Informação Educação | IERGS 2015

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Editorial

Entre os maiores obstáculos ao pleno desenvolvimento do Brasil está a educação. Sem dúvida é um grande desafio, mas que deve ser enfrentado com paciência e planejamento. Enquanto instituição social, a escola precisa dar subsídios a todos os atores do processo de ensino-aprendizagem. E é sobre formação e incentivo que essa edição da revista InformAção IERGS de Educação trata. Conhecemos bons exemplos de profissionais que extrapolam as expectativas do ensinar e conquistam a atenção dos seus alunos com ideias inovadoras, deixando neles muito mais que o ensino, mas a vontade de aprender. E mostramos que tudo pode começar ainda cedo, bem antes da idade escolar. Em meio a ferramentas inovadoras empregadas na construção do conhecimento, o trabalho instrumentalizado pode ser o diferencial aplicado na vida de educadores e estudantes. Com o olhar mais apurado da Psicopedagogia e do Coaching, surgem as oportunidades de humanizar ainda mais o ambiente escolar, tornando-o um espaço, acima de tudo, para ser feliz.

Boa leitura.

EXPEDIENTE Revista Informação Educação IERGS – Instituto Educacional do Rio Grande do Sul Diretoria Geral: Saul Hoegen Diretoria de Pós-Graduação: Silvana Hoegen Jornalista: Jonas Amar (MTB/RS 14.065) Arte: Guilherme Vargas Marketing: Danielle Siqueira comunicacao@iergs.com.br


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Professor Guy Barros Barcellos, 27 anos, é Licenciado em Biologia, Mestre e Doutorando em Educação em Ciências e Matemática. Atualmente é professor de Ciências no Instituto Estadual de Educação Paulo da Gama, em Porto Alegre, onde está implantando um museu em parceria com os seus próprios alunos.

Vem de família a paixão pela biologia? G.B. - Nasci e cresci em um museu. Tenho memórias muito emocionais no Museu Oceanográfico da Universidade Federal de Rio Grande (RS). Meu pai, Lauro Barcellos, é museólogo e oceanólogo e diretor há mais de 20 anos lá. Brincava com meus amigos, cuidava de plantas, criava peixes e tartarugas, acompanhava expedições ambientais, alimentava pinguins e lobos-marinhos. Até uma orca encalhada ajudei no resgate. Foi uma infância diferente.

Aprendi que a escola como está não irá cativar os estudantes

De onde veio a ideia de criar um museu? G.B. - Quando estava na oitava série resolvi fazer um museu na escola, com minha coleção de fósseis e minerais. Juntei colegas, fizemos um projeto e a diretora aprovou e apoiou a ideia. Lá, comecei a dar aulas de Ciências e senti que ser professor era o caminho. O Museu da Natureza era um espaço onde podia expressar meu pensamento. Você escreveu o “Manual de Implantação de Museus Escolares” para outros professores? G.B. - Aprendi que a escola como está não irá cativar os estudantes. Minha dissertação de mestrado foi uma pesquisa-ação sobre a construção do museu e, a partir das inquietações sobre a Educação, começou a germinar a ideia de um livro. Minha orientadora, Dra. Regina Rabello Borges, sugeriu que o fizesse, direcionado a professores.

Como ocorreu a implantação do Museu de Ciências do Instituto Paulo da Gama? G.B. - Onde quer que eu trabalhe a ideia de museu vem à tona. Quando cheguei ao IEEPG, recebi um espaço e transformei-o na “Sala de Ciências”, uma espécie de sala de aula, laboratório e proto-museu, um núcleo do pensamento e da ação. À medida que as pesquisas dos alunos andavam, surgia a ideia de fazer o museu. Agora a ideia decolou. Todos meus alunos serão curadores e o museu emergirá como um grande mosaico, sedimentado por dois anos de pesquisas de alunos de ensino médio. Um desafio enorme. Quantos estudantes estão envolvidos? G.B. - Tenho nove turmas de ensino médio e todos estão dentro do projeto. Minha missão é desenvolver competências e burilar a cidadania dos alunos, não simplesmente transmitir informações. Quando digo que quero que pensem e não decorem, que façam pesquisa e não cópia, que sejam protagonistas e não figurantes, eles estranham muito. Mas eles começam a sentir que podem e que é bom pensar e criar. O processo ocorre espontaneamente. Tornam-se menos submissos. É emocionante. Qual a sua visão de “ser professor”? G.B. - Um mau professor mata seus alunos por dentro, fazendo desabar suas autoestimas. Mas isso ocorre devagar e ecoa nas vidas deles ao longo dos anos. Um mau professor não ajuda os alunos que têm dificuldade, ajuda os “bons” e reprova os “maus”. O professor deve repensar sua função na época em que vivemos. Deve ser aquele que orienta seus alunos no ato de apreender a informação líquida e cristalizá-la em conhecimentos ancorados num senso ético, estético e poético. O objetivo é fazer do aluno um indivíduo conhecedor, mas

Um mau professor mata seus alunos por dentro, fazendo desabar suas autoestimas

Entrevista

pensante; disciplinado, mas criativo; competitivo, mas ético; feliz, mas insatisfeito com o que há de desumano no mundo. Quais os benefícios dessa iniciativa para a comunidade escolar? G.B. - Meus indicadores são a alegria e o entusiasmo dos alunos. Além disso, meu maior objetivo é que a escola seja interessante e acolhedora, pois a evasão me causa arrepios. Se a evasão diminuir e se eles seguirem seus sonhos, com lucidez e disciplina, estes serão os benefícios. O conhecimento é útil na hora, é emocionante, envolvente, faz aqueles momentos prazerosos. Se a aula for um bom momento já é um benefício. Muitos temas de natureza social são debatidos em suas aulas. Como surgem esses debates nas aulas de ciências? G.B. - Os tópicos surgem pelo diálogo, pela relação descontraída e com bom humor. Só irei ajudar meus alunos se amá-los e só irei amá-los se conhecê-los. Muitos chegam com temas já definidos, outros precisam de orientação mais ativa. Os temas que emergem são seus anseios e curiosidades em relação aos seus mundos interiores e exteriores. Fico muito feliz quando vejo que estão saindo dos muros da Biologia, pois não há como entender o mundo sem Biologia, mas não há como entendê-lo somente com ela. As pesquisas em Humanas são as que mais me estimulam, pois também preciso pesquisar. Tenho um apoio muito grande da direção da escola, da minha orientadora Drª Maria Salett Biembengut e da minha amiga, a professora Solange d´Ávila, que também faz parte do projeto no IEEPG.

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Educação Adolescente: deixe o medo de lado

Respeito é a chave para um ensino confortável durante fase repleta de cobranças, mudanças e incertezas

O que considero importante e que me facilitou a relação com meus alunos e minha filha foi o desejo de vê-los caminhar com as próprias pernas

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Todos passam pela adolescência. E não são muitos os que guardam apenas as melhores lembranças dessa fase. O período é mesmo sensível, influenciado por alterações hormonais que forçam uma série de mudanças físicas, psicológicas e comportamentais, com resultados diretos em casa e também na escola. O mundo deles está em plena transformação.

lhando tudo com o primeiro namorado, também adolescente. - É um ano bastante diferente e tem muita coisa acontecendo. É normal ficar cansada, mas é tudo animador. Gosto de como estão as coisas – diz a jovem.

Essa nova realidade pode ter reflexos diretos no desempenho dos adolescentes, mas há normalidade nisso e, em geral, sem motivos para preocupações. Aos pais, cabe ficarem atentos, monitorando e acompanhando a vida escolar dos jovens, sem intromissões excessivas.

Exatamente sobre realidades como esta é que a psicóloga Gislaine Pereira, professora convidada da Pós-Graduação IERGS/UNIASSELVI, acredita na relação entre professor e aluno. Para a especialista, essa fase é um período do desenvolvimento bastante complexo em decorrência das grandes mudanças fisiológicas que ocorrem com o indivíduo.

Aos 15 anos de idade, a jovem Julia Duarte da Silva está comemorando a nova rotina com o primeiro ano do Ensino Médio, no Colégio Estadual Antônio de Castro Alves. Além das mudanças relacionadas a professores e conteúdo escolar, a estudante administra sua atual fase de crescimento, comparti-

- O significado de educar não é simplesmente repassar informações ou caminhos que determinamos ou julgamos corretos e ideais. O sentido da educação é muito mais extraordinário, pois busca uma consciência de si e, ao mesmo tempo, sobre o outro – destaca a psicóloga.


InformAção | Educação Bons exemplos não faltam. Professora de História no Ensino Fundamental, Débora Hörlle D’Ávila também já foi mãe de adolescente. Com desafios ininterruptos dentro e fora da sala de aula, ela está convencida de que não há uma fórmula especial para atuar com os jovens. - O que considero importante e que me facilitou a relação com meus alunos e minha filha foi o desejo de vê-los caminhar com as próprias pernas, de orientá-los na busca da autonomia para que sejam os protagonistas da sua história. Nunca tratá-los como criança, nunca bater de frente. Sempre que pude ouvi meus alunos: seus sonhos, tristezas, mágoas, alegrias e estive ao lado deles, não resolvendo sua vida, pois ninguém resolve a vida de ninguém, apenas mostrando que eu estava ali, que poderiam chorar comigo – lembra a professora. Compreender e respeitar o universo dos adolescentes tornou-se parte das novas tarefas dos educado-

Às vezes, me parece que eles querem professores que sejam mais rígidos e que deem limites

res, já que é comum os jovens não saberem o que fazer com toda a informação que recebem. É preciso estar aberto a ouvir. O diálogo pode unir ainda mais os adolescentes ao professor e ajudar a aproximar o conhecimento à realidade deles. É nisso que confia Letícia Guimarães Mottola. Porém, para a professora da E.E.E.M. Professor Júlio Grau, de Porto Alegre, também há momentos em que os próprios estudantes preferem mais seriedade do comandante da sala de aula. - Às vezes, me parece que eles querem professores que sejam mais rígidos e que deem limites. Mas uma coisa eu considero importante: ouvi-los – destaca a professora. Uma atuação mais humana tem o poder de educar através do exemplo, para além de uma postura somente em sala de aula, lembra a psicóloga Gislaine Pereira.

enda o seu papel, suas responsabilidades e possibilidades diante do mundo cheio de qualidades, defeitos, potencialidades e limitações. Por tudo isso, considero que nesse período, a educação ganha significado e representatividade ainda maior, sendo capaz de transformar caminhos, potencializar sonhos e promover realizações – complementa a especialista. Adolescentes tendem a se refugiar em grupos de amigos que tenham os mesmos interesses, gostos e desejos, a fim de uma identificação menos conflitante e mais amigável. O professor, contudo, pode colaborar e ocupar um lugar significativo no processo moral deles, respeitando as relações entre mestre e aluno, e facilitando o processo de desenvolvimento dos jovens.

- Por meio da educação afetiva, oportuniza-se que o aluno compre-

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Linguagem Natural Incentivar as habilidades de comunicação da criança pode abrir infinitas oportunidades de autonomia

A linguagem é uma das características mais próprias do ser humano e já faz parte da individualidade que nos define como espécie. No decorrer do seu desenvolvimento, compreendemos melhor nossa natureza e a nós mesmos enquanto sociedade. Para o pedagogo Wagner Walter Lehmann, professor de Pedagogia da faculdade IERGS/UNIASSELVI, todos começamos nossas vidas sendo estimulados a exercitar habilidades básicas de comunicação, como parte de um processo evolutivo e social. “O próprio choro da criança é uma forma de comunicar-se. Incentivá-la com novas possibilidades de expressão é extremamente positivo, isso a coloca frente a outras descobertas de interação e de formas de autonomia”, destaca o professor. Caso as crianças não saibam como comunicar suas necessidades, elas podem até se frustrar por falta de atenção. E diferentes tipos de atividades podem ser usadas no ensino das habilidades de comunicação aos pequenos. Confira algumas:

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Fale

Conversar com a criança pode ajudar bastante. Sente-se, olhe para ela e converse. Escolha qualquer assunto ou a deixe escolher. Faça disso um hábito, preste atenção e, lembre-se: ela não está apenas aprendendo a ouvir ou falar, mas a “ver” a linguagem do corpo também.

Ouça

Se você gosta de conversar, pare um pouco e comece a ouvir. Torne-se mais atento e preste atenção nas linguagens verbal e não verbal das crianças.

Placas de sinalização

Coloque sinais em torno da casa, pendurando um quadro onde é possível desenhar e apagar, ou use cartões de permitido, proibido e com palavras e frases que a criança consiga visualizar. Acostume-se a chamar a atenção dela para as placas também em ambientes públicos. Uma caça ao tesouro com um mapa é boa ideia de brincadeira que envolve os pequeninos. Perceba os gritos de alegria ao identificarem uma sinalização.

Incentivar a linguagem das crianças é um modo de fazê-las buscar suas próprias descobertas. Ao longo do crescimento, elas experimentam uma comunicação que vai mostrar as formas de declarar suas preferências e contar como se sentem. Os próprios adultos não são muito diferentes disso, relembra o professor Wagner Lehmann. “Nós mesmos ficamos com semblante diferente quando algo nos incomoda. A linguagem não verbal é expressão do corpo e demonstra muito, assim como a linguagem verbal. É mais um incentivo à autonomia”. Aproveite parte do seu tempo junto aos pequeninos e veja eles se tornarem excelentes comunicadores.

Tecnologia de bate-papo

Use apps

Movimente-se

Leia

Iniciar um bate-papo que envolva seu filho vai unir atividades que são importantes para ele. Incentive a fazer chamadas de celular ou computador para amiguinhos ou primos. Aparelhos eletrônicos geralmente chamam a atenção dos pequenos e estimulam a comunicação.

Vá a uma caminhada, desça de um escorregador, ou balance. Você pode se surpreender como as crianças verbalizam mais quando estão se movendo com brincadeiras.

Espelho

Brinque com esse adereço. Desenhe rostos no espelho e instigue uma boa brincadeira de imitação. Ajuda no desenvolvimento dos músculos que envolvem a fala e alegra a relação.

Existem muitos apps que incentivam a leitura, fala e a linguagem. Utilize-os com cautela, pois muito tempo usando aplicativos pode realmente atrapalhar a comunicação entre pessoas reais.

Crianças gostam de ouvir histórias. Pode-se usar este interesse com um livro, inventando histórias ou as estimulando a criar uma com você. Inicie um conto e permita que ela a termine, ou peça ajuda de outras pessoas para incrementar o contexto. Obras literárias incentivam o desenvolvimento da linguagem.

Entre em cena

Criar uma peça teatral, um pequeno filme, ou cantar músicas no caraoquê são experimentos que estimulam muito as crianças a falarem. Deixe-os fazer também os seus próprios shows.

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Coaching Educacional

O trabalho instrumentalizado pode ser o diferencial aplicado na vida de educadores e estudantes O Coaching Educacional é capaz de produz mudanças positivas e duradouras, que se conectam a pontos forte e frágeis de indivíduos e grupos. Aumenta a confiança e quebra barreiras de limitação, motivando uma vida mais produtiva e saudável. Raquel Aquistapace é educadora em Porto Alegre e, mesmo jovem, a professora se preocupou cedo em potencializar seus conhecimentos mais humanos. Ela participou de um treinamento voltado para educadores e os resultados não poderiam ter sido melhores. - Foi uma experiência muito

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interessante, não apenas do ponto de vista profissional, mas pessoal mesmo. É como se agora eu tivesse um olhar mais apurado para mim e para ajudar os meus alunos também – expôs a professora. Muitas vezes relacionado ao coaching, que orienta as pessoas para um melhor entendimento sobre um assunto específico, o Coaching Educacional também se refere ao processo de “treinar”, mas é capaz de desenvolver inclusive os estudantes, através dos seus professores e atendendo às necessidades que são típicas do ambiente da educação. Para Marcos Silva, membro da Associação Brasileira de Coaching

Educacional, a metodologia é aplicada na conquista de objetivos claros e no aumento do desempenho pessoal em questões educacionais. - O Coaching Educacional pode ser aplicado à esfera discente, docente e administrativa. São técnicas e estratégias de desenvolvimento pessoal e profissional que representam um ponto-chave para a boa performance nas atividades relacionadas à educação – garante o Coach.


Uma jornada pedagógica instrumentalizada é capaz de estimular e focar o incentivo dos professores.

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Como uma válvula de incentivo, os educadores podem se especializar e utilizar metodologias baseadas em questionamentos e desafios, estabelecendo metas, planos de ação e suporte. Tornando-se coach, os profissionais passam a atuar com ferramentas singulares para alcançar seus objetivos e com desempenho muito melhor dentro e fora da sala de aula. Conforme a pedagoga e especialista em Coaching, Gislene Guimarães, o foco na educação muito provavelmente é benefício para todos os envolvidos. Os professores são encorajados a ter visão ampla do universo dos seus estudantes, enquanto os próprios alunos se tornam mais motivados no dia a dia e encorajados a seguir com os estudos.

- Uma jornada pedagógica instrumentalizada é capaz de estimular e focar o incentivo dos professores. Assim, eles percebem, por exemplo, como são presentes e importantes na vida dos seus alunos. E a continuação de atividades estimulantes é fundamental para que os educadores sigam com essa abordagem durante toda a sua carreira docente – esclarece a professora convidada do curso de Coaching Educacional da Pós-Graduação IERGS/UNIASSELVI.

Benefícios do Coaching Educacional Coaching é um processo de aprimoramento humano e aceleração de resultados. O processo desenvolve capacidades e habilidades emocionais, psicológicas e comportamentais. Escolas e instituições de ensino têm buscado apoio efetivo para desenvolver seus alunos e profissionais através da metodologia do Coaching Educacional. Estudantes que passam pelo processo de Coaching são mais propensos a permanecer até a conclusão de seus cursos. O Coaching Educacional pode ser utilizado no planejamento de carreira e também na escolha da profissão. Pode ser focado na gestão do tempo, na definição de objetivos, desenvolvimento de habilidades comportamentais, no direcionamento da carreira, autodefesa, melhor aproveitamento dos estudos e na aplicação prática dos conhecimentos. Para docentes e demais colaboradores da escola, o Coaching pode ser aplicado para alinhar os valores, definir a missão de vida e na implantação da cultura organizacional da instituição de ensino. O Coaching Educacional aumenta o nível de satisfação, felicidade e plenitude. Alinha as crenças e os valores pessoais. Aumenta a disposição, energia e a saúde.

Fonte: Gislene Guimarães

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A Hora do Jogo O universo da diversão influencia o dia a dia dos estudantes da Escola de Educação Especial Nazareth, uma das instituições ligadas à APAE no Rio Grande do Sul. Entre bolas, bancos e carrinhos, tudo pode virar brincadeira séria no desenvolvimento dos alunos. Segundo a diretora da escola, professora Jacira Menezes, o “divertir-se” é parte integrante das aulas e contribui de maneira significativa na APAE Porto Alegre. - As atividades lúdicas tornam o atendimento muito mais eficaz e divertido. Os brinquedos e os jogos são componentes essenciais na assistência e deixa a educação bem mais duradoura e produtiva – completa a diretora. Seguindo a lógica do brincar, todas as escolas podem se tornar um espaço especial no desenvolvimento das crianças. Quem garante é Iara Caierão, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia do RS (ABPp-RS). Para ela, um ambiente lúdico proporciona a “hora do jogo”, um momento singular onde os atores envolvidos desenvolvem mais gosto pela aprendizagem através do prazer e bem-estar. - É tudo possível desde que se consiga organizar as atividades de forma que a criança possa aprender e fazer com prazer. Quando se aproxima a alegria das atividades escolares, além de termos maior aprendizado, o estudante também adquire mais gosto em

O psicopedagogo é elemento de uma equipe multidisciplinar, que contribui para que a criança aprenda com alegria e descubra muito mais

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permanecer e voltar à escola. É possível aprender brincando, mas brincar aprendendo também – reforça a psicopedagoga. Atividades lúdicas não precisam acontecer necessariamente em espaços diferenciados. É possível brincar com números e com os mais diferentes tipos de informações, garante a presidente da ABPp-RS. Se feito com prazer, ler e escrever uma história também pode ser uma tarefa completamente lúdica. - O psicopedagogo é elemento de uma equipe multidisciplinar, que contribui para que a criança aprenda com alegria e descubra muito mais. Não se trata de decorar uma brincadeira, mas de ajudar através do jogo que o aprender pode ser consistente, duradouro e bem mais prazeroso – completa a presidente da ABPp-RS.

Escola é um lugar de ser feliz Tudo parte de um olhar mais humano e apurado. É o que defende Lucy Baptista, orientadora educacional, psicopedagoga clínica e institucional e professora convidada da Pós-Graduação IERGS/ UNIASSELVI. A especialista reforça que todos preci-

sam de motivação e suporte dentro do processo de ensino-apredizagem, incluindo estudantes e professores. - Você não pode olhar só com os olhos, mas com os olhos da sua percepção. É preciso se apropriar das relações entre as pessoas e tentar entender o desenvolvimento da instituição, a ligação dos professores com os alunos e dos alunos com professor. Tudo é material de análise para que se consiga melhorar os relacionamentos. É isto que faz esses sujeitos produzirem melhor sobre a própria aprendizagem – comenta Lucy. O resultado já não é o mais importante. Para a especialista, nem tudo nas relações é linear e o que realmente interessa é o processo, que pode revelar grandes conquistas do dia a dia ou pequenas como o todo. - Finalmente estão começando a entender que escola é um lugar de ser feliz e não de tortura. Antes de eu aprender qualquer coisa na minha vida, eu preciso gostar da pessoa que está me ensinando, caso contrário eu não me vinculo. A verdade é que muitos alunos não gostam de uma matéria porque não gostam do professor – esclarece a psicopedagoga. O vínculo que um aluno tem com as coisas que ele pratica é tarefa que deve ser percebida diariamente. Isto ajuda a entender a necessidade do lúdico na vida de todos, não somente das crianças. O resultado só pode ser benéfico, oportunizando que todos se conheçam melhor.


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Os tipos de brincar: o lúdico ensina

A ludicidade é uma estratégia insubstituível para ser usada como estímulo na construção do conhecimento humano e no avanço das diferentes habilidades que as pessoas possuem

Mestre em Ciências da Educação e Neuropsicopedagogia, Daniela Hirschamnn advoga que o brincar é uma atividade espontânea e natural da criança. Para a professora, a diversão é benéfica, principalmente, por estar centrada no prazer. - Brincar desperta emoções e sensações de bem-estar. A atividade liberta as angústias e funciona como escape para as emoções negativas e ainda ajuda a criança a lidar com sentimentos que fazem parte da vida cotidiana – acentua a professora convidada da Pós-Graduação IERGS/UNIASSELVI. Diariamente Karine Guth Ferreira se divide entre a sua rotina profissional e a imaginação fértil da caçula Maria Eduarda Pinheiro, de apenas três anos. Mesmo aproveitando as atividades pedagógicas da creche de turno integral desde o primeiro ano de vida, Maria Eduarda é especialista em brincadeira e a família toda é convocada a participar.

É brincando que as crianças aprendem a enfrentar o mundo e formam suas personalidades, experimentando sentimentos básicos como o amor e o medo. As estratégicas lúdicas também são importantes para o alcance de objetivos institucionais. E o professor pode se aproveitar de jogos, brincadeiras e brinquedos. Todos influenciam áreas do desenvolvimento motor e da criatividade.

Os tipos de brincar Brincar por si só já é um fator de desenvolvimento e aprendizado, através do prazer e satisfação. Para ajudar o educador a entender cada brincadeira, os processos que ocorrem e como interferir, a professora inglesa Janet Moyles desenvolveu estudos, onde o brincar foi dividido em físico, intelectual e social/emocional.

Maria Eduarda. Foto: Divulgação

Brincar Físico

- Ela é proativa, alegre e muito bagunceira. Nem termina uma brincadeira e já começa outra. Maria puxa uma cadeirinha e já transforma em mesa para tomar café ou fazer comidinha e ainda pede para eu comer tudo. É nessas horas que a gente percebe como nós a tratamos – sorri a mãe orgulhosa.

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Brincar Intelectual

Brincar Social/Emocional

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As ações lúdicas transformam a escola em um ambiente mais familiar, dinâmico e criativo.

Brincar é tão importante que se tornou um direito garantido na Declaração Universal dos Diretos da Criança, estabelecendo de forma igualitária que a recreação tem o mesmo peso que a alimentação e a saúde. - As ações lúdicas transformam a escola em um ambiente mais familiar, dinâmico e criativo. O lúdico é uma manifestação cultural, que se caracteriza por divertir e entreter uma pessoa, seja que idade for – finaliza a professora Daniela. O ensino tende a seguir esse

caminho evolutivo. Os benefícios se estendem ainda a outras faixas etárias e com novos objetivos de autoconhecimento pessoal e profissional.


AS REDES DIGITAIS A FAVOR DA APRENDIZAGEM Elas podem até atrapalhar um pouco fora de contexto, mas as redes digitais estão disponíveis para todos os tipos de usos, inclusive para contribuir com a educação

Você se considera um professor atualizado com as tecnologias de comunicação digital? Caso não possua um perfil em redes sociais como Facebook, Twitter, YouTube ou Instagram, acredite, é bem provável que todos os seus alunos estejam por lá e já notaram a sua ausência. Essas ferramentas estão disponíveis para quem quiser usá-las e são o reflexo da globalização que conecta as novas gerações. Essas redes passam a fazer parte do cotidiano das pessoas cada vez mais cedo, construindo uma realidade difícil de mudar. São espaços para a troca de informações básicas de textos, fotos e outros acessórios particulares. Apesar disso, também existem dispositivos digitais que disponibilizam materiais de apoio ao estudo e promovem discussões on-line, por exemplo. Mais que entreter, as redes podem se tornar ferramentas de interação valiosas para auxiliar no trabalho em sala de aula, desde que bem utilizadas. - Através do contato na Internet, os professores passam a conhecer melhor seus estudantes. Quando o educador sabe quais são os interesses dos jovens que ensina, ele prepara aulas mais focadas e interessantes, que facilitam a aprendizagem – diz Tatiana Brocardo de Castro, Pedagoga com habilitação em Orientação Educacional, especialista em Pedagogias do Corpo e da Saúde e Mestre em Estudos Culturais e Educação.

As potencialidades dos meios digitais são imensas. Em 2012, por exemplo, 28 escolas municipais de ensino fundamental de Porto Alegre adotaram um sistema operacional de software livre em seus laboratórios de informática. As assessoras de Inclusão Digital da SMED, Cristina Pereira e Denise Maria da Silva, perceberam o potencial pedagógico do software e criaram o grupo “Linux Compartilhando”

em conjunto com professores e estagiários. A ideia era ensinar noções de informática e de rede aos jovens. A professora do Laboratório de Aprendizagem da Escola Municipal de Ensino Fundamental Chico Mendes, Regina Helena da Silva, decidiu ampliar a experiência e criou um sistema de monitoria com alunos do terceiro ciclo. - Além da autonomia tecnológica conquistada com o uso de softwares livres, o projeto torna o aluno protagonista da ação, incutindo-lhe noções de responsabilidade e respeito – afirma Regina. - Quando eu não entendo alguma coisa que foi dita na aula, pesquiso na Internet. Antes eu só usava o computador para acessar as redes sociais – confessa a jovem Alice Marques, 16 anos, aluna do 9º ano. Patryck Gonçalves, de 15 anos, também é monitor do projeto e aluno do 9º ano. - Eu era muito nervoso. Agora eu respeito os professores, pois na monitoria passei a ter uma noção da responsabilidade que os professores têm com os alunos – declarou. Professora de Licenciatura em Informática e Gestão da Tecnologia da Informação da faculdade IERGS/UNIASSEL-

Além da autonomia tecnológica conquistada com o uso de softwares livres, o projeto torna o aluno protagonista da ação, incutindo-lhe noções de responsabilidade e respeito

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InformAção | Educação VI, Sabrina Silveira atuou com jovens da ONG Fundação Pensamento Digital, de Porto Alegre, através do sistema livre Noosfero. A plataforma web para redes sociais possui funcionalidades de blog, e-portfólios, discussões temáticas e agenda de eventos e produção de texto. - É preciso pensar as redes sociais como espaços de aprendizagem, propiciando um ambiente de construção do conhecimento. Elas favorecem ao educador uma organização e o desenvolvimento das suas propostas pedagógicas, de forma coerente com os novos paradigmas de utilização das tecnologias educacionais – esclarece a professora, sem desmerecer os cuidados com a exposição. - O uso das redes sociais na educação é desafiador, mas a mediação do educador é fundamental para orientar as atividades e as interações, que irão permear essa aprendizagem – finaliza.

tem o papel de orientar os alunos. Todos os participantes podem indicar links interessantes.

2. Disponibilize conteúdos extras para os alunos As redes sociais são bons espaços para compartilhar com os alunos materiais multimídia, notícias de jornais e revistas, vídeos, músicas, trechos de filmes ou de peças de teatro que envolvam os assuntos trabalhados em sala.

3. Promova discussões e compartilhe bons exemplos Aproveite o tempo que os alunos passam na Internet para promover debates interessantes sobre temas do cotidiano, desenvolvendo o senso crítico e incentivando os mais tímidos a se manifestarem.

4. Elabore um calendário de eventos Crie “Eventos” no Facebook e recomende às suas turmas uma visita a uma exposição, a ida a uma peça de teatro ou ao cinema. Esses calendários das redes sociais também são utilizados para lembrar os alunos sobre as entregas de trabalhos e datas de avaliações. Só não podem ser a única fonte de informação.

5. Organize um chat para tirar dúvidas Com alguns dias de antecedência, combine um horário com os alunos para tirar dúvidas sobre os conteúdos ministrados em sala de aula. Você pode usar os chats do Facebook, do Google Talk, ou até mesmo organizar uma Twitcam para conversar com as turmas.

5 formas de usar as redes sociais como aliada da aprendizagem 1. Faça a mediação de grupos de estudo Os grupos no Facebook podem ser concebidos como espaços de troca de informações entre professor e estudantes, mas lembre-se: você é o mediador das discussões propostas e

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