A campanha contra o HPV: vacinação, iniciação sexual precoce e o diálogo Dependência química: encontrando a saída
A realidade de São Borja no Jornal Matiz Por: Quézia Meireleis Vagner Correa Vivian Belochio
Expediente Direção:Vivian Belochio Edição: Vivian Belochio, Vagner Correa Repórteres: Laís Rezende, Thaís Leobeth Fotos: Laís Rezende, Nayane Carvalho, Quézia Meireles, Thaís Leobeth e Vagner Correa Foto capa: Thaís Leobeth Editores: Quézia Meireles e Vagner Correa Diagramação: Laís Rezende, Vagner Correa Edição XI do jornal Matiz, produzido para a disciplina de Agência II, do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Pampa, campus São Borja em parceria com I4, Agência Experimental de Jornalismo.
As férias da Unipampa acabaram e um novo ciclo começou. Durante o primeiro período de 2015, na disciplina de Agência de Notícias II, diferentes abordagens sobre fatos de repercussão em São Borja serão realizadas, quinzenalmente. O Jornal Matiz, publicação flip da Agência Experimental de Jornalismo da Unipampa, é uma das publicações que servirão a esse propósito. Esta é a 12ª edição do jornal e convidamos os leitores e interagentes a navegarem pelas matérias que a compõem. Nesta publicação, os leitores encontrarão matéria sobre a sexualidade precoce. No mês de março, a discussão a respeito do tema se intensificou a partir da campanha de vacinação contra o HPV para meninas a partir de nove anos de idade, organizada pelo Ministério da Saúde. Em São Borja, a vacinação não atingiu a meta, talvez porque ainda existe certo tabu com relação à questão. Aparentemente, continua sendo necessário o esclarecimento constante sobre a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis. A inclusão de adolescentes nesses debates é essencial. O Matiz também traz matéria sobre a dependência química na cidade. Nossa equipe buscou informações sobre como é a vida das pessoas que convivem com essa realidade. Investigou as saídas indicadas para quem procura ajuda. No município, o número de comunidades terapêuticas e grupos de apoio está crescendo. Isso garante a busca de novos caminhos aos dependentes.
A campanha contra o HPV: vacinação, iniciação sexual precoce e o diálogo
Foto: Vagner Correa
Por: Thaís Leobeth
A campanha de vacinação contra o HPV, realizada no mês de março, despertou questionamentos sobre a iniciação sexual precoce por destinar-se a meninas com idade entre nove e 11 anos. A estratégia do Ministério da Saúde dividiu opiniões.
No dia 28 de março, a secretaria de Saúde realizou o segundo dia de intensificação da campanha a fim de aumentar a procura.
Foto: Vagner Correa
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A infecção pelo papilomavírus humano, mais conhecido como HPV, é uma doença sexualmente transmissível (DST), responsável pela maioria dos casos de câncer de colo de útero. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), entre as mulheres brasileiras, esse câncer é a quarta causa de morte por esse tipo de doença. Existem mais de 100 tipos de HPV, mas nem todos causam câncer e em alguns casos a pessoa infectada pode não apresentar sintomas. O problema em torno do vírus também é a sua vasta proliferação. A iniciação sexual precoce é um dos fatores que contribuem na disseminação, pois os adolescentes tendem a ser mais despreocupados em relação à proteção de sua saúde. Como medida de combate ao câncer de colo de útero causado pelo HPV, o governo federal lançou, em 2015, a segunda Campanha Nacional de prevenção ao HPV, com fornecimento da vacina através do Sistema Único de Saúde (SUS). A vacina está disponível na rede privada de saúde desde 2007, mas somente agora se tornou uma ferramenta pública na prevenção do HPV causador de câncer. Em São Borja, 1495 meninas estavam na faixa etária estipulada pela campanha. A Secretaria de Saúde do município contou com o apoio das escolas para a organização da mesma, visando abranger todo o grupo e obter auxílio no contato com os pais ou responsáveis. A vacina, destinada apenas às meninas, prevê a aplicação de três doses, sendo que a segunda será aplicada depois de cinco meses e a última dose após cinco anos.
A estratégia da campanha
Foto: Vagner Correa
O vírus, além de causar câncer de colo de útero e de pênis, entre outros, tem potencial para desenvolver diversos tipos de doenças na região genital, tanto em mulheres quanto em homens, como o condiloma acuminado, popularmente conhecido como verruga genital. Embora esse tipo de enfermidade seja mais fácil de ser combatida, diferente do câncer, o papilomavírus humano é um problema que preocupa a saúde pública. A enfermeira Carem Vidal, responsável pela central de vacinas em São Borja, explica que a estratégia do Ministério da Saúde é imunizar as meninas numa idade em que se acredita que elas ainda
não tenham vida sexual ativa. Isso porque a vacina A discussão sobre a sexualidade entre pais e só tem validade se recebida antes do contato sexual. filhos é vista como uma barreira a ser superada na Caso em algum momento da vida elas tenham contato sociedade atual. Para a psicóloga Laura Gattiboni, com o HPV, já estarão protegidas. “O ideal é começar coordenadora do Núcleo de Apoio à Saúde da Famía vacinação antes do primeiro contato com a relação lia (NASF) em São Borja, essa campanha pode estar sexual, porque esse vírus é muito comum das pessoas abrindo uma porta para que esse assunto seja encarase contaminarem. Quem já tem a vida sexual ativa do no convívio familiar. “Quando a gente vacina as em algum momento, dependendo da quantidade de crianças, a gente está cuidando delas. E é uma forparceiros, já teve contato com o de ensinar elas a terem Confira mais sobre a cam- ma vírus”, explica Carem. os seus cuidados. Até acho A faixa etária compreen- panha de vacinação em São que a vacina possibilita que dida na campanha tem causado os pais tenham um diálogo Borja, clicando aqui. polêmica em relação à necessisobre a vida sexual”. dade de meninas, ainda na sua Laura vê a falta de infância, com nove anos de idainformação e de uma visão de, precisarem receber a vacina. Para algumas pes- mais ampla do mundo como principais fatores de soas, parece ser muito cedo. Isso tem gerado dúvidas influência ao preconceito com a vacina. “Eu oriento sobre a campanha se tornar um estímulo à iniciação os pais a encararem a vacinação com a maior naturasexual precoce. Por outro lado, a ação é vista por es- lidade possível, através do pensamento de que essa pecialistas como fator positivo em função do peso ação é uma questão de proteção e a atual geração que tem por ser uma vacina que previne câncer. está sendo privilegiada com essa opção”, enfatiza a psicóloga. A professora de educação infantil, Cíntia Pereira, levou a filha Isabelle, de nove anos, para ser vacinada. Inicialmente, ela se questionou em rela-
O papel dos pais
Cintia e a filha Isabelle observam atentas as informações passadas pela enfermeira.
Foto: Vagner Correa
ção à situação, mas, pensando um pouco mais, acabou mudando de opinião. “De primeiro momento, eu até pensei, quando a escola me chamou, mandou um bilhetinho falando sobre a vacina: pxa tão cedo! Mas, ao mesmo tempo, pensei que a vida, hoje em dia, tem tanta coisa acontecendo, então é melhor prevenir. E orientação é o melhor caminho”.
O desafio das escolas
Foto: Vagner Correa
A escola tem sido um importante espaço social para suprimento das necessidades de diálogo e conhecimento que a maioria dos adolescentes não encontra em casa. Por um lado, eles têm vergonha de perguntar e, por outro, os pais acabam omissos em relação às necessidades do processo de amadurecimento dos seus filhos. A orientadora educacional, Elda Kener Dornelles, explica que, na escola, é possível perceber que existe pouco diálogo. Ela comenta que o tema educação sexual, até então abordado no oitavo ano do ensino fundamental, já está defasado em relação à idade em que os adolescentes começam a ter curiosidades sobre o assunto, situação encontrada no já sexto ano. “A gente percebe claramente que os pais não conversam com eles sobre isso, talvez por falta de informação, talvez por vergonha, e nós, enquanto escola, vamos tentar fazer algumas palestras com esses alunos, para a gente conversar com eles, discutir, ouvir, para dar uma clareada sobre esse assunto”, afirma a orientadora. A psicóloga Laura Gattiboni salienta que, nas relações entre pais e filhos, é possível compreender quando é o momento certo de conversar sobre sexualidade e ressalta a importância de os pais estarem abertos ao diálogo. “Para que as crianças possam chegar e perguntar, tem que ter abertura para o diálogo, o que muitas vezes não se tem. A gente pensa que hoje em dia é diferente de antes, mas não é bem assim. Tem assuntos que são tabus ainda, assuntos que ainda não podem ser falados em casa e isso aí também é um estímulo para que elas venham a descobrir, a questionar pessoas de fora”. Laura lembra, ainda, que muitas pessoas confundem o diálogo com sinônimo de total liberdade, enquanto que, segundo ela, na verdade, é o diálogo que vai proporcionar limites aos adolescentes.
Foto: Quézia Meireles
Dependência química,
encontrando a saída Por: Laís Rezende
Em São Borja, o número de comunidades e núcleos terapêuticos para os dependentes químicos vem aumentando. Uma vela em meio à escuridão ilumina? Uma vela na claridade faz alguma diferença? Ela é vista como uma luz em meio às adversidades. A assistente social Cintia Lersh busca, através dessa metáfora, dar um exemplo simples para mostrar o que leva à dependência das drogas. “Se essa pessoa tiver uma vida complicada, dificuldades relacionais, vazios existenciais e eu apagar esta luz, que representa a escuridão dessas dificuldades, e eu acender essa vela, vai fazer diferença?”, questiona. A partir disso, destaca como a família e a educação são relevantes no processo de prevenção contra as depedências. A psicóloga do Hospital Ivan Goulart, Lara Dubal, explica que “toda pessoa tem uma prediposição genética para a droga. Vários fatores podem levar a isso: grupo de amigos e até o contexto familiar”. Ainda sobre a genética, muitos dependentes químicos não conhecem familiares que tenham passado por esse vício. Mas Dubal esclarece que, “muitas vezes, você acha que não tem um familiar no mo-
mento, mas tem seus antepassados”. A insegurança também é um fator que leva muitas pessoas para o mundo das drogas. A necessidade de aceitação, montanha russa de sentimentos, podem levar à fuga através dos vícios. “Acontece até como uma autoafirmação. Vou usar para me sentir um pouco melhor, para minha autoestima subir, elevar. Só que, automaticamente, eles estão se enganado”, explica a psicóloga. Para a assistente social Cintia Lersch, um dos fatores que levam adolescentes para o mundo das drogas é a base familiar. “Depende da configuração dessa família. Ele está com situações muito graves, está passando por violência, por vulnerabilidade em qualquer sentido e isso vai provocando brechas, que abrem oportunidades para as pessoas procurarem anestesiamentos. Eu vou gerando vazios na minha vida e, a partir desses vazios, essa alternativa, infelizmente, são as drogas. O pessoal vai brincando, brincando e depois não sabe com o que está lidando”, esclarece.
Foto: Laís Rezende Reunião do Grupo Amor à Vida, na Assossiação Espirita José Ferreira de Moraes, que é realizada nas segundas-feiras.
Sobre os espaços terapêuticos contra a dependência química, Cintia Lersch explica que existem três tipos de instituições, descritos como “níveis de atenção”. “O primeiro nível de atenção, que seria o meio aberto, [é] o Centro de Atenção Psicossocial Álcool é Drogas (CAPS AD), que [fica] no antigo Hospital São Francisco. O CAPS AD trabalha no campo meio aberto, [em] que as pessoas tanto podem entrar para se tratar às 8 horas da manhã e sair às 17 horas, ou então elaborar com a equipe, de acordo com cada caso. Se não atingir o objetivo dele, desse paciente, abstinência nas drogas, ficar livre, vencer as dificuldades que a vida proporciona, daí (...) vem para o segundo nível de atenção, que é o hospital. No hospital já tem uma degradação maior, (...) é preciso uma intervenção em um meio mais protegido, com internação de até 30 dias aqui”. Lersh explica, também, como se dá essa internação. “Já refaço o resgate de vínculos da família, a
gente vai se organizando. Se, por ventura, essa pessoa aceitar, ela vai para comunidades terapêuticas. No caso aqui de São Borja, nós temos a Chico Xavier e a Comunidade Terapêutica Senhor Jesus de São Borja, que é para adolescentes”. No mês de abril, também será inaugurada a Comunidade Terapêutica Joana de Angeles, direcionada somente para mulheres de 18 a 65 anos. O presidente do grupo Amor Exigente e gestor da comunidade Fazenda do Senhor Jesus, André Jara Machado, cita a “predisposição genética, biológica, social, psicológica” como fatores que podem levar às drogas. Na comunidade Fazenda do Senhor Jesus, Machado conta que “o programa é baseado em exemplos. Os mais velhos dão exemplo aos mais novos”. Lá, as pessoas em tratamento realizam diversas atividades. “Eles cozinham as próprias comidas. Horta, animais, lavoura. Terapia ocupacional. Uma hora e meia de terapia de manhã e uma hora e meia de tarde, estudos dos 12 passos”, conta o gestor. Um dos fatores que considera indispensável também é “o lazer, porque eles têm que gastar energia”. Foto: Laís Rezende
Comunidades Terapêuticas e núcleos de tratamentos
O que são os 12 passos?
1º PASSO Admitimos que éramos impotentes perante o álcool que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas. 2º PASSO Viemos a acreditar que um poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos a sanidade. 3º PASSO Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que o concebíamos. 4º PASSO Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos. 5º PASSO Admitimos, perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas. 6º PASSO Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter. 7º PASSO Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições. 8º PASSO Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados. 9º PASSO Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las, ou a outrem. 10º PASSO Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente. 11º PASSO Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós e forças para realizar essa vontade. 12º PASSO Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades. Fonte: www.alcoolicosanonimos.org.br Foto: Banco de Imagens Morguefile
Uldimara Viera, mãe de Matheus de 18 anos, ex dependente químico.
Foto: Nayane Carvalho
Vivendo com as drogas: a esperança na fé A religião pode virar o verdadeiro alicerce na hora de sair do mundo das drogas. Cada um escolhe a que mais se identifica. A psicóloga Lara Dubal destaca que tem visto casos assim no Hospital Ivan Goulart. “O que a gente vê de pacientes que passaram aqui, que estão bem hoje, que estão em recuperação, todos se aliaram a uma religião, a uma espiritualidade. Buscam a fé para conseguir manter o tratamento e sair das drogas. É um tripé, como a gente diz”. O psicólogo da Comunidade Terapêutica Chico Xavier, Marcelo Galle, considera que a fé é essencial. “É muito importante, para que eles possam se calçar em uma força superior. Lá, a gente chama de espiritualidade, mas a casa é ecumênica, eles aceitam todos os tipos de religião. O que importa é ter uma força superior, uma religião, para que possa se calçar com o tratamento”. Sobre o que eles ensinam dentro dessa comunidade, Galle cita, primeiramente, os 12 passos, e explica como surgiram. “É um movimento religioso que se formou na década de 60, nos Estados Unidos, um dos tratamentos base para o alcoolismo, e depois se formou o NA, os Narcóticos Anônimos, [em] que entram as dependências químicas”.
A autônoma Uldimara Viera descobriu que seu filho, Matheus, estava envolvido com drogas quando ele tinha 16 anos. Na época, não tinha conhecimento sobre o que era e como lidar com essa situação. Apesar de todo o sofrimento e com danos causados pelo vício do filho, como perda de emprego e desunião familiar, nunca desistiu de lutar por ele. Matheus foi internado na Fazenda do Senhor Jesus, em 2014, aos 17 anos. Hoje, está em bom ritmo de recuperação. Sempre que liga para a sua mãe, reforça que pretende apenas estudar agora, pois perdeu dois anos da sua vida. “Eu tive que ser muito sábia e ter muita coragem para deixar a polícia levar meu filho”, observa Uldimara. Ela nunca perdeu a esperança na sua recuperação. Também assegura que a fé e a religião foram primordiais na recuperação de Matheus. “O que eu acredito, que ajudou ele, é que ele buscou em Deus. Que ele está buscando. Porque, se não fosse isso, ele estaria na rua”. Uldimara acredita na importância do amor, do respeito, da união familiar para a construção de uma vida longe das dependências. Para ela, o apoio dos amigos, dos grupos e da família estão sendo essenciais para a recuperação de Matheus.
Criação e comportamento Há filhos que, em algum momento, acabam necessitando de mais atenção dos pais. Alguns apresentam mais dificuldades que os outros. Às vezes, os filhos se sentem acuados, deixados de lado por essa atenção voltada para os irmãos. A psicóloga do CAPS AD III, Claudia Schmidt, diz que, “em uma mesma família, ninguém é igual. Nem irmãos que foram criados da mesma forma”. A mãe de Matheus, Uldimara, explica como fez na criação de seus filhos e que um não foi igual como o outro, exemplificando o que Schmidt disse. “Eu sou muito de dar liberdade, da criança aprender sozinha”. Com a filha mais velha, Danusa, funcionou, foi para o rumo certo,. Já com o Matheus, ele tinha uma carência, que a Danusa não tinha. Nenhum filho é igual ao outro”. Alcoólatra por 24 anos, Nicolau Aramburu conta que começou aos 8 anos de idade. “Questão da família, da influência, meu pai deixou uma garrafa de vinho na geladeira. Peguei a garrafa, bebi e tive o meu primeiro coma alcoólico. Ali, eu acho que foi a primeira semente que foi brotada”. Mas, segundo ele, foi o medo da separação e de perder os filhos que intensifi-
cou o vício. “Meu fundo de poço foi justamente quando deu esse baque da família”, lembra. Aramburu salienta que procurou o Alcoólicos Anônimos quando aceitou que chegou no seu limite. “Você que identifica seu fundo de poço. Deu um problema, seja familiar, seja no trabalho, está na hora de entrar, não existe grau”. Sobre o comportamento do dependente químico em tratamento, muitos “ou são muito abalados, relacionados à depressão, muitas vezes melancolia, ou, geralmente, são muito agressivos, muito eufóricos”, analisa o psicólogo Galle. “São sujeitos que não têm muita aceitação com relação à palavra do outro, a escuta do outro é muito complicada, porque a via de linguagem deles é muito ineficaz”. Quando os usuários estão em drogadição, eles só têm olhos para as drogas. “As outras relações se esfacelam, acabam sendo afetadas. São comportamentos bipolares, de extremidades, depressão, euforia. Eles acabam variando muito lá dentro. Com o tratamento, eles acabam regularizando bastante, mas isso depende de muito tempo de tratamento”, conclui Galle.
Foto: Quézia Meireles