Informação Educação | IERGS 2014

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Edição 2014/1 Ano 5 - N. 13 IERGS - Instituto Educacional do Rio Grande do Sul

NEM TUDO É BULLYING A dor do amadurecimento pode ser uma ótima oportunidade para educar Pág 08, 09 e 10

“o educador não deve se omitir”

Afeto na aprendizagem

Brincando de matemática

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Pág 07

Pág 13

Sexualidade



índice 04 | Entrevista

EXPEDIENTE

05  |  Um Novo Capítulo no Ensino 07  |  O Afeto na Aprendizagem 08  |  Nem Tudo é Bullying 11  |  Ludicidade: páginas par mudar o mundo

Revista Informação Educação IERGS – Instituto Educacional do Rio Grande do Sul Diretoria Geral: Saul Hoegen Diretoria de Pós-Graduação: Silvana Hoegen Jornalista: Jonas Amar (MTB/RS 14.065) Arte : Guilherme Vargas Mídia: Diogo Luz Pinto Marketing: Danielle Siqueira comunicacao@iergs.com.br

12  |  Sexualidade em Sala de Aula 13  |  Brincando de Matemática

Editorial A educação direciona a sociedade através dos seus indivíduos. Portanto, cabe a cada um dos atores envolvidos no ‘processo do saber’ assumir que possui grande importância para o desenvolvimento de crianças, jovens e adultos. Ensinar é algo frágil e provocador, que invade e transforma as pessoas o tempo todo. Por isso, expandir nossos conceitos sobre as inúmeras realidades é fundamental em respeito às individualidades do ser humano. Essa edição da Revista Informação mostra como o professor também se transforma no orientador e amigo. É o mestre e o exemplo de mudanças internas, pessoais e sociais. Contrapondo os desafios enfrentados pela educação no século 21, destacamos como o comprometimento

pedagógico é determinante para modificar o ensino no Brasil e ainda inspirar as futuras gerações de cidadãos. Nesse sentido, o afeto surge como uma das principais ferramentas educativas. Nosso convite é para que você reflita sobre o que é educar. Há ou não uma superproteção sobre as crianças? Se os pequenos não podem experimentar, como saberão quem são ou serão? Hoje, nos encontramos assim, discutindo a realidade à volta, a violência das sociedades infantis e os casos de sucesso. Afinal, o aprender desperta, mas o educar, também.

Boa leitura.


4 Como escolheu ser professor?

EN tre vis ta Professor há 43 anos e referência no desenvolvimento do trabalho voluntário entre jovens, Carlos Alberto Barcellos conta um pouco da sua história e da paixão de estar em sala de aula. Aos 63 anos, o professor de sociologia em Porto Alegre segue dando aulas e construindo centros de voluntariado juvenil.

Professor Carlos Alberto Barcellos, no colégio Maria Imaculada, de Porto Alegre

Quando tu nasces para algo, existe uma mágica que ‘mexe os pauzinhos’. Com 17 anos, assumi uma sala de aula com 35 crianças e ensinei português e matemática, mesmo sem curso de magistério. Aos 19 fiz o curso, me formei e fui dar aulas no La Salle Canoas.

São quantos anos de profissão? Já passei por umas dez escolas em 43 anos de profissão.

Somente escolas? De 1977 até 1996, eu fui voluntário da ONG Anistia Internacional. Eu tinha o objetivo de trabalhar a questão dos direitos humanos em sala de aula com os jovens. Nesse período, aqui no RS, discuti com a ONG a questão da liberdade de Nelson Mandella, da ditadura no Chile, Argentina e no Uruguai. Em outro período muito importante, ajudei um grupo de meninos e meninas que resolveu atuar com sexualidade, trabalho comunitário, meio ambiente e terceira idade. Havia uma ebulição de atividades sociais na minha escola, o que fez surgir a Parceiros Voluntários, liderada por Jorge Gerdau Johannpeter.

Que outros projetos o professor participou? Em janeiro de 2003, surgiu o projeto ‘Tribos’, levantando as bandeiras do meio ambiente, cultura e educação para paz. O ‘Tribos na Trilha da Cidadania’ cresceu e tem hoje em torno de 500 escolas participando no RS e desenvolvendo trabalhos nas suas comunidades. Ainda em 2003, a Fundação Thiago de Moraes Gonzaga criou o ‘Fórum Vida Urgente’, onde passamos a debater conhecimentos para diminuir as mortes e a violência no trânsito. A partir dai me dediquei à construção de centros de voluntariado juvenil e sigo até hoje nos programas voluntários do colégio Maria Imaculada. Quantos alunos já passaram pelo ensino do professor? Ao longo da minha carreira, nesses 43 anos, eu imagino que atendi cerca de 40 mil alunos.

Qual a maior dificuldade enfren-

Foto: divulgação SINEPE/RS

tada pelo professor no trabalho? Em sala de aula, quando começou a questão do protagonismo juvenil, a grande dificuldade foi poder engajar mais gente. Hoje o reconhecimento público é um atestado de que há uma sociedade atenta ao trabalho que reduz índices de bullying e agressividade nas escolas. São experiências que envolvem o afeto.

Há diferenças entre escolas públicas e particulares na questão do voluntariado? Com o colégio Maria Imaculada ganhamos o terceiro lugar no prêmio Escola Voluntária 2013. E das dez escolas finalistas no prêmio, apenas duas eram particulares. No RS, das 500 escolas integrantes do Parceiros Voluntários, 75% são públicas, quebrando o paradigma de que somente instituições particulares são capazes de reproduzir experiências positivas como essas.

O que o motiva mais a continuar trabalhando com educação? O que me alimenta em ser professor é o prazer que sinto de entrar numa sala de aula. É o mesmo que eu senti aos 16 anos. A grande força que me faz seguir adiante são os jovens.

O que falta para alcançarmos uma educação melhor? Falta algo que é fundamental: força política e um estado gestor. É preciso aplicar na educação o que manda a Constituição. Professores bem formados e remunerados e escolas aparelhadas para atender às demandas dos alunos. A pergunta que fazemos hoje é: como nossos jovens aprendem? Precisamos de um projeto claro de formação.

Que nota a nossa educação merece hoje? Vou ser bonzinho, mas vou dar uma nota de seis a sete, em função de tudo que falta. Se universalizar os problemas das escolas públicas, vamos cair no erro de tratar todas da mesma maneira. E o mesmo acontece com as escolas particulares. Infelizmente, ainda não consigo dar aulas em uma escola da periferia da mesma maneira como dou em uma particular.


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Um novo capítulo no ensino: o comprometimento pedagógico A dedicação de pedagogos com o ensino inicial tem se tornado uma poderosa alternativa na educação antecipada de crianças Elisandra Vedovelli há três anos busca seus pequenos alunos dispostos em fila nas áreas comuns do Colégio Marista Rosário, de Porto Alegre. De mãos dadas com os ajudantes do dia, ela os guia à sala de aula para mais uma etapa no aprendizado delas, deixando de ser a tia Elis para assumir o papel da professora Elisandra. Pedagoga há sete anos, nada parece ser desproposital nas

depois da aula eu recebo esse carinho de beijos e abraços na saída e até brinco com eles: “há quanto tempo não nos vemos, não é mesmo?”.

suas ações em aula: a própria escolha seus ajudantes possui toda uma política interna, que todos seguem à risca dentro do universo particular do Colégio.

- É uma tendência a socialização escolar acontecer cedo. Por isso o nosso trabalho é bastante lúdico, para que as crianças consigam se adaptar, sendo estimuladas de acordo com a idade delas. Algumas começam na escola lendo e escrevendo, por exemplo, enquanto outras ainda não chegaram a esse processo. Então o que fazemos é um tratamento do aluno e não de um todo. Pensamos todas as possibilidades para que a criança não se sinta invadida – comenta a professora Elisandra.

- Os ajudantes são escolhidos seguindo uma ordem alfabética, depois por idade, ou também do menor ao maior. Tudo é conversado e explicado, assim, antes mesmo das aulas começarem, eles já desenvolvem certa auto-organização. As crianças adoram estar juntas e são sempre muito carinhosas – explica a professora Elisandra – Mesmo

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A troca de carinhos vindos de quem ainda nem completou meia dúzia de anos não está totalmente descrita nos livros acadêmicos, mas é parte integrante de ser professora. Elisandra experimenta essa realidade desde o magistério, no começo da sua carreira. A pedagoga sempre atuou entre o aprendizado e o afeto das crianças, e percebe que há um processo educativo escolar diferente, despertado cada vez mais cedo entre as turmas iniciais.


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Deficit de atenção Nos Estados Unidos, pelo menos 9% das crianças em idade escolar foram diagnosticadas com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Na França, o percentual é inferior 0,5%. Os psiquiatras americanos consideram o TDAH como um distúrbio biológico e tratam com medicamentos estimulantes psíquicos. Os franceses veem o TDAH como uma condição médica que tem causas psicossociais. Em vez de tratar os problemas de concentração com drogas, eles optam pela psicoterapia ou aconselhamento familiar.

Frustração: as crianças precisam dela Não importa onde ou quando, decepções acontecem. E estará tudo bem. Tentar não desapontar as crianças só as está privando de uma experiência importante. As crianças também precisam entender que, ao longo da vida, é normal se decepcionar. Atender ao desejo delas é agradável, mas nem sempre deve-se satisfazê-los.

Parte dessa preocupação com o indivíduo é difundida nas propostas das instituições de ensino, mas se desenvolve mesmo quando há interesse dos profissionaisde educação. Em função do olhar educativo, muitos projetos escolares e conteúdos programáticos estão no rol das responsabilidades dos pedagogos. Por outro lado, é comum encontrar pontos de dificuldade e insegurança frente às modificações sociais. Samantha Lima, pedagoga e doutora em educação, diz ser necessário buscar uma nova reflexão sobre o que é o processo educativo. Para a professora convidada nos cursos de pós-graduação do IERGS/UNIASSELVI, o agente escolar deve vivenciar as transformações existentes e buscar novas formas didáticas para promover o processo de ensino aprendizagem com seu aluno. - É preciso entender o desenvolvimento tecnológico, assim como o aprimoramento de novas maneiras de pensar sobre o saber e o processo pedagógico, sem que o pedagogo seja um mero espectador dos avanços estruturais de nossa sociedade, mas um instrumento de enfoque motivador desse processo - destaca a doutora. A velocidade com que algumas descobertas acontecem pode transformar a sala de aula em um ambiente de pouca relevância para o conhecimento. O pedagogo, nesse caso, atua em uma

sociedade de mudanças rápidas, onde a educação se apresenta como um fenômeno de muitas faces. O ensino contemporâneo exige um profissional cada vez mais dinâmico e flexível, que transforme os desafios em possibilidades de aprendizado. E esses desafios surgem todos os dias, garante a professora Elisandra Vedovelli. - Meus alunos de séries iniciais trouxeram para a sala de aula questões sobre os protestos públicos de 2013, discutindo o por quê de as pessoas estarem reunidas pelas ruas de Porto Alegre. Isso também é o reflexo de que os pais mantêm a cultura de ler e conversar com eles sobre os fatos. No Dia do Índio fiz questão de conversar com eles sobre quem é essa figura hoje, onde e como vive e o que faz. Essas crianças já trazem uma bagagem muito grande que precisa ser aproveitada para a educação delas – garante a pedagoga. Sensível, o educador pedagogo permite atuar nas várias instâncias da prática educativa. Mesmo assim, trata-se de uma aptidão a ser estimulada continuamente, com vistas a dar condições para a produção de novos saberes, habilidades, atitudes e valores, tanto ao profissional, quanto ao pequenino.

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O afeto na aprendizagem Contatos mais humanizados têm aproximado professores e alunos e vêm contribuindo para casos de sucesso e superação Hoje pedagogo, o especialista em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), Libanês Medeiros de Lima, lembra perfeitamente o nome da primeira professora: Maria Amélia, ou Tia Amélia, como recorda melhor. Poucos esqueceriam um personagem tão marcante do início das suas vidas sociais. Na maioria dos casos, professores são lembrados pelo destaque profissional e humano que exercem sobre os estudantes. Trata-se de um vínculo especial que ultrapassa o relacionamento mestre e aluno. É uma convivência afetiva, com troca de experiências, preocupações e amizade. Pedagogo especializado em gestão e planejamento escolar e especialista em Educação Infantil, o professor/ tutor do IERGS/UNIASSELVI Pablo Rodrigo Bes tem certeza que a afetividade proporciona um aprendizado bem mais prazeroso. Para ele, o vínculo afetivo permite ao aluno transformar o momento da instrução em uma experiência realmente significativa, envolvendo os sentidos e as emoções. - O que não podemos esquecer é que, quando falamos em afeto, tratamos de situações e experiências que nos atingem positiva ou negativamente desde o nosso nascimento. É a mais pura condição de ser “afetado” por alguma dessas vivências. Os professores precisam ter essa percepção, pois muitos alunos trazem consigo inúmeros problemas sociais e essas relações afetivas já deixaram marcas na formação de sua personalidade e caráter – adverte Bes.

Mas como buscar o afeto? Para o pedagogo, o primeiro ponto é o interesse. Importar-se com as suas atividades e com o aluno é manter um olhar diferenciado sobre a profissão. Isso ajuda a perceber os sentimentos dos estudantes, ouvi-los e a respeitá-los. Entretanto, mesmo que Alunos do IERGS Jaqueline W. dos Santos (E), Kéli Teixeira da Silva (C) e Bruno todos os professoPimentel Codemartori em palestra na faculdade, ao lado do professor Libanês Medeiros de Lima (D). res sejam capazes de desenvolver relacionamento de amizade com seus alunos, tudo demanda tempo buscar um copo de água e de ser bem e dedicação. mais independente – diz Libanês. - É necessário que se estabeleça uma relação de confiança, onde o aluno possa enxergar na pessoa do professor alguém com quem ele pode contar em todos os aspectos, não só em sala de aula – salienta o pedagogo. Depois de ter estudado com outros profissionais também marcantes na sua trajetória, hoje Libanês é orientador de alunos PCD (Pessoa Com Deficiência), na faculdade IERGS/UNIASSELVI. Alguns surdos, outros cegos, ou com necessidades cognitivas específicas, o professor reconhece que muitos deles demandam maior atenção. Mas deixa claro que não os vê como pacientes e sabe que eles estão na faculdade com mesmo objetivo de todos os demais estudantes: aprender. - O aluno PCD geralmente vem de um berço familiar onde recebe muito afeto, o que pode resultar em certa incapacidade. Na universidade, ele entra na sala de aula tentando reencontrar no professor o mesmo auxílio que tinha em casa, porém ele ganha a descoberta de ir ao banheiro sozinho,

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O pedagogo vê nas possibilidades de independência do aluno um verdadeiro processo de inclusão, onde o professor sabe que possui um estudante que deseja adquirir conhecimento e ser ouvido. É questão de encontrar a melhor maneira de atingi-los e ajudar na conquista dos seus objetivos. Pablo Bes é defensor da ideia de que o investimento nas relações afetivas deve sempre ocorrer e em qualquer nível da educação. - Muitos estudantes encontram no professor o amigo e conselheiro com quem podem contar em momentos ruins. Da mesma forma, também já encontrei apoio nos meus alunos e isso foi determinante para a superação dos problemas - completa Bes. É visto que mestres saibam dar voz a seus alunos, pois é desta relação, do diálogo interessado entre as partes, que nascem os conhecimentos e os valores realmente significativos e úteis. A preocupação pode ser determinante para a construção de uma relação de aprendizagem que seja cada vez mais saudável e humanizada.


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NEM TUDO É BULLYING Comportamentos agressivos entre jovens geram infinitos debates sociais, prendendo a atenção de educadores e familiares. Embora combatida com frequência, nem toda conduta provocativa é preconceituosa e pode, sim, ser uma oportunidade para educar

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9 Ainda na adolescência que lhe confere os seus 14 anos, a estudante porto-alegrense Julia Duarte da Silva percebe em seus amigos da oitava série certa alegria em brincadeiras que exploram qualidades físicas de outros adolescentes do grupo. Para a jovem, a farra às vezes surge por causa da limitação na fala de uma colega – o que é bastante comum em função dos aparelhos ortodônticos tão usados pelos adolescentes – ou, ainda, em razão do sobrepeso de outro amigo. Em casos mais ousados, comentários da vida pessoal ou envolvendo familiares viram piadas maliciosas nas inúmeras formas de expressão existentes hoje entre os estudantes. Nada incomum, atitudes como essas dão início a cenas agressivas dentro e fora das salas de aula. - Alguns anos atrás, uma menina realmente tinha a intenção de me bater na escola, mas eu nunca soube o porquê. Fiquei com medo, como qualquer adolescente, e falei para a minha família. Eles foram ao colégio e conversaram com a diretora e o susto nunca passou disso – relembra a jovem Julia. Certamente, a confiança de Julia em seus familiares, a preocupação deles e a disposição dos educadores formaram uma condição favorável para resolver o problema ainda pontual. Mas nem sempre os acontecimentos são percebidos de forma tão fácil, o que pode deixar a vida escolar bem mais árdua para os adolescentes. - Crianças querem chamar atenção porque às vezes se sentem inferiores, eu acho. Talvez agredir os outros seja uma forma de eles voltarem a se sentir vistos – sugere a estudante. Em um contexto geral, a sociedade já identifica a prática de bullying através de algumas características peculiares de agressão física e psicológica e também em comportamentos mais destrutivos. Para colaborar com o combate à violência, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançou uma campanha com cartilhas alertando pais e educadores a como prevenir e enfrentar situações como essas. Para ajudar quem está mais vulnerável, as cartilhas trazem informações reunidas pela médica psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva e mostra como lidar com esse fenômeno na comunidade e na escola. - As crianças tendem a se com-

portar em sociedade de acordo com os modelos domésticos. Muitos deles não se preocupam com as regras sociais, não refletem sobre a necessidade delas no convívio coletivo e sequer se preocupam com as consequências dos seus atos transgressores. Nos casos de bullying, a instituição escolar é corresponsável, pois é nela que os comportamentos agressivos e transgressores se evidenciam ou se agravam na maioria das vezes - reflete a psiquiatra Ana Beatriz. De fato, algumas escolas públicas vêm mostrando uma postura mais efetiva contra o bullying e já contam com orientação padronizada diante a maioria dos casos, comunicando os Conselhos Tutelares e as secretarias de educação nessas situações. Por outro lado, algumas instituições tendem a encaram os casos de bullying como um aspecto negativo de imagem corporativa e o tratam de forma mais isolada e interna. Pedagogo especialista em educação em Porto Alegre, Jonas Camargo reforça que o bullying é um conjunto mais específico de ações agressivas. Brincadeiras inconvenientes, conflitos ou ofensas pontuais que resultam em uma mágoa ou raiva passageira, em princípio, não se encaixariam nas suas práticas. Segundo o professor, estas seriam sim o resultado de atividades culturais, sem violência gratuita e persistente. A vítima de bullying, por outro lado, é exposta a uma opressão infundada e repetitiva, causando prejuízos que podem ser irreversíveis em muitos casos. - Nossa sociedade vem se construindo através dos erros. Somente assim sabemos como devemos acertar. Com as crianças não é diferente. Elas precisam errar seus comportamentos umas com as outras para que possam aprender a forma correta, com auxílio de um adulto – garante Camargo. A DOR DO AMADURECIMENTO Com a popularidade, o termo bullying navega entre o conceito de violência e o rótulo raso para pequenos conflitos no ambiente escolar ou desentendimentos aparentemente normais. Para o bem da garotada, esse não é o melhor dos cenários, defendem os especialistas. - Considerar tudo bullying é tão

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10 nocivo quanto achar que nada é – alerta José Ernesto Bologna, especialista em psicologia e fundador do grupo ETHOS - Desenvolvimento Humano e Organizacional. Uma das primeiras a levantar essa discussão foi a doutora em psicologia e pesquisadora inglesa Helene Guldberg. A doutora denuncia o florescimento do que ela chama de “indústria do bullying”, na obra ‘Reclaiming Childhood: freedom and play in an age of fear’ (Reivindicando a infância: liberdade e brincadeira em uma era de medo). O fenômeno teria encontrado terreno fértil para crescer porque vivemos em uma época marcada pelo excesso de proteção e de fiscalização das crianças, assim como pela falta de confiança de que as pessoas, de modo geral, sejam capazes de solucionar seus problemas por conta própria. - É cada vez mais assumida como verdade a ideia de que os indivíduos precisam de terceiros, ou seja, de especialistas que resolvam suas disputas ou lhes digam como se relacionar com o outro – explica Helene – Isso é negativo, pois mina a independência e a autonomia – diz. A tese da doutora Helene não se trata de negar a existência do bullying, nem de minimizar sua gravidade, mas de delimitá-lo com maior rigor. Dessa forma, apenas um episódio que realmente merece essa classificação deve receber uma intervenção recomendável que envolva mais agentes. Outro aspecto defendido é o de não simplificar ao extremo os casos de violência e dividir as crianças em vítimas e agressores. Para a doutora inglesa, isso seria diminuir demais os relacionamentos.

- Não se ensina nada sobre a complexidade de amizades, os inimigos e as relações em geral. Em vez disso, é apenas sugerido que, toda vez que se sentir vitimizada, a criança poderá contar com terceiros para resolver os seus problemas – ela critica. A interferência desmedida de pais e educadores nas discórdias infantis poderia, de forma negativa, alimentar as dificuldades da criança para se relacionar. Trata-se de uma realidade que acontece na sociedade em geral, tanto quanto nas escolas. E, a longo prazo e sem restrições, os resultados podem inibir o desenvolvimento dos jovens cidadãos.

VEJA QUE: - A superproteção pode atrapalhar o desenvolvimento das crianças, alertam especialistas. - O desconhecimento, a precipitação na análise e a disseminação de casos têm colaborado para banalizar o problema. - A identificação do bullying é mais comum no ambiente escolar, embora também ocorra em outros espaços. - A maior incidência de bullying, ocorre atualmente no espaço virtual, devido à falsa sensação de anonimato e impunidade. É o cyberbullying. - Por causa de bullying, muitos jovens já deixaram de frequentar aulas, mudaram de escolas ou desistiram de estudar.

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LUDICIDADE: páginas para mudar o mundo Sugerido em muitas propostas pedagógicas como instrumento para o ensino na educação infantil, o lúdico assume um caráter de liberdade de expressão, onde elementos como a imaginação, os desejos e a alegria são totalmente permitidos Brincar educa? Em princípio, a resposta é afirmativa. Ao divertir-se, a criança explora seus limites físicos e mentais, tornando-se fundamental no desenvolvimento cognitivo, social e pessoal dela.

Rico em imagens e com histórias típicas do cotidiano dos pequeninos que estão entre os dois e seis anos, a linguagem do livro estimula a afetividade, ensinando os pais a conversar de acordo com o universo lúdico dos seus filhos.

Mestre em ciências da educação e neuropsicopedagoga, a professora tutora de pedagogia do IERGS/UNIASSELVI, Daniela Hirschamnn, diz que as técnicas lúdicas estão intimamente inseridas no processo de ensino-aprendizagem.

- Quando a criança chega à primeira série, ela mostra outro comportamento com o professor, exatamente porque o livro abrange o respeito e a valorização desse profissional. É uma explicação total da realidade, de maneira lúdica, mas real – define Joana.

- O lúdico é uma estratégia insubstituível para ser usada como estímulo na construção do conhecimento humano e na progressão de diferentes habilidades, além disso, é uma importante ferramenta de progresso pessoal e de alcance de objetivos institucionais – garante Daniela. Para a professora, brincar é uma atividade espontânea e natural da criança, que é benéfica por estar centrada no prazer, despertando emoções e sensações de bem-estar. Se a educação vem de casa, o envolvimento lúdico pode vir também. A pedagoga e educadora assistente Joana Juenemann Mendonça parece ter se inspirado nesta realidade para dar cor a um dos seus projetos mais especiais: a

Joana Juenemann Mendonça recebe bolsa de estudos do IERGS

obra “Manual da mamãe pré-escola”. O livro da aluna de pós-graduação do IERGS/UNIASSELVI foi pensado para crianças, mas, acima de tudo, para que os pais fortaleçam o vínculo existente entre eles. De forma criativa, a professora conta a história de “Fofucha”, personagem responsável por apresentar os pequenos ao universo escolar, dos professores e da sala de aula, sem esquecer dos amigos e das regras existentes nesse ambiente social. - Todos formam fila e ninguém se empurra, pois a história faz com que as crianças entendam a importância que esse processo tem. Eles começam a observar as filas do banco e a do ônibus e isso contribui para diminuir a ansiedade e a agressividade na educação infantil – comenta a orgulhosa professora.

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O projeto vem sendo trabalhado desde 2011 em algumas escolas de séries iniciais de Porto Alegre. A iniciativa, inclusive, chegou a ser indicada ao Prêmio RBS de Educação 2013. – O lúdico é uma manifestação cultural que se caracteriza por divertir e entreter quem participa, sem importar a idade – finaliza Daniela Hirschamnn. As brincadeiras têm capacidade de influenciar em áreas do desenvolvimento motor, na inteligência e sociabilidade. Mas é a ludicidade que ajuda o pequeno a lidar com o mundo, brincando e formando sua personalidade através da experiência de sentimentos como o amor e o medo.


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Sexualidade em sala de aula Mesmo sabendo que o bebê “sai da barriga da mãe”, outras respostas complementares ainda suscitam dúvidas e ansiedade em quem trata sobre sexualidade com crianças. Aos professores também cabe estar atentos aos sinais para ajudar na orientação dessa realidade

C

omportamentos infantis que demonstram a sexualidade da criança são, muitas vezes, difíceis de serem trabalhados, seja em casa ou na escola. Brincadeiras de descoberta sexual, masturbação e atitudes que aparentam homossexualidade também são fatos comuns observados no cotidiano infantil, mas seguidamente pouco compreendidos, isso quando não malconduzidos. A especialista Alessandra Bohn, psicopedagoga e mestre em educação no RS, destaca que é necessário buscar um maior entendimento teórico sobre a sexualidade infantil. Para a professora, pode haver uma distorção de realidade entre as expectativas dos pais e a real condição da criança. - A sexualidade da criança começa no imaginário dos pais, antes mesmo do nascimento. Todos têm expectativas em relação a seus filhos, consciente ou inconsciente, e uma delas diz respeito à sexualidade da criança. Ao nascer, ela pode corresponder ou não à expectativa e se desenvolverá conforme for a aceitação do sexo da criança pelos pais – alerta Alessandra. Conhecimento também é o ponto de partida que a psicóloga paulista Marina Rodrigues Almeida defende em seus estudos sobre a curiosidade sexual. Para a especialista, há uma ordem sequencial sobre a sexualidade da criança que, segundo ela, existe já a partir do nascimento. • 1ª - descobrimento do próprio corpo; • 2ª - eliminação de excreções; • 3ª - diferenciação dos sexos; • 4ª - nascimento; • 5ª - puberdade; • 6ª - adolescência.

- Para responder aos questiona-

A promoção de uma consciência humanizadora é possível de ser incentivada desde cedo. O fato de meninas usarem rosa e meninos, azul, são questões que devem ser debatidas e esclarecidas em sala de aula, mostrando que há diferenças entre o real e o imaginário social e midiático. Para a psicopedagoga Alessandra Bohn, crianças e adolescentes procuram corresponder às expectativas dos adultos. mentos de ordem sexual das crianças, deve-se ter claro que se ela tem idade para perguntar, tem idade para ouvir a resposta. O tom de voz, o olhar e a postura de quem responde devem ser valorizados para que não sejam artificiais nem repressores – argumenta a psicóloga. Mesmo respeitando a inocência da criança, é preciso satisfazer a curiosidade infantil com honestidade, lembrando que saber por que e de onde vem a pergunta é extremamente importante para a segurança dela. Em relação aos comportamentos sexuais observados em sala, como beijos, exploração do corpo do colega e jogos sexuais, o educador pode se pautar sobre os mesmos princípios que usa para outras condutas inadequados em aula. É preciso demonstrar que entende a curiosidade, mas que a escola é um lugar onde se deve respeitar a vontade dos outros e que os alunos estão lá para aprender e brincar. - O educador não deve se omitir. Ao contrário, deve orientar brincadeiras e comportamentos adequados, mas sem passar valores morais reprovadores, como se a curiosidade fosse algo negativo, feio ou pecaminoso – diz Marina.

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O problema é quando elas acabam se expondo inadequadamente e recebem rótulos distorcidos de seu gênero sexual. -A sexualidade infantil é inerente a qualquer criança e sua demonstração é particular a cada uma. Aos educadores cabe conhecê-la, respeitá-la e conduzi-la de forma adequada, sem estimulação nem repressão, tendo sempre em mente uma reflexão de sua própria sexualidade - reforça Marina. Na dúvida, os pais nem sempre devem ser a primeira alternativa buscada. Antes, pode-se procurar algum profissional da escola para discutir com ele o assunto. Afinal, qualquer forma de discriminação é crime.


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Brincando de matemática Criatividade e sensibilidade tornam a matéria mais divertida e ganham a confiança de estudantes Eis o ‘pesadelo’ dos jovens alunos. De fato, a matemática carrega esse estereótipo há gerações. Para alguns, a disciplina possui um entendimento quase inatingível, impossível de ser aprendido. Segundo João Francisco Staffa, matemático, professor da rede pública e mestrando em educação em ciências e matemática, esta aversão à matéria passa pela falta de interesse. Muitas vezes, o preconceito é ocasionado pelo pouco conhecimento no assunto. - Temos tendência de perder o interesse por aquilo que não conseguimos compreender, ou para aquilo que não vemos uma aplicabilidade imediata. O desafio do professor reside exatamente em criar estratégias que atinjam positivamente os alunos, instigando a vontade de aprender e retirando qualquer estigma sobre à disciplina – defende o matemático. Angela Maria Pinto leciona matemática e biologia há 16 anos na Escola Estadual de Ensino Médio Presidente Kennedy, na cidade de Cachoeirinha, região metropolitana de Porto Alegre. Para a professora, parte do déficit no aprendizado de matemática é decorrente da falta de atenção. - Ainda existe muita dificuldade, pois matemática é raciocínio lógico. As crianças têm problemas de prestar atenção, então fica complicado aprender. Com mais maturidade, a partir da adolescência, o aprendizado se torna

um pouco menos confuso – admite Angela. Entre o quinto e o sexto ano do Ensino Fundamental estaria o grande obstáculo no ensino da matemática, segundo a professora. Nessa fase, as crianças passam a ter aulas com mais de um educador e precisam se adaptar a diversas formas de didática. Nesse aspecto, o lado afetivo contaria bastante para o interesse da criança com a matéria.

O matemático João Staffa é conhecido por desenvolver e utilizar jogos no ensino da disciplina, abordando conteúdos de todas as etapas do aprendizado e alterados graus de dificuldade. Com os desafios, ele permite aos alunos criar estratégias para resolver as questões, mas também aguça diferentes comportamentos no ambiente escolar. Os estímulos da matemática incitam condutas de respeito, ética e motivação nos estudantes. - Acredito que isso tenha liga-

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14 ção com as características dos jovens. Eles precisam participar ativamente, sentirem-se incluídos. É necessário “fazer” a aula junto com o professor, mas também com os colegas e não ficar simplesmente ouvindo – diz o professor. Em sua maioria, atividades coletivas fazem da sala de aula um ambiente mais descontraído para o aprendizado. Sem artifícios criativos, a matemática pode parecer, por vezes, extremamente cartesiana ou até duvidosa, dependendo da maneira como é abordada. O grande objetivo da matéria, nesse caso, é o desenvolvimento do raciocínio lógico e a resolução de problemas, inclusive de qualquer área do conhecimento, onde a matemática pode ajudar a solucioná-los. Bingo da tabuada - a partir do 3º ano do Ensino Fundamental Conteúdo envolvido: operação de multiplicação com números naturais. Cada aluno recebe uma cartela, contendo números que são os resultados da tabuada; O professor sorteia e anuncia a operação que será realizada pelos alunos;

Dinâmica do troca - a partir do 7º ano do Ensino Fundamental Conteúdo: pode haver vários conteúdos envolvidos simultaneamente, a critério do professor. Organizados em círculo, cada aluno recebe uma folha; Em seguida, o professor passa questões de conteúdos já estudados, que devem ser desenvolvidas da forma mais rápida e completa possível; Ao passar o tempo estipulado para cada exercício, os alunos precisam colocar o nome na questão que resolveram e passar a folha ao colega à direita e assim sucessivamente; Nessa atividade, os alunos revisam conteúdos estudados durante o ano de forma diferente e se sentem corresponsáveis pela atividades do colega, aprendendo de maneira coletiva. A partir desta dinâmica, os alunos são instigados a criar soluções sintéticas em um tempo pré-determinado, exercitando tais habilidades. Além disso, a atividade pode ser um excelente instrumento de avaliação para o professor verificar as dúvidas pontuais de cada aluno.

Todos devem procurar as respostas em sua cartela; O primeiro aluno a completar a tabela vence o jogo. Os alunos podem confeccionar as tabelas como preparação. Este tipo de jogo pode ser adaptado a outros conteúdos.

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