DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
IRÃO | EUA
CHAVE OU DINHEIRO? GRANDE PLANO
Alguém no CCAC? PÁGINA 4
PROTECÇÃO DE DADOS
UMA LEI COM BARBAS PÁGINA 5
hojemacau
Para o que der e vier O Governo garante estar pronto para reagir caso a situação da pneumonia de Wuhan piore. Macau tem um quadro legal que permite exigir exames médicos ou colocar pessoas em quarentena, inclusive turistas. Quem apresente
sintomas de febre e tenha estado nos últimos 14 dias em Wuhan é obrigado a fazer testes. A coordenadora do Centro de Controlo de Doenças apela à calma e aconselha a população a manter a higiéne pessoal e a limpeza dos espaços.
PÁGINA 7
CRIME
Casas de má fama PÁGINA 9
VIDA NOVA
GISELA CASIMIRO
CIRCULARIDADES ANTÓNIO CABRITA
CRISTALINOS LUÍS CARMELO
h
MÉDIO ORIENTE | ÁSIA
Pobres mercados PÁGINA 13
MOP$10
ANO DO RATO | MACAU EM FESTA EVENTOS
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ALTO DE COLOANE
QUINTA-FEIRA 9 DE JANEIRO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4445
2 grande plano
9.1.2020 quinta-feira
MÉDIO ORIENTE
O DIA SEGUINTE O mundo acordou ontem com a confirmação de que o Irão atacou duas bases militares norte-americanas no Iraque. Teerão disse que não deseja uma “escalada de guerra”, mas que irá defender-se “de qualquer agressão”. A comissária europeia Ursula von der Leyen expressou preocupação e afirmou a importância de manter o acordo nuclear
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O RTO e enterrado o general Qassem Soleimani, o Irão deixou ontem bem claro que não pretende ficar de braços cruzados depois da morte ordenada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apesar de não desejar uma “escalada de guerra”, como disse o ministro dos Negócios Estrangeiros. O Pentágono confirmou ontem o ataque a duas bases militares norte-americanas no Iraque, noticiaram agências. “O Irão disparou mais de uma dúzia de mísseis balísticos contra as forças militares dos Estados Unidos da América e da coligação em Ain Assad e Arbil", afirmou, em comunicado, um porta-voz do Departamento da Defesa norte-americano, Jonathan Hoffman, citado pela agência France-Presse, acrescentando que "está claro que os mísseis foram disparados" a partir de território iraniano. A televisão estatal do Irão anunciou depois que dezenas de mísseis iranianos foram lançados contra a base aérea iraquiana de Ain
IRÃO NÃO QUER “ESCALADA DA GUERRA”. UNIÃO EUROPEIA APELA AO DIÁLOGO
Assad, que alberga tropas norte-americanas. A estação descreveu esta acção, com mísseis terra-terra e desencadeada na madrugada desta quarta-feira, como uma operação de vingança na sequência do ataque de que resultou a morte do general iraniano Qassem Soleimani. Esta operação militar foi designada "Mártir Soleimani" e foi desencadeada pela divisão aeroespacial dos Guardas da Revolução, que controla o programa de mísseis iranianos.
“Está tudo bem! Mísseis lançados do Irão para duas bases militares localizadas no Iraque. Avaliação das vítimas e danos materiais está em curso. Até agora, está tudo bem.” DONALD TRUMP PRESIDENTE NORTE-AMERICANO
A base aérea de Ain al-Assad foi a primeira utilizada pelos forças militares norte-americanas após a invasão do Iraque em 2003, destinada a derrubar Saddam Hussein. As forças dos EUA permaneceram estacionadas no local quando foi desencadeado o combate no Iraque e na Síria contra o grupo 'jihadista' Estado Islâmico. O Irão ameaçou ainda atacar "no interior dos EUA", "Israel" e "aliados dos EUA", segundo os Guardas da Revolução, na eventualidade de haver uma retaliação norte-americana.
PALAVRAS DE POMPEO
As forças militares dos Estados Unidos não comentaram no imediato esta informação, mas Donald Trump não deixou de tweetar sobre este assunto, tendo feito uma declaração pública ontem. “Está tudo bem! Mísseis lançados do Irão para duas bases militares localizadas no Iraque. Avaliação das vítimas e danos materiais está em curso. Até agora, está tudo bem”, escreveu o Presidente às 21h45, hora de Washington. Trump frisou ainda que
os EUA têm “as mais poderosas e mais bem equipadas forças armadas em todo o mundo, de longe”. Esta terça-feira, Mike Pompeo, secretário de Estado norte-americano, disse aos jornalistas que Soleimani não se encontrava em missão diplomática no Iraque na altura em que foi morto. “Mas alguém aqui acredita nisto? Há algo na História que indica, mesmo sendo uma possibilidade remota, que este senhor estaria numa missão pacífica? Sabemos que isso não é verdade. Trata-se de propaganda iraniana, mas isso não é novidade, uma vez que no passado afirmaram estar em causa missões
“A UE está dedicada a estas áreas, com as nossas vozes a serem ouvidas. Queremos actuar da forma mais activa possível.” URSULA VON DER LEYEN COMISSÁRIA EUROPEIA
grande plano 3
quinta-feira 9.1.2020
diplomáticas. Posso garantir que ele [Soleimani] não estava lá [em Bagdade] a representar algum tipo de acordo”, disse, de acordo com o canal Euronews. Donald Trump admitiu que a morte de Soleimani foi orquestrada para prevenir “ataques iminentes contra diplomatas americanos e pessoal militar”. À luz de uma Resolução de 1973, o Congresso norte-americano deveria ter sido informado de que estava em causa um ataque iminente, mas a informação providenciada pelo Governo de Trump apenas continha documentação confidencial no que diz respeito às provas. Nancy Pelosi, democrata presidente da Câmara dos Representantes, disse mesmo que a notificação “apresenta mais dúvidas do que respostas”, incluindo “questões sérias e urgentes sobre o tempo, forma e justificação para a decisão da Administração de levar a cabo hostilidades contra o Irão”, escreveu o New York Times. O senador republicano Lindsey Graham, próximo do Presidente, considerou "um acto de guerra" os disparos de mísseis contra duas bases iraquianas com militares dos EUA e admitiu ataques de represália às instalações petrolíferas iranianas. "Deixem-me dizer isto hoje: se estão a ver televisão no Irão, acabei de falar com o Presidente (Trump) e têm o vosso destino nas vossas mãos, em termos de viabilidade económica do regime. Se (vocês, iranianos) continuarem com isto vão acordar um dia fora do negócio do petróleo". Antes, dissera que Trump poderia escolher atacar alvos militares ou petrolíferos. Pompeo admitiu
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tensão internacional que se vive desde a morte de Soleimani agravou-se com a queda de um avião ucraniano em Teerão que provocou a morte de 176 pessoas, a maioria nacionais do Canadá e do Irão. Estas seguiam a bordo do Boeing 737, que se despenhou pouco depois de descolar do aeroporto internacional Imam Khomeini, em Teerão. De acordo com o jornal The Guardian, citado pela Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Vadym Prystaiko, afirmou em comunicado que a bordo do avião estavam 82 iranianos, 63 canadianos, 11 ucranianos, 10 suecos, quatro afegãos, três alemães e três britânicos. “Expressamos as nossas condolências. As autoridades ucranianas continuam a investigar”, disse Prystaiko.
“Deixem-me dizer isto hoje: se estão a ver televisão no Irão, acabei de falar com o Presidente (Trump) e têm o vosso destino nas vossas mãos, em termos de viabilidade económica do regime. Se (vocês, iranianos) continuarem com isto vão acordar um dia fora do negócio do petróleo.” LINDSEY GRAHAM SENADOR REPUBLICANO
terça-feira que seriam analisados todos os potenciais alvos à luz das leis internacionais.
UE ATENTA
Na primeira reunião do ano da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, presidente, expressou “as mais profundas condolências” para os familiares das vítimas, tendo lembrado a investigação em curso. O encontro teve como ponto principal de discussão a crise que se vive entre o Irão e os Estados Unidos. “Esta crise afecta não apenas a região, mas todos nós. E o uso de armas deve parar agora para dar espaço ao diálogo. A União Europeia (UE), de uma maneira muito própria, tem muito a oferecer. Temos vindo a estabelecer relações duradouras com muitos dos actores da região”, disse.
“Vamos fazer tudo para garantir a manutenção do acordo nuclear”, assegurou a presidente da Comissão Europeia. “A comissão também analisou potenciais consequências de uma crise nuclear para a UE. Por exemplo, em áreas como transportes, energias, fronteiras e migração, mas também no que diz respeito ao desenvolvimento económico, estabilização e reconstrução que a UE está a fazer nestas áreas. A UE está dedicada a estas áreas, com as nossas vozes a serem ouvidas. Queremos actuar da forma mais activa possível.” Josep Borrell, Alto Representante da UE para a Política Externa e vice-presidente da Comissão) sublinhou que “os recentes desenvolvimentos são extremamente preocupantes” e apontou que “os últimos ataques [da passada madrugada] contra bases no Iraque usados pelos Estados Unidos e por forças da coligação [contra o autodenominado Estado Islâmico], entre as quais forças europeias, é mais um exemplo da escalada e confrontação crescente”. “Não é do interesse de ninguém levar esta espiral de violência ainda mais longe”, frisou. Entretanto, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, alertou ontem o Irão de que Israel responderá de "forma retumbante" caso o país seja atacado. "Quem nos atacar receberá uma resposta retumbante", garantiu Netanyahu. Andreia Sofia Silva (com agências) andreia.silva@hojemacau.com.mo
De mal a pior Queda de avião de companhia ucraniana e sismo à margem de clima tenso
Apenas dois passageiros e os nove elementos da tripulação da Ukraine International Airlines eram de nacionalidade ucraniana,
indicou. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já apelou para que se evitem especulações sobre a queda do avião ucraniano no Irão.
TRANSPORTES COMPANHIAS AÉREAS EVITAM MÉDIO ORIENTE
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LGUMAS companhias aéreas comerciais redirecionaram ontem os voos que cruzam o Médio Oriente para evitar eventuais perigos no meio da crescente tensão entre os Estados Unidos e o Irão. A transportadora australiana Qantas disse que estava a alterar as suas rotas de Londres para Perth, na Austrália, para evitar o espaço aéreo do Irão e do Iraque até novo aviso. As companhias aéreas Emirates e Flydubai, dos Emirados Árabes Unidos, cancelaram os seus voos para Bagdade nos seus sites na internet. Fonte da Flightradar, que monitoriza o tráfego aéreo, disse que dois voos da Emirates fizeram uma rota diferente para evitar a passagem pelo Iraque, enquanto um voo daAir Canada para o Dubai foi forçado a redirecionar o trajeto pelo Egipto e Arábia Saudita. A companhia aérea Malaysia Airlines confirmou que “devido
“Peço a todos que se abstenham de especulações e versões não verificadas do desastre”, escreveu Zelensky na rede social Facebook. Uma informação divulgada anteriormente pela televisão estatal iraniana dava conta de que 180 pessoas seguiam a bordo da aeronave.
aos recentes acontecimentos”’, os seus aviões evitariam o espaço aéreo iraniano. A Singapore Airlines também disse que os seus voos para a Europa seriam redireccionados para evitar o espaço aéreo do Irão. A Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA disse que estava a proibir pilotos e transportadoras americanas de voar nalgumas áreas do Iraque, Irão e nalgum espaço aéreo do Golfo Pérsico. A entidade alertou ainda para o “potencial de erro de cálculo ou identificação errónea” de aeronaves civis mo meio da escalada da tensão entre os EUA e o Irão. A FAA disse ainda que as restrições estão a ser emitidas devido a “actividades militares mais activas e aumento das tensões políticas no Médio Oriente, que apresentam um risco para as operações de aviação civil dos EUA’’.
Segundo agências internacionais, o avião da Ukraine International Airlines caiu num terreno agrícola a sudoeste de Teerão, para onde já foi mobilizada uma equipa de investigação. As primeiras indicações disponibilizadas pelas autoridades iranianas apontaram para a existência de problemas mecânicos.
O acidente ocorreu horas depois do lançamento de dezenas de mísseis iranianos contra duas bases emAinAssad eArbil, no Iraque, utilizadas pelo exército norte-americano, numa operação de vingança pela morte do general iraniano Qassem Soleimani.
SISMO NUCLEAR
Entretanto, um terramoto de magnitude 4,5 atingiu ontem a região sudoeste do Irão, onde a está situada a central nuclear de Bushehr, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês). O sismo foi registado a 10 quilómetros de profundidade, numa área que se situa a 17 quilómetros a sudeste da cidade de Borazjan às 06h49 (hora local), segundo o USGS. O terramoto foi sentido em Bushehr, onde está localizada a única central nuclear iraniana. Não existem informações de vítimas ou danos.
4 política
O deputado democrata quer que o Executivo revele como está o processo da recuperação do terreno no Alto de Coloane que colocou sob fogo o influente empresário Sio Tak Hong
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ALTO DE COLOANE AU KAM SAN PEDE AO CCAC QUE DIGA EM QUE FASE ESTÁ A INVESTIGAÇÃO
Afinal, em que ficamos? por parte dos órgãos judiciais é que o Governo pode proceder ao devido tratamento nos termos da legislação em vigor”, começa por ressalvar o deputado. “Então, qual é o ponto da situação daquela investigação? Existe um prazo? Quando é que o Governo pode retomar o terreno nos termos da legislação em vigor?”, questiona.
Esta não é a primeira vez que o democrata foca o assunto. Em Março de 2018, Au Kam San escreveu uma interpelação sobre o caso, mas foi-lhe dito que não seriam revelados pormenores sobre o andamento do processo uma vez que os “serviços de justiça” estavam à espera do fim da investigação para depois “proceder ao agora
fortes críticas do legislador: “Uma resposta destas é o mesmo que não dar resposta, pois imputam-se as responsabilidades aos serviços da área da justiça”, acusa. “Passaram-se mais de 20 meses, afinal quais foram os resultados? A investigação por parte daqueles serviços já foi concluída? O público ainda à espera que as autoridades proce-
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deputado Au Kam San exige ao Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) que se chegue à frente e explique em que fase está a investigação do processo que envolve o projecto de construção no Alto de Coloane. É este o conteúdo de uma interpelação oral do deputado que ainda vai ser apresentada em Plenário. Em 2018, o CCAC concluiu que a área do terreno reclamado pela Sociedade Win Loyal, ligada ao empresário Sio Tak Hong, estava envolta em várias situações fraudulentas, como erros na demarcação e apropriação de terrenos que pertenciam ao Governo da RAEM. Por isso, o CCAC exigiu que os terrenos destinados a um projecto com uma torre habitacional com 100 metros fossem recuperados e o edifício inviabilizado. No entanto, o andamento do processo é desconhecido e Au Kam San quer que Governo explique em que ponto se encontra. “O CCAC comprovou na sua investigação que o terreno do Alto de Coloane, que pertence ao Estado, tinha sido ocupado ilegalmente, mas que se saiba, só após a investigação e a divulgação dos respectivos resultados
Conselhos Consultivos Coutinho quer mecanismo de selecção para membros
O deputado José Pereira Coutinho interpelou o Governo sobre a necessidade de estabelecer um mecanismo de selecção dos membros para os órgãos consultivos da Administração. A interpelação escrita do deputado aponta também para a necessidade de se estipular uma data limite para o mandato destes membros. De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, Pereira Coutinho apontou que a população não tem acesso aos estudos feitos por estes órgãos consultivos, muito menos o resultado destes trabalhos. Coutinho destacou o facto destas entidades serem financiadas por fundos públicos, daí a necessidade de divulgar informações sobre o seu trabalho.
dam ao referido tratamento”, é igualmente perguntado.
EMPRESÁRIO INFLUENTE
Na mesma interpelaçãoAu Kam San recorda ao Executivo a importância dos terrenos para a RAEM e pede que haja uma atitude pró-activa no aproveitamento dos mesmos por parte dos governantes. “Os solos são recursos extremamente preciosos para Macau, que é uma cidade pequena, e é inaceitável que os governantes arrastem a resolução do problema dos terrenos desaproveitados, deixando-os pro aproveitar e tratar”, sublinha.
“Passaram-se mais de 20 meses, afinal quais foram os resultados? [...] O público ainda à espera que as autoridades procedam ao referido tratamento.” AU KAM SAN DEPUTADO
Além de empresário, Sio Tak Hong chegou a ser uma das figuras mais influentes no panorama local como deputado à Assembleia Popular Nacional e membro do Comité Permanente da Conferência Consultiva do Povo Chinês. O sócio-fundador da Associação dos Conterrâneos de Kong Mun foi ainda representante de Macau na Conferência Consultiva e membro do Conselho Executivo da RAEM. João Santos Filipe
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ECONOMIA AS PROMESSAS DO SECRETÁRIO PARA AGITAR O SECTOR INDUSTRIAL
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EI Wai Nong, secretário para a Economia e Finanças, marcou ontem presença na cerimónia de celebração dos 60 anos da Associação Industrial de Macau, que serviu também para a tomada de posse dos membros que compõem a 33ª direcção e conselho fiscal. Citado por um comunicado oficial, o secretário deixou algumas ideias sobre a reforma do sector industrial, que passam por “um maior desenvolvimento das indústrias de produtos alimentares
e suplementos saudáveis e de vestuário de alta qualidade”. Além disso, o secretário aponta para “o desenvolvimento de indústrias emergentes, como a indústria farmacêutica e a de processamento de pedras preciosas, entre outras”. Lei Wai Nong acrescentou que “serão incentivados a pesquisa e o desenvolvimento de produtos inovadores, de forma a dar uma nova dinâmica à expansão do tecido industrial de Macau”. Relativamente ao futuro, o governante adiantou que vai continuar a “elaborar políticas
apropriadas para fomentar e apoiar o desenvolvimento industrial de Macau”, que passam pelo projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, para as empresas “ultrapassarem as restrições encontradas em Macau, devidas à escassez de terrenos”. Neste sentido, será estudado, juntamente com as autoridades de Guangdong, “a viabilidade de construir, em Hengqin, um mecanismo institucional orientado pelos princípios da negociação, construção e fiscalização conjunta”.
política 5
quinta-feira 9.1.2020
ID Ouvidas opiniões sobre feriados durante o GP O Instituto do Desporto (ID) admitiu estar aberto à possibilidade de serem declarados feriados os dias em que decorre o Grande Prémio de Macau. Em resposta a uma interpelação da deputada Song Pek Kei, o ID diz que vai estudar diferentes formas de aliviar o impacto para o trânsito durante a prova e não exclui a possibilidade de
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AM Lon Wai, deputado à Assembleia Legislativa e presidente da direcção da Associação Choi In Tong Sam dirigiu ao Governo uma interpelação a questionar o Executivo sobre o que está a ser feito na Administração Pública ao nível da “coordenação e cooperação entre serviços”, tendo por base as questões de privacidade emergentes de temáticas como o desenvolvimento do projecto da cidade inteligente e dos sistema de videovigilância “olhos no céu” e de informação e gestão de tráfego. Sobretudo numa altura em que já passaram mais de 10 anos desde a entrada em vigor da lei da protecção de dados pessoais. “A lei da protecção de dados pessoais, que entrou em vigor há mais de 10 anos, apresenta grande margem para revisão. Com o desenvolvimento da tecnologia informática, a aplicação de mega-dados amadureceu. O desenvolvimento da internet das coisas e blockchain implicam novos desafios para a protecção de dados pessoais, logo há que proceder a um estudo sobre a revisão dessa lei”, justifica o deputado. Assim sendo, o deputado questionou o Governo se vai proceder àa consulta sobre a revisão da Lei da protecção de dados pessoais, tendo em conta que “muitas das suas disposições estão desactualizadas”.
CONVERGIR É PRECISO
Lembrando que o Governo assinou inclusivamente um acordo com o Grupo Alibaba para a cooperação estratégica na área da construção da cidade inteligente para impulsionar esta transformação de Macau através da computação em nuvem, Lam Lon Wai referiu também na interpelação que é necessário “que o Governo defina bem o plano, garantindo a sinergia dos serviços públicos para apoiar a governação inteligente, no sentido de conseguir o dobro
estabelecer feriados. No entanto, o ID sublinha que essa medida só pode ser tomada depois de ouvidas as opiniões da sociedade e a existência de um consenso sobre o assunto. O ID vinca igualmente o compromisso com o evento e diz estar empenhado no objectivo de fazer de Macau um Centro Mundial de Turismo e Lazer.
AL Governo vai ao hemiciclo explicar novo organismo que fiscaliza empresas O Governo estará na segunda-feira representado na Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas da Assembleia Legislativa para dar explicações aos deputados sobre o novo Gabinete para o Planeamento da Supervisão dos Activos Públicos, dirigido pela ex-secretária para a Administração e Justiça Sónia Chan. Este
novo organismo visa assegurar um melhor funcionamento das empresas com capitais públicos, tendo em conta as recentes polémicas com empresas que acabaram por declarar falência sem que se tenha justificada a utilização do erário público. Esta semana a Associação Novo Macau entregou uma petição junto da sede do
Governo a pedir legislação específica sobre este tipo de empresas. O deputado Sulu Sou chegou mesmo a acusar o anterior secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, de “quebrar várias promessas”, além de ter pedido esclarecimentos adicionais sobre o novo gabinete criado pelo Governo de Ho Iat Seng.
PRIVACIDADE LAM LON WAI APELA À REVISÃO DA LEI DE PROTECÇÃO DE DADOS PESSOAIS
Actualização de sistema Numa interpelação oral dirigida ao Governo e onde aborda temas como a cidade inteligente e o sistema de videovigilância “olhos no céu”, o deputado Lam Lon Wai afirma que a lei da protecção de dados pessoais, que entrou em vigor há 10 anos, “apresenta grande margem de revisão” do resultado com metade do esforço na construção da cidade inteligente”. Já sobre a coordenação que aponta ser necessária entre “equipamentos com finalidades diferentes”,
mas com “componentes e funções semelhantes” como são o caso dos sistemas de videovigilância “olhos no céu” da responsabilidade da polícia, do sistema de informação e gestão de tráfego
(DSAT) e ainda uma parede de vídeo e o novo sistema informático no centro de controlo de tráfego (concurso público), o deputado apela ao Governo para que use eficazmente os recursos
disponíveis. “Estes três tipos de equipamentos têm finalidades diferentes, mas têm componentes e funções semelhantes (…) porém são da responsabilidade de três serviços”, explicou o depu-
tado. “Assim, os recursos e dados serão partilhados? É possível minimizar a repetição de instalação? Isto depende muito da inteligência do plano do Governo”, acrescentou. Argumentando que a “falta de comunicação e cooperação entre os serviços públicos (…) resulta em desperdício e baixa produtividade” e que Ho Iat Seng afirmou que a “reforma da Administração Pública ia ser o seu primeiro trabalho”, Lam Lon Wai espera avanços e questiona o Governo como vai melhorar a eficácia ao nível da utilização de recursos.
O desenvolvimento da internet das coisas e blockchain implicam novos desafios para a protecção de dados pessoais, logo há que proceder a um estudo sobre a revisão dessa lei.” LAM LON WAI DEPUTADO
“Para melhor aproveitar os recursos e elevar o nível da nossa cidade inteligente, em termos de software e hardware, o Governo deve proceder a uma integração das câmaras de vigilância, do centro de controlo de tráfego e dos postes de iluminação inteligentes, a fim de poupar recursos e obter maiores efeitos. Vai fazê-lo?”, pergunta o deputado. Pedro Arede
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quinta-feira 9.1.2020
PNEUMONIA DE WUHAN GOVERNO GARANTE PODERES PARA FORÇAR QUARENTENA
As forças maiores GCS
Leong Iek Hou, dos Serviços de Saúde, pediu à população para não ficar nervosa uma vez que ainda não existem provas que a pneumonia de Wuhan se possa transmitir entre humanos
A
S autoridades têm poderes para forçar qualquer turista a ser colocado de quarentena, mesmo que este se oponha. A garantia foi deixada por Leong Iek Hou, médica e coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças, na manhã de ontem em entrevista ao canal chinês da Rádio Macau. Segundo a profissional dos Serviços de Saúde, o Governo já tem as leis necessárias para exigir que turistas, ou mesmo residentes, façam exames médicos caso se desconfie de infecções contagiosas. Leong Iek Hou explicou igualmente que as pessoas que apresentem sintomas de febre e tenham estado nos últimos 14 dias na cidade de Wuhan vão ser obrigadas a fazer todos os testes necessários de forma a garantir a segurança pública. Os responsáveis do Governo estiveram no programa da manhã da TDM a responder às dúvidas dos ouvintes e explicar as diferenças entre a legislação da RAEM e da RAEHK.
a lavagem das mãos podem ser mais eficazes.
SEM PROVAS
Por sua vez, o jornal Exmoo cita a médica Leong Iek Hou a pedir à população para não ficar nervosa uma vez que não há provas que a pneumonia de Wuhan seja transmissível entre humanos. A profissional de saúde afirmou também que as pessoas com boa saúde não precisam de utilizar máscaras, a não ser no caso de se deslocarem a zonas de “alto risco”. Segundo os dados das autoridades do Interior citados pelo Centro de Controlo de Doença até domingo tinham sido registados 59 casos da pneumonia de Wuhan, entre os quais sete eram graves. A maioria dos pacientes tinham apresentado melhorias, apesar de se desconhecer a origem da doença.
Lam Chong clarificou que a lei local permite que as medidas de quarentena e exames forçados sejam adoptadas
No caso de Hong Kong, o Executivo não tem ainda mecanismos para forçar os pacientes a serem colocados
GOVERNO NEGA QUE MÁSCARAS ESTEJAM ESGOTADAS O
s Serviços de Saúde emitiram ontem um comunicado a negar que as máscaras estejam esgotadas nas farmácias do território, depois de começar a circular um rumor nesse aspecto. De acordo com os números apresentados, a maioria das 294 farmácias tinha máscaras consideradas em número “suficiente” e apenas oito por cento tinham esgotado este produto, ou seja, cerca de 24 estabelecimentos. O Governo enfatizou também que as pessoas sem complicações de saúde não necessitam de utilizar máscara e que o cuidado principal é prestarem atenção à higiene pessoal.
de quarentena, o que gerou preocupação entre os residentes de Macau. No entanto, o coordenador do Centro de Controle de Doenças, Lam Chong, clarificou que a lei local permite que as medidas de quarentena e exames forçados sejam adoptadas no caso de se registarem “situações susceptíveis de pôr em risco ou causar prejuízos à saúde individual ou colectiva”. Sobre as medidas de prevenção, Lam Chong desvalorizou a utilização
de máscaras por considerar que a maior parte das que se encontra à venda não permitir evitar a contaminação. O profissional de saúde admitiu que máscaras do tipo N95 podem ser
eficazes, mas que estas se destinam principalmente à utilização médica. Ainda em relação a medidas de prevenção, Lam Chong apontou que face às máscaras, a limpeza dos espaços e
Também ontem foi revelado pelo Grupo de Trabalho Interdepartamental para a Pneumonia de Origem Desconhecida que a mulher que se encontrava em quarentena com sintomas de gripe teve alta. De acordo com as informações, a mulher não apresentava febre há dois dias, apenas tosse. Desde o início do ano foram registados oito casos de pessoas em Macau com sintomas de febre que tinham estado em Wuhan. Todas acabaram por ter alta, depois de se excluir a relação com a pneumonia. João Santos Filipe In Nam Ng
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Saúde Moradores limpam ruas para prevenir pneumonia de Wuhan A União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM) vai organizar um grupo de voluntários para proceder à limpeza de espaços em Macau de forma a evitar a eventual propagação da pneu-
monia de Wuhan. Além disso, este grupo vai distribuir folhetos para informar os residentes que o primeiro passo da prevenção da doença é a higiene pessoal. Citada pelo canal chinês da Rádio Macau, Chau I Sam, presidente
da direcção, apelou ainda aos idosos que façam melhor a limpeza doméstica e prestem atenção à higiene pessoal e ambiental. Ainda no caso de sentirem sintomas, é pedido que se desloquem ao hospital.
8 sociedade
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os Estados Unidos, a desvalorização do renminbi e os eventos nas cidades vizinhas, que resultaram na redução da confiança”, consta no relatório. A confiança é medida através de seis factores diferentes, nomeadamente o desempenho da economia, emprego, preços, nível de vida, habitação, investimentos em acções. Como acontece nos últimos anos, a habitação é sempre o aspecto que menor confiança gera e no último trimestre de 2019 sofreu uma quebra de 5,4 por cento de 63,61 pontos para 60,18 pontos.
INFLAÇÃO ASSUSTA
ESTUDO CONFIANÇA DOS CONSUMIDORES REGISTA NOVA QUEBRA
Gatos escaldados
As incertezas da guerra comercial, a situação de Hong Kong e a desvalorização do renmimbi são as causas que justificam a menor disposição dos consumidores locais apurada por um estudo da MUST
O
S consumidores de Macau estão cada vez mais desconfiando face à conjuntura actual, revelou o Índice de Confiança dos Consumidores do quarto trimestre do ano passado, compilado pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST, em inglês). O ambiente da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, os acontecimentos de Hong Kong e a desvalorização do renminbi foram as causas apontadas na análise divulgada ontem. Quando inquiridos sobre a confiança na economia em Macau, numa escala de 0 a 200, as respostas dos consumidores não
foram além de uma média de 83,90 pontos, o que revela uma quebra da confiança em relação ao terceiro trimestre do ano passado, quando o valor tinha sido de 85,91 pontos. Face ao período homólogo de 2018, a quebra é ainda mais acentuada de 91,38 pontos para 83,90 pontos. Qualquer valor abaixo de 100 pontos indica falta
de confiança, sendo que zero significa mesmo não haver qualquer tipo de confiança. “Ao longo de 2019, a confiança dos consumidores sofreu quebras em todos os trimestres. A pressão negativa para a economia de Macau ficou a dever-se ao impacto dos vários factores relacionados com a fricção comercial entre a China e
“A pressão negativa para a economia de Macau ficou a dever-se ao impacto dos vários factores relacionados com a fricção comercial entre a China e os Estados Unidos, a desvalorização do renminbi e os eventos nas cidades vizinhas.”
Também o nível dos preços praticados continua a assustar as pessoas e desta vez houve uma quebra de 4,88 por cento de 70,40 pontos para 66,96 pontos. Sobre esta alteração o relatório refere que a preocupação da população face à inflação subiu de forma assinalável. A inflação acaba mesmo por ser responsável pelas alterações no nível de confiança face ao nível de vida que caiu para 91,11 pontos de 95,63 pontos. Os indicadores do desempenho económico e a situação do emprego são as áreas que conseguiram classificações positivas, com 101,23 pontos e 101,59 pontos, respectivamente, mesmo assim, houve quebras face a Outubro de 4,31 pontos e 5,66 pontos. Os dados revelam que os residentes têm cada vez mais uma atitude “cautelosa” quando olham para a economia local e para as perspectivas de emprego. O único indicador em que houve alterações foram os investimentos em bolsa, com uma pontuação de 82,35 pontos, um aumento de 9,33 pontos face ao terceiro trimestre. Esta alteração indica que as pessoas se sentem mais disponíveis para investir nos mercados. As conclusões do índice dão ainda a receita para aumentar a confiança dos consumidores ao longo deste ano que passa por “promover a diversificação económica”, “expandir a cooperação regional”, “aumentar as oportunidades empresariais e de emprego” e “aumentar as condições de vida” da população. João Santos Filipe
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Habitação Preços sem oscilações entre Setembro e Novembro
A Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC) divulgou ontem que o índice global de preços da habitação referente aos meses de Setembro a Novembro de 2019 foi de 267,4, semelhante ao período transacto, compreendido entre Agosto e Outubro. Detalhando, de acordo com a DSEC, o índice de preços de habitações construídas fixou-se em 288,0, destacando-se que o índice da Taipa e Coloane (310,4) baixou 0,6 por cento e que o índice da Península de Macau (282,5) foi idêntico ao do período anterior. Em termos anuais, comparando com o período entre Setembro e Novembro de 2018, o índice global de preços da habitação e o índice de preços de habitações construídas desceram 1,1 por cento e 1,3 por cento, respectivamente, enquanto o índice de preços de habitações em construção aumentou 2,5 por cento.
Habitação económica IH realiza sessões de esclarecimento para candidatos
O Instituto da Habitação (IH) realiza este mês várias sessões de esclarecimento a pensar nos candidatos à habitação económica. De acordo com um comunicado, a primeira sessão terá lugar hoje, às 20h, na delegação do IH do Edifício do Bairro da Ilha Verde. Segue-se outra sessão este sábado numa outra delegação do IH em Seac Pai Van, na Avenida de Vale das Borboletas, em Coloane. O período para recepção de candidaturas públicas de habitação económica decorre até 26 de Março de 2020, além de que os documentos em falta deverão ser apresentados até 24 de Abril de 2020. As habitações económicas disponibilizadas para aquisição serão construídas nos lotes B4, B9 e B10 da Zona A dos novos aterros, num total de 3 011 fracções, incluindo 760 fracções de T1, 998 fracções de T2 e 1 253 fracções de T3.
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quinta-feira 9.1.2020
Onze mulheres, com idades entre os 20 e 30 anos, cobravam até 200 patacas pelos serviços prestados em três apartamentos no Bairro do Iao Hon. Num outro caso, na Taipa, um homem foi detido por gerir um esquema de prostituição em hóteis
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O espaço de quatro dias as autoridades detectaram dois casos de prostituição, um na zona norte da península, no Bairro de Iao Hon e outro num hotel situado na Taipa. Os casos foram revelados ontem pelo jornal Exmoo. No caso registado na Península de Macau, a Polícia Judiciária procedeu à detenção de 11 mulheres do Interior, com idades entre os 20 e 30 anos, que se suspeita trabalhavam como prostitutas. As jovens ofereciam serviços sexuais a baixo custo em edifícios antigos do Bairro Iao Hon e cobrava entrem 150 e 200 patacas. Nos últimos tempos têm-se intensificado as queixas por parte de associações locais face à oferta de serviços sexuais no Iao Hon, o que chega a acontecer durante o dia, perto de escolas. Ontem, às
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Polícia da cidade de Qingzhen, na província de Guizhou, desmantelou uma rede criminosa que no espaço de 15 dias burlou mais de 200 pessoas num montante superior a 55 milhões de yuan, ou seja 63,5 milhões de patacas. A informação foi avançada ontem pela agência estatal China News e a marca Wynn Macau foi utilizada para cometer o crime. De acordo com a informação da polícia do Interior, um grupo liderado por sete indivíduos criou uma aplicação móvel para investimentos online denominada Wynn Macau, a imitar a concessionária da
As jovens ofereciam serviços sexuais a baixo custo em edifícios antigos do Bairro Iao Hon e cobrava entrem 150 e 200 patacas
CRIME AUTORIDADES DETECTARAM PROSTITUIÇÃO NO IAO HON E TAIPA
Aperta-se o cerco 17h30, a PJ identificou três mulheres apanhadas na rua a atrair clientes. Na sequência da operação foram inspeccionados três apartamentos e detidas mais oito prostituas. Um cliente que se encontrava dentro de um dos apartamentos foi igualmente levado para interrogatório, mas acabou libertado. O mesmo não
aconteceu com um portador de bluecard, proveniente do Interior, que as autoridades suspeitam ser o responsável pelos apartamentos onde as prostitutas forneciam os seus serviços. Além das detenções, foram ainda apreendidos preservativos e lubrificantes. Segundo o Exmoo, as autoridades não excluem a hipótese de haver um
Gato por lebre
Esquema fraudulento de 55 milhões no Interior recorreu à marca Wynn Macau
RAEM. Porém, a empresa identificada como proprietária da aplicação em nada estava associada a Macau. Apesar desse aspecto, mais de 200 pessoas foram enganadas em pouco mais de 15 dias, o que gerou perdas superiores a 63,5
milhões de patacas. As vítimas eram convidadas para este investimento através de grupos de conversação na aplicação WeChat. Às pessoas que abrissem uma conta na aplicação móvel Wynn Macau eram prometidos retornos avultados e rápidos. Segundo o relato de uma das vítimas, após o primeiro investimento os retornos prometidos foram cumpridos. Este facto fez com que a vítima não só aumentasse o seu investimento como ain-
grupo organizado a controlar os serviços das 11 jovens.
PRAZER NO HOTEL
Num outro caso ocorrido num hotel da Taipa, a 4 de Janeiro, as autoridades prenderam um homem e três mulheres, que trabalhariam como prostitutas, oferecendo serviços de quarto em quarto.
da levasse outras pessoas a aderirem à aplicação móvel.
OPERAÇÃO EM VÁRIOS SÍTIOS
Na sequência do convite, o grupo de quatro pessoas fez um investimento superior a 250 mil yuan. No entanto, após terem depositado o montante na aplicação começaram a sentir problemas a iniciar a sessão e ficaram impedidos de levantar o montante depositado. Foi por isso que apresentaram queixa junto das autoridades. Ontem, e depois de uma investigação com alguns meses, a polícia procedeu à detenção dos sete líderes do grupo e à apreensão de 250 mil yuan roubados e duas viaturas das mar-
cas Volkswagen e BMW. Após serem detidos, os cabecilhas admitiram ter cometido o crime e explicaram que a estratégia para atrair montantes elevados passava por pagar retornos rapidamente nos primeiros investimentos também de forma a conseguir a confiança das vítimas. A China News avança ainda que a investigação foi altamente complexa uma vez que a diferente proveniência das vítimas levou a buscas em várias locais da China além de Guizhou, como Cantão, Hunan, Shenzhen, entre outros. J.S.F.
O caso foi denunciado pela segurança do hotel que suspeitou do comportamento do indivíduo que procurava clientes para as três mulheres. Segundo a PSP, o homem confessou depois de detido que tinha chegado a Macau no final de Dezembro e que recebia todos os dias 1000 dólares de Hong Kong para levar as mulheres a quartos de hotel, que depois ofereciam os serviços sexuais a potenciais clientes. O caso foi entregue ao Ministério Público e o homem está indiciado pela prática do crime de lenocínio, que é punido com uma pena de 1 a 5 anos de prisão. João Santos Filipe In Nam Ng
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Pensão ilegal Seis indivíduos detidos em fiscalização no NAPE
Numa acção de fiscalização da Polícia Judiciária (PJ) no NAPE foi encontrada uma pensão ilegal, onde foram detidos seis indivíduos provenientes da China continental. De acordo com a PJ, a fiscalização que teve lugar na noite da passada terça-feira, visou combater as pensões ilegais. Depois de questionar e verificar a identidade do indivíduo, a PJ revelou que este teria entrado em Macau ilegalmente. O suspeito foi transferido para o Ministério Público e está acusado de um crime de reentrada ilegal. Já os restantes detidos acabaram por ser libertados e o apartamento onde funcionava a pensão ilegal foi fechado pela Direcção dos Serviços de Turismo.
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9.1.2020 quinta-feira
Que comece PARADA ANO NOVO CHINÊS CELEBRADO NO CENTRO E NO NORTE DE MACAU
Orçamentado em 28,3 milhões de patacas, o evento realiza-se no terceiro e no oitavo dia do Ano Novo Lunar (27 de Janeiro e 1 de Fevereiro) e conta com um total de 34 grupos de animação, desfile de 18 carros alegóricos, concertos e fogo-de-artifício
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020, ano do rato, é o ano da dupla Primavera e é o ano propício para o casamento”, foi desta forma que o director substituto da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), Cheng Wai Tong deu ontem o mote para a apresentação do programa da Parada de Celebração do Ano do Rato, que terá lugar no terceiro e no oitavo dia do Ano Novo
Lunar (27 de Janeiro e 1 de Fevereiro). A parada, que terá lugar no centro e na zona norte da cidade, vai contar com desfiles de carros alegóricos, espectáculos culturais, fogo-de-artifício e vários passatempos. “Ao longo do tempo temos vindo a promover o nível da qualidade da parada de recepção do Novo Ano Lunar, esperando melhorar a organização de cada edição (...), pois queremos com este
grande evento do ano, proporcione uma atmosfera festiva e repleta de cultura e tradições chinesas a todos”, partilhou Cheng Wai Tong. Assim, a primeira parada agendada para 27 de Janeiro terá início a partir das 20h no centro da cidade, mais precisamente na Praça do Lago Sai Van, em frente à Torre de Macau. O espectáculo abre com dança aérea e acrobacias que darão início a um desfile de 18 carros
TRANSPORTES GRATUITOS
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elativamente ao trânsito, a população deve estar atenta à janela temporal situada entre as 19 e as 23 horas, onde haverá restrições temporárias na Avenida dos Jardins do Oceano, sendo que durante o espectáculo de fogo de artificio os condutores poderão estacionar temporariamente o seu veículo. Para facilitar a deslocação dos residentes e visitantes ao local para assistir à parada, a organização irá disponibilizar serviços de transporte gratuitos com carreiras de ligação entre Macau, Taipa e Coloane, e o local do evento.
Cinema Instituto Cultural procura novos realizadores Sob a égide do Instituto Cultural (IC) o Centro Cultural de Macau anunciou que está à procura de realizadores locais com novas ideias e visões cinematográficas a ser produzidas e projectadas na nova edição do “Macau- O Poder da Imagem”. Os realizadores locais interessados em partilhar a sua “visão” sobre a cidade devem assim inscrever os
seus novos projectos até ao dia 17 de Fevereiro de 2020. Com um orçamento de 1,320,000 patacas a distribuir pelas três categorias, a próxima edição vai estender-se por um período de 17 meses, permitindo aos cineastas mais tempo para trabalhar as suas produções. Financiando até 14 projectos, o “Macau - O Poder da Imagem” é aberto a
participantes divididos em três níveis de experiência, sendo o “Avançado” e o “Livre” destinados a realizadores com mais de 18 anos, e o nível “Iniciado” aberto a cineastas mais novos. A avaliação dos projectos caberá a um painel acreditado que vai analisar os candidatos divididos pelas categorias de “Documentário”, “Curtas” e “Animação”.
EXPOSIÇÃO UNIVERSO
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ARIONETAS, desenhos, maquetas e adereços de vários filmes de animação do realizador norte-americano Tim Burton vão estar expostos a partir de 5 de Fevereiro no Museu da Marioneta, em Lisboa, revelou o festival Monstra. Aexposição “O mundo animado de Tim Burton” é apresentada como uma
eventos 11
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e a festa
alegóricos, acompanhados de 34 grupos de animação locais e estrangeiros, que seguirão pela Avenida Dr. Sun Yat Sen, com ponto de chegada no Centro de Ciência de Macau. Antes disso, a partir das 17h30 haverá também lugar para actuações diversas que antecedem o evento principal da noite, que irá contar com a presença de celebridades de Hong Kong e Macau como Selena Lee, Paisley Hu e Mandy Wong. Pelas 21h45 haverá um espectáculo de fogo-de-artifício com a duração de 15 minutos, na zona ribeirinha em frente à Torre de Macau. Já as celebrações do dia 1 de Fevereiro, oitavo dia do Ano Novo Lunar, terão início pelas 20 horas e contará com um desfile dos 18 carros alegóricos, que partirão da Rua Norte do Patane, passando pela Avenida do Conselheiro Borja, Estrada do Arco, Estrada da Areia Preta, Avenida de Venceslau de Morais, Rua Quatro do Bairro da Areia Preta, Avenida da Longevidade e Rua do Mercado de Iao Hon. O cortejo segue depois em direcção ao ponto de chegada situado no Jardim do Mercado do Iao Hon, onde se realizará um espectáculo de encerramento que conta com actuações de artistas de Hong Kong e Macau como Louis Yuen, Germano Guilherme, Elise Lei, Elvin Chio, BoBo Chan e Kenny Lei. De referir ainda que A Marcha do Alto do Pina, vencedora da última edição das marchas populares de Lisboa, será um dos 34 grupos que irão participar na parada. Questionado sobre o número de espectadores esperado para este ano, o director substituto da DST, Cheng Wai Tong, disse esperar uma afluência semelhante à do ano passado, ou seja, entre 80 mil a 90 mil pessoas.
ORÇAMENTO INFLACIONADO
“Temos mais grupos de animação locais e também maior inflação”, foi desta forma que Cheng Wai Tong justificou
O VISUAL DOS FILMES DE TIM BURTON EM LISBOA “homenagem aos filmes de animação do realizador norte-americano nunca antes vista em Portugal” e insere-se na programação dos 20 anos do Monstra - Festival de Animação de Lisboa. Segundo o festival, a exposição apresentará marionetas e desenhos originais, adereços, maquetas e material de pesquisa de três filmes ‘stop
motion’de Tim Burton: “MarteAtaca!” (1996), “A Noiva Cadáver” (2005) e “Frankenweenie” (2012). As marionetas patentes na exposição foram produzidas pelos estúdios britânicos Mackinnon & Saunders, com os quais Tim Burton começou a colaborar em 1995, numa altura em que já tinha rodado filmes,
em imagem real e animação, como “Eduardo Mãos de Tesoura” (1990), “O estranho mundo de Jack” (1993) e “Ed Wood” (1994). A exposição “O Mundo Animado de Tim Burton” ficará patente no Museu da Marioneta até 19 de Abril. O Monstra - Festival de Animação de Lisboa decorrerá de 18 a 29 de Março.
A Marcha do Alto do Pina, vencedora da última edição das marchas populares de Lisboa, será um dos 34 grupos que irão participar na parada ontem o orçamento de 28,3 milhões de patacas dedicado à Parada de Celebração do Ano Novo Chinês e que reflecte um aumento de três por cento em relação ao ano passado. Confrontado sobre as recentes indicações do Governo para controlar as despesas públicas, o responsável disse apenas que os serviços de turismo receberam ordens de Ho Iat Seng “para racionalizar as despesas em função da rentabilidade e em função dos resultados”. Já sobre tomadas medidas específicas acerca da Pneumonia de Origem Desconhecida de Wuhan, Cheng Wai Tong afirmou que os serviços de turismo estão a acompanhar a situação de perto e que tomarão medidas se vier a ser necessário. “A DST é um dos membros do grupo de contingência e por isso temos vindo a acompanhar a situação. Até ao dia da parada ainda faltam algumas semanas e por isso vamos dar acompanhamento à evolução da pneumonia e claro que, se, entretanto, a pneumonia agravar iremos tomar as medidas necessárias” Questionado sobre se poderá estar em causa a realização do evento devido a um surto da doença, Cheng Wai Tong afirmou que terá de ser avaliado na altura “o grau da situação da pneumonia”. “A DST não pode suspender a parada por si só e teremos de entregar um projecto ao grupo de contingência para avaliar a situação”, acrescentou. Pedro Arede
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9.1.2020 quinta-feira
IRÃO/EUA PETROLÍFERA CHINESA RETIRA FUNCIONÁRIOS DO OESTE DO IRAQUE
dos EUA, Donald Trump. O Departamento de Defesa norte-americano confirmou que “mais de uma dúzia de mísseis” iranianos foram disparados contra as duas bases, mas não indicou se resultaram vítimas dos ataques.
Na sequência da escalada de tensões entre Washington e Teerão, uma companhia petrolífera estatal chinesa decidiu retirar os seus trabalhadores de um campo de petróleo situado no oeste do Iraque. Ao mesmo tempo, Pequim apela à moderação de ambas as partes
ÁGUA NA FERVURA
Enquanto é tempo
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imprensa chinesa avançou ontem que a petrolífera estatal China National Petroleum Corporation retirou cerca de 20 funcionários do campo de petróleo
Qurna-1, no oeste no Iraque, face às crescentes tensões entre Washington e Teerão. Nenhum detalhe foi revelado e os porta-vozes da empresa não teceram qualquer comentário. Mais de uma dúzia de mísseis
iranianos foram lançados na ontem de madrugada contra duas bases iraquianas, em Ain al-Assad e Arbil, que albergam tropas norte-americanas. Esta acção foi assumida pelos Guardas da Revolução iranianos como
uma “operação de vingança” pela morte do general Qassem Soleimani, comandante da força de elite Al-Quds, que morreu na sexta-feira num ataque aéreo em Bagdade, capital do Iraque, ordenado pelo Presidente
O Governo chinês pediu ontem moderação, após os ataques do Irão a bases norte-americanas no Iraque. “Não é do interesse de nenhum dos lados que a situação no Médio Oriente piore ainda mais”, alertou o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Geng Shuang. A China é uma das partes do acordo nuclear iraniano, assinado em 2015 com o intuito de restringir a capacidade de Teerão de desenvolver armas nucleares, e do qual os
TRANSPORTES INAUGURADO PRIMEIRO COMBOIO DE ALTA VELOCIDADE AUTÓNOMO
A
China inaugurou ontem o primeiro comboio de alta velocidade do mundo controlado remotamente, sem maquinistas, entre Pequim e o local onde se vão realizar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, noticiou a imprensa oficial. Os comboios, que percorrem os 174 quilómetros da ligação ferroviária entre Pequim e Zhangjiakou, na província de Hebei, são conduzidos a partir de um centro de controlo remoto. Arranque, paragens e ajustamentos aos diferentes limites de velocidade entre estações são
automáticos nestas composições, que se deslocam a uma velocidade máxima de 350 quilómetros por hora. As carruagens são equipadas com acesso a rede de telecomunicações de quinta geração (5G), iluminação inteligente e 2.718 sensores para recolha de dados em tempo real e detecção de anomalias operacionais. Nas estações, robôs e tecnologia de reconhecimento facial ajudam os passageiros com direcções, transporte de malas e a embarcar. No ano passado, a malha ferroviária de alta velocidade
da China ultrapassou os 25 mil quilómetros, ou mais do que todos os outros países do mundo combinados. A primeira linha chinesa de alta velocidade, de 117 quilómetros entre Pequim e Tianjin, começou a funcionar em 2008, quando a capital chinesa organizou os Jogos Olímpicos, 28 anos depois do nascimento do TGV francês. Quando em 1964 o Japão lançou o seu “comboio-bala”, a China era um país pobre e isolado, mergulhado em constantes “campanhas políticas” e empenhada em “aprofundar a luta de classes”.
“Convocamos as partes envolvidas a exercerem moderação”, apelou Geng Shuang. O portavoz pediu a Teerão e Washington que resolvam as suas diferenças “através do diálogo, negociação e de forma pacífica” Estados Unidos se retiraram unilateralmente, em 2018. Pequim é também um dos principais importadores de petróleo iraniano.
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quinta-feira 9.1.2020
ECONOMIA MERCADOS ASIÁTICOS EM QUEDA DEVIDO À TENSÃO ENTRE IRÃO E EUA
Por outro lado Defesa de Carlos Ghosn considera que investigação sobre a Nissan tem falhas
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defesa do ex-presidente da Nissan e da Renault Carlos Ghosn considerou ontem que a investigação que acusa o empresário de má conduta financeira tem falhas, está enviesada, carece de independência e apenas está a decorrer para o derrubar. Ghosn fugiu do Japão para o Líbano há uma semana e, apesar de ainda não ter aparecido em público, poderá dar uma conferência de imprensa ontem. O empresário tinha de se apresentar, nos próximos meses, perante os tribunais de Tóquio para responder às irregularidades financeiras de que é acusado durante a gestão da Nissan Motor. Ghosn está acusado de ter alegadamente ocultado às autoridades japonesas remunerações negociadas com a Nissan e de ter usado os fundos da companhia para cobrir gastos pessoais e perdas financeiras. Detido pela primeira vez em 19 de Novembro de 2018 e, depois, em 25 de Abril passado, Ghosn ficou em liberdade sob fiança, após a segunda detenção, com comunicações e movimentos limitados e proibido de sair do país. As autoridades japonesas pediram à Interpol que detenha preventivamente Ghosn até que seja extraditado para responder perante os tribunais do país. O empresário, que liderou o grupo automóvel japonês durante duas décadas, reiterou a sua inocência e disse que a Nissan queria bloquear uma fusão total com o parceiro francês Renault. A justiça japonesa emitiu ontem um mandado de prisão para Carole Ghosn, mulher do ex-presidente da Nissan Carlos Ghosn, suspeita de falso testemunho no processo que envolve o marido, avançaram ontem as agências de notícias japonesas. A acção contra Carole Ghosn, que não está no Japão, surge na sequência da fuga do marido para o Líbano há uma semana após ser libertado sob fiança, enquanto aguardava julgamento por suposta má conduta financeira. Detalhes sobre as alegações contra Carole Ghosn não foram divulgados. Carole Ghosn foi proibida de se encontrar com marido porque as autoridades suspeitavam de que poderia ajudar o marido a fugir. O Líbano e o Japão não possuem um tratado de extradição.
O que interessa mesmo
A tensão no Médio Oriente e a perspectiva de conflito entre Estados Unidos e Irão levou à queda dos mercados de valores asiáticos. A instabilidade nas bolsas forçou a OPEP a garantir que a produção petrolífera no Iraque se mantem intacta
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S mercados de acções asiáticos fecharam ontem em queda na sequência da tensão entre o Irão e os Estados Unidos, que levou a OPEP a assegurar que a produção do petróleo no Iraque não está a ser afectada A bolsa de Tóquio abriu ontem a cair 2,18 por cento, na sequência do ataque do Irão contra bases no
Iraque, onde estão estacionadas tropas dos Estados Unidos. Nas primeiras transacções do dia, o principal índice, o Nikkei, perdeu 2,18 por cento para 23.060,97 pontos. Na mesma direcção, o segundo indicador, o Topix, perdeu 1,91 por cento para 1.692,12 pontos. O índice Nikkei reflecte a média não ponderada dos 225 principais valores da bolsa de Tóquio.
O ministro da Energia dos Emirados Árabes Unidos afirmou que não espera escassez de petróleo se houver agravamento da tensão no Médio Oriente. Em caso de conflito, a OPEP teria de reunir-se e tomar medidas, mas, assegurou o responsável, “os mercados estão bem abastecidos”
Na China continental, o índice de Xangai caiu 1,22 por cento, para 3.066,89 pontos, e o índice Shenzhen caiu 1,24 por cento, para 1.769,58 pontos. Em Hong Kong, o índice Hang Seng também estava em forte declínio no final da sessão. A mesma tendência se verificou na Europa, com as bolsas também abriram em baixa.
TORNEIRA ABERTA
Entretanto, o secretário-geral da OPEP, Mohamed Barkindo, assegurou ontem que a produção de crude no Iraque não está a ser afectada. "A produção de petróleo no Iraque não foi afectada (...) e a produção continua", disse Mohamed Barkindo, em conferência de imprensa. Por sua vez, o ministro da Energia dos Emirados Árabes
Unidos, Suhail al Mazrouei, afirmou que não espera escassez de petróleo se houver agravamento da tensão no Médio Oriente. Em caso de conflito, a OPEP teria de reunir-se e tomar medidas, mas, assegurou o responsável, “os mercados estão bem abastecidos”. Na sequência do ataque contra forças militares situadas nas bases de Ain al-Assad e Arbil, no Iraque, a Europa lançou diversos apelos à contenção e a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, convocou a reunião dizendo que “o Alto Representante e vice-presidente [Josep] Borrell e outros comissários farão uma reflexão sobre as consequências, para as diferentes partes interessadas, dos desenvolvimentos no Iraque e na região”.
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E o verso cai na alma como ao pasto o orvalho
Vida nova
estendais
“Le vent se lève il faut tenter de vivre” (Paul Valéry)
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ANTO era tempo de partida que a avó se foi, sem ninguém dar por ela sair da casa habitada durante oitenta e oito anos. Um último Natal e, dois dias depois, uma ida silenciosa e serena, como quem diz: “Vocês cuidaram de mim mas, agora, finalmente, posso levantar-me e ir, vejam, afinal ainda consigo fazer coisas sozinha”. E lá foi, deixando para trás o eco da sua gargalhada inconfundível e todos os bons conselhos que nos deu. Foi sem falar e sem que as máquinas a traíssem. Foi sem que ninguém percebesse. No entanto, ninguém foi mais notado do que ela, entre a outra casa e o hospital. A doença prolongada faz isso. O amor também. E ela espalhou o seu, no mínimo, por mais três gerações. O que será do tempo e do espaço que ela ocupou aos que lhe eram mais próximos? Talvez nem eles saibam ainda. Talvez ainda seja cedo para fazer mais do que contemplar o vazio. Mas desconfio que as crianças ainda vejam a bisa e se riam com ela. Desconfio que as crianças saberão exactamente o que fazer. Que elas, uma e outra vez, ensinarão aos adultos o que é viver. Que é preciso fazê-lo. E que nem as crianças nem a avó terão lido Valéry. É outra vez aquela fase em que toda a gente parece estar com um bebé a caminho ou acabado de chegar. As visitas, os vídeos e as fotos ocupam a agenda e o telemóvel. Dou por mim a pensar em como pôde a vida ser antes destas chegadas que parecem, assim de repente, de quem esteve sempre ali. Poderia ser um grande motivo de preocupação, a ameaça de guerra. Mas um bebé ocupa tanto a barriga da mãe como tudo o resto. Em “Conhecereis a Nossa Velocidade”, uma das personagens de Dave Eggers declara: “Há viagens e há bebés. O resto é trabalheira e morte.” Começa um novo ano e somos obrigados a confrontar-nos com as promessas de falhar à la Pedro Chagas Freitas e a concluir que ele esteve, este tempo todo, a falar das resoluções de ano novo. Em reuniões de trabalho ou no Instagram, as listas são muito semelhantes. Dou por mim a fazer listas para os outros, como todas as pessoas que adoram listas e acham que sabem o que é melhor para alguém. Mas as listas que anunciamos publicamente não são, também elas, para mostrar aos outros? Penso na minha própria lista, evito-a, destruo e refaço-a. Dou por mim a falhar um ou outro aspecto e ainda só passou uma semana da não consensual nova década. O meu último momento vergonhoso de 2019 foi, ao sair de casa no dia
THE BIRTH OF VENUS, POL LEDENT
Gisela Casimiro
31 para deixar comes e bebes em casa de uma amiga, ter pedido ao motorista da Uber que me esperasse, pois ainda precisaria de ir ao teatro. Ricardo III, de Thomas Ostermeier, no Dona Maria II. A maravilha total. O motorista acedeu. Subi, desci e dirigi-me ao carro cinzento em quatro piscas frente ao prédio. Porta trancada. Bati e nada. Vidro da frente. Bato. O dono desce o vidro e olha-me, muito sério. Peço desculpa, olho para a
frente e vejo um carro cinzento em quatro piscas. Entro. Conto o que acabou de acontecer. Rimos até ao teatro. O meu primeiro momento vergonhoso de 2020 foi, continuando com o dramatismo que define quer a minha vida quer a cultura que consumo, ter ido assistir ao querido “Que mal fiz eu a Deus agora?”, ver-me a braços com um menu pipoca mais refrigerante e, tendo chegado cedo ao cinema, em pleno dia
É outra vez aquela fase em que toda a gente parece estar com um bebé a caminho ou acabado de chegar. As visitas, os vídeos e as fotos ocupam a agenda e o telemóvel. Dou por mim a pensar em como pôde a vida ser antes destas chegadas que parecem, assim de repente, de quem esteve sempre ali.
1, pousar a bebida no chão, à falta de suporte, e as pipocas no banco ao lado. Equilíbrio perfeito, até o dito ter tombado, sozinho, para o banco e para o colo da ocupante do banco ao lado, num momento em que, já em modo sala cheia, aquele lugar, ainda para mais no topo, se tornou, de repente, mais cobiçado que o trono mais falado dos últimos anos. Até ao filme começar, tive de desiludir umas cinco pessoas que queriam sentar-se ali. Mas só um senhor conquistou o Popcorn Throne. À saída do filme, pediu desculpa por ter-se sentado nas minha pipocas. Como dizia a alguém de quem gosto muito outro dia, estranhamente, não dei por mim a querer ser menos parva em 2020. Há quem saiba dizer onde se encontra no tempo da sua vida. Eu observei sempre as minhas mãos sem saber ou acreditar que cumpriria o comprimento da linha da vida. Tenho umas linhas bem longas e vincadas. Não sei onde me encontro, se falta muito mais para a frente do que o que esteve para trás. Seria assim, idealmente, não é? No entanto, para tantos e tantas, a dificuldade de viver é tão avassaladora que envelhecer nem é uma hipótese. A mente não chega lá. Quanto a mim, gosto de viver. Apenas nunca me imaginei a envelhecer, como se não fosse lá chegar sem tê-lo imaginado. Como se fosse desenhando a minha existência, ou escrevendo-a, ao longo da própria vida. Independentemente das mãos e de tudo o resto. Penso no que dizer a todos estes bebés. Mas é tão mais bonito e importante o que eles me dizem quando me olham, quando dormem, quando fazem birras e quando sorriem. É maravilhoso e tolo o tempo que podemos passar a olhar para eles. No fundo, precisamos tanto deles como o contrário, ou mais até.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 15
quinta-feira 9.1.2020
28/ 12/ 2019
Li hoje a pauta de “As Orelhas de Karenin”, que a Rita Taborda Duarte interpretou a quatro mãos com o Pedro Proença, e saiu-me nas margens dos poemas este escrito: «A minha mão é uma ilha negra que extirpa nos galos a sua semente de alvorada. Guardo os selos mais valiosos, dois, do tempo do rei dom Carlos, na carteira de mão - herdei-os duma avó, vai para nove anos – só para confirmar matinalmente, em tomando o meu chá verde, o enxuto e espigado recorte da serrilha. Miro-os, ainda a manhã anda a monte. Há quem lhe chame tiques, prefiro resguardos. Com a mesma pinça que me afina as sobrancelhas puxo-os para fora e examino-os detidamente; às vezes com a ponta da língua - eriçam-se, e as estampas ganham brilho. Depois atraio um dos galos, com grãos de bico e um segundo antes que a voz da alba lhe ascenda ondulante do papo enforco-o com a linha do horizonte. Empalho-os e alivio-lhes as penas com um verniz. Estão-me todos gratos, juro por Deus, que me transmitiu: se eu capturar em cada dia novas cristas, as serrilhas dos teus selos manter-se-ão incólumes. Por isso ele não cantam, cá em casa, não é por mal sou até pela agro e pela avicultura biológicas. Ganhei este hábito há cinco anos quando me vi nua, no quarto, à espera do meu noivo, depois dele – acabara de pôr a tocar na sala o The touch of your lips, do Chet Baker - se ter escapulido pela janela. Gosto muito dos meus lábios, é do que mais gosto no meu corpo. Ele também, jurava, catucando-me com o seu bico de galo.»
29/12/2019
Como de costume, trouxe para esta semana de recolhimento na praia o dobro dos livros de que serei capaz de ler; trouxemos o dobro de comida de que seremos capazes de consumir; suponho que terei trazido o dobro dos ácaros, o dobro das espectativas, o dobro da impaciência; toda a vida arrastei comigo o dobro dos filhos que os meus amigos aturavam; tive o dobro dos casamentos, o dobro de inconsciência e irresponsabilidade; bebi o dobro do que me era devido (embora agora tenha trazido metade de bebidas do costume, o corpo pede e eu obedeço); escrevo, dizem-me, o dobro do que é comum escrever-se
Circularidades seria: Quem aqui jaz não conseguiu ter a arte do caracol, apesar da pretensão!
JAN-STEEN
diário de Próspero
António Cabrita
30/12/ 2019
Deito-me um pouco a ler na rede e só ouço o mar, o trinado dos pássaros, grilagens, os espanta-espíritos, zunzum dos besouros que têm a sua casa no tronco, atrás da rede. Não sei nomear nenhum destes pássaros e também o ar me parece inominável. Se olhar detidamente o jardim, não saberei o nome de metade das flores, arbustos e árvores. Este estado lacunar, paradoxalmente, transmite-me uma grande segurança. É como estar rodeado de gente que fala uma língua que desconheço - não me causa angústia. Nem pesar. Só me dá paz aquilo que desconheço. Como adquiri esta confiança no homem, no mundo? Fosse eu crente e consideraria esta uma das provas da existência de Deus!
30/12/2019
anualmente; tenho uma temperatura corporal, em média, um grau acima da que é comum, tive uma namorada que me chamava A minha botijinha; transpiro o dobro dos comuns mortais, é um ver se te avias; durmo, de comum, metade do que as outras pessoas dormem; peço sempre, numa encomenda, o dobro do tempo que preciso para a cumprir e metade do dinheiro que merecia (houve uma mulher que me chamava O meu idiota de estimação); é-me, pelo
que é dado avaliar, duas vezes mais difícil cumprir um dever, tratar de burocracias (acabo sempre por pagar multas), escrever relatórios, etc.; no entanto sinto-me a pessoa mais desocupada do mundo, tortura-me a preguiça, o meu pendor para a procrastinação (nisto, a minha mulher, que acaba de ter uma grande ideia de editora, é absolutamente igual, e por isso levámos dezasseis anos para casar), assusta-me a minha moleza. Se houvesse um epitáfio justo,
“toda a vida arrastei comigo o dobro dos filhos que os meus amigos aturavam; tive o dobro dos casamentos, o dobro de inconsciência e irresponsabilidade; bebi o dobro do que me era devido...”
Com as asas de quantos milhares de anjos caídos se fez a espuma do mar? Uma imagem justa para os tempos de Rilke, hoje, para não ser pires, só se ajusta aos entardeceres, em finais de ano muito solitários, como este que viemos passar à Macaneta, só eu, a Teresa e as miúdas. Deve ser o último ano em que a Luna de 15 não exige passar com as amigas em festas ou discotecas. Temos de o aproveitar. A Teresa fez um arroz de cogumelos magnífico ( - com cogumelos, curgetes, um nico de bacon, azeite e alho), e fomos depois à preamar tentar apanhar ameijoas. Da última vez que aqui passámos o “réveillon” (faz dois anos) ouvíamos Toward the sea, de Takemitsu, e eu escrevi: «É ao fim da tarde que a praia fica dourada,/ quando amansa o coração das dunas/ e os caranguejos reaparecem, na mira / de chorões, catando os últimos pedúnculos da luz.// A noite não retrocede.// Cada dia que nasce é novo, a noite/ é uma e não retrocede./ Decanta-se, porém, a resistência,/ apura-se como o vinho e amola as lâminas/ para o intérmino combate.// Inantecipável, meu amor, a Arca ascende, / da ordenação das vinhas/ para o extático desarme da música.» As circularidades não nos cercam, bicefalam-nos, no amor, na música, no eterno retorno do dia, no regurgito com que cada final de ano deixa emergir da sua matéria suja o broto de uma nova era - nesta crónica. Segundo o Youtube, uma profecia muito seguida dava o fim do mundo para 28 de Dezembro de 2019. Escapamo-nos de mais essa, meu amor. Caiu-me bem o gin desta tarde.
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Cidade ecrã Rui Filipe Torres*
O
Acontecimento cinematográfico do ano, ou pelo menos um dos, na minha análise, deu vida a uma biografia desconhecida do icónico vilão da DC comics. Realizado por Tood Phlips, teve estreia em Outubro e ainda permanece em sala. Na lista dos filmes mais vistos neste ano 2019 em Portugal, surge em 2º lugar, logo a seguir ao Rei Leão, o filme da Walt Disney Pictures pensado para toda a família. JOKER, protagonizado por Joaquin Phonix estreou a 3 de Outubro e até 25 de Dezembro teve 18 962 mil sessões com 895 903 mil espectadores, o que faz uma receita bruta em sala de € 4.963.583, 79 euros. O Budget estimado desta co-produção EUA /Canada, segundo dados do IMDb, é de 55, 000, 00 dólares, e as receitas de bilheteira ascendem a mais de 1,062,994, 002 dólares. Arthur Fleck, o personagem vivido por Joaquin Phonix, é um comediante palhaço que é despedido na agência de eventos onde presta serviço a recibos verdes, a cidade é Gotham City, a cidade que há muito conhecemos através desse outro ícone da BD o Batman, o alter-ego, de Bruce Wayne, herdeiro de enorme fortuna que decidiu dedicar a sua vida ao combate do crime. Arthur Fleck tem também um alter ego, o JOKER. A cidade vive o seu quotidiano de indiferença, miséria e crime. Arthur Fleck é espezinhado por um grupo de adolescentes que também lhe destroem o cartaz com publicita um produto comercial, cartaz que vai ter de pagar do seu magro salário de palhaço a horas, mas, mais do os pontapés no corpo, são os pontapés na alma, a solidão que se acumula a cada hora do dia e da noite que passa. E pior, com o passar dos cresce também a percepção da falta de perspectivas para outra realidade mais quente e menos sofrida. Arthur Fleck tem necessidade de cuidados médicos, os serviços de saúde públicos em Gotham City são degradantes como o é sempre a miséria, a sua saúde psíquica é difícil. O riso descontrolado acontece nele, como a sucessão de atchim(s) quando se está constipado, é um riso nervoso, que acaba por se tornar uma idiossincrasia da sua persona. Vive com a mãe numa decadência alimentada ansiolíticos. A mãe sonha com a ajuda do seu velho amor o milionário Bruce Wayne, escreve-lhe sucessivas cartas, sempre sem resposta. Bruce Wayne, é o pai de Arthur Fleck, segundo ela ele é filho desse amor clandestino quando esteve empregada na mansão do milionário. Arthur Fleck veste a sua personagem JOKER, é dessa forma, cara pintada de pa-
9.1.2020 quinta-feira
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Joker lhaço, que se movimenta na cidade. Um dia no metro, em defesa de vida, mata um assaltante, a sua identidade não é reconhecida, mas a sua figura, comunicada através das tv e jornais encontra eco na população da cidade. Perante a onda de criminalidade da cidade, é percepcionado como um herói. Tenta aproximar-se do pai, vai à grande mansão, encontra junto do muro fronteira de grandes grades entre a propriedade e a cidade o seu irmão, aquele que, sabe o espectador, anos mais tarde será o herói Batman. É expulso, escorraçado da mansão. A revolta interior cresce de forma paralela as manifestações violentas dos habitantes da cidade contra as injustiças da governação da cidade. Os manifestantes usam pinturas faciais iguais à sua, é um herói desconhecido. É convidado num programa de televisão de grande audiência - como sempre, magnifica interpretação de Robert De Niro. Dispara em direto sobre o apresentador. O filme rodado no Bronx, Harlem, Manhattan, é tudo menos uma comédia leve de fácil digestão. O extraordinário aparentemente - é a adesão dos públicos a esta narrativa que trabalha o burlesco e o drama da marginalidade social nas grandes cidades da falência do capitalista liberal. JOKER é cinema maior, se arte é sempre um tempo fora do tempo, o imaginário Comics, é necessariamente território fértil. Este é um filme construído no novo regime estético do cinema, assim denominado por Jaques Ranciére, um regime em que o híbrido e o pós-dramático são o território da materialidade narrativa. A narrativa trabalha com o grotesco e o informe, que como sempre, tem de ser reconhecida na materialidade, na realidade filmada, de forma sublime JOKER convoca e coloca-nos perante o fascínio visual que trabalha o grotesco. O grotesco é uma potência do humano sempre presente e que, em tempos de crise, de transição de regime, tende a emergir com toda a sua dimensão do espetacular. Captura dá-nos a ver a ansiedade vivida individualmente e em grandes massas, sempre presente nos momentos de fractura, de crises de sociedade. JOKER é o medo do não ser, a procura da forma para o reconhecimento da cidadania, depois da falência da norma. Freud em 1919 no artigo Das Unheimliche, usualmente traduzido em português por “O Inquietante”, tem uma abordagem psicanalítica na área da estética. A análise parte dos contos Hoffmann “O Homem de Areia” e “Os Elixires do Diabo”. Freud investiga a
O grito da multidão Órfã
etimologia da palavra Unheimlich, em diferentes línguas, a qual numa tradução literal é significa desconhecido e, paradoxalmente, encontra por vezes o oposto imediato - conhecido ou familiar. Conclui que atrás de algo atrás de algo incompreensível ou atemorizante está sempre alguma coisa familiar, refere então que existe sempre uma sombra no conhecido, um inominável que foi afastado, reprimido. É esse reprimido que alimenta o arco dramático da personagem JOKER. É esse desconhecido, conhecido, que permite a identificação mesmo que involuntária do espectador com a vida na tela. Estamos na presença do herói relutante, este herói que chegou à tela e à literatura na década de 50, o anti-herói, aquele que é herói, protagonista, não porque por decisão própria enfrenta e supera um empreendimento extraordinário, o que quer dizer que se coloca em ação por vontade própria, mas aquele novo herói dos quotidianos modernos que é levado à ação por razões de contexto, movido pela circunstância em que a realidade o envolve. Estamos também em dois tempos, o tempo do filme, ou melhor o tempo em que o filme se passa, os anos da primeira grande recessão económica, e o tempo dos espectadores, o tempo do “espectador emancipado” como escreve Jacques Rancière, o público do cinema do final da segunda década do século XXI. JOKER é o cinema da Nova Hollywood neste tempo de hipercinema em que a qualificação distintiva entre cinema arte e cinema indústria deixou de fazer sentido enquanto julgamento estético e de modelo de produção. São raros, ainda assim bastantes, os heróis negativos que alcançam sucesso inegável na multidão dos públicos, é ainda comum a ideia de que o filme para ter sucesso comercial tem de trazer bons sonhos, distanciar os públicos da realidade e nessa distância oferecer a pí-
lula da felicidade dourada. Basta falar com quem decide das programações em sala e nas televisões, e até de quem tem responsabilidade nas decisões políticas da cultura, e este axioma é apresentado como verdade em altar. JOKER prova de forma incontornável que os senhores do marketing, muitas das vezes, são vendedores de segunda, convencidos de que possuem ciência social e humana. Lembro esse filme com o magistral ator, o Anthony Hopkins em “Silêncio dos Inocentes” de 1991 - filme que ocupa a 74ª posição na lista dos 100 filmes do American Film Institute. Em todo o caso, JOKER é um caso relevante e de especial interesse, e essa singularidade resulta do eco da personagem indivíduo no colectivo, na comunidade. Esta capacidade de contágio e a figuração da massa urbana em conflito agudo, em batalha nas praças e ruas da cidade Gotham City no ecrã da sala escura, a fazer eco de um tempo agora, um tempo hoje, onde coletes amarelos em Paris, multidões em Barcelona, ou em Hong-Kong, por razões de ordem diversa, confrontam de forma aberta o poder de polícia dos Estados. JOKER é um homem sem pai, um cidadão sem representação da sua cidadania, vive uma dupla orfandade, pessoal e social. Neste nosso tempo de vivências atomizadas, de vidas sem laços sociais comunitários, a orfandade é um trauma que irrompe como vulcão. De alguma forma o trauma da orfandade é subterrâneo ao agitar das bandeiras, seja as da libertação do género da âncoras dos comportamento socialmente bem aceites; mudanças de género, etc, ou bandeiras das vozes minoritárias das etnicidades ao acesso ao exercício do Poder, o facto Édipo, permanece e é central na construção da afectividade humana. A libertação do pai, processo constitutivo do crescimento individual e social do humano, tem sempre uma carga traumática, e marca a relação do afecto com o próprio e com o mundo. Freud afirmou que o que move o mundo é o desejo inconsciente. Se a leitura das manifestações do inconsciente no consciente quase sempre é de difícil acesso, mais fácil é verificar que o desejo consciente, em certos casos mais até do que a necessidade, é instrumental para as dinâmicas da ação.
* Cineasta, Jornalista. Doutorando em Estudos Artísticos - Estudos Fílmicos e da Imagem - FL -Universidade de Coimbra Mestre em Estudos Culturais Aplicados em Cinema - Desenvolvimento de Projecto Cinematográfico - ESTC Instituto Politécnico de Lisboa. Licenciado em Ciências da Comunicação - ISCSP - Universidade de Lisboa
ARTES, LETRAS E IDEIAS 17
quinta-feira 9.1.2020
Luís Carmelo
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ÃO gosto de generalizar, mas por vezes apetece. Facilita a percepção do território, torna mais visíveis os seus limites e define melhor a luz com que invadimos os temas a abordar. Na maior parte das vezes, prefiro ser indutivo nas análises, ainda que a senda de particularizar em demasia conduza ao apagamento de horizontes. Então, o texto - ou a voz - desdobra-se e fá-lo sem a preocupação de um sentido óbvio imediato ou, pelo menos, claro. O ensaísmo oriundo do mundo anglo-saxónico pertence ao primeiro dos caminhos: clarifica o terreno, estrutura o campo de visão e convida a organizar o olhar. Lemos a divisão dos saberes proposta por Locke, a alegoria da liberdade proposta por Hobbes ou a sequência temática dos ‘Ensaios’ de Francis Bacon e tudo é cristalino. Entramos nas obras de Harold Bloom, Richard Rorty ou do (oxfordiano) Isaiah Berlin e capta-se imediatamente um esquema de fundo que permite situar o espaço na sua totalidade. Depois a digressão, que pode assumir características chãs e até descentradas, torna-se clarividente e flui particularmente bem. Já o ensaísmo latino prefere enredamentos: avança com a gula críptica que advém do prazer da palavra e dos seus ecos e, no entanto, galvaniza, contagia, impõe-se pelo eclectismo. Entre Montaigne, Barthes ou Magris sente-se esse tremor da natureza, ou essa inquietação, de que nem sempre se deduz uma matéria óbvia. No seu ‘Ensaio sobre a origem da linguagem’ (1772), Herder escreveu: “os filósofos franceses misturam tudo o que diz respeito a algumas curiosidades aparentes das naturezas animal e humana”. A verdade é que também não existe fascínio sem esse tipo de cocktail e de incompletude. Já se sabe que a mini-saia discursiva é sempre bem mais atraente do que uma saia vitoriana até à flor dos artelhos. A chamada disposição cartesiana não foge a este espírito ecléctico. Ela é comparável às áleas geométricas dos jardins franceses de seiscentos que vivem sobretudo do aparato visual e da formalidade teatral. Nas suas ‘Lettres Philosophiques’, Voltaire realçou a fértil imaginação de Descartes, chegando a referir que “a natureza fez dele um poeta”, facto que nunca conseguiu dissimular, nem “mesmo nas obras filosóficas onde se vêem
Cristalinos e intricados THE COMPLEXITY OF BEING, TANKSART
retrovisor
Esta diferença entre a errância e a determinação é a mesma distância que separa o nómada do sedentário. O primeiro cria um guião para a sua viagem, mas fá-lo em movimento. O segundo encerra todas as viagens no seu habitat projectando o globo num jardim, cujo labirinto se fecha a si próprio
a todo o momento comparações engenhosas e brilhantes”. Leibniz apontou o excesso de “hipóteses imaginárias” à física cartesiana, enquanto o holandês Huyghens, autor de uma autobiografia que destacou os avanços ópticos do seu tempo, a comparou a um mero “ensino de quimeras”. O engenho e a reverberação poética a sobreporem-se à linearidade dos canteiros. Não é por acaso que o mal amado Deleuze destacou em vários dos seus livros a “superioridade” da literatura anglo-saxónica devido à sua vocação para uma espacialidade livre e não sujeita a freios ou a aparatos formais, dando como exemplos, entre outros, Melville, Stevenson, Wolfe, Fitzgerald, James, Lovecraft, Miller, Kerouac, Lawrence ou Virginia Woolf. Por outro lado, não deixou de relegar o imaginário da tradição francesa para o imobilismo, para a previsibilidade e para a extrema centralidade dos seus cenários. Por outras palavras: a cinética a devorar literalmente a inércia. Esta diferença entre a errância e a determinação é a mesma distância que separa o nómada do sedentário. O primeiro cria um guião para a sua viagem, mas fá-lo em movimento. O segundo encerra todas as viagens no seu habitat projectando o globo num jardim, cujo labirinto se fecha a si próprio. A sobrevivência do primeiro obriga a uma cartografia que deverá ser compreendida com exactidão por terceiros, enquanto a sobrevivência do segundo se bastará aos mais íntimos sortilégios da poética. Se este é, em suma, o descaminho que afasta o tradicional verbete anglo-saxónico do enredamento latino, não esqueçamos nunca as excepções que muitas vezes ditam aquilo que o mundo afinal é (verdadeiras flechas prontas a arrasar conclusões imprudentes). Não é por acaso que todo o actual discurso do Brexit - mesmo no caudal pós-eleitoral - é a peçonha mais nevoenta que já se viu. Qual dedução, qual indução, qual poética, qual quê! Aquilo é um misto de brumosa apologia com pés de cabra, de insularidade papalva, de contrição trombuda, de ‘cala consente’ sem norte, enfim: um verdadeiro estiolar do que ainda restaria das ossadas da velha ‘Britannia’. Que nos valham figurões como Peter Sellers, John Cleese ou Rowan Atkinson para nos contagiar a rir de toda esta charada. Pois eles é que são a única e verdadeira vaga imperial anti-Brexit.
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LAMA
EXPOSIÇÃO “GAME – GIGI LEE’S MULTIMEDIA” Armazém do Boi | Até 16/2 35
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giados de Sarut, em Idlib na Síria, situação que piorou depois da chegada de cerca de 130 famílias que fugiram dos bombardeamentos do regime de Assad, com a ajuda da Rússia.
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EXPOSIÇÃO “MACAU CANIDROME-POUCHING TSAI SOLO EXHIBITION” Armazém do Boi | Até 11/2
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 35
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UM LIVRO HOJE
1917 SALA 1
UNDERWATER [B] Um filme de: William Eubank Com: Kristen Stewart, Vincent Cassell 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 2
1917 [C] Um filme de: Sam Mendes Com: George MacKay, Dean-Charles Chapman, Benedict Cumberbatch 14.30, 16.45, 19.15
ASHFALL [B] FALADO EM COREANO LEGENDADO
EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Lee Hac-Jun, Kim Byung-Seo Com: Lee Byung-Hun, Ha Jung-Woo, Ma Dong-Seok A.K.A. Don Lee 21.30
Em A Ponte Sobre o Drina, uma ponte em Visegrad, na Bósnia-Herzgoniva, é a personagem principal que permite acompanhar a complexidade da região. Através de diferentes histórias, que acompanham a evolução temporal da ponte desde a construção, no século XVI,
SALA 3
LITTLE WOMEN [A] Um filme de: Greta Gerwig Com: Emma Watson, Saoirse Ronan, Florence Pugh, Meryl Streep 14.15, 16.45, 19.15, 21.45
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ESRA HACIOGLU-ANADOLU AGENCY-GETTY IMAGES
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minutos depois. Existem linhas em que os condutores guiam como loucos, abusando das travagens bruscas. Seria urgente cursos de condução especializados e aulas de civismo, em que seriam colocadas situações e a sua resolução racional. A dimensão da cidade torna muito fácil a criação de uma rede de autocarros totalmente eficaz e tal só ainda não foi feito porque certamente iria contra os interesses enraizados. Talvez este Governo não tenha de se curvar a esses mesmos interesses e pense no interesse da população. E, sobretudo, na sua satisfação. São problemas como este e a habitação, entre outros, que motivam mais revolta entre as pessoas. E aqui ninguém quer isso. E já agora esforcem-se por comprar autocarros não-poluentes. Como os que vemos nas cidades da China. Há coisas que devem ser copiadas. Carlos Morais José
A PONTE SOBRE O DRINA | IVO ANDRIC | 1945
até à 1.ª Guerra Mundial, o leitor tem a oportunidade de conhecer algumas das características culturais dos Impérios Otomano e Austro-Húngaro, e mais importante do que isso, as diferenças entre os principais habitantes das região: sérvios e bósnios muçulmanos. João Santos Filipe
Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; In Nam Ng; João Santos Filipe; Juana Ng Cen; Pedro Arede Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
opinião 19
quinta-feira 9.1.2020
MARIANA MORTÁGUA in Jornal de Notícias
ARAser reeleito, Obama vai começar uma guerra contra o Irão”, escrevia Donald Trump há quase uma década. Hoje, em plena pré-campanha para as presidenciais norte-americanas, e com a reeleição cada dia mais comprometida por escândalos internos e pelo fracasso do seu mandato, foi Trump quem levou ao extremo a tensão com o regime iraniano. A política de Trump é o casamento perfeito entre o oportunismo eleitoral e a absoluta irresponsabilidade na condução da política externa. A morte do general iraniano Qassem Soleimani na sequência de um ataque dos EUA em solo iraquiano é apenas o culminar de um processo de escalada que vem de longe e que se intensificou nas últimas semanas. O legado de Soleimani não encontrará defesa em quem defende a paz e a democracia no Mundo. Mas o seu assassinato por drones norte-americanos, operados em território de um país terceiro, é um passo em frente no caminho para o abismo da guerra. Na sua política externa, Donald Trump coloca a ambição imperialista acima do Direito Internacional, comprometendo a paz e aumentando a instabilidade em toda a região. As consequências não se fizeram esperar. Em poucas horas, os apelos belicistas voltaram a encher as ruas do Médio Oriente. Perante o anúncio pelas autoridades iranianas do abandono do acordo nuclear alcançado em 2015, Donald Trump respondeu prometendo “uma resposta desproporcionada” e ameaçando com a destruição de dezenas de alvos em território iraniano (alguns dos quais “importantes para a cultura iraniana”, o que configura a admissão, à partida, de um crime de guerra). Olhando para o que aconteceu nos últimos anos em países como o Brasil ou os Estados Unidos, talvez se arrependa quem apostou na normalização institucional dos populismos e dos seus líderes. O que num dia é retórica populista, no outro é política de ódio. O que hoje é ameaça irresponsável, amanhã será guerra. A extrema-direita nunca evita a violência, porque é violenta a sua política. Além de ser um gigantesco produtor petrolífero, o Irão é um dos países que controla o Estreito de Ormuz e a ligação entre o Golfo Pérsico e o Oceano. Os interesses económicos e militares norte-americanos arrasaram o Iraque na viragem do século e deixaram rasto por todo o Médio Oriente. Até onde Irão desta vez?
THE LIGHT OF THE RIGHT, GWENN SEEMEL
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Até onde Irão?
Na sua política externa, Donald Trump coloca a ambição imperialista acima do Direito Internacional, comprometendo a paz e aumentando a instabilidade em toda a região
“A verdadeira verdade é sempre inverosímil.” Fiódor Dostoiévski
Trânsito Sugerida abertura da Ponte Nobre de Carvalho a particulares
ESTUDO TRUMP TEM DOS MAIS BAIXOS NÍVEIS DE POPULARIDADE DO MUNDO
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popularidade mundial de Donald Trump é muito baixa, com a maioria dos inquiridos num estudo de um instituto norte-americano junto de vários países a revelar que não tem confiança na política externa do Presidente dos EUA. De acordo com um estudo do Pew Research Centre, ontem divulgado, 64 por cento dos cerca de 40 mil inquiridos em 33 países de vários continentes não confiam nas decisões de política externa do Presidente norte-americano, com apenas 29 por cento a demonstrar essa confiança. O sentimento anti-Trump é particularmente forte na Europa Ocidental, onde três em cada quatro pessoas inquiridas mostraram desconfiança com as decisões da Casa Branca, especialmente em países como a Alemanha, Suécia, França, Espanha e Holanda. Ainda mais descontentes com as opções de política externa de Donald Trump são os vizinhos mexicanos, onde 89 por cento dos inquiridos disseram não ter confiança nas suas opções, sublinhando o desacordo com a intenção de construção de um muro ao longo da fronteira entre os dois países, que continua a ser uma bandeira da estratégia do actual Governo norte-americano. O estudo, que foi conduzido entre Maio e Outubro de 2018, mostra que, em comparação com Barack Obama, o seu antecessor directo, Trump recebe valores de popularidade mais baixos e que têm vindo a cair desde a sua tomada de posse, em 2016. As bolsas de popularidade externa de Trump podem ser encontradas em países com quem os Estados Unidos têm tradição de boas relações económicas e políticas, como as Filipinas, Israel, Quénia, Nigéria e Índia, onde os respondentes mostraram um mais elevado grau de simpatia para com as decisões externas do Presidente republicano.
quinta-feira 9.1.2020
PALAVRA DO DIA
As terras poupadas Território Norte e Camberra são as únicas regiões da Austrália sem fogos
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Território Norte e o Território da Capital Australiana são as únicas regiões australianas sem fogos activos, indicaram ontem as autoridades. Dados dos serviços estaduais e territoriais de bombeiros, compilados pela agência de notícias australiana AAP, mostraram que em Nova Gales do Sul de 119 incêndios activos, 50 estão fora de controlo. Os incêndios no Estado causaram 20 mortos, destruíram 1.687 casas, 3.300 outros edifícios e 168 propriedades, queimando uma zona equivalente à soma das zonas metropolitanas das cinco maiores cidades da Austrália, mais de cinco milhões de hectares. No Estado de Vitoria, os bombeiros registaram 12 fogos
activos na zona de Gippsland, no nordeste e nas zonas alpinas. Os fogos no Estado causaram, até agora, três mortos, entre eles um bombeiro, e deixaram mais de 1,2 milhões de hectares destruídos e pelo menos 200 casas queimadas. No estado de Queensland, onde os incêndios causaram três mortos e queimaram mais de 2,5 milhões de hectares e 161 casas, as autoridades contaram 19 fogos activos. No Estado do Sul da Austrália, onde morreram três pessoas e arderam mais de 274 mil hectares, os bombeiros indicaram que vários incêndios continuam activos, três dos quais na Ilha Kangaroo, onde já ardeu um terço da área total. No Estado da Austrália Ocidental, os incêndios queimaram 1,7 milhões de hec-
tares, com 32 fogos activos, especialmente nas zonas de Goldfield-Esperance region, Wheatbelt, Pilbara e Perth. O balanço mais recente deu ainda conta da destruição de mais de 32 mil hectares na ilha da Tasmânia, onde os bombeiros contaram 14 fogos activos. Um ciclone no norte da Austrália Ocidental e cheias no interior estão igualmente a causar problemas na região com o estado virtualmente isolado por estrada do resto do país, de acordo com as autoridades locais. As autoridades australianas alertaram já um aumento do risco de incêndios no fim de semana, depois de as previsões meteorológicas apontarem para uma nova subida da temperatura e ventos mais fortes em vários pontos.
O Chong I, membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas considera que “a Ponte Governador Nobre de Carvalho deve estar disponível para todos os carros sempre que ocorrerem acidentes nas outras duas pontes”. Segundo as informações citadas no jornal Cheng Pou, Lo Chong I considera que, para além de terem chamado a atenção do público para a segurança rodoviária, os dois acidentes que ocorreram recentemente na Ponte da Amizade, e que acabaram por encerrar a circulação na estrutura, geraram preocupação entre os residentes e entre os membros do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas. Citada pelo jornal Cheng Pou, Lo Chong I salientou ainda que deve ser incluída a abertura temporária da ponte Governador Nobre de Carvalho a todos os veículos como mecanismo de contingência para aliviar o trânsito em caso de acidente. Além disso, apontando que em 2018 ocorreram 481 acidentes na Ponte da Amizade, Lo Chong I considera que o Governo deve estabelecer medidas para aumentar a consciência de condução segura de condutores. De acordo com a mesma fonte, Ng Chio Wai, também membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas, argumentou que a fissura da Ponte da Amizade e os acidentes ocorridos na mesma estrutura demonstraram a necessidade de construir pelo menos mais uma ligação entre Macau e a Taipa. Ng criticou ainda a falta de planeamento rodoviário e espera que o Governo garanta que a construção da quarta ligação possa começar o mais rapidamente possível e que não ultrapasse o orçamento previsto.
BRASIL VENEZUELANOS VIVEM EM PRÉDIOS VAZIOS NA CIDADE DE BOA VISTA
O
número de venezuelanos a viver em prédios abandonados na cidade brasileira de Boa Vista, no Estado de Roraima, ascende a 3.100 pessoas, segundo a Operação Acolhida, programa do Governo do Brasil destinado aos migrantes do país vizinho. Na passada segunda-feira, um grupo de trabalho formado por titulares das secretarias estaduais de Roraima, comandantes
da Polícia e Bombeiros Militares, além de coordenadores da Defesa Civil, membros da Operação Acolhida e representantes do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) reuniram-se para debater as ocupações espontâneas de prédios públicos por parte de venezuelanos. “Durante o encontro, foi apresentado o quantitativo de 3.100 pessoas em
11 ocupações espontâneas, incluindo prédios públicos e particulares em vários bairros de Boa Vista, catalogadas e monitorizadas pelo grupo humanitário, que diariamente visita os locais”, informou em comunicado o Governo de Roraima. Desde o ano passado decorrem encontros com membros da Operação Acolhida e órgãos que participam no processo
de ajuda humanitária aos refugiados, em que se discute a desocupação dos espaços públicos, com a finalidade de realizar reformas das estruturas, assim como novas construções, ainda em 2020, procurando ainda realojar as famílias venezuelanas em outros locais. “ Neste momento, a estrutura abandonada que possui a maior quantidade de pessoas é o antigo prédio
da Secretaria de Gestão Estratégica e Administração, em Roraima, com 191 ocupantes do sexo masculino, 181 mulheres e 196 crianças, totalizando 568 pessoas. Segue-se outro prédio devoluto pertencente ao Estado de Roraima, onde funcionava a Secretaria de Educação e Desporto, com 418 ocupantes, sendo 140 homens, 140 mulheres e 138 crianças.