Hoje Macau 5 DEZ 2019 # 4426

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

SIN FONG GARDEN

TURISMO | MACAU

Regresso No pódio ao tribunal mundial PÁGINA 9

hojemacau

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INÊS COSTA MONTEIRO

PÁGINA 8

˜ QUINTA-FEIRA 5 DE DEZEMBRO DE 2019 • ANO XIX • Nº 4427

HELIPORTO

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MOP$10

OPINIÃO

QUE RICA MUDANÇA

Negacionismo climático

PÁGINA 5

OLAVO RASQUINHO

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Aqui, o absurdo funciona

Valério Romão esteve em Macau mais de um mês numa residência literária organizada pela Capítulo Oriental. Regressa a Lisboa carregado de matéria-prima para próximas obras e de memórias de uma cidade “cheia de vida” e de “paradoxos”.

ENTRTEVISTA

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DOS LABIRINTOS: UM DIÁLOGO ANTÓNIO CABRITA

ROMANCE DIANTE DO ESPELHO LUÍS CARMELO


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VALÉRIO ROMÃO ESCRITOR

No fim da residência literária que fez em Macau, Valério Romão segue para Lisboa com matéria-prima para escrever. Ainda não sabe bem o quê, nem em que moldes, mas daqui leva o absurdo, o paradoxo e um banho de cantonês, a poética língua que fala um pouco. Depois de escrever sobre temas como autismo e alzheimer, Valério Romão aponta a mira literária à sátira política, ao gozo do “lodaçal” “Acho que vou daqui com o kitch e com a beleza sofisticada, com as coisas mais banais da rua e com as coisas mais estranhas. Tudo isso, numa espécie de dialéctica que não se resolve, e que é boa porque não se resolve.”

“Esta é a terra do porque não?” O que o trouxe a Macau desta vez? Venho numa residência literária, organizada pela Capítulo Oriental, e patrocinada pela Casa de Portugal em Macau e Fundação Oriente. Venho essencialmente porque da primeira vez que estive cá, em 2017, fiquei surpreendido com o meu grau de ignorância em relação à cultura chinesa e maravilhado com o tanto que havia para descobrir. E, de facto, Macau é um sítio seguro, porque tens um pé na China e outro em Portugal e podes mover-te com relativa familiaridade entre mundos e segurança e podes começar a descobrir o que é a China, sem te sentires completamente perdido. Qual o resultado da residência? Vai publicar alguma coisa pela Capítulo Oriental? Quero muito escrever qualquer coisa para o Hélder Beja, até porque sinto que, de alguma forma, lhe devo isso por todo o esforço que ele colocou em trazer-me cá e proporcionar esta residência. Não sei ainda se vai sair alguma coisa ou o que vai sair. Primeiro, a ideia é de digestão. Para um ocidental, há aqui muito estímulo para absorver em tão pouco tempo. Mas, de facto, a ideia é produzir qualquer coisa. Não sei bem em que moldes, se ensaio, memórias, conto, não sei se escreva qualquer coisa focada em Macau, ou com um pé em Macau, talvez um pouco mais abrangente. Tem escrito durante o tempo que cá está? Não. Só tomo notas Acha que a vida nesta cidade é conducente à escrita? Sim. O problema de Macau é que é tão interessante que não dá vontade nenhuma de estar sentado numa escrivaninha com um computador a perder as coisas que estão a acontecer lá fora. Esse é que é o problema, porque quando queres escrever mandam-te para o Gerês, ficas lá, não há nada para fazer. Macau tem tanta vida que sentes sempre que estás a perder qualquer coisa se ficares a escrever. Portanto,

o melhor é andar com um caderno, como eu ando, tirando notas. Aliás, para mim, nem são as notas que me interessam, mas o que fica na memória. Esta estadia foi de... Um mês e uma semana. O que acha da vida nesta cidade. Agrada-lhe a ideia de morar em Macau? Via-me a morar em Macau, mas Macau tem um problema. Mas antes disso, tem a vantagem de ser muito user friendly, os transportes funcionam bem, é uma cidade super segura, consegue-se viver aqui perfeitamente. O meu problema com Macau é que ao nível de diversidade de oferta cultural não é propriamente a cidade mais rica. Mas isso pode ser colmatado. Estamos a uma hora de Hong Kong, a duas horas de Taiwan, muito perto de Shenzhen, ao lado de Zhuhai. Há muita coisa para ser vista. Macau é, basicamente, um enclave a partir do qual se pode ir para muitos sítios. Mas via-me claramente a viver aqui, tirando o Verão que é insuportável. O que acha que vai levarde Macau? Já estou naqueles últimos dias em que sinto, por um lado, a vontade de estar com o meu filho e com toda a gente em Portugal e, ao mesmo tempo, a sensação de que os dias estão a acabar e não queria que fosse assim. Sinto que devia ter feito muito mais coisas, mas acho que isso sente-se sempre que vais a algum sítio. Embora eu tenha a sensação também de que aproveitei bastante a minha estadia para ver muita coisa, mesmo que inútil. A colecção integra e tem espaço para o desperdício. Acho que o desperdício também funciona, porque para mim o ponto arquimédico desta cidade e, provavelmente, da China é o paradoxo. Sendo o desperdício integrável nesse paradoxo acho que funciona. Acho que vou daqui com o kitch e com a beleza sofisticada, com as coisas mais banais da rua e com as coisas mais

“É muito interessante seguir este percurso, este filão da língua chinesa porque isso pode modificar radicalmente a minha forma de escrever. Certamente, alguma da minha forma de pensar. Não há ‘adulto’, há uma ‘pessoa grande’, é como uma criança a falar.” estranhas. Tudo isso, numa espécie de dialéctica que não se resolve, e que é boa porque não se resolve. O que destaca entre as coisas estranhas que compõem este puzzle paradoxal? Acabei de vir de um ensaio de ópera chinesa numa casa de chá. Ontem fui a Zhuhai e encontrei uma cabine para dispensar vinhos. Fazes o scan de um código QR, pagas, abres a porta e levas o vinho. Havia uma daquelas máquinas de agarrar pelu-

“A política é um cancro maior. Não vejo um programa de televisão, não leio uma entrevista desta gente. Leio pouquíssimo dos jornais para não me expor à neurose deste lodaçal a que em Portugal se resolveu chamar política. Preferia tomar banho numa pocilga de estrume.”

ches, mas era com Pringles. Porque não? Alguém pensou nisso, porque não? Esta é a terra do porque não?! 'Ah, a gente não acredita no Natal, mas podíamos fazer um presépio. Porque não? Acha que estes detalhes o vão enriquecer? O García Márquez dizia 'eu não inventei nada. Tudo o que escrevo, ouvi, vivi, ou vi'. O realismo mágico é, de facto, muito mais fácil de fazer na América do Sul, ou em África, do que propriamente na Europa, onde a convenção científica estruturou o teu pensamento para não acreditar em determinadas coisas, ou achá-las, simplesmente, fantasiosas. Aqui não é bem a convenção científica ou o realismo mágico, mas é todo o sistema de absurdos que, de certa forma, funcionam. Uma pessoa leva isso e leva ferramentas, é como se tu viesses buscar matéria-prima para depois trabalhar. Hoje, na Ilha Verde, um local de grande densidade populacional, apareceu uma vaca no meio trânsito. Também vais ao Mercado Vermelho vês aqueles peixes todos retalhados com o coração a bater. E perguntas-te porquê? E a resposta é porque não? Como te se dado com o banho de cantonês? Quando voltei para Lisboa depois de ter cá estado a primeira vez, acabei por começar a aprender cantonês. O meu cantonês é fraquíssimo, mas dá para perguntar quanto é que custa, perceber os números, responder, perguntar o que é. Mas isso também é interessante. O cantonês e o mandarim, embora sejam duas línguas diferentes, têm estruturas de formação e de sintaxe muito semelhantes e uma gramática praticamente igual. O que é engraçado nestas línguas, ao contrário das nossas, para além de serem tonais, são contextuais. Qualquer palavra metida num sítio diferente envolve e produz um significado diferente, dependendo da palavra que está atrás, ou que

REINALDO RODRIGUES/GLOBALIMAGENS

ENTREVISTA


3 quinta-feira 5.12.2019 www.hojemacau.com.mo

está à frente. A pessoa só percebe a frase no fim, como no alemão. Isto para mim é muito interessante, porque acho que é a língua mais poética que já conheci até agora. Tu não dizes 'cuidado', dizes 'coração pequeno'. Isso é qualquer coisa. Porque quando tu te aproximas de um objecto que te assusta o teu coração encolhe. Podia dar mil exemplos, isto é absolutamente fascinante para uma pessoa que trabalha com palavras, que é como fazer uma tradução do pensamento. Acho que eles conseguiram fazer uma tradução mais imediata, porque não trabalham com palavras, mas sim com imagens. E o pensamento é estruturalmente feito de imagens. Apesar da linguagem estruturar o pensamento. É muito interessante seguir este percurso, este filão da língua chinesa porque isso pode modificar radicalmente a minha for-

ma de escrever. Certamente, alguma da minha forma de pensar. Não há 'adulto', há uma 'pessoa grande', é como uma criança a falar. Quando pensas que já nos esquecemos do que é ser criança e há uma língua que te permite, de alguma forma, reaproximares-te disso, nem que seja um bocadinho, é fascinante. É uma forma de ligar as coisas de uma forma diferente. Terminou a trilogia das Paternidades Falhadas, o que se segue? São três livros relativamente pequenos, mas que me deram um trabalhão. Parece muito blasé de se dizer, mas esgotaram-me. Foram três livros muito intensos. São temas fortes e que me mantiveram naquela espiral de produção durante bastante tempo. Agora quero fazer uma coisa completamente diferente, muito mais cómica, diria

que burlesca. Eu não sou de crítica social ortodoxa, do tipo "a direita é uma merda, porque" e "a esquerda é uma merda, porque". Acho que a direita e a esquerda, enquanto ideias, têm coisas boas e más, uma e outra. Acho é que a esquerda e a direita portuguesa não existem, são ambas uma merda, porque não têm que ver com ideologia, a ideologia é do partido, da conveniência partidária, da compra de votos e dos lugares para os rapazes. Aquela coisa do jobs for the boys sempre existiu, no Cavaco, no Guterres, no Durão e no Sócrates nem se fala porque é um caso de polícia, claramente, seja ou não condenado. Quero escrever qualquer coisa que vá um bocado no sentido, não de desmascarar esta gente, mas de gozar com eles como eles devem ser gozados. Como devem ser pisoteados de uma forma cómica

e maltratados. Fazer uma espécie de caricatura literária de toda essa gente que se arvora em político, em líder e em "ser cá da malta" ao mesmo tempo que é tão patente o narcisismo e egoísmo que essas pessoas até se coçam para dentro.

saído do poder. O grau de tolerância em Portugal é enormíssimo. Parecemos uma vítima de violência doméstica, habituada à violência, e que ocasionalmente quando pensa em fazer qualquer coisa para acabar com ela, sente que é culpada por ela.

Esse tema não será ainda mais pesado. Mergulhar nesse mundo não será pior que mergulhar no mundo do autismo e alzheimer? A política é um cancro maior. Não vejo um programa de televisão, não leio uma entrevista desta gente. Leio pouquíssimo dos jornais para não me expor à neurose deste lodaçal a que em Portugal se resolveu chamar política. Preferia tomar banho numa pocilga de estrume. Porque isto de facto é uma coisa que ao nível de um país civilizado, qualquer uma destas pessoas ao fim da terceira frase que proferissem já tinham

Uma espécie de síndrome de Estocolmo político. É, e nós fomos reféns desta escumalha. O meu sonho é exportar o Parlamento, serem só suecos, dinamarqueses, alemães, franceses. Nem um português. Por mim, não havia um político português em Portugal. Meritocracia em Portugal? Mais facilmente encontrava um unicórnio gay. João Luz

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ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 42/P/19

Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 18 de Novembro de 2019, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento de Reagentes Exclusivos para o Laboratório de Hematologia dos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 4 de Dezembro de 2019, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP 52,00 (cinquenta e duas patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 6 de Janeiro de 2020. O acto público deste concurso terá lugar no dia 7 de Janeiro de 2020, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP100.000,00 (cem mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/SeguroCaução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 28 de Novembro de 2019 O Director dos Serviços, Subst.º Cheang Seng Ip

5.12.2019 quinta-feira

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 55/P/19 Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 15 de Novembro de 2019, se encontra aberto o Concurso Público para o «Fornecimento e Instalação de Dez Sistemas Automáticos de Gestão de Medicamentos (Armários Electrónicos de Dispensa de Medicamentos) aos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 4 de Dezembro de 2019, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP 42,00 (quarenta e duas patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S. (www.ssm.gov.mo ). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina 17,30 horas do dia 3 de Janeiro de 2020. O acto público deste concurso terá lugar no dia 6 de Janeiro de 2020, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP110.000,00 (cento e dez mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 28 de Novembro de 2019 O Director dos Serviços, Substituto Cheang Seng Ip

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 715/AI/2019

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 727/AI/2019

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora YEUNG FONG I, portadora do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.º 50819xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 41/DI-AI/2018, levantado pela DST a 01.03.2018, e por despacho da signatária de 05.09.2019, exarado no Relatório n.° 384/DI/2019, de 26.08.2019, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Travessa de Lam Tac Un n.° 6, Edf. Hong Wa, 3.° andar A onde se prestava alojamento ilegal.------------------No mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. -------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-----------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.--------------------------------------------

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor IM WAI PAN, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.° 73974xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 125/ DI-AI/2017 levantado pela DST a 24.05.2017, e por despacho da signatária de 15.11.2019, exarado no Relatório n.° 549/ DI/2019, de 30.10.2019, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Taipa, Rua de Coimbra n.° 388, Nova City, Torre 13, 7.° andar D onde se prestava alojamento ilegal.-----------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 30 dias, conforme o disposto na alínea a) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.---------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.-----------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.------------------------------

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 18 de Novembro de 2019.

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 15 de Novembro de 2019.

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 733/AI/2019

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 739/AI/2019

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora ZHANG YINGYING, portadora do Passaporte da RPC n.° E16990xxx e portadora do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° C30564xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 3/DI-AI/2018 levantado pela DST a 03.01.2018, e por despacho da signatária de 15.11.2019, exarado no Relatório n.° 553/DI/2019, de 06.11.2019, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Rua de Cantao n.° 72-R, Edf. I San Kok, 24.° andar C onde se prestava alojamento ilegal.----------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.---------------------Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.-----------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.------------------------------

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor TUNG Ah Choi, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente de Hong Kong n.° D3360xx(x), que na sequência do Auto de Notícia n.° 70/DI-AI/2017 levantado pela DST a 24.03.2017, e por despacho da signatária de 15.11.2019, exarado no Relatório n.° 555/DI/2019, de 05.11.2019, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $350.000,00 (trezentas e cinquenta mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Praceta de Um de Outubro n.os 119131-B, I Keng Kok, 8.o andar C, Macau onde se prestava alojamento ilegal.----------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.---------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.-----------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.------------------------------

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 15 de Novembro de 2019.

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 15 de Novembro de 2019.

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes


política 5

quinta-feira 5.12.2019

HELIPORTO GOVERNO QUESTIONADO SOBRE COMPENSAÇÃO DE 535 MILHÕES

De boca aberta

O Executivo vai compensar a empresa Linhas Aéreas Ásia Oriental pela mudança do heliporto da Estrada do Altinho de Ká Hó para a Zona E dos Aterros. No entanto, os representantes do Governo não conseguiram explicar, aos deputados, o pagamento de 535 milhões de patacas, durante a reunião da comissão de ontem

E dos novos aterros e tem como entidade responsável a sociedade Linhas Aéreas Ásia Oriental, cujas administradoras são Pansy Ho e Ina Chan, respectivamente, filha e terceira mulher do magnata de jogo Stanley Ho. A compensação serve para pagar à empresa os custos relacionados com o facto de ter tido de abdicar do heliporto de que dispunha no terreno Estrada do Altinho de Ká Hó, em Coloane. A troca e a compensação foi necessária para que a construção do Hospital das Ilhas pudesse avançar sem ter limites de altura relacionadas com o heliporto.

QUEM PAGOU?

O

S representantes de seis departamentos do Governo estiveram reunidos com os deputados para analisar a execução orçamental deste ano, mas não conseguiram explicar o pagamento de uma compensação de 535 milhões de patacas devido à criação de um novo heliporto na Zona E dos novos aterros. A revelação foi feita pelo presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas, Mak Soi Kun, que admitiu que o Executivo não esperava questões sobre este tema.

“O Governo não esperava perguntas [sobre este assunto] com tantos pormenores e ficaram de boca aberta. Não estavam à espera que houvesse questões com tantos detalhes”, admitiu Mak Soi Kun, no final da reunião. Ainda de acordo com o deputado, os representantes do Executivo

comprometerem-se a entregar a informação sobre o assunto no futuro. No entanto, segundo o HM noticiou em Fevereiro deste ano, a compensação está ligada ao novo heliporto que vai entrar em funcionamento após 2020, fica situado note LT7 da Zona

“O Governo não esperava perguntas [sobre este assunto] com tantos pormenores e ficaram de boca aberta. Não estavam à espera que houvesse questões com tantos detalhes.” MAK SOI KUN

Além do desconhecimento face ao valor da compensação, na análise à execução orçamental do primeiro trimestre deste ano, os deputados ficaram com dúvidas sobre a origem de gastos no valor de 23,9 mil milhões de patacas. De acordo com as rúbricas apresentadas, um total 23,9 mil milhões patacas foram gastos por despesas conjuntas. No entanto, os dados apresentados aos deputados não especificam os departamentos que pagaram os custos relacionados com projectos conjuntos. Ainda sobre a execução do orçamento do primeiro trimestre, o presidente da comissão considerou que a informação apresentada é “aceitável”, mas considerou que há espaço para melhorias na comunicação interdepartamental. Neste capítulo, Mak apontou o exemplo da Escola de Bombeiros, que sofreu atrasos uma vez que os departamentos envolvidos não conseguiram chegar a acordo num tempo útil sobre a dimensão dos lavabos. Segundo o deputado, esta questão deveria ter ficado definida ainda antes de terem avançado para a orçamentação do projecto, de forma a não afectar os número da execução orçamental com tempo perdido.

QUARTA PONTE DÚVIDAS SOBRE SE TRAVESSIA FECHA EM SINAL 8 DE TUFÃO

O

deputado Lei Chan U interpelou o Governo a fim de saber se a quarta travessia entre Macau e Taipa irá fechar ao trânsito aquando da passagem de tufões fortes no território. A obra foi adjudicada pelo valor de 5,2 mil milhões de patacas, devendo ser

executada no prazo de 1098 dias. Lei Chan U citou informações do Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI), que explica que “serão instaladas barreiras de protecção junto à linha principal da ponte, para que a velocidade do vento na ponte não seja su-

perior à velocidade do vento registada fora dela”, a fim de possibilitar a circulação automóvel. Contudo, o deputado não se mostra satisfeito com esta explicação e pede explicações adicionais ao Governo. No que diz respeito à construção de três vias de acesso à zona A

dos Novos Aterros na península de Macau, que ligam as zonas da Pérola Oriental, Rua dos Pescadores e o Centro de Ciência de Macau, Lei Chan U deseja saber se estas infra-estruturas serão edificadas junto à quarta ligação entre Macau e Taipa, questionando também a capacidade

de trânsito das infra-estruturas junto à Rotunda da Pérola Oriental, na Areia Preta. Sobre a construção do túnel subaquático entre as zonas A e B dos Novos Aterros, Lei Chan U questiona ainda se será recomendada a passagem de motociclos por essa via de acesso.

João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

DSAL Guangdong, Hong Kong e Macau aprofundam debate sobre trabalho

Guangdong, Hong Kong e Macau sentaram-se à mesa com o objectivo de intensificar a ligação e a cooperação entre as três regiões na área da fiscalização do trabalho. O denominado “Curso de Formação sobre a Cooperação na Fiscalização do Trabalho e Execução das Leis de 2019” decorreu em Macau de 18 a 22 de Novembro. De acordo com a nota de imprensa divulgada pela Direcção dos Serviços para os Assuntos (DSAL) a “troca de experiências sobre a execução da lei” compreendeu, além de uma componente teórica, visitas e sessões de debate. Os convidados tiveram a oportunidade de visitar o Tribunal Judicial de Base, onde assistiram a julgamentos sobre contravenções do trabalho, tendo sido apresentado aos 50 inspectores do trabalho de Guangdong, Hong Kong e Macau, “a situação do desenvolvimento económico e do mercado de trabalho de Macau, o regime de arbitragem, as práticas judiciais em casos de conflitos laborais e os respectivos procedimentos”, pode ler-se no comunicado.

Tung Sin Tong Chui Sai On enaltece papel da Associação

O Chefe do Executivo, Chui Sai On, recebeu ontem na Sede do Governo, os membros da Associação de Beneficência Tung Sin Tong, com o objectivo de aprofundar a promoção e a diversificação dos serviços filantrópicos em Macau. De acordo com o boletim oficial do Governo, Chui Sai On afirmou que a associação tem sabido “garantir serviços que acompanham a sociedade” bem como assumir, “os encargos da própria instituição, através das doações da sociedade e prestação de serviços gratuitos“ o que, segundo o chefe do Executivo “conjuga recursos e contribui para melhorar as condições de vida em geral”. Já Chui Sai Peng, Presidente da Associação de Beneficência Tung Sin Tong agradeceu ao Governo da RAEM o apoio dado nos últimos 20 anos, e comprometeu-se a aperfeiçoar e introduzir mais diversificação nas suas actividades. “Sob as bases tradicionais de doações e atendendo ao desenvolvimento, irá ser introduzido um modelo de doação electrónica e serão apresentadas mais actividades”, referiu Chui Sai Peng.


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5.12.2019 quinta-feira

GRANDE BAÍA INTEGRAÇÃO ACELERA COM CRIAÇÃO DE GRANDE METRÓPOLE NO SUL DA CHINA

Uma osmose regional ANTÓNIO FALCÃO

Vinte anos após a transferência de administração de Portugal para a China, Macau está a ser rapidamente integrada no continente chinês, através da criação de uma grande metrópole no Delta do Rio das Pérolas

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A localidade chinesa de Hengqin, milhares de operários de construção trabalham dia e noite para garantir que um novo porto, que agilizará a circulação de pessoas e bens entre o continente e Macau, é inaugurado a 20 de Dezembro, quando se celebra o aniversário da transição. A Zona Piloto de Comércio Livre de Hengqin, que pertence à cidade de Zhuhai, já está ligada ao território outrora administrado

por Portugal, e hoje uma região semiautónoma chinesa e capital mundial do jogo, por um posto fronteiriço aberto 24 horas por dia e um túnel de acesso ao novo

'campus' da Universidade de Macau, cujo terreno foi arrendado por Zhuhai à região. Mas o novo porto, que ficará sob a jurisdição de Macau, assim

PUB HM • 2ª VEZ • 5-12-19

Aviso de pedido para junção de restos mortais em sepultura perpétua ANÚNCIO Execução ordinária n.º

CV2-16-0037-CEO-C

2º Juízo Cível

Exequente: BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA CHINA (MACAU), S.A. 中國工商銀行(澳門)股份有限公司, com residência em Macau, na Avenida da Amizade, n.º 555, Edifício Macau Landmark Torre ICBC, 18º andar, Macau. Executados: 1. LOI FONG SENG 雷豐誠, masculino, e mulher 2. PANG XIAOTING 彭小婷, ambos com última residência conhecida em Macau, na Avenida do Hipódromo, n.º 86, Edifício Nam Fai, Bloco I, 12º andar E, ora ausente em parte incerta. Faz-se saber que nos autos acima indicados são citados os credores desconhecidos, no prazo de quinze dias, que começa a correr depois de finda a dilação de vinte dias, contada da data da segunda e última publicação do anúncio, reclamar o pagamento dos seus créditos pelo produto dos bens penhorados sobre que tenham garantia real e que é o seguinte: Bens penhorados (pertence à executada PANG XIAOTING) Denominação da fracção autónoma: 1/2 do “E12” do 12º andar “E”. Situação: Em Macau, nºs 71 a 117 da Rua da Paz, nºs 72 a 120 da Rua de Serenidade, nºs 121 a 169 da Rua da Tribuna e nºs 72 a 118 da Avenida do Hipódromo. Fim: Para habitação. Número de matriz: nº. 071564. Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: n.º 22095, a fls. 172v do Livro B129. Macau, aos 28 de Novembro de 2019.

Eu, Lam Kam Chio (林錦釗), nos termos da alínea 5) do n.º 1 e dos n.ºs 2 e 3 do artigo 26.º -A do Regulamento Administrativo n.º 37/2003, alterado pelo Regulamento Administrativo n.º 22/2019, apresento o pedido da junção das ossadas de Chiu Lai Seong (招麗嫦) na sepultura n.º MH-1-0045 do Cemitério de Nossa Senhora da Piedade. A defunta cujos restos mortais se pretende juntar era cônjuge do falecido já ali depositado, Lam Meng (林明). Venho por este meio informar as pessoas indicadas no n.º 1 do artigo 26.º -A do Regulamento Administrativo acima referido de que podem apresentar objecção por escrito ao IAM no prazo de 30 dias, contados a partir da data da publicação do aviso. A objecção escrita deve ser entregue no escritório dos assuntos relativos a cemitérios da Divisão de Higiene Ambiental do IAM, sito no 3.º andar do Edifício Comercial Nam Tung, na Avenida da Praia Grande n.º 517. Se o IAM não tiver recebido objecção por escrito no prazo determinado, o pedido de junção pode ser autorizado. Aos 5 de Dezembro de 2019 Lam Kam Chio

como terrenos adjacentes, permitirá que o fluxo entre o continente e a região, e vice-versa, se reduza a um só controlo fronteiriço, face aos actuais dois - saída e entrada. Actualmente, um autocarro transporta os passageiros entre os dois postos de controlo. "Devido à sua localização única, o Governo Central atribui grande importância a Hengqin", descreve à agência Lusa o director do comité administrativo local, Yang Chuan, num ostentoso hall de exposições, dedicado ao desenvolvimento da localidade, e equipado com painéis LED e ecrãs interactivos. O novo porto servirá também como um 'hub' para uma "futura conexão entre o trânsito" e uma ligação ferroviária subterrânea entre Macau e a linha Hengqin - Cantão, a capital da província de Guangdong. "Desde o início que as nossas orientações são promover a cooperação entre Guangdong, Hong Kong e Macau e, sobretudo, promover o desenvolvimento diversificado das indústrias de Macau", aponta.

APOSTA NO FUTURO

Hengqin conta já com o maior oceanário do mundo, o Chimelong Ocean Kingdom, que integra um complexo com mais de 130 hectares e inclui salas de espectáculo e hotéis de luxo. Assimilando uma herança arquitectónica de Macau, a localidade construiu também calçadas portuguesas. Aintegração insere-se no projecto apadrinhado pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a Área da Grande Baía uma metrópole mundial, construída a partir de Hong Kong e Macau, e nove cidades de Guangdong, através da criação de um mercado único e da

crescente conectividade entre as vias rodoviárias, ferroviárias e marítimas. Guangdong é a província chinesa que mais exporta e a primeira a beneficiar das reformas económicas adoptadas pelo país no final dos anos 1970, integrando três das seis Zonas Económicas Especiais da China Shenzhen, Shantou e Zhuhai. O PIB da área que compõe a Grande Baía, cuja população é de cerca de 70 milhões de habitantes, aproxima-se dos 1,5 biliões de dólares - maior que as economias da Austrália, Indonésia e México, países que integram o G20. Além de integrar Macau e Hong Kong, Pequim pretende também transformar o modelo de crescimento da região: o objectivo é reforçar o consumo doméstico e serviços em detrimento das exportações e manufactura. "O Governo quer usar a Área da Grande Baía para encurtar a lacuna [tecnológica] que a China tem com os Estados Unidos, Japão e outros países desenvolvidos", diz à Lusa Edmond Wu, professor de Economia na South China University of Technology, em Cantão. "Existe nesta região uma cultura de inovação", explica.

“O Governo quer usar a Área da Grande Baía para encurtar a lacuna [tecnológica] que a China tem com os Estados Unidos, Japão e outros países desenvolvidos. Existe nesta região uma cultura de inovação.” EDMOND WU PROFESSOR DE ECONOMIA NA SOUTH CHINA UNIVERSITY OF TECHNOLOGY

As autoridades de Hengqin oferecem reduções fiscais para empresas dos sectores de alta tecnologia ou serviços. "A nossa aposta não é a manufactura: queremos atrair indústrias de alta tecnologia, finanças, biofarmacêutica ou saúde", realça Yang Chuan. "Os nossos maiores atractivos são o acesso ao enorme mercado da China [continental] e os canais e janelas de comunicação internacionais convenientes e únicos devido à proximidade a Macau e Hong Kong", resume.


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quinta-feira 5.12.2019

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OBSERVATÓRIO DA CHINA RUI LOURIDO QUER MÃO-DE-OBRA FLEXÍVEL EM MACAU

Importar é preciso

O Presidente do Observatório da China defende que Macau deve apostar cada vez mais na flexibilização da sua mão-de-obra para responder aos desafios dos projectos “Uma Faixa, Uma Rota” e Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. A ideia foi defendida no âmbito da palestra “Ligações lusófonas da iniciativa chinesa: Continuidades ou rupturas?”, promovida pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa TIAGO ALCÂNTARA

UI Lourido, presidente do Observatório da China, disse ao HM que o Governo de Macau deveria, cada vez mais, apostar numa flexibilização da mão-de-obra, sobretudo no que diz respeito à contratação de quadros qualificados ao exterior. “Naturalmente que as dificuldades devem ser encaradas como grandes desafios ao desenvolvimento presente. Os recursos humanos são um elemento determinante no papel que Macau irá desempenhar” nos projectos “Uma Faixa, Uma Rota” e Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, comentou ao HM à margem da palestra “Ligações lusófonas da iniciativa chinesa: Continuidades ou rupturas?”, promovida pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Para Rui Lourido, Macau tem “de importar esses recursos humanos, de países que tenham as potencialidades [procuradas], como Portugal, país com o qual Macau deve ter uma maior relação umbilical possível”. O presidente do Observatório da China frisa que o papel de Macau no contexto da Grande Baía “destaca-se pela sua potencialidade para apoiar actividades não só ao nível do lazer, jogo e turismo”, mas também com a possibilidade de “trazer investimentos ao tecido produtivo e dar a Macau outro pulmão de sustentabilidade no futuro, desenvolvendo uma rede de relações económicas ou financeiras”. O presidente do Observatório da China acrescenta ainda que deve ser providenciada formação a residentes por parte de quem sabe, mesmo que essa formação venha de quadros qualificados importados.

“Macau faria a diferença apostando mais no sector educativo com as línguas a desempenharem um papel fundamental, através da aprendizagem da língua chinesa, com o mandarim a ser determinante, mais o inglês e o português.” RUI LOURIDO PRESIDENTE DO OBSERVATÓRIO DA CHINA

“Isso é fundamental [uma abertura], porque é disso que depende a capacidade das universidades privadas de poderem disputar com justiça os alunos do mercado chinês, pois Macau é China e a China é a grande potência do século XXI.”

APOSTA NA EDUCAÇÃO

Dentro deste contexto de integração regional, Rui Lourido defende que o caminho deve

Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Atletas Centro de Estágio e Formação de inaugurado O Centro de Formação e Estágio de Atletas, situado na Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental (Dome) é hoje inaugurado. Segundo o canal chinês do Rádio Macau, Pun Weng Kun, presidente do Instituto do Desporto (ID), revelou que o centro começará a ser usado por atletas

de cinco áreas desportivas, incluindo Wushu e Taekwondo, ainda este ano. O presidente disse ainda que equipas internacionais e das cidades da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau podem também utilizar o centro para realizar treinos. Além disso, o espaço está

ser o da educação. “Macau faria a diferença apostando mais no sector educativo com as línguas a desempenharem um papel fundamental, através da aprendizagem da língua chinesa, com o mandarim a ser determinante, mais o inglês e o português. Isso tornará a população jovem de Macau mais habilitada para fazer esta ligação entre o mundo lusófono e o chinês.” Ao nível do ensino superior, Rui Lourido defende que “Macau deve abrir as suas fronteiras aos alunos chineses da China”, para que haja “uma aposta numa educação mais acessível”. Nesse sentido, o presidente do Observatório da China gostaria de ver resolvido o impasse na Universidade de São José, que ainda não recebeu autorização para ter alunos oriundos da China.

também pensado para tratamentos de medicina desportiva e para o uso de dois pavilhões multidesportos que contém uma piscina, centro para treino de força e uma residência com 315 camas. A segunda fase de construção ainda está na fase de concepção, explicou o presidente do ID.

BOLETIM OFICIAL LISTA DE 40 NOTÁRIOS PRIVADOS PUBLICADA

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OI ontem publicada em Boletim Oficial (BO) a lista dos 40 novos notários privados no âmbito de um concurso aberto em 2017. Este concurso teve como objectivo resolver o problema da falta de notários privados em Macau, uma vez que em 20 anos não foi aberto

concurso para esta área. De acordo com o despacho ontem publicado, os novos notários terão de apresentar uma caução de 2,5 milhões de patacas antes de tomarem posse. Recorde-se que este concurso foi alvo de bastante contestação por parte da classe de advogados, uma

vez que foram apresentados vários recursos por parte dos candidatos, que não concordaram com as classificações finais. A falta de notários privados tem sido uma problemática levantada por vários deputados àAssembleia Legislativa e assumida pelo Governo. Em

2015, Jorge Neto Valente, presidente da Associação dosAdvogados de Macau, defendeu que a entrada de notários privados no mercado deveria ser feita de forma faseada, com exigências de cinco anos de experiência profissional por parte dos candidatos e sem registo criminal.


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5.12.2019 quinta-feira

SIN FONG GARDEN DIRECTOR E KIN SUN NEGAM IMPACTO DE ESTACAS MAL ENTERRADAS

Uma questão de metros Na construção que decorria ao lado do Edifício Sin Fong Garden as estacas que evitam deslocamentos de terras ficaram enterradas aquém da profundidade exigível. Os responsáveis pela obra negaram qualquer impacto para a segurança do edifício vizinho

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AIS de três anos depois, o julgamento em que o Governo e um grupo de moradores do Sin Fong Garden exigem o pagamento de cerca de 14,9 milhões de patacas à construtora e aos envolvidos no projecto adjacente foi retomado. Na sessão de ontem, os responsáveis pelas obras no terreno ao lado do Sin Fon Garden negaram que o facto de algumas estacas-prancha não terem sido enterradas à profundidade exigida tenha tido impacto na estrutura que foi demolida. Quando houve ordem de evacuação do Sin Fong Garden decorriam obras no espaço adjacente, para a construção de um edifício habitacional com o nome Soho Residence. O tribunal esteve ontem a ouvir a versão dos responsáveis da Companhia de Construção e Engenharia Kin Sun (Macau), porque durante a obra do Soho Residence houve estacas, cujo objectivo é o de evitar deslocamentos de terras, que ficaram enterradas a profundidades inferiores às definidas no projecto. Segundo Wong Kuok Kei, representante da empresa, a forma como estas estacas-prancha foram enterradas não afectou o Sin Fong Garden. “É verdade que havia estacas-prancha que não estavam a 7,4 metros de profundidade, como no projecto. Mas estavam enterradas com uma profundidade de quatro a cinco metros”, reconheceu. “A maior parte dessas estacas-prancha estavam do lado do Sin Fong Garden, mas não acho que a segurança desse edifício tenha sido afectada pela forma como estas estacas foram enterradas”, considerou. Wong apontou que, devido ao facto de se ter atingido a matéria rochosa naquela zona, não foi possível enterrar mais as estacas-prancha e que a empresa desconhecia a existência de problemas com a construção do Sin Fong Garden. Admitiu ainda que apesar da profundidade de algumas estacas-prancha não ter chegado aos 7,4 metros de profundidade, não foram tomadas medidas de

segurança nem houve suspensão dos trabalhos.

VERSÃO CONTRADITÓRIA

A obra do Soho Residence teve como director Cheong Nim Tou, que coordenou a demolição do edifício industrial que estava

no terreno e a obra da Kin Sun. No entanto, a versão de Cheong Nim Tou foi diferente da realidade relatada por Wong Kuok Kei. Segundo o director da obra, os trabalhos das estacas-prancha que ficaram enterradas a menos de 7,4 metros estavam

“A maior parte dessas estacas-prancha estavam do lado do Sin Fong Garden, mas não acho que a segurança desse edifício tenha sido afectada pela forma como estas estacas foram enterradas.” RESPONSÁVEL DA EMPRESA KIN SUN

suspensos, porque se estava a ponderar uma alternativa para alcançar a profundidade aprovada no projecto. “Só uma parte das estacas-prancha não tinha sido enterrada a 7,4 metros de profundidade e nesses casos os trabalhos estavam suspensos. Estávamos a procurar alternativas para alcançar esse nível”, relatou Cheong Nim Tou. Também o técnico considerou que mesmo assim não houve impacto para a estrutura ao lado. “O facto das estacas-prancha não estarem a 7,4 metros não afectou a segurança do Sin Fong Garden”, defendeu. Cheong revelou ainda que desconhecia os problemas do Sin Fong Garden e confessou que apesar de ter sido detectada uma inclinação no edifício, assim como no adjacente, o nome Lei Cheong, que não foram tomadas medidas de segurança. “Quando os edifícios Lei Cheong e Sin Fong Garden ganharam uma inclinação não tomámos medidas de segurança. O nível de inclinação causado pelo assentamento não estava dentro dos valores definidos pelas Obras Públicas para tomar medidas de segurança”, justificou. O edifício Sin Fong Garden foi evacuado em Outubro de 2012, depois de se ter considerado que havia risco de desabamento, e deixou desalojadas mais de 100 famílias. Actualmente, já foi terminada a demolição do edifício e decorrem os trabalhos de reconstrução. Nesta acção, o Governo exige o pagamento de 12,8 milhões de patacas, montante que foi explicado com “medidas urgentes, [...] como a contratação de profissionais para fazer inspecção permanente e tomar precauções necessárias, de modo a prevenir o colapso” e “salvaguardar a segurança pública”. “A maior parte dessas estacas-prancha estavam do lado do Sin Fong Garden, mas não acho que a segurança desse edifício tenha sido afectada pela forma como estas estacas foram enterradas”. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

Conselho Consultivo Exigido maior combate aos ratos

Choi Seng Hon, membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas, disse ao jornal Ou Mun que existe um grande número de ratos nas zonas habitacionais da Nova Taipa e Nam San, pedindo ao Governo para que sejam reforçadas as medidas de combate aos roedores, uma vez que estes podem transmitir doenças. O responsável lembrou ainda que há muitos ratos perto de muitos restaurantes localizados na Taipa e também na zona de lazer à entrada da ilha.

SUBSTÂNCIAS PERIGOSAS CONSTRUÇÃO DE ARMAZÉM AGUARDA POR RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL

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EONG Iok Sam, comandante do Corpo de Bombeiros (CB), disse ontem à TDM Rádio Macau que a construção de um novo armazém de substâncias perigosas, a construir na zona do Cotai, aguarda pela conclusão do relatório de impacto ambiental. A Planta de Condições Urbanísticas foi aprovada há um ano e meio sem que tenham sido feitos avanços no projecto. Recorde-se que este projecto tem sido alvo de muita contestação por se temer efeitos negativos ao nível da segurança, uma vez que o Cotai alberga a Strip dos casinos. O armazém deverá ser construído em dois terrenos, um localizado na Avenida Marginal Flor de Lótus e outro na Estrada do Dique Oeste. Vários moradores da zona afirmaram nunca ter sido ouvidos sobre este assunto, tendo enviado várias petições ao Governo. Os deputados Ng Kuok Cheong, Au Kam San, José Pereira Coutinho e Sulu Sou apoiaram esta matéria, tendo discutido o assunto na Assembleia Legislativa. Foi depois dessa contestação que o Executivo decidiu avançar para as medidas de avaliação de impacto ambiental. O comandante do CB disse ainda, à margem do programa matinal do canal chinês da Rádio Macau, que aguarda aval da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes relativamente às instalações permanentes de armazenamento de substâncias perigosas. O Governo pretende reservar um terreno na zona E1 dos Novos Aterros para esse fim, ao lado do Terminal Marítimo do Pac On.


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quinta-feira 5.12.2019

Em 2019, Macau deverá ser a terceira cidade mais visitada do mundo. De acordo com o ranking da Euromonitor International, a posição é para manter até ao final do ano, altura em que a região já terá recebido mais de 20 milhões de visitantes. Hong Kong, apesar da turbulência política, deverá manter o primeiro lugar

“A região, que subiu uma posição no ranking relativamente ao ano passado, relegando Singapura para a quarta posição, deverá receber, até ao fim de 2019, 20.6 milhões de visitantes.” que qualquer outra, com novos locais”, apontando a subida “do nível de vida na região, o aumento das viagens realizadas por jovens e o aumento do número de visitantes chineses a países estrangeiros”, como principais factores para o aumento exponencial do turismo na região. Pedro Arede

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Prisão de Coloane Obras da primeira fase quase concluídas

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ACAU deverá chegar ao final do ano no terceiro lugar do relatório da Euromonitor International, que divulga anualmente o “Top 100” das cidades mais visitadas a nível mundial. De acordo com as informações divulgadas ontem pelo Macau Daily acerca do relatório, a região, que subiu uma posição no ranking relativamente ao ano passado, relegando Singapura para a quarta posição, deverá receber, até ao fim de 2019, 20.6 milhões de visitantes. De referir, contudo, que este número contrasta com os dados oficiais do Governo, que apontam para que, só durante os primeiros 10 meses do ano, Macau tenha já recebido 33.4 milhões de turistas. A descrepância é explicada, de acordo com a mesma publicação, pelo facto da fórmula de cálculo que está na base do ranking da Euromonitor International, fazer a conta aos turistas internacionais que visitam uma cidade por, pelo menos, 24 horas e menos de um ano, que pernoitam no destino. Ao passo que os dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) incluem visitantes que atravessam a fronteira por duas vezes no próprio dia, não

TURISMO MACAU NO PÓDIO DAS CIDADES MAIS VISITADAS DO MUNDO

Bronze mundial permanecendo no território por mais de 24 horas. De acordo com a DSEC, estes visitantes de curta duração representaram mesmo 52 por cento do total de visitantes entre Janeiro e Outubro de 2019, despendendo cerca de duas horas e meia no território. Já Hong Kong, apesar de ter registado quebras emAgosto, na ordem dos 40 por cento ao nível do número de visitantes, deve manter o primeiro lugar do ranking da Euromonitor International onde, até ao final de 2019, deverá ter acolhido 26.7 milhões. Isto porque, de acordo com o analista do

Euromonitor Simon Haven, citado pelo pelo Macau Daily, o número de visitantes na primeira metade do ano “foi capaz de reduzir os efeitos provocados pelos protestos”. “Entre Janeiro e Junho de 2019 (…) o número de chegadas a Hong Kong Kong cresceu 14 por cento em relação ao ano passado”, explicou o analista.

ÁSIA NO TOPO

Segundo o ranking da Euromonitor International, o turismo no continente asiático está a viver um crescimento muito acentuado, pelo

simples facto de, entre as 10 cidades mais visitadas a nível mundial, metade pertencem à Ásia. Depois de Hong Kong (26.7 milhões), Banguecoque (25.8 milhões) e Macau (20.6 milhões), fazem também parte do “Top 10” as cidades de Singapura, na quarta posição, com 19.8 milhões de visitas esperadas e Kuala Lumpur, na décima posição, com 14.1 milhões de visitantes em 2019. Segundo o relatório da Euromonitor International desde 2013 “a região tem contribuído mais do

Cheng Fong Meng, director dos Serviços Correccionais afirmou que a primeira fase da obra de remodelação do Estabelecimento Prisional de Coloane está quase a ser concluída, dando lugar a mais 20 camas, noticiou o canal chinês da TDM Rádio Macau. No que diz respeito às obras da segunda fase, o concurso público será iniciado no primeiro trimestre do próximo ano, prevendo-se que haja mais 100 camas disponíveis. Quanto à terceira fase do projecto, Cheng Fong Meng explicou que apenas poderá ser iniciada em 2021 por motivos de segurança, apesar da prisão se encontrar numa fase de saturação, uma vez que possui 1623 reclusos, tendo capacidade para muito menos. Cheng Fong Meng adiantou também que há falta de recursos humanos como guardas prisionais, assistentes sociais e psicólogos. A partir de Fevereiro do próximo ano será iniciado um concurso público para a contratação de 73 guardas prisionais, prevendo-se a admissão de dois assistentes sociais e um psicólogo.


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5.12.2019 quinta-feira

HAINING NOVE PESSOAS MORREM EM ACIDENTE EM FÁBRICA DE TINTAS

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PAQUISTÃO DENUNCIADAS REDES DE TRÁFICO DE MULHERES PARA A CHINA

Uma lista da vergonha

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MA lista revelada ontem pela agênciaAssociated Press expõe uma larga rede de venda de meninas e mulheres paquistanesas para casamentos de fachada na China, num fenómeno que afecta vários outros países da região. A lista, composta por 629 nomes, foi compilada por investigadores paquistaneses, determinados a romper com redes de tráfico humano que exploram as populações mais pobres e vulneráveis do país. Segundo fontes citadas pela AP, a polícia paquistanesa não tem combatido o tráfico, devido a pressão de funcionários do Governo, que temem prejudicar os lucrativos laços económicos com Pequim. No maior julgamento até à data, realizado em Outubro passado, um tribunal em Faisalabad absolveu 31 cidadãos chineses acusados de tráfico. Várias das mulheres que foram inicialmente entrevistadas pela polícia recusaram-se a testemunhar após terem sido ameaçadas ou subornadas para manterem o silêncio, segundo fontes citadas pela AP. Vários altos funcionários contaram à agência noticiosa que as investigações a casos de tráfico humano diminuíram e que a imprensa paquistanesa tem sido pressionada a não reportar sobre as redes. A investigação revelou como a

minoria cristã do Paquistão se tornou um alvo de traficantes, que pagam a pais empobrecidos para casar as suas filhas, algumas delas ainda adolescentes, com maridos chineses. Muitas das noivas são então isoladas e sujeitas a abusos ou forçadas a prostituírem-se na China, mas muitas vezes conseguem entrar em contacto com o lar e imploram para regressar. Os cristãos são o principal alvo porque são uma das comunidades mais pobres do Paquistão, país cuja população é maioritariamente muçulmana.

TODOS AO BARULHO

As redes de tráfico são compostas por intermediários chineses e paquistaneses e incluem pastores cristãos, principalmente de pequenas igrejas evangélicas, que recebem subornos para incentivar os pais a venderem as suas filhas. Segundo as fontes citadas pelaAP, os intermediários chineses e paquistaneses cobram entre quatro milhões e 10 milhões de rupias (entre 22.600 e 58.700 eu-

ros) ao noivo, mas apenas cerca de 200.000 rúpias (1.350 euros) são entregues à família. Os investigadores afirmam que muitas das mulheres relataram tratamentos forçados de fertilidade, abuso físico e sexual e, em alguns casos, prostituição forçada. Pelo menos um relatório de investigação contém alegações de coleta de órgãos. Em Setembro passado, a agência de investigação do Paquistão enviou um relatório chamado “casos de casamentos chineses falsos” ao primeiro-ministro do país, Imran Khan. O relatório, citado pela AP, forneceu detalhes sobre 52 cidadãos chineses e 20 cúmplices paquistaneses, que operam em duas cidades da província de Punjab e também em Islamabad. Os suspeitos chineses incluíam os 31 absolvidos posteriormente em tribunal.

NEGÓCIOS PROTEGIDOS

Activistas e defensores dos direitos humanos dizem que o Paquistão tenta manter o tráfico de noivas em silêncio, para não comprometer o relacionamento

As redes de tráfico são compostas por intermediários chineses e paquistaneses e incluem pastores cristãos, principalmente de pequenas igrejas evangélicas, que recebem subornos para incentivar os pais a venderem as suas filhas

económico cada vez mais importante com a China. A China é aliada do Paquistão há várias décadas e prestou assistência militar a Islamabad, incluindo através do fornecimento de dispositivos nucleares pré-testados e mísseis com capacidade nuclear. Hoje, o Paquistão está a receber dezenas de milhares de milhões de dólares em investimento chinês, no âmbito da iniciativa chinesa ‘Uma faixa, uma Rota’, um gigantesco projecto de infraestruturas que visa reforçar as vias comerciais chinesas, ligando o Sudeste Asiático, Ásia Central, África e Europa. A procura por noivas estrangeiras na China deve-se à composição da população chinesa, com 34 milhões de homens a mais do que mulheres, resultado da política de filho único, que vigorou entre os anos 1980 e 2015, e uma preferência por meninos, que levou a abortos selectivos e infanticídio feminino. Um relatório divulgado este mês pela organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch apontou que a prática se está a generalizar, afetando também Birmânia, Camboja, Indonésia, Laos, Nepal, Coreia do Norte ou Vietname. “Todos se tornaram países de origem para este negócio brutal”, refere.

OVE pessoas morreram quando um tanque de águas residuais desabou numa fábrica de tingimentos e impressões no leste da China, informaram ontem as autoridades, em mais um acidente laboral fatal no gigante asiático. O colapso do tanque, com 15 metros, derrubou material empilhado na oficina, situada na cidade de Haining, província de Zhejiang, um centro da vasta indústria petroquímica da China. As autoridades locais informaram que outras quatro pessoas ficaram gravemente feridas. Os motivos do colapso estão a ser investigados. O portal oficial da fábrica informa que foi fundada em 1983 e emprega actualmente 500 pessoas. Acidentes industriais são frequentes na China, onde, em média, morrem 70.000 trabalhadores por ano, segundo a Organização Mundial do Trabalho. Em 2015, duas explosões nas instalações químicas da zona portuária da cidade de Tianjin, nordeste da China, provocaram pelo me-

nos 165 mortos, e causaram prejuízos de mais de mil milhões de dólares. Segundo a organização não-governamental de protecção ambiental Greenpeace, a indústria química da China, a maior do mundo, “está terrivelmente pouco regulada”. “Acidentes trágicos acontecem quase todos os dias no país”, afirmou a organização, num relatório difundido no ano passado. A maioria das 33.000 unidades de produtos químicos na China está concentrada no leste do país, onde os níveis de densidade populacional são maiores. Em Março, uma enorme explosão numa fábrica de produtos químicos, situada na província vizinha de Jiangsu, matou quase 80 pessoas. No mês passado, uma explosão de gás dentro de uma mina de carvão no norte da China matou 15 mineiros e feriu outros nove, enquanto um túnel rodoviário em construção no sudoeste entrou em colapso, matando quatro pessoas.


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quinta-feira 5.12.2019

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China condenou ontem a aprovação pelo Congresso norte-americano de um projecto de lei que visa punir abusos dos direitos humanos na região chinesa do Xinjiang, e alertou que retaliará “à medida que a situação se desenvolver”. O projecto de lei prevê sanções contra as autoridades chinesas pelo seu suposto envolvimento em “abusos” contra a minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigur, na região de Xinjiang, extremo noroeste da China. “Esta lei deliberadamente difama a situação dos direitos humanos em Xinjiang e os esforços da China para combater o terrorismo”, considerou ontem a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, em comunicado. O texto “ataca maliciosamente as políticas do Governo chinês”, acrescentou. A porta-voz considerou que “as questões de Xinjiang não são sobre direitos humanos nem questões étnicas ou religiosas, mas sobre a luta contra o terrorismo e actividades secessionistas”. “Xinjiang sofreu terrorismo extremo e violento. O Governo daquela região tomou medidas fortes de acordo com a lei”, frisou. Documentos internos do Partido Comunista Chinês difundidos

“Malícia” americana Condenado projecto de lei do Congresso que pune abusos em Xinjiang

na semana passada por um consórcio de jornalistas de investigação revelaram os esforços para assimilar minorias étnicas chinesas de origem muçulmana em campos de doutrinação em Xinjiang. Antigos detidos afirmam que foram forçados a criticar o islão e

a sua própria cultura e a jurar lealdade ao Partido Comunista Chinês (PCC), numa reminiscência da Revolução Cultural (1966-1976) lançada pelo fundador da República Popular da China, Mao Zedong. O Governo chinês, que inicialmente negou a existência destes

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campos, afirmou, entretanto, tratarem-se de centros de formação vocacional que visam integrar os uigures na sociedade e erradicar o “extremismo” da região. Os detalhes sobre o funcionamento interno dos campos, onde cerca de um milhão de uigures e cazaques são mantidos em detenções extrajudiciais, constam em documentos “secretos” e que servem como manual de operações para a burocracia da região de Xinjiang. As informações foram obtidas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, uma rede global com sede em Washington, e verificadas por especialistas independentes, incluindo ainda detalhes sobre o uso de inteligência artificial pelo Governo chinês nas práticas de policiamento, com algoritmos utilizados para estipular quem deve ser detido. Além de usar tecnologias de reconhecimento facial ou linguagem corporal, o Governo chinês começou recentemente a implementar sistemas de “reconhecimento de emoções”, que usam imagens de

vídeo para analisar o que as autoridades locais descrevem como o “estado mental” das pessoas.

ACHAS NA FOGUEIRA

As sanções previstas no projecto de lei dos EUA, que depende ainda da aprovação do Senado e ratificação pelo Presidente Donald Trump, podem ser aplicados a membros do Governo chinês, incluindo o secretário do Partido Comunista em Xinjiang, Chen Quanguo - e funcionários do Partido que se acredita serem responsáveis ou cúmplices. Hua Chunying disse que a lei visa “minar a prosperidade e a estabilidade de Xinjiang e restringir o desenvolvimento da China”. “Expõe os padrões duplos dos Estados Unidos na luta contra o terrorismo e só fará o povo chinês entender a sua hipocrisia e intenções sinistras ainda melhor”, acrescentou. Aaprovação desta lei aumentaria ainda mais a tensão entre Pequim e Washington, depois de, na semana passada, Trump ter ratificado a Lei de Democracia e dos Direitos Humanos de Hong Kong, que visa também punir autoridades que violem as liberdades naquela região semiautónoma chinesa.


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História e

THE INVISIBLE LIFE OF EURÍDICE GUSMÃO

A HERDADE

IFFAM DOIS FILMES EM LÍNGUA PORTUGUESA EXIBIDOS ESTE FIM-DE-S

O filme português “A Herdade” e o brasileiro “The Invisible Life of Eurídice Gusmão” são as duas únicas películas na língua de Camões e podem ser vistas este fim-de-semana no âmbito do Festival Internacional de Cinema de Macau. Mike Goodrigde destaca a qualidade destes filmes e convida a comunidade portuguesa a vê-los

O

Portugal profundo do Estado Novo, metaforizado numa propriedade rural no Alentejo, é o pano de fundo do filme “A Herdade”, de Tiago Guedes e produzido por Paulo Branco. Este é um dos grandes destaques em língua portuguesa da edição deste ano do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM, na sigla in-

glesa), que será exibido esta sexta-feira, dia 6, no Centro Cultural de Macau, às 20h00. Sobre este filme, Mike Goodrigde, director do IFFAM, falou, em entrevista ao HM, da sua enorme qualidade. “Acompanho o cinema feito em Portugal porque queremos passar aqui bons filmes para quem fala português. ‘A Herdade’ é um filme realmente bom, é um

grande épico. Acho que todos os portugueses o vão achar interessante porque aborda uma janela temporal de quase 60 anos da história de Portugal, desde os anos 40, passando pela revolução de 1974, até aos dias de hoje. Adorei-o quando o vi na competição de Veneza e em Toronto. Não é um filme fácil pois é longo, mas é épico e altamente apelativo.”


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Mike Goodridge destacou ainda o papel do produtor Paulo Branco, por quem diz ter “uma grande admiração”. “A Herdade” é uma “grande saga com grandes actores portugueses” e, por isso, o director do festival espera que “a comunidade portuguesa apareça em peso para o ver.” O cartaz do IFFAM, no que diz respeito aos filmes em língua portuguesa, fica completo com a produção brasileira “The Invisible Life of Eurídice Gusmão”, de Karim Aïnouz, exibido no domingo, dia 8, na Cinemateca Paixão. Sobre este filme, o director do festival adiantou que se trata de “um fabuloso épico realizado pelo realizador PUB

brasileiro Karim Aïnouz”. “É realmente bom e, ou muito me engano, ou será nomeado para os Óscares”, frisou.

PARA RESIDENTES

Na mesma entrevista, Mike Goodrigde lembrou o facto de “A Herdade” ser “um grande melodrama que tem por base uma família disfuncional, mas que está maravilhosamente bem feito. Adorei-o quando o vi na competição de Veneza e em Toronto e disse logo que o tínhamos de passar aqui.” O director do IFFAM referiu ainda que o cinema português poderia ter mais destaque a nível internacional. “É uma pena, porque Portugal tem um legado cultural

tão rico que gostaria que o cinema português fosse mais entusiasmante, e não acho que seja.” O filme “The Invisible Life of Eurídice Gusmão”, do realizador brasileiro, a viver actualmente na Alemanha, conta a história de duas irmãs inseparáveis, Eurídice e Guida. No Rio de Janeiro, no ano de 1950, as duas possuem sonhos bem diferentes da vida tradicional que levam: enquanto Eurídice deseja ser uma pianista famosa, Guida espera encontrar o amor verdadeiro. Um relacionamento de Guida, que a faz ir para a Grécia com um marinheiro, acaba por se tornar num ponto de partida para dois destinos

“Acho que todos os portugueses o vão achar interessante [A Herdade] porque aborda uma janela temporal de quase 60 anos da história de Portugal, desde dos anos 40, passando pela revolução de 1974, até aos dias de hoje” MIKE GOODRIDGE DIRECTOR DO IFFAM

separados, uma vez que, quando Guida regressa ao Brasil, solteira e grávida, o novo marido da irmã comunica-lhe que esta foi estudar música para Viena, não querendo mais manter o contacto com ela. Andreia Sofia Silva e Pedro Arede

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SOFIA MARGARIDA MOTA

e destino

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encosto a cabeca na luz e tudo esqueco ´ ´

diário de Próspero

António Cabrita

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Dos labirintos: um diálogo

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homem foi o primeiro ready-made de Deus: eis como agora parece começar a desalentadora História da Humanidade. Mas o inesperado pode interceder e aliviar-nos, como na felicidade de ter baixado um livro de Charles Simic, O Monstro Ama o seu Labirinto (na tradução espanhola) e lê-lo de rajada. E entra assim: «Muito tarde na noite, na rua MacDougal. Acerca-se um velho e diz: “Senhor, estou escrevendo a história da minha vida e preciso de uma moeda de dez centavos para acabá-la”. Dei-lhe um dólar.» Com o que sobra ao centavo o velho vai ter com que reencarnar, para contar outra história de vida. O que me lembra a regra de Canetti para identificarmos a arte: quando encontramos mais do que aquilo que foi perdido. Este é um livro de notas diarísticas, de ímpetos e aforismos, de comentários ao jogo da escrita e à esgrima desta com os seus leitores e críticos, num magma heteróclito e permeado de breves, deliciosos, flashes de infância ou doutros recantos da memória. «Mentia um pouco? – diz Simic, sobre si mesmo - Claro. Dir-se-ia que havia vivido anos na Rive Gauche e que por hábito me senta.va nas mesas dos cafés famosos, de olho preso nos debates apaixonados dos existencialistas. O que justificava tais exageros aos meus olhos era a possibilidade real de que poderia ter vivido algo assim. Tudo na minha vida parecia o produto do acaso, encadeava uma série de eventos improváveis, então, no meu caso, a ficção não me soava mais estranha do que a verdade. Como quando eu contei à mulher no trem de Chicago que era russo. E descrevi-lhe o nosso apartamento em Leningrado, os horrores do longo cerco durante a guerra, a morte de meus pais diante de um pelotão de fuzilamento alemão, na nossa presença, os filhos, os campos de deportação na Europa. Nalgum momento daquela longa noite não tive outro remédio senão ir à casa de banho rir a bandeiras despregadas. Ela engoliu as minhas petas? Quem sabe? Na manhã seguinte, deu-me um longo beijo de despedida, que alguma coisa haveria de significar» Para Brodsky, “a história da consciência inicia-se com a primeira mentira”, e acrescentava: “acontece que eu recordo a minha.” Não recordo a minha primeira mentira, mas adoraria mentir sobre isso, pois não me custa a acreditar que ele tenha razão. Como combinar o “direito de mentir” e a ética – é a questão que se segue. «O poema que quero escrever é um impossível. Uma pedra que flutua.» Completamente, por isso me atrai a metamorfose. E o quotidiano só me interessa como superfície porosa, onde

por trás do familiar irrompa o estranho, o neutro que antecede a intensidade, o amorfo que acicata os elementos a mudarem de natureza e figura. Duas outras notas em que me revejo: «Se trato tudo ao mesmo tempo como uma piada e como um assunto sério, é porque honro o eterno conflito entre a vida e a arte, o absoluto e o relativo, o cérebro e estômago, etc. Nenhuma filosofia pode nos faz esquecer uma dor de dente ... algo assim.»; «Impulsos contraditórios no fazer do poema: deixar as coisas como são ou voltar a imaginá-las; representar ou recriar; submeter-se ou afirmar, artifício ou natureza, e assim por diante.

Como a vaca, o poeta deveria tem mais de um estômago». Eis o que nos atraía em jovens: «”Tem imagens estupendas”, dizíamos, e o que queríamos dizer era que o poeta não nos deixava de surpreender-nos pela natureza selvagem das suas associações. O nosso ideal naquele tempo era a liberdade total da imaginação. Isto é o que amávamos e o que exigíamos da poesia que nos propúnhamos escrever.»; daí que me fatigue verificar como hoje a imaginação se tornou suspeita. Voltaram o recato e as regras. Talvez daqui a vinte anos o Michaux apenas seja lido por um grupo de fanáticos.

Também me palpita que, amiúde, a forma é apenas a sábia exploração de um irrepetível sentido do timing entre os elementos da relação que o texto aflora, coloca em presença. Por isso quando me perguntam o que ocupa mais na escrita de um romance eu invariavelmente respondo: o ritmo

«O inventor da metáfora moderna, Arthur Rimbaud, considerava-se um vidente. Soube ver que a ambição secreta de uma metáfora radical é metafísica. Podia abrir novos mundos. Podia tocar o absoluto. Abandonou a poesia quando começou a duvidar desta verdade.» Cada poeta assemelha-se ao mestre budista que em jovem pensava que as montanhas eram montanhas e os rios rios, e que depois de anos de estudo e devoção decidiu que as montanhas não eram montanhas nem os rios rios, para no fim da vida, já era mais velho e sábio, ter logrado compreender que as montanhas são montanhas e os rios rios. O Rimbaud só compreendeu pela metade, nem pressentiu o que monge budista calou: que depois da última travessia do deserto talvez voltem os símbolos a ser «deidades momentâneas». Outra nota espantosa: «Nietzsche: “Um pequeno animal exausto com os dias contados” propõe “o objeto do seu amor”. Disto se ocupam os meus poemas.» De como dotar de dignidade os perecíveis, portanto – é difícil achar melhor projecto. «A forma é “sentido do ritmo”, essa medida exacta de silêncio entre palavras e imagens que as torne significativas. Os cómicos sabem muito bem de que falo.» Também me palpita que, amiúde, a forma é apenas a sábia exploração de um irrepetível sentido do timing entre os elementos da relação que o texto aflora, coloca em presença. Por isso quando me perguntam o que ocupa mais na escrita de um romance eu invariavelmente respondo: o ritmo. «O que a esquerda e a direita políticas têm em comum é o seu ódio à literatura e à arte modernas. Agora que o penso, todas as Igrejas compartilham esse ódio, o que nos deixa sem muitos apoios. Por um lado, temos o rico imbecil que colecciona latas de sopa de Andy Warhol, e por outro o pobre rapaz enamorado dos poemas de Russell Edson e Sylvia Plath. Deus nos valha!» E aonde isto nos conduz? Talvez a este estado merencório da actualidade: «”Ela fingia um orgasmo de cada vez que se masturbava”, escreve um gracioso anónimo num tabloide.»


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retrovisor Luís Carmelo

O romance diante do espelho

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grande problema do romance é instruir-se dentro dos limites que a linguagem (gerada para o efeito) lhe dita. Não me estou a referir ao desaguisado do tempo das vanguardas, nem à despolarização do mundo pós, muito menos a teorias literárias, a códigos rígidos ou a cânones. Instruir significa pontificar, descobrir e compreender-se a si mesmo dentro de certas fronteiras. Por exemplo: existe uma pedagogia para se saber olhar de alto a baixo diante de um espelho. É uma disciplina de que o romance é excelente aluno há já alguns séculos: conseguir criar uma pose e um dado ângulo para poder ser lido, contemplado e convenientemente interpretado. Os romancistas seguem o ângulo e o rasto sem perceberem a sua invisibilidade (invisível é o fio do marionetista). Tal como os pintores do paleolítico que orientavam a tinta - ou o sangue - seguindo as fissuras e as falhas das rochas mais escarpadas, assim os romancistas perseguem o seu rasto. Seguir o ângulo e o rasto não é copiar ou navegar apenas paralelamente à costa. Seguir o rasto pode ser transgredir, reinventar, descolar ou jorrar a tinta à Pollock para cima do nada. Seja de que modo for, os romancistas progridem sob a sombra do rasto. Sentam-se continuadamente ao espelho. Investem na pose para cada circunstância concreta da navegação. Agarram-se copiosamente ao leme para melhor captarem o que a linguagem (para aquele efeito) lhes dita. Uma página de um romance tem que se sentir fielmente dentro do seu aquário, com a temperatura ambiente e a luz apropriadas aos seres vivos que apresenta, preserva e põe em acção. Não há um lado de fora, só existe um lado de dentro. Há muito que se sabe que representar é um logro, sobretudo num mundo em que as identidades se esbatem e em que tudo é cada vez mais um simulacro (e não um reflexo ‘real’ seja do que for). O rasto é afinal o plano inclinado que empurra silenciosamente a escrita para o lado de dentro desse aquário com paredes de vidro que tão bem simula o infinito ou, se se preferir, um indefinido - mas tão aparente - espectro de possibilidades. Essa página (que são todas as páginas de todos os romances do mundo) sabe que foi treinada para criar alguns impactos, de acordo com o seu próprio DNA que lhe concede uma matéria e um modo específico para a poder moldar. Enfim, essa especificidade possibilita rotações de diversos tipos, mas não deixa de ser uma especificidade.

Por exemplo, estamos a ler ‘Devoção’ de Patti Smith, é ainda de noite, Eugénia tem uma espingarda nas mãos e Alexandre está nu, meio a dormir, deitado no colchão. Acorda mais divertido do que alarmado e, ao ver Eugénia aos pés da cama com o cano virado para si, repete três vezes a palavra “Philadelphia” antes de levar o tiro e de, ao amanhecer, o seu corpo ser colocado “debaixo de terra”. A acção é atravessada por uma inevitabilidade. Já vinha de trás, como sempre sucede. Um ou outro imponderável (ou deslocações aparentemente inesperadas) complementam esse caminho inevitável, caso da reiterada palavra “Philadelphia” que se ‘ouve’ ou da sensação de ‘divertimento’ imputada a Alexandre. Há que dar voz ao acaso, sabendo-se que o que lhe equivale na escrita não passa de um belo felino com a cauda de fora (mais um simulacro com as devidas unhas à mostra). Constata-se, por fim, uma certa rudeza que acompanha os actos, no sentido em que o guião sugerido se cumpre sem digressões. A economia lexical cria conotações bem mais produtivas, já se sabe (questão de oficina, pois há coisas

que realmente se aprendem no ginásio literário, basta exercitar qb. e ter alguma humildade). Tal como a ave de rapina se agarra à sua presa, também a gramática ata sempre os nós à rede de factos que (potencialmente) pareceria querer libertar-se e disseminar-se. É superior às suas próprias forças. Uma mancha de óleo que se disperse em alto mar acabará igualmente por se limitar aos seus contornos. Em oceanografia, existem modelos que simulam a circulação das manchas de óleo tendo em conta a composição química dos elementos, as correntes, o vento e as ondas. Mas uma coisa é certa: estas manchas geradas pelas (criminosas) injecções dos petroleiros não sobem pela estratosfera acima criando aí uma cinematografia aérea. Há gramáticas e forças (como a da gravidade) que não o autorizam. A narrativa literária também está comprimida à sua fatalidade chã: não se descomprime de modo a permitir interpretar Alexandre independentemente da espingarda, ou de modo a permitir interpretar Eugénia independentemente de estar aos pés da cama a olhar para

Ler é, pois, uma descida às águas de um aquário, porventura de um oceanário. Mas é uma descida com instrutores que somos nós próprios a criar a temperatura e o cromatismo do romance (e até o tipo de algas que desejamos reconhecer ao longo desse mergulho algo alucinogénico)

Alexandre. O que se lê já está vincado pela sua própria ciência oceanográfica. O leme do escritor exercita a pulsão e o poder até de comover os leitores, mas fá-lo apenas no interior do seu aquário (para dentro do qual saltamos na nossa operação de leitura). Ler é, pois, uma descida às águas de um aquário, porventura de um oceanário. Mas é uma descida com instrutores que somos nós próprios a criar a temperatura e o cromatismo do romance (e até o tipo de algas que desejamos reconhecer ao longo desse mergulho algo alucinogénico). O que ele nos empresta é um modelo de simulação que permite respirar dentro de água. Assim se efectiva a instrução dos efeitos: o romancista pontifica, a obra ejecta o seu produto e o leitor explica-se (e compreende-se) a si mesmo dentro da invisibilidade das fronteiras que lhe são dadas. Não é uma má experiência, convém sublinhar. Por vezes pode incendiar os sentidos ou até dar sentido a uma vida inteira. Há quem acredite nisso piamente. Mas é uma experiência problemática e sobretudo frágil como o são todos os submarinos que cruzam as águas em profundidade. Uma falha, um corte de energia, algum tempo fora de prazo ou uma brevíssima explosão e o livro logo é atirado para o canto da prateleira. Diferente seria um projecto literário que fosse capaz de transformar o aquário discursivo numa cinematografia aérea e assim atrair os leitores para um voo tão desconforme quanto absolutamente irrrealizável. Como sou um escritor ainda jovem, não perdi a esperança de vir a realizá-lo.


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3 5 6 1 quinta-feira 5.12.2019 3 4 2 6 7 7 1 6 3 2 1 2 5 7 T E M P O M U I T O N U6 B L A5D O7 M I N 1 1 M A X 2 3 4 5 4 7 1 2 5 6 3 4 O QUE FAZER ESTA SEMANA 15 6 5 7 1 4 Hoje 15 2 7 PALESTRA “JUSTIÇA RESTAURATIVA VS TERRORISMO” Fundação Rui Cunha | Das 18h30 às 22h30 2 7 5 6 3MACAU4 INÍCIO DO FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE Vários locais (ver programa próprio) 35 56 3 4 Sexta-feira 3 4 1 7 INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO “ESTABLISHMENT”,6 DE PEDRO 5 PASCOINHO 1 32 54 3 Casa Garden | 18h30 FILME “A HERDADE” - IFFAM 6 6 5 2 1 Centro Cultural de Macau | 20h00 4 1 7 2 Diariamente EXPOSIÇÃO | “LÍNGUA FRANCA – 2ª EXPOSIÇÃO ANUAL DE 7 3 6 5 ARTES ENTRE A CHINA E OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA” 13

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Vivendas Verdes e Antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino | Até Domingo

ENCONTRO EM LISBOA

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EXPOSIÇÃO | “WE ART SPACE - DOCUMENTARY EXHIBITION” Armazém do Boi | Até Domingo

3 14 7 6 1 7 2 64 27 6 5 12 EXPOSIÇÃO | OBRAS DE CERÂMICA E CALIGRAFIA DE UNG CHOI KUN E CHEN PEIJIN 5 3 5 3 6 1 Fundação Rui Cunha 4 1 3 75 YNGMEI CURIOUS MACAU Armazém do Boi | Até 22/12 4 6 2 14 7 1 2 5 71 3 EXPOSIÇÃO | “BY THE LIGHT OF THE MOON – WORKS BY HONG WAI” AFA – Art Garden | Termina hoje

Cineteatro

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C I N E M A

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UM LIVRO HOJE

21 BRIDGES SALA 1

14.30, 16.30, 19.30, 21.30

Um filme de: Rian Johnson Com: Danie Craig, Chris Evans, Toni Collette, Jamie Lee Curtis 14.30, 21.15

SALA 3

KNIVES OUT [C]

FROZEN II [A] FALADO EM CANTONÊS Um filme de: Chris Buck, Jennifer Lee 17.00, 19.15 SALA 2

LAST CHRISTMAS [B] Um filme de: Paul Feig Com: Emilia Clarke, Michelle Yeoh, Emma Thompson

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PROBLEMA 18

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S U D O K U

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mais que não emoções rápidas e de efeito efémero. Ao não passar nas salas de cinema, “The Irishman” representaria então um paradoxo: um filme “clássico” que não pode ser “classicamente” consumido e apreciado. Contudo, não me parece nada de paradoxal. É que há muito tempo que os verdadeiros apreciadores de cinema (nos quais me incluo) deixaram de frequentar as ditas salas, na medida em que estas se tornaram num espaço insuportável, destinado a comedores de pipocas e indivíduos com a infância mal resolvida. A sala de cinema, escura, silenciosa, onde ecos religiosos se elevavam, toda ela uma experiência cognitiva especial, deixou de existir para dar lugar a extensões de centros comerciais. Logo, quem gosta de cinema não aguenta aquilo. “The Irishman” (filme excepcional) vê-se em casa, num ecrã acima das 50 polegadas. E mais nada. Carlos Morais José

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O PESADELO DE OBI | RAMÓN ESONO EBALÉ | TIGRE DE PAPEL

Pouco se sabe sobre o que se passa na Guiné Equatorial, país que faz parte da CPLP e que vive sob um regime autoritário e corrupto presidido por Teodoro Obiang. Esta banda desenhada, proibida no país, é o primeiro livro em língua portuguesa sobre a realidade política e social da Guiné-Equatorial, tendo sido lançado esta terça-feira em Lisboa. Nesta história, o activista Ramón Esono Ebalé, a viver em El Salvador, coloca o presidente ditador a viver como um normal guineense: sem água canalizada e outros recursos essenciais a uma vida digna. Andreia Sofia Silva

MARRIAGE HUNTING BEAUTY [C] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Akiko Oku Com: Mei Kurokawa, Kei Tanaka Tomoya Nakamura, Asami Usuda 14.30, 16.30, 19.30

21 BRIDGES [C] Um filme de: Brian Kirk Com: Chadwick Boseman, J.K. Simmons, Sienna Miller, Taylor Kitsch 21.30

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; In Nam Ng; João Santos Filipe; Juana Ng Cen; Pedro Arede Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo

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22 opinião

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a propósito de

OLAVO RASQUINHO*

Negacionismo

N

O meio científico há praticamente unanimidade que o aquecimento global, e consequentemente as alterações climáticas, são uma realidade que se deve essencialmente ao efeito de estufa causado por gases provenientes da atividade humana. Os dados resultantes de observações realizadas ao longo de mais de cem anos, desde o início da era industrial, feitas com recurso a estações meteorológicas, mostram que a temperatura média do ar à superfície da Terra aumentou mais de 1 grau centígrado. Quando nos referimos à temperatura do ar à superfície está subentendido que a medição deste parâmetro é feita em igualdade de circunstâncias em todas as estações meteorológicas. Está estabelecido pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) que o termómetro das estações meteorológicas sinóticas deve estar à sombra, entre 1,25 e 2 metros de altura, dentro de um abrigo meteorológico instalado sobre terreno relvado. Assim, por exemplo, se duas medições se fizerem nas mesmas condições, exceto no que se refere à existência ou não de relva, os valores não serão exatamente os mesmos. Pretende-se com este exemplo realçar o facto de as medições das variáveis atmosféricas feitas pelos serviços meteorológicos nacionais obedecerem a regras rigorosamente estabelecidas. Este rigor estende-se também a outros parâmetros meteorológicos, tais como a humidade, pressão atmosférica, vento, etc. Só assim se podem comparar valores desses parâmetros medidos à mesma hora em muitos milhares de estações meteorológicas espalhadas pelo globo terrestre e, para um determinado local, comparar os valores atuais com os medidos ao longo de décadas. Mesmo sem recorrer a conhecimentos científicos, é evidente para um leigo com um mínimo de bom senso que a injeção de milhões de toneladas de gases e de partículas provenientes da atividade industrial ou de outras origens, como os fogos florestais e os transportes terrestres marítimos e aéreos, irão forçosamente influenciar negativamente as características da atmosfera. A maioria dos fenómenos meteorológicos mais correntes, como sistemas frontais, trovoadas, chuva, aguaceiros, tornados, ciclones tropicais (furacões tufões), etc., ocorrem na camada mais baixa da atmosfera, a troposfera, que tem uma espessura de cerca de 12 km nas latitudes médias, sendo mais espessa nas latitudes baixas e mais menos à medida que se avança para os polos. É natural que a ação humana

de injetar nesta estreita camada quantidades enormes de gases de efeito de estufa e de poluentes faça com que ocorram alterações no comportamento dos fenómenos meteorológicos e, consequentemente, do clima. Apesar de existir quase unanimidade sobre as alterações climáticas, há uma corrente de opinião defendida por alguns cientistas que, apesar de não serem totalmente céticos no que se refere ao aquecimento global, defendem que esse aquecimento não se deve a causas antropogénicas. Foi mesmo criada uma organização para contrariar as conclusões do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change - IPCC). Num claro desafio ao IPCC, aquela organização adotou a designação “Painel Internacional Não Governamental para as Alterações Climáticas” (Nongovernmental International Panel on Climate Change - NIPCC). Poder-se-á perguntar: será que os negacionistas são gente séria ou tratar-se-á de um vasto lóbi para defender os grandes magnatas dos combustíveis fósseis? A resposta não é

Algo de positivo está a acontecer: a consciencialização da juventude, motivada por esse grande símbolo que é a ativista Greta Thunberg. E os jovens serão os dirigentes de amanhã… fácil, mas muitos deles fazem de facto o jogo de grandes interesses e constituem perigo não só para a vida humana mas também para a sobrevivência dos ecossistemas. Os membros do NIPCC definem-se a eles próprios como um grupo internacional não-governamental de cientistas e académicos que se uniram para avaliarem de maneira abrangente e realista a ciência e economia associadas

ao aquecimento global. Apresentam-se como uma organização de defesa da negação de mudanças climáticas e elaboram relatórios cujas conclusões se opõem aos relatórios de avaliação do IPCCP. O NIPCC foi fundado em 2013 por Siegfried Fred Singer, cientista americano de origem austríaca com larga carreira académica na área da física da atmosfera. Publicou em 2015, juntamente com outros cientistas, a obra “Why Scientists Disagree About Global Warming: The NIPCC Report on Scientific Consensus”. Os negacionistas têm vindo a conquistar espaço a nível de governos conservadores de grandes potências, como reflexo de infiltrações de lóbis, alguns dos quais com caracter religioso. Veja-se o caso do Brasil e dos EUA. O presidente do primeiro destes países tem vindo a combater as ONGs que zelam pela conservação da Amazónia, tendo mesmo acusado o ator americano Leonardo Dicaprio de financiador de incêndios na floresta brasileira.


opinião 23

quinta-feira 5.12.2019

climático

Comparação entre duas imagens da cobertura de gelo do Mar Ártico (setembro de 1984 e setembro de 2016)

São cada vez mais numerosas as provas de que as alterações climáticas são uma realidade e os negacionistas não podem ignorar os relatórios do IPCC nem as publicações das agências especializadas das Nações Unidas Entre os políticos céticos das alterações climáticas, além dos presidentes dos EUA e do Brasil, contam-se outras personalidades como um antigo conselheiro do governo australiano, Tony Abbott, que afirma que as alterações climáticas são um ardil liderado pela ONU para estabelecer uma nova ordem mundial. Também um grande ativista no passado e ex-presidente do Greenpeace, Patrick Albert Moore, desde que deixou

essa organização acusa-a de ter abandonado a ciência e a lógica a favor da emoção e do sensacionalismo. Na forte corrente negacionista no Brasil, bem representada no governo, ressaltam Luiz Carlos Molion, professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas, e Ricardo Felício, professor de geografia e meteorologista. Este último chega a negar evidências altamente comprovadas pelos mais categorizados meios científicos. Numa entrevista sensacionalista a um programa da televisão brasileira chegou mesmo a afirmar que não existe camada de ozono. A família Koch, dona da Koch Industries, é um bom exemplo dos poderosos lóbis negacionistas. Desde há anos que tem vindo a financiar as campanhas republicanas nos EUA. É também sabido que houve forte apoio à eleição do atual presidente do Brasil por parte de interesses ligados à criação de gado, que defendem a intensificação de queimadas na Amazónia e a exploração desenfreada da indústria madeireira.

Apesar de em Portugal os negacionistas não serem muito ativos, em 7 e 8 de setembro de 2018 foi realizada uma conferência na Universidade do Porto, promovida pelo chamado Independent Committee on Geoethics (ICG). Entre os vários conferencistas destacou-se o meteorologista Piers Corbyn, irmão do líder trabalhista Jeremy Corbyn, que defende a ideia de que a contribuição da atividade industrial para o aquecimento global é mínima e que a principal causa é o aumento da atividade solar. Apesar de a Universidade do Porto se ter distanciado da organização do evento, alegando que fora da responsabilidade de uma docente da Faculdade de Letras, o certo é que lhe deu guarida, dando voz aos negacionistas. São cada vez mais numerosas as provas de que as alterações climáticas são uma realidade e os negacionistas não podem ignorar os relatórios do IPCC nem as publicações das agências especializadas das Nações Unidas, como por exemplo a “Declaração sobre o estado do clima global em 2018”,

da OMM, onde se enfatiza que, desde que há observações meteorológicas regulares, os anos 2015 a 2018 foram os quatro mais quentes já registados, acentuando-se a tendência de aquecimento a longo prazo. Os satélites permitem-nos obter provas evidentes destas alterações, como se pode verificar, por exemplo, nas imagens obtidas pela NASA, que mostram a diminuição da cobertura de gelo no Mar Ártico entre setembro de 1984 a setembro de 2016. Apesar do Protocolo de Quioto e das 24 Conferências das Partes (Conferences of the Parties - COP) não terem tido resultados palpáveis, tenhamos esperança que as decisões da COP 25 sejam mais bem sucedidas. Algo de positivo está a acontecer: a consciencialização da juventude, motivada por esse grande símbolo que é a ativista Greta Thunberg. E os jovens serão os dirigentes de amanhã… *O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico


A vida é uma farsa que toda a gente se vê obrigada a representar. Jean-Arthur Rimbaud

PALAVRA DO DIA

Filipinas Tufão deixa pelo menos 11 mortos

JAPÃO APROVADO ACORDO COM EUA QUE REDUZ TAXAS AGRÍCOLAS E INDUSTRIAIS

Pelo menos 11 pessoas morreram nas Filipinas devido à passagem do tufão Kammuri e 500 outras encontram-se em centros de acolhimento, segundo um novo balanço divulgado ontem pelas autoridades. Cinco vítimas mortais foram encontradas na região de Bicol (este), outras cinco na de Mimaropa (oeste) e uma na cidade de Ormoc (centro), informou o Centro Nacional de Gestão de Desastres. O tufão atingiu na noite de segunda-feira o sudeste de Luzon, a maior ilha do arquipélago, e na terçafeira o sul da capital filipina.

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PUB

parlamento japonês aprovou ontem o novo acordo comercial com os Estados Unidos, que reduz tarifas de produtos agrícolas e industriais, abrindo caminho para sua entrada em vigor no início de 2020. O acordo alcançado em Setembro pelo primeiro-ministro japonês Shinzo Abe e pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, prevê que o Japão reduza ou elimine tarifas sobre produtos agrícolas norte-americanos no valor de 7,2 mil milhões de dólares, incluindo uma redução gradual de tarifa de carne bovina de 38,5 por cento para 9 por cento. Outros produtos, como carne de porco, vinho e queijo também terão maior acesso ao mercado japonês, colocando os Estados Unidos em igualdade de condições face aos países signatários conhecidos como TPP-11, como Canadá e Austrália. Trump promoveu o acordo como uma maneira de reduzir o défice comercial maciço do seu país com o Japão e ir ao encontro dos interesses dos agricultores norte-americanos, que estavam em desvantagem face aos seus concorrentes internacionais, após a decisão de Washington de abandonar unilateralmente o pacto. O acordo comercial bilateral foi aprovado, mas não sem críticas dos parlamentares japoneses da oposição (o partido no poder de Abe tem maioria nas duas casas), uma vez que o pacto não inclui a eliminação da tarifa de 2,5 por cento sobre os carros japoneses exportados para os EUA, algo que estava incluído no TPP original. Após a entrada em vigor do acordo, os dois países acordaram prosseguir com o diálogo para se iniciarem negociações adicionais nos quatro meses seguintes à sua implementação, com o objectivo de abordar outros sectores não incluídos no actual compromisso, como é o caso do imposto sobre veículos mencionado, o objectivo principal de Tóquio.

quinta-feira 5.12.2019

Índia Luta entre paramilitares faz seis vítimas mortais

Fuga para a liberdade Boi que escapou do matadouro da Ilha Verde será adoptado pelo IAM

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M boi foi ontem encontrado a caminhar calmamente numa estrada na zona da Ilha Verde, impassível ao perigo do trânsito, depois de ter escapado do matadouro. Algo que lhe pode ter salvo a vida. A confirmação foi dada pelo próprio presidente do Instituto para os Assuntos Municipais, José Tavares, que esclareceu que o animal não pode ser vendido nem a sua carne consumida. Isto porque durante o processo de captura foram dadas cinco doses de anestésicos ao animal por motivos de segurança. José Tavares esclareceu ainda, de acordo com declarações citadas pelo canal chinê da TDM, que depois da co-

municação estabelecida com a Companhia de Produtos e Produções Especiais da China ficou decidido que o animal será adoptado pelo IAM. No entanto, para já ainda não foi escolhido um local onde vai ficar. Segundo informação revelada pelo IAM, o boi conseguiu escapar de uma cerca de arame farpado, depois de ser transportado pelos funcionários do matadouro. O animal foi perseguido pelos trabalhadores, com a ajuda das autoridades, que não quiseram perturbar o bicho para que este não ficasse nervoso, reduzindo os riscos de se tornar um perigo para o público.

SEM FERIDOS

Para já, José Tavares referiu que o organismo a que preside

O animal não pode ser vendido nem a sua carne consumida. Isto porque durante o processo de captura foram-lhe dadas cinco doses de anestésicos por motivos de segurança

aguarda ainda o relatório veterinário do Matadouro de Macau para saber se terá de avançar com tratamentos ao animal, segundo noticiou o canal chinês da TDM Rádio Macau. Cheong Kuai Tat, chefe do departamento de segurança alimentar do IAM, revelou que para o processo de captura foram destacados 30 agentes da polícia e bombeiros, tendo em consideração a segurança pública. Importa referir que não se registaram feridos. No que diz respeito aos danos causados em automóveis pelo animal, José Tavares referiu que os proprietários podem contactar o IAM mediante apresentação de fotografias ou outras provas dos estragos, estando ainda a ser analisada a cobertura da ocorrência pelas companhias de seguros.

Uma luta entre paramilitares indianos causou ontem seis mortos num campo no centro da Índia, informou um administrador estadual. Dinesh Kumar Nag disse que o incidente ocorreu no distrito de Narayanpur, no estado de Chhattisgarh. A causa da luta entre os paramilitares não é conhecida. A agência de notícias Press Trust of India noticiou que pelo menos um dos elementos da Força de Fronteira Indo-Tibetana, que está entre as vítimas mortais, disparou contra alguns membros da sua própria força paramilitar. Outros três ficaram feridos e foram hospitalizados. Narayanpur fica a 225 quilómetros a sul de Raipur, a capital do estado.

Bósnia Refugiados estão em greve de fome por falta de condições

Centenas de refugiados de um campo improvisado em Vucjak, no nordeste da Bósnia, estão em greve de fome pelo segundo dia consecutivo para protestar contra a situação degradante em que se encontram. Os refugiados neste campo bósnio encontram-se sem água, electricidade e a sofrer com uma vaga de frio e neve. Os veículos da Cruz Vermelha da cidade vizinha de Bihac, que geralmente trazem comida, retornam sem que os migrantes concordem em receber a sua porção diária naquele campo improvisado, construído sobre um aterro sanitário e cercado por campos minados da guerra na Bósnia (19921995). “A greve dura desde terça-feira, não recebem comida e água. A situação continua igualmente difícil, como nos dias anteriores”, disse Selfe Midzic, um dos responsáveis da Cruz Vermelha na cidade de Bihac, que ajuda os refugiados/migrantes em Vucjak.


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