Arrocha
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JULHO DE 2018. ANO IX. NÚMERO 34
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA
JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ
Imperatriz:
Desemprego Demissões e dificuldades para conseguir um emprego Página 8
História registra vários ciclos econômicos no município Página 3
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Editorial: Problema crônico
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ma problemática tão complexa, antiga e crônica no Brasil como o desemprego só pode ser mais bem analisada quando não se leva em conta apenas a frieza dos números. Eles são reveladores, oscilam bastante, servem de “provas contundentes” acerca de uma realidade, quando brandidos tanto pelo governo quanto pelos sindicatos dos trabalhadores, sempre dependendo do ponto de vista que se adota. Nesta edição Arrocha, o emprego e o desemprego são observados por uma perspectiva mais humanizada, conciliando dados com histórias de vida. Os estudantes de Jornalismo responsáveis por essa publicação foram estimulados a procurar personagens em vários campos de atuação, sejam formais ou informais. Mas aqui também foram convocados para
o debate, por exemplo, aposentados que continuaram a trabalhar, pessoas que atuam em profissões condenadas a se extinguir, contribuindo com outras formas de se ponderarem argumentos sobre o assunto que toma a mídia nacional. É principalmente no relato de tantos anônimos, que vivem um duro cotidiano de trabalho ou mesmo aqueles que procuram um emprego há meses, que os repórteres envolvidos nesta edição focaram o seu trabalho de apuração. São eles e elas que enriquecem a abordagem do assunto, representando um testemunho vivo de quem vive na pele a gangorra de tantas estatísticas. O Arrocha soma-se, assim, com uma contribuição regional, ao ciclo intenso de debates que cerca a questão do emprego e desemprego.
Expediente Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade. Jornal Arrocha. Ano IX. Número 34. Julho de 2018 Reitora - Prof. Dra. Nair Portela | Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Daniel Duarte | Coordenador do Curso de Jornalismo - Prof. MSc. Carlos Alberto Claudino. Professores: Dr. Alexandre Zarate Maciel (Jornalismo Impresso); Dr. Lucas Reino (Programação Visual); Dr. Miguel Angel Lomillos (Fotojornalismo) e Dr. Marcos Fábio Belo Matos (Revisão).
Alunos de Linguagem e Programação Visual:
Alunos de Jornalismo Impresso e Fotojornalismo:
Andreia Liarte Barbosa Antonio Rennan de Sousa Oliveira Brunna Tavares pereira araujo Cassia de Castro Mota Ellen Cristina Mota Monteiro Felipe da Silva Rodrigues Gabriela Almeida Silva Gislei nayra soares moura Henrique Lima Andrade Joao Marcos dos Santos Silva Joao Paulo Camelo Costa Jonas Danilo Silva Lima Kaio Henrique Nascimento Rodrigues Lais Gomes Alves Feitosa Lais Sousa Nascimento Marcelo Nunes Sousa Silva Maria Eduarda Sousa Silva Michelle Costa de Sousa Rafaela Pinheiro da Silva Rafaete de Araujo Rebeca Sousa Ribeiro Suzana Queiroz de Araujo Tayron da Silva Chagas Tiago de Sousa Nogueira Viviane Reis Silva Wallisson Marques Santos Williana Lima Costa Yanna Duarte Arrais
Abner Mesquita de Carvalho Agda Emanuelle Anastacio de Oliveira Alice Caroline da Silva Alves Ana Carolina Campos dos Santos Asarias Sousa Silva Brenda Caroline Santos da Silva Caroline Duarte Nepomuceno Marinho Cyarla Barbosa Nascimento Ester Feitosa Nogueira Evellyn Caroline Santos Lima Gledson Diegues da Silva Helyh Oliveira Gomes Julie Paz Leide Mayara Sousa Cruz Matheus Lopes dos Santos Janethe Matos da Silva Rafael Mendonça Pestana Raimunda Tupinamba de Sousa Ruilan da Silva Santos Willas Ilarindo Belo de Sena Monitor: Gustavo Viana da Silva Pereira Capa: Cassia de Castro Mota
ARQUIVO DOS JORNAIS ARROCHA
www.imperatriznoticias.com.br/jornal-arrocha
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Charge: Brenda Caroline
Estudantes de Medicina apresentam perspectivas sobre área da saúde ASCOM/UFMA TEXTO:JULIE PAZ
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encida a etapa do Enem, que é considerada um dos primeiros desafios devido à concorrência, os estudantes de medicina chegam à faculdade com sonhos, expectativas e perspectivas muito altas em relação à profissão e principalmente ao mercado de trabalho. Há décadas, a medicina figura como uma das profissões mais bem remuneradas, com melhores oportunidades no mercado e com retorno financeiro rápido, mesmo para os recém-formados. Em Imperatriz, o primeiro curso de Medicina foi implantado na UFMA, Campus Bom Jesus, em 2014. A princípio, foram disponibilizadas 80 vagas, sendo 40 por semestre, e atualmente o curso possui 10 turmas. Para a sua consolidação, foram firmados acordos com as secretarias Municipal e Estadual de Saúde para a utilização dos hospitais municipais Socorrão e Infantil, além do regional Materno Infantil e as 32 Unidades Básicas de Saúde, visando ao contato direto dos alunos com os pacientes e seu futuro ambiente de trabalho, desde os primeiros períodos. Estudantes e a profissão - Para Ramires Almeida, natural de Ipiaú, na Bahia, atualmente no internato, estudante do décimo período de Medicina, as expectativas que tinha durante os dois anos de cursinho em relação à profissão continuam as mesmas. Depois de entrar no curso, sua visão sobre o que significa ser médico foi ampliada, principalmente no que diz respeito ao mercado de trabalho. ‘’Acredito que Imperatriz e a Região Tocantina toda, incluindo Maranhão, Pará e Tocantins, seja altamente carente de médicos qualificados, principalmente para o trabalho na atenção primária, área primordial para uma atenção completa, como preconiza o SUS’’. A respeito do contato direto com os pacientes em seus futuros ambientes de trabalho, Ramires afirma: “Nosso curso foca essencialmente nessa questão, o que nos deixa mais
Acadêmicos do curso de Medicina travam contato com um de seus futuros ambientes de trabalho
tranquilos quanto a enfrentar esse mercado de trabalho quando nos formarmos.’’ Apesar de não ter formado sua primeira turma ainda, o curso de Medicina em Imperatriz preenche, a cada semestre, quase a maioria de suas vagas. De acordo com o estudante Ramires Almeida, ter muitos médicos formados pela instituição não reduz suas expectativas em relação às oportunidades de emprego na cidade. ‘’Acredito que as oportunidades existem e continuarão existindo. A região carece de médicos qualificados para atender, principalmente na atenção básica, inclusive se levarmos em consideração que o Maranhão possui o menor índice de médico/paciente, 1/1.917 por habitante, o que reafirma a necessidade de mais médicos’’. Em contrapartida, a aluna Bruna Knanda, que cursa o quinto período de Medicina, não enxerga o mercado da cidade com tanto otimismo. Natural de Presidente Dutra, ela afirma que Imperatriz já é muito bem assistida em relação à quantidade de médicos e, na sua opinião, haveria mais oportunidades de trabalho em Presidente Dutra e nas demais cidades do interior. ‘’Imperatriz tem uma área médica bem desenvolvida e a cada semestre novos médicos estão sendo formados. Portanto,
eu acredito que o mercado esteja se tornando saturado.’’ Para ela, ser de outra cidade acaba se tornando uma desvantagem para conseguir um emprego, principalmente como recém-formada. “Por eu não ser da cidade, não conhecer muito o mercado ainda, e não ter contato com muita gente, eu não conseguiria ter essas oportunidades, até pelo fato de ter me formado recentemente. Acho que teria mais oportunidades no interior, especificamente em Presidente Dutra, por ter menos médicos na cidade’’. Mercado a ser explorado - O internato possibilita um contato maior com a prática da profissão e com os ambientes de trabalho na cidade em si. Ramires afirma que esse fato fez com que ele notasse que ainda existem especialidades médicas em falta na cidade e na região. “Todo o atendimento de cardiologia neonatal do SUS só é feita em São Luís, da mesma forma a pediatria gástrica só tem na capital. Outro serviço terciário que não realizamos aqui é o transplante de órgãos’’. Para ele, médicos formados na cidade e em contato com essas carências podem contribuir para a superação destas faltas. “Acredito que a formação de novos médicos e o seu retorno após as residências médicas, poderá proporcionar a concretização desses serviços.”
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MEMÓRIA Fundada em 1852, Imperatriz ganhou o nome de Colônia de Santa Teresa do Tocantins, sendo emancipada em 1924, e vivenciou ciclos de crescimento que marcaram seu processo de desenvolvimento
História dos ciclos econômicos da cidade ARQUIVO DIGITAL DE FERNANDO CUNHA
TEXTO:JANETHE MATOS DIAGRAMADOR: RENNAN OLIVEIRA
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jornalista e historiador Adalberto Franklin, no livro “Apontamentos e fontes para a história econômica de Imperatriz”, apresenta ciclos econômicos e de emprego vivenciados pela cidade que acabaram marcando o seu desenvolvimento, ao longo do tempo. Bem no início de tudo, Imperatriz recebeu o nome de Colônia de Santa Tereza do Tocantins, sendo fundada pelo frei Manoel Procópio do Coração de Maria em 1852, que, em expedição militar e religiosa, buscava riquezas em territórios desconhecidos. No ano de 1924, durante o governo de Godofredo Viana, a lei de nº 1.179 elevou a pequena vila à categoria de cidade, com o nome de Imperatriz. Ciclo do gado (século XIX) - Nos primórdios da história da então vila, a criação de gado foi a principal fonte econômica, bem como a agricultura de subsistência. Segundo Adalberto Franklin, o maior valor do gado não estava na carne e sim no couro, por ser a “matéria-prima do fabrico dos mais diversos produtos sertanejos”. Naquele período, os fazendeiros colocavam vaqueiros para cuidar de suas fazendas de gado e estes recebiam um a cada quatro dos animais que nasciam por pagamento de seus serviços, podendo assim tornar-se também fazendeiros. Ciclo da borracha (1896-1910) - O início deste ciclo se deu com a descoberta do caucho, árvore produtora do látex, substância utilizada na produção da borracha. Antônio e Hermínio Pimentel foram os dois irmãos que descobriram a existên-
Foto de 1973, com vista aérea da cidade de Imperatriz, do rio Tocantins, cais do porto e do local onde ficava o antigo ponto de aviação
cia desse tipo de árvore na região do médio Tocantins e do Sul do Pará. Tal descoberta atraiu pessoas de todas as partes do país, o que intensificou o movimento no porto do rio Tocantins. A partir deste marco, aconteceu “uma drástica mudança na até então inalterada vida econômica da acanhada Vila de Imperatriz”, conforme informa Franklin em seu livro. Ciclo da castanha (1910-1954) - No período que se deu o ciclo da castanha, os homens que habitavam a cidade iam para os castanhais em Marabá e, durante seis meses do ano, a população imperatrizense era praticamente composta só por mulheres. Lamartine Milhomem, filho do
primeiro prefeito da cidade, Gumercindo de Sousa Milhomem (1923-1928; 1937-1939), se recorda do que acontecia na década de 1950. “Naquele tempo, o maior empregador que tinha era meu pai. Ele chegou a levar 200 pessoas para extrair castanha no Pará e isso representava muito para Imperatriz.” Ciclo do arroz (1950-1980) - No início desse ciclo, muitos maranhenses, cearenses e piauienses migraram para a região Oeste do município e foram plantando gêneros alimentícios como arroz, feijão e milho. O jornalista e historiador Edmilson Sanches informa dados de suas pesquisas sobre o cultivo do arroz em Imperatriz: “Em 1984 a produção de arroz ocupava 40 mil hectares e atingia 60.480.000 kg
do cereal. Em 1994 a produção desabou: menos de 7 mil hectares de área e menos de 14 milhões de kg de arroz”. Lamartine Milhomem, por sua vez, recorda-se que durante este ciclo havia também um tipo de ofício que hoje seria tido como crime: “Atividade de peles. Imperatriz foi uma grande exportadora de peles. De gado, veado, caititu, anta, peles de todos os tipos de animais, principalmente a de onça pintada e gato maracajá. Naquele tempo tinha os profissionais deste ramo”. Ciclo da madeira (1970-1981) - Esse ciclo gerou crescimento econômico para Imperatriz, mas também causou um grande desmatamento, como afirma o sapateiro João Alves Peixoto, que mora no Maranhão há
57 anos e em Imperatriz há 35. “A madeira, ela não vem assim como a água da chuva. A árvore, para poder chegar naquele ponto, precisa de tempo.” Segundo Franklin, “mais de 300 estabelecimentos industriais e de serviços do setor madeireiro” teriam se instalado em Imperatriz na década de 1970, desde serrarias e laminadoras até movelarias. Serra Pelada - É também conhecida como ciclo do ouro (1981-1990), pois nessa época muitos imperatrizenses saíram para a Serra Pelada em busca do metal precioso. Porém, Milhomem, que foi um dos poucos que enriqueceram neste período, afirma que este ciclo não foi tão importante, porque Imperatriz investiu muito e não teve tanto retorno, pois eram poucos os que adquiriam riquezas. João Alves Peixoto concorda com essa visão. E informa que não vê este período como um ciclo de desenvolvimento econômico. “Imperatriz tornou-se a ponte aonde o pessoal embarcava para ir ao garimpo”, constata. Comércio - Segundo Franklin, a partir de 1990 o setor terciário (ou setor de serviços) “consolidou-se como o mais importante da economia imperatrizense”. E, conforme Sanches, este setor representa hoje cerca de 47% da economia do município. “Não tendo proximidade com nenhuma cidade grande, Imperatriz, pela força de seu povo, teve de tornar-se ela mesma, grande. Tornou-se intermediária de aquisição de produtos e prestação de serviços. Dezenas de municípios do Maranhão e de outros estados têm na segunda maior cidade maranhense o suporte essencial para o dia a dia de suas populações”, explica o pesquisador.
Rodovia Belém-Brasília é sinônimo de desenvolvimento ARQUIVO PESSOAL PEDRO PNEUS
TEXTO:JANETHE MATOS DIAGRAMADOR: RENNAN OLIVEIRA
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Obras de construção da rodovia Belém-Brasília, inaugurada no dia 25 de janeiro de 1961
rodovia Bernardo Sayão (nome oficial da Belém-Brasília) foi o caminho para o crescimento de Imperatriz”, conforme afirma o jornalista e historiador Edmilson Sanches. As obras para a construção dessa estrada foram comandadas pelo engenheiro agrônomo Bernardo Sayão de Araújo, no mandato do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), que tinha como “Plano de Metas, 50 anos de desenvolvimento em cinco de realizações”, e foram concluídas em 25 de janeiro de 1961, segundo o livro “Apontamentos e fontes para a história econômica de Imperatriz”, de Adalberto Franklin. Imperatriz conta hoje com uma população estimada de 254.569 habitantes, mas nem sempre foi assim. Em 1950, esse número não passava de 14.064 habitantes. Em 1960, aumentou significativamente para 39.169. E em 1970, já chegava aos 80.827.
“A rodovia Belém-Brasília mudou tudo. O comércio e a pecuária experimentaram um surto de desenvolvimento”, segundo a “Enciclopédia de Imperatriz”, organizada por Edmilson Sanches. O sapateiro João Alves Peixoto, que mora há 35 anos em Imperatriz, reconhece a importância da rodovia para o crescimento da cidade: “Quando eu cheguei aqui a Belém-Brasília já era o foco do desenvolvimento”.
“A rodovia BelémBrasília mudou tudo. O comércio e a pecuária experimentaram um surto de desenvolvimento” A bibliotecária Raimunda Cortez Moreira Dourado, que hoje tem 71 anos, e é filha do ex-prefeito de Imperatriz, Simplício Moreira (1948-1951; 1953-1956), relembra que em 1964 teve que ir para Belém em busca de estudo. “Aos 14 anos de idade eu tive que sair de
Imperatriz para estudar. Hoje você tem tudo aqui. Imperatriz, quando eu era criança era como se fosse uma vila. Hoje é uma metrópole.” Lamartine Milhomem, filho do primeiro prefeito da cidade, Gumercindo de Sousa Milhomem (1923-1928; 1937-1939), acredita que o crescimento ocorreu também pelo fato de que as terras eram devolutas, ou seja, até então, em meados da década de 1950, havia muita terra que não pertencia a ninguém. Algumas pessoas vinham na frente e depois enviavam cartas para os seus parentes e amigos virem também. Com isso, Imperatriz foi crescendo. “Meu pai tinha uma caixa de mais ou menos um metro de comprimento só de correspondência de nordestino”, relembra Milhomem. Ele também costumava elaborar cartas a pedido das pessoas que não sabiam escrever. “Diga que eu tenho uma terra aqui para aquela pessoa lá, que pode vir”, relembra o pedido que lhe faziam repetidas vezes.
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ENSINO Almejando melhores perspectivas salariais, de trabalho e defendendo a função social que exercem, professores relatam o descaso do poder público, segundo eles, com relação à sua atividade
Educadores falam sobre dilemas das suas carreiras TEXTO: ABNER CARVALHO DIAGRAMAÇÃO: JONAS LIMA
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esmotivação por conta da falta de melhorias salariais e de trabalho, estresses do dia a dia em sala de aula e não necessariamente a profissão dos sonhos como escolha inicial. Mas, ainda assim, prevalece o amor por lecionar. Todas essas expressões resumem bem uma boa parte dos aspectos relacionados à carreira. A professora de química, Sônia Alves Silas Sales, que trabalha há 21 anos em uma escola estadual e outra municipal, conta que de início não pensava em ser docente. O que ela vislumbrava mesmo era a pesquisa científica e trabalhar com experimentos em laboratório. Foram muitos os contratempos que acabaram por fazer com que ela escolhesse a sala de aula. Um deles estava relacionado à própria estrutura acadêmica. “Eu observei muito a questão dos laboratórios, que não tinha aquelas aulas práticas que eu sonhava fazer quando eu era estudante do ensino médio.” Mas Sônia não se arrepende de ter escolhido dar aula. E hoje busca mesclar suas lições teóricas com as práticas. “Sempre estou trabalhando com projetos interdisciplinares para que eles possam se motivar. Pegar gosto mesmo, pelo aprendizado.” A professora ressalta a responsabilidade que o educador tem de observar o comportamento de seus alunos individualmente, já que são muitas realidades dentro de uma sala de aula e vários trazem para esse ambiente a evidência de conflitos com a família. Neste cenário, é necessário impor o respeito. Ela defende que é importante que o estudante perceba que o educador tem o domínio do conteúdo que leciona. “Eu demonstro isso e sou respeitada por eles. Eu quero ensinar para que eles aprendam realmente. Para que eles entendam que
aquele assunto faz parte do dia a dia deles”, explica, indicando que é por meio desta prática que consegue prender a atenção dos estudantes. Mas adverte que a questão do comportamento em sala de aula é muito relativa e varia bastante de uma turma para outra. “Tem momentos que a gente está super motivada e feliz de ser professora. Você vê que os alunos estão alcançando algum resultado. Mas têm turmas que realmente deixam a gente pensativa: ‘Meu Deus, porque eu escolhi essa profissão tão difícil?’”. Descaso - Já para o professor de filosofia, Robson de Carvalho Bezerra, que trabalha há cerca de oito anos na área, a profissão de educador é “apaixonante”. Ele aponta que o professor é um instrumento transformador, pois ele compartilha o seu conhecimento por meio de suas aulas, do estímulo à leitura e acaba ampliando, nos alunos, o senso crítico. “Existe até o texto de Platão: sair da caverna auxilia o indivíduo a ganhar autonomia de pensamento. Isso é o que impulsiona a gente a permanecer na docência.” Mas Robson também observa que às vezes a profissão é bastante desgastante. Tanto pelo fator salário quanto pelo próprio dia a dia em sala de aula, como a falta de uma melhor estrutura no ambiente de trabalho. Revela, ainda, que muitas escolas até dispõem de equipamentos, mas às vezes não possuem uma conexão via Wi-Fi, o que facilitaria as pesquisas de conteúdo na web. “Às vezes acaba o professor por ficar preso ao livro didático.” Ao serem questionados sobre a valorização da carreira, ambos apontam para o descaso do poder público para com a classe. A professora Sônia vê nos políticos uma postura um tanto hipócrita, afirmando que nunca, enquanto funcionária pública, teve alguma experiência de uma administração que fosse favorável à
ABNER CARVALHO
Professora há 21 anos, Sônia Alves Silas Sales gosta da profissão, mas explica que a administração pública nunca foi favorável à classe
classe. “A campanha deles é em cima da educação. Mas não valorizam o profissional, que é o professor!”, desabafa. Robson explica que, como docente, também não se sente mais reconhecido na função social que desempenha. “É capaz de que o mercado, daqui a cinco ou dez anos, esteja escasso por falta de profissionais da educação.” Ele, que trabalha em uma escola estadual, acredita que o aumento concedido pelo governo ainda não condiz com o que o profissional almeja e não reflete a realidade. “O governo colocou na mídia que está pagando o melhor salário. Mas, na prática, ainda não se respeita todos os pisos e aumentos que a categoria deseja”. Robson ressalta, contudo, que, se houvesse outra opção, escolheria novamente ser professor, pois é o que de fato ele gosta de ser.
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Professora Sônia ressalta a importância de respeitar as diferenças dos alunos individualmente
Greve dos professores ocorre por falta de diálogo, aponta sindicato da área ABNER CARVALHO TEXTO: ABNER CARVALHO DIAGRAMAÇÃO: JONAS LIMA
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o mês de maio deste ano, os professores da rede municipal de ensino de Imperatriz permaneceram por dois dias paralisados, na tentativa frustrada de obter um reajuste salarial de 10%, considerado o ideal para a categoria. Diante de insatisfações, principalmente por motivos salariais e da dificuldade de diálogo com a administração pública, a greve se revela como um instrumento crucial utilizado pelos servidores para conseguirem o aumento. Para o professor Laedson Carlos Silva Brito, que é assessor do Sindicato dos Servidores da Educação Municipal de Imperatriz (Steei), o fator que culmina a greve é, principalmente, a falta de diálogo com a administração pública. “Quando o prefeito adota uma postura um tanto ditatorial e prepotente, a categoria vai lá para cima e com vontade mesmo de greve, porque o primeiro sentimento é de desrespeito.” O salário dos professores, que é
Profissionais da educação municipal protestam no centro da cidade contra a falta de diálogo com o prefeito, para a obtenção do aumento salarial
repassado de 60% do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), deve ter uma revisão anual todo mês de abril, data base para que seja feito o reajuste, como está determinado na Lei Ordinária nº 1.601/2015, Art. 35. A partir de janeiro, os professores se organizam para definir esse valor. “A categoria se reúne em as-
sembleia geral, e daí analisa-se os recursos do Fundeb, a lei do piso, a inflação e as perdas. E com tudo isso chega-se a um consenso de um percentual favorável à categoria”, conforme explica Laedson. Ele ressalta que essas perdas se referem aos cinco anos em que a prefeitura vem reajustando os salários dos servidores abaixo do valor do
piso, que é recomendado pelo governo federal. Foi por esse motivo que dessa vez os professores propuseram o ajuste de 10%. Valor que está 3,9% acima do piso atual para a categoria, que é de 6,1%. Descontentamento - A professora Sônia Alves Silas Sales, que trabalha pelo município há 18 anos, conta que é militante e que aderiu à greve,
embora não fosse de acordo com alguns pontos. Para ela, seria interessante que a categoria aderisse à greve somente quando se esgotassem todos os meios legais, de tal forma que não corresse o risco de a prefeitura ingressar com algum recurso na tentativa de categorizá-la como ilegal. Sônia também revelou um certo descontentamento com alguns professores que aderem à greve, mas que não participam dos eventos em prol do movimento. “A classe quer greve, mas nem todos participam. Aí, na hora de pagar as aulas, não querem!”. Os professores optaram por aderir à greve porque o prefeito Assis Ramos, embora tenha acertado com os trabalhadores conceder um aumento de 6%, se opôs a pagar o valor retroativo correspondente aos meses de abril a junho. Passados dois dias de paralisação, o prefeito se reuniu com os representantes do Steei e assim ficou definido o reajuste já acordado e o parcelamento do valor pendente em quatro parcelas, de agosto até novembro.
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FORMAÇÃO PROFISSIONAL Elevada procura é devido ao menor tempo de duração dos cursos e à alta exigência do competitivo mercado de trabalho, que tem cobrado uma qualificação adequada dos seus funcionarios
Escolas técnicas de Imperatriz matriculam, em média, 500 estudantes por semestre WILLAS ILARINDO TEXTO: ANA CAMPOS DIAGRAMAÇÃO: KAIO HENRIQUE
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s três maiores escolas técnicas de Imperatriz matriculam, em média, 500 alunos por semestre. A alta demanda na procura de cursos técnicos acontece devido à facilidade de empregabilidade e em virtude do menor tempo de duração em relação a um curso superior. Segundo o coordenador geral da Escola de Qualificação Técnica de Enfermagem em Imperatriz (Eqtei), João Paulo Oliveira, até mesmo o número de evasões não tem ultrapassado os 25%. De acordo com o coordenador, isso é efeito da elevada exigência do mercado de trabalho, que tem cobrado ainda mais qualificação na sua mão de obra. Imperatriz conta com mais de 13 escolas técnicas distribuídas por diferentes bairros da cidade, tendo como destaque, entre as maiores e melhores, tanto em estrutura quanto ensino técnico, as escolas Alvorada, Nova Dinâmica e Eqtei. Os estabelecimentos de ensino oferecem entre 12 e 20 cursos técnicos, todos aprovados pelo Conselho Estadual de Educação (CEE) e com garantia de certificados aprovados pelo Ministério da Educação (MEC). A coordenadora pedagógica da Escola Nova Dinâmica, Thaise Abreu de Melo, explica que os cursos oferecidos são divididos por áreas de atuação. A de saúde, por exemplo,
engloba Radiologia, Enfermagem, Nutrição e Estética. Para a área de construção civil, são oferecidos os de Segurança no Trabalho e Segurança em Meio Ambiente. Também estão disponíveis os cursos de Eletrotécnica, Eletromecânica e Automação Industrial. Além de alguns em especialização, que são destinados aos profissionais que já trabalham em determinada área e buscam aperfeiçoamento. A duração dos cursos técnicos segue um padrão de um ano e seis meses em todas as três escolas. Metodologia e estágios - A metodologia usada pelas escolas é estabelecida pelo CEE. Os cursos são divididos em três módulos, com matérias teóricas, práticas (realizadas nos laboratórios das escolas), além do estágio curricular obrigatório. Este é totalmente oferecido pela instituição, somente no curso de Técnico em Enfermagem, pois trata-se de uma determinação do Conselho Estadual de Educação. Nos demais cursos, a responsabilidade de encontrar o estágio é do próprio aluno. A coordenadora de estágios da escola Alvorada, Marineth Cecilia Alencar, afirma que o diferencial da instituição é a demanda nessa área. “Por mais que o Conselho Estadual determine obrigatoriedade de fornecer o estágio somente ao curso Técnico de Enfermagem, a escola tem uma preocupação geral com todos os outros cursos. A instituição busca
Hoje acadêmica de Enfermagem no Ceuma, Fernanda Rocha (à direita) começou a sua trajetória na área estudando em um curso técnico da cidade
fazer parcerias, para assim conseguir enviar todos os alunos para seus determinados estágios”, comenta Marineth Cecilia. Metas - A técnica de enfermagem Ana Fernanda Rocha Cavalcante, de 23 anos, foi aluna da escola Alvorada. Ela afirma que sempre foi apaixonada pela área da saúde e, como já havia tentado por inúmeras vezes ingressar em um curso superior, acabou optando por estudar
em uma área técnica que, segundo ela, era uma porta de entrada com mais facilidade para o mercado de trabalho, no tão sonhado campo da enfermagem. “A experiência de fazer o curso técnico, ver que eu estava mais perto daquilo que sempre sonhei pra mim, foi surreal. Quando vesti o jaleco pela primeira vez e fui para os estágios, tive contato com pessoas que realmente precisavam da mi-
nha ajuda. Eu vi que estava no caminho certo, que eu tinha nascido pra praticar o ato de cuidar”, explica Ana Fernanda. A jovem concluiu o curso técnico de Enfermagem em 2016 e desde então trabalha na área. Com o salário, a profissional pôde então pagar um curso superior e atualmente é acadêmica do terceiro período de enfermagem no Centro Universitário do Maranhão (Ceuma), em Imperatriz.
Projeto Jovem Aprendiz garantiu primeiro emprego para 6 mil ANA CAMPOS TEXTO: ANA CAMPOS DIAGRAMAÇÃO: KAIO HENRIQUE
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o longo de dez anos, cerca de seis mil jovens e adolescentes de Imperatriz foram beneficiados com a oportunidade do primeiro emprego, graças ao Programa Jovem Aprendiz. Trata-se de um projeto do governo federal criado a partir da Lei da Aprendizagem, com o objetivo de fazer com que empresas desenvolvam programas de capacitação profissional de jovens entre 14 e 24 anos incompletos. Em Imperatriz, as empresas participantes do projeto contam com a parceria de duas grandes instituições de ensino profissional: o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Processo - De acordo com a gerente regional do Senac, Lavínia Sousa Amorim, o programa conta com a parceria de mais de 27 empresas de Imperatriz. O participante assina um contrato com duração de um ano, com remuneração de meio salário mínimo. Os aprendizes só podem trabalhar 12 horas semanais, já que oito são destinadas às atividades de aprendizagem
Jovens Aprendizes do curso de Eletricista de Redes, em sala de aula na instituição Senai
dentro das instituições. O estudante Gustavo Soares dos Santos, de 20 anos, participa do programa pela segunda vez e teve o primeiro contato com o projeto em 2016. Efetivado pela empresa ao término do programa, acabou despedido quatro meses depois, devido a uma redução de funcionários. “Fiquei sabendo por meio de um amigo que o Senai estava com uma seleção para o menor aprendiz, com o curso de
Eletricista de Redes. Aprendi muito quando participei do projeto anteriormente. Ele abre a mente pequena dos jovens, cria uma sede de conhecimento incrível dentro da pessoa. Então atualmente sou jovem aprendiz de novo!”, conta Gustavo Soares, de forma bem-humorada. Formare Aprendiz - O Projeto Formare Aprendiz é desenvolvido em Imperatriz desde 2014, por meio da empresa Suzano, produtora global
de papel e celulose. O programa tem como objetivo capacitar jovens para o mercado de trabalho. De acordo com a coordenadora nacional do projeto, Elisabete Flores Pagliusi, o programa tem parceria com a fundação Iochpe. Ou seja, os processos de aprendizagem teórica e prática acontecem dentro da própria empresa. “As aulas são ministradas por diferentes colaboradores voluntários, que compartilham seu conhecimento e experiências
“Aprendi muito quando participei do projeto anteriormente. Ele abre a mente pequena dos jovens, cria uma sede de conhecimento incrível dentro da pessoa”.
para transformar a realidade de muitos jovens”, explica a coordenadora. O programa oferece o curso de Operador de Processos de Produção e tem a duração de dez meses. Desde o início do projeto, já foram formadas três turmas. Ao todo,
58 jovens já foram beneficiados e 60% deles estão atualmente efetivados na empresa, tanto como colaboradores como estagiários. “O Projeto Formare é principalmente destinado aos jovens esforçados, que muitas vezes não têm acesso às oportunidades e perspectivas de mudanças para um futuro melhor”, comenta Elisabete Flores. Ex-aprendiz - O mecânico Luciano Silva Lima, de 20 anos, participou da terceira turma do projeto e foi efetivado logo após o término do programa. Atualmente trabalha como mecânico na Oficina Central da Unidade Suzano de Imperatriz. “O Formare mudou a minha vida. Foi durante o curso que eu aprendi a manter o foco, a lidar com as pessoas e a sonhar mais alto. Também aprendi que sou capaz de fazer o meu próprio futuro. Quando comecei a trabalhar na Oficina Central e ganhei meu primeiro salário, lembro como se fosse ontem: levei minha mãe ao supermercado e disse que ela podia comprar tudo o que quisesse. Voltamos com um monte de sacolas, quase não conseguimos carregar todos os produtos na moto”.
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CARTEIRA ASSINADA IImperatriz fechou os primeiros quatro meses do ano com baixa nos empregos formais. Dados do Caged apontam que, entre janeiro e abril de 2018, o número de trabalhadores com carteira assinada diminuiu
Imperatriz tem baixa nos empregos formais ASARIAS SOUSA SILVA
TEXTO: ASARIAS SOUSA SILVA
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mperatriz faz parte do saldo negativo de pessoas desempregadas no Brasil. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que os empregos com carteira assinada diminuíram desde novembro de 2017, mês em que entrou em vigor a reforma trabalhista. Imperatriz é a segunda maior cidade do estado, de acordo com a estimativa populacional de 2017, com população de 254.569 habitantes, e mais de 60 mil trabalham, levando-se em conta registros de carteira assinada e empregos informais. Ou seja, 24% das pessoas são ocupadas. Ainda segundo análise de 2015 do IBGE, o salário médio mensal dos imperatrizenses com trabalhos formais era de até dois salários mínimos, o que deixava a cidade na 39ª posição em relação aos outros 217 municípios do Maranhão. Entre janeiro e abril de 2108, o número de admitidos foi de 4.986 e o de demissões 5275, fechando os primeiros quatro meses de 2018 com um saldo negativo de -0,63% de empregos formais. Dados do cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) também apontam que nos primeiros quatro meses de 2018 o número de trabalhadores com carteira assinada no município diminuiu. Qualificação - O gerente de restau-
Emprego formal é uma maneira de ter uma renda mensal garantida. O gerente de restaurante, Jess Barbosa Farias, avalia a qualificação quando vai contratar os seus funcionários
rante Jess Barbosa Farias diz que contrata os funcionários avaliando o currículo para saber se têm as qualificações para a vaga ofertada. Perguntas pessoais, trabalhos anteriores e por que saiu da empresa em que trabalhava são requisitos ponderados por ele na nova contratação. O gerente conta que essa avaliação serve para evitar futuros problemas. O empregador aprova a Reforma Trabalhista e diz que ela “traz benefícios ao trabalhador, que agora vai ter um acordo documentado, sendo assim mais fácil para o em-
presário pagar e o funcionário receber o justo”. Jess Barbosa concorda que a carteira deve ser assinada, pois garante segurança e é um direito do empregado. “A maior dificuldade de uma empresa contratar novos funcionários são os encargos gerados, obrigando os empregadores a manterem-se com o mínimo possível de empregados”, analisa o gerente. O locutor Roneydson Moreira morou durante 15 anos nos Estados Unidos, país que tem um sistema trabalhista diferente do Brasil. Aquela nação segue uma política
econômica liberal, que busca coordenar as demandas trabalhistas da forma menos controladora possível. Atualmente está morando em Imperatriz, e há cinco anos tem um emprego formal. O locutor ressalta que só trabalha com a carteira assinada porque a empresa não aceita freelancers (termo em inglês usado para caracterizar o profissional que exerce uma função de maneira independente, podendo prestar serviços a vários empregadores). Para Roneydson, o trabalho formal gera muita despesa para o empregador e
deixa o empregado acomodado. Ele acredita que o número de empregos formais caiu por conta das dificuldades das empresas em manter os funcionários devido aos gastos. “O que mais contribui para a queda nos empregos é a crise financeira que o país está passando. Se a empresa não fatura, não tem como contratar, faz é demitir”, pondera. O profissional explica que, para manter o seu emprego, procura estar focado e atualizado com novidades, mas, caso seja desligado do mercado formal, garante não ter receio de trabalhar na informalidade.
Direitos trabalhistas são assegurados ao trabalhador com CTPS ASARIAS SOUSA SILVA TEXTO: ASARIAS SOUSA SILVA
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amuel Nunes da Silva trabalhou boa parte da sua vida com carteira assinada e nunca teve dificuldades para arrumar emprego por ter preparo e existir pouca mão de obra para área que atuava. Samuel não concorda com a Reforma Trabalhista e, para ele, o empregado só tem vantagens se estiver com carteira assinada. O empreendedor atribui a queda na taxa de emprego formal à alta carga tributária e à crise econômica no país, obrigando o empregador a demitir e cortar fornecedores. Mesmo trabalhando de carteira assinada e ganhando pouco mais que dois salários mínimos, o empreendedor decidiu deixar o emprego formal e passou a ser autônomo. Samuel conta que a decisão foi tomada de forma bem pensada. Hoje ganha bem mais que antes, mas mesmo assim enfrenta dificuldade para manter a estabilidade financeira. Ele a compara com as de um empregador e diz que “os principais obstáculos são os altos juros cobrados pelo governo”. Carteira assinada - “Só quem tem a CTPS assinada tem esses benefícios: seguro desemprego, auxílio doença, salário mensal, décimo terceiro
salário, férias mais 1/3 constitucional e contribuição para o INSS. Além disso, em caso de desemprego sem justa causa, recebe o FGTS mais multa de 40% e, com relação às mulheres, é garantido o auxílio maternidade e a estabilidade durante o período gestacional e 5 meses após o nascimento”, é o que conta a advogada Maraisa Silva Sampaio. Para ela, o que mais atrai na hora de procurar um emprego formal é a possibilidade de ter uma renda mensal garantida, além de todos os direitos sociais que o trabalhador com CTPS assinada tem. A especialista afirma que a reforma trabalhista trouxe menos vantagens ao trabalhador. Compreende, ainda, que a reforma diminui ou retira vários direitos constitucionais. “O Brasil foi incluído em uma lista da Organização Internacional do Trabalho (OIT), dos países que cometem violação aos direitos do trabalhador e foi convidado a esclarecer a reforma trabalhista”. No que diz respeito ao resultado negativo de contratações no setor formal, Maraisa Sampaio esclarece: “Nesse ponto devemos aprofundar a análise, pois não podemos apontar somente a reforma trabalhista como causadora dessa retração”. Ela pondera que Imperatriz, como
Carteira assinada garante benefícios, como os do seguro-desemprego e auxílio no caso de doença, salário mensal, décimo terceiro salário e férias
todo o Brasil, passou por um período de crise econômica severa, já sinalizando uma recuperação. Assim, os bancos públicos ou de economia mista não possuem linha de crédito para aquecer o mercado. “Como exemplo, podemos citar o setor da construção civil, no qual a maioria das empresas depende dos recursos dos bancos e das políticas públicas do governo para investir”, pondera a especialista.
Maraisa diz que sem esse incentivo, os empresários investem pouco e, como consequência, contratam menos, gerando impacto em toda a cadeia de consumo, pois esses trabalhadores movimentam os supermercados, farmácias, lojas de roupas e uma infinidade de setores da economia. Serviço - Quais são os documentos necessários para buscar um emprego formal? O primeiro passo
é fazer o cadastro no próprio Sine municipal, na rua Coriolano Milhomem, anexo ao Estádio Municipal. Os documentos necessários para o cadastro são: Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), Cadastro de Pessoa Física (CPF), Cédula de Identidade (RG), currículo e comprovante de endereço. O Sine de Imperatriz funciona de segunda à sexta, das 8h às 16h.
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MERCADO INFORMAL Carga tributária elevada e crise financeira são alguns dos fatores que motivam as empresas a reduzir o quadro de funcionários e, com o desemprego, o trabalhador busca na informalidade uma forma de renda
Informalidade torna-se forma de sobrevivência ESTER FEITOSA TEXTO: ESTER FEITOSA DIAGRAMAÇÃO: REBECA RIBEIRO
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órgão maranhense do Sistema Nacional de Emprego (Sine) de Imperatriz recebe, diariamente, de 30 a 35 seguros desemprego. “Significa dizer que as empresas estão demitindo”, acredita a supervisora da área, Maria Valda Flor da Conceição. Com a carga tributária elevada, fica cada vez mais difícil manter e garantir os direitos dos funcionários, além da crise econômica. Fatores que forçam as empresas a reduzirem o quadro de funcionários, impedindo novas contratações e gerando dificuldades como a encontrada pela nutricionista Fabrina Cardoso Carneiro. Formada há dois anos e meio, ela nunca arranjou emprego em sua área e, para ter uma renda, vende calçados. Ela faz questão de afirmar que, mesmo qualificada, é difícil arrumar trabalho com carteira assinada, já que a formação não é garantia. “Não consegui emprego porque não tenho experiência”, destaca Fabrina. Outro aspecto apontado pela supervisora refere-se à qualificação. Maria Valda explica que as empresas procuram mão de obra qualificada e adequada para desenvolver uma diversidade de funções e não apenas aquela para a qual o funcionário foi contratado. Proatividade e qualificação são pré-requisitos para conseguir um emprego. E o que dizer então de quem concluiu apenas o ensino médio? “Quem não tem estudo não consegue um bom emprego”, foi o que afirmou
Thiago Sousa, feirante há nove anos, se diz satisfeito com seu trabalho, mas acredita que, se tivesse feito uma faculdade, obteria um emprego melhor
o feirante Thiago Araújo dos Reis. Ele trabalha há nove anos no ramo e acredita que, se tivesse feito uma faculdade, teria condições de arrumar um trabalho melhor. Falta de qualificação, oportunidade, crise econômica, desemprego, o fato é que tudo isso junto empurra cada vez mais pessoas para a in-
formalidade. No entanto, é interessante perceber que, na contramão da crise, outra forma de se reinventar é apostar no empreendedorismo, palavra em voga e que visa cada vez mais a conjugar a informalidade com os bons negócios. Segundo o diretor de departamento da Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Econômico (Sedec) de Imperatriz, Thiago Sousa Silva, a formação é importante e ajuda. No entanto, o trabalhador “precisa perceber o mercado”, pois um diploma não é condição para se conseguir um emprego. É preciso ter um diferencial, ou seja, um “espírito empreendedor”, nas próprias
palavras de Thiago Sousa. Foi o que fez a estudante do sétimo período de veterinária, Lethicia Nogueira Silva, que viu na fabricação de doces caseiros a oportunidade de adquirir uma renda. A ideia surgiu quando precisou ajudar a sua irmã a arrumar dinheiro para uma viagem da escola. Lethicia Nogueira destaca que já pensou até em trancar a faculdade para dedicar um pouco mais de tempo ao negócio. Para a estudante, qualidade, preço e diversidade de sabores atraem a clientela. “Açaí, Oreo e bem-casado. É o diferencial de sabores que oferto aos meus clientes.” Como se qualificar - Com o intuito de promover a qualificação do trabalhador informal, a Sedec busca desenvolver, entre outras ações, cursos de atendimento, formação do preço de venda e gestão de qualidade. O problema principal é o horário de trabalho dos interessados, pois eles têm dificuldade de comparecer aos cursos. Para se ter uma ideia, no de Fluxo de Caixa, houve apenas 10 inscritos e no de Atendimento ninguém se inscreveu. Mesmo com todos os esforços, o outro, projeto Mais Empreendedor, ainda não alcançou seus objetivos no tocante ao público informal, porém umas das estratégias é investir em mais divulgação. “Empreendedorismo, fazer o diferencial, isto está presente na qualificação ministrada”, acredita Thiago Silva.
Ambulantes precisam seguir Código de Postura da cidade ESTER FEITOSA
TEXTO: ESTER FEITOSA DIAGRAMAÇÃO: REBECA RIBEIRO
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erca de 471 ambulantes estão cadastrados na Secretaria de Planejamento Urbano (Seplu), segundo a coordenadora do Setor de Postura do órgão, Maiara Nascimento. No entanto, esse número não é específico, pois com frequência surgem novos ambulantes. Para regular a situação, a secretaria procura manter a atualização desses cadastros, bem como acompanhar, orientar e fiscalizar a atuação desses trabalhadores, buscando, assim, manter o Código de Postura do município. Quais seriam então as vantagens de permanecer na informalidade? Para a vendedora de peixe Roseane Sousa, a flexibilidade de horário e o fato de não ter patrão e trazer o dinheiro garantido no final do dia tornam o trabalho informal vantajoso. Ela lembra, ainda, que nunca teve emprego de carteira assinada: “Quando termino o trabalho já tenho meu dinheiro”. Roseane também faz questão de destacar a importância de ter sempre o produto disponível para os clientes. “Correr atrás
Organizados em associações, ambulantes do Calçadão oferecem diversidade de produtos
do produto e garantir a satisfação do freguês.” Ainda de acordo com a coorde-
nadora da Seplu, muitos desses vendedores informais acreditam que, por estarem nesta condição, não
precisam se organizar. Assim como é necessário manter o cuidado com a higiene ao manipular alimentos, o uso de toucas e luvas é primordial para garantir um mínimo de limpeza. “Informalidade não significa falta de organização”, acredita Maiara Nascimento. Mesmo com todos os esforços para instruir os trabalhadores informais, os órgãos locais esbarram em algumas dificuldades. Tanto que as orientações oferecidas pela Seplu “na maioria das vezes são entendidas como retaliação”, conforme frisa a coordenadora. A falta de interesse na qualificação é uma delas, entendida como “perda de tempo”. Os ambulantes não compreendem que o conhecimento pode potencializar suas vendas. “A grande maioria dos ambulantes não têm interesse em se qualificar e acreditam que, se forem fazer um curso, vão deixar de vender”, informa Maiara Nascimento. Oportunidades X estudo- De um lado, reclama-se da falta de estudo e do outro, das raras oportunidades. Para completar este cenário, o mercado de trabalho ainda exige do operário uma experiência que só pode ser concretizada à medida que for ofertada pelas empresas locais. Mas a técnica de enfermagem Edi-
leusa Pereira Maracaipe reconhece que o fato de não ter patrão é um dos bons motivos para ser informal. Ela destaca, porém, que o trabalho de carteira assinada permite garantias que a informalidade deixa a desejar. Mesmo estando também na informalidade, ela tem batalhado em estudar um pouco mais para conseguir uma boa qualificação no mercado de trabalho. Além de aprimorar os conhecimentos já adquiridos, Edileusa Pereira visa a buscar em concursos públicos garantias não só da carteira assinada, mas também de segurança e crescimento profissional. Ela optou por permanecer na informalidade por motivos de saúde de um familiar. “A vovó é muito dependente e a mamãe não pode cuidar dela sozinha”, destaca. A informalidade é a porta que os imperatrizenses encontraram para poderem fugir da crise, resistir e esperar que tudo mude. Diversas condições envolvem o trabalho informal e essa forma de renda é a opção de muitos para conseguirem pagar suas contas, colocar comida na mesa e sobreviver com a esperança de que algum dia as coisas venham a melhorar.
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DESEMPREGO Em Imperatriz, o número de demissões referente ao mês de maio é de 7.542 pessoas, enquanto o de admissões é de 7.406, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
Número de demissões é maior que admissões ALICE CAROLINE TEXTO: ALICE CAROLINE DIAGRAMAÇÃO: JOÃO PAULO
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o primeiro trimestre de 2018, a taxa de desocupados, pessoas sem emprego formal, subiu 13,1% em relação ao último trimestre de 2017, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) divulgados no mês de maio pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As informações mostram que a maior taxa de desemprego se encontra na região Nordeste, com aproximadamente 15,9%. O Maranhão está situado em quinto lugar no ranking de estados com o maior número de desempregados do país, com 15,6%. Em Imperatriz, o número de demissões foi de 7.542 pessoas, enquanto o de admissões ficou em 7.406, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Sendo assim, muitos imperatrizenses que tinham carteira assinada estão sem emprego no momento. É o que acontece com o estudante de enfermagem e técnico na área, Felipe de Souza, de 27 anos, que já teve sua carteira assinada, mas se encontra há mais de um ano sem emprego. Ele já efetuou o seguro desemprego quatro vezes. Para o estudante, o desafio é ainda maior por conta das despesas com
Imperatrizenses aguardando ser atendidos para efetuar o cadastro no Sine Municipal de Imperatriz. Por dia, são realizados 100 cadastramentos
material escolar e gasolina para se locomover. Ele conta que sua maior dificuldade é o fato de ter que comprovar experiência e que a maioria das pessoas que trabalham na área são indicadas, o que complica ainda mais. “Se você ti-
ver uma “peixada” política você consegue na hora”, opina Felipe. Mercado - Imperatriz possui duas unidades do Sistema Nacional de Emprego (Sine), sendo uma municipal e outra estadual. Estas instituições são responsáveis pela
intermediação de mão de obra do trabalhador para o mercado de trabalho por meio da realização de cadastros. Uma plataforma filtra o perfil do indivíduo de acordo com os requisitos que uma empresa disponibiliza para determinada vaga.
Ou seja, o Sine apenas seleciona e encaminha os candidatos que se encaixam no perfil que a empresa determina. “O agendamento é feito via internet. Então nem precisa vir cedo para pegar senha. Já é agendado, os candidatos vêm e são atendidos naquele dia”, explica o diretor executivo do Sine municipal, Greyson Dekhar Sousa. Por dia, são realizados cem cadastros, distribuídos em 70 senhas apenas como forma de organização. De acordo com o Sine municipal, no ano de 2017 foram feitos 3.785 cadastramentos e inseridas 1.424 pessoas no mercado de trabalho. Em abril deste ano, foram disponibilizadas 30 vagas de empregos e efetuados 500 cadastros. Um número relativamente pequeno, pois Imperatriz é considerada a segunda maior cidade do estado. Deylanny Sabino Campos, de 31 anos, é mais uma vítima desse crescente desemprego na cidade. Seja por e-mail ou pessoalmente, ela já soma dois anos de uma luta constante: a persistência na hora de entregar currículos. Quando surgem vagas, ela se candidata, porém o mercado de trabalho necessita de prática e formação na área, e sua única experiência é a de promotora de vendas. “Até agora não consegui nada, só algumas entrevistas, mas nem na entrevista consegui, estou aqui na luta”.
Imperatrizense enfrenta dificuldades na hora de conseguir emprego ALICE CAROLINE TEXTO: ALICE CAROLINE DIAGRAMAÇÃO: JOÃO PAULO
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m uma manhã qualquer, sentados em cadeiras ou em filas e até mesmo encostados na parede aguardando ser chamados para realizarem o atendimento. É desta forma que se encontram diversas pessoas desempregadas no Sine municipal e estadual de Imperatriz. Com vários envelopes e carteiras de trabalho em suas mãos e todos com o mesmo objetivo: conseguir o tão sonhado emprego. “Se a gente não tiver um trabalho não vive. Está muito difícil”, responde um dos trabalhadores sempre quando perguntam sobre a sua situação. Há quatro meses sem trabalhar, Dhemmy Fauany Nunes da Silva, 26 anos, separada, e com um filho, mora apenas com seu irmão. Ela já foi costureira, operadora de caixa, vendedora, bar girl e auxiliar de cozinha. Hoje, vive de fazer bicos em um restaurante onde fatura pelo sistema de diárias. Agora, sobrevive apenas do dinheiro de seu irmão e do Bolsa Família de seu filho, mas diz que aceita o que aparecer. Mesmo Dhemmy tendo uma vasta experiência, o mercado de trabalho não anda favorável para ela, que reclama da dificuldade de se aprimorar em sua área. “Eles pedem muita qualificação em um emprego que não precisa.” Jaqueline Fecundes de Sousa, 28 anos, está há oito meses sem tra-
Carteira de trabalho nas mãos e o sonhado objetivo de conseguir uma vaga. Dhemmy, de 26 anos, reclama da dificuldade de conseguir emprego
balho. Seu último emprego foi de auxiliar de escritório. Ela costuma entregar seu currículo sempre que pode. Efetuou seu cadastro no Sine e vem quase todas as manhãs olhar as oportunidades, mas até agora sem nenhuma entrevista marcada. “Eu vou falar diretamente com a coorde-
nadora para ver se ela arranja uma vaga na minha área, ou qualquer outro campo para eu atuar.” Jaqueline tem dois filhos e mora com a irmã. Ela relata que ainda não conseguiu um emprego com carteira assinada e que vive de fazer bicos para ajudar nas despesas de casa.
A situação da jovem Natalia Sousa Mota, 20 anos, também não é muito diferente da de Jaqueline. Com currículo em mãos, confiante que irá alcançar seu objetivo, ela conta que é casada, tem uma filha e há dois meses vive apenas do salário de seu esposo. O que não é mui-
to para custear as despesas de se ter uma criança em casa. “Tenho que arrumar serviço, ajudar o pai dela. Minha filha depende de mim, e só ele não dá.” Dura batalha - João está sentado com a mão sobre o queixo e feição de insatisfação. Há exatamente um ano procura vaga para trabalhar. Ele sai todos os dias das 7h às 12h em uma busca contínua para ter como alimentar sua família. “Está muito difícil. A gente sai todo dia à procura e não arruma. É a segunda cidade do Maranhão, é uma vergonha.” Pintor, pedreiro e às vezes ajudante, quando não aparece nada, João afirma que passa por muitas dificuldades em casa. “Vou empurrando com a barriga. Na hora que acho um bico compro algumas coisinhas para dentro de casa, para não ter que pedir.” Segundo a gerente do Sine Municipal, Camila Gomes, são muitas pessoas para serem atendidas em um único dia. “Nós já chegamos a atender cerca de 150 cadastros. É muita gente, e a central não aguenta.” Ela explica que o mais importante é o trabalhador manter seu cadastro atualizado para, quando surgir uma oportunidade, o Sine entrar em contato. Sobre o perfil de pessoas que mais visitam o órgão, Camila afirma que não existe uma idade específica. “Vem desde o menor aprendiz até pessoas com uma idade avançada. Não temos uma média, vem gente de todas as idades.”
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ENTREVISTA: ADVOGADO GUILHERME HENRIQUE CHAVES
“Direito de greve é constitucional” DIVULGAÇÃO
TEXTO: LEIDE MAYARA DIAGRAMAÇÃO: ELLEN MONTEIRO
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esde o início de 2017, a reforma trabalhista (Lei 13.467/2017) está entre as principais pautas no Brasil. No debate, são identificados diversos pontos polêmicos como contrato intermitente, negociação coletiva, jornada de 12 por 36 horas, contribuição provisória e atividades insalubres por gestantes e lactantes. Em pleno ano de consolidação das novas regras, além da expectativa, imperam as dúvidas sobre o modo como afetarão empregados e empregadores. Considerando o contexto, esta edição do Arrocha traz uma entrevista com o bacharel em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, presidente da Comissão de Direitos do Trabalho da OAB/MA, Subseção Imperatriz, Guilherme Henrique Chaves de Almeida. Ele sempre atuou profissionalmente na área. Aos 27 anos de idade, tem mais de nove de experiência no mercado. Jornal Arrocha: Quais os principais impactos que esta reforma tem trazido para a classe trabalhadora? Guilherme Henrique Chaves de Almeida: De um modo geral, os impactos são relevantes, tendo em vista que com tantas alterações e mudanças, considero que estamos diante de um novo direito e um novo processo do trabalho. Com relação ao setor público, a reforma afetará apenas os servidores regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). É que neste setor temos os servidores estatutários, que são regidos por leis específicas próprias e os celetistas, que obedecem à CLT. Os servidores públicos de Imperatriz, por exemplo, têm estatuto próprio e, portanto, a reforma trabalhista não afetará o contrato destes trabalhadores, tendo em vista que o Estatuto dos Servidores Públicos de Imperatriz é que rege seus contratos. Já no setor privado, a reforma afetará diretamente toda a classe trabalhadora. Os impactos são muitos, mas posso citar dois como exemplo. Um deles é a prevalência do negociado sobre o legislado. Ou seja, o que for estipulado em acordo e convenções coletivas de trabalho pode prevalecer sobre a lei. E também a nova modalidade de rescisão contratual, o distrato trabalhista, que é uma espécie de acordo para encerrar a relação de emprego. No distrato, tanto o empregado como o empregador resolvem em comum acordo romper o pacto laboral. Mas existem consequências e uma delas é que o empregado não receberá o seguro-desemprego. Esta reforma contribui para que haja uma queda na oferta de empregos? Segundo os defensores da reforma trabalhista a intenção é o contrá-
rio, a de aumentar a oferta de empregos. Todavia, pesquisas e dados recentes do Ministério do Trabalho e do IBGE mostram que a queda continua em alta. Ou seja, até o momento não tivemos um resultado positivo do aumento da taxa de emprego em decorrência dessa reforma. A curto prazo, podemos afirmar que a queda continua, porém, a reforma é recente e precisamos aguardar a médio e, principalmente, a longo prazo para poder afirmar se, de fato, causará algum impacto positivo ou negativo na oferta de empregos.
”Até o momento não tivemos um resultado positivo do aumento da taxa de emprego em decorrência dessa reforma” O que esta reforma traz de positivo ou negativo para os trabalhadores informais? Os trabalhadores informais sofrem de um mal que independe da reforma trabalhista, pois o simples fato de trabalharem na informalidade os exclui de uma série de benefícios que só os trabalhadores formais têm, como o recolhimento do FGTS e as contribuições previdenciárias. As novas regras podem até formalizar algumas espécies de contratos de trabalho, como o intermitente, mas a precarização desses contratos é um fator evidente, pois as empresas podem contratar funcionários sem carga horária definida e pagar apenas pelo tempo trabalhado. De que forma os acordos entre empregador e empregado podem afetar os trabalhadores?
Esta pergunta nos remete a responder um dos objetivos da reforma trabalhista, que é justamente o de valorizar o princípio da autonomia privada coletiva e incentivar o diálogo entre empregados e empregadores. No entanto, o fato de o acordado prevalecer sobre o legislado leva os sindicatos, principalmente os de trabalhadores, a serem mais cuidadosos com o que vão acordar com as empresas e sindicatos patronais, para que tais acordos não venham a afetar negativamente a classe trabalhadora. Tais situações não poderão ser alteradas posteriormente. Em alguns casos, nem mesmo pela Justiça do Trabalho. Ou seja, uma decisão mal analisada, porém acordada entre as partes, poderá afetar negativamente os trabalhadores. Como fica a perspectiva de greves com esta reforma? O direito de greve é constitucional, portanto está mantido. Inclusive a reforma trouxe vedação expressa de que é ilícito o acordo ou convenção coletiva que suprima ou reduza o direito de greve. Em sua visão, esta reforma traz mais benefícios ao empregador ou ao empregado? De um modo geral trouxe mais benefícios para os empregadores. Tanto pela maior flexibilização das relações de trabalho quanto pela supressão de alguns direitos que antes existiam e com o advento da reforma não mais existem, como, por exemplo, o direito às horas in itinere. Isso significa que os empregadores que pagavam estas horas aos seus empregados agora estão desobrigados de pagarem tais horas. Horas in itinere é o tempo gasto pelo empregado em transporte fornecido pelo empregador, de ida e retorno até o local da prestação dos serviços
de difícil acesso e não servido por transporte público regular. Como fica a questão das férias? Na pergunta anterior, falei sobre a maior flexibilização das relações de trabalho e esta pode ser percebida no direito às férias. Com o novo regramento prevê-se que as férias poderão ser usufruídas em até três períodos, o que antes não tinha previsão legal, sendo que um deles não poderá ser inferior a 14 dias corridos e os demais não poderão ser inferiores a cinco dias corridos, cada um. Como os sindicatos podem atuar a partir dessa reforma? O sindicato, sem sombra de dúvidas, foi um dos setores mais afe-
tados com a reforma trabalhista. Ela abalou a estrutura dessas entidades, pois afetou a sua fonte de receita: a contribuição sindical. A reforma prevê que a contribuição que era compulsória, ou seja, obrigatória passa a ser facultativa. Respondendo à pergunta, no que diz respeito a este ponto (contribuição sindical) creio que a partir desse novo regramento os sindicatos terão que conquistar mais ainda a confiança da classe trabalhadora para então estimulá-los a contribuírem. Outro ponto importante é o de que, agora, os sindicatos devem atuar mais instruídos ainda por assessores jurídicos e advogados, tendo em vista que o que for acordado em negociações coletivas é que o que vai prevalecer.
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CONSTRUÇÃO CIVIL Em Imperatriz, a oferta de vagas para os profissionais do setor da construção permanece em baixa, conforme dados do Caged. Esse fato revela o momento de crise econômica que o país tem enfrentado
Construção se mantém em baixa em 2018 GLEDSON DIEGUES TEXTO: GLEDSON DIEGUES DIAGRAMAÇÃO: SUZANA QUEIROZ
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s dados mais recentes do Cadastro Nacional de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, mostram que em Imperatriz continua baixa a empregabilidade de trabalhadores no setor da construção civil. No município existe um total de 3.799 trabalhadores empregados, atuando com carteira assinada na área da construção, em uma cidade que possui 444 estabelecimentos formais, segundo dados do Caged. No Maranhão, a empregabilidade na construção civil também se mantém baixa. Até o mês de abril foram criadas apenas 1.693 vagas na área, comparado ao número de desligamentos, que foi de 1.796 trabalhadores do setor. Em todo o estado são 40.193 empregados formais da construção civil e existem 5.211 estabelecimentos que trabalham com o setor. A quantidade de trabalhadores formais em Imperatriz não representa um ponto positivo na empregabilidade da construção. Na verdade, isso acontece devido ao fato de o setor registrar baixa contratação no município desde o início do ano. O mês de abril de 2018, por exemplo, apontou 193 desligamentos na construção civil em Imperatriz. Já as admissões foram de apenas 185 trabalhadores. Comparando com abril de 2017, que assinalou 110 admissões e 100 desligamentos, houve uma pequena baixa e a empregabilidade se mantém praticamente a mesma.
Remanejamentos - A apontadora da Plainar Engenharia e Empreendimentos, Vanuza Mesquita, explica que quando aparecem novas oportunidades de trabalho, o que acontece é apenas uma reposição do quadro de funcionários de acordo com a necessidade da obra. Ao finalizar a parte de levantamento da construção, dispensam-se os trabalhadores daquele setor, contratam-se outros ou é feito um remanejamento de função para a área necessária, mantendo praticamente o número de funcionários para fazer a parte do acabamento da obra. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Imperatriz (STICC), Wanderson Moreira da Silva, também tem a mesma opinião com respeito a esta baixa oferta de empregos. Ele acrescentou que muitos trabalhadores, após serem contratados e terem suas carteiras assinadas, se “desleixam no trabalho”, pois sabem que se forem desligados da empresa receberão seus direitos. Essa postura contribui para a rotatividade de contratação, já que é necessário suprir a vaga daquele funcionário “desinteressado”. Sonho - A instabilidade da oferta de empregos tem afetado os trabalhadores da construção civil, impossibilitando que alguns façam compromissos. Esse é o caso do casal Edna Pires Monteiro e Emailton Martins do Nascimento, que querem se casar. Embora sejam proprietários de uma Microempresa da área da construção civil, a Monteiro e Serviços, esta não tem dado a Edna e Emailton total condição para a concreti-
Admissão de funcionários no setor da construção civil em 2018 mantém mesmo número de contratação que havia em 2017, no município de Imperatriz
zar o sonho do casamento. Eles têm uma proposta de serviço, mas só para depois da data da cerimônia, prevista para julho. A saída que o casal encontrou foi vender espetinhos para levantar o dinheiro necessário para arcar com a despesa do evento. A M.E. Monteiro e Serviços é composta pela família, mas já está há mais de três meses sem um serviço empreitado. A pequena empresa presta serviço no acabamento de obras, cuidando de aplicação de rejunte, pintura, textura e limpeza após o término. Edna relatou que
desde 2016 a área da construção civil tem enfrentado um tempo difícil e que os últimos serviços prestados pela empresa, em que somente a família pôde trabalhar, foram muito escassos: “Em tempos bons, nossa pequena empresa chegou a prestar serviços em prédios de 16 andares e 164 apartamentos”. Quando acontecem convites para demandas em obras grandes e há a necessidade de admitir mais funcionários, é firmado um acordo que os outros empregadores chamam de contrato de experiência e que os empresários chamam de contrato por tempo de
serviço. “Porque num prédio de 16 andares, por exemplo, para a gente efetuar o serviço, como já entramos no final da obra e os prazos são só de 90, 60 e até 45 dias para ser feito, então fazemos um contrato por tempo de serviço. E essa contratação que fazemos é bem seletiva”, explica Edna. Por causa da queda de oportunidades para serviços da empresa, foi preciso reduzir a contratação de funcionários, sendo que atualmente só os membros da família são os colaboradores da M.E. Monteiro e Serviços.
GLEDSON DIEGUES
Quem disse que só homem pode trabalhar de pedreiro? TEXTO: GLEDSON DIEGUES DIAGRAMAÇÃO: SUZANA QUEIROZ
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m meio à baixa empregabilidade da construção civil, existe uma trabalhadora que garante sempre conseguir trabalho no setor. Antônia Alves dos Santos, de 33 anos, é pedreira empregada na construtora Plainar e única mulher na profissão registrada em sindicato. Ela exerce o ofício há sete anos, desde quando concluiu o seu curso de pedreira de alvenaria no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em 2011. Desde então, Antonia diz ter sempre conseguido trabalho. “As outras pessoas, tanto mulheres como homens, me chamam de guerreira e ganho elogio delas. É bom ganhar um elogio quando a gente faz o nosso trabalho bem feito. Elas falam: ‘Nossa, você é a primeira mulher pedreira que eu vejo. A luta é grande, mas, é bom demais, é bom a gente ter gosto pela profissão”.
Antônia disse que sempre quis trabalhar e arrumar um emprego, mas seu marido não concordava no início. Ela não desistiu da ideia, até que um dia, assistindo ao telejornal local, viu que estava passando a notícia de que havia vaga no Senai para alguns cursos, entre eles o para pedreiro de alvenaria. Antonia se interessou, se inscreveu e, ao término do curso, foi procurar emprego em obras da cidade, até que conseguiu na do hotel Ibis. “Antes, eu fazia serviço de doméstica, fazia tapetes para vender. Meu marido que não gostou da ideia, mas hoje já se acostumou”. Região - Imperatriz faz parte de uma microrregião que engloba 16 cidades e a segunda maior, Açailândia, teve, no mês de abril, 50 admissões e o mesmo número de desligamentos de trabalhadores da construção civil. No total, a microrregião, que é ligada a Imperatriz tem atualmente 5.254 trabalhadores formalizados atuando em 673 estabelecimentos da área de construção e registrou, até abril, 250 admissões e 253 desligamentos no setor.
Das 16 cidades, João Lisboa foi a que apontou uma boa contratação no mesmo mês, admitindo 14 trabalhadores e registrando somente dois desligamentos. “No meu ponto de vista, a construção está se recuperando este ano, embora um pouco lenta”, relatou o engenheiro civil da Plainar construtora, Elison Silva. Segundo ele, há uma boa expectativa de melhora do mercado para o ano que vem, tanto que está prevista uma nova obra para a construtora assumir provavelmente para o início de 2019, na avenida Pedro Neiva de Santana. “Essa obra era para ter sido iniciada há mais ou menos um ano. Mas, por conta da crise não deu. Crise que, inclusive, levou algumas construtoras aqui na cidade a pararem suas obras.” Mas em relação à criação de novas oportunidades de emprego, Elison disse que ainda manterá o mesmo número de funcionários. Primeiro são aproveitados os empregados da construtora e então, se houver necessidade, só então são contratados novos trabalhadores.
Antônia trabalha como pedreira na construção em Imperatriz, sendo a única mulher registrada
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INOVAÇÃO O empreendedorismo e a inovação do profissional de tecnologia da informação abrem espaço no mercado de trabalho, ajudando a transformar e a melhorar a gestão em empresas da cidade
Tecnologia da informação pode auxiliar as empresas TEXTO: CAROLINE DUARTE DIAGRAMAÇÃO: RAFAELA PINHEIRO
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mperatriz, a segunda maior cidade do Maranhão, possui uma boa demanda entre as empresas gerais e aquelas desenvolvedoras de software. No entanto, os conflitos entre elas se baseiam no preço do serviço. Tanto no valor cobrado pelos desenvolvedores quanto no custo que as empresas querem pagar. O diagnóstico é de um profissional formado em Sistemas de Informação, Thiago Rodrigues. Ele possui a função de gerir os sistemas informatizados de um negócio, visando à sobrevivência dessa empresa. Este especialista faz a análise da realidade da instituição para planejar e organizar os dados internos. O trabalho envolve a criação, a instalação e a adaptação de programas que facilitam a vida e o dia a dia da empresa. Assim, ele mexe nas redes internas e na internet para gerenciar o banco de dados. Mercado - O mercado da área de computação como um todo está bem aquecido em Imperatriz. Afinal, cada vez mais inovações estão tomando conta da gestão das em-
presas. O analista de sistemas Tiago Rodrigues é formado pela Faculdade de Imperatriz (Facimp) e atua na área de programação há pouco mais de dois anos. Logo que se formou, começou como empreendedor no mercado. Tiago comenta que as empresas de software na região, em geral, têm uma dificuldade muito grande de precificar o valor dos seus serviços e às vezes insistem em fazer uma comparação com as de outras regiões, que representam mercados diferentes nas questões econômica e cultural. No setor de desenvolvimento de programas internos empresariais, existem várias formas de se adaptar ao mercado. O exemplo que Thiago dá é a forma que desenvolvedores de outras regiões trabalham para conquistar o cliente, agindo remotamente, ou seja, sem a presença física do profissional, estipulando valores baixos e ganhando no volume de contratos e de custos da mensalidade. Isso faz com que as empresas de Imperatriz prefiram pagar menos para o que vem de fora. ”Tecnicamente falando, Imperatriz tem ótimos desenvolvedores. Não perde para as outras cidades e tem ótimos programadores. Então
tudo que os empreendedores quiserem fazer, os programadores daqui da cidade conseguem atender”, destaca Thiago. Outra forma de atender a essa demanda é concentrar-se na formação desses profissionais. Como alguém formado em Sistemas de Informação cuida da gestão de todo o fluxo de dados que passa dentro de uma organização, é preciso que o mercado de trabalho esteja ocupado por especialistas da área. No entanto, não é só diretamente nela que podem trabalhar. As empresas do setor alimentício têm investido, por exemplo, em aplicativos mobile. Estas ferramentas não apenas facilitam a vida dos empresários do ramo como também dos clientes, que encontram facilidade no pedido e na entrega. Os desenvolvedores do software cedem a plataforma na web para que eles possam gerir as corridas e as entregas. O entregador irá controlar o local de onde fará as remessas e a parte do quanto ele irá receber. Todas essas formas de tecnologia dentro das empresas consiste em facilitar a atuação dos desenvolvedores, ou clientes em geral.
Universo fora da própria área de atuação CAROLINE DUARTE
CAROLINE DUARTE
Thiago Rodrigues,29 anos, trabalha no ramo de tecnologia da informação há mais de dois anos
Vai uma ajuda aí? Consertos de eletroeletrônicos
Kleythonn Oliveira, 28 anos, explica que o mercado exige muito, mas nem sempre o profissional consegue atuar na sua área de graduação TEXTO: CAROLINE DUARTE DIAGRAMAÇÃO: RAFAELA PINHEIRO
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ovos programas são lançados no mercado, como o software utilitário e outras tantas novidades que nos fazem gostar ainda mais da tecnologia. Uma área desafiadora, pois a necessidade de atualização é constante. A vontade de aprender e ultrapassar obstáculos deve ser a fonte alimentadora para as pessoas que almejam uma vaga que envolva diretamente a tecnologia. Escolher uma profissão é uma etapa bem importante na vida para aqueles que não tiveram ainda nenhum contato com o mundo profissional. Nesse momento, é preciso levar em conta não só o salário da profissão, mas todo o esforço que será necessário para alcançar os seus objetivos. Porém, mesmo com toda
essa vontade e empenho, nem sempre se encontra a oportunidade. Formado em Sistema de Informação, Kleythonn Oliveira, 28 anos, trabalhou na área de TI em uma loja de variedades no centro de Imperatriz, passou pelo setor de logística e atualmente trabalha no administrativo da mesma empresa. O porquê de toda essa mudança? O salário! Kleythonn destaca que o mercado de trabalho muitas vezes desvaloriza o profissional de TI. Os rendimentos são baixos para tantas responsabilidades e é preciso ser multifuncional e conhecer várias áreas. Kleythonn conta que decidiu fazer o curso de Sistema de Informação porque na época gostava muito de informática. “Como a maioria dos jovens, eu tinha a ideia de criar programas, inovar em softwares nas empresas, o que acabou não acontecendo de imediato.
Não encontrei espaço no mercado de trabalho”. Ele conta que está na mesma empresa desde antes da formação. “Comecei na área de TI, por isso decidi fazer o curso superior almejando crescer ainda mais. Eu cresci, porém em outra área, no setor de tecnologia já não tinha mais por onde crescer. Foi aí que vi a desvalorização desse profissional. Não em todas as empresas, porém nas que busquei, sim”, analisa Kleythonn. Atualmente, o profissional é chefe do setor de Administração de Vendas da empresa Alto Miudezas LTDA. Segundo ele, o curso superior ajudou e muito a conseguir a mudança de campo de atuação. Imperatriz não possui entidades que representem esses profissionais. O que há são comunidades que se reúnem para fazer eventos e compartilhar conhecimentos.
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utros profissionais que estão há mais tempo no ramo, porém com uma função mais básica, são os que trabalham com consertos de eletroeletrônicos. Serviço importante e muito requisitado na cidade e comumente um espaço ocupado por pessoas que não possuem um diploma profissional. Cada vez mais clientes têm deixado de comprar novos aparelhos após o mau funcionamento e investido em consertos, visando a economizar o gasto a mais, adquirindo um novo objeto. Em Imperatriz, é comum ver pequenas lojas de conserto que utilizam dessa necessidade no mercado e investem muitas vezes no próprio negócio, mesmo sem um curso profissional.
Josadack Santos, 55 anos, formado em biologia e que atua na área de consertos de notebooks e desktops desde 1970, também tem curso técnico em eletrônica. Mas segundo ele, essa formação só foi concluída depois de alguns anos já trabalhando no setor. A tecnologia se modifica a cada ano. Para Josadack, no passado, a procura dos serviços para computadores era menor, porém, como se tratava de uma inovação na cidade, era constante a busca por reparos básicos, como limpeza, instalação de programas e pequenos consertos. Hoje em dia a demanda é maior, porque as pessoas já não conseguem ficar sem um computador ou notebook em casa.
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TURISMÓLOGOS Mesmo realizando grandes eventos como Fecoimp, feira de destaque nacional e sendo porta de entrada para o turismo de aventuras, o curso de Turismo não despertou interesse de novos alunos
Faculdades não oferecem curso de Turismo DINA PRARDO TEXTO: DINA PRARDO DIAGRAMAÇÃO: YANNA DUARTE
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único curso de Turismo que já foi oferecido em Imperatriz encerrou suas atividades há 12 anos. Com uma expectativa de crescimento no setor turístico, a Faculdade Atenas Maranhense (Fama), implantou o curso no ano de 2001. Na época, a cidade já se destacava com a realização de congressos, feiras e exposições. O turismo de negócios, eventos e até mesmo de aventura era a grande aposta do curso, realidade que não se confirmou e em apenas cinco anos a faculdade não conseguiu formar novas turmas. Durante esse período, 235 alunos formaram-se turismólogos. Para o professor universitário Vilson Santos Ferreira, o curso começou na contramão. Antes da implantação deveriam ter sido elaborados projetos que viabilizassem as atividades dos futuros turismólogos. Isso seria feito por meio de laboratórios práticos que desenvolveriam ações envolvendo as entidades públicas no sentido de fomentar o turismo regional. Apesar de Imperatriz ser conhecida como Portal da Amazônia, abrigar três universidades públicas e seis particulares e do seu destaque no comércio atacadista, nada disso foi suficiente para manter o interesse de novos acadêmicos no curso de Turismo. Marivaldo Sousa é um dos alunos formados na área pela Fama e lembra que na época a administração municipal tinha projetos mais participativos para o desenvolvimento do turismo em
Imperatriz. No entanto, esses não foram para frente, segundo ele, por conta da mudança de gestor municipal. A ideia seria abranger tanto o turismo de negócios, que é o carro-chefe da atividade em Imperatriz, quanto o de lazer, ação praticada nas cidades circunvizinhas. É o caso de Carolina, município conhecido pelas diversas cachoeiras,
“O turismo de negócios, eventos e até mesmo de aventura era a grande aposta do curso, realidade que não se confirmou” além de ser o ponto de apoio para a visita ao Parque Nacional da Chapada das Mesas. Formados - Dos alunos formados pela faculdade Fama, muitos migraram para outras áreas como comércio, administração e educação. Mas também é possível encontrar turismólogos atuando no setor, especialmente em agências de viagens, eventos e cerimonial. Francisco Soares Barros é um dos alunos que concluíram o curso mas nunca atuou como turismólogo, caso que não é incomum. Até por uma questão de salário optou por ficar trabalhando como vendedor no comércio atacadista. Odnalda Cunha, outra turismóloga formada pela Fama, diz que escolheu fazer o curso porque na época não havia tantas opções. “Eu
A Beira- Rio é porta de entrada da cidade. Além de portal da Amazônia, Imperatriz também se destaca pela realização e promoção de eventos
sempre desejei cursar Psicologia, e no curso de Turismo havia esta disciplina. Porém, era voltada ao turismo. Me decepcionei, mas segui em frente, pois comecei a gostar do curso”. Odinalda também recorda que trabalhou como estagiária na Superintendência de Turismo (Sutur), no Centro de Convenções de Imperatriz, e também como coordenadora do Laboratório de Turismo (Labofama), na faculdade em que se formou. Já são anos como turismóloga e a esperança em atuar na área original de sua formação permanece viva. “Sinto-me, às vezes, como alguém que ainda não
encontrou a oportunidade que favoreça ou corresponda aos anos investidos em faculdade. Mas com perspectiva de que ainda haja algo, com o qual me sinta à vontade para desempenhar”, lamenta. O que faltou? - A faculdade tinha a obrigação de envolver as entidades públicas no sentido de fomentar o turismo local e regional. O professor Vilson Santos argumenta que Imperatriz é a cidade de entrada para qualquer tipo de turismo que venha a ser realizado na região, seja o de negócios ou lazer. Para ele, Imperatriz pode se tornar referência nacional na primeira área
citada. “Dentro desse turismo de negócio você pode ter eventos acadêmicos e religiosos que poderão proporcionar um grande destaque para a cidade”, comenta o professor. Ele lembra que recentemente o município sediou o I Seminário Norte Nordeste de Doenças Neurológicas, evento pioneiro de grande porte na área da medicina. O que faltou na época em que a faculdade oferecia o curso de Turismo, continua faltando ainda hoje: um apoio mais direcionado ao setor, proveniente especialmente dos órgãos públicos.
Setor hoteleiro se destaca com empreendimentos diferenciados DINA PRARDO TEXTO: DINA PRARDO DIAGRAMAÇÃO: YANNA DUARTE
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Sindicato dos Empregados no Comércio Hoteleiro e Similares estima que Imperatriz tem atualmente 21 hotéis. Na área central da cidade estão instalados os mais luxuosos, de melhor estrutura e obviamente os de diárias mais caras, como por exemplo o tradicional Posseidon Hotel. Além disso, recentemente foi inaugurada uma unidade do IBIS, uma rede de hotéis presente em mais de 60 países. Um setor que comporta alguns dos hotéis presentes na cidade é a área da antiga rodoviária, onde estão situados os estabelecimentos com características domésticas ou as conhecidas pousadas. Um segmento que poderia ser aliado na empregabilidade de profissionais turismólogos, quase sempre opta por uma administração familiar. O número de trabalhadores atuando nos hotéis em Imperatriz não chega a 300 pessoas. A rede hoteleira cada vez mais está com um olhar direcionado para novos investimentos. Uma economia pujante que exige a qualidade aliada à funcionalidade. Esse foi o ponto de partida para a turismóloga Maricelia Reis buscar a especialização. Ela concluiu o curso de Turismo no ano de 2007,
Quarto do New Anápolis Hotel: representantes de grandes empresas são os principais clientes e a hotelaria familiar é destaque na cidade
na Faculdade Atenas Maranhense (Fama). Na época, Maricelia já percebia que este era um mercado promissor e não mediu esforços para conquistar seu espaço nessa área que tem como característica a exigência do cliente. Depois de deci-
dir se especializar em hotelaria, o próximo passo seria escolher onde buscar novos conhecimentos e ela decidiu viajar para o sul do país. Foi na Castelli Escola Superior de Hotelaria em Canela, no Rio Grande do Sul, que Maricelia fez sua pós-graduação, tendo a opor-
tunidade de trabalhar em grandes hotéis e com isso aprimorar os seus conhecimentos. Ela lembra que se identificou com a hotelaria já no período de estágio da faculdade. “Durante minha especialização, eu pude passar por todos os setores do hotel e conhecer o pas-
so a passo da hotelaria. Lá eu fui de tudo um pouco. Eu acompanhava o gerente como uma sombra”, lembra. Potencial - No centro da cidade é fácil encontrar pousadas e hotéis de pequeno porte, que são ocupados em sua maioria por vendedores e representantes de grandes empresas que precisam se hospedar o mais próximo possível do setor comercial. Porém, o conforto é regra básica para quem procura um quarto de hotel. É o caso de Rodrigo Oliveira, que vem a Imperatriz há pelo menos cinco anos e sempre se hospeda no Hotel São Luís, localizado no centro da cidade, em uma das melhores áreas para quem está exclusivamente a trabalho. Para ele, os hóspedes terminam criando um vínculo e se tornam amigos. “Quando eu demoro a vir em Imperatriz fico com saudades das pessoas daqui. Eu me sinto em casa. É um hotel simples, mas bem aconchegante”, comenta Rodrigo, que faz questão de ressaltar a hospitalidade dos imperatrizenses. Para a presidente do sindicato, Lindalva Santos, o setor hoteleiro de Imperatriz precisa de uma estruturação maior, o que será importante para a economia da cidade, pois está diretamente ligado ao turismo de negócios e eventos.
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ADVOCACIA EVELLYN LIMA
Maranhão já tem mais de 19 mil advogados Advogado tributário Willian Kennedy Viana Santos trabalha em seu escritório em Açailândia, Maranhão, ao lado de uma miniatura do símbolo da Justiça: “Há uma dificuldade da própria empresa, às vezes, de procurar um advogado tributarista” TEXTO: EVELLYN LIMA DIAGRAMAÇÃO: GISLEI MOURA
19.092
Este é o número de advogados inscritos na Ordem de Advogados do Brasil (OAB) no Maranhão. Os dados são da OAB de Imperatriz, a qual comporta, sozinha, 2.335 inscrições, totalizando 12,23% destes profissionais no estado. Imperatriz oferta cursos de Direito em instituições como a Faculdade de Educação Santa Terezinha (FEST), Faculdade de Imperatriz (Facimp), Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão (Unisulma). Este é um dos fatores que explica m por que a cidade tem um bom número de advogados inscritos, considerando a quantidade de profissionais no estado, que possui outras 216 cidades. Apesar disso, muitos dos bacharéis em Direito formados em Imperatriz atuam em municípios como Itinga, São Francisco do Brejão, Davinópolis, Açailândia e outros das proximidades. É o caso do advogado Willian Kennedy Viana Santos, que se formou em Direito pela Facimp e atua hoje em Açailândia. Santos ficou surpreso ao ser informado que o número de inscrições na OAB do Maranhão passou de 19 mil, pois, quando ele se tornou parte da Ordem, em 2007, o número não chegava a 11 mil. A OAB no Maranhão existe desde 1932 e já tinha 75 anos em 2007, o que revela um aumento mais rápido nos últimos anos. Levando em conta o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a respeito do número de habitantes do Maranhão, divulgado em agosto de 2017, o estado tinha uma população de 7.000.229. Considerando a quantidade atual de ad-
vogados do estado, seria um profissional para cada 366,66 habitantes, caso esse número fosse igualmente distribuído na região. Atuações - Apesar de não haver dados oficiais a respeito, para o coordenador do curso de Direito da UFMA, Gabriel de Araújo Leite, uma das especializações mais necessárias na região é o direito comercial e empresarial e dentre as mais complexas está a de direito tributário. “A área tributária do Brasil é uma complexidade infernal, a pior do mundo”, acredita o professor. Além disso, a complicação envolvendo a área também passa por questões de preparo
intelectual, segundo Gabriel. “Em razão da qualificação, porque direito tributário, além do conhecimento de Direito que se deve ter, é preciso ter entendimento de outras áreas, como matemática e contabilidade. Para mexer com Direito Tributário, se não tiver noção de matemática e contabilidade, nem começa, viu?”. O advogado Willian Santos tem especialização justamente em Direito Tributário, pela Universidade Anhanguera e atua ainda com assessoria de empresas. Ele destaca outra dificuldade de exercer a advocacia na área, como é o caso dos advogados que nem sempre esclarecem a
importância do Direito Tributário. E também o de muitas empresas que resistem à ideia de prevenir problemas na área e só se atentam para isso quando eles aparecem. “Há uma dificuldade da própria empresa, às vezes, de procurar um advogado pra questões tributárias. Eles contam muito com o contador, pelo menos na nossa região é assim, para resolver probleminhas administrativos. E o advogado só mesmo em último caso”. Willian esclarece que nos casos de execução fiscal ou processo judicial para exigir o pagamento do tributo ou em que não há uma EVELLYN LIMA
Coordenador do curso de Direito da UFMA, Gabriel de Araújo: direito comercial é necessidade, mas exige conhecimentos complexos de matemática
discussão administrativa, é quando normalmente as empresas procuram o jurídico. “Então, acho que talvez até a mentalidade precise ser mudada. Eu não sei se têm partes da empresa ou os advogados demonstrarem que é interessante ter esse serviço também administrativo. Nós aqui do escritório sempre que podemos fazemos isso, só que estamos limitados à nossa realidade, às pessoas que a gente tem contato”, esclarece. Apesar das dificuldades, Willian vê a área tributária com otimismo para o exercício da advocacia. “Eu acho que é uma seara bastante interessante. O Brasil tem um mercado bom, porque a estrutura tributária é muito conflituosa, pesada”. Estágio - Para atuar como advogado no mercado de trabalho, é imprescindível que o acadêmico faça um bom estágio. A respeito dele, Willian aconselha que o estudante só comece depois do sexto período. “Porque tem gente que entra muito cedo, eu acho interessante, mas você não tem muito o que fazer. Alguém, por exemplo, que estagia no primeiro período, tem uma noção muito limitada nesse sentido. Mas vai de cada um, claro”. As chances de uma pessoa ser só um office boy do escritório antes disso são altas. “Ela não tem noção, tem fundamentos que a pessoa precisa e não tem muito. Claro, têm pessoas que se dão muito bem aprendendo primeiro na prática e depois indo pra teoria. Então não sei se é bom que seja a regra”, define. Ele ainda informa que hoje se tornou mais fácil conseguir um estágio porque o número de advogados está crescendo. Por isso, as vagas para o estudante de Direito aprender com quem já trabalha na área crescem junto com a quantidade de escritórios.
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AGRICULTURA Poucas políticas públicas são oferecidas para o trabalhador rural em Imperatriz, e as que existem envolvem muita burocracia para serem obtidas, o que gera pouco espaço para inovação no campo
Ausência de incentivo desanima agricultores AGDA ANASTACIO TEXTO AGDA ANASTACIO DIAGRAMAÇÃO VIVIANE REIS
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li na horta, às 5h30, Antônio Pereira dos Santos, 70 anos, inicia mais um dia de manejo na terra para plantar as mudas de hortaliças, sendo a sua primeira etapa da rotina de trabalho. Assim como a vida de Antônio, essa é a realidade de 12,3 milhões de pessoas que estão vinculadas à agricultura familiar no Brasil. Segundo dados de 2006, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), elas ocupam 74,4% da mão de obra que atua no campo. Antônio relata que iniciou nesta atividade aos 10 anos , ajudando seus pais na roça. Durante toda a vida foi o único trabalho que teve. Apesar das dificuldades para comprar os materiais para o cultivo e obter lucro, ainda assim prefere continuar na agricultura, pois a renda que consegue por meio da venda da sua própria produção de hortaliças é relativamente melhor do que se ele trabalhasse como assalariado. “Quase não tem lucro, mas com tudo isso dá mais que trabalhar de empregado.” A agricultura familiar é uma atividade rural, desempenhada por famílias que dependem da produção agrícola para o seu próprio sustento. Em Imperatriz, a segunda maior cidade do Maranhão, existem cerca de 2.400 famílias que trabalham na agricultura familiar, de acordo com dados do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Falta Incentivo - Ainda que Antônio consiga uma renda melhor que um salário mínimo, enfrenta desafios pertinentes e comuns a todos os pe-
Trabalhador da agricultura familiar no cultivo e coleta de hortaliças, como alface, rúcula e outros, para obter renda por meio do comércio
quenos agricultores. Ele conta que as políticas públicas são pouco voltadas para a sua categoria e as que existem possuem muita burocracia para conseguir. É o caso do Pronaf-Microcrédito Rural, que financia crédito para a produção dos agricultores de baixa renda com juros mais baixos. E isso acaba desanimando, pois o dinheiro que ganha com a venda dos excedentes dá somente para manter sua família e comprar os materiais para o cultivo. Não é possível realizar o desejo de de cobrir a horta para poder plantar no período chuvoso devido ao fato de não ter de onde tirar esse recurso. “Se eu tivesse uma ajuda para fazer minha cobertura e conseguisse trabalhar no tempo de chuva teria prazer de trabalhar. Só que não tenho
condições financeiras de fazer isso”, lamenta Antônio.
“Se eu tivesse uma ajuda para fazer minha cobertura e conseguir trabalhar no tempo de chuva... Tenho prazer de trabalhar. Só que não tenho condições financeiras de fazer isso” De acordo com o secretário municipal de Agricultura, Paulo Marcelo Torres Araújo, existe o projeto para o fortalecimento da agricultura familiar na cidade, que é o Programa de Aquisição de Alimento (PAA). O município, em parceria
com o governo federal, compra a produção diretamente dos agricultores familiares e distribui esses alimentos para hospitais, creches e instituições sociais. O PAA atende diretamente a 240 famílias e, indiretamente, a quase duas mil. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Carlindo Pereira Costa, declara que não existe incentivo de nenhuma política pública, o que dificulta a produção e a venda do pequeno agricultor. “No momento, sinceramente não estamos tendo incentivo à produção. Da prefeitura, o único incentivo que nós recebemos é que às vezes eles cedem um trator para mecanizar um pedaço de terra para o trabalhador plantar, e só. Quem mora lá na zona rural tem dificuldades de
AGDA ANASTACIO
Filhos que trilham os passos dos pais TEXTO AGDA ANASTACIO DIAGRAMAÇÃO VIVIANE REIS
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om 17 anos, o jovem Marcos Kenis Silva já decidiu qual profissão seguir. Ele conta que essa decisão foi tomada quando tinha 8 anos de idade, época em que passou por um momento de dificuldade com sua família, quando o sacolão de seu pai, Manoel Martins, única renda que eles tinham, veio à falência. A solução que Manoel encontrou foi começar uma pequena plantação de hortifrúti. A partir daí, Marcos começou a ajudar seu pai na plantação e em pouco tempo aprendeu todo o processo de cultivo. No início ia porque precisava, mas com o passar do tempo começou a gostar de tudo que envolvia a plantação. Percebeu que era o trabalho com que mais se identificava e este desejo continuou, mesmo depois de alguns anos. Apesar de ter cursado até o se-
gundo ano do ensino médio, planeja concluí-lo para conseguir realizar seu sonho de se formar em agronomia, a fim de prosseguir com a profissão que aprendeu com o pai. “Sou filho único e desejo continuar. Eu gosto de ajudar meu pai, trabalho na horta durante o dia todo. Às vezes ele vai para casa descansar e eu fico sozinho regando a horta, porque eu gosto de trabalhar na agricultura.” Continuidade - O ofício de agricultor foi a herança que Francisco da Silva, de 67 anos, recebeu dos seus pais. Ele relata que aprendeu a trabalhar muito cedo na agricultura, devido ao fato de ter que ajudar na subsistência da sua família. E também por ser o único trabalho que conseguia, pois não havia oportunidades de estudar. “Fui criado na roça pelos meus pais, e nesse ambiente aprendi arduamente, ainda criança, o serviço na agricultura.” Antes de morar em Imperatriz,
ele vivia em Dom Pedro, cidade que fica no interior do Maranhão, onde cultivava e vendia tomate para conseguir obter uma renda no fim do mês. Mas esta nem sempre era suficiente para atender as suas necessidades básicas. Em 1998, a realidade de Francisco começou a mudar, quando recebeu uma proposta de morar em Imperatriz, e ser produtor de hortaliças para uma rede de supermercados da cidade. “Isso foi sonho de muitos anos. Eu já tinha andado em Imperatriz em 1972, gostei muito da cidade, cheguei em 1998 e me dei bem.” Apesar disso, ainda existem algumas dificuldades que são encontradas por Francisco, como as várias horas de que precisam para se dedicar à profissão e o alto preço de alguns produtos para o cultivo. Ele afirma que isso se torna desafiador, pois para manter o contrato com empresa, é exigido que se mantenha a produção de modo cons-
transportar a sua produção para o local onde realiza a venda.” Mulheres rurais - Há 12 anos, a agricultora familiar Roniglecia Pereira dos Santos conhece de perto a dupla jornada de trabalho. Ela relata que começou a trabalhar na agricultura quando se casou e desde então ajuda seu marido com a plantação e a venda das hortaliças. A história de Roniglecia é um retrato do âmbito rural no Brasil, onde as mulheres desempenham um papel bastante significativo. De acordo com o último Censo Agropecuário do IBGE, de 2006, cerca de 45% dos produtos são plantados e colhidos por elas, que representam 30% da força de trabalho nos estabelecimentos rurais. Para conciliar o trabalho na horta e doméstico, Roniglecia acorda às 5 horas e inicia os cuidados com a plantação. Quando termina, retorna para casa e realiza os afazeres domésticos. É assim durante todo o dia, dividindo as horas entre a casa e a horta. “Tem que ser cedo mesmo, porque fica melhor. Pelo menos nós que somos dona de casa, temos que ter aquele tempo. Vai lá e mexe na horta, aí corre para casa faz as coisas, e volta. Assim vou dando conta do recado.” Apesar das contribuições da mulher na agricultura familiar, o seu o papel ainda é invisível. Uma vez que seu trabalho é considerado apenas uma ajuda, ocupando uma posição de subordinação, acaba dificultando o seu reconhecimento como trabalhadora rural. O acesso às políticas públicas e projetos de conscientização e valorização da mulher no ambiente rural é essencial para que elas reconheçam que exercem um papel central no contexto da produção familiar.
70% dos alimentos que chegam à mesa da população são produzidos pela agricultura familiar
tante. “A minha produção aqui pode ser inverno ou verão, tem que manter sempre, pois todos os dias às 3 horas, o carro chega para buscar as verduras, e fazer as distribuições nos supermercados.” Segundo Silva, a renda que ele adquire dá para viver tranquilamen-
te e desde que aceitou a proposta de ser fornecedor fixo da rede de supermercados, nunca precisou ir ao mercado apelar para vender as caixas de verduras. “É uma fonte boa, há 20 anos forneço hortaliça para a empresa, sem precisar que eu fique indo atrás de vender.”
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ALIMENTAÇÃO Empresários e chefs de cozinha migram para a cidade e apostam no potencial de desenvolvimento da região tocantina para fazer carreira no mercado gastronômico, oferecendo pratos sofisticados
Chefs de cozinha tentam carreira na cidade BRENDA CAROLINE TEXTO: BRENDA CAROLINE DIAGRAMAÇÃO: JOÃO MARCOS
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ramo alimentício, com uma gama de restaurantes que vai de pratos regionais à alta gastronomia, responde por boa parte dos empregos e atrai profissionais e investidores de fora para o mercado local. Foi o caso de Marco Antonio Gomes, 39 anos, que trabalhava em um importante restaurante em São Luís quando foi designado para liderar uma cozinha igualmente rigorosa na filial do grupo em Imperatriz. Chef há seis anos, sua trajetória evidencia o caráter meritocrático da profissão. Assim como muitos chefs conceituados, precisou lavar muita louça antes de conseguir o cargo mais cobiçado na cozinha. “Comecei trabalhando aqui na casa como zelador em 1998, depois fui auxiliar de cozinha e então cozinheiro”, declara Marco Antonio. Sem educação formal, o chef aprendeu tudo o que sabe ao longo de 20 anos de experiência na rotina cansativa e bastante exigente da cozinha profissional. Ele afirma tratar com bom humor as raras reclamações de clientes. “Cozinhar é bom, mas é complicado lidar com gente.” Muito diferente do glamour que se imagina haver nessa profissão, Marco Antonio vive o estresse
Chef Marco Antonio está à frente da cozinha de um dos restaurantes mais conceituados e caros da cidade. Ele lidera uma equipe de 11 cozinheiros
de comandar uma equipe formada por 11 cozinheiros e auxiliares e trabalhar 14 horas diárias em turnos alternados com outro chef. Entretanto, considera-se bem remunerado, pois o salário de chef nessa região varia de R$ 3 mil a R$ 6 mil. Escola europeia -Foi por causa da insistência de amigos e familiares que o chef paulistano Murilo De
Bonis Carvalho, 42 anos, decidiu investir na área gastronômica. “Gosto muito de cozinhar desde criança. Minha mãe era delegada e meu pai advogado e morei muito tempo só, aí cozinhava para amigos e festas de família.” Antes de transformar o hobby em profissão, Murilo formou-se em Direito, Administração e Educação Física, atuando em cada
Sabores da avenida Bernardo Sayão TEXTO: BRENDA CAROLINE DIAGRAMAÇÃO: JOÃO MARCOS
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os últimos cinco anos, o jeito de fazer e vender comida agregou sofisticação à rotina da cidade. Os famosos “podrões” deram espaço para as inúmeras hamburguerias gourmet e o antigo guaraná da Amazônia vendido em calçadas compete com ambientes refrigerados onde se compra açaí no quilo com uma infinidade de misturas. Prometendo mais qualidade e higiene a troco de valores bem acima do que costumava ser cobrado popularmente, o mercado gourmet mostra-se como um investimento rentável e gera empregos. Entretanto, também é uma ameaça aos pequenos produtores que não podem investir em estrutura. Nesse contexto, encontram-se pessoas como Antonia Alcina Carneiro da Silva, que viu na venda de “geladão” uma oportunidade de sair do desemprego. Após 11 anos trabalhando como balconista em uma panificadora, foi demitida quando a empresa entrou em declínio. Aos 53 anos de idade, precisou se reinventar. Buscou outros empregos, porém sem sucesso. Apelou para o que sabia fazer. Temerosa, encheu uma caixa de isopor e seguiu pela avenida Bernardo Sayão. “O início foi surpreendente. Vim na
incerteza e no primeiro dia vendi 50 geladões”, relata satisfeita. Antonia considera que trabalhar de forma autônoma é mais vantajoso em comparação ao seu último emprego. Lá ela ganhava um salário mínimo e trabalhava de domingo a domingo, com uma folga semanal. “Agora faço meu próprio horário, trabalho de segunda à sexta uma média de quatro a cinco horas vendendo, e consigo tirar, em média, R$ 1,3 mil.” O lucro é maior dependendo da
“O início foi surpreendente. Vim na incerteza na Bernardo Sayão e no primeiro dia vendi 50 geladões” estação do ano, pois seu produto é inteiramente natural. Também por esse motivo, os sabores variam, indo de exóticos, como abóbora, amendoim e buriti, aos mais comuns no mercado, feitos de açaí, coco, cupuaçu, cajá e maracujá. Antonia colhe as frutas no pomar da família, em São Miguel do Tocantins, e seleciona as melhores cuidadosamente antes de iniciar a fabricação da polpa sem adição de açúcar. Depois acrescenta leite e os congela em saquinhos próprios para serem comercializados. Todo esse processo de colher a
matéria-prima, não adicionar produtos químicos e oferecer ao cliente um produto saudável está em voga no discurso gourmet. Entretanto, as pessoas não veem o que ela faz como algo sofisticado e cada “geladão” sai por apenas um real. Há um ano trabalhando nessa avenida, o “Geladão da Irmã”, como é mais conhecido, possui clientes fixos. Ao longo de 11 paradas, Antonia atende aos funcionários de lojas e drogarias que a aguardam sempre no mesmo horário. Tem clientes também entre mototaxistas e os esporádicos transeuntes que passam por lá, das 11h às 15h. Nem sempre o trabalhador de rua é visto com bons olhos, principalmente em se tratando de comida, apesar de serem comuns na cidade pequenas lanchonetes equipadas com carrocinhas e bicicletas. Antonia não se incomoda e diz não ver problema em trabalhar na rua. “Não vejo nenhuma desvantagem, até porque sou formalizada. Registrei para poder contribuir com o INSS, pelo Sebrae”. Embora o crescimento constante da cidade signifique também a incorporação de novos hábitos, nas ruas permanece a confusão de cheiros, desde o café da manhã na calçada até o espetinho do jantar. Além de fonte de renda, a comida de rua é também parte importante da cultura local.
uma dessas áreas. Em 2015 entrou na onda dos food trucks e montou o seu, dedicado a massas e hambúrgueres. Por conta disso, decidiu então voltar para a Europa e estudar gastronomia. Passou pela Inglaterra, França e Itália – para onde viaja uma vez por ano para estudar massas. “Faço cursos em São Paulo, Goiânia, Brasília, Europa... Estou sem-
pre me aperfeiçoando”, diz o chef, que considera o aprendizado constante como um investimento em seu negócio. Sem pressa e planejando cautelosamente cada passo, Murilo se prepara para inaugurar mais um food truck nos próximos meses. O objetivo a longo prazo é abrir um bistrô especializado em massas e ele usa seu conhecimento administrativo para gerir o negócio e otimizar gastos. De acordo com o chef, o segredo do sucesso é manter uma equipe pequena e eficiente, prestar bom atendimento e evitar ostentação. Com isso, já chegou a lucrar R$ 50 mil em um mês. Estender o horário de atendimento também é uma boa estratégia. No dia do show do cantor Roberto Carlos, por exemplo, ele trabalhou até as 4h da manhã e atendeu 500 pessoas. Presente nas redes sociais, Murilo também oferece serviços delivery para quem não quer se deslocar até a avenida Pedro Neiva. Certamente a bagagem gastronômica dos sete estados em que morou e dos 15 países por onde passou o ajuda a vender seu cardápio gourmet, com ingredientes selecionados e artesanais para uma geração que valoriza experiências em detrimento de bens de consumo.
BRENDA CAROLINE
Antonia Alcina ganha espaço na avenida Bernardo Sayão com a comercialização de geladinho
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PROFISSÕES ANTIGAS Imperatriz possui ciclo econômico diversificado, detém riquezas no comércio e as profissões estão em desenvolvimento, mas há aquelas que continuam firmes e driblam a extinção anunciada
Afeto ao trabalho mantém tradicionalismo CYARLA BARBOSA TEXTO: CYARLA BARBOSA DIAGRAMAÇÃO: MARIA EDUARDA
Aos 10 anos, aprendeu com uma professora a fazer crochê e desde menina se identifica com as agulhas e os pontos. Mais que um trabalho, para ela, a costura é uma terapia, uma forma de distração. Edilane ainda conta que passou por diversas ocupações vendendo pintura, laranjinhas, chegou a montar o seu próprio salão, fabricou peças íntimas, roupas e vendeu bolos. Ela explica que fez tudo isso para sobreviver, porém, hoje, os tapetes de tecido não são para gerar apenas renda, mas uma maneira de relaxar e se distrair. “Antes eu era cabeleireira. Voltei a costurar porque a costura relaxa mais. É só eu e a máquina. E o cabelo, é você e a cliente.”
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cada dia surgem profissões que se adaptam aos meios tecnológicos e há aquelas que se hibridizam para acompanhar a carruagem de mudanças que a sociedade enfrenta. Porém, existem qualificações tradicionais que se mantêm de pé. É o caso de Pedro Oliveira, 73 anos, original de Buriti Bravo, interior do Maranhão. Filho único, ele é sapateiro há 55 anos em Imperatriz, tendo aprendido com a família o ofício aos 15 anos. Pedro atuou em Brasília por três anos em uma pequena fábrica e hoje trabalha em casa, tendo criado os seus oito filhos exercendo essa ocupação. “Com muito orgulho, todos criados. Criei sete filhos, mais um adotado, através da minha profissão.” Pedro ainda diz que não tem cerimônia para se chamar de sapateiro, ele se autodenomina “artista do couro” e garante que onde chega tem trabalho. “Sapateiro não, eu sou artista, sapateiro não pede esmola. Onde ele chega não morre de fome.” Pedro é conhecido e indicado por muitos na cidade e esse fato vai além da diminuição de profissionais da área. Ele exerce sua função com qualidade e originalidade, se desenrola fácil no serviço e sabe fazer de tudo um pouco. “Minha profissão é pai e mãe
“Sapateiro não. Eu sou artista. Sapateiro não pede esmola. Onde ele chega não morre de fome ”
Pedro Oliveira, 73 anos, sapateiro há 55, aprendeu com os pais e demonstra orgulho por ter criado os seus oito filhos exercendo a profissão
foi quem me ensinou, que me dá tudo e enche minha barriga”, afirma Pedro. Mesmo com todas as dificuldades, não deixou de trabalhar para sustentar a família. Houve dias em que o trabalho se estendeu até o amanhecer. Nessa época, atuava na Sapataria Maranhense,
no Mercadinho, pertencente a Raimundo Nonato. Na fábrica havia cerca de 40 operários que se ocupavam da grande demanda na fabricação dos sapatos e nem sempre eram bem remunerados. Assim como Pedro, Edilane Lacerda, 57 anos, dedica seu tempo à
fabricação de tapetes de tecido na sua própria residência. Ela começou a trabalhar muito cedo para ajudar o marido a sustentar a casa. “Comecei pela necessidade, tinha que trabalhar para ajudar no orçamento do meu esposo e desde cedo eu tive que trabalhar.”
CYARLA BARBOSA
Resquícios vivos de uma economia clássica TEXTO: CYARLA BARBOSA DIAGRAMAÇÃO: MARIA EDUARDA
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m Imperatriz existem campos econômicos que pareciam atuais há alguns anos e hoje são bem antiquados. Valdivan Santos, por exemplo, é dono de uma das duas locadoras de filmes da cidade, a Universal Vídeo, há exatamente 15 anos. Santos começou no auge desse tipo de comércio, em 2003, juntamente com a irmã e o cunhado. “É um ramo muito interessante, porque nós temos muitos clientes, graças a Deus. Os clientes gostam muito desse tipo de ambiente”, garante Valdivan. Apesar da queda na procura por consumo de filmes via DVDs, decorrência da grande oferta de conteúdo por meio da internet, o locador assegura que possui clientes fiéis. Entre eles, famílias, colecionadores e até mesmo espectadores novos que passam pela frente da locadora e acabam entrando por curiosidade. Quando descobrem, resulta em novos cadastros. Valdivan diz que gosta do ramo escolhido e declara que o rendimento da locadora é satisfatório. Menciona que pretende continuar com o estabelecimento até quando puder. “Até quando der, estamos aí. Mas nós temos que procurar ou-
tras alternativas.” Os filmes para aluguel se encontram a um preço acessível de R$ 5 no caso dos lançamentos e R$ 4 para os mais antigos. Escovas e Couros - A profissão de engraxate teve seu auge no século XIX, mas uma dupla de irmãos que exerce o ofício pode ser encontrada facilmente em uma das praças da cidade. Meio tímido, Jean Santana, 28 anos, conhecido como Miúdo, conta que há 21 anos começou a engraxar sapatos. “Eu cheguei nessa praça através do Chico da banca da revista, que é meu vizinho de trabalho. Depois veio meu irmão. Hoje nós trabalhamos na responsabilidade tem 21 anos.” Jean e o irmão engraxam sapatos, lavam e vigiam carros. Ele conta que as pessoas confiam no trabalho que eles fazem, pois deixam as chaves de seus carros com os dois. Foi a partir desses serviços que eles conseguiram e conseguem construir a vida. “Eu aprendi com os outros engraxates que estavam aqui. Hoje a maioria deles está empregado em firmas. Nós continuamos a vida aqui, porque era o que estava dando. Não tinha outra maneira”, afirma Jean Santana. Entre risos, acrescenta que ainda estuda o terceiro ano do ensino médio no Centro de Ensino Newton Barjonas Lobão (Caic). A rotina de trabalho não tira sua concentração
Atualmente, ela consegue sobreviver com a venda dos tapetes, mas alerta que nesse caso vai atrás do cliente para garantir uma boa comercialização dos produtos que fabrica, que custam, em média, R$ 20 cada. Mesmo atuando em tantas áreas de trabalho, Edilane garante que gosta de tudo o que faz. “Eu faço com amor, e eu gosto do resultado, fico feliz.”
CYARLA BARBOSA
Jean Santana: “Aprendi com outros engraxates”
nas aulas e ele se organiza quando chega o horário de ir à escola para não se atrasar. Jean comenta sobre as suas ferramentas de trabalho com orgulho e amor, pois é por meio delas que ele constrói sua vida e a de seus três filhos. “É um trabalho que eu gosto de fazer. Hoje eu consegui minhas coisas com essa caixa. Venho todos dias do bairro Santa Rita para cá, trabalho das seis da manhã à seis da noite.” Agulhas e panos - Adevaldo Fernandes, 59 anos, começou a profissão de alfaiate quando era um garoto, aos 16 anos. Dono da Alfaiataria e Camisaria Elite há 37 anos, morou em Brasília e Rio Verde, em Goiás, exercendo sempre a mesma ocupação. Fernandes garante que por onde passou alcançou um bom re-
Adevaldo Fernandes começou na profissão de alfaiate aos 16 e é dono de alfaiataria há 37 anos
sultado. “Eu comecei no interior, por falta de opção de trabalho e por não querer ficar parado. Eu estudava em um período e trabalhava no outro.” No decorrer de 37 anos, conquistou clientes fiéis. O motivo dessa relação é a flexibilidade que estabelece no atendimento ao consumidor. “Eu tenho alguns clientes há 30 anos. Às vezes me ligam para fazer o pedido e outras chegam até fora do horário. Não tem hora para atender, estamos sempre à disposição”. Adevaldo se sente satisfeito com a carreira que escolheu para trilhar.
Em alguns momentos, pensou em não prosseguir esse caminho, mas acabou olhando para trás e percebendo que estava prestes a cometer “uma burrada”, pois não teria a capacidade de alcançar seus objetivos em outra qualificação. “Até então me sinto satisfeito, porque até hoje é de onde eu mantenho a minha vida e a dos meus filhos. Vou vivendo com essa profissão, não tenho do que reclamar. Tem os períodos críticos que o país passa que a gente está dentro dele, caímos nessa crise, mas a gente vai com inteligência fazendo jogo de cintura e vai sobrevivendo”.
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APOSENTADOS “O trabalho é uma coisa que dá continuidade pra nossa vida, para o nosso cotidiano. O nosso corpo precisa de movimento”, diz Francisca de Oliveira, aposentada, que trabalha há 42 anos na sua mercearia HELYH GOMES
Aposentadoria não é sinônimo de ociosidade Joana Brasil, aposentada de 68 anos, costurando as peças que vende em sua butique, sonho concretizado em 2000, ano que inaugurou o estabelecimento em que trabalha até hoje, para conseguir renda extra
TEXTOS HELYH GOMES
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dosos aposentados são vistos muitas vezes como pessoas ociosas e pouco ativas, porém isso não é uma verdade absoluta em Imperatriz. Basta andar um pouco pelas ruas da cidade e veremos bares, mercearias ou barraquinhas de comida em que os donos já se aposentaram. Joana Brasil, ignorando todas as expectativas, é uma aposentada muito ativa. Aos 68 anos, trabalha como costureira e tem uma butique. Neste estabelecimento ela vende tanto as peças que costura (roupas íntimas: adulta e infantil) como também as que ela compra em Goiânia, cidade pra onde viaja a cada seis meses. Joana começou a vender confecções de "porta em porta" para sustentar seus cinco filhos. Após esse período, passou oito anos no emprego de vendedora e, durante esse tempo investiu dinheiro para a compra de máquinas de costura, já com a
ideia de montar seu próprio negócio, sonho concretizado em 2000, quando inaugurou a sua butique. Aos 64 anos, Joana aposentou-se, mas o rendimento não era suficiente para manter as despesas de casa. Então, ela continuou a trabalhar em sua butique. As horas de trabalho tiveram que diminuir por causa das doenças na coluna que adquiriu durante os anos. Bico de papagaio, hérnia de disco, artrite e a artrose a impediram de continuar com a jornada de trabalho, que começava às 7h30 e terminava às 17h30, e que só tinha interrupção durante as duas horas de almoço. Ela conta que as viagens para Goiânia também tiveram que diminuir, em razão das dificuldades que acabavam por piorar sua saúde. Diz que já teve que dormir até no chão durante um período em que viajou. Agora, com uma rotina de trabalho bem mais suave, Joana Brasil segue se esforçando para conseguir
uma vida com mais dignidade. Sem parar - Outra história interessante é a de Francisca de Oliveira, de 70 anos, que já foi professora das séries iniciais e hoje tem um bar/ mercearia. Com vigor contagiante, conta que veio da cidade de Araguaína, Tocantins, para Imperatriz, onde trabalhou por 12 anos como professora. Por estar cansada e ter que sair muito, tendo que deixar seus filhos pequenos sem seus cuidados, decidiu abandonar a profissão e seguir no bar que já mantinha. Há 42 anos trabalha no Bar e Mercearia Fortaleza, que abre às 7 horas e fecha às 21 horas, e conta com a ajuda apenas de sua netinha. Apesar de aposentada há quatro anos, ela garante que não tem nenhuma vontade de deixar de trabalhar em seu estabelecimento para viver de sua remuneração oficial. Francisca assegura que ama trabalhar e não consegue ficar parada. Para ela, está muito longe de ser uma
obrigação, mas, sim, uma forma de viver melhor. "O trabalho é uma coisa que dá continuidade pra nossa vida, para o nosso cotidiano. O nosso corpo precisa de movimento." Decisão - Quem também mantém uma mercearia é Antônio de Sousa, com 70 anos, sendo aposentado há seis. Antônio é cearense e veio para Imperatriz nos anos 1970, quando boa parte da cidade ainda não tinha sido construída. "Quando eu cheguei em Imperatriz, aqui [bairro Juçara] era só mato". Antes de se mudar, ele trabalhava com roça e o dinheiro que conseguiu com a venda de seu plantio investiu para construir a mercearia na nova cidade. Há 38 anos, Antônio trabalha com a mercearia, que antes estava localizada em uma região próxima ao bairro Santa Rita. Mas há 29 anos ele mudou o seu estabelecimento comercial de local, agora no bairro Juçara. Com a mercearia, ele conseguiu
sustentar sua família e se mostra orgulhoso com o trabalho que ajudou a "criar" seus quatro filhos. Dois deles hoje são formados e uma filha está terminando a graduação. Houve um período, conforme relata Antônio, em que a mercearia foi maior, tinha mais produtos. Porém, os maus pagadores e as muitas vendas a prazo lhe deram muito prejuízo, isso quando a mercearia ainda era próxima ao bairro Santa Rita. Quando se mudou para atual localização, ao lado da Escola Municipal Leôncio Pires Dourado, como vende mais para os alunos, seus prejuízos diminuíram. Atualmente Antônio se diz muito contente com o resultado de seus esforços. Considera que, quanto mais trabalha, mais disposto se sente ao final do dia e diz que não largaria seu trabalho nem mesmo por uma aposentadoria maior.
HELYH GOMES
Cuscuz Imperial representa a herança de um aposentado
Cícero Teixeira está aposentado há 10 anos, e é o atual dono do empreendimento Cuscuz Imperial
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á passa das 18 horas e no pequeno estabelecimento de Cícero Teixeira, dono do famoso Cuscuz
Imperial, ele continua no "batente". Então Cícero interrompe o seu serviço para contar um pouco de sua história.
Cícero é aposentado há 10 anos, e continua trabalhando com a produção de cuscuz, negócio iniciado por seu irmão em Imperatriz desde julho de 1972. Começou cedo, ajudando os pais na roça e, com 14 anos, passou a trabalhar fora. A partir dos 19 anos, tomou uma decisão: "Eu assumi a tristeza de não seguir com os estudos e me envolver exclusivamente no trabalho, o que me prejudicou até hoje". Alguns anos depois, passou a ajudar seu irmão com a fábrica de cuscuz. A parceria não durou muito, pois seu irmão desistiu do negócio e teve que sair da cidade. Morou por alguns anos em São Luís e quando retornou foi trabalhar em uma empresa de segurança, onde atuou por 20 anos. Apesar de estar empregado
na época, decidiu reabilitar o Cuscuz Imperial. Comprou um terreno e montou novamente a fábrica para seu irmão e a parceria voltou na década de 1980. Em 2008, Cícero parou de ajudar na fábrica e a deixou para seu irmão e seus filhos, que permaneceram por quatro anos. Após 2012, o Cuscuz Imperial ficou sem funcionar até o ano passado, 2017, e agora, na gestão de Cícero, o empreendimento voltou com tudo. Questionado se ele pararia de trabalhar se o valor da aposentadoria fosse maior, disse: "Parava! Parava! Tenho esse trabalho como uma ajuda pra sobreviver, porque só a aposentadoria eu sofria demais". Ele diz que no momento está trabalhando somente durante o
dia, mas se algum dos rapazes que o ajudam falta, ele terá que trabalhar também pelo turno da noite, quando o serviço começa 2h30 da madrugada, algo que seria muito fatigante na sua idade. Cícero acrescenta como funciona a rotina de trabalho, que começa com a produção, de 2h30 da madrugada às 6 horas. A partir daí, o cuscuz é comprado por vendedores autônomos, que saem vendendo o produto pela cidade, conforme seus critérios. Apesar de tudo, se mostra muito satisfeito com o resultado de todo o seu esforço. Muito mais que renda extra para um aposentado, o Cuscuz Imperial se tornou uma tradição familiar e uma conquista de Cícero Teixeira.
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LOCOMOÇÃO Com preços abaixo do mercado de transportes em Imperatriz e tarifa mínima de R$ 6,75, serviço de caronas remuneradas gera atritos e desentendimentos entre os concorrentes taxistas e mototaxistas
Uber acirra disputa no mercado de transporte AUTOR: RAFAEL PESTANA DIAGRAMAÇÃO: MICHELLE COSTA
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om início em Imperatriz em novembro de 2017, o serviço de caronas remuneradas que conecta passageiros e motoristas por meio de aplicativo mobile, chamado Uber, tem ganhado cada vez mais adeptos. O aplicativo se popularizou pelo preço acessível, com tarifa mínima de R$ 6,75 e o serviço leva vantagem em relação aos outros meios de transporte, o que acabou gerando desentendimento com outras categorias, como taxistas e mototaxistas. Marlon Rafael, que trabalha como uber há sete meses, relata alguns problemas comuns para esses novos profissionais. “Alguns ubers já foram agredidos verbalmente e ameaçados por taxistas. Tanto que quando vamos pegar algum passageiro perto de um posto de táxi, paramos um pouco afastado e pedimos que ele se dirija ao carro para evitar qualquer tipo de atrito com a categoria.” Foi o caso do cabo da Polícia Militar Reginaldo Santos, que solicitou um uber ao desembarcar na rodoviária de Imperatriz. “O aplicativo mostrou que o motorista chegaria em cinco minutos, porém logo em seguida a corrida foi cancelada por ele. Novamente eu pedi um outro uber e o motorista mandou uma mensagem pelo app dizendo que não iria até o local exato porque os taxistas da rodoviária o impediram de entrar e informando que estava na rua de acesso ao terminal.” Reginaldo Santos respondeu se identificando como militar e dis-
RAFAEL PESTANA
se que ele poderia ir buscá-lo sem medo, pois iria garantir a segurança do motorista. Foi só então que o uber se dirigiu até a entrada do estacionamento da rodoviária com o pisca alerta do carro ligado. O militar foi até o local indicado e na hora que ia entrando no veículo, foi abordado por um taxista dizendo que ele não iria pegar aquele carro. O PM o indagou perguntando o motivo e o taxista disse que era porque ele era uber e estava atrapalhando o serviço deles. “Então eu disse para ele que se quisesse um táxi teria ido no ponto”, conta Reginaldo. Nesse meio tempo surgiram mais de 15 taxistas revoltados. Eles cercaram o carro da Uber e o militar, além de colocarem um táxi na frente do veículo, impedindo a passagem. Foi quando o passageiro se identificou como policial, insistiu que iria pegar o uber e, caso os taxistas não saíssem, ele iria chamar uma viatura da Polícia Militar. Só assim os taxistas se retiraram. “Se eu fosse um civil, os taxistas muito agressivos, provavelmente teriam quebrado o carro do uber e quem sabe até me agredido”, acredita. Taxista - Em tempos de avanços tecnológicos em relação ao transporte urbano, o táxi continua firme frente aos concorrentes. Um exemplo dessa realidade é o Posto Independência, localizado na Praça Brasil, em Imperatriz, um dos mais antigos e tradicionais pontos de táxis da cidade. Com 33 taxistas cadastrados e 27 constantemente ativos, o ponto segue firme mesmo com o aumento na concorrência no setor de transporte urbano. José Lindomar de Jesus é um ex-
Mesmo com o aumento da concorrência ocasionado pelo aplicativo, ser taxista ainda é uma profissão rentável em Imperatriz
-carreteiro que trabalhava no transporte de cargas perigosas, como óleo diesel e gasolina. Ele chegou ao posto para trabalhar provisoriamente e já está há nove anos atuando na área, garantindo que a profissão de taxista ainda compensa. “Aqui você faz a sua diária, tem vez que você faz quatro, cinco, seis, ou até mesmo 12 corridas em um dia.”
Com metas e horários estabelecidos de forma individual, os taxistas do Posto Independência fazem a própria rotina de trabalho. Embora não estipulem um valor mínimo, eles procuram “fazer” em média 100 reais por dia para garantir a manutenção dos veículos e o salário no final do mês. O taxista explica que embora
muitas pessoas ainda optem pelo táxi convencional, o aumento na concorrência, em especial no que diz respeito ao Uber, atrapalhou bastante. “Eles não pagam impostos. A gente paga, além dos tributos, alvará, manutenção do veículo, combustível. Então eles podem colocar preços bem abaixo do mercado, o que torna a concorrência desleal.”
“Flexibilidade de horários atrai profissionais”, afirma motorista : RAFAEL PESTANA
AUTOR: RAFAEL PESTANA DIAGRAMAÇÃO: MICHELLE COSTA
Por não possuir escritório físico na cidade, não se sabe com exatidão o total de motoristas cadastrados no serviço Uber, porém ao conversar com alguns profissionais, pode-se ouvir números entre 200 e 400 membros desta categoria atuando em Imperatriz. A quantidade expressiva de trabalhadores nessa área se explica pela facilidade que o motorista tem de se cadastrar no aplicativo e poder atuar como uber. O processo, que leva em média quatro minutos, é feito todo online. As possibilidades de trabalhar sem um horário fixo e sem precisar se fixar em um ponto da cidade são outros atrativos dessa categoria. Sobre a carga horária de trabalho, Marlon Rafael, uber há sete meses, relata como funciona a sua rotina: “Eu tenho uma estratégia para fazer meu próprio horário. Acordo cedo e vou para a rodoviária. Assim, pego os primeiros passageiros do dia e consigo ganhar o valor que eu estabeleci como sendo minha diária”. Marlon assegura
Apesar da grande aceitação por parte dos usuários, o serviço de caronas remuneradas encontrou resistência de concorrentes
que é melhor do que trabalhar para outra pessoa, já que teria que seguir uma escala estabelecida pela empresa. “Como uber eu faço o meu próprio
horário e decido meus dias de folga.” Embora tenha muitos motoristas cadastrados, às vezes é difícil conseguir solicitar uma corrida pelo apli-
cativo. Rogério Sousa, uber há quatro meses, explica que muitos motoristas conciliam o trabalho com outras funções, utilizando o Uber como
uma fonte extra de remuneração. Por isso, apesar da quantidade, são poucos que dependem exclusivamente do serviço, assim como ele. Marlon, que atualmente trabalha apenas nesta área, explica que deixou o ofício anterior porque viu na profissão uma oportunidade de ganhar mais. Ele se diz satisfeito com o aplicativo e relata que os únicos problemas que enfrenta são em relação à infraestrutura da cidade, que tem muitas ruas com buracos e sem asfalto. Além do fato de Imperatriz não dispor de uma internet melhor. “Como o aplicativo depende da internet para funcionar, algumas vezes acabamos ficando na mão”, reclama Marlon. Para Rogério, os maiores problemas enfrentados dizem respeito ao tratamento de alguns clientes, que acabam desrespeitando os motoristas. Mas ressalta que agora a uber criou a classificação para os passageiros. “Antes só os motoristas eram avaliados. Agora nós também podemos avaliar os passageiros e, dependendo da situação, bloqueá-los do aplicativo.”
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SERVIÇO AUTOMOTIVO “O mercado automotivo expandiu no Brasil. Em dois anos, a frota de veículos cresceu 8,3%, passando de 86,7 milhões em 2014, para 93,8 milhões em 2016”, estimulando o trabalho das oficinas
WILLAS ILARINDO
Evolução da mecânica exige qualificação
Embora seja um trabalho pesado, que requer prática e conhecimento, os mecânicos são apaixonados pelo que fazem, como os deste estabelecimento, que procuram atender da melhor forma possivel à seus clientes
TEXTO: WILLAS ILARINDO DIAGRAMAÇÃO: GABRIELA ALMEIDA
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mperatriz possui cerca de 620 mecânicas do setor de manutenção e reparação automotiva, segundo dados da Junta Comercial do Estado do Maranhão (Jucema). Esses estabelecimentos são responsáveis por reparar os quase 150 mil veículos registrados na cidade, de acordo com o Departamento Estadual de Trânsito do Maranhão (Detran-MA). O mecânico imperatrizense Clécio Félix, 46 anos, não fica de fora desse quadro de reparadores. Clécio fez um curso de mecânica automobilística pelo Serviço Nacional de Aprendizagem (Senai), no ano de 1985. Foi lá que ele se apaixonou pelos serviços de reparação e começou a trabalhar na oficina de um amigo. Por ganhar pouco na época e ver que o conserto lhe trazia vantagens, resolveu montar a sua própria oficina com a ajuda do pai, atualmente intitulada Auto Mecânica Félix. Com o aumento nas demandas, Félix atualmente conta com dois funcionários, sendo que um deles tem carteira assinada e o outro é por contrato de prestação de serviço. “O funcionário autônomo sabia fazer um tipo de serviço que eu não sabia. O da parte elétrica. Por isso eu acabei fazendo esse acordo. Já o de carteira assinada, eu contratei ele pela vontade que tinha em aprender, não sabia nada de oficina mecânica. Então eu ensinei tudo que ele precisava saber e hoje em dia ele já é o meu braço direito dentro da oficina, mesmo sem ter nenhum curso.” História na mecânica - O mecânico Lucivando Alves, 40 anos, começou trabalhando como cobrador no Armazém Paraíba, por três
anos e meio. Nesse período passava o tempo vago na empresa Neto Ar Condicionado, do seu amigo. “Fui conhecendo os meninos da oficina, onde conheci a minha ex-patroa. Perguntei para ela se podia me dar oportunidade para eu trabalhar lá. Ela disse que não tinha como, porque não tava tendo vaga. A única vaga que tava tendo era de cobrador e motorista para levar os filhos dela à escola, fazer compras na rua e entregar nota
“O mercado automotivo está em expansão e constante evolução no Brasil, o que fez surgir um novo conceito de profissional para atender a um cliente que também evoluiu.” fiscal.” Nesse trabalho, ele teve a oportunidade de levar dois técnicos para fazer serviços de reparos em uma concessionária, a Tocauto. Lucivando, entusiasta e curioso, passou a observar os equipamentos e ferramentas utilizadas pelos profissionais. “Eu ia decorando as chaves para cada serviço e quando os técnicos iam me fazer o pedido, já tava com elas na mão, porque eu sabia qual era a que eles iam precisar.” E foi aí que a mecânica entrou em sua vida. Após três meses de observação, surge a oportunidade na Neto Ar Condicionado para Lucivando mostrar aquilo que havia aprendido. Um dos técnicos em manu-
tenção havia saído para trabalhar no Pará e Alves se ofereceu para a vaga. “Fui me aperfeiçoando, tirava dúvida, perguntava uma coisa para um e para o outro e, com um ano, eu já recebia comissão. Me especializei principalmente com máquinas e caminhão automotivo, que é meu forte. Trabalho em todas as áreas de ar-condicionado”. Em dois anos, o mecânico passa a ser reconhecido pelo seu trabalho e dedicação. Começa a trabalhar em casa, fora do emprego formal, para comprar ferramentas e garantir seu futuro, caso ele venha a ser demitido do atual emprego. Após três anos trabalhando para a empresa, Lucivando foi demitido como previa. Como possuía algumas ferramentas, resolveu investir no próprio negócio. Fez cartões, mandou para antigos amigos da concessionária e montou sua empresa. “Consegui fazer um galpãozinho, comprei um elevador, equipamento maior e fui fazendo o serviço. Então fiquei muito conhecido como Macaúba Ar-condicionado e hoje faz dois anos que já consegui comprar um terreno, e, graças a Deus, tá dando tudo certo.” Evolução-Os mecânicos tiveram de se adaptar às novidades e tecnologias de novas marcas, pois o mercado automotivo está em expansão e constante evolução no Brasil. Fenômeno que fez surgir um novo conceito de profissional e oficina, para atender a um cliente que também evoluiu. “Começamos a trabalhar para uma empresa chamada Localiza e como é uma multinacional, sempre vem o gestor. Toda vez que ele vem aqui em Imperatriz não passa a mão na cabeça, sempre fala para melhorar em algo aqui ou ali.
Daí buscamos melhorar o trabalho para satisfazer nossos clientes”, diz o consultor técnico da mecânica Aldry Car, Richardson Breno. Por outro lado, isso tudo remete a uma grande oportunidade, pois quem melhor atender o cliente com um conserto mais rápido, eficiente e custo interno menor irá se dar bem, com mais lucratividade. “Essas inovações realmente atrapalham um pouco, mas vai
“Vai depender do bolso do cliente. Se tiver muito dinheiro, ele vai optar por uma concessionária. Se quer economizar, optam por nós, mecânicos, visto que o serviço numa oficina é bem mais barato” depender do bolso do cliente. Se tiver muito dinheiro ele vai optar por uma concessionária e tem os que preferem valorizar esse dinheiro e acabam optando por nós mecânicos, visto que o serviço numa oficina é bem mais barato”, relata o dono da Auto Mecânica Féliz, Clécio. Mão de obra-Ainda sobre as mudanças da mecânica, é perceptível o impacto não só na clientela, mas também para encontrar mão de obra. Donos de oficinas estão sofrendo com a escassez de profissionais qualificados. Isso se deve ao desinteresse cada vez maior das novas gerações na procura pela profissão de mecânico. “O mecânico antigo não é adap-
tado. Por exemplo, eu tenho um scanner ali caro, mas se eu entregar ele para um funcionário daqui, o cara é fera, sabe de tudo. Mas ele não vai querer, prefere sair testando cabo por cabo, fio por fio, bobina por bobina. Opta por aquele jeito antigo ao invés de ligar o computador, pensar e aprender, porque o computador já mostra tudo, cabo tal em tal lugar. Então a galera não quer evoluir”, comenta Richardson. Uma empresa de pequeno porte no ramo de conserto automobilístico busca sempre aquele profissional que tenha prática para poder atender às demandas e assim não perder clientes por atrasos. Diferente das pequenas oficinas, as concessionárias autorizadas, como a Fiat Millenium, buscam sempre profissionais com formação e conhecimento na área. “A experiência e a qualificação andam juntas. Claro que cada montadora tem sua especificação, elas gostam de treinar o profissional para direcionar e atender o seu veículo, sendo que as tecnologias de hoje estão todas alinhadas e nós optamos por treinar o funcionário. Nossa equipe é treinada sempre, antes de cada lançamento, para que quando o veículo chegue à oficina ele já saiba manusear toda sua mecânica”, afirma o gestor técnico da Fiat Millenium. A área automotiva passa por grandes mudanças tecnológicas há algum tempo. Antes, o mecânico aprendia na prática a consertar sem fazer muitos cursos, mas hoje isso não é mais possível. É preciso treinamento e capacitação para atender a esse mercado.
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ANO IX. EDIÇÃO 34 IMPERATRIZ, JULHO DE 2018
COMUNICAÇÃO A não obrigatoriedade do diploma para atuar na área da comunicação gera debates entre profissionais, coloca em pauta a necessidade de formação profissional e o futuro daqueles que desejam seguir carreira
Jornalismo: formação no centro do debate RUILAN SANTOS TEXTO: RUILAN SANTOS DIAGRAMAÇÃO: HENRIQUE ANDRADE
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omingos Cézar Ribeiro chega no trabalho às 8 horas, liga o seu computador e começa mais um dia cansativo na Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Imperatriz (Ascom). Aos 71 anos, ele olha para a tela da máquina com dificuldade e tenta redigir outra matéria dentre as inúmeras que já publicou. Domingos atua na área há 35 anos, porém é formado em Administração, mas isso não o impediu de seguir o seu sonho. “Eu não sou formado na academia, em jornalismo. Mas, sou formado no dia a dia, 35 anos de jornalismo dentro da redação de um jornal, não tem faculdade melhor. Fiz tudo, rádio, jornal impresso e televisão, todos os três eu já trabalhei”, afirma, orgulhoso. Do outro lado da cidade, o radialista Aquino Maranhão, atualmente assessor de imprensa, vem construindo sua carreira desde 1987, quando ainda era operador de máster em uma emissora de televisão local. Como tinha muita vontade de trabalhar na área, deixou de um ser um vendedor de geladinho para se tornar um grande profissional da comunicação, mesmo sem nenhum domínio sobre as técnicas jornalísticas. Assim como Domingos e Aquino, vários profissionais da área do jornalismo e da comunicação social não são graduados em outros cursos, mas exercem diversas funções como comunicadores. O número de servidores que pos-
suem o registro profissional é pequeno em relação ao total de profissionais que atuam na área. De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), 327 profissionais atuavam na comunicação em Imperatriz, sendo que dados do Caged, da mesma época, apontam que apenas 58 eram registrados no município. Isto acaba suscitando discussões acerca da não obrigatoriedade do diploma na área e gera debates entre os profissionais sobre a necessidade
“Eu não sou formado na academia, em jornalismo. Mas, sou formado no dia a dia, 35 anos de jornalismo dentro da redação de um jornal, não tem faculdade melhor” da formação profissional e das demandas de vagas desse mercado em Imperatriz. Há quem defenda que a formação é o único caminho para se ter uma qualidade profissional e aqueles que acreditam na necessidade de se abrir espaço para todos. Carreira - Brenda Herênio Fernandes, formada há três anos em Comunicação Social – Jornalismo na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), trabalha como assessora parlamentar na Câmara Municipal
Domingos Cézar (à esquerda), ao lado de colegas formados, na sede da Assessoria de Comunicação (Ascom) da prefeitura municipal de Imperatriz
há um ano. Para ela, o mercado de comunicação em Imperatriz depende tanto da formação quanto do interesse profissional. “Por mais que tenha ainda essa discussão de diploma, a gente vê muitas pessoas sem formação e estão aqui, ganhando a mesma coisa que eu. Mas, mesmo assim, a qualidade do serviço é visível. Hoje eu vejo muita vaga e pouca gente qualificada. Está faltando as turmas formarem e também o interesse dos estudantes. Os jornalistas
formados ainda não tomaram os espaços.” A velha guarda, como são chamados os profissionais que atuam há bastante tempo no mercado, argumenta que não são formados pelo fato de a criação do curso de Jornalismo ser recente na cidade. Estes profissionais acreditam que a formação é o único caminho para os jovens ingressarem no mercado de trabalho. “É preciso, sim, de formação. Eu não sou formado na área
porque no meu tempo de estudante não tinha o curso na cidade. Eu te-nho nome, já ganhei não sei quantos prêmios de jornalismo, já trabalhei em vários jornais do Maranhão e do Pará. Então eu construí um nome, todos nós ’antigões’, nós construímos um nome. Nós não precisamos de diploma, mas os jovens, se saírem sem diploma, vão estar lascados”, defende Domingos César, com um certo gracejo.
Número de profissionais da comunicação é complicado de calcular RUILAN SANTOS
na cidade. Segundo o coordenador do sindicato e cinegrafista de uma emissora local, Francisco Cordeiro, a coleta do número desses profissionais ainda não foi concluída. “Eu não tenho esses dados ainda para passar. Nós não temos esse levantament até agora porque não ficou pronto. Eu pedi para o diretor do sindicato fazer, mas ainda
“Cargos comissionados, como o de assessor de imprensa parlamentar, não são contabilizados no cadastro devido à forma de contratação”
Francisco Cordeiro, coordenador do Sindijori, no local de trabalho improvisado em sua casa, pois o sindicato não possui uma sede própria
TEXTO: RUILAN SANTOS DIAGRAMAÇÃO: HENRIQUE ANDRADE
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e acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o número de profissionais da comunicação que possuía vínculo empregatício em Imperatriz, entre
janeiro de 2010 e o mesmo mês em 2018, era de 209 funcionários. Porém, cargos comissionados de livre nomeação e exoneração, como o de assessor de imprensa parlamentar, não são contabilizados no cadastro, pois determinados tipos de servidores, devido à forma de contratação, são excluídos da
soma, inviabilizando o trabalho de coleta do total de profissionais atuantes na cidade. O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Jornalísticas e de Radiodifusão de Imperatriz (Sindijori) também não possui dados numéricos sobre a quantidade de jornalistas e radialistas que atuam
não sei como está o andamento.” Em Imperatriz, os órgãos que representam os profissionais da área de comunicação são bastante limitados. Existe apenas um sindicato, o Sindijori, e uma associação, a Associação de Imprensa da Região Tocantina (Airt), sendo que nenhum deles abarca profissionais de outras áreas da comunicação, como os publicitários. Conforme o coordenador do sindicato, em média existem apenas 60 profissionais associados, número bastante pequeno em relação à quantidade de assessores de imprensa, jornalistas, radialistas e repórteres que atuam na cidade.
“Esse número é muito rotativo, porque saem uns, entram outros e tem muitos profissionais que não são filiados”, ressalta Francisco Cordeiro. O sindicato, que reúne profissionais de uma mesma categoria e tem o objetivo de defender os interesses sociais e políticos de seus associados, cumpre o papel de representar seus membros perante as autoridades judiciais. “O objetivo do Sindijori, em si, é defender os trabalhadores na área de comunicação das demandas salariais e jurídicas. É a defesa do trabalhador”, argumenta Francisco. A Airt, que é presidida pela blogueira e assessora de comunicação Kelly Queiroz, reúne 430 trabalhadores do setor da imprensa e tem por finalidade unir os profissionais em torno de interesses comuns para a realização de seus objetivos. “Eu fico até triste, porque eu ouço pessoas falarem que a associação de imprensa não faz nada. As pessoas confundem o papel da associação com o do sindicato. A associação é recreativa, o sindicato é quem fiscaliza e emite DRT, que ajuda na defesa dos profissionais”, diferencia Kelly.
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SERVIÇO PÚBLICO Servidores contam sobre suas experiências durante a carreira profissional na Fundação Nacional do Índio e apontam que muitas pessoas não sabem ao certo as verdadeiras atribuições da entidade
O que significa ser servidor público da Funai? MATHEUS LOPES TEXTO: MATHEUS LOPES DOS SANTOS DIAGRAMAÇÃO: BRUNNA TAVARES
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Coordenação Regional do Maranhão, órgão da Fundação Nacional do Índio (Funai), com sede em Imperatriz, fica bem situada no centro da cidade, com escolas na proximidade, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MA) de um lado, a UFMA do outro e o INSS logo à sua frente. Mas quem transita pelas redondezas pouco conhece o que é a Funai, quais são suas atividades e em que momentos marcantes da história ela se faz presente. Mas é possível conhecê-la sob outro ângulo: pelo olhar e vivência de quem atuou em situações inerentes ao ofício do órgão público que encantam pela vastidão de aprendizagens, lições de vida, e até mesmo pela rica história que possui dentro da própria política brasileira. “Quem observa de fora, pensa: ‘a Funai só tem índios’. Mas, por outro lado, os índios ressalvam: ’Lá vem o homem branco’, conta Felipe Batista Cavalcante, de 33 anos, auxiliar em indigenismo. Trabalhando na Funai desde 2010, ele analisa a maneira como algumas pessoas, índios e não índios, o percebem. “Geralmente quando volto das aldeias e aviso que estou chegando, alguém diz: ‘o Felipe está vindo de volta à civilização’. Mas eu aprendi a responder que, eu na verdade, estava vindo da civilização. Porque se for parar para observar, nas aldeias não têm nenhum idoso abandonado, não têm ninguém passando fome”, explica Felipe Batista. Preconceito - Quebrar essa imagem arraigada de preconceitos aos indígenas, ainda existente no Brasil é uma das tarefas que a Funai vem tentando desempenhar desde
Felipe Batista Cavalcante, de 33 anos, auxiliar em indigenismo, trabalha na Funai desde 2010: “Nas aldeias não têm nenhum idoso abandonado e ninguém passando fome”
a sua criação, em 1967. Não é raro encontrar o discurso de que o índio está mal acostumado aos bens materiais dos não índios, o que reforça ainda mais o pouco conhecimento destes em relação aos indígenas. “Ir para as aldeias nos ajuda a desmistificar que eles recebem Hilux do governo e têm direitos extraordinários”, explica Felipe, ao afirmar que nunca teve preconceitos e nem problemas nas experiências de vivência com os índios. Antes mesmo de trabalhar na Funai, Felipe Batista atuou na área pública. A primeira vez no IBGE,
em 2007, por seis meses. Durante esse período, prestou concurso para trabalhar no Senac, onde também ficou por seis meses após sair do IBGE. Em 2008, trabalhou na iniciativa privada, quando então recebeu o convite para atuar na Funai em 2009, sendo nomeado a chefe de Posto Indígena, cargo exercido por um ano e nove meses. Em 2010, prestou concurso público para trabalhar efetivamente neste órgão. Nessa época, Felipe conta que sua vida era muito atribulada por conta do seu trabalho na Funai, e por essa razão
não tinha tempo para estudar para o concurso, mas em contrapartida, já tinha adquirido algum conhecimento.“Desde que entrei na Funai tenho estudado os indígenas, e venho aprendendo o indigenismo por gosto mesmo. Isso me serviu quando fui fazer a prova do concurso, mas estudar especificamente eu não tive tempo. Ao passar no seletivo para trabalhar no órgão público, a adaptação não foi um problema quanto à proximidade com os índios. Por outro lado, a forma de organização da entidade gerou uma recepção
diferente. “Foi um pouco estranho, porque a Funai é um órgão atípico, apesar de ela trabalhar com as mesmas normas dos demais. A burocracia estatal não funciona aqui da mesma forma como funciona nos outros órgãos.” Atualmente, a Funai também passa por dificuldades, pois, segundo o servidor, vem funcionando com 30% dos recursos que tiveram em 2007. “Em 2007 tínhamos três vezes mais do que temos hoje. E quase não estamos conseguindo atender os indígenas em muita coisa.”
Funcionário relata histórias de postura firme no combate à corrupção MATHEUS LOPES TEXTO: MATHEUS LOPES DOS SANTOS DIAGRAMAÇÃO: BRUNNA TAVARES
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m certas ocasiões, a Funai teve que tomar um posicionamento para impedir a exploração de madeira ilegal em territórios indígenas. Por essa razão, o “cemitério de carros” surpreende pelo tempo que existe na sede, com veículos que estão parados aguardando a ordem da Justiça, ou para voltar para o proprietário ou para ser formalizado o seu descarte. Estima-se que há carros que estão encalhados no órgão há mais de 20 anos. Informação que coincide com o passado da fundação, em uma época em que uma “cúpula de criminosos” foi denunciada por um funcionário. Essa é a história de Alberto Maia, que está na Funai há 43 anos. Tomou posse em 3 de janeiro de 1975, em Itaituba, no Pará, e depois foi transferido para São Paulo ainda como telegrafista. Passado algum tempo, foi para Mato Gros-
so, onde, após algum tempo, pediu transferência para a Barra dos Garças. “De lá, já em 1983, consegui meu retorno para Belém, que era meu sonho voltar para a capital. Lá, concluí meu curso em Economia na UFPA em julho de 1988. Eu havia começado na USP, em 1982, e tive que trancar”, conta o funcionário. Nessa trajetória, o ex-telegrafista foi a Tucumã no Pará, onde trabalhou como coordenador da Funai. Depois foi para a cidade de Redenção (PA), dessa vez trabalhando como administrador, mas por uma questão político-administrativa foi demitido. “Era uma cúpula que estava envolvida nisso. Eles criaram uma comissão de processo disciplinar administrativo e foi assim que conseguiram me demitir.” Contar essa história evoca em Alberto um olhar fixo, como se transmitisse todo o peso do fato que abalou sua vida. Tudo pelo simples motivo de ter sido íntegro em sua função ao denunciar um
grupo que extraía madeira ilegal de uma área indígena no estado do Pará. “Era uma verdadeira degradação ao meio-ambiente, comandada por um atual senador da República, que permitiu essa retirada predatória de madeira que se estendeu até depois da Constituição promulgada em 1988. Continuaram explorando madeira, e eu denunciei a exploração de 183 mil metros cúbicos de mogno. Era uma cúpula que estava envolvida nisso, dois ex-superintendentes da Funai, um deles já foi presidente do órgão”, denuncia. Acusado de crime de peculato e improbidade administrativa, Alberto lutou por justiça. O caso durou quatro anos no Ministério Público, que, após esse período, chegou à conclusão de que Alberto era inocente. “Em 1998 saiu a decisão da Justiça Federal me inocentando, atribuindo os crimes inclusive ao senador e aos dois ex-superintendentes da Funai”. Não parou por aí. No ano de 2002, a fundação recebia sua primeira condenação
Carros de madeireiros apreendidos pela Funai acumulam-se no estacionamento, alguns há anos
para reintegrar Alberto. “Depois subiu por ofício para as instâncias superiores e a Funai perdeu em todas elas. No TRF-1 e no STJ”,
diz Alberto, que somente em 2014 retornou ao seu posto de trabalho, atualmente em Imperatriz, já perto de se aposentar.
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ENSAIO FOTOGRÁFICO “O universo do trabalho desenvolve-se de formas múltiplas. A contadora de histórias traz a alegria nos dedos. Trabalhadores de uniforme, formais. A simpatia e vida dura dos ambulantes. Imperatriz abre um leque de possibilidades, mas o fantasma do desemprego assusta.” FOTOS: DANIEL SENA
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