˜ DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
AUSTRÁLIA
Oceano de chamas
MOP$10
SEGUNDA-FEIRA 6 DE JANEIRO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4442
NEGÓCIOS ESTRANGEIROS
A´ conversa com Ho
GRANDE PLANO
PÁGINA 4
HONG KONG
˜ DESINTEGRAÇAO COMERCIAL PÁGINA 11
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hojemacau
Estado de alerta
O aumento do número de casos de pneumonia viral em Wuhan, capital de Hubei, levou os Serviços de Saúde de Macau a elevar o alerta de emergência para o nível 3, numa escala com cinco patamares. Apesar de o nível de alerta ser considerado grave, e de não haver casos confirmados em Macau, as autoridades explicam a medida como uma forma de agilizar a coordenação entre serviços. PÁGINA 5
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HÓSPEDE DO IMPERADOR PAULO MAIA E CARMO
O OFÍCIO DA MEMÓRIA
ANABELA CANAS
2 grande plano
Os incêndios florestais no sudeste da Austrália provocaram no sábado mais um morto, obrigaram à evacuação de milhares de pessoas e causaram "danos consideráveis", anunciaram ontem as autoridades locais. Agências apontam para a morte de cerca de 500 milhões de animais. Scott Morrison, primeiro-ministro, tem sido duramente criticado pela resposta tardia à crise
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AUSTRÁLIA GRAVES INCÊNDIOS PROVOCAM MAIS UMA MORTE E PROFUNDO IMPACTO AMBIENTAL
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ENTENAS de propriedades na Austrália têm sido destruídas devido aos fortes incêndios que se têm propagado no país desde Setembro. Um total de 24 pessoas morreram desde essa data na sequência de incêndios florestais, sendo que última morte foi registada este sábado, com o falecimento de um homem por insuficiência cardíaca na zona de Nova Gales do Sul, anunciou a chefe do Governo da região, Gladys Berejiklian. “Estamos em território desconhecido”, afirmou Berejiklian, após um dia marcado por fortes ventos e temperaturas acima dos 40 graus Celcius em três estados. “Nunca vivemos isto antes”, vincou Berejiklian, advertindo: “Muitas aldeias que nunca tinham sido ameaçadas por incêndios florestais estão em perigo de ser completamente destruídas”. Em menos de uma semana, cerca de 500 casas foram destruídas pelas chamas no sudeste do país, na sua maioria em Nova Gales do Sul, elevando para mais de 1.500 o número total de casas destruídas desde Setembro, com prejuízos avaliados em 268 milhões de euros. A oeste de Sydney, no subúrbio de Penrith, os termómetros che-
garam aos 48,9 graus Celcius no sábado. A cidade mais populosa da Austrália, com de cinco milhões de habitantes, está a sofrer cortes de energia após duas subestações terem sido destruídas pelo fogo, enquanto as autoridades já pediram aos residentes que restrinjam o consumo de eletricidade. Na capital, Camberra, a temperatura atingiu 44 graus, um valor sem precedentes, segundo um porta-voz do serviço meteorológico australiano. A dimensão dos fogos é tal que o céu da vizinha Nova Zelândia transformou-se num imenso laranja devido ao fumo. Este sábado foi anunciada a evacuação de partes de estados de Victoria e Nova Gales do Sul, na costa sudeste da Austrália. Michael Grainger, da polícia de Victoria, disse mesmo às populações que “se valorizam a segurança têm de partir”. “Nestas circunstâncias, os bens pessoais têm muito, muito pouco valor. São circunstâncias terríveis, que não haja dúvidas”, frisou.
AS CRÍTICAS A MORRISON
O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, cuja postura perante os incêndios tem sido criticada, convocou no sábado três mil militares na reserva para
reforçar o combate aos incêndios. De acordo com o The Guardian, o primeiro-ministro australiano também garantiu a criação de kits de apoio para as áreas mais afectadas, além de que vai ponderar o pagamento de uma comissão real “tendo em conta os Estados e os
“Estamos em território desconhecido. Nunca vivemos isto antes. Muitas aldeias que nunca tinham sido ameaçadas por incêndios florestais estão em perigo de ser completamente destruídas.” GLADYS BEREJIKLIAN CHEFE DO GOVERNO DA NOVA GALES DO SUL
territórios” virada para os agricultores, pequenos comerciantes e “outros que participaram no esforço de reconstrução” após os incêndios. Josh Frydenberg, tesoureiro e membro da Câmara de Deputados australiana, disse que o Governo “está comprometido com tudo o que é necessário e com o mais que seja pedido”. De acordo com a agência Reuters, Morrison tem sido duramente criticado por ter estado de férias no Havai numa altura em que a situação dos fogos piorou, ainda que tenha reduzido o tempo de estadia. O primeiro-ministro falou da ocorrência de uma “quebra nas comunicações” depois de uma queixa apresentada por Shane Fitzsimmons, chefe dos bombeiros de New South Wales, que declarou ter sabido pelos jornais da intenção de Morrison de criar uma nova agência nacional de recuperação de incêndios florestais, o que trouxe confusão na hora de dar resposta à crise. “Senti-me desapontando e frustrado no meio de um dos nossos piores incêndios de que há registo, com deslocações massivas de pessoas e com a ne-
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cessidade de lidar com condições climatéricas muito más”, disse Fitzsimmons ontem. Por norma, na Austrália, os incêndios são combatidos e geridos a nível local, mas a gravidade da situação levou o primeiro-ministro a equacionar uma resposta nacional com o estabelecimento de uma nova agência. Morrison deixou claro que a criação desta nova entidade não era sinónimo de um mau trabalho desenvolvido até então, uma vez que as agências de combate aos fogos estatais fizeram “um trabalho extraordinário”. Sobre as suas férias no Havai no pico da crise, Morrison pediu desculpa. Ainda assim, muitos locais recusaram cumprimentar o primeiro-ministro esta sexta-feira, quando ele realizou uma visita às cidades mais afectadas pelos fogos. O descontentamento das pessoas afectadas pelos fogos é tão grande que chegou mesmo a ser criada a hashtag #ScottyFromMarketing, que tem sido bastante utilizada nas principais contas de Twitter australianas. Scott Morrison preparava-se para viajar na próxima semana para a Índia em viagem oficial, mas já cancelou a viagem. O primeiro-
Depois de ter sido noticiado que cerca de 1/3 da população de coalas pode já ter morrido nestes incêndios, os cangurus estão agora também sob ameaça. Agências apontam para a morte de cerca de 500 milhões de animais
-ministro continua crente na sua continuação no cargo e diz que, por agora, está focado na resolução da crise causada pelos incêndios. “Têm existido muitos comentários, muito criticismo. Tirei o benefício de muitas análises sobre muitos assuntos, mas não me posso distrair com isso”, apontou.
Na ilha Kangaroo já arderam 100 mil hectares, a maioria no Flinders Chase National Park, onde vivem cerca de 60.000 cangurus e 50.000 coalas.
UMA QUESTÃO AMBIENTAL?
Os enormes incêndios na Austrália têm também gerado um debate em
ANIMAIS EM PERIGO
Os fogos têm causado também um enorme impacto na fauna do país, tendo devastado nos últimos meses várias comunidades do mundo animal. Depois de ter sido noticiado que cerca de um terço da população de coalas pode já ter morrido nestes incêndios, os cangurus estão agora também sob ameaça. Agências apontam para a morte de cerca de 500 milhões de animais. Este sábado, um vídeo, divulgado nas redes sociais, pela Warriors for Wildlife, mostra centenas de cangurus a fugirem das chamas na ilha Kangaroo, a 112 quilómetros de Adelaide, no estado da Austrália do Sul - uma das zonas do país que está a ser mais afectada pelos fogos. As condições meteorológicas continuam a não ser favoráveis à resolução da crise, uma vez que no fim-de-semana se registou uma subida das temperaturas e ventos fortes.
A oeste de Sydney, no subúrbio de Penrith, os termómetros chegaram aos 48,9 graus Celcius no sábado. A cidade mais populosa da Austrália, com de 5 milhões de habitantes, está a sofrer cortes de energia após duas subestações terem sido destruídas pelo fogo
torno das verdadeiras origens da tragédia. Muitos falam em consequências das alterações climáticas, mas fala-se também da existência de uma “conspiração” por parte de ambientalistas para “fechar” os parques nacionais e evitar acções de prevenção aos incêndios tal como a realização de queimadas e limpezas de florestas. No sábado, citado pelo The Guardian, Scott Morrison disse que “a questão que mais me foi colocada tem sido a gestão das reservas de combustível nos parques nacionais”. “As pessoas que dizem esperar acções ao nível das alterações climáticas” poderiam ser as mesmas pessoas que “não partilham da mesma urgência em lidar com a redução de riscos”. Contido, David Bowman, director de um centro de investigação sobre incêndios da Universidade de Tasmânia, disse que a utilização deste argumento por parte do primeiro-ministro é “ridículo”. “Enquadrar isto como uma questão de redução de riscos de incêndio nos parques nacionais é retórica política preguiçosa”, afirmou. A.S.S. com agências
4 política
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AL Mak exige maior rapidez na resposta a interpelações O deputado Mak Soi Kun interpelou o Governo sobre a necessidade de aumentar a rapidez de resposta às interpelações escritas dos deputados à Assembleia Legislativa (AL). Na sua interpelação, Mak Soi Kun alertou para o facto de estar em causa a falta de eficiência governativa e de respostas aos anseios da população. O deputado cita
dados da AL que mostram que houve 747 e 764 interpelações escritas apresentadas nos dois últimos anos, mas, no primeiro ano, o Governo levou 30 dias a responder a 62,25 por cento das interpelações. Esse número baixou para 56,02 por cento no segundo o ano, o que para Mak Soi Kun revela uma tendência de menor produtividade do Governo.
FAOM Nova direcção e Governo comprometidos com “harmonia social”
A nova direcção da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) visitou o Chefe Executivo, Ho Iat Seng, na passada sexta-feira para abordar temas relacionados com a educação, desenvolvimento económico, formação de quadros qualificados, políticas e relações laborais. Sublinhando esperar que o Governo e a
FAOM “mantenham um intercâmbio franco”, Ho Iat Seng afirmou, de acordo com um comunicado oficial, que “irá auscultar as opiniões das partes laboral e patronal, a fim de promover a harmonia social” e que, “antes de apresentar as Linhas de Acção Governativa (LAG) na Assembleia Legislativa irá deslocar-se em Abril às instalações
da FAOM”. Já o novo Director eleito da FAOM, Lee Chong Cheng, revelou que para os próximos três anos, a Federação pretende concretizar várias missões, como “apoiar o Governo na aplicação das LAG no espírito da Lei, promover relações laborais harmoniosas e intensificar o seu papel no empenho da integração na Grande Baía”.
cau tem estado na ordem do dia, após a visita do Presidente chinês Xi Jinping no passado mês de Dezembro por ocasião das celebrações dos 20 anos da RAEM, onde os distúrbios sociais que têm assolado Hong Kong nos últimos meses foram referidos por diversas ocasiões por contraponto com a situação de Macau.
“Para se contar bem a história de Macau, é necessário concentrar as atenções na promoção no exterior e interior.” HO IAT SENG CHEFE DO EXECUTIVO
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O Iat Seng esteve reunido no passado dia 3 de Janeiro na Sede do Governo da RAEM com a comissária do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) da China, Shen Beili, “tendo trocado opiniões sobre assuntos inerentes às relações externas da Região Administrativa Especial de Macau”. Segundo uma nota do Gabinete de Comunicação Social sobre o encontro, após sublinhar a boa comunicação existente entre as duas partes, Ho Iat Seng, considerou que o Governo deve continuar a colaborar com o Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China em Macau, uma vez que “precisa do apoio do Comissariado e da comissária nos assuntos inerentes às relações externas e consulares, perante a complexidade e incerteza da conjuntura internacional”.
MNE HO IAT SENG PEDE APOIO FACE A “INCERTEZA DA CONJUNTURA INTERNACIONAL”
Conta-me como foi
Num encontro com a comissária do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Shen Beili, o Chefe do Executivo pediu apoio a Pequim para “contar bem a história de Macau” perante a complexidade e incerteza da actual conjuntura internacional
Fazendo votos para que as duas partes continuem as estreitas ligações tendo em vista a continuação dos trabalhos relativos às relações externas, Ho Iat Seng considerou também que, “para se contar bem a história de Macau, é necessário concentrar as atenções na promoção no exterior e interior”, sendo, para isso,
inevitável o apoio contínuo dado pelo Comissariado.
COOPERAÇÃO E EFICÁCIA
Por seu turno, a comissária do MNE destacou “o enorme apoio do Governo da RAEM, nos últimos 20 anos” e a boa colaboração com os serviços públicos locais como principais pilares para o estabelecimento de um “mecanismo de
trabalho eficaz”. Shen Beili assegurou que o Comissariado continuará a apoiar o Governo da RAEM nos trabalhos relacionados com as relações externas da região, que deverá estar preparada para agarrar as oportunidades que surgirem no futuro. “Com o apoio do Governo Central, Macau pode aproveitar bem as oportunidades de
desenvolvimento e, no futuro, o Comissariado continuará a cumprir as suas funções, cooperando com o Governo da RAEM para se proceder bem aos trabalhos relativos aos assuntos externos de Macau”, pode ler-se na nota do Gabinete de Comunicação Social do Governo. Recorde-se que a questão das relações externas de Ma-
Há dias, também Zhang Xiaoming, director do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau junto do Conselho de Estado em Pequim, recordou as palavras do Presidente chinês por altura da sua visita à região, através de um artigo divulgado numa publicação do Partido Comunista Chinês, intitulada Qiushi, onde escreveu que existem “forças externas” a tentar penetrar na sociedade de Macau, tal como ocorreu em Hong Kong, sem especificar que tipo de forças externas estão em causa. “Estes comentários feitos pelo secretário-geral Xi Jinping constituíram um golpe para eles e pretendem servir de encorajamento para nós na nossa legítima luta e contra-reacções quando as forças externas estão profundamente envolvidas nos tumultos relacionados com a lei da extradição, tomando parte da questão e manobrando o caos em Hong Kong, e também estão a tentar infiltrar-se em Macau”, escreveu na altura Zhang Xiaoming citado pelo South China Morning Post. Pedro Arede
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Aumento do número de casos da doença respiratória não identificada levou o Governo a elevar o alerta de emergência para o nível 3, considerado “Grave”. Dos cinco casos suspeitos em Macau, apenas um continua em observação
PNEUMONIA EM WUHAN NÍVEL DE ALERTA DE EMERGÊNCIA SOBE PARA “GRAVE”
EPOIS de garantirem estar preparados “para responder às diversas doenças infecciosas” que surgiram no seguimento do número de casos de pneumonia viral de origem desconhecida em Wuhan, capital da província de Hubei no centro da China, ter subido de 27 para 44 em poucos dias, os Serviços de Saúde (SS) decidiram elevar ontem o alerta de emergência para o nível 3, considerado “Grave”. Este é um grau de risco médio numa escala com 5 patamares. Segundo as autoridades, o aumento do nível de alerta visa apenas agilizar a coordenação entre serviços. Segundo o Director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, o nível de alerta foi elevado na sequência de uma reunião promovida ontem pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, onde foi activado o mecanismo de operação interdepartamental. Segundo o responsável, o mecanismo permite o reforço das acções de prevenção e coordenação entre vários serviços públicos, como a Saúde, Educação, Turismo, Acção Social, Instituto deAssuntos Municipais, polícia, bombeiros e alfândegas.
Lei Chin Ion, Director dos Serviços de Saúde “Desde o dia 31 de Dezembro que estamos muito atentos à situação em Macau pois, por existir muita população para um espaço tão pequeno, a transmissão de casos pode vir a ter um impacto muito grande.”
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A doença mistério
relação com o mercado grossista da cidade, capital da província de Hubei, onde residem 11 milhões de pessoas. Em Hong Kong as autoridades de saúde deram também ontem conta da existência de mais seis casos suspeitos, sendo já 14 no total. Segundo informações da TDM - Rádio Macau também Taiwan anunciou estar a investigar a existência de casos relacionados com a doença, enquanto Singapura anunciou ter detectado o primeiro caso suspeito na região.
SULU SOU PREOCUPADO
“Desde o dia 31 de Dezembro que estamos muito atentos à situação em Macau pois, por existir muita população para um espaço tão pequeno, a transmissão de casos pode vir a ter um impacto muito grande. Por isso é necessário reforçar a prevenção e solicitámos isso mesmo a todos os serviços competentes. A elevação do nível de alerta é apenas para aumentar o grau de colaboração entre os serviços”, esclareceu Lei Chin Ion. Apesar de não existir nenhum caso confirmado da doença em Macau até à data, uma mulher de 44 anos foi ontem colocada em isolamento por ter febre. A medida, asseguraram os SS, é apenas de precaução, uma vez que os exames entretanto realizados confirmarem que a paciente não tem pneumonia, um dos sintomas determinantes para o rastreio dos casos. Até agora, as autoridades de saúde de Macau registaram cinco casos provenientes de Wuhan em que houve febre. Dos cinco, quatro eram residentes e já tiveram alta. As autoridades de saúde de Macau sublinharam
também que, pelo facto de a causa da doença ser ainda desconhecida, “mantêm contacto próximo com a Comissão Nacional de Saúde da China” e asseguraram a existência de stock suficiente de medicamentos, equipamentos, instalações e número de camas na região. Depois de no primeiro dia do ano as autoridades de saúde terem começado a realizar inspecções no Aeroporto Internacional de Macau e nos postos fronteiriços, a vigilância permanente tem sido o foco principal dos SS, motivo pelo qual, na passada quinta-feira foram reforçadas também, com o apoio de pessoal do Corpo de Polícia de Segurança Pública, medidas de quarentena de saúde em to-
dos os portos fronteiriços por via terrestre, nomeadamente, controlos de temperatura, a partir da madrugada do dia quatro, a todos os condutores e turistas. Segundo revelaram as autoridades de saúde, também os casinos vão passar a controlar a temperatura dos visitantes e dos funcionários em todas as entradas das suas instalações, acrescentando ainda que, caso sejam identificadas pessoas com febre, estas devem ser inquiridas para saber se estiveram na província de Wuhan nos 14 dias anteriores à manifestação dos sintomas.
VIGILÂNCIA ALARGADA
Dos 44 casos registados em Wuhan, de acordo com um comunicado da Comissão
Municipal de Saúde de Wuhan citado pela agência Lusa, 11 pessoas encontram-se em estado grave, sendo que todos os doentes foram colocados sob quarentena e, no total, são seguidas de perto 121 pessoas que estiveram em contacto próximo com os afectados. Todas as análises deram negativo para gripe, gripe aviária, infeções por adenovírus “e outras doenças respiratórias comuns”, não se confirmando também o contágio entre pessoas, indicou o mesmo comunicado. As autoridades chinesas continuam a procurar identificar o agente da doença, embora as primeiras investigações apontem apenas no sentido de existir uma
Acusando o Governo de não ser proactivo perante uma situação que considera “extraordinária”, o deputado Sulu Sou mostrou-se preocupado numa interpelação escrita enviada ao Executivo, onde pergunta se as autoridades consideram enviar pessoal a Wuhan para investigar a situação epidemiológica em primeira mão, numa altura em que considera que “a China continental não revelou ainda os resultados dos testes realizados”. Apesar de um dos pontos da interpelação do deputado sobre trabalhadores dos casinos ter ficado esclarecido após a conferência de imprensa realizada ontem, Sulu Sou questiona ainda o Governo se irá implementar medidas de prevenção dirigidas especificamente aos trabalhadores da área da saúde. Com o aproximar da época festiva do Ano Novo Chinês, Sulu Sou espera também que o Governo tome medidas urgentes para acautelar o maior fluxo de turistas vindos da China continental na altura das celebrações. Pedro Arede com LUSA info@hojemacau.com.mo
Sismo Abalo de 3,5 graus de magnitude sentido próximo de Macau O Centro de Vigilância Sísmica dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos informaram, de acordo com a TDM – Rádio Macau, que ocorreu ontem perto das 7 horas um sismo de 3,5 graus de magnitude na escala de Richter. O epicentro
do abalo foi localizado a 31 quilómetros a sudeste de Macau, em águas do distrito de Xiang Zhou da cidade de Zhuhai. Em Hong Kong também foi reportado ontem a ocorrência um sismo de 3,4 graus de magnitude. Segundo
informações da RTHK citadas pela mesma fonte, foram recebidas mais de 1.200 notificações de residentes que reportaram ter sentido a terra tremer durante alguns segundos. Não houve feridos nem danos a registar.
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Um novo dia Apostas de massas ultrapassaram jogo VIP em 2019 pela primeira vez
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secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, disse ontem que, em 2019, as receitas do mercado de massas ultrapassaram, pela primeira vez, os ganhos obtidos com o segmento VIP. De acordo com a TDM Rádio Macau, os dados avançados pelo secretário mostram que as apostas de massas representaram 53,7 por cento das receitas brutas, enquanto que o segmento VIP representou apenas 46,3 por cento, com uma quebra de 18,5 por cento. Também citado pelo portal informativo GGRASIA, Lei Wai Nong falou de um “desenvolvimento estável” do mercado de massas como uma “base importante” para a sustentabilidade da indústria do jogo. Para o secretário, que tomou posse no passado dia 20 de Dezembro, o mercado de jogo de Macau pode responder de forma positiva ao surgimento de outros casinos em vários países asiáticos. Lei Wai Nog lembrou também que PUB
o sector do emprego é “estável”, uma vez que existe pleno emprego na economia, e que se regista um “crescimento estável” em termos de números de visitantes. No entanto, o secretário prefere manter uma postura optimista, mas cautelosa tendo em conta as previsões económicas para este ano, mas considerando a abertura de novos resorts.
DESDE 2014
Ouvido pela TDM Rádio Macau, o economista Albano Martins declarou que estes números apenas representam uma tendência que já se vinha sentido no sector do jogo desde 2014. “Não surpreende nada, porque o Governo chinês avançou seriamente no sentido de reduzir o segmento VIP. A política foi definida e Macau concretizou. Foi um fiel seguidor dessa orientação”. Antes de 2014, o segmento das apostas VIP era o mais importante do sector, a representar 60 a 70 por cento das receitas, mas depois houve uma mudança de paradigma.
Para Albano Martins, a predominância do mercado de massas pode manter-se, mas alerta para uma “incongruência” que pode fazer com que Macau chegue a 2049 sem jogo. Está em causa, para o economista, as restrições definidas em
2013, ainda com Francis Tam como secretário para a Economia e Finanças, de que o aumento anual de mesas de jogo não deveria ir além dos três por cento. “Se o mercado é de massas e há mais gente a ir jogar e menos grandes jogadores então por que
é que se limita o crescimento das mesas a 3 por cento? Mais massas pressupõe mais mesas – essa é a regra. Na prática, o que se quer é, no final da integração, acabar com o jogo, porque o jogo não é irmão muito bem aceite pela República Popular da China”, defendeu.
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ACÇÃO SOCIAL CARITAS PORTUGUESA EM MACAU COM COLABORAÇÕES NA MANGA
Acidente Um morto e dois feridos na Ponte da Amizade
Um acidente rodoviário que aconteceu ontem na Ponte da Amizade, no sentido Taipa-Macau, provocou um morto e dois feridos. Segundo informações divulgadas pela TDM – Rádio Macau, o acidente envolveu um veículo pesado e outro ligeiro, sendo a vítima mortal um trabalhador não residente que ia ao volante da carrinha de mercadorias. Segundo a mesma fonte, a PSP afirma existirem testemunhas que deram conta que o acidente aconteceu depois de a carrinha de transporte de mercadorias ter avariado no meio do tabuleiro da ponte. Segundo a mesma fonte, perante o problema mecânico, condutor e passageiros terão saído do veículo para o tentar empurrar, acabando, no entanto, o condutor por ser colhido por outro veículo.
Trânsito Número de obras viárias semelhante a 2019
O Grupo de Coordenação de Obras Viárias, constituído por representantes de vários serviços públicos, anunciou esta sexta-feira a realização de um total de 301 projectos de obras viárias para este ano, mais três face a 2019. De acordo com um comunicado oficial, “destas obras, 55 são de grande dimensão e têm a ver com as artérias principais”, ocorrendo menos dois projectos deste tipo este ano. O grupo apontou que “embora número de obras deste ano seja semelhante ao do ano passado, prevê-se que constituirá uma certa pressão para o trânsito”, prometendo continuar a coordenação dos trabalhos. A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) efectuou cerca de três mil inspecções o ano passado, “incluindo inspecção conjunta com os donos de obras e os respectivos serviços públicos, no sentido de verificar se as medidas provisórias de trânsito correspondem ou não aos padrões”.
IPM Presidente destaca evolução do ensino nos últimos anos
Marcus Im, presidente do Instituto Politécnico de Macau (IPM), disse no Dia Aberto da instituição de ensino que o IPM tem vindo a melhorar a qualidade da oferta educativae que “tanto licenciatura quanto mestrado, são indestrinçáveis das necessidades do desenvolvimento da sociedade de Macau”. O mesmo comunicado dá conta que, nos últimos anos, o IPM formou quase 20 mil pessoas, tendo obtido ainda “muitos êxitos da área de investigação científica”. O Dia Aberto no IPM registou a participação de quase dois mil alunos do ensino secundário, estando actualmente abertas candidaturas para o ano lectivo de 2020/2021.
O segundo encontro
Eugénio Fonseca, presidente da Caritas Portuguesa, inicia amanhã uma visita de vários dias ao território para discutir eventuais colaborações com a entidade congénere de Macau, liderada por Paul Pun. Estão também agendados encontros no Consulado-geral de Portugal em Macau e com Florinda Chan, ex-secretária para a Administração e Justiça
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EPOIS da visita a Portugal do secretário-geral da Caritas Macau, Paul Pun, é a altura de a Caritas Portuguesa visitar o território. Inicia-se amanhã a visita oficial desta entidade, presidida por Eugénio Fonseca, cuja agenda inclui vários encontros com entidades e personalidades do território ligadas à acção social. Paul Pun decidiu não tecer comentários ao HM antes da visita, por preferir que a Caritas Portuguesa conheça primeiro o trabalho social que é desenvolvido em Macau.
A agenda de amanhã consiste numa visita a vários centros da Caritas Macau, como é o caso do centro de serviços de fornecimento temporário de alimentos, o centro de apoio aos carenciados trabalhadores não residentes e ao centro de serviços integrados de apoio a família - fonte de alegria de energia. Para quarta-feira está marcada uma reunião no Consulado-geral de Portugal em Macau com o cônsul Paulo Cunha Alves, seguindo-se uma reunião com a Caritas Macau para “debater futuras colabora-
ções”, aponta o programa oficial.
REUNIÃO COM FLORINDA
Na agenda de Eugénio Fonseca consta também um encontro, na sede da Caritas Macau, com Florinda Chan, ex-secretária para
a Administração e Justiça. Na sexta-feira está marcada uma visita às mulheres reclusas do Estabelecimento Prisional de Coloane, sem esquecer um encontro com Fátima dos Santos Ferreira, da Associação de Reabilitação Fuhong, que
Na agenda de Eugénio Fonseca consta também um encontro com Florinda Chan, ex-secretária para a Administração e Justiça. Na sexta-feira está marcada uma visita às mulheres reclusas do Estabelecimento Prisional de Coloane
trabalha com portadores de deficiência. Em Outubro do ano passado, na sequência da visita de Paul Pun, foi assinado um acordo entre a Cáritas de Macau e a Cáritas Portuguesa, que visa a “colaboração em actividades de ajuda humanitária e de causas humanitárias”, bem como a “exploração de oportunidades de colaboração no trabalho para a protecção dos direitos dos refugiados, pessoas deslocadas e migrantes e tráfico de seres humanos”, explica um comunicado oficial. O mesmo documento dá conta que este protocolo abrange a “colaboração em iniciativas para promover as orientações estratégicas da Caritas Internationalis na construção de uma sociedade inclusiva e equitativa de modo a proteger a dignidade humana”. Outro dos propósitos é a aproximação e o apoio aos países lusófonos, nomeadamente, através da participação da Cáritas de Macau, como observador, no Fórum das Cáritas Lusófonas e a colaboração em projectos de cooperação para o desenvolvimento nos países lusófonos, através da rede Cáritas. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
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Por mares já CIRCUM-NAVEGAÇÃO JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO PARTICIPA NA EXPEDIÇÃO DO NAVIO SAGRES
Joaquim Magalhães de Castro, jornalista freelancer, fotógrafo e autor com ligações a Macau, irá participar na expedição que a tripulação do navio Sagres iniciou ontem para celebrar os 500 anos da viagem de circum-navegação comandada por Fernão de Magalhães. A viagem termina em Julho, no Japão
O
navio Sagres vai realizar a sua quarta e mais longa viagem de circum-navegação. Deve atracar em Tóquio a 18 de Julho, onde será “a casa de Portugal” durante os Jogos Olímpicos 2020. A missão está enquadrada no programa das comemorações do V Centenário da Circum-Navegação do navegador português Fernão de Magalhães, que arrancou ontem após a cerimónia de largada, que contou com a presença do Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa entregou à tripulação a bandeira que os atletas portugueses irão utilizar nos Jogos Olímpicos de Tóquio, onde o navio atracará em 18 de Julho. Joaquim Magalhães de Castro, jornalista freelancer, autor e fotógrafo irá participar na expedição, mas embarcará apenas em algumas tiradas, embarcando em Moçambique. Neste momento, o autor encontra-se na Indonésia, não tendo sido possível, até ao fecho da edição, estabelecer contacto. De acordo com a agência Lusa, os afazeres foram muitos até à preparação da viagem, com constantes sons de martelos e berbequins, a par com ensaios de discursos e revisões de procedimentos. O comandante do navio Sagres, Maurício Camilo, não
Joaquim Magalhães de Castro
escondeu a ansiedade destes dias que antecederam uma viagem que pretende fazer num ano o que o navegador português fez em três, há cinco séculos, e que percorrerá 41.258 milhas náuticas em 6.782 horas de navegação. “Estamos num frenesim na preparação do navio, no abastecimento do navio e, ao mesmo tempo, a tentar deixar
as nossas vidas em terra o mais organizadas possível. Juntando tudo é um frenesim terrível até à largada”, disse o comandante à Lusa, na sexta-feira.
DESAFIOS DA VIAGEM
Para Maurício Camilo, o principal desafio da missão é “a própria dimensão da viagem que vai demorar um
Há cerca de um mês que os armazéns começaram a encher-se de secos, como arroz, massa, enlatados. Seguiram-se os congelados – cerca de 12 mil quilos de carne e peixe. Ovos, verdes e fruta também estão assegurados, pelo menos até à próxima paragem em terra
ano e seis dias, 41 mil milhas, e que vai exigir das pessoas e ao navio algum esforço e, em determinadas alturas, bastante esforço”. O comandante elege como ponto alto desta missão a presença em Tóquio durante os Jogos Olímpicos, como Casa de Portugal, e a comemoração dos 500 anos da entrada da esquadra de Magalhães no Estreito de Magalhães, em 20 de Outubro. Esta será, de resto, a tirada mais complicada, não só porque é muito longa (32 dias), das maiores que o Sagres já navegou, mas também porque é feita “numa área em que as condições meteorológicas normalmente não são muito favoráveis”. Este deverá ser “o maior desafio em termos de meteorologia”,
até porque é esperado mau tempo, adiantou. Ao leme do navio estará a tenente Diana Azevedo,
29 anos e na Marinha desde 2008, que à Lusa sublinhou a particularidade do navio Sagres: “Além da navegação
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á navegados navio vai atracar ajudam a matar as saudades.
PRÓXIMA PARAGEM: ESPANHA
a motor, temos a componente vélica que nos caracteriza na navegação, nomeadamente oceânica”.
Se, em termos logísticos, o maior desafio passa por preparar o navio, em termos humanos, o repto é manter o
espírito de coesão a bordo. “Em termos de convivência, o mais importante é manter uma coesão, um espírito a
bordo. Isso ajuda bastante”, disse, sublinhando que as comunicações disponíveis a bordo e nos portos onde o
O navio fará a primeira paragem esta sexta-feira, em Tenerife, Espanha. Para Diana Azevedo, este será sem dúvida o seu maior desafio profissional. “Como chefe de serviço de navegação, é um grande desafio. Vou aprender muito na minha área – meteorologia. Vai ser uma experiência totalmente diferente do que estávamos habituados, principalmente pela duração da missão”, explicou. À volta com as compras anda o primeiro sargento Vítor Rafael, despenseiro no navio Sagres e que tenta assegurar que nada falte na mesa dos 144 tripulantes. Há cerca de um mês que os armazéns começaram a encher-se de secos, como arroz, massa, enlatados. Seguiram-se os congelados – cerca de 12 mil quilos de carne e peixe. Ovos, verdes e fruta também estão assegurados, pelo menos até à próxima paragem em terra. De acordo com Vítor Rafael, para esta missão foram adquiridas duas toneladas de bacalhau, 3.000 quilos de batatas e 1.000 quilos de cebolas, além de 360 ovos, água, charcutaria, entre outros produtos alimentares, que deverão ser repostos durante as paragens nos 22 portos de 19 países que a viagem contempla.
Miguel Vítor, 25 anos, segundo marinheiro e operador de comunicações, tem consciência que esta é uma viagem histórica e foi por isso que se voluntariou. Acredita que estes últimos dias antes da largada são “os mais complicados”, não só ao nível do trabalho, como a nível pessoal, que “é ainda pior”. “Vai ser um desafio trabalhar com vários tipos de equipamentos e de frequências, mas o importante é que a mensagem chegue a bom porto”, apontou, em relação à sua área profissional. Para Miguel Vítor, a grande vantagem do navio Sagres, em termos de comunicações, é o satélite que transporta e que, em caso de emergência ou para uma comunicação mais rápida, pode ser utilizado para contactar seja com quem for e para que nível for. E nem as saudades que diz serem complicadas de gerir refreiam o entusiasmo deste navegador. “É para isto que um marinheiro português é feito: para estar no mar e conhecer o mundo”, atirou. A primeira viagem do navio Sagres com a bandeira portuguesa realizou-se em 25 de Abril de 1962. Já realizou três viagens de circum-navegação em 1978/79, 1983/84 e 2010, mas nenhuma tão longa como a que começou ontem. A.S.S. com Lusa
CINEMA EXTENSÃO A MACAU DO FESTIVAL DOCLISBOA ARRANCA AMANHÃ
O
filme "Macau 20 anos", de Carlos Fraga, abre amanhã a sétima edição da extensão a Macau do DocLisboa, uma iniciativa organizada pelo Instituto Português do Oriente (IPOR), foi ontem anunciado. Até 11 de Janeiro vão ser exibidas nove obras de realizadores portugueses, apresentadas no 16.ª edição do Festival Internacional de Cinema DocLisboa 2018, indicou em comunicado o IPOR. Além destas nove obras de cinema documental, serão também
apresentadas duas produções locais, "uma no âmbito da colaboração com a Creative Macau e uma outra sobre os 20 anos de Macau após a transição" da administração do território de Portugal para a China, em 20 de Dezembro de 1999, referiu. Os filmes de Amaranta Cesar, André Guimar, Leonor Teles, Gonçalo Magalhães, Carlos Miranda, Manuel Botelho, Melanie Pereira, Mariana Santana, e da realizadora de Macau Lam Kin-Kuan, vencedora dos prémios Melhor Realizador, Melhor Filme
Local e Melhor filme da competição Identidade Cultural de Macau do Sound & Image Chalenge de 2018, vão marcar esta edição que pretende colocar "em diálogo expressões artísticas oriundas" de Portugal e Macau. Laura Marques, realizadora de "Vacas e Rainhas", distinguido com uma menção honrosa do júri da competição portuguesa do Doc Lisboa e com o prémio da Fundação INATEL para melhor filme de temática associada a práticas e tradições culturais e ao património imaterial da humanidade,
vai estar em Macau para uma conversa com o público, após a exibição do filme, adiantou o IPOR. A mostra termina, no sábado, com "Vádio", de Stefan Lechner, vencedor do Prémio do Jornal Público para Melhor Filme Português da edição do Doclisboa'18. As sessões, com entrada livre, têm início às 19h, no auditório Dr. Stanley Ho, do Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong. No sábado, dia 11, são feitas duas sessões, com início às 17h e às 19h.
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segunda-feira 6.1.2020
HONG KONG DEZENAS DE DETIDOS EM PROTESTO CONTRA COMERCIANTES CHINESES
Outra guerra comercial Milhares de pessoas de Hong Kong voltaram ontem às ruas da cidade para protestar contra os comerciantes da China continental perto da fronteira, uma acção que terminou com dezenas de detidos pela polícia
E
MBORA o protesto tenha começado pacificamente, ao final da tarde alguns manifestantes saíram da rota combinada e lançaram coquetéis molotov contra os agentes, o que os levou a retaliar com gás lacrimogéneo.Aintervenção terminou com dezenas de detidos, noticiou a imprensa local. Os manifestantes reuniram-se em Sheung Shui, a apenas alguns minutos de carro da fronteira chinesa, onde os moradores locais se queixam há anos dos transtornos causados pelos comerciantes da China continental que compram ali produtos para revender. A prática, conhecida como "comércio paralelo", permite que os comerciantes lucrem com as diferenças de preços entre a China continental e Hong Kong, que, ao contrário da China continental, não cobra impostos sobre bens e serviços. Como consequência, os moradores locais ficaram em pior situação, já que o distrito foi inundado por esse comércio e muitas lojas antigas fecharam, sendo substituídas por farmácias e lojas de cosméticos que atendem os comerciantes. O protesto passou pelas principais ruas do distrito, onde os manifestantes entoaram slogans contra os compradores, que durante a última década têm cruzado a fronteira para recolher itens do dia-a-dia, de leite em pó para bebés até
cosméticos e bombons de chocolate, revendendo-os na China. "Devemos dizer a estes comerciantes que esta é a nossa casa", disse um morador ao jornal South China Morning Post.
ANTES DA FESTA
Os manifestantes instaram o Governo a limitar o número
de turistas chineses que visitam a cidade para evitar o custo dos produtos vendidos no distrito, especialmente antes do Festival da Primavera ou do Ano Novo Chinês, que este ano se assinala em 25 de janeiro. O conselheiro distrital pró-democrático Chan Yuk-ming,
Os moradores locais ficaram em pior situação, já que o distrito foi inundado por esse comércio e muitas lojas antigas fecharam, sendo substituídas por farmácias e lojas de cosméticos que atendem os comerciantes chineses
um dos organizadores dos protestos de ontem, disse ao mesmo jornal que os moradores locais foram forçados a sair às ruas porque o Governo não está a tomar medidas para resolver o problema. "Deveria ser sua responsabilidade regular os comerciantes, mas todo o peso recai sobre nós", disse Chan. Os meses de protestos colocaram a economia de Hong Kong em recessão pela primeira vez em uma década, depois de se contrair 2,9 por cento no terceiro trimestre, afectada pelas quedas das importações e exportações, das vendas a retalho e pelos números decrescentes do turismo.
O homem que se segue
Pequim nomeia novo representante para resolver crise de Hong Kong
O
Governo da China anunciou ontem a substituição do seu representante em Hong Kong, numa decisão que parece ilustrar a vontade de Pequim em resolver o conflito com manifestantes pró-democracia que se arrasta há vários meses. Wang Zhimin, de 62 anos, foi destituído do cargo de director do Gabinete de Ligação para os assuntos de Hong Kong, sendo substituído por Luo Huining, de 65 anos, informou ontem o Governo chinês, num comunicado emitido pela televisão pública CCTV. Por sua vez, a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong explicou que Zhimin foi destituído por “julgar erroneamente a situação de Hong Kong”. A mudança na liderança do Gabinete acontece dois meses depois de o Comité Central do Partido Comunista Chinês ter pedido medidas para “garantir a segurança nacional” em Hong Kong. Wang Zhimin tornou-se, assim, no primeiro funcionário governamental a perder o emprego, depois de sete meses de protestos, sendo substituído por um oficial sénior do Partido Comunista, Luo Huining com um currículo que inclui a resolução de problemas difíceis em várias regiões da China. No final de Dezembro, Luo Huining foi promovido a vice-presidente do Comité de Assuntos Financeiros e Económicos do parlamento chinês, após a sua saída como representante do Governo na província de Shanxi (no centro da China). Antes, Luo foi responsável pela ligação do Governo Central com algumas das regiões mais desfavorecidas, sobretudo no interior do país, o que lhe valeu um currículo que tem sido elogiado pelo Partido Comunista Chinês.
O QUE DIZ CARRIE
A Chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, reagiu à nomeação, num comunicado em que diz não ter dúvidas de que o novo representante do Governo chinês promoverá “a integração da região no desenvolvimento geral do país” e será capaz de estabelecer uma relação positiva entre o continente e Hong Kong. Carrie Lam também agradeceu a Wang Zhimin pelo “apoio inabalável” que deu durante estes meses de crise do território autónomo, atormentado desde Junho por actos de violência sem precedentes.
Região Indonésia Número de mortos em inundações sobe para 60 As autoridades indonésias elevaram ontem para 60 o número de mortos na sequência das inundações que atingiram a área metropolitana de Jacarta e o oeste da ilha de Java, onde dezenas de milhares de pessoas continuam desalojadas. De acordo com a Agência Nacional de Gestão de Desastres, há ainda duas pessoas desaparecidas. Mais de 90 mil pessoas continuam em abrigos temporários na área metropolitana de Jacarta, onde vivem 30 milhões de pessoas, indicou a agência,
no mais recente comunicado. Muitas das vítimas morreram na sequência de deslizamentos de terra causados pelas intensas chuvas dos últimos dias, que levaram ao transbordo de vários rios que atravessam a capital. A agência meteorológica BMKG alertou que na próxima semana são esperadas chuvas fortes em várias zonas do país, incluindo Jacarta. Inundações e deslizamentos de terra afectam a Indonésia todos os anos durante a estação chuvosa, entre Dezembro e Fevereiro.
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Fossem meus os tecidos bordados dos céus
O Padre Attiret, hóspede do Imperador Qianlong Paulo Maia e Carmo texto e ilustração
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IUSEPPE Castiglione (1688-1766) é o exemplo mais conhecido de entre os padres jesuítas pintores que foram aceites e puderam viver na corte do imperador da China numa situação de ambiguidade que não diluía as convicções das partes no encontro. Mas que por vezes se deixavam tocar. Se da parte dos anfitriões, nesse meado do século dezoito, se podiam notar discretas influências da pintura e das gravuras europeias, como por exemplo na obra de Qian Feng (1740-1795) a maneira de modelar as formas pelo artifício das sombras, do lado dos hóspedes da Cidade Proibida foi notável o caso de um padre jesuíta Francês que chegou à capital quando Castiglione já se encontrava em Pequim há cerca de vinte anos. Jean-Denis Attiret (1702-1768) mostrou uma disponibilidade que está presente numa carta que escreveu de Pequim, datada de 1 de Novembro de 1743, dirigida a M. d’Assaut, onde reconhece a riqueza da dimensão e da proporção do lugar onde se encontra: «O palácio do imperador em Pequim é pelo menos tão grande como Dijon (nomeio esta cidade porque a conheceis). Ele consiste em geral numa grande quantidade de estruturas de alojamento, separadas umas das outras mas numa bela simetria, e separados por vastos corredores, jardins e canteiros. As fachadas de todos estes corpos de edifícios brilham pelos dourados, os vernizes e as pinturas. O seu interior está guarnecido e mobilado com tudo o que a China, as Ín-
dias e a Europa possuem de mais belo e mais precioso.» Uma outra beleza, em cujo apreço porventura coincidiu com o seu anfitrião, estaria na origem da sua mais conhecida pintura. Ulanara (1718-1766) foi o nome porque ficaria conhecida a segunda esposa do imperador Qianlong, na verdade o nome do clã de que era originária. O retrato frontal, numa técnica hibrida, que dela fez Attiret em óleo sobre papel e que se encontra no Musée des Beaux-Arts da sua cidade natal de Dole, em França, permanece uma fonte de fascinação e mistério, associado também à própria retratada que teria caído em desgraça, segundo algumas fontes por ter cortado o cabelo, desrespeitando formas rituais. Mas o pintor, que aprendera a arte com seu próprio pai e a que dariam o nome chinês de Wang Zhicheng, que se pode traduzir como «Príncipe dedicado à sinceridade», faria muitos outros retratos, cerca de duzentos segundo o padre Amiot, seu primeiro biógrafo. Também copiaria pinturas chinesas que, enviadas para Paris, seriam reproduzidas em gravuras e revelariam à Europa uma arte diferente. Quando se apresentou na corte pela primeira vez, porém, a pintura que mostrou ao imperador foi uma «Adoração dos Magos» que terá agradado ao imperador. Seria interessante saber como Qianlong entendeu, não entendendo, que aqueles poderosos soberanos representados na pintura na sua riqueza estavam prestando homenagem a uma criança pobre.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 13
segunda-feira 6.1.2020
Anabela Canas
E
SSE curioso e imparável tecer subliminar. Que não se resume a arrumar colecções em gavetas distintas. No contínuo ofício da memoria, se transcende o objecto da vontade, que na sua resignação própria, se sabe dever ser humilde e aceitar o que que dali nasce. E o que morre e o que se transforma no laborioso elaborar. Um fio subterrâneo de água invisível aos olhos, mas que nunca deixa o seu correr no sentido da nascente. Aquele momento em que se lembra, em que se esquece, ou em que se lembra que se esqueceu. Ou se lembra de uma outra forma. Ou se vê como uma desvanecida poalha de realidade o que foi forte e nítido e se lembra a curiosa dor de uma dor sem sentir. Ou se sente com toda a violência um baque como o de outro momento somente de lembrar. Com erro de paralaxe. Que o retorno da memória não pode deixar de ter. Viajamos todos os dias para pontos diferentes de nós. Mesmo que subtilmente. Somos o observador observado. Mas, espectadores, ao mudar de posição retemos do observado uma localização diferente. Sempre em erro, porque não há uma medida universal para o ponto certo do que somos e onde nos situamos ao revisitar a memória. Estamos em trânsito. Amanhã, logo se vê. Os anos vão passando por nós, nós neles, não se sabe de quando, para quando ou onde. Que rio, este. A Física explica tanto e no entanto não oferece o sentido. Porque é a paralaxe impossível à alma como ângulo rigoroso, mesmo momentâneo e pontual, e porque não é a memória matéria de rigor? E nem toda a matéria é diáfana ao ponto de o que vemos ser, ser exactamente o que é. E os raios dessa luz que nos chega da memória, refractados, a elaborar as imagens fílmicas do que vivemos, e sempre quebradas de uma alteração da forma. Como através de um líquido. Talvez não seja, a memória, um tecido sólido e subaquático. Mas em si, um filtro líquido. Ser uma espécie de multidão, com aquela característica de uma multidão em que ninguém conhece nenhum dos outros, até onde a vista alcança. E onde, mesmo se lá bem no meio houver gente conhecida, não se sabe que ali está. Ou uma multidão de conhecidos não íntimos, sem vidas cruzadas, sem síntese e sem compromissos. O que seríamos sem essa rede da memória a estruturar cada um que fomos no dia anterior ou no que o antecedeu. E assim até ao fim dos tempos que vivermos. Como uma manta tecida de todas as matérias que fomos sendo. Os dias em que estivemos e as noites que esquecemos, todos os lugares que fomos e os minutos que falhamos, todas as portas fechadas e todas as feridas abertas. Ou então, o contrário. Obra. Memória é tempo. É o tempo moldado como por arte de um ofício,
O ofício da memória ANABELA CANAS
Cartografias
com toques de genialidade ou profundos defeitos. Ambas as coisas, talvez. O tempo reelaborado, vivido e organizado. Ou desarrumado. Se a perdêssemos, o alívio que seria. A leveza do eterno presente. A vulnerabilidade. E cada informação, cada notícia que nos tomasse de súbito, que dano voltaria a fazer, sem essa rede de construção que vai progressivamente amenizando mesmo as dores que perduram, e amortece cada retorno. Toda a dor, uma pujança intacta acabada de nascer. De novo cada amor e cada luto, o primeiro impacto de uma grande emoção, a mesma desilusão de uma desilusão, o mesmo golpe de uma palavra cortante. O mesmo susto. A mesma pessoa que fomos. Dessa multidão, de que na memória se faz síntese. Às vezes, as palavras saem-me deixando um golpe doloroso desde lá do fundo e por onde me passam. (E são feitas de quê?). E deixam-me sem fôlego para outras por mais que doces. Pro-
duzem rasgos no tecido. Um xaile de lã macia delicada e protectora. Às vezes frágil. Às vezes uma rede do cabelo, às vezes uma de circo. A aparar o erro do trapezista nas acrobacias do sentir. E a queda, mesmo rápida e semelhante, pára naquele ponto suportada pela rede. Que não deixa cair até ao fim. Como um efeito lateral da memória, a quantificar e a comparar nesse confronto da queda, dados, como duas equipas num jogo. Solteiros contra casados, aquele clássico de domingos, no terreiro da vila. Quem ganha? O passado ou o presente? Estabilidade ou expectativa, maturidade ou juventude. Fica-se para saber ou por saber. Que bom, afinal, sermos tocados de mortalidade desde que nos lembramos. E mesmo antes. Já os genes a zelar por esse saber-nos mortais e pela sobrevivência. Se não fôssemos mortais. Seríamos mais insuportáveis. E mais sós. Assim, não há tempo para tudo. Lá vamos dei-
tando fora algum lastro. Não se pode ter melhor amigo do que o tempo que tudo leva. Ou maior inimigo, porque o tempo tudo demonstra ter traído. Claro e transparente no seu lugar próprio – contudo - nem antes nem depois. Tenho visita assídua da memória. Talvez porque gosto de tecidos, de malhas, de estruturas celulares. Mas às vezes o que me apetece é dormir e esquecer. Quero tanto esquecer e tanto. Todas as noites eu custo a ir para a cama como quem não quer morrer. Talvez seja o temor de me esquecer – sei lá - a mim. Somos tão dados ao vazio. Mas não é a memória repleta de ausência e passado, o que melhor o preenche. Somente uma rede de suporte. De baloiço melancólico. Ou de apanhar borboletas. Só o labor do momento. O sim. O agora. Que esse, se não preenche uma parte densa de vazio, é como se não se existisse.
14 (f)utilidades
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FRACA
O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente
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EXHIBITION”
EXPOSIÇÃO “MACAU CANIDROME-POUCHING TSAI SOLO EXHIBITION” Armazém do Boi | Até 11/2
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EXPOSIÇÃO “NO YA ARK: INVISIBLE VOYAGE”
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FÚRIA
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RICHARD JEWELL [C]
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Um filme de: Clint Eastwood Com: Sam Rockwell, Kathy Bates, Jon Hamm, Olivia Wilde 14.15, 16.45, 19.05, 21.30 SALA 2
ASHFALL [B]
FALADO EM COREANO LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS
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Armazém do Boi | Até 16/2
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M 5 A 4 6 1 7 3 2
5 2 4 6 1 3 7 6 4 1 RICHARD JEWELL 2 5 7 3
Um filme de: Lee Hac-Jun, Kim Byung-Seo Com: Lee Byung-Hun, Ha Jung-Woo, Ma Dong-Seok A.K.A. Don Lee 14.30, 16.30, 19.05, 21.30 SALA 3
CATS [A]
Um filme de: Tom Hooper Com: James Corden, Jason Derulo, Taylor Swift 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
8.94
BAHT
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VIDA DE CÃO
EXPOSIÇÃO “GAME – GIGI LEE’S MULTIMEDIA SOLO
Armazém do Boi | Até 2/2
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SOLUÇÃO DO PROBLEMA 32
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32 AI, O IRÃO!
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Na capital iraniana de Teerão, depois das orações de sexta-feira, manifestantes rasgam uma bandeira dos Estados Unidos em condenação pelo assassinato de Qasem Soleimani.
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PROBLEMA 33
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Ai, o Irão. Tudo aflito com Hão Cão mas, afinal, quem está mal é o Irão. Até onde é que irão?, é a pergunta nas mentes e que faz tinir os dentes. E a Rússia, meu deus, e a China, gentil Confúcio, até onde é que eles irão? Dar-se-á uma explosão? Vem aí o apocalipse, pse, pse? Ou talvez não? É perguntar ao Irão, à capital Teerão e, porque não, a Hão Cão? E já agora ao vizinho, ao que chamam Paquistão, cujas armas são das boas e estão ali mesmo à mão. Isto é uma maravilha: nada se passa, tudo se enrodilha. A massa vai p’rá pandilha, a do costume, que das gentes faz curtume. E depois, perguntam os 34bois? E depois nada, a mesma e triste maçada, até me tocar na pele. Aí é dor a granel, ai que queima, ai que se vai o papel. Não era nada comigo, menos com o meu umbigo, esta guerra de alto-ar: américas vermelhuscos, iranianos patuscos, tudo de pernas pr’ó ar. Vem daí, anda brindar, é tempo de alvorecer. Que neste mundo aziago já só nos falta morrer. Então para espairecer que esteja o copo na mão. Bota acima e bota abaixo. Quero lá saber do Irão! Vou mas é para Hão Cão! Carlos Morais José
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S U D O K U
C H U VA
ABEDIN TAHERKENAREH/EPA
TEMPO
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Baseado em factos reais, Dying to Survive é um filme do Interior da China que aborda as dificuldades dos pacientes com leucemia para acederem a medicação a preços acessíveis, no início dos anos 2000.Apesar dos vários condicionalismos nos alvos das críticas e de um final que é puramente propagandístico, a obra de Wen tem muita qualidade e merece ser vista. Além disso, foi responsável pelo relançamento 36debate na China sobre os do preços dos medicamentos e é frequentemente citada quando há problemas com a qualidade dos serviços de saúde no Interior. João Santos Filipe
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DYING TO SURVIVE | WEN MUYE | 2018
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5 2 1 6 4 3 6 7 2 5 4 1 1 7 2 5 6Propriedade 1 Fábrica 7 de Notícias, 3 LdaDirectorCarlos Morais JoséEditoresJoão Luz; José C. MendesRedacçãoAndreia Sofia Silva; In Nam Ng; João Santos Filipe; Juana Ng Cen; Pedro Arede Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo 3M.Tavares; 6João Paulo 5 Cotrim; 4 José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; 7Rasquinho; 3deredacção 2 ePublicidadeMadalenadaSilva(publicidade@hojemacau.com.mo) AssistentedemarketingVincentVongImpressãoTipografiaWelfareMorada Xinhua 4 Secretária Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
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opinião 15
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reencarnações
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ÃO precisa fazer sentido, aliás, apenas funciona sem cabimento, desprovida de razoabilidade. A fé continua a dominar os homens, nas suas instâncias mais primárias, nos recessos da condição humana, substituindo a luz nos recantos mais escuros onde nem um raio de razão brilha. Na ausência de resposta, o crente não se contenta com a digna e edificante ignorância, com o ponto de partida. O conhecimento virá de cima e de forma imediata, a rendição total é o preço a pagar. A ideologia funciona através de mecanismos semelhantes. Fundada em asserções sobre o indivíduo, o grupo social, o mundo e o além, a ideologia é um corpo musculado por doutrinas orientadoras. Tal como a sua mística irmã, a fé, os ideários políticos impõem-se de cima para baixo, numa verticalidade esmagadora da razão e do bom-senso, na aniquilação da máxima de Descartes “penso, logo existo”. Neste domínio, “sigo, logo existo” é a essência do crente e do ideólogo. A subjugação às palavras do líder funda a sua existência. Até o homem mais temperado, sob a influência alucinogénica da ideologia acredita nas mais bárbaras monstruosidades. Precisa delas, precisa do sentimento de pertença a algo maior que si. Precisa da redenção gnóstica dos crentes. Ambas as irmãs (fé e ideologia) actuam perversamente no mais belo e inexplorado enigma que a natureza nos ofereceu: a consciência. Algo que está muito para além da compreensão, que seduz os místicos, que confunde a ciência e que é um empecilho aos líderes espirituais e políticos. Só com fervoroso dogma se pode acreditar nas mais estapafúrdias teorias, um intoxicante tão poderoso ao ponto de mascarar a mais óbvia e assumida propaganda numa verdade inabalável. Hoje não quero sujar as mãos nesse lodaçal que é a política local/regional, mas apenas dirigir-me aos factores entorpecedores da razão que poluem os nossos dias. A polarização política chegou a um ponto tão extremo que as intenções e acções de grupos antagónicos se confundem em alianças magnéticas, como dois imãs esquizofrénicos que se abraçam repudiando-se ao mesmo tempo. Sem nuance de teatralização política, vemos teorias de neonazis que lutam por representação democrática, teses de comunistas que defendem com unhas e dentes cartelizações capitalistas rebentando recordes
O crente ST. STEPHEN, BERNARDO CAVALLINO
JOÃO LUZ
de pequena-burguesia, moderados a salivar por infinitas penas de morte por infrações de trânsito, pacifistas a encher os bolsos nos mercados do armamento pesado, vampiros a limpar o sangue dos queixos enquanto gritam slogans vegans. O mundo virou-se de pantanas e a crença voltou a predominar lançando-nos, outra vez, para uma idade de trevas. Nada de bom pode surgir daqui, apenas ganância desmedida, sangue e morte. Até chegarmos a um novo iluminismo, será feita farinha dos ossos esmagados dos mais pequenos. Nada sobreviverá à
Nada sobreviverá à autofagia deste monstro místico de duas cabeças. Polos sul e norte magnéticos unidos num abraço homicida/suicida. Este é o fruto da era da ultra-ideologia, a atracção entre extremos e a asfixia de tudo o que está no meio
autofagia deste monstro místico de duas cabeças. Polos sul e norte magnéticos unidos num abraço homicida/suicida. Este é o fruto da era da ultra-ideologia, a atracção entre extremos e a asfixia de tudo o que está no meio. A minha postura hoje é de niilista contemplação. Que se esmaguem, “que esta quilha rompa e me engula o oceano”, que ateiem todos os fogos e nos sepultem em mil sarcófagos de estrelas. Sinceramente, não me interessa. Se não posso viver em verdade, viverei feliz em alucinação, livre de amarras, sem dogmas ou crenças a ditar sabedoria suprema ou pertença tribal. Se querem acreditar no que vos dizem, força nisso, fiem-se na supremacia da vossa verdade, na superioridade do dogma que habita debaixo da vossa pele, no mundo bipolar do irmão Karamazov caído em desgraça porque na ausência de Deus tudo é permitido. Vivam nesse sistema binário de 0s e 1s, preto e branco, norte e sul e multipliquem-se na demência de serem 0 e 1 ao mesmo tempo. Por mim, tudo bem. Mas façam-me um favor: poupem-me a evangelizações, projeções absurdas e limpezas encefálicas. Há muito que deixaram de ter piada.
“O futuro está cheio de gritos. O futuro está cheio de revoltas.” Albert Cossery
CAMBOJA PELO MENOS 36 MORTOS EM DESABAMENTO DE PRÉDIO
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ELO menos 36 pessoas morreram na sequência do desabamento, na sexta-feira, de um prédio em construção no sudoeste do Camboja, anunciaram ontem as autoridades locais, que deram por terminadas as buscas por sobreviventes. O desabamento, que ocorreu na tarde de sexta-feira no município de Kep, a cerca de 160 quilómetros da capital, Phnom Penh, provocou ainda pelo menos 23 feridos, de acordo com a agência de notícias Xinhua, que cita autoridades municipais. Todas as vítimas eram trabalhadores de construção civil e familiares. As operações de resgate, ainda em curso, já mobilizaram mais de 1.000 operacionais, refere a agência chinesa. Localizada a cerca de 160 quilómetros a sudoeste de Phnom Penh, a cidade costeira de Kep é um emergente destino turístico e as obras destinavam-se à construção de um hotel. Em declarações aos jornalistas, o primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen, referiu que se trata de “uma nova tragédia” e prometeu às famílias das vítimas uma indemnização de 50.000 dólares por cada pessoa morta e 20.000 dólares para cada ferido. O chefe do Governo referiu ainda que o responsável da obra morreu no desabamento e que o proprietário do imóvel foi detido. As operações de resgate duraram mais de 40 horas e mobilizaram centenas de militares e de operários. No Camboja, o sector da construção está em grande desenvolvimento, nomeadamente de hotéis, arranha-céus e casinos, que são construídos em condições de segurança pouco rigorosas. Associações de defesa dos direitos dos trabalhadores referem que os padrões de segurança pouco elevados aumentam os riscos de acidentes e em muitos casos os locais de construção servem igualmente de habitação aos trabalhadores e suas famílias.
PALAVRA DO DIA
Cheiro a pólvora
O
MNE iraniano alerta Trump sobre novas ameaças feitas ao Irão
ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano alertou o Presidente dos Estados Unidos sobre as novas ameaças que fez ao Irão e o exército iraniano também disse que Donald Trump não se atreverá a atacar o seu país. “Tendo violado gravemente o direito” internacional com os “assassínios covardes” do general iraniano Qassem Soleimani e de um chefe da milícia pró-Irão no Iraque, Trump “ainda ameaça cometer novas violações (…) das normas imperativas do direito internacional”, para cruzar novas “linhas vermelhas”, escreveu o ministro Mohammad Javad Zarif na sua conta na rede social Twitter. Zarif declarou ainda que “atacar locais culturais é um crime de guerra”. Por seu lado, o exército iraniano respondeu ao último desafio de Donald Trump, expressando dúvidas de que os Estados Unidos tenham a "coragem" de atacar o Irão. "Dizem este tipo de coisas para desviar a atenção da opinião mundial sobre o seu acto hediondo e injustificável", disse o major-general Abdolrahim Moussavi, comandante-chefe do exército iraniano, citado pela agência oficial Irna, referindo-se ao assassínio do general Soleimani. Mas "duvido que te-
segunda-feira 6.1.2020
ESPANHA PEDRO SÁNCHEZ FALHA SER INVESTIDO COMO PM NA PRIMEIRA VOTAÇÃO
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nham coragem", acrescentou o militar iraniano.
SEDE DE VINGANÇA
O Presidente norte-americano, Donald Trump, alertou Teerão no sábado que os Estados Unidos identificaram 52 locais no Irão e os atacariam "muito rapidamente e com muita força" se a República Islâmica atingir pessoal ou alvos norte-americanos. Alguns desses locais iranianos "são de alto nível e muito importantes para o Irão e para a cultura iraniana", disse Trump numa mensagem no Twitter. "Os Estados Unidos não querem mais ameaças!", alertou. O Presidente norte-americano disse ainda que o número de 52 lugares corresponde ao número de americanos que foram feitos reféns durante mais
de um ano, no final de 1979, na embaixada dos Estados Unidos em Teerão. Soleimani, comandante da força de elite dos Guardiães da Revolução iranianos, Al-Quds - encarregado das operações fora do Irão e arquitecto da estratégia iraniana no Médio Oriente - foi morto sexta-feira por um ataque aéreo norte-americano no aeroporto internacional de Bagdad, juntamente com outras lideranças iraquianas pró-Irão. A morte de Soleimani, a quem o Irão prometeu vingar, chocou a República Islâmica e levantou temores de outra guerra no Médio Oriente. "Se atacarem novamente, o que eu recomendo fortemente que não o façam, nós os atingiremos com mais força do que nunca!" novamente ameaçou Trump no Twitter.
socialista Pedro Sánchez foi incapaz de recolher ontem no Congresso dos Deputados espanhol (parlamento), numa primeira votação, os apoios necessários para ser reconduzido como primeiro-ministro, apesar de obter 166 votos a favor, 165 contra e 18 abstenções. O candidato do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) precisava, nesta primeira tentativa, de ter conseguido o apoio de metade mais um (maioria absoluta), 176 votos, da totalidade dos 350 deputados espanhóis, para ser confirmado no lugar que ocupa desde Junho de 2018. Pedro Sánchez vai ter uma outra oportunidade para ser investido amanhã, à mesma hora, que tudo indica vai ser bem-sucedida, numa segunda votação em que apenas necessita de ter mais votos a favor do que contra (maioria absoluta). À votação de ontem faltou uma deputada que, em princípio, irá votar a favor da investidura de Pedro Sánchez amanhã. Votaram “sim” à investidura os deputados do PSOE, do Unidas Podemos (extrema-esquerda) e de vários partidos mais pequenos nacionais e regionais, enquanto do lado do “não” esteve o bloco de direita – PP (Partido Popular), Vox (extrema-direita) e Cidadãos (direita liberal) – assim como outras formações de dimensão reduzida e de caráter regional. A sessão de investidura como chefe do Governo do candidato do PSOE começou no sábado e termina amanhã.
CABO VERDE PEDIDAS EXPLICAÇÕES A LISBOA POR MORTE DE ESTUDANTE
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líder do PAICV, maior partido da oposição em Cabo Verde, defendeu ontem que sejam pedidas explicações ao Governo português sobre a “bárbara” morte de um estudante cabo-verdiano após ser agredido em Bragança. Numa mensagem colocada na sua conta oficial na rede social Facebook, a presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV),
Janira Hopffer Almada, afirma que nestes momentos é necessário mostrar que “a vida humana não tem preço”. “Cabo Verde tem embaixada e embaixador em Portugal! Ele já não deveria [ser recebido] pelos ministros da Administração Interna ou da Justiça? Já não deveríamos ter alguém a visitar Bragança e a reunir-se com as autoridades lá, para conhecer o que terá levado
a esse acto bárbaro e tentar evitar que situações dessas se repitam?”, escreveu a líder do PAICV. O embaixador de Cabo Verde em Portugal, Eurico Monteiro, já pediu a clarificação “cabal” das circunstâncias da morte do estudante cabo-verdiano Luís Rodrigues, após ferimentos graves sofridos numa agressão em Bragança, em 21 de dezembro.
No dia 21 de Dezembro passado, o estudante cabo-verdiano do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) Luís Giovani dos Santos Rodrigues terá sido agredido em Bragança. Transportado para o Hospital de Santo António, no Porto, o jovem estudante, de 21 anos, acabou por morrer no dia 31 de Dezembro, segundo o comunicado da Embaixada de Cabo Verde em Lisboa.
Na nota publicada por Janira Hopffer Almada, a líder do PAICV refere que o jovem cabo-verdiano foi agredido em Bragança por 15 pessoas “armadas com cintos de ferro e paus”. “Morreu no dia 31 de Dezembro e até ao momento ninguém foi preso. Foram 15 agressores, de acordo com testemunhas! Será que alguém pagará por tamanha barbaridade?”, questionou a líder da oposição.