Jornal Arrocha - Edição 04 - Religiões

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ABRIL de 2011. Ano ii. Número 4

Distribuição Gratuita - Venda Proibida

Arrocha

jornal LABORATÓRIO do curso de comunicação social/jornalismo da ufma, campus de imperatriz

Imperatriz das múltiplas religiões MAYANE LIMA

A religiosidade é uma das principais marcas de Imperatriz. Como o leitor pode comprovar nesta edição do Arrocha especial religião, os imperatrizenses não se dedicam a apenas uma profissão de fé. A cidade, pelo seu perfil de acolher pessoas do Brasil inteiro, também abre o seus braços para vários tipos de expressão religiosa. Até mesmo os que não crêem procuram se organizar para defender-se do preconceito. Há espaço para religiões pouco comentadas, como as orientais e até mesmo um Centro de Cultura Judaica. Todas essas variações de fé estão documentadas nas próximas páginas. Página 03 a 12

Padre e pastor falam sobre os caminhos da fé

A religião católica, com o seu imaginário milenar, continua atraindo 74% dos brasileiros, segundo dados do Censo 2010, mas esse percentual já foi de 89%. O número de evangélicos cresceu de 3% para 15,4%

Música é uma das principais estratégias para atrair os fiéis Com o seu poder de expor os afetos da alma, a música é acolhida de bom grado pelas mais diversas religiões. “Estas são as principais funções da canção religiosa: ela ensina, exorta, emociona e marca”, afirma Jairan Almeida, maestro do coral interdenominacional Proclamai de Imperatriz. Os músicos asseguram que elementos como a repetição, o ritmo e a força

Na entrevista desta edição o padre Raimundo Nonato Barbosa Costa e o pastor Raul Cavalcante Batista respondem, de acordo com a religião que representam, questões sobre o conflito entre fé e ciência, o que é o milagre, o envolvimento dos jovens e a expressão do ateísmo e suas possíveis motivações. Os entrevistados também foram chamados a dar suas opiniões a respeito da presença dos religiosos nos meios de comunicação e da polêmica com relação às denúncias de pedofilia ou abuso sexual que ronda a Igreja Católica. Página 09

-- DEVOÇÃO -JAMES PIMENTEL

da melodia de uma canção, além da delicadeza de sua letra ajudam aos fiéis a transcender, sorrir, arrepiar-se e até chorar. Apesar das religiões incentivarem vários talentos musicais, os especialistas acreditam que ainda não se consolidou um mercado para a música gospel em Imperatriz devido à força dos outros estilos no imaginário da população. Página 12 DEIJEANE MORAIS

Histórias de quem se dedica de corpo e alma

Igrejas apostam em estrutura completa de instrumentos, orquestras, corais e na formação dos músicos como elementos de devoção

Esta edição está repleta de histórias de vida de fiéis que não tem vergonha de expressar com toda segurança a força da sua crença. Acreditam em curas, prosperidade, suam nas ruas para levar a palavra divina de porta em porta, apostam no poder da

solidariedade, dedicam-se ao ensino religioso nas escolas. Mas há também espaço para o testumunho de ateus, agnósticos e aqueles que já passaram por várias religiões e continuam indecisos sobre os rumos da sua fé. Página 03 a 12


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Arrocha CHARGE

EDITORIAL - Religião em foco A liberdade de expressão religiosa é um dos maiores bens da democracia. Em um país com diversas influências culturais como o Brasil é natural que convivam várias seitas e religiões que não podem ser alvo de preconceito. O mesmo vale para uma cidade como Imperatriz, que, por sua localização geográfica e múltiplo fluxo cultural, abriga tendências religiosas diversas. Como em todas as suas edições, o jornal Arrocha, produzido pelos acadêmicos do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, escolheu um tema central: a religião e suas manifestações na segunda maior cidade de Maranhão. O leitor vai encontrar nesta edição uma descrição de como os imperatrizenses vivenciam a sua fé, comungando de diversas mani-

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JADIEL REIS

festações religiosas. Mas também há espaço para os que não crêem. Além de tentar entender como funcionam as principais correntes religiosas que existem em Imperatriz, os (as) repórteres também abordam outras questões que dizem respeito à religião, como a solidariedade, o estímulo à música e o ensino religioso nas escolas. Mais uma vez nossa principal missão é mostrar os vários ângulos de um tema central para estimular o debate e iluminar o que possa estar obscurecido. Arrocha: É uma expressão típica da região tocantina e também é um ritmo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.

Ensaio Fotográfico LUÍS CARLOS

JANAÍNA AMORIM

DILMARA TAVARES

Expediente Jornal Arrocha. Ano II. Número 4. Abril de 2011 Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade. Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Jefferson Moreno | Coordenadora do Curso de Jornalismo - Prof. MSc. Roseane Arcanjo Pinheiro.

Professores: MSc. Alexandre Maciel (Jornalismo Impresso), MSc. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual), MSc. Marcus Túlio Lavarda (Fotojornalismo). Revisão: Dr. Marcos Fábio B. Matos. Reportagem: Adriano Almeida, Alan Milhomem, André Wallyson, Deijeane Morais, Erisvan Bone, Fernando de Aquino, Grasiele Gomes, Isabella Plácido, James Pimentel, Hemerson Pinto, Kalyne Cunha, Kalyne Figueredo, Lara Nascimento, Leonardo Varão, Letícia Maciel, Maria Almeida, Mário Alves, Ronie Petterson, Simone Maia, Thenille Santos, Vinícius Beserra.

Diagramação: Allanna Chrystyne Rocha Menezes Sanches, Ana Alice Mendes dos Santos, Anderson Silva de Araújo, Antonio Wagner Silva Aurélio, Cleber Carlos Simoes Júnior, Diana Cardoso Costa, Edigeny Soares Barros, Elen Cristina Silva Santos, Evando Raizio Silva Maciel, Flávia Brito Silva, Flávia Luciana Magalhães Novais, Genyedi Soares Barros, Gleziane Sobrinho de Oliveira, Isabela Crema Tavares, Jéssica Roseane Fernandes Gomes, José Augusto Dias da Silva, Karla Mendes Santos, Karlanny Costa Farias, Kellen Nilceya dos Santos Almeida, Layane do Nascimento Ribeiro, Luan Rogerio Pereira Lima, Maiely Cabral Dos Santos, Marcela

JAMES PIMENTEL

de Souza Silva, Maria Félix Pereira Calixto, Mariana Ferreira Campos, Marilan Reis dos Santos, Marta Nunes de Oliveira, Mikaelle Katússia Martins Carvalho, Pamella Bandeira Santana, Raísa Farias Araújo Salles, Ramisa Farias Araújo Salles, Rayane Silva de Carvalho, Raynan Ferreira Pinheiro, Rômulo Santos Fernandes, Safira Vieira Pinho, Samoel Pereira de Freitas, Sara Cristina Costa Batalha, Sararuth Andrade Chagas, Saron Paulo Fell Alencar de Albuquerque, Silas Waldemir Souza Chaves, Taya Santana da Silva, Thayse de Sousa Barros, Valdiane Costa de Santana, Walison Silva Reis, Wenia Hyana Reis Silva, Yanny Dorea Moscovits.

Fotografia: Alanna Ferreira, Carla Rejane, Deijeane Morais, Dilmara Tavares, Eva Fernandes, Hemerson Pinto, James Pimentel, Janaina Amorim, João de Deus, Juliana Carvalho, Juliana Guimarães, Karine Duarte, Kellyane Barros, Leonardo Varão, Luis Carlos Lima, Mayane Lima, Paula de Társsia, Ronie Petterson, Roseane Cardoso, Simone Maia, Ana Pulgatti (Estagiária), Rosana Barros (Assistente) e Karla Carvalho (Tratamento de imagens). Contatos: www.imperatriznoticias.com.br | Fone: (99) 3221-7625 Email: contato@imperatriznoticias.com.br


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indecisão José Carreiro dos Santos já tentou seguir quatro doutrinas religiosas, do catolicismo à quimbanda e hoje diz que, dos santos, só quer saber do próprio nome

José de quase todos os santos e religiões Leonardo Varão

Parece irônico relatar a história de alguém conhecido como “dos Santos” quando o assunto a ser tratado é religião. José Carreiro dos Santos, 63 anos, tem uma ampla experiência no assunto. Dos Santos, durante toda sua vida, peregrinou por quatro distintas religiões, da mais “normal” à mais “esquisita” como ele mesmo diz. Experiências que nem sempre foram muito agradáveis. Filho de pais religiosos, Dos Santos permaneceu no catolicismo até seus 22 anos. Fiel à doutrina católica, afirma ter tentado seguir ao máximo as regras da religião. “Mas como todo bicho curioso, eu dava umas fugidinhas pra saber o que acontecia numa igrejinha que ficava sobre o morro, logo atrás da minha casa, e de fugidinha em fugidinha acabei virando crente”. Até então, Zé dos Santos “não gostava de crente”, mas depois disso passou a não apreciar os católicos e permaneceu assim por dez anos, mesmo período em que esteve casado com uma mocinha da tal “igrejinha”. Após o rompimento com a religião e em consequência disso com a mulher, entre seus 32 e 33 anos, Zé decidiu não seguir mais profissão de fé alguma, e o fez

por um longo período. Até que conheceu, em 1973, uma senhora chamada Dilva. Com esta, Zé dos Santos não se casou, mas foi levado a participar de uma nova doutrina, dessa vez a umbanda. “Já trazia alguns santos da católica, nunca deixei de acreditar. E com mais esses da umbanda, virou tudo um rebuliço só”. Dos Santos admite ser um homem muito curioso e vendo a proximidade da umbanda com a quimbanda, acabou fazendo parte das duas ao mesmo tempo. Caboclos, tios, tias, pais, crianças, eram tantos santos e entidades que via que, quanto mais medo Zé tinha, mais queria conhecer. Sua última passagem por um terreiro de quimbanda foi no estado do Pará, e diz ter dado um basta na sua aventura religiosa. Foi quando em uma sessão, em plenas 23 horas, o rodearam de pólvora e enquanto todos cantavam e dançavam, um pai de santo que há pouco havia incorporado uma entidade, ateou fogo ao seu redor, fazendo subir uma grande chama circular. “Saltei por dentro da faísca e corri até cansar, nunca mais voltei e até hoje vivo sem religião, e vivo muito bem”. José Carreiro dos Santos gosta de todo mundo e afirma que de santo só quer saber se for do próprio nome.

LEONARDO VARÃO

Depois de conhecer os santos da Igreja Católica (foto), José Carreiro afastou-se deles quando tornou-se evangélico e misturou-os com outros em cultos afro

Ateus e agnósticos de Imperatriz defendem direito de não crer ALANNA FERREIRA

Thenille Santos

Depois de ter se convertido à igreja protestante com 15 anos, Júnior, hoje um jovem ateu, aprofundou seus estudos nos manuscritos da Bíblia com visão lógica e racional. Diante de muitos questionamentos sobre passagens do livro, como a origem do ser humano e outros dogmas, o jovem decidiu abrir mão dos seus valores cristãos para assumir o ateísmo como forma de ideologia. “Para mim Deus é um discurso religioso que predomina no nosso mundo ocidental. Ele só existe dentro do pensamento do ser humano, da imaginação. Até hoje nenhum desses discursos puderam ser fundamentados na realidade”. Os embasamentos ideológicos de Júnior vêm de grandes filósofos ateus como Richard Dawkins, Bertrand Russel e Friedrich Nietzsche. O jovem afirma não estar no ateísmo para converter pessoas, mas sim para desmistificar alguns preconceitos e paradigmas. “Quero conscientizar pessoas de que ser ateu não é uma desgraça ou aberração”. Ele já sofreu muitos

Membros da Associação de Ateus e Agnósticos de Imperatriz (Ateitz) debatem, em reunião, como combater o preconceito contra o grupo na cidade

preconceitos, tanto de familiares quanto de amigos.

Ateitz - Depois de alguns encon-

tros virtuais, um grupo de estudantes, junto com Júnior, decidiu criar a Associação de Ateus e Agnósticos de Imperatriz (Ateitz).

Os principais objetivos são os de congregar ateus e agnósticos, combater o preconceito e a desinformação e auxiliar a autoafirma-

ção dos futuros membros. O grupo pretende ainda atrair outros ateus e agnósticos da cidade para, juntos, debaterem, como associação, sobre seus direitos perante a sociedade civil. O estatuto da associação já está pronto e agora o próximo passo é registrar em cartório e eleger a diretoria. Ao todo são cinco jovens que fazem parte dos associados fundadores. A maioria são estudantes do Ensino Médio. Felipe Hudson, 16 anos, um dos participantes da Ateitz, afirma que a associação será importante para fortalecer outros jovens que se sintam discriminados. “O maior preconceito que sofri foi dentro da escola. Uma vez um colega me disse que eu sou gente boa mas o fato de eu ser ateu anulava tudo”. Para fazer parte da Ateiz é necessário ter 18 anos (caso seja menor de idade, é preciso apresentar autorização do responsável) e cumprir com os termos que regem o estatuto. O grupo vem se reunindo na praça de Fátima sempre no fim das tardes de sábado e está aberto para qualquer pessoa que se interessa pelo ateísmo e agnosticismo.


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Tradição Apesar de o Brasil ainda ser uma expressiva nação católica, os líderes dessa religião estão preocupados com a constante migração de seus membros

Catolicismo busca reconquistar fiéis MAYANE LIMA

Mario Alves

O catolicismo é uma das mais expressivas vertentes do cristianismo. A Bíblia, a tradição e o magistério são as principais bases desta religião. No Brasil, o catolicismo sempre impressionou pelo número de fiéis e pela fé. No entanto, os últimos anos foram marcados por migrações de católicos para igrejas pentecostais e grupos sem religião. Festejos, quermesses, devoção aos santos, reza de terço e festa do Divino são apenas algumas características do catolicismo tradicional. Suas principais crenças enfocam a Santíssima Trindade, fidelidade a um único Deus, que engloba o Pai, o Filho e o Espírito Santo. De acordo com o padre Valdeci Martins, da paróquia Nossa Senhora de Fátima, o verdadeiro católico é aquele que segue os ensinamentos da Bíblia. O fiel deve acatar também as orientações de uma hierarquia patriarcal, se comportando de acordo com os conselhos do papa, cardeais, bispos, padres e outros que formam o santo magistério. Segundo dados preliminares do Censo 2010, o Brasil é a maior nação católica do mundo. São 125 milhões de brasileiros que afirmam ser católicos, o que corresponde à metade de fiéis na América Latina. Contudo, a religião no país enfrenta seu maior desafio. Nos

Resgate das pastorais, como a da juventude e fortalecimento da comunicação são algumas estratégias para reconquistar os fiéis católicos indecisos

últimos 30 anos, o Brasil testemunhou uma queda no número de adeptos. Entre 1980 e o ano 2010, o número de fiéis caiu de 89% para 74% da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE). A Igreja Católica perdeu parte de seus membros para as igrejas pentecostais. Nos últimos 30 anos, o movimento evangélico cresceu de 3% para 15,4%, segundo IBGE.

Renovação Carismática Católica estimula oração e perseverança

Para o católico imperatrizense Fernando Marinho Sousa, o fator principal da queda no número de fiéis são as regras estabelecidas pela Igreja. “Aqui na Igreja Católica eles pregam a santidade, o sexo só

Kalyne Figueredo

KARINE DUARTE

Nos grupos de oração do movimento Renovação Carismática muitos choram, riem, clamam e acreditam em um poder supremo de renovação

Louvor, adoração e pregação, aos poucos um clima místico se faz presente em toda parte. Com a ajuda de canções sacras é reforçado o discurso de que “Deus nos quer criaturas renovadas”. Uns choram, outros riem, há aqueles que clamam, intercedem, acreditam em um poder supremo capaz de curar e renovar o ser humano. No momento da palavra todos escutam atentamente e veem o pregador como um instrumento divino e revelador. Nos grupos de oração da Renovação Carismática Católica (RCC), o objetivo comum entre os participantes é uma experiência pessoal com Deus por meio do Espírito Santo e seus dons. A RCC é um movimento da igreja católica que se destaca pelo uso dos carismas e dos dons do Espírito Santo. Sua origem se deu nos Estados Unidos em meados da década de 1960. No Brasil, a Renovação Carismática iniciou suas atividades na cidade de Campinas (SP), rapidamente se expandiu pela maioria dos estados brasileiros e foi dando um novo rosto ao catolicismo. Os adeptos participam ativamente nos trabalhos comunitários desenvolvidos pela instituição. Em Imperatriz existem 64

depois do casamento, não ingerir bebidas alcoólicas, não ao uso de drogas entre outras coisas. Então os fiéis acabam saindo à procura de outras religiões, em busca da facilidade dessas coisas”. O padre Valdeci afirma que a igreja também se incomoda com a migração dos fiéis para a descrença. “Nossa preocupação não é apenas com a diminuição dos fiéis católicos, mas, sim, com a grande quantidade de católicos não-praticantes da fé, e os sem religião”. Diante desse quadro, a Igreja tem procurado reconquistar seus adeptos. A recente visita do papa ao Brasil, a ênfase em hábitos tradicionais e investimentos em programas de rádio são apenas alguns dos artifícios para reavivar a fé católica. Outras estratégias de resgates são os famosos grupos católicos. O maior deles é a Renovação Carismática. O grupo teve início no final da década de 90. Os “carismáticos” renovaram a evangelização e as práticas tradicionais da Igreja. Os padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo são ícones desse movimento. Além disso, as inúmeras pastorais no país cumprem um papel fundamental nesse processo de resgate do fiéis. Fernando Costa é coordenador da Pastoral da Juventude em Imperatriz e afirma: “A pastoral está pautada nos princípios da evangelização, conscientização e missão”.

grupos de oração filiados à RCC. Leni Castro, coordenadora diocesana da RCC de Imperatriz, afirma que os carismáticos contam com o apoio dos padres e do bispo da diocese e enfatiza que o maior objetivo do movimento é buscar almas para Deus. “Minha vida mudou bastante depois que passei a frequentar o Grupo de Oração da Renovação. Hoje me sinto uma pessoa nova e mais feliz. Como serva de Deus e através dos dons do Espírito Santo, trabalho em benefício da minha comunidade”, testemunha Layanna Lima, participante do Grupo de Oração Louvor Eterno. Trata-se de uma comunidade carismática que cultiva a oração, a partilha e todos os outros aspectos da vivência do evangelho, a partir da experiência do batismo no Espírito Santo. O Grupo de Oração Louvor Eterno é considerado uma célula fundamental da Renovação Carismática Católica e se divide em três momentos: núcleo, oração e perseverança. Os integrantes são convidados plenamente a uma vida de oração, pessoal e comunitária por meio de dons como sabedoria, cura, fé e milagres. Um evento carismático que recebe destaque na cidade é o festival “Minha Vida Tem Sentido”, organizado todos os anos, durante os dias de carnaval.


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crença As cerca de 140 igrejas ligadas ao movimento petencostal que existem em Imperatriz divulgam o poder da cura pela fé e a manifestação do Espírito Santo

Pentecostalismo defende cura divina JAMES PIMENTEL

Em um culto de igrejas petencostais como a do Evangelho Quadrangular, Petencostal Deus é Amor e Assembléia de Deus, os participantes defendem costumes tradicionais como o vestuário conservador e creem na cura de males físicos pela fé James Pimentel

Era uma tarde ensolarada de segunda-feira e os 40ºC da cidade não intimidavam os fiéis a comparecer em mais um culto de milagres. Alguns pareciam ir a um baile de gala. A maioria das mulheres trajava saia longa e os homens camiseta social e gravata. Até os jovens se vestiam assim. Aos poucos foram enchendo o local e, por volta das 14h45, teve início a celebração. “Espírito de Deus, Espírito de Deus, vem interceder por nós”. Essa foi a oração feita pelo dirigente em

uma das mais de 140 igrejas pentecostais espalhadas pela cidade, que englobam as filiais das igrejas do Evangelho Quadrangular, Pentecostal Deus é Amor e Assembléia de Deus. O pentecostalismo se baseia na doutrina da apresentação do Espírito Santo e dá ênfase à distribuição dos seus dons. “Essa é a manifestação do falar em línguas, da cura divina e da liberdade do povo em glorificar a Deus”, explica o pastor presidente da Assembléia de Deus, Raul Cavalcante. A lavradora Zeneide Costa, 48, é

frequentadora de uma dessas igrejas há 18 e conta que lá encontrou o milagre divino: “Fui curada de um cisto e de dor nas pernas. Passei mais de seis meses sem caminhar. Aí na igreja Jesus me curou”.

Tradição - Além de promover cultos relacionados a milagres, o diferencial dessas igrejas é o conservadorismo de alguns costumes, visíveis logo no primeiro contato. O modelo clássico de vestimenta é uma das principais características dessas igrejas tradicionais: mulheres de cabelos longos, roupas além do joelho e pouca ma-

quiagem. Homens de voz firme, boa oratória, roupa social, nenhum acessório no corpo. “Eu era muito vaidosa antes de ser crente. Depois que eu passei a ser da igreja, eu fui mudando, mudando, e hoje em dia se eu vestir roupa transparente eu fico incomodada. Acho que é o agir de Deus na vida da gente”, conta a lavradora Zeneide. O estudante Rafael Romeu, 16 anos, nascido e criado dentro de uma igreja pentecostal, conta que já foi criticado por usar acessórios fora dos padrões: “Eu gosto muito de cordão e fui à igreja uma vez usando um

deles e vieram me dizer: ‘tira isso aí, a igreja não permite e tu fica usando’, sem contar os que falaram pelas costas”. Afirma também que já teve vontade de frequentar outra instituição, porém a igreja ficava muito longe. “A igreja tem um princípio, ela tem um caminho a percorrer”, afirma o pastor Raul. Essa tendência dos religiosos em procurar associar os princípios da igreja com os segmentos da sociedade já é prevista. Só não muda a busca incessante por tudo aquilo que os fiéis acreditam que Jesus possa oferecer dentro dessas igrejas.

Neopetencostais destacam o exorcismo e a prosperidade pessoal Maria Almeida

Cura e Libertação, Reunião da Prosperidade e Terapia do Amor são alguns dos temas de encontros da igreja neopentecostal, que surgiu de uma corrente religiosa que pregava rituais de exorcismo, cura e prosperidade. Em Imperatriz, o movimento é representado pelas Igrejas: Renascer em Cristo, Internacional da Graça de Deus, Mundial do Poder de Deus, Universal do Reino de Deus (IURD), que é sua principal representante e Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra. A jornalista e professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Penha Rocha, estudiosa há 13 anos das estratégias de comunicação da IURD, afirma que

os rituais dessa instituição são todos fundamentados na umbanda. “O bispo Edir Macedo, está escrito em várias teses inclusive na minha, vem da umbanda...Quando você vai a um culto de exorcismo você percebe que é muito semelhante a uma sessão de umbanda. Os chamados pastores estão todos de branco, usam rosas vermelhas...”. Os cultos são realizados em templos com luzes apagadas, banda de música e fortes orações. Segundo a doutrina da igreja, rituais como quebra das correntes e sessão do descarrego podem manifestar o demônio que atrapalha a vida de cada pessoa. Para isso, o fiel deve participar das sessões, sem jamais deixar de depositar as quantias pedidas nos envelopes. O pastor Mário Guerra garante que a

pessoa tem que compensar a Deus com sacrifícios. “Fazer estas doações é um sacrifício porque o dinheiro é a coisa mais importante

“Fazer doações é um sacrifício porque o dinheiro é a coisa mais importante depois da vida”, defende pastor

depois da vida”. Todos os encontros têm uma finalidade e um propósito. De

acordo com Mário Guerra, na reunião da prosperidade as orações são voltadas para as pessoas que enfrentam problemas financeiros, como miséria, dívidas e causas na justiça. Em um dos rituais de que participei, observei os fiéis levando canetas virgens para serem ungidas pelo pastor, as quais seriam abençoadas para assinatura de documentos importantes. Os fiéis têm fé e acreditam no ritual. “Eu estava tentando me aposentar há muito tempo. Participei da reunião, benzi minha caneta e usei para assinar meu comprovante de pagamento do dízimo. Na mesma semana já consegui meu aposento. Amanhã vou viajar para Cidelândia só para assinar os papéis para começar a receber o dinheiro”, afirma Maria da Concei-

ção Silva, 68, fiel participante da sessão. Na reunião pela busca do Espírito Santo, em um ambiente com meia luz e uma trilha sonora envolvendo as orações fervorosas, surge uma moça esperneando que se diz possuída por um demônio. Após uma forte corrente de oração, ela recupera seu espírito e sai caminhando normalmente. Para Penha Rocha essas manifestações são de histerismo. “Está muito mais para uma crise histérica que Freud chamava de histerismo do que para uma manifestação espiritual que até existe, segundo os kardecistas. Mas, nestes casos, como explicam os psiquiatras e os estudiosos, está muito mais para crise histérica do que para qualquer manifestação espiritual”.


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eVANGELIZAÇÃO Há 25 anos em Imperatriz, os membros da Testemunhas de Jeová defendem questões polêmicas, como a proibição de doar e receber sangue e de votar

Divulgando a religião de porta em porta ROSEANE CARDOSO André Wallyson

É domingo de manhã e, pelas ruas do bairro Bacuri, as Testemunhas de Jeová fazem o que chamam de pregação de casa em casa. Este é o trabalho que mais caracteriza os participantes desta religião. Fundada em 1870 nos Estados Unidos, as testemunhas de Jeová estão há cerca de 25 anos em Imperatriz. Elas se consideram cristãs nãofundamentalistas e possuem um dos maiores parques gráficos de publicações religiosas do mundo. A explicação do nome vem de uma dessas publicações, a revista “Despertai”. Segundo o periódico, a religião leva esta denominação indicando que dá testemunho de Jeová, que é Deus, de acordo com a tradução da Bíblia desta religião. O texto explica que “a maioria das bíblias não traz tal nome, mas o substitui por Deus, Senhor ou Javé”. No Salão do Reino das Testemunhas de Jeová, na primeira reunião de domingo, às 8 horas, cerca de 80 pessoas se reúnem, fazem estudos bíblicos e aprendem como se comportar no trabalho de pregação nas ruas. Vestidos com roupas conservadoras, vão a campo em grupos de três ou divididos por famílias. Pela cidade, mulheres, homens e crianças divulgam suas crenças por meio da Bíblia, que é semelhante às de outras religiões cristãs, mas tem seu Novo Testamento chamado de Escrituras Gregas Cristãs e o Velho Testamento de Escrituras Hebraicas. Em uma volta pelo bairro, portas fechadas, casas vazias, outras em que os de dentro fingem não ter ninguém e residências como a de Santana Andrade Silva. Aposentada

e membro da Igreja Assembléia de Deus, ela diz que não se incomoda em receber as visitas. “Recebo qualquer pessoa que fale da palavra de Deus, não importa de que religião seja”. Comportamento diferente do de Josilete Pereira, moradora do bairro Parque Anhanguera, que afirma não gostar de manter nenhum tipo de contato com os pregadores. “Quando eu os vejo de longe, já fecho todas as portas e finjo não ter ninguém em casa. Se eles me pegarem desprevenida, digo que não quero papo”. Segundo Ismael Monteiro, ancião das Testemunhas de Jeová cargo que seria equivalente ao de pastor em uma igreja evangélica, ou o padre da igreja católica - esse comportamento acontece principalmente por falta de conhecimento do trabalho que é feito, ou mesmo por preconceito. As Testemunhas de Jeová não doam nem recebem sangue, não participam de votações e nem de comemorações de datas festivas, como aniversários ou Natal. “Nenhum lugar da Bíblia cita que devemos comemorar aniversário. As únicas citações que falam desse tipo de comemoração acabam em tragédia”, explica Ismael Monteiro. Ele comenta ainda que, quanto aos diversos tipos de eleições, as Testemunhas de Jeová podem até participar, mas votam nulo. “Acreditamos que o homem não tem a capacidade de resolver nossos problemas, somente Deus”, destaca o ancião. Já sobre as transfusões, o ancião explica que os membros possuem um “cartão de isenção”, que é registrado em cartório, declarando que são testemunha de Jeová e não aceitam esse tipo de procedimento. “Quando nos internamos, os médi-

Vestidos com roupas tradicionais, as testemunhas de Jeová visitam casas de bairro sendo, às vezes, bem acolhidos ou enfrentando o descaso

cos devem colocar esta observação em nosso prontuário. Temos pro-

curadores que falam por nós em casos mais extremos, mas não

aceitamos. A medicina já avançou tanto, existem outras saídas”.

Estímulo à solidariedade é marca das várias doutrinas religiosas RONIE PETTERSON

das pastorais sociais e paróquias, vários projetos, entre eles: Pastorais da Mulher Marginalizada, da Pessoa Idosa e da Saúde. A primeira, com mulheres envolvidas em prostituição. A valorização integral dos mais velhos é objetivo da segunda. Por sua vez, a Pastoral da Saúde organiza visitas e aconselhamentos em hospitais e ações de prevenção.

Ronie Petterson

Imensa satisfação aliada a um brilho indescritível no olhar. As características de Zizi de Souza Soares, 70 anos, são fruto do que ela mais gosta de fazer, pois há 10 anos auxilia os necessitados. Coordenadora e uma das seis integrantes do projeto Superação da Fome e da Miséria, Zizi tem como lema: “Nunca deixar de ajudar”. Vinculado à catedral de Nossa Senhora de Fátima, o projeto consiste na coleta de alimentos e distribuição de cestas básicas, roupas e utensílios usados para mais de 300 famílias em duas grandes ações anuais, na Páscoa e no Natal. “As portas da minha casa estão sempre abertas para ajudar quem precisa”, confirma Zizi. Quando questionada sobre o que a impulsiona a ajudar as pessoas, ela atribui tudo ao amor que, a Bíblia recomenda, deve ser destinado ao próximo. “Sinto uma imensa alegria quando faço uma pessoa triste sorrir”. Além das visitas para distri-

Zizi de Souza (esquerda da foto) tem prazer em organizar a coleta e distribuição de alimentos

buição de cestas básicas e roupas, Zizi também aproveita a oportunidade para falar do amor de Deus. “Uma diferença no meu trabalho é

não fazer uma pré-concepção das pessoas”. A Igreja Católica de Imperatriz desenvolve, ainda, por meio

Assistência - A Igreja Evangélica Assembléia de Deus, por meio da Associação Beneficente Cidade Esperança (Acesp), mantém três projetos. O Centro Terapêutico Esperança trata da recuperação de dependentes químicos. Já o projeto Casa do Idoso oferece atividades para a melhor idade. E o Centro de Formação Profissional disponibiliza cursos profissionalizantes para as pessoas carentes. Outro projeto vinculado à Assembléia de Deus é o “+ Esperança”. Composto por cinco profissionais, um enfermeiro, três técnicos em enfermagem, uma assistente social e um terapeuta, a ação atende 17 pessoas entre profissionais do

sexo e homossexuais. Roberto Oliveira, 38 anos, enfermeiro e diretor administrativo da Acespe, também é auxiliar do projeto “+ Esperança”. Ele relata que as visitas são feitas nas residências de forma individual e semanalmente. Às vezes as conversas e aconselhamentos acontecem nos locais de trabalho, como postos de gasolina e na BR-010. O projeto proporciona aos atendidos assistência médica, pois, entre estes, alguns são portadores do vírus HIV. Os participantes recebem roupas e cestas básicas e auxílio na formação, com cursos que possibilitam a inserção no mercado de trabalho. Em agosto de 2010 ocorreu a XV edição do Mutirão Social da Igreja Assembléia de Deus de Imperatriz. As ações desenvolvidas foram palestras socioeducativas, atendimentos médicos e aplicação de flúor, além de assessoria jurídica, curso de artesanato, corte de cabelo, limpeza de pele, estética e distribuição de roupas, calçados, além de 714 cestas básicas para famílias carentes.


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busca espiritual Acreditando que não há salvação fora da caridade, os seguidores da doutrina de Allan Kardec estimulam o debate sobre a própria crença em seus cultos JANAÍNA AMORIM

Espiritismo alia ciência, filosofia, caridade e razão Kalyne Cunha

Olhos fechados tornam mística a reunião no centro espírita: debates, passes e água fluidizada

Quase sussurrada, uma prece quebra o silêncio da noite. Os olhos fechados tornam místico o início da reunião no Centro Espírita José Grosso. Jovens, adultos e crianças sentam nos primeiros bancos concentrados no foco do espiritismo: Deus e o Cristo! Uma mistura de religião, ciência e filosofia caracteriza o discurso do palestrante ou, como eles preferem chamar, facilitador. Com base na razão, o espiritismo é reconhecido como filosofia e trata de dilemas como: Para onde irei depois da morte? O que faço no mundo? A doutrina espírita dá uma interpretação da vida e concepção própria de mundo, assim como todas as religiões. Trata da transformação moral do ser humano por meio dos ensinamentos de Jesus Cristo. Fábio Souza de Carvalho, 31 anos, ludovicense, é defensor público e “espírita de berço”. Ele conta as experiências vividas pela escolha de sua doutrina. “Já fui discriminado por defender alguns pontos de vista. Falaram que eu não poderia ir para o céu porque não era ba-

tizado. Quando criança sempre estudava em escola católica e alguns colegas e professores tinham um tratamento diferenciado pelo fato de ser espírita. Mas depois que me conheciam voltavam a ser os mesmos de antes”. O estudo da noite é dividido em grupos para permitir aos participantes esclarecerem suas dúvidas. Braço estendido, pela pouca idade, a pergunta de uma criança chega a intrigar quem a ouve. “Se nós somos criatura, criação do criador, porque seguir a Bíblia como verdade absoluta se foi escrita por homens?” A resposta a essa pergunta e aos ensinamentos do Centro são embasadas nos quatro evangelhos da Bíblia Sagrada e nas cinco obras do criador da filosofia espírita, Allan Kardec: “A Gênese”, “O Céu e o Inferno”, “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns” e “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Com duração de uma hora, a reunião não possui sacramentos, culto a imagens ou vestes especiais. Ao término, todos mais uma vez fecham os olhos e pedem aos espíritos que os abençoem e tragam bons fluidos. A luz negra vinda do teto e o silêncio trazem um

momento de paz e reflexão: a prece. Em sigilo, os grupos voltam ao salão principal e organizam-se para o passe, fazendo uma fila na lateral direita para entrarem em uma sala reservada. Ana Célis explica para os visitantes o real significado do gesto religioso: “É receber energia do alto. Os trabalhadores da casa são recompensados com essa energia”. Nesse momento, as mãos são impostas em direção à cabeça dos visitantes que permanecem sentados, mais uma vez com os olhos fechados recebendo “boas vibrações”. Ao sair da sala escura, água fluidizada é servida. “Você faz sua prece e pensa em algo positivo e toma a água”. Fábio esclarece que as energias positivas são passadas para a água pelo princípio do magnetismo. Um dos pilares do espiritismo se sustenta na seguinte frase: “Não há salvação fora da caridade. Essa é uma das formas mais rápidas de evoluir”, conforme esclarece o espírita Vinícius Mendes. Além das reuniões, o Centro realiza trabalhos de ação social, como arrecadação de alimentos, roupas e distribuição de sopas.

Centro de Cultura Judaica permite confraternização da comunidade EVA fernandes Vinicius Beserra

tões relacionadas à fé hebraica.

Noite de sexta-feira, em Sonho Realizado - A criação uma pequena sala localizada em do Centro Judaico é a realização uma escola no centro da cidade de de um sonho para Remy Hurtere, Imperatriz tem início a reunião do treinador de ping-pong. Agora, em Centro de Cultura Judaica. vez de viajar para Belém ou São O líder do centro, o médico Paulo, ele e a sua esposa podem Abraham Elmescany, é filho de ju- comungar de sua fé sem sair de deus que imigraram para o Brasil Imperatriz. É o começo de um na década de 1920, vindos do norte processo maior, para a construda África. O ambiente, com pare- ção de uma sinagoga. des pintadas de um azul celeste e A reunião marca um contrascom cadeite com o que ras brancas o pai e o avô de plástide Abraham co, é bem viveram no simples. início do séHomens de culo passaAo contrário da grande um lado e do, quando mulheres maioria das outras religiões, o moravam no do outro. judaísmo não faz esforços para interior do Ao chegar baixo Amaarrebanhar novas almas para zonas. recebo um kipá, o típiNaquela as suas fileiras. co chapéu época se reuusado nas nir para comcerimônias partilhar da religiosas mesma fé era judaicas. bem difícil, O clima como lembra é bem informal. Na frente, o líder Abraham: “Meu pai e meu avó me do centro fala com todos os pre- falavam que eles, para se juntar, sentes, ora fazendo perguntas e em tinham que chamar judeus que outras ocasiões explicando alguns moravam distante, que vinham a pontos doutrinários da fé judaica. cavalo. Outros vinham de barco Aqui, diferente de outros lu- para poder se manter. Então já gares onde o leitor possa ir para existia essa dificuldade há muito expressar sua fé, as pessoas fazem tempo!”. Agora é muito mais fácil perguntas ao líder e são respondi- se reunir, pois as reuniões têm das prontamente. A ideia é criar um dia, horário e local para acontedebate no qual o foco é o esclare- cer. cimento, principalmente, de quesAs atividades do centro tive-

Nas reuniões do Centro de Cultura Judaica de Imperatriz as pessoas podem fazer ao líder livremente perguntas relacionadas à fé hebraica

ram seu início no dia 24 de agosto de 2010, quando, na Associação Médica de Imperatriz, ocorreu um evento com a participação de autoridades locais.­ O judaísmo, ao contrário da grande maioria das outras religiões, tais como o catolicismo, o protestantismo e o islamismo, não faz nenhum esforço em arrebanhar novas almas para as suas

fileiras. Ou se é judeu por nascimento ou por escolha, mas existe também o que Elmescany chama de retorno: “Hoje em Imperatriz, eu encontrei várias pessoas que estão de retorno à religião judaica. Existem muitas pessoas que têm origens concretas aqui em Imperatriz e por isso o núcleo de cultura judaica foi montado aqui”.

Segundo o líder do centro, esse processo parte da própria pessoa ao perceber um judaísmo incipiente. Certas práticas na família, tais como não comer carne de porco ou ter o sobrenome Parreira ou Oliveira, por exemplo, podem indicar isso. Para essas pessoas, não importa a distância de Imperatriz a Jerusalém. Ser judeu está na alma de cada um.


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fé oriental Fixada em Imperatriz desde 1978, Igreja Messiânica conta com 127 membros na região e estimula a purificação do espírito e até a agricultura familiar LUÍS CARLOS

Messiânicos: convívio entre várias crenças Erisvan Bone

Ao chegar na Igreja Messiânica, logo notei quantos arranjos de flores predominavam e davam alegria para aquele lugar calmo com músicas de tons leves que tocaram meus sentimentos. Fui logo recebido por uma senhora com um vestido de tom azul escuro que me abençoou com uma oração forte chamada “Johrei”. A Igreja Messiânica teve início em Imperatriz no ano de 1978 por Vitor Sobral Edidácio Bandeira, que passou a pregar a palavra à população. A religião hoje é formada por 127 membros, contando com as demais regiões vizinhas. Seus métodos de propagação são baseados em três colunas de salvação: Johrei, que é a purificação do espírito; a prática da agricultura familiar e o Belo, que simboliza as

atividades artísticas. As flores são praticamente um símbolo para a religião, pois representam o nível espiritual que está presente a expressão máxima da natureza. Para o ministro Fábio Martins Rodrigues, com 33 anos de pregação da palavra messiânica no Maranhão, “devemos crer em Deus e jamais dividir as religiões pois as mesmas devem andar juntas. Várias religiões em uma só não interferem em nada. Isso porque Deus é um só”. A religião recebe pessoas que passam por dificuldades financeiras, de saúde, problemas familiares, ou sejam eles quais forem. As orações são feitas por um messiânico para abençoar e aliviar as dores e acabar com o sofrimento. Segundo Francisca Marques, 33 anos, a religião mudou sua vida. Ela passava por dificuldades com sua

Mórmons estimulam jovens missionários Grasiele Gomes

“Boa Tarde. Como foi seu dia?” Esse é o cumprimento feito pelos missionários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, também conhecida como Mórmons. Todas as tardes, eles saem às ruas de Imperatriz para evangelização. Às 15h30 de quinta-feira, o paulista que cumpre missão em Imperatriz, Elder Roca, tenta amenizar o calor utilizando um folheto como leque. Em um cyber, o mórmon dá início ao seu trabalho com uma oração. Ele explica a importância de um profeta para a sociedade. “Então o que Deus fará sem o profeta? Os profetas são essenciais para guiar os passos das pessoas na Terra. Sem o ensinamento deles, as pessoas praticam coisas que entristecem a Deus”, afirma Roca para o jovem Alex. Por fim, ele oferece a mensagem a Jesus Cristo e agradece ao seu ouvinte. A doutrina religiosa busca jovens entre as faixas etárias de 19 a 26 anos para adicionar em suas vidas a experiência missionária em outros lugares diferentes do seu de origem. O bispo Silva, que cumpriu missão em Santa Catarina, diz que os jovens são incentivados desde criança a seguir e custear as suas obras missionárias. “Todo trabalho voluntário tem um custo e por isso as crianças são incentivadas a fazer uma poupança, servindo-lhes de garantia para as futuras missões”, afirma o bispo Silva, um dos responsáveis pela igreja central. A religião nasceu em 1838, com uma revelação de um anjo ao pro-

feta Joseph Smith, aos 14 anos. Na aparição o anjo Morôni teria dito a ele que deveria construir uma nova religião, pois as doutrinas até então eram feitas por homens e esta não seria a igreja verdadeira. A nova, criada por ele, teria doutrinas baseadas nos mandamentos de Jesus e fundamentadas por um profeta vivo. Eles acreditam que logo após a morte de Cristo a humanidade interpretava a Bíblia de maneira diferente tornando-se assim uma comunidade desordenada. “Quando Jesus estava lá, a igreja era organizada, mas quando o mataram tudo ficou desorganizado. Um líder à frente da sociedade mantém as coisas ordenadas”, afirma Elder Piacenti, missionário brasiliense em Imperatriz. Osmissionáriosprocuramseguir os passos de Smith, preocupados em manter uma ligação entre igreja e sociedade, amenizando os problemas sociais e pessoais por meio da divulgação da palavra de Deus. Apesar de missionários seguirem a outros destinos em favor de uma afirmação no evangelho, eles passam por dificuldades. A saudade de casa, família, amigos é consequência direta da missão. Mas, segundo eles, tudo é válido para cumprir os dois anos de evangelização. “No começo sofri muito quando tive de separar da minha casa, mas depois fui acostumando com a ideia e peguei amor pelo trabalho”, relata o bispo Silva. Em Imperatriz a também conhecida Santos dos Últimos Dias (SUD) tem 20 anos de existência e cinco capelas espalhadas nos bairros Vila Nova, Bacuri, Santa Lúcia, Santa Rita e Centro.

Ministros, como são chamados os líderes religiosos, recebem pessoas com problemas financeiros e de saúde que chegam sem precisar ser convocadas

filha “especial”. A menina era agitada e tinha crises nervosas. Então, uma amiga indicou para Francisca ir visitar a igreja. Depois de algum tempo voltou a viver feliz, pois sua filha não era mais a mesma. Hoje, R.S.F. brinca com amigos, é divertida e a família acredita que tudo isso foi graças às orações. “Eu não deixo mais essa religião nunca. Aqui me sinto feliz, venho todo dia

e se eu não vier fico mal”, ressalta Francisca. Ao conversar com sua mãe, observei que a menina prestava atenção em cada palavra que saía da minha boca. Ao terminar minha matéria ela me olhou e me abriu aquele sorriso de uma menina linda e muito esperta. Percebi que a fé daquela religião mudou a vida da jovem. Para Maria Raimunda, uma das

plantonistas da casa, o Johrei elimina as impurezas impregnadas no ser humano revitalizando sua força natural de recuperação. A palavra messiânica deriva de messias, isto é, aquele que serve, o verdadeiro filho de Deus na Terra. O diferencial da religião é que ela não atua na mídia e quase não tem divulgação, além de não obrigar ninguém a participar.

Umbanda luta contra preconceitos Alan Milhomem

ferentes ao censo de 2000. E Pai Salim de Ogum ressalta que a umbanda busca a Deus sobre todas as coisas, que para eles é chamado de Oxalá. Pai Salim de Ogum tem 42 anos, desde os 13 “se jogou para o mundo espiritual”. Iniciou-se no santo quando chegou em Imperatriz em 1981. Hoje é casado, tem um filho e é pai de santo do terreiro de umbanda Nossa Senhora Aparecida. Com 40 filhos de santos, é filho de São Jorge Guerreiro, paternidade essa dada pela

Senhora Aparecida abre às terças e sextas para as obrigações ou trabalhos, como são chamados os encontros da umbanda. Os trabalhos começam com a reza do terço, orações e a preparação para a incorporação”, afirma Pai Salim. Além das obrigações semanais existem as festas, que são três ao ano: São Lázaro, São Sebastião e a de uma entidade que trabalha na cabeça de Pai Salim. Há também o festejo em honra à padroeira da casa, Nossa Senhora Aparecida, que dura nove dias. Durante esse período, os fiéis e os médiuns ficam em abstinência de sexo, carne vermelha, álcool e festas mundanas. Segundo Pai Salim “é para que nós tenhamos a purificação, a Umbanda como uma capa para alcançar nossos objetivos. Primeiro Deus e que sem conhecer o conteúdo”, ele atenda nossos pedidos”.

Logo na entrada uma cruz com um copo de água no pé. À frente, duas casas. Uma ao centro, toda amarela, com um carro vermelho na garagem e a outra ao lado, feita de alvenaria, ainda sem reboco. Em alguns instantes aparece um homem de estatura mediana, negro, camisa alaranjada, short jeans, sandália havaiana e com um relógio e uma pulseira grossa dourada no braço: era o Pai Salim. A residência do Pai Salim era toda amarela, com duas bacias de água ao centro, uma pura e outra verde. Em cada canto da casa havia um santo em pequenos monumen- “Se julga tos. Na frente, por detrás de livro de uma cortina dourada, está Nossa Senhora Apare- reclama Pai Salim, líder umbandista cida, em um adorno todo Discriminação – A umbanem Imperatriz. florido. No altar, que vai da é considerada por muitos do chão a mais da metade como macumba e feitiçaria. da parede, muitas flores, “Se julga a umbanda como quatro colunas estilo inuma capa de livro sem codianas cor de ouro, duas nhecer o conteúdo”, reclama de cada lado, e no centro Pai Salim. Ele ainda esclarece Oxalá rodeado de santos. que as velas coloridas da umbanDe cada lado do altar dois anjos data, dia e hora de nascimento. da, que causam tanto medo em alA Umbanda trabalha com a guns, têm seu significado para a com trombetas, feitas de piscapisca, simbolizando paz e alegria. médiuncridade, pessoas que se- religião. A vela verde significa esPai Salim senta-se aos pés do altar gundo a religião podem servir de perança, a branca paz, a vermelha intermediárias entre os vivos e os força, a azul o céu, a marrom juspara conversar. A umbanda, ao contrário do espíritos. Como afirma Pai Salim: tiça, e a amarela prosperidade. A que muitos pensam, é uma reli- “ninguém opta por ser: eu vou ser umbanda não utiliza a vela preta gião. Trazida para o Brasil pelos médium”. Para ressaltar a origem porque significa destruição, trenegros vindos da África, se desen- sobrenatural, destaca: “isso não vas, perturbações. Esta só é utivolveu primeiramente no Rio de existe, ele já nasce com esse dom”. lizada para desmanchar trabalhos Janeiro. Hoje presente em todo o Em algum tempo da vida o sujeito feitos com maldade para outras Brasil, 0,3% da população nacio- se descobre, sente, como uma es- pessoas. “Muitos usam vela brannal se declara da umbanda ou do pécie de escolhido. “Ser médium ca para praticar o mal para outras candomblé, são 3.311 só no Mara- não é opção, é missão”, conclui. pessoas e elas não sabem”, alerta O terreiro de umbanda Nossa Pai Salim de Ogum. nhão, segundo dados do IBGE, re-


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ENTREVISTA Repórteres do jornal Arrocha convocam um líder religioso católico e um pastor para responder questões como o que é religião, milagre e novos rumos

Fé religiosa e seu futuro em debate HEMERSON PINTO

Padre Raimundo Nonato Barbosa Costa, da Igreja de Santa Teresa D’ávila tem formação pela Faculdade de Filosofia de Fortaleza, experiência na área

de Antropologia, Sociologia, Pedagogia, Filosofia, Comunicação e Ciência Política. Pós-graduação em Comunicação e mestrado em Planejamento do Desenvolvimento

Lara Nascimento Hemerson Pinto

vo voltado para os jovens? Infelizmente começou na igreja católica pela Renovação Carismática, que é um “xarope” muito grande, por que leva os jovens só para o “mundo da lua”. Eles estão muito dentro da igreja, nesses grupos, mas só que são grupos fechados.

O que é religião? A religião é uma forma de você prestar um culto religioso a Deus. É uma forma de expressão de fé que nos leva a uma vivência com o absoluto. Existem várias religiões por aí, cada uma pregando um Deus diferente. As formas religiosas de o homem cultuar a Deus começaram desde os homens na caverna, chamadas de expressões místicas. Muita gente diz dos tsunamis, por exemplo, que está chegando o fim do mundo. Pode até chegar, mas não é por que Deus quer no sentido mitológico, mas é consequência do que o homem fez. Qual a diferença entre religião e seita? As religiões são aquelas que chamamos de tradicionais e as históricas, que são o protestantismo e o catolicismo. O protestantismo histórico é o da Alemanha, que veio do [teólogo Martinho] Lutero e hoje foi dividido em várias seitas. Quando um pastor briga com o outro e funda uma igreja na outra esquina, isso já é uma seita provocada pelas divisões. Por conta da modernidade, você acha que hoje as pessoas, principalmente os jovens, estão indecisos sobre qual religião seguir? Sim. Hoje o jovem é muito indeciso. Na questão da escolha da profissão a gente vê que eles têm muita dificuldade, não sabem o que querem. E na religião vão onde tem mais prazer e se sentem mais acolhidos. Nas igrejas protestantes, por exemplo, os jovens gostam muito de música. Aí começam a gravar CD e ali eles estão até certo dia. Saem, vão para uma outra, não têm assim uma permanência. A igreja começou a se ajustar à realidade do mundo. No passado era muito fechada. Como está sendo esse incenti-

Como as igrejas têm lidado com a questão dos conflitos entre religião e ciência? Não, a igreja católica não tem esse conflito não. Ela tem criticado ultimamente essas experiências que são novas, de ponta, essas coisas todas, das células-tronco. A igreja tem feito algumas observações com a questão da ética. Mas a ciência e a fé têm que andar juntas, a teologia hoje diz isso na medida em que uma precisa da outra. No passado, antes do desenvolvimento da ciência, a igreja católica dava a hóstia para o padre exorcizar, tirar o demônio, que era o desequilíbrio emocional do homem, ou qualquer outro problema que ele tinha. Isso por que não tinha nenhuma ciência para explicar, hoje tem. Agora quando a ciência não explica, aí entra a fé, a questão do milagre.

“Hoje o jovem é muito indeciso. Na religião vai onde tem mais prazer”

O que é o milagre? É uma ação que a ciência não explica, que só se explica em Deus. Mas não é aquele milagre que a gente vê por aí, que tudo é montado. Então, o milagre é uma ação que a ciência e o homem não explicam, então foi Deus. Hoje a maior academia de ciências é no Vaticano. Quando se diz que um homem é santo, os cientistas vão pesquisar para

HEMERSON PINTO

Raul Cavalcante Batista é pastor, presidente da Assembléia de Deus de Imperatriz e vice-presidente da mesma igreja no Sul do Mara-

nhão. Em seu gabinete pastoral, que funciona em uma das salas do Templo Central, na rua Gonçalves Dias, Centro da cidade de Imperatriz, re-

cebeu a equipe do jornal Arrocha para falar sobre religião na visão dos evangélicos e outros assuntos relacionados.

saber que milagre ele fez.

Lara Nascimento Hemerson Pinto

za os jovens e eles têm ouvido essa mensagem.

Como a igreja reage às denúncias de crimes como a pedofilia, por exemplo? A igreja reage com muita dor. Só que a gente tem que ver o seguinte: toda a campanha que está sendo feita hoje contra a igreja. A pedofilia hoje não é só na igreja. Nela tem alguns casos, vieram desenterrando coisas de 500 anos atrás. Tudo isso é pra tentar macular a imagem da Igreja Católica. Todos os dias a gente vê casos de pedofilia, de incesto, mas não é da igreja. Ela tem casos de padres desequilibrados, mas está punindo, acompanhando e levando para psicólogos.

O que é religião? A religião é o que chamamos de religação do homem com Deus. Apesar da religião ser o lado humano, é uma organização que congrega as pessoas da mesma fé, do mesmo pensamento religioso. Porque quando o homem não tem religião ele fica muito alienado de Deus.

Como a igreja usa a comunicação, e como vê a presença de religiosos na mídia? Todos nós sabemos pelo ditado popular que “a propaganda é a alma do negócio’’. Então todos os segmentos sociais vão usar a comunicação para divulgar o que querem, o que pensam, a sua fé, o seu produto e a religião também. É uma ferramenta importantíssima no atual momento para que as pessoas possam ser alcançadas por aquela ideologia e pensamento religioso. Porque a televisão e o rádio penetram nos lares e onde às vezes é impossível da pessoa chegar. Então isso facilita a comunicação da fé. Nós não temos a visão de negócio, mas de divulgação da palavra de Deus.

pela Universidade Federal do Pará. Em entrevista concedida no escritório da paróquia, na rua 15 de novembro, ele fala sobre milagre, ciência e outros assuntos.

Como a igreja usa a comunicação e como vê a presença de religiosos na mídia? Não são alguns religiosos, são grupos. Hoje os meios de comunicação são de quem? De políticos e de grandes empresários e todos são controlados por eles, é claro. E essa questão ideológica faz o que eles querem e acabou, como o que a Globo fez aqui em Imperatriz com o [professor Antônio] Frazão. A igreja católica tem esse desejo de criar os seus meios. Surgiu a primeira televisão, que foi a Rede Vida, de um leigo que recebeu um canal do governo e juntou com a igreja. Agora surgiram outras, como a Canção Nova. Depois vem a Século XXI, que é de um padre, que montou com ajuda dos Estados Unidos. É a mais moderna, com os equipamentos comparados aos da Globo. Depois vem a TV Aparecida, lá de São Paulo. Tem também muitas rádios da igreja católica criadas na internet. Qual o perfil do ateu? É essa questão da tecnologia de hoje. O mundo tecnológico tem feito com que o homem se torne cético e que só acredite naquilo que vê. Só que tem muito ateu que fala em Deus. Tem que ver as expressões de cada um, cada caso é um caso.

Qual a diferença entre religião e seita? Tudo é religião. A seita é uma organização que está em fase embrionária, ainda não estão definidas a sua fé, os seus dogmas e as suas crendices. E então, nesse período de organização, a gente chama de seita. Religião é quando sua doutrina básica está toda definida. Por conta da modernidade, você acha que hoje as pessoas, principalmente os jovens, estão indecisos sobre qual religião seguir? Não. Eu acho que os jovens são muito inteligentes e eles estão cada dia mais buscando sua espiritualidade. Percebo que há uma grande massa jovem buscando uma religião, conhecer a Deus e eles não estão tão indefinidos assim. É claro que em qualquer faixa etária temos pessoas indefinidas, mas não especificamente os jovens. E você percebe pelo grande número de jovens que estão nas igrejas adorando ao Senhor. Como está sendo esse incentivo voltado para os jovens? A igreja tem sempre como uma prioridade os jovens, porque eles são linhas de frente de todas as organizações. Pela sua juventude, por sua vontade de fazer, suas condições físicas. Tudo isso facilita esse trabalho que ele vai desenvolver. Então a igreja, por meio da sua liturgia e pregação focali-

Como as igrejas têm lidado com a questão dos conflitos entre religião e ciência? Na verdade não há muito conflito. Até porque a ciência quando se aprofunda no conhecimento, descobre sempre que a Bíblia está certa. Porque a Bíblia é a palavra de Deus e a nossa única regra de fé e prática. O que é o milagre? O milagre é alguma coisa fora do comum. É uma manifestação do sobrenatural. Por exemplo, uma cura divina, que às vezes a medicina fez todo o mecanismo para alcançar. E o milagre é aquele acontecimento rápido do poder em nome de Jesus, a pessoa restabelece imediatamente. O milagre não se explica, é fora dos meios normais. Então explicar milagre é impossível.

“Acho que os jovens são inteligentes e estão cada dia mais buscando sua espiritualidade”

Como a igreja reage às denúncias de crimes como a pedofilia por exemplo? São muitas denominações que vivem esses momentos, até porque onde tem o ser humano, existe sempre a possibilidade do erro. Mas a igreja se comporta, pelo menos a nossa denominação, quando ocorre isso, há uma punição. Se levanta um processo para analisar aquele fato e a igreja pune, tira do seu “seio” todas as pessoas que foram acusadas de pedofilia, qualquer outro crime ou delito.

Qual o perfil do ateu? É aquela pessoa que não acredita em Deus. Mas eu particularmente não acredito que a pessoa seja totalmente atéia. Ela às vezes se faz de ateu. Lá no seu íntimo ela sabe que existe Deus. Albert Einstein dizia que qualquer pessoa que olhasse para o céu, visse a noite, as estrelas, a lua e a beleza de como as coisas são dentro de uma organização tão perfeita não diria: “não existe Deus’’. E a Bíblia diz no Salmo 14 que, só um louco diria: “Não existe Deus”. Como você vê o crescimento das religiões Pentencostais e Neopentencostais no Brasil? É um fenômeno no Brasil e também em algumas partes do mundo. Isso é uma ordem imperativa de Jesus quando disse: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho para todas as criaturas”. No cumprimento desse mandamento de Cristo a igreja tem sido vitoriosa. As igrejas evangélicas, pentecostais ou neopentecostais, como queira, estão fazendo um trabalho dinâmico no Brasil e no mundo e cada vez mais crescente.


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divulga ção Igrejas utilizam assessorias de imprensa, programas de rádio e televisão, além de jornais impressos e internet para divulgar suas crenças e atrair fiéis

Quem não comunica não evangeliza JOÃO DE DEUS Fernando de Aquino

A comunicação é o principal instrumento de interação na sociedade e a religião usa esse meio como uma ferramenta para evangelizar. Em Imperatriz várias emissoras de rádio e TV têm na sua programação uma missão “evangelizadora”. A igreja Universal do Reino de Deus (IURD) é uma das pioneiras na comunicação no Brasil com uma rede de mídias imensa. Em Imperatriz, a TV Nativa é a filial responsável pela transmissão do conteúdo bíblico da IURD. O pastor Raimundo Barros, membro da igreja, afirma que a religião usa o poder da comunicação para veicular o evangelho de Jesus Cristo para todas as pessoas. “Através das rádios evangélicas, dos programas de TV e dos jornais impressos podemos transmitir a nossos fiéis e às demais pessoas tudo o que acontece na nossa igreja. Essa foi uma das formas mais eficientes de levar a palavra de Deus a todas as casas”.

Base - As igrejas cristãs baseiam sua crença em um tripé constituído por Deus, Jesus Cristo e o Espírito Santo. Hoje, alguns padres, pastores e líderes religiosos afirmam que a base dessa estrutura é a comunicação. “As mídias para Deus”, como

alguns se referem, já ocupam um espaço significativo na imprensa. Em Imperatriz, a rádio Cidade Esperança tem uma programação voltada para o público evangélico. A emissora também apresenta à sociedade novos talentos da música gospel. A cantora evangélica Maria Célia Gomes é um exemplo. Ela diz que é muito importante para o seu trabalho uma rádio do gênero que a divulgue. “Nós espalhamos nossa música de um modo bastante diferente. A gente manda pra rádio e lá mesmo eles divulgam nossos shows, que geralmente ocorrem no templo da Assembléia de Deus”. A igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias também divulga sua agenda e obras por meio de sua assessoria. O estudante de jornalismo e assessor responsável, Mário Alves, trabalha na igreja enviando releases para imprensa local e divulgando internamente as atividades regulares da instituição. “Esse trabalho é importante, pois envolve jovens em um trabalho voluntário dentro do templo”. Os católicos também possuem suas redes de informação em Imperatriz. A TV Anajás, filiada à Rede Vida, tem uma grade direcionada a esse público. O coordenador regional da Pastoral da Comunicação e assessor de imprensa da diocese, Josafá Ramalho, afirma que a igreja

Coordenador regional da Pastoral da Comunicação da igreja católica, Josafá Ramalho acredita que Jesus utilizaria, hoje, as redes sociais

católica nos últimos anos despertou o interesse para a comunicação. A pastoral também tem feito ecoar tudo o que acontece nos meios interno e externo das igrejas. Sua atuação é interligada a uma

série de emissoras. Tudo isso para ressaltar o poder da evangelização por meio da comunicação. “Eu costumo dizer que se Cristo estivesse entre nós como Homem ele teria Orkut, Facebook, MSN, Twitter; usa-

ria os espaços nos programas de rádio e TV e teria uma coluna no jornal impresso.” Segundo o jornalista, isso tudo iria despertar a importância dos veículos de comunicação para o processo de evangelização.

Igrejas desenvolvem estratégias para cativar os jovens fiéis CARLA REJANE

Adriano Almeida

Quando se fala em jovens o que vem à mente de muitas pessoas são os prazeres que a juventude proporciona: namoros, sexo, festas e a agitação típica da idade. Mas o que muitos esquecem é que eles também estão preocupados com as questões espirituais. Não há dados oficiais que mostrem a quantidade de jovens que seguem uma religião no Brasil e muito menos no Maranhão, mas acreditem, eles não são poucos. Grande parte das igrejas mantêm ministérios, departamentos só para cuidar da questão, afinal o jovem de hoje será o fiel adulto de amanhã. É sábado à noite e antes mesmo de cruzar o portão que dá acesso ao pátio da Catedral de Fátima, no centro de Imperatriz, já é possível ouvir a música. Subindo uma escada chegamos a um salão e nos deparamos com um grupo de jovens da Renovação Carismática Católica. A líder Francisca das Chagas, 20 anos, nos recebe. No local se encontram, aproximadamente, 25 jovens que cantam, se confraternizam e rezam. Quem ministra o culto é Fernando Marinho, 19 anos, filho de um ex-padre. Ele afirma que participa ativamente das atividades da igreja. “Nasci praticamente na igreja, tenho amigos aqui e quem diz realmente ser católico deve vir para a missa”. A música parece ser a espinha dorsal da reunião, ligando todos os

Como a juventude é uma fase de autoafirmação e busca de integração, religiões que apostam na interação dos jovens em encontros, acampamentos e até baladas cristãs têm cativado novos fiéis

momentos da cerimônia. Ela, aliás, é uns dos principais instrumentos usados pelas igrejas para atrair os jovens e se engana quem imagina aquela melodia suave. As letras continuam parecidas com as de antigamente, mas agora são acompanhadas de guitarras, bateria e estilos que vão desde o gospel tradicional, passando pelo pop, rock, forró e até funk e hip hop. Questões como sexo só depois do casamento, não consumir álcool, não ir a festas continuam valen-

do. Mas agora estão mais para conselhos do que doutrinas rígidas. Em contrapartida, as igrejas oferecem encontros, acampamentos e até baladas cristãs. Os motivos que levam um rapaz ou moça a frequentar uma religião são vários, mas entre eles está a interação social que a igreja possibilita. “Eu aceitei Jesus com um propósito: para ficar com minha namorada. Mas Deus moldou meu caráter. A gente sempre tem um motivo e o meu foi errado, eu

sei, mas esse motivo foi feito para chegar mais próximo de Deus”, afirma Dayllon Carvalho, 19 anos, membro há dois anos da igreja Nova Aliança. O professor de filosofia da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Domingos Furlan, reitera a questão. “As religiões são importantes espaços de sociabilidade. Lá você vai encontrar um amigo, os próprios sacerdotes propiciam essa interação”. A juventude é uma fase de autoafirmação, quando muitas

escolhas são feitas, um momento de incerteza. A religião surge então como um forte onde os jovens podem se sentir mais confiantes. “As pessoas precisam se sentir seguras e a religião dá essa segurança”, lembra Domingos Furlan. E com a variedade de denominações que temos hoje fica mais fácil o jovem escolher qual mais se identifica, procurando aquela que melhor se encaixa ao seu perfil. É só olhar o cardápio e analisar qual é a melhor pedida.


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Celebrações Ciclo de nascer, crescer e morrer é entendido de forma particular por cada doutrina e os ritos servem para reafirmar, com ações, diversas formas de visão

Rituais ajudam a reafirmar crença religiosa DILMARA TAVARES

Letícia Maciel

Cada estágio da vida humana é marcado por questionamentos e mistério. Afinal, o ciclo “nascer, crescer e morrer” não ocorre cronologicamente igual para todos. Independente da fase vivida por uma pessoa, as religiões apresentam uma visão peculiar sobre o assunto e geralmente possuem ritos que definem cada fase. Por isso, o nascimento de uma criança é motivo de celebração: procura-se agradecer à divindade pela nova vida que se inicia. A igreja protestante apresenta seus recém-nascidos a Deus na consagração, um ritual simples, conforme descreve Renildo Rodrigues, pastor da Igreja Cristã Evangélica Maranatha: “A consagração consiste em uma oração do pastor e dos pais à frente da igreja, como forma de reconhecer que a criança foi gerada por Deus e a Ele pertence”. Na igreja católica, esse processo acontece no batismo – que no cristianismo como um todo ocorre com a imersão ou aspersão em água e significa a purificação dos pecados. “O sacramento do batismo é também uma forma de incluir a criança na vida da igreja, reconhecendo-a como membro da família de Deus”, explica padre Cícero, da paróquia Menino Jesus. A umbanda, manifestação re-

Símbolos e rituais variam em cada religião, mas são a base para os seus fiéis buscarem entender melhor os mistérios da vida e da morte

ligiosa brasileira que mescla aspectos do catolicismo, espiritismo e religiões africanas, batiza suas crianças segundo a tradição católica, acrescida de elementos próprios, como a mistura de sal à água benta. Ao adepto que atinge a maioridade é reservado um batismo específico, que inclui banhos

de ervas para purificação espiritual e incensos, como meio de firmar compromisso com o seu Orixá.

Morte – Na doutrina cristã, a morte é vista como uma passagem para outra vida. A pessoa não volta à existência terrena, mas segue para o plano eterno onde, depen-

dendo de suas ações na Terra, vivenciará o paraíso ou o inferno. Já os umbandistas acreditam na reencarnação como uma chance de continuar tarefas inacabadas ou situações mal resolvidas em uma vida anterior. Além disso, aos que cumpriram sua missão, segue-se a vida em um plano es-

SIMONE MAIA

Ensino religioso passa por processo de definição Simone Maia

Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), o ensino religioso passou a ser obrigatório como disciplina nos horários normais nas escolas de todo o Brasil. Em Imperatriz, existem várias instituições de ensino nas quais a disciplina faz parte do currículo como, por exemplo, as escolas Adventista e Santa Teresinha. Na rede municipal de ensino, a situação é um pouco diferente, porque um único professor tem de trabalhar com a disciplina de religião e várias outras. Apesar da obrigatoriedade valer somente para o ensino fundamental, as escolas Santa Teresinha e Adventista trabalham o tema desde as séries iniciais. Mesmo sendo ligadas a diferentes religiões, ambas recebem alunos provenientes das mais diversas manifestações religiosas. Mesmo assim, segundo informam os professores, não há problemas em trabalhar com esses alunos. Essas instituições abordam o ensino religioso de forma diferenciada, dependendo da modalidade de ensino e também como atividade extraclasse. Na Adventista acontecem as “capelas” encontros em que se trabalham os valores

piritual, no qual a evolução, isto é, o caminho da luz é o esperado. Aos que ficam, cabe a tarefa de ajudá-los a encontrar esse caminho e a tristeza diante da morte não é aconselhável. “O choro pode atrapalhar um espírito a evoluir, pois ele se sente preso por ter deixado alguém sofrendo”, afirma Juliete Torres, a mãe pequena do Centro Espiritual Nossa Senhora Sant’ana. O tambor de choro é realizado quando um pai ou uma mãe de santo morre sem revelar onde estão as firmezas, que são pequenos conjuntos de objetos (prata, ouro e água) enterrados em pontos do terreiro para proteção do local, e segredo absoluto do líder. Dona Cota, zeladora de santo, como prefere ser chamada, esclarece: “O tambor de choro permite descobrir o segredo. Um zelador de santo que morre sem dizer onde estão as firmezas não consegue evoluir, ficando preso ao salão e atraindo almas perdidas para o local”. No ritual, reúnem-se objetos pessoais do morto no meio do salão e cobre-se com um pano branco. A família, então, senta-se ao redor e segue as instruções de um médium especialmente preparado, que após seis meses se encontra com o espírito. Este lhe revelará o segredo, para que assim as firmezas sejam encontradas e a alma possa seguir em paz.

cristãos, enquanto que na Santa Teresinha oferece-se a catequese de opção facultativa. Rebeca Silva Alves, 12 anos, aluna do 7º ano da escola Adventista, diz que a disciplina é de fundamental importância. “Nem todas as pessoas têm oportunidade de saberem um pouco mais sobre Deus e a disciplina nos permite isso”.

Formação - Os docentes passam por constante processo de formação para ministrar os conteúdos e, inclusive, tem de pertencer à denominação religiosa da escola. Para a professora da Adventista, Giselda Santos Alves, lecionar o ensino religioso é muito gratificante. “Você apresenta valores cristãos e humanos e isso é muito importante, pois vivemos em um mundo de conflitos”. Sobre a obrigatoriedade da disciplina, a coordenadora da escola Santa Teresinha, Marlene Lima, tem o seguinte ponto de vista: “É lamentável dentro de um espaço interdisciplinar, pois quando o ensino religioso é colocado como disciplina você limita o aprendizado”. Apesar de constar na lei que a opção da matéria é facultativa isso não acontece nessas escolas, pois no ato da matrícula os pais já são

A forma ideal de lecionar a disciplina ensino religioso nas escolas de Imperatriz ainda está em discussão, apesar de algumas iniciativas consolidadas

informados da participação dos filhos nessas aulas. Lucimar Maria da Silva é professora há 14 anos na rede municipal de ensino. Para ela, no mu-

nicípio deveria haver professores formados somente para ministrar a disciplina. “Eu sou católica e tenho alunos de várias denominações religiosas em minha turma. Às vezes

costumo puxar a disciplina para o lado do catolicismo”. Ela acredita que o professor formado nessa área saberia lidar melhor com essa situação.


Jornal

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Arrocha

Ano Ii. Número 4 iMPERATRIZ, ABRIL de 2011

ENCANTAMENTO Fatores como repetição e ritmo da música com temas religiosos explicam os momentos de arrepios, sorrisos e lágrimas em uma celebração DEIJEANE MORAIS

Música para manifestar os afetos da alma Deijeane Morais

Diante de tantas manifestações artísticas, não há como negar que a música, a arte de expor os afetos da alma pelo som, liga-se às religiões por ser eficiente em suas missões. “Estas são as principais funções da música religiosa: ela ensina, exorta, emociona e marca”, afirma Jairan Almeida, maestro do coral interdenominacional Proclamai de Imperatriz. Suas experiências, como também as de Suzete Carvalho, líder de louvor da paróquia São Francisco, comprovam a afirmação e revelam o poder da música na vida

dos religiosos a ponto de levá-los a reagir de várias maneiras. Floriacy Stabnow, pianista da Igreja Adventista do 7º Dia (IASD) Central de Imperatriz e professora do curso de enfermagem da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), acredita que a música exerce funções distintas fisiologicamente no cérebro, onde outra arte não conseguiria. “Ela provoca a liberação de endorfina, substância hormônica que ocasiona emoções e leva o ouvinte à aproximação de Deus e a uma decisão ao lado dEle”. Então, a música é um instrumento persuasivo, pois quando

ouvimos uma bela voz acompanhada de bons instrumentos, percebemos que “ela atravessa barreiras com mais facilidade”, como afirma Humberto Santos, professor de violão da Fundação Cultural de Imperariz (FCI) e regente da IASD central de Imperatriz. Ele assegura ainda que a repetição, o ritmo e a oscilação da música são fatores que “explicam a transcendência dos ouvintes em um culto”. Daí se entende o porquê dos arrepios, sorrisos e lágrimas em resposta à mensagem das canções, mostrando, assim, que ela obteve êxito. Em uma igreja, o departa-

mento de música é um dos mais organizados e, por isso, muitos apaixonados por essa arte estabelecem ligação entre a evangelização e o profissionalismo, algo que acontece em Imperatriz. Contudo, de acordo com Humberto, que já fez parte da produção de um CD de música cristã local, Imperatriz cresce nessa área, porém não tem muita estrutura para o gospel, porque outros estilos ainda prevalecem. “Nos dedicamos à complexidade e ao aprofundamento da música não pelos lucros, pois não são muitos, mas por satisfação, por doação à obra e, claro, pela adoração a Deus”.

O maestro Jairan Almeida considera que existem cantores que são verdadeiros ídolos em Imperatriz e eles têm que lembrar do compromisso com a relação Deusadoração-louvor-igreja.“As pessoas têm que sentir no nosso rosto a adoração que fazemos com nossa voz”. Música e religião estão entrelaçadas de maneira envolvente e sustentadora, fazendo parte da vida do ser humano. O regente da banda Lírio dos Vales, da Igreja Assembléia de Deus, Congregação Jerusalém, Welson Ribeiro, não afirma à toa: “A música é a alimentação de nossa alma”.

Perfil de líder religioso reúne misto de vocação e “chamado divino” Isabella Plácido

Cada religião tem seu líder, nomeado de pastor, padre, pai de santo, entre tantos outros. Na prática, a função de cada um é a mesma, mas a formação é diferenciada. São necessários anos de estudos para estar à frente dos fiéis religiosos, mas somente isso não basta. É preciso também um misto de vocação com um “chamado divino”. Um homem só se torna padre após concluir dois cursos superiores. Primeiro, o de filosofia, durante três anos. E, em seguida, o de teologia, que termina em quatro anos. “Quando o jovem sente o desejo de ser padre, ele procura o vigário de sua paróquia para conhecer sua vo-

cação. A partir daí ele é encaminhado para um grupo vocacional, onde passará por uma experiência de um ano para reforçar os estudos da formação humana, religiosa e da Bíblia”, explica o bispo de Imperatriz, Dom Gilberto Pastana. Ele conta que desde criança seu avô o achava diferente. Em 2002, no velório do bispo que lhe ordenou padre, uma mulher tocou seu ombro e lhe disse que Deus tinha uma grande missão para ele na igreja. “Naquele momento eu senti que minha espinha dorsal esfriou totalmente. Eu não sabia o que era isso, mas três anos depois eu era ordenado bispo de Imperatriz”.

Chamado - Para ser pastor da Igreja

Batista a pessoa deve cursar durante o período de quatro anos um seminário, que tem carga horária de universidade. “Fui ordenado pastor em janeiro de 1988 e sinto que foi a escolha mais certa que fiz na minha vida”, enfatiza o pastor da 1ª Igreja Batista de Imperatriz, Josimar Rodrigues. Mas nem sempre foi assim. Josimar tornou-se primeiro comerciante e se casou, porém o sentimento de que Deus tinha um trabalho específico para ele dentro do Ministério da Igreja continuava em seu coração. O pastor diz que nunca tinha conversado sobre esse desejo com sua esposa. Durante um culto de missões, quando os vocacionais se apresentam, o “chamado de Deus” foi tão

forte que ele não pôde negar. “Nesse momento eu não pensei em minha esposa, apenas fui lá para frente. Estávamos sentados separados porque eu era líder de jovens, mas nós chegamos lá na frente juntos. Ela também se apresentou para assumir o compromisso de fazer algo na obra missionária”. Em Imperatriz, o Seminário Teológico Batista Sul-maranhense forma novos pastores e missionários. Lá lecionam religiosos que também possuem outra formação acadêmica, como, por exemplo, de sociologia. Na umbanda, um adepto só se torna pai ou mãe de santo após sete anos de preparação, que acontece dentro do próprio terreiro. É um período para desenvolver a mediu-

nidade e a incorporação, buscando a força espiritual e aprimorando os conhecimentos da religião. É um tempo de desapego das coisas materiais, em que a pessoa fica sem sexo, bebida alcoólica e cigarro. Flávio Silva Costa, técnico em enfermagem, é umbandista há mais de dez anos e possui seu próprio terreiro. Ele conta que foi frade dominicano, mas desde mais jovem simpatizava pela religião da umbanda. “Mesmo na Igreja Católica, eu já sentia esse chamado para a umbanda. Sempre me identifiquei com a cultura afro-brasileira. A mãe de santo já me preparou para ser um babalaô. Ela disse que eu tinha carisma para ser líder. Hoje sou feliz, sou realizado”.


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