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DEZEMBRO DE 2019. ANO X. NÚMERO 40

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA

Arrocha

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ

Imperatriz que eu quero LEIA TAMBÉM:

Política pede mais ações coletivas

Página 3

Educação para enfrentar preconceitos Página 11

Campo aberto de possibilidades culturais Página 14

FOTO DA CAPA: WALISON PEREIRA


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Editorial: Foco no futuro

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Jornal Arrocha chega à sua 40ª edição em quase dez anos de existência tendo mantido, em todos os seus números, a preocupação de interpretar as problemáticas de Imperatriz com um olhar mais contextualizado, sempre com temas fixos, desdobrados em várias reportagens. Nesta última edição de 2019, a intenção dos acadêmicos de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, responsáveis pelo jornal, é apontar tendências, soluções, receitas para um futuro mais promissor da cidade, levando em conta múltiplos aspectos. Foi a forma encontrada pela equipe de retomar grandes temas que já foram pautados pelo jornal ao longo dos anos, mas dessa vez com um caráter propositivo, apontando caminhos para o município. Para preparar a edição temática “Imperatriz que eu quero” @s repórteres foram a campo com a missão de ouvir especialistas, pessoas comuns e gestores a respeito de uma série de soluções possíveis nas áreas de política, economia,

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Charge

RAYSSA SILVA E CARLA GUERRERO

comércio, tecnologia, trânsito, cultura, infraestrutura, meio ambiente, combate às várias formas de intolerância, esportes, educação, saúde e segurança. Em todas as páginas o leitor vai encontrar tanto um panorama da situação em que se encontram essas áreas atualmente em Imperatriz quanto, em paralelo, um mosaico de propostas apontadas por personagens que vivenciam ou entendem do assunto específico. Conferindo o índice desta página já dá para sentir alguns rumos possíveis. Entre todos os entrevistados, a opinião mais comum, independente da área ou problemática analisada, foi a de que é preciso que os vários setores sociais da cidade passem por um amplo processo de conscientização e autoanálise, buscando compreender como Imperatriz seguiu até aqui e tentando chegar a soluções democráticas, conjuntas, criativas para o desenvolvimento da região. Com o seu olhar voltado para os grandes temas do município, o jornal Arrocha soma-se com prazer a esse importante debate.

Propostas para Imperatriz Expediente Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade. Jornal Arrocha. Ano X. Número 40. Dezembro de 2019. Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Daniel Duarte | Coordenador do Curso de Jornalismo - Prof. MSc. Carlos Alberto Claudino. Professores: Dr. Alexandre Maciel e Dra. Roseane Pinheiro (Jornalismo Impresso); Dr. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual); Dr. Marcus Tulio Borowiski Lavarda (Fotojornalismo).

Repórteres e fotógrafos: Anna Luiza Barros Lima Silva Brenda Delmira Sousa de Andrade Carla Pereira Justino Carlos Antônio Trovoada Costa Eula Rebeca Silva Lima Francisca Nathalie da Costa Pereira João Pedro Brito da Cruz Kananda Araújo Félix Lícia Gomes Alves Feitosa Luana Araújo Silva Naum Santos Gomes Rayssa de Sousa da Silva Thays Gabrielle Cosse de Abreu Wanderson Rodrigues de Souza

Programação Visual: Alayres Cunha de Souza Aline Leite dos Santos Ana Beatriz Santos Ibiapino André Ribeiro Lima Andréia Cabral Nascimento Brenda da Silva Lima Edinei da Silva Nascimento Elda Carvalho de Melo Felipe da Silva Sousa Francisco Igor dos Santos Aguiar Gislene Reis da Silva

Iara Kamila Alencar Leal Izabella Sousa Nascimento João Victor dos Santos Silva José Antonio Rosa Filho Juliana Santana da Silva Keliane Costa da Conceicão Larissa Pereira da Silva Lorena Marques Guimarães Loudeglan Alves Lima Luan da Silva Sousa Maira de Jesus Soares Michaell Silva de Sousa Monik Hevely Lopes Nogueira Oziel Santos da Silva Paula Lorrana Cardoso Pacheco Pedro Henrique Oliveira Sousa Renatta Karla Fabricante Silva Rodrigo Victor da Silva Cruz Soraya dos Santos Leite Valéria Rosa de Sousa Vanderlene Pereira Araújo

Fotógrafos (Ensaios e capa): Amanda Reis da Silva Inghrid Keith Christinni Borges da Silva Jéssica Sousa dos Santos Matheus Campos Sousa Vitória Castro Andrade Walison Pereira da Silva

Revisora: Janaina Amorim

Estagiário: Bruno Silva dos Santos

Todas as edições do Arrocha estão disponíveis no site: www.imperatriznoticias.ufma.br

P. 3

Política - “Não existe movimento por sujeito, ele só acontece na ação coletiva”

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Infraestrutura - “Universidades e poder público alinhados para propor melhorias”

P. 5

Trânsito - “Fortalecer os sistemas de integração de ônibus, ligando os terminais com os bairros”

P. 6

Emprego - “A capacitação profissional é necessária o tempo inteiro”

P. 7

Tecnologia - “Tendência é diminuir o preço e aumentar a velocidade da internet”

P. 8

Ensaio Fotográfico I

P. 9

Entrevista - “Temos que fazer um mutirão grande em vários aspectos”

P. 10

Segurança - “Não julgar, mas ter empatia e dar apoio às mulheres vítimas de violência”

P. 11

Comportamento - “Entender que a diferença de etnias e sexual é comum e precisa ser respeitada”

P. 12

Esportes - “Nós precisamos de patrocínio”

P. 13

Saúde - “O SUS do amanhã deveria se voltar para a atenção básica”

P. 14

Cultura - “Nós somos uma cidade multicultural, diversa”

P. 15

Comércio - “É preciso investir no melhor atendimento aos clientes”

P. 16

Meio Ambiente - “O verde traz benefícios para o psicológico do ser humano”

P. 17

Educação - “Resgatar e ressignificar a condição da escola pública”

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Ensaio Fotográfico II


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POLÍTICA Protestar na internet é tendência entre os jovens nas redes sociais, porém, segundo especialistas, apresenta poucos resultados fora do mundo virtual. Ação coletiva é uma das soluções

Militância deve ir além da tela do celular EULA REBECA EULA REBECA

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e você é um usuário efetivo de plataformas de redes sociais, provavelmente em algum momento do seu dia viu alguém “cancelando” outra pessoa, seja artistas, gente influente ou até aquele grande amigo, por alguma divergência política. Porém, apesar da internet ser, sim, considerada como uma ferramenta de mobilização social e política, estudiosos da área apontam que para haver um real avanço na mobilização dos movimentos sociais, é preciso sair da bolha digital. “Há uma dispersão dos jovens na questão de uma consciência política e de luta. Se prender às redes sociais é uma forma burguesa de fragilizar as forças sociais”, é o que declara o professor de história, com mestrado em Ciências Políticas, Siney Ferraz. A pesquisa do Movimento Todos Pela Educação chamada “Repensar o Ensino Médio”, aponta que 43% dos adolescentes em idade para estar nessa fase de ensino, participaram, em 2018, de algum movimento social, como manifestação pública, abaixo-assinado, greve, debates, atividades em grupos religiosos ou voluntariado. Além disso, apenas uma parcela de 8% se mostra ainda mais engajada e atua em pelo menos três dessas iniciativas. Porém, costumam ser participações superficiais e sem um engajamento constante, o que é percebido pelos jovens que integram movimentos, como, por exemplo, o estudante de pedagogia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Osiel Mota, um dos quatro jovens efetivamente participantes do Centro de Cultura Negra Negro Cosme, de Imperatriz. “Eu acho que muitos jovens militam na internet, mas não têm um conhecimento aprofundado daquilo que eles estão falando nas redes. Eles dizem que são a favor do nosso movimento, mas não procuram se aprofundar numa

Especialistas explicam que a sociedade contemporânea supervaloriza a ação individual, o que é potencializado pelo apego às redes virtuais e gera um movimento de autodefinição que desagrega

estrutura sólida e que vá além da internet”. Mas esses fatores podem ser entendidos a partir de um olhar para a sociedade como um todo, que supervaloriza a ação individual, conforme explica o professor de sociologia e pesquisador de movimentos sociais, Jesus Marmanillo. “Você vai na internet e no perfil de fulano diz: ‘Eu sou feminista’. O outro se diz na luta pelos sem-terra, eles se autodefinem”. Para o professor, esse é um aspecto que caracteriza o contrário da essência desses movimentos. “Essa autodefinição não tem que ser dada pelo individuo, ela tem que ser construída pelo coletivo. Mas esse é o aspecto doente da nossa sociedade, que valoriza o eu. Não existe movimento por sujeito, ele só acontece na ação coletiva”, frisa o professor.

Educação para lutar - “A gente precisa trazer essa pauta pra dentro das salas de aula. Mas, precisamos também tirar os alunos dos muros da universidade e levarmos até esses povos”. É com esse clamor com mistura de

“A gente precisa trazer essa pauta para dentro das salas de aula. Mas, precisamos também tirar os alunos dos muros da universidade e levá-los até esses povos” desabafo que a líder do Quilombo da Ilha de São Vicente, no município de Araguatins-TO, Fátima Barros, concluiu a sua fala na Semana do Novembro Negro, evento promovido pela Universidade Estadual do Sul do Maranhão (Uemasul).

Novos líderes? Associações podem ser escolas políticas para jovens nos bairros EULA REBECA

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presença da juventude no cenário político é essencial para o crescimento de uma cidade, principalmente por trazer à luz novos pontos de vista. As associações de moradores podem ser uma dessas formas de inserção nesse universo, mas líderes dessas entidades em Imperatriz queixam-se do pouco interesse dos jovens para militar nesta área. O presidente da Associação dos Moradores do Jardim América, Carlos Silva, explica que os jovens são essenciais para as reivindicações realizadas pela comunidade. “Eles são prioridade e exercem influência aqui dentro. São estudantes, são fortes e contribuem para o sucesso do trabalho realizado”, defende o comerciante.

Entretanto, apesar de escola para o início de uma carreira política, o presidente da União das Associações de Imperatriz, Wilson Silva afirma que não há a presença de nenhum líder jovem na cidade. “Ainda não vi nenhum presidente jovem de associação de bairro. Até nas reuniões é difícil de aparecerem e não é por falta de convite. A gente convida até para participarem da diretoria, mas eles não aceitam.” Para o presidente, esse fato é consequência do comportamento da atual geração, que se prende muito ao mundo digital e acaba deixando de lado a prioridade do coletivo. “O que eles querem mesmo é um bom celular e uma internet boa.” Na opinião dos líderes dessas associações, a falta de participação dos jovens nos movimentos sociais e na atuação

mais direta, é prejudicial, não só para as aquelas entidades em si, mas também para eles próprios. “Os jovens são o futuro da cidade, e eles tem que o construir”, conclui o presidente Wilson Silva. Em maio de 2016, as associações receberam título de utilidade pública, concedido pela Secretaria Municipal de Regularização Fundiária Urbana (SERF), a fim de reconhecer o associativismo nas comunidades. Segundo Antônio Marcos, lavrador e líder da associação da Vila Davi II, a união nos bairros representa um avanço para Imperatriz, principalmente no que diz respeito à participação política. Portanto, seria fundamental uma maior presença dessa nova geração. “Eles são importantes para a construção de uma nova alternativa para o futuro”, acredita Antônio Marcos.

Para quem está na militância, as universidades são vistas como nascente para a formação de uma juventude mais interessada em fazer com que a luta das minorias no país possa ser ouvida, além de estabelecer uma relação mais estreita entre os dois lados. “Uma maneira de mudar essa situação seria que os jovens tivessem inserção nesses espaços, para ter o ponto de vista de quem está lá”, propõe o professor Jesus Marmanillo. Ele também defende que os movimentos sociais seriam mais bem-sucedidos e conseguiriam resultados mais promissores para o futuro, com uma melhor rede de organização dentro das instituições. “Se nós tivéssemos, por exemplo, universidades com estrutura, que tivessem grêmios estudantis atuantes, que são escolas políticas, com certeza o cenário melhoraria”.

Falar para quem precisa ouvir - Outra alternativa seria melhorar o contato entre os integrantes desses grupos e a comunidade que está fora. O professor Siney Ferraz aponta que as universidades deveriam criar produtos de comunicação comprometidos com as lutas políticas e sociais. “Nós temos todos os veículos da cidade atrelados a esses processos balanceados dentro dos interesses de uma elite política”. Já Amanda Sousa, participante do Centro de Cultura Negra, diz que as informações de como participar e os projetos tem que estar nas redes sociais, para uma conversa direta com a sociedade. “Nós precisamos de jovens. Deveria haver mais divulgação nas redes sociais. Eu mesma não ouvia falar de CNN e eu moro aqui desde 2014 e só vim a saber em 2018”, revela a estudante.

ACERVO PESSOAL

Membros de associação, em reunião com o prefeito Assis Ramos, discutem melhorias para o bairro


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QUESTÕES URBANAS Falta de um planejamento urbano eficaz e de estudos adequados dos aspectos infraestruturais, aliada ao déficit em seguir as diretrizes do Plano Diretor de Imperatriz, agrava e gera problemas na cidade

População sofre com infraestrutura ruim JOÃO PEDRO BRITO JOÃO PEDRO BRITO

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pesar do Plano Diretor de Imperatriz ter sido elaborado em 2004 e já estar em vigor desde 2018, a cidade ainda sofre com sérios problemas de infraestrutura no que diz respeito, por exemplo, à drenagem urbana, saneamento básico e mobilidade. Para a coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Maranhão (Ceuma), Marina Rafaela de Carvalho Sousa Bezerra, uma das formas de dar início à resolução desses problemas seria estabelecer um trabalho conjunto entre prefeitura, universidades e faculdades. “Poderiam ser feitas, primeiro, algumas consultorias e parcerias. Nós temos profissionais na prefeitura e nas universidades que estão trabalhando com seus próprios alunos”, pontua. Essa colaboração mútua traria um leque maior de ideias, o que potencializaria ainda mais os resultados, segundo frisa a professora. “Eu acho que seria uma oportunidade da academia se alinhar com o poder público municipal para tentar pensar em estratégias de melhorias”. Assim como na mobilidade urbana, o problema da acessibilidade, mais especificamente o de padronização das calçadas, também deve ser resolvido em conjunto, como sugere o professor e coordenador do curso de Engenharia Civil do Ceuma, Alberto Belotti Colombo, 35 anos. “Se você tem um plano de repavimentar ou reestruturar as vias, nós também temos problemas de calçada. E, em algum momento, você vai ter que abordar isso”. Chuvas - Na opinião do professor Alberto Belotti, o crescimento desordenado da cidade e o escasso uso do planejamento urbano agravam e criam mais falhas. “Você percebe claramente que, mesmo que tenha um planejamento urbano, ele nunca foi colocado em prática efetivamente. Então você tem um problema gravíssimo de drenagem, por exemplo”. Essas questões foram sentidas de maneira mais forte com a chegada do período chuvoso, durante os meses de janeiro a abril deste ano, o que gerou alagamentos em diversos pontos da cidade, deixando muitos moradores desabrigados e causando danos materiais. “Em tempo de chuvas, alaga tudo. Ano passado teve uma enchente, mas se tivesse feito um projeto para onde a água escorrer, teria ajudado mais”, acredita Jonilson Alves Oliveira, 25 anos, motorista e morador de um dos bairros atingidos pela calamidade. Sobre as questões relacionadas ao saneamento básico e à drenagem, o professor Alberto Belotti sugere que a melhor forma de resolvê-las seria por meio de um planejamento que levasse em conta os vários pontos interligados. “Infraestrutura você não consegue abordar de maneira isolada. Principalmente drenagem, porque para executar é preciso abrir, cavar. Então o ideal é que seja tudo

Problemas de drenagem, asfalto e mobilidade são os mais comuns nas ruas do Centro e dos bairros de Imperatriz. Especialistas recomendam planejamento integrado para gerar soluções mais viáveis

em conjunto”, defende Belotti. Segundo o engenheiro civil, a construção da cidade perto, ou sobre rios e córregos e a falta do planejamento infraestrutural são motivos que causam e agravam as enchentes. Desta forma, em sua opinião, é preciso estudar os aspectos hídricos e as características climáticas da região antes de elaborar projetos mais eficazes para o combate ao problema. “E quando um bairro novo for aberto, isso tudo já precisa estar feito. Hoje em dia o que se faz é: se eu concerto aqui, jogo o problema ali”, comenta. Ter um plano

e segui-lo corretamente, tanto reduz as chances de novas calamidades, quanto é uma maneira de saná-las. “Acho que primeiro é preciso ter um planejamento e, para planejar, é necessário saber onde você está. Para isso é preciso um levantamento. Tendo o levantamento, você pode ter o projeto. E, a partir dele, você vai quantificar. Quando quantificado, você consegue licitar e seguir em frente”, idealiza. Mobilidade - A falta de planejamento urbano resultou em vias que não comportam a demanda de mobiJOÃO PEDRO BRITO

Para Alberto Belloti, estudos mais completos são pilares para a melhora na infraestrutura

lidade da cidade, outro problema grave de infraestrutura. “Imperatriz, pelo aumento populacional, teve um crescimento desordenado e, com isso, surgiram vários problemas na infraestrutura, principalmente nas vias. Então, hoje contamos com vias que não têm um planejamento urbano”, analisa o secretário municipal de Infraestrutura, Zigomar Costa Avelino Filho, 43. Assim, a população enfrenta situações como o trânsito mais

"Você percebe claramente que mesmo que tenha um planejamento urbano ele nunca foi colocado em prática efetivamente" lento em horários de pico e a qualidade precária das ruas. “Nós temos muitas dificuldades nos bairros. No Centro é bom, mas pode melhorar em saneamento básico. E nas ruas é preciso colocar asfalto”, recomenda Jonilson Alves. Alem dos problemas nas vias, as dificuldades de acessibilidade também entram na lista do que precisa ser aperfeiçoado. “Fizemos recentemente com os alunos um levantamento no Centro Comercial e identificamos problemas de mobilidade e acessibilidade. Eles se espalham tanto pelo transporte coletivo, que a gente considera não tão eficiente, como na padronização de calçadas, que não existe, de um modo geral. Nas áreas periféricas, também não tem calçamento”, denuncia a coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo do Ceuma, Marina Carvalho.

O que é Plano Diretor? JOÃO PEDRO BRITO

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Plano Diretor é uma lei municipal contendo regras específicas para o desenvolvimento geral da cidade. Ele intervém no cumprimento de exigências de cidadãos, empresas e poder público municipal, bem como na restrição de uso dos terrenos e imóveis, incentivos tributários para novas empresas, responsabilização da prefeitura nos investimentos e intervenções na infraestrutura das áreas urbanas. Por operar em diversos aspectos, o plano permite uma organização mais homogênea no processo de desenvolvimento de um município. O Ministério das Cidades publicou um guia que serve de base na criação do Plano Diretor. O manual estabelece que haja um núcleo de gestão participativo, com diferentes lideranças do meio social, incluindo o governo, empresas, sindicatos e movimentos sociais. É feito, então, um levantamento da cidade tanto em aspectos técnicos quanto comunitários. Em seguida, elaborase um rascunho da lei municipal e, vencida esta etapa, o Plano Diretor passa por um período de revisão, que pode durar até 10 anos. Por fim, acontece a validação, mediante votação na Câmara Municipal. É importante saber que durante a formulação do Plano é necessário estabelecer um equilíbrio entre os aspectos políticos e técnicos. Outro ponto é que, por se tratar de um projeto democrático, a participação dos moradores é essencial, o que obriga a realização de audiências públicas abertas para coletar opiniões e sugestões dos habitantes. Quando passa a vigorar, é possível controlar a transformação de uma cidade como Imperatriz, com mais integração social e sustentabilidade, afetando índices como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e prevenindo a ampliação urbana desestruturada.


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TRANSPORTE Imperatriz conta atualmente com mais de 150 mil veículos motorizados. Especialistas afirmam que a previsão é que esse numero aumente, causando possíveis transtornos a longo prazo RAYSSA SILVA

Falta projeção para o trânsito da cidade

Trânsito travado, às 12 horas, no cruzamento das ruas Piauí com Antonio de Miranda. Procurar formas da população morar em áreas mais centrais e a criação de novos terminais de ônibus seriam maneiras de minimizar o problema RAYSSA SILVA

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mperatriz tem cerca de 152.881 veículos, sendo 45.384 automóveis e 56.101 motocicletas, circulando na área central e em mais de 130 bairros, distritos e povoados, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2018. O engenheiro civil, mestre em transporte e professor adjunto da Ceuma, Ivo Almeida Costa, diz que “aparentemente, hoje, a cidade tem um bom deslocamento”, mas percebe uma crescente expansão geográfica. Ele destaca que neste processo, há uma tendência de surgirem novas ruas e avenidas, o que implica em uma quantidade de transportes circulando também maior e pode significar um problema futuro para o trânsito regional.

“Hoje a condição de ter um carro é muito acessível. Por isso, quando você pega, por exemplo, o Gran Village 1 e 2 e verifica a quantidade de garagens que tem lá, você leva um susto. E aí pega a faixa de hora que as pessoas geralmente saem para ir ao trabalho, que é das 6h30 até as 8h30, não conseguimos medir a vazão desse povo saindo. O primeiro impacto é ter congestionamento dentro do condomínio e isso pode refletir na cidade”, avalia Ivo Almeida. Para melhorar essa logística, o especialista recomenda um planejamento para o futuro, já que no Plano Diretor de Imperatriz não há uma projeção de desenvolvimento na área de trânsito para daqui a 10 anos. Ivo Almeida acredita que o poder público deveria investir em trazer

parte da população para morar no centro, evitando, assim, congestionamentos no deslocamento dos bairros para essa área. A ideia seria utilizar locais que foram garantidos pelo artigo 74 do

“Hoje a condição de ter um carro é muito acessível. Se você pega a faixa de hora que as pessoas saem para o trabalho não conseguimos prever a vazão” Código de Postura do Município com o trabalho de fiscalização dos terrenos baldios da área urbana da cidade para, em conjunto com empresas privadas, construir imóveis a preços mais baratos. Assim, segundo

o professor, as pessoas que acabam se fixando nos bairros poderiam ser atraídas para morar no centro, fator que ajudaria a desafogar o tráfego das áreas de fluxo na cidade. “Quando a cidade cresce desordenadamente, a necessidade de infraestrutura aumenta e a demanda não é superada pela iniciativa pública”, analisa. Transporte público – Já para os problemas no transporte público enfrentados pela população imperatrizense, como o longo tempo de espera e a fadiga para chegar aos locais de embarque e desembarque, o mestre em transporte indica a possibilidade a longo prazo, da criação de novos terminais de integração. “Onde eu enxergaria potencialidade para isso? Planejar na área do Sebastião Régis, na área da BR e fortalecer o sistema de integração

onde é hoje, ou seja, ampliar o lugar. E aí você cria sistemas troncais, ligando esses terminais com os bairros”, explica Ivo, entusiasmado. Para o presidente do Sindicato dos Mototaxistas de Imperatriz, Francisco Alencar de Souza, o trânsito da cidade tem melhorado muito. Mas, no que diz respeito ao transporte público, ainda persiste um grande problema com relação à falta de fiscalização e clandestinidade, tanto de carros quanto de motos. “Temos carros de lotação nos pontos de ônibus. Não é aplicativo, são carros particulares fazendo isso”. Francisco aponta, no entanto, uma possível solução. “Aumentar a fiscalização, que é o ponto primordial para que isso deixe de acontecer”. Outra ideia seria a de “fazer estacionamentos privativos” para melhorar o tráfego.

Transporte público de qualidade é uma reivindicação constante RAYSSA SILVA

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elhor logística nos horários, uma outra empresa de ônibus e qualidade no transporte público são as principais reivindicações dos passageiros ouvidos pela reportagem do Arrocha, que foi ao Terminal de Integração para observar o que eles enfrentam. Logo de cara os usuários de transporte público que por ali estavam indicaram que às 12 horas é quando há mais pessoas no local. E nesse momento começa o tumulto, uma grande correria. Em alguns minutos, a integração tem sete ônibus aglomerados. O estudante do curso de História

da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul), Luan Roberto Santos Silva, de 20 anos, diz que já teve de ir para fora do terminal para embarcar no coletivo, pois não havia mais espaço para veículos dentro do local. Além disso, reclama da longa espera. “Demora cerca de uma hora até duas horas, já fiquei bastante tempo no ponto de ônibus”, relata. Segundo ele, a logística deveria ser melhorada para não acontecer esse tipo de situação. Já Vitória Araújo Mendes, estudante de Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), afirma que deveria ser criado um novo terminal de integração em áreas de grande demanda, uma

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nova empresa para ter competitividade e sugere também outras mudanças. “Melhor planejamento nas linhas, proporcionando mais veículos para os horários de pico, treinamento para os profissionais para que eles saibam tratar de forma digna o usuário do transporte público”, argumenta Vitória. Diêgo de Jesus Correa, também estudante de Enfermagem da UFMA, concorda com Vitória e ainda explica: “Devido à cidade ter somente uma empresa de ônibus, passagem com valor alto, o mínimo a se esperar seria qualidade dos transportes”. Mas para ele, infelizmente essa não é uma realidade enPassageiros enfrentam longa espera e calor escaldante em paradas de ônibus na cidade frentada. RAYSSA SILVA

Propostas de ciclovias podem fornecer alternativas para a mobilidade urbana

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Ciclistas do município precisam de mais ciclovias e de um trânsito bem organizado para se sentir à vontade ao pedalar pelas ruas e avenidas

pesar do Plano Diretor de Imperatriz ter uma diretriz específica que prioriza os pedestres e ciclistas, ainda existem poucas ciclovias na cidade, como as da Bernardo Sayão, da BR-010 e outra situada na avenida Pedro Neiva de Santana. Mas, de acordo com Tuytuyguasu Rayol, engenheiro civil e especialista em gestão e planejamento de trânsito da Secretaria de Infraestrutura, existe a possibilidade a longo prazo de implantações de ciclovias e/ou ciclofaixas. Segundo ele, estão sendo realizadas pesquisas geográficas na cidade para avaliar em quais locais será possível experimentar esses sistemas de mobilidade.

“A realidade é que as nossas vias são bem estreitas. A gente está fazendo visitas em umas avenidas e ruas e vendo a possibilidade de implantar as ciclovias ou ciclofaixas”, explica o engenheiro. Quem precisa de espaços para pedalar exige uma rápida ação do poder público. Como alega a representante do grupo de ciclismo imperatrizense Divas do Pedal, Liciana Matos, a cidade precisa de mais ciclovias, conscientização aos motoristas e sinalizações nas ruas. Para Liciana, “a bicicleta é uma ótima opção para andar na cidade, não polui e você tem mais qualidade de vida”. Mas argumenta que os ciclistas não sentem segurança ao pedalar em Imperatriz e região.


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EMPREGO Ausência de qualificação profissional é um dos principais problemas enfrentados pelos trabalhadores da cidade na hora de batalhar por vagas raras no mercado de trabalho do município

Falta capacitação técnica em Imperatriz LUANA ARAÚJO

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LUANA ARAÚJO

nas empresas da cidade, este serviço também oferece cursos preparatórios e de qualificação para o mercado de trabalho de acordo com a necessidade das empresas cadastradas e do comércio atual. “A maior dificuldade para se inserir no mercado de trabalho hoje, é que ou o trabalhador possui baixa ou nenhuma qualificação. E, querendo ou não, as empresas buscam uma mão de obra qualificada”, avalia Paulo Vinícius.

ara que haja uma melhora no cenário do emprego em Imperatriz, já que apenas 22,8% da população está trabalhando formalmente com carteira assinada, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é necessário que exista mais estímulo à economia da cidade, com a criação de novos postos de trabalho, incentivo ao fortalecimento da indústria e das relações educacionais e um sistema de qualificação profissional bem estruturado, conforme o diagnóstico do Qualificação - A média salarial de Imdiretor regional do Trabalho, Paulo peratriz é de dois salários mínimos Vinícius. por pessoa, de acordo com dados do Para a supervisora educacional do IBGE. Em 2019, a área comercial foi a Serviço Nacional de Aprendizagem que mais gerou empregos no muniComercial (Senac), Marlívia Macatrão, cípio, no entanto, foi também a que também é essenmais demitiu, secial que a poguida por servipulação busque ços e indústria e “A capacitação é cada vez mais transformação, se preparar para conforme indinecessária o tempo entrar no mercacam os dados do inteiro. Ela precisa ser do de trabalho. Ministério do feita durante toda a “A capacitação é Trabalho. vida e é pra isso que nós necessária o temHá ainda um estamos aqui” po inteiro. Ela déficit na hora precisa ser feita de preencher as durante toda a vagas ofertadas vida e é pra isso pelas empresas, que nós estamos aqui”. pois na maioria das vezes o trabaOutro fator importante é ter no lhador não está qualificado, mesmo mercado de trabalho um funcionário com cursos profissionalizantes sendo que seja multidisciplinar, ou seja, ofertados pelo Sine. “Emprego existe, que possa interagir com outras áreas. mas há ainda muito desinteresse da “Para isso é necessário que o trabaparte do trabalhador em se qualifilhador vá além e esteja cada vez mais car”, frisa a diretora do Sine Municiligado à produção, à qualidade e à pal, Camila Gomes da Silva. tecnologia. Ele precisa ser multidisEm 2019, foram geradas pelo Sine ciplinar e cada vez mais autônomo, de Imperatriz mais de 1,2 mil cartas pois esse será o trabalhador do futude encaminhamento para entrevistas ro”, afirma a professora de Gestão no de emprego, totalizando 520 pessoas Senac, Danielle Cartaxo. empregadas por meio do Sistema. Segundo os especialistas, o traOs cursos preparatórios para o balhador precisa se informar mais mercado de trabalho da cidade tamsobre como são feitos os cadastros bém ofertam um grande número de nas vagas disponibilizadas pelos vagas por ano, no entanto, ainda falórgãos municipais, como o Sistema tam alunos para preencher a demanNacional de Empregos Municipal da oferecida por eles, como explica de Imperatriz (Sine). Além das vagas Marlívia Macatrão.

“É necessário que um vendedor melhore sempre as suas técnicas, para que possa atuar melhor no mercado de trabalho”, acredita Ivanilson Silva

Empresas Juniores antecipam experiências do mercado de trabalho e ajudam jovens a se qualificar LUANA ARAÚJO

Principal objetivo de uma Empresa Júnior é estimular projetos de consultoria para o mercado

LUANA ARAÚJO

As Empresas Juniores são responsáveis por proporcionar experiências de mercado durante a formação acadêmica e de pesquisa, o que garante maior visibilidade a estes alunos. “O currículo e portfólio desses acadêmicos são bem melhores que todos os outros que não exercem nenhuma atividade extracurricular. As vantagens são tantas que podem direcionar o estudante tanto para o mercado quanto para a pesquisa”, afirma o assessor júnior de Comunicação no Hospital São Rafael de Imperatriz e diretor de Comunicação e Assessoria na Imprensatriz, Empresa Júnior do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Marcelo Nunes. Uma Empresa Júnior tem como principal objetivo preparar os estudantes para entrar no mercado de trabalho, fazendo com que eles adquiram experiência na área em que estão se formando. “O que se faz em uma Empresa Júnior é aprender na prática a fazer projetos de consultoria relacionados ao seu curso para o mercado”, comenta o diretor de Comunicação da Maranhão Júnior, Leonam Alves. O estado do Maranhão conta até

hoje com um número de mais de 40 empresas juniores mapeadas, sendo que 10 delas são filiadas à Federação Maranhense de Empresas Juniores. Já em Imperatriz, funcionam 15 empresas, um número bem alto, levando em consideração o total de faculdades e universidades no município. Nestas empresas são desenvolvidos projetos, produtos, documentos de estudo e pesquisa sobre o mercado em que os estudantes desejam atuar. “O principal objetivo de uma Empresa Júnior é incentivar o empreendedorismo em qualquer fase do ensino. E também oferecer aos juniores práticas reais de mercado, que proporcionem aos membros dessas empresas vantagens após a faculdade”, disse Marcelo Nunes. Esses serviços recebem auxílio dos professores das universidades, especificamente dos que são da área de cada empresa. Uma das principais vantagens de integrar uma Empresa Júnior é que se adquire experiência e estabelece um maior contato com profissionais já formados na área e lideranças jovens. Os acadêmicos participantes também obtêm um vasto conhecimento e aprendizado sobre projetos, consultoria e gestão. Isso faz com que o estudante fique à frente de seus con-

correntes na hora de entrar no mercado de trabalho, formando jovens que impactarão esse mercado no futuro, como afirma Leonam Alves. Como participar - Para entrar em uma Empresa Júnior, os futuros membros devem passar por um processo seletivo, que é feito por meio de edital, inscrição e etapas de seleção. Ao ingressar nessas empresas, os estudantes selecionados passam por um treinamento preparatório para atividades como técnicas de fotografia, assessoria, diagramação, recursos humanos, projetos e até financeiro. Leonam conta também que no estado o movimento surgiu na então Universidade Estadual do Maranhão, no curso de Administração, há 26 anos, e que atualmente a maioria das empresas júniores são voltadas para as engenharias. Há ainda a necessidade de novas empresas em diferentes setores como saúde, meio ambiente, tecnologia, jurídico e financeiro. Para Marcelo Nunes, as Empresas Juniores podem ajudar a formar grandes empreendedores e profissionais de excelência, pois vários acadêmicos saem dessas empresas com muitas experiências.


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TECNOLOGIA Empresas de internet e telecomunicações da cidade apostam em investimentos na fibra óptica para expansão da rede em Imperatriz, além de aguardar as novas tecnologias 4,5 G e 5 G

Imperatriz avança para as redes de fibra óptica ANNA LUIZA BARROS

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mperatriz atualmente se tornou uma cidade que pulsa para o avanço tecnológico, principalmente na área de distribuição de dados de internet domiciliar, móvel, privada, empresarial e pública. “Hoje a internet é uma tecnologia fundamental para nossa vida, para o nosso negócio”, explica Lauro Nascimento, de 38 anos, gerente de contas da operadora Oi. A cidade se encontra como ponto estratégico e de investimento. “Hoje nós estamos indo para uma outra dimensão. Tem tanto a fibra óptica quanto a 4.5 G e a 5G”, explica o especialista. Esse crescimento se dá a partir de um olhar para o futuro não somente para as áreas centrais da cidade, mas também para bairros distantes do centro e até mesmo municípios vizinhos, com relação à chegada da fibra óptica. “Imperatriz, Davinópolis, Senador La Rocque, João Lisboa, Amarante e outras cidades todas já estão interligadas na fibra”, informa Lauro Nascimento. Além disso, as expectativas para os próximos anos estão sendo bem otimistas, conforme prevê o especialista. “Daqui a dois, três anos, a gente vai ter uma mudança radical no modo de viver”. As novidades vão acelerar, em sua opinião, o incentivo ao ramo de internet, contribuindo para as áreas de economia, tecnologia, educação e indústria. Desafios - Nos anos 1980, a Embratel (antiga empresa estatal) trouxe para Imperatriz um equipamento

de grande porte, que possibilitou crescimento tecnológico principalmente nas áreas de telecomunicações, telefonia e transmissão de dados. Hoje, apesar da empresa ter se tornado privada, há todo um engajamento para que esse aparato tecnológico supra as necessidades da expansão de internet na cidade. De acordo com uma pesquisa feita pela Anatel em agosto de 2019, somente 15,3% da população maranhense possui acesso a

“Imperatriz, Davinópolis, Senador La Rocque, João Lisboa, Amarante e outras cidades, todas já estão interligadas na fibra”

internet banda larga em domicílios. Em Imperatriz apenas 16,7% da população tem esse mesmo acesso. “Às vezes pensamos que todo mundo tem internet, mas com o fluxo de vendas que vemos aqui em nossa loja, a gente percebe que ainda tem muita gente que não tem”, pondera Nazilla Menezes, 28 anos, supervisora administrativa da Júpiter Internet. Para que se tenha uma boa qualidade e distribuição de internet, há alguns desafios que as

ANNA LUIZA BARROS

empresas estão enfrentando. Eles vão desde investimentos financeiros, espaços destinados para implantação de equipamentos de grande porte dentro da cidade, até a forma de se tornar acessível a internet domiciliar tanto quanto já é na móvel e também a pública. “Em cima de toda essa estrutura, até fevereiro ou março de 2020, conseguir trazer isso é mais uma questão de investimento mesmo”, expõe Lauro. Outra questão ligada ao desafio de ampliar o acesso à internet é elaborar uma estrutura de mapeamento da cidade para o cabeamento da fibra óptica. O gerente executivo da operadora Claro, José Ribamar, 28 anos, destaca que há um problema muito grande com variados números de CEP’s e ruas incorretos. “A maioria dos clientes em Imperatriz ou tem conta da Cemar ou da Caema. E no atendimento ao cliente essas empresas pecam um pouco. Porque nossa base sistêmica se baseia nos dados do Correio, isso é nacional, isso é padrão”, explica. Ligado a esse entrave, Imperatriz sofre por conta de não ter uma estrutura que comporte o sistema de cabeamento. “Não é 100% da cidade que é cabeada, ainda!”, destaca José Ribamar. Além disso, existe a falta de conhecimento técnico. “Hoje as pessoas conhecem a internet mais por meio das redes sociais, contratam por causa do whatsapp, do Facebook, Instagram”, acrescenta Nazilla Menezes. Mercado - As expectativas para o mercado consumidor de internet são bem promissoras na cidade,

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Imperatriz foi ponto chave para expansão da fibra por conta da torre de instalação da Embratel

na ótica dos especialistas. “Uma visão na abertura do mercado força mais as empresas externas a voltarem os olhos, criar ofertas, adequar pacotes. E isso faz com que os clientes se beneficiem”, destaca José Ribamar. De acordo com o especialista em ciência da computação Rodrigo Ramalho”, provedores de internet procuram ao máximo

Município se destaca com estratégias para oferecer uma internet mais rápida ANNA LUIZA BARROS

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Distribuição de wi-fi gratuito nos espaços públicos é política necessária para melhorar índices de acesso à internet no Maranhão

espalhar os seus cabos pela cidade para poderem compartilhar”. Os investimentos são de suma importância para o mercado. Em relação ao custo benefício do uso de internet tanto domiciliar quanto no aparelho celular, a “tendência é diminuir o preço e aumentar a velocidade de internet na cidade”, conforme prevê Nazilla.

mperatriz entra no ano de 2020 como cidade polo para implantação da internet com mais velocidade. “É uma das poucas cidades do Brasil que está com o Projeto GPON, que vai levar a fibra da base até a casa do cliente. É a única do Maranhão”, comenta o gerente executivo da operadora Claro, José Ribamar. O projeto GPON (Gigabit Passive Optical Network) oferece ate 93% de eficiência na taxa de tráfego útil de sinal de internet. Além de conseguir compactar três serviços em um só: uso de acesso a internet, distribuição de TV digital e telefone fixo. Para os próximos anos, cria-se um expectativa que tanto a internet quanto os equipamentos tecnológicos supram as necessidades e melhorem a qualidade de vida da população. “Nós tivemos uma revolução muito grande nos últimos cinco anos e não sabíamos como fazer isso. E agora, como já sabemos por onde andar,

eu acredito que daqui a mais ou menos dois, três ou quatro anos no máximo, nós vamos estar trabalhando totalmente diferente do que é hoje. Até mesmo sem saber como vai ser”, acrescenta Lauro Nascimento, gerente de contas da operadora Oi. Internet pública - Em outubro de 2017 a prefeitura de Imperatriz, em parceria com uma empresa de fornecimento de internet privada, iniciou o projeto chamado “Cidade Conectada”, que visa estabelecer internet gratuita em alguns pontos da cidade. Os primeiros foram instalados nas principais paradas de ônibus no centro da cidade e em alguns espaços públicos. “O poder público já teve algumas iniciativas, porém a má gestão delas foi o que atrapalhou. Por exemplo: tinha internet em alguns ambientes públicos, como na Beira Rio. Antes a internet funcionava e hoje não funciona, até mesmo em algumas praças que foram reinauguradas”, critica o técnico em ciência da computação, Rodrigo Ramalho.


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AMANDA REIS

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INGHRID KEITH BORGES

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EN SA IO

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INGHRID KEITH BORGES


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ENTREVISTA: PROFESSOR JOSÉ SINEY FERRAZ RODRIGUES

“Temos que organizar vários mutirões” THAYS GABRIELLE

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osé Siney Ferraz Rodrigues, 58 anos, é professor do curso de História da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul), graduado e doutorando na mesma área, respectivamente, pelas universidades de Brasília (UnB) e Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Seu mestrado é na linha de estudos sobre violência no campo nas regiões Sul do Pará, Norte do Tocantins e Oeste do Maranhão, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O professor José Siney atua na área da educação há 32 anos e ministra aulas há 27. Também lecionou na Universidade Estadual do Tocantins (Unitins) durante cinco anos. Além disso, já trabalhou em projetos sociais em favelas e voltados à alfabetização de adultos, o que influenciou na sua formação acadêmica. A partir do seu conhecimento em diversos campos como educação, campo, economia e meio ambiente, o professor aborda essas áreas nesta entrevista e aponta melhorias necessárias em alguns aspectos para se ter uma Imperatriz melhor e mais próspera no futuro. Em sua opinião, que aspectos precisam melhorar, a curto prazo, para se ter uma Imperatriz melhor? Olha, temos que fazer um mutirão grande em vários aspectos. No aspecto mesmo da cultura, nós estamos aqui na beira da Amazônia, não temos um bosque, não temos uma pequena floresta pra gente visitar, pra gente conhecer, para criar laços. Nós precisaríamos também arborizar nossa cidade, abrir avenidas para melhorar o trânsito, que é um caos. Acho que um tempo a mais vai ficar intrafegável. Imperatriz não vai dar conta, até porque nós somos um centro comercial e a população da cidade dobra durante o dia, a quantidade de carros também triplica. Se não tiver um planejamento, uma forma melhor de urbanização, vai se tornar um caos em um futuro bem próximo. Em que aspectos a educação e a cultura podem melhorar a curto prazo? Nós temos que pregar mais a educação formal, temos que ter mais vocação para o estudo. Imperatriz tem um desprezo histórico pela educação. Se você pegar aqui a população de Imperatriz e colocar um percentual dela dentro das universidades ou dentro das escolas é um percentual pequeno. E, desse pessoal que está dentro das universidades, grande quantidade não é exatamente de Imperatriz. Aqui não tem uma biblioteca pública do tamanho que a gente merece. Nós temos, aí, um cinema de consumo de violência, de bobagens e não temos um cinema que realmente tenha um fundamento cultural. Precisamos também criar produtos que tenham a nossa identidade regional, não temos um produto desse aqui, que seja produzido em Imperatriz.

JESSICA SOUSA

De acordo com o IBGE, Imperatriz possui o segundo maior PIB do estado do Maranhão. Mas também é notória uma grande desigualdade de renda entre a população. O que poderia ser feito para existir uma igualdade maior no futuro? Criar instrumentos, por exemplo, de produção. Eu acho que a gente tem que sair dessa questão do emprego e ir diretamente procurar alguma forma de produzir. Nós temos aqui um time comercial, temos uma sociedade de consumo de grandes coisas que não são produzidas aqui, como a maior parte das frutas e das verduras. Certo? E a gente tem condição de produzir muita coisa aqui, só que não há incentivo, não há iniciativa, não há um esforço coletivo e nem político pra isso. Então tem que criar outros nichos, outras situações que promovam a vida. Essa dinâmica de que as pessoas têm que se encontrar em outros espaços, em outras modalidades de trabalho.

“Eu acredito na política. Se a política é um problema, é só a partir dela que a gente pode sair dessa escuridão”

E como isso seria possível? Eu acho que tem que ter iniciativa pra isso acontecer. Muitas vezes a orientação política, uma liderança que tenha uma visão dessa forma, pode mudar muitas coisas e rápido. Se você trabalhar com frutas, com verduras, com determinados tipos de coisas, são processos rápidos: a cada seis meses se tem uma produção, se tem uma coisa.

“Já dizia o filósofo Arquimedes: ‘Me dê uma alavanca e um ponto de apoio que eu moverei o mundo’”

O IBGE aponta que, por ter se tornado um polo universitário, comercial e de serviços de saúde, Imperatriz recebe um grande número de visitantes de cidades vizinhas do estado. Em sua opinião, em que aspectos poderiam ocorrer melhorias tanto para os cidadãos de Imperatriz quanto para os que a visitam? Olha, eu sou contra essa questão de Imperatriz ser um polo universitário. Primeiro que nós não temos na verdade universidades, temos dois embriões que são a

Professor Siney pontua que é preciso disseminar a educação formal junto à população de Imperatriz

UFMA [Universidade Federal do Maranhão] e a Uemasul [Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão] e o restante são comércios. Não são vocacionadas para o trabalho da educação, da pesquisa, da extensão. E além disso, nossos embriões são muito precários nesse sentido, também. Então não temos esse polo universitário, temos aqui faculdades comerciais, algumas faculdades públicas e outras particulares, em grande maioria que negociam alguns ensinamentos, algumas técnicas. Universidade mesmo a gente não tem, da forma que a gente tem que pensar a universidade. Como você acha que as políticas públicas poderiam ser melhoradas para conseguir realizar essa Imperatriz melhor? Olha, eu acredito na política. Se a política é um problema, é só a partir dela que a gente pode sair dessa escuridão. Então nós temos que pensar nessa política como um processo de administrar o bem estar da sociedade. Temos que ter cultura, nós temos que ter

aqui um laço de identidade com a sociedade, com a nossa área, com a nossa região. O que me angustia são esses problemas que a gente precisa resolver e se sente até certa forma impotente, mas não desencorajados para lutar. A gente pensa que vai pegar aquela ala-

“Nós temos aqui um time comercial, temos uma sociedade de consumo de grandes coisas que não são produzidas aqui, como a maior parte das frutas e das verduras”

vanca e mover o mundo como já dizia o filósofo Arquimedes: “Me dê uma alavanca e um ponto de apoio que eu moverei o mundo”.

Uma alavanca é o conhecimento e o ponto de apoio é a consciência crítica das pessoas. Para você, como seria uma Imperatriz do futuro? A Imperatriz do futuro deveria consertar tudo isso que a gente colocou como problema. Tem que ter grandes universidades, melhorar nosso processo de urbanização e reorganizar nosso processo produtivo. Nós temos que sair dessa dubiedade entre fazendeiros e comerciantes. Não temos uma indústria, não temos uma produção forte de produtos de consumo. Nós temos uma quantidade de riachos, todos poluídos por aí e precisamos despoluir ou melhorar essa rede hídrica que temos aqui. Mesmo na região periférica, onde esses riachos a água ainda tem uma certa qualidade, não são aproveitados pra nada, não tem um certo aproveitamento que poderia servir no processo produtivo para a irrigação de lavouras, produção de frutas e de legumes em larga escala.


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SEGURANÇA Com números elevados de violência contra a mulher nos últimos anos, a sociedade precisa tomar providências urgentes, para que elas parem de sofrer e serem mortas pela cultura machista

Violência contra mulher exige ação conjunta NATHALIE DA COSTA

Ofensa verbal e as ameaças são as formas de violência mais comuns contra as mulheres, segundo o Datafolha. De acordo com dados da Delegacia da Mulher de Imperatriz, o número de denúncias cresceu de 797 para 843 boletins de ocorrência NATHALIE DA COSTA

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violência que atinge 537 mulheres por hora no Brasil e já gerou 686 boletins de ocorrência até meados de novembro de 2019 em Imperatriz, não será resolvida somente com a ação do poder judiciário, “mas do conjunto da sociedade”, conforme afirma a delegada titular da Delegacia da Mulher, Silviane Lenira Cavalcante, 31 anos. Ela destaca que quando um vizinho, um amigo ou até mesmo um desconhecido faz uma denúncia anônima de agressão a alguma mulher à justiça, podem evitar uma outra possível violência e também punir e reeducar o agressor. O Brasil apresenta a quinta maior taxa de feminicídios do mundo. Em Imperatriz (MA), segundo a Delega-

cia da Mulher, o número de registros de Boletins de Ocorrência (BO) subiu de 797 a 843 nos últimos anos. Além disso, dobraram os pedidos de Medidas Protetivas de Urgência (MPU), de 304 a 611. Em 2019, até o início de novembro, já foram 556 MPU. A estudante de administração, E. Sousa, de 22 anos, foi mais uma vítima da cultura do machismo, estupro e violência. “Sofri de violência física e psicológica, por uma pessoa que já era conhecida. Não contei por medo, devido às ameaças à minha família. Mas há casos perto de mim que foram resolvidos devido aos órgãos funcionarem”. Questionada sobre soluções com visão de quem já esteve no lugar da vítima, E. Sousa acredita que “se toda a sociedade passar confiança às mulheres e der assistência, podemos

ao menos tentar evitar”, solucionando, assim, mais um problema. “Acho que todos devem, obrigatoriamente, não julgar, ter empatia e dar apoio”, defende a estudante.

“Se toda a sociedade passar confiança às mulheres e der assistência, podemos ao menos tentar evitar a violência, solucionando, assim, mais um problema” Perigo - Não há lugar exato para acontecerem os vários casos de agressão já registrados. Eles variam desde dentro da própria moradia

da vítima a ambientes de trabalho, festas, transportes, redes sociais e até mesmo ao andar na rua. Segundo dados do Centro do Referência e Atendimento à Mulher (CRAM), até o início de novembro, somente neste órgão, já houve 348 atendimentos, sendo que 81 eram reincidentes. O número aumentou: em 2017 foram registrados apenas 187 e, em 2018, essa taxa triplicou, passando a ser 376 casos. Com tantas ocorrências, pode-se ver que a violência não é somente física e psicológica, mas, se caracteriza também com palavras, atitudes e gestos que ofendam a mulher. De acordo com a Lei 11.340/2016, se torna importante um psicólogo jurídico para tratar desse assunto de forma social, assistencial. Uma vez que falta um profissional para

dar assistência de forma correta, passa a existir uma falha no sistema de amparo à mulher, fazendo com que a eficácia dos órgãos diminua. Segundo a coordenadora do CRAM, Sueli Barbosa, de 40 anos, “para a diminuição infindavelmente da violência contra a mulher, é preciso a efetividade da lei, fazendo com que todas as instituições sociais funcionem juntas, desde escolas e igrejas, a centros de referência, garantindo com que todos os funcionários que trabalham nesta área em prol da mulher, tenham qualificação adequada para saber lidar com a situação”. No entanto, conforme acrescenta Sueli Barbosa, a maneira ideal de acabar com a violência seria “prevenindo antes de acontecer, educando e reeducando, pois isto é uma construção social”.

Para diminuir as mortes violentas, é preciso incentivar ressocialização NATHALIE DA COSTA

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Brasil gasta anualmente por volta de R$ 91 bilhões com segurança pública. Segundo dados oficiais do Anuário Brasileiro desse setor publicado em 2019, em 2017 houve 59.839 mortes violentas no Brasil. Comparado com o ano de 2018, houve uma queda para 52.091, mas, mesmo assim, os números continuam alarmantes. O advogado Victor Leonardo Mesquita, de 26 anos, defende que, para haver uma melhoria na segurança de Imperatriz, “é necessário valorizar mais o profissional da área, além de proporcionar verdadeiras formas de ressocialização aos que já estão cumprindo pena. “Ensiná-los a trabalhar, ter um acompanhamento psicopedagógico nas unidades prisionais” seriam outras saídas na opinião de Mesquita. Só o fato de buscar maneiras de diminuir o excesso de presos por cela, já que este diminui as chances da eficácia do trabalho de ressocialização, aliado ao reforço do cumprimento de penas adequadas já contribuiria para minimizar o caos do

sistema prisional, na ótica de Mesquita. O advogado recomenda, ainda, a necessidade de “fomentar a educação desde sempre e tentar fazer com que os direitos fundamentais realmente aconteçam na sociedade como um todo”. Ações - Os homicídios dolosos, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, subiram de 3,7% em 2016 para 22,2% em 2019, no Brasil. No Maranhão também houve um aumento de 22,4% à 24,2%. Os números contundentes exigem ação imediata, na opinião dos especialistas. É pensando nisso que o advogado e um dos responsáveis pela Comissão dos Direitos Humanos da OAB de Imperatriz, Felipe Daniel Oliveira de Sousa, de 28 anos, afirma que “a Guarda Municipal, juntamente com a tecnologia da instalação das câmaras de segurança, com a ação de uma polícia ostensiva e bem equipada” são promessas do poder público que podem vir a ajudar a a melhorar a segurança de Imperatriz . O Brasil teve 30.864 assassinatos

NATHALIE DA COSTA

Soluções para a violência passam por mais investimentos nos sistemas judiciário e prisional

nos nove primeiros meses de 2019, sendo que o Norte está em primeiro lugar, à frente das outras regiões neste quesito, segundo dados do Atlas da Violência de 2019. Para Mesquita, é importante acelerar o processo de cumprimento dos direitos para um menor índice de violência, o que exige, justamente, o respeito à legislação, mas também uma ação social. “Criando uma cultura de consciência coletiva entre as pessoas que compõe a sociedade. Todos pensam e desejam um país melhor e com diálogo, empatia, respeito, onde todos trabalham juntos para evoluir. Deixar o ego de lado, para que haja essa mudança cultural”. Investir mais nos sistemas judiciário, policial, prisional e, principalmente, no campo da educação, como insiste Mesquita, são pontos cruciais para alterar os números da violência,== que se manifesta de várias formas. “Sem esquecer do principal, que é fazer com que esses investimentos façam valer a pena, gerando destino eficaz ao dinheiro público”, pondera Mesquita.


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COMPORTAMENTO Com ideias para enfrentar a discriminação e a homofobia, militantes de Imperatriz apostam na educação como um dos pilares para solucionar esses problemas

Educação para combater as intolerâncias WANDERSON SOUZA

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er gay em Imperatriz é ser resistência, é se posicionar, já que a cidade é muito LGBTfóbica. É quebrar conceitos onde você está”, defende Jeffrey Marley da Silva Miranda, professor de inglês, 30 anos, gay, e que diz ter orgulho da sua orientação sexual. Esta opinião é compartilhada por um advogado, uma especialista em gestão pública de gênero e raça e uma pessoa de identidade agênero, que concordam que a educação é o principal pilar para combater a homofobia. Sobre a inserção da diversidade em lugares ocupados pela normatividade, o professor também acredita que o LGBTQI+ tem que buscar o seu espaço, “representar ali naquele meio hétero”. Como os ambientes na cidade são predominante héteros e brancos na visão do professor, “lugares que fomentam essa diversidade, seja sexual ou de etnias, são sempre válidos”. Miranda sugere que, em Imperatriz, nos modelos de projetos já desenvolvidos no Rio de Janeiro e

São Paulo, o poder público estimule a reeducação, com divulgação de panfletos para conscientizar as pessoas de que homofobia é crime e deve ser evitada. A especialista em gestão pública de gênero e raça Conceição de Maria Amorim, de 56 anos, por sua vez, acredita ser necessário, no que diz respeito à sexualidade em Imperatriz, garantir que a sociedade como um todo discuta a temática. Além do mais, propõe que as instituições, tais como igreja e escola, “desenvolvam debates na perspectiva do respeito pela decisão da sexualidade das pessoas”. Já a estudante de pedagogia da Universidade Federal do Maranhão Jhulia Mariana Pereira Ferreira, agênero, de 21 anos, toma por base a filosofia do educador Paulo Freire, que alerta para o perigo do oprimido vir a ser o opressor e destaca que o ato de oprimir vem da ignorância e “da tentativa de se afirmar como ser humano em questão de autoridade”. Ela ainda pontua que a educação é capaz de abrir a mente das pessoas “para entender que a diferença é comum, é boa, é aceitável e que precisa ser respeitada”. WANDERSON SOUZA

Advogado propõe discussões coletivas em bairros de Imperatriz para combater a homofobia

WANDERSON SOUZA

Estudante de pedagogia frisa que intolerantes estão em um nível muito baixo de educação e acredita em formas de sensibilização positiva

Existem leis? - No Brasil, segundo o relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), entre os meses de janeiro e maio de 2019, foram registradas 141 mortes de pessoas LGBTQI+, sendo 126 homicídios e 15 suicídios, representando, nesse grupo, uma morte a cada 23 horas. No ano anterior, 158 mortes foram catalogadas: 11 homicídios e 42 suicídios. Já o Maranhão, segundo dados da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. é considerado o quarto estado que mais recebe denúncias de violência contra homossexuais no Brasil, O advogado Greyson Dekhar Sousa, 30 anos, destaca que não existe uma lei municipal voltada

Políticas públicas ajudam a prevenir a exclusão social WANDERSON SOUZA

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invisibilidade marca as populações negras e indígenas e é preciso que sejam implementadas políticas públicas para que essas comunidades sejam respeitadas. “Não é porque temos uma diferença de um padrão eurocêntrico que não sejamos importantes para a sociedade”, afirma a militante do movimento quilombola da Ilha de São Vicente Maria de Fátima Batista Barros, 47 anos. Ao mesmo tempo em que há dados positivos, como o de a população negra ser a maioria pela primeira vez nas universidades públicas do Brasil, números do Atlas da Violência mostram que, por outro lado, 54% da população é negra e 71,5% dessas pessoas é assassinada a cada ano no país. Além disso, o mercado de trabalho no Brasil é excludente quando se trata da mulher negra, que recebe salários 40% menores que pessoas brancas e homens negros, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), fazendo com que as

mulheres pardas ou negras continuem na base da desigualdade de renda no pais, mesmo com ocupações equivalentes ou níveis de escolaridade. Para superar a invisibilidade, a militante Fátima Barros afirma ser preciso implementar políticas públicas educacionais e de comunicação para evitar a exclusão das classes mais vulneráveis da sociedade. E ainda pontua o diálogo educacional como sendo primordial para combater esses dilemas sociais. “É preciso não camuflar, porque acho que o não falar, o não democratizar essas mazelas faz com que elas se perpetuem muito mais”. Consciência - Na opinião da pedagoga e secretária de Formação do Centro de Cultura Negra - Negro Cosme, Herli de Sousa Carvalho, 55 anos, o racismo em Imperatriz está voltado para os negros e indígenas. Ela classifica a cidade como sendo média na questão de intolerância contra raças. E ainda garante que “o ativismo é o que nos move a buscar políticas públicas”.

Para pedagoga Herli de Sousa, a educação na alfabetização é essencial para conscientizar e evitar a disseminação de preconceitos. Recomenda filmes, como o “Xadrez das Cores”, que debate a discriminação racial e discute a cultura africana, como forma de superar o preconceito e de “desconstruir o racismo”. A lei 12.711, chamada Lei de Cotas, aprovada em agosto de 2012 pela expresidenta Dilma Rousseff, estabelece que as Instituições de Ensino Superior vinculadas ao Ministério da Educação e as instituições federais de ensino técnico de nível médio devem reservar 50% de suas vagas para as cotas. Em Imperatriz, essas políticas de incentivo e inclusão das pessoas de baixa renda e negros, se dão por meio do Cursinho Popular, que acontece na Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul). A opção serve de aparato para pessoas que não têm recursos financeiros para pagar por aulas e assim ficarem preparados para prestar vestibulares e entrar na graduação.

para punir os casos de homofobia em Imperatriz, pois o município não tem poder para criar uma

“A melhor forma de superar a homofobia na cidade, seria por meio da educação. ‘Para entender que a diferença é comum, é boa, é aceitável e que precisa ser respeitada’”

legislação como essa, que seria “competência apenas da União”. No estado, o que existe é a lei de número 8.444, assinada em

WANDERSON SOUZA

Fátima Barros propõe amplo diálogo social

2006, que estabelece aplicação de penalidades “a toda e qualquer manifestação atentatória ou discriminatória praticada contra qualquer cidadão em virtude de sua orientação sexual”. Para o advogado, a melhor forma de superar a homofobia na cidade seria por meio da educação. “Aquela mais básica, a de conversar e informar de que homofobia é um crime e as ações discriminatórias têm de ser evitadas”, complementa. Ainda segundo Dekhar, é preciso levar esse tipo de conhecimento em forma de debates para os bairros de Imperatriz, convocando toda a sociedade imperatrizense para discutir homofobia e buscando formas coletivas viáveis para que essa barbárie seja enfrentada.

WANDERSON SOUZA

Herli aposta na força da alfabetização


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ESPORTES Comunidade desportiva lamenta dificuldades que as modalidades têm enfrentado e sugere receitas para obter mais apoio da sociedade e das empresas

Treinadores cobram mais estrutura e apoio BRENDA ANDRADE BRENDA ANDRADE

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esporte imperatrizense termina o ano de 2019 comemorando a presença de equipes e atletas de alto rendimento em campeonatos regionais, nacionais e até internacionais. Porém, devido a um reflexo da falta de apoio da sociedade civil e empresarial, a maioria dos esportes em Imperatriz tem sobrevivido apenas da paixão de atletas e treinadores. Mas como pensar caminhos para buscar o apoio da população e do empresariado? A skatista Rayssa Leal, conhecida como "Fadinha", venceu o FAR’n HIGH International Skateboard Contest, na França, e também subiu ao pódio na Street League Skateboarding (SLS), em Londres. A Associação Dragões MMA contou com a vitória do atleta Rian Costa na competição de MMA amador, Beach Fight. Enquanto que o Cavalo de Aço garantiu vagas diretas tanto na fase de grupos da Copa do Nordeste, quanto na Copa do Brasil, em 2020. Já o time de basquete em cadeira de rodas do Centro de Assistência Profissionalizante

ao Amputado e Deficiente Físico de Imperatriz (Cenapa), continua pelo terceiro ano na segunda divisão. Impasses - Nas artes marciais, falta apoio tanto da sociedade em geral quanto do poder público. Apesar da Associação Dragões MMA ter recebido uma ajuda da prefeitura,

"A gente infelizmente não tem esse apoio aqui das empresas grandes da cidade"

que doou 20 placas de tatame, o recurso não é o suficiente. "Espero que aos poucos esse quadro melhore", lamenta Ivo Rodrigues da Costa, faixa preta em karatê e fundador da associação. No caso do basquete em cadeira de rodas, também falta muita ajuda financeira, já que a roda é a extensão do corpo dos jogadores. "As cadeiras são feitas para cada atleta, são diferenciadas, depende da lesão VAGNER JÚNIOR

Cavalo de Aço tenta superar o obstáculo das dívidas trabalhistas, mas prevê ano intenso

que ele tem", reconhece José Augusto Balesteros Marinho, diretor de esporte do Cenapa e técnico da equipe. O diretor conta que, por meio de um projeto da Lei de Incentivo ao Esporte, proposto pelo Governo do Estado, o time recebeu 10 cadeiras novas. Mas a manutenção não está prevista nesta legislação. "As cadeiras geralmente têm que passar por manutenção, porque é um esporte de muitos impactos e de muitas batidas. Isso aí a gente consegue pedindo para os empresários e para os amigos. Na verdade, uma palavra que eu não me sinto confortável: eu virei pedinte para não deixar o time acabar", reconhece José Balesteros. Por outro lado, a maior dificuldade hoje em se fazer futebol profissional é a questão financeira, principalmente porque a Sociedade Imperatriz de Desportos, o Cavalo de Aço, acumulou dívidas trabalhistas milionárias. "Quando assumimos o clube, em novembro de 2017, fizemos um levantamento e nos deparamos com resultados bastante negativos oriundos de más gestões. Então, a gente acaba pagando por uma situação que não foi provocada por essa gestão", destaca o vice-presidente e diretor de futebol, Rodrigo Oliveira. Ele conta que quando aumenta o valor do ingresso, isso não é bem recebido por parte dos torcedores. "Este ano nós colocamos o ingresso a R$ 30 e o torcedor foi o primeiro a reclamar. Sendo que ele não tem esse raciocínio de que está pagando por um espetáculo, e que estará ajudando o time dele, do coração da cidade. Existe toda uma situação, além de pagar a folha salarial, de logística dos jogos, que é toda custeada pelo clube", afirma Rodrigo. Mas de acordo com o diretor de futebol, a pior situação é a descredibilização por parte da população, do empresariado, do poder público e, principalmente, da própria torcida. "Estavam todos desacreditados", destaca Rodrigo.

Poder público promete ampliar a estrutura atual de quadras e complexos esportivos para estimular várias modalidades BRENDA ANDRADE

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sociedade desportiva de Imperatriz conta atualmente com 14 quadras e dois complexos esportivos, que têm ajudado a fomentar a prática de várias modalidades na cidade. Mas ainda há promessas deste quadro ser ampliado.

O assessor de projetos especiais da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude da Prefeitura de Imperatriz, Wilson Fernandes, diz que o poder público municipal está reformando a praça Mané Garrincha, reivindicação antiga dos skatistas. Além disso, está sendo finalizado o processo da construção de um centro de treinamento, no bairBRENDA ANDRADE

Reforma da praça Mané Garrincha, espaço tradicional dos esportes, gera esperança para os atletas

ro Sebastião Regis, com um campo de futebol que vai poder ser utilizado pelo Cavalo de Aço e pela comunidade. "Tudo isso fomenta a prática esportiva, que vai tirar o jovem da ociosidade, trazendo-o para algo que não seja desviado para o mundo do crime e das drogas. E trazer mais saúde para ele, para que não seja preciso procurar depois os hospitais", ressalta o secretário. O esporte é uma ferramenta que, além de contribuir para a educação das crianças e adolescentes e em detrimento também da juventude, promove várias funções pessoais e na sociedade como melhoria na qualidade da saúde, traz noções de cidadania, competitividade, meios de sociabilidade, regulação do comportamento e respeito mútuo. "Pessoas que são disciplinadas conseguem aplicar isso em todos os campos da vida", garante a especialista em Avaliação Física e Fisiologia do Exercício, Thalyta Martins.

Atleta Rian Costa (à direita na foto) ganhou a competição de MMA amador na sua categoria

Equipes esportivas precisam de ajuda material e de polos de treinamento BRENDA ANDRADE

Uma maneira de melhorar a situação das artes marciais a curto e médio prazo é o apoio material de equipamentos e a implantação de polos de treinamento na cidade, em áreas periféricas, com professores remunerados pelo poder público, além da criação de eventos públicos da modalidade. "A longo prazo, seria transformar a cidade em uma referência na área do MMA, de modo a atrair atletas de ponta e difundir a cultura da luta", esclarece o fundador das Dragões MMA, Ivo Costa. Em relação ao basquete em cadeira de rodas, o treinador José Balesteros diz que esse quadro pode ser melhorado por meio de empresas que ajudem financeiramente o time. "A gente infelizmente não tem esse apoio aqui das empresas grandes da cidade, já

mandamos alguns projetos, mas nem respostas nós temos. Nós precisamos de patrocínio". No que se refere ao futebol, o diretor do Cavalo de Aço, Rodrigo Oliveira, expõe que a primeira ação que está sendo feita é resgatar o nome do clube, a credibilidade perante a sociedade. "Então a partir da parceria do escritório de advocacia local, a gente começou a agir onde o buraco estava maior, que é dos passivos trabalhistas". Há ainda diversas formas de contribuir com o time, especialmente por parte dos torcedores, tais como ir aos jogos e aderir ao programa de sóciotorcedor. Além do mais, existe a loja oficial do clube. "É possível ver em dias de jogos ali, as camisas: só pirataria. O clube não ganha nada disso. A gente tem a loja. O valor arrecadado é repassado para o clube", afirma Rodrigo.


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SAÚDE Redução de verbas na pasta do Ministério da Saúde e falta de profissionais específicos no setor de atendimento colocam o Sistema Único de Saúde (SUS) em situação de risco na cidade

Vilões da saúde pública imperatrizense KANANDA ARAÚJO

Falta de recursos, desvalorização e o fato de ser uma cidade polo são problemas que prejudicam a saúde pública da região

KANANDA ARAÚJO

F

alta de investimento, a dependência de municípios circunvizinhos e desvalorização profissional são os grandes inimigos da saúde pública de Imperatriz. Com o previsto enfraquecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), a perspectiva de crescimento fica no universo privado, com planos mais baratos. É o que acredita a enfermeira fiscal do Conselho Regional de Enfermagem (Coren), Amanda Larissa. “Planos de saúde mais acessíveis, de certa forma são um beneficio, porém quem não tem dinheiro nenhum não consegue pagar nem um de R$ 50”. De acordo com o coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA),

campus de Imperatriz, Willian Lopes da Silva, o SUS do amanhã deveria se voltar para a atenção básica, pois ela anteciparia problemas futuros. Com uma população em que mais de 54 milhões de pessoas são pobres, de acordo com dados de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o SUS se transforma em uma importante chave para mudança social, devendo ser preservado. “Porque o SUS é o plano de saúde de todos”, frisa Amanda Larissa. Redução - Em 2016 foi anunciada pelo Governo Federal a criação da Emenda Constitucional 95, a EC-95, que institui um limite de gastos para a saúde nos próximos 20 anos, a partir de 2017. Na prática, a medida reduz futuros investimentos, impede evoluções e melhorias, e coloca

KANANDA ARAÚJO

Crescimento da saúde pública brasileira gira em torno do setor privado, com planos mais acessíveis para a população

o SUS sob constante ameaça. Para o Conselho Nacional de Saúde (CNS), a emenda vai gerar um prejuízo de R$ 400 bilhões no SUS. Já não bastasse o impacto da EC-55, a saúde pública brasileira sofreu um novo abalo no inicio de 2019, com um corte de R$ 9,5 bilhões em sua verba.

‘‘Não tem como você procurar avanços, se você congela alguma coisa’’ Os cortes colocam o SUS em uma situação de risco e a tendência é que a realidade de quem usa e depende do sistema se torne mais difícil, conforme analisa Willian Lopes. “As coisas vão continuar sem andar,

Saúde do idoso esbarra na falta de investimento e de médicos KANANDA ARAÚJO

Na Casa do Idoso de Imperatriz são oferecidas diversas atividades que contribuem para a saúde física e mental dos idosos, estimulando a socialização

as filas vão ficar maiores”. Atrelado à falta de investimento, existe ainda a questão da cidade ser circunvizinha de vários municípios que dependem da saúde imperatrizense, de acordo com Lopes. “Isso sobrecarrega muito o sistema, que inclui a área de atenção básica”. Tem, mas falta - No Maranhão, de acordo com dados do Conselho Federal de Medicina (CFM) existem, atualmente, 7.608 médicos. Imperatriz, considerada um polo na saúde e a segunda maior cidade do Maranhão, conta com o total de 681 médicos para atender uma população estimada em mais de 258 mil habitantes. Conforme os dados de 2019 do IBGE, são 2,63 médicos para cada mil pessoas, uma taxa superior à indicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é

KANANDA ARAÚJO

“Eu quero muita saúde para o futuro”, revela Maria do Carmo Martins Oliveira, 83 anos, depois de um momento de descontração e danças, realizado na Casa do Idoso de Imperatriz, uma importante rede de apoio e cuidados na cidade. De acordo com as diretrizes do Estatuto do Idoso, esse desejo de dona Maria estaria garantido, contudo, na prática a realidade é um pouco diferente, especialmente em um contexto de crises e cortes sofridos no Ministério da Saúde. O estudante de medicina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Ronan Lacerda Barbosa, informa que a cidade trabalha com um número limitado de vagas para exames por mês e, quem não consegue uma delas, tem que ficar para o próximo, afetando, assim, a terapêutica a ser aplicada. Um problema que seria resolvido se houvesse mais investimentos por parte do governo. Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), no Brasil existem cerca de 1728 geriatras e no Maranhão apenas 12. Já em Imperatriz, com uma população de mais de 14 mil idosos, de acordo com dados de 2010 do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, existem somente

de um médico para cada mil habitantes. A taxa, em uma primeira análise, pode parecer positiva, entretanto é problemática, na opinião da presidenta da Associação Médica de Imperatriz, Maria Socorro Silva Braga, pois muitos desses médicos não atuam no SUS, que é a principal fonte de acesso da população. A falta de verbas públicas destinadas ao sistema também gera carência de insumos, além de uma estrutura física que deixa a desejar. Outra explicação para o SUS ser preterido, diz respeito ao piso salarial oferecido ser inferior ao indicado pela Federação Nacional de Médicos (FNM). Existe ainda a falta de valorização do profissional no sistema, é o que conta Willian Lopes. “É difícil até você conseguir forças para que lutem a favor do SUS”.

dois médicos especialistas nesta área em todo o município. E para complicar, em geral, atendem no setor privado. Os números andam longe da recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que indica um geriatra para cada mil idosos. No Brasil, a proporção é de um profissional para 16 mil, segundo o CFM. Além de mais investimentos no SUS, um importante ponto, na visão de Ronan Lacerda, é a valorização do profissional, oferecendo melhores salários e condições de trabalho. O que fazer - Uma frente de melhoria na saúde do idoso na concepção de Ronan Lacerda, vem do investimento na atenção básica, e do acompanhamento desde a infância, para que no futuro ele possa envelhecer com saúde. Outros meios para se chegar às melhores condições de saúde, seriam o aumento de verbas destinadas para a área e o incremento no número de especialistas que atendam no SUS, como pontua Ronan. Ele ainda indica que o governo, por meio de auxílio, ofereça apoio, para que essa população tenha o direito de investir e propagar hábitos de vida mais saudáveis, além de uma mudança no estilo de vida. “Eu preciso do remédio, mas também de mudança de atitude”.


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ENTRETENIMENTO Após oito anos acontecendo em São Luís, o Festival BR-135 realizou uma edição em Imperatriz e mostrou que a cidade tem capacidade de sediar eventos de diferentes especificidades de público

Festival de possibilidades culturais para Imperatriz NAUM GOMES

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gente tem público pro instrumental, pro rock, para tudo. Nós somos uma cidade multicultural, uma cidade diversa”. A constatação da superintendente de Cultura do governo do Estado do Maranhão, escritora e atriz Lília Diniz, contrasta com uma Imperatriz marcada por uma agenda cultural de entretenimento em que programações musicais de ritmos do segmento religioso, sertanejo, forró e brega predominam. A existência de público foi uma das dúvidas na idealização de trazer para o interior o Festival BR-135, que até então só acontecia na capital. O evento já tem oito anos de história, mas só chegou a primeira vez em Imperatriz em outubro, com uma proposta diferenciada, focada na música instrumental, como conta Luciana Simões, integrante da dupla Criolina e organizadora do festival. “A gente decidiu descentralizar as ações do BR para justamente fazer uma interiorização e conectar o interior, Imperatriz, no caso, a São Luís, potencializando toda a cultura que existe dentro do nosso estado”, explica. Promovendo a conexão da BR135 com a BR-010, a conversa entre artistas locais e regionais rendeu à DJ e colaboradora de uma produtora de eventos, Juliana Alba, uma das representantes de Imperatriz, o convite para participar da programação da edição deste ano do festival em São Luís, em novembro. Lília Diniz acrescenta que não teve dúvidas quando os organizadores

perguntaram se havia público para o festival. “É claro que nós temos um caminho a percorrer, porque como a gente constata, Imperatriz tem grandes eventos, mas com artistas que circulam na grande mídia. No caso do BR, ele foge desse recorte, porque traz um compromisso com a cultura local e a possibilidade do intercâmbio. Falta ter mais eventos desse recorte”, recomenda. Com 258.016 habitantes, Imperatriz recebe, anualmente, cerca de 700 mil pessoas de cidades vizinhas, dos estados não só do Maranhão, mas também Pará e Tocantins. Além de, geograficamente, fazer fronteira com João Lisboa, Davinópolis, Governador Edison Lobão, Cidelândia, São

“Falta ter mais eventos desse recorte”

Francisco do Brejão e Açailândia. Condições geográficas ideais para apostar em um futuro que conte com pleno estímulo à gastronomia repleta de comidas típicas e de eventos como festas juninas, cavalgada, carnaval, festivais musicais, shows, feiras e festejos religiosos. Uma identidade cultural multifacetada, marcada pela diversidade, como destacam os produtores culturais. Cartão postal- Após a revitalização e o processo de reformas, há dois anos

a avenida Beira Rio, um dos cartões postais da cidade, vem contando com uma área de 20 mil metros quadrados, pensada para atender múltiplos públicos e que inclui uma Concha Acústica, espaço garantido para a realização de shows e apresentações diversas. A Concha Acústica suporta a realização de grandes eventos, como o Festival de Cultura Popular, que sediou recentemente, além da promessa do primeiro Festival de Hip Hop, possibilidade que tramita pela superintendência como uma das novidades para os próximos anos. O projeto “Pôr do Sol Cultural”, que une dança, arte, teatro e poesia e até então acontecia nas praias locais na temporada de veraneio, é um exemplo de apostas no campo da cultura e do entretenimento que deram certo. A partir de 2019, entrou com toda força na agenda da Beira Rio, trazendo apresentações culturais no palco da Concha Acústica. Tal como a Feirinha da Beira Rio, evento promovido pelo Governo do Estado, que já está no seu segundo ano de existência e, todos os sábados, movimenta o comércio local, incentivando a economia criativa. Tudo atrelado, claro, a programações culturais diversificadas, como a comemoração local e agora oficial do Dia do Reggae, tradição em São Luís, que tende a se repetir todos os anos em Imperatriz. A cidade agora comemora a data a partir de uma lei municipal (nº 1759-18) e a primeira edição local, que aconteceu na Beira Rio, reuniu grupos de reggae de todo o estado, o que potencializou a riqueza do evento, que já sustenta uma onda de possibilidades para 2020. NAUM GOMES

NAUM GOMES

Camarão, arroz de cuxá e vatapá são algumas das atrações gastronômicas da Feirinha da Beira Rio

Além da quadrilha, o estímulo ao folclore NAUM GOMES

Apresentação do grupo Kimzomba é marcada por um mosaico de danças folclóricas, como o Lundu, Maculelê, ciranda e a Dança do Lili

Entre mitos, canções, danças, artesanatos, festas e brincadeiras, não é nenhuma lenda que, além da quadrilha, Imperatriz também é banhada pelo folclore, que, como nosso meio ambiente natural, grita por preservação. Ao pensar o futuro, Raynan Ferreira, integrante do grupo imperatrizense de danças folclóricas Kizomba, lembra a importância de convocar sempre novos participantes para esse tipo de atividade. “Sabemos que o incentivo à cultura é um problema não apenas local, mas de todo o país. É um ciclo natural que os atuais integrantes do grupo, com o tempo, acabem saindo. E pra deixarmos a roda sempre girando, promovemos oficinas de danças do nosso repertório. Essas oficinas não têm datas exatas para acontecer. Vai muito da necessidade”, explica Raynan. O Instituto Data Popular levantou o perfil do jovem brasileiro e seu interesse pela política. Além de trazer recados importantes à classe, evidenciou o interesse de 92% da população jovem em mudar o mundo. Grupos como o Kizomba resistem ao atual cenário político federal, que dissolveu, como o próprio ministério da área, ações que dialogam com a cultura e sua manutenção. Este cenário de ameaças à cultura acaba fortalecendo a proposta do traba-

lho de grupos como o Kizomba, que surgiu em agosto de 1997, numa Feira de Ciências realizada em uma escola na Vila Redenção I, com o objetivo de resgatar as tradições culturais da região, principalmente as ligadas às raízes africanas. No mesmo período, a Fundação Cultural de Imperatriz promoveu e desenvolveu o projeto “Oficina de Danças Típicas”, que contribuiu de maneira decisiva para a formação e aprendizado dos brincantes: alunos de escola e moradores da comunidade. O auge do trabalho, na época, se deu com a apresentação da “Dança do Cacuriá”, que, devido ao sucesso, gerou convites para participações do grupo em atividades festivas da comunidade. Diante das novas oportunidades, o grupo passou a estudar e ensaiar novas danças, inserindo em seu repertório: a “Dança do Coco”, o “Divino”, a “Ciranda”, a “Dança do Lili”, o“Lundu”, o “Maculelê”, “Peba na Pimenta” e a “Dança dos Orixás”. Já com 13 anos de história, a maior demanda de apresentações do grupo segue sendo no período de junho e julho, entre festejos e nosso famoso São João, que é abraçado por todo o Nordeste. Durante o restante do ano, acontecem apresentações esporádicas em festividades de igrejas, festas da comunidade, feiras em faculdades, universidades e escolas, além da Feirinha da Beira Rio.


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COMÉRCIO Consumidores do comércio de Imperatriz reclamam do atendimento que recebem, manifestando se sentirem “mal” e “julgados”. Solução possível seria capacitar melhor os funcionários CARLA GUERRERO

Atendimento ao cliente é o mesmo de dez anos atrás, diz economista

Consumo no comércio da cidade chega a pouco mais de R$ 7 bilhões, segundo pesquisa. Especialistas analisam que, depois de ter passado por tantos ciclos, como o da castanha, do arroz e da madeira, Imperatriz ainda mantém a sua força comercial CARLA GUERRERO

Q

uando o assunto é comércio de Imperatriz, o economista Fernando Reis Babilônia avalia que “hoje a cidade possui lojas com o layout bem bonito e moderno, mas quando você entra, o atendimento é o mesmo de 10 anos atrás. Ele nunca muda”. Enquanto percorre o centro de compras mais popular de Imperatriz, o Calçadão, a estudante Estela Ferreira Costa expõe a sua crítica: “Em algumas lojas que entramos, percebemos que o vendedor não está com uma cara amigável. Isso é péssimo, eu não gosto. Outras vezes, quando entramos nas lojas para comprar, as vendedoras ficam atrás da gente o tempo todo, não deixam as pessoas à

vontade. Assim, eu como cliente, me sinto muito mal e julgada”, desabafa. Não demora muito para encontrar outra consumidora insatisfeita com o atendimento. “Às vezes entramos para perguntar algo, mas percebemos que ninguém dá a devida atenção para nós. Muitas vezes pode ser porque julgam que o cliente não tem dinheiro para comprar, mas eu quero comprar. Porém, quando destratam você, não vale a pena”, ressalta a manicure Bethânia da Silva Barbosa. Para melhorar essa situação, o especialista Fernando Reis indica que os funcionários precisam ser treinados, buscando aperfeiçoar as relações com os clientes. “As empresas devem investir na qualificação profissional de seus funcionários.

Existem várias formas: desde a contratação de consultores especializados, a convênios com instituições de ensino que oferecem uma série de cursos”, recomenda.

“As empresas devem investir na qualificação profissional de seus funcionários com a contratação de consultores especializados” Perspectivas - Como indica pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o valor do consu-

Fortes áreas do comércio apostam no futuro CARLA GUERRERO

E

ntre os ramos que são atualmente destaque no comércio de Imperatriz e prometem se desenvolver mais em um futuro próximo, estão os shoppings centers, o setor de alimentação, e, em específico, o delivery. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), a cada mês, o crescimento do número de pedidos via aplicativos gira em torno de R$ 1 bilhão. Na cidade, é notória a crescente criação de novas plataformas que oferecem o serviço de delivery. Sabendo disso, o sócio-proprietário da empresa Tonolucro de Imperatriz, Gustavo Candido Ribeiro Matias, procura manter um bom atendimento para permanecer na preferência dos clientes. “O serviço de delivery é uma comodidade para o cliente e é por isso que vem dando tão certo, assim, crescendo no país inteiro. Temos um padrão de atendimento e nos preocupamos muito com o cliente, então, sempre esperamos a avaliação deles, para termos uma base para melhorar nos pontos que forem necessários”, afirma. Com as expectativas para o futuro altas, o gerente de marketing do Tocantins Shopping, James Pimentel Araújo, por sua vez, diz estar trabalhando constantemen-

te em questões para melhorar a dinâmica do próprio centro comercial. “Todos os anos tentamos melhoras, como, por exemplo, na ocupação de espaço físico, nos eventos que proporcionamos, nas condições tanto de aluguel quanto de condomínio para o lojista”, conta James Pimentel. Ele garante sempre pensar no cliente, pois todas as questões interferem diretamente no consumidor final que, por sua vez, usufrui dos serviços do shopping de modo geral. Dados coletados pelo IBGE (Gráfico 1), correspondentes aos anos de 2002 a 2016, apontam que os números da participação de Imperatriz no Produto Interno Bruto (PIB) do Maranhão apresentam aumento ao passar dos anos. “Tenho um ditado que diz assim: ‘Imperatriz é considerada a galinha dos ovos de ouro, pois é a segunda maior cidade do estado do Maranhão’. Eu sempre digo que Imperatriz é a vice-capital de um grande estado”, comenta o empresário Marcone Marques, brincando com as palavras, ao ser questionado sobre o desenvolvimento do comércio de Imperatriz. A Federação do Comércio do Maranhão (Fecomércio) fez um levantamento em 2014 de quais locais as pessoas pretendiam realizar as compras de presentes para datas comemorativas em Impera-

triz. Os dados sobre o Dia das Crianças demonstraram que as lojas dos shopping centers mantinham o favoritismo dos consumidores. Assim, naquele ano, a opção de comprar em um shopping subiu mais de 22,68% na decisão dos entrevistados, chegando a 56,8%. Não existem dados mais atualizados.

Comércio do futuro - Segundo o site da prefeitura de Imperatriz, em cerca de seis meses, a população contará com um novo espaço destinado aos vendedores autônomos e comerciantes do antigo Camelódromo. Trata-se do Shopping Popular, intitulado como Shopping da Cidade. O orçamento previsto para a sua construção é de R$ 3 milhões. Na visão de James Pimentel, por Imperatriz já possuir três shoppings centers, um quarto não seria uma necessidade. Porém, um shopping popular atenderia bem melhor e teria o seu mercado. Ainda de acordo com a assessoria da prefeitura, o tão esperado Panelódromo ocupará uma área de mais de três mil metros quadrados na praça Tiradentes, com 42 boxes de alimentação. Com previsão de término em janeiro de 2020, será o ambiente que abrigará os vendedores de comidas típicas, que são uma das peças primordiais na cultura imperatrizense.

mo no comércio em geral, no ano de 2018 em Imperatriz, chegou a pouco mais de R$ 7 bilhões. “Antigamente nós fomos considerados como a capital do arroz. Depois, a capital da madeira. Tivemos a safra da castanha, depois a do ouro, mas o comércio de Imperatriz nunca caiu!”, garante, entusiasmado, o empresário Marcone Marques. Hoje, os comerciantes e empresários de Imperatriz até procuram mais modernização e aperfeiçoamento, segundo Fernando Reis. Prova disso é a expansão que Imperatriz teve no ramo de ensino, conforme lembra o economista, o que teria proporcionado aos comerciantes e donos do próprio negócio a atualização de seus conhecimentos nas respectivas áreas em que atuam.

Além do mais, de acordo com Fernando Reis, como o ramo de comércio abrange tanto a área de produtos quanto de serviços, outro fator importante que deve mudar no futuro, juntamente com a melhoria de atendimento, é a condição de mobilidade das ruas. Os dois estão diretamente ligados, já que o mercado de Imperatriz é muito intenso e atende também consumidores de outras cidades. O crescimento de estabelecimentos e lojas é contínuo, logo, a logística das ruas deve ser repensada, na ótica de Fernando, para crescer junto com a necessidade da cidade. Mesmo assim, o economista assegura que o comércio de Imperatriz é forte e a tendência é que se torne cada vez mais dinâmico.


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MEIO AMBIENTE Em algumas das principais ruas do comércio de Imperatriz, como a avenida Getúlio Vargas, o principal problema é não haver condições e espaços apropriados para o plantio de árvores

Imperatriz sofre pela falta de arborização

CARLOS ANTÔNIO

Voluntário realiza ação de plantio de árvores na Praça União. Especialistas apontam que é perceptível a diferença que um local arborizado proporciona, tanto na melhora da temperatura, quanto do ar, em uma cidade bastante quente como Imperatriz CARLOS ANTÔNIO

A

pesar do Censo 2010 do IBGE apontar que Imperatriz apresenta 69,7% de área arborizada nas vias públicas, ela está no 3133º lugar entre os 5570 municípios brasileiros nesse quesito e na posição 89, quando se leva em conta as 217 cidades do Maranhão. Especialistas apontam que, para compensar a falta de árvores na cidade, seria preciso criar mais locais apropriados, como canteiros, em vias e praças, estimular o plantio das mudas e conscientizar tanto os órgãos públicos quanto a própria população sobre a importância da arborização. Basta transitar por algumas das principais ruas do comércio de Imperatriz, como a avenida Getúlio Vargas, e a rua Dorgival Pinheiro de Sousa, para perceber um grande déficit de arborização ou mesmo ausência de árvores nessas localidades. De acordo com o engenheiro

florestal Dalton Henrique, 38 anos, os impactos consequentes da falta de arborização nessas áreas da cidade podem até gerar questões psíquicas. “Na medida em que a pessoa vê a cor verde, automaticamente ela se lembra do avô dela, da infância. Ou seja: o verde traz benefícios para o psicológico do ser humano”, explica Henrique. Muitos moradores de bairros como Mercadinho, Bacuri e Nova Imperatriz afirmam que falta conscientização do poder público sobre esse tema tão importante, mas que só seria lembrado na Semana do Meio Ambiente. Professor estagiário de Física da escola Graça Aranha, Felipe Cruz, 23 anos, diz que a falta de espaço em determinados locais compromete o plantio de mais árvores. “Por serem relativamente estreitas, elas não possuem condições de se fazer um plantio de mudas”, critica Cruz. As árvores desempenham um papel crucial na melhoria da qua-

lidade de vida da população e do meio ambiente. Entre alguns dos benefícios destaca-se o efeito estético, bem-estar psicológico, sombra para os pedestres e veículos, proteção contra o vento e uma redução do impacto da água das chuvas no solo.

“É preciso que a cidade seja mais arborizada e melhorar o serviço de limpeza urbana “

Outras ruas de destaques da cidade, parcialmente arborizadas são a Maranhão, João Lisboa e Rio Grande do Norte, locais onde se percebe facilmente uma falta do

plantio de quaisquer espécies de árvores. Como ressalva o professor de Geografia de um cursinho preparatório do Enem, Wellington Salles, 28 anos, na maioria das vezes, a ausência da cor verde nessas ruas de Imperatriz se dá, justamente, pela falta de planejamento, tanto por parte do setor administrativo como também dos moradores locais dessas regiões. “Isso ocorre porque, ao se fazer uma calçada ou passar cimento, eles não têm uma preocupação ou falta a informação, de que é necessário colocar uma pequena porção de espaço para depois fazer um plantio de uma árvore”, explica o professor. Melhorias – Segundo a estudante de Engenharia Agronômica na Universidade Estadual da Região Tocantina (Uemasul), Larissa Aguiar, 21 anos, é perceptível a diferença que um local arborizado proporciona, tanto na melhora da temperatura quanto na do ar, principalmente em

uma cidade tão quente como Imperatriz. “Quando estamos caminhando em uma determinada rua que tenha algumas árvores somente em um trecho, podemos perceber que, ao passarmos debaixo do local arborizado, sentimos uma diferença de temperatura, se comparado ao trecho sem arborização, que apresenta uma sensação térmica mais elevada”, compara. Larissa também explica que as árvores são indispensáveis para manter um clima mais agradável. “As árvores têm um papel fundamental na manutenção da umidade do ar e a diminuição da poluição, pois dissolvem o gás carbônico, que é emitido principalmente pelos carros”. Na opinião do técnico de rádio aposentado, Luís Carlos Silva, outros benefícios, além de plantar árvores, são necessários. “É preciso que a cidade seja mais arborizada e melhorar o serviço de limpeza urbana. Isso já seria de grande relevância para o bem estar de todos”, afirma Silva.

Campanhas educativas são importantes para conter efeito de enchentes CARLOS ANTÔNIO CARLOS ANTÔNIO

I

mplementar políticas de educação ambiental nos currículos da educação básica, bem como estimular campanhas educativas e parcerias com as universidades são iniciativas essenciais para debater questões como a poluição e as enchentes nos riachos de Imperatriz. O especialista Ronaldo Barbosa ressalta que o novo Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do município, instituído pela Lei Complementar 001/2018, apresenta uma política ambiental interessante que, se de fato fosse colocada em prática, já seria “um grande passo”. Imperatriz é rica quando se trata de seus recursos hídricos. A cidade é cortada por pelo menos cinco riachos, o que aumenta a capacidade de distribuição da água pelos bairros e localidades próximas. Os principais afluentes são Cacau, Bacuri, Riacho do Meio, Santa Teresa e Capivara, que cortam o município em vários

bairros até se encontrarem com o rio Tocantins. Porém, apesar dos recursos hídricos em boa quantidade, a cidade vem enfrentando dificuldades, ao longo dos anos, com racionamento de água

“Alagamentos ocorrem pelo fato de alguns dos meios hídricos da cidade serem bem próximos de áreas urbanizadas”

potável e alagamentos nos períodos do inverno, quando as chuvas se tornam intensas em toda a região. Um dos principais motivos das enchentes e da poluição é o grande descarte

indevido de lixo em áreas próximas às nascentes dos riachos. Estudo feito pelo professor de Geografia da Uemasul, Ronaldo Barbosa, 39 anos, relata que os alagamentos ocorrem pelo fato de alguns dos meios hídricos da cidade serem bem próximos de áreas urbanizadas. “Como exemplo do riacho Capivara que banha Imperatriz, com 12,73 quilômetros. Ele está localizado em uma área com forte processo de urbanização, com intenso nível de impermeabilização, contribuindo, assim, diretamente, para processos como alagamentos, transporte de lixo e outras mazelas, quando está no período chuvoso”, explica Barbosa. O professor estagiário de Física na escola Graça Aranha, Felipe Cruz, 23 anos, reforça que os transtornos que Imperatriz passa em tempos de chuvas se dão devido à falta de coleta seletiva do lixo. “Todo mundo vê a situação que a cidade passa quando se chega o inverno. Deve ser feita uma grande ação de limpeza e coleta, para evitar isso”, recomenda Cruz.

Descarte descontrolado de lixo em áreas próximas aos riachos ajuda a agravar as enchentes


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EDUCAÇÃO Escolas municipais enfrentam desafios para uma melhor qualidade de ensino. A orientadora do Colégio Adventista, Patrícia Barbosa, diz que tem sido dado menos atenção para áreas essenciais

Melhores condições para o ensino básico LÍCIA GOMES

LÍCIA GOMES

“R

esgatar e ressignificar a condição da escola pública”, retomar o ânimo do servidor, “garantindo dignidade e melhores condições de trabalho” e principalmente, estimular a formação continuada sustentada são os principais desafios para o futuro da educação na opinião do secretário adjunto de Ensino da Secretaria Municipal de Educação (Semed), professor Domingos Bandeira. Em sua visão, é importante que a sociedade, alunos e professores acreditem em uma educação de qualidade que provenha da escola pública. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino em Imperatriz (Steei), Francisco Messias, por sua vez, destaca que “o que precisamos é de políticos e de profissionais dos cargos públicos que tenham uma preocupação em ver a educação com outro olhar”. Já a orientadora do Colégio Adventista, Patrícia Barbosa, salienta que a educação em Imperatriz precisa melhorar bastante. “Temos uma grande inversão: damos muita mais atenção para as séries maiores do que para o ensino básico”. Ela reforça que a sociedade possui um pensamento cultural, de que a escola pública é “de qualquer jeito” e defende que o educador precisa sensibilizar as pessoas para pensar o contrário. É necessário que no processo da educação, os pais possam acompanhar o desenvolvimento dos filhos. “Enquanto não houver uma política de que os pais precisam conscientizar seus filhos sobre a importância do crescimento a partir do estudo e que a escola e a família caminham juntas, não haverá um desenvolvimento produtivo”, concorda Francisco Messias. Menos escolas, mas com estrutura física adequada que ajude a melhorar o atendimento permitiriam, também na opinião do secretário Domingos, que houvesse mais qualificação profissional. Para que uma educação

Alunos da escola Municipal Tocantins de Imperatriz estudam em salas de aula com superlotação e com falta de infraestrutura. Resiste pensamento cultural de que escola pública é de “qualquer jeito”

de qualidade aconteça, também é necessário investimento. “Estamos agora numa política acelerada de reforma, climatização e construção de novos prédios mais agradáveis e completos para educação”, garante. Qualificação - De acordo com dados da Semed, a Prefeitura investiu mais de um milhão de reais prometendo um melhor conforto para os alunos estudarem. Dentre essas mudanças, segundo dados do poder municipal, outras 16 unidades foram reformadas pela Equipe do Setor de Levantamento de Situação Escolar (LSE), com pintura, manutenção das instalações elétricas, hidráulicas, sanitárias, telhado e forro. O presidente do Conselho Munici-

LÍCIA GOMES

pal de Educação de Imperatriz, Francisco Silvestre, garante que todos os

“O que precisamos é de políticos e de profissionais dos cargos públicos que tenham preocupação em ver a educação com outro olhar”

profissionais da educação estão trabalhando de acordo com sua habilita-

Tecnologia - Outra questão apontada pelo secretário Domingos Bandeira é que hoje o estudante tem muita informação e o “profissional é desafiado para interagir com essa situação e fazer com que ele possa fazer sentido na vida do aluno”. Muitos educadores estariam aderindo a uma nova maneira de ensinar, utilizando novos recur-

sos midiáticos. Mas, como ressalva Domingos, alguns docentes ainda demonstram resistência às tecnologias. “Estamos tentando preparar os professores para esses novos meios”, promete. Com relação à tecnologia, Francisco Silvestre pondera que existem laboratórios de informática que ainda não estão em funcionamento na rede pública. “Claro que não é fácil, nem barato. Tenho que dar o meu melhor, independendo se tem datashow ou não”, defende. Além disso, Francisco Messias acredita que os professores precisam buscar novidades para ministrarem melhor as suas aulas. “Temos que estar nos qualificando todo dia”, recomenda.

Inserção de alunos deficientes nas escolas exige planejamento e estímulo LÍCIA GOMES

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Escolas municipais acolhem estudantes da educação especial, mas precisam de mais adaptação

ção. “Os professores são qualificados. Os desafios são grandes, mas sempre tentamos qualificar os profissionais”. Consultas às Progressões do Grupo Magistério, sob os termos da Lei de n°1601, apontam que 225 profissionais são da Progressão A (Atualização), 1.461 se encontram na Progressão B (Especialização) e apenas 10 estão na Progressão C (Mestrado).

educação para deficientes em Imperatriz se encontra em fase de consolidação, segundo os responsáveis pela área, mas ainda há obstáculos a serem transpostos. A pedagoga Marcela Arraes, especializada em pesquisa na área de educação especial, diz que o maior desafio é que haja uma adaptação não somente no espaço do âmbito escolar, mas que, sobretudo, é necessário “acreditar na possibilidade de que essas pessoas podem fazer parte da realidade que nós já estamos inseridos”. Segundo a orientadora do Colégio Adventista, Patrícia Barbosa, para que o ensino aos deficientes aconteça de maneira correta é fundamental que haja mais pesquisas sobre a área. “Cada um tem um cognitivo específico, tem um limite até onde consegue aprender”. Além da inclusão dos deficientes, outro desafio é mantê-los no espaço escolar. “A melhor maneira de fazer isso é entender o aluno. Saber como ele gosta de estar, para fazermos

algum tipo de adaptação a fim de que ele permaneça. Só uma estrutura física não adianta”, frisa a orientadora. De acordo com o secretário adjunto de Ensino da Secretaria Municipal de Educação (Semed), professor Domingos Bandeira, o primeiro critério a ser avaliado quanto à educação para os deficientes é a questão da acessibilidade com relação à infraestrutura. No entanto, também é necessária, em sua opinião, a formação de toda a rede de profissionais que vai trabalhar com o aluno especial, não apenas dos professores que estão em sala de aula. A demanda de estudantes com algum tipo de deficiência é muito grande e a rede de educação especial conta apenas com oito profissionais formados, que dispõem da ajuda de 150 cuidadores. “Temos que incentivar, fazer com que ele se sinta o protagonista do seu próprio processo de aprendizagem, que envolva cada vez mais a família e a qualificação de profissionais”, afirma o professor Domingos Bandeira. Estrutura - Segundo o presidente do Conselho Municipal de Educação

(CME), professor Francisco Silvestre, a maior parte das escolas estão preparadas para receber os diferentes tipos de deficientes. Existem cuidadores e intérpretes que fazem o acompanhamento para aqueles que precisam. À medida que o aluno é matriculado na rede de ensino, a Semed separa um profissional responsável e a disponibilização acontece de acordo com a demanda, conforme assegura Silvestre. As salas têm recursos adaptados que contam com um profissional formado com especialização para o Atendimento Educacional Especializado (AEE). Cerca de 1013 deficientes estudam hoje, e quem lidera esse público são os autistas. Além disso, os estudantes especiais contam com apoio das políticas públicas por meio do Atendimento Educacional Especializado (AEE), que acontece no contra turno. Por essa razão, é que eles possuem dupla matrícula e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Funeb) os financia duas vezes, tanto para o ensino regular, quanto para o AEE.


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ANO X. EDIÇÃO 40 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2019 WALISON PEREIRA

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