Hoje Macau 6 ABR 2016 #3545

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

QUARTA-FEIRA 6 DE ABRIL DE 2016 • ANO XV • Nº 3545 PUB

AUTOCARROS

Articulados vezes três PÁGINA 9

FORCA NA LINGUA

TRIBUNAL

Os papéis do Instituto PÁGINA 8

h

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O cinema na China Longe de casa JULIE O’YANG

JOSÉ DRUMMOND

O plano de financiamento para reforçar o apoio ao ensino e divulgação da Língua Portuguesa já tem orçamento definido e deverá ser posto em prática ainda este ano. Académicos aplaudem a medida, apesar das dúvidas sobre a sua aplicação.

RECICLAGEM

A SAGA DO LIXO

GRANDE PLANO

De um lado, o Governo que aposta tudo na Educação e descarta a separação. Do outro, os trabalhadores do sector que vivem asfixiados com a falta de recursos e terrenos sem vislumbrar uma luz ao fundo do túnel. PÁGINAS 5 E 7

OPINIÃO Esquecidos de algo? FERNANDO ELOY

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PORTUGUÊS FUNDO DE INCENTIVO CHEGA ATÉ FIM DO ANO

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

hojemacau

THOMAS LIM

Luzes, iPhone, acção! EVENTOS


2 GRANDE PLANO

Já há um orçamento definido para o fundo de financiamento permanente para o ensino e difusão da Língua Portuguesa no ensino superior, que será implementado até final deste ano. Gabriel Tong e Maria Antónia Espadinha falam de medidas de incentivo, mas dúvidas persistem

PORTUGUÊS

GOVERNO AVANÇA COM FUNDO DE FINANCIAMENTO ESTE ANO

EM NOME DE CAMOES ˜

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UITOS dos detalhes ainda estão no segredo dos deuses, tal como o valor do orçamento. Mas a verdade é que o Governo vai avançar até final deste ano com um plano de financiamento não só para cursos de Português, mas também para a realização de palestras ou outras actividades relacionadas com o idioma. O orçamento está definido e já foi transmitido na última reunião do Grupo de Trabalho sobre Formação dos Quadros Bilingues Qualificados nas Línguas Chinesa e Portuguesa, mas não pode ainda ser tornado público. Já existe um grupo de trabalho que será responsável por, nos próximos meses, apresentar projectos e iniciativas que possam ser abrangidos por este fundo. O HM questionou ontem Sou Chio Fai, director do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES), sobre este plano de financiamento, à margem da reunião da Comissão para o Desenvolvimento de Talentos. Mas poucas informações foram avançadas. “Já enviámos um ofício a todas as instituições de ensino superior (que ensinam o Português). Todas ficaram muito contentes com o facto do Governo ter um programa piloto para o financiamento ou comparticipação das despesas de projectos e programas para a Língua Portuguesa”, disse. “Iremos ter um financiamento para as capacidades linguísticas ou para os licenciados, para que as pessoas se possam candidatar a financiamento para a aprendizagem da língua”, acrescentou o director do GAES, que falou da necessidade de olhar para a formação além do universo do ensino superior. “Devemos

apostar na formação de talentos não apenas nas universidades, mas temos de melhorar a formação nas escolas primárias e secundárias.” Gabriel Tong, vice-director da Faculdade de Direito da Universidade de Macau (UM), também incluída neste grupo de trabalho, disse que este projecto revela uma vontade de responder às intenções do Governo Central. “É uma boa medida para a promoção do ensino da Língua Portuguesa em Macau, porque há essa necessidade. Macau tem de reforçar a sua posição para cumprir esse papel que foi dado pelo país”, disse ao HM. “Há várias medidas, mas acho que cada universidade tem objectivos diferentes. Não posso dizer que este apoio pode fazer uma revolução, ou disponibilizar todo o dinheiro necessário para a formação dos alunos em Português. Mas é um incentivo e também mostra que o Governo está a actuar no sentido positivo. É uma medida simbólica e representa um apoio em concreto”, disse ainda Gabriel Tong, que garantiu que muitos dos detalhes quanto à aplicação prática do fundo ainda estão por definir. “Sobre as medidas em concreto ou como vai ser distribuído em dinheiro, e quais os requisitos, ainda estamos a aguardar a decisão por parte do Governo.”

LIGAÇÃO COM A CHINA

Maria Antónia Espadinha, vice-reitora da Universidade de São José (USJ), esteve presente na reunião, mas continua com muitas dúvidas sobre o lado prático desta medida. “Esse plano vai consistir na realização de propostas como a realização de conferências ou criação de materiais de ensino, mas coisas que devem


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sempre ser partilhadas com os colegas da China. É pensar em Macau mas é pensar também na China. E nós temos um mês para decidirmos o que iremos propor”, disse ao HM. “Ainda estamos com muitas dúvidas sobre aquilo que vamos propor. Temos um interesse comum, mas cada uma das instituições tem condições e interesses imediatos diferentes. Não sei se todos os projectos serão contemplados ou se vão depois escolher alguns”, garantiu a vice-reitora da USJ. “É uma medida de boa vontade no sentido de dar mais força no ensino do Português. Temos de ver como vai funcionar o plano. Não tenho grandes expectativas sobre a primeira fase, porque tem um prazo muito limitado e não é possível fazer muito em pouco tempo”, alertou Maria Antónia Espadinha.

APOSTA NO LUSO-CHINÊS

Se Sou Chio Fai defendeu uma aposta no ensino do Português junto das escolas primárias e secundárias, também Maria Antónia Espadinha acredita que o modelo das escolas luso-chinesas deve ser fomentado. “Devemos ter uma macro estrutura que tenha em atenção os diferentes planos, mas acho que devíamos pensar no ensino secundário e também no primário. Houve um programa com as escolas luso-chinesas e que por vários motivos acabou por ir morrendo. Elas ainda existem mas cada vez ensinam menos Português, ou pelo menos algumas delas. As primárias estão a cumprir mais, nas secundárias, menos, porque o Português deixou de ser uma condição para passar de ano e os alunos podem fazer o primeiro nível, embora já estejam no oitavo ou nono ano”, explicou.

“Iremos ter um financiamento para as capacidades linguísticas ou para os licenciados, para que as pessoas se possam candidatar a financiamento para a aprendizagem da língua” SOU CHIO FAI DIRECTOR DO GAES

“É um incentivo e também mostra que o Governo está a actuar no sentido positivo” GABRIEL TONG VICE-DIRECTOR DA FACULDADE DE DIREITO DA UM

Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

USJ LICENCIATURA EM ESTUDOS PORTUGUESES E CHINESES

Foi ontem publicado em Boletim Oficial o despacho que autoriza a criação da licenciatura em Estudos Portugueses e Chineses (Língua e Cultura) na Universidade de São José. Com a duração de quatro anos e com o Chinês, Português e Inglês como línguas veiculares, o curso vai ensinar Português, Inglês e Mandarim, focandose também na cultura e línguas da lusofonia e em Macau, através das disciplinas “Estudos Macaenses” e “Literatura e Arte de Macau”. O curso tem a duração de quatro anos e deverá arrancar no próximo ano.

“É uma medida de boa vontade no sentido de dar mais força no ensino do Português” MARIA ANTÓNIA ESPADINHA VICE-REITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO JOSÉ


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Economia de bairro

Comissão GOVERNO NÃO ISENTA TALENTOS DE IMPOSTO PROFISSIONAL

Pagar para regressar

DSE Tai Kin Ip toma posse e Leong promete foco na comunidade

Isentar os residentes no estrangeiro do pagamento do imposto profissional para que regressem a Macau não está nos planos do Executivo. A Comissão para o Desenvolvimento de Talentos continua a analisar mais medidas de incentivo

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isenção de impostos é uma arma utilizada por vários países e regiões que pretendem fixar população, mas essa não será a via utilizada pelo Governo para atrair os talentos que vivem no exterior. Sou Chio Fai, membro da Comissão de Desenvolvimento de Talentos, confirmou que o Executivo não pretende isentar estes residentes do pagamento de imposto profissional. “Outros países têm algumas medidas, como os benefícios fiscais ou a redução de impostos, ou outro tipo de ajuda. Mas ao nível do imposto profissional Macau é das regiões do mundo onde se paga menos e já oferecemos condições para essas pessoas [regressarem]”, disse aos jornalistas o também director do Gabinete de Apoio para o Ensino Superior (GAES). Contudo, já estão a ser preparados dois projectos para serem postos em prática este ano. A Comissão pretende criar um website com todas as informações sobre Macau para que os talentos que vivam no exterior possam analisar e ponderar sobre um eventual regresso. Tal projecto poderá estar online já este trimestre.

PONTES DE ATRACÇÃO

A Comissão para o Desenvolvimento de Talentos pretende

“Ao nível do imposto profissional Macau é das regiões do mundo onde se paga menos e já oferecemos condições para essas pessoas [regressarem]”

caso estas tenham necessidade”, explicou Sou Chio Fai. A Comissão pretende ainda criar um mecanismo para atribuir credenciação a pessoas que fizeram várias formações ao longo da sua vida profissional. “Muitas pessoas estudaram muito mas não obtiveram credenciação, então vamos incentivar essas pessoas. Depois teremos de promover a ascensão vertical e horizontal na carreira profissional. Falámos com empresas e associações que estão a fazer as suas formações”, rematou.

SOU CHIO FAI MEMBRO DA COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO DE TALENTOS

andreia.silva@hojemacau.com.mo

ainda atrair os académicos ou investigadores em regime de licença sabática, para que possam preencher lugares temporários nas universidades locais. “Iremos ter um projecto piloto para as instituições do

ensino superior. Há professores ou investigadores que trabalham lá foram e que estão em regime de licença sabática ou de férias e podemos criar essa ponte de ligação entre eles e as instituições do ensino superior em Macau,

Andreia Sofia Silva

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OMOU ontem posse o novo director dos Serviços de Economia, Tai Kin Ip, que promete arrancar no novo mandato com o reforço no “desenvolvimento do comércio electrónico, do apoio às pequenas e médias empresas e aos jovens empreendedores e ao desenvolvimento da economia em prol das comunidades”. Na tomada de posse, o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, chamou a atenção para a necessidade de fomentar os negócios nos bairros antigos. “Tendo em conta que uma das missões importantes da DSE consiste em desenvolver acções relacionadas com a dinamização do desenvolvimento económico dos bairros comunitários, e que as necessidades resultantes do desenvolvimento sócio-económico local exigem o reforço e o melhoramento do trabalho a cargo dessa entidade, é de prever maiores desafios futuros.” Tai Kin Ip, que substitui Sou Tim Peng, que se reforma a seu pedido, começou a trabalhar na DSE em 1995. Entre 1998 e 2000, exerceu funções de chefe do Departamento de Estudos, tendo sido promovido, a partir de 2000, ao cargo de subdirector, funções que desempenhou até à presente data. Também Lau Wai Meng, que ingressou na Função Pública em 1990 tomou ontem posse como sub-director da DSE.

FOTO GCS

POLÍTICA

CONSTRUÇÃO ARQUITECTOS EXIGEM COMUNICAÇÃO PARA REVISÃO DA LEI

TRÂNSITO HO ION SANG QUESTIONA ESTUDO SOBRE INFRACÇÕES

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Associação de Arquitectos de Macau (AAM) pediu ao Governo para comunicar mais com o sector tendo em vista a revisão do Regulamento Geral de Construção Urbana. A entidade espera ainda que o Governo possa aprovar plantas de construção num prazo de 60 dias. Segundo o jornal Ou Mun, os dirigentes da AAM, Leong Chung In e Jonathan Wong, presidente, lembraram que há cerca de dez anos que o Executivo não discute o assunto com a Associação, tendo afirmado que desconhecem o novo conteúdo do diploma. O Ou Mun escreveu que a direcção dos Serviços

de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) já estará a recolher as opiniões do sector. A AAM também pede que o Governo consiga acelerar o processo de aprovação de plantas de construção no prazo de 60 dias, o qual consta no regulamento em vigor. “Os documentos não podem estar (na DSSOPT) oito meses ou um ano sem uma resposta de aprovação, porque não nos é dito quais os problemas das plantas e quais as alterações que são necessárias”, disse Leong Chung In, que falou do caso de Hong Kong, cuja Executivo aprova plantas de construção no prazo de dois meses. T.C.

deputado Ho Ion Sang quer saber em que ponto está o estudo feito pelo Governo sobre o sistema de pontuação para as infracções de trânsito e quais são as medidas para aumentar a punição de quem conduz sob o efeito do álcool. Numa interpelação escrita, o deputado apontou que a condução com álcool é uma “doença incurável” e que, mesmo que o Governo promova várias acções de segurança

rodoviária e de civismo, os casos repetem-se. Ho Ion Sang citou dados estatísticos que mostram que, de 2008 a 2015, foram confirmados mais de nove mil casos de condução embriagada. Mesmo que seja um crime penal, os infractores podem pagar a multa para substituir essa punição e, por isso, o deputado considera que o regime e o efeito dissuasor da lei são fracos. Ho recordou que o Governo prometeu no ano pas-

sado que ia fazer um estudo sobre a implementação de um sistema de pontuação para as infracções de trânsito. Ho Ion Sang considera que o objectivo desse sistema é a prevenção e o aumento da eficácia dissuasória das sanções às infracções de trânsito. O deputado questionou o Executivo sobre o estado desse processo de análise, bem como quais as medidas concretas para aumentar o custo das infracções. F.F.


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POLÍTICA

Não sei de nada Documentos do Panamá Lionel Leong à espera de mais informações

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Reciclagem GOVERNO NÃO AVANÇA PARA SEPARAÇÃO DE LIXO

No educar está o ganho Estão a aumentar os resíduos, mas nem por isso a sua separação. Ainda assim, o Executivo não quer legislar a matéria, apostando antes na formação

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Executivo não vai, para já, legislar a separação de resíduos, ainda que se tenha notado um aumento destes nos últimos anos. Numa resposta ao deputado Zheng Anting, o presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) explica que é na promoção que reside a táctica. “Ainda que o Governo não preveja regulamentar directamente a recolha selectiva de resíduos através de legislação, continuará a promover a recolha selectiva mediante a criação de políticas, além de educação, divulgação e me-

lhoria de instalações”, indica José Tavares. “Apesar de não existir uma disposição legal que obrigue à recolha selectiva de resíduos, há muita vontade em continuar a proceder, de forma constante, aos trabalhos de educação.” O presidente admite que as infracções que aconteceram nos espaços públicos relativas ao abandono de lixo aumentaram: por exemplo, em 2011 foram cerca de dez mil autuações por causa deste problema, sendo que em “cada ano de 2014 e 2015 registaram-se mais de 19 mil autuações”. Cerca de 50% dos responsáveis são “cidadãos locais”, mas o instituto “vai intensificar a divulgação da educação” e “pedir à Companhia de Sistemas de Resíduos (CSR), empresa responsável pela recolha do lixo, que “reforce a limpeza das ruas”. O IACM não se estende nas palavras, mas fala numa eventual revisão do Regulamento Geral dos Espaços Públicos. “O IACM tem atendido às opiniões apresentadas por cidadãos, inclusive sobre a adequação, a nível da aplicação, das multas correspondentes a condutas diferentes. Numa revisão posterior dessa

disposição legal, vamos ter em consideração a situação actual do desenvolvimento da sociedade.”

CADA VEZ MAIS

Sobre a reciclagem dos resíduos, José Tavares diz que houve um aumento de resíduos que podem servir para reciclar, mas admite que “a taxa de re-

“Apesar de não existir uma disposição legal que obrigue à recolha selectiva de resíduos, há muita vontade em continuar a proceder, de forma constante, aos trabalhos de educação” JOSÉ TAVARES PRESIDENTE DO IACM

colha não cresceu da [mesma] forma”. A CSR tem o contrato de recolha de lixo por mais dez anos e uma das obrigações da empresa é recolher os resíduos separadamente, algo que garante fazer tendo “quatro veículos” para tal. O IACM garante que tem colocado mais caixotes de reciclagem em espaços públicos – havendo, neste momento, 60 pontos de reciclagem de vidro e 321 dos outros materiais. Os resíduos têm “um tratamento prévio em Macau”, mas depois são enviados para a região vizinha porque não há reciclagem no território. Escolas e instalações públicas são abrangidas pelo programa de separação de lixo e o IACM garante estar “nesta fase a colaborar com o Instituto de Habitação na instalação de 1018 contentores” de recolha selectiva em “algumas habitações públicas novas”. Entretanto, as empresas que ainda reciclam em Macau dizem estar com cada vez mais dificuldades (ver página 7). Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

polémica causada pela publicação dos “Panama Papers” ainda não chegou a Macau e, para já, o Governo não reage às notícias que têm corrido o mundo e que falam das empresas offshore criadas pela Mossack Fonseca que ajudam a esconder fortunas de políticos, empresários e até personalidades do mundo das artes e do futebol. Questionado ontem sobre o assunto, o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, garantiu que o Executivo tomará as devidas medidas caso haja mais informações. “Não tenho comentários a fazer porque não tenho informação. Se houver alguma ligação [a Macau] vamos analisar mas até ao momento não temos informação”, afirmou à margem da tomada de posse do novo director dos Serviços de Economia (DSE), Tai Kin Ip. Não há, até ao momento, nenhuma offshore com ligação a Macau que tenha sido criada pela sociedade de advogados. Apenas o nome de Franco Dragone, que trouxe para Macau o espectáculo “House of Dancing Water”, surge na lista de personalidades com empresas offshore. Hong Kong surge no topo das listas divulgadas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) como sendo a região com maior actuação de intermediários no processo de abertura de empresas offshore.

POLÍTICOS EM FOCO

O caso divulgado pelo ICIJ em parceria com vários meios de comunicação social de todo o mundo continua a atingir os meios políticos. Ontem o jornal francês Le Monde avançou que a Frente Nacional, partido de extrema-direita em França liderado por Marine Le Pen, através de um “primeiro círculo de fiéis” pôs “em prática um sistema ‘offshore’ sofisticado” para tirar dinheiro de França. “O sistema, entre Hong Kong, Singapura, as Ilhas Virgens britânicas e o Panamá”, foi “utilizado para fazer sair dinheiro de França, através de sociedades fictícias e de facturas falsas, com o objectivo de escapar aos meios franceses para evitar o branqueamento de capitais”, adiantou o jornal. A investigação, que resultou na fuga de mais de 11 milhões de documentos, mostra várias personalidades chinesas com empresas offshore criadas pela Mossack Fonseca, as quais são próximas de figuras do Partido Comunista Chinês (PCC), incluindo o presidente Xi Jinping. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

COMISSÃO NÃO ENCONTROU INFRACÇÕES DE PESSOAL DO CCAC

Kwan Tsui Hang, presidente da Comissão Especializada para a Fiscalização dos Problemas Relacionados com Queixas contra a Disciplina do Pessoal do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), afirmou ao HM que “não pode” tornar público o relatório de trabalho do grupo, porque este envolve conteúdos específicos face a queixas. Num comunicado enviado na segunda-feira aos média, indicava-se que a Comissão teve um encontro com Chui Sai On, a quem entregou o relatório. Kwan diz que o documento não vai ser publicado, mas assegura que houve dois casos de queixas contra pessoal do CCAC que caíram, contudo, em saco roto. “A Comissão acompanhou os processos de tratamento de queixas e nos dois casos foram processos normais e não se encontraram infracções à lei pelo pessoal do CCAC”, indicou a também deputada ao HM.


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ANÚNCIO

CONCURSO PÚBLICO PARA “EMPREITADA DE MELHORAMENTO DAS INSTALAÇÕES ELECTROMECÂNICAS DA PASSAGEM SUPERIOR PARA PEÕES NA RUA DE FERREIRADO AMARAL ”

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 129/AI/2016 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora XIE SHUIFEN, portadora do Passaporte da RPC n.° E25868xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 100/DI-AI/2014, levantado pela DST a 15.08.2014, e por despacho da signatária de 11.03.2016, exarado no Relatório n.° 173/DI/2016, de 17.02.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, n.° 138, Edf. High Field Court, 18.° andar D onde se prestava alojamento ilegal.------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ----------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 11 de Março de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 133/AI/2016 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor MAN XINHE, portador do Salvo-Conduto de dupla viagem da RPC n.° W88223xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 127/DI-AI/2014, levantado pela DST a 10.10.2014, e por despacho da signatária de 10.03.2016, exarado no Relatório n.° 177/DI/2016, de 18.02.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Taipa, Rua de Fat San n.° 35, Lok Chon Ieng Hin, Bloco 3, 24.° andar E onde se prestava alojamento ilegal.-------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 10 de Março de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

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Entidade que põe a obra a concurso: Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Modalidade de concurso: Concurso Público. Local de execução da obra: Rua Ferreira do Amaral . Objecto da Empreitada: Melhoramento das instalações da passagem superior para peões. Prazo máximo de execução: 300 dias de trabalhodias úteis (trezentos dias de trabalhodias úteis) (Para efeitos da contagem do prazo de execução das obras da presente empreitada, somente os domingos e os feriados estipulados na Ordem Executiva n.º60/2000 não serão considerados como dias de trabalho.)(Na contagem do prazo de execução das empreitadas de obras públicas, somente os domingos e feriados públicos não serão considerados dias úteis) contínuos. Prazo de validade das propostas: o prazo de validade das propostas é de noventa dias, a contar da data do encerramento do acto público do concurso, prorrogável, nos termos previstos no Programa de Concurso. Tipo de empreitada: a empreitada é por Série de Preços. Caução provisória: $176.000,00 (cento e setenta e seis mil patacas ), a prestar mediante depósito em dinheiro, garantia bancária ou segurocaução aprovado nos termos legais. Caução definitiva: 5% do preço total da adjudicação (das importâncias que o empreiteiro tiver a receber, em cada um dos pagamentos parciais são deduzidos 5% para garantia do contrato, para reforço da caução definitiva a prestar). Preço Base: não há. Condições de Admissão: Serão admitidos como concorrentes as entidades inscritas na DSSOPT para execução de obras, bem como as que à data do concurso, tenham requerido ou renovado a sua inscrição , neste último caso a admissão é condicionada ao deferimento do pedido ou da renovação de inscrição. Local, dia e hora limite para entrega das propostas: Local: Secção de Atendimento e Expediente Geral da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33, R/C, Macau; Dia e hora limite: dia 27 de Abril de 2016 (quarta-feira), até às 12:00 horas. Em caso de encerramento desta Direcção de Serviços na hora limite para a entrega de propostas acima mencionada por motivos de tufão ou de força maior, a data e a hora limites estabelecidas para a entrega de propostas serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Local, dia e hora do acto público do concurso : Local: Sala de reunião da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33, 5.º andar, Macau; Dia e hora: dia 28 de Abril de 2016 (quinta-feira), pelas 9:30 horas. Em caso de adiamento da data limite para a entrega de propostas mencionada de acordo com o número 12 ou em caso de encerramento desta Direcção de Serviços na hora estabelecida para o acto público do concurso acima mencionada por motivos de tufão ou de força maior, a data e a hora estabelecidas para o acto público do concurso serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Os concorrentes ou seus representantes deverão estar presentes ao acto público do concurso para os efeitos previstos no artigo 80º do Decreto-Lei n.º74/99/M, e para esclarecer as eventuais dúvidas relativas aos documentos apresentados no concurso. Línguas a utilizar na redacção da proposta: Os documentos que instruem a proposta (com excepção dos catálogos de produtos) são obrigatoriamente redigidos numa das línguas oficiais da RAEM, caso os documentos acima referidos estiverem elaborados noutras línguas, deverão os mesmos ser acompanhados de tradução legalizada para língua oficial, e aquela tradução deverá ser válida para todos os efeitos. Local, hora e preço para obtenção da cópia e exame do processo: Local: Departamento de Infra Estruturas da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33, 16º andar, Macau; Hora: horário de expediente (Das 9:00 às 12:45 horas e das 14:30 às 17:00 horas) Na Secção de Contabilidade da DSSOPT, poderão ser solicitadas cópias do processo de concurso ao preço de $830,00 (oitocentas e trinta patacas). Critérios de apreciação de propostas e respectivos factores de ponderação: - Preço da obra 60%; - Prazo de execução: 3% - Plano de trabalhos 10%; - Experiência e qualidade em obras 15%; - Integridade e honestidade 12%. Junção de esclarecimentos: Os concorrentes poderão comparecer no Departamento de Infra Estruturas da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33, 16º º andar, Macau, a partir de 14 de Abril de 2016 (inclusivé) e até à data limite para a entrega das propostas, para tomar conhecimento de eventuais esclarecimentos adicionais. Macau, aos 31 de Março de 2016.

O Director dos Serviços, Substo Shin Chung Low Kam Hong

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7 hoje macau quarta-feira 6.4.2016

SOCIEDADE

DIFICULDADES EM RECICLAR DEVIDO A RECUPERAÇÃO DE TERRENOS

“Raymond Tam não mostrou medidas de apoio”

Continua a saga da falta de apoios às poucas empresas que ainda fazem reciclagem em Macau e estas dizem-se em maiores apuros do que quando fizeram greve, sem que haja soluções à vista

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Man Lin afirma que, na verdade, existem apenas cerca de 60 empresas, porque “nos últimos tempos já fecharam mais de dez”. E o encerramento eventual desta, na Taipa, poderá vir a piorar a situação. “Caso a empresa grande na Taipa feche, nenhuma pequena e média empresa conseguirá sobreviver”, avançou o presidente, “porque esta empresa recolhe 80% de materiais [recicláveis] de Macau. Quando as PME recolherem os materiais, não existirá um espaço para fazer embalagem, decomposição, nem exportação.” Todos os anos Macau exporta mais de 300 mil toneladas de materiais para reciclagem, explicou Chan Man Lin. A reciclagem de papéis é mais fácil e as empresas podem arrendar um espaço no Porto Interior para a exportação conjunta. Mas a reciclagem de materiais de metal faz barulho e precisa de um terreno distante da população.

HAN Man Lin, presidente da Associação de Confraternização de Reciclagem de Materiais Ecológicos de Macau, assegura que o sector está a enfrentar cada vez mais dificuldades, não só porque os preços de produtos reciclados diminuíram, mas também por falta de terrenos. O responsável apela, por isso, ao Governo que permita o arrendamento de espaços para que os trabalhos possam ser levados a cabo. Depois de Hong Cheong Fei, director-geral da Companhia de Sistema de Resíduos (CSR), afirmar ao canal chinês da Rádio Macau que os preços dos produtos de reciclagem e tratamento de resíduos diminuíram em 50 ou 60%, Chan Man Lin assegurou ontem ao HM que a situação está ainda mais difícil do que na altura em que foi feita uma greve, em Setembro do ano passado. E isso tem a ver, diz, com o facto de o Governo estar a esforçar-se por recuperar terrenos que não foram desenvolvidos dentro do prazo. “Actualmente existe apenas uma empresa grande de reciclagem na Taipa, mas o Governo

quer também recuperar o terreno onde a empresa trabalha e coloca os materiais. Falta apenas pouco mais de um mês para que a empresa tenha de sair do lote. Enviámos uma carta aos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) e aos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) para que arrende outro terreno para continuar o trabalho, mas ainda não responderam”. Embora que o responsável da CSR dissesse que actualmente existem 200 empresas ligadas ao sector da reciclagem, Chan

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A passo de caracol

Governo já divulgou que planeia construir 4600 habituações públicas em sete terrenos, mas parte deles têm escritórios de departamentos governamentais que ainda não receberam avisos de despejo. Segundo o Jornal Ou Mun, estes sete terrenos envolvem um parque de estacionamento ao lado do Complexo Olímpico da Taipa, a Central Térmica na Avenida de Venceslau de Morais, as instalações da Polícia de Segurança Pública das ilhas, as instalações Temporárias do Conselho Consultivo para o Reordenamento dos Bairros Antigos no

“Caso a empresa grande na Taipa feche, nenhuma pequena e média empresa conseguirá sobreviver” CHAN MAN LIN PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE CONFRATERNIZAÇÃO DE RECICLAGEM DE MATERIAIS ECOLÓGICOS DE MACAU

NOVO PRESIDENTE, VELHAS MEDIDAS

AAssociação de Confraternização de Reciclagem de Materiais Ecológicos de Macau já visitou o novo

DSSOPT ainda não deu ordem de despejo para terrenos onde vai haver habitação Bairro Iao Hon e outros do Cotai e Lam Mau. Por exemplo, no parque de estacionamento onde está planeada a construção de mil habitações está o escritório do Gabinete de Estudo das Políticas e, embora a Direcção dos Serviços dos Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) tenha revelado ao jornal chinês que o organismo

director da DSPA, Raymond Tam no mês passado, a quem explicou as suas dificuldades. A resposta do responsável mostrou que “confirma os trabalhos e esforços do sector”, no entanto, “não mostrou qualquer medidas de apoio”. Questionado sobre se considera fazer uma nova manifestação ou greve, Chan Man Lin diz apenas estar desapontado, uma vez que não há soluções. “O Governo só pensa que nós somos irracionais e

agora apenas esperamos por uma resposta. Mas não sei qual vai ser a reacção dos trabalhadores quando as empresas precisarem de fechar em breve”, rematou. O Governo já disse que não quer legislar a obrigação de reciclar (ver página 5).

já concluiu a proposta da planta de condições urbanísticas, a publicar em breve, o Gabinete diz que ainda não recebeu o aviso de despejo. O mesmo se passa com o Instituto do Desporto, cujo departamento tem um armazém e um campo de badminton neste parque.

planta de condições urbanísticos foi aprovada pelo CPU, mas a Associação também não recebeu qualquer novidade sobre o despejo. A DSSOPT também indicou que vai fazer um concurso público para a construção de fracções na Central Térmica, onde se prevê a criação de mil habituações, mas esta ainda lá está. Outro caso é um lote no oeste do Cotai, onde se prevê construir duas mil habitações, mas o Governo está ainda a discutir com o concessionário do terreno e não deu ainda qualquer novidade.

OUTRAS CONSTRUÇÕES

Nas Instalações Temporárias do Iao Hon, onde fica o escritório da Associação de Confraternização dos Moradores do Bairro do Antigo Hipódromo Areia Preta e do Iao Hon, está prevista a construção de 200 apartamentos públicos e a

Flora Fong

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Tomás Chio

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TIAGO ALCÂNTARA

FUNÇÃO PÚBLICA SUSANA CHOU PEDE SAÍDA DE “INCOMPETENTES”

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ONTINUOU ontem o julgamento do ex-vice-presidente do Instituto Cultural (IC) Stephen Chan e do assessor técnico superior Lei Man Fong, que vão acusados pelo Ministério Público (MP) de ter dado informações que beneficiaram a empresa do irmão de Stephen Chan para que esta vencesse mais de meia dúzia de concursos públicos em adjudicação de serviços. Na sessão de ontem do Tribunal Judicial de Base, um investigador do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) assegurou que a empresa do irmão de Stephen Chan - a Empresa de Engenharia Vo Tin - conseguiu informações “extremamente semelhantes” a documentos secretos do IC. A testemunha apontou ainda que está envolvido no caso “400 mil patacas que foram tratados por um banco privado ilegal da China continental”. O HM acompanhou ontem as declarações do investigador do CCAC, afirmando este que através da investigação foi possível perceber que a empresa do irmão de Stephen Chan obteve informações sobre as cotações de outras empresas candidatas ao concurso da instalação de electricidade e de iluminação básica e monitorização na Casa do Mandarim em 2008, que foram “extremamente semelhantes” a documentos internos do IC. No início da investigação, o CCAC apenas copiou os documentos do computador da empresa do irmão de Stephen Chan, em 2011, onde descobriu as informações de cotações. Quando o CCAC tentou obter os documentos originais do computador, estes

ex-presidente da Assembleia Legislativa (AL), Susana Chou, defendeu em mais um texto publicado no seu blogue que o Governo deve resolver o problema dos funcionários públicos “incompetentes”, cujo desempenho põe em causa a eficácia governativa. Susana Chou deu o exemplo do sector privado, referindo que quando há trabalhadores que se deparam com chefes incompetentes, podem mudar de emprego, mas na Função Pública essa situação não se verifica. A ex-presidente do hemiciclo garante que quando os funcionários públicos têm de trabalhar com chefes ineficazes ou que “têm inveja” dos que desempenham bem as suas funções, acabam por não se dedicar ao seu posto de trabalho, o que traz ineficácia em todo a máquina administrativa. Susana Chou recordou que no seu percurso político encontrou vários superiores sem capacidade, sendo que alguns ainda continuam na Função Pública. A ex-presidente da AL espera que o Executivo solucione um problema que, na sua óptica, também afecta a sociedade. T.C.

IC INVESTIGADOR DO CCAC DENUNCIA ILEGALIDADES

O estranho caso dos papéis iguais Uma testemunha do CCAC assegurou ontem em tribunal que o irmão do ex-vice-presidente do IC só poderia ter sabido das informações que o ajudaram a vencer concursos através da obtenção de documentos do Governo tinham sido eliminados porque o irmão os “considerava inúteis”. Mesmo assim, o CCAC apreendeu o computador e recuperou os documentos eliminados.

QUASE GÉMEOS

“Quando fizemos uma comparação com os documentos originais no IC, que considero documentos secretos, tanto o formato de escrita como as informações das cotações

das três empresas candidatas eram extremamente semelhantes, incluindo os detalhes. Só faltava o logótipo do IC. Portanto, considero estranho”, afirmou. O investigador do CCAC afirma que as informações do irmão de Stephen Chan “só podem ter sido obtidas através dos documentos do IC”, e que “não conseguia fazer isso se apenas tivesse ouvido ou tivesse lido os documentos”.

“Quando fizemos uma comparação com os documentos originais no IC, que considero documentos secretos, tanto o formato de escrita como as informações das cotações das três empresas candidatas eram extremamente semelhantes, incluindo os detalhes” INVESTIGADOR DO CCAC

A testemunha declarou ainda que, através dos documentos, o irmão de Stephen Chan conseguiu saber os preços das outras empresas que iam apresentar as propostas a concurso, podendo assim ajustar a sua cotação no segundo concurso público, depois do primeiro público para a prestação dos serviços ter sido cancelado. Ao responder ao Ministério Público (MP) sobre a não declaração de novos bens de Stephen Chan em 2008 e em 2010, o investigador do CCAC apontou que havia um montante de cerca de 400 mil patacas depositado numa conta bancária do seu irmão. Através da investigação do CCAC, foi possível perceber que esse dinheiro chegou de “um banco privado ilegal do interior da China”. Flora Fong

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MYANMAR MACAU VAI VENDER MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO

Empresas de Macau planeiam investir cerca de 2,5 milhões de patacas em envio de materiais de construção para o Myanmar. A notícia é avançada pela Myitmakha, agência de notícias do país, que diz que uma delegação da Associação de Amizade Macau-Myanmar representa os empresários interessados. “O investimento de 2,5 milhões acontece através da distribuição de material de construção, a partir de Maio”, indica a agência, citada pelo jornal em língua inglesa Deal Stree Asia, que indica que cerca de 30 empresários da RAEM chegaram ao Myanmar a 30 de Março para perceber as oportunidades de investimento. “A maioria de empresários de Macau está verdadeiramente interessado na mudança do clima económico do Myanmar. Materiais de construção de Macau, como o cimento, ferro, tinta e martelos vão ser exportados e vendidos. O investimento foi planeado e começará em Maio”, frisou José Wong, presidente da Associação.


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AUTOCARROS ARTICULADOS DAS TRÊS OPERADORAS EM ANÁLISE

Dezoito metros de carroçaria Um está já a ser testado, mas a DSAT quer tentar que todas as três operadoras de Macau tenham autocarros articulados a percorrer as ruas. Estes levam mais gente e poderão diminuir a pressão do tráfego, diz o organismo

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de um autocarro com duas carruagens e 18 metros em Macau. A ideia é que todas as três operadoras em Macau tenham estes veículos, mas para já apenas a Nova Era deu um passo nesse sentido. “Recentemente, a Macau Nova Era de Autocarros Públicos importou um auto-

carro de duas carruagens, de 18 metros de comprimento, com o objectivo de realizar testes e avaliar a viabilidade da sua circulação”, diz a DSAT. De acordo com a empresa, há mais um a caminho. Ainda não há qualquer calendário para a introdução destes veículos nas

ruas de Macau, uma vez que tal “se encontra na fase de estudo”, como indica a DSAT, que assegura estar a discutir pormenores com a Transmac e a TCM. “Com o aumento contínuo da procura de deslocação por autocarros em Macau, o Governo anda a discutir com as três operado-

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Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) está a “avaliar a viabilidade” de autocarros articulados circularem em Macau.Agarantia foi dada ao HM pelo organismo, depois deste jornal ter questionado o Governo sobre a circulação

ras de autocarros a introdução de autocarros de grande porte, nomeadamente os autocarros de duas carruagens, para dar resposta à necessidade da deslocação do público”, explica. Estes autocarros conseguem transportar até 150 passageiros mas, de acordo com a TDM, os condutores terão de possuir licença de reboque para os poder conduzir. J.F.

AEROPORTO MOVIMENTO DE PASSAGEIROS SOBE 20%

No primeiro trimestre do ano, o Aeroporto Internacional de Macau recebeu 1,6 milhões de passageiros. O valor traduz um aumento de 20% em relação a 2015, indica a rádio Macau. Em sentido ascendente esteve também o movimento de aeronaves. Entre Janeiro e Março, o aeroporto registou cerca de 14 mil voos, mais 7% do que há um ano.

RESTRIÇÕES À VENDA DE CARNES E PESCADO ABOLIDAS

Agora não são só os mercados municipais que vão poder vender carne e pescado frescos. O regulamento administrativo que altera o licenciamento desses estabelecimentos foi ontem publicado em Boletim Oficial e permite que, a partir de hoje, todas as restrições na venda destes produtos são levantadas. As novas regras vão permitir a abertura de lojas fora dos mercados municipais dedicadas à venda destes produtos frescos, desde que previamente licenciadas.

CORREDOR PARA BUS À EXPERIÊNCIA

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TANLEY HO, o magnata do Jogo de Macau, está ligado à Hainan Airlines (HNA), a empresa que pretende comprar a Transportadora Aérea Portuguesa (TAP). De acordo com o jornal português Público, o nome de Stanley Ho surge como sócio da HNA na companhia de aviação low cost HK Express. As duas empre-

STANLEY HO FAZ PARTE DE EMPRESA QUE QUER TAP sas terão acordos comerciais para partilha de voos. O jornal diz que, apesar de não haver praticamente informação sobre a estrutura accionista da HK Express, sites especializados e a imprensa internacional dão conta de que a parti-

cipação de Stanley Ho no capital foi diminuindo ao longo do tempo para os actuais 25,3%. Além dos 45% do grupo HNA, o restante capital estará hoje repartido ainda por Mung Kin Keung (15%) e pela China Energy Development (14,7%).

Se a entrada da chinesa HNA se concretizar, Stanley Ho poderá assim voltar a cruzar-se com a TAP - anteriormente, a empresa foi parceira de Stanley Ho, quando o empresário adquiriu, através da Geocapital, 85% da VEM, a unidade de

manutenção que pertencia à falida Varig. A HK Express foi fundada em Março de 2004 pelo magnata dos casinos e começou a transportar passageiros no ano seguinte. E foi logo em meados de 2006 que a HNA entrou em cena, com a compra de 45% da participação do empresário.

A partir de dia 7 de Maio, o Governo vai implementar a título experimental um corredor exclusivo para transportes públicos entre a Barra e a Doca do Lam Mau. Numa primeira fase, a experiência acontecerá aos sábados e domingos, das 7h30 às 9h00 e das 16h30 às 19h00. Os outros veículos continuarão a circular nas vias existentes na Rua do Almirante Sérgio em direcção à Barra e nas vias ao longo do Porto Interior, na Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques e na Avenida de Demétrio Cinatti, para se dirigir à Zona da Doca Lam Mau. Segundo dados avançados, são cerca de 280 mil os passageiros que apanham diariamente as carreiras de autocarros naquela zona, um número superior à metade de passageiros de autocarros em toda a cidade. Quem conduzir um veículo particular no corredor será punido com multa de 600 patacas.


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“Sea of Mirrors” NOVO FILME DE THOMAS LIM COMEÇA A SER GRAVADO AMA

EVENTOS

O TELEMOVEL UM ESPELHO ´

USJ PALESTRA SOBRE DIREITOS HUMANOS E REFORMAS LEGAIS

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Impacto da Lei Internacional dos Direitos Humanos nos procedimentos criminais chineses é o tema da palestra organizada pela faculdade de Administração e Liderança da Universidade de S. José e que vai ter lugar no próximo dia 12 de Abril das 19h00 às 21h00. Proferida pela professora Yue Liling e moderada pelo professor Vincent Yang, a palestra visa abordar as reformas que se têm vindo a registar nos procedimentos criminais chineses bem como tópicos de debate para futuras mudanças depois de, a partir de 1990, a China ter dado início a uma reforma legal e criminal capaz de incorporar os princípios legais dos direitos humanos internacionais. Yue Liling é professora da Universidade de Ciências Políticas e Direito da China e tem participado “nos mais importantes” projectos dedicados a reformas legais da China apoiadas por países europeus. A entrada é livre.

USJ UMA REALIDADE AUMENTADA

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ENSAR a cidade e todo o material em seu torno como uma ‘realidade aumentada’ pós-natural, descrevendo e sobrepondo uma percepção construída de um ambiente físico, do mundo real cujos elementos são complementados pela automação computacional e entrada sensorial digital. Confusos? Tobias Klein, arquitecto, artista, designer e especialista em instalações de média interactiva, vai explicar numa palestra a realizar em breve na Universidade de São José (USJ) as suas ideias sobre realidade aumentada. Nos últimos três anos, o seu estúdio tem trabalhado na definição de uma resposta arquitectónica contemporânea para o ambiente de hoje dominado pelos não-físicos, pelos fluxos de dados efémeros e pela virtual supersaturação de realidade aumentada.

Segundo Klein, “a mudança actual na percepção tecnológica estimula mudanças na arquitectura. Quando ignorada, esta rearticulação vai tornar-nos meros espectadores da evolução mais importante na concepção espacial desde o desenvolvimento da perspectiva central em tempos renascentistas”. Antes de ingressar na Universidade da Cidade de Hong Kong como Professor Assistente Interdisciplinar na Escola de Média Criativa e do Departamento de Arquitetura, Tobias Klein trabalhou para a Architectural Association (2008-2014) e no Royal College of Art, (2007-2010). Os trabalhos do seu estúdio estão expostos na Colecção de Moda do Museu de Antuérpia ou no Museu de Ciência de Londres, entre outros. A palestra acontece no próximo dia 15 de Abril pelas 18h30. A entrada é livre.

O realizador Thomas Lim volta produzir uma longametragem inteiramente filmada no território. “Sea of Mirrors” é a história de uma ex-actriz japonesa que vem a Macau convencida que tem um investidor à espera para fazer um filme. Um puro engano, numa história cuja principal particularidade é ser toda filmada em iPhone

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA VERA CRUZ • João Morgado O novo romance de João Morgado, autor já com vasta obra publicada, centra-se na vida desconhecida de Pedro Álvares Cabral e numa época tão gloriosa quanto distante. Trata-se de um livro que facilmente ambienta o leitor no período áureo da nossa História no qual (re)descobrimos viagens acidentadas, jogos de sombras e traições, na Índia e no reino de Portugal, rivalidades e intrigas. E também um Pedro Álvares Cabral capaz intrépido e valente, por vezes desiludido e arrependido.

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OMEÇA a ser amanhã gravado “Sea of Mirrors” (“Mar de Espelhos, em Português), o novo filme de Thomas Lim. Tal como “Roulette City”, o seu filme anterior, a autoria do guião e a produção também estará a cargo do próprio realizador, com um elenco preenchido com actores do Japão, Macau e Hong Kong. Apresentado como um thriller psicológico, “Sea of Mirrors” traz-nos a história de Riri Kondo, uma ex-actriz japonesa, que viaja para Macau com a filha, Nana, para reunir com um potencial investidor que afirma ser seu fã. A proposta: investir num filme realizado por ela. Puro engano, pois a questão tem

mais a ver com sexo do que com filmes. Riri desmarca a reunião mas, em retaliação, a filha é raptada e a tentativa para a salvar leva-a à beira da loucura. Actualmente a viver em Los Angeles, Thomas Lim espera criar um filme para distribuição internacional , pelo que reuniu uma equipa de várias origens: a actriz japonesa Kieko Suzuki (também produtora do filme) encaixa no papel de Riri, enquanto Sally Victoria Benson – australiana de Macau - encarna a extravagante actriz americana Isabel. O actor coreano Jay Lim toma o papel do investigador coreano Jang. A designação para o filme surgiu de uma antiga deno-

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O PIRATA DO REI NA TERRA DO SOL • Clóvis Bulcão “O Pirata do Rei na Terra do Sol” é um romance sensual e vibrante que narra o sequestro da cidade do Rio de Janeiro por René Duguay- Trouin, o lendário corsário francês ao serviço do rei Luís XIV. Em 1711, protegida por um denso nevoeiro, a frota de quinze vasos de guerra invadiu a baía de Guanabara de forma espectacular e aí desembarcaram mais de mil homens. O objectivo era roubar o carregamento anual de ouro do Brasil e desferir um poderoso golpe no orgulho e poderio português.Do tráfico de sal e pólvora à revolta dos escravos, da ocupação da cidade ao roubo de barcos por intelectuais, o Rio de Janeiro fervilhou de actos heróicos e vis traições.


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ANHÃ

L COMO O “Ser actor ou cineasta não é apenas um emprego ou carreira, mas um estilo de vida e, provavelmente, uma obsessão” THOMAS LIM ACTOR E REALIZADOR

minação de Macau antes da chegada dos portugueses que, garante Thomas Lim, “era conhecida como “Jinghai” (literalmente “Mar de Espelhos”). O objectivo era o de conseguir um título que remetesse para a cidade, para a reflexão sobre as formas de vida locais, ou, como diz Lim, “uma imagem reflectida do que pensamos de nós mesmos”. Prevendo-se que esteja terminado lá para o final do mês, o filme segue para pós-produção em Los Angeles.

AO TELEFONE

O filme traz ainda uma particularidade uma vez que é inteiramente filmado com um iPhone 6S, o que fica a dever-se ao facto do realizador entender que as câmaras do telefone têm a textura visual ideal para a história, para além de se ajustarem bem - do ponto de vista logístico - com a vida real dos principais criadores do filme. Para o efeito, a Direcção de Fotografia vai ser assegurada por Santa Nakamura, um veterano em filmar em iPhone. Para Lim, que julga ser o primeiro filme a ser gravado desta forma em Macau, a

“LE CHINOIS” COM BUFFET DE ANIVERSÁRIO

ideia é também a de liderar uma nova onda de evolução na forma de fazer cinema no território e de permanecer fiel à sua filosofia de há muito: “o único obstáculo para o cinema é a tenacidade do cineasta. Não a paixão, porque as pessoas podem sempre falar com muita paixão e não tomar medidas. Sem tenacidade não há filmes”, disse.

A SAGA DOS CINEASTAS

Também ele actor, Thomas Lim escreveu a história com base na sua própria experiência, onde pretende revelar a obsessão de gerir uma carreira e o tormento mental que se sofre quando os holofotes mudam para outro alvo. Como o próprio diz, “ser actor ou cineasta não é apenas um emprego ou carreira, mas um estilo de vida e, provavelmente, uma obsessão. Temos de estar constantemente a estudar ou a praticar. Por isso, quando me perguntam o que eu faço no tempo livre, a minha humilde resposta é sempre: ‘Não tenho tempo livre’”. Manuel Nunes

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O segundo aniversário do restaurante cantonês “Le Chinois” será comemorado com a disponibilização de um buffet de jantar que conta com a selecção do chefe Mok Chee Wah. São 50 especialidades regionais entre Dim Sum e uma “vasta” variedade de pratos. A oferta é acompanhada de cerveja ou chá à descrição e está disponível diariamente das 17h30 às 21h30 por um valor de 298 patacas por adulto e, para crianças dos 6 aos 12 anos, por 149 patacas.

APRESENTAÇÃO DE “LIVE AND LOVE MACAU”

A nova revista online “Live and Love Macau” é lançada oficialmente amanhã, com uma festa no Heart Bar, no hotel Ascott. A organização promete “cocktails, música e snacks”, num evento que começa às 18h00 e se prolonga até às 20h00. A “Live and Love Macau” é uma nova revista “que serve como um guia para a vida, cultura, as pessoas e os lugares” de Macau. “A fonte online que todos estávamos à espera”, garantem as responsáveis, Katya Maia e Sally Victoria Benson.

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EVENTOS

HOJE NA CHÁVENA Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

Angélica Nome botânico: Angelica archangelica L. Sinonímia botânica: Angelica officinalis Moench; Archangelica officinalis (Moench) Hoffm. Família: Apiaceae (Umbelliferae). Nomes populares: ANGÉLICADOS-JARDINS; ARCANGÉLICA; ERVA-DO-ESPÍRITO-SANTO. Originária das regiões montanhosas da Europa e Ásia, a Angélica prefere locais frios e húmidos na proximidade de cursos de água. Trata-se de uma herbácea vistosa, aromática, alcançando os 2 metros de altura, de caules ocos, grossos e estriados; as folhas, de cor verde-vivo, são grandes e formam uma bainha na base e, as flores, branco-esverdeadas, dispõem-se em umbelas de grande dimensão; tem um rizoma volumoso com numerosas raízes, que segrega um suco leitoso ao ser cortado. Com uma longa utilização pela medicina ayurvédica e dos países da Europa Setentrional, a Angélica está inscrita em diversas farmacopeias. Só durante a Idade Média começou a ser usada na Europa, principalmente no combate à peste, sendo cultivada nos jardins dos mosteiros. Segundo a lenda, foi o arcanjo Rafael que revelou os seus poderes curativos. Além de usada como uma panaceia, foram-lhe ainda atribuídos poderes sobrenaturais, tal como alude o seu nome. Actualmente, esta erva ocupa um lugar mais modesto na fitoterapia, porém já investigado. São usados os rizomas e raízes. Composição Óleo essencial (felandreno), lactonas macrocíclicas, cumarinas, furanocumarinas (angelicina, arcangelicina, bergapteno) e cromonas; ácidos fenólicos (cafeico, clorogénico), taninos, flavonóides, constituintes amargos, fitosteróis (beta-sitosterol), açúcares (sacarose), substâncias pécticas e ácidos gordos (linoleico, oleico, palmítico). Aroma agradável entre o picante e o adocicado, sabor amargo. Acção terapêutica Considerada um amargo aromático, as principais propriedades da Angélica são devidas aos princípios activos que lhe conferem o sabor e aroma. Assim, esta erva tonifica e estimula as funções do aparelho digestivo, aumenta o apetite e as secreções gástricas, fortalece o funcionamento do estômago e facilita a digestão, elimina gases e fermentações intestinais; favorece ainda a excreção de bílis da vesícula para o duodeno e é anti-inflamatória e antiespasmódica. É

muito recomendada na falta de apetite e anorexia, digestões lentas, aerofagia, sensação de enfartamento, flatulência, espasmos e cólicas gastrintestinais; pode igualmente ser útil no estômago descaído ou atónico (ptose gástrica), gastrites e enterites, mau funcionamento ou inflamação da vesícula e, em geral, aos debilitados e convalescentes. Com acção sedativa, a Angélica tonifica e equilibra o sistema nervoso, tendo também ligeira actividade relaxante muscular. Ansiedade, agitação, insónia, debilidade nervosa, depressão, stress, estudantes em épocas de exames e enxaquecas de origem digestiva são outras indicações desta planta. Outras propriedades Devido à sua actividade expectorante e relaxante da musculatura lisa da traqueia e brônquios, a Angélica tem sido utilizada na tosse e catarro, constipação, congestão respiratória, bronquite, asma e outras afecções pulmonares. Pela sua actividade tónica e estimulante sobre a circulação, melhora o afluxo de sangue a todo o corpo, inclusive às extremidades; por este motivo, pode ser administrada em caso de mãos e pés frios e frieiras. Como tomar Uso interno: • Infusão das raízes: 1 colher de sobremesa por chávena de água fervente, 10 minutos de infusão. Tomar 3 chávenas por dia, antes das refeições. • Em simples ou fórmulas, a Angélica encontra-se também em ampolas, xarope, tintura e comprimidos, usados como aperitivo e digestivo, tónico geral do organismo e do sistema nervoso. • As folhas, de sabor semelhante ao Alcaçuz, servem para aromatizar saladas e adoçar tartes de frutas. • Os caules cristalizados podem ser ingeridos como um doce ou utilizados na decoração de bolos. • A Angélica aromatiza diversos licores, como os conhecidos aperitivos Bénedictine e Chartreuse. Precauções A Angélica está contra-indicada na gravidez e lactação, úlceras gástricas e intestinais e doenças neurológicas (epilepsia, Parkinson e outras). Pela presença de cumarinas não deve ser tomada em concomitância com anticoagulantes (varfarina). Devido à acção fotossensibilizante das furanocumarinas, a administração de Angélica pode ocasionar dermatites pela exposição prolongada à luz solar, devendo esta ser evitada durante o tratamento. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.


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MORREU BISPO EMÉRITO DE YUJIANG ZENG JING MU

NOMES ESTRANGEIROS DE EDIFÍCIOS VÃO SER ELIMINADOS

O bispo emérito de Yujiang, na província de Jiangxi, no sudeste da China, morreu no sábado, na sequência de uma queda em casa, anunciou ontem a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS). Zeng Jing Mu, de 96 anos, foi ordenado sacerdote em 1949, tendo conhecido a repressão exercida pelo regime de Mao Tse-Tung sobre a comunidade cristã. O bispo passou 23 anos na prisão por causa da lealdade à Igreja Católica, de acordo com a AIS. A perseguição aos cristãos, durante a Revolução Cultural chinesa - campanha político-ideológica levada a cabo a partir de 1966 por Mao - e a recusa em pertencer à denominada Associação Patriótica Católica Chinesa, fundada em 1957 pelo governo chinês para controlar as actividades dos católicos chineses, resultaram em dezenas de mandados de prisão contra Zeng Jing Mu. Em comunicado, a AIS referiu que o Vaticano nomeou como sucessor John Peng Weizhao. Ordenado em 2014, John Peng Weizhao foi detido em Maio do mesmo ano e libertado em Novembro. O funeral do bispo emérito de Yujiang está marcado para esta quarta-feira, acrescentou a AIS.

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M jornal do Partido Comunista da China (PCC) classificou ontem a operação “Papéis do Panamá” como uma campanha de “desinformação”, em que Washington possui “particular influência”, e que tem como alvo líderes de países não ocidentais. Dirigida pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla inglesa), aquela investigação abrange 11,5 milhões de documentos ligados a quase quatro décadas de actividade da firma de advogados panamiana Mossack Fonseca. Especializada em esquemas de evasão fiscal e com uma carteira de clientes prestigiados, a Mossack Fonseca tem mais escritórios na China do que em qualquer outro país, segundo a sua página oficial na Internet, presente em oito cidades chinesas, incluindo Hong Kong. De acordo com o ICIJ, pelo menos oito actuais ou antigos membros do Comité Permanente do Politburo do PCC, a cúpula do poder na China, terão colocado os seus bens em empresas ‘offshore’.

A China vai eliminar, até Junho de 2017, os nomes estrangeiros atribuídos a edifícios e complexos residenciais do país, como “Manhattan”, “Provence” ou “Venice”, visando “preservar a cultura tradicional chinesa”, informa ontem a imprensa oficial. Nomes susceptíveis de “danificar a soberania e dignidade nacional” ou em “desacordo com importantes valores socialistas”, serão o alvo principal, afirmou o director do Ministério dos Assuntos Civis chinês, Li Liguo, citado pelo jornal China Daily. “Eliminar os nomes ocidentais e preservar os tradicionais ajudará a manter a herança cultural chinesa”, explicou Li. O proliferar de zonas residenciais baptizadas com o nome de cidades ou ex-líbris da Europa e América do Norte acompanha o crescente fascínio da classe média chinesa com o estilo de vida ‘ocidental’. Em Fevereiro passado, as autoridades chinesas publicaram uma outra directiva que proíbe a construção de edifícios “estranhos” ou “exagerados, excêntricos e em estilo estrangeiro”.

Panamá JORNAL OFICIAL DO PC DIZ QUE INVESTIGAÇÃO TEM PROPÓSITOS POLÍTICOS

Papéis subversivos lançou uma persistente campanha anti-corrupção, enquanto reprimiu activistas e dissidentes que exigiam maior escrutínio sobre os titulares de cargos públicos. Entre os familiares, ou pessoas próximos de altos responsáveis

chineses envolvidos, figura Deng Jiagui o marido da irmã mais velha de Xi. Em 2009 - quando Xi era membro do comité permanente do Politburo do PCC, mas não Presidente - Deng tornou-se o

único accionista de duas empresas de fachada nas Ilhas Virgens britânicas, revelou o ICIJ.

CENSURA QUASE TOTAL

Sem nunca referir o envolvimento de líderes chineses, o Global Times

CAMPEÕES DO OFFSHORE

O jornal britânico Guardian revela que uma pesquisa interna conduzida por aquela firma indica que a maior proporção de donos das suas empresas ‘offshore’ são provenientes da China continental, seguido por Hong Kong. Sob a liderança do actual Presidente chinês, Xi Jinping, Pequim

De acordo com o ICIJ, pelo menos oito actuais ou antigos membros do Comité Permanente do Politburo do PCC, a cúpula do poder na China, terão colocado os seus bens em empresas ‘offshore’

jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC, acusa os documentos analisados de terem “alvos políticos”. Todavia, nos restantes órgãos de comunicação, ou nas redes sociais chinesas, as referências à operação são escassas, enquanto a transmissão de canais de televisão estrangeiros no país, como a estação britânica BBC, é interrompida de cada vez que o caso é mencionado. Segundo um relatório difundido em 2011 pelo Banco central da China, funcionários chineses corruptos terão enviado um total de 120 mil milhões de dólares para contas no estrangeiro. A Mossack Fonseca mantém escritórios nas cidades chineses de Xangai e Shenzhen, nas cidades portuárias de Qingdao e Dalian e nas cidades de Jinan, Hangzhou e Ningbo. Os documentos, inicialmente conseguidos pelo diário alemão Suddeutsche Zeitung no início do ano passado, foram em seguida divididos pelo ICIJ entre 370 jornalistas de mais de 70 países. A investigação desencadeou já crises políticas, em alguns países, e noutros, a promessa de processos judiciais.

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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 139/AI/2016 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora GUO LIJUAN, portadora do Salvo-Conduto de dupla viagem da R.P.C. n.° W35435xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 55/DI-AI/2014 levantado pela DST a 13.05.2014, e por despacho da signatária de 11.03.2016, exarado no Relatório n.° 182/DI/2016, de 19.02.2016, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.° 1321, Edf. Hung On Center, Bloco 3, 11.° andar U onde se prestava alojamento ilegal.-----------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.----------------------------------------------------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.---------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.---------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 11 de Março de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

MISSA DE CORPO PRESENTE

VASCO FERREIRA

A família enlutada e os amigos de Vasco Ferreira vêm participar a realização de uma missa de corpo presente hoje, pelas 20h00, na Casa Mortuária do Kiang Wu, junto ao Canil Municipal de Macau e ao Canídromo de Macau. A todos se agradece antecipadamente a presença neste momento doloroso.


13 hoje macau quarta-feira 6.4.2016

PREOCUPAÇÕES COM CRÉDITOS IMOBILIÁRIOS DE ALTO RISCO

Pior a emenda que o soneto Para ocupar as cidades fantasma, as imobiliárias têm vindo a relaxar o crédito e a facilitar as aquisições o que, na opinião de especialistas, é uma prática arriscada que pode vir a dar maus resultados. Agora, o governo está a tentar por travões depois de ter deixado o mercado em roda livre

S

EGUNDO um artigo publicado esta segunda-feira no The Wall Street Journal (WSJ), as iniciativas da China para reduzir o excesso de imóveis desocupados estimulando o crédito imobiliário provocaram um problema ainda maior o que está a alarmar os reguladores: um surto de empréstimos de alto risco ao estilo das hipotecas “subprime”, que tiveram um papel central na crise financeira norte-americana. Geralmente, os compradores na China dão um terço do preço de um imóvel novo como entrada. Mas, segundo a reportagem do WSJ, um rápido crescimento no número de compradores assumindo empréstimos para dar entradas em imóveis está a levar as autoridades chinesas a restringir a prática. Serviços de crédito que captam dinheiro a investidores e depois o emprestam a juros mais altos concederam 924 milhões de yuan em financiamentos para entradas de compras de imóveis em Janeiro, mais que o triplo do volume de Julho do ano passado, segundo a Yingcan, uma consultoria de Xangai. Para ajudar as cidades a ocupar seus apartamentos vazios, o go-

O

El País, publicou recentemente um trabalho sobre um novo negócio da China: eliminar amantes. Um empreendimento lucrativo e com grande procura. Zhou Xia, relata o jornal espanhol, é uma das clientes que recorre ao serviço. Sentia-se magoada. Com 38 anos e uma filha de seis, dedicou a vida à família e aos prósperos negócios de importação e exportação que montou com o marido e que avalia em 220 milhões de yuan. Há um certo tempo descobriu que o marido tinha uma amante mas a separação estava fora de questão pois, alega, “as esposas só têm a perder com isso. Um homem com dinheiro pode conseguir outras mulheres, se quiser; uma mulher divorciada é muito desvalorizada no mercado”. Foi quando descobriu a Weiqing, uma empresa de assessoria

Um rápido crescimento no número de compradores assumindo empréstimos para dar entradas em imóveis está a levar as autoridades chinesas a restringir a prática

As caça-amantes

Eliminar relações extraconjugais é negócio de milhões

matrimonial convencional mas que há três anos atrás descobriu que eliminar amantes era muito mais lucrativo. Situa-se num andar de luxo de Xangai, com vistas espectaculares, num bairro nobre e tem já três sucursais e 59 centros em sistema de franchise.

CRESCE E DESAPARECE

Num dia normal, diz Ming Li, co-fundadora da Weiqing, podem atender entre 200 e 300 consultas telefónicas e pela Internet, e manter entre 10 e 15 sessões ao vivo. A cliente típica, explica Ming, é uma mulher entre os 40 e os 50 anos sem problemas de dinheiro. Porque os preços da Weiqing não são baratos. Uma hora de consulta

ao vivo pode custar 2.000 yuan mas o serviço completo de “bloqueio de destruidoras de famílias”, como gostam de lhe chamar, não sai por menos de 200.000 Yuan.

verno chinês começou a relaxar o crédito no final de 2014 e, relata o WSJ, um executivo sénior de um dos quatro maiores bancos estatais chineses diz que os empréstimos

Estas exterminadoras implacáveis, operam ganhando a confiança da amante ou xiaosan – literalmente, a “outra”– e os métodos variam. Umas vezes alugam um apartamento e passam por uma vizinha que só pretende o bem da moçoila; outras enviam um homem que se demonstra apaixonado e se desfaz em mimos; a oferta de uma

CHINA

para pagar entradas de imóveis contribuíram directamente para uma alta recente nos preços dos imóveis em grandes cidades. “É uma prática arriscada que deve ser contida”, disse.

COMPREM QUE É FÁCIL

As autoridades chinesas estão a intervir e, em Março, o banco central e o Ministério da Habitação começaram a restringir empréstimos que encorajam compradores de imóveis com slogans de “sem entrada”. Yang Jun, um auxiliar de escritório de 31 anos, assumiu um empréstimo juntamente com familiares e amigos para pagar a entrada de 30% de um apartamento de 1,5 milhão de yuan em Nanquim, mas ainda lhe faltaram 100 mil. Esse montante veio a ser coberto pela construtora que lhe ofereceu um empréstimo. “Isso ajudou-me a realizar meu sonho chinês” da casa própria, diz Yang. “Muitos jovens com eu ficariam fora do mercado sem a ajuda destes financiamentos.”, disse o jovem. O governo chinês começou a relaxar o crédito no fim de 2014 para ajudar as cidades a ocupar seus apartamentos vazios — herança de um boom alimentado por dez anos de crescimento da população urbana e crédito barato. Mas, apesar da alta nos empréstimos para entradas e um acesso mais fácil às hipotecas para grupos como trabalhadores migrantes da zona rural, encontrar compradores tem sido uma tarefa difícil em alguns lugares. Em vez disso, o relaxamento do crédito e incentivos alimentaram uma corrida imobiliária nas grandes cidades.

compensação económica também pode ser uma hipótese, mas pode ser um trabalho de meses. “Entramos em contacto com as amantes e tentamos convencê-las a deixar a relação. Algumas vezes não sabem que ele é casado. Se sabem, explicamos que essa relação não tem futuro, que ele não deixará a esposa. Se insistirem que em casar-se dizemos ‘Está a ver? É este o seu futuro. Se ele deixar a mulher e se casar consigo, vai fazer o mesmo daqui a alguns anos”, diz Lu Xia, uma das conselheiras matrimoniais da empresa. O índice de divórcios cresceu ininterruptamente ao longo dos últimos 12 anos na China, um país onde casar ainda é quase uma obrigação social. Segundo o Ministério de Assuntos Civis, em 2014 mais de 3,6 milhões de casais terminaram o casamento, o equivalente a 25% dos que se casaram nesse ano.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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WANG CHONG

王充

OS DISCURSOS PONDERADOS DE WANG CHONG

Na realidade tudo o que querem é, antes de tudo, satisfazer seus desejos!

Perguntas a Confúcio – 56

C

ONFÚCIO recusava beber a água da “Fonte dos Ladrões” e Zengzi não consentia entrar no bairro conhecido por “Mãe Vencida”, afim de evitar qualquer contacto com algo de mau, de contaminado, e não desejando ser visto em locais com nomes contrários à moral [NT – no caso do nome do bairro, haveria uma indicação latente de ausência de piedade filial]. Assim, Confúcio e Zengzi mantiveram-se longe da “Fonte dos Ladrões” e da “Mãe Vencida”, apesar de se tratarem apenas de nomes vazios. No entanto, Confúcio pretendeu visitar Bi Xi, apesar deste ser verdadeiramente mau. Se teria razão em não querer beber a água daquela fonte, razão teria tido para não visitar Bi Xi... [Confúcio disse]: “A riqueza e as honrarias sem justiça, eis coisas que me preocupam tanto como as nuvens que

vogam no céu!” Mas estas belas palavras não são invalidadas pelo facto de Confúcio esquecer todas as regras para ganhar algum dinheiro de um traidor? Será que esperava a ocasião propícia para pôr em prática a sua política? Mas, nesse caso, deveria tê-lo dito a Zilu, em vez de falar de comida! A resposta de Confúcio a Zilu mostra que pensava apenas em assegurar sustento. Ora eis uma atitude deveras indigna! Como pode dizer que pretendia aceitar um cargo para poder comer? Um homem honesto jamais falaria assim... Quando os homens aceitam um cargo, dão-se ares de virtude e dizem que é para propagar as suas ideias, mas, na verdade o que querem é um salário. Do mesmo modo, dão por pretexto a piedade filial quando se casam, quando na realidade tudo o que querem é, antes de tudo, satisfazer seus desejos! Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho

Wang Chong (王充), nasceu em Shangyu (actual Shaoxing, província de Zhejiang) no ano 27 da Era Comum e terá falecido por volta do ano 100, tendo vivido no período correspondente à Dinastia Han do Leste. A sua obra principal, Lùnhéng (論衡), ou Discursos Ponderados, oferece uma visão racional, secular e naturalista do mundo e do homem, constituindo uma reacção crítica àquilo que Wang entendia ser uma época dominada pela superstição e ritualismo. Segundo a sinóloga Anne Cheng, Wang terá sido “um espírito crítico particularmente audacioso”, um pensador independente situado nas margens do poder central. A versão portuguesa aqui apresentada baseiase na tradução francesa em Wang Chong, Discussions Critiques, Gallimard: Paris, 1997.


15 hoje macau quarta-feira 6.4.2016

na ordem do dia 热风

O cinema na China “Palácio de Verão”

性爱与政治:重访电影《颐和园》

P

ALÁCIO de Verão é o quarto filme do escritor-realizador Lou Ye. Embora seja um nome menos conhecido do cinema chinês, Lou é, sem dúvida, o realizador que melhor domina a narrativa do enredo, destacando-se também pela escolha de vários temas polémicos que versam a sexualidade, o género, as obsessões e a política. Palácio de Verão conta a história do encontro de um rapaz e de uma rapariga. A rapariga, Yu Hong, cresceu numa cidade do Nordeste, perto da fronteira com a Coreia. Admitida numa prestigiada universidade da capital chinesa, a jovem e independente heroína está determinada a viver intensamente e a realizar os seus sonhos. Numa festa disco no campus, Yu Hong encontra Zhou Lei e, não é preciso muito, para que os dois percebam que foram feitos um para o outro. Mas, deve-se saber de antemão, esta não é só uma história de amor. Após conturbadas e inebriantes sequências de sexo, o filme envereda por um registo mais tranquilo. Como pano de fundo temos o clamor da China dos anos 80. Num estilo um tanto ou quanto anárquico, este levantamento não deixou de ter sido corajoso e cheio de promessas. Um tempo de reformas, onde aspirantes a intelectuais desfrutaram de um curto período de liberdade de expressão. No entanto a idade de ouro da democracia chinesa estava prestes a sofrer um golpe trágico quando o Estado promoveu o terror no Verão de 1989. A 4 de Junho, o Massacre da Praça de Tiananmen marcou o ponto de viragem da história da China moderna. Neste argumento, quer o sexo quer a política são levados ao rubro, mas, no fim, das chamas restam apenas cinzas. Sobra uma nação privada de esperança às portas do advento de uma nova era, a do capitalismo “Made-in-China”. No entanto o filme não se resume só ao amor e à política. A segunda me-

tade aborda questões da família, que por sua vez são colocadas num contexto histórico. Lou Ye capta um período de transformações, durante o qual as bicicletas que deambulavam pelas ruas de Pequim foram substituídas por corridas de Volkswagens e as cartas de amor por emails. A nostalgia dum mundo para sempre perdido insinua-se através de uma atmosfera por onde perpassa uma estética feminina e nos corta a respiração.

Palácio de Verão tem momentos chocantes quando os civis são abatidos pelas Forças Armadas. À semelhança da heroína da história a China parece perdida num limbo, sem objectivo. Veja o trailer aqui: http://bit.ly/1ZwahkX Palácio de Verão 140 min Drama | Romance Falado em: Mandarin | Alemão

Julie O’yang


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h

hoje macau quarta-feira 6.4.2016

a saga da taipa

José Drummond

Que estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa? 7. A EMPREGADA DO BAR

T

ÊM estado dias de nevoeiro. Dias nos quais não se vê o outro lado da ponte. Uma cerração que se estende e que entra nas nossas cabeças. Ofuscando a visão. Aglutinando a alma. Até não existir mais nada. Até só existir esta intensa camada que envolve os nossos corpos. Nada mais que este estar em surdina. Esta pressão que aperta o coração. Olho para ti. E és? Existes realmente? Ou subsistes apenas como reminiscência no espaço cinza claro? Desde que aqui vens que me parece poderes estar interessado em mim. Mas algo se passou na tua vida que te deixou com uma dor profunda. Vens aqui todas as noites. Vens beber até não poderes mais. Sou sempre eu que te sirvo. E sirvo-te o tempo todo. Primeiro vieste uma noite e não ficaste muito tempo. Depois as visitas tornaram-se cada vez mais frequentes. Já encontrei os teus olhos a passear pelas linhas do meu corpo. Por vezes demoras-te no decote do meu vestido e, a medo, nos meus seios. Sinto que imaginas coisas, mas ainda não percebi bem o quê. Não sei se te sentes tão atraído por mim como eu me comecei a sentir por ti. A verdade é que uma mulher sente sempre o olhar de um homem. Ao mesmo tempo parece que tens medo de ti. Do que pode acontecer. E até, de podermos acabar na cama. E, se calhar, tens razão. Não sei se tens medo de te ligar a mim. Se calhar tens medo de ti. Se calhar tens medo que eu seja sádica, abusiva ou dominadora. Se calhar tens medo de seres tu o sádico. Se calhar tens medo que, apesar de trabalhar num bar, eu seja uma pessoa dócil. Que seja quase como uma flor. Uma flor que tu poderás danificar. Mas eu digo que não poderás. E digo que não poderás, porque se eventualmente acontecer algo entre nós, eu tudo farei para ser, primeiro a tua princesa, e depois a tua rainha.

Hoje é terça-feira, e tu, mais uma vez, estás sozinho. Estás sentado ao balcão, no mesmo lugar de sempre, não muito longe do aquário. As tuas mãos variam de posição frequentemente. As tuas mãos existem em alternância, entre o copo e a cabeça, que se percebe mais confusa que nunca. Num gesto repentino bates com o copo no balcão e bebes o que resta de uma vez só. Ainda não estás bêbado como já te vi. Algumas vezes por esta altura já estás preparado para subir ao teu quarto. Mas hoje a tua confusão tem uma determinação qualquer que não te deixa ficar bêbado. Vou agora passar à tua frente. Devagar. Com um leve agitar do corpo. Fazendo com que este rebolar me insinue. Esperando que este rebolar te acorde e te faça olhar para mim. Vou-o fazer sem aviso prévio, de modo a que sintas um arrepio na espinha. Daqueles arrepios que fazem tremer o sexo. Daqueles arrepios que ampliam a imaginação. E assim me perco no sonho, no desejo, a olhar para ti. A olhar para ti. Mas tu não me vês. E que vejo eu? Vejo um homem que já não é novo. Talvez um pouco rebelde. Um homem estranho, abatido, e, sempre à procura, sempre tão perdido. Tudo o que quero neste momento, é mostrar-te que o que quer que seja que te tenha acontecido, não merece esta forma dolorosa de suicídio em andamento lento. Mas sou tímida, e nunca seduzi ninguém nesta situação, a partir do lado de dentro do bar.

Eu sei. Eu sinto. Eu sei que podes ser bastante convincente. Eu sinto que, com vontade, com a tua voz calma, com o teu olhar que sei pode ser quase sedutor, podes fazer qualquer mulher sucumbir em desejo. Eu sei. Eu sinto. Mas estas não são as melhores circunstâncias. Tu não és tu. És tu e dor. E eu sei que posso fazer com que te esqueças. Nem que seja por um momento. Se me deres oportunidade para isso. Deixa ver se me consigo surpreender e me lanço para ti. “Que fazes hoje à noite depois disto?” Uma onda de antecipação parece crescer no meu peito quando penso nessa possibilidade. De algum modo não quero admitir mas parece que tenho estado à espera de ti. Parece que tenho estado à espera que te sentes

nesse banco e que olhes para mim. Parece que és tu que irás preencher o vazio que sinto. Olho-te nos olhos e sorrio. Os teus olhos permanecem perturbados. Os teus olhos frios que seguram tanta dor. Olha para mim. Obedece-me. Toco-te na mão. Tu pareces não sentir. As tuas mãos frias. Imagino a minha mão pequena dentro da tua. Ensaio mais um toque rápido e desajeitado. Quero que as minhas intenções sejam mais claras. Quero-te. Quero um homem misterioso como tu. “A polícia anunciou pela primeira vez a existência de um assassino em série relacionado com o caso das mulheres com abdómenes cortados. A polícia decidiu agora colocar vigilância em todas as ruas principais da Taipa.”


17 hoje macau quarta-feira 6.4.2016

TEMPO

MUITO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Sábado

MUNDO DE SHAKESPEARE PELA ORQUESTRA DE MACAU Centro Cultural de Macau, 20h00 Bilhetes entre as cem e 200 patacas

?

NUBLADO

MIN

20

MAX

25

HUM

70-98%

EURO

9.10

BAHT

EXPOSIÇÃO DE DINOSSAUROS Centro de Ciência de Macau EXPOSIÇÃO “COLOUR EXCHANGE” (ATÉ 10/04) Casa Garden

O CARTOON STEPH

PROBLEMA 62

UM DISCO HOJE C I N E M A

SUDOKU

DE

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 61

Cineteatro

YUAN

1.23

CASA ONDE HÁ PÃO... RALHAM COM RAZÃO

Diariamente

HISTÓRIA NAVAL (ATÉ 9/04) Arquivo Histórico de Macau

0.22 AQUI HÁ GATO

PALESTRA SOBRE CINEMA ASIÁTICO, AMERICANO E EUROPEU DA CREATIVE MACAU Centro Cultural de Macau, 10h00 às 17h00 Entrada livre

EXPOSIÇÃO “UM SÉCULO DE ARTE AUSTRÍACA” (ATÉ 3/04) Museu de Arte de Macau

(F)UTILIDADES

Lutar por comida é algo a que nós gatos estamos habituados. A espécie dos telhados, claro, pois eu tenho uma vida mansa. Basta-me miar para que a tigela se encha. Sou um gato com sorte, mais do que muita gente em Macau para quem comer é uma luta. Vinha ontem nos jornais que a Associação de Beneficência da Ilha Verde critica a Cáritas porque grande parte dos alimentos recolhidos pelo Banco Alimentar vão para o interior da China, faltando aos locais que só podem habilitar-se ao cabaz se o agregado não tiver rendimentos superiores a quatro mil patacas/mês. Ou seja, os emigrantes do continente recebem ainda menos... A Cáritas vai rever os procedimentos mas entretanto avisa que 2100 agregados pediram ajuda em 2015 e este ano já registaram 580 pedidos. (silêncio) Nem sei por onde começar, se pelos ordenados dos emigrantes, se pelo facto de existirem quase dez mil pessoas sem dinheiro para comerem em Macau. Olho para a minha malga e suspiro, dando graças pelo que tenho enquanto reflicto sobre as razões para tanta desigualdade na cidade do dinheiro, onde a harmonia é apenas para alguns. Até quando vão permitir o despejo diário de toneladas de alimentos para o lixo, sobras de buffets não consumidos? Paul Pun (Cáritas) pede ao Governo para aumentar a diversidade dos supermercados (!) mas não seria melhor pedir para limitar os buffets nos hotéis, descobrir formas de distribuir os excedentes e liberalizar o mercado de importação de alimentos? Mas eu sou apenas um gato, que sei eu?... Pu Yi

“TALKIE WALKIE” (AIR, 2004)

Há 12 anos a dupla francesa de pop-electrónica Air presenteou o mundo da música com um álbum coeso, que se ouve do princípio ao fim e que revelou uma dinâmica que o público teve mais dificuldade em encontrar em “Pocket Simphony”, lançado quatro anos depois. Em “Talkie Walkie” há canções de amor (Venus), há canções divertidas e há aquelas que nos transpõem para outra dimensão. Todos os estados de espírito cabem neste disco. Andreia Sofia Silva

KUNG FU PANDA 3 SALA 1

BATMAN V SUPERMAN [C]: DAWN OF JUSTICE

Filme de: Zack Snyder Com: Amy Adams, Jesse Eisenberg, Diane Lane, Laurence Fishburne 14.30, 18.30, 21.15 SALA 2

ZOOTOPIA [A]

FALADO EM CANTONÊS Filme de: Byron Howard, Rich Moore 14.15, 16.05, 21.45

ZOOTOPIA [A][3D]

FALADO EM CANTONÊS Filme de: Byron Howard, Rich Moore 17.55 SALA 3

EDDIE THE EAGLE [B] Filme de: Dexter Fletcher Com: Taron egerton, Hugh Jackman 14.15, 16.05, 17.55, 21.30

KUNG FU PANDA 3 [A]

FALADO EM CANTONÊS Filme de: Alessandro Carloni, Jennifer Yuh 19.45

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


18 OPINIÃO

hoje macau quarta-feira 6.4.2016

chá (muito) verde

FERNANDO ELOY | 义來

P

OR entre névoas do politicamente correcto, da tolerância e da protecção de minorias, o mundo ocidental parece esquecer-se de algo extremamente importante, algo que resolve muitas das questões existenciais dos dias de hoje. Esquecemo-nos de onde vem o sucesso da forma de vida ocidental que tanto prezamos. Esquecemo-nos do enorme valor do laicismo. Todos nós já vivemos a opressão religiosa. De Portugal à Dinamarca fomos violentados, queimados e ostracizados. Passámos por tempos onde excomungar era uma terrível ameaça. Mas livrámo-nos disso. Prosperámos porque libertos de conceitos e preconceitos, aprendemos a viver livres e até a respeitar os outros. Escrevemos Tratados da Tolerância e até a Carta dos Direitos Humanos, o único texto realmente sagrado da humanidade. Mas hoje discute-se, como se de repente não soubéssemos, a melhor forma de lidar com os muçulmanos e outros povos que não conseguem distinguir a religião do Estado. Preocupados com eles, coitadinhos, quando devíamos é ter dó por ainda não se terem livrado dos atavismos arcaicos nem perceber que Estado é uma coisa e religião é outra. O problema é também parecermos não saber explicar-lhes nem, tão pouco, lembrar-nos desse facto tão crucial na nossa evolução social recente. Na Suíça, avançava esta semana o DN, (http://bit.ly/muçuaperto) as autoridades educativas de Therwil, cantão de Basileia, depois de dois estudantes muçulmanos do sexo masculino terem contestado o hábito suíço de dar um aperto de mão aos professores, sancionaram o comportamento pois os estudantes alegaram que, caso o docente fosse do sexo feminino, o costume era contrário às suas crenças religiosas. Na Alemanha, avança a Russian Television (http://bit.ly/salsichanao), vivem a polémica das salsichas após uma série de escolas, cantinas e enfermarias as terem banido por questões religiosas. Nos Estados Unidos, orgulha-se a Esquire (!) (http://bit.ly/soldadosikh) que considera, e cito, “uma vitória para a liberdade religiosa” o facto de um soldado-norte americano ter vencido a batalha do turbante alegando, uma vez mais, motivações religiosas para ter uma cobertura capilar diferente da dos demais. Esta semana, foram várias as vozes a insurgirem-se contra o editorial intitulado “Como chegámos até aqui” do Charlie Hebdo (http://bit.ly/hebdoedita), inclusive a do “The Independent”, um jornal que até tenho em melhor conta. Dizem os recalcitrantes que o Charlie está apenas a incitar ódios contra

MILOS FORMAN, SOMBRAS DE GOYA

Não estaremos a esquecer-nos de algo?

O que nos falta perceber, no ocidente, é não existir vergonha alguma em sermos como somos, em renegar muçulmanos e todos os outros que entendam a religião como uma condicionante da vida, tal como hoje escarnecemos os inquisidores e moralistas que um dia nos fizeram baptizar um certo período na nossa história como “Idade das Trevas” todos os muçulmanos, um texto inadmissível e desapropriado. Já não “somos todos Charlie”, portanto. Diz o editorial a determinada altura, e cito, “veja-se o padeiro do bairro, que acabou de comprar a padaria que vem substituir a antiga do velhote acabado de se reformar. Ele faz croissants excelentes e é um fulano simpático sempre com um sorriso para os clientes. Está mesmo completamente integrado na vizinhança. E não são nem as suas longas barbas nem a mazela de rezar na testa (indicativa da sua grande devoção) que incomodam a clientela. Estão demasiado ocupados a embrulharem as sandes para o almoço. As que ele vende são fabulosas mas a partir de agora não mais existem as de fiambre nem as de bacon. O que não é um problema porque existem muitas outras escolhas – atum, galinha e os complementos todos. Seria, portanto, pateta resmungar ou armar confusão numa padaria tão adorada. Nós habituamo-nos com facilidade. (...) Nós adaptamo-nos.” Uns malditos os Charlies que têm o desplante de tocar na ferida. Na realidade,

uma sociedade sem capacidade para se sentir a si própria, manietada por sentimentos de culpa e atafulhada de pensamentos tolerantes... Melhor, uma cultura sem coragem de ser por causa dos outros, coitados, que até a invejam, candidata-se ao esquecimento desfeita no pó dos tempos. O que nos falta perceber, no ocidente, é não existir vergonha alguma em sermos como somos, em renegar muçulmanos e todos os outros que entendam a religião como uma condicionante da vida, tal como hoje escarnecemos os inquisidores e moralistas que um dia nos fizeram baptizar um certo período na nossa história como “Idade das Trevas”. Se não pretendermos voltar a esses tempos assustadores, temos de ser capazes de perceber que a tolerância para com os outros não pode exceder a nossa forma de vida, leia-se os Estados laicos que nos deram a liberdade, a alegria de viver, de dizer o que nos apetece, de criar como nos aprouver, de vivermos como nos der na gana. Mas também alguns do nosso lado tentam fazer-nos voltar atrás, como o beato

do novo presidente que na sua primeira missão oficial como representante do Estado (laico) português foi beijar a mão ao Papa, fazendo questão de nos lembrar da “dívida” para com o Vaticano por nos ter reconhecido o país... Não está em causa Francisco, que tem tido um pontificado de mérito, mas o significado da visita. Estivesse lá o Rato Zinger e seria igual. Mas em Portugal ninguém disse nada, ninguém comentou. Talvez por acharmos normal, talvez porque, ingenuamente, pensemos que as trevas não mais voltarão. Mas elas voltam quando desistimos de procurar a luz. Talvez não com a cruz, talvez com um crescente, ou outra coisa qualquer, mas virão se não percebermos o que devemos ao laicismo. Não venham, portanto, com razões religiosas para isto ou para aquilo. Não valem. Não são aceites em Estados laicos. Esquecermo-nos disto leva à crise, ao extremar de posições, à intolerância e, por fim, à guerra.

MÚSICA DA SEMANA

DAVID BOWIE – ALL THE MADMEN (1970) (Where can the horizon lie When a nation hides Its organic minds in a cellar...dark and grim They must be very dim) Day after day They take some brain away Then turn my face around To the far side of town And tell me that it’s real Then ask me how I feel


19 hoje macau quarta-feira 6.4.2016

ÓCIOSNEGÓCIOS

MISE, ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS BRUNO SIMÕES, SECRETÁRIO DA ADMINISTRAÇÃO

Eventos desportivos, musicais e festivais num contexto internacional cada vez mais alargado. No que respeita à formação e numa aposta de carácter pioneiro na região, esta será dividida em duas componentes primordiais: do lado teórico é intuito da MISE - com o apoio dos Institutos de Educação locais - prestar formação certificada. Numa vertente prática, a MISE prevê uma formação integrada e completa através da aprendizagem directa com a participação dos formandos nas actividades organizadas pela Associação.

MISE

Numa altura em que o atrair de diversidade a Macau é a “palavra de cada dia”, a MISE surge para “inovar” a área da promoção de eventos, de olhos postos nas reuniões e incentivos, mas com mais na manga

EM CONJUNTO

A MISE não está sozinha e conta com a cooperação com duas empresas irmãs estabelecidas há alguns anos em Macau: a DOC DMC Macau | Hong Kong e a smallWORLD Experience, especialistas em gestão de eventos e produção de actividades especiais e que é também a “maior empresa de team building em Macau”.

C

HAMA-SE Associação de Reuniões, Incentivos e Eventos Especiais (MISE, na sigla inglesa) e foi lançada no mês passado. É, como asseguram os criadores desta nova organização, uma plataforma que responde aos apelos governamentais de diversificação da economia da RAEM. Fazendo do lançamento o pontapé de saída de uma das áreas desta Associação, a MISE fez da sua apresentação um exemplo dos serviços que pode prestar, num evento que contou com a presença de mais de uma centena de profissionais do sector do Turismo e eventos e que teve lugar no Hotel St. Regis Macao. Mais que uma associação comum ou uma extensão do MICE (sector das convenções e exposições na sigla inglesa) num trocadilho com o programa, a MISE não só substitui as conferências e exposições pelos eventos especiais, como também pretende ir mais além e dotar Macau de um conjunto de meios capazes de promover a tão dita diversificação económica – e de turistas – do território. Para Todd Cai, Presidente do Conselho de Administração, “até à data não existia uma associação que apoiasse estes sectores em particular, nomeadamente incentivos e eventos especiais”, diz num comunicado, assumindo a MISE como prioritária nas estratégias políticas de turismo de Macau enquanto entidade promotora e atractora de mais eventos

internacionais, capazes de promover a região como destino. Estão também na agenda a execução independente de relatórios das indústrias MICE, bem como a criação de uma plataforma em Inglês que abarque todos os profissionais ligados aos MICE numa perspectiva promotora do empreendedorismo local.

MAIS E DIFERENTE

Representante de uma base de apoio aos profissionais dos negócios e turismo da região, Bruno Simões, Secretário do Conselho de Administração, diz ao HM que, apesar de já existirem na região entidades dedicadas aos eventos, esta plataforma pretende ir mais longe, numa aposta num leque mais alargado em que

estão também na mira “eventos desportivos, musicais, festivais e desafios, numa intenção que vai até aos eventos televisivos ou mesmo casamentos”. Já nos incentivos, a diferença é marcada com a oferta de viagens a profissionais da área num convite para conhecer Macau e desta forma promover a região

A MISE não só substitui as conferências e exposições pelos eventos especiais, como também pretende ir mais além e dotar Macau de um conjunto de meios capazes de promover a tão dita diversificação económica Sendo uma associação sem fins lucrativos, o “bom desempenho” da MISE é suportado por trabalho voluntário. Da organização, além de Todd Cai e Bruno Simões, fazem parte David Paulo Ribeiro, Rebecca Choi e Filipe de Senna Fernandes. Tendo em conta a diversidade dos interessados, a Associação apresenta diversas opções aos seus associados tendo em conta pequenas e médias empresas e grandes empresas, bem como profissionais individuais e estudantes. Ainda não tem sede, mas está online, em www.misemacau.org. Hoje Macau


JAPÃO SENSOR QUE DETECTA ALIMENTOS ESTRAGADOS

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M grupo de cientistas japoneses criou um dispositivo, que pode ser integrado em película aderente, capaz de detectar o estado de conservação da carne ou do peixe, noticiou ontem o jornal nipónico Nikkei. Trata-se de um “material inteligente”, com um centímetro de comprimento, que reage ao ser colocado sobre os alimentos e cuja utilização poderá evitar casos de intoxicação alimentar, de acordo com os criadores, um grupo de investigadores da universidade de Yamagata, no norte do Japão. O sensor é capaz de detectar a histamina, uma substância gerada quando as bactérias começam a decompor os aminoácidos dos alimentos, e que é responsável por sintomas de intoxicação alimentar, mesmo em pequenas quantidades. O aparelho integra um microcircuito impresso num material semicondutor em película aderente e, no futuro, poderá ser instalado em invólucros de modo a fornecer uma informação automática sobre o estado de conservação dos alimentos. Actualmente, estão a ser desenvolvidos outros sensores idênticos, mas maiores, disseram os cientistas japoneses. A partir deste protótipo, os investigadores esperam desenvolver um dispositivo para comercialização no prazo de três anos, acrescentou o diário. A equipa da universidade de Yamagata, dirigida pelo cientista Shizuo Tokito, está também a desenvolver um sistema para ligar esta tecnologia a telemóveis para que os consumidores possam receber informação à distância sobre o estado dos alimentos.

Cecília Jorge

Relações nucleares Papéis do Panamá Ligações a empresa de fachada norte-coreana

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quarta-feira 6.4.2016

Sou / apenas / mas sou / quanto baste / Não busco o pleno / não serei o quase”

MA empresa de fachada norte-coreana usada para ajudar a financiar o programa nuclear do país foi cliente da sociedade de advogados panamiana no centro da investigação jornalística conhecida como “Papéis do Panamá”, informa ontem a imprensa britânica. Com uma morada norte-coreana, a DCB Finance Ltd. foi registada nas Ilhas Virgens Britânicas em 2006 e legalmente constituída pela empresa panamiana Mossack Fonseca, informaram o jornal The Guardian e a estação BBC. Nesse mesmo ano, a Coreia do Norte fez o seu primeiro teste nuclear, provocando a primeira de várias resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas que impõem sanções a Pyongyang. A DCB Finance Ltd. foi registada pelo norte-coreano Kim Chol-Sam e por Nigel Cowie, um banqueiro britânico que se mudou para a Coreia do Norte em 1995 e liderou o primeiro banco estrangeiro no país - o Daedong Credit Bank. A DCB Finance é referida como sendo um desdobramento deste banco. Os documentos sugerem que, apesar da morada em Pyongyang, a Mossack Fonseca não detectou a

ligação da DCB à Coreia do Norte até a Agência de Investigação Financeira das Ilhas Virgens lhe ter enviado uma carta em 2010 a pedir informações sobre a empresa. Foi então que a empresa de advogados do Panamá deixou de ser agente da DCB. No ano seguinte, Cowie, que diz que não estava a par de qualquer transacção ilícita, vendeu a sua parte no Daedong Credit Bank a um consórcio chinês. O banco e o DCB – assim como Kim Chol-Sam – foram visados por sanções norte-americanas em Junho de 2013, por alegadamente terem, desde 2006, fornecido serviços financeiros a duas entidades norte-coreanas com um “papel central” no desenvolvimento do programa nuclear e de mísseis balísticos da Coreia do Norte.

“Devíamos ter identificado desde o início que esta era uma companhia de elevado risco” MOSSACK FONSECA

O Tesouro norte-americano disse que a DCB Finance tinha sido usada para “levar a cabo transacções financeiras internacionais como forma de evitar o escrutínio por instituições financeiras que evitam negócios com a Coreia do Norte”.

MEA CULPA

Um email da empresa Mossack Fonseca, em Agosto de 2013, parece reconhecer a sua própria falta de diligência em relação à empresa norte-coreana. “Ainda não abordámos a razão pela qual mantemos uma relação com a DCB Finance, quando nós sabíamos ou devíamos ter tido conhecimento (...) de que o país – a Coreia do Norte – estava na lista negra”, refere o email. “Devíamos ter identificado desde o início que esta era uma companhia de elevado risco”, acrescenta. A maior investigação jornalística da história, divulgada na noite de domingo, envolve o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla inglesa), com sede em Washington, e destaca os nomes de 140 políticos de todo o mundo, entre eles 12 antigos e actuais líderes mundiais.

ANTIGO GENERAL CHINÊS ACUSADO DE CORRUPÇÃO

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M ex-general chinês, entretanto expulso do Partido Comunista Chinês (PCC), foi formalmente acusado de corrupção num tribunal de Pequim, após ter confessado ter recebido subornos, noticiam ontem as agências Nova China e Xinhua, citando procuradores do exército local. Guo Boxiong, 73 anos, foi, até 2012, vice-presidente da Comissão Militar Central, órgão supremo que garante o comando do Exército Popular de Libertação (EPL) chinês, cargo que exerceu ao longo de 10 anos. O julgamento do antigo general, que se retirou do activo em 2012 e foi expulso do PCC em 2015, começou precisamente com a acusação dos procuradores militares. A “queda” de Boxiong surgiu na sequência das medidas do Presidente chinês, Xi Jinping, destinadas a consolidar um maior poder para o controlo do EPL, o maior exército do mundo e o melhor equipado militar e tecnicamente. Boxiong foi acusado de ter beneficiado da posição que ocupava “ao promover e recolocar pessoas em cargos importantes”, recebendo, em troca, avultadas somas em dinheiro, segundo a acusação. Na China, as acusações de crime são tradicionalmente seguidas pela expulsão do partido único, envolvendo um julgamento, condenação e prisão efectiva num sistema judicial controlado pelo PCC.

BIRMÂNIA EX-PRESIDENTE INGRESSA NUM MOSTEIRO BUDISTA O antigo general Thein Sein, que presidiu à Birmânia de 2011 até 30 de Março último, ingressou num mosteiro budista para “purificar o ‘karma’”, noticia ontem a imprensa birmanesa. Segundo os “media” locais, Thein Sein, também primeiroministro da última Junta Militar (2007/11), deu entrada segunda-feira no mosteiro de Dhamma Dhipati sob o nome de Tanti Dhamma e ali permanecerá durante cinco dias. O mosteiro budista eleito para o retiro espiritual situa-se em Pyin Oo Lwin, localidade montanhosa situada 235 quilómetros a norte do Palácio Presidencial de Naipydo, onde Thein Sein passou os últimos cinco anos. O budismo estabelece que os crentes devem converter-se temporariamente em monges budistas pelo menos uma vez na vida. A decisão de Thein Sein ocorre após a chegada ao poder do Movimento Democrático birmanês, liderado pela Nobel da Paz Aung San Suu Kyi.


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