Jornal Arrocha - Edição 11 - Educação

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MAIO DE 2012. Ano Iii. Número 11

Distribuição Gratuita - Venda Proibida

Arrocha

jornal-LABORATÓRIO do curso de comunicação social/jornalismo da ufma, campus de imperatriz

Rumos da Educação

HYANA REIS


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Arrocha CHARGE

EDITORIAL - de olho na educação Abordar o tema educação em forma de múltiplas reportagens é um desafio. O assunto apresenta vários desdobramentos, muitas vezes complexos. Ao debater sobre as pautas desta edição do jornal Arrocha, professores e acadêmicos do curso de comunicação social, habilitação em jornalismo da UFMA de Imperatriz, estipularam como norte a busca por personagens que vivenciam a educação no seu cotidiano. Com um olhar humanizado, tornou-se menos difícil tratar de aspectos como a educação para especiais e indígenas, o ensino infantil e adulto e as rotinas das escolas públicas e privadas da cidade. O leitor também encontra nas próximas páginas perfis com professores e alunos que entendem a educação como um processo constante e que nunca se encerra. Para entender melhor os pro-

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cessos que envolvem a educação, os futuros jornalistas foram estimulados a acompanhar os personagens em seus ambientes. Assim, uma acadêmica observou atentamente uma aula de cursinho com todos os seus elementos de atenção e bagunça. A matéria sobre merenda escolar também descreve toda a alegria das crianças nesta hora tão esperada. Claro que a temática educação renderia até mesmo outras edições, mas a equipe do Arrocha espera ter contribuído para iluminar o assunto, incentivando a pluralidade da discussão. Arrocha: É uma expressão típica da região tocantina e também um ritmo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.

JADIEL REIS

Ensaio Fotográfico JOÃO BATISTA MAIELY CABRAL

ADRIANE BARRETO KALYNE FIGUEREDO

Expediente Jornal Arrocha. Ano III. Número 11. Maio de 2012 Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade. Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor Prótempore do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Marcelo Soares | Coordenadora do Curso de Jornalismo - Profa. M.. Roseane Arcanjo Pinheiro.

Professores: M. Alexandre Maciel (Jornalismo Impresso), M. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual), M. Marcus Túlio Lavarda (Fotojornalismo). Revisão: Dr. Marcos Fábio Belo Matos. Reportagem: Adriane Barreto, Clésio Mendes, Diana Cardoso, Evando Raízio, Geovana Frasão, Hyana Reis, João Rodrigues, Juliana Guimarães, Kellen Almeida, Leonardo Barros, Luís Lima, Maiely Cabral, Maria Félix, Pamella Bandeira, Paula de Társsia, Roseane Cardoso, Sararuth Andrade, Silas Chaves, Tayã Santana, Walison Reis.

Diagramação: Adriano Ferreira da Silva, Amanda da Silva Oliveira, Antônio Carlos Santiago Freitas, Carlos Eduardo Nascimento Oliveira, Caroline Coelho Mateus, Cristina Santos da Costa, Danyllo Batista da Silva, Dayane Souza Silva, Denise de Sousa da Silva, Edynara Vieira da Silva, Evanilde Miranda de Souza, Heider Menezes de Sousa, Helene Santos Silva, Heliud Pereira dos Santos, Hilton Marcos Ferreira dos Santos, Janilene de Macedo Sousa, Jéssika Roberto Ribeiro, Júlio Oliveira Lima Filho, Karla Mendes Santos, Keylla Nazaré das Neves Silva, Larissa Leal de Sousa, Lineker Costa Silva, Luis Guilherme Barros, Mauro Oliveira Ribeiro, Millena

Marinho de Oliveira, Patricia Araújo, Pedro Barjonas Elias Lima, Priscila Sá da Silva, Raimundo Nonato Cardoso, Ramon André Cordeiro Cardoso, Rebeca de Andrade Avelar Silva, Silvanete Gomes de Sousa, Suzaira Bruzi Nogueira Oliveira Menezes, Ana Karla Rios. Acadêmicos que auxiliam na edição final do Arrocha: André Wallyson, Fernando Costa e Paula de Társsia. Auxílio na diagramação: Max Dimes

Fotografia: Adriane Barreto, Anderson Silva, Clarícia Dallo, Diana Cardoso, Evando Raízio, Fernando Costa, Gleiziane Sobrinho, Hyana Reis, João Batista, Kalyne Cunha, Kalyne Figuereido, Kellen Almeida, Leonardo Barros, Maiely Cabral, Marizé Vieira, Sararuth Andrade, Silas Chaves, Tayã Santana, Walison Reis. Contatos: Fan Page: www.facebook.com/JornalArrocha Twitter: @JornalArrocha www.imperatriznoticias.com.br | Fone: (99) 3221-7625 Email: jornalarrocha@gmail.com


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formação Nas escolas das redes pública e privada, crianças têm contato com atividades extra-classe, que procuram aliar o aprendizado à brincadeira

Por dentro do ensino infantil em Imperatriz SARARUTH ANDRADE

Professoras do ensino infantil costumam diversificar atividades de sala e extra-classe, procurando ocupar cada minuto do tempo dos seus alunos SARA RUTH ANDRADE

“Tia”. É assim que a maioria das crianças chamam suas professoras da educação infantil nas redes pública e particular. Na maioria das

escolas da rede privada, a estrutura física é melhor. Salas com paredes limpas, sem riscos, algumas até climatizadas. Além das atividades didáticas, há o momento de lazer. Alguns estabelecimentos de ensino

oferecem parques, teatro com fantoche, aula de capoeira e até piscina. Os alunos são acompanhados pela professora e auxiliares. Sumaya Freitas de Queiroz, 24 anos, professora da Escola Crescer

Criando, está cursando 8º período de pedagogia na Facimp e fazendo especialização em docência superior em educação digital. Já leciona há três anos, começou quando ainda estava no 2º período, e diz que principal dificuldade foi montar os planos de ensino. Na sala de aula, após o cineminha, todos fazem as atividades: é hora de colorir com lápis de cor, ficam todos bem concentrados. Quando a “tia” sai, Ane começa a me contar sobre sua família. Já os meninos falam seus nomes: “Eu sou Gustavo”, “E eu Daniel”. Gustavo é bem carinhoso e pede para eu cheirar sua cabeça para ver como ele é cheiroso. Agora é hora da atividade com tinta, todos pintam uma minhoca em seus livros com o dedo e cantam a música da minhoca. É uma alegria só. Todos pegam as lancheiras e saem da sala para o local do lanche. Eles brincam e conversam entre si e, após comerem, é hora de brincar. Gustavo é o primeiro a terminar e quer logo começar a brincadeira, mas tem que conter a ansiedade e agradar os coleguinhas. Quando todos terminam começa a diversão. Pedro Henrique, o menor da turma, que fez três anos recentemente, vai para o banho com a tia Sumaya como faz todos os dias. Já a pequena Alexandra brinca sozinha com sua boneca. Após a di-

versão, é hora de voltar para sala e continuar as atividades. Outro ambiente - Na rede pública as salas de aulas são mais cheias, um pouco mais barulhentas e os alunos também são acompanhados por professora e auxiliar. Nas paredes das salas, alguns cartazes com as vogais, atividades educativas, um ambiente alegre. Em algumas também há parquinho para diversão e, na hora do recreio, sai uma sala por vez em fila para receber a merenda do dia. As crianças recebem biscoito salgado e suco e, após o lanche, brincam em sala com brinquedos educativos. Cristiane Lopes de Souza tem 21 anos e é a mãe da pequena Vitória Souza Bezerra, que tem três anos. A menina estuda em uma escola da rede pública de ensino, período integral. Lá ela toma café, almoça, lancha e dorme. Cristiane revela que quando Vitória começou a estudar ela teve medo e ficou com muita vontade de chorar. Mas precisou colocar logo na escola para poder trabalhar. Já Vitória chorou muito nos primeiros dias de aula e demorou pouco mais de uma semana para se adaptar. Hoje, fica na escola tranquilamente. “Não vou mentir, não tenho confiança. Fico mais tranquila porque sempre pergunto a ela o que acontece na escola”.

Carência na capacitação de jovens e adultos EJA, Proef e Ceja na luta contra o atraso escolar KALYNE FIGUEREDO

Estudantes que procuram o EJA têm origens diferenciadas, tanto na idade quanto em suas ocupações PAMELLA BANDEIRA

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é opção para quem não teve oportunidade de estudar na infância ou que, por algum motivo, teve de abandonar os estudos. Atualmente, este conceito vem mudando e, entre os grandes desafios desse tipo de ensino, agora se inclui também a preparação dos alunos para o mercado de trabalho e ensino superior. Segundo a Secretaria de Pedagogia da Unidade Regional de Educação de Imperatriz, a EJA está presente nas escolas estaduais de Imperatriz desde 1997, e hoje mantém 11 instituições com aproximadamente 1,5 mil alunos matriculados a partir dos

18 anos no ensino médio. A carga horária de 200 horas equivale aos dois anos de curso, que são divididos em duas etapas. Uma é o 1º ano completo e a metade do 2º ano. A outra etapa seria o restante do 2º ano até o 3º ano. Josélia, que trabalha há 17 anos como servidora do Estado, está há três na Secretaria de Educação. Mas, antes disso, dedicou 12 anos ao que assume ser sua maior paixão: lecionar para as turmas da EJA. Ela afirma que “não há muita diferença com o ensino convencional”. E ressalta a “falta de material usado tanto nas aulas quanto nas bibliotecas, e também treinamento específico para os próprios professores”.

A mesma queixa é feita pelo diretor do Centro de Ensino de Jovem e Adulto (Ceja), José Mendes. Ele está à frente do centro de referência de ensino continuado há seis anos, administrando 12 turmas em período integral, com duas no período matutino, três no vespertino e sete turmas no noturno. Ele acredita que a didática deveria ser diferente, porque a “clientela” é bem heterogênea tanto na idade quanto na ocupação. E, como não tem materiais específicos, o professor acaba montando o seu próprio, que seria o normal do ensino regular. Segundo ele, até agora não há treinamento para os professores e o acervo também é defasado. “A estrutura, que deveria ser mais adequada, com meios tecnológicos mais atuais, como data shows. Mas o principal mesmo seria a capacitação dos jovens e adultos”, ressalta José Mendes. As turmas da EJA funcionam sempre à noite, para contemplar aqueles que trabalham durante o dia, com exceção do Ceja, que surgiu em 1983, como Centro de Ensino e Supletivo, durou até 2000 com essa denominação. Hoje o centro funciona em tempo integral para atender especialmente a esse público diferenciado. No ensino fundamental, 6º e 7º série equivalem à primeira etapa, e a 8º à segunda. São aceitos alunos a partir de 15 anos, seguindo até a fase adulta. É de responsabilidade do município e atende a 15 escolas na área urbana e 10 na área rural, abrangendo alguns povoados do município, auxiliando 2,6 mil alunos matriculados.

pamella bandeira

Segundo a coordenadora da EJA no município, Solange Ferreira de Souza, “a demanda para matrículas é muito grande. Atendemos toda a zona rural e urbana de Imperatriz”. Ela enfatiza: “Nos últimos três anos a evasão diminuiu bastante”. Há também, duas turmas especiais durante o dia que atendem na Central de Custódia de Presos da Justiça (CCPJ). Integrado ao EJA, ainda existe o Projeto de Ensino Fundamental de Jovens e Adultos (Proef), curso profissionalizante para dar suporte e qualificação para o mercado de trabalho aos jovens e adultos. Essa é uma forma de combater a evasão desses alunos durante o curso. Além disso, todas as escolas têm livros e projetos específicos. Ao contrário do que acontece nas outras escolas estaduais, há treinamentos bimestrais para os professores. Tanto o governo do Estado quanto o município apresentam e desenvolvem projetos com os alunos como integração e participação na sociedade. Exemplo disso são projetos como o do meio ambiente, desenvolvido pelos alunos da EJA no município, e o da leitura, incentivado pelo governo do Estado. Para o diretor José Mendes, a responsabilidade é muito grande em atender a uma grande de-

manda de matrículas e também de evasão em meio às limitações. Ainda assim, conseguem desenvolver um bom trabalho, que tem como resultado a média de 30% a 40% dos alunos que, após o curso, conseguem dar continuidade aos estudos. Como é o caso da mineirinha Márcia Sirqueira, casada com um paranaense, e que está há 20 anos em Imperatriz. Aos 19, ela abandonou os estudos devido à primeira gravidez, e também por causa do trabalho. Ficou longe das salas de aulas por 15 anos, e há dois voltou a estudar com a determinação de continuar e ajudar ao próximo. Pela manhã, ela trabalha, à tarde frequenta o Ceja, e à noite faz o curso de papel e celulose. Após o fim do EJA, ela, que já está na 2º etapa, pretende fazer inglês e letras. E ao estabelecer um parâmetro com a época em que estudava, conta que “agora tudo tá mais fácil e acessível, tem internet para fazer pesquisas”. Márcia elogia a metodologia utilizada pela instituição. “A didática é muito boa, os projetos no Ceja fazem a integração entre os alunos mais novos com os mais velhos e os professores. Aqui, não há diferença entre jovens e adultos”. Para ela, o que precisa mudar é o comportamento de alguns alunos que ficam ocupando vaga de quem realmente queria estudar ou estar no lugar deles.


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nutrição Segundo o Programa Nacional de Alimentação Escolar, ingredientes da merenda devem ser adquiridos com a supervisão do Conselho de cada escola

Merenda tem relação com aprendizagem SILAS CHAVES Silas Chaves

São 9h30. O pátio da Escola Municipal de Ensino Fundamental Tocantins, limpo e espaçoso, está praticamente vazio: apenas um ou outro professor passa por ele. Mesas com altura apropriada para crianças estão localizadas ao longo da parede de fundo do local. Uma delas está posicionada em frente à cozinha. Lá dentro uma atarefada Vilani, munida de uma colher de pau, mexe e remexe um panelão que, sobre as chamas do fogão, deixa escapar um aroma de dar água na boca. “Hoje é galinhada: arroz, galinha e abóbora”, informa a cozinheira. Das salas de aula vem o som das vozes das professoras e, como não poderia deixar de ser, das crianças repetindo alguma taboada. Vilani e uma auxiliar colocam a imensa panela sobre a mesa posta à frente da cozinha, onde já encontravam uma pilha de pratos de plástico azul e uma vasilha com colheres também de plástico. De repente, a calma do pátio é substituída por uma avalanche de meninos e meninas que saem correndo das salas de aula e formam uma “fila”, com início na mesa do panelão. Começa ser servida a merenda escolar. “Nós trabalhamos com uma faixa de alunos muito carentes”, diz a diretora da escola, professora Teresinha de Jesus Sudré Pinhei-

Professores que lidam com crianças carentes nas escolas sabem que a merenda escolar garante, além da permanência do aluno em sala, aprendizado melhor

ro. Para ela, há uma clara relação entre a merenda e a aprendizagem: “Porque a criança com fome produz menos e a criança com a barriga cheia produz mais”. Ela vê a merenda como um incentivo a mais para o aluno vir à escola e isso nos seus três turnos. A refeição de hoje, quarta-feira, obedece a um cardápio prepa-

rado pelas nutricionistas do municipio. Em outros dias são servidos frutas, cachorro-quente, suco com biscoito, achocolatado com pão doce, macarronada e outros alimentos. Todos os alunos com quem o repórter conversou, sem exceção, elegeram a galinhada como a preferida. Sentados às mesas ou mes-

mo em pé, as crianças “devoram” os dez quilos de arroz, os seis frangos e a abóbora média, ingredientes saborosos da galinhada. Mariana, matriculada na 4ª série, diz “a-do-rar” a galinhada e detestar suco de acerola. Lucas, da 5ª, é fã da galinhada e detesta chá-de-burro. Já Aline, do 2ª, é rápida em externar suas preferên-

cias: “Eu gosto é de tudo!” A deliciosa comida faz brotar sorrisos naqueles rostinhos lindos. A alegria é geral. O Programa Nacional de Alimentação Escolar, popularmente conhecido como merenda escolar, que reúne os governos federal, estaduais e municipais, garante a alimentação dos alunos de toda a educação básica (infantil, fundamental e educação de jovens e adultos) das escolas públicas e filantrópicas. O objetivo é suprir as necessidades de nutrição dos alunos durante a permanência em sala de aula. Assim, contribui para o crescimento, o desenvolvimento, a aprendizagem e o rendimento escolar dos estudantes. Além disso, promove a formação de hábitos saudáveis de alimentação, ítem destacado pela professora Teresinha. Na Escola Tocantins, assim como nas demais, os ingredientes da merenda são adquiridos sob supervisão do Conselho Escolar e a prestação de contas é feita seguindo critérios definidos pelo governo federal. 9h45. Os alunos já voltaram para as salas de aula. Sobre as mesas do pátio, pratos vazios. No panelão, a galinhada sumiu. Vilani leva a vasilha para dentro da cozinha e começa a lavá-lo para preparar a refeição para o turno vespertino. Aí vem mais uma hora da merenda.

Quatro bibliotecas públicas do município funcionam com dificuldade FERNANDO COSTA MARIA FELIX

As quatro bibliotecas públicas de Imperatriz estão funcionando com dificuldades devido à falta de atenção do poder público. Hoje está em funcionamento na cidade o Farol da Educação, da rede estadual, duas universitárias, da federal e estadual do Maranhão (UFMA e UEMA) e uma municipal, a biblioteca Professor Osvaldo Carvalho. Esta última está aberta em um prédio alugado na rua Tereza Cristina, Beira-Rio, nos horários das 8 horas às 18h, de segunda a sexta feira. O local é climatizado, com salas de leituras, tanto para adultos como para o público infantil. A biblioteca dispõe de um acervo de 20.874 exemplares distribuídos entre materiais básicos para pesquisa. Os recursos disponíveis são mínimos, não há mesmo nem bibliotecários, somente funcionários e coordenadores. Além disso, o espaço não é suficiente para expor todos os livros de pesquisa. Segundo o atendente Samuel Freitas, as bibliotecas de universidades públicas estão de ‘’sacanagem’’ por vetarem o direito dos estudantes de rede pública de locar livros, possibilitando o acesso ao acervo somente aos alunos da própria universidade. O secretario de Educação Zeziel Ribeiro relata que a biblioteca municipal continuará na Beira-rio, pois o antigo prédio

que foi reformado será utilizado pela Fundação Cultural de Imperatriz, uma vez que o atual prédio da Fundação Cultural, ao lado de teatro, é que passará por reforma de sua estrutura física. Já biblioteca da UFMA, campus Imperatriz, dispõe de melhores recursos. Com o acervo diversificado, atualmente recebeu livros novos, mas ainda não é o bastante para atender à procura dos alunos. Também não existem computadores suficientes para os acadêmicos realizarem pesquisas, a não ser para fazer consulta de livros, o que levou a biblioteca a obter notas baixas em avaliações do Ministério da Educação (MEC). O ambiente é climatizado, mas só há uma sala para leituras. De acordo com a bibliotecária Sheila Monteiro, existem reclamações dos alunos devido ao fato de o espaço não atender à demanda. Como outros estudantes frequentam a biblioteca para estudar, o espaço fica reduzido. Estudantes de outras instituições podem comparecer ao local e consultar o acervo, mas não é permitida a locação dos livros para estes usuários, isso é uma forma de controle, como explica a bibliotecária. O Farol da Educação também oferece pouco espaço para receber os estudantes e o local não é climatizado. Com salas de leituras integradas juntamente como acervo, dispõe de poucos recursos, há somente poucos livros como

Biblioteca municipal mudou de endereço para o bairro Beira Rio e repassou seu antigo prédio para a Fundação Cultural de Imperatriz

material de pesquisa e não possui computadores. Além destes fatores, o aluno não pode locar livros por questão de segurança, o que leva a grande maioria frequentar a biblioteca apenas para aproveitar o espaço. Enquanto isso, a biblioteca João do Vale, da UEMA sofre descaso total, pois foi abandonada por seus representantes, segundo a opinião de vários frequentadores. São poucos os recursos disponíveis, quase não se encontram

nem mesmo livros, o principal elemento que uma biblioteca deve possuir. Ela oferece um acervo de livros “milenar”, e os que estão nas velhas prateleiras parecem antigos papiros do tempo do ‘’botão de sola’’. O local serve também de depósito para cadeiras, caixas e outros artigos. A estrutura física está debilitada, necessita urgentemente de uma reforma. O local tem duas salas: uma para o acervo e outra para leituras. Não há

sistema informatizado, as tradicionais fichas ainda resistem. A falta de computadores dificulta o processo de locação ou consulta de livros. A estagiária Geiziane Silva informa que não há reposição de livros novos, somente quando a instituição recebe doações dos próprios alunos. Conta que já foram feitos vários pedidos, mas não houve retorno. “Existe um projeto de melhoria da biblioteca, mas nunca saiu do papel’’.


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diferenças Nas escolas públicas, estudantes cobram mais qualificação de professores, enquanto os alunos da rede privada, com mais estrutura, querem colegas mais ativos

Eles querem mais envolvimento com a escola Kellen almeida

Estudantes cobram mais atenção dos professores durante o período preparatório do vestibular e contratação de docentes para aulas laboratoriais kELLEN ALMEIDA

A função da escola é formar cidadãos críticos com vez e opinião na sociedade. É essa a visão dos es-

tudantes do 3º ano do ensino médio, Filipe Erlich 16 anos, Wilson Soares, 16 anos e Vanielle Ellen, 17 anos, que estudam em uma escola estadual da cidade. Eles expressam

suas opiniões a respeito dos benefícios e carências do ensino básico da escola pública. Os estudantes confessam que gostariam de ter uma atenção espe-

cial, pois estão se preparando para o vestibular e os professores deveriam ter mais empenho com as turmas de terceiro ano. Eles também cobram aplicação de simulados, aulas extras e plantões “tira-dúvidas”. Estão se preparando para enfrentar o único processo seletivo que dá acesso à muitas universidades estaduais e federais do país: o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Mas a principal queixa é a carência de professores para dar aulas tanto em sala com nos laboratórios de informática, biologia e química. “A escola possui os equipamentos, mas faltam professores para ministrar as aulas práticas, que são essenciais para completar o aprendizado”, comenta Vanielle. Porém, eles confessam que um dos pontos positivos de se estudar em uma rede de ensino público é o sistema de cotas que para eles é louvável, pois garante a entrada de um número mínimo determinado de alunos que são de escolas públicas nas principais universidades. Quando questionado sobre o interesse e desempenho dos alunos nas aulas, Wilson afirma que a maioria dos alunos não assiste aula por falta de interesse e estímulo deles mesmos. “A culpa não é apenas das escolas, mas também dos pais, que, muitas vezes, não incentivam seus filhos a estudarem em casa”. Outro fator preocupante é a atuação de educadores em disciplinas para as não têm formação acadêmica na área específica. Ou seja: há professores que são formados em uma determinada área e atuam

em outra. Essa situação em muitos casos torna as explicações dos conteúdos disciplinares incompleta e incoerente, conforme reclamam os alunos. Já Natália Araújo, 12 anos, que estuda a 8ª série do fundamental em uma escola privada, acredita que “a escola tem o dever de ensinar os alunos a escolher a sua profissão”. E para ajudar a melhorar esse processo, a aulas deveriam ser menos escritas e mais dialogadas em sala de aula. Em relação aos professores, Natália acha que um dos grandes erros cometidos pelos docentes é a não separação da vida pessoal com a profissional. “Às vezes os professores têm algum problema em casa e acabam descontando nos alunos, levando seu estresse pra sala de aula”. Contudo, um dos fatores positivos apontados pela aluna é que o calendário de aulas é cumprido à risca, situação que difere do ensino público. “Nós alunos, recebemos quatro livros por ano, um para cada bimestre e todo o conteúdo programático é estudado no tempo certo”. No entanto, a realidade dos alunos do ensino privado com relação ao interesse e estímulo também é visível, pois grande parte não se preocupa em fazer as atividades de casa, levam muitas advertências e insistem nas conversas paralelas na hora da aula. “Todos que estão envolvidos com a escola precisam levar muito mais a sério a educação e tentar mudar esse quadro”, acredita a estudante.

Cursos a distância como alternativa de estudo para quem não tem tempo LEONARDO BARROS LEONARDO BARROS

Ela acorda 6 horas da manhã, prepara o café e arruma as crianças para ir à escola, cuida dos trabalhos domésticos e às 7 horas entra em uma escola do estado para dar aula para turmas do quinto ao nono ano. Esta é rotina da professora Giovanna Cardoso. Ela só tem folga às sextas-feiras. Folga? Giovanna não conhece essa palavra. Às sextas ela leciona em uma escola particular o dia inteiro. Giovanna é, como a maioria das brasileiras, uma guerreira que desempenha varias funções: é mãe, dona de casa, trabalha o dia inteiro como professora e ainda arruma tempo para estudar. Ela faz o curso de Artes cênicas oferecido na modalidade a distancia pela UFMA de Imperatriz. “Tenho muitas obrigações durante o dia , mas à tardezinha das 17 as 20 horas, vou para frente do computador e me dedico ao curso”, explica Giovanna. A exemplo de várias pessoas, ela trabalha o dia inteiro e não tem tempo para ir todos os dias à faculdade, mas viu na educação a distância a solução para o tão sonhado curso superior em Artes. “Muitas pessoas trabalham o dia inteiro e tem situações que até a noite, no caso dos professores e fica difícil fazer um curso presencial. A educação a distância vem para suprir essa necessidade das pessoas estudarem e terem um curso superior”, destaca Francisca Noronha, coordenadora da Universidade Aberta do Brasil (UAB) em Imperatriz.

A sala de aula é portátil, você pode levar para a praça, fila do banco e até para o banheiro, no caso do notebook. Você também pode acessar em casa ou em uma Lan House, onde você estiver, desde que tenha acesso à internet. “Na nossa sociedade, onde o tempo é um fator predominante em nossas vidas, esperar em uma fila de banco, por exemplo, é considerado perca de tempo. Mas na fila você pode estar estudando, essa é uma das vantagens da educação a distância. Poder acessar o ambiente online onde você estiver”, explica a coordenadora. Segundo Giovanna, apesar de ser a distância o curso exige muito dos alunos. As tarefas são enviadas diariamente para o ambiente de estudo e o professor acompanha via internet. Ela tem os prazos para postar as atividades e o professor manda os livros e textos complementares para leitura. “É ilusão pensar que educação a distância é mais fácil, ela cobra muito do aluno, talvez até mais do que o presencial. No ambiente online temos acesso a todas as informações e o professor tira nossas dúvidas. Fazemos debates, grupos de estudos, seminários e web conferências”, detalha Giovanna. Débora Alencar, coordenadora do Núcleo de Educação a Distância (Nead) de Imperatriz, diz que esta modalidade veio para revolucionar a forma de promover a educação e que é um processo que não tem mais volta. “Grande parte da população de Imperatriz trabalha no comércio e na prestação de serviços. A educação a

Turmas são compostas, em sua maioria, por professores entre 30 e 50 anos que são de outros lugares do país. A vantagem é poder estudar em qualquer lugar

distância veio para dar condição para que aqueles que trabalham o dia todo possam fazer um curso sem ter que se deslocar para a universidade todos os dias. Esse tipo de educação tem uma maior abrangência, podendo chegar nas áreas rurais. As pessoas acessam o sistema em qualquer lugar do mundo que tenha internet”, complementa. Sala de aula - São 14 h de uma tarde de sábado, cerca de 40 pessoas sentam à frente dos computadores para o primeiro dia de aula em um curso

a distancia na UAB de Imperatriz. Os alunos olham atentamente para uma imagem projetada pelo data show e, de repente, aparece a imagem do professor Ribamar Silva Sá , especialista em educação no campo, que se apresenta e dá inicio à aula. Uma boa olhada na turma permite perceber que ela tem características diferentes das convencionais, sendo formada, na maioria, por professores com idades entre 30 a 50 anos. Eles vêm de várias cidades do Maranhão

como Imperatriz, Porto Franco, Cidelândia, João Lisboa, Senador La Roque, Amarante e Buritirana. O curso também é diferente, de especialização para educadores do campo, tem duração de 24 horas, divididas em três encontros de oito horas e dura o sábado todo. “Esse é um curso de especialização voltado para educadores, estamos querendo formar um profissional que saiba lidar com as características da educação no campo”, afirma Valdelice Martins, tutora da turma.


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REDE MUNICIPAL Apenas quatro das 118 escolas municipais, entre conveniadas e os prédios próprios, das zonas urbana e rural apresentam padrão de qualidade

Professores lutam por condições de trabalho GLEIZIENE SOBRINHO

Professores da Rede Municipal de Ensino cobram mais estrutura, como quadras poliesportivas nas escolas; material pedagógico de qualidade e um quadro maior de docentes concursados , além de defenderem um piso salarial justo JULIANA GUIMARÃES

A princípio, uma das principais reclamações dos professores municipais é que as escolas estão decadentes. Poucas têm estrutura física de qualidade, segundo as exigências do Ministério da Educação. No mínimo, deveriam ter quadra poliesportiva, refeitório, biblioteca, salas de vídeo e informática, pátio amplo e salas de aulas espaçosas, com janelas. Mas, apenas quatro das 118 escolas municipais, entre conveniadas e os

prédios próprios, da zona urbana e zona rural apresentam o padrão. Segundo a presidente do sindicato que representa os professores municipais, Euramir Reis, outra cobrança é a falta de material pedagógico. Ela ressalta que não existem mapas mundi para dar aula de geografia ou transferidores, para a disciplina de matemática. Euramir explica também que o quadro de professores é insuficiente para a quantidade de alunos. Se fizermos uma conta rápida, que não precise de nenhum mate-

rial pedagógico, apenas o cérebro, podemos calcular que 42.262 alunos divididos por 2.295 professores é igual a 54,3 alunos por professor, ou seja, por turma. Estão ou não superlotadas as salas de aula? A situação prejudica não só a qualidade do ensino como também da aprendizagem. Rua 13 de Maio, nº64, centro, é onde podemos encontrar o Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino em Imperatriz (STEEI). O sindicato existe desde 25 de fevereiro de 1989. Seu principal objetivo é lutar pelas

melhorias dos trabalhadores da educação no município. Outra reclamação é a falta de formação continuada e inclusiva para os professores que receberam em suas turmas alunos especiais. A sindicalista Euramir denuncia que “o recurso eles têm, só não investem”. Sem esquecer do grande embate, o maior de todos os problemas dos professores em Imperatriz e no resto do Brasil, que é o não reconhecimento da classe, principalmente quando se fala em aumento salarial. O sindicato ale-

ga que mandou a proposta para a prefeitura e o poder público estaria rejeitando e articulando com a Câmara dos Vereadores para aprovar um outro projeto sem conversa com o sindicato. Quando pergunto se a classe está satisfeita com os seus salários, Euramir mais uma vez é bem direta e fala em voz alta: “Não estamos satisfeitos nem com o piso salarial!”. Questiono se a greve é o meio mais eficaz para conseguir as principais reivindicações. “A greve é a ultima instância para se decidir algo”, acredita a sindicalista.

Educação indígena: “Aprendemos a língua de vocês e a nossa” PAULA DE TÁRSSIA

“Eu gosto de estudar. É legal. A gente aprende a língua de vocês e a nossa”, diz Milena Krikati, 12 anos, com uma voz trêmula e desconfiada ao responder sobre a escola dela. Ela estuda a terceira série do ensino fundamental e mora na Aldeia São José, município de Montes Altos, 64 quilômetros de Imperatriz. Mesmo com a desconfiança, aos poucos, Milena me conta sobre como é estudar na aldeia. “Eu gosto muito daqui, de estudar aqui. Quero me formar e ser professora aqui”. Os olhos da pequena brilham quando fala do lugar onde ela mora.

Quando se fala em índio muitos pensam que são todos iguais. Que têm a mesma cultura e falam a mesma língua. No Maranhão estima-se que existam 25 mil indígenas, cada povo com suas características, pertencentes a oito etnias: Gujajara, Awá-Guajá Caiapó (tronco Tupi) Gavião, Krikati, Ramkokamekra-Canela, Apaniekra-Canela e Timbira (tronco Jê). O Conselho Nacional de Educação criou em 1999 as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Escolar Indígena, com objetivo de respeitar as particularidade de cada cultura. Portanto, o ensino nas aldeias é desenvolvido de duas maneiras. A primeira se preocupa em manter as tradições de

cada povo: pintura, rituais, cantos, língua. Na segunda são lecionadas as disciplinas das escolas convencionais.

“Eu queria entender como funciona o sistema econômico de vocês” Dados da Secretaria Regional de Educação, mostram que nas terras indígenas dos municípios de Amarante, Arame e Montes Altos/Lajeado Novo, localizadas no

sul do Maranhão, são aproximadamente 71 escolas, 254 professores e 3.205 estudantes. Em todo o estado são cerca de 282 escolas indígenas, 886 professores contratados e 13.285 alunos, segundo o Censo Escolar 2010. A gestão dos recursos escolares fica a cargo das Associações Indígenas de Pais e Mestres. O educador indígena precisa de uma preparação especial e qualificação profissional mais específica. Inclui aí o magistério, que possibilita ensinar de 1° a 4° série do fundamental. E o curso de licenciatura indígena, que forma professores para atuarem da 5° a 8° série do fundamental e no ensino médio. No Maranhão esse curso de licenciatura não é ofer-

tado. Ao terminar o ensino médio, alguns índios vão em busca do ensino superior, como é o caso de Edilson krikati, que estuda o quarto período de economia na Faculdade Santa Terezinha (Fest). “Eu resolvi fazer economia porque queria entender como funciona o sistema econômico de vocês”. Isso só foi possível devido a uma bolsa integral que ganhou da faculdade. No início as pessoas olhavam diferente para ele, mas hoje, não, alguns até o ajudam a fazer tarefas. Os conhecimentos adquiridos no curso de economia, Edilson busca aplicar em melhorias para seu povo, não esquecendo os laços culturais dos quais faz parte.


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embate Professores da rede estadual lideraram uma greve de 75 dias em 2011, reivindicando adequação do piso salarial, o que forçou um novo calendário letivo

Depois da greve, o desafio da recuperação CLARÍCIA DALLO

Para o coordenador do Sinproesem-MA, ainda não há previsão de uma nova greve, mas a categoria já estuda outras maneiras de reivindicar André Wallyson gEOVANA FRASÃO

De um lado, o governo estadual do Maranhão, acusado de não cumprir o acordo fechado em 2010, que previa aplicação do

Estatuto do Professor e o respeito à lei Nº 11. 738 do piso salarial nacional – promulgada em julho de 2008. Na outra ponta, os trabalhadores da educação que, além desses dois pontos, têm mais 20

reivindicações. Um ano depois da greve de 75 dias, os alunos estão em sala e com aulas normais. Os professores continuam sem nenhuma resposta sobre o acordo que foi fechado com

a classe para o encerramento da paralisação. Trocando em miúdos, a greve, que contou com a adesão de 90% dos trabalhadores da educação, até agora não obteve resultados consistentes. O coordenador regional do Sindicato dos Professores Estaduais (Sinproesem-MA), professor Raimundo Nonato, conta que diversas assembléias têm sido realizadas com a classe. “Ainda não há previsão de uma nova greve, a última foi muito desgastante, mas já estamos estudando outros meios de reivindicar. Não podemos concordar com a falta de compromisso do governo do Estado com a educação”. Raimundo Nonato reclama ainda que há mais de 15 anos o calendário letivo da rede estadual de ensino não é respeitado. O gestor regional da educação no Estado, o advogado Agostinho Noleto, confirma o déficit nos calendários anteriores, no entanto, diz que o problema existe há oito anos. Depois do fim - Com o término da greve ficou acertada, entre sindicalistas e governo, a reposição das aulas e dos vencimentos suspensos no período em que os professores ficaram paralisados. Um novo calendário escolar também foi estipulado para cumprimento

do ano letivo de 2011. Em meio ao impasse, os estudantes sofrem as consequências da greve. Sabrina Campos, 18 anos, cursava o último ano do ensino médio na escola Graça Aranha. A jovem declarou em 2011 que as aulas estavam sendo repostas de forma condensada e muito corrida: “Além da reposição que estamos tendo aos sábados, estamos no cursinho da UEMA, pra dar conta de fazer o Enem. É muito cansativo”. A também estudante Amanda Natália dizia não saber ao certo o motivo da greve, mas declarava se sentir prejudicada. “Estou fazendo cursinho, chega o domingo, tô cansada”. As alunas dizem conhecerem muitos colegas que durante a greve mudaram para escolas particulares, principalmente alunos de terceiro ano, por causa do Enem. O Maranhão está entre os seis estados que questionaram a constitucionalidade da chamada “lei do piso”. Após julgamento das ações, em abril de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela constitucionalidade da lei. O governo do Maranhão, mediante este fato, comprometeu-se a acatar a decisão em até 30 dias após o STF emitir o acórdão de sua decisão, o que não aconteceu.

Professores federais reivindicam paridade JOÃO RODRIGUES Paula de társsia

Avanços e retrocessos marcam a luta dos servidores públicos federais. Em 2011, foi extinto o Plano de Geral de Pessoa do Executivo (PGPE) pelo Plano de Cargos, Carreiras e Técnicos Administrativos em Educação (PCCPAE). No entanto, as condições ainda não são favoráveis aos servidores federais. Tendo em vista a pauta da Campanha 2012 dos professores federais, os docentes reivindicam a reestruturação da carreira -prevista no Acordo firmado em 2011 e descumprido pelo governo federal-, reposição salarial de 22,08%, a valorização do piso, incorporação das gratificações e melhoria das condições de trabalho dos docentes. Segundo o documento emitido pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), o governo mostra inflexibilidade diante da pauta de reivindicações e negou, logo de início, qualquer índice para revisão remuneratória, mesmo diante das perdas salariais provocadas por vários anos de corrosão inflacionária. Está inclusa na campanha 2012 dos professores a avaliação das negociações com o governo, balanço das atividades e da paralisação, avaliação dos resultados sobre o indicativo de greve, articulação das pautas locais e de quadro necessidades (professores

KALYNE CUNHA

e espaço físico) configurada no início do semestre letivo. Para alertar mais uma vez sobre as condições de trabalho, os servidores públicos realizaram nos dias 19 e 25 de abril paralisações nacionais. Estas serviram de advertência para uma possível greve, que acontecerá a partir do dia 17 de maio, caso a categoria não seja atendida. Professor - Ano passado, a presidenta Dilma Rousseff anunciou uma Medida Provisória sobre os cortes no Orçamento, que veta as nomeações de aprovados em concursos. Entretanto, foi anunciada outra Medida que prevê a contratação de professores substitutos, com contratos temporários, para suprir a demanda da expansão das universidades federais. Na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), campus de Imperatriz, a contratação de professores deu uma nova dinâmica à instituição de ensino. São docentes provenientes de vários pontos do país. São pessoas que muitas vezes deixaram famílias em outros lugares para se dedicar exclusivamente ao ensino, pesquisa e extensão. O pernambucano Cleber Cândido da Silva, 41 anos, foi nomeado antes desta medida entrar em vigor. Ele veio de Fortaleza (CE) onde deixou a mulher, também pesquisadora, e filhos. Doutor em química, autor de várias pesquisas na área de biomateriais, não esconde o otimismo pelos novos projetos de pesquisa em andamento.

Professor do curso de engenharia de alimentos, Cleber Cândido da Silva, está contente com a sua experiência docente de mais proximidade com acadêmicos

“Minha vida sempre foi pesquisa. Mas essa parte do ensino estou achando interessante, por-

que você lida com alunos que têm dúvidas. Estou gostando do desafio”, declara o professor de enge-

nharia de alimentos. Ele já aprovou projetos que somam cerca de R$ 800 mil.


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pré-vestibular Reportagem acompanha aulas de dois cursinhos da cidade e percebe estratégias dos professores, como o bom humor, além da reação dos vestibulandos

Irreverência nas aulas é atrativo em cursinhos DIANA CARDOSO DIANA CARDOSO

Tarde de segunda-feira, em um cursinho no centro de Imperatriz. O desejo de ensinar está estampado no rosto do professor, que possui uma didática diferenciada para repassar o conhecimento: “Ei, fia da enfermeira. Alô, pede para tua filha aí também prestar atenção. Acorda, cabra macho. Ei, sobrinho do irmão, cafuzinho, presta atenção”. As brincadeiras são estratégias do professor de matemática e dono do cursinho preparatório para vestibular, Marcos Aurélio, para prender a atenção dos estudantes. Em uma sala ventilada, nas cores azul e branca, sentadas em cadeiras também nas mesmas cores, estudantes assistem a mais uma aula. O desejo é conquistar uma vaga no tão sonhado Instituto Federal do Maranhão (IFMA). A estudante Thayssa Rosa, de 13 anos, que cursa o 9º ano em uma escola particular da cidade, faz cursinho desde fevereiro e diz estar confiante em conseguir uma vaga no ensino médio e técnico da do IFMA “Tenho dedicação. Aqui reforço o que é ensinado na escola e com esforço vou passar”, responde, quando perguntada se sente dificuldade em conciliar escola e cursinho. Apesar de matemática ser uma disciplina que não agrada a maioria, o professor consegue tornar a aula interessante com toda a sua dinamicidade. “E aí mudim, como vai ficar?”. Marcos Aurélio, sempre motivado, faz com que os alunos participem da aula. Ele conta histórias, faz comparações e cita exemplos de alunos que se destacaram e passaram no vestibular. Sem perder o foco, ele domina

Quem se senta à frente costuma ficar silencioso e atento, mas a “turma do fundão” é bem agitada, com fones de ouvido ligados e celulares sintonizados

a aula conciliando brincadeiras e ensino. “Só não sou mais bonito, porque sou feio”. Outras frases como esta são dirigidas aos alunos e o pessoal gosta. Cochilar na sala nem pensar, a aula é bem divertida, boa parte dos alunos tem um apelido bem sugestivo. Variam de miudim, sobrinho do irmão, a enfermeira, cafuzinho, cabra ma-

cho. Marcos também puxa brincadeiras. “O meu amigo André curte panelada”. Risos na turma e a aula segue. Enquanto isso, também no centro da cidade, em uma confortável sala, de cores vermelha e branca, os alunos de outro cursinho estão assistindo à aula de língua portuguesa. A professora

Assonilde está vestida com a camisa do cursinho preta, com detalhes vermelho e branco e nela a frase destacada: “Sou um professor avançado”. Ela resolve com os alunos o simulado de português sobre sintaxe. A professora dá aulas andando de um lado para o outro, utilizando um microfone daqueles de

atendentes de telemarketing. Os alunos estão sentados em cadeiras vermelhas, vestidos em camisas nas cores branca, rosa, preta e vermelha com a frase: “Seja persistente, tenha esforço, dedicação. Avanço é vitória”. A maioria dos alunos tem o objetivo de passar no vestibular da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Kerolay tem 18 anos e estuda no cursinho há dois anos. Ela conta que já tentou vestibular duas vezes para engenharia civil e garante que não vai desistir. Durante a aula, um pequeno problema no som faz com que uma secretária, vestindo um uniforme justo e os cabelos presos, entre na sala e troque o cabo do microfone. Os alunos do fundão começam a assoviar, “fiu fiu ... fiu... fiu...gatinha”, mexem com a jovem, que fica sem jeito. Quem se senta à frente é silencioso e atencioso, e sempre se manifesta quando a professora faz alguma pergunta. Escrevem bilhetes para tirar dúvidas, levantam a mão e estão sempre participando. E quem pensa que numa turma de cursinho pré-vestibular não tem “zueira”, engana-se. Com a galera do fundão é que estão os lanches, balas, biscoitos, picolés e os fones de ouvido ligados, além dos celulares sintonizados com o resto do mundo. “Vamos lá galera, despertando...despertando. Psiu,presta atenção, olha a conversa. Turminha aí que se preocupa com os celulares”, adverte a professora Assonilde antes de dar uma pausa e acrescentar:“Vamos lá meus amores, a aula já está acabando”. São 11h30, é hora de ir para casa. Com fome, os alunos se amontoam no corredor para sair da sala.

Novas disciplinas na grade curricular exigem novos profissionais WALISON REIIS WALISON REIS

Entre os projetos propostos, estão os de educação no trânsito e a volta da educação moral e cívica

No dia 10 de julho de 2006, o Conselho Nacional de Educação tomou uma das decisões mais esperadas por todos que lutam por melhorias nas práticas de ensino no Brasil: aprovou por unanimidade a volta das disciplinas de sociologia e filosofia em todas as 23.561 escolas de ensino médio existentes no Brasil. Desde 2007, essas disciplinas se efetivaram na grade escolar. Agora os estados estão se preparando para mais uma nova perspectiva educacional, que é a inclusão do conteúdo de música no currículo da educação básica. É lei a música na sala de aula. O ensino do componente curricular chamado de artes deve sofrer alterações, pois a implantação da lei federal 11.169, de 18 agosto de 2008, determina que todas as escolas, tanto privadas como públicas, deveriam oferecer conteúdo musical na educação básica até o mês de agosto de 2011. A inclusão desse conteúdo no contexto da disciplina de arte é uma conquista de anos de luta, pois defen-

sores dessa bandeira como compositores, maestros, cantores e educadores acreditam que a escola é o canal de divulgação e disseminação de conhecimentos dos diferentes aspectos. O estudante do 2ª ano do ensino médio Daylison Santos da Silva, de 17 anos, diz que a música nas escolas é uma cultura que merece espaço no meio educacional porque ela é uma ferramenta que desperta ou incita as habilidades no aluno tais como o dinamismo, raciocínio lógico e um bom aprendizado. Discute-se também no Congresso Nacional a obrigatoriedade de mais de 250 projetos de novas disciplinas no currículo escolar. Os deputados e senadores querem que sejam obrigatórios nas escolas o ensino de xadrez; educação no trânsito; males da dependência química; gravidez na adolescência; educação financeira; direito do consumidor; a volta de educação moral e cívica, matéria que era obrigatória durante os anos da ditadura; e até mesmo cultura cigana. Maria Alda Pereira Marinho professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), afirma que essas

políticas educacionais merecem ser mais discutidas, pois são criadas as leis, mas sem as estruturas e os recursos necessários para que elas tenham os resultados esperados. Fato este que desemboca em um trabalho com deficiências. Uma das principais problemáticas será a falta de profissionais habilitados para ministrar essas novas disciplinas. Para cumprir essas leis, as escolas irão indicar professores formados em outras habilidades que muita das vezes não estão aptos. Para a professora, as escolas e os alunos das regiões menos desenvolvidas serão os mais prejudicados em razão da ausência de profissionais qualificados e da política de fiscalização dos recursos. Uma das medidas de urgência, mas paliativa, que a professora Maria Alda Pereira Marinho destaca para solucionar esse problema, é a política de formação continuada de professores. Essa medida acaba sendo a mais viável para que os professores possam adquirir os conhecimentos mínimos e necessários em um curto espaço de tempo para atuar nessas novas disciplinas.


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EnTREvIsTA Secretário de Educação Zesiel Ribeiro

“Nosso foco é o desenvolvimento do aluno” Natural de Lima Campos, pequena cidade próxima a Pedreiras (MA), Zesiel Ribeiro é de origem humilde e foi criado em um povoado chamado Santa Rosa.

Para estudar, ele tinha que enfrentar uma verdadeira “odisséia”. Às quatro e meia da manhã dava início a uma “maratona”, o caminho a percorrer era longo. Vinte e

dois quilômetros tinham que ser vencidos diariamente até a chegada à escola. “Não existia vale transporte ou transporte escolar”, desabafa. Aos 18 anos, in-

gressou no magistério, e hoje, aos 47, é educador formado e atual Secretário de Educação de Imperatriz. Em entrevista concedida ao Arrocha, Zesiel explica a

sua vivência, abordando as dificuldades, os possíveis desafios.e soluções de uma das áreas mais abordadas em termos de políticas públicas no país.

EVANDO RAÍZIO CLÉSIO MENDES EVANDO RAÍZIO

Há alguma mudança prevista e/ou em andamento visando a benefícios para os profissionais da Educação? Em termos salariais podemos manter o modelo de financiamento em nível nacional. O que podemos continuar fazendo é melhorar também suas condições de trabalho. No aspecto estrutural, as condições são muito deficientes. Por exemplo, o problema de ventiladores em salas de aula. Imperatriz é uma cidade muito quente. Para se ter uma ideia, hoje temos uma equipe de eletricistas que antes não tinha. Eles trocam ventiladores e fazem manutenção. Temos também o Levantamento de Situação Escolar (LSE), que faz todo tipo de manutenção corretiva e preventiva.

Ao assumir o cargo, em que situação o senhor encontrou a Secretaria Municipal de Educação? Tendo como parâmetro o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), a educação em Imperatriz, nesse momento, está dentro da média nacional. A situação está bem e até melhor do que em algumas cidades com proporções similares à nossa. No entanto, existem alguns aspectos que ainda deixam a desejar. A carência existe, principalmente no aspecto físico. Talvez esse seja o quesito que Imperatriz mais deve ao seu alunado. Qual foi sua avaliação inicial da rede? Não me causou grande impressão. Como sou professor da rede, já eram do meu conhecimento todos esses males. A surpresa pode ter sido na operacionalização. Confesso que não sou muito crítico, sou uma pessoa bem moderada, e, no entanto, já estive na oposição, e confesso que já cometi certa injustiça em tecer críticas. O que observei com o tempo é que na verdade existe um sistema e nem sempre a vontade do gestor, o financiamento, contempla ou permite o que ele desejaria realizar. Então, existe muita dificuldade e eu já tinha conhecimento de causa. A rede tem carência e a gente está procurando resolvêla, buscando novas soluções. Quantas escolas municipais existem? São 31 escolas municipais alugadas, 57 municipalizadas, mas nem todas as municipais são em prédios próprios, algo em torno de três ou quatro. São 27 prédios na zona urbana, 32 na zona rural. São sete creches na zona urbana e três na zona rural. É um número pequeno. Ao todo, a rede tem 150 estabelecimentos, entre escolas e creches. Do ponto de vista físico e estrutural, como se encontram as escolas municipais? Há previsão de reformas e de ampliação do número de escolas? A situação é tão diferente que devido à doação dos prédios para o estado, Imperatriz talvez seja o único município da federação brasileira em que os prédios da zona rural são melhores que os da urbana. Isso porque os da zona urbana não foram doados, como os da zona rural, para o estado. A zona rural ficou com as melhores escolas em termos de estrutura. Mesmo assim, lá existem duas escolas com problemas, mas a reforma delas já foi requisitada. Na nossa administração já inauguramos a escola José Queiroz e muitas outras foram reformadas, tais como Escola Frei Abreu, Escola

Frei Tadeu, Escola Paulo Freire, Escola Jacinto Freire, Escola Elisa Nunes, dentre outras. Nós temos excelentes estruturas. Com isso, houve um impacto muito bom na reforma da rede.

“A educação em Imperatriz, nesse momento, está dentro da média nacional. A situação está bem e até melhor do que em algumas cidades”

até o final da gestão não deixar nenhuma das escolas sem os laboratórios de informática e nas secretarias das escolas também. Quanto ao material didático, a rede pública era contra o Programa Nacional do Livro Didático (PLD) até 2010, quando compramos os livros para Educação para Jovens e Adultos (EJA).

Quais os projetos pedagógicos que estão sendo desenvolvidos? Em termos de formação dos professores, temos muitos projetos, citando como exemplo, o Pró-Letramento. Alguns não têm caráter pedagógico sendo mais voltados para a área de relações humanas ou de relações de atendimento ao público. Muitos desses programas terão influência direta na vida escolar do aluno.

Qual a sua avaliação sobre a merenda escolar? Como funciona a sua logística? A merenda escolar aqui em Imperatriz nós recebemos do governo Federal. A partir de então fazemos um investimento em complementação para que o aluno passe a ter uma merenda que seja da melhor qualidade. São investidos algo em torno de 123 mil por mês a mais de recurso próprio. No ano, ela vai de um milhão de reais de apoio e investimento da prefeitura na melhoria dessa merenda. Vale ressaltar que, desde do ano de 2010, nós estamos exercitando e complementando uma lei do governo federal, que diz que 30% da alimentação escolar devem vir da agricultura familiar. Estamos num período de adaptação e o consumo incentivado é o de verduras e hortaliças.

Quais as medidas tomadas em relação ao material didático e tecnológico das escolas municipais? Estamos passando de 80 laboratórios nas escolas. A meta é

Como o senhor analisa a atual situação dos professores na rede municipal de ensino, sendo que um dos problemas das escolas é o fato de que os salários não são suficientes bons

para atrair novos docentes? Existe algum plano para isso? Infelizmente essa questão do salário é nacional. Eu não vejo como avançar com base no piso que foi criado. Pode até ser possível para algumas cidades do país, mas para Imperatriz, especificamente, não. Foi estabelecido um plano inicial de 1.950 reais que agora está 1.117,97, para 40 horas. Constata-se um retrocesso. Imperatriz paga 941,76 para 20 horas. Não é o salário ideal, mas se comparado com o piso e o financiamento que

“A formação dos professores e sua motivação são as prioridades. Mas o nosso foco principal é o aluno, o desenvolvimento do ser humano” é recebido, Imperatriz paga bem. Quando você soma as vantagens, o salário gira em torno de 1.153 reais, quase o mesmo valor que o governo Federal estipula. Agora, dentro do financiamento o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) está pagando bem e o salário está em dia.

Que ações estão sendo executadas ou previstas para fazer com que as pessoas de áreas mais longínquas ou carentes do município tenham acesso à educação? Nós temos dois microônibus e dois ônibus locados, para o transporte de alunos da zona rural, e dois que circulam na BR – 010 para levar os alunos até o povoado 1700, que fica próximo à entrada do município de Cidelândia. Há outro que transporta para a Lagoa Verde e também até Imperatriz. Vale ressaltar que nesse trecho nós transportamos 42 alunos. Quando a demanda não é grande e a distância não é considerável e tem linha que oferece transporte urbano, nós oferecemos valetransporte. É o caso dos alunos que moram no Cacauzinho e estudam na Vila Fiquene. Fale sobre a educação inclusiva, especialmente do tratamento dado às pessoas especiais. Educação inclusiva é um desafio. Nós estamos fazendo formação da docência com o objetivo de aprender a lidar com todas as situações. Temos um Departamento de Educação Especial com diversos profissionais, como fisioterapeutas e fonoaudiólogos. Temos ainda duas turmas que fazem especialização nesta área, por meio de um projeto do Ministério da Educação, em parceria com a Universidade Federal do Ceará, instruindo educadores da cidade. O desafio é grande, o tempo é curto, mas estamos lutando para melhorar nesse aspecto. Qual tem sido a prioridade da secretaria quando se pensa na educação como um processo global? A formação dos professores e sua motivação são as prioridades. Mas o nosso foco principal é o aluno, o desenvolvimento do ser humano. Com uma boa educação dá pra se formar um bom caráter.


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aprimoramento Mesmo com a falta de motivação dos baixos salários e alunos cada vez mais dispersos, docentes dão depoimentos de amor à profissão que escolheram

Vida de professor exige muita dedicação ANDERSON SILVA

Orleane lembra da época em que os pais tinham tempo para ajudar nas tarefas escolares. Hoje o empenho é maior por parte dos próprios estudantes ROSEANE CARDOSO

É sábado, 18h30, a sala do cursinho está cheia de alunos que vão fazer vestibular. Ansiosos, escrevem tudo que a professora ensina, porém as anotações são interrompidas quando ela pergunta: “Quem quer ser professor?” Quase todos ficam parados pensando. Uns se olham e outros balançam a cabeça

negativamente. Para desespero de Orleane, poucos levantam a mão. Pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas (FCC) revela que nos últimos anos a procura pela profissão vem diminuindo. Para Orleane Santana de Sá, 41, docente há 21 anos, essa queda é devido às atuais condições de ensino. Atualmente ela dá aulas em cursinhos pré-vestibulares: Teore-

ma, Etapa e na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Nos finais de semana, arrisca ensinar em outras cidades vizinhas. Mesmo com a rotina puxada, ela não se cansa. “Sou uma apaixonada pela sala de aula e nunca pretendo largar”. Ela vive em sala de aula e sempre está fazendo alguma especialização na área. “Sempre estou fa-

zendo algum curso, no momento doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)”. É quarta feira, 20h35, os alunos do curso de Letras-Licenciatura da UEMA, aguardam ansiosos pela aula. Lá vem Orleane, cabelos pretos, lisos, pele branca, sorrindo para todos, nem parece que ensinou o dia todo. E por falar em dia todo, essa era a rotina diária de Luci Passos Borges, 59. Docente há 35 anos, ensinava nos três turnos, o que a deixava bastante cansada, principalmente na hora de planejar as aulas. “As escolas eram tão distantes que a única forma de planejar era de madrugada, mas fazia feliz”. Natural de Minas Gerais, a professora de história ensina do 7º ao 9° ano na escola estadual São José do Egito pela manhã. À noite coordena o núcleo EJA, Educação de Jovens e Adultos, da escola São Vicente de Paula. Apaixonada pela profissão, começou a ensinar aos 15 anos. “É uma profissão bonita, mesmo com as dificuldades não me arrependo de ter escolhido”. Com carga horária reduzida, pretende se aposentar em 2012. Com um sorriso sereno, Luci Passos lembra das mudanças ocorridas em sala de aula. “Antes os pais acompanhavam a rotina dos estudantes, ensinavam as tarefas, hoje eles não têm mais tempo”. Quanto ao EJA, lembra da perseverança em aprender dos alunos mais velhos. Na escola municipal Princesa Isabel, em meio aos tantos gritos

dos alunos que saíram da aula, percebemos os professores indo em direção ao portão principal. Aparentam estar cansados e seus semblantes denunciam a satisfação de mais um dia de aula. Entre as mais experientes, encontramos Antonia de Jesus Pereira, 56. Nascida em Imperatriz, ela é docente há 22 anos. Formada em letras pela UEMA, sente saudade ao lembrar das primeiras turmas. Acredita que os baixos salários e a falta de interesse de alguns estudantes desmotivam os “futuros” professores. “Alguns alunos são indisciplinados, os pais não acompanham e faltam recursos para o professor usar em sala”. Formada em letras há 11 anos diz ter escolhido o curso por falta de opção, já que, se fosse mais nova, tentaria outras profissões. Nos cursos de Letras e Pedagogia da UEMA, educadores conscientizam os alunos a investirem na vida acadêmica, se quiserem ter uma remuneração maior e escolherem onde ensinar. Já a acadêmica de Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Joelmira Reis dos Santos, 21, prefere dar aulas em todas as turmas, da educação infantil ao EJA. “Quero ter experiência em todas e poder transmitir uma educação de qualidade”. Cursando o 5º período, sempre quis trabalhar em sala de aula, mas acredita que o caminho não é fácil. “O curso necessita de mais apoio e investimento, infelizmente ainda não é valorizado como deveria”.

Programas governamentais buscam incentivar estudantes com bolsas ADRIANE BARRETO

Inclusão, incentivo, alfabetização e educação profissional são palavras-chave para os programas do governo federal de incentivo à educação. ProJovem Urbano, Prouni e Fies são os mais conhecidos. O Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem) Urbano se destina a promover a inclusão social dos jovens brasileiros de 18 a 29 anos que, apesar de alfabetizados, não concluíram o ensino fundamental. A intenção é buscar a sua reinserção na escola e no mundo do trabalho, de modo a proporcionar oportunidade de desenvolvimento humano e exercício efetivo da cidadania. As afirmações são de Flaviana Oliveira, coordenadora pedagógica do projeto. Em Imperatriz, o projeto existe desde 2008 e atende a cerca de 412 alunos, que recebem uma bolsa mensal de 100 reais durante o período do curso, de 18 meses. Os estudantes são distribuídos em escolas da rede municipal, localizadas em pontos estratégicos nos bairros. Elisânia dos Santos Oliveira, 23, deixou os estudos devido a umas dores nos pés, após a primeira gravidez. Ela retornou à escola depois de cinco anos fora

da sala de aula. “Cem reais não é muita coisa, mas já ajuda com o remédio das crianças”. Muitos alunos deixam os estudos por se casarem. Este é o caso de Elizângela Pereira Lima, 28 anos, que abandonou a sala de aula com 13 anos de idade, após fugir de casa e se casar com um homem mais velho, o qual não a deixava trabalhar nem estudar. Agora ela voltou por incentivo do atual namorado e dos filhos. “Hoje é minha filha que me ensina nos trabalhos da escola”. No ensino superior existe a possibilidade de aderir ao Programa Universidade para Todos (Prouni). Este tem como finalidade a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior. Criado pelo Governo Federal em 2004, o Prouni foi desenvolvido para estudantes que concluíram o ensino médio na rede pública ou na rede particular, que vivem em famílias com renda per capita familiar máxima de três salários mínimos. Os candidatos são selecionados pelas notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O Prouni já atendeu, desde sua criação até o processo seletivo do primeiro semestre de 2011, 863

ANDERSON SILVA

Programas têm propósitos diversos que beneficiam os estudantes, como : inclusão (Projovem) ou apoio financeiro no período da universidade (Prouni e Fies)

mil estudantes, sendo 67% com bolsas integrais. No Maranhão, no primeiro semestre de 2011, foram disponibilizadas 2.231 bolsas, entre integrais e parciais, sendo que em Imperatriz foram 196. “Ser bolsista do Prouni é exatamente como ser universitário de uma instituição pública. A bolsa não é uma “esmola” destinada a alunos de escolas públicas, é apenas um meio alternativo do poder público de garantir o acesso da

população à educação superior”, afirma Silas Martins de Sales, 20 anos, bolsista pela Faculdade de Imperatriz. O Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) do governo federal é outra forma de garantir recursos financeiros aos alunos regularmente matriculados e que precisam de apoio para arcar com os investimentos da formação superior. O estudante pode financiar até

100% do curso de graduação presencial pagando, no máximo, R$ 50 por trimestre. O estudante é escolhido com base em critérios socioeconômicos do Ministério da Educação (MEC) e pode requerer o benefício em qualquer época do ano. Desde o primeiro semestre de 2011 o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é considerado como prérequisito para solicitar o financiamento.


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cotidiano Alunos se assemelham no espírito inquieto e inadequação a alguns assuntos, como religião, enquanto professores fazem esforço para incentivar estudo

Rotinas nas escolas públicas e particulares

HYANA REIS

HYANA REIS

Apesar de ser uma manhã ensolarada e quente, os estudantes estão debruçados sobre os livros, nas novas cadeiras azuis que combinam com o novo uniforme de concludente. Da mesma cor, a camiseta traz a frase de Albert Einstein estampada nas costas: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”. O cenário descrito destoa da sala de aula desta escola pública. A pintura é opaca e amarela, totalmente riscada com frases que vão desde o “Jesus te ama” a declarações de amor e ofensas como “os caras da manhã são tudo gay”. A professora sai com a turma ainda em silêncio, mas ao fechar a porta a algazarra começa. A próxima chega com um forte “Bom dia” na tentativa de diminuir o barulho. Em vão, apenas alguns respondem sem o mesmo entusiasmo. Afinal de contas é aula de religião, que para eles é quase sinônimo de recreio. E mesmo com súplicas da professora - “Deixa eu falar 30 segundos, educação por favor” - a algazarra continua até o intervalo. O sino soa estrondoso e os alunos se amontoam nos corredores. A quadra ocupa todo o espaço que seria o pátio, é lugar onde muitos alunos brincam, correm e socializam. As

músicas tocam alto nos celulares, se ouve de tudo: de Justin Bieber a Luan Santana. Esta é a hora de trabalho intenso para Elizete Rocha, funcionaria há dois anos. Luta para atender a todos na cantina, que pedem constantemente: “Me dá uma moreninha, tia”, referindo-se ao sorvete com cobertura de chocolate. Mas, apesar do trabalho, Elizete gosta do que faz. “Tem gente que trabalha com limpeza e é rejeitado, aqui todos me tratam bem”. Os alunos voltam às salas e predomina o silêncio nos corredores até a hora da saída, quando muitos, com a mochila pesada, voltam para casa a pé, com o sol a pino neste bairro da periferia de Imperatriz. Particular - Enquanto isso, no centro da cidade, o calor predomina, mas em uma confortável sala com ar-condicionado os alunos desta escola particular estão em silêncio. Em cima da mesa o notebook da professora, que passa os slides sobre genética. Um tema chato para uma manhã de segunda-feira, pois o tédio está estampado nos rostos dos alunos. Alguns dormem enquanto outros batem papo, em cochichos, sobre o final de semana que passou. Ouvem-se conversas paralelas sobre o último show do momento e a fofoca da semana: “Você viu com

Fora de sala de aula, nos intervalos, é hora de confraternizar com os amigos, botar as fofocas em dia e conferir o agito das redes sociais no celular

quem ele tá ficando? Babado!” O sino toca: é hora do intervalo, a professora acende a luz, e ainda sonolentos os alunos se amontoam para sair da sala. Durante o recreio, no pátio, os alunos socia-

lizam com suas “panelinhas”. Outros, sentados, conferem as redes sociais em seus celulares. Mas o intervalo é curto e logo a aula recomeça e se estende até meio-dia, hora de calor quase in-

suportável. Muitos nas portas esperam os pais virem lhes buscar. Em uma fila, cada carro vai parando na porta, enquanto entram os alunos. É no conforto do carro que voltam para casa.

Formação profissionalizante trabalha com qualificações específicas TAYÃ SANTANA

Estudantes procuram os cursos profissionalizantes em busca de qualificação para mercado competitivo. Alguns alunos acabam não seguindo a profissão que estudaram, mas acham que a formação é válida TAYÃ SANTANA

O Senai é um polo nacional de geração e difusão de conhecimento aplicado ao desenvolvimento industrial. Desde 1942 em todo Brasil, oferece qualificação à mãode-obra e os entrega profissionalmente prontos. “Para se trabalhar numa indústria, precisa-se de uma

qualificação especifica. Tendo isso, o trabalhador, a empresa e a sociedade ganham em conjunto pelo trabalhador melhorado tecnicamente”, acredita o professor da instituição, Sebastião Chagas Júnior. O IFMA, antigo e bem conhecido Cefet, é uma entidade federal que trabalha com cursos técnicos

e atualmente disponibiliza até um curso superior, o de licenciatura em física. Também está em voga o curso de papel e celulose, novo e que foi bastante disputado em seletivo recente. Esse curso é uma iniciativa da empresa Suzano Papel e Celulose, com interesse em mãode-obra qualificada. Uma realidade encontrada no

decorrer desses cursos é justamente do ingresso desses estudantes no mercado de trabalho. Não se trata de transferir as responsabilidades para as instituições, mas sim, para os próprios alunos, que muitas vezes sentem dúvida quanto à sua afinidade profissional com a área que escolheram. Grande parte termina sem

desempenhar a profissão especifica esperada e dizem apenas que o curso serve como experiência curricular. Renê Pereira, que cursa eletrônica no IFMA, é um dos muitos que sofrem com essas dúvidas. “Sinceramente não pretendo trabalhar com algo relacionado à eletrônica”. Ele destaca, mesmo assim, a importância do curso. “Mas sempre é bom fazer, para adquirir algo mais. Se preciso mexer com eletrônicos em geral, vou saber desempenhar bem isso”. Renê confirma seu verdadeiro sonho: “o que realmente quero ser é dentista”. Já Phillip Sousa, que terminou o curso de informática no IFMA, representa casos de alunos que terminam o curso, querem seguir carreira, mas que não encontram em Imperatriz possibilidades de boa remuneração ou até mesmo de emprego na área.“Tudo o que vi e aprendi no meu curso não pode ser posto em prática. Afinal, na cidade, as ofertas de emprego são desestimulantes”. Hoje ele faz os chamados “bicos”, em áreas alternativas da informática, um pouco diferente daquela que aprendeu no curso. “Tive que aprender algumas coisas com a vida, para assim fazer o que gosto e ganhar uma graninha, mas nada sustentável”. Sebastião Chagas Júnior afirma que o aluno e sua real vocação devem andar em harmonia, “pois assim ele desempenhará bem sua função”. Essa talvez seja a fórmula ideal de cadeia mercadológica: aliar vocação, alunos interessados e realidade profissional.


Jornal

12

Arrocha

Ano 3. Número 11 iMPERATRIZ, MAIO de 2012

eficiência Reportagem acompanha cinco deficientes auditivos em sala de aula. Eles são orientados por uma intérprete, que precisa agir com muita paciência

Alunos especiais exigem carinho e atenção MAIELY CABRAL

Toca a sirene na Escola Governador Archer, avisando que já são 7h15, horário de iniciar as aulas. O sono ainda é presente no semblante de alguns alunos do 7° ano “A”, sala com estudantes na faixa etária de 11 e 12 anos, além dos matriculados com necessidades especiais. A turma possui cinco deficientes duditivos (D.A), Fabrício, Jaine, Matheus, Ronilson e Sam Cley. No olhar deles, o brilho de esperança e a vontade assídua de querer saber mais, não pela necessidade do mundo, mas pela curiosidade e suas deficiências. Às 8 horas tem início a aula de artes com a professora Josuila Morais, que é recebida com abraços e beijos por alguns alunos. Os especiais se sentam no lado esquerdo da sala, perto da porta, e são acompanhados pela tradutora Ângela Elane Santos Ferreira, que se senta de frente para eles. Uma senhora de estatura média, morena e muito simpática, que trabalha na área há 25 anos. “Na minha família não tem nenhum caso! E o que me motivou a trabalhar com os deficientes foi o prazer de poder ajudar os outros”. Segundo Ângela, a maior dificuldade de passar o conteúdo para os D.A. é nas aulas de história e geografia, pois são matérias que pos-

suem muitos textos. “Mesmo eles sabendo ler, existe muita dificuldade na interpretação e análise, que só é possível quando os textos vêm com imagens ilustrativas”. A professora Josuila explica a obra de arte de Tarsila do Amaral que é repassada para os D.A. com muita paciência por Ângela, enquanto a maioria dos alunos está com os nervos à flor da pele. “Começou a inquietação, ninguém mais vai prestar atenção”. É o comentário de Aleffe, o líder da turma sobre os colegas do fundo. Jaine e Matheus parecem ser os mais atentos dos deficientes, acompanham cada movimento da tradutora e quando há alguma dúvida interropem para poder entender. Chega o momento mais esperado pelos alunos, ou melhor, o mais temido, o horário da professora de inglês, Gleiciana Ribeiro, que chega para aplicar uma prova. Os deficientes têm uma atenção maior, a tradutora fica do lado e a professora Gleiciana ajuda como pode. Com meia hora de prova, os alunos começam a entregar e sair da sala. Parece que a dificuldade maior é com os alunos especiais, pois são os últimos a terminarem a prova. Após a avaliação vem o intervalo e, em seguida, aula de libras. Os alunos especiais prestam bastante atenção. Já os demais estudantes, MARIZÉ VIEIRA

Apesar de uma hora de aula de libras custar cerca de 30 reais, voluntários não cobram nada pelo serviço LUÍS LIMA

Muito prazer, sou um voluntario. Em que posso servir? Manhã de um sábado qualquer na primeira escola da rede pública de Imperatriz, a Governador Archer, fundada há 61 anos. Aqui funcio-

na há 22 anos a Associação dos Deficientes Auditivos de Imperatriz (Adai), que no ano passado passou a se chamar Associação dos Surdos de Imperatriz (Assim). Desde 2003, a escola é cadastrada no programa Amigos da Escola, da Rede Globo de Televisão.

MAIELY CABRAL

Alunos especiais encontram mais dificuldade nas disciplinas que possuem muitos textos, as quais dificultam a análise e a interpretação por parte deles

nem tanto. A aula é da professora Shirle, que traz um filme. No final, pede um resumo sobre o que os jovens entenderam, alternativa que adotou para fazer com que a turma preste atenção. Ronilson Nascimento de Oliveira tem 17 anos, gosta muito do seu convívio na escola, que acha melhor do que em sua própria casa. Conta que na escola ele pode conversar em libras com os alunos

que têm sua mesma dificuldade e até com os que não têm, enquanto no seu lar não tem com quem se expressar porque muitos não entendem. Hoje a convivência está mais fácil por meio das libras e o preconceito nem existe tanto como antes. O sonho de Ronilson é terminar os estudos e ir fazer faculdade em Goiânia. Sam Cley, 19 anos, aluno mais velho da turma, afirma que sua vida

é muito boa, tanto em casa como na escola. A maior dificuldade, segundo ele, é quando as pessoas não sabem libras, mas ele tenta fazer leitura labial, método que aprendeu em casa conversando com sua mãe e primos, que ajudaram muito. Quando terminar os estudos, pretende trabalhar com máquinas metalúrgicas, pois um de seus primos trabalha na área e prometeu que vai lhe ensinar tudo.

Voluntários contribuem com educação Trata-se de um projeto criado pela empresa de comunicação e emissoras afiliadas com o objetivo de contribuir para o fortalecimento da educação e da escola pública de educação básica. Há quatro anos, a escola governador Archer foi escolhida pela emissora, dentre mais de cinco mil escolas de todo o país, para a produção de uma reportagem sobre voluntariado. A equipe de televisão passou um dia inteiro gravando a reportagem, que foi exibida pelo Fantástico no mesmo ano. Numa sala ampla do prédio, uma turma de 35 educadores participa de um curso básico de libras, a língua brasileira de sinais. À frente da turma está Rayanne da Silva Alencar. Ela é surda e estuda o 7º período de pedagogia. Tem proficiência em libras, que é uma certificação fornecida pelo Ministério da Educação (MEC). Rayanne é uma das três voluntá-

rias que ministram o curso de libras na Assim. Uma hora de aula de libras custa, em média, 30 reais, de acordo com tabela da Federação Nacional de Educação dos Surdos, mas Rayanne não cobra 1 centavo pelo trabalho que se dedica a desenvolver. “Dou aulas porque me sinto bem em poder contribuir de alguma forma com a sociedade. É muito gratificante fazer isso aqui todo sábado”. Na sala fica disponível um intérprete para tirar qualquer dúvida dos alunos. Entre os estudantes está a pedagoga Maria Deusa Borges, que cursa libras há quatro meses. O programa da disciplina tem duração de 120 horas/aulas. A partir de agosto ela começa a fazer o Contexto, que é um estudo mais aprofundado no qual a pessoa aprende a formar frases. Maria Borges sempre teve curiosidade de saber como os surdos se comportam entre eles, falando. “A

gente fica muito perdida quando encontra um surdo conversando com outro e você não entende. É como se fosse um peixe fora d’água”. Para a pedagoga, o curso representa uma nova alfabetização ou o aprendizado de uma nova língua. “Espero que um dia eu possa encontrar com um surdo e possa conversar com ele, né?” Quanto à professora de libras, Maria, é taxativa: “Ela é excelente, ensina com muita dedicação porque não é fácil aprender libras, é uma língua muito complicada e eu também pretendo me tornar uma voluntária depois que aprender”. De acordo com as Nações Unidas, “o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem-estar social, ou outros campos”.

Colaboradores solidários desempenham papel essencial para a sociedade LUÍS LIMA

Em recente estudo realizado na Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, definiu-se o voluntário como ator social e agente de transformação, que presta serviços não remunerados em benefício da comunidade. Doando seu tempo e conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso

solidário, atendendo às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa. Bem como às suas próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político ou emocional. Para Maria Ivanilde Oliveira Santos, diretora da escola Governador Archer há 14 anos, o voluntariado é uma atitude grandiosa do ser humano. Ela acredita que é por

meio dele que se ajudam as pessoas e as instituições que precisam. “Você cresce como ser humano e nessa forma de crescimento você está ajudando outras pessoas porque a maioria das instituições não tem condições de ter um profissional”. A Associação dos Surdos tem um projeto chamado “Dança e teatro como forma de Inclusão”, que está parado por falta de volun-

tários. A escola governador Archer tem 850 alunos matriculados do primeiro ano fundamental ao terceiro ano do ensino médio. Desse total, 200 são estudantes especiais, ou seja, apresentam alguma deficiência como cegueira, surdez, deficiência intelectual ou física. A escola conta com mais de 10 voluntários em diversas áreas

como reforço escolar, violão e libras e está de portas abertas para o voluntariado. A diretora Maria Ivanilde Oliveira resume bem o que é ser voluntário: “Tem uma frase da poeta Cora Coralina que eu levo comigo como educadora: ‘feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina’ porque você vai ensinando e você vai aprendendo ao mesmo tempo, é uma troca”.


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