Revista Oriente Ocidente N.16 - INSTITUTO INTERNACIONAL DE MACAU 2006

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ISSN 1680-7855

EAST WEST

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ANOS do

Número 16 Janeiro de 2006

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HOMENAGEM A em Macau EUGÉNIO DE ANDRADE

Exposição de

EÇA DE QUEIRÓIS


www.iimacau.org.mo

Rua de Berlim, Edifício Nam Hong, 2º andar NAPE, MACAU, Tel (853) 751727 - (853) 751767 Fax (853) 751797 email iim@macau.ctm.net www.iimacau.org.mo

Este número de Oriente/Ocidente teve o patrocínio da Fundação Jorge Álvares

ORIENTEOCIDENTE “newsletter” do IIM Instituto Internacional de Macau Número 16 Janeiro de 2006 Editor Luís Sá Cunha Produção IIM Design Gráfico victor hugo design Impressão Tipografia Hung Heng Tiragem 1.500 exemplares Preço MOP 20.00 / 2.00

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ANOS do IIM Chamadas da capa 04 XI CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE IMPRENSA 06 SEMINÁRIO DA API NO IIM EÇA DE QUEIRÓS, IMPRENSA DE MACAU E DIREITOS DE AUTOR 07 EXPOSIÇÃO EÇA DE QUEIRÓS 08 PRÓS E CONTRAS EM MACAU 09 POETAS CHINESES HOMENAGEM A EUGÉNIO DE ANDRADE

Serão Macaense 10 SERÃO MACAENSE COM O Pe. LANCELOTE RODRIGUES

Seminários 12 PRESIDENTE DO IIM NO SEMINÁRIO DO MAPEAL 13 CICLO DE CONFERÊNCIAS SOBRE RELAÇÕES ENTRE A ÁSIA-PACÍFICO E AMÉRICA DO SUL 13 QUESTÃO DE MACAU MAL NEGOCIADA 13 SESSÃO DA IBM 14 IIM COM AICEP 14 VIVENDO A RELIGIÃO CATÓLICA NA ÁSIA

Livros 15 MOSAICO — NOVA COLECÇÃO DO IIM 17 ZUMM – O “ABELHA DA CHINA” 18 EUROPA-CHINA-ÁSIA PACÍFICO DO FORUM LUSO-ASIÁTICO 18 “A MUI”– LANÇADO EM LISBOA 19 “O OUTRO LADO DA VIDA”, DE JOSÉ SILVEIRA MACHADO 20 NOVOS LIVROS DA BIBLIOTECA JOAQUIM MORAIS ALVES


Exposições

Galeria

22 LIBERDADE DE INTERPRETAÇÃO DE JOEY HO 23 EXPOSIÇÃO SOBRE MACAU NA CALIFÓRNIA

32 Pe . FRANCISCO FERNANDES

Protocolos 24 PROTOCOLO IIM/CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA 24 PROTOCOLO IIM/API (ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE IMPRENSA) 24 PROTOCOLO APIM/SHIP 25 PROTOCOLO IIM/FLA (FÓRUM LUSO-ASIÁTICO)

Entrevista 34 IIM UM BALANÇO NECESSÁRIO, SEIS ANOS DEPOIS

Actividades 25 VISITA DA DELEGAÇÃO DO INSTITUTO DO ORIENTE 25 LÍDERES DA COMUNIDADE VISITAM PEQUIM 26 CASAS DE MACAU – EMBAIXADAS DE MACAU NO MUNDO 26 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE LISBOA – VISITA PEQUIM E MACAU 27 DIRIGENTES DO CONGRESSO RECEBIDOS PELO SECRETÁRIO DO GOVERNO 27 DURÃO BARROSO EM MACAU

Nossos sócios 28 OS 4os. JOGOS DA ÁSIA ORIENTAL / MANUEL SILVÉRIO 30 “PEREGRINAÇÃO”, EXPOSIÇÃO DOS IRMÃOS MARREIROS 30 1o. DE DEZEMBRO EM LISBOA 30 EM SHENZHEN, ENTRE POETAS

Elos Clube 31 ELOS CLUBE NA LUSOFONIA

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Chamadas da capa

XI

Congresso da Associação

portuguesa de Imprensa

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Chamadas da capa

XI CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE IMPRENSA

Organizado pela Associação Portuguesa de Imprensa, com a colaboração do Instituto Internacional de Macau, o XI Congresso da Imprensa Portuguesa decorreu em Macau de 8 a 12 de Dezembro, sob a temática “Media e os Desafios da Sociedade de “Informação”: os desafios da Sociedade de Informação após a Cimeira Mundial da ONU em Tunes. Tendo os trabalhos tido lugar no Centro de Actividades Turísticas, os cerca de 70 participantes dedicaram-se à troca de conhecimentos, experiências e debate dos temas escolhidos em cada painel, desde a situação da imprensa de Língua portuguesa em Macau, à modelação e operacionalização da política europeia e portuguesa dos media, e à perspectiva dos media portugueses das políticas do sector no âmbito da União Europeia e da Lusofonia. Políticas de distribuição de conteúdos em ambiente digital, a internacionalização editorial, a objectividade dos media vs a fragmentação das mensagens, os modelos de futuro para os negócios media, e a construção de plataformas informativas ao serviço do desenvolvimento empresarial e da cooperação internacional (União Europeia, Portugal - China, Macau e países de língua portuguesa), foram alguns dos temas que maior interesse despertaram nos congressistas.

O Congresso da Associação Portuguesa de Imprensa terminou com uma comunicação do Dr. António de Almeida Santos, expresidente da Assembleia da República e Presidente da Comissão de Honra deste Congresso, sobre os grandes desafios das sociedades contemporâneas e o papel da comunicação social. O Presidente da Associação Portuguesa de Imprensa, João Palmeiro, agradeceu os apoios recebidos de diversas entidades públicas e privadas e referiu que ficaram reforçadas as relações da Associação com Macau, quase 10 anos depois de ter aqui realizado o seu 6o. Congresso anual. O balanço do Congresso feito por João Palmeiro sublinha o carácter extremamente positivo do evento para o desenvolvimento das relações não só entre Portugal e a China, mas também entre a Europa e a China, através de Macau. Além da colaboração do IIM, o Congresso recebeu apoios de várias entidades como o BNU, que foi o principal patrocinador, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, os Serviços de Turismo de Macau, o IPIM, o GCS, a Fundação Jorge Álvares e a Comissão Organizadora dos Jogos da Lusofonia.

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Chamadas da capa

Seminário da API no IIM Eça de Queirós Direitos de Autor Imprensa de Macau O programa do XI Congresso da Associação Portuguesa de Imprensa teve uma estação no IIM, no dia 12 de Dezembro, para um painel dedicado a questões de direitos de autor e para a apresentação de duas obras relativas a Eça de Queirós, de autoria da conhecida investigadora e socióloga Maria Filomena Mónica. A sessão foi aberta com intervenção do Presidente do IIM, Jorge Rangel, que explanou aos presentes o que é e o que tem sido a acção do IIM, usando de seguida a palavra o Presidente da API, João Palmeiro, que fez balanço do Congresso e aproveitou para expressar especiais agradecimentos a personalidades e colaboradores da iniciativa. Foi, de imediato, iniciada a apresentação das duas obras referidas pelo editor da “Principia”, Henrique Mota: “Eça Queirós, Jornalista” de Maria Filomena Mónica e “As Farpas”(com introdução de enquadramento

de Maria Filomena Mónica)”. “As Farpas” são um retrato fantástico da sociedade portuguesa da época. Eça retrata verazmente a situação de Portugal, usando a ironia como arma para tocar a opinião pública”, afirmou Henrique Mota. São, assim, na opinião do editor, um livro actual, cuja actualidade explica talvez que a primeira edição de 20.000 exemplares se tivesse esgotado num mês. Seguidamente Henrique Mota referiu-se à colectânea “Eça Queirós, jornalista”, compilação de crónicas jor nalísticas dispersas e publicadas por Eça em Portugal e no Brasil. No terceiro andamento desta primeira parte, Luís Sá Cunha, referindo-se à reprodução fac-similada do primeiro jornal de tipo moderno editado em Macau e que foi distribuída pelos assistentes – O “Abelha de China” – explanou o que foi a história

da imprensa em Macau e a sua importância para a história política da China e para a construção da entidade histórica de Macau. Esta exposição foi oenquadramento para a referência a duas novas edições do IIM, os volumes 1 e 2 de uma nova colecção designada “Mosaico” (ver neste número “edições”). Deu-se início seguidamente à segunda parte da sessão, com a realização do seminário sobre direitos de autor, onde em debate entre especialistas e assistentes, foram abordadas facetas como as sociedades intercontinentais, os direitos de autor, a regulação e o pluralismo dos media.

O painel, foi polarizado sobretudo na intervenção de Franziska Eberhard, representante da Federação Internacional dos Organismos de Gestão de Direitos de Reprodução (IFRRO) que abordou aspectos como a publicação e a sua contribuição para a diversidade e a independência cultural, a cópia não autorizada, o uso legítimo de fotocópias, entre outras questões relacionadas com o tema do seminário. Eberhard, deixou ainda alguns conselhos para autores e editores, quanto a questões administrativas. No final, aos participantes foi oferecido um jantar pelo IIM.

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Chamadas da capa

Eça de Queirós Muito oportunamente, e para criar atmosfera evocativa do autor de “Os Maias”, foi inaugurada, na sede do IIM, uma exposição sobre Eça de Queirós, no dia da apresentação das duas edições sobre Eça de autoria de Maria Filomena Mónica. A mostra foi cedida pelo Instituto Português do Oriente (IPOR), intitulada “Eça de Queirós, dados biográficos e literários (1845/1900)”, a exposição foi organizada pelo Instituto Camões (IC) sob orientação científica de Isabel Pires de Lima e co-organizada em Macau pelo IPOR. Série de 20 painéis evocativos e ilustrativos dos sucessivos passos da vida de Eça (Póvoa, Porto, Coimbra, Lisboa – 1866-72, Cuba – 72-74, Newcastle, Bristol, e Paris 1888-1900), percorre-se como o album fotográfico da vida de Eça, onde revisitamos a Família, os amigos, as tertúlias, os livros publicados, as personagens e as suas raízes culturais e literárias. Na inauguração foi larga e interessadamente visitada pelos congressistas da API.

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Prós e Contras dedicado a Macau Durante o Congresso da Associação Portuguesa de Imprensa, realizado em Macau de 8 a 12 de Dezembro, concretizou-se uma velha aspiração da RTP, várias vezes adiada por dificuldades técnicas e financeiras: a de fazer em Macau um “Prós e Contras” dedicado inteiramente à nossa terra. Sendo um dos mais apreciados programas da televisão portuguesa e com uma ampla difusão para todo o mundo de língua portuguesa, era do maior interesse a realização deste programa entre nós. Conduzido pela Jornalista Fátima Campos Ferreira, integraram o painel de entrevistados o presidente do Instituto Internacional de Macau, Jorge Rangel, o presidente da Associação de Advogados, Jorge Neto Valente, o vice-reitor da Universidade de Macau, Rui Martins, o arquitecto Carlos Marreiros, o deputado José Pereira Coutinho e o professor e poeta Yao Jinming. Falou-se dos seis anos da RAEM, do período de transição, do legado da Administração Portuguesa, dos projectos de Macau ligados ao grande mundo lusófono, da economia e da presença empresarial portuguesa na China, da educação, do direito vigente em Macau, da actividade cívica e política, das instituições culturais locais de matriz portuguesa e da classificação do centro histórico da cidade como património mundial. Vários dos convidados e elementos do público, como o advogado e escritor Henrique de Senna Fernandes, o director dos Serviços de Turismo, João Costa Antunes, o advogado João Miguel Barros, o cônsul-geral de Portugal, Pedro Moitinho de Almeida e o presidente da Associação Portuguesa de Imprensa, João Palmeiro, também fizeram intervenções sobre a sua experiência pessoal ligada a Macau e sobre o Congresso da Imprensa Portuguesa.

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O cenário do programa em Macau, foi comcebido pelo nosso sócio e consagrado designer de Macau, Victor Hugo Marreiros.


Chamadas da capa

Poetas Chineses Homenagem a Eugénio de Andrade

O facto de Eugénio de Andrade ter recebido uma grande homenagem por poetas chineses, tão pouco tempo depois do seu desaparecimento, é prova da admiração e da significativa proximidade entre os agentes culturais chineses e a figura do poeta português. A sessão de homenagem pública decorreu no auditório do IIM, repleto de público chinês, uma iniciativa do IIM a que logo se associou o Instituto Português do Oriente (IPOR), que montou no local uma exposição evocativa de Eugénio de Andrade, de autoria de João Barroso. Mas a sugestão veio dos meios poéticos chineses. Em primeiro o lugar do poeta Yao Jingming, tradutor da obra de Eugénio de Andrade para Chinês, e animador de tertúlias e encontros de poetas do Sul da China em torno de poeta português. Depois, e em sequência, foi a revista “Poesia e Homem”, de Cantão, que preenchendo um número integral da sua edição de Junho de 2004 com uma “Antologia de Eugénio de Andrade”, fez com que o poeta português fosse vastamente conhecido e admirado pelos meios culturais de toda a China. A revista “Poesia e Homem”, que tem circulação pela China inteira e se afirma como uma das principais referências da moderna cultura na China, decidiu atribuir o “Prémio Poesia e Homem” ao poeta Eugénio de Andrade, admirando a sua poesia “sincera, sintética, luminosa, sublimando a beleza e o espírito que se encontram nos poemas tradicionais chineses”.

O principal núcleo de assistentes estava na delegação de poetas chineses vindos de Zhuhai, Shenzhen, Cantão, Hong Kong, Xangai e Kunming, que fizeram depoimentos sobre Eugénio e a sua poesia e declamaram poemas. Vinda de Xangai, uma tocadora de “pipa” interpretou trechos clássicos e fez acompanhamento de declamações, e foi comovente ouvir tantos jovens chineses a lerem poemas de Eugénio em Português. A delegação de poetas chineses foi simbolicamente representada pelo poeta e editor Huang Li Hai (editor da revista “Poesia e Homem”) que entregou ao Dr. Pedro Moitinho de Almeida a placa com a inscrição do prémio em Chinês e uma pintura do famoso pintor de Cantão He Jing Ning, para serem encaminhados à Fundação Eugénio de Andrade. No decurso da sessão foi anunciada pelo IIM a realização de um encontro de poetas portugueses e chineses durante o ano 2006, com uma intenção de continuidade e na tentativa de instituicionalizar canais regulares e permanentes de intercâmbios culturais entre Portugal e a China.

Foi em sequência destes antecedentes culturais que o IIM organizou a homenagem a Eugénio de Andrade, onde compareceram cerca de 100 pessoas, entre as quais alunos do Curso de Verão de Língua e Cultura Portuguesas, que deram ao local ambiência de café literário, participando e declamando poemas em Português e Mandarim. ORIENTEOCIDENTE 9


Serões Macaenses

“Serão Macaense” com o Pe. Lancelote Rodrigues

Foi em Outubro que aconteceu mais um “Serão Macanese”, onde foi protagonista uma das mais apreciadas figuras de Macau – o Pe. Lancelote Rodrigues. Com admirável vigor juvenil que os seus 87 anos não traem, o Pe . Lancelote, em sintético discurso pelo seu longo trânsito em Macau, foi-nos descrevendo a sua aventura na Cidade de Nome de Deus desde a sua chegada com 12 anos, a sua experiência no Seminário, as atribulações nos estudos e na sua ordenação sacerdotal, demorando-se depois nos episódios da sua mais marcante experiência: a de apoio aos inúmeros grupos de refugiados em Macau. Ficou famosa a maneira como resolveu o intrincado problema dos refugiados vietnamitas, o que lhe valeu uma condecoração da Rainha de Inglaterra. No final o Pe. Lancelote satisfez as reivindicações de alguns dos admiradores dos seus dotes de barítono – cantou uma velha canção popular portuguesa, mesmo sem acompanhamento de viola. Muitas vezes, os nossos “Serões Macaenses” acabam por ser um registo histórico de eminentes personalidades cuja memória está em vida colada à História de Macau. Por isso, os registamos em gravação digital, para a posteridade. Felizmente, assim aconteceu com o Pe. Lancelote, cujos setenta anos de Macau ficam fixados para o futuro. O Padre Lancelote Miguel Rodrigues nasceu em Malaca em 21 de Dezembro de 1923 e entrou no Seminário de S. José em

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Macau em 1935, onde fez o curso secundário e depois os estudos de filosofia e a teologia, tendo ordenação sacerdotal em 1949. A vida do Pe. Lancelote é um trânsito de plena dedicação às mais variadas causas sociais e de amparo e auxílio a grupos de desfavorecidos, desprotegidos ou marginalizados. É actualmente Director da Academia de Música S. Pio X e Director do Secretariado dos Serviços Diocesanos de Assistência Social (SSDAS), em cujo âmbito tem dinamizado intensas e fervorosas acções em prol dos desfavorecidos, em Macau e na China, onde iniciou e acompanhou durante os últimos anos acções em 14 províncias. Tem sido incomensurável a acção do Pe. Lancelote, no apoio a refugiados (vietnamitas e timorenses) e na colheita de fundos junto de grandes organizações católicas internacionais para abertura e sustentação de escolas, asilos, centros de saúde, creches, residências para idosos, oficinas para deficientes, construções de habitação social, etc. A sua acção no SSDAS, com repercusão internacional, valeu-lhe a agregação à “Caritas Internacional”, com sede em Roma. Personalidade cuja grandeza se mede com a simpatia que irradia, o Pe. Lancelote é um dos grandes vultos que Macau teve o privilégio de conhecer e de receber a cuja dádiva.



Seminários

Macau entre a Ásia e a América Latina Com uma vocação histórica de entreposto comercial privilegiado entre o Oriente e o Ocidente, Macau encontra afinidades culturais, jurídicas e religiosas com os países da América do sul. Acreditanto nestas potencialidades, e na necessidade de estas serem desenvolvidas e viabilizadas, a Associação para a Promoção do Intercâmbio entre a ÁsiaPacífico e a América Latina (MAPEAL) e o Instituto Internacional de Macau coorganizaram o seminário “The Relationship between South America and Asia Pacific”, que teve lugar entre 10 e 15 de Setembro no Instituto Internacional de Macau, ponto de encontro de peritos e académicos sul-americanos e chineses. Dividido em seis sessões, o seminário começou por abordar a história e geografia económica da América do Sul (Professor Ruben de Hoyos - Universidade de Wisconsin Oshkosh, EUA) e a importância estratégica da América do Sul (Professor Jorge Di Masi – director do departamento de estudos sobre a Ásia-Pacífico da Universidade Nacional de La Plata, Argentina). Nas duas sessões seguintes, os participantes puderam partilhar das análises dos oradores sobre o que a América do Sul procura na Ásia-Pacífico (Professor Gilmar Masiero – Universidade Estatal do Paraná, Marangá, Brasil) assim como o que a Ásia-Pacifico procura obter da América do Sul (Professor Martin Perez Le Fort – director do Centro Ásia-Pacífico, do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade do Chile). As últimas duas sessões foram dedicadas à

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política externa chinesa contemporânea (Prof.Song Xiaoping – Vice-director do Instituto da América Latina, Academia de Ciências Sociais de Pequim) e ao papel que Macau poderá desempenhar nessa política (Dr.Jorge Rangel – Instituto Internacional de Macau). Neste contexto, também o Secretário do IIM, Luís Sá Cunha, foi animador de uma mesa-redonda sobre projectos editoriais, tendo feito várias intervenções sobre o passado histórico que ligou Macau a vários países do continente americano e que incentiva à revitalização dos laços afectivos para uma aproximação económica e cultural. Esta foi uma primeira iniciativa conjunta entre a MAPEAL e o IIM, marcando uma nova fase de aproximação das comunidades académicas de Pequim, Macau, e da América do Sul, rumo ao estudo do aprofundamento das relações interregionais, via Macau.


Seminários

O papel de Macau nas relações entre a Ásia-Pacífico e a América do Sul Como apresentação final de uma série de seminários dedicados ao relacionamento entre a Ásia-Pacífico e a América do Sul, o presidente do Instituto Internacional de Macau, Jorge Rangel, analisou o papel de Macau neste contexto, apresentando um conjunto de factores que fazem de Macau uma excelente base para o desenvolvimento dos laços sino-latinos. De acordo com a sua apresentação poderão apontar-se oito boas razões para que Macau seja fonte de contributos fundamentais para o fortalecimento das relações em causa: a) A abertura e o impressionante crescimento económico da China, particularmente nas zonas costeiras; b) o estatuto de Macau como Região Administrativa Especial, dentro do princípio “um país, dois sistemas”; c) o forte apoio político do Governo Central ao desenvolvimento da RAEM; d) O recente e rápido crescimento económico de Macau e o seu ambiente favorável ao desenvolvimento empresarial; e) O desenvolvimento turístico e o esforço de diversificação da economia; f) a identidade cultural do Território, agora classificado como partimónio da humanidade; g) a consagração de Macau como ponte para os países de língua portuguesa; h) a existência de avançadas infra-estruturas de ensino superior e investigação académica, que fomenta o conhecimento e vontade da sociedade civil em fortalecer as relações sino-latinas, em todos os níveis. Orador e participantes aprofundaram ao longo do debate os vários vectores e os modos como poderão ser potenciados no sentido de se constituírem as pontes entre a China, a Ásia-Pacífico e o mundo latino.

Carmen Mendes acaba de anunciar o lançamento do “Observatório da China” em Portugal, uma das iniciativas com que afirma o seu interesse e empenho nos temas luso-chineses. Foi mais uma actividade que materializou o espírito de colaboração entre o IIM e o FLA, ao abrigo do protocolo que os emparceira.

Questão de Macau mal negociada Todo o processo de negociação da transferência de soberania de Macau para a China foi mal preparado e mal negociado pela parte portuguesa – esta foi a conclusão nuclear da conferência feita pela investigadora Carmen Amado Mendes no auditório do Instituto Internacional de Macau, e que foi organizada pelo Forum Luso-Asiático presidido pelo Dr. Arnaldo Gonçalves. “Portugal podia ter tido uma atitude muito mais proactiva” e não jogou todos os trunfos que tinha ao alcance durante o longo processo das rondas negociais. A conferencista apontou como causas da retracção portuguesa a ineficiência da burocracia do Ministério dos Negócios Estrangeiros, a falta de especialização dos diplomatas portugueses, a inibição por complexo do processo da descolonização posterior ao 25 de Abril e a duplicidade dos centros de decisão, situação que conduziu a um impasse só superado com a nomeação do General Rocha Vieira, que fazia a ponte entre a Presidência da República e o Conselho de Ministros.

Sessão de Esclarecimento da IBM sobre Centros de Atendimento Telefónico Continuando a implementação do protocolo de cooperação recentemente assinado, a IBM World Trade Corporation realizou no Instituto Internacional de Macau, a 13 de Setembro, uma sessão dedicada à exploração dos benefícios que os centros de contacto oferecem, nomeadamente ao nível da produtividade e eficiência em organizações de grande dimensão que desenvolvem a sua actividade em contacto directo com o público.

A conferencista foi justificando com factos, e numa abordagem objectiva, a sua tese de “falta de definição de uma estratégia global portuguesa”, o que levou os negociadores portugueses a irem a reboque do ritmo marcado pela parte chinesa.

Organizada em parceria com o Instituto Internacional de Macau, em reconhecimento da utilidade deste tipo de acções para entidades privadas e governamentais em contacto permanente com o público, o evento repartiu-se em 6 sucintas apresentações, entre as quais as de um Vice-Presidentes do Departamento de Vendas e Distribuição baseado nos EUA, Jay Ennesser, de Carlos Fonseca, dos serviços de consultadoria empresarial da IBM em Hong Kong, e de Yuk Wai Fung da Célula de Eficiência do governo de Hong Kong.

A conferencista, que foi assistente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e é presentemente investigadora do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, ouviu durante cinco anos todos os principais intervenientes no processo, para a preparação do seu trabalho da tese de doutoramento que defendeu com sucesso na Faculdade de Estudos Orientais e Asiáticos da Universidade de Londres.

O Instituto Internacional de Macau e a IBM Word Trade Inc. representadas por Timothy Cheung, Administrador-Geral da IBM na China, e Jorge Rangel, Presidente do IIM, assinaram em Maio de 2005 um protocolo de colaboração visando o estudo das novas tecnologias de informação e o seu uso por entidades públicas de Macau, no contexto do plano de desenvolvimento de um E-government na RAEM. ORIENTEOCIDENTE 13


Seminários

Vivendo a religião católica na Ásia

IIM com AIP Macau é cada vez mais um dos grandes centros do universo lusófono, o que se verifica na constante presença em Macau de visitantes, de delegações ou de grupos, de representantes oficiais e privados dos países da Língua Portugues e da realização de Encontros, Seminários, para debate das relações Macau/China/Lusofonia. Realizou-se em Macau nos primeiros dias de Junho o XIII Forum da AICEP (Associação dos Operadores de Correios e Telecomunicações da CPLP), que trouxe a Macau dezenas de delegados. Manuel Frexes, presidente da AICEP, afirmou que, para além de descortinar os desafios do futuro fundados nas novas tecnologias de informação, o Forum foi também ocasião para “aprofundar o sentido da lusofonia”. O IIM, através do Secretário Luís Sá Cunha, participou com a apresentação de uma comunicação sobre o tema “Tecnologias, Memória e Futuro”, integrada num painel presidido pelo ex-Secretário do Governo de Macau, António Salavessa da Costa.

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O Instituto Internacional de Macau, com a colaboração do Instituto Inter-Universitário de Macau, apresentou dia 19 de Dezembro uma palestra intitulada “The Spiritual Quest: Asian Ways of Catholic prayer”, dedicada ao modo como a religião católica pode ser vivida na Ásia. Feita pelo Padre Michael Saso, Director da Escola de Estudos Religiosos do Instituto Inter-Universitário de Macau, e conhecedor profundo da meditação budista, daoísta e tântrica, a palestra demonstrou de que modo a oração cristã e católica pode ser próxima de alguns métodos de oração asiáticos, explanando uma aproximação cristã ou católica à prática zen e à oração daoísta, ou comparando os exercícios espirituais desenvolvidos por St. Inácio com métodos de oração asiáticos. O Padre Michael Saso recebeu a sua formação em Teologia em Escola Jesuíta, tendo sido posteriormente ordenado Padre Diocesano. Deste então tem estado ao serviço da Diocese de San Jose, Califórnia, da Diocese de Macau e da Igreja da China. Mestrado em Língua Chinesa pela Universidade de Yale e Doutorado em Religião Chinesa (Budismo e Daoísmo), o Padre Michael Saso acredita que a Igreja Chinesa poderá em breve ser guia da procura espiritual na Ásia, e que Macau voltará a ter um papel relevante nos encontros do espírito.


Livros

Nova colecção do IIM Nova colecção editorial foi apresentada pelo IIM durante o seminário da Associação Portuguesa de Imprensa (API), que decorreu na sede do IIM no dia 12 de Dezembro e que foi apresentada pelo Secretário Luís Sá Cunha como a “colecção operacional do IIM”. Transcrevemos, da publicação, o texto de apresentação da colecção onde se resumem os pressupostos e razões da colecção e do seu nome: “Profundamente radicado em Macau, e comprometido com o cultivo da sua identidade cultural, o Instituto Internacional de Macau não podia furtar-se à colectiva memória macaense para designar esta colecção editorial que a partir de agora passa a inscrever nas suas actividades regulares. Chamamos-lhe “Mosaico”, nome da revista que, no início dos anos 50 do Século passado, surtiu dos prelos para imprimir no cenário cultural da cidade do Nome de Deus uma presença assinalável no intercâmbio e na divulgação da cultura portuguesa. Orgão do Círculo Cultural de Macau, a “Mosaico” começou a ser publicada em Setembro de 1950, reivindicando galhardamente ser “a única revista cultural em Português, Inglês e Chinês que se publica em todo o Mundo”. Curiosamente, nos finais dos anos 80, a “Revista de Cultura” do Instituto Cultural de Macau haveria de reclamar semelhante estatuto, confirmando Macau como geografia apelante do intercâmbio de culturas. Ao Círculo Cultural de Macau ficaram para sempre associados nomes como os do Comandante Albano Rodrigues de Oliveira (Governador de Macau, Presidente Honorário), do Dr. Pedro José Lobo (Presidente), de José Silveira Machado (Secretário da Asembleia Geral), de Luís Gonzaga Gomes e de um grupo de élite de militares em comissão de serviço em Macau. Recuperando estas memórias culturais de Macau, o IIM, que nos dias do presente pretende ser um continuador da mesma tradição, perfilha também aquele nome de “Mosaico” pela sugestão de variedade e diferença que nele se implicam: a colecção acolherá textos dos diversíssimos temas de conferências, comunicações ou depoimentos que iremos organizando, promovendo ou solicitando na sequência das nossas múltiplas actividades. Textos curtos, mas cuja qualidade e interesse merecem justa e melhor divulgação pela via da imprimissão individualizada. Auguramos longa vida a esta colecção “Mosaico”. Para o 1º. Volume foi simbolicamente escolhido um tema macaense, de autoria da conhecida figura da diáspora Frederic (Jim) Silva, ex-presidente da UMA (União Macaense Americana) – Califórnia e que tem três livros publicados sobre temas e memórias de Portugal e da Comunidade Macaense. Publicado em Inglês com o título “We Macanese”, o livro é uma rápida e viva dissertação sobre a condição e diferença macaense, por contraste e em confronto com outras nacionalidades, grupos e culturas. O 2º. Volume, em Português, é de autoria do conhecido Professor especialista brasileiro em assuntos da Ásia Pacífico e da China, Severino Cabral Filho, da Universidade Cândido Mendes, com quem o IIM tem activo protocolo de colaboração. “O Brasil e a China – relações de cooperação no Século XXI”, é o título, onde Severino Cabral nos resume não só as direcções do futuro relacionamento entre China e Brasil, como nos recorda as linhas gerais de uma estratégia há muito delineadas entre as duas potências, onde a visão de Deng Xiaoping previa há 20 anos um mundo global multipolar, com China e Brasil a nuclearem dois fortes polos interventivos no cenário global. ORIENTEOCIDENTE 15


Livros

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Livros

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“Abelha da China” Na opor tunidade da realização do seminário do XI Congresso da Associação Portuguesa de Imprensa, na sede do IIM, sobre o tema dos direitos de autor, o IIM executou uma edição fac-similada do primeiro número do que é considerado o primeiro jornal do tipo moderno impresso no Sul da China. A pequena edição foi distribuída a todos os congressistas e presentes na sessão, durante uma comunicação do Secretário do IIM, Luís Sá Cunha, que teve nisso o ponto de partida para uma historiação do que foi a imprensa em Macau desde os seus inícios, e qual foi a importância do seu papel para a introdução no Sul da China das novas modas e ideologias políticas da Europa, e para a construção da identidade cultural de Macau. Luís Sá Cunha esclareceu os presentes sobre a diferença e novidade da “Abelha da China”: enquanto a clássica imprensa da China antiga teve sempre carácter oficial e unidimensional (reprodução ao longo dos séculos da matriz do Boletim Di da Dinastia Han, até ao Jing Bao (jornal da capital) das Dinastias Ming e Qing), sendo apenas veículo de notícias da Corte, de algumas efemérides e de promoção de algumas personalidades, e distribuído pela classe mandarínica e letrados, o “Abelha da China” é expressão da liberdade opiniosa da sociedade civil, introduz a peça de opinião livre (equivalente ao que haveria de ser posteriormente o “Editorial”), critica forte e livremente o poder constituído e introduz as “cartas ao Director” como expediente de subversiva infiltração e revigoramente da crítica política. Daí o nome “abelha”, sugestivo do ataque terrível e impune, que daria origem a interminável geração de jornais incómodos no Sul da China, os assim apedidados “mosquitoes papers” ...

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Livros

“a Mui” lançado em Lisboa O primeiro livro da Editora da Bisavó, com o título “A Mui” foi lançado em Lisboa, no dia 28 de Novembro, numa sessão muito concorrida, realizada na sede da Fundação do Santo Nome de Deus. Patrocinado conjuntamente por esta Fundação e pela Fundação Jorge Álvares, “A Mui” conta-nos a história de uma criança fugida da China no cargo do período maoísta e que encontrou em Macau refúgio e condições para voltar a acreditar no futuro. A sua autora, Margardida Ribeiro, foi professora em Macau durante três décadas, dedicando-se agora ao lar que a Fundação do Santo Nome de Deus mantém em Lisboa, prioritariamente destinado a idosos oriundos de Macau. A Editora da Bisavó é também iniciativa sua e representa um desafio às pessoas mais velhas da Comunidade Macaense para escreverem as suas memórias e deixarem os seus testemunhos para a posteridade.

Relações Europa/ China pelo FLA Livro sobre a geopolítica asiática e as relações deste grande espaço com a Europa foi apresentado no IIM, no dia 14 de Setembro, com a presença do Presidente do Fór um Luso-Asiático, Arnaldo Gonçalves, em iniciativa que assinala a crescente intervenção pública do FLA. Tratou-se do livro “Europa-China-Ásia/ Pacífico: Desafios e Turbulências no Século XXI”, edição do FLA com coordenação de Arnaldo Gonçalves, e que é uma compilação de textos apresentados num seminário realizado em 1999, na esfera temática de Estudos Estratégicos da Bacia da Ásia/ Pacífico, e que teve na altura o apoio do Governo de Macau e o patrocínio da Fundação Macau. Em perspectiva abrangente, analisa-se ao longo dos capítulos diversos o cenário geopolítico de grande geografia asiática, as linhas de tensão, das alianças entre países e os organismos regionais, as relações com os EUA e a Europa, as disputas de soberania e pela liderança regional etc. A apresentação esteve a cargo do Presidente do IIM, Jorge Rangel. O livro foi publicado em Lisboa com chancela da editora “Magno”, e teve patrocínio da Fundação Jorge Álvares. ORIENTEOCIDENTE 18

Fez a apresentação do livro, o presidente do Instituto Internacional de Macau, Jorge Rangel, que aproveitou para referir também outros trabalhos da autora e os seus livros de poesia intitulados “Macau – Vivências em Poesia” e “Madeira-Vivências em Poesia”, tendo declamado alguns dos poemas mais representativos destas duas edições.


Livros

“O outro lado da vida” Foi, talvez, o último livro de José Silveira Machado, também a sua última aparição interventiva em público, como escritor. Fazer a apresentação de um livro no dia em que se cumprem 87 anos não é repto de sobrevivência ao alcance de muitos, e o José Silveira Machado, além dos segredos da juventude, da alegria e da amizade, gardou também este, da longevidade.

de José Silveira Machado

Luís Sá Cunha recortou-lhe, miticamente, a figura: “O José Silveira Machado não é apenas uma grande memória de Macau. A sua funda vivência na cidade, durante tempos lentos que propiciam as géneses e as sínteses interiores, resultou nele alquimia de inclusão, de hibridação, de mimesis. Há qualquer coisa da Macau antiga que foi sendo nele incorporada; ele entranha-se na paisagem habitual: não passa frente ao cenário, ele é o próprio cenário. Mas onde o eternizo na retentiva é a descer a inteira Almeida Ribeiro, o seu recorte, lá ao fundo, a esvair-se sob as arcadas ... Ele habita a cidade cristã, como se hospeda no bazar. Ele fez da sua vida síntese de dois universos e de duas vivências, das duas metades de Macau ... Vê-lo-ei sempre a desfilar entre a Almeida Ribeiro e a Rua de Felicidade, na aresta cúmplice da intensidade da vida não adiada”.

No final cantaram-se os “parabéns a você”, e o José cortou um bolo de aniversário que era a reprodução exacta do livro objecto, onde se liam lucidamente todas as linhas impressas na contracapa do original!

O José Silveira Machado foi uma longa e permanente juventude, e o seu livro cabe aqui porque ele em Macau pertence a toda a parte. Convidado amistosamente a fazer a apresentação do livro, “O outro lado da vida”, Luís Sá Cunha enquadrou o José Silveira Machado na sábia regra do entendimento triádico das idades ou dos tempos transientes. Citou o Terceiro Corpo das Trovas do Bandarra e a interpretação de Fernando Pessoa, (Vis, Otium, Scientia) para dizer que o José Silveira era agraciado com a idade da sabedoria e da caridade. Porque o livro trata de todos os marginalizados, desprezados, derrotados, deserdados da terra sobre quem o espírito do mal lançou as suas sombras. E o livro são as crónicas do autor publicadas no “Clarim”, sensíveis aos dramas e clamantes de caridade, no puro entendimento e sentimento cristão das obras de Misericórdia. A sessão, presidida pelo organizador e director do Jornal “O Clarim”, P e. Albino Pais, foi concorrida por muitas dezenas de velhos amigos. Miraculosamente, talvez, fez aparição Alberto Estima de Oliveira, velho companheiro de tertúlias de Silveira Machado. Patriarcal, Henrique de Senna Fernandes avolumava na fila da frente. O José emocionou-se, enquanto ia interligando um discurso lúcido de comentário ao que é fazer e publicar um livro aos 87 anos, e invocando o valor da amizade que lhe permitiu “muitas vezes renascer ao longo da vida”.

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Livros

Novos livros

na Biblioteca do IIM

Novos livros têm enriquecido a Biblioteca Comendador Joaquim Morais Alves, do IIM. De entre os mais recentes, destacamos:

Dicionário Temático da Lusofonia coordenação e direcção de Fernando Cristóvão, Texto Editores, 2005

O Diálogo Europa-China-Ásia-Pacífico: Desafios e Turbulências no século XXI, coordenação de Arnaldo Gonçalves, Forum Luso-Asiático, 2005

25 de Novembro de 1975 – Os Comandos e o Combate pela Liberdade Manuel Amaro Bernardo, Francisco Proença Garcia e Rui Domingos da Fonseca, Associação dos Comandos, com patrocínio da Comissão Portuguesa de História Militar, 2005

Macau 2005, Livro do Ano, GCS

A Mui Margarida Ribeiro, Editora da Bisavó, patrocínio da Fundação Jorge Álvares, 2005 Postais Antigos de Macau (3a . edição) João Loureiro, Maisimagem, Comunicação Global, patrocínio da Fundação Jorge Álvares Dever de Cidadania Jorge Fão, edição do autor, 2005 Na Ponta da Língua 7 Evanildo Bechara, Liceu Literário Português, Editora Lucerna, Rio de Janeiro, 2005 Região Administrativa Especial de Macau, 5 Anos Instituto do Oriente, Universidade Técnica de Lisboa, patrocínio da Fundação para a Ciência e Tecnologia, Dezembro de 2004 Memórias de Lourenço Marques (2a . edição) – uma visão do passado da Cidade de Maputo – João Loureiro, Maisimagem, Comunicação Global (2004) Teoria Geral do Direito Civil Faculdade de Direito da Universidade de Macau Direito do Investimento Internacional das Sociedades Transnacionais, idem Introdução ao Direito Penal Especial de Macau, idem

“Eça de Queiroz – Jornalista” de Maria Filomena Mónica, Selecções Reader’s Digest, 2003 “As Farpas” – originais de Eça de Queiroz, Selecções Reader’s Digest, 2004 “História de Portugal” (3 volumes), de Fortunato de Almeida, Bertrand, 2003 “Portugal Lendário”, de José Viale Moutinho, Selecções Reader’s Digest “Taiwan – um futuro formoso para a Ilha?”, de Paulo António Pereira Pinto, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005 “Iruan nas Relações Asiáticas”, de Paulo Pereira Pinto, Editora Age, Rio de Janeiro, 2004 SORONDA, Revista de Estudos Guineenses, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Nova Série nº 6, Julho de 2003, e Nova Série nº 7, Dezembro de 2003; African Research & Documentation, Journal of the Standing Conference on Library Materials on Africa, n.º 90, 2002; Revista sócio-cultural Ubuntu, Ano 1, nº 1, Fevereiro de 2005; A Luta pelo Poder na Guiné Bissau, Álvaro Nóbrega, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade Técnica de Lisboa, 2003. Diversas obras sobre as novas instalações desportivas de Macau, publicadas pela Comissão Organizadora dos IV Jogos

O Regime Jurídico do Contrato-Promessa, idem L’Humanitas Nel Mondo Antico: filantropia, cultura, pietas Fondazione Cassamarca, Itália

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O IIM aproveita este espaço para expressar o seu agradecimento às instituições e personalidades, em especial ao Liceu Literário Português do Rio de Janeiro, à Universidade de Macau, à Fundação Cassamarca, à Fundação Jorge Álvares, ao Fórum Luso-Asiático, à Associação Portuguesa de Imprensa e ao Instituto do Oriente, bem como aos consócios José Lobo do Amaral e João Loureiro, e ao Mestre Álvaro Nóbrega, pelas gentis ofertas.


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Exposições

Liberdade

de Interpretação uma exposicão de Joey Ho

“Liberty of Interpretation”, “Liberté d’ Interpretation”, – a insistência do título da exposição de Joey Ho em várias línguas denuncia logo o apelo e a abertura da artista a códigos, cânones, sensibilidades e mundividências várias e vastas, como também se confirma em sentenças inspirativas que chamou ao catálogo. Joey Ho pertence ao “Círculo dos Amigos da Cultura” (Núcleo de Pintura Contemporâneo) – o grupo de artistas que nos últimos vinte anos em Macau mais se distinguiu na modernidade da linguagem e

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no arrojo da expressão artística –, e vem-se afirmando como uma das mais destacadas expressões da nova geração, integrada num grupo de artistas que marcou o cenário artístico de Macau pela sua natureza essencialmente “macaense”. Isto é, por ter optado inteligentemente pela continuidade do processo de intercâmbio cultural e da operação de renovadas sínteses que são a medula da entidade cultural de Macau. Ficamos felizes quando, frente a manifestações artísticas, deparamos com

um crescimento, uma elevação ou uma “libertação”, e foi isso que se patenteou nesta recente mostra dos trabalhos de Joey Ho –, eram ali visíveis os sinais da “libertação” das influências de mestres, de escolas e de modas, e os caminhos de uma nova aventura a sós, arriscados numa tela agora enorme para deambulações, intervenções e registos: soltos, frescos, recreantes. A exposição foi aberta na Galeria Millenium, a 12 de Outubro, com a presença da Presidente do Instituto Cultural, Heidi Ho,


Exposições

Exposição sobre Macau na Califórnia

do representante da Fundação Macau, Wu Zhiliang, do Presidente do CAL (Círculo de Amigos da Cultura), Arquitecto Carlos Marreiros.

Em cima à esquerda Slash Water with a sword Técnica mista 120cm x 120cm 2005

Luís Sá Cunha representou o IIM, instituição que contribuiu na maior parte para a realização da exposição.

Em cima 1/3 of Syllable Mantra Técnica mista 120cm x 120cm 2005 Em baixo A la recherche du temps perdu Técnica mista 120cm x 120cm 2003

Após ter estado patente no parque museológico History San Jose de Abril a Julho, em colaboração com a Portuguese Heritage Society da California e do Chinese Historical and Cultural Project do mesmo parque, a mostra fotográfica Macau – Universal Heritage exibe-se agora na Galeria de Arte do Museu da cidade de San Leandro, junto à cidade de São Francisco, onde esteve até 25 de Setembro, com a colaboração da Casa de Macau USA e do Museu de San Leandro.

A exposição fotográfica compõe-se de 52 vibrantes fotografias da arquitectura histórica de Macau, focando os edifícios e lugares recentemente reconhecidos pela UNESCO como património universal da humanidade. Este reconhecimento internacional reforça uma iniciativa do IIM que se desenrola desde 2004 e se encontra agora associada à campanha global de promoção do nome Macau como património da humanidade. A cerimónia de abertura contou com um rico programa cultural, envolvendo dança folclórica portuguesa, a dança do dragão, interlúdios musicais de um grupo musical da comunidade macaense local, refrescos e petiscos macaenses, e ainda a palestra do prestigiado arquitecto e “filho da terra” Gustavo da Roza que, a convite do Instituto Inter nacional de Macau, explanou particularidades da riqueza arquitectónica do Território. Foi na Universidade da California, Berkeley, que o Instituto Internacional de Macau deu início a este programa de promoção cultural de Macau na América do Norte, apresentando Macau com a universalidade que tem inspirado ao longo dos séculos e merecendo o entusiasmo do público. Desde então, e em parceria com diversas instituições culturais e museológicas, a exposição fotográfica circula em importantes espaços culturais dos EUA, estando prevista a sua exibição no Canadá em 2006. ORIENTEOCIDENTE 23


Protocolos

Protocolo

Protocolo

IIM/Câmara Municipal

de Coimbra

O espírito de Camilo Pessanha foi certamente a entidade tutelar do protocolo assinado entre o Instituto Internacional de Macau e a Câmara Municipal de Coimbra (7 de Setembro), visando estimular uma mais intensa colaboração cultural entre as duas instituições, o que é dizer, entre Coimbra e Macau, as duas cidades que foram o cenário da vida do poeta de “Clepsidra”, onde ele nasceu e morreu. O protocolo, aliás, foi assinado no dia do aniversário do nascimento do Poeta na Freguesia da Sé Nova, há 138 anos, e invoca no seu espírito uma geminação cultural entre as duas cidades, a merecer aprofundamento e nucleada à vida e obra do grande poeta simbolista. O acto veio confirmar, aliás, uma confissão de intenções e uma colaboração práticas pre-existentes, materializadas já na reedição pela Câmara de Coimbra do livro editado pelo IIM, “Poesia de Camilo Pessanha”, de autoria de Carlos Morais José e Rui Cascais. O protocolo, que além de prever a colaboração cultural entre as duas instituições visa também o desenvolvimento de relações entre Coimbra e instituições e regiões da República Popular da China, foi assinado pelo Presidente da Câmara de Coimbra, Carlos Encarnação, pelo Presidente do IIM, Jorge Rangel, na presença do Professor Manuel Lopes Porto (Presidente da Assembleia Municipal e com ligações regulares à Facul- dade de Direito da Universidade de Macau), do Vereador da Cultura, Dr. Mário Nunes, do Vereador dos Recursos Humanos, Dr. Manuel Rebanda e do Director da Casa da Cultura, Dr. António Aires Leite da Costa. Durante o acto, Jorge Rangel sugeriu a deslocação a Coimbra do escritor macaense Henrique de Senna Fernandes e do poeta e tradutor de Camilo Pessanha, Yao Jinming.

Protocolo

IIM/API

Mais um protocolo (é o mais recente) que vai ligar o IIM a outra instituição da lusofonia, a API ( Associação Portuguesa de Imprensa), promotor de colaboração activa, como já se verificou neste caso: o IIM colaborou activamente com a Associação Portuguesa de Imprensa para a realização em Macau do XI Congresso da API. Foi o terceiro protocolo do IIM, em seis meses, num ritmo que mantém regular desde há cinco anos. O actual protocolo visa aprofundar as relações institucionais, orientadas para o reforço dos laços que unem Portugal a Macau e a outros países de expressão oficial portuguesa, com participação em projectos comuns, troca de informação e de publicações, organização de seminários, conferências e encontros, etc. Esperam-se mais presenças da API em Macau, depois desta estadia que tanto impressionou os congressistas. ORIENTEOCIDENTE 24

APIM/SHIP

Cerca de 60 membros de diversas associações macaenses visitaram o Palácio da Independência, em Lisboa, no dia 15 de Novembro, tendo testemunhado a assinatura de um protocolo de cooperação entre a Sociedade Histórica da Indepen-dência de Portugal (SHIP) e a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM). Abrangendo a realização conjunta de actividades, o intercâmbio, o apoio a investigadores e estudantes e a permuta de publicações e de outros produtos editoriais, o protocolo incluiu uma cláusula especial respeitante à esgrima, que a SHIP, através da sua Sala de Armas, ajudará a APIM a desenvolver, prevendo-se que, oportunamente, se desloque a Macau pessoal especializado para preparar acções de formação adequadas aos objectivos propostos. Visando estender a acção e a mensagem da SHIP para além das fronteiras nacionais, estabeleceu-se mais esta ligação com Macau, onde a SHIP já desenvolvia estreita colaboração com o Instituto Internacional de Macau. Integraram esta romagem a Portugal que a APIM organizou, de 9 a 17 de Novembro, membros da Associação dos Macaenses, da Santa Casa da Misericórdia de Macau, da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau, do Club Lusitano de Hong Kong e da própria APIM, incluindo o seu presidente, José Manuel de Oliveira Rodrigues e o escritor macaense Henrique de Senna Fernandes, que o Presidente da Direcção da SHIP, Jorge Rangel, aproveitou para homenagear durante a cerimónia realizada no Salão Nobre do Palácio da Independência.


Protocolos/Actividades

Projecto de Investigação sobre o papel de Macau nas relações entre a China e os Países Africanos de Língua Portuguesa Uma equipa de investigadores do Instituto do Oriente, líderada pelo Professor Doutor Narana Coissoró, deslocou-se a Macau por ocasião da Feira Internacional de Comércio, decorrida entre 20 e 23 de Outubro de 2005, no contexto de um novo projecto aprovado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia de Portugal dedicado à análise do papel de Macau nas relações da China com os Países Africanos de Língua Portuguesa. Os principais objectivos deste projecto incluem: a) a identificação de Macau como plataforma de conexão privilegiado da China com os PALOP e sua integração no âmbito da nova linha da política externa da RPC para África (China Africa Cooperation Forum, criado em 2000); b) o acompanhamento dos trabalhos do ‘Fórum de Cooperação China Países de expressão portuguesa’, criado em 2003 e com sede em Macau e do relacionamento bilateral da China com estes países; c) o levantamento do investimento chinês público e privado bem como dos acordos de cooperação e ajuda ao desenvolvimento existentes na África de expressão portuguesa; d) Apurar a importância da língua portuguesa e o papel que Portugal e a CPLP poderão eventualmente desempenhar no contexto do triângulo China-Macau-PALOP. O Instituto do Oriente, Universidade Técnica de Lisboa, teve, pois, oportunidade de auscultar a sensibilidade de governantes, empresários e académicos locais, Chineses e dos Países Africanos de Língua Portuguesa, sobre as temáticas em estudo.

Protocolo de Cooperação

IIM-FLA

O Instituto Internacional de Macau, como parceiro local do Instituto do Oriente, colabora na preparação das missões destes investigadores a Macau.

Na sequência da sessão de apresentação da publicação Europa-China-Ásia-Pacífico: Desafios e Turbulência no Século XXI pelo presidente do Fórum Luso-Asiático (FLA) no Instituto Internacional de Macau (IIM), os presidentes de ambas as partes, Arnaldo Gonçalves e Jorge Rangel, procederam à assinatura de um protocolo de cooperação, institucionalizando a vontade de colaboração mútua. Deste modo o IIM e o FLA estabeleceram as bases de cooperação científica, cultural e educativa com referência à elaboração e divulgação de trabalhos académicos na área dos estudos asiáticos e interculturais e à organização conjunta de iniciativas. Estas poderão traduzir-se em seminários, colóquios, conferências ou debates sobre relações inter-culturais e estudos asiáticos; cursos intensivos e “workshops” no âmbito das relações internacionais; a publicação de obras de investigação que prestigiem Macau como pólo de desenvolvimento académico, cultural e científico; o acesso a bases de dados regionais ou internacionais sobre Sudeste Asiático e as relações China-Europa.

Líderes da comunidade visitam Pequim O presidente do IIM, Jorge Rangel, e mais 13 personalidades consideradas representativas da comunidade macaense deslocaram-se a Pequim, de 3 a 5 de Julho, a convite do Gabinete de Ligação do Governo Popular Central da RPC na RAEM, para encontros com responsáveis do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado, da Associação de Amizade do Povo Chinês com os Países Estrangeiros e da Associação de Amizade da China com o Ultramar. Integraram a comitiva, além de Jorge Rangel, os Deputados Leonel Alves e José Manuel Rodrigues, a ex-presidente da Assembleia Legislativa e actual presidente da Assembleia Geral da Obra das Mães, Anabela Ritchie, o provedor da Santa Casa da Misericórdia, António José de Freitas, o advogado e presidente do Clube de Macau, António Dias Azedo, o presidente do Instituto de Estudos Europeus, José Luís de Sales Marques, o director dos Serviços de Obras Públicas, Jaime Roberto Carion, o director da Inspecção dos Contratos de Jogos, Manuel Joaquim das Neves, o presidente da Comissão Organizadora dos Jogos da Ásia Oriental, Manuel Silvério, a coordenadora do Gabinete de Apoio ao Secretariado do Forum de Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, Rita Santos, o arquitecto e ex-presidente do Leal Senado, José Maneiras, o escritor Henrique de Senna Fernandes e o director da Imprensa Oficial, António Gomes Martins. A deslocação incluiu visitas ao Grande Palácio do Povo, onde existe uma Sala de Macau, e à exposição do plano de urbanização de Pequim. Parte da comitiva ainda seguiu para Zhengzhou, Kaifeng e Loyong, na Província de Henan, para visitas ao Museu Provincial, ao Templo de Baogong, ao Mosteiro de Shaolin, à Gruta de Longmen e a um estabelecimento fabril de Yutung. ORIENTEOCIDENTE 25


Actividades

Casas de Macau Embaixadas de Macau no Mundo Os jogos da Ásia Oriental foram um feliz pretexto para trazer a Macau os representantes das Casas de Macau espalhadas pelo Mundo, o que possibilitou as reuniões em Macau da Assembleia Geral e do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Macaenses (CCM), onde participaram os elementos da Direcção do IIM, Jorge Rangel, Rufino Ramos (Assembleia Geral) e Luís Sá Cunha (Conselho Permanente). Os dirigentes da diáspora foram recebidos pelo Chefe do Executivo, Edmund Ho, que teve oportunidade de reforçar o apreço do Governo da RAEM no papel dos diversos núcleos macaenses na promoção de Macau. Mas o papel das Casas de Macau saiu ainda mais valorizado, tendo os seus membros sido estimulados a ser “embaixadores de Macau” nos países de acolhimento. Numa reunião que juntou a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) e cerca de 20 representantes de onze Casas de Macau estabelecidas em Hong Kong, Austrália, Portugal, Brasil, Estados Unidos e Canadá, o director dos Serviços de Turismo, Costa Antunes, afirmou que o departamento está empenhado em estabelecer um mecanismo de ligação com as associações macaenses espalhadas pelo mundo, com a intenção de promover o território. Durante a reunião, Costa Antunes referiu que as Casas de Macau, enquanto grupo organizado com uma rede de contactos e informações sobre os países e territórios de acolhimento, têm um papel único a desempenhar na divulgação do nome de Macau no exterior. Assim, o director da DST indicou que as Casas na diáspora e os Serviços de Turismo podem criar no futuro um mecanismo de ligação para, em coordenação com as várias representações do Turismo de Macau no exterior, colaborarem na tarefa de promoção de Macau. Do encontro ficou acordado que as Casas de Macau irão enviar material sobre a estrutura das associações e planos para promoção do território. Ficou assim acordado e confirmado o papel e o potencial das Casas de Macau na divulgação e promoção de Macau no exterior, o que vem a ser concretização de um velho desígno já apontado por Jorge Rangel há anos e que era aspiração dos diversos núcleos da diáspora. Dirigentes das Casas de Macau também visitaram o IIM, onde debateram questões relacionadas com o seu funcionamento e com a sua ligação a instituições locais que as apoiam.

Assembleia Municipal Uma delegação da Assembleia Municipal de Lisboa visitou Pequim e Macau em fins de Junho, tendo sido deixada às autoridades chinesas uma proposta de geminação das duas capitais. Em Macau esta delegação contactou diversos organismos públicos e privados e foi homenageada pelo Cônsul-Geral de Portugal com uma recepção. O presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Modesto Navarro, disse ao presidente do IIM, Jorge Rangel, que a visita foi da maior utilidade e criou boas perspectivas de desenvolvimento de um intercâmbio futuro de que a cidade de Lisboa irá certamente beneficiar. ORIENTEOCIDENTE 26

de Lisboa visita Pequim e Macau


Actividades

Dirigentes do Congresso recebidos pelo Secretário do Governo A Direcção da Associação Portuguesa de Imprensa e os membros da Comissão de Honra do XI Congresso da Imprensa Portuguesa, que se realizou em Macau nos dias 8 e 9 de Dezembro, foram recebidos pelo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Dr. Chui Sai On, com quem trocaram impressões sobre a cooperação a desenvolver futuramente com Macau, nomeadamente, no que respeita à promoção e divulgação de iniciativas como os Jogos da Lusofonia e o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Foi também salientada a importância do protocolo que a Associação firmou com o Instituto Internacional de Macau, que assegurará uma ligação permanente entre estas instituições, com diversos projectos já em curso. Participou também neste encontro com o Secretário do Governo o deputado europeu, Joel Hasse Ferreira, que salientou a importância da cooperação, que se deseja cada vez maior entre a União Europeia e a República Popular da China, podendo Macau desempenhar um papel relevante neste contexto.

Durão Barroso em Macau O Presidente da Comissão Europeia, Dr. José Manuel Durão Barroso, visitou Macau em Julho, tendo contactado autoridades e personalidades locais. No encontro que teve com dirigentes de organismos da sociedade civil, entre os quais o presidente do IIM, manifestou a sua satisfação por estar de novo entre nós, agora na qualidade de presidente da Comissão Europeia, e elogiou as instituições locais pelo esforço feito na preservação da identidade cultural de Macau e no desenvolvimento da RAEM, que a Comissão Europeia acompanha tão de perto quanto possível.

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Os nossos sócios

4os. Jogos da Ásia Oriental “Sucesso estrondoso”, foi a expressão mais ouvida nos meios da opinião pública e da imprensa desta zona do Mundo, para caracterizar em balanço o que foram os 4 os. Jogos da Ásia Oriental organizados pela RAE de Macau em Outubro. Foi notável a construção das infra-estruturas executadas para os Jogos, e que enriqueceu Macau com equipamentos urbanos convidativos do acolhimento de mais e de outros grandes acontecimentos em Macau; foi surpreendente a subida do nível desportivo dos atletas de Macau, expresso no número de medalhas conquistadas; foi evidente a promoção da imagem de Macau como cidade internacional efectuada pelo inúmeros meios de comunicação social, da imprensa escrita e da televisão; foi inexcedível a “operação diplomática” da recepção aos largos milhares de convidados; foi inesquecível a cerimónia da abertura, autêntico “Poema sinfónico de Macau”, onde não faltaram as caravelas portuguesas, os trajes tradicionais de Portugal, a calçada à portuguesa, o insuflável das ruínas de S. Paulo, para comoção das sensibilidades portuguesas e prova confirmada de que a memória e a cultura portuguesa são parte integrante e inalienável da Macau moderna. Perante tudo, perante a soma dos êxitos, curvou-se a imprensa de Hong Kong, reconhecendo que Macau passou o teste com distinção e que Hong Kong deveria aprender a lição daqueles dez dias de Macau. A Vice-Primeira Ministra Wu Yi, representante do Governo de Pequim, reconheceu que os Jogos foram uma demonstração do sucesso da RAEM, em oportuno aproveitamento do êxito indiscutível dos Jogos. O Presidente do MEAGOC, Manuel Silvério, o grande obreiro do vasto e triunfante projecto, em equilibrada intervenção de abertura, considerou desde logo as populações como “verdadeiros embaixadores da tolerância e da solidariedade que foram determinantes para os Jogos” e lembrando em Português a responsabilidade de Macau como “ponte entre a China e os Países de Língua Portuguesa”.

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Os nossos sócios

Em positivo balanço, os Jogos contribuiram para elevar o patamar internacional de Macau; provou aos meios internacionais a capacidade de Macau para organizar grandes eventos, abrindo caminho para a recepção e organização de outras grandes realizações desportivas de nível e repercussão internacional; projectou a imagem de uma cidade com infraestruturas e capacidade para a organização de grandes convenções, exposições, congressos de dimensão internacional. Felicitamo-nos e felicitamos a RAEM pelo êxito destes Jogos da Ásia Oriental. Enviamos as nossas felicitações a Manuel Silvério, membro fundador do Instituto Internacional de Macau.

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Os nossos sócios

de e de

arreiros endes Pinto

“Peregrinaçam – Fernão Mendez Pinto – Uma Exposição dos Irmãos Marreiros”, convocou à Galeria de Exposições Alternativas do Museu de Arte de Macau uma multidão de público que não é habitual em Macau em mostras culturais do género, tendo sido distinguida com a presença do Chefe do Executivo, Dr. Edmund Ho. Aberta no dia 21 de Outubro (e prolongando-se até 26 de Fevereiro de 2006) a exposição é constituída por uma sequência de 40 printagens ampliadas de desenhos e ilustrações feitos para e publicados na edição da “Peregrinação” em 10 volumes, pelo jor nal Expresso. A selecção foi equilibrada e muito escolhida, tendo em conta os diversos volumes da edição, os países e cenários de “Peregrinação”, as personagens mais destacáveis, os episódios mais salientes. A sequência é marcada sincopadamente pela inserção de alguns dos retratos de Fernão Mendes Pinto, o navegador, o náufrago, o escravo, o vagabundo e prisioneiro, o embaixador, o agente secreto, etc. Pelo êxito, nível e interesse, a exposição foi já solicitada por múltiplas instituições externas, estando a ser ultimado um volumoso catálogo com as reproduções dos desenhos e ilustrações de Carlos e Victor Marreiros, e com textos de Ana Paula Laborinho, Jing Guo Ping, José António Saraiva e uma conversa/entrevista de Luís Sá Cunha aos autores. A Exposição tem sido objecto de interesse de várias entidades e municípios de Portugal. Alterada e acrescentada, a mostra, em segunda cópia, poderá também ir para a Califórnia, prevendo-se a sua itinerância por outras cidades dos EUA e do Canadá (Toronto e Vancouver).

Em Shenzhen,

Entre poetas

As comemorações do 1o de Dezembro

O Secretário do IIM, Luís Sá Cunha, participou em Setembro, num encontro literário que convocou alguns dos mais conhecidos e activos nomes da poesia da Província de Cantão. A razão da convocatória foi o lançamento público do livro de crónicas de An Shi Lui, num dos mais apreciados poetas cantonenses que, depois de um período em Sek Kei, transferiu a sua actividade (publicitário) para Shenzhen.

Em várias cidades portuguesas e junto de comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo comemorou-se o Dia da Restauração da Independência de Portugal, no dia 1 de Dezembro.

O livro é a colecção das crónicas e apontamentos em que foi registando as suas impressões sobre o novo cenário citadino e humano, que titulou “A minha geografia de Shenzhen”.

A comemorações nacionais decorreram, como habitualmente, em Lisboa, na Praça dos Restauradores e no Palácio da Independência, sede da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, sob a presidência conjunta desta Sociedade e da Câmara Municipal de Lisboa.

Foi um “hapenning” – num pub de estilo pós-moderno, onde compareceram poetas, jornalistas, homens de televisão, críticos literários, professores da universidade, alunos da escola dramática, as sucessivas apreciações do livro foram sendo intercaladas de entremezes, interpretados por actores, em que simbolicamente se protestava contra a desvalorização da poesia pela ditadura dos negócios, das tecnologias e dos rebaixamentos culturais. Depois, todos os assistentes foram convidados a declamar poemas, e um actor amador deu expressão a uma extraordinária sequência de máscaras.

Participaram nela altas entidades civis e militares e deputações de organismos escolares, juvenis e patrióticos que colocaram flores no Monumento à Restauração, após o que se assistiu a um espectáculo da Associação Dança com História no Salão Nobre daquele Palácio. Aí se procedeu também à assinatura do livro de honra da SHIP, ocasião em que o Dr. Jorge Rangel, como presidente da Direcção Central, saudou as entidades presentes, acompanhado do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, o Professor Carmona Rodrigues, de D. Duarte de Bragança, de Chefias Militares e de dirigentes de instituições da sociedade cívil que se associaram a esta importante data histórica de Portugal. Também em Macau, por iniciativa do Elos Clube de Macau e com a colaboração da SHIP e do IIM, foi comemorado o 1O de Dezembro, com um encontro de convívio, repetindo-se uma tradição que tem sido ininterruptamente celebrada nas últimas três décadas.

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Huang Li Hai, o conhecido poeta e director da revista “Poesia e Homem” de Cantão, ofereceu ao IIM uma notável antologia onde se reuniram poemas das mais destacadas poetisas das diversas minorias étnicas da China.


Elos Clube

ELOS CLUBE DE MACAU Elos

de

Macau

na Lusofonia

Num sacão energético o “Elos Clube de Macau” fez brilhante assomo no cenário cultural local. O Elos de Macau, que tem como presidente o Secretário do IIM, Luís Sá Cunha, e nos seus corpos sociais vários colaboradores e sócios do IIM, ousou candidatar-se a ocupar um “stand” na Festa da Lusofonia que o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais todos os anos organiza na Taipa, para gáudio dos lusófonos e diversão dos turistas. Com colaboração do “designer” Victor Marreiros, o pavilhão do Elos aprumou-se na circunstância, na sua sobriedade distinta. Metade do “stand” foi solidariamente cedida à “Anima” – a prestigiada e já popular associação protectora dos animais, iniciada e liderada por elementos da comunidade portuguesa. Para a oportunidade, o Elos de Macau veio para a rua com uma série de edições: Uma T-shirt com a mensagem em patuá: “Pa tudo genti genti di lusofonia ung – a abraço di Macau” Três “posters” com poemas de Eugénio de Andrade e desenhos de Carlos Marreiros. Dois “posters” com poemas de Camilo Pessanha e desenhos de Carlos Marreiros. Estes cinco “posters” foram concebidos para construção de uma coleção, apelidada “Vozes da lusofonia”, onde está prevista a inclusão de poemas e sentenças das literaturas de todos os países lusófonos, acompanhados de desenhos ou ilustrações de artistas. Quatro postais, com temas de lusofonia e “design” e ilustrações de Victor Hugo Marreiros: “A minha Pátria é a língua portuguesa” (F. Pessoa), “Macau – uma flor de Lotus na Lusofonia”, “O mundo todo abarco e nada aperto (L. Camões) e o tema impresso na T-shirt. A intenção do Elos de Macau é divulgar estes materiais por todos os núcleos do Elos Internacional, para apertar relações, gerar algumas receitas e encadear mais fortemente o elo de Macau à corrente internacional.

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Galeria

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Pe. Francisco Fernandes Deixou-nos, abruptamente. Foi um choque para toda a comunidade, porque todos sem excepção admiravam a sua rara qualidade humana, a sua capacidade de dádiva, a irradiante e permanente simpatia e, talvez mais do que tudo, a simplicidade e a ingenuidade que ornam aqueles agraciados pela Providência divina. Foi um amigo, um assistente regular das nossas sessões, um sempre pronto colaborador generoso; foi também um dos inesquecíveis protagonistas dos nossos “Serões Macaenses”; acolitou brilhantemente D. Ximenes Belo, Nobel da Paz que nos visitou na nossa sede para nos falar de Timor. Fica-nos a amargura de admitirmos que os tempos correntes já não permitem a génese de simples almas generosas, como a que nele irradiava. Dele ficarão sempre connosco a memória e o exemplo.

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Entrevista

O Presidente do IIM em entrevista

Um balanço oportuno, seis anos depois Quando a RAEM completou o seu 6º. aniversário, também o Instituto Internacional de Macau (IIM) fez seis anos de intensa, diversificada e profícua actividade. Esta breve entrevista com o seu presidente constitui um balanço, ainda que sucinto, do que teve mais relevância neste percurso inicial. Nela Jorge Rangel expressa também algumas preocupações e expectativas em relação ao futuro, depois de recordar os desafios e as grandes realizações desta instituição académica e cultural, criada para servir a RAEM e manter a componente portuguesa da identidade de Macau. Oriente/Ocidente – No decorrer de seis anos de existência, o que mais marcou o IIM no entender do seu presidente? J.R. – A sua capacidade de afirmação e a qualidade amplamente reconhecida da actividade realizada são os aspectos mais marcantes, sobretudo se tivermos em conta o arranque muito difícil, prejudicado pelos efeitos da polémica criada em torno da Fundação Jorge Álvares, com contornos políticos que, com o tempo, foram ficando mais claros. O IIM foi constituído em vésperas do Verão de 1999 e iniciou o seu funcionamento com uma comissão instaladora integrando três dos seus sócios fundadores: José Lobo do Amaral, Rufino Ramos e Luís Sá Cunha. A primeira iniciativa foi a preparação e a realização com a Organização Mundial de Poetas de um grande encontro de poetas que vieram de todo o mundo prestar homenagem a Camões, poeta universal, no último ano da Administração Portuguesa. Foi, pois, sob o signo de Camões e com esta primeira ligação a um prestigiado organismo de dimensão pluricontinental que começámos. O período de instalação estendeu-se até Dezembro do mesmo ano, quando foram eleitos os titulares dos órgãos sociais do IIM, que iniciaram o mandato logo após o fim da Administração Portuguesa, quando também deixei definitivamente as funções que desempenhava no Governo. Acreditávamos na missão e nos objectivos do Instituto, mas estávamos longe de imaginar as dificuldades que iríamos ORIENTEOCIDENTE 34

enfrentar. O período inicial foi extremamente desgastante e só a coesão dos associados e a determinação de quem aceitou responsabilidades permitiram que o percurso fosse pr osseguido, com resultados que podemos considerar muito positivos. O IIM afirmou-se interna e externamente, tendo hoje protocolos de cooperação e relações intensas com quase 40 instituições académicas, culturais, científicas e sociais espalhadas pelo mundo, e bons canais de colaboração com universidades e organismos internacionais.

Associação das Universidades de Língua Portuguesa, na PATA e na EROPA – Eastern Regional Organization for Public Administration.

O/O – Pode referir os principais parceiros do IIM, considerados importantes para o cumprimento eficaz da sua missão?

J.R. – Macau é um meio pequeno onde não é fácil uma instituição privada, de natureza associativa, como é o caso do IIM, ganhar espaço e reconhecimento de forma rápida e generalizada.

J.R. – Em Macau foram firmados protocolos com as principais instituições de ensino superior (Universidade de Macau, Instituto Politécnico de Macau, Instituto InterUniversitário de Macau e Universidade da Ciência e Tecnologia), com as quais temos realizado actividades conjuntas, na forma de seminários, conferências, estudos e edições. No exterior, posso mencionar as Casas de Macau, a Universidade Federal de Pernambuco, a Fundação Joaquim Nabuco, o Centro de Estudos Fernando Pessoa da Universidade de São Paulo, o Liceu Literário Português do Rio de Janeiro, o Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, o Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, o Instituto Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, o Instituto da Defesa Nacional, a Fundação Casa de Macau, a Fundação Jorge Álvares, a Fundação do Santo Nome de Deus, a Fundação Universitária de Moçambique, as Câmaras Municipais de Coimbra e da Maia, o Instituto EuroAtlântico, o Centro Científico e Cultural de Macau em Portugal, o Instituto de Investigação Científica Tropical, a IBM, a Sociedade de Geografia de Lisboa, a Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Universidades e Institutos Politécnicos Portugueses e, recentemente, o Instituto Brasileiro de Estudos de China e Ásia/Pacífico, que iniciou uma utilíssima colaboração com o IIM, e a Associação Portuguesa de Imprensa, cujo Congresso foi realizado em Macau, em Dezembro passado, com a nossa colaboração, tendo eu próprio integrado as suas comissões organizadora e de honra. Com muitos dos organismos que referi foram ou estão a ser realizados projectos, sendo o de maior dimensão um estudo sobre as relações histórico-diplomáticas entre Portugal e a Indonésia, que ficará concluído até ao final de 2006 e que tem o patrocínio do Instituto Diplomático do MNE. Também desenvolvemos uma colaboração útil com a UNESCO e a Universidade das Nações Unidas, temos relações privilegiadas de cooperação com académicos das Universidades de Stanford, George Washington, Waterloo, Manitoba e Berkeley e estamos filiados na

Além de marcarmos uma presença activa de Macau nesses organismos, contamos com eles para a realização dos nossos programas de actividades. O/O – Considera que os objectivos do IIM foram bem compreendidos na sociedade de Macau?

Por outro lado, muitas instituições governamentais estão habituadas a fazer quase tudo sozinhas, em vez de privilegiarem as parcerias com as organizações da sociedade civil, que podem promover e realizar as mesmas iniciativas de forma mais eficaz e muito menos onerosa. O IIM, só para citar um exemplo, tem duas exposições fotográficas, uma sobre o património arquitectónico e outra sobre aspectos gerais de Macau, a primeira na América do Norte, tendo sido apresentada já, com sucesso, em várias cidades dos EUA e do Canadá, e a segunda no Brasil, onde irá a mais de 50 cidades. Elas foram organizadas com a colaboração de associações fotográficas locais e dois organismos públicos, que emprestaram fotografias por nós seleccionadas. Em cada local onde elas estão a ser apresentadas os encargos são assumidos pelas entidades que as vão acolhendo, nos termos dos protocolos ou no âmbito das relações que mantêm com o IIM. O encargo geral é, pois, mínimo para Macau. Se fosse uma instituição governamental a fazê-las, qualquer das duas exposições custaria milhões. Além disso, em quase todos os nossos seminários e cursos nada pagamos aos conferencistas e orientadores. Oferecemnos a sua colaboração gratuitamente, mesmo no caso de pessoas habituadas a receber subvenções muito elevadas para apresentarem comunicações. Fazem-no graciosamente, no âmbito da colaboração que o IIM estabeleceu com as instituições a que eles estão ligados. Sei bem quanto uma instituição académica oficial de Macau paga aos mesmos conferencistas ou professores. E temos tido grandes nomes, personalidades de alto prestígio, no IIM, como oradores, garantindo a qualidade dos seminários e das conferências. O/O – Poderiam as instituições privadas, de natureza associativa, como o IIM, ser mais apoiadas por patrocinadores? J.R. – Ao longo dos anos, o que é também um sinal claro do reconhecimento dos


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nossos propósitos e dos resultados alcançados, temos recebido mais apoios, embora ainda longe de viabilizarem tudo o que em cada ano o IIM é capaz de fazer, o que significa que muitos projectos são adiados ou postos de parte por falta do suporte financeiro necessário. De entre as entidades que nos apoiaram, posso citar o Governador Rocha Vieira, na fase de arranque do IIM, o Governo da RAEM, a Fundação Macau, a Fundação Jorge Álvares e a Sociedade de Jogos de Macau, que apoiou financeiramente a instalação da nossa biblioteca, a que foi dado o nome de Biblioteca Comendador Joaquim Morais Alves. Morais Alves, saudoso amigo, foi o 1º presidente da Assembleia Geral do IIM. O que me parece importante é que os serviços públicos também desenvolvam mais parcerias e relações com organismos associativos locais, em vez de empenharem os seus funcionários na organização de actividades que devem claramente situar-se no âmbito da sociedade civil. Devem apoiar os organismos associativos e deixar que sejam eles a organizar iniciativas com resultados muito mais compensadores para todos, com menos custos e mais eficácia. Os serviços devem concentrar-se mais no muito que lhes compete verdadeiramente fazer e os directores ficariam dispensados de consumir o seu tempo em constantes cerimónias de corte de fita e em discursos oficiais. Isto é que ainda não se conseguiu, infelizmente. Por outro lado, quando é a entidade pública a organizar, não se olham a meios, mas se for uma entidade privada, de natureza associativa, a fazê-lo, os subsídios são muitas vezes irrelevantes. Há também a percepção, errada, que as receitas públicas são para os serviços públicos utilizarem nas suas iniciativas próprias e não para todas as entidades, públicas e privadas, de natureza associativa, que prestem serviços úteis à RAEM. O/O – E quanto à participação da comunidade portuguesa, está satisfeito? J.R. – O auditório do IIM tem tido muito boa participação e as nossas edições têm sido bem acolhidas. O público habituou-se já a ver aquele auditório como um espaço livre, de diálogo e de debate. Até por isso, a par ticipação tem sido sempre muito significativa. Creio que raras vezes as pessoas se arrependeram de vir às nossas sessões. Algumas conferências foram mesmo muito boas. As palavras de apoio que temos recebido têm sido um poderoso incentivo para fazermos melhor. Ainda quanto às nossas edições, há dias recebemos a visita de um grupo de qualificados quadros técnicos que nos mostraram a sua surpresa por o IIM ter conseguido, em tão pouco tempo, edições em tão grande número e qualidade. Em

Dezembro, arrancámos com uma nova colecção, intitulada “Mosaico”, com os primeiros volumes dedicados à identidade macaense e às relações Brasil-China. Mais seis deverão sair em 2006. Funcionando com voluntários e com uma equipa reduzidíssima de funcionários e com custos baixos de gestão e administração, temos podido canalizar os meios para as actividades, que esperamos possam ser mais e ainda melhores no futuro. O/O – No início de um novo ano o que se lhe oferece dizer quanto a expectativas para o IIM e para Macau, em geral? J.R. – No que respeita ao IIM desejo, naturalmente, que o nosso plano de acção, ainda mais ambicioso do que os anteriores, possa ser executado numa percentagem elevada, o que estará apenas dependente, não da vontade nem da capacidade das pessoas, mas do suporte financeiro disponível. Ele desenvolver-se-á em três vectores fundamentais: a) acções de promoção , divulgação e valorização do património de Macau e da sua identidade; b) afirmação de Macau no exterior, nas áreas académica e cultural; c) iniciativas que contribuam para a elevação intelectual da comunidade. Quanto a Macau, a RAEM acaba de completar o seu 6º. Aniversário e entrámos no novo ano com a expectativa e a esperança de que a situação económica continue próspera e que as carências mais sentidas na área social possam ser satisfatoriamente confrontadas. Reco-menda-nos o bom senso que não nos deixemos arrastar pela euforia deste rápido crescimento e que compreendamos que os problemas existem, são sérios e só podem ter soluções correctas se houver coragem para os identificar e lucidez para os resolver, não sendo nada oportuno um discurso oficial excessivamente optimista, ainda por cima exacerbado por um coro desafinado de lisonjas, nem sempre sinceras, cuja abundância é, no mínimo, contra-producente e que os governantes, até por isso, podem dispensar. O/O – Quer apontar algumas das sistuações que precisam de especial atenção? J.R. – Queremos e devemos contribuir para as vitórias da RAEM e regozijarmo-nos com todas elas. Em 2005, tivemos a alegria de ver o centro histórico de Macau classificado como património mundial. Foi um honroso reconhecimento que trouxe responsabili-dades acrescidas na sua preservação e valorização. Também os IV Jogos da Ásia Oriental alcançaram o sucesso almejado, embora algumas vozes influentes critiquem os elevados encargos envolvidos, e podemos sentir um renovado interesse de instituições do mundo de língua portuguesa por Macau, sendo necessário que saibamos

tirar proveito deste relaci- onamento e assumir com ambição e pragmatismo uma vocação histórica que é também da maior utilidade para a China. Neste contexto, desejo aos I Jogos da Lusofonia e ao II Fórum Económico e Comercial com os Pasíses de Língua Oficial Portuguesa os maiores êxitos. O IIM quer dar-lhes também a sua modesta e empenhada colaboração. Com as eleições para a Assembleia Legislativa, alargaram-se as oportunidades e consolidaram-se hábitos de participação cívica e política, mas o caminho que falta percorrer é ainda longo. Congressos como o da PATA e da Associação Portuguesa de Imprensa, realizados em 2005, foram importantes para a divulgação externa de Macau, sendo desejável e possível que a promoção da imagem de Macau seja feita de forma mais selectiva, mais consequente, menos onerosa em colaboração e com a participação de instituições da sociedade civil. Milhares de novos diplomados vão saindo todos os anos das nossas universidades e estas atingiram a fase da consolidação, em que a aposta deverá ser numa qualidade que, na maioria dos casos, está longe de ser alcançada, imperando ainda o facilitismo e alguma mediocridade. A sociedade civil, por seu lado, merece ser mais pujante e interventora e só não o é por falta de meios e de apoios. Vale a pena sempre lembrar que não haverá 2ª. sistema, na aplicação correcta do princípio “um país, dois sistemas” sem uma sociedade civil forte, livre e capaz de intervir. Na área social todos sabem e o próprio Governo admite que há muito que fazer. Na cidade a excessiva densidade de construção é preocupante, agravada por novas edificações maciças e desca-racterizadoras, além dos casinos que crescem como cogumelos, e o trânsito está a exigir medidas cada vez menos adiáveis, assim com a defesa do ambiente. Há mesmo imenso que fazer e nada justifica que dirigentes de alguns serviços públicos essenciais continuem comodamente instalados nos seus requintados gabinetes como se nada fosse com eles. Finalmente, manda a prudência que em época de “vacas gordas” se cuide da situação financeira, reforçando substancial-mente as nossas reservas. Ninguém sabe o que o futuro nos reserva daqui a 10 ou 15 anos e convém lembrar que foram as copiosas reservas de Hong Kong que lhe permitiram sustentar orçamentos assusta-doramente deficitários durante vários anos após a transição. São estas algumas das preocupações que aproveitamos para expressar, com a frontalidade que o momento impõe, e desejamos a todos, governantes, instituições e população em geral, um óptimo 2006. ORIENTEOCIDENTE 35



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