Jornal Matiz

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São Borja Edição 2, 29 de Julho 2013

R$ 2,15 PARA EMBARCAR

Residencial Maria Cristina Vargas: vida em comunidade

A satisfação pela beleza. Uma nova Miss em São Borja

Depois das drogas: uma segunda chance para viver


Serviços mais baratos e melhores, políticos mais justos: será? Por Vivian Belochio e Tamara Finardi

Expediente Direção: Vivian Belochio. Edição: Vivian Belochio, Tamara Finardi. Repórteres: Liziane Wolfart, Ludmila Constant, Renan Machado Guerra, Tiago Rosário. Fotos: Ludmila Constant, Nycolas Ribeiro, Rafael Junckes, Tiago Rosário. Editores: Lays Borges, Maneula Sampaio, Nycolas Ribeiro, Tamara Finardi Diagramação: Liziane Wolfart, Ludmila Constant, Rafael Junckes, Renan Machado Guerra, Tamara Finardi. Colaboração: Jeferson Balbueno. Identidade Visual: David Kochann. Edição II do Jornal Matiz, produzido para disciplina de Agência de Notícias II, do Curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal do Pampa, Campus São Borja, em parceria com a i4, Agência Experimental de Jornalismo.

Quanto valem as manifestações do público que mobilizaram o país em busca de causas variadas? Qual é a força das reivindicações populares realizadas no Brasil em plena Copa das Confederações? A movimentação política gerada depois que o povo decidiu protestar mostrou que é possível fazer com que os representantes políticos dos brasileiros observem e procurem atender, com brevidade, as suas demandas. Mostrou, também, que, se inexistem a ética e a honestidade no exercício dessa determinação, é possível obrigar com que se cumpra tal compromisso. Infelizmente, em algumas situações, é preciso obrigar mesmo os detentores do poder ao cumprimento das suas próprias incumbências. Foi isso que aconteceu no Brasil, fato que deixa uma dúvida: será que o atendimento das reivindicações populares vai durar? O empenho em buscar soluções rápidas para os problemas do povo vai continuar ocorrendo? Esta edição do Matiz estimula, mais uma vez, a reflexão sobre isso. Traz, em destaque, informações relevantes sobre os bastidores da redução da tarifa do transporte coletivo urbano em São Borja. A matéria conta como, mesmo após a desoneração tributária da empresa responsável pela prestação do serviço no município, não foi possível chegar a um corte expressivo no preço final das passagens de ônibus. São Borja seguiu a onda da redução dos valores das passagens. Deixou evidente, contudo, como é difícil conseguir alterações significativas nesse sentido. O excesso de burocracia e de tributos continua impedindo mudanças radicais, benéficas à sociedade, para a conquista de preços menores e de serviços públicos mais qualidade. Esse é o quadro visível em nível nacional. Trata-se de uma realidade que não é diferente em São Borja. Resta saber se as transformações positivas que ocorreram no país vão ir além da redução do valor das passagens do transporte coletivo urbano. Será que a destinação de mais recursos para setores importantes, como educação e saúde, vão continuar a ocorrer? Os projetos do legislativo que, de repente, começaram a andar, após tempos esquecidos, vão continuar a evoluir? Se é que é efetiva, essa tendência será seguida em São Borja? Fica a dúvida... A reportagem sobre o valor da tarifa do transporte coletivo também oferece interatividade. Fique atento às palavras que, no decorrer do texto, abrem links para a navegação na web. Além desse tema, o Matiz também traz matéria sobre o valor comercial da beleza feminina, partindo da cobertura do concurso The Miss Devassa, ocorrido no município. Propõe nova discussão sobre a dependência química em reportagem a respeito da recuperação do coordenador terapêutico da Comunidade Terapêutica Chico Xavier, localizada na cidade. Por fim, fala sobre o déficit habitacional e descreve o caso dos são-borjenses que foram beneficiados pelo programa Minha Casa Minha Vida. Hoje, vivem no Residencial Maria Cristina.


Rafael Junckes

Tamara Finardi Liziane Wolfart

Por que R$ 2,15?

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Foto: Rafael Junckes


Foto: Rafael Junckes

No dia 20 de junho, na sala do Pleno da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Trânsito (SMSPT), localizada na Prefeitura Municipal de São Borja, se reuniram em sessão extraordinária o Conselho Municipal de Transporte Coletivo (CMTC) de São Borja e Alexandre Saccol, o gerente geral da Santa Ignês, empresa que realiza o transporte público urbano na cidade. Na reunião foi apresentada a Medida Provisória nº 617, de maio de 2013, que isenta a contribuição de PIS e COFINS das empresas prestadoras de transporte coletivo. Na próxima reunião, no dia 24, o novo preço das passagens do transporte público urbano seria decidido. Dos R$ 2,30, o valor seria reduzido para R$ 2,15. R$ 1,05 para estudantes e servidores públicos. Antes deste dia o Brasil presenciou muitos momentos turbulentos pautados pelas tarifas do transporte em Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e várias outras cidades. Junho foi um mês agitado. A geração que nasceu depois dos anos 90 ainda não tinha presenciado tamanho movimento nas ruas. Tamanho no sentido da proporção que a mobilização tomou. Protestos sempre aconteceram, a cobertura dos canais abertos de televisão brasileira sempre foi a mesma. Até quinta-feira, 13 de junho. A TV trazia em coro o termo ‘vandalismo’, já a internet a denuncia de truculência e violência da força policial e de minorias civis. Esse foi o estopim que acabou espalhando fagulhas para todos os cantos do Brasil. O que se viu nos dias seguintes foi milhões de brasileiros protestando e reivindicando seus direitos. Dias de luta se sucederam buscando a melhoria de transporte coletivo urbano. A pequena cidade na fronteira oeste do Rio Grande do Sul não poderia deixar de mostrar sua voz. No dia 25 de junho – um dia após a reunião que definiu o novo preço do transporte ter sido realizada sem divulgação para a população uma carta de intenções, que reivindicava melhorias no transporte público, foi entregue na Câmara de Vereadores de São Borja. A carta, nascida de uma reunião entre pessoas da comunidade, em maioria jovens universitários, era construída como reflexo organizado das manifestações nacionais de muitas pautas e vo-

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Tamara Finardi Liziane Wolfart Rafael Junckes

zes. No dia 26 - coincidentemente o dia que iniciava o semestre letivo na Unipampa - os são-borjenses foram convidados a ir à rua, para reivindicar seus direitos. Dentre eles, a diminuição da tarifa do transporte público da cidade, que à época ainda estava fixada em RS 2,30. Dois dias após esse manifesto, houve a divulgação, o valor decidido pelas representações municipais entraria em vigor no primeiro dia de julho. O Conselho Municipal de Transporte Coletivo de São Borja, que se reuniu no dia 20 de julho com o gerente da empresa concessionária do transporte coletivo, é composto por representantes da Secretaria Municipal de Infraestrutura (SMIE); Secretaria do Planejamento, Orçamento e Projetos (SMPOP); Secretaria de Segurança Pública e Trânsito (SMSPT); Consultoria Jurídica e de Responsabilidade Fiscal; Associação de Condutores Autônomos de São Borja; Sindicato dos Transportes Rodoviários de São Borja; União das Associações de Moradores de São Borja (USAM); Conselho Superior do Plano Diretor e Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de São Borja. São oito representações. Na reunião extraordinária, onde estavam presentes apenas representantes da SMSPT, SMPOP, USAM e a Associação de Condutores Autônomos de São Borja, foi apresentada a MP nº 617 e outra alteração referente aos tributos das empresas de transporte coletivo. Esta se dá na exoneração de 20% da contribuição patronal do INSS, convertida no recolhimento de 2% do faturamento bruto da empresa. A partir dessas colocações, o valor da tarifa entrou em discussão. Alexandre Saccol expôs uma planilha, conhecida pelo nome GEIPOT, que continha os custos da empresa. O GEIPOT, extinto em 2008, foi instituído em 1965 e esteve ligado ao Ministério dos Transportes para assessorar em questões de política nacional e planejamento de transportes no país. Sua sigla, apesar de nunca ter sido modificada, teve várias denominações ao longo do tempo, veja na tabela ao lado. Com o uso da tabela GEIPOT, Saccol defendeu que com a redução do PIS e COFINS a tarifa deveria permanecer em R$2,30. Tinha-se em vista o reajuste anterior, de novembro de 2012, quando a empresa so-

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Foto: Rafael Junckes

2,30 2,20

2,44 2,08

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licitou o aumento para R$2,44 e o prefeito fixou nos conhecidos R$2,30. O gerente geral da Santa Ignês também sugeriu a isenção dos impostos municipais, que cobram 5% sobre do faturamento bruto da empresa (3% de Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, ISSQN, e 2% da Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos, AGESB). A partir daí, a tarifa poderia ser reduzida, segundo ele, para R$2,20. Diante das contestações apresentadas em relação aos cálculos utilizados, foi sugerida a apresentação de um novo relatório com as planilhas de custo da empresa. Quatro dias depois, uma nova sessão extraordinária foi realizada. Seguindo a linha da reunião anterior, o contador da prefeitura, Joicemar Tavares Pereira, destacou que, com a desoneração do INSS sobre o custo de R$ 2,44, apresentado pela empresa concessionária, o valor da tarifa ficaria em R$ 2,26. Descontando a taxa de PIS e COFINS, a redução geraria o valor de R$ 2,13. Saccol argumentou que a empresa estava repondo o valor do último reajuste que, ao invés dos R$ 2,44, ficou em R$ 2,30. Após a exposição dos argumentos, os integrantes do Conselho Municipal de Transporte Coletivo presentes na reunião deram sua opinião sobre qual seria o valor ideal. Por maioria dos votos, foi decidida a atual tarifa de R$ 2,15. A decisão é tomada em conjunto pelo Conselho, mas ela precisa passar pela avaliação da AGESB e do prefeito do município. José Claudio Tasca, vice-presidente da USAM, é um dos integrantes que representa as entidades civis no Conselho Municipal de Transporte Coletivo. “Os conselheiros aconselham o chefe do executivo, mas é o chefe do executivo quem toma a decisão final”. Na reunião, Tasca votou pelo valor de R$ 2,10. Ele acredita que a empresa já deveria ter suprido os investimentos que fez, considerando o tempo


Tamara Liziane Wolfart Wolfart TamaraFinardi Finardi Liziane Rafael Junckes

em que está na cidade, 20 anos. Descontando os anos em que a Santa Ignês não pertencia ao Grupo Medianeira, são 12 anos. No dia 25 de junho a AGESB recebeu um pedido para dar seu parecer, em caráter ‘urgente urgentíssimo’. No mesmo dia os integrantes da Agência Municipal Reguladora dos Serviços Públicos do município se reuniram para discutir o assunto. Conforme os estudos realizados, a redução do INSS e a isenção do PIS e COFINS refletiam em 7,23% de redução no valor da tarifa, “tirando esse PIS/COFINS fazendo toda a análise de novo nós entendemos que o preço da tarifa do ônibus deveria ser 2 reais e 10 centavos”, afirma o presidente da AGESB, Manoel Antonio Pinheiro Filho.

Demonstração do cálculo utilizado pela AGESB: * Parâmetro de cálculo - R$ 2,25 (valor defendido pela Agência no reajuste de novembro de 2012, de acordo com a análise que considerou o INPC - Índice Nacional de Preços ao Consumidor). * Índice de redução do INSS 3,58% - R$ 0,080 * Índice de isenção do PIS e COFINS 3,65% R$ 0,082 * Total a ser reduzido de acordo com o cálculo - R$ 0,162 * Valor calculado da tarifa com as reduções e isenções - R$2,088

Se aplicada a redução dos 7,23%, a tarifa seria de R$ 2,08. Através da Resolução Normativa 004/2013, que confere a AGESB o poder de arredondar o valor da tarifa em um múltiplo de 5, o valor definido pelos

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Na íntegra a entrevista completa com o prefeito de São Borja Farelo Almeida

Na íntegra a entrevista completa com o gerente geral da Santa Ignês Transportes, Alexandre Saccol.

votos dos conselheiros da Agência se estabeleceu em R $2,10. Valor não acatado. A redução ficou em 6,5% do valor anterior. Para Saccol o calculo da redução foi feita de maneira equivocada “a planilha GEIPOT é desenvolvida por um grupo gestor do Ministério dos Transportes e ali existem critérios, ali é onde a gente desenvolve o custo da tarifa, ali é feito os cálculos, ali é colocado os insumos do transporte, eles são jogados pra dentro dessa planilha, e a tarifa deu 2 reais e 44 centavos em outubro de 2012, o prefeito na época deu um aumento de 2 reais e 30 centavos. Nós perdemos 14 centavos. A Dilma foi lá e tiro o PIS e o COFINS pra diminuir o custo da tarifa pra ser mais acessível, logo o preço base da tarifa pra se baixar é os 2 reais e 44 centavos que tínhamos apontado lá”. Na sexta-feira, 28 de julho, o prefeito toma a decisão final. Assina o decreto que fixa o novo valor da tarifa do transporte coletivo urbano, R$2,15. Justificando que “nós não podemos causar um impacto na empresa e amanhã ou depois não ter um produto de qualidade, uma prestação de serviço de qualidade. E ela tá sendo feita com uma qualidade muito boa, apesar de hoje a 8

empresa estar num período difícil, porque o contrato licitatório não diz se a empresa vai ficar ou vai sair. Então ela está terminando, já está no prazo limite da licitação”. Em operação desde 2009 sem uma licitação regulatória, a Santa Ignês opera com uma frota de 21 veículos, sendo 19 operantes e dois em reserva. O ônibus mais antigo, segundo a empresa, data de 1997. O mais novo, 2009. Apenas dois deles possuem acessibilidade para pessoas com deficiência física que se locomovem em cadeira de rodas. Em maioria, os ônibus que operam em São Borja vieram de uma das três outras cidades em que o Grupo Medianeira também atua, Santa Maria, Ijuí e Cruz Alta. O novo edital está sendo construído pela Secretaria do Planejamento, Orçamento e Projetos da cidade. O objetivo da secretaria é que não haja impugnações futuras por parte do Tribunal de Contas do Estado ou das empresas concorrentes. Os últimos editais de licitação lançados pela prefeitura foram impugnados pelo Tribunal, por entender que deveriam ser feitas melhorias no documento. “O que acontece? Desde 2011 nós já publicamos três editais para tentar fazer o contrato com a empresa de transporte coletivo ur-


Confira na íntegra ea entrevista completa com o secretário de Segurança Pública e Trânsito Élcio Carvalho.

bano. O primeiro e o segundo foram suspensos em função de algumas adequações que tiveram que ser feitas, outras por orientação do próprio Tribunal e aí nós acabamos revogando a licitação. Já estamos na terceira e está suspenso em função de recursos apresentados pelas empresas que estão interessadas em participar”, justifica a diretora da Secretaria do Planejamento Orçamento e Projetos, Giliane Andreola. Para elaborar o edital a prefeitura criou uma comissão que o avalia o documento antes de enviar ao CMTC e à AGESB. Segundo o secretário de Segurança Pública e Trânsito, Élcio Carvalho, o edital sairá nos próximos dias “o objetivo da administração hoje é fazer o mais rápido possível, mas esta rapidez não pode ser de maneira que o edital saia com algum vício, que propicie um mandado de segurança e postergue mais ainda a decisão final. Então a situação é esta, nós estamos com uma empresa de forma precária prestando o serviço, porque não pode ser interrompido, e em processo administrativo tentando sanar os problemas do edital. Eu acredito que de 15 a 30 dias a gente republique o edital”. Ao contrário do secretário, Giliane não é tão

T = CT/P Onde: T = tarifa CT = custo total P = número de passageiros pagantes Mas essa é apenas a fórmula geral da tabela. Cada item apresentado acima contém diversos subitens, calculados por novas fórmulas. Com a criação do CONIT, ANTAQ, ANTT e DNTI, em 2002 o GEIPOT entrou em faze de liquidação. Em 2008 o grupo é extinto pela Medida Provisória nº427, de maio de 2008. Apesar disso a tabela ainda é usada em muitas cidades do país. Seu uso é muito criticado, visto que não há mais um órgão pra reger por ela, e visto que a última atualização da planilha foi feita em 1996, e com isso, as fórmulas podem não atender os índices financeiros atuais. Para saber como funciona a tabela acesse o site: www.geipot.gov.br 93

Rafael Junckes

O GEIPOT, denominado Grupo Executivo de Integração da Política de Transportes foi criado em 1965 (sob o Decreto nº57.003, de 11 de outubro de 1965), subordinado pelo MInistério de Viação e Obras Públicas, Ministro de Estado e Fazenda, Ministro Extraordinário par ao Planejamento e Coordenação Econômica, e pelo Chefe do Estado Maior das Forças Armadas. Em 1967 o grupo passou a ser controlado pelo Ministério de Estado dos Transportes, e teve sua denominação alterada para Grupo de Estudos para interação da Política de Transportes. Em 1973 a denominação do grupo foi novamente alterada para Grupo de Estudos em Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes, mas a sigla GEIPOT foi mantida. O grupo criou uma planilha para o cálculo de tarifas de ônibus urbano, conhecida popularmente como Tabela GEIPOT. Segundo a planilha, a tarifa é definida como sendo o rateio do Custo Total dos Serviços entre os passageiros pagantes. É representada pela equação:

Tamara Finardi Liziane Wolfart

O QUE É A TABELA GEIPOT?


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Ilustração: Jeferson Balbueno


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deste investimento? Não tem nenhuma garantia, então a gente faz o melhor possível com a frota que tem”, garante Alexandre Saccol. Enquanto o edital não for lançado e não houver um vencedor, sobra a população usuária do transporte público à cobrança aos órgãos responsáveis, para que estes tomem conhecimento da pauta e agilizem mudanças imediatas nas condições de condução de passageiros em São Borja. O mês de junho não deve ser esquecido. José Claudio Tasca defende que os gritos da rua não devem ser silenciados, ao menos até as reivindicações serem atendidas. ”Porque eu vejo que a força do estudante é que nos ajudou a reduzir o preço da passagem, senão o prefeito não ia se mobilizar. O atual prefeito só vai se mobilizar quando a mocidade e os trabalhadores se mobilizarem com alguma coisa. Ele não baixou para R$ 2,15, os estudantes, os cidadãos de São Borja é que baixaram para R$ 2,15”, conclui Tasca.* *Confira a matéria de Andressa Dantas sobre o impacto da redução das tarifas do transporte coletivo no país.

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otimista, ela não estipula um prazo para o lançamento da nova licitação. Por determinação do Tribunal de Contas, estão sendo analisados todos os pontos do documento. Novas pesquisas que indiquem o número de passageiros ao mês devem ser realizadas. A conta muda inversamente ao número de passageiros. A estimativa atual é que a Santa Ignês tenha 150mil usuários/mês, sendo 44mil com o benefício da meia passagem. Nesta realidade, a empresa prestadora do serviço na cidade atua precarizada e sem perspectivas que permitam a renovação de seus veículos. “Se nós renovarmos hoje uma frota que está carente de renovação, que garantia nós teremos pra que haja um retorno


Foto: Nycolas Ribeiro

A beleza Ă venda

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Concurso de beleza reune garotas entre 14 e 26 anos na cidade e nos leva novamente Ă discussĂŁo do uso do corpo feminino de forma erotizada


Foto: Nycolas Ribeiro

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Renan Guerra

Sábado à noite, dia 20 de julho, em torno de 10 horas, entramos em um dos salões do Clube Recreativo Samborjense. Lá, encontramos mais de quarenta garotas, todas finalizando suas maquiagens, ainda com casacos cobrindo seus vestidos de gala, pois estava um frio de menos de 10º C. Umas mais nervosas e outras acostumadas aos concursos de beleza, porém todas ansiosas por adentrar ao palco para a competição do concurso de beleza The Miss Garota Devassa. No meio das garotas, encontro Sabrina Bitencourt, de 18 anos, que curiosamente seria a vencedora da categoria adulta, de 18 a 26 anos. Ela estava acompanhada da mãe, num dos cantos do salão. Chego de mansinho e as duas já abrem um sorriso e comentam, sem receios, suas histórias nos concursos de beleza. Sabrina participa deste tipo de evento desde os quatro anos e já acumula 32 faixas de concursos de beleza. Quando questionada sobre a sua conquista preferida, ela não titubeia e responde: “a faixa de Garota Verão de 2012”. Ainda com um bob nos cabelos e um casaco de pelúcia, Sabrina sente-se completamente confortável quando os flashes começam. A jovem retira o casaco e podemos ver seu vestido azul, com um grande decote e uma fenda maior ainda na perna, traje que ela usava


Foto: Nycolas Ribeiro

de prêmios como notebooks, tablets e R$ 1.000,00 de forma inteiramente natural. Sabrina estuda psicologia na Universidade Integra- para cada categoria. Porém, a associação de garotas, da do Alto Uruguai (URI), em Santiago. Para cursar o jovens e belas, a um produto nos remete a profundas ensino superior, viaja todas as noites, num trajeto de discussões sobre o uso corpo e a utilização da mulher cerca de duas horas. Em função da faculdade, ela tem neste tipo de campanha, como nos já famigerados coparticipado de poucos concursos e procurado manter merciais de cerveja. A professora de Publicidade e Propaganda da Unio foco nos estudos, com os quais ela diz estar comversidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), doutora preendendo o mundo melhor. Tanto que, quando eu questiono se a mãe também havia concorrido neste Denise Silva, frisa que, normalmente, a mulher é mostrada como “o aperitivo da cerveja, tipo de eventos, ela responde, num senso comum equivocado da sem papas na língua, que a mãe Algumas que publicidade”. Este apenas apregoa não havia participado e que coà figura feminina a necessidade pude acompanhar locava esses sonhos e expectatide adequar-se a padrões que soam vas nela. Com a faculdade, estanaquela noite tinham como quase amarras às mulheres, va “entendendo mais a mãe”. desde jovens. Mas, nesse quesito, plena certeza de Ainda no salão, que foi transnem só de marcas de cerveja se formado numa espécie de camaestarem fazendo fala. Por exemplo, dois dos maiorim, encontro também, um tanres concursos de beleza do mundo, aquilo que to tímida e claramente nervosa, o Miss Universo e o Miss Mundo, Diovana Cogo, de 15 anos, que lhe melhor começaram como eventos de marparticipa do evento na categoria cas de biquíni. A imagem da beleza satisfazia. College – de 14 a 17 anos -, em feminina agregada ao valor de uma grande parte incentivada pelos amigos. Nascida no Tocantins, na cidade de Gurupi, a marca se tornou uma constante, até hoje. Denise Silva, que pesquisa a figura feminina na pugarota mora em São Borja há 10 anos. Participou pela blicidade, ainda frisa que a mulher é sempre colocada primeira vez desse tipo de evento com total apoio da como o cume da beleza, algo que nos relembra das mãe e certo receio do pai. O concurso The Miss Garota Devassa premiou a falas do filósofo francês Gilles Lipovetsky. Ele afirma vencedora com um contrato de garota-propaganda de que, desde a Renascença, o belo se tornou um atributo uma marca de refrigerantes e outra de cervejas, além mais feminino que masculino. Porém, em contrapon-

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Renan Guerra

to, os concursos de beleza surgiram como apreciação apóia nesse ramo.” de ambos os corpos, masculino e feminino. Isso ainda No concurso ocorrido no Clube Recreativo da cina Grécia Antiga, onde era constante a valorização do dade, eis que me peguei conversando com garotas dos corpo esguio da mulher, tanto quanto do corpo más- mais variados perfis: algumas mais firmes e decididas, culo do homem. E isso coloca-nos em xeque: por qual outras ainda nervosas e em dúvida. Todas com expecrazão, nestes tempos de frondosas liberdades, apenas tativas de vida variadas e com um frio na barriga para o corpo feminino continua sendo alvo de uma eroti- um evento que iria avaliá-las pela beleza e desenvolzação constante? tura. Não posso apontar valores às escolhas feitas por Enfim, tensões de gênero à parte, o concurso que cada menina. Algumas que pude acompanhar naquela visitei ainda rendeu mais uma interessante conver- noite tinham plena certeza de estarem fazendo aquilo sa, que ocorreu antes da noite do dia que lhe melhor satisfazia. 20, com Lau Quevedo Barcelos, de 20 Apesar das lutas constantes do Temos a anos. Ela pediu suas questões via Famovimento feminista, o corpo da cebook mesmo. Participou do concurmulher segue sendo espaço de venmulher so mesmo sem os pais lhe darem total da e desejo, algo que nos põe em vendida como apoio. “Nunca gostam que eu particiquestão até que ponto as mulheres pe. por sempre perder e ficar depressiestão completamente atentas ao uso ‘o aperitivo da va”, afirma. A frase foi seguida de risos que fazem de si próprias, pois Decerveja’ despreocupados com a desatenção panise relembra que “a mulher se arterna. Lau deixa claro que recebeu um ruma, se cuida em função do outro, bom apoio de alguns amigos para que não de si”. E nessa venda de um corse inscrevesse no The Miss Garota Devassa. Quase fi- po perfeito e de uma juventude eterna, há uma quanalizando o curso de Técnica em Eventos no Instituto se imposição de que todos nós nos encaixemos nisso, Federal Farroupilha (IFF), de São Borja, e trabalhan- algo que pode soar por um lado ditatorial, mas por do como fotógrafa para o site Flash SB, Lau afirma outro, na visão de Lipovetsky, “a imposição da maque se sente confortável em usar o corpo como um greza, ao mesmo tempo em que atinge indiscriminainstrumento de trabalho. “Percebi isso em minha vida damente todas as pessoas, é também uma forma de quando fui escolhida Mor Baliza de minha escola e na o indivíduo tomar posse do próprio corpo. A tirania qual estou há seis anos, pois me acham muito bonita, da beleza pode oprimir, mas permite que a mulher se tanto a escola quanto a comunidade em geral, que me mantenha jovem e sensual por mais tempo.”


Foto: Tiago Rosテ。rio

MORADIA EM Sテグ BORJA, a realidade do residencial Maria Cristina

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O residencial Maria Cristina localizado em São Borja, faz parte do Programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal, e foi criado em outubro de 2012 para confortar 360 famílias que vivem nessa situação. Atualmente, oito apartamentos ainda estão vagos em decorrência da tramitação de documentos. Maria Cristina Surreaux Vargas Pereira foi filha do general Serafim Dorneles Vargas, dono das terras onde se localiza o residencial. Mulher humanitária, que lutou pelos direitos dos mais necessitados, Maria Cristina acabou por ser homenageada com o registro do seu nome na edificação. Hoje, no complexo residencial, 355 famílias estão levando suas vidas, algo em torno de 1,5 mil pessoas. Para ser alocado em um apartamento ali, é preciso passar por uma seleção econômica. Os domicílios são concedidos às pessoas de baixa renda. O preço da parcela do imóvel, comparado à realidade imobiliária são-borjense, é praticamente simbólico: R$ 50,00. O problema é que essas pessoas não estavam acos-

tumadas a morar juntas. Não conviviam em um local comum, nem partilhavam dos mesmos costumes. As confusões entre os moradores foram inevitáveis. Ao perceber que a situação no local precisava de um amparo social, uma estudante decidiu fazer algo que tornasse melhor o convívio entre os moradores daquele lugar. Projeto de intervenção “Encontros da boa vizinhança” Cássia Pilar é acadêmica do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Em 2013, tinha pela frente dois dos componentes curriculares mais complicados que a universidade lhe oferecia: a disciplina de Estágio Supervisionado I, no primeiro semestre, e Estágio Supervisionado II, no semestre seguinte. “No Estágio Supervisionado em Serviço Social II aplicamos o nosso primeiro projeto de intervenção enquanto estudantes do curso. É de extrema importância essa disciplina, pois é onde começam os nossos primeiros contatos com os usuários”, explica a estudante. Entre diários de campo, plano de estágio, análise institucional e relatório final de estágio, Cássia teve a chance de tomar contato com as várias histórias que lhe eram contadas pelos moradores. Seus contatos foram realizados sempre com a intenção de se aproximar da comunidade que ali mora. “Nesse Estágio II, tive que me aproximar dos residentes e fazer uma leitura da realidade. Ou seja, eu não podia dizer o que acho que deve ser aplicado lá ou não, e sim verificar as demandas dos moradores, da realidade em que eles se encontram, sem esquecer das questões social, econômica e cultural. A partir das demandas dos moradores e das supervisões de estágio, foi que se pensou no Encontros da Boa Vizinhança”. Este é o nome do projeto de intervenção que foi executado na localidade. Uma atividade que pretende desenvolver o melhor convívio entre os moradores. “O problema aqui é a educação, sabe? De você saber que o espaço do residencial não é só seu, mas de todo mundo”, reclama a moradora Giselda Fialho, de 39 anos. Professora aposentada, Giselda já residiu em outro condomínio, em Porto Alegre, quando dava aulas de Matemática na rede estadual de ensino. A aposentadoria da docência foi o suficiente para ela conseguir um apartamento no Maria Cristina. As problemáticas do residencial são cotidianas. A música alta, os animais domésticos e o uso de drogas estão construindo conflitos entre os moradores. Tentar amenizar estes conflitos é a intenção do projeto de Cássia. “Na verdade, eu não espero um número gran17

Tiago Rosário

O Direito à Moradia é constitucional no Brasil. Muita gente ainda não entende o que isso pode significar, mas este direito constitucionalizado implica que o governo tem por dever garantir a todos os seus cidadãos a dignidade de um abrigo. O texto da Constituição brasileira de 1988 já estabelecia a habitação como competência da União, estados, municípios e Distrito Federal, porém foi reforçado com a emenda constitucional 26/00 de 2000. Mesmo com programas governamentais que procuram efetuar este direito, o déficit habitacional no país ainda é de 5,4 milhões de moradias segundo um estudo feito pelo Ministério das Cidades em 2011. No Rio Grande do Sul, o déficit chega a 200 mil residências segundo pesquisa encomendada pela Secretaria de Habitação e Saneamento do estado gaúcho.


de de participantes nas nossas reuniões, mas espero, sim, que os que se façam presentes sejam condutores sociais dessas discussões”, afirma a acadêmica. O projeto foi realizado. A execução teve bons resultados. Basta saber se os efeitos da atividade vão fazer-se sentir no cotidiano destas pessoas. A história de Carlinhos Rodrigues Todos esses problemas passam longe de Carlos Rodrigues. Aposentado, Rodrigues já foi ferroviário e taxista. Chegou em São Borja ainda criança no colo da mãe, vindo de Cacequi, no interior gaúcho. Com seu relógio tic-tac pendurado na parede da sala, Carlos nos convida para uma conversa e se mostra receptivo para falar sobre sua vida, antes e depois de se mudar para o Maria Cristina. “Hoje, estou com 70 anos. Depois de tantas vezes que eu tentei adquirir uma moradia através de projetos do governo, veu consegui um apartamento aqui”, conta o aposentado. Com alguma nostalgia, Carlinhos conta que a sua relação com a vizinhança não é conturbada como algumas outras. Ao lembrar do tempo em que morava perto da estação férrea, faz uma comparação com a nova residência. “Lá, a gente tinha um casa cedida, de

madeira. Era habitável, mas deixava muito a desejar. Aqui é bem melhor e a convivência não é tão ruim, desde que cada um cuide do seu lado”, relata Carlinhos. Uma das poucas coisas que Carlos Rodrigues trouxe da casa velha foram as fotos, pôsteres e artigos de Getúlio Vargas, de Jango e Brizola. No meio da conversa, ele afirma com toda a convicção: “sou janguista, getulista e brizolista!”. Poucos sabem, mas Carlos foi do exército durante o período em que Jânio Quadros presidia o país. Ele conta que, desde os anos 50, os militares já orquestravam um golpe de Estado para tomar o poder no Brasil. Mesmo servindo o Exército, Rodrigues afirma que estaria pronto para o confronto armado, custasse o que custasse. O curioso é que ele estaria pronto para um embate, mas defendendo o lado do governo de posto, governo de João Goulart. Isso mesmo, contra os militares. Toda essa devoção foi transferida para a família Vargas. Inclusive à dona Maria Cristina Surreaux Vargas Pereira, filha do general Serafim Dornelles Vargas. Como uma história que não poderia ter outro fim, Carlos Rodrigues exalta seu próprio orgulho de morar em terras que um dia tiveram como dono um membro da família Vargas.

Foto: Tiago Rosário

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UMA CHANCE DEPOIS DAS DROGAS

Ludmila Constant

Coordenador terapêutico da Comunidade Chico Xavier fala sobre a sua experiência com as drogas e sua luta para conseguir vencer o vício.

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Ludmila Constan

O uso de drogas vem em uma crescente no Brasil. Atualmente, o país ocupa o segundo lugar no ranking em consumo de drogas. Segundo a mais recente pesquisa da Organização Mundial da Saúde, cerca de seis milhões de brasileiros já tiveram contato e utilizaram algum tipo de droga. Entre estes 2,8 milhões considerados viciados, onde o consumo se dá de duas a três vezes por dia. Nilton Goulart já fez parte desta estatística. Aos 13 anos, teve seu primeiro contato com o álcool. Assim como a maioria dos jovens, experimentou sua primeira droga ilícita na companhia dos amigos, mas ele afirma que o maior motivo foi a sua curiosidade sobre o que a droga poderia lhe oferecer de sensações. No início, sua intenção era usar apenas durante os finais de semana. Depois, os dias de uso foram aumentando e os de sobriedade diminuindo: “A dependência química é lenta, progressiva e fatal”, afirma ele, ao relatar que, quando menos se espera, os espaços e prioridades da vida do dependente acabam sendo to20

dos tomados pelo vício, deixando de lado a escola, o trabalho e principalmente se afastando da família. Hoje, com 44 anos, e após três tratamentos e três graduações, a droga não é mais sinônimo de falta de controle, mas um dia já foi. Após a segunda internação e passados nove meses na clínica, Nilton afirma que não tinha se conscientizado ainda. Achava que poderia parar por alguns meses e voltar a usar em seguida. A fase de aceitação, que é sempre a primeira utilizada em tratamentos terapêuticos com usuários de drogas, é a mais difícil também. No início de 1997, ele próprio foi atrás da sua última internação. “Eu cansei de usar drogas, cansei de ficar para trás, cansei de tudo”. Ao entrar na fazenda, Nilton conheceu uma nova filosofia de vida, chamada Amor Exigente. Ali, ele foi apresentado a duas opções: sim ou não. “Então, eu tomei a decisão, olhando para aqueles que estavam bem e que eram meus amigos, e decidi não voltar mais atrás”.


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Nilton Goulart após sua recuperação

O Amor Exigente é um programa de ajuda a dependentes químicos e apoio a suas famílias, ele auxilia na organização familiar praticando entre eles princípios básicos de ética e espiritualidade. Atuando a 29 anos o AE conta atualmente com 11 mil voluntários distribuídos em 641 grupos espalhados pelo Brasil, 1 na Argentina e 14 no Uruguai.

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Após concluir sua graduação, decidiu que iria abandonar a carreira de bancário para ajudar as pessoas que, assim como ele, são reféns da droga. Há 15 anos, ele trabalha em fazendas terapêuticas e fala que achou a sua vocação. “Gosto de trabalhar, gosto de fazer o que eu faço. É um trabalho exaustivo, mas vale a pena”. Hoje em dia, ele atua como coordenador terapêutico na Comunidade Terapêutica Chico Xavier. Já ajudou na estruturação de quatro novas fazendas no Estado e tem como objetivo passar a experiência vivida para os que precisam de orientação neste momento. Cuidados estes que vão além de seu trabalho. Nilton não só reconstruiu a sua vida como também construiu um lar e uma família após abandonar as drogas. Hoje, é casado e tem duas filhas, para as quais sempre fez questão de esclarecer, desde cedo, o quanto drogas, bebidas e más companhias podem atrapalhar e atrasar suas vidas. “Eu vou fazer meu papel de pai, vou dar educação de vida, dizer que o caminho é esse aqui, não vai por lá. Se forem por outro caminho será porque querem. Eu até vou entender, mas não será por falta de aviso”. Apesar de estar há 16 anos em sobriedade, Nilton reconhece que é fraco perante as drogas, lícitas e ilícitas. Por isso, evita lugares de grande aglomeração de pessoas, festas que tenham bebidas alcoólicas e qualquer tipo de situação que o coloque de frente com a sua fraqueza. Mais uma vez, ressalta a importância de ter a família sempre por perto, servindo de motivação para não cair em tentação novamente.

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