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JOVENSDACIDADE TIRADENTES
Estação da Juventude, em Cidade Tiradentes, Zona Leste. Que tem como objetivo promover a integração dos jovens.
MARCELOFREIXE
O deputado estadual Marcelo Freixo é um dos maiores inimigos das milícias, do violento e corrupto acordo entre governo e policiais.
ENTREVISTA
O antropólogo Luiz Eduardo Soares abriu mão do conforto e da segurança dos bastidores governamentais e da academia para iluminar o submundo do crime e da polícia
INFOGRÁFICO
o Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo e um sistema prisional superlotado.
BREVEAPRESENTAÇÃO
AEQUIPE COORDENAÇÃO EDITORIAL Fábio Silveira EDIÇÃO EXECUTIVA Roberto Justus
A revista aborda o tema “Segurança Pública”, da qual muitos de nós não nos peocupamos, ou ainda nem sabemos de fato o que é. É só “Polícia”? “Violência”? A resposta desta pergunta dependerá de cada um, a idéia é mover-se, alterar o jeito que as coisas estão sendo feitas. A proposta da MIRA é discutir , pensar, acrescentar, ter conteúdo para fazêlo refletir com ela, sem perder o bom humor, a discussão e a cerveja depois da aula.
FIQUE
PEIXE
PROJETO GRÁFICO E EDIÇÃO DE ARTE Cadu Costa
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SARA MIRIAN
ASSISTÊNCIA A EDIÇÃO DE CONTEÚDOS Pablo Picasso EDIÇÃO DE FOTOGRAFIA Cadu Costa DESIGN Cadu Costa
FÁBIO SILVEIRA
SARA GOLDSCHMIT
REVISÃO Tarcila do Amaral APOIO ADMINISTRATIVO Pero Vaz de Caminha PAUTA Marcel Duchamp Agnaldo Rossi Débora Falabela Elza Soares Seu Jorge
COORDENADORA MARI PINI
O Moma me copiou!
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LUCAS MÁSSIMO
!! L A ON !!!
ICIONAL C A NS SENSA
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COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Tabyta Yasmin Joícÿ Costìm Yuri Vieira Rafael Campos Lucas Mássimo Sara Goldchmit AGRADECIMENTO Jorge Queiroz
Cadu Costa POR
Com cerca de 500 mil presos, o Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo e um sistema prisional superlotado.
INFOGRÁFICO
CAPA:LUIZEDUARDOSOARES
O antropólogo Luiz Eduardo Soares abriu mão do conforto e da segurança dos bastidores governamentais e da academia para iluminar o submundo do crime e da polícia.
Estação da Juventude, em Cidade Tiradentes,ZonaLeste.Quetemcomoobjetivopromoveraintegração dos jovens, por meio de atividades culturais, esportivas e capacitação profissional
JOVENS DACIDADETIRADENTES
MARCELOFREIXO
VIOLÊNCIANORIO
Fotógrafo Português decidi registrar, em fotos, a falta de segurança no Rio de Janeiro
O deputado estadual Marcelo Freixo é um dos maiores inimigos das milícias, do violento e corrupto acordo entre governo e policiais que buscam assumir o controle de regiões antes dominadas pelo tráfico
PELOMUNDO
Pelo Mundo é um passeio para as questões mais absurdas ou exempláveis , trazendo também dados históricos
JOVENS DA CIDADE
TIRADENTES
Estação da Juventude, em Cidade Tiradentes, Zona Leste. Uma iniciativa das secretarias de Coordenação das Subprefeituras, Assistência e Desenvolvimento Social. P O R C A D U C O S TA | FOTO S TA B Y TA YA S M I N
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local oferece apoio e capacitação educacional para a cidadania. Atualmente, 180 jovens, com idade entre 15 e 23 anos participam dos seguintes cursos: Grafite - Arte, Cidadania e Expressão, DJ e Produção Musical, Clap - Comunicação, Leitura, Análise e Produção, línguas inglesa e portuguesa, Cidadania e Orientação Profissional e Capoeira. O projeto tira as pessoas das ruas, traz conhecimento e liberdade para que a comunidade se expresse. Aqui eu encontrei meus amigos e me aproximei de pessoas com quem eu brigava antes”, comenta Johnny Ferreira Gomes, 18 anos. A Estação da Juventude nasceu do intenso movimento musical da região, que reunia bandas dos mais variados estilos musicais, como funk, hip-hop, samba, pagode, axé e rock. Em 2008, a subprefeitura contratou uma carreta-palco para, uma vez por mês, percorrer a comunidade com atrações musicais. A procura foi tão grande que a Prefeitura decidiu criar um local fixo, mais amplo e dotado de equipamentos adequados.Para a vice-prefeita e secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, essa é uma obra que pode mudar a história de muitos jovens. “Essa iniciativa, baseada em programas culturais, oferece oportunidades para muitos adolescentes melhorarem e terem esperança de mudar suas vidas. Com isso, o jovem se sente acolhido na sociedade e com condições de aprender algo agradável e que possa lhe garantir alguma renda”. A Estação da Juventude fica na rua Pedro Iovine, 61, próximo do antigo terminal de ônibus, em Cidade Tiradentes. Permanece aberto de segunda a sexta-feira em dois horários: das 8h30 às 12h e das 13h30 às 17h. Os interessados em participar das oficinas devem se inscrever no endereço acima ou pelo telefone 2285–7739.
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RESPEITO
ZonaLeste
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O professor de grafite , Yuri Rossi conta que alguns alunos já conseguem colocar em prática o que aprenderam na Estação.“Eu procuro incentivá-los para que tenham iniciativa e entendam também a importância do grafite como forma de expressão. MIRAOUT 2012
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OS M D U E , , O LIS ANO ASIL A I R E E C B T NO SPE RTO DES E O A S F S Ç E I N R T RE A JUS O CO ADO AIO D M M E EMI R O S A D O Ã O C A F I M D C L NS U UM PÚB DA A BRI TRA A A E P Ç DO I S S TR RAN TAI CAN ARE O U S N O I N G E S R R O SE OS AM ARD A, A EAD ERN I U G V C D Í A O E L RAN N G O Z E U S I P G M E U E R DA HO O L DE S TIDO E E LOG O S M I Ó I A UMA R P R B Á O C E S T R D O E O T IA CR AN O D A D ÊNC BSE T UND ANÇ U S R M S EXI I U B X O E G U E D S E S N A DA S DO A QUA IOU AR O A . C N G I A N I R ID UM NU E I OB IA V A IL , DE O R R ORT O F P A R M Ó I E P R E E E P AN S D NS SO A INE AÇA DE J S I E M O U I M L COM AS A DO R IA F C R A Í C A L I T O I ÚBL DA P A EV R ” A ÇA P E R S P POD IDO A N D U N OS “BA TAD S E NOS LAR EM TAS
POR C A D U C O S TA
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ANT ROP ÓLO GO
Seus livros tendem a ser todos ficcionais? O Cabeça de porco não. Esse é um trabalho com MV Bill e Celso Athayde, cada um de nós escreve uma parte. Ali os relatos são todos referentes a situações verdadeiras, com alteração de nomes apenas. Elite da Tropa e Elite da Tropa 2 são ficcionais no sentido de que são estruturados como textos literários, com personagens que são construídos de uma forma literária, mas se referindo a situações reais transplantadas da ditadura militar, veremos que estapara espaços distintos, com outros nomes, para evi- mos indo longe. A sociedade brasileira tar identificação, assim também é o Espírito santo, o mudou para melhor, houve avanços sigoutro livro. O Tudo ou nada, que é meu último livro, é nificativos do ponto de vista econômico, um relato verdadeiro - realista, digamos assim - de da distribuição de renda, da experiência uma história individual, de uma experiência biográ- democrática, mas com muitas limitações e fica existencial de um brasileiro [Ronald Soares] contradições. preso por associação ao tráfico de 2 toneladas de cocaína, que antes se dedicara a velejar e passou E em relação ao sistema prisional? Os dez anos nos mares. presos eram esquecidos e continuam esquecidos, o sistema penitenciário são casas de Conte um pouco sobre a origem do seu horrores, são sucursais do inferno. Nós continprocesso de criação literária. Eu trabalho uamos convivendo com isso, com a brutalidade com entrevistas desde o final da adolescência. policial letal que atinge recordes mundiais, e nós Eu me formei muito cedo, fiz literatura e depois silenciamos a respeito disso sem nos darmos antropologia e passei por muitas experiências conta de que esse é um desafio absolutamente diferentes. Fui aprendendo à minha maneira - crucial, que sem enfrentamento não haverá deporque isso é muito pessoal - que funcionava mocracia que mereça esse nome. Isso aconteceu melhor se eu não ficasse tenso e metodica- no Brasil pós-ditadura, então eu comecei com colemente ligando àquela experiência a anteci- gas e setores minoritários dos movimentos sociais a pações normativas, a prescrições constitu- focalizar essas questões, dizendo: “Olha! Segurança cionais, a tarefas, cronogramas etc. Entendi pública, violência, criminalidade e a forma pela qual que era importante que aquilo fluísse com o Estado lida com isso constituem um campo muito todos os riscos de uma relação humana, importante. Nós temos de ter posições democráticas inclusive com o risco de haver mal-enten- a esse respeito”. Os direitos humanos têm que ser aplididos, esquecimentos. Mas eu acho que cados, direitos que valem para todos, inclusive para os acaba valendo a pena porque o que fica, operadores de segurança pública, os profissionais de polícia, para os que são suspeitos ou condenados, todos fica com mais densidade. eles são seres humanos e devem ser destinatários do EsComo você vê esse otimismo, rela- tado democrático de direito. Essa é uma questão tão evitivamente generalizado, baseado dente, mas que permanece negligenciada.
no momento de crescimento pelo qual o Brasil passa? Eu não chego a Quando subsecretário de Segurança Pública do Rio ter essa expectativa tão otimista [risos]. de Janeiro, entre 1999 e 2000, você denunciou a exQuando a gente define objetivos muito istência de uma “banda podre” da polícia fluminense. ambiciosos a gente tende a se frustrar. E, depois uma polêmica em que teria defendido a Acho que é melhor ter um senso de mo- atitude do cineasta João Moreira Salles, que supostadéstia e reconhecer que a nossa con- mente pagava mesada ao traficante Marcinho VP, você tribuição é diminuta; considerar que, foi demitido pelo então governador Garotinho. Essa é
afinal de contas, nós temos só 22 anos uma história paradigmática para mim porque ela marcou um de experiência democrática - his- ponto de inflexão na minha história pessoal. Eu identifiquei ali toricamente isso não é nada-; e que a possibilidade de uma missão, uma de forma de oferecer uma o Brasil está engatinhando no con- certa contribuição a nossa vida coletiva. Eu começava a minha vívio democrático, mas, com todas gestão, eu era subsecretário de Segurança, depois me tornaria as mazelas, contradições e tragé- coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania do estado do Rio dias, está engatinhando muito bem. de Janeiro com início em 1999. Essa experiência durou cerca de Se nós contrapusermos a situação 500 dias ao todo, em 2000 eu viria a ser exonerado, mas essa exatual com a da minha geração, com periência foi muito rica, muito interessante. Eu comecei justamente todas as suas limitações por causa visitando comunidades para ouvir a população.
Uma ação parecida com as que fazem as UPPs hoje? Isso que se faz nas UPPs nós fizemos no Mutirão pela Paz, exatamente com as mesmas intenções. Fui com a vice-governadora na época, Benedita da Silva, com os comandantes das polícias civil e militar e o comandante do batalhão local ouvir a comunidade. Isso era inusitado. Primeiro, aquele não era um ano eleitoral, como eles próprios disseram, estávamos começando a gestão e estávamos dispostos a ouvir e iniciar um diálogo mais franco. Então, no início, quando eu abri para as inscrições para as falas, houve um grande silêncio. Claro! O temor ainda se impunha! Depois, muita desconfiança: nós podíamos estar sendo hipócritas e manipuladores, eles tinham boas razões pra suspeitar das nossas intenções. Há todo um histórico que confirmava as piores suspeitas. Mas aos poucos foram se soltando, explicitaram a razão de suas suspeitas, e, praticamente, só mulheres falaram. A primeira que se levantou e se dispôs a dar um depoimento disse mais ou menos o seguinte: “Eu até posso dar um crédito de confiança a vocês. Mas antes de qualquer coisa vocês têm de ouvir nossas histórias, nossas experiências”. E continuou: “No dia tal meu filho foi assassinado pela polícia nessas e nessas condições”. Ela se emocionou e nós todos nos emocionamos. O depoimento era tão forte, tão impactante, que os jornalistas - havia muitos, porque aquilo era inusitado - desligaram as câmeras e as luzes em respeito àquela situação. Sobre aquela enorme emoção nós nos calamos, o silêncio se impôs de novo, até que uma senhora se levantou e, na mesma linha da primeira, trouxe sua experiência dolorosa com muita emoção: o seu sobrinho, seu vizinho, seu filho também foram assassinados pela polícia.
Qual, a seu ver, é a questão atual mais importante na área da segurança pública? As questões mais importantes na área da segurança pública da justiça criminal, em seu sentido mais amplo, são as mesmas, são aquelas que já estavam presentes para nós no Brasil antes da ditadura de 64, permaneceram ao longo da ditadura
e ali se intensificaram, e que restaram para nós como legado da ditadura e continuam convivendo conosco. São os desafios mais elementares, que dizem respeito às violações dos direitos humanos. Nós temos muitos problemas na sociedade, mas nós temos exigir que o Estado, pelo menos, cumpra a Constituição, respeite os direitos humanos e se organize para fazer com que suas tarefas sejam cumpridas nos marcos ditados pelo Estado democrático de direito. Enquanto as instituições policiais desrespeitarem os direitos humanos, inclusive os dos policiais, e, principalmente, dos negros e dos mais pobres, nós não vamos chegar a lugar nenhum, não há nenhuma possibilidade de chegarmos a um estágio superior do ponto de vista do convívio coletivo pacífico.
Desde quando você resolveu encarar esse tipo de militância? Não consigo me lembrar de mim antes de um certo sentimento de missão – e não significa que eu tenha cumprido –, mas eu tenho buscado ser fiel à missão. Acho que por conta da formação religiosa que tive, com jesuítas, família católica com um viés de engajamento religioso, e acho que mesmo me afastando do catolicismo nunca me afastei de que eu tinha que desempenhar algum papel a partir de alguns valores, e para isso serve a vida. Eu não estou dizendo que essa seja uma ideologia válida para todos; ela não foi objeto de uma decisão, de um cálculo ou de uma reflexão. Eu me conheci a partir desse campo, ele foi constitutivo para mim. Então, questões relativas ao ceticismo, às hesitações existenciais e à depressão, nesse contexto de falta de perspectivas, nunca estiveram presentes para mim. Essa ideia de falta de uma missão, falta de um compromisso, isso nunca se colocou para mim. Houve uma mudança nas linhas dos compromissos.
“Só quando a gente pode esquecer o que nos foi relatado é que estamos confortáveis a ponto de considerarmos essas experiências parte da nossa própria experiência”
Para que o ser humano ind ividual seja respeitado é indispen sável que nós encontremo s formas de convívio coletivo e de controle do uso do poder para que poderes quaisqu er, minúsculos e capilares , não se imponham violando direitos individuais
A nossa ideia era suspender essas incursões bélicas nas favelas e oferecer segurança pública 24 horas, que é um serviço público ao qual todos têm direito, não só as classes médias ou bairros de elite. As comunidades não eram inimigas da segurança nem cúmplices de bandidos. Elas eram e são destinatárias dos serviços públicos.
LOTACAO MAXIMA Superlotação é inconstitucional e causa torturas físicas e psicológicas.
Faltade condições Ao ser submetido na semana passada pela Revisão Periódica Universal - instrumento de fiscalização do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU -, o Brasil recebeu como recomendação “melhorar as condições das prisões e enfrentar o problema da superlotação”. De acordo com os dados mais recentes do Depen (Departamento Penitenciário Nacional), de 2010, o Brasil tem um número de presos 66% superior à sua capacidade de abrigálos (deficit de 198 mil). “Pela lei brasileira, cada preso tem que ter no mínimo seis metros quadrados de espaço (na unidade prisional). Encontramos situ-
CRIMINALIDADEEMALTA O Escritório das Nações Unidas Sobre Drogas e Crimes divulgou em outubro estudo global de Homicídios 2011 (O documento reuniu informações de 207 países). O Brasil está em terceiro lugar no índice de criminalidade na América do Sul
Assassinatos por 100 mil
habitantes
22,7 BRASIL
33,4
COLÔMBIA
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VENEZUELA
OBRASILEIROTEMMEDO
Para cada 3 brasileiros 1 diz ter sido vítima de assalto, 58% não deixam filho sair à noite, 53% não andam sozinhos no seu próprio bairro depois que escurece, famílias acabam tomando a decisão de sair de bairros onde impera a violência, em razão da insegurança pública o valor dos imóveis despenca.
Com cerca de 500 mil presos, o Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo e um sistema prisional superlotado. O deficit de vagas (quase 200 mil) é um dos principais focos das críticas da ONU sobre desrespeito a direitos humanos no país.
Segundo a organização não-governamental Centro Internacional para Estudos Prisionais (ICPS, na sigla em inglês), o Brasil só fica atrás em número de
presos para os:
FONTE: Para ONU, prisões superlotadas são um dos principais problemas de direitos humanos no Brasil
O deputado estadual Marcelo Freixo é um dos maiores inimigos das milícias, do violento e corrupto acordo entre governo e policiais. Por isso sua cabeça está a prêmio. P O R C A D U C O S TA | FOTO S J O R G E B I S P O
Rio de Janeiro está eufórico. A cidade se prepara para se tornar o centro do universo: sede da final da Copa do Mundo de 2014, da Olimpíada de 2016 e da Petrobras, empresa que neste momento esburaca a camada do pré-sal no fundo do oceano para trazer à superfície trilhões de litros de petróleo. A polícia sobe morros e instala UPPs, as Unidades de Polícia Pacificadora, que colocam traficantes para correr. Na fachada do hotel Marina, na beira da praia do Leblon, um imenso cartaz declara que “O Rio é dos bons” e agradece: “Obrigado, Força Policial”. Os famosos botecos da cidade são só sorrisos, celebrações de negócios fechados e reuniões sobre futuras oportunidades. Governos municipal, estadual e federal, pela primeira vez aliados entre si, com amplo apoio da mídia, em especial da carioca Rede Globo, comemoram os bons tempos. Em meio a tanto oba-oba, um sujeito insiste em jogar areia na festa. O deputado estadual Marcelo Freixo, contrariando o otimismo generalizado, afirma com todas as letras: “O Rio nunca correu tanto risco de cair nas mãos da máfia”. Ele se refere às milícias, formadas por policiais, aliadas de vários políticos locais e paparicadas por todos os principais partidos. “Elas infiltraram o sistema todo”, diz ele. Até a casa onde ele trabalha, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Freixo calcula que algo em torno de 90% dos deputados estaduais por lá têm ligações com centros sociais, as instituições que proveem serviços que deveriam ser papel do estado em comunidades carentes. E que geralmente são o braço comunitário do poder mafioso das milícias.Por causa dessa mania de atrapalhar festas, Freixo já recebeu 27 ameaças de morte e só anda pela cidade escoltado por policiais à paisana. Não pode ir à praia, apesar de morar pertinho do mar, e só vai ao cinema se planejar com antecedência. As ameaças começaram em 2008, quando Freixo comandou uma CPI que investigou as milícias e terminou com a prisão de mais de 500 pessoas, incluindo vereadores e deputados. Apesar dos indiciamentos, ele afirma que nenhuma das mais de 50 providências sugeridas pela CPI foram colocadas em prática e que, como
consequência, o poder miliciano não parou de crescer. “Havia 170 milícias quando fizemos a CPI. Agora são pelo menos 300”, diz. Em agosto deste ano, a juíza Patrícia Acioli, eleitora de Freixo que vinha punindo milicianos, foi morta por policiais – 21 balas. De lá para cá, as ameaças contra o deputado aumentaram. Revelou-se que um policial tinha recebido a oferta de R$ 400 mil para matá-lo. Em novembro, com o estresse em sua família beirando o insuportável, ele resolveu sair do Brasil e ir passar duas semanas na Espanha, para se proteger dos assassinos e permitir que a polícia reforçasse sua segurança e blindasse seu carro. Freixo foi a inspiração para o personagem Diogo Fraga, que, ao lado do Coronel Nascimento, foi um dos protagonistas do filme Tropa de elite 2, que expôs as conexões entre o crime organizado e o poder público no Rio e no Brasil todo. Assim como o personagem do filme, ele é historiador, ativista de direitos humanos e deu aulas de história para detentos em presídios. Assim como Fraga, também Freixo conquistou a confiança tanto dos presos quanto de vários policiais do Bope e, antes de virar político, participou diversas vezes de negociações entre a polícia e detentos para encerrar rebeliões na cadeia. “O filme só não reflete a realidade quando retrata minha vida pessoal”, diz. “Eu não me casei com a ex-mulher do Coronel Nascimento.”Eleito deputado estadual pelo PSOL com 13.507 votos em 2006, Freixo reelegeu-se em 2010 com a segunda maior votação do estado: 177.253 votos, menor apenas que a do apresentador policialesco Wagner Montes. Ele é um dos parlamentares mais admirados da casa, inclusive por políticos de direita. É também um dos deputados mais ativos no Palácio Tiradentes. Durante as sessões plenárias, enquanto a maioria dos deputados se agrupa em animadas rodinhas festivas, ele se mantém sério, concentrado, fazendo anotações e discordando frequentemente dos oradores. Muitas votações acabam com apenas um voto contrário quebrando a unanimidade: o dele. Para entrevistar Freixo, a reportagem da MIRA apareceu de manhã no gabinete do deputado. A conversa transcorreu sob o olhar vigilante mas discreto dos policiais à paisana. Os encontros eram agendados pessoalmente, por receio de que houvesse um grampo no telefone e que nossa combinação desse pistas sobre a agenda de Freixo. Apesar da pressão de viver sob ameaça de morte, Freixo se mantém bem-humorado, faz piadas sobre a política no Rio e não se arrepende de nada. “Eu faria tudo de novo”, diz.
OLHARES
As imagens sempre disseram mais do que qualquer palavra, confira o resultado deste ensaio no Rio de Janeiro
FOTÓGRAFO PORTUGUÊS
João de Carvalho
Sou fascinado pela violência nas grandes cidades, decidi registrar, em fotos, a falta de segurança no Rio de Janeiro / O resultado, você confere nas fotos a seguir. Algumas delas dizem muito.
PELOMUNDO VÍTIMADA INJUSTIÇA Após quatro décadas e dois filhos, Kim Phuc finalmente conseguiu olhar para a imagem da menina correndo nua e abraçar o poderoso significado que ela passa. “Desejei ter morrido, diz vietnamita queimada por napalm há 40 anos”
ARTE PROTESTO Seu nome de guerra é Banksy. Ele é hoje o grafiteiro mais famoso da Europa e talvez do mundo. Suas obras são marcadas pela ironia, a crítica e a tiração de sarro mais descarada.
Na imagem, a menina sempre vai ter 9 anos e gritará “Muito quente! Muito quente” ao fugir correndo nua de um vilarejo vietnamita com partes do corpo cobertas por Napalm.
SEMNARIZ SEMORELHAS O retrato de uma mulher afegã cujo nariz e orelhas foram cortados pelo marido na tentativa de escapar de seu casamento forçado. Aos 18 anos, ela ousou desafiar o Talibã e fugiu para a América para fazer uma cirurgia reconstrutiva.
MEDO! A foto de de 1984, em um campo de refugiados no Paquistão, durante a invasão soviética no Afeganistão. A menina conheceu o horror da guerra, vivenciou a perda dos pais, e a perda do vilarejo em que vivia com a família.
DIREITOS! OPRIMIDOS A menina de 14 anos que enfrentou o Talebã é baleada e o caso tem dominado o noticiário do Paquistão e provocado revolta dentro e fora do país.