Hoje Macau 27 SET 2019 # 4381

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

HOJE MACAU

SEXTA-FEIRA 27 DE SETEMBRO DE 2019 • ANO XIX • Nº 4382

FUNDAÇÃO CASA DE MACAU

O SONHO E A IDENTIDADE GRANDE PLANO

CONTRABANDO

Peixe graúdo

hojemacau

PÁGINA 7

ENSINO

Bem-vindo sr. Wong

ALEC

PÁGINA 9

OPINIÃO

MACAU, A PACÍFICA PUB

PAUL CHAN WAI CHI

Está escolhido o candidato ao lugar deixado em aberto na Assembleia Legislativa por Ho Iat Seng. A candidatura única do empresário Wong Sai Man foi ontem aprovada pela Comissão de Assuntos Eleitorais

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da Assembleia Legislativa. Além de empresário, Wong Sai Man é também membro do Conselho Permanente de Concertação Social e vice-presidente da Associação Industrial de Macau.

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Liberdade condicionada


2 grande plano

27.9.2019 sexta-feira

UNIAO FAZ A FUNDAÇÃO CASA DE MACAU

GOOGLE STREET VIEW

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DIRIGENTE DESEJA JUNTAR INSTITUIÇÕES LIGADAS À CULTURA

A Fundação Casa de Macau celebra 23 anos de existência. Mário Matos dos Santos, director-geral da instituição, fala dos novos projectos, da presença nas redes sociais e da vontade de unir as entidades que, por todo o mundo, lutam para preservar a identidade macaense. “Esse é um sonho que sempre tive, porque amanhã não estamos cá”, aponta


grande plano 3

sexta-feira 27.9.2019

FORCA MACAENSE

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“Temos um autêntico museu aqui, porque temos de ter muita dignidade naquilo que mostramos. Achamos que a filosofia macaense deve ser continuada. É importante promover a ideia de que Macau é dinâmica, que está a mexer-se.”

“Esse é um sonho que sempre tive, porque amanhã não estamos cá.” Na agenda está planeado, para Dezembro, um congresso com as Casas de Macau de todo o mundo, que teve até agora apenas uma edição. “Este congresso iria tentar juntar todas as instituições que lutam por Macau, poderíamos fazer uma frente comum e integrarmo-nos. Há uma propensão para que, no futuro, estas instituições se unam todas, e para isso queremos fazer um congresso para defender Macau.”

OS CHINESES E O ENCONTRO

Da história da Casa de Macau em Portugal faz parte o célebre episódio em que alunos de Macau se barricaram nas suas instalações, no pós 25 de Abril. “Tivemos aí problemas, alguns desses alunos têm hoje posições importantes, mas é a vida. O que sucedeu aqui foi aquilo que sucedeu em Portugal na altura, foi (feito por) gente que estava ou se sentia deprimida, embora a Casa de Macau fosse financiada pelo Governo, mas sucedeu este incidente”, recordou. Dos anos de existência, o director-geral da FCM recorda uma enorme liberdade para criar coisas e um grande esforço. “Temos um autêntico museu aqui, porque temos de ter muita dignidade naquilo que mostramos. Achamos que a filosofia macaense deve ser continuada, as pessoas ainda não perceberam que estamos ali há séculos. É importante

MÁRIO MATOS DOS SANTOS DIRECTOR-GERAL DA FCM

alterou-se na Europa. Temos de ir à procura de outras coisas.” A FCM assume trabalhar em rede, com entidades como o Turismo de Macau ou a Fundação Oriente. Dela fazem parte figuras históricas de Macau como os antigos governadores Vasco Rocha Vieira e o General Garcia Leandro, este último também presidente da Fundação Jorge Álvares. Apesar dos objectivos comuns, o director-geral da FCM assegura: “não recebemos um euro da Jorge Álvares”. É aqui que Mário Matos dos Santos assume um sonho antigo: fazer uma espécie de frente unida com todas as entidades que defendem e preservem a identidade macaense.

“Se não fosse os chineses não havia Encontro das Comunidades. É esse contrapeso que existe lá e que os chineses querem cultivar porque têm interesse.” MÁRIO MATOS DOS SANTOS DIRECTOR-GERAL DA FCM

HOJE MACAU

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ÁRIO Matos dos Santos, director-geral da Fundação Casa de Macau (FCM), tem vindo a ceder às tentações do mercado imobiliário em Portugal. A entidade, que tem sede num andar na zona do Príncipe Real, em Lisboa, valeria milhares de euros caso fosse vendida. Mas as emoções geradas pela história do espaço falam mais alto. Noutra zona de Lisboa funciona a Casa de Macau em Lisboa, com mais anos de existência, cujo edifício é propriedade da fundação. “Aquele edifício é nosso, isto aqui é nosso, é a nossa alma mater”, contou ao HM Mário Matos dos Santos. “Foi aqui que isto começou, e tirar daqui a fundação seria aliciante, nem imagina. Porque isto teve um valor de aquisição, e se lhe disser o valor de venda, nem vale a pena falar. Aqui as coisas valem 11 mil euros por metro quadrado. Por uma questão afectiva (não quero vender).” Fundada há 23 anos, em Julho de 1996, para assegurar a continuidade da Casa de Macau em Portugal, a FCM existe hoje como um centro cultural que promove a apresentação de livros e conferências e tem disponível ao público uma biblioteca com cerca de sete mil livros, consultados, na sua maioria, por alunos de mestrado. Muitas das obras vieram de Macau, à boleia da transferência de soberania, e outras foram sendo doadas por macaenses. A FCM e a Casa de Macau de Portugal são, portanto, irmãs. A primeira quer ser um polo cultural, a segunda um polo de convívio, onde ainda hoje se realiza o tradicional chá gordo. “Gostaria muito que percebessem que a fundação trabalha para Macau. Nós temos esse empenho que é garantir que a Casa de Macau não passe dificuldades muito grandes. Custa-nos manter porque vivemos de aplicações financeiras e hoje em dia é muito difícil sobreviver, porque o universo da banca

Na agenda está planeado, para Dezembro, um congresso com as Casas de Macau de todo o mundo, que teve até agora apenas uma edição promover a ideia de que Macau é dinâmica, que está a mexer-se. A nossa presença tem de ser mantida, continuada e preservada.” Para o futuro, Mário Matos dos Santos deseja “alargar o espólio da Casa de Macau à sociedade civil portuguesa, ao meio universitário e apoiar ,mais iniciativas.” Além dos habituais eventos, a FCM lançou, há um ano, a revista “A Cabaia”, em formato digital, apostando nas redes sociais onde é visitada por inúmeros jovens descendentes de macaenses. Nas suas instalações funciona actualmente a Associação Novos Amigos da Rota

da Seda (ANRS), presidida pela economista Maria Fernanda Ilhéu. Quando questionado se gostaria de receber mais apoio do Governo de Macau, Mário Matos dos Santos assegura: “gostaria muito que fosse assim”. “É por isso que estamos ligados à ANRS, que está ligada à Embaixada da China. Procuramos ter tentáculos em todo o lado, no bom sentido”, acrescentou. Sobre a nova edição do Encontro das Comunidades Macaenses, que acontece já em Outubro, o director-geral da FCM volta a desejar uma maior união das entidades ligadas à cultura macaense. “A comunidade deveria discutir o futuro e encontrar caminhos para que a diáspora prevaleça. As casas de Macau em todo o mundo, sobretudo nos EUA e Canadá, são absorvidas. Além da gastronomia, que é importante, e da afectividade, aquela gente vai perdendo (a identidade macaense). As pessoas estão preocupadas em manter a identidade, mas vão-se integrando cada vez mais. Era preciso entrar neste campo”, remata. Neste ponto, Mário Matos dos Santos considera que o Encontro se realiza porque as autoridades chinesas assim o proporcionam. “Se não fosse os chineses não havia Encontro das Comunidades. É esse contrapeso que existe lá e que os chineses querem cultivar porque têm interesse. Veja-se o que se passa em Hong Kong, e em Macau não houve nada pelos motivos que sabemos. Macau é um contraponto para a China e isso justifica o grande investimento chinês que existe em Portugal, selectivo, mas que é grande”, conclui. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


4 política

27.9.2019 sexta-feira

HABITAÇÃO PARA TROCA PODER DO POVO QUER GOVERNO A PAGAR OBRAS DE EDIFÍCIOS

HOTÉIS 15 PEDIDOS DE LICENCIAMENTO DE BAIXO CUSTO EM CURSO NA DST

Os deves e os haveres TIAGO ALCÂNTARA

A Associação Poder do Povo entregou uma carta ao Governo onde pede que não sejam cobradas taxas aos proprietários de casas que serão alvo de renovação por estarem em bairros antigos. Para Si Tou Fai, cabe ao Executivo suportar essa despesa

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I Tou Fai, presidente da Associação Poder do Povo, entregou ontem uma carta ao Governo onde pede que sejam as autoridades a custear as despesas relacionadas com a reconstrução de edifícios antigos. Si Tou Fai defende que o Governo não deveria cobrar as taxas de reconstrução aos proprietários dos edifícios, além de que, nesse planeamento, deveria aumentar o número de habitações públicas a construir. O pedido feito pela Associação Poder do Povo vem no seguimento da entrada em vigor do regime de jurídico de habitação para alojamento temporário e de habitação para troca no âmbito da renovação urbana, que prevê

não apenas a reabilitação dos bairros antigos como a construção de casas para os lesados do caso Pearl Horizon. Si Tou Fai recordou a prática do tempo da Administração portuguesa, quando o Governo, à época, fez o aproveitamento dos terrenos agrícolas situados na zona do Porto Exterior e construiu edifícios para as famílias que já

viviam no local sem ter exigido cobranças adicionais. Nesse sentido, o dirigente associativo espera que o Governo não venha a exigir aos proprietários, 50 anos depois, o pagamento dessas despesas.

OBSERVAÇÕES ONLINE

Em declarações ao HM, Si Tou Fai disse que tem vindo a observar as reacções a esta política nas

Si Tou Fai recordou a prática do tempo da Administração portuguesa, quando o Governo, à época, fez o aproveitamento dos terrenos agrícolas situados na zona do Porto Exterior e construiu edifícios para as famílias que já viviam no local sem ter exigido cobranças adicionais

redes sociais e que as mesmas mostram que ninguém quer pagar as despesas relacionadas com os edifícios alvo de reconstrução. Além disso, a medida em causa irá tornar difícil a uniformização dos direitos de propriedade. No que diz respeito aos lesados do Pearl Horizon, o presidente da associação disse concordar com esta medida apresentada pelo Governo, dado que estas pessoas pagaram pelas fracções que nunca vão ser construídas. Si Tou Fai reiterou que a natureza deste processo é diferente do processo de renovação dos bairros antigos incluído no âmbito do regime de habitação para troca. Juana Ng Cen

info@hojemacau.com.mo

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Direcção dos Serviços de Turismo (DST) está actualmente a analisar um total de 15 pedidos de licenciamento para hotéis de baixo custo, que irão providenciar cerca de mil quartos. “Até 30 de Junho de 2019 existem 15 pedidos de licenciamento em tramitação, os quais providenciarão uma oferta de 1.092 quartos. Dentro desses processos, dois fizeram vistoria, estando a aguardar o acompanhamento das correcções por parte dos requerentes, e um outro processo concluiu a apreciação do projecto, aguardando o requerimento de vistoria pelo requerente”, lê-se na resposta ao deputado Lam Lon Wai. Actualmente encontra-se na Assembleia Legislativa uma proposta de revisão intitulada lei das actividades dos estabelecimentos hoteleiros que visa a criação de uma nova categoria que é o alojamento de baixo custo, com a sigla ABC. Apesar da maior oferta deste tipo de alojamento no território ser um objectivo político, a DST lembra que uma maior abertura de espaços depende sempre da iniciativa privada. “Importa referir que Macau é uma sociedade livre de mercado, portanto a abertura de estabelecimentos hoteleiros é uma decisão do investidor”, aponta o director substituto da DST, Cheng Wai Tong. Na resposta ao deputado, a DST explica ainda como se processa o licenciamento deste tipo de estabelecimentos hoteleiros. “Tanto antes do inicio como no decorrer do procedimento de licenciamento, sempre que se considere necessário, realizar-se-á uma reunião técnica com o requerente, por forma a ajudá-lo a conhecer bem e a resolver as dificuldades a encarar no processo de licenciamento. Além disso, é emitido auto in loco na realização da vistoria para que o requerente possa proceder de imediato ao acompanhamento que se julgue necessário, o que favorece a conclusão célere do processo.”

CCPPC FREDERICO MA QUER “ERGUER BEM ALTO” A BANDEIRA DO PATRIOTISMO

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A passada quarta-feira, o Jornal Ou Mun, acolheu uma palestra para comemorar o 70º aniversário da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) e para fomentar a compreensão e aplicação do espírito da última reunião de trabalho do órgão consultivo.

Um dos oradores do evento foi Frederico Ma, presidente da Associação de Amizade de Membros da Conferência, que destacou três pontos essenciais do discurso de Xi Jinping e que entende devem ser estudados aprofundadamente. Assim sendo, o empresário referiu que os

membros de Macau no comité nacional devem aproveitar bem as vantagens da plataforma da CCPPC e apoiar a integração de Macau no desenvolvimento nacional. Outro ponto fulcral é erguer bem alto a bandeira do patriotismo, apoiar veemente o Governo e o Chefe do Executivo

e desenvolver as forças patrióticas e de amor a Macau e à pátria. Por último, Frederico Ma destacou a necessidade de os membros conhecerem profundamente as novas incumbências do CCPPC de forma a saberem aproveitar as novas valências do órgão em prol da prosperidade e

estabilidade permanentes de Macau. Importa referir que Xi Jinping instou a CCPPC a aprofundar a sua capacidade consultiva e de participação no poder decisório. Durante a palestra, outro membro da direcção da associação, Ng Si Fong, disse que os membros de Macau da

CCPPC têm de desempenhar activamente o seu papel, defendendo o princípio “Um País, Dois Sistemas” e a Lei Básica. Ng apelou ainda ao papel da escola para orientar os jovens na compreensão da história e cultura da Pátria. J.N.C


política 5

sexta-feira 27.9.2019

Metro Ligeiro Secretário anuncia circulação até Novembro O secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, afirmou ontem que o Metro Ligeiro vai entrar em funcionamento até Novembro. “Vamos por o metro a funcionar seguramente em Outubro ou Novembro, na Linha da Taipa”, afirmou Rosário, em declarações às Rádio Macau. Contudo, Rosário disse desconhe-

Praça Ferreira do Amaral DSAT sem calendário ou orçamento para obras Lam Hin San, responsável máximo da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) garantiu à deputada Ella Lei não ter um orçamento ou calendário para as obras de reordenamento da praça Ferreira do Amaral. “De momento o projecto de reordenamento da praça Ferreira do Amaral está em fase preliminar de concepção pelo que, após a

determinação de mais detalhes, esta direcção de serviços irá proceder à divulgação de novas informações ao público. Uma vez que é uma proposta preliminar, não é possível, para já, disponibilizar informações relevantes aos respectivos custos e ao prazo de execução da obra”, frisou o director da DSAT.

LAGO DE SAI VAN PROJECTO PARA CONSTRUÇÃO DE TRILHO DE MADEIRA FOI SUSPENSO

À espera de melhores dias RÓMULO SANTOS

Mok Ian Ian revelou numa resposta ao deputado Sulu Sou que o trilho está suspenso e que o corredor visual da Penha ao Lago Sai Vam vai ser alargado até à Ponte Governador Nobre de Carvalho

cer neste momento outros pormenores, como o preço dos bilhetes. Ainda ontem o Executivo anunciou que hoje vai ser assinado o contrato com a Sociedade do Metro Ligeiro de Macau para a concessão da operação, exploração e manutenção desta estrutura. O contrato tem um prazo de 10 anos.

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projecto para a construção de um trilho de madeira ao longo do Lago de Sai pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) foi suspenso, de acordo com a resposta do Instituto Cultural (IC) a uma interpelação do deputado Sulu Sou. Segundo a explicação da presidente do IC, Mok Ian Ian, esta foi uma medida tomada devido à falta de um consenso entre os diferentes sectores da sociedade. “Atendendo ao facto de que existem divergências de opiniões por parte da população quanto à construção de um caminho pedonal em madeira no aludido lago, este instituto [IAM] decidiu suspender a concepção em causa, a par de não descurar a atenção ao desenvolvimento social”, clarificou Mok Ian Ian. Segundo a responsável, a decisão do IAM foi tomada não só com base nas opiniões do IC, mas também do Conselho Consultivo para os Assuntos Municipais, Conselho Consultivo de Serviços Comunitário das três zonas, e após a realização de colóquios sobre os assuntos da comunidade. Mas, se por um lado, o trilho de madeira vai ficar de fora do projecto, para já, o mesmo não acontece com a

instalação de equipamentos sociais no Lago de Sai Van. Segundo a presidente do IC está a ser equacionada a possibilidade de instalar um parque infantil e equipamentos de manutenção física, assim como mais espaços verdes.

CORREDOR ALARGADO

Outra das novidades avançadas por Mok Ian Ian prende-se com o futuro Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau, cuja

consulta pública já terminou e se encontra em fase de elaboração. Porém, a presidente do IC revela que o corredor

visual entre a Capela da Nossa Senhora da Penha e o Lago de Sai Van vai ser alargado até à Ponte Governador Nobre

“Atendendo ao facto de que existem divergências de opiniões por parte da população quanto à construção de um caminho pedonal em madeira no aludido lago, este instituto [IAM] decidiu suspender a concepção em causa.” MOK IAN IAN PRESIDENTE DO INSTITUTO CULTURAL

de Carvalho. “Após a conclusão da consulta pública, o IC teve em conta e aceitou as opiniões dos vários sectores da sociedade sobre os corredores da Colina da Penha, como, por exemplo, ampliar a área envolvente do corredor em causa até à Ponte Governador Nobre de Carvalho, definir medidas para o controlo da altura das construções do âmbito do mesmo, entre outras”, escreveu a presidente do IC. Por outro lado, Mok compromete o organismo

a apressar os trabalhos: “O IC concluirá, quanto antes, a elaboração do Plano, no sentido de proteger a paisagem cultural da Colina da Penha de uma forma efectiva com medidas de gestão e controlo”, é explicado. Apesar do compromisso não foi avançada uma data para a conclusão do plano. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo


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27.9.2019 sexta-feira

AVISO COBRANÇA DO IMPOSTO COMPLEMENTAR DE RENDIMENTOS Avisa-se os Srs. contribuintes que o referido Imposto é pago em 2 prestações, se for superior a MOP$3.000,00, em Setembro e Novembro de cada ano. Se for não superior a MOP$3,000.00, é pago numa única prestação, em Setembro de cada ano. O não pagamento da 1.ª prestação no mês de vencimento (Setembro) importa para além da cobrança de juros de mora e 3% de dívidas, o imediato vencimento da prestação vincenda. No mês de pagamento, se os Srs. contribuintes não tiverem recebido o conhecimento de cobrança, agradece-se que se dirijam ao NÚCLEO DE INFORMAÇÕES FISCAIS, situado no r/c do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM ou ao Centro de Serviços da RAEM das Ilhas – Atendimento Fiscal, trazendo consigo o conhecimento de cobrança ou fotocópia do ano anterior, para efeitos de emissão de 2.ª via do mesmo. Por outro lado, os contribuintes, que sejam titulares do Bilhete de Identidade de Residente da RAEM, podem recorrer aos quiosques desta Direcção de Serviços para efectuarem a impressão de 2.ª via do conhecimento de cobrança pessoal. 4. O pagamento da 1.ª ou única prestação pode ser efectuado, até ao último dia do mês de Setembro, nos seguintes locais: - Nas Recebedorias do Edifício “Finanças”, do Edifício Long Cheng, do Centro de Serviços da RAEM, ou do Centro de Serviços da RAEM das Ilhas; - Os impostos/contribuições podem ser pagos por intermédio de cartão de crédito ou de débito emitidos pelo Banco da China ou pelo Banco Nacional Ultramarino (incluindo “Maestro” e “UnionPay”). O valor total de pagamento não pode ser superior a MOP$100.000,00, sendo apenas permitido utilizar na operação um único cartão. Pode-se também optar pelo pagamento através dos cartões “Quick Pass” e “MACAUpass”, sendo que o valor total de pagamento não pode ser superior a MOP$1.000,00. - Nos balcões dos Bancos a seguir discriminados: Banco da China Banco Comercial de Macau Banco Delta Ásia Banco de Guangfa da China Banco Industrial e Comercial da China Banco Luso Internacional Banco Nacional Ultramarino Banco Tai Fung Banco OCBC Weng Hang Banco Well Link - Nas máquimas ATM da rede Jetco de Macau, assinaladas com a indicação <<Jet payment>>; - Nos seguintes bancos através de transacção electrónica: Banco da China Banco Comercial de Macau Banco de Guangfa da China Banco Industrial e Comercial da China Banco Luso Internacional Banco Nacional Ultramarino Banco Tai Fung Banco OCBC Weng Hang - Por pagamento telefónico “banca por telefone”: Banco da China Banco Tai Fung 5. Se o pagamento for efetuado por meio de cheque, a data de emissão não pode ser anterior, em mais de três dias, à da sua entrega nas Recebedorias da DSF, e deve ser emitido a favor da <<Direcção dos Serviços de Finanças>>, nos termos das alíneas 2) e 3) do n.º 1 do Artigo 4.º do Regulamento Administrativo n.º 22/2008. Se o valor do cheque for igual ou superior a MOP$ 50.000,00, deverá o mesmo ser visado, nos termos da alínea 4) do Artigo 5.º do Regulamento Administrativo acima mencionado. 6. Os contribuintes podem também efectuar o pagamento através do envio de ordem de caixa, cheque bancário ou cheque por correio registado para a Caixa Postal 3030. Não é possível enviar dinheiro, mas apenas ordem de caixa, cheque bancário ou cheque, devendo incluir-se um envelope devidamente selado e endereçado ao próprio contribuinte, a fim de se enviar posteriormente o respectivo conhecimento, comprovativo do pagamento. Note-se que devem ser respeitadas as regras descritas no ponto 5, relativamente aos cheques: - O envio para a caixa postal deve ser feito 5 dias úteis antes do termo do prazo de pagamento indicado no conhecimento de cobrança. 7. Nenhum dos métodos acima mencionados acarreta quaisquer encargos adicionais aos contribuintes pela prestação do serviço de cobrança. 8. Para a sua comodidade, evite pagar os impostos nos últimos dias do prazo. 1. 2. 3.

Aos 29 de Agosto de 2019.

ANÚNCIO 【N.º 73/2019】 Para os devidos efeitos, vimos por este meio notificar o adquirente seleccionado da lista com a ordenação dos candidatos abaixa mencionada: Nome N.º do Boletim de candidatura LAM HOI WA 82201337318 Tendo em conta que, após a apreciação substancial, preenche os requisitos de candidatura à compra da fracção, nos termos do artigo 27.º da Lei n.º 10/2011 (Lei da habitação económica), alterada pela Lei n.º 11/2015, o adquirente seleccionado acima mencionado deve dirigir pessoalmente à recepção no lado curto do Instituto de Habitação (IH), sito no Rua do Laboratório nº. 39, Edifício Cheng Chong, D R/C, Macau, no dia 16 de Outubro de 2019, às 10 H 00, para escolher uma fracção, de entre as fracções disponíveis, devendo apresentar os originais dos documentos de identificação da Região Administrativa Especial de Macau de todos os elementos do agregado familiar indicado no boletim de candidatura. Deverá comparecer 30 minutos antes da hora da escolha da fracção acima indicada para tomar conhecimento sobre a situação das fracções disponíveis e tratamento das formalidades. O procedimento para a conclusão da escolha da fracção tem uma duração de 30 minutos, a contar da hora da escolha da fracção acima indicada [IH continua o trabalho de escolha das fracções pelos candidatos do período seguinte (caso existam) 15 minutos a contar da hora da escolha da fracção acima indicada]. Caso não consiga proceder à escolha da fracção e concluir o procedimento em 30 minutos, IH irá suspender o procedimento de escolha da fracção. Caso aconteça a suspensão do procedimento de escolha da fracção acima referida, a adquirente seleccionada acima mencionado deverá, no mesmo dia durante a hora de expediente, escolher a fracção e concluir todo o procedimento de escolha da fracção. De acordo com os termos do n.º 1 do artigo 27.º e da alínea 4) do n.º 1 do artigo 28.º da lei acima mencionada, caso o adquirente seleccionado não compareça na escolha das fracções, na data e horas fixadas, sem motivo justificado, ou, comparecendo, não escolha qualquer fracção disponível, a adquirente seleccionado será excluído do concurso. No momento da escolha da fracção, IH deve verificar, de novo, os dados do agregado familiar e, caso os respectivos dados se tenham alterado e tal afecte os requisitos para a aquisição de fracções ou a ordem nos grupos prioritários, IH irá suspender, de imediato, o procedimento de escolha da fracção. (Para mais informações, por favor, consulte a《Escolha de fracção de habitação económica – Observações para compradores》). De modo a permitir um melhor conhecimento das informações sobre as fracções de habitação económica em venda, o adquirente seleccionado pode dirigir-se à delegação do IH, sito no Rua do Laboratório nº. 39, Edifício Cheng Chong, D R/C, Macau, durante as horas de expediente, para obter o anúncio de abertura do concurso geral para aquisição de habitação económica, o catálogo com a descrição das fracções para venda, a tabela de preços das fracções disponíveis e informação relativa à《Escolha de fracções de habitação económica – Observações para compradores》. Em caso de dúvidas, pode dirigir-se ao IH, durante as horas de expediente, ou ligar para o telefone n.º 2859 4875. Para mais informações sobre as situações das fracções disponíveis e sobre as informações do IH, pode consultar a página electrónica do IH (http://www.ihm.gov.mo). Instituto de Habitação, aos 23 de Setembro de 2019. A presidente, substª. KUOC VAI HAN

O Director dos Serviços Iong Kong Leong

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sociedade 7

sexta-feira 27.9.2019

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S Serviços de Alfândega (SA) apreenderam 15 milhões de patacas em ninhos de andorinha e materiais electrónicos, na passada segunda-feira. Os resultados da operação foram apresentados ontem e levaram à detenção de dois homens, que pretendiam fazer entrar o material no Interior da China, onde seria depois contrabandeado. De acordo com Cheang Kok Hong, subinspector alfandegário, na base da operação esteve uma denúncia de um cidadão a informar as autoridades sobre uma embarcação que iria transportar material contrabandeado para o Continente

CRIME APREENSÃO DE 15 MILHÕES EM NINHOS DE ANDORINHA E MATERIAL ELECTRÓNICO

Mas que rica pescaria

a RAEM, que pode depois optar por vendê-las em hasta pública ou destrui-las.

FOTOS SERVIÇOS DE ALFÂNDEGA

Os Serviços de Alfândega interceptaram uma embarcação com 102 quilos de ninhos de andorinha, que seriam depois vendidos no Interior da China. O condutor do barco foi interceptado em actividades relacionadas com contrabando pela quarta vez

DETIDO FEZ “PÓQUER”

O material apreendido totaliza 7.193 discos rígidos, 2.402 pen drives, 1.450 unidades de memória RAM, 4.000 cartões de memória, 544.00 peças de relógios, 681.500 pilhas, 67 peças electrónicos e 102 quilos de ninho de andorinha

na madrugada de dia 23. O percurso envolvia a travessia da zona do Porto Interior. “Quando os dois indivíduos foram interceptados não conseguiram avançar uma explicação razoável para o transporte do material. Por isso procedemos à detenção dos dois, assim como do material e da embarcação, devido à existência de fortes indícios

da actividade de contrabando”, afirmou Cheang. Além da embarcação, o material apreendido totaliza 7.193 discos rígidos, 2.402 pen drives, 1.450 unidades de memória RAM, 4.000 cartões de memória, 544.00 peças de relógios, 681.500 pilhas, 67 peças electrónicos e 102 quilos de ninho de andorinha. O material para confeccionar está avaliado em 150 mil patacas.

Apesar dos dois indivíduos não terem colaborado com as autoridades, este serviço teria um pagamento a dividir pelos infractores de 4 mil yuan. Com a prática desta alegada ilegalidade os detidos arriscam-se a ser castigados com uma pena de multa que vai das mil às 50 mil patacas. Além disso, as mercadorias e a embarcação são perdidas para

Segundo os SA, o condutor e dono da embarcação tem 43 anos, é natural do Interior, e é suspeito de violar a Lei do Comércio Externo pela quarta vez desde 2005. A primeira vez em que foi apanhado numa infracção deste género aconteceu no início de 2005, quando foi interceptado a transportar sucata para o Interior. Também nesse ano, em Maio, foi novamente interceptado, desta vez a contrabandear lubrificantes pare veículos. Os anos passaram e o homem que agora tem 43 anos foi novamente interceptado, já em Maio de 2013. Nessa altura tentava contrabandear carne de vaca e ninho de andorinha. O outro indivíduo tem 39 anos, alegadamente é cunhado do condutor, e não tinha qualquer documento de identificação quando foi interceptado. Por este motivo foi reencaminhado para o Corpo de Polícia de Segurança Pública. Os dois também não conseguiram mostrar documentos que provassem a entrada legal em Macau. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

RESTAURAÇÃO NOVO SERVIÇO DE RENOVAÇÃO DE LICENÇAS ONLINE EM OUTUBRO

TSI GOVERNO CONDENADO A PAGAR 400 MIL PATACAS A EX-FUNCIONÁRIO DO AEROPORTO

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O

S proprietários de estabelecimentos de restauração e bebidas podem renovar as licenças de forma mais célere e cómoda através da internet, sem necessidade de deslocação a um serviço público. Este método permite também outras operações, como fazer a alteração do proprietário por via electrónica. A partir do próximo mês, o processo pode ser feito totalmente através de uma plataforma online, de acordo com a informação revelada ontem pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). O processo vai dividir-se em três fases.

Formulação do pedido, com o preenchimento de um formulário online, que após o envio carece de autorização do IAM. Depois de autorizado, o proprietário recebe uma mensagem de texto dos serviços. Em seguida é feito o pagamento online, através de cartão de crédito, ficando a licença acessível para download. O documento

terá um formato ligeiramente diferente, com um código QR no canto superior direito que prova a autenticidade da licença. Aliás, a leitura do código dá acesso a todos os pormenores do estabelecimento. O IAM revelou ainda que entre 2017 e 2019 foram apresentados 288 pedidos online, enquanto que mais de 3500 pessoas optaram por fazer a renovação da licença presencialmente num balcão de serviços do IAM. O organismo dirigido por José Tavares pretende promover a via electrónica através de acções de sensibilização. J.L.

Tribunal de Segunda Instância (TSI) condenou o Governo a pagar 400 mil patacas a um ex-funcionário da empresa de serviços aeroportuários Menzies Macau Airport Services, ligada ao Aeroporto Internacional de Macau, relativo a um caso de indemnização por danos não patrimoniais. Quando levou o caso a tribunal, o ex-funcionário pedia à RAEM uma indemnização global de cerca de 11 milhões de patacas a título de danos patrimoniais e não patrimoniais, mas o Tribunal Administrativo apenas condenou o Executivo a pagar cerca de 23 mil patacas de indemnização por danos patrimoniais, e cerca de 150 mil patacas por danos não patrimoniais.

De acordo com o acórdão ontem divulgado, o caso começou em 2013, quando o ex-funcionário, que começou a trabalhar para a empresa em 1996, pediu a renovação do seu cartão de acesso às áreas restritas e reservadas do aeroporto. A empresa pediu um parecer ao Grupo de Trabalho para a Verificação de Antecedentes Criminais (GTVA) da Polícia Judiciária (PJ), que emitiu um parecer desfavorável ao pedido do funcionário, que foi despedido após esse processo. O TSI considerou que o referido parecer foi fundamentado “no facto de A (ex-funcionário) ter sido investigado em dois processos de inquérito criminal, de 2001 e 2002, por suspeita de posse de droga e de consumo de

droga”. No entanto, considera o tribunal, “os eventuais factos ilícitos aconteceram há muito tempo”, pois “volvidos onze ou doze anos, nada mais se registou contra A, em termos de ilicitude ou de comportamento anómalo, anti-ético ou anti-social, e nunca foi posta em causa, pelo mesmo, a segurança do aeroporto”. Por essa razão, “seria manifestamente injusto que aquela factualidade, alegadamente ilícita, pudesse ser valorada em 2013”. Neste sentido, a PJ, ao emitir o parecer, “agiu em desconsideração dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade e da boa-fé, a que se pode adicionar a violação do princípio da presunção de inocência”, aponta o TSI. A.S.S.


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ENSINO ESTUDO ALERTA PARA APERTO À LIBERDADE ACADÉMICA EM MACAU

Em estado de erosão

GDI Aceites 13 propostas de terraplanagem para habitação

O Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas aceitou 13 propostas para a terraplanagem do terreno onde vai ser construída habitação pública, na Avenida de Wai Long. No total foram recebidas 15 propostas, mas apenas 13 foram aceites. A proposta mais baixa é de 3,83 milhões de patacas e foi apresentada pelo Consórcio formado pelas empresas Sociedade de Construção e Engenharia Jing Jian Gong Group e Companhia de Construção Eternity. O preço mais elevado foi de 7,93 milhões de patacas, da Companhia de Construção e Engenharia Kin Sun. Esta última proposta apresentou igualmente o maior prazo para a realização dos trabalhos, nomeadamente 170 dias. Já a empresa de Construção Guangdong Nam Yue, com um valor de 6,08 milhões de patacas, apresentou o prazo mais curto, com 139 dias.

O espaço para as ideias está a encolher no meio académico de Macau e Hong Kong, de acordo com um estudo de uma rede internacional de instituições de ensino superior. Os resultados foram apurados a partir de uma série de entrevistas a professores e alunos, apesar das recusas de participação de algumas fontes devido a receios de represálias

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BSTÁCULOS à excelência” é o título do estudo que analisou a liberdade académica na China e nas regiões administrativas especiais. Elaborado por uma rede internacional de instituições de ensino superior, “Scholars at risk” (SAR), o estudo aponta para erosão da liberdade académica e em Macau e Hong Kong, devido à influência do Governo Central, e fala, inclusive “do aperto ao espaço para ideias”. O estudo foi conduzido através de uma série de entrevistas a alunos e docentes. Mais de uma dezena de fontes recusaram participar por recearem represálias. São realçadas as diferenças em termos de autonomia e liberdade nas regiões administrativas especiais, em comparação com o Continente, ainda assim é referido que, tanto em Macau como Hong Kong, se verificaram pressões nas comunidades académicas. O estudo aponta para crescentes preocupações de

académicos quanto à autonomia que dizem ameaçada através de interferências de pessoas ou instituições pró-Pequim. Estas acções colocam em perigo “a liberdade de expressão e liberdade de investigação”. Um dos exemplos dados pelo estudo foi o, muito falado, afastamento do académico Eric Sautedé da Universidade de São José em Junho de 2014. O relatório refere que os comentários políticos do académico, em especial em relação ao Chefe do Executivo, Chui Sai On, levaram ao seu afastamento, num crescendo de tensão que culminou no convite a Frank Dikötter, historiador holandês que se foca na China moderna.

PRONÚNCIA DO NORTE

O caso de Bill Chou Kwok-ping também foi destacado pelo estudo. O académico que sempre foi uma voz activa a favor de reformas democráticas na região e um crítico em relação à forma como o Governo da RAEM encarava os meios

Ensino Superior China e Macau reconhecem habilitações

de comunicação social. Em Agosto de 2014 seria informado de que o seu contrato com a Universidade de Macau (UM) não seria renovado. Entrevistado para o estudo, Chou salientou não estar a par de qualquer regulação que o proibisse de activismo político. A razão oficial da UM foi vaga, cingindo-se a assegurar que o afastamento do académico foi uma acção “consistente com os procedimentos e regulamentos relevantes”.

O relatório elenca ainda a proibição de entrada em Macau de jornalistas, académicos e activistas de Hong Kong, a sugestão para que os jornais locais produzissem artigos “positivos” e o caso Rota das Letras de 2018. O estudo destaca também a aparente inversão do investimento chinês no ensino superior. “Ao longo de décadas, o Governo chinês investiu imenso em instituições académicas e programas de forma a poder competir com as melhores

O estudo foi conduzido através de uma série de entrevistas a alunos e docentes. Mais de uma dezena de fontes recusaram participar por recearem represálias

do mundo”, refere director do SAR, Robert Quinn, também citado pelo Macau Daily Times. A ambição positiva de aposta na educação foi, contudo, posta em causa por políticas que restringem a liberdade académica. Esta situação, para Robert Quinn, representa enormes riscos pessoais e profissionais para os académicos e estudantes chineses, além de manchar a reputação, assim como a capacidade de financiamento, de instituições chinesas em parceiras com entidades estrangeiras. João Luz

info@hojemacau.com.mo

O secretário para os Assustos Sociais e Cultura, Alexis Tam, e o vice-ministro da Educação da China, Tian Xuejun, assinaram ontem um memorando de reconhecimento mútuo de habilitações académicas do ensino superior. As habilitações reconhecidas no interior da China incluem “qualificações de nível profissional superior (especialização), habilitações obtidas nos cursos de licenciatura, nos cursos de mestrado (pós-graduação) e no doutoramento (pós-graduação), bem como os graus de licenciatura, mestrado e doutoramento”. Em sentido inverso e em Macau, serão reconhecidos “o diploma de associado e os graus de licenciatura, mestrado e doutoramento”. Além disso, é referido que a cooperação entre Macau o Interior da China tem também como “intenção incentivar e apoiar a cooperação entre instituições do ensino superior das duas partes, no reconhecimento dos créditos dos cursos, esperando que possa promover o intercâmbio de estudantes”.


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27.9.2019 sexta-feira

Uma língua para o UNIVERSIDADE DE MACAU LÍNGUA PORTUGUESA DEVE APROVEITAR FENÓMENO DO MULTILINGUISMO PARA CRESCER

Gilvan Müller de Oliveira esteve na Universidade de Macau, para participar no II Seminário da Cátedra UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo. O linguista defende que a língua portuguesa deve aproveitar a oportunidade do multilinguismo do século XXI para se expandir e afirmar-se definitivamente como uma língua internacional

O

linguista brasileiro Gilvan Müller de Oliveira defendeu esta quarta-feira que a língua portuguesa deve saber aproveitar as oportunidades decorrentes do multilinguismo, um forte instrumento económico, histórico e de humanização, e que é “a verdadeira língua do século XXI”. Fenómeno atribuído à globalização e um elemento no radar da UNESCO, o multilinguismo é “uma oportunidade para o português”, mas também “para todas as línguas”, destacou o antigo director executivo do Insti-

tuto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), instituição da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) com sede em Cabo Verde, em entrevista à Lusa em Macau. “O que nós temos hoje é um contexto em que não só uma língua cresce em detrimento de outras, mas todo um conjunto de línguas cresce”, afirmou o académico, à margem do arranque do II Seminário da Cátedra UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo, que decorre até quinta-feira na Universidade de Macau. Gilvan Oliveira coordena esta Cátedra a partir de Florianópolis, no estado brasileiro

“Não há dois países de língua portuguesa que fazem fronteira, cada país é uma ‘ilha’, cercada por vizinhos que falam outras línguas, e isso é extremamente positivo para a expansão da língua.” GILVAN MÜLLER DE OLIVEIRA LINGUISTA

de Santa Catarina. O “projecto jovem”, mas “em fase de expansão” envolve 22 universidades em 13 países, dando destaque aos blocos lusófono e dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), estes últimos “países altamente multilingues, com modelos de gestão civilizacional e linguística muito diferentes entre si”.

SUCESSO AFRICANO

Sobre o uso do português nos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP), o linguista considerou estar “a avançar rapidamente”, dando como exemplo de sucesso o caso de Moçambique, onde

existe hoje um sistema de escolas bilingues “que fazem com que o aluno compartilhe o português e uma outra língua moçambicana”. “O caso de Moçambique é um caso notório. Havia em Moçambique pouco mais de 11 por cento de falantes de português no momento da independência, e agora já são

mais de 55% por cento de falantes, quer dizer que o Estado nacional moçambicano, tomando para si a tarefa de ensinar português e de criar um sistema educacional e um sistema de transmissão radiofónica e televisiva, contribuiu para uma rápida expansão da língua”, referiu. Neste sentido, frisou, “a responsabilidade do Estado no ensino do português e da organização dos espaços e da circulação da língua é uma

peça fundamental para o crescimento da língua”. Além disso, a língua portuguesa beneficia de uma característica especial: “Não há dois países de língua portuguesa que fazem fronteira, cada país é uma ‘ilha’, cercada por vizinhos que falam outras línguas, e isso é extremamente positivo para a expansão da língua”, salientou.

OLHAR PARA A FRENTE

Na África do Sul, por exemplo, o português é hoje uma

“O que nós temos hoje é um contexto em que não só uma língua cresce em detrimento de outras, mas todo um conjunto de línguas cresce.”


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o mundo

das línguas opcionais para os exames secundários e “onde se tem expandido de forma muito firme, graças e sobretudo ao papel que Moçambique desempenha na vizinhança, e crescentemente Angola desempenha na vizinhança da Namíbia, como o Brasil desempenha nos seus vizinhos falantes de espanhol, e mesmo Portugal, com todos os projectos do português na Extremadura [espanhola]”, disse. “Esses países provocam o crescimento do uso da língua internamente, mas também para fora, crescentemente expandido as fronteiras de circulação, para fora e para dentro, na recepção à migração”, apontou. O académico considera que a língua de Camões tem aproveitado oportunidades decorrentes do contexto

global do multilinguismo, expandindo-se “em vários contextos”, mas que é preciso abandonar a “mentalidade de uma época passada” e pensar no português como uma língua internacional. “Ainda pensamos muito no português como uma língua nacional, há dificuldades de ver o português como uma língua internacional. Há dificuldades de considerar, por exemplo, uma responsabilidade crescente para o IILP [Instituto Internacional da Língua Portuguesa] na construção desta comunidade internacional que compartilha uma língua, que ao mesmo tempo é compartilhada com outras línguas”, apontou. Assim, e sublinhando que o multilinguismo é, a par da tradução electrónica, “a verdadeira língua do século XXI”, o professor defende que

a língua portuguesa tem muito a ganhar com a participação neste fenómeno. “Quanto mais o português puder participar neste multilinguismo, e puder ser uma opção para falantes de vários países, e ao mesmo tempo se nós pudermos também falar outras línguas, só temos a ganhar economicamente”, considerou. “Evidentemente, cresce o valor económico do português à medida que a língua está conectada com outas línguas e quando o número de bilingues e trilingues cresce, porque é isso que faz a incorporação de ideias, projectos, narrativas históricas e literárias, ou a tradução”, acrescentou. No entanto, não é só o valor económico que cresce, vincou, como também o valor humano e histórico. Partindo do exemplo de um instrumento desenvolvido pelas universidades que integram a Cátedra, e a partir do qual uma tese de doutoramento em indonésio foi sumarizada e traduzida para português, Oliveira sublinhou a vantagem das produções intelectuais não passarem por uma só língua. “À medida que podemos usar as ideias deles e eles as nossas, aumenta o valor económico, o valor humano, o valor histórico, como ponte entre línguas, e nesse sentido a Cátedra tem sido uma oportunidade para a recuperação dessas memórias”, disse. As Cátedras UNESCO são projectos de quatro anos sujeitos a avaliação, que podem ser renovadas indefinidamente “se produzirem informação relevante para que os estados membros atuem”, explicou. A Cátedra UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo (2018-2022) foi estabelecida em Fevereiro do ano passado e tem como instituição responsável a Universidade Federal de Santa Catarina, no Brasil.

HOJE NO PRATO Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

Chuchu Nome botânico: Sechium edule (Jacq.) Sw. Família: Cucurbitaceae. Nomes populares: CAIOTA (Açores); CHAYOTE (Ing.); MACHUCHO (Açores); PIMPINELA (Madeira). Nativo da América Central, o Chuchu é o fruto da planta com o mesmo nome. Conhecido desde tempos ancestrais, foi inicialmente domesticado pelos Astecas e Maias, sendo actualmente cultivado nas regiões tropicais e subtropicais do mundo. Apesar da sua origem, foram encontradas sementes de Chuchu em túmulos egípcios, sugerindo que a planta teria uma distribuição mais vasta ou, pelo menos, também existiria na bacia do Mar Mediterrânico. Trata-se de uma herbácea trepadeira, perene, cujos caules podem alcançar mais de 10 metros de comprimento; possui folhas grandes, cordiformes, e pequenas flores esbranquiçadas, masculinas e femininas no mesmo indivíduo; os frutos, consoante as variedades, são arredondados ou em forma de pêra, de casca lisa ou rugosa, com ou sem espinhos, e de cor verde-escura, verde-clara ou amarelada. Ao contrário de outras plantas da mesma família, como aAbóbora, o Pepino, o Melão ou a Melancia, o fruto só contém uma semente, clara e achatada. Nos países de origem é designado popularmente por chayote, o que, em língua indígena, significa cabaça espinhosa. Embora pouco investigado, o Chuchu é um legume versátil e interessante quando introduzido num padrão alimentar saudável. Composição Rico em fibras, aminoácidos, vitaminas (pró-vitamina A, B5, B6, folatos, C, K) e minerais (cálcio, cobre, ferro, fósforo, magnésio, manganês, potássio, zinco), o Chuchu é praticamente desprovido de gordura. Acção terapêutica Com um elevado conteúdo em água e fibras, o Chuchu é facilmente digerível, estimula o apetite, melhora o peristaltismo e promove o equilíbrio saudável da microbiota intestinal, combatendo a obstipação e auxiliando a eliminação de toxinas.Aumenta a produção de glóbulos vermelhos no sangue, sendo recomendado na prevenção e tratamento da anemia. Contribui para a manutenção da densidade óssea prevenindo a osteoporose. Nas mulheres grávidas, reduz o risco de defeitos do tubo neural no feto. Beneficia a memória, sendo útil para os estudantes e trabalhadores intelectuais. Aumenta a performance nos desportistas, melhorando a contracção muscular, evitando as cãibras e reduzindo o cansaço e a fadiga. É igualmente indicado nos regimes de

emagrecimento, por proporcionar sensação de saciedade e apresentar um baixo valor calórico, e, para os diabéticos, por ajudar a controlar os níveis de açúcar no sangue. Diurético e hidratante, o Chuchu estimula a produção de urina e simultaneamente impede a desidratação, mantendo o equilíbrio dos líquidos no organismo; pode ser usado tanto em caso de retenção de líquidos como na hidratação de pessoas com dificuldades na deglutição de líquidos. Com efeitos cardiovasculares, este legume reduz o colesterol, contribui para a regulação da pressão arterial e previne a acumulação de homocisteína no sangue, reduzindo o risco de enfarte do miocárdio e AVC. Outras propriedades O Chuchu aumenta as defesas auxiliando a debelar as constipações, é antioxidante e anti-inflamatório, e pode contribuir para a prevenção do cancro. Combate as manchas, o excesso de oleosidade da pele e hidrata-a, tem propriedades anti-envelhecimento e cicatrizantes. Em fitoterapia, são usados os frutos em cataplasmas para limpar e suavizar a pele e o couro cabeludo. As folhas são usadas em tisana, em caso de arteriosclerose, hipertensão e cálculos renais. Como consumir Devido à sua textura suave e sabor neutro combina bem com muitos alimentos. Sugestões: • Cozido pode substituir a batata, o nabo e a curgete. Também pode ser assado ou gratinado. • Em sopas e cremes de legumes, aos quais confere uma consistência cremosa. • Em estufados, para espessar o molho. • Em refogados e salteados. • Adicionado ao puré de batata. • Picado numa omelete, em souflés ou no arroz integral. • Cozido com ervas e adicionado a uma salada fria. • Cru, em saladas, tornando-as crocantes. • Em sobremesas, como bolos e tartes. • Em compotas com frutos secos. No Brasil, onde é muito consumido, é usado em calda como um substituto económico da cereja (cereja de Chuchu). Além dos frutos, as folhas tenras, os rebentos jovens e os tubérculos também são comestíveis. Precauções O seu consumo pode estar contra-indicado em caso de insuficiência renal. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.massa dos glóbulos vermelhos). Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.


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27.9.2019 sexta-feira

A tecnologia 5G esteve em debate em Bruxelas. O responsável da gigante tecnológica chinesa, Hui Cao, apelou aos países europeus para que se guiem pelas regras e não pela discriminação

HUAWEI RESPONSÁVEIS ACREDITAM QUE DESCONFIANÇA DA UE “PODE SER ULTRAPASSADA”

Na luta pelo mercado

dores e respeitamos na totalidade as leis locais. A regulação é o mais importante”, insistiu o responsável nas declarações prestadas à Lusa, notando que são estes “fundamentos que fazem com que a Huawei sobreviva no mercado”.

A

tecnológica chinesa Huawei disse ontem acreditar que a desconfiança da União Europeia (UE) relativa aos seus equipamentos móveis de quinta geração (5G) “pode ser ultrapassada” sem que os Estados-membros tenham de a excluir dos seus mercados. “Até agora, tivemos anúncios de que a maioria dos Estados-membros irá tratar a Huawei com base em factos e, por isso, terão em conta que somos uma empresa internacional que quer desenvolver o seu negócio na Europa. No que toca às avaliações de riscos relativas ao 5G, nós acreditamos, veementemente, que a Europa irá tomar uma decisão final baseada na não discriminação e no respeito pelas regras”, afirmou à agência Lusa o responsável pelo departamento estratégico e de políticas da Huawei Europa, Hui Cao. Em declarações prestadas no final de um almoço-debate sobre o 5G, no centro de PUB

ANÚNCIO [N.º 72/2019] Para os devidos efeitos vimos por este meio notificar os candidatos de habitação económica abaixo indicados, nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro: Nome

N.º do Boletim de candidatura

MONTEIRO DA COSTA JOCELINO ALBERTO

82201328807

LEI CHI KEONG

82201300966

Dado que os candidatos acima indicados foram seleccionados na lista com a ordenação, nos termos do artigo 26.º da Lei n.º 10/2011 (Lei da habitação económica), alterada pela Lei n.º 11/2015, é necessário realizar-se a apreciação substancial, pelo que este Instituto informou os candidatos acima indicados, através de ofícios, para se dirigirem pessoalmente ao Instituto de Habitação (IH) às horas fixadas nos respectivos ofícios, para apresentarem os originais dos documentos comprovativos, no sentido de efectuar a verificação das informações declaradas nos boletins de candidatura, porém, os ofícios não foram recebidos e foram devolvidos. Assim, os candidatos acima indicados devem dirigir-se pessoalmente ao IH Rua do Laboratório nº. 39, Edifício Cheng Chong, D R/C, Macau, antes do dia 16 de Outubro de 2019, para apresentarem os originais dos documentos comprovativos, no sentido de efectuar a verificação das informações declaradas nos boletins de candidatura. Nos termos da alínea 2) do n.º 1 do artigo 28.º da lei acima indicada, caso verifique que os candidatos não apresentem os documentos indicados, dentro do prazo fixado, os adquirentes seleccionados serão excluídos do concurso. Para mais informações poderão dirigir-se pessoalmente ao IH, nas horas de expediente ou consultar através do telefone n.o 2859 4875. Instituto de Habitação, aos 23 de Setembro de 2019

A presidente, substª. KUOC VAI HAN

NOVOS DESAFIOS

Hui Cao, Huawei Europa “Na Huawei estamos a fazer negócios, somos uma empresa com centenas de operadores e respeitamos na totalidade as leis locais. A regulação é o mais importante.”

cibersegurança da empresa, em Bruxelas, o responsável notou que “qualquer acusação feita à Huawei requer provas”. “Devemo-nos manter fiéis aos factos e ao respeito pelas regras” e “acreditamos que tudo pode ser ultrapassado”, reforçou Hui Cao. Assumida como uma prioridade desde 2016, a aposta no 5G já motivou também preocupações com a cibersegurança, tendo levado a Comissão Europeia, em Março deste ano, a fazer recomendações de actuação aos Estados-membros, permitindo-lhes desde logo excluir empresas ‘arriscadas’ dos seus mercados. Bruxelas pediu, ainda, que cada

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Governo chinês voltou a pôr no mercado carne de porco que mantém em reserva, visando travar a inflação causada por surtos de peste suína, em vésperas do 70.º aniversário da fundação do regime comunista. As autoridades confirmaram ontem que vão leiloar 10.000 toneladas de carne de porco, parte essencial da cozinha chinesa. A República Popular da China celebra, no dia 1 de Outubro, 70 anos desde a sua fundação, com uma parada militar em Pequim e várias actividades por todo o país. O preço da carne de porco subiu quase 50 por cento em Agosto passado, em termos homólogos, devido a um surto devastador da peste suína africana, que resultou no abate de mais de um milhão de porcos, segundo dados oficiais. O aumento dos preços tem um significado político amargo para o Partido Comunista, que aponta a melhoria dos padrões de vida nas últimas décadas como fonte de legitimidade do seu poder indisputado. A China

país analisasse os riscos nacionais com o 5G, o que aconteceu até Junho passado, seguindo-se uma avaliação geral em toda a UE para, até final do ano, se encontrarem medidas comuns de mitigação das ameaças. A Comissão Europeia está agora a ultimar a análise colectiva dos riscos encontrados pelos Estados-membros, devendo publicar esta informação num relatório que será divulgado nas próximas semanas. Hui Cao garantiu, assim, que a Huawei não está preocupada com estas medidas europeias. “Na Huawei estamos a fazer negócios, somos uma empresa com centenas de opera-

Já falando sobre o novo executivo comunitário – que entra em funções no início de novembro e que terá como uma das vice-presidentes a dinamarquesa Margrethe Vestager, responsável por coordenar a área digital – Hui Cao disse “admirar a visão visionária” da nova Comissão. Porém, antecipou “enormes desafios”, nos quais a Huawei também está envolvida, em áreas como “a pressão geopolítica, as questões comerciais e também os desafios a nível digital e ambiental”. Os Estados Unidos e a Huawei estão envolvidos numa guerra global por causa da cibersegurança e das infraestruturas a nível mundial, que já levou à criação de limites (ainda não em vigor), por parte da administração norte-americana, nas compras feitas à companhia chinesa. Washington tem tentado também exercer a sua influência junto dos aliados, nomeadamente europeus, para que excluam a Huawei dos seus mercados, alegando estar em causa espionagem chinesa nos equipamentos 5G, acusações que a empresa tem vindo a rejeitar. A Europa é o maior mercado da Huawei fora da China. De um total de 50 licenças que a empresa detém para o 5G, 28 são para operadoras europeias.

Venha de lá o porco Mais carne suína libertada para travar inflação

produz e consome dois terços da carne de porco no mundo. O Governo mantém reservas de porcos vivos e congelados para garantir o fornecimento, mas os detalhes sobre esta reserva são segredo de Estado. Analistas consideram, no entanto, que a reserva é provavelmente muito pequena para compensar os efeitos da

peste suína. Em Janeiro passado, o Governo libertou 9.600 toneladas para o mercado. Especialistas prevêem que a China importará mais de dois milhões de toneladas de carne de porco este ano.

SORTE LUSITANA

A peste suína africana não é transmissível aos seres huma-

nos, mas é fatal para porcos e javalis. A actual onda de surtos começou na Geórgia, em 2007, e espalhou-se pela Europa do leste e Rússia, antes de chegar à China, em Agosto passado. Inicialmente, Pequim insistiu que estava tudo sob controlo, mas os surtos acabaram por se alastrar a todas as províncias do país. As autoridades chinesas autorizaram, desde o final do ano passado, os matadouros portugueses Maporal, ICM Pork e Montalva a exportar para o país. As estimativas iniciais apontavam que as exportações portuguesas para China se fixassem em 15.000 porcos por semana, movimentando, no total, 100 milhões de euros. Os responsáveis do sector estimam que o valor das vendas duplique, para 200 milhões de euros, no próximo ano. O acontecimento, visto pelos produtores portugueses como o "mais importante" acontecimento para a suinicultura nacional "nos últimos 40 anos", irá, no entanto, ter efeitos inflaccionários também em Portugal.


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sexta-feira 27.9.2019

Hong Kong Diálogo sob fortes medidas de segurança

A chefe do Governo de Hong Kong realizou ontem a primeira acção da anunciada plataforma de diálogo, numa resposta à crise política e social, com a polícia antimotim a posicionar-se no local horas antes do evento. A sessão baptizada de “Diálogo Comunitário” juntou 150 pessoas numa sessão de duas horas, com Carrie Lam a escrever ontem na rede social Twitter que estava “ansiosa” pelo evento, prometendo que o debate “vai continuar no futuro”. Aqueles que não puderam participar na sessão marcada para o Estádio Rainha Isabel podiam acompanhar a transmissão ‘online’ assegurada pelo Governo. Os jornais locais deram conta de que ao início da tarde em Hong Kong a polícia antimotim posicionou-se no local do evento, munida de gás pimenta e garrafas de gás lacrimogéneo, registando-se a retirada de veículos dos parques de estacionamento próximos e com as escolas na vizinhança a encerrarem as actividades mais cedo.

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Governo chinês criticou ontem a decisão de Washington de impor sanções contra seis empresas e cinco cidadãos da China por transportarem petróleo iraniano, violando sanções unilaterais impostas pelos Estados Unidos. "A China expressa forte oposição e lamenta as sanções dos EUA, que atingiram empresas chinesas com base em leis nacionais [norte-americanas]", afirmou o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Geng Shuang, em conferência de imprensa. Geng considerou que a cooperação da China com o Irão, no âmbito internacional, é "legítima e legal", e que deve por isso ser "respeitada". Washington sancionou as empresas de transporte marítimo Cosco Shipping Tanker e Cosco Shipping Tanker Seaman - subsidiárias da Cosco, a principal empresa estatal do sector na China -, e a China Concord Petroleum, Kunlun Shipping, Kunlun Shipping, Kunlun Holding e Pegasus 88 Limited. Os activos destas empresas que estão sob a jurisdição dos EUA foram assim bloqueados e as transacções financeiras feitas através de entidades norte-americanas proibidas. Geng classificou as práticas norte-americanas como "intimidatórias" e rejeitou as sanções, devido à sua natureza "unilateral". "Os Estados Unidos ignoram os direitos e inte-

Outra frente de guerra EUA criticados por sanções a empresas que transportaram petróleo iraniano

resses legítimos e legais de todas as partes (envolvidas) e deliberadamente impõem sanções", condenou. "Exigimos que os EUA corrijam as suas infracções", apontou.

PRESSÃO AMERICANA

O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, divulgou na quarta-feira as novas sanções e acusou as empresas afectadas de "transportarem deliberadamente petróleo do Irão". "Estamos a avisar a China e todos os países que sancionaremos qualquer violação das sanções" impostas por Washington contra a exportação de petróleo iraniano, apontou, num discurso perante o grupo Unidos contra um Irão Nuclear, uma organização que Teerão definiu como "terrorista". O Presidente dos EUA, Donald Trump, usou também a sua intervenção na Assembleia Geral da ONU para exigir mais pressão sobre Teerão. "Enquanto o Irão continuar com o seu comportamento ameaçador, não só não suspenderemos as sanções, como as aumentaremos", prometeu. Geng Shuang, MNE “Os Estados Unidos ignoram os direitos e interesses legítimos e legais de todas as partes (envolvidas) e deliberadamente impõem sanções.”


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tonalidades António de Castro Caeiro

27.9.2019 sexta-feira

Pressinto o aroma luminoso dos fogos

Ser maior da actualidade?

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“actualidade” foi desde sempre privilegiada. Na ontologia ingénua em que vivemos, na “metafísica natural”, “o que está a dar” tem mais ser do que o que não está a dar. Seja nas notícias, seja em qualquer forma de espectáculo, seja individual e colectivo, cada momento presente é mais importante do que “o que passou” e do “que ainda não é problema”. A actualidade, o presente, é continuamente actualizado, está submetido a um updating que reconstitui, reforma, renova o próprio sistema da realidade ou então começa tudo de novo. O presente é mais do que o passado e do que o futuro. O pragmatismo acentua esta valência. É agora e não mais tarde. O que foi mesmo agora, mas há pouco, já não se projecta sobre a nossa realidade da mesma maneira. O que importa e tem valor é este istmo entre o mar do passado e o mar do futuro ou numa outra imagem fluvial, a crista da onda em que surfamos e que de cada vez a cada instante se vai formando é mais importante do que as encostas de moles de água que temos atrás das costas e à nossa frente. O passado mora lá trás e o futuro a Deus pertence. O presente é que é. O passado mesmo há pouco não é já e o futuro não é ainda. A interpretação do ser do presente é concomitante à interpretação do não ser do passado e não ser do futuro, respectivamente não ser já e não ser ainda. Vive-se um dia de cada. Mas não se pode negar a realidade do futuro. É uma realidade com que contamos, bem na esperança. Mal, na desesperança. É inegável que temos saudades do passado ou o queremos esquecer ou ainda que somos o que temos sido, mesmo quando estamos numa relação de indiferença com o passado ou até só de aparente indiferença. Nós existimos tão pouco só no ápice do presente como também para estarmos na crista da onda, no cume da montanha, na fronteira, no sítio exacto em que estamos numa deslocação ou viagem, precisamos sempre do ponto de partida e do ponto de chegada, das encostas, do vale, da mole de água que faz inchar a onda e da descida em direcção à beira mar ou lá para onde nos leva a onda. O momento presente, ensanduichado entre o passado, mesmo o passado há pouco, agora mesmo, e o futuro daqui a nada, do que está prestes a “rebentar”, a acontecer, o instante presente da actualidade mais actual que existe, não poderia nunca ser nem existir, sem o passado há pouco nem o futuro daqui a nada. É difícil perceber quem faz a actualização de cada novo momento presente que simplesmente tudo renova e, de facto, tudo renova sem excepção.

O mais das vezes repete o que já está dado, ao permitir que continue a ser o que tem sido, sendo ou não bom o que é e tem sido. Outras vezes, permite começar de novo. Outras ainda dá a compreender que é o princípio do fim, que tudo muita, que tudo vai ser diferente e nada vai ficar como dantes. Custa perceber que assim é, que as coisas acabam e custa também perceber que as coisas se renovam ou nascem coisas novas.

A actualidade do presente dura um instante, mas o próprio presente pode durar mais do que instantes, pode ser a própria qualidade da duração natural das situações, do que entendemos ser a constituição do tempo da duração qualitativa das coisas. As últimas notícias sabem-se na hora, na última hora. Cortam-se metas a cada instante. Os relógios marcam o tempo ao segundo e décimo de segun-

O momento presente, ensanduichado entre o passado, mesmo o passado há pouco, agora mesmo, e o futuro daqui a nada, do que está prestes a “rebentar”, a acontecer, o instante presente da actualidade mais actual que existe, não poderia nunca ser nem existir, sem o passado há pouco nem o futuro daqui a nada

do já na vida quotidiana. Por maioria de razão o tempo dos atletas, da indústria de ponta, é ainda mais subdividido. Acontecem coisas dignas de registo em tempos subliminares de que não damos conta. Mas a actualidade pode ser também a do semestre lectivo, do tempo da faculdade ou da qualidade do tempo que temos quando somos estudantes. Há o tempo da época desportiva, o ano civil, religioso, a agenda política, os longos prazos mas finitos dos recursos do planeta, a duração da vida humana e de gerações e gerações de vidas humanas. O que define a actualidade ou o sentido de uma época não se reduz a um instante. Não se distende também apenas a uma duração somente quantitativa. As durações dos objectos temporais são diferentes entre si e resultam da qualidade constitutiva do tempo que é o seu. Ou seja, de algum modo fazemos valer o momento futuro imediato como já a ser integrado no momento actualíssimo do presente. Acordamos, levantamo-nos, bebemos café, tomamos banho, saímos de casa para o trabalho. Qualquer que seja a série de acontecimentos distribuídos pelos seus momentos, haja ou não conteúdos em agenda, eles estão já pressupostos e é com essa pretensão que acordamos e nos deslocamos em casa, distribuindo-nos pelas divisões onde os rápidos momentos da manhã são vividos: quarto, cozinha, casa de banho, escadas, porta da rua, caminhos, partidas e chegadas. O dia inteiro está diante de nós como o objecto temporal que se oferece a ser, a que resistimos com perseverança ou que acolhemos suavemente como algo que desliza bem ou nos faz deslizar bem no seu fluxo. Não precisamos de ler a agenda ou de passar em revista mentalmente o que vamos fazer, o que é importante nesse dia, hoje. Até podemos esquecer-nos do que temos para fazer e podemos não fazer o que era suposto fazermos. No princípio do dia, está o dia para viver, quer aconteça quando ainda é noite ou já a meio da manhã, tarde ou à hora do jantar. Podemos ter um dia longo ou um dia curto. Ainda assim, constitui-se sempre sem se saber bem como a ideia de que há para ser ou que não temos já tempo, que é também uma forma de percebermos que estamos virados para o futuro. Estamos sempre virados para o futuro, quer com ele cheguem conteúdos ou não cheguem conteúdos. O tempo da chegada e da partida de pessoas, situações, circunstâncias ou conjunturas, não pode ser confundido com o próprio ser do tempo que é sempre e continuamente a da eterna partida, passagem irreversível de tudo, simplesmente tudo. [Continua].


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

sexta-feira 27.9.2019

OFício dos ossos

Valério Romão

E

STOU numa livraria em Estrasburgo para um encontro com leitores, uma livraria com cerca de trinta e cinco anos de existência na qual trabalham cinco pessoas. Uma senhora ao meu lado pergunta por um livro de que leu resumo e crítica num jornal de Maio; não sabe precisar o jornal em questão ou o título do livro ou o autor, mas é um romance histórico que versa a República de Weimar e, na escola onde trabalha – é professora de geografia –, duas colegas falaram-lhe muito bem do livro. O livreiro chama um colega, justificando-se: a minha especialidade não é de todo o romance histórico, madame. Chega o segundo livreiro: esta senhora procura um romance que saiu em Abril, Maio, sobre a república de Weimar, não se recorda se o autor é francês ou se... Sim – interpõe o outro – já sei. Venha comigo – dirigindo-se à senhora. Veja se é este que procura – a senhora faz que sim com a cabeça, sorri –, é este mesmo. Eu lembrava-me de que a capa era em tons de azul, mas nem por nada me conseguia lembrar do nome. Se me permite – prossegue o livreiro – temos outro título aqui na livraria que poderia interessar-lhe, é o mesmo tema tratado

Das livrarias de uma perspectiva inteiramente diferente, na minha opinião bastante mais realista… não diria realista, ambos os livros são bastante fiéis na perspectiva que cada um deles traduz dos acontecimentos pós-primeira guerra, mas são duas histórias contadas de modo muito diferente, e penso que até se complementam. A senhora segue-o, regressam à prateleira de onde o livreiro retirou o primeiro livro e ali se demoram em conversa sobre livros, a república de Weimar, o que já leram este ano e o que mais gostaram de ler e porquê.

Em França e exceptuando talvez Marselha, não há cidade que não tenha umas quatro ou cinco livrarias independentes. E uma livraria independente – pelo menos para os franceses – não é só uma livraria que não pertence a uma grande cadeia de retalho de livros. É sobretudo um local onde trabalham pessoas cuja especialidade é encontrar aquilo que se procura e aquilo de que nem se sabia estar à procura. Chega-se lá e descreve-se o bicho de que se tem uma vaga recordação num braile confuso e não só o especialista o conhece como consegue

As livrarias em Portugal tornaram-se uma espécie de restaurante típico cuja gestão passou para o filho mais velho: vamos cortar nos custos, refazer a ementa em função da estrangeirada que por aí anda à procura do very typical mas com um twist. Quando se derem conta do barrete já estão de regresso aos seus países. Desde que a sala esteja sempre cheia, tanto dá isto ser um restaurante ou uma manjedoura

trazer à colação do interesse toda uma zoologia de criaturas da mesma família. Em Portugal quase já não temos livreiros, tirando honrosas mas insuficientes excepções. As pessoas que trabalham nas Fnacs e Bertrands da vida não são, na sua grande maioria, especialistas. São mal pagos (como quase toda a gente) e não se lhes exige que acompanhem o “mercado literário” de um ponto de vista outro que o ponto de vista do departamento de marketing. O livro é um produto como outro qualquer e, como qualquer produto, está sob alçada da coordenação estratégica dos departamentos que tratam especificamente de produto: o departamento de marketing e o departamento comercial. Pouco importa que os possíveis clientes andem perdidos nas livrarias entre a savana da auto-ajuda e a cordilheira das culinárias do mundo sem saber exactamente destrinçar as diferenças entre secções ou focar-se num título em particular: desde que saiam dali com um tijolo debaixo do braço – e mesmo que não mais regressem – está tudo bem. O que interessa são os objectivos, e estes não vêem miolos. As livrarias em Portugal tornaram-se uma espécie de restaurante típico cuja gestão passou para o filho mais velho: vamos cortar nos custos, refazer a ementa em função da estrangeirada que por aí anda à procura do very typical mas com um twist. Quando se derem conta do barrete já estão de regresso aos seus países. Desde que a sala esteja sempre cheia, tanto dá isto ser um restaurante ou uma manjedoura.


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h

PLANO DE CORTE José Navarro de Andrade

C

ONSIDERA-TE desafiado a interromperes a leitura desta crónica após o 1º parágrafo e a ela só voltares depois de ouvires a música de Art Pepper. Mas por favor, ouve-o com a cabeça e não só com as orelhas se dela quiseres tirar prazer e proveito. Guarda um bom par de horas dedicadas aos clássicos “Art Pepper Meets the Rhythm Section” e “Art Pepper + Eleven” de 1957 e 1960, ou ao derradeiro “Goin’ Home” de 82 para desfazer dúvidas remanescentes. Voltaste? Caso estejas livre dos imperativos da actualidade e andes disposto a tornar presente o que as convenções dão como passado, ou caso ainda te reste um módico de curiosidade pelo que está fora do raio de alcance dos hábitos, concordarás que foste gratificado por uma música descomprometida e solar, fresca e salgada como uma brisa marinha, animada mesmo quando não é festiva. Isto posto caberá chamar agora a tua atenção para o livro “Straight Life” a autobiografia de Art Pepper e o que ela em linha secante à tua esfera diz dos tempos actuais, embora tenha sido publicada em 1979, 3 anos antes da morte do saxofonista.

Em contraste com a claridade transmitida, e por conseguinte sentida, pelo saxofonista alto, as suas memórias desenrolam-se de maneira descarnada e sem esconderijo, naquela escrita tensa e pragmática típica da prosa americana Em contraste com a claridade transmitida, e por conseguinte sentida, pelo saxofonista alto, as suas memórias desenrolam-se de maneira descarnada e sem esconderijo, naquela escrita tensa e pragmática típica da prosa americana. De vez em quando fazem sensação pública umas biografias assim, que não iludem nem mitigam pecados, falhas, delitos e desgostos. Não menos habitual é que a sordidez do que nelas vem descrito se cumula no tropo do artista torturado que por mor dos seus sofrimentos se revê como maldito, conquanto não lhe faltassem bem visíveis sinais de apreço que ele não repara ou desdenha, por os presumir ou insuficientes, ou hipócritas

27.9.2019 sexta-feira

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Art Pepper, esquecimento e profanação ou por não se achar merecedor deles. Nestes exemplos, e havendo prévia simpatia pelo autor, põe-se ao jeito de serem capturadas por sociologias e psicologias capazes de as lerem através de um crivo

abonatório de modo a poderem transferir culpas para o Pai, para a Sociedade, para o quer que seja desde que iliba a responsabilidade do indivíduo em causa, ele próprio vítima enquanto perpetrador.

Não faltam em “Straight Life” as peripécias esperadas de um músico de jazz da década de 50. Um percurso de “junkie” que pontuou o período mais criativo com um rosário de entradas saídas da cadeia e de concertos desempenhados num estado de alienação, mesmo que coroados de êxito. Quem soubesse uma ou duas coisas acerca de Art Pepper desde logo adivinharia a ironia do título. De tão sacramental, este calvário já faz parte da mobília do jazz e certamente perdeu o poder de impressionar. Contudo o desprendimento narrativo do biografado estende-se a terrenos que esses sim tornariam bastante improvável algum editor dispor-se à publicação deste livro nos dias de hoje. E se o fosse mereceria uma geral e concludente execração a qual tem dado mostras de correr desenfreadamente até à proscrição da obra e à rasura do nome do seu autor. Contribuiria sem apelo nem agravo para a sua liminar censura que Art Pepper refira com desprendimento inúmeras relações sexuais conquistadas e não consentidas, engates descritos uns como triunfos a maior parte como prosaicos, todos expostos sem noção de remorso. Mas é de outra ordem não menos eloquente mas, quem sabe, talvez mais susceptível de inocular o bacilo da dúvida, o que a seguir se expõe ao teu voyeurismo de leitor cônscio, justo e de certeza temente à probidade moral em vigor. Art Pepper era branco num meio musical predominantemente negro, meio esse cercado pela desconfiança e não pouca acrimónia de uma sociedade branca. No início fez uso desta desconfortável fisionomia de Janus para subverter os pequenos mas implacáveis infernos da segregação racial que regulava o quotidiano na América dos anos 50; ia ele buscar a comida aos restaurantes que não serviam negros ou mandava parar os táxis que doutro modo fugiriam. Ainda que não o quisesse assumir e apenas pretendesse ser um camarada ou tão só conquistar o respeito dos seus companheiros negros, Art Pepper acabou por se ver no papel prestável de “anjo branco” protector. Na década de 60, como se sabe, os descendentes dos escravos decidiram tomar em mãos a sua cidadania, reivindicar direitos evidentes e legítimos, insurgir-se contra a subalternização cívica. Art Pepper presumiu não ter nem culpas nem contrições a prestar. Mas um dia, ao cabo de um recital, foi avisado que nas suas costas o baterista exibira um sorriso desdenhoso durante os seus solos. Quando Pepper o interpelou o baterista cuspiu no chão e verberou que os “white punks” não sabiam tocar. “Então porque tocam comigo?” “Para nos aproveitarmos de ti, ‘white motherfucker.’” Diz Art Pepper que chorou, não se sabe se de raiva ou de comiseração. O certo é que houvessem os actuais juízes da moral pública lido estas memórias e não sonambulasse o jazz nas catacumbas das predilecções musicais e já não se poderia contar com as obras de Art Pepper.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 17

sexta-feira 27.9.2019

estendais Gisela Casimiro

T

ALVEZ esteja quase a entrar no chamado inferno astral, como todos os bons aniversariantes, cerca de um mês antes da dita efeméride, talvez seja deste tempo que no mesmo dia muda várias vezes do azul para o cinzento, talvez seja do adiantado da hora e de Setembro. O ano termina daqui a três meses, Junho despediu-se sem que mal o tenhamos vislumbrado (num ano em que voltámos a ter frio nos Santos Populares) e não estou certa de que Maio, até agora o meu mês preferido, tenha chegado a terminar. Os dias 25 parecem, em geral, bons para a independência. Tendo vivido algum tempo com duas pessoas cuja formação de base é da área da psicologia, habituei-me a ouvir as suas histórias caricatas dos tempos lá passados, mas sobretudo a usar a expressão “Fazer as malas e bazar para Moçambique”, usada por uma dessas amigas para descrever a sua hilariante fuga para longe de uma relação. É a primeira vez que volto a um país onde não faço parte da minoria, um sentimento indescritível a não ser pelo meu sorriso. Nunca aqui estive mas, como denota um amigo, sinto-me em casa tão imediatamente que nem consigo tirar fotografias. As primeiras, envio à minha irmã, precisamente por saber que ela vai reconhecer a descrição que faço, não se parecessem estes bairros com os da cidade em que crescemos. Quando aqui chego, e durante os próximos dias, observo sempre, em algum momento, borboletas à minha volta. Não me trans-

Olá mãe! formo nelas, nem são amarelas, mas alegram-me. Tudo faz sentido neste sortido de cores vibrantes e escritos curiosos, desde os avisos para não fazer xixi (o equivalente aos não escarrar para o chão de Macau) ao conselho Moçambicanos, não troquem o pão por doces, ao meu novo mantra, encontrado no Mafalala: Caiu mas vai levantar. É a primeira vez que me chamam mãe, embora não a primeira em que me confundem com a de alguém. É, também, o dia da mãe. No segundo dia, saio do hotel assim que o cansaço da viagem permite, e deambulo durante cinco horas pelas ruas de Maputo. Os moçambicanos são conversadores, simpáticos, práticos, curiosos, prestáveis. São campeões de vendas: de manhã à noite, estão em constante negociação. Caju, amendoim, brincos, estátuas, flores. Muitas flores, porque são um povo absolutamente romântico. Enquanto espero para almoçar, aparece mais um. Tem um produto verdadeiramente único, em madeira, quase do seu tamanho, para me apresentar: África. A vida dispensa metáforas.

Na Avenida Marginal, faço amizade com dois polícias, homem e mulher. Um desportista alerta-me de que nem todos os que por ali caminham são bem-intencionados. Por falar em desportistas, quase me junto a uma aula ao ar livre. O sol nasce e põe-se tão cedo aqui que pelas dez já me sinto como se fosse uma da tarde. O ninho do tecelão parece um coração invertido. Não muito longe de onde o Carlos apanha um para me mostrar, numa loja, na praia, assistimos a um concerto de tear, tocado por um rapaz que mal o larga para nos vender inconfundíveis sacos coloridos. Ao regressar pela reserva, os animais que não se manifestaram durante a vinda proporcionam-nos o melhor momento do dia: macacos, gazelas, girafas. É outra vez sábado. Só estou aqui há uma semana? Ficaram-me a Vanessa, a Ana Mafalda, a Estela, o Mbate, o Ondjaki, o Valter, a Carmen, o Patraquim, o Mendonça, o Pignatelli, o Carlos, a Énia e tantos outros resilientes. Ficou-me a Teresa vestida de branco, naquela última manhã de domingo. A foto da Luna de que só se lhe vê o cabelo luminoso, no banco de trás do carro,

Volto para Portugal mais pesada, e não é só dos livros, ou não tivéssemos comido e bebido à fartazana. Volto com mais um sonho realizado. Volto com um verso do Craveirinha, “O que há a fazer sou eu que tenho de o consumar.”

no dia em que fomos dar um mergulho à Ponta do Ouro. Uma outra, da Jade, deitada ao comprido no sofá, descalça, pé direito enroscado no esquerdo, livro na mão como tantas vezes esta família parece andar. Jade com a gata ao colo, Jade a comer queijo deliciada, Jade a explicar-nos o mundo e a ralhar ao pai à mesa, em conversas divertidíssimas. Ficou-me o Cabrita à janela, em modo despedida, talvez ainda a lamentar as flores vermelhas das acácias que não coincidiram o seu tempo com o meu, enquanto a Sónia vem de casa da irmã, do outro lado da rua, e me dá mais um livro e uns quantos abraços. Ficou-me a doce Hirondina, que conheci em Macau e a Keysha, essa miúda maravilhosa, tão jovem, mãe de uma menina que fez um ano daí a dias. Volto para Portugal mais pesada, e não é só dos livros, ou não tivéssemos comido e bebido à fartazana. Volto com mais um sonho realizado. Volto com um verso do Craveirinha, “O que há a fazer sou eu que tenho de o consumar.” Ficou-me o clássico “africano a tentar convencer outro a transportar-lhe qualquer coisa numa viagem intercontinental”, neste caso duas mulheres que se me dirigem, uma delas passageira e a outra embaladora de malas com película aderente no aeroporto. Ficou-me o comerciante que ameaçou atirar-me à água quando fotografei a sua loja sem reparar que ele estava lá dentro, as fotos desfocadas de estranhos nos my love ao pôr-do-sol e essa saudação tão bonita que se ouve em todo o lado. Olá amiga, olá mãe.


18 (f)utilidades POUCO

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NUBLADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente EXPOSIÇÃO | “O VAGABUNDO” Casas da Taipa – Exterior | Até 6/10

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Jeana Ho 14.30, 19.15

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1 3 2 6 5 9 8 4 7 0

1 4 3 6 7 0 5 8 7 3 9 7 0 2 5 2 8 1 5 6 4 6 9 3 8 5 3 7 4 0 AD ASTRA [B] Um filme 6de: James 1 Gray2 8 4 Com: Brad Pitt, Tommy Lee Jones, Ruth Negga 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 3 2 6 9 1 THE8 FATAL9 RAID [C] 5 0 2 Um filme de: Jacky Lee Com: Patrick Tam, Michael Tong, 7 0 4 1 9 Jade Leung, SALA 1

4 2 3 8 1 0 6 5 7 9 7 4 8 0 9 2 1 5 3 6

4 7 9 3 6 0 5 8 2 1

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9 2 5 0 8 2 1 9 4 6 4 6 8 3 1 0 4 3 9 7 1 7 0 2 5AD ASTRA 8IT CHAPTER 9 6TWO [C]1 2 Um filme de: Andy Muschietti 3Com: James 0 McAvoy,7 5 9 Jessica Chastain, Bill 516.15, 21.00 8Hader, Isaiah 4 Mustafa 7 0 7BLINDED 3 BY1THE LIGHT 6 [B]4 Um filme de:Gurinder Chadha 6Com: Viveik 5 Kalra,2Kulvinder8Gbir, 3 SALA 3

Meera Ganatra, Nell Williams 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

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0 6 5 7 7 9 5 2 8 3 2 7 9 0 6 2 2 9 7 1 0 4 7 2 3 0 8 9 9 0 1 3 6 4 2 6 8 7 0 5 Uma traineira russa com um tanque cheio de amoníaco e cerca de 200.000 litros de combustível a 3norte da 5 2 8 bordo estava ontem em chamas num porto do Noruega e as autoridades evacuaram as áreas

EXPOSIÇÃO | “QUIETUDE E CLARIDADE: OBRAS DE CHEN ZHIFO DA COLECÇÃO DO MUSEU DE NANJING” MAM | Até 17 /11

8 4 2 5 3 6 7 1 9 0

50-85%

0.26

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ILEGALIDADES

EXPOSIÇÃO | “CONTEMPLAÇÃO DA BONDADETERNA” Museu de Arte de Macau | Até 6/10

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HUM

VIDA DE CÃO

EXPOSIÇÃO | “JARDIM DAS DELÍCIAS TERRENAS” Wynn Macau | Até 6/10

EXPOSIÇÃO | “HOT FLOWS – PEARL RIVER DELTA ARTS RETROSPECTIVE” Armazém do Boi | Até 13 de Outubro

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MAR DE CHAMAS 32 9 3 4 8 5 6 7 2 1 0

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6 1 8 2 4 7 0 3 5 9

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vizinhas por risco de explosão. Segundo a NRK, que divulgou fotos e vídeos que mostram o navio a arder e coberto de fumo espesso, adiantou que cerca de 100 pessoas foram retiradas da zona.

4 7 6 0 1 8 3 5 9 2

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 32

8 5 9 3 2 0 4 6 7 1

2 0 1 4 9 3 6 7 8 5

3 4 2 5 8 9 1 0 6 7

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0 5 6 1 2 9 1 5 0 7 7 1 6 0 3 8

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PROBLEMA 33

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6 0 DOCUMENTÁRIO 7 8 3 4 2 5 9 1 HOJE4 UM 2 3 9 7 6 1 5 4 8 0 1 4 3 2 0 5 9 8 0 1 6 2 7 3 9

Manolo Blahnik é um dos nomes 5 8 mais 4 1conhecidos 9 7 6 do mundo da moda por 0 9 6sapatos 5 8que 2são 7 desenhar considerados 7 1 2 0verdadeiras 4 8 3 obras de arte. O documen9 “The 6 5boy3who 7 made 0 4 tário shoes for lizards” revela 3 2 8 4 1 9 o0 outro lado do designer, que 4 7 nas 1 ilhas 9 Canárias, 5 6 8 cresceu viveu em Paris e começou 8 5 0 6 2 3 1 a carreira em Londres. Apesar de ser um nome mundialmente conhecido, 36 por culpa da série “O muito Sexo e a Cidade”, 8 7 2 3 0Manolo 5 1 Blahnik é, como revela o 9 5 1 0reservado 3 4 e6 documentário, pouco dado ao mundo da 4 0 7 6 1 8 2 fama. Andreia Sofia Silva

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9 5 4 1 3 8 6 8 2 3 0 1 2 4 7 4 6 9 8www. 9 5

hojemacau. com.mo

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S U D O K U

TEMPO

27.9.2019 sexta-feira

O relatório relativo à consulta pública sobre a revisão da lei do trânsito rodo32 viário espelha bem a situação caótica com 9 que todos 6 os 7 dias 4 se8deparam 2 3os condutores. Isso porque a Direcção dos 1 os Assuntos 7 5 de Tráfego 4 Serviços para (DSAT) há muito que deseja aumentar 4 as multas por estacionamento ilegal, mas os resultados mostram que, pela vontade da população, tal não deveria 5 6 Mais0de metade dos 9 inqui- 7 acontecer. ridos mostram-se 1 7 contra o aumento9de 4 multas por estacionamento ilegal ou 0em2sítios3proibidos, 4 6 entre 1 por paragens outros 4casos. E perguntam aqueles 3 5 6 0 9 que não vivem em Macau: “O quê? 6 As1pessoas5 querem continuar a pagar o mesmo quando deixam o seu carro 2 1 num sítio onde é proibido estacionar?”. Sim, porque não há alternativa. Nunca conduzi em Macau e sempre me 34 desloquei a pé ou de autocarro, mas questiono-me como é possível andar 6 os dias 7 de 8 carro 3 4quando 2 5não todos há2grandes9 alternativas de estaciona6 1 4 mento a não ser...os sítios proibidos, 1 que seja por breves minutos, nem para deixar 8 o filho na 9 escola 7 ou para 2 ir buscar a roupa à lavandaria. Estas 5 fazer soar7 respostas deveriam o alarme às autoridades que, imagino, bem 0 3 gostariam de ter espaço à disposição para criar 6 mais lugares 7 e0parques de 1 estacionamento. Espero que com os 3 aterros se criem soluções para novos um4território 1 que não5pára 6 de crescer, 3 muito mais em termos populacionais 0 6da dimensão 2 3 1do terri9 do8que ao nível tório. Andreia Sofia Silva

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2 1 5 6 4 6 8 4 0 1 8 9 8 5 2 0 1 9

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9THE2BOY WHO0MADE SHOES FOR LIZARDS | MICHAEL0ROBERTS 5 (2017) 2 9 6 5 1 3 4 2 8 6 0 6 2 3 4 9 5 4 7 2 3 8 1 7 2 1 8 5 0 4 8 1 2 5 6 2 7 4 3 3 0 7 9 0 1 4 6 9 5 7 2 7 0 5 3 4 4 6 5 1 3 7 8 2 7

4 9 6 2 8 7 9 3 5 7 2 3 8 1 0 6 9 5 7 0 4 9 0 7 1 4 3 4 6 9 5 2 8 Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Juana Ng Cen; Colaboradores 8 Propriedade 3 Vieira; 0 Fábrica 6 5deCabrita; 9 António Castro Caeiro; António Falcão; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; Amélia António José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio 5 Fonseca; 1 8Valério3Romão 7 Colunistas 2 António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo 2 7 4 0 6 1 Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


opinião 19

sexta-feira 27.9.2019

um grito no deserto PAUL CHAN WAI CHI

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ESDE o passado mês de Junho que se assiste a uma escalada dos tumultos e do caos em Hong Kong. O número de turistas do Continente tem vindo a decrescer significativamente e todas as actividades relacionadas com o turismo se têm ressentido bastante com o ambiente em que cidade mergulhou. Recentemente viajei até Lantau através da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Na ilha fiz um passeio de teleférico na zona de Tung Chung, habitualmente cheia de turistas. Desta vez não precisei de esperar na fila, não havia assim tanta gente. Em Macau, a calma continua e a afluência de visitantes mantém-se. A Direcção dos Serviços de Turismo prevê um aumento do fluxo de turismo de 10% a 15% nos feriados do Dia Nacional da China, no próximo dia 1 de Outubro. De qualquer forma, alguns analistas alertaram para o perigo de um decréscimo económico em Macau, que se ficaria a dever à redução do fluxo de turistas continentais que chegam à cidade vindos directamente de Hong Kong. Mas, para já, é preciso estarmos atentos e esperar pelos desenvolvimentos da situação. Os orgãos de comunicação social de Macau, bem como as redes sociais, vão apresentando análises muito diversas dos acontecimentos. E, para além de uma ou outra pessoa com um discurso mais radical, o cibermundo de Macau apresenta-se calmo, à margem de qualquer campo de batalha. Embora nas duas cidades vigore o princípio “Um País, Dois Sistemas”, vive-se em cada uma delas climas políticos muito diversos. Poderíamos dizer que em Macau a temperatura está regulada para o “morno” e em Hong Kong o botão encontra-se no ponto “em ebulição”. Vale a pena reflectir um pouco no motivo das diferenças. Hong Kong é uma cidade cosmopolita e o terceiro maior centro financeiro do mundo. É considerada a porta de circulação do capital chinês para fora do país. Em termos legais beneficia de vantagens únicas, ao abrigo do princípio “Um País, Dois Sistemas”, sobre sua “rival” Shenzhen. É evidente que a China continental compreende a importância de Hong Kong. Vinte anos após o regresso à soberania chinesa, o fluxo financeiro entre Hong Hong e a China ainda é inferior ao fluxo financeiro com o exterior. Na sequência da erradicação dos motins esquerdistas de 1967, e após Tiananmen, os sectores políticos de Hong Kong têm sido relativamente sólidos e independentes. A prosperidade e estabilidade que se têm vivido na cidade desde o regresso à soberania chinesa, devem-se, não só à intervenção da China, mas também ao

Macau, a pacífica

Ao longo das duas décadas após o regresso à soberania chinesa, os Chefes do Executivo de Macau, usaram recorrentemente o “Plano de Comparticipação Pecuniária no Desenvolvimento Económico” para manter a população satisfeita e o mesmo fará Ho Iat Seng, o próximo responsável pela cidade, a fim de garantir a estabilidade e manter a paz Ex-deputado e antigo membro da Associação Novo Macau Democrático

extraordinário desempenho dos funcionários públicos herdados da administração britânica e ao enraízado respeito pelo Estado de Direito, o que gera confiança a nível local e internacional. É lamentável que este equilíbrio se tenha quebrado quando Leung Chun-ying se tornou Chefe do Executivo de Hong Kong, e que tenha piorado quando Carrie Lam lhe sucedeu, porque ela é uma pessoa que não abdica da sua posição. O “Movimento Contra a Lei de Extradição” é um fenómeno local. Contudo, teve lugar no período das negociações comerciais sino-americanas, o que veio complexificar toda a situação. Carrie Lam lidou com a situação como se estivesse a “dar uns açoites no filho mal comportado”. As forças da ordem deixaram de ser politicamente neutras para se transformarem em Forças de Intervenção destinadas a esmagar os motins e acabar com a violência. Há quem afirme que Hong Kong é um campo de batalha onde se degladiam oito “exércitos”, os manifestantes, as forças da ordem, as tríades, o campo pró-governamental, o campo pró-democracia, o Governo local, o Governo Central e a população em geral. Teria sido necessário ter à frente do Executivo de Hong Kong alguém politicamente muito inteligente e tolerante para gerir todos esses interesses e equilibrar a balança. No entanto, Carrie Lam foi abertamente contra a criação de uma Comissão Independente para avaliação dos danos. E sem uma solução de compromisso, as ideologias de extrema-esquerda foram alastrando pela cidade. Os conflitos entre as duas forças foram escalando e os meios a que cada um dos lados recorreu para alcançar os seus objectivos extremaram-se cada vez mais, até a situação ficar fora de controle. A fim de sintetizar a experiência da Revolução Cultural, Deng Xiaoping disse um dia, “A China deve impedir os avanços da Direita, mas sobretudo combater os avanços da Esquerda”. Esta máxima aplica-se na perfeição aos actuais acontecimentos de Hong Kong. Em Macau, a única cidade-casino legítima da China continental, as taxas do jogo passaram a ser garantia do desenvolvimento económico. Além disso, a dependência da cidade do turismo e do investimento estrangeiro retiraram-lhe a capacidade de produzir um pensamento e uma acção independentes.Ao longo das duas décadas após o regresso à soberania chinesa, os Chefes do Executivo de Macau, usaram recorrentemente o “Plano de Comparticipação Pecuniária no Desenvolvimento Económico” para manter a população satisfeita e o mesmo fará Ho Iat Seng, o próximo responsável pela cidade, a fim de garantir a estabilidade e manter a paz. Não temos de nos preocupar com a presente situação de Hong Kong, porque existe um ditado chinês muito antigo que diz o seguinte: “a seguir ao caos virá um período de grande pacificação”. No entanto, não devemos confiar demasiado na continuação da paz em Macau, porque o desastre que nos trouxe o super tufão “Hato” ensinou-nos a estar preparados para o perigo, mesmo em tempos de paz.


Nunca chegamos aos pensamentos. São eles que vêm. Heidegger

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UAS pessoas morreram em manifestações de estudantes contra uma nova lei na Indonésia que, segundo os críticos, prejudica a agência anticorrupção do país, informaram ontem as autoridades locais. Harry G. Hart, porta-voz da polícia na cidade de Kendari, capital da província de Celebes, no sudeste da Indonésia, disse que uma pessoa sofreu ferimentos no peito e morreu quando a polícia de choque disparou gás lacrimogénio para dispersar centenas de estudantes que atiravam pedras numa tentativa de atingir um edifício legislativo. O chefe da Polícia Nacional, Tito Karnavian, disse que um homem morreu quando a polícia de choque disparou gás lacrimogénio contra uma multidão que tentou incendiar uma esquadra da polícia na quarta-feira. Os manifestantes protestam contra a aprovação de uma lei na semana passada que reduz a autoridade da Comissão para a Erradicação da Corrupção, uma agência que luta contra a corrupção no país. As manifestações, que já fizeram pelo menos 300 feridos, decorrem pelo quarto dia consecutivo em cidades da Indonésia, incluindo Padang, Palu, Garut e Bogor. Os estudantes prometeram voltar às ruas até que a nova lei seja revogada. Os protestos não estão associados a nenhum partido ou grupo em particular e são liderados por estudantes, que historicamente têm sido uma força motriz de mudança política na Indonésia.

sexta-feira 27.9.2019

O candidato Comissão Eleitoral aprovou candidatura única de empresário Wong Sai Man

e haverá agora um período de três dias para haver recurso da decisão. A mesma passa a definitiva no dia 3 de Outubro se não houver qualquer contestação. Wong Sai Man é empresário, membro do Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) e vice-presidente da Associação Industrial de Macau.

RÓMULO SANTOS

INDONÉSIA DOIS MORTOS EM MANIFESTAÇÕES CONTRA NOVA LEI

PALAVRA DO DIA

À ESPERA DE VOTANTES

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lista da União dos Interesses Empresariais de Macau, que conta com um único candidato, Wong Sai Man, foi aceite pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). A informação foi revelada ontem pelo presidente, Tong Hio Fong, após uma reunião para analisar as candidaturas. Wong Sai Man é o único candidato ao lugar deixado em aberto na Assembleia Legislativa por Ho Iat Seng, uma vez que não houve mais nenhuma

lista a apresentar-se à eleição suplementar pela via indirecta. “Até à presente data recebemos apenas uma lista de candidatura, da União dos Interesses Empresariais de Macau. Recebemos a lista de candidatura e o programa político. Já verificámos a regularidade destes dois documentos e verificámos que o candidato Wong Sai Man foi aceite”, afirmou Tong Hio Fong, após a reunião. A decisão foi publicada, ontem, no Edifício da Administração Pública logo após o encontro

Óbito Jacques Chirac morre aos 86 anos

O antigo Presidente da França Jacques Chirac morreu ontem, aos 86 anos, anunciou o seu genro, Frédéric Salat-Baroux. “O Presidente Jacques Chirac morreu esta manhã pacificamente e acompanhado pela sua família”, disse Salat-Baroux, marido da filha mais nova de Chirac, Claude. Chefe de Estado de França entre 1995 e 2007, Jacques Chirac teve uma das carreiras políticas mais longas da Europa, ao completar 40 anos em diversas posições políticas, incluindo cargos como Presidente da República, primeiro-ministro, viceministro, presidente da câmara de Paris e líder do partido. O antigo Presidente de França, que há vários anos não aparecia em público, sofria de perda de memória, possivelmente causada por uma forma da doença de Alzheimer ou um derrame que teve enquanto estava na Presidência. Jacques Chirac conseguiu conquistar a Presidência francesa em 1995, depois de duas candidaturas sem sucesso (em 1981 e em 1988). A Assembleia Nacional e o Senado francês fizeram um minuto de silêncio assim que foi conhecida a notícia da morte do antigo Presidente, figura importante da direita no país.

Com as eleições marcadas para 24 de Novembro, as 107 pessoas colectivas que podem participar no acto eleitoral têm até 10 de Outubro para tratarem das formalidades. Entre as condições necessárias consta a nomeação dos 22 membros que votam pelas associações. Porém, até ontem, apenas cerca de 21 por cento das associações tinha entregue os papéis para tratar do direito ao voto. Estes números levaram Tong Hio Fong a apelar às associações para que entregue a lista dos votantes. “De acordo com a Lei Eleitoral, dentro das 107 pessoas colectivas votantes, cada uma pode apresentar o máximo de 22 votos. Até à presente data recebemos 26 listas votantes entre 107 pessoas colectivas”, começou pro dizer sobre este assunto. “Apelo a todas as pessoas colectivas para que entreguem as listas de votantes dentro do prazo, isto é, antes de 10 de Outubro”, afirmou Tong. A campanha eleitoral para empresários decorre entre 9 de Novembro e 22 de Novembro. J.S.F.

TÉNIS JOÃO SOUSA BATE ‘TOP 20’ EM CHENGDU

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tenista português João Sousa revelou-se ontem “muito feliz pela vitória em singulares” frente ao canadiano Félix Auger-Aliassime, “um excelente jogador que tem vindo a evoluir muito nos últimos tempos”, para aceder aos quartos de final em Chengdu. O número um português e 62.º colocado ATP derrotou o jovem canadiano, de 19 anos, que ocupa o 20.º lugar na hierarquia mundial, em três ‘sets’, com os parciais de 6-4, 6-7 (5-7) e 6-4, num encontro resolvido em duas horas e 10 minutos. “Foi uma vitória muito boa para mim. Consegui estar muito concentrado ao longo de todo o encontro, manter um nível muito bom durante os três ‘sets’ e foi isso que me permitiu fazer um ‘break’ cirúrgico no final, que acabou por me dar a vitória”, explicou o minhoto, de 30 anos. Depois de superar “um encontro muito exigente, tanto a nível mental, como físico” e de admitir ter ficado “muito contente por ter passado este desafio da melhor maneira”, João Sousa vai defrontar na sexta-feira o sul-africano Lloyd Harris (111.º ATP), que eliminou o sérvio Dusan Lajovic, por duplo 6-3. Já depois de assegurar a continuidade na prova de singulares do ATP 250 de Chengdu, o português e o parceiro moldavo Radu Albot perderam diante Ivan Dodig e Filip Polasek, por 6-4 e 6-3. “Nos pares, infelizmente, não conseguimos vencer, eles foram melhor que nós”, resumiu Sousa, frisando ser “hora de desfrutar da vitória em singulares para amanhã [sexta-feira] voltar a dar tudo por tudo para tentar vencer.”


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