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JANEIRO DE 2013. ANO III. NÚMERO 16
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA
Arrocha JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL-JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ
CALÇADÃO
Movimento no Centro Comercial de Imperatriz atrai vendedores e consumidores
HYANA REIS
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Arrocha
2 EDITORIAL - CALÇADA DAS HISTÓRIAS Imperatriz tem no comércio a melhor representação do seu vigor econômico. Nesse sentido, o Calçadão é um símbolo dessa força, pois agrega no seu espaço ricas histórias de vida em meio à correria cotidiana do comércio formal e informal e da circulação dos clientes. Os acadêmicos e professores de jornalismo que prepararam esta edição especial circularam com paciência e atenção pelo Calçadão para captar, da forma mais fidedigna possível, os detalhes de um ambiente tão curioso. Aqui você vai encontrar muitos personagens “famosos” na área que atuam, embora vários deles permaneçam invisíveis para os meios de comunicação tradicionais. Trabalhadores das lojas, camelôs, pedintes, artistas, seguranças, pro-
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prietários de estabelecimentos comerciais já clássicos, entre tantos outros personagens enchem as próximas páginas de lições de vida e de conhecimento de economia de Imperatriz. Percorrer o Calçadão permite recuperar muito da história da cidade, do seu espírito empreendedor e da criatividade do seu povo e visitantes. Por isso, para os futuros jornalistas, fotojornalistas e diagramadores que elaboraram esta edição, o aprendizado foi inestimável. Boa leitura. Arrocha: É uma expressão típica da região tocantina e também um ritmo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.
KELLY SARAIVA
Ensaio Fotográfico MÍRIAN GOMES
RAÍSA SALLES
HYANA REIS
RAÍSA SALES
SABRINA CHAMORRO
STEPHESON SOUZA
EXPEDIENTE Jornal Arrocha. Ano III. Número 16. Janeiro de 2013 Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da universidade.
Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor Prótempore do campus de Imperatriz - Prof. Dr. Marcelo Soares dos Santos | Coordenadora do Curso de Jornalismo - Prof. M. Marcelli Alves.
Reportagens: Adriana Dias, André Wallyson, Andreza Vital, Breno Franco, Eva Fernandes, Israel Shamir, Kellyanne Barros, Raylson Lima, Raísa Sales.
Professores: M. Alexandre Maciel (Jornalismo Impresso), M. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual), M. Marcus Túlio Lavarda (Fotojornalismo). e Revisão: M. Alexandre Maciel.
Fotografias: Adriana Dias, Adriana de Sá, Andreza Vital, Breno Franco, Hyana Reis, Israel Shamir, Kellyanne Barros, Mirían Gomes, Núbia Carvalho, Raylson Lima, Raísa Sales, Stepheson Sousa, Sabrina Chamorro.
Diagramação: Ana Paula Viana Ramos; André Ricardo Guimarães Cadete; Bruna Viveiros dos Santos; Islene Sousa Lima, Jorzennilio Alves Junior; Jose Silva de Moraes; Juliana Ferreira Eugenio; Juscelino da Silva Oliveira; Kayro Lima Ferreira Sousa; Leticia Kuniko Sekitani, Liana Melo Lima Bittencourt, Lucas Sousa Oliveira, Manoel Nascimento Silva de Maria, Mariana Sousa de Castro, Ramon Tulio Oliveira Dias, Samoel Perereira de Freitas, Thiago Coelho de Faria, Welton Gomes de Araujo.
Estágiarias: Adriana de Sá, Hyana Reis, Maria Felix.
Contatos: www.imperatriznoticias.com.br | Fone: (99) 3221-7627 Email: contato@imperatriznoticias.com.br
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MUDANÇA Comércio varejista, ao longo dos anos, deslocou-se da rua Godofredo Viana para a avenida Getúlio Vargas, onde hoje é conhecido como Calçadão
Centro comercial é atrativo de compras Conhecido como Calçadão e construído no ano de 1979, esse esQuem visita Imperatriz e ignora paço foi pensado levando em cono centro de compras mais popular ta o fluxo das pessoas e tentando da região Tocantina, o Calçadão, evitar o movimento de carros e binão sabe o que está perdendo. Dei- cicletas. xa de apreciar um lugar no qual se Quase como um parque de diencontram as mais diversas opções versões, as crianças são público de comércio varejista. frequente, indicando presentes O Calçadão é um espaço que que desejam ganhar dos pais. As aproxima os consumidores de 80 vovós também costumam visitar municípios da região. Mercado esse comércio varejista para comvasto, abastece uma população de prar tênis de caminhada. mais de 1,6 milhão de habitantes, A questão crucial foi o deslolevando camento das em conta empresas de Essa espécie de comércio as cidades outros segé precursora dos shoppings da região mentos para Tocantina. as demais Imperatriz é plural e tem voca- avenidas da cidade. Os grandes ção para o comércio, oferecendo armazéns foram cedendo espaço produtos e serviços próprios dos para as confecções, calçadeiras, grandes centros. joalherias e cosméticos, entre ouAmbiente colorido, atraente e tros. Segundo Adalberto Franklin, sofisticado, o Calçadão todos os “esse comércio é da espécie que a dias oferece uma novidade para gente diria, precursora dos shopos mais diversos gostos e gastos. pings”. Ao caminhar pelo local, surge uma Na década de 1970 Imperapergunta: como nasceu esse co- triz passava pelo ciclo da madeimércio tão popular e de que forma ra. Assim, o município vivenciou, ele se tornou conhecido na região? naquele período, grande fluxo migratório nesta região que era Origens - O espaço comercial impulsionada pelo crescimento nasceu no final dos anos 1970 sen- econômico. do o prefeito da cidade, naquele Naquele período, a intenção era período, Carlos Amorim. Segundo construir três quadras, mas devido o historiador e jornalista Adal- a um conflito com um supermerberto Franklin, a prinicipal área cado, não foi concretizado o projecomercial do município estava se to. Os comerciantes contribuíram deslocando da rua Godofredo Via- com a paisagem urbanística consna para a avenida Getúlio Vargas, truindo os canteiros. “O Calçadão que passou, desde então, a abrigar é um espaço de exposição nobre da o comércio varejista. cidade”, destaca Franklin.
ARQUIVO PESSOAL
KELLYANE BARROS
Avenida Getúlio Vargas nos anos 1970, entre as ruas Sousa Lima e Coriolano Milhomem. Na imagem as antigas Redes Mossoró, Lojas Duca e A Potiguar
Calçadão nos anos 1960 aproximava pessoas de outros municípios ALBÉ AMBROGIO
Imperatriz, anos 1960, no local onde hoje fica a Praça de Fátima e a avenida Getúlio Vargas
KELLYANE BARROS
A expressão no rosto da professora Maria Rodrigues dialoga com a fala poética desta senhora que rememora, com muito saudosismo, o Calçadão de outrora. Ela conhece cada cantinho de Imperatriz. Trabalhou vendendo legumes e frutas na antiga feira que ficava próxima ao centro comercial e onde hoje funciona uma escola infantil e o Hospital Regional. Com o olhar atento, Maria lembra que o Calçadão quase não tinha paisagem, mas se recorda de uma palmeira. Como nas outras ruas, havia asfalto e trafegavam carros. A professora traz na lembrança que o Calçadão foi isolado das outras ruas devido ao movimento
das pessoas. O trânsito era constante de carros e bicicletas. “Foi preciso a polícia prender alguns ciclistas, pois não obedeciam ao espaço dos pedestres”, menciona Maria.
Comércio - Sobre a década de 1960, a senhora lembra, emocionada, das primeiras casas de comércio. “No Calçadão tinha o armazém muito grande, onde ficava o Bazar Ipanema. Eu gostava de comprar querosene”. Articulando com as mãos e o lindo sorriso, recorda que os armazéns ficavam junto das lojas de tecidos, já que não se encontravam roupas prontas para comprar. Maria Rodrigues comenta que “a loja que atraía as pessoas
era o Armazém Paraíba”. E faz o paralelo com o nascimento de sua filha primogênita. “No ano de 1967, a loja Paraíba já tinha inaugurado na cidade”. Ela relembra a chegada de outras lojas que competiram com o Armazém Paraíba, no caso a Pernambucanas, Novo Mundo e as Bandeirantes. Na década de 1960, essas opções de compra já atraíam clientes de outros municípios para Imperatriz. Hoje a professora, bem humorada, comenta que “o Calçadão é o melhor lugar para as pessoas disputarem espaço umas com as outras”. E se surpreende que a divisa dos calçadões seja o único lugar na cidade em que, na sua opinião, o motorista respeita a faixa de pedestre.
Comerciantes versus camelôs: em busca da conquista da clientela KELLYANE BARROS
“Ah! Era tudo”. A exclamação é da comerciante Adélia Carneiro, ao mencionar que o seu comércio vendia produtos variados. “Bebida tatuzinho, açúcar, café em grãos e ferra-
mentas. Era muita coisa”. O comércio de Adélia funcionou no final dos anos 1960 e localizava-se onde está situado, hoje, o Bazar Ipanema. Com o olhar atento, ela explica que a organização paisagística do Calçadão partiu dos
comerciantes. Na década de 1970 o prefeito Carlos Amorim organizou a divisão das duas quadras do Calçadão. Mas os comerciantes não esperaram a boa vontade do poder público municipal e se mobilizaram pela
melhoria do comércio varejista. Segundo Adélia, o então prefeito construiu o Calçadão, mas não fez nem os canteiros e nem a bancada, obra dos comerciantes. “Era cheio de barraca dentro do Calçadão”. Ela recorda que os came-
lôs ocupavam boa parte do comércio no local. Foi preciso que os comerciantes mudassem o cenário, criando, eles próprios, os canteiros e as bancadas para afastar seus concorrentes que trabalhavam na informalidade.
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MORADORES No Calçadão de Imperatriz ainda residem os últimos moradores, como a familía Cordeiro, que relata sobre as complicações de viver em meio ao centro comercial
A última residência do centro comercial ADRIANA DE SÁ ANDRÉ WALLYSON
É por uma porta estreita, entre uma loja de calçados e outra de confecções, que se tem acesso a uma escada íngrime, que leva à casa de uma das poucas famílias que ainda moram no Calçadão. A família Cordeiro chegou ali na década de 1960, quando a avenida Getúlio Vargas ainda era uma rua sem piçarra ou qualquer vestígio do comércio grandioso que viria a se tornar nas próximas décadas. “Eu já nasci aqui. Minha infância foi jogando futebol em frente às lojas e quebrando vitrines com a bola”, conta Milkson Cordeiro, um dos moradores da casa, que agora tem 25 anos. De acordo com ele, morar em pleno coração do centro comercial de Imperatriz, nunca foi coisa das melhores. “A gente acaba ficando muito limitado. Não pode nem sentar na porta com os amigos, o barulho...” Somos interrompidos , neste momento, por um grito: – Olha o quebra queixo! “Tá vendo? É muito barulho e é assim todos os dias, de segunda a sábado”. Em meio aos gritos, que
vendem de DVD pirata à cachorro quente, Felipe Chaves, primo de Milkson, lembra que outro problema é não poder ter garagem na sua própria casa. Além disso, a falta de vagas de estacionamento próximas à residência causa estresse no dia a dia. “Você sai no meio da tarde pra ir ao supermercado e quando chega em casa, por volta das 18h, tem que ficar rodando pelo Centro para poder estacionar”, exemplifica Felipe. “E, mesmo assim, ainda estaciona longe de casa, é um caos”, completa Milkson. Os dois rapazes lembram também, que viver no principal ponto de comércio varejista da cidade tem suas vantagens. “É perto de tudo e à noite e aos domingos, é uma paz que não existe em nenhum outro lugar de Imperatriz. Fora a segurança. A gente vai para as festas e pode chegar a qualquer hora que os seguranças das lojas estão todos por aqui”, garante Felipe. Mas essa vantagem não convenceu muitas famílias a continuarem morando por ali, segundo Milkson. “Nossos últimos vizinhos se mudaram no início deste ano. Venderam o prédio com ponto comercial e tudo por 2,5 milhões de reais”.
As roupas no varal, da casa em cima da loja de calçados, comprovam que ainda há uma familia vivendo no centro comercial de Imperatriz
Variedade de móveis e eletros atrai clientes das outras cidades HYANA REIS ANDREZA VITAL
Instalado em Imperatriz em 1967, o Armazém Paraíba é a mais antiga loja de eletros do Calçadão
O���������������������������� Calçadão de Imperatriz possui um comércio bem diversificado, podendo os frequentadores encontrar uma variedade de produtos que agradam diferentes públicos com um “precinho” para todos os bolsos. Porém, apenas uma das lojas se destaca por ser a única do Calçadão a vender móveis e eletrodomésticos: o Armazém Paraíba. Criado em 1958, na cidade de Bacabal (MA), o Armazém Paraíba tem esse nome devido ao dono da loja ser natural deste estado. Inaugurado em Imperatriz no ano de 1967, instalou-se na esquina da rua Simplício Moreira e da avenida Getúlio Vargas. Na época, ainda não existia o Calçadão. “O ponto forte da loja eram os tecidos. Mas, aqui já vendia alguns poucos móveis e eletrodomésticos”, explica o gerente Antônio Araújo, conhecido pelos funcionários e clientes da loja por
Farmácia São João: Décadas de história EVA FERNANDES
Referência por seu tradicionalismo no comércio imperatrizense, a farmácia São João, presença clássica no Calçadão, está no mercado há mais de três décadas. Farmacêutica responsável pela drogaria, Daniele Brige, 30 anos, conta que a saga da família no Maranhão começou quando o seu avô materno e fazendeiro na Bahia, Cílio Brige, vendeu tudo o que tinha e comprou terras por aqui. Logo em seguida mudou-se para cá com toda a família e, quando chegou, Sandra Brige, mãe
de Danielle, na época com 15 anos, casou-se com o então mecânico, Rayfran Magalhães.
Desde a década de 1970 a Farmácia São João funciona no Calçadão de Imperatriz Temendo que a filha fosse ser apenas dona de casa, Cílio Brige comprou a farmácia de um senhor chamado João Soares, que também era fazendeiro e deu parte à filha
como presente de casamento. O negócio passou para a direção da família Brige em 6 de novembro de 1982, como uma espécie de sociedade em família. Nos últimos dez anos, novos serviços, como manipulação de remédios e produtos, como medicamentos do programa Farmácia Popular foram agregados à drogaria. “Nós só trabalhamos na área de medicamentos. A São João não é como as outras farmácias, nós prezamos pela medicação. Tem farmácias que vendem até ração para cachorro”, assegura a farmacêutica.
seu outro sobrenome, Dilson. No final da década de 1970, surge o Calçadão de Imperatriz, hoje considerado um dos maiores centros de compras da região. Ainda segundo o gerente Dilson, um dos motivos do Paraíba ter se consolidado no ramo de móveis e eletro-
“O ponto forte da loja eram os tecidos. Mas, aqui já eram vendidos alguns poucos móveis e eletrodomésticos” domésticos naquele setor - hoje possuindo 1,5 milhões de clientes foi a criação do Calçadão. Ele acredita que as pessoas se sentem confortáveis em fazer compras sem ter que se incomodar com o trânsito na rua. Preferência- Vendedor do setor
de móveis e eletrodomésticos, Caetano Macedo trabalha na loja há dois anos e diz que os melhores períodos de comercialização desses produtos são os que antecedem o Natal e devido ao Dia das Mães, o mês de maio. Quanto à clientela, Macedo afirma que boa parte vem das cidades circunvizinhas, “porque lá não possui a variedade de produtos que aqui tem”. Mesmo com o fato de Imperatriz disponibilizar diversas lojas do setor de móveis e eletrodomésticos, algumas pessoas residentes na cidade preferem comprar esses produtos no Paraíba do Calçadão. É o caso da artesã Lucimeire Lima. Frequentadora da loja há 10 anos, ela afirma que na época se tornou cliente do Armazém Paraíba devido à facilidade de crédito e a variedade de móveis e eletrodomésticos que a loja oferece, além do fato de não ter que se incomodar com carros passando na rua. SABRINA CHAMORRO
Farmácia São João comercializa remédios manipulados e produtos do programa Farmácia Popular
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PESQUISA A necessidade é o fator que mais influência na decisão de consumo da população, conforme dados levantados pelo Departamento de Economia da Fest
Necessidade e preços atraem consumidores RAÍSA SALLES
Em uma manhã de sábado, as irmãs Luciana e Júlia Martins observam...adivinhem o quê? Isso mesmo! Sapatos! E de preferência, com salto bem alto. A vendedora se aproxima. - Quanto custa? - pergunta Júlia, curiosa. -Essa aí é R$ 130. - R$ 130? - É, mas à vista fica R$ 117 ou divide em até três vezes no cartão. Não gostando do preço, as irmãs saem à procura de promoções mais tentadoras. Um dos setores de maior venda da Getúlio Vargas é o de calçados, que conta com variedades de preços e modelos, procurando atender, assim, a demanda e a necessidade dos clientes. Dados do Departamento de Economia da Faculdade de Educação Santa Teresinha (Fest), em estudo realizado em 2011, concluem que a necessidade é o fator que mais influencia na decisão de consumo da população, seguida do apelo
promoção/propaganda e até mesmo o momento da economia. “Mulher fica bonita de salto”, ressalta o gerente da loja de calçados Kazzu Azze, Valterly Ferreira, 29 anos, mostrando que além da necessidade, a vaidade feminina é um grande impulsionador das compras. “São elas que mais consomem”, informa a vendedora Bruna Rafaella Siqueira, há três anos no ramo. A vaidade feminina fala alto, sendo decisiva na hora de adquirir uma peça do vestuário, de preferência, que combine com seu gosto pessoal. Em umas dessas lojas de calçados é possível encontrar produtos de R$ 10 até R$ 350, dependendo do estabelecimento e da marca. “Pesquisando os preços, você pode encontrar calçados bem em conta”, assegura a estudante do Ensino Médio, Luciana Martins, 17 anos. Propaganda também é outro fator que, sem dúvida, influencia o comportamento de consumo da população. Em um passeio pelo Calçadão, percebe-se um turbilhão
de anúncios para atrair o consumidor. São faixas, cartazes e vitrines destacando as promoções do dia, em meio à música em alto volume, em paralelo ao vai-e-vem das pessoas. Nesse espaço de concorrência, as estratégias de venda são fundamentais para o sucesso da loja. O diferencial é a chave para alavancar os lucros. A exemplo disso, o gerente Valterly Ferreira contextualiza: “Quando vim pra cá entrei em várias lojas, pra ver como era o atendimento...então a gente aqui prioriza o cliente”. Varterly acredita que o cliente tem que ter toda liberdade com o produto e garante que isso não acontece em outras lojas. “Você pode pegar a sandália, pode vir aqui e sentar! Em outras lojas, se você gostar tem que chamar o vendedor, que vem com a chavezinha ali e abre aquela vitrine. Então é uma espera, e demora muito pra ser atendido. Então aqui não, aqui é tipo um self service de calçados”, conta, sorrindo.
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Clientes têm à sua disposição muitas opções de calçados que buscam atender aos mais variados gostos
Lojas de confecções do Centro Comercial empregam 192 pessoas RAÍSA SALLES
Rosália Borges, vendedora da loja Princesinha, trabalha há 11 anos no ramo das confecções
RAÍSA SALLES
Depois de acordar bem cedo, fazer o almoço e deixar sua casa arrumada, como faz todo santo dia, ela sai para o trabalho maquiada como toda mulher vaidosa. Chega à loja às 7h55 e espera o gerente abrir as portas. Assim começa mais um dia, de jornada de Rosália da Silva Borges, 30 anos, vendedora da loja de confecções, dentre muitas do Calçadão da Getúlio Vargas. Ela, que trabalha na mesma loja há 11 anos, conta um pouco da rotina e das suas expectativas profissionais e pessoais: “Não queria ser mais vendedora, não. Quero ser é dona...”. Rosália é uma das muitas funcionárias de lojas de confecções do Calçadão, setor que emprega 192 pessoas e todo ano aumenta cerca de 50,5% seu quadro de funcioná-
Produtos importados no Calçadão apresentam preços baixos RAÍSA SALLES
Imperatriz, como polo econômico, acompanha as tendências de mercado. Produtos vindos de outras fronteiras, principalmente da China, conquistam consumidores de todas as classes sociais, que são atraídos, necessariamente, pelo preço. O Calçadão conta com quatro lojas especializadas neste segmento, que popularizou-se no início do Plano Real (década de 1990), quando os produtos
importados tornaram-se atraentes para os comerciantes. Aronildo Carneiro da Silva, dono de uma loja de importados, também atribui a ausência dos produtos nacionais em sua loja aos elevados impostos, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Se o preço é o maior atrativo, a qualidade deixa a desejar? Até pode ser, mas, procurando direitinho se encontra, como ensina a vendedora Elizabeth Nunes: “Tirando a bateria
do celular e trocando por uma original, acho que são bons”. Ela conta que é cliente incondicional dos produtos importados. A vantagem de possuir produtos importados, segundo o estudante de Geografia Joelson Alves Ribeiro, de 21 anos, “é, sem dúvida nenhuma, o preço, que atrai o consumidor”. Porém, estes produtos possuem prazos de validade e durabilidade frágeis e não são tão comuns as peças de reposição, como no caso dos nacionais.
rios, de acordo com informação dos proprietários. O setor acompanha as tendências de expansão da economia, com novas empresas chegando à região. Esses fatores colaboram para o fomento do mercado de trabalho e aumento do poder de consumo. Carlos Sousa, que trabalha no setor administrativo de uma grande loja varejista do Calçadão, frisa que uma das variáveis desse crescimento tem relação com os tipos de mercadoria. Ele acrescenta que enquanto a venda de eletrodomésticos diminuiu em relação aos meses de janeiro a abril do ano de 2011, a comercialização de vestuário e calçados aumentou no mesmo período de 2012. Dentro dessa perspectiva de aumento das vendas para o setor de vestuário e calçados, os comerciantes se entusiasmam.
Roderico Paiva Lima, com 65 anos, está há quase 40 no mercado. Dono de lojas de confecção no Calçadão, ele comenta sobre o período de mais vendas. “É o verão, que começa mais ou menos no mês de abril, maio e vai até o final do ano. É uma constância, viu? Agora, o período invernoso, que vai do final do ano até janeiro, fevereiro, março e abril já é aquele com menos movimento”. A todo o momento surgem novidades nas lojas de confecção estabelecidas no local. Em busca de tendências, os lojistas viajam a cada dois meses para São Paulo, Belo Horizonte e outros centros da indústria têxtil. Todos esses aspectos demonstram a importância do comércio para a região. No caso de Rosália, a vendedora, se traduz em perspectiva do aumento de empregos.
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Acessórios para celulares estão entre os ítens importados mais comercializados no Calçadão
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ALIMENTAÇÃO Dá para comer de tudo no Calçadão. Distribuídos no espaço estão 103 comerciantes informais vendendo alimentos que vão desde o açaí até o vatapá RAYLSON LIMA
Cardápio diversificado, histórias semelhantes RAYLSON LIMA
Açaí, bolo, cochinha, caldo, enroladinho, pastel, pão de queijo, pamonha, refrigerante, salada de frutas, sorvete, sucos, tacacá, vatapá. Tem de tudo para alimentar os que passam pelo centro comercial de Imperatriz. Dividindo espaços determinados pela Secretaria de Meio Ambiente estão 103 comerciantes informais, inclusive cadastrados, que vendem estes produtos. Entre eles, William Soares, vendedor de salgados há dois anos, tem a frente do Armazém Paraíba como seu “ponto”. Na sua banca, com R$ 2 é possível fazer um lanche completo. Salgado, suco ou refrigerante. “Tem vez que meche com a gente”, reclama Soares, referindo-se à Prefeitura, que já o impediu de vender. Situação comum para quase todos os comerciantes informais. “A prefeitura só perturba aqui no final de ano”, garante Maria Barbosa, que trabalha vendendo salada de frutas há quatro anos. Próximo dali, Francisco da
Conceição, 67 anos, assim como William, vende sucos e salgados, mas tem cinco anos a mais de experiência no local.
Cotidiano - Sua barraca está posicionada próxima a um esgoto que exala mau cheiro. O que não aparenta incomodá-lo e nem à velha senhora que queria comprar apenas um pão de queijo, mas, ao provar o produto ali mesmo, resolveu levar mais três.
“Como eles não são comerciantes formais a vigilância não fiscaliza. Fazemos uma ação educativa”, informa a Vigilância Sanitária A Vigilância Sanitária, por meio da coordenadora Dinaldete Marques, justifica: “como eles não são formais, a vigilância não fiscaliza.
Nós fazemos uma ação educativa”. São três campanhas realizadas anualmente. A assessora jurídica Ana Paula Galdino complementa mencionando que o trabalho da Vigilância consiste na “orientação de boas práticas de manipulação do alimento e de condicionamento para diminuir os riscos”. Contrariando essas opiniões oficiais, Iolanda Chaves, vendedora há um ano, afirma enquanto prepara um cachorro quente: “A vigilância nunca veio aqui”. Moscas zumbem próximo ao seu ouvido. Estão em cima das vasilhas coloridas que acomodam os ingredientes. Iolanda não se incomoda. Sentimento contrário ao do acadêmico de Enfermagem André Leite. “Tenho medo de ter uma salmonelose ou uma bactéria”. Por isso, só lanchou no local uma vez. Quando tratam do assunto os entrevistados manifestam discursos comuns. “Tá devagar”. “Só vendo para sobreviver, nunca consegui construir nada”. “Só venho por vir mesmo”. “Só dá para ir escapando”. E esperam ansiosos o início de mês, segundas-feiras, o verão e finais de ano.
Comerciantes que atuam na região têm mais clientes nos inícios de mês, verão e finais de ano RAYLSON LIMA
Vendedores apelam para o improviso para dispor toda a variedade dos seus produtos aos clientes
“Caldo Forte” construiu sua casa com 20 anos de informalidade RAYLSON LIMA
Sob o calçamento pedregoso, Francisco Júnior de Almeida Nobre empurra sua bicicleta cargueira. Em cima, duas caixas de isopor e quatro garrafas térmicas com o líquido que trouxe seu apelido: “Caldo forte”. Francisco é nascido em Pedreiras (MA). Chegou a Imperatriz em 1985, quando ainda não era casado. Orgulha-se de não ter nenhuma assinatura em sua carteira
de trabalho e dele mesmo pagar o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Há 20 anos, Francisco trabalha no Calçadão com vendas informais e há três vende lanches. Família? “Só tenho uma menina e crio quatro pessoas lá dentro de casa”. Sobre a origem dos produtos vendidos ele cita que “a mulher faz o salgado e o caldo pra mim dar o sustento à família”.
Rotina - “Tem caldo quente?”,
pergunta uma mulher. Vivamente ele responde: “Pegando fogo!”. Apenas cinco minutos de sua chegada e
“Eita caldão gostoso. Vitamina A e B à força da macaxeira”, grita Caldo Forte ainda organizando a barraca, ele já vendera seu primeiro caldo.
Segundo Francisco, “dá para se manter”. Sua residência, própria, foi construída com o dinheiro “suado”, obtido das 10 às 19 horas, no Calçadão. Ele atribui a “vitória” vangloriando-se. “Se eu fosse de bebedeira, essa coisa assim, eu não arrumava nada. Por que o dinheiro ia para a bebida e muiézada”. “Olha o caldo, olha o caldo, uma delicia aqui o caldo. Somente um real, somente um real o caldo”, grita Francisco. Seus berros parecem ter surtido efeito. Vendedores
das lojas próximas e pessoas que transitavam por ali se aproximam. “Franguim ou carne?”. “Tem de um e de dois”. Os clientes comem ali mesmo, aos arredores da barraca. Rapidamente, Francisco atende todos e em dois minutos já estamos sós de novo. “Eita caldão gostoso. Vitamina A e B à força da macaxeira”. E o grito atrai mais clientes. Com o rosto já suado Caldo Forte confessa que sonha em “comprar um carro e vender caldo...no carro”.
José Wilck, o Palhaço Paçoquinha, distribui alegria todos os dias RAYLSON LIMA RAYLSON LIMA
Personagem do palhaço Paçoquinha existe há 15 anos. Trabalho rende cerca de R$ 700 mensais
“O destino foi cruel comigo”, lamenta José. Vestido em roupas coloridas, rosto pintado de branco e vermelho. Na cintura, preso ao cinto, um saco de bexigas coloridas e, nas mãos, origamis de papel. Escondidos por trás da tinta branca, que suja o rosto, olhos tristes. Esse é o palhaço Paçoquinha, há 15 anos no ofício. E seu nome é José Wicky Silva Brito. Desde dezembro de 2011 ele alegra as pessoas que transitam no Calçadão. O oficio nasceu quando trabalhava montando a estrutura de circos. “Lá eu descobri que eu levava jeito para divertir”. E acrescenta: “Eu
adotei isso não como forma de levar alegria e descontração, mas como meu ganha pão”. Trabalho que rende, mensalmente, cerca de R$ 700.
“Eu era animador e salva vidas de rodeio”. Naquele dia quem precisou ser salvo foi ele A razão de sua presença solitária na cidade - sua família mora no Pará - é contraditória ao sentimento que tenta distribuir diariamente das
6 às 17 horas. “Estou aqui só de passagem”, afirma o palhaço.
Motivo - Há dois anos sofreu um acidente em um rodeio na cidade de Açailândia. “Eu era animador e salva vidas de rodeio”. Naquele dia, quem precisou ser salvo foi José. Decorrente do acidente, ele desenvolveu uma infecção nos nervos e trata-se aqui na cidade. Paçoquinha, já com olhos brilhantes e voz firme, sonha em “levar uma vida folgada, poder levar alegria e ensinar artesanato”. E sobre sua permanência na cidade só assegura: “Quem vai dizer é a vida”. Que ultimamente tem sido “cruel” com o palhaço.
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COMÉRCIO INFORMAL No Calçadão, a venda de produtos e acessórios é a maneira que muitos procuram para se manter, em um mercado cada vez mais competitivo
Ambulantes faturam no centro comercial ADRIANA DIAS
Ronaldo da Silva Bulhões chega ao Calçadão às 7h50 da manhã, olha de um lado para o outro, parece estar esperando alguém. Às 8h, funcionárias da loja Isabela Variedades chegam para abrir o estabelecimento e ele parece ficar mais calmo. Entra, retira uma mesa de primeiro e segundo andar de cor amarela para fora. Começa a organizar vários eletrônicos, sua mercadoria de trabalho. O sol esquenta e Ronaldo se apressa para acabar de arrumar antenas e controles para televisão, carregadores de celulares e pilhas, que são algumas de suas mercadorias. Como último retoque, amarra um elástico nas caixas de antenas Universal para não caírem. A passos lentos, procura uma sombra, senta em um banco que fica abaixo de uma árvore a uns três metros à sua frente e espera, atento, os clientes. Ronaldo, mais conhecido por Bulhões, tem estatura baixa, cabelos brancos, rosto e pele já enrugados pela idade. Morava em São Paulo, há 12 anos reside sozinho na cidade e há oito trabalha com a venda de eletrônicos no mesmo lugar. Ele afirma que é pioneiro no comércio informal deste tipo de produto no Calçadão de Imperatriz. Compra suas mercadorias na cidade, em lojas de atacado como Zumica, Naldo e JP Variedades. Os artigos que mais vende são as antenas. Ele diz que
não sabe porquê, as pessoas costumam quebrar muito esses produtos. Outro eletrônico com boa saída são os carregadores. Os preços de suas mercadorias variam de R$ 5 a R$ 20 e Ronaldo ganha em média, R$ 800 por mês sem contar com sua aposentadoria conquistada há um ano. Paga R$ 220 de aluguel por quarto no centro da cidade. Trabalha no comércio informal por acreditar que, com sua idade, não conseguirá arranjar outro emprego. “Quando a gente vai ficando velho, é difícil empresas quererem contratar, aí temos que se virar do jeito que der certo”. Concorrência- “Já consegui comprar minha moto, uma Biz preta, e tirar minha habilitação”. Essas são algumas conquistas que Diones da Silva Carvalho, 23 anos, conseguiu vendendo eletrônicos e produtos variados com comércio informal no Calçadão. Ele trabalha há cinco anos vendendo carregadores e capas de celular, controles de televisão, meias, carteiras e cintos, em horário comercial e fatura cerca de R$ 500 por mês. Mas pretende sair do mercado informal. “Quero ter minha própria loja”, revelou. E para isso já está comprando aos poucos sua mercadoria e guardando em casa. Atacadão Oliveira, JP e Naldo Vaeiedades são lojas de Imperatriz visitadas com frequência por ele.
ADRIANA DIAS
“Já consegui comprar minha moto, uma Biz, e tirar minha habilitação”. Essas são algumas conquistas de Diones da Silva Carvalho, 23 anos
“Pirataria” no Calçadão gera lucro para Comércio de eletrônicos comerciantes que tentam driblar a polícia varia de chip a celulares ADRIANA DIAS
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Marcos, como prefere se identificar, tem 24 anos e chega ao Calçadão às 8 horas, pega uma caixa de papelão, coloca o fundo para cima e retira da sacola CDs e DVDs de filmes, músicas e desenhos infantis. Senta na calçada e espera os clientes. Ele está nesse comércio há quatro anos, mas diz que quer mudar de emprego. “Quero fazer faculdade, passar no concurso público, ou ser segurança”. Diz que trabalha sempre com medo, e já teve sua mercadoria apreendida quatro vezes. Mora na cidade de Davinópolis a 12,3 quilômetros de distância de Imperatriz. Um CD ou DVD custa R$ 5, dois ele faz por R$ 10 e ganha, em média, R$ 400 ao mês. Quando questionado sobre onde compra sua mercadoria, não quis se pronunciar. Mas acrescentou: “Com esse comércio consegui comprar uma moto Titan vermelha 125 e tirar minha habilitação”. Marcos faz parte do grupo de cerca de 25 pessoas que trabalham com a venda de produtos pirateados no Calçadão, de acordo com o coordenador de Fiscalização do Meio Ambiente da prefeitura, Falcão Galvão Silva. Ele argumenta que a solução para essa informalidade é quase insolúvel. “Você faz a retirada hoje destas pessoas e amanhã estão de volta”. A fiscalização é organizada na forma de ações programadas e quando são recebidas denúncias. De acordo com informações do escrivão da Polícia Civil, Kerlenio Maurício Ferreira Gonçalves, em 2011 foram incinerados toneladas de CDs e DVDs. Já nos primeiros
Mercado de CDs e DVDs é dos mais movimentados, gerando aproximadamente R$ 400 mensais ADRIANA DIAS
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Com um fundo musical dançante vindo do seu celular, Antonio Pereira da Silva, 30 anos, tenta vender um aparelho Motorola de cor cinza com preto por R$ 200 a um freguês, que aparenta estar bastante empolgado. Conversa vai, conversa vem, e o jovem convence o vendedor de eletrônicos a deixar por R$ 70, dando em troca seu aparelho e com a desculpa de trazer R$ 50 no dia seguinte. O vendedor sorri desconfiado, talvez por achar que dificilmente o cliente volte. Pen drives de dois a quatro gigas, celulares nacionais e importados, que variam de R$ 80 à R$ 250, cartões para câmeras e chips para celular Tim, Vivo e Oi, por R$ 10 são alguns de seus produtos. Antonio mora em Imperatriz e trabalha há dez anos no ramo, sendo dois no Calçadão. Ganha em média, mil reais por mês, com-
pra os produtos por encomenda ou quando viaja. Antonio diz que gosta de trabalhar com eletrônicos e já conheceu vários lugares, como São Luís e Teresina. Alternativa - Fernando, como prefere ser chamado, tem 23 anos e divide o mesmo espaço de trabalho, vendendo CDs e DVDs piratas. Diz que não gosta de trabalhar nesse mercado, mas ainda permanece, porque não arranjou outro trabalho. “Fico o tempo todo com medo de levarem minhas mercadorias”. Acrescentou que já perdeu a conta de quantas vezes ficou sem os produtos. É casado, pai de dois filhos, mora na cidade, e há um ano trabalha nesse ramo. Fatura uma média de R$ 400 por mês, e têm vários projetos de vida, dentre eles, passar no concurso público da prefeitura, fazer uma faculdade, ou mesmo um curso de segurança do trabalho.
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DVDs de músicas, filmes e jogos têm venda garantida nas calçadas do centro de Imperatriz
três meses de 2012, foram apreendidos cerca de 100 produtos. No Brasil, a pirataria fere a licença dos direitos autorais e contra ela existe a Lei Antipirataria 10.695
de 1º de julho de 2003 do Código de Processo Penal, que pune os responsáveis. Dependendo dos casos, a pena pode chegar a quatro anos de reclusão e multa.
Na banca improvisada, pen drives, cartões para câmeras e chips para todos os tipos de celulares
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NOITE À medida que escurece o Calçadão se torna um local frequentado por estudantes, catadores, casais de namorados, mas também escondem seus perigos
Formas e tonalidades noturnas do Calçadão ISRAEL SHAMIR
ISRAEL SHAMIR
Quando se fala sobre Calçadão muitos imaginam barulho, movimento e consumismo. Poucos param para pensar que esse lugar toma forma e cores totalmente opostas no turno da noite. Ao invés de ponto de estresse e perturbação, o Calçadão se torna, para muita gente, um lugar até um tanto romântico. Nesse horário, a zoada da multidão e o barulho das rádios difusoras dão lugar ao silêncio e o intenso movimento é substituído por tranquilidade e muita calmaria.
“O lixo que sobra na frente das lojas é um absurdo” O Calçadão, com tonalidade amarelada por causa das luzes, toma aspecto de praça, e muitas pessoas vão pra lá para conversar e até mesmo para namorar.
Vivência - Já se aproximava das 18 horas do dia 4 de abril, véspera do feriado da Semana Santa. Embora o Calçadão não fosse o lugar mais adequado para compra dos ovos de Páscoa, o movimento era intenso nesse dia. À medida que escurecia, menor
Calçadão no turno da noite, com muito lixo no meio do caminho, se mistura com a solidão dos trabalhadores que se indignam com a sujeira do local
era o fluxo de pessoas que circulavam no Calçadão. O público não era
mais apenas dos clientes. Agora, os vendedores assumiam posição tam-
bém de pedestres, se misturando aos camelôs e ao resto das pessoas que
voltavam para suas casas. Aos poucos, as luzes dos postes começaram a acender. Nesse momento a maioria das lojas já tinha baixado suas portas. O Calçadão ficava vazio de pessoas, mas cheio de lixo, na sua maioria sacos e caixas de papelão, que as lojas e os pedestres jogaram no chão ao longo do dia. Zilda, vendedora ambulante de comidas típicas, é a última comerciante a voltar para casa. Ela acaba seu expediente por volta das 21h e acompanha esse mesmo movimento todos os dias.“O lixo que sobra na frente das lojas é um absurdo”, contesta a vendedora. Em sua opinião, esse é o aspecto mais negativo ao final de todos os dias no local.
Segurança - Assim como de dia, o Calçadão dispõe de segurança particular no período da noite. Leonardo Sales já trabalha como vigia noturno há cinco anos. Para ele, o perigo é o pior desafio da sua profissão. Ainda mais depois que foi assaltado por duas pessoas durante seu expediente. Seu colega de trabalho, José Waldo, conhecido como “Santeiro”, faleceu há um ano. A partir de então, trabalha sozinho. Desde que assumiu o cargo, já presenciou várias tentativas de arrombamentos durante as madrugadas. Mas a presença do vigia ajuda a inibir essa prática.
Centro torna-se mais vulnerável aos perigos da noite
Frequentadores e os seus interesses
ISRAEL SHAMIR ISRAEL SHAMIR
Lojas e pessoas que passam pelo Calçadão no período da noite ficam mais vulneráveis a assaltos pelo fluxo reduzido de policiais. É o que relatam alguns lojistas que trabalham no espaço ISRAEL SHAMIR
Nos lugares onde há grande movimentação de pessoas e de valores é necessário uma atenção especial do Poder Público no quesito segurança. No Calçadão não poderia ser diferente. Um dos maiores aglomerados comerciais de Imperatriz ainda deixa a desejar nesse sentido, apesar de alguns sinais de melhora depois que o novo comando da Polícia Militar (PM) foi empossado em 2012. Para compensar um pouco essa falta, a Associação dos Lojistas do Calçadão disponibiliza dois seguranças diurnos e um noturno, que trabalham mais como fiscais preventivos do que como seguranças propriamente ditos.
Eles exercem suas funções de- ma, que tem 14 anos no Calçadão, já sarmados, trajando roupas comuns sofreu três assaltos ao longo desse e uma blusa com o nome “apoio” tempo. O último foi há quatro anos, na altura do peito, que os identifica em um domingo de Carnaval. “A gente como seguranças. nem chegou a abrir Somente as granLojistas entrevistados as portas direito e des lojas, como eles entraram juninformaram que os Armazém Paraíba, to, já armados. Óticas Maia, Chi- seus estabelecimentos já Eram dois”, lembra ck Center, Marisa Gracilde, funcioforam vítimas de e algumas outras nária da farmácia possuem segurandesde a sua fundapequenos furtos ças particulares. ção. A grande maioria Lourdes, proconta com a defesa da Associação e prietária da loja, mostrou-se muito da PM. angustiada ao tocar no assunto e preferiu não lembrar o incidente. O Relatos - Todos os lojistas entre- prejuízo foi de R$ 30 mil. Além da farvistados informaram que os seus es- mácia, outra loja vítima de assalto foi tabelecimentos já foram vítimas de a Mirelly Calçados, no ano passado. O tenente-coronel Edeilson Carpequenos furtos. A Drogaria Ed Far-
valho, Comandante do 3° Batalhão da Polícia Militar de Imperatriz diz que, apesar de recente no cargo, já começou a corrigir a falta de segurança do Calçadão. “Vamos manter uma viatura nas imediações e sempre uma dupla de policiais no período da manhã ou à tarde, apoiados pelas motocicletas e pela viatura do centro”, declarou o major, quando citou sobre sua nova estratégia de segurança para o Calçadão. Ao se referir ao box da PM, que está desativado há mais de uma década, informou que isso fazia parte de estratégia operacional dos comandos anteriores. Ainda está em fase de estudos a reativação do espaço como ponto de apoio aos policiais militares que protegem a região.
O vigia Leonardo Sales destacou a presença de algumas figuras, em especial, que preenchem a noite do Calçadão. Começa entre 18h30 e 19h30 o fluxo de pessoas com mochilas nas costas e cadernos nas mãos. Logo em seguida, às 20h, casais de namorados e rodas de amigos se formam em diversos pontos do Calçadão. Juntamente com eles aparecem os mendigos, catando o lixo e procurando algo que lhes tenha utilidade. Às 22h chega uma equipe de garis para fazer a limpeza do lixo que toma conta do local. Eles permanecem no Calçadão até a meia noite, pois aproveitam o ambiente de tranquilidade para terem seu momento de intervalo. Depois da meia noite ainda restam algumas pessoas que vão ao Calçadão para usar entorpecentes, mas sua grande maioria já foi embora. Leonardo ainda falou da presença dos homossexuais e dos travestis que passam por ali todos os dias depois das 2h da manhã. Para encerrar a noite no Calçadão, quase no raiar do dia, algumas mulheres aproveitam as calçadas largas e espaçosas para caminharem e fazerem exercícios físicos. É nesse horário que Leonardo pega sua bicicleta e toma o rumo de volta para sua casa enquanto chegam os seguranças do turno da manhã. Nesse momento o silêncio se despede e dá seu lugar mais uma vez ao barulho e ao som do comércio intenso do Calçadão.
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ENTREVISTA Presidente da Associação dos Lojistas do Calçadão, Jardson Lima, conta sobre o surgimento e quais os problemas enfrentados pelo centro comercial
“Sem a associação o Calçadão não existiria” ANDREZA VITAL
ANDREZA VITAL
Há cerca de 30 anos, época em que o comércio imperatrizense ainda engatinhava para se tornar o atual polo atacadista, surgiu a Associação dos Lojistas do Calçadão. Jardson Lima, comerciante do local e atual presidente da associação, fala, em entrevista ao Jornal Arrocha, sobre a história, o funcionamento e os problemas enfrentados pela entidade. De que forma a associação contribuiu para a criação do Calçadão? O Calçadão foi um Projeto de Lei de um vereador, juntamente com a classe empresarial. Na época, aqui era um camelô puro. Os lojistas sofriam muito porque pagavam impostos e os camelôs não. Isso atrapalhava, pois enquanto tínhamos altas despesas com impostos, nossos preços tinham que ser um pouquinho acima. Como os camelôs não pagavam nada disso, colocavam os preços da maneira que bem entendessem. Isso era uma ameaça para o comércio em si. Então juntou a classe empresarial com o poder público e assim surgiu a Associação dos Lojistas do Calçadão. Depois de sua fundação, a associação teve o poder para executar certas tarefas e conseguimos tirar todos os camelôs daqui.
A iniciativa para construir o Calçadão partiu da associação? Sim. Sem a associação o Calçadão não existiria e não estaria do jeito que é. Hoje quem poda as árvores somos nós. A manutenção do piso e encanamento é a gente que se vira para resolver.
“O Calçadão foi um projeto de lei idealizado por um vereador com a classe empresarial” Como funciona a associação? Há toda uma hierarquia. Tem presidente, vice-presidente, tesoureiro, secretário... Se não me engano são 12 cargos. A escolha do presidente é feita por votação. Quem quiser pode se candidatar e aquele que for eleito, assume. A cada dois anos muda a presidência. A associação tem uma sede própria? Não. A sede muda de acordo com a presidência. No caso, como a presidência é minha, a sede acaba sendo aqui na minha loja.
Como funcionam as reuniões? A questão da reunião hoje é um problema, porque convocamos os empresários e eles não comparecem. A gente vai atrás deles para perguntar por que não foram e eles dizem que é porque não tiveram tempo, ou esqueceram. Hoje somos em torno de 48 empresas. Quando fazemos a reunião comparecem em torno de cinco pessoas. Então estamos quase desistindo de fazer reunião. Mas quando vamos fazer alguma coisa, a gente vai de loja em loja para poder conscientizar ou discutir qualquer assunto. Tem certas decisões que tomamos sem fazer reunião. Se acharmos que é algo que irá beneficiar a todos, então acabamos por executar a decisão. Como lidam com o comércio in-
“O calçamento do Centro Comercial é uma parceria da Associação com a prefeitura”
formal? Tentamos evitar ao máximo para que eles não se instalem aqui. Mas, como não temos poder de
polícia, de multar, de tomar aque- prios seguranças e a manutenção la mercadoria, eles percebem que do local. Quem não deixa os ounossa voz não tem poder e acabam tros andarem de bicicleta somos voltando para cá. Depois que o co- nós. E tentamos não deixar nemércio informal se instala, para nhum camelô se instalar aqui. tirar é uma dificuldade. Tem gente que está como camelô há 15 anos. A decoração natalina do CalEm vez de tirar, a çadão é de Prefeitura acaba responsabipadronizando as “Se hoje aqui há bancos lidade dos barracas e não copróprios cobra nenhum tipo para os clientes sentarem, merciantes? de imposto. Eles se foram os empresários os Totalmeninstalam em frente te. É toda responsáveis por isso” às lojas, e isso acafeita pelos ba sendo uma conempresários corrência desleal, do Calçadão. porque as lojas paA gente congam impostos. trata um decorador que faz todo o projeto e dividimos entre as emA associação arrecada fundos presas, dependendo do porte de das empresas do Calçadão? cada uma. Sim. A associação é sem fins lucrativos. Quem se voluntaria para Todos os lojistas participam da ser presidente tem que ir de alma associação? e coração porque não vai receIsso é outro grande problema. ber nada em troca. O que arreca- Hoje a economia do Brasil está em damos é somente para manter o crescimento, e por isso, grandes Calçadão. Se hoje aqui dispõe de empresas do comércio varejista bancos para os clientes sentarem, acabam vindo para Imperatriz, por foram os próprios empresários os aqui ser um polo de comércio. Esresponsáveis por isso. Já o calça- ses empresários de grandes redes mento foi parceria entre nós e a chegam aqui e não querem particiPrefeitura. par. Mas querem usufruir dos benefícios que a associação traz. Por Então, a associação é a responsá- estarem instaladas no Calçadão, a vel pela segurança do Calçadão? gente tenta cobrar uma taxa maior Sim. Mantemos os nossos pró- dessas lojas como uma punição.
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INFRAESTRUTURA Sem previsão de obras, visitantes convivem com poucas condições de infraestrutura em um dos mais tradicionais pontos do comércio varejista da cidade
Lojistas reivindicam reforma no Calçadão BRENO FRANCO
Um dos mais importantes espaços do comércio varejista de Imperatriz nunca passou por uma grande reforma desde a sua inauguração. O presidente da Associação dos Comerciantes do Calçadão, Jardson Lima, afirma que os próprios lojistas, por meio da entidade, é que se encarregam da maior parte das mudanças do local. “Aqui a gente paga três vigias e até pra podar as árvores, a gente tem que comprar serra elétrica, porque a prefeitura não se dispõe a ajudar”. Dentre as informações prestadas por Jardson, está a de que dependendo do tamanho do estabelecimento, é cobrada todo mês, de cada comerciante, uma taxa que varia de R$ 30 a R$ 800 para que a entidade possa se manter. Irismar Pereira de Carvalho é lojista há oito anos no Calçadão e paga uma quantia de R$ 50 por mês. Se-
gundo ela, o maior transtorno com relação à infraestrutura do Calçadão aconteceu em março de 2012, quando parte do calçamento da entrada da loja dela cedeu, criando um buraco de aproximadamente três metros de comprimento, quase o tamanho completo da entrada do local. Ela procurou a associação, que prometeu resolver e depois aconselhou que Irismar procurasse a prefeitura. “Nem corri atrás porque eu sabia que ia demorar e a maior prejudicada era eu, com o tempo que passava. Gastei R$ 200, que estão sendo descontados na minha mensalidade”. Outra lojista, Edite Pereira de Almeida, denuncia que o calçamento está precisando urgentemente de reparos. Os bancos e algumas barras de proteção feitas de concreto e ferro, também estão se deteriorando. “Não tem conforto pra quem visita, nem banheiro e praticamente tudo que deve ser feito aqui é por conta
da gente”, reclama a proprietária. Procurado por nossa equipe de reportagem, o secretário de Infraestrutura do município, Roberto Alencar, foi receptivo em seu gabinete e ressaltou as limpezas gerais, que incluem a retirada do mato nos cantos de bancos e calçadas. Com relação às reformas, Roberto Alencar ressaltou: “Olha, não vou mentir, mas para haver reforma é preciso licitação e o Ministério das Cidades recusou que o Calçadão fosse incluído na revitalização da Getúlio Vargas porque a benfeitoria contemplava essencialmente a pavimentação asfáltica, o que não é o caso do Calçadão”. A obra da avenida Getúlio Vargas custou R$ 1,5 milhão, sendo que dois terços deste recurso foram disponibilizados pelo Governo Federal e o restante pela prefeitura. O secretário enfatizou que não há previsão de obras para o Calçadão, pelo menos para 2013.
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Fios elétricos mal organizados em uma vista panoramica da maior loja de departamentos do local
Varejo a pedaladas impulsiona comércio Lixo jogado na rua piora a paisagem e revela descaso BRENO FRANCO
BRENO FRANCO
“Isso aí é comum”, diz um transeunte apressado ao ver nossa equipe registrando um flagrante em que um funcionário de uma das lojas do Calçadão joga papelão e pedaços de madeira no meio da via. Os poucos recipientes que acondicionam o lixo até o recolhimento por parte da prefeitura, não são suficientes quando alguns lojistas despejam embalagens e outros materiais recicláveis que poderiam ser parte de materiais de coleta seletiva. Tudo se mistura ao lixo comum que, no final do dia, é recolhido por garis de uma empresa privada que presta serviço para a prefeitura. “Esse lixo não pode ficar na loja, mas eles da prefeitura recolhem isso daí direto”, informa o funcionário de uma loja de variedades que, no momento da reportagem, jogava lixo no local. O representante da Prefeitura que responde pela coleta do lixo na cidade, Ernane Ribeiro, enfatiza os trabalhos de varrer Amontoado de bicicletas estacionadas aleatoriamente por falta de local adequado, se mistura à paisagem e impede o trânsito dos clientes no espaço BRENO FRANCO
Estacionar qualquer tipo de veículo nas imediações do Calçadão é uma missão difícil, principalmente em horário comercial. A popularidade e a tradição de receber visitas dos mais variados públicos, torna o local um espaço onde vários consumidores da periferia da cidade e de municípios em um raio de 500 quilômetros se encontram para fazer compras, ou simplesmente passear. A todo momento é possível encontrar, ou até mesmo esbarrar em alguém conduzindo a pé, o velho e bom “camelo’’. Há quem chame de “magrela”, ou na versão diminutiva do inglês, bike. Como pedalar no Calçadão é proibido, o trânsito
lento dos pedestres significa mais tempo de olho nas vitrines. É nessas horas que a bicicleta pode servir de cesta de compras e um convite para o visitante variar a forma de se exercitar. Qualquer banco, poste, placa de propaganda ou parede, se torna estacionamento improvisado das bicicletas. Ninguém se incomoda. Mas, alguns frequentadores como Fernando Da Costa, 59 anos, admitem que seria melhor um estacionamento adequado, onde todos pudessem usufruir do Calçadão com maior comodidade. Nas épocas do ano em que é registrado grande movimento de consumidores, como no Natal e no Dia das Mães, o vai-e-vem de pedestres
que levam ao lado a bike, é intenso. De todas as cores e modelos, algumas até surradas pelo tempo, outras de uso profissional, como as cargueiras, esses veículos são tão característicos do local que até já fazem parte da paisagem. Estão presentes, ainda, em quase todas as fotos que abordam os públicos visitantes da área. “É fácil de encostar e a gente leva quase tudo nela”, diz sorridente, Maria das Dores, vendedora de uma loja que utiliza diariamente a bicicleta para se locomover. Se o visitante for conhecido dos vendedores e outros trabalhadores do local, até dá para pegar uma carona no fim de uma jornada de trabalho.
e recolher o lixo, que, segundo ele, são realizados diariamente. Existe ainda, segundo Ernane, uma equipe de 12 homens, que uma vez por mês, realiza trabalhos mais apurados de manutenção, como retirar mato e entulho de diversos pontos do Calçadão, limpar meio-fios e realizar pequenas reformas. Principalmente no horário da noite, é possível acompanhar o trabalho da equipe de limpeza. De acordo com um dos funcionários da empresa responsável pelo recolhimento do lixo, centenas de quilos de dejetos produzidos no local são levados aos caminhões de coleta. Todo o material é transportado para o lixão municipal, informa, ainda, o funcionário. “Aqui a gente encontra de tudo, até camisinha”, confidencia Maria Raimunda, que trabalha na limpeza da tarde. Apesar dos poucos locais de depósito, muitos visitantes também ignoram os bons costumes e acabam jogando lixo que resulta da passagem deles pelo local. BRENO FRANCO
Sacos de lixo espalhados obstruem a passagem de pedestres e causam transtorno ao comércio
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PEDINTES Deficiente das pernas desde que nasceu, Manuel, pedinte do Calçadão, frequenta o local há mais de dez anos com o seu popular “coador de moedas”
“Mesmo que não me ajudem, eu agradeço” EVA FERNANDES
Ao nascer da manhã, quando o comércio em Imperatriz começa a se levantar, Manoel Lopes Sousa, um jovem senhor de 39 anos, 45 quilos e 1,40 de altura sai de casa para mais um dia de trabalho. Deficiente das pernas desde que nasceu, Manoel não se lamenta. “Isso aqui não vale nada”, comenta, referindose à deficiência. Dificulta um pouco, mas não o impede de “pegar no batente”. Manoel é pedinte. Há três anos complementa o benefício que recebe do INSS com as esmolas que ganha das pessoas que andam pelo centro comercial. Entra no ônibus às 6h30 para chegar às 7h ao Calçadão, seu local de trabalho e rotina diária. Anda descalço, com short vermelho e camisa com a logomarca do Paraíba, com um crachá acima do peito esquerdo: “Manoel, amigo do Paraíba”. É assim que ele circula “fardado”. No trabalho, o principal instrumento de Manoel é um “coador de moedas” que ele movimen-
ta de um lado para o outro sempre que percebe alguém se aproximando. O Calçadão, de homogêneo só tem o calor de 36º que envolve a todos que por ele caminham. Diversidades que se misturam, mas não se igualam. Sol com muitas nuvens durante o dia. Períodos de tempo nublado, com chuva a qualquer hora, máxima de 36° e mínima de 22°. O dia continua da forma como começou, todo imprevisível. E com o vai e vem de pessoas e bicicletas, sons de carros, vozes e anúncios. Compreensão - Manoel é uma das peculiaridades percebidas e despercebidas diante da correria que acontece à sua volta. O preconceito social e marginalidade até parecem não fazer parte dos seus problemas. Diante dos olhares perplexos, solidários ou expressões de intolerância mantém-se firme, com profissionalismo. “Mesmo que a pessoa não me ajude, eu agradeço e trato bem, é meu trabalho”. Quando o movimento ameniza, ele pega a carteira de cigarros e o isqueiro na bolsa da cintura e co-
meça a dar uns tragos enquanto descansa. Sentado sobre as pernas entrecruzadas, sem outra opção, apoia-se no chão com os pequenos braços. Para se mover, arrasta-se por cima das pernas apoiando-se nas pequenas mãos e, para protegêlas, usa luvas. Após um dia de trabalho, o “coador de moedas” costuma abrigar, em média, de R$ 30 a R$ 70 e, ao final de um mês, R$ 720 a R$ 1.680. O comerciário Antônio Dilson, 43 anos, fala da troca de favores entre a empresa e o pedinte. “Quando observa movimentos ou conversas estranhas ele nos informa. E sempre diz que está trabalhando pra nós. Demos a ele um crachá e uma camisa com a logomarca da empresa. Às vezes damos alimento. Ele não atrapalha. Fica no cantinho dele”. Manoel orgulha-se de fazer parte da “segurança” do Paraíba. “Eu trabalho aqui na loja”, cochicha. Fumante desde os nove anos de idade, conta que gosta muito de bebida alcoólica. A mãe, Joaquina Sousa Soriano, viúva, 75 anos, não gosta de vê-lo ingerir álcool.
NÚBIA CARVALHO
Manuel, o amigo do Paraíba, pede esmola todo dia no Calçadão para complementar a sua renda
“Há um tempo tive uma enrolada”, lembra, entre gargalhadas. “O nome dela é Bete, mas mamãe não quis. Eu bebia. Ela também e por isso não
deu certo. Mandou largar de mão. Sou alegre, animado. Você pode ter tudo, mas se não tiver amigos você não tem nada”.
Serviço Especializado em Abordagem Social ajuda moradores de rua EVA FERNANDES
“As pessoas que moram na rua tornam-se pedintes, mas nem todos eles são moradores de rua. Tem pedintes que recebem benefícios e mesmo assim mendigam. Para essas pessoas nós fazemos um acompanhamento social”. A afirmação é da assistente social Larissa Carvalho, responsável pelo Serviço Especializado em Abordagem Social da Secretaria de Saúde
e Desenvolvimento Social (Sedes). Quanto aos que não tem onde morar, Larissa destaca que um dos focos do serviço de abordagem social é o de identificar e se aproximar das pessoas que vivem na rua e inseri-los nos programas da área. A Sedes promete que o trabalho será intensificado em 2013. De acordo com Larissa, já foram identificadas mais de 30 pessoas nos últimos anos. A assistente social ressalta também que o
município foi contemplado com o Centro de Tratamento Especializado em Assistência Social Popular (Creas Pop). O programa, que está em fase de implantação, tem por objetivo, prestar assistência social e acompanhamento psicossocial e pedagógico, bem como oficinas terapêuticas. Também pretende viabilizar a inclusão dessas pessoas nos programas de assistência social. Larissa estima que, até o fi-
nal do primeiro semestre de 2013, o programa já estará implantado. De acordo com o diretor o Centro de Atenção Psicossocial (Caps III), Alberto Clésio, o fato de serem pedintes não significa que sejam esquizofrênicos ou tenham qualquer tipo de doença psíquica. “A doença mental não tem rótulo. Não é regra nem que sempre pedinte tenha doenças mentais e nem que doentes mentais necessariamente sejam pedintes”.
O diretor afirma que as ações do Caps estão voltadas para as pessoas que vivem nas ruas, não têm residência e que apresentam transtornos mentais. “O objetivo é oferecer tratamento, resocializar e reingressar essas pessoas no mercado de trabalho, bem como conscientizar a população sobre o fato da doença mental ter controle. Não é necessário que o paciente tenha que ser tratado entre quatro paredes” .
Relação entre comerciantes e pedintes no Calçadão SABRINA CHAMORRO
“mudar a cultura dessas pessoas”. Ele acredita que somente a educação dará suporte para isso. “O Brasil é um país de Terceiro Mundo. O que deve ser feito é investir em uma educação de qualidade. Temos verbas para isso, mas, enquanto os poderes públicos em todas as esferas não fizerem isso, não vai acabar”.
Comerciantes ajudaram a construir bancadas e canteiros, cenário que a população conhece Pedintes adotam Calçadão como um local para recoher esmolas das pessoas que por alí passam EVA FERNANDES
“A educação é o ponto principal para reduzir o número de pedintes”. É com esta afirmação que o comerciário Antônio Dilson, 46 anos, 28 deles dedicados ao comércio, expõe sua opinião sobre a rela-
ção entre comerciantes e pedintes no Calçadão. Ambiente comercial, referência entre os principais cartões postais da cidade, o Calçadão de Imperatriz é também um dos pontos de mendicância. Segundo o comerciário, os pedintes não interferem no comércio. Mas, ressalta que é preciso
Dilson acredita que a maioria desses pedintes é deficiente e recebe benefícios, mas mesmo assim vivem nas ruas mendigando, o que seria resultado da falta de preparo e conhecimento. “Hoje, de 3% a 5% das vagas de uma empresa são reservadas para deficientes. Nunca conseguimos atingir este percentual”, argumenta Dilson. “O que seria
um total de 26 funcionários só aqui no Paraíba”, conclui. O gerente da loja Casas Ribeiro, Abraão Sousa, 43 anos, ressalta que é comum ver pessoas que pedem por vício e não por necessidade. Ele informa que o fluxo de pedintes no Calçadão interfere nas vendas a partir do momento em que eles adentram as lojas. “Tem clientes que se sentem incomodados quando abordados no momento das compras”. A estudante Vera Souza, de 18 anos, é frequentadora do Calçadão e afirma que os pedintes têm lugares fixos e que não atrapalham de forma nenhuma o comércio. “Sempre que tenho, ajudo. Não me nego. Eles somente pedem. Diferente dos ladrões, que roubam”. A estudante conta que nas vezes em que não pode ajudar, é tratada com educação. Gil Fran Magalhães, 47 anos, é balconista há quatro e diz que já teve que solicitar que pedintes se retirassem do ambiente. “Alguns usam fotos de pessoas com doenças sérias para causar comoção”.
ENQUETE A equipe de reportagem ouviu 10 pessoas com o tema central: “Você acha que dar esmola ajuda?” Seis responderam que costumam contribuir com os pedintes e acreditam que o dinheiro auxilia quem precisa. Dos entrevistados, dois disseram que dão esmolas às vezes e o mesmo número de pessoas afirmou que não costuma agir desta forma. Confira algumas opiniões: • Lúcia Martins, 42, professora “Sim. Acredito que ajuda e às vezes dou esmola” • Leila Lopes, 40, professora. “Não acho certo dar esmola. A esmola incentiva o ócio e não estimula as pessoas a produzirem”. •
Aline Magalhães, 18, conferente “Sim. Dou esmola. Temos que ajudar a quem precisa”. •
Fernando Dinis, 47, administrador “Dou esmola apenas para pessoas deficientes”.
Jornal
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Arrocha
ANO III. NÚMERO 16 IMPERATRIZ, JANEIRO DE 2013
CLIENTES Público que visita o Calçadão procura por mercadorias para revenda e acaba encontrando diversidade em produtos para as necessidades pessoais
Calçadão: polo comercial de Imperatriz MÍRIAN GOMES BRENO FRANCO
Nos mais de 200 metros do Calçadão de Imperatriz, todos os dias é possível encontrar consumidores de outras cidades da região e também de outros estados. O centro de compras reúne gente que procura mercadorias das mais diversas, para atender às necessidades pessoais e também comerciantes revendedores, que buscam um bom preço nos produtos para revendê-los em sua cidade de origem. As lojas presentes no centro comercial, especialmente no Calçadão, representam uma mola econômica para Imperatriz e região. Por isso, não é difícil encontrar pessoas de sotaques diferentes que se aglomeram no objetivo de cumprir o orçamento, adquirindo o produto desejado pelo preço mais em conta. Nos trilhos e caminhadas do consumo, por entre lojas e ofertas, encontramos as irmãs Creuza Duarte de Sousa e Berenice Duarte de Meireles. Creuza mora na cidade de Buritirana, a 60 quilômetros de Imperatriz. “Não deixo de comprar aqui, venho toda semana e sempre levo alguma coisinha”, conta ela, que ao lado do marido administra uma renda mensal de mais de dez salários mínimos. Berenice vive em Imperatriz e revela que nem sempre visita o Calçadão porque quer. “É mais por necessidade mesmo e por
No Calçadão de Imperatriz não é difícil encontrar pessoas de sotaques diferentes que se aglomeram e buscam cumprir o orçamento adquirindo produtos
causa da família. Se dependesse só de mim, eu vivia no shopping, lá é mais confortável e tem ar condicionado”. Com uma renda de aproximadamente um salário e meio, o oleiro imperatrizense Valdinar de Jesus, de 43 anos, mora atualmente em Itaituba, no estado do Pará. Vem uma vez por mês para Imperatriz e diz que a preferência é por confecção. “Compro aqui desde quando comecei a trabalhar e volto sempre pra comprar roupa e uma coisa ou outra que falta pra lá onde eu moro”. Casado e com três filhos, Valdinar não se incomoda em andar com um capacete numa mão e sempre na expectativa de levar para casa um presente para a mulher e os filhos que o esperam em casa. Na maior loja de departamentos do centro de compras, os dias de grande movimento trazem algumas das consequências mais comuns do corre-corre: o calo nos pés. A vendedora Eliene Farias confessa que a escolha do calçado ideal para trabalhar tem que ser cuidadosa. “Nos dias normais até que nem precisa se preocupar tanto. Mas no Natal, aqui é uma loucura e os pés sempre sofrem nesse lá e cá”, afirma a vendedora, já preparada para atender mais um cliente.
Caixas de som animam o Revistaria Estrela acompanha crescimento clima de quem transita do centro de compras desde sua fundação MÍRIAN GOMES ISRAEL SHAMIR
Penduradas em postes de energia, as oito caixinhas de som espalhadas por todo o Calçadão integram o sistema sonoro do JM Studio, que se instalou no espaço há mais de 20 anos. Desde a década de 1990 os clientes que passam pelo local estão expostos às ondas sonoras produzidas por essas caixinhas, que de minuto em minuto informam a hora certa. Quando começou, tudo era bem diferente do que se tem hoje. Ao invés de um computador com todas as trilhas programadas e os comerciais gravados, a programação era feita ao vivo, e as músicas eram reproduzidas de LPs. “Era como uma rádio”, revela o proprietário do JM Studio, José Moreira Sobrinho, 64 anos. “No início, o Calçadão era um silêncio de museu. Vi a necessidade de animar mais esse lugar”. Moreira é uma figura muito importante na história da comunicação em Imperatriz. Ele afirmou que montou o primeiro sistema de som volante da cidade, o cinema pioneiro – Cine Muiraquitã – e trouxe a primeira repetidora de sinal da Rede Globo e do SBT para o município. Foi também o precursor do telejornal em Imperatriz, na década de 1970. Hoje ainda trabalha com pu-
ISRAEL SHAMIR
Sistema de sonorização acompanha as compras
blicidade. Todos os comerciais que rodam no Calçadão também são reproduzidos simultaneamente no Mercadinho, que, da mesma forma, possui caixinhas do JM Studio espalhadas. Quem se atenta aos anúncios comerciais esperando descobrir alguma promoção relâmpago de uma loja do Calçadão, por exemplo, pode perder seu tempo. A maioria dos anunciantes não estão situados ali. Apenas uma pequena parcela das lojas instaladas no Calçadão utilizam-se deste serviço. A sede do JM Studio está localizada em anexo à oficina de relógios de Waldir Queiroz, 62 anos, que atualmente divide o aluguel do lugar.
RAYLSON LIMA
7h30. Um vai e vem de pessoas, característico de todo centro comercial. Andam em bandos, trajando uniformes iguais. São os vendedores das lojas do Calçadão indo ao trabalho. No meio deste movimento, está a Revistaria Estrela, que existe deste a fundação do espaço comercial. “Antes eram duas bancas. Uma em frente ao Bazar Ipanema”, relembra a proprietária há oito anos, Andiara dos Santos. Atualmente, funciona apenas a Estrela, que às 7h50 levanta os seus portões alaranjados. Em cinco minutos, a proprietária já organizara toda a banca. Cinco também eram as pessoas que observavam as revistas ao abrir o estabelecimento e os minutos esperados para vender o primeiro jornal do dia. Uma mulher, meia idade, baixa e loira, observa umas revistas e transfere seu olhar para os jornais que naquela manhã traziam como manchete: “TAM confirma suspensão de voos em Imperatriz”, no O Progresso e “Ex-detento Marcio ‘Capeta’ é assassinado na Vila Nova”, no Correio Popular. Aquela foi a primeira venda dos 15 Correio Popular que Andiara teria que comercializar naquele dia. “O capeta morreu”, brinca um mototaxista
No início funcionavam duas bancas no Calçadão e atualmente apenas a Estrela continua ativa
que também escolhera o jornal. Nossa conversa é interrompida. - Me dá um crédito da Oi? - Qual valor? - R$ 5!
Esta é a primeira venda de recarga para celular, que representam o maior lucro diário da revistaria. A proprietária orgulha-se: “Quando eu comprei era uma banquinha caindo aos pedaços”.