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da China
Ribeiro edição anterior)
A paisagem de pedras ganhou uma nova importância a partir de um jardim hoje inexistente, o Genyue yuan, “O Jardim da Montanha da Estabilidade”, o jardim imperial mais representativo da dinastia Song, mandado construir pelo imperador Huizong em 1117 na capital, Bianliang (Kaifeng). O Genyue yuan ostentava rochas provenientes de toda a China, sobretudo pedras Taihu, assim como plantas exóticas. O tamanho de algumas das pedras eram tal que, para as conseguir transportar através da água do grande canal, houve que destruir todas as pontes entre Hangzhou e Pequim. No centro do jardim, erguia-se uma montanha artificial com cem metros de altura, plena de penhascos e ravinas. Representava as cinco montanhas sagradas da China, assim como os caminhos abruptos das montanhas do Sichuan.
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A vegetação deve primar pela variedade. Muita dela era escolhida de acordo com o significado simbólico. As flores de lótus, associadas ao budismo, e os nenúfares, dado florescerem a partir da lama, simbolizam a possibilidade de ascensão a partir de começos pouco auspiciosos.
“não comer carne torna as pessoas magras, mas sem bambu as pessoas tornam-se vulgares.” recorrendo-se para tanto a portas lunares, a janelas com treliças de padrões geométricos ou florais feitas de tijolo ou argila, a vidros com padrões nas janelas, a aberturas na parede dos corredores, etc.
No norte da China, as árvores que florescem na Primavera, dão sombra no Verão e frutos no Outono e figuravam nos jardins eram as pereiras, as romãzeiras, as jujubeiras, os pessegueiros, as videiras, as macieiras.
No sul da China, a escolha era mais diversificada. Vêem-se bananeiras e bambus nos jardins, dado permanecerem verdes todo o ano. Há ainda os salgueiros para florir na Primavera e o ácer para colorir o Outono. E os pessegueiros, pinheiros e ciprestes, que verdecem todo o ano mas mas atingem um novo grau de beleza no Inverno, quando se cobrem de neve.
A peónia simboliza a boa-sorte e a prosperidade. Os pinheiro, o bambu e as ameixeiras não murcham durante a estação fria e são conhecidos como “os três amigos do inverno”. Poderosos e robustos, os pinheiros significam longevidade; rectos e flexíveis, os bambus significam integridade; resistentes e vibrantes, as ameixeiras simbolizam perseverança e esperança. O crisântemo, a orquídea, a flor de ameixeira e o bambu eram considerados os quatro símbolos do carácter nobre dos antigos letrados chineses. O crisântemo está associado à vitalidade e tenacidade e representa uma vida feliz e o desejo de uma reforma tranquila; a orquídea representa autenticidade e virtude.
Os letrados apreciavam acima de tudo o bambu. Os jardins privados não o dispensavam. Su Shi, o poeta, pintor e calígrafo da dinastia Song, comentou:
•Esquerda: Figura 20. Verão no Jardim do Humilde Administrador. By Ping Lin, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=57452587
•Direita: Figura 21. Outono no Palácio de Verão, Pequim. By Nathan Hughes Hamilton from Sacramento, California, USA - Beijing, 1987, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index. php?curid=131866185
As plantas aquáticas são seleccionadas e conjugadas criteriosamente. As flores de lótus costumam ser plantadas em locais onde se avistam de longe enquanto os nenúfares, dado serem menores e mais delicados, são plantados em locais onde se possam contemplar de perto, por exemplo, sob as pontes.
•Esquerda: Figura 23. Janelas com padrões variados no Jardim Onde Permanecer, Suzhou. By Zhangzhugang - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index. php?curid=44532605
•Direita: Figura 24. Janelas com padrões variados no Jardim do Príncipe Gong, Pequim. By catcha2010 - pekin demeur du prince gong, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index. php?curid=12472045
As portas dos edifícios e as que dão acesso a pátios apresentam com frequência uma silhueta oblonga, outras são em círculo perfeito, outras podem ter a forma de uma flor de ameixeira, de um ceptro ruyi ou de vários tipos de garrafas, conchas, vasos, cabaças…
•Figura https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=28016204
Quanto aos elementos arquitectónicos, estes devem estar integrados de forma harmoniosa entre nos elementos naturais. A sua função não é tornar-se na atracção principal do cenário mas realçar a beleza da paisagem em redor, além de contribuir para uma apreciação agradável do jardim, oferecendo sombra e descanso. Terraços, portas e pavilhões convidam a que se pare e contemple um cenário da forma mais aprazível. Servem ainda para bloquear vistas indesejáveis ou dirigir a visão para determinadas partes da cena,
•Esquerda: Figura 25. Porta da Lua no Jardim Onde Permanecer, Suzhou. By kevinmcgill from Den Bosch, Netherlands - Full Moon Doorway, CC BY-SA 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index. php?curid=31690137
•Direita: Figura 26. Porta no Jardim do Humilde Administrador, Suzhou. By Caitriana Nicholson from 北京 ~ Beijing, 中国 ~ China - The Humble Administrator's Garden / 拙政园, CC BY-SA 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=69181097
Os edifícios presentes nos jardins diferem das casas de habitação comuns. E também aqui a variedade é a norma. Vêem-se salões de recepção (堂 tang), estúdios (宅 zhai), bibliotecas, pavilhões da entrada ( 歇 xie), pavilhões abertos e triangulares, galerias, corredores (廊 lang) palacetes de vários pisos (楼 lou), quiosques (亭ting)… O pequeno quiosque ting é de grande importância. Dizia-se: “Basta um lugar ter um ting para se poder chamá-lo um jardim”. Há edifícios apropriados para tocar instrumentos musicais, para contemplar uma velha árvore, para observar a lua…