ISSN 1680-7855
EAST WEST
INSTITUTO INTERNACIONAL DE MACAU
Encontros Número 20 Julho de 2008
Chefe do Executivo da RAEM
Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura
Comissariado dos Negócios Estrangeiros da RPC
Ilustração de Victor Hugo Marreiros
Fundação Macau
Director dos Serviços de Educação e Juventude
“O IIM é importante para a RAEM, agora e no futuro” Edmundo Ho, Chefe do Executivo da RAEM ORIENTEOCIDENTE 1
www.iimacau.org.mo
Rua de Berlim, Edifício Nam Hong, 2º andar NAPE, MACAU, Tel (853) 2875 1727 – (853) 2875 1767 Fax (853) 2875 1797 email: iim@iimacau.org www.iimacau.org.mo
Este número de Oriente/Ocidente teve o patrocínio da Fundação Jorge Álvares
ORIENTEOCIDENTE “newsletter” do IIM Instituto Internacional de Macau Número 20 Julho de 2008 Editor Luís Sá Cunha Produção IIM Design Gráfico victor hugo design Impressão Tipografia Welfare Lda. Tiragem 1.500 exemplares Preço MOP 20.00/ 2.00
SUMÁRIO VIDA INSTITUCIONAL 04 04 04 05 05
ASSEMBLEIA GERAL DO IIM PRÉMIO IDENTIDADE PARA DIOCESE DE MACAU PRÉMIO PARA A ESCOLA PORTUGUESA PROTOCOLO COM JNR ADVOGADOS JOÃO NUNO RIQUITO
RELAÇÕES INSTITUCIONAIS 06 07 07 07 09 09
CHEFE DO EXECUTIVO RECEBEU IIM AUDIÊNCIA COM SECRETÁRIO PARA OS ASSUNTOS SOCIAIS E CULTURA IIM AGRADECE A FUNDAÇÃO MACAU IIM COM COMISSARIADO DO MNE DA RPC VISITA AOS SERVIÇOS DE EDUCAÇÃO VISITA AO “JORNAL TRIBUNA DE MACAU”
HOMENAGEM AO PE. LANCELOTE RODRIGUES 10 HOMENAGEM AO PE. LANCELOTE RODRIGUES 12 PE. LANCELOTE RODRIGUES – BIOGRAFIA 13 CORO “PEROSI”
EDIÇÕES 14 15 16 17 18
LIVROS, MEMÓRIAS, IDENTIDADE MISSIONÁRIOS PARA O SÉCULO XXI FEIRA DO LIVRO LIVROS DE SILVEIRA MACHADO DOADOS AO IIM 2 POEMAS DE ALBERTO OSÓRIO DE CASTRO
ACTIVIDADES 19 20 21 21 22 22 23
ORIENTEOCIDENTE 2
CENTENÁRIO DE LUÍS GONZAGA GOMES IIM PROMOVE DIVERSIFICAÇÃO ECONÓMICA IIM COM A PATA MACAU NO BRASIL MACAU NO FORUM DO SINOLOGIA EM LISBOA SEMINÁRIO “EU POLICY TOWARDS ASIA” AS NOSSAS INSTALAÇÕES
IDENTIDADE
MACAU EM PORTUGAL
24 26 28 30
38 PRINCIPAIS ORGANISMOS LIGADOS A MACAU
PESSANHA, SEMPRE ENTRE NÓS CAMILO PESSANHA POETA AO PERTO EPM, 10 ANOS ENTREVISTA COM EDITH SILVA
DIÁSPORA 32 32 33 34 34
PARA SEMPRE 40 ALBERTO ESTIMA DE OLIVEIRA 40 6 POEMAS 42 BARTOLOMEU CID DOS SANTOS
A TUNA MACAENSE EM PEQUIM ASSOCIAÇÃO DA CASA DE MACAU EM S. PAULO BRASIL E PORTUGAL NO REAL GABINETE LINDA RIKA NAITO TOCA A VIBRAR!
OS NOSSOS SÓCIOS 35 MANUEL SILVÉRIO 35 VICTOR MARREIROS
EM DIRECTO
ANTOLOGIA
36 LUIS AMADO, EDMUNDO HO, CARLOS MONJARDINO, PEDRO MOITINHO DE ALMEIDA, CARLOS MORAIS JOSÉ, IU VAI PAN
42 O FUTURO DE MACAU NA VISÃO DE AGOSTINHO DA SILVA
ORIENTEOCIDENTE 3
Vida institucional
VIDA INSTITUCIONAL
IIM Assembleia Geral A 31 de Março, em cumprimento estatutário, realizou-se a Assembleia Geral de sócios do IIM, para apreciação dos relatórios de contas e das acções concretizadas durante o ano de 2008, para conhecimento e aprovação e também das orientações gerais para o ano de 2009, e para proceder à eleição dos corpos sociais para o biénio 2008-2010. Todos os pontos em avaliação foram aprovados por unanimidade, tendo a eleição dos corpos sociais sido votada com aclamação. A lista aprovada integra os seguintes nomes: CORPOS SOCIAIS DO INSTITUTO INTERNACIONAL DE MACAU (2008/2010) Assembleia Geral Presidente Vice-Presidente Secretário
-
Maria Edith da Silva Lei Heong Iok Luíz Amado de Vizeu
Direcção Presidente Vuce-Presidente Secretário Vogal Vogal
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Jorge A.H. Rangel José Ângelo Lobo do Amaral Luís Semedo Fernandes de Sá Cunha Rufino de Fátima Ramos João Manuel de Almeida Loureiro
Conselho Fiscal Presidente Secretário Vogal
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José Carlos Mesquita José Joaquim das Neves André Filipe Reynolds Castelo-Branco da Silveira
Também, na oportunidade, e aproveitando a presença da universalidade dos corpos sociais, foi confirmada a atribuição, para o ano de 2009, do “Prémio Identidade” do IIM, à Diocese de Macau. Igualmente foi proposta e aprovada a criação de um novo Prémio do IIM, a atribuir a alunos da Escola Portuguesa de Macau.
ORIENTEOCIDENTE 4
Vida institucional
Protocolo IIM/JNR Advogados No dia 31 de Março, e aproveitando o enquadramento institucional de vários sócios do IIM que compareceram na sede para participação na Assembleia Geral, foi celebrado um protocolo de colaboração entre o IIM e a JNR Advogados, nova empresa de advocacia em Macau que tem por patrono o conhecido jurista João Nuno Riquito, ex-professor da Faculdade de Direito da Universidade de Macau.
A escolha do nome de Francisco Lucas Pires, – ex-professor da Faculdade de Direito de Coimbra e que nessa qualidade também se deslocou a Macau algumas vezes, – tem funda pregnância com as comemorações, que este ano decorrem, e levadas em frente por várias dezenas de amigos, do 10o aniversário da sua morte. A homenagem que lhe foi prestada em Coimbra, presidida pelo Presidente da República e realizada no dia 31 de Maio, contou com a participação
de Jorge Rangel, seu amigo dos anos de juventude. Saudamos neste gesto da JNR Advogados um exemplo, um estilo e um modo de operar para além da mera dimensão económico-lucrativa, com sentido retribuitivo e de pertença à terra, que seria bom vermos generalizados entre tantas, majestáticas, empresas que aqui lançam estaca nos tempos mais recentes.
Assinaram os termos formais do documento que vige por três anos,o advogado João Nuno Riquito e o presidente do IIM, Jorge A.H. Rangel, na presença de vários sócios e elementos dos corpos sociais. No mesmo acto foi formalizado o ingresso do Dr. Nuno Riquito no corpo dos sócios da nossa instituição. Depois de algumas palavras do Dr. Jorge A.H. Rangel apropriadas ao acto e seu intento, João Nuno Riquito usou da palavra, relevando na sua intervenção a leitura de um texto autógrafo alusivo ao Prof. João Ruiz de Almeida Garrett, grande obreiro na arquitectação da Faculdade de Direito da UM. Isto, com relação directa ao mais central objectivo do protocolo: a integração, dentro do “Prémio Jovem Investigador”do IIM, de uma nova área, a das ciências jurídicas, com a instituição de três prémios para cada um dos anos do triénio que agora começa em 2009. Os prémios, no valor de 25.000,00 MOP cada, são patrocinados pela JNR Advogados, e distinguirão “um trabalho jurídico elaborado por estudante em Faculdade de Direito com sede na RAEM ou por licenciado em Direito há menos de cinco anos e que exerça a sua actividade profissional na RAEM, redigido em Língua Portuguesa ou em Língua chinesa”. Por sugestão do Dr. João Nuno Riquito, os temas dos três anos sucessivos são os seguintes:
JOÃO NUNO RIQUITO é Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra com classificação final de dezoito valores. Foi Professor Auxiliar Convidado da Faculdade de Direito da Universidade de Macau até ao ano lectivo de 1998/99, tendo leccionado as disciplinas de Direito Constitucional e Ciência Política, Teoria Geral do Direito e Direito Internacional Privado I e II, além de ter colaborado nas disciplinas de Business Law I e II da Faculdade de Gestão da Universidade de Macau. Desde 1999 e presentemente exerce a advocacia em Portugal e em Macau. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e beneficiário do Programa Erasmus enquanto estudante universitário. Frequentou a Alliance Française e a International House of Languages com elevadas classificações e foi tradutor-intérprete, junto do Bureau de Traduction de l’Alliance Française de Coimbra. Publicou, designadamente, Sobre a Aplicação no Tempo do Artigo 3_ da Lei 20/88/M, O Direito da Nacionalidade no Contexto da Lei Básica da Região Administrativa Especial de Macau, O ilocalizável (Nos Limites da Transição Constitucional), O círculo e a linha – Da Declaração Conjunta aos Tratados Desiguais, e O Conceito de Residente Permanente da RAEM: Tópicos, todos, respectivamente, no Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Macau nos números 4, 6, 7, 11 e 12. Recentemente, publicou no Repertório do Direito de Macau, em 2007, - O Direito de Conflitos nas Relações Entre o Ordenamento Jurídico de Macau e o Ordenamento Jurídico da República Popular da China, integrado nesta obra colectiva da Faculdade de Direito da Universidade de Macau. Publicou ainda, entre outros, O Ordenamento Jurídico de Macau no Contexto da Lei Básica, em co-autoria com Victor Calvete, Jorge Oliveira e Paulo Cardinal, editado pela Associação dos Advogados de Macau, e Sobre a aplicação no tempo do novo regime do arrendamento urbano, inserido na “Revista Jurídica” de Macau, Número 2 Volume V.
2008 Prémio João Ruiz de Almeida Garrett (para Direito Público da Economia) 2009 Prémio Orlando de Carvalho (para Direito Civil e Direito Comercial) 2010 Prémio Francisco Lucas Pires (para Direito Internacional Público)
ORIENTEOCIDENTE 5
Relações institucionais
RELAÇÕES INSTITUCIONAIS
Chefe do Executivo recebeu IIM Tendo como enquadramento a proximidade das comemorações dos 10os aniversários do IIM e da RAEM, (o IIM começou a laborar em Fevereiro de 1999 para preparar o Seminário “Luís de Camões, Poeta Universal”, em co-organização com a Organização Mundial de Poetas, que decorreu em Junho, mês em que foi publicada em Boletim Oficial a constituição do IIM), a Direcção do IIM teve, em princípios de Abril, uma reunião com o Chefe do Executivo da RAEM, Edmund Ho. O IIM tinha, como intenção inicial da audiência, apresentar ao Chefe do Executivo os programas delineados para as comemorações das duas efemérides, prevendo a sua articulação no calendário. Deslocaram-se à sede do Governo, o tesoureiro (Rufino Ramos) o secretário (Luís Sá Cunha) o vice-presidente (José Lobo do Amaral) e o presidente, Jorge Rangel, que delineou em traços gerais as principais linhas de orientação do IIM e as áreas mais estruturantes de sua actividade, tendo oferecido algumas edições ao Chefe do Executivo em ilustração da actividade editorial do IIM. O Chefe do Executivo procedeu, de seguida, a uma exposição analítica do decurso da primeira década da RAEM, salientando a oportunidade histórica do surto económico que transformou Macau, avaliando os contextos sociais, os factores críticos do crescimento, as diversas manifestações de uma evolução cuja marcha apenas se iniciou.
“O IIM é importante para a RAEM, agora e no futuro” Edmundo Ho, Chefe do Executivo da RAEM
De seguida, e referindo-se à nossa instituição, o Chefe do Executivo enalteceu a acção já realizada pelo Instituto, sublinhando as parcerias estabelecidas com dezenas de prestigiadas instituições de vários países, mormente dos Países de Língua Oficial Portuguesa e da República Popular da China, o vasto programa editorial, os estudos e trabalhos de investigação, e as acções de divulgação e promoção de uma imagem prestigiante e de qualidade da RAEM no exterior. À chegada do final do encontro, que decorreu durante uma hora, o Chefe do Executivo transmitiu à Direcção a avaliação do IIM como “instituição importante e útil para a RAEM, agora e no futuro”.
ORIENTEOCIDENTE 6
Relações institucionais
Secretário Chui Sai On recebe IIM
O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Dr. Fernando Chui Sai On, recebeu em Abril a Direcção do IIM, representada por Rufino de Fátima Ramos (tesoureiro), José Lobo do Amaral (vice-presidente) e Jorge Rangel (Presidente).
IIM agradece a Fundação Macau A Direcção do IIM, representada pelo presidente Jorge Rangel e o secretário Luís Sá Cunha, foi recebida pelo presidente do Conselho de Administração da Fundação Macau, Victor Ung, a quem foi apresentar cumprimentos e transmitir o reconhecimento do IIM pelos apoios da FM, que, em grande parte, tornaram possível a concretização de tão vastos programas de acção ao longo dos últimos anos, e permitiram ao IIM vigorar como instituição prestigiada internacionalmente e de serviços à RAEM. Jorge Rangel traçou em linhas gerais o percurso e o crescimento do IIM, sublinhando algumas actividades mais relevantes, e procedeu à oferta de um conjunto de edições à Fundação Macau.
A Direcção do IIM teve como motivo da audiência o agradecimento ao Secretário por todos os apoios e incentivos concedidos ao IIM durante os últimos anos, e ante a aproximação das comemorações dos 10os aniversários do IIM e da RAEM. Jorge Rangel explanou as intenções já delineadas pelo IIM para as iniciativas comemorativas, tendo antecedido esta exposição com uma avaliação das acções e desempenhos do IIM, e das suas orientações para o futuro. Do encontro, que decorreu em ambiente de grande cordialidade, resultou um entendimento de colaboração para algumas iniciativas a integrar nos programas do IIM para as comemorações dos dois aniversários.
IIM/Comissariado do MNE da RPC
Na oportunidade, o Dr. Fernando Chui Sai On dirigiu um convite à Direcção do IIM para um almoço de convívio, que se realizou dias depois com a presença dos elementos da Direcção do IIM, fazendo-se o Secretário do Governo da RAEM acompanhar do Chefe de Gabinete e dos principais assessores.
Na continuação de uma das suas orientações de acção – a relação institucional do IIM com organizações, associações e instituições relevantes na RAEM – uma representação do corpo directivo do IIM deslocou-se à sede do Comissariado do Ministério dos Negócios
Victor Ung transmitiu de seguida à Direcção do IIM que as múltiplas realizações concretizadas pelo IIM durante estes anos inculcaram à Fundação e aos meios públicos uma imagem de capacidade e prestígio do IIM como instituição privada de serviço público, o que sem dúvida justificaria o continuado apoio daquela Fundação ao IIM no futuro.
Estrangeiros da China na RAEM, para uma visita de cortesia e de troca de informações, visando potenciar futuras relações bilaterais no mútuo interesse e no interesse da RAEM. O presidente Jorge Rangel e o secretário Luís Sá Cunha foram recebidos pelo vicecomissário Huang Songfu, acompanhado pelos responsáveis do Departamento de Investigação Política, Nie Quan e Ma Yue, e da secretária do Comissário, Silvia Shen Yuan. O presidente do IIM fez uma apresentação da história, objectivos e principais áreas de acção do IIM, tendo entregado ao vicecomissário um conjunto de publicações do IIM, seleccionadas entre as mais interessantes de temática política internacional. O diálogo foi ampliado com a troca de impressões relativas a vários aspectos da RAEM na actualidade, tendo o responsável do Comissariado manifestado a sua surpresa e agrado pelo IIM, depois de inteirado da sua dimensão internacional, sobretudo na área do mundo lusófono, e dos seus objectivos e acções. Cerca de um mês depois, em Abril, foi a vez da uma visita de retribuição do Comissariado ao IIM. O presidente Jorge Rangel acompanhou os membros da delegação numa visita guiada às diversas áreas da sede, tendo oportunidade para referência mais vasta e aprofundada às nossas actividades e iniciativas, e aprofundaram-se informações e perspectivas, num momento de convívio em que ressaltou a boa oportunidade destes encontros, potenciadores de colaboração interessante no futuro.
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ORIENTEOCIDENTE 8
Relações institucionais
Visita aos Serviços de Educação Há algum tempo que estava na agenda de intenções do IIM uma visita à Direcção dos Serviços de Educação, à sua Direcção e instalações que, por diversos factores contrários, teve que ser adiada. Aconteceu, agora, em Abril passado, este acto de relação institucional – a Direcção do IIM, representado pela seu presidente, tesoureiro e secretário, Jorge Rangel, Rufino Ramos e Luís Sá Cunha, efectuou uma visita àqueles Serviços, onde foi recebida pelo respectivo director Sou Chio Fai e pela subdirectora Dra. Sílvia Ho. Foi demorado o percurso pelos diversos pisos e áreas departamentais de umas instalações e serviços que se apresentam modelares e transpiram organização, e durante o qual os diversos responsáveis foram expondo os projectos e acções da respectiva responsabilidade. Na sala de reuniões, de seguida, o presidente do IIM expôs à Direcção dos Serviços de Educação as linhas gerais de acção do IIM e alguns dos seus actuais projectos, tendo o Dr. Sou Chio Fai feito uma exposição dos objectivos e acções da DSEJ. Foram trocadas informações e opiniões sobre assuntos de interesse mútuo e da RAEM, e acordada a intenção de colaboração concreta em projectos imediatos, especificamente em acções editoriais. O IIM felicitou os Serviços de Educação, na pessoa do seu director, pela competência demonstrada na sua administração, orientação e acções – relevando tratar-se de uma área basilar para o futuro de Macau, que é a da qualificação das suas novas gerações.
IIM/ “Jornal Tribuna de Macau” A Direcção do IIM, que tem inseridos na sua agenda de trabalho os contactos com instituições de Macau, com vista a melhor informação mútua e espírito de colaboração em objectivos e acções, inicia agora também as visitas a orgãos da comunicação social de Macau. Presidente, vice-presidente, tesoureiro e secretário da Direcção deslocaram-se às novas instalações do jornal, na Calçada do Tronco Velho, onde foram recebidos pelo director, José Rocha Dinis, que os ciceronou nos novos espaços – agradáveis, muito “up-to-date”, ambiente de “escritório limpo” e com “dedadas” de Carlos Marreiros. Foi longa a troca de informações e o cruzamento de opiniões sobre assuntos da actualidade. O IIM continuará estas iniciativas com outros orgãos da comunicação social de Macau e outras instituições de sociedade civil.
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ORIENTEOCIDENTE 10
Homenagem ao Pe. Lancelote Rodriguês
HOMENAGEM
Homenagem ao Pe. Lancelote Identifica-se, simplesmente, com o nome próprio, Lancelote, com dispensa do Rodrigues e de outros apelidos. Como as figuras consagradas na consciência comum. Se há figura que concite unanimidade admirativa e simpatia universal em Macau, ela é o Pe. Lancelote. Pelas obras que realizou em profissão da virtude teologal da caridade, pela instante e constante dádiva ao Outro – encaminhando tantos destinos a uma vida digna – pelo seu modo de estar nas veredas purgatórias e ensombradas da vida: tonificado sempre de optimismo e alegria irradiantes. Lembramo-nos de um livro que fascinou algumas tertúlias literárias da geração de 60, uma biografia de Nicolo Machiavel, do escritor Palezescchi, da geração futurista italiana. Começava por classificar os homens em cinco categorias: os que riem em a, os que riem em e, os que riem em i, em o e em u. Desferindo de seguida sobre o branco do papel este traço expressionista da personalidade de Maquiavel: “Maquiavel ria em i”. De repente, surgia, palpitante, o retrato. Ora, para revelar a outrem a personagem de Lancelote Rodrigues, poderíamos começar assim e esboço psico-biográfico: “Lancelote Rodrigues ri em o”. Ele é uma permanente encarnação da virtude da alegria, vazada naquelas gargalhadas cheias, redondas, de timbre barítono, flagrantes de sol e de acentos dionisíacos – recortadas, em círculo, da vida. Figura enquadrada de duas colunas, dois MM maísculos, – a Mesa e a Música. Pensou o IIM prestar-lhe merecida e pública homenagem, e para tanto foi também estimulado, desde há um ano, por várias pessoas, em vários momentos. Pensou o IIM que o acto público teria que ser a carácter com a personalidade homenageada e deveria concitar a inteira comunidade portuguesa de Macau. Assim foi, descontando que a obra fica sempre aquém da sua idealização. Por isso os actos gastronómicos teriam que decorrer no Clube Militar, e quase espontaneamente surgiu uma comissão organizadora, congregando as generosas disponibilidades do Dr. Albano Martins, do Coronel Manuel Geraldes, do Manuel de Almeida, e da Dra. Leonor Seabra, em apoio do secretário do IIM, Luís Sá Cunha. Acorreram 150 pessoas, representativas de toda a diversa comunidade, e muitas outras nos fizeram chegar o lamento da ausência. No grande salão de visitas do Clube Militar teve lugar o prólogo cultural do banquete, com a actuação do “Coro Perosi”, que foi precedida por algumas palavras de abertura do representante do IIM e da Dra. Leonor Seabra, em apresentação do livro de sua autoria “Pe. Lancelote Rodrigues – vida e obra”, edição do IIM que concretiza o início da sua nova colecção editorial, “Missionários para o Século XXI”.
“Ele é uma permanente encarnação da virtude da alegria, vazada naquelas gargalhadas cheias, redondas, de timbre barítono, flagrantes de sol e de acentos dionisíacos – recortadas, em círculo, da vida”. ORIENTEOCIDENTE 11
Nota biográfica Os elementos do “Coro Perosi” interpretaram uma peça coral sacra, uma composição original do Pe. Lancelote inspirada em versos de Bulhão Pato, e a canção popular “Tia Anica de Loulé”. Organismo cultural recente (tem cerca de 10 anos), o “Coro Perosi”, pelo nível artístico e qualidade vocal, e também pela abertura cultural do repertório – é uma instituição merecedora de aplauso como encarnação da diversidade cultural que gerou historicamente a identidade de Macau. Durante o jantar, no Salão Ho Hin do Clube, acompanharam na mesa o homenageado o cônsul de Portugal, Dr. Pedro Moitinho de Almeida, o Bispo de Macau D. José Lai, o presidente do IIM, Dr. Jorge Rangel, a presidente do IPOR, Dra. Maria Helena Rodrigues, a presidente da Casa de Portugal, Dra. Amélia Antónia, o director do “Coro Perosi”, Sr. Lau Sek Hon, o Dr. Albano Martins e o vice-presidente do IIM, José Amaral. Pelos representantes da APIM e do Conselho Permanente das Comunidades Macaenses, Luís Machado e Sebastião da Rosa, foram lidas várias mensagens de homenagem oriundas das Casas de Macau da diáspora. Com intervenção simbólica do Cônsul de Portugal foi feita a “descoberta” e a entrega da prenda da comunidade ao Pe. Lancelote, uma nau em cristal, réplica da nau do século XVI, da Atlantis. E, com apresentação de Jorge Rangel, foi seguidamente exibido o retrato/ caricatura do Pe. Lancelote, de autoria do artista gráfico Victor Marreiros, que participou também na entrega. O retrato, em itinerância pelas mesas, provocou as manifestações do bom humor geral, tendo também o presidente do IIM encabeçado o grupo da mesa de honra que foi brindar os convivas presentes em todas as mesas, em ritual tradicional da terra. E chegou o momento tão esperado da actuação da “estrela” da noite – o Pe. Lancelote. Acompanhado por um trio de filipinos que vinha dispensando música ambiental ao jantar, o Pe. Lancelote fascinou a assistência com aquelas canções portuguesas de tão antiga memória, entoadas naquele timbre barítono e sempre intervaladas daquelas estentóricas gargalhadas... em ó!
O Padre Lancelote Miguel Rodrigues nasceu em Malaca, na Malásia, a 21 de Dezembro de 1923, descendente de Portugueses que se fixaram naquele antigo território português. Fez a instrução primária em Malaca, em inglês, e veio para Macau em Novembro de 1935, ingressando no Seminário Diocesano de São José, onde fez os seus estudos preparatórios e eclesiásticos. Em 1948, começaram a chegar as primeiras vagas de refugiados portugueses de Xangai e, mesmo antes de ser ordenado padre, foi destacado pelo Bispo de Macau para cuidar destes refugiados, que só falavam a língua inglesa, pois esta é a primeira língua do Padre Lancelote e, naqueles tempos, era o único que falava inglês. Foram alojados no Canídromo, para onde o Padre Lancelote foi também viver. De um lado, estavam os refugiados de Xangai, de outro, rapazes órfãos de quem as madres chinesas cuidavam. Finalmente, em 1949, o Bispo decidiu ordená-lo sacerdote.
De 1949 até 1965, pois, foi capelão dos Refugiados Portugueses de Xangai, então já alojados na Ilha Verde. Durante este período prestou-lhes não só assistência espiritual, como também material, esforçando-se por melhorar a sua situação e realoja-los noutros países, tendo estabelecido laços de amizade indestrutíveis com muitos dos refugiados. Em 1962 foi nomeado director da Catholic Relief Services dos Estados Unidos da América, quando esta instituição saiu de Hong Kong, cargo que exerceu até Maio de 1994 (quando também deixaram Macau). Em 1973, era director do Secretariado dos Serviços Diocesanos de Assistência Social (cargo que exerce desde 1962), vogal do Instituto de
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Assistência Social de Macau, representante dos Serviços de Assistência dos Bispos da América do Norte e representante da Diocese de Macau junto da “Caritas Internacional”. E, em Novembro de 1977, chegou a primeira leva de refugiados do Vietname a Macau. Hong Kong também estava a receber refugiados vietnamitas. Nessa época, eles iam para todo o mundo. De 1977 a 1991 foi encarregado da manutenção e realojamento de 8.664 refugiados vietnamitas (boatpeople) em várias partes do Mundo, especialmente para os Estados Unidos da América, Canadá, Austrália, França, Holanda, Suécia, entre outros países. O campo dos refugiados vietnamitas, em KáHó, encerrou em Julho de 1991. Recebeu várias condecorações, em reconhecimento dos trabalhos prestados, entre elas a Ordem de S. João de Jerusalém, dada pelo Príncipe André da Jugoslávia, em 1986, a Medalha de Mérito Cruz Vermelha Portuguesa (Medal of Merit), em Novembro de1990, a insígnia da Ordem do Império Britânico, atribuída pela Rainha Isabel II de Inglaterra, em Junho de 1992, a Medalha de Valor atribuída pelo então Governador de Macau, General Rocha Vieira, e a de Grande Oficial da Ordem Infante D. Henrique, concedida pelo então Presidente da República Portuguesa, Dr. Mário Soares, em 8 de Maio de 1995. O Padre Lancelote Rodrigues fala Português, Inglês, Francês, Malaio e Chinês. A 1 de Fevereiro de 1993 foi também nomeado director da Academia de Música S. Pio X. Amigo dos prazeres da vida, é um apaixonado da música e da boa mesa, tocando viola, rabecão, piano e órgão, também canta, fuma e bebe, estabelecendo sempre à sua volta um clima de boa disposição. Por natureza alegre e extrovertido, é extremamente humano e tolerante, convivendo com toda a gente e fazendo amizades sem olhar ao credo de cada um. É o único sobrevivente vivo e activo de uma geração de sacerdotes que muito contribuíram para engrandecer Macau – em especial, nesta sua faceta de solidariedade humana.
Coro “Perosi” O “Coro Perosi” foi fundado em Macau em 1997 e tornou-se, em Abril de 1998, uma associação musical sem fins lucrativos, com o objectivo de fomentar a arte vocal, implementar o interesse pela música e promover a cultura musical no território. Desde a sua criação, o Coro tem vindo regularmente a realizar concertos. Em 1998, foi convidado para participar num concerto realizado em Hong Kong e, em 1999, num concerto realizado no município de Zhongshan da província de Guangdong. Ainda, em 1999, num concerto para participar na sessão artístico-cultural da cerimónia de transferência de Macau para a República Popular da China. Em 2001, a convite do Instituto Cultural do Governo da RAEM, actuou com o pianista Liu Shikun no XII Festival de Artes de Macau. No mesmo ano, realizou um encontro musical intitulado “Melodias Sem Fronteira”, com três concertos integrados, tendo convidado quatro grupos corais provenientes da China Continental, Taiwan e Hong Kong. Em 8 de Janeiro de 2003, a convite do Instituto Cultural, participou no espectáculo artístico-cultural, por ocasião da visita de Li Ruihuan, Presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, à RAEM. Ainda, a convite do Instituto Cultural, o Coro participou, em Outubro de 2005, no Concerto Comemorativo do 100o Aniversário do Nascimento de Xian Xinghai, integrado no XIX Festival Internacional de Música de Macau, para a interpretação da Cantata “O Rio Amarelo”, com a Orquestra de Macau. Em Julho de 2002, o Coro deslocou-se a Pequim para participar no VI Festival Internacional de Corais da China, no qual ficou classificado em terceiro lugar na categoria de coristas adultos, com a melhor interpretação de música chinesa e pianista acompanhador. Em anos recentes, o “Coro Perosi” empenha-se igualmente na incrementação de obras musicais de compositores locais, tendo organizado com êxito, respectivamente em 2005 e 2006, o concerto das Obras do Pe. Áureo Castro e o Concerto de Obras Corais Sacras em Honra do 80o Aniversário de D. Domingos Lam. E também em 2007, organizou o concerto de obras corais de compositores de Macau. No seu repositório, o Coro tem interpretado peças de diferentes géneros de música, religiosa, clássica chinesa, folclórica de diferentes línguas, “Broadway”, bem como obras compostas pelo próprio grupo. A partir de 2004, foi criado internamente um pequeno grupo dedicado à interpretação de obras “à capela”.
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Livros, memória, identidade Com os livros, sempre, até à exaustão, se necessário for. Ante as transformações que revolvem e deformam a face material e espiritual da Macau eterna, o cerne da sua identidade, mais e mais pugnaremos pela actualização da Memória – basilar factor da identidade. O IIM já tinha apresentado as suas mais recentes edições em finais de Novembro, numa sessão integrada no Programa do III Encontro das Comunidades Macaenses, e para cerca de 400 participantes da diáspora. Foram apresentados os livros “The Portuguese Community in Hong Kong – A Pictorial History”, de autoria do arquitecto António Pacheco Jorge da Silva, “Cheong-Sam – a Cabaia”, de Deolinda da Conceição (5a edição, em comemoração dos 50 anos da sua morte), e os opúsculos, integrados no programa das comemorações do nascimento de Luís Gonzaga Gomes – “Luís Gonzaga Gomes e o intercâmbio cultural luso-chinês”, de Graciete Batalha, e “No Centenário de Luís Gonzaga Gomes” de Jorge Rangel (ambos da colecção “Mosaico”). Todos estes títulos não tinham sido ainda apresentados nem divulgados junto da comunidade residente. Assim, a 11 de Março, o IIM organizou uma sessão de apresentação de edições, em que, além das citadas, incluiu os mais recentes títulos publicados: o volume V da Colecção “Mosaico”, “O Poeta no Oriente do Oriente”, com texto do poeta António Manuel Couto Viana, da conferência que fez na Delegação Económica de Macau em Lisboa (Centro de Informação e Divulgação Turística) e em que reevoca as suas vivências em Macau, os lugares, a comédia humana, as memórias, o património, os usos e costumes, e que numa inesgotável inspiração vazou em formas para vários livros de poemas. Depois da apresentação do livro de Deolinda da Conceição por Inácia Morais, que o prefaciou, e do livro de António Manuel Couto Viana por Luís Sá Cunha, tomou a palavra Leonor de Seabra para falar do livro de sua autoria – “Padre Lancelote Rodrigues, Vida e Obra”. Trata-se do 1o volume de uma nova colecção do IIM, “Missionários para o Século XXI”, que se inaugurou, isto é , nasceu com bons augúrios, apresentando a vindouros a vida extraordinária do Pe. Lancelote Rodrigues (ver noutra página Homenagem ao Pe. Lancelote Rodrigues). O presidente do IIM, em intervenções na sessão e junto da comunicação social presente disse que o IIM “tem alguma urgência em preservar a memória, através da participação activa das pessoas envolvidas para que se torne mais objectiva essa intenção” (...) “É necessário falar com pessoas que fazem parte da história e que ainda estão vivas. Há muita gente da comunidade que pode dar um contributo positivo mas que está cada vez mais velha”. Jorge Rangel salientou ainda que “a grande ameaça à memória neste momento é o crescimento repentino de Macau”, que as grandes transformações que Macau sofreu nos últimos anos são “um dos obstáculos à persistência do património histórico e da preservação de valores”.
“É necessário falar com pessoas que fazem parte da história e que ainda estão vivas. Há muita gente da comunidade que pode dar um contributo positivo mas que está cada vez mais velha”.
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Nova colecção “Missionários para o Século XXI” Não podem cabalmente explicar-se a identidade de Macau e o factor cultural que foi sua moção no decurso da História sem considerar a Diocese de Macau, os seus obreiros e legiões de servidores. Considerar, isto é, em adunação ao sidério, ou com o céu (cum + siderio), que foi o que desde os primórdios do porto macaense atraiu os inacianos encandescidos de fervores apostólicos e “acomodados” ao Outro – o que para sempre eternizou Macau como anfiteatro da compenetração cultural Europa/China, uma das grandes vias de realização da unidade ou arquitectação da ecúmena fraterna dos homens. Padres, missionários, mártires, letrados: servidores do Outro, tornado próximo pelas obras de misericórdia, e no seu carácter e espírito compreendido pela cultura. De 1557 (Bula do Papa Paulo IV que missionava Macau como sede da expansão religiosa no Extremo Oriente) até hoje, em dádiva total aos mais necessitados (desamparados, pobres, doentes, abandonados, a todas as criaturas assombradas pelo espírito do mal), ou na docência, na investigação ou no estudo da Língua, da História, dos arcanos civilizacionais. Foi o século passado constelado por uma geração de ouro, de tantas figuras excepcionais em Macau radicadas, grandes nas obras, como no quase anonimato de uma humildade que é expressão de um verdadeiro sentido ancilar da vida e do destino. Não podemos deixá-los no desconhecimento e no esquecimento das gerações actuais e vindouras. É este imperativo que nos motivou à concepção de mais uma colecção no nosso acervo editorial – “Missionários para o Século XXI”.
ORIENTEOCIDENTE 15
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Feira do Livro Lateral e complementarmente, o IIM organizou também uma Feira do Livro, para prodigalizar aos interessados muitas das suas edições mais antigas e, sobretudo, os muitos títulos de um acervo bibliográfico que conserva em armazém, títulos na quase totalidade versando temas histórico-culturais de Macau, muitos deles raros. São espólios armazenados por doações de sócios e simpatizantes, desde cerca de há 10 anos, quando o IIM apelou à oferta de publicações para constituir a sua Biblioteca, no momento oportuno da saída de tantos portugueses de Macau e que assim aliviaram excessos de bagagens. A Feira foi, pela primeira vez, organizada em colaboração com o IPOR, que expôs também os seus títulos a preços de feira, e, em prolongamento, associou-se também a editora COD, de Carlos Morais José.
ORIENTEOCIDENTE 16
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Livros de Silveira Machado doados ao IIM Um dos momentos mais significativos da sessão, foi o do anúncio público da doação dos livros da biblioteca de José Silveira Machado ao IIM, para serem integrados no seu acervo, tendo sido também entregues ao IIM várias pastas e “dossiers” com documentação escrita do escritório “do velho professor”, e que serão oportunamente objecto de análise, levantamento, e classificação. Presente, para a entrega do espólio, o Pe. Albino Pais, director do jornal “O Clarim” (onde sempre trabalhou José Silveira Machado) que expôs perante a assistência as razões que o levaram, e à família de Silveira Machado, a entregar os livros ao IIM, “forma de valorizar o espólio que ele possuía e de melhor o conservar na memória”. Em oferta simbólica, o Pe. Albino Pais entregou nas mãos do presidente do IIM dois volumes do espólio: a edição do “Livro dos Cantares” traduzida pelo Pe. Joaquim Guerra S.J., edição dos Jesuítas Portugueses, Macau 1979, com dedicatória “ao meu excelente aluno José Silveira Machado”, e o livro de poemas de Alberto Osório de Castro “O Sinal da Sombra” (Lisboa – 1923). Como sabemos, Alberto Osório de Castro foi um dos grandes amigos de Camilo Pessanha, e muito do que ficámos a conhecer da vida íntima do poeta da “Clepsidra” em Macau ficou a dever-se aos escritos intimistas de Osório de Castro, aquando da sua visita a Macau. Muitos dos poemas do livro têm indicação de origem de lugares do Extremo Oriente que o poeta percorreu nessa viagem, e “Oriente/Ocidente” abre uma clareira para a poesia para dar aos leitores a apreciação de dois poemas, dedicados a Venceslau de Morais e a Camilo Pessanha e datados de Macau (11 de Agosto de 1911) e de Lisboa (Janeiro de 1920). É interessante verificar que o poema dedicado a Pessanha é a tradução de um poema chinês (de Su Che, 1036-1101 D.C.) (o que é indício confirmativo do enorme labor de tradução a que Pessanha se dedicava, tendo vazado traduções de poemas chineses em cerca de 30.000 páginas, desgraçadamente desaparecidas). A tradução do poema para língua portuguesa surge-nos como uma homenagem de amizade que justamente quer distinguir uma grande laboração de tradução, e, mais do que provável, é Osório de Castro ter-se estribado nos conhecimentos de chinês do grande sinólogo José Vicente Jorge. E, o poema dedicado a Venceslau de Morais é, na nossa opinião, o melhor poema do livro, com sabor da poesia seiscentista e garretiana, e que encaixilha um quadro palpitante de vida a Macau de princípio do século XX, como “sal’ do “patuá” e tudo ...
“É interessante verificar que o poema dedicado a Pessanha é a tradução de um poema chinês (de Su Che, 1036-1101 D.C.) (o que é indício confirmativo do enorme labor de tradução a que Pessanha se dedicava, tendo vazado traduções de poemas chineses em cerca de 30.000 páginas, desgraçadamente desaparecidas)”.
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Edições
NINA CHAI A Wencelau de Moraes
ebuçada em negro dó Vai à missa Nina Chai. Vai à missa, ou onde vai? Desfaz-se em perfume a aglaia No fino ar matutino E a maresia da praia Tange um repique de sino. Com seu passo meúdinho Pobre linda Nina Chai Vai à missa, ou onde vai? Treme-lhe o coraçãosinho. Como o alvo frio-frio... O ar é um setim macio. As lorchas abrem ao mar Dum oiro verde de laca Azas jaldes de quimera. É tudo luz, primavera, Doce aroma de champaca. No baile lhe prometera (As meninas de Lisboa Também prometem assim?...) À missa primeira entrar À portinha do jardim... Prometer, como podera? Jesus! Ficarem a sós... À missa repicam sinos. Passam depressa outros dós Na rua clara e silente... Ao vento leve da praia Lá dentro a alvura da caia Estremece docemente... Vai, Nina Chai, vai viver, Vai viver, pobre criança. Sempre é tempo de morrer Sem fé e sem esperança, Ou, pior, de envelhecer. Repicam à missa os sinos É amorosa a manhã Pobre linda Nina Chai Já à missa não vai, não vai!... “Saian, ai qui saian, Amôr, vida, coreçan!”
Macau, Agosto de 1911.
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Actividades
ACTIVIDADES
Tecnologias para a diversificação económica Centenário de Luís Gonzaga Gomes Com agrado verificamos as iniciativas que vão surgindo, de várias instituições, em comemoração solidária do centenário do nascimento de Luís Gonzaga Gomes. Em louvável e ousada iniciativa, a Casa de Portugal encomendou a produção e realização de um filme evocativo de figura de Luís Gomes, cuja exibição pública se aguarda, uma vez que os trabalhos estão concluídos. Em Lisboa, no dia 15 de Maio, a Casa de Macau em Portugal, em conjugação com o IIM, realizou uma sessão evocativa da vida e obra do ilustre macaense, em que foi orador Jorge Rangel e moderador Álvaro Andrade, presidente de Casa de Macau, com muito boa participação dos associados e convidados. O Presidente do IIM fez, a propósito, a apresentação dos dois volumes já publicados da colecção “Mosaico” do IIM dedicados a Luís Gonzaga Gomes. Temos informações de que sessões idênticas irão ser realizadas por outras Casas de Macau, e de que irão ser dadas à estampa, em reedição, algumas obras do escritor, historiador e sinólogo macaense.
Há 20 anos que se ouve o mesmo, estafado, discurso de intenções sobre a necessidade de promover a diversificação económica de Macau. Fala-se tanto mais quanto mais alastra sobre o tecido económico de Macau a mancha das casas de jogos de fortuna e azar. Porque o discurso político é, quase por natureza, voluntarista; quanto mais vigoram as indústrias do jogo mais emurchecem as pequenas unidades económicas. Agora, nos dias actuais, a relação desigual vai aos extremos. Mais e mais unidades de produção não resistem ao sorvedouro dos “buracos negros” dos núcleos casineiros, todos os dias a imprensa nos informa com estatísticas do crescente desmantalemento de outros sectores do aparelho produtivo de Macau. Aqui, como na agricultura; a unidimensialidade das monoculturas é reducionista e desastrosa para as economias. Mas há sinais positivos nos indicadores das Linhas de Acção Governativa, especificamente no que se refere ao avanço estrutural para as grandes exposições e convenções (MICE) e às indústrias criativas. Pensa o IIM que pode também desempenhar um papel nesta direcção estatégica, que é fundamental para Macau, tendo em conta os contactos e relações de que dispõe com instituições académicas e culturais no exterior. Com este objectivo, o IIM deu um pontapé de saída com a promoção de um encontro entre a Universidade de Macau (UM) e o ETI (E-Business Technology Institute), organismo anexo à Universidade de Hong Kong, e cujo objectivo é canalizar inventivamente os resultados das criações tecnológicas para finalidades práticas. O encontro trilateral teve lugar no ETI – instituto autónomo da Universidade de Hong Kong, liderado pelo famoso cientista C.J. Tan, mundialmente conhecido como o “pai” do “Deep Blue” (computador comercializado mundialmente pela IBM e que derrotou o campeão mundial de xadrez Gary Kasparov). O vice-reitor da UM, Rui Martins, e os representantes do IIM Rufino Ramos e Luís Sá Cunha foram recebidos pelas principais chefias do ETI e aproveitaram para conhecer de perto a estrutura, objectivos e projectos daquele instituto, que integra uma centena de investigadores. Em nome do ETI, o Prof. C.J. Tan apresentou em geral os objectivos, estrutura e principais sectores de investigação e actividade do ETI. Depois de uma introdução do Prof. C. J. Tan, o seu director-adjunto para a Investigação e Desenvolvimento Tecnológico, Dr. Frank Tong, focou a sua intervenção na investigação geral e nos projectos do ETI e o administrador Johnson Yim expôs as actividades do ETI nas áreas da investigação e soluções e das transferências de tecnologia. No final, aos representantes da UM e o IIM foram feitas apresentações concretas de tecnologias já testadas e em comercialização, como as tecnologias de controlo das bagagens nos aeroportos, de inventariação automática de “stocks”, de radio-frequência de identificação para gestão de bibliotecas, de identificação e gestão automática de documentos e de gestão automática de grandes complexos habitacionais, hotéis, etc. Este foi um primeiro encontro, estando agendado outro para Outubro em Macau, na Universidade, para aprofundamento de informações, e possível assinatura de um protocolo, com vista à concreta promoção do e-business em Macau.
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Actividades
IIM com a PATA A Pacific Asia Travel Association (PATA) organizou em Banguecoque, a 29 e 30 de Abril de 2008, um fórum intitulado “CEO Challenge 2008: Confronting Climate Change”, juntando líderes da indústria turística, com vista a obter um plano de acção e de cooperação conjunto entre os vários sectores, para fazer face aos desafios das mudanças climatéricas. Têm sido preocupação do público, em muitos países, os constantes flagelos da natureza que estão associados ao volume de visitantes que se deslocam em massa e desgastam os recursos, por algumas vezes abusos, outras por falta de preocupação de os conservar. Os fornecedores desses serviços e de transportes têm sido objecto de críticas pela grande quantidade de dióxido de carbono (CO2) produzido pelos aviões, autocarros de turismo, aparelhos de ar condicionado, etc., e pela poluição derivada do crescente número de visitantes e pelo funcionamento de muitas infraestruturas turísticas. À semelhança de reuniões convocadas por outros organismos internacionais, como a Organização Mundial de Turismo que se realizou em Outubro de 2007, em Davos, e o encontro das companhias de aviação, em Genebra, em Abril, a PATA tomou a iniciativa de congregar todos os intervenientes do fenómeno turístico e, numa demonstração de apoio, pretendeu incorporar as respectivas conclusões e recomendações nesse fórum, reunindo competidores e descobrindo métodos de trabalho empregues pelas diferentes empresas, que enfrentam problemas e dilemas semelhantes. No dizer do respectivo Presidente, Peter de Jong “foi um acto de fé ao criar uma oportunidade para a indústria colaborar nessa questão crítica e foi fantástico verificar a forma como eles responderam com tanta energia e dedicação.” Este fórum reuniu cerca de 300 participantes e meia centena de membros da comunicação social, local e internacional. Líderes de vários sectores da indústria, representando conhecidas companhias de aviação, companhias de gestão de aeroportos, cadeias de administração de hotéis, operadores turísticos e organizações oficiais de turismo falaram das suas experiências e deixaram modelos de intervenção para serem partilhados. Macau esteve representado por delegados da Direcção dos Serviços de Turismo, do Instituto Internacional de Macau (pelo membro da Direcção do IIM Rufino Ramos) e de um hotel.
Macau no Brasil “Uma flor de lótus na lusofonia” – a exposição organizada pelo IIM com esta designação que tem vindo a percorrer cidades do Brasil, desde há 4 anos, continuou a sua itinerância triunfantemente durante todo o ano de 2007. É uma exposição de 60 fotografias ampliadas (60x60cm), em sequência ilustrativa da personalidade histórica, urbana, humana e patrimonial de Macau de hoje, imagens adquiridas pelo IIM junto dos membros da Associação Fotográfica de Macau. A organização da digressão da mostra no Brasil deve-se à parceria entre a SESI (Departamento dos Serviços Sociais do Estado de S. Paulo) e o Instituto Camões em S. Paulo, e ainda com a colaboração da Embaixada de Portugal – o que evidencia os sentimentos de solidariedade de Portugal com a entidade histórica e o património de Macau. Mas resultam também evidentes os sentimentos de partilha e de comunidade “sanguínea” entre o Brasil e Macau, na grande moldura da lusofonia. Titulando que “Macau desvenda um pedaço da China que fala Português”, o texto que acompanha a mostra sintetiza-a e prefacia-a assim: “ (Macau) localizada em território chinês, tornou-se ao longo da história – e graças às diversas influências recebidas -, espécie de “esquina do mundo”, cidade ancorada entre ocidente e oriente, precursora da globalização contemporânea. A herança portuguesa na língua e nos costumes e a vocação comercial assumida ao longo de sua história contribuíram para tornar a antiga possessão lusitana – que retornou ao domínio chinês em 1999 – , um local de comércio, miscigenação de culturas e de intercâmbios. Nas fotos expostas, as marcas do longo período da presença portuguesa se destacam nos traços arquitetônicos particulares e no conjunto de costumes de Macau, que guardam muitas semelhanças com o Brasil, além do idioma.” O responsável do Instituto Camões em S. Paulo, João Pignatelli, relevou a iniciativa como “inédita num momento em que se constata uma grande aproximação entre o Brasil e a China e quando Macau foi chamada a assumir um papel relevante nas ligações com os países de língua oficial portuguesa”. A exposição, por onde tem passado, tem surpreendido os milhares de visitantes “pelas semelhanças com o Brasil”. Durante 2007 a mostra esteve exposta em nove cidades brasileiras (Limeira, Campinas I, Campinas II, Indeiatuba, Marília, Jaú, Tatuí, S. José de Campos, Tanbaté) e foi visitada por 51.081 pessoas. O IIM tem outra exposição em programa de itinerância nos EUA (sobre o Património de Macau e com fotos do Departamento do Património Cultural do Instituto Cultural), e os resultados têm vindo a confirmar o género expositivo como um veículo privilegiado e rendível de divulgar a boa imagem de Macau pelo exterior. Com saber de experiência feito, o IIM tenciona, e programa para o próximo ano, executar novas exposições para espalhar a imagem de Macau no Mundo.
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Actividades
Macau no Fórum de Sinologia em Lisboa Promovido pelo Instituto Português de Sinologia, decorreu de 14 a 16 do corrrente a primeira parte do 3o Fórum Internacional de Sinologia, em Lisboa, nas instalações do Centro Científico e Cultural de Macau. O tema geral deste Fórum, em consonância com os Jogos Olímpicos que se realizam este ano em Pequim, é “Desporto, Jogos e Lazer na China”. A 2a parte teve lugar no auditório municipal de Vila Nova de Gaia, de 20 a 23 deste mês. “Jogos, poder e diplomacia”, “O impacto dos jogos olímpicos em Pequim”, “Jogos e as grandes mudanças na economia chinesa” e “Jogo, lazer e desporto em Macau” foram os primeiros grandes temas tratados por cerca de 20 oradores, entre os quais o presidente do Instituto Internacional de Macau, Jorge Rangel, o presidente da Casa de Macau em Portugal, Álvaro Andrade, o engº técnico agrário António Estácio, exdirector dos Serviços Florestais e Agrícolas de Macau, o arqº paisagista Fernando
Ferreira de Macedo, ex-chefe de Divisão da então Câmara Municipal das Ilhas, e Vítor Serra de Almeida, ex-presidente da Casa de Macau em Portugal. A primeira parte do Fórum, coordenada por Ana Maria Amaro, professora catedrática jubilada e presidente do Instituto Português de Sinologia, também incluiu uma mesa redonda sobre Macau, intitulada “Quando os jogos nos falam do passado: jogos e identidade cultural dos filhos-da-terra”, e protagonizada por Álvaro Andrade, Jorge Rangel, Vítor Serra de Almeida, Armando Alves de Almeida, veterinário macaense que foi director do Centro Nacional de Cunicultura, e Jorge Robarts, funcionário público aposentado da Administração de Macau. O numeroso público presente e as suas abundantes intervenções contribuíram para um diálogo vivo e participado, nesta que foi uma “viagem memorialista aos tempos de infância e adolescência dos macaenses nas décadas de 1940 a 1960”.
A segunda parte, em Gaia, abarcou temas como “Jogos de competição, lazer e desporto na China antiga”, “Jogo de competição na China moderna a contemporânea”, “Diversidade e implicações dos jogos na China contemporânea”, “Brinquedos e tempos do ócio entre os chineses”, “Equilíbrio do corpo e da mente” e “Medicina tradicional chinesa aplicada à prática desportiva”, com intervenções de oradores de vários países. De Macau interveio apenas nesta parte do Fórum Jorge Rangel, que apresentou uma comunicação sobre “Jogos de competição na RAEM”. Complementaram este 3 o Fórum Internacional de Lisboa uma mostra de cinema chinês, um “workshop” para crianças sobre jogos chineses e lendas contadas e ilustradas e diversas actividades culturais e espectáculos, sendo também lançado o no. 2 da Revista Portuguesa de Sinologia Zhongguo Yanjiu.
Seminário “An Assessment of EU Policy towards Asia” Realizou-se no dia 2 de Abril o seminário denominado “An Assessment of EU Policy towards Asia” no Auditório II da Biblioteca Internacional da Universidade de Macau (UM). Este seminário foi levado a efeito pelo Instituto Internacional de Macau e a Universidade de Macau, com o apoio da Fundação Ásia Europa (ASEF). A palestra foi feita pelo Dr. Fraser Cameron, actualmente director do EU-Russia Center e consultor do European Policy Center e também do Instituto Europeu dos Estudos Asiáticos em Bruxelas. Participaram neste seminário o Dr. Rufino Ramos, o vice-reitor da Universidade de Macau, Prof. Rui Martins, o director do Centro do Estudo Jurídico da Universidade de Macau, Dr. Manuel Trigo, o Dr. André Silveira, representantes do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau, professores e alunos da Faculdade de Direito da Universidade de Macau e também alunos das outras instituições do ensino superior de Macau. O Dr. Fraser Cameron fez em primeiro lugar um balanço duma perspectiva geral, sobre a relação da UE com diferentes pólos políticos mundiais, como por exemplo, E. U. A., países do Médio Oriente, China, Rússia. Ele falou depois com mais pormenores o relacionamento entre UE e a China, analisando diferentes políticas e estratégias das áreas económica, política, social e diplomática. Após a apresentação do Dr. Cameron, decorreu um debate muito vivo entre os participantes. Discutiram sobre vários temas pragmáticos e polémicos, influência da UE na relação entre dois lados do estreito, a atitude dos países da UE em relação aos Jogos Olímpicos em Pequim, o papel de Macau em termos do comércio entre UE e a China, etc. Este seminário foi uma iniciativa conforme com o protocolo de cooperação assinado entre a UM e o IIM e também a ASEF e o IIM. O IIM vai continuar a realizar vários projectos para promover o intercâmbio cultural e incentivar os estudos académicos juntamente com estas instituições.
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Actividades
As nossas instalações As instalações do IIM continuaram a ser utilizadas por empresas que alugam os espaços da nossa sede. Ultimamente, a mais regular tem sido a CJR Education de Hong Kong, agência de orientação para a educação, que efectua sessões no IIM para jovens estudantes candidatos ou interessados em seguirem carreiras de estudo em países estrangeiros. As sessões informativas são ministradas por técnicos especializados em várias áreas. Estas actividades adquirem hoje muito interesse e actualidade, quando Macau se afirma cada vez mais como cidade internacional e é grande a concorrência no mercado de emprego, onde as perspectivas modernas e a abertura à evolução do mundo são factores básicos para o triunfo das novas gerações. É uma actividade lucrativa, mas com cujos objectivos o IIM está em sintonia. O IIM tem também cedido os seus espaços a outras entidades, muitas vezes a título gracioso, prestando assim um serviço útil à comunidade. E preparamos, para início daqui a meses, programas para maior ocupação dos espaços da nossa sede.
HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO
Dias de semana 08H00/19H00 19H00/23H Sala de 12 ou de 19 lugares Sala de reuniões para 20 a 40 lugares Auditório com capacidade até 120 assentos
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Identidade
IDENTIDADE
sempre entre nós
Para nós, nunca é demais, nem em excesso, tudo o que se faça em Macau para cultuar a memória de Camilo Pessanha, sobretudo num sentido – o de levar a consciência da terra a acolher o poeta como seu património, a associar medularmente o seu ao seu nome. Agora que se começa a falar em prestar atenção ao património intangível, poderia já questionar-se por que razões Camilo Pessanha e a sua obra são menos patrimoniais do que qualquer outra manifestação onde o encontro de várias culturas se tivesse materializado. Em Macau, nunca se foi estrangeiro por falar outra língua ou ter nascido noutro lado. Macau tem que assumir sem quaisquer complexos a sua vocação de projecto universalista, se não coloca o futuro atrás de si. Há que fazer uma História da Literatura de Macau, mas com critérios abertos e inclusivos, sobre o reduccionismo de considerar património literário apenas o que foi escrito por autores de nação chineses, e em língua chinesa.
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Identidade
A consagração de Camilo Pessanha será um símbolo dessa visão integrada, aberta, enriquecedora e universal. Por isto persistiremos. Não se percebendo e resolvendo isto no campo da Cultura, caminha-se a deslado das novas vias da economia da humanidade, a “economia inteligente”, já florescente, que requere a atracção e fixação de artistas e criativos qualificados de todas as proveniências e origens, a total abertura cultural e a tolerância mais tolerante. A “grande guerra” do futuro trava-se já agora renhidamente nos campos das universidades e dos centros de inovação tecnológica, e vão à frente as cidades que se infra-estruturaram como pólos de atracção ou “cidades criativas” (Barcelona, Manchester etc.). Lutando pelo estatuto de Pessanha, lutamos pelo futuro do Macau. Não só cultural, mas também económico. A nova economia já não distingue as duas áreas. Por isto tudo, o IIM acolheu com entusiasmo o convite da Associação Venceslau de Morais para organizar em Macau uma sessão evocativa de 140o aniversário do nascimento do poeta, iniciativa para que o IIM convidou também o IPOR a participar. Assim decorreu a sessão na Livraria Portuguesa, com a inauguração de uma exposição de 18 painéis – “Camilo Pessanha, poeta ao longe” – cujo discurso literário-iconográfico percorria os lugares selectos de vida e obra de Pessanha perspectivando-a em quatro rostos: o escritor, o professor, o sinólogo, e o cidadão. Nela, a surpresa de alguns documentos e fotografias inéditas do grande público. Exposição muito densa de informação e cuja estruturação desvela o profundo conhecimento dos responsáveis da sua concepção, a professora Serafina Martins e Ana Paula Laborinho e Pedro Barreiros – duas figuras da cultura que Macau reivindica como suas e que elas não denegam. Depois das intervenções da Presidente do IPOR, Dr. Maria Helena Rodrigues, e do Secretário do IIM, Luís Sá Cunha, ambas sublinhando a bondade de colaboração entre as instituições para a realização de iniciativas concretas promotoras dos valores culturais lusíadas e das traves identitárias de Macau, falou o Presidente de Associação Wenceslau de Moraes, Dr. Pedro Barreiros. Relembrou o percurso de Associação Wenceslau de Moraes e as suas acções mais relevantes e apresentou o livro do grande especialista brasileiro de Pessanha, Paulo Francheti, “O Essencial de Camilo Pessanha”, edição da Imprensa Nacional-Casa de Moeda. É na verdade uma síntese bem lograda do poeta e da sua vida, que lúcida e apoiadamente desmantela os capítulos de alguma mitografia deformante da verdadeira personagem de Pessanha, v.g. a sua vinda para Macau por desencontro amoroso com Ana de Castro Osório, a sua insociabilidade, o não registar os poemas em letra de forma escrita, etc... Foi posteriormente visionado o documentário de Francisco Manso, com imagens das geografias familiares de Pessanha, e com entrevistas, depoimentos e declamação de poemas por Fernando Sales Lopes. ORIENTEOCIDENTE 25
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poeta ao perto
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Camilo Pessanha revisitou a sua escola – assim abriríamos sugestivamente a notícia da iniciativa que decorreu na Escola Portuguesa de Macau, onde a figura do grande poeta foi reevocada. É que Camilo Pessanha, tendo sido professor no velho liceu de Macau (a funcionar então onde está hoje a residência Consular, no ex-hotel Bela Vista) voltou à casa que herda institucionalmente aquela função educativa em Macau, a Escola Portuguesa. Neste enquadramento Luís Sá Cunha, Secretário do IIM, se dirigiu aos cerca de 40 alunos assistentes, sensibilizando-os para o facto de Camilo Pessanha, além de grande poeta, e de poeta de Macau, ser património moral da casa, ex-professor cuja memória a dignifica. A evocação do poeta foi construída em torno de uma visita guiada aos 18 painéis de Exposição “Camilo Pessanha, – um poeta ao longe”, concebida e organizada pela Associação Venceslau de Morais, e que já tinha sido mostrada na Livraria Portuguesa. Foi uma viagem conduzida pelo Dr. Pedro Barreiros, Presidente daquela Associação e um dos colaboradores da exposição, profundo conhecedor do universo de Pessanha, e que durante 30 minutos percorreu os lugares mais salientes da vida e obra do poeta, com apoio no denso discurso de imagens dos painéis. De seguida, no adjacente espaço da biblioteca, Pedro Barreiros sublinhou alguns aspectos e características da arte poética de Pessanha, com a participação activa dos alunos que leram vários poemas, distintos pela densidade de valores visuais e musicais. Esta evocação de Camilo Pessanha foi uma organização conjunta da Associação Wenceslau de Moraes, do IIM e da Escola Portuguesa de Macau.
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Identidade
EPM
DC tÇÉá
A RAEM vai comemorar o 10o aniversário. O IIM, vai assinalar os 10 anos de existência e actividade. Também a Escola Portuguesa de Macau vai iniciar os actos comemorativos dos seus 10 anos. Passaram no dia 18 de Abril dez anos sobre o dia em que o ex-Primeiro Ministro de Portugal, António Guterres, presidiu à cerimónia do lançamento simbólico da primeira pedra da EPM – “Espero que a Escola Portuguesa de Macau (...) se prestigie pela qualidade da sua gestão e pela excelente capacidade pedagógica, tornando-se num marco não só de ensino português, mas do sistema educativo nesta parte do Mundo” – disse o ex-chefe do governo português. A Escola só começou a leccionar no ano lectivo de 1998/1999, mas desde o seu início transbordou dinâmica, entusiasmo, competêntica. E capacidade de dádiva, do seu corpo docente. E de dedicação e luta da Associação de Pais. E tenacidade, e espírito de sacrifício dos seus dirigentes, e de competência e entrega da sua directora Maria Edith da Silva, enfim, de todos (e da paciência de todos) ante as indecisões, contradições e adiamentos das instâncias políticas de Lisboa, as investidas de instabilidade e de estrangulamento, o incumprimento de responsabilidades, a pressão de interesses financeiros de terceiros. Uma história que um dia será escrita, e que será porventura titulada de “O livro negro da EPM”.
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Identidade
Sim, a Escola vigorou e o vê-la assim provoca o nosso comovente agradecimento porque todos sentimos e sabemos que a EPM é o centro anímico, o núcleo axial de todo o conjunto vital que é a comunidade portuguesa, que, sem ela, se esvaziaria de nervo, alma e identidade. Nós, no IIM, recordamos com emoção vários momentos vividos em conjunto, em que professores e alunos da EPM, no mais sensível culto dos valores da Cultura e da Língua, proporcionaram a grandes figuras da cultura portuguesa e lusófona exibições inesquecíveis, que levaram de Macau uma imagem de alta qualidade e de conforto por saberem que aqui, mais do que em Lisboa, pulsam autenticamente vivos o espírito e a alma lusíadas. Segundo notícias que vão chegando, a EPM prepara-se para dar o salto da internacionalização, para a adaptação do projecto educativo que prevê cursos profissionais, para a aconselhável integração do ensino pré-primário e — se o for, para melhor — para a transferência de instalações. Nisto tudo confluem boa vontade, dinâmica, seivas da vida — o que nos inculca um conforto optimista, mais do que esperança, no futuro. Com as palavras do Livro: que cresça e se multiplique.
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EPM
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Identidade
Entrevista com Edith Silva Oriente/Ocidente – Ao ver a foto colectiva de todo o corpo discente da EPM, ocorrenos que uma escola é uma pequena nação, onde as diversidades etárias, étnicas, culturais etc., convivem e progridem em conjugação de um mesmo padrão disciplinar, modelo curricular, espírito. Uma escola conduz-se como um barco, não será? A EPM foi nos primeiros anos uma nau pesada, com ventos e águas contrários? Edith Silva – A Escola Portuguesa de Macau teve o destino marcado com problemas, logo desde o seu início. Todos se lembram, por exemplo, do que foi o processo arrastado e disputado de decisão da sua localização... O espaço, onde está a Escola, foi escolhido pelos responsáveis políticos de Portugal, sob a crítica de múltiplas opiniões locais, que a consideraram “minimalista”, “redutora” etc.. Isto justifica-se porque, na altura, o corpo discente estimado era de 1200 alunos, demasiado para o arcaboiço da nau destinada à viagem, para utilizar os termos da questão. É que, é bom lembrar, a EPM foi herdeira de quatro outras escolas, algumas delas centenárias, como o Liceu Nacional Infante D. Henrique, a Escola Comercial, a Escola Oficial Pedro Nolasco da Silva, e logo a seguir o Colégio D. Bosco. O que a Escola Portuguesa de Macau é, verdadeiramente em termos da raízes, é a herdeira das escolas de língua veicular portuguesa existentes em Macau. Ora, e creio que isto se entende, a corporização de diversas entidades “somáticas” num novo organismo abrangente não é fácil, porque professores, funcionários, alunos arrastam consigo os factores personalizantes anteriores, tendem a manter o espírito de acantonamento; se assim não fosse, talvez não tivessem sido boas escolas, é normal... Mas, por isso, não foi fácil, em termos de gestão, conduzir o processo de entrosamento e aglutinação, até ao amadurecimento de um novo espírito institucional comum. Mas foi conseguido. Também é bom lembrar que, até 1999, tivémos que estar repartidos entre dois espaços (aqui na ex-Escola Comercial e no Politécnico) por excesso da carga dos alunos. Mas, sobre tudo isto, o que tentámos acima de tudo foi conduzir as coisas sempre com um polo orientador: sermos uma instituição de ensino integrada na RAEM, uma pequena comunidade harmonizada com a comunidade maior, evitar o mais possível qualquer instinto do auto-segregação. Se assim não fosse, teria sido muito mau, mas há sempre uma dificuldade da base: é a barreira da língua, que é obstáculo ao contacto. ORIENTEOCIDENTE 30
Oriente/Ocidente – Mas, uma coisa que nos surpreende quando entramos mais familiarmente na vida da Escola, é o grande número de alunos que ouvimos a falar cantonense... Edith Silva – Sim, é verdade, mas o problema tem que ser colocado no contexto da EPM ter um estatuto de instituição de ensino particular, como qualquer outra na RAEM; já não é, como antigamente uma escola oficial. O desafio foi, portanto, o de conquistarmos um estatuto de inserção na RAEM, na relação intensa e paritária com as outras escolas, participando em provas, campeonatos, concursos, organizados por serviços públicos e entidades. Ora, este objectivo também foi alcançado. Oriente/Ocidente – E o da qualidade do ensino? Edith Silva – A qualidade e excelência do ensino dependem, prioritariamente, da qualidade e estabilidade de um corpo docente; a EPM teve, durante os primeiros 10 anos, um corpo docente profissionalizado e experiente, na grande maioria pertencente aos quadros do Ministério de Educação de Portugal. E que mostrou a sua extraordinária dedicação e identificação com os objectivos da Escola e a sua qualidade. O que procurámos fazer foi manter a sua estabilidade, sem grandes pertubações de saídas e entradas. E os resultados, felizmente, respondem à questão: não só os níveis conseguidos em geral nos exames nacionais portugueses, como em competições internacionais como o do programa PISA, em que a Escola foi muito bem sucedida. Mas, deverá ser a própria comunidade, os instituidores e os encarregados de educação a avaliarem a Escola. Não deve, porém, esquecer-se que a EPM se defrontou com muitos pequenos factores de instabilidade, alguns manifestos em polémicas públicas, (os corte orçamentais, mudança de instalações, o perfil mais ou menos “internacional” e as adaptações curriculares etc.). Mas fomos andando, introduzimos o Mandarim e o Inglês como obrigatórios desde o primeiro ciclo, no ano lectivo 2005/2006. Oriente/Ocidente – No fundo, com alunos de tantas nacionalidades, o ensino de várias línguas, e o modelo multicultural, podemos considerar que a EPM já é uma escola “internacional”... Edith Silva – Bom, é necessário precisar que a EPM tem um modelo curricular igual ao oficial em Portugal.
Identidade
É igual a qualquer escola portuguesa, apenas operou algumas adaptações à realidade local. Mas a afirmação tem razões de ser somos uma escola muiticultural, com 10% de alunos de múltiplas nacionalidades (além dos 70% de radicados em Macau e os 20% oriundos de Portugal). Sobretudo, olham para nós como uma escola internacional. Há aqui alunos americanos, franceses, romenos etc (mais de dez diferentes nacionalidades) por opção exigente dos pais; eles não sabem Português, mas os pais preferem a EPM. E são impressionantes os resultados conseguidos com esses alunos na aprendizagem do Português! Ao fim de alguns meses, já falam a língua! Um dos alunos americanos teve menção da excelência no final do ano. Isto é muito gratificante, mas é o resultado do esforço de muita gente. Mas, é bom não esquecer, a EPM tem um curriculum nacional português e está integrada dentro do sistema educativo da RAEM. Oriente/Ocidente – E a factores de crise e o futuro? Edith Silva – O nuclear problema da Escola, são os alunos. Começámos com 1200, agora temos 520. Este o grande, real, problema da Escola, o de uma descida progressiva para que se tem que encontrar soluções de travagem e de inversão. A seguir a 1999 a sangria foi abrupta com o retorno de tantas famílias a Portugal; isto já estava previsto. Ao longo dos últimos 4 a 5 anos a cadência estabilizou nos 5% a 6% anuais, o que se salda na perda de 20 a 30 alunos (diferença entre os que entram e os que saiem para o ensino superior). Parece pouco, mas visto a anos, é muito. Este é o problema básico de sobrevivência de Escola, para o qual terão que se flexibilizar soluções.
que também tem dado sintomas de redução. É preciso também reconverter tudo isto, e avançar na readaptação do nosso curriculum, visando a ingresso nas universidades portuguesas, e esperando o respectivo reconhecimento pelo Ministério de Educação de Portugal. E, como já somos considerados por parte da comunidade como Escola internacional, porque não pensar em definir mais concretamente uma secção internacional, em língua veicular inglesa?... Temos já a língua veicular portuguesa, temos o Inglês, o Mandarim e o Francês, temos uma grande aposta nas novas tecnologias, a Escola está muito bem equipada (informática, laboratóros etc.) Em termos de sobrevivência financeira poderíamos olhar a experiência da escola Francesa de Hong Kong: a secção internacional paga a “escola” de língua francesa. A EPM não pode estar sempre sujeita a ameaças de instabilidade, de cortes orçamentais etc... Temos que exibir para o exterior a qualidade de um projecto educativo, atractivo das jovens gerações residentes em Macau. Temos experiência e provas, seguimos aqui o modelo europeu, temos um bom corpo docente e equipamentos, um clima multicultural único, e um ratio de alunos por turma entre os 20/30 alunos, o que também é único. Tracei um objectivo: com o 12º ano todos os alunos saem da Escola fluentes em Português, Inglês e Mandarim. Isto permite prosseguir em qualquer universidade do Mundo, e temos a prova do êxito de integração dos nossos alunos em Inglaterra e na Austrália. A base é boa, falta melhorar o Mandarim. Oriente/Ocidente – Em resumo?
Como, por exemplo, na readaptação dos currículos, que permite um alargamento do campo de colheita aos candidatos locais. A Escola é muito importante para a comunidade portuguesa, mas resulta cada vez mais importante para a comunidade local, residente a longo ou curto prazo. A EPM tem a potencialidade única do poder desempenhar esse papel do intercâmbio inter-cultural mas sempre através de Língua Portuguesa, porque não há que duvidar sobre a sua vocação de difusor da língua e da cultura portuguesas. É preciso que haja realismo e sensibilidade, da parte da todas as instâncias que tutelam a Escola. Por outro lado, temos apenas em Macau uma fonte alimentadora dos alunos, o Jardim da Infância D. José da Costa Nunes,
Edith Silva – Especula-se muito com o fantasma das instalações: isso para mim nunca foi muito preocupante. O que é ameaçador é entrarem 17 alunos e sairem 50 ou 60 todos os anos. Temos, depois de 10 anos, boas potencialidades de futuro, se houver capacidade de decisão, coragem, flexibilidade. Há áreas de captação disponíveis, a oferta só depende de nós. Mas, sempre ao lado das soluções de curto prazo para a nossa sobrevivência, duas coisas há indiscutíveis: sermos uma referência qualidade do ensino na área e um núcleo difusor da Língua e da Cultura portuguesas. ORIENTEOCIDENTE 31
Diáspora
DIÁSPORA
A Tuna em Pequim Música de Macau e de Portugal irá estar presente na cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos, em Pequim: é que a “velha” Tuna Macaense foi convidada pela organização a actuar na cerimónia, não sabendo ainda se terá 45 ou 30 minutos de actuação. Interpretarão 10 ou 7 canções, mas o que é certo é que elas serão interpretadas em português, em patuá e em mandarim (2 canções, uma delas a versão chinesa da “Tia Anica de Loulé”). Entretanto, a Tuna apresentou ao público de Macau o seu novo álbum, “Macau património Mundial”, com 13 novos temas e que reflectem o trabalho de preparação do grupo musical para actuar dignamente em Pequim. Assim se justifica que a maioria das canções sejam em mandarim, muito embora os temas incluídos garantam a presença da tradição portuguesa e macaense. A “velha” Tuna, fundada em 1935, é um caso de longevidade que tem sobretudo a ver com a permanência viva dos valores da cultura macaense que, ameaçada ou tendo que adaptar-se a bruscas mudanças, continua capaz de operar aquelas sínteses renovadas que substanciam a identidade de Macau.
ctÜtu°Çá?
Tuna!
Associação da Casa de Macau, alô S. Paulo! Um dos traços mais típicos da “personalidade” macaense é o ritual do banquete – sempre outros actos, gestos colectivos, ou afirmações são tomadas no enquadramento e na fruição do simpósio. À volta da mesa nos entendemos... Assim, mais uma vez, agora em S. Paulo, para a sessão eleitoral dos corpos sociais da Casa de Macau para o biénio 2008/2010. Desta vez, e ao contrário do que também é típico da comunidade (a fragmentação e a disputa), candidatou-se apenas uma lista, sintoma de unidade. Felicitamos, e divulgamos os nomes dos corpos sociais: Directoria Executiva Presidente: Vice-Presidente: Secretário-Geral: Directoria Financeira:
Herculano Alexandre Airosa João Bosco Quevedo da Silva Roberto Gomes Manuela A. Canavarro Agoston
Conselho Consultivo Conselho Fiscal Gilberto Quevedo da Silva Julio Augusto Airosa Branco Natercia Rita Dias da Luz da Silva ORIENTEOCIDENTE 32
Anibal Cardoso Joaquim Humberto A. C. Fernandes Roque Rui da Rosa Branco
Diáspora
Brasil e Portugal no Real Gabinete No âmbito das comemorações dos 200 anos da chegada da Corte de D. João VI ao Rio de Janeiro, os Presidentes da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva e da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, co-presidiram a uma sessão solene realizada no Real Gabinete Português de Leitura, no dia 8 de Março. Nos discursos proferidos pelos dois Presidentes foi realçado o papel do Real Gabinete como matriz difusora das culturas portuguesa e brasileira. Da mesma forma, os dois Chefes de Estado destacaram a grande contribuição dos portugueses do Brasil, ao longo de sucessivas gerações, para o desenvolvimento do país. O Presidente do Real Gabinete, Dr. António Gomes da Costa, interpretou, na sua intervenção, a presença do Presidente Lula e do Presidente Cavaco Silva no Real Gabinete como uma prova do prestígio e do reconhecimento a uma comunidade que nos mais diversos quadrantes tanto tem feito para prestigiar e enriquecer as duas Pátrias.
Nas suas intervenções, os dois Chefe de Estado, de Brasil e de Portugal, salientando a História e a Cultura comuns, foram significativamente convergentes nas parcerias para o futuro:
“É meu desejo que essa relação privilegiada entre Portugal e Brasil possa estender-se aos demais países lusófonos. Estou convencido de que por meio da CPLP podemos multiplicar experiências de cooperação tão sólidas e bem-sucedidas quanto a do Real Gabinete Português de Leitura.” (Presidente Lula de Silva)
“Porque é chegado o tempo de ambos os países e de ambos os povos tranformarem um passado comum num futuro construído a dois. Um futuro que já chegou.” (Presidente Aníbal Cavaco Silva)
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Diáspora
Toca a Vibrar...! Clarim é sopro de exortação e de reunião. Assim a sexagenária instituição da imprensa escrita em português, em Macau, que durante a longa existência foi clamor de referência e de perseverança do corpo da Igreja militante nesta terra crismada do Nome de Deus. Por gerações e gerações, talvez nunca ninguém se tenha detido na mentação da abísmica dimensão daquele crisma, da sibilina escatologia ali inclusa, da responsabilidade proposta. Fazendo 60 anos, o “Clarim” continua, de boa saúde e com ânimos de revigoração. Assim o disse o actual director do jornal, o Pe. Albino Pais, no dia 2 de Maio. A primeira edição do jornal saiu de estampa para as mãos do público em geral e da comunidade católica em especial, no dia 2 de Maio de 1948, trazendo impressa no frontão do cabeçalho (do pintor russo George Smirnof) o lema “Por Deus, pela Pátria”. Velho, muito velho mesmo, este “O Clarim”, do tempo em que os grandes jornais (em Portugal, em França, em Espanha) se comprometiam com valores e fidelidades perante a consciência e o mundo com os seus lemas empolgantes nos cabeçalhos... Talvez o lema do “Clarim” tenha sido, desde há longos anos, “Por Deus e por Macau”, e se há campo em que o jornal se distingue de congéneres será na fidelidade e na continuidade de sessenta anos. Para o actual Director, a edição aumentada publicada no dia do aniversário foi para “não deixar passar a data em branco”, que é como quem diz, o que é um aniversário, se caminhamos para o centenário? Fica-nos o conforto de saber que o jornal está “com mais fôlego”, com “boa estabilidade” e com o mesmo espírito.
Longa vida e sempre a vibrar, “Clarim!” Linda Rika Naito Logo se vê que os dois apelidos são japoneses e que o próprio nome é português – Linda – esclarecendo-nos logo que se trata de alguém do país do sol nascente que comunga algo de Portugal. E é, Linda Rika Naito é há muitos anos leitora de Português nas Universidades de Sophia e Ryutsu Keizai, no Japão, Tóquio, e conhece a cultura portuguesa porque fala correctamente o Português, com “acento português”! Esteve 15 dias em Macau, concentrada todos os minutos em contactos e operações de recolha de materiais para preparar uma tese — sobre os Macaenses e a cultura macaense. Macau desperta, de facto, mais atenções nos dias que correm. Visitou o IIM, falou e entrevistou longamente o presidente Jorge Rangel, que lhe mostrou as instalações e lhe falou sobre o tema interessante. O secretário da Direcção já havia falado com ela, e, através dele, foram-lhe oferecidas várias publicações relacionadas com o seu projecto. Esperamos pelo trabalho da Dr. Linda Rika Naito, e estaremos ao dispor para colaborar na sua concretização.
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Nossos sócios
NOSSOS SÓCIOS
Manuel Silvério No dia seguinte à nomeação de Alex Vong para o cargo de Presidente do Instituto do Desporto publicada em Boletim Oficial, Manuel Silvério anunciou em comunicado o seu adeus, quer às funções activas no IDM, quer à carreira na função pública. Citamos o jornal “Hoje Macau”:
Victor Marreiros
“Na hora do adeus, Silvério diz que se despede com a consciência tranquila e com o sentimento de dever cumprido. “Toda a minha vida profissional foi dedicada ao desenvolvimento desportivo da RAEM. Foi a manifestação de um sonho pessoal e que consistia em gerar mais oportunidades para a prática desportiva local (...). Sem quaisquer falsas modéstias, creio ter realizado esse sonho. O panorama do desporto de Macau é, seguramente, muito melhor hoje”.
O nosso sócio, e consagrado designer de Macau, acaba de ser mais uma vez premiado com mais um galardão que vem juntar-se a muitos outros de projeccção internacional. Foi agora nos Estados Unidos no concurso TDC 54, (Type Directors Club Exhibition for 2007 and Typography29).
E José da Rocha Dinis, referiu-se-lhe, assim, em editorial do jornal de que é director:
“Tendo acompanhado mais de 25 anos da carreira de Manuel Silvério acho que só tem que estar orgulhoso com o trabalho que realizou, em especial, nestes anos da RAEM. Com a ajuda do Executivo, proporcionou espectáculos desportivos que projectaram o nome de Macau internacionalmente e as novas infra-estruturas para o efeito construídas credibilizaram a região como local de excelência na preparação de atletas para alta competição, ao mesmo tempo que servem a actividade desportiva dos residentes. É por isso que Manuel Silvério tem reconhecimento internacional, pelo que se espera que, mesmo reformado da FP, continue a dar à RAEM a sua grande experiência em termos de organização desportiva.” Sim, a experiência e a projecção internacional de Manuel Silvério, os cargos que concentra (1o vice-presidente do Comité Olímpico de Macau, presidente do Comité da Comunicação do Conselho Olímpico Asiático, presidente do Comité Executivo da ACOLOP) não permitem a dispensa da sua intervenção activa. Sem dúvida, com ele o Desporto de Macau cresceu e deu dimensão internacional à REAM.
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Em Directo
EM DIRECTO
“...mais do que preservar Portugal tem, relativamente a Macau, que estar preocupado com a arquitectura da cidade para que o património cultural não fique “afogado”entre fileiras de prédios”. (Luís Amado, Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, agência Lusa., 09/04/08)
“...tivemos um papel importante, por exemplo, em Macau, que agora será menor. Actualmente, a política do Governo macaense é diferente e, para falar francamente, há menos espaço para tudo o que tem a ver com a cultura portuguesa.” (Carlos Monjardino, Presidente da Fundação Oriente, revista “Visão”)
“Devido aos factores históricos, culturais e humanos, Macau tem estabelecido amplas ligações com os países lusófonos através de diferentes canais, sendo um elemento fundamental a realização anual na RAEM da Conferência Comercial Internacional dos Países de Língua Portuguesa. As vantagens de Macau, como uma ponte intermediária de economia e comércio entre a China interior e os países de língua portuguesa, evidenciam-se em que a Região Administrativa Especial de Macau adopta um enquadramento jurídico e administrativo semelhante ao do Continente Europeu, de modo a facilitar uma aproximação dos Mercados de Língua Portuguesa ao Mercado da China Continental. Tanto a língua chinesa como a portuguesa são línguas oficiais de Macau, e o ensino da língua portuguesa, bem como os respectivos cursos, são bastante generalizados, estando disponíveis jornais, revistas e estações de rádio e televisão em língua portuguesa, o que contribui para um amplo uso da língua na RAEM. Por causa dos laços linguísticos e culturais, uma grande parte dos macaenses já viveram no Brasil. Moçambique e outros países, conhecendo de boa forma as suas culturas e costumes. Além disso, há um grande número de empresários locais que têm conhecimento a fundo dos mercados e culturas da China Continental e dos países de língua portuguesa, para além dos profissionais em direito, contabilidade, comércio, marketing, consultoria, etc. Pelos factores apontados, Macau está em excelentes condições para participar na cooperação internacional, especialmente na promoção dos laços económicos e comerciais entre a China Continental e os países de língua portuguesa.” (Edmundo Ho Au Wa, Chefe do Executivo da RAEM, “Notícias do CPLP”, Dez 07/Março 08)
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Em Directo
“(...), a comunidade continua fechada na sua casca e tem sido relativamente pouco participativa. Penso que a comunidade portuguesa faz parte do que é intrinsecamente Macau, do que é a cultura, do que é a personalidade própria desta terra. (...) Muitas vezes sinto e oiço as autoridades de Macau a incentivar a comunidade portuguesa a sair dessa casca e a ser mais participativa, nomeadamente nas áreas que referi, áreas cultural e de apoio social (...). “Edmund Ho tem tido sempre um cuidado extremo relativamente à comunidade portuguesa e é uma pessoa que preza a nossa presença e tem sido um dos que a incentiva a ser mais participativa. Há essa percepção clara no actual governo e haverá seguramente no futuro. É importante referir que, da parte do governo central em Pequim, existe uma noção de que a presença portuguesa faz parte intrínseca e integral de Macau.” Pedro Moitinho de Almeida, (Cônsul-Geral de Portugal, jornal “Hoje Macau” 01/04/08)
“Macau distingue-se do resto da China por ter duas línguas oficiais, e muito mais do que duas culturas. Os Estudos portugueses são uma área muito importante. Temos planos a cinco e dez anos em que queremos que Macau seja um centro de estudos dos países de língua portuguesa. Sublinho que não estou a falar de uma licenciatura, mas gostaríamos de desenvolver um centro de estudos. O que nós queremos ter é uma base de estudos que seja de referência no continente asiático, os alunos que queiram investir nos conhecimentos sobre a cultura e o modo de operar com esses países” (de língua portuguesa).” (Iu Vai Pan, reitor da Universidade de Macau, “Ponto Final”, 6 de Maio)
“Quando se vive numa cidade de jogo, em que a tentação das luzes e do dinheiro fácil é muito mais que uma realidade, deveria existir um balanço, uma harmonização, que apontasse outros caminhos aos jovens da RAEM, que os fizesse valorizar outras realidades. Sim, porque, por mais que o ICM não o suspeite, existe um mundo, existe gente, que prefere viver perto do pensamento e da beleza, do risco e da poesia. Esse mundo um dia mandará no mundo. Até lá, temos o ICM. É a vida.” (Carlos Morais José, jornal “Hoje Macau”, 09/05/08)
“Macau redescobriu o seu papel tradicional de plataforma entre a China e o mundo que fala em Português. Parte da comunidade chinesa compreendeu pela primeira vez que a história comum vai ser útil a Macau e vai permitir a Macau ser útil à grande China, à mãe-pátria e isto deu uma razão de ser da comunidade portuguesa aos olhos da comunidade chinesa. Daí que o relacionamento das duas comunidades ser hoje mais são do que era antes da transição”. Pedro Moitinho de Almeida, (Cônsul-Geral de Portugal, jornal “Ponto Final” 09/05/08)
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MACAU EM PORTUGAL Principais organismos em Portugal ligados a Macau -Numa deslocação ao Brasil, para participar numa conferência organizada pelo Liceu Literário Português, o presidente do IIM preparou esta relação dos orgãos que em Portugal estão directa ou indirectamente ligados a Macau. A Oriente / Ocidente transcreve-a para conhecimento dos seus leitores: - Delegação Económica e Comercial de Macau – é o organismo oficial da RAEM em Lisboa. O seu coordenador é o Engº Raimundo do Rosário, ex-director dos Serviços de Obras Públicas de Macau e exdeputado. - Centro Científico e Cultural de Macau – organismo oficial do Estado Português, dependente do Ministério da Ciência e do Ensino Superior. Foi criado em 1999 e alberga um museu, um centro de documentação e um centro de estudos. O seu actual director, Prof. Luís Filipe Barreto, foi professor da Universidade de Macau, onde dirigiu o Instituto de Estudos Portugueses. - Casa de Macau em Portugal – é o organismo associativo dos macaenses residentes em Portugal, estando a filiação aberta também a outras pessoas que já viveram em Macau ou que, simplesmente, querem estar ligadas a Macau. Possui uma excelente sede recreativa e o seu actual Presidente é Álvaro Henrique da Graça d’Andrade, natural de Macau e funcionário superior aposentado do Banco Nacional Ultramarino. - Fundação Casa de Macau – é uma fundação de direito privado, proprietária e gestora dos bens da Casa de Macau. O Presidente do seu Conselho de Curadores é o Coronel Mariano Tamagnini Barbosa, oficial aposentado da Força Aérea Portuguesa e filho do antigo Governador Tamagnini Barbosa (que foi três vezes Governador e faleceu em Macau). O presidente do Conselho de Administração é o Coronel Algéos Ayres, militar aposentado que foi presidente do Leal Senado de Macau. - Fundação do Santo Nome de Deus – administra em Lisboa um lar para idosos destinado prioritariamente a pessoas de Macau. Possui boas instalações e o seu presidente é o advogado macaense Delfino Ribeiro. Mantém também em funcionamento uma residencial aberta a pessoas ligadas a Macau, residentes na exterior. - Fundação Oriente – beneficiou do contrato de jogos de fortuna e azar. Tem sede em Lisboa e uma delegação em ORIENTEOCIDENTE 38
Macau. Está ligada à Fundação Escola Portuguesa de Macau e ao Instituto Português do Oriente. Abriu em Lisboa, em Maio, o Museu do Oriente. O presidente do seu Conselho de Administração é Carlos Monjardino, ex-Secretário para a Economia e Finanças do Governo de Macau em 1986/ 87, sendo presidente do Conselho de Curadores o Prof. J. J. Fraústo da Silva, exMinistro da Educação. - Fundação Jorge Álvares – tem todos os antigos Governadores de Macau no seu Conselho de Curadores. Apoia estudos, edições, conferências e outras actividades ligadas a Macau. O seu presidente é o General António Lopes dos Santos, que foi Governador de Macau de 1962 a 1966. Foi também Governador de Cabo Verde e ViceChefe do Estado-Maior do Exército Português. Os outros antigos Governadores são: General José Eduardo Garcia Leandro (1974-79), que fez uma distinta carreira militar, chegando a Vice-Chefe do Estado-Maior do Exército e director do Instituto de Altos Estudos Militares, sendo agora, embora já aposentado, presidente do Observatório de Segurança e Defesa e coordenador da Comissão de Reforma dos Estudos Superiores Militares; General Nuno Viriato de Melo Egídio (1979-81), que foi Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, estando já aposentado; Contra-Almirante Vasco de Almeida e Costa (1981-86), também já aposentado; Professor Joaquim Pinto Machado (1986-87), professor catedrático jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e exmandatário da candidatura do Dr. Mário Soares a Presidente da República; Engº Carlos Montez Melancia, ex-Ministro do Mar e empresário; e General Vasco Rocha Vieira, ex-Chefe do Estado-Maior do Exército, exRepresentante de Portugal na NATO e exMinistro da República nos Açores, sendo presentemente representante de Portugal na Fundação Europa-Ásia e Chanceler das Antigas Ordens Militares, cargo honorífico que desempenha junto do Presidente da República Portuguesa. - Fundação D. Melchior Carneiro – criada em Lisboa por antigos dirigentes da Santa Casa de Misericórdia de Macau. - Liga da Multissecular Amizade Portugal-China – mantém um regular intercâmbio com a Associação de Amizade com os Povos Estrangeiros da República Popular da China, sendo muitos dos seus dirigentes militares portugueses reformados que prestaram serviço em Macau. O seu presidente é o General Maia Gonçalves, que foi Comandante Militar em Macau nos primeiros anos da década da 70.
- Instituto Internacional de Macau – tem sede em Macau e uma delegação em Lisboa. Organiza conferências e colóquios e promove estudos e edições relacionados com Macau. Tem mais de 40 protocolos de cooperação firmados com instituições académicas e culturais do exterior, das quais 14 de Portugal. O seu presidente é Jorge Rangel, ex-Secretário para a Administração, Educação e Juventude do Governo de Macau (1981-86 e 1991-99), tendo sido também Deputado, Director dos Serviços de Turismo, Presidente da Fundação Macau e Membro da Comissão de Redacção de Lei Básica da RAEM. - Centro de Informação e Promoção Turística de Macau – funciona junto da Delegação Económica e Comercial de Macau e o seu director é Rodolfo Faustino. - Sociedade Estoril-Sol – empresa proprietária dos casinos de Lisboa, ligada às empresas do grupo STDM.
Algumas outras instituições académicas, culturais e associativas indirectamente ligadas a Macau - Sociedade de Geografia de Lisboa - Sociedade Histórica da Independência de Portugal - Instituto do Oriente (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa) - Centro de Estudos Chineses, do Instituto Superior Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Português de Sinologia - Observatório da China - Centro de Estudos de Povos e Culturas, da Universidade Católica Portuguesa - Instituto de Estudos Orientais da Universidade Católica Portuguesa - Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra - Instituto de Investigação Científica Tropical - Universidade de Aveiro - Universidade do Minho - Instituto Politécnico de Leiria - Liga dos Chineses de Portugal - Câmara de Comércio Portugal-China - Institutos Confúcio (Braga e Lisboa) - Revista de Estudos Chineses Zhongguo Yanjiu
Para Sempre
Alberto Estima de Oliveira Há factos que nos confrontam com a aceitação de uma visão transpersonalista da vida – faleceu o Alberto Estima de Oliveira, e o primeiro juízo que nos ocorreu, a muitos, foi: Macau ganhou um Poeta. Sim, Macau tem no seu património espiritual mais um poeta, não só porque Alberto Estima de Oliveira viveu aqui cerca de 20 anos, mas também porque quase todos os seus livros foram gerados e publicados aqui e, mais ainda, porque o seu poemário sempre nos surge visitado pelos entes da cidade, subtis ou nocturnos, agónicos ou primaveris, levitantes ou sanguíneos – espíritos da paisagem ou dos percursos silentes ou das muitas e desvairadas gentes. A cidade, a sua alma, as suas transpirações ou murmúrios – passam e repassam os seus poemas. E, verdadeiramente, profundamente, acima de tantos trânsitos e estações breves, Macau foi a sua cidade e a sua pequena mátria, e assim se considerava macaense, que “é aquele que se sente bem em Macau”.
“Em estilo sentencial e parco de palavras, cultivou uma poemação enxuta, depurada, mineral e toda percorrida de radical humanidade”.
PARA SEMPRE ORIENTEOCIDENTE 40
Como poeta autêntico, o Alberto Estima de Oliveira era um possesso da Poesia, sempre a convocá-lo, a esporear as suas inquietações, a intimá-lo a dar-lhes forma: a qualquer hora do dia era vê-lo a tomar notas e a derramar versos por centenas de bocadinhos de papel que trazia sempre dobrados na carteira ou nos bolsos, e que ele fazia aparecer como por expedientes de mágico, para nos declamar, pelas esquinas da “baixa”. Não era poeta de fim-de-semana, turista da arte poética. Foi servo e operário dela. Com subido conceito: nunca, de princípio, se deixou resvalar para a superficialidade dos exotismos, como vimos a tantos aprendizes de poetastros que foram tendo o ousio de publicar-se intramuros. Em estilo sentencial e parco de palavras, cultivou uma poemação enxuta, depurada, mineral e toda percorrida de radical humanidade. Deixou-nos quase uma dezena de livros, e é tudo isto que conta entre as datas de 1934 e de 1 de Maio de 2008 – em que veio e em que deixou este mundo transitório.
Para Sempre
6 Poemas de “A voz do silêncio” Então que pensas não dizes nada? sempre a mesma pergunta o silêncio foi sempre a mesma resposta começámos então o diálogo do silêncio
por vezes acontece-me o silêncio e nesse nada haver afasto-me de mim então surpreendo-me no espanto de não estar não estando vou indo na tal berma as margens do caminho esvoaço geralmente ao entardecer na claridade da noite
dum lado o mar falava por mim murmurando coisas
caminho sempre
do outro a montanha sustentando a música dos vales
há um frio interior que se transforma com o calor do sangue
É assim como virar o tempo dobrando em horas alternadas manhãs e tardes assim o desdobrar da noite em franjas de estrelas pedaços de lua é assim a distância a saudade.
a primavera existe no mais profundo inverno
(rosas vermelhas) conversa longa pela noite adentro gerações e gerações de marés e ventos
tinha o silêncio nas asas quando tocou meu destino voava desamparada sem navio onde abordar pobre gaivota sem jeito sem fraga onde morar tanto voou sem descanso que em água se transformou diluindo-se no mar.
à esquerda da cidade nasceram flores silvestres de cor amarela não posso deixar de citar a cor para não se confundir com as flores vermelhas que nasceram à direita da cidade a cidade ficou com flores de cada lado só a entrada e saída ficou deserta é onde o povo passa
a força vem do sul em turbulência meridiano em meridiano antárctida do meu sonho espero por ti na mesopotâmia espaço que criei nas margens dos rios dos meus desejos no centro do universo que me deste seré o encontro das lágrimas vertidas em séculos de espera.
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Para Sempre
Bartolomeu Cid dos Santos Morreu Bartolomeu Cid dos Santos, um dos artistas centrais dentro do núcleo da gravura portuguesa do século XX. Era, depois de Vieira da Silva, o artista português mais representado em museus de todo o mundo, tendo as suas obras incluídas nos espólios de 80 instituições museológicas internacionais. Apaixonado pela sua arte, a que se dedicava como operário até à raiz, deu contributo fundamental à evolução da arte da gravura.
ANTOLOGIA
A gravura que o levou ao mundo, trouxe-o a Macau. O seu carisma pessoal, a sua sabedoria e experiência – originaram um novo núcleo de artistas, cultivadores da gravura, que nasceu e perdura em Macau. Bartolomeu Cid dos Santos nasceu em 1931 em Lisboa, em cuja Escola Superior de Belas Artes estudou de 1950 a 1956, prosseguindo a sua formação na Slade School of Fine Art em Londres, de 1956 a 1958, com Anthony Gross. Nesta mesma escola de belas artes londrina viria a ser professor, de 1961 a 1996, no Departamento de Gravura, tendo sido igualmente artista visitante em numerosos estabelecimentos similiares na GrãBretanha.
O futuro de Macau na visão de Agostinho da Silva (Uma das cartinhas que Agostinho da Silva escrevia aos amigos...)
Foi ainda professor visitante da Universidade de Wisconsin, em Madison em 1969 e 1980, na Konstkollam Umea, Suécia, em 1977 e 1978, no National College of Art em Lahore, Paquistão, em 1986 e 1987, e na Academia de Artes Visuais de Macau em muitas ocasiões. Isso nos deu oportunidade de mais intimamente o conhecermos e com ele conviver, fruindo o prazer da sua vasta cultura, sensibilidade e fulgurância, em requintados simpósios e espirituosos. Colaborou mais directamente com o IIM, como conselheiro e elemento do júri do grande concurso internacional de pintura que organizámos nos começos da nossa actividade pública. Na descendência de tantos gravadores, ele continua em Macau. E na nossa memória.
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Antologia
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