música . artes visuais . multimídia . arte urbana
R$ 10,00 JUNHO -2012 d a n i e l scandurra f a v e l a p a i n t i n g submundo p i x
b a t a l h a r a c i o n a l
RIMAS SINCERAS E IMPROVISADAS
do o
J M Julian Marcuir ARTIGOS EM COURO s達o paulo:
(11) 7027-4148 demais localidades:
(13) 9590-2169
ex pe di en te
AUGUSTO ZEBRA
redator
HAROLDO XAVIER
garçom
SHOW DE PULOS
marketing
editor-chefe DÉCIO CABRAL SOUZA
revista in citu
ín di ce
pág
08 leitura pág rápida 22 artigo
06 leitura pág rápida 10 favela pág painting 18 daniel pág scandurra
09 leitura pág rápida 09 infográpág fico
07 leitura pág rápida 12 batalha pág racional
ed it or ia l
A Revista IN CITU, tem o intuito de ser uma coleção do mais interessante conteúdo inserido no espaço urbano. Intervenções artísticas, movimentos culturais, qualquer tipo ou forma de expressão. Procuramos por projetos que envolvam e transformem as pessoas, independentemente da profundidade dessa mudança. Buscamos novos pontos de vista, alternativas para olhares condicionados por valores de uma sociedade opressora.
co la bo ra do re s
lucas karam Criado entre animais silvestres na Serra da Cantareira tem interesse por gastronomia, fotografia e mitragens.
caio orio Jovem, apenas 24 anos, morador do bairro de Pirituba, já tocou com o Supla, alugou carros, atendeu telefones e agora trabalha com Design Gráfico.
Viveu sua infância em Guarulhos e seguiu para Praia Grande, onde descobriu a vida, que é uma das coisas mais belas na sua opinião.
matteus faria
street art
13 batalha mai racional 16 casa mai do mancha 17 gerar mai dor
URBANIZAÇÃO E MODERNIZAÇÃO. EXPEDIÇÕES ULTRA MARINAS, O RELATO DOS VIAJANTES COM OUTROS POVOS. COMO ESTUDAR SISTEMATICAMENTE O OUTRO? PERGUNTO, SHOW!
17 bruxos mai party 19 santo mai daime 19 projeto mai mãozinha 22 dancing in mai the dark 22 born in mai the u.s.a.
lotman 22,moscow
ZEZÃO PINTA BUEIROS EM ESCOLA DO BRONX Convidado pela prefeitura de New York, o grafiteiro José Augusto Amaro Capela, mais conhecido como Zezão, pintou seus já consagrados “flops” em bueiros de uma escola localizada no bairro do Bronx.
dan dan xan nan curte muito skank
confissa pinta a cidade com amor Alictur? Adit asit, expeditaquas ilisquos dellam et quis.Pis aliquis inullum sitiunt moluptasit ventiis dusam asperfe rruntoratem exceaque vererep rehent doluption consequidem nos is consequ ideles eate res parum erum lab is assi. Hil int ut alitatiassin. Is andande niendit aeprepudi comnia santiorit liquist velita q
PINTO BUENOS. A CIDADE É UMA DAS COISAS MAIS BONITAS NA MINHA OPINIÃO. EU SOU ARGENTINO E SOU SHOW, DA BOCA, NASCI ALI MESMO NA RECOLETA.
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mano jaz. grafiteiro show de puelles
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música
mc confissa lança seu novo ep
13 batalha mai racional 16 casa mai do mancha 17 gerar mai dor 18 bruxos mai party 19 santo mai daime 27 projeto mai mãozinha 29 i get up in mai the evening
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fora do eixo organiza festival show Alictur? Adit asit, expeditaquas ilisquos dellam et quis.Pis aliquis inullum sitiunt moluptasit ventiis dusam asperfe rruntoratem exceaque vererep rehent doluption consequidem nos is consequ ideles eate res parum erum lab is assi. Hil int ut alitatiassin. Is andande niendit aeprepudi comnia santiorit liquist velita quae lam quae venit, sumquam dolenisquosa que consequ isitas seces. Is et restrumquis mod magnis id ut ea consequi sequias cum es adit re con ea dellaborum.
OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE, DIRETA ADORO TOCAR PERTO DO MEU PÚBLICO A ENERGIA É UMA DAS COISAS MAIS BELAS DESSA VIDA NA MINHA OPINIÃO. CHOCANTE SHOWCRÍVEL. capile guitarra show,sp
EXPRESSÃO CORPORAL /PROJETO INCORPORA Alictur? Adit asit, expeditaquas ilisquos dellam et quis.Pis aliquis inullum sitiunt moluptasit ventiis dusam asperfe rruntoratem exceaque vererep rehent doluption consequidem nos is consequ ideles eate res parum erum lab is assi. Hil int ut alitatiassin. Is andande niendit aeprepudi comnia santiorit liquist velita quae lam quae venit, sumquam dolenisquosa que consequ isitas seces ipsa
“ESTAVA INDIRETAMENTE ENGAJADO, E O PESSOAL DO MOVIMENTO VINHA FALANDO QUE A GENTE PRECISAVA GRAVAR AQUI, PORQUE AQUI É ONDE ESTÃO AS IDEIAS DO MARIGHELLA.” mano brown sobre o novo clipe. gravado no hotel abandonado na luz, onde vivem mais de 1300 pessoas. 7
artes visuais
13 balanço mai do bom 16 rosa & mai tieta 17 gerar mai dor 22 lázaro mai ramos 24 chuba mai chuby 26 october mai fest 27 sinnatrah mai cerva free 29 projeto mai sta cruz 30 projeto mai malibu 31 projeto mai roupinha
SHOW DEMAIS, ADOREI PARTICIPAR DO PROJETO. NÃO FICO NENHUM MINUTO A MAIS, TENHO UM MONTE DE HORA EXTRA AÍ. dona rodrigo,sp
MANHATTANHENGE, UM EVENTO EM NY Manhattanhenge é uma ocorrência semestral durante o qual o sol se alinha com as ruas leste-oeste da grade rua principal no bairro de Manhattan, em Nova York. O neologismo é derivado de Stonehenge, onde o sol se alinha com as pedras nos solstícios com um efeito dramático de forma semelhante.
FOI MUITO SHOW, AMEI DEMAIS ESSA LOUCURA. QUE PROJETO INCRÍVEL E MARAVILHOSO. CRIADO ALI MESMO NA BARATA RIBEIRO, É SHOW DEMAIS, PELO AMOR DE DEUS VIU. NÃO ACREDITO NISSO! puleiro show, rj
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mc confissa lança seu novo ep Alictur? Adit asit, expeditaquas ilisquos dellam et quis.Pis aliquis inullum sitiunt moluptasit ventiis dusam asperfe rruntoratem exceaque vererep rehent doluption consequidem nos is consequ ideles eate res parum erum lab is assi. Hil int ut alitatiassin. Is andande niendit aeprepudi comnia santiorit liquist velita quae lam quae venit, sumquam.
virtual stuff
MAIOR NÚMERO DE USUÁRIOS DO FACEBOOK SÓ CRESCE O NÚMERO DE USUÁRIOS DO FACEBOOK EM ESTUDO REALIZADO POR EMPRESA DE PESQUISAS ESPECIALIZADA
13 batalha mai racional 16 casa mai do mancha 17 gerar mai dor 17 bruxos mai party 19 santo mai daime 19 projeto mai mãozinha 20 sonho mai brasileiro 21 streets of mai philadelphia 23 ganga mai zumba “O CRESCIMENTO ANUAL DO FACEBOOK É UMA LOUCURA. SÓ TEM VICIADO ALI. ACABA COM SUA VIDA, TIMELINE É UMA DESGRAÇA. TOMEM CUIDADO. QUERIA PARAR MAS NÃO CONSIGO MAIS AGORA.” joaninha de sá, 45 anos. escritora do best-seller “show de mitras”
ESTADOS UNIDOS
ÍNDIA
46 milhões
BRASIL 47 milhões
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157,4 milhões
arte urbana
FAV E L A PA I N T I N G
ARTISTAS HOLANDESES FAZEM A FESTA NO RIO.
A
Fundação Favela painting é um projeto da fundação firmeza. A Fundação Firmeza cria trabalhos de arte impressionantes em lugares onde pessoas estão socialmente excluídas. A Fundação colabora com pessoas locais usando arte para combater preconceito, criar soluções sustentáveis e atrair a atenção do mundo. Os trabalhos de arte contribuem no sentido de orgulho e consciência nas comunidades onde estão produzidos. Fazendo todos os passos do processo criativo abertamente e guiado pela comunidade, a Fundação contribui para educação da juventude local e motiva residentes a melhorar seu ambiente. Em 2005 nós fomos ao Brasil para filmar “Firmeza Total”, um documentário sobre a juventude nas favelas do Rio e São Paulo e a função da musica rap nas suas vidas. Ficamos muito inspirados pela a energia e criatividade e o poder de fazer alguma coisa do nada. Dirigindo pelo Rio fazendo o filme, ficamos muito impressionados pelo jeito que as favelas são construídas nos morros altos, em lugares proeminentes por toda a cidade. Imaginamos como esta beleza poderia ser acentuada em pintar as casas ou até uma favela inteira, descrevendo uma só imagem, imensa. Em 2006 retornamos ao Brasil para fazer uma pesquisa para este projeto. Visitamos várias favelas, procurando por lugares adequados para pintar, sempre tendo a certeza de que conhecíamos alguém do local para nos mostrar a área. 10
dre urhan no rj,em frente as favelas pintadas
“. AS CRIANÇAS QUE ESTAVAM TRABALHANDO CONOSCO, APRENDERAM A USAR UMA GRELHA PARA MONTAR O DESENHO.” jeroem koolhaas, em outra extremidade da favela
Achamos três casas em Vila Cruzeiro, uma das favelas mais notórias do Rio. Desenhos diferentes eram apresentados para os moradores destas casas e para o líder comunitário. Todos gostaram mais do desenho do menino colocando uma pipa no ar. Algo que todas as crianças fazem na favela. As crianças que estavam trabalhando conosco, aprenderam a usar uma grelha para montar o desenho e técnicas de pinturas diferentes. Em quanto isso, eles ajudaram a documentar o processo com fotografia e vídeo. Após várias semanas rebocando as paredes, escalando andaimes, esperando as chuvas e tiroteios passar e muita tinta, o mural na Vila Cruzeiro ficou pronto no começo de 2007.
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sexta feira 13.04.12 21:34 notorious vs. anônimo
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RIMAS IMPROVISADAS E INTELIGENTES FEITAS POR JOVENS SONHADORES. por
caio
orio
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lucas
karam
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matteus
faria
Sexta feira, 20 horas e tantos minutos, Avenida Paulista. Nos encontramos em frente ao conjunto nacional, atravessamos a avenida à trilha de um guitarrista desajeitado que chamava a atenção (não pela qualidade de seu som). Em frente ao Safra de esquina com a Augusta é o local da batalha, cumprimentei o único cara que conheço, T.H.C (T de Thiago, H de Hashimoto e o C só pra formar mesmo). Diálogo curto, somente o imprescindível. Dificilmente desenvolvo uma conversa com ele. A poucos metros de distância uns punks fazem arruaça, tocando violão e pandeiro freneticamente.
batalha racional
TODA SEXTA NA ESQUINA DA AUGUSTA COM A PAULISTA
stávamos deslocados. As rimas já estavam rolando, uma roda de aquecimento, uma espécie de amistoso. Mesmo nessa hora alguns já se destacavam. Um deles era um moleque que aparenta uns 17,18 anos, boné de aba reta coberto pelo capuz do moletom xadrez. Dentes salientes, olhos esbugalhados e mochila nas costas. Não estranharia se tivesse vindo direto da escola para batalha. Ele rima gritando, com o olhar fixo em um ponto. Parece realmente concentrado no que faz, suas rimas fluem com naturalidade. Consegue acelerar o tempo das rimas, encaixando várias tônicas no mesmo compasso. Parece que sua jovialidade sobressai aos outros. Outra figura de destaque era uma menina com penteado modernoso, a única que aparentava ter uma pegada mais de artistinha. Suas rimas não tinham a mesma força que as do moleque, mas ela tinha atitude e era uma das poucas mulheres rimando. A roda que já estava mais cheia aplaudiu quando ela acertou nas rimas defendendo as mulheres. Continuávamos deslocados, mas agora já não éramos os únicos. O evento inicia com as regras de conduta anunciadas pelos organizadores. “Fumar, só fora da roda, por favor pessoal. E maconha, bem longe.” Mesmo com as palavras cordiais, alguns figuras estouravam um baseado ao mesmo tempo que as mesmas eram ditas. Dito isso, T.H.C. tira um saco plástico com os nomes dos Mcs pra sorteio rasgados em uma folha de caderno. Baja é o primeiro nome sorteado. Um margeio com roupa camuflada e boné estilo “Fidel”. O segundo nome a sair do saco, não nos recordamos. Hashimoto
pede um tema pra platéia, que agora já estava mais cheia. Mesmo com maior número a roda nos parecia um pouco tímida, assim como nós. Uma figura rara sugere um tema, “AÇÃO ANTIFACISTA”. THC olha para o outro organizador com cara de não entender onde ele queria chegar com isso, mas carecendo de uma melhor sugestão, acaba sendo esse o tema da primeira rima. A batalha segue com rimas fracas e desinteressantes. No final de cada round, os organizadores pedem pra platéia fazer barulho pro MC que gostaram mais. Nós já estávamos mais a vontade batendo umas fotos. Próxima batalha, próximos nomes a sair do saco. O primeiro Mc Bivolt, a menina que havia chamado atenção. O segundo, Cauã. Esse era o nome do moleque que rimava com vontade. Foi aí que a batalha começou. Mc Bivolt parecia não respeitar os temas sugeridos, sempre recorrendo ao feminismo. Cauã por sua vez, não parava com as apologias. Aproveitava as gafes da adversária para tirar um sarro, mesmo não sendo o intuito da batalha. Cauã levou essa. De repente um cara nos abordou perguntando onde poderia encontrar as fotos. Era o Baja. Acho que ele reparou que fotografamos ele. Tirou um cartãozinho do bolso e nos entregou. Com as cores da jamaica e a inscrição Tamoio Bantu. Ele já foi explicando que esse era seu projeto social, no qual ensinava crianças fazer rima. Contou que veio de Peruíbe e há uns 6 anos atrás vendeu tudo para investir no rap, contrariando todo mundo, inclusive sua sogra. Outro Mc entrou na conversa, lembrávamos dele de uma outra batalha. Parecia nervoso rimando, não parava quieto e gritava para rimar. Também se 14
interessou pela câmera e como poderia fazer para receber as fotos. Parecia um pouco ignorante sobre as tecnologias e não tinha vergonha de assumir isso. Pediu para adiciona-lo no Facebook, Thiago Fernandes, mas os caras o chamavam de NOTORIOUS. Disse que largou tudo em Foz do Iguaçu e veio para São Paulo viver seus sonhos de rap. Não demorou muito pra ver que a realidade aqui diferia do seu ideal. Agora o rap ocupava o terceiro lugar em sua vida: “Em primeiro lugar é Deus, tá ligado?! Depois é eu, depois é o rap! Se eu não vier antes do rap morro de fome.” Começaram a conversar entre eles, Baja comentou sobre o vendedor de cerveja do role, apelidado “SKOL”. Nós havíamos visto e fotografado ele das outras vezes que colamos. Disse que ele não apareceu essa noite,
batalha racional
“SE EU NÃO VIER ANTES DO RAP MORRO DE FOME.” mc notorious, 24 anos.
thiago hashimoto, organizador do evento
“PARABÉNS PRO CARA SE ELE PODE SE DAR O LUXO”
batalha racional
“TAMOIO BANTU É O MEU PROJETO, ENSINO A MOLECADA A FAZER RIMA!”
facebook. com/kushcrew SAIBA MAIS SOBRE O EVENTO.
porque na semana passada 15 policiais o abordaram, o tiraram da roda e o levarampara um canto. Apreenderam suas coisas e ninguém da batalha se movimentou, sequer interromperam a batalha. Achamos a atitude dos caras meio de cuzão. Era a vez do NOTORIOUS rimar e ele foi pro meio da roda. Mc Bivolt passou entregando uns flyers de uma festa em que ia se apresentar. “Pocket show MC BIVOLT” estava escrito. Começou a pedir para tirar fotos dela, reforçando sua imagem de artistinha. Fez várias poses e pedia para repetir caso não gostasse de sua aparência na foto. Já estava enchendo o saco. Chegou a um ponto que alguns caras pareciam enciumados com a aproximação da MC. “Seus amigos vão ficar bravos com a gente hein!” A MC se tocou e saiu fora. A última batalha que assistimos foi também a melhor.
MC CAUÃ versus NOTORIOUS. Ficamos empolgados com o embate. Colamos no meio da roda para assistir. Conseguimos ficar no pé dos caras para tirar fotos. A batalha começou quente como esperávamos, e ainda no primeiro round rolou um alvoroço. Uma limousine parou no farol em frente a batalha. Pra fora do teto solar estava um cara de uma banda, “Caio da banda Replace” com uma menina de um lado e uma garrafa de whisky do outro. Alguns caras ficaram indignados com a cena, principalmente a figura rara que sugeriu o tema esdrúxulo. Fizeram ofensas que não foram respondidas. Os organizadores logo conteram a dispersão e T.H.C. discursou: “Respeita a batalha caralho! Pára de ser invejoso! Parabéns pro cara se ele pode se dar ao luxo de andar de limousine.” Mesmo com o percalço a batalha seguiu quente. Cauã se enrolou no final 16
de sua rima e Notorious levou o primeiro. O segundo round foi bem parelho e fazer barulho não foi o suficiente para decidir o ganhador, que para os ouvidos tínhamos um empate. THC pediu para que levantássemos as mãos para contar os votos, Cauã ficou com o maior número. Esperávamos um grande embate para o round final, torcíamos para o NOTORIOUS levar. No entanto, Cauã foi muito superior, mesmo querendo que NOTORIOUS ganhasse, fizemos barulho pro Cauã. NOTORIOUS se aproximou de nós, parecia abatido com a derrota. Disse que estava partindo pois as linhas da CPTM estavam prestes a fechar: “ Aqui eu pego o metrô até o Butantã, de lá vou pro trem até o Grajaú, chegando lá ainda ando uma cara, se não sair agora só amanhã de manhã.” Esboçou uma risada e partiu. É t´OIS~!!!
“skol�, vendia cervejas enquanto puxava um.
P O E S I A CO N C R E TA M Ú S I C A C A O S U R B A N O
daniel scandurra
APÓS NOS DEPARARMOS COM OS TRABALHOS ESPALHADOS POR DIVERSOS RELÓGIOS DA CIDADE, DECIDIMOS PROCURAR O RESPONSÁVEL PELAS INTERVENÇÕES QUE DESPERTARAM O NOSSO INTERESSE.
Daniel Scandurra, um jovem formado em artes plásticas, interessado nas possíveis relações entre diversos campos e formas de arte. Integram o imaginário do artista poetas como Haroldo e Augusto de Campos, a música de John Cage, associados ao caos urbano.
Falamos com ele via Facebook e pedimos para que respondesse algumas perguntas sobre o projeto Metaesquina, onde o artista propõe a participação dos transeuntes diante das intervenções nos relógios.
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daniel scandurra
“A POESIA CONCRETA VEM SENDO DILUÍDA LINGUAGENS A FORA” _ o que te inspirou a criar o projeto, e porque levá-lo para rua? – foram alguns motivos sincrônicos.. sempre considerei a rua como suporte e matéria prima d trabalho. em 2010 eu havia acabado de me interessar por poesia concreta (via john cage), e de realizar o poema onde lê-se circularmente variações de “a cor da do r me”. a idéia de ocupar os relógios partiu desse poema, porém, só vingou mesmo depois de eu tomar consciência dos cavaletes de vidro que lina bo bardi projetou para o masp e q foram silenciosamente abandonados. _voce acha que a exposição dos seus trabalhos na rua causa alguma reação nos transeuntes? _com certeza. conheci muita gente a partir disso, novos amigosparceiros de trabalho principalmente.
_ ao estabelecer uma relação entre a poesia concreta e o espaço urbano onde ocorre a intervenção, uma nova dimensão/significação acontece. O que uma pode acrescentar na outra? _desde que foi nomeada assim, a poesia concreta vem sendo diluída linguagens a fora (não assimilada), percebo-a como um meio de percepção e estímulos capaz d sincronizar e interpenetrar metas permanetes (lance de dados, 4’33’’, branco sobre branco…). metaesquina se associa a poesia concreta porque há todo um programa proposto (meio:mensagem:meta:linguagem), nos relógios as colagens incorporam e saltam do suporte via retina para a vida.
“UM PIXO PODE SER UM POEMA CONCRETO E VICE-VERSA.”
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“NOS RELÓGIOS AS COLAGENS INCORPORAM E SALTAM DO SUPORTE VIA RETINA PARA A VIDA.” _ você vê alguma relação entre a pixação e a poesia concreta? _o diálogo se trava em várias camadas, dois exemplos: 1) relacionando um pixo e um poema dito concreto no plano da visualidade: é fácil identificar minúcias comuns no trato com os meios (suporte, material, tipografia, diagramação,) elementos que se cruzam e estão igualmente intrínsecos ao valor estéticomunicativo d cada qual. um pixo pode ser um poema concreto e vice-versa. 2) relacionando pixação e poesia concreta: enquanto a pixação pode ser interpretada como uma linguagem (com direito a todos os códigos e variantes necessárias para se configurar uma linguagem), a poesia concreta não. ela é antes metalinguagem, um meio de influência crítica sobre as linguagens (vê-las como matérias primas) q busca decodificar suas estruturas em âmbitos universais.
_ como a música pode influenciar visualmente no seu trabalho? ouvendo o que antes não parecia música. ( já ouviu o haroldo falando?: http://www. youtube.com/watch?v=0oKlfa0bVWs )
“SEMPRE CONSIDEREI A RUA COMO SUPORTE E MATÉRIA PRIMA D TRABALHO.”
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artigo
REENCONTRANDO O SENTIDO DA FOTOGRAFIA Gostaria de levantar mais alguns pontos de discussão sobre a impossibilidade do retrato fotográfico se ater essencialmente ao referente (no caso o retratado), sem que outras camadas relacionadas à imanência do autor se manifestem: 1ª questão: O jogo de identidades no ato fotográfico.Ao analisar a relação da câmara fotográfica com o rosto humano, Baudrillard faz do retrato um ato de desfiguração e despojamento do caráter do modelo. Confrontada com a encenação que o indivíduo fotografado faz de si, a objetiva não consegue idealizá-lo ou transfigurá-lo como imagem[1]. Barthes, em seu texto A câmara clara, localiza no retrato fotográfico o ponto de encontro e de confronto entre quatro “personagens”: aquele que o retratado acredita ser; aquele que desejaria que os outros vis-
sem nele; aquele que o fotógrafo acredita que ele seja; aquele de que o operador se serve para exibir sua arte. 2ª questão: A diluição do conceito de identidade.Vivemos hoje a ditadura de padrões normalizadores de conduta. A luta da adaptação mimética como única forma de autopreservação – se é que resta ainda algum eu a ser preservado. A afirmação de relações provisórias onde se elaboram socialidades alternativas, momentos de convívio construído a partir de modelos críticos o suficiente para apartar, mesmo que provisoriamente, as inter-relações humanas que nele se efetuam das restrições ideológicas da comunicação de massa. Certamente em função de tal situação, Stuart Hall afirme ser mais apropriado refletirmos sobre tais questões nos dias de hoje, a partir da superação do
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entendimento de identidade, como algo definitivo, pela noção identificação, como um estado cambiante, em permanente processo de transformação. Somente esses dois pontos já nos levam a uma constatação: o modelo se assemelha ao infinito de possibilidades de si mesmo, não importa se real ou mental. Sua redenção pode estar na superação do entendimento do ato fotográfico por uma prática que busca estabelecer relações de interação e empatia entre fotógrafo e fotografado. Como um jogo de verdade. Como lembra Eder Chiodetto, o caminho mais profícuo pode estar na constituição de uma relação, registro repleto de porosidades que denota a dissolução de um ser no outro. Só assim o retrato, tema dos mais recorrentes na história da arte, se potencializa como um acesso à transcendência.