Hoje Macau 8 JAN 2020 # 4444

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˜ DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

QUARTA-FEIRA 8 DE JANEIRO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4444

A` espera sentado PÁGINA 4

VIDEOVIGILÂNCIA

KOU DA` NEGA A SULU SOU PÁGINA 7

RÓMULO SANTOS

GCS

NOVA PRISÃO

CARITAS

Tu cá, tu lá PÁGINA 8

GETTY IMAGES

hojemacau

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Casas de papel E se o sismo de domingo tivesse sido mais forte? Especialistas em engenharia civil ouvidos pelo HM entendem que à luz dos requisitos de segurança exigidos pelas leis actuais, os edifícios mais antigos correm o risco de não aguentar um abalo mais forte. Além disso, a DSSOPT tem há 10 anos na gaveta uma proposta para rever o regulamento de segurança para a construção de edifícios, emitido pelo LECM. GRANDE PLANO

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PRONTUÁRIO AMÉLIA VIEIRA

EXORTAÇÃO AO ESTUDO II XUNZI

DIREITO A ENTRISTECER NUNO MIGUEL GUEDES


2 grande plano

8.1.2020 quarta-feira

SISMOS

Em 2009, o Laboratório de Engenharia Civil de Macau entregou à DSSOPT uma proposta de revisão do Regulamento de Segurança e Acções em Estruturas de Edifícios e Pontes. Até hoje o documento não foi ainda legislado e continua em processo de revisão. Especialistas em engenharia civil alertam para o facto de a actual legislação não assegurar a resistência necessária de edifícios para suportarem sismos mais fortes

TREMORES DEZ ANOS DEPOIS, LEI RELATIVA À CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS CONTINUA POR REVER

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Á dez anos que o Governo está a rever o Regulamento de Segurança e Acções em Estruturas de Edifícios e Pontes, que data de 1996. Em 2009, o Laboratório de Engenharia Civil de Macau (LECM) entregou uma proposta de revisão à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), que chegou a apresentar publicamente esta matéria. Dez anos depois, o regulamento continua em processo de revisão. “A regulamentação relativa à acção sísmica está a ser revista para ter em conta métodos mais sofisticados de análise, bem como dados actualizados de actividade sísmica. Mas os estudos efectuados entretanto demonstram que a regulamentação em vigor é conservativa, ou seja, peca pelo lado da segurança”, explicou ao HM Tiago Pereira, engenheiro civil do LECM. Tiago Pereira adiantou ainda que o actual decreto-lei apresenta “regras claras para o dimensionamento de estruturas tendo em conta a acção sísmica”, sendo que “as exigências aí estipuladas oferecem larga margem de segurança às edificações quando sujeitas a esta acção”. Em 2010, de acordo com uma notícia do jornal Ponto Final, o LECM dava o seu trabalho por terminado, aguardando uma acção por parte da DSSOPT. “A revisão legislativa está já nas mãos da Direcção de Obras Públicas. Terminámos a nossa parte. Cabe-lhes agora decidir quando publicar e fazer vigorar a nova regulação. É esta a situação actual”, disse ao jornal Ao Peng Kong, presidente da direcção do LECM. À data, o responsável adiantava que o novo documento permite métodos de análise mais científicos e dinâmicos no conhecimento dos efeitos de vento e sismos sobre as construções e uma adequação mais cautelosa à realidade local. “Se todos os projectos seguirem rigorosamente a regulamentação serão bastante seguros. [Mas] não podemos garantir que 100 por cento das construções cumpram

Dois especialistas contactados pelo HM asseguram que, à luz das medidas de segurança previstas nas leis actuais, há o risco de os edifícios não aguentarem sismos com uma maior magnitude, sobretudo nas zonas mais antigas

a lei, nem podemos dizer sobre um edifício particular se é ou não seguro. É preciso haver uma análise individual”, acrescentou Ao Peng Kong. Até ao fecho desta edição, não foi possível obter esclarecimentos adicionais junto da DSSOPT face ao paradeiro do novo regulamento. Num comunicado oficial de 2008 apontava-se que o regulamento em vigor “foi publicado há mais de dez anos” e que, “com o rápido desenvolvimento tecnológico na área da construção civil em Macau, considerou-se que não é

suficiente para atingir as necessidades locais”.

ATÉ UM LIMITE

Na manhã deste domingo, por volta das 6h55, foi registado um sismo de 3,5 graus de magnitude na escala de Ritcher, com epicentro localizado a 31 quilómetros de Macau, nas águas do distrito de Xiang Zhou da cidade de Zhuhai. Dois especialistas contactados pelo HM asseguram que, à luz das medidas de segurança previstas nas leis actuais, há o risco de os edifícios não aguentarem sismos com


grande plano 3

quarta-feira 8.1.2020

NA GAVETA

“A actual lei é conservadora em relação aos novos edifícios, e necessitamos de mais linhas orientadoras e regulamentos para a protecção dos edifícios históricos face a desastres naturais como sismos ou tufões” ANGUS LAM PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE MACAU

e tal deveria ser melhorado. Além disso, o conhecimento das condições do solo necessita de ser mais estudado com base nos requisitos previstos nos códigos chineses”, frisou Lee Hay Ip.

OLHAR O PATRIMÓNIO

Angus Lam, professor no departamento de engenharia da Universidade de Macau (UM), especialista em engenharia de estruturas, defendeu ao HM que é necessária uma nova lei nesta área. “A actual lei é conservadora em relação aos novos edifícios, e necessitamos de mais

uma maior magnitude, sobretudo as zonas mais antigas. “Macau não é uma zona completamente livre de sismos. No passado houve vários com a escala de 5.5 a 200 quilómetros de Macau, um deles com escala de 7 em Yanhgwong. A maior parte dos quatro a cinco mil edifícios antigos de Macau estão propensos aos perigos de sismos, tal como dos tufões”, disse Lee Hay Ip, engenheiro civil e presidente honorário da Associação de Empresas de Consultores de Engenharia de Macau.

Para o responsável, houve alguma evolução a este nível desde o ano 2000, mas as regras existentes não são suficientes para assegurar uma total segurança dos edifícios. “Desde o ano 2000 que os códigos utilizados em Macau passaram a ter em conta as condições do solo (dependendo da localização dos edifícios) que influenciam o impacto das forças sísmicas nos edifícios. Nos últimos cinco anos, esses códigos têm-se baseado nos códigos chineses da província de Guangzhou. O metro da Taipa, no qual fui consultor para as suas

fundações, foi desenvolvido com base nestes códigos.” No entanto, no caso de sismos de magnitude de 7.5, por exemplo, “os códigos existentes, que garantem a resistência de um edifício, são incompletos, e têm deficiências em requerimentos específicos, como por exemplo qual a quantidade de aço que deve ser utilizada”. “Às vezes, mesmo que o nível de resistência [a um sismo] de um projecto conste na documentação da obra, não se põem em prática certos requisitos, pelo que há problemas de controlo de qualidade

“A regulamentação relativa à acção sísmica está a ser revista para ter em conta métodos mais sofisticados de análise, bem como dados actualizados de actividade sísmica. Mas os estudos efectuados entretanto demonstram que a regulamentação em vigor é conservativa, seja, peca pelo lado da segurança.” TIAGO PEREIRA ENGENHEIRO CIVIL DO LECM

linhas orientadoras e regulamentos para a protecção dos edifícios históricos face a desastres naturais como sismos ou tufões.” “Uma vez que Macau não é um território sísmico activo, a concepção dos edifícios tendo esse aspecto como referência nem sempre está de acordo com as regras em vigor. Se um sismo for inferior a uma magnitude de 5, então a maior parte dos edifícios estará segura. Contudo, é necessário prestarmos mais atenção aos edifícios históricos, que não foram construídos de acordo com os códigos usados nos edifícios mais modernos.” Neste aspecto, Ao Peng Kong disse ao Ponto Final, em 2010, que, no caso das Ruínas de São Paulo não é conhecida a sua estrutura na totalidade. “Não sabemos. Não temos provas que o sustentem. Não existe qualquer projecto de estrutura das Ruínas de São Paulo, nem tão-pouco conhecemos qual a estrutura da fachada das Ruínas – ninguém sabe. Talvez não seja conhecido, mas a estrutura da fachada é oca em algumas partes. A fachada não é toda sólida”, admitiu o presidente do LECM. “Poderíamos abrir um buraco para conduzir uma investigação, mas ninguém nos permitiria fazer isso. É difícil dizer. Já tentámos usar equipamento sónico para apurar qual é ao certo a estrutura da fachada. Mas ninguém sabe. Aquilo que sabemos é que se tem mantido de pé por mais de duzentos anos. Relativamente a este edifício patrimonial, não há muito que possamos fazer para reforçar a estrutura. Podemos apenas monitorizá-lo e evitar que se deteriore”, concluiu ao jornal. Ao Peng Kong adiantou também ao mesmo jornal, há dez anos, que o novo regulamento iria alterar normas com décadas de existência, sendo que muitas delas tinham sido feitas a pensar na realidade portuguesa e adaptadas depois à realidade local, com os códigos chineses. O decreto-lei ainda em vigor prevê que a análise dos efeitos da actividade sísmica e dos ventos é feita tendo como base intervalos de ocorrência de duzentos anos para determinação dos registos de maior intensidade. A nova lei iria reduzir esse período para 50 anos, além de prever métodos mais científicos para analisar o impacto das estruturas. “Através de um teste em túnel de vento podemos simular o mapa geológico de Macau e, com a localização de uma estação de observação meteorológica, construímos um modelo tridimensional de Macau. No túnel de vento, simulamos a velocidade de vento máxima registada. Com esse perfil tridimensional é possível saber qual a acção do vento”, explicou Ao Peng Kong. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


4 política

8.1.2020 quarta-feira

DETENÇÃO DE IRANIANOS É “SITUAÇÃO NOVA”

SEGURANÇA WONG SIO CHAK QUER PRISÃO NOVA PRONTA O MAIS DEPRESSA POSSÍVEL

Quem espera, desespera

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ong Sio Chak considerou que o caso dos seis iranianos que foram detidos no Aeroporto Internacional de Macau com passaportes falsos é uma situação nova para a RAEM: “Estará este caso relacionado com a migração económica? Depende do julgamento. Considero que é uma nova situação para Macau. Algumas pessoas utilizam o território para emigrar de forma ilegal”, afirmou, de acordo com a Rádio Macau. Segundo os relatos das autoridades, o objectivo dos indivíduos passaria por depois viajarem para a Europa, onde pretendiam que lhes fosse cedido o estatuto de refugiados. Sobre os procedimentos para este caso, o secretário para a Segurança admitiu que se o Ministério Público não aplicar a medida de coacção de prisão preventiva que os seis vão ser expulsos da RAEM.

“Enquanto secretário para a Segurança presto mais atenção [às obras de construção] do que as outras pessoas. E espero sempre que haja avanços nos trabalhos” O assunto foi igualmente mencionado por Cheng Fong Meng, director dos Serviços Correccionais (DSC), que fez um balanço da situação. Segundo Cheng, a terceira das quatro fases deve ficar concluída em Maio de 2021, mas o concurso público para a atribuição da obra ainda

não arrancou. Já a quarta fase ainda está a ser desenvolvida e só depois poderá ser feito o respectivo concurso público. Em relação aos principais problemas encontrados ao longo do processo, o director da DSC mencionou o impacto da qualidade dos materiais utilizados, dos grandes

tufões e a instabilidade da estrutura e solo da zona de construção. Enquanto se aguarda pela nova prisão, a actual, em Coloane, tem uma taxa de ocupação de 95 por cento, na ala masculina, e de 75 por cento na feminina. Por isso, a DSC vai fazer mais obras de renovação, avaliadas em 15 milhões de pata-

cas, para aumentar a capacidade em 100 vagas.

CULPAS DA SOCIEDADE DO METRO

Quanto à polémica gerada pela falta de aviso do Corpo de Bombeiros aos órgãos de comunicação social sobre o terceiro incidente no Metro Ligeiro, Wong Sio Chak atirou as

responsabilidades para a Sociedade do Metro Ligeiro de Macau. Segundo o secretário para a Segurança, ficou combinado com Raimundo do Rosário que os acidentes sem feridos nem mortos seriam comunicados pela empresa. Por isso, Wong Sio Chak nega que tivesse havido falha da parte da sua tutela. O secretário defendeu ainda que as autoridades não têm de comunicar todos os incidentes no território. “Diariamente há mais de 100 casos sem feridos, será que precisamos de notificar os órgãos de comunicação social sobre todos estes casos?”, questionou. “Vocês têm problemas de recursos humanos, mas nós também”, apontou, de acordo com as declarações citadas pelo canal chinês da Rádio Macau. Quando surgiram as primeiras informações sobre o último acidente, o Corpo de Bombeiros não atendeu as chamadas telefónicas dos órgãos de comunicação social. Wong admitiu ter existido um problema, mas frisou que a situação está resolvida e que foi alocado um funcionário só para os contactos com a imprensa.

ENSINO UNIVERSIDADE DE JINAN AGRADECE A HO IAT SENG O APOIO DADO POR MACAU

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reitor da Universidade de Jinan, Song Xianzhong, esteve reunido na sede do Governo, na segunda-feira, com Ho Iat Seng e agradeceu a Macau a “atenção e o apoio prestado” ao longo dos tempos. A Universidade de Jinan recebeu, em 2016, um donativo

da Fundação Macau de 100 milhões de yuan que causou uma grande polémica. O caso resultou mesmo numa manifestação contra o Governo de Chui Sai On, que era ao mesmo tempo Chefe do Executivo, membro do Conselho de Curadores da Fundação Macau e vice-

-presidente do Conselho Geral da Universidade de Jinan. Na ocasião de segunda-feira, Song Xianzhong recordou que a Universidade de Jinan tem actualmente cerca de 2.200 alunos de Macau, mas que já formou mais de 20 mil alunos do

território. “Muitos servem diferentes sectores e departamentos em Macau com importantes contributos no desenvolvimento do território”, terá dito o responsável da instituição de ensino superior, de acordo com o comunicado do Governo de Macau.

Por sua vez, Ho Iat Seng afirmou que a Universidade de Jinan é uma importante instituição de ensino superior do País para os chineses ultramarinos e que tem formado, ao longo dos tempos, “um grande número de quadros qualificados que amam o País e Macau”. Ho

In Nam Ng (com J.S.F.)

info@hojemacau.com.mo

GCS

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ONG Sio Chak admitiu que está sempre à espera que haja avanços nos trabalhos da futura prisão em Ká Hó, cujas obras começaram há quase 10 anos, em Agosto de 2010. “Enquanto secretário para a Segurança presto mais atenção [às obras de construção] do que as outras pessoas. E espero sempre que haja avanços nos trabalhos”, respondeu aos jornalistas, de acordo com o canal chinês da Rádio Macau. Wong Sio Chak revelou igualmente que tem encontros regulares com o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, para discutir diferentes temas e que neste caso compreende as dificuldades encontradas no andamento dos trabalhos.

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O secretário para a Segurança compreende as dificuldades encontradas pelos colegas das Obras Públicas em relação à nova prisão, mas admite que está sempre à espera que os trabalhos avancem

citou ainda Xi Jinping quando visitou a Universidade de Jinan, em 2018, e destacou as capacidades do estabelecimento de ensino.


política 5

quarta-feira 8.1.2020

TERRENOS ELLA LEI QUER SABER O DESTINO DOS LOTES RECUPERADOS PELO EXECUTIVO

De braços cruzados

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deputado Lei Chan U espera que o novo Governo apresente finalmente um plano a longo prazo com o traçado das linhas do metro, que começou a circular em Dezembro do ano passado. Numa interpelação oral que ainda não foi apresentada no hemiciclo, o legislador ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) pede ainda esclarecimentos sobre as competências da Sociedade do Metro Ligeiro de Macau, que substituiu o Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT).

que os terrenos sejam bem aproveitados, para criar espaços de alizar e de exercício físico, mas ainda não vê nenhum plano de reaproveitamento”, acusa. “Os terrenos nem foram minimamente aplanados e arborizados, continuando alagados e cheios de mosquitos”, sublinha.

FALTAM ESPAÇOS VERDES

Na mesma interpretação oral, Ella Lei mostra-se igualmente preocupada com a falta de espaços verdes em Macau. O Executivo anterior comprometeu-se a criar mais zonas verdes nos novos aterros, porém a deputada avisa que o mesmo deve ser feito na Península e nas Ilhas. “Esta ideia [de criar espaços verdes] deve ser concretizada não

só nos novos aterros como também nas outras zonas adequadas, dando mais espaços de lazer e áreas arborizadas à população”, defende. Ainda no contexto do urbanismo, Ella Lei questiona o desenvolvimento dos trabalhos

“Os terrenos nem foram minimamente aplanados e arborizados, continuando alagados e cheios de mosquitos.”

João Santos Filipe

ELLA LEI DEPUTADA

Caminhos incertos Lei Chan U pede ao Governo que apresente “um plano claro” do traçado do Metro Ligeiro

“O que deixa a população insatisfeita é que a ideia já foi apresentada há 18 anos, mas ainda não foi elaborado um plano claro sobre a rede do sistema de Metro Ligeiro”, criticou. “O 5.º Chefe do Executivo [Ho Iat Seng] afirma no seu programa político que vai acelerar o estudo para confirmar o traçado da linha de Macau e lutar pela ligação, o mais cedo possível, de Macau

do Plano Director: “Qual é o ponto da situação? Quando é que o Governo vai realizar a consulta pública sobre o projecto do plano director? Para quando é que o Governo prevê a conclusão desse plano?”, pergunta. A deputada critica também a forma como o Governo lidou com a situação. “A elaboração do plano director e dos planos de pormenor, imposta pela lei, teve um andamento muito lento, enquanto surgiram projectos que danificaram as montanhas, a paisagem natural e o ambiente habitacional adjacente”, acusou. “O Governo tem de concluir quanto antes a sua elaboração”, apelou.

à rede ferroviária de alta velocidade do país. Quando é que o Governo vai conseguir definir um plano claro a médio e longo prazo sobre o traçado do Metro Ligeiro, para que não haja mais alterações”, questionou.

DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

No mesmo sentido, Lei Chan U requer esclarecimentos sobre as competências do GIT

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que passaram para outros serviços públicos. O legislador está preocupado que uma má definição das competências possa atrasar ainda mais o projecto. “Quais são os serviços que vão assumir as competências do anterior GIT, com a excepção das assumidas pela Sociedade do Metro Ligeiro? Quanto aos projectos do metro, como é que os serviços competentes fazem a distribuição do trabalho? Como é que vão articular-se para garantir o desenvolvimento sem sobressaltos do projecto do Metro Ligeiro? Existe algum mecanismo de trabalho?”, é questionado.

A

Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) defendeu que o novo concurso público para a exploração do jogo no território, em 2022, deve exigir mais responsabilidade social das operadoras. A posição da FAOM foi dada a conhecer num comunicado divulgado ontem pelas autoridades no âmbito de um encontro entre os dirigentes e o novo secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, que teve lugar na segunda-feira. A FAOM sustentou “a assunção, por parte das operadoras de jogo, de mais responsabilidades sociais”, no âmbito do novo concurso público a lançar no ano em que terminam as concessões, em 2022, pode ler-se na mesma nota. Por outro lado, a federação afirmou que devem ser realizados esforços na “criação de uma relação de trabalho harmoniosa”, no “aumento pelas operadoras de jogo de elementos não relacionados com o jogo” para diversificar a economia de Macau”, bem como o “alargamento das oportunidades de trabalho dos trabalhadores”. O secretário para a Economia e Finanças disse que “o Governo continua empenhado em proteger os direitos e interesses dos trabalhadores locais, coordenar as relações entre as entidades patronal e laboral e aperfeiçoar as acções de formação profissional e na área de segurança e saúde ocupacional, a fim de incentivar a mobilização vertical dos trabalhadores locais”. Os casinos de Macau fecharam 2019 com receitas de 292,46 mil milhões de patacas, menos 3,4 por cento do que no ano anterior.

GCS

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deputada Ella Lei vai questionar o Governo sobre o destino dos terrenos que foram recuperados por não terem sido construídos durante o período de concessão. É este o conteúdo da interpelação oral da legisladora que foi publicada no portal da Assembleia Legislativa (AL), mas que só será apresentada posteriormente. “Actualmente, de que planos é que o Governo dispõe para fazer bom uso destes terrenos recuperados? Tem algum plano de aproveitamento para os terrenos recuperados de grande dimensão, como aquele com 70 mil metros quadrados junto à praia de Hac Sá ou o da Fábrica Iec Long? Até lá, vão estes ser aplanados e arborizados para espaço de lazer?”, questiona a deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM). Segundo os dados apresentados por Ella Lei, até Novembro de 2018 tinha sido declarada a caducidade de concessão de 77 lotes, mas apenas 23 estão actualmente na posse do Executivo, uma vez que muitos processos ainda decorrem nos tribunais. Porém, a membro da AL criticou a acção governativa face aos terrenos que já foram recuperados. “A sociedade quer

GCS

Ella Lei quer que o Executivo meta mãos à obra no aproveitamento das terras recuperadas a privados e pede que, pelo menos, se arborizem os terrenos para evitar alagamentos e surgimento de mosquitos

JOGO FAOM EXIGE MAIOR RESPONSABILIDADE SOCIAL ÀS CONCESSIONÁRIAS

Na mesma interpelação oral, Lei recorda que já em Dezembro de 2016 havia enviado um pedido de informação sobre o traçado do metro com metas a curto, longo e médio prazos, mas que lhe foi dito que à excepção da Linha do Leste que era necessário

preceder a uma nova “avaliação” sobre a “realidade do desenvolvimento social”. Para o deputado, a resposta mostra que “há uma grande incerteza” face ao traçado.


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8.1.2020 quarta-feira

ANÚNCIO Consulta Pública n.º 21/DGF/2019 Montagem e exploração de cacifos em locais do Instituto para os Assuntos Municipais Faz-se público que, por deliberação do Conselho de Administração para os Assuntos Municipais do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), tomada em sessão de 18 de Outubro de 2019, se acha aberta a consulta pública para a “Montagem e exploração de cacifos em locais do Instituto para os Assuntos Municipais”. O Programa de Concurso e o Caderno de Encargos podem ser obtidos, todos os dias úteis e dentro do horário normal de expediente, no Núcleo de Expediente e Arquivo do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), sito na Avenida de Almeida Ribeiro n.º 163, r/c, Macau, ou descarregados de forma gratuita através da página electrónica deste Instituto (www.iam.gov.mo). Se os concorrentes quiserem descarregar os documentos acima referidos, fica também da sua responsabilidade a consulta de eventuais actualizações e alterações das informações na nossa página electrónica durante o período de entrega das propostas. A sessão de esclarecimento desta consulta pública terá lugar, às 10h00 do dia 13 de Janeiro de 2020, na Divisão de Formação e Documentação do IAM, sito na Avenida da Praia Grande, n.os 762-804, Edifício China Plaza, 6.º andar, Macau. O prazo para a entrega das propostas termina às 17h00 do dia 10 de Fevereiro de 2020. Os concorrentes ou seus representantes devem entregar as propostas e respectivos documentos no Núcleo de Expediente e Arquivo do IAM, sito no rés-do-chão do Edifício do IAM, e prestar uma caução provisória no valor de MOP 5.000,00 (cinco mil patacas). A caução provisória pode ser prestada na Tesouraria da Divisão de Assuntos Financeiros do IAM, sita na Avenida de Almeida Ribeiro, n.º 163, r/c, Macau, por depósito em numerário, cheque ou garantia bancária em nome do “Instituto para os Assuntos Municipais”. O acto público da consulta realizar-se-á na Divisão de Formação e Documentação do IAM, sito na Avenida da Praia Grande, n.os 762-804, Edifício China Plaza, 6.º andar, Macau, pelas 10h00 do dia 11 de Fevereiro de 2020. Aos 12 de Dezembro de 2019 O Administrador do Conselho de Administração para os Assuntos Municipais Mak Kim Meng www. iam.gov.mo


política 7

quarta-feira 8.1.2020

O Presidente da Assembleia Legislativa, Kou Hoi In, rejeitou o projecto de interpretação submetido por Sulu Sou para esclarecer se a actual lei permite ou não que a videovigilância recorra à tecnologia de reconhecimento facial. Ao HM, o deputado revelou desconfiar dos motivos da decisão

AL REJEITADO DEBATE SOBRE LEGALIDADE DE RECONHECIMENTO FACIAL

RÓMULO SANTOS

Um ponto cego

“LIMITEI-ME A CLARIFICAR A LEI”

O

projecto enviado a 28 de Novembro de 2019 pelo deputado Sulu Sou que questionava a base legal do sistema de videovigilância assente na tecnologia de reconhecimento facial, foi rejeitado por Kou Hoi In, presidente da Assembleia Legislativa (AL). As informações foram reveladas ontem pelo próprio Sulu Sou nas redes sociais, onde reafirma que não existe base legal para que seja efectuada a recolha e o processamento das imagens de vídeo das câmaras públicas de CCTV. Kou Hoi In rejeitou assim categoricamente o projecto de interpretação da lei, aprovada em 2012, que regula a videovigilância nos espaços públicos afirmando

O

secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, reuniu ontem com dirigentes da Associação Comercial de Macau (ACM), uma das mais antigas do território. De acordo com um comunicado oficial, os seus dirigentes, onde se inclui o presidente, Ma Iao Lai, e o presidente da direcção, Kou Hoi In, defenderam maior acesso de trabalhadores não residentes (TNR) a certas áreas

meu desacordo com a decisão do presidente da AL, porque o meu projecto tem como único objectivo esclarecer o conteúdo da lei da videovigilância que foi aprovada pela AL há oito anos atrás. Por isso acho que os legisladores têm a responsabilidade de clarificar e explicar a lei aprovada por nós próprios”, defendeu Sulu Sou. O deputado foi mais longe e mostrou-se mesmo desconfiado relativamente às “verdadeiras razões” que estiveram, na base da decisão anunciada por Kou Hoi In. “Acho que a decisão do presidente de permitir a polícia de utilizar o sistema de videovigilância sem qualquer base legal é bastante perigosa. Não quero adivinhar qual a verdadeira razão que está na base desta decisão, mas parece que é uma tentativa de proteger a polícia para que possa utilizar o sistema de CCTV”, acrescentou o deputado.

Sulu Sou, deputado “Quero expressar o meu desacordo com a decisão do presidente da AL, porque o meu projecto tem como único objectivo esclarecer o conteúdo da lei da videovigilância que foi aprovada pela AL há oito anos.”

que o diploma em causa envolve a política do Governo e que por isso é necessária prévia autorização escrita do Chefe do Executivo para a iniciativa ser admitida para

votação em plenário. “O diploma implica uma política completa do Governo, logo precisa de autorização prévia do Chefe do Executivo para ser admitido na AL”, foi esta

É de pequenino Associação Comercial defende acesso de mais TNR a formação profissional

de formação profissional. “Sugeriu-se a admissão da participação dos TNR em determinadas acções de formação profissional, como forma de apoio às referidas empresas na elevação da qualidade dos serviços prestados e no fortalecimento da

sua capacidade operacional”, pode ler-se. Além disso, foi referido o problema da falta de motoristas para a entrega de mercadorias “devido à escassez de mão-de-obra em Macau, o que tem afectado as actividades

a justificação de Kou Hoi In sobre o assunto. Contactado pelo o HM, Sulu Sou não rejeita a posição do presidente da AL. “Quero expressar o

das empresas de pequena e média dimensão”.

AJUDAR AS PME

No que diz respeito à relação entre as pequenas e médias empresas e as concessionárias de jogo também foram feitas sugestões. “Atendendo ao facto de todos os contractos de jogo terminarem em 2022, e na perspectiva de esta indústria predominante poder impulsionar o desenvolvimento de outras actividades sectoriais em

“Submeti o projecto para a aprovação do Chefe do Executivo porque este é um problema que já tem vindo a ser discutido há muito tempo. Não achamos que seja um assunto relacionado com a política do Governo porque desta vez não propus qualquer alteração ao regime jurídico da lei nem me referi a qualquer artigo. Limitei-me a submeter o projecto de interpretação com o objectivo único de clarificar a lei”, disse ao HM Sulu Sou quando confrontado sobre a necessidade de pedir aprovação do Chefe do Executivo. Sulu Sou vai agora recorrer da decisão de Kou Hoi In para a mesa da AL, o orgão de direcção do hemiciclo.

coordenação com a mesma, fizeram votos de as operadoras de jogo continuarem a fazer aquisições de bens e serviços junto das pequenas e médias empresas, incentivando deste modo o reforço do desenvolvimento qualitativo dessas empresas.” Do encontro com o secretário saíram ainda votos para que se efectue “a revisão e alteração à lei das relações de trabalho em todas as vertentes, para que seja permitida à

Pedro Arede

info@hojemacau.com.mo

realização de negociação entre as partes patronal e laboral e ao estabelecimento de um mecanismo de comunicação entre as duas partes”. Lei Wai Nong prometeu, por sua vez, “a conjugação de esforços para optimizar o ambiente de negócios, fomentar o aperfeiçoamento do regime jurídico, coordenar as relações entre as partes patronal, laboral e governamental, assim como melhorar a alocação de recursos humanos”. A.S.S.


8 sociedade

8.1.2020 quarta-feira

SOLIDARIEDADE CÁRITAS MACAU VAI FINANCIAR FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM PORTUGAL

Humanidade dos recursos Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, visitou ontemas instalações de Cáritas Macau e discutiu o protocolo entre as duas entidades para a formação de recursos humanos em Portugal

A

Cáritas Macau vai ajudar a congénere de Portugal através de uma parceria que vai permitir a formação de recursos humanos para atingir os padrões internacionais da Cáritas Internacionalis. A revelação foi feita ontem pelo presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, que se encontra em visita ao território até sábado. “Vai ser o primeiro financiamento que a Cáritas de Macau vai fornecer à Cáritas de Portugal para capacitação na área das re-

lações humanas em contexto profissional”, começou por explicar Eugénio Fonseca. “Estamos a preparar uma formação para melhorar o entrosamento entre os colaboradores da Cáritas, que se espalham por 20 Cáritas Diocesanas, ou seja por Portugal inteiro, e é preciso financiar os formadores. A Cáritas de Macau vai ajudar-nos com uma verba inicial”, acrescentou. Os detalhes do financiamento ainda não estão definidos, mas devem ficar concluídos até sexta-Feira, altura em que poderá ser

DSAL Cerca de 80 por cento vê frutos na formação profissional do Governo

Um inquérito elaborado pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), relativa às acções de formação realizadas entre 2017 e 2018, conclui que “perto de 80 por cento dos entrevistados referiram que a formação ou certificação contribuiu para melhorar as qualificações profissionais”, além de que “mais de 30 por cento dos entrevistados acreditam que a formação ou certificação os ajudou a progredir na carreira profissional e a aumentar o salário”. Entre 2017 e 2018, cerca de oito mil pessoas realizaram as acções de formação da DSAL. No que diz respeito ao “Plano de formação de técnicas de manutenção de instalações”, lançado no final de 2015, já prestou apoio a 320 indivíduos no acesso ao emprego, com 715 indivíduos contratados directamente pelas empresas ou transferidos dentro da empresa para posições relacionadas com a manutenção de instalações.

entregue o financiamento do programa. Por sua vez, Paul Pun destacou o trabalho que a Cáritas de Portugal tem feito com os países de língua oficial portuguesa e a forma como os benefícios deste apoio se podem estender. “A Cáritas Internacionalis tem um padrão internacional

de gestão em que a Cáritas Portuguesa está a ter um bom desempenho. Mas querem ajudar outros Países de Língua Portuguesa, por isso vamos ajudá-los”, justificou Paul Pun. “Sabemos que a Cáritas de Portugal ajuda os outros países de língua portuguesa e após a formação

vão poder ajudá-los ainda mais. [...] Eles [Cáritas Portuguesa] fazem a maior parte do trabalho, mas nós também queremos contribuir”, frisou. No campo da cooperação entre as instituições, Eugénio Fonseca não excluiu a hipótese de também a Cáritas de Portugal enviar

“Queremos encontrar pessoas para ensinarem em Portugal. Mas não é só dizeres-lhes que têm de dar aulas... Temos de pagar-lhes honorários e escolher pessoas com uma boa capacidade de ensino.”

formadores para Macau, em áreas que a instituição local sinta necessidade de aprofundar. Contudo, esta é apenas uma possibilidade.

PRIORIDADE AOS LOCAIS

Além do financiamento para a formação, a Cáritas Macau vai igualmente encontrar professores para darem aulas de mandarim em Portugal. Este acordo já tinha sido apalavrado durante a visita de Paul Pun a Portugal, em Outubro do ano passado, e voltou agora a ser discutido. Segundo Paul Pun, o objectivo passa por encontrar alunos de Macau que estejam a estudar em Portugal para darem aulas. “Queremos encontrar pessoas para ensinarem em Portugal. Mas não é só dizeres-lhes que têm de dar aulas... Temos de pagar-lhes honorários e escolher pessoas com uma boa capacidade de ensino”, afirmou Paul Pun. “Ainda não sabemos quantos professores são necessários, mas sabemos que queremos dar prioridade a residentes de Macau que estejam em Portugal. O ideal era encontrar alunos ou pessoas que trabalham lá e que podem assumir a posição de professor em regime de part-time”, reconheceu. Sobre este programa, Eugénio Fonseca explicou que tem como objectivo permitir que as pessoas num contexto desfavorecido e em escolas públicas possam aprender mandarim, uma língua que disse ser cada vez mais importante. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

PAUL PUN SECRETÁRIO-GERAL DA CÁRITAS MACAU

TABACO MAIS DE CINCO MIL MULTAS APLICADAS EM 2019

N

UM total de 333.646 inspecções realizadas pelos Serviços de Saúde (SS) em 2019, foram detectados 5.337 casos de violação à lei do tabaco. Destes, a maior parte, 5311 dizem respeito a casos de pessoas encontradas a fumar em zonas proibidas, sendo que destas, 28 estariam a utilizar cigarros electrónicos. Segundo as informações divulgadas ontem em comunicado pelos SS, houve ainda 23 casos de venda irregular de produtos relacionados com tabaco.

Comparando com igual período do ano passado, o número de acusações a fumadores ilegais diminuiu 5,1 por cento (menos 285 casos). Relativamente à proveniência dos infractores, os SS revelam que 1.593 multas foram aplicadas a cidadãos residentes de Macau (30,0 por cento), 3.524 multas foram aplicadas a turistas (66.4 por cento) e 195 infracções foram cometidas por trabalhadores não residentes (3,7 por cento). Quanto à aplicação da lei nos casinos, foram acusados

1.375 fumadores, sendo que o número revela uma diminuição de infractores na ordem dos 19,8 por cento em relação ao ano passado. De entre os infractores 1.143 são turistas (83,1 por cento), 229 são residentes de Macau (16,7 por cento) e três eram trabalhadores não residentes de Macau (0,2 por cento). Até ao dia 31 de Dezembro de 2019, os Serviços de Saúde receberam pedidos de 35 casinos para o licenciamento de 677 salas de fumo, das quais foram autorizadas

642 distribuídas por 34 casinos. Recorde-se que desde o dia 1 de Janeiro de 2019 é totalmente proibido fumar em todos os recintos públicos fechados, excepto em salas autorizadas e que as multas a aplicar por infracções aumentou desde então para 1.500 patacas. Entre 1 de Janeiro de 2012 e 31 de Dezembro de 2019, as autoridades promoveram um total de 2.294.118 inspeções (uma média diária de 785) e registaram 55.649 acusações. P.A.


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quarta-feira 8.1.2020

Wuhan Casinos vão ser apoiados na medição de temperatura corporal

Com o objectivo de dar continuidade à estratégia de prevenção e controlo do surto de “Pneumonia desconhecida de Wuhan” e no seguimento dos Serviços de Saúde (SS) terem elevado o nível de alerta de emergência para o nível III (Grave), a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) emitiram um comunicado onde esclarecem que irão apoiar as seis concessionárias e subconcessionárias responsáveis pela exploração do jogo em Macau, para que estas possam adquirir equipamentos de medição de temperatura corporal. “A DICJ considera de elevada importância a segurança do ambiente de exploração dos casinos e adopta medidas eficazes para diminuir o eventual impacto das doenças infecciosas nos visitantes e trabalhadores dos casinos”, pode ler-se no comunicado. Até agora a medição da temperatura corporal à entrada dos casinos tem sido feita com recurso a termómetros portáteis.

PSP Dois residentes detidos por matrimónio falso com casal recém-divorciado

A Polícia de Segurança Pública (PSP) deteve dois residentes de Macau, uma croupier e um taxista, que confessaram ter recebido 90 mil e 210 mil de dólares de Hong Kong para fazerem parte de casamentos falsos. Os suspeitos terão, alegadamente, casado com um casal oriundo do Interior da China que se havia divorciado há apenas um mês. Citada pelo canal chinês da Rádio Macau, a PSP disse que a mulher casou com o seu próprio primo, que trabalha como taxista em Macau e com quem afirmou ter um filho. No entanto, após a investigação, veio a verificar-se que o taxista não era o pai da criança. A PSP acredita que o objectivo dos dois casamentos era obter o direito de residência em Macau.

Saúde Casos de “pneumonia desconhecida” disparam venda de máscaras

Na sequência do aumento do número de casos suspeitos de estarem relacionados com a “Pneumonia desconhecida de Wuhan”, algumas farmácias de Macau afirmaram que a procura por máscaras tem vindo a aumentar nos últimos dias. Em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, alguns funcionários de farmácias da Avenida de Horta e Costa apontaram mesmo que a venda de máscara aumentou 10 por cento, quando comparada com dias normais. Citada pela mesma fonte, a funcionária entrevistada disse ainda que nos últimos dias a maior parte de clientes comprou “a caixa toda” em vez de uma ou duas máscaras individualmente. A mesma funcionária diz estar preocupada e receia, à semelhança do que aconteceu durante o período do SARS, que as compras venham a ser impulsionadas pelo pânico causado pela situação, afirmando, por isso, que irá encomendar mais máscaras para o seu estabelecimento.

TJB HOMEM CONDENADO A SEIS ANOS E NOVE MESES DE PRISÃO POR VIOLAÇÃO

As cores da infâmia Um homem natural de Macau foi condenado pelo Tribunal Judicial de Base a seis anos de prisão por ter violado duas jovens, uma delas menor. O depoimento das duas jovens amigas foi considerado credível pelo tribunal, apesar de uma delas ter, noutras ocasiões, mantido relações consentidas com o arguido

U

M residente de Macau, de apelido Ieong, foi condenado pelo Tribunal Judicial de Base (TJB) a seis anos de prisão

pelo crime de violação. De acordo com o jornal Ou Mun, as duas jovens, uma delas menor de idade, chegaram a assumir relacionamento com o culpado, que as forçou a

manter relações sexuais sem preservativo. A primeira vítima contou ao tribunal que não queria fazer sexo com Ieong, que resistiu e chorou várias vezes, até que o homem a forçou a ter relações sexuais impondo-se fisicamente, abrindo as pernas da jovem e segurando-lhe as mãos. Durante o seu testemunho, a vítima disse não se recordar se Ieong tinha ou não utilizado preservativo e confessou que aquela era a sua primeira relação sexual. Depois da violação, a vítima não comunicou o caso à polícia e deixou de falar com o violador. No segundo caso, a vítima era menor de 16 anos e também vir-

gem. A primeira relação sexual com o homem também foi forçada, algo que não evitou que mantivessem posteriormente relações sexuais, muitas vezes sem uso de preservativo. Em todas

Durante o seu testemunho, a vítima disse não se recordar se Ieong tinha ou não utilizado preservativo e confessou que aquela era a sua primeira relação sexual

as situações, o arguido alegou ser infértil.

SEM PROVAS DE MENTIRAS

O acórdão, noticiado pelo jornal Ou Mun, declara que, apesar de as duas vítimas serem amigas e de uma delas não ter denunciado o caso à polícia, o TJB entendeu que as vítimas tiveram uma atitude honesta, tendo apresentado informações claras sobre o sucedido, sem exagerar os factos. O acórdão acrescenta ainda que Ieong teve relações sexuais com a primeira vítima de forma consciente e livre, aproveitando a ignorância da outra rapariga para, com ela, ter também sexo. Ieong foi condenado a cinco anos de prisão pelo crime de violação, mais um ano e nove meses pelo estupro praticado contra menor com idade entre 14 e 16 anos. No total, a pena perfaz seis anos e nove meses. Andreia Sofia Silva In Nam Ng

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8.1.2020 quarta-feira

Tesouros de outros tempos MAM RELÍQUIAS DO INTERCÂMBIO CULTURAL ENTRE ORIENTE E OCIDENTE EM EXPOSIÇÃO

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ACAU foi sem dúvida um núcleo da Rota Marítima da Seda. Após os feitos portugueses na Era dos Descobrimentos, no final do século XV, Macau tornou-se um porto de trânsito entre a China e o Sudeste Asiático, Japão e Europa, e uma importante plataforma para trocas comerciais, PUB

científicas, artísticas e religiosas. Durante as dinastias Ming e Qing, missionários e pintores ocidentais que mais tarde serviriam na corte interna chinesa entraram na China continental sempre a partir de Macau”, recorda Chan Kai Chon, presidente do Instituto Cultural (IC) na nota de abertura da exposição publicada no portal online do MAM.

Para lá e para cá, o mundo nunca mais foi o mesmo e, felizmente, há objectos que podem fazer prova disso mesmo. O Museu de Arte de

Macau (MAM) abre portas já no próximo sábado à segunda fase da mega-série de exposições dedicada ao tema “A Grande Viagem”, que

A mostra inclui porcelanas, instrumentos científicos, relógios, artigos de uso diário, peças esmaltadas, obras de caligrafia, pinturas e tecidos relacionados com a Rota Marítima da Seda

inclui as exposições, “A Cidade Proibida e a Rota Marítima da Seda” e “Produtos Culturais e Criativos do Museu do Palácio e Área Educacional” para apresentar uma vasta colecção de relíquias culturais que testemunharam a “época dourada” da Rota da Seda. Apresentando um total de quase 150 relíquias culturais de grande valor provenientes do acervo do Museu


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quarta-feira 8.1.2020

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A inauguração da exposição “A Cidade Proibida e a Rota Marítima da Seda” acontece já no próximo sábado no Museu de Arte de Macau (MAM) e apresenta mais de 100 relíquias culturais do auge do intercâmbio entre civilizações

do Palácio, incluindo porcelanas, instrumentos científicos, relógios, artigos de uso diário, peças esmaltadas, obras de caligrafia, pinturas e tecidos relacionados com a Rota Marítima da Seda, a exposição “A Cidade Proibida e a Rota Marítima da Seda” divide-se em três secções: “Atravessando os Oceanos”, “Influência ocidental chega a oriente” e “Eclectismo”. As peças da colecção representam “frutos das trocas e interacções das cortes Ming e Qing com o mundo exterior, ilustrando o papel significativo de Macau como antigo entreposto internacional no Extremo Oriente”, pode ler-se num comunicado oficial. Este conjunto de relíquias culturais inclui sobretudo tributos apresentados por enviados estrangeiros, presentes e objectos trazidos por missionários ocidentais e caligrafia e pinturas produzidas já na corte por esses missionários, bem como vários produtos comprados ou feitos por encomenda da corte ou por oficinas imperiais ou provinciais, imitando e adaptando criativamente os produtos importados.

TESOUROS OCULTOS

Já a exposição “Produtos Culturais e Criativos do Museu do Palácio e Área Educacional” pretende dar a conhecer a cultura que se esconde por trás dos muros da Cidade Proibida a partir de diferentes perspectivas e

“através da apresentação de diferentes aspectos, incluindo trajes e joias da corte, relíquias culturais e objectos relacionados com os mares e a astronomia usados no Palácio, relógios, os 24 termos solares e a vida na corte”. Exibindo produtos culturais e criativos que evidenciam o valor cultural intrínseco da colecção do Museu do Palácio, a mostra pretende rejuvenescer a cultura tradicional, dando a conhecer aos visitantes a história do intercâmbio comercial e artístico que se desenvolveu ao longo da Rota Marítima da Seda e revelando ao mesmo tempo a vida da corte e a sua cultura. “Macau foi sem dúvida um núcleo da Rota Marítima da Seda. Após os feitos portugueses na Era dos Descobrimentos, no final do século XV, Macau tornou-se um porto de trânsito entre a China e o Sudeste Asiático, Japão e Europa, e uma importante plataforma para trocas comerciais, científicas, artísticas e religiosas. Durante as dinastias Ming e Qing, missionários e pintores ocidentais que mais tarde serviriam na corte interna chinesa entraram na China continental sempre a partir de Macau”, disse na nota oficial da exposição, em jeito de remate, Chan Kai Chon. Pedro Arede

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8.1.2020 quarta-feira

HONG KONG VIOLÊNCIA E ADVERSIDADE ECONÓMICA SÃO DESAFIOS DE LAM PARA 2020

Ano das tormentas

A chefe do Governo de Hong Kong disse ontem que a cidade enfrenta vários desafios em 2020, incluindo "violência, adversidade económica e uma ameaça à saúde", quando os protestos antigovernamentais entram no oitavo mês

“O

legislação de extradição, que permitiriam que os residentes de Hong Kong fossem enviados para julgamento na China continental, onde os ativistas são habitualmente alvo de detenções. Embora a Chefe do Executivo tenha retirado a proposta de lei, as manifestações continuaram à volta de reformas democráticas mais amplas.

Quando questionada novamente sobre o inquérito independente às acusações de brutalidade policial, Lam disse: “Não precisamos seguir esse caminho”

Na mesma conferência de imprensa, Lam também tentou tranquilizar a população em relação a uma doença respiratória, que pode ter infectado alguns residentes de Hong Kong que viajaram recentemente para a cidade chinesa de Wuhan, onde 59 pacientes estão a ser tratados a uma pneumonia viral cuja causa ainda não foi identificada. Agovernante prometeu que o Governo irá alterar a portaria de Prevenção e Controlo de Doenças, dando poderes legais às autoridades de saúde para isolar pacientes suspeitos, algo que deverá acontecer esta semana, acrescentou, citada pela emissora pública RTHK. Lam recusou-se ainda a tecer qualquer comentário sobre o novo chefe do Gabinete de Ligação da China em Hong Kong, Luo Huining, nomeado no fim de semana.

MAY TSE/SOUTH CHINA MORNING POST

Governo está determinado a atravessar a tempestade”, sublinhou Carrie Lam, citada pela agência de notícias Associated Press. A relutância do Governo em responder concretamente às exigências políticas tem sido alvo de crescentes e intensas críticas por parte dos manifestantes, que continuam a pedir reformas eleitorais e uma investigação independente às acusações de brutalidade policial. Quando questionada novamente sobre esse inquérito, numa conferência de imprensa na manhã de ontem, Lam disse: “Não precisamos seguir esse caminho”. Os protestos em massa começaram em Junho em oposição a emendas propostas à

A

China voltou ontem a colocar no mercado carne de porco, que mantém em reserva, para travar a subida dos preços causada pela peste suína, nas vésperas do Ano Novo Lunar, a principal festa das famílias chinesas. De acordo com a imprensa estatal, a agência do Governo chinês que administra as reservas de carne de porco congelada anunciou que vai colocar 20 mil toneladas no mercado. Trata-se da segunda vez que a China coloca no mercado carne de porco congelada, este mês, depois de uma primeira parcela de 30 mil toneladas. O preço da carne de porco, ingrediente essencial da cozinha chinesa, mais do que duplicou,

Reforço de char siu Libertadas reservas de carne suína nas vésperas do Ano Novo Lunar

nos últimos meses, em termos homólogos, devido a um surto de peste suína africana, que resultou no abate de um terço dos porcos no país, indicaram dados oficiais. Em 2019, a China colocou no mercado 170 mil toneladas de carne de porco em reserva, em sete lotes diferentes. Maior consumidor mundial de carne suína, o país asiático tem recorrido também às importações para suprimir a queda na produção doméstica, beneficiando os produtores portugueses.

“É uma loucura total: eu arrisco-me a dizer que, para 2020, já tenho os porcos todos vendidos”, disse à agência Lusa, em Outubro passado, o director comercial do matadouro português Maporal, Marco Henriques. Entre 30 de Dezembro e 3 de Janeiro, o preço médio da carne de porco em 16 províncias e municípios do país atingiu os 45,48 yuans por quilograma, um aumento homólogo de 159,7 por cento. A China produz e consome dois terços da carne de porco

no mundo. O Governo mantém reservas de porcos vivos e congelados para garantir o fornecimento, mas os detalhes sobre esta reserva são segredo de Estado. A peste suína africana não é transmissível aos seres humanos, mas é fatal para porcos e javalis. O actual surto começou na Geórgia, em 2007, e espalhou-se pela Europa do leste e Rússia, antes de chegar à China, em 2018. Inicialmente, Pequim insistiu que estava tudo sob controlo, mas a doença acabou por alastrar a todas as províncias do país.

ECONOMIA BRASIL ACOLHE O PRIMEIRO BANCO CHINÊS DE INDÚSTRIA DO MUNDO

O

Brasil vai ser sede da primeira instituição bancária chinesa de indústria no mundo, o banco XCMG, propriedade da XCMG, o maior grupo de empresas de fabricação de máquinas de construção do país asiático, anunciou ontem a entidade. A informação foi ontem oficializada pelo presidente global do grupo Xuzhou Construction Machinery (XCMG), Wang Min, num evento em São Paulo. O banco XCMG, que planeia iniciar as suas operações em território brasileiro durante o primeiro trimestre deste ano, recebeu a autorização de abertura em Outubro passado, por parte do Banco Central do Brasil, que, pela primeira vez, deu o aval directo a uma entidade bancária no sector industrial chinês, com 100 por cento de capital estrangeiro. O principal objectivo do banco, com capital inicial de 100 milhões de reais (cerca de 22 milhões de euros), é apoiar os negócios da XCMG no Brasil, além de expandir os seus serviços financeiros para empresas chinesas do sector industrial que operam na América Latina. Segundo Wang Min, a entidade pretende “atrair fundos no campo da construção e infra-estruturas” e “melhorar a presença local das empresas de capital chinês”, sem perder de vista a “cooperação com bancos brasileiros”. O presidente do grupo chinês destacou a atitude “aberta e cooperativa” por parte dos governos da China e do Brasil, tendo em vista o objectivo do “desenvolvimento comum”. Ao contrário de outros fabricantes de “renome mundial” que interromperam as suas produções no Brasil quando a economia do país sofreu uma “desvalorização acentuada”, o grupo “sempre confiou no futuro da inversão económica” e, em vez de se retirar, “decidiu investir mais capital”, acrescentou Wang Min. Fundado em 1943, o grupo Xuzhou Construction Machinery é actualmente o maior conglomerado de empresas da indústria de fabricação de máquinas para construção da China e ocupa o quinto lugar na indústria mundial do sector, exportando para mais de 183 países.

Finanças Reservas de moeda estrangeira aumentaram 1,15%

As reservas cambiais da China, as maiores do mundo, encerraram o ano com uma subida homóloga de 1,15 por cento, segundo dados ontem divulgados pela Administração Estatal de Câmbio da China (SAFE, na sigla em inglês). As reservas chinesas de moeda estrangeira fixaram-se em 3,108 biliões de dólares, no final do mês passado, o que significa um aumento ao longo do ano de 35.212 milhões de dólares. Em conferência de imprensa, Wang Chunying, porta-voz chefe da SAFE, explicou que o montante das reservas em moeda estrangeira é "afectado por vários factores", incluindo taxas de câmbio e mudanças nos mercados de acções. Wang considerou que, apesar das crescentes incertezas externas, a economia chinesa "continua a crescer a um ritmo razoável" e enfatizou a estabilidade geral das reservas cambiais.


região 13

quarta-feira 8.1.2020

A Indonésia reforçou com quatro navios de guerra a presença numa zona do mar do Sul da China onde se encontram várias embarcações chinesas, o que desencadeou uma crise diplomática entre os dois países

“A

polícia e a agência de segurança marítima indonésia estão a aumentar a presença militar na zona”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros indonésio, Teuku Faizasyah.

Águas da discórdia

O porta-voz confirmou que embarcações chinesas permanecem em águas próximas das ilhas Natuna, que para Jacarta integram a zona económica exclusiva, mas que Pequim reclama como suas. As forças armadas indonésias têm actualmente dez barcos militares destacados

na zona. “Não se pode negociar a soberania do território do nosso país”, declarou na segunda-feira o Presidente indonésio, Joko Widodo, durante uma reunião do conselho de ministros. Os barcos de pesca chineses chegaram a Natuna em finais do mês passado, o que

levou o Ministro dos Negócios Estrangeiros indonésio a convocar o embaixador da China em Jacarta e também a enviar uma missiva diplomática na qual defendia a soberania territorial indonésia. “Queremos que a China, como membro da Convenção da ONU sobre

JAPÃO JUSTIÇA EMITE MANDADO DE CAPTURA PARA A MULHER DE EX-PRESIDENTE DA NISSAN

A

justiça japonesa emitiu um mandado de prisão para Carole Ghosn, mulher do ex-presidente da Nissan Carlos Ghosn, suspeita de falso testemunho no processo que envolve o marido, avançaram ontem as agências de notícias japonesas. A acção contra Carole Ghosn, que não está no Japão, surge na sequência da fuga do marido para o Líbano há uma semana após ser libertado sob fiança, enquanto aguardava julgamento por suposta má conduta financeira. Detalhes sobre as alegações contra Carole Ghosn não foram divulgados. Carole Ghosn foi proibida de se encontrar com marido porque as autoridades suspeitavam de que poderia ajudar o marido a fugir. O Líbano e o Japão não possuem um tratado de extradição. A Interpol emitiu um mandado de prisão de Carlos Ghosn e há uma semana este fugiu para o Líbano sem autorização do tribunal, em violação das condições de libertação sob fiança.

O conflito pelas ilhas Natuna remonta a 2016, quando a Indonésia decidiu construir bases militares, na sequência de uma série de confrontos com pesqueiros chineses

INDONÉSIA JACARTA REFORÇA PRESENÇA MILITAR NO MAR DO SUL DA CHINA

O empresário tinha que se apresentar, nos próximos meses, perante os tribunais de Tóquio para responder às irregularidades financeiras de que é acusado durante a gestão

da Nissan Motor. Ghosn está acusado de ter alegadamente ocultado às autoridades japonesas remunerações negociadas com a Nissan e de ter usado os fundos da companhia para cobrir gastos pessoais e perdas financeiras. Detido pela primeira vez em 19 de Novembro de 2018 e em 25 de Abril passado, Ghosn ficou em liberdade sob fiança, após a segunda detenção, com comunicações e movimentos limitados e proibido de sair do país. As autoridades japonesas pediram à Interpol que detenha preventivamente Ghosn até que seja extraditado para responder perante os tribunais do país. Na segunda-feira, o chefe do Gabinete e ministro porta-voz do Governo, Yoshihide Suga, garantiu que Tóquio desenvolverá todos os esforços diplomáticos para conseguir que o Líbano entregue o ex-presidente da Nissan às autoridades japonesas.

o Direito do Mar, respeite o que diz o tratado”, indicou, na segunda-feira, a chefe da diplomacia indonésia, Retno Marsudi.

NOVO NOME

Por seu lado, o Ministério da Segurança, Mahfud MD, anunciou o envio de 120

pesqueiros para explorar a região marítima em disputa, rebaptizada em 2017 por Jacarta como o mar do Norte de Natuna. O conflito pelas ilhas Natuna remonta a 2016, quando a Indonésia decidiu construir bases militares, na sequência de uma série de confrontos com pesqueiros chineses. A China reclama cerca de 90 por cento do mar do Sul da China, um espaço marítimo essencial para o comércio internacional e potencialmente rico em recursos naturais e energéticos, partilhado por países como as Filipinas, o Vietname, a Malásia, o Brunei ou Taiwan, além da Indonésia.

COREIA DO SUL MOON JAE-IN DEFENDE REFORÇO DIPLOMÁTICO COM O NORTE

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Presidente da Coreia do Sul defendeu ontem o reforço dos esforços diplomáticos com Pyongyang para permitir uma visita a Seul do líder norte-coreano, Kim Jong-un, que acaba de renunciar à moratória sobre os ensaios nucleares. Este novo apelo de Moon Jae-in, que sempre defendeu o diálogo com a Coreia do Norte desde que foi eleito em 2017, surge menos de uma semana depois de Kim ter ameaçado,

durante uma reunião do partido no poder, mostrar ao mundo “uma nova arma estratégica”. Perante os responsáveis partidários, Kim nunca mencionou a Coreia do Sul. Desde o fracasso da última cimeira com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Hanói, em Fevereiro, Pyongyang multiplicou as declarações contra o Sul e afirmou nada mais ter a debater com o país vizinho. “Espero que a Coreia do Sul e a Coreia do Norte possam desenvolver esforços conjuntos e criar condições para que decorra o mais rapidamente possível a visita recíproca do Presidente Kim Jong-un”, declarou Moon, no discurso de ano novo. O convite para uma visita a Seul foi

dirigido a Kim durante a última cimeira intercoreana, em Setembro de 2018, quando Moon se deslocou a Pyongyang, numa época que parece agora muito distante e durante a qual a península viveu uma excepcional melhoria das relações bilaterais. O Presidente sul-coreano avançou também a ideia de consultas com Pyongyang para apresentar nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em Agosto próximo, uma delegação única coreana no desfile das representações na cerimónia de abertura. A ideia de uma candidatura comum para a organização dos Jogos Olímpicos de 2032 chegou mesmo a ser avançada, mas há meses que esta “diplomacia desportiva” foi também suspensa.


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8.1.2020 quarta-feira


quarta-feira 8.1.2020

Morte é transfiguracão, pela imagem de uma rosa ´

Amélia Vieira

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RONTIFIQUEMO-NOS na língua pronta a usar pelos acordes programáticos da ortografia e vejamos como se pode comunicar sem “concordância” alguma, nem no passado, nem no presente, e muito menos no futuro que nos acolhe. O que fazem com a língua é uma questão bastante exaltante, e o que se escuta destas reformas dá-nos que pensar: talvez nem tenhamos já idade para aprender a mesma coisa outra vez da forma que desejam que se saiba. Ditongos e tritongos todos em lista de espera para ser pronunciados enquanto aguardam pela vistoria da norma, hiatos mal plantados, vogais mudas de espanto, e consoantes consoante a norma a sair. Sequências consequências, dobradas... Bem possível que o exercício da poesia nesta língua fuja para remotos locais com as Maiúsculas atrás... Aspas para citações comprometedoras... verbos defectivos e falantes defecáveis, uma imensa confusão se instalou nas mentes das gentes que também não prezam por características cartesianas na sua moldura penal e penosa, de pensamento. Que fazer? Continuar. Se por tudo e por nada tivermos de andar agarrados uns aos outros é certo e sabido que não fazemos nada. A arbitrariedade das normas de cada um para bem de todos é uma demonstração trepidante que pode paralisar as grandes soluções. Temos direito ao silêncio como nos Tribunais, e temos mais direitos ainda: que é o de não reparar. Repare-se nos níveis de trepidação, ou, sejamos claros: as normas existem para ser mudadas, mas mudar a norma equivale a um grande equívoco e as fracturas ao nível metafórico da substância de uma língua equivalem a longos períodos de padecimento. Ao tempo numeral juntámos um vocabulário cada vez mais amputado - para nos entendermos melhor, dizem - gentes que nem nunca falaram connosco e nós falamos uns com os outros em termos cada vez mais acusatórios, ficando assim uma inibidora impressão, de que, e para, que serve a língua. Fica-se triste! Os Pronomes Pessoais são imprecisos e não passam a átonos de forma natural. Há, no entanto, muitas Interjeições, está tudo mais ou menos es-

Prontuário

Aspas para citações comprometedoras... verbos defectivos e falantes defecáveis, uma imensa confusão se instalou nas mentes das gentes que também não prezam por características cartesianas na sua moldura penal e penosa, de pensamento. Que fazer? Continuar

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pantado acerca de tudo e de nada, o que leva a pensar que não estão preparados para as novidades. Um ponto final arrasta-se sempre parecendo uma reticência, que bem encolhida, de novo se aproxima como se nada tivesse acontecido: uma capacidade de perdão sem sentido para uma incapacidade de dialogar que não há memória. Mas ele há sempre Verbos com um duplo particípio passado e formas ortográficas que desmantelam o aparelho fonador a níveis insustentáveis, aliás, este aparelho é um bem que possuímos, daí o atentado à sua geografia física durante séculos - cortando a cabeça solucionava-se assim um problema que a própria transcendência não conseguia resolver- e foi pensando no trauma de uma realidade outrora vivida que a Humanidade começou a gaguejar, arrastando vogais como se nas mãos de seus carrascos ainda estivesse. Há Acordos para estas coisas? Não. Mas elas são consensuais perante os falantes. Os Pronomes Átonos que devido a um socalco de voz passaram a “átomos”? E os factos que passaram a fatos, e os fatos que passaram a andrajos? E o “ir de encontro” em vez de ir ao encontro? De forma subliminar todos chocam de forma agreste, em vez de propor a coisa mais gentil que é rumar para outro. E o pronto e os pronto (s) e o pois e o depois, e o pá e o portanto? Uma grande disformidade por épocas tolhe a língua em grande dimensão que a voz como seu suporte logo nos faz sono e uma turbulência nos aflige. Talvez aulas de dicção, oratória, um Prontuário de palavras em canto... voz nos respectivos palatos e algum secreto amor por uma fonte gasosa que é a língua. O “Sujeito Composto” não chega para dignificar o verbo e os prestidigitadores devem aprender a ultrapassar a barreira da inconsequência. O discurso indirecto não trata da lateralidade, e o discurso directo não é nenhuma verdade sustentável, com pontos vitais e contenção poética se deve então vigiar as margens de uma língua. Para tanto se requer qualidade e graça e uma aturada sensibilidade, nunca esquecendo os seus trabalhadores: a língua nunca foi o dizer coisas. É outra coisa, que requer uma atenção que agora não tem.


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Elementos de ética, visões do Caminho

Xunzi

PARTE II

Uma Exortação ao Estudo

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O Sul há um pássaro chamado méng jiu. De penas faz o seu ninho, entretecendo-o com cabelo e prendendo-o a um fino junco. Quando se levanta vento, o junco verga, os ovos partem-se e os pintos perecem. Isto não acontece por deficiência do próprio ninho, mas por causa daquilo a que está preso. No Oeste há uma planta chamada ye gan, cujo talo mede quatro polegadas de altura e cresce no topo de altas montanhas à beira de profundas ravinas. A vista que tem não se deve à altura do talo, mas à sua localização. Do mesmo passo, a trepadeira peng cresce entre as plantas de cânhamo, erguendo-se direita sem precisar de apoio. A raiz da planta lan huai cheira a doce angélica, mas se a mergulhares em água fedorenta

nem a pessoa exemplar se acercará dela, nem o vulgo a usará. Isto não acontece pela falta de fragrância do material original, mas por causa daquilo em que se encontra mergulhado. Como tal, a pessoa exemplar assegura-se de escolher cuidadosamente a povoação em que habita, assegurando-se também de que se associa a homens bem-criados ao viajar. Deste modo, evita a corrupção e se acerca do que é correcto.

1 - Esta referência ao pássaro méng jiu (蒙 鳩;literalmente, “pomba estúpida”) é uma provável paródia do capítulo 1 do Zhuangzi, onde se conta a história do pássaro xué jiu (學 鳩; literalmente, “pomba estudiosa”).

Todas as coisas e géneros que ocorrem Têm seguramente um ponto de partida. Honra ou desgraça que te ocorram Seguramente reflectem o teu grau de virtude. Em carne podre pululam vermes. Em peixe estragado medram larvas. Os homens altivos e preguiçosos, que seu lugar olvidam, Enfrentarão má fortuna e ruína. O que é rígido é usado para fixar. O que é dúctil é usado para cingir. Se tua pessoa transborda de corrupção É sobre isso que se erguerá o ódio contra ti.

2 - O mítico cavalo Qi Ji era famoso por ser capaz de percorrer mil léguas num único dia.

Podes espalhar lenha como se fosse toda igual, mas o fogo buscará a que está seca. Podes nivelar a terra de modo a que pareça toda plana, mas a água buscará os lugares húmidos. Aonde árvores e erva crescem juntas, virão aves e bichos. Tal acontece porque cada coisa segue a sua classe. Por esse motivo, quando se monta um alvo para tiro com arco, a ele se seguirão arcos e flechas. Aonde cresce lenha em abundância, virão machados e serras. Aonde as árvores dão sombra, repousam bandos de pássaros. Quando alguma coisa azeda, se reúnem moscas. Do mesmo passo, há palavras que convocam a má sorte e conduta que convoca a desgraça; por isso, a pessoa exemplar é cuidadosa a respeito do lugar em que toma posição. Se acumulares terra bastante para formar uma montanha, vento e chuva dela surgirão. Se acumulares água bastante para formar uma funda charca, dragões lá virão viver. Se acumulares bondade bastante para chegares à virtude, atingirás naturalmente poderes semelhantes ao dos espíritos – lá onde o coração do sage se completa. E, assim, Sem acumular pequenos passos, Não terás forma de avançar mil léguas (li). Sem acumular pequenas torrentes, Não terás forma de criar um rio ou mar. Deixa o cavalo Qi Ji dar um só salto; Nem assim avançaria mais de dez passos. Mesmo as velhas mulas, montadas dez dias seguidos, o igualariam; Em não desistir reside o sucesso.

Tradução de Rui Cascais Xunzi (荀子, Mestre Xun; de seu nome Xun Kuang, 荀況) viveu no século III Antes da Era Comum (circa 310 ACE - 238 ACE). Filósofo confucionista, é considerado, juntamente com o próprio Confúcio e Mencius, como o terceiro expoente mais importante daquela corrente fundadora do pensamento e ética chineses. Todavia, como vários autores assinalam, Xunzi só muito recentemente obteve o devido reconhecimento no contexto do pensamento chinês, o que talvez se deva à sua rejeição da perspectiva de Mencius relativamente aos ensinamentos e doutrina de Mestre Kong. A versão agora apresentada baseia-se na tradução de Eric L. Hutton publicada pela Princeton University Press em 2016.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 17

quarta-feira 8.1.2020

Nuno Miguel Guedes

E

Direito a entristecer

SCREVO quando o meu relógio ordena que sejam 1:43 AM do dia 31 de Dezembro de 2019 em Lisboa, Portugal. O relógio tem razão: chegado da rua bem pude observar a efervescência misteriosa que acompanha estes dias e mais ainda a véspera da véspera do que supostamente vemos como final de um ciclo e a esperança de um novo. Sobre isto, pouco a dizer. Em rigor estou grato a esse 24 de Fevereiro de 1582, quando o Papa Gregório XII estabeleceu pela bula Inter gravissimas o modo artificial como podemos domesticar o tempo, esse monstro que criámos. Provavelmente a minha gratidão seria idêntica se por acaso pertencesse a outra cultura com outros modos de fazer o mesmo. É uma das coisas que nos une, a nós pobres humanos: a percepção do tempo, do que nos atravessa devagar e sem retorno. E sempre é um pretexto, se pretextos forem precisos, de reunir com amigos e em clima festivo fazer o que na verdade deveríamos fazer ao longo do ano. Mas divago. A questão que me atormenta é outra. É a vida, é o que temos. E ao olhar hoje para estes dias que são “emblemas de perfeita felicidade” (para traduzir o poeta que mais me diz) sinto desconforto e estranheza. Tudo parece turvo e desalinhado. Admito: fases da vida, horas que doem mais, disposição melancólica incorrigível. Mas assim mesmo, amigos, mas assim mesmo. Onde ficamos nós, as vítimas de dramas nem por isso dramáticos mas que doem? Para onde podemos ir, nós os que por mistério, sorte ou destino conseguimos escapar às grandes tragédias humanas mas que como todos temos que enfrentar as mais quotidianas? Nestas alturas onde ficamos nós, os exilados da alegria luminosa, os fugitivos dos outros? Onde nos iremos esconder da felicidade, mesmo que ela não exista? Onde podemos expiar os nossos pequenos dramas – tão pequenos que não podem importar face a quem morre ou face a quem não tem abrigo? Que petições existem para os que apenas padecem de um amor que fugiu, de um amigo que desiludiu, de uma vida que muda quando não existem forças para ela mudar ? Que santuário para o tipo que bebe o seu jantar a pensar no que perdeu, para todos e todas que apostaram e perderam? Quem pode aceitar os que estão tristes? Ah, amigos: nestas alturas a vozearia periódica da alegria pode ser insuportável. Corrijo: é insuportável. E ninguém nos deseja, e todos fogem de nós porque entristecer é contagioso, inoportuno, inconveniente. Esta continua a ser a época em que é mais fácil chorarmos globalmente do que enfrentar as lágrimas de alguém próximo. O dom das lágrimas, tão louvado pelo cristianismo primitivo, perdeu-se para uma névoa de compaixão anónima, muito mais confortável. É preciso não ter medo da tristeza. Ainda mais nestas alturas em que não seria suposto enfrentá-la. É preciso lembrar que numa cultura orientada a todo o custo para a perseguição dessa entidade mítica que é a “felicidade” a tristeza vale exactamente o mesmo, até por oposição. Não, amigos: regressado da euforia do que achamos que temos de fazer, reclamo sem medo e com urgência o direito a entristecer.

TRAUERNDER ALTER MANN, VAN GOGH

Divina Comédia

A questão que me atormenta é outra. É a vida, é o que temos. E ao olhar hoje para estes dias que são “emblemas de perfeita felicidade” (para traduzir o poeta que mais me diz) sinto desconforto e estranheza. Tudo parece turvo e desalinhado


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O QUE FAZER ESTA SEMANA 31 Diariamente

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T-34 da era soviética. Os mini-tanques têm um motor de combustão e são controlados como os tanques reais.

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Desafio o mundo a encontrar algo mais ternurento que uma ninhada de gatinhos. “A sério, pá, tão fofos.” Os humanos ficam doidos, enchem as redes sociais com imagens de derreter corações e a multiplicar “gostos” como uma praga imparável. Já agora, prefiro usar a adjectivação “pandémica” para retratar algo que enche a Internet de reflexos condicionados, à terminologia viral. Vírus aponta para a possibilidade de existência de retroviral, que não conhecemos, até hoje, para a disseminação de estupidez. Procuram-se emoções básicas, à superfície da sensibilidade mais rasteira, instantâneas como uma dose condensada de algo indizível. Não sei o que isto significa, este apego à imagem de gatinhos, ou pandas bebés, não percebo esta exaltação carinhosa numa sociedade que come leitão e ovos das mais variadas 36 espécies. Guerras deflagram, a corrupção tinge corações, fel corre como um rio desalmado pelas ruas... Mas já viram como este bichano reage a um fio de lã suspenso? Somos um circo emocional que multiplica “oooohs” vazios de conteúdo, sem apego à realidade do abandono animal. Querem a gratificação da suavidade no nosso pêlo, mas longe, dentro de um ecrã onde um afago se faz com um “gosto” de polegar em riste. Curiosamente, acho o mesmo. Os humanos são tão queridos quando não controlam os intestinos, nem qualquer outro fluido corporal. O problema chega quando ganham a capacidade para falar e agir no mundo. Uma espécie, por natureza, viral. João Luz

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O filme que estreou no Netflix antes de chegar às salas de cinema foi feito para saborear ao de leve, para que o telespectador possa absorver todas as suas partículas. Tem a magia do preto e branco, a genuinidade das personagens, a filmagem perfeita e os rostos de uma família que podiam muito bem ser os nossos. É um dos casos em que a lentidão da película (que não é assim tanta, afinal) é muito bem-vinda: às vezes é bom que o tempo pare e nos permita ver todas as coisas belas. Andreia Sofia Silva

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RICHARD JEWELL [C] Um filme de: Clint Eastwood Com: Sam Rockwell, Kathy Bates, Jon Hamm, Olivia Wilde 14.15, 16.45, 19.05, 21.30 SALA 2

ASHFALL [B] FALADO EM COREANO LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS

Um filme de: Lee Hac-Jun, Kim Byung-Seo Com: Lee Byung-Hun, Ha Jung-Woo, Ma Dong-Seok A.K.A. Don Lee 14.30, 16.30, 19.05, 21.30 SALA 3

CATS [A] Um filme de: Tom Hooper Com: James Corden, Jason Derulo, Taylor Swift 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

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ROMA | ALFONSO CUARÓN | 2018

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VIDA DE CÃO

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ALEXANDER ZEMLIANICHENKO-AP

TEMPO

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; In Nam Ng; João Santos Filipe; Juana Ng Cen; Pedro Arede Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo

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opinião 19

quarta-feira 8.1.2020

sexanálise

A vagina precisa de um museu

MICHELE M. F./FLICKR

TÂNIA DOS SANTOS

N

ESTA nova década, a vagina precisa de um museu. As vaginas sempre foram muito mal compreendidas, e é preciso esclarecer as estórias mal contadas pelas quais as vaginas vivem e, infelizmente, ainda sobrevivem. Os museus têm o dever pedagógico de preencher os espaços do imaginário histórico-social que estão mal preenchidos. Em Londres, aparentemente, tal museu existe. Um espaço de inspiração, pensei eu. Um espaço de verdadeira compreensão, pensei eu. Só que o museu da vagina não é o museu da vagina como se quer. Grandioso, extenso, artístico, sensorial e de grande profundidade. É um pequeníssimo espaço na zona mais comercial da cidade, com uns painéis informativos – engraçados e úteis, mas simples - e uma loja anexada estilo ode da vagina: com brincos, colares ou decorações de natal inspirados no formato da vulva. Se numa cidade como Londres – que se diz sexualmente progressiva – não encontramos o museu da vagina como deve ser, não sei onde poderemos encontrá-lo. A

esperança é de que este projecto se estenda para outras formas maiores – e que este seja só um começo. Se perguntarem a quem anda com uma vagina por aí, não faltam ideias para a expressar uma história de repressão vaginal de séculos, ainda actual e ainda pertinente. O museu da vagina mostraria as várias realidades da vagina. Os mitos que persistem porque existiram décadas anteriores que os justificassem. Uma história de violência ginecológica, de abortos realizados em casas duvidosas por enfermeiras que talvez soubessem o que estavam a fazer. Uma história onde o prazer nunca foi entendido como legítimo ou verdadeiro - o prazer da vagina, claro está. A contracepção como a rainha da emancipação das vaginas, da libertação da gravidez que o prazer por vezes implica. Mostrar-se-ia como a vagina se tornou detentora de direitos ao prazer. Como se lhe soltassem as amarras da religião, do

Se perguntarem a quem anda com uma vagina por aí, não faltam ideias para a expressar uma história de repressão vaginal de séculos, ainda actual e ainda pertinente. O museu da vagina mostraria as várias realidades da vagina

casamento, ou dos ideais conservadores de uma maneira geral. Mas não quer dizer que tivessem deixado de existir por completo. O museu serviria esse propósito de reflexão, de onde as vaginas vieram e para onde querem ir. Para além da educação básica: que a coca-cola não é, nem nunca foi, um espermicida (não a ponham dentro da vagina!); que é normal as cuecas ficaram manchadas com corrimento; que os produtos de higiene íntima proliferam da pouca consciência dos cheiros e lubrificações vaginais. Um lugar onde se pusesse em causa os conceitos de virgindade e do que é o sexo. Mostraria as vítimas e as heroínas das vaginas guerreiras. No museu da vagina encontraríamos desejos para a vagina da nova década. Faz tanto sentido como o museu do sexo, o museu do pénis ou o museu queer. Precisamos é de museus que falem do sexo, e da história do sexo para desconstruir a tendência essencialista de que o sexo tem dicotomias redutoras. A heterogeneidade do sexo e dos seus prazeres terá que ser celebrada de alguma forma. Com uma parede de vulvas e as suas múltiplas formas e assim mostrar vaginas felizes, bem-informadas e capazes de se entenderem - com os seus ciclos, as suas menstruações; a naturalidade do sangue que ainda é complicada e incompreendida. Desejos de prazer que implicam tantas formas de sexo, na nova década que é para as vaginas e para um sexo que é simples e complexo, nestas coreografias de género, desejo, educação, intimidade e possibilidade para abertura.


“O tempo não existe. É apenas uma convenção.” Jorge Luis Borges

quarta-feira 8.1.2020

FRONTEIRA FERROVIA ENTRE PORTAS DO CERCO E HENGQIN SEM DATA PARA ARRANCAR

MACAUPASS ASSOCIAÇÕES EXIGEM MAIOR FISCALIZAÇÃO AO SISTEMA

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L

ligação ferroviária suburbana que ligará as Portas do Cerco a Hengqin (Ilha da Montanha), os dois postos fronteiriços entre Zhuhai e Macau, já está concluída, mas ainda sem data definida para arrancar. Em resposta à agência Lusa, o Governo de Hengqin disse não haver ainda informações sobre a data de abertura daquela linha de comboio suburbana, que permitirá reforçar o acesso directo ao Cotai de Macau, onde estão concentrados a maior parte dos casinos da região semi-autónoma chinesa. No início do mês, o director do Comité da Administração de Hengqin revelou que a obra está concluída e que aguarda apenas aprovação para começar a operar. A nova ligação surge poucas semanas após Hengqin ter inaugurado um novo posto fronteiriço entre Macau e o continente chinês, que ficou, junto com os terrenos adjacentes, sob a jurisdição de Macau, numa área conjunta de 16.000 metros quadros. A nova infra-estrutura permite que o fluxo entre o continente e a região, e vice-versa, se reduza a um só controlo fronteiriço, face aos actuais dois - saída e entrada - ligados por uma viagem de autocarro.As instalações têm capacidade para atender mais de 220.000 pessoas por dia, disse à agência Lusa o director do comité administrativo local,Yang Chuan. O novo porto servirá também para uma “futura conexão” entre o Metro Ligeiro de Macau e a ligação ferroviária de alta velocidade Hengqin - Cantão, a capital da província de Guangdong, segundo Yang. O objectivo é também facilitar a comuta para residentes de Macau que escolham viver em Hengqin, onde a habitação é mais barata do que na RAEM, com um território de 32,9 quilómetros quadrados e quase 700.000 habitantes. Vinte e seis autocarros partem já diariamente de Hengqin com destino ao centro de Macau.

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PALAVRA DO DIA

NATO “Estamos a tomar todas as precauções necessárias para proteger o nosso pessoal. Isso inclui o reposicionamento temporário de parte dos funcionários em diferentes lugares, dentro e fora do Iraque.”

Altas temperaturas NATO retira parte das suas forças do Iraque e EUA nega visto a MNE iraniano

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NATO anunciou ontem a retirada temporária de parte da sua força do Iraque, depois de ter suspendido a sua missão de treino de militares iraquianos, no meio da escalada de tensão no Médio Oriente. “Estamos a tomar todas as precauções necessárias para proteger o nosso pessoal. Isso inclui o reposicionamento temporário de parte dos funcionários em diferentes lugares, dentro e fora do Iraque”, disse um responsável da NATO, citado em comunicado. O mesmo responsável acrescentou que a NATO vai manter “uma presença no Iraque”. A NATO já tinha anunciado a suspensão da missão de treino de soldados

do Iraque, em sintonia com a posição das forças armadas norte-americanas, que decidiram terminar esse programa, para concentrar os seus esforços na protecção das suas instalações na região. O anúncio acontece dias depois de um ataque aéreo ordenado pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, que matou Qassem Soleimani, um alto comandante militar iraniano, em Bagdad, e espoletou uma escalada de tensão no Médio Oriente, com o Irão a prometer ações de retaliação contra os Estados Unidos.

ISTO SÓ VISTO

A China condenou ontem os Estados Unidos por terem rejeitado a emissão de um visto

de entrada ao ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif, que ia participar em reuniões na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. O porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Geng Shuang disse em Pequim que os EUA têm a “obrigação internacional” de emitir vistos para reuniões na ONU. Zarif revelou ontem que o visto lhe foi recusado e acusou as autoridades dos EUA de “temerem que alguém vá até lá e conte a verdade ao povo norte-americano”. Geng Shuang disse que a China está “muito preocupada” com a situação no Médio Oriente e pediu aos EUA que não abusem do uso da força.

AM U Tou, presidente da Associação Sinergia Macau acha que a polémica do não funcionamento dos cartões antigos da MacauPass revela que o Governo necessita estipular regras básicas para pagamentos electrónicos, por serem também um serviço público. Em declarações ao Jornal do Cidadão, Lam U Tou referiu que o caso em si não foi complicado, mas que o acompanhamento dado pela empresa MacauPass acabou por dificultar a resolução. O responsável, que foi candidato às últimas eleições legislativas, lembrou que a MacauPass recebeu no último ano cerca de 14 milhões de patacas do Governo, mas não tem sido fiscalizada. Assim sendo, defende que é necessário regulamentação que abranja pagamentos electrónicos em todas as empresas. Lam U Tou entende que os novos contratos de concessão dos autocarros devem incluir outras empresas de pagamentos electrónicos que não a MacauPass, em prol da competitividade. Nelson Kot, presidente da Associação de Estudos Sintético Social de Macau, criticou a postura passiva da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) e da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT). O responsável considera que o trabalho de fiscalização não foi bem feito, uma vez que a MacauPass deve entregar anualmente um relatório à AMCM relativo ao sistema de pagamentos. No caso da DSAT, por ser a entidade que fiscaliza os parquímetros do território, teria a responsabilidade de exigir à MacauPass maior preparação.

ÍNDIA CONDENADOS PELA VIOLAÇÃO E MORTE DE JOVEM ENFORCADOS DIA 22

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S quatro condenados pela violação e morte de uma jovem em 2012 num autocarro em Nova Deli serão enforcados a 22 de Janeiro, anunciou ontem um tribunal indiano. De acordo com a agência de notícias Press Trust of India (PTI), as execuções foram agendadas após o Supremo

Tribunal da Índia rejeitar no mês passado o recurso final dos condenados. O Presidente da Índia ainda pode interceder no caso, mas isso não deverá acontecer. A vítima, uma estudante de fisioterapia de 23 anos, que os media indianos chamam de “Nirbhaya” (sem medo) - porque a lei indiana

proíbe a identificação de vítimas de violação -, estava a voltar para casa com um amigo após uma sessão de cinema quando seis homens os atacaram num autocarro. Os condenados espancaram o amigo da jovem com uma barra de metal, violaram a estudante e usaram a barra para lhe infligir profundos feri-

mentos internos. Os dois foram atirados nus para a beira da estrada e a jovem morreu duas semanas depois do ataque. Os agressores foram julgados com relativa rapidez, num país onde casos de agressão sexual geralmente perduram por anos. Quatro réus foram condenados à morte e um outro acusado enforcou-

-se na prisão antes mesmo do início do julgamento, embora a sua família insista que foi assassinado. O sexto agressor era menor de idade na altura do ataque e acabou por ser condenado a três anos num reformatório para jovens.


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