Hoje Macau 30 SET 2020 #4622

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Ordem na mesa

Ho Iat Seng exige mais rigor na gestão dos fundos públicos. A mensagem foi passada pelo secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, na sequência da análise ao relatório do Comissariado Contra a Corrupção sobre

os empréstimos à Viva Macau. Segundo uma nota oficial, o Chefe do Executivo instruiu as entidades gestoras de fundos públicos a “estudarem o relatório com seriedade”, atentarem nos problemas indicados e nas soluções apresentadas.

RÓMULO SANTOS

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QUARTA-FEIRA 30 DE SETEMBRO DE 2020 • ANO XX • Nº 4623

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA

SAÍDAS ANUNCIADAS GRANDE PLANO

HONG KONG

Silêncio português PÁGINA 14

PATRIOTISMO

As lições de Kevin PÁGINA 7

OPINIÃO

CORTA A CORRENTE TÂNIA DOS SANTOS

PÁGINA 6

BURLA

Roda dos milhões PÁGINA 9

SEMANA DOURADA

Todos ao serviço ÚLTIMA

RESPIRAR FUNDO JOÃO PAULO COTRIM

CINEMATECA | OUTUBRO VERMELHO EVENTOS

REALIZAÇÕES DO RU IX XUNZI

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ENCONTRO MAGIK AMÉLIA VIEIRA


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OS SINAIS ESTAVAM LÁ V um único deputado desse campo. Mas pode haver uma lista criada sob a sua influência. Ele pode dar uma espécie de assistência a um candidato mais jovem e, talvez, o cabeça de lista seja eleito, mas o segundo dificilmente será. Desta forma ele poderá reformar-se sem sentimentos de culpa.” Larry So alerta, contudo, para a falta de experiência política dos novos rostos, o que poderá ter influência no número de votos. "As caras que surgirem agora serão novas, mas também inexperientes. Penso que nas próximas eleições teremos apenas duas listas a concorrer porque o número de pessoas que votam em Ng Kuok Cheong e Au Kam San podem não se sentir próximas dos jovens que acompanham a lista

“Ele não conseguiu apresentar propostas muito concretas e nesse aspecto é muito diferente do Sulu Sou, que tem muitos ajudantes a fazerem investigação e a preparar as suas propostas. É essa a grande falha de Ng Kuok Cheong.” JASON CHAO ACTIVISTA

de Sulu Sou. Não estou a dizer que Sulu Sou não é um bom candidato, mas a separação que ocorreu [entre os deputados e a ANM] não foi uma coisa boa.” Desta forma, para Larry So, o campo pró-democracia só poderá reforçar-se com duas listas na corrida. Jason Chao, activista ligado à ANM que chegou a concorrer às eleições ao lado de Au Kam San, também diz “não estar surpreendido” com a informação. “Ng Kuok Cheong já tinha dito que poderia apoiar um candidato colocando-se na sua lista. Mas em relação a Au Kam San foi um pouco mais surpreendente. Como alguém que trabalhou com ele há alguns anos digo que temos de analisar de forma cuidadosa as suas palavras. Au Kam San pode não ser candidato, mas não sabemos o que ele quer dizer com isso, porque pode vir a apoiar outro candidato, ou fazer campanha por alguém. Ambos [os deputados] continuam a ter alguma influência.” O HM questionou Luís Leong, ligado à União para o Desenvolvimento da Democracia de Macau [associação criada pelos dois deputados] se poderá ser cabeça de lista nas próximas eleições, mas este disse apenas que “ainda está a considerar” essa possibilidade. “Penso que será melhor anunciar os nomes depois de uma discussão interna. Neste momento estamos focados em questões sociais importantes, como a pandemia e a vacina, o planeamento urbanístico e a preservação de Coloane”, disse ao HM.

UM ANO DE PREPARAÇÃO

Scott Chiang, ex-presidente da ANM, também confessou que a

possível saída de Ng Kuok Cheong e Au Kam San não é uma novidade. “Esta notícia dificilmente surpreende ainda que eles não tenham confirmado o rumor que existe desde as últimas eleições, de que essa seria a última vez que iriam liderar listas candidatas. Além disso, há muito que se comenta que Ng Kuok Cheong pode concorrer em segundo lugar ao lado de outro candidato.” “Agora que essa possibilidade se confirma, têm um ano para introduzir e vender junto do público um ‘jovem’ (palavras de Ng) que ainda

“Esta notícia dificilmente surpreende ainda que eles não tenham confirmado o rumor que existe desde as últimas eleições, de que essa seria a última vez que iriam liderar listas candidatas. Além disso, há muito que se comenta que Ng Kuok Cheong pode concorrer em segundo lugar ao lado de outro candidato.” SCOTT CHIANG EX-PRESIDENTE DA ANM SOFIA MARGARIDA MOTA

ÁRIOS analistas dizem não estar surpreendidos com a possibilidade de os deputados Au Kam San e Ng Kuok Cheong poderem não concorrer aos lugares de deputados pela via directa, algo que pode pôr um ponto final a décadas de trabalho político por parte das duas figuras históricas do campo pró-democracia. A informação da saída foi avançada pelo canal chinês da TDM e depois confirmada ao HM pelos próprios. Ng Kuok Cheong ainda pondera concorrer caso a saúde o permita, mas não como cabeça de lista. Au Kam San admitiu mesmo sair da corrida eleitoral. Para o analista político Larry So, há muito que Au Kam San e Ng Kuok Cheong mostram sinais de cansaço. “Ng Kuok Cheong tem demonstrado algum cansaço, e [os dois deputados] já não têm uma postura tão agressiva como antes. Têm exibido um comportamento que transmite a mensagem de que estão cansados de estar nessa posição e que querem sair, ou, pelo menos, fazer uma pausa. Não estou surpreendido com o facto de não serem candidatos nas próximas eleições, já esperava isso.” Larry So frisou que até esperava mais a saída de Ng Kuok Cheong ao invés de Au Kam San. “Parece que este está mais determinado em não ser candidato”, apontou. O analista político prevê que o campo pró-democracia poderá apresentar duas listas, uma delas ainda sob influência de Ng Kuok Cheong, para garantir votos. “Espero que Sulu Sou não seja a única voz do campo pró-democracia [no hemiciclo]. Mas o pior cenário será esse, a existência de

TATIANA LAGES

Au Kam San disse que é quase certo o facto de não se candidatar a um lugar de deputado nas próximas eleições legislativas, enquanto que Ng Kuok Cheong poderá ser candidato, mas não como cabeça de lista. Analistas ouvidos pelo HM revelam não estar surpreendidos com esta tomada de posição. Larry So prevê duas listas candidatas, mas teme um maior enfraquecimento do movimento pró-democracia

POSSÍVEL SAÍDA DE AU KAM SAN E NG KUOK CHEONG NÃO SURPREENDE ANALISTAS

ANTÓNIO FALCÃO

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estão a crescer. Penso que não temos de nos preocupar com isso. Au Kam San e Ng Kuok Cheong estão velhos e esta é a altura para eles saírem, talvez seja a fase mais adequada.”

INFLUÊNCIA DE HONG KONG

A possível saída de Au Kam San e Ng Kuok Cheong faz-se numa altura difícil para a política de Macau e de Hong Kong, devido aos protestos e à implementação da lei da segurança nacional na região vizinha. Além disso, as duas filhas de Au Kam San estão acusadas do crime de reunião ilegal depois de terem estado presentes na praça do Leal Senado no dia 4 de Junho, dia em que se assinala o aniversário do massacre de Tiananmen. Larry So não tem dúvidas de que este cenário poderá ter contribuído para a decisão de Au Kam San e Ng Kuok Cheong. “Há algum medo por causa da lei da segurança nacional e com tudo o que está a acontecer em Hong Kong. Isso desencoraja a chamada geração jovem de participar em causas de maior justiça social. O movimento

pró-democracia poderá ficar afectado”, defendeu. Jason Chao não tem dúvidas de que Ng Kuok Cheong “teve uma HOJE MACAU

precisa de ser mais conhecido. Esse objectivo não será mais fácil de atingir do que se eles concorrem para uma nova reeleição”, frisou Scott Chiang. Apesar dos conflitos internos, Scott Chiang continua a ter uma palavra de apreço pelo trabalho que os dois têm feito no panorama político de Macau, embora o destaque vá para Ng Kuok Cheong. “Teve, sem dúvida, um grande contributo para a introdução da política parlamentar democrática moderna que temos hoje. Poderemos dizer que ele é uma espécie de Elsie Tu [política de Hong Kong] de Macau, no sentido em que estabeleceu um exemplo para os democratas, desde a narrativa ao processo de trabalho.” Camões Tam, analista político, prefere não analisar o trabalho dos dois deputados e a sua importância, assumindo que o movimento pró-democracia poderá renovar-se. “Sobre o desenvolvimento da democracia em Macau, temos figuras como Sulu Sou ou Kam Sut Leng [presidente da ANM] e muitos outros jovens

“Sobre o desenvolvimento da democracia em Macau, temos figuras como Sulu Sou ou Kam Sut Leng [presidente da ANM] e muitos outros jovens estão a crescer. Penso que não temos de nos preocupar com isso.” CAMÕES TAM ANALISTA POLÍTICO

grande contribuição para o movimento democrático de Macau”, mas não deixa de apontar algumas “fraquezas” relativamente ao seu trabalho como deputado. “Ele não conseguiu apresentar propostas muito concretas e nesse aspecto é muito diferente do Sulu Sou, que tem muitos ajudantes a fazerem investigação e a preparar as suas propostas. É essa a grande falha de Ng Kuok Cheong.” Sobre Au Kam San, é público o desentendimento entre os dois desde que participaram em conjunto numa lista às eleições legislativas para o hemiciclo. “O projecto não correu bem e tivemos muitos conflitos internos. Claro que aprecio o facto de me ter dado uma oportunidade de participar nas eleições, mas Au Kam San sempre foi mais seguidor de Ng Kuok Cheong.” Para o jurista António Katchi, a saída de Au Kam San e Ng Kuok Cheong não acontece por “medo”, mas sim para “dar lugar a uma nova geração”. “Não são pessoas de se agarrar ao poder e a cargos - isso viu-se perfeitamente pela forma

serena com que, no interior da ANM, apoiaram a eleição de Jason Chao como seu presidente, tinha ele 22 anos. Ainda assim, não sei se a vergonhosa e ilegal acção da PSP contra as filhas de Au Kam San na noite de 4 de Junho não terá contribuído para a decisão de Au Kam San. É difícil não colocar esta hipótese”, frisou. Para António Katchi, Au Kam San “tem sido, nos últimos anos, o candidato preferido do movimento pró-democrático nos bairros operários da zona norte”, o que traz riscos para as próximas eleições. “Uma parte desses votos pode deslocar-se para a abstenção, para uma lista pró-governamental, ou para uma lista de oposição sem votos suficientes para eleger um deputado. O campo democrático tem agora um ano para tentar evitar isso”, frisou. Cabe ao movimento saber definir caminhos e analisar os adversários, aponta Katchi. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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VIVA MACAU HO IAT SENG QUER MELHOR GESTÃO DE FUNDOS PÚBLICOS

Alto e pára o baile

MILHÕES NO AR

Ho Iat Seng disse ainda as mesmas entidades devem melhorar e aperfeiçoar os diplomas legais e o regime de apreciação e aprovação de apoio financeiro, de forma a garantir “o uso razoável e adequado do erário público nos termos legais”. No mesmo encontro, o comissário contra a Corrupção, Chan Tsz King reforçou a importância de rever a lei e os procedimentos de análise de riscos e fiscalização, no momento de conceder de apoios financeiros ou empréstimos. Lembrando que a relação jurídica entre fundos públicos, privados e entidades privadas envolve quatro fases diferentes, ou seja, preparação,

apreciação e aprovação, assinatura do acordo e o cumprimento do mesmo, Chan Tsz King, enumerou algumas sugestões a ser adoptadas. Sobre a fase de preparação disse considerar indispensável “acelerar a elaboração da respectiva lei e regu-

O Chefe do Executivo emitiu instruções para as entidades gestoras de fundos públicos “estudarem o relatório com seriedade”

Recorde-se que sobre a investigação do empréstimo de 212 milhões de patacas concedidos pelo Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercialização (FDIC) à falida Viva Macau Airlines, o CCAC considerou que não houve crime de corrupção nem dolo nos actos praticados, mas sim más práticas que o Executivo deve corrigir. No relatório do CCAC, ficou patente que os administradores e sócios da companhia aérea não cumpriram a lei no que diz respeito às regras de contabilidade e transações comerciais. No entanto, o organismo defendeu que os administradores Kevin Ho e Ngan In Leng tentaram salvar a empresa e que a falência não foi intencional, chegando a fazer vários empréstimos à companhia aérea. Quando a Viva Macau faliu em 2010, devia um total de 1.1 milhões de patacas. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com

ECONOMIA MAK SOI KUN ALERTA PARA PRESSÃO FINANCEIRA NAS FAMÍLIAS

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AK Soi Kun considera que após um bom controlo da pandemia que os residentes estão preocupados com os efeitos económicos e a redução dos rendimentos. Esta foi a mensagem deixada pelo deputado depois de uma acção de rua em que visitou vários locais, como restaurantes e associações.

“Apoiei sempre o Governo e as políticas de combate à epidemia, principalmente quando estávamos na fase inicial e mais séria. A política de prevenção da epidemia foi implementada de uma forma séria e acertada”, começou por realçar o deputado. “Mas, recentemente a minha equipa nas visitas que fez pela cidade ou-

viu muitas opiniões que revelaram preocupações com a revitalização da economia”, acrescentou. De acordo com Mak Soi Kun, além do crescimento dos números do desemprego, existem muitos agregados familiares com membros que apesae de estarem empregados sofreram uma quebra acentuada de rendimentos. “A pressão

financeira é muito maior do que anteriormente”, apontou sobre os cortes salariais. Outra das preocupações partilhadas ao deputado foi a dificuldade nos procedimentos de passagem de fronteira para Zhuhai, principalmente devido aos custos dos testes de ácido nucleico, que são de cerca de 180 patacas.

Segundo o deputado, urge arranjar uma solução para que as famílias possam ir ao Interior, ou regressar a Macau, sem terem de pagar tanto pelos testes ou perder tempo em filas. Mak pergunta mesmo ao Governo se não há possibilidade de fazer uma zona de circulação entre Macau e Zhuhai sem necessidade de realizar o teste do ácido nucleico.

TIAGO ALCÂNTARA

O

secretário para a Administração e Justiça, André Cheong revelou que o Governo atribui grande importância ao relatório do Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) sobre a concessão de empréstimos de apoio à Viva Macau e que o Chefe do Executivo quer que as entidades gestoras de fundos públicos apresentem medidas correctivas e preventivas. A posição de Ho Iat Seng foi dada a conhecer ontem, por ocasião de um encontro que contou com responsáveis de entidades gestoras de fundos públicos e que serviu para partilhar opiniões sobre o “Relatório de investigação sobre a concessão dos empréstimos de apoio à Viva Macau pelo Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização”. Segundo uma nota oficial, o Chefe do Executivo emitiu instruções para as entidades gestoras de fundos públicos “estudarem o relatório com seriedade e procederem com o trabalho de auto-verificação abrangente ao contraste dos problemas revelados e às sugestões apresentadas no relatório”.

GCS

Num encontro para analisar o relatório do Comissariado Contra a Corrupção sobre o caso Viva Macau, André Cheong transmitiu que o Chefe de Executivo quer mais rigor na concessão de empréstimos. Chan Tsz King reforçou a importância de rever a lei

lamento suplementar”. Já na fase de apreciação e aprovação, sugere que sejam solicitados “com rigor”, aos requerentes, a “entrega de todos os documentos detalhados e indispensáveis para efeitos de apreciação e aprovação”. Relativamente à elaboração do acordo de empréstimo, Chan Tsz King afirmou que as cláusulas “devem ser muito claras, na garantia por activos, com capacidade efectiva de pagamento”, de forma a assegurar que os apoios possam ser pagos “nos casos de não pagamento pontual pelos devedores”. Chan Tsz King referiu ainda que, na fase do acordo, a entidade responsável deve fiscalizar “periodicamente e conforme as cláusulas” o beneficiário do fundo, através da apresentação de relatórios e sugestões à entidade da tutela.

Cartão de Consumo Poder do Povo pede terceira fase

A Associação Poder do Povo entregou ontem uma carta ao Chefe do Executivo a pedir mais uma fase do cartão de consumo. O presidente da associação, Iam Weng Hong, disse que durante a recessão causada pela pandemia muitos residentes esperam o lançamento da terceira fase de apoio ao consumo para aliviar a pressão económica. Apesar de não propor valores específicos, considera melhor ser semelhante às cinco mil patacas da segunda fase. A carta também inclui pedidos de motoristas de táxis, como a isenção do pagamento do sistema de videovigilância. Um taxista que acompanhou a entrega do documento questionou porque é que o sector precisa pagar o depósito e o custo de manutenção deste sistema, quando os residentes não precisaram de financiar a instalação das câmaras do projecto ‘olhos no céu’. Para além disso, descreveu o custo do sistema como irrazoável e revelou que a tecnologia avaria frequentemente.


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O sobrinho de Edmund Ho acredita que é preciso apostar mais no “Turismo Vermelho”, para que as gerações mais novas não se esqueçam do sofrimento do passado e que o Partido Comunista da China está disponível para sacrificar tudo pelo país

PATRIOTISMO KEVIN HO ACUSA JOVENS DE PRECONCEITO CONTRA PARTIDO COMUNISTA

O soldado vermelho

O

empresário Kevin Ho acusou os jovens de Macau e de Hong Kong de terem preconceito contra o Partido Comunista da China, durante uma visita à província de Hebei. As declarações do sobrinho de Edmund Ho, primeiro Chefe do Executivo da RAEM, foram citadas num artigo publicado na edição de terça-feira do jornal Ou Mun. Na visita ao Interior, Kevin Ho sugeriu o reforço da aposta no “Turismo Vermelho”, que foca a história oficial do Partido Comunista, e defendeu que deve haver mais promoção das vitórias alcançadas, apesar das muitas dificuldades sentidas. Segundo Ho, esta educação devia ser também cada vez mais promovida junto dos jovens locais, para que não se esqueçam dos esforços das gerações anteriores em prol do país, assim como da intenção original e missão do Partido Comunista. No entanto, as críticas de Kevin não focaram apenas os jovens de Macau e Hong Kong. O empresário, e principal accionista do grupo português Global Media, proprie-

O

vice-presidente da Associação Novo Macau, Rocky Chan, defende a necessidade de reformar o Conselho Consultivo para os Assuntos Municipais, assim como os Conselhos Consultivos de Serviços Comunitários da Zona Norte, Zona Central e das Ilhas. A ideia foi defendida num comunicado em que acusou os órgãos consultivos do Governo de serem demasiado exclusivos, com encontros feitos à

tário do Diário de Notícias, acusou também os países ocidentais de não perceberem a China, o que no seu entender levou à Guerra Comercial com os Estados Unidos. Como solução para o problema da imagem internacional, o sobrinho de Edmund Ho defendeu que os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 sejam utilizados para promover a imagem de poder da China e mostrar que o país está pronto e vai assumir responsabilidades mundiais.

ELOGIOS AO PARTIDO

Se por um lado, Kevin Ho criticou os jovens de Macau, por outro,

não deixou de elogiar as pessoas que vivem no Parque Natural de Saihanba, na Província de Hebei. O local fazia parte de deserto, mas foi recuperado e florestado. O também representante de Macau no Comité Nacional da

Kevin Ho sugeriu o reforço da aposta no “Turismo Vermelho”, que foca a história oficial do Partido Comunista

Hora de mudanças Associação Novo Macau defende mais representatividade nos órgãos consultivos

margem da população e à porta fechada. A falta de abertura e o facto de os 44 órgãos de consulta do Executivo serem todos nomeados, ao invés de escolhidos de forma mais democrática e representativa, foi a primeira crítica de membro da associação. “É muito frequente que a população

questione qual é a eficácia de todos estes conselhos consultivos no que diz respeito a ouvir a voz das pessoas nas questões que vão além das agendas dos seus membros”, afirmou Rocky Chan. “Acredito que se houver mais transparência da informação e participação nos organismos de consulta que não haverá qualquer impacto

Conferência Consultiva Política do Povo Chinês elogiou todos os que se sacrificaram para que Saihanba se tornasse num local melhor e considerou ainda que é um exemplo de como os membros do partido estão disponíveis para se sacrificarem pela China, segundo a intenção original do partido. Estas são as primeiras declarações públicas de Kevin Ho, após o Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) ter concluído a investigação sobre o empréstimo de 212 milhões de patacas cedido pelo Governo, liderado por Edmund Ho, à VIVAMacau. A empresa acabaria por falir em

negativo para a capacidade de o Executivo governar”, começou por apontar o vice-presidente da Novo Macau. Segundo Chan, a necessidade de reforma dos órgãos consultivos passa principalmente por garantir que as opiniões das pessoas que estão fora das associações tradicionais também são ouvidas. “O Governo devia mudar para conseguir atrair a opinião das pessoas, através de canais alternativos como sessões à porta aberta ou

2010 e o montante foi considerado irrecuperável. Kevin Ho era director-executivo não só da VIVA Macau, mas também da Eagle Airways, empresa que se tinha comprometido a assumir o pagamento do empréstimo, em caso de incumprimento, mas que nunca o fez. No relatório, o CCAC considerou haver indícios de que os directores da empresa tinham cometido o crime de falência não intencional, mas que não seira possível acusar os mesmos, uma vez que já teriam prescrevido.

reuniões com participação de mais pessoas”, sugeriu.

SÓ TRADICIONAIS

O democrata considerou também que se o Governo já tivesse aberto os órgãos consultivos além das associações tradicionais que teria conseguido evitar polémicas recentes como as propostas de construção de um crematório na Taipa ou um Armazém de Substâncias Perigosas em Seac Pai Van. Só no caso do armazém em Seac Pai Van, os residentes

João Santos Filipe com Nunu Wu info@hojemacau.com.mo

daquela zona conseguiram reunir mais de 7.000 assinaturas contra a proposta, que já tinha sido discutida no Conselhos Consultivos de Serviços Comunitários das Ilhas.Aforte oposição levou o Executivo a desistir daquela localização. Face a este cenário, Rocky Chan propõe ao Governo que comece a divulgar com antecedência os assuntos que são discutidos nas reuniões dos conselhos consultivos e que permita que os residentes se possam inscrever para serem ouvidos. J.S.F.


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RELATÓRIO DE ACTIVIDADES EM MACAU No ano de 2019, a MANULIFE (INTERNATIONAL) LIMITED logrou manter um crescimento das suas actividades na ordem de dois dígitos, e o valor total dos prémios de seguro ultrapassou os mil milhões de patacas, um aumento de 51% em comparação com o ano de 2018. O valor dos prémios das novas apólices de seguro individual ultrapassou 500 milhões de patacas, representando um aumento de cerca do dobro do valor do ano de 2018. Este ano, a MANULIFE (INTERNATIONAL) LIMITED assinala o 23.o ano de actividades em Macau, encaramos com bastante optimismo a capacidade de desenvolvimento das actividades de MANULIFE (INTERNATIONAL) LIMITED, iremos prosseguir com o desenvolvimento de adequados produtos de seguro e financeiros para satisfazer as necessidades dos clientes assente no bom crescimento das actividades registado nos últimos anos, prestando, com profissionalismo e dedicação, serviço à população de Macau, assim como proporcionar planos de apoio à reforma e gestão financeira, com garantia geral e segurança. 12 de Agosto de 2020 (Assinatura) – Vide original (Carimbo) – MANULIFE INTERNATIONAL LIMITED

RELATÓRIO DE AUDITOR INDEPENDENTE SOBRE DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS RESUMIDAS Para os Administradores da Manulife (International) Limited (sociedade de responsabilidade limitada, registada em Bermudas) Procedemos à auditoria das demonstrações financeiras da Manulife (International) Limited, Sucursal de Macau (“Sucursal de Macau de Manulife”), relativas ao ano de 2019, nos termos das Normas de Auditoria e Normas Técnicas de Auditoria da Região Administrativa Especial de Macau. No nosso relatório, datado de 24 de Abril de 2020, expressámos uma opinião sem reservas relativamente às demonstrações financeiras das quais as presentes constituem um resumo. As demonstrações financeiras a que se acima se alude compreendem o balanço, à data de 31 de Dezembro de 2019, a demonstração de resultados, a demonstração de alterações na conta de sede e a demonstração de fluxos de caixa relativas ao ano findo, assim como um resumo das políticas contabilísticas relevantes e outras notas explicativas. As demonstrações financeiras resumidas preparadas pela gerência resultam das demonstrações financeiras anuais auditadas a que acima se faz referência. Em nossa opinião, as demonstrações financeiras resumidas são consistentes, em todos os aspectos materiais, com as demonstrações financeiras auditadas.

BAO King To Auditor de Contas Ernst & Young – Auditores Macau, 24 de Abril de 2020


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Polícia Judiciária (PJ) avançou ontem que foram detidas três pessoas por suspeitas de envolvimento numa burla à Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). Em causa estão cerca de 20 milhões de patacas atribuídos a uma escola ao longo de três anos, que se destinavam a subsidiar projectos relacionados com cursos e obras, que nunca se concretizaram. Segundo a DSEJ, a quantia foi devolvida pela escola. Uma das pessoas detidas é a antiga sub-directora da instituição de ensino, que foi ontem apresentada ao Ministério Público (MP) por suspeita de burla de valor consideravelmente elevado e falsificação de documentos. De acordo com a TDM - Rádio Macau, recaem sobre o ex-director da escola – que se encontrará em parte incerta – suspeitas semelhantes. Entre 2014 e 2016, a DSEJ atribuiu à escola 28 milhões de patacas. No entanto, de acordo com a investigação da PJ, dos 582 projectos previstos só foram concluídos 61, pelo que a burla totalizou cerca de 20 milhões de patacas. A PJ descobriu que os dados sobre a execução do projecto não correspondiam à verdade, incluindo por exemplo fotografias que correspondiam a

TIAGO ALCÂNTARA

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A entidade titular da escola reembolsou o valor do apoio financeiros aos projectos que não se realizaram, num total superior a 20 milhões de patacas

CRIME DIRIGENTES DE ESCOLA SUSPEITOS DE BURLA DE 20 MILHÕES

Planos de directores

Entre 2014 e 2016, a DSEJ atribuiu subsídios a uma escola para realizar projectos, mas descobriu-se que a maioria não se concretizou. Os antigos director e sub-directora da instituição são suspeitos de burla no valor de cerca de 20 milhões de patacas. Depois de a PJ ter revelado o caso, a DSEJ comunicou que o dinheiro foi reembolsado

materiais antigos da escola e não com os projectos novos. De acordo com a PJ, o caso foi remetido pela DSEJ às autoridades em 2018, por suspeitas de falsificação de documentos para obter subsídios, depois do alerta do novo director da escola,

que assumiu o cargo em 2017. O dirigente notou que a maioria os projectos não tinham sido realizados.

PAGAR DE VOLTA

Depois das informações divulgadas pela polícia, a DSEJ declarou que a

PORNOGRAFIA DETIDOS 12 SUSPEITOS DE DIFUNDIR VÍDEO COM MENOR

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ORAM detidos 12 indivíduos suspeitos de difundirem um vídeo pornográfico que envolve a participação de uma menor, e que já motivou detenções no mês passado. O caso foi encaminhado para o Ministério Público. Todos os suspeitos são nepaleses com idades entre os 23 e os 47 anos. Em conferência de imprensa, a Polícia Judiciária (PJ) explicou que dez dos detidos confessaram ter partilhado o vídeo através do “messenger”, na rede social Facebook, enquanto os restantes negaram a sua divulgação. A Interpol comunicou à PJ a 11 de Agosto suspeitas da divulgação de um vídeo relacionado com pornografia de menor através do Facebook. As autoridades indicaram que o vídeo tem cerca de dois minutos e meio, e mostra um homem a ter relações sexuais com uma menor de idade estrangeira.

No mês passado, a PJ deteve 11 nepaleses por suspeitas de partilharem este mesmo vídeo. Na RAEM, o crime de pornografia de menor – que inclui a difusão de filmes ou gravações pornográficas – é punido com pena de prisão de um a cinco anos, que pode chegar aos oito anos se o crime tiver sido praticado “como modo de vida ou com intenção lucrativa”. A Direcção dos Serviços Correcionais (DSC) comunicou ontem que “presta elevada preocupação e lamenta profundamente” o caso de um guarda prisional de nacionalidade nepalesa que foi detido por suspeitas de ter cometido o crime de pornografia de menor. O organismo explica que vai cooperar com as investigações e instaurou um processo de inquérito disciplinar interno. Além disso, exigiu atenção ao caráter e deontologia profissional ao pessoal. S.F.

entidade titular da escola reembolsou na totalidade o valor do apoio financeiros aos projectos que não se realizaram, num total superior a 20 milhões de patacas. A DSEJ explica que fez visitas e entrevistas ao pessoal do estabelecimento e encontrou

irregularidades nos planos da escola e na análise dos dados dos subsídios. O organismo alega que os antigos responsáveis da instituição particular “defraudaram a entidade titular, pedindo subsídios para projectos fictícios,

falsificando documentos e burlando, entre outras infracções criminais”. Os subsídios alegadamente obtidos por meios fraudulentos no caso de suspeita de burla por ex-responsáveis da escola eram do Fundo de Desenvolvimento Educativo, explica a nota. Segundo as informações divulgadas pela PJ, o caso envolve ainda a empresa que seria responsável pelas obras na escola, e cujos responsáveis, que são irmãos, também foram detidos. São suspeitos de burla de valor consideravelmente elevado e branqueamento de capitais. Na altura, a escola transferiu o dinheiro para a empresa. A irmã, uma residente de 40 anos, explicou que não sabe como a companhia opera e que se limitou a fazer registos, assinaturas e transferências de acordo com as instruções do irmão. O dinheiro terá passado por contas bancárias de outras firmas para evitar impostos, chegando depois à conta individual e da empresa de um dos irmãos. A antiga sub-directora disse apenas que a escola autorizou a entrega de documentos à DSEJ mesmo quando os planos ainda não estavam concluídos. Não há provas de que tenha beneficiado das verbas. Salomé Fernandes

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PARQUE OCEANIS EMPRESA PERDE ÚLTIMO RECURSO

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Tribunal de Última Instância (TUI) deu razão ao Governo em oito processos relacionados com a anulação da concessão de terrenos. Um dos processos diz respeito ao terreno situado à entrada da Taipa concessionado à sociedade Chong Va - Entretenimento

Lda e que tinha como objectivo a construção do parque “Oceanis”. O prazo de aproveitamento do espaço terminou a 11 de Março de 2001, mas só em 2018 o então Chefe do Executivo, Chui Sai On, proferiu o despacho que dá conta da declaração de caducidade da

concessão “por falta de realização, imputável à concessionária, do seu aproveitamento nas condições contratualmente definidas”, esclarece o acórdão do TUI. Os juízes decidiram também, a favor do Governo, em mais cinco processos relacionados com terrenos situados na zona do Fecho da Baía da Praia Grande, concessionados à Sociedade de Investimento Imobiliário Tim Keng Van, Sociedade de Investimento Imobiliário Man Keng Van, Sociedade de Investimento Imobiliário Chui Keng Van e Sociedade de Investimento Imobiliário Pun Keng Van e Sociedade de Investimento Imobiliário Fok Keng Van. Foram ainda considerados improcedentes os recursos apresentados pela Companhia de Investimento Predial Hoi Sun Limitada e Sociedade Fomento Predial Predific, Limitada relativos a dois terrenos situados na Taipa. A.S.S.


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Avaliação negativa Cloee Chao questiona utilidade da DSAL na resolução de disputas

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JOGO LIGAÇÕES COM LAWRENCE HO CRIAM OBSTÁCULOS A EMPRESA AUSTRALIANA

O peso da história

A Crown Resorts, de James Packer, está a encontrar dificuldades para obter uma licença de jogo para um novo casino em Sidney. Um dos pontos mais quentes é a relação com Lawrence Ho, devido às alegadas ligações do pai Stanley com as tríades

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operadora do jogo Crown está a ser questionada na Austrália devido às ligações com Lawrence Ho, filho do já falecido magnata Stanley Ho. Aempresa liderada por James Packer pretende obter uma licença para abrir um casino em Sidney, mas o regulador local (Autoridade Independente para o Álcool e o Jogo) está preocupado com eventuais ligações ao mundo do crime de Macau e à falta de cuidados internos da companhia. Durante vários anos a Crown e a Melco, empresa de Lawrence Ho, foram parceiras em Macau, através da concessionária Melco Crown, responsável pelos casinos City of Dreams, Altira e Studio City. O regulador australiano aprovou a parceria com a condição de os negócios de Lawrence Ho não terem nenhuma ligação com o pai, Stanley Ho, considerado pelas autoridades australianas, mas não só, como um homem ligado às tríades. Finda a parceria, Lawrence Ho mostrou a intenção de comprar 19,9 por cento da Crown, numa operação, posteriormente abortada. Contudo, na segunda-feira, Michael Johnston, ex-director da Crown, denunciou à comissão de inquérito que quando o negócio esteve em cima da mesa nunca houve a preocupação de veri-

ficar se havia efectivamente ligações entre os negócios do filho e do pai. De acordo com Johnston, houve uma tentativa de verificar as ligações de Lawrence Ho com o pai, que acabou frustrada por ordem de James Packer, o principal accionista da Crown. “Claro, Mike, mas é a minha vida e vou anular a tua decisão”, terá escrito Packer numa mensagem a Johnston a recusar que fosse obtida mais informação. Sobre o negócio para a compra de 19,9 por cento da Crown, a Melco concretizou uma primeira fase, que resultou numa participação na empresa australiana de 9,99 por cento. Porém, a segunda fase foi mesmo abortada e já em Abril deste ano a empresa de Lawrence Ho desfez-se

De acordo com Johnston, houve uma tentativa de verificar as ligações de Lawrence Ho com o pai, que acabou frustrada por ordem de James Packer, o principal accionista da Crown

de qualquer participação na companhia australiana.

SEM CERTEZAS

Johnston confessou ainda “não ter a certeza” que Stanley Ho não estivesse ligado à Melco do filho e revelou que mesmo o presidente da Crown, John Alexander, só ficou a saber da venda de 9,99 por cento depois de esta estar consumada. A Autoridade Independente para o Álcool e o Jogo está neste momento a investigar se a primeira fase da venda da Crown à Melco constitui uma infracção às regras da licença, uma vez que as autoridades não foram avisadas com antecedência do negócio. Esta não é a primeira vez nesta comissão de inquérito que ligações da australiana Crown com empresas de Macau estão no centro de várias perguntas. Anteriormente, a comissão questionou os membros da operadora de casinos australiana sobre as ligações com a empresa junket Suncity e a falha nos procedimentos internos para impedir lavagens de dinheiro. Um dos pontos mais focados desta análise foi o facto de ter sido encontrado dinheiro vivo no valor de 5,6 milhões de dólares americanos numa das salas geridas pela Suncity. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

presidente da Associação de Direitos dos Trabalhadores de Jogo, Cloee Chao, lamentou que a Direcção dos Serviços para os Assuntos Legislativos (DSAL) não tenha um papel activo na resolução de disputas laborais que considera relevantes. Deu como exemplo o caso dos funcionários que no final de Agosto pediram ajuda ao Ministério Público para conseguirem obter a compensação retroactiva de horas de trabalho extraordinárias, na sequência de a DSAL ter considerado as queixas inválidas. Em conferência de imprensa, Cloee Chao indicou que a DSAL acaba apenas por arquivar as queixas em casos de indemnização por rescisão da relação laboral, apesar de os contratos de fundo de previdência das empresas de jogo terem uma cláusula sobre a cobertura nestas situações. “Os empregados precisam de recorrer ao Ministério Público e pagar a um advogado para pedir a compensação? Qual é a utilidade da DSAL se só arquiva os casos em vez de os resolver?”, perguntou. Cloee Chao reiterou que o Governo deve colmatar as lacunas legais sobre o subsídio de trabalho nocturno e por turnos. Em causa, está o facto de as empresas não precisarem de pagar subsídios se os contratos estipularem que os funcionários estão dispostos a trabalhar à noite ou por turnos. “Quando [um trabalhador tem] um contrato

de trabalho à frente, só há opção de assinar ou não assinar. Como pode escolher rejeitar cláusulas?”, questionou.

PONTO DE VIRAGEM

A Associação de Direitos dos Trabalhadores de Jogo considera que a situação de sub-emprego é pior do que o Governo anunciou, estimando que só no sector do jogo haja mais de 20 mil pessoas nesta situação. Por outro lado, a associação recebeu queixas denunciando a situação de que se os funcionários não colaborassem com as empresas para reduzir as horas de trabalho ou tirar licenças sem vencimento, eram pressionados pelas chefias ou colocados a trabalhar a longo prazo no turno da noite. No entanto, a dirigente associativa apontou que nos últimos dois dias os clientes e o volume das apostas aumentaram de forma significativa, no seguimento da retoma de emissão de vistos para residentes da China Continental. A mudança de cenário terá levado alguns casinos a contatar croupiers que tinham férias na semana dourada para as cancelar e voltarem ao trabalho, bem como a suspenderem licenças sem vencimento. De acordo com Cloee Chao, as empresas precisam de ter o máximo de mesas de jogo a funcionar porque as medidas de prevenção permitem apenas três jogadores por mesa. Nunu Wu

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sociedade 11

quarta-feira 30.9.2020

Termina hoje o programa de excursões locais “Vamos! Macau!”, depois de mais de dois meses a mostrar a cidade a quem nela habita. Mais de 136 mil pessoas participaram nas cerca de 4.300 excursões organizadas para revitalizar o sector do turismo

TURISMO MAIS DE 136 MIL PESSOAS PARTICIPARAM NAS EXCURSÕES LOCAIS

Viagens na minha terra “oferecer aos residentes uma experiência aprazível e barata, mas que acabou por ser muito mais”.

FORA DA CAIXA

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HEGA hoje ao fim o “Vamos! Macau!”, a iniciativa que reapresentou a cidade aos seus residentes, ao mesmo tempo que procurou atenuar os efeitos económicos da pandemia no sector do turismo. Desde o início do programa, a 17 de Junho, até 27 de Setembro (data dos últimos dados cedidos ao HM), 136.438 pessoas participaram num total de 4.290 excursões. Segundo adiantou a Direcção dos Serviços de Turismo (DST), um inquérito que monitorizou os níveis de satisfação mostrou que “mais de 85 por cento dos residentes ficaram muito satisfeitos com a organização das excursões e com os serviços oferecidos”. Ainda assim, o organismo liderado por Helena de Senna Fernandes acrescenta que, através de

vários canais, foram apresentadas queixas enquanto o programa durou. “Foram apresentadas 90 queixas em relação a guias turísticos, devido a cancelamentos/adiamentos motivados por razões meteorológicas, entre outros motivos”, adiantou a DST. O programa “Vamos! Macau!” arrancou com uma injecção de 280 milhões de patacas de fundos públi-

Desde a marcação, até à entrada no autocarro, as excursões locais fizeram-se a partir do trabalho de 151 agências de viagens, 445 guias turísticos e 501 autocarros

HOTELARIA MAIS RESIDENTES DORMIRAM EM HOTÉIS

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ERCA de 124 mil residentes dormiram nos hotéis de Macau em Agosto, no que representa um aumento de 137 por cento face ao período homologo. Os residentes foram mesmo a maior fonte de clientes dos hotéis locais, com uma proporção de 67,4 por cento, segundo os dados foram revelados ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Em comparação com Julho, o número de hóspedes locais subiu 52,4 por cento,

o que a DSEC justificou com as promoções focadas nos residentes. Quanto aos números gerais, em Agosto deste ano ficaram hospedados em hotéis e pensões 184 mil pessoas, o que significa uma quebra de 85,5 por cento face ao mês anterior. A taxa de ocupação média de quartos foi de 13,3 por cento, menos 79,7 pontos percentuais, em termos anuais. Nos primeiros oito meses de 2020 a taxa de ocupação média de quartos de hóspedes dos hotéis e pensões foi de 23,5

cos, atribuídos através do orçamento da Fundação Macau, com o principal intuito de revitalizar a indústria do turismo. “Mais concretamente, proporcionar ofertas de trabalho às agências de viagens, guias turísticos, motoristas de autocarros de turismo e pequenos negócios de sectores como a restauração.” Além do objectivo económico, a DST revelou ao HM que a iniciativa procurou

Desde a marcação, até à entrada no autocarro, as excursões locais fizeram-se a partir do trabalho de 151 agências de viagens, 445 guias turísticos e 501 autocarros. A adesão dos residentes fez-se sentir particularmente nas viagens de helicóptero que mostraram Macau vista de cima, com cerca de 32 mil residentes a concorrer para garantir um lugar na excursão mais desejada. Em relação ao futuro, os Serviços de Turismo destacam que “os operadores turísticos de Macau encontraram um punhado de ideias ‘fora da caixa’ que agradaram aos residentes”, com potencial para se transformarem em produtos turísticos. O organismo considera que oferta foi diversificada e agradou a um largo espectro de pessoas, com excursões que variaram entre visitas a locais que representam a herança patrimonial de Macau e excursões mais experimentais ou orientadas para a família (como workshops de confecção de pasteis de nata, visita aos bastidores da Air Macau, ou passeios nocturnos pela natureza). As excursões de lazer foram as que motivaram mais interesse nos residentes, totalizando 63,7 por cento das inscrições, contra 36,3 por cento dos inscritos a optarem pelas tours comunitárias (até 27 de Setembro). João Luz

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DSE RECONHECIDAS MAIS 50 LOJAS COM CARACTERÍSTICAS PRÓPRIAS

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por cento, o que representa uma diminuição de 68,1 pontos percentuais face ao período homólogo. Só neste ano, os hotéis e pensões hospedaram 2.167.000 indivíduos, menos 77,0 por cento, face ao idêntico período de 2019.

ACAU conta a partir de ontem com 100 lojas reconhecidas pela Governo pelas suas características próprias, depois de recomendação de uma associação comercial. Depois da meia centena de estabelecimentos da zona da Rua de Cinco de Outubro, na península, foram ontem distinguidas 50 lojas das ilhas. Segundo a Direcção dos Serviços de Economia (DSE), entre os estabelecimentos reconhecidos ontem, 41 pertencem ao sector da restauração e 9 do comércio a retalho. O plano visa apoiar as micro, pequenas e médias empresas (PME) a aproveitar as mais avançadas tecnologias para expandir os negócios, para reformular o modelo de exploração, ou para se promoverem em plataformas online e ganharem visibilidade entre potenciais turistas.

O Executivo destaca ainda a “base cultural rica e a arquitectura histórica oriental e ocidental única, coexistindo harmoniosamente” e criando uma mistura entre a cidade nostálgica “e os hotéis e resorts modernos de grande envergadura”. A ideia é apetrechar as PME com trunfos para aproveitarem o panorama patrimonial de fusão entre culturas chinesa e ocidental. Com o regresso da plena emissão de vistos turísticos para residentes do Interior e em tempos de semana dourada, o Governo espera injectar “um novo dinamismo” e formar uma atmosfera de “vinda incessante dos clientes” De forma a dinamizar os bairros, serão apresentados espectáculos e marcados eventos ligados ao “Carnaval de Consumo nas Ilhas 2020” e o “Festival de Luz de Macau 2020”.


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30.9.2020 quarta-feira

Natureza viva

CINEMATECA OUTUBRO DEDICADO AO CINEMA EM LÍNGUA CHINESA

Segunda bienal de arte feminina com “mais participação da sociedade civil”

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bienal internacional de mulheres artistas de Macau é hoje inaugurada, "na véspera da celebração da Lua", uma segunda edição com mais participação da sociedade civil, disse ontem à Lusa um dos organizadores. Em 2018, a primeira edição da bienal foi inaugurada no Dia Internacional da Mulher, em 8 de Março, mas este ano a epidemia de covid-19 levou ao adiamento da abertura da segunda edição para 30 de Setembro, para coincidir com a festividade chinesa do bolo lunar. Uma coincidência feliz, disse à Lusa o presidente da comissão organizadora, Carlos Marreiros, recordando que o "solstício da lua [é] também um elemento feminino, na véspera da celebração da Lua". A mostra inclui pintura, escultura, cerâmica, instalações, desenho, serigrafia em diversos suportes, vídeo e fotografia. Esta edição, sublinhou, tem "muito mais [participação] da sociedade civil", já que quatro instituições privadas vão albergar a bienal internacional: Albergue da Santa Casa da Misericórdia,Antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino, Galeria Lisboa e Fundação Oriente. O tema escolhido é "Natura", para dar valor "à contribuição das mulheres na defesa dos valores fundamentais", na conservação da natureza e também "na natureza mais

íntima de todos nós", explicou. Cinco curadores asseguram a bienal deste ano: além de Carlos Marreiros, também Leonor Veiga, em Lisboa, Alice Kok e James Chu, de Macau, e Angela Li, da China continental. A pandemia da covid-19 dificultou o trabalho, mas "hoje, com as tecnologias, é possível fazer à distância" a organização das curadorias, explicou, acrescentando que neste momento os cinco curadores já se encontram em Macau e apenas Leonor Veiga se encontra em quarentena obrigatória de 14 dias.

ESTÉTICA CASEIRA

Esta segunda edição vai contar com 143 obras criadas por 98 mulheres artistas de 22 países. Há muitos "artistas de Macau", segundo Carlos Marreiros. Macau (31), China continental (13) e Portugal (16) são os mais representados, seguindo-se Hong Kong (7), Coreia do Sul (2), Japão, (1), Indonésia (3), França (3), Espanha (1), Itália (3), Países Baixos (1), Reino Unido (1), Alemanha (3), Suécia (1), Bélgica (1), Brasil (3), Estados Unidos (2), Canadá ( 1), Índia (2), Timor-Leste (1), Irão (1) e Austrália (1). Até dia 13 de Dezembro, último dia da bienal, estão programados vários seminários e 'workshops' com transmissões via Facebook. PUB

Velocida To Live to Sing

The Specials

Apesar de só terem sido anunciados quatro filmes até ao momento, a programação de Outubro da Cinemateca Paixão vai incluir uma selecção de 19 películas, algumas delas locais, dedicadas ao cinema em língua chinesa. Em jeito de balanço do primeiro mês da nova gestão, Jenny Ip considera ter sido “um começo de sucesso”

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EPOIS do arranque polémico da sua nova e desconhecida empresa gestora, marcado pela exibição de filmes clássicos, a Cinemateca Paixão promete um mês de Outubro “substancialmente diferente”. De acordo com Jenny Ip, gestora do espaço, além dos quatro filmes já anunciados, a programação para este mês irá incluir uma selecção dedicada ao cinema em língua chinesa, com 13 curtas e seis longas metragens. Para o arranque da programação de Outubro, como celebração do Dia Nacional a 1 de Outubro, está programada a exibição de "To Live

EXPOSIÇÃO “SINFONIA DA AGUARELA” E “COLECÇÃO DE

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partir das 17h de hoje as artes visuais tomam conta do polo da Taipa Instituto Politécnico de Macau com a inauguração das exposições "Sinfonia da Aguarela" e "Colecção de Gravura”, que vai estar patente na Galeria de Artes, no Edifício de Investigação e Desenvolvimento no Cam-

pus da Taipa do Instituto Politécnico de Macau (IPM). O campus da Taipa, não só vai receber estas duas exposições, como será o lugar onde passa a funcionar o Curso de Artes Visuais durante este ano lectivo. As mostras reúnem mais de 60 trabalhos de professores e alunos do Curso de Artes

Visuais e, segundo o IPM, “aliam a rigidez e a suavidade da aguarela, bem como a colorida fusão das estampas” num conjunto que materializa a progressão técnica dos alunos enquanto criadores. "Sinfonia da Aguarela" exibe 38 trabalhos em aguarela, divididos em pintura a húmido e a seco, oferecendo


eventos 13

quarta-feira 30.9.2020

E COM OBRAS LOCAIS

dade de cruzeiro Swallow

to Sing", do realizador chinês Johnny Ma. “Escolhemos o filme "To Live to Sing" de Johnny Ma, da China, para ser projectado no dia 1 de Outubro em celebração do dia Nacional. É um grande filme que explora um tema valioso, que é a arte produzida na China. Neste caso, é um filme sobre a ópera de Sichuan, uma tradição preciosa e provavelmente em vias de extinção e que temos a oportunidade de ver aqui. Além disso, explora também a forma como está a ser encarado o desenvolvimento do cinema artístico na China”, partilhou Jenny Ip. Ao HM, a gestora da Cinemateca Paixão revelou ainda

que o realizador Johnny Ma virá a Macau durante o mês de Outubro para uma palestra, que terá lugar após uma das projecções entretanto agendadas de “To Live to Sing”. Das obras já anunciadas para Outubro, inclui-se ainda "Swallow" (EUA), que acompanha a história de uma mulher, cuja existência idílica durante a gravidez toma um rumo alarmante, a

partir do momento em que desenvolve uma compulsão de comer objectos perigosos e “The Specials” (França) que aborda o tema do autismo, no contexto do quotidiano de um bairro problemático. Por fim, será ainda exibido “Tora-san, Wish You Were Here” (Japão), do conhecido realizador Yoji Yamada. O filme, que será exibido em Macau em forma de come-

Além dos quatro filmes já anunciados, a programação para este mês irá incluir uma selecção dedicada ao cinema em língua chinesa, com 13 curtas e seis longas metragens

GRAVURA” HOJE NO IPM ao público a possibilidade de oscilar entre suavidade e rigidez. A “Colecção Gravura” reúne 23 obras que “apresentam diversas formas e efeitos de imagem, incluindo a técnica mezzotint, gravuras em xilogravura e serigrafias. As exposições vão estar patentes ao público até 18 de Novembro. J.L.

Tora-san, Wish You Were Here

moração do 50º aniversário da carreira do cineasta, fala de uma história onde o amor, a nostalgia e uma amizade de longa data, estão no centro do enredo. Sobre a selecção dedicada ao cinema em língua chinesa, cujos títulos e detalhes das 19 obras serão anunciados “em breve”, Jenny Ip acrescentou apenas que “a selecção irá incluir obras locais. “Estamos muito entusiasmados por apresentar um novo programa em breve. Em Outubro o programa será consideravelmente diferente, já sem clássicos e com obras de novos realizadores. Vamos ver se somos capazes de promover estes novos filmes e

realizadores perante o público de Macau”, referiu,

VER PARA CRER

Em jeito de balanço ao final do primeiro mês ao leme da Cinemateca Paixão, a responsável de operações afecta à In Limitada, a nova operadora, considera que o mês passado materializou “um começo de sucesso”, com muito feedback positivo e salas cheias. “As pessoas gostaram da nossa selecção, de ter a oportunidade de ver filmes clássicos em Macau e sugeriram também outras obras que gostavam de ver no futuro. Estamos muito satisfeitos por receber este feedback, porque é um bom sinal de que o pro-

grama foi apreciado e que o público tem grandes expectativas. Além disso, muitos filmes tiveram a lotação esgotada e acrescentámos projecções adicionais (…) e mesmo essas sessões esgotaram em apenas um ou dois dias”, apontou. Para Ip, outro dos pontos altos do primeiro mês de operações da “nova” Cinemateca foi a presença do realizador de Hong Kong, Stanley Kwan, na conversa online promovida pelo espaço e intitulada “Cineastas de Macau: A sua jornada para o cinema”. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail,.com

IC DESFILE INTERNACIONAL CANCELADO DEVIDO À COVID-19

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Instituto Cultural (IC) anunciou ter cancelado o Desfile Internacional, previsto para Dezembro próximo, por ser um evento inadequado "para as actuais medidas de prevenção de epidemias". "Após uma avaliação cuidadosa e consideração global", o IC decidiu cancelar a edição anual do desfile internacional, no qual participam grupos locais e internacionais, num total de 1.800 participantes", indicou na segunda-feira

à noite, em comunicado. "Devido ao impacto da pandemia" da covid-19, "não foi possível a parte dos artistas deslocarem-se a Macau para participar no evento", e por outro lado, "tendo em conta o grande número de pessoas, a alta densidade das multidões, de muitos residentes e turistas que acompanham o evento ao longo do percurso e a estreita interacção envolvida nas actuações, o formato do desfile não é adequado para

as medidas actuais de prevenção de epidemias", explicou. Assim, em celebração do 21.º aniversário da transferência da administração de Macau de Portugal para a China, em 20 de Dezembro, a Orquestra Chinesa de Macau vai realizar o concerto “Ouve a Voz dos Chineses”, em frente das Ruínas de S. Paulo e várias actuações culturais e artísticas serão realizadas em diferentes locais, acrescentou o IC.


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30.9.2020 quarta-feira

A mãe do jovem com nacionalidade portuguesa detido em Shenzhen, juntamente com outros 11 activistas, desde 23 de Agosto, foi até ao Consulado de Portugal em Hong Kong pedir ajuda, mas saiu de lá sem qualquer resposta. Tsz Lun Kok está isolado há 37 dias, sem contacto da família nem advogado

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mãe do estudante com passaporte português detido em Shenzhen, na China, pediu ajuda ao Consulado de Portugal em Hong Kong, mas não teve resposta, disse ontem à Lusa o advogado do jovem. "A mãe foi ontem [segunda-feira] ao Consulado de Portugal em Sheung Wan, em Hong Kong, pedir ajuda, foi lá pessoalmente, e

HONG KONG MÃE DE TSZ LUN KOK PEDE AJUDA AO CONSULADO PORTUGUÊS

Ouvidos moucos não teve resposta", contou à Lusa o advogado do estudante naquele território, que pediu para não ser identificado. Tsz Lun Kok, que enfrenta acusações relacionadas com os protestos pró-democracia em Hong Kong no ano passado, foi detido pela guarda costeira chinesa em 23 de Agosto, com mais 11 activistas, quando tentavam chegar por mar a Taiwan, onde se pensa que procuravam asilo. Desde então, nenhum dos 12 detidos pôde contactar com a família, tendo-lhes sido também negado acesso a advogados mandatados pelos familiares. Em alguns casos, os advogados foram alvo de ameaças por parte das autoridades chinesas, que alegaram que já teriam sido nomeados advogados oficiosos pelo Estado chinês. Tanto o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) como o Consulado de Portugal em Macau e Hong Kong afirmaram que estão a acompanhar o caso, apontando, no entanto, que "a China não reconhece a dupla nacionalidade a cidadãos chineses", o que limitaria a intervenção das autoridades portuguesas "ao domínio humanitário, procurando assegurar que o detido se encontra bem, que lhe seja dispensado um tratamento digno

e que possa ser defendido por um advogado". Apesar disso, o advogado do jovem de 19 anos disse ontem à Lusa que o Consulado continua sem informações sobre o detido. "Ele está isolado há 37 dias, sem contacto da família nem advogado", recordou o jurista, que questionou várias vezes o Consulado, nomeadamente sobre se as autoridades consulares já tentaram visitá-lo no Centro de Detenção Yantian de Shenzhen, a 50 km de Hong Kong, onde está detido. Na semana passada, o Consulado tê-lo-á informado apenas, num e-mail

enviado na terça-feira, de que tem "vindo a prosseguir os contactos com as autoridades competentes", mas que "uma resposta ainda está pendente", acrescentando que "a única informação [de que o posto consular dispõe] é a veiculada pelas autoridades públicas de Hong Kong". "Basicamente, até agora, só sabem o que o público sabe em Hong Kong", lamentou o advogado, considerando "inaceitável" que as autoridades consulares ainda não tenham visitado o detido, com nacionalidade portuguesa e chinesa.

PRESSÃO INTERNACIONAL

Na segunda-feira, a organização não-governamental Human Rights Watch apelou às autoridades portuguesas para que visitem o estudante universitário, recordando que o direito internacional permite essa intervenção. "A Convenção de Viena sobre Relações Consulares permite que

“Basicamente, até agora, só sabem o que o público sabe em Hong Kong”, lamentou o advogado, considerando “inaceitável” que as autoridades consulares ainda não tenham visitado o detido, com nacionalidade portuguesa e chinesa

Justiça Condenada à morte após envenenar 25 crianças Uma educadora de infância chinesa foi condenada à pena de morte por ter envenenado 25 alunos no infantário onde trabalhava, um dos quais morreu, anunciou ontem um tribunal chinês. O Tribunal Intermédio da cidade de Jiaozuo, na província de Henan, centro da China, considerou on-

tem Wang Yun culpada de colocar nitrito de sódio nas papas de aveia servidas às crianças da colega, em Março de 2019, num caso de vingança. O nitrito de sódio é um produto químico utilizado para a conservação de carnes, mas é tóxico quando ingerido em estado puro. Segundo o tribunal,

Wang sabia que o produto era prejudicial, mas mesmo assim decidiu envenenar as crianças "independentemente das consequências". Não foi a primeira tentativa: segundo o tribunal, a professora tentou envenenar o marido em 2017, após uma disputa conjugal.

funcionários consulares portugueses visitem [o detido] e lhe providenciem representação legal. O consulado português deve imediatamente procurar encontrar-se com Kok, se ainda não o fez", instou a ONG, em comunicado. A Lusa questionou o Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre a situação do detido, em 11 de Setembro, mas não obteve resposta. Em novas questões enviadas ontem ao gabinete de Augusto Santos Silva, a Lusa perguntou que diligências foram feitas para garantir o acesso do detido a um advogado e se as autoridades consulares tentaram visitá-lo, mas voltou a não obter resposta. O advogado em Hong Kong do estudante com passaporte português disse à Lusa em 4 de Setembro, quando tinham passado 12 dias desde a detenção, que as autoridades chinesas recusaram o acesso ao advogado mandatado pela família no continente chinês, alegando que "a investigação do caso não [estava] concluída, e que [o detido] não tem o direito de ver um advogado". Um segundo advogado foi igualmente levado a abandonar o caso, devido a alegadas pressões das autoridades chinesas, indicou no domingo a rádio pública RTHK.

LEI E DESORDEM

O jovem com passaporte português tinha sido detido em 18 de Novembro, e mais tarde libertado, durante o cerco da polícia à Universidade Politécnica de Hong Kong, sendo acusado de motim, por ter participado alegadamente numa manobra para desviar as atenções das forças de segurança com o objectivo de permitir a fuga de estudantes refugiados no interior. A lei da segurança nacional imposta por Pequim à antiga colónia britânica, em 30 de Junho, levou vários activistas pró-democracia a refugiar-se no Reino Unido e Taiwan. O diploma pune actividades subversivas, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras com penas que podem ir até à prisão perpétua.

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DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE FINANÇAS Edital Cobrança do Imposto Profissional respeitante ao Exercício de 2019 Faz-se saber que, de harmonia com o disposto no artigo 46.º, n.º 2, do Regulamento do Imposto Profissional, estará aberto, durante o mês de Outubro próximo, o cofre da Recebedoria da Repartição de Finanças de Macau destes Serviços para pagamento do imposto profissional dos contribuintes do 1.º grupo (assalariados e empregados por conta de outrem) e do 2.º grupo (profissões liberais e técnicas), respeitante ao exercício de 2019, calculado nos termos do artigo 37.º do mesmo Regulamento. Findo o prazo da cobrança à boca do cofre, terão os contribuintes mais sessenta (60) dias para satisfazerem as suas colectas, acrescidas de 3% de dívidas e de juros de mora legais, conforme o disposto no artigo 48.º do referido Regulamento Decorridos sessenta dias acima referidos, sem que se mostre efectuado o pagamento do imposto liquidado, dos juros de mora e de 3% de dívidas, proceder-se-á ao seu relaxe, sem prejuízo da aplicação de multa, que pode atingir metade da importância da colecta em dívida. Aos 3 de Setembro de 2020. O Director dos Serviços, Iong Kong Leong

Anúncio Faz-se saber que no concurso público n.o 32/P/20 para a «Obra de Substituição do Sistema de Ar Condicionado Central no Centro de Prevenção e Tratamento de Tuberculose», publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 37, II Série, de 9 de Setembro de 2020, foram prestados esclarecimentos complementares à «Lista de Itens» e outros esclarecimentos, nos termos do artigo 4.º do programa do concurso, pela entidade que realiza o concurso e juntos ao processo do concurso. Os referidos esclarecimentos encontram-se disponíveis para consulta durante o horário de expediente na Divisão de Aprovisionamento e Economato dos Serviços de Saúde, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, e também estão disponíveis na página electrónica dos S.S. (www.ssm.gov.mo). Serviços de Saúde, aos 24 de Setembro de 2020 O Director dos Serviços Lei Chin Ion


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morte ontem de uma jovem “intocável” (“dalit”) - pertencente a um grupo de pessoas que está à margem do sistema de castas hindu - depois de ser violada por um grupo de homens desencadeou uma onda de indignação na Índia. A vítima, de 19 anos, estava hospitalizada desde que foi violada por quatro homens em 14 de Setembro, na vila de Hathras, no Estado de Uttar Pradesh. No dia da agressão, a jovem havia saído com a mãe para o campo e, no momento em que ambas se separaram, os agressores arrastaram a vítima para um lugar escondido, onde a violaram e a tentaram estrangular, segundo a versão da família da jovem num depoimento dado à polícia de Hathras. Os agressores causaram várias fracturas na jovem, que foi internada em estado crítico, primeiro num hospital em Uttar Pradesh e depois num centro de saúde com mais recursos em Nova Deli, onde morreu ontem de manhã. A família da vítima culpou a polícia por não responder rapidamente após relatar o ataque, embora as forças de segurança insistam que agiram imediatamente.

“Prendemos os quatro réus no mesmo dia da denúncia. Estão a ser tomadas medidas. A secção 302 do código penal agora será aplicada e uma declaração sobre as acusações será apresentada em breve”, explicou um porta-voz da polícia de Hathras à agência de notícias EFE.

REVOLTA SOCIAL

Intocáveis também se abatem Morte após violação colectiva indigna Índia

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A SANTA CASA DA MISERICÓRDIA FELICITA A REPÚBLICA POPULAR DA CHINA PELA PASSAGEM DO SEU 71.º ANIVERSÁRIO

A morte da jovem gerou uma onda de indignação visível nas redes sociais, onde com exigências de justiça para a vítima e acusação ao governo de Uttar Pradesh de não oferecer protecção às mulheres e nem aos “dalit”. “Isso mostra a realidade dos ataques às mulheres e às jovens ‘intocáveis’. Conecta todos os pontos, mostra um quadro mais amplo da violência estrutural contra os ‘dalit’, as mulheres ‘dalit’(…)”, denunciou a conhecida activista Kavita Krishnan na rede social Twitter. As televisões locais também mostraram protestos em Hathras e em várias partes de Nova Deli, bem como nas proximidades do hospital onde a vítima morreu, onde se reuniram membros da organização em defesa dos “dalit”, o Bhim Army, que pediram pena de morte para os agressores.

Timor-Leste Português mordido por crocodilo enquanto fazia pesca submarina

Um cidadão português foi mordido no domingo por um crocodilo numa praia na zona de Baucau, norte de Timor-Leste, quando estava com um amigo a fazer pesca submarina, contou o próprio à Lusa. “Pelo tamanho que tinha, talvez uns três metros, se ele quisesse tinha-me levado”, disse à Lusa Fernando Madeira, que relatou ter ferimentos nas costas e no braço. “É um milagre inexplicável não ter sido mais grave e que deve servir de lição para outros e de alerta para a necessidade de que se tomem medidas para garantir a segurança das pessoas”, explicou. O ataque ocorreu a cerca de 200 metros da costa numa zona de recife de coral onde estava com um amigo a fazer pesca submarina na manhã de domingo, na zona de Bunduras, a cerca de 45 minutos de barco da principal praia de Baucau, Wataboo.


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Notificação n.° 038/DLA/DHAL/2020 Considerando que não se revela possível notificar o interessado, por ofício, telefone nem por outro meio, nos termos do n.º 1 do artigo 72.° do “Código do Procedimento Administrativo”, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro, notifico, pela presente, nos termos do n.°2 do artigo 72.° do mesmo Código, ao interessado, abaixo indicado, o seguinte: Nome do estabelecimento

Endereço

Titular

ESTABELECIMENTO DE COMIDAS ONE CREATIVE KITCHEN

CAMINHO DOS ARTILHEIROS, N.os 13-15, PÁTIO DE S. LÁZARO, N.os 6-10, SON KENG KOK, CAVE A, B, E, F ,G, H E R/C E CAVE D, MACAU

NÚMERO 89 SOCIEDADE UNIPESSOAL LIMITADA

N.º da licença administrativa 120/2017

1. O n.º 1 do artigo 31.º do Decreto-Lei n.º 16/96/M, de 1 de Abril, determina que “A licença caduca e é cancelada se o estabelecimento estiver encerrado por período igual ou superior a 1 ano”. 2. Tendo este Instituto confirmado com provas bastantes que o estabelecimento de comidas supramencionado cessou a sua actividade por período superior a um ano e segundo os termos estipulados no n.º 1 do artigo 31.º do DecretoLei n.º 16/96/M, de 1 de Abril, pelo que o signatário, exarou, no uso das competências conferidas pelo Despacho n.º 01/ VPW/2019, publicado na Série II do Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 2, de 8 de Janeiro de 2020, despacho, em 17 de Setembro do corrente ano, no sentido de cancelar a licença do estabelecimento supracitado. Nos termos do artigo 145.º e 149.º do “Código do Procedimento Administrativo”, o interessado poderá apresentar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, reclamação contra o citado acto administrativo e/ou, apresentar recurso hierárquico facultativo ao Conselho de Administração para os Assuntos Municipais deste Instituto, no prazo previsto no artigo 25.° do “Código de Processo Administrativo Contencioso” e no n.º 2 do artigo 155.º do “Código do Procedimento Administrativo”, sem prejuízo da aplicação do artigo 123.º do citado Código. Poderá ainda apresentar recurso contencioso ao Tribunal Administrativo da Região Administrativa Especial de Macau, no prazo previsto na Secção II do Capítulo II do “Código de Processo Administrativo Contencioso”, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 110/99/M, de 13 de Dezembro. Para informações ou consulta do processo, o interessado poderá dirigir-se à Divisão de Licenciamento Administrativo, sita na Avenida da Praia Grande, n.os 762-804, Edifício “China Plaza”, 2.º andar, zona B do Centro de Serviços do IAM, Macau. Aos 17 de Setembro de 2020. O Chefe de Departamento de Higiene Ambiental e Licenciamento Fong Vai Seng www. iam.gov.mo

ANÚNCIO DO CONCURSO DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE TURISMO ANÚNCIO Faz público que, de acordo com o Despacho de 23 de Setembro de 2020 da Ex.ma Senhora Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, encontra se aberto, pelo Fundo de Turismo, o concurso público de “N.o 3/CON/DTNE/2020 – Concurso Público – Serviços de coordenação e produção das cerimónias para o 5.º Festival Internacional de Cinema e Cerimónia de Entrega de Prémios • Macau”. Desde a data da publicação do presente anúncio, nos dias úteis e durante o horário normal de expediente, os interessados podem examinar o Processo do Concurso na Direcção dos Serviços de Turismo, sita em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 335-341, Edifício “Hotline”, 12.o andar, e ser levantadas cópias, incluindo o Programa do Concurso, o Caderno de Encargos, os anexos e demais documentos suplementares, mediante o pagamento de duzentas patacas (MOP200,00); ou ainda consultar o website da Direcção dos Serviços de Turismo: http://industry.macaotourism.gov.mo, na área de Informação relativa às aquisições e fazer “download” do mesmo. A Sessão de esclarecimento será realizada na sala de reunião da Direcção dos Serviços de Turismo, sito em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 335-341, Edifício “Hotline”, 14.o andar pelas 15:00 horas do dia 6 de Outubro de 2020. Os pedidos de esclarecimento devem ser feitos por escrita e apresentados até ao dia 9 de Outubro de 2020 pelas 17:45 na área dos Avisos Públicos do website da Indústria Turística de Macau (http://industry.macaotourism.gov.mo), na área de Informação relativa às aquisições, as respectivas respostas também serão publicadas no mesmo website. O limite máximo do valor global da prestação de serviços é de MOP2.500.000,00 (dois milhões e quinhentas mil patacas). Critérios de adjudicação e factores de ponderação: Critérios de adjudicação Preço Concepção da programação e produção: - Design do tema dos locais para a cerimónia de abertura, cerimónia de encerramento e entrega de prémios (formato “On-line” em transmissão directa ou em diferido); - Design do tema das ceremónias (cerimónia de abertura e passadeira vermelha, actuação de abertura, cerimónia de encerramento e entrega de prémios em formato “On-line” em transmissão directa ou em diferido), e design da programação com os respectivos efeitos finais em desenhos; - Plano da equipa profissional e respectiva distribuição dos trabalhos para a execução dos serviços a prestar. Maior garantia de segurança e eficiência na prestação do serviço: - Informações sobre os equipamentos a serem utilizados; - Desenhos e design de localização dos respectivos equipamentos e decorações (desenhos e plantas de localização); - Plano de produção dos materiais de decoração; - Plano de montagem e desmontagem. Experiência do concorrente

Factores de ponderação 20%

44%

20% 16%

Os concorrentes deverão apresentar as propostas na Direcção dos Serviços de Turismo, sita em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 335-341, Edifício “Hotline”, 12.o andar, durante o horário normal de expediente e até às 13:00 horas do dia 20 de Outubro de 2020, devendo as mesmas ser redigidas numa das línguas oficiais da RAEM, prestar a caução provisória de MOP50.000,00 (cinquenta mil patacas), mediante: 1) depósito em numerário à ordem do Fundo de Turismo no Banco Nacional Ultramarino de Macau 2) garantia bancária 3) depósito nesta Direcção dos Serviços em numerário, em ordem de caixa ou em cheque visado, emitidos à ordem do Fundo de Turismo 4) por transferência bancária na conta do Fundo do Turismo do Banco Nacional Ultramarino de Macau. O acto público do concurso será realizado na sala de reunião da Direcção dos Serviços de Turismo, sito em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 335-341, Edifício “Hotline”, 14.o andar pelas 10:00 horas do dia 21 de Outubro de 2020. Os representantes legais dos concorrentes deverão estar presentes no acto público de abertura das propostas para efeitos de apresentação de eventuais reclamações e/ou para esclarecimento de eventuais dúvidas dos documentos apresentados a concurso, nos termos do artigo 27.o do Decreto-Lei n.o 63/85/M, de 6 de Julho. Os representantes legais dos concorrentes poderão fazer-se representar por procurador devendo, neste caso, o procurador apresentar procuração notarial conferindo-lhe poderes para o acto público do concurso. Em caso de encerramento destes Serviços por causa de tempestade ou por motivo de força maior, o termo do prazo de entrega das propostas, a data e hora de sessão de esclarecimento e de abertura das propostas serão adiados para o primeiro dia útil imediatamente seguinte, à mesma hora. Direcção dos Serviços de Turismo, aos 25 de Setembro de 2020. O Director, Substituto

Hoi Io Meng


quarta-feira 30.9.2020

Fogem-te, por entre os dedos, os instantes

Diário de um editor

Respirar fundo

JOSÉ M. RODRIGUES

João Paulo Cotrim www.torpor.abysmo.pt

CENTRO CULTURAL, LISBOA, QUINTA, 10 SETEMBRO Não escreverei a palavra que se insinua. O dia começou com gesto que me faz chorar apenas de um olho, o mais próximo da narina sujeita à prospecção da vareta com cabeça de algodão, no lado oposto com que outra me vasculha o lado de lá do céu-da-boca. Está uma daquelas manhãs indistintamente belas dos romances, e os reflexos nos equipamentos de guerra química não alteram em nada o sabor do dia. A rotina do mundo inteiro virou teste, não temos por onde chorar. Ou antes, enxaguemos as lágrimas mecânicas, filhas de nenhum sentimento, antes de recolocar a máscara e seguirmos em frente. Atentos ao pôr dos pés. Horas depois vejo-me em pleno «Diário de uma Pandemia», exposição de muitas páginas, repartidas por cinco partes, da novíssima associação de fotojornalistas CC11, que até me desafiou para escolher e comentar algumas primeiras da nossa tão pouco entusiasmante imprensa. A poeira ainda não assentou, os ventos varrem a cidade com mais vozes e medos além dos habituais no verão alfacinha, e os olhares já se vão cristalizando em testemunho brutal. Mal entramos e o cansaço reencontra-se em instalação que amplia ao exagero os noticiários sobre a Covid-19 e as várias emergências do estado em que fomos ficando. Isto antes de nos perdermos em 90 das mais de 600 fotos oriundas do «Everydaycovid», projecto criado no instagram por Miguel A. Lopes e Gonçalo Borges Dias, que foi recolhendo as diárias deambulações de 119 fotojornalistas. Segue-se o trabalho dos correspondentes estrangeiros, as tais primeiras páginas e a subtil instalação da Luísa [Ferreira], «Claro e Escuro. A dimensão do que nos foi acontecendo está patente no

ambiente tonitruante que por ali se respira. Não falta carga simbólica, homem só com bandeira, as farmácias e os hospitais feitos palco, a coreografia dos novos gestos pó-de-talco, toques de cotovelo e zaragatoas. Uma parede ergue-se enorme com os retratos simples e pujantes que Rui Oliveira fez a profissionais de saúde, gente com marcas, das máscaras e do cansaço, da apreensão e da dúvida. Não arrisco dizer que está lá a realidade toda, até por sentir falta de alguma sujidade, algum desfoque, enquadramentos mais movediços, mas estarão muitos ângulos do sofrido. A Luísa multiplica as maneiras de ver, chamando a atenção para detalhes, aqueles do chão, ou os da hesitação, estes de súbito habituais de não sabermos o que fazer com as mãos. Ou por onde ir. HORTA SECA, LISBOA, SEXTA, 18 SETEMBRO O que desatámos a fazer com o telemóvel será auto-retrato? Ou papel de forrar as paredes em que nos vamos encerrando no labirinto do quotidiano? Nesse espelho contínuo não paramos de simular uma alegria de beijos suspensos, frios, paralíticos que nem cinema parado. Falta-nos ar. O volume 05 da importante colecção PH, dirigida pelo Cláudio [Garrudo], saiu dedicado a José M. Rodrigues, senhor de obra irrequieta que se apresenta em retrospectiva mínima, cronologia invertida que parte do presente para chegar aos anos 1970, como que a querer confundir partida e chegada, nascente e foz. Tem muitas pontas por onde se pegue, esta maneira de rasgar perspectivas. Aliás, creio que um dos seus lados mais desafiantes está na multiplicações de linhas a perseguir, de horizontes a alcançar. Sigamos a da sombra do corpo na parede de papel. Não é a primeira foto que vemos,

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mas é a que abre a série (algures na página): ao baixo e a cores, declinadas da madeira, duas sombras sobrepostas projectam-se sobre canto de parede tintado com textura miúda e pontuada nos extremos superiores por duas molduras vazias, se não contarmos o reflexo de outras tantas molduras. Cartões de legenda em branco brilham paralelos aqueles fragmentos de objecto comum. A figura está de costas e acentua o rasgo onde a superfície se desdobra em fenda. Eis sublime auto-retrato do fotógrafo: sombra perdida na fronteira dos reflexos, imagens aplicadas em superfícies que se espelham dizendo, a um tempo, matéria densa de construção mas volátil assim a espessura da luz. Pode a fotografia existir sem lugar que a revele? O corpo do artista pode ser ecrã. Quase nas últimas páginas, as do início do percurso, em clássicos quadrado e preto e branco, pedaço de parede forrada de motivos florais sobre o qual assenta moldura com reflexos desfocados do mesmo motivo. Por não ser uniforme, a luz permite que o chiaroscuro vá revelando as subtilezas, as marcas da natureza morta, do tempo. De súbito, rasgada pelo enquadramento, uma tomada. A presença eléctrica do humano faz-se flor, vivifica a matéria inerte. De igual modo, o espelho dialoga com o espectador, quando vemos o objecto torna-se distinto. Outro século agora, de novo ao baixo e a cor, com a paginação em dupla página acentuando a cadência. Sobre fundo hipnótico de florões com dominância de roxos, com vibrações distintas, do muito vivo ao esbatido, parece tombar uma moldura barroca que acolhe foto de mulher vestida sobre a relva, de pose e olhar oferecidos. A parede há-de estar erguida, mas ao alto entrega-se um corpo deitado em chão de ervas. O fotógrafo revela deitado sobre o seu objecto e expõe quase sempre ao nível dos olhos. A fotografia será sempre janela excessiva rasgando a possibilidade de dimensões e narrativas. Esta investigação do José M. sobre a pele do mundo passa por inúmeras texturas e matérias, muitas águas e rochas, mas encontra constância nesta tentativa de fazer da parede, do papel, ou seja, do suporte também ele substância, carne. Há ainda outra onde o corpo do artista se sobrepõe sobre costas de cadeira e o fundo outro não é senão parede com tomada de vários canais, eléctricos, telefónicos, de antena? E nisto desembocamos em presente mais próximo, para já a mais perturbadora das fotos aqui incluídas. Cor, ao baixo, impressa ao alto na ímpar. O artista está arrumado ao canto de duas paredes com frescos emoldurados por sancas de gesso, encimadas por fios eléctricos de cores distintas e colocados também sobre florão pintado no início do tecto que se deixa ver. O enquadramento propõe um desequilíbrio dinâmico que faz do centro o artista de olhos fechados e boca aberta, sorvendo ar. Enquadram-no paisagens campestres com grande presença de céu e azul, de água, visões irreais de um bem-estar composto para o olhar. O fotógrafo respira ou diz em voz alta? Na página par, acontece correspondência, a modos que curto-circuito. No negro puro rasga-se um pequeno rectângulo com homem de costas, a mesma camisa aos quadrados da seguinte: o fotógrafo no estúdio em trabalho de revelação? Ali respira-se luz. O corpo do artista, o seu rosto, pertence a esta pele do mundo que se prolonga, que tatua as construções, a natureza paisagem íntima, que assombra os muros. O olhar, como a luz, define superfícies, estabelece contactos e possibilidades. O fotógrafo, como a sombra, está em todo o lado. O ar é a grande razão de ser.


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Xunzi

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30.9.2020 quarta-feira

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As Realizações do Ru

EM qualquer desacerto, o sage baseia-se em ren [humanidade] e yi [justiça]. Vê com exactidão aquilo que é certo e errado e faz com que não exista disparidade entre as suas palavras e actos. Não há outra forma de fazer isto que não seja deter-se no pô-lo em prática. Por isso, se ouviste sobre o Caminho, mas não o observaste, mesmo que tenhas estudado vastamente é garantido que te enganes. Se o observaste, mas não o conheces, mesmo que o consigas reconhecer é garantido que ajas com imprudência. Se o conheces, mas não o pões em prática, mesmo que te tenhas familiarizado exaustivamente com ele, é garantido que te venhas a encontrar numa armadilha. Se nunca ouviste sobre ele nem nunca o observaste, mesmo que acertes naquilo que é apropriado tal não é ren; esse proceder falha cem vezes em cada cem acções. E assim, sem professores e modelos apropriados, mesmo os mais inteligentes dos homens se envolverão em vileza. Mesmos os mais capazes entre eles se envolverão em comportamento caótico. Mesmo os mais sagazes entre eles

Elementos de ética, visões do Caminho PARTE IX

se envolverão em estranhas ligações e os mais brilhantes oradores se envolverão em engano. Com professores e modelos adequados, os mais inteligentes dos homens rapidamente atingirão a compreensão e os ousados entre eles rapidamente atingirão um estatuto inspirador de admiração. Os capazes entre eles rapidamente se aperfeiçoarão, os sagazes rapidamente atingirão o entendimento correcto e os oradores brilhantes depressa conseguirão ajuizar correctamente as coisas. Por isso, ter professores e modelos apropriados é o maior tesouro da humanidade e não os ter é a maior calamidade. Sem professores nem modelos apropriados, as pessoas exaltarão a natureza humana como seu padrão mais alto. Se tiverem professores e modelos apropriados, farão do esforço acumulado o seu padrão mais alto. Seguir professores e modelos apropriados deve-se às nossas disposições e não à natureza humana, pois esta não se sustenta por si nem é bem ordenada. A natureza humana é algo que não consigo refazer, mas é possível transformá-la. Os meios para transformar a na-

tureza humana são a prática e o hábito. Dedicar-se a uma coisa e disso não se desviar são os meios para dar azo ao esforço acumulado. O hábito muda-nos as intenções e ser capaz de encontrar conforto nessas coisas e nelas perseverar muda a nossa substância. Se te dedicares à coisa correcta e dela não te desviares, então atingirás poder e entendimento semelhantes ao do espírito e tomarás o teu lugar na tríade com o Céu e a Terra. Se acumulares terra formarás uma montanha. Se acumulares água formarás um mar. A acumulação de auroras e crepúsculos é chamada um ano. A coisa mais alta é chamada Céu e a coisa mais baixa é chamada Terra. As seis direcções do mundo são chamadas extremos. Se os homens normais e as pessoas comuns acumularem bondade, fazendo-a inteira e completa, podemos chamá-las sábias. Isso devem buscar e só então o obterão. Devem nisso trabalhar e só então o conseguirão. Deverão acumulá-lo e só então serão elevadas. Devem fazê-lo completo e só então serão sábias. Assim, o sábio é o produto do esforço acumulado do povo.

Tradução de Rui Cascais Xunzi (荀子, Mestre Xun; de seu nome Xun Kuang, 荀況) viveu no século III Antes da Era Comum (circa 310 ACE - 238 ACE). Filósofo confucionista, é considerado, juntamente com o próprio Confúcio e Mencius, como o terceiro expoente mais importante daquela corrente fundadora do pensamento e ética chineses. Todavia, como vários autores assinalam, Xunzi só muito recentemente obteve o devido reconhecimento no contexto do pensamento chinês, o que talvez se deva à sua rejeição da perspectiva de Mencius relativamente aos ensinamentos e doutrina de Mestre Kong. A versão agora apresentada baseia-se na tradução de Eric L. Hutton publicada pela Princeton University Press em 2016.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 19

quarta-feira 30.9.2020

Amélia Vieira

Encontro Magik

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MA história extraordinária que começou em 1929 e deu origem a artigos vários e a uma atmosfera de espionagem numa Lisboa já “amansada” pelo novíssimo Estado Novo. O início dela está num poeta que manda requisitar dois livros ingleses e promete fazer o horóscopo do autor por lhe parecer estar errado, este interesse serve certamente de isco a tudo o que irá unir dois homens em novelísticas manobras, ou por tédio a uma Lisboa onde nada mais se passava, ou por o outro ser espião inglês, ou, quem sabe, por puro passional, pois que o poeta caiu de amores pela sua mulher , tanto, e de tal forma, que até escreveu o seu único poema erótico. O que é certo é que aquele mês de Setembro de encontros e desencontros, culminando na Boca do Inferno com uma rocambolesca carta de despedida iria levantar celeuma público nos dois países. E claro está, falamos então de Aleister Crowley e Fernando Pessoa! O repto que Pessoa lança com a averiguação da carta do céu não será apenas uma mera curiosidade pessoal, mas, quem sabe, uma aproximação à edição inglesa, e desde o início desse ano passam então a trocar correspondência com projetos de idas e vindas o que deixa Pessoa um pouco aterrado e que tudo faz para averiguar o tempo mais propício para tal encontro, por outro lado ele era avesso a compromissos, o outro, mundano e desgarrado, não deve ter entendido tanta objeção - e eis que veio e Pessoa foi esperá-lo ao cruzeiro onde tinha ficado ainda, algures, parado, por causa do mau tempo, e o nosso poeta é logo interpelado de forma surpreendente: «olhe lá, porque mandou o nevoeiro lá para cima?» Verdade ou não, é que parece que o encontro foi simpático e para aqueles tão interessados na sexualidade de Pessoa, este encontro, mais não seja, deita por terra muitas teorias acerca dela, diz assim o poema inspirado na tão almejada Dama Escarlate: « Dá a surpresa de ser/ é alta, de um louro escuro/ faz bem só pensar ver/ seu corpo meio maduro/ Seus seios altos parecem (se ela estivesse deitada)/ dois montinhos que amanhecem/ sem ter que haver madrugada/ ...apetece como um barco/ tem qualquer coisa de gomo/ ó fome, quando é que eu embarco? Ó fome quando é que eu como?» Só por isto já tinha valido a pena. Alguns ainda dirão: que não, que não.....! Problema deles. E vamos então viajar com os nossos Magos, um Negro, outro Branco, mas certamente muito competentes para virar a cabeça aos Cinzentos, e sempre lembrando o grande interesse do nosso poeta por literatura policial, aliás, os únicos romances que gostava, só que estes efeitos passavam agora por um protagonista

real que se achava a reencarnação de um chinês nascido há três mil anos de seu nome Tu Li Yu, e que nesta reencarnação era apelidado de Besta- isto por causa da mãe que sendo irrascível dizia então que ele era uma besta- como lia muito a Bíblia pensou que fosse a do Apocalipse. Pessoa estava muitos graus de iniciação acima, e a sua mais alta demanda se bem que não o separasse do seu congénere, tinha trilhos mais apertados. É certo que sempre deixou o outro suspenso com a leitura da dita carta que nunca chegou a fazer, mas creio que o ajudou a virar costas a algumas contas que deixou atrás de si, que por pressa de se suicidar, ou porque teve de se “raspar” abruptamente para Berlim, ou fatal homicídio, o pusera a dar entrevistas e depoimentos nos jornais e na polícia. Suponhamos que ambos se divertiram com o estranho caso em que se falou até de assassinato devido ao universo inglês altamente criminalista, mas o certo é que a Dama Escarla-

te embarca antes de Crowley com uma mais enigmática cigarreira pertencente a Pessoa (no interrogatório é assim que é descrita) e sabe-se lá o que eles andaram a fazer no insólito mundo que os catapultou para aqui?! Acho que ainda se escreveram para além da “morte” agora com o Mago Negro submetido às vantagens de Pessoa, que lhe traduziu o «Hino a Pã» mais as notícias que saíam no Jornal de Notícias e na revista Girassol. Afinal, o Bem vence sempre se quisermos tirar elucubrações do caso. E já de bem com a sua talvez inusitada e brilhante jogada, o poeta encerra a comunicação e assim se separam para sempre. Tinha passado o tempo. As vantagens esgotaram-se e creio que o outro se lamentava amargamente com derrocadas financeiras o que para o nosso poeta seria assunto que ele não conseguiria jamais responder - amargurava-se agora ele mesmo de estar com posições tensas

no seu próprio horóscopo para se ocupar de outros. O Hino a Pã, magistral poema deste fauno, foi enviado para a revista Presença, mas creio que nem isso lhe chegou. As mãos do Mago ficariam vazias de promessas feitas pelo nosso que já muito se tinha esforçado para uma história bem guardada nos Infernos e nos Céus. Era gente singular! Em Lisboa se não olharmos para o bom tempo podemos bem morrer de tédio e os portugueses também não incitam ao despacho do inesperado, e esta Inglaterra de espíritos do outro mundo sempre esteve muito presente na pessoa de Pessoa, que nunca tirando a máscara, se revelou infalível em matéria criminal. «.....Assim sei que sou quem sou, e terei que o ser separadamente. A alta lição do escárnio alheio alberga astros em seu futuro». A propósito desta jornada.


20 (f)utilidades TEMPO

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AGUACEIROS

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COM A MÃO NA MASSA

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9 7 8 6 3 5 9 7 1 2 8 3 0 2

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6 7 9 1

6 4

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0 2 4 7 9 3 1 6 0 7 9 7 8 5

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3 7 4 9 2 0 4 1 0 8 5 6

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1 1 8 3 0 4 5 5 2 8 7 6 9 7 3 4

33 7 4 7 5 6 1 9 3 5 8 2 0 3

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2 3 1 6 6 7 9 0 2 7 1 8 5

3 5 9 2 7 8 0 6 1 4 8 5 6

8 5 2 7 8 3 6 9 3 4 1

2 4 3 6 9 4 5 8 0 7 1 2

9 8 5 5 4 1 0 2 6 3 7 0 3

8 0 9 5 1 4 7 2 3 6 9 3 2 4 8 6

0 9 9 6 5 4 2 8 4 1 3 2 1

5 6 5 8 3 9 2 6 1 7 4 1 9 0 4 7

4 2 3 8 0 6 5 0 9 9 7

9 8 2 4 0 6 7 5 3 1 8 9

5 0 9 5 3 9 2 8 7 1 6 2 1 0 4 7 3 1 9 8 0 3 0 2 9 5 6 4 5

1 6 7 1 9 5 7 4 3 2 0 2 8 0 6 7 4 3 2 8 9 4 0 6 1 5 3 9 1

7 8 4 7 0 3 1 8 9 5 6 1 30 5 4 9 5 1 6 5 9 8 0 7 3 2 0

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 33

6 5 1 0 8 2 0 7 3 4 2 3 9 4 9

PROBLEMA 34

S5 9U4 0D6 7O1 8K3 U 2 31

Cineteatro 32

SALA 1

0 5 1 9 7 8 6 4 0 2 3 4 GREENLAND [B] Um filme de: Ric Roman Waugh 5Butler, 9 6 Com: Gerard Morena Baccarin, Scott7 Glenn 1 3 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 4 2 5 8 6 7 3 0 2 1 8 9 TENET [B]

Um filme de: Cristopher Nolan Com: John David Washington, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki 14.30, 18.00, 21.00 SALA 2

34

80-98%

3 6 2 5 0 8 9 4 1 7

8 1 9 7 4 2 0 3 6 5

´•

O deputado Mak Soi Kun fez um acção para ouvir o seu eleitorado com visitas a associações e restaurantes. Após a campanha,

C I N E M A

5 7 4 1 0 8 3 2 2 9 6 0 6 3 7 8 1 4 9 5 8 0 2 7 7 6 1 3 3 5 8 9 4 www. 2 5 6 hojemacau. 9com.mo 1 0 4

36

HUM

SALA 3

2 7 9 4 6 5 3 0 2 4 8 1 3 5 7 6 0 1 9 8 FATAL VISIT [C] FALADO EM CANTONÊS 7 8EM CHINÊS2E INGLÊS 3 1 LEGENDADO Um filme de: Calvin Poon Com: Tong Dawei, 9Sammi5Cheng, 4 6Charlene0Choi 17.00, 21.15 1 6 8 7 3 0 2 5 1 9 4 9 7 8 5 3 4 6 0 2 I’M LIVING’ IT [B]

FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Wong Hing Fan Com: Aaron Kwok, Miriam Yeung, Alen Man 14.30, 19.00

EURO

9.34

BAHT

Mak partilhou na sua página do Facebook algumas fotos com os cidadãos. Numa das partilhas é possível ver que enquanto o de-

UM FILME HOJE Baseado no romance homónimo de Agatha Christie, “A Casa Torta” gira em torno da morte de Aristide Leonides, um imigrante que fez fortuna em Inglaterra, encontrado morto em casa aos 80 anos em circunstâncias duvidosas.A mulher, significativamente mais jovem, emerge com a principal suspeita. No entanto, ao longo do filme vai transparecendo que, afinal, na enorme mansão, onde habitam dois filhos, duas noras, três netos e uma cunhada, todos, sem excepção, tiveram oportunidade e motivos para matar o patriarca. Hoje Macau

0.25

YUAN

1.17

putado ouvia a opinião de uma mulher, mais atrás, outras duas pessoas que estiveram numa das visitas trocavam dinheiro.

“A CASA TORTA” | GILES PAQUET-BRENNER

9 3 2 6 0 8 5 9 1 4 6 7 4 8 7 5 1 3 1 5 0 9 4 GREENLAND 2 0 2 3 8 7 6 6 4 5 1 3 9 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes 8 Colaboradores 0 9 2Anabela 5 Canas; 4 António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; 7 Gonçalo 6 Lobo 4 Pinheiro; 0 2Gonçalo1M.Tavares;JoãoPauloCotrim;JoséDrummond;JoséNavarrodeAndrade;JoséSimõesMorais;LuisCarmelo;MichelReis;NunoMiguelGuedes;PauloJoséMiranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Namora; David 3 Chan; 1 João8Romão; 7 Jorge 9Rodrigues 0 Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare 2 Morada 7 Calçada 6 3deSanto 8 Agostinho, 5 n.º19,CentroComercialNamYue,6.ºandarA,Macau Telefone 28752401 Fax28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítiowww.hojemacau.com.mo


opinião 21

quarta-feira 30.9.2020

sexanálise

TÂNIA DOS SANTOS

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#paremdepartilhar

OMO dizem os distópicos das redes sociais, estas redes vieram explorar as fragilidades e dificuldades humanas. Nos vários problemas já identificados, como notícias falsas, polarização política, camaras de eco, o crescimento do autoritarismo e conservadorismo, está o sexo no seu pior também. Há uma prática comum entre sei lá eu quem - porque felizmente, não é coisa que me chegue às caixas de entrada – onde se partilham vídeos, áudios e imagens sensacionalistas. A ânsia pelo escândalo é tão grande que carregar no botão para partilhar o choque é inevitável. Cria-se uma corrente de partilha sem fim. Nem sempre se sabe se os conteúdos partilhados são fidedignos ou se foram consentidos pelos autores ou protagonistas. O Zuckerberg bem tenta dicotomizar o público do privado com um pacote de aplicações sociais. O facebook é público, é como estar com os vizinhos e os amigos num bar, o whatsapp é privado, e é como estar em casa com a família. Esta dicotomia que nos tentam impingir desresponsabiliza muitas das coisas que acontecem na suposta esfera privada do whatsapp. Lugar esse onde são partilhados conteúdos sexuais mais à vontade.

Nas redes sociais, supostamente, públicas, as políticas para controlar e denunciar conteúdos desadequados já é muito mais apertada. Pessoalmente não acho nada de errado em partilhar conteúdos sexuais, quando há consentimento na interacção. Querem enviar nudes? Querem enviar dick pics? Viva a sexualidade positiva e aberta. Mas as práticas que aqui vos trago não são bem essas. Muitos dos vídeos e imagens de sexo que andam a ser partilhadas não são consentidas. A história típica é a do ex-namorado que, raivoso, partilha os vídeos de sexo que foram gravados para uso pessoal do casal. A chamada pornografia de vingança, para além de ser crime, já levou muitas mulheres ao suicídio. Repito: mulheres já se suicidaram porque as suas imagens vieram a público. Os interesseiros e coscuvilheiros – que só prova que muita gente deve ter o seu ‘quê’ de voyeurismo – alimentam estas correntes, e esse é o outro factor problemático na equação. Quando estas correntes aumentam de proporção com reencaminhamentos constantes e exponenciais, são trazidas para as redes sociais, para os jornais e os cafés. O voyeurista plebeu intromete-se na esfera

privada e íntima do sexo, de onde certas narrativas começam a surgir, e o discurso não vos surpreenderá. Dou-vos o exemplo do caso do vídeo de sexo no comboio da CP. O evento foi gravado por terceiros e partilhado por todo o lado. A identidade da participante foi divulgada, e claro, o que é que aconteceu? Bullying à séria. Os rapazes que participaram não foram escrutinados na praça pública da mesma forma. Este duplo critério não tem nada mais, nada menos, que laivos de machismo resistentes e persistentes nas sociedades liberais contemporâneas. As mulheres só podem ser um híbrido esquisito entre virgem e devassa, e são condenadas por serem uma e a outra. Movimentos como #cortaacorrente (muito melhor do que o hashtag que eu inventei) alertam para a responsabilização individual e colectiva de não alimentar toda esta parvoíce. Assim que se recebe um vídeo, pode-se denunciar, e não alimentar a corrente de partilhas de onde veio, e para onde tenderá a ir. Denunciem conteúdos que não sabem de onde vieram ou se são consentidos, não partilhem coisas a torto e a direito. As partilhas têm consequências: e para muitas raparigas, este pequeno contributo pode salvar-lhes a vida.

Denunciem conteúdos que não sabem de onde vieram ou se são consentidos, não partilhem coisas a torto e a direito. As partilhas têm consequências: e para muitas raparigas, este pequeno contributo pode salvar-lhes a vida


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30.9.2020 quarta-feira


quarta-feira 30.9.2020

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Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Evitarás muitos aborrecimentos. PALAVRA DO DIA

HOJE MACAU

Confúcio

Economia Comércio externo desceu 19,3% até Agosto

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comércio externo de mercadorias de Macau totalizou 52,28 mil milhões de patacas até Agosto, traduzindo uma queda de 19,3 por cento face ao período homólogo do ano passado, indicam dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Macau exportou bens avaliados em 6,93 mil milhões de patacas (-17,2 por cento) e importou mercadorias avaliadas em 45,35 mil milhões de patacas (-19,6 por cento) entre Janeiro e Agosto. Por conseguinte, o défice da balança comercial nos oito primeiros meses do ano diminuiu, fixando-se em 38,42 mil milhões de patacas. As exportações de Macau para a China (1,09 mil milhões de patacas) subiram 2,9 por cento, à semelhança do que sucedeu com as destinadas aos Estados Unidos (340 milhões de patacas), que aumentaram 141,3 por cento em termos anuais. Em contrapartida, as vendas para Hong Kong (4,74 mil milhões de patacas) e União Europeia (121 milhões de patacas) desceram 12,9 e 9,4 por cento, respectivamente, face ao mesmo período de 2019. No sentido inverso, as importações de produtos da China (15,34 mil milhões) baixaram 18,7 por cento, em linha com as compras à União Europeia (12,11 mil milhões), que caíram 21,9 por cento.

Cartão de consumo Mais de 2 mil milhões de patacas já gastos

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Proibido folgar Lei Tak Fai, CPSP “Vamos ter de enfrentar um grande número de visitantes. Por isso, não vamos deixar os agentes tirar férias.”

Autoridades com “força suficiente” para enfrentar multidões na Semana Dourada

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Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) assegurou estar tudo a postos para enfrentar o aumento esperado do número de visitantes provenientes da China durante a Semana Dourada. A garantia foi dada ontem pelo Chefe de Divisão de Relações Públicas da CPSP, Lei Tak Fai, durante uma visita promovida pelo Governo ao posto fronteiriço das Portas do Cerco. “Não prevemos quantos agentes vamos ter ao serviço durante os feriados, mas temos força suficiente. Temos vindo a manter contactos estreitos com as autoridades de Zhuhai sobre os vistantes que vêm da China e iremos aplicar medidas de controlo de multidão”, referiu Lei Tak Fai. O responsável explicou ainda que os visitantes pertencentes a excursões que cheguem durante o período festivo terão de entrar obrigatoriamente pelos postos fronteiriços da ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai ou de Henqgin, ficando o posto das Portas do Cerco reservado para os turistas com vistos individuais.

Sobre as medidas de controlo de multidão, Lei Tak Fai esclareceu que a CPSP dispõe de autocarros “para levar visitantes que estão em postos fronteiriços mais congestionados”, como por exemplo o das portas do Cerco, para outros que registem menor concentração de pessoas num dado momento. A medida é aplicada “segundo o estado real” do posto fronteiriço e não “a partir de um determinado número de visitantes”, acrescentou. Questionado sobre o número de visitantes esperados durante a Semana Dourada, Lei Tak Fai recusou-se a fazer previsões. “Em anos passados fizemos previsões mas, este ano é mais difícil por causa da epidemia e neste momento não temos uma previsão exacta”, vincou.

SEM DESCANSO

O responsável do CPSP assegurou ainda que, à semelhança de outros anos, as zonas de maior concentração de turistas serão reforçadas com mais efectivos, adiantando que não vai ser permitido que nenhum agente tire férias durante

as celebrações do Dia Nacional e do Festival do Bolo Lunar. “Os agentes das forças de segurança não vão ter férias ou licenças. Temos de reforçar a força policial porque vamos ter de enfrentar um grande número de visitantes. Por isso, não vamos deixar os agentes tirar férias”, esclareceu. Já o Chefe Substituto do Departamento de Licenciamento e Inspecção da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) afirmou que, só depois de entrarem os visitantes em Macau, é que é possível ”ter mais certezas” sobre a taxa de ocupação hoteleira durante a Semana Dourada. Para já a percentagem de reservas situa-se entre 3 e 4 por cento. Por seu turno, Wong Weng Meng, dos Serviços de Alfândega sublinhou que vão ser reforçadas as inspecções às bagagens dos visitantes com o objectivo de combater o contrabando. Questionada sobre o número de convidados que terão de fazer teste de ácido nucleico para participar nas comemorações do Dia Nacional, a médica Leong Iek Hou, dos Serviços de Saúde afirmou não existirem ainda dados disponíveis. P.A.

Design de Moda IC anuncia candidatos admitidos a subsídios O Instituto Cultural (IC) seleccionou 15 aspirantes ao programa de subsídios à criação de amostras de design de moda, dos quais serão escolhidos oito candidatos que vão receber 170 mil patacas, “para a execução de amostras e materiais promocionais”. O programa PUB

quarta-feira 30.9.2020

de subsídios para criação de design de moda, que começou em 2013, recebeu nesta edição 27 candidaturas, “das quais cerca de 50 por cento são de candidatos novos, e mais de 60 por cento dos candidatos com marca de moda já registada”. Passam assim à segunda fase

de análise os candidatos Cordova Celestino Maria, Wong Man I, Tong Pak Chong, Kuong Chi Fong, Chan Sio Long, Ding Zhen, Leong Man Teng, Wong Ha, Liu En Ge, Oliveros Yam Vanessa, Tam Nga Teng, Lao Ka Weng, Lai Ka Pou, Choi Nga Teng e Chan Nga Leong.

ESDE o início de Agosto e até domingo os residentes gastaram cerca de 2 mil milhões de patacas dos cartões de consumo, o que representa 60 por cento do montante disponível para a segunda fase. Os dados do programa de incentivo ao consumo foram divulgados ontem pelo Governo e implicaram 22,52 milhões de transacções, também desdeAgosto. Em termos do destino do dinheiro utilizado, destaca-se o sector da restauração que recebeu 25,6 por cento do valor das transacções, o que significa cerca de 512 milhões de patacas. A área de maior consumo, a seguir à restauração, foi o comércio a retalho, principalmente os supermercados, com um gasto de 20,1 por cento, ou 402 milhões de patacas. Por sua vez, o sector da medicina e produtos de ginseng recebeu 138 milhões de patacas; os vendedores alocados nos mercados e os de carnes 116 milhões; e os vendedores de produtos electrónicos e de electrodomésticos viram gastos nos seus estabelecimentos 114 milhões de patacas. Finalmente, segundo os dados oficiais, em vestuário e artigos de couro foram gastos 110 milhões de patacas. Depois de uma primeira fase em que os residentes tiveram um cartão com 3 mil patacas, na segunda fase do programa, em vigor até ao final do ano, o valor subiu para 5 mil patacas. Até 27 de Setembro, mais de 640 mil residentes tinha aderido a uma das fases do cartão de consumo. No comunicado, o Executivo faz ainda um balanço do programa considerando que este contribuiu para promover a procura interna local, estimular o consumo e a estabilização da economia e ainda aliviar a pressão da vida quotidiana da população.


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