Jornal Arrocha - Edição 30 - Rio Tocantins

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DEZEMBRO DE 2017. ANO VIII. NÚMERO 30

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA

Arrocha

FOTO: EDEUÍ OLIVEIRA

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ

Rio Tocantins

agoniza Baixo nível do rio prejudica barqueiros e pescadores Página 5

Transposição das águas: projeto ameaça rio Tocantins Página 8

Poucos podem fazer muito: ações de voluntários ajudam o rio Páginas 14, 15 e 16


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ANO VIII. EDIÇÃO 30 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2017

Turmas que produziram esta edição

Editorial

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mperatriz (MA): uma cidade que se desenvolveu às margens de um rio majestoso, como o Tocantins, nos últimos anos tem enfrentado a triste realidade de ver imensos bancos de areia se formarem a cada período de seca, com o nível das águas quase três metros abaixo do normal, permitindo inclusive travessias a pé por águas que, no passado, representaram um dos mais importantes canais para navegações de médio porte na região. De fato, o rio Tocantins agoniza. E esse foi o tema escolhido para a edição n° 30 do Jornal Arrocha – jornal laboratório do curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), campus de Imperatriz. O Jornal Arrocha é veiculado desde 2010, com lançamentos de algumas edições temática a cada semestre a partir de atividades jornalísticas que envolvem, de modo interdisciplinar, turmas de três disciplinas do curso: Laboratório de Jornalismo Impresso, Laboratório de Fotojornalismo e Laboratório de Programação Visual. Nesta edição, mais de 50 graduandos participaram dos processos de apuração, produção de reportagens e fotografias, além de diagramação dos conteúdos e montagem final do jornal. A experiência de atuar com um jornal temático

tem possibilitado que estudantes pratiquem a capacidade de identificar problemáticas da cidade e região e de desenvolver reportagens com olhares plurais acerca do assunto principal, o que resulta em edições especializadas nos temas abordados, possibilitando amplo aprofundamento aos leitores. Nesta edição sobre o rio Tocantins, os repórteres em formação buscaram revelar as diversas causas que têm afetado o rio e levado a esse cenário de grande preocupação, principalmente, quanto às questões ambientais. Nas próximas páginas, leitores poderão encontrar subtemas tratando de matas ciliares, queimadas, despejos de lixo e esgotos, impacto da estiagem nas águas, nos ribeirinhos e nos comerciantes, extração ilegal de areia, crise de abastecimento de água, projeto de transposição do rio, além de ações de voluntários que tentam reverter os danos provocados pelos homens ao rio, por meio campanhas de limpeza e de conscientização ambiental. Assim, convidamos todos para a leitura das reportagens a seguir, produzidas de forma laboratorial, mas que podem sensibilizar para questões ambientais e esclarecer os fatores que gravemente têm impactado no rio Tocantins. Boa leitura!

Exp e die nte Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade. Jornal Arrocha. Ano VIII. Número 30. Dezembro de 2017 Reitora - Prof. Dra. Nair Portela | Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Daniel Duarte | Coordenador do Curso de Jornalismo - Prof. MSc. Carlos Alberto Claudino. Professores: Dr. Marco Antônio Gehlen (Jornalismo Impresso); Dr. Lucas Reino (Programação Visual), Dr. Miguel Angel Lomillos (Fotojornalismo).

Alunos de Jornalismo Impresso: Amanda Machado Cardoso dos Santos, Bruno silva dos Santos, Daniele Silva Lima, Danielle Carolina dos Santos Costa, Edeui de Oliveira Mende, Eliza Machado Cardoso, Even Grazielly de Sousa Escocio Silva, Janaina da Silva Oliveira, Keila Regina Gadelha Lima da Silva, Lorena Lacerda Lima, Luana Fonseca Silva, Lucas Milhomem da Silva, Lucas Oliveira Sousa, Luciana Sousa Bastos, Rafaela do Nascimento Gomes, Talison Ferreira Fernandes, Thayna da Silva Freire, Thaynara Leite Freitas Carneiro, Willian Ferreira Martins Wyldiany Oliveira dos Santos.

Alunos de Linguagem e Programação Visual: Abner Mesquita de Carvalho, Agda Emanuelle Anastacio de Oliveira, Alice Caroline da Silva Alves, Alisson Mendes Batista da Silva, Ana Carolina Campos dos Santos, Ana Leticia Alves dos Santos, Andre da Silva Sousa, Brenda Caroline Santos da Silva, Cyarla Barbosa Nascimento, Ester Feitosa Nogueira, Evellyn Caroline Santos Lima, Gabriela Cristina Neri Magalhaes, Gessica Cavalcante Silva, Gledson Diegues da Silva, Gustavo Viana da Silva Pereira, Helyh Oliveira Gomes, Janethe Matos da Silva, Jean Camapum Sousa Junior, Kaline Sousa dos Santos, Marita Graciela de Jesus Ventura, Mauro de Melo Lopes, Raimunda Tupinamba de Sousa, Ruilan da Silva Santos, Sabryna Santiago Carvalho Farias, Samuel Cunha de Alencar, Suzana Queiroz de Araujo, Willas Ilarindo Belo de Sena Ysla Karyne dos Santos de Souza. Monitora: Artemisa Lopes da Silva Serêjo

ARQUIVO DOS JORNAIS ARROCHA

www.imperatriznoticias.com.br/jornal-arrocha


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SECA

Rio Tocantins registra nível alarmante A poluição de riachos que cortam a zona urbana, as queimadas e o desmatamento das matas ciliares para agricultura e pecuária são algumas das causas da crise hídrica do rio LUCAS MILHOMEM DA SILVA

O constante acúmulo de lixo na beira das nascentes e os esgotos sem tratamento jogados diretamente nos riachos ajudam a causar a seca do rio e podem ser fatores que tem prejudicado a fauna e a flora às margens das águas.

REPÓRTER: LUCAS MILHOMEM DA SILVA DIAGRAMADOR: GLEDSON DIEGUES DA SILVA

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rio Tocantins, segundo maior rio brasileiro em extensão, enfrenta este ano um período de intensa estiagem em Imperatriz, a segunda maior cidade do Maranhão e localizada a cerca de mil e trezentos quilômetros da nascente, em Petrolina de Goiás. Segundo dados da Defesa Civil, o rio atingiu um de seus piores níveis (2,77 metros abaixo de zero), intensificando o processo de seca característico da região tocantina entre maio e outubro. Fenômenos climáticos e as intervenções humanas às margens do rio são os principais fatores que causam a baixa vazão das águas. A poluição dos riachos que percorrem a cidade é um dos motivos que influenciam o baixo volume do Tocantins e contribuem para a seca, como explica o engenheiro florestal e diretor do Departamento de Áreas Protegidas e Paisagens da Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Meio Ambiente (Sepluma), Jorge Artur. Segundo ele, cinco riachos atravessam a cidade (Bacuri, Cacau, Capivara, Do Meio e Santa Teresa) e deságuam no rio, sendo que todos estão com seus níveis de sujeira acima do normal, devido ao acúmulo de lixo doméstico jogado às margens dos córregos pelos moradores. “O fato de morar próximo ao riacho ou à praia não significa que você tenha que jogar o seu lixo ali, sendo que muitas pessoas fazem isso pela facilidade do descarte, já que a água leva embora as sacolas de lixo e os objetos despejados. O que falta mesmo é conscientização ambiental das pessoas”, afirma. A dona de casa Claudete Sousa mora há três anos em um dos locais mais poluídos do riacho Bacuri, próximo ao centro de Im-

peratriz. Ela conta que, recentemente, a Prefeitura fez uma ação de limpeza da nascente, mas as pessoas continuaram a sujar o local. “É horrível ver o riacho sofrendo com essa poluição, as pessoas jogam muitas sacolas, garrafas e produtos pessoais diretamente no riacho, causando mau cheiro, principalmente quando chove. Isso acaba atrapalhando a gente porque a maioria desses dejetos vão diretamente para o rio, aumentando a poluição, o calor e a seca”. O clima e a seca - O rio Tocantins atravessa quatro estados brasileiros (Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará)

e faz parte do lazer e da economia local de várias cidades, bem como

“Falta muito a parte da conscientização ambiental das pessoas. O fato de morar próximo ao riacho ou da praia não significa que você tenha que jogar ali o seu lixo” gera energia elétrica para muitos municípios. Porém, toda essa capa-

cidade tem ficado comprometida devido a uma série de ações humanas e naturais, como a plantação de eucalipto em larga escala ou a influência de fenômenos climáticos como o El Niño, por exemplo. Alexandre Nogueira, professor doutor em Geografia do curso de Licenciatura em Ciências Humanas (LCH) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), confirma que esse desequilíbrio ambiental ocorre por influência humana e também por causas naturais. “A escassez de água é uma ação antrópica e também natural, ocasionada por vários motivos. “O índice chuvoso, a hidrelétrica de Estreito (localizada LUCAS MILHOMEM DA SILVA

O fato de alguém morar próximo aos riachos ou à praia não significa que você tenha que despejar ali o seu lixo sem preocupação com o ambiente

a 115 quilômetros de Imperatriz), que mantém as comportas fechadas para armazenar água, e a plantação de eucalipto, que suga nutrientes do solo, secam os mananciais abastecedores e deixam de fornecer água ao rio, diminuindo seu volume em grande quantidade”. Segundo o professor, no sudoeste do Maranhão, região onde está situada Imperatriz, há predomínio do clima tropical, marcado pelo intenso calor na maior parte do ano e pela presença de duas estações climáticas: sem chuva (de maio a outubro) e com chuva (de novembro a abril). Assim, o clima da cidade é predominantemente seco por estar situada em uma zona de transição geográfica e, nos últimos anos, a escassez de água ainda se agravou devido a irregularidade das chuvas. “Nos últimos três anos houve um processo de estiagem muito forte que gerou nível de precipitação negativa. As chuvas ocorreram, só que sem a periodicidade necessária para abastecer a capacidade do rio”, explica. O futuro do Tocantins - A Defesa Civil, Superintendência Municipal que trabalha com proteção, monitoramento e preservação nas margens do rio, mede diariamente o nível do rio e constatou que, desde o início do mês de novembro, ele já aumentou sua capacidade em pelo menos 25 centímetros já com as primeiras chuvas do período chuvoso. O superintendente Josiano Galvão afirma que, embora o rio já tenha alcançado o nível mais baixo recentemente (2,77 metros negativos), a previsão para o fim de 2017 e início de 2018 é das mais positivas: “com o início da estação chuvosa em novembro, a previsão é que a capacidade do rio Tocantins volte a se normalizar logo no mês de janeiro”.


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FLUXO INTENSO Seca gera contraste econômico entre os trabalhadores ribeirinhos: para uns, o nível baixo do rio representou retração econômica; para outros, houve alta no movimento de consumidores

Movimento nas praias favorece barraqueiros REPÓRTER: JANAINA OLIVEIRA DIAGRAMAÇÃO: AGDA EMANUELLE WILLAS ILARINDO

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amílias que dependem economicamente de atividades desenvolvidas no rio Tocantins tem enfrentado dificuldades diante da situação de seca nos últimos meses na região de Imperatriz. Entre barqueiros e pescadores, pelo menos dez famílias foram afetadas. Já para os barraqueiros das praias a situação é o oposto, pois a população frequentou mais as praias no período de baixa do rio. Tradicionalmente, muitas atividades informais são desenvolvidas à beira do rio. Durante o período de praias, por exemplo, que se estende do mês de julho até novembro, as barracas de comida nas praias e os barcos que transportam os visitantes são de fundamental importância para os banhistas que aproveitam a temporada e, por outro lado, garantem ganhos às atividades econômicas, embora não seja tarefa fácil retirar o sustento do rio. Muitos dos pescadores da região também são barqueiros, como é o caso de Raimundo Nonato, 45 anos, que trabalha como pescador no primeiro semestre de cada ano e, no segundo semestre, passa a trabalhar como barqueiro, transportando os banhistas para a Praia do Meio, próximo à Av. Beira Rio. Neste ano, porém, por conta dos baixos níveis do rio, muitos banhistas optaram por fazera travessia à pé, diminuindo a procura

pelos barcos. Assim, a seca no rio afetou o sustento de seu Raimundo e pelo menos outras dez famílias. Raimundo cresceu no rio Tocantins, onde trabalha desde a década de 1990. “Eu cresci no rio, nadando com os peixes desde os meus oito anos. Sou o que o pessoal chama de porco d’água”. Triste, ele conta que essa tem sido uma das piores temporadas para os barqueiros, que cobram apenas R$ 2,00 pelo serviço de travessia: “às vezes o barco vai com alguém, mas volta vazio. O pessoal volta a pé, com a água batendo na canela”, lamenta. Raimundo ainda brinca apostando que está começando a safra da manga e que “agora dá, ao menos, pra levar manga para casa”.

“Às vezes o barco vai com alguém, mas volta vazio... pessoal volta a pé, com a água batendo na canela” Para aqueles que são apenas pescadores a situação não é diferente. Como consequência da seca no rio, há redução dos peixes que são típicos dessas águas, como o Tucunaré. O pescador Fernando, 32, conhecido popularmente como “Neném”, conta que sua renda caiu 80%. Hoje, para conseguir atender a demanda de peixes para os restaurantes, ele depende de criató-

JANAINA OLIVEIRA

Barcos à espera do pequeno número de passageiros devido à seca nas praximidades da Praia do Meio no rio Tocantins.

rios de peixes da região. Neném, que pesca no Rio Tocantins desde os seus 7 anos de idade e é morador da região ribeirinha, faz bicos em outras atividades aos finais de semana para completar a renda da família. O outro lado da seca - Se para os barqueiros e pescadores a seca no rio representou dificuldades financeiras, para as barracas das praias a seca representou alta na movimentação econômica, pois as praias

estiveram sempre lotadas de banhistas consumindo produtos alimentícios diversos. Este ano, o período de praias contou com apoio da Prefeitura, que montou estruturas nas praias para melhor atender a população. Na praia do Cacau, por exemplo, foi montado um palco para shows, que aconteciam durante a tarde ou durante a noite, o que aumentou consideravelmente o público na praia. O crescimento no movimento de

público foi muito positivo para os barraqueiros. Segundo o presidente da Associação de Barraqueiros da praia do Cacau, conhecido como Grandão, apesar da crise, as famílias estavam presentes na praia, principalmente aos domingos, e as vendas foram boas. “Aos domingos você não conseguia achar um lugar para sentar. Quanto à comida, era preciso chegar cedo, senão não havia mais peixe assado”, disse. Grandão afirmou que o trabalho na praia este ano serviu para pagar as contas atrasadas.

Ribeirinhos do Embiral: o respeito a um rio quase seco A população do povoado Embiral expressa toda a admiração pelo rio do qual extrai quase tudo o que necessita para a sobrevivência, mas que no momento padece com a estiagem REPÓRTER: ELIZA MACHADO DIAGRAMAÇÃO: AGDA EMANUELLE WILLAS ILARINDO

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suave deslizar do barco, rio Tocantins abaixo, sob o som rítmico do motor e o movimento das águas, conduz a um encontro com a natureza. Essa viagem leva ao povoado Embiral, a aproximadamente uma hora de barco de Imperatriz. Nesse povoado, há muitos anos vive uma tradicional população ribeirinha espalhada em pequenas comunidades que construíram suas vidas ao longo das margens do rio, estabelecendo uma relação muito forte com as águas. Atualmente, no entanto, por conta da seca, estes ribeirinhos padecem, mas não cansam de demonstrar um respeito imenso ao rio do qual extraem o sustento. No Embiral, até pouco tempo atrás, a maioria dos ribeirinhos usava o transporte fluvial como principal forma de locomoção. Ruas não existiam, nem automóveis. A estrada era o rio, como afirma seu Antonio Lopes Soares, de 52 anos: “a água é meu caminhão, transporto tudo”, disse. Nos últimos anos, contudo, o rio Tocantins começou a baixar drasticamente o nível da água e a história começou a mudar de forma que o transporte fluvial já não é mais tão seguro. Na tentativa de explicar o que ocorre com o rio, Domingos César, ambientalista conhecido da população ribeirinha, compara o rio Tocantins a um time. “Na linguagem futebolística, é como um

time de um atleta só, jogando contra um time com onze atletas. Ele joga contra os que derrubam as matas ciliares, como fazendeiros, pecuaristas, grandes empreendimentos; contra a construção das barragens que o rio não suporta mais, além de vários outros elementos”. Segundo Domingos, o rio Tocantins deveria ser navegável no inverno e verão, mas foi perdendo a força aos poucos e, hoje, “90% das espécies de peixe que existiam quando eu era criança já não existem mais, foram dizimadas”.

Experiência e intuição - Para as famílias ribeirinhas, o tempo é medido pelas tarefas nos roçados, não sendo orientado pelo relógio. Os momentos de festas de antigamente nos períodos da colheita, atualmente, transformaramse em pesadelo. A estiagem e a seca que castigam o rio impedem bons resultados. Os ribeirinhos estabeleceram uma estreita relação com as águas, de onde tiram a sobrevivência, seja por meio do transporte fluvial, da pesca, do plantio de banana, arroz, feijão, mandioca ou da pesca. No entanto, a cada dia essa relação fica mais abalada por conta da seca que, principalmente neste ano de 2017, ficou registrada na história do rio Tocantins como a maior de todos os tempos. Segundo seu Dionísio Soares, 83 anos, um dos primeiros moradores do povoado Embiral, neste ano, foram vistas situações que nenhum ribeirinho jamais imaginou viver. “A seca atrapalhou o plantio, dificultou o transporte e deixou

ELIZA MACHADO

muitos pescadores sem saber o que fazer para colocar comida dentro de casa para suas famílias”, lamentou o pescador ao afirmar que o Tucunaré e o Piau, que antes que eram considerados o carro chefe da culinária ribeirinha, foram nadar em águas mais profundas ou não sobreviveram à seca do Tocantins.

Sem políticas públicas - Os ribeirinhos, especialmente do Embiral, têm pouca visibilidade para o poder público e, por isso, ficam também às margens das políticas públicas. Essa realidade é registrada sobretudo nas áreas de Saúde e Educação, como afirma dona Maria Trindade, 57 anos, agricultora. “Tentam aplicar as mesmas normas e leis das cidades e isso não funciona para a comunidade ribeirinha. É preciso dar oportunidade às pessoas daqui, do Embiral, capacitá-las considerando a cultura local, pois a grande maioria não abandona suas raízes”, aponta. O pescador Antonio Lopes conta que já pescou muito no rio, mas hoje a realidade é outra. “Antigamente eu conseguia pescar cerca de 40kg a 80kg por dia, mas, hoje, tenho que navegar muito para conseguir pescar de 10kg a 20kg. A nossa situação é preocupante”, desabafa. Segundo ele, existem três fatores que contribuem para o cenário atual: o primeiro é o desmatamento nas margens do rio, que promove o assoreamento. O segundo é a ausência de chuvas e, o terceiro, ao qual ele

Pescadores preocupados com suas redes vazias sofrem com a escassez de peixes. atribui maior peso, são os impactos das hidrelétricas, principalmente a hidrelétrica de Estreito. O pescador confirma que, depois que essa hidrelétrica começou a funcionar, além do nível da água baixar muito, a quantidade de peixes do rio Tocantins diminuiu consideravelmente. João Amaro da Silva, 65 anos, passa horas debruçado sobre a janela da casa de madeira. Ele contempla a bela e tranquila paisagem do rio Tocantins, acompanhando o lento vaivém de canoas, lembrando que, há algum tempo, os barcos de pescadores vinham e voltavam lotados de peixes das mais variadas espécies, como Tucunaré, Curimatá, Surubim, Tambaqui, Pirarucu e Pacuzinho. “Bons tempos aqueles”, recorda.

Para o pescador Fernando Oliveira, 63 anos, é preciso olhar para trás, perceber os erros que cometemos em relação à preservação do rio e aprender com isso. “Muitas vezes as nossas atitudes que contribuíram com a degradação do rio não foram atitudes propositais ou conscientes, mas fruto da nossa ignorância. Não sabíamos que derrubar as matas ciliares provocaria esse assoreamento do rio”, reconhece. O pescador afirma que não imaginava, por exemplo, que desviar um pouco de água do rio com o objetivo de fazer criatórios de peixe poderia prejudicar um rio tão grande como o Tocantins. “Tudo foi um aprendizado, pena que foi necessário vermos o rio sofrer para percebermos o quanto ele é importante e precisa ser preservado”, finalizou


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DIFICULDADES Famílias que sobrevivem da pesca e do tráfego de embarcações sofrem com a redução das atividades econômicas em decorrência da expressiva redução do nível do rio

Seca prejudica barqueiros e pescadores WYLDIANY OLIVEIRA DOS SANTOS

REPÓRTER: WYLDIANY OLIVEIRA DOS SANTOS DIAGRAMAÇÃO: JANETHE MATOS ESTER FEITOSA

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rio Tocantins vem sofrendo com uma forte crise no nível das águas, que se estende desde meados do mês de maio deste ano e vem causando grandes impactos principalmente para aqueles que sobrevivem do rio por meio da pesca e do tráfego de embarcações. São várias famílias diretamente afetadas com a seca do rio, desde ribeirinhos, comerciantes, até a população de Imperatriz e das demais cidades dos estados do Maranhão, Goiás, Tocantins e Pará. Com as águas do rio abaixo do nível considerado normal, grandes bancos de areia e pedras surgem ao longo do leito, dificultando a vida daqueles que sobrevivem do fluxo das embarcações e da pesca. “Não temos mais o que fazer quando acabam as praias. É de lá que tiramos nosso lucro, das travessias durante o dia. E é preciso ter prática para navegar, pois tem muitas pedras e areia. Se não tiver prática, fura a embarcação. O rio é tudo para nós”, conta o barqueiro, Félix Nogueira. A maioria das famílias que sobrevivem do rio mora nos arredores do bairro Beira Rio. Em geral, famílias de origem humilde que trabalham com pesca e oferecendo o serviço de travessia por meio de barcos, canoas e da balsa. Segundo a Associação de Moradores do Bairro Beira Rio, que acompanha cerca de 2,5 mil famílias e tem demonstrado preocupação com essa problemática, muitos pescadores estão indo buscar peixes nas cidades de Tucuruí e Estreito. Os barqueiros vão pelo meio do rio para não correr o risco de encalhar por causa da quantidade de areia. “Estamos sempre indo ao encontro de órgãos públicos, como a Secretaria de Meio Ambiente, Câmara de Ve-

As praias surgem como fonte alternativa de renda para alguns os barqueiros e pescadores em meio à seca do Rio Tocantins.

readores e outras instituições buscando melhorias. Temos que levantar a bandeira. Questionar junto à Promotoria, às universidades, os estudantes, todos, para lutarmos em prol dessa causa”, defende a presidente da associação, Marlene Bento.

trâmites com a documentação junto aos órgãos públicos, para que no período da piracema, que vai de 1° de novembro a 28 de fevereiro, os pescadores sejam conscientizados e recebam seus direitos, com o seguro concedido neste período. “Nossa maior preocupação com os

Impactos da seca - Para um melhor acompanhamento dos que sobrevivem do rio, a Colônia de Pescadores de Imperatriz Z-29 conta com aproximadamente 700 pescadores cadastrados, dos quais 350 estão ativos no trabalho pesqueiro. Hoje, segundo a colônia, todos estão preocupados em preservar o rio e em orientar os pescadores sobre como navegar e pescar nos período de escassez de água no rio. A colônia serve para facilitar os

“Temos que levantar a bandeira. Questionar junto à Promotoria, às universidades, estudantes, todos para lutar em prol dessa causa”, afirma Marlene Bento. WYLDIANY OLIVEIRA DOS SANTOS

Barcos ficam encalhados às márgens do rio devido aos grandes bancos de areia que se formam dentro das águas

pescadores é que eles vivem disso, sua produção vem toda da pesca in natura, da captura do rio. Muitos estão indo para outras regiões com abundância de água e peixes”, lamenta, o secretário executivo da colônia, Albane Freitas. Para o pescador Edivaldo, a instalação da barragem prejudicou a atividade. “Os peixes não estão vindo desovar e os pescados que estamos vendendo agora vem de Tucuruí e Belém. Sobrevivo da pesca e a seca também mexeu muito com a gente. Antes aqui tinha peixe demais e agora estamos comprando para revender. Uns vão pescar em Tucuruí e Estreito e outros esperam aqui”, conta. Para o engenheiro florestal e diretor de Departamento de Áreas Protegidas e Paisagens da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Jorge Arthur, vários são os problemas que afetam o rio, dentre os quais se destacam a falta de saneamento básico e poluição dos riachos, assim como o desmatamento das matas ciliares. “Águas que não recebem tratamento adequado e são despejadas no rio afetam o PH da água, a temperatura, e isso prejudica a vida dos peixes e a flora aquática das matas ciliares acaba contaminada”, explica o diretor. Vários riachos desaguam no rio Tocantins como condutores de vida, como o Cacau, Capivara, Bacuri, Do Meio, Santa Teresa e José de Alencar. Porém, eles estão praticamente sem vida por causa da ação devastadora do homem, o que reflete diretamente no rio Tocantins e na vida daqueles que retiram o sustento do rio. “Quando se acaba com os riachos que conduzem vida ao rio Tocantins, ele vai perdendo a força, o vigor, a capacidade de navegabilidade. Já na década de 1970 começamos a perceber que o rio estava perdendo sua capacidade e corria riscos”, lembra, com preocupação, o ambientalista Domingos Cezar. No entanto, as causas que afetam o rio são múltiplas. A proble-

mática da seca, por exemplo, tem relação com a construção de várias barragens no curso do rio (seis hidroelétricas), com as pessoas que não preservam os riachos, com o assoreamento e, principalmente, com as ações devastadoras da população que promovem queimadas e derrubadas das matas ciliares. Nível do rio - Segundo a secretária executiva da Superintendência Municipal de Proteção e Defesa Civil, Elaine Cristina, “a cada dia a situação do rio é mais preocupante, por isso se faz necessário o monitoramento, a prevenção, o envolvimento com informações, o contato com as usinas hidroelétricas, com a Agência Nacional da Água, com a Secretaria de Meio Ambiente, com a Companhia de águas e Esgotos do Maranhão (Caema), com o Ministério Público, para formarem um Comitê de Crise Hídrica, já que estava sendo verificada em tempo real uma baixa do nível do rio”. Elaine destaca a importância das informações que indicam a vazão das águas do rio Tocantins e a importância de deixar a comunidade ciente sobre a realidade do rio, pois a seca afeta diretamente o trabalho das embarcações, o abastecimento de água da cidade e, principalmente, a atividade pesqueira. “Começamos a notar que, no período de veraneio de fato, em meados do mês de maio de 2017, uma baixa no nível do rio se perpetuou por longos dias. E esse nível é monitorado por meio do sistema com informações sobre a vazão em tempo real”, explica Elaine. Há alguns anos, uma das maiores cheias já registradas foi verificada entre os anos de 1980 e 1981, quando o rio alcançou cerca de 18 metros acima do nível normal. Atualmente, com a situação crítica de seca, o cenário é oposto e preocupante, já que o nível do rio ainda encontra-se baixo, com vazão de até dois metros abaixo do nível normal. As primeiras chuvas de novembro, no entanto, vêm fazendo com que o rio gradativamente eleve seu nível, com aumento de até 45 centímetros no nível na bacia do Tocantins. Ainda assim, o rio continua com nível levemente inferior na comparação com igual período do ano passado. Para o segundo sargento da Marinha do Brasil na Agência Fluvial

“Sobrevivo da pesca e a seca mexeu muito com a gente, antes aqui tinha peixe demais e agora estamos comprando para revender” de Imperatriz, Carlos Eduardo, diante desta seca do rio, é “importante o cuidado no transporte de passageiros nas canoas, com uso fundamental de coletes salva-vidas em tamanho apropriado para cada idade dos usuários, e que durante as navegações se tenha cuidado com as pedras e obstáculos no rio”.


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TORNEIRAS SECAS As constantes crises de abastecimento de água são causadas, segundo a Caema, pela seca do Tocantins, mas os equipamentos antigos também são apontados como responsáveis

Captações precárias agravam a falta de água FOTOS: DANIELE LIMA REPÓRTER: DANIELE LIMA DIAGRAMAÇÃO: CYARLA BARBOSA RUILAN SANTOS

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seca do rio Tocantins tem alarmado as autoridades e a população de Imperatriz. O baixo nível do rio é tido como a causa do mau abastecimento de água na cidade, de acordo com a Companhia de Água e Esgoto do Maranhão (Caema). Entretanto, equipamentos antigos para captação são apontados como um dos principais fatores para a crise que a cidade enfrenta há anos. A seca do rio Tocantins é explicada pela junção de diversos fatores, como o desmatamento, alteração do ciclo das chuvas, construção de usinas hidrelétricas, assoreamento, agricultura, pecuária, degradação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) e falta de fiscalização do poder público, segundo o professor do curso de Técnico em Meio Ambiente no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), em Açailândia, Eiderson Cabral. Além disso, a degradação do rio é agravada ainda pela falta de consciência ambiental, não só do poder privado e público, mas também da população imperatrizense que desgasta o rio com o lixo, que é jogado nas praias e nos riachos que desaguam no Tocantins. “A gente pode falar que essa consciência ambiental não existe para a maioria das pessoas”, aponta Cabral. Neste sentido, a falta de fiscalização e de ação do poder público, as degradações ambientais ocasionadas por grandes empresas, juntamente com a falta de consciência da população, fazem com que o recurso hídrico disponível em Imperatriz clame por socorro imediato. Abastecimento - No mês de julho de 2017, o nível do rio Tocantins estava 2,54 metros abaixo do normal, segundo informações da Superintendência da Defesa Civil. Esse fator foi apontado pelo gerente regional da Companhia de Água e Esgoto do Maranhão (Caema), Rafael Heringer, como o motivo da crise no abastecimento de água em Imperatriz, pois, segundo ele, 80% do abastecimento de água da cidade depende do rio e a seca fez com que as bombas de captação apresentassem falhas. Devido a isso, durante muitas semanas, os moradores enfrentam um racionamento severo de água, pois a Companhia fez rodízios na distribuição entre os bairros. Por outro lado, João Bosco Brito, presidente da Organização Não Governamental (ONG) Anjos do Rio – que atua na proteção do Tocantins e para conscientizar a população -, garante que a seca não é o fator crucial para a falta de água da cidade. O ambientalista argumenta que o problema ocorre devido às instalações antigas da Caema, que são de mais de cinco décadas atrás. Segundo ele, a empresa trabalha com instrumentos antigos e ineficientes para a captação da

A crise no abastecimento faz com que a população de Imperatriz sofra diariamente com a falta de água.

água; e isso é a causa do problema. Ele afirma ainda que um dos maiores causadores da poluição no rio é o esgoto despejado pela própria companhia, que não passa por tratamento adequado antes de chegar às águas. Sem água em casa - As maiores vítimas da frequente falta de água, no entanto, são os moradores que precisam se habituar a viver com um limite de água diário. “A caixa que eu tenho não enche porque a água não sobe. Para lavar roupa, eu tenho que me deslocar do meu bairro para outro”, conta Delma Borges, 48 anos, que enfrenta problemas com a falta de água há dois anos no bairro Parque Anhanguera. Renata Ferreira, 23 anos, mora no centro de Imperatriz e precisa descer dois andares do seu prédio para buscar água com um balde, já que a força da água não é suficiente para chegar até seu andar. “Eu tenho uma vizinha que está grávida e todo dia ela sobe essas escadas carregando um balde”, completa. Além da falta de água, Renata destaca outros problemas, como a quantidade de cloro presente na água - quando vem, e o volume de insetos que são atraídos por causa das louças e roupas sujas.

“Na minha casa faz muito tempo que a gente não sabe o que é banhar em um chuveiro”

O racionamento faz com que os imperatrizenses se habituem a coletar água com balde.

Sus dolupti rat. Acesecepre dent autestium iduntotatet quo versperovid millorerspe volecerio essitat

O baixo nível do Rio Tocantins se deve a diversos problemas ambientais que são observados há muito tempo em Imperatriz.

No bairro Parque Santa Lúcia não foi apenas esse ano que a população enfrentou uma grande crise de água. “É um problema antigo que estava presente no bairro, antes mesmo de eu ser moradora”, destaca Victória Passos, 20 anos. Devido a isso, os moradores tiveram que encontrar meios para enfrentar os dias sem uma gota de água nas torneiras. “Meu pai comprou uma caixa de água adicional para que a gente não passasse pelo transtorno de ficar sem água por vários dias”, relata. Futuro - No início de novembro, Rafael Heringer deu novas informações sobre a situação da Caema. De acordo com ele, uma bomba de captação já foi consertada e vai voltar a funcionar. Com isso, o rodízio de abastecimento não vai ser mais necessário nos últimos meses do ano. Além disso, Heringer garante que a estação da Caema está passando por reformas, o que não acontecia há 30 anos. Assim, a companhia espera que o abastecimento de água em Imperatriz seja normalizado e que a população não precise mais conviver com longos períodos sem água, um recurso imprescindível para o cotidiano e para a qualidade de vida.


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PERIGO O baixo nível das águas do rio Tocantins em 2017 levou muitos banhistas a atravessar o rio a pé até a Praia do Meio, o que preocupa as autoridades, tendo em vista os riscos de afogamentos

Banhistas se arriscam em travessia a pé REPÓRTER LUCAS OLIVEIRA SOUSA DIAGRAMAÇÃO: DINA PRARDO

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nível das águas do rio Tocantins voltou a baixar e a situação chega a ser preocupante, tendo em vista que essa é a pior seca dos últimos anos. Quem atravessa o rio de barco consegue com facilidade pegar areia do fundo do rio. Os banhistas, que aproveitam a temporada de praia, fazem a travessia a pé até a praia do meio. No entanto, muitos são os perigos encontrados na praia como os enormes buracos e a força das correntezas que pode ocasionar em um problema muito mais grave, como os casos de afogamento. Novamente a cena se repete. Bancos de areias, barcos encalhados e pedrais são avistados em boa parte da extensão que compreende os municípios de Bela Vista/TO e Imperatriz/MA. Devido à temporada de praia, muitos pescadores aproveitam o fluxo de pessoas para terem uma renda extra e utilizam seus barcos, canoas ou voadeiras para fazer a travessia, po-

rém, diante dessa situação estão enfrentando dificuldades. “Nós pescadores somos os mais prejudicados. Quando colocamos nossas redes no rio, ao voltarmos, todas estão no seco. O peixe está todo no canal, não temos como irmos colocar nossas redes lá, sem falar que não estamos fazendo a travessia dos banhistas, já que muitos preferem fazer a passagem a pé”. Comenta Francisco Machado, que trabalha como pescador há mais de 15 anos. De acordo com diretor da Defesa Civil, Josiano Galvão, a vazão defluente da UHE (Usina Hidrelétrica de Estreito) atingiu 897 m³. O registro está próximo ao de setembro de 2016, quando marcava 744m³, fator associado às crescentes degradações das nascentes dos afluentes e os barramentos feitos ao longo do leito que tem ajudado para que o cenário chegasse a esse nível. O diretor alerta sobre os perigos encontrados no rio. “Proprietários das dragas e depósitos de materiais de construção continuam retirando areia nas proximidades das praias do Cacau e do Meio. Com isso, por

LUCAS OLIVEIRA

Durante o período de estiagem, era comum registrar filas de banhistas aproveitando o baixo nível das águas para fazer a travessia caminhando pelo rio

força das correntezas, são formados os porões, enormes buracos que se constituem em um verdadeiro perigo para as pessoas que insistem em fazer a travessia a pé até as praias ou tomam banho fora da área delimitada. Diante dessa situação, a Defesa Civil enfatiza os cuidados nesses

“Domingo retrasado, uma família por pouco não se afoga e, por sorte, os barqueiros os salvaram”

locais. “É preciso que os banhistas não ultrapassem a área marcada pelas boias e que também estão sob os olhares dos salva-vidas. É importante a atenção redobrada dos pais com as crianças, para que se evitem acidentes e afogamentos. Para garantir a segurança, foram selecionados e treinados 22 guarda-vidas, sendo 14 na Praia do Cacau e 8 na do Meio”, ressalta. A comerciante Maria dos Santos, que trabalha na praia, revela que já aconteceram alguns casos de afogamento e que é preciso que as autoridades tomem providências cabíveis. “Gente, isso é muito perigoso, domingo retrasado uma família por pouco não se afoga e, por sorte, os barqueiros os salvaram. E hoje uma

mulher também quase morreu afogada. Cadê as autoridades, Defesa Civil, Bombeiros, Guarda-vidas. Vamos fiscalizar isso antes que aconteça algo pior?”. De acordo com o corpo de bombeiros esse ano foram registrados três casos de afogamento onde banhistas que faziam a travessia se depararam com um bueiro. “É preciso ter atenção redobrada, pois há muitos espaços que estão impróprios para a travessia e para banho. O recomendado é que a travessia seja feita em barcos e sempre com o uso do colete salva vidas. Os guarda-vidas estão fazendo o monitoramento em toda a parte do rio de forma continua para evitar qualquer acidente”.

Retirada ilegal de areia para venda causa danos ao rio Tocantins Rio, que já se encontra em estado crítido, pode ter perda ainda maior do volume de água, ampliação dos processos erosivos e alteração do seu curso natural a partir das extrações proibidas EDEUÍ DE OLIVEIRA

REPÓRTER: EDEUÍ DE OLIVEIRA DIAGRAMAÇÃO: ANDRÉ DA SILVA

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extração ilegal de areia traz prejuízos para o rio Tocantins. Com o intuito de venda do material, devido à grande demanda das construções em Imperatriz, essa prática vem crescendo cada dia mais. Um dos efeitos prejudiciais da captação é o assoreamento, que se soma a outros danos ambientais. As captações de areia geram também buracos no fundo do rio que são de extremo perigo aos banhistas. De acordo com o geógrafo Francisco Idean, a captação de areia provoca depreciação da quantidade de água, incidência de processos erosivos e alteração na geomorfologia fluvial dos cursos d’água. Esses são apenas alguns dos problemas causados pela captação de areia do rio. O assoreamento é causador de sujeiras e desníveis no rio Tocantins, que atualmente se encontra em estado crítico devido à baixa do nível da água. Idean explica que no leito do rio são jogados sedimentos, lixos, entulhos, materiais sólidos etc. “Os depósitos afetam o curso d’água, criando bancos de areia que desviam e reduzem a capacidade que os rios têm de escoamento. A retirada da mata ciliar contribui também para esse processo de assoreamento”, explica ao lembrar que sem as matas ciliares, há depreciação da

Atividades das dragas necessitam de autorização do Departamento Nacional de Mineração.

qualidade das águas e ampliação dos processos erosivos. Em função dos danos que provoca, a captação ilegal de areia é crime previsto no artigo 55 da Lei 9.605/98 que prevê: “executar pesquisa, a lavra ou extração de recursos minerais sem a autorização ou em desacordo com a obtida, terá pena de seis meses a um ano de detenção e mais multa”. As atividades de captação de areia das dragas necessitam de autorização do Departamento Nacional de Mineração (DNPM), que é o órgão

responsável por gerir e fiscalizar o exercício das atividades de mineração em todo o território nacional. A agente de fiscalização ambiental da Secretaria de Planejamento Urbano e Meio Ambiente (Sepluma), Kerley Araújo, explica que o código municipal proíbe a retirada de areia a menos de cem metros de distância do leito do rio. A Sepluma fiscaliza, o rio Tocantins, os locais e os períodos de captação. Kerley reforçaque, no período de veraneio, são proibidas as captações em locais com me-

nos de cem metros de distância das praias, devido aos riscos aos banhistas, entre outros. A forma de se reverter as situações decorrentes do assoreamento no rio Tocantins é a promoção do desassoreamento do mesmo. Essa prática consiste na limpeza do rio, com retirada dos entulhos em seu leito, atuando na recuperação das nascentes, mananciais e proporcionando um fluxo livre às aguas, o que facilita também a navegação. “É importante também o replantio de árvores ao longo das margens, o que evita as erosões e preserva a mata ciliar. Mas, o melhor ‘remédio’ é sempre preservar antes do que gastar fortunas num processo contrário de assoreamento”, explica Idean ao lembrar quea captação de areia legal e adequada é benéfica, pois faz a manutenção da calha do rio. O tenente do Corpo de Bombeiros, Evandro Ferreira, alerta ainda que a extração da areia perto das praias esconde a real profundidade do leito no rio. Por consequência da diminuição da calha do rio, a trafegabilidade das embarcações é prejudicada. São feitas delimitações, nas praias, dos locais que existem porões (buracos) para proporcionar maior segurança aos banhistas. Ferreira conta que, no período de veraneio deste ano, foram registrados seis princípios de afogamento, com salvamento pelos guarda-vidas

da Prefeitura, juntamente com os profissionais do Corpo de Bombeiros. “Sabemos que o movimento das correntezas pode ser forte, sem contar que os banhistas às vezes andam embriagados pelas praias”, salientou. As autorizações para captação de areia das dragas em Imperatriz são determinadas pelo Departamento Nacional de Mineração que fica em São Luiz. A Marinha de Imperatriz

“Os depósitos afetam o curso d’água, criando bancos de areia que desviam e reduzem a capacidade que os rios têm de escoamento” fiscaliza as regularizações dos condutores e embarcações. De acordo com o suboficial da reserva, Domingos dos Passos, todos os anos são registradas cerca de 15 dragas multadas por infrações diversas. Neste ano, duas foram apreendidas. Passos explica que as documentações necessárias para atividade legal de extração são: inscrição da draga, alvará da Prefeitura ou a licença do DNPM em São Luiz. “Todas às vezes quando se pede a inscrição é feita a vistoria das embarcações”, esclarece.


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RIOS PEDEM SOCORRO

Apresentado em 1990 e reapresentado em 2013, Projeto de Lei prevê a transposição das águas do rio Tocantins para o rio São Francisco, mas enfrenta forte oposição RUBEM RODRIGUES

Para ambientalistas, interligação castigaria ainda mais o rio Tocantins. A proposta, no entanto, defende que a transposição poderia ser uma salvação para o rio São Francisco, o Velho Chico.

Projeto de transposição é nova ameaça ao rio REPÓRTER: BRUNO SANTOS DIAGRAMAÇÃO: ANA LETÍCIA MARITA VENTURA

P

”É um doente tratando de outro que praticamente se encontra em estado terminal” Patriota tem defendido em discursos na Câmara dos Deputados a transposição alegando que o rio Tocantins possui 10 vezes mais água que o rio São Francisco e, segundo a proposta, a água do rio só seria usada em tempos de cheia, já que boa parte dela desagua no mar sem ser utilizada. Outros deputados, como Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE), coordenador da Comissão Externa sobre a Transposição do São Francisco também defendem o PL, sob a justificativa de benefício dos estados nordestinos assolados pela seca do rio, pela viabilidade de uma hidrovia são franciscana, facilitando assim a conexão e transporte de carga entre a ferrovia Norte-Sul e os

portos de Suape-PE e Pecem-CE. Na esfera estadual, o presidente da Assembleia Legislativa do Tocantins, Mauro Carlasse (PHS), já se organiza com outras lideranças políticas do estado em defesa da não transposição do rio que leva o nome do estado. No fim de setembro, Carlesse apresentou um projeto de lei que proíbe o direito do uso dos recursos hídricos (rios) do estado para projetos de transposição ou interligação com bacias hidrográficas localizadas em outro estado. Já a deputada federal Josi Nunes (PMDB-TO) foi enfática ao se manifestar contra o projeto em um de seus discursos na Câmara. “É importante colaborar, mas desde que seja dentro das nossas potencialidades e possibilidades. Não podemos prejudicar o nosso Estado que também tem sofrido com a falta de água. Permitir uma ação dessa seria como diz o velho ditado: ‘desvestir um santo para vestir outro’. Por esta razão, vamos lutar para que este projeto não seja aprovado no senado”, defendeu. Pensamento idêntico ao do ambientalista imperatrizense Domingos Cezar Ribeiro, que cresceu às margens do rio Tocantins e que, apesar compartilhar do sofrimento dos que dependem do Velho Chico, não deseja que seu rio morra para dar vida a outro com foco em ganhos exclusivamente financeiros. “Ora, meus amigos, se o nosso rio Tocantins está arquejando, morrendo a cada dia, ou seja, seria um doente tratando de outro que praticamente se encontra em estado terminal: o Velho Chico? Os grandes projetos agrícolas, que exigem irrigação foram os principais responsáveis pela seca e enfraquecimento do rio São Francisco e, agora, eles querem fazer o mesmo com nosso rio Tocantins? Não podemos permitir, temos que ficar alerta para não permitirmos a execução desse projeto”, defendeu Domingos. Ainda, segundo ele, sem uma revitalização

séria e sem respeito ao ciclo das águas não há tecnologia que resolva o drama hídrico. Investir seriamente na revitalização do rio, que pressupõe recompor as matas do território da bacia, principalmente as ciliares, seria a principal via para se manter o rio saudável. Tanto os apoiadores quanto os contrários ao PL defendem o diálogo. Por isso, serão realizadas au-

diências públicas com participação do Governo do Estado do Tocantins, a bancada federal do Estado, Defensoria Pública, Ministério Público, Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, representantes dos municípios cortados pelo rio Tocantins e do autor do projeto, Gonzaga Patriota, para tratar da transposição e sanar dúvidas que possam existir. CÂMARA FEDERAL/DIVULGAÇÃO INTERNET

rojeto de Lei em trâmite no Congresso visando a transposição do rio Tocantins para o rio São Francisco segue de modo acelerado para aprovação, mesmo diante do crescente debate entre quem é a favor e contra a proposta. O projeto é tema de discussão não só em Brasília, mas em todos os estados que serão afetados, caso a proposta seja aprovada. As críticas partem de ambientalistas e congressistas dos estados cortados pelo rio Tocantins que acham inviável a interligação em função dos danos ambientais ao rio. Já a maioria dos representantes dos estados do Nordeste, principalmente aqueles que fazem parte da Bacia do São Francisco, apoia a ideia como uma possível salvação do Velho Chico. O PL nº 6569, de autoria do deputado Gonzaga Patriota (PSB-BA), foi apresentado em 1990 e, posteriormente, reapresentado em 2013. Também é tema de um livro: “O Rio Tocantins vai desaguar no São Francisco”, de autoria do próprio deputado. O projeto busca modificar a Lei nº 5917, de 10 de setembro de 1973, que aprova o Plano Nacional de Viação, para incluir no anexo da lei a interligação dos rios, assegurando a navegabilidade do Velho Chico. A proposta já passou pela Comissão de Viação e Transportes com parecer favorável também da Comissão de Constituição Justiça e Cidadania, tendo sido aprovadas as emendas e a redação final. Agora a matéria se encontra na Mesa Diretora do Senado para apreciação. O projeto consiste na interligação do rio Tocantins com o rio Preto, este último localizado no oeste da Bahia. A captação da água começaria no Rio Manuel Alves, afluente do rio Tocantins, que fica ao sul da cidade de Porto Nacional-TO. Da foz do rio Tocantins até a

divisa Tocantins-Bahia são 210 km, passando pelos munícipios de Morro de São João, Apinajé, Natividade, Príncipe e Dianópolis, todos no estado do Tocantins e cortados pelo Rio Manuel Alves, até chegar ao distrito de Garganta, já na Bahia. Nesse ponto, serão necessárias construções de canais elevatórios para o prosseguimento da interligação, dadas às condições do relevo por conta da Serra Geral de Goiás. Ao chegar à Garganta, o rio Tocantins se encontra com o rio Preto para posteriormente desaguar no Velho Chico mais precisamente na Barragem de Sobradinho-BA, um dos maiores reservatórios artificiais de água do mundo criado a partir do represamento do rio São Francisco. A obra estaria orçada previamente entre R$ 2 bilhões e R$ 4 bilhões, segundo o próprio autor do projeto, Gonzaga Patriota.


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CAEMA E PREFEITURA Ação contra a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) e a Prefeitura Municipal de Imperatriz pede paralisação imediata de despejos de dejetos nos riachos e córregos da cidade com previsão de multa

MP aciona justiça para evitar dejetos no rio JOEDSON SILVA REPÓRTER: WILLIAN FERREIRA DIAGRAMAÇÃO: ABNER CARVALHO EVELLYN LIMA

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Ministério Público do Maranhão (MP-MA) acionou a Justiça no mês de setembro contra a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) e a Prefeitura Municipal de Imperatriz. A ação ajuizada pelo promotor titular da 3ª Promotoria de Justiça Especializada do Meio Ambiente, Jadilson Cirqueira, contra os dois órgãos prevê a paralisação imediata do lançamento de dejetos líquidos em todos os riachos e córregos de cidade. De acordo com o Jadilson Cirqueira, a Caema não resolveu a questão do esgotamento sanitário na região desde quando se instalou na cidade. O município por sua vez, não fiscaliza e não exige da Caema desde 1974 uma adequação às normas federais, estaduais e municipais ambientalmente correta. “Tentamos diálogo com a Caema há anos, não houve interesse por parte da empresa. Procuramos firmar um Termo de ajustamento de conduta (TAC), entretanto, a mesma se recusou assinar”, argumenta o promotor. A investigação - Após uma representação formal do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) de Imperatriz ao Ministério Público do Maranhão, em 2014, houve início de uma investigação, na busca de providências quanto ao serviço de captação e tratamento de água e esgotos no munícipio, especificadamente o lançamento in natura de esgoto no rio Tocantins. A investigação contou com várias requisições de informações e documentos à Caema, respostas, esclarecimentos da situação de captação de água, distribuição, captação e tratamento de esgoto na cidade, relatórios, projetos de melhorias dos sistemas, parecer técnico do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente do MP-MA, pareceres técnicos da Se-

cretaria Municipal de Planejamento Urbano e Meio Ambiente (Sepluma), reclamações de usuários, matérias jornalísticas, vídeos, fotografias, e uma ata de diligência de trabalho de visita pessoal no rio Tocantins, com o convencimento ao final de práticas de danos ao meio ambiente sendo que por longos anos não se obteve nenhuma medida efetiva. Locais prejudicados - Dezenas de bairros da cidade não são contemplados com ligações sanitárias. Bairros como Bacuri, Vila Cafeteira, Vila Lobão, Vila João Castelo, Jardim Lopes, Santa Inês, Coco Grande, Itamarguará, Bom Sucesso, Redenção, vilinha, Planalto, Parque das Palmeiras, Parque do Buriti,

“Tentamos diálogo com a Caema há anos, não houve interesse por parte da empresa”

Vila Nova, Recanto Universitário, além de inúmeros loteamentos urbanos e condomínios da cidade, há ausência desse acompanhamento e modernização dos serviços por parte dos órgãos. Todos os dias toneladas de resíduos/lixos, efluentes líquidos ou não, produzidos por milhares de residências e até comércios são jogados por meio de manilhas, canos ou por outros meios nos leitos do riacho Bacuri, Cacau, Capivara, Santa Tereza etc. Para o MP-MA os dejetos escorrem até o rio Tocantins, na área de Imperatriz, com consentimento da Caema e do Município de Imperatriz, sem nenhum tratamento prévio ou providências práticas.

Diariamente, toneladas de resíduos e de lixo, líquidos ou não, produzidos por milhares de residências e comércios, são jogados no riachos.

Pedidos do MP-MA - A Caema deve ser obrigada a tratar dos efluentes (resíduos das indústrias, comércios, esgotos e redes pluviais) antes de desaguarem no Rio Tocantins, mediante prévio licenciamento ambiental. A Promotoria de Justiça pediu que o Poder Judiciário estabeleça o prazo de até seis meses para os

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

A Promotoria de Justiça solicitou que o Poder Judiciário estabeleça o prazo para os projetos e para execução das medidas necessárias.

projetos e três anos para a execução dos mesmos, sob pena de pagamento de multa diária de R$ 20 mil. Contudo, a Caema deve ser obrigada a implantar o sistema de esgotamento sanitário, em todas as residências da cidade, no prazo máximo de três anos, sob pena de multa de R$ 10 mil por dia de

descumprimento. Também foi solicitada a condenação da Prefeitura de Imperatriz para que seja obrigada a identificar os lançamentos clandestinos de esgoto e interromper o descarte ilegal, sob pena de multa diária de R$ 10 mil, a ser revertida ao Fundo Estadual de Proteção dos Direitos Difusos do Maranhão.

WILLIAN FERREIRA

Jadilson Cirqueira, da 3ª Promotoria Especializada em Meio Ambiente do Ministério Público do MA.


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ESGOTO NAS ÁGUAS A cidade possui cinco córregos de grande importância ambiental, mas que se encontram em uma situação degradante, perdendo toda sua fauna e flora em decorrência da poluição generalizada

Poluição de riachos prejudica população coletora de esgoto, com 2 mil ligações domiciliares, beneficiando cerca de 10 mil habitantes de Imperatriz. A Caema, há quatro décadas, é a mperatriz, a segunda maior ci- responsável pela rede de tratamento dade do Maranhão, enfrenta um de água e esgoto na cidade, mas, seproblema já considerado comum gundo o diretor da Caema, Rafael em grandes cidades brasileiras, que Heringer, apenas 25% do esgoto é é o escoamento dos esgotos sem o tratado atualmente. Em decorrência devido tratamento diretamente pa- disso, uma rede de esgotos extreraos rios. Nos últimos anos, a cida- mamente antiga que não contempla de convive com o agravamento da todos os bairros da cidade leva os situação nas águas dos seus riachos moradores a despejarem seus dee do rio Tocantins, principalmente, jetos diretamente nos riachos que, pela falta de consciência da popu- em época de chuva, transbordam e lação local. Conforme a última pes- causam diversos transtornos para quisa da Agência Nacional da Água quem reside nas redondezas. Os esgotos produzem gases tóxi(ANA), autarquia federal responsável pela gestão dos recursos hídri- cos prejudiciais ao ser humano, por cos brasileiros, realizada no muni- se tratar de ambientes quase sem renovação de cípio em 2013, ar e por contesão despejados rem muita macerca de 49,51% “Esgotos produzem gases téria orgânica do esgoto da citóxicos prejudiciais em decomposidade sem coleta ção, bem como ao ser humano por e tratamento atmosferas e serem ambientes quase adequados nos águas pobres leitos do rio Tosem renovação de ar em oxigênio. cantins, o que e por conterem muita Esses ambiensignifica média matéria orgânica em tes são grandes de 12.868 quilos decomposição” produtores de de sujeira por gás metano e dia. gás sulfídrico. O A preocupagás sulfídrico se ção se amplia quando se observa a situação dos caracteriza por um forte cheiro de grandes riachos que cortam a cida- “ovo podre”, que causa danos à saúde: o Cacau, Riacho do Meio, Bacuri, de humana, podendo levar à morte Santa Tereza e o Capivara, onde a se inalado em altas concentrações. degradação da fauna e a quantida- Já o metano apresenta riscos de de de lixo encontrado ao longo dos explosões subterrâneas, portanto, seus cursos são perceptíveis, reve- deve-se ter instalações seguras e lando o desrespeito e a omissão em monitoradas, de acordo com estudos feitos pela Ag Solve, empresa de relação à preservação. Se continuar neste ritmo, Do- monitoramento ambiental. O engenheiro florestal e diretor mingos César, ambientalista e diretor de Relações Públicas do Con- do Departamento de Áreas Protegiselho Municipal de Meio Ambiente das e Paisagens na Secretária Muni(Comman), prevê que, daqui há 50 cipal do Meio Ambiente (Sepluma), anos, onde hoje passa o rio Tocan- Jorge Artur, declara que a situação tins, será apenas um grande deser- mais preocupante surgiu agora, no to. O ribeirinho Manoel Luís acres- ano de 2017, por conta da seca do rio centa: “as pessoas descem aqui no e do grande desmatamento da mata cais do porto, para terem acesso às ciliar, que revelaram as condições embarcações e se direcionar ao seu precárias da poluição nos riachos, destino pretendido, mas se deparam confirmando que o correto seria a com uma situação que eu só posso cidade ter redes de esgotos conecdescrever como uma vergonha total, tadas a parte das redes pluviais nas quais deveriam comum a cacorrer apenas as nalização do águas advindas da esgoto exposchuva. ta que lança “Existem algrande quanguns processos “Na degradação da fauna tidade de imque são bem efipurezas diree na quantidade de lixo cazes no procestamente no encontrado ao longo so de tratamento rio”. do curso dos rios são de esgoto, como No ano de facilmente perceptíveis o a fossa séptica, 2016, o munidesrespeito e a omissão os sumidouros, cípio foi beque são dois dos em relação a preservação” neficiado com mais usuais, ou a implantação a própria rede de de 11 quilômecoleta de esgoto, tros de rede

FOTOS: TALISSON FERNANDES

REPÓRTER: TALISSON FERNANDES DIAGRAMAÇÃO: YSLA SOUZA BRENDA CAROLINE

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Fique Atento A Lei Nº11.445 - mais conhecida como Lei do Saneamento Básico, garante direitos aos usuários de serviços de água e esgoto estabelece as regras básicas para o setor ao definir as competências do governo federal, estados e prefeituras para serviços de saneamento e água, além de regulamentar a participação de empresas privadas no saneamento básico:

Lixo e esgoto sendo escoado in natura às margens do rio Tocantins, trazendo problemas irreparáveis à natureza na região.

A quantidade de lixo encontrada no riacho Bacuri mostra a situação crítica do que deveria ser uma área de preservação ambiental.

que leva o esgoto de um local e direciona para a estação de tratamento, onde passará por um processo e retornará tratada ao rio”, afirma o engenheiro ambiental de Projetos Especiais da Secretária de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semmarh), Alisson Daniel. Ainda conforme o engenheiro, no atual momento não existe qualquer monitoramento da quantida-

de de lixo que tem como seu destino final o rio. Ele reitera que a população ribeirinha é a mais afetada com tudo isso, pois os riachos recebem altas cargas de poluentes ao longo da zona urbana lançando esses materiais no rio, principalmente na zona ribeirinha, havendo um contato direto entre a comunidade e a enorme quantidade de poluição.

Neste ano, pela primeira vez, um estudo levantou as condições de tratamento dos resíduos coletados pela ANA e apontou que 45% do esgoto gerado por toda população brasileira não recebe qualquer tipo de tratamento. Diariamente, 5,5 mil toneladas de rejeitos não tratados tem como destino os rios, reservatórios de água, mananciais e lagos.

• Governo Federal Estabelece diretrizes gerais, formula e apoia programas de saneamento em âmbito nacional; • Estados Opera e mantém sistemas de saneamento, além de estabelecer as regras tarifárias e de subsídios nos sistemas operados pelo estado;

• Prefeituras Compete ao município prestar, diretamente ou via concessão a empresas privadas, os serviços de saneamento básico, coleta, tratamento e disposição final de esgotos sanitários. As prefeituras são responsáveis também por elaborar os Planos

Municipais de Saneamento Básico (PMSB), que são os estudos financeiros para prestação do serviço, definição das tarifas e outros detalhes. O município que não preparar o plano fica impedido de contar com recursos federais disponíveis para os projetos de água e esgoto.


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MEIO AMBIENTE A limitada representatividade fiscalizatória e a baixa conscientização sobre educação ambiental dificultam o êxito de ações governamentais em prol do meio ambiente em Imperatriz

Ações públicas falham na preservação ambiental

Funcionários da SEMMARH durante visitação às escolas municipais na tentativa se sensibilizar crianças sobre educação ambiental. REPÓRTER: LORENA LACERDA DIAGRAMAÇÃO: ALICE CAROLINE JEAN CAMAPUM

A

maioria das grandes cidades cresceram às margens de rios ou riachos. Imperatriz, fundada em 1852, cresceu às margens do rio Tocantins e seus nove riachos. Durante o desenvolvimento inicial da cidade, os cuidados com o meio ambiente foram ineficientes. Desde 2015, a situação do rio é preocupante e diversas ações estatais são propostas para tentar amenizar o problema. Mas, o que dificulta o êxito das intervenções públicas? O maior obstáculo é a ausência de fiscalização que atue efetivamente frente às denúncias, bem como projetos ambientais e aplicação consistente de uma educação ambiental. O militante ambiental Domingos Cezar denúncia a inatividade, por exemplo, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), que atualmente possui apenas um funcionário, somente o dire-

“O maior obstáculo é a ausência de uma representatividade formal de fiscalização, que efetive as denúncias e projetos ambientais, e de uma educação ambiental consistente” tor executivo, que não tem viabilidade de realizar a fiscalização necessária da região. Ele também critica como o Governo Estadual está administrando a Diretoria Regional da Secretária de Estado do Meio Ambiente, pois, para ele, não está sendo aproveitada de maneira devida e vantajosa para o meio ambiente. Para o promotor da 3° Promotoria de Justiça Especializada em Meio Ambiente, Jadilson Cirqueira Sousa, que atualmente move uma ação judicial contra a Prefeitura e a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema), em função da situação do atual Plano de Esgotamento da cidade, é necessário haver uma delegacia e um juizado especializados para as

FOTOS: LORENA LACERDA

Secretária de Meio Ambiental realizando entrega de mudas de plantas, como açaí e maracujá.

causas ambientais, fomentando, assim, a validade e a rapidez das denúncias e fiscalizações. Além disso, Sousa ressalta a necessidade de um trabalho educativo mais constante, feitos durante todo o ano letivo, e não apenas pequenos movimentos durantes alguns dias comemorativos. Educação Ambiental - O Programa Nacional de Educação Ambiental, que analisa e sugestiona os aspectos ideais para uma política de educação ambiental no Brasil, ressalta a relevância de estabelecer projetos políticos-pedagógicos nas instituições de ensino, seja de ensino básico ou superior, pois, a conscientização ambiental se tornará um elemento comum do cotidiano. Em Imperatriz, a educação ambiental é aplicada pelo Núcleo de Educação Ambiental da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semmarh), nas escolas de ensino fundamental e médio, mas ainda não é realizada de modo ideal, embora seja uma iniciativa relevante. O Núcleo de Educação Ambiental (NEA) trabalha nas escolas fazendo visitações semanais, para conversar com os dirigentes das escolas em busca de compreender como é aplicada a educação ambiental e propondo parcerias para trabalhar questões como a importância de preservar os rios e afluentes, arborização dos colégios e a coleta seletiva nas escolas e nas casas dos alunos. Para Maria Amélia de Souza, diretora de uma das instituições participantes, que há 12 anos trabalha com disciplinas de cunho ambientalista, essa colaboração da escola é capaz de formar um grupo ativo dentro da comunidade que a instituição está envolvida. No entanto, é um trabalho progressivo que necessita de paciência. Coleta Seletiva - A Semmarh de Imperatriz realiza outro projeto que favorece a preservação ambiental. Ele faz parte do Plano Integrado de Gestão de Resíduos que irá planejar de maneira sustentável a questão do lixo, desde a seleção à construção do aterro sanitário.

Brinquedos produzidos pela ASCAMARI e feitos de materiais recicláveis recolhidos pela SEMMAHR nos pontos de coletas da cidade.

Contudo, a construção do aterro ainda está tramitando e sem execução efetiva em função de trâmites burocráticos. Enquanto isso, é feito o trabalho de coleta seletiva em parceria com a Associação de Catadores de Matérias Recicláveis de Imperatriz (Ascamari) em mais de 15 pontos da cidade, sejam eles escolas, empresas ou instituições de bairros. A Semmarh faz a coleta e entrega esses resíduos para a Ascamari que realiza o processo de reaproveitamento. Segundo a Secretaria, com esse trabalho, eles evitam que cerca de 70 a 80 toneladas de lixo reciclável sejam desperdiçados.

Colaborando e Conhecendo Imperatriz - Faça parte do trabalho da SEMMARH. Selecione seu lixo e entregue no ponto de coleta mais próximo e, se não houver um local, vá à Secretaria localizada na Rua Rafael de Almeida Ribeiro n° 600, bairro Bacuri e manifeste o interesse de criar um ponto em seu bairro. Conheça os bairros que possui pontos de coleta seletiva: • Recanto Universitário 1 e 2 • Parque Alvorada • Bairro da Caema 1 e 2 • Bairro Bacuri • Nova Imperatriz Brasil - Acesse a ANA (Agência Nacional das Águas) e informe-se sobre a situação do Rio Tocantins, conheça as discusões acerca da situação dele na “Sala de Situação”. Além disso, aprenda como cobrar e participar das ações que almejam a preservação das águas.


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FOCOS DE DESCASO Período seco registra aumento no número de focos de incêndios provocados na orla do rio Tocantins e em toda a cidade, que resultam em danos para a população e para o rio

Queimadas prejudicam a saúde e o ambiente DANIELLE CAROLINA

nha melhorar esse cenário. Quanto às medidas elaboradas pela Prefeitura em prol do rio, o vereador Rildo Amaral conta que uma comissão da Câmara Municipal, juntamente com os órgãos estaduais e federais, acompanha e auxilia entidades não governamentais e a população em geral para o bom uso do rio. “Temos que ativar o código ambiental e tratar com rigor os responsáveis por essas atrocidades”, defendeu. No entanto, há consenso entre todos os defensores do rio que as medidas passam pela participação da Justiça, punindo os responsáveis pelas queimadas irregulares, mas os cuidados em não promover incêndios devem contar também com a conscientização da população.

REPÓRTER: LUANA FONSECA DIAGRAMAÇÃO: GABRIELA MAGALHÃES

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s queimadas vêm se tornando uma prática cada vez mais recorrente em Imperatriz, ocasionando a destruição de nascentes, do habitat natural dos pássaros regionais, assoreamento dos rios, prejuízos relacionados à saúde pública agravando questões como do abastecimento de água em cidades banhadas pelo rio Tocantins. Os focos de incêndios urbanos são frequentemente verificados, bem como aqueles ocasionados por donos de chácaras e fazendas, que utilizam essa medida para queimar terrenos e restos de pastagens na área rural eacabam prejudicando o rio e a saúde da população. Às margens do rio Tocantins, o lado de Imperatriz (MA) é o mais prejudicado por queimadas na comparação com o lado tocantinense de Bela Vista. A psicopedagoga Elany Silva, que frequenta o rio Tocantins por diversão nas praias, relata o susto de encontrar áreas queimadas na orla do rio. “É notável a quantidade de áreas queimadas quando passamos de barco. Muitas vezes, quem coloca fogo acaba não pensando que isso prejudica não só o rio, mas todo o meio que se vive”. Ela defende a existência de mais fiscalização para combater esse tipo de crime. “O rio já vem sofrendo dificuldades e, ainda assim, tem gente que contribui para adoecê-lo e para piorar a saúde de

Orla do rio Tocatins sendo utilizada como terreno baldio para depósito de lixo e para a prática de queimadas que prejudicam o ambiente, a saúde e o lazer.

outras pessoas. Essas fumaças das queimadas agridem muito a nossa respiração. Esse rio é nossa vida e não podemos deixá-lo morrer”. De acordo com o ambientalista e idealizador da Organização Não Governamental (ONG) “Anjos do Rio”, João Bosco Brito, existe uma lei que impede as queimadas e que, hoje, já há suportes eletrônicos para monitoramento das áreas próximas, o que auxilia no reconhecimento dos praticantes. Sim, a lei existe. Queimadas são crime e, em área federal, é ainda

pior, pois são terras da união, de responsabilidade de todos os órgãos responsáveis.

“Muitas vezes acabam pensando que isso não prejudica o rio, só que na verdade isso afeta de uma forma grandiosa” Está sendo feito uma mapeamento desde as cidades de Ribamar Fiquene até o Embiral por meio de

drones, que capturam imagens para que seja aplicada a lei de forma justa e sucinta”, explicou. O Rio pede socorro - Com o aumento dessa prática, ações estão sendo promovidas e discutidas no âmbito jurídico. O promotor do meio ambiente Jadilson Cerqueira, com parceria do “Anjos do Rio”, observa e controla as denúncias feitas direto no Ministério Público, tendo como objetivo criar uma conexão para chegar às autoridades competentes e para que seja elaborado um projeto que ve-

Denuncie

É possível denunciar o crime ambiental no Ministério Público, localizado na avenida Perimetral José Felipe do Nascimento, quadra 21, Residencial Kubitschek, em Imperatriz, próximo ao Parque das Mangueiras ou pela fanpage da ONG “Projeto Anjos do Rio” no Facebook.

Agricultura: vilã ou vítima da seca? FO INA

tivos, como fazíamos antigamente”, lamenta. Mas, de fato, a agricultura é vilã ou uma vítima? Consumir grandes volumes de água mundialmente não significa, por si só, que o setor seja o responsável exclusivo pela seca local. Ainda assim, a agricultura pode ocupar posição de vilã e vítima, de-

pendendo do uso que se faz das águas. No caso de Imperatriz, a agricultura praticada nas proximidades do rio Tocantins, na maioria das pequenas propriedades rurais, por exemplo, não utiliza diretamente as águas a ponto de causar a seca registrada nos últimos anos e, principalmente, no atual. No entanto, a seca impacta diretamente nos resultados das colheitas. O secretário de Agricultura, Abastecimento e Produção, Paulo Marcelo Torres Araújo, acredita que, se o pequeno produtor/agricultor se

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Pequenas plantações que fazem a diferença na vida de agricultores familiares.

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seca é causada por diversos fatores: naturais, situações climáticas, queimadas, desperdício de água, entre outras razões. Um dos principais setores atingidos pela seca é o agrícola. A agricultura consome mais de 70% da água mundial, mas isso não quer dizer que ela seja a principal causa da atual crise hídrica. O setor agrícola de Imperatriz pode ser um dos elementos que contribuem para a falta de água na cidade, mas não é o único. E, se de um lado a estiagem prolongada tem contribuição do mau uso da água pela agricultura, por outro, o setor é uma das maiores vítimas da seca, pois acaba enfrentando grandes dificuldades no cultivo. O Maranhão tem a agricultura entre suas principais atividades econômicas. Em Imperatriz, os agricultores sentem nas terras e no bolso o efeito da crise hídrica. Os pequenos produtores acabam sendo grandemente castigados pela estiagem. O agricultor Alberto Rodrigues, 57, conta que vem perdendo muitas colheitas, pois, as plantas necessitam de água para o seu desenvolvimento e, com a seca na região, o potencial da agricultura acaba ficando limitado. “É muito triste para nós, pequenos produtores que dependemos da agricultura, passar por um momento como este. Vemos colheitas se perderem por não termos água para manter os cul-

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REPÓRTER: KEILA REGINA DIAGRAMAÇÃO: SABRYNA SANTIAGO

organizar quanto ao plantio nos tempos corretos, as chances de ter perdas de colheita são bem menores. “Para o pequeno produtor enfrentar melhor a seca, o correto é sempre ter uma boa organização. O produtor precisa se organizar dentro dos períodos de chuva”, enfatiza Paulo. A engenheira agrônoma Neidelâne de Alencar Sobrinho acrescenta que o desperdício doméstico e a fal-

ta de infraestrutura urbana gastam muito mais que as localidades de cultivo próximas à cidade. Mas, para ela, a agricultura sempre vai ser um setor com grande consumo de água. Deste modo, para enfrentar melhor a crise hídrica, o pequeno produtor deve evitar de fato o desperdício; “utilizando a tecnologia a favor da produção e produzindo realmente o que se come, diminuindo as áreas plantadas e evitando desperdícios de água”, elenca Neidelâne. Diante dos questionamentos quanto ao elevado consumo agrícola de água, vale destacar que há um processo de gestão dos recursos hídricos e que, na agricultura, por representar mais de 70% do consumo da água, há necessita de constante revisão dos métodos de utilização dos recursos hídricos. Imediatamente, há consenso que o melhor a se fazer é repensar os usos para evitar desperdícios. A seca em níveis como os verificados em 2017 não é um problema previsível, mas pode ter impacto reduzido dependendo do bom uso das águas nas propriedades rurais.


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FAUNA E FLORA A poluição nos rios por ações do homem tem prejudicado a biodiversidade e a reprodução de novas espécies de peixes e de outros animais na região, com sérias implicações ambientais

Má preservação do rio Tocantins causa extinção de espécies REPÓRTER: THAYNARA LEITE DIAGRAMAÇÃO GUSTAVO VIANA

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ções humanas estão impondo grandes problemas ambientais ao rio Tocantins com sérias implicações à preservação de espécies da fauna e flora. Atitudes como: a queimada da mata ciliar, a remoção de areia e o descarte de esgoto ou lixos nos riachos atingem diretamente a diversidade de animais da região. Além disso, prejudicam quase 250 mil moradores de Imperatriz com a redução da água do rio e dos peixes. “A partir dos anos 80 comecei a perceber a extinção dos peixes. Quando eu era menino pescávamos, eu e meu pai. Havia peixes com muita intensidade. Eram Dourado, Filhote, Pacú, espécies que não existem mais”, conta o ambientalista e pescador, Domingos César, ao demonstrar a importância do rio Tocantins para a cidade de Imperatriz. O principal fator que leva à diminuição das espécies de peixe, segundo Domingos, é a derrubada da mata ciliar. O cerrado, bioma dessa região, tem características próprias e peculiares como: a vegetação densa e a grande cobertura arbórea. Esses aspectos garantem maior diversidade de habitat para os animais,

pois dependem de abrigo e do alimento oferecidos por esse tipo de ambiente. Outro fator é a derrubada de árvores e a remoção do solo, ações que diminuem a quantidade de abrigos e de alimentos aos peixes. De acordo o biólogo Círo Líbio, o desmatamento da mata ciliar afeta os peixes devido à indisponibilidade de frutos e de insetos. “Primeiramente, afeta os insetos, presentes na dieta dos peixes. Isso porque muitos insetos têm desenvolvimento por meio da água que são as larvas aquáticas. Além disso, o desmatamento prejudica a presença de frutos que caem no rio e que alimentam os peixes”. Líbio pontua que o cerrado apresenta uma quantidade de água adequada para o desenvolvimento das espécies, porém, com a redução da água, os problemas aumentam e diminuem a biodiversidade. Assim, a reprodução dos peixes é outro fenômeno diretamente atingido pela ação humana, sobretudo, quando se trata do desmatamento dos afluentes. São nos afluentes que os peixes se deslocam para reproduzirem. Os peixes necessitam de regiões de água mais calma, nas quais depositam os ovos em locais próximos às matas ciliares, nas margens do rio e nas raízes de plantas. Nesses locais,

DANIELLE CAROLINA COSTA

As conhecidas “casinhas”, onde os peixes se reproduziam, já são visíveis fora da água devido ao baixo nível do rio.

os ovos conseguem se desenvolver. Com a diminuição do número de afluentes, consequentemente, são afetadas as reproduções desses animais. “Normalmente, eles depositam muitos ovos, mas poucos conseguem sobreviver porque, ao

“Normalmente eles depositam muitos ovos, mas poucos conseguem sobreviver porque, ao diminuir os locais de reprodução, menos peixe terá” reduzirem os locais de reprodução, menos peixes nascerão e menos bichos vão sobreviver às próximas gerações”, afirma biólogo. Os focos de incêndio são outros tipos de problemas enfrentados pelo rio e provocados pelos seres humanos. O biólogo Bruno Menezes explica que, no período de julho,

agosto, setembro e outubro, os produtores dizem que estão renovando o pasto com as queimadas. “Essas queimadas destroem a área de preservação permanente, a mata ciliar e reserva legal. O fogo afugenta os animais dessas áreas, como onças, cobras, jacarés e tatus”, exemplifica. Ele lembra que o gavião é um animal característico da região do cerrado e sofre bastante com a baixa disponibilidade hídrica e com os focos de incêndio. “Os animais servem de alimentos para os gaviões, mas eles acabam sofrendo com a ausência decomida. É importante haver conscientização da população sobre a importância de não jogar resíduo sólido ou líquido no rio Tocantins, pois a preservação ambiental dos riachos alimenta as espécies. O produtor tem que se conscientizar de que a prática adequada com o solo é capinar e utilizar a matéria orgânica como adubo ao invés de queimar o local”, alerta Bruno Menezes. O biólogo pontua, ainda, que é necessário tomar medidas dentro de

casa ou no trabalho que visem a redução do consumo de água e, além disso, haver ampliação do tratamento de esgoto. Tentativas de preservação - A instituição responsável pelo resgate e proteção dos animais é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que também atua no rio Tocantins por ser Federal. O gerente executivo do Ibama, Marco Antônio Miranda, ressalta que, em casos de situações de resgate dos animais, há uma ação conjunta com 50.º Batalhão de Infantaria de Selva (50 Bis) e o Corpo de Bombeiros. “Os animais resgatados são encaminhados para lá [50 Bis]. Quando o animal não está tão machucado não levamos para São Luís, deixamos no Corpo de Bombeiros ou no 50 Bis e lá recebem os cuidados para depois serem realocados na mata”, explica. Procurado pela redação, o Ibama não respondeu, até o fechamento desta edição.

Falta de matas ciliares e assoreamento provocam sérios danos ao rio REPÓRTER: LUCIANA BASTOS DIAGRAMAÇÃO GUSTAVO VIANA

A

s Áreas de Preservação Permanente destinam-se a proteger solos, águas e matas ciliares e, consequentemente, os animais. Nestes espaços, o desmatamento total ou parcial da vegetação só é possível com autorização do Governo Federal e para a execução de atividades de utilidade pública ou de interesse social. Nas margens do rio Tocantins, no entanto, o cenário é de assoreamento, com acúmulo de lixo e entulhos. Como resultado, o rio está com um nível de água abaixo da média e o racionamento cresce nas torneiras da população local. Segundo Domingos Cézar, presidente da Fundação Rio Tocantins, apesar de ser a maior cidade da Região, Imperatriz é a que tem as margens mais preservadas se comparada a Governador Edson Lobão, São Pedro da água Branca e Vila Nova dos Martírios, que apresentam grandes áreas de pastagens e plantação. No entanto, o cenário do rio Tocantins em Imperatriz também é preocupante. Na cidade, os riachos Cacau, Santa Tereza, Capivara e Bacuri são os principais afluentes do rio Tocantins. Bastante degradados, eles abastecem o rio que, caso contrário, tem seu volume de água reduzido. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Recursos Hídricos

(SEMMARH) é responsável por desenvolver, supervisionar e controlar a política de gestão ambiental do município. Com esse objetivo, o órgão está implementando, desde o mês de março de 2017, o Projeto Renascer das Nascentes. A meta é promover a revitalização dos afluentes, melhorando a qualidade e a quantidade de água. O Projeto iniciou na Lagoa das Garças, uma nascente do Riacho Bacuri. A União atua através do Cadastro Ambiental Rural (CAR), idealizado pelo Ibama e executado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Maranhão (Sema). O cadastro do produtor rural é de suma importância para a revitalização das APPs nas margens dos rios. O produtor identifica as áreas de vegetação em qualquer curso d’água e, caso esteja suprimida, ele adere ao Plano de Regularização de Área (PRAR). Depois de apresentar o Plano de Regularização de Área Degradada (PRADE), assina um termo de compromisso junto à Sema, com um cronograma de revitalização das Áreas. Boa parte da extensão que deveria estar preservada no leito do rio Tocantins já foi degradada com ocupações, nem sempre regulares. O Novo Código Florestal define que, quem suprimiu essas áreas até julho de 2008, vai recompor somente um percentual, já que o espaço está tomado por pastagem, plantios de lavouras e construções. “Temos prédios cuja construção foi autorizada pratica-

mente dentro do rio, não podemos demolir, seria uma ação que iria ficar anos na Justiça. Então, tentamos encontrar uma solução, trazendo essas pessoas para legalidade, para recompor o que for possível”, explica Rosa Coelho, secretária municipal do Meio Ambiente. Quando a degradação de APPs é identificada, o Departamento de Fiscalização faz uma notificação para que o responsável compareça à Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, onde será aberto um processo administrativo que pode resultar em multa. O mínimo é de cinco mil reais por hectare, chegando a 50 mil reais por hectare ou fração por hectare de APP degradada. Assim, o Ministério Público é comunicado imediatamente e a pessoa responde criminalmente e administrativamente. O juiz decide como será feita a compensação ambiental, dando o prazo para pagamento das multas com desconto de 30% caso este seja cumprido. Não quitar a dívida implica no envio do Cadastro de Pessoa Física – CPF ou Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJpara a Receita Federal, inviabilizando seus créditos. A Secretaria está elaborando o Projeto Imperador Tocantins, com o qual buscará parcerias com a Agência Nacional de Água (ANA) e com o Ministério Público Estadual. Para ser colocado em prática, ele exige um Projeto de Lei a ser aprovado pela

Câmera de Vereadores. O Imperador Tocantins se destina à revitalização das APPs por meio de incentivos aos produtores. A previsão é de que o Projeto seja acompanhado por técnicos e que sejam emitidos relatórios para acompanhar sua execução. As margens são revitalizadas com vegetação nativa da Região, principalmente as espécies frutíferas, que servem de alimento para os peixes. As mudas são fornecidas pelo Viveiro Municipal, com o auxílio do Departamento de Áreas Protegidas do Município, que conta com o auxílio de biólogo, engenheiros florestais e outros profissionaisque fazem estudos e determinam as espécies nativas. Em sua primeira visita feita por uma equipe multidisciplinar, o Projeto realiza palestras de conscientização e informa como será a implementação junto à comunidade. “Temos parcerias com outras secretarias como a Sinfra, que nos ajuda na limpeza. Estamos no processo de

conscientização com os produtores rurais para conseguir o apoio dessa população, que tem sido bem sensível. Para recuperar o Rio tem que ser uma ação conjunta de União, Estado, municípios e população”, salienta Rosa Coelho. O ambientalista Domingos Cézar defende a revitalização dos riachos afluentes do Rio Tocantrins, “pois os peixes vão para eles para se reproduzirem e se alimentar dos frutos das árvores das matas ciliares. Mas, sem mata, não tem riacho e nem peixe, por isso tantas espécies estão se extinguindo no nosso rio e o rio secando por falta d’água dos riachos”. Hoje, a Lei n° 12.651/12 determina que os limites das APPs às margens do curso d’água variam entre 30 e 500 metros, dependendo da largura de cada rio/riacho, contados a partir do leito maior. Porém, inúmeras propriedades desrespeitam tais medidas e agravam a situação de assoreamento do rio.

Áreas de Preservação Permanente (APP) As Áreas de Preservação Permanente destinam-se a proteger solos, águas e matas ciliares e, consequentemente, a fauna. Nestes espaços, o desmatamento total ou parcial da vegetação só é possível com autorização do Governo Federal e para a execução de atividades de utilidade pública ou de interesse social. O Código Florestal estabelece como matas ciliares florestas e demais formas de vegetação natural situada às margens de riachos, lagoas ou rios, perenes ou não. Enquanto isso, a Lei n° 12.651/12 determina que os limites das APPs às margens do curso d’água variam entre 30 a 500 metros, dependendo da largura de cada um, contados a partir do leito maior.


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HERÓIS DO TOCANTINS Com objetivo de diminuir o impacto dos esgotos e lixos derramados todos os dias nas águas, projeto denominado “Guardiões do Rio” busca amenizar a situação de degradação do rio Tocantins FOTOS: AMANDA MACHADO

Guardiões do Rio amenizam degradação em Porto Franco

Laurimar Milhomem, um dos guardiões do rio, mostrando como deixar o rio limpo, retirando qualquer resíduo sólido e, assim, reduzindo os desastres que são causados por esses dejetos lançados no rio.

REPÓRTER: AMANDA MACHADO DIAGRAMAÇÃO: KALINE SOUZA

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cidade de Porto Franco, considerada rica em recursos hídricos, atualmente é uma das mais atingidas pela seca do rio Tocantins. A exemplo de Imperatriz que também sofre as consequências da seca, a cidade recebe a contribuição dos “guardiões do rio”, pessoas que realizam um trabalho voluntário com o objetivo de revitalizar e recuperar o rio. O desmatamento, a poluição e a degradação ambiental são focos de vários projetos. O “Guardiões do Rio” é um deles. Idealizado por Laurimar Milhomem Barros, o projeto tem como objetivo recuperar e revitalizar a área do cais do porto. Anualmente, por iniciativa própria, ele distribui cerca de 150 a 200 mudas de árvores como, Pau Brasil, Ipê, Jatobal, Oití, Jambo, entre outras. Das árvores que foram distribuídas, existem algumas que já frutificaram, segundo Laurimar. Nas horas de folga, ele conta que faz longas caminhadas às margens do rio, retirando sucata e lixo, ou seja, tudo o que prejudica o rio. Barros utiliza estrofes de cordel como esta: “Deus fez tudo muito perfeito; Do alto até os confins; E deu de presente ao Brasil; o majestoso ‘rio Tocantins’”, para trilhar o cais do porto, retirando o lixo e recitando versos na tentativa de sensibilizar e conscientizar a população para o cuidado com o rio. Ele mostra, ainda, a importância do rio nos versos quando fala: “Banhando várias cidades; Por toda sua extensão; No Goiás, no Tocantins, no Pará, no Maranhão”. Diz ainda: “Necessitamos de suas águas; Pra tomar banho, lavar e beber; Se continuarmos a poluir; Nós mesmos é que vamos sofrer”. Por meio destes versos, o voluntário pretende conscien-

tizar a população e os comerciantes, que retiram a sobrevivência do rio Tocantins, que as nascentes e o rio têm de ser preservados. Os moradores, principalmente a população ribeirinha que é quem convive de perto com a situação, precisam se empenhar e permanecer sempre atentos a qualquer sinal de risco, acionando os órgãos públicos como a Secretaria de Meio Ambiente.

“Necessitamos de suas águas; Pra tomar banho, lavar e beber; Se continuarmos a poluir; Nós mesmos é que vamos sofrer” Políticas Públicas - O técnico em meio ambiente, lotado na Secretaria de Meio Ambiente do município de Porto Franco, Michel Gomes de Sousa, informou que, através de um levantamento feito na cidade, 70% das nascentes do rio estão precisando de atenção e cuidado. E que 30% já foram extintas. Segundo ele, vai ser necessário um trabalho árduo para recuperar e preservar as nascentes e matas ciliares. De acordo com a Secretaria, será implantado um projeto de trabalho que beneficiará o rio Tocantins e que será divulgado para servir de exemplo para os municípios vizinhos que também sofrem as consequências da seca. Assoreamento do rio - O rio Tocantins sofre muito devido à derrubada das matas ciliares, o assoreamento acontece gradativamente. De acordo com Barros, o rio que há algum tempo era transitado por grandes barcos, tinha peixes de diferentes espécies, hoje, por onde os barcos grandes passavam, não passam nem barcos médios em consequência da destruição das matas ciliares e da seca no rio.

Barros afirma que parte dos seus frequentadores não tem educação. “Jogam lixo nas margens, causando grande poluição. A água está ficando escassa. Sem ela será nosso fim, por isso zelemos muito pelo majestoso rio Tocantins“. Para o idealizador do projeto “Guardiões do Rio”, todos os moradores de Porto Franco necessitam tomar atitudes que promovam a recuperação das águas e de toda a área marginal do tio Tocantins, bem como os de Imperatriz. Segundo ele, pode ser difícil, mas não é impossível diminuir ou acabar com os riscos que hoje ameaçam o rio Tocantins. “É urgente a tomada de decisões e o fortalecimento de ações que venham em benefício do ambiente, para que todos possam ter uma vida melhor”, afirmou.

Rio Tocantins, foco da atuação de retirada de residuos sólidos pelos Guardiões do Rio.

Vista do rio na cidade de Porto Franco, onde os Guardiões fazem a guarda das águas, observando se há necessidade de fazer a retirada de materiais.


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DEDICAÇÃO Boas iniciativas buscam reduzir os impactos negativos por meio de ações de preservação, fiscalização e educação da sociedade ao longo do divisor dos estados do MA e TO

Voluntários atuam na preservação do rio FOTOS: DANIELLE CAROLINA COSTA REPÓRTER: DANIELLE CAROLINA COSTA DIAGRAMAÇÃO: GESSICA CAVALCANTE

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om a falta de chuvas na nascente do rio Tocantins e as intervenções humanas, queimadas e resíduos jogados nos riachos acabam sendo levados pelas forças naturais para o rio. Esses fatores contribuem diretamente para o cenário atual de degradação do rio. Ainda sim, destacam-se os voluntários de ONGs e projetos que tentam amenizar os impactos causados pelas ações humanas através da preservação, fiscalização e da educação da sociedade ao longo dos 2.640 km de extensão. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), ao longo de pouco mais de 85 anos de monitoramento, desde 2015 tem sido registradas chuvas e vazões abaixo da média na bacia do rio Tocantins. Além disso, no último período chuvoso, que corresponde ao intervalo de outubro de 2016 e abril de 2017, as vazões do rio foram as menores observadas do histórico. De acordo com o ambientalista Domingos Cezar, o rio em si não é sujo, mas acaba tornando-se por conta da população que joga lixo nos riachos que cortam a cidade de Imperatriz, por exemplo, o Cacau e o Bacuri.

“Falta conscientização, porque quando a Defesa Civil acaba de limpar [os riachos], no outro dia as pessoas jogam [o lixo] do mesmo jeito”

com a parceria da Fundação Brasil Cidadão, fundada há mais de duas décadas, para promover o desenvolvimento sustentável por meio de alianças com as comunidades, ambientalistas e instituições governamentais e não governamentais e para efetivar as denúncias registradas pelo “Anjos”. O promotor da 3° Promotoria de Justiça Especializada em Meio Ambiente, Jadilson Cirqueira Sousa, reconhece o trabalho dos voluntários: “são pessoas que têm iniciativa, mas não tem apoio”, declara. Após algumas lutas, foi criado um projeto para ajudar financeiramente essas ONGs, entretanto, ainda falta ser aprovado pela Câmera dos Vereadores e ser assinado pelo prefeito de Imperatriz. A estudante da farmácia, Anna Luiza Damasceno, sempre que tem uma folga, vai às praias para descontrair da rotina semanal. A acadêmica acredita que as ações dos voluntários são essenciais para conscientizar a população de que devemos cuidar do rio. “É de suma importância o que eles fazem. Quem os vê limpando o rio ou praias, acaba colocando a mão na consciência e pensando duas vezes antes de jogar o lixo em qualquer lugar”, reflete. Para participar - As atividades são totalmente voluntárias. Para colaborar com uma ação organizada, basta estruturar um grupo de até sete pessoas e contatar o presidente do Anjos do Rio, João Bosco Brito, através de seu Facebook. Além disso, Bosco pede para participarem ativamente de suas postagens, pois assim, o alcance das denúncias serão maior.

Idealizador da ONG Anjos do Rio não deixa passar nenhum resíduo que flutua pelas água do rio Tocantins.

Muitos dos resíduos encontrados no rio não são biodegradáveis, ou seja, não se decompõem com facilidade e ficam interferindo no ecossistema.

Ademais, sem nenhum tratamento efetivado pela Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema), os córregos e esgotos acabam desaguando no rio, expondo assim, os moradores a contraírem doenças – inclusive os banhistas das praias como a do Cacau e do Meio. Voluntários – Em Imperatriz, apesar de haver diversos projetos voltados para ações de preservação do rio, só existe apenas uma Organização Não Governamental (ONG) que se dedica ao trabalho de conservação e policiamento do rio Tocantins - além de palestras de conscientização ambiental em instituições educacionais. Entretanto, essas iniciativas são ramificações da ONG criada em 2008, pelo jornalista e ambientalista João Bosco Brito, “Projeto Anjos do Rio”. O ambientalista afirma que já passa a maior parte do seu tempo empenhando-se com as ações, e com isso, já soma mais de 300 toneladas de lixo retirados do rio. “Eu dedico hoje quase que 80% da minha vida para o Anjos do Rio”, confessa. Atualmente, o projeto se mantém através de doações e trabalhos totalmente voluntários, e conta

Projeto Anjos do Rio tem feito ações voluntárias para limpar e defender os 2.640 quilômetros de extensão do rio Tocantins contra ações de degradação promovidas pelo homem.


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ENTREVISTA O Jornal Arrocha entrevistou o responsável pelos Anjos do Rio, uma organização não governamental que atua em Imperatriz com o objetivo de preservar o rio Tocantins por meio da limpeza e conscientização

ONG já retirou 300 toneladas de lixo do rio RAFAELA GOMES

REPÓRTER: RAFAELA GOMES DIAGRAMAÇÃO: ANA CAMPOS HELYH GOMES

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entar amenizar a degradação e as ações humanas contra o rio Tocantins com o objetivo de contribuir para sua preservação é o lema da organização não governamental batizada de Anjos do Rio. Fundada em 2008 pelo jornalista e ambientalista João Bosco Brito, a ONG luta contra o triste retrato atual do rio que banha a cidade de Imperatriz. O projeto já soma mais de 300 toneladas de lixo retiradas do rio e riachos de Imperatriz, além de ações de preservação, educação e fiscalização que marcam a história do projeto, que já é muito conhecido e respeitado na nossa cidade. Na entrevista a seguir, João Bosco Brito fala sobre a situação do rio Tocantins e como o projeto vem trabalhando para tentar mudar este quadro. Conta ainda a trajetória e as dificuldades enfrentadas pelo Anjos do Rio durante toda a sua caminhada. Jornal Arrocha: Como surgiu o Anjos do Rio? João Bosco Brito: No ano de 2000, eu e meu irmão construímos um dos maiores barcos da região, chamado de Imperador Tocantins. Nós fazíamos muitos passeios e víamos muito lixo tanto na margem como no rio. Onde nós passávamos e víamos lixo a gente recolhia. A partir daí passei a me interessar mais por essa causa. Em 2008, eu resolvi criar o projeto Anjos do Rio. JA: Como são feitas e quais são as ações realizadas pelo projeto? JBB: O projeto tem sua própria embarcação e é através dela que a gente faz ações de limpeza, preservação, fiscalização e a educação das pessoas. Nós já contabilizamos mais de 300 toneladas de lixo retiradas do rio. Já fizemos ações de conscientização com os barqueiros, os pescadores, os ribeirinhos e os barraqueiros das praias. Também ministramos palestras para alunos de escola pública, particular e universitários. E todas essas ações também são dedicadas aos riachos

O ambientalista João Bosco Brito, fundador da ONG Anjos do Rio, em manhã de ação de limpeza e preservação das margens do rio Tocantins.

da nossa cidade. Fazemos o monitoramento de construções de casas às margens do rio, de desmatamento e de incêndios em mata ciliar, com o objetivo de combater, identificar para, então, denunciar e punir quem pratica esse tipo de crime ambiental.

‘‘Quando andamos pelo rio, percebemos que onde fica a maior degradação é na cidade, ou seja, onde há ação do homem” JA: Quais as dificuldades para realizar essas ações? JBB: Para a gente que já faz esse trabalho há muito tempo, a nossa maior dificuldade é continuar motivado. Quando a gente anda pelo rio percebemos que onde fica a maior degradação: na cidade, ou seja, onde há ação do homem. A gente observa isso e é como se todo o nosso trabalho estivesse sendo em vão. JA: O projeto recebe algum tipo de

apoio para se manter? JBB: Nós nunca recebemos nenhuma ajuda do município ou do poder público. O projeto vem dando certo sem a ajuda do governo e as nossas ações já são conhecidas por toda a cidade. Tudo que temos hoje foi conquistado pelo próprio projeto e com a ajuda da classe empresarial que nos dá apoio voluntariamente. Já criamos algumas ações em conjunto com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. E, hoje, já existe um projeto que espera apenas a aprovação da Câmera de vereadores, com o objetivo de ajudar as ONGs de Imperatriz financeiramente. JA: Atualmente o Rio Tocantins sofre o momento mais crítico da sua história, como o projeto vem trabalhando com essa nova realidade? JBB: Diante dessa situação, o projeto teve que mudar de foco. Antes nós apenas catávamos o lixo, íamos atrás da degradação e resolvíamos pessoalmente. Agora, a gente vem apelando para as redes sociais em

busca de alcançar um maior número de pessoas. Tentamos também chamar a atenção das autoridades, do poder político e de alguns órgãos como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) e a Marinha do Brasil.

‘‘E todas essas ações também são dedicadas aos riachos da nossa cidade’’ JA:Você sente que o projeto tem conseguido cumprir o seu objetivo? JBB: Sim. Hoje, o nosso projeto já é bastante conhecido na cidade. É um projeto muito respeitado e que as pessoas acreditam. Já temos grandes nomes que nos ajudam nas nossas campanhas, como a Fundação Rio Tocantins, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, a Promotoria do Meio Ambiente e a Diocese de Imperatriz. Já temos

grandes ramificações do nosso trabalho e, hoje, posso afirmar que, se não fosse o Anjos do Rio, a situação do rio Tocantins poderia estar bem pior. JA: Como as pessoas podem participar das ações do projeto? JBB: Qualquer pessoa que tiver interesse de participar voluntariamente das nossas ações é só entrar em contato com o projeto. É só reunir o pessoal, marcar a data e o horário, escolher o local que vai ser visitado e mãos-à-obra. JA: Qual a expectativa para o futuro do projeto? JBB: A gente sonha hoje com outro barco, que vai ser totalmente voltado para o combate de incêndio, que é um dos maiores causadores do assoreamento do rio Tocantins. Esperamos também que tanto a sociedade quanto o poder público, possam nos ajudar a levantar essa bandeira, para que a gente possa continuar o nosso trabalho, que mesmo com todas as dificuldades, vem dando muito certo.

EDEUÍ DE OLIVEIRA


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