Revista Athos

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Esporte Generosidade Edição 1 • maio 2015

+

EXPERIMENTANDO

DIFERENÇAS

O projeto Experimentando Diferenças leva pessoas a experimentar as sensações dos esportes paralimpicos. pág. 18

Projeto adote um atleta pág. 08

Entrevista com atleta super ação: João Victor pág. 18

Projeto samurai zen

pág. 10 athos

1


2

athos


BEM-VINDO! Inauguramos com muita alegria

brasileiros são muito famosos no

a primeira edição de nossa revis-

exterior por várias conquistas e

ta, a athos. Para você que não

habilidosos insuperáveis. Mas eu

conhece a ideia, somos a versão

nunca vi alguém comentando

EDITOR E DIRETOR RESPONSÁVEL:

esportiva do projeto generosi-

sobre as paralimpíadas, sobre o

Yuri Ricardo

dade, realizado por várias mar-

atleta em certa categoria que

cas editoriais da Editora Globo.

saiu do interior do nosso país,

Nosso

conteúdo

MAIO 2015

inicialmente

sem nenhuma base ou contato

está bastante semelhante e es-

para conquistar uma medalha

peramos evoluir conforme as

e o púbico no exterior. Porque

DIRETOR EXECUTIVO:

olimpíadas e paralimpíadas vão

aqui eles não têm tal valor? Cla-

Lucas Garbin

ficando mais próximas.

ro que não falaremos apenas de atletas dos jogos paralímpicos,

Nossas matérias começaram

pois as olimpíadas também esta-

marcantes e especiais, principal-

rão presentes no Rio em 2016. O

mente por conta da matéria de

único esporte que vai ser deixa-

DIRETOR EDITORIAL:

capa, que foi um achado e tan-

do um pouco de lado nestas pri-

Fábio Silveira

to por parte da nossa equipe.

meiras edições é o futebol, pois

Nossa meta é trazer uma nova

acho que já saturou e está todo

REDAÇÃO

visão sobre projetos esportivos

mundo cansado de ouvir sobre a

EDITOR:

que estão fora da mídia, mas que

escolinha de futebol de fulano, o

Yuri Ricardo

apresentam ideias sensacionais.

projeto futebolístico de ciclano,

Lucas Garbin

Além do foco no ato de pessoas

etc. Porque não tentar fugir do

CHEFE DE ARTE:

com bom coração, queremos dar

comum, assim como as pessoas

Yuri Ricardo

um “spotlight” para atletas com

que nos inspiram? Claro que isso

ESTAGIÁRIO:

história de superação, como o

é só um exemplo do que espe-

Thiago Carlini

João Victor, o primeiro entre-

rar em temas futuros (o futebol

vistado do nosso editorial. Sua

pode sim aparecer, mas alguém

história é exatamente o que pre-

muito “super ação” vai ter que

cisamos para mostrar ao mun-

ter “a ideia”! Espero que gostem

do uma dificuldade que muitas

deste início, e que dure o maior

vezes fica escondida. O podium

número de edições possível. Obs:

DESENVOLVIMENTO

é importante, mas o que ele pas-

Não se incomode com alguns tex-

GERENTE:

sou até chegar lá? Como come-

tos falsos, não estamos treinados

Sabrina Sato

çou? Se essas perguntas nunca

o suficiente para escrever maté-

Dave Grohl

passaram pela sua cabeça, que

rias longas, complexas e sob medi-

EQUIPE:

isso mude daqui para frente,

da, por enquanto. Obrigado!

Gisele Silva Samuel Otaku

pois estamos tentando cativar uma diferente forma de valorização. Os atletas paralímpicos

YURI RICARDO EDITOR

Felipe Neto Paulo César Siqueira athos

3


03 editorial

06

atletismo nas favelas salva vidas

10 08 projeto adote um atleta

10 projeto zen

14

experimentando diferenças 4

athos

escola de voLêi adriana samuel

12 rumo aos jogos paralímpicos

18 16 infográfico atleta super ação


athos

5


Atletismo nas Favelas Salva vidas O atletismo chegou com tudo nas comunidades do Rio. O projeto Futuro Campeão, do Istituto Robson Caetano (IRC), inaugurou em Abril e conquistou o público.

cC

orre, pula, salta e levanta. O

em 10 núcleos. O projeto oferece

atletismo chegou com tudo

aulas de atletismo gratuitamen-

nas comunidades do Rio. O

te para jovens de sete a 17 anos.

projeto Futuro Campeão, do

No Complexo do Andaraí ele vai

Instituto Róbson Caetano (IRC),

funcionar no Ginásio Presidente

inaugurou ontem, no Morro do

Ramos, na comunidade Caçapa-

Andaraí, o quinto núcleo do pro-

va, que pertence ao Complexo

jeto em áreas pacificadas. As au-

do Andaraí no Rio de Janeiro.

las já acontecem no Morro dos

As aulas acontecerão em dois

Macacos e Morro São João, no

turnos, de manhã e à tarde, duas

Jardim Batan e Cidade de Deus,

vezes na semana. As turmas se-

onde foi inaugurado o primeiro

rão divididas por faixas etárias (7

núcleo, em julho. E não vai parar

até 9 anos). As inscrições podem

por aí. Em 15 dias outras cinco

ser feitas no local. A secretária-

áreas com Unidade de Polícia

-geral da Associação de Morado-

Fotos: Jadson Martins

Pacificadoras (UPPs) serão bene-

res da Caçapava, Jandira Andra-

Matéria: Sílvio Bernardo

ficiadas, totalizando mil alunos

de, na grande comunidade.

6

athos


Usain Bold aproveitou a oportu-

entra aqui junto com a polícia e

de sete a 17 anos. No Complexo

nidade para contar aos meninos

substitui essa liderança. Robson

do Andaraí ele vai funcionar no

um pouco mais sobre a história

Caetano, que também é oriundo

Ginásio Presidente Ramos, na

de vida de Robson Caetano. Ele

de uma comunidade carente (Fa-

comunidade Caçapava, que per-

revelou que o campeão conse-

vela Nova Holanda) e venceu na

tence ao Complexo do Andaraí.

guiu se tornar ídolo nacio nal

vida, precisa ser a nova referên-

As aulas acontecerão em dois

mesmo após uma infância difícil,

cia – explica Paulo Ramon, dire-

turnos, de manhã e à tarde, duas

quando ainda menino perdeu

tor do Instituto Robson Caetano,

vezes na semana. As turmas se-

dois irmãos, que foram mortos

que foi ao evento. Representan-

rão divididas por faixas etárias

por envolvimento com o tráfico

do já que ele está fora do país na

As inscrições podem serinaugu-

de drogas. A vida dura na co-

comunidade Caçapava todas as

rou ontem, no Morro do Anda-

munidade Nova Holanda não

bolas sem erro nem nada acon-

raí, o quinto núcleo das no nada

fez Robson deixar de sonhar. E

tecia. Ao projeto do Futuro dos

projeto em áreas pacificadas. As

ele participou de quatro Jogos

Campeão, do Instituto Róbson

aulas já acontecem no Morro dos

Olímpicos, participando de um

Caetano (IRC), inaugurou ontem,

Macacos e Morro São João, no

treino na favela do alemão junto

no Morro do quinto núcleo no

Jardim Batan e Cidade de Deus,

com as crianças e moradores da

nada projeto em áreas pacifica-

onde foi inaugurado, o primeiro

região mais simples da cidade.

das. As aulas já acontecem no

núcleo, em julho do ano passado

Morro dos Macacos e Morro São

e retrasado, sem atrasos assim.

FUTUROS CAMPEÕES

João, no Jardim Batan e Cidade

O atletismo chegou com tudo

de Deus, onde foi inaugurado, o

atletismo

nas comunidades do Rio. O pro-

primeiro núcleo, em julho do ano

jovens de sete a 17 anos. No

jeto Futuro Campeão, do Ins-

que acabou de acabar recente. O

Complexo do Andaraí ele vai fun-

tituto Róbson Caetano (IRC),

projeto oferece aulas de atletis-

cionar no Ginásio Presidente Ra-

inaugurou ontem, no Morro do

mo gratuitamente para jovens

mos, na comunidade Caçapava.

O projeto oferece aulas de gratuitamente

para

Andaraí, o quinto núcleo das no nada projeto em áreas pacificadas. As aulas já acontecem no Morro dos Macacos e Morro São João, no Jardim Batan e Cidade de Deus, onde foi inaugurado o primeiro núcleo, em julho do ano passado, no Rio de Janeiro. Mais do que revelar talentos, atividades VV Robson Caetano, que também é oriunJandira Andrade, disse que a comunidade necessitava de uma iniciativa como essa. Nossas crianças estavam ociosas e não tínhamos nenhuma atividade nesse ginásio. O esport do de uma comunidade e agora vamos ver também o que

Usain Bolt correndo com crianças nas comunidades do Rio de Janeiro.

fazem tambémAgora, a gente athos

7


Projeto ADote Um Atleta 8

athos


Associação Movimento Legal com a intenção de ampliar as oportunidades e saber quem pode participar. As expectativas de todos jovens das atuais e futuras gerações, desenvolveu o projeto Adote um Atleta para possibilitar que crianças de baixa renda possam participar das aulas de iniciação ao esporte.

COMO FUNCIONA? O projeto Adote um Atleta pretende beneficiar 1500 crianças e adolescentes em seus projetos e escolinhas no período de um ano Oscar em uma participação especial no projeto.

para crianças e adolescentes e pessoas necessitadas. A Associação Movimento Legal com a intenção de ampliar oportunida-

Esta modalidade está rendendo

des e as expectativas dos jovens

bons frutos para Assis. Nossas

das atuais e futuras gerações,

equipes de competições em ní-

desenvolveu o projeto Adote

vel regional estadual. Como em

um Atleta para possibilitar que

todo Brasil. Diferentes catego-

crianças de baixa renda possam

rias estão disputando competi-

participar das aulas de iniciação

ções em nível regional, estadual

a atividade esportiva na região.

e nacional. Alunos de nossas esUma das quadras onde ocorrem os treinos

Poderão fazer parte desse

colinhas estão sendo contrata-

projeto. Para isso esperamos

dos por grandes equipes nacio-

contar com empresas ou pesso-

nais e internacionais (Espanha e

as físicas interessadas em cola-

Itália) para integrarem suas equi-

soas físicas interessadas em co-

borar e incentivar por meio de

pes de base. Poderão fazer parte

laborar e incentivar por meio

“adoções”. Oportunidades e as

desse projeto crianças e jovens.

de “adoções”. É direcionado a

expectativas dos jovens das atu-

Arriscarão fazer parte des-

aprendizagem do basquete na

ais e futuras gerações, desenvol-

se projeto. Para isso esperamos

faixa etária de 06 a 16 anos, para

veu o projeto Adote um Atleta

contar com empresas ou pesso-

formação de atletas e cidadãos.

para possibilitar que crianças de

as físicas interessadas em cola-

Esta modalidade está rendendo

baixa renda possam participar

borar e incentivar por meio de

bons frutos para Assis. Nossas

das aulas dará isso esperamos

“adoções”. Oportunidades e as

equipes de competições em ní-

contar com empresas ou pes-

expectativas dos jovens das atu-

vel regional estadual. Como em

soas físicas interessadas em co-

ais e futuras gerações, desenvol-

todo Brasil. Diferentes catego-

laborar e incentivar por meio

veu o projeto Adote um Atleta

rias vão disputar as competições

de “adoções”. É direcionado a

para possibilitar que crianças de

em nível regional, estadual e na-

aprendizagem do basquete na

baixa renda possam participar

cional, com classificatória. Dife-

faixa etária de 06 a 16 anos, para

das aulas dará isso esperamos

rentes categorias vão disputar

formação de atletas e cidadãos.

contar com empresas ou pes-

as competições em níveis. athos

9


Escola de Vôlei adriana Samuel

SAMURAI ZEN

Promover a inclusão social por

tudo. O atleta ainda participou

O Instituto funciona no fundo da

meio do esporte, passando a

de um lanche e distribuiu vários

casa onde eles moram com Renzo,

experiência acumulada na vida

pares de tênis, através da doa-

filho do casal de 5 anos, e o irmão

esportiva para os mais jovens,

ção de seupatrocinador, a Asics.

de Edvane, que também é faixa

ensinando-os a jogar vôlei e a

“Nosso papel aqui é fazer isso”

preta em caratê e ensinaA algu-

fazer amigos. Estes eram alguns

mostrar que precisamos treinar

mas crianças enquanto não arranja

dos objetivos que passavam pela

a experiência muito bacana ter

emprego no ramo. A construção

cabeça da medalhista olímpica

ca experiên.a experiência mui-

do galpão, que fica atrás da casa

Adriana Samueld também foi

to bao destas crianças e jovens,

do casal foi feita com um financia-

lá. Desde então, o projeto segue

passando para cada um deles va

mento que Edvane fez e paga com

cumprindo o importante papel

quando, em 2004, foi decidiu en-

o salário que recebeu da prefeitura.

de contribuir para faro desenvol-

carar isso tudo e mais um pouco.

Quando eu falei pra ele já tinha até

vimento humano destas crianças

Conhecido de perto estea ex-

contratado os pedreiros para o ser-

e jovens, passando para cada um

periência muito bacana ter ca

viço de ontem como todos os dias

deles va quando, em 2004, deci-

experiência muito bacana ter ca

do mês de maio e dezembro.

diu encarar o desafio de estru-

mas apesar de tudo eu sempre

Tinha feito todo um mapea-

turar uma escolinha de vôlei de

quis experiência muito com isso

mento de como eu queria o galpão

praia para crianças e jovens de

todas estas crianças estão em

aqui dentro. Ele ‘tu é doida, muié?’.

baixa renda em Copacabana, no

boas calos com Adriana e eles

Eu disse: ‘tem que ser doido, de

Rio de Janeiro e estado.

claro”. Disse ao levantador que

doido todos nós temos um pouco.’

É claro que o esporte é capaz

brevemente a respondeu. Adria-

tem que ser doida, arriscar”, disse o

de trazer como disciplina, ami-

na comentou: “Ter o Bruninho te

saida da dado cidade de Parauape

zade, humildade, perseverança,

é um grande privilégio. A maioria

trabalho de tambem Adaías e Ed-

superação. Atualmente, a Escoli-

deles não gostaram de falar so-

vane ..tem rendido muitos frutos,

nha de Vôlei de Praia Adriana Sa-

bre isso mas vamos né”.

especialmente no caratê. No ano

muel ser sensata mas do mesmo

passado também. de Parauapebas

com tudo isso agora e a como

levou 16 atletas para o Mundial de

em outros lugar do mundo. Du-

caratê, na Itália - 12 desses eram do

rante uma clínica ministrada

Instituto de treino intensivo atual.

pelo atleta ao nosso para outros para os alunos da Escolinha de adrina samuel completou mais a

10

athos


athos

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Jonnie Peacock, britânico, e Alan Fonteles.

RUMO AOS JOGOS PARALÍMPICOS

ralimpíada de 2016 no Brasil. Para

ção “Caravana Vencedores”, sob o

isso, os participantes do evento

olhar de Sergio Dutti, que retrata

vão vivenciar sensações similares

a preparação e o desempenho dos

àquelas sentidas pelos atletas dos

atletas brasileiros nas Paralimpía-

esportes paralímpicos mundial.

das de Londres foi excepcional.

O que seria uma para limíada na

Desenvolvido para acontecer

Paralimpíada, então, nada mais é

verdade? Nada mais nada a menos

em praças de grandes centros de

que uma Olimpíada cuja disputa é

do que uma olimpíada comum só

compras, apresenta um arena ce-

realizada com modalidades espor-

que para pessoas com deficiência

nográfica de 180m², construída

tivas adaptadas para atletas com

física ou ate mesmo mental, sem

especialmente para esse fim. No

necessidades especiais. A Para-

restrições, aberta a qualquer um.

espaço, o público vai poder inte-

limpíada tem esportes que todos

Paralimpíada, então, nada mais é

ragir e brincar de esportes como

conhecem com adaptações, cate-

que uma Olimpíada cuja disputa

futebol (chute a gol) com os olhos

gorias e formas de disputa diferen-

é realizada com modalidades es-

vendados e utilizando a e basque-

ciadas; mas também tem esportes

portivas adaptadas para atletas

te em cadeira de roda, além de ga-

próprios, como a bocha e o goal-

com necessidades especiais. Para-

mes e tudo mais que com simula-

ball que claramente é mítico. A

limpíada tem esportes que todos

ção virtual de corrida e handbike.

história nos conta que a origem

conhecem adaptações com olhos

Além de incentivar a experi-

de competições esportivas entre

vendados e utilizando adaptadores.

mentação de novas sensações e

pessoas portadoras de deficiên-

O projeto Experimentando Dife-

promover a quebra de paradig-

cias tenha ocorrido nos Estados

renças tem como objetivo formar

mas, simultaneamente ao projeto

Unidos e na Inglaterra, próximo a

um público espectador para a Pa-

o público vai conferir a exposi-

segunda guerra mundial.

12

athos


Aa

história nos conta que a ori-

A classificação do funcional pre-

gem de competições espor-

cisa ser específica para cada es-

tivas entre pessoas porta-

porte, já que uma deu a deficiên-

doras de deficiências tenha

cia pode ter grande impacto na

ocorrido nos Estados Unidos e

performance do atleta em um

na Inglaterra. Existiam muitos

esporte, mas não fazer muita di-

homens que lutaram na Segunda

ferença para a outra pessoa que.

Guerra Mundial e perderam al-

Por exemplo, um corredor que

gum membro ou sofreram algum

tem os dois braços amputados

tipo de trauma grave. Essas com-

sente menos a falta dos mem-

petições serviam para reabilitar

bros que um nadador. Sob essa

os ex-combatentes, além de lhes

nova perspectiva, paraplégicos e

dar um novo rumo, um novo es-

amputados podem hoje competir

tímulo físico e emocional. Os pri-

na mesma categoria. Os esportes

1. Como você começou no esporte

meiros jogos foram organizados

para deficientes visuais são uma

adaptado e paralimpíadas?

num hospital londrino, em 1948,

exceção a essa seu sistema de

Em uma viagem a Fortaleza, um pro-

voltado à recuperação de tudo

classificação é pelo diagnóstico

fessor meu encontrou um grupo de

como antes era mais difícil.

médico da seleção brasileira des-

pessoas que divulgavam o esporte

de o então claramente óbvio né.

paraolímpico e pelo nordeste, então,

Pessoas com lesões na medula

4 PERGUNTAS PARA ALAN FONTELES

óssea. Depois disso outros jogos

Existiam muitos homens que

foram organizados no mesmo lo-

lutaram na Segunda Guerra Mun-

fomos pegar informações com a admi-

cal, mas atletas de outros lugares

dial e perderam algum membro

começaram a participar. Em 1960

ou sofreram algum tipo de trau-

2. Você pratica outro esporte?

que ocorreu a primeira edição dos

ma grave. Essas competições ser-

Gosto muito de competir no lança-

Jogos Paralímpicos, em Rom des-

viam para reabilitar os ex-comba-

mento de disco, mas prefiro o dardo,

de então é adaptado menova rou-

tentes, além de lhes dar um novo

no qual o meu desempenho é melhor

pagem: passou de esporte de rea-

rumo, um novo estímulo físico e

do que antes, como também foi onde

bilitação para de alto nível como

emocional nova. perspectiva, pa-

ganhei a maioria das minhas vitórias e

fazer para reunir atletas com defi-

raplégicos e amputados podem

medalhas da carreira.

ciências diferentes sem ser injusto.

hoje competir mesma categoria.

nistração sobre as competições.

3. Quais as principais mudanças do esporte na sua vida? Quando comecei a praticar, não esperava nem sair do Ceará. Agora, além de conhecer outros estados, já viajei até para fora do Brasil, na america latina e vários países da Europa. 4. Como é sua rotina de treinamentos? Eu treino em Pindoretama (CE), onde moro. Treino os lançamentos todos os dias de manhã e a tarde faço academia. No total, são mais ou menos cinco horas diárias de preparação. Competição de esgrima paralímpica.

athos

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experimentando diferenças O projeto Experimentando Diferenças leva pessoas a experimentar as sensações dos esportes paralimpicos. Tem como objetivo formar um público espectador para a Paralimpíada de 2016 no Brasil. Para isso, os participantes do evento vão vivenciar sensações similares àquelas sentidas pelos atletas dos esportes paralímpicos. Desenvolvido para acontecer em praças de grandes centros de compras, apresenta um arena cenográfica de 180m², construída especialmente para esse fim. No espaço, o público vai poder interagir e brincar de esportes como futebol (chute a gol) com os olhos vendados e utilizando a bola sonora, bocha, corrida e basquete em cadeira de roda, além de games com simulação virtual de corrida e handbike. Além de incentivar a experimentação de novas sensações e promover a quebra de paradigmas, simultaneamente ao projeto o público vai conferir a exposição que faz parte do projeto. 14

athos


O projeto, que rapidamente ganhou o público, consiste em levar às grandes cidades do país atividades esportivas desafiadoras, realizadas em uma arena montada em shoppings centers. Nesse ambiente, monitores ensinam, por exemplo, o público visitante a jogar futebol com os olhos vendados e com uma bola sonora, basquete em uma cadeira de rodas, além de games com simulação virtual de corrida e handbike, dentre outras modalidades do esporte adaptado. “Muita gente não sabe, mas nesta ‘Copa do Mundo’ o Brasil é campeão Foto do acervo da exposição fotográfica.

imbatível no futebol há 13 anos. Troféus e títulos no basquete, judô, canoagem, atletismo, dentre outras modalidades esporti-

“É um trabalho de divulgação

ência e de sensibilizar o público,

vas, são conquistas dos atletas

que mexe com as pessoas. Elas

aumentando seu interesse pelos

brasileiros há muito tempo. Mas

saem com outra perspectiva do

Jogos Paralímpicos do Rio-2016.

enquanto na Europa, por exem-

atleta paralímpico”, avalia Ricar-

Afinal, tudo o que nossos atletas

plo, eles são reconhecidos, no

do Alves, o Ricardinho da Sele-

precisam é contar com o carinho

Brasil eles ainda não são popula-

ção Brasileira de futebol de 5,

da torcida brasileira. Uma torcida

res. Nosso sonho é que os Jogos

considerado internacionalmente

à altura dos desafios que eles vêm en-

Paralímpicos ganhem também

como o “Messi” da categoria.

frentando para fazer bonito em 2016.

o coração da torcida brasileira”,

Cerca de 5 mil pessoas já acei-

diz Fernando Rigo, idealizador

taram o desafio para sentir-se na

EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA

do projeto. A conquista do públi-

pele de uma pessoa com defici-

Como parte do projeto, a mos-

co brasileiro está sendo cada vez

ência e que pratica esportes. Os

tra Caravana Vencedores exibe

mais procurada, na tentavita de

materiais esportivos utilizados

60 imagens do fotógrafo Sérgio

igualar a popularidade dos atle-

no

Diferenças

Dutti, que retratam a prepara-

tas paralímpicos como acontece

são os mesmos usados por atletas

ção e o desempenho dos atletas

nos países europeus.

profissionais, de modo a assegurar

brasileiros nos Jogos Paralímpi-

o padrão de qualidade exigido pela

cos de Londres. Dutti, vencedor

categoria paralímpica mundial.

dos prêmios Vladimir Herzog e

O projeto, que vem a São Paulo pela segunda vez, ficará

Experimentando

instalado na praça de eventos do

Em sua 15ª edição, com um

Abril de Fotojornalismo, expõe

Shopping Eldorado, de 6 a 17 de

cronograma que se estenderá

parte das fotos publicadas no

agosto. Para os atletas envolvi-

até 2015, o projeto tem conse-

livro Vencedores. A foto da capa

dos, o contato com um público

guido atingir o objetivo de dar

é uma das presentes no extenso

cada vez mais abrangente é bas-

visibilidade aos esportes adap-

acervo da exposição de campe-

tante gratificante e motivador.

tados para pessoas com defici-

ões e história paralímpica. athos

15


COMO FUNCIONA O PROJETO: O complexo é montado em espaços públicos apropriados e com permissão. A partir daí, é só aproveitar. Confira as possibilidades para experimentar e curtir:

BASQUETE Participe de uma corrida em cadeira de rodas contra seus amigos para ver quem faz o melhor tempo.

CORRIDA Participe de uma corrida em cadeira de rodas contra seus amigos para ver quem faz o melhor tempo.

FUTEBOL Com os olhos vendados, faça passes e chutes a gol com a bola sonora na simulação de futebol para cegos.

Vários estados já receberam o projeto:

40% 16

athos

17

CAPITAIS


ATLETA SUPER AÇÃO JOÃO VICTOR João Victor compete na classe F37, destinada a atletas com paralisia cerebral. Sua meta atualmente é de alcançar a classificação para os jogos Paralímpicos em 2016. João Victor é um atleta paralímpico do atletismo (arremesso de peso). Atualmente luta para superar duas metas. Uma é atingir os 12 metros competindo no seu esporte, e outra que é conquistar a tão sonhada classificação para os jogos Paralímpicos no Rio em 2016. João Victor compete na classe F37, destinada a atletas com paralisia cerebral.

João Victor: Sempre gostei de esporte, quando comecei a treinar tinha apenas 6 anos, e comecei no atletismo. Nesse esporte eu fazia o pentatlo, que são as cinco provas, mas sempre tive mais facilidade com o peso (arremesso). EG: Como isso aconteceu? JV: Comecei a ter crise convulsiva com 13 anos, e de começo foi um grande susto. Os médicos conversaram com a minha mãe, e ela me explicou direitinho o que estava acontecendo. Eu tinha um problema com

Esporte Generosidade: Você é um atleta

a má formação das veias do cérebro, e a

que compete na classe F37 das paralim-

qualquer momento eu poderia ter outra

píadas, mas você já começou no esporte

crise que agravasse a situação, essa veia

com essa “condição”?

poderia se romper a qualquer momento. athos

17


Fui então fazer a cirurgia. Foi ali

EG: Como aconteceu seu retorno

disse: está bom? Semana que

que tive a complicação, no final

ao esporte (paralímpico)?

vem tem o regional e você tá

do procedimento no hospital.

JV: Eu conheci minha treinadora

EG: Qual foi sua reação ao rece-

fazendo fisioterapia, até então

ber a notícia e perceber que não

eu não estava achando que ia

poderia ter a mesma realidade

voltar a ser um atleta. Eu não

dali em diante? Foi difícil?

sabia e estava a um ano sem ar-

JV: Eu acordei no quarto do hospital e percebi que não conseguia levantar o lado esquerdo da perna. Lembro até hoje que tentei e até achei estranho en-

tinha acontecido, pois não conseguia mexer um lado do corpo. Ela veio com cara de triste, chorando e me explicou: você teve uma convulsão que resultou em uma elegia que tirou o movimento do lado esquerdo do seu corpo. Eu fiquei transtornado, porque sempre fui atleta, sempre tive minha vida agitada, sempre gostei de brincar, de sorrir. Aquilo veio como uma

naquele momento, não acreditava que ia competir novamente. Fiquei muito feliz e ali senti que estava voltando a ser um atleta.

remessar. Eu tive a oportunidade

EG: Você está participando hoje

de tentar, arremessei, e quando

de uma etapa classificatória

ela viu que tinha alcançado 9

para representar o Brasil em

metros, ficou espantada. Eu per-

2016. Quais as expectativas?

guntei se era uma coisa boa. Ela

tão falei assustado com minha mãe, perguntando o que

dentro! Eu fiquei muita animado

JV: Hoje essa competição aqui que eu vou participar é só

“Se você der um espirro, tem que valorizar o espirro que deu, porque quando perder a oportunidade de espirrar, você vai sentir falta”.

uma portinha pra eu poder estar representando o Brasil lá em 2016. Se eu conseguir pelo menos bater esses 12 metros, caramba, vou fazer uma dança doida como comemoração. Eu tenho muitos sonhos, mas o da classificação é um dos que eu mais foco hoje em dia, porque o atletismo pode abrir muitas portas pra qualquer pessoa, assim como ele pode abrir essa porta para eu me supe-

bomba. Caramba, e agora, o

rar e hoje estar aqui contan-

que é que eu vou fazer? Es-

do a minha história. Eu apren-

tou sem o meu lado esquerdo

di de tudo isso que você deve

cara, e agora? Fiquei perdido.

valorizar cada coisinha da vida e do dia-a-dia.

EG: A adaptação é certamente um processo complicado.

EG: Qual foi sua reação ao

Isso deixou cicatrizes?

receber a notícia e perceber que não teria a mesma reali-

JV: Eu tive que me readap-

dade dali em diante?

tar, pois no começo foi tudo muito estranho. Minha perna

JV: Eu acordei no quarto do

as vezes começa a tremer do

hospital e percebi que não

nada. Não consigo nem abrir

conseguia levantar o lado es-

a mão esquerda sem a ajuda

querdo da perna. Lembro até

da outra. Ela também treme,

hoje que tentei e até achei es-

e eu tenho que controlar.

tranho, era novidade.

18

athos

João Victor na etapa classificatória.


athos

19


20

athos


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