Jornal
FEVEREIRO DE 2018. ANO IX. NÚMERO 32
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA
Arrocha
JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ
FOTO DA CAPA: ABED ASARIAS
LEIA TAMBÉM:
Empoderamento feminino na região Tocantina Página 5 Famílias são exemplos em adoção tardia Página 6
FOTOS NOS DESTAQUES: DANIEL SENA
Esportes radicais em Imperatriz
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Nota sobre a edição
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nformamos que esta edição corresponde ao jornal que foi produzido pelas turmas de Laboratórios de Jornalismo Impresso, Fotojornalismo e Programação Vi-
sual, no segundo semestre de 2016. Por conta disso, as histórias contadas, os dados e as fontes refletem e dizem respeito ao período em que o jornal foi produzido.
Editorial
A
Região Tocantina corresponde a diversas cidades que são banhadas pelo rio Tocantins. Além da grandeza do rio, outras potencialidades podem ser encontradas na localidade, e esta é a temática da edição 31 do Arrocha. O jornal traz uma abordagem diversificada e com a proposta de aflorar os sentimentos e a consciência do leitor diante das matérias, é o caso da adoção tardia que vai contar a história de uma família que adotou três irmãos. E a história das lutas e conquistas do movimento feminista, que trouxe a implantação da Vara da Mulher para a região. Com uma grande riqueza natural que é o rio Tocantins e também pela maior cidade que compõe a região conhecida como o Portal da Amazônia, não se pode deixar de falar das práticas sustentáveis realizadas. Além disso, a edição mostra os esportes radicais praticados na região e que estão se popularizando. O ambiente é propício para as atividades e garante experiências inesquecíveis ao visualizar as paisagens
locais. Esta edição traz ainda, uma prospecção do mercado de trabalho falando das dificuldades e de como as pessoas estão se sobressaindo diante da crise econômica. E sobre a economia local, uma entrevista que esclarece o momento no pólo comercial de Imperatriz. Para os estudantes que estão pretendendo carimbar o passaporte, uma matéria sobre intercâmbio, que tira dúvidas e narra as experiências que deram certo. Informação, dicas e boas histórias podem ser encontradas em cada página. Com uma passagem pelos costumes, tradições e cultura do povo sertanejo. Ao final, a viagem pela região tocantina estará completa e a garantia é de descobertas. Ao desembarcar leve consigo todas as experiências e conhecimentos adquiridos. Arrocha: é uma expressão típica da região tocantina e também é um ritmo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.
Exp e die nte Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade. Jornal Arrocha. Ano IX. Número 32. Fevereiro de 2018 Reitora - Prof. Dra. Nair Portela | Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Daniel Duarte | Coordenador do Curso de Jornalismo - Prof. MSc. Carlos Alberto Claudino. Professores: Me. Leila Sousa (Jornalismo Impresso); Dr. Marco Antônio Gehlen (Fotojornalismo) e Dr. Thiago Falcão (Programação Visual).
Alunos de Jornalismo Impresso:
Aline da Silva Castro Ariel dos Santos da Rocha Arnoldo Araújo dos Reis Eugênia Barros da Silva Nascimento Frida Bárbara Leite Medeiros Gessiela Nascimento da Silva Karla Cristina da Silva Rodrigues Kellen Ayana Alves Ceretta Maiane Nascimento da Silva Maciel Morgana Albuquerque de Sousa Nataly Alencar Trovão Nayara Nascimento de Sousa Neroilton Raimundo Araújo do Nascimento Júnior Quézia da Silva Alencar Ruan Jeferson Dias dos Santos Sarah Dantas do Rêgo Silva Valdecy Marques dos Santos Yasmin Maria Eunice Rocha Costa
Alunos de Programação Visual:
Fausta Goiama dos Santos Silva Fernanda Pillar Nogueira Fernandes Gabriel Henrique Ferreira Severino Giuliana Rodrigues Nascimento Piancó Janaina dos Santos Cunha Silva Janaina dos Santos Cunha Silva Joao Pedro Santos Costa Júlio Araújo da Costa Lianna Carolina Arraes Oliveira Lorenna Silva Sousa Luidianny Lima Carvalho Maria de Fatima Nascimento da Silva Santos Mariana Fernandes da Silva Matheus Lopes dos Santos
Mayra Mariana Sousa da Luz Michele da Costa Souza Nandara Maria Melo Reis Paulla Monteiro Soares Pedro Henrique Barbosa Teixeira Sanny Oliveira de Jesus Thais Correia Marinho Thaise Marques da Silva Torres Thalys Vinicius Oliveira de Sousa Valeria Cristina Rodrigues da Silva
Alunos de Fotojornalismo:
Adriana da Silva e Silva Aline da Silva Castro Ana Alice Mendes dos Santos Andre Ricardo Guimarães Cadete Ariel Santos da Rocha Arnoldo Araújo dos Reis Asarias Sousa Silva Aurelícia Rodrigues de Almeida Cleverson Daniel Rodrigues Sena Daniel de Vasconcelos Paiva Edeui de Oliveira Mendes Eugenia Barros da Silva Nascimento Frida Barbara Leite Medeiros Gessiela Nascimento da Silva Gilmar Carvalho Chaves Guilherme Miranda Silva Jaciane Barreira Oliveira John Erik Sousa Silva Juliana de Sá Pinto Juliana Ferreira Eugênio Julie Anne dos Reis Paz Karla Cristina da Silva Rodrigues Kellen Ayana Alves Ceretta Lucas Vale Moreira Maiane Nascimento da Silva Maciel Monica dias Monteiro da Silva Morgana Albuquerque Sousa Nataly Alencar Trovão Nayara Nascimento de Sousa Neroilton Raimundo Araújo do Nascimento Júnior Paulo Rogério Pereira dos Santos Quezia da Silva Alencar Ruan Jefferson Dias dos Santos Sarah Dantas do Rego Silva Thayna da Silva Freire Yasmin Maria Eunice Rocha Costa
ARQUIVO DOS JORNAIS ARROCHA
www.imperatriznoticias.com.br/jornal-arrocha
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TRAVESSIA - RIO TOCANTINS FOTOS: PAULO ROGÉRIO
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ADRENALINA A MIL
Esportes radicais em Imperatriz e região Saiba como foi a experiência de quem encontrou na cidade e nos arredores a adrenalina e a emoção que os esportes radicais proporcionam. Conheça os esportes mais praticados na região. FOTOS: DANIEL SENA
Seja em busca de distração, diversão ou a superação dos limites, a prática de esportes radicais é a melhor pedida. A região tocantina oferece condições especiais para a prática de determinadas atividades esportivas.
KELLEN CERETTA NATALY TROVÃO
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raticar esportes é importante para a saúde física e mental, isso todo mundo sabe. Tem gente que curte caminhada, corrida, natação, futebol, etc. Mas também há quem goste de algo um pouco mais energizante na hora da prática esportiva, e opte por algum esporte radical. Para muitos, eles exigem coragem demais, para outros, são uma excelente alternativa de fuga da monotonia que o dia-a-dia oferece. A principal característica do esporte radical, na visão dos praticantes, é a capacidade que ele tem de acelerar a adrenalina, ou seja, uma disposição física, mental e emocional além da conta. Porém, na visão médica, a prática desses esportes não acelera a adrenalina e sim aumenta os níveis de dopamina, endorfina e serotonina: os hormônios do bem-estar e do prazer. Por isso, vários esportistas radicais afirmam o alívio imediato de todo stress urbano. Mas será que a Região Tocantina oferece aos moradores oportunidade de práticas como essas? A resposta é sim! Existe aqui um número considerável de esportes radicais praticados ao ar livre. Dos mais conhecidos, como o skate, até os mais inusitados, como o parapente! De todo modo, há uma variedade de esportes de aventura que são ofertados na região. A começar pelo parepente, que é uma vertente do voo livre, onde o piloto utiliza os contrastes de temperatura do vento para realizar voos não motorizados. Aos finais de semana, professores e alunos praticantes desse esporte se dirigem à rampa de decolagem, com altura superior a 2.000 metros, que fica na Serra do Estrondo, em Axixá-TO, a aproximadamente 40 km de Imperatriz. Esportistas afirmam que o fato da região ser quente e
seca é um fator favorável para a prática do parapente. Outro esporte de aventura bastante praticado pelos imperatrizenses é o Motocross, que consiste, basicamente, na motovelocidade sobre veículos do tipo off-road (termo em inglês para “fora da estrada”). São competições realizadas em ambientes abertos e com terreno, muitas vezes, molhado. Por ser um esporte de velocidade, e consequentemente, de alto risco, além da moto, também é necessário o uso de aparelhamentos que garantam a proteção dos competidores, como luvas, joelheiras, caneleiras e capacete.
Existe aqui um número considerável de esportes radicais praticados ao ar livre, dos mais conhecidos como o skate, até os mais inusitados como o parapente! O técnico em prótese dental, Alex Formiga, de 30 anos, que pratica o Motocross há 4 anos, diz que a preferência por esse esporte vem da emoção que ele proporciona, e garante: “a trilha, a moto, tudo isso é algo que me tira do meu mundo de trabalho, mundo de negócios, mundo de problemas e me deixa relaxado”. Para entrar no mundo desse esporte, é preciso investir em uma moto com segurança, acompanhada de equipamentos de qualidade. Formiga aconselha, para quem está querendo começar (ou começando) a prática, que o uso de bons equipamentos é inevitável e que estudar as técnicas de como se posicionar, seja por revistas ou vídeos aulas, ajuda muito. “Procure falar com quem já tem experiência para dar
dicas e uns toques tanto na moto quanto na compra de equipamentos e, quando você tiver andando livre, para dizer o que fazer numa reta, numa curva, qual a posição correta ao andar num lugar de risco, com pedras e abismo.” Afirma. Sobre outro esporte praticado na região, o ciclismo, Zilmar Santos, 40 anos, presidente do Xbike Clube de Imperatriz e praticante de trilhas, diz que a escolha pelo ciclismo se dá porque esse esporte leva a lugares fantásticos e grandes aventuras. Também, a questão de amizade conta bastante, “o companheirismo no ciclismo é muito grande, ninguém fica para trás. Por isso é muito satisfatório praticar o ciclismo”, afirma. Uma das partes mais valorizadas pelos esportistas é a energia fora do comum que é sentida durante a prática esportiva. Para Santos, essa questão é constante na vida do ciclista, cada circuito, cada percurso, cada trilha é uma emoção diferente, conquistada ao passar por cada quilômetro da trilha. Diz também que a prática se torna muito importante por causa da diversão pelo relacionamento com outros praticantes. E na prática de esportes de aventura, não é necessário limitar-se ao exercício de apenas um. A enfermeira Karine Svetlana já praticou tirolesa, canoagem, caiaque, banana boat em alto mar, além do rapel. Sobre o último, ela relata que não foi uma escolha de lazer, mas fez por questões profissionais. Ela diz que “a prática quebra paradigmas, ajuda na superação do medo de altura e do nervosismo no momento da execução da prática.”. Diz ainda que com profissionais capacitados ao lado checando a segurança, é passada a confiança necessária. A sua prática foi realizada na Ponte Dom Afonso Felipe Gregory, com o auxílio do Corpo de Bombeiros de Imperatriz. Na mesma ponte é também praticado o esporte
O skate é um dos esportes radicais mais conhecidos e atrai a atenção dos jovens de diversas idades.
chamado de “pêndulo humano”, que consiste num salto ao vazio, fazendo com que a pessoa balance em um voo. Sem dúvidas é para quem busca superação e muita emoção. O esportista Werbeth Kelnner, mais conhecido como Beto, 41 anos, proprietário da Chivunk, uma loja
“A vida ao ar livre junto com as práticas esportivas tem muita importância, principalmente para crianças e adolescentes que vivem num mundo que respira tecnologia.” de artigos esportivos, principalmente radicais, em Imperatriz, afirma que a cidade tem um potencial muito grande para o exercício de esportes de aventura. Ele afirma que a vida ao ar livre junto com as práticas esportivas tem muita impor-
tância, principalmente para crianças e adolescentes que vivem num mundo que respira tecnologia. Para apresentar (e também influenciar) a prática de esportes radicais aos imperatrizenses, e aos que moram em regiões próximas à cidade, Kelnner realizou, durante alguns finais de semana, atividades na lagoa da Beira Rio com caiaques e stand ups. “Tínhamos um dilema onde a população dizia que a lagoa era poluída, então a gente tinha que começar a romper esses paradigmas. As pessoas repetem histórias do passado, sem saber a veracidade delas e muitas vezes deixam de aproveitar o ambiente urbano natural por conta de causos inventados.”. Garante. Sendo radical ou não, a prática de um esporte é importante, pois evita o perigoso sedentarismo. Tendo a cidade de Imperatriz e a região tocantina diversos locais próprios para a prática esportiva, é possível sair de casa tanto para uma caminhada, natação, corrida, como também para um voo livre, rapel ou alguma trilha de moto ou bicicleta!
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SUSTENTABILIDADE Reflexão, conscientização e educação são caminhos para a população imperatrizense desenvolver uma consciência sustentável e fazer sua parte na preservação do meio ambiente e do bem comum.
Práticas em favor do meio ambiente MAIANE NASCIMENTO MACIEL NAYARA NASCIMENTO
“O
que precisamos para ter uma vida sustentável é sensibilizar as pessoas, despertar a responsabilidade de todos com hábitos para evitar o desperdício. São mais do que atos de conscientização, são ações de cidadania”. É o que aponta a bióloga Keyle Maciel da Silva, 38, sobre a necessidade de transformação da sociedade em sustentavelmente consciente para que haja recuperação e preservação do meio ambiente. A sustentabilidade tem sido tema de debate recorrente a nível mundial e não poderia ser diferente na Região Tocantina. A 27° edição do Arrocha, de abril de 2016, intitulado “Meio ambiente em alerta”, denunciou práticas de poluição, como as queimadas, e o descaso, tanto do poder público quanto da própria população, em recuperar e preservar o meio ambiente, como os riachos que cortam a cidade e o lixão. No mesmo ano, o rio Tocantins, considerado a principal riqueza natural local, registrou a maior baixa da história, chegando a 3,70 m abaixo de zero, devido a vasão da Usina Hidrelétrica de Estreito, o que alertou a população sobre a necessidade de preservação. Ainda em dezembro de 2016, Imperatriz foi sede do “Programa Nacional de Capacitação de Gestores Municipais da Região Tocantina”, que teve como objetivo discutir a elaboração de projetos e implementação de políticas públicas ambientais. A preocupação com o meio ambiente nos fatos citados leva à reflexão: o que está sendo feito pelos órgãos competentes e pelos próprios cidadãos para a sustentabilidade da região? Segundo a secretária de Meio Ambiente, Rosa Arruda, 53, a construção do aterro sanitário e a revitalização das nascentes e afluentes do rio Tocantins são as atuais prioridades. De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada em 2010, os lixões de todo o país deveriam ser fechados e os rejeitos encaminhados a aterros sanitários adequados até 2014, o que não aconteceu e o prazo foi estendido até 2019 (para municípios com população superior a 100 mil habitantes, que é o caso de Imperatriz, que tem atualmente mais de 250 mil residentes). Sobre isso, o assessor de projetos especiais e geoambientais da Secretaria do Meio Ambiente, Alisson Daniel Fernandes, 22, explica que o Plano de Gerenciamento Municipal de Resíduos Sólidos da cidade está sendo desenvolvido mediante o Termo de Referência, devendo contemplar a construção do aterro, a coleta seletiva, os catadores e a reciclagem. “A população tem de andar junto com esse projeto, estando ciente de que ele está sendo elaborado e que quando entrar em operação ela saiba para onde vai o lixo, porque muita gente não sabe o que acontece com o resíduo que gera”, aponta. Arruda explica sobre a necessidade de recuperar as áreas degradadas do rio Tocantins desde a nascente até seus afluentes, num
FOTOS: RICARDO KADETT
trabalho a longo prazo e feito em parceria com municípios, Estados e Governo Federal, destacando o papel da conscientização da população, por meio da educação ambiental implementada nas escolas e nos bairros. Despertar nos cidadãos a percepção de que seu papel é indispensável e que a geração e o destino dos resíduos é responsabilidade de todos são alguns dos desafios em promover práticas sustentáveis, conforme explica a bióloga Keyle Silva, que trabalha há 10 anos na área ambiental e atualmente desenvolve projeto na Associação de Catadores e Triagem de Materiais Recicláveis de Açailândia (ACTMRAM). “É importante fomentar a reflexão ambiental, adotar atitudes e procedimentos que levam ao uso racional dos recursos naturais, motivar a mudança de hábitos e realizar ações educativas visando a melhoria da qualidade de vida, pensando não apenas no presente, mas nas futuras gerações”, declara. Confira a seguir dicas de práticas sustentáveis para o dia a dia. Quem disse que isso é lixo? - Muitos materiais que são descartados no lixo convencional podem e devem ser reciclados, já que alguns resíduos levam centenas de anos para se decompor naturalmente no meio ambiente, como a latinha de alumínio, que demora de 100 a 500 anos, ou ainda o pneu de borracha, por tempo indeterminado. A campanha dos 3 Rs – Reduzir, Reutilizar, Reciclar tem como objetivo levar ao consumo consciente e a reciclagem é o meio mais eficaz para dar um destino aos resíduos sólidos. No projeto EcoCemar, promovido pela Companhia Energética do Maranhão (Cemar), o cliente troca materiais recicláveis por descontos na conta de energia. O supervisor de campo da empresa, Wesley Claudino, 31, e o técnico em Meio Ambiente Luís Ricardo Oliveira Costa, 28, explicam que o desconto é referente ao material entregue, podendo ser também destinado a outro beneficiário e ainda para instituições filantrópicas que possuem cadastro no programa. “Quanto maior o volume de materiais, maior a bonificação e não existe um limite de peso”, ressaltam. Plástico, garrafa Pet, papel, ferro e embalagem de Tetra Pak são alguns resíduos que podem ser trocados nos três postos
“É importante fomentar a reflexão ambiental, adotar atitudes e procedimentos que levam ao uso racional dos recursos naturais, motivar a mudança de hábitos e realizar ações educativas visando a melhoria da qualidade de vida, pensando não apenas no presente, mas nas futuras gerações”
A reciclagem é um dos meios mais eficazes para dar destino sustentável aos resíduos sólidos
de coleta distribuídos na cidade. Outro destino para os objetos recicláveis pode ser a Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Imperatriz (Ascamari), que há mais de seis anos atua na cidade. O responsável pela associação, José Ferreira Lima, 65, aponta que os maiores contribuintes com a doação de materiais são as empresas privadas, embora pela Lei de Resíduos Sólidos (12305/2010) todas as instituições públicas devem realizar a coleta seletiva e enviar o que pode ser reciclado para a Ascamari. Além disso, Lima afirma que a população ainda não se conscientizou para a prática da coleta seletiva e reciclagem. “Recebemos mais de empresas, mas qualquer pessoa pode vir e deixar os materiais. Aqui é um ponto de entrega voluntário, os catadores coletam e também compramos, porque tem gente que prefere ‘jogar no mato’, mas não dá. Se é de ir para o ‘mato’, a gente dá uma
compensa”, declara. Plante uma vida - O aquecimento global tem sido um dos assuntos relacionados ao meio ambiente mais falado na atualidade. A cada ano que passa a temperatura de Imperatriz vem aumentando, o que a levou ao ranking das dez cidades mais quentes do país, em agosto de 2016, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A engenheira florestal Nisangela Severino Lopes Costa, 28, ressalta que a falta de árvores contribui com as altas temperaturas, ao passo que a arborização gera conforto térmico e, consequentemente, bem estar e melhoria na qualidade de vida das pessoas. As dicas de plantio são as espécies nim e fícus, além das palmeiras de pequeno porte, que devem ser podadas adequadamente. “Como estamos falando da zona urbana, geralmente as casas são coladas umas nas outras e próximas à rede elétrica,
então a indicação é que as árvores plantadas sejam de médio porte e que os frutos sejam relativamente pequenos, para que no caso dessa árvore estar localizada na calçada, o fruto, ao cair, não venha a machucar o pedestre”, aponta. Costa destaca também o papel dos cidadãos em conservar tanto o plantio nos próprios quintais quanto aquele feito pela prefeitura. O assessor de projetos especiais da Secretaria do Meio Ambiente, Fábio Batista Guimarães da Silva, 34, pontua sobre os projetos de arborização que devem ser implantados, como a revitalização do viveiro para produção e distribuição de mudas, revitalização de paisagens da cidade, recuperação das praças e construção de novas, uso de espaços como terrenos baldios para criar bosques e praças. Silva ainda ressalva o papel dos cidadãos na conservação desses espaços, que são para o lazer dos próprios moradores. “Às vezes a praça está no meio de um bairro e a população não se preocupa em dar uma assistência... Se você pegar um copo com água e jogar numa muda por dia, já ajuda muito na recuperação na época que não chove”, assinala. Complementar a isso, o também assessor de projetos especiais da Secretaria do Meio Ambiente, Jorge Arthur Nascimento, 25, destaca que o sucesso das ações governamentais depende da consciência sustentável dos cidadãos, desenvolvida através da educação ambiental. “Todos os projetos tem que ser bem aliados com a parte de envolvimento da população, com programas, com campanhas, porque, na verdade, um problema muito grande é a conscientização das pessoas”, afirma. Não funciona mais? - O descarte de pilhas e baterias no lixo convencional pode gerar graves problemas no solo e na água, além de haver o risco de transmissão de doenças às pessoas, caso esses materiais estourem e deixem vazar substâncias tóxicas. De acordo com o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), os usuários podem entregar esses objetos em estabelecimentos que os comercializam, ou ainda em redes de assistência, como lojas e supermercados. Em Imperatriz, o Supermercado Atacadão faz o recolhimento de pilhas, uma vez que o usuário leve o material até a unidade. Descarte de lixo hospitalar - Muitas pessoas fazem uso de materiais hospitalares em seu próprio domicílio, como seringas e agulhas. De acordo com a Agência Nacional de Segurança Sanitária (ANVISA), o descarte desse tipo de objeto não pode ser feito no lixo convencional, pelo risco de contaminação em quem os manipula, por exemplo. O ideal é que as embalagens sejam separadas dos utensílios, como caixa de papelão, plástico, vidros, tubos metálicos. No caso de seringas, agulhas e frascos de vidro, que são chamados de perfuro cortantes, o usuário pode armazenar esses materiais num recipiente e entregar numa unidade de saúde.
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EMPODERAMENTO FEMININO “Respeito, não só para diminuir a violência contra a mulher, mas para diminuir a violência contra o idoso, contra a criança, contra as pessoas que são vulneráveis. Educação e respeito”.
Igualdade de gêneros: a grande luta do movimento feminista MORGANA ALBUQUERQUE YASMIN COSTA
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gualdade. Autonomia. Empoderamento. São características que definem o feminismo. No entanto, os contrários ao movimento têm uma visão deturpada dos princípios defendidos pelas feministas. A Coordenadora Geral do Centro de Direitos Humanos Padre Josimo, Conceição Amorim, 53, comenta sobre a concepção equivocada em torno do movimento, “todo esse pré conceito que se coloca e que se dá papéis para o feminismo, são na verdade instrumentos de combate à luta das mulheres pela igualdade”. Amorim acredita que o conceito de feminismo é mais simples do que se imagina. “Ele busca literalmente o empoderamento das mulheres, garantir o direito das mulheres de acesso à educação, à saúde, aos espaços políticos, com os mesmos direitos que os homens. Essa é a grande luta do feminismo. Portanto, o feminismo também luta pelo direito da mulher decidir sobre seu corpo, decidir se ela quer ou se ela não quer continuar uma relação afetiva, pelo direito dela ser respeitada a partir das suas decisões”. Em Imperatriz, a luta pelos direitos de igualdade de gênero teve início na década de 70, com a criação do Clube de Mães e Pastoral da Mulher pela igreja católica. A princípio, com o objetivo de proporcionar algumas ocupações que gerassem renda e lazer. Porém, a necessidade de políticas públicas voltadas para a mulher fez com que em 1997, o movimento feminista começasse a se articular e se organizar para garantir os direitos básicos para as mulheres. “Nós não tínhamos nenhuma atenção voltada para a saúde da mulher, no contexto que a gente compreende a saúde da mulher como um todo, e não só como uma questão materna e infantil. Nós não somos só um útero e os seios, e nossa saúde não se resume a parir e a criar e alimentar criança”. Lutas e conquistas - “Essa é uma das grandes derrotas do movimento feminista, a gente não conseguiu sensibilizar as próprias mulheres eleitas a pautarem a questão das mulheres e se sensibilizarem com os problemas das mulheres, a ver a cidade como uma cidade que precisa ser pensada para os homens e para as mulheres”. Desabafa Conceição Amorim a respeito da presença de mulheres na câmara de vereadores, e pela ausência de projetos políticos que beneficiem a população feminina de Imperatriz. Desde a década de 40, a grande luta do movimento feminista tem sido a implantação e melhorias de creches. Um benefício que quando conquistado garante às mães a oportunidade de poder trabalhar e deixar os filhos em um ambiente seguro e apropriado. Mas, as lutas não param por aí, ainda que essas mães dispusessem de creches, elas enfrentariam condições de trabalho desfavoráveis no mercado informal e desigualdade nos trabalhos fixos. Desta forma, as
mulheres são colocadas em situação de inferioridade e são invisibilizadas por questões sociais e culturais. Apesar dos desafios, os resultados já conquistados contribuem para o fortalecimento da luta pela igualdade de gêneros e mostram mudanças significativas no cenário feminino. As conquistas para as mulheres da região tocantina foram muitas, e o ponto de partida foi a abertura para debates, onde elas começaram a discutir politicamente os problemas e passaram a lutar coletivamente pelos interesses femininos. A principal conquista até os dias atuais foi a implantação da Vara Especial da Mulher e da Promotoria da Mulher em Imperatriz que Conceição Amorim atribui à organização. “É uma grande conquista que só se materializou com a luta do movimento feminista, da articulação e das militâncias feministas”. A Vara da Mulher, implantada em 2007, foi a primeira do Estado com objetivo de atender não somente Imperatriz, mas também as cidades vizinhas. Nas suas funções tramitam processos cíveis (pensão alimentícia, divórcio e outros) e criminal (violência contra a mulher). Além dis-
“Nós não somos só um útero e os seios, e nossa saúde não se resume a parir e a criar e alimentar criança”.
so, atua com projetos de conscientização como o “Aprendendo a Lei Maria da Penha no Cotidiano”, que tem como objetivo básico quebrar paradigmas construídos pela cultura machista através de palestras em escolas e empresas, informando sobre a lei, consequências e a necessidade de respeito ao gênero feminino. Tendo como público alvo não apenas as mulheres, mas também busca conscientizar o sexo masculino. A juíza responsável pela Vara da Mulher em Imperatriz, Ana Paula Silva Araújo, considera de extrema importância o trabalho efetuado pela instituição, principalmente a respeito das medidas protetivas que segundo ela, geram empoderamento na mulher vítima de violência. “Uma mulher segura é uma mulher que tem condições de ter uma vida mais saudável, uma vida melhor, de ter mais força para viver. Então, é o nosso trabalho nesse sentido”. Em 2016, foram efetivadas 451 medidas protetivas, cada uma delas recebe acompanhamento da Vara da Mulher de Imperatriz, para certificar se a medida está sendo cumprida e saber como está o comportamento do suposto ofensor. A realidade não é cor-de-rosa - A partir da vigência da Lei Maria da Penha, o
número de homicídios de mulheres brancas caiu 2,1%, em contrapartida, as mulheres negras estão sendo vitimizadas com um aumento de 35,0%, dados mostrados no mapa da violência contra a mulher de 2015. Antônia Gisêuda Pereira, vice-presidente do Centro de Cultura Negra Negro Cosme, atribui esses dados às condições sociais a que elas estão sujeitas. “Quando olhamos exemplos aqui na cidade sempre tem uma mulher negra envolvida em casos de violência, ou duas, ou três, e eu atribuo isso à situação de risco em que ela vive, de não estudar, de não ter um trabalho, de morar nessas áreas periféricas e elas ficam mais vulneráveis a qualquer situação”. O local em que a mulher vítima de violência vive também é um fator determinante. O mapa mostra ainda que as capitais não estão na lista das cem cidades com maiores taxas médias de homicídios femininos. Portanto, as cidades do interior são as que dominam o ranking, na 46º posição está Porto Franco, que fica localizada a 103 km de Imperatriz, logo em seguida está Araguatins-TO, ambas pertencentes à região tocantina. A juíza Ana Paula Silva Araújo explica que tal fato ocorre devido à falta de estrutura de proteção para a mulher, portanto em locais em que a vítima não tem a quem recorrer. “Se no interior não tem uma delegacia especializada da mulher, se não tem um CRAS, se não tem uma vara especializada, o número acaba sendo maior, porque há situações de impunidade”. Essas situações de impunidade são ainda mais comuns dentro do ambiente virtual, onde as mulheres são julgadas e que, de acordo com Conceição Amorim, são humilhadas através de comentários que disseminam o ódio. “As redes sociais nos trouxeram um grande bem, mostrou a verdadeira face do homem brasileiro, estamos tendo que lidar com uma realidade extremamente cruel. Vivemos em um país onde os homens nos odeiam, a misoginia é uma coisa assustadora, eles não têm o menor escrúpulo em nos desrespeitarem e nos humilharem nas redes sociais, e fazem isso da forma mais natural possível”. No entanto, ela destaca que as redes sociais têm cumprido um papel importante no sentido de proporcionar e de elevar o nível de debates. Educar para empoderar - O melhor caminho para mudar um cenário de desigualdade social ou de gênero, é sempre a educação. Por meio de palestras, estudantes da rede pública estadual discutem as questões de gênero em debates promovidos pelo Centro de Direitos Humanos. A professora Samanta Matos viu a necessidade do projeto através do comportamento dos adolescentes no ambiente escolar. “A mulher sofre preconceito em todas as esferas, e na escola não é diferente, a menina também é diminuída, ridicularizada
JULIANA EUGÊNIO
Conceição Amorim comenta os avanços e desafios da luta feminista em Imperatriz.
em todos os espaços, por questão estética, questão de idade, diversas questões, as meninas sofrem preconceito até mesmo entre as próprias meninas”. Além da educação, o respeito é uma característica fundamental para transformação de comportamentos violentos e preconceituosos como define a juíza Ana Paula Silva Araújo. “Respeito, não só para diminuir a violência contra a mulher, mas para diminuir a violência contra o idoso, contra a criança, contra as pessoas que são vulneráveis. Educação e respeito”. Medidas que podem ser tomadas no cotidiano de cada um, e que contribuiriam para um mundo mais igualitário. Como é o caso das palestras proporcionadas pelo Centro de Direitos Humanos, que buscam conscientizar e fazer com que os jovens vivam uma geração menos desigual e se tornem agentes multiplicadores. A professora Samanta Matos conta que o projeto apresentou um caso de violência contra a mulher, e uma estudante argumentou a favor e apontou razões para que ocorres-
se a agressão. Portanto, tais palestras têm a função de mostrar uma nova visão de mundo para permitir a mudança de pensamento entre os jovens que compartilham suas experiências. O resultado de tudo isso é gratidão, “Essa menina me procurou e me disse assim: obrigada! Porque você é a primeira pessoa que me fez mudar de opinião”. Com orgulho, a professora conclui falando das mudanças positivas e do empoderamento visível a partir do comportamento das meninas. “Foi muito bonito ver nos olhos delas, na atitude delas, no levantar da cabeça. É corporal mesmo”. Se no presente ainda não foram conquistados os direitos de igualdade de gêneros, o que se faz agora é plantar a semente para que se colha os frutos no futuro. Esses jovens irão transmitir o que aprenderam para seus filhos e assim, o desejo por uma sociedade igualitária será repassado de geração em geração, até que chegue o dia em que a equivalência de salários, igualdade de direitos, liberdade e autonomia sobre o corpo deixem de ser um ideal almejado e passem a ser uma realidade concreta.
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- - EXEMPLOS - Três famílias que optaram pela adoção tardia e descrevem a adaptação e o amor pelos filhos. Cada história apresenta diferentes e emocionantes particularidades. AURELÍCIA RODRIGUES
Amor sem idade:
Experiências de famílias que vivem a adoção tardia FRIDA BÁRBARA QUÉZIA ALENCAR
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pesar de todos os avanços, a adoção ainda é um tema envolvido por preconceitos que se expressam através de medos, crenças, mitos e inseguranças. No Brasil, atualmente, cerca de 7 mil crianças e adolescentes ainda esperam em abrigos para serem adotados, segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção. Em Imperatriz, o número é de pelo menos 45 crianças a espera de um lar. O órgão aponta ainda que, para cada criança esperando ser adotada, existem cinco pretendentes dispostos a acolhê-la. Entretanto, as pessoas interessadas em adotar, optam pelos recém-nascidos ou crianças com até dois anos de idade, dados do Conselho Nacional de Justiça apontam que 73,8% das crianças abrigadas têm 6 anos ou mais. Em 2011, apenas 6,7% aceitavam uma criança maior de 5 anos, no ano de 2014 o percentual subiu para 8,9%. No último ano, entretanto, ocorreu um salto para 20,2% de pessoas interessadas em adoção tardia registradas no Cadastro Nacional de Adoção. A adoção tardia é descartada por muitos pais, que enxergam empecilhos socialmente impostos, como a afirmação de que crianças maiores têm um passado, muitas vezes, com marcas, bem como a personalidade da criança já esteja formada, o caráter incorporado e já não é mais possível detê-los. A medida que a criança vai crescendo, menor a chance de ser adotada. O defensor público Fábio Carvalho, adotou quatro irmãos com idade entre 8 e 14 anos e enxerga a adoção com naturalidade. “A minha família é muito especial, porque ela nunca estabeleceu uma diferença entre filhos consanguíneos e os adotivos. Meus pais tiveram dois filhos biológicos e cinco adotivos, sete filhos no total. Então, entre a grande maioria, ou eles tinham adotado, ou eles tinham a guarda, e eu cresci com essa realidade, de ver ao meu lado, de partilhar os meus espaços com pessoas das quais eu sempre tive como irmãos, mas que vieram para minha família pelos caminhos da adoção”. Quando o assunto são os motivos que o levaram a adotar e sobre a vontade de ser pai, Carvalho, casado há oito anos revela: “Eu nunca tive filhos biológicos, talvez por um problema ou
outro de saúde que na verdade nunca me impediram de querer ter filhos. E explica, encantado, como Willian, Wemen e Wellen apareceram em sua vida. “Foi tudo muito rápido, eu pedi remoção da área cível em que eu trabalhava, para a área de infância e juventude, onde comecei a ter contato com muitas crianças. Um dia, nós, em razão de uma resolução do Conselho Nacional de Justiça, tivemos que fazer audiências concentradas para revisar todos os casos, as possibilidades de retorno à família das crianças da Casa da Criança. Um grupo de crianças me chamou a atenção, elas que estavam na instituição há quase cinco anos. Tinham 8, 9 e 10 anos, respectivamente. Fiquei comovido com a possibilidade daquelas crianças crescerem na instituição.” Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), os grupos de irmãos não podem ser separados. “Todos os pareceres da equipe psicossocial apontavam para a necessidade de manterem as crianças juntas, muitas pessoas que ficavam interessadas em adotar, não adotavam. Ou seja, se interessavam por uma, mas não se interessavam pelas três. E eu tive naquele momento, um daquelas decisões digamos que rápidas, cutuquei o juiz que estava do meu lado e disse: ‘essas três, eu vou ficar’. Obviamente o juiz pensava que eu estava brincando”, acrescenta aos risos. Adaptação é uma das palavras chaves para quem adota, principalmente quando é uma adoção tardia. Os pais que optam por adotar crianças maiores precisam ser mais flexíveis, pois a adaptação requer tempo, tanto para os pais quanto para a criança. É necessário destacar que essas crianças trazem uma bagagem muitas vezes pesada, como abandono e marginalização. Há ainda aqueles que cresceram nos abrigos, sem o conhecimento dos familiares e sem receber afeto, para elas cada dia a mais longe de um lar é determinante nas suas vidas. Fábio Carvalho considera que a adaptação foi total. “No início até o cheiro era estranho, E eu imaginava que era tão estranho para mim, quanto para eles, então nós fomos nos conhecendo”. Foi-se então estreitando os laços. Carvalho conta ainda: “geralmente quando eu falo da adoção dos meus filhos, eu digo paras pessoas que eu, particularmente, não acredito em amor à primeira vista. Para mim
amor se constrói e com eles o amor se construiu. Tanto por parte deles, quanto pela minha parte”. Os pais adotantes precisam, então, formar para a criança uma base segura, para o desenvolvimento de suas potencialidades, proporcionando a satisfação de suas necessidades básicas. Ao todo foram quatro meses para Carvalho adotar os três irmãos, mas desde o primeiro final de semana que ficaram juntos, não se separaram mais. “Eu falei com o juiz e pedi autorização para passar um final de semana com as crianças, passamos sábado e domingo juntos, e quando fomos devolvê-las na manhã de segunda-feira, foi um chororô e Ana Paula, minha esposa, disse: ‘não, a gente não pode fazer isso com essas crianças.’ Fizemos um pedido de guarda na mesma segunda e quando saímos do trabalho, já levamos elas para casa e nunca mais saíram de lá”. O defensor público conseguiu, então, a guarda de medida de proteção das crianças e logo após se habilitou,
“Deixei que ela viesse até mim e ela me escolheu”.
junto com a esposa, no Cadastro Nacional de Adoção. “Da guarda para adoção definitiva foram aproximadamente quatro meses, foi um processo rápido. Estamos há um ano e quatro meses juntos”, completa. Os filhos receberam acompanhamento psicológico para se adaptarem a nova família. “Fiquei muito preocupado que a minha ansiedade não atrapalhasse as coisas, coloquei-os em uma psicóloga que foi indicada pelas escolas que eles foram matriculados. Eles participaram do método Friends”, estruturado em encontros que reúnem técnicas e informações para lidar com o estresse, a ansiedade e com as dificuldades nas interações sociais. O casal recebeu orientações da psicóloga que explicou que os primeiros contatos seriam de conquista. “Eles tentariam nos seduzir na condição de filhos e nós tentaríamos seduzi-los na condição de pais. Como acontece num namoro, no
início ninguém mostra seus defeitos. E ela disse, quando eles estiverem com os pés firmes, aí eles vão se sentir à vontade pra ser quem são. Vão ser os filhos normais, vão brigar, vão dizer o que querem ou não.” Carvalho tentou não mudar toda a rotina dos filhos de imediato. “No início eles nos chamavam de tio e tia e eu não forcei nada de chamar de pai e de mãe. Fiquei muito preocupado que a minha ansiedade atrapalhasse as coisas. Esse processo de amor é lento.” Preocupado, o defensor menciona que num primeiro momento optou por manter os filhos na escola pública. “Havia um déficit cognitivo muito grande neles, infelizmente não há um acompanhamento escolar individual. E naquele momento se eu fizesse uma transferência para uma escola particular, seria frustrante, porque eles tirariam nota baixa e eu não queria aumentar as frustrações de quem já teve uma vida inteira de frustrações. Meu papel não era esse. Minha preocupação não é de formar pessoas muito inteligentes e, sim, pessoas felizes” e pontua “é uma realidade tão diferente do que podemos imaginar, pensa viver num lugar aonde todo adulto que chega é a chave de saída da instituição, é um potencial-futuro pai”, conclui. Recentemente Fábio e Ana Paula descobriram a existência de um quarto irmão, o mais velho, Thaciel, que estava na Casa de Passagem, lugar que recebe meninos com idade entre 9 e 18 anos. Após um período de visitas aos finais de semana, o adolescente também foi adotado pela família. Construindo vínculos - Outro caso é o do pastor evangélico Dionnatha Chaves e sua esposa Lisania Chaves. O casal adotou Graziela, que na época tinha nove anos. Eles estão juntos há um ano e dois meses. O processo foi demorado, foram quase doze meses, incluindo curso de habilitação para adoção, entrevistas com psicóloga e visita residencial da assistente social da Vara da Infância e, por fim, a aproximação entre os pais e a crianças que hoje é sua filha. Chaves conta a experiência. “Fomos à Casa da Criança em Imperatriz, depois que a vimos procuramos saber sua história, e como ela já tinha nove anos, perguntamos se ela gostaria de nos conhecer”. Um fato curioso é que a adoção faz parte da família do casal
Chaves. A mãe e o tio de Chaves foram criados por uma família adotiva e Lisania possui uma irmã adotada. “Fomos perceber esse fato curioso apenas quando já tínhamos dado entrada com o processo, e isso nos deu mais segurança e estímulo”, relata. Ele conta ainda, que há a readaptação como casal, antes, apenas dois, agora com mais uma pessoa na família, uma criança que demanda muitos cuidados. “Mas é um processo natural, de qualquer casal que possui filhos”. É importante se desprender de idealizações feitas a respeito da criança, pois alguns adotantes se deparam com dificuldades afetivas de aproximação devido as expectativas criadas. Outro desafio conta Chaves, diz respeito à escolaridade. “Por mais que a Casa da Criança seja um local onde tem pessoas que trabalham por amor, que tentam fazer o melhor pelas crianças, lá não é uma família. Então acaba sem acompanhamento em várias áreas da vida, esse processo de reeducação acaba sendo bem difícil. Hábitos e costumes que eram próprios da casa ficam arraigados, no caso da minha filha, que passou mais de cinco anos na Casa, esses hábitos já eram rotineiros”. A instituição familiar é considerada o espaço mais importante para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Com o acompanhamento devido, apoio e incentivo, uma vida saudável pode ser oferecida para a criança. Foi percebido, nos últimos anos, que a adoção de crianças acima de três anos têm crescido no Brasil. Aqueles que estavam à procura de um bebê têm aberto suas opções de faixa etária. Segundo as estatísticas do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), em 2015, foram efetivadas 711 adoções tardias, a partir de três anos, 79 a mais que em 2014 e 150 a mais em relação a 2013. Com dados crescentes, pais têm percebido que crianças não são fabricadas de acordo com suas idealizações, a realidade dentro dos abrigos é diferente. A maioria são crianças que tem entre 8 e 17 anos, possuindo irmãos. Adoção é um ato de amor e cidadania Raimunda Nonata e Emily estão juntas há sete anos. Emily foi adotada quando tinha seis, hoje está com treze anos. Raimunda achou importante deixar a criança escolhê-la, “Eu não escolhi, eu deixei que a criança me escolhesse, porque eu já tinha certeza daquilo que eu queria. Então, assim, eu queria que a criança gostasse de mim. Do meu jeito. Então eu a deixei livre. À primeira vista, eles sempre perguntam como a gente quer a criança, eu visualizei a Emily, e nós começamos a conversar. Por que quando você vai, tem o direito de escolher. Mas como são muitas crianças, você fica entre uma e outra, mas eu sempre deixei que ela viesse até mim e ela me escolheu. O que para mim é muito melhor porque é difícil você apontar pra um e dizer eu quero aquele”. O processo das duas demorou mais ou menos um ano. A agente de saúde, mesmo após a adoção da filha, a leva para visitas constantes à Casa da Criança, devido ao vínculo criado depois de muito tempo no abrigo. A criança também entende como uma família, os outros menores que ali estão. Adotar é um ato de aceitação do outro, independentemente de defeitos, diferenças e condições genéticas. É se dispor a reescrever, juntos, a história de crianças que tiveram um passado marcado pelo abandono ou rejeição. Pequenos casos, que mudaram a história de crianças que poderiam ter destinos diferentes. O amor é gerado no coração dos pais que assumem esses filhos e são capazes de protegê-los e supri-los, dentre tantas necessidades, de amor e carinho familiar, e lhes transmitir valores.
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IDENTIDADES Muito além de uma região territorial ou da associação a características climáticas e de vegetação, o termo sertanejo faz referência a uma cultura atravessada pela força, resistência e o contato com o novo.
A cultura do sertão em Imperatriz VALDECY MARQUES ARNOLDO ARAÚJO
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modo de ser do sertanejo está enraizado na maneira de viver do Imperatrizense. Isso pode ser percebido na preferência culinária, musical e esportiva. O gosto pela carne de sol, buchada de boi, baião de dois, forró, festa junina e vaquejada, demonstram a proximidade do sertão com a cidade. Segundo a historiadora e arqueóloga, Danielly Morais, “a cultura presente no jeito de viver do morador de Imperatriz é uma herança do modo de ser dos primeiros sertanejos que viveram na cidade quando esta ainda era um povoado”, afirma. O sertanejo é apaixonado pela vida rústica, pela lida com o gado. É um personagem que cria uma identidade própria caracterizada pelo ambiente onde vive. Ainda segundo Morais, “a herança cultural dos primeiros sertanejos pode ser notada nas técnicas construtivas : a casa de taipa, de pau roliço, de palha, o telhado de cavaco ou de palha. Todas essas representações ainda podem ser encontradas nos bairros mais afastados do centro da cidade”, relata.
Ainda existem outros legados que são muitos difundidos em toda a cidade, a exemplo das comidas típicas: a galinha caipira do domingo, o feijão, a fava, a mandioca, a farinha, a panelada, o quiabo e o
“O sertanejo é apaixonado pela vida rústica e pela lida com o gado. É um personagem que cria uma identidade própria caracterizada pelo ambiente onde vive.
maxixe. O azeite extraído do pequi, mamona, buriti e babaçu são usados como temperos, cosméticos e remédios.O homem do sertão é provado pela própria natureza, retirando da terra o seu sustento com
RAMON CARDOSO
força e persistência. O professor de história do curso de Licenciatura em Ciências Humanas da UFMA, Salvador Tavares, diz que “o termo sertanejo remonta a história colonial portuguesa e faz referência a todas as Entradas posteriores no litoral. Então, o sertanejo originalmente significa aquele homem que se embrenha nos domínios ainda não conhecidos pelos colonizadores”, assegura. Tavares afirma ainda que “o sertanejo não estava necessariamente associado a um domínio climático ou vegetal como se associa hoje ao Nordeste ou ao nordestino. Dessa forma, nós temos sertanejos em todo o Brasil sendo que esse sertanismo é mais forte em alguns lugares como em Imperatriz”, conclui. O sertanejo passa por muitas adversidades desde o processo histórico de formação do seu ser. Para o professor de geografia, Alexandre Peixoto Nogueira, do curso de Licenciatura em Ciências Humanas da UFMA, “o sertanejo representa mais do que um morador de origem do sertão, de uma região geográfica, com suas características climáticas específicas. O sertanejo é sinônimo de trabalho e resistência”, arremata.
Herança cultural, hibridização e resistência são características presentes na cultura sertaneja.
Intercâmbio, uma atividade cada vez mais solicitada Viajar pelo mundo representa para muitos jovens realização pessoal e profissional, além de experiência de vida. GUILHERME MIRANDA
GESSIELA NASCIMENTO RUAN JEFFERSON
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iajar, estudar, conhecer pessoas e lugares, são alguns dos objetivos quando se tem em mente fazer um intercâmbio. Além de experimentar uma nova cultura, busca-se explorar histórias de pessoas que vivenciaram ou vivenciam esse momento. No Brasil, a procura por esse tipo de serviço tem aumentado. É o que afirma a pesquisa de 2017, realizada pela Associação das Agências de Intercâmbio – BELTA, que o número de brasileiros que optam por esse serviço tem aumentado, indo para 246.000 solicitações no último ano. Desde 2003, Canadá (53%) tem sido apontado como o principal destino. A pesquisa ainda aponta a Austrália, Nova Zelândia, Irlanda e Dubai como algumas das rotas. Esses Países tem conseguido construir uma imagem jovem e genial, atraindo assim, mais intercambistas. Para os estudantes de ensino superior que almejam um curso de extensão fora do País, existem alguns programas de bolsas como: Fórmula Santander, Ciências sem Fronteiras e Eramus Mundus, que em conjunto com a Instituição de origem, promovem o intercâmbio, contribuindo para a formação acadêmica e profissional. Foi o caso de Domingos Almeida, jornalista formado pela Universidade Federal do Maranhão. Na sua época de graduação, participou de um programa para bolsas de intercâmbio, a Fórmula Santander. “Foi uma colega, Idayane Ferreira, que viu um edital
A atividade do intercâmbio, cada vez mais presente no planejamento das pessoas, possibilita o contato com o exterior e novas perspectivas profissionais.
divulgado pela UFMA do Programa Santander Universidades. Em 2014, a UFMA oferecia 5 bolsas para o México, e como ela sabia que eu estudava espanhol, resolveu compartilhar comigo”. E destaca, “a princípio não fiquei muito empolgado, ela teve que insistir algumas vezes para eu ler o edital”. Após ter sido aprovado no programa, Almeida precisaria de alguns documentos, dentre eles o passaporte. Depois de todo processo, a viagem estava com data marcada, julho de 2014. Ainda que o intercâmbio tenha ocorrido bem, alguns imprevistos ocorreram, “não comprei pesos mexicanos no Brasil e, com medo de perder o voo na cidade do México com destino a Cancún, também não comprei. Cheguei a Cancún por volta de 1h da madrugada e as lojas de câmbio
do aeroporto estavam fechadas. A sorte é que consegui sacar pesos no cartão de crédito”, declarou. Quando questionado sobre sua vivencia no País, Almeida ressalta que os mexicanos são como os brasileiros, bem receptivos. E na sua temporada fora, pode produzir dois artigos, que atualmente estuda no mestrado. E aconselha, “aposte! Sonhe! Desafie sempre os seus limites. Aproveite as oportunidades que aparecerem. Arriscar um pouco vale a pena”. Atualmente, Almeida é mestrando em Integração Contemporânea da América Latina – ICAL da UNILA – Universidade Federal da Integração Latino-Americana. Consolidando um futuro - Segundo a Secretária Executiva das Relações Internacionais da UFMA, Suelen Dantas,
a parceria entre a Universidade e as Instituições Estrangeiras acontece de várias maneiras, “por intermédio dos professores da UFMA, alunos que já estão nas IE’s estrangeiras, renovação de convênio e/ou quando as Universidades Estrangeiras visitam ou enviam correspondências formais com desejo de permuta”. E continua, “temos grande procura pelas bolsas e, anualmente, as inscrições para seletivos de programas de bolsas aumentaram”. E quando não se é estudante de ensino superior, como conseguir um intercâmbio? Em Imperatriz, empresas como Kennedy Turismo e Flex Viagens, prestam o serviço. Segundo as agências, quem busca esse produto tem idade média de 16 a 25 anos. O curso de inglês intensivo é o mais solicitado, tendo Dublin e Toronto no Canadá como destino principal. Caso
não tenha passaporte ou visto, por exemplo, as agências auxiliam na obtenção dos mesmos. E quando se faz um pacote de intercâmbio em alguma agência, além do curso são inclusas algumas atividades, como visitas a parques, servindo de entretenimento. Com planejamento, organização e economia é possível realizar uma viagem ao exterior, sendo ela a passeio ou a estudos. Foi o caso do Técnico Judiciário, Marcelo Cardoso, que realizou um tour de 10 dias, viajando para Orlando com uma breve parada no Panamá. Mas, para que tal feito fosse realizado, Cardoso fez toda uma preparação, “foi minha primeira viagem internacional, economizei muito para conseguir. Fiquei de olho em site de promoção por muito tempo, guardei dinheiro para comprar dólares na época que ficasse mais barato”. Assim como Almeida, Cardoso não possuía passaporte, o mesmo foi emitido na Polícia Federal local. Já para o visto, “preferi contar com a ajuda de uma agência de turismo da cidade para ter mais agilidade”. Além de ser uma viagem turística, Cardoso aproveitou para praticar outros idiomas, “foi basicamente uma viagem de turismo por conta própria, mas como sou autodidata no aprendizado de línguas, também aproveitei para praticar inglês e espanhol”, declarou. Outra opção que contempla estudantes de ensino médio e superior é o Programa Cidadão do Mundo. Com iniciativa do Governo do Estado, o Programa está na sua 4ª edição e, visa promover o estágio internacional, ensino médio no exterior e intercâmbio linguístico, oferecendo 80 vagas, divididos entre os idiomas de inglês, espanhol e francês.
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ENTREVISTA Localização estratégica, novos empreendimentos e investidores criativos, contribuem para que Imperatriz tenha uma economia sólida e consiga driblar de modo fecundo as dificuldades da crise.
Crise: dinamismo econômico local é a saída LUCAS VALE MOREIRA ALINE CASTRO EUGÊNIA NASCIMENTO SARAH DANTAS
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mperatriz é um dos principais pólos econômicos da região Tocantina. Um fator determinante para a posição que a cidade ocupa é a sua privilegiada localização situada entre as regiões Norte e Nordeste. Além disso, a diversidade cultural presente na cidade afeta direta e positivamente a economia local, por sua heterogeneidade acarretada por pessoas de diversos lugares do País e do mundo. Para discutir acerca do assunto, a equipe do Arrocha conversou com o professor de Economia, Desenvolvimento econômico, Economia brasileira e Estatística da Faculdade de Educação Santa Teresinha (Fest), Ronilson Costa de Souza. Graduado em economia pela Faculdade de Imperatriz (Facimp), com mestrado em Desenvolvimento regional pelo Centro Universitário Alfa Alves Faria, ele frisa que a cidade tem grande potencial e é capaz de se reinventar economicamente. Quais os principais motivos que fazem os empreendedores investirem em Imperatriz? Imperatriz é um pólo regional que possui um mercado bastante diversificado atendendo toda a região, esse é o principal motivo pelo qual as pessoas procuram a cidade. Então a partir do momento que se estabelece um empreendimento em Imperatriz, não se está atendendo somente a população imperatrizense, e sim uma população bem maior, por várias pessoas virem de outras cidades e fazerem suas compras aqui, demandarem serviços diversos, como serviços médicos, odontológicos, de alimentação e comércio. Tudo isso faz com que Imperatriz seja vista como uma cidade que tenha potencial para muitos empreendimentos. Que características a localização de Imperatriz, entre Norte e Nordeste, traz para a economia local? Em que isso reflete economicamente? Imperatriz é um centro tanto comercial, quanto de serviços por ter fatores como a BR-010, como a ferrovia e por ter um rio. Tudo isso favorece para que Imperatriz seja esse centro, seja esse local estratégico onde a economia acaba sendo mais pungente. Qual o setor econômico que mais contribui para o PIB? Imperatriz está passando por uma transformação interessante. Tínhamos um setor de comércio muito forte que representava mais de 80% do PIB municipal, verifica-se que os setores de serviços, principalmente, nos últimos 20 anos tem crescido muito. As pessoas vêm buscar aqui desde assistência técnica, serviço odontológico, óticas, até escolas. Toda essa prestação de serviço acaba sendo um ponto interessante na cidade, serviços bancários e previdência social, fazem com que Imperatriz tenha hoje um setor de serviços forte. Só que uma nova perspectiva é o enquadramento de Imperatriz como uma cidade que tem uma indústria
Imperatriz se destaca como um centro comercial forte e que tem atraído uma diversidade de investimentos econômicos. O perfil empreendedor se dinamiza com os desafios.
sólida, representada pela empresa de Papel e Celulose que se instalou aqui e por outras que virão nessa cadeia do papel. Com isso vai haver uma mudança no cenário econômico no sentido de que o setor industrial vai ter uma maior representatividade percentual do PIB na cidade de Imperatriz. O setor industrial com o impacto dessa empresa vai avançar e teremos uma economia mais diversificada nos três principais setores, que é o comércio, indústria e serviço, todos eles vão ter um impacto grande no PIB de Imperatriz.
“O momento de crise é um período de surgir novos empreendedores, novos negócios que vão também impulsionar e vão reverter essa situação. A tendência é surgir novos meios de fazer aquilo que já se fazia.” Quais são os produtos considerados a “cara” da região, economicamente falando? Na verdade a gente tem a panelada como a cara de Imperatriz, no sentido de que ao se falar de Imperatriz a pessoa vai lembrar de panelada, temos outros produtos porém eles não representam tanto a cidade como a panelada. Considerando a atual situação econômica do País, em que aspectos Imperatriz pode ser afetada? Imperatriz sofre os impactos como todos os municípios do País. Hoje as prefeituras dependem muito de
repasses do Governo Federal e da União, todas elas têm uma redução hoje de receita e de repasses, dessa forma terão que se readequar no sentido de cortar muitas vezes gastos para poderem equilibrar essa situação financeira, isso no setor público. Já no setor privado, verifica-se que é um momento interessante, pois o momento de crise é um período de surgir novos empreendedores, novos negócios que vão também impulsionar e vão reverter essa situação. A tendência é surgir novos meios de fazer aquilo que já se fazia. Essa readequação do setor público afeta mais alguma classe social? Qual? Eu não vejo aqui uma classe sendo mais impactada que outra. Na verdade, em termo de Brasil, teve uma expansão da classe média nos últimos 10, 15 anos, um percentual significativo das pessoas saíram da classe pobre e ascenderam para classe média. Hoje, eu vejo que uma das classes que mais sofre é a média que ascendeu e não está conseguindo se manter, devido a recessão do país e devido a classificação da faixa de renda. Eu atribuo a classe média que nesse momento está sendo muito impactada pela economia do País, pelas ações que estão sendo tomadas pelo governo. Você afirmou que Imperatriz não sofre tanto com a recessão quanto outras cidades do País, a que se deve esse fato? Se deve principalmente por Imperatriz ser uma cidade muito dinâmica. Têm muitas cidades do Maranhão que estão sofrendo muito porque elas não têm um setor de serviços forte; não têm empresas, um percentual significativo das pessoas só dependem de repasses da prefeitura, então se uma cidade dessa atrasa salário, praticamente a economia da
cidade para, o que não é a realidade de Imperatriz. A diversificação da economia imperatrizense faz com que ela sofra menos impactos que outros municípios que tem uma situação diferente. Em relação a crise, como o empreendedor imperatrizense tem encontrado alternativas para se sobressair no mercado? É interessante que até o perfil do empreendedor imperatrizense mudou, antigamente tinha pessoas que abriam negócios e não sabiam de nada- como um padeiro que sabia
“A diversificação da economia imperatrizense faz com que ela sofra menos impactos que outros municípios que tem uma situação diferente.”
fazer pão, mas não sabia como era o mercado, como por exemplo, a cotação do dólar iria influenciar no preço do pão. Verifica-se que os novos empreendedores já têm um pouquinho mais de conhecimento do que há cinco ou dez anos, eles já pesquisam um pouco mais. Em Imperatriz tem muitas empresas com características inovadoras, no sentido de layout, de estrutura, de atendimento e de serviços. Você pode pedir uma pizza; um moto táxi; acompanhar o horário que o ônibus vai chegar na parada e quanto tempo o ônibus vai ter, tudo pelo aplicativo no celular. Tudo isso não se via há cinco anos.
Imperatriz está mudando nesse sentido de ter novas tecnologias e novas ferramentas. Os empreendedores também estão atentos a isso, se você for a qualquer lojinha hoje eles já utilizam a rede social, como Instagram, Facebook, WhatsApp, para alavancar suas vendas. Quais as potencialidades da região? Tanto Imperatriz como região tem potencialidade gigantesca, temos uma cadeia do leite bem formada, um setor de construção civil muito sólido. Imperatriz cada vez mais se torna pólo educacional, um pólo universitário. A quantidade de cursos e opções que tem na cidade é muito grande, hoje já temos fisioterapia, enfermagem, psicologia, várias engenharias. Tudo isso não tínhamos há pouco tempo, Imperatriz e região tem essa potencialidade grande em meio a esses setores. Se tratando de novos ramos de negócios, a economia colaborativa é uma das formas em que o empreendedor visa facilidades e menos gastos. Qual o seu ponto de vista e a perspectiva dessa nova atividade em Imperatriz? É interessante que hoje já se tenha uma empresa especificamente no ramo da economia colaborativa e observa-se o grande potencial de expansão que ela traz. Porque esse potencial de expansão? Por que cada vez mais há um desafio para as empresas reduzirem os custos, uma alternativa é não ter um local próprio, mas conseguir ratear os custos com outras pessoas de segmentos parecidos ou mesmo segmentos diferentes. A economia colaborativa chegou em Imperatriz, é uma tendência de Brasil como é uma tendência mundial que visa justamente reduzir os custos mantendo o padrão de qualidade.
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PERFIL PROFISSIONAL
O concorrido mercado profissional imperatrizense exige formação continuada, aperfeiçoamento e aprimoramento para quem quer alcançar uma carreira de sucesso.
Exigências profissionais em novos tempos KARLA SILVA NEROILTON NASCIMENTO.
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ntrar no Mercado de Trabalho sempre foi motivo de muitas tensões para futuros candidatos, sobretudo em tempos de crise econômica. As vagas de emprego são poucas e há um grande quantitativo de recém-formados disputando as oportunidades com os desempregados, e ainda uma demanda disponível de vagas para especialistas sem pessoas qualificadas para ocupá-las. Imperatriz, cidade da Região Tocantina que tem os mesmos sintomas das demais regiões brasileiras, encara desafios semelhantes quanto a geração de empregos. “O mercado de trabalho em Imperatriz tem a cara do Brasil em quase todos os aspectos. E um deles consiste no fato de que a demanda de emprego é menor que a oferta, entretanto esta mesma pequena demanda infelizmente não é atendida pela pouca qualificação da mão de obra e principalmente pela incompetência comportamental dos profissionais”, esclarece a coach Ana Paula, que atua em processos de seleção de candidatos nas empresas de Imperatriz e Brasília. Preparo e diversificação na capacitação são uma das principais barreiras de acesso às vagas de emprego nesta região. Muitos aspirantes as vagas de emprego, não possuem experiência profissional. É o que conta a graduada em Ciências Contábeis, Valéria Lima.
“O que eu encontrei de mais difícil foi a questão de layout, formas de fazer os lançamentos. Tudo foi um pouco mais complexo do que no estágio que eu fiz na faculdade, mas eu estou sim satisfeita, superando as minhas expectativas no quesito do que eu imaginava que a contabilidade era. É mais linda, muito mais complexa, muito mais rica em conhecimento de informações do que eu imaginava”, declara a contabilista. Já Brenda M. Vasconcelos Silva, Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, aposta na experiências adquiridas no cotidiano da profissão. “Apesar de ter trabalhado durante a graduação, de ter sido uma aluna competente do começo ao fim da faculdade, não me senti preparada para o mercado de trabalho. Acredito que a experiência adquirida durante os trabalhos que forem surgindo e os cursos referentes a minha formação acadêmica, servirão para minha preparação como profissional”, afirma a arquiteta. A nova geração de profissionais Imperatrizenses está entendendo que só um diploma não é suficiente para as expectativas das empresas. E esta nova mentalidade tem dado uma abertura para novos cursos técnicos ofertados por instituições públicas e privadas. Instituições de nível superior estão atentando para uma demanda de graduados a procura de especializações e pós-graduação tanto a nível presencial, como a distância. Para acompanhar a mentalidade,
instituições privadas de ensino superior, estão atentando para esta região e migrando suas estruturas físicas e docentes para Imperatriz. Não muito tempo, as famílias em Imperatriz enviavam para outras cidades e estados seus filhos, por não haver oportunidade de fazer determinados cursos na cidade. Agora, com a expansão de novos cursos, como o de medicina da UFMA, o efeito tem sido inverso, pessoas de outras regiões e estados brasileiros é que vem à cidade a procura de oportunidades pelas vagas do SISU. Se a variedade de cursos tem au-
O mercado de trabalho em Imperatriz tem a cara do Brasil em quase todos os aspectos
mentado, com ela o estímulo às empresas por abertura de vagas de estágio também. É assim que muitos discentes tem superado o medo da atuação. Foi assim que teve início a carreira profissional de Lanna Luiza, repórter de uma emissora de televisão local. “Eu estagiei na produção de reportagem, eu acho que todo repórter tem que passar por esse processo de
O cenário do grafite em Imperatriz ARIEL ROCHA
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o desenrolar das horas, o desenho na parede vai ganhando formas geométricas nítidas e cores vivas. O responsável por ele recebe a ajuda de mais dois amigos que dão opiniões e retoques acerca de seu trabalho, porém todos ali deixam claro: nada é determinado, a ação apenas flui à medida que ideias vão surgindo. “No meu ponto de vista, a maioria das pessoas acham legal, é uma coisa que envolve arte e é bem chamativo”. Afirma o tatuador Junior Moura, o “Rasta”, 30 anos, em relação ao trabalho de grafiteiro. Essa forma de expressão artística urbana, que consiste em realizar desenhos em espaços onde é possível, pode retratar os mais variados temas da sociedade e não possui padrões estéticos definidos. Porém, até 2011, o grafite era crime no Brasil, status esse mudado por meio da Lei nº 12.408. Antes da alteração, o grafite era posto no mesmo contexto da pichação, comparação que até hoje existe, sendo o último o ato de apenas escrever em muros, prédios, monumentos e entre outros lugares. “Algumas pessoas acham o grafite banal, que é algum tipo de vandalismo e não é isso, tem todo um processo, toda uma cultura por trás disso, não é uma coisa que vem por con-
ta do fazer sem nenhum sentido”. Reforça Junior. O grafite possui o poder de suavizar o ambiente urbano e até mesmo é utilizado para “tapar” pichações. Encontrada em lugares específicos como a pista de skate da Praça Mané Garrincha em frente ao Estádio Frei Epifânio D’Abadia e nos muros do Campus Centro da Universidade Federal do Maranhão, a produção dessa arte em Imperatriz ainda é tímida. Fato esse que Junior atribui a fraca manifestação do Hip Hop na cidade, já que o grafite de rua está fortemente ligado a essa cultura. Segundo o sociólogo Jesus Marmanillo, a cidade deveria expressar o que o homem, a sociedade e a cultura são, porém nem todos os âmbitos sociais conseguem praticar esse ato. “Dentro dos grupos urbanos, a grafitagem exerce a relação de territorialidade na cidade, por exemplo, o pessoal do skate da praça Mané Garrincha está ali ocupando aquele espaço e se você vai lá, consegue associá-lo diretamente a presença daquele grupo”. Afirma o sociólogo. Para o skatista e estudante de Direito da UFMA, Henrique Oliveira, 21 anos, os desenhos feitos nesses espaços não são depreciativos e conseguem tirar a monotonia visual com um tom até mesmo de protesto. Além de ser o sinal da existência de pessoas que se importam com aqueles locais e com isso desejam modificá-los com a arte, ele acredita que esse tipo de
intervenção artística deveria ocorrer com mais frequência pela cidade. Negócio – O grafite é um hobbie prazeroso e não um emprego, declara Ruben Augusto, o “Rubão”, que já realizou esse tipo de arte em empresas privadas. Segundo o pintor profissional, é impossível se sustentar fazendo apenas grafite na cidade, além de não haver incentivo do município para esse tipo de artista, os interessados no serviço de grafitagem não o valorizam. “As pessoas não querem pagar o valor que vale, eu cobro é pelo trabalho que vou ter, o tempo que vou gastar, no gasto em me deslocar todo dia para realizar o serviço, penso em tudo isso”. Afirma Ruben, que também realizou intervenções em praças e nos muros da UFMA Centro. Em contrapartida, Rafael Silva, 25 anos, trouxe o grafite para o seu trabalho de customizações dos mais variados itens. Quando vivia em São Paulo há cinco anos atrás, praticava com mais frequência intervenções urbanas na metrópole, porém não vê em Imperatriz um cenário propenso para isso. “Sinto falta de grafitar na rua, mas hoje em dia é difícil, até pelo lado de condição financeira, pois é caro manter tinta e é decepcionante a falta de valorização por parte da população”, conclui Rafael Silva.
produção, de imaginar, de idealizar uma reportagem antes mesmo de ir pra uma externa, por que você lida com desafios, você já se coloca no lugar do repórter, então o fato de eu ter passado um tempo estagiando na produção da TV foi extremamente necessário, para esse processo que agora eu vivo de enfrentar os obstáculos no dia a dia de ser repórter”, aconselha ela. Exemplos de sucesso profissional não nascem do acaso. Os sonhos que se tornam realidade no mercado de trabalho se alimentam de convicções e perseverança desde o processo de decisão sobre o curso escolhido. Alguns psicólogos acreditam na relevância do teste vocacional para chegar a decisão do caminho profissional que se almeja seguir. “Existe um grupo de jovens que já tem muito claras suas aspirações vocacionais, e por isso não procuram nenhum tipo de auxílio vocacional, mas após ingressarem em uma faculdade, se sentem frustrados. Sendo assim, teste vocacional serve para todas as pessoas”, ratifica a psicóloga Kelyenne Gomes. Os cuidados na escolha profissional certamente pavimentam o caminho deste mercado. Não se trata de fazer qualquer formação em busca de preenchimento curricular, sem observar e se enquadrar nas exigências das empresas. “As empresas de Imperatriz, Brasil e mundo, buscam profissionais com um perfil que envolva não apenas um título acadêmico, técnico ou
mesmo que com alguma experiência profissional. Ter o perfil profissional que o mercado busca, consiste em ter atitudes comprometidas com os resultados das organizações, e com sua própria carreira”, complementa Ana Paula. Até aqui, foram levadas em conta as atribuições voltadas para os profissionais. Vale considerar algumas exceções, como por exemplo as áreas de Engenharia Civil e Arquitetura, onde os graduados encaram uma segunda disputa, mediante a abertura do mercado de trabalho para pessoas leigas ou de conhecimento superficial. É o que afirma Brenda M. Vasconcelos Silva, recém-formada em arquitetura. “Outra dificuldade está na falta de informação das pessoas que deixam de contratar os serviços de quem é realmente habilitado para projetar os espaços, e buscam apenas os profissionais que executam, para fazer da forma mais “barata” (que quase sempre sai mais cara), lamenta a arquiteta. Percorrer com atenção cada detalhe, garantirá maior abertura para o sucesso profissional, que não consiste em simplesmente ocupar uma vaga. “Ouse empreender os seus sonhos, demore o tempo que for necessário para saber o que você quer, mas quando souber, mantenha o foco e o mundo tentará te dissuadir. Pratique a gratidão e tenha-se cobiçado pelo mercado de trabalho”, orienta a coach Ana Paula.
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O que caracteriza a Região Tocantina?
“A região Tocantina é um lugar rico porque possui uma Natureza quase intocável, com rios caudalosos e árvores frutíferas. E as pessoas que por essa parte vivem são alegres e solícitas.”
Mariana Vieira da Silva, caixa de supermercado
“O comércio tanto o varejista como atacadista é forte, aqui pode -se observar que muitas pessoas das cidades e estados vizinhos vem comprar aqui, há uma grande variedades de produtos que atrai as pessoas, aquecendo assim a economia da cidade”.
Carla Caroline Araújo Farias, pedagoga
“A extensão territorial do rio Tocantins que proporciona uma grande vantagem para o comércio da cidade, onde as pessoas de Tocantins e Pará vem para a cidade comprar suas mercadorias”.
Luíza Ariadna do Nascimento, professora
“A culinária é uma característica interessante, pois tem um misto de sabores do Pará, Tocantins e até Goiás e isso é o que marca para mim”.
Lícia Almeida, estudante