IDEIAS 122

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r$ 10,00 nº 122 www.revistaideias.com.br

dezembro 2011

ano viii

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P o l Í t i c a , e c o n o m i a & c u lt u r a d o Pa r a n Á

a nOva cara da pOlícia O delegado geral da Polícia Civil do Paraná, Marcus Michelotto, lança um plano estratégico de combate ao crime

pOLÍTica

A reforma ministerial de Dilma rousseff para 2012

ecOnOmia

Bolha imobiliária. o mercado vai entrar nessa?

cuLTura

o cinema produzido no Paraná

praias

sol, suor e lágrimas no litoral paranaense




Índic� colunistas luiz Fernando Pereira 12 Quem entende as emendas parlamentares? luiz Geraldo Mazza 20 Nos rios da memória rubens Campana 30 o bilhão mais pobre Fábio Campana 35 Maciste no inferno Marcio renato dos santos 40 Ai ai de mim

nesta ediÇão eleições 2012 14 Fábio Campana A reforma ministerial de Dilma rousseff 16 Fábio Campana

Andrea Greca Krueger e Paula Abbas 41 Pesquisa de tendências não é (só) coolhunting Carlos Alberto Pessôa 46 Atraso de apenas 2500 anos izabel Campana 53 “esse est percipi”

seÇÕes

A nova cara da polícia 22 Marianna Camargo

rogerio Distefano 54 A árvore e a língua de isaías

editorial 05

sol, suor e lágrimas 32 Thais Kaniak

Antonio Augusto Figueiredo Basto 58 “Angústias”

Frases 07

Bolha imobiliária 36 Karen Fukushima

ernani Buchmann 61 De crônicas e gabolícias

Cinema paranaense 42 raffaela ortis

Jussara voss 64 Mocotó e rodrigo oliveira

Perfil Pedro Herz 62 Thais Kaniak

luiz Carlos Zanoni 66 o enochato

Moda - Paola De orte 71

Claudia wasilewski 68 o roubo da bota de natal

Balacobaco 76

solda 70 estas palavras 32

Curtas 06

Gente Fina 08 ensaio Fotográfico 48 Prateleira 56

isabela França 72

Cartas/expediente 80 Pryscila vieira 82

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Editorial Fábio Campana

O

general De Gaulle disse certa vez que é muito difícil governar um país com mais de trezentos tipos de queijo. Referia-se, é claro, à diversidade de gostos e opiniões na sociedade francesa. O que diria o estadista sobre governar um país de dimensões continentais com um ministério de 40 pastas e mais de 25 mil assessores diretos nesse complexo? Bem, o general era um homem muito franco e direto. E governava a França com apenas oito ministérios. Tudo bem, repetirão as almas parvas, ao argumentar que temos nossa cultura e nossas necessidades para justificar esse monstrengo que engole, implacavelmente, 40% do PIB nacional. Nossa cultura? A herança ibérica, do Estado grande e faustoso a interferir em todas as atividades produtivas ou não. Herança sublinhada pelos regimes de força que vieram depois. E mais ainda pela nossa peculiar democracia, que sobrevive com um sistema em que a governabilidade depende de acordos que loteiam o Estado entre os membros do consórcio que o apoia no Congresso. Coisa de republiqueta atrasada que vai sendo adaptada a nossa dimensão e ao crescimento de uma economia que, apesar disso e de tudo o mais, continua a crescer. Tanto Estado, tanta burocracia, tantas doenças colaterais, sendo a mais perversa a corrupção galopante, convenceram a presidente Dilma Rousseff de que é impossível governar com 40 ministérios. Ela propõe reduzir para 18. Trata-se de voltar a padrões mínimos de racionalidade na administração pública, se é que os tivemos um dia. Pobre Dilma Rousseff. Nem bem tocou no assunto e imediatamente colheu as reações. A caterva de parlamentares habituada a troca de favores chiou. Bate o pé. Não quer diminuir nada. Quer aumentar o estado, a burocracia, a arrecadação de impostos e aprofundar nossos males para seu proveito. Para eles, tanto faz que o país naufrague. Só enxergam o imediato de seus interesses, que é dirigir licitações, exigir favores, benesses, prebendas e a administração de uma parte do espólio. Resultado mais visível: essa série de escândalos de corrupção que envolve a Nação num misto de indignação e impotência. Falta-nos nesta quadra Raimundo Faoro com a sua clareza. Para Faoro, “o poder – a soberania nominalmente popular – tem donos que não emanam da Nação, da sociedade, da plebe ignara e pobre. O chefe não é um delegado, mas um gestor de negócios e não mandatário. O Estado, pela cooptação sempre que possível, pela violência se necessário, resiste a todos os assaltos, reduzido, nos seus conflitos, à conquista dos membros graduados de seu estado-maior. E o povo, palavra e não realidade dos contestatários, o que quer ele? Este oscila entre o parasitismo, a mobilização das passeatas sem participação política e a nacionalização do poder {...} A lei, retórica e elegante, não o interessa. A eleição, mesmo formalmente livre, lhe reserva a escolha entre opções que ele não formulou.” Mas ninguém lê Faoro por aqui. Aliás, ninguém lê. Isso também ajuda a explicar a desfaçatez que recheia a política nesta área do planeta em que todos se preparam para mais um verão com direito samba, suor e cerveja. O Brasil é um país alegre.


Curtas museu dO hOlOcaustO

Lula A imagem do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, 66, sem cabelo e barba repercutiram na imprensa nacional e internacional. Lula se antecipou à queda causada pela quimioterapia no tratamento contra um câncer de laringe. O trabalho foi realizado por sua mulher, a ex-primeira-dama Marisa Letícia.

Curitiba terá um Museu do Holocausto. Idealizado pelo empresário Miguel Krigsner, traz parte das tragédias do período nazista e também massacres que aconteceram após a 2ª Guerra Mundial. Entre os objetos expostos peças históricas importantes, como um fragmento de Torá, cedida oficialmente pelo Yad Vashem, o Museu do Holocausto de Jerusalém. Na parte externa, pedras trazidas de Jerusalém e vitrais argentinos decoram a fachada. O Museu do Holocausto de Curitiba será aberto ao público a partir de fevereiro de 2012. O espaço abrigará fotos, documentos, do período pré-guerra, além de informações entre os anos 1939 e 1945.

Licitação da TV Sinal

SONHO MEU uma pesquisa encomendada pelo Congresso em Foco confirmou uma suspeita: a maior parte dos parlamentares quer receber o teto do funcionalismo público, ou seja, o mesmo salário de um ministro do supremo Tribunal Federal (sTF). e revelou outra: grande parte deles prefere não se manifestar sobre o assunto, mesmo com a garantia do anonimato. o insituto Análise perguntou a 150 deputados e senadores se eles eram favoráveis à equiparação salarial entre os três poderes: 41% disseram que sim e apenas 11% mostraram-se contrários à mudança. os demais 49% não quiseram se posicionar.

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Oito produtoras de vídeo de quatro estados apresentaram no último dia 23 suas propostas de habilitação ao edital para contratação da empresa que vai se responsabilizar pela elaboração, produção e gerenciamento do conteúdo da TV Sinal, veículo de comunicação oficial da Assembleia Legislativa paranaense. O procedimento cumpre estritamente as disposições da Lei Federal 8.666/93 e da Lei Estadual 15.608/07, que fi xam o prazo máximo de 60 meses para contratos de prestação de serviços contínuos em órgãos públicos.

Sanidade mental O ex-diretor geral da Assembleia Legislativa do Paraná, Abib Miguel, não sofre nenhum tipo de problema mental, segundo o laudo do exame psicológico realizado em outubro deste ano. De acordo com a perita Regina Coeli Gallieri, Bibinho apresentou um quadro depressivo no momento do exame, mas tem perfeitas condições de ir às audiências e responder pelas acusações do Ministério Público.

R$ 2 bi para reajuste do Judiciário A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara aprovou no último dia 23 o direcionamento de R$ 2 bilhões para viabilizar o reajuste de servidores e dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). O dinheiro refere-se a uma emenda de bancada, que vai ser incluída no Orçamento da União de 2012. Na Câmara, além de cada deputado poder apresentar emendas individualmente, as comissões temáticas e as bancadas dos Estados também têm direito a emendas ao Orçamento.

Consultoria paga com dinheiro público Envolvido em escândalos administrativos nos últimos anos, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), quer mudar sua imagem pública e decidiu contratar uma empresa de consultoria para propor uma repaginação. O serviço foi pago com recursos da verba indenizatória do Senado – benefício a que todo congressista tem direito para custear despesas com o exercício da atividade parlamentar. Foram duas parcelas de R$ 12 mil pagas em julho e agosto para a empresa Prole Consultoria em Marketing. As normas que regulamentam o uso da verba permitem a “contratação de consultorias”. O serviço foi realizado em maio e junho.

VIOLÊNCIA SEXUAL Dados inéditos levantados pelo instituto Médico legal do Paraná (iMl-Pr) revelam que as meninas entre 12 e 18 anos são os maiores alvos da violência sexual, por outro lado, as mulheres adultas, com idade entre 19 e 50 anos, são as principais vítimas de lesão corporal. A afirmação é com base nos exames solicitados pela polícia para confirmação de conjunção carnal (relação sexual com penetração na vagina), ato libidinoso (atos que implicam em contato do pênis com boca, vagina, seios ou ânus) e lesão corporal. De janeiro a outubro de 2011 houve um aumento de 38% em relação ao mesmo período do último ano nos exames de conjunção carnal. Já nos exames de ato libidinoso, o acréscimo foi de 39% na mesma amostragem. enquanto que nos exames de lesão corporal manteve-se quase o mesmo número, com uma alta de 9%.


Frases “convencemos collor a tirar a gravata, botar um pouco de suor com uma glicerinazinha e mostrar pastas com supostas denúncias contra lula, mas que estavam vazias” boni, o todo-poderoso da Globo, em entrevista exibida pelo canal Globo News no último dia 26, sobre o polêmico debate Collor X Lula na campanha presidencial de 1989 No dia seguinte, collor reagiu:

“Boni despirocou, deu uma viajada na maionese” “se gosta de homossexual, assuma” disse o deputado Jair bolsonaro (PP-RJ) à presidente Dilma Rousseff, em discurso na tribuna da Câmara no dia 24 de novembro. Bolsonaro criticava o que chama de “kit gay” do Ministério da Educação, uma cartilha contra a homofobia que seria usada em escolas públicas, mas cuja distribuição foi suspensa por determinação da presidente

“pede pra sair, lupi” O ex-presidente da República Fernando henrique cardoso (PSDB) fez uma recomendação ao ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), que até o momento não saiu da pasta

“lupi é um escroque, frio e calculista, cínico. fica se escondendo na barra da saia da dilma ao tentar misturar as denúncias contra ele com o governo” Senadora Kátia abreu (PSD-TO)

“se o governador usar os seus dois neurônios, pois contam por aí que ele só tem o tico e o teco, irá retirar o projeto (do aumento das taxas do detran) da assembleia” disse o senador roberto requião em entrevista. O texto foi aprovado e as novas taxas entram em vigor a partir de fevereiro

Dois dias depois, beto richa rebateu Requião na rádio CBN:

“não quero levar esse senador ao constrangimento de comparar o meu governo com o dele, especialmente no campo ético. só lamento que o paraná mandou um tiririca para o senado da república. mas a diferença é que o tiririca da câmara tem graça”, afirmou

“não me senti atingido” Disse em resposta o deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva, o tiririca (PR-SP) citado por Requião e Beto Richa. E completou:

“que falem de mim, lembrem de mim” dezembro de 2011 |

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FINA À caça de tendências

Andrea Greca Krueger e Paula Abbas são sócias da BERLIN, uma assessoria tática e operacional que tem como foco a análise de tendências, que inclui o coolhunting como prática de pesquisa e permite desvendar o que está por trás dos acontecimentos urbanos e entender expressões, atitudes e fluxos sociais que podem ser transformados em produtos e filosofias empresariais de vanguarda, alinhados ao mundo contemporâneo. Poderosa arma para combater a imprevisibilidade no planejamento estratégico. Além disso, elas são responsáveis pelo curso de Coolhunting e Pesquisa de Tendências da Lemon School, que está na quarta edição, e pelo blog Soma in Kinderland, um dos top 5 em tendências no ranking mundial Networked Blogs do Facebook. Pioneira em pesquisa e análise de tendências no Sul do Brasil, a BERLIN comemora o sucesso do segundo ano de atuação com projetos para marcas como Nike, Jasmine e Natura, além de levar seu expertise em forma de palestras e cursos a outros estados como Santa Catarina, Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais. Além de tudo isso, a dupla estreia nesta edição uma coluna na Revista Ideias para o leitor saber todo o mês o que será tendência no planeta. Marianna Camargo 8

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Nani Gois Alep

FINA

Dayane é ouro Dayane Amaral é ouro. A ginasta paranaense voltou do Pan de Guadalajara com medalha de ouro no conjunto de ginástica rítmica. A curitibana fez bonito junto com Débora Falda, de Cambé, aos cuidados da técnica londrinense Camilia Ferenzi. Tão bonito que reluziu. Com a delicadeza de seu 1,58m de altura, a bela Dayana provou que talento e dedicação superam qualquer descrédito. Como se vê, há algo mais que as notícias indigestas da política e da corrupção neste Vale de Lágrimas. Thais Kaniak

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gente

FINA

especialização em Psicologia do Corpo — e desenvolve um trabalho focado na investigação e na prática artística e terapêutica baseada na conexão corpo/mente e suas associações com ecologia, psicologia, ciência e arte. O nome artístico Wy’a Poty — recebido em cerimônia indígena brasileira — traduz a outra face de sua pesquisa, integrando a conexão corpo/dança às tradições ancestrais e à ecologia pessoal — por meio de estudos milenares e contemporâneos com base na meditação e na consciência quântica.

FerNANDo José

silvia wy’a Poty é dançarina e psicóloga — com

Sagaz Silvia

O resultado desta pesquisa vem sendo transmitido e divulgado há mais de dez anos por meio de espetáculos e oficinas realizados nas secretarias de cultura do Paraná e em eventos internacionais, como na Espanha e Áustria. Em 2011, ministrou oficinas de dança e preparação corporal para G2 — Cia de Dança do Teatro Guaíra de Curitiba. Quem vê Silvia e sua dança hipnótica com fogo, logo percebe que sua arte chega onde ela quer. E vai muito mais além. Marianna Camargo

ArQuivo PessoAl

Nas alturas com Kiko A

drenalina é o que move o curitibano Marcelo “Kiko” Wendt. Ele vive de paraquedismo e base jump. Escolha de vida inusitada, mas que garante satisfação e realização a Kiko.

No paraquedismo são 15 anos de prática. Mais de seis mil saltos. Frio na barriga? Que nada. Kiko quis ser ainda mais radical. Iniciou no base jump. Esporte em que o atleta salta de pontos fixos como prédios, antenas, pontes e penhascos. Kiko começou a participar de campeonatos mundiais de base jump em 2010. Embarcou para a Europa em duas temporadas seguidas. Sua meta é saltar nos melhores picos e com os melhores atletas do mundo. No ano passado, competiu um campeonato mundial na Espanha e ficou na 15ª posição ao encarar 32 adversários. Agora acabou de voltar do velho mundo com a quinta colocação na etapa mundial do campeonato de base disputado na Grécia entre 22 competidores de 13 nacionalidades diferentes. Coragem e garra é o que não faltam ao nobre voador. “É preciso ter asas quando se ama o abismo”, como dizia o alemão Friedrich Nietzsche. Thais Kaniak

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FINA

Liu di Hara

Jornada em espiral

Cleverson Oliveira é artista plástico. Estudou e obteve o bacharelado em Escultura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Em 1995, dirigiu o premiado vídeo “Pías do Zodíaco”, com participação de José Mojica Marins e co-direção de Artur Ratton Kummer e Tulio Viaro. Por 12 anos viveu em Nova York, onde estudou História da Arte na New York University e fotografia com o artista Vik Muniz. Em 2001, viu o ataque às Torres Gêmeas, que o levou a desenvolver projetos a na área da música, performance, cinema e teatro e especialmente artes plásticas. Seus trabalhos receberam críticas positivas. Em 2005, Cleverson decide realizar algo que em seus primeiros anos de América estavam apenas no papel: uma viagem saindo de Nova York percorrendo o continente Americano até a Patagônia, adentrando o Brasil por Uruguaiana, pelo Rio Grande do Sul até sua cidade natal, Curitiba. O detalhe que faria uma grande diferença é que a viagem foi feita quase que inteiramente de ônibus. Desta experiência surgiu uma série de trabalhos intitulada “Fronteiras: Uma Jornada pelas Américas”. Atualmente está na pesquisa e pré-produção do que acredita ser uma das mais audaciosas aventuras de sua carreira - uma ópera sobre a neurociência e as teorias do botânico e antropólogo Terence Mckenna enunciadas em seu texto “Em Busca da Árvore do Conhecimento”. A estreia aconteceu em novembro num local que o artista chama de “espaço satélite da cidade e da arte”, planejado e executado por ele na Serra do Mar, em plena Mata Atlântica, perto de Curitiba. Marianna Camargo dezembro de 2011 |

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Luiz Fernando Pereira

Quem entende as emendas parlamentares?

A

cho política algo muito complicado, repete sempre um amigo de infância. Indiferente à política, ele entende tudo de neurociência. É engenheiro, mas estuda o tema como uma espécie de hobbie. Dia desses, lendo o jornal, ele me perguntou sobre as emendas parlamentares. Como é que funciona este negócio de emenda parlamentar, perguntou. A palavra negócio foi usada aleatoriamente pelo meu amigo, podem estar certos. Foi assim que começou a seguinte conversa. Disse a ele que as emendas são apresentadas pelos parlamentares à proposta de orçamento enviada pelo Governo. Mas não são os deputados que decidem todo o orçamento? Como assim emendas? Dei uma de entendido e expliquei que o orçamento está na origem do parlamento; é da essência da atividade parlamentar. No século treze, as cortes gerais de Portugal e o parlamento inglês só se reuniam para discutir assuntos militares, diplomáticos e votar o orçamento. O legislativo exerce o controle do planejamento do executivo na discussão e no acompanhamento do orçamento. Certo, mas por que aqui só se fala nas tais emendas? É que enviada a proposta de orçamento ao Congresso, o regimento interno (nos limites da Constituição Federal) autoriza que parlamentares apresentem as chamadas emendas parlamentares. No que existe de importante o Governo faz prevalecer o seu projeto de orçamento. Os parlamentares deveriam se concentrar em discutir a íntegra da peça orçamentária. As decisões alocativas são tomadas exatamente na discussão do orçamento. Mas a preocupação está sempre apenas com as emendas. Sem compreender bem, insistiu nas perguntas. Qual é o critério utilizado pelo parlamentar para apresentar as emendas? O critério é confessadamente político. O parlamentar

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“prestigia” a base eleitoral, mandando para lá um posto de saúde, um portal de turismo ou uma quadra de esportes. Mas não há um critério técnico para definir quais municípios devem receber tais programas do governo federal? Prioridades? Até existe um critério, mas no caso das emendas prevalece a escolha política do parlamentar. Com as emendas, o parlamentar se anuncia como um “realizador de obras”. Mas o que isso tem a ver com a atividade parlamentar? Pouca coisa, mas tem deputado que só vive disso. Seguia o interrogatório. Leio aqui no jornal que o Governo conseguiu prorrogar a DRU (desvinculação de receitas da união) ao liberar emendas dos parlamentares. Como assim? O fato de o parlamentar apresentar a emenda não significa que o dinheiro será liberado. Por aqui o orçamento é meramente autorizativo (e não impositivo, como nos países parlamentaristas da Europa). O Governo só libera o dinheiro das emendas para quem se comportar bem no parlamento. É instrumento de pressão política? Ao lado dos cargos indicados pelos parlamentares, é o maior instrumento de pressão política do Governo. Votar sempre com o Governo é a senha para ter mais recursos liberados. É uma espécie de mimo para os que têm bom comportamento parlamentar. Coisa estranha, difícil de entender, me dizia meu amigo conhecedor de neurociência. Mas ele ainda tinha algumas perguntas. Também leio aqui que em SP alguns deputados foram acusados de vender as emendas. Como assim? Pois é. Esta é a parte não republicana das emendas. Mas você considera republicana [perguntou-me com certa irritação] a escolha política dos municípios que vão receber mais ginásios e portais de turismo. É republicana a pressão do Governo por intermédio da liberação de emendas parlamentares? De fato, não; não é. Mas agora você vai

entender o que realmente não é republicano nesta história de emendas. Alguns deputados ficam com parte do dinheiro das emendas. Embolsam, simplesmente. Embolsam? É disso que fala a reportagem. Os deputados vendem as emendas. Negociam uma comissão com os empreiteiros que estão na ponta das obras. As licitações são fraudadas pelos municípios para que haja um compromisso de devolução de parte do valor para o parlamentar responsável pelas emendas. E também há emendas para as ONGs. As ONGs estão envolvidas com as emendas também? Sim, algumas ONGs recebem dinheiro de emendas parlamentares e devolvem uma parte para o bolso dos parlamentares. Então é por isso que a liberação de emenda é tão eficaz em votações importantes do Congresso? Cada vez mais. No início do governo Lula o valor limite para cada deputado (para emendas individuais) era de dois milhões de reais. No final de oito anos cada deputado passou a ter direito a treze milhões. Há poucos dias o valor subiu para quinze milhões por ano. Inacreditáveis sessenta milhões de reais por mandato. Então a compra dos parlamentares está institucionalizada? Não respondi. Ao final da conversa fiquei convencido que neurociência é mesmo menos complicada do que a política, como sempre e entendeu meu amigo. Registro que o diálogo acima é mais ou menos verdadeiro.

luiz Fernando Pereira é advogado.


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Eleições 2012

O grande eleitor F C

DivulGAção

Gleisi Hoffmann organiza seus exércitos. A grande tacada foi levar para seu time o tucano Gustavo Fruet

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No outro canto do ringue, Gleisi Hoffmann organiza seus exércitos e também vai juntando o que pode do que sobrou do velho sistema que tinha o PMDB ao centro e satélites pouco expressivos a orbitar em torno do erário. Mas a grande tacada foi mesmo levar para seu time o tucano Gustavo Fruet, que mudou de partido e de convicções para ser candidato a prefeito de Curitiba, onde o PT, com exceção da própria Gleisi Hoffmann, que é reserva para 2014, não tem ninguém para competir com Luciano Ducci, do PSB, prefeito atual e da cota pessoal de Richa. Quem pode vencer essa parada indigesta? As pesquisas preliminares feitas neste ano tem pouco a dizer porque ainda refletem a popularidade de cada candidato e não medem a verdadeira intenção de voto. Mas dão uma pista segura sobre os nomes que terão participação decisiva com seus apoios aos candidatos a prefeito. Não é um quadro tão simples de destrinchar. A primeira constatação parece óbvia: o governador Beto Richa é o político com o mais alto índice de aprovação no Estado e o que mais se mostra capaz de influenciar o eleitor a votar em seus candidatos. Justifica-se. Foi eleito governador no ano passado, continuou na ascendente durante o primeiro ano de governo, entra em campo como grande atração. Seu principal desafio é vencer em Curitiba. Sabe ele que uma vitória aqui vale mais do que muitas outras no interior para garantir o seu prestígio. Nesta batalha conta com a ajuda de sua mulher, Fernanda Richa, que se fosse candidata se elegeria com grande vantagem sobre os adversários, dizem as pesquisas. Fernanda Richa não é um apêndice político do marido governador. Tem luz própria. Pode se movimentar sozinha e representar a influência dos tucanos na capital. Os dois, Beto e Fernanda Richa são os maiores eleitores em Curitiba.

na banda da OpOsiÇãO Para enfrentar o time de Richa que apoia Luciano Ducci, o PT faz uma engenharia de acumulação de resíduos sem precedentes. Abandonou as convicções, jogou fora a estreita política de alianças e faz valer na província o arco de alianças que sustenta o governo de Dilma Rousseff. Inscreveu um de seus maiores desafetos locais no PDT de Osmar Dias e su-

foca as rebeliões internas para encarar a briga com competitividade. Esta manobra é avalizada pelo principal líder petista, o ex-presidente Lula que, pragmático e agora light, só pensa na vitória das oposições para abrir caminho a candidatura de Gleisi Hoffmann em 2014. Pois, pois, Lula é o principal eleitor da banda de oposição. Acima de Dilma Rousseff e da estrela nativa, Gleisi Hoffmann, que hoje é o único nome do PT que tem densidade eleitoral no Paraná. Todos os demais líderes locais do partido são paroquiais. O que anima alguns a exigir suas candidaturas é o anseio pessoal de ascender na onda do PT nacional. Em Curitiba, os deputados Tadeu Veneri e Dr. Rosinha querem tentar a sorte com o apoio de Lula, Dilma e da própria Gleisi. Sem chances, dizem as pesquisas e a política interna do PT, que não engole os dois representantes de facções minúsculas diante da empreitada. O plano é esse: Gustavo Fruet, agora vestido com as bombachas do brizolismo, ergue a bandeira do governo federal que tanto criticou e denunciou como corrupto, e passa a liderar DivulGAção

A

s eleições municipais do ano que vem serão decisivas para o jogo seguinte de 2014. Por isso mesmo as prefeituras serão disputadíssimas entre as duas forças que agora polarizam a política paranaense. Será a primeira vez que o time liderado pelo tucano Beto Richa vai se enfrentar com a banda da petista Gleisi Hoffmann na disputa direta do poder estadual. O PMDB com seu Requião, herói de fancaria, sai de cena depois de oito anos de hegemonia. Nem chegou a se dividir. A maior parte, incluídos todos os deputados estaduais, aderiu imediatamente ao governo como era de se esperar de uma agremiação que só consegue viver à sombra do pendão do governador. Os fanáticos do Apocalipse que seguiam Requião e se declaravam adeptos do popular-nacionalismo-estatólatra do Duce do Barigui, agora são apenas estatólatras que entregam os dedos para não perder os anéis na boca do caixa que tem o mesmo endereço, o Palácio do Governo.

será a primeira vez que o time liderado pelo tucano Beto richa vai se enfrentar com a banda da petista Gleisi Hoffmann


divulgação

divulgação

divulgação

as forças que pretendem ocupar a prefeitura de Curitiba. O compromisso de Gustavo Fruet é o de apoiar Gleisi Hoffmann para o governo em 2014. Mesmo que não seja eleito. Isso significa que Gleisi é a única que sai ganhando desde já. Colocou uma cabeça de ponte no principal reduto de Beto Richa. E se Fruet vencer, terá a máquina da prefeitura a seu favor. O dilema de Fruet e seus ritmistas é a dificuldade que o candidato encontra para entrar nas camadas mais extensas da população. Ele é o queridinho da população de classe média, onde fez sucesso justamente por declamar durante anos o mote da moralidade contra o PT que agora o apóia. Mas não empolga, com seu discurso sem entusiasmo e uma biografia de insucessos, a grande massa. A esperança de Fruet é ver o ex-presidente Lula restabelecido e operante para levá-lo pela mão aos pobres e oprimidos. Para isso vem treinando o discurso do combate à desigualdade social, ao mesmo tempo que sua marquetagem procura fazer rombos na nau tucana com denúncias que provocam escândalos e insuflam os ânimos moralizadores da população, como esse que pilhou o presidente da Câmara, João Cláudio Derosso a misturar assuntos de cama com verbas públicas. Essa turma diz que tem mais munição para gastar no ano que vem. Gustavo também é treinado para repetir motes que foram de Jânio Quadros e da antiga UDN. Mas deve esquecer para sempre o mensalão do PT, que ele atacou com sede e furor em seus tempos de deputado federal. Há uma confiança na pouca memória do eleitor para evitar a pecha de vira-casaca.

Os recursos de Luciano Ducci O prefeito Luciano Ducci faz a sua primeira eleição majori-

Rogério Machado

O compromisso de Gustavo Fruet é o de apoiar Gleisi Hoffmann para o governo em 2014, mesmo que não seja eleito. Ratinho Júnior amargou a traição: foi trocado por Fruet. Não perdoa. Quer e será candidato, embora não tenha os apoios que esperava. O prefeito Luciano Ducci, com aprovação de 70%, tem o apoio incondicional de Beto e Fernanda Richa

Fernanda Richa não é um apêndice político do marido governador. Tem luz própria

tária. É prefeito porque herdou o mandato de Beto Richa quando este se lançou candidato a governador. Sua campanha se apoia em duas rodas. A primeira é o bom desempenho administrativo da Prefeitura que é reconhecido por mais de 70% da população. A segunda é o apoio incondicional de Beto e Fernanda Richa, que devem entrar na campanha com tudo. Para vencer ou vencer. Montado em duas rodas, Ducci não pode parar de pedalar e a primeira providência que procura tomar é tornar-se conhecido e associar sua imagem à aprovação da administração atual. A segunda é melhorar seu desempenho pessoal no rádio e na TV. Na verdade suas chances são enormes, se comparadas aos dos adversários, incluído aí o terceiro nome, que corre por fora e pode, no

mínimo, levar a eleição para o segundo turno. O deputado Ratinho Junior entrou na disputa com a esperança de obter o apoio do PT e de toda a sua base de apoio no Paraná, inclusive de Osmar Dias, que lhe prometeu exatamente isso quando negociou o apoio de Ratinho à sua candidatura a governador. Ratinho amargou a traição. Foi trocado por um adversário do grupo, radical acusador do PT e sua turma, candidato ao Senado contra Gleisi Hoffmann. Não perdoa. Quer e será candidato, embora não tenha os apoios que esperava. Vai à luta sozinho, com a própria popularidade e a do pai, o apresentador Ratinho. Se ficar em terceiro lugar e na hipótese de segundo turno deverá apoiar o prefeito Luciano Ducci contra Gustavo Fruet, hoje os favoritos. A recíproca é verdadeira. Nesse quadro, há uma variante que não é de somenos. O PMDB terá candidato próprio, o ex-prefeito Rafael Greca de Macedo, que tem 7% nas pesquisas e conta com o apoio direto de Requião, que está combalido mas não está morto e pretende fazer da candidatura de Greca o seu palanque pessoal nesse entrevero. Requião, Greca et caterva não engolem Gustavo Fruet e em qualquer circunstância que se apresenta uma disputa direta entre Ducci e Fruet, ficarão com Ducci. Como se vê, Luciano Ducci arrisca ter apoios muito maiores no segundo turno do que poderia imaginar a tigrada de Fruet. Assim caminha a humanidade. A oposição a Beto Richa se arma de todas as maneiras, convoca gregos e baianos, turcos e visgodos, qualquer um que, por qualquer motivo, inclusive os não publicáveis, deseja arrombar a porta de Richa em Curitiba. É o que se vai ver no ano que vem. Preparem o estômago. dezembro de 2011 |

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Polític�

“É impossível administrar com 40 ministérios” A máquina do Estado cresceu tanto que se tornou ingovernável e abriu espaços para ampliar a taxa de corrupção e a sucessão desgastante de escândalos

GreG sAliBiAN/iG

F C

H

á uma possibilidade, ainda remota, mas entusiasmante, de que o governo Dilma Rousseff se instale de vez a partir de janeiro de 2012. Vem aí a reforma ministerial, o que significa que passará a governar com a sua equipe e não mais com a montagem feita com a participação do presidente Lula. Mais interessante é a promessa de Dilma de reduzir o número de ministérios, que hoje são 40. “Ingovernável”, diz a presidente. Ela pretende manter apenas 18 ministérios, o que significaria um avanço fundamental para a necessária reforma do Estado brasileiro. Imaginem um corte substancial na máquina burocrática, escoimando os excessos e reduzindo o custeio do monstro filantrópico. A notícia foi muito bem recebida em arraiais que não estão representados diretamente no governo e que gostariam de desinchar a máquina para diminuir a intervenção política e reduzir as áreas sombrias onde grassa a corrupção e que produzem escândalos sucessivos que desgastam o governo.

Além de reduzir o número de Pastas, a presidente Dilma rousseff estuda promover um rodízio no comando dos ministérios

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O presidente do Conselho de Administração da Gerdau e da Câmara de Gestão criada pelo governo Dilma Rousseff, Jorge Gerdau Johannpeter, defendeu a redução do número de ministérios durante o seminário "Os avanços da gestão pública no Brasil"

O presidente do Conselho de Administração da Gerdau e da Câmara de Gestão criada pelo governo Dilma Rousseff, Jorge Gerdau Johannpeter, defendeu a redução do número de ministérios durante o seminário “Os avanços da gestão pública no Brasil”. “É pacífico que é impossível administrar com 40 ministérios”, destacou o empresário durante o seminário. “A presidenta já tem se movimentado no sentido de criar grupos de ministérios.” Gerdau preside a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, colegiado formado por empresários e ministros. O grupo foi criado em maio para sugerir ao governo formas de reduzir custos, melhorar o controle dos gastos públicos, racionalizar processos e melhorar serviços prestados à sociedade. “Não se pode trabalhar com 23,5 mil assessores de confiança na estrutura política”, argumentou Gerdau, acrescentando que o país já

O Brasil tem que aumentar a taxa de investimentos, e isso só pode vir por meio de gestão

tem exemplos de sucesso com burocracia profissionalizada, como o Banco Central, Banco do Brasil, Forças Armadas e Itamaraty. “Defendo a profissionalização absoluta.” Entre as mudanças que parecem certas está a unificação das secretarias de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Políticas para Mulheres na reforma ministerial a ser promovida nos próximos meses. Outra medida cogitada no Palácio do Planalto é a reincorporação da Secretaria de Portos pela Pasta dos Transportes.

Apoio para a reforma O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aplaudiu a ideia de que a presidente Dilma Rousseff reduza o número de pastas na reforma ministerial, prevista para janeiro de 2012. O ex-presidente avalia que foram criados muitos ministérios pelo atual governo, o que dificulta uma boa administração. “Eu sou a favor, e acho que foram criados muitos ministérios”, respondeu Fernando Henrique, ao ser indagado se era favorável à redução do total de pastas na Esplanada. “É difícil administrar com tantos ministérios”. O ex-presidente não quis, contudo, dar sugestões sobre quais pastas devem ser extintas na reforma ministerial. “Isso é uma questão técnica, eu não posso dizer”, esquivou-se. Além de reduzir o número de Pastas, a presidente Dilma Rousseff estuda promover um rodízio no comando dos ministérios. A ideia é aproveitar a reforma ministerial que deve ser realizada em janeiro para tentar acabar com os feudos dos partidos na máquina pública. Na avaliação do Planalto, além de ser um instrumento para frear as irregularidades na Esplanada dos Ministérios e demais órgãos

federais, tal rodízio poderia promover maior equilíbrio entre as forças políticas que integram a base aliada. Alguns partidos têm uma representação no governo maior do que o seu peso no Parlamento, acreditam auxiliares da presidente. Atualmente, Dilma conta com 38 ministros. Não será simples fazer essa mudança radical. Os partidos do consórcio político que dão sustentação ao governo no Congresso Nacional não querem diminuir espaços ocupados por eles. E o primeiro a chiar foi o PT, que fez chegar à presidente Dilma Rousseff que o partido não vê com bons olhos a fusão dos ministérios ‘das minorias’ em uma única pasta. Gerdau destacou que a gestão é um fator “definitivo” para gerar prosperidade e riqueza, além de um instrumento essencial para o Brasil competir com os países asiáticos e aumentar os investimentos públicos sem aumentar a carga tributária. “O Brasil tem que

"Não se pode trabalhar com 23,5 mil assessores de confiança na estrutura política" dezembro de 2011 |

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medida cogitada no Palácio do Planalto é a reincorporação da Secretaria de Portos pela Pasta dos Transportes aumentar a taxa de investimentos, e isso só pode vir por meio de gestão.” Sérgio Ruy Barbosa, presidente do Consad e secretário de Planejamento e Gestão do Estado do Rio de Janeiro, alertou que o gerenciamento dos recursos humanos é um dos maiores desafios para o poder público. Para ele, a carreira dos servidores públicos tem de ser repensada a fim de atrelar a promoção a critérios meritocráticos e incluir novos conteúdos nos concursos públicos. “Hoje, as provas medem decoreba”, disse, lamentando ainda a dificuldade em demitir servidores por ineficiência. A secretária de Gestão do Ministério do Planejamento, Ana Lúcia Amorim, contou que o governo Dilma Rousseff estuda justamente medidas para aliar uma gestão dos recursos humanos baseada na meritocracia a políticas de reconhecimento e valorização dos servidores públicos. Disse ainda que o Executivo elevou de 17% para 80% a participação dos pregões eletrônicos nas compras do governo. “Esses pregões trazem mais agilidade e economia de recursos”, explicou a secretária.

A voracidade da base de apoio Bastou a notícia ‘vazar’ para que chovessem protestos por parte do PT. Contrariada, a presidente disse a auxiliares que está avaliando vários cenários e ainda não bateu o martelo sobre a fusão de ministérios na reforma prevista para o fim de janeiro ou começo de fevereiro de 2012. ‘Eu não tenho intérprete’, insistiu ela. 18

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O plano de Dilma tem potencial para provocar uma disputa entre os partidos que integram a ampla base que dá sustentação ao Executivo no Congresso

Apesar de ser a primeira mulher eleita presidente do Brasil, Dilma não considera necessário ter uma secretaria especial só para cuidar do gênero feminino, mas enfrenta resistências para fazer o enxugamento da máquina. A alegação dos petistas contrários à reforma mais ampla é de que essas cadeiras representam ‘conquistas’ dos movimentos sociais e, além de tudo, têm baixo orçamento. Na prática, Dilma só mantém a Secretaria de Políticas para as Mulheres por seu caráter sim-

Dilma não considera necessário ter uma secretaria especial só para cuidar do gênero feminino

bólico. Em mais de uma ocasião, Dilma confidenciou o plano de incorporar as mulheres no guarda-chuva do Ministério dos Direitos Humanos, dirigido por Maria do Rosário, que também abrigaria Igualdade Racial. O plano de Dilma tem potencial para provocar uma disputa entre os partidos que integram a ampla base que dá sustentação ao Executivo no Congresso. O PMDB, por exemplo, é insaciável. Sonha com a chance de poder ocupar ministérios com maior peso político. A cúpula do partido acha que seus ministros comandam Pastas com pouca capilaridade, e teme que o atual perfil do ministério de Dilma prejudique a sigla nas eleições municipais de 2012. O PMDB reclama, por exemplo, que os órgãos com mais poder nos ministérios da Agricultura e do Turismo estão nas mãos de outros partidos. Enquanto a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é controlada pelo PTB, a Embratur é presidida por Flávio Dino (PCdoB). Os peemedebistas também se queixam por não terem conseguido ocupar cargos estratégicos no setor elétrico, o qual em teoria deveria ser comandado pelo ministro Edison Lobão (Minas e Energia). O PT também trabalha para reconquistar áreas que antes já estiveram sob sua influência, como o Ministério do Trabalho. Quer aproveitar o enfraquecimento político do ministro Carlos Lupi e do PDT para retomar a vaga. Em outro front, esforça-se para não perder espaços. Dilma Rousseff estuda unificar as secretarias de Direitos Humanos, Igualdade


Racial e Políticas para Mulheres, que acolhem diferentes alas da legenda. O Palácio do Planalto também considera desproporcional a representação do PCdoB no Executivo. O partido ocupa o Ministério do Esporte desde o governo Luiz Inácio Lula da Silva, quando a Pasta tinha um papel secundário. No entanto, o ministério ganhou maior importância nos últimos anos devido à organização da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016. Dilma poderia retirar o PCdoB da função, mas perdeu as condições políticas de realizar o remanejamento por causa da crise que levou à queda do Orlando Silva. No lugar do ex-ministro, a presidente nomeou no fim de outubro o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). O PR, que perdeu a influência sobre o Ministério dos Transportes devido a denúncias de irregularidades, busca redefinir suas relações com o governo. Pretende retornar formalmente à base governista, mas está insatisfeito com o tratamento recebido na Pasta. Dilma nomeou Paulo Sérgio Passos, então secretário-executivo do ex-ministro e senador Alfredo Nascimento (AM), sem consultar a cúpula do partido. Passos é filiado ao PR, mas tem uma postura de independência em relação aos correligionários. O PSB é outro partido que poderá ficar insatisfeito com a reforma ministerial. A presidente cogita reintegrar ao Ministério dos Transportes a Secretaria de Portos, cujo ministro foi indicado pela sigla.

A máquina que não funciona Neste momento, a Câmara de Gestão faz um diagnóstico da situação dos aeroportos, dos ministérios da

Justiça, Saúde e Transportes, Infraero e Correios. O grupo também acompanhará os preparativos para a Copa de 2014 e o Ministério da Previdência. Segundo Gerdau, os trabalhos do grupo ainda estão num período inicial. Ele disse que esse tipo de consultoria normalmente exige “muito estudo prévio” para começar a dar resultados. Geralmente, contou, um projeto de gestão passa seis meses estudando e analisando, seis meses introduzindo medidas e seis consolidando-as. Por ora, a Câmara de

O PMDB reclama que os órgãos com mais poder nos ministérios da Agricultura e do Turismo estão nas mãos de outros partidos

Gestão está buscando formas para melhorar os serviços públicos. Em seguida, tentará ajudar o governo a reduzir os gastos. Gerdau citou como exemplo a experiência de um programa de modernização da gestão pública promovido pelo Movimento Brasil Competitivo junto a Estados, municípios e tribunais de Justiça, que recebeu investimentos de R$ 78,7 milhões e já gerou uma economia de R$ 14,2 bilhões. O MBC também é ligado a Gerdau. “Normalmente, leva de 12 a 18 meses um processo desses. O importante é que foi dada a arrancada e existe um apoio enorme, disposição. Tem dezenas de outras frentes solicitando apoio. Então, existe realmente uma vontade política de fazer as coisas andarem”, disse. O presidente do Conselho de Administração da Gerdau e da Câmara de Gestão descartou ainda a possibilidade de entrar na política ou aceitar um cargo no governo. Gerdau contou que se aproximou da presidente Dilma Rousseff quando ela presidia o Conselho de Administração da Petrobras, e chegou a conversar com ela quando o atual governo estava se formando. Na época, a imprensa publicou reportagens de que Dilma estaria sondando Gerdau para integrar seu ministério. Já o superintendente central de Governança Eletrônica da Secretaria de Planejamento e Gestão de Minas Gerais, Rodrigo Diniz Lara, destacou que o governo mineiro trabalha para implementar o chamado governo digital, solução tecnológica que deverá integrar as áreas de planejamento, recursos humanos e contabilidade. “Assim, pode-se trabalhar de forma sistêmica, tendo padronização, flexibilidade e agilidade na tomada de decisão.”

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Luiz Geraldo Mazza

Nos rios da memória

A

os nossos olhos infantís o Rio Barigui era amazônico: profundos os seus poços nas curvaturas e um deles, a volta funda, logo depois do moinho do Weigert, hoje dos Trombini, era tão abissal que nada menos de um pinheiro erecto podia ser tocado pelos mergulhadores ao menos em nosso imaginário. O moinho para funcionar tinha que represar as águas e em consequência disso o nível subia e pegava de surpresa quem não soubesse nadar. Aconteceu comigo e meus amigos Elias, o Rasputin, e o Jubel, o ú pronunciado em “i” à francesa. Tive que levar os dois para um ponto em que desse pé ao lado do barranco. Lembro dessa salvação porque mais tarde esses dois amigos se suicidaram: primeiro Elias e depois Jubel que antes de fazê-lo ficou dias diante do retrato do que se fora. Outro que não me sai da memória foi o Oséas que achado morto no açude do Passeio Público tinha peixinhos nos bolsos. Esse contraponto de morbidez operava como um alertamento para as nossas vivências soltas e despreocupadas: se no Passeio Público fazíamos travessuras havia pelo menos uma árvore que olhávamos com algum cuidado e reverência pois num dos seus troncos havia se enforçado o tesoureiro de uma repartição, pai de um dos nossos companheiros de viagem.

NomeNclatura lírica E os acidentes ao longo do Barigui que íamos nominando num processo de criação coletiva: numa corredei20

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até hoje persistem as cavas abominadas pelas mães ra que de repente se suavisava ficou o nome de “princesinha” e havia os pontos de advertência como o “toco” para lembrar que ali um resto de árvore, pontuda, era uma ameaça e dentre as lendas se falava nos sacrificados naquela curva do rio por sua audácia no mergulhão. E assim vinham os nomes: “carniça” porque numa manhã de névoa vimos alguns corvos se atracando em restos de animal; havia a “panela”, cujo formato lembrava remotamente o utensílio. Andavámos em turma com receio de figuras marginais como o “Sabiá” que costumava imitar o canto passarinheiro e se atirava do lugar mais alto, precedida a encenação de que perdera todo o seu dinheiro no jogo e que iria se matar. Demorava no fundo para o suspense.

Primeiras PisciNas A obstinação pela água nos fazia andar quilômetros a pé porque o acesso ao banho, fora as abominadas cavas do Iguaçu, tínhamos os tanques do Greca ou do Grega no Juvevê, mais ou menos fazendo divisa com o

hoje Parque Pinheiros e ainda no São Lourenço que represava o rio Belém e hoje é o badalado Centro de Criatividade. Não poucas vezes, mesmo na idade adulta, curti esses espaços: lembro até que eu e o pintor Loio Pérsio, que estávamos na dependência de Processo Civil na Faculdade de Direito tentamos estudar justamente na “volta funda”. Isso foi em 1954 e nos anos 50 não poucas vezes saí de bailes carnavalescos para refrescar nos vários pontos mágicos do Barigui. Aos poucos o cerco da poluição foi tornando impraticável as abluções no Barigui o que não era lá um feito assim tão extraordinário, já que era comum nadar no açude do Passeio Público que até 1955 usava as águas do Belém, com carga pesadíssima de curtumes e de esgotos domésticos. Curitiba demorou muito para ter piscinas em clubes, colégios e residências. Uma das primeiras, visível ao público, da avenida João Gualberto era a da Chácara dos Pinheiro Lima que seria desapropriada para a edificação do Colégio Estadual do Paraná. A mais popular era do Cassino Ahu, hoje de colégio religioso: ela propagava a água, alcalino-terrosa, que levava o nome Ahu. Quando vieram as piscinas os rios já estavam impraticáveis, a não ser os distantes da Serra do Mar e até hoje persistem as cavas abominadas pelas mães e que convocam os bombeiros para o ritual da retirada de mortos em dias de calor.

luiz geraldo mazza é jornalista



Segurança

A     M C

O

delegado geral da Polícia Civil Marcus Vinicius Michelotto é um homem raro. Fala de seu ofício com um entusiasmo contagiante. De maneira honesta e clara, quer que a polícia seja encarada novamente como uma parceira, aliada do cidadão, não como inimiga. Não é demagogia nem discurso vazio. Michelotto cumpre sua teoria com prática. Elaborou um grande projeto voltado à segurança pública, pensa que a polícia precisa trabalhar em conjunto com outras forças, e inclui nisso a educação. Enquanto fala sobre segurança, violência, cidadania, parceria, dificuldades e desafios cita o budismo, filosofia que permeia seu pensamento. Michelotto cita igualmente Norberto Bobbio, um dos maiores pensadores do mundo contemporâneo, que diz que os Direitos Humanos são uma das maiores invenções da humanidade. Para Bobbio, não existe a possibilidade de vivermos em paz sem democracia. Hannah Arendt, uma das mais brilhantes e originais pensadoras políticas do século 20, é outra autora lembrada pelo delegado. Em seu livro “Sobre a violência”, ela escreve: “Ninguém que se tenha dedicado a pensar a história e a política pode permanecer alheio ao enorme papel que a violência sempre desempenhou nos negócios humanos, e, à primeira vista, é surpreendente que a violência tenha sido raramente escolhida como objeto de consideração especial”. Sem permanecer alheio à questão tão grave, que invade cotidianamente a vida dos paranaenses, Michelotto organizou uma série de ações com o objetivo de melhorar a segurança pública nos pontos mais críticos de violência em Curitiba. Além disso, elaborou um projeto consistente sobre o tema chamado Paraná Seguro. Saiba mais sobre este homem que pretende mudar a cara da polícia no Estado.

CRIMES EM CURITIBA E REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA Projeto que atende pedido do Secretário da Segurança Pública do Estado, Reinaldo de Almeida César, tem como objetivo principal a diminuição dos elevados índices de crimes de homicídio em Curitiba e municípios da Região Metropolitana: Almirante Tamandaré, Araucária, Colombo, Pinhais, Piraquara, São José dos Pinhais e Campina Grande do Sul. Os acordos de cooperação abrangem as regiões que apresentam alto índice de homicídios e delitos de origem social (outros crimes violentos), conforme o documento “Diagnóstico da incidência de homicídios nas regiões metropolitanas”, produzido pela Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça. O projeto também busca subsídios nos estudos feitos pelo IHA, Índice de Homicídios na Adolescência no Brasil 2005/2007 que diz “Na Região Sul três regiões se destacam com níveis relativamente altos do IHA, todas do Paraná”. Estas áreas correspondem à Região Metropolitana de Curitiba.

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AÇÃO Em relação às ações da polícia, primeiro o programa articulará os projetos e ações sociais dos Governos Federal, Estadual e Municipal, implementando, e coordenando de forma consensual. Depois, haverá intensa participação de estados e municípios. As ações policiais serão mais qualificadas e integradas, que respeitem os direitos humanos. É importante registrar que no programa estão previstas muitas ações que apontam transformações nas instituições de Segurança Pública, no sistema prisional e na carreira dos Profissionais de Segurança o que deverá ter reflexos positivos na busca de um novo modelo de Segurança Pública. POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA A equipe de planejamento do programa efetuou diversas pesquisas de campo e documentais, e constatou-se que ainda não existe uma política de segurança pública que visa a diminuição dos crimes de homicídios, com enfoque especial naqueles cometidos contra crianças e adolescentes de Curitiba e Região Metropolitana.

De acordo com o programa, a Região Metropolitana de Curitiba possui características ímpares, diferenciando-a das demais regiões mencionadas pelo Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania – PRONASCI – uma vez que ela possui a maior área territorial (15.418,5 Km²), quando comparada com outras Regiões Metropolitanas espalhadas em outros estados da Federação. É uma área maior que muitos países como Irlanda do Norte (13.843 km²), Jamaica (10.991 km²) ou equivalente ao Kuwait (17.818 km²). Para os profissionais de Segurança Pública, o fator territorial por si só já é um grande complicador no enfrentamento aos crimes de homicídio. Outro fator complicador é o número de pessoas


ALIOCHA MAURICIO

que habitam essa área da Região Metropolitana de Curitiba e que continua crescendo conforme aponta os dados estatísticos do CENSO 2010 realizado pelo IBGE. A população desses municípios soma 2.695.064 habitantes, quase 30% da população total do Estado. “É nosso dever apontar que estes municípios possuem características e diversidades próprias, que as diferenciam em realidades socioeconômicas”, afirma o delegado.

ESTATÍSTICAS No Brasil, as estatísticas apontam que para cada 100 mil habitantes são quase 30 homicídios, um número muito elevado quando comparado com a média verificada no resto do mundo, que fica em torno de 8,8 por

cada 100 mil habitantes, informação fornecida pelo IPEA, tendo como ano base 2003. Em Curitiba estes dados são mais preocupantes, pois em 1998 o índice era de 22,7 e passou para 56,5 em 2008. Já os demais municípios da Região Metropolitana apresentavam índices de 21,1 em 1998, passando para 50,6 em 2008.

FATORES O problema está em dois fatores primordiais. O primeiro fator é a impunidade, como diz o ex-secretário de Segurança Pública de Minas Gerais e coordenador do Centro de Estudos de Segurança Pública PUCMG Luiz Flavio Sapori: “Os números mostram o quanto a polícia investigativa, a Polícia Civil, não consegue manter um patamar de eficiência adequado à

A POLÍCIA PRECISA TRABALHAR EM CONJUNTO COM OUTRAS ÁREAS, INCLUINDO A EDUCAÇÃO dezembro de 2011 |

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CRESCIMENTO POPULACIONAL EM CURITIBA E REGIÃO METROPOLITANA População em 2000

População em 2010

Taxa de Crescimento (%)

IDH M 2000

1.587.315

1.746.896

10,05

0,856

São José dos Pinhais

204.316

263.488

28,96

0,796

Colombo

183.329

213.027

16,20

0,764

Cidade Curitiba

94.258

119.207

26,47

0,801

102.485

117.166

14,33

0,815

Almirante Tamandaré

88.277

103.245

16,96

0,728

Piraquara

72.886

93.279

27,98

0,744 0,761

Araucária Pinhais

34.566

38.756

12,12

2.367.432

2.695.064

13,84

Campina Grande do Sul TOTAL Fonte: Censo 2000/2010 IBGE

NÚMERO DE HOMICÍDIOS DA POPULAÇÃO TOTAL POR REGIÃO METROPOLITANA

ÁTILA ALBERTI

RM

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

%

Belém

403

212

339

398

491

558

584

837

834

803

1.166

Belo Horizonte

870

899

1.254

1.416

1.790

2.386

2.756

2.474

2.306

2.225

2.016

131,7

Curitiba

554

658

694

770

839

1.042

1.163

1.313

1.381

1.329

1.649

197,7

Fortaleza

493

658

781

759

860

849

875

992

1.090

1.267

1.232

149,9

Porto Alegre

812

820

1.002

1.006

1.078

1.095

1.138

1.151

1.103

1.364

1.485

82,9

Recife

2.788

2568

2.577

2.877

2.534

2.666

2.591

2.632

2.666

2.680

2.553

-8,4

Rio de Janeiro

6.464

6.086

6.074

5.980

6.876

6.475

6.065

5.610

5.773

4.855

4.165

-35,6

Salvador São Paulo Vitória Total RM

189,3

441

209

359

605

703

958

982

1.372

1.576

1.787

2.360

435,1

10.122

11.499

11.321

11.214

9.855

9.517

7.378

5.613

5.028

3.812

3.625

-64,2

1.171

1.059

1.074

1.216

1.200

1.241

1.164

1.291

1.329

1.334

4,8

24.780 25.460 26.009

26.242

26.746

24.773

23.158 23.048

21.451

21.585

-10,9

1.273 24.220

Fonte: SIM/SVS/MS – Mapa do crime 2011. P. 41.

NÚMERO DE HOMICÍDIOS REGISTRADOS DE 2006 A 2010

ENQUANTO A POPULAÇÃO E OS CRIMES CRESCEM EM CURITIBA E REGIÃO, O NÚMERO DE POLICIAIS DIMINUI necessidade da sociedade brasileira. Existe carência de material humano, de polícia técnica e de produtividade”, afirma Sapori. O segundo fator é a falta de comunicação entre os diversos atores responsáveis pelo Sistema de Justiça Criminal (Corpos de Polícias, Ministério Público, Magistratura e Sistema Penitenciário). Nesse sentido, não existe uma integração conjunta entre esses órgãos governamentais no enfrentamento do problema.

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Unidades Policiais

2006

2007

2008

2009

2010*

Delegacia de Homicídios - Curitiba

578

558

598

632

750

Delegacia de São José dos Pinhais

68

124

169

191

180

Delegacia de Colombo

66

100

140

128

118

Delegacia de Araucária

12

08

43

45

47

Delegacia de Pinhais

54

35

40

62

43

Delegacia de Almirante Tamandaré

38

50

80

67

75

Delegacia de Piraquara

39

59

73

76

97

Delegacia de Campina Grande do Sul

12

20

26

33

28

Total Parcial Metropolitana

289

396

571

602

588

TOTAL (Curitiba + Metropolitana)

867

954

1.169

1.234

1.338

Fonte: Relatórios mensais enviados pelas Unidades Policiais ao GAP/DPC - PR * Em 2010 alguns dados podem ser parciais, pois existem relatórios faltantes

INVESTIGAÇÃO A Polícia Civil, órgão responsável pelas investigações, constatou que parcela significativa dos crimes letais intencionais é investigada a partir de prisões efetuadas em flagrante. Se os autores dos crimes não forem presos nessa circunstância, muito pouco é apurado. Os procedimentos investigatórios (inquéritos) possuem um longo caminho de tramitação até que finalmente sejam relatados. Algumas dificuldades foram detectadas, tais como: pouco investimento no aparelhamento das polícias (efetivo e estrutura física), além

de fatores culturais já incorporados pelas corporações policiais. A partir do momento em que os inquéritos produzidos pela Polícia Civil passarem a ser bem elaborados e embasados, primordialmente em boas provas técnicas, testemunhais, e materiais, e em laudos científicos a impunidade diminuirá.

REFORMULAÇÕES Para mudar esse processo, a Polícia Civil pretende iniciar algumas reformulações, como a modernização do sistema de segurança pública, valorização dos profissionais


e reestruturação do sistema prisional, ressocialização de jovens com penas restritivas e egressos do sistema prisional, inclusão do jovem em situação infracional ou criminal nas políticas sociais do governo, enfrentamento a corrupção policial e ao crime organizado e promoção dos direitos humanos, considerando as questões de gênero, étnicas, raciais, de orientação sexual e diversidade cultural. A Região Metropolitana de Curitiba está na pauta das metas prioritárias do PRONASCI. Dados da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República através do IHA (Índice de Homicídios na Adolescência) aponta número elevado de homicídios entre crianças e adolescentes com idade 12 até 19 anos na Região Metropolitana de Curitiba.

EFETIVOS POLICIAIS O efetivo de profissionais de Segurança Pública nas unidades policiais diminuiu em relação ao crescimento populacional e criminal, ou seja, de modo geral houve um decréscimo de profissionais no enfrentamento de crimes de homicídio. Dados revelam que enquanto a população e o crime contra a vida crescem em Curitiba e na Região Metropolitana, o número de policiais civis nessas unidades estratégicas para redução dessa modalidade de crime diminuiu. O número de crimes de homicídio em Curitiba e na Região Metropolitana pode estar fortemente influenciado pela redução de efetivos de policiais civis nestas unidades, que são delegacias estratégicas para enfrentar o problema dos crimes contra a vida humana. O programa pretende aumentar proporcionalmente o número de policiais nas unidades, de maneira proporcional, conforme a população local e quantidade de inquéritos. ESTRUTURA DAS UNIDADES A estrutura física ou predial das unidades policiais não passou por reformas e modificações substanciais entre 2006 e 2010. As Delegacias de Polícia ou Distritos Policiais permanecem sem muitas alterações, em muitas unidades há mais de dez anos. Alguns prédios (casas) são alugados e improvisados, e depois transformados em unidades policiais. Isso dificulta o atendimento à população, pela falta de estacionamento para veículos, acessos para pessoas portadoras de deficiência, idosos e sem levar em conta o desconforto do ambiente improvisado. Para os policiais, a consequência é a desmotivação profissional. Sendo que o bem estar profissional é um fator preponderante na prestação de um serviço público de qualidade, de acordo com os estudos realizados pela Polícia Civil.

PRESOS Outro problema grave encontrado em várias unidades são as pessoas encarceradas sob custódia da Polícia Civil. De acordo com o delegado, o problema é gravíssimo. “Sofrem os presos por estarem em um lugar inadequado totalmente fora dos parâmetros que estabelece a Lei de Execuções Penais (L.E.P.). As pessoas encarceradas ficam sujeitas à própria sorte, convivendo com doenças infecto contagiosas como AIDS, tuberculose, gripe H1N1, doenças de pele, dentre outras tantas (sem assistência médica)”. E completa: Os presos encarcerados em delegacias também não possuem uma enfermaria para consultas médicas, ou atendimento emergencial. Não existem gabinetes para tratamento odontológico. Estas pessoas encarceradas também estão desprovidas de tratamento odontológico e psicológico por falta de estrutura física e profissional da área. Em muitas unidades, sequer existe um espaço para que a pessoa custodiada possa conversar com um advogado ou familiares”. Michelotto explica que isso traz graves prejuízos para a população, que aos poucos fica desacreditada, pois seus anseios não encontram respaldo nos serviços prestados pela Polícia Civil. Além disso, existe uma grande frustração profissional por não poderem exercer na totalidade as funções inerentes às atividades de Polícia Judiciária. TRÍPLICE FRONTEIRA O projeto de política de enfrentamento aos crimes de homicídio de jovens e adolescentes na Tríplice Fronteira tem como foco a criminalidade, especificamente, nos municípios de Foz do Iguaçu, Guaíra, Santa Terezinha do Itaipu e São Miguel do Iguaçu, cidades do Paraná que estão localizadas em regiões que estabelecem fronteiras com os países sul-americanos Argentina e Paraguai, através dos Rios Iguaçu, Rio Paraná e Lago da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Como estão localizados em regiões fronteiriças, cada município possui características próprias inerentes à criminalidade. Entre esses municípios, o que apresenta maior complexidade é Foz do Iguaçu, dada a sua população (estática e flutuante) e posição geográfica limítrofe com outras cidades do Paraguai e da Argentina. A região da tríplice fronteira é um dos pontos mais vulneráveis para entrada de armamentos e entorpecentes no Brasil. É uma linha divisória marcada por mais de 270 km, que se estende da junção do Rio Iguaçu com o Rio Paraná na cidade de Foz do Iguaçu, até a Usina de Itaipu (30 km). Sendo, da Barragem de Itaipu até a cidade de Guaíra (240 km). Praticamente não há nenhuma espécie de fiscalização eficiente. Boa parte dos

ALGUMAS DELEGACIAS DE POLÍCIA OU DISTRITOS POLICIAIS PERMANECEM SEM MUITAS ALTERAÇÕES HÁ MAIS DE DEZ ANOS crimes de assassinatos cometidos em solo brasileiro pode ter suas origens na tríplice fronteira. E os números resultantes são impressionantes, de acordo com informação do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Heitor Piedade Junior, que diz: “O número de homicídios no Brasil supera a soma dos registrados nos Estados Unidos, Canadá, Itália, Japão, Austrália, Portugal, Inglaterra, Áustria e Alemanha, representando, ainda, o quádruplo do índice da Costa Rica e nove vezes maior que o da Argentina.” Neste contexto, os mais prejudicados são as crianças e os adolescentes. Os criminosos perceberam que a utilização de mão de obra infanto- juvenil pode livrá-los de posteriores condenações derivadas de tráfico internacional de entorpecentes e armas, contrabando de cigarros, medicamentos falsificados, dentre outros delitos. É uma forma que o crime organizado encontrou para burlar a lei, pois tráfico de drogas é considerado como crime hediondo, com altas penas de reclusão. Já as crianças ou adolescentes quando apanhados em ato infracional grave sofrem medidas socioeducativas restritivas que não ultrapassam três anos. Segundo consta no programa, o Grupo Auxiliar de Planejamento apresenta uma política de enfrentamento aos crimes de homicídios na Região da Tríplice Fronteira, onde na maioria das vezes, as vítimas são crianças e adolescentes. O projeto pretende atingir objetivos a curto, médio e longo prazo, num período estimado para quatro anos. dezembro de 2011 |

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FAIXA DE FRONTEIRA

TRÍPLICE FRONTEIRA

PARAGUAI

(Presidente Franco)

Foi instalado oficialmente no último dia 24 o Núcleo Regional para o Desenvolvimento e Integração da Faixa de Fronteira do Estado, que vai integrar as três esferas governamentais no planejamento e execução de ações voltadas para o desenvolvimento da região, onde estão 139 municípios. Fruto de parceria entre o governo federal, o Estado e os municípios da região, o núcleo vai reunir representantes de mais de 20 órgãos e entidades, sob a coordenação da Secretaria do Turismo.

BRASIL

(Foz do Iguaçu)

ARGENTINA

GOOGLE MAPS

Puerto do Iguazú)

MAPA Vale ressaltar que estes rios se estendem desde a Usina Hidroelétrica de Itaipu (Rio Paraná delineando as fronteiras Brasil/Paraguai) até o Marco das Três Fronteiras (marco de fronteiras entre Argentina, Brasil e Paraguai). Continuando, do Marco das Três Fronteiras até a Ponte Internacional da Fraternidade (localizada no Rio Iguaçu que divide o Brasil da Argentina. Qualquer ponto da extensão delineada é utilizado por quadrilhas especializadas em traficar armamentos, entorpecentes e outros produtos contrabandeados, vindos da Argentina ou Paraguai para o território brasileiro. Não existem barreiras para coibir com eficiência a prática dos crimes de contrabando, uma vez que Foz do Iguaçu possui seus limites

geográficos – Argentina e Paraguai – separados apenas pelo curso dos rios Paraná e Iguaçu e pelo Lago da Usina de Itaipu.

MORTALIDADE Recente pesquisa levada a cabo pelo o IHA (Índice de Homicídios na Adolescência) revelou que Foz do Iguaçu é o pior município do Brasil em relação à expectativa de mortalidade na população de jovens na faixa etária de 12 a 18 anos, no Brasil. A informação foi publicada no dia 8 de dezembro de 2010 pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR). CRACK Além disso, existe uma interiorização do consumo de drogas, principalmente o crack.

CRACK SE ALASTRA NO PAÍS E SUBSTITUI O ÁLCOOL Uma pesquisa divulgada no último dia 7 de novembro pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) revela que o crack está substituindo o álcool nos municípios de pequeno porte e áreas rurais. Nos grandes centros, uma pedra de crack custa menos de R$ 5. Dentre os 4,4 mil municípios pesquisados, 89,4% indicaram que enfrentam problemas com a circulação de drogas em seu território e 93,9% com o consumo. O uso de crack é algo comum em 90,7% dos municípios. “Verificamos que o uso de crack se alastrou por todas as camadas da sociedade, a droga que, em princípio, era consumida por pessoas de baixa renda, disseminou-se por todas as classes sociais”, aponta a pesquisa. O custo efetivo das ações de combate ao crack e outras drogas nos municípios chega a mais de R$ 2,5 milhões. De acordo com o CNM, faltam profissionais capacitados e verbas destinadas para a manutenção das equipes e dos centros de atenção que deveriam estar disponíveis aos usuários.

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O relatório mostra que 63,7% dos municípios enfrentam problemas na área da saúde devido à circulação da droga. Em relação à segurança pública, os principais problemas estão relacionados ao aumento de furtos, roubos, violência, assassinatos e vandalismo. Existem ainda apontamentos em relação à falta de policiamento nas áreas que apresentam maior vulnerabilidade. De acordo com a pesquisa, um dos grandes problemas é a falta de controle das fronteiras do país. “O efetivo policial é pequeno, mal remunerado e pouco treinado para enfrentar a dinâmica do tráfico de drogas.” A primeira pesquisa da CNM, divulgada em dezembro do ano passado, mostrou que 98% dos municípios pesquisados confirmaram a presença do crack em sua região. Em abril, a confederação lançou o portal Observatório do Crack para acompanhar a situação dos municípios, com informações sobre o consumo, os investimentos e os resultados das ações de combate à droga.

“A união de esforços entre Estado, governo federal, municípios e instituições da sociedade civil é o melhor caminho para promover o desenvolvimento econômico e social da região de fronteira do Paraná com o Paraguai e a Argentina”, disse Richa. A criação do núcleo se soma a outras ações adotadas este ano para a região, como a criação do Gabinete de Gestão Integrada de Foz – o primeiro em área de fronteira no País – e o anúncio da instalação do Batalhão de Fronteira da Polícia Militar, com sede em Marechal Cândido Rondon. Integram o núcleo mais de 20 secretarias e autarquias do Estado, Itaipu, Polícia Federal, Receita Federal, Parque Nacional do Iguaçu e a Unila (Universidade da Integração Latino-Americana), além das associações de municípios da região, Fiep, Faep, Faciap, Fecomércio, Ocepar.

Droga que migrou das grandes cidades para as de pequeno e médio porte. A estimativa é que 80% do crack que entra em território brasileiro vêm do Paraguai. Isso reforça a conexão entre os crimes de homicídio e o consumo e venda de crack. De acordo com a Polícia Civil, o Estado em todos os seus níveis governamentais, possui poucos mecanismos para enfrentar com eficiência o consumo de crack, posteriores tratamentos dos usuários e políticas de prevenção. “As dificuldades oriundas do tráfico e consumo de crack são imensuráveis. O diagnóstico é extremamente negativo, uma vez que existe uma estimativa de que 80% da referida droga entra no Brasil pela Tríplice fronteira, já dito anteriormente. Portanto, os altos índices de crimes de homicídio de crianças e adolescentes estão fortemente conectados com o tráfico e uso de entorpecentes”, diz o delegado.

MEDIDAS DE CURTO PRAZO O programa elaborado pela Polícia Civil do Paraná tem metas de curto, médio e longo prazos. As medidas mais urgentes modificam as estruturas da polícia com o objetivo de diminuir a violência e criminalidade nas áreas mais vulneráveis do Estado. Segundo o programa, as medidas de cur-


OS 10 MUNICÍPIOS COM MAIORES VALORES NO IHA 2007 Estado

IHA (2007)

Expectativa de mortes por homicídio

Foz do Iguaçu

PR

11,8

526

Cariacica

ES

8,2

373

Olinda

PE

8,0

376

Recife

PE

7,3

1351

Maceió

AL

7,1

884

Itaboraí

RJ

6,4

170

Vila Velha

ES

6,3

297

São Gonçalo

RJ

6,2

656

Serra

ES

6,0

306

Duque de Caxias

RJ

5,9

610

Município

Fonte: Programa de Redução da Violência Letal (http://prvl.org.br/) IHA: Índice de Homicídios na Adolescência Municípios com mais de 200.000 habitantes

to prazo que serão tomadas para solucionar os problemas citados são, primeiro, investir na melhoria do efetivo de policiais civis nas unidades já mencionadas. Depois, criar uma normativa governamental para padronizar o “local do crime” com punição a quem alterar as características do mesmo, instrumentalizar formalmente o Inquérito Policial com os padrões do FBI (Federal Bureau of Investigation) e Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa de São Paulo (DHPP).

ESTRUTURA Requalificação de todo o efetivo das unidades mencionadas, sobre cena do crime, isolamento, relatórios, provas

HOMICÍDIOS ENTRE JOVENS O resultado de outras pesquisas realizadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Rede de Informação Tecnológica Latino Americana (Ritla), Organização das Nações Unidas (ONU) e o Ministério da Saúde mostram o crescimento significativo no número de homicídios entre a população jovem, com idade entre 15 e 24 anos. Fator determinante na mudança do perfil da sociedade brasileira. Em aproximadamente 25 anos, teremos uma população formada por mulheres e velhos. Segundo a Ritla, entre 1996 e 2006, os homicídios entre jovens com idade entre 15 e 24 anos aumentaram em 31,3%. A estimativa é de que daqui a 26 anos o Brasil tenha aproximadamente 238 milhões de habitantes e mais de 40% da população tenha entre 30 e 60 anos. Em Curitiba e Região Metropolitana os números são tão alarmantes quanto de outras capitais. De acordo com o site da Secretaria de Segurança Pública, só em 2007, 1.156 pessoas foram assassinadas em Curitiba e nos 28 municípios que integram a RMC. Vale lembrar que não estão incluídas vítimas de confronto com a polícia e latrocínios.

cientificas, etc. Reformas das estruturas físicas e mobiliário, computadores, impressoras, máquinas fotográfica, filmadoras, binóculo com dispositivo de visão noturna, viaturas, dentre outros, com recursos dos investimentos próprios do Governo do Estado (SESP), Fundo Rotativo, FUNRESPOL, PRONASCI, Entidades Financeiras Nacionais e Internacionais. Aquisição de terreno próprio e elaboração do projeto estrutural e arquitetônico para imediata construção do 2° Distrito da Capital, cuja premissa maior é atender uma exigência do GTCOPA BRASIL (Grupo de Trabalho da Copa – 2014), órgão subordinado diretamente à Secretária Nacional de Segurança Pública, integrado ao Ministério da Justiça. O projeto servirá de base igualmente para a Delegacia de atendimento ao Turista (DEAT) e Setor de Crimes Desportivos (SCD), com policiais fluentes no idioma inglês, francês ou espanhol. Segundo o programa, a construção dos prédios deverá seguir normas de acessibilidade para pessoas portadoras de deficiência físicas e idosas. O mesmo deverá ocorrer em uma unidade em Foz do Iguaçu e outra em Paranaguá, onde terá um fluxo de turistas na época da Copa.

GRADE CURRICULAR Adequar a grade curricular da Escola Superior da Polícia Civil do Paraná na futura formação de novos policiais civis, em conformidade com a matriz curricular proposta pela Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, com ênfase nas disciplinas relativas aos crimes contra vida e direitos humanos. MONITORAMENTO E CONVÊNIOS Elaborar um monitoramento de áreas e indivíduos onde há mais vulnerabilidade por meio da Agência de Inteligência da Polícia (AI/PC). Criar con-

O ÍNDICE DE HOMICÍDIOS NA ADOLESCÊNCIA REVELA QUE FOZ DO IGUAÇU É O MUNICÍPIO BRASILEIRO COM MAIOR EXPECTATIVA DE MORTALIDADE DE JOVENS ENTRE 12 E 18 ANOS vênios com os municípios, com o claro intuito de levar cidadania para moradores dessas áreas mais violentas. Estabelecer e monitorar metas de redução do número de crimes de homicídio, a meta final é chegar ao índice de dez homicídios por 100 mil habitantes, nível registrado pelos países desenvolvidos e considerado como aceitável pela Organização Mundial de Saúde da ONU.

DELEGACIAS Criação, a princípio, de duas unidades judiciais-administrativas chamadas de Delegacia de Acervo Cartorário (DAC), uma subordinada a DPCap e outra a DPMetro, na qual iriam os inquéritos anteriores a 2006 sem indício de autoria ou materialidade. Essas unidades contariam um delegado, dois escrivães e quatro investigadores. O Ministério Público terá envolvimento nesse processo. Essas seriam as medidas de curto prazo para elevar e melhorar a situação da estrutura policial, tanto na sua formação quanto na sua atuação. As medidas de médio e curto prazos também serão implantadas para que todo o programa seja efetivado. Como se vê, a Polícia Civil terá muito trabalho pela frente. Mas o principal, que é a disposição e o pensar a polícia de maneira mais eficaz, no sentido humano e prático, já está acontecendo. dezembro de 2011 |

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Rubens Campana

O bilhão mais pobre

A

cansativa gritaria dos ocupantes de ruas contra Wall Street até faz parecer, por um momento, que a vida nos países desenvolvidos é um desafio diário terrível. O movimento já nasce velho, e, como bem colocou o jornalista Alon Feuerwerker, a turma da alternativa anticapitalista não é mais do que uma colagem fantasmagórica de filantropias, multiculturalismos, ambientalismos e simpatias por qualquer forma de “ação direta” — predileção que também está na origem do terrorismo. O economista Paul Collier aponta que a pobreza está diminuindo de forma rápida para cerca de oitenta por cento do mundo que ainda é pobre. Nos outros vinte por cento, o desafio diário não é apenas terrível, mas as expectativas de melhora são pequenas. A verdadeira crise está em um grupo de cerca de cinquenta estados — “o bilhão do fundo”, conforme batiza o autor — cujos problemas desafiam qualquer compreensão tradicional de desenvolvimento econômico e combate à pobreza. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima número similar: 925 milhões de pessoas passaram fome em 2010, número que foi de cerca de um bilhão em 2009. Países em desenvolvimento contam com 98 por cento das pessoas subnutridas, das quais dois terços vivem em apenas sete países: Bangladesh, China, República Democrática do Congo, Etiópia, Índia, Indonésia e Paquistão. “O Terceiro Mundo encolheu” e, enquanto antes a limitada prosperidade poderia ser descrita como “um bilhão de pessoas ricas diante de um mundo pobre de cinco bilhões de pessoas”, conforme explica Collier, isso já não é verdade. Essa visão antiga, que continua a dar as caras em todos os documentos da ONU, deixou de ser realista: cerca de quatro quintos das pessoas de um grupo de mais de cinco bilhões de habitantes do mundo em desenvolvimento está ficando mais rica a um ritmo jamais registrado. Um grupo de 58 países, 70% deles na África e a maioria no resto na Ásia Central, no entanto, não têm testemunhado avanços — enquanto o resto do mundo pobre vem crescendo a taxas sem precedentes, eles estagnaram ou decresceram. A condição do “bilhão mais pobre” não apenas deixa de melhorar, mas até piora: mesmo durante a década de 1990, que, para os países desen-

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a pobreza está diminuindo de forma rápida para cerca de oitenta por cento do mundo que ainda é pobre volvidos, pode ser vista em retrospecto como um breve período dourado entre o fim da Guerra Fria e o 11 de Setembro, a renda per capita nesses 58 países encolheu em média 5 por cento. A desigualdade nos níveis globais de consumo, que era modesta até o século XIX, aumentou consideravelmente desde a Revolução Industrial, e a razão entre a renda per capita entre as regiões mais ricas e as regiões mais pobres do mundo foi de uma modesta proporção de 3 para 1 em 1820 para a proporção de mais ou menos 20 para 1 em 2011. Esse gigantesco aumento no padrão de acumulação de riqueza material iniciado em torno de 1800 no Noroeste da Europa leva Joseph Schumpeter a ironizar os economistas clássicos ingleses por não terem percebido a enorme transformação que ocorria sob seus próprios olhos. Sobre isso, Schumpeter elogia Marx: o alemão foi um dos poucos que não fez o diagnóstico da estagnação, enquanto figuras como Mill e Malthus achavam que retornos decrescentes iriam dominar o futuro. Mas a prosperidade não chegou para todos, vide o bilhão mais pobre. Como ajudar essa turma? “Um Plano Marshall para a África”, argumentam muitos dos teóricos de disciplinas como a economia do desenvolvimento, referindo-se ao programa de ajuda externa que enviou bilhões de dólares à Europa Ocidental após a Segunda Guerra Mundial. Acontece que, como sempre, as coisas não são tão simples: nem mesmo o próprio Plano Marshall foi aquele Plano Marshall que

existe na cabeça da maioria dos ativistas da ajuda externa para a África. O economista Tyler Cowen demonstrou que o Plano não fez nada daquilo que lhe é atribuído: países que receberam quantidades relativamente maiores de ajuda per capita, como Grécia e Áustria, não se recuperaram economicamente até que a assistência norte-americana começasse a diminuir, enquanto Alemanha, França e Itália começaram suas expressivas retomadas antes de começarem a receber fundos. A ajuda norte-americana nunca excedeu 5% do produto nacional da Alemanha Ocidental, mesmo entre os anos de 1948 e 1949, no auge da assistência externa. Enquanto isso, os custos da ocupação e as indenizações de guerra absorviam entre 11% e 15% do produto nacional do país: as políticas norte-americanas, portanto, tinham o resultado líquido de reduzir os recursos alemães — e não de aumentá-los. A verdadeira história da incrível recuperação alemã contou com Ludwig Erhard, que colocou os alemães em rumo econômico prudente. Durante um domingo, quando todos estavam fora das repartições públicas, Erhard desafiou ordens superiores e publicou um édito que abolia quase todos os controles de preços e regulações econômicas restritivas impostas pela administração dos Aliados. Essa experiência com a ajuda externa não é única: Andrei Shleifer, sobre a assistência que foi provida para a África até hoje, resume que “o consenso de que a ajuda externa falhou é quase universal entre aqueles que olham para os dados”. Uma política econômica nacional razoável — como a de Erhard — é mais importante do que os estoques de capital, que, sozinhos, não poderão salvar o bilhão mais pobre. Ou, como explica Deirdre McCloskey: assim como as famílias infelizes de Tolstoi, os países pobres são infelizes cada um à sua própria maneira e por motivos próprios. Países ricos e boas políticas, por outro lado, são entediantemente semelhantes: Estado de Direito, direitos de propriedade e, sobretudo, dignidade e liberdade para a burguesia. A opinião expressa nos artigos é exclusi­vamente do autor e não reflete a posição do Ministério das Relações Exteriores.

rubens campana é diplomata


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Verã�

Sol, suor e lágrimas seCs

T K

O

verão chegou e junto com ele vem todos os problemas que acontecem repetidamente todos os anos: estradas ruins e cheias, mar contaminado de bactérias, insolação, afogamentos e indigestões. Fora as férias escolares. O lazer fica por conta de quem consegue superar essas barreiras e divertir-se em meio aos alto-falantes que tocam o hit do verão. Veja como se preparar para a temporada que exige dos veranistas uma boa dose de inspiração (e litros de protetor solar).

OperaÇãO verãO Dia 21 de dezembro começa o verão no Hemisfério Sul. Data que marca a partida em peso para o litoral do Estado. Sinônimo de praias cheias. Para atender a alta demanda de turistas, uma estrutura diferenciada precisa ser consolidada. Aí começa a Operação Verão. Mais precisamente no dia 16 deste mês e que se estende até o carnaval. 32

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Os turistas ainda nãO cOnseguiram desfrutar de praias tOtalmente saudáveis nas Últimas tempOradas

saÚde Só para melhorar o atendimento à saúde, o governo estadual investiu R$ 3 milhões. Uma central para atender vítimas de afogamento, uma unidade do Samu, médicos, enfermeiros, estoque de medicamentes e matérias hospitalares fazem parte da benfeitoria desse investimento. Na última temporada, os bombeiros registraram 1.200 resgates de afogados em diferentes graus no litoral, com 13 mortes. Serão contratados 3.666 plantões, que somam aproximadamente 44 mil horas de plantão extras, de médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Trabalho de prevenção também é importante. Por isso, equipes da Vigilância Sanitária Estadual, especializadas no controle de qualidade de alimentos e na área ambiental, irão capacitar os técnicos e agentes de endemias. O objetivo é que, por meio de ações de prevenção, sejam evitadas as doenças mais comuns e, assim, diminuir o número de pacientes nas unidades de saúde.


JorGe woll

JorGe woll

A estrada da Graciosa receberá cuidado especial

fazer a sua parte. “Respeitar o limite de velocidade, as placas de sinalização, prestar atenção nas placas educativas, verificar o veículo antes de sair de casa, colocar as crianças nas cadeirinhas no banco traseiro são medidas de segurança que todos devem tomar”, adverte o superintendente. Como é uma época de movimento intenso, é recomendado que sejam feitas consultas no site na Ecovia* para monitorar o nível de congestionamento antes de encarar as estradas. Loyola explica que a princípio não existe nenhum trecho em situação crítica, mas que se houver, será avisado. “Para a temporada começar tranquila, pedimos consciência e paciência do motorista. Convivência em harmonia traz férias saudáveis e divertidas a todos”, finaliza. Em caso de imprevistos durante a viagem, vale lembrar que o motorista é monitorado pela Ecovia, pela Polícia Rodoviária Federal na BR 277 e pela Polícia Rodoviária Estadual nos demais trechos. ivAN BueNo

esTradas O início do caos começa já nas estradas. Para evitá-lo, desde setembro o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER/PR) prepara a conservação adequada das rodovias. “Estradas limpas, bem sinalizadas, tanto vertical quanto horizontalmente. É nossa função permitir o ir e vir com segurança”, afirma Gilberto Loyola, superintendente da regional Leste do DER. Até o início da Operação Verão, todas as obras de recuperação no litoral serão concluídas, segundo Loyola. Os últimos reparos dos estragos nas pistas causados com a enchente de março estão sendo finalizados. Outras ações como tapa buraco, operação de limpeza das rodovias e lavagem de placas atingirão todos os municípios do litoral. Loyola explica que a Estrada da Graciosa receberá um cuidado especial, já que é considerada um trajeto de passeio. Loyola garante que todos os trechos serão monitorados. Mesmo assim, o motorista precisa

ações cOmO tapa BuracO, OperaçãO de limpeza das rOdOvias e lavagem de placas atingirãO tOdOs Os municípiOs dO litOral

* CoNTATos: •

www.ecovia.com.br

ecovia (Br-277 litoral): 0800-410-277

Autopista litoral sul (Br-376 litoral de sC): 0800-725-1771

PrF: 191 / Twitter: @PrF191Pr

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realização de análises específicas e do indicador enterococcus para verificar a presença de esgoto doméstico nas águas dos rios e do mar.

Coleta da areia para verificar a possível presença de parasitas que causam doenças, principalmente em mulheres e crianças.

eliminação da bandeira amarela que deixava o banhista confuso sobre a qualidade da água do mar.

orientação dos banhistas e educação ambiental em ecovilas governamentais.

Pontos de coleta da água do mar e dos rios do litoral.

visita às estações de tratamento de esgoto da sANePAr no litoral.

baLneabiLidade A balneabilidade das praias é avaliada por meio de uma análise microbiológica da água. Baccarim explica que essa análise utilizará um novo indicador (Enterococcus) nessa temporada. O indicador pretende avaliar a presença do esgoto doméstico nas praias. Por ser um indicador, não existe uma relação direta entre o número de bactérias e a ocorrência de doenças. Mas em locais contaminados o risco de doenças é maior, portanto é importante verificar a sinalização e não se banhar em áreas consideradas impróprias. O monitoramento do IAP é feito de acordo com a Resolução CONAMA 274/2000. Uma amostra é coletada a cada semana, de preferência nos dias de maior afluência de banhistas. Um boletim é emitido a cada cinco resultados e classifica a praia como própria ou imprópria para banho. A cada semana, a análise mais antiga é retirada e a mais recente é incluída e, assim, uma nova classificação é feita. O ponto é considerado próprio se 80% dos resultados estiver abaixo do limite. 34

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seCs

**PArA uM verão MelHor

uma central atenderá vítimas de afogamento nessa temporada

faÇa sua parTe O governo tem sim sua obrigação em proporcionar condições para que a população aproveite as praias de maneira saudável e segura. Mas isso não exime cada cidadão de fazer a sua parte. Seguir as recomendações dos agentes de meio ambiente, dos bombeiros e da vigilância sanitária. Além, é claro, de não jogar lixo na areia, não levar animais à praia, ligar corretamente sua residência à rede coletora de esgotos e denunciar ocorrências de agressões ao meio ambiente. Clichês que garantem um verão melhor para todos.

Algumas condições provocam variações na balneabilidade, como a presença maior ou menor de banhistas no litoral, as chuvas e o esgoto lançado no mar irregularmente, por exemplo. Em caso de dúvidas quanto à qualidade da água em determinados pontos, o turista pode buscar informações no site do IAP (www.iap. pr.gov.br) ou nas ecovilas governamentais instaladas ao longo da orla.

esGOTOs Como o número de residências, pré-

Disputa territorial de areia

dios e banhistas aumenta a cada ano no litoral, Baccarim defende um projeto que detecte os moradores que ainda não ligaram o esgoto residencial na rede. Neste projeto, quem não fizer a ligação, correria risco de punição. Ele prioriza a coleta e o tratamento de todo o esgoto produzido. “Os empreendimentos maiores deveriam tratar seu próprio esgoto com métodos naturais de desinfecção”, analisa.

PeDÁGio Novos valores para o pedágio nas estradas federais e estaduais concedidas pelo Paraná. o reajuste aprovado pelo Departamento de estradas de rodagem (Der) foi de 4,53%. ou seja, o valor do pedágio que liga Curitiba ao litoral do estado passa de r$ 13,30 para r$ 13,90 a partir do dia 1° deste mês.

seCs

praias Depois de chegar ao seu destino final, o veranista quer aproveitar seus dias de praia. Mas, de acordo com Alberto Baccarim, diretor de padrões ambientais do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), os turistas ainda não conseguiram desfrutar de praias totalmente saudáveis nas últimas temporadas. Para que essa estatística mude, medidas serão adotadas neste verão para que as pessoas possam melhor usufruir as praias do litoral paranaense**.

A análise microbiológica da água será feita semanalmente


Fábio Campana

Maciste no inferno

D

etesto praia. Abomino calor, suor, queimaduras. Tenho medo de água viva e de bicho geográfico. Nojo de barata na areia. E a nossa beira-mar tem algo de cloaca, de banheiro público. Nem pensar. O pior é a multidão. A vasta exposição de corpos desnudos e toneladas de celulite, gorduras localizadas, barrigas de cervejeiros. É espetáculo obsceno, não pela nudez, mas por tudo que a nudez revela de grotesca. Repararam que mulher bonita e inteligente (existe, sim) não vai à praia? Rara é a aparição de uma deusa. Descobriu que sol demais a envelhece rápido, deixa a pele crestada, produz rugas. E percebeu que a plebe masculina ignara que ocupa as praias não tem sensibilidade, gosto e outros atributos para admirar os seus dotes. A praia tem sido prova irrefutável de que vivemos numa sociedade de obesos. Quando pinta a exceção costuma ser um corpo deformado em academias de malhação. Outro horror dos horrores. Músculos em excesso, principalmente nas mulheres é abominável. No verão passado vi uma senhora que me lembrou Maciste, personagem de filmes antigos baseados na mitologia. Maciste era o Hércules do cinema classe C dos italianos. Sempre interpretado por halterofilistas. Filmes tão baratos que muitas vezes faziam rir na cena mais espantosa. Atores

toscos, tão inverossímeis quanto a condição das mulheres que erguem peso e mudam a voz. Uma doce menina de outros carnavais apareceu-me com voz grossa. Juro, rescendia testosterona. Apertou-me a mão com tanta força que parecia querer mostrar sua nova condição. Senti medo. Pois aquela menina de falar lento, afetuoso, cheia de graça, agora ostentava bíceps, tríceps, trapézio, glúteos que fariam inveja ao Schwarzenegger. E os seios? Aqueles belos seios juvenis que outrora apontavam para a Lua foram substituídos por peitorais masculinos, achatados, daqueles em que a parte de cima do biquíni parece um adereço feminino em corpo de macho. Vivemos a época do dismorfismo, explica minha médica que lida com essas aberrações. Essa doença leva um número cada vez maior de homens e mulheres a modificar seu corpo na esperança de torná-lo mais jovem ou mais próximo do que gostariam que fossem. Há mulheres e também homens obcecados na busca de preenchimentos. Tenho visto mulhe-

res e homens ilustrando seus rostos com bocas, no mínimo, estranhas. Todas querem ter a boca da Angelina Jolie, mesmo que isso nada tenha a ver com o resto. Sem falar no exagero do uso do Botox, que produz rostos “congelados” sem nenhuma expressão. Todos esses recursos fazem parte de um arsenal fantástico que promete rejuvenescimento, mas que também causa verdadeiras catástrofes. Na praia, tudo fica exposto. Seios, bundas, coxas e outras áreas do corpo injetadas com silicone em toda a sua deformação. É um pátio dos horrores. Descer ao litoral para sentir calor, encontrar os chatos e ver espetáculos teratológicos, melhor ficar em Curitiba. A cidade fica perfeita, com boa parte da população lá embaixo, a torrar sob o sol e a banhar-se num mar excremental contaminado de bactérias, fungos, vírus. Aqui tudo fica mais agradável. O trânsito melhora, não há excesso de gente em lugar nenhum, não há filas em restaurantes e as salas de cinema ficam civilizadas sem a fauna irritante. Todos sabem, os chatos adoram praia, o que significa que estamos livres deles, ou de sua maioria, durante três meses. É um prêmio.

Fábio Campana é jornalista e escritor. fabiocampana.com.br

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Economi�

Curitiba vive boom imobiliário sem praZo para acabar Em apenas cinco anos, mercado imobiliário desperta da latência, aquece setor da construção civil e eleva consideravelmente preços do metro quadrado. Valorização crescente é ótima alternativa para investidores. K F

A

partir de 2007, quando a economia brasileira atingiu estabilidade, houve queda do índice de desemprego e o aumento das linhas de crédito com juros menores, o mercado imobiliário saiu do período de estagnação, reaqueceu e com ele os preços. De acordo com a Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (ADEMI/PR), instituição responsável pelos números oficiais do setor, de 2009 para cá o Volume Geral de Vendas (VGV) dos imóveis residenciais novos ofertados em Curitiba acumulou alta de 106,6%, chegando à cifra de R$ 9,6 bilhões. “Este índice delimita o tamanho exato do mercado imobiliário na capital paranaense, em relação à oferta. Os números também mostram que há um crescimento no poder aquisitivo dos compradores curitibanos, além de indicar que o mercado está aquecido e valorizado”, explica o presidente da entidade, Gustavo Selig. A verdade é que o setor vive desde 2007, a todo vapor, um “boom” imobiliário. Após longos anos de demanda reprimida, o mercado reagiu.

nOs ÚltimOs cincO anOs, nãO hOuve valOrizaçãO dO metrO quadradO e sim recOmpOsiçãO e repOsiçãO de valOres A equipe da IDEIAS conversou com economistas, especialistas em direito imobiliário,

profissionais do setor e investidores para entender como está a saúde do mercado imobiliário curitibano, as possibilidades de investimento e os possíveis riscos do setor.

cOLeÇãO de fiLipeTas - Um exemplo comum aos que andam de carro por Curitiba e que mostra com clareza o momento do mercado imobiliário é quando o motorista precisa parar no sinal vermelho. Não importa se está no centro ou nos bairros. Se estiver com o a janela aberta você vai receber uma filipeta de algum prédio pela cidade, seja ele de alto padrão ou econômico. A coleção de panfletos que é possível fazer em apenas uma volta pela cidade é um sintoma do quanto o mercado da construção civil para imóveis, residencial ou comercial, está super aquecido. O diretor geral da Brasil Brokers Galvão, Gerson Carlos da Silva, explica que o número elevado de empreendimentos imobiliários sendo lançados é consequência de uma demanda que ficou represada durante anos. “Há cerca de 10 anos o mercado não dava rentabilidade aos incorporadores e construtores, que migravam


para outros locais. O curioso é que a mão de obra e os materiais custavam o mesmo valor em outras cidades. Solo e terreno também eram semelhantes. Não existia justificativa de Curitiba ficar tão atrás de cidades com perfis parecidos, como Campinas e Porto Alegre. Os valores dos imóveis aqui estavam muito baixos”, relembra Gerson. Presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Gilmar Lourenço acrescenta à repressão da

quandO a Oferta ficar nO mesmO nível da demanda Ou quandO a Oferta superar a demanda, Os preçOs se estaBilizam

PREÇO MÉDIO DO METRO QUADRADO, ÁREA PRIVATIVA, IMÓVEIS RESIDENCIAIS VERTICAIS NOVOS, cURITIBA: Preço/m² Privativo

1Q

2Q

3Q

4Q

ago/09

r$ 3.114,82

r$ 2.776,47

r$ 3.083,86

r$ 3.875,58

ago/10

r$ 3.755,90

r$ 3.763,98

r$ 3.945,05

r$ 4.967,56

ago/11

r$ 4.396,97

r$ 4.153,27

r$ 4.312,95

r$ 5.529,40

PREÇO MÉDIO DO METRO QUADRADO, ÁREA TOTAL, IMÓVEIS RESIDENCIAIS HORIZONTAIS NOVOS, cURITIBA: Preço/m² total

terrenos

casas

ago/10

r$ 401,27

r$ 2.276,78

ago/11

r$ 497,03

r$ 2.737,44

demanda em Curitiba a crise no setor da construção civil que aconteceu entre 2002 e 2006. “O setor da construção civil passou por uma crise. A área construída correspondeu à metade da demanda. Também por esse motivo o preço dos imóveis disparou. A partir de 2007 começou a expansão da oferta, mas ainda insuficiente para atender essa demanda reprimida. E aí os imóveis dispararam junto com a recuperação da economia. Quando

Trata-se de valores médios, referentes ao mês agosto de 2011. os dados são da Associação dos Dirigentes de empresas do Mercado imobiliário do Paraná (Ademi).

a economia se recupera há um aumento da demanda por imóveis residenciais e, principalmente, comerciais”. Com a economia estabilizada, a queda do índice de desemprego e o aumento das linhas de crédito com juros menores, bastava correr atrás do prejuízo. O mercado reaqueceu e com ele os preços foram recompostos. “Nestes últimos cinco anos, não houve valorização do metro quadrado e sim recomposição e reposição de valores.


É uma demanda que estava muito tempo sem ser atendia. São as pessoas que estão saindo do aluguel”, conta Gerson. Vendas de condomínios inteiros apenas um mês após o lançamento. Prédios vendidos em apenas um fim de semana. Prova de que a demanda estava, de fato, sufocada. “Primeiro temos a população que cresce naturalmente, a migração de pessoas vindas do interior ou de outras cidades, seja para trabalhar ou estudar. Ninguém conta também com as separações que estão cada vez mais frequentes, onde cada um vai morar sozinho. As pessoas que recebem uma promoção no trabalho e querem mudar. Há também as famílias que tinham imóveis maiores e com a saída dos filhos de casa agora querem menores. Àqueles que querem diminuir o tempo de deslocamento e se mudam para moradias perto dos locais de trabalho. Enfim, há inúmeros fatores que acrescentam ainda mais a essa demanda. Estávamos em um período de dormência”. O setor comercial também estava carente de ofertas. Gerson conta de um empreendimento comercial em frente ao shopping Mueller. “Lançamos o prédio no sábado. No domingo havíamos vendido 100% das salas comerciais, 50% das lajes corporativas e 80% das lojas”. Os lançamentos citados são todos na planta, ou seja, estarão prontos em, no mínimo, um ano.

LUGAR CERTO, HORA CERTA - Quem conseguiu prever a retomada de valor dos imóveis lá atrás, ou simplesmente estava na hora certa e no lugar certo, pôde ver seus rendimentos duplicados e até triplicados. Foi o caso do investidor Marcelo Shigueoka, que comprou seu primeiro imóvel em 2007. “Uma amiga fez a aquisição de um apartamento no bairro Cristo Rei com um bom preço. Na verdade não sabia se aquele preço era barato ou caro, simplesmente achei um preço legal. Era um apartamento na planta. Um tio meu de Londrina já fazia isso desde 2005 e falou que tinha um bom ganho. Então resolvi entrar nessa empreitada. Basicamente para investimento. Não sabia do boom, mas ele começou, se não me engano, naquele ano. Lembro que um amigo me falou que estava super caro o preço que paguei. Depois de alguns meses, ele se arrependeu de não ter comprado também”. Hoje Marcelo considera ter uma boa carteira de imóveis e, por hora, deixou de adquirir mais. “Tenho imóveis de 3 dormitórios e apartamentos de 1 quarto. Todos residenciais. Alguns são para venda e outros para alugar”. De acordo com Gustavo Selig, presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas 38

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clientes que estão deixando para comprar mais pra frente podem perder bons negócios. É melhor investir logo porque o mercado vai continuar se valorizando do Mercado Imobiliário no Estado do Paraná (ADEMI/PR), ainda há grandes oportunidades de investimentos. “Aqueles clientes que estão deixando para comprar mais pra frente, podem perder bons negócios. É melhor investir logo porque o mercado vai continuar se valorizando. A Copa do Mundo, por exemplo, trará grandes investimentos em infraestrutura para Curitiba”.

START - A valorização dos imóveis, segundo o diretor da Brasil Brokers, começa agora. Com os preços normalizados, este é o momento de agregar valor aos imóveis. “Basta fazer uma comparação com o mercado de automóveis, que cria necessidades. E o consumidor começa a trocar de carro. Assim acontece com os imóveis mais modernos, agregaram benefícios que geram necessidade e por oferecer comodidade,

tem maior valor, custam mais”. E os imóveis mais antigos podem envelhecer, mas não perdem valor. Ao contrário, ganham por causa da localização. A valorização imobiliária no Brasil e particularmente no Paraná, explica o presidente do Ipardes, é consequência da mudança de perfil dos imóveis. “Há 20 anos um brasileiro médio comprava um apartamento de dois quartos com no máximo uma vaga na garagem. Hoje você compra um apartamento do mesmo tamanho, mas esse imóvel te oferece garagem para dois carros, sala de ginástica, playground, churrasqueira coletiva, espaço gourmet, essas coisas. Tudo isso encarece. Este é um reflexo de que o padrão de vida do brasileiro, com a queda da inflação desde o plano real em 1994 e a recuperação da economia, melhorou. Consequentemente, os setores que são mais pressionados pela demanda, e o mercado imobiliário é um deles, tende a ganhar mais dinheiro, aumentar suas margens e aumentar os seus preços”. Mas a valorização do preço tem um limite. Quando a oferta ficar no mesmo nível da demanda ou quando a oferta superar a demanda, os preços se estabilizam. Gilmar conta que isso já acontece em alguns segmentos, principalmente no de renda mais elevada. “A oferta está ficando acima da capacidade de demanda ou da capacidade de pagamento das pessoas. O próprio mercado ajusta os preços para baixo sem ter, a meu ver, o risco de estourar uma bolha imobiliária no país, no Paraná”, tranquiliza.

BOLHA DE SABÃO - As especulações movem o setor imobiliário. Não é raro ouvirmos a palavra “bolha” para denominar a valorização dos imóveis em Curitiba. A expressão foi copiada da crise imobiliária norte-americana que aconteceu em 2007, que quase levou à bancarrota a maior economia do Mundo. É compreensível que a expressão cause pavor em investidores, mas aqui o caso é outro. Os economistas nativos garantem que bolha aqui em Curitiba, só se for de sabão. As especulações sobre uma possível


crise no mercado imobiliário brasileiro são superficiais e inspiradas no colapso econômico dos Estados Unidos (EUA) que teve início no setor de imóveis. “Lá o crédito imobiliário representava quase 20% do PIB do país. No Brasil ele representa 4% do PIB. Lá os imóveis foram utilizados como um instrumento de alavancagem financeira. A valorização dos imóveis fez com que bancos que financiavam esses imóveis emitissem papéis e os vendessem no mercado. Enquanto os imóveis estavam supervalorizados, os papéis vendiam muito. A partir do momento em que o governo dos Estados Unidos teve que aumentar as taxas de juros e o preço dos imóveis caiu, esses papéis desvalorizaram e os proprietárias dos imóveis ficaram sem capacidade de pagamentos. Resultado? Efeito dominó, quebrando financeiras, bancos e quase quebrando a economia mundial”, contextualiza Gilmar. Professor do curso de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Luiz Vamberto reforça outra diferença fundamental entre o Brasil e EUA. “Nos Estados Unidos era possível fazer a revenda do imóvel. A pessoa revendia a hipoteca do imóvel e ficava com duas dívidas. Em um determinado momento, os bancos passaram a revender as hipotecas dos devedores. Na medida em que os devedores deixaram de pagar, os bancos começaram a quebrar”. Aqui no Brasil essa revenda de hipotecas não é permitida, explica Luiz. “Os bancos não podem fazer isso. E aqui verificamos também os cuidados tomados pelo Banco Central em relação ao cumprimento da legislação financeira pelos bancos. E a nossa legislação financeira tem sido mais rígida do que a legislação financeira americana. Aqui no Brasil, por conta da nossa experiência com a inflação alta, o Banco Central tomou o cuidado de elaborar uma legislação para o mercado financeiro muito rígido”. Para Luiz, este é um momento de grande aquecimento do mercado de imóveis. Começa agora uma valoração muito grande do metro quadrado da construção civil, principalmente nos grandes centros, não só em Curitiba, como em Londrina, Maringá e Ponta Grossa. Mas o economista é seguro ao afirmar que “isso não é um indicativo de que daqui a pouco vamos amargar o colapso aos moldes norte-americanos em 2007. Os cuidados das autoridades monetárias brasileiras em relação a isso são muito eficientes”. A verdade é que o fantasma da crise está longe de assustar o país, o Paraná ou Curitiba.

imóveis mais antigOs pOdem envelhecer, mas nãO perdem valOr, aO cOntráriO, ganham pOr causa da lOcalizaçãO previsÕes – Para o investidor Marcelo, “o mercado curitibano ainda tem espaço, principalmente em alguns bairros. O mercado de

apartamentos de 1 quarto e 4 quartos estão com bem mais liquidez dos que os de 2 e 3 quartos. Para o futuro, acho que os apartamentos de 1 e 2 quartos tendem a crescer mais do que os outros, principalmente para a população da classe B (jovens iniciando carreira). Já para a classe C e D, a procura é alta por imóveis residenciais de 2 e 3 quartos, principalmente as de 2 quartos até a faixa de 130 mil. Isso é facilmente explicado pelo programa Minha Casa Minha Vida”, prevê. E ele não está sozinho. Gerson defende que, se o Brasil continuar crescendo como cresce hoje e permanecer o mesmo sistema de linhas de crédito, o mercado imobiliário também continua a expansão. “Demanda existe. Todos os indicadores estão mostrando isso. É possível que haja uma desaceleração do setor, mas pelos próximos três anos não deve haver mudança, só para crescimento”. Gustavo, da ADEMI/PR, dá a dica: “Até agora a movimentação foi muito forte nos bairros em torno do centro. O crescimento foi e está sendo maior nesses bairros. Daqui para frente o crescimento está indo para a região Sul. Há muita oferta de terreno nessa região, que ainda são pouco explorados pelas incorporadoras”.

prOTeÇãO LeGaL A professora do Programa de Pós-Graduação em Direito imobiliário da PuCPr, Maristela Denise Marques de souza, explica as garantias que a legislação brasileira oferece ao mercado imobiliário e aos investidores do setor. Quais leis salvaguardam o sistema imobiliário brasileiro? em 1964, a lei das incorporações imobiliárias (lei 4.591/64) introduziu um avançado sistema de proteção contratual dos adquirentes de imóveis. Posteriormente o Código de Defesa do Consumidor (a lei n° 8.078/90) dispôs sobre a proteção contratual nas relações de consumo, aplicável aos contratos de construção e de venda de imóveis, protegendo os consumidores de cláusulas abusivas e lhes dando possibilidade de requerer a revisão contratual por onerosidade excessiva. em 2004, a lei nº 10.931 instituiu o denominado Patrimônio de Afetação, que consiste na segregação do patrimônio da incorporadora/construtora em relação ao patrimônio que foi adquirido e está em fase de construção em caso de falência, por exemplo. Quais as diferenças entre as leis brasileiras e as norte-americanas? A legislação brasileira não se compara à legislação norte-americana no que tange à proteção ao consumidor de imóveis. A legislação norte-americana trata a aquisição de imóveis sobre regimes hipotecários, diferente do modelo brasileiro de alienação fiduciária. em especial sobre a garantia que a lei brasileira do Patrimônio de Afetação, que protege efetivamente os adquirentes de imóveis na planta. como o governo protege o setor imobiliário? A expansão do crédito imobiliário, assim como o crescimento do segmento e discussões em torno de um eventual colapso (ou bolha) no setor levou o governo federal a criar um índice de preços de imóveis por meio do Decreto 7.565/2011, que estabelece sua criação e manutenção, que foi publicado no dia 21 de setembro deste ano no Diário oficial da união. As definições de metodologia de cálculo, implementação, manutenção e aprimoramento ficarão a cargo do instituto Brasileiro de Geografia e estatística (iBGe). dezembro de 2011 |

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Marcio Renato dos Santos

Ai ai de mim

uem me vê assim, torto, a mancar, careta pra cá, cenho franzido pra lá, talvez duvide que experimentei saúde, se não plena, parcial, quase pra dar e vender. Agora, ai de mim, tudo é uma África. Mais fácil transformar petit-pavé em ouro do que, por exemplo, enfrentar míseros degraus. E olhe que há não muito tempo eu voava de três em três, a correr escada abaixo ou acima. O tique-taque do meu cotidiano seguia, e o meu rosto levava por travessas, pontes e esquinas um sorriso quase permanente, apesar de águas azedas ingeridas sem querer e caneladas que recebia em tardes de neblina. Até que cismei, e a palavra, o verbo é esse, cismei que precisava de um novo par de sapatos, apesar de dúzias de pares recém-adquiridos que despencavam de uma gaveta dos guarda-roupas. Era uma quinta-feira, 19h43, quando entrei em um shopping. Meus passos poderiam sugerir que ali estava um homem decidido, o que era no máximo meia-verdade. Eu queria comprar um novo par de sapatos e, como já se tornou hábito, fui direto até a loja na qual sou cliente. Saí sem sacola nas mãos e sem gostar de nenhum modelo. Passei em frente a vitrines de outras duas, três, quatro empresas que comercializam calçados, e nada. Estava em falta ou ainda por ser fabricado o sapato que se en-

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caixaria em meus pés ou que me seduziria no primeiro olhar. Mas insisti e entrei em uma loja que ainda não conhecia até aquele momento. Não gostei de nenhuma opção, mas estava começando a me cansar e, para dissolver um impulso que eu não sabia a origem, escolhi um par de sapatos preto, de bico quase quadrado, número quarenta e dois. A vendedora foi buscar o produto no depósito e, durante aqueles cinco, seis, sete minutos, me despedi dos sapatos que estavam em meus pés. Tenho a mania: ao comprar sapatos novos, deixo na loja os que me levaram até ali. Segui até um restaurante no qual haveria comemoração por algum projeto bem-sucedido, não lembro ao certo o motivo daquele celebrar, e durante a festa, um copo de vinho, outro chope, esqueci que demorei uns seis, sete minutos para conseguir colocar os novos sapatos em meus pés. O dia seguinte, a sexta-feira, foi uma mancação só. Isso. Segui a mancar com os pés comprimidos dentro daqueles sapatos novos. Nas primeiras horas, queria acreditar que é assim mesmo, o produto novo tende a provocar desconforto. Me perguntavam se eu havia machucado os pés, e eu a disfarçar, a negar, a tergiversar. À noite, já em casa, senti alívio, de gemer. Ao descalçar meus pés, nem reparei em eventuais lesões, também não pensei em nada por estar exausto, e adormeci sem me cobrir e sem fechar as janelas.

Acordei molhado na madrugada, a sentir febre e todo dolorido. Dor nas costas, dor no couro cabeludo, dor no ombro, dor de dentes, dor no pescoço, dor nas pernas, dor para, vou parar por aqui. Desde aquele sábado até agora, tudo se transformou. Dói para dormir, dói para acordar, dói, inclusive, para digitar esse texto. E tudo por que me submeti a uma espécie de acupuntura alternativa desgovernada e sem agulhas, doze horas de pressão contínua nos pés, o que deve ter acionado, ou sabotado?, pontos vitais, e o meu organismo se desregulou. Se já procurei ajuda? Do científico ao sobrenatural, tentei quase tudo. Me tornei, inclusive, conhecido entre os taxistas. Ao solicitar um carro, por telefone, digo o meu endereço, e todos sabem onde é. “No prédio do tortinho, que manca e reclama que tudo dói?”, perguntam. Digo que sim, fazer o quê? Me transformei nisso, “o tortinho, que manca e reclama que tudo dói”, veja só, devido ao mau passo que dei ao adquirir aquele produto enfeitiçado, apertado ou simplesmente por que — ai ai de mim — tinha de ser.

Marcio Renato dos Santos é escritor minda-au.blogspot.com


Andrea Greca Krueger Paula Abbas

Pesquisa de tendências não é (só) coolhunting!

C

oolhunting. Um termo que está na moda e que tem a ver com moda. Coolhunter. Aquele seu amigo moderno que adora fotografar pessoas estilosas na rua e postá-las em seu blog de street style cujo nome, sempre composto e quase sempre non sense, é mais conhecido por uma sigla: IUGN, LOBST ou LMFAO. O conceito (impreciso) de coolhunting disseminou-se como um maldito fad (“modismo”) viral, aqueles dos quais ninguém consegue ouvir falar depois de atingir as vorazes massas consumidoras. Está em revistas, jornais e novelas; está nas tirinhas engraçadas dos jornais. O coolhunting costuma ser confundido com algo mais amplo e profundo, como a parte que de maneira simplista e rasa representa o todo. A caça de coisas legais, em uma tradução literal, está incluída em nosso trabalho. Que sorte temos. Mas a busca em questão vai muito além das fotos de street style e dos blogs de moda. Quando abrimos a Berlin em 2009, com o coração cheio coragem e a cabeça com dúvidas na mesma proporção, a ideia era que com nosso expertise poderíamos fomentar um aumento na qualidade e competitividade de marcas locais através do aporte de informações filtradas e estratégicas fruto de extensivas pesquisas e análise de tendências. O mercado em Curitiba era inexistente até então, poucas pessoas conheciam os benefícios desse tipo de investigação qualitativa. Poucas é puro otimismo – quase ninguém sabia do que se tratava. Não raro iniciamos reuniões logo após o almoço e saímos direto para o happy hour. Pediam-nos cases, o que obviamente não tínhamos. “Que empresa de pesquisa com um mês de vida tem cases?”, nos indignávamos. Para nós era inquestionável a relevância da pesquisa de tendências nesta sociedade fluida, hiperconsumista e ultraconectada em que vive-

mos. E foi essa mesma crença que nos levou a rir de diversas situações difíceis - algumas inclusive com requintes de crueldade como quando o alto executivo de uma multinacional disse que a proposta era ótima, mas que não nos contrataria pois éramos “ninguém”. Era rir ou chorar. Nós escolhemos rir. E ir em frente. Chegamos ao mercado com uma proposta diferente, pois acreditamos que entrevistas em profundidade e grupos de discussão, apenas dois dos diversos tipos de pesquisa que a Berlin realiza, podem resultar em dados mais genuínos quando os participantes estão em ambientes onde sintam-se relaxados e à vontade para expressar suas opiniões. No início deste ano convidamos um grupo de jovens entre 15 e 26 anos para um piquenique no complexo do Museu Oscar Niemeyer, que provou uma gama de snacks fabricados por nosso cliente, uma marca de alimentos de conveniência prestes a se instalar em Curitiba. O resultado foi essencial para a empresa reformular embalagens, posicionamento, nome e sabores. Muitas vezes o empresário acredita que conhece seu setor como ninguém, que graças a seus XX anos no mercado sabe exatamente quem é seu consumidor e o que ele deseja. Ele esquece, no entanto, que o mundo, o Brasil e Curitiba mudaram. É urgente que qualquer marca com ambição conheça e aprofunde-se, não apenas nos gostos e signos locais, mas que entenda a impressionante dinâmica mutável da economia e da sociedade de hoje. Vivemos em um mundo globalizado onde as pessoas estão constantemente influenciando umas às outras. Não há mais barreiras para a informação. Em Londrina ou Xangai, o ser humano é estimulado 24 horas por dia, sete dias por semana. Dois anos, seis turmas lotadas do curso de Coolhunting e Pesquisa de Tendências em Curitiba, Belo Horizonte e Florianópolis, 30 palestras em diversas capitais brasileiras e

todas as universidades de Curitiba, uma carteira respeitável de clientes (cases!) depois, a Berlin está feliz por continuar enfrentando os desafios, plantar e colher frutos de um trabalho pelo qual somos apaixonadas. O mercado mostra que estávamos certas: a pesquisa de tendências é o caminho mais curto entre uma empresa e a inovação responsável.

coolhunting costuma ser confundido com algo mais amplo e profundo. A caça de coisas legais é nosso trabalho

Andrea Greca Krueger é jornalista e professora. Paula Abbas é consultora jurídica e empresarial. São sócias da Berlin. www.berlincool.com.br dezembro de 2011 |

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Cinem�

A veZ do cinema paranaense R O

A

produção cinematográfica paranaense está em pleno movimento. O cinema evoluiu não só em quantidade, mas também em qualidade. Chamando à atenção, dezenas de projetos independentes de realizadores jovens e experientes do estado ganham espaço no cenário nacional e internacional. O panorama da área hoje no Paraná é muito diferente dos anos 1980 ou 1990. Muitos fatores colaboraram para uma situação melhor, desde a evolução de equipamentos e a entrada do cinema digital até a criação de cursos de cinema, aumento da mão de obra especializada e organização de classe. Uma das últimas produções locais, o longa-metragem Circular (2011) foi dirigido por cinco talentos: Adriano Esturilho, Aly Muritiba, Bruno de Oliveira, Fábio Allon e Diego Florentino. O quinteto é oriundo da CINETVPR, a Escola Superior Sul-Americana de Cinema e TV. Primeira escola de graduação em cinema do Paraná, ela é um dos pilares do boom da produção cinematográfica no estado. Seus alunos

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ganharam este ano sete prêmios no Festival Brasileiro de Cinema Universitário, mais do que qualquer outra instituição de ensino do País.

circuLar estreou internacionalmente em Toronto, no Canadá, e, no Brasil, no Festival do Rio, um dos mais importantes festivais de cinema do País. Entretanto, ainda não teve espaço para exibição em Curitiba. Chama a atenção que, apesar da efervescência na produção, Curitiba tenha um tímido circuito de exibição e somente um festival de cinema realizado de modo constante nos últimos anos. No momento, a equipe do filme Circular tenta viabilizar a distribuição comercial do trabalho, para que a obra não se restrinja a festivais. “Os filmes locais têm espaço restrito, na verdade apenas em locais como a Cinemateca, o Paço da Liberdade e algumas mostras em espaços independentes. O retorno do público é limitado, pois os trabalhos são vistos por poucos e geralmente pela mesma fatia de espectadores”, avalia o cineasta Fábio Allon. De acordo com o artista, o circuito de exibição alternativo ainda é restrito, enquanto o comercial, muito fechado. “Não creio que isto

vá mudar tão facilmente. Será preciso muita dedicação e suor por parte dos nossos realizadores, produtores e distribuidores para que isto aconteça”, sustenta Allon.

sem cHOradeira Para o cineasta Eduardo Baggio, referência na área, “aqui não cabe a postura de choradeira”. Se não há espaço, cria-se. Tanto é assim que entraves relacionados à captação de patrocínio e espaços para exibição não intimidaram os cineastas curitibano. E um exemplo disso é a mostra permanente de filmes independentes MeMostra!. Iniciativa autóctone, mantida pela cooperativa Cinematográfica Photon Filmes, a mostra é realizada desde 2006, e, desde então, permite que realizadores de todo o Paraná possam inscrever seus trabalhos e exibi-los. Após a exibição de cada produção é realizado um bate-papo com os diretores. O grupo de entusiastas que deu origem à cooperativa formou-se no curso de extensão universitária da Faculdade de Artes do Paraná. Entre as realizações da cooperativa está o média-metragem Insanidade (2008), dirigido por Guilherme Greca.


auTOraL e independenTe “Nos últimos dez anos houve um aumento significativo de produções autorais e independentes. O que não tem é um público disposto a pagar por isso. Se você faz uma mostra gratuita na Cinemateca, você consegue reunir um bom número de espectadores. Mas se você cobrar, esse número cai drasticamente”, afirma Greca. O cineasta acredita que o mesmo acontece para as outras atividades artísticas. “A noção de valor do espetáculo cultural não está atrelada ao valor monetário. Mas o principal responsável por isso é o próprio artista. Aqui entra aquela velha lógica: se você não valoriza o que faz, ninguém vai”, defende. Adaptação de um quadrinho publicado pela Quadrinhópole, do editor e roteirista Leonardo Melo, Insanidade levou um ano para ser concluído. “Esse foi um trabalho no qual eu sabia que não haveria retorno financeiro. Assim que lançado, já o disponibilizei na Internet. É possível encontrá-lo no Youtube com excelente qualidade”, explica o diretor.

Os filmes lOcais têm espaçO restritO, em lOcais cOmO a cinemateca e algumas mOstras em espaçOs independentes

iniciaTivas Para o jornalista e cineasta Rafael Urban, iniciativas como o Putz – Festival Universitário de Cinema e Vídeo de Curitiba e o Díinamo, Núcleo de Cinema Independente (que funcionou entre 2007 e 2008) foram fundamentais para o atual momento do cinema paranaense. Este ano, Curitiba foi palco de apenas um festival de cinema, o Curta 8 – Festival Internacional de Cinema Super 8 de Curitiba, evento específico para filmes na bitola Super

8. “Belo Horizonte tem nove festivais de cinema. Enquanto aqui há um paradoxo: a nossa produção audiovisual é forte, mas não há outros festivais que exibam e debatam localmente essa produção”, sustenta Urban. Na última edição do Curta 8 (2011), a organização do evento apresentou filmes do Grupo Experimental de Cinema Primeiro Plano (do trio Fernando Severo, Peter Lorenzo e Rui Vezzaro), que não eram exibidos em conjunto desde sua estreia em Curitiba há 32 anos, em

letícia sabatella

vencedor do prêmio de r$ 1 milhão do edital de longa-Metragem de Baixo orçamento do Ministério da Cultura - o mesmo que permitiu a realização de Estômago, do curitibano Marcos Jorge – Circular foi exibido em festivais de Goiânia, Cuba, Canadá e Bélgica

rosANo MAuro Jr.

O filme é um exemplo de que dedicação gera bons resultados. Para a realização do projeto, a cooperativa Photon Filmes não contou com patrocínio direto e foi atrás de diversas parcerias e apoios, como o Centro Universitário Curitiba – que cedeu equipamentos e estúdio – e os músicos Jr. Pereira e Rogério Sabatella que produziram a trilha sonora.

esquerda/direita: Aly Muritiba, Fábio Allon, Adriano esturilho, Diego Florentino e Bruno de oliveira

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O mundo paralelo do futebol amador é tema do documentário Amadores do Futebol, do diretor Eduardo Baggio. Nesta realidade não existem contratos milionários, o pagamento é um bom papo com os amigo e o churrasco depois do jogo

Eduardo Baggio

1979. “Curitiba é uma cidade sem memória, que tem muita dificuldade de lidar com sua própria história; aqui a memória é pouco trabalhada, pouco retomada”, esclarece Urban. “Quando pensamos em programar esta sessão na abertura do festival, pensamos neste momento especial que vive o cinema paranaense. Em 1979, feito 2011, diversos filmes paranaenses ganharam prêmios nos festivais mais importantes do País. Não é a primeira vez na história do estado que acontece algo assim”, explica Rafael Urban. Em 1975 foi realizado em Curitiba o I Festival Brasileiro do Filme Super 8, coordenado por Sylvio Back. Outro festival que consolidou o movimento local foi a Mostra Nacional de Filme em Super 8. O evento teve cinco edições – de 1975 a 1979. “É importante reconhecer que é um momento especial este que estamos vivendo, mas é preciso se voltar à própria história e aprender com ela”, diz. Urban acredita ainda que deve partir do realizador a vontade de querer mostrar o filme, buscar outros espaços. “Se você quer abrir um diálogo com as pessoas, você tem que tentar chegar até elas de alguma forma”. O cineasta começou a trabalhar com cinema em 2005. Coordenou o Putz – Festival Universitário de Cinema e Vídeo de Curitiba e foi editor, ao lado de Josiane Orvatich e Eduardo Baggio, do primeiro veículo mensal dedicado ao cinema no estado, a Juliette Revista de Cinema. Hoje dirige com João Castelo Branco a produtora Tu i Tam Filmes e é curador do Festival de Cinema Super 8 de Curitiba.

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Entre as obras dirigidas por Urban estão João e Maria (2006), Atrizes (2008), Uma volta no parque (2008), Bolpebra (2011) e o documentário Ovos de Dinossauro na Sala de Estar (2011). Este, exibido em mais de 20 festivais, recebeu o prêmio de melhor filme e menção honrosa pela originalidade da concepção no XV Cine PE. O curta-metragem também levou o prêmio de favorito do público no 22º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo; Melhor direção no 21º Festival Internacional de Curtas do Rio e na 11a Goiânia Mostra Curtas; e melhor filme na III Semana dos Realizadores, também no Rio.

PRODUÇÃO ACELERADA O roteirista e diretor de cinema Eduardo Baggio acredita que as dificuldades estruturais, de formação e acesso ficaram no passado. “Hoje Curitiba tem problemas que são iguais aos de outras cidades do mesmo porte no Brasil e no mundo. Nada de especial, nem para mais nem para menos. Nosso maior problema é a exibição, como é em todo o Brasil e em muitos países”, sustenta. Baggio teve trabalhos independentes exibidos em mais de 30 festivais e mostras nacionais e internacionais, com um total de 12 prêmios no Brasil e exterior. “Temos um bom retorno de público, mas os espaços de exibição são restritos. Este é um problema comum na área, em muitos lugares, mas que tem sido contornado com a difusão pela internet e televisão. Porém é algo que temos que pensar com atenção”, diz.

A última produção do diretor foi o documentário Rejoneo (2010). Baggio também dirigiu o documentário Amadores do Futebol (2008), feito com apoio de um prêmio estadual de cinema e vídeo. A produção retrata o universo do futebol amador disputado no Paraná, com suas 56 ligas e aproximadamente 500 times. “Conseguimos bons resultados de público, mas graças a muito trabalho para conseguir exibir e contando com apoio de órgãos importantes como a Cinemateca de Curitiba e a rede de cinema do Sesc-PR. O filme foi exibido em várias cidades do Brasil e no exterior. Agora espero conseguir exibições em televisão”, conta Baggio. O cineasta lança ainda este ano uma série de documentários co-dirigidos com Osvaldo Santos Lima sobre grandes fotógrafos brasileiros. Baggio também finaliza um novo documentário de longa-metragem sobre arquitetura modernista em Curitiba. Este, uma co-direção com o Danilo Pschera que tem previsão de estreia para o início de 2012.

QUALIFICAÇÃO A maturidade artística e estrutural do cinema paranaense se deve também à criação de cursos na área. A cada ano, novos profissionais se inserem no setor cinematográfico, com acesso a um conhecimento antes restrito a estudantes de outros estados. “O contato com profissionais, tanto do estado quanto de fora dele, que ministram aulas na faculdade, somado aos exercícios


Hyunjin Lim

Guilheme Greca trabalha em seu próximo projeto, uma adaptação do personagem O Gralha, o super-herói brasileiro, para um longa metragem. O projeto está no início, mas promete

O Gralha

Insanidade

práticos e trabalhos fora da faculdade, fazem com que hoje tenhamos mais pessoas preparadas para atuar de maneira profissional na área do que tínhamos anos atrás”, opina o cineasta Fábio Allon. Graduado em Cinema e Vídeo pela Escola Superior Sul-Americana de Cinema e TV – CINETVPR, Allon tem obras que circularam em mais de 50 festivais. O artista já inicia seu próximo projeto, o curta-metragem “Equação do Amor”. De acordo com o cineasta Aly Muritiba, a criação da CINETVPR foi fator determinante para a elevação da quantidade e da qualidade

A nossa produção audiovisual é muito forte, mas não há um festival organizado

técnico-artística da produção local, que vem conquistando inúmeros prêmios em festivais de cinema. “Temos qualidade técnica, mas Curitiba carece urgentemente de uma film commission, órgão facilitador para as produções na cidade. São tantos os imbróglios burocráticos que envolvem uma filmagem, que se existisse na cidade um órgão centralizador mais produções viriam para a cidade.” Baiano de nascimento, curitibano de coração, Aly tem entre suas principais realizações o curta-metragem Com as Próprias Mãos (2008), filme vencedor de 17 prêmios

Ovos de Dinossauro na Sala de Jantar

Guilheme Greca

em festivais nacionais, dentre eles o de melhor filme, diretor e roteirista. Dirigiu Poemas Inúteis (2008), em parceria com Fernando Severo. Ganhou o Prêmio estímulo Ney Braga, em 2007, pelo roteiro O Carro dos Sonhos; e Um Dia Como Este foi roteiro vencedor do concurso nacional promovido pelo conceituado roteirista Hugo Moss. O momento é de muito trabalho. O Paraná tem uma evidente e inesgotável vocação para a produção audiovisual. Apesar das adversidades, os artistas locais continuam fazendo o que sabem de melhor: produzir. Se depender da vontade de fazer, o cinema paranaense vai longe.

Rafael Urban dezembro de 2011 |

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Carlos Alberto Pessôa

stock.xchng

Atraso de apenas 2500 anos

A

Cloaca Máxima (em latim Cloaca Maxima, italiano Cloaca Massima) é uma das mais antigas redes de esgotos do mundo. Foi construída na antiga Roma nos finais do século VI a.C. pelos últimos reis de Roma, iniciada por Tarquínio Prisco e concluída Tarquínio, o Soberbo, que usufruiram da experiência desenvolvida pela engenharia etrusca para drenar as águas residuais e o lixo de uma das populosas cidades do mundo, Roma, para o rio Tibre, que atravessa a cidade, em direcção ao Mar Tirreno, a alguns quilómetros a Oeste. O curto e informativo parágrafo acima foi extraído da “enciclopédia livre”, da internet. Para os nossos propósitos pedimos ao leitor que se fixe na data — século VI a.C! Há mais de 2500 anos! Ok? O tempo passa, o tempo voa, e eis que o nosso cada vez melhor Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga os dados do grande censo do ano passado. E eis que voltamos a dar de frente com um chocante percentual: mais de um terço dos paranaenses não é atendido pelo serviço de esgoto! Este é o mais baixo índice brasileiro! Vergonha. O atraso em relação à velha Roma é imenso. Vergonha, vergonha, vergonha! O tratamento do esgoto é a melhor obra de saúde pública preventiva. E não por acaso a mais barata. Segundo o Banco Mundial,

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cada dólar investido em saneamento poupa pelo menos três dólares em ações curativas. Continha que deveria incentivar os investimentos no setor. O irrespirável argumento para este nosso imenso atraso ainda não se cansa se lembrar: — É obra subterrânea, que não aparece, que não dá para mostrar em inaugurações, etc. É verdade. Mas é verdade também que seus efeitos preventivos liberam dinheiro da saúde para outros setores. Onde as obras são mais visíveis e podem ser badaladas pelo agitprop oficial. Resta olhar para outro inibidor — a falência do grande irmão, a falência do governo nas três esferas administrativas: pouco mais de 1% do total de despesas da União é dirigido para inves-

timento. Esta é a situação, a realidade! Só contornável com aumento de impostos ou diminuição de despesas ou ambos. — Onde está a saída? — Elementar! A saída está onde está o dinheiro, o capital. E este está aqui fora, na vida real, nas empresas privadas nacionais ou estrangeiras. Que podem realizar as obras com custo bem mais baixo e gerenciar os serviços com margem de lucro satisfatória. — Mais uma vez convém repetir; não se trata de ideologia ou de viés ideológico; trata-se simplesmente da lógica da situação. É ela que empurra a área pro setor privado. Ou para ser pragmático como o venerável Deng Xiao Ping, que conduziu a China para espantoso e continuado crescimento: não interessa a cor do gato desde que ele casse o rato. No nosso caso, não interessa a fonte do dinheiro desde que ele resolva o vergonhoso problema, o mal cheiroso problema. Roma locuta causa finita...

Carlos Alberto Pessôa é jornalista e escritor. Escreve diariamente para o site da Revista Ideias. negopessoa.com novembro de 2011 |

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Cidad�

AvanÇo no Funcionalismo eFetivo

Prefeito Goinski ao lado dos vereadores e servidores de Tamandaré

O

s funcionários do quadro geral de servidores de Almirante Tamandaré serão beneficiados a partir de janeiro do ano que vem com efeito do Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos – PCCV, dos servidores públicos da administração de Almirante Tamandaré, com a lei complementar nº 020/2011, sancionadas pelo prefeito Vilson Goinski no dia 11/11/2011. Além desta lei, após aprovação unânime dos vereadores do município, também foi sancionada a lei complementar nº 019/201, que dispõe sobre o Estatuto dos Servidores Públicos de Almirante Tamandaré, alterando e substituindo a Lei nº 637, de 24 de novembro de 1998. Após uma audiência pública realizada no dia 28 de abril no salão paroquial da igreja Matriz da cidade, uma comissão especial com representantes de diferentes categorias de servidores públicos foi formada para acompanhar e analisar a elaboração dos projetos de iniciativa do poder executivo municipal. Mais de 30 reuniões discutiram o plano, sob coordenação do secretário

de administração e previdência, Gerson Colodel. Para o prefeito, o plano é um grande avan-

servidOres de tamandaré serãO BeneficiadOs cOm efeitO dO planO de cargOs, carreiras e vencimentOs

ço para o funcionalismo efetivo, elaborado de acordo com a realidade do município e com ampla discussão entre os representantes de todas as categorias de servidores. Além deste plano, a administração do prefeito Goinski também criou o Plano de Cargos, Carreiras e Salários do magistério em 2006 e atualmente está revisando o Plano de Cargos dos profissionais da saúde. As principais mudanças proporcionadas pelo instrumento que busca a valorização e maior possibilidade de crescimento na carreira dos profissionais são na remuneração por tempo de trabalho, desempenho ou formação; no fim da remuneração de tempo integral (RTI´s); no estabelecimento de critérios para funções gratificadas e nos benefícios referentes a previdência, que passa a ser maior. “Além da possibilidade de avanço horizontal, de 1,2% por tempo ou por mérito a cada ano, há possibilidades de avanço na vertical, de 10% a cada dois anos à medida que o profissional vai se qualificando com cursos de graduação, pós, mestrado e doutorado” explica o professor Jacir Machado, responsável pela consultoria na elaboração do Plano. dezembro de 2011 |

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Ensai� Fotográfic�

Tramas Vegetais D K

C

enas cotidianas, recordações de viagens, retratos, reportagens: esportes, guerra, trabalho; publicidade & propaganda; ensaios pessoais, arte, abstracionismo; cidade & campo, meio ambiente, claro & escuro, em P&B ou em cores. Desde a invenção da fotografia, na primeira metade do século XIX, a pessoa que fotografa se dedica a registrar o seu cotidiano, o seu entorno, a sua visão das coisas, a sua criação. E dentre os vários campos da atividade fotográfica um dos que mais atraem por sua diversidade e beleza está aquilo que chamamos de natureza. Dos grandes espaços ao microscópico o homem estuda, analisa, registra e procura entender esse fenômeno misterioso que é a vida. Desde 1888 a famosa National Geographic Magazine dá su-

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porte ao registro do nosso planeta. Lá foram lançados e trabalham talentosos profissionais que criaram escola. O fotógrafo que se dedica a resgistrar a natureza com suas paisagens diversas e os seus habitantes, a flora e a fauna, trabalha com a mais difícil, cansativa, desafiadora, meticulosa atividade. Fábio Colombini faz parte dos grandes fotógrafos de natureza. Formado em Arquitetura e em Publicidade e Propaganda pela USP seguiu aquilo que o seu coração e a sua sensibilidade guiavam desde que tinha cinco ou seis anos: o deslumbramento com as cores e as formas da natureza. A fotografia veio depois. — Já na família tinha um bom fotógrafo amador, o seu avô paterno Ulysses, também engenheiro, viajante, pintor e orquidófilo. — Autoditada, como a maioria dos grandes profissionais e amadores, construiu o seu universo visual cheio da beleza que

o seu olhar privilegiado selecionou. Da sua confessada admiração pelo fotógrafo brasileiro Haroldo Palo Jr., Fábio, hoje aos 46 anos de idade, afirmou-se como um dos principais e mais importantes fotógrafos de natureza do país. Tem em seu currículo fotografias publicadas em mais de 3.600 livros (artísticos, institucionais, didáticos), 126 calendários para grandes empresas, 60 exposições nacionais e internacionais além de muitas premiações. As fotografias que selecionei para esse Ensaio Fotográfico tem como título “Tramas Vegetais”. Nessas fotografias o artista desvincula-se das cenas externas para, em estúdio, criar com folhas, pétalas, ramos, imagens que a sua visão interior inspirou: é um trabalho maior. Para ver mais trabalhos do Fábio Colombini: www.fabiocolombini.com.br. Vale meticulosa e demorada visita.


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Izabel Campana

"Esse est percipi"

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u "ser é ser percebido". A frase do Bispo George Berkeley, que viveu entre 1685 e 1753, estranhamente se aplica com propriedade ao Facebook e similares. Na web, a imagem que projetamos é fundamental. A teoria de Berkeley foi pensada no contexto da física. E como no mundo interpretado pelo filósofo irlandês, na internet não há matéria. Percepção é tudo. Não se enganem. A interação no mundo cibernético pouco difere do ser e ser visto de antão. E na falta de praças, bailes e missas, nos encontramos nas redes sociais, passamos bilhetinhos virtuais e contamos anedotas digitais. A diferença é que na web é mais fácil escolher o que se quer mostrar e, principalmente, o que se quer esconder. Tudo o que dizemos nas redes pode ser antes mediado por pesquisas ao Google, tornando todos inteligentes e dotados de memórias invejáveis. As fotos são escolhidas a dedo para retratar a imagem mais próxima do melhor de nós mesmos. As causas defendidas, idem. Animaizinhos, criancinhas e velhinhos indefesos são incrivelmente mais populares na internet do que numa mesa de bar. Diante de tanta maquiagem pirotécnica, alguns podem sentir-se inclinados a dizer que a interação internética não passa de uma mentira.

Uma falácia montada para mostrar a melhor face de cada um. A primeira pista de que isso não é real é o número de chatos que se prolifera nas redes sociais em taxa tão alta quanto a vista nos condomínios de edifícios. Repare que cada um coloca no Facebook a melhor imagem que quer de si. Pois os chatos têm como ideal um chato ainda maior. Em geral um proselitista enfadonho, que carrega toda e qualquer bandeira que lhe apareça, desde que seja o mais palatável possível ao senso comum. O que não percebemos, pois, ao postar nossas melhores fotos, nossos melhores comentários, nossas máximas mais inspiradas, é que a imagem que queremos passar de nós mesmos diz muito sobre quem somos. O que melhor fala sobre uma pessoa do que seus modelos e ideais? E assim, mediado pelo computador ou não, o contato humano nada mais é do que uma tentativa de ser amado, querido, idolatrado, invejado. Tudo isso remete a sentimentos muito antigos, bem anteriores à invenção do monitor. Retome a leitura de Shakespeare e entenderá os arquétipos do Facebook.

izabel camPana é advogada

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Rogerio Distefano

A árvore e a língua de Isaías

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omo dizem os ingleses, A Árvore de Isaías, de Fábio Campana, causou-me mixed feelings – incerteza, só para cutucá-lo numa de suas melhores crônicas, a do Monoglota: aquilo são apenas “crônicas vadias” (como na divulgação do livro) ou é um pedaço da autobiografia do autor? A pergunta pode parecer ociosa, pois o gênero crônica é aquele onde mais se nota a vivência e as idiossincrasias do autor. Portanto, toda crônica é um pouco autobiográfica. Mas há cronistas cheios de pudor, que evitam ao máximo qualquer nota pessoal nas suas crônicas. Campana não tem esse pudor, ele vai até onde lhe é possível se desvendar na Árvore. A começar pela crônica que dá título ao livro, onde purga sua origem marxista e revela o percurso da decepção com o esquerdismo em que militou desde a adolescência – quando nos conhecemos em 1967 ele atendia pelo apelido Zapata, que grangeou não só pela imagem mexicana, como por outras virtudes zapatescas, uma delas o sucesso com as mulheres. O livro é, sim, um pedaço de sua autobiografia, que – pela sua proficiência no escrever e no se expor, aliada à vantagem de ser editor – ele

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irá liberando aos poucos, em outras crônicas e livros sucessivos. Já havia lido todos os textos no blog de Campana, de onde foram recolhidos e selecionados, em escolha muito feliz que estabelece entre eles a nota de continuidade rara em livros de crônicas, normalmente recolhas esparsas e sem critério. Esta é, digamos, a qualidade editorial do livro, aliás, uma redundância diante das publicações da Travessa dos Editores. O livro foi bem editado e cuidadosamente revisado para livrar-se de inevitáveis falhas em textos produzidos para a internet. Também redundante dizer que como obra industrial e plástica o livro é perfeito. Mas estamos tratando de um livro de crônicas e como tal A Árvore está na melhor tra1 dição do gênero. O texto é leve sem ser vazio, gratuito ou ingênuo. Ao contrário, Campana exerce o sarcasmo levantando um pouco além aquele véu da fantasia que Eça de Queiroz usava para esconder a verdade. Diz o que tem de dizer, sobre quem tem de dizer, com as palavras que tem de usar. Porém numa linguagem que faz inveja aos que usam a língua: direta, econômica, telegráfica, econômica nos adjetivos e advérbios, penduricalhos que deturpam o texto.

A ÁRVORE

ISAÍAS

DE FÁBIO CAMPANA

Os romanos diziam que os livros têm seu destino. De minha parte, goste ou não Fábio Campana, já tracei o da Árvore: vai circular em meu clube do livro, também será lido por dona Juli, a ascensorista da Praça Carlos Gomes, Sirlei de Jesus, a podóloga do Paço da Cidade e vou insistir que a doutora Anelise Budel leve-o como companheiro para um de seus tantos congressos, para citar os primeiros da lista de percurso. Como a árvore é de Isaías, o profeta disse algo que se aplica a Fábio Campana: “O Senhor Jeová me deu uma língua erudita, para que eu saiba dizer a seu tempo uma boa palavra ao que está cansado: Ele desperta-me todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que ouça, como aqueles que aprendem” (Isaías, 50,4).

Rogerio Distefano é advogado e colunista da Revista Ideias. maxblog.com.br


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A Árvore de Isaías Fábio Campana Crônica 160 páginas 13 x 21 cm

O velho e rude esporte bretão

Carlos Alberto Pessôa Futebol / crônicas 240 páginas 15 x 21 cm

O mundo não é redondo Antonio Cescatto Ficção 384 páginas 15 x 21 cm

Ultralyrics

Marcos Prado Poesia 192 páginas 24,5 x 25 cm Inclui CD

Arquitetura do movimento moderno em Curitiba

24 quadros

Salvador Gnoato Arquitetura 144 páginas 22 x 21 cm

Luciana Cristo Nívea Miyakawa História 168 páginas 22 x 21 cm

Em preto e branco, o início da televisão em Curitiba

Rubens Meister, Vida e Arquitetura Marcelo Sutil Salvador Gnoato Arquitetura 95 páginas 22 x 20,5 cm

Maria Luiza Gonçalves Baracho História 112 páginas 22 x 21 cm

Joaquim - Dalton Trevisan (en)contra o paranismo Luiz Claudio Soares de Oliveira História e Crítica 216 páginas 22 x 21 cm

Corpo Re-construção Ação Ritual Performance Fernanda Magalhães Arte / fotografia 288 páginas 17,5 x 23,3 cm

Ai

Fábio Campana Romance 182 páginas 15 x 21 cm

Modos & Modas

Carlos Alberto Pessôa Crônica 144 páginas 15 x 21 cm

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LivrOs

Prateleir� multiverso

invisível, de paul auster Por Fábio Campana

E

m Invisível, o escritor americano Paul Auster compõe um romance feito de diferentes vozes e tempos narrativos. Narradores e formas narrativas se alternam, aceleram o ritmo da leitura, reservando descobertas e mudanças de rumo até as últimas frases do livro e deixando o leitor sem fôlego. O personagem Adam Walker recorda os acontecimentos da primavera e do verão de 1967, quando era um jovem poeta e estudante de letras na universidade de Columbia, Nova York. Quarenta anos depois, os fatos incontornáveis daquele ano, em que se vivia a Guerra Fria e a crescente oposição à Guerra do Vietnã, somam-se a eventos pessoais decisivos, que o vão acompanhar até o fim da vida. Ele rememora o estranho encontro em uma festa e a posterior relação tumultuada que desenvolve com dois estrangeiros: o suíço Rudolf Born, professor visitante de relações internacionais na mesma Universidade Columbia, e sua enigmática e sedutora companheira, a francesa Margot. O professor Born propõe ao jovem poeta financiar um projeto de revista literária, acalentando a ideia de ter sua biografia escrita por Walker. O rapaz fica intrigado com a rápida simpatia que desperta no casal, mas a oferta é boa demais para ser recusada. Aos poucos, porém, passa a desconfiar das intenções de Born, uma combinação de raivoso analista político, intelectual cínico, dândi espirituoso.

iNvisível Autor: Paul Auster editora: Companhia das letras

O homem nu Por Fábio Campana

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omo povos tão afastados, do sul ao norte das Américas, puderam elaborar narrativas míticas que se conectam em tantos pontos? Neste quarto e último volume das Mitológicas, publicado originalmente em 1971, o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, falecido em 2009, se debruça sobre os detalhes estruturais da mitologia do noroeste norte-americano, encontrando nela elementos semelhantes à mitologia de todo o continente. Entre as populações estudadas neste volume, encontram-se mitos como aquele que conta a história de um herói nu, preso no topo de uma árvore ou penhasco, coberto por uma longa cabeleira. Esse motivo ecoa a narrativa do desaninhador de pássaros, herói do mito bororo que o autor tomara como referência no início de O cru e o cozido. Reaparecem, transformados, os temas do incesto, da afinidade e da passagem da natureza para a cultura. Nessa imagem, a cabeleira, uma “vestimenta natural”, se opõe às roupas manufaturadas, como o cru se opõe ao cozido nas narrativas do primeiro volume. Do Brasil Central à Colúmbia Britânica, o problema da continuidade e da oposição entre natureza e cultura se mantém, sujeito à passagem do código alimentar ao código do vestuário e dos adornos. Da Cosac Naif, nas livrarias.

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ensamentos profundos entrelaçados por sentimentos sensíveis e suaves percorrem os versos de Eudes Moraes. Paulista de nascimento, que mora em Curitiba há 32 anos, mostra seu lado de escritor e poeta em seus artigos que publica em jornais e revistas. O empresário já foi diretor-geral da rádio CBN Curitiba e hoje é CEO da empresa Kazatec Incorporação e Empreendimentos. Agora reúne no livro “Multiverso” seus poemas. Suas palavras revelam instantes vividos, plenos de matizes e aromas, emoldurados como em um quadro, as primícias em forte emoção. Para o leitor que gosta de poesia, uma chance e tanto para viajar. MulTiverso Autor: eudes Moraes editora: inverso 196 páginas

o HoMeM Nu Autor: ClAuDe levi-sTrAuss, editora: CosAC NAiFy Páginas 720


Livros

Grafismos de Rischbieter

Álbum amado

Por Fábio Campana

Por Fábio Campana

filme

Exposição

Película de precisão cirúrgica

Fotojornalismo alemão

Divulgação

Por Marianna Camargo

N

inguém melhor do que Jaime Lerner para dizer deste livro de Karlos Rischbieter, o terceiro. Palavras de Lerner: “Conheci a obra de Karlos Rischbieter, que eu chamei a princípio de cerzido invisível, mas não outros grafismos a colagens, bem como suas atrevidas reinterpretações dos grandes mestres como Michelangelo, Dürer, Rembrandt, Ingres e Wunderlich com inserções de páginas do livro caixa do pai. Suas aquarelas e cópias são preciosas e se constituem em original obra de arte. (...) Quando muitos procuram dizer que o falso é verdadeiro, mostrar que o falso é falso - e por isso verdadeiro, é sobretudo original. Karlos Rischbieter consegue inserções atrevidas nos clássicos com a qualidade de um desenho primoroso”. O design gráfico do livro é de Rita Solieri.

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ecebi da Paloma Amado o belíssimo álbum do acervo acumulado durante toda a vida pelo escritor Jorge Amado, seu pai. São pinturas, objetos, esculturas, fotografias que lhe foram presenteados pelos amigos artistas de todo o planeta. Entre eles Picasso, Rivera, Scadaferri, Santomaso, Anita Malfatti, Pancetti, Portinari, Carybé, Di Cavalcanti, Aldemir Martins e todo o primeiro time brasileiro. As fotos registram a convivência fraterna de Amado com Pablo Neruda, Cora Coralina, Sérgio Porto. Vinicius de Moraes, Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir. Músicos como Dorival Caymmi. Enfim, o acervo reflete a rica vida intelectual de Jorge Amado, o escritor brasileiro mais importante em seu tempo. O acervo, por falta de interesse do governo em preservá-lo, foi leiloado. Ficou o registro no álbum feito com carinho e talento pela filha Paloma.

pele que habito, último filme de Pedro Almodóvar, é econômico e ao mesmo tempo transborda. Lá estão todos os personagens do cineasta, seus dramas e contradições. Mas você não encontra o Almodóvar óbvio, colorido, excessivo. Nada é excesso em seu filme. Com narrativa limpa, quase asséptica, o cineasta consegue montar um drama que questiona sexualidade, identidade, ética, mudança corporal. Por meio desses temas subverte o sentido e cai no afeto. Lugar onde não existe escolha nem ética. O ator Antonio Banderas volta a ser dirigido por ele, parceria que se iniciou em 1982 e rendeu cinco filmes até 1990, como em “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos” (1988) e “Ata-Me” (1990). Banderas está exato no papel e seu idioma nativo faz seu personagem crescer ainda mais. A trilha sonora de Alberto Iglesias pontua com precisão cirúrgica a tensão que permeia a história. Algumas cenas lembram seus outros filmes como “Áta-me” e “De Salto Alto”, e também Alfred Hitchcock. Todavia Almodóvar consegue ser milimetricamente Almodóvar.

C

uritiba é a única cidade do Brasil a receber exposição de imagens feitas por Erich Salomon e Barbara Klemm. Erich Salomon e Barbara Klemm são dois fotojornalistas que possuem fundamental importância para a cultura alemã. O primeiro retratou de forma ímpar grandes acontecimentos políticos nas décadas de 1920 e 1930 e é considerado o pai do fotojornalismo político moderno. Já Barbara capturou momentos históricos focando o lado social e psicológico das personagens. Cerca de 100 fotografias da dupla estão reunidas na exposição “Zeitsprung - Salto no Tempo”. A exposição é realizada pelo Instituto de Relações Culturais com o Exterior (IFA), com parceria do Goethe Institut e da Casa Andrade Muricy, unidade da Secretaria de Estado da Cultura. Serviço Exposição “Zeitsprung - Salto no Tempo”, com fotos de Barbara Klemm e Erich Salomon. De 1 de dezembro de 2011 até 11 de março de 2012 Local: Casa Andrade Muricy (Alameda Dr. Muricy, 915. Centro. Curitiba/PR) Entrada gratuita

Cecil Baton fotografa nos estúdios Vogue Paris. Erich Salomon 1936

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Antonio Augusto Figueiredo Basto

“Angústias”

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enditos Garcia Lorca e Borges pela poesia que encanta e salva “Ao que sofre noite e dia, e de noite até dormindo, a noção de suas misérias, a grande cruz da paixão, eu lhe abaixo minha cabeça, eu lhe dobro meus joelhos, eu lhe beijo os dois pés, eu lhe digo: Deus te salve! Cristo Negro, santo hediondo, Jô por dentro, cálice infame da Dor”. No ano do Senhor de 1947, a Espanha vivia sob Franco e o rubro sol brilhava na Andaluzia, Pedro Almafuerte com 55 anos, “pastor de gado bravo”, intacto mentalmente, estava na cidade de Linares na Plaza de Toros de Santa Margarida e viu um maestro enamorado enfrentar seu destino no picadeiro, era Manoel Rodrigues Sanches — Manolete, matador que foi “a glória e inveja” do povo espanhol, essa é sua história:

ALMAFUERTE Pedro Almafuerte sobreviveu às angústias da noite insone, ao calor abafado do catre e da ansiedade que lhe ardia no corpo. Quando a escuridão se despediu e o sol triunfou no azul da Andaluzia ele deixou a habitação e seguiu rápido em direção à Plaza de Toros de Santa Margarida. Caminhou a passos largos pelo passeio de pedras quadriculares e empoeiradas, atravessou pelo casario de telhado ocre, mistura de amarelo e flamante vermelho, observou com regozijo as floridas soleiras com as janelas ainda fechadas. Avançou e logo a sua frente ergue-se a catedral com sua torre onde destacam-se os enormes badalos, que marcariam os dígitos do tempo e o destino de Manolete. Encontrou a Plaza de Toros de Santa Margarida, esférica e barroca, caiada de tinta branca ornada com enormes arcos, parou em frente da “porta grande”, por onde o toureiro almeja sair em glória ou com a morte rápida. Acima do portal: “O que importa 58

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Linares, 28 de Agosto de 1947 Plaza de Touros Santa Margarida Rafael Veja de Los Reyes M A NOE L RODR IG U E S – M A NOL E T E Luis Miguel Dominguim.

nossa covardia, se há na terra um único valente”, mais ao centro do pórtico em cores vivas estava o edital que anunciava a “festa brava” , a corrida de touros daquela tarde:

Os três matadores estariam na arena diante de cinco míuras de quatro a cinco anos com peso variando entre 600 a 650 Kg. Almafuerte já havia entrado nos cinquenta, alto, forte, queimado de sol, rosto comprido coberto por espessa barba cinza, timbre de voz poderoso, “pastor de gado bravo”, sua lida era com o Miúra, raça única de Touros, cuja origem vem da Fazenda de Dom Eduardo Míura, que após cruzar cinco diferentes raças obteve um touro que desde pequeno é submetido a testes de bravura e ferocidade, diante do qual toda segurança é apenas ilusão. A arena vazia, o picadeiro de sépia cercado pelo vermelho e o silêncio das galerias, lhe deram a efêmera sensação de paz que, dissipou-se rapidamente ao chegar no “curral”, onde o cheiro de bosta fresca, o calor abafado do estreito corredor e o rugir lastimoso das bestas o fez sentir nos labirintos de Creta. Cheios de força ingênua, cinco jovens touros bufavam e pateavam o chão, encarcerados em pequenos cercados de madeira sulcados por manotaços, coices e chifradas. No último curral, sentiu um impacto de reverência e temor, sensação incômoda que pensou ser excitação, mas subitamente horrorizado perscrutou o touro com olhos arregalados, dominado pelo medo, envolto por sentimento de profunda angústia, diante da beleza e vitalidade do animal em contraste com a clausura e o triste destino daquele bicho majestoso com dia e hora marcados para morrer, maldição que nem a mais miserável das criaturas conheceu.


ISLERO Legítimo descendente de Poseidon, glória de Minos , irmão de Murcielágo, lendário míura que indultado na arena por bravura e ferocidade, inspirou a Lamborghini, o touro tinha força e beleza invulgares, de conformação singular e homogênea, negro como a sombra de mil e uma noites, puro sangue míura, aos cinco anos com 650 Kg músculos, chifres como tirantes de ferro encurvados, ancas fortes e ventre musculoso, grandioso como o negro mar, sua fúria era tormenta e sua beleza habitava o mais delirante sonho de Rodin. Olhos “negros como carvão”, a lastimosa ferocidade e escandalosa respiração, eram elonquentes demonstrações de sua incontida angústia e da “valorosa aceitação se seu infortúnio”, triste fadário do holocausto inútil, na arena de faustosas crueldades. MANOEL RODRIGUES SANCHES – MANOLETE e DONA ANGÚSTIAS Naquele mesmo instante um moço de 30 anos, simples, macérrimo, alto, cabelos negros bem aparados, grandes e profundos olhos negros, vivos e audazes que irradiavam a virilidade de enfrentar um demônio, para em frente à casa de sua mãe, desde que passara a viver no México não punha os pés em casa. Hesita, detem-se desamparado, sabe que a mãe sempre censurou o relacionamento com Lupe , teme novas reprimendas, mas lembra que foi ela com sua reserva e orgulho sóbrio quem lhe deu as melhores lições na vida. Na manhã tépida e abafada, abruptamente a porta abre e corta seus pensamentos, surge uma mulher pequenina, rechonchuda, já entrada nos sessenta, cabelos grisalhos, presos como convém à beleza feminina e pequenos olhos negros, recebe-o com um sorriso largo, algo poderoso e bom, que disfarça seus sofrimentos, “melhor parecer alegre que comover pelo infortúnio”. Seu nome Angústias - ANGÚSTIAS! Nome ou triste epitáfio para a esposa e mãe de toureiro? Angústia de Maria que sabia que seu menino “morreria no madeiro” e de saber que o seu menino poderia ser abatido no picadeiro. Verdadeira desgraça que instalou-se inexoravelmente em seu destino. Abraçou-o afetuosamente, beijou-lhe a face com intensidade e ardor de quem ama por amar, ri por rir, tudo dá e nada espera, amor de mãe, incomparável compaixão que nasce da dor, talvez do insuportável sentimento trágico pelo destino do filho. Sentaram-se “mano a mano”, Manolete não tinha como lhe esconder a dor na alma e a profunda angústia, desde sua ida para o México sua vida mudou muito. Deixou a

Espanha com glória de campeão entre o seleto grupo de matadores para tourear na América, fazer fortuna, se isolar com Lupe, era louco por aquela mulher, mas diante da censura e presságios de todos que o cercavam não podia viver tranquilamente sua paixão, largou tudo e foi amá-la no exílio, lá conheceu a paixão dos “beijos na areia”, mas viu sua arte decair e sua reputação arruinar, “sortes”(manobras para ludibriar o touro) quase o abandonaram, quando distraído por mais um dos romances públicos de Lupe, um pequeno touro o acertou, então o gosto da areia foi amargo. A mãe sabia disso e que tinha diante de si um coração incurável.

Serenamente falou — Filho amado, tua dor não se cura nesse mundo, pois na arena és verdugo, matador, mas na vida tua vontade não têm a têmpera de lâmina, tua visão não tem o fio de tua espada. Tingiste o mundo com o rubro sangue míura, mas te digo menino, mais rubro que o sangue é tua angústia de viver e morrer todos os dias pelo amor de uma mulher. Não teve forças para falar, levantou-se tomou-lhe a benção, não olhou para trás, era a última que a veria. Ela ficou na porta, vendo o carro partir, não era o toureiro que partia, era seu menino, assim se lembraria dele para sempre, quando seguindo o pai, aprendeu a fintar o touro em troncos de madeira, mas em sua modesta ingenuidade aprendeu que ser homem é o que importa, bateu a porta, ajoelhou-se diante da virgem e com a face lavada pelas lágrimas buscou conforto na mulher que compartilhou o mesmo fado.

nolete no México, tomou seu lugar na arena e no coração do povo, ele Dominguim agora era a glória da Espanha. Ouvia tudo em silêncio, sabia que Dominguim era excelente, mais jovem, um artista, maestro do equilíbrio, criação que beirava a perfeição no momento da “morte limpa” (matar o touro com único golpe). Refletia sobre sua passagem na América, suas angústias e decepções haviam lhe tirado a concentração, era um maestro enamorado, vítima desse indizível carrasco chamado coração. Antonita, esse era o verdadeiro nome da atriz Lupe Sino, que conhecera anos antes em um bar de Madrid, após ter saído pela “porta grande” de Lãs Ventas em glória. Formosíssima mulher tinha a pela branca, cabelos negros ondulados, nariz pequeno e arrebitado e enormes olhos verdes, jovem e impetuosa, verdadeira fatalidade de temperamentos, amava-a como “égua aveludada e musculosa que não tinha bunda, não tinha nádegas, era garupa”. Montava-a “como ‘égua de nácar”, sem bridões ou espora, com a virilidade da lâmina que penetra o coração do morlago. (touro grande). Na vida ela tinha apetites e motivações não muito dignas. “Seu amor que em outras bocas ardia”, era feito de mentiras piedosas, ilusões úteis, sombras e enganos. Amou-a até o fim. Como o agouro de Poe, “nunca mais” a veria. A ela coube a angústia de ser, sem nunca ter sido. Seus insensatos pensamentos foram interrompidos, pelas gargalhadas, manifestações de jubilo e reverência da multidão que cercava a Plaza de Toros, que resplandecia as duas horas da tarde sob o céu azul e o rubro sol, o burburinho da multidão consumida pela excitação que chegava para a “festa brava”, transparecia uma indiferença pela vida e pela morte. O calor é abafado e úmido as folhagens não se mexem, a torre da catedral marca os dígitos do tempo, desce do carro, triste, devagar como quem anoitece, silencioso e sozinho, atrás de Dominguim que é carregado por homens e acossado pelas mulheres, assim como Lupe, a plebe também é volúvel, sempre de braços dados com o sucesso e o novo.

ANTONITA – LUPE SINO No automóvel aba-

LA PLAZA DE TOUROS DE LINARES – SANTA MARGARIDA Dentro do pequeno quarto

fado estavam Luis Santana e Armando Flores, inseparáveis companheiros e amigos, que formavam sua famosa “quadrilha” (equipe) denominada “La Serpente”. Tomada a estrada em direção a Linares, o assunto era Luis Miguel Dominguim, jovem e belo matador que se aproveitando do malsinado exílio de Ma-

de vestir, pede para ficar sozinho, reverencia o altar iluminado, a desolação que o habitava parecia ter-lhe minado a fé, mas sentia que na arena sempre esteve o retrato fiel de seu espírito e coração. Sentado observou seu “traje de luzes” finamente cerzido, a mantilha negra adornada com ouro e prata, calça dourada e dezembro de 2011 |

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as sapatilhas. A camisa lhe chamou a atenção, era imaculadamente branca, “alva como as neves intocadas dos cumes”. Vestiu-se e recebeu a jaquetilha, mais uma vez o ritual sagrado de vestir o toureiro se cumpria. Parado em frente ao espelho, viu o reflexo de míuras tombados e de Lupe dançando com suas “mãos de asas de Paloma e peitos de rainha”. Vestido para matar ou morrer, ajoelhou-se em frente Maria, alumbrado pelas velas, orou, a despeito da náusea e do horror jamais desertaria do seu dever. Os badalos marcam três em ponto da tarde, soam os clarins, instala-se o clamor, vai começar a corrida de Touros de Linares, perante a platéia desfilam cavaleiros, subalternos (toureiros menores) e os três matadores, entre lenços brancos e chapéus são incensados freneticamente. Reyes é o primeiro, as “sortes” lhe sorriram, deu ao míura uma morte rápida, lenços brancos esvoaçaram teve a permissão para decepar a orelha e o rabo do bicho, levantando as mãos mostrou os sinistros souvenires para a multidão que delirava. O próximo foi Manolete, após as banderilhas dobrarem a coluna do touro, o maestro errou e não matou o animal, precisando do auxilio dos subalternos, ninguém perdoou seu erro, foi apupado. Dominguim entra triunfante como um Cesar no Coliseu, toureia solto, ludibria o bicho e crava seu tenaz no coração do míura, morte limpa.

“ERAM CINCO EM PONTO DA TARDE” – ISLERO E MANOLETE “Eram cinco em ponto da tarde”, quando Manolete e Islero, se encontram no picadeiro, colérico e exausto o bicho, pateava arena, debatia-se furioso, os tenazes e as banderilhas lhe causavam um sofrimento atroz, o suor lhe escorria sobre a cara, como uma grinalda e o sangue tingia o preto dorso, parecia ser incapaz da mais vaga piedade. Um calafrio agourento correu o corpo de Almafuerte quando Manolete, di-

rigindo-se aos assistente pediu a espada e a “moleta” (pequena capa vermelha usada no momento de matar o touro). Manolete observou Islero com curiosidade e cautela, era um matador experiente, embora soubesse que experiência sempre implica na perda de alguma coisa, tomou o ferro e a moleta, avançou lentamente para o centro do picadeiro, garbo de rei, humildade de menino. Deveria fazer o touro passar o maior número de vezes antes de dar-lhe a ansiada morte limpa. As palmas frenéticas e sincronizadas do público, faziam o coração dar martelas no peito e o sangue latejar nos ouvidos. Nas galerias gritos dos sórdidos cortiços. Na areia, esterco, sangue, flores, tenazes, ferros , lenços e Islero, ele olha os baços olhos do animal, encarando-o: “Olhos negros Olhos ardentes e belos Como eu vos amo Como eu vos temo” Afunda os pés na areia, toureia fixo, joga as “sortes” somente com a moleta, não baila e não se esquiva como os outros matadores, econômico nos movimentos, detesta o supérfluo no momento de matar. É astuto, jamais cruel. Islero avança a trote largo e passa uma, duas, três vezes pelo toureiro que consuma a “Manoletina” (manobra que o consagrou). Manolete não demonstra a menor indício de ansiedade ou pavor, ouve-se rumores de glória. Pedro Almafuerte estava próximo ao curral e ficou assombrado, com a postura do bicho que encarando o maestro enamorado, parecia dizer: “Matador a ti baixo minha cabeça e dobro meus joelhos”, tua glória foi matar na arena,tua perdição amar errado, já estava morto quando entraste aqui, tua ferida é paixão só pode ser curada no olvido do mármore, partilho teu sofrimento: o sacrifício no picadeiro

da vida, viver e morrer na grande comédia do amor, meu martírio será o teu. Manolete com a flexão do gesto meticuloso e preparado aguarda o míura, que avança, por entre nuvens de poeira, flores, lenços brancos, o ferro brilha, o sangue verte em golfadas, tinge a arena, o traje de luzes e alva camisa, cambiam a cor e se transformam em sudário. O poderoso chifre vara a coxa direita, Manolete sente o susto da virgem na primeira estocada, o arrepio que converteu Paulo, serpenteia no ar, voltas e voltas até estirar a areia. Nas galerias as mulheres cobriram seus rostos, angustiadas por dor inquebrantável, os homens em pudico silêncio, lágrimas suspiros e vertigem. Islero pisou pesadamente, arquejou, dobrou os joelhos e foi imolado por subalternos, Manolete errara de novo. Horas, lentas, calorosas e comoventes, “as cinco em ponto da tarde”, bicho e homem, companheiros da viva agonia, compartilham a salvação do esquecimento. Os alegres rumores ficam para trás, tudo é silêncio e angústia, perante o espetáculo da ruína de um homem de valor. Manolete morreu horas depois em um pequeno hospital, após uma espera grave e dolorosa, não teve pressa queria ver Lupe também a mãe, sua morte não foi convulsiva ou barulhenta, a ferida de vinte centímetros seccionou a veia safena, próxima a artéria femural. Lupe Sino, não pode vê-lo no leito de morte, naquela data estava longe da arena e quando chegou impediram-na de entrar, todos queriam evitar que se casassem naquele momento, a mãe também não o viu partir. De Antonita ninguém mais soube, Almafuerte deixou o pastoreio de gado bravo, e vagou angustiado por esses “tempos de merda e maus poemas”, não sei se foi fantasia ou delírio, sonho ou realidade de algum rubro lupanar, mas presenciou a história de um rei que tinha dignidade de menino, que não se cobria com mantos mas com trajes de luzes e ainda que o gesto tenha doído, não encolheu a mão.

antonio augusto Figueiredo Basto é advogado e escritor

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Ernani Buchmann

De crônicas e gabolícias

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ia desses, como participante da comissão julgadora de um concurso de crônicas, me senti obrigado a definir este gênero literário – de baixa reputação, reconheço, mas gênero – que resolveram chamar de crônica. Diz lá o Aurélio: “texto jornalístico redigido de forma livre e pessoal, e que tem como temas fatos ou idéias da atualidade, de teor, artístico, político, esportivo, etc., ou simplesmente relativos à vida cotidiana”. Acrescentei que se trata de gênero literário composto por pequenas narrativas, sejam contos ou reflexões, em linguagem jornalística ou literária, na primeira ou na terceira pessoa. Entre suas características estão o texto leve, muitas vezes com humor, a temática inusitada e o desfecho: quanto mais surpreendente, melhor. Foi batizada de crônica por óbvio motivo: aparecia todo dia nos jornais, era coluna permanente. O que obrigava o autor a tirar uma boa idéia da cartola a cada 24 horas, o que lhe dava um ar não planejado, como se fosse fluindo enquanto digitada. E aos autores, emprestava certa aura de irresponsabilidade. O Brasil teve dois dos melhores cronistas de toda a literatura universal: Rubem Braga e Nelson Rodrigues. Ainda que centenas de autores tenham publicado crônicas antes deles – Ma-

chado de Assis, por exemplo, foi bom cronista – os dois inventaram o jeito certo de montar a narrativa. Quando os editores deixaram de considerar os atributos do gênero, a crônica quase foi a pique, tomada de assalto pelo academicismo. Milhares de professores chatos, doutores uspianos que tudo sabiam, resolveram transformar a velha crônica em tubo de ensaio. Ali anunciavam as descobertas que iriam mudar o mundo. Os leitores é que mudaram de página. Aí já estou no meio desta crônica e nada de assunto. Pois é. Estou pensando em escrever sobre o vento que sopra direto de Ushuaia na minha janela, de frente para o sul do mundo. É verdade que estamos em dezembro, mas isso não tira do vento suas propriedades, digamos, alentatórias. Ontem ainda o vento patagônico trouxe até a minha janela pingos do tamanho de kiwis. Talvez fossem kiwis peregrinos, vindo da Nova Zelândia, já tendo cruzado a Antártida. Levantei, que o sono passou com o tufão. Liguei o computador, pronto a escrever esta crônica. E pensei em iniciá-la com uma expressão que sempre quis usar, como os autores antigos: “trazia os cabelos apanhados em um coque”. Nunca fui capaz de escrever que uma mulher trazia os “cabelos apanhados”. Em coque, menos ainda. Interessante isso. Existem palavras e expressões que saem do uso. Peralvilho,

por exemplo. Nos tempos pré-machadianos qualquer autor sacava um peralvilho por página. Hoje seria internado no Bom Retiro em camisa de força. Alguém iria atucanar o vetusto autor como se fosse criminoso. Pior se o tivessem tomado por mero exibido, a ostentar sua vaidade: - Andou fazendo gabolícia, doutor?, perguntaria um doido daqueles. Nosso autor, como eu, não teria o que responder. Ele por não estar entendendo nada. Eu porque o espaço acabou e ainda não me ocorreu o verdadeiro assunto desta crônica. E já que escrevi entendendo, a ser lido com sotaque paulista, resta uma pergunta: alguém explica a razão da imprensa paulista se referir ao Corinthians como time de Parque São Jorge e não do Parque São Jorge? Ou ao Palmeiras, time de Parque Antártica? Por conseqüência, o São Paulo deveria ser o time de Morumbi. Deve ser coisa dos uspianos.

ernani buchmann é escritor, advogado e publicitário dezembro de 2011 |

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Perfil

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A

HISTÓRIA O empresário é filho da fundadora da livraria, Eva Herz. “Sou a segunda geração da ideia da minha mãe e meus filhos continuam a jornada”, conta. Eva abriu um serviço de aluguel de livros na sala de sua casa, na capital paulista. Como a família tinha deixado Berlim em 1938 para fugir da perseguição nazista, ela precisava encontrar formas de aumentar o orçamento. Em 1950, Eva decidiu incrementar o negócio. Passou a vender livros, além de alugá-los. Nessa época, Eva já tinha nome. As mães da cidade mandavam seus filhos à livreira para que eles alugassem ou comprassem exemplares e também para se aconselharem sobre leituras. No ano de 1969, ela deixou o serviço 62

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WAKAHARA

Livraria Cultura chega a Curitiba neste mês. A capital paranaense já estava sob os olhos da Livraria. É o que conta Pedro Herz, presidente do Conselho Administrativo da Livraria Cultura. Por questões de negociação, só agora a oportunidade virou realidade. Uma coletânea de informações de fornecedores e editoras confirmou que valeria a pena abrir uma filial na capital do Estado. “Curitiba historicamente é uma cidade importante, culta. É palco de pesquisas de mercado. As informações a respeito de Curitiba são boas, sem contar que tem muitas universidades”, avalia Herz. A filial curitibana terá o mesmo formato das 14 lojas espalhadas pelo Brasil. O projeto é assinado pelo arquiteto Fernando Brandão, responsável pela arquitetura de todas as lojas da Cultura. Herz cita Monteiro Lobato ao explicar seu interesse no mercado livreiro: “Um país se faz com homens e livros”. Ele acredita que o Brasil é um país em crescimento e que é essencial investir em educação e cultura. “Livro é a ferramenta mais adequada para este investimento”, afirma.


TÂNIA MEINERZ

de aluguel de lado e decidiu tocar apenas a livraria, que ficava na Rua Augusta. O imóvel onde a livraria funcionava servia também de lar para a família. Nas duas salas na frente funcionava a loja, enquanto a parte de trás era a residência. Herz assumiu a gestão dos negócios neste mesmo ano. Começou realizando o sonho da mãe. Instalou a empresa em um lugar mais amplo, no Conjunto Nacional. Foi ali que a Livraria Cultura conquistou o perfil que a tornou conhecida como uma grande livraria com qualidade, variedade e bom atendimento. A primeira filial veio em 2000. Três anos depois, a primeira filial fora de São Paulo, em Porto Alegre. Seguindo as tendências mundiais, a Livraria criou seu site na internet em 1995 e foi a primeira livraria brasileira a vender livros online.

MARCIA MINILLO

MELISSA HAIDAR

PESSOAS O bom atendimento é reflexo do treinamento específico que os colaboradores recebem. Não só isso. Herz declara que é fundamental gostar do que se faz. Neste caso o gostar do que se faz abrange amar ler, ouvir música, ver filmes e entender de arte. Inclusive da arte de se divertir e estar feliz. Esses são os dizeres da apresentação da seção de empregos no site da Livraria Cultura, que ainda pede uma dose de atrevimento, um quê de dinamismo, um teor de criatividade, disposição para olhar no olho e encantar pessoas. É o investimento no ser humano, já que um país se faz com livros e pessoas. MUNDO DOS LIVROS Herz nasceu no meio dos livros. Ele conta que tinham livros até embaixo da sua cama. Eles ficavam espalhados por toda a casa. O empresário seguiu o exemplo da mãe. Desde muito pequeno, via Eva ler. “Acredito que os pais são 100% responsáveis pelo incentivo à leitura. Antes de adquirir o hábito, os filhos querem imitar os pais. Um bom leitor se faz fundamentalmente em casa”, pondera. Ele explica que mantem uma relação de necessidade com a literatura. Sem estilo e sem preconceito, lê de tudo. Em português, inglês ou alemão. Alimenta o costume de ler todos os dias, mesmo que poucos minutos antes de dormir. Para ele, leitura é prazer. “Meu livro preferido é aquele que ainda não li”, conclui. Serviço Shopping Curitiba Av. Brigadeiro Franco, 2300 – Batel Curitiba/PR (41) 3026-1000 www.shoppingcuritiba.com.br www.culturanews.com.br dezembro de 2011 |

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Jussara Voss

Mocotó e Rodrigo Oliveira

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passaram algumas décadas desde que tudo começou. Os detalhes eu nem vou contar porque muita gente já escreveu sobre eles, e chegando ao Mocotó, todo mundo, enquanto aguarda um lugar, pode ir lendo as dezenas de reportagens que estão coladas na parede, publicadas até no Japão. Na onda dos chefs que valorizam o terroir, ele surfa. Sem querer, descobriu a gastronomia, não era o diploma que o pai tanto almejava, mas era um curso superior. Contrariando os familiares, entrou na cozinha. Não parou mais. Chefs famosos do mundo todo já foram lá. Mas e a comida? Igual ao moço: uma maravilha. Verdadeira, saborosa e barata. Ele tem aquele entusiasmo que todo profissional precisa ter para se destacar. Deixo as imagens falarem. O que mais quero é saber como ele faz o torresmo e voltar lá. Sábado é dia de costelinha de porco desossada com molho de mel de engenho, dá para imaginar? E ainda dizem que eu só falo de comida e lugares caros. Bobagem, apenas valorizo o que é bom. Quando acho que vale a pena, posso atravessar esse mundão atrás de um prato.

fotos Jussara Voss

o coração de São Paulo — falo do centro da Zona Norte, quero deixar claro — bate um compasso diferente, arretado. É ali que vive e trabalha o chef Rodrigo Oliveira. Vestido de Ermenegildo Zegna, como eu o vi numa revista outro dia, ele parece saído de um filme do Almodóvar, galã com estilo e personalidade. Boa pinta, impressiona é afável e nem precisava, com tanto talento, não é difícil admirá-lo. Além disso, é uma pessoa acessível. “Quer saber como faço torresmo? É muito fácil, passe um e-mail que eu explico”, diz, respondendo a um pedido e entregando o cartão, sem cerimônia. Parece nem se importar com tanto sucesso, pois não pensa em sair da Vila Medeiros, onde a São Paulo que nós conhecemos fica longe. A fama do lugar — no topo do hit parade gastronômico nacional — começou com o caldinho de mocotó servido em copos pelo seu Zé Almeida, depois entrou o filho, o Rodrigo, daí o prato virou mocofava e ganhou o mundo. Não tão rápido assim, é claro, já se

Inesquecíveis: os dadinhos de tapioca com queijo de coalho e molho agridoce

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Carne seca especial deve ser saboreada com o alho assado esmagado, pimenta e baião-de-dois: muito bom, assim como o escondidinho de queijo de cabra, ou carne de panela, diferente de todos que eu já comi. E nem falei do pudim de tapioca, do sorvete de rapadura...

A famosa mocofava de sabor surpreendente


Rodrigo na micro cozinha com os cozinheiros do Mocotó

Recado útil: vá de Google Maps e chegue cedo, a fila atravessa a rua

Virou notícia: quando a Vila Medeiros ganhou o mundo

Seu Zé, de camisa listrada, entre os clientes

A história na parede

Comece com as caipiras, feitas na hora do pedido, com fruta fresca, é de babar. É bom saber também que no Mocotó as cachaças têm destaque, são mais de 500 rótulos

Jussara voss é jornalista dezembro de 2011 |

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Luiz Carlos Zanoni

Divulgação

O enochato

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evante a mão o aficionado de vinhos que nunca foi missionário em meio a uma horda pagã de bebedores de cachaça, pregando as virtudes de tintos e brancos. Também os que já não chocaram parceiros com imagens bizarras para definir perfumes e sabores da taça. “Cheira a cachorro molhado”. “Tem gosto de band-aid usado”. E idem os que não entediaram a humanidade descrevendo as pérolas da adega, ou emoções experimentadas diante de um vinho bebido na casa do produtor. Quem nunca foi enochato que atire a primeira pedra. Todos já fomos, e ninguém está livre de recaídas. O fenômeno é mais raro em países produtores, onde a bebida pertence à paisagem das refeições diárias e prateleiras comerciais. Aí, desde a infância, as pessoas se habituam a ela, diferente dos lugares onde sua presença é recente. A súbita descoberta é um choque fulminante, assanhando o enochato adormecido em cada um. A espécie apresenta um comportamento padrão, em geral inofensivo, mas certos tipos requerem precauções. Catalogá-los era uma das diversões nas provas que o Luiz Groff promovia às segundas-feiras na Invinoveritas. Tem, por exemplo, a dupla pegadinha & pegajoso. Do primeiro, sempre espere emboscadas, como quando oferece um Syrah perguntando “o que você acha deste Malbec?”. Já o pegajoso prolifera em feiras e eventos. Sua propriedade é a da aderência. Gruda e não larga, arrastando a vítima para vinhos

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O fenômeno é mais raro em países produtores, onde a bebida pertence à paisagem das refeições diárias sem interesse e a mantendo sob fogo cerrado de perguntas que ele mesmo responde. Terror dos restaurantes e bares é o enochato-bouchonèe. Alega problemas em todos os vinhos e os devolve, achando que, assim, dá sinais de expertise. Fica impossível diante de plateias numerosas. Bouchonèe são vinhos mal-cheirosos, intragáveis, contaminados por fungos que se originam da rolha, mas que, neste caso, provêm do cliente mesmo. E tem o deslumbrado, o que cita críticos famosos a cada gole, é íntimo do produtor do vinho

que está sendo provado e sempre acabou de abrir uma garrafa consagrada e caríssima. “Ontem provei no jantar um Vega Sicília 1994 que estava regular”. O deslumbrado consome rótulos, não está nem aí para o vinho. Nas viagens, seleciona os mais destacados e depois exibe aos amigos, sem nunca compartilhar. Não deve ser confundido com outro tipo, o falso brilhante, este um luminar da enocultura inútil. Ah, e não dá para esquecer o enochato de chuteiras, aquele que vai às provas usando camisa do time, leva aparelho de tevê para assistir o jogo e tem chiliques quando a torcida rival festeja gols do adversário. Recentemente, apareceram os espécimes virtuais, que agem na Internet, sempre presentes nos chats de discussões – o enochat, com certeza. Um perigo, entretanto, é o enochato-dedão, o bem-amado dos fiscais da Receita. Compulsivo, revela os vinhos, com safras e preços, servidos nos jantares para os quais o convidam. Às vezes o enochato surge também na pele do sommelier. Escorado na autoridade da função, costuma exagerar nos rituais do serviço e fica uma fera quando contrariado. Doença comum em início de carreira. Falta algum? Sem dúvida: o que invade revistas para falar de vinhos, como se nada mais a tratar houvesse. Mas deste é fácil se livrar. Basta virar a página.

LUIZ CARLOS ZANONI  é jornalista e apreciador de vinhos


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Claudia Wasilewski

O Roubo da Bota de Natal

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minha mãe tinha uma bota pendurada na porta do apartamento. Não é que roubaram? Dona Carmen que é apaixonada por natal e católica, não teve dúvidas de praguejar o meliante. Cá entre nós, sem dar muita razão a ela, a bota era linda. Um dia toca meu interfone e um vizinho diz: — Claudia, minha mãe está viajando e estão acontecendo coisas estranhas. Posso descer aí? Claro que podia. Estava megacuriosa para saber o que era. Chega o menino apavorado contando que a empregada “substituta” colocava na mesa para ele e os irmãos tudo que havia de melhor na casa. Prataria e cristais estavam até no lanche de cachorro quente. Quando ele foi explicar que não era preciso aquilo e que poderia usar a louça comum, a tal substituta disse que usava porque já tinha visto na casa da empregada que estava doente, todos os utensílios. Pois bem, lá fui eu puxar conversa e assuntar. A substituta era tão baixinha, que batia em baixo do meu queixo. Fui perguntado e ela respondendo TUDO nos mínimos detalhes. Vejam só. Conheci esta louça chique na casa da empregada que estou substituindo. Ela fez uma festa linda de natal. Tinha uma toalha bem verde. Uns copos bem fininhos, estas coisas de prata. Um barreado bem gostoso que deu para 20 pessoas. Só a Sidra estava estragada. Não tinha um pingo de açúcar. Enquanto eu ouvia isto até a minha boca começou a amortecer. Traduzindo a conversa da moça que parecia

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um gnomo. A toalha de linho verde italiana, os cristais tchecos, a baixela de prata enfeitando a favela. Nem o barreado que era especialidade do marido da dona da casa se salvou. A sidra estragada era um delicioso champagne. Nunca mais houve um natal como o de 1996. Em um misto de espanto, curiosidade e indignação comecei a metralhar a coitada com perguntas. De repente cai minha ficha. Respiro fundo e pergunto: — Tinha enfeite de natal bonito por lá? Ela abriu o sorriso. Parecia uma criança: — Tinha sim. Uma bota com um Papai Noel tocando sax em cima de um telhado. Toda bordada. Linda, linda, linda! Viram só como era linda mesmo. Pensava sem parar na minha vizinha comemorando o ano novo em Paris. Como que contaria tudo aquilo? O que me tranquilizava era que as coisas estavam lá. De qualquer forma o que aconteceu foi no mínimo abuso de confiança. As horas não passavam e eu esperava o filho mais velho da vizinha chegar. Deixei recados na portaria e na casa. Não sabia o que fazer com

tanta informação. Nesta época ele já fazia faculdade de Direito. Quando tocou a campainha me senti livre daquela responsabilidade. Fui despejando todo aquele causo. O rapaz arregalou os olhos e só conseguia falar: — Sério? No dia seguinte descobrimos que a bota ainda enfeitava a porta da casa da meliante. Bolamos um plano infalível para recuperá-la. Tipo Cebolinha. Peguei meu Chevette, o marido e o vizinho e fomos para a favela. Tentando intimidar e trazer a bota, penso eu que no grito. Sei lá... Até hoje não sei o que deu em nós. Chegamos lá fazendo caras de maus. A bota não estava na porta, a empregada percebeu e nos pediu mandado de busca, e ainda ameaçou de chamar a polícia. Saímos de lá frustrados, sem a bota e com cara de NADA. Acho que aquele dia nasceu um delegado. Dos bons. Pena que não posso contar quem é. Depois da aventura tudo foi feito certo. O inquérito policial não deu em nada. A toalha verde e tantos outros objetos desapareceram para sempre. A desgraçada ainda entrou com uma ação trabalhista e faturou um salário mínimo. A bota de Papai Noel nunca mais foi vista. Para vocês verem que eu não exagero, esta foi a XAROPADA DE NATAL de 1996. HO HO HO!

Claudia Wasilewski é empresária e cronista da Revista Ideias. claudiawas.blogspot.com


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Solda

Estas Palavras estas palavras sobre mim você pierre menard arnold schwarznegger fantasmas escombros betinho grandes sertões são petersburgo demi moore thelonius monk alan parker liberdade bhagavad-gita kundera privada sísifo bomba & brigite bardot estas palavras epitáfios poemas vida e morte al capone solidão sacco & vanzetti hiroshima & nagasaki nova iorque si is leider auch flagelo frieza vômito insinuações bilhetes rostos assombrações paulo leminski roma itararé boris karloff marcos prado versos páginas prosa & provérbios estas palavras carregam a cólera a úlcera as vísceras a bosta o tempo o espaço a virtude bob marley a estética platão a natureza o espírito o fogo mishima a água o adjetivo a fuga o vassalo o súbito der geburstag stanislaw ponte preta artichewsky wojciechovski o vazio & o saco cheio estas palavras não pedem as palavras estúpidas traiçoeiras canto gregoriano mudas adágios parábolas fonemas signos cruzadas indiscretas vãs párias imundas promessas madonna definitivas pitorescas obscenas inconvenientes caladas verbais escritas catatau & livro dos contrários estas santas palavras pedem a palavra de hegel dos irmãos marx juan rulfo frank zappa ângela maria antonioni pablo neruda carlos estevão sadam husseim george bush capitão marvel penélope monteiro lobato bergson pelé mendigos punks padres arquitetos japoneses locutores paranistas aleijados jogadores de futebol mágicos amantes cozinheiros comunistas viados santos pitonisas cachorros pássaros & vice-versa estas palavras não dão a palavra têm a palavra palavrório palavroso palavreado palavrão tufado logomáquico expressão bagaçada conversa parlenda lábia loquaz papo opinião jorge amado pachouchada enfático empolada charada grammatiké & gramatiquice estas palavras são cópias de outras palavras de outras palavras de corbiére e foram minhas últimas palavras não necessariamente nesta ordem

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parecido com o rodrigão e aquele senhor de guarda-chuva e aquela moça chupando sorvete e aquele gordo desesperado e aquele médico que escorregou na calçada e aquele guarda que estava na esquina e as três meninas que olhavam a vitrine da sapataria e a velhinha de sombrinha verde que tentava atravessar a rua dia desses eu descubro pra onde é que vão todas essas pessoas que atravessam a rua sem olhar para os lados ***

*** um dia um dia desses eu vou me misturar ao povo que está na ruas e finalmente vou descobrir pra onde todo mundo vai para onde vão as velhinhas com pacotes debaixo do braço? para onde vão as senhoras gordas de cabelo encaracolado? pra quê lado? vou descobrir para onde vai a menina com o uniforme colegial para onde vai o senhor grisalho com as mãos no bolso para onde foi o negro elegante que estava aqui há pouco para onde foi o menino de boné vermelho para onde foi o vendedor de bilhetes que sempre está gritando vaca galo cabra burro borboleta um dia desses eu descubro pra onde vai a gorda que acabou de entrar num táxi dia desses eu descubro para onde foi aquele tocador de gaita de boca e aquela limpadora de rua e aquela moça do estar e aquele sorveteiro e aquela loira com um disco do chet baker e aquele cara

o vício versa versa até não querer mais o vício versa o vício faz viciar o vício espera o viciado nos versos mais inesperados nos inocentes nos desesperados nos puros descomplicados o vício espera na esquina por todos os viciados que insistem em não se viciar é inútil o vício de fazer versos é um vício de matar fazer versos que são de arrepiar o vício também dispersa mas aí já é outra conversa

solda é escritor, humorista e cartunista. cartunistasolda.com.br


ÚLTIMAS DA MODA

por Paola De orte Saias de couro Plissadas, retas, lápis, em “A”, para usar durante o dia ou à noite, coloridas ou pretas: elas pululam nas ruas e nas lojas.

Feitios que o Novo Mundo deveria ter herdado do velho Saias de couro da Farfetch

J

unto com a Monarquia e as boas maneiras, ficaram no Velho Mundo o gosto pela tradição e pela apreciação estética. Resquícios do Ancien Régime desses europeus, dirão os prafrentex. Predileção duvidosa pelo novo nas Américas, digo eu. No Velho Mundo, os cortes, as cores, os materiais e, principalmente, a harmonia estética mantiveram seu status de principais componentes da produção indumentária. Na América, a moda ganhou nova conotação. “Conforto” e “praticidade” foram palavras incorporadas ao dicionário fashion sem que permissão tenha sido concedida. Mas não só na América (refiro-me a todas sem exceção) prosperou a idolatria pelo estilo despojado e largado: Austrália e Nova Zelândia sofrem de mal similar. A razão é evidente: com os velhos costumes e tradições da política abandonados, a conclusão foi que eram desnecessários os acessórios que os acompanhavam. Boas maneiras, cultura, erudição: descartados. Allure? Os revolucionários não precisam. Para os revolucionários: calça jeans, camiseta, tênis. Para os revolucionários, o uniforme.

Longos Ora, mágoas, quem precisa delas? Ainda se vê por essas esquinas vestígios do legado europeu. Pois não se vê até restauradores travestidos de plebeus? Se há vantagens, é que, no Novo Mundo, nada é regra. Vide o exemplo das saias longas. Que utilidade teriam em um contexto progressista? Não são confortáveis, não são vulgares, foram inventadas muito antes de 1789 e, mesmo assim, desde o verão de 2011, aportaram nas novas terras e, ao que parece, vieram para ficar.

Saia de couro da Madewell

Saia de couro da Joie Inga Durango

Saia de couro da Tracy Reese

Luxirare Procurando saias de couro, deparei com o Luxirare (luxirare.com), que funciona como revista online, ao mesmo tempo em que os designers responsáveis produzem peças que são vendidas no mesmo site. Uma das melhores saias de couro encontradas é produzida por eles, assim como elegantíssima bolsa para máquina fotográfica e outra para iPad.

Saia de couro da Luxirare

O verão de 2012 continuará repleto delas, em tamanhos que variam desde o midi até o longo completo. Ótimos exemplares foram desfilados na coleção Primavera 2012 da Burberry Prorsum. A novidade são os novos desenhos de vestidos: diferentes do estilo hipponga, velho conhecido no litoral, dessa vez eles vêm com mangas e cortes que lembram uma nobreza antiga e os modelos dezenovescos. Adam Katz sinding - le 21ème

imaxtree.com and Matteo volta

Burberry Prorsum spring 2012

Para se inspirar

Saia longa no streetwear

Jane Aldridge, fashionista responsável pelo blog Sea of Shoes (seaofshoes.com) desde 2007, começou com apenas 15 anos e virou referência entre blogs de estilo e street wear. O sucesso foi tanto que Jane chegou a ser convidada para desenhar uma linha de sapatos para a Urban Outfitters. Com feições de princesa ruiva de contos de fadas, o blog é uma opção para quem procura referências de peças atuais e vintage ou quer apenas se inspirar com fotos bonitas e bem produzidas, seja para montar o próximo outfit, seja para encarar melhor o dia, sonhando com paisagens oníricas e roupas maravilhosas. Norteamericana, Jane Aldrige fica aqui como exemplo de que nem tudo é conforto careless, cá no Novo Mundo de hereges republicanos.

Vestido longo da Cacharel

Tecidos metálicos Recuso-me a comentar, mas ao que parece andam muito em voga.

“Aquele que não vivenciou o século xviii antes da revolução não conhece a doçura de viver” Charles Maurice de Talleyrand-Périgord

Jane Aldridge do Sea of Shoes dezembro de 2011 |

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Patrícia Klemtz

ISABELA FRANÇA

Chic

Maria Inês Borges da Silveira

Maria Inês Pierin Borges da Silveira, personalidade conhecida na sociedade curitibana por sua elegância no vestir – autora do livro “Viver com elegância não é difícil” – tem alguns endereços secretos. É cliente fiel da empresária Zoeli Leal, leia-se multimarcas Urbana. No último lançamento da loja, em novembro, foi com a amiga Cristina Rauen Silvestre ouvir as dicas de Zoeli e saiu da loja com sacolas cheias. A maioria das peças da grife Condotti: impecáveis vestidos pretos – básicos e chics.

Zoeli entre Maria Inês e Cristina Rauen

Cuiabá em Festa

P

aulo Husmann e Ricardo Malucelli, leia-se Vox Produções, e a florista Tina Gabriel passaram os últimos dias de novembro em Cuiabá, no Mato Grosso. Cuidaram de todos os detalhes do megaprojeto do casamento da publicitária Michele Campos, filha do senador Jayme Campos, que aconteceu no dia 26 de novembro, na casa do político. O senador, que no próximo ano deverá concorrer à prefeitura de Várzea Grande (MT) pelo DEM, fez questão de convidar boa parte dos líderes locais e nacionais. A festa, para 900 pessoas, teve direito a todos os luxos que a Vox e Tina Gabriel costumam imprimir em seus eventos. Há menos de um mês, Cuiabá foi cenário de outro evento deste porte, o casamento de Ricardo Barbosa e Jessica Riva. Ele é filho do governador Silval Barbosa e ela, filha do presidente da Assembleia Legislativa, José Riva. 72

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Serviço temporário

eDuArDo AlviM leiTe

Prevenção

Maribel Souza – que por muitos anos comandou a House of Shoes by Fernando Pires, em Curitiba, e que fechou as portas em novembro deste ano – está com novas atividades para o mês de Natal. A pedido de uma amiga que estava sem tempo para fazer compras, aceitou o desafio de ir ao shopping escolher alguns mimos dentro de um valor préestipulado. A brincadeira virou coisa séria – transformou-se em não quer enfrentar as lojas neste fim de ano que promete muvuca total nos shoppings.

ArQuivo PessoAl

personal shopper para quem

O

diretor do Simepar, Eduardo Alvim Leite, está comemorando a assinatura de um acordo de

cooperação assinado em novembro com o Instituto Interamericano de Cooperação

Costantinopla São turcas e irmãs as primeiras franqueadas da marca Amir Slama fora do Brasil. Banu e Sharu Ortak

para Agricultura (IICA) que incrementa a tecnologia do Simepar para prever eventos meteorológicos severos. Com a proximidade do verão, aumentam os riscos de fenômenos naturais severos de alto potencial destrutivo, como chuvas e ventanias fortes que acarretam

inauguram em fevereiro do ano que vem a primeira

deslizamentos, alagamentos, enchentes

franquia da marca brasileira em Istambul, na Turquia.

e outras consequências, resultando em

O estilista, o queridinho de Naomi Campbell, está

mortes, desabrigados e desalojados, estradas interditadas, pontes danificadas,

estudando cuidadosamente um processo de expansão

rede de energia elétrica atingida e perdas

que inclui lojas em Nova York e Paris.

materiais significativas.

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ISABELA FRANÇA

Desejo G

ustave Flaubert sequer imaginava que sua definição “A medida da alma é a dimensão de seu desejo” pudesse encaixar-se tão bem na pulsação consumista que assola boa parte das mulheres (e homens) deste começo de século. A coleção Desejos, que a joalheria curitibana Bergerson apresenta a seus clientes para este Natal usa como pano de fundo este mote. Justifica com Flaubert que nada pode ser mais prazeroso do que entregar-se ao desejo. O desejável colar em ouro branco, com pérolas, esmeraldas e diamantes é da coleção Privilégios e o preço é sob consulta. Já o não menos belo conjunto de brincos e anel em ouro, com turmalinas verdes e ametistas tem preço e cabe no bolso dos mortais: R$ 20 mil.

Xadrez O

juiz federal Mateus de Freitas Cavalcanti Costa condenou o cartunista Ziraldo a dois anos, dois meses e 20 dias de prisão. O motivo seria o registro indevido da marca do Festival Internacional do Humor de Foz do Iguaçu, realizado em 2003. Ziraldo foi enquadrado no crime de estelionato. Através de seu advogado, Gustavo Teixeira, o cartunista negou o crime. Ziraldo foi presidente de honra do Festival Internacional de Humor Gráfico de

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Foz do Iguaçu e também foi responsável pela criação do cartaz do festival, o que lhe rendeu R$ 75 mil – previstos no edital, mediante a cessão perpétua do desenho. Em 2004, porém, o cartunista registrou o desenho em seu nome no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (Inpi). O Ministério Público Federal denunciou o registro, já que o edital previa a cessão dos direitos à marca. Ziraldo não será preso, pois o crime está prescrito.


O

trecho da Avenida Batel entre as ruas Francisco Rocha e Bruno Filgueira passará a ser o quarteirão mais caro e mais vigiado da cidade, tão logo inaugure o shopping Pátio Batel. Na fachada principal do shopping, a vitrine de maior destaque será da marca francesa de bolsas e acessórios Louis Vuitton. Para que o público e clientes das grifes circule na região com segurança e tranquilidade, duas câmeras de alta definição estarão monitorando o quarteirão.

Inspiração O médico Nilton Hagi inaugurou na última semana de novembro uma exposição de pinturas de imensa sutileza e graça. A mostra Hagi Portraits traz 22 obras em óleo sobre tela com imagens de crianças, entre elas sua filha, Sofia. Hagi define-se um pintor tardio. Há três anos, acompanhando a mulher, Hagi fez um curso com o artista plástico Paulo Bastos Dias. De lá para cá, com o domínio da técnica, a pintura tornou-se uma obsessão e uma boa desculpa para a insônia. Kraw Penas

Vitrine indiscreta

Pas dês deux A bailarina e coreógrafa Jô Braska Negrão, que comandou por muitos anos o Danjô Ballet, uma das mais tradicionais escolas de dança de Curitiba e que pôs na linha as moças de fino trato dos anos 80 e 90,

O artista Nilton Hagi e o secretário de Cultura do Estado do Paraná Paulino Viapiana

está preparando uma festa que promete. No ano que vem, a Danjô completa 35 anos de fundação e, em muitos atos, a coreógrafa pretende comemorar os áureos tempos. Um endereço eletrônico – danjoballet@hotmail.com – e a comissão formada por Reynaldo Accioly Filho, o Reyzinho, Patricia Luck, Priscilla Cruz, Silvana Glaser Boabaid, Jacir Bergmann II, Ilana Lerner Hoffmann, Eduardo Petry, Paulo David, Viviane Nicolau Adad e Vica Grahl estão recebendo dicas, depoimentos, fotos e tudo o mais que possa colaborar para contar esta história. O modus operandi da divulgação deste reencontro e de muitos e muitos outros semelhantes não poderia ser outro senão o Facebook. Além das várias festas, o momento deverá ser registrado num livro.

Mais um Depois de lançar a Nova York de Didi Wagner, a Pulp Ideias, de Curitiba, editará, no ano que vem, a Miami de Romero Britto. Os três sócios antenados da editora, Vicente Frare, Fernanda Ávila e Pati Papp, encontraram com Romero Britto por acaso, num restaurante e apresentaram o guia da Big Apple engatado num convite para fazer a edição de Miami, o artista aceitou. Em breve viajará com a equipe da Pulp para registrar seus locais favoritos na cidade, melhores endereços para curtir, comer, ficar e comprar, além é claro de um pouco de latin art. dezembro de 2011 |

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por Thais Kaniak

sossellA

BALACOBACO

Bebendo estrelas A primeira champanheria de Curitiba foi inaugurada com muitos brindes. A Baltazar Champagnerie & Bistrot conta com uma seleção das melhores marcas do mundo. Entre os destaques, o espumante austríaco Österreich Gold, com fios de ouro na sua formulação. A gastronomia é assinada pelo chef Alexandre Bressanelli. Com o conceito de apreciar sem pressa, a aposta está na seleção de mais de 20 mini-pratos que harmonizam com champagne, espumante ou vinho. No prato de verão, salada acompanhada de uma opção de grill. A sugestão do dia fica sob a recomendação do chef que garante sempre evocar a delicadeza dos pratos. “O cardápio foi desenvolvido com inspiração na leveza dos espumantes”, declara.

Dupla dinâmica Dani Coletta é psicóloga. Gilberto Mathias é geógrafo por formação. Especializado em administração, história da arte e moda. A dupla inusitada se uniu para fazer o que mais gosta: eventos. Dani traduz as necessidades e os sonhos dos clientes. Atribui isso a sua sensibilidade, perspicácia e toque feminino. Gilberto esteve a frente de um buffet por seis anos e hoje comemora 11 anos de “festeiro dos bons”, como ele mesmo se define.

MArCelo sTAMMer

Juntos, eles têm a Gilberto Mathias - Party & Flower Design. Aliando os dois talentos, a empresa desenvolve planejamento de eventos particulares e corporativos. Participaram da quinta edição da mostra Morar Mais por Menos, onde puderam registrar a que vieram.

Desirée Vidal e Adriano Vidal Fregonese

A dupla de festeiros Dani Coletta e Gilberto Mathias NAiDeroN

Edson Smuda (corretor), Desirée Vidal e Suely Petris (empresária)

sossellA

Chef Alexandre Bressanelli com os sócios da champagnerie Desirée Vidal e Adriano Vidal Fregonese

Chef Alexandre Bressanelli, Desirée Vidal, chef Franklin e equipe gourmet

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thais@revistaideias.com.br

Simplesmente

DIVULGAÇÃO

Chico

Chico Buarque volta a Curitiba neste mês, entre os dias 15 e 18. Longe dos palcos curitibanos desde 2007, volta com turnê para promover seu último álbum “Chico”.

O compositor, escritor e poeta de 67 anos continua a arrancar suspiros de gerações de mulheres. Eu suspiro. Minhas amigas também, mas não todas. Mesmo assim, seu sucesso é garantido. Sempre. Afinal o Chico é o Chico.

Não se afobe, não Que nada é pra já

Seu novo álbum traz suas poesias e crônicas em canções suaves e delicadas que aparecem em diversos gêneros.

DIVULGAÇÃO

A obra tem 10 faixas com participações especiais, como João Bosco, a curitibana Thais Gulin e Wilson das Neves.

O amor não tem pressa Ele pode esperar em silêncio Num fundo de armário Na posta-restante Milênios, milênios No ar dezembro de 2011 |

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BALACOBACO

por Thais Kaniak

Rafael Fortes

Noites de sol N

a falta do sol nos dias de primavera em Curitiba, ele brilhou especialmente em duas noites. Uma homenagem à obra musical do poeta nativo Paulo Leminski. Essa Noite vai ter Sol foi criada por Estrela Leminski, filha do artista. Ela foi acompanhada de Téo Ruiz, Estevan Sinkovitz, Mariá Portugal e Clara Bastos e contou ainda com a especial participação do compositor Zé Miguel Wisnik. Quem participou garante mesmo que essas foram noites para lá de especiais. O calor das letras de Leminski esquentaram a fria Curitiba.

Zé Miguel Wisnik, Clara Bastos, Estrela Leminski, Mariá Portugal, Estevan Sinkovitz e Téo Ruiz

Paulo Leminski 78

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dico kremer

Tudo o que eu faço alguém em mim que eu desprezo sempre acha o máximo.


reprodução da primeira classe

A bordo Titanic, o maior navio do mundo, afundou depois de colidir com um iceberg em 15 de abril de 1912. Com ele foram mais de 1500 vidas e a confiança do mundo na infalibilidade da tecnologia moderna. A história estourou nas telas do cinema no ano de 1997 com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet. Agora as pessoas podem ver de perto objetos reais da tragédia. Mais de 200 artefatos recuperados do campo de destroços do navio estão na mostra Titanic: A exposição – objetos reais, Histórias reais, no Park Shopping Barigui. Mais de 22 milhões de pessoas ao redor do mundo já viram a exposição.

Campanha pela vida A

atriz Isis Valverde esteve em Curitiba no mês passado. Ela participou do jantar do Dia Nacional de Combate ao Câncer infantojuvenil. Isis veio a convite da Associação Paranaense de Apoio à Criança com Neoplasia (APACN). A campanha é de alerta e conscientização dos paranaenses sobre a importância do diagnóstico precoce da doença, seus primeiros sinais e sintomas.

Uma réplica do cartão de embarque é recebida na entrada da mostra. Cada uma conta a história real de uma das pessoas que estiveram a bordo do Titanic.

rAFAel DANielewiCZ

Os visitantes podem tocar a reprodução de um iceberg de 3,5 metros para sentir as baixas temperaturas da noite do naufrágio.

Gilson e Simone Yared

Irene Bizinelli, Marcos Mendonça e Fabiana Mendonça

MAriANA MoliNos

Ricardo Ushida, gerente de exposições da T4F

Bernardo Haiduk e Ana Luiza Schier dezembro de 2011 |

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Cartas

Escreva para cartas@revistaideias.com.br REVISTA

r$ 51 bilhÕes Por ano: a radioGraFia da corruPÇÃo no brasil Parece-me que essa soma é superior ao total da dos roubos praticados por assaltantes de bancos, ladrões de cargas, sequestradores e gatos de casas e empresas. E enquanto as modalidades “civis” na maioria prejudicam ou uma entidade jurídica ou um ente físico, a primeira atinge a educação, a saúde, a segurança da grande maioria da população, além de tirar investimentos na infraestrutura. E a diferença que revolta a gente é que os agentes dos crimes de lesa-pátria, são ou “blindados”, ou tem os cabelos alisados pelo ex-presidente ou recebem um olhar de “mãe” da atual, quando não são exonerados dos cargos e vão montar empresas de auditoria, dar palestras, por aí… Parreiras Rodrigues

a cara boa da PolÍtica

Hillu era manchete nas páginas policiais. Ficou também bastante conhecido por ocasião da CPI do Narcotráfico na Assembleia Legislativa do Estado. Kransk

PetraGlia

um incidente de insanidade

Quando compro a água da SANEPAR, os impostos são absurdos; bem como quando compro luz, telefone, etc. Lucas Realmente muito absurdo o valor dos impostos. Pior que não sabemos nem para onde esse dinheiro vai. Isso é Brasil. Maria Lucia

vamos de metrô

Realidades das Realidades: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto” - Frase de Rui Barbosa José Alberto de Toledo

adePol Grande nome para dirigir os destinos da ADEPOL. O Delegado Hattanda se destacou quando dirigiu a antiga Delegacia de Ordem Social, época em que Arlete

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Na verdade a coxarada está em polvorosa com a volta do Mário Celso Petraglia. Eles sabem que o Petraglia transformará o CAP num dos maiores clubes do Brasil. Amauri

aGitos de rua Luiz Geraldo Mazza, um dos “monstros sagrados” do jornalismo brasileiro. Sabe tudo de Curitiba. Tive o imenso prazer de conviver com seus irmãos mais jovens, na nossa querida Rua Paula Gomes. Hamilton Luiz Nassif

as Feias e a burca Excelente! Parabéns Curitiba pelo projeto. Aqui em Porto Alegre nem projetos possuem. Aliás, Porto Alegre conseguiu o recurso numa grande jogada política, apenas isso. Prova da incapacidade dos órgãos competentes daqui em fazer projetos. Jaime Lerner está aqui com dois projetos - Cais do Porto e Fazenda Guajuviras. E viva o povo do Paraná. Marcos

EDITOR-CHEFE Fábio Campana CHEFE DE REDAÇÃO Marianna Camargo REDAÇÃO Karen Fukushima, Marisol Vieira, Raffaela Ortis, Thais Kaniak COLUNISTAS Andrea Greca Krueger, Antonio Augusto Figueiredo Basto, Carlos Alberto Pessôa, Claudia Wasilewski, Ernani Buchmann, Isabela França, Izabel Campana, Jussara Voss, Luiz Carlos Zanoni, Luiz Fernando Pereira, Luiz Geraldo Mazza, Luiz Solda, Marcio Renato dos Santos, Paola de Orte, Paula Abbas, Pryscila Vieira, Rogerio Distefano, Rubens Campana DIRETOR DE FOTOGRAFIA Dico Kremer

Quanto vale seu dinheiro? Gosto muito do trabalho que o Ney Leprevost faz pela saúde e pelo esporte. Esse moço tem boas ideias. Muito boa a matéria, li e gostei! Carmem

Publicação da Travessa dos Editores ISSN 1679-3501 Edição 122 – R$ 10,00 ideias@revistaideias.com.br revistaideias.com.br facebook.com/revistaideias twitter:@revistaideias

Cajucy

a Palavra mal escrita de Wilson martins Concordo. Estava na leitura do sexto volume quando cheguei a página 505 e descobri que até a página 534 eram todas do volume 2. Liguei para a editora e eles vão trocar. Wilson Martins merecia mais cuidado. Wilmar Lima

TRATAMENTO DE IMAGEM Beatriz Bini Carmen Lucia Solheid Kremer FOTO CAPA Aliocha Mauricio PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Katiane Cabral e Luigi Camargo CONSELHO EDITORIAL Aroldo Murá G. Haygert, Belmiro Valverde, Carlos Alberto Pessôa, Denise de Camargo, Fábio Campana, Lucas Leitão, Marianna Camargo, Paola De Orte, Rubens Campana PARA ANUNCIAR comercial@revistaideias.com.br PARA ASSINAR assinatura@revistaideias.com.br ONDE ENCONTRAR Banca do Batel Banca Boca Maldita Banca da Praça Espanha Fnac Shopping Barigui Revistaria do Maninho Revistaria Quiosque do Saber no Angeloni Banca Presentes Cotegipe no Mercado Municipal Livrarias Ghignone Banca Bom Jesus Revistaria Itália Banca Shopping Curitiba

Rua Desembargador Hugo Simas, 1570 CEP 80520-250 / CURITIBA PR Tel.: [41] 3079 9997 travessadoseditores.com.br


Voe seguro. Voe Weiss.

TÁXI AÉREO WEISS LTDA. Fretamento de aeronaves para o transporte de passageiros e/ou cargas. Oficina de manutenção de aeronaves. Aeroporto de Bacacheri – Hangar 7, 9 e 18 – Curitiba – PR. Fone: 041-3302-7300 – e-mail: taw@taweiss.com.br


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O novo modelo da Renault educa, protege, transforma e preserva.

Mudar a direção pode mudar tudo.

A Renault aceitou o compromisso de construir uma sociedade sustentável e justa, com projetos como este, a Escola Árvore dos Sapatos, em São José dos Pinhais/PR, que oferece possibilidades de desenvolvimento para mais de 230 crianças.

www.renault.com.br/institutorenault

Mude a direção


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