comboio, em si. E assim se passa estar aqui e ver quem já partiu e antever quem ainda não chegou, ou partir e chegar. Com instantes de intervalo e tonalidades em blue. Fazendo companhia. Vivo assim. No interior da minha cabeça mas com vista alternada para o espaço imenso ou para o pátio interior, esse exterior no meio da casa. No entanto apareces-me ali como além. Num, sentas-te a

Eu vivo dentro da minha cabeça. Esse continente prosaico e a perder definição por fora. Nem sei como ainda consigo descer as escadas e sair dela para a sensação do mundo e da temperatura exterior. E a ver-te chegar. Tu – sim tu – aquele que é o outro

sós, porque te deixo entrar e estar sem interferir no teu chá. Já bastam as noites longas em que não vinhas. No outro, porque me passeias ao longe e te vejo mais perto na deambulação. E no entanto, sendo simplesmente o mesmo espaço, prefiro-te no horizonte da casa de vidro do que sentado no pátio interior, onde temo tenhas calor. Te sintas fechado e invasor. Porque eu vivo dentro deste lugar sem portas nem vocação. Perdoa-me porque entras. Sei lá tu se sabes. Bem-vindo. Nunca resisto a estes exercícios dos lugares de estar e do contraponto com os lugares de imaginar. Mas suavemente. Eu vivo dentro da minha cabeça. Esse continente prosaico e a perder definição por fora. Nem sei como ainda consigo descer as escadas e sair dela para a sensação do mundo e da temperatura exterior. E a ver-te chegar. Tu – sim tu – aquele que é o outro. Que pode encarnar a figura do amante ou do amado, do amigo, do vizinho, ou mesmo do estranho desconhecido e que se opõe ao simples lugar de se ser só. A olhar para o pátio interior.


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27.7.2020 segunda-feira

A Água Que se Escuta a Correr Numa Pintura de Li Tang Paulo Maia e Carmo texto e ilustração

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HONGER, que ficaria para a História conhecido como o Duque Wen de Jin (697-828 a. C.) é o protagonista de uma incrível acção que está na origem de uma curiosa comemoração, celebrada pelos pinceis dos poetas, e a cada ano repetida pelo povo no chamado «Festival da comida fria» que ocorre no fim do Qingming, em que se celebram os antepassados. Conta-se que para ver o seu querido amigo Jie Zhitui, que o auxiliara no exílio preparando-lhe uma revitalizante sopa com a carne de seu próprio corpo, e que com a sua mãe se retirara do convívio social, ordenou que se incendiasse uma floresta. Como daí resultasse a morte dos dois fugitivos e em sinal de arrependimento que ele estendeu ao povo, proibiu que se fizesse fogo durante três dias, de onde a observância ritual de comer a «comida fria». O nome do duque, Chonger, com o seu significado literal de «ouvidos repetidos» ajudaria a recordar como um aviso esse perpétuo remorso. Mas o culto do mítico duque seria envolto noutras peripécias que ajudariam à sua lenda, como o seu regresso após dezanove anos, como dirigente do Estado de Jin. A essa memória recorreu Gaozong (r.1127-62) já no fim dos Song, de modo característico buscando no passado coincidências que tornassem evidente a sua legitimidade de herdeiro continuador da dinastia. Daí resultou a encomenda de uma pintura atribuída ao pintor Li Tang (c.1050-1130) desse momento em que o «Duque Wen de Jin retoma o seu

Estado» (rolo horizontal, tinta e cor sobre seda, 30,2 x 1242,2 cm) que hoje se encontra no Metmuseum de Nova Iorque. Uma pintura que celebra o próprio passado da pintura, sendo possível recordar Guo Xi no modo como estão figuradas as rochas ou Li Gonglin na minúcia das figuras. Dong Qichang que não apreciava particularmente o carácter minucioso da pintura de Li Tang, entendido como o início de um caminho que se desenrolaria até ao quase profissionalismo patente nos mestres Xia Gui e Ma Yuan, não deixou de se deter perante o espantoso aspecto do modo como ele figurou as montanhas e apontou-o como exemplo para pintar as «montanhas do Norte, que se formam como fileiras de carruagens ou de mulas». Esse método está bem visível na pintura de 1124, «Vento murmurando nos pinheiros entre miríades de vales» (rolo vertical, tinta e cor sobre seda, 188,7x 139,8 cm) que se encontra em Taipé, no Museu do Palácio. O modo como ele pintou os primeiros planos, utilizando as chamadas «rugas de corte de machado» (fupi cun) faz com que a pintura se aproxime do observador. E aqui o que está mais próximo é a representação da água, cuja corrente vigorosa quase se consegue escutar. O som do elemento que Confúcio aproximou da actividade do pensamento, devolve-nos a advertência de Chonger e a necessidade de escutar antes de querer ver, porque é possível que o som esteja mais próximo da verdade.


(f)utilidades 13

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Cineteatro SALA 1

SUMIKKOGURASHI:GOOD TO BE IN THE CORNER [A]

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FALADO EM CANTONÊS LEGENDADA EM CHINÊS Um filme de: Mankyu 14.30, 16.00, 17.30, 19.45

Um filme de: Todd Robinson Com: Sebastian Stan, William Hurt, Christopher Plummer 21.30 SALA 2

BEYOND THE DREAM [C]

YUAN

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homem “admitiu que tinha acendido os três fogos na catedral: no grande órgão, no pequeno órgão e num painel eléctrico”, disse ao diário o procurador de Nantes Pierre Sennès.

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Um filme de: Chow Kwun-wai Com: Terrance Lau, Cecilia Choi 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

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FALADO EM CANTONÊS LEGENDADA EM CHINÊS Um filme de: Kim Hagen Jensen, Tonni Zinck 14.30, 16.30, 19.00

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LIGHT F MY LIFE [C] Um filme de: Casey Affleek Com: Anna Pniowsky, Casey Afflek, Tom Bower, Elisabeth Moss 21.30

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UM PODCAST HOJE 5

CANDELA: PHOTOGRAPHY AND CINEMATOGRAPHY MASTERS I ALAN SCHALLER E CHRISTOPHER HOOTON

Uma conversa entre fotógrafo Alan Schaller e o cineasta Christopher Hooton sobre fotografia, que abordam desde perguntas mais comuns como a importância da câmara e do equipamento que se usa e os países preferidos onde fotografar, ao nível de sacrífico que se deve estar disposto a fazer em prol de um projecto criativo. Os episódios em que trocam ideias entre si por norma duram cerca de meia hora, e o tempo duplica quando têm convidados, como por exemplo Dan Sackheim, realizador de alguns episódios de Game of Thrones, e Steve McCurry, fotógrafo da Magnum e da National Geographic. Salomé Fernandes

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LIGHT OF MY LIFE

www. hojemacau. com.mo

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DREAMBUILDERS [A]

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SALA 3

THE LAST FULL MEASURE [C]

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e danos causados pelo fogo”. “O meu cliente cooperou”, disse o advogado Quentin Chabert ao diário Presse-Océan. “Lamenta amargamente os factos e confessar foi para ele uma libertação”. O

C I N E M A

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 46

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PROBLEMA 47

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Uma semana depois do incêndio na catedral de Nantes, um voluntário ruandês da diocese confessou a autoria e foi colocado sob custódia durante a noite de sábado para domingo por “destruição

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


14 opinião

27.7.2020 segunda-feira

A Covid-19, ciência

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“The secret of a change is to focus all your energy, not on fighting the old, but on building the new.” Socrates

Á uma grande vontade por parte de muitos jovens em alguns Estados-Membros da UE de trabalharem para o bem comum através do serviço público ou civil e que nasceu da experiência dos objectores de consciência, influenciados pelo padre italiano Lorenzo Milani que trabalhou como escritor e pedagogo na escola popular Barbiana, aberta “doze horas por dia, trezentos e sessenta e cinco dias por ano”. A sua actividade educacional com crianças pobres sob os seus ensinamentos levou a várias cartas críticas bem como o seu trabalho, escrito em conjunto com os seus alunos da montanha. A “Carta a um professor” expôs o classismo e a selectividade da escola obrigatória; a “Carta aos capelães militares” e a “Carta aos juízes” foram epístolas públicas como resultado de uma reacção ao “Comunicado dos capelães militares licenciados da região da Toscana” e o seu subsequente processo judicial. É importante considerar a sua afirmação de que a obediência já não é uma virtude. Aqueles que foram para a prisão para afirmar a ideia de servir o seu país não com armas, mas ajudando os fracos e oprimidos, combatendo a miséria e a privação cultural dos países e das periferias urbanas deve ser um exemplo. Os jovens que hoje estão envolvidos em dezenas de projectos sociais e culturais com migrantes, ciganos e crianças pobres pela Europa e mundo devem ser considerados. Serve a quem entender como sendo uma recompensa que lhes permita um mínimo de autonomia pessoal, e que talvez pense que terá uma experiência que lhes será útil para encontrar um emprego, se a economia e a política ultrapassarem o esquema perverso em que o trabalho socialmente útil deve ser livre e voluntário, e o trabalho que vale a pena pagar é o trabalho que é feito para produzir bens que não são tão úteis ou prejudiciais como os usados para fazer a guerra. Mesmo no trabalho físico em fábricas será necessário manter distâncias. Deve ser uma condição para retomar a produção. Para garantir a saúde daqueles que trabalham. Os empresários discutem mais com os políticos e autarcas do que com os sindicatos; os sindicatos e os trabalhadores não confiam neles com razão pois houve greves para que não fossem obrigados a trabalhar na produção de bens não essenciais, e em locais onde a segurança não estava garantida. Afinal, vivemos em um mundo que

em Janeiro de 2020 não havia Covid-19 e hoje são milhões de infectados e centenas de milhares de mortos. A incapacidade de decidir sobre quais as zonas vermelhas em determinados países, a fim de não interromper a produção considerada essencial para a competitividade económica, causou centenas de mortes. A Covid-19 torna evidente uma contradição que sempre atravessou o mundo da produção e do trabalho. Que põe em relevo a dialéctica entre as necessidades de lucro, competitividade e a saúde e vida dos trabalhadores. Do ponto de vista dos que trabalham, decidir se trabalha para viver ou para morrer. De repente ou pouco a pouco. O reinício do trabalho deve ser em todo o lado uma oportunidade de ter uma discussão séria sobre a saúde no local de trabalho, abordando, para além da protecção contra o vírus, as condições que fazem com que a doença e a morte acompanhem normalmente a vida das pessoas que trabalham. A questão do distanciamento no local de trabalho pode ser uma enorme oportunidade para os sindicatos e trabalhadores associarem a protecção da saúde a uma re-discussão dos regimes de tempo de trabalho e da organização do trabalho. Se não se quiser que a Covid-19 dure para sempre de forma insidiosa, ou talvez regresse com maior força, nunca mais se conseguirá entrar e sair do trabalho, e começará tudo de novo. Terá de ser concebido um regime flexível de tempo de trabalho, e as suas obrigações contratuais serão as de manter em conjunto as necessidades das empresas e as necessidades das pessoas no trabalho. As necessidades de estudo e de cuidados pessoais e familiares, os seus prazeres e os seus deveres como cidadãos activos e responsáveis. O oposto do pedido feito a muitas categorias de trabalhadores, de uma vontade ilimitada de trabalhar horas extraordinárias, de trabalhar a tempo parcial indefinidamente, de responder sem demora ao apelo da empresa, sem qualquer possibilidade de planear a sua vida para além do trabalho. Mas esta possibilidade será tanto mais forte quanto mais associada estiver a uma redução global do tempo de trabalho. É incrível que, quase um século após a sua conquista, estejamos ainda ancorados a oito horas como horas normais de trabalho, após os extraordinários aumentos na produtividade laboral devido aos avanços tecnológicos, e com aqueles que nos esperam com a intensificação da automatização de grande parte da produção de bens e serviços. Numa situação difícil como esta, é complicado imaginar que a redução das horas de trabalho trará mais emprego, mas será uma forma de defender o que vai além da utilização pura e simples do subsídio de desemprego, licenças e amortecedores sociais. É a premissa para uma distribuição mais justa e mais sensata dos benefícios dos ganhos de produtividade nos próximos anos. A distância no trabalho pode ser, como para o trabalho à distância, uma forma de acorrentar as pessoas ainda mais à lógica de

um algoritmo impessoal, aproveitando, para aumentar o ritmo e controlo, a condição de relativo isolamento dos trabalhadores, ou uma forma de expandir os espaços de autonomia, responsabilidade e profissionalismo dos trabalhadores. O trabalhador espaçado verá a sua possibilidade de intervir em processos e produtos, de corrigir erros, de modificar e melhorar a mesma postura do seu corpo em relação às operações. Será mais pessoa, dentro de um processo colectivo. Este aumento de responsabilidade e autonomia deve ser reclamado profissionalmente e também traduzido em salário. Apoiado com toda a formação necessária. Talvez a partir daqui os sindicatos possam encontrar uma forma

de entrar na negociação individual, que nos últimos anos tem aumentado muito através de uma relação directa entre o empresário e o trabalhador individual, retirando do processo de negociação quotas salariais cada vez mais substanciais. É necessário tornar transparente o enriquecimento profissional do trabalhador, certificar e valorizar as competências adquiridas através do trabalho e da formação, tentar inverter a história dos últimos anos que esmagou os sindicatos sobre o trabalho padrão, que tinha faltado no fundo do trabalho confiado aos tarefeiros, e no topo da lista, as alterações qualitativas do trabalho. Mas para que isto seja possível,


opinião 15

segunda-feira 27.7.2020

perspectivas

JORGE RODRIGUES SIMÃO

e trabalho (II)

será necessário curar outra ferida existente entre pessoas que trabalham em indústrias e serviços, hospitais e aeroportos com as mesmas tarefas mas com salários e direitos radicalmente diferentes. Nos estaleiros navais, por exemplo, dois terços dos trabalhadores que passavam pelos portões pela manhã fazem parte dos tarefeiros de outros países, e trabalham frequentemente com contratos e salários de romenos, albaneses e polacos. E enquanto a grande maioria dos trabalhadores são sindicalizados, ninguém fala com os trabalhadores das empresas, excepto por vezes o sindicalismo básico. Ainda mais grave, deste ponto de vista, é a situação logística.

Os armazéns dos supermercados enchiam-se de trabalhadores mal remunerados e na sua maioria intermitentes. E mesmo nos hospitais havia uma enorme diferença de salários e direitos entre os trabalhadores e os das empresas e outras instituições para as quais a maioria das tarefas era subcontratada. O estreito confronto sindical da reabertura, mais do que nunca, deve ser inclusivo, e recuperar a fragmentação dos contratos e direitos que caracterizaram o antes Covid-19. Uma negociação precisa e articulada, mas que deve ser enquadrada na iniciativa de um novo Estatuto de Direitos. No entanto, estes serão tempos difíceis para os trabalhadores. Muitos verão os seus rendimentos reduzidos,

outros perderão os seus empregos e demasiados terão de procurar um novo emprego. Todos serão sujeitos a pesada chantagem, pois ou recomeçam como antes, fazendo o de então, mesmo que seja prejudicial para si e para o ambiente, ou perdem os seus empregos. Os sindicatos teriam de ser incisivos para que os trabalhadores adquirissem o direito de participar nas escolhas de produção da empresa, para terem uma palavra a dizer sobre as mudanças necessárias e para que a produção não prejudique a saúde e o ambiente. Na produção ambientalmente sustentável pode haver mais trabalho, e de melhor qualidade, do que a produção poluente. Por exemplo, o edifício de recuperação e reutilização pode encontrar muito mais espaço do que aquele que cimenta novas partes do território, para onde os abutres do impulso de emergência olham; e tal como nas energias renováveis, para a quantidade de energia produzida, são necessárias muito mais pessoas do que nas centrais eléctricas a carvão e a gás. Será necessário pensar, se não quisermos sofrer as mudanças necessárias, se o acordo verde vai começar, sendo necessário, um grande projecto de formação para permitir aos trabalhadores exercerem o seu direito a ter uma palavra a dizer sobre inovações, produtos e tecnologias. Afinal, este é um requisito fundamental de um trabalho digno. O liberal socialmente responsável como é John Dewey disse que “O trabalho é uma actividade que conscientemente inclui o respeito pelas consequências como parte de si; torna-se trabalho forçado, se as consequências estiverem fora da actividade, como um fim para o qual a actividade não é senão um meio”. Será necessário apoiar com recursos públicos os trabalhadores que decidam gerir sós as empresas abandonadas pelos empresários, nacionais ou estrangeiros, e aqueles que construíram a produção e trabalham nas actividades económicas tiradas a organizações falhas ou ilícitas. O trabalho que pode aumentar imediatamente é o da administração pública. A pandemia suspendeu a desconfiança do trabalho público alimentada pela corrente liberalista e pelos meios de comunicação social que durante anos martelaram os cidadãos com a ideia de que o público é desperdício e o privado é bom. As pessoas tocaram na seriedade, profissionalismo, dedicação dos que trabalham na saúde pública, no espírito de sacrifício e criatividade dos professores que passaram muitos dias sem abandonarem os seus alunos. Condutores de eléctricos e metropolitanos. Os colectores de lixo que continuaram a viajar por cidades desertas com os seus veículos. E por aqueles que, desde os cobardes dos incêndios postos, à polícia, à Protecção Civil, aos milhares de voluntários de associações seculares e religiosas, que se comprometeram a tapar os buracos do sistema de segurança e a não deixar ninguém sozinho. Começam a perceber-se, após anos de propaganda absurda

e desviante, como os funcionários públicos em relação à população estão mais presentes que em países de outros continentes. O pós-Covid-19 poderia ser uma boa altura para apresentar as contas e tapar os buracos mais sensacionais. A começar pelas escolas e pelos cuidados de saúde. O último ataque ao público que está a começar é contra a burocracia que está a travar com as suas restrições os grandes projectos de infra-estruturas que devem recomeçar, custe o que custar. É necessário evitar práticas longas e inúteis, mas vale a pena salientar que muitas vezes a causa do cumprimento e do abuso da construção e da paisagem é a mesma, tendo enfraquecido quantitativa e qualitativamente, os números e o profissionalismo, o sistema de protecção com reduções à superintendência e ao planeamento público com cortes de despesas aos gabinetes técnicos e de planeamento territorial das autoridades locais. A fim de recomeçar rapidamente, legalmente e com respeito pelo ambiente e pelo território, haverá também necessidade de investir e contratar. Muitas das questões requerem uma visão e iniciativa europeias.

O trabalho que recomeçar terá de tratar do território, do povo, dos sujeitos mais fracos como prioridade. Reconhecendo neste terreno o trabalho que já existe e o novo trabalho que é necessário e dando-lhe valor A começar pelas regras necessárias para evitar o dumping salarial e de direitos, que está na raiz tanto das vias de externalização das empresas como da selva contratual que caracteriza o regime de muitos tarefeiros. Tal como o salário mínimo e o rendimento de cidadania só podem ser europeus em perspectiva. As mesmas transformações produtivas e inovações empresariais vão para além da dimensão nacional. As cadeias de produção e de valor atravessam fronteiras. Os sindicatos dos trabalhadores da Europa, cuja ausência, para além das evocações retóricas e da moda, foi o que mais pesou nesta crise, terão de ser construídos rapidamente, a fim de lhes garantir solidariedade e justiça social. No entanto, o trabalho que recomeçar terá de tratar do território, do povo, dos sujeitos mais fracos como prioridade. Reconhecendo neste terreno o trabalho que já existe e o novo trabalho que é necessário e dando-lhe valor. Uma ideia feminina de trabalho terá de se tomar, para vencer o desafio, uma prioridade também entre os homens. O novo mundo, como dizem dois grandes homens como Alain Touraine e o Papa Francisco, será feminino ou não.


Um homem tem sempre medo de uma mulher que o ame muito Bertolt Brecht

PALAVRA DO DIA

COVID-19 COREIA DO NORTE REGISTA PRIMEIRO CASO SUSPEITO DE CORONAVÍRUS

LEI DE IMPRENSA GOVERNO SEM CALENDÁRIO PARA REVER O DIPLOMA

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Gabinete de Comunicação Social (GCS) assegurou, em resposta ao HM, que a revisão da lei de imprensa não faz parte dos planos do Governo a curto prazo. “Relativamente à lei de imprensa, o GCS finalizou a consulta pública em 2014. Porém a prioridade actual do Governo são os trabalhos legislativos intrinsecamente ligados ao bem-estar e à vida da população, não estando definido qualquer calendário para a revisão da referida lei.” De frisar que o GCS, agora com Inês Chan como nova directora, tem realizado visitas a todos os órgãos de comunicação social do território. A última reunião foi com os dirigentes da Associação da Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM). Em comunicado, a associação declarou que o encontro serviu para abordar “vários assuntos de interesse e relevância para os sócios da AIPIM e os profissionais da comunicação social em geral”, nomeadamente questões relacionadas com a “valorização da liberdade de imprensa, a necessidade de melhorar o acesso à informação e a qualidade das traduções”. Foi também discutida a “criação de um sistema de reconhecimento e acesso à informação por parte de órgãos de comunicação online, entre outros assuntos”.

segunda-feira 27.7.2020

U A MUST vai continuar envolvida nos trabalhos sobre a estrutura interna de Marte, as reservas de água congelada, ambiente à superfície e espacial, bem como investigação sobre vida extraterrestre

Missão planeta vermelho MUST trabalha em projectos para investigação de Marte

N

ESTE momento, o laboratório para a Ciência Popular e Planetária na Universidade de Ciência e Tecnologia tem em mãos 11 projectos de investigação em Marte, concluídos ou em desenvolvimento, e vai continuar envolvido nos trabalhos relacionados com a exploração do planeta, espaço e vida extraterrestre, avançou a universidade numa nota enviada à Lusa. “A Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST) desempenhou um papel importante na primeira missão de exploração de Marte na China”, salientou a instituição, no mesmo dia em que Pequim lançou “com total sucesso” a sonda “Tianwen-1” (“Questões para o Céu”, em chinês), lançada pelo foguete Longa Marcha-5, a partir da ilha tropical de Hainan, no extremo sul do país. Os investigadores da MUST participaram “profundamente no trabalho de pesquisa científica da primeira missão de exploração de Marte da China” e são “responsáveis pelo desenvolvimento, produção, processamento de dados e análise da sonda de telemetria separável do Subsistema de Medição de Engenharia Mars Orbiter”. “O Laboratório de Referência do Estado para a Ciência Lunar

e Planetária na universidade é o primeiro laboratório da China na área da astronomia e ciência planetária”, sublinhou a MUST, com o director do laboratório da universidade a acrescentar que actualmente existem “11 projectos de investigação sobre Marte concluídos e em desenvolvimento”.

SONDAR O ESPAÇO

A mesma instituição referiu que o laboratório vai continuar envolvido nos trabalhos sobre a estrutura interna de Marte, as reservas de água congelada, ambiente à superfície e espacial, bem como investigação sobre vida extraterrestre. Os investigadores da universidade trabalharam na topografia e geomorfologia de Marte. E uma série de investigações foram conduzidas sobre exploração, astrobiologia, radiação, atmosfera e poeira [formada por tempestades de areia], estrutura interna, campo magnético e ambiente espacial. Em particular, sublinhou a MUST, a investigação sobre a atmosfera marciana e o clima assolado pela poeira é de grande importância para garantir a exploração segura do veículo espacial marciano. A MUST conta desde o final de 2019 com um Centro de Ciência e Exploração Espacial

da Administração Espacial Nacional, no âmbito de um acordo de cooperação de desenvolvimento científico e tecnológico assinado em Dezembro de 2019 entre aquela entidade chinesa e o Governo de Macau. A China lançou na quinta-feira a sua mais ambiciosa missão a Marte, numa tentativa de pousar com sucesso uma sonda no planeta vermelho, feito alcançado apenas pelos Estados Unidos até à data. Trata-se do segundo voo para Marte feito esta semana, depois da sonda orbital lançada pelos Emirados Árabes Unidos, a partir do Japão, na segunda-feira. Os Estados Unidos pretendem lançar o Perseverance (“Perseverança”, em inglês), a sua sonda mais sofisticada de sempre, a partir da Florida, na próxima semana. As sondas vão levar sete meses até chegarem a Marte. Se tudo correr como previsto, o Tianwen-1 vai procurar água no subsolo de Marte ou indícios de uma possível vida antiga no planeta. Esta não é a primeira vez que a China tenta ir a Marte. Em 2011, com os russos, uma sonda acabou por arder na atmosfera. Desta vez, a China lançou na mesma missão uma sonda orbital e uma de exploração do terreno.

M primeiro caso “suspeito” de coronavírus foi ontem identificado na Coreia do Norte, que entrou em um estado de “emergência máxima”, avançou ontem a agência oficial do regime de Pyongyang, KCNA. Em causa está uma pessoa que “retornou em 19 de Julho depois de cruzar ilegalmente a linha de demarcação”, que serve de fronteira com a Coreia do Sul, segundo a KCNA. Pyongyang garantiu que não há nenhum caso de coronavírus e que as fronteiras do país permaneciam fechadas. No início do mês, os jornais da Coreia do Norte referiam que o líder Kim Jong Un tinha apelado à cúpula do partido para se manter alerta contra o coronavírus, avisando que a complacência poderia conduzir a “riscos inimagináveis e a uma crise irrecuperável”. Apesar do apelo, Kim reafirmou que a Coreia do Norte não registava um único caso de covid-19 acrescentando que o país “impediu completamente a invasão do vírus maligno” apesar da crise sanitária que se regista em todo o mundo. A nível global, muitos especialistas já demonstraram sérias dúvidas sobre a situação da pandemia na Coreia do Norte devido à proximidade da República Popular da China, onde a doença teve origem, e por causa das infraestruturas sanitárias precárias do país. A Coreia do Norte encerrou as fronteiras no princípio do ano, proibiu a entrada de turistas e mobilizou os profissionais de saúde a imporem quarentena (14 dias) a todos os cidadãos que apresentassem sintomas da doença. Para muitos observadores, o recente confinamento do país atingiu fortemente a economia da Coreia do Norte seriamente afectada pelas sanções impostas pelos Estados Unidos por causa do programa nuclear.


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