"EXTREMOS" - RESENHA SOBRE A EXPOSIÇÃO

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES

MAK0140 FOTOGRAFIA E ARTE – INTERAÇÕES AO LONGO DO SEC. XX

2011/2012

Docente: Doutora HELOUISE LIMA COSTA

RESENHA SOBRE A EXPOSIÇÃO

Instituto Moreira Salles ESPAÇO HIGIENÓPOLIS

Discente: ILDA MARIA DE OLIVEIRA COSTA SILVERIO Aluna Nº. 7766668


INTRODUÇÃO

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Hoje dia 24 de Setembro de 2011, por ser sábado e ser o único dia disponível, decidi fazer uma incursão a algumas exposições, acompanhada pela Maia Lam dos Santos, minha querida colega e amiga, também fazendo intercâmbio e como eu do Curso de Artes Visuais da Universidade do Algarve. Era algo que se tornava vital, pois precisávamos de visitar algumas exposições, que eram necessárias, para uma critica reflexiva e constituindo também matéria de avaliação de disciplinas que frequentamos na USP. A nossa amável e solícita Sónia que além de nos disponibilizar gratuitamente a sua casa, ainda nos ajuda em todas as dificuldades inerentes à nossa permanência em São Paulo, levou-nos à estação do metrô Santana e na lotérica próxima compramos o bilhete único para os transportes metropolitanos iniciando a nossa incursão do dia, na linha azul munidas de um mapa e uma máquina fotográfica compacta “Medion”. Fizemos o transbordo em Paraíso para a linha vermelha em direcção a Vila Madalena. Foi uma viagem cultural e profícua, pois o metrô parou numa paragem suspensa sobre a cidade e não resisti a tirar uma fotografia a um dos retratos “pintados” sobre os vidros da Estação Sumaré, já que foi a minha primeira viagem para aquelas paragens. Mais tarde já de regresso a casa fiz uma pesquisa na internet e verifiquei que era um projecto em serigrafia de Alex Flemming, e que se tratam de 44 retratos de personagens paulistas que ilustram os vidros da plataforma da estação medindo 1,75 X 1,25m. Sobre as telas de vidro, existem trechos de poemas que vão de José de Anchieta a Haroldo de Campos. Que a obra foi pensada pelo artista para este local, e é inserida na questão arquitectónica do espaço, pois no local não existem paredes, constituindo a obra uma homenagem à cidade e seus moradores.1 Após um almoço bem brasileiro à saída da estação do metrô, fomos de ônibus para a Rua Fradique Coutinho, munidas do mapa com 3 exposições assinaladas, patentes no mesmo quarteirão (quadra). Chegámos ao lugar pretendido e entrámos na galeria Fortes Vilaça, onde está patente a exposição de Iran do Espírito Santo2. Esta mostra reúne uma pintura de parede em tons gradientes de cinza pixelizada e esculturas inéditas que alteram a percepção espacial e a visão do observador, que se vê, revê, constrói e reconstrói a imagem. Esta é a primeira exposição que visito em São Paulo e vou cheia de expectativas, também porque me foi solicitado o relato da minha experiência com esta exposição pela professora Doutora Lúcia Koch. Uma noção de infinitude, de profunda espiritualidade e transcendência é na verdade aquilo que os meus sentidos me revelam. 1 2

http://itsartscoop.wordpress.com/tag/projeto-parede/ http://www.fortesvilaca.com.br/artista/iran-do-espirito-santo/ 3


Aproveitando a oportunidade fomos visitar mais duas galerias no mesmo quarteirão: A Galeria do Meio3, com uma exposição conjunta de pintura onde se encontrava uma mostra de trabalhos de pintura de Luiz Sôlha4 intitulada “O mar está lá mesmo que não o vejamos daqui”, outra que me agradou profundamente e que nos remete aos livros como um objecto de arte: “No fundo, a memória é um desapego” de Reynaldo Candia, E Rodrigo Andrade com a sua exposição individual de pintura “Velha ponte de pedra e outras pinturas”, na galeria Millan, onde pude sentir a sensação de “entrar pela pintura dentro e Sentir-me “pertencer” ao quadro nocturno com a ponte. De seguida tomámos um táxi, pois chovia e a exposição que fomos ver, a exposição “Extremos” no Instituto Moreira Salles, era muito distante. Ao chegar ao local, deparámos com um senhor idoso, com um olhar desolado perdido no vazio, sentado no chão, sobre um cartão, ao lado do portão do IMS, como que esperando algum tipo de generosidade. Fui incapaz de passar indiferente e dei-lhe uns minutos de atenção, conversei com ele, ajudei-o financeiramente e por fim senti que tirar-lhe uma foto naquele momento fazia todo o sentido, pois comigo nada acontece por acaso (nesse momento lamentei não ter comigo a minha Cannon). À entrada da exposição desejei adquirir uma folha de sala, para nos servir de guia na exposição, foi uma falta que lamentei ter encontrado numa exposição desta envergadura, tentando vencer o desânimo por tal constatação, solicitei o catálogo gastando a maioria das minhas economias pois não resisti em comprar também um catálogo de uma exposição dos trabalhos do meu professor de Desenho Doutor Luiz Claudio Mubarac. Tive uma grata surpresa quando entrei na sala das exposição ao me deparar com uma turma de alunos de fotografia da Oficina Cultural Oswald de Andrade5, acompanhados pelo seu excelente professor Armando Prado, que não posso deixar de referenciar e que sem o saber me dirigiu a visita pela Galeria, pois me juntei discretamente à “comitiva” de alunos que o acompanhavam, e aproveitei o facto para me ser proporcionada uma excelente visita guiada surpreendente nos conhecimentos e na atitude simpática com que foi fornecendo uma análise cuidada de cada fotografia, relatando pormenores quer da qualidade técnica das fotografias, dos seus autores e dos instantes registados e seu significado. Fiquei impressionada com a qualidade dos conhecimentos do professor, como não o quis incomodar fica aqui registado o meu reconhecimento e gratidão. No fim da visita à Galeria do Instituto Moreira Salles, tomámos novamente um táxi que nos levou à “Casa do Artista” onde comprámos algum material de pintura a óleo e telas. 3

www.galeriadomeio.blogspot.com

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www.luizsolha.blogspot.com e www.luizsolha.com.br

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http://www.oficinasculturais.org.br/programacao/capital-2sem2010/oswald-de-andrade.php 4


Mas para terminar o dia em grande e antes de tomar o metrô na Praça da Republica fomos nos deliciar com algumas especialidades da culinária brasileira e um enorme gelado de jabuticaba num bar ali perto.

Ilda Silvério, Paragem de Sumaré, São Paulo, 2011, fotografia digital.

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Maia Santos, Ilda em Vila Madalena, São Paulo, 2011, fotografia digital.

Ilda Silvério, Espelho dobrado de Ivan Espírito Santos, São Paulo, 2011, fotografia digital.

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CAPITULO I

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Ilda Silvério, Um idoso sentado no passeio à chuva, IMS, São Paulo 2011, fotografia digital.

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CAPITULO I

Este trabalho surge da necessidade de fazer um comentário crítico para a Disciplina de Fotografia e Arte – Interacções ao longo do Sec. XX - da Exposição “EXTREMOS”Fotografias da colecção da Maison Européenne de la Photographie- Paris, patente no Instituto Moreira Salles, na Rua Píaui, Nº. 844, 1.º Andar – Higiénopolis, em São Paulo.

Após uma consulta ao Blog do IMS, decidi copiar o excerto referente à exposição, pois estava mais esclarecedor e expositivo que qualquer referência que eu pudesse fazer como descrição da proposta da exposição, e que passo a descrever: “O Instituto Moreira Salles, em parceria com a MEP-Paris, abriu no dia 20 de setembro, às 19h30, a exposição Extremos: fotografias na coleção da Maison Européene de la Photographie – Paris.

Com

curadoria

de

Milton

Guran,

coordenador

do FotoRio,

e

de

Jean-Luc

Monterosso, diretor da MEP, e com a colaboração de Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS, a mostra reúne 100 imagens que representam situações extremas da história, das sociedades, dos indivíduos e dos costumes ao longo dos últimos 65 anos, todas registradas pelas lentes de grandes nomes da fotografia mundial.

Nesta exposição, são exibidas fotografias que, em seu tempo e a seu modo, tornaram-se ícones de situações extremas ao registrar o belo, o transcendente, entre outros temas que marcam a contemporaneidade. “Nossa época, que ama todos os tipos de excesso, a desmedida, o moralmente inadmissível, o horror, parece ter esgotado todos os recursos da emoção e do desejo de ver. Por meio dessa coleção, temos diante de nós não um espetáculo do pior, mas uma antologia do extremo, uma estética que só o pêndulo da história poderia, num ou noutro momento, representar”, explicam os curadores.

Deve-se ressaltar que, no período delimitado pelos trabalhos reunidos nesta exposição, ocorreram transformações radicais no âmbito da cultura e da comunicação, o que alterou a percepção que temos hoje do mundo e, consequentemente, da fotografia. “É nesse contexto de permanente transformação da fotografia que esta exposição deve ser apreciada, tanto por aquilo que traz de icônico e emblemático, quanto, por outro lado, pelo que eventualmente revela como

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fugaz e transitório, em função da própria dinâmica da vida, dos costumes e das culturas”, explica Sergio Burgi. A exposição Extremos: fotografias na coleção da Maison Européene de la Photographie – Paris foi organizada a partir do acervo da MEP (que possui uma coleção de mais de 25 mil fotografias originais) e exposta durante o Mois de la Photo (Mês da Foto) de 2010, em Paris. A mostra ficou em cartaz no centro cultural do IMS no Rio de Janeiro de Junho a Agosto deste ano.

Eis a lista completa de fotógrafos que compõem a exposição (ordem alfabética): 25/34 Photographes, Alberto Ferreira, Andres Serrano, Ansel Adams, Bernard-Pierre Wolff, Bettina Rheims, Bill Brandt, Bruce Davidson, Claude Alexandre, Claudia Andujar, Claudia Jaguaribe, Christine Spengler, David Nebreda, Diane Arbus, Don McCullin, Duane Michals, Edward Weston, Elliott Erwitt, Emmet Gowin, Fouad Elkoury, Gabriele Basilico, George Dureau, George Robert Caron, Helmut Newton, Henri Cartier-Bresson, Irving Penn, Jean Depara, Jean-Philippe Charbonnier, Jeanloup Sieff, Joel-Peter Witkin, Larry Clark, Manuel Álvarez Bravo, Marc Riboud, Martial Cherrier, Martin Parr, Miguel Rio Branco, Neil Armstrong, Oumar Ly, Pierre et Gilles, Pierre Molinier, Pierre Verger, Raphaël Dallaporta, Raymond Depardon, Richard Avedon, Robert Frank, Robert Mapplethorpe, Rodrigo Braga, Roger F. Ballen, Rogério Reis, Sebastião Salgado, Seymour Jacobs, Shomei Tomatsu, Tony Ray-Jones, Touhami Ennadre, Valérie Belin, Vik Muniz.”6

As minhas impressões sobre a pertinência das obras à proposta, é de que as obras estão de acordo com a proposta, estando associada a uma forte impressão, muitas vezes chocante associada a uma beleza estética só conseguida pela excelente e cuidada selecção quer por parte das obras de arte, bem como dos seus autores, que na sua maioria são chocantes, não se percebendo muitas vezes o contexto tornando-se necessária uma nota explicativa ou um acompanhamento, neste dia da minha visita havia falta de legendas em algumas fotografias.

Quanto à distribuição espacial das obras a distância para ver a obra é bastante limitada e o espaço muito desadequado, pela sua pequenez em relação à quantidade das obras expostas, limitando o distanciamento necessário para se poder sentir a emoção devida, diante de tão excelente mostra.

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http://ims.uol.com.br/Cinema/D17/P=781 11


Não tendo “espaço pessoal” suficiente para que as pessoas possam sentir e se emocionarem com as obras. Também observei não haver distanciamento suficiente entre autores para se poder ver as obras no contexto devido. Quanto à sua disposição no espaço, a exposição está muito bem apresentada permitindo um visionamento de qualidade na forma como as temáticas se sucedem e são apresentadas.

O facto de as obras estarem envidraçadas impede uma apreensão visual de qualidade, percebendo-se a deficiência da quantidade de iluminação que em certos casos dificulta uma boa leitura e acuidade visual. Compreendendo que por isso haja alguma insuficiência luminosa procurando deste modo evitar os reflexos gerados pelas luzes.

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CAPITULO II

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CAPITULO II

As obras mais relevantes de uma escolha e análise minhas, foram em número, mais do que as que vou aqui citar, mas devido às limitações da proposta vou comentar apenas 3 e dado que já vai longo o meu texto, vou procurar de forma sucinta explicitar e justificar a minha escolha.

As duas grandes Guerras Mundiais, os conflitos civis e as mudanças económicas, sociais e políticas delinearam a humanidade do nosso tempo e assim sendo com o surgimento da fotografia, como arte documental do nosso tempo, regista as várias formas de ver o mundo e o que se pode ver nesta exposição é uma antologia do belo e do trágico, que atravessa a História e a Cultura.

As fotografias são originais, e falam de extremos políticos, sociais, comportamentais, religiosos e estéticos. As 3 fotografias praticamente nem necessitam de legenda, elas por si falam…relatam…e expressam uma verdade muitas vezes muito longínqua de nós.

Estas s fotos que falam por si e têm o poder de entrar no nosso inconsciente.

Admiro profundamente o trabalho artístico destes 3 fotógrafos.

A minha escolha foi determinada por estas fotografias, pois além da beleza estética e das técnicas aplicadas com uma qualidade impressionável, os seus autores são artistas que eu considero incríveis e que me impressionam pela excelência do seu trabalho, do cunho pessoal que imprimem nas fotografias, a sensibilidade que possuam e que transmitem através do seu trabalho muito sensível, muito humano, um trabalho de revelação de realidades que se não fora eles de certeza que o nosso mundo pessoal se tornaria bem mais pequeno. Permitem com seu trabalho que seja denunciada a crueldade se vive em muitas partes deste nosso mundo que poderia ser tão maravilhoso. Sinto que são pessoas preocupadas com a condição humana, com o percurso que o mundo leva e a sua destruição, seja de valores como da qualidade de vida.

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São pessoas de “frente de batalha”, corajosos que colocam a sua vida muitas vezes em risco com o seu trabalho.

A primeira foto que referencio é de Christine Spengler, ela já fotografou e relatou sobre os conflitos, principalmente do ponto de vista das vítimas de guerra. Ela trabalhou como fotógrafa freelancer para Sipa-Press, Corbis Sygma e AP, tem documentado as guerras por todo o mundo e o seu trabalho tem aparecido nas notícias e publicações em todo o mundo. A composição da imagem que escolhi é fantástica e poética não deixando contudo de mostrar a desolação do bombardeio de Phnom Pehn em 1974. A desolação e a fumaça observadas sob a luz da lua.

A minha segunda escolha vai para Sebastião Salgado, que é outro que me impressiona pela poética do seu trabalho e pelo virtuosismo das técnicas que aplica no seu trabalho. Ele em 1991 fez um trabalho que retrata as condições de trabalho dos trabalhadores de um campo de petróleo no Kuwait. Escolhi uma dessas fotos, que na minha forma de a ver diria que é surrealista de tão ilustrativa de em que se está a transformar o ser humano. É tão ilustrativa, quanto impressionante do “ser biónico” em que nos estamos a transformar.

A minha terceira escolha vai para Bruce Davidson (nada é por acaso), que é um dos fotógrafos americanos mais respeitados e influentes da América, foi fotógrafo freelancer da revista Life e depois tornou-se membro da Magnum Photos, uma agência internacional de fotografia7. O seu trabalho revela uma grande poesia visual, colocando a nu a condição humana e as suas muitas fragilidades, possui grande profundidade e muitas vezes algum humor. Esta fotografia que escolhi revela as precárias condições em que muitas das nossas crianças “escondidas atrás de um vidro” espreitam uma realidade muito precária com condições de sobrevivência que esta foto ilustra e sem necessidade de palavras. …E dizem que o futuro é das crianças!

Qual futuro?

É Assim com esta descrição que termino a minha reflexão crítica sobre este trabalho. Este trabalho ilustra bem os legados que entregamos. Estes serão os herdeiros da Terra! As crianças. 7

http://www.soulcatcherstudio.com/artists/davidson.html 15


Christine Spengler, O bombardeamento de Phnom Pehn, Camboja, 1974, impress達o em gelatina e prata, 50,5x61 cm8

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http://www.fondationfrances.com/artiste/spengler-christine.html 16


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Sebastião Salgado, este trabalhador caiu inconsciente devido a uma repentina explosão de gás num poço. Campo petrolífero Greater Burhan, Kwait, 1991, impressão em gelatina e prata, 40,3x50,3 cm.10

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http://blogdoims.uol.com.br/ims/exposicao-extremos-galeria-de-imagens/ http://csw.art.pl/new/2000/segalo_e.html

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Bruce Davidson, Rua 100, Leste, 1966, impress達o em gelatina e prata, 50,5x40,5 cm.

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Ilda SilvĂŠrio, Atravessando o Parque Buenos Aires, SĂŁo Paulo, 2011, fotografia digital.

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REFERÊNCIAS

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REFERĂŠNCIAS

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http://www.fortesvilaca.com.br/artista/iran-do-espirito-santo/

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www.luizsolha.blogspot.com e www.luizsolha.com.br

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http://www.oficinasculturais.org.br/programacao/capital-2sem2010/oswald-de-andrade.php

http://www.fondationfrances.com/artiste/spengler-christine.html 1

http://www.soulcatcherstudio.com/artists/davidson.html

1

http://blogdoims.uol.com.br/ims/exposicao-extremos-galeria-de-imagens/

1

http://csw.art.pl/new/2000/segalo_e.html

http://ims.uol.com.br/Cinema/D17/P=781

www.galeriadomeio.blogspot.com

http://itsartscoop.wordpress.com/tag/projeto-parede/

http://cimitan.blogspot.com/2011/10/instituto-moreira-salles-extremos.html

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