DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
MOP$10
SEXTA-FEIRA 4 DE NOVEMBRO DE 2022 • ANO XXI • Nº5126
YAO FENG
EXPOSIÇÃO
SER SIGNIFICANTE PÁGINAS 12-13
CHINA
CONTRA A LÓGICA DA DOMINAÇÃO
Ânimos quentes
Pereira Coutinho acusou ontem o Governo de discriminar as comunidades lusófonas. A gota de água, que fez aquecer os ânimos no plenário, foi o encerramento da Festa da Lusofonia que provocou perdas financeiras avultadas em várias associações. O deputado culpa ainda o Executivo de não tratar o Festival com a dignidade merecida e pergunta: se fosse o Grande Prémio ou o Festival da Gastronomia, teriam agido da mesma forma? PÁGINAS 4-5
COVID-19
CUIDADO COM O INTERIOR PÁGINA 7
OBTER FLECHAS ATRAVÉS DE UM ARDIL Luo Guanzhong
CHINOISERIES Cláudia Ribeiro
VOZES
CARTÉIS JOÃO ROMÃO
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GRANDE PLANO
2 grande plano
DEFESA
4.11.2022 sexta-feira
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EUA ROTULAM CHINA COMO A “MAIOR AMEAÇA”. PEQUIM RESPONDE
China não A procurará hegemonia GETTY IMAGES
A nova Estratégia de Defesa Nacional de Washington de rotular a China como a maior ameaça para os EUA mereceu uma resposta contundente da parte de Pequim. Quem ameça quem, é o que o mundo tem de avaliar à luz do que ocorre no palco internacional
Zhao Lijian, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros
China condenou a nova Estratégia de Defesa Nacional (NDS) dos EUA, afirmando que a política americana é conduzida pela “lógica da dominação”, ao mesmo tempo que insiste que Pequim nunca procurará “hegemonia” sobre outras nações. Questionado sobre a NDS de 2022 do Pentágono divulgada em finais de Outubro - que declara que a China coloca o “desafio mais consequente e sistémico” à segurança nacional dos EUA - o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian, disse que o documento “joga com a concorrência dos principais países e deliberadamente deturpa as políticas externa e de defesa da China”. O documento “é conduzido ostensivamente por uma mentalidade de Guerra Fria de soma zero e pela lógica de dominação e hegemonia e diz tudo sobre as más intenções dos EUAde conter e suprimir a China sob vários pretextos falsos”, continuou o porta-voz, acrescentando que o seu país rejeitará todas as “tentativas de chantagear, conter, bloquear e exercer a pressão máxima”. Enquanto a nova NDS afirma que a China tem utilizado o seu crescente poder militar e económico para minar as alianças dos EUA na Ásia, Zhao insistiu que a política externa de Pequim visa “manter a paz mundial e promover o desenvolvimento comum” entre as nações. “Não importa o estádio de desenvolvimento a que cheguemos, nunca procuraremos a hegemonia ou o expansionismo”, disse, exortando Washington a “seguir a tendência da paz e do desenvolvimento, abandonar a mentalidade de soma zero da Guerra Fria, deixar de ver o mundo e as relações China-EUA numa perspectiva de confronto, e deixar de distorcer as intenções estratégicas da China”. A administração do Presidente dos EUA Joe Biden tem repetidamente declarado a China como o principal concorrente da América e a principal preocupação, colocando um forte enfoque no país na sua nova NDS, bem como numa Revisão da Postura Nuclear e Revisão da Defesa Anti-Mísseis. As tensões entre Washington e Pequim aumentaram significativamente desde Agosto, quando a Presidente da Câmara dos EUA Nancy Pelosi visitou Taiwan, apesar
das fortes objecções de Pequim, que vê a ilha como parte do seu próprio território. Embora a viagem tenha provocado uma ronda sem precedentes de exercícios militares chineses no ar e nas águas em torno de Taiwan, as delegações ocidentais continuaram a visitar Taipé nos meses que se seguiram. A provocação de Nancy Pelosi levou a China a responder, cortando os laços militares e climáticos com Washington.
Quem ameaça quem
Mas os EUA insistem que “a China continua a ser a principal ameaça de segurança nacional para os EUA”, mesmo quando o conflito da Ucrânia aumenta as tensões entre Washington e Moscovo, refere o Pentágono informou na sua última avaliação anual da defesa.
O documento “é conduzido ostensivamente por uma mentalidade de Guerra Fria de soma zero e pela lógica de dominação e hegemonia e diz tudo sobre as más intenções dos EUA de conter e suprimir a China sob vários pretextos falsos” “O mais abrangente e sério desafio à segurança nacional dos EUA é o esforço coercivo e cada vez mais agressivo da RPC (República Popular da China) para remodelar a região Indo-Pacífico e o sistema internacional de acordo com os seus interesses e preferências autoritárias”, escreve o Pentágono no seu relatório de 2022 sobre a Estratégia de Defesa Nacional (NDS). O Pentágono afirmou que Pequim procurou minar as alianças dos EUA na Ásia e alavancar o seu crescente poder económico e militar para “coagir os seus vizinhos e ameaçar os seus interesses”. Em particular, a China tem alegadamente utilizado retórica e coerção cada vez mais provocatórias contra Taiwan, ameaçando a paz e a estabilidade na região. “Isto faz parte de um padrão mais amplo de comportamento desestabilizador e coercivo da RPC que se estende através do Mar da China Oriental,
sexta-feira 4.11.2022
EUA compram talento, não o produzem
E
M menos de um quarto de século, a liderança tecnológica da América foi invertida. A China substituiu os EUA como o maior fabricante mundial de alta tecnologia, tendo produzido 250 milhões de computadores, 25 milhões de automóveis e 1,5 mil milhões de smartphones em 2020. Mas além de se tornar uma potência de produção, como afirmam Graham Allison (um dos autores do Harvard Report) e Eric Schmidt (antigo CEO do Google), no Wall Street Journal, “em cada uma das tecnologias fundamentais do século XXI - inteligência artificial, semicondutores, 5G wireless, ciência da informação quântica, biotecnologia e energia verde - a China poderá em breve ser o líder global. Em algumas áreas, já é o nº 1”. Esta é uma reviravolta notável, e que a maioria dos peritos ocidentais não considerou possível. O Relatório de Harvard observa, por exemplo, que em 1999, as Academias Nacionais de Ciência, Engenharia e Medicina declararam que o “sistema único e poderoso da América para criar novos conhecimentos e pô-los a funcionar em benefício de todos” continuaria a ser o maior determinante para o século XXI. A Harvard Report também recorda como a Time Magazine, na sua edição especial “Beyond 2000”, afirmava que “a China não pode crescer e tornar-se um gigante industrial no século XXI. A sua população é demasiado grande e o seu produto interno bruto demasiado pequeno”. O sinólogo William Kirby, na Harvard Business Review, reflectindo a sabedoria predominante dos especialistas da época, afirmou que “a China [era] em grande parte uma terra de aprendizes de regras” que só podia imitar, e não inovar. Apenas os pensadores livres, aparentemente - e não os imitadores sob um regime autoritário - poderiam inovar na era da tecnologia da informação.
Um relatório de Harvard, intitulado “A Grande Rivalidade Tecnológica”, concluiu que a China deu saltos tecnológicos extraordinários, tornando-a um “concorrente em todo o espectro”
mantém há quase meio século. No entanto, um indicador do poder subjacente e emergente de conhecimento científico e inovação da China é o seu capital intelectual. Com uma população de 1,4 mil milhões de habitantes, a China tem uma reserva inigualável de talentos e dados. As suas universidades estão a formar cientistas informáticos em múltiplos dos seus congéneres XINHUA
do Mar do Sul da China e ao longo da Linha de Controlo Real” na fronteira sino-indiana, afirma o relatório. Entretanto, a China expandiu e modernizou quase todos os aspectos do seu Exército de Libertação do Povo, “com um enfoque na compensação das vantagens militares dos EUA”. Mesmo ao liderar os esforços ocidentais para sancionar a Rússia e fornecer à Ucrânia milhares de milhões de dólares em ajuda militar, os EUA têm vindo a aumentar as tensões sobre Taiwan, que Pequim reivindica como parte do seu território soberano. Devido aos investimentos de Pequim na modernização do seu armamento nuclear, os EUAenfrentam o desafio de dissuadir duas grandes potências que possuem capacidades nucleares avançadas e diversificadas - China e Rússia - “criando assim novas tensões na estabilidade estratégica”, disse o Pentágono. O relatório rotulava a Rússia como uma “ameaça aguda (acute threat)”, um passo abaixo do “desafio contínuo (pacing challenge)” apresentado pela China. “A invasão sem provocação, injusta e imprudente da Rússia à Ucrânia sublinha o seu comportamento irresponsável”, disse o Secretário da Defesa Lloyd Austin numa nota que acompanha a NDS. “Os esforços para responder ao ataque da Rússia à Ucrânia também realçam dramaticamente a importância de uma estratégia que aproveite o poder dos nossos valores e o nosso poder militar com o dos nossos aliados e parceiros”. Austin disse que, ao contrário da China, a Rússia não pode “desafiar” sistematicamente os EUA a longo prazo. Pequim é “o único concorrente com a intenção de reformular a ordem internacional e, cada vez mais, com o poder de o fazer”, acrescentou ele. A China já se viu anteriormente ameaçada de ser classificada como uma ameaça à segurança dos EUA. “Opomo-nos à antiquada mentalidade da Guerra Fria e à mentalidade de soma zero”, insistiu no início deste mês a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning. Hoje Macau com agências
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Engano fatal
Enganaram-se. Hoje em dia, como reconhece o Relatório de Harvard, a China lidera agora claramente os EUA em aplicações práticas de IA, incluindo reconhecimento facial, reconhecimento de voz, e fintech. O relatório informa também que no ano passado a China produziu 50% dos computadores e telemóveis do mundo; os EUA produziram apenas 6%. A China produz agora 70 painéis solares para cada um construído nos EUA, vende quatro vezes mais veículos eléctricos, e tem nove vezes mais estações de base de 5G, com velocidades de rede cinco vezes mais rápidas do que as equivalentes americanas. Contudo, os EUA ainda têm uma posição dominante na indústria de semicondutores, que
americanos. A China forma quatro vezes mais estudantes de bacharelato com graus STEM e formará o dobro dos doutorados STEM até 2025.
Capital intelectual
Pelo contrário, o número de doutorados em IA nascidos nos EUA não tem aumentado desde 1990. Nos rankings internacionais de ciência e tecnologia para estudantes de K-12, a China bate consistentemente os Estados Unidos em matemática e ciência - em 2018, as pontuações PISA da China, que avaliam matemática, ciência, e leitura, foram classificadas em número um, enquanto os EUA ficaram em 25º lugar. Há três décadas, apenas um em cada 20 estudantes chineses a estudar no estrangeiro regressou a casa. Agora, quatro em cada cinco regressam. E embora a América tenha historicamente beneficiado da sua capacidade de atrair talento, os EUA correm agora o risco de perder pela primeira vez a competição pelo talento nas fronteiras científicas. O problema para os EUA é que as tendências subjacentes apontam para a sua ultrapassagem em quase todas as esferas, mesmo naquelas em que ainda hoje conserva uma vantagem. Por exemplo, os EUA continuam a ser o líder incontestado nas biotecnologias, com uma liderança significativa na inovação e sete das dez empresas mais valiosas das ciências da vida. No entanto, a China enumera agora a biotecnologia como uma das áreas críticas para o desenvolvimento nacional, com um investimento significativo indicando que está a competir ferozmente em todo o espectro da I&D biotecnológica. AAmérica tem sido o principal inventor de novas tecnologias de energia verde ao longo das últimas duas décadas. Mas hoje, a China é o principal fabricante, utilizador e exportador mundial dessas tecnologias, cimentando um monopólio sobre a futura cadeia de fornecimento de energia verde. Mais criticamente, a China tem um quase monopólio sobre vários dos inputs críticos necessários para painéis solares, baterias, e outras tecnologias verdes, incluindo lítio químico (50% da produção global), polissilício (60%), metais de terras raras (70%), grafite natural (70%), refinação de cobalto (80%), e refinação de terras raras (90%). E onde a China carece de recursos a nível interno, tem-nos assegurado no estrangeiro. “A menos que os EUA possam organizar uma resposta nacional análoga à mobilização que criou as tecnologias que venceram a Segunda Guerra Mundial, a China poderá em breve dominar as tecnologias do futuro e as oportunidades que elas criarão”, concluiu o relatório.
TERRAS RARAS CHINA CONTRA A “POLITIZAÇÃO” DA ECONOMIA MUNDIAL
“O
S países com recursos minerais críticos devem desempenhar um papel positivo na protecção da segurança e estabilidade das cadeias de abastecimento industrial relevantes”, disse o porta-voz do MNE chinês, Zhao Lijian, numa conferência de imprensa em Pequim. Zhao insistiu contra “a politização, instrumentalização, ou armamento da economia global”.
Mas os EUA e os seus aliados, nomeadamente a Austrália não desistem de o fazer. “A China continuará a desempenhar um papel dominante na exportação de terras raras”, disse à Bloomberg a ministra australiana dos Recursos Madeleine King, que chamou à ideia de acabar com a dependência das nações ocidentais de Pequim em relação aos minerais críticos um “sonho inatingível (pipe
dream)”. “É um país que viu chegar esta necessidade e aproveitou-a ao máximo”, disse à agência na terça-feira. Segundo King, contudo, isto não impedirá a Austrália e os EUA de cooperarem para impulsionar os investimentos nos minerais vitais para os sectores da defesa, aeroespacial e automóvel, a fim de quebrar o monopólio de Pequim sobre as cadeias de abastecimento globais.
A ministra acrescentou que o objectivo era “aproveitar ao máximo a dotação natural que temos destes recursos, para que possamos fornecer uma fonte alternativa dos mesmos a partir da China”. Os metais de terras raras são um grupo de 17 elementos químicos que, na realidade, não são raros mas difíceis de encontrar nas concentrações necessárias e difíceis de processar porque muitas vezes
contêm materiais radioactivos naturais, tais como urânio e tório. Os elementos são amplamente utilizados pelos fabricantes de produtos tais como telemóveis, automóveis, equipamento militar e até máquinas de lavar louça. Os metais de terras raras são também extraídos na Índia, África do Sul, Canadá, Estónia, Malásia, e Brasil. As terras raras estão há muito no centro da guer-
ra comercial EUA-China, enquanto a Austrália, que tem algumas das maiores reservas mundiais destes recursos, apoia Washington na disputa. Entretanto, os EUA, que costumavam ser o principal produtor mundial dos minerais, estão agora fortemente dependentes da China, que representa quase 80% da produção mundial de terras raras e detém as maiores reservas.
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RÓMULO SANTOS
4 assembleia legislativa
Votações Aprovadas Leis financeiras e de infiltrações
Os deputados aprovaram ontem na generalidade a proposta de lei do regime jurídico do sistema financeiro e a lei do regime de arbitragem necessária de litígios relativos a infiltrações de água em edifícios. No caso da lei do sistema financeira, o objectivo é criar as condições para se alcançar a diversificação da economia. Já o regime de arbitragem de litígios relativos a infiltrações de água em edifícios, vai dar poder para que, com base na arbitragem, se possa entrar em casa das pessoas, para resolver os casos de infiltrações.
Orçamento Relatório da Execução com luz verde
A Assembleia Legislativa aprovou ontem o Relatório sobre a Execução do Orçamento do ano 2021. Segundo as contas apresentadas pelo secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, o orçamento da RAEM registou um saldo positivo em 2021 de 5,66 mil milhões de patacas, uma vez que as receitas de 94,81 mil milhões de patacas foram superiores à despesa de 89,15 mil milhões. Contudo, se não tivesse sido mobilizado o montante da reserva financeira para o orçamento, a RAEM teria registado um défice. No ano passado, foram gastos 37,56 mil milhões de patacas da reserva. Sem a utilização da reserva, as receitas teriam sido de 57,25 mil milhões de patacas o que significaria um défice 31,9 mil milhões de patacas.
Pandas Che Sai Wang defende prestação de melhores cuidados
HOJE MACAU
O deputado Che Sai Wang, ligado à Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), defendeu que é preciso estar atento ao estado dos animais em Seac Pai Van e salientou a importância dos pandas Hoi Hoi, Sam Sam, Kin Kin e Hong Hong como “tesouros nacionais”. A posição foi tomada depois da morte recente por doença de uma fêmea de macaco-dourado no Parque de Seac Pai Van, o que para Che é um sinal de “alarme sobre como cuidar e criar melhor os animais raros e preciosos de Macau e como aproveitá-los para aumentar as características turísticas locais”.
LUSOFONIA JOSÉ PEREIRA COUTINHO ACUSA GOVERNO DE DISCRIMINAR COMUNIDADES
Caldo entornado O cancelamento da Lusofonia, a comparação do evento com um parque temático e a falta de respeito pelas associações de matriz portuguesa, prejudicadas com grandes perdas económicas, foram alguns exemplos utilizados ontem pelo deputado durante a sessão parlamentar
J
OSÉ Pereira Coutinho considera que o Governo tem adoptado várias decisões discriminatórias contra as comunidades lusófonas e que o cancelamento da Lusofonia, justificado com a existência de infecções por covid-19, foi mais um exemplo. As críticas ao Executivo de Ho Iat Seng foram feitas ontem, na reunião Plenária da Assembleia Legislativa. Após um fim-de-semana marcado pelo polémico cancelamento do último dia do Festival
da Lusofonia, com críticas das associações envolvidas, Coutinho levou a questão para a Assembleia Legislativa e acusou o Governo de discriminar as comunidades lusófonas. Segundo o deputado, a “drástica decisão” foi tomada “sem que houvesse a mínima consideração, nem critério”, apenas devido ao medo de que os organizadores não conseguissem seguir as instruções das autoridades sanitárias. “A medida revelou-se desnecessária, desproporcional e
discriminatória, porquanto ainda não se registava um número elevado de infecções, que estariam circunscritas, de acordo com as autoridades, e não foi aplicado o mesmo critério a outras festas que decorreram no mesmo dia”, atirou. O legislador ligado à Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) levantou também dúvidas sobre se, nas mesmas condições, teria havido coragem para cancelar eventos como o 69.º Grande Prémio de
Macau ou o 22.º Festival de Gastronomia de Macau.
Sem dignidade
José Pereira Coutinho acusou igualmente o Governo de não reconhecer a importância da Lusofonia e de tratar o evento sem a dignidade devida, ao compará-lo com um “Parque Temático”, como fez Deland Leong, presidente do Instituto Cultural, no discurso de abertura. “Ao contrário do discurso oficial, que apela à promoção da coo-
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“Ao contrário do discurso oficial, que apela à promoção da cooperação entre a República Popular da China e os PLP, (...)as autoridades do território ainda não reconheceram ao Festival da Lusofonia a importância cultural que lhe deve ser atribuída.” “A medida revelou-se desnecessária, desproporcional e discriminatória, (...) e não foi aplicado o mesmo critério a outras festas que decorreram no mesmo dia.” JOSÉ PEREIRA COUTINHO DEPUTADO
Mais profundo
Para o legislador ligado à ATFPM, o caso do cancelamento da Lusofonia reflecte uma postura discriminatória do Governo, que além das comunidades afecta de igual forma as associações envolvidas.
E segundo Coutinho, a discriminação faz com que seja cada vez mais difícil para essas associações cooperarem com a RAEM.
Coutinho disse que a comparação entre a Lusofonia e um parque temático mostra ainda “uma falta de sensibilidade na avaliação da organização do grande evento popular de Macau”
“Esta postura ambígua do Governo de Macau em relação às actividades desenvolvidas por associações de matriz portuguesa, e no âmbito da cooperação com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (PLP), associada a decisões discriminatórias em relação à comunidade lusófona, é um factor desmotivante e de frustração para o contínuo empenho, dedicação, esforço e amor à RAEM destas entidades”, sublinhou o deputado. No seguimento das críticas, José Pereira Coutinho apelou ao Governo para rever a estratégia de cooperação com as associações de matriz portuguesa e a política de promoção e aprofundamento das relações entre a China e a comunidade dos Países de Língua Portuguesa. O deputado pediu ainda ao Executivo para assumir as responsabilidades pelos prejuízos causados às associações, devido ao encerramento forçado. João Santos Filipe
TATIANA LAGES / LUSA
“Esta postura ambígua do Governo de Macau (...) é um factor desmotivante e de frustração para o contínuo empenho, dedicação, esforço e amor à RAEM destas entidades.”
peração entre a República Popular da China e os Países de Língua Portuguesa, como elo fundamental na promoção do intercâmbio cultural, as autoridades do território ainda não reconheceram ao Festival da Lusofonia a importância cultural que lhe deve ser atribuída, não o incluindo no calendário de eventos da Direcção dos Serviços de Turismo, e considerando este evento uma actividade de Parque Temático”, afirmou José Pereira Coutinho. Para o legislador, a comparação com um Parque Temático mostra ainda “uma falta de sensibilidade na avaliação da organização do grande evento popular de Macau, e dos seus 25 anos de história, de convívio e de intercâmbio cultural”.
assembleia legislativa 5
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Surto de críticas Deputados pedem melhor organização e avaliam negativamente teste em massa
O
último teste em massa à população foi organizado com horário reduzido, numa altura de tufão, e causou uma corrida aos postos de testagem, com o registo de longas filas. O Governo recuou, e horas depois anunciou um prolongamento do prazo de testagem. Contudo, a forma como todo o processo foi conduzido valeu várias críticas dos deputados, com pedidos de melhor organização. Nick Lei, deputado ligado à comunidade Fujian, pediu às autoridades que façam uma “reflexão e revisão sérias” face aos “velhos problemas que voltaram a surgir”. Segundo Lei “houve situações de indignação dos residentes devido à confusão da organização, à impossibilidade de se manter a distância de prevenção e ao longo tempo de espera”. Por sua vez, Ma Io Fong, deputado ligado à Associação das Mulheres, considerou que a organização dos testes contribuiu para aumentar os riscos de contágio. “Os residentes ficaram preocupados com o mau tempo e foram à pressa fazer os testes, o que resultou, no início, numa grande afluência aos diversos postos de testagem cuja capacidade de resposta foi ultrapassada, e os riscos aumentaram devido
à aglomeração de pessoas”, apontou.
Serviços suspensos
José Pereira Coutinho apontou que devido aos testes foram canceladas várias consultas médicas, sem que haja “responsáveis para assumirem os erros”. “Depois de anos de experiência nos testes de ácido nucleico, subsistem dificuldades nas marcações, longas filas de espera, cancelamentos inesperados [...] Foram cancelados inesperadamente vários atendimentos de consulta médica nos Centros de Saúde, sendo um exemplo paradigmático, o caso do Centro de Saúde do ‘Ocean’ na Taipa, em que se cancelaram as colheitas de sangue e material para análises laboratoriais sem aviso ou mensagem prévia aos utentes”, revelou o deputado. “Presenciei pessoas em jejum a queixarem-se contra estas irresponsabilidades e alguns com frascos de urina nas mãos, na maioria idosos que tiveram de regressar às suas casas sem serem atendidos”, revelou. “Uma total desorganização e irresponsabilidade”, acrescentou. Também Ella Lei, ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), criticou os procedimentos e apontou que os “cidadãos estão a sentir-se cansados por terem enfrentado uma longa batalha contra a epidemia”. J.S.F.
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JOGO MGM CHINA SOMA PREJUÍZO DE 535,5 MILHÕES NO TERCEIRO TRIMESTRE
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A espera de melhores dias bém acreditamos que estamos bem posicionados para ter a concessão renovada”, afirmou Hornbuckle. Por sua vez, Hubert Wang, presidente da MGM China, destacou os efeitos positivos esperados para as receitas do jogo com a emissão de vistos electrónicos e ainda da retoma das excursões do Interior. “A longo prazo são medidas muito positivas, sem qualquer dúvida”, destacou Wang.
OLGA SANTOS
Apesar dos prejuízos, os responsáveis da empresa acreditam que a longo prazo as perspectivas são positivas. Porém, antes de chegarem os melhores dias, é preciso que a política de zero casos termine
“Acho que a longo prazo temos um bom negócio e muito seguro em Macau.”
A
operadora de jogo de Macau MGM China anunciou um prejuízo de 535,5 milhões de dólares de Hong Kong no terceiro trimestre do ano. A revelação foi feita num comunicado enviado à Bolsa de Hong Kong. Em igual período de 2021, a MGM China tinha apresentado resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações [EBITDA] ajustado positivo de 100,5 milhões de dólares de Hong Kong. O EBITDA do terceiro trimestre deste ano é pior ainda que o do trimestre anterior, que tinha sido de382,4 milhões de dólares de Hong Kong. Segundo os analistas DS Kim e Livy Lyu, da JP Morgan Securities (Asia Pacific), os resultados negativos são melhores do que os esperados, mas estão longe de tranquilizar os investidores. “Apesar do EBITDA ser moderadamente melhor do que o receado, as implicações para as acções e os lucros no terceiro trimestre da
HUBERT WANG PRESIDENTE DA MGM CHINA
MGM [China] são muito limitadas, dado que o ambiente de negócios sombrio, já está bem documentado, e que a administração da empresa não pode avançar dados das negociações [para uma nova licença do jogo] com o Governo”, pode ler-se no relatório da JP Morgan Securities (Asia Pacific), citado pelo portal GGRA Asia. Os resultados apresentados dizem respeito aos meses de Julho, Agosto e Setembro, ou seja, não
têm em conta os meses de Outubro e Novembro, quando o casino MGM Cotai esteve encerrado durante uns dias, devido a um surto.
Copo meio cheio
Na apresentação dos resultados, Bill Hornbuckle, o CEO do grupo MGM Resorts, que controla a MGM China, mostrou-se confiante no futuro: “Em Macau vemos que o mercado começa a mostrar alguns sinais mais positivos. Tam-
Contudo, nos próximos meses, o ambiente não deve ser muito diferente do actual, com as receitas em níveis historicamente baixos: “No curto prazo, provavelmente ainda vamos ter de... É um processo gradual de crescimento com algumas flutuações pelo meio, devido à política dinâmica de zero casos de covid-19 que está a ser implementada”, reconheceu. Apesar das dificuldades sentidas, Hubert Wang destacou estar optimista. “Em Macau, apesar de todos os problemas, no mês de Outubro, tivemos receitas brutas de 3,90 mil milhões de patacas. Por isso, se pensarmos nesse montante de forma anual, acho que podemos ver que é um mercado com potencial a longo prazo”, apontou. “Acho que a longo prazo temos um bom negócio e muito seguro em Macau”, concluiu. João Santos Filipe
AUTORIDADE MONETÁRIA DE MACAU TAXAS DE JURO VOLTAM A SUBIR
A
Autoridade Monetária de Macau (AMCM) anunciou ontem a subida em 0,75 pontos percentuais da principal taxa de juro de referência, seguindo o aumento anunciado na quarta-feira pela Reserva Federal (Fed) norte-americana. A AMCM fixou em 4,25 por cento a taxa de
redesconto, valor cobrado aos bancos por injecções de capital de curta duração, de acordo com um comunicado, onde se refere
que a subida era inevitável, uma vez que a pataca está indexada ao dólar de Hong Kong, obrigando à “uniformização, em princípio, da evolução da política das duas regiões no âmbito da taxa de juros”. A decisão da AMCM surgiu depois de a Autoridade Monetária de Hong Kong ter anunciado ontem
a subida em 75 pontos base da taxa de juro de referência, para 4,25 por cento, devido ao aumento imposto pelo banco central dos EUA. Importa recordar que o dólar de Hong Kong está indexado ao dólar norte-americano. Depois do anúncio, a bolsa de valores de Hong Kong negociou em baixa,
com o índice Hang Seng a cair 2,97 por cento até às 13h. As principais taxas de juro de referência em Macau e Hong Kong estão no nível mais alto desde Abril de 2008, em plena crise financeira e económica mundial.
AIR MACAU INVERNO E PRIMAVERA COM MAIS VOOS PARA O INTERIOR
A
Air Macau está a preparar a chegada do Inverno e da Primavera com o reforço dos voos entre 17 destinos no Interior da China e Macau. A companhia aérea vai reajustar a frequência de voos de acordo com as estimativas de aumento de turistas que escolhem Macau como destino durante a época de viagens Inverno/Primavera, que decorre até 25 de Março de 2023. O número de voos poderá subir acima dos 40 por cento em termos anuais, para um total de 5.723 voos. As 17 cidades abrangidas pelo plano são Pequim, Xangai, Chengdu, Hangzhou, Nanjing, Changzhou, Nantong, Tsingtao, Ningbo, Wenzhou, Yiwu, Tianjin, Taiyuan, Chongqing, Xiamen, Nanning, e Zhengzhou. Entre o total de voos previstos, pouco mais de metade são “rotas-chave”, como Pequim, Xangai, Hangzhou e Chengdu. “A partir deste mês, os residentes do Interior da China podem viajar para Macau usando o visto electrónico. Esta medida irá facilitar muito o requerimento de vistos para Macau e, como tal, representará um forte crescimento ao nível da entrada de turistas”, indicou a companhia em comunicado na língua chinesa, citado pelo portal GGR Asia.
Studio City Segunda fase arranca a partir de Abril de 2023
A segunda fase do resort do Studio City será inaugurada faseadamente a partir do segundo trimestre do próximo ano, revelou o presidente da Melco Resorts & Entertainment, Lawrence Ho. O anúncio surgiu num comunicado em que foram divulgados os resultados da operadora no terceiro trimestre deste ano, indicando prejuízos de 243,8 milhões de dólares. A Melco irá também abrir, quase em simultâneo com os novos empreendimentos do resort no Cotai, o “City of Dreams Mediterranean”, no Chipre. O projecto ainda aguarda aprovação do regulador cipriota. Em relação ao concurso público para as novas concessões de jogo, Lawrence Ho sublinha que a proposta da Melco “reforça o compromisso com Macau” e demonstra o “total apoio em relação às iniciativas do Governo no sentido de aprofundar o desenvolvimento de Macau como um destino turístico de excelência no contexto internacional”.
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O
planeamento urbano para a Zona A dos Novos Aterros deve incluir a construção de um mercado municipal e, para que tal infraestrutura seja idealizada com competência, as autoridades devem ouvir as opiniões dos comerciantes. Esta ideia foi defendida por Wu Hang San, que ocupou o sexto lugar na lista do Operários nas últimas eleições legislativas e pertence ao Conselho Consultivo de Serviços Comunitários da Zona central. Em declarações ao jornal Ou Mun, a responsável argumentou que um mercado “molhado” seria uma mais-valia para a qualidade de vida da população que irá viver na Zona A. A conselheira recorda que nos últimos 30 anos não foram construídos novos mercados municipais, incluindo em áreas residências como o NAPE, ZAPE, zona do Edifício do Largo na Taipa, Seac Pai Van ou em Coloane. Apesar de nas últimas décadas a proliferação de supermercados ter sido uma força imparável, Wu Hang San considera que os mercados municipais ainda desempenham um papel complementar e têm características insubstituíveis. N. W.
pessoa de contacto próximo. A infecção foi detectada na terça-feira enquanto o paciente estava em quarentena, depois de os testes de ácido nucleico realizados entre 27 de Outubro e segunda-feira terem dado negativo. Entre os percursos feitos pelo idoso, destaque para a passagem pelo centro comercial subterrâneo de Gongbei.
Taobao DSEDT fiscaliza desinfecção de encomendas A Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT) fiscalizou lojas de correio rápido e recepção de encomendas compradas online, em plataformas como o Taobao, para certificar que a desinfecção de encomendas está a cumprir rigorosamente as medidas
de prevenção da epidemia. A DSEDT indica ter exigido “às lojas de entrega rápida e às lojas de recepção de encomendas adquiridas online que cumprissem rigorosamente as orientações de prevenção da epidemia dos Serviços de Saúde, realizando bem o trabalho de
gestão de prevenção da epidemia em cada elo, incluindo o reforço da desinfecção dos estabelecimentos, mercadorias e objectos postais, bem como exigindo a todos que entrem no estabelecimento a exibição do “código de saúde de Macau” e a digitalização do código do local.”
COVID-19 LEONG IEK HOU QUER EVITAR PROPAGAÇÃO PARA O INTERIOR
Para ganhar confiança A coordenadora do organismo que gere o combate à pandemia afirmou ontem que Macau deve fazer tudo para evitar exportar covid-19 para o Interior. Teste em massa de hoje vai arrancar com mais postos de recolha para idosos, grávidas e pessoas com necessidades especiais
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PESAR de não ter sido detectado nenhum caso positivo na última ronda de testes em massa, continua a ser exigido um teste de ácido nucleico realizado em menos de 24 horas para atravessar a fronteira com a China nos dois sentidos. Como surgiram casos em Macau, o representante do Corpo de Polícia de Segurança Pública Lei Tak Fai indicou ontem que serão precisas novas negociações com as autoridades do Interior para voltar a aligeirar a restrição. Também a coordenadora do Coordenadora do Núcleo de Prevenção de Doenças Infeciosas, Leong Iek Hou, frisou que quem pretender viajar de barco ou avião para o Interior da China precisa de apresentar um teste de ácido nucleico feito nas últimas 24 horas antes da passagem da fronteira. A explicação prende-se com a necessidade de propagação da pandemia. “Esta medida foi implementada por apareceram casos positivos em Macau e temos de evitar a exportação de casos de Macau para o Interior. Precisamos de aumentar a confiança da China face às pessoas vindas de Macau”, comentou. A médica indicou ainda que depois de três dias consecutivos de teses rápidos antigénio e uma testagem massiva o risco de surto diminuiu, e que a ronda que hoje começa “é para garantir a segurança”. Na quarta-feira, foi confirmado que cerca de 5.600 pessoas não participaram no teste em massa, o que levou as autoridades a contactá-las por sms ou chamada telefónica para as avisar de que tinham de ser testadas. Destas, 3810 pessoas ainda não realizaram o teste e arriscam ver o seu código de saúde convertido em vermelho. O Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus alertou que depois da ronda anterior de testes as pessoas que não participaram “serão transportadas
RÓMULO SANTOS
FAOM PEDIDA CONSTRUÇÃO DE MERCADO NA ZONA A
GCS
Zhuhai Mais um caso detectado na quarta-feira O Departamento de Saúde de Zhuhai informou ontem que na quarta-feira foi identificado um caso assintomático de covid-19 na cidade vizinha e um caso importado relativo a uma pessoa vinda de Hong Kong. Segundo as autoridades de Zhuhai, o infectado na comunidade é um idoso de 64 anos que já teria sido classificado como
sociedade 7
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pela polícia para submeterem-se aos testes em locais designados, só podendo sair desses locais após a divulgação dos resultados e caso estes sejam negativos”. “Aqueles que se recusem a fazer o teste serão submetidos à observação médica, em locais designados”, foi acrescentado.
Postos e boa saúde
Entretanto, Leong Iek Hou revelou ontem que todas as pessoas infectadas com covid-19 actualmente “estão estáveis”, sem a existência de casos graves, e que os pacientes mais idosos ou portadores de doenças crónicas estão a ser medicados com anti-virais. Ainda no plano farmacêutico, a médica revelou ontem que os lotes de vacinas para crianças até aos 5 anos “deve chegar ainda este mês”. Hoje, arranca mais uma ronda de testes em massa, que se realiza entre
as 07h e a meia-noite e amanhã entre as 07h e as 18h. Para responder às queixas de escassez de arranjos para pessoas com necessidades especiais, idosos e grávidas, as autoridades indicaram ontem que serão adicionadas filas especiais nos postos
Todas as pessoas infectadas com covid-19 actualmente “estão estáveis”, sem a existência de casos graves, e os pacientes mais idosos ou portadores de doenças crónicas estão a ser medicados com anti-virais
Riviera Macau Terminal e Centro de Actividade do Ensino Técnico-Profissional em Seac Pai Van. Outro caso discutido também ontem, foi o das amostras desaparecidas no Centro de Actividades do Bairro do Hipódromo, posto gerido pela Pureza Medical and Health Technology Limited. Leong Iek Hou revelou que as autoridades de saúde pediram à instituição um relatório sobre o sucedido, tendo as pessoas envolvidas sido contactadas e realizado novos testes, todos com resultado negativo. A médica afirmou ainda que o contrato de adjudicação para desempenhar o serviço de testagem tem cláusulas que estabelecem responsabilização, mas que a empresa está a analisar todos os procedimentos adoptados até aqui para “optimizar a situação” e providenciar formação aos profissionais. João Luz
VIA do MEIO
ROMANCE DOS TRÊS REINOS 三國演義 Luo Guanzhong
CAPÍTU
Zhuge Liang obtém flec ZHOU YU ordena a Lu Su que vá investigar se Zhuge Liang se havia apercebido do ardil. Zhuge Liang dá as boas-vindas a Lu Su a bordo da sua pequena embarcação. Sentam-se face a face. – Todos os dias estou ocupado com assuntos militares. Tenho sentido a falta do seu conselho – começa por dizer Lu Su. – Pelo contrário, sou eu quem está em falta, pois ainda não dei as minhas felicitações ao Comandante-Chefe – responde Zhuge Liang. – Que felicitações? – questiona Lu Su. – Então... a propósito do assunto pelo qual Zhou Yu o enviou aqui para ver se eu já sabia ou não –comenta Zhuge Liang. Lu Su fica tão assustado que a sua face se torna pálida e então questiona: – Mas como você sabia, senhor? Zhuge Liang prossegue na sua explicação: – O vosso truque foi bom o suficiente para iludir Jiang Gan. Mas em relação a Cao Cao, embora ele neste momento ainda esteja enredado no vosso ardil, não tardará a perceber o que aconteceu. Ele simplesmente não quer admitir que se deixou enganar. De facto, com a morte desses comandantes navais, Cai Mao e Zhang Yun, o reino de Wu já não tem muito com que se preocupar. Não considera esse um motivo suficiente para felicitações? Ouvi dizer que Cao Cao os substituiu por Mao Jie e Yu Jin. Nas suas mãos corre agora o que de venturoso ou trágico o Destino tiver preparado para as forças navais. Lu Su, atrapalhado, acaba por gaguejar algumas palavras sem nexo, antes de se levantar e sair. – Espero que você não revele a Zhou Yu que estou a par do que se passa. Receio que se você lhe revelar algo, ele não perderá a próxima oportunidade que tiver para me causar dano. Lu Su parece assentir, mas logo que volta para junto de Zhou Yu, conta-lhe toda a verdade sobre o que se acaba de passar. Com grande preocupação, Zhou Yu profere: – Aquele homem não pode continuar. Já decidi que ele tem que ter um fim. – Se você o liquidar – argumenta Lu Su – não teme ser alvo da troça de Cao Cao? – A morte dele será justificada, irá morrer sem ter uma gota de ressentimento no coração – afirma Zhou Yu. – Mas como é possível dar-lhe uma morte justificada? – questiona Lu Su. – Acabaram as perguntas por agora. Quando a altura chegar tudo fará sentido – responde Zhou Yu. No dia seguinte, reúnem-se as chefias militares sob uma tenda de campanha e é solicitada a presença de Zhuge Liang. Este aceita com satisfação e logo ao sentar-se, Zhou Yu questiona-o: – Dentro de dias iremos enfrentar as forças de Cao Cao. Para travar batalha sobre as águas, qual seria na vossa opinião, a melhor arma?
– Para combater no Grande Rio arco e flecha seriam as melhores armas – responde-lhe Zhuge Liang. – As nossas opiniões coincidem – confirma Zhou Yu. – Sucede que, de momento, estamos com uma grande carência de flechas. Bem sei que seria um transtorno pedir-lhe que empreendesse o fabrico das cem mil flechas com que pretendemos brindar o inimigo, mas espero que não esteja a pensar recusar esta missão oficial. – Qualquer missão que o Comandante–Chefe coloque sobre os meus ombros, cabe-me com toda a certeza tentar cumprir. – retorque Zhuge Liang. – Posso ousar perguntar–lhe para quando necessita delas? – Consegue tê-las prontas em dez dias? – indaga Zhou Yu. – O exército de Cao Cao estará a cercar–nos a qualquer momento. Daqui a dez dias já será demasiado tarde. – declara Zhuge Liang. – Em quantos dias então é que você estima que as flechas fiquem prontas? – questiona Zhou Yu. – Conceda-me apenas três dias. Depois pode mandar buscar as cem mil flechas. – declara Zhuge Liang. – A leviandade não é chamada para as coisas da guerra. – afirma Zhou Yu. – Nunca ousaria tratar com leviandade uma ordem do Comandante-Chefe. Se me der uma ordem formal e dentro de três dias não tiver completado esta missão, comprometo-me a aceitar qualquer castigo por mais severo que seja. – proclama Zhuge Liang. Zhou Yu, no seu íntimo, regozijava. Ordena aos secretários que preparem, naquele momento e na sua presença a ordem formal. De seguida, lança um brinde ao êxito da missão: – Quando o objetivo for alcançado, haverá uma justa compensação à sua espera. – Este dia já vai longo, começamos a contar a partir do dia que vem. No terceiro dia a partir de amanhã enviem quinhentos homens em direção à margem do rio a fim de transportarem as flechas – profere Zhuge Liang. Fazem-se mais uns brindes. Bebem-se mais uns copos e passado pouco tempo, Zhuge Liang acaba por se despedir. Depois de aquele se ir embora, Lu Su dirige-se a Zhou Yu: – Não haverá alguma espécie de artifício no meio de tudo isto? – Ele é que cavou a sua própria sepultura, eu a nada o obriguei. Foi ele quem sugeriu a ordem formal e se comprometeu em frente a toda a assembleia. Mesmo que lhe crescesse agora um par de asas, nem isso o faria escapar. Basta-me ordenar às tropas e aos artesãos que o atrasem o mais que con-
seguirem, que não o abasteçam dos materiais de que necessita e será certo o seu fracasso. Quando for decidida a sua punição, que argumentos existirão para o defender? Agora podes retirar-te, averigua o que for necessário e mantém-me informado. A presença de Lu Su é requerida junto de Zhuge Liang. Este começa por se queixar: – Eu não lhe disse para não dizer nada a Zhou Yu? Você sabe bem que ele me quer prejudicar a qualquer custo. Nunca pensei que você fosse capaz de me expor dessa forma. E hoje, ele voltou, como seria de esperar, a colocar-me em grandes apuros. Como vou conseguir cem mil flechas em três dias? Você tem de me salvar! – Foi você quem trouxe esse infortúnio para junto de si. Como é que você acha que eu o posso salvar? – diz-lhe Lu Su. – Eu desejo que você me ceda vinte navios, com uma tripulação de trinta pessoas cada. E preciso de, no mínimo, mil fardos de palha enrolados em panos pretos alinhados ao longo de cada um dos lados dos navios. Terei bom uso para eles. – revela Zhuge Liang – E garanto que dentro de três dias teremos as cem mil flechas, basta que desta vez você não revele nada do que lhe estou a pedir. Se alguma coisa se souber, o meu plano irá fracassar. Lu Su assente, apesar de não perceber qual a intenção de Zhuge Liang. Ao dirigir-se a Zhou Yu para reportar a situação, acaba por não referir a questão dos navios, limitando-se a dizer: – Ao que parece Zhuge Liang não necessita nem de bambu, nem de penas nem de cola ou outros materiais. Ele lá terá as suas razões. Zhou Yu profere, intrigado: – Vamos então esperar para ver o que ele terá para me dizer daqui a três dias. E continua a nossa estória: Lu Su encarre-
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ga-se pessoalmente do que Zhuge Liang lhe pedira, dos vinte navios ligeiros cada um com a sua tripulação de trinta e tantos homens, dos fardos de palha enfaixados com panos e dos restantes apetrechos, tudo pronto sem exceção, apenas à espera de que Zhuge Liang os venha buscar. Passa o primeiro dia e não há qualquer sinal de Zhuge Liang. Passa também o segundo dia e de Zhuge Liang nem um sinal. Apenas chegados ao quarto período da vigília noturna, entre as três e as quatro da manhã do terceiro dia é que Zhuge Liang resolve enviar uma mensagem privada a Lu Su para se encontrarem num local entre as embarcações de ambos. – Porque é que você me pediu para vir ter consigo? – questiona Lu Su. – Desejo que você me acompanhe a buscar as flechas. – responde-lhe Zhuge Liang. – Buscá-las aonde? – questiona de novo Lu Su. – Não pergunte, logo verá. – responde-lhe Zhuge Liang. E logo então foi ordenado que se ligassem os vinte navios com grandes cordas e se partiu de imediato rumo à costa norte do rio. Nessa noite, cobria os céus um manto de neblina. No meio do Grande Rio o nevoeiro era ainda mais denso, não se via quase nem um palmo à frente dos olhos, mas Zhuge Liang incitava os barcos a seguir em frente. Era realmente cerrada aquela bruma que os nossos antepassados descreviam nos versos de “Névoas Pesadas Tombando sobre o Rio”: Ó Grande Rio! A Oeste unes a montanha Min e Emei. A Sul dominas as três terras de Wu. Do Norte trazes os nove afluentes. Reúnes as águas, que transportas para o mar. Ondulam as tuas vagas através dos milénios. Aí aparecem seres da terra dos colossos, o Rei-Dragão do Mar de Leste e a deusa Jiang Fei. Aí habitam medusas e gigantescos cetáceos, centopeias de nove cabeças. Toda a espécie de monstros e seres fantásticos aí estão reunidos. Este é o lar, defendido por heróis, do qual dependem estes fantásticos seres. Por vezes o Yin e o Yang confundem-se, e a noite e o dia já não se distinguem. Num assombro, o céu de uma só cor. Juntam-se todas as neblinas que surgem dos quatro cantos. Tudo é tão óbvio, que nada se distingue. Apenas se ouve o ressoar dos tambores de guerra. No início, o céu nublado, apenas encobre a morada do ascético leopardo das Colinas do Sul. A pouco e pouco, o céu fica carregado de um manto espesso, perto já de cobrir Kun, o assombroso peixe
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Tradução Nuno Henrique Mendes Peres (潘諾文)
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chas através de um ardil das lendas. Logo, a neblina atinge lá no alto, o cume dos céus. Cá em baixo, estende-se pelas profundezas da terra a vastidão indistinta, a amplidão sem fim. Baleias erguem-se com estrondo nas vagas e o dragão que habita nas profundezas faz tremer as águas com o seu exalar. Lembra a estação chuvosa que traz ameixas e a humidade extrema. Imita a primavera sombria e gélida. Apenas a vastidão, só e infinita. Viro o olhar para Este e não avisto a costa de Chai Sang. Olhando para Sul, já não vislumbro as montanhas de Xia Kou. Navios de guerra, afundam-se aos milhares em desfiladeiros. Botes de pesca, como frágeis folhas, surgem e desaparecem na vertigem das ondas. Até o céu perdeu o seu brilho. Apresenta-se pálido, o próprio sol. A claridade alva do dia é agora um amarelo sem cor e as montanhas de um vermelho cor-de-fogo, tomam agora a cor ametista da água. Não basta possuir a sabedoria do Grande Yu para medir a sua profundidade, nem a incomparável visão de Li Lou enxerga tão exígua distância. E é então que o Espírito do Rio Amarelo para de ondular. O Espírito do Vento cessa o seu feitiço. Os peixes e as tartarugas seguem para o seu desterro. As aves e as feras refugiam-se. Ofusca o nevoeiro a imortal ilha de Penglai e a escuridão cerca as Portas do Céu. Corre num transe, como a tormenta que está para chegar. Em contínua agitação, como a nuvem glacial que quer ser névoa. Assim poderá ocultar em si serpentes venenosas, que surgem para viciar o ar. Recolhem-se espíritos que esperam a hora de gerar a desgraça e fazer cair sobre o Homem a miséria e as doenças, levantando as poeiras do vento para além – Norte da Grande Muralha. As gentes comuns sofrem as pragas dos céus. Ilustres gentes suspiram em silêncio. E voltamos ao caos dos tempos primevos, quando os Céus e a Terra eram um Só. Estamos no quinto período da vigília noturna, por cerca das quatro da madrugada, quando os barcos se começam a aproximar do acampamento de Cao Cao situado junto ao rio. Zhuge Liang ordena que os navios avancem numa fila única, com as proas apontadas para oeste. As tripulações rompem num rugido enquanto golpeiam com fervor os seus tambores. Lu Su fica espantado e pergunta: – E se o exército de Cao Cao resolve investir contra nós? Zhuge Liang sorri-lhe e responde: – Estou certo que Cao Cao terá receio de mergulhar nesta densa neblina. Vamos beber mais alguns copos e divertir-nos. Regressaremos quando o nevoeiro levantar.
Logo que o clamor chega ao acampamento de Cao Cao, os novos conselheiros navais, Mao Jie e Yu Jin, apressam-se a informar Cao Cao que logo ordena: – O nevoeiro torna o rio invisível. Essa chegada repentina de forças inimigas deve certamente significar uma emboscada. Eu não quero absolutamente nenhum movimento imprudente. Quero que os arqueiros e besteiros, no entanto, disparem contra o inimigo ao acaso. Logo de seguida, envia um emissário ao seu quartel general, para convocar Zhang Liao e Xu Huang, destacando cada um deles para que se desloquem de imediato, com equipas de três mil arqueiros e besteiros cada, para prestarem apoio às tropas que já defendiam a costa. Quando a ordem de Cao chega a Mao Jie e Yu Jin, os seus homens já tinham começado a atirar com receio de que as forças sulistas penetrassem no seu acampamento. Pouco depois, os atiradores do acampamento situado na zona interior da margem do rio juntam-se à batalha. Uma força com cerca de dez mil homens lança uma nuvem de setas na direção do rio. As flechas voam nos céus, como chuva a cair. Zhuge Liang ordena novamente que os barcos invertam a direção e se aproximem da costa para receber as flechas enquanto as suas tripulações iam, ao mesmo tempo, intensificando o rufar dos tambores e os seus clamores. Quando o sol começa a subir nos céus, dispersando o nevoeiro, Zhuge Liang ordena que os barcos se apressem a regressar. Os feixes de palha estavam cheios de flechas. Enquanto partiam, Zhuge Liang ordena que cada grupo grite em uníssono: – Nós vos agradecemos Senhor Primeiro-Ministro pelas flechas! Quando a situação é relatada a Cao Cao, e
este chega ao local, os navios, ajudados pelas fortes correntes, estão já a sete milhas de distância. Persegui-los é já uma tarefa impossível. Cao Cao toma consciência de que caiu num logro, mas de nada lhe servem os remorsos. Avançando na nossa estória: Zhuge Liang diz a Lu Su: – Cada barco tem cerca de cinco ou seis mil flechas. Assim, sem custar ao reino de Wu o menor dos esforços, obtivemos mais de cem mil flechas, que amanhã poderemos devolver às tropas de Cao, para sua grande inconveniência. – O senhor é realmente extraordinário – declara Lu Su. – Como é que você sabia que hoje haveria nevoeiro? – Não podemos ser líderes militares – explicou Zhuge Liang. – a menos que sejamos versados nos padrões dos corpos celestes, ou reconheçamos as vantagens do terreno e dominemos a arte da ação furtiva. Devemos conhecer a geomancia, dominar as tácticas de batalha e é claro, reconhecer o equilíbrio de forças. Há três dias atrás eu previ o nevoeiro de hoje, e por isso arrisquei o limite de três dias. Zhou Yu concedeu-me dez dias para concluir a missão, mas não me providenciou nem materiais nem artesãos, aproveitando-se destas fraquezas para depois me eliminar. Mas estando o meu destino escrito nos céus, como é que Zhou Yu pensou que me poderia prejudicar? Lu Su não tem outra alternativa senão mostrar deferência e reconhecer os poderes superiores de Zhuge Liang. Quando os barcos chegam à costa, os cerca de quinhentos homens enviados por Zhou Yu já tinham chegado para transportar as flechas. Zhuge Liang ordena que retirem dos barcos as mais de cem mil flechas e as entreguem na tenda do Comandante-Chefe. Logo depois, Lu Su entra na tenda do Comandante-Chefe e explica detalhadamente a este como Zhuge Liang as conseguiu adquirir. Zhou Yu fica muito impressionado. Então, solta um longo suspiro de admiração, misturado com um lamento, e exclama: – A clarividência extraordinária de Zhuge Liang está muito para além das minhas capacidades! Um poeta de uma geração posterior deixou estes versos de homenagem: Naquele dia as névoas pesadas encobriam o rio, Desvaneceu–se toda a distância num borrão aguado. Como um chuveiro de gafanhotos, vieram as flechas de Cao varar os navios: Zhuge Liang vergou o Comandante-Chefe de Wu. Passado pouco tempo, Zhuge Liang entra
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no acampamento. Zhou Yu enquanto saía da sua tenda, cumprimenta-o de forma cordial: – Senhor, devemo-nos submeter à sua extraordinária clarividência. – Um mero subterfúgio de astúcia comum. – retrucou Zhuge Liang. – Não é digno dos seus elogios. Zhou Yu convida depois Zhuge Liang para vir à sua tenda beber. – Ontem – diz-lhe Zhou Yu – o Senhor Sun enviou-me um mensageiro para nos incitar a avançar com as nossas tropas. Mas ainda me falta aquele golpe de génio que pode mudar o rumo da batalha. Mestre, apelo à sua sabedoria. – Mas como é que um homem comum como eu, que nunca atingiu quaisquer feitos de relevo, o pode brindar com esse golpe de génio? – Ultimamente tenho observado as forças estacionadas do inimigo. – continuou Zhou Yu. – Elas são a epítome da disciplina militar e da organização. Não será de forma alguma um ataque fácil. Pensei num plano, mas não sei se será viável. Gostaria que me ajudasse a tomar uma decisão.1 – Comandante-Chefe, – pronuncia Zhuge Liang – abstenha-se de falar por agora. Vamos escrever o nosso plano nas nossas palmas das mãos para ver se estamos ou não de acordo. Zhou Yu rejubilou de satisfação, pediu pincel e tinta e, depois de escrever na sua própria mão de forma dissimulada, passou o pincel a Zhuge Liang, que escreveu também na sua própria palma da mão. Os dois homens aproximaram-se e romperam de riso ao mostrarem as palmas das mãos um ao outro. A mesma palavra estava escrita em cada uma das palmas: fogo. –Visto que as nossas ideias coincidem, – disse Zhou Yu, – as minhas dúvidas estão dissipadas . Espero que não divulgue o nosso segredo. – Ambos servimos o mesmo reino. – responde Zhuge Liang. – Que sentido faria divulgar este segredo? O meu palpite é que, embora Cao Cao já tenha sofrido por duas vezes com a minha estratégia de fogo posto, acredito que ele ainda não esteja alerta.2 Agora, você poderá colocar o seu plano em marcha, Comandante-Chefe. Quando acabaram de beber, separaram-se. Não havia um só dos seus comandantes que soubesse deste plano.
1
A pergunta anterior de Zhou Yu sobre a escolha de armas não era sincera, mas desta vez sim.
2
Trata-se de uma referência a duas batalhas que tiveram lugar em momentos anteriores, a de Bowang e a de Xinye.
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Lili, cantador de fado Existe, para os lados de Belém, um painel de azulejos não muito antigo que reproduz a figura de um chinês. O homem reproduzido existiu realmente nas ruas da Lisboa das primeiras décadas do século XX, e chamava-se Li. Os lisboetas de então, com a sua habitual verve, chamavam-no Lili. Tratava-se de um chinês vendedor de rua, natural da província de Zhejiang. Como é sabido, na Lisboa antiga, a Lisboa dos pregões, dos galegos aguadeiros, das varinas e saloios, das mulheres da fava-rica e dos pretos caiadores, havia ainda um outro tipo de vendedor - os chineses das gravatas. O Lili pertencia a esse grupo, pouco numeroso, mas sempre alvo de muita curiosidade por parte dos transeuntes, que pasmavam para eles, desabituados ainda de extravagâncias. O Lili, porém, destacava-se, pois jamais abandonou os trajes tipicamente chineses que trouxera de Zhejiang. Era uma galhofa por essas ruelas abaixo sempre que surgia nas suas cabaias coloridas, caixa de madeira a tiracolo com gravatas para mercar. Excepto quanto à intransigente recusa em envergar vestes ocidentais o Lili era então, e de longe, o chinês mais bem adaptado à vida portuguesa. Por isso, e porque tinha um temperamento alegre e suportava a troça com jovialidade, com resposta pronta para tudo, foi ganhando o respeito e a estima do povo de Lisboa. Pela manhã, podia topar-se com ele a sorver o seu café de lepes e, em a noite caindo, não dispensava o pratinho de iscas com elas, repugnante para qualquer outro chinês. Amantizado com a dona de um café de camareiras, diz-se que frequentava as meias portas, onde agarrava na banza e soltava o fado com espírito, sempre vestido à chinesa e trocando os erres pelos eles, o que lhe valeu a alcunha de “faia amarelo”. Quando se encomendou o referido painel de azulejos, o artista julgou de gosto exótico, à moda da época, pintar um mandarim. Lembrou-se logo do Lili para fazer de modelo. O chinês aceitou posar com as suas melhores vestes em troca de umas moedas. O Lili ainda galgaria as calçadas de Lisboa com as suas gravatas durante mais alguns anos mas, após dura rixa numa viela da Mouraria, acabou por fugir para Moçambique, onde terá eventualmente findado os seus dias. Foi visto pela última vez, numa idade já bastante avançada, a dançar o merengue em grupo numa rua esconsa da então Lourenço Marques. O chinês Lili, tal como a famosa preta Fernanda - que serviu de modelo para a figura feminina em bronze que simboliza a África no pedestal da estátua ao Marquês de Sá da Bandeira -, é uma das duas personagens populares de origem estrangeira da cidade de Lisboa reproduzidas numa obra artística.
Lao Tse e o “Verdadeiro Clássico do Inominável” Na cave do edifício da Reitoria da Universidade Clássica de Lisboa existe uma biblioteca sinológica da maior importância, que permanece todavia desconhecida do público devido à inexistência no país de especialistas na área. A maioria das obras foi doada pelo Instituto Cultural de Macau. Lá se podem consultar, entre outros tesouros, as obras completas de Ouyang Xiu, a poesia de Li Bai, Du Fu e Bai Ju Yi, os principais romancistas contemporâneos e o Sutra do Diamante. Nessa biblioteca encontra-se também o único manuscrito existente em todo o mundo da obra atribuída a Lao Tse (Lao Zi), o “Verdadeiro Clássico do Inominável” (無名真經 Wu Ming Zheng Jing). Para além do famoso Dao De Jing ( 道德經Tao Te King), o Wu Ming Zheng Jing é a sua única obra conhecida. Alguns sinólogos estrangeiros opinam que o recentemente descoberto Wu Ming Zheng Jing (abreviado em geral para Wu Jing) é ainda superior ao Dao De Jing. O manuscrito foi descoberto no túmulo do sábio, no templo de Lou Guan Tai, província de Shanxi. O túmulo foi violado em 1994 durante um ritual secreto praticado por uma seita esotérica de alquimistas taoístas. A seita defende que Lao Tse continua vivo, tal como sua mãe, cujo túmulo se encontra ao lado, uma vez que ambos se dedicaram à prática de lian dan 煉丹, isto é, ao fabrico de pílulas da imortalidade. De facto, mais nada, a não ser o Wu Jing, foi encontrado no túmulo. A obra, mais breve ainda e mais densa do que o Dao De Jing foi caligrafada sobre tiras de bambu, mas desfez-se à medida que um dos iniciados taoístas a copiava apressadamente para um caderno. No cap. XX do Wu Jing pode ler-se: “Apenas em mim nada é mortal / tesouro do inominável / mistério do grande Dao!” (我獨無死地也 / 無名之寶 / 大道之玄。Wo du wu si di ye /
CHINOISERIES Dez ficções luso-chinesas Cláudia Ribeiro wu ming zhi bao / da dao zhi xuan). Segundo os alquimistas, trata-se, com efeito, de uma obra composta por Lao Tse já depois de se ter tornado um Imortal. Três meses após a sua inesperada descoberta, o caderno foi vendido ao governo chinês para divulgação, decepado embora num terço das suas páginas. Segundo consta, nessas páginas, Lao Tse descreveria minuciosamente a receita infalível para alcançar a longevidade e a imortalidade, em cuja demanda se aplicaram gerações e gerações de seguidores do taoísmo. O grupo de alquimistas mantém absoluto segredo sobre o seu conteúdo e a pressão do governo para resgatar as folhas tem sido vã. A obra foi publicada incompleta pela Editora Xinhua em 1995. Quanto ao manuscrito truncado, foi roubado em 1998 do depósito da Biblioteca de Pequim, onde se encontrava, para ressurgir posteriormente num leilão da Sotheby’s. Stanley Ho adquiriu-o então a peso de ouro após acérrima disputa com o Instituto Ricci. Como foi parar à cave da Biblioteca da Reitoria da Universidade Clássica de Lisboa, ninguém o sabe explicar. Os descendentes de Stanley Ho encontram-se neste momento em negociações com a dita Reitoria no sentido de reaver o precioso manuscrito.
O incêndio do pavilhão A cidade de Macau esteve representada na Exposição do Mundo Português em Belém quando decorria o ano de 1940. Construiu-se a Rua de Macau, cujo maior atractivo era um colossal paquiderme de pedra, de tromba erguida e carregando no dorso um pavilhão de dois andares em estilo chinês. O portal que dava acesso a essa rua pode ainda hoje ser visitado entre a folhagem do Jardim Botânico Tropical de Lisboa. No entanto, o elefante com o seu pavilhão desapareceu misteriosamente. O processo relativo ao desaparecimento foi abafado pelo regime de Salazar. Encontra-se na Torre do Tombo e, ainda hoje, não pode ser consultado pelo público em geral. Segundo consta, a Seita do Dragão Azul, uma seita nacionalista chinesa, mantinha entre os estudantes macaenses residentes em Portugal uma pequena ramificação. Formada ainda sob influência, pelo menos indirecta, do Dr. Sun Yat-sen enquanto este vivia em Macau nos primeiros anos do século XX, a seita encontrava-se então activamente empenhada na luta contra o invasor japonês que ocupava toda a China do leste e, por extrapolação, contra qualquer poder colonizador. Os estudantes macaenses em Portugal receberam ordens para queimar toda a área colonial da Exposição na noite seguinte à da sua abertura oficial. Algo terá, porém, corrido mal e Salazar foi informado a tempo. A vigilância apertou-se em torno da área colonial e os asiáticos, goeses incluídos, passaram a ser discretamente revistados e identificados antes de nela poderem penetrar. Os planos da Seita do Dragão Azul saíram gorados pela máquina salazarista e os portugueses puderam regozijar-se com a vastidão do seu império. No entanto, na última noite da Exposição, um estudante macaense, de nome Xavier Cheong, conseguiu deitar fogo ao símbolo de Macau. No flanco do elefante de pedra pincelou insultos a Portugal em português e chinês. Foi posteriormente capturado pela PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado), a antecessora da PIDE. Na manhã seguinte à do fecho da Exposição, do pavilhão em madeira restavam apenas cinzas. Salazar ordenou que fossem rapidamente removidas e que lançassem ao Tejo o elefante de pedra, onde ainda hoje provavelmente jaz, sob as mesmas águas que as caravelas sulcaram outrora em demanda do Oriente.
A Pedra das Mutações Como é comummente sabido, o Jardim da Fundação Gulbenkian contém, na sua arquitectura, elementos de influên-
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cia sino-japonesa. Um dos mais curiosos é a pedra colocada sobre o relvado que desce para o lago dos nenúfares. A pedra foi transportada para Portugal nos princípios do séc. XVII por um fidalgo aventureiro nascido em Lisboa, Nuno Gouveia de Faria. Julgando-a altamente decorativa, Gouveia de Faria tê-la-ia usurpado de um jardim que existia então em Liampó (Ningbo), como o comprovam fontes inglesas coevas (veja-se a obra de Sir Colin Ormsby-Gore, The Portuguese Trade and Atrocities at the Port of Macao and Southern China, London, 1602, New Delhi, 1971, reprint.). De facto, a pedra foi outrora profusamente gravada e pintada com os 60 hexagramas do Clássico das Mutações (易經Yi Jing). A pedra adornou o parque da mansão da família do fidalgo Nuno Gouveia de Faria até à sua demolição, nos finais do séc. XIX. Durante a construção do jardim da Gulbenkian, nos anos 1960, o sinólogo espanhol Pe. Lorenzo Benito Muralles, SJ, que veraneava então por cá, descobriu-a por acaso num descampado, tendo sido ele próprio a sugerir ao arquitecto Ruy Jervis D’Athouguia nova morada para a pedra. Muralles conhecera os pais do arquitecto em Macau, a cidade onde D’Athouguia nascera. Este mencionou o assunto ao seu colega Ribeiro Telles, encarregado do plano dos jardins do museu. Ribeiro Telles aprovou a ideia. Muralles julgava mesmo distinguir ainda, no canto direito superior da pedra, a gravação - naturalmente muito desgastada pelo tempo - dos traços contínuos e descontínuos do décimo segundo hexagrama, o hexagrama pi 否: em cima, o Céu, em baixo, a Terra.
O Pátio das Flores Rubras Pouca gente terá conhecimento da história assaz pícara por trás da construção da casa típica de Macau do Portugal dos Pequenitos, em Coimbra. Durante a concepção desse projecto do Antigo Regime, ficou encarregado do plano da casa de Macau um arquitecto que nunca pusera pé na Ásia. Para levar a cabo a tarefa, e na impossibilidade de até lá se deslocar, consultou afanosamente arquivos fotográficos respeitantes àquele longínquo território português. A sua escolha, no entanto, foi infeliz. Tomou como inspiração para reproduzir em pedra certa fotografia que mostrava um edifício de estilo acentuadamente chinês. O pobre arquitecto ignorava que se tratava de um famoso lupanar da zona mais libertina da Cidade do Santo Nome de Deus: o Pátio das Flores Rubras ( 紅花園Hong Hua Yuan). Este lupanar, que deliciou gerações de chineses e portugueses, foi incendiado em 1947, como consequência de uma intrincada história de vingança política, mulheres e ópio entre duas seitas rivais, a afamada Qing Bang e a Wo Shing Wo. Dos seus escombros resta apenas, na rua onde se situara, a pedra fronteira gravada com três caracteres chineses sobre a tradução portuguesa, ainda em grafia antiga: “Páteo das Flores Rubras”. No entanto, por ironias do destino, e para que fossem iniciadas de bem cedo as crianças portuguesas nos inefáveis mistérios do Oriente, a reprodução da sua fachada iria sobreviver, fiel, muito longe dali, em Portugal, no Portugal dos Pequenitos.
Retrato da Senhora Jacinta Wok A Senhora Jacinta Wok (1884~1945), nada e criada na cidade do Porto, foi protagonista de um dos maiores escândalos que alguma vez abalaram Macau. Deveu-se o escândalo ao facto de ter vivido trinta e nove anos em regime de concubinato com um rico negociante chinês, Wok Mei Lo, estabelecido no território desde os finais do séc. XIX. Wok Mei Lo tomou-a como sexta concubina no final da dinastia Qing, quando a dona Jacinta, cujo apelido era ainda Santos da Cruz, servia como ama em casa da família Mendes Couceiro. Juram versões que a ama terá trocado essa família pela casa
VIA do MEIO
Wok por se ter tomado de amores pelo negociante; outras explicam-no por um desejo irreprimível de ascensão social ou desilusões com a comunidade portuguesa. O certo é que se submeteu às exigências do negociante a ponto de chegar a enfaixar os pés. Sofreu, por isso, dores atrozes durante o resto da vida, uma vez que tal operação, em princípio, se destinava a meninas com cerca de cinco anos de idade. Além disso, teve de suportar as torturas e vexames que lhe infligiam as outras concubinas do negociante, não só devido à sua insignificante posição na casa - concubina número seis - como devido ao facto de ser estrangeira, pior, estrangeira traidora à sua própria comunidade. Rejeitada por ambas as raças, também no negociante Jacinta não encontrou qualquer apoio, pois Wok Mei Lo nunca a conseguiu apreciar, nem mesmo com os pés enfaixados. Segundo consta, servia-se dela nos seus negócios, cedendo-a a outros chineses ricos e curiosos, e exibia-a perante os portugueses como um troféu humilhante.
As tartarugas wenjia As tartarugas wenjia (文甲, à letra, “carapaça escrita”) são uma espécie autóctone que se encontra apenas em território chinês. Os exemplares desta espécie caracterizam-se por uma particularidade notável: apresentam caracteres chineses gravados na sua carapaça, alguns deles muito antigos. A única explicação para a existência destas carapaças baseia-se na teoria da selecção artificial, num processo em tudo semelhante ao que sucedeu com os caranguejos Heike de Danno-ura, no mar do Japão, que exibem nas suas couraças rostos de samurai. Assim, os cientistas supõem que, de início, as tartarugas wenjia seriam semelhantes a todas as outras espécies comuns na China. No entanto, como se sabe, há vários milhares de anos que os chineses praticam a adivinhação com carapaças de tartaruga e também há vários milhares que vêm apreciando a sua carne. Assim, os adivinhos teriam começado por poupar a vida dos antepassados das tartarugas wenjia cujas carapaças apresentavam sulcos que se assemelhavam a caracteres chineses. Os chineses acreditam que a origem dos seus caracteres é sagrada. Ao evitar-lhes a morte, e provavelmente sacralizando-as, as tartarugas encetaram um processo evolutivo. Apercebendo-se das vantagens de não apresentar uma carapaça vulgar – mais tempo para procriar e uma morte adiada - as tartarugas investiram nos caracteres das carapaças, marcas que são hereditárias. Com o fluir das gerações tanto de adivinhos como de tartarugas, aqueles animais cujas carapaças apresentavam caracteres sobreviveram. Grandes coleccionadores de carapaças wenjia foram o poeta Camilo Pessanha e o advogado Silva Mendes quando residiam em Macau. Exibiram-se exemplares notáveis outrora pertencentes a ambos numa exposição temporária dedicada à sua faceta de coleccionadores de arte e brique-a-braque chineses no Museu Machado de Castro, em Coimbra, por ocasião da passagem da administração de Macau para a República Popular da China e que foi, infelizmente, muito pouco visitada pelo público português. Na loja do Museu, contudo, pode ainda encontrar-se à venda o magnífico catálogo.
O Templo Taoísta da Serra da Estrela (星山觀Xing Shan Guan) O Templo Taoísta da Serra da Estrela (星山觀Xing Shan Guan) é o único templo taoísta existente em toda a Europa e um motivo de orgulho para Portugal. Foi inteiramente concebido segundo as normas arquitectónicas dos templos taoístas chineses. A sua estatuária, por exemplo, os Oito Imortais no pavilhão do mesmo nome, veio directamente da China. A valiosa figura em folha de ouro do Imperador Amarelo foi oferta do Templo Taoísta Zhongyue Miao (中嶽廟) que se ergue na montanha sagrada Song. De Cantão deslocou-se um célebre especialista em geomancia chinesa (fengshui), Luk Ku Lou, a fim de escolher a localização ideal do templo no cenário da Serra da Estrela. Do Templo Taoísta da Nuvem Branca (白雲觀Bai Yun Guan), em Pequim, chegaram os monges que presidiram à cerimónia religiosa que teve lugar aquando da inauguração. Alguns permaneceram por ali até se terem formado os acólitos portugueses.
A localização exacta do templo, contudo, é apenas revelada aos iniciados. Diz-se que lhes é ensinada então uma dança oculta destinada a transformar o yang em yin. A dança decorre em cima de um mapa secreto da montanha, cujo reflexo num antigo espelho de bronze aponta o local do templo. O espelho terá pertencido ao próprio Zhang Daoling que, na dinastia Han (202 a.C.– 9 d.C., 25–220 d.C), fundou e se tornou no primeiro patriarca da Via dos Mestres Celestes (天师 道tianshidao) taoísta. Mas como poderá o espelho mágico de Zhang Daoling ter vindo parar a Portugal? Zhang Daoling nasceu no primeiro ou segundo século da nossa era sobre a Montanha do Tigre-Dragão, no Jiangxi. Certo dia, Lao Zi (Lao-Tse) apareceu-lhe sob uma forma espiritual e encarregou-o de encontrar a fórmula para compor o elixir da imortalidade. Zhang Daoling foi bem sucedido nesse empreendimento. Aos cento e trinta e três anos, subiu aos céus montado no dorso de um tigre e, de seguida, preservou a sua identidade reincarnando sucessivamente num após outro dos seus próprios descendentes. Cada um daqueles a quem coube este privilégio retomou, assim, o nome de Zhang Daoling. Tais reencarnações continuaram pelo séc. XX adiante. No séc. VIII, um decreto do imperador Xuan Zong deu jurisdição ao Mestre Celeste Zhang Daoling “sobre todos os templos taoístas no mundo”. Isto inclui, obviamente, o Templo Taoísta da Serra da Estrela. Importa ainda chamar a atenção para uma curiosa passagem da obra Living Taoism, de John Blofeld. Embora muitos creiam no contrário, Blofeld declara ser altamente improvável que toda uma linhagem de pontífices que se conseguiu perpetuar por quase dois mil anos tenha desaparecido nos nossos dias sem deixar rasto. E refere que alguns estudiosos defendem que foi no governo de Chang Kai-chek que a última reencarnação do Mestre Celeste foi banida do país. Revela ainda que um autor chinês sustém que Zhang Daoling tem vivido desde então em Macau “como um dragão, entre as volutas de espessas nuvens - o ópio!” Isto explicaria a sua ligação a Portugal e a sua possível implicação na construção e funcionamento do Templo Taoísta da Serra da Estrela. Quanto ao ópio, é bem sabido ser um dos componentes essenciais no fabrico das pílulas da imortalidade.
As curandeiras Terão reparado numa pequena estatueta portuguesa do princípio do século XX que retrata duas mulheres chinesas a segurar frasquinhos de unguentos, exposta num dos armários da primeira sala do bar-museu “Pavilhão Chinês”, no nº 89 da Rua D. Pedro V, em Lisboa? O “Pavilhão Chinês” foi outrora uma farmácia e a estatueta fazia parte do seu espólio, algum do qual foi depois adquirido pelo novo dono do espaço. Essa tosca estatueta é uma humilde homenagem a duas curandeiras chinesas que protagonizaram, em Novembro de 1911, um escândalo de contornos bizarros que abalou a então jovem república portuguesa. Ajus e Joé, assim as chamavam os jornais da época, numa grafia aportuguesada dos seus nomes originais, eram naturais de Xangai e apresentavam-se como especialistas em devolver a vista a cegos. Os ceguinhos de Lisboa, mais as suas caixinhas de esmolas, guitarras e acordeões, acorreram aos magotes ao humilde hotel onde as chinesas se hospedaram. Naqueles tempos conturbados, o povo sucumbia facilmente à crendice e floresciam as bruxarias. Todavia, os republicanos, adeptos do positivismo, resolveram tomar as chinesas como caso exemplar, devido talvez à sua exótica proveniência. Afirmando almejar tornar a capital num paradigma do progresso, encheram-se de brio racionalista e mandaram prender as duas arautas do obscurantismo. A Polícia, porém, deparou com tal resistência por parte da populaça em geral e, sobretudo, dos ceguinhos, que não hesitavam em quebrar as guitarras nas cabeças dos agentes, que se tornou impossível evitar um confronto. Rebentou um motim. Contaram-se mortos. Estouraram bombas. Redacções de imprensa foram assaltadas. Machado Santos escapou por pouco a ser linchado, ficando a dever a vida à pronta acção da cavalaria. O caso acabou por ascender ao Parlamento por iniciativa do ministro do Interior. A prisão das chinesas tornou-se tema obrigatório esgrimido nos comícios e no ataque a adversários políticos.
11 sexta-feira
4.11.2022
A estatueta do “Pavilhão Chinês” é obra de Zeferino Santos, que acompanhava o pai cego nas consultas às curandeiras. O dono da antiga farmácia resolveu adquiri-la para, por graça, a colocar ao lado do anúncio de um medicamento oftálmico. Quanto a Ajus e Joé, foram libertadas poucos dias depois de terem sido presas. Recusaram a extradição para o seu país natal. Algumas semanas antes, a 26 de Outubro desse ano, Sun Yat-sen proclamara a República da China. Receavam ver-se envolvidas com mais republicanos, ainda que chineses. Deixaram Portugal num navio que iria atravessar o Atlântico e nunca mais ninguém delas soube. Tudo quanto resta é uma foto de Joshua Benoliel no Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa e a estatueta do “Pavilhão Chinês”.
Amália em Xangai Decorria o ano de 1950 quando o jornal satírico “Os Ridículos” anunciou nestes termos jocosos de duvidoso gosto, só possíveis na época, a notícia sobre a actuação de Amália Rodrigues em Xangai, a realizar-se dali a pouco tempo: «(...) A Xangai, à China, achamos francamente fantástico! (...) A verdade, porém, é que achamos a China um país esquisito de mais para o fado (...) Vocês já pensaram, por momentos, no que será um auditório de chineses, todos sentados no chão, a comer arroz com dois pauzinhos e a Amália a cantar-lhes o “Tudo isto é fado” ou “Avé Maria Fadista”?» Trata-se este do único registo português aludindo à actuação de Amália em Xangai. A notícia foi, de resto, completamente abafada. Nem os jornais da época, nem as biografias de Pavão dos Santos ou de Jean-Jacques Lafaye mencionam tal facto. Duas décadas volvidas e o contrário se passaria em relação ao Japão, quando o estrondoso êxito de Amália lá alcançado encontrou merecido eco em Portugal. Todavia, Amália actuou de facto em Xangai, decorria o ano de 1950, acompanhada por Jaime Santos à guitarra e Santos Moreira à viola. A República Popular da China havia sido proclamada no ano anterior e Xangai fora o berço do Partido Comunista. Devido à sua notoriedade, mas sobretudo devido à modestíssima origem social da fadista, o governo chinês escolheu Amália para representar Portugal num espectáculo de folclore internacional em Xangai. Ao contrário, porém, do que supunha o jornal “Os Ridículos”, Amália não cantou o “Tudo isto é fado” nem o “Avé Maria Fadista”. Achou mais graça, estando na China, a cantar o “Grão de Arroz”, de Belo Marques (“O meu amor é pequenino como um grão de arroz/ é tão discreto que ninguém sabe onde mora...) Acresce que, com a sua proverbial facilidade para aprender línguas estrangeiras, Amália fez questão de cantar a versão em chinês, concebida de propósito para a ocasião: 我心上 的人兒 / 是多麼小小的, / 他像一粒米似的。 / 他多麼謹慎 / 沒有人知道他住的地方。 Wo xin shang de ren er shi duome xiaoxiao de/ ta xiang yili mi side/ ta duome jinshen, mei you ren zhidao ta zhu de difang...) Até aqui, a audiência entusiasmou-se com tal voz e tal mestria do chinês. Mas quando os versos seguintes foram cantados (“Tem um palácio de ouro fino aonde Deus o pôs/ e onde eu vou falar de amor a toda a hora...”), um dos representantes dos camponeses presentes por entre o público indignou-se e berrou: “Se tem um palácio de ouro fino não foi Deus que lho deu, mas sim o sangue e o suor das classes trabalhadoras!” Foi como um rastilho. A audiência aplaudiu o representante dos camponeses e começou a assobiar e a apupar a pobre Amália que, seguida pelos dois assustados instrumentistas, teve de abandonar o palco lavada em lágrimas. No dia seguinte, partiu precipitadamente para Berlim, onde conheceria um êxito monumental nos espectáculos do Plano Marshall. Este breve e triste episódio na carreira da grande fadista foi abafado pela própria Amália, que negou sempre ter alguma vez posto os pés na China Popular. No entanto, foi relatado no dia seguinte pelo Diário de Xangai. Esse exemplar do jornal pode facilmente ser consultado na Biblioteca da cidade por quem dominar a leitura dos caracteres chineses. A notícia, de 21 de Setembro, intitula-se “Cantora burguesa é apupada pelo povo trabalhador no Espectáculo de Folclore Internacional”. (Escrito entre 1997 e 2000).
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4.11.2022 sexta-feira
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EXPOSIÇÃO ARMAZÉM DO BOI ACOLHE MOSTRA FOTOGRÁFICA DE YAO FENG
Fotogramas poéticos I
MAGINE que alguém congela um momento, entre espaço e indivíduo, onde serenidade e contemplação se encontram com a interpretação lírica. Este conceito assenta como uma luva no ideário da exposição de fotografia de Yao Feng, que é inaugurada na próxima segunda-feira, pelas 18h30, no Armazém do Boi e que estará patente ao público até 27 de Novembro. A mostra, intitulada “Somente a alma é profissional”, reúne um total de 80 fotografias captadas em viagens por vários países e regiões, compilando uma espécie de jornada fotográfica.
“Quando ando pela rua ou viajo por um qualquer local, mantenho o olhar atento e vigilante para ver o que possa ser significante, e se o descobrir, levanto a minha câmara fotográfica ou telemóvel para fotografar.” YAO FENG
O
BRAS de sete jovens artistas de Cantão podem ser vistas na Fundação Rui Cunha, até 12 de Novembro, na exposição colectiva de pintura intitulada “The Chorus of Détour”. Com curadoria de Deng Jianjin e co-organização da Associação da Indústria Criativa Urbana de Macau (MUCIA – Macau Urban Creative Industry Association), as 21 obras seleccionadas para a mostra “revelam a criatividade destes jovens artistas, vindos de diferentes áreas, mas com uma experiência de aprendizagem compartilhada no Departamento de Pintura a Óleo da Academia de Belas Artes de Guangzhou, devendo vir a ser ‘a nova geração que representa a arte con-
temporânea em Guangdong’, segundo o curador Deng Jianjin, professor e antigo director do mesmo departamento, indica a FRC em comunicado. «Os artistas participantes, sejam professores ou alunos, todos apresentam trajectórias pessoais e únicas nas suas criações artísticas, formando características visuais distintas. Esse desenvolvimento fora da norma parece desconstruir a relação tradicional entre docente e discente, mas apenas reflecte a individualidade e singularidade mais importante da criação artística, formando um efeito semelhante às diferentes vozes de um coro», revela o manifesto de intenções deste projecto.
AUCTION, PENG DU (DETALHE)
PINTURA MOSTRA COLECTIVA DE JOVENS DE CANTÃO NA FRC ATÉ 12 DE NOVEMBRO
Em comunicado, o académico, poeta, tradutor e personificação local do que será um homem da renascença nos dias que correm, conta o processo instintivo de fixar numa fotografia pedaços de significado. “Quando ando pela rua ou viajo por um qualquer local, mantenho o olhar atento e vigilante para ver o que possa ser significante, e se o descobrir, levanto a minha câmara fotográfica ou telemóvel, que uso na maioria dos casos, para fotografar”, revela Yao Feng. O acto de preparar o disparo fotográfico é “uma reacção psicológica ou da alma causada instintivamente pelo acto de ‘ver ‘, uma espécie de emoção de encontrar algum significado no meio da mediocridade”. Ieong Man Pan, o curador da mostra, indica que as fotografias que compõem “Somente a alma é profissional” revelam “um estilo altamente pessoal, caracterizado pela quietude, sugestão e lirismo, conduzindo as pessoas a um mergulho num mundo onde se cruzam
sexta-feira 4.11.2022
É inaugurada na próxima segunda-feira, no Armazém do Boi, a exposição de fotografia de Yao Feng “Somente a alma é profissional”. Ao longo de 80 fotografias, o multifacetado académico e poeta converte em imagem a musa dos poetas, numa mostra que sintetiza uma jornada fotográfica o vazio, o absurdo, a depressão, o desamparo, a tristeza, a contradição e a fragilidade dos seres humanos em destaque”. Apesar do aspecto melancólico, o curador salienta também “a compaixão e o carinho” que respiram através das imagens.
Dizer muito com pouco
Não é a primeira vez que Yao Feng se aventura pelo mundo da fotografia, aliando-o frequentemente a dimensões oníricas e poéticas. “A linguagem da poesia é altamente refinada, e podemos dizer que a fotografia de Yao Feng está em
conformidade com a sua criação poética que segue sempre o princípio de que ‘menos é mais’, aponta Ieong Man Pan. A fugacidade dos instantes obriga a acções rápidas para capturar o momento, um movimento instintivo que o curador da mostra refere como conceito absolutamente distinto da cadenciada prática na produção poética. “Ao contrário da escrita, que pode ser produzida lentamente, a fotografia é uma linguagem visual, caracterizada pela sua própria limitação, a qual requer a sensibilidade do fotógrafo em termos de deter um instante exacto para pressionar o obturador”, refere Ieong Man Pan. Sem esquecer ou relativizar a importância do domínio das técnicas fotográficas e da equação de imensas variáveis de luz, enquadramento, abertura de diafragma e jogo de lentes, o curador destaca a sensibilidade das fotografias de Yao Feng. “Ver sem sentir, não vai produzir bons trabalhos. Quando o fotógrafo sente, vê brilhar a faísca da inspiração que vem da sua experiência acumulada, da sua tendência estética, da sua reflexão, bem como do seu dom. Sem dúvida, a criação fotográfica de Yao Feng corresponde a todas estas características, pois ele sabe como usar uma linguagem original para transformar as palavras em imagens que espelham a alma”. João Luz
CREATIVE QUATRO FILMES LUSOS NO FESTIVAL DE CURTAS
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Festival Internacional de Curtas-Metragens de Macau vai exibir quatro filmes de Portugal, anunciou a Creative em comunicado. Dos mais de quatro mil filmes e vídeos submetidos a concurso, de 123 países, foram escolhidos 111 para serem exibidos no festival, entre 1 e 8 de Dezembro. “Carpinteiro de Papel”, realizado por Daniel Araújo Medina e Renata de Carvalho Pinto Bueno, competem na categoria de documentários, enquanto “ABoneca de Kafka”, de Bruno Simões, “Polvo”, de Catarina Sobral, e “A Criação” de José-Manuel Xavier integram a lista das curtas-metragens de animação. “Bonita”, de Mariana França de Lima e “Fantasma Neon”, realizado por Leonardo Martinelli, são os dois filmes brasileiros a concurso, o primeiro na categoria de documentários, o segundo em ficção. As curtas-metragens vão ser exibidas no Teatro Capitol em mais de 30 sessões. “O Festival Internacional de Curtas Metragens de
SÃO PAULO “NAYOLA” DE JOSÉ MIGUEL RIBEIRO PREMIADO NA MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA
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AYOLA”, a primeira longa-metragem de animação do realizador e produtor português José Miguel Ribeiro, recebeu o prémio do público como melhor filme de ficção internacional na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Os vencedores da edição de 2022 da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que terminou quarta-feira, foram divulgados numa cerimónia realizada na Cinemateca Brasileira.
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O filme, a primeira longa-metragem de animação do premiado realizador e produtor português José Miguel Ribeiro, tem argumento de Virgílio Almeida, a partir de uma peça de teatro de José Eduardo Agualusa e Mia Couto, e a narrativa decorre entre 1995 e 2011, entre o final da guerra civil de Angola e os primeiros anos de paz no país. “Um conflito tão longo foi o ‘leitmotiv’ para propormos ao espectador um filme sobre o impacto da guerra
na vida de três gerações de mulheres da mesma família: Lelena (a avó), Nayola (a filha) e Yara (a neta), explicou o argumentista em nota de imprensa. O filme, que já tem distribuição garantida no Brasil, cruza animação em 2D e 3D, tem produção da Praça Filmes em coprodução com Bélgica, França e Países Baixos, tendo já recolhido vários prémios internacionais. A estreia em Portugal acontecerá só em 2023.
Macau ajuda os amantes do cinema a conhecer as actuais ficções, documentários e animações mundiais”, aponta a directora do evento. “Este festival, que se realiza anualmente, permite alargar o conhecimento de outras técnicas, partilha outras realidades, e reúne realizadores e outros profissionais para futuras parcerias”, acrescentou Lúcia Lemos. O Festival Internacional de Curtas Metragens de Macau é constituído por curtas produções independentes de reduzido orçamento. O evento assinala 13 anos de vida, tendo começado, em 2010, como Sound & Image Challenge (Desafio Som & Imagem), um concurso audiovisual para talentos locais, numa iniciativa que “visava oferecer visibilidade e emprego a profissionais independentes em som e imagem nas indústrias cinematográfica e musical, promovendo as indústrias criativas de Macau no sector audiovisual e descobrir novos talentos”, segundo a organização.
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ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 20/P/22 Faz-se público que, por despacho da Ex.ma Senhora Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, de 26 de Outubro de 2022, se encontra aberto o Concurso Público para “Prestação do Serviço de Manutenção e Reparação do Sistema de Combate a Incêndios aos Serviços de Saúde”, cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 3 de Novembro de 2022, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP 77,00 (setenta e sete patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S. (www.ssm.gov.mo). Os concorrentes do presente concurso devem estar presentes nos seguintes horários e locais, para efeitos de visita às instalações a que se destina à prestação de serviços objecto deste concurso: Horários Às 15,00 horas do dia 7 de Novembro de 2022 Às 15,00 horas do dia 8 de Novembro de 2022 Às 15,00 horas do dia 9 de Novembro de 2022 Às 15,00 horas do dia 10 de Novembro de 2022 Às 15,00 horas do dia 11 de Novembro de 2022
Locais Entrada do Departamento de Instalações e Equipamentos do Centro Hospitalar Conde de São Januário Entrada do Centro de Saúde do Tap Seac Entrada do Centro de Saúde dos Jardins do Oceano Entrada do Centro de Saúde da Areia Preta (Hac Sa Wan) Entrada do Posto de Saúde de Coloane (Lou Wan)
As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 5 de Dezembro de 2022. O acto público deste concurso terá lugar no dia 6 de Dezembro de 2022, pelas 10,00 horas, na“Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP96.000,00 (noventa e seis mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 27 de Outubro de 2022 O Director dos Serviços de Saúde Lo Iek Long
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FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Sunny Chan Com: Dayo Wong, Stephy Tang, Louis Cheung Kai Chung, Ivana Wong 14.30, 19.15
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FALADO EM ESPANHOL LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Gustavo Hernández Com: Paula Silva, Daniel Hendler 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 3
COME BACK HOME [B]
BLACK ADAM [C]
Um filme de: Jaume Collet-Serra Com: Dwayne Johnson, Pierce Brosnam, Aldis Hodge 16.45, 21.30
VIRUS: 32 [C]
FALADO EM PUTONGHUA LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Lo Chi Leung Com: Donnie Yen, Cecilia Han, Jia Bing, Tankg Xu, Hou Tianlai 14.15, 16.30, 19.30, 21.30
A bordo de uma crespucular viagem espacial, ecoam acordes de uma batida profunda 26rumo. O jazz flui no interior da nave espacial,31 e sem entre a solidão, memórias do passado que insistem em voltar e a ânsia de capturar o próximo gatuno intergaláctico 9 1de um 6 prémio 3 2 chorudo 4 8 que 7 nunca 5 vem. Spike, 6 Jet, 8 Faye, 9 1Edward 2 5e Ein, 7 em troca um cão 8 geneticamente 2 3 1 5alterado, 7 4 formam 6 9 uma involuntária 3 2equipa 1 de 4 caçadores 6 7 8de prémios que vagueia pelo Sistema Solar, emprestando as suas histórias de vida a 7 5 que4 se 9vai adensando 6 8 3 sem 1 se2dar por isso. Até 5 porque 7 4a banda 9 3sonora 8 não 6 um enredo deixa. Entre a ficção científica, o western e o decadente. Hoje Macau 6 4 1 7 8 5 9 2 3 4 6 3 7 1 9 2
5 9 8 2 3 7 2 4 4 6 7 5 1www. 3 9 8 hojemacau. 2 8 5 6 com.mo
3 7 6 9 8 1 7 4 2 5 13
28 1 2 8 3 7 5 9 4 6
5 1 8 3 7 4 6 2 9
30 2 7 6 4 3 9 8 1 5
PUB.
9 7 4 8 6 5 5 2 1 4 6 3
TABLE FOR SIX [B]
8
6 1 8 3 4 92 29 5 6 8 1 7
C I N E M A
SALA 1
SALA 2
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 25
25 28 2 8 6 7 3 4 1 5 3 9 5 9
4
1
7 6 9
COWBOY BEBOP | HAJIME YATATE | 1998
PROBLEMA 26
26
CINETEATRO
3 6 7 9 4 2 8 5 1 9 4 1 5 7 8 3 6 2
4 5 9 6 8 1 2 3 7 5 8 3 2 6 1 7 9 4
6 1 4 8 5 3 7 2 9 3 9 7 8 1 4 2 5 6
32 4 3 7 5 3 9 8 1 2 4 5 9 2 4 8 6 5 3 1 7 2 1 6 9 1 7 2 4 8 5 8 5 8 6 9 2 3 7 VIRUS 4 321 1 3 7 4 6 9 1 8 2 5 6 4 3 7 1 7 2 4 6 5 9 3 9 6 5Fábrica8de Notícias, 1 Lda Director2Carlos5Morais 7 José3Editores 8 4 1 José 9 C.6Mendes Redacção Andreia 4 3Sofia5Silva;1João 9Santos8Filipe;6Nunu2 Propriedade João Luz; Wu Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Gonçalo Waddington; José Simões Morais; 3 1 2 9 8 8 9 2 6 7 3 5 1 4 9 1 6 3 7 2 5 8 Julie Oyang; Paulo Maia e Carmo; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Colunistas André Namora; David Chan; João Romão; Olavo Rasquinho; Paul 4 Chan 2 Wai6Chi;5Paula7Bicho; Tânia dos Santos 1 Grafismo 4 6 Paulo 5 Borges, 9 Rómulo 2 3Santos 7 Agências 8 Lusa; Xinhua 5Fotografia 2 Hoje 7 Macau; 8 4Lusa;6GCS;3Xinhua9 Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare 7 9Pátio1da Sé,3 n.º22, 4 Edf. Tak Fok, R/C-B,7Macau; 3 Telefone 5 828752401 4 1Fax 9 6 e-mail 2 info@hojemacau.com.mo; 3 8 4Sítio 5 1 9 7 6 Morada 28752405; www.hojemacau.com.mo 9 3 2 7 1 6 5 8 4 8 1 2 6 9 5 4 3 7
8 7 5 4 2 9 1 6 3 4 6 5 3 2 7 1 8 9
5 9 6 1 3 8 4 7 2 1 3 4 9 5 2 6 7 8
7 8 3 2 9 4 6 1 5 6 5 8 7 4 3 9 2 1
2 4 1 5 6 7 3 9 8
33 6 1 7 8 9 3 5 2 4
7 2 9 1 8 6 5 4 3
35 6 8 9 3 2 1 5 4 7
8 5 4 1 7 2 9 3 6 7 4 3 6 5 9 2 1 8
3 2 9 4 5 6 8 1 7 1 2 5 4 8 7 3 6 9
1 3 6 9 8 4 7 5 2 5 6 2 7 3 4 8 9 1
5 9 8 2 6 7 1 4 3 9 3 7 8 1 2 6 5 4
4 7 2 3 1 5 6 9 8 8 1 4 9 6 5 7 3 2
9 4 1 6 2 8 3 7 5 2 7 6 1 4 3 9 8 5
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6 9 3 5 8 7 4 1 2
7 6 3 5 4 9 2 8 1
34 1 3 9 8 4 5 6 2 7
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6 4 7 2 3 9 5 1 8
5 8 1 6 7 2 9 4 3
3 7 6 4 9 1 2 8 5
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9 1 8 5 2 3 7 6 4
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sexta-feira 4.11.2022
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confeitaria
vozes 15
João Romão
CARTÉIS NEM SÓ de cocaína vivem os cartéis, já se sabia, mas cá está a inflação mais ou menos globalizada para nos lembrar esse poder, opaco e invisível, marginal às democracias e predador de recursos e direitos, que agora ataca toda a gente, de uma maneira ou de outra, sem deixar margem para se fugir a um processo continuado e persistente de saque e pilhagem à escala planetária. Estes cartéis actuam em mercados legais e livres, regulados por leis e governos mais ou menos visíveis e supostamente também pelas mãos invisíveis dos mercados, como apregoam teóricos e vendilhões do alegado liberalismo económico contemporâneo. Não há liberalismo nenhum e muito menos mão invisível de qualquer mercado, sabemos todos. Também não há concorrência justa, e muito menos perfeita, num sistema económico em que grande parte da regulação se faz através de acordos gigantescos entre as grandes corporações internacionais e os governos com mais poder nas sociedades globais em que nos tocou viver. Pior ainda: trata-se frequentemente de uma regulação partilhada entre o poder não eleito de grandes corporações, de bancos centrais independentes de governos, e de instituições internacionais que também carecem de legitimação directa, como é o caso da nefasta e decadente Comissão Europeia. Evoca continuamente “sustentabilidade”, “inteligência” ou “solidariedade”, o discurso que emana destas pardas eminências que representam o poder dos cartéis contemporâneos, seja no domínio dos mercados internacionais, seja no controle das instituições que supostamente os regulam. Mas também tresanda a bafio, à velha estratégia de perpetuação do poder com base em palavras ocas e desprovidas do seu sentido original, o discurso que se vai propagando a partir destes elegantes meandros do poder. E, no entanto, aí está a inflação, em todo o seu esplendor, a assinalar uma transferência massiva de riqueza de todos nós para os cartéis dominantes dessa farsa liberal que controla os mercados globais. É verdade que muita gente pelo mundo fora fez poupanças – até significativas – quando manteve o nível de rendimentos mas diminuiu significativamente o consumo, durante o longo período de reclusão imposta pelas restrições inerentes à pandemia de covid-19. Em certa medida, a actual disponibilidade dessas pessoas para um consumo superior ao que seria habitual – seja em viagens, produtos ou outros serviços – também contribui para explicar o aumento dos preços. Além deste inusitado aumento da procura, há certamente um real aumento de custos de produção relacionados com o consumo de energia, que directa ou indirectamente acabam por afectar a maior parte dos produtos e serviços. Mas neste caso já saímos dos terrenos do vírus e da sua propagação, para entramos nos pantanosos tabuleiros dos jogos de poder dos cartéis, corporações e governos, nas suas manobras de disputa de
poderes político e económico: se é a guerra na Ucrânia que está na origem de grande parte dos aumentos no custo de distribuição da energia, também é verdade que todas as opções alternativas que se possam vir a configurar dependem mais dos interesses e poderes das grandes companhias envolvidas do que de quem consume e há-de pagar as contas. Na realidade, a própria evolução do conflito e dos posicionamentos militares e geo-estratégicos que se foram configurando nos últimos anos no leste europeu são também sintomáticos da importância desses poderes que não controlamos. Seja como for, os resultados são esclarecedores: os aumentos dos preços da energia estão eventualmente a cobrir custos de produção e distribuição acrescidos, mas estão também a proporcionar às empresas que controlam o sector níveis de lucro muito acima da exorbitância a que já nos tinham habituado – e nenhum patrão ou accionista maior destas companhias globais sofreu a mínima consequência desse tal aumento custos (antes pelo contrário). Igualmente esclarecedores são os resultados que se vão observando noutros sectores, mais obviamente dependentes dos recursos energéticos que hoje pagamos com crescente
Aí está a inflação, em todo o seu esplendor, a assinalar uma transferência massiva de riqueza de todos nós para os cartéis dominantes dessa farsa liberal que controla os mercados globais
preocupação.Aaviação é um exemplo relevante, relacionado com consumos não essenciais, com o turismo internacional a beneficiar do acréscimo significativo de procura que resulta dos tempos de reclusão forçada e de interrupção súbita dos hábitos de viagem que muita gente foi adquirindo. Com as tais poupanças que se foram acumulando, muitas famílias, mais ou menos abastadas, procuram com a urgência possível voltar a viajar, dispostas a pagar o
que se lhes for pedido, que os tempos são de excepção. Lucram então essas companhias que em tempos de covid despediram milhares de pessoas, o que se vai reflectindo, também, na pobre qualidade dos serviços que prestam. Entre subsídios governamentais para suportar a “crise”, redução de custos com despedimentos massivos, e subidas gigantescas de preços para uma procura disposta a pagar, o cartel da aviação é dos que mais beneficia (tal como o da energia) das presentes condições do “mercado” – ou, melhor dizendo, das condições políticas que se foram criando no planeta. Mais dramático e problemático é o sector alimentar: aí não se trata da procura adicional de uma camada da população com uma vida abastada – ou pelo menos confortável: neste caso trata-se de alimentar – ou deixar de o fazer – todas as pessoas que habitam o planeta. Também neste cartel as grandes empresas globais vão beneficiando com lucros acrescidos das subidas de preços a que estão permitidas pelo controle dos mercados que lhes é possível. Também aqui a concorrência é limitada, quando se olha para os mercados globais e para a escassa soberania alimentar de grande parte das populações. Neste caso, os cartéis que nos dominam não impõem restrições à viagem recreativa: impõem a fome.
“Talvez a maior lição da história seja que ninguém aprendeu as lições da história.’’ PALAVRA DO DIA
Aldous Huxley
CHINA CHANCELER ALEMÃO DE VISITA A PEQUIM
A primeira vez
ou não que a chinesa COSCO assumisse uma participação de 35 por cento num terminal de contentores no porto de Hamburgo. Baerbock e outros governantes opuseram-se ao acordo, enquanto Scholz minimizou a sua importância. A COSCO foi autorizada a assumir uma participação abaixo dos 25 por cento. Uma participação superior permite ao investidor bloquear as decisões da empresa.
O cesto e os ovos
Scholz leva consigo uma delegação empresarial, que inclui os presidentes executivos da Volkswagen, BioNtech ou Siemens
O
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chanceler alemão, Olaf Scholz, realiza esta sexta-feira a primeira visita à China desde que assumiu o poder, numa altura em que Alemanha e União Europeia (UE) estão a reajustar a abordagem em relação a Pequim. A visita de Scholz vai enfrentar um escrutínio minucioso. Embora o seu governo tenha já sinalizado um afastamento da abordagem puramente comercial em relação ao país asiático, cultivado pela antecessora Angela Merkel, Scholz leva consigo uma delegação empresarial, que inclui os presidentes executivos da Volkswagen, BioNtech ou Siemens. A deslocação surge também após a polémica suscitada pelo investimento de uma empresa de gestão de portos chinesa num terminal de contentores alemão. O líder da maior economia da Europa vai reunir em Pequim com o Presidente Xi Jinping e o primeiro-ministro Li Keqiang, durante a visita de um dia. Face às altamente restritivas medidas de prevenção contra a covid-19 que vigoram na China, a delegação alemã não vai passar a noite em Pequim. Trata-se da primeira visita de um líder da UE desde o início da
pandemia e ocorre logo depois de Xi obter um terceiro mandato como secretário-geral do Partido Comunista Chinês e promover aliados ao topo da hierarquia do poder na China. Um alto funcionário alemão, que informou os repórteres sob condição de anonimato, caracterizou a visita como uma “viagem de exploração”, para apurar “onde está a China, para onde vai a China e que formas de cooperação são possíveis com esta China específica, na actual situação global”. O funcionário apontou para a “responsabilidade particular” de Pequim, como aliada da Rússia, em ajudar a pôr fim à guerra na
Zhao Lijian disse que Pequim acredita que a visita de Scholz “vai injectar novo ímpeto” no desenvolvimento da “parceria estratégica abrangente” entre os dois países e que “contribuirá para a paz, estabilidade e crescimento mundial”
Ucrânia e pressionar Moscovo a suavizar a sua retórica nuclear. O chanceler vai também procurar “equilibrar” as relações económicas.
No topo
A China foi o maior parceiro comercial da Alemanha, em 2021, pelo sexto ano consecutivo. O país asiático foi a principal origem das importações alemãs e o segundo maior destino das exportações, a seguir aos Estados Unidos. O Governo de Scholz reconheceu já, no entanto, que a China é cada vez mais um concorrente e um “rival sistémico”, bem como um parceiro em questões como as alterações climáticas. A sua coligação, composta por três partidos, prometeu elaborar uma “estratégia abrangente para a China”. A ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, disse no domingo que teme “que o erro cometido pela Alemanha nos últimos anos com a Rússia se possa repetir”, equiparando a dependência do gás russo à dependência no mercado chinês. “Devemos evitar isso”, apontou. Os comentários de Baerbock surgiram depois de o Governo alemão ter debatido se permitiria
Ao contrário dos seus dois antecessores imediatos, Scholz fez do Japão, e não da China, o seu primeiro destino asiático e está a incentivar as empresas a diversificarem, mas não está a desencorajar os negócios com a China. Após uma cimeira da UE, realizada no mês passado, o líder alemão afirmou: “Ninguém está a dizer que temos que sair [da China], que não podemos mais exportar, importar ou investir [na China]”. Mas, num mundo cada vez mais multipolar, “não devemos concentrar-nos em apenas alguns países”, sublinhou. “Não colocar os ovos todos na mesma cesta é o mais sábio”. Na mesma cimeira, os líderes dos 27 países da UE discutiram a redução da sua dependência face à China no fornecimento de equipamentos de tecnologia e minerais brutos, e concordaram em exigir um melhor equilíbrio nas relações económicas, enquanto trabalham com Pequim em questões globais. Citado pelo jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, Scholz garantiu que está a viajar “como europeu” e que Berlim consultou de perto os parceiros europeus e transatlânticos antes da visita. Disse também que a “política da Alemanha em relação à China só pode ser bem-sucedida se incorporada numa política europeia”. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China Zhao Lijian disse, na terça-feira, que Pequim acredita que a visita de Scholz “vai injectar novo ímpeto” no desenvolvimento da “parceria estratégica abrangente” entre os dois países e que “contribuirá para a paz, estabilidade e crescimento mundial”.
sexta-feira
4.11.2022
Grande Baía 22 jovens de Macau escolhidos para estagiar
O programa de estágio no sector de finanças modernas, organizado pela Direcção dos Serviços de Assuntos de Subsistência e a Direcção dos Serviços de Desenvolvimento Económico da Zona de Cooperação Aprofundada e Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, seleccionou 22 jovens locais de entre um total de 107 candidatos. O programa ofereceu 29 vagas de estágio em empresas em Guangzhou, Zhuhai e Shenzhen. Entre estas cidades, a mais apetecível e concorrida pelos jovens de Macau foi Zhuhai, que recebeu 57 candidaturas para 6 vagas disponíveis. As vagas foram oferecidas pelas empresas GF Fund Management, Leader Fund, PricewaterhouseCoopers e Green Pine Care Foundation.
PORTUGAL EMPRESA CHINESA CRIA FÁBRICA DE BATERIAS PARA AUTOMÓVEIS ELÉCTRICOS
A
empresa chinesa de baterias para automóveis eléctricos China Aviation Lithium Battery Technology (CALB) anunciou ontem ter chegado a acordo para criar uma fábrica em Portugal. Num comunicado à bolsa de valores de Hong Kong, a CALB revelou a assinatura na quarta-feira de um memorando de entendimento com uma subsidiária daAgência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP). O acordo com aAICEP Global Parques prevê a aquisição de “direitos de superfície, com o objectivo de montar uma fábrica de ponta mundial, altamente inteligente,
informatizada e automatizada, com zero emissões de carbono”, disse a empresa. A CALB “não assinou ainda um acordo legalmente vinculativo”, pelo que “a cooperação contemplada no memorando de entendimento pode ou não avançar”. A empresa referiu ainda que a eventual instalação de uma fábrica em Portugal seria parte de uma estratégia para criar “bases industriais na Europa”. Segundo a China Automotive Power Battery Industry Innovation Alliance, uma associação industrial, a CALB foi em 2021 a terceira maior fabricante chinesa de baterias para automóveis eléctricos.