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Diálogos bioéticos
Diálogos
Entrevista: inteligência emocional Pág. 35
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O desafio da pandemia José Tadeu Chechi Pág. 34
Qualidade de vida e neoplasias Ana Carolina Cardoso Pág. 32
Sobriedade digital Carlos José Serapião Pág. 25
Saúde mental Kethe Oliveira Pág. 30
Desinformação Luana Garcia Ferrabone Pág. 26
Gestão da enfermagem Fabiana Mohr Pág. 27
Livre arbítrio Lucas Sant’Anna Pág. 28
Carlos José Serapião Coordenador do Instituto Dona Helena de Ensino e Pesquisa (IDHEP)
Rumo à sobriedade digital
mundo segue mudando. Não é novidade. Sempre foi assim. A questão é saber em que direção seguimos: progresso, regresso, mera metamorfose? Entramos no Terceiro Milênio com esperanças de um futuro melhor – o progresso. Uma ideia nova para o século 21, a chamada Era Digital, acreditada por muitos como uma verdadeira revolução, para alguns, não é tão boa nem tão ruim.
Trata-se de uma tecnologia inventada pela humanidade, como o foram a roda, a agricultura, o motor a explosão, a Revolução Industrial, a energia atômica, recentemente uma indústria química extraordinária, e agora o digital, o mais novo participante da nossa sociedade humana. Como todo o progresso tecnológico, sua influência dependerá de como a humanidade vai utilizá-lo. Para melhor ou para pior. Será um terreno fértil para nossos jovens, ou um voo alucinado em direção a uma catástrofe ainda não anunciada?
Uma curiosidade: a palavra “progresso” vai pouco a pouco sendo menos utilizada nos escritos e aparece substituída por “crise”, “declínio”, “catástrofe”, “apocalipse” etc.
A história nos apresentou um século 18 com a humanidade sonhando alcançar o aperfeiçoamento cultural e moral. O conhecimento, emancipador, teria feito
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recuar a ignorância e as superstições. Ao correr do século 20, após as loucuras das grandes guerras, surgem sinais de uma reviravolta no humor coletivo. Em 1969, Raymond Aron (1) publica “As desilusões do progresso, ensaio sobre a dialética da modernidade” e se interroga quanto ao que considera como “contradições constitutivas daquela modernidade”.
Citamos uma fonte de preocupações, expressada por vários autores, aquela representada pelo que chamaram de regressão do QI médio (quoeficiente de inteligência), quando avaliado frente aos múltiplos métodos de mensuração e de comparação dos QIs desenvolvidos ao longo das últimas décadas (2).
Por outro lado, é preciso admitir um verdadeiro paradoxo na Revolução Digital: ela é onipresente, sendo impossível imaginar a nossa existência sem a sua globalidade, já que numerosas e variadas são suas ramificações, tocando todos os setores da atividade em todas as facetas da condição humana.
É preciso, ao final, considerar o digital tão simplesmente quanto uma ferramenta a serviço da construção de um projeto de sociedade global de modo mais rápido e eficiente. A isso se soma a preocupação de buscar pistas que indiquem o caminho de um futuro digital sóbrio e responsável. A grandeza humana não consiste apenas na performance de sua inteligência; reside, isto sim, na sua singularidade, na ânsia de ultrapassar sua materialidade e encontrar o sentido que a faz transcendental.
• Progress and disillusion: The dialectics of modern society - Raymond Aron – Ed. Harmondsworth England: Penguin Books Pelican, 1972 • Flynn effect and its reversal are environmentally caused – Bratsberg B. & Rogerberg O. PNAS 115 - vol. (26) ,2018
Luana Garcia Ferrabone Coordenadora da Emergência do Hospital Dona Helena
A desinformação e o coronavírus
m meio à pandemia do novo coronavírus, vários experts surgiram para ganhar seus minutos de fama. Cientistas de Facebook que, sedentos por likes, propagam informações sem credibilidade e sem embasamento, gerando uma massa de desinformação e ansiedade. Em meio a estes tantos, encontramos pessoas que estudam, que esclarecem, que buscam alertar a população e guiar pelos caminhos corretos, quase sempre os mais difíceis.
O problema está na divulgação. Grandes profissionais não têm o mesmo número de seguidores das “webcelebridades”, e, portanto, suas informações não têm o mesmo alcance do que as bizarrices divulgadas por pessoas que sabem como aproveitar os algoritmos da rede em busca de visualizações.
Nesse contexto, várias pessoas relevantes, estudiosas e preocupadas com a situação atual estão caladas. Caladas pela preocupação, caladas pela avalanche de informações erradas que é preciso refutar, mas, principalmente, caladas porque a ciência robusta vende muito menos do que mentiras e tragédias bem contadas.
A pandemia tem sido usada como palco para projeção e todo tipo de falácia. Desde mix de vitaminas e injeções para imunidade, até profecias do apocalipse.
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As mídias e redes sociais têm dado muito espaço para informações irrelevantes, criando uma legião de desinformados que não estão convencidos do básico: manter a higiene e o isolamento social são as únicas terapias efetivas e comprovadas.
A Covid-19 pode ser letal em alguns casos, mas a falta de informação e a informação errada são muito mais perigosas. Matam porque expõem as pessoas desnecessariamente. Matam porque inventam escudos e escondem as verdadeiras armas. E matam, principalmente, porque silenciam as informações cientificamente validadas, menosprezam os estudos que não produzem informações midiáticas e intimidam profissionais que têm opiniões relevantes e trabalham de frente para a doença.
Busque informações com relevância científica, valorize instituições de saúde com credibilidade e sem viés de qualquer natureza. Acompanhe pessoas interessadas e engajadas em informações com validação e confie em quem leva saúde a sério. “Não existe solução fácil para um problema difícil.” Essa é a frase mais correta para o momento atual. “Busque informações com relevância científica, valorize instituições de saúde com credibilidade e sem viés de qualquer natureza. Não há solução fácil”
Fabiana Mohr Gerente de Enfermagem do Hospital Dona Helena
A gestão de enfermagem no enfrentamento ao coronavírus
o Hospital Dona Helena, temos uma equipe de enfermagem composta por aproximadamente 400 pessoas. A maioria atua na assistência aos pacientes, portanto, está na linha de frente no combate à Covid-19. No começo do ano, realizamos as primeiras reuniões do plano de contingência, integrando diversos setores do hospital. Enquanto o novo coronavírus ainda era algo distante de nossa realidade, já estávamos discutindo seus impactos.
Quando surgiu o primeiro caso no país, passamos a estruturar os setores e equipes, definindo ações específicas, adequando a utilização dos nossos equipamentos e treinando a equipe quanto ao seu uso. Fomos estudando e tomando várias providências, como a estruturação de nosso estoque. Diante do primeiro caso em Santa Catarina e em Joinville, mudamos o ritmo das reuniões, que eram os gatilhos para mudanças dentro das rotinas hospitalares. As atualizações realizadas pela Anvisa eram constantes, resultando em alterações no fluxo e exigindo um sincronismo enorme entre equipes.
Enquanto isso, formulamos uma ficha técnica com todas as orientações aos profissionais. O documento é extenso e abrange diretrizes diversas, que vão desde o momento de entrada do paciente
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com sintomas gripais no hospital até a sua saída. Também estamos aprimorando vários processos e, dentre eles, o treinamento on-line, desenvolvendo vídeos para capacitar sobre diversos fluxos e técnicas. Além disso, frisamos muito a higienização frequente das mãos, o uso correto dos EPIs e importância do distanciamento, que é algo muito difícil para nós. Afinal, muitas pessoas têm a necessidade do toque, do carinho, do abraço e do compartilhar, principalmente neste momento. Buscando garantir o distanciamento, fizemos adequações em áreas compartilhadas, e alguns assuntos que eram discutidos em reuniões presenciais, agora são tratados por telefone ou por e-mail.
A enfermagem tem a missão de prestar assistência ao paciente, esclarecer as dúvidas e oferecer o melhor cuidado. O enfermeiro que é líder de equipe precisa ser referência, promovendo a orientação aos pacientes e membros da equipe multidisciplinar, garantindo que as normas de segurança sejam cumpridas. Também precisa transmitir tranquilidade para os demais. Esse é o maior desafio na gestão de uma equipe de enfermagem, pois, antes de profissionais, somos seres humanos.
Um dos nossos maiores medos é o de levar o vírus para casa e contaminar nossos familiares. Tivemos profissionais que chegaram a se afastar da família. E isso causa uma sensação de solidão. Para cuidarmos da saúde mental dos profissionais, criamos o programa “Você de bem com a vida”, em que disponibilizamos o suporte com capelania, psicologia e serviço social para auxílio psicológico. Tem sido algo positivo para a equipe, pois temos observado e tratado algumas fragilidades. Também tentamos trabalhar de forma mais leve, não focando somente na pandemia.
Não precisamos ser fortes o tempo inteiro, podemos ter nossos momentos de choro e desabafo. É preciso muita tranquilidade, discernimento e resiliência aos gestores de enfermagem, pois somos o alicerce da equipe.
Lucas Sant’Ana Médico oncologista, integrante do corpo clínico do Hospital Dona Helena
O livre arbítrio dos pacientes nas decisões médicas
Termo de Consentimento Informado (TCI), como hoje conhecemos, é um documento vital na medicina atual, no qual o paciente autoriza o médico a realizar um procedimento de indiscutível necessidade. Independente no nível de confiança entre as partes, atualmente é condição indispensável na relação médico-paciente. Mas nem sempre foi assim.
Nos primórdios da medicina, na Grécia Antiga, essa atividade era praticada sob a ótica da Escola Hipocrática, e o paternalismo clínico era a doutrina vigente, na qual o paciente não exercia papel na decisão de seu tratamento, mas obedecia a seu médico com a convicção de que este, imbuído de autoridade e conhecimento, não lhe faria nada além do bem. Felizmente, a medicina evoluiu e a percepção da benesse médica não mais caberia exclusivamente ao médico e ao seu julgamento pessoal, mas a um conjunto de regras definidas por códigos de ética ao longo das últimas décadas.
Acredita-se que o primeiro registro de um documento para se estabelecer uma relação entre médicos e pacientes data de 1833. O médico William Beaumont, considerado pai da gastroenterologia, firmou um acordo por meio de documen
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to no qual se comprometia pagar certa quantia em dinheiro ao paciente Alexis St. Martin para que este ficasse disponível para experimentos sobre fisiologia gástrica. Embora, sob a luz da ética atual, seja uma relação criticável, à época foi marcante e considerada precursora do Termo de Consentimento Informado.
O atual termo de consentimento como conhecemos começou a ser cunhado em 1947, com o Código de Nuremberg, criado logo após as atrocidades cometidas pelos nazistas, ao exporem a face cruel da medicina com motivações escusas. A partir de então, ficava definido um preceito básico para a relação médico-paciente: a necessidade do consentimento voluntário para a realização de experimentos envolvendo humanos. No Brasil, a normatização do uso do Termo de Consentimento Informado se iniciou na década de 1980, quando dois documentos, um do Ministério da Saúde e outro do Conselho Federal de Medicina, estabeleceram as bases para seu desenvolvimento.
Embora a necessidade de normatização não seja passível de questionamento, até que ponto ela realmente garante o livre arbítrio e segurança ao paciente? No Brasil, cerca de 30% da população se enquadra na categoria de analfabetismo funcional, mas, caso se leve em consideração a interpretação do jargão médico presente nos termos de consentimento, indubitavelmente essa parcela será muito maior. A ética médica se faz então de relevância ímpar neste momento, frente a uma relação desigual, em que de um lado temos um indivíduo aflito pela doença e escasso de conhecimento, e, do outro, um indivíduo munido do conhecimento e no exercício de sua profissão corriqueira.
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Por mais que o conhecimento médico seja a cada dia mais difundido, o acesso à informação seja mais disponível e o termo de consentimento seja obrigatório em diversas situações, a disparidade na relação médico-paciente nunca deixará de existir e o médico sempre ficará a cargo de auxiliar o paciente nas suas decisões. E, para o paciente aflito com a doença, a balança tende a pender para acatar a decisão médica, como ocorria na medicina hipocrática, séculos atrás. Neste ponto reside uma fragilidade na medicina contemporânea: na presença de médicos com conhecimento escasso ou motivações torpes, o paciente vira alvo fácil para a pseudociência e tende a aceitar as mais diversas miríades de tratamentos e procedimentos que não se enquadram na medicina virtuosa.
Ainda que burocraticamente se tente tornar segura a medicina, esta será sempre uma ciência baseada na relação de confiança entre dois indivíduos humanos e guiada pela ética e moral, atributos que sempre estarão ligados à medicina, independente de quando seja exercida.
Kethe Oliveira Psicóloga clínica do Hospital Dona Helena
A saúde mental em tempos de Covid-19
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cenário atual, vivenciado em todo o mundo, trouxe muitas mudanças. Mudanças necessárias para a manutenção da vida, porém de grande desafio – como realizar transformações que envolvem uma nova rotina do trabalho e dinâmica familiar, e ainda a restrição de convívio social e o gerenciamento de sentimentos, como o medo e a insegurança? Essas situações podem ocasionar sofrimento e, consequentemente, desgaste psíquico, podendo culminar em prejuízo na saúde mental.
Desde a disseminação da doença, muitos profissionais passaram a fazer sugestões de como manter a saúde mental. Penso que todas essas sugestões são bem-vindas, mas é preciso entender que cada sujeito, diante de sua história e de sua estrutura psíquica, poderá se adaptar àquilo que lhe faz mais sentido. Não existe uma receita pronta para todos, mas pontuações que possam auxiliar neste momento de crise.
Manter um equilíbrio entre mente, corpo e espírito pode ser eficaz na maior parte do tempo. Recomenda-se realizar atividades físicas, como os alongamentos; tentar meditar, ler e ouvir músicas; resgatar atividades que gerem prazer, como pintar e brincar (com jogos de tabuleiro, de cartas e de mímica). E utilizar, também, dos recursos eletrônicos para estar em contato com
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familiares e amigos, fazendo da distância uma barreira simbólica. Uma outra sugestão, que considero eficaz, seria a possibilidade de iniciar um processo terapêutico, ou mantê-lo para quem já o faz, utilizando esse espaço para falar sobre seus sentimentos e ter acesso às sensações provocadas por eles.
O momento de crise também traz como possibilidade o fato de estar consigo mesmo. No “seu” silêncio, surge a angústia de um certo vazio, mas um vazio que pode ser fonte de descobertas, e elas, provavelmente, irão servir de impulso no movimento da vida. Para ilustrar esse pensamento, cito uma fala da professora, filósofa e psicanalista Denise Maurano: “O vazio é impossível de ser extirpado, mas cabe-nos encontrar meios menos nefastos de abordá-lo. Como li em um folhetim: ‘não se pode mudar a direção do vento, mas pode-se alterar a posição das velas’”. Poder olhar para esse momento como
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um processo de adaptação e aprendizado traz a possibilidade de ressignificar e tornar-se resiliente. Os profissionais da saúde, que estão no atendimento direto aos pacientes, sofrem com outras questões, além das já mencionadas. O sentimento de medo parece mais intensificado, em especial por pensarem que são potenciais agentes de transmissão da doença. Muitos profissionais decidiram ficar afastados de seus familiares, a fim de protegê-los e assim minimizar o sentimento de angústia e medo, gerando, no entanto, outras sensações que produzem sofrimento.
Cuidar de quem cuida se tornou uma preocupação, por essa razão percebe-se um grande movimento para oferecer um serviço de acolhimento e escuta para essas pessoas. No Hospital Dona Helena, a direção da instituição já se preocupou com isso desde o início, não só se equipando com recursos de proteção, mas também criando um programa de cuidado com a equipe, formado por profissionais como psicólogos, assistente social e capelã, que diariamente estão envolvidos com os colaboradores, de forma remota ou presencial, com visitas nos postos de trabalho.
Cuidar de si, cuidar do outro e buscar o espírito da coletividade podem ser estratégias de enfrentamento para esse momento de crise, que nos possibilitam manter o equilíbrio emocional diante do desconhecido, do invisível, que trouxe sentimentos diversos, mas que também sinaliza meios de olhar para o movimento da vida de forma diferente.
Ana Carolina Moreira de Carvalho Cardoso Médica especialista em hematologia e transplante de medula óssea
Qualidade de vida em pacientes oncológicos
s doenças oncológicas vêm ganhando mais atenção ao longo dos anos pelas dimensões que alcançam. As neoplasias hematológicas são doenças causadas pela proliferação desordenada de células na medula óssea (fábrica do sangue) ou no sistema linfático. As doenças hematológicas mais conhecidas são as leucemias, linfomas, mieloma múltiplo e as síndromes mielodisplásicas. As estatísticas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) revelam uma média de 22 mil novos casos de neoplasias hematológicas ao ano no Brasil, tornando-se um evidente problema de saúde pública nacional e mundial. No Brasil, as leucemias e linfomas (do tipo não-Hodgkin) correspondem a aproximadamente 5% de todos os cânceres incidentes.
O tratamento para as neoplasias hematológicas pode variar bastante, dependendo da idade, condição física e comorbidades do paciente, porém, a base de todos os tratamentos está na quimioterapia e na radioterapia. As quimioterapias para as doenças hematológicas são habitualmente intensas e, por muitas vezes, estão associadas a mudanças negativas na qualidade de vida dos pacientes, pelos efeitos colaterais que produzem.
Tendo em vista o impacto negativo que os tratamentos para as neoplasias
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podem ter nos pacientes, a adequada avaliação e assistência vem ganhando cada vez mais força junto às equipes médicas, para reduzir assim a sobrecarga emocional para o paciente e familiares, com consequente redução de sintomas físicos e emocionais, e aumentando a qualidade de vida desses pacientes.
O conceito de qualidade de vida ainda é muito controverso e amplo. Nos pacientes oncológicos, qualidade de vida é uma visão subjetiva do indivíduo em relação à sua funcionalidade para as atividades diárias. Por isso, criou-se uma maneira de mensurar a saúde dos indivíduos utilizando um questionário e, assim, avaliar o quanto a doença e/ou o tratamento estão afetando a sua vida cotidiana. A avaliação da qualidade de vida em pacientes com câncer é fundamental para identificar e intervir nos principais sinais e sintomas relatados pelo paciente e, por conseguinte, promover uma melhor qualidade de vida.
Um dos questionários que a equipe assistente pode usar é o WHOQOL-bref. Nele, constam perguntas relacionadas a: 1) questões físicas (dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso, mobilidade, atividades da vida cotidiana, dependência de medicação ou de tratamentos, capacidade de trabalho); 2) questões psicológicas (sentimentos positivos, pensar, aprender, memória e concentração, autoestima, imagem corporal e
aparência, sentimentos negativos, espiritualidade/religião/crenças pessoais); 3) questões sociais (relações pessoais, suporte/apoio social, atividade sexual); 4) meio ambiente (segurança física e proteção, ambiente no lar, recursos financeiros, cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade, oportunidades de adquirir novas informações e habilidades, oportunidades de recreação/lazer; ambiente físico – poluição/ruído/trânsito/clima, transporte).
O diagnóstico de câncer interfere sensivelmente na qualidade de vida dos pacientes, principalmente no aspecto físico e emocional. O comprometimento da capacidade em realizar atividades diárias é um dos principais fatores relacionados
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negativamente com a qualidade de vida. Insegurança e incerteza relacionadas ao futuro também são fatores geradores de estresse e ansiedade. Os tratamentos para as neoplasias hematológicas, por ser intensos, são associados a múltiplas queixas do paciente, fazendo com que este se torne mais dependente de sua rede de apoio, o que muitas vezes gera uma sensação de ser um incômodo para todos. Caso a equipe clínica e multidisciplinar não atue decisivamente, o paciente pode desenvolver um quadro de depressão.
Fatores como ter uma rede de apoio ativa e presente, apoio da equipe assistente e acesso fácil aos serviços de saúde são importantíssimos na percepção positiva de qualidade de vida dos pacientes. Por isso, independente do diagnóstico, é sempre importante tanto a equipe médica e multidisciplinar, quanto família e amigos, serem empáticos com o paciente, para que sejam reduzidos os fatores causadores de ansiedade e físicos relacionados ao tratamento, oferecendo assim uma melhor qualidade de vida.
José Tadeu Chechi Diretor geral do Hospital Dona Helena
O desafio da gestão em período de pandemia
esde o primeiro momento da crise provocada pela Covid-19, a direção do Hospital Dona Helena está se reunindo diariamente, acompanhando tudo o que vem acontecendo e fazendo os ajustes necessários em nossas atividades, para garantir o melhor atendimento e proporcionar a maior segurança possível para funcionários e pacientes. Estamos sempre tomando atitudes preventivas para preparar o hospital para outros cenários. Sem fé ou otimismo, não vamos em frente, mas também, se não tivermos competência, capacidade técnica e conhecimento de todas as nossas rotinas, teremos mais dificuldades.
Precisamos manter a mente aberta para situações novas e estar atentos ao que nos cerca. Como profissionais de saúde, temos a responsabilidade de disseminar o conhecimento para a população, parentes, vizinhos e colegas. Há muitas fake news circulando, e o pior que pode ocorrer agora é uma situação de pâni
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co. Por isso, o profissional da área exerce um papel importante: disseminar o que é verdade. E, ao mesmo tempo, contribuir para que as pessoas mudem seus hábitos. É difícil manter o isolamento e ficar em casa, mas é muito mais complicado permanecer em um hospital, principalmente quando falamos de idosos. Em casa, adotar o mesmo comportamento que se tem no hospital, realizando todos os cuidados de higienização. Somos o exemplo: temos que transmitir a segurança para a população. Não podemos abrir mão dessa responsabilidade. O hospital continua atento aos protocolos, rotinas e portarias que vêm sendo anunciadas. As equipes estão extremamente atualizadas, todas as informações e comunicados são difundidos de forma muito positiva, sendo absorvidos pelo time da instituição. Sempre ressalto que cada um deve ficar com a informação correta para se preparar da melhor forma possível: trata-se de um desafio, uma dificuldade, mas também uma grande oportunidade. As pessoas depositam a confiança em nosso trabalho e não vamos decepcioná-los.
Há uma grande preocupação da instituição em manter as atividades de maneira adequada e segura. A principal responsabilidade agora é fortalecer a nossa capacidade funcional, de modo que as pessoas mantenham seus empregos, preservando sua saúde. O mundo está enfrentando um desabastecimento em equipamentos de proteção individual, o que também tem causado apreensão. É necessário seu uso racional e descarte adequado, principalmente das máscaras, garantindo, assim, maior segurança no trabalho.
Pelo empenho e envolvimento dos profissionais e das equipes assistenciais e de apoio, em um cenário de crise, somos sempre gratos. É uma luta diária, mas tem sido gratificante observar que o resultado de nosso trabalho está fazendo diferença na vida de tantas pessoas. Não vamos nos abater pelas dificuldades que estão por vir se tomarmos as devidas precauções e atentarmos às orientações para atender nosso paciente da melhor maneira possível. Estar presente em uma instituição de saúde, hoje, é um grande desafio, mas estamos preparados para dar a melhor assistência e, com tranquilidade, otimismo e fé, vamos superar este momento.