Hoje Macau • 2010.12.03 #2264

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Augusto Nogueira, da ARTM, defende mais actividades para desviar jovens das drogas Páginas 18 e 19

Pesquisa revela que 95% dos que falam português na raem sabem quem foi Senna Fernandes Centrais

tempo pouco nublado min 16 max 24 humidade 45-85% câmbios euro 10.5 baht 0.26 yuan 1.21

hojemacau

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Crise financeira leva portugueses a imigrar em massa para Macau

O último que apague a luz

Gastronomia

Queixas pela fraca divulgação • P. 3

São dois os motivos principais que levam os portugueses a abandonar o seu país e as suas vidas e rumar a Macau. Por um lado o dinamismo da economia do território, que abre os olhos aos habitantes do canto da Europa, com o qual mantêm uma ligação sentimental de quase 500 anos. Do outro, a situação enevoada de um país em grave crise financeira e sem perspectivas imediatas de recuperação. Não é preciso pensar muito, os portugueses fecham as malas, pegam nos filhos e saem sem olhar para trás. Uns fazem-no com alguma preparação outro aterram nos seus pára-quedas e fazem-se à vida acabando por encontrar aqui o seu “El Dorado” particular. E assim, a comunidade portuguesa na RAEM volta a aumentar. >página 6

Maternidade

Licença curta alvo de crítica • P. 8

Ilegais

Não residentes sem protecção Construção de luxo

Kahon Chan

Cheong U “bombardeado” fica confuso e arranca risos aos deputados na al

• P. 7

Vizinhos descontentes

Director carlos morais josé • sexta-feira 3 de dezembro de 2010 • ANO X • Nº 2264

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Agência Comercial Pico • 28721006

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O humor do senhor secretário Páginas 4 e 5

• P. 9 pub

os nossos contactos mudaram

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sexta-feira 3.12.2010 www.hojemacau.com.mo

2 A China considerou ontem "um trágico incidente" as quatros mortes causadas pelo recente bombardeamento da artilharia norte-coreana contra uma ilha sul-coreana, mas recusou-se a responsabilizar Pyongyang. "Nas actuais circunstâncias, não é correcto incitar a comunidade internacional a tomar partido", disse a porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Jiang Yu. O bombardeamento do passado dia 23 de Novembro foi considerado o mais grave das últimas décadas por ter atingido directamente o território sul-coreano e morto dois civis (as outras duas vítimas mortais eram fuzileiros navais sul-coreanos). A porta-voz chinesa insistiu na proposta de "consultas de emergência" entre os chefes das delegações às "conversa-

actual

Coreias | China evita responsabilizar Pyongyang por ataque

Atrito sem culpados ções a seis" sobre a desnuclearização da península coreana, apresentada no passado domingo pela China. Segundo afirmou, a iniciativa não significa o recomeço das conversações a seis, interrompidas em Abril de 2009 pela Coreia do Norte, mas "apenas uma plataforma para as partes dialogarem" e "aliviar a tensão". Estados Unidos e Coreia do Sul, que terminaram na quarta-feira quatro dias de exercícios navais conjuntos, já rejeitaram a proposta chinesa. “Os que empunham armas parecem estar justificados. A

China, anfitriã das ‘conversações a seis’ é criticada por apelar ao diálogo. Será isto justo?”, comentou Jiang Yu. A porta-voz disse que “a China mantém-se em contacto com todas as partes envolvidas” e que “as demonstrações de força militar não são solução” para a crise na dividida península coreana. “Só quando começarmos a dialogar poderemos ter resultados”, afirmou.

Norte ao ataque

A Coreia do Norte pode estar a preparar um novo ataque de artilharia como aquele

à ilha de Yeonpyeong. Esta é a convicção dos serviços secretos sul-coreanos, conhecida horas depois de Seul dizer que planeia novos exercícios militares no Mar Amarelo. Segundo uma conversa citada pela agência de notícias Yonhap, o director dos serviços secretos sulcoreanos, Won Sei-hoon, terá feito um comentário numa comissão parlamentar sobre “uma forte probabilidade de o Norte fazer um novo ataque”, num momento em que Pyongyang se depara com a sucessão de Kim Jong-il. Seul e Washington anun-

ciaram voltar às manobras militares de que durante os últimos quatro dias se ocuparam na península coreana e que o Norte diz ser “um crime” e uma intrusão no seu espaço marítimo – o Mar Amarelo. “O calendário e os meios militares que vão participar ainda não foram decididos”, disse à Yonhap Kim Youngcheol, oficial sul-coreano. Mas, segundo fonte citada pela BBC, as manobras conjuntas com os Estados Unidos para reforçar a “dissuasão contra a Coreia do Norte” – como tinha defendido Washington – poderão acontecer ainda em Dezembro ou no início do próximo ano. À parte, Seul está a preparar em 29 sítios do país outros exercícios navais que deverão começar na próxima semana e continuar durante as seguintes.

Nobel | amizade entre China e Noruega fora de questão

Banco de Investimento Europeu faz empréstimo a Pequim

A China considerou ontem difícil manter “relações amigáveis” com a Noruega depois de o Comité Nobel, sediado em Oslo, ter atribuído o Prémio da Paz ao dissidente chinês preso Liu Xiaobo. “O governo noruguês apoiou [a atribuição do prémio]. É difícil manter as amigáveis relações com a Noruega que tínhamos antes”, disse a porta-voz-do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Jiang Yu. A porta-voz afirmou que Liu Xiaobo é “um criminoso condenado por ter violado a lei chinesa” e a decisão do Comité Nobel constitui “uma grosseira ingerência na soberania dos órgãos judiciais da China". Liu Xiaobo, preso em Dezembro de 2008 depois de ter promovido um manifesto que apelava à “democratização da China” e ao “fim do regime de partido único”, cumpre uma pena de 11 anos de prisão por “actividades subversivas”.

Maria João Belchior

Oslo? Onde é que isso fica?

Segundo o governo norueguês, a China adiou indefinidamente as negociações com a Noruega para concluir um acordo bilateral de comércio livre, numa aparente retaliação pelo apoio de Oslo à decisão do Comité Nobel. “Se as autoridades da China têm preocupações e reservas quanto à promoção de relações de cooperação com a Noruega, isso é compreensível”, disse a porta-voz do MNE chinês. A atribuição do Nobel da Paz 2010 a Liu Xiaobo é “um aberto apoio a actividades criminosas na China e uma provocação evidente”, acrescentou Jiang Yu. A cerimónia de entrega do prémio está marcada para 10 de Dezembro. Antigo professor universitário e crítico literário, nascido em 1954, Liu Xiaobo foi distinguido pelo Comité Nobel Norueguês “pela sua longa e não violenta luta pelos direitos fundamentais na China".

500 milhões para o verde info@hojemacau.com.mo

Um novo empréstimo dado pelo Banco de Investimento Europeu (BIE) à China vai ser assinado hoje em Pequim. No valor de 500 milhões de euros, o contrato de empréstimo destina-se a projectos que pretendam combater o aquecimento global e as mudanças climáticas na China. Com a presença de Magdalena Álvarez Arza, vice-presidente do Banco Europeu de Investimento, e o ministro das Finanças chinês este empréstimo é o segundo concedido pelo BIE à China. Em Novembro de 2007, foi assinado o primeiro contrato, também no valor de 500 milhões de euros. Nos projectos nacionais de reflorestação, uma parte do dinheiro destinou-se à plantação de árvores usadas depois para produção de biodiesel. Travar a desertificação de regiões como a Mongólia Interior é outra das apostas chinesas no que se refere a investimentos verdes resultantes do contrato de empréstimo. Para o Banco de Investimento, os trabalhos na China têm tendência a dar frutos rapidamente. No entanto, a velocidade e a dimensão da degradação ambiental no país leva a que nem sempre seja possível para as populações entender onde andam esses frutos. O BIE considera que os empréstimos concedidos fazem parte de um investimento europeu feito a larga escala e que é também pensado a longo prazo. Xie Zhenhua, responsável principal para as negociações sobre o aquecimento global, admitiu recentemente que a China é o principal

poluidor mundial, depois de ter ultrapassado os Estados Unidos nas emissões de dióxido de carbono. Maioritariamente dependente do carvão, a República Popular não vai alterar o seu modelo de desenvolvimento. Mas Xie Zhenhua disse que para o XII Plano Quinquenal se está a discutir agora o início dos “impostos ambientais”. De momento, a hipótese de um imposto sob o carvão continua a ser estudada. A diminuição das emissões estabelecida para este Plano Quinquenal (2006-2010) chegou aos mil milhões e meio de toneladas nos últimos anos e Xie Zhenhua disse que se trata de um plano de diminuição que vai continuar no futuro. Um tema cada vez mais polémico para o governo central, com Pequim a ter cada vez mais dias em que a qualidade do ar pode colocar em risco a saúde dos mais frágeis como idosos e crianças, a China tem do seu lado a vantagem de ser o maior investidor mundial em energias limpas. Para o Banco Europeu de Investimento, o primeiro empréstimo de 500 milhões, assinado em 2007, destinou-se também ao aumento da capacidade dos parques eólicos, construídos na última década sobretudo na faixa nordeste do país. Este ano, segundo o mais recente relatório da consultora Ernst & Young, a República Popular até Junho já investiu dez mil milhões de dólares só em energia eólica.


O mês de Novembro foi fértil em acontecimentos, eventos e eventozinhos, festas, festarolas e festinhas. Ele foi Grande Prémio de Automobilismo, Festival Internacional de Música, inaugurações várias e para variados gostos, lançamentos disto e de mais aquilo, enfim, uma panóplia imensa de coisas e loisas, do melhor e do pior, que a gente aqui por Macau não aprecia nada a meio-tom e muito menos a meio-gás. Enfim, um mês tão rico que só poderia ser culminado, encimado, concluído, por cenas como o Encontro dos Macaenses da Diáspora e a apresentação das Linhas de Acção Governativa. Carlos Morais José, P.23

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Especialistas queixam-se da fraca divulgação da gastronomia macaense

Classificação em banho-maria Assinado protocolo da Confraria da Gastronomia Macaense com o Instituto de Formação Turística, mas candidatura à classificação da UNESCO continua só na vontade Filipa Queiroz

filipa.queiroz@hojemacau.com.mo

Desde a sua criação, em 2007, que a Confraria da Gastronomia Macaense (CGM) conta com o apoio do Instituto de Formação Turística (IFT) na divulgação da cultura da RAEM. Cooperação que tem passado pela criação de cursos e pela Escola de Hotelaria. Desta feita, foi oficializado ontem à noite, numa cerimónia no “Grand Ballroom” do Hotel Hyatt, a assinatura de um protocolo entre as duas instituições. O presidente da CGM, Luís Machado, disse ontem que o protocolo vai “consolidar a política de divulgação e preservação da comida macaense como património da comunidade”. Para José Manuel Rodrigues, presidente daAssociação Promotora da Instrução dos Macaenses, o protocolo vai “permitir uma

conjugação de esforços de forma a elevar a ‘cozinhação maquista’ a um patamar ainda mais alto”. Divulgar, divulgar...

Na Conferência sobre Cultura Gastronómica realizada ontem de manhã, no IFT, foram vários os pontos focados por vários oradores, no que toca à preservação de um dos elementos basilares da cultura macaense. Annabel Jackson, académica e consultora especializada na área da Gastronomia e Vinhos, lembrou que “muitos patrimónios gastronómicos no mundo estão a perder-se com a globalização, um problema que passa, por exemplo, pelo simples facto de os jovens já não aprenderem a cozinhar”. Jackson lidera o centro “Slow Food”, em Hong Kong, que trabalha precisamente no sentido da divulgação e preservação de vários patrimónios

gastronómicos pelo valor identitário que eles têm para com uma comunidade. “É preciso haver um esforço colectivo para que agora, que Macau obteve as classificações tangíveis da UNESCO, seja possível que o mesmo aconteça com as intangíveis”, disse. A consultora sugeriu inclusive a possibilidade de Macau se transformar numa Cidade da Gastronomia da UNESCO. Há apenas duas no mundo, uma é Popayan (Colômbia), e este ano foi a vez de Chengdu (República Popular da China) ser integrada na lista. “Se Chengdu conseguiu, Macau também pode conseguir, com certeza”, comentou Annabel Jackson. E levantou uma questão importante: “Há apenas dois sítios em Macau a servir exclusivamente comida macaense e são difíceis de encontrar ou não são devidamente apropriados para o turista do século XXI”, disse, referindo-se ao restaurante “Riquexó”, situado na avenida Sidónio Pais. Projectos concretos

Depois da integração da CGCM no Conselho Europeu das Con-

frarias Enogastronómicas, para a qual contou com o apoio das confrarias portuguesas, em especial o vice-presidente do CEUCO e presidente da Confraria do Algarve, José Manuel Alves, a possível candidatura a Património Intangível da UNESCO continua pendente. José Manuel Alves esteve presente na Conferência de ontem e reforçou essa possibilidade. Enquanto nada acontece, Luís Machado disse que os planos mais imediatos da CGM serão a disponibilização de receitas online no site oficial da instituição, com inauguração prevista para breve. Também reforçar o incentivo a todos os macaenses no sentido de experimentarem e divulgarem a comida macaense que “está espalhada pelo mundo todo através das 12 Casas de Macau, que tem dois representantes da Confraria em cada uma”. Luís Machado disse que acredita que a gastronomia macaense não vai desaparecer, apesar de poder vir a sofrer alterações, e que o esforço tem necessariamente de passar pelos hotéis e restaurantes. “Era preciso que não

se dedicassem apenas à função da roleta e a Direcção dos Serviços de Turismo já está a fazer um esforço nesse sentido”. Quem também faz a sua parte são Cíntia Serro e Graça Jorge, igualmente oradoras no painel da Conferência de ontem. Ambas são cozinheiras, a primeira representante da Confraria da Gastronomia Macaense e a segunda “apaixonada, não só pela cozinha como pela causa da sua divulgação”. Aprenderam a arte da “cozinhação maquista” em casa, no caso de Graça Jorge uma herança algo reforçada já que pertence a uma família célebre pelos dotes culinários. Em 1992, publicou o livro “A Cozinha de Macau de Casa do meu Avô” que, segundo a autora, teve “uma grande aceitação do púbico português”. A residir actualmente em Lisboa, a formadora dá cursos e workshops de cozinha macaense a pessoas sem qualquer raiz macaense em vários locais, entre eles no Museu do Oriente. Tanto Cíntia como Graça destacaram como é importante divulgar as receitas, sob risco de elas “morrerem nas famílias”.


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política

Kahon Chan

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Cheong U diz que o povo seria mais feliz se mostrasse mais gratidão

A doença da intolerância

Tentando dar crédito a Mak Soi Kun pelo trabalho que tem feito pela defesa do desenvolvimento do turismo, Cheong U acabou por deixar escapar que tinha tido com Mak vários almoços “yum cha”, o que lhe valeu uma salva de gargalhadas e burburinho entre os deputados e jornalistas Kahon Chan

kahon.chan@hojemacau.com.mo

O povo de Macau deveria aprender a apreciar este período de abundância de bem-estar social para conseguir ser mais feliz, considera Cheong U. O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura fez também um apelo às pessoas para que aceitem os outros quando estão a lutar pelos seus próprios direitos, num comentário à resistência que se tem feito sentir à abertura de um centro de metadona para tratamento de toxicodependência, previsto para a Areia Preta. A deputada Kwan Tsui Hang vai mais longe e pergunta se a sociedade não estará doente. O secretário mais inexperiente deparou-se também com alguns momentos embaraçosos na sessão de pergunta-e-resposta de ontem na Assembleia Legislativa (AL) sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG). Assim que Cheong U entrou na sala de reuniões da Assembleia pela segunda vez desde que assumiu o cargo há menos de um ano, os pais dos alunos do Colégio Baptista de Macau continuaram o seu protesto, depois de centenas deles terem assinado a petição organizada no início

da semana. A deputada Kwan Tsui Hang mostrou-se profundamente preocupada quando teve conhecimento da situação. “Tenho pena. Estará a nossa sociedade realmente doente? Porque é que há tanta resistência a propostas de lares para idosos e centros de reabilitação contra as drogas? Espero que os responsáveis aqui, incluindo assistentes sociais e de educação, vejam estes problemas como um alarme. Como devemos planear o futuro para Macau e melhorar a educação para a qualidade do povo?” O secretário concordou com o ponto de vista da deputada e descreveu a situação actual, em que os desenvolvimentos são bem-vindos desde que não sejam feitos no quintal das pessoas. “A sociedade deveria abraçar a ideia de que, quando lutamos pelos nossos direitos, devemos aceitar também os das outras pessoas, e contribuir mais para a sociedade”, afirmou, sem no entanto explicar qual seria o próximo passo a dar, perante o crescente descontentamento entre os pais. Receitas para a felicidade

Outra questão relacionada com educação cívica mereceu a atenção

de Cheong U na sessão de ontem. “Os subsídios ao ensino superior são um bom conselho, mas já há 15 anos de educação gratuita em Macau, o que é uma bênção e tanto. Quando desfrutamos de benefícios sociais, começamos a sentir que temos um

uma antes do intervalo da sua segunda participação nas sessões pós-LAG, mas com pouco tempo para preparar o que ia dizer, acabou por dar algumas respostas secas e vazias como: “A sua opinião é muito valiosa e vamos tê-la em conta”. Perdido no meio de

“Os subsídios ao ensino superior são um bom conselho, mas já há 15 anos de educação gratuita em Macau, o que é uma bênção e tanto. Quando desfrutamos de benefícios sociais, começamos a sentir que temos um direito inato a eles. Devíamos promover na sociedade que ela reconhecesse e apreciasse o bem estar quando somos felizes” - Cheong U direito inato a eles. Devíamos promover na sociedade que ela reconhecesse e apreciasse o bem estar quando somos felizes”, disse o governante, defendendo que alguma reflexão e trabalho deveriam ser feitos. “O nosso índice de felicidade irá aumentar quando estivermos gratos”. Em resposta à preocupação de Kwan sobre a prevenção de doenças mentais em Macau, Cheong tem

uma outra receita para semear a felicidade: as pessoas serão mais felizes se puderem praticar exercício físico a qualquer hora. Nesse âmbito, o secretário revelou um plano para converter o relvado em frente à AL num campo desportivo 24 horas. O humor de Cheong

Cheong tentou responder a todas as questões dos deputados uma por

tantas notas que tomou, o secretário perguntou: “Presidente, tenho um tempo limite?”, recebendo a resposta de que o alarme estava programado só para os deputados. Tentando dar crédito a Mak Soi Kun pelo trabalho que tem feito pela defesa do desenvolvimento do turismo, Cheong acabou por deixar escapar que tinha tido com Mak vários almoços “yum cha”, o que lhe valeu uma salva de gargalhadas e burburinho entre os deputados e jornalistas. Pouco depois, Cheong confundiu-se com uma pergunta de Mak: o deputado queria esclarecimentos sobre o reconhecimento pelo Governo dos profissionais do sector médico, com recurso a um caso, mas o secretário pediu ao director dos Serviços de Saúde de Macau (SSM) que desse explicações sobre um caso de atribuição de uma unidade de habitação social. Menos mal que o presidente da AL, Lau Cheuk Va, estava atento e corrigiu prontamente o erro de Cheong, que agradeceu com uma frase que provocou cerca de 10 segundos de gargalhada geral: “O presidente é sábio!” (主席英明), num tom a fazer lembrar filmes históricos rodados em palácios imperiais. No final, quatro de cinco deputados que falaram antes do intervalo – incluindo Mak Soi Kun – pediram para ter a palavra outra vez no dia seguinte (hoje), entrando para o fim de uma longa fila de cerca de 20 deputados. Embaraçado com as transmissões em directo pela rádio e televisão, Cheong mudou de abordagem para responder às seguintes questões na AL, com informação mais preparada, da responsabilidade dos chefes de departamentos, o que acabou por suavizar o resto da sessão.


Ministro António Mendonça de visita a Macau O Ministro das Obras Públicas e Transportes de Portugal,, António Mendonça, e o secretário de Estado Português dos Transportes, Carlos Correia da Fonseca chegam a 9 de Dezembro a Macau para uma visita oficial. Durante a sua estada, os representantes do Governo Português serão testemunhas da assinatura de vários acordos de cooperação entre a CAM - Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau e a ANA - Aeroportos de Portugal, segundo informou a revista Macau Business. Os acordos incluem o treino de controladores de tráfego aéreo de Portugal e um acordo para impulsionar a cooperação estratégica em sistemas e equipamentos.

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5 Kahon Chan

Deputados queixam-se de tudo, de restaurantes a escolas

Está tudo mal, senhor secretário Kahon Chan

kahon.chan@hojemacau.com.mo

Os deputados da Assembleia Legislativa (AL) enumeraram um vasto espectro de problemas e preocupações, de restaurantes a escolas, na sessão de ontem de debate pós-LAG, dedicada ao secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Cheong U. Kwan Tsui Hang reiterou as suas dúvidas quanto à manutenção da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) sob a alçada da secretaria de Cheong, tendo em conta que o turismo é uma indústria basilar que suporta a economia de Macau. A deputada também exigiu uma melhor supervisão das práticas dos organizadores de excursões em grupo guiadas, e apelou ao incentivo de produtos turísticos culturalmente mais aprofundados, como caminhadas temáticas a pé.

Cheong U disse que iria ter em consideração a sugestão. Ng Kuok Cheong, por sua vez, pediu um aumento para o Risco Social e reformulação dos subsídios financeiros para estimular o emprego, e também questionou como podem as instituições de ensino superior emitir tantos certificados de pós-graduação se estiver em vigor uma avaliação rigorosa das teses. Além disso, pediu ao Governo que superasse os obstáculos dos casinos e apresentasse uma nova proposta de lei anti-tabaco o quanto antes. Ho Ion Sang também apresentou a mesma exigência em nome do estado de saúde da próxima geração, até porque a China irá impor uma proibição de fumar em locais públicos no próximo ano. Cheong U disse que o Chefe do Executivo também lhe tinha ordenado mais do que uma vez que

concluísse o processo legislativo o mais depressa possível, mas ainda está a ser aguardada a data para a realização de um “estudo muito profissional” sobre a viabilidade das salas de fumo. Mas o secretário sugeriu que uma nova proposta de lei podia ser apresentada à AL antes a conclusão desse estudo, com uma abordagem flexível que permitisse lidar mais tarde com a questão das salas de fumo. A educação esteve também no centro das preocupações manifestadas pelos deputados. Ho Sio Kam, deputado nomeado do sector da educação, expressou descontentamento a maior instituição de ensino superior de Macau, dizendo que a Universidade de Macau (UM) tem de melhorar as suas qualidades académicas e recrutar mais docentes locais. Em resposta, Cheong U disse que o Governo tinha começado a trabalhar para

melhorar os salários oferecidos aos professores da UM para competir com as ofertas feitas por outras instituições de todo o mundo. Chan Chak Mo, da indústria da restauração, reclamou que as praças de alimentação no interior dos grandes resorts enfrentavam um grande problema porque todo o edifício só pode obter uma licença da DST, mas os pequenos restaurantes nas praças de alimentação têm tido dificuldades para

preencher os seus formulários de declaração de impostos com uma licença partilhada. O deputado exigiu uma revisão do sistema de licenças em Macau. Chan Meng Kam, por seu turno, mostrou-se preocupado com os atrasos na lei contra a negligência médica, e citou o caso de um casal vítima de um erro médico que estava na plateia. Os dois, lavados em lágrimas, emocionaram a Assembleia.

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Prestação de Serviços de Manutenção e Reparação dos Aparelhos de Ar condicionado Concurso público n.o 05/DOA/2010

Objecto: O presente concurso destina-se à “Prestação dos Serviços de manutenção e reparação dos aparelhos de ar condicionado do Instituto Politécnico de Macau”, nos seguintes locais: 1. Edifício Académico, Edifício Administrativo, Anfiteatro e Galeria de Exposição Lam Kan (sito na Rua de Luis Gonzaga Gomes). 2. Pavilhão Polidesportivo e Novo Edifício do IPM (sito na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues). Prazo de execução: Trinta e seis meses, contados desde 1 de Janeiro de 2011 a 31 de Dezembro de 2013.

Prazo de validade das propostas do concurso: As propostas do concurso são válidas até 90 dias contados da data de abertura das mesmas.

Limite da Apresentação das propostas do concurso: Hora e Data: 16 de Dezembro de 2010, antes das 17H45. Local: Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luis Gonzaga Gomes.

Abertura das Propostas do Concurso: Local: Anfiteatro III do Edifício Wui Chi (ex-Novo Edifício do IPM) do Instituto Politécnico de Macau, sita na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues. Data e Horas: 17 de Dezembro de 2010, pelas 15H00.

Caução Provisória: Devem os concorrentes prestar uma caução provisória, no valor de MOP27 600,00 (vinte e sete mil e seiscentas patacas), mediante depósito no Serviço de Contabilidade e Tesouraria do Instituto Politécnico de Macau, ou mediante garantia bancária. A avaliação das propostas do concurso será feita de acordo com os seguintes critérios: - Preço (40%). - Propostas pormenorizadas para a execução dos serviços de manutenção e reparação ao Instituto Politécnico de Macau (35%); - Equipamentos e produtos de manutenção e reparação. (10%); - Curriculum Vitae e competências do concorrente (10%); - Experiência e declaração abonatórias prestadas pelas entidades utilizadoras dos serviços de manutenção e reparação dos concorrentes (só dados dos anos 2008 até 2010) (5%). Esclarecimento: Data e Hora: 6 de Dezembro de 2010, pelas 15H00. Local: Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luís Gonzaga Gomes.

Consulta e Aquisição do Programa do Concurso e do Caderno de Encargos: O Programa do Concurso e o Caderno de Encargos podem ser consultados e adquiridos na Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luis Gonzaga Gomes, mediante o pagamento de MOP100,00 (cem patacas). Horário: de 2a feira a 5a feira das 9H00 às 13H00 e das 14H30 às 17H45. 6a feira das 9H00 às 13H00 e das 14H30 às 17H30.

Informações: 8599 6167 ou 8599 6153.

Macau, aos 1 de Dezembro de 2010. Presidente do Instituto, Lei Heong Iok

Prestação de serviços de Gestão na Residência de Estudantes Concurso público n.o 06/DOA/2010 Objecto: Prestação de serviços de Gestão na Residência de Estudantes, 11.o a 16.o andares do Edifício Meng Tak da Responsabilidade do Instituto Politécnico de Macau, sito na Rua de Luis Gonzaga Gomes, pelo período de vinte e três meses e dezasseis dias, contados desde 16 de Janeiro de 2011 a 31 de Dezembro de 2012. Prazo de validade das propostas do concurso: As propostas do concurso são válidas até 90 dias contados da data de abertura das mesmas. Prazo da Apresentação das propostas do concurso: Hora e Data: 16 de Dezembro de 2010, pelas 17H45. Local: Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luís Gonzaga Gomes. Abertura das Propostas do Concurso: Data e Horas: 17 de Dezembro de 2010, pelas 10H00. Local: Anfiteatro III do Edifício Wui Chi (Ex-Novo Edifício do IPM) do Instituto Politécnico de Macau, sita na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues. Caução Provisória: Devem os concorrentes prestar uma caução provisória, no valor de $59 600,00 (cinquenta e nove mil e seiscentas patacas), mediante depósito no Serviço de Contabilidade e Tesouraria do Instituto Politécnico de Macau, ou mediante garantia bancária. A avaliação das propostas do concurso será feita de acordo com os seguintes critérios: - Preço razoável (50%) - Qualidade (50%) (a) Propostas construtivas e aplicáveis à prestação dos serviços (30%) (b) Experiências e comportamentos das empresas demonstradas por semelhantes serviços prestados (15%) (c) Curriculum Vitae e envergadura do concorrente (5%) Esclarecimento: Data e Hora: 6 de Dezembro de 2010, pelas 10H00. Local: Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luís Gonzaga Gomes. Consulta e Aquisição do Programa do Concurso e do Caderno de Encargos: O Programa do Concurso e o Caderno de Encargos podem ser consultados e adquiridos na Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luis Gonzaga Gomes, mediante o pagamento de MOP100,00 (cem patacas). Horário: de 2a feira a 5a feira das 9H00 às 13H00 e das 14H30 às 17H45. 6a feira das 9H00 às 13H00 e das 14H30 às 17H30. Informações: 8599 6140, 8599 6178 e 8599 6163 Macau, aos 1 de Dezembro de 2010. O Presidente, Lei Heong Iok


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sociedade

Portugueses fogem à má fase europeia e escolhem Macau como destino

Êxodo de uma longa crise António Falcão

antonio@hojemacau.com.mo

Para Filipa Didier, professora de português como língua estrangeira no Instituto Português do Oriente, foi uma oportunidade e a vontade de “estar em movimento” que a fizeram sair do seu país, Portugal. Para João Braga, desportista nato com formação em educação física, a componente financeira pesou muito na sua decisão de abandonar o barco. “Trabalhei 11 anos com recibos verdes e com a perspectiva do IVA passar de seis para 23% na área desportiva decidi sair antes que tudo me caísse em cima”, aponta, nomeando ainda como grande impulso o facto de que durante o processo três mil postos de trabalho na área de desporto em Portugal vão ser suprimidos. João Pedro Godinho trabalhava na TVI no departamento de informática e encavalitado no rumo da empresa de redução de quadros, o seu contrato acabaria por ser rescindindo amigavelmente em 2008, “50% acordo, 50% impelido”, recorda. A partir dessa altura, apenas com meia dúzia de passos dados na entrada do túnel, as luzes de uma possível vinda para Macau, onde a sua companheira estudou e viveu durante a juventude, começaram a brilhar. Essas são só algumas de centenas de histórias de portugueses que têm chegado recentemente ao território. A justificação é comum a todos: a crise empurrou-os para fora e Macau pareceu ser o local ideal para recomeçar. Em 2010, no Consulado de Portugal em Macau os pedidos de informação sobre as condições de vida por cá têm chovido a uma maior intensidade. Deste lado, empresas portuguesas têm recebido currículos com a afirmação explicita da pretensão de deixar Portugal e rumar a Macau. “Será seguro arriscar?”, questionam. Os números são difíceis de precisar, até porque a abertura das fronteiras na Europa levou a que todo o desenho das migrações se tenha diluído. Mas numa pesquisa informativa na Internet os títulos das notícias saltam logo à vista. “Portugueses emigram cada vez mais”. Para Inglaterra, para Espanha, para Angola. E para Macau também. Fonte consular elucidou-nos sobre o fluxo de correio electrónico onde se pedem informações sobre

portais de emprego locais. Os interessados são tanto licenciados como indivíduos com menos qualificações. Para os outros que chegam, sem nada na manga, mais tarde ou mais cedo, acabam, nos passos das suas pesquisas, por passar pela representação do estado português

Filipa Didier

na RAEM para aí ampliarem a sua rede de contactos. Manuel Cansado de Carvalho, cônsul português, confirma um “fluxo corrente de pedido de informações”, mas, na sua veia diplomática, não avança com nenhum número concreto, nem dos portugueses “da metrópole” que estão actualmente a viver em Macau, nem dos que saem, porque “não dizem que partem”. Como “país livre que é, Portugal não obriga” a que os seus cidadãos se registem nos consulados portugueses espalhados pelo mundo. O mesmo acontece nas margens do Rio das Pérolas. “Se há mais portugueses? Não posso confirmar, porque não há um registo ou um indicador fiável e rigoroso dessa tendência”, aponta o diplomata. No entanto, afirma Manuel Carvalho, “pelo que posso observar nas ruas parece-me que há mais portugueses”. Referindo que mesmo que avançasse com uma estimativa iria sempre pecar por defeito. Na sua opinião, “é preciso muito cuidado no manuseamento da informação”, aludindo aos números muitas vezes apontados pela imprensa quando, por exemplo, se compara a conjuntura actual com a época áurea da emigração portuguesa nos anos 60. Filipa acha importante uma pessoa sair, “provocando um curtocircuito”, como forma de evolução pessoal. “Gosto muito de Lisboa”, diz. “Mas a ideia de deitar tudo abaixo, faz-nos reagir criando sentimentos novos.” A sua situação

era estável, “estava muito bem”, e a questão de deixar Portugal e romper com o país que marca a sua identidade, depende muito da “maneira de ser das pessoas e de ver a vida”. É um “momento dificílimo” o da decisão final mas tudo isso se apresenta como um

João Braga

grande desafio e agora, quase dez meses depois, sente-se “fascinada com a mudança”. Os néones como chamariz

“Estou a pensar mudar de vida, juntamente com o marido e duas crianças. Pensamos que Macau poderia ser o nosso ponto de recomeço.” Enunciados como este representam um desejo real de dar um passo à frente, fechando a porta para o passado. Não é uma resolução esporádica de um só indivíduo, mas sim uma reflexão que entra

A justificação é comum a todos: a crise empurrouos para fora e Macau pareceu ser o local ideal para recomeçar. Em 2010, no Consulado de Portugal em Macau os pedidos de informação sobre as condições de vida por cá têm chovido a uma maior intensidade. pela janela e fica a iluminar todo o horizonte familiar. Todos os nossos testemunhos partiram com os filhos, ainda em precoce idade escolar. Os holofotes tem categorizado Macau como um raro exemplo de sucesso.

Apesar de baseada nos “jogos de fortuna e azar”, a economia local está em expansão e à espreita da tão famigerada diversificação. João Pedro afirma que aqui se vive com mais “tranquilidade”. Ainda se contam com os dedos de uma só mão os meses que está em

João Pedro Godinho

Macau, mas a partir do momento em que decidiu vir, os contactos começaram de imediato a ser estabelecidos. Por enquanto ainda não arranjou emprego, mas a sua mulher, Joana, já se encontra em plenas funções, o que assegura de pronto a segurança necessária, enquanto abraça as suas próprias oportunidades. Aqui notou uma grande mudança na “qualidade de vida”. Apesar de ter saudades do mar e da família, João Pedro regista com satisfação o facto de “a comunidade portuguesa ser aqui uma coisa especial”, referindo como é fácil fazer amizades. Um país em estado de alarme

João Braga, quando saiu de Macau há dez anos, onde tirou o seu curso, decidiu nunca mais voltar. Recentemente, envolvido no seu próprio projecto e com o seu campo de acção a fecharse, gerindo uma clientela flutuante em que o prazo de pagamentos se estendia para lá do razoável, a determinação do regresso acabou por ser a mais lógica. Se pensar no que lhe falta, como já conhecia Macau, não se sente chocado. Mas aqui tem muito mais certezas quanto ao seu futuro profissional. Para Filipa Didier, a ideia nunca lhe tinha passado pela cabeça e quando a campainha despertou não pensou duas, mas “20 vezes de uma forma muito rápida”. Agora, de longe, olha para Portugal com grande preocupação, “pelo país e pelas

pessoas que lá estão”. Relatando o panorama complicado que é preciso enfrentar. “A maioria das pessoas, apesar de se encontrar numa situação difícil, não consegue mudar.” Não quer apontar o dedo a ninguém. “Não sei como se dá a volta”. Mas acredita que é preciso uma grande agressividade no futuro. Sublinha, no entanto, a “forma leviana na gestão de tudo. De recursos, de dinheiros, de pessoas, de ideias...” As perspectivas são sombrias. “Espera-se um efeito de bola de neve, que começa numa ponta e leva tudo à frente.” No final, se é preciso pôr a culpa em alguém pelas circunstâncias criadas, o veredicto alveja sempre as “pessoas que tomam decisões.” A ideia de que os portugueses não querem trabalhar, preferindo o subsídio de desemprego, é sempre uma das teorias apontadas. João Braga salienta a equiparação das licenciaturas aos cursos técnicos no mercado de trabalho, que resultam numa mão-de-obra muito mais barata, apesar de menos qualificada. E isso é um facto “que toda a gente sabe”. O cônsul português, Manuel Carvalho, não relata as motivações que levam a que os cidadãos de Portugal abandonem o seu país. Acabando por ser a melhor solução para muitos, “a presença no estrangeiro é um elemento positivo” para Portugal. “Espero que o país ande para a frente”, confessa, enquanto recorda as peripécias históricas pelas quais o país já passou e que conseguiu resolver no passado. A presença contínua dos portugueses é um facto de orgulho, que revela como Macau e a China levaram a bom porto “todos os seus compromissos”. “Os portugueses estão bem na RAEM”, assegura, mencionando as oportunidades de trabalho e a boa reputação na sociedade local como um facto positivo para o futuro, “como um bom activo para Macau e para Portugal”. Afirmando ainda a mais valia dos portugueses que estão no centro de gravidade do mundo. “Esta vitalidade é positiva para todas as partes envolvidas. Para os próprios, para Portugal, para Macau e para a China.” O cônsul salienta que assim se garante “o desígnio de manter a marca portuguesa em Macau”. O território de maior densidade populacional do mundo tem cerca de um terço dos seus habitantes, apesar de não dominarem a língua portuguesa, com passaporte português. Filipa, João e João Pedro não têm prazos para voltar, pensam ficar muitos e bons anos, e sobretudo não pensam em regressar a Portugal porque, de certo modo, conseguiram aqui encontrar a sua pátria.


Sands suspende negociações

sexta-feira 3.12.2010

A operadora de jogo Sands China anunciou ontem a suspensão da negociação das suas acções. A empresa, que detém os activos do The Venetian Macao, The Sands Macau e Macau Plaza e subsidiária da Las Vegas Sands Corp., justificou apenas que a suspensão surgia na sequência de um anúncio relacionado com “determinada informação sensível a preços”. As acções da Sands China terminaram em HKD17.40 na passada quarta-feira, tendo aumentado 44,5% nos últimos três meses. No entanto, o Wynn Macau teve uma forte actuação durante o mês de Novembro roubando o segundo lugar do ranking de quotas de mercado à Sands. A operadora de Steve Wynn reforçou 17%, já a Sands caiu para 15% relativamente ao mês anterior.

Os dois dias das LAG para 2011 na área de segurança não foram suficientes para pôr um ponto final na questão do trabalho ilegal. Os dedos são apontados às falhas no mecanismo de repatriação e na própria taxa de sucesso da fiscalização, mas também há, entre os deputados, quem considere que o Governo “já está cansado de responder às mesmas questões”

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Estratégia de combate ao trabalho ilegal não assegura direito dos trabalhadores

Lei a quanto obrigas

ção para a resolução breve deste problema.

Protecção só para alguns

Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

É um tema de conversa contínuo sem aparente solução. Durante os dois dias da apresentação das linhas de acção governativa para 2011 as opiniões tiveram diferentes contextos. Em defesa às críticas de Au Kam San e Kwan Tsui Hang, que questionaram a eficiência da fiscalização devido aos baixos números de detidos apresentados, Cheong Kuok Va, o secretário para a Segurança, ripostou dizendo que “não é possível mobilizar todos os agentes da PSP efectivos para o mesmo fim”. Em Setembro foram detidos 64 trabalhadores ilegais, em mais de uma centena de locais fiscalizados. Os estaleiros são a principal preocupação dos deputados que referem que o número de trabalhadores aumenta da manhã para a noite e exigem, por isso, mais pessoas a vigiar os acessos. A lei do trabalho importado, que entrou em vigor em Abril deste ano, traz ainda mais controvérsia à questão do trabalho ilegal. Segundo Cecilia Ho, investigadora social e professora no Instituto Politécnico de Macau (IPM), “ainda falta muito trabalho para assegurar os direitos dos trabalhadores

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não residentes, principalmente para as empregadas domésticas”. A chamada “lei dos seis meses de espera” pretende prevenir que os trabalhadores não residentes mudem de emprego imediata e constantemente. Assim, se um trabalhador não residente quiser aceitar uma melhor oferta de trabalho, terá que regressar ao país de origem por seis meses e só depois pedir uma nova autorização para obtenção de um novo “blue-card”. Para Cecilia Ho, isto “coloca os trabalhadores migrantes numa posição vulnerável, devido a poderem ter de aguentar injustiças e exploração por parte dos empregadores”. Esta lei, em conjunto com a exclusividade de empregador, poderá estar na origem

do trabalho ilegal, uma vez que os baixos salários e a exploração poderão levar os trabalhadores a mudar de emprego sem avisarem os serviços respectivos a fim de conseguirem evitar o intervalo de espera, aponta a académica. Em 2009, foram repatriados um total de 26.974 trabalhadores ilegais, com a China, as Filipinas, o Vietname e a Indonésia a encabeçarem a lista. Nas LAG, o repatriamento teve lugar a discussão por ser “um assunto delicado devido à necessidade de envolvimento do país de origem”. Além disso, e como apresentado num relatório de Chan Wun Man da PSP de Macau, “há falhas no mecanismo de repatriamento muito devido a questões políticas”. “Por exemplo, a RAEM quer acabar com a

isenção de alguns vistos para países do Sudeste Asiático, mas a extinção unilateral é considerada um insulto político”, apontou Chan. Apesar de algumas alterações, como o aumento de 180 patacas às iniciais 20 patacas por dia de permanência ilegal, Chan Wun Man aponta mais medidas. O extermínio das pensões ilegais, o combate ao arrendamento ilegal de fracções autónomas e a aceleração da construção de um centro de detenção de grande envergadura são algumas delas. O novo Centro de Detenção de Pac On, nos Serviços de Migração da Taipa, abrirá portas entre Janeiro e Fevereiro do próximo ano e terá capacidade para 160 pessoas. Nas LAG, o Governo, a PSP e a DSAL declararam haver partilha de informa-

A lei do trabalho importado, que entrou em vigor em Abril deste ano, traz ainda mais controvérsia à questão do trabalho ilegal. Segundo Cecilia Ho, investigadora social e professora no Instituto Politécnico de Macau (IPM), “ainda falta muito trabalho para assegurar os direitos dos trabalhadores não residentes, principalmente para as empregadas domésticas”

“Macau está seriamente a ficar para trás no que toca à defesa dos direitos dos trabalhadores não residentes”, defendeu Cecilia Ho em entrevista ao Hoje Macau. Apesar da lei ajudar a regular o equilíbrio económico de Macau e de ser efectiva na redução do trabalho ilegal, também implica um aumento no custo de vida do trabalhadores estrangeiros. As agências de recrutamento agem sem normas de regulação e exploram estes trabalhadores. Como explica a professora do IPM, o salário médio recebido pelas empregadas domésticas – objecto de um documentário lançado em 2009 pela analista – é de 2500 patacas, sendo que durante dez meses o mesmo valor servirá como taxa a pagar à pub

agência. “A falta de coordenação entre os diversos organismos impede que sejam detidos os empregadores”. A professora considera que é mais fácil investigar quem são os trabalhadores, deixando para trás os principais responsáveis. Actividades criminosas

O trabalho ilegal continua a ser constantemente relacionado a actividades criminosas, alerta Cecília Ho, mas “apesar de muitos acabarem por cometer ilícitos, a maioria não vem por isso”. Como realçou Chan Wun Man, da PSP, os ilegais apenas “aproveitam a facilidade de entrada em Macau, maior devido ao sector do jogo, para ficarem no território”. Havendo crimes, relacionam-se com furtos, tráfico e pensões ilegais devido, muitas vezes, à perda das economias no jogo.


Alfândega apreende 720 milhões em electrónicos contrabandeados

sexta-feira 3.12.2010

Durante três meses, as autoridades fronteiriças de Zhuhai, no âmbito da operação ‘5.26’ investigaram um total de 11 acções de tráfico e apreenderam 720 milhões de patacas em equipamentos electrónicos que tinham como destino Macau. Nesse bolo de material tecnológico, foram apreendidos cerca de 5 mil projectores e 390 consolas de jogos e telemóveis. Um responsável aduaneiro disse ao jornal Ou Mun que os contrabandistas estão a ficar “mais profissionais e organizados” e tendem a operar em equipa. Os casos estão já no Ministério Público para mais investigações e instauração de processos-crime.

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sociedade

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Direito | Normas das convenções internacionais a conta-gotas

Direitos sociais em discussão. Trabalhadores não residentes sem direito a segurança social é atentado à Lei Básica, pouco tempo de licença de maternidade e normas internacionais aplicáveis no território foram alguns dos direitos sociais discutidos ontem no Auditório da Biblioteca da Universidade de Macau, no âmbito da 3.ª Conferência Internacional sobre “As Reformas Jurídicas de Macau no Contexto Global: Direitos Sociais” Gonçalo Lobo Pinheiro glp@hojemacau.com.mo

De um ponto de vista jurídico os trabalhadores migrantes não residentes deviam estar abrangidos pelo regime de segurança social mas isso, em Macau, não está contemplado. Na tese “Trabalhadores migrantes, direitos sociais e a Lei Básica de Macau: o direito à segurança social”, Pedro Pereira de Sena, assessor da Assembleia Legislativa (AL), afirma que “esta opção não está de acordo com a política constitucional do território” emanada na Lei Básica. Orador na primeira sessão de ontem – O Princípio “Um País, Dois Sistemas” e os Direitos Sociais - Pedro Sena defende que “os trabalhadores migrantes, através da prestação do seu trabalho, desempenham na sociedade de Macau o mesmo papel que os trabalhadores locais, ainda que de forma temporariamente transitória”. Assim sendo, não há dúvidas “que estes trabalhadores também possam beneficiar do direito à segurança social, o qual deve ser extensivo a todos os trabalhadores que prestem legalmente a sua actividade em Macau em condições de estabilidade”. Na sua essência, o direito à segurança social é algo consagrado nos tramites mais básicos de qualquer lei justa, implicando o estabelecimento de um sistema que assegure os necessários rendimentos de substitui-

Gonçalo Lobo pinheiro

Uma questão de justiça

Pedro Pereira de Sena e Cristina Pereira

ção em caso de falta ou diminuição da capacidade para a execução de trabalho. Pereira de Sena lembra que “a situação dos trabalhadores é diversa”, mas defende que “a presença física efectiva” do indivíduo “conduz ao conceito civilístico de domicílio”. De facto, o artigo 43.º da Lei Básica abrange “tanto as pessoas que visitam Macau temporariamente e permanecem legalmente por causa da visita a familiares, turismo, estudo e negócios, como outras que têm residido por longo prazo em Macau, por razões de trabalho, como é o caso dos trabalhadores não residentes”. Posto isto, Pedro de Sena acha que “se deve estender a política de segurança social a todos, sem excepção, evitando discriminações”, porque na Lei Básica não há excepções. “É compreensível que o sistema de direitos fundamentais constante da Lei Básica eleja os residentes da RAEM como alvo primário do seu âmbito pessoal de aplicação. Mas o próprio texto constitucional alarga esse âmbito quando determina que a região assegura, nos termos da lei, os direitos e liberdades dos residentes e de outras pessoas da região”, disse o assessor da AL. Os princípios conformadores do ordenamento jurídico do território requerem que a todos seja reconhecida alguma forma de protecção social. É ponto assente. E haver um tratamento diferente viola o artigo 25.º da Lei Básica. Pereira de Sena conclui a sua tese a afirmar: “Havendo já igualdade no gozo dos direitos laborais (...), o direito à segurança social é também instrumental para garantir as condições mínimas para o exercício efectivo de direitos funda-

mentais. Eu defendo a inclusão dos trabalhadores migrantes no regime de segurança social”, defendeu. “Quando a lei for implementada é que se terá a devida consciência deste problema”, acrescentou aos jornalistas no fim da apresentação. Direito a ser mãe

Outra questão que preocupa os estudiosos do Direito de Macau, prende-se com a licença de maternidade, para não falar da licença de paternidade que se resume a apenas dois dias. Miguel Quental, docente da Faculdade de Direito da Univer-

território isto parece ser um regresso ao passado”, apontou. Apesar de ser alargada de 35 para 56 dias, a licença continua abaixo do que defendem as convenções internacionais na área do trabalho, que estipulam um mínimo de 14 semanas. Quental fala disso na sua tese e reitera que “Macau era, até agora, pelo menos na Ásia, o território com menos dias de licença maternal.Agora acho que está em pé de igualdade com Taiwan”. “Nós já aplicamos algumas normas das convenções internacionais em Macau. No entanto, para a

Na sua essência, o direito à segurança social é algo consagrado nos tramites mais básicos de qualquer lei justa, implicando o estabelecimento de um sistema que assegure os necessários rendimentos de substituição em caso de falta ou diminuição da capacidade para a execução de trabalho. Pereira de Sena lembra que “a situação dos trabalhadores é diversa”, mas defende que “a presença física efectiva” do indivíduo “conduz ao conceito civilístico de domicílio” sidade de Macau, defende na sua tese “Da licença de maternidade e do subsídio de nascimento: recordar o passado para perspectivar o futuro” que, apesar da recente alteração do número de dias de licença de maternidade, isso é “insuficiente face ao que se consagra no resto do mundo e até aqui ao lado, na China e em Hong Kong”. “Em 25 anos de existência de licença de maternidade no

convenção da Organização Mundial do Trabalho relativa à maternidade entrar em vigor na RAEM, tinha que ter sido aprovada na Assembleia Legislativa. Como não há informações nesse sentido, esta ainda não é aplicável em Macau. De qualquer forma, como temos em conta as garantias das trabalhadoras, aumentámos a licença de maternidade para 56 dias, o equivalente a oito semanas”,

afirmou, no passado, o director da DSAL, Shuen Ka Hung. As normas e... as normas

“Existe muito por fazer mas já muito foi feito desde 1995.” Assim concluiu a apresentação da sua tese “A protecção dos direitos sociais no contexto dos instrumentos internacionais aplicáveis a Macau”, Cristina Ferreira, assessora do gabinete do secretário para a Segurança (FSM). O respeito pelos direitos e liberdades fundamentais, incluindo os direitos sociais, é um princípio geral da RAEM, com consagração constitucional no artigo 4.º da lei fundamental do território. De destacar o artigo 40.º, que estipula as disposições do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP), o Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais (PIDESC) ou das Convenções da OIT aplicáveis a Macau e que continuam a vigorar depois da transição de soberania para a China. “À data da reassumpção da soberania do território de Macau pela China existia um acervo de instrumentos jurídicos internacionais sobre direitos humanos, incluindo, direitos sociais”, escreveu Cristina Ferreira na sua dissertação. O PIDESC entrou em vigor em Macau a 27 de Julho de 1993 e essa aplicação “serviu de motor em diversas áreas face à necessidade de conformar o ordenamento jurídico vigente com as obrigações constantes no Pacto”. O território tem recebido, desde 1995, inúmeras recomendações por parte do Comité para os Direitos Económicos, Sociais e Culturais – que monitoriza a aplicação do PIDESC – fazendo alusão a questões tão importantes com garantia de direitos económicos, sociais e culturais; protecção de família; violência doméstica; abuso sexual em local de trabalho; constituição de sindicatos; extensão do sistema de segurança social a não-residentes, e o direito à greve. “Houve progressos significativos (...). Porém, existem áreas onde há necessidade de legislar ou de aperfeiçoar o sistema existente, como é o caso da liberdade sindical, do direito à greve, do ordenado mínimo, da criminalização da violência doméstica, do alargamento dos benefícios sociais aos não residentes e o assédio sexual”, afirmou Cristina Ferreira. Durante todo o dia de hoje, mais especialistas do Direito estarão reunidos na Universidade de Macau para debater a reforma jurídica do território. Os académicos vão discutir, sobretudo, os direitos à saúde e à educação.


ANA e NAV assinam protocolo com Companhia do Aeroporto de Macau A Companhia do Aeroporto de Macau (CAM) e a ANA - Aeroportos de Portugal e a NAV - Navegação Aérea assinam na próxima sexta-feira, em Macau, protocolos de cooperação preferencial para trabalhos futuros na China e nos Países de Língua Portuguesa. Fonte ligada ao processo explicou à agência Lusa que os protocolos a assinar entre a CAM e as duas entidades portuguesas concedem “escolha preferencial” para parcerias em projectos de design e gestão de aeroportos no caso da ANA e para questões de tráfego aéreo com a NAV. O âmbito do protocolo, que será assinado durante a Terceira Conferência de Aeroportos da China e dos Países de Língua Portuguesa que terá lugar em Macau entre 8 e 10 de Dezembro, abrange quer a China quer os países de língua portuguesa.

vanessa.amaro@hojemacau.com.mo

As obras de construção de um condomínio de luxo vizinho ao Largo do Lilau, “The Fountainside”, mal arrancaram e já há moradores a quererem que sejam suspensas. Na tarde de ontem, sentaram-se à mesa representantes dos habitantes da zona, do Governo e da construtora. Em causa estão os constantes cortes de trânsito na rua do Padre António, o barulho que faz a vizinhança saltar mais cedo da cama e os alunos da Escola Católica Estrela do Mar a não conseguirem concentrar-se. O encontro, no entanto, acabou por não satisfazer as ambições dos queixosos, que saíram apenas com a promessa de que a construtora iria tentar minimizar os constrangimentos. A polémica em relação ao condomínio de alto padrão não vem de agora. Há dois meses, como o Hoje Macau noticiou, as empresas responsáveis, Headland Development e Sniper Capital, anunciaram o nome escolhido para o seu “grande empreendimento residencial” na colina da Penha, zona protegida pela UNESCO, ainda sem que houvesse uma aprovação para a construção por parte das Obras Públicas. O “The Fountainside” custará 158 milhões de patacas, terá um prédio de oito andares no cruzamento das ruas da Penha e do Padre António e abrigará 42 aparta-

filipa.queiroz@hojemacau.com.mo

Macau voltou a aumentar a sua quota de estrelas no célebre Guia Michelin. Na terceira edição do manual dedicada a Hong Kong e Macau, aquele que é considerado um dos guias gastronómicos e hoteleiros mais prestigiados do mundo elevou a duas estrelas dois restaurantes chineses locais e acrescentou um italiano à lista. Os eleitos

O “Il Teatro”, localizado no Wynn Macau, é liderado pelo chef Anthony Alaimo e serve os clássicos petiscos do ‘bel paese’, incluindo desde pizzas gourmet a especialidades do Sul da Itália. O restaurante tem a particularidade de ter uma cozinha aberta permitindo que os clientes observem a própria refeição a ser preparada. O restaurante de comida

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sociedade

Condomínio de luxo no Largo do Lilau provoca fúria entre vizinhos

Vanessa Amaro

Filipa Queiroz

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Uma fonte de problemas

mentos e moradias de alto padrão, segundo informações divulgadas pelas empresas de construção. A aprovação para a construção só foi obtida em Outubro e os bateestacas entraram imediatamente em acção. Durante todo aquele mês, a

Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) confirma ter recebido uma série de queixas apresentadas por moradores pela barulheira que se ouvia na zona. Agentes dos serviços foram destacados para o local e encontraram trabalhadores

da obra a “cravar estacas até ao nível das rochas, usando equipamentos que, portanto, provocavam elevados níveis de ruído”, diz a DSPA em comunicado. Foi então solicitado ao responsável pelo empreendimento que

Restaurantes portugueses e macaenses fora do Michelin

Mais estrelas para Macau cantonesa “Tim’s Kithchen”, no Hotel Lisboa, recuperou a estrela perdida em 2010, ficando agora o estabelecimento especializado em pratos de

Guia Michelin 2011 - Macau • “Robuchon a Galera” • “Zi Yat Heen” - Four Seasons Macau • “Tim’s Kitchen” • “Eight”

• “Aurora”

• “Il Teatro”

• “Jade Garden” • “Lei Garden” • “Wing Lei”

marisco com duas estrelas, o que confere uma marca de excelência aos seus pratos. O mesmo para o restaurante chinês “The Eight”, no

Grand Lisboa, que serve iguarias cantonesa e huaiyang, originária das cidades de Yangzhou e Huai'an, na província de Jiangsu.

substituísse o motor dos bateestacas, instalasse vedação ao redor da área de perfuração e lonas em todo o redor do terreno, de forma a cumprir as exigências do diploma legal sobre ruído vigente. A DSPA garante que, numa segunda visita dos agentes, o barulho já era menor e os próprios moradores também reconheceram a melhoria. No entanto, durante o mês passado os agentes da DSPA tiveram de regressar ao estaleiro por 11 vezes devido ao ruído intenso. As autoridades voltaram a repetir as recomendações. Há uma semana, uma medição do nível de ruído foi feita e ficou confirmado que a escola estava a ser afectada com os estrondos. Na reunião de ontem, a construtora prometeu não voltar a incomodar. “A DSPA, por sua vez, continuará a acompanhar o evoluir da situação no que diz respeito ao controlo da poluição na obra em causa”, prometem as autoridades. Ontem nenhuma das duas empresas envolvidas na construção e promoção do condomínio mostrou-se disponível para fazer comentários.

A liderar o ranking continua isolado o “Robuchon a Galera”, no Hotel Lisboa. O restaurante liderado pelo chef Joël Robuchon tem três estrelas, o que lhe confere qualidade de excepção ao nível da cozinha. Macau conta ainda alguns nomes na secção “Bib Gourmand”, a listagem para os restaurantes baratos. São eles o “Cheong Kei”, o “Laurel”, o “Lung Wah”, o “Noodle and Congee Corner”, todos do Grand Lisboa, e o “Square Eight”, do MGM. Carimbo de qualidade

O Guia Michelin é uma espécie de “bíblia” dos aficionados da comida ou da indústria gastronómica mundial. André e Edouard Michelin lançaram o primeiro Guia em 1900, tinha 400 páginas e era distribuído gratuitamente aos motoristas para lhes facilitar as viagens. Hoje,

são lançadas anualmente 25 edições a cobrir 23 países diferentes e mais de 45.000 estabelecimentos. O trabalho de pesquisa é feito por inspectores profissionais que visitam anonimamente os restaurantes, avaliando-os. Actualmente, o Guia Michelin inclui opiniões e a listagem dos melhores restaurantes e chefs do mundo através de um sistema de classificação de 1 a 3 estrelas. O Guia Michelin Hong Kong – Macau 2011 inclui um total de quatro restaurantes classificados com três estrelas (três em Hong Kong e um em Macau), 12 estabelecimentos com duas estrelas (nove em Hong Kong e três em Macau) e 53 são reconhecidos com uma estrela – 48 deles em Hong Kong e cinco na RAEM. O Guia já está disponível nestes territórios e em todo o Sudeste Asiático. Na Europa só estará disponível a partir do início de Fevereiro.


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10 A FIFA atribuiu a organização do Campeonato do Mundo de 2018 à Rússia, acabando com o sonho de Portugal e Espanha sediarem a competição mais importante do futebol. O anúncio foi feito na noite de ontem, em Zurique, pelo presidente do organismo Joseph Blatter. “Os 21 membros do comité da FIFA e o seu presidente decidiram atribuir o Mundial de 2018 à Rússia”, disse Blatter depois de sublinhar que “no futebol, é preciso aprender a vencer mas também a perder”. “Só pode haver um vencedor. O futebol é uma escola da vida onde também se aprende a perder.” O Mundial de 2022 foi atribuído ao Qatar. Desiludido. Assim se definiu o vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Amândio de Carvalho, depois de se saber que a Rússia foi o país eleito para organizar a fase final do Mundial de 2018. “Estou naturalmente

desporto

FIFA atribui Mundial de 2018 à Rússia. Portugal e Espanha eliminados

Um sonho desfeito

um pouco desiludido”, disse Amândio de Carvalho, para quem decisões como esta implicam “um grande peso a nível político”. “As declarações do primei-

ro-ministro russo, Vladimir Putin, e a sua ausência na cerimónia de atribuição faziam já supor que havia um pré-vencedor. É uma pena. Seria mais um grande evento pub

A Rússia apresentou-se na corrida à organização com um argumento que terá funcionado a seu favor: o facto de nunca ter acolhido o Mundial de futebol. Na Europa já houve dez campeonatos do mundo, mas será a primeira vez que uma prova vai ser organizada no Qatar

para Portugal e Espanha”, lamentou, em declarações à Antena 1. O secretário de Estado da Juventude e Desporto português, Laurentino Dias, considera que a decisão da FIFA de atribuir os Mundiais de 2018 e 2022 a Rússia e Qatar, respectivamente, foi tomada “em função de novos mercados e soluções”. “Não sei qual foi o curso da votação. Sei quem ganhou. A FIFA tomou a decisão de atribuir o Mundial a países onde nunca se realizou um Mundial. Foi uma opção em função de novos mercados e soluções. Opção legítima que temos de respeitar e entender. A candidatura ibérica era a melhor, e, ao que parece, terá ido à final com a russa”, afirmou. Costinha, director desportivo do Sporting, jogou no futebol russo e não hesita em afirmar que o poderio económico do país ditou leis na atribuição do Mundial de 2018. “O factor económico foi muito importante e a Rússia é muito forte a esse nível. Joguei lá. As deslocações são grandes e há

diferentes fusos horários. Teve que haver um factor muito forte para ter sido dado este privilégio aos russos”, argumentou Costinha, em declarações à Antena 1. O antigo jogador assinalou ainda a presença de “personalidades russas com muito poder e influência” na cerimónia que decorreu na Sede da FIFA, em Zurique. Já Igor Shuvalov, representante do primeiroministro russo, mostrou-se radiante com a escolha da FIFA: “Confiaram-nos a organização do Mundial e prometemos que não se vão arrepender dessa decisão. Vamos fazer história juntos”. A Rússia apresentou-se na corrida à organização com um argumento que terá funcionado a seu favor: o facto de nunca ter acolhido o Mundial de futebol. Na Europa já houve dez campeonatos do mundo, mas será a primeira vez que uma prova vai ser organizada no Qatar. Ao contrário do que acontecia nas candidaturas ibérica e inglesa, na proposta russa o trabalho infra-estrutural está quase todo por fazer. Na verdade, só o estádio Luzhniki, em Moscovo, cumpre os requisitos impostos pela FIFA para uma fase final da competição. Devido à extensão do território russo, a componente logística constitui um desafio de grande dimensão para as 13 cidades que integram o projecto - com excepção de Ekaterimburgo, todas as cidades-anfitriãs ficam situadas na zona europeia do país. Excluídas foram assim as candidaturas conjuntas de Portugal e Espanha, Bélgica e Holanda, bem como a proposta inglesa. Com o Qatar a vencer a corrida ao Mundial de 2022, ficaram de fora as candidaturas da Austrália, Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão. Agora, resta a Portugal sonhar com 2026 ou 2030. Será?

Benfica Médio Elias pode ser reforço

O médio Elias, de 25 anos, pode tornar-se em breve reforço do Benfica. O jogador que faz parte dos quadros do Corinthians é um dos alvos dos encarnados e Luís Filipe Vieira encontra-se já no Brasil para tentar negociar a vinda do jogador para a Luz. De resto, a ideia dos dirigentes encarnados passa por tentar fechar rapidamente o negócio, dado que Elias é também seguido por vários clubes europeus. As negociações vão prosseguir nas próximas horas, sendo que, para já, o único entrave para a transferência prende-se com a forma de pagamento ao clube brasileiro, que não pretende deixar sair o jogador por menos de 7 milhões de euros. O interesse dos encarnados já é público no Brasil, que, de resto, avançam que as negociações poderão estar próximas do fim, com o Benfica a garantir um dos valores emergentes do Corinthians.

Futebol Arroz cobiçado no Brasil

Está para breve a confirmação oficial da saída de Rodrigo Arroz do Belenenses. O defesa-central brasileiro, de 26 anos, que reclama salários em atraso, não tem sido opção no Restelo esta época e só no último domingo, face ao quadro de lesionados, teve a primeira oportunidade no campeonato, pela mão de José Mota. O central acabou expulso no jogo com o Sporting da Covilhã, que resultou em nova derrota, por 1-3, e no agravamento da situação do Belenenses na tabela classificativa da Liga de Honra. Rodrigo Arroz, à imagem do que já sucedeu com Cândido Costa e Gabriel Gómez, aufere um salário considerado demasiado elevado para a realidade actual do Belenenses, pelo que a Direcção tenta neste momento negociar a rescisão amigável do contrato. Uma situação que pode agora conhecer desfecho favorável para ambas as partes, uma vez que o jogador está a par do interesse de alguns clubes brasileiros, atentos à sua situação no Restelo.


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cultura

Armazém do Boi aposta na arte como performanc

“Celebration” e ‘Behaviour of the Plot” são as duas propostas do projecto associativo Armazém do a edição do Festival Internacional de Artes Performativas de 2010, com uma série de artistas eur um acto premeditado, mas também como uma comemoração de plena liberdade do desconheci celebração, irá penetrar no público sem o deixar vacilar. Esta é a lógica dos sonhosî, revela a organ variadas componentes, como acto mais marcante da sua força expressiva. Para ver na Coronel

“Amor e Dedinhos de Pé” é a obra mais conhecida do escritor macaense

António Falcão

antonio@hojemacau.com.mo

Esta foi a primeira questão que levou Lurdes Escaleira, professora do Instituto Politécnico de Macau (IPM) na área de Administração Pública, a iniciar uma investigação sobre o escritor macaense. O convite partiu da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e o tempo era escasso para uma comunicação a apresentar no seminário de homenagem ao autor, na Casa de Macau, na capital portuguesa, que se realizou no mês passado, poucos dias depois da sua morte. Um seminário que se irá agora materializar na publicação de um volume onde se reúnem as mais de duas dezenas de testemunhos pessoais e comunicações escritas e orais que destacaram a importância de Senna Fernandes, não como peça fundamental na bibliografia de Macau mas também numa abrangência literária lusófona. Do questionário partiu-se para o estudo, que continua agora em desenvolvimento, e que espelhou o conhecimento dos naturais de Macau, ou apenas residentes, sobre o maior nome na história da literatura do seu território. Perante um universo de 219 inquiridos, amostra que apesar de diminuta pode dar algumas pistas para um estudo mais profundo, fezse uma pesquisa exploratória sobre

O resultado confirma o facto inabalável de que o escritor macaense era uma figura pública no território (95% dos inquiridos conheciam o autor), com uma pequena faixa (5%) a afirmar que nunca ouviu falar de Henrique de Senna Fernandes. a relevância de Senna Fernandes na sociedade onde se incluiu. Algumas demarcações: os inquiridos falavam português como língua primária e a análise influi nas obras publicadas também em português. A amostra foi aleatória, com a maioria a ser natural de Macau (63%) e os restantes de Portugal continental ou dos países lusófonos, mas com 71% deles a residirem no território há mais de 11 anos. Com um nível etário compreendido entre os 20 e 85 anos, conclui-se que à partida os inquiridos conheciam bem a realidade de Macau. Além da questão principal, que dá título a esta peça, procurou-se saber de que forma a figura de Senna Fernandes

António Falcão | bloomland.cn

Já ouviu falar de Henrique de Senna

era reconhecida na sociedade e quais das suas obras foram as mais lidas. O resultado confirma o facto inabalável de que o escritor macaense era uma figura pública no território (95% dos inquiridos conheciam o autor), com uma pequena faixa (5%) a afirmar que nunca ouviu falar de Henrique de Senna Fernandes.

A maioria reconhece-o na sua posição proeminente ligada às letras: 82,5% afirmam-no como escritor, 70,7% como advogado e 56,7% como professor. Houve ainda alguns dos seus contemporâneos a realçarem ainda o seu ofício de bibliotecário, faceta menos conhecida do autor, mas que na verdade exerceu em diversos períodos

Associação cultural +853 lança conferências imediatas

Esta é a sua cidade? O “This Is My City” (TIMC) é um evento anual levado a cabo pela associação cultural +853 e que tem vindo a ocupar o espaço do Albergue de São Lázaro para aí manifestar as suas reflexões, que se dedicam ao estudo da cidade como espaço flexível e criativo. Para este ano, a equipa do TIMC, liderada por Manuel Correia da Silva, pegou no conceito de “conferências imediatas” para trazer até ao território o projecto japonês Pacha Kucha. Para quem não está familiarizado com o

significado deste formato, “pehcha-koo-cha-chá” é um termo japonês que se pode traduzir como “bate-papo”. As apresentações duram cerca de seis minutos e 40 segundos, à velocidade de 20 imagens que avançam no tempo a cada 20 segundos. Simples e efectivo, segundo os precursores deste conceito, que criaram este modelo de apresentação dinâmico que se espalhou globalmente, desde a sua invenção em 2003. O formato obriga o apresentador a ser conciso e a passara sua

mensagem de forma tão rápida, clara e eficiente possível. Mesmo que possa ser entediante, o espectador não tem tempo para se deixar dormir, porque logo de seguida surge outro interlocutor no ar. O tema para este ano é aplicado à dicotomia “Cidade Verde/ Cidade Cinzenta”, abordando os conceitos emergentes que despertam o sentimento e a discussão de cada cidadão perante a indomesticável vivência na cidade, face aos pressupostos da ecologia, poluição ou progresso. Para o efeito, entre arquitectos,

designers, artistas, jornalistas, foram convidados 12 intervenientes, na sua maioria residentes de Macau, que irão desenvolver o tema e ocupar a noite de amanhã, a partir das 20h00, para um evento que inclui música, a cargo do novíssimo projecto online de rádio Fai Chi Kei Radio, e outras atracções que prometem animar a febre nocturna de uma outra forma. Será lançada na ocasião a revista TIMC, onde se reportam as edições anteriores e o historial do evento. [Mais informações em: www.plus853.org] - A.F.

da sua vida na Biblioteca Sir Robert Ho Tung e enquanto director da Biblioteca Nacional de Macau. Quanto às suas obras, o panorama muda um pouco de figura. Lurdes Escaleira refere o “impacto exercido pela adaptação cinematográfica” dos seus livros, a elevar o grau de conhecimento e a “despertarem o interesse pela leitura”. Assim, “Amor e Dedinhos de Pé” lidera (com 69,2%), seguido de “Trança Feiticeira” (52,3%). Os contos são os menos conhecidos. “Nam Van – Contos de Macau” recolheu 23,4% na confirmação da sua leitura, mas apenas 10,3% revelarem o conhecimento de “Mong Há – Contos de Macau”. A responsável pelo estudo afirma que apesar de “não tão conhecidos, as pessoas que os lêem ficam a gostar muito desses contos”, revelando “um retrato muito interessante sobre Macau”. Voz única: Senna Fernandes era “um grande contador de histórias.” Este foi a berço do inquérito. Daqui o âmbito alargou-se para uma pesquisa mais dispersa no interesse da obra de Senna Fernandes. Partindo de outro caminho, o estudo acabou por revelar a consciência “do muito que há por fazer, de forma a que o legado [do escritor] perdure e enriqueça a literatura de expressão portuguesa e, em especial, a literatura feita por autores de Macau”. Em Portugal, sempre sem uma


nce

Boi para este fim-de-semana e que marcam ropeus e da Ásia. O evento afirma-se como ido. Aparecendo em todos os elementos da nização, que abraço a poesia, nas suas mais Mesquita, sábado e domingo pelas 19h00.

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a Fernandes? Na rede de postos de venda de livros pelo IC, apenas estavam disponíveis alguns volumes em chinês e em inglês, com a grande componente em língua portuguesa praticamente esgotada. Esta é uma atenção a que se deve dar toda a importância a muito curto prazo, sublinha Lurdes Escaleira, revelando a necessidade da reedição das obras em português. “O timing é muito importante”, clama, “devia ser agora já” grande componente de autores de Macau – o universo acaba por não ser muito vasto –, Senna Fernandes é o mais conhecido de todos eles. Lurdes Escaleira, sublinhando sempre a sua posição de leitora, já que a sua área de ensino não são as Letras, explica o modo único como escrevem os autores nascidos em Macau, diferenciandoos dos escritores do exterior que escreveram sobre e em Macau e que em diversas épocas passaram pelo território. Há uma “forma de estar muito diferente na maneira de escrever” dos autores de Macau, “a nível do sentimento”, explica, e na maneira “como se descreve Macau, transmitindo o cheirinho e o pulsar da sua terra como ninguém”, facto do qual Senna Fernandes acabou por ser o expoente máximo. Que, como os seus colegas de escrita, apresentaram Macau “com muito amor – o amor de mostrar a sua terra – e com muita naturalidade. Como quem usa uma câmara fotográfica e regista o momento prestes a fugir”.

alguns volumes em chinês e em inglês, com a grande componente em língua portuguesa praticamente esgotada. Esta é uma atenção a que se deve dar toda a importância a muito curto prazo, sublinha Lurdes Escaleira, revelando a necessidade da reedição das obras em português. “O timing é muito importante”, clama, “devia ser agora já”. “Há pano para mangas”, afirma ainda, sugerindo que os livros do autor de “Trança Feiticeira” deviam ser incluídos nos currículos de ensino das escolas luso-chinesas de Macau. Num projecto educacional onde se devia incluir também a protecção do patuá. “É preciso desenvolver todas as estratégias possíveis”, concluiu, “e deixar os discursos do passado e olhar para o futuro”. Tudo com o objectivo de dar mais visibilidade à literatura local e à obra de Senna Fernandes em particular, agregando desse modo um maior nú-

Ensino, publicação e divulgação

Muito se escreveu sobre o autor após a sua morte, mas ainda subsistem os estudos profundos sobre a sua obra.As homenagens de admiração e respeito multiplicaram-se. No entanto, no ensaio elaborado por Lurdes Escaleira, afirma-se que o círculo se limitou a um grupo “restrito de amigos, leitores e estudiosos”. A professora declarou ainda que esta é a altura propícia para propagar o conhecimento sobre a produção do escritor macaense, tanto no público como no mundo académico. O Instituto Cultural de Macau prestou também a sua homenagem, colocando os livros de Senna Fernandes no mercado com descontos especiais. Contudo, na rede de postos de venda pelo IC, atestado pela autora deste estudo, apenas estavam disponíveis

mero de leitores, acabando por “servir melhor Macau no futuro”. Este estudo continua em ebulição e a agregar testemunhos. EmAbril, numa versão mais completa, irá de novo ser apresentado integrado nos “Colóquios da Lusofonia”, a organizar pelo IPM e que traz a Macau diversos académicos e escritores para uma análise da expressão escrita nos países de expressão portuguesa. Até lá, Lurdes Escaleira, formada em Filosofia e em Macau desde 1987, vai voltar a pegar em toda a obra de Senna Fernandes e a ler tudo de novo. Esta é uma escrita que, como a água do Lilau, “quando se bebe nunca mais se consegue sair dela”.

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ideias l u z de i n ver n o Boi Luxo

Claude Jutra

Mon Oncle Antoine, 1971

Tudo se passa numa pequena cidade de província no Quebeque. Estamos nos anos 40 e esta é uma cidade mineira. Parece um filme inglês e há um fundo de realismo cinzento e de insatisfação social, uma insatisfação que resultará mais tarde num acontecimento maior da história contemporânea do Quebeque, uma greve de mineiros que transformou a vida desta província Fernand: Senhor Antoine, o que é que se passa? Onde é que está o morto? O Canadá não é um país de onde nos cheguem muitos filmes. São várias as razões que estão por trás deste fenómeno, o menor dos quais não será a proximidade física deste país com os Estados Unidos. Há outras razões que aqui não vêm a discussão - sirva esta pequena introdução para que sobre esta circunstância se reflita. Há muitos países muito mais pequenos e modestos que se têm revelado produtores de mais, melhores e mais conhecidos filmes. Alguns realizadores e actores canadianos têm sido engolidos pela máquina estadunidense e a sua verdadeira origem permanence desconhecida. Para além de Cronenberg, Denys Arcand e, possivelmente, Atom Egoyan, que outros canadianos se têm distinguido como realizadores? Guy Maddin é um realizador obscuro para a maioria do público e muitos não saberão que James Cameron ou Norman Jewison são canadianos. Provavelmente muitas pessoas não sabem também (e os canadianos não devem querer que se saiba) que tecnicamente os filmes canadianos mais importantes de todos os tempos, em termos de receitas, são Porky’s e Bon Cop, Bad Cop. Apetece ser mauzinho com este cinema. Mas há algumas certezas. Uma é a de que Norman McLaren, mesmo que tenha nascido na Escócia, é canadiano (Claude Jutra colaborou com ele em A Chairy Tale). Outra certeza é que este filme de Claude Jutra, Mon Oncle

Antoine, é consistentemente considerado como um dos grandes (e para muitos o melhor) filmes da história do cinema canadense, o que não causa um espanto muito ruidoso já que é difícil ser-se contra este objecto que não excita muito mas que, ao invés, nos traz um conforto e onde se reconhece uma melancholia setentrional que nos banha de uma luz pastosa e benéfica. É como acontece com Kes, de Ken Loach, ou The Fallen Idol, de Carol Reed, ambos filmes em que o incómodo que os percorre não evita que transmitam um pequeno bem estar. Tudo se passa numa pequena cidade de província no Quebeque. Estamos nos anos 40 e esta é uma cidade mineira. Parece um filme inglês e há um fundo de realismo cinzento e de insatisfação social, uma insatisfação que resultará mais tarde num acontecimento maior da história contemporânea do Quebeque, uma greve de mineiros que transformou a vida desta província. Ao fundo, ofega a enorme mina de asbesto, bestial e central na vida desta pequena comunidade rural, como se se tratasse de um enorme monstro a quem é necessário sacrificar o quotidiano dos seus homens e a sua liberdade. Tal como este filme fala do crescimento do Quebeque fala também do crescimento do jovem Benoit, o miúdo do filme. Este é o que se costuma chamar um filme de coming of age mas aqui o coming of age, que carrega consigo uma amarga desilusão, não é apenas o do rapaz mas o da zona mineira onde o filme se passa.

Este não é um grande filme mas é um belíssimo filme de inverno. Os outros dois filmes ingleses em cima referidos são estórias que rodam igualmente em torno de um rapaz e não se percebe muito bem porque é que há muito mais filmes sobre rapazes que sobre raparigas. Abstenho-me do exercício de fazer aqui uma lista. Lembrem-se estes 3 filmes e os primeiros filmes de Abbas Kiarostami e vários filmes escandinavos, japoneses e indianos - mas eu prometera que não me iria estender em listas. O que cobre este filme de um picante especial é a presença de Benoit e a presença constante da morte. O seu tio, o Tio Antoine, a figura que dá o nome ao filme e que funciona como um modelo para o jovem quebequense, é o dono dos armazéns mais importantes da cidade e é também o seu cangalheiro. Acompanhamos Benoit, Antoine e Fernand (interpretado pelo próprio Claude Jutra) em algumas das ocasiões funerárias. Não é meu costume fazer considerações sobre a vida dos realizadores cujos filmes aqui são comentados. Mas em relação a este filme que se passa numa pequena cidade fria de província, em relação a este filme de uma calma doméstica e um pouco autobiográfico, não consigo deixar de o fazer - mesmo que essa intenção possa revelar um tom voyeurístico. Em Novembro de 1986 Claude Jutra desapareceu. O seu corpo foi encontrado em Março do ano seguinte no Rio Lourenço, pensa-se que vítima de suicídio. Terá perma-

necido todos estes meses algures perdido no intenso inverno canadense. Dizer que este filme é sobre a morte da inocência de Benoit será um lugar comum. É assim neste tipo de filmes. Mas apetece-me fazê-lo de qualquer modo. Talvez porque tudo se passa demasiado depressa. Há uma morte de um outro jovem de menos de vinte anos num lugar afastado da cidade e Antoine e o jovem Benoit aparelham um cavalo a um pequeno trenó e dispõem-se a percorrer o caminho até ao pequeno lugar onde habita a família Poulin, a família do morto. É durante todo este episódio que tudo o que se passa nos é mostrado através do jovem Benoit, como se este se apoderasse de tudo. A câmara tornase cada vez mais impiedosa, o Tio Antoine vê-se despido de todos os seus encantos e este tempo que é um tempo de apenas umas horas é um tempo longo e doloroso na vida do pequeno canadiano. É também uma cena poderosamente invernosa e se a minha atenção se virou para este filme sereno mas firme nas suas intenções é porque este se aproxima e porque há filmes de inverno assim como há filmes de verão. Na viagem de regresso o caixão com o morto cai do trenó e este ali fica no meio de um inverno nevado e belo. Benoit regressa a casa sem morto mas com um profundo quebranto existencial. O jovem cai num profundo sonho pop com flores vestido de sacristão e a mulher do senhor notário de maminhas ao léu aos pulos em cima do caixão: mon petit Benoit t’as toute ta vie devant toi.


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15 Regressando à raiz te libertas do artifício, vazio e sereno, sem obstáculo.

文子 Wen Zi a compreensão dos mistérios Capítulos 126 | 127

Capítulo 126 Lao Tzu disse: Os imperadores são chamados filhos do céu na medida em que estabelecem o mundo através da Via do céu. No estabelecer da Via para o mundo, ater-se à unidade é o meio de preservação. Regressando à raiz te libertas do artifício, vazio e sereno, sem obstáculo; indizevelmente ilimitado, infindavelmente distante, sem forma quando olhas e sem som quando escutas; a isto se chama o caminho da Via. Capítulo 127 Lao Tzu disse: O corpo da Via é redondo, a regra da Via é quadrada. Suportando o yin e abraçando o yang, flexível à esquerda e firme à direita, caminhando na escuridão e levando luz, transformando sem fixação, chegando à fonte da unidade para responder infinitamente: a isto se chama iluminação espiritual. O céu é redondo e sem arestas e, assim, a sua forma não pode ser observada; a terra é quadrada e sem limites e, assim, não se pode espreitar pela sua porta. O céu se desenvolve e aperfeiçoa sem forma, a terra produz e cresce sem medida. Todas as coisas podem ser superadas excepto a Via, que não pode ser superada. A razão pela qual não pode ser superada é por não ter forma ou disposição constantes. O seu infindo revolver é o como o curso do sol e da lua, como a sucessão das estações, ou a passagem do dia e da noite, terminando e de novo começando, tornando-se luz e, depois, regressando à escuridão, controlando as formas porém não tendo forma. Assim pode seu trabalho concretizar-se. Faz das coisas e seres coisas e seres, porém, não é uma coisa nem um ser; e, assim, prevalece e não conhece restrição. Aqueles que fazem guerra nos seus templos ancestrais são senhores, aqueles que influenciam psicologicamente são reis. Aqueles que fazem guerra nos seus templos ancestrais tomam seu exemplo da Via da Natureza; aqueles que exercem influência psicológica compreendem as quatro estações. Cultiva a rectidão no seio do teu domínio e os que estão longe tomarão a peito a virtude; captura a vitória antes de combater batalhas e os líderes locais jurarão lealdade. Aqueles que atingiram a Via em tempos antigos emularam o céu e a terra em quietude e seguiram o sol e a lua em acção; as suas emoções se adequavam às quatro estações, as suas directivas eram como o trovão. Com base nos desejos do povo, a cavalo no poder do povo, se libertaram da selvajaria e destruição por ele. As pessoas que partilham os mesmos interesses materiais morrem juntas, as pessoas que partilham os mesmos sentimentos se complementam e as pessoas que partilham a mesma actividade se entre ajudam. Como se controlam e causam combate no mundo, aqueles que habilmente empregam exércitos fazem-no onde estes funcionarão espontaneamente, enquanto que aqueles que não podem empregar exércitos os usam para fins pessoais. Se usares a sua própria acção espontânea, todos no mundo podem ser empregues; se os usares para fins pessoais, ninguém no mundo pode ser empregue.

Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho

O texto conhecido por Wen Tzu, ou Wen Zi, tem por subtítulo a expressão “A Compreensão dos Mistérios”. Este subtítulo honorífico teve origem na renascença taoista da Dinastia Tang, embora o texto fosse conhecido e estudado desde pelo menos quatro a três séculos antes da era comum. O Wen Tzu terá sido compilado por um discípulo de Lao Tzu, sendo muito do seu conteúdo atribuído ao próprio Lao Tzu. O historiador Su Ma Qian (145-90 a.C.) dá nota destes factos nos seus “Registos do Grande Historiador” compostos durante a predominantemente confucionista Dinastia Han. A obra parece consistir de um destilar do corpus central da sabedoria Taoista constituído pelo Tao Te Qing, pelo Chuang Tzu e pelo Huainan-zi. Para esta versão portuguesa foi utilizada a primeira e, até à data, única tradução inglesa do texto, da autoria do Professor Thomas Cleary, publicada em Taoist Classics, Volume I, Shambala, Boston 2003. Foi ainda utilizada uma versão do texto chinês editada por Shiung Duen Sheng e publicada online em www.gutenberg.org.


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Ideias

16 per s pecti va s Jorge Rodrigues Simão

Gestão insolente do planeta ìThree profound transformations are under way on Earth right now. Climate change is real and is pushing us toward managing the planet as a whole. Urbanization - half the world’s population now lives in cities, and 80 percent will by midcentury - is altering humanity’s land impact and wealth. And biotechnology is becoming the world’s dominant engineering tool. Only a radical rethinking of traditional green pieties will allow us to forestall the cataclysmic deterioration of the earth’s resources.î

A

Whole Earth Discipline Stewart Brand

s florestas tropicais são um “habitat” para os seres humanos e um ecossistema importante em termos fisiológicos. Esse “habitat” está a ser destruído a um ritmo implacável. No entanto, nos países desenvolvidos tenta-se justificar a preservação das florestas tropicais, com base no frágil argumento de que são o lar de espécies vegetais e animais, e até de plantas das quais se extraem medicamentos naturais, sendo a maior farmácia do mundo. Actualmente, mais de 150 medicamentos comercializados provêm de plantas, sendo 27 por cento procedentes de elementos das florestas. Os exemplos abundam. Os elementos colhidos e sintetizados do caramujo - planta extinta devido à desflorestação e que se encontrava apenas na ilha de Madagáscar - demonstrou elevar numa alta percentagem as possibilidades de sobrevivência de crianças portadoras de leucemia. As florestas têm a utilidade na medida em que removem o dióxido de carbono da atmosfera. Mas fazem muito mais que isso, graças à sua capacidade de evaporar grandes massas de vapor de água, de gases e partículas que ajudam a formar as nuvens, as florestas servem para conservar a região fresca e húmida, na medida em que criam um toldo de nuvens brancas e reflectoras e atraem a chuva que as alimenta. Todos os anos é incendiada uma zona florestal com uma superfície superior à do Reino Unido, e muitas das vezes é substituída por toscas explorações pecuárias, ou outras árvores que desertificam os solos como o eucalipto. Ao contrário das herdades nas regiões temperadas, rapidamente se desertificam, mais árvores são abatidas, e o terrível processo de destruir pelo fogo a pele da Terra contínua. Parecemos não nos aperceber de que, cada vez que 70 ou 80 por cento de uma floresta é destruída, o resto não chega para manter o clima, e todo o ecossistema entra em colapso. O início deste milénio e século, apresentava devido ao abate de

árvores, uma destruição de 65 por cento das florestas tropicais, e dado o ritmo actual de abate, calcula-se ter subido para cerca de 67 por cento no final deste ano. As florestas tropicais virgens são os ecossistemas, onde existe a maior diversidade biológica da Terra, sendo o “habitat” de 62 por cento da diversidade biológica do planeta. A continuação da destruição das florestas à cadência actual, não levarão muito tempo a desaparecer, deixando mais de mil milhões de pobres dessas regiões, sem meios de subsistência, num vasto deserto global. É uma ameaça ainda maior, em termos de escala, do que uma guerra nuclear. Imaginemos, o sofrimento humano, os refugiados, o sentimento de culpa e as consequências políticas de um acontecimento desta grandeza. Regista-se numa época em que os países desenvolvidos, se defrontam com as surpresas e os desastres provocados pelo efeito de estufa, principal responsável pelas alterações climáticas, agravados pelo calor suplementar provenientes da destruição das florestas. É neste cenário de calamidade, que se iniciou a décima sexta Conferência das 194 partes da “Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (na sigla inglesa, UNFCCC)” e sexta reunião das 192 Partes do “Protocolo de Quioto (sigla em inglês, COP16/CMP6)”, a 29 de Novembro, em Cancún, que terminará no próximo dia 10, envolvida num ambiente de pessimismo. A cerimónia de inauguração começou com um discurso do presidente mexicano, que lidera o fórum, pondo ênfase no furacão que varreu o México no ano passado, nas inundações no Paquistão e os incêndios na Rússia este ano, sendo está última, uma das causas da subida dos preços dos bens alimentares de primeira necessidade, e quiçá de nova crise alimentar, como exemplos de incidência crescente de catástrofes naturais, provocadas pelas alterações climáticas e que afectam os mais pobres e vulneráveis. Fez um apelo aos negociadores para progredir no interesse dos seus filhos e netos, e o mundo tem a atenção depositada nesta crucial reunião. O Prémio Nobel da Química de 1995, Mario Molina, diante de um fórum com a presença de cerca de vinte e cinco mil pessoas, entre elas, delegados de 194 países, tentou convencer os participantes na “COP16”, de evitar que o aumento da temperatura superior a dois graus, com um custo em termos do PIB mundial, entre 2 e 3 por cento. A China e os restantes países de econo-

Actualmente, mais de 150 medicamentos comercializados provêm de plantas, sendo 27 por cento procedentes de elementos das florestas. Os exemplos abundam. Os elementos colhidos e sintetizados do caramujo - planta extinta devido à desflorestação e que se encontrava apenas na ilha de Madagáscar - demonstrou elevar numa alta percentagem as possibilidades de sobrevivência de crianças portadoras de leucemia mias emergentes, apenas devem assumir o custo de redução de emissões, se os Estados Unidos o fizerem primeiro. Protelar uma acção, poderá implicar um custo gigantesco para as gerações futuras. É necessário que se chegue a consenso e se atinjam acordos efectivos e, ao mesmo tempo, procurar uma

global de redução de emissões em poucos anos, dado não ser possível o planeta esperar uma década mais. Mário Molina é um especialista experiente nos processos que causam o aquecimento global e assessor em matéria do ambiente do presidente mexicano. O presidente do “Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (na sigla inglesa, IPCC)”, assinalou que nos próximos anos, depois dos efeitos da acção do ser humano sobre o clima, o impacto dos desastres naturais serão provavelmente mais severos, sobretudo para os países mais pobres. Nem a adaptação nem a mitigação “per si”, poderão evitar os impactos das alterações climáticas, e confia que a “Cimeira de Cancún” represente um passo significativo na luta contra o aquecimento global. Os especialistas e outras importantes personalidades na luta contra as alterações climáticas têm poucas esperanças de que a Cimeira, termine com a assinatura de um acordo satisfatório, depois do fracasso da “Cimeira de Copenhaga”. Há quem defenda a possibilidade de suficiente margem de manobra, para criar as bases que permitam a celebração de um futuro tratado sobre a protecção do meio ambiente, que finalmente substitua de maneira efectiva o moribundo “Protocolo de Quioto”. Os sucessivos falhanços na resolução do maior problema que o ser humano e o planeta vivem, até agora registados, independente da sorte da “Cimeira de Cancún”, que por negociar “in extremis”, pode fazer criar um acordo mínimo, que viabilize a continuidade das negociações, tendo em vista um acordo mais alargado e profundo. Este historial de negociações faz retirar a ilação, que é a moral de olharmos para o planeta como um superorganismo, teremos de certificarmo-nos de que não nos espera outra surpresa qualquer, que nos provoque outros malefícios inesperados, ou seja, uma surpresa tão grande, como aquela com que se confrontaram os habitantes da imaginária Atlântida. Todos querem ser gestores, e talvez seja por isso que falamos em gerir todo o planeta. Conseguiremos, graças a um acto de vontade comum, alterar a nossa maneira de ser e tornarmo-nos gestores eficientes, cuidando de toda a vida natural existente no nosso planeta? Somos demasiado insolentes para fazermos esta pergunta, ou para pensarmos que temos como missão cuidar da Terra. Esperemos que esta “Cimeira de Cancún” contrarie este pensamento.


joana Freitas

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Miguel Cardiga Soares | agente de seguros

À luz dos mil ofícios Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

“O que eu gostava mesmo era de ser electricista”. O tom da voz eleva-se e passa a estar acompanhado por um intenso brilho nos olhos. Descreve a luz como algo “lindíssimo” e desconhecido. “Quem carrega num interruptor não faz ideia do que está por trás disto”, explica de forma séria. Para ele, a luz é capaz de criar ambientes, definir sentimentos e estados de alma. Ainda hoje faz os seus próprios biscates, mas não foi por aí que iluminou o caminho da sua carreira. Há sete anos em Macau, Miguel Cardiga Soares relembra a primeira vez que visitou o lugar que, agora chama de casa: “Não gostei”, diz de forma assertiva. Agosto de 2003 trouxe-lhe “um detestar à primeira vista”. Mesmo assim, decidiu mudar de vida, tentar, já que um percurso é sempre concretizável, “desde que se acredite”. Enquanto o cheiro quente do café enche o ar, ele agita-se na cadeira. Expressivo e sorridente, quer contar tudo de forma detalhada, para que nenhum pormenor se perca na explicação do seu percurso de vida. Nasceu em São Jorge de Arroios, Lisboa, há 38 anos. Desde cedo começou a trabalhar porque, – repete a idade para justificar o que vem a seguir - “apesar de agora olhar para as coisas de outra maneira”, nunca prestou muita atenção às constantes chamadas de atenção dos pais. Apaixonado pela velocidade, pelas motas e pelos carros todo-o-terreno substituía as aulas pelo prazer de ver e repetir as proezas feitas no Autódromo do Estoril. “Acabei por reprovar um ano e o meu pai cansouse, saí da escola e comecei a trabalhar”. Miguel ri-se, embaraçado, quando lhe é questionado qual foi esse primeiro trabalho. Ajudante de decoração, durante pouco tempo. Com 17 anos, aventurou-se pela Suíça. Trabalhou num bar de hotel, mas “apenas pela aventura” sem se importar sequer com o salário. “Mais uma experiência onde aprendi muito”. Antes de carregar a pasta preta que traz consigo, e que contém brochuras de uma panóplia de planos de seguros que vende, há uma longa história para contar. Durante nove anos, ainda em Portugal, trabalhou numa empresa de produtos alimentares. Fez “algumas horas” de contabilidade para outras empresas, comprou e geriu o seu próprio negócio de venda de pão alentejano durante três anos. “Trabalhava muito em Portugal”, mas a qualidade de vida era melhor. A Macau falta aquela liberdade de “ter tempo livre, de pegar no jipe e atirar-me para a lama,

de fazer 200 quilómetros só para tomar um café, de ir com a mota até à praia”. Por cá, praticamente só trabalha e passou a dar mais tempo a si mesmo. Sente mais calor da parte estrangeira, o que se reflecte na escolha da namorada chinesa, mas também gosta de “partilhar um tempo” com os alguns, não muitos, amigos da mesma língua – “há gente muito boa na comunidade portuguesa, mas também há grupos de elite” que não o transportam de volta às origens. Em Fevereiro de 2004, Miguel voltou a Macau e distribuiu mais de uma dezena de currículos em empresas de engenharia, construção civil e marketing. Sem muitas respostas, em Maio fez os exames de admissão ao curso de direito da Universidade de Macau. Passou, “sem conhecer a história e a cultura locais”, mas teve de desistir antes de completar o segundo ano devido a um caso grave de doença prolongada na família. Depois de um longo período sem trabalhar, sentou-se atrás do balcão do BNU. Agora, o fato de xadrez que veste já não tem uma chapa de identificação ao peito e o trabalho de agente de seguros que tem há três não o prende dentro de um edifício. Há uns anos Miguel “encarava as coisas difíceis como algo para não ser feito”. Agora olha para a vida de outra maneira e afirma que concorda com os amigos portugueses quando estes lhe dizem que está diferente. As gentes de Macau, a cultura e alguns períodos conturbados desaceleraram o jovem que gostava de desportos radicais, tornando-o mais calmo, compreensivo e metódico - gosta de tomar decisões com base no que vê por si, quer compreender o porquê das coisas para as saber explicar. Combatendo o desejo constante de que os dias chegassem ao fim, sem usar movimentos do karaté que pratica, Miguel demorou um ano e meio a adaptar-se a Macau. Em viagens sozinhas pelas ruas da cidade, começou a interessar-se pela simplicidade das pessoas locais, parou em locais restritos a ensaios de ópera cantonense, remou nos barcos-dragão, montou e geriu um restaurante take-away. Agora, já troca a igreja pelos templos chineses e sair do território “só para férias”. Gosta da sua casa, do “cantinho”, e gostava de ter visitas do “primeiro amor”, a filha Beatriz de nove anos. Para projectos futuros fala em evoluir na carreira e montar um estabelecimento de comidas. Mas isso já será à luz de outras histórias.


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entrevista

AUGUSTO NOGUEIRA, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE REABILITAÇÃO DE TOXICODEPENDENTES DE MACAU (ARTM)

O entrevistado é um homem conhecido em Macau, mas não somente pelo esforço incansável na luta a favor dos que dependem da droga. A coragem demonstrada tem alcançado resultados, mas ainda longe de serem suficientes. Augusto Nogueira, além de presidir ao destino da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM), está ligado à Organização das Famílias da Ásia e do Pacífico (OFAP), é membro da Comissão da Sida e da Comissão da Droga. Uma grande aspiração da ARTM é colocar nos hotéis máquinas disponibilizando preservativos. Outro enorme desejo – urgente! – é que, de facto, se exija a identificação na entrada de estabelecimentos nocturnos a toda a gente. Que balanço faz das recentes iniciativas para recolha de donativos destinados ao Centro de Tratamento Feminino recentemente inaugurado em Coloane? O balanço é positivo. Foram efectuados dois jantares de angariação de fundos. O primeiro permitiu inaugurar e arrendar o espaço para o centro feminino e o segundo, embora tenha sido também de celebração do 10.º aniversário, permitiu também angariar um montante de 100 mil patacas que se destina exclusivamente à subsistência do centro e possivelmente a contratação de mais um técnico. Desde já os nossos agradecimentos a todos aqueles que participaram no jantar, aos patrocinadores, a Galeria 57, aos amigos que ajudaram na organização, aqueles que não participaram no jantar mas apoiaram e ao Instituto de Acção Social (IAS) por todo o apoio que nos têm dado. Estamos convencidos que em breve teremos o apoio do IAS para o Centro Feminino. Acho que também demonstrámos que cumprimos com os nossos objectivos e promessas. Que serviços presta o Centro? A ARTM presta diversos serviços para com a comunidade além do tratamento. Trabalhamos na área da prevenção, na qual somos responsáveis por toda a prevenção para a comunidade portuguesa e falante de inglês, e há três anos que trabalhamos na

António Falcão | bloomland.cn

“É grave quando um jovem olha para a

área da redução e minimização de riscos. Quais são os principais métodos que a associação utiliza no sentido da reabilitação de toxicodependentes? A ARTM utiliza a TerapiaBio-Psico-Social aplicada no sistema de comunidade. Temos uma equipa de dois psicólogos conselheiros, um trabalhador social, um enfermeiro e pessoas com imensa experiência que dia após dia estão encarregues de realizar as reuniões de grupo e individuais e actividades terapêuticas. Olhando para os números que possui, o quadro macaense é grave? Não é grave, mas é uma situação que necessita de constante avaliação e atenção para que não exista propagação drástica entre os jovens de Macau. Ultimamente assistimos a um aumento no consumo de drogas entre os jovens e a uma busca de estupefacientes no outro lado da fronteira. Seria apropriado

tentar perceber o que está a faltar aos jovens de Macau. Eu suponho que é bastante grave quando um jovem olha para a sua comunidade e não sabe onde ir, onde pode praticar desporto, onde se pode envolver em actividades culturais. Existe uma inércia no investimento de infra-estruturas para os jovens, de espaços. Constrói-se mais rápido 20 casinos que um ringue de hóquei em patins. É natural que os jovens nesta

“Ultimamente assistimos a um aumento no consumo de drogas entre os jovens e a uma busca de estupefacientes no outro lado da fronteira. Seria apropriado tentar perceber o que está a faltar aos jovens de Macau”

incessante busca do seu espaço acabem por se sentir desiludidos, deixando-se influenciar por outros tipos de comportamentos de risco. No entanto, existe um grande aumento de consumo de ketamina e, neste momento, estamos a notar um aumento no consumo de ice. Não se sabe se é uma derivação de consumo entre os mesmos jovens ou se são novos consumidores, novos jovens. Estes dados foram transmitidos na última reunião plenária da Comissão da Droga, agora sabemos que este tipo de informação obtida por organizações não governamentais que recebem imensos apoios deveriam ser mais concisos e detalhados, em vez de se limitarem a tentar influenciar decisões para que exista tratamento compulsivo. Isto não é Hong Kong. Ainda falando de balanços, quer destacar as principais actividades que envolveram a ARTM neste 2010? Realizámos imensas actividades

e todas elas de bastante importância na divulgação da prevenção. Destacamos o torneio de futebol inter-escolar, durante o qual simultaneamente exibimos os diversos trabalhos de propaganda contra a droga feitos pelos estudantes de diversas escolas. Realizámos concursos de desenho de cartazes, estojos, calendários e também as quatro actividades realizadas em parceria e com o patrocínio do Mocca Club. E, por último, a campanha do Abraço, na qual juntamos 250 pessoas de todas as etnias em diversos pontos da cidade. Essa foi, aliás, a primeira iniciativa do género. Posteriormente, houve a conferência sobre o Abraço que contou com representantes das Nações Unidas e da UNAIDS. São dez anos de ARTM. Em síntese, que imagens mais marcantes lembra dos primeiros tempos? A transição de um apartamento para o local que nos encontramos presentemente, onde durante dias e semanas trabalhamos


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com Helder Fernando

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sua comunidade e não sabe onde ir” incansavelmente para colocarmos o espaço de acordo com as necessidades. Ao mesmo tempo, as enormes dificuldades que estávamos a sentir pela falta de verbas para salários e alimentação. Foram momentos marcantes. O mais dramático foi quando não tínhamos sequer dinheiro para pagar a renda do centro. Na altura tínhamos um subsídio de 32 mil patacas por mês e só a renda eram 15 mil, faltando os ordenados, electricidade, alimentação... Lembro-me do centro cheio e de não podermos andar a angariar donativos de porta a porta. Foi muito difícil, tivemos quatro meses sem pagar a renda até que disse ao IAS que íamos fechar o centro. Eles então aumentaramnos o subsídio em cinco mil, com a promessa de no ano seguinte darem um subsídio maior. Desesperado, enviei uma carta a um banco local e deram um donativo de 50 mil que foi uma lufada de ar fresco. Tempos muitos difíceis que não posso esquecer. Pelo lado positivo, o apoio da actual chefe de divisão do Departamento de Tratamento e Reinserção Social, Lei Lai Peng, que nos deu uma grande ajuda a mudar certas mentalidades e a apoiarem-nos mais. Para cumprir os objectivos da associação, quais têm sido as maiores dificuldades? Passam pela falta de verbas que permitam solidificar uma equipa de trabalho e a contratação de mais pessoas. Infelizmente temos de ser polivalentes, algo que por um lado é bom, pois a pessoa ganha um vasto conhecimento. Mas, por outro lado, ao fim de um certo tempo a pessoa entra em colapso, fica exausta e acaba por se despedir. Depois os ordenados acabam por não ser compatíveis e justos para com o excesso de trabalho e responsabilidades, e ainda as próprias tristezas que este trabalho origina acabam muitas das vezes por causar desânimo entre os trabalhadores. No fundo, são criados laços de amizade entre os clientes e o ‘staff’, que às vezes é abruptamente interrompido devido a uma overdose ou uma ida para a prisão. E as maiores alegrias?

Além do que temos conseguido quer a nível local, quer a nível internacional, a nossa maior alegria, aquela que nos dá mesmo satisfação, é passar na rua e ouvirmos um ex-cliente a chamarnos mostrando-se todo orgulhoso por se encontrar bem. Várias iniciativas da ARTM têm contado com muitos voluntários. Sabendo-se que são fundamentais, que mensagem lhes envia? Um grande obrigado e que continuem ajudar-nos dentro das possibilidades que lhes permitem, estamos muito agradecidos a diversas pessoas. Kai Kay Chan que há cinco anos ensina informática aos nossos clientes, Sarah Feather, que ensina Inglês há mais de três anos, e a muitos outros que têm passado pela ARTM e ainda os que se juntam e apoiam-nos em actividades específicas. Sem eles, a vida dos clientes, por certo, seria diferente e muitas das nossas actividades não teriam sido feitas. A ARTM é membro de organizações internacionais. Na prática, quais são as vantagens? São bastantes, pois participamos na organização de eventos internacionais, obtemos contactos e amizades com pessoas de elevada experiência onde acabamos por aprender imenso. Muitas vezes a nossa opinião é solicitada, como foi o caso do Beyond 2008, que resultou em diversas sugestões para CND – Commission on Narcotics Drugs, de Viena. Participamos em imensas conferências internacionais, onde transmitimos os sucessos e os retrocessos de Macau nesta área. Temos imensos trabalhos de prevenção expostos nas Nações Unidas em Viena e no último AIDS 2010, na Áustria, foi exibido o vídeo sobre a campanha do Abraço em representação de toda a zona Sudeste Asiático/ Pacífico. Ironicamente, em Macau a associação nunca foi reconhecida pelas entidades respectivas. Temos imensos contactos o ANCD – Australia National Council on Drugs, com quem estamos a trabalhar na organização de uma Conferência Mundial para Kuala Lumpur. A associação lida bastante com portadores de HIV. Que opinião

tem sobre o apoio existente em Macau, inclusive no aspecto legislativo? Apesar do apoio estar a melhorar, acho que ainda existe muito para trabalhar. Falta apoio psicológico profissional, falta uma maior rapidez na autorização da medicação quando o doente necessita. Na ARTM fazemos visitas semanais ao domicílio e acompanhamos as pessoas portadoras do HIV. A nível de prevenção, as pessoas devem perder o medo e assumir que o HIV existe. Certos organismos responsáveis deveriam trabalhar mais e melhor pela prevenção em todas as suas vertentes e para todos os grupos definidos pela UNAIDS. Tem demonstrado o seu desacordo acerca do agravamento das penas, nomeadamente em jovens envolvidos em crimes relacionados com drogas. Algum comentário?

estratégia. O que se faz em Hong Kong não quer dizer que sirva para Macau. A verdade é que a estratégia de Hong Kong de meter medo e repressão não funciona e não vai funcionar apenas porque se decidiu fazer os testes de urina nas escolas, algo que não existe em nenhum estudo no mundo que prove que é efectivo, antes pelo contrário. Portanto, a prevenção de perseguição ao jovem consumidor e de expulsão do ensino, tem de acabar. Deve entender-se que o jovem necessita dessa educação e também da escola. As diferentes comunidades locais, a sociedade em geral, é sensível, na prática, aos vossos esforços e obra realizada? Ou ainda há preconceitos e exclusão? Na generalidade é sensível. No entanto sofremos alguns problemas quando inaugurámos o departamento

a zona encontra-se mais limpa e mais segura. Mas, infelizmente, temos o problema do IAS que pretende abrir um centro de metadona e a população não quer aceitar nenhuma área que seja anunciada. Esquecemos que o toxicodependente é uma pessoa doente, segundo as Nações Unidas, e como tal necessita de apoio e tratamento como qualquer outra doença. Talvez o tratamento de metadona devesse ser da responsabilidade dos Serviços de Saúde e implementado nos centros de saúde ou no CDC. Suponho que teria uma melhor aceitação pela sociedade. É triste ver todos estes preconceitos e exclusão contra os toxicodependentes Não podemos esquecer que por detrás de um toxicodependente existe um pai, uma mãe, um familiar que deseja a recuperação do seu ente querido. Será Macau uma sociedade bem

“O agravamento não reduz o crime, podemos ver que mundialmente as prisões estão cheias de pessoas com problemas de consumo de droga. Na prisão ninguém se educa, eventualmente ainda aprendem outras coisas piores. A descriminalização seria algo a pensar” O agravamento não reduz o crime, podemos ver que mundialmente as prisões estão cheias de pessoas com problemas de consumo de droga. Na prisão ninguém se educa, eventualmente ainda aprendem outras coisas piores. A descriminalização seria algo a pensar. Em Portugal está a ter um enorme sucesso. Mas em Macau teríamos primeiro que pensar em criar infra-estruturas que permitam os jovens passar o seu tempo e gastar as suas energias, locais onde possam praticar desporto e treinar. Os jovens de Macau coabitam muito com um mundo muito negro, têm que ser salvaguardados, têm que ser afastados dessa área naturalmente. Deve investir-se mais na prevenção através de uma

de troca de seringas na ARTM. A comunidade local fez enorme barulho, foram para a porta do departamento chamar-nos nomes, fizeram queixa ao IAS, à polícia e às associações de moradores. Mas com muita calma fomos explicando às pessoas que com a nossa presença iria melhorar a qualidade vida da comunidade, que mais jovens sairiam da rua para serem internados, que os roubos iriam deixar de existir, que seringas deixariam de ser encontradas nos cantos e nas escadas. Fizemos uma reunião e explicámos o nosso trabalho. Hoje somos muito bem recebidos e aplaudidos, inclusive temos vizinhos a confeccionar alimentos para nos oferecerem e são os primeiros a dizer que realmente

informada quanto aos aspectos mencionados nesta entrevista? Acho que não, normalmente as pessoas só tendem a informarse sobre o problema da droga quando o problema lhes afecta. Claro que na ARTM tentamos estar sempre disponíveis, fazendo muitas palestras sobre a droga. Mas quando se organizam palestras para os pais e professores acabamos por ter que cancelar devido à falta de pessoas ou ao reduzido número. Tínhamos uma palestra marcada para o próximo dia 11 com o apoio da DSEJ e tivemos que cancelar por falta de participantes. Muitas vezes são estes primeiros a criticar que nada é feito para prevenir. O ser humano é assim.


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o Hoje [r]ecomenda

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«Libra Scale», Ne-Yo

[f]utilidades Su doku [ ] Cruzadas

Horizontais: 1 - Compact-... . Relativo ao dorso dos insectos. 2 - Narração ou discurso em louvor de alguém ou de alguma coisa. Planta oleagínea do Brasil. 3 - Exclamação que exprime admiração. De Nor-nordeste. Antiga medida oriental. 4 - Papagaio da Amazónia. Elemento de origem grega que significa dente. Quarta corda do violoncelo. 5 - Magistrado superior de algumas antigas cidades da Sícilia. 6 - Correio electrónico. Dor nos rins. 7 - Que tem bafio. 8 - Primeira corda do violino. Move. Oh! 9 - Associação Académica de Lisboa. Espécie de jogo. Designação de vários frutos. 10 - Dirigir súplicas a Deus. Antigamente trazer. 11 - Arca de roupa. Acuação. Verticais: 1 - Resolve. Indespensáveis ao tacto. 2 - Terra cercada de água. Género de plantas. 3 - Pequeno macaco. Animal que. sendo macho, deu o ser a outro animal. Lugar em que se acende fogo, na cozinha. 4 - Símbolo de quilograma. Planta leguminosa de Diu. Rádio. 5 - Aquele que trata de indologia. 6 - Conserto em tonéis. Riso sarcástico. 7 - Obstuir-se o orifício da ampulheta. 8 - República Portuguesa. Medida francesa. Duas vezes a. 9 - Vapor do estômago. Grande quantidade de líquido. União Geral dos Consumidores. 10 - Consertador de redes. Acto de espantar caça. 11 - Forma antiga de leão. Capital de Portugal.

Soluções do problema Horizontais: 1 - DISK. TERGAL. 2 - ELOGIO. PATI. 3 - CHI. NNE. SAA. 4 - IA. ODONT. DO. 5 - PROAGORO. 6 - EMAIL. REIRA. 7 - NIDOROSO. 8 - MI. AGITAR. OE. 9 - AAL. OCA. UXI. 10 - ORAR. TRAGER. 11 - SORACO. ACUO. Verticais: 1 - DECIDE. MAOS. 2 - ILHA. MNIARO. 3 - SOI. PAI. LAR. 4 - KG. ORIDA.RA. 5 - INDOLOGO. 6 - TONOA. RICTO. 7 - ENGROTAR. 8 - RP. TOESA. AA. 9 - GAS. RIO. UGC. 10 - ATADOR. OXEU. 11 - LIAO. AVEIRO.

REGRAS |

Insira algarismos nos quadrados de forma a que cada linha, coluna e caixa de 3X3 contenha os dígitos de 1 a 9 sem repetição solução do problema do dia anterior

«Libra Scale» é uma homenagem de Ne-Yo a Michael Jackson defendida por um argumento que resume com ironia alguns dos clichés associados à pop americana. Uma obra maior que assenta Ne-Yo entre os grandes. O tempo temse encarregue de separar o trigo do joio e firmar Ne-Yo entre a gama alta do R&B. «Libra Scale» é o disco que Michael Jackson nunca gravou nas últimas duas décadas; uma espécie de «Thriller» do Séc. XXI com um extra muito recorrente na pop americana actual: a relação com a electrónica europeia.

[ Te l e ] v i s ã o TDM 13:00 TDM News - Repetição 13:30 Jornal das 24H RTPi 14:30 RTPi Directo 15:00 Debate das Linhas de Acção Governativas Área da Economia e Finanças (Directo) 20:00 Especial Informação 20:30 Telejornal 21:00 Jornal da Tarde RTPi 22:10 O Clone 22:58 Acontecimentos Históricos 23:00 TDM News 23:30 Pulp Fiction 02:00 Telejornal - Repetição 02:30 RTPi Directo INFORMAÇÃO TDM RTPi 82 14:00 Telejornal Madeira 14:30 América, América...Chegámos Todos Bem (Os Navegadores) 15:00 Magazine Austrália Contacto 15:30 Gostos E Sabores 16:00 Bom Dia Portugal 17:00 O Preço Certo 17:45 O Olhar Da Serpente 18:30 Príncipes Do Nada 19:00 Conta-me Como Foi 20:00 Jornal Da Tarde 21:15 O Preço Certo 22:00 Magazine Austrália Contacto 22:30 Especial Informação 23:00 Portugal No Coração TVB PEARL 83 06:00 Taking Stocks 07:30 NBC Nightly News 08:00 CCTV News – LIVE 08:30 ETV 10:30 Inside the Stock Exchange 11:00 Market Update 11:30 Inside the Stock Exchange 11:32 Market Update 12:00 Inside the Stock Exchange 12:02 Market Update 12:30 Inside the Stock Exchange 12:35 Market Update 13:00 CCTV News - LIVE 14:00 Market Update 14:40 Inside the Stock Exchange 14:43 Market Update 15:58 Inside the Stock Exchange 16:00 Babar And The Adventures Of Badou 16:30 Dennis And Gnasher 17:00 League Of Super Evil 17:30 Ben 10 Alien Force 18:00 Putonghua News 18:10 Putonghua Financial Bulletin 18:15 Putonghua Weather Report 18:20 Financial Report 18:30 Transworld Sport 19:00 Football Asia 19:30 News At Seven-Thirty 19:50 Weather Report 19:55 Earth Live 20:00 Money Magazine 20:30 The Amazing Race 21:30 Weekend Blockbuster: Liar Liar 22:30 Marketplace 22:35 Weekend Blockbuster: Liar Liar 23:20 World Market Update 23:25 News Roundup 23:40 Earth Live 23:45 Dolce Vita 00:15 Top Gear 01:15 The Pulse 01:40 European Art At The MET 02:30 Bloomberg Television 05:00 TVBS News 05:30 CCTV News ESPN 30 10:00 (LIVE) Australian Open Day 2 14:00 Football Asia 14:30 ABL game2 15:00 Castrol Football Crazy 15:30 (LIVE) Hero Honda Indian Open Day 2 19:30 (LIVE) Sportscenter Asia 20:00 16 Nations - Road To Qatar China 20:30 Total Rugby 21:00 2010 Trick Shot Magic 22:00 Sportscenter Asia

22:30 16 Nations - Road To Qatar China 23:00 Total Rugby 23:30 Sportscenter Asia STAR SPORTS 31 13:00 Sport Express 13:30 Game 14:00 Engine Block 2010 14:30 Sports Max 2010/11 15:30 FA Cup 2010/11 Dover vs. Aldershot 16:30 FIA F1 World Championship 2010 - Season Review 18:00 Sport Express 18:30 World Sport 2010 19:00 FA Cup 2010/11 Colchester United vs. Swindon Supermarine 21:00 Football Asia 21:30 (LIVE) Score Tonight 22:00 The FA Cup 2010/11 Highlights 22:30 FIA Wtcc 2010 - Inside Wtcc 23:00 (Delay) Hero Honda Indian Open Day 2 H/ls STAR MOVIES 40 12:00 Pearl Harbor 15:05 Slow Burn 16:45 Bottle Shock 18:40 John Grisham’S The Rainmaker 21:00 Accidental Husband, The 22:35 Gone In 60 Seconds 00:40 100 Feet HBO 41 13:00 So I Married An Axe Murderer 14:30 We’Re No Angels 16:15 For Love Or Money 17:50 Born Free A New Adventure 19:30 Napoleon Dynamite 21:00 Angels & Demons 23:15 8 Mile CINEMAX 42 12:00 Young Guns Ii 13:45 The Ruins 15:10 The Valley Of Gwangi 16:45 Memphis Belle

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18:30 The Golden Voyage Of Sinbad 20:15 Ice Twisters 21:45 Epad On Max 88 22:00 Doomsday 23:45 Tmz 379 00:05 Creepshow MGM CHANNEL 43 11:45 The Rosary Murders 13:30 A Star for Two 15:15 Jinxed! 17:00 Death Wish V: The Face of Death 18:45 Eight Men Out 21:00 It Runs in the Family 22:30 Nothing Personal 00:15 CQ DISCOVERY CHANNEL 50 13:00 Mythbusters - More Myths Reopened 14:00 World War II In Colour - Lightning War 15:00 In The Spotlight: Palm Oil 16:00 A People’s War In Colour - Colonial Wars 17:00 Dirty Jobs - Chinatown Garbage Collector 18:00 How It’s Made 19:00 World War II In Colour - Closing The Ring 20:00 Mythbusters 21:00 One Way Out 22:00 On The Case 23:00 Extreme Forensics 00:00 One Way Out - Ice Trap NATIONAL GEOGRAPHIC CHANNEL 51 13:00 Warzone Gone Wild 14:00 Crushing Defeat 15:00 Alaska Bush Troopers 16:00 Nat Geo Amazing! 17:00 Air Plane To Air Power 18:00 Mega Factories - Audi 19:00 Bangladesh 20:00 Warzone Gone Wild 21:00 The Pokot:The Path to Manhood 22:00 Extreme Healing 23:00 Proving Ground 00:00 Bangladesh ANIMAL PLANET 52 13:00 Hippo Face Off 14:00 Amazon - Super River 15:00 In Search Of Maneaters 16:00 Botswana’s Wild Kingdom - Makgadikgadi 17:00 Caught In The Moment - Mongolia 18:00 Chained Dogs 19:00 The Most Extreme - City Slickers 20:00 Into The Pride - The Bush Rules 21:00 The Wild Yak Patrol 22:00 Botswana’s Wild Kingdom - Chief’s Island 23:00 A Year In The Wild 00:00 Into The Pride - The Bush Rules HISTORY CHANNEL 54 13:00 God’s Gold 14:00 Breakfast 15:00 China’s Wildman 16:00 Stonehenge 17:00 The Razor’s Edge 18:00 Shockwave 19:00 Trick Shot Showdown 20:00 The Razor’s Edge 21:00 Return to Limbang 22:00 Taiwan 23:00 The Last Emperor 00:00 Unsinkable Titanic STAR WORLD 63 12:10 MasterChef US 13:50 America’s Next Top Model 14:45 How I Met Your Mother 15:10 Cougar Town 15:35 Brothers & Sisters 16:25 Private Practice 17:15 MasterChef US 19:05 Accidentally On Purpose 19:30 How I Met Your Mother 20:00 Castle 23:20 Hollyscoop 23:45 Private Practice 00:35 iTunes Festival London 2010

(MCTV 51) National Geographic Channel 18:00 mega factories - audi Informação Macau Cable TV


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[O]bjectiva Gonçalo Lobo Pinheiro

21 Raio [X] João Corvo, o outro Beto Dias

Joseph Blatter, presidente da FIFA (Zurique, 2010)

Para[ ]comer • Pérola 3/F, Sands, Largo de Monte Carlo, no.203 8983 82222888 3352 http://www.sands.com.mo • VINHA Alm Dr. Carlos d' Assumpção 393 r/c AC 2875 2599vinha@macau.ctm.net http://www.vinha.com.mo • FAT SIU LAU (SINCE 1903) Av.Dr.Sun Yat-Sen,Edf.Vista Magnifica Court Rua de Felicidade No.64, R/C Macau 2857 3585fsl1903@macau.ctm.net http://www.fatsiulau.com.mo

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• Clube Militar Av Praia Grande 795 2871 4000 cmm@macau.ctm.net • Espaço Lisboa Lda (Col) Gaivotas 8 2888 2226 2888 1850 • Camilo Av Sir Anders Ljungsted 37 2882 5688

• Dom Galo Vista Magnifica Court 2875 1383 domgalo@yp.com.mo http://www.yp.com.mo/domgalo • O Santos (TP) R. do Cunha 28827508 • Porto Exterior Ed Chong U 2870 3276 http://www.portoext.com.mo • Restaurante Fernando (Col) Praia Hác Sá 9 2888 2264

• Ó MANEL (Tp) Fernão M Pinto 90 2882 7571

• Litoral Restaurante Lda Alm Sérgio 261 2896 7878 2896 7996 http://www.yp.com.mo/litoral

• A PETISQUEIRA (TP) S João 15A 2882 5354

• Nga Tim Café (Col) Caetano 8 2888 2086

Aquamarine Thai Café (Taipa) Jardim Nova Taipa Bl. 21 Tel. 2883 0010

• O Porto Interior Alm Sérgio 259B 2896 7770 • A Lorcha Alm Sérgio 289 2831 3195

• Sawasdee Thai Av Sid Pais 43AE 2857 1963 • Aquamarine Thai Café (Tp) Jardm Nova Taipa bl 21 2883 0010 • Bangkok Pochana Ferrª Amaral 31 2856 1419 • Kruatheque Henrique Macedo 11-13 2835 3555 • Restaurante Thai Abreu Nunes 27E 2855 2255

• Afonso III Central 11A 2858 6272

• LA COMEDIE CHEZ VOUS Ed Zhu Kuan S/N G (Oppsite Cultural Centre) 2875 2021

• Bar Oporto Tv Praia 17 2859 4643 • Maria’s Comida Portuguesa Patane 8A 2823 3221

• LE BISTROT (Tp) Nova Taipa Garden Block 27, G/F 2884 37392884 3994

• Restaurante Pinocchio (Tp) Regedor 181-185 2882 7128 • Canal dos Patos Parque Municipal Sun Yat Seng 2822 8166

• CHURRASCÃO Nova Taipa Garden, Block 27 G/F, Taipa 2884 37392884 3994 • Yin Alª Dr Carlos d’Assumpção 33 2872 2735

red Cineteatro | PUB

• Fogo Samba VENETIAN-Grand Canal Shoppes Apt 2412 2882 8499

[ ] Cinema

Sala 1 Skyline [C] Um filme de: Collin Strause, Greg Strause Com: Eric Balfour, David Zayas, Scottie Thompson 14.30, 16.30, 21.30 SALA 1 the extraordinary adventures of adèle blanc-sec [C] (legendado em inglês) Um filme de: Luc Besson Com: Luise Bourgoin, Mathieu Amalric 19.30

Sala 2 the next three days [B] Um filme de: Paul Haggis Com: Russell Crowe, Liam Neeson 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

Sala 3 Red [C] Um filme de: Robert Schwentke Com: BruceWillis, Morgan Freeman, Helen Mirren 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

As aventuras do João Corvo: João Batista de Oliveira, o João Corvo, era uma figura folclórica em Itatiba da década de 1950: muito esperto e sempre com uma tirada fantástica para sair dos apuros em que se metia. Conta-se que um dia foi ao Mercado Municipal que, na época, ficava na Rua Campos Salles (onde hoje funciona uma loja de electrodomésticos), para tomar uma pinga no mercado do Joaquim Franco Penteado, o Quinzinho. João chegou e pediu mil réis de pinga, o que dava um copinho. Tomou uma bebida e pagou de imediato, com uma nota enrolada. Foi-se embora rapidinho e quando o Quinzinho desenrolou o dinheiro, percebeu que só havia metade da nota! A outra metade, o João já tinha passado noutra taberna... João Corvo gostava muito de festas e divertiase a valer por aí, mas voltava muito tarde e, às vezes, para não ter que ir até sua casa, que ficava longe, acabava dormindo com amigos ou em qualquer outro lugar. Conta-se uma história que, numa noite fria, o João voltou de uma festa à noite. Tinha bebido um pouco além da conta e não estava disposto a caminhar até à sua casa. O único lugar aberto, que oferecia abrigo àquela hora era o cemitério. E João, sem medo, entrou e procurou um lugar para se esconder do frio, instalando-se num grande túmulo, que se encontrava meio aberto. Ficou por lá e dormiu. A altas horas da madrugada, João ouviu vozes do lado de fora do túmulo e espiou discretamente: duas mulheres estavam fazendo um “despacho” no cemitério, com farofa, galinha preta e um litro de pinga. As duas estavam a decidir qual era o melhor lugar para realizar o “trabalho” e o João só escutava: “Não, vamos para o outro lado!” “Não, dá-me o litro de pinga, vamos fazer a macumba aqui mesmo!” O João estava a morrer de frio e pensou logo em tomar um golezinho daquela pinga para se aquecer e agiu na mesma hora. As duas mulheres só viram aquele braço saindo de dentro do túmulo e a voz meio abafada dizendo: “Olha, eu não quero saber onde é que vai ser o despacho, mas me dá esse litro de pinga!” As mulheres largaram tudo para trás e saíram do cemitério a correr, gritando!

[João é o rei do anedotário de Itatiba, no Brasil, Beto foi apenas o um dos seus oradores]


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opinião v o lta ao d i a em oi ten ta m u n dos Carlos Picassinos

S

ai em Espanha, de Marta Nussbaum, o livro “Sem fins lucrativos. Porque razão a democracia necessita das humanidades” e logo no primeiro parágrafo, a filósofa vai ao osso da questão: “Estamos perante uma crise de proporções gigantescas de uma enorme gravidade, a nível mundial. Não, não me refiro à crise económica global, refiro-me a uma crise que passa, praticamente, inadvertida, como um cancro. Refiro-me a uma crise que, com o tempo, pode tornar-se muito mais prejudicial para a democracia: a crise mundial em matéria de educação”. A frase da pensadora norte-americana não reflecte uma condição específica dos Estados Unidos. Ela é válida para a tendência que se instala também nas escolas da Europa: um ensino técnico que valoriza mais que tudo a eficácia, a operatividade e a produtividade em prejuízo da razão especulativa que aposta no saber e na formação das artes, da música, da matemática pura, da filosofia, em suma das humanidades. Ar dos tempos em que a dimensão económica adquiriu uma autonomia

ca r t o o n por Steff

A loucura do útil significativa face às esferas social e cultural constituindo o eixo central da acção política das governações e do discurso público. Nem de propósito, a Fundação Gulbenkian, em Lisboa, organizou nos últimos fins de semana de Novembro, uma série de conferências sob o título genérico “A República por vir” que equacionou justamente os caminhos da emancipação dos cidadãos e das democracias no universalismo republicano adveniente. Das palavras de Jacques Ranciére, de Bernard Stiegler, ou de Georges Didi-Huberman, que por ali passaram, emergiu um fundo comum: a reivindicação de uma rebeldia e de uma estratégia contrária à homogeneização dos subjectividades e à transformação dos indivíduos em autómatos operativos ao serviço da grande máquina do desejo capitalista. Sem o explicitarem nestes termos, o que os três filósofos ali decretaram foi também o coma da instituição-escola e dos seus programas educativos incapazes de superar, no seu interior, as subalternidades e as hegemonias sociais dominantes que era suposto combaterem. As coisas assim, a ninguém deve espantar

A filosofia pode muito, mas não pode tudo. Se pensarmos bem, quantos indivíduos não estarão no mercado de trabalho laborando sob o servilismo, as relações de poder, a inaptidão ou a mendicidade intelectual? Terror diplomático

o elogio cego aos valores da segurança, da ordem, da estabilidade e da previsibilidade, da eficácia, e do desempenho. Tudo é contabilizável, tudo é mensurável, tudo reduzido ao cartesianismo do deve e do haver. Os anjos da história são agora economistas, advogados, gestores, engenheiros. Há 24 séculos, Aristóteles identificou na “Metafísica” a natureza distinta dos homens com a sua incessável disposição para o conhecimento e para o saber. E em finais do século XVIII, Kant estabelecia as condições para a saída do homem da sua menoridade intelectual. Separados por este mar de tempo, os dois coincidiam na importância da filosofia, da crítica, das humanidades no processo de formação dos cidadãos, ou seja, de indivíduos capazes de relacionarse com a diferença, a imprevisibilidade e a complexidade próprias das democracias contemporâneas. Claro que se pode argumentar que tal desígnio iluminista goza de má imprensa ou, como fez Bernard Stiegler na Gulbenkian, que hoje, sem habitarmos um totalitarismo, já não vivemos em democracia. Estaríamos em pelo regime híbrido, em transição para uma qualquer república por vir, cujo dispositivo político que nos configura a todos nós - amigos tecnicizados, codificados, identificados, localizados do Facebook e das redes sociais – já teria inscrito em si os ecos inquietantes das condições históricas dos fascismos (ultra?) passados. Mas é uma fuga em frente. Talvez por estar atenta a este insinuante dispositivo, invisível de tão evidente, a inefável Unesco tenha decidido criar a 18 de Novembro de todos os anos, o dia mundial da filosofia – uma data no calendário em reconhecimento da capacidade desta disciplina em compatibilizar a diversidade de culturas no benévolo guarda-chuva do universalismo. E daí a proposta lançada aos sistemas de ensino de todo o mundo para que atribuam à filosofia e ao pensamento crítico uma centralidade nos seus curricula secundários e, mesmo, primários. Eu, que sou um optimista céptico, duvido que a medida consiga refrear o tal ar dos tempos. A filosofia pode muito, mas não pode tudo. Se pensarmos bem, se quisermos mesmo contabilizar, por esta altura quantos indivíduos não estarão já lançados na selva do mercado de trabalho laborando sob o servilismo, as relações de poder, a inaptidão ou a mendicidade intelectual? Ou ainda mais terrível, quantos não acreditam, convictamente, que a vida obedece a um guião único, a um único modo de ser e usar? Quantos os que, lá no seu íntimo, não acreditam que a vida não tem fins lucrativos? Mille e tre?


É que uma coisa é elogiar na dissidência, e Padre Manuel teixeira [1912-2003]

outra, na presença das pessoas.

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23 edi tor i a l Carlos Morais José

Aquele querido mês de Novembro Onde se fala do FIM, do GP, das LAG, do EM e talvez de outros acrónimos E quem vai ao mar? Perde o lugar. Não foi exactamente o que se passou comigo, durante o mês em que, por motivos pessoais e profissionais, estive ausente de Macau, mas perdi muito. O mês de Novembro foi fértil em acontecimentos, eventos e eventozinhos, festas, festarolas e festinhas. Ele foi Grande Prémio de Automobilismo, Festival Internacional de Música, inaugurações várias e para variados gostos, lançamentos disto e de mais aquilo, enfim, uma panóplia imensa de coisas e loisas, do melhor e do pior, que a gente aqui por Macau não aprecia nada a meio-tom e muito menos a meio-gás. Enfim, um mês tão rico que só poderia ser culminado, encimado, concluído, por cenas como o Encontro dos Macaenses da Diáspora e a apresentação das Linhas de Acção Governativa. Cerejas no topo deste fantástico bolo que foi o novêmbrico mês, conhecido no Ocidente por ser cinzento mas que por aqui se reveste das cores feéricas da fartura, da nata e do creme de la crème, já para não falar da cor do contado. Enquanto esperamos por um arroubo de bom senso que despache o senhor Mok e sus muchachos para o lugar distante onde já deveriam estar há muito tempo, lá tivemos mais edição do Warren Bros Festival, um evento que fenece ao longo dos anos, e que está longe de satisfazer as legítimas ambições de quem é apreciador de música clássica ou, simplesmente, de cultura. O Festival Internacional de Música continua a optar por descer às gentes ao invés de fazer subir a população a um grau superior de entendimento da arte, que é como quem diz da vida. Continua a facilitar em vez de complexificar. Continua a desapontar quando podia educar, explicar e não desaparecer para ressurgir todos os anos, numa versão manhosa do vira o ano e tocam os mesmos. É triste... é uma sonata melancólica de violoncelo com sabor a limoncello de segunda extracção, cuja satisfação só os seus organizadores encontram, neste aquém e noutros além-mares. Compreende-se a dificuldade em mexer neste evento, porque não será certamente fácil encontrar um substituto, assim num instante, para o inefável tenor (ou será barítono?), de modo a não interromper a periodicidade do FIM, mas existem no Instituto Cultural pessoas que já dispõem de experiência e conhecimentos

suficientes para sugerir alternativas. Espera-se que o IC não seja xenófobo e insista em alguém que tenha obrigatoriamente etnia chinesa, na medida em que o critério nacionalista (para não dizer rácico) já provou não ser convincente, eficaz ou sequer satisfatório. Como critério é fraco, como opção limitativa daquilo que pretende ser internacional. Em Hong Kong, por exemplo, seguem-se critérios claramente mais latos quando chega o momento de escolher alguém para liderar grandes projectos, normalmente com bons resultados. Embora não seja meu apanágio olhar para a ex-colónia britânica, eis um caso em que convinha mirar o que se passa ali na outra margem do Rio das Pérolas. * Quanto ao Grande Prémio mantém, para o bem o para o mal, o estatuto de evento que mais divulga Macau no mundo. Felizmente, porque nada perdeu do seu gás, interesse, emoção, importância específica e velocidade. Infelizmente, porque é pena que seja um acontecimento deste tipo a desempenhar quase em exclusivo este papel. Mas a verdade é que a organização é exemplar e o GP permanece como um dos eventos de referência na sua área, sendo considerado como uma das melhores provas do mundo em Fórmula 3 e WTCC. Assim fosse o caso do FIM... * Quanto às divinas LAG, o que saltou imediatamente para as páginas dos jornais e para os blogues foi a diminuição do patacame que o governo disponibiliza todos os anos sob a pomposa designação de Plano de Comparticipação Pecuniária. A ex-presidente da Assembleia Legislativa, Susana Chou, já manifestou a sua discordância e eu estou com ela. Então os lucros do jogo aumentam, não se conhecem megaprojectos que esmifrem o dinheiro público e ainda assim o governo arma-se em sovina? Está mal. Quando a malta pensava que das seis mil patacas ia subir

Como sempre tive a pouca vergonha de afirmar, sou totalmente a favor de se dar o peixe às pessoas, os governantes que fiquem com a cana. Afinal, isto de aprender a pescar é uma grande molha sobretudo em dias de chuva. Dêem mas é mais dinheiro ao povoléu que bem merece pela sua excelsa paciência e caprino comportamento. E mais nada. aí para a dezena de milhar e pumba: pelo contrário, as mulheres e os homens de Chui Sai On resolveram baixar o valor do cheque. Uma desilusão que, ainda por cima, não se justifica e é difícil de explicar. Como sempre tive a pouca vergonha de afirmar, sou totalmente a favor de se dar o peixe às pessoas, os governantes que fiquem com a cana. Afinal, isto de aprender a pescar é uma grande molha sobretudo em dias de chuva. Dêem mas é mais dinheiro ao povoléu que bem merece pela sua excelsa paciência e caprino comportamento. E mais nada. Veja-se o comportamento dos nossos maravilhosos deputados, cujas intervenções mereceram reacções que se dividem entre as gargalhadas, os risos e os esgares de desdém. A classe política demonstra a sua falta de classe e de classificação nestes momentos

mais delicados em que é chamada a intervir (que aborrecimento...), o que regularmente acontece, para grande tédio de governantes e deputados. Isto da meia-democracia tem estes problemas: então não é que temos de discutir políticas de vez em quando. Ufff... mas que canseira... A sonolência estende-se como um vírus, dos gabinetes do poder aos assentos da AL, para depois fazer adormecer o povo em geral e os telespectadores em particular. Para o ano, haverá mais. * Finalmente, o Encontro dos Macaenses da Diáspora, um evento que coloca várias questões nos pratos, principalmente de comida. Macau é, para os seus filhos que daqui partiram, antes de mais, um ponto de referência mítico, envolto no nevoeiro da distância e nas brumas da saudade. Aqui regressados com uma fome de décadas, esta é paulatinamente assassinada em doses assoberbadas de minchi, tacho, capela e outras delícias da gastronomia local. Bem hajam as cozinheiras por manterem ocupados os exigentes palatos dos que aqui se deslocam nesta peregrinação de saudade! Celebre-se pois o minchi e as fotografias de família, o tacho e a economia de consumo frenético, a capela e mesmo as missas onde não faz mal cheirar a bispo. Na ausência de bispalhada (perdão, de chispalhada), há sempre ainda tempo para uns assomos culturais, conferências sobre o que sobrou de outros tempos e mesmo os lançamentos da praxe. Tudo isto se tornou já uma praxis recorrente, polvilhada aqui e ali pelo sublinhar da importância da juventude para garantir a identidade futura da comunidade. Enquanto os macaenses esperam o reconhecimento da República Popular da China como a sua 56ª etnia, o que faria do Português uma das línguas oficiais da nação chinesa, os encontros deverão continuar como uma espécie de prova de vida, de lembrete da existência desta comunidade única. Isto para além de serem uma excelente ocasião para rever os amigos e inimigos espalhados pelo mundo, trocar lembranças e emails, cumprimentos e sentimentos. Enfim, uma grande festa!

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José editor Vanessa Amaro Redacção António Falcão; Gonçalo Lobo Pinheiro; Kahon Chan; Rodrigo de Matos Colaboradores Carlos Picassinos; João Carlos Barradas; José Manuel Simões; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas Arnaldo Gonçalves; Boi Luxo; Correia Marques; Gilberto Lopes; Hélder Fernando; João Miguel Barros; Jorge Rodrigues Simão; José I. Duarte; Marinho de Bastos; Paul Chan Wai Chi; Pedro Correia Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges; Catarina Lau Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia António Falcão; António Mil-Homens; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Laurentina Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Av. Dr. Rodrigo Rodrigues nº 600 E, Centro Comercial First Nacional, 14º andar, Sala 1407 – Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


a fechar sexta-feira 3.12.2010

Salários Portugal afasta-se da Europa

O rendimento e a escolarização dos trabalhadores portugueses estão muito aquém da média da União Europeia e a situação tornou-se um ciclo vicioso que leva à pobreza, defendeu ontem o coordenador do livro “Desigualdades sociais 2010, Estudos e Indicadores”. O documento é baseado em indicadores tanto portugueses como europeus e mostra que “a distância que Portugal tem em relação a outros países é muito grande”. “Quando estamos a comparar-nos com outros países, percebemos que a nossa situação é deveras preocupante. A distância que nós temos em relação a outros países é muito grande, tanto em termos de rendimento como ao nível da escolarização”, explicou o responsável do Observatório das Desigualdades, Renato Miguel do Carmo.

Brasil Polícia suspeita de desviar verbas

A cúpula dos serviços de segurança do Rio de Janeiro está a investigar o eventual desvio de dinheiro e de armas por polícias civis e militares que estiveram durante esta última semana a combater os narcotraficantes nas favelas da cidade. Os 1600 homens da polícia que estiveram no terreno não chegaram a relatar a apreensão de dinheiro nem a especificar o tipo de armas apreendidas. Foi por isso que levantaram suspeitas, tanto de terem feito desaparecer armas e dinheiro como de terem facilitado a fuga de uma parte dos traficantes, supostamente informados com antecedência do que é que iria acontecer.

Ciência Mercúrio torna aves homossexuais

A contaminação por mercúrio afecta o comportamento dos íbis brancos tornando-os homossexuais, segundo um estudo realizado por investigadores dos Estados Unidos e do Sri Lanka. A pesquisa, publicada na revista científica Proceedings of the Royal Society B, tinha o objectivo de descobrir por que as aves se reproduzem menos quando há mercúrio nos seus alimentos, mas os resultados surpreenderam até mesmo os cientistas. “Sabíamos que o mercúrio podia reduzir os níveis de testosterona [hormona masculino], mas não esperávamos isso”, disse Peter Frederick, da Universidade da Flórida, que liderou o estudo. Quanto mais alta a dose de mercúrio nos comprimidos, mais elevada era a probabilidade de um íbis macho acasalar com outro macho.

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Morreu Ernâni Lopes, ex-ministro das Finanças de Portugal

Aquele amigo de Macau Gonçalo Lobo Pinheiro glp@hojemacau.com.mo

Morreu, ontem, o economista e antigo ministro das Finanças Ernâni Lopes, aos 68 anos, vítima de doença prolongada. “Tinha uma ligação a Macau e preocupava-se com a realidade do território. Enquanto esteve em Bruxelas acompanhou sempre o ‘dossier’ Macau e chegou a ser sondado por Mário Soares para ser Governador do território”, confidenciou o presidente do Instituto Internacional de Macau (IIM), Jorge Rangel. Ao Hoje Macau, Rangel lembrou ainda o seu amigo como uma pessoa que “pela sua competência e integridade, Portugal perdeu um dos seus economistas mais respeitados” numa altura que o país atra-

vessa uma grave crise financeira. “Ele era uma voz autorizada e um homem exemplar. Sinto uma grande mágoa ao vê-lo partir”, afirmou, transtornado, Rangel. Ernâni Lopes, entre 1983 e 1985, desempenhou o cargo de ministro das Finanças no IX Governo Constitucional, de bloco central, liderado por Mário Soares, altura em que a grave situação económica e financeira do país resvalou para uma intervenção do Fundo Monetário Internacional. Na sequência desse resgate, Ernâni Lopes foi obrigado a aplicar um rigoroso plano de austeridade. Foi embaixador de Portugal em Bona, na Alemanha, e Chefe da Missão de Portugal junto das Comunidades Europeias em Bruxelas, tendo chefiado as negociações para a adesão de Portugal à CEE.

Stanley Ho corta participação na Shun Tak

Em prol da família Stanley Ho, presidente da Shun Tak Holdings Ltd., abdicou da sua parte na empresa em favor de duas empresas de exploração propriedade dos seus filhos. O magnata vendeu, no início desta semana, parte da sua quota - 250,9 milhões em acções - ficando apenas com uma participação de 8,72% das 20,27% que detinha. A venda da fatia valeu para

Ho 1,22 mil milhões de dólares de Hong Kong, uma vez que, de acordo com o preço do fecho da Bolsa, cada acção valia 4,86 dólares. Durante o mesmo dia, os interesses da Hanika Realty Co. e Ranillo Investments Ltd. - empresas com participações das filhas Pansy, Daisy e Maisy Ho – na Shun Tak duplicaram. A decisão pessoal não teve,

Ao longo da sua carreira profissional, foi consultor económico de várias empresas, instituições e governos, tendo trabalhado, para além de Portugal e Macau, no Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé é Príncipe, Angola e Moçambique. Desde 2000 era presidente da Fundação Luso-Espanhola, cujo objectivo é promover o conhecimento mútuo e a cooperação entre empresas portuguesas e espanholas. O economista era, ainda, director e professor do Instituto de Estudos Europeus da Universidade Católica, além de sócio-gerente da consultora SaeR. “Vinha ao território muitas vezes e ainda há pouco tempo esteve em Macau. Enfim, é mais um bom português que desaparece”, apontou Jorge Rangel.

contudo, impacto directo nas estruturas das empresas. Depois de um longo período de internamento por debilidades na sua saúde resultantes de uma queda na sua residência, o magnata do jogo de Macau, que fez uma rara aparição pública quando foi agraciado com o “Grande Bauhinia” pelo Chefe do Executivo de Hong Kong, festejou, na passada semana, os seus 89 anos na companhia da família e pagou depois, no sábado, cerca de 2,6 milhões de patacas por um par de trufas brancas italianas numa licitação em leilão de caridade. – G.L.P.

Casinos pagam 65 mil milhões de euros em impostos directos em 2010

Números muito acima das expectativas WikiLeaks Bombas em solo britânico

O governo britânico autorizou os EUA a armazenar bombas de fragmentação no seu solo, apesar de o Reino Unido ser signatário de um tratado que proíbe este tipo de arma, segundo uma mensagem norte-americana tornada pública pelo site WikiLeaks, a que o The Guardian teve acesso. Washington e Londres chegaram a um acordo para que o exército americano pudesse beneficiar de uma “isenção temporária” e armazenar assim as BASM no território britânico. “O deslocamento de bombas de fragmentação em barcos de Diego Garcia para aviões (...) exigirá uma isenção temporária”, assinala a mensagem diplomática citada pelo jornal britânico. A ilha de Diego Garcia no Oceano Índico é um território britânico de 27 quilómetros quadrados que abriga uma das bases mais importantes no estrangeiro.

A administração de Macau vai recolher em 2010 quase 65 mil milhões de euros em impostos directos sobre o sector do jogo em casino, ultrapassando a receita total que tinha previsto para o orçamento. A receita fiscal de impostos sobre o sector do jogo é contabilizada entre Dezembro de um ano e Novembro do ano seguinte, dado

que a administração cobra os impostos aos operadores no mês seguinte ao mês de referência sendo que, assim, os impostos de Dezembro de 2010 só serão pagos em Janeiro de 2011. Até ao final de Outubro, as Finanças já tinham recolhido impostos directos sobre o sector do jogo, no valor de 35% da receita bruta, um

Missa de 30.º dia Afonso Couto

Realiza-se hoje, pelas 18h30, na Sé Catedral, a missa de 30.º dia da morte de Afonso Couto.

total de 52.048,4 milhões de patacas, mais 58% do que em igual período do ano anterior. Com os dados já disponíveis das receitas brutas de Outubro e Novembro, os dois últimos meses para as receitas fiscais do sector, a administração vai ainda arrecadar cerca de 12.678 milhões de patacas o que fecha as contas de 2010 em cerca de 65 mil milhões euros de impostos directos sobre o jogo em casino. No entanto, o Governo recolhe ainda a mesma percentagem de outro tipo de apostas como os cães, cavalos, futebol e basquetebol e lotarias, que este ano deverá rondar os 400 milhões de patacas. Além dos impostos directos, os quatro por cento de taxas indirectas sobre as mesas de casino, slot machines e licenças administrativas do operador vão ultrapassar o valor global de receitas previstas no orçamento para 2010 em quase 13 mil milhões de patacas.


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