DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
LEONEL ALVES
SOFIA MARGARIDA MOTA
Reacções à saída PÁGINA 6
ELEIÇÕES
A dança das cadeiras PÁGINA 7
Enid Blyton revisitada
HOJE MACAU
hojemacau CHUI SAI ON ENFRENTA PROBLEMAS
Controlo total O Chefe do Executivo, de partida para Xangai, foi capaz de dar uma resposta a todas as questões que têm apoquentado os cidadãos. Lei de Terras, habitação social, património, diversificação, pon-
te Hong Kong-Macau-Zhuhai, metro ligeiro, enfim... Chui Sai On parece ter uma solução para todos os problemas que afectam a RAEM. Mesmo quando diz que há que esperar para decidir.
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VÍTOR MARREIROS
Acima de tudo, a liberdade
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ENTREVISTA
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EVENTOS
MOP$10
QUINTA-FEIRA 22 DE JUNHO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3838
2 ENTREVISTA
VÍTOR MARREIROS
“O Instituto Cultural não está mais bem entregue”
Já não é possível dissociar o cartaz oficial do 10 de Junho do nome Vítor Marreiros. Desde 1990 que o designer gráfico faz este projecto por gosto, e assume estar sempre a pensar em novas formas de retratar, por exemplo, Luís de Camões. Ao HM, Vítor Marreiros defende que Ung Vai Meng não foi o melhor presidente do Instituto Cultural, mas Leung Hio Ming também não é o nome ideal O seu nome está muito ligado aos cartazes oficiais do 10 de Junho. Como é que tudo começou? Faço os cartazes do 10 de Junho desde 1990. Fiz primeiro para o Governo de Macau, quando ainda estava no Instituto Cultural (IC), e depois para a comissão organizadora das comemorações do 10 de Junho. Depois, ao fim de uns anos, voltou para o IC e passou a ser feito pelo IPOR. Ao fim de um ano, pelo facto de o IPOR ter decidido fazer um concurso, em vez de me pedir cartazes, deixei de fazer. Mas ainda assim decidi fazer sem encomenda, em 2006, quando fiz um galo de Barcelos para oferecer à comunidade portuguesa. Estava habituado. A Casa de Portugal em Macau soube da história e decidiu apadrinhar o cartaz. Até hoje. Como funciona o processo criativo? Vou fazendo aos poucos ao longo do ano. Há uns cartazes que demoram mais, basta contar as cabeças das pessoas. Outros demoram menos tempo. Mas vou fazendo outros
trabalhos também. Estou reformado mas nunca deixei de trabalhar. É um hábito meu, quando tenho um trabalho vou pensando nele. A minha cabeça está sempre a trabalhar. Quando estou numa conversa que está aborrecida, por exemplo, vou desenhando e pensando. Foi um hábito que adquiri a partir dos 27 anos, porque antes não dormia. A minha vida é feita de datas. Adoro o meu trabalho e não é stressante trabalhar comigo, mas as datas [para as entregas] são stressantes. E às vezes uns clientes, que são de uma monotonia ou de uma inteligência... É a parte pior do design gráfico.
Não gosta que lhe imponham ideias. Não faço o meu trabalho para agradar. Há umas cotoveladas, uns maus momentos, mas nunca trabalhei para agradar ao cliente ou ao superior. Respeito o trabalho e depois as sugestões e objectivos. Ao longo da vida tenho tido bons e menos bons clientes, mas isso faz parte da profissão. Tantos anos a fazer este projecto dos cartazes, houve certamente uma evolução na forma de representar Portugal e os portugueses. Quando se trabalha o mesmo tema muitas vezes ganha-se facilidade, mas também se começam a secar as fontes. Para mim nunca foi um grande problema fazer o cartaz do 10 de Junho, já estou habituado a repetir os mesmos temas. Portugal tem uma história rica, uma nação colorida. Às vezes repito o Camões, tenho dez versões dele, ou 20 versões do mar. Tento sempre equilibrar o Camões, a comunidade e a história.Ao longo dos anos os cartazes foram mudando de estilo e é um amadurecimento como designer. Nunca fiz questão de manter o mesmo estilo. Gosta de variar e de evoluir. Posso saltar de estilo que as pessoas reconhecem sempre. Deve lá ter
alguma alma, algum esqueleto, pois reconhecem sempre. Com a idade tornei-me mais divertido e brincalhão, e atrevido também. Coloquei em alguns cartazes a frase “Este cartaz não passou pela comissão prévia de censura” e também tirei do Boletim Oficial a frase que diz que, em caso de conflito, prevalece a versão portuguesa de uma lei. São pequenas brincadeiras que não agridem ninguém.
Quer passar alguma mensagem ou fazer uma espécie de exercício de memória? São brincadeiras. Gosto de pensar que, quando estou a trabalhar brinco, e depois o trabalho ganha vida. Cada um que interprete. Tenho sempre duas interpretações: a minha e aquela que dou ao cliente. No 10 de Junho há cotoveladas no bom sentido. Fez uma exposição com trabalhos seus em 2014. Porquê tanto tempo sem expor? Não exponho o meu trabalho numa galeria, ele está à vista. Já esteve mais, mas está à vista. Não é por acaso que estamos aqui a tomar café. Estes trabalhos são meus [aponta para as obras expostas num restaurante no MGM, feitas em 2016]. Fala-se muito das indústrias criativas, dos artistas locais, mas fiz este projecto e não foi noticiado. Faço poucas exposições, nestes cerca de
“Não digo que o IC está mais bem entregue, e afirmo-o com as duas mãos abertas. Neste momento não está mais bem entregue, doe a quem doer.”
HOJE MACAU
DESIGNER GRÁFICO
30 anos devo ter feito umas quatro ou cinco, incluindo duas em parceria com o meu irmão [Carlos Marreiros] e com Ung Vai Meng, em Osaka. Não trabalho para fazer exposições. Falando destes trabalhos que vemos aqui, foi um convite do MGM. Tem ali a imagem da imperatriz chinesa Cixi. Sim. Foi um dos trabalhos que gostei muito de fazer, além de ser muito respeitado pelo cliente. Fiz os quadros e a parte gráfica. O único input que me deram foi que as obras seriam para os restaurantes norte e sul. Na zona sul coloquei o Mateus Ricci, por exemplo. Acha que o seu trabalho é reconhecido o suficiente em Macau? É uma pergunta perigosa. Penso que é reconhecido, não é mais por culpa minha. Muitas vezes nego entrevistas. Gosta de estar na sombra? Não gosto de estar na sombra, mas não preciso do estrelato. Estrelas é o que há mais, no mundo e em Macau. Apesar de ser designer gráfico não tento publicitar o meu trabalho, por opção ou falta de jeito, não sei. Fui condecorado pelo Governo português e pela RAEM. Sei que os meus amigos gostam, outros dão palmadinhas e outros têm inveja, mas isso faz parte da vida. Acho que é reconhecido, mas podia ser mais. Nunca quis ter a intervenção social e política que o seu irmão tem, por exemplo. Somos muito diferentes. O meu irmão gosta disso e tem a sua maneira de estar na vida e na cultura, faz muito bem e tem o seu valor. Eu gosto de estar mais no meu cantinho, sem ser escondido. A minha prioridade, acima de tudo, é a liberdade. Estar em muitas comissões ou associações para mim seria um sacrifício. Prefiro trabalhar como quero e andar onde quero.
Criou o Círculo dos Amigos da Cultura de Macau há muitos anos. Agrada-lhe a cultura que se faz em Macau nos dias de hoje? Fui sócio fundador, com Ung Vai Meng, o meu irmão e mais alguns artistas. Fizemos muito na altura, contribuímos muito para o panorama artístico de Macau. O Governo dá bastante apoio aos artistas, mas será da forma mais correcta? Acho que não. Mas há facilidades em fazer uma exposição, há subsídios. Poderia ser um apoio mais organizado e seleccionado. O que faz falta no Governo e na comunidade de Macau é o amor aos seus valores. E é isso que está a faltar. Também não podem ter muito orgulho se mais de metade da população
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ENTREVISTA
“Posso saltar de estilo que as pessoas reconhecem sempre. Deve lá ter alguma alma, algum esqueleto, pois reconhecem sempre. Com a idade tornei-me mais divertido e brincalhão, e atrevido também.” Já não estava lá [reformou-se em 2015]. Visto de fora, não sei se fiquei triste. Somos amigos de longa data. Posso dizer que é um apaixonado pelas coisas que faz. Não digo que o IC está mais bem entregue e afirmo-o com as duas mãos abertas. Neste momento não está mais bem entregue, doe a quem doer. Mas essas coisas acontecem, o vai e vem, as pessoas não podem estar sempre ligadas ao seu trabalho. Trabalhei para todos os presidentes do IC [dirigiu o departamento de design gráfico], e tinha sempre uma mala invisível, caso mudasse o presidente e quisessem mudar as chefias. Mas sempre fiquei lá. Se Ung Vai Meng fez tudo bem? Como ex-funcionário, como gráfico, posso dizer que não foi o melhor presidente. Houve melhores, o sector [do design gráfico] foi mais respeitado [com outros presidentes].
não sabe quem foi São Paulo [referindo-se às Ruínas de São Paulo].
caense está protegida? Há sempre lugar para mais.
Quanto à cultura macaense, tem-se feito o suficiente em prol da sua preservação? As coisas boas nunca são de mais. Poderíamos ter mais coisas. Tenho pena de termos perdido o hábito do carnaval no Teatro D. Pedro V, uma festa muito macaense. Isso desapareceu e ninguém reanimou. A Associação dos Macaenses está a fazer um bom trabalho com o patuá. É o destino das coisas. A comunidade está cada vez menor, mais diversificada. Definir um macaense... Pergunto sempre: definir à antiga, de acordo com a actualidade ou politicamente? Se a cultura ma-
Está descaracterizada? É o percurso normal das coisas. Um macaense nascido na Austrália é normal que fale mais inglês. E
“A minha prioridade, acima de tudo, é a liberdade. Estar em muitas comissões ou associações para mim seria um sacrifício.”
ainda se orgulha de ser macaense? Batemos palmas. Com o tempo o português vai diminuindo, o chinês vai aumentando e introduzem-se outros sangues. Não troco o meu passaporte português por nada e nasci aqui, mas os outros, que nasceram noutros lugares, também têm direito de dizer que são macaenses. Definir um macaense é difícil e a cultura, consoante as nuances, vai mudando. Espero que a alma se mantenha. Há projectos novos a nascer em Macau, há uma evolução rápida. A cultura local e o património podem ficar perdidos no meio desse desenvolvimento? Só depende da comunidade e do Governo. Gosto do antigo, sou
nostálgico, mas também gosto de coisas novas, desde que sejam bem feitas. Um design arrojado, atrevido, mas também gosto do mofo da madeira. Por isso é que há reuniões e conselhos, espero que todos se reúnam, trabalhem e tenham dois dedos de testa. Se Macau perder as suas características será abafada por Zhuhai. Mas para manter o tradicional não tem de se parar o moderno. Façam concursos internacionais, há dinheiro, tragam os melhores. As coisas não têm de ser sempre feitas por locais. Há pouco público, mas não temos de fazer coisas só para esse público. Ficou triste com a saída de Ung Vai Meng do IC?
É muito diferente do seu irmão, mas como funciona quando têm projectos em comum, como foi o caso de “A Peregrinação”? Trabalhar para e com o meu irmão não é difícil porque é um cliente conhecedor dos objectivos do trabalho que pede e respeitador do criativo. Torna-se mais difícil quando o trabalho é um catálogo para o artista Carlos Marreiros. Somos dois artistas apaixonados e exigentes, por vezes para defender as nossas ideias e sermos irmãos torna-se mais complicado. Mas há sempre um final feliz e estamos prontos para o próximo trabalho. “A Peregrinação” foi um dos trabalhos gráficos que mais me divertiu e a relação profissional com o meu irmão foi óptima. Gostava de fazer um projecto semelhante com outra obra da literatura portuguesa? Poderia ser “Os Lusíadas”, mas com menos piada. Fernão Mendes Pinto, se não fosse português, tinha 20 filmes, uma galeria e vários documentários sobre ele. Tem muita piada, tal como “A Peregrinação”. “Os Lusíadas” têm outra componente. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
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GONÇALO LOBO PINHEIRO
POLÍTICA
Lei de Terras CHUI SAI ON AINDA NÃO DECIDIU SE APROVA INICIATIVAS DA AL
Vou ali já venho O Chefe do Executivo está à espera do relatório da tutela da Administração e Justiça para decidir se viabiliza a iniciativa legislativa de Leonel Alves e Zheng Anting em relação à Lei de Terras. Mas não deixa pistas sobre se concorda ou não com a ideia
E
“
M termos de propostas [de deputados], há casos em que rejeitamos e outros em que aceitamos.” Foi com esta constatação lapalissiana que Chui Sai On respondeu ontem aos jornalistas quando questionado sobre o mais recente projecto de alteração à Lei de Terras. Este mês, Leonel Alves
e Zheng Anting entregaram ao Governo uma proposta que visa a obtenção de autorização de iniciativa legislativa. O processo está a ser avaliado.
De partida para Xangai (ver texto nestas páginas), o Chefe do Executivo explicou que o projecto dos dois deputados à Assembleia Legislativa está “a seguir os trâ-
“O último projecto foi entregue à secretaria da Administração e Justiça para ser analisado. É necessário fazer uma análise profunda.”
mites normais”, recordando que ao Governo já tinha chegado outra proposta sobre a Lei de Terras. “O último projecto foi entregue à secretaria da Administração e Justiça para ser analisado. É necessário fazer uma análise profunda e a secretaria irá entregar um relatório. Vamos seguir esses trâmites”, vincou. O líder do Governo não deu, no entanto, qualquer sinal sobre uma eventual abertura à
iniciativa dos deputados. “Em relação à lei laboral, o Governo vai fazer uma revisão, pelo que rejeitou”, recordou. Mas também há propostas que são acolhidas, ressalvou. Chui Sai On tem de tomar uma decisão sobre dois projectos que, embora digam respeito à Lei de Terras, são substancialmente diferentes em termos de conteúdos e objectivos. Leonel Alves e Zheng Anting apresentaram uma proposta de revisão pontual de alguns artigos. Os deputados pretendem alterar as normas referentes à caducidade de algumas concessões de terrenos sem que tenha havido responsabilidade do concessionário e às habitações em Coloane, cujos moradores não têm títulos de propriedade e onde vigoram ainda os chamados papéis de seda. Em Abril, ao Chefe do Executivo tinha chegado outro projecto, assinado por 19 deputados – incluindo Zheng Anting –, de teor diferente. Ontem, Chui Sai On também não se pronunciou sobre a viabilidade deste pedido de autorização para legislar. Isabel Castro
isabelcorreiadecastro@gmail.com
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POLÍTICA
O que ele disse...
MAIS COM XANGAI
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acau pretende reforçar a cooperação bilateral com Xangai. A intenção foi manifestada ontem por Chui Sai On à partida para a capital económica da China. “É um município importante em termos de desenvolvimento, é um centro em várias áreas, nomeadamente nas finanças, transportes e turismo”, realçou o Chefe do Executivo, que pretende uma intensificação da cooperação “em termos de cultura, medicina e formação de funcionários públicos”. A viagem do líder do Governo tem como objectivo principal fazer o balanço dos trabalhos efectuados ao abrigo do actual mecanismo de cooperação bilateral, sendo que da agenda faz parte um encontro com os responsáveis pelo município, para uma análise “às infra-estruturas”. Chui Sai On testemunha ainda a inauguração da sucursal do Banco Tai Fung na metrópole chinesa.
METRO LIGEIRO
ão há falhas no calendário no que diz respeito ao local que vai receber a ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai. “Em relação à zona A, já recuperamos o abastecimento de areia por parte de Guangdong. É um passo muito importante”, vincou Chui Sai On. “Quanto à segurança, em termos de infra-estruturas, as autoridades já disseram que os trabalhos estão a ser feitos de forma atempada”, prosseguiu. Com as obras feitas por Macau “não há qualquer problema em termos de qualidade e de segurança”.
endo sido esta semana anunciada a abertura de um novo concurso para habitação social até ao final do ano, o Chefe do Executivo não quis comprometer-se com uma data para uma iniciativa semelhante em relação à habitação económica. “Basta uma promessa que eu faça para que os meus colegas tenham imenso trabalho. Vamos passo a passo. Primeiro temos de recuperar o trabalho em termos de areia para a construção dos aterros”, afirmou. “Temos muitos trabalhos que estão a ser seguidos. Não posso fazer muitas promessas.”
principal responsável político do território afastou ainda a ideia de que possa haver um novo atraso na construção do sistema de metro ligeiro. “Estou convicto de que em 2019 irá entrar em funcionamento na Taipa. Não ouvi falar sobre qualquer adiamento de três anos, o ponto de situação está conforme o plano”, disse.
quadrar. “Após uma série de trâmites administrativos e legislativos, estamos determinados [na construção], porque é uma área muito grande para construir habitação pública. O secretário Raimundo do Rosário já disse que vai ser feitas uma avaliação ao nível ambiental”, declarou Chui Sai On. O líder do Governo fez questão, porém, de deixar claro que “a avaliação ambiental não se resume a uma resposta afirmativa ou negativa”. Ou seja, não é o resultado deste estudo que vai ditar o futuro dos terrenos na Avenida Wai Long. O mais importante, destacou, “é criar condições para que a saúde da população não seja afectada”. Chui Sai On acrescentou que “não existe uma divergência entre o Governo e a população”, sublinhando que, “com uma avaliação técnica, o planeamento desta área terá sempre em conta as condições de saúde a longo prazo”. Em suma, “estejam descansados”.
T
O
TIAGO ALCÂNTARA
“Estejam descansados”, assegurou o Chefe
O mais importante “é criar condições para que a saúde da população não seja afectada”
população de Macau também não tem de estar preocupada com o património e a sua classificação, afiançou o Chefe do Executivo. “Temos feito muitos trabalhos com a UNESCO e temos um contacto muito estreito, os especialistas são convidados a virem fazer avaliações para verem o desenvolvimento. Fizemos as três legislações nessa área para satisfazermos as exigências da UNESCO”, salientou. “Não vamos fazer nada que ponha em risco o património mundial”, prometeu. “Não precisam de ficar preocupados.”
HABITAÇÃO SOCIAL
Wai Long vai em frente
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PONTE HONG KONG-MACAU-ZHUHAI
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HUI Sai On falava aos jornalistas no Aeroporto Internacional de Macau e à baila vieram as intenções de construção de habitação pública nos terrenos do outro lado da rua, que estavam destinados ao projecto La Scala. A ideia tem sido bastante contestada por alguns sectores que temem consequências para a saúde dos futuros moradores, dada a proximidade com a central de incineração e o depósito de combustíveis. O Chefe do Executivo garante que não há motivo para receios. “Ao longo dos anos, temos tentado resolver as questões da habitação, tanto no mercado privado, como no mercado público”, começou por en-
PATRIMÓNIO
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Leonel Alves dedicou mais de metade da vida às funções parlamentares. Trinta e três anos depois decidiu não se recandidatar ao hemiciclo. O HM ouviu algumas figuras de relevo da sociedade de Macau quanto a esta despedida
SOFIA MARGARIDA MOTA
POLÍTICA
É
uma figura incontornável da história recente do território, tendo testemunhado alguns dos episódios mais marcantes de Macau. “Leonel Alves aparece na Assembleia Legislativa (AL) praticamente em cima da assinatura da declaração conjunta e faz o trajecto do ciclo de transição até à transferência”, contextualiza Miguel de Senna Fernandes. O histórico deputado foi membro da Comissão Preparatória da RAEM e um dos rostos da produção legislativa, ajudando a construir o ordenamento jurídico do território. Além de ter sido vice-presidente do Conselho Consultivo da Lei Básica, foi um dos seus redactores. Em termos parlamentares, Leonel Alves foi o 1.º secretário da AL nas primeiras três legislaturas da RAEM. Miguel de Senna Fernandes considera o macaense como “provavelmente um dos mais brilhantes deputados que passou pela AL”. Jorge Fão, antigo tribuno e, hoje em dia, dirigente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), partilhou o hemiciclo com Leonel Alves nas primeiras legislaturas da RAEM e destaca o papel que tem desempenhado na “feitura da legislação que é ali produzida”. Outro dos aspectos relevantes é a personalidade de Leonel Alves, catalisadora de concórdia entre as várias forças no parlamento. Também nesse sentido Jorge Fão considera que a casa perde um grande elemento. Carlos Marreiros é da mesma opinião, realça a “capacidade técnica e de criar consenso por ser uma pessoa com vontade de resolver as coisas com bom senso”. Jorge Fão pondera se Leonel Alves, por já ter exercido o cargo mais de 30 anos, não estará cansado das lides parlamentares. “Não fiquei surpreendido, acho que não
REACÇÕES À SAÍDA DE LEONEL ALVES DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
Depois do adeus nos podemos eternizar nos cargos”, comenta o dirigente da APOMAC.
MENOS PORTUGUÊS
Carlos Marreiros confessa que não tem falado nos últimos tempos com o deputado em fim de funções, mas que “sabia que ele tinha já essa ideia, de há algum tempo para cá, devido aos muitos anos de trabalho e cansaço acumulado”. As características pessoais de Leonel Alves têm sido essenciais
“Provavelmente um dos mais brilhantes deputados que passou pela AL” MIGUEL DE SENNA FERNANDES
ao desempenho dos trabalhos legislativos. “Conheço-o muito bem, sou seu amigo e nunca o vi verdadeiramente zangado, ou irado”, conta o arquitecto, que salienta ainda o “bom feitio e paciência” que o deputado aplica nas questões que tem para resolver. O hemiciclo fica também desfalcado noutro aspecto: a língua portuguesa. Além de Leonel Alves, apenas Pereira Coutinho fala português. Nesse aspecto, Jorge Fão não tem dúvidas de que “a língua portuguesa fica diminuída na AL”. O dirigente da APOMAC vê a língua de Camões a desaparecer do panorama de Macau, principalmente se não houver quem a fale nas esferas de poder. Carlos Marreiros destaca igualmente o papel de Leonel Alves na defesa do português em diversas iniciativas legislativas.
Também a comunidade macaense perde um importante elemento no poder local. LeonelAlves foi uma das figuras que “antes da transferência de soberania lutou para que os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos de Macau fossem assegurados”, recorda Carlos Marreiros. O arquitecto salienta a luta pela nacionalidade portuguesa e a permanência em Macau da Santa Casa da Misericórdia. Neste capítulo, Miguel de Senna Fernandes considera que o
“A língua portuguesa fica diminuída na Assembleia Legislativa” JORGE FÃO
esvaziamento de macaenses dos lugares de poder não é novidade. Porém, adianta que “a comunidade macaense nunca precisou da AL para se mover politicamente”. Além disso, o responsável pelos Dóci Papiaçám acrescenta que tanto “Leonel Alves, como Pereira Coutinho, estão lá para representar a inteira população de Macau”, não uma comunidade específica. De resto, Carlos Marreiros destaca o deputado como “um bom macaense, alguém que ama a terra”. A partir de meados de Agosto, com menos um cargo político, Leonel Alves poderá dedicar-se a outras lides. Nesse sentido, Miguel de Senna Fernandes realça que a sociedade civil precisa de uma figura como Leonel Alves, que “muitas vezes no papel de deputado não podia tomar determinadas posições de forma a garantir os equilíbrios políticos”. Miguel de Senna Fernandes adianta que agora que o macaense “está desprendido das amarras da AL” poderá desempenhar um papel importante na sociedade civil de Macau. João Luz
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GCS
Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) anunciou ontem ter validado 27 de 31 pedidos de reconhecimento de comissões de candidatura, cujo prazo de entrega terminou terça-feira, aguardando que as restantes quatro supram insuficiências. Dos 31 pedidos de reconhecimento de comissões de candidatura, 25 dizem respeito ao sufrágio directo, das quais 21 foram validadas e quatro apresentam “insuficiências” que têm de ser supridas no prazo legal de cinco dias, explicou o presidente da CAEAL, o juiz Tong Hio Fong, em conferência de imprensa. As eleições para a Assembleia Legislativa – que é composta por 33 deputados, dos quais 14 eleitos por sufrágio universal e 12 por sufrágio indirecto (através de associações), além de sete posteriormente nomeados pelo chefe do Executivo – vão ter lugar em 17 de Setembro. Dos quatro pedidos com insuficiências, três dizem respeito a comissões de candidatura que não cumpriram o requisito de reunir um mínimo de 300 assinaturas, tendo sido sinalizados outros problemas que têm que ver nomeadamente com os símbolos. Caso as situações sejam regularizadas no tempo previsto por lei essas comissões de candidatura ainda podem ser qualificadas. A CAEAL vai então decidir, até dia 29, sobre a certificação ou recusa de certificação da exis-
tência legal dessas comissões de candidatura e notificar o respectivo mandatário, o mais tardar, no dia imediato ao da decisão. Já no caso do sufrágio indirecto a CAEAL validou todos os seis pedidos de reconhecimento de comissões de candidatura, incluindo dois submetidos pelo setor profissional. Ao abrigo da lei, os 12 deputados do sufrágio indirecto são eleitos em representação de cinco colégios eleitorais (quatro pelos sectores industrial, comercial e financeiro, dois pelo do trabalho, três pelo profissional, um pelos serviços sociais e educacional e dois pelos sectores cultural e desportivo). O presidente da CAEAL actualizou ainda de 92 para 103 o número de eleitores que subscreveram, em simultâneo, mais do que uma comissão de candidatura, o que viola a lei. O procedimento a adoptar relativamente à subscrição múltipla tem sido o de contactar os eleitores, no sentido de apurar as circunstâncias e a intenção com que o fizeram, após a descoberta dos primeiros casos ter exposto diferenças entre a versão chinesa e a portuguesa (as duas línguas oficiais) num artigo da lei eleitoral, que só pode ser resolvido depois do escrutínio. Tong Hio Fong indicou ainda que, de acordo com o Comissariado Contra a Corrupção, subiu de 16 para 20 o número de infracções ou irregularidades reportadas.
A
votação na especialidade do regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio pode acontecer em Julho. A ideia foi deixada ontem pelo presidente da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), Chan Chak Mo. “Depois desta reunião, a próxima etapa é a melhoria na redacção do documento para uma versão mais actualizada para que possa, em meados do próximo mês, ir a votação na AL”, disse o presidente da comissão. Esteve ainda na mesa daquela que pode ter sido a última reunião de análise do projecto de lei a discussão dos aspectos ligados à afixação de tabuletas e reclamos nas áreas do rés-do-chão dos edifícios. Os proprietários de fracções autónomas não vão precisar de comunicar as intervenções que tenham que ver com a afixação destes materiais à assembleia-geral de condomínio. A sugestão veio do Executivo. Para o Governo esta seria uma medida que colocaria em causa “a liberdade dos lojistas para afixarem mais reclamos nas fachadas”, esclareceu o presidente da comissão. Foram seis os votos contra a regra que ditava a obrigatoriedade da comunicação de obras. O objectivo da comissão, indicou Chan Chak Mo, é a “melhoria do ambiente de negócio”, até porque “há entidades oficiais que já têm a seu cargo a emissão deste tipo de autorizações”. Houve três membros da comissão que se mostraram a favor da manutenção da regra prevista no documento aprovado na generalidade. De acordo com a proposta inicial, só quando as tabu-
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Condomínios REGIME PODERÁ SER VOTADO EM JULHO
Tabuletas livres
O regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio pode ir ao hemiciclo, para votação na especialidade, já no próximo mês. A afixação de tabuletas e reclamos no rés-do-chão não vai ser sujeita a comunicação prévia à assembleia-geral de condomínio letas e os reclamos fossem colocados directamente na fachada da fracção autónoma no rés-do-chão é que os proprietários das lojas estariam dispensados de obter aprovação da assembleia-geral de condóminos. No entanto, a comunicação de obras para a afixação destes materiais
teria sempre um carácter obrigatório.
PEQUENOS DETALHES
Sem mais alterações de fundo, a última recomendação deixada da reunião de ontem teve que ver com uma substituição de vocabulário no que respeita aos destinatários das contratações
para prestação de serviços. Neste sentido, o artigo em causa deixa de prever que a assembleia-geral contrate “terceiros”. O termo será substituído por “empresas”, terminologia que “inclui pessoas singulares e colectivas”, afirmou Chan Chak Mo. Sofia Margarida Mota
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TIAGO ALCÂNTARA
CANDIDATURAS CAEL VALIDA 27 DE 31
POLÍTICA
deputado Cheang Chi Keong está de saída da Assembleia Legislativa (AL), tendo decidido aposentar-se, avançou ontem o jornal Ou Mun. De acordo com o diário de língua chinesa, o deputado, eleito pela via indirecta, não fez parte das duas comissões de candidatura pelo sector profissional que foram entregues junto da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa. Ip Sio Kai, ligado ao Banco da China e presidente da Associação dos Bancos de Macau, é o nome apontado para a sua substituição. Um dos pedidos é liderado pelo deputado Chui Sai Cheong, tendo o outro pedido sido apresentado por Chan Iek Lap. Segundo o jornal Ou Mun, dos 55 grupos do sector profissional com direito à votação, 17 são do sector da saúde, pelo que não será difícil a Chan Iek Lap obter um assento no hemiciclo.
Trocas e baldrocas
Cheang Chi Keong está de saída da Assembleia Legislativa
“Mesmo que haja uma divisão, com duas equipas a candidatarem-se à AL, acredita-se que o resultado não vai ser diferente do que foi obtido nas últimas eleições”, lê-se no jornal. O diário escreve ainda que os quatro assentos pelo sufrágio indirecto, destinado aos sectores financeiro, comercial e industrial, não vão sofrer grandes alterações.
VICE-PRESIDENTE DE SAÍDA
Quem também está de saída da AL é o actual vice-presidente e deputado ligado à Federação das Associações dos Ope-
rários de Macau (FAOM), Lam Heong Sang. Ella Lei, também ligada à FAOM e deputada eleita pelo sufrágio indirecto, concorre este ano pela via directa. Hoje, a FAOM realiza eleições internas para a escolha dos seus dirigentes, havendo quatro candidatos. São eles Lam Lon Wai, Leong Pou U, Lei Chan U e Choi Kam Fu. Dois deles serão candidatos a um lugar no hemiciclo pela via do sufrágio indirecto. Quanto aos sectores social, educacional, cultural e desportivo, não deverão sofrer alterações. HM
8 SOCIEDADE
hoje macau quinta-feira 22.6.2017
Alon esqueceu-se que tipo de droga era, mas lembra-se bem do dia: foi detido há dois anos por tráfico, um crime que motiva um quarto das entradas de jovens no Instituto de Menores de Macau
A
L O N , como quer ser identificado, é um jovem de 17 anos que – como tantos outros da sua idade – gosta de futebol, em particular do clube espanhol Real Madrid e do craque português Cristiano Ronaldo, mas também de desenhar. Foi parar ao Instituto de Menores (IM) por causa de “um acto estúpido”, de que diz estar “arrependido”, que foi aceitar transportar droga de Hong Kong para Macau, “por causa de dinheiro”, depois de “influenciado por amigos”. Alon afirma já não recordar que tipo de droga era, mas lembra-se bem que foi em 10 de Junho de 2015 que foi detido, com um amigo, no terminal marítimo. O tráfico de estupefacientes representa o principal motivo de entrada no IM, com quatro de 16 jovens internados, seguido da criminalidade organizada (com dois), numa lista que se completa com outros delitos, como ofensa grave à integridade física, fogo posto ou furto – todos com um caso -, segundo dados oficiais facultados à agência Lusa.
RAPAZES A MAIS
Os 16 jovens internados no IM até 31 de Março eram na esmagadora maioria do sexo masculino (15 rapazes e uma rapariga) e tinham entre 15 e 20 anos. Mais de dois terços eram naturais de Macau (11 jovens), com os restantes provenientes de Hong Kong (25% ou quatro) e um da China. Natural de Hong Kong, Alon recebe a visita dos familiares apenas “uma vez por mês”, falando com mais frequência ao telefone com os pais, separados, e com o irmão mais novo, aos quais também escreve cartas. Também troca correspondência com uma amiga, descrevendo-lhe “a vida diária”
Instituto de Menores TRÁFICO DE DROGA MOTIVA UM QUARTO DAS ENTRADAS
A vida não são dois dias e “as coisas que gostava de fazer e os sítios onde deseja ir com ela quando sair”. O jovem deve deixar o Instituto de Menores no último trimestre do próximo ano, “se tudo correr bem”, isto é, se “continuar a manter o bom comportamento”, “caso contrário, a sua saída pode ser adiada”, podendo o tempo de permanência ir até cinco anos, segundo a lei, explica a directora do Instituto de Menores, Ada Yu Pui Lam, ressalvando, porém, que tal “raramente” acontece. Ao abrigo da lei, o internamento tem a duração mínima de um ano e a máxima de três anos, mas há excepções, dependentes de diferentes factores, como a pena correspondente ao crime, mas também “o comportamento e as infracções disciplinares do jovem durante o internamento”. Foi, aliás, o que sucedeu com Alon, que pouco depois entrar no IM cometeu a “infracção” de se envolver num “conflito com outros colegas” e de “fazer desenhos na parede”, mas que mudou a sua forma de estar e tem tido “boas notas” na avaliação. Cada jovem tem uma classificação e uma boa nota significa acesso a certas actividades, como ver televisão, ouvir rádio ou jogar xadrez, no âmbito de uma política pensada para incentivar o bom comportamento, que inclui um plano que premeia os melhores, ao abrigo do qual os jovens podem pedir determinado tipo de comida e objectos como cadernos, canetas ou toalhas.
DISCIPLINA E INCENTIVOS
A directora confirma que funcionam muito à base de incentivos, embora destaque também a “vida disciplinada” no IM, com horas para levantar e deitar e para comer. Mesmo as actividades do fim de semana, como as desportivas, têm horas fixas, explica. As aulas começam pelas 09:10 e terminam às 17:35, sendo as disciplinas de educação física e artes visuais as preferidas de Alon que, em contrapartida, não gosta de matemática. Depois de ter reprovado duas vezes, diz sentir-se agora “mais bem acompanhado”:
O internamento tem a duração mínima de um ano e a máxima de três anos, mas há excepções, dependentes de diferentes factores, como a pena correspondente ao crime
“Lá fora divertia-me muito e cá dentro estou mais concentrado”. Quando sair, provavelmente não irá frequentar a mesma escola devido à idade. “Talvez vá para uma escola nocturna ou procurar emprego”, diz Alon, que quer ir para a universidade para um dia poder vir a ser professor primário. A formação e reintegração dos jovens na sociedade figuram como as principais preocupações do IM, porque, como recorda a directora, quando entram no estabelecimento são-lhes colocados “muitos rótulos”.
O IM conta com um psicólogo, quatro assistentes sociais e 35 monitores. Tem ainda um professor, sendo os restantes docentes destacados pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude. O Instituto de Menores tem capacidade para acolher 95 jovens. No entanto, pelo menos nos últimos cinco anos, o número de internados nunca superou a barreira dos 20, segundo os dados do IM, que funciona actualmente sob alçada da Direcção dos Serviços Correccionais. Diana do Mar (Agência LUSA)
9 hoje macau quinta-feira 22.6.2017
EUA MACAU CELEBRA 241 ANOS DE INDEPENDÊNCIA
O Clube Militar de Macau acolhe antecipadamente as comemorações do próximo aniversário da Declaração da Independência dos Estados Unidos da América. A data que assinala, este ano, o 241º aniversário daquele país, é celebrada no território na próxima sexta-feira e consta de uma recepção com a presença do cônsul-geral de Hong Kong e Macau, Kurt W. Tong, e da Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan.
CRIME DETIDOS TRÊS SUSPEITOS DE ASSALTO
Um homem e duas mulheres do Continente foram detidos por alegadamente terem assaltado um homem no Cotai. A vítima, natural da China Continental, era conhecida por se deslocar ao território e fazer negócio com o câmbio de moedas. Neste sentido, terá recebido um telefonema de uma mulher que pedia a troca de 1,4 milhões de yuan por 1,5 milhões de dólares de Hong Kong. Na entrega do valor, a vítima foi atacada com gás pimenta e foi-lhe retirado o dinheiro, descreve o canal chinês da Rádio Macau. A Polícia Judiciária (PJ) acredita que a liderar o assalto está a suspeita, de 29 anos, que poderá também estar envolvida num caso idêntico ocorrido no passado mês de Abril. Além dos três suspeitos detidos pelas autoridades, a PJ está ainda no encalço de mais dois homens.
PORTUGAL CCP ENVIA CONDOLÊNCIAS ÀS VÍTIMAS DE INCÊNDIO
O Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) enviou um pedido de condolências aos familiares das vítimas do incêndio ocorrido em Pedrógão Grande, Portugal, que fez mais de seis dezenas de mortos e de uma centena de feridos. As cartas foram enviadas ao Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, ao presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, ao primeiroministro, António Costa, à ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, e a Jorge Gomes, secretário de Estado da mesma tutela. Na carta, os membros do CCP, José Pereira Coutinho, Rita Santos, Armando de Jesus, Gilberto Camacho e Lídia Lourenço, “expressam a solidariedade a todas as pessoas afectadas por esta catástrofe”. É também feito um apelo para que “estas tragédias não voltem a acontecer”.
ECONOMIA TAXA DE INFLAÇÃO A SUBIR
A
taxa de inflação em Macau fixou-se em 1,37 por cento nos 12 meses terminados em Maio em relação aos 12 meses imediatamente anteriores, indicam dados oficiais ontem divulgados. De acordo com os Serviços de Estatística e Censos (DSEC), o Índice de Preços no Consumidor (IPC) aumentou sobretudo por causa dos aumentos nas secções de bebidas alcoólicas
e tabaco (+9,99 por cento), da educação (+7,75 por cento) e dos transportes (+6,12 por cento). Só em Maio, o IPC geral médio registou um aumento 0,95 por cento em termos anuais homólogos, devido principalmente ao aumento dos preços das refeições adquiridas fora de casa e das consultas externas, bem como das propinas escolares, segundo a DSEC.
Em relação a Abril, o IPC geral, que permite conhecer a influência da variação de preços na generalidade das famílias de Macau, cresceu 0,28 por cento. Em 2016, a taxa de inflação de Macau foi de 2,37 por cento, a mais baixa desde 2009, ano em que se fixou em 1,17 por cento. Segundo as projecções do Fundo Monetário Internacional, a taxa de inflação de Macau deve fixar-se em dois por cento este ano, em 2,2 por cento no próximo e em três por cento em 2022.
MAIORIA CONCORDA COM CENTRO DE SERVIÇOS NA TAIPA
Burocracia à mão
Um inquérito levado a cabo pela Associação Choi In Tong Sam revela que mais de 80 por cento dos inquiridos concorda com a construção de um centro de serviços da RAEM na Taipa. Poupava-se o tempo de ir à Areia Preta
U
M inquérito levado a cabo pela Associação Choi In Tong Sam revela que mais de 80 por cento dos inquiridos concorda com a construção de um centro de serviços da RAEM na Taipa. Poupava-se o tempo de ir à Areia Preta Ir da Taipa à Areia Preta para tratar de burocracias em serviços públicos pode representar uma grande perda de tempo na deslocação. Tal faz com que muitos desejem a construção de um centro de serviços da RAEM na Taipa, à semelhança do que já existe na península. Um inquérito realizado pela Associação Choi In Tong Sam mostra que 86,7 por cento das pessoas entrevistadas concordam com a construção de um novo complexo de serviços públicos, num universo de 1168 pessoas. Só 0,9 por cento se mostram contra o projecto. De acordo com as estatísticas apresentadas ontem pela associação, metade das pessoas que optaram pelo automóvel ou pelo autocarro para se dirigirem à Areia Preta demorou quase uma hora a chegar ao destino. Um total de 129 entrevistados, apenas 11 por cento, disse que demorou mais do que uma hora a chegar ao centro de serviços da RAEM na Areia Preta, enquanto 38 por cento demoraram entre dez a 30 minutos.
SOCIEDADE
CIÊNCIA SIMPÓSIO DE CIÊNCIAS MÉDICAS NA UNIVERSIDADE DE MACAU
A quarta edição do Simpósio de Ciências Biomédicas de Macau continua hoje na Universidade de Macau. O evento, organizado pela Faculdade de Ciências da Saúde, começou ontem focando os últimos desenvolvimento na área do cancro. O simpósio conta com quase 300 especialistas de todo o mundo nas mais recentes tecnologias e investigação do sector. Os temas discutidos variaram entre o diagnóstico e uso de medicação, imunologia, terapia, estudo do microambiente de tumores e metáteses, e as novas tecnologias no campo biomédico. Hoje o simpósio incide sobre medicina de precisão e a criação de tumores, assim como o uso de antibióticos no combate ao desenvolvimento das células cancerígenas. O primeiro Simpósio de Ciências Biomédicas de Macau ocorreu em 2014, com o intuito de promover a inovação das ciências biomédicas e fomentar a comunicação na comunidade científica.
TERMINAL MARÍTIMO DETIDOS SUSPEITOS DE FURTO A associação referiu que só a Direcção dos Serviços de Correios e Telecomunicações (DSCT), o Corpo de Polícia de Segurança Pública (PSP) e o Instituto de Habitação (IH) dispõem de postos na Taipa e em Coloane. Mas, segundo o inquérito, os serviços mais procurados pelos residentes são os da Direcção dos Serviços de Identificação (DSI), do Fundo de Segurança Social (FSS) e da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), que actualmente não disponibilizam postos nas ilhas. Devido às necessidades apontadas no inquérito, os representantes da associação esperam que o Governo crie um centro de serviços da RAEM na Taipa.
DA LONGEVIDADE
O inquérito realizado pela associação foi feito em colaboração com a Federação das
Associações dos Operários de Macau e alguns membros do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas, tendo sido recolhidas 1346 respostas válidas. A Associação Cho In Tong Sam recorda que, em 2009, foi criado o primeiro centro de serviços da RAEM na zona da Areia Preta, que integrou cerca de 200 serviços públicos num só edifício. Na visão dos representantes da associação, o acesso dos cidadãos aos serviços públicos tornou-se mais facilitado, o que obteve a apreciação de muitas pessoas. Contudo, para quem vive nas ilhas o processo é mais complicado, uma vez que há poucos serviços públicos disponíveis nas ilhas, onde residem 130 mil pessoas, segundo dados estatísticos referentes ao ano passado. Vítor Ng (com A.S.S.) info@hojemacau.com.mo
As autoridades levaram para a esquadra dois homens suspeitos de se dedicarem ao furto de passageiros do Terminal Marítimo do Porto Exterior. A Polícia Judiciária (PJ) deteve os dois alegados ladrões, oriundos do Interior da China, no momento em que entravam em Macau pela fronteira das Portas do Cerco. Segundo informações veiculadas pelo canal chinês da Rádio Macau, os dois homens entraram no radar da PJ depois de furtarem uma mulher oriunda de Hong Kong ao lado das paragens dos shuttle buses junto ao terminal. Esse crime terá rendido à dupla 40 mil dólares de Hong Kong e foi gravado pelo sistema de videovigilância. A PJ acredita que o grupo operava no terminal desde Março e usava o dinheiro dos crimes para apostar nos casinos.
10 EVENTOS
ROGÉRIO PUGA
“Enid Blyton é uma pioneira” ACADÉMICO E INVESTIGADOR
Escreveu livros que marcaram a infância de várias gerações. Enid Blyton, que deu vida a “Os Cinco” e “Os Sete”, nasceu há 120 anos. Em Portugal, a Universidade Nova e a Biblioteca Nacional assinalam a data, com um conjunto de palestras e uma mostra bibliográfica. Rogério Puga explica por que vale a pena ler e estudar a obra da escritora inglesa “A obra de Blyton está obviamente marcada pela época em que foi produzida, entre as duas guerras mundiais.”
O que tem de especial o universo literário de Enid Blyton? As obras de Blyton dirigem-se a um público infanto-juvenil de forma (então) original, e o imaginário das aventuras das suas personagens é caracterizado pelo suspense, pelo ultrapassar de obstáculo e pela reposição da ordem final, numa paisagem marcadamente inglesa, enriquecida por referências culturais, tendo sido adaptado para a televisão várias vezes, nomeadamente através da série que eu segui em criança, “The Famous Five”, produzida em 1978 e 1979. A sua obra foi criticada como simplista, xenófoba e elitista, estando obviamente marcada pela época em que foi produzida. No entanto, as aventuras das suas famosas personagens influenciaram e acompanharam muitos de nós, leitores. É sabido que a literatura infantil é produzida, comercializada e lida por adultos, como estratégia de socialização, colocando-se, portanto, a questão da ideologia veiculada por esses mesmos universos literários, e a obra de Blyton não é excepção.
Entre os leitores de Macau, é conhecido sobretudo pelos estudos que faz acerca da história do território. Sendo certo que as mulheres – e as mulheres que escrevem – estão muito presentes no seu percurso, como é que surge o interesse por Enid Blyton? A escrita feminina interessa-me como objecto de estudo académico, nomeadamente a de língua inglesa. Enid
Blyton, que terá redigido mais de 600 obras, começou a publicar poemas em 1917 e diversos livros na década de 20 do século passado, tornando-se uma das autoras que mais vende, mais de 600 milhões de cópias de livros. O meu interesse surgiu primeiro enquanto leitor adolescente e agora como fã académico (o chamado aca-fan). O imaginário e
as referências culturais que apre(e)ndi com a obra de Blyton permanecem como memórias individuais partilhadas com as personagens das aventuras de “Os Cinco” e de “Os Sete”. Recentemente descobri, inclusive, que a famosa personagem Noddy foi também criada por Blyton, o que eu desconhecia. O interesse surge, então, da leitura e da investigação.
Enid Blyton causou muita polémica, também pela quantidade absurda de livros que escreveu, a um ritmo que levou a que se achasse que não seria a autora de todas as obras. Por outro lado, também pelos conteúdos considerados xenófobos e elitistas. São críticas que faziam sentido? A sua obra foi criticada, a partir dos anos 60 do século passado, como simplista, racista, xenófoba e elitista sobretudo no que diz respeito à caracterização de personagens e de atitudes estereotipadas em termos de etnia, género e de nacionalidade. A obra de Blyton está obviamente marcada pela época em que foi produzida, entre as duas guerras mundiais, e ecoa alguns dos ‘tiques’ negativos da classe média britânica desse período. Essa crítica literária
é também fruto das novidades na academia e da (nova) forma de questionar a literatura, quer para adultos, quer para crianças. Uma crítica literária mais socialmente consciente e interventiva. No entanto, as aventuras das suas famosas personagens influenciaram e acompanharam muitos de
11 EVENTOS
hoje macau quinta-feira 22.6.2017
“Cada vez mais autores conhecidos e lidos por adultos são convidados a escrever para um público mais jovem.” adaptação desses livros em formato de série ou filme também ajuda a vender livros. Blyton é, deveras, uma pioneira no que diz respeito à literatura infanto-juvenil.
nós, leitores. É sabido que a literatura infantil é produzida, comercializada, adquirida e lida em primeiro lugar por adultos (antes que seja lida à criança), como estratégia de socialização, colocando-se, portanto, a questão da ideologia veiculada por esses mesmos universos literários,
e a obra de Blyton não é excepção. Essas críticas levaram a que algumas das suas obras fossem “actualizadas” e adaptadas, nomeadamente “The Faraway Tree”, em que, em edições mais recentes, desaparecesse o castigo físico de crianças. Em 2010 a editora Hodder adaptou os textos de
“Os Cinco” para modernizar termos como “school tunic” (“uniform”), ou “mother and father” (“mum and dad”), projecto que foi abandonado em 2016, por não ter tido o êxito desejado. As várias personagens que criou e os livros que escre-
veu tiveram imenso sucesso, e é algo que perdura. Como se explica este fenómeno? A receita mágica do enredo baseado na descoberta, no suspense, nas aventuras picarescas tão desejadas por adolescentes, na relação do ser humano com a natureza, e numa visão moral(izada) do universo. A
A literatura infanto-juvenil foi, durante muitos anos, considerada uma arte menor, apesar de haver grandes autores que também escreveram para leitores mais jovens. Ainda é assim? Já não, felizmente. Basta recordar o recente fenómeno literário e cultural de Harry Potter. É talvez das áreas do mercado livreiro que mais lucro gera, movimentando milhões. O diálogo entre o texto e a ilustração de qualidade enriquece o livro-objecto que agrada a graúdos e a miúdos simultaneamente, e permite um momento único de partilha entre pais/avós e filhos. Determinados livros e personagens tornam-se parte daquilo a que poderíamos chamar o nosso ADN cultural, da nossa memoria familiar e pessoal, como acontece com “Os Cinco” de Blyton. O livro infantil é divertimento, mas sobretudo é visto por quem o oferece e lê como uma ferramenta didáctica que também estimula a criatividade. E cada vez mais autores conhecidos e lidos por adultos são convidados a escrever para um público mais jovem, de José Saramago, que publicou “A Maior Flor do Mundo” e o “Conto da Ilha Desconhecida”, entre outras obras para crianças, ou António Lobo Antunes, que publicou “A História do Hidroavião”, de temática pós-colonial, e logo complexa, que exige um leitor curioso, ou interessado, crítico e interventivo. A literatura infantil começou também a abordar temas que eram tabu na educação das crianças, como a morte ou a perda de entes queridos, os direitos humanos, os refugiados, a exclusão social, a sexualidade e o género.
FUNDAÇÃO RUI CUNHA CONCERTO DE GALA NO ANIVERSÁRIO
O
quinto aniversário da Fundação Rui Cunha, que tem sido assinalado com diversas actividades, é comemorado no próximo domingo com um concerto de gala no Teatro D. Pedro V. Para a noite de música clássica foi convidada a pianista de Macau Poon Kiu Tung, que estará acompanhada por vários músicos de Hong Kong. Em nota de imprensa, a Fundação destaca que a pianista oriunda do território tem mérito internacional. Doutorada em música pela norte-americana University Bloomington, é “possuidora de uma carreira brilhante e fértil em recitais de piano pelas melhores salas dos Estados Unidos, Alemanha, Áustria, China, Malásia, Singapura e Hong Kong”. Poon Kiu Ting colabora com alguns dos melhores compositores da actualidade. É professora na Universidade Chinesa de Hong Kong. No concerto de Macau, a pianista sobe ao palco com os “Viva! Pipers”, um quinteto de instrumentos de sopro totalmente feminino, pelo violinista Gary Ngan e o violoncelista Winca Chan, todos eles músicos da região vizinha. Quanto ao repertório, além de uma abertura especialmente dedicada ao aniversário da Fundação Rui Cunha, poderão ser ouvidas composições de Chopin, Saint-Saens e Francis Poulenc. O concerto começa às 20h.
12 CHINA
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Desejo europeu A conectar é que a gente se entende
O
TRUMP ACUSA PEQUIM DE FALHAR NAS RELAÇÕES COM PYONGYANG
Tentativa e erro
vice-primeiro-ministro chinês Wang Yang pediu na segunda-feira uma cooperação mais próxima entre a Ásia e a Europa para impulsionar a conectividade digital e o fluxo de informações. Wang fez este comentário no discurso de abertura de um fórum sobre a conectividade digital Ásia-Europa, realizado em Qingdao, no leste da China. Wang disse que o fórum faz parte de um consenso importante alcançado na cimeira da Conferência Ásia-Europa (CAE) do ano passado, referindo ainda que é muito significativo impulsionar o desenvolvimento económico digital Ásia-Europa e mobilizar o potencial para o crescimento inovador. O responsável afirmou que a China fará esforços conjuntos com os membros da CAE para ajudar na construção da infra-estrutura informativa, estimular os países a desenvolver economias digitais e diminuir a diferença existente os dispositivos digitais. Wang propôs ainda melhorar as cooperações em impostos, logísticas, pagamentos electróni-
cos e certificação electrónica, comércio informatizado e comércio electrónico transfronteiriço, e o desenvolvimento integrado da economia digital e as indústrias tradicionais. “A China expandirá a abertura nas áreas de telecomunicação e internet de forma activa e prudente, e aprofundará a cooperação da indústria digital com outros países”, disse ele. “A China está comprometida em elevar a transparência e a segurança das actividades económicas digitais para manter a ordem justa do mercado e proteger melhor os interesses legítimos das empresas e usuários”. Mais de 600 pessoas dos países da CAE e de organizações internacionais participaram do fórum.
O presidente americano sugere que, face ao falhanço chinês, os EUA devem avançar. Com quê não se sabe mas teme-se o pior.
O
presidente norte-americano Donald Trump disse nesta terça-feira que os esforços chineses para persuadir a Coreia do Norte a parar o seu programa nuclear falharam, uma declaração que surge logo após a morte de um estudante americano que se encontrava detido em Pyongyang. Uma das apostas de Trump em lidar com o regime de Kim Jong-un era que Pequim conseguisse exercer a sua influência sobre o país asiático. Nesse sentido, chegou a conversar com o presidente chinês Xi Jinping no início do ano. “Embora aprecie muito os esforços do presidente Xi e da China para ajudar com a Coreia do Norte, não funcionou. Pelo menos eu sei que a China tentou!”, escreveu Trump no Twitter. Não está claro se a mensagem significa uma mudança significativa na abordagem da Casa Branca em relação aos norte-coreanos e
ao seu programa nuclear, ou se pode significar alguma alteração na relação com a China. De acordo com especialistas, a mensagem de Trump pode expressar a frustração de Washington com a falta de avanços em relação ao regime norte-coreano, o que pode levar a uma nova abordagem para a questão em um futuro próximo. Enquanto isso, há um forte temor que um sexto teste nuclear possa ser conduzido por Pyongyang a qualquer momento. O mais recente do género aconteceu em Setembro do ano passado. Já neste ano, o país asiático já realizou uma dezena de testes balísticos, outro aspect que preocupa a Casa Branca.
COREIA DO SUL CHAMA DRONE DE ‘PROVOCAÇÃO’
Militares sul-coreanos confirmaram que um drone encontrado na zona fronteiriça entre os dois países neste mês era mesmo da Coreia do Norte, e que trata-se de uma “grave provocação” que viola o armistício da Guerra
da Coreia, estabelecido em 1953 entre os dois países da península. No equipamento foi encontrada uma câmara e várias imagens aéreas feitas do sistema norte-americano de defesa antiaérea THAAD. “A intrusão de nosso espaço aéreo pelo drone norte-coreano e a fotografia de uma base militar é uma violação do armistício e de um acordo de não agressão, e é também um acto de grave provocação”, afirmou Jeon Dong-jin, funcionário do Estado-Maior sul-coreano. “Condenamos vivamente as contínuas tentativas do Norte de penetrar no Sul com drones e, mais uma vez, exigir que todos os actos de provocação sejam interrompidos. Se a Coreia do Norte continuar a se envolver em actos de provocação contra o Sul, nossas forças armadas retaliarão com força e avisamos que toda a responsabilidade pelos eventos que acontecem é com o Norte”, concluiu.
CARNE BOVINA DOS EUA AUTORIZADA
A
China abriu oficialmente as suas portas esta semana à carne bovina procedente dos Estados Unidos, após 14 anos de embargo, oferecendo aos criadores americanos acesso ao imenso mercado do gigante asiático. Os carregamentos de carne procedentes dos Estados Unidos estão autorizados a entrar no território chinês a partir desta terça-feira, informou a administração para o controle de qualidade, inspecção e quarentena. O fim do embargo foi anunciado no mês passado e apresentado como um dos primeiros
resultados da aproximação entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping, após a reunião de Abril nos Estados Unidos. Pequim havia proibido por completo, a partir de 2003, as importações de carne bovina procedente dos Estados Unidos, após a descoberta do primeiro caso de “vacas loucas” no país. Para garantir a qualidade da carne importada, a China exige três condições: os animais devem ter menos de 30 meses de idade e serem controlados desde o estabelecimento da produção; devem ser produzidos, criados e abatidos nos Estados Unidos.
13 hoje macau quinta-feira 22.6.2017
Internacionalizar já! MSCI adiciona acções de firmas chinesas
A
gestora de índices de referência globais MSCI anunciou ontem que vai acrescentar títulos cotados nas praças financeiras da China continental aos seus índices bolsistas. A MSCI vai incluir acções denominadas na moeda chinesa, o yuan, de 222 sociedades chinesas de elevada capitalização, ao Índice de Mercados Emergentes. O processo de adesão, que arranca em maio de 2018, vai ser dividido em duas fases e representará 0,7% do índice. É um passo importante para a liderança chinesa, que tem vindo a promover uma maior integração dos mercados e moeda do país no sistema financeiro global. Os índices do MSCI são seguidos por gestores de fundos de investimento. A decisão poderá levar a mais investimento estrangeiro em empresas chinesas, apesar dos analistas afirmarem que não esperam uma entrada imediata de capital, visto que o processo só arranca no próximo ano. Em três revisões do índice, feitas anteriormente, os títulos chineses não foram incluídos, devido ao acesso limitado que os investidores estrangeiros têm aos mercados do país. Um outro ponto que levou a MSCI a adiar a decisão foi a volatilidade das praças financeiras
chinesas, incluindo o colapso do mercado, no verão de 2015, que levou a que quase metade das ações fosse suspensa. O índice incluirá apenas títulos disponíveis através das ligações estabelecidas, em 2014, entre a bolsa de Hong Kong e as praças de Xangai e Shenzhen. Estas ligações entre mercados dão aos investidores estrangeiros um acesso mais amplo aos mercados da China continental, que estão restritos aos investidores locais. Títulos que estiveram suspensos mais de 50 dias estão excluídos. O Índice de Países Emergentes inclui 830 empresas, de 23 países. As empresas chinesas cotadas em praças financeiras além-fronteiras têm já a maior quota, de 28%, através dos títulos listados em Hong Kong, como a PetroChina, ou o grupo Alibaba, que está cotado em Nova Iorque.
CHINA
Aviação OFENSIVA CONTRA GIGANTES DO SECTOR
Com asas próprias
A
China, com seu C-919, e a Rússia, com o MC-21, desejam romper o oligopólio da Airbus e Boeing no mercado dos aviões de média distância, um primeiro passo da sua ofensiva contra os dois gigantes mundiais do scetor. “Há décadas, só havia duas famílias de aviões que competiam no sector dos aviões de corredor único (fuselagem estreita e de alcance intermediário), o A320 e o 737” da Airbus e da Boeing, lembra Stéphane Albernhe, sócio da consultora Archery. Agora há a concorrência de aviões como o CSeries da canadiana Bombardier, o C919 da chinesa Comac e o MS-21 da russa Irkut, dispostos a “atacar esse duopólio”. “Estes novos actores têm por trás Estados que os apoiam e que não pararão por aí. Começaram no mercado do corredor único, mas é muito provável, pelo menos no que se refere à China, que o próximo modelo seja um avião de longa distância”, afirma. O C-919, da empresa pública chinesa Commercial Aircraft Corporation of China (Comac), realizou seu primeiro voo no dia 5 de Maio. Segundo a companhia, já há 600 pedidos para essa aeronave com capacidade para 168 passageiros e que pode percorrer até 5.500 quilómetros. O russo MC-21, construído pela companhia pública Irkut, foi
lançado dia 28 de Maio na Sibéria e já recebeu 175 encomendas. O avião tem capacidade de 132 a 211 passageiros e pode percorrer até 6.000 quilómetros. Segundo Gilles Fournier, o director-geral do salão aeronáutico de Le Bourget realizado nesta semana perto de Paris, “estes aviões ainda não estão prontos para ser expostos” nesta feira, a mais importante do sector, “mas acho que estarão dentro de dois anos”. China e Rússia querem ir mais longe e em 22 de Maio anunciaram um ambicioso projecto para desenvolver juntos um avião de longa distância, o C-929. A aeronave terá capacidade de 280 passageiros para voos de até 12.000 quilómetros, o que a tornaria concorrente directo do 787 “Dreamliner” da Boeing e do A350 da Airbus. O C-929, desenvolvido conjuntamente pela Comac e pela companhia pública russa United Aircraft Corporation (UAC), supõe um investimento de entre 13 e 20 mil milhões de dólares, segundo a imprensa chinesa. A estratégia da China é adquirir primeiro o conhecimento técnico e testar seus novos aviões no mercado doméstico antes de lançar-se no mercado internacional. Segundo as estimativas da Airbus e da Boeing, nas próximas duas décadas o mercado chinês precisará de 6.000 novos aviões por um valor total de 1 bilião de dólares.
Stéphane Albernhe adverte que tanto o C919 como o MS-21 ainda não foram homologados pelas agências europeia e americana e que “demorará até que as fabricantes russas e chinesas tenham a maturidade técnica e industrial da Airbus e da Boeing”. É o caso do avião regional chinês ARJ-21 que, à espera do aval da Federal Aviation Administration (FAA), só pode voar em seu país. O sector, no entanto, leva muito a sério a concorrência da China e da Rússia. “Não se pode subestimar nunca a concorrência”, adverte Randy Tinseth, vice-presidente de marketing da filial de aviação civil da Boeing. “Dentro de quinze anos [os chineses] terão o maior mercado de aviação, por isso investem nesses produtos. Têm o maior mercado interno, isso os coloca acima de todos os outros”, assegura. John Leahy, director comercial da Airbus, prevê que nos próximos cinco ou dez anos não haverá “ameaças” para os dois gigantes do sector. “Mas dentro de 20 anos acredito que [os chineses] serão uma das três grandes fabricantes de aviões” do mundo. “Actualmente, o duopólio formado por Airbus e Boeing não parece estar em risco pelos novos concorrentes russos e chineses”, segundo a consultora AlixPartners. Será preciso esperar a próxima geração de aviões.
CINCO ZONAS INDUSTRIAIS NA ETIÓPIA
Empresas chinesas estão a construir cinco zonas industriais na Etiópia, que quer ser um centro manufactureiro do continente africano. A declaração foi feita nesta terça-feira por Fitsum Arega, comissionário da Comissão de Investimento da Etiópia (EIC, em inglês), que disse que entre as cinco zonas há o primeiro parque industrial etíope, a Zona Industrial Oriental, a cerca de 37 quilómetros de Adis Abeba. O parque, apesar de ter 66 projectos operacionais em 40 hectares de terra, está ainda sob construção em 167 hectares de terra adicional. Outros projetos incluem o Parque Industrial Huajian nos subúrbios de Adis Abeba, desenvolvido pelo Huajian Group; a Zona Industrial de Arerti no nordeste de Adis Abeba, desenvolvida pela China Communications Construction Company (CCCC); o Parque Industrial de Dire Dawa, no leste de Adis Abeba, construído pela China Civil Engineering Construction Company (CCECC); e o Parque Industrial de Modjo, que está sendo construído pela empresa taiwanesa George Shoe Company.
CHONGQING COM VOO DIRECTO A NOVA IORQUE
O município de Chongqing, no sudoeste da China, anunciou na terçafeira que lançará em 20 de Outubro voos sem escalas a Nova Iorque. Segundo a comissão de transporte municipal, a rota será a primeira conexão directa entre a região centro-oeste da China e a cidade norteamericana. A companhia aérea Hainan Airlines operará o voo, que descolará de Chongqing às quartas e sexta-feiras e voltará de Nova Iorque às quinta e sábados. Chongqing é a quinta cidade chinesa que terá voos directos a Nova Iorque, segundo Wang Qinlin, vice-director da comissão. Actualmente, Chongqing opera voos diretos para Londres, Helsinque, Roma, Moscou, Doha, Dubai, Los Angeles, San Francisco, Auckland e Sydney. O plano é ter 100 até 2020, com uma movimentação internacional de passageiros superior a 5 milhões.
DUPLICAM SUBSÍDIOS PARA ALTERNAR CULTURAS
A
China gastará quase o dobro neste ano em subsídios para incentivar produtores do nordeste a reduzir o milho, à medida que o país intensifica esforços para reequilibrar os stocks de grãos. A China emitirá 2,56 mil milhões de yuans em fundos para pagar subsídios a produtores para que eles alternem as suas plantações de milho com outras culturas a cada ano, bem como para deixar alguma terra em repouso, disse o Ministério da Economia nesta terça-feira.
Os fundos serão 78 por cento superiores aos do ano passado, e a área atingida pelos subsídios é o dobro da área do ano passado, cerca de 800 mil hectares. A China começou a distribuir subsídios no ano passado numa reforma da sua política de grãos, sob a qual havia pago a produtores preços artificialmente altos pelo milho. Esta medida deixou o governo com stocks de 250 milhões de toneladas de milho,
equivalentes a mais de um ano de consumo. O dinheiro irá principalmente para produtores do nordeste, onde foi plantada soja no passado, e a áreas impróprias para a produção de milho. A área coberta pelos subsídios inclui 667 mil hectares onde produtores deverão alternar entre milho e outras culturas, como soja, e outros 133 mil hectares que deverão ficar em repouso.
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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Amélia Vieira
A
QUI estamos como que filtrados e caídos na Terra, em cima dela, movendo-nos na horizontal, uma linha deitada nos traça os movimentos e só subidos vamos quando nas passagens aéreas descolamos os pés do solo. A linha do nosso electro alivia, mas desfazemo-la logo nas aterragens. Movidos nestes socalcos vamos tendo uma plasticidade maior em vários degraus da atmosfera, mas nada que se assemelhe à marcha e pés no solo que batido está pela gigantesca «Pegada Humana» e que, espalhado por todo o lado, roda em volta de si mesmo, sempre deitado, e assim por eternos caminhos vamos encontrando o amor do outro, que convida a uma horizontalidade instintiva: a tempestade da paixão é demasiado vertical para o nosso já tão desenvolvido hedonismo e há mortalhas que são ainda refinados locais que nos observam para leitos e neles depositamos um desejo melancólico de paragem, assim como um ultra-romantismo à Soares de Passos de uma prostração que nos tome, de ossos tilintando no osso que somos em solfejos de delícias estranhas. Certo é que ando tudo muito magro, a carne está reduzida, e onde ela não abunda, a natureza se infiltra na sua essência mineral. Outrora os doentes de tuberculose ardiam nos vapores da sua libido que os descarnava e fazia belos com a luz de uma fixação ígnea, que era por vezes o estado de paixão em que se encontravam: quando não há alimento para fora temos essa tendência para nos auto-devorarmos, alimentados que estamos de um fogo interior, um ritual de canibalismo que passa pela paixão de si mesmo. O tempo em que vivemos reduz, no entanto, a fixação. Diluímo-nos mais em vez de condensarmos, a falta de convicção não ajuda o Eros a abrir a altura remota das suas asas e os órgãos são para usar mas estão pouco disponíveis para assombros. Vemos tanta gente nua, morta, uns em cima dos outros, iguais por toda a parte, em partes iguais, que o laborioso deus nos dá “trincadas” em sugestivos desafios só para não esquecermos da sua inteira missão. Protegemo-nos uns dos outros como se as pragas nos fossem conquistar e, impostos os venais apetrechos, apela-
RUBENS, PSYCHE E EROS ADORMECIDO
As móveis estradas de Eros
mos à sua bondade para exercer os ritos de acasalamento. A carne que se multiplicara na carne está em queda contínua, vamos esvaziando-nos nela e, como não somos “tocados”, nada acontece além de andarmos em roda no solo da Terra, que também já fora germinal. Vem aí a altura: cidades, carros e o Eros alado tem fundições neste plasma, mas quer andar como que fugido dos escombros dos aterros. Ninguém nos educou para o Amor: fomos alicerçando alguns saberes na marcha e ela, de tão giratória e móvel, foi excluindo aspectos essenciais
e nisso reside a incompetência para termos feito a aventura do deus em nós. Sequazes e enlaçados, ainda urdimos desejos de vir a partilhar o impensável dessas coisas fugidias mas que depressa se esfumam quando compreendemos uma certa morte que é essa devastada essência humana impossível de ser reabilitada. Nós já somos os seres da aventura breve, do que apetece, do que esquece, do que deseja mas não abarca, nós somos os últimos seres do patamar das emoções e nelas já não temos lugar. Esgotámos o tempo na Roda, a Roda gira.... mas não nos devolverá nem as cinzas do amor
Se cairmos não haverá um terno amor necrófilo perante a beleza do nosso provável cadáver, que numa espécie de doença rara o queira consubstanciar, uma qualidade inaudita do amor
perdido, nem um outro, que redentor e farto nos venha compensar de um funesto ensinamento. Não somos os românticos de olhos luminosos, anda tudo pouco mais que macilento num vaivém de sabores pois que há saberes que não escolhem hospedeiros tais. Se cairmos não haverá um terno amor necrófilo perante a beleza do nosso provável cadáver, que numa espécie de doença rara o queira consubstanciar, uma qualidade inaudita do amor. É assim, segregados e sem guindastes futuros, que esperam talvez sorridentes o nosso gradual fim, fazemos uma esteira muito móvel onde nos deitamos num grande artefacto de coisas boas, os nossos pés não são os pés do outro “mas se ambos confundimos tanto os nossos pés, diz-me com que pés eu hei de seguir?” Não ter tal interrogação é ser cativo. Fulminados desta prática somos urgentes na manutenção das nossas causas, que causam não raro um vazio estranho pois que dela só parte de nós fica elevada, e, nem mesmo chorar nos é permitido. Calcinados talvez pela vida que guiada nos conduziu a um secreto abismo, circulamos por toda a parte para que não notem tanto cansaço, talvez desolação, talvez uma secreta esperança... buscamos um sonho que insiste em não saber de nós. Nós que fôramos unos, procuramos a metade dividida como uma leve lembrança , mas a nossa própria iniquidade nos separa do encontro, somos essa metade sinalizada e em risco, pior ainda que não encontrar o outro é a de vertermos a existência em coisa nenhuma. Exaltados e mais experimentais somos deixados no patamar das provas e dela saímos mais pequenos sempre que não compreendemos a beleza da tentativa. Não duvidamos que a ordem das coisas impulsiona-as para a harmonia, seria preciso um “rasgão” cego na dobra para falharmos em todas as direcções, mas nos aspectos movediços a função da mobilidade se traduz por inércia, e sem o mínimo de sustentação nas coisas mais bonitas elas afastam-se de nós recusando a oferenda. Muitos contemplarão a sua face de eternos D. Quixotes e nada mais verão que supostas ruínas de moinhos cansados . Animou-os as fomes, que findaram, gerando mais fome, até ao terror dos manjares.
15 hoje macau quinta-feira 22.6.2017
diários de próspero
António Cabrita
Do fogo e da pressa corresponde ao vagar com que foram urdidos até ao polimento final. E como em Proust vemos amalgamadas na mesma frase a descrição e a reflexão sobre o objecto descrito. Uma trança perfeita que só a lentidão executa. Não creio que seja um ganho estarmos tecnicamente mais apetrechados para vomitar um romance por ano e mais alacremente satisfeitos com as nossas suficiências e as suas ilusões.
MÁRIO CAMARGO
18/06/17 Este será o meu primeiro texto escrito num tablet que a minha mulher me trouxe de Lisboa e que manejo com superstição e paciência. Para já mantenho o particular ruído do teclado que me lembra os saltos na mesa alemã, aquele zumbido de fibras elásticas em tensão. E será o primeiro de vários, tal como a clareira no bosque nos reeduca o olhar que passa a vasculhar os intervalos entre as árvores. Lembro-me dos primeiros textos que redigi para o JL, em 82, numa velha Hermes de teclas redondas, aonde entalava folhas para as arrancar em fúria, na sequência dos enganos. As laudas jaziam pelo chão, epitáfios que o vento havia amarfanhado antes de conhecer campa. O artigo começava a ser desenhado no café, depois do jantar, e a lide taurina durava até às 6h da manhã, com os rascunhos e tropeços a tumultuarem o chão. Era uma luta titânica contra o sono, o destrambelhamento das ideias, contra uma sintaxe claudicante. No fim, o cansaço lá me fazia atalhar os processos, ser mais eficaz e menos precioso. Às seis da manhã tomava um duche, após o que descia ao café para engordurar as laudas com a manteiga da torrada, fazia as emendas definitivas à mão, e ia então para o jornal, atordoar-me com o espectáculo supersónico do Assis Pacheco a aviar três laudas em meia hora, só com um dedo, enquanto trocava anedotas com o José Manuel da Nóbrega. Um dia não consegui acabar o artigo a tempo e lembro o sentimento de derrota com que fui ao café telefonar ao Pedro Borges às oito da manhã para lhe dizer: não fui capaz! Ele estava siderado, mas eu ao engenho ainda não associava a responsabilidade e fui para casa dormir. De outra vez foi mais grave. Ia apresentar a novela de uma francesa. Foram vinte e quatro horas no espaldar, enfiava a folha na máquina e arrancava-a três parágrafos depois, por inépcia e insatisfação, e ao lado fazia rascunhos à mão, de cuja insuficiência me dava conta assim que os transcrevia para a máquina. Mas ao fim de 24 horas lá consegui chegar a um texto capaz. E para não me embaralhar fui rasgando os rascunhos. Cheguei às dez da manhã do dia da apresentação com o cansaço benigno do dever cumprido. E então acorda a minha namorada da
altura. A tomarmos o pequeno-almoço, uma má interpretação de um sonho que ela tivera deixou-a furibunda e a discussão foi subindo de tom; meia-hora depois ela corria para a minha secretária e rasgou-me a apresentação em fanicos. Então tudo era grave e vivíamos sobre a lâmina da intransigência. Foi o pânico, como explicar isto ao editor? Eu tinha vinte e cinco anos e não me portei com grande decência. E tão grave como a quebra do compromisso era o horror da Hermes. O Garcia Marquez declarou que se tivesse conhecido o computador mais cedo teria escrito o dobro dos livros. Hesito sobre se isso teria sido um be-
nefício. Há uma densidade da escrita que já não se busca, preterida pela lisura da “inteligilidade ” que o ecrã nos dá. Quando pego no Debaixo do Vulcão, do Lowry, ou na Obra ao Negro, da Yourcenar, para os reler fico abismado com a soma inacreditável de informação por parágrafo aliada a uma respiração pletórica da frase que só pode surgir da resistência, do conquistar a frase à força do atrito. Levava-se o dobro, o triplo do tempo, mas a própria duração do processo sedimentava outras conexões - o que se ganhou em rapidez e comunicação directa perde-se em subtileza, em filigrana, em níveis de sentido. O estilo marmóreo de ambos os livros
20/06/17 As pessoas pensam “pisicologicamente”, como se fossem algo de separado, alheias a que vivemos num eco-sistema que age como um organismo e que integra a dinâmica dos elementos. O fogo faz parte de nós, pertence à nossa natureza, e vice-versa. Um homem divaga na sanita, olha pela janela o balanço do cedro que comprou com a moradia. Vem um raio e o cedro incandescente entra-lhe pela janela, pegando-lhe fogo num ápice, dos cabelos ao calcanhar de Aquiles. Ele sai da casa-de-banho como uma tocha e em desespero agarra-se à mulher, para que o ajude. Ela desapega-se mas tarde, e corre pela porta fora e sucumbe junto a um grande arbustro de folhas secas. O vento faz voar uma labareda para o renque de plátanos do outro lado do outro lado da estrada que margina a moradia - rolos de fumo frisam a cabeleira dos plátanos. O fogo tem uma velocidade de contágio estonteante, de que o amor carece. Mas então por que não se previnem os homens? Porque o fogo é um não-dito. Os bombeiros são as vogais do que não se quer pensar e dizer sobre o fogo. Que o fogo não conhece a mortalidade infantil e se revela logo adulto e é imortal e disputa aos homens a sua presunção. O fogo é quem mais ordena, da siderurgia à floresta, ou a Pompeia e marimba-se na propriedade. Por que não criamos as condições para o debelar? Não cremos ainda que a humanidade não tenha preço. Provavelmente por ser o amor vagaroso a propagar-se enquanto o fogo (e o dinheiro idem) não. Ainda que um incêndio nos espolie de todos os aspectos, julgamo-nos no controle, superiores. Até que um dia os dedos do fogo brincam com os caracóis das crianças. Conheci um pirómano. Chamava-se Cândido.
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hoje macau quinta-feira 22.6.2017
Dossier n.°:1184/2016 Processo n.°:4616/2016, 4714/2016, 4724/2016, 4745/2016, 4766/2016
Notificação Edital (Solicitação de comparência de empregador)
N.° 61 /2017
Nos termos das alíneas b) e c) do n.º 1 do artigo 6.º do Regulamento da Inspecção do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 60/89/M, de 18 de Setembro, conjugadas com o artigo 58.º e n.º 2 do artigo 72.º do “Código do Procedimento Administrativo”, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, notifica-se a sociedade “Grupo Long Hai Limitada”, o operador da Restaurante de Cerveja Pou Loi Lap, para no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do dia seguinte ao da publicação do presente edital, comparecer no Departamento de Inspecção do Trabalho (DIT) da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, sito na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado n.os 221 a 279, Edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, Macau, a fim de prestar declarações relativas aos processos n.os 4616/2016, 4714/2016, 4724/2016, 4745/2016 e 4766/2016, que foi instaurado devido às queixas apresentadas nestes Serviços pelos ex-trabalhadores residentes Au Kuan Cheng, Lam Chi Tat, Lei Ian Ian, Chim Man Yin, Fan Un Kei e Ian Hao I, em 6/12/2016, 22/12/2016, 23/12/2016, 28/12/2016 e 30/12/2016 relativas às matérias de salário, indemnização recisória e aviso prévio. O Chefe do Departamento Subst.º Lai Kin Lon 15 de Junho de 2017
17 hoje macau quinta-feira 22.6.2017 PUB
Mundo desconhecido Rodolfo Ávila experimenta Circuito de Guizhou
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ODOLFO ÁVILA continua este fim-de-semana a sua aventura no Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC), desta vez num palco que nunca visitou, o Circuito de Guizhou, situado no sul da República Popular da China. O piloto português de Macau, que está pela primeira vez a disputar um campeonato de carros de Turismo a tempo-inteiro, é um dos poucos pilotos do campeonato que nunca competiu neste circuito erigido em 2016. O circuito de Guizhou, situado na capital da província, Guiyang, tem catorze curvas e um perímetro de
2,198 km, tendo um desenho em forma “ruyi”, o ceptro dos imperadores chineses. Nas duas provas anteriores, disputadas em Zhuhai e o no circuito de Guangdong, Ávila mostrou um excelente andamento nas corridas, o que lhe permite hoje ocupar o quinto lugar no campeonato. “A minha maior dificuldade têm sido as qualificações e adaptar-me ao comportamento dos pneus. A qualificação vai ser muito importante nesta pista porque não será fácil ultrapassar nas corridas”, antevê o piloto da SVW333 Racing. “Temos vindo a melhorar o VW Lamando GTS, mas a
FIFA ABRE INQUÉRITO À JUVENTUS PELA TRANSFERÊNCIA DE POGBA PARA O UNITED
A FIFA anunciou esta quarta-feira a abertura de um inquérito disciplinar à Juventus, no âmbito da investigação da transferência do futebolista internacional francês para Inglaterra. As acusações que impendem sobre o hexacampeão italiano e vice-campeão europeu não foram especificadas, ainda que tenha sido noticiado em órgãos de comunicação social de vários países que estão relacionadas com a proibição da repartição dos direitos desportivos de futebolistas com terceiros. Quanto à equipa treinada pelo português José Mourinho, a FIFA indicou que “não será tomada qualquer acção disciplinar contra o Manchester United”, que contratou Pogba à Juventus em Agosto de 2016, por 105 milhões de euros, a mais cara transferência do futebol mundial. O representante de Pogba, Mino Raiola, que, alegadamente, terá recebido perto de 49 milhões de euros em comissões das três partes envolvidas, é suspeito de ter incorrido em conflito de interesses, por ter actuado como representante do jogador e dos dois clubes.
concorrência é forte e também não tem estado parada. Vou dar o meu melhor, sempre com o objectivo de ajudar a equipa a somar o maior número de pontos possível, mas tenho a consciência que vai ser um fim-de-semana tudo menos fácil, porque vou ter muito pouco tempo de pista para me familiarizar a um circuito que apenas irei conhecer no primeiro treino-livre de sábado”, conclui o piloto oficial da SAIC Volkswagen. Sábado será marcado pelas duas sessões de treinos-livres e pela sessão qualificação. As duas corridas realizam-se no domingo.
CR7 PSG PREPARA ENTRE 100 A 150 MILHÕES
Sérgio Fonseca
info@hojemacau.com.mo
De acordo com a manchete do jornal francêsL’Equipe, desta quarta-feira, o clube parisiense está a preparar uma proposta pelo português, ainda que não tão alta como o Real Madrid esperaria. Segundo o jornal francês L’Equipe, o Paris Saint-Germain está disposto a avançar para a contratação de Cristiano Ronaldo, e está a preparar uma proposta entre os 100 e os 150 milhões de euros, para apresentar ao Real Madrid. Os merengues esperam uma oferta de 200 milhões, mas os parisienses não estão dispostos a pagar uma quantidade tão alta, devido à idade do internacional português. Ainda assim, o PSG vai tentar convencer Ronaldo através de um salário mais alto do que aquele que o avançado recebe na capital espanhola.
DESPORTO
18 (F)UTILIDADES TEMPO
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AGUACEIROS
O QUE FAZER ESTA SEMANA Sábado
SATURDAY NIGHT JAZZ - MACAU AND HK JAZZ FRIENDS CONCERT Fundação Rui Cunha | 21h às 23h
MIN
26
MAX
32
HUM
70-95%
•
EURO
8.70
BAHT
MACAU JAZZ SUNDAY SESSIONS Live Music Association | a partir das 21h
Diariamente
CICLO DE CINEMA SOBRE REALIZAÇÃO NO FEMININO Cinemateca Paixão | Até 9/07
O CARTOON STEPH
EXPOSIÇÃO “CONTELLATION” DE NICOLAS DELAROCHE Galeria do Tap Seac | Até 08/10 EXPOSIÇÃO “O MAR” DE ANA MARIA PESSANHA Casa Garden | Até 31/08 EXPOSIÇÃO “A ARTE DE ZHANG DAQIAN” Museu de Arte de Macau | Até 5/8 EXPOSIÇÃO “AMOR POR MACAU” DE LEE KUNG KIM Museu de Arte de Macau | Até 9/7
EXPOSIÇÃO “AS MUDANÇAS DE HENGQIN” Armazém do Boi | Até 16/07
Cineteatro
C I N E M A
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 62
PROBLEMA 63
UM DISCO HOJE
SUDOKU
DE
EXPOSIÇÃO “NOCTURNO” DE FILIPE DORES Albergue SCM | Até 09/07
EXPOSIÇÃO “DESTROÇOS” DE VHILS Oficinas Navais, nº. 1 | Até 31/11
1.14
NON GRATOS
BOK PLUS Terra Coffee House | 19h30 às 22h30 (evento inserido no festival de teatro BOK)
EXPOSIÇÃO “COLOUR/SHAPE/LOVE” DE JOAQUIM FRANCO Macau Art Garden | Até 16/07
YUAN
AQUI HÁ GATO
Domingo
EXPOSIÇÃO “25+10” DE RODRIGO DE MATOS Consulado de Portugal | Até 30/06
0.22
A rejeição é algo que as personas custam a engolir, principalmente as non gratas. Esqueçam a imagem de sapos a deslizar esófago abaixo, pensem em cardos em flor, em cactos de vidro a lavrar a sangue o aparelho digestivo. É esta a sensação que dá contexto a este felino desabafo. O desprezo custa a alguns na relação directa, entre pares, mas ganha outra dimensão quando se trata da rejeição de um país. Negar um visto de turismo pode ser chato, um inconveniente para quem traçou planos de gargalhadas infinitas e pândegas além-fronteiras. Mas ganha dimensões hediondas quando se trava o caminho a quem foge da guerra, da fome, da morte que espreita a cada instante. Países fortalezas que se cercam e trancam, amedrontados por fantasmas de outras Eras, sem qualquer pingo de decência ou reconhecimento do sofrimento dos outros. É uma espécie de psicopatia institucional, uma degeneração psicológica como política externa. Muitos ficam à porta, em todo o lado, sem razão para tal. Os trancados desculpam-se com a segurança, a prioridade aos seus, a falta de recursos. Potências que se portam como pirralhos embirrentos que abraçam os seus brinquedos para que estes não fujam para mãos mais divertidas. Potências que geram impotências, grandezas de ontem nascem mediocridades, altivez que se manifesta rasteira, razão que se perde na cruel arbitrariedade que transforma a vida em algo supérfluo. Pu Yi
SHANGHAI LOUNGE DIVAS | COLECTÂNEA
Por estes dias, em que o poder local viaja para a capital económica da China, fica a proposta de um périplo musical com quase um século. “Shanghai Lounge Divas” é um trabalho de remisturas de clássicos do jazz de Xangai dos anos 30, que inclui os temas originais. Esqueça as faixas electrónicas e delicie-se com as sonoridades de um tempo único na China, em que a decadência era uma confortável forma de se ser feliz. Isabel Castro
TRANSFORMERS: THE LAST NIGHT SALA 1
TRANSFORMERS: THE LAST NIGHT [2D][B] Fime de: Michael Bay Com: Mark Wahlberg, Laura Haddock Anhtony Hopkings 14.00, 16.45, 21.30
THE MUMMY [2D][C]
TRANSFORMERS: THE LAST NIGHT [3D][B] Fime de: Michael Bay Com: Mark Wahlberg, Laura Haddock Anhtony Hopkings 19.00 SALA 3
A FAMILY MAN [2D][B]
Fime de: Alex Kurtzman Com: Tome Cruise, Sofia Boutella, Annabelle Wallis, Jake Johnson 19.30
Fime de: Mark Williams Com: Gerard Butler, Gretchen Mol, Williem Dafoe, Allison Brie 14.30, 16.30, 21.30
SALA 2
Falado em cantonês legendado em chinês e inglês Fime de: Emily Chan Nga Lei Com: Sean Pang, Angela Yuen, King Wu Kyle Li, Mary MA 19.30
RESIDENT EVIL: VENDETTA [C] Falado em inglês legendado em chinês Fime de: Takanori Tsujimoto 14.30, 16.30, 21.45
OUR SEVENTEEN [2D][B]
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19 hoje macau quinta-feira 22.6.2017
OPINIÃO
bairro do oriente
LEOCARDO
JOSEPH TURNER, INCÊNDIO NO PARLAMENTO,1834
P
ORTUGAL esteve três dias de luto nacional, decretados no Domingo após o terrível incêndio que lavrou (e lavrava, até terça-feira à noite) nos distritos de Leiria e Coimbra. Esta figura do “luto nacional” não implica mais que colocar a bandeira a meia-haste, ou observar um minuto de silêncio no início de alguma cerimónia nacional ou evento desportivo. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa veio de imediato apelar à união e à contenção, pedindo a todos que se combatesse aquele foco de incêndio, em vez de “se acenderem novos focos”, referindo-se à imprensa e redes sociais, onde se começou imediatamente a montar o circo. O prof. Marcelo é óptima pessoa e tem sido um presidente de consensos, mas por vezes dá a entender que conhece mal o povo que o elegeu. Não há tempo seco nem temperaturas de mais de 40º que impeçam o bom povo de sair à rua de tocha acesa, pronto para acender mais uma ou várias piras inquisitoriais. O país e mundo acordaram em sobressalto no Domingo ao deparar com as notícias que davam conta de quase setenta mortos nos concelhos de Pedrógão Grande e Castanheira de Pêra, mortes essas em circunstâncias macabras e aterradoras, que deixaram para segundo plano as perdas materiais próprias desta estação. Em termos de área florestal ardida todos os anos nos incêndios de Verão, pode-se dizer que este foi só um “aperitivo”. As imagens de devastação e de morte falavam por si, e dispensavam qualquer tipo de comentário. Isto não impediu que uma escola muito “avant-garde” de jornalismo mandasse uma das suas mais celebradas profissionais fazer uma reportagem ao vivo junto de um cadáver que se encontrava na floresta, dentro de um saco próprio para o efeito. “Onde já se viu?”, bradava aos céus o povo incrédulo. Na CMTV, respondo eu, quando aqui há uns tempos transmitiram ao vivo o velório de uma criança que havia sido assassinada pela mãe. Foi aí que ficou a barra da decência. Mas não vamos abrir só um foco de incêndio nos valores de ética jornalística, não. Sabiam que a companhia que gere as contribuições telefónicas para a ajuda das vítimas fica com 1/6 do valor das doações? Ah pois, isto é indecente, “fazer dinheiro com os mortos”, desta vez houve mortos à brava para poder fazer valer qualquer um
Inflamáveis Infames
destes argumentos. Mas alto e pára o baile, que a ministra da Administração Interna impediu a entrada de bombeiros espanhóis, carregadinhos de água, e nós ali sem saber fazer a dança da chuva. Ai alegou questões de logística? Incompetente! Demita-se e já! Ai a notícia “não foi bem verdade”? Demita-se na mesma – demitam-se todos! O que nos vai levar ao principal foco de incêndio, esse ainda maior que o de Pedrógão: de quem é a culpa? Agora é que o lixaram, ó sr. presidente Marcelo. O incêndio foi causado por um raio de trovoada seca que, por culpa das temperaturas altas e dos ventos, se espalhou rapidamente pela floresta. Houve inicialmente quem tivesse colocado a possibilidade de fogo posto mas, havendo mão criminosa, era mais complicado aos ordenadores do território feitos à pressão nas redes sociais darem o inevitável veredicto: a culpa é do Governo. De qual? De todos, e ainda se estava longe de saber ao perto a dimensão real da tragédia, e já “xuxas” e “pafiosos” apareciam
de fósforo em riste, prontinhos a acender fogo na palhota da culpa alheia. Isto é tudo sem dúvida de uma relevância assombrosa. Com toda a certeza que a última coisa que passou pela cabeça das pobres pessoas que se viram subitamente rodeadas pelo fogo da
Na China dá-se o abatimento de uma mina e morrem 200 operários, ou uma cheia custa a vida e as casas a milhares de pessoas de uma assentada, e não se faz da notícia um vendaval especulativo, não “vale tudo” para vender papel ou ter audiências
morte não foi arrependimente de ter votado ou deixado de votar em A ou em B. Talvez eu não esteja a abordar a situação da forma mais apropriada, sem a sensibilidade necessária. É que aqui em Macau (que já contribuiu para o alívio da tragédia, sem fazer perguntas ou tecer comentários, o que é de louvar) tem chovido todos os dias desde o fim-de-semana, e o calor é húmido e não há incêndios florestais – torna-se mais difícil relacionar-se com o drama. Ou talvez porque na China dá-se o abatimento de uma mina e morrem 200 operários, ou uma cheia custa a vida e as casas a milhares de pessoas de uma assentada, e não se faz da notícia um vendaval especulativo, não “vale tudo” para vender papel ou ter audiências, e não se atira a carniça aos abutres para que estes desatem a fazer campanha eleitoral. Em Portugal o luto terminou ontem (terça-feira), e agora já não fica mal falar-se à vontade de responsabilidades, de culpas e de todo o resto. Mas será que ainda ficou alguma coisa por dizer, bem ou mal?
“
Exausto caminhante de coração cansado / Amanhã é domingo / Irei a São Lázaro implorar aos santos / inquirir, cheio de fé, quando poderei regressar? Wang Zhen PUB
Cidade mais cara do mundo Luanda destrona Hong Kong
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UANDA voltou ao primeiro lugar da lista das cidades mais caras do mundo para trabalhadores expatriados, destronando Hong Kong, segundo o estudo da Global Mercer sobre o custo de vida em 2017, divulgado ontem. O estudo conclui que “algumas cidades africanas continuam a ocupar um lugar de destaque” no levantamento publicado em 2017, o que para a consultora Mercer “reflecte os altos custos de vida e preços dos bens para trabalhadores expatriados”. Luanda ocupa o primeiro lugar “como a cidade mais cara para expatriados” em todo o mundo, “apesar de a sua moeda [kwanza] ter desvalorizado em relação ao dólar norte-americano”, mais de 40%, desde 2015. A capital angolana, como todo o país, enfrenta desde finais de 2014 uma profunda crise financeira, económica e
cambial decorrente da quebra nas receitas com a exportação de petróleo e só entre Janeiro e Dezembro de 2016 viu a inflação ultrapassar os 40 por cento, segundo números do Instituto Nacional de Estatística. O estudo da Mercer analisa dados de 209 cidades mundiais e leva em conta o preço de mais de 200 produtos e serviços, nomeadamente alojamento, comida, vestuário, transportes, lazer ou telecomunicações. A título de exemplo, um café em Luanda custa mais de dois euros, o pão de forma quase 18 euros e o aluguer de um apartamento com três quartos pode ultrapassar os 12.200 euros mensais. Segundo a Mercer, este estudo anual sobre o custo de vida nas maiores cidades e capitais mundiais fornece, entre outra informação, elementos-chave para as empresas estabelecerem “subsídios justos de custo de vida” a trabalhadores expatriados.
QUARTO ESPAÇO DE MACAU ENVOLTO EM SOMBRAS
O
projecto de construção de um quarto espaço do território pode vir a ser complicado. Em causa está a localização que não reúne, até agora, consenso. De acordo com o consultor principal do Gabinete de Estudos das Políticas (GEP), Mi Jian, quando a ideia foi apresentada ao Governo Central, apesar de não ter sido recebida com entusiasmo, também não foi colocada de parte pelo que “o projecto ainda pode vir a ser realizado”. Segundo o Jornal do Cidadão, as dificuldades estão relacionadas com a localização. A sugestão para que fosse construído entre Coloane e a Ilha de Huangmao apresenta, diz Mi Jian, várias dificuldades. A mais relevante, diz o consultor do
GEP, é ficar fora da área de 85 quilómetros quadrados de área marítima do território. Alocalização perto de Hac-Sá apresenta aspectos que, para Mi Jian, podem ser incontornáveis, entre eles consequências ambientais indesejáveis. Para que tal não aconteça, diz, “devem ser evitados os impactos negativos na zona de Coloane e de Hac-Sá e, assim sendo, o Governo deve escolher um local que fique o mais longe possível destas zonas”. A ideia de criar um porto de águas profundas em Macau também é, de acordo com o consultor principal do GEP, um projecto difícil. Em causa estão os custos associados às obras e à falta de condições provocadas pela subida da maré.
quinta-feira 22.6.2017