Cenario Urbano

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CENÁRIO URBANO NÁ CE RIO

URBANO SERÁ QUE O TETO FUNCIONA?

UM TETO PARA O MEU PAÍS lutar contra a extrema miséria não permite descanso JOGO OASIS uma brincadeira que vai mudar a sua vida CASA CONTEINER a nova febre em arquitetura verde CAIO SANTO AMORE entrevista com o arquiteto social


r numa rua. ta a m e m o ã v a d "ain m, q uando descobrire principalmente, ssa gente q ue faço parte de a q ue pensa q ue a ru l da cidade" a ip c n ri p e rt a p a é Leminsk i

ilustração: Amy Casey


editorial | UM OI E QUEM FEZ ACONTECER

ilustração: Amy Casey

CENÁRIO URBANO A CENÁRIO URBANO chega para mostrar não só a relação entre cidadão-cidade, mas principalmente para abrir cada vez mais possibilidades novas, entre os vários leques que a arquitetura oferece, ao leitor. Fazer essa ponte entre projetos transformadores e pessoas inquietas. A Cenário vem para inspirar e cutucar. Projetar pela desigualdade ou pela união? Ficar na rotina ou se jogar no novo? Cidade como a conhecemos, é recente. Problemas estão lá fora, soluções estão lá fora. As pessoas precisam se sentir parte da solução. Buscamos trazer o empurrão que falta para que cada um tenha um sério compromisso com a sua razão de ser e sua própria sede de fazer. Afinal: “Ou a arquitetura é um discurso para existência humana, ou ela não serve para nada. Além do ego do arquiteto que a fez.” C.P. Júlia Carvalho

Editora chefe Júlia Carvalho Colaboradores Fabio Silveira Filipe Barcelos Bruno Matinata Redação Júlia Carvalho Filipe Barcelos Diretor de arte Júlia Carvalho Apoio Espiritual Mayla Tanferri Juliana Fanucchi Fotografia Raquel Santa Anna Júlia Carvalho Leandro Kespers Rodrigo Cruz Tuhany Odara Revisão Fabio Silveira Sara Goldchmit


SUMÁRIO | foco da vez

10.

um teto para o meu país Lutando contra a extrema miséria

9.

5. atualidades Acabando com a seca no sertão, outdoor que produz água potável, a árvore invencível

14. caio santo amore Peabiru e a arquitetura social

16. projetando limpo Bosco verticale, Building Trust, casa conteiner

18. perfil Opinião - Fiilipe Barcelos Faria

20. destaque Oasis - Brincando de transformar

20.

urbanismo urbanização vila rubi


HOJE | ATUALIDADES

SIM CITY 5

O novo game de simulação de construção de cidades e planejamento urbano sai em 2013, feito pela Maxis. Seu gerenciamento de recursos para a construção e manutenção de uma cidade, visa a administração de fatores sociais e a estética das cidades. Lida-se com regiões, serviços públicos e recursos naturais. Se constrói sistema de saneamento básico, sistema de eletricidade. É um verdadeiro cenário urbano, ocorrem desastres naturais, criminalidade e os mais diversos fatores sociais. Na nova versão se paga um preço, o gráfico é tão bom que a área total da cidade teve que ser diminuida. Conta com simulações de arquitetura de alguns países, como Alemanha, França, inclusive com o edifício COPAN do querido Niemeyer.

a última

árvore Um monumento foi construído em Rikuzentakata, para eternizar a última árvore sobrevivente das 70 mil destruídas ao longo da costa japonesa, após o tsunami. O pinheiro de 88 metros sobreviveu por cerca de 18 meses após o tsunami, mas morreu devido aos altos níveis de solução salina introduzidas em seu ambiente. Depois de derrubada ela foi reerguida e colocada em um suporte, e os seus galhos foram colocados de volta, como quando ainda estava viva.

OUTDOOR POTÁVEL Lima, Peru, 2ª maior capital do mundo localizada em um deserto, raramente chove lá. Mas, a umidade do ar gira em torno de 98%. Assim, a Universidade de Engenharia e Tecnologia local cria um outdoor que produz água potável. Usando ar, retirando gotículas e as retendo. O outdoor possui um tanque capaz de armazenar 96L de água, com torneiras de onde se possa tirar o líquido, antes ele passa por um sistema de filtragem, tornando-se potável.

PROBLEMA BOM Palestra TEDxSP - Denis Russo: “Nos temos uma vantagem no Brasil, pela qualidade dos nossos problemas..” Dessa vez vamos falar do problema da seca no sertão. Do qual gera falta de atividade econômica, alta mortalidade infantil, coronelismo, desigualdade sexual e exôdo rural. E se fosse possível dar uma solução tecnológica para isso? Uma tecnologia de 5 mil anos atrás? Mapa arqueológico de uma escavação na palestina, pouco antes de cristo, mostra uma cisterna que capta água da chuva. E se construíssemos um para cada casa do semi-árido? Ano bom 800mm de chuva em um ruim, 200mm, o que é suficiente para uma família de 5 pessoas viver no ano. Foi o que fizeram. O projeto Um Milhão de Cisternas Rurais, o fez. Estratégia: Envolver as famílias no projeto, para que elas sejam eram donas do que estava acontecendo. A família que queria uma cisterna deveria ajudar a cavar os burracos, ajudar o pedreiro e alimentá-lo.

Diminuiçao na mortalidade infantil

- maior fator é diarréia devido a contaminação dos açudes. Aumenta Rendimento escolar maior motivo de faltas nas escolas é diarréia também. Coronelismo - controle do recurso hídrico, pessoas trocam caminhão pipa por voto. Desigualdade sexual - mulheres devem andar em média 3,5 km. Diminuindo a importância dela nos assuntos da comunidade. Êxodo - antes de ganharem cisterna, pessoas declararam que queriam sair de lá, mas que agora não deixavam a cisterna delas por nada. Problemas bons: aqueles que podem ser redefinidos. Por: Júlia Carvalho

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PRATI-CIDADE | URBANISMO

pensando

(de)novo

Percebendo as texturas da cidade - por Peter Duchek

Urbanismo > Filipe Barcelos Faria Lembro que quando comecei a estudar Arquitetura e Urbanista na FAU Anhembi Morumbi, a visão que tinha sobre a palavra “Urbanismo” era seca, dura, crua. E era isso mesmo. O urbanismo, que parece ser a noiva oculta ou a simples palavra de acompanhamento da famosa “arquitetura”, é o segredo do porquê o arquiteto não é somente um decorador, como parte do público e clientes trata este profissional. Faz-se cidade, fazse espaço. O urbanismo, derivado de urbs, da cidade de Ur (primeira cidade citada na Bíblia), seria um coletivo desorganizado (mais ainda, acredite) se no curso oficial de arquitetura e urbanismo, apenas existisse o Arquiteto, que por ordem alfabética vem bem antes que o Urbanista, mas na lista de prioridades não se sabe quem que surgiu primeiro. Se o arquiteto somente projetasse o íntimo e não o coletivo, a interação com o lugar perderia seu

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simbolismo. Haussmann, Idelfonso Cerdá, Le Corbusier, Lúcio Costa não seriam arquitetos e urbanistas, seriam apenas “desenhistas urbanos” ou algo mais deplorável. Existe um peso que muitos julgam invisível que é descarregado na cidade. O entorno faz a arquitetura ser arquitetura, quem cuida do entorno? Dentro/fora, casa/cidade, quintal/praça, dicotomias tão próximas quanto o amor e ódio. Pensar que um “prédio” não é lindo sozinho exatamente por que ele não pode ser lindo por si só. A chance do forte poder político da profissão do arquiteto urbanista, é seu poder de projetar a ideia não só num plano 2d, mas 3d, físico, em escala real, numa mudança real, que sim, muitas vezes demora para se concretizar, mas seu resultado perdura e marca a vida das pessoas de um jeito quase indescritível. O que seria da Acrópole, se ela estivesse cravada no centro de Nova York, e o que seria do Congresso de Brasília se estivesse em Machu Picchu? O urbanismo é sempre um buraco mais embaixo ou a solução para os pesadelos individualistas.


vazios d’água

5a Bienal de Roterdã, Holanda “Construindo cidade”.

MMBB arquitetos Vazios de água -

5ª bienal internacional de arquitetura de rotterdam discute como “fazer cidade”.

O MMBB trabalhou uma infraestrutura de combate às enchentes em São Paulo que, ao mesmo tempo, cria lugares adequados à vida urbana, forma referências na paisagem e estimula, assim, uma relação afetiva dos habitantes com a cidade. “É conferir o ‘poder’ de construir urbanidade onde, até então, só se aportam valores funcionais”, explicam os arquitetos. De acordo com eles, as redes de infraestrutura paulistanas são pensadas em escala territorial, fazendo com que, na escala local, sejam um agente desagregador. A proposta, então, é redefinir esse pensamento e para isso a equipe instalou os “piscinões”, grandes reservatórios de retenção de água pluvial, junto às áreas periféricas. Esses piscinões seriam, então, redefinidos como referências locais adequados à vida urbana, aportando ao espaço construído um valor de morada. Por: Nelson Kon

SHOPPING PRODUZ HORTA NO TELHADO Restos de comida se transformam em uma horta. Restos de comida da praça de alimentação do shopping Eldorado (zona oeste de São Paulo) estão se transformando em uma horta com mil m² em seu telhado. Com um investimento de R$ 12 mil por mês, o shopping diz transformar 14 toneladas de produto orgânico -28% do volume gerado mensalmente- em um composto onde estão sendo plantados berinjelas, alface, hortelã, pimenta,manjericão, menta entre outros produtos. O projeto já rendeu três colheitas em um ano. Todo o alimento gerado -na última colheita foram 400 berinjelas e 900 pés de alface-, por enquanto, é distribuído entre os funcionários. A intenção é que, em cinco anos, todos os 9.800 m² do telhado estejam ocupados por plantas e que não haja mais necessidade de mandar lixo local para aterros. Por: Victor Moriyama

Funcionária do shopping ajudando a transformar a paisagem urbana

Fotos: MakeNelson KonCaracol.

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PRATI-CIDADE | URBANISMO Funcionária do shopping ajudando a transformar a paisagem urbana

VILA RUBI > Júlia Carvalho

O projeto de urbanização da favela Vila Rubi foi elaborado considerando como elemento estruturador a pré-existência do território. Urbanistas: Filipe Barcelos e Maria Helena Menezes.

Foto: Filipe Barcelosol.

A partir do elemento estruturador a pré-existência do território onde está inserida, ou seja, os domicílios do entorno próximo e diretamente afetados, a oferta de equipamentos públicos como Centro de Educação Unificado, associações de bairros, comércios e serviços disponíveis, bem como as inter-relações com os moradores e suas vivências. A partir desse conceito, ficou estabelecido permanecer na favela o maior número de famílias possível, pois estas têm no bairro suas raízes de origem e estruturas de organização do cotidiano, como por exemplo, creches, postos de saúde, “mães cuidadoras”, geração de renda, entre outras. Para inserção da favela no tecido urbano foi necessário criar abertura de via e vielas para conectá-la ao sistema viário existente, eliminar situações de risco de domicílios em áreas inundáveis, execução de redes de abastecimento de água potável, coleta de esgoto, drenagem enterrada e superficial, rede de abastecimento de energia elétrica, iluminação

pública, reconstrução de domicílios no local, áreas de lazer e paisagismo. Considerando a situação fundiária do local, parte dos terrenos contíguos à favela é de propriedade particular, portanto, respeitamos a documentação destes confrontantes com o perímetro da área de intervenção de projeto. Desta equação, com as necessidades apresentadas acima, o projeto foi definido de forma orgânica, com recortes diferentes ao longo da via principal e vielas secundárias. A criação de uma nova via de conexão ao bairro estruturou o projeto de urbanismo, formado pela mescla dos muros de fundo de lotes e através da construção de novas unidades habitacionais, porém esta via deveria ter vida, atividades de pessoas em diferentes horários para não tornar-se um corredor vulnerável e inseguro aos moradores que lá habitam. A primeira estratégia foi acionar a equipe de trabalho social e arquitetura perguntando de casa em casa se as famílias desejavam abrir janelas ou portas para a nova


Funcionária do shopping ajudando a transformar

Funcionária do shopping ajudando a transformar a paisagem urbana

PRAÇA CÍVICA Na esquina da nova via implantada foi criada a “Praça Cívica”.

PRAÇA DAS NASCENTES Um dos maiores, senão o maior pedido dos moradores, representados por um antigo morador e líder comunitário era “o projeto de um chafariz...”

Antes de desenvolvermos o projeto, os moradores nos pediram “cuidado naquela esquina, onde transitavam muitas pessoas que peregrinavam até a igreja no final da rua existente...”A partir daí, elaboramos o projeto da praça que seria de uso “livre” à comunidade, com bancos e palco, podendo ser utilizada para eventos de diversas religiões, festas de

aniversários dos moradores, festas regionais e ponto de encontro durante o dia, pois há um comércio local posicionado bem à frente, proporcionando uma “pequena sala de estar” no local. Nesta composição, pintamos um painel artístico na fachada cega da edificação que faz o limite da praça, fomentando a “discussão de arte” aos moradores que passavam durante a execução da pintura, elaborada pela equipe de arquitetura.

MINI QUADRA A prática de esportes em o todo Brasil, é indiscutível. Os meninos da Vila Rubi sempre nos pediram uma quadra, pedido que concorria com a solicitação da Praça, porém, a falta de espaço para implantação de uma quadra poliesportiva iria gerar novas remoções, e nesta equivalência, a permanência de mais famílias na urbanização foi prioridade.Após resistirmos à esta solicitação por falta de es-

paços adequado, para alegria dos meninos, projetamos então uma mini quadra, onde fosse possível realizar jogos de futebol descontraídos. A implantação considerou os domicílios vizinhos, mais uma vez confirmando as diferentes cotas de janelas para evitar desconfortos entre os moradores, também colocamos tela superior para proteção dos telhados e janelas de vidro da vizinhança.

Ponto crucial para projetarmos um jardim com pavimentos diferenciados, possibilitando a permeabilidade das águas das chuvas e afloramento de diversas nascentes da região. Foi de grande importância a descoberta do caminho das águas junto aos moradores e funcionários da obra, para criarmos um projeto com declividade e fluxo adequados. Esta praça tem forte valor simbólico ambiental e educativo na área de preservação de mananciais.

Funcionária do shopping ajudando a transformar a paisagem urbana

Fotos: Fabio Knoll acol.

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AMANHÃ |

projetos futuros

UM TETO PARA O

MEU PAÍS

Foto: Leandro Kespers e Rodrigo Cruz - Coletivo


Fotos: Raquel Santa Anna e Júlia Carvalho

quanto mais entramos em quebradas, maior a ferida é.

A jornada começa com uma pergunta: “Porque vocês estão aqui no final de semana?” Silêncio cortante. “Algo está errado...algo está muito errado”. Estatísticas mostram que até março de 2013 a extrema pobreza estará sanada. Nossa primeira parada é na comunidade do Tonato, lá conhecemos algumas dessas pessoas que não fazem mais parte das estatísticas. Algumas daquelas tantas que foram esquecidas, esquecidas pela mídia, pelas pessoas e pelo governo. O TETO, é uma tentativa, uma tentativa de resgatá-las. A organização nasce no Chile há 16 anos, hoje ela encontra-se distribuída em quase todos os países da América Latina e na América Central. Basicamente, consisti em três etapas: construção de casas emergênciais, habilitação social da comunidade e comunidade autossustentável. Com a ação conjunta de jovens voluntários e moradores, a corrida começa. No Brasil, esse processo ainda é prematuro, se encontra no começo da habilitação social, porém, segue em desenvolvimento. O dia em que a verdade mentiu: A nossa primeira parada é a favela do Tonato em Carapicuíba - São Paulo.Quanto mais entramos em quebradas, maior a ferida é. O que ficamos conhecendo hoje, não é visível em estatísticas, não é falado em propagandas anuais governamentais e principalmente, não existe aos olhos de bastante gente. Tirando aqueles que nao conhecem essa reaidade em seu dia-a-dia, é uma espécie de exagero que acontece apenas em países como a África. E afinal, será que não estamos nele? “É impressionante,é um choque. Mas ao mesmo tempo, não. Não processamos muito bem, e simultaneamente no fundo, soubemos o tempo todo, isso

Voluntários construindo com muita lama e chuva. - Chile, Argentina.

Comunidade do Tonato, Carapicuíba. Crianças correndo e brincando sem se importar com a falta de nada.

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sempre esteve aqui” Voluntária Lívia. A atividade que vamos fazer hoje é chamada detecção massiva, consiste em aplicar enquetes pela comunidade e identificar quais casas estão em piores condições e precisam mais urgentemente da emergencial. É no mínimo frustrante pois, a maioria delas está caindo aos pedaços. Escuto de uma família: “Isso aqui, quando chove forte, é mais seguro estar fora da casa do que dentro, as vezes, tem correntezas tão fortes, dentro da casa, que é um verdadeiro milagre de Deus quando se salva alguma mobília da casa.” Como em tudo na vida, em todo lugar, vemos de tudo um pouco. Muitas casas que nem se quer podemos chamar de casa por fora, são impecáveis internamente, na medida do possível. Vemos outras aparentemente melhor estruturadas, que dentro, é praticamente morar na rua. Engano, morar na rua, talvez fosse melhor. Em meio a enquete, uma das perguntas é relativa aos gastos e salário, fico impressionada que entre alimentação, saúde, educação, moradia, luz, gás, água, transporte, lazer, higiene, entre todos esses, essas pessoas tenham a sagacidade de conseguir viver com um salário as vezes menor que 150 reais. Sendo que por mês, mesmo com a inflação bem menor na zona em que habitam, a maioria gaste no mínimo 300 reais, apenas em alimentação. É impressionante em muitos níveis, não somente pelas condições ou pela falta delas, se preferir, mas sim por ser impossível. E se você ficar doente, e precisar de um remédio? E como seu filho vai para a escola? E você para o trabalho? E o gás para fazer comida, e a luz? E se o barraco despencar, como você vai comprar material pra consertar? É, eles fazem o impossível ser possível. Enquanto isso, a extrema pobreza, é considerada abaixo dos 70 reais. Pelas famílias que passamos parece haver um ponto de contradição: muitas quando perguntamos se a comunidade se dá bem ou não, sem nem pensar respondem que sim, outras, engasgam, e se emocionam. Juntando informações aqui e ali, concluímos. Todos dizem que é muito bom e que tudo está bem, não querem ser vistos como encrenqueiros, querem a nossa ajuda, querem nosso empurrão para frente, querem melhorar. Portanto, ficam mudos por obrigação, não falam da violência, não citam a desunião. O que existe ali é muita promessa não cumprida, se a nossa for mais uma delas, então que seja, mas ninguém vai correr o risco. No máximo, são ressaltados o verdadeiro isolamento urbano que essas pessoas são submetidas, não existe um hospital perto sem pegar um ônibus de 40 minutos, escolas, as que existem são tão precárias e restritas que você deve maFotos: Raquel Santa Anna

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mais do que construir casas, eles dão amor.

AMANHÃ | projetos futuros

Brincando de transformar a realidade juntos.


tricular seu filho antes dele nascer para ter uma vaga. Oferta de emprego digna? Não sei, talvez daqui a 20 anos, quem sabe com sorte. O TETO não é a resolução dos problemas, ele está longe disso. Assim como a maioria das ONGs, ele trata o sintoma e não a causa. Porém, não significa que ele não tenha seu enorme valor, é difícil separar o que vale mai: se é o fato de pegarmos uma casa em que seus moradores todas as noites dormem sem terem a certeza se de manhã a casa ainda vai estar em pé e eles ainda vivos, ou se é a atenção, o simples fato de ouvir, de estar lá, que essa ONG presta a essas pessoas ameaçadas, esquecidas e sem voz. Acho que fico com o terceiro, que é a força que eles transmitem a pessoas já desamparadas de uma luz no fim do túnel, de um potencial real de melhoria. Fico com esse, pois é a partir desse que a verdadeira repercussão começa: de pouco em pouco, jardins urbanos, escolas assistenciais, nome para as ruas, associações de moradores nascem, reivindicações são postas na mesa, ruas são asfaltadas, luz elétrica é conquistada, água encanada e saneamento básico. Começar é difícil, mas planta-se a semente, a ideia nasce e transformação se move. Não é um trabalho fácil e principalmente não é um trabalho rápido, mas quanto mais cedo começarmos mais cedo colheremos os reflexos dessa luta.

VOLUNTÁRIOS 2011 50000 40000 30000 20000 10000 0

em em construções coletas

32.495

CASAS CONSTRUÍDAS

9.256 6.463 5.747 3.617 2007

Modelo da casa modular construída pela organização TETO.

Foto: Raquel Santa Anna

em em processos atividades de desenvolvimento massivais comunitário

2008

2009

2010

2011


ENTREVISTA | CAIO SANTO AMORE

Caio Santo Amore em mais uma de suas multi-habilidades, no intervalo de suas aulas na Anhembi Morumbi.

EDIFICANDO CAPACITAÇÃO Conversa com Caio Santo Amore, arquiteto, professor universitário, sócio do escritório Peabiru - realizador de uma arquitetura social, a CENÁRIO URBANO entrevistou ele:

> Júlia Carvalho

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O que é arquitetura para você? Que pergunta complicada... Olha tem uma definição que eu gosto bastante do Lucio Costa que diz: Arquitetura, antes de mais nada é construção, concebia com o propósito primordial de ordenar o espaço com determinada finalidade e visando determinada intenção. É o projeto que organiza a produção. É o projeto que determina quantos tijolos serão comprados, o quanto irá exigir do trabalhador, é ele que planeja e organiza o pensamento. Como nasceu o escritório Peabiru? Nasce em 93, estou lá desde 97, foi a partir de um programa de habilitação

mente temos dois tipos de trabalho: um que é ligado com associações, nesse caso, eles nos contratam, podem ser ligados com empresas, instituições, fundações como a Oxfam ou até mesmo a prefeitura. O segundo tipo é o que vem direto do poder público, nesse caso, várias, alguns são licitação normal, tem vezes que a prefeitura convida você. E é claro existem os projetos auto financiados, com o dinheiro que sobra, investimos em um projeto do qual não se consegue nenhum tipo de financiamento. Hoje o escritório é constituído por quantas pessoas? Existem os membros fixos,

e os novos também que começam a trabalhar e não são fixos, como estagiários, etc. Entre os membros tem oito que são ativos, e tem mais três que estão fora, dois moram no Rio, e outra que está fazendo um trabalho fora.

com multirão de auto-gestão, tinha-se uma associação de um grupo de arquitetos e então contratava-se pessoas com técnica. De que maneira se dá a relação interdisciplinar e a arquitetura no escritório, faz muita diferença? Apesar da maioria serem arquitetos, faz toda a diferença. Muda o olhar. Conseguimos olhar os problemas em uma gama maior, ver em outros ângulos que normalmente não veríamos. Lá na Peabiru, nos projetos, os trabalhadores entram em contato com as pessoas propriamente, isso é alimentado pelos nossos profissionais e eles alimentados por isso, promovendo a criatividade. Como é o escolhido o próximo lugar a ser feita a intervenção/habilitação e quem é que financia esses projetos? Essa questão de como você vai atrás do trabalho, isso na verdade, acaba que o trabalho vem mais atrás da gente, o trabalho escolhe você, você não escolhe muito ele.. Basica-

Vocês pensam em aumentar a equipe, fazer novas sedes? Depende.. assim, é uma vida meio dura. No semestre passado por exemplo, tinha umas 20 pessoas, um trabalho grande e tal, estamos fazendo ainda um projeto grande de urbanização em São Bernardo, na favela Batistine, fizemos primeiro trabalho de campo, cadastro com todos os moradores, do qual envolvia muita gente, então tinha bastante gente. Ai quando acabou essa fase, teve muito problema, pois era época de propaganda eleitoral. Por ser uma região que foi ocupada, áreas de risco, envolve todo um trabalho de olhar cada área, de cada casa, se dá pra construir ou não. Qual foi especialmente marcante, entre tantos projetos?

É difícil escolher um, todos são tão diferentes em sua complexidade. Em cada projeto, o legal mesmo, é no final, não reconhecer a ideia de ninguém ali, nenhum projeto se olha e se pensa,

a esse foi mais tal pessoa que desenvolveu. Não, todos estão ali. Isso é legal, dá uma alegria, quando a gente consegue realizar aquilo que a gente planejou, com a autoria nossa. Porque trabalhar com iniciativas pessoais?

Bem, não são exatamente iniciativas pessoais, são mais de grupo. É que hoje, não existe mais nenhum dos fundadores, o Peabiru é cíclico, com o tempo os coordenadores os membros vão se reciclando, uma hora um é coordenador outra hora não é mais, depois é de novo, é algo que vai se transformando. Dependendo dos membros, ele muda um pouco a cara, hoje está com uma turma muito legal, bem unida, sabe? O porquê é pelos momentos que fazem sentido. Existem muitos trabalhos que a gente está fazendo algo idiota, e você não sabe muito bem aonde isso vai levar, que não fazem sentido, e esse faz. Sentido não só pra você, para nós e para os outros, para quem o trabalho envolve. Acho que a maioria do pessoal do escritório se você fosse perguntar, diria algo parecido com isso. Somos um grupo que luta pela reforma urbana, no âmbito social, com outras ONGs, instituições, fica a questão, como se luta contra essa realidade urbana. Vi que você trabalhou com capacitação profissional em construção civil para adolescentes em Heliópolis. Putz, foi uma loucura. Foi em 98, eu tinha acabado de me formar. Fiquei envolvido através de um projeto que se chamava capacitação solidária, consistia em realizar duas casas, com jovens de 15 a 20 anos. Era algo muito mais elementar do que qualquer outra coisa, não era tanto a capacitação e mais o momento, olhar a casa e ver que aquilo estava sendo erguido por eles mesmos. Foi muito legal, mas ao mesmo tempo era difícil, tinha um incentivo algo como 50 reais e mais uma cesta básica. Porém, era difícil manter eles longe do tráfico, se eles vendessem uma droga em um dia, ganhavam isso. Essas coisas estavam o tempo inteiro influenciando, estavam toda hora ali, na nossa vista. Quantos jovens participavam em média?

Começavam com 20 mais no final não eram mais que 10, não era lá assim, um enorme incentivo. Eles não tinham aquilo como sonho, eles queriam sei lá, ser arquitetos. Mais tarde muitos que estudaram conseguiram. Então não é tanto a capacitação que ajuda, é aquele momento, estar ali convivendo, o olhar para a casa, entender aquele aspecto daquela construção, ensinar coisas que eram bem básicas da matemática, como conta uma montanha de tijolos, esse tipo de coisa, volume, operações, era sempre na prática. Acho que essa capacitação muda muito pouco a vida dessas pessoas, talvez ali no momento mude. O que importa na verdade é o momento.

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VERDE | PROJETANDO LIMPO

BOSCO

VERTICALE

Primeira f loresta vertical do mundo, Milão.

Esqueleto dos edifícios antes das plantas.

A torre construída em Milão será a primeira f loresta vertical do mundo. No verão, as árvores irão sombrear as janelas e filtrar a poeira da cidade, no inverno, o sol irá brilhar através dos ramos nus. Os prédios serão cobertos por um sistema que otimiza, recupera e produz energia, ao mesmo tempo que filtra a poluição do ar. O projeto está em fase de construção no bairro de Isola e tem por objetivo fazer frente ao crescimento urbano e à ausência da natureza na cidade. As torres terão sistemas de energia eólica e fotovoltaica para aumentar o grau de autossuficiência energética e a irrigação será feita pelo

reaproveitamento da água cinzenta produzida pelo edifício. “É um projeto de ref lorestação metropolitana, que contribui para a regeneração do ambiente e biodiversidade urbana sem a implicação de expandir a cidade sobre o território. Irão existir 900 árvores, juntamente com outros tipos de vegetação e plantas, que vão ajudar à criação de um microclima e a filtrar as partículas contaminadas do ar. A diversidade de plantas e as suas características produzem umidade, absorvem CO2 e as partículas sujas, produzindo, assim, oxigênio e protegendo da radiação e da poluição acústica, promovendo a melhoria da qualidade de vida e o armazenamento de energia”, explica Stefano Boeri, arquiteto responsável pelo projeto. Boeri argumenta que esta é uma resposta necessária à expansão da cidade moderna. O Bosco Verticale é o primeiro elemento na proposta BioMilano, em que um cinturão verde será criado ao redor da cidade e 60 fazendas abandonadas na periferia serão restauradas para uso da comunidade. Por: CicloVivo

BUILDING TRUST

PARA SE INSPIRAR

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Building Trust trabalha com instituições de caridade e comunidades em necessidade. Oferece suporte na construção, no design e na educação em princípios sustentáveis de design e arquitetura. Seja construindo uma escola, um centro de saúde ou mantendo em pé um centro comunitário.

Protege da radiação direta, do vento, umidifica o ar e captura a poeira das partículas dele e reduz poluição acústica.

Projeto desenvolvido em um dos concursos propostos pela organização. Casas sustentáveis e resistentes a enchentes.

Building Trust trabalha com instituições de caridade e comunidades em necessidade. Oferece suporte na construção, no design e na educação em princípios

sustentáveis de design e arquitetura. Seja construindo uma escola, um centro de saúde ou mantendo em pé um centro comunitário. Incentivam concursos e que


CASA

CONTEINER

Casa conteiner feita para dois, durável, sustentável e barata.

Amsterdam, a maior vila de containers do mundo: 1.000 casas para estudantes.

Da inutilidade à criatividade Grande parte das coisas que compramos, podem ter sido transportadas dentro de um container. Usados para o transporte de mercadorias no mundo inteiro, estima-se que 90% do movimento de mercadorias no mundo utilizam contêineres como forma de transporte e cem milhões de cargas cruzam os oceanos do mundo em mais de 5.000 navios de contêineres a cada ano. Após determinado tempo de uso, eles se tornam inutilizáveis gerando um cemitério de contêineres abandonados. Ou acontece como nos EUA e Europa, onde mandar o container de volta gera

Container City mexican, uma das maiores atrações turísticas da cidade de Cholula.

Vantagens:•Menos mão-de-obra, custo e trabalho na fundação. •Reutilização de materiais que seriam descartados, economia nos recursos naturais (pois não há uso de areia, tijolo, cimento, água, ferro, etc. Redução de entulho. • Contêineres usados podem ser comprados por US$1.200,00 cada, e mesmo novos, não custam mais que US$6.000,00. •Reuso de água da chuva. Captada pelo telhado, armazenada e filtrada em reservatório próprio.

custos consideráveis compensando mais, a compra de novos na Ásia. Os contêineres foram e são utilizados como abrigos improvisados em países que tiveram terremotos, desastres naturais, e em guerras, como na Guerra do Golfo em 1991, onde também serviram como transporte de prisioneiros iraquianos. Buracos foram feitos nos contêineres para permitir a ventilação e não houve relatos de efeitos nocivos deste método. Com a atual discussão sobre meio ambiente, os contêineres vieram a “calhar” perfeitamente como uma alternativa de construção sustentável. Fabricados a partir de um sistema de elementos modulares podem, ainda, ser combinados com estruturas mais largas, simplificando o design, transporte e planejamento. Os contêineres podem ser empilhados até 12 unidades quando vazios.São estruturas de aço extremamente fortes, porém leves. Confeccionados para um perfeito encaixe, disponíveis no mercado e facilmente realocáveis. Na construção, você pode usar tintas à base d´água, painéis solares, teto verde , isolante de pet, entre outras aplicações sustentáveis. Por: Metalica

Container City I e II - tecnologia modular na Inglaterra, mais exatamente no Trinity Buoy Wharf.

Container City mexican, uma das maiores atrações turísticas da cidade de Cholula.

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perfil | filipe barcelos faria

b ate-p po a FILIPE BARCELOS DE FARIA urbanista convicto, arquiteta expectativas.

Foto: Tuhany Odara

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concursos, gosto dessa vitalidade.

CONVERSA COM O ARQUITETO E URBANISTA FELIPE, PIONEIRO DO GAFAAM, ESTÚDIO HIPERATIVO E MUITOS OUTROS PROJETOS TRANSFORMADORES.

Em que ponto eles foram importantes para você? Aprender sempre a trabalhar em grupo, o que muitas vezes me deixou calado, acanhado ou com a imagem impositiva. Tem projeto que como arquiteto e urbanista você pode contribuir mais, em outros não. É saber lidar com isso, já que arquiteto tem um ego desgraçado. Na escala dos egos desgraçados qual é o seu? O pior. Me ofendo quando alguém fala que minha linha está torta, mas também não tenho problema de abrir mão de certas coisas, meu ego é de lua. Abro mão de muitas convicções arquitetônicas, como por exemplo o custo de minha mão de obra. O custo da mão de obra? Eu não sei cobrar projeto, não sei ganhar dinheiro, gosto de trabalhar e fazer bem-feito. As vezes ganho muito dinheiro (dentro de minha perspectiva) mas ganho pouco dinheiro na perspectiva dos outros.

s transofrmancoletivo em

Está aí, a definição de um bom arquiteto.

Qual o papel social do arquiteto? O papel social do arquiteto é ser humano. Sendo um bom humano, sou um bom profissional, sou um bom arquiteto urbanista. O social tem a ver com ética e estética, que são irmãs entre si, são ligadas desde o útero da existência.

rápido. Por causa do meu trabalho com urbanização de favelas aprendi a ver como o povo (sociedade) consegue se adaptar as dificuldades de uma cidade do tamanho de São Paulo

Você está bravo? Bravo com a sociedade, sou um mal humorado. Se eu fosse uma árvore seria um limoeiro.

O que você viu? Uma cidade não organizada desde o começo. O povo sempre aprendendo a se moldar à ausência do estado, e depois a sua repreensão (como foi na ditadura).

Quais seus planos para o futuro? Meus planos para o futuro é dar aula. Gosto da figura do professor, não só como profissional mas como aquele que encaminha, não fica à frente nem atrás, mas ao lado. É aquele que ensina a caminhar. Se um dia eu puder ensinar arquitetura e urbanismo, com o peso da experiência (tempo), talvez o futuro seja satisfatório. Hoje já me sinto satisfeito, mas sou meio cobiçoso. O que você acha sobre os projetos arquitetônicos atuais para a cidade de São Paulo, como o arco do triunfo do Haddad? Acho que não é o arco do triunfo, é arco tietê. O do triunfo fica longe... a não ser que Haddad queira trazê-lo pra cá...Sobre a arquitetura feita em São Paulo, qual arquitetura, a que sai na revista especializada? A que se pratica informalmente? A que se paga 30 % à mais do valor de “mercado”? É um outro ponto de discussão, é duro ver São Paulo crescer

Como está sendo na desapropriação pra copa. Isso mesmo, mas a copa é menos impactante, o estado hoje sabe fazer marketing. Marketing da ilusão. Mas certa fração do povo cai nessa ilusão temporária. Conte um pouco dos seus trabalhos desde que você terminou a faculdade. Meus trabalhos são redundantes. Urbanização e projetos pequenos com o Estúdio Hiperativo, do qual sou sócio. Participo de

Vamos fazer ao contrário, qual o papel da cidade no arquiteto? A cidade para mim é minha sala de aula com exemplos bons e ruins. Um exemplo bom, a Paulista: as calçadas são generosas, amplas, são na proporção da avenida. Mas ao mesmo tempo nossas marginais, sempre à margem da cidade, sem calçadas, repelindo o pedestre. O que você achou do plano alternativo que o Peabiru fez para desapropriação do Itaquerão? Sobre os projetos do Peabiru, sou suspeito. O Caio Santoamore é meu amigo, e o escritório parece ter essa sutileza de trabalhar a cidade real, com problemas reais. Enfrentar momentos ainda piores e constrangedores, pelo menos é isso que eu imagino. Existem inúmeros caminhos para se construir cidade, eu só não entendo porque se escolhem os piores sempre. O que você diria pra quem quer ingressar na arquitetura como empreendedor social? Empreendedor social, não sei o que é ser um empreendedor social. Sou apenas arquiteto, sou apenas urbanista, sou apenas um homem com sonhos, com gosto duvidoso. Mas uma vontade intrínseca de fazer as coisas bem. Empreendo missões possíveis, não trato a utopia como algo impossivel. O significado da palavra projeto é algo como projetil, que tem um alvo, uma direção. Se o arquiteto faz arquitetura para humanos, é este o alvo. Ele empreende o social, com

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destaque | jogo oasis

OASIS,

UM NOVO TIPO DE JOGO

QUE VAI MUDAR A SUA VIDA.

Comunidade do Souza Ramos, se preparando para organizar o show de talentos.

> Júlia Carvalho

Foto: Ana Luiza Secco Peres

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Um empreendedorismo social que não apenas tranforma o meio, mas transforma os jogadores: Um novo tipo de brincar, brincando de mudar o mundo, o jogo Oasis é uma tecnologia social. Juntando jovens voluntários e moradores de comunidades carentes, somos convidados a realizar o sonho coletivo de uma determinada comunidade. Convidados, a ter um novo tipo de olhar, um tal de olhar apreciativo, mas do que um empreendedorismo social divertido é uma lição. Aprendemos que o olhar é relativo e que a beleza está nos olhos de quem vê, no ínicio não se entende muito bem, como um jogo

que parece tão inocente, no final nos mostra o quanto é grande o poder de um grupo de pessoas que se une, e trabalha junto por um mesmo propósito. A partir do olhar apreciativo aprendemos a criar um cenário de abundância de recursos e possibilidades, valorizando a presença e o potencial de contribuição de cada pessoa. Está tudo disponível basta ligarmos os materiais e os talentos da comunidade com o que precisa ser feito. Ligando a oportunidade com as possibilidades, por exemplo: muitas crianças que não sabem ler e escrever, e alguns adultos que adorariam ensinar a ler em trocca de aprender culinária por exemplo. Junta-se a oportunidade, com outro morador que contém a possibilidade, que poderia en-


Olhar apreciativo

Etapa do olhar: entramos na co munidade e devemos explorar ela vendados. Conhecer texturas, sons, cheiros, as pessoas. Conhecer, antes de julgar.

sinar a cozinhar. Muitos carpinteiros, pedreiros, logo temos toda a ajuda necessária para se construir um parquinho ou uma praça por exemplo. Em resumo, não se gasta um centavo e pedindo um pouquinho ali e aqui, temos uma doação tão grande, que no final há sobras para a realização do sonho coletivo. Mas vamos ao trajeto, o jogo tem até tabuleiro e consiste em 7 etapas. A primeira como já foi descrita é o olhar, a segunda o afeto, seguido de cuidado, milagre, celebração e a r-evolução. Sobre o afeto, ele é fundamental para que tudo aconteça, é necessário estabelecer laçõs afetivos entre voluntários

e moradores, confiança, cuidado mútuo, isso fortalece o poder do coletivo. Sem ele, nada vai pra frente. É preciso que eles sesintam donos daquilo que está sendo construído, nada vai ser realizado com uma varinha de condão, tudo é um trabalho conjunto, do coletivo, andando lado a lado. Estabelecido os laços, saímos em busca dos sonhos. Temos uma chance maior de acessar o sonho real de cada um, a construção da imagem do que a comunidade gostaria que acontecesse de melhorias lá começa a ser feita. Na fase do Cuidado, é importante cuidar das estratégias do projeto, das expectativas e dos sonhos

“Meu sonho é que a gente tenha um lugar pra brincar”

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vamos brincar de transformar o mundo?

em comum. O grupo é desafiado a caminhar cuidando de si e do sonho em comum ao mesmo tempo. Aí vem a etapa do Milagre, que é basicamente colocar a mão na massa, ir atrás dos recursos e fazer acontecer. Na comunidade do Souza Ramos, mês passado foi construído um parquinho e uma praça para os moradores. Pneus, jardins, tintas coloridas, desenhos nos murais, bancos, gangorra, escorregador, balanço, tudo foi adquirido sem gastar um centavo, através de loja em loja de doação em doação. Está tudo disponível, basta corrermos atrás. Uma das coisas que é ensinada é isto, melhorar o meio com os recursos que ele já possui, porém, não sabe como utilizar. Na celebração, é a etapa para reconhecer, compartilhar a conquista coletiva. A realização ganha mais sentido quando estamos

celebrando e olhando para trás tudo que construímos, o que antes parecia impossível, agora está lá, de pé. Por fim, a Re-evolução : É hora de pensar no futuro. Estabelecer novas metas, materializar novos desafios, temos uma reunião com moradores, e dizemos: “Fizemos isso tudo em dois dias, o que podemos fazer em 3 meses? Cria-se uma associação, comunidade irá se organizar, irá unir-se, agora ela tem a meta de crescer por si mesma. Ela pode querer a ajuda do Oasis ou não, pode acontecer outros lá de novo. O Oasis é uma semente, que depois que plantada cresce, cresce sem parar e pretensão de algum dia voltar a ter limites.




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