Hoje Macau 6 SET 2019 # 4367

Page 1

h

MOP$10

SEXTA-FEIRA 6 DE SETEMBRO DE 2019 • ANO XIX • Nº 4368

TURISMO

LUGAR DE TODOS NÓS

JOSÉ NAVARRO DE ANDRADE

VALÉRIO ROMÃO

hojemacau

CHINA

COM OLHOS EM FÁTIMA GRANDE PLANO

DSEJ

LIVRES DE DIZER PÁGINA 5

IMOBILIÁRIO

SEM CASA NA MONTANHA PÁGINA 7

PUB

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

FENG LI - POOL/GETTY IMAGES

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

Arte da luta O Presidente chinês apontou Macau, Hong Kong e Taiwan como grandes desafios para o futuro da nação. Xi Jinping deixou esta mensagem aos membros do Partido Comunista, acrescentando que todos devem estar preparados para a “luta”. Analistas consideram que a referência a Macau deve ser vista como um exemplo de sucesso. PÁGINA 4


2 grande plano

6.9.2019 sexta-feira

FÁTIMA

OPERACAO ´ POUCO ´ CATOLICA

CHINA INTERFERE EM EVENTO COM PRESENÇA DE CARDEAL JOSEPH ZEN

˜

A revista portuguesa Sábado publicou ontem uma reportagem onde dá conta da presença de funcionários da Embaixada da China em Lisboa num evento católico na cidade de Fátima, no centro de Portugal. A causa prende-se com a presença de dois deputados de Hong Kong e do Cardeal Joseph Zen. O MNE e o Presidente da República sabem de tudo

F

ÁT IMA, cidade do centro de Portugal famosa no mundo inteiro por motivos religiosos, foi palco, a 22 de Agosto, do décimo encontro da International Catholic Legislators Network (ICLN), que pela primeira vez organizou um encontro entre católicos e políticos fora do Vaticano. De acordo com a revista Sábado, o evento ficou marcado por uma tentativa de interferência da embaixada da China em Lisboa, situação que é do conhecimento do próprio ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva. O ministério “teve conhecimento de que estiveram funcionários

da embaixada da China em Fátima, desconhecendo qual o seu intuito”, refere a revista. O objectivo estaria, no entanto, bem definido, uma vez que a publicação, citando “fontes nacionais e estrangeiras”, fala de “uma operação subversiva organizada pela embaixada chinesa em Lisboa para tentar perturbar a reunião”, devido à “presença no encontro de dois deputados de Hong Kong e, sobretudo, do bispo emérito e assumido opositor do regime de Pequim e apoiante dos protestos pró-democracia – Joseph Zen Ze-kiun”. Essas acções “passavam por “múltiplas tentativas de entrar nas instalações do hotel, perceber o que

ia ser discutido nas várias reuniões programadas, fotografar os participantes do encontro e até seguimentos durante as orações realizadas diariamente no santuário”. A revista descreve “condutas intimidatórias – que correspondem a técnicas usadas pelos serviços de informações mundiais, umas mais visíveis do que outras, não para recolher informações mas como forma de actuação psicológica”. De acordo com fontes nacionais, estas condutas foram tidas como “'inaceitáveis' por parte de funcionários de uma representação diplomática estrangeira em território nacional”. A reportagem dá conta ainda de depoimentos de pessoas que

estiveram presentes no encontro e relataram que “foi audível o pedido feito pelos diplomatas chineses para que a ILCN 'desconvidasse' dois dos oradores convidados com o argumento de que seriam 'mentirosos'”. A Sábado tentou pedir um comentário à ILCN, sem sucesso. Apenas George Glass, embaixador dos EUA em Lisboa, falou abertamente sobre o assunto. “Infelizmente houve tentativas de perturbar o encontro, uma das quais testemunhei pessoalmente, por pessoas que queriam bloquear a participação do cardeal Joseph Zen Ze-kun de Hong Kong. As autoridades portuguesas impediram estas tentativas.” Além do MNE, também a Presidência da República portuguesa sabe do assunto. O MNE adiantou ainda que “Portugal não estabelece restrições à movimentação de diplomas acreditados no país”. No entanto, “está a ser considerado, no MNE, se esta deslocação a Fátima cumpriu estes critérios (ao abrigo da Convenção de Viena)”.

INTERVENÇÃO POLICIAL

Os agentes policiais da Guarda Nacional República (GNR) tiveram de intervir no caso, uma vez que, em Fátima, chegou a ser abordado “um cidadão chinês que, estando sem documentos, foi levado para o posto para identificação”. “De acordo com as informações recolhidas pela Sábado, pouco depois terá havido um telefonema

[a Sábado] fala de “uma operação subversiva organizada pela embaixada chinesa em Lisboa para tentar perturbar a reunião”, devido à “presença no encontro de dois deputados de Hong Kong e, sobretudo, do bispo emérito e assumido opositor do regime de Pequim e apoiante dos protestos pró-democracia – Joseph Zen Ze-kiun”


grande plano 3

sexta-feira 6.9.2019

Quase 200 pessoas estiveram em Fátima, incluindo o chefe de gabinete do Presidente norte-americano, Donald Trump e Viktor Orban, primeiro-ministro da Hungria, entre outros a informar que o individuo era funcionário da embaixada da China em Lisboa”, lê-se na reportagem, que acrescenta ainda que “no mesmo hotel onde esse cidadão estava instalado, encontravam-se ainda inúmeros funcionários de representação diplomática da China – que terá pago directamente a estadia”. A embaixada chinesa em Lisboa não respondeu às perguntas da revista, que escreve que “não é a primeira vez que funcionários de embaixadas chinesas são apanhados em actividades consideradas impróprias relacionadas com os protestos pró-democracia que ocorrem em Hong Kong desde 31 PUB

de Março”. A revista dá exemplos de casos ocorridos na Lituânia e na Austrália. As acções dos funcionários consulares terão sido observadas logo no início do encontro do ICLN, pois “assim que os convidados começaram a chegar os responsáveis pela segurança aperceberam-se de que, a partir da janela de um hotel localizado em frente ao hotel Consolata, havia alguém a fotografar todos aqueles que entravam no local arrendado para o encontro”. Uma fonte disse que “tinham uma grande lente e estavam claramente a fotografar quem chegava para essa reunião”. Além disso, “vários participantes no encontro contaram à Sábado que logo no primeiro dia houve diplomatas chineses a entrar no hotel Consolata e a exigir falar com responsáveis da ICLN”. Os organizadores do evento “perceberam que havia elementos 'estranhos' ao evento a circular nas instalações”, e foram vistas mulheres a fotografar os programas do evento e “alguns dos convidados”. Quase 200 pessoas estiveram em Fátima, incluindo o chefe

Os organizadores do evento “perceberam que havia elementos ‘estranhos’ ao evento a circular nas instalações”, e foram vistas mulheres a fotografar os programas do evento e “alguns dos convidados” de gabinete do Presidente norte-americano, Donald Trump e Viktor Orban, primeiro-ministro da Hungria, entre outros. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


4 política

O Presidente Xi fez um discurso em que apontou Macau, Hong Kong e Taiwan, entre outros temas, como desafios para o futuro desenvolvimento da China. O analista Larry So considera que o facto da RAEM ser mencionada é um voto de confiança para mostrar que existe um caso de sucesso na aplicação da política Um País, Dois Sistemas

6.9.2019 sexta-feira

XI JINPING MACAU, HONG KONG E TAIWAN ENTRE OS RISCOS DO PAÍS

O bom exemplo

A

China está num período de desenvolvimento cheio de desafios e riscos, entre os quais também se encontra Macau, e os membros do partido devem preparar-se para a “arte da luta”. Foi esta a mensagem deixada pelo Presidente Xi Jinping aos membros do Partido Comunista, num discurso terça-feira passada, na Escola Central do Partido, instituição que é conhecida por formar futuros dirigentes. “A luta do nosso Partido Comunista encontrou sempre problemas, contradições e riscos. Quer seja no presente ou no futuro, o desenvolvimento acumulado faz com que a China tenha entrado num período que está repleto de vários desafios e riscos”, afirmou Xi Jinping. “Não nos faltarão grandes lutas, quer seja no aspecto económico, político, cultural, social, na construção de uma civilização ecológica, na defesa nacional, na formação do exército nacional, nos assuntos de Hong Kong, Macau e Taiwan, nos trabalhos diplomáticos, na construção do partido, entre outros aspectos, que são cada vez mais complicados”, acrescentou. Xi Jinping enfatizou depois que “a luta é um tipo de arte” e que os dirigentes devem “saber como dominar bem a arte da luta”. “Em todas as grandes lutas devemos persistir no reforço da nossa preparação para os acontecimentos inesperados, mantendo um foco estratégico, a concentração e a união à volta das decisões tácticas e julgamentos estratégicos”, afirmou o Presidente como receita

as razões do sucesso da RAEM e o facto de se manter a tranquilidade, em contraste com Hong Kong. Neste artigo, são recordadas as palavras do futuro Chefe do Executivo Ho Iat Seng, que prometeu não poupar esforços na protecção e implementação do princípio “Um País, Dois Sistemas”. No artigo é ainda citado Victor Gao, presidente do Centro da China para a Globalização, que aponta que Macau reconhece os benefícios económicos desde o retorno à Pátria. “Em Macau sente-se que o interesse da região passa em absoluto por manter relações de proximidade com o Governo Central e com os chineses do Interior”, indicou. No mesmo texto são recordadas declarações anteriores de Eilo Yu, académico da Universidade de Macau, à ABC, em que é defendido que a RAEM tem um forte sentimento Pró-Pequim que contribui para a harmonia das relações entre as duas partes. Por outro lado, a China News Service recorda os esforços das autoridades centrais para pacificarem as tríades, ainda antes da transição, o que, segundo o artigo, permitiu acabar com o “caos” que se vivia na então colónia portuguesa. Por último, a China News Service aponta que Macau passa ao lado das confusões de Hong Kong porque tem sido capaz de evitar as interferências estrangeiras.

POSIÇÃO DE FORÇA

para o futuro. O líder chinês apelou ainda aos próximos dirigentes para que tenham sucesso: “Os quadros dirigentes são responsáveis e devem ter a consciência da necessidade de defender o nosso País, sendo que quando forem chamados, devem chegar-se à frente para lutarem. E quando estiverem a lutar têm de ganhar”, apontou.

SINAL DE CONFIANÇA

Ao HM, o comentador político Larry So considerou que o facto de Xi Jinping mencionar Macau ao nível de desafios como Hong Kong não significa um motivo para sinal de alarme para políticos e residentes locais. So aponta mesmo que a

“[Macau] É uma prova que a China está preparada para vencer os desafios. É como dizer: ‘Temos desafios no futuro, mas temos provas e meios para vencer esses desafios.’” LARRY SO

RAEM é utilizada como exemplo das vitórias alcançadas pelo partido. “Quando o mundo está todo a focar as atenções na forma como a China está a lidar com Hong Kong, principalmente com todos estes movimentos sociais, o facto de se mencionar Macau é para fazer uma diferenciação”, começou por explicar. “Há uma certa ideia que Hong Kong não é um caso bem-sucedido para o princípio “Um País, Dois Sistemas”. Mas quando se menciona Macau está a fazer-se um contraste, uma vez que Macau é um caso claro do sucesso do princípio “Um País, Dois Sistemas”, interpretou, sobre as palavras de Xi Jinping. Segundo o comentador, Macau serve para motivar as elites comunistas e mostrar que a China é capaz de vencer os desafios em que está envolvida, nomeadamente a Guerra Comercial com os Estados Unidos e a instabilidade vivida em Hong Kong. “Pode definir-se Macau como um desafio. Mas depois quando olhamos para os resultados, a China mostra esta experiência bem-sucedida. É uma prova de que a China está preparada para vencer os desafios. É como dizer: ‘Temos desafios no futuro, mas temos provas e meios para os vencer‘”, indicou.

“Não nos faltarão grandes lutas, quer seja no aspecto económico, político, cultural, social [...] nos assuntos de Hong Kong, Macau e Taiwan, nos trabalhos diplomáticos, na construção do partido, entre outros.” XI JINPING Finalmente, Larry So negou ainda que haja motivo para que os políticos de Macau façam soar os alarmes: “Não, não acredito que tenham motivos para se sentirem nervosos com o discurso. Acho que vão sentir-se felizes porque mais uma vez a RAEM é mencionada como um exemplo de sucesso. Acho que até vão ficar felizes porque mais uma vez estão a ajudar o País”, considerou.

MACAU EXEMPLAR

Também ontem a China News Service, a agência noticiosa do Governo Central, a par da Xinhua, publicou um artigo em que explica

Depois de ter sido conhecido o discurso de Xi Jinping, o jornal South Ching Morning Post ouviu várias analistas, principalmente sobre a utilização da palavra “lutas”. Para Wu Qiang, comentador dos assuntos chineses sediado em Pequim, o discurso representa “uma declaração de antagonismo” da China em relação a todos os que tentam impedir a sua emergência no panorama internacional. “É um discurso que marca uma posição de fundo”, começou por dizer. “A China mostra uma postura de antagonismo e é esta a posição e abordagem que vai adoptar para lidar com a deterioração das relações com os Estados Unidos”, sustentou. Por sua vez, Li Mingjiang, especialista em estudos internacionais da Universidade Tecnológica de Nanyang, desvalorizou a utilização da palavra “luta”. Segundo o comentador, apesar da palavra poder ser “muito assustadora” para quem não lida habitualmente com o discurso chinês, a expressão tem implícito um sentido de jogo de cintura. “Não se trata de uma abordagem de confronto total e aberto para se conquistar o que se pretende, para subjugar os rivais ou inimigos - a palavra envolve também uma flexibilidade e a arte de saber lutar”, justificou. João Santos Filipe (Com J.N.C) joaof@hojemacau.com.mo


política 5

sexta-feira 6.9.2019

“S

E têm opiniões, podem expressá-las de forma pacífica”, referiu ontem Lou Pak Sang, director dos Serviços de Educação e Juventude em relação à liberdade que garante terem os alunos das escolas de Macau. As declarações foram proferidas no contexto da notícia publicada no Jornal Tribuna de Macau que deu conta da mensagem passada pela Escola para Filhos e Irmãos dos Operários, no primeiro dia de aulas, que “avisou” os estudantes para não repetirem os protestos de Hong Kong e não terem comportamentos inadequados. Questionado se a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude deu indicações às escolas para prevenir manifestações solidárias com os estudantes que se manifestaram na região vizinha, Lou Pak Sang garantiu que nas escolas de Macau há autonomia pedagógica. “Não solicitámos aos directores que proibissem manifestações de alunos”, esclareceu. Ainda assim, revelou que foram dadas orientações às escolas “para servir como referência quando existirem estes casos”. “Não falámos de protestos ou manifestações, não referimos estas palavras, concentrámo-nos mais na segurança dos alunos e na forma de expressar as opiniões de forma razoável e pacífica”, acrescentou o director da DSEJ. Além disso, o responsável apontou o desenvolvimento do pensamento crítico como prioridade no ensino de Macau. “Os alunos devem ter um pensamento próprio, não é só os docentes ensinarem ideologia. Os alunos devem também, depois de aprender, analisar os assuntos e chegar a uma conclusão”, referiu.

HONG KONG DSEJ GARANTE NÃO TER INSTRUÍDO ESCOLAS SOBRE PROTESTOS

Salas da liberdade

O director dos Serviços de Educação e Juventude assegura que não foram dadas indicações às escolas no sentido de não permitirem protestos no primeiro dia de aulas. Lou Pak Sang refere como prioridades os alunos desenvolverem o pensamento crítico e que as opiniões sejam expressas de forma pacífica ranking PISA, publicado pela OCDE, como o quarto pior território analisado em matéria de bullying, Lou Pak Sang revelou o que está a ser feito para combater o fenómeno. “Criámos um grupo destinado a elevar o sentimento de felicidade dos alunos para terem melhor relacionamento interpessoal”, revelou o director da DSEJ. Foram também ministradas formações destinadas a alunos e docentes para ajudar a tratar conflitos entre alunos e “recuperar os laços de amizade”. Além disso, foi realizado

um videoclip de uma música intitulada “Nunca Desistir”, para sensibilizar para o tema do bullying. A música está também disponível em formato karaoke e foi divulgada nas escolas. Questionado sobre o registo de incidentes de abuso sexual em unidades de ensino do território, Lou Pak Sang disse que foram feitos panfletos para “transmitidas mensagens sobre educação sexual” e criado um sistema de “lemas” para responder a situações de abuso e do

que é impróprio em termos de intimidade. “NOT” para situações em que os alunos devem saber como dizer não,

“Não solicitámos aos directores que proibissem manifestações de alunos.” LOU PAK SANG DIRECTOR DOS SERVIÇOS DE EDUCAÇÃO E JUVENTUDE

“OFF” para fugirem do local e “TELL” para situações que devem ser comunicadas aos professores e pais. Além disso, entre Novembro e Dezembro está planeada uma acção de grande escala. “Vamos às escolas realizar um teatro itinerante para transmitir as mensagens sobre educação sexual, assim os alunos ficam com uma impressão muito forte”, indicou o director.

NÚMEROS DO ENSINO

ano lectivo arrancou com 81.766 alunos nos ensinos infantil, primário, secundário e especial; quando comparado com o ano lectivo anterior, o número de alunos dos ensinos infantil aumentou 2,73 por cento, do primário 4,20 por cento, do secundário 1,51 por cento e do especial 2,59 por cento. Já o número de estudantes do ensino recorrente é de 917, uma diminuição de 17,83 por cento. O ano lectivo arranca com 3.006 turmas, mais 3,23 por cento em relação ao ano passado. Quando ao número médio de alunos por turma, o cenário mantém-se relativamente semelhante aos anos anteriores, principalmente no ensino infantil e primário, com cerca de 28 e 29 estudantes por turma. No secundário, a média baixou de 29,05 para 27,03 alunos por turma. João Luz

info@hojemacau.com.mo

Em termos estatísticos, ainda em fase preliminar, este

TEATRO E KARAOKE

Depois de no ano passado Macau ter ficado malvisto no

CE Li Keqiang confia em liderança de Ho Iat Seng O primeiro-ministro do Conselho de Estado, Li Keqiang, assinou o decreto do Conselho de Estado, que confirma a nomeação oficial de Ho Iat Seng como quinto Chefe do Executivo da RAEM. De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, Li Keqiang assegurou na terceira reunião plenária do Conselho de Estado que a eleição do quinto Chefe do Executivo da RAEM está em plena conformidade com a

Lei Básica e com os princípios da imparcialidade, justiça e abertura. Citado pela mesma fonte, Li Keqiang disse acreditar que Ho Iat Seng, depois de assumir o cargo do Chefe do Executivo, irá unir e liderar o novo Governo da RAEM e todos os sectores de Macau, virar uma nova página da história do desenvolvimento de Macau e abrir um novo capítulo do princípio “Um País, Dois Sistemas”.

SAFP SONG PEK KEI ESPERA QUE SECRETÁRIO REVEJA REGIME

D

E acordo com o jornal Ou Mun, Song Pek Kei entende que o “recrutamento centralizado” até ao “concurso de gestão uniformizada”, para além de não ser eficaz, é “cada vez pior”.Adeputada espera que a revisão seja liderada pelo próprio secretário, para aumentando a credibilidade.

Song Pek Kei citou o relatório do Comissariado da Auditoria, referindo que “o SAFP, durante o processo de elaboração do Regime de 2011, não se baseou na realidade, causando problemas e transtornos de difícil resolução”, e reiterou que o recrutamento de funcio-

nários públicos tem de se concentrar nas necessidades e condições reais. A deputada disse ainda que o “regime de avaliação de desempenho e mecanismo de acesso dos funcionários públicos” é muito rígido, o que faz com que frequentemente funcionários públicos

tenham de concorrer com os outros cidadãos para se promoverem. Portanto, espera que no futuro, a reforma do regime da Administração Pública seja mais aberta e flexível em diferentes carreiras, dentro e fora dos quadros, garantindo mais espaço de mobilidade. J.N.C.


6 sociedade

RÓMULO SANTOS

6.9.2019 sexta-feira

Miguel de Senna Fernandes, presidente da API “Estamos a aguardar uma resposta de uma candidata que vem de Portugal, e ela hesita em vir para Macau por questões familiares. Vamos precisar, porque o ano lectivo já começou e não podemos continuar assim”

O

jardim de infância D. José da Costa Nunes começou ontem o primeiro dia de aulas já integrado na rede pública de ensino sem uma docente de ensino especial. A informação foi dada ao HM por Miguel de Senna Fernandes, presidente da entidade que tutela o jardim de infância, a Associação Promotora de Instrução dos Macaenses (APIM). “Estamos ainda a aguardar uma resposta de uma candidata que vem de Portugal, e ela hesita em vir para Macau por questões familiares. Vamos precisar, porque o ano lectivo já começou e não podemos continuar assim. Já avisámos a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude para saber se há alguém com disponibilidade para trabalhar no Costa Nunes”, apontou.

COSTA NUNES ANO LECTIVO COMEÇA SEM PROFESSORA DE ENSINO ESPECIAL

Arranque a meio gás A Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, entidade que tutela o jardim de infância D. José da Costa Nunes, ainda não conseguiu contratar uma professora do ensino especial, o que deixa seis crianças sem apoio completo. A escola, já integrada na rede pública de ensino, funciona este ano com mais uma turma Em causa estão seis crianças com necessidades educativas especiais que, neste momento, contam apenas com o apoio normal da educadora em sala de aula. A psicóloga que prestava este apoio saiu aquando do polémico caso de alegado

abuso sexual de crianças na instituição perpetrado por um funcionário, processo este que está a ser investigado pelo Ministério Público.

MAIS UMA TURMA

Este ano, e pela primeira vez, os pais deixam efecti-

vamente de pagar propinas no Costa Nunes. Miguel de Senna Fernandes não associa este facto a um aumento do número de alunos, mas a verdade é que o ano lectivo arranca com mais uma turma de alunos com três anos de idade. No total, o jardim

de infância tem, este ano, 276 crianças. “Está tudo a correr com normalidade e esperamos que este ano tudo corra pelo melhor. Temos 12 turmas no total. É o primeiro ano em que o Costa Nunes está a funcionar integrado na rede

pública e, em princípio, não há nada que nos preocupe.” Miguel de Senna Fernandes gostaria de contratar mais pessoas com a categoria de educadoras de apoio, para que os salários destas funcionárias que prestam auxílio às educadoras nas salas não fossem suportados na totalidade pela APIM. “Infelizmente a categoria de agente de ensino não faz parte do corpo docente nos termos da lei e o regime do ensino gratuito, de que faz parte a escola, não contempla estas agentes. É sempre um custo adicional que temos de considerar. É importante que possamos contar com educadoras que iriam exercer funções de apoio e que estariam abrangidas pelo apoio”, rematou o presidente da APIM. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

TALENTOS ZHENG ANTING QUER MAIS MEDIDAS PARA REGRESSO DE PROFISSIONAIS A MACAU

“O

S talentos suportam o desenvolvimento, o desenvolvimento cultiva os talentos”, é esta a ideia expressa pelo deputado Zheng Anting, que pede ao Governo mais medidas para atrair o regresso de quadros locais formados no estrangeiro. Segundo o número dois de Mak Soi Kun, o objectivo passa por aumentar a competitividade da economia do território e para alcan-

çar a muito desejada diversificação da economia de Macau, além do sector do jogo. Ainda de acordo com o legislador, há mais de 230 mil residentes de Macau que optam por morar ou viajar para o exterior e entre eles um número de quadros profissionais qualificados. Aliás, segundo a interpelação de Zheng Anting, existe alguma resistência para estes

regressarem à RAEM porque encontram dificuldades em arranjar um emprego capaz de corresponder às perspectivas das suas carreiras profissionais. Por outro lado, o deputado aponta o dedo ao sistema de acreditação profissional, que faz com que algumas certidões e diplomas de instituições de ensino não sejam reconhecidos em Macau. Zheng Anting acredita ainda que a

taxa de retorno de locais não parece ter aumentado significativamente nos últimos cinco anos, apesar de o Governo ter estabelecido um “Grupo Especializado do Incentivo ao Regresso de Talentos a Macau” da Comissão de Desenvolvimento de Talentos. Portanto, o deputado à AL quer saber qual o número de talentos de alto nível especializados que optaram por voltar para

Macau, desde a criação do grupo especializado, e quais são as políticas que planeiam implementar para atingir o aumento do retorno. Zheng quer ainda que o Governo crie condições favoráveis para promover o regresso e aumentar a proporção dos talentos locais, como a criação de uma série de sistemas de reconhecimento profissional.


sociedade 7

sexta-feira 6.9.2019

ILHA DA MONTANHA AUTORIDADES RECUSAM CASAS PARA VENDA A CHAN CHAK MO

CRIME HOMEM DE HONG KONG ACUSADO EM BURLA DE 1,75 MILHÕES HKD

Outra terra, outra música

Empresa do deputado pretendia construir habitações para venda e residência permanente no projecto de restauração da Ilha da Montanha, mas viu a intenção negada

A

compra de um automóvel de luxo e perdas avultadas no jogo levaram um comerciante a ser acusado de burla no valor de 1,75 milhões de dólares de Hong Kong. O arguido de apelido Hoi, comerciante com 40 anos de idade, prometeu vender um carro de luxo por 5 milhões de dólares de Hong Kong em Agosto de 2017. O comprador era alguém com quem Hoi tinha um amigo em comum. Depois de acertado o acordo, o arguido recebeu a primeira parcela do pagamento, 1,75 milhões de dólares de Hong Kong, que usou para apostar no casino. A sorte não esteve do lado de Hoi que perdeu todo o dinheiro recebido do comprador. Como nunca mais teve qualquer informação sobre a entrega do veículo, que deveria receber em Janeiro do ano passado, ou seja, cinco meses depois de paga a primeira tranche, a vítima da alegada burla apresentou queixa às autoridades. O caso chegou à barra dos tribunais, onde Hoi admitiu todas as acusações, mas alegou que devolveu os 1,75 milhões de dólares de Hong Kong para a conta VIP do comprador. Apesar da alegação de Hoi, o queixoso referiu em tribunal que nunca recebeu qualquer verba.

uma resposta da Autoridade de Terras da Ilha de Hengqing a informar que não apoia o pedido de mudança parcial da licença de exploração do terreno de Hengqin, que pretendia incluir apartamentos para arrendamento e residências”, consta no documento revelado ontem. Ainda de acordo com a explicação das autoridades do Interior, o facto da licença ter sido emitida para construção de espaços comerciais impede a construção de habitações. Face a esta nega, o grupo liderado pelo deputado afirma que vai fazer um novo pedido para alterar a licença para a construção de apartamento para arrendar, à semelhança de quartos de hotel, sem a existência de espaços de habitação permanente. Segundo esta abordagem, a empresa acredita que a exploração do terreno vai manter o fim comercial.

DIÁRIA DE 628 MIL YUAN

A

S autoridades de Hengqin recusaram a construção de apartamentos para habitação e aluguer no projecto da Future Bright na Ilha da Montanha. A revelação foi feita ontem pela empresa, que é liderada pelo deputado Chan Chak Mo, num comunicado à Bolsa de Hong Kong. Em 2014, a Future Bright foi uma das empresas de Macau a quem foi distribuído um terreno na Ilha de Montanha para o desenvolvimento de projectos que visavam impulsionar o turismo naquela zona. Na altura, a empresa foi a melhor colocada no concurso de atribuição

de terras, entre 87 propostas, com um projecto para a construção de um espaço dedicado à restauração. Porém, o projecto encontrou problemas desde a fase de construção,

A Future Bright confirma que arrisca pagar uma multa diária de 628 mil renminbis pelo facto de não cumprir as metas de construção acordadas com as autoridades

uma vez que a empresa não conseguiu obter a tempo as licenças necessárias para avançar com a construção das estacas para o edifício. Face a este cenário a companhia tem mantido reuniões com as autoridades da Ilha da Montanha. Foi numa dessas reuniões que os directores da Future Bright ficaram com a ideia que poderiam alterar a licença de aproveitamento do terreno para a construção de apartamentos para venda e arrendamento. Contudo, o pedido foi negado. “A direcção informa os accionistas da empresa e potenciais investidores que no dia 4 de Setembro de 2019 a Future Bright recebeu

No mesmo comunicado, a Future Bright confirma que arrisca pagar uma multa diária de 628 mil renminbis pelo facto de não cumprir as metas de construção acordadas com as autoridades. Esta multa só poderá ser perdoada caso o Governo considere que existe uma justificação aceitável para as derrapagens ou se houver um motivo de força maior, como seria a passagem de um tufão, ou aspectos cuja responsabilidade não se consegue associar à empresa. Quando a Future Bright viu o seu projecto aprovado para a entrada na Ilha da Montanha, em 2014, Chan Chak Mo disse que tinha até 1,6 mil milhões de yuan para investir do outro lado da fronteira. Contudo, em Maio deste ano, em declarações ao HM, lamentava o facto de tanto no projecto em que está envolvido, como as regiões de Zhuhai e Hengqin não se estarem a desenvolver ao ritmo das expectativas de 2014. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo


8 eventos

6.9.2019 sexta-feira

HISTÓRIA ASSOCIAÇÃO ORGANIZA VIAGEM SOBRE PORTOS LUSOS NA ÁSIA

É uma rota portugues EXPOSIÇÃO “PONTES ALADAS” NA RESIDÊNCIA CONSULAR

C

HAMA-SE “Pontes Aladas - Exposição Colectiva de Arte Contemporânea Portugal-China” e é a mais recente iniciativa cultural promovida no território pelo Instituto Português do Oriente (IPOR). A mostra será inaugurada a 11 de Setembro pelas 18h00 e tem lugar na galeria da residência consular, junto aos lagos Nam Van. A ideia é celebrar uma série de datas “no contexto das relações históricas entre Portugal e a República Popular da China, tendo Macau como ponto dinâmico de excelência”, uma vez se celebram os 40 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países, assinalando-se ainda 20º aniversário da constituição da RAEM e os 30 anos da criação do IPOR. A exposição tem, de acordo com um comunicado oficial, “nomes de marcado relevo no panorama dos dois países”, contando ainda com

os apoios da Fundação Macau, do Instituto Cultural de Macau e do Instituto Camões-Instituto da Cooperação e da Língua. A curadoria está a cargo de Adelaide Ginga, numa parceria com o Museu Nacional de Arte Contemporânea. O mesmo comunicado dá conta que a escolha das obras partiu do princípio da “junção de artistas de ambas as latitudes”. Foram seleccionados “artistas portugueses que tenham desenvolvido, no seu percurso artístico, alguma relação com Macau-China e artistas chineses que, de alguma forma, tenham uma relação com Portugal”. Neste sentido, o público poderá ter acesso a uma “exposição colectiva que coloca em diálogo artistas dos dois países e a pluralidade da expressão artística, reunindo diferentes abordagens temáticas e variados suportes de apresentação”. A mostra estará patente até ao dia 11 de Outubro.

Albergue Aceites candidaturas para evento de arquitectura em Milão

O Albergue da Santa Casa da Misericórdia de Macau aceita até segunda-feira candidaturas para a participação num evento na área da arquitectura, intitulado “ACE10: Evolving City – Evolving Nature”, que tem lugar no Instituto Politécnico de Milão entre os dias 14 e 21 de Outubro. O tema da edição deste ano é “ACE – Architecture – Culture – Environment” e conta com a presença de arquitectos, engenheiros, académicos e designers para “discutir ideias relativamente às cidades e à sua evolução”, tendo em conta ainda o “impacto na e da natureza e os novos conceitos de paisagem e paisagem urbana”.

A Associação Amigos da Nova Rota da Seda, presidida pela economista Fernanda ria dos principais portos portugueses na Ásia, e que inclui Macau, Malaca e Goa, um novo livro este ano, com a colaboração de um académico de Macau

P

ORTUGAL também tem a sua rota marítima esquecida no tempo e subaproveitada. A ideia é deixada ao HM por Maria Fernanda Ilhéu, a economista e professora universitária que preside à Associação Amigos da Nova Rota da Seda (ANRS), que está a promover uma viagem que passa pelos principais portos marítimos que marcam a presença portuguesa na Ásia. Podem inscrever-se sócios e não sócios, com um custo entre 50 a 60 mil patacas, e a ideia é contar a história de lugares como Mascate, Nizwa (antiga capital de Omã), Calicute, Cochin, Goa, Malaca, Singapura e Macau. “Obviamente que não podemos ir a todos os portos, pois levaríamos dois anos de viagem”, adiantou Maria Fernanda Ilhéu ao HM. “Queremos lembrar o que foi a nossa estratégia de abordagem desta rota marítima do Ocidente para o Oriente, e que tem muitas semelhanças com a nova rota marítima do século XXI, o projecto ‘Uma Faixa, Uma Rota’, mas que vem do Oriente para o Ocidente.” A presidente da ANRS assume que esta viagem constitui “um pretexto para nos debruçarmos sobre a história”, lamentando que a rota marítima criada pelos portugueses seja muitas vezes esquecida. “Esta foi uma história importantíssima na globalização mundial, e não foi importante apenas para Portugal, mas também para todo o mundo. Não só nos esquecemos como até parece que estamos um pouco envergonhados desse percurso quando outros povos, tal como os chineses, estão interessados.” A economista não tem dúvidas de que Portugal “poderia ter a sua própria rota e outra forma de mostrar ao mundo aquilo que foi”. Para já, a ANRS ainda não recebeu muitas inscrições. “Foi uma viagem difícil de planear. Vamos aguardar até

Outubro para termos mais inscrições e depois vemos se a conseguimos fazer. Esta viagem será documentada nos nossos trabalhos e conferências, não sei se faremos outro livro.” Maria Fernanda Ilhéu desejava publicar outra obra sobre esta temática. “Queríamos fazer um livro sobre os portos portugueses no mundo, algo que seria interessante e vou tentar que aconteça.”

NOVAS LETRAS

Depois da publicação da obra “A China e a Revitalização das Antigas Rotas da Seda”, coordenado por Maria Fernanda Ilhéu e Leonor Janeiro, eis que a ANRS se prepara para lançar mais uma obra, desta vez sobre as novas rotas da seda. A obra será escrita em inglês e conta com a coordenação da presidente da ANRS e dos académicos Paulo Duarte e Francisco José Leandro, este último professor na Universidade Cidade de Macau. “Tencionamos pôr cá fora este ano um livro sobre ‘Uma Faixa, Uma Rota’, a China e os países de língua portuguesa e as novas rotas da seda”, apontou a responsável pela ANRS. O objectivo da obra é “trazer esse conhecimento dos projectos que estão a ser realizados ou que podem vir a ser realizados pela iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, em conjunto com países de língua portuguesa e parcerias que sejam desenvolvidas com Portugal”. Para Maria Fernanda Ilhéu, estão em causa não apenas negócios a curto prazo, mas “o desenvolvimento de sinergias”. “É necessário planear e pensar esse desenvolvimento e perceber que ele vai ter de contar com a actuação de governos e empresas, mas também da própria sociedade civil”, apontou. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Maria Fernanda Ilhéu, presidente da ANRS “Queremos lembrar o conhecimento com a nova rota marítima do século XXI, o projecto ‘Uma Faixa, Uma Rota’, mas


eventos 9

sexta-feira 6.9.2019

sa, com certeza

a Ilhéu, está a organizar uma viagem que visa contar a histó, entre outros destinos. A associação pretende também lançar

o do que foi a nossa estratégia de abordagem desta rota marítima do Ocidente para o Oriente, e que tem muitas semelhanças que vem do Oriente para o Ocidente”

HOJE NO PRATO Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

Anona Nome botânico: Annona muricata L. e outras espécies Família: Annonaceae. Nomes populares: CHERIMÓLIA; CORAÇÃO-NEGRO (Açores e Madeira); FRUTA-DO-CONDE; FRUTA-PINHA; GRAVIOLA. A Anona é o fruto da Anoneira, planta oriunda da América Central e do Sul, actualmente difundida nas regiões tropicais da América, África e Ásia. Trata-se de uma árvore que pode alcançar mais de 6 metros de altura, de tronco recto e casca lisa, e grandes folhas lanceoladas de cor verde; o fruto, de forma oval ou em coração, é grande, possui uma coloração verde-clara que escurece com a maturação, e encontra-se coberto de “espinhos”; a polpa é branca, macia e suculenta, com várias sementes escuras. Enquanto planta medicinal, a Anoneira tem sido usada pelas populações indígenas da América e África no tratamento de diversas enfermidades. Além dos frutos, são também aproveitadas as folhas, os caules, as flores, raízes, cascas e sementes. Mais recentemente, após investigações efectuadas, a Anona adquiriu notoriedade pelos benefícios que apresenta para a saúde. Composição Muito nutritiva, a Anona oferece em abundância e diversidade vitaminas (B1, B2, B3, B6, folato, C), minerais (cálcio, cobre, ferro, fósforo, potássio, magnésio, manganês, zinco), fibras e fitoquímicos, com destaque para os flavonóides e o elevado teor em acetogeninas, potentes compostos antioxidantes; contém ainda hidratos de carbono, proteínas, aminoácidos (GABA, triptofano) e uma pequena quantidade de lípidos, sendo pouco calórica. Sabor agradável, suave, ligeiramente doce e um pouco ácido. Acção terapêutica A Anona estimula a digestão e promove o esvaziamento da bílis da vesícula biliar para o duodeno, lubrificando as fezes e favorecendo o trânsito intestinal, desinflama e diminui a dor em caso de gastrite e úlcera gastrintestinal, e ajuda a expulsar os vermes intestinais. Devido ao conteúdo em fibras, tem poder saciante e evita os picos de açúcar no sangue e o seu posterior acúmulo no organismo sob a forma de gordura, o que a torna benéfica para os diabéticos e obesos. É hidratante e diurética. Exerce uma acção tónica e protectora do coração, auxilia a desacelerar o ritmo cardíaco, dilata os vasos sanguíneos, combate os

espasmos e diminui a pressão arterial, sendo recomendada aos cardíacos e hipertensos. Pela riqueza em ferro, previne e trata a anemia. Este fruto contém triptofano, um aminoácido essencial usado na síntese do neurotransmissor serotonina e da hormona melatonina, ambos relacionadas com a regulação do humor e do sono. Desta forma, actua como um calmante natural, promovendo o relaxamento, a boa disposição e o bem-estar geral, e prevenindo ou combatendo a insónia, a irritabilidade, o stress e a depressão. Por ser analgésica, é igualmente indicada no tratamento da enxaqueca. Outras propriedades A Anona contribui para o fortalecimento dos músculos, evitando a fadiga e as cãibras e melhorando o desempenho na prática de actividades físicas. Fornece minerais essenciais para a formação e manutenção do tecido ósseo e, pelos efeitos anti-reumáticos, reduz a inflamação, a dor e o inchaço articular, beneficiando os reumáticos. Pelas propriedades antimicrobianas, tem sido usada como adjuvante no tratamento da febre, gripe, pneumonia, diarreias bacterianas, infecções urinárias e cutâneas. Vários estudos têm relacionado o seu consumo a um menor risco de aparecimento de alguns tipos de cancro, outros demonstram potencial terapêutico no seu tratamento, o que tem sido atribuído às acetogeninas. Hidrata a pele e é antioxidante, proporcionando um efeito anti-envelhecimento. Como consumir • Uso interno: O fruto in natura, ou em sumo adoçado com mel. Em saladas de frutas, compotas, geleias, bebidas, gelados, mousses e outras sobremesas ou bolos. Em xarope, gotas e cápsulas, em simples ou fórmulas, para o reforço do sistema imunitário, entre outras indicações já descritas. Precauções As variedades mais ácidas não devem ser ingeridas por pessoas com aftas, ferimentos na boca ou problemas gástricos, pois podem causar dor. A Anona não deve ser consumida durante a gravidez, devido ao risco de aborto. Os hipotensos devem controlar a tensão arterial, bem como os hipertensos medicados, pois a Anona pode interagir com a medicação e conduzir a descompensações. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.


10 china

6.9.2019 sexta-feira

RÚSSIA PUTIN SUBLINHA INTERESSES GEOPOLÍTICOS “COINCIDENTES” COM A CHINA

Amigos para sempre

As duas nações revelam um total alinhamento em matérias de ordem militar, económica e de política internacional. Vladimir Putin reuniu-se com o vice-primeiro-ministro chinês Hu Chunhua em Vladivostoque, à margem do Fórum Económico Oriental Em 2018, a China importou mais de 800.000 toneladas de soja da Rússia, um acréscimo de 64,7por cento, em relação ao ano anterior.

NO MESMO TOM

Vladimir Putin “Estamos a trabalhar activamente para fortalecer as instituições internacionais e sistemas de segurança. Colaboramos no campo militar e concordamos activamente nas nossas posições na arena internacional.”

O

Presidente da Rússia, Vladimir Putin, considerou ontem que Moscovo e Pequim têm interesses geopolíticos “coincidentes”, sublinhando a importância da cooperação entre os dois Estados para o reforço da segurança internacional. “Não falamos apenas sobre a coincidência dos nossos interesses geopolíticos, que são importantes, mas realizamos também trabalho concreto, obtivemos bons resultados e avançamos”, disse Putin, após uma reunião com o vice-primeiro-ministro

chinês Hu Chunhua. A reunião do chefe de Estado russo com o alto quadro do regime chinês ocorreu às margens do Fórum Económico Oriental, que se realiza na cidade portuária de Vladivostoque, no extremo leste da Rússia. “Estamos a trabalhar activamente para fortalecer as instituições internacionais e sistemas de segurança. Colaboramos no campo militar e concordamos activamente nas nossas posições na arena internacional”, acrescentou. Putin expressou ainda satisfação por os parceiros chineses

serem os principais investidores nas regiões do Extremo Oriente da Rússia. Hu enfatizou que os dois países atribuem grande importância ao fornecimento de produtos agrícolas russos à China, uma colaboração que descreveu como “muito promissora”. Um acordo entre os dois Estados prevê o aumento do cultivo de soja na Rússia, para fornecer o mercado chinês, à medida que Pequim suspende a compra de produtos agrícolas aos Estados Unidos, face à guerra comercial que trava com Washington.

Zhuhai Empresa norte-coreana suspeita de vender armas Uma empresa norte-coreana estará a vender equipamento militar a partir da cidade chinesa de Zhuhai, onde está sediada após ter fechado portas em Macau em 2006, noticiou o Macau Business na sua edição de Setembro. Apesar do embargo internacional que pende sobre a Coreia do Norte, a empresa possui um ‘site’ activo, através do qual publicita o armamento de forma dissimulada, sem criar tráfego e evitando os motores de busca, dificultando a sua detecção através de sistemas de vigilância, explica-se no artigo. O ‘site’ funcionará como

uma amostra de um catálogo apenas visível na ‘dark web’, com recurso a uma VPN ou através de mensagens encriptadas, segundo fontes citadas na última edição da revista da plataforma de informação Macau Business. A empresa chama-se Zokwang Trading Company, uma subsidiária do Daesong Economic Group, sob alçada do ministro do Comércio Externo norte-coreano. Entre as armas listadas no ‘site’, o destaque vai para o sistema de mísseis Pongae-5 Strategic Surface to Air Missile System desenvolvido por Pyongyang.

O vice-primeiro-ministro chinês acrescentou que existem outras áreas de cooperação económica com potencial de crescimento, como o comércio electrónico transnacional. “Sabemos que isto exige uma simplificação adicional dos procedimentos aduaneiros. Estamos convencidos de que alcançaremos esse objectivo”, acordado entre Putin e o Presidente chinês, Xi Jinping, disse. A Rússia e a China alinharam já posições nas Nações Unidas, ao oporem-se a uma intervenção na Síria e anularem tentativas de criticar as violações dos direitos humanos pelos dois países. Moscovo apoia a oposição de Pequim à navegação da marinha norte-americana no Mar do Sul da China. Ambos os países realizaram já exercícios militares conjuntos, incluindo no Báltico. A Rússia partilhou também com a China alguma da sua tecnologia militar mais avançada. A nível económico, no entanto, a cooperação segue aquém da cooperação política e no âmbito da segurança. A China é o principal parceiro comercial da Rússia, enquanto a Rússia surge em décimo lugar entre os parceiros de Pequim.

Abrir caminho Carrie Lam diz que retirada da lei é primeiro passo para fim da crise

A

Chefe do Executivo de Hong Kong garantiu ontem que a decisão de retirar por completo a lei da extradição foi uma decisão do Governo, apoiada por Pequim, e é um primeiro passo para ultrapassar o impasse político. Em conferência de imprensa, Lam lembrou que suspendeu a lei em meados de Junho, dias após o início de grandes protestos, e que em julho declarou que as emendas à lei propostas pelo seu Governo estavam efectivamente mortas. A governante afirmou que a retirada formal da lei da extradição é um primeiro passo dado pelo Executivo para que se estabeleça um diálogo com os manifestantes, de forma a que seja encontrada uma saída para o impasse político que se vive em Hong Kong. “Incidentes nos últimos dois meses chocaram e entristeceram as pessoas de Hong Kong. Sentimos todos muita ansiedade por Hong Kong, a nossa casa. Todos esperamos encontrar uma saída para o impasse actual e para estes tempos inquietantes”, já tinha afirmado na quarta-feira, quando anunciou a retirada formal da lei. Contudo, no mesmo dia, vários políticos e ativistas pró-democracia, apesar de satisfeitos com a retirada da lei, criticaram o facto de as outras quatro exigências dos manifestantes continuarem a não ter resposta. Um dos mais conhecidos activistas, Joshua Wong, que chegou a ser detido na passada semana, sublinhou que a de-

cisão chegou demasiado tarde. “Em resumo, a repetida incapacidade de Carrie Lam em entender a situação tornou este anúncio completamente desligado da realidade. Ela precisa abordar todas as cinco exigências”, entre elas a de eleições livres no território, escreveu na rede social Twitter aquele que é também um dos líderes do Demosisto, partido que defende a autodeterminação de Hong Kong.

PARA CONTINUAR

Também na quarta-feira, em declarações à Lusa, a porta-voz do movimento pró-democracia que tem liderado os maiores protestos em Hong Kong disse que as manifestações são para continuar. “Os ‘slogans’ que têm sido entoados nas ruas são claros. ‘Cinco exigências: nem uma a menos’”, disse Bonnie Leung, que é também vice-coordenadora da Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH) que reúne mais de uma dezena de partidos e organizações não governamentais. “Esta [a lei da extradição] era a mais simples de responder, mas as outras quatro são igualmente importantes”, sublinhou, defendendo que “seria também simples aceitar a criação de uma comissão de inquérito independente para averiguar a actuação da polícia” que é acusada de usar força excessiva. Achefe do Governo de Hong Kong anunciou na quarta-feira a retirada da lei da extradição, que esteve na origem dos protestos que duram há três meses no território.


desporto 11

sexta-feira 6.9.2019

A

BMW Motorsport foi a primeira equipa a confirmar os seus pilotos para a Taça do Mundo FIA de GT – Taça GT Macau do 66º Grande Prémio de Macau. O brasileiro Augusto Farfus vai defender a coroa de campeão. Num anúncio surpresa, a BMW Motorsport deu conta na tarde de quarta-feira que irá regressar ao Circuito da Guia para tentar reconquistar o ceptro que lhe pertence e com o vencedor da pretérita edição da prova. “Macau será muito especial este ano”, disse Farfus. “Primeiro, é um lugar de que tenho memórias fantásticas e a vitória na Taça do Mundo FIA de GT foi o momento alto da minha carreira”, afirmou o piloto brasileiro da BMW Team Schnitzer em comunicado. Para Farfus esta corrida tem outro significado especial, porque será a primeira sem a chefia de Charly Lamm, o histórico chefe de equipa da Schnitzer que faleceu no passado mês de Janeiro. “Vencer com o

Augsuto Farfus, o reconquistador BMW Motorsport escolhe o piloto brasileiro para renovar título de GT do Grande Prémio de Macau Farfus tem este ano um programa de provas com a BMW Motorsport, mas também está participar na Taça do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCR) com a Hyundai. Como o Grande Prémio não permite que um piloto tome parte de duas corridas do programa, o construtor sul-coreano terá que encontrar um substituto para o piloto lusófono para a Corrida da Guia.

ERIKSSON NO SEGUNDO BMW

Charly, um amigo e meu mentor, e muito próximo de mim e da minha família, foi algo muito especial. Este ano espero repetir o

sucesso em memória do Charly. Nós sabemos que será um desafio de verdade, mas lá estaremos a correr pelo terceiro ano consecu-

tivo com o BMW M6 GT3 e temos já a necessária experiência. Vamos dar o nosso melhor para termos sucesso novamente.”

Ao contrário do ano passado, em que só inscreveu um carro na prova, desta vez a marca da Baviera inscreveu um segundo M6 GT3 no evento da RAEM para Joel Eriksson, o jovem sueco que terminou na segunda posição na corrida de Fórmula 3 do ano passado. Contudo, o carro do piloto nórdico será preparado pela estrutura asiática FIST-Team AAI,

que tem várias participações no Grande Prémio, e não pela equipa de fábrica. “Eu apaixonei-me pela Circuito da Guia nas minhas visitas na Fórmula 3 e simplesmente mal posso esperar correr com o BMW M6 GT3”, disse Eriksson. “É difícil saber o que esperar. Apenas corri de F3 em Macau, portanto algum nível de adaptação será necessário, mas estou honrado pela BMW ter decidido confiar em mim para uma das corridas mais importantes da temporada.” Além dos dois GT3 na Taça GT Macau, a BMW também contará com a participação em Macau de várias motas preparadas pela BMW Motorrad Motorsport.

PUB

Assine-o TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo

www.hojemacau.com.mo

Sérgio Fonseca

info@hojemacau.com.mo


12

h

PLANO DE CORTE José Navarro de Andrade

E

STE ano levava outros planos que porém não excluíam os banhos solitários na barragem, onde numa tarde vieram javalis beber a um recanto antes de darem pela presença humana; almoçaradas acintosamente adversas a pruridos nutricionais, cedendo à estação estival apenas na preferência pelo rosé; sestas impenitentes de “pijama e penico” à Camilo José; fins-de-tarde no terraço, deleitosamente expostos aos rigores da calma apenas temperados por mojitos e o eventual havano; noites sem tempo, defendidas pelo ladrar da cadela a repelir gatos bravios, saca-rabos e até texugos atraídos pelo cheiro da cozinha da casa. Algum exercício físico não seria desdenhável, como o de ir às beldroegas que fizeram tufo junto a um furo do tubo de irrigação do olival e depois dar-se à maçada de as desfolhar minuciosamente. Ou cozinhar ossudas peças de carne vermelha com toda a morosidade que o forno concede, execução de facto mais contemplativa do que dinâmica. Ou o de ir pela manhã espreitar abetardas ao longe. Ou de colmatar por uma hora a ausência do vaqueiro e seguir com a carrinha de apoio uma apartação de bezerros. Mas que ninguém se iluda, não tem pretensões idílicas nem revigorantes este espairecimento, do qual só se tira partido se houver a segurança e a retaguarda de uma casa com águas correntes quentes e frias, ar condicionado e wi-fi que dê resposta aos breves mo-

6.9.2019 sexta-feira

Subo as mulheres aos degraus

Turismo mentos em que apeteça saber do mundo lá fora. Só quem não a sofreu ou dela não ouviu contar se apraz com a brutalidade de vida rústica. As Arcádias são antropologias de quem nunca apanhou carraças. Mas este ano trazia um intuito, uma dedicação. O de preterir as leituras diletantes do costume, erráticas e meramente conduzidas pelo impulso, a favor do contacto e leitura – ou qualquer coisa parecida com isso – de algumas coisas que em breve fará falta conhecer. Como era previsível foi um fracasso. Sabem-na toda os engenheiros quando ironizam que um plano é uma coisa que se estilhaça no primeiro encontro com a realidade. Quem já para cá dos Pirenéus caminhe de frente para o Sol vindo da prosperidade europeia fique avisado que a última livraria digna desse nome antes

de a costa atlântica lhe interromper a marcha é a Universitas de Badajoz. Este ano havia jurado nem sequer ler as recomendações de Verão do Babelia mas acabei por folheá-la pois a curiosidade é inclemente com os fracos. Prometera passar ao largo da Universitas no entanto uma inexorável força centrípeta puxou para ela. Destas indulgências resultou sair de lá enriquecido por um par de livros. Nunca é difícil à transgressão valer-se da lógica e neste caso pareceu óptima razão que esses livros fossem imprescindíveis para colmatarem certas lacunas que de súbito se mostraram como um vexame. E assim foi que em 15 dias frequentei durante 4 anos a Córdova do califa al-Hakan II, de 971 a 975, na época de ouro da dinastia Omíada. Neste exacto território que temos consolidado como nosso porque o ha-

E assim foi que em 15 dias frequentei durante 4 anos a Córdova do califa al-Hakan II, de 971 a 975, na época de ouro da dinastia Omíada. Neste exacto território que temos consolidado como nosso porque o habitamos vai para gerações, há mais de mil anos floresceu e estabeleceu-se aqui uma sociedade tão diferente da actual que dificilmente a compreendemos com as ferramentas de que dispomos

bitamos vai para gerações, há mais de mil anos floresceu e estabeleceu-se aqui uma sociedade tão diferente da actual que dificilmente a compreendemos com as ferramentas de que dispomos. Habitavam-no pessoas que podem ter sido antecedentes de sangue de alguns de nós se nos dessemos ao trabalho de procurarmos pela noite dos tempos até onde se prolonga a genealogia donde brotamos. Não era um mundo menos complexo nem mais mal organizado do que aquele em que hoje vivemos, nem os nossos antepassados eram menos inteligentes, aptos e sábios do que nós, a evolução é coisa de centenas de milhares de anos, no mínimo, e não de séculos. O quadro mental em que esta gente se movia é-nos hoje quase impenetrável. A escala de valores, a ideia de Bem e de Mal, os tratos e os contratos tanto públicos como privados, os conceitos de "pessoa" e de "humano", para usar termos que talvez não lhes fizessem sentido, o vínculo entre o céu e a terra, o modo de conceber a ordem divina e a sua intervenção secular, tudo isto media-se e incidia na vida, nas relações e na política de então de uma forma e com um sentido tão radicalmente diversos dos contemporâneos e com uma naturalidade que desmontam os paradigmas tomados agora como evidentes. Da eternidade tida como irrefutável pelos que nela existiam restam umas quantas ruinas soterradas. Uma lição que estamos sempre a desaprender.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

sexta-feira 6.9.2019

OFício dos ossos

Valério Romão

E

STIVE há pouco tempo no Alentejo, perto de uma semana, na casa de uma amiga. Tirando a quase completa ausência de elevações, o cenário e ambiente são-me muito familiares; como já tive oportunidade de escrever em diversas crónicas, para enfado ou desespero dos meus três leitores, os meus pais são do Algarve profundo, aquele que volta costas ao mar com o desprezo de um toureiro ante um touro anoréctico. Esse Algarve é em tudo semelhante ao Alentejo. Diz aliás o ditado que um algarvio é apenas um alentejano sem travões. O sossego que se sente naquelas planícies borbotando de calor é apenas interrompido pela inoportuna consciência das obrigações ancoradas em Lisboa e subitamente desprovidas de qualquer sentido. Parte da perfeição – ou imperfeição – do Alentejo é a anisotropia geográfica na distribuição de internet (perdoem-me, mas sempre quis escrever isto). Na mesma localidade há zonas apetrechadas com rede móvel de dados suficiente para três dias de Pornhub, ao passo que, apenas dois metros para a direita de onde se está, o sinal é tão fraco que um indivíduo se vê obrigado a mover o aparelho em todas as direcções na busca de um pauzinho de rede. Para mitigar essa dificuldade há as vendas e os cafés, museus vivos dessa forma de estar do Alentejo onde agora, entre uma prateleira de garrafas empoeiradas e um calendário do talho Gomes, se exibe com desarmante naturalidade e algum orgulho a password do wifi. À cata de sinal aportei no café Botas, no qual se servia um café muito aceitável e se navegava a cerca de 20 Mbps. Cumpridas as formalidades dos mails, fui descendo de degrau em degrau para a cave da procrastinação até dar por mim a fingir interesse na compra de tubagens galvanizadas para escoamento de águas residuais em climas frios. Quando tomei consciência da ausência neuronal – que se instala de forma tão insidiosa como subtil – resolvi arrumar a trouxa, contar os trocos para pagar os dois cafés consumidos e fumar o cigarro abaladiço. Lá fora sob o toldo absolutamente necessário, um sujeito não parava de fazer chamadas no telemóvel. Era para – suponho – um oficial de justiça, com o qual falava sobre a mulher e o filho de ambos que esta tentara matar, era para alguém a quem se queixava de estar a ser alvo de extorsão monetária, era para um rapaz que prometia perfilhar e a quem dizia estar a beber uísques desde as oito e meia da manhã e era, acto final, cai o pano, para a ASAE, queixando-se de no Botas não lhe terem facultado o livro de reclamações. Estava obviamente bêbedo. Há muito, no entanto, que não via um bêbedo

O lugar de todos nós tão hiperactivo e capaz de diversificação no investimento, como soi agora dizer-se nos corredores da banca. Movido pela curiosidade das crianças e/ou dos idiotas, resolvi ficar mais algum tempo. Lá dentro, uma senhora acercando-se da ribanceira da idade e muito versada em vinho branco confessava a um casal de amigos espanhóis a frustração por

ver no marido tanta coisa – amigo, pai, irmão, filho – menos o marido com o qual ela se casara e que misteriosamente desaparecera, um dia qualquer, como a geada matinal num dia de Verão. De repente, já não estava no Alentejo mas numa secção do Correio da Manhã. Em potência, pelo menos. Aquela na qual levantada a saia do crime horren-

do transparecem as tão humanas frustrações que nos levam a limites mais ou menos concretizados de violência e arrependimento. Aquele Alentejo, aquele café, aquele rapaz dramaticamente conversador e aquela mulher em psicoterapia artesanal já os vi em todo o lado. Já os vi no rosto dos meus amigos. Já os vi ao espelho.

À cata de sinal aportei no café Botas, no qual se servia um café muito aceitável e se navegava a cerca de 20 Mbps. Cumpridas as formalidades dos mails, fui descendo de degrau em degrau para a cave da procrastinação até dar por mim a fingir interesse na compra de tubagens galvanizadas para escoamento de águas residuais em climas frios


13

140 9(f)utilidades 6 5 4 7 8 3

2 1 1 2 8 7 3 9 6 4 0 5 4 3 2 0 1 5 9 8 6 7 7 6 5 4 8 0 3 2 1 9 TE IRO 8 M1P O 3 9A G 2 U6A C4E 5 7 S0 M I N 9 5 4 2 0 1 7 6 3 8 3 8 7 1 5 2 0 9 4 6 7 0 6FAZER 9 4 5 1 8 3 O2 QUE 5 0 1SEMANA 3 6 8 2 7 9 4 ESTA 6 4 9 8 7 3 1 0 5 2

?

Diariamente 15 EXPOSIÇÃO | ”CORES DA ÁSIA” | CASAS DA TAIPA Galeria Até 22/09 1 |2 0

7 4 9 5 8 6 3 4 5 | “O6VAGABUNDO” 1 0 3 8 7 9 2 EXPOSIÇÃO Casas da Taipa – Exterior 9 8 2 5 6| Até76/10 4 3 0 1 EXPOSIÇÃO 3 0 | “JARDIM 7 9DAS8DELÍCIAS 1 TERRENAS” 6 2 5 4 Wynn Macau | Até 6/10 6 3 4 8 2 5 0 1 7 9 EXPOSIÇÃO 5 7 | “CONTEMPLAÇÃO 9 3 1 DA 8 BONDADETERNA” 2 6 4 0 Museu de Arte de Macau | Até 6/10 2 6 1 4 7 0 3 9 8 5 EXPOSIÇÃO | “QUIETUDE E CLARIDADE: OBRAS 0 4ZHIFO8DA COLECÇÃO 2 9 DO 6 MUSEU 1 DE 5 NANJING” 3 7 DE CHEN MAM 8| Até917 /11 3 0 5 2 7 4 1 6 7 1 | “HOT 5 FLOWS 6 3– PEARL 4 RIVER 9 0 2 8 EXPOSIÇÃO DELTA ARTS RETROSPECTIVE” Armazém do Boi | Até 13 de Outubro

6 9 7 8 1 0 4 3 2 5

4 2 3 7 8 5 6 9 1 0

1 0 9 3 5 4 8 2 6 7

5 4 2 6 0 9 7 1 3 8

Cineteatro

9 7 1 2 4 3 0 8 5 6

0 8 6 5 3 7 2 4 9 1

2 3 8 0 6 1 5 7 4 9

2 4 5 8 9 3 1 0 284 9 7 5 0 6 3 2 6 7 4 1

0 6 7 4 6 1 2 7 M 3 A5X 9 8 4 3 1 0 5 2 8 9

8 9 6 1 2 5 3 4 0 372 4 2 1 8 5 6 9 0 7 3

1 5 3 3 9 0 7 0 8 5 8 9 4H2U M 6 6 3 1 2 7 5 9 4 7 8 1 4 0 6 2

16

SALA 2

CRAWL [C] Um filme de: Alexandre Aja Com: Kaya Scodelario, Barry Pepper 14.30, 19.30

ANGEL HAS FALLEN [C] Um filme de: Ric Rowan Waugh Com: Gerard Butler, Bugran Freeman 16.30, 21.30

9 8 2 4 0 7 2 7 8 3 4 0 8E U1R3O 1 3 6 0 6 5 5 9 4 7 2 9 6 5 1

4 7 0 5 3 6 6 9 1 1 5 8 9 9 84. 8 2 2 0 5 7 2 3 8 1 7 3 6 4 0 8 9

1 3 6 4 5 7 1 9 0 8 9 8 0 1 8 4 5 2 3 9 5 4 3 9 0 8 6 4 7 2 6 2 2 3 6 1 7 0 8 5 B A H T 0 . 2 7 0 76 5 Y9U A 2 N8 31 . 1 1 26 4 9 8 7 2 6 4 1 9 3 8 1 0 4 3 2 7 6 1 VIDA DE5CÃO 3 6 4 8 1 9 0 5 2 7 0 5 1 6 3 5 9 8 4 0 GUARDA-CHUVAS 2 7 9 2 7 0 3 6 5 4

EM 2019?

0 9 5 8 7 6 1 4 2 3 5 3 4 8 0 1 6 9 2 7 3 1 7 4 8 2 5 6 9 0 6 2 1 4 9 3 7 0 8 5 6 2 9 1 3 0 4 8 5 7 9 0 8 7 6 4 5 2 1 3 4 5 2 0 9 1 3 7 6 8 7 9 0 2 8 5 3 1 6 4 8 7 6 3 5 4 9 0 1 2 1 5 3 6 7 2 9 4 0 8 7 0 8 6 1 9 2 3 4 5 2 4 6 9 3 0 8 5 7 1 9 3 4 5 2 8 7 1 0 6 3 8 5 0 1 7 4 6 9 2 5 6 1 2 0 3 8 9 7 4 0 6 7 1 5 8 2 3 4 9 2 8 0 9 4 7 6 5 3Os números 1 de telefone ligados 8 1a mais2de 400 3 milhões 4 9de contas 0 do7Facebook 5 6que ADEUS PRIVACIDADE tinham sido armazenados de forma irregular foram expostos ‘online’, a mais 1violação 4 da3protecção 7 6de dados 5 do 4 7 9 5 2 6 1 8 3 recente 0 0 grupo 2 norte-americano, 8 9 revelou o site TechCrunch. Um servidor vulnerável armazenou 419

8 1 5 4 2 6 9 0 7 3

7 5 4 1 9 8 3 6 0 2

18

3 6 0 9 7 2 1 5 8 4

ANNA

Um filme de: Luc Besson Com: Sasha Luss, Luke Evans, Cillian Murphy, Helen Mirren 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

6 1 0 9 •5 7 4 2 8 3

21

5 0 7 3 4 2 9 1 8 6

9 1 8 6 3 0 7 5 4 2

6 2 5 7 9 8 1 4 3 0

4 8 0 1 2 5 6 3 9 7

3 4 2 0 7 1 8 9 6 5

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 18

1 5 6 9 8 4 0 7 2 3

2 7 3 4 0 6 5 8 1 9

8 3 9 2 6 7 4 0 5 1

UM FILME HOJE

ANNA [C]

7 5 2 2 4 3 6 7 7 0 9 5 % 1 6 0 8 9 9 8 0 3 1 5 4

206.9.2019 sexta-feira

milhões de registos de utilizadores da maior rede social do mundo em vários bancos de dados, incluindo 133 milhões de contas nos Estados Unidos, mais de 50 milhões no Vietname e 18 milhões na Grã-Bretanha, segundo o site norte-americano.

C I N E M A

SALA 1

19

Os aplausos em Cannes ao último filme de Pedro Almodovar, “Dor e glória”, são absolutamente merecidos. A última obra do realizador espanhol além de autobiográfica é ainda um apanhado das temáticas que marcam sua filmografia: uma infância dominada por mulheres, os estudos e abusos sofridos em seminários, a sexualidade, a dor e a fama. Não falta nada neste filme que conta com a brilhante interpretação de António Banderas e que lhe valeu a estatueta no festival francês. Hoje Macau

SALA 3

EXIT [B] FALADO EM COREANO LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Lee Sang-geun Com: Cho Jung-Seok, Lim Yoona, Goh Doo-Shim, Park In-Hwan 14.30, 16.30, 21.30

ONE PIECE STAMPEDE [B] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Takashi Otsuka 19.30

www. hojemacau. com.mo

7 9 1 8 5 3 2 6 0 4

0 6 4 5 1 9 3 2 7 8

19

2 6 8 9

23 1 6 0 93 52 8 4 7 9 35

8 7 24 5 89 3 00 51 2 6

PROBLEMA 19

21

9

85 9 73 44 16 1 67 2 20 8

4 1

22 1 7 0 8 6 55 49 94 13

1 6

9 33 8 51 7 00 22 15 6 84

0 1

9 8 1 5 6 7 2 6 8 5 1 1 5 1 2 4 7 23

46 54 65 12 0 9 3 8 7 01

2

4 0 19 87 1 55 6 73 8 2

17 8 2 6 3 44 81 0 5 9

9 0

5 2 9

3 2 6 28 05 97 9 4 51 0

0 5 1 9 4 2 8 6 3 7

22 Carrie Lam, Chefe do Executivo de Hong 2 Kong, 4 1retirou 3 5finalmente 6 7 0 do Conselho Legislativo a propos9 da8extradição 7 0 3que1gerou 2 6 ta de lei o caos6político em que a região 5 3 4 7 0 9 8 actualmente vive. A governante 0 que 9 a2decisão 6 4não8foi5de 7 já disse Pequim e sim dela 5 7 8 1 2mas,9 inde0 3 pendentemente disso, resta saber 0 5 8depois 2 3da 4 como 1fica6o território retirada No 5 que 6diz 2 4 da3proposta. 9 8 1 respeito à relação do Governo 2 4 7 9 1 5 com a8 população, fica3como 7 relacionamentos 1 6 2 0 que 4 já8se 9 aqueles iniciaram e terminaram uma 3 0 5 9 6 7 série 4 1 de vezes: gastos, cansativos, sem qualquer ponta de credibilidade. Carrie Lam pode ter retirado a 20 24 proposta de lei, mas a relação com 4 3 que 1 era 8 2 6já 79má, 5 ficou 0 93 os residentes, ainda pior. Quanto 0 5 9 85ao movimento 2 4 1 6 cívico, os activistas já vieram dizer 19 4 7 a0retirada 9 3da pro6 25 que é importante posta de lei, mas que não chega. 73 6 1 37 0 8 45 59 Quais serão os próximos capítulos 7 4novela 29 52 9 6em11busca 36 8 desta política de8mais 9 democracia 7 6 5 4para09Hong 8 3 Kong? Poderemos ver um novo 5 84de0guarda-chuvas 1 3 2 71 movimento em 4 2019, mas 28 1sem39os guarda-chuvas? 4 5 72 97 06 Até onde vai a mobilização 6 0 85 29 18 94 5das 72 pessoas e a definição de uma 7 8em62014? 2 11 9 32 9que4falhou estratégia Aguardemos. Andreia Sofia Silva

3 7 5 9 4 0 8 6 2 1

2 6 1 4 0 5 9 3 7 8

9 5 2 1 4 7 0 6 3 8

8 4 1 3 6 9 7 0 5 2

1 3 5 9 70 25 6 8 4 08

4 7 8 2 0 1 9 6 3 5

22

4 5 6ALMODOVAR 9 “DOR E GLÓRIA” | PEDRO 0

3

6 0 8 5 1 6 9

7 8 2 9 7 5 3 4

S U D O K U

17

14

0 5

5

2 8

7 0 4 8 2 9

2

7 3

6

6 5 3 7 4 3 9 1 5 2 0 7 7 1 7 0 4 5 3 9 6 7 4 2 24

8

6 7 0 9 9 8 5 2 4 3 3 7 5 8 9 2 1 7 3 2 4 2 1 6 7 0 2 0 7 4 2 5 3 7 6 9 0 5 9 7 5 3 2 0 5 3 2 6 9 5 2 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Juana Ng Cen; Colaboradores 7 Caeiro; António 2 Falcão; Gisela Casimiro;0Gonçalo Lobo6Pinheiro; João Paulo Cotrim; José Drummond; 3 5 Navarro de Andrade; 0 Amélia Vieira; António Cabrita; António Castro José José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio 0 David Chan; João Romão;5Jorge Rodrigues 3 Simão; Olavo Rasquinho; 0 Fonseca; Valério Romão Colunistas António9 Conceição Júnior; Paul Chan Wai Chi;1 Paula9 Bicho; Tânia dos 4 Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo 5 Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua 7 3 4 7 6 2Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo

4 2 0 9 6 5


opinião 15

sexta-feira 6.9.2019

confeitaria

JOÃO ROMÃO

A

GORA é na Europa que passo menos do meu tempo, em visitas ocasionais, geralmente combinando afazeres profissionais com lazeres diversos. Desta vez a visita começou em Lyon, depois de fugaz passagem por um dos aeroportos de Paris, não mais que o suficiente para entrar no comboio de alta velocidade que me levaria a Lyon, a cidade do Rhone e do Saone, os dois rios que percorrem a cidade e convergem para “La Confluence”, uma renovada zona urbana que acolhe o magnífico museu onde se cruzam culturas de tempos e geografias diversas num edifício de arrojada e espetacular arquitetura contemporânea. Detenho-me nas estações e aeroportos, no entanto, que esses espaços de confluência de modos diversos de transporte e multidões mais ou menos aceleradas são também um espelho do nosso comportamento colectivo. Impressionam-me – porque já não estava habituado a este singular espetáculo – as formidáveis metralhadoras que ostentam os diligentes agentes da autoridade, esses que detém o monopólio do exercício da violência nas sociedades democráticas avançadas, em permanente demonstração de que, quando chegar a hora, estão prontos para matar. Olham com desconfiança quem passa, talvez para matar o tédio de quem transporta tão magnífico instrumento de avançada tecnologia para matanças generalizadas sem lhe dar o apropriado uso. Nas raras vezes em que os vejo em acção, dirigem-se a adolescentes transportando mochilas, provavelmente escolares. São negros, invariavelmente. Não vi nenhum a ser detido, nem nada que se parecesse. Mas é assim a França contemporânea, o país dos sonhos de Liberdade. Também as saídas das principais estações ferroviárias para as praças públicas nos revelam muito da Europa contemporânea, neste caso na versão de economia avançada e desenvolvida que a França representa. É muito diversa a composição etária ou a origem geográfica das muitas pessoas que recorrem à mendicidade, os excluídos entre os excluídos, os muito pobres que se arrastam pelas ruas sem conseguir dissimular a vergonha e a humilhação, os jovens e velhos, casais e solitários, africanos ou europeus, por vezes sentados no chão, em colchões encardidos, ou até em tendas de campismo. É também assim a França actual, o país dos sonhos de Igualdade, que foram morrendo perante uma indiferença mais ou menos generalizada: afinal a pobreza não toca a todos, não toca sequer a essa maioria que

Teremos sempre Paris

afinal ainda beneficia de uma vida cómoda e agradável. É a França, país dos sonhos de Fraternidade. Saído da estação a um domingo de manhã dirijo-me para o eléctrico, compro o bilhete e espero, ao sol, por falta de protecção adequada. Espero demasiado, com o desconforto de quem fez durante toda a noite uma longa viagem e agora suporta o confronto diretco com a exposição solar a mais de 30 graus. Resolvo que mais de 15 minutos é um despropósito e dirijo-me aos vários painéis informativos afixados na paragem. Lá está: num pequeno papel precariamente afixado informa-se, em francês, que o eléctrico não está a funcionar. Paciência. E paciência também para quem comprou o bilhete, que a máquina de venda, essa sim, continua a funcionar. Sempre vou informando as restantes pessoas que vieram ao mesmo engano e que não sabem ler francês. Afinal, seria só o primeiro de vários incidentes com a falta de informação durante a minha estadia entre Lyon e Paris.

Falha a informação mas sobram as obras: pó e ruído por todo o lado, cidades em permanente arranjo – nada de grandes obras visíveis mas um grande número de pequenas intervenções que acabam por fazer do espaço público um improvisado estaleiro, mais ou menos desagradável consoante a nossa disposição para conviver com o barulho e as estruturas temporárias que ocupam um espaço público que até parecia desenhado para proporcionar agradáveis momentos de lazer, ou pelo menos garantir uma agradável circulação e mobilidade nas cidades. Também é generalizadamente precária a prestação dos mais variados serviços, incluindo naturalmente os da hotelaria, com os quais convivo mais regularmente durante a estadia: são muitos menos do que os que deveriam ser os trabalhadores envolvidos, é visível o esforço que fazem para que tudo funcione, mas falta gente, a avidez do lucro e a evidente exploração do trabalho estão também aqui, em todo o lado, em toda a

Mais do que nunca, os tempos que correm parecem mostrar que teremos sempre Paris, para nos lembrar como a selvajaria do capitalismo contemporâneo destruiu as utopias perdidas da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, para recuperar a repressão, a estratificação e a indiferença

evidência, para quem visita a França, uma das mais desenvolvidas economias europeias. Há, no entanto, muito que ainda funciona, eventualmente pior do que seria desejável, mas ainda assim com suficiente eficácia para que se possa disfrutar da magnífica arquitectura e estrutura urbana das cidades, da importância cultural dos museus ou do prazer dos cafés, das esplanadas e da vida na rua. E da comida, certamente da comida, sempre excelente, frequentemente inovadora, à procura de novas recombinações, a fusão de culturas que a Europa devia representar manifesta-se, pelo menos, à mesa. Entre deliciosas misturas de ingredientes e técnicas da América Latina, da Ásia, do Médio Oriente, da África ou de várias zonas da Europa, a comida em França continua a ser tratada como a arte que deve ser. Mas não para usufruto de todos, evidentemente. Os restaurantes estão sistematicamente cheios e há uma imensa maioria de residentes locais e turistas ocasionais que os frequenta. Mas logo ao lado estão os sem-abrigo, os mendigos, os pobres os excluídos da rica civilização europeia, os que têm direito a pouco mais do que nada. Mais do que nunca, os tempos que correm parecem mostrar que teremos sempre Paris, para nos lembrar como a selvajaria do capitalismo contemporâneo destruiu as utopias perdidas da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, para recuperar a repressão, a estratificação e a indiferença.


Pode fazer-se tudo, salvo fazer sofrer os outros. Gustave Flaubert

sexta-feira 6.9.2019

PALAVRA DO DIA

‘STARTUPS’ BRASILEIROS E PORTUGUESES À PROCURA DE INVESTIDORES CHINESES

COMÉRCIO CHINA E EUA VOLTAM À MESA EM OUTUBRO

A

PUB

S delegações da China e Estados Unidos que negoceiam um acordo comercial vão voltar a reunir em outubro, em Washington, informou ontem o Governo chinês, numa altura de crescentes disputas entre os dois países. “Os dois lados concordaram em realizar a décima terceira ronda de negociações económicas e comerciais de alto nível em Washington, no início de Outubro, antes da qual estarão em constante contacto”, revela o comunicado. A mesma nota confirma que as delegações vão reunir, em meados de Setembro, como anteriormente anunciado, “para preparar um progresso significativo durante as negociações de alto nível”. “Ambas as partes concordaram que deveriam trabalhar juntas e tomar medidas práticas para criar condições favoráveis às negociações”, aponta. A nova ronda de negociações ficou marcada após uma conversa via telefone, segundo a mesma fonte. No telefonema participaram, do lado de Pequim, o vice-primeiro-ministro chinês Liu He, que lidera a delegação chinesa, o ministro do Comércio, Zhong Shan, o governador do banco central, Yi Gang, e o vice-director da poderosa Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, Ning Jizhen. Do lado dos EUA, participaram o representante do Comércio e o secretário do Tesouro, Robert Lighthizer e Steven Mnuchin, respectivamente. O telefonema realizou-se no domingo, no mesmo dia em que entraram em vigor, nos Estados Unidos, novas taxas alfandegárias, de 15 por cento, sobre cerca de 300 mil milhões de dólares de importações oriundas da China. O Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou também que vai elevar as taxas de 25 por cento para 30 por cento, sobre 250 mil milhões de dólares de bens importados da China, a partir de Outubro.

À pesca na Grande Baía

Q

UASE duas dezenas de ‘startups’ portuguesas e brasileiras participam esta semana num evento internacional em Macau para captarem investidores e parceiros no mercado chinês, disseram ontem alguns dos seus responsáveis à agência Lusa. Depois da participação na Semana Internacional de Macau de Startups, os representantes das 17 empresas lusófonas têm agendado um circuito por três das cidades que integram a Grande Baía, a metrópole mundial que Pequim está a criar numa região com mais de 70 milhões de habitantes e que engloba também Macau e Hong Kong.

“O principal alvo é o mercado da Grande Baía, conectar com investidores”, explicou à Lusa o director geral da incubadora e aceleradora brasileira Startup Rio. Por outro lado, há também o objectivo de “tentar, com a ajuda do Governo local, trazer ‘startups’ brasileiras para esta região da Grande Baía, através de subsidiárias”, acrescentou Paulo Espanha, acompanhado de responsáveis das empresas ligadas à inteligência artificial (CyberLabs e Previsiown) e à ‘internet das coisas’ (Phygitall). Do Brasil veio também o director executivo da Sunne, Yuri Frota, que está em Macau “para conhecer

o mercado e reforçar o trabalho em rede com outras empresas”. O brasileiro está consciente de que “Macau pode ser uma porta de entrada para a China” para a Sunne, que está a desenvolver produtos na área das energias renováveis. Já a responsável de operações da Nu-Rise, Joana Melo, destacou que a prioridade passa por “promover relações com outras empresas e estabelecer contactos com o mercado chinês, desde investidores, aceleradores, incubadoras e fabricantes”. Joana Melo sublinhou que se trata de uma aposta estratégica da empresa portuguesa, que desenvolveu um “sistema digital que funciona em tempo real na

área da radioterapia que ajuda os médicos a criarem ferramentas mais precisas e seguras”. A portuense Infraspeak também fez questão de marcar presença no evento que dura até sábado. A aposta da ‘startup’ portuguesa é em ‘software’ de gestão de manutenção de edifícios, explicou o responsável pelas parcerias internacionais da empresa, José Vieira Marques. “O foco principal é encontrar parceiros e trabalhar em rede para arranjar novos investidores, numa nova ronda de captação de investimento”, adiantou, ciente de que se encontra na capital mundial do jogo que há mais de uma década tem sido marcada pela construção de edifícios de luxo ligados, sobretudo, às operadoras de casinos.

PORTAS ABERTAS

Paulo Espanha, Startup Rio “O principal alvo é o mercado da Grande Baía, conectar com investidores.”

Em Macau, o Governo tem repetido a sua vontade em ajudar empresas oriundas de países de língua portuguesa a investirem na região, em especial após a apresentação do plano de desenvolvimento do projecto da Grande Baía. De resto, as autoridades de Macau têm sublinhado a existência do Fundo de Cooperação para o Desenvolvimento entre a China e os Países de Língua Portuguesa, de mil milhões de dólares, com esse propósito. Em Maio, o Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On voltou a referir que a região vai continuar a impulsionar a cooperação entre empresas chinesas e de países de língua portuguesa e apoiar ‘startups’ interessadas em desenvolverem a sua actividade no território ou na região da Grande Baía.

TÓQUIO UM MORTO E MAIS DE 30 FERIDOS EM COLISÃO ENTRE CAMIÃO E COMBOIO

P

ELO menos uma pessoa morreu e mais de 30 ficaram feridas na sequência de uma colisão entre um comboio e um camião perto da cidade japonesa de Yokohama, sul de Tóquio, segundo as autoridades locais. "No total, 30 pessoas foram transpor-

tadas para o hospital (...) duas das quais em estado grave. Uma delas foi mais tarde confirmada como morta", disse aos jornalistas um responsável dos bombeiros de Yokohama. Segundo os media, a vítima mortal será o condutor do comboio. O

acidente ocorreu por volta das 11:40, numa travessia ferroviária em Yokohama, uma cidade portuária perto de Tóquio. Na sequência da colisão, várias carruagens do comboio descarrilaram e o camião incendiou-se, de acordo com a polícia nipónica.

A cadeia de televisão NHK mostrou imagens do primeiro vagão completamente inclinado para a direita e fora dos carris. Ao lado, destroços do camião, que carregava fruta que ficou espalhada no local do acidente. Segundo a empresa responsável

pela linha férrea, Keikyu, várias carruagens descarrilaram na sequência do acidente. O comboio suburbano, com oito vagões, fazia a ligação entre o distrito de Aoto, em Tóquio, e a localidade de Misakiguchi, em Kanagawa.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.