Jornal Arrocha - Edição 10 - Mídia

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ABRIL DE 2012. Ano 3. Número 10

Distribuição Gratuita - Venda Proibida

Arrocha

jornal LABORATÓRIO do curso de comunicação social/jornalismo da ufma, campus de imperatriz CLAUDYO JACKSON

Mídia em pauta


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Arrocha CHARGE

EDITORIAL - Bastidores da mídia Quando assistimos a um programa de televisão, nos surpreendemos com um texto trágico em um jornal impresso, ouvimos um locutor de rádio animado ou exaltado e concordamos ou nos revoltamos com a opinião de um blogueiro sobre a cidade, é comum surgirem algumas curiosidades: como será o processo de produção e de que forma trabalham os jornalistas para captar, investigar e elaborar as reportagens? A proposta desta edição do jornal Arrocha é desvendar os bastidores da produção da notícia nos principais meios de comunicação de Imperatriz. Os futuros profissionais, acadêmicos do curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, da UFMA, resolveram acompanhar de perto a rotina das redações dos meios impressos e eletrônicos. No campo da pesquisa em

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comunicação é consenso que, para compreender melhor a forma como a notícia é produzida, cabe ao pesquisador acompanhar o seu nascedouro, nas reuniões de pauta e sua execução, com toda pressão do tempo sobre os produtores, repórteres e editores. E a construção de sua forma final que irá ao ar ou será lida no papel. Nesta edição, o leitor vai conhecer melhor quem produz a sua mídia e como eles trabalham. Repórteres, produtores, publicitários e apresentadores falam do seu cotidiano nos bastidores da comunicação em Imperatriz. Arrocha: É uma expressão típica da região tocantina e também um ritmo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.

Ensaio Fotográfico LETÍCIA MACIEL LETÍCIA MACIEL

ADRIANO ALMEIDA MIKAELLE MARTINS

Expediente Jornal Arrocha. Ano III. Número 10. ABRIL DE 2012 Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade. Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Marcelo Donizzetti Chaves | Coordenadora do Curso de Jornalismo - Profa. M.. Roseane Arcanjo Pinheiro.

Professores: M. Alexandre Maciel (Jornalismo Impresso), M. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual), M. Marcus Túlio Lavarda (Fotojornalismo). Revisão: Dr. Marcos Fábio Belo Matos. Colaboradores: André Wallyson, Fernando Costa e Paula de Társia. Reportagem: Jael Martins, Sara Batalha, Mikaelle Martins, Carla Rejane, Safira Pinho, Mariana de Sousa, Gleziane Sobrinho, Valdiane Costa, Karlanny Farias, Esaú Moraes, Elen Cris, Isabela Crema, Marta Nunes, Luan Lima, Antonio Wagner, Mariana Campos e Cleber Simões.

Diagramação: Adriano Ferreira da Silva, Amanda da Silva Oliveira, Antônio Carlos Santiago Freitas, Carlos Eduardo Nascimento Oliveira, Caroline Coelho Mateus, Cristina Santos da Costa, Danyllo Batista da Silva, Dayane Souza Silva, Denise de Sousa da Silva, Edynara Vieira da Silva, Evanilde Miranda de Souza, Heider Menezes de Sousa, Helene Santos Silva, Heliud Pereira dos Santos, Hilton Marcos Ferreira dos Santos, Janilene de Macedo Sousa, Jéssika Roberto Ribeiro, Júlio Oliveira Lima Filho, Karla Mendes Santos, Keylla Nazaré das Neves Silva, Larissa Leal de Sousa, Lineker Costa Silva, Luis Guilherme Barros, Mauro Oliveira Ribeiro, Millena

Marinho de Oliveira, Patricia Araújo, Pedro Barjonas Elias Lima, Priscila Sá da Silva, Raimundo Nonato Cardoso, Ramon André Cordeiro Cardoso, Rebeca de Andrade Avelar Silva, Silvanete Gomes de Sousa, Suzaira Bruzi Nogueira Oliveira Menezes, Ana Karla Rios.

Auxílio na diagramação: Raildo Portela e Millena Marinho.

Fotografia: Jael Martins, Mikaelle Martins, Letícia Maciel, Sara Batalha, Safira Pinho, Juliana Guimarães, Gleziane Sobrinho, Valdiane Costa, Karlanny Farias, Maria Almeida, Elen Cris, Isabela Crema, Marta Nunes, Thayse Barros, Luan Lima, Antonio Wagner, Mariana Campos, Cleber Simões e Adriano Almeida.

Contatos: www.imperatriznoticias.com.br | Fone: (99) 3221-7625 Email: contato@imperatriznoticias.com.br


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FORMAÇÃO Curso chega aos cinco anos com 300 acadêmicos, três turmas formadas, reconhecido pelo MEC e com aumento da infraestrutura, produtos laboratoriais e pesquisa

Curso de Jornalismo profissionaliza mercado JAEL MARTINS

Formada na primeira turma do curso de Jornalismo da UFMA, em 2010, a jornalista Pollyanna Carneiro conseguiu, em dois meses, ingressar como repórter na emissora de televisão Difusora Sul. Ela fez um estágio na empresa enquanto era estudante

JAEL MARTINS

Aos poucos, os corredores do prédio do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) começam a se esvaziar. Alunos, em sua maioria com rostos ainda bem jovens, partem para suas salas enquanto os professores ainda montam os equipamentos didáticos. Outros acadêmicos já não têm turma, apenas conversam com seus orientadores buscando ajustar os últimos detalhes da monografia. Marcos Antonio da Silva, 20, cursa o terceiro período e conta que só foi parar ali porque não conseguiu passar para o curso de Direito. “No início eu menosprezei o curso, mas gostei muito dos professores e das disciplinas. Acho que vou ficar por aqui mesmo”. Ao contrário de Marcos Antonio, Nayane Brito fala com entusiasmo da paixão que sempre teve pela profissão. “Desde criança, eu já falava em ser jornalista”. A jovem de 24 anos se formou em agosto de 2011 e diz que encontrou algumas dificuldades no decorrer do curso, como a falta de laboratórios. Isso aconteceu porque Nayane faz parte da segunda turma a ingressar no curso, que tem apenas cinco anos no campus de Im-

peratriz. “Mesmo assim, me sinto preparada para atuar em qualquer área, apesar do mercado não ser fácil para nós, jornalistas”. Pollyanna Carneiro faz parte da turma pioneira. Ela se formou em dezembro de 2010, e com menos de dois meses conseguiu emprego na Difusora Sul, segunda maior emissora de televisão em Imperatriz.

Após um ano de formada, primeira turma de jornalismo de Imperatriz já dá frutos com propostas empreendedoras Hoje Pollyanna tem três matérias para fazer. Ela sai às 14 horas para as ruas de Imperatriz em busca de informações e deve chegar até as 17 horas pra redigir seu texto. De volta à sede da emissora, Pollyana conta que o emprego foi conseguido graças a uma parceria entre UFMA e Difusora, pois já tinha estagiado naquele local, o que facilitou sua contratação. A jovem jornalista também fala das diferenças entre graduação e campo de trabalho. “Exis-

tem muitos contratempos que não percebemos na universidade”. A coordenadora do curso, Roseane Arcanjo Pinheiro, comenta os avanços conquistados nesses cinco anos. “Temos cerca de 300 estudantes, o curso foi reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC), aumentamos de forma significativa o número de professores e temos uma boa infraestrutura”. Roseane também conta que, após mais de um ano de formada, a primeira turma já dá frutos com propostas empreendedoras de jornais, revistas e outros projetos na área. “O objetivo do curso é aprimorar o fazer jornalístico na região, fortalecer a profissão e defender os interesses da sociedade”. O jornalista Edmilson Sanches, pesquisador e escritor sobre temas de Imperatriz, explica que o curso de Jornalismo é de extrema importância para a cidade. Enfatiza também que a principal dificuldade para o jornalista é a “má política, feita por políticos que teimam em fazer da imprensa espelho invertido de si mesmos”. Sanches ainda se refere ao mercado de trabalho que espera os novos formandos. “Ele acolherá os que forem melhores, mais talentosos, mais esforçados e mais criativos”.

“O Alicate”: primeiro jornal SARA BATALHA

O jornalismo impresso em Imperatriz tem uma história “recheada” de memórias de vidas e fatos importantes que marcaram a cidade. Tudo bem documentado nas folhas – sejam elas em cores ou em preto e branco. De acordo com a Enciclopédia de Imperatriz, organizada pelo vereador, jornalista e pesquisador Edmilson Sanches, o primeiro jornal impresso foi “O Alicate”, um manuscrito de 1932. O jornal mais antigo em atividade é “O Progresso”, fundado na década de 1970. Somando periódicos de circulação interna (house organs), sindicais, religiosos, informativos e impressos em geral, estima-se que a cidade já abrigou cerca de 400 publicações. Mas muitas destas não passaram da edição n°1 e outras ficaram pouco tempo em atividade, por questões políticas e/ou financeiras. Os nomes chamam a atenção pela peculiaridade, como “O Esgotão” de 1988, que era um house organ; “Pedra Polida”, um jornal institucional de 1997; “Imperatriz News”, periódico que circulou na cidade em 1999; “A verdade”, entre

outros. Todos constam na Enciclopédia de Imperatriz. Edmilson Sanches informa que os anos 1970 deram o impulso mais importante para que tantas publicações viessem na década seguinte, que “foi a mais fértil para a cultura”. É interessante o fato de os jornais religiosos e sindicais terem imprimido uma presença marcante nas publicações. Na lista de jornais publicados na cidade até 2001 – na página 488 da enciclopédia – constam 18 publicações religiosas, sendo oito católicas e 10 evangélicas; mais de 30 periódicos políticos, sendo órgãos da prefeitura, de sindicatos e, óbvio, os partidários. As “folhas” dos bairros também apareceram, como a Folha do Bacuri, Folha do Juçara e outras, que, se forem resgatadas, serão de grande contribuição para a cidadania. Sobre o descuido de alguns cidadãos imperatrizenses com relação à leitura de produtos jornalísticos locais, Sanches afirmou que “a cidade não se conhece”. Em 2012, o primeiro jornal de Imperatriz, hoje extinto, completaria 80 anos.


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audiovisual Já em 1967 imperatrizenses podiam assistir a sinais de uma TV boliviana, mas só em 1975 surgiu a TV Mirante, seguida, em 1978, pela primeira emissora de rádio

Televisão chega a Imperatriz antes do rádio SARA BATALHA

Por incrível que pareça, a TV deu o ar da graça por aqui antes do rádio, em 1967, graças a Pedro Bala e Francisco Ramos. Com uma televisão e uma antena doadas, captaram o sinal de uma TV boliviana, que transmitia a morte do revolucionário Che Guevara. “Os imperatrizenses gostaram e contaram com o apoio do interventor Barateiro da Costa, que em 1975 conseguiu montar uma TV municipal na cidade. A primeira, sem programação local ainda – atual TV Mirante – só retransmitindo sinais”, completou a jornalista formada pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), campus Imperatriz, Gizelle Macedo, que fez trabalho de conclusão de curso (TCC) sobre a TV Mirante na cidade. Em 1978, era instalada a TV Tropical, que retransmitia a Rede Bandeirantes. Em 1981, veio a TV Karajás – filiada ao SBT, atual Di-

fusora Sul e pertencente à família do ministro Edson Lobão. Depois foi inaugurada a TV Curimã, retransmissora da TV Manchete em 1983, atual Sistema Nativa de Comunicação da Rede Record e, em 1984, surgiu a TV Educativa, que ficou no ar por cinco anos. Rádio – Nayane Brito também é graduada em jornalismo pela UFMA e escreveu um livro-reportagem sobre a produção jornalística na Rádio Imperatriz Sociedade Ltda, primeira rádio da cidade. Segundo ela, a emissora pioneira foi fundada em 28 de outubro de 1978 pelos irmãos Moacyr Spósito Ribeiro (que morreu em 2004) e Edson Spósito. Eles receberam a ajuda do atual ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que na época pediu a concessão da rádio para o presidente da República, Ernesto Geisel. É importante deixar claro que outras emissoras vieram antes da Rádio Imperatriz. Por exemplo, a Rádio Mirim. Contudo,

SAFIRA PINHO

não eram legalizadas e sim as conhecidas “rádios piratas”. A programação da Rádio Imperatriz seguia das 5 horas da manhã a meianoite e levava ao ar, além de entretenimento, programas jornalísticos: o “Jornal dos Municípios”, “Café da Manhã” e “Jornal 890”, que ficavam no ar das 12 horas às 12h30. Um dos programas de maior audiência era o “Fazenda do Corró”, que tocava música sertaneja e tratava das coisas simples do campo. A emissora também colaborava com o esporte local, incentivando os times de Imperatriz nos campeonatos. A emissora permaneceu como única até a década de 1980, quando surgiram outras rádios, como Mirante e Cultura, que depois passou a se chamar Difusora Sul. Hoje, o sinal de transmição da rádio Imperatriz é o mesmo, mas a proposta é outra: a Rádio Cidade Esperança pertence à igreja Bastidores da gravação de um telejornal na TV Mirante de Imperatriz , grupo de comunicação que mantém duas emissoras de rádio Assembleia de Deus.

Rotina do jornalismo da TV Mirante estimula o trabalho em equipe SAFIRA PINHO SAFIRA PINHO

Ambiente silencioso, vários computadores, dois telefones, cadeiras confortáveis, televisores embutidos na parede. Programação concentrada no canal 10. Assim funciona a redação da TV Mirante, afiliada da Rede Globo, no início da manhã. No estúdio está a apresentadora do Bom Dia Mirante, Mônica Brandão, com o cinegrafista de estúdio, Marcelo Rodrigues da Costa. Durante as gravações do Mirante Notícias, o profissional das imagens dá algumas dicas essenciais. “Arruma o cabelo, acabou o tempo, gravando...”. Ele informa que tem mais de 20 anos de profissão. “Trabalho aqui pela manhã, tarde e noite”. A divisão entre o estúdio e a redação é estabelecida por uma parede de vidro. O que acontece nos dois lugares pode ser observado simultaneamente. O espaço da redação vai mudando com o passar das horas. Aos poucos vão chegando repórteres, estagiários, produtores, cinegrafistas, editores de imagens. A produtora Cristyane Silva Costa é uma das responsáveis pela elaboração de pautas. “A internet é uma grande ferramenta”, informa. O coordenador de Jornalismo, Antônio Filho, com o controle do ar condicionado nas mãos, abre uma porta e diz: “Vamos gente, está na hora da reunião”. E todos se direcionam para a uma sala, onde serão discutidas as pautas. Antônio Filho pergunta a cada profissional qual é a sua

Durante a reunião de pauta para os telejornais, o coordenador, produtores e repórteres da TV Mirante apresentam várias sugestões que são avaliadas a partir de sua viabilidade e interesse da sociedade

sugestão de matéria. Aos poucos, muitas ideias surgem ao longo da reunião. Antônio Filho esclarece: “Temos que ver a viabilidade das pautas e cumprir os prazos”. O coordenador de Jornalismo fala sobre algumas impressões a respeito da profissão. “Jornalista não é amigo de fonte na visão profissional”, ressalta. “Temos que ver os releases de forma crítica”. Ele se refere ao material de divulgação das assessorias, que precisa ser apurado antes de ser

trabalhado. Depois da reunião cada repórter se aprofunda mais no conteúdo de sua pauta e sai com a equipe para a externa para cumprir as diretrizes que foram discutidas. Enquanto isso, o movimento na redação continua constante. O telefone não para de tocar, dedos ágeis no teclado do computador, repórter chegando da rua e se preparando para gravar o texto. Todo esse trabalho é para o fechamento do JMTV 1º edição, outro

programa jornalístico da emissora, que vai ao ar às 12h15. E a correria continua: o editor e apresentador Luís Carlos Lima pergunta para outro membro da equipe: “A matéria de São Luís já foi enviada?” Ele precisa encaixar mais esse elemento no “espelho” do jornal, ou seja, na programação a ser veiculada. Depois de concluído o raciocínio da ordem das matérias na tela do computador, é hora de apresentar. Luís vai até o cama-

rim, veste um terno, passa um pozinho no rosto e está pronto para cumprir mais uma etapa. O trabalho será finalmente levado ao conhecimento do telespectador. Após a exibição do telejornal, o ritmo na redação vai diminuindo aos poucos. As pautas da tarde já foram produzidas para o jornal JMTV 2º edição, que vai ao ar às 19h15. Antes deste horário, a correria recomeça até que mais um dia de trabalho na emissora seja finalizado.


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compromisso Profissionais do Jornal dos Municípios defendem a “opinião formada pela comunidade” e justificam, com essa postura, “grande receptividade” do público

JM, da TV Capital, promete “passar a verdade” MIKAELLE MARTINS

Ao despertar às 6 horas da manhã, José Filho, apresentador do Jornal dos Municípios, já começa sua rotina de trabalho em casa, folheando os jornais com as principais notícias do dia. “Sou produtor e apresentador e milito na imprensa há 32 anos. Vivendo o jornalismo de manhã, tarde e noite juntamente com minha equipe”. O Jornal dos Municípios (JM) vai ao ar de segunda a sexta, de 12h às 13h, na Rede TV, um dos telejornais mais antigos em atividade em Imperatriz. Segundo o apresentador, a Rede TV foi fundada há mais de duas décadas, sendo a “única emissora que não é prioridade de políticos”. Por conta disso, em sua opinião, ela teria uma linha editorial mais independente do que as demais. Em Imperatriz, a TV Capital é a emissora que retransmite o sinal da Rede TV pelo canal 5. Sua grade é formada de programas jornalísticos que abordam diariamente os fatos de Imperatriz e região tocantina. Um exemplo deles é o Jornal dos Municípios (JM), que traz à tona os debates políticos e o que há de mais recente na área cultural. A produção do programa co-

meça cedo, com as entrevistas externas. A equipe do jornal é formada por Lailson, cinegrafista e produtor, Aldoraia, repórter, André Augusto no financeiro e o apresentador José Filho. Depois de chegarem das entrevistas externas, exatamente às 10h começa a gravação no estúdio. O papel de parede azul contorna todo o estúdio, que dispõe de três câmeras, dois aparelhos de TV e iluminação. José Filho, com um terno marrom, se posiciona atrás da bancada e a partir daí é: luz, câmera e ação. O jornal se forma com dois blocos e seis comerciais. A cada bloco que entra, Zé Filho anuncia o telefone. “Dou meu telefone pessoal porque falo diretamente com a minha fonte”. Todos os dias o telejornal traz convidados no estúdio e geralmente são debatidos assuntos que foram foco do dia. Seu programa aborda principalmente política, saúde e educação. Mantém um perfil jornalístico de “passar a verdade”, no qual o que importa é a “notícia com qualidade”. Talvez daí o motivo de ser ameaçado de morte algumas vezes. Com uma gravação, José filho encerra o programa: “JM tem opinião formada pela comunidade, por isso a grande receptividade do público”.

mikaelle martins

José Filho, apresentador do Jornal dos Municípios, milita na imprensa há 32 anos. “Vivo o jornalismo de manhã, tarde e noite junto com a minha equipe”

TV Anajás, afiliada da Rede Vida, tem público católico como preferencial LETÍCIA MACIEL

CARLA REJANE

São 14h30, sexta-feira e eu já estou na TV Anajás. Foi o combinado com Josafá Ramalho, o repórter e apresentador do Jornal da Diocese, único programa jornalístico da emissora, que vai ao ar todo sábado às 18h e reprisa no domingo às 9h da manhã. A TV Anajás foi fundada em julho de 1999. A emissora é afiliada da Rede Vida e tem o público católico como alvo, sendo mantida financeiramente pela igreja católica. Hoje, o quadro de funcionários é composto por sete pessoas. A sede fica na Comunidade Nossa Senhora Aparecida, bairro Entroncamento. Também são exibidas outras atrações, como a Palavra do Pastor, Fraternidade Viva, Igreja Viva Solidária, de cunho religioso, além das independentes. A transmissão da Santa Missa acontece aos domingos, às 8h. Enquanto aguardo Josafá chegar, Francisca Cardoso, a editora e cinegrafista, é minha companhia, juntamente com os computadores, mesas, televisões e cadeiras. É uma sala pequena e simples, um ambiente totalmente acolhedor que todos têm como a redação da TV. No vai e vem de um computador para o outro, Francisca explica como é o funcionamento do local. Já são 15h30 quando Josafá chega. Muito simpático, cumprimenta-me. Até então estava tudo calmo. Aos poucos chega o pesso-

Fundada em 1999, a TV Anajás mantém sete funcionários em seu quadro e leva ao ar o Jornal da Diocese, que está aberto à participação da comunidade

al que irá garvar o Jornal da Diocese. O telejornal é aberto para noticiar todos os eventos das paróquias de Imperatriz. Já faz parte da rotina da emissora. Durante a semana são registradas matérias externas e na sexta-feira se grava com os representantes das paróquias no estú-

dio. Servem como cenário todas as dependências da igreja. O estúdio é usado para entrevistas e apresentação das matérias.

Participação - Uma janela com vidro separa a pequena redação do minúsculo estúdio de gravação. Quando todos os entrevistados es-

tão prontos para gravar, o primeiro entra no estúdio. Ele é Francisco Inácio, 65 anos, da comunidade Santa Cruz, bairro Vila Lobão. Com olho fixo no papel e mãos trêmulas, convida: “O Centro de Estudo de Bíblia de Imperatriz está realizando mais um encontro de formação”.

Logo depois, entra um casal muito simpático do estado de São Paulo, Marli Gabriel, 46 anos e Wilson Gabriel, 50 anos. Eles estão em Imperatriz para um encontro com famílias, organizado pela Renovação Carismática Católica (RCC), no qual eles são os palestrantes. Estão na TV para convidar todas as famílias para o encontro. Enquanto Josafá os entrevista, eles demonstram intimidade com as câmeras. São esses tipos de informações que a TV faz questão de noticiar. “O Jornal da Diocese foge da grande mídia que todos estão acostumados. Não que seja contra as outras, mas porque é voltado para a comunidade: movimentos, pastorais, associações de bairros”, comenta Josafá. Fora do estúdio, quatro pessoas, em um ato solidário, gravam pedido de ajuda para uma senhora que tem aneurisma cerebral. Depois de todas as matérias gravadas o também produtor do telejornal, Josafá, entra naquele estúdio verde, com o cinegrafista Ananias Oliveira. Organizam todo o ambiente para começar a gravar as “cabeças”, textos que apresentam as reportagens antes de irem ao ar. Josafá se posiciona na bancada, que é grande e de vidro. A cada gravação Josafá Ramalho vai me explicando. Os equipamentos são simples, não há espelho, por isso ele deixa tudo escrito para o editor, Pedro Silva, saber onde é lugar de cada texto introdutório na matéria e finaliza o programa.


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rotina Produção do telejornal é marcada por questões comuns da profissão, como agilidade, pautas que não dão certo e necessidade de foco nas reportagens

Busca da pauta no telejornal Band Cidade JULIANA GUIMARÃES

tra ele, sempre atento, anota tudo. E pra quem pensa que ser repórter Era pra ser mais um dia normal, não é perigoso, se engana. No momas não foi. O repórter, o motorista mento que gravava a passagem, Leo e o cinegrafista contribuíram para quase foi atropelado. Se falar sobre blitz da polícia que o meu fosse diferente. Às 13h30 de uma sexta-feira, não estava dando tesão, imagine cheguei à sede da TV Band em Im- uma reunião sobre a criação do peratriz. Na recepção, eu refletia so- Comitê Pró-Maranhão do Sul. A Câbre a vida quando o produtor veio mara estava praticamente vazia. Lá me receber. Era Denis Lopes, que já dentro só os que realmente se imtrabalha na área há dez anos, mas é portavam com o assunto éramos nós. formado em administração. A reunião demorou a acabar e Chegou com a notícia que me fez perceber como realmente é o jor- quando voltamos à TV não deu temnalismo na prática. A pauta que ele po de a matéria ser veiculada, ficou havia me anunciado duas horas an- para segunda-feira. Mas nada de tes tinha caído. Ao invés de seguir- editar, fazer off (narração de fundo) outro dia. Tudo mos para Açailândia tem de ser deicomo era o combiEle me olha atento e xado pronto. nado, íamos cobrir a Os olhos blitz da polícia e uma pergunta: “Você quer ser verdes do repórreunião na Câmara mesmo jornalista? Para ter Leo Oliveira de Vereadores. estão atentos Ele me levou até fazer isso tem que ter à tela do coma sala de edição e perpaixão” putador e aos cebi que o clima estapoucos todas va tenso. O repórter Leo Oliveira e o editor discutiam as anotações que ele fez nas ruas se sobre matérias que foram editadas transformam em texto. Com voz de erradas. “Coisas que acontecem”, es- locutor, diz que já trabalhou muito tempo em rádio. Há apenas cinco clareceu. Saímos em busca da notícia e anos está na profissão de repórter e durante o trajeto o repórter Leo, o já esteve na Mirante e na Difusora. Quando termina seu texto ele cinegrafista Rubervan Morais e o motorista Grazyani Lima deram um me olha atento e pergunta: “Você show de simpatia. A caminho da quer ser mesmo jornalista?” Diante pauta eles riem dos “bombados” que da minha resposta positiva ele me andam pelas ruas, contam piadas, diz mostrando o texto: “Pra fazer enfim tudo se torna muito diverti- isso aqui tem que ter paixão”. A matéria produzida foi ao ar na segundo. Chegando ao local tudo está da-feira no Band Cidade em suas calmo, só o repórter é que não mos- duas edições (12h30 e às 19h15). O tra nenhuma tranquilidade. “Essa telejornal é apresentado pelo pasmatéria não tá me dando tesão”, co- tor, que também é jornalista e dirementa. Entre uma entrevista e ou- tor da emissora, Laércio Castro. MARIANA DE SOUSA

Repórter Leo Oliveira trabalha há cinco anos na televisão e já atuou na Mirante e Difusora. Ele diz que para fazer jornalismo é preciso ter paixão

Programa Imperatriz Acontece se compromete a “dar a cara para bater” GLEZIANE SOBRINHO GLEZIANE SOBRINHO

Às 11 horas da manhã começa o corre-corre na construção acelerada de mais um programa “Imperatriz Acontece”. O apresentador Arimatéia Júnior busca notícias em todos os jornais de Imperatriz e região, de onde extrai as ideias para as matérias. Os minutos vão passando e ouço mais forte o som do teclado impulsionado pelos dedos nada delicados do apresentador que, articulando muito com as mãos, explica: “Eu gosto da notícia como ela é: clara e objetiva. Eu não fico enchendo linguiça”. Arimatéia deixa claro que a busca das informações e das fontes começa às 5 da manhã, quando são pensadas as pautas, que serão desenvolvidas durante o dia. O abrir constante de portas é o som mais forte e imponente do momento. A equipe está toda unida, empenhada em um só objetivo: levar a notícia ao público. Quem determina o que vai ou não para o ar é a diretora de jornalismo, Michelyne Vieira. A partir daí os nomes vão sendo chamados e o mais citado é de Emerson, o “Severino”, que é ‘’pau

Apresentador Arimatéia Júnior começa a produção das reportagens a partir das 5 horas da manhã. “Eu gosto da notícia como ela é: clara e objetiva”

pra toda obra”. “Aqui o Emerson só não varre o chão, porque o resto ele faz tudo”, brinca Arimatéia.

E em meio à fumaça do cigarro tragado pelo apresentador, o roteiro do programa vai sendo

construído a cada minuto. Com o tempo quase se esgotando para começar o programa, os olhos ficam

cada vez mais atentos ao relógio e as manchetes vão sendo pontuadas uma por vez. Assim, vão caminhando para um desfecho. O apresentador parece estar bem acostumado com esse meio tempo para organizar tudo. Faltando uns 10 minutos para entrar em cena, Arimatéia se arruma para aparecer bonito e alinhado na televisão. “Dois minutos para colocar a cabeça embaixo do chuveiro, arrumar a camisa e o cabelo e largar o cigarro”. Com tudo já revisado e salvo no teleprompter (aparelho utilizado pelo apresentador para leitura das notícias diante da câmera durante a gravação do programa), é hora de correr para o estúdio. Nos intervalos entre a exibição de uma reportagem e outra, o apresentador brinca com as manchetes e faz comentários. A duração do programa é de 1h. É neste momento que Arimatéia faz acontecer e, garante, “dá a cara pra bater”. Ao término do programa e de volta à sala de edição, o apresentador explica que o trabalho em televisão é simples: “Televisão não é um bicho de sete cabeças. É só saber passar a notícia e interpretá-la como ela é”.


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popular Programa de jornalismo policial com alto índice de audiência em Imperatriz tem como característica o humor, que atrai os telespectadores

Bandeira 2 exige intensa produção noturna VALDIANE COSTA

São 19 horas e o vereador, apresentador e repórter Raimundo Roma adentra a recepção da emissora de televisão Difusora Sul para iniciar mais uma noite de trabalho. Ele faz isso há quase sete anos, pois sua profissão é comandar o programa de jornalismo policial “Bandeira 2”, exibido todos os dias, às 6 horas. Ele é o quinto apresentador da atração. Apesar do horário, é um líder de audiência na programação da emissora. Ainda na recepção, pergunta se todos da equipe de reportagem já estão prontos. Trabalham com ele o cinegrafista Batista Filho e o motorista e responsável pelo apoio técnico, Joselito Ferreira . Enquanto a equipe leva os equipamentos para o carro, Roma conversa com uma jovem que o aguardava. Ela veio pedir um favor ao vereador e, após uma rápida conversa, Roma explica que não poderá resolver o favor solicitado, mas a aconselha caminhos para resolver a situação. Saímos em seguida para a Delegacia de Policia Civil, onde são gravadas algumas das matérias. Durante a noite o telefone do apresentador não para. A conversa é interrompida a cada dois minutos para atender a mais uma ligação. Coisa, aliás, que ele faz com muita educação e bom humor, características emprestadas às matérias. Roma dá um toque de leveza ao tema policial. “Acredito que por fazermos as matérias assim, sem deixá-las muito pesadas, seja

um atrativo a mais para as pessoas gostarem do programa”. Apesar de ser um programa, que, na sua opinião, não deve ser assistido por crianças, recebe também o carinho e admiração por parte desse público. E a idade dos fãs só foi aumentando ao longo dos anos: crianças, idosos, jovens, fazem parte dos telespectadores assíduos. “Fico muito feliz com o carinho das pessoas, mas antes de ser vereador essas demonstrações eram maiores. Alguns confundem o repórter com o vereador”. Mesmo assim, a credibilidade e audiência do “Bandeira 2” não diminuíram. “É sucesso”!! Essa é umas frases que Roma usa muito, não apenas no programa, mas também nos comerciais que grava para os diversos anunciantes. Ele atribui a fama não só à curiosidade natural do ser humano em relação ao tema criminalidade, mas à forma como o programa é feito. “As pessoas também veem o programa para saber o que os outros andaram aprontando na cidade, ou seja, pela fofoca mesmo”. A primeira parada é na delegacia de Polícia Civil. Lá, outras equipes de diversas emissoras, que também fazem jornalismo policial, aguardam as ocorrências noturnas. Todos mantêm rádios ligados ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e da polícia. Eles ficam atentos às conversas dos rádios e, se for algo que interesse às equipes, saem em busca da notícia. É assim que muitas vezes con-

VALDIANE COSTA

Apresentador do programa líder de audiência na Difusora Sul, Raimundo Roma, tem que estar atento às rotinas policiais e às reinvindicações populares

seguem chegar ao local antes da ambulância ou da polícia e fazer as imagens. “Aqui não temos rivalidade, um avisa o outro das ocorrências”. Por volta das 23h30, pausa para o K3. Ou seja, hora de jantar. E ele acontece ali mesmo, em alguma barraca que venda comida caseira. A refeição é feita da maneira mais rápida possível, afinal, a cidade não para, nem as histó-

rias noturnas. No percurso entre uma matéria e outra, mesmo com o carro em movimento, sempre tem alguém que grita o nome do apresentador. “Ei Roma”, grita um. Mais adiante, outro, de moto, acompanha o carro e comenta sobre alguma matéria. Da direção oposta se ouve um grito feminino: “Roma, lindooooo!!” Ele vai acenando e respondendo a todos da melhor maneira pos-

sível e sem interromper o trabalho ou parar o carro. Tudo sempre com educação, carisma e bom humor. O encerramento do trabalho varia de acordo com as matérias do dia. Em noites mais calmas, por volta de 1 hora da manhã a equipe retorna à emissora para editar as reportagens e gravar a parte final, que é feita ali mesmo na recepção, onde tudo começou. Esse é o “Bandeira 2” de olho em você.

Difusora Repórter tem como meta busca de personagens mais comuns KARLANNY FARIAS

Repórter Luzia Sousa quer fugir do padrão, como na entrevista com o vendedor de pimentas: “A gente também mostra o vendedor de coisas usadas” KARLANNY FARIAS

O relógio de parede da recepção da TV Difusora Sul, em Impe-

ratriz, marca exatamente 7h30 da manhã. O fluxo de pessoas nos corredores começa a aumentar à medida que o tempo avança. Em

meio aos tantos que precisam trabalhar naquele começo de dia, está Luzia Sousa, a apresentadora do programa Difusora Repórter.

Desde que começou a comandar o programa televisivo, há três anos, Luzia passa as manhãs pelas ruas de Imperatriz à procura não só de ocorrências policiais ou de trânsito, mas também de histórias de vida. “Não precisamos ter só aquela notícia padrão sabe? A gente também mostra o vendedor de coisas usadas, a quebradeira de coco”. Tudo se transforma em notícia aos olhos de Luzia. Do prefeito da cidade ao ambulante. E foi assim que, por acaso, um simpático vendedor de pimentas, seu Sobral, virou pauta para o programa. Enquanto pedalava sob o sol forte, carregando uma variedade de pimentas, Sobral logo foi avistado pela equipe, e não deu outra: foi parar na frente das câmeras. Aliás, quando o assunto é pauta, a apresentadora do Difusora Repórter é categórica: “Aqui, todo mundo pode opinar, todo mundo pode sugerir notícia”. Prova disso é o celular de Luzia, que não para de tocar. Até mesmo quando o programa já está cheio de assuntos, ela dá um jeito de não decepcionar. “Olha, hoje eu já tenho apelo pra fazer. Mas vou te passar um nú-

mero e você liga lá e deixa seu nome que a gente dá um jeito tá?” Ela fala ao telefone com um telespectador que liga em busca de ajuda. A equipe, que é composta apenas pelo cinegrafista Francisco de Assis, o motorista Edval Alves e a própria Luzia, percorre a cidade em busca de personagens para o programa do dia. A frequência da polícia também é acompanhada, os ouvidos estão atentos a qualquer nova informação. A popularidade de Luzia também colabora para o sucesso. Há 20 anos na área, ela já passou por muitos outros programas, até chegar onde está. “Já passei pelo ‘Aqui Agora’, pelo ‘Bandeira 2’, já fiz programa de ofertas e já fui até locutora de rádio”. O bom humor da apresentadora, a linguagem mais informal e as matérias inusitadas são marcas registradas do Difusora Repórter e fatores que contribuem para a notoriedade do programa. “Eu gosto da Luzia, gosto do programa, ela sempre abre espaço pro pessoal da cidade. Isso é bom”, afirma a telespectadora Carmem Spíndola, que não perde um só dia do famoso “Programa da Luzia”.


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cobertura Repórter sai em busca das reivindicações populares, problemas da cidade e histórias de vida que ganham espaço no “Qual é a Bronca?” e no “Aqui Imperatriz”

Correio Popular busca broncas e perfis MARIA ALMEIDA ESAÚ MORAES

Por volta das 8h, Carlos Alberto Gadelha, 58, já está circulando entre os carros parados em um sinal movimentado de Imperatriz. Ele está ali desde 6h30 e carrega consigo 250 exemplares do jornal “Correio Popular”. “Se tiver matéria especial esgota em três horas, mais ou menos. Quando não tem demora mais”. No meio da conversa, o sinal fecha novamente e ele, sem hesitar, volta à venda. Já na redação, em uma mesa de canto, está o editor-chefe do “Correio Popular”, Jurivê Filho. Ele faz parte da atual equipe do jornal, reativado em março de 2011. “Até agosto de 2010, ele pertencia a outra empresa e deixou de circular por um período, quando ainda se chamava ‘Correio de Imperatriz’”, lembra Jurivê. “Depois ele retornou com outro nome, um novo perfil e um novo formato, o tablóide”. Logo ao lado do editor-chefe, estão os outros dois jornalistas da equipe. Um deles é Hemerson Pinto, conhecido como o repórter do “Qual é a bronca” e “Aqui Imperatriz”, duas seções inovadoras do jornal que abrem espaço para pessoas comuns da cidade. E que dificuldades um jornalista encontra para executar essa tarefa tão peculiar para um jornal diário? Para responder a esta pergunta, acompanhamos Hemerson Pinto durante a sua rotina produtiva. Por

Repórter Hemerson Pinto (à direita) sai para rua com sua moto em busca de personagens tanto para uma coluna de perfis quanto outra de reivindicações

aqui, as coisas são bem diferentes. Hemerson pega sua moto e sai da redação em direção às movimentadas ruas da cidade. A primeira parada é o Sindicato dos Trabalhadores do Controle de Endemias de Imperatriz. O repórter entra e pergunta: “Onde eu encontro o Denis?”. O jornal havia recebido uma denúncia

que parecia um prato cheio para o “Qual é a bronca”. O tal Denis não estava, mas Hemerson aproveitou para fazer uma matéria sobre as eleições do sindicato. “A bronca não rolou, era outro assunto”, lamenta o repórter. A busca continua. Ele comenta que as pessoas costumam ligar para co-

brar quando uma matéria não é publicada e explica que isso acontece, muitas vezes, pelo surgimento de assuntos mais urgentes. Em seguida, Hemerson chega à casa de um senhor humilde, que está na calçada. “Este é Raimundo Paulino, um dos forrozeiros mais conhecidos da região. Ele já saiu

no ‘Aqui Imperatriz’”. Aproveitando a apresentação, Paulino afirma, satisfeito: “eu li o jornal”. Hemerson senta e faz ali mesmo uma entrevista mais extensa que havia prometido para a edição de domingo. Quase no fim da manhã, Hemerson decide procurar a “bronca” em algum bairro da periferia. “Eu prefiro evitar fazer o ‘Qual é a bronca’ cobrindo ‘buraqueira’ de rua”, explica. E para sua surpresa, ela estava exposta a céu aberto, na Vila Cafeteira. Desce da moto, saca uma pequena câmera digital do bolso e ele mesmo começa a fotografar uma rua desconfigurada por um amontoado de lixo, que há meses não era recolhido. Um ciclista, dono do terreno ao lado, se aproxima e pergunta por que ele está fotografando. O repórter, prontamente, diz que é do “Correio Popular”. Agora é Hemerson quem faz as perguntas. Não demora muito para surgirem mais pessoas. “Vamos virar celebridade”, grita o ciclista. A “bronca” está feita. Hemerson agradece e sobe na motocicleta rumo à redação. Com tudo nas mãos, ele tem agora quatro matérias para escrever. Antes de fechar a “bronca”, afirma que vai atrás das autoridades, para ouvir todos os lados da história. Passando apenas um dia com o repórter Hemerson Pinto, pode-se dizer que trabalhar no “Correio Popular” não é para qualquer um. É preciso muita coragem e disposição.

Jornal O Progresso imprime experiência na apuração dos fatos cotidianos MARTA NUNES

Repórter Dema de Oliveira (à direita), atua há 13 anos na profissão, faz a cobertura das áreas policial e esportiva para o jornal “O Progresso” e já acompanhou vários fatos importantes do município MARTA NUNES

Com uma pochete preta, um bloco de papel, caneta escrita fina na mão, uma máquina digital no bolso e um gravador na mente. Este é o repórter Dema de Oliveira do jornal “O Progresso”. Há 13 anos como redator na área policial e esportiva, ele já presenciou muitos crimes e acompanhou

vários fatos importantes da cidade. Nosso personagem vive uma rotina diária em busca do fato. Por volta das 15h30 saímos da redação, entramos no carro da empresa com destino ao Instituto Médico Legal (IML), lugar responsável pelas necrópsias, laudos cadavéricos. “Segunda- feira e nenhum cadáver para anunciar. Nem notícia quente e nem fria. Final de

semana calmo”, analisa Dema. Sem tempo a perder, o repórter cumprimenta os parceiros e colaboradores da notícia e se despede. Segunda parada: as delegacias. Entre uma e outra, o dia não parecia colaborar para sair alguma matéria. Já estava avançando para 17 horas e nada de notícia. Em nenhum minuto ele estava nervoso. Quem estava ansiosa era eu, se iria dar

tempo de escrever a matéria. Sentado naquele murinho da delegacia, ele ficou pacientemente à espera do fato. Valeu a pena esperar. Informado de que haviam sido encontradas duas carcaças de motocicleta no bairro Nova Imperatriz, rapidamente ele agiu. Escreveu os dados principais no bloco de papel e tirou algumas fotos. “Já temos uma matéria”! Logo

mais, na Delegacia do Adolescente Infrator (DAI), surge mais um caso. Três adolescentes são acusados de terem assaltado duas pessoas nas aproximidades do Templo Central da Igreja Assembleia de Deus. Matérias apuradas, agora é correr para a redação. A rotina é contra o tempo. Com o texto na cabeça, inicia a construção da informação, que será publicada no outro dia. Depois de uma hora digitando, podendo levar mais tempo, finaliza o texto, e este é entregue ao editor, que revisa a informação apurada, verificando se está encaixada na linha editorial do jornal e se é de relevância à sociedade. Depois da aprovação, a matéria volta para a correção dos erros gramaticais e em seguida o editor faz a última revisão do texto e títulos. Quando a matéria já percorreu a mão do repórter, editor e revisor, segue para diagramação. São três profissionais responsáveis por 16 páginas e pelo caderno de domingo. Faltam três horas para tudo ficar correto e impresso em papel vegetal, mas a produção do jornal já deu um grande trabalho. Ainda não terminou. Já passadas as 21 horas, as folhas chegam ao maquinário. Outra equipe de funcionários roda o jornal no processo de revelação das chapas off set, manobra demorada, já que são reveladas uma por vez. Depois, são impressas e intercaladas para, então, organizar a distribuição nos pontos de vendas.


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EnTREvIsTA Jornalistas Domingos Cezar e William Castro

O presente e o futuro do jornalismo local Domingos Cezar tem 54 anos, é jornalista desde os 26. Trabalhou em publicações como “Jornal de Jacundá”, “Correio do Tocantins”, “O Progresso” e “Jornal do Maranhão”. Também foi correspondente no sul do Pará dos jornais “Diário do Pará” e

“A Província do Pará”. Atualmente trabalha como assessor de imprensa da prefeitura de Imperatriz e na Fundação Rio Tocantins. Abandonou a carreira bem sucedida como bancário e se deu a oportunidade de fazer o que ama. Ele garante que

valeu a pena. É formado e pós-graduado em administração. Não tem diploma de jornalista, mas afirma que uma formação empírica como a sua poucos têm. E é ela, garante, que faz mais diferença no mercado atual.

Estudante da primeira turma do Curso de Jornalismo da Universidade Federal Maranhão (UFMA) em Imperatriz, William Castro é natural da cidade de Santa Inês, tem 23 anos e se formou no segundo semestre de 2010. Recentemente graduado,

o jornalista já acumula experiências profissionais, que possibilitam uma visão ampla sobre o mercado de trabalho. Ele trabalhou na Canal Comunicação, foi estagiário no núcleo de Assessoria de Comunicação da UFMA e de-

pois da graduação, foi editorchefe e um dos fundadores do Jornal “Balaio Rural”, além de editor-executivo do “Jornal do Maranhão”, de Açailândia. William fala sobre desafios da profissão encontrados fora da universidade e avalia o mercado de Imperatriz.

ELEN CRIS

ANDRÉ WALLYSON

Domingos Cezar não é formado em jornalismo mas diz: “Tenho conhecimento empírico maior que muita gente de leitura”

William Castro, formado pela primeira turma de jornalismo da UFMA, conta a experiência de ser empreendedor na área

ELEN CRIS ISABELA CREMA

O que você acha do campo para o jornalismo em Imperatriz? Ele cresce a cada dia. Novos espaços, emissoras, órgãos de comunicação que fazem com que você aprenda e as assessorias. Hoje quase todo órgão importante tem uma assessoria de imprensa. Então cresce porque não é só na questão dos jornais, as assessorias também estão aumentando. Desde 2010, a UFMA formou 40 jornalistas. Você acha que existe campo de trabalho para esses profissionais em Imperatriz? Talvez não tenha tanto mercado, mas os melhores serão aproveitados. Eles vão ter uma oportunidade primeiro. Por isso eu sempre oriento vocês a conseguirem uma assessoria em um órgão de comunicação, estagiar, porque tem várias áreas que você pode seguir. Eu prefiro jornal, até porque sou escritor, gosto muito de escrever, gosto daquela coisa detalhada. O jornalismo de Imperatriz ainda não é visto como uma referência no cenário nacional. O que você acha que falta para ser encarado com mais seriedade? Eu não sei por que ele não foi para o cenário nacional. Uma emissora aqui como a Mirante poderia veicular as matérias. Temos jornalistas altamente competentes. No entanto, quando tem alguma matéria daqui, de nível nacional, eles mandam repórteres de fora para

cobrir. Eu acho que não tem necessidade. Falta oportunidade. Se nós não somos referência, a verdade é que nos falta oportunidade. Nós não temos culpa. Você afirmou em uma palestra que deu na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) que não é só o diploma que vai fazer de você um jornalista, a experiência conta muito. Com os jornalistas que vão sair agora da UFMA, o que você acha que vai mudar no cenário de Imperatriz? Eu tive a honra de ser patrono da primeira turma de jornalismo que saiu aqui da UFMA. Uma turma que começou com 40 e terminou

locais que você já trabalhou? Nós estamos evoluindo e a universidade tem colaborado muito com isso. Eu vejo esses caras que fazem principalmente televisão, você vê que eles têm o jornal na mão e têm dificuldade de ler. A nossa profissão em Imperatriz é invadida por pessoas que nunca nem foram à escola. É por isso que eu sempre fui a favor do diploma. Eu não sou formado em jornalismo, mas sou em administração, tenho pósgraduação e mesmo se não tivesse, estudo pra caramba. Tenho conhecimento empírico maior que muita gente de leitura. Isso é ruim e ainda existe aqui, mas também existem emissoras que fazem jornalismo que eu vejo que não tem nada a perder em comparação com lugares como São Luís e Belém.

“O que o jornalismo tem de ruim são determina- O que o jornalismo de Imdos programas de pesso- peratriz tem de bom e de as que se botam a falar ruim? O que o jornalismo tem mal ou bem das pessoas”

com seis, são pessoas que na maioria não estavam buscando a profissão certa, não era o que eles queriam. Então você tem que ter amor pela profissão, aquilo que você faz com amor, você faz bem feito, e essas pessoas virão primeiro. Procure praticar, estagiar, unir a questão da teoria com a prática. Como você avalia o jornalismo de Imperatriz em comparação com os outros

de ruim são determinados programas de pessoas que se botam a falar mal ou bem das pessoas, de acordo com o que recebem, mas sem passar nenhuma informação para os que têm coragem de assisti-los. De bom os telejornais, dos quais destaco os da Mirante, Difusora e agora a Band. Na sua opinião, qual é a função do jornalismo diante da sociedade? Nós temos um papel social muito grande, pois somos os verdadeiros portavozes dos pobres, dos oprimidos, das minorias.

ELEN CRIS ISABELA CREMA

Você acha que Imperatriz tem campo para os jornalistas que estão se formando? Acredito que Imperatriz não está totalmente preparada. Apesar de ter mercado para trabalhar e a comunicação ser muito forte, ainda está um pouco fechado e essa realidade vai mudar aos poucos. Acho que aqui ainda tem muito embate, quem está lá fora olha pra gente achando que vamos tirar o lugar deles e na verdade não é, a gente está aqui pra contribuir. Por isso, vejo que ainda vai demorar muito para ser superado. Então, a alternativa de emprego aqui é você ser um empreendedor, tentar montar um negócio. O que os estudantes podem fazer para se tornarem empreendedores? Tentar colocar em prática o que você aprende na faculdade e buscar se diferenciar. A não ser que você tenha que se adequar ao veículo que já existe. Aí você acaba sendo mais um na cidade. Aqui tem mercado pra muita coisa, as pessoas precisam ter coragem pra fazer. Como surgiu a proposta de criar um jornal voltado para o agronegócio, o Balaio Rural, que teve 4 edições? O jornal foi feito por um grupo e a ideia partiu quando eu ainda estava na faculdade. A proposta era fazer algo diferente do que já tinha na cidade. A agro-

pecuária aqui é muito forte, no Brasil tem vários jornais voltados pra essa área. Tem revistas superinteressantes que vendem e informam bem. O jornal veio para atender essa demanda de Imperatriz. Você acha que em Imperatriz os jornalistas exercem bem a função de informar? Alguns não, mas temos bons profissionais na cidade. As pessoas estão acostumadas com o jornalismo daqui. Vejo que tem muito interesse em volta. Alguns não se preocupam em ouvir, buscar informações. Apenas vão pra porta da delegacia esperar acontecer algum fato. Não se preocupam em fazer um jornalismo que realmente tem que ser diferenciado.

“Aqui tem mercado pra muita coisa, as pessoas precisam ter coragem pra fazer ” O que você aprendeu na faculdade e considera a coisa mais difícil de colocar em prática? Na faculdade você aprende que precisa fazer um trabalho diferenciado, não pode se submeter. Mas isso fica difícil quando você entra em uma empresa, você precisa seguir a linha do jornal. Um exemplo que aconteceu comigo é que eu não gosto de foto de morto na capa. Uma vez o editor teve que sair e me deixou responsável para fechar o

jornal, eu não queria essas fotos na capa, mas tive que colocar. Você acaba se adequando. Outra vez eu fui cobrir um incêndio e tinha uma mulher chorando muito, eu fiquei morrendo de pena dela. Mas pensei logo que eu tinha que tirar uma foto dela chorando pra colocar bem grande na capa do jornal. É uma pena, mas não tem como. Ou você segue a linha do jornal ou não trabalha. Qual iniciativa você tomou para se inserir no mercado? Eu trabalhava na área quando ainda estava na faculdade, mas quando fui fazer minha monografia o tempo me fez deixar o emprego. Quando a monografia estava pronta, eu procurei trabalho e não consegui. Achei que a abertura seria mais fácil. Até que surgiu uma vaga e eu fui lá, mas queriam alguém com experiência. Não dão chance de você mostrar seu trabalho. Eu pensei em procurar nas cidades vizinhas e foi aí que eu fui pra Açailândia e graças a Deus consegui lá, mas eu tive que ir atrás. Trabalhei em um grande jornal por um ano na cidade. Mas, hoje, estou trabalhando em Imperatriz. Qual a função do jornalista na sociedade? Tem uma função extremamente importante: informar as pessoas da melhor forma possível, mostrar o que é verdade e o que não é, formar opinião. Eu vejo que a imprensa sempre foi uma aliada para as pessoas, e hoje mais ainda.


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canal aberto Programa Rádio Alternativo promete privilegiar a análise opinativa dos fatos, baseada em fontes variadas e tenta superar modelo apenas musical e “alô” aos ouvintes

Rádio Alternativo expressa opiniões firmes Thayse Barros “Arimatéia Junior”. Quem nunca ouviu esta vinheta, no rádio do carro, enquanto enfrenta o trânsito para ir ao trabalho, ou durante a preparação do café da manhã, ao som das notícias matinais? Arimatéia apresenta o programa Rádio Alternativo, na Nativa FM. São exatamente 10h40 quando entro no estúdio. Encontro o radialista com sua voz grave, descarregando opiniões e críticas sobre Imperatriz e cidades vizinhas, sempre gesticulando com as mãos e dando gargalhadas irônicas, quando o assunto é polêmico e engraçado. Por exemplo, uma placa de boas vindas em frente ao cemitério de uma cidade próxima a Imperatriz. O sonoplasta comanda o som, apertando botões ali e aqui, soltando a vinheta a cada acontecimento informado pelo radialista aos ouvintes. Apesar de não ter a formação acadêmica em jornalismo, Arimatéia Junior comanda um programa que está longe de ser voltado somente para músicas e “alôs” aos ouvintes. O “Rádio Alternativo” tem sua forma peculiar, a informação jornalística, sistematizada de forma crítica e opinativa. “Na radiodifusão a gente tem que fazer com entretenimento, mas também com informação, para contribuir com a formação da opinião pública conforme é previsto por lei”. Arimatéia acredita que o objetivo é manter a cidade informada dos acontecimentos “daquilo que é de interesse da coletividade”. Bastante polêmico, não tem

medo de falar das autoridades. Quando o assunto são as obras não realizadas pela prefeitura, ruas esburacadas, problemas na saúde pública, polícia entre outros, expõe críticas de forma firme. Os dados chegam de várias maneiras, mas o radialista diz que sempre tem o cuidado de apurar a notícia, checar se de fato aquela informação é verdadeira. “A gente tem fontes dentro da polícia, de confiança, tanto na civil, quando na militar. Nos hospitais, fazemos amizade com uma enfermeira, um médico ou o porteiro. Com proprietários de farmácias e também jornalistas de impressos, que circulam pela cidade, redes sociais”. Como em todos os lugares que vivem de transmitir informações, sempre há a preocupação da notícia imediata. Com isso acontecem equívocos, pois com a pressa, pode haver uma informação mal apurada. “Já tivemos diversos casos. Por confiar na fonte, a gente se precipita no afã de sair na frente com a notícia, com a informação”. Arimatéia explica que se o jornalista cai na precipitação de levar a público uma informação que não tem fundamento, então nesse instante, “tem que haver a simplicidade de pedir desculpas”. A rádio Nativa já está no ar há 18 anos. No início o radialista revela que sofreu ameaças de morte por relatar a verdade no programa. Tempo em que a cidade de Imperatriz era conhecida como a terra da pistolagem. “Já sofri sim, mais isso foi nos anos 1980, quando não havia reconhecimento da democracia, e não

THAYSE BARROS

Arimatéia Júnior em ação no estúdio: “Já sofri ameaças nos anos 1980, quando não havia reconhecimento da democracia e não era permitido falar livremente”

era permitido falar livremente sobre assuntos que interessavam às autoridades. Hoje em dia não sofro mais esse tipo de ameaça”. O maior mérito do radialis-

ta, conquistado com o programa “Rádio Alternativo”, é a oportunidade de expressar opinião sobre diversos assuntos. Segundo Arimatéia, o programa é “livre de

censura e intervenções”. E assim, acredita, ele, despertar o olhar crítico da população do Bico do Papagaio para questões sociais, econômicas e políticas.

Mercado publicitário em Imperatriz tenta consolidar ideias criativas LUAN LIMA

cidade para um trabalho temporário. No término boa parte da equipe foi embora, mas Iasnara decidiu ficar em Imperatriz. Atualmente trabalha na Canal Comunicação, no Departamento de Publicidade e é responsável pela Criação. Mas não se limita a uma só função. “Ser publicitário em Imperatriz é ser atendimento, planejamento, criação, mídia e produção”. É assim que Iasnara define a

“Ser publicitário em Imperatriz é ser atendimento, planejamento, criação, mídia e produção”

Publicitária Iasnara Amorim acredita que depender da criatividade é um problema, “porque você nunca sabe se vai acordar com ela no dia seguinte” Luan Lima

Sabe aquela velha frase de que “nesse mundo nada se cria, tudo se copia”? Para os publicitários ela não tem lógica alguma, porque es-

ses profissionais encaram a difícil missão de ter que criar algo novo todo dia. “Depender da criatividade é um problema porque você nunca sabe se vai acordar com ela no dia seguinte”, afirma a publici-

tária Iasnara Amorim. Formada em publicidade pela Unilions, ela veio recentemente a trabalho para Imperatriz. Iasnara fazia parte da equipe da Clara Comunicação, que se instalou na

atuação do publicitário na região. Por estar em uma cidade pequena, o número de profissionais dentro das empresas se torna limitado e um ou dois publicitários têm que tomar conta de todos os departamentos. “É algo exaustivo, mas de um aprendizado enorme”. Os publicitários têm de estar 24h por dia disponíveis para o tra-

balho. O motivo principal, além dos prazos a serem cumpridos, que muitas vezes os fazem virar noites, é o combustível da profissão, a criatividade. Você nunca sabe qual hora do dia vai surgir uma ideia brilhante. Aí, quando você sente a faísca de uma ideia, posiciona a caneta sobre papel e tudo vem à tona. Lê o que escreveu e, se realmente for brilhante, sorri. As ideias são assim. Um dia, sem qualquer aviso, elas aparecem na sua porta, bonitas como uma Testemunha de Jeová, você não sabe de onde saíram, mas elas vieram. Publicitário preparado é aquele que sempre tem um bloco de anotações e uma caneta, até mesmo na cabeceira da cama. Iasnara conta que às vezes no meio da noite e nos momentos mais inesperados aparecem as soluções para fechar uma campanha. “A parte difícil da publicidade para mim é o atendimento, ter um contato direto com um cliente. Porque muitos já nos contratam com uma ideia formada e às vezes não é tão boa e é complicado convencê-los do contrário”. Publicidade é uma das poucas áreas do mercado de trabalho em que o cliente não tem sempre razão.


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religião Missão FM procura manter um vínculo direto com região de alcance e conseguir manter os ouvintes fiéis em sintonia com a proposta evangelizadora da rádio

Rádio comunitária tem perfil evangelizador FERNANDO COSTA

Função das ondas levadas pela Missão FM é aproximar as pessoas, compartilhar ideologias, gostos e propagar ideais religiosos, com espaço para a cultura ANTONIO WAGNER

Uma construção circular aparentemente abandonada no meio de uma praça intitulada de

“Bíblia”, chama atenção de quem transita pelo local diariamente. Uma placa colocada no alto traz a inscrição: “Missão”. Sem suas cores, perdidas pela

luz do sol, nos faz associar que tudo foi estrategicamente pensado para que os circunvizinhos fossem chamados a uma evangelização. De fato sim, mas os nomes

da praça e do estabelecimento não são interligados. Ao fundo, a torre que leva seus cento e poucos hertz de frequência todos os dias aos seus fiéis. A função das ondas levadas da Rádio Missão FM é a de aproximar pessoas e compartilhar as mesmas ideologias e gostos. Os conceitos de abandono começam a cair após a primeira entrada na rádio. Um mural de recados lotado de cartazes, um grande assento de cimento e uma mesa de madeira retangular pintada na cor branca preenchem o primeiro espaço, descaracterizando o abandono inicial. Trata-se então de uma rádio comunitária, destas muitas que lutaram e conseguiram direitos de promover a cultura popular local. É um equívoco pensar que o comunitário significa manter um lugar de baixa qualidade e economia nos projetos, aos quais elas se propõem. A placa de “NO AR” não possui o vermelho vibrante. É velha e está desligada no alto da porta de madeira sem vidro. Ao passar por um labirinto de portas, pode-se ver a verdadeira realidade tecnológica, atualizada e bem estruturada que o espaço mantém. Paredes com forro acústico, computadores modernos, microfones... tudo para um único fim: a promessa de uma forma democrática de fazer comunicação de caráter público.

O interesse é propagar um ideal religioso e conseguir manter os “fiéis” ouvintes, ou ouvintes fiéis, em sintonia com a proposta evangelizadora, cedendo espaço para eventuais participações da comunidade e fazendo com que a rádio siga os parâmetros socioculturais. “Hoje, mantemos nosso programa com a audiência fiel de nossos ouvintes, que além de membros da igreja, são nossos patrocinadores, pois acreditam na evangelização por este meio de comunicação”, afirma o pastor Josué sobre a importância de se manter um vínculo direto com o bairro e região. “Os interesses sendo comuns, tudo flui bem”. A ouvinte Maria Odete, 34 anos, dona de casa, diz que dentro da rádio a voz da comunidade tem vez. “Eu mesmo participo ativamente com ligações, envio e-mails e participo das ações promovidas pela rádio. E sempre tenho respostas positivas. O espaço é aberto a todos para divulgar suas ideias, trocar experiência e solucionar casos da nossa comunidade. Sou uma ouvinte ativa”. Famílias “desconectadas” do mundo virtual preferem a informação ao vivo, sobre interesses comuns à sua realidade, a informações de âmbito mundial. Frente a esta desigualdade, a “comunicação radiofônica” comunitária se enquadra nesta forma modificada de exercer cidadania.

Enquanto Mirante AM atende ao público rural, a FM busca os jovens MARIANA CAMPOS MARIANA CAMPOS

A rádio Mirante é uma das mais ouvidas de Imperatriz e tem programas na AM e FM. Há 20 no ar, a AM atinge o público mais velho, em sua maioria na zona rural. Já a FM, com 25 anos e cinco locutores, tem como foco o público jovem com atrações ecléticas, mas bem seletivas, optando por não tocar músicas com duplo sentido. “Na FM as notícias que ganham destaque são as de cunho artístico, pois é o que interessa ao jovem. As músicas mais pedidas nos últimos tempos são o internacional e o sertanejo universitário, que vêm ganhando um espaço ainda maior”, afirma Chiquinho, programador da rádio. Já a AM é mais voltada para o noticiário sobre a cidade. A madrugada na rádio é só musical. É quando entra em cena o operador de áudio, denominado sonoplasta, que é responsável pelas rádios AM e FM. A relação com o ouvinte é uma das melhores possíveis. Constantemente a rádio faz promoções e os ouvintes são premiados. A rádio não trabalha no objetivo de ser o 1º lugar em audiência e, sim, oferecer ao ouvinte uma programação bem atrativa, atingindo todas as camadas com critérios, segundo definem seus funcioná-

rios. Na Mirante, o programa do Mano Santana é recorde de audiência, além de conseguir atingir um público diversificado, com vários quadros e a participação dos ouvintes, por meio do telefone. Mano Santana é recorde de audiência também na disputa com programas de outras rádios no horário. Algumas emissoras muitas vezes tiveram de mudar as suas programações para não concorrerem diretamente. A rádio não possui repórteres, são os locutores que vão a campo fazer matérias, cobrindo eventos quando alguma empresa solicita. Rodrigues, locutor e diretor da rádio Mirante FM, fala da satisfação de se fazer rádio: “É super satisfatório trabalhar na rádio, é o que eu realmente gosto de fazer. Minha relação com os meus ouvintes é muito boa, já me tornei amigo de vários ouvintes. Ligavam pra cá para pedir músicas e acabamos ficando amigos”. Sid Moreno, locutor do programa “Alto Astral” na FM, destaca as vantagens de ser locutor. Segundo ele, trabalhar longe das câmeras é o mais prazeroso. O locutor ainda afirma que é muito tímido e a rádio dá certa liberdade, já que faz o programa sem ter que enfrentar uma câmera e um público cara a cara.

Rádio Mirante não possui repórteres, apenas locutores que vão a campo cobrir eventos em parceria com alguma empresa. Promoções e prêmios são comuns


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virtual Além do Imperatriz Notícias, primeiro site jornalístico da cidade, a região tocantina contabiliza cerca de 29 blogs, espaço mais ocupado no território virtual

Webjornalismo tem espaço em Imperatriz ANDRÉ WALLYSON

Acadêmicos de jornalismo da UFMA durante aula de webjornalismo produzindo textos para o Imperatriz Notícias, jornal laboratório do curso. O site, já premiado no Congresso Regional de Comunicação (Intercom), é o espaço adequado para a prática on-line SARA BATALHA

Atualmente, Imperatriz possui apenas um site com produção voltada só para o webjornalismo, o imperatriznoticias.com.br, que funciona como laboratório da disciplina de Webjornalismo do curso de Comunicação Social/Jornalismo da UFMA, campus Imperatriz e está em atividade há mais de um ano. Fora isto, o que temos são sites de suporte de empresas de comunicação, que funcionam muito mais como publicidade, oferecendo notas e notícias, – co-

piadas de outros veículos, como: rádio, TV, impresso, blogs, o site aqui citado e demais sites de notícia do país – vídeos que repercutiram na internet e outros. Frente a essa realidade, os blogueiros contribuem com informações aos internautas, com vários blogs que tratam dos assuntos mais variados possíveis, desde poesia, até rock pesado. Segundo uma lista levantada pela jornalista Jordana Fonseca, na região há aproximadamente 29 blogs de notícias, que em geral, levam o nome dos blogueiros.

Isnande Barros possui um blog e está na ativa desde o segundo semestre de 2005. Barros diz que vez ou outra alguém faz maus comentários sobre o material divulgado, para denegrir a confiabilidade do blog e garantiu que este tipo de crítica vem geralmente de partidos políticos com ideias avessas às dele. Mas, ressaltou também que comentários positivos são os que dão força para ele continuar escrevendo e continuar “frente a essa trincheira de defesa da cidadania”. Processado duas vezes por conta

de matérias que publicou, foi absolvido de um dos processos. Apesar disso, não pensa em parar de escrever. Isnande também é professor em uma faculdade particular, dos cursos de Ciências Biológicas e Educação Física. E atua, ainda, na rede estadual e municipal de ensino em Imperatriz. Ele acorda às 5 horas da manhã para produzir notícias para o blog, já que escrever é uma de suas prioridades. Depois, no restante do dia, desenvolve seu ofício na educação. Atualmente, tem cerca de uma pu-

blicação e meia por dia, porém, disse que já publicou mais em outra época. Ele possui perfis nas redes sociais Twitter e Facebook, que servem para divulgar o blog e apurar notícias. Considera a ausência de sites de notícia em Imperatriz, como “falta de visão” e exaltou o site Imperatriz Notícias por ter “produção local e de qualidade”. Apesar de o blog contar com anúncios de algumas empresas e links de rádios de Imperatriz, ele disse que não recebe patrocínio e que faz isso por companheirismo.

Blogs de Imperatriz canalizam discussões, reivindicações e críticas CLEBER SIMÕES CLEBER SIMÕES

Em Imperatriz, os blogs também têm lugar em relação às outras mídias. Por aqui a grande maioria destes sites pessoais são ferramentas de debates, reivindicação e críticas contra a situação de certos setores da sociedade. Carlos Hermes é um exemplo. O blogueiro de 31 anos é professor efetivado da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), pós-graduado em metodologia superior, dá aulas em escolas do Estado, além de ser escritor com um livro publicado. Ele criou o blog em 2005. “Criei com objetivo de opinar, discutir com a sociedade questões políticas, educacionais, enfim, dar a minha opinião acerca desses temas”. Com um pouco mais de seis anos como blogueiro, Carlos Hermes encontra na motivação um desafio para esclarecer as pessoas para a realidade que as cerca. É nesse espaço que ele traduz para uma linguagem mais simples assuntos recorrentes da mídia. Segundo ele, esta motivação está ligada à necessidade de ter uma segunda opinião sobre determinados assuntos. E normalmente as notícias vêm de um canal oficial ou elas acontecem de

modo que exige do blogueiro interpretação daquele fato. Mas a liberdade de opinar nem sempre é bem aceita. Esta “arma” ideológica, na maioria das vezes, pode se transformar em arma letal. As ameaças são a forma mais branda desta relação. Carlos é enfático com relação a esse discurso. “O blog é mais um espaço de ativismo político como é o meu caso, do que um espaço jornalístico. Portanto, a minha linha política em oposição ao governo do Estado, por um princípio de cidadania mesmo, é de ‘maranhensidade’, e de respeito ao erário público, à condição de vida das pessoas”. Samuel Souza, 34 anos, é consultor de Tecnologia, Informação e Comunicação. Há quase dois anos com o blog, afirma: “quando você se expõe muito, vai receber críticas. Ainda somos uma colônia em termos das diferenças políticas de classes ou movimento. Existe pouca maturidade nas relações entre as diferenças. Infelizmente isso acontece. Particularmente gosto de beber uma cerveja com os meus desiguais, porque meus iguais eu já os conheço”. Samuel complementa: “A partir que começa a gerar conteúdo, in-

Carlos Hermes criou o blog há seis anos com o objetivo de opinar e discutir questões políticas e educacionais da região

terferir na esfera pública, ganha-se, não sei bem dizer se a palavra é essa: credibilidade. Portanto, o maior gar-

galo é ter tempo hábil para apurar as coisas que nos chegam. De qualquer maneira, não é nada demais. Blog é

uma coisa muito normal, às vezes é nós que gostamos de supervalorizar certas coisas”.


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