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JUNHO de 2011. Ano ii. Número 5
Arrocha
jornal LABORATÓRIO do curso de comunicação social/jornalismo da ufma, campus de imperatriz - TRÁFICO rosana barros
Acompanhando a tendência nacional, o crack vem liderando as estatísticas de apreensão da Delegacia de Entorpecentes de Imperatriz. Entre fevereiro de 2010, quando começou a funcionar, até o final do ano passado, foram apreendidos 15,3 quilos da droga que estavam em poder de traficantes da cidade. Como já se tornou a tendência do Arrocha, além dos números, os futuros repórteres foram atrás dos seres humanos que sofrem com o flagelo de uma droga que vicia rápido e causa um grau de dependência mais intenso do que outras substâncias químicas. Na reportagem “Nas garras sedutoras do crack”, os personagens descrevem a dor do vício, que se confunde com o prazer imediatista que ele costuma proporcionar. Na mesma página, conheça o trabalho da delegacia e também do Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), este último estimulando a relação entre policiais capacitados, educadores, estudantes, pais e comunidade. Página 5 e 7
Hábitos, rotina. Vícios, descontrole O que é vício? O que é hábito? Qual a fronteira que separa esses dois tipos de condutas humanas? Na entrevista desta edição do Arrocha, a psicólo-
ga Gizele da Costa Cerqueira explica, entre outras questões, que a principal diferença entre ambos é o descontrole. Assim, entender a frequên-
cia, intensidade, como, por que e para quê é essencial para o diagnóstico. Aliás, esse é o tema de todas as matérias desta edição
THAÍSIA ROCHA
do jornal Arrocha. As reportagens tratam tanto do reflexo regional do crack, pasta base, maconha e álcool, quanto das compulsões por beleza, lim-
peza, tecnologia, internet, entre outras. E também hábitos, como comer panelada e sentar na porta nas casas no final da tarde. Página 9
Vaidade demais pode atrapalhar
Tecnologia também gera compulsão
Comportamentos ligados à vaidade são comuns desde a origem da humanidade. Mas hoje, com todos os tratamentos e cirurgias existentes, a tendência a se embelezar pode virar uma compulsão que, segundo a opinião dos especialistas, atrapalha as relações sociais. Conheça histórias curiosas e personagens diversos sobre o assunto nessa edição. Página 12
À medida que os preços dos produtos tecnológicos se tornam mais baratos, muitos passam a lidar com nova compulsão: a troca constante de celulares, computadores e outros brinquedinhos. Todos prometem uma novidade que outro supostamente não tinha. A relação com a internet, principalmente entre os jovens, também precisa de certo controle, segundo os especialistas. Página 10
Transtorno Obsessivo (TOC), limpeza, hipocondria...Tem mania para tudo
Sejam as rodas de conversa em família ou mesmo entre amigos e vizinhos, todas são sempre muito animadas e cercadas pelos risos e por olhares curiosos
Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é o nome científico para quando hábitos que parecem comuns e rotineiros se transformam em compulsão. É uma ideia que invade o pensamento e deixa o indivíduo sem o domínio das próprias ações. Mesmo quando não chegam a ser tão graves, certas manias atrapalham o cotidiano das pes-
soas. A compulsão por limpeza é uma das mais comuns e pouco contestadas. Os classificados como hipocondríacos, preocupados tanto com a medicina tradicional quanto com a baseada nas plantas e até mesmo os colecionadores também são personagens que os nossos repórteres foram procurar para ouvir nesta edição. Páginas 3, 6 e 11
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EDITORIAL - Entre o hábito e o vício Quando é que aquele hábito que parece comum e inofensivo torna-se uma compulsão que traz prejuízos físicos e psicológicos? Tendo como ponto inicial esta pergunta, os acadêmicos do curso de Jornalismo da UFMA resolveram partir mais uma vez a campo para elaborar esta edição especial do Arrocha sobre vícios e hábitos. Para amenizar um assunto tão complexo, como a questão do vício em drogas, foi decidido, em sala de aula, que este jornal também traria reportagens sobre hábitos que identificam Imperatriz. Assim, os acadêmicos e futuros jornalistas conversaram com aqueles que gostam de sentar na porta e com os consumidores de panelada. Nem sempre encaradas como problemas aparecem aqui também as compulsões por vaidade, limpeza, trabalho, sexo, consumo, baladas e
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internet. Algumas vezes, o tom de humor ajuda a relaxar, mas o problema é sério quando foge do controle. Não poderiam faltar também reportagens sobre o flagelo das drogas pesadas, como o crack e as formas de combate ao tráfico, bem como o tratamento dos dependentes. Os futuros repórteres se preocupam em procurar histórias para ilustrar todas as situações. Onde há ser humano, temos sempre um processo de identificação. Mais uma vez a principal intenção é desdobrar um assunto em seus vários ângulos. Boa leitura. Arrocha: É uma expressão típica da região tocantina e também é um ritmo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.
Ensaio Fotográfico THAÍSIA ROCHA WALLIKSON BARROS
DIEGO LEONARDO JAIRO MORAES
Expediente Jornal Arrocha. Ano II. Número 5. Junho de 2011 Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade. Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Jefferson Moreno | Coordenadora do Curso de Jornalismo - Prof. MSc. Roseane Arcanjo Pinheiro.
Professores: MSc. Alexandre Maciel (Jornalismo Impresso), MSc. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual), MSc. Marcus Túlio Lavarda (Fotojornalismo). Revisão: Acadêmica Nilzeth Alves. Reportagem: Ângela Barros, Alan Milhomem, Alessandra Ferreira, Allana Cristina, Carla Kassis, Douglas Aguiar, Gleicy Ferraz, Joaquim Rodrigues, Marisvaldo Lima, Maurício Sousa, Max Dimes, Narcisio Ferreira, Nilzeth Alves, Nonato Pereira, Paulo Edson, Pollyana Galvão, Renata Costa, Rosana Barros, Stepheson Silva, Thaisia Rocha, Thalyta Dias, Wallikson Barros, Welbert Queiroz.
Diagramação: Allanna Chrystyne Rocha Menezes Sanches, Ana Alice Mendes dos Santos, Anderson Silva de Araújo, Antonio Wagner Silva Aurélio, Cleber Carlos Simoes Júnior, Diana Cardoso Costa, Edigeny Soares Barros, Elen Cristina Silva Santos, Evando Raizio Silva Maciel, Flávia Brito Silva, Flávia Luciana Magalhães Novais, Genyedi Soares Barros, Gleziane Sobrinho de Oliveira, Isabela Crema Tavares, Jéssica Roseane Fernandes Gomes, José Augusto Dias da Silva, Karla Mendes Santos, Karlanny Costa Farias, Kellen Nilceya dos Santos Almeida, Layane do Nascimento Ribeiro, Luan Rogerio Pereira Lima, Maiely Cabral Dos Santos, Marcela
de Souza Silva, Maria Félix Pereira Calixto, Mariana Ferreira Campos, Marilan Reis dos Santos, Marta Nunes de Oliveira, Mikaelle Katússia Martins Carvalho, Pamella Bandeira Santana, Raísa Farias Araújo Salles, Ramisa Farias Araújo Salles, Rayane Silva de Carvalho, Raynan Ferreira Pinheiro, Rômulo Santos Fernandes, Safira Vieira Pinho, Samoel Pereira de Freitas, Sara Cristina Costa Batalha, Sararuth Andrade Chagas, Saron Paulo Fell Alencar de Albuquerque, Silas Waldemir Souza Chaves, Taya Santana da Silva, Thayse de Sousa Barros, Valdiane Costa de Santana, Walison Silva Reis, Wenia Hyana Reis Silva, Yanny Dorea Moscovits.
Fotografia: Alan Milhomem, Alessandra Ferreira, Carla Kassis, Diego Leonardo, Dyego Wilson, Gleicy Ferraz, Jairo Moraes, Marisvaldo Lima, Mauricio Sousa, Narcisio Ferreira, Nilzeth Alves, Paulo Edson, Pollyana Galvão, Renata Costa, Rosana Barros, Thaisia Rocha, Wallikson Barros, Welbert Queiroz, e Karla Carvalho (Tratamento de imagens). Contatos: www.imperatriznoticias.com.br | Fone: (99) 3221-7625 Email: contato@imperatriznoticias.com.br
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tradição Para muitos, a panelada é apenas uma refeição pós-noitada regada a álcool. Para outros, é o café da manhã que enche de força para mais um dia de trabalho
Panelada celebra democracia da alimentação PAULO EDSON
Paulo Edson
Ao sentarem no banco velho, pintado de tinta azul descascada pelo tempo largo de uso, os clientes das barracas de panelada sentem a verdade do provérbio: “De costas para a rua, todo mundo é igual”. A iguaria, essencialmente imperatrizense, não escolhe as pessoas que a consomem. Vindos de todas as partes da cidade, os clientes chegam trazendo suas experiências também diversas. De barões a peões, todos se reúnem em torno de pratos cheios e ardidos de pimenta malagueta curtida na gordura dentro de garrafas pet. Limões azedos cortados e a farinha de puba dura como o dia que se levanta em plena madrugada de segunda-feira são a síntese da vida diária de quem tem em um prato engordurado a sustância primeira do dia, como diriam nossos avós. Para muitos, a panelada é apenas uma refeição pós-noitada regada a álcool. Para outros, é o café da manhã que enche de força os braços dos trabalhadores que movimentam a cidade comercial. As conversas fluem como a água gelada nos copos de alumínio
De todas as partes da cidade, os clientes chegam trazendo suas experiências diversas. De barões a peões, todos se reúnem em torno dos pratos cheios
e terminam com pratos vazios de ossos roídos. Das Quatro Bocas à Rodoviária, os clientes procuram e acham o sabor sem se importarem com o lugar ou com o que se encontra em volta. De acordo com o funcionário
de uma empresa de transportes, Dantas Amorim, os que consomem o prato não olham para a higiene do local. “O povo que come não liga muito se tem bueiro aberto por perto, o preparo, esse tipo de coisa. Se ligassem ninguém comia”.
Horários - Dantas confirma também que é um assíduo consumidor da panelada, principalmente à noite, no intervalo do serviço. A opinião dele sobre esse costume é que por vezes, torna-se um vício. “Um colega de trabalho, até nas
folgas e mesmo tendo comida em casa, acordava meia-noite e vinha comer panelada aqui”. O hábito de alimentar-se com a panelada em horários distintos deve-se à necessidade de quem consome administrar o próprio tempo, tanto de trabalho como de lazer. A vendedora do prato, Keitiane Rodrigues, conhece todos os tipos de clientes que frequentam sua barraca na avenida Bernardo Sayão, setor das Quatro Bocas: “Na parte da madrugada é mais o povo que vem da balada. Também vem muito mototáxi e garis. Pela manhã é mais o povo que trabalha no Mercadinho, que come a panelada para aguentar o rojão diário”. A verdade é que o consumo massivo e sem barreiras sociais se dá pelo fato de a panelada ser um prato saboroso e barato. Uma porção generosa custa em torno de seis reais. Consumir a panelada é um exercício de manutenção da identidade imperatrizense. Ela sintetiza o sabor da cidade, temperada com o calor do sol ardente, a pimenta bem curtida e o suor dos corpos molhados dos peões madrugadores.
Aquela maniazinha pode Tudo no lugar, mas será que é saudável? ser algo muito mais grave
NILZETH ALVES
Nilzeth Alves
Allana Cristina
Hoje com 13 anos, V.S.O. sofre desde os dez com o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Quando está distraído rói compulsivamente as unhas e toda vez que passa por um “quebra-mola”, tem de voltar para tocá-lo. “Se não faço isso tenho pensamentos ruins, como minha mãe vai morrer”, conta, com tristeza, o menino. Ele descobriu que era compulsivo quando suas atividades normais passaram a ser afetadas por ações pelas quais não tinha controle. V.S.O., por conta do transtorno, tem dificuldade no relacionamento com os colegas de classe e atrasa-se muito para chegar aos lugares por causa da sua mania. A psicóloga Dayse Cavalcante define TOC como uma ideia que invade o pensamento e deixa o indivíduo sem domínio das ações. Ela afirma que a cura está próxima com o tratamento por meio de psicoterapia e medicamentos. “A psicoterapia trabalha no combate dos pensamentos negativos e o remédio ajuda o paciente a ficar tranquilo”. Maria Silva, mãe de V.S.O., diz que quando o via cometendo essas atitudes anormais não dava atenção, pois pensava que era devido à fase conturbada da adolescência. Os professores do garoto alertaram Maria sobre a queda do rendimento escolar dele e sugeriram a ela que procurasse o
Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil (CAPS IJ). “Foi no Caps que entendi que o meu problema tinha cura. Os remédios e as conversas com as psicólogas me ajudam muito”, conta o menino. O Centro Psicossocial Infanto Juvenil está localizado no Complexo de Saúde Pública, no Parque Anhanguera. O número de pacientes com características de TOC é frequente. De cada dez que são atendidos, pelo menos três sofrem com a doença. Outro problema enfrentado por quem tem TOC está na dificuldade de encontrar remédios disponíveis na rede pública. A farmacêutica Vera Lívia é responsável pelo processo de licitação de todos os medicamentos distribuídos pela Secretaria Municipal de Saúde. Ela informa que a prefeitura não tem remédios disponíveis para crianças que sofrem de TOC. “Temos para doentes mentais, não para aqueles que sofrem de ansiedade, que é um dos sintomas do TOC”. Afirma, ainda, que os únicos antidepressivos são receitados e destinados para adultos. A identificação do TOC na criança e no adolescente não é fácil. Segundo a psicóloga Dayse Cavalcante, as doenças mentais não recebem o mesmo valor que as demais pelo fato de serem pouco perceptíveis. No entanto, como causam sofrimento, têm de ser tratadas com a mesma intensidade.
“Todo dia ela faz tudo sempre igual”. A letra da canção “Cotidiano”, de Chico Buarque, parece inspirada na rotina da dona de casa Joãolisboense Antônia Cecília Almeida Falcão, 49 anos. Ela acorda às 6 horas para preparar o café e, em seguida, inicia as tarefas domésticas. Descanso só à tarde, enquanto assiste alguma novela. A casa de Antônia tem sete cômodos, além de um alpendre, garagem e uma extensa área de quintal. Os espaços são varridos todos os dias e ainda tem de sobrar tempo para aguar as dezenas de plantas e dedicar-se à costura. Quando encontra algo fora do lugar não reclama, mas se irrita com a bagunça e “a desorganização do marido e dos filhos, roupas, calçados espalhados pelo chão”. Assim como Antônia, mais de 53 milhões de brasileiras donas de casa se esforçam para manter o ambiente doméstico limpo e organizado. Esse tipo de comportamento é considerado saudável, de acordo com a psicóloga Patrícia Maciel Trindade, pois a falta de medidas higiênicas adequadas afeta a autoestima, gera isolamento social e preconceito. A cabeleireira Maria Diva Teles Caminha, 58 anos, também não para. Mantém jornada dupla desde 1987. Todos os dias, após chegar do salão, Diva encontra sempre um jeitinho de arrumar alguma coisa em casa. Por causa de seu apego com a limpeza ganhou até um apelido: “Maria enjoada”. Mas ela parece não se importar com as críticas.
Antônia Falcão lida com as tarefas domésticas o dia inteiro e só descansa enquanto assiste novela
Mesmo nos fins de semana não descansa. Pelo contrário, é nesses dias que trabalha mais. “Já deixei de sair várias vezes para me divertir, porque tinha que aproveitar o tempo para faxinar a casa”.
Exagero - O cuidado excessivo com a limpeza pode se tornar uma patologia e trazer prejuízos emocionais quando começa a interferir na vida social. Patrícia explica que a pessoa fica com medo de frequentar certos lugares e evita situações sociais por temor de contaminação. É o caso da universitária La-
rissa Fernanda Santana Rolim, 20 anos, que desde os nove convive com o hábito de lavar as mãos compulsivamente, devido ao receio de contrair doenças. Para Larissa, não existe sensação pior do que sentir que suas mãos estão sujas. “Fico impaciente, não consigo fazer outra coisa, fico só pensando nas mãos”. A jovem buscou ajuda de um profissional e, após quatro anos de tratamento psicológico, o número de lavagens “diminuiu” para um pouco mais de 30 vezes por dia. Hoje, ela já consegue pegar nas mãos das pessoas tranquilamente.
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CERCO Iniciativas como a Lei Antifumo são tentativas de impedir disseminação do vício do tabagismo, mas as influências familiares e culturais são determinantes
Mesmo com alerta, fumar ainda é comum ALESSANDRA FERREIRA
Uso dos produtos derivados do tabaco está mais limitado em ambientes públicos, mas novas pessoas, principalmente jovens, continuam aderindo ao vício por motivos como a influência de amigos que fumam Alessandra Ferreira
Fatores como a interferência da família e da escola “abrem as portas” para que a juventude imperatrizense seja cada vez mais cedo dependente do cigarro. Geane, ou “Preta” é uma jovem divorciada, com largo sorriso, que
fuma desde os 17 anos. “Dizem que outras pessoas influenciam”. Ela alega que suas amigas tinham apenas 15 anos quando iniciaram o consumo do cigarro. Ou seja, ainda estavam em idade escolar. Tanto em espaços universitários como em instituições de ensino fundamental encontra-
mos jovens que consomem produtos derivados do tabaco. R., 14 anos, estudante e esportista, é um exemplo desse contexto. “Já faz um ano que fumo”. Ele ainda ressalta que o cigarro ajudou-o a ser aceito no grupo de amigos. Mas existem casos em que a família também exerce uma for-
te influência. Segundo “Preta”, apesar das suas colegas da escola sempre fumarem perto dela, somente depois do seu casamento sentiu vontade de usar o cigarro. “Aprendi a fumar com meu esposo”. Para tentar diminuir os índices e riscos que envolvem as duas
bases sociais da formação do indivíduo, o estado do Maranhão adotou a proposta nacional de Lei Antifumo. Aprovado pela Assembleia Legislativa do Maranhão em 10 de agosto de 2009, o documento proíbe o consumo de cigarros, ou “quaisquer produtos fumígenos” derivados ou não do tabaco, nos ambientes de uso coletivo, públicos e privados. O texto deixa claro que “ambientes de uso coletivo” muito mais do que bares e restaurantes, são espaços “de trabalho, de estudo, de cultura, de culto religioso, de lazer, de esporte ou de entretenimento, áreas comuns de condomínios, casas de espetáculos, teatros, cinemas, lanchonetes, boates, hotéis, pousadas, veículos públicos ou privados de transporte coletivo, viaturas oficiais de qualquer espécie e táxis”. A estimativa da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), sobre o consumo individual do cigarro no país também mostra a importância de aplicar a Lei Antifumo. O consumo nacional varia de 20 ou mais unidades por dia de acordo com os dados. No caso de São Luís o valor atingiu 2,5%. Em Imperatriz a realidade também não é diferente. Apesar dos amigos aconselharem Preta a largar o cigarro, ela declara que costuma fumar por volta de três carteiras por dia, especialmente quando consome bebidas alcoólicas. Para a jovem, é difícil largar o vício porque “tem muitas vezes que o cigarro tira depressão, apetite, a raiva que a gente desconta nele”.
Incentivo ao consumo de bebida alcoólica ajuda a não perceber compulsão WELBERT QUEIROZ Welbert Queiroz
Ricardo tem 20 anos e lembra que o primeiro contato com o álcool foi aos 12, em uma reunião de coroinhas após uma missa. Depois desse dia passou a beber socialmente, mas nunca exagerou na dose. Como muitos, ele garante que sabe a hora de parar. O grupo Reviver de Alcoólicos Anônimos (AA) em Imperatriz tem uma postura diferenciada, pois trabalha com a recuperação do indivíduo que procura a instituição por vontade própria. Nas reuniões, cada membro tem o seu sobrenome substituído pela sigla AA. “Aqui trabalhamos com o autojulgamento, é uma sugestão e não obrigação. Encaramos o alcoolismo como doença e não como espíritos ou encosto”, declara Francisco AA. Ele relata que para se livrar do vício procurou “de religiões a macumbeiros”, mas não obteve sucesso. “Eu encontrei a resposta no Alcoólicos Anônimos. Aos 33 anos, Jesus salvou o mundo e aos 33 eu salvei minha vida”, reconhece, emocionado. Outro membro, Antônio AA, dentre outros problemas, perdeu a
Para a maioria das pessoas, o consumo de álcool gera pouco ou nenhum risco de se tornar um vício, mas outros fatores conjugados podem levar ao alcoolismo
mulher por causa do vício, motivo que o levou a procurar o grupo. “O AA não é apenas para deixar de
beber. É para aprender, respeitar e mudar o comportamento. É uma programação de vida”, garante or-
gulhosamente. Para a maioria das pessoas, o consumo de álcool gera pouco
ou nenhum risco de se tornar um vício. Outros fatores geralmente contribuem para que o seu uso se transforme em alcoolismo: o ambiente social em que a pessoa vive, a saúde emocional e psíquica, além da predisposição genética. O álcool possui grande aceitação social. Essa é uma droga que atua no sistema nervoso central, podendo causar dependência e mudança no comportamento. Quando consumido em excesso é visto como um problema de saúde, pois está diretamente ligado a acidentes de trânsito e violência. O alcoolismo é definido como o consumo exagerado de álcool ou preocupação com bebidas alcoólicas ao ponto de esse comportamento interferir na vida pessoal, familiar, social ou na profissional da pessoa. Trata-se de um dos problemas mundiais de uso de drogas que mais traz custos. Com exceção do tabagismo, sai mais caro para os sistemas de saúde dos países do que a combinação dos problemas relacionados ao consumo de outros drogas, segundo dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid).
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“BOCAS” Dados da Delegacia de Entorpecentes de Imperatriz apontam a liderança do crack entre as drogas mais apreendidas nas mãos dos traficantes da cidade DIEGO LEONARDO
Crack e maconha são as drogas mais apreendidas Joaquim Rodrigues
Dados da Delegacia de Entorpecentes de Imperatriz, que começou as suas atividades em fevereiro de 2010, indicam que daquele mês no ano passado até dezembro o crack foi a droga mais apreendida, totalizando 15,3 quilos. Entre janeiro e abril de 2011 o entorpecente continua na liderança, com 6,7 quilos apreendidos. Entre fevereiro e dezembro de 2010 o total de maconha apreendido foi de 2,9 quilos contra 21g de cocaína. Nos primeiros meses de 2011, a polícia conseguiu retirar do poder dos traficantes 344,37g de maconha. Por outro lado, quando se leva em conta os dados da Polícia Rodoviária Federal, é significativo o número de apreensões de outra droga nas estradas do Maranhão: a pasta base de cocaína. Foram mais de 100 quilos no ano passado e só em março de 2011, em uma única operação em Porto Franco, a polícia apreendeu 16 quilos desta droga. A pasta da cocaína é o substrato da folha da coca mais barato e com alto teor de impurezas. De acordo com um usuário que preferiu não se
identificar, a pasta tem vantagem no mercado por ser mais lucrativa para os traficantes. Um quilo no formato de pedra pode multiplicar até 11 quilos de pasta e seu lucro não rende menos do que 20 mil reais. Pode ser comprada, na fonte, por menos de 10 dólares. Já um quilo de maconha plantada não passa dos 200 reais. Em uma operação realizada no mês de agosto de 2010 em apenas uma “boca de fumo” no bairro Bacuri foram apreendidos oito quilos da pasta de cocaína. A quantia superou a maconha e o cloridato. Essa droga pode ser beneficiada e misturada a outras substâncias químicas, no formato de pasta base, petrificada, quando é conhecida como pedra de óxi, já pronta para o consumo, ou “embolada” em pequenas “petecas” vendidas entre 5 e 15 reais. Esse entorpecente resulta dos restos da folha da coca. Após ser prensada é misturada a solventes químicos. Em um processo artesanal, de suas sobras ainda são produzidas duas drogas ainda mais baratas. “A coca desgraçou toda, mas toda a minha família mesmo. Primeiro o pai, depois minha irmã e eu.
Resultado comum de uma busca e apreensão policial: armas, cocaína, maconha, pasta base, lança-perfume e dinheiro provenientes do tráfico lucrativo
Hoje não uso mais, mas o pai continua. É terrível ver o seu pai nesta situação. Só não perdeu o emprego dele porque tem estabilidade”, relata uma usuária identificada com as iniciais S.M. O consumo de drogas é mais amplo, o que significa dizer que outros produtos são utilizados para satisfazer a vontade do usuário. Entre os adolescentes há registro de alguns inalantes, que tem utilidades domésticas, mas acabam sendo usa-
dos para entorpecer. Na sua grande maioria são produtos químicos que evaporam muito rápido. Entretanto, seus prejuízos são longos, pois, entre os danos causados estão: taquicardia, hepatite, epilepsia e perda do olfato. De acordo com o policial militar Pedro Marinho, que atua no Programa Educacional de Resistência às Drogas e Violência (Proerd), a PM vem trabalhando principalmente na prevenção por meio de atividades
desenvolvidas em salas de aula e isso tem gerado bons resultados. O Grupo Especial de Apoio às Escolas (Geape) também atua no combate ao tráfico e ao consumo nas instituições de ensino. Outro usuário conta que começou a usar inalantes já adulto. “Durante algum tempo usava controlado, depois observei que estava secando, morrendo aos poucos. Hoje estou tentando me curar desse câncer chamado droga”.
Centros de reabilitação de Imperatriz lutam para manter funcionamento GLEICY FERRAZ
Atividades artísticas faziam parte do processo de recuperação de dependentes químicos a partir de um trabalho que envolvia profissionais de várias áreas Gleicy Ferraz
O vício é algo que prejudica, e é difícil superá-lo sozinho, por isso, existem os locais especializados. Na ci-
dade há centros de reabilitação, onde eram encontrados até o ano passado aparatos específicos para a ressocialização. Mas, no momento, a realidade é outra. A estrutura para recuperação
de dependentes químicos e, mais ainda, para cuidar da saúde mental em Imperatriz, atualmente passa por uma crise. Existe na cidade o Centro de
Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), o Caps Infanto Juvenil (IJ), o Caps Adulto (Renascer) e o Núcleo de Assistência Integrada à Saúde de Imperatriz (Naisi) com serviço de urgência e emergência. Todos sofrem com a falta de investimentos, o que vem prejudicando o atendimento. O Caps Renascer fechou as portas parcialmente, enquanto os outros centros também vêm sofrendo cortes de verbas. De acordo com carta aberta à sociedade redigida e divulgada por acadêmicos e professores do curso de enfermagem da UFMA, “no momento, o funcionamento se dá de forma precária, por exemplo: não são ofertadas todas as refeições necessárias; não são desenvolvidas terapêuticas complementares ao cuidado dos pacientes em razão da escassez de recursos”. Um dos motivos é que nos meses de abril e maio de 2011 foram efetuados cortes no sistema de saúde, o que gerou a demissão de funcionários contratados, deixando efetivamente no cargo apenas os concursados. Assim, o atendimento de todo o sistema acabou prejudicado. Em 2001 o então prefeito Jomar Fernandes havia firmado convênio com o Ministério da Saúde para manter as casas de reabilitação. Os estudantes de enfermagem, juntamente com usuários e trabalhadores de serviços da área de saúde mental promoveram no dia 18 de maio, Dia da Luta Antimanicomial, uma caminhada pedindo o fim dos manicômios e melhor estrutura para a ressocialização dos usuários do sistema.
Os centros de reabilitação na cidade surgiram por meio de vários projetos. O primeiro nascido neste sentido foi o ambulatório especializado em saúde mental chamado “Casa” que, tendo sido fundado em 2001, tornou-se o Caps adulto com inauguração no dia 21 de dezembro de 2004. O objetivo foi tratar e dar assistência psicológica e psicoterapêutica com uma equipe multiprofissional composta por psicólogos, enfermeiros, médicos, assistentes sociais, musicoterapeutas e professores de educação física. Até o ano passado havia atividades de oficinas de arte e as telas eram pintadas pelos próprios pacientes. Havia, ainda, banhos de piscina, lanches e uma integração social que proporcionava entretenimento durante todo dia. Hoje, as atividades estão sob ameaça de continuar em sua plenitude. A equipe que realizava o tratamento recebia orientação da Universidade de São Paulo (USP) sobre como fornecer informações terapêuticas aos pacientes e acompanhar as famílias, em projeto chamado “Terapêutico Individual”, hoje com o atendimento prejudicado. O mesmo acontece com o Núcleo de Atenção Integrada em Saúde de Imperatriz (Naisi), centro de reabilitação ligado aos Caps, porém com ênfase maior, pois atua na internação. Com todos os problemas que vem ocorrendo, os pacientes estão desassistidos. Os serviços estariam funcionando em precárias condições, tanto físicas quanto assistenciais.
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POLÊMICA Usuários da cannabis mantêm o discurso de que o seu consumo é um hábito milenar que ajuda a “gerar comunhão” e acham absurdo proibir uma planta NARCISIO FERREIRA
Consumo de maconha ganha jeito de ritual Narcisio Ferreira
Preparar o “baseado” é a primeira etapa do ritual que depois seguirá com o seu compartilhamento
Beira-Rio. O pôr do sol lança sobre as águas os últimos raios de luz. Lugar propício para chegar ao fim do dia. Ali se encontra um grupo de amigos usuários de maconha. Segundo eles, esse horário é o ideal para utilizar a droga. Sentados em um lençol sobre a grama, de uma maneira harmônica, quase como um ritual, eles fazem o uso da erva. O “baseado”, passa de mão em mão, aos poucos vai diminuindo e em instantes os usuários parecem ser tomados por um arrebatamento de sensações. Mi, uma das integrantes do grupo, explica por que faz uso da “diamba”. “A maconha é uma droga que socializa, ela traz comunhão entre as pessoas. Deveria ser liberado até o plantio, pois o cultivo seria mais saudável”. Ela ainda ressalta que o álcool é que deveria ser proibido, pois tira a percepção da realidade. “A ‘cannabis’ é uma planta e foi Deus quem fez”, comenta a moça, com o rosto sério. José (nome fictício para preservar a identidade da fonte) é um cidadão de 40 anos e já avô, trabalha duro em sua bicicleta para sustentar a família. Sempre que
pode vai ao encontro dos amigos para curtir o cair da noite e fumar o “cachimbo da paz”. Empolgado, talvez com o som de uma flauta que tocava a música “Carinhoso”, de Pixinguinha, José põe um sorriso no rosto e relembra: “A primeira vez que fumei tinha 15 anos e salvei a mulher da minha vida”. Com o pensamento elevado continua a conversar com os amigos, falando de coisas místicas e da importância da natureza na vida do ser humano. Quanto ao final da história José se esquece de contar. Fumar maconha é uma prática antiga. Segundo estudiosos, na região onde hoje é a Romênia foram encontradas sementes que comprovam o uso da droga no Terceiro Milênio a.C. Chamada cientificamente de cannabis sativa, tem como principal composto químico o tetraidrocanabinol. Debate - No Brasil o consumo dessa substância é proibido. Nos anos 1990, iniciou-se uma ampla discussão sobre o consumo e a legalização da erva. Em parte, o debate deu-se tanto com a presença de Fernando Gabeira no Congresso Nacional quanto pelas canções da banda “Planet Hemp” que faziam
apologia ao uso da erva. E hoje, o que as pessoas acham? O policial militar Antônio (pseudônimo usado para preservar a identidade do entrevistado) é contra o consumo e a legalização da planta. De acordo com ele, o uso da erva não traz benefício algum, o usuário fica dependente e perde o controle. Alterando, assim, a ordem social. E completa: “O pai que usa deixa de lado a família e dá prioridade à droga”. Já C.D.7, jovem de 24 anos, é a favor da liberação. Assim, o usuário poderia ter sua própria plantação. “Como é que os caras vão proibir uma planta?” À margem de toda essa discussão encontra-se Mister M., que, tendo o céu como abrigo, peregrina pelas ruas de Imperatriz. Ele possui uma mala, na qual coloca suas ferramentas de confeccionar pulseiras. Conheceu a “marijuana” aos 14 anos e hoje, com 39, continua consumindo. “Ela abre minha mente, me deixa pensativo. Às vezes não quero, mas a carne pede”. Ao lado de alguns amigos, também na BeiraRio, totalmente “maluco beleza”, fuma seu “baseado” e fica a exclamar: “Vida louca!”
Do uso de plantas caseiras a automedicação: qual o limite dos remédios? Marisvaldo Lima
Hipocondria, do grego hypo, “abaixo,” e kondrós, “cartilagem do tórax”. Segundo o Dicionário Michaelis é o receio mórbido pela saúde, muitas vezes associado com uma doença imaginária. Maria de Jesus, 62 anos, é uma mulher negra e magra que aparenta ter metade de sua idade, não tem um fio de cabelo branco na cabeça e esbanja disposição para dar e vender. No quintal grande de sua casa ela planta quase tudo que usa para fazer os remédios que toma. Posicionada na lavanderia com uma pilha de roupas para lavar, ela começa a me dar as receitas: “Está com dor de cabeça? Chá das folhas de terramicina. Com dor de barriga? A hortelã está logo ali. Inflamações de toda sorte? Casca de aroeira, inharé ou casca de caju. Problemas renais: casca de jatobá ou chá de quebra-pedra”. Eu pergunto: “E funciona?” Maria solta um convicto: “mas é claro!”. As receitas são tantas... pode escolher à vontade. Mastruz com folhas de algodão serve para cicatrizar ferimentos. Cravo-da-Índia com álcool e pinhão curam enxaqueca. Calmante bom é chá de capim santo ou erva cidreira. Apesar de tantos remédios caseiros ela vai ao médico com muita frequência. Em uma dessas consultas descobriu que tem um mioma no útero. Dessa vez ela terá de fazer cirurgia. Ao me despedir ganhei até um
MARISVALDO LIMA
remédio que, segundo ela, pode curar minha artrite: duas gotas de leite do Pau-Brasil para uma garrafa de vinho branco seco. Automedicação - Encontro Francisca Silva Gomes de 56 anos sentada na calçada de casa. Mãe de nove filhos e casada, ela é dona de uma voz conhecida na vizinhança. Não que ela cante bem ou algo do tipo, mas pelos sonoros “ê Mateus, vem almoçar” que ecoam diariamente da porta para fora. Em uma caixa de sapatos, estrategicamente guardada na primeira gaveta da cômoda, ela guarda cartelas e mais cartelas, frascos e mais frascos de remédios. Neosaldina, Tandene, Anador, Doril, Cataflan, AAS, Amoxilina, Diclofenaco de Sódio, Dipirona, Tylenol. Todos sem receita. Ela diz que sente muita dor de dente, mas tem medo de arrancar, por isso toma tanta Neosaldina. “Mas e o resto, é pra quê?”. Ela responde sem hesitar: “Aqui tem muito menino. Se algum deles adoecer de noite já tem remédio aí”. Mas não deixa de confessar: “Tenho muito medo de adoecer, por isso que tenho todos esses remédios aqui em casa”. Segundo Eliseu Veraciano, proprietário de uma drogaria na periferia da cidade, é grande o número de pessoas que procuram a farmácia para comprar remédios sem prescrição médica. “Na maior parte das vezes são sempre as mesmas pessoas que, semanalmente, compram
Maria planta no quintal de sua casa quase tudo que usa para fazer os remédios que costuma consumir. Funciona? “Mas é claro!”, responde convicta
remédios pra dor de cabeça, dor de dente e às vezes até remédios controlados”.
Cresce também o número de pessoas que aderem aos remédios caseiros. Exageros que podem tor-
nar-se vícios, que, por sua vez, podem complicar em vez de curar doenças.
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DEPENDÊNCIA O crack é uma das drogas mais baratas, porém demonstra um poder viciante superior e surgiu como alternativa à conhecida cocaína
Perdidos nas garras sedutoras do crack ROSANA BARROS
Rosana Barros
Irajá e L., como pediram para ser identificados, entraram para o ranking de usuários do crack por curiosidade de saber qual é o efeito dessa droga. Irajá, um hippie de fala mansa e sempre com um sorriso no rosto, disse ter usado a substância após o fim do seu casamento enquanto L. experimentou por influência dos amigos. O crack é a droga mais barata que existe, porém uma das mais viciantes. Surgiu como uma alternativa para a cocaína, mas aumentou o teor de impureza. Geralmente é composto por cocaína, bicarbonato de sódio, éter e acetona. Alguns traficantes acrescentam talco, cimento branco e cal. Pode haver também solução de bateria e, às vezes, até cacos de vidro moído. Irajá relatou o que para ele foi mais significativo durante o uso: “Após uma semana e meia usando só crack dia e noite, senti minha alma se separar do corpo. Foi uma viagem totalmente diferente, a parada mais marcante que eu carrego até hoje”. L. contou que nunca sentiu prazer ao usar, pois ficava sempre muito nervoso e no outro dia sentia-se arrependido. As sensações mais comuns de quem usa são a euforia, excitação, tremores, suor intenso, dilatação das pupilas, aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos. Normalmente quem consome a pedra já passou por outros tipos de drogas. Irajá usou cocaína, maconha, ecstasy, anfetaminas e também as injetáveis. Já L. era usuário apenas do álcool e de maconha quando provou o crack pela primeira vez. Após o consumo, o efeito é instantâneo. São poucos segundos para sentir o prazer, que logo
Quem usa o crack, que é fumado em cachimbos muitas vezes improvisados, sente a sensação de euforia, excitação, tremores, suor intenso, dilatação das pupilas, aumento da pressão e das batidas cardíacas
acaba e o corpo pede mais. Dessa forma, o usuário procura todos os meios para conseguir novamente a droga. Muitos roubam até a própria família e vendem tudo o que têm dentro de casa. O crack é consumido em cachimbos nos quais se colocam cinzas de cigarro e a pedra. Ou então como “pitilho”, que é a sua forma misturada com a maconha. Em Imperatriz, a Delegacia
de Entorpecentes é a responsável pelas apreensões do crack, uma das substâncias mais combatidas na cidade. Irajá lembra que já ficou preso 24 horas, mas o pior foi ficar sem a droga durante esse período.
Mensagem - Muitos usuários buscam ajuda no Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Droga de Imperatriz (CAPS ad Giras-
Delegacia utiliza inteligência estratégica tipo e a quantidade de droga apreendida, confirmado por um perito oficial. No dia 15 de fevereiro de 2010 “O que diferencia o consumifoi implantada a Delegacia de Endor do traficante de drogas não é torpecentes em Imperatriz, devia quantidade apreendida, do ao elevado índice de mas sim, a circunstância procedimentos policiais em que a droga era utilirelacionados às drogas. zada”, explica o delegado Desde então, ela se torArthur Benazzi. A pessoa nou o centro das investiInvestigações de pontos de venda, que transportar ou trougações e dos demais atos xer consigo para consumo de polícia judiciária, perfis e comportamentos são será submetida ponto de atendimento e necessárias para se antecipar às ações pessoal às seguintes penalidades: proteção à população. dos principais grupos que atuam no advertência sobre os efeiO delegado de Potos das drogas, prestação lícia Civil, Arthur José tráfico de drogas em Imperatriz. de serviços a comunidade Benazzi, informa que a e comparecimento a prodelegacia tem priorizado gramas ou cursos educaatividades de inteligência tivos. no combate às drogas. Para aquele que porta Investigações de pontos drogas com a finalidade de expor de vendas, perfis e comportamen- certa para dar o flagrante. Ocorrendo a prisão, a autori- à venda, a pena é de três a 10 anos tos são necessários para se antecipar as ações dos principais grupos dade de polícia judiciária comuni- de prisão e pagamento de 700 a cará, imediatamente, ao juiz com- 1.220 reais de multa. A lei brasique atuam na cidade. petente, que dará vista ao órgão leira para o combate ao tráfico de Procedimentos - Segundo Bena- do Ministério Público no prazo drogas é a 11.343/2006, denomizzi, as investigações podem durar de 24 horas. No laudo constam o nada de “Lei Antidrogas”. Stepheson Silva
meses. Primeiro são levantadas provas suficientes para a solicitação de mandatos de busca e apreensão. Quando a Justiça determina, os policiais aguardam o momento
sol), quando não conseguem mais dominar seu corpo e o grau de agressividade está em alto nível. Os pacientes são indicados pelo Núcleo de Atenção Integrada em Saúde de Imperatriz (Naisi) e pelo Hospital Municipal (Socorrão), pois necessitam de ajuda para enfrentar as crises de abstinência. Irajá deixa uma mensagem para os usuários de crack: “Para galera que usa, a única coisa que
eu digo é que conhece o tamanho do problema que está entrando. E, se quiser persistir no erro, sabe qual o ponto que vai chegar. Pois desde o início a história já está escrita que você vai chegar no fim do nada, não vai ter nada, nem apoio da família”. Tanto Irajá quanto L. disseram ter deixado de usar pedra, pois como alegaram, “usar crack é fim de carreira”.
Programa educacional atua na prevenção às drogas Stepheson Silva
O Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd) é a versão brasileira do norte-americano Drug Abuse Resistence Education (D.A.R.E.), surgido em 1983. No Brasil, foi implantado em 1992 pela Polícia Militar do Rio de Janeiro e chegou ao Maranhão em 2001. Em Imperatriz, atua desde 2005 e hoje conta com mais de cinco mil crianças entre 9 e 12 anos formadas e com diploma. O programa consiste em uma ação conjunta entre o policial militar devidamente capacitado, chamado policial Proerd, educadores, estudantes, pais e comunidade. São oferecidas estratégias preventivas visando reforçar a proteção e o desenvolvimento da resistência da criança e do adolescente, que pode correr o risco de envolver-se com drogas e problemas de comporta-
mento violento. Para o sargento Hosano, que atua no 3º Batalhão da Polícia Militar e é auxiliar do coordenador do Proerd, somente a repressão é insuficiente para combater as drogas. “É importante a participação da população no combate e nas campanhas de prevenção para que a comunidade como um todo possa manter-se longe das drogas”. Especialistas afirmam que não é possível lutar contra o tráfico somente como um crime e esquecerse de combater as causas que levam as pessoas ao consumo e à sua dependência. “O consumo de drogas é uma preocupação que tem de mobilizar a todos. Quanto mais ações de campanhas, palestras e programas de combate às drogas existirem maior será a mobilização e a iniciativa da sociedade”. A opinião é da psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), Nara Siqueira.
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DEsCOnTROLE Não é difícil encontrar histórias de pessoas que fazem do jogo, mesmo legalizado, uma compulsão diária: o problema mesmo é diferenciar o lazer dos prejuízos
“É mais fácil perder do que ganhar” Alan Milhomem
“Ninguém sai sorrindo quando perde”, é o que relata o cambista do jogo do bicho de iniciais A. L. D. A atividade é proibida no Brasil, por se enquadrar em jogos de azar. Mas as bancas funcionam em todo país e em Imperatriz não é diferente. Na cidade funcionam duas bancas centrais e há aproximadamente 15 corretores e 100 cambistas, segundo informações de A. L. D. Por se tratar de uma atividade ilegal, as pessoas que jogam não gostam de falar sobre o assunto e os compulsivos não se consideram doentes. Segundo A. L. D., que há 25 anos trabalha como cambista e faz suas apostas no jogo do bicho, há clientes que “jogam três vezes por dia, todos os dias sem falhar”. Segundo a psicóloga e especialista em relações humanas, Aline Santos da Silva, é a intensidade e a frequência do hábito que vão determinar se o comportamento é com-
ALAN MILHOMEM
pulsivo. “Quando a pessoa não tem mais controle sobre ele e passa a perder contato social o comportamento é considerado compulsivo e, portanto, uma doença”. O jogo patológico é uma dependência comparada a outras como a da droga, por exemplo, inclusive pelos próprios compulsivos. A dificuldade no diagnóstico deve-se ao fato de o ato de jogar ser considerado normal, ou apenas uma diversão aceita pela sociedade. Em consequencia disso, o tratamento da doença fica comprometido. B., uma apostadora fiel do jogo do bicho, joga todos os dias. Prefere sempre os números do telefone, da casa e dos documentos. Ela diz que não é jogadora “profissional”, isto é, cambista, e que já chegou a ganhar até 700 reais. Sua irmã, F., joga também diariamente e já chegou a ganhar 6 mil reais. Em Imperatriz, assim como no Brasil, há muitas pessoas dependentes dos jogos, mas que não buscam tratamento para se livrarem dessa doença,
Jogar no bicho envolve um ritual particular em que vale tudo, como números de telefone, dos documentos, ou a crença: sonhou com animal dá na cabeça!
por acharem normal, um simples hábito, uma diversão. B.C., apostador assíduo de jogo de baralho há 20 anos, diz que “é mais fácil perder do que ganhar, nesse jogo”. Ele já perdeu vários bens e muito dinheiro nas partidas, além de ter deixado de pagar dívidas para jogar. “Quando começo a jogar enquanto tiver dinheiro estou jogando, e se o dinheiro acaba pego no banco, penhora-
mos bicicletas, jóias ou pego dinheiro com agiotas”. Segundo a psicóloga Aline, o tratamento é feito por meio de terapia, psicoterapia e medicamentos. Porém, os viciados em jogos têm muitas dificuldades em parar com essa compulsão, pois encaram esse comportamento como um simples lazer e não conseguem ver as perdas e os proble-
mas que o jogo traz. Aline alerta que a dependência de jogos acarreta muitos problemas como perdas no trabalho, na família e nos relacionamentos. Além de “perda da visão de futuro, de ter uma família, uma profissão”. B. C. confirma: “Ah, já pensei em parar muitas vezes, mas a vontade é maior que o desempenho. A de continuar é maior que a de deixar”.
Consumistas são atraídos pelo “mundo maravilhoso” das vitrines Thalyta Dias
“Somos influenciados pela mídia a consumir cada vez mais”. O comentário é da psicóloga Nádia Borges de Araújo. Muitas pessoas compram por necessidade, status, modismo, mas também pelo simples prazer que esse ato proporciona. A estudante de pedagogia, Edileusa Batista, 17 anos, afirma ser consumista, em especial de esmaltes. Para ela, a compra exagerada do produto proporciona a sensação de bem-estar, mesmo reconhecendo que depois vem o arrependimento.
“Sou consumista demais, não posso ver dinheiro, que gasto. Quando compro esmaltes me sinto bem, mas depois me arrependo”. A partir do momento em que o consumo deixa de suprir as necessidades básicas do indivíduo, torna-se consumismo. Acontece quando a pessoa passa a obter produtos, serviços ou bens sem a obrigação de possuí-los. Leonardo Barbosa, 26 anos, vendedor de roupas no shopping Timbira, assume ser consumista. “Compro tudo! Roupas, sapatos e até produtos bestas, surpérfluos”. Leonardo reconhece que às vezes o
hábito compromete suas finanças e admite que ao adquirir um produto o sentimento é de prazer. “A sensação é boa. Mas tem coisas que eu não tenho necessidade de comprar e compro”. Leonardo conta que depositou um dinheiro na sua conta no mês passado, mas, quando uma amiga mostrou-lhe umas camisetas não resistiu e mexeu na poupança. “Comprei 11 peças de roupas. Ou seja, comprometi 50% do dinheiro depositado”.
Causas - Segundo a psicóloga Nádia Borges, a mania do consumis-
mo é provocada por uma falha no sistema emocional, quando o ato de consumir remete a uma falsa sensação de bem-estar. “Fazendo uma analogia, é como se fosse uma dependência química. A pessoa reconhece que não devia fazer, mas isso não impede de fazer de novo. É uma ilusão acreditar que aquilo vai trazer uma satisfação”, comenta Nádia. Possuir um determinado produto pode gerar uma agradável sensação de prazer. Porém, pode ser acompanhada de uma série de transtornos e doenças, como a one-
omania, caracterizada pela compra exagerada de produtos. Neste caso, o indivíduo que age dessa forma é considerado um consumista compulsivo. Os medicamentosos ou psicoterápicos estão entre os tratamentos indicados para os compulsivos. Ambos precisam ser acompanhados por profissionais. Não há tempo de tratamento estipulado, tendo em vista que cada caso é diferente. “O tratamento não costuma ser de curto prazo, pois a compulsão de comprar é apenas o sintoma de um problema mais sério”, ressalta Nádia.
No ambiente de trabalho, eficiência pode esconder sintomas de exagero WALLIKSON BARROS Wallikson Barros
Gerente de call center, Rita trabalha com o objetivo de atingir a excelência no atendimento aos clientes
Hoje, viver e trabalhar com saúde e disposição é uma dádiva para poucos. Cumprir expediente além do horário é, para muitos, uma forma de ganhar um extra no fim do mês. Outros dizem que de tão comum vira hábito prolongar o expediente diariamente. O diferencial é trabalhar levando saúde para todos. Maria Juracy vende produtos da linha Herbalife há pouco mais de seis meses e conta que hoje trabalha proporcionando qualidade de vida para as pessoas. “A cada dia que passa eu fico mais entusiasmada com meu empreendimento. Levo vida nova com produtos que vão de nutrição interna a beleza externa. Eu passo horas e horas visitando meus clientes. Chego a perder a noção do tempo,
mas é para uma boa causa”. Mas sua atividade pode virar um vício ou é um hábito? “Eu faço isso por amor, porque eu quero uma vida melhor para mim e para as pessoas. Se isso é vício, que todos tenham esse maravilhoso vício”. Incansável no seu ramo, Maria Juracy revela que o seu fascínio vem do uso dos produtos. “Eu vejo os resultados em mim, por isso que eu recomendo. Porque eu e as pessoas notamos nitidamente os grandes resultados. Perdi quatro quilos em um mês, além de ganhar qualidade de vida. Recebo reconhecimento da minha companhia”. Rita Silva é gerente da Provider, empresa que presta serviço de call center para a Companhia Energética do Maranhão (Cemar). Ela trabalha sem parar, com o objetivo de atin-
gir a excelência no atendimento aos clientes. “Quando cheguei, vi que realmente tinha muito trabalho”. Ela ainda conta que não é fácil gerenciar um serviço de atendimento como esse, as dificuldades são muitas, o trabalho é árduo. “Quando eu fico aqui na central de oito da manhã até as cinco horas do outro dia, é porque realmente eu gosto”. Rita veio de Igarassu, Pernambuco, com a oportunidade de crescer dentro da empresa. Para a psicologia comportamental o hábito é resultado de uma construção orgânica, desencadeada pelo reforço de uma relação entre estímulo e prazer químico. A base teórica deste ramo de atuação dos psicólogos é o behaviorismo. Edward L.Thorndike e John Watson foram um dos precursores dessa teoria.
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EnTREvIsTA Psicóloga Gizele da Costa Cerqueira
“Hábitos são rotina. Vícios, descontrole” Coordenadora e psicóloga do Centro de Assistência Psicossocial Álcool e Drogas em Imperatriz (Caps ad – Girassol) desde a sua inauguração há dois anos, Gizele da
Costa Cerqueira abriu as portas de sua casa no bairro Parque das Palmeiras para uma conversa com o Jornal Arrocha. Especialista em saúde mental pelo Ins-
tituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB) e em dependência química pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Gizele esclareceu
uma série de questões relacionadas a vícios (dependências), comportamentos compulsivos e ao trabalho dos Centros de Apoio Psicossocial (Caps) em Imperatriz. A psi-
cóloga Gizele da Costa afirma que nenhuma doença está fora de contexto social e que o preconceito nunca ajuda, pelo contrário, só atrapalha. RENATA COSTA
Max Dimes Renata Costa
O que é vício? O que é hábito? Os hábitos, de uma forma geral, são as coisas que fazemos rotineiramente e que não geram para a gente um problema de comportamento. Tem gente que tem hábito de acordar de manhã cedo, de dormir de tarde e isso não traz nenhum prejuízo. O vício pressupõe que alguma coisa está descontrolada. É um nome pejorativo, usado em relação às pessoas que têm compulsões. As pessoas demoram muito para perceber que têm um problema como o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e procurar ajuda médica? Por quê? Por preconceito. A psicologia e a psiquiatria tratam da mente e antigamente quem precisava de atendimento por parte desses profissionais era quem? O chamado “maluco”. Ainda hoje as pessoas associam que quem lida com a mente: psicólogos e psiquiatras são meio “malucos” também. Ao longo da história da psiquiatria, isso foi sendo construído. Quando [o filósofo Michel] Foucault escreveu sobre a história da loucura, fez todo um apanhado e uma análise para mostrar como o conceito da “loucura” e do “louco” foram construídos socialmente. Problemas sempre existiram, a “loucura” sempre existiu. O que acontece é que em um determinado momento isso passou a ser objeto da ciência com a psiquiatria. Não que o sofrimento psíquico não existisse antes disso, mas o “louco” precisando de tratamento, isso foi construído socialmente. Depende muito do que as pessoas enxergam. Eu, particularmente, acho que tudo é construído socialmente, até o amor. Os especialistas, hoje, falam em dependência em vez de vício. Quando a palavra “vício” era mais aceita, o tratamento era diferente? O que muda? Muda o olhar. Porque, veja, a dependência química tem um histórico de julgamento moral. As pessoas achavam, e muitas hoje em dia ainda acham, que o dependente químico é uma pessoa sem-vergonha, maucaráter, vagabundo.
mente contra a Reforma Psiquiátrica, chamando-a de “lei errada”. O poeta falou como pai de dois esquizofrênicos. A O Caps Girassol tem atendido muitos senhora leu esse artigo, tem conhecimenusuários de crack? to dessa polêmica? Sim. Em primeiro lugar o álcool, Li na internet. Precisamos seem segundo o crack. parar o que é manicomial e o que é internação. Os manicômios eram O Brasil adotou em 2001 a Reforma Psi- um caos. Se eu estivesse com uma quiátrica. A nova estrutura implantou os pneumonia e procurasse um hosCaps e Centros de Atendimento no Trata- pital que não me desse condição mento das Doenças Psíquicas, evitando nenhuma de um bom tratamento, que o paciente saia do convívio social e essa não seria uma boa internação. familiar. Essa estrutura funciona bem em Ao contrário disso, um hospital Imperatriz? que me desse condições de diagAinda temos muitas coisas para nóstico, tratamento, eu teria uma boa internação. O que o Ferreira Gullar estava dizendo é que é muito difícil tratar em casa pessoas com transtornos mentais graves, ainda mais sendo duas. Não vou julgá-lo por “A doença nunca está fora de um isso. Mas acho que falar contexto que é social, familiar, pessoal, que a Reforma Psiquiátrica não funciona não é verdapolítico, cultural e histórico” de. Precisamos de vontade política.
tráfico, que causa outros problemas. Ainda não temos clareza de algumas coisas sobre as drogas. Temos muito ainda para estudar ao invés de sairmos por aí afirmando isso. O que eu digo é que o mundo de hoje está muito desrespeitoso nas relações. As pessoas passam fome, necessidade, não tem trabalho. Então, são condições de saúde bá“Para caracterizar um vício temos de ver sicas que faltam. Precisafrequência, intensidade, como, por quê e mos dar condições para que as pessoas se relacionem para quê. Tudo na saúde mental bem e possam viver bem. Para que tenham uma vida é diagnosticado dessa maneira” social, com saúde, com educação.
O dependente passou de uma condição de culpado para a de vítima de uma doença? Depende. Porque essas questões são muito complexas. Você sai de uma posição de culpado para a de uma pessoa doente. Mas não necessariamente vítima. A vitimização vai depender da forma como a gente trata e vê. A dependência química é difícil de trabalhar, porque atinge vários aspectos da vida do ser humano. Então, você tem o aspecto social, familiar, a própria saúde clínica, o fato de ela ser bastante democrática: atinge gordinho, baixinho, negro, pobres, ricos. É muito importante termos essa clareza. Se tivermos um julgamento moralista, em cima disso, não conseguimos atender e ajudar o dependente químico.
Os vícios em geral são caracterizados e diagnosticados pela frequência dos atos e do consumo de determinada substância? Depende. Nunca só a frequência.
Precisamos ver frequência, intensidade, como, por quê, para quê, tudo na saúde mental é diagnosticado dessa maneira. Se você chegar para mim e disser que tem uma pessoa que bebe todos os dias e perguntar se ela é alcoólatra, vou te dizer que eu não sei. Eu preciso saber o que ela bebe, para que ela bebe, qual o prejuízo que ela tem na vida dela por conta disso. A senhora acha que no momento em que vivemos, as pessoas estão mais propícias ao vício do que em outras épocas? O mundo sempre teve droga e sempre terá. Essa ilusão que as pessoas colocam “o mundo sem drogas”, “um mundo antidrogas”, não existe. O que acontece hoje é que temos um
Existe relação entre depressão e a busca pelas drogas? Não só pela busca, mas quando acaba a “maromba” do sujeito. A dependência química pode vir acompanhada de outros transtornos mentais, é um transtorno mental. A depressão e a ansiedade são transtornos mentais. Estou falando de patologias, não falo da “deprê” de quem brigou com o namorado e ficou triste. Há uma relação, mas não necessariamente de causa e efeito.
Tem se falado na “epidemia do crack” em todo o país. Imperatriz já faz parte dessa realidade? Imperatriz já tem crack. Muitas
pessoas usam crack na cidade, muitas.
alcançar. Com a Reforma Psiquiátrica construímos os Caps e foi o que conseguimos fazer ao longo desses 10 anos de reforma psiquiátrica na cidade. O poeta maranhense Ferreira Gullar escreveu um artigo para o Folha de São Paulo no qual ele se posicionava total-
Os transtornos mentais têm cura? Controle, cura não. Trabalhar em saúde mental é acompanhar o sujeito e não é possível dizer que o paciente nunca mais vai ter um surto, uma recaída. A doença nunca está fora de um contexto que é social, familiar, pessoal, político, cultural, histórico. Agentes que são impossíveis de se regular, apenas de acompanhá-los.
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nA TOmADA Enquanto logistas confirmam que a venda de aparelhos eletrônicos representa quase metade dos lucros, consumidores contam sua relação com as máquinas
Preços incentivam compulsão tecnológica DYEGO WILSON Douglas Aguiar
O uso da tecnologia se tornou indispensável para a maioria das pessoas. Nos afazeres diários, para se comunicar, se divertir ou trabalhar, os aparelhos tecnológicos assumem diversas funções e contribuem para satisfação de necessidades. Os preços baixos e as facilidades na compra geram o aumento da procura por esses aparelhos nas lojas de Imperatriz e de todo o Brasil. O gerente de loja Gonzaga Pacheco confirma essa demanda. “As pessoas têm procurado cada vez mais nossos aparelhos, principalmente os notebooks e computadores que representam 40% do lucro da empresa”. Os cybers da cidade são bastante movimentados. O uso do computador torna-se uma prática entre os jovens e muitas vezes até mesmo um vício. Jhon Warlyson Nascimento tem 17 anos. Todos os dias, sem falta, frequenta o cyber próximo à sua casa no bairro Santa Rita. Ele relata a sua rotina: “Venho pra cá de manhã. Saio meio dia pra almoçar. Volto umas duas horas e só vou pra casa umas seis da tarde”. À noite ele vai à escola, mas diz que algumas vezes já “matou aula” para ir ao cyber. Nesse mesmo lugar, “muitos
Antigas brincadeiras, como jogar peteca e peão e soltar pipa estão sendo substituídas atualmente pela experiência virtual gerada pelos jogos eletrônicos
outros jovens passam o dia inteiro na frente da tela em busca de
jogos e relacionamentos”, afirma Lucas Silva, que trabalha no local.
O soldado Jadson Santos lembra que na infância se reunia para
brincar de peteca, pipa ou pião. “Hoje, a criança se tranca no quarto pra se divertir e fazer amizades”. Ele adverte que o hábito de usar a tecnologia para tudo tem modificado a cultura das crianças. A dona de casa Maria dos Santos Lucena mora na Beira-Rio, tem 57 anos, mas não abre mão do uso da tecnologia em sua vida. Por necessidade, acessa a Internet todos os dias, pois tem de falar com a filha que se casou e está morando no Rio de Janeiro. “Com o celular e o computador é como se ela estivesse em casa”, acredita. Quando questionada sobre o que faria sem esses aparelhos, desabafa: “Não deixaria minha filha sair de Imperatriz”. Adriano Sousa de Oliveira, taxista, vai ao shopping Timbira em média três vezes por semana. Sua atração: o parquinho de brinquedos eletrônicos. Em meio a risadas, ele brinca: “Ganho dinheiro levando passageiros e gasto todo me divertindo aqui”. Assim como na vida de Adriano, esse tipo de entretenimento tem se tornado um hábito para os imperatrizenses. “Esse local se tornou ponto de encontro na cidade. Fim de semana aqui é lotado”, informa o gerente do parque José Francisco da Conceição.
Com mais acesso à internet, muitos podem perder a cabeça na rede MAURICIO SOUSA
à rede de computadores. Caracterizada pela possibilidade de exA internet tornou-se um re- pressão sem precisar estar no meio curso necessário na sociedade de muitas pessoas, alguns jovens contemporânea. A questão é sa- veem na internet uma opção perber quando navegar na rede deixa feita de interação. Muitos passam de ser um hábito normal para se tanto tempo na rede que se tornam tornar uma compulsão. No Brasil, celebridades virtuais: “Eu passo a internet começou a se populari- cerca de 12 horas por dia na net”, zar em 1995 e, em 2011, mais de 80 comenta Roniskley Britto, 20 anos. milhões de pessoas já têm acesso à Ele confirma que mantém quatro orkuts (três lotados) e mais de quatecnologia. Segundo o Instituto Brasileiro tro mil pessoas no MeAdd, um site de Geografia e Estatística (IBGE), em de relacionamentos. “Há pessoas que possuem fodados de 2009, tos minhas no o Maranhão celular delas e, possui 20,2% de no entanto, nunusuários. Em ca as vi pessoal“A internet tem vários Imperatriz, o mente”. número de inatrativos: orkut, MSN, Facilidade de ternautas cressites diversos...Quando relacionamento ce rapidamente e com ele, os cyentro, não tenho vontade com outras pessoas, popularidaberviciados. “O de sair” de e diversão são hábito é algo da oportunidades ordem da repeproporcionadas tição, da rotina. pela internet que Mas uma repecontrastam com tição que não traz prejuízos para a vida do sujei- sérios prejuízos à pessoa compulto. Quando o hábito se torna uma siva, como explica Nadja Duarte: compulsão, podemos dizer que se “Consequentemente há um emtornou um vício”, explica a psicó- pobrecimento dos laços, da vida, Eros, civilização. A sua vida social loga Nadja Duarte. É nessa situação de dependên- fica comprometida. O amor, o tracia que se encontra Tamiris Neiva, balho, as amizades, o lazer podem 19 anos. “A internet tem vários atra- ficar subordinados à droga”. Mayza conta que esse hábito é tivos: orkut, MSN, sites diversos... Quando entro, não tenho vontade difícil de controlar. “Isso, a gente de sair”. Mayza Oliveira, 23, vive não controla, por mais que você situação semelhante. “Se eu pudes- prometa pra si mesmo que vai dar se, passaria o dia inteiro na net”. um tempo, quanto menos espera já De acordo com a mesma pesquisa tá lá”. Tamiris afirma que quando divulgada pelo IBGE, 71,1% dos jo- não pode acessar a rede mundial vens de 15 a 17 anos tiveram acesso fica “irritada e ansiosa”.
Maurício Sousa
Especialista diz que o afastamento do objeto do desejo, como a internet, pode gerar nervosismo, agressividade, distúrbios de sono e perda da noção de tempo
Além dos sintomas manifestados por essa jovem, segundo a psicóloga, o afastamento do “objeto droga” pode causar nervosismo,
agressividade, distúrbios de sono e até mesmo perda de noção temporal, já que o indivíduo passa muito tempo no computador e nem se dá
conta disso. “Uma psicoterapia ou uma análise podem ajudar o sujeito a lidar com tais questões”, sugere a psicóloga.
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OBjETOs Todo bom colecionador, seja de música, filmes ou mesmo caixas de chocolate, como os desta reportagem, tem sempre histórias curiosas sobre suas conquistas
Cuidados são essenciais na arte de colecionar Carla Kassis
Apaixonados pelos seus objetos. Esse é o sentimento comum a todos os colecionadores. Da caixinha pequena decorada na estante do quarto ao vinil mais raro, aquele visto por poucos, todos são guardados com o máximo de carinho e dedicação possível. Temperado, muitas vezes, por pouco ou muito ciúme. No barzinho pequeno, porém aconchegante, Lourival Alves (Loro), cresceu ouvindo o melhor da música nacional e internacional nos vinis comprados pelo pai. O gosto pelas canções virou um hobby. Depois de mais de 15 anos, hoje é colecionador de vinis e gosta especificamente dos que foram produzidos nos anos 1980. Em seu quarto, uma estante bem repartida que ocupa toda a parede foi feita exclusivamente para guardar a sua coleção, que não deixa de crescer. São mais de 3,5 mil vinis, além de DVD’s e um acervo em seu computador próximo a 15 mil músicas. Contando a própria história, Loro apresenta alguns clássicos da sua coleção: Beatles, Elvis
Presley, Lamartine Babo, Roberto Carlos, Orlando Dias, Marco Antônio, este um dos mais antigos e o mais raro. “Tenho um DVD do Elvis, de 1972, que não existe mais no Brasil. Foram quase 15 anos de busca e encontrei em um site internacional”. Loro ganha muitos presentes. Os amigos já conhecem sua paixão e estão sempre trazendo alguma novidade. Ele também tem uma mini coleção de discos repetidos e, como todo bom colecionador, esses servem para aquele velho “toma lá, dá cá”: as trocas com outros colecionadores. Francisco Hélio também está na lista dos apaixonados por música. É um amante dos anos 1970 e 1980. Em casa tem uma coleção audiovisual que já chega a 400 títulos, entre discos e filmes. “Mesmo tendo a internet pra baixar, eu gosto mesmo é de comprar. Todo mês eu sempre compro algo”. Francisco não foge à regra do cuidado com sua coleção e dispara: “Eu não gosto que fiquem pegando nos meus DVD’s e CD’s, só eu pego e ninguém mais”. No universo dos colecionadores, qualquer objeto pode desper-
CARLA KASSIS
Na estante do quarto, clássicos dos anos 80, uma paixão do colecionador de vinil, Loro. Como bom colecionador, ele mantém alguns discos que são repetidos
tar a atração e virar um símbolo precioso. Para Geiziane Santos, guardar caixas virou um hábito desde a sua infância. Caixas e mais caixas de chocolate, com todas as suas embalagens, era algo quase que intocável em seu quarto. Durante quase dois anos elas ocupavam um bom espaço, até serem jogadas fora por uma amiga. “Eu fiquei muito chateada quan-
do isso aconteceu. Tenho ciúme de tudo, mas tenho mais ainda das minhas caixas”. Apesar de tudo, nada a impediu de continuar. Agora são caixas decoradas que antes eram embalagens de perfumes, sabonetes, tudo tem um cantinho especial. A amiga que divide o quarto com Geiziane denuncia: “Ela tem um monte de caixas, eu não sei para
quê isso. Se fosse eu já tinha jogado fora!”. Ao final da conversa observo uma curiosidade. Uma caixa grande, toda decorada sob a mesa do seu trabalho. Ao olhar para ela nem precisei fazer a pergunta, pois o seu sorriso já foi a melhor resposta. “É, essa caixa aqui é minha fui eu que trouxe para cá”, disse Geiziane, não contendo o riso.
Bate-papo, namoro vigiado ou fuga do calor: vamos sentar na porta? THAÍSIA ROCHA Thaisia Rocha
Eles chegam devagarzinho, sempre no fim da tarde ou ao cair da noite. Motivados pelo desejo de compartilhar histórias ou mesmo para tentar fugir do calor, as calçadas se enchem de gente, formando pequenas assembléias populares. Jogar conversa fora e observar o movimento da cidade são as principais respostas que recebo quando pergunto o porquê dessas reuniões diárias. Sejam elas em família, ou mesmo entre amigos e vizinhos, todas são sempre muito animadas e cercadas por risos e olhares curiosos. Segundo Joeliândia da Conceição, 24 anos, moradora do bairro Maranhão Novo, sentar na porta é como participar de um reality show. “As pessoas negam, mas tudo que elas querem é ver e serem vistas”. Para ela, aquele é o momento de inteirar-se sobre tudo que acontece. “Todo mundo tem um babado pra contar. Uma briga, um fuxico”. Pelas calçadas de Imperatriz, encontramos de tudo. Engana-se quem crê que na porta só senta-se para “prosear”. A jogatina, presente em 60% das casas visitadas, lidera o topo da tabela como prática mais exercitada na porta dos lares da cidade. Raimundo Costa, 65 anos, e Antônio Lima, 69 anos, ambos moradores do bairro Beira-Rio, são vizinhos há mais de 30. Todas as tardes eles
Na busca pelo vento no rosto com esse calorão, ou para encontrar amigos, risos e desabafos, definitivamente sentar na porta é a melhor opção em Imperatriz
trazem os tamboretes para baixo da sombra do “Jorge Tadeu” e ali armam o seu tabuleiro de damas. “Não tem coisa melhor que sentar debaixo de uma sombra, num fim de tarde, jogando uma ‘daminha’ e tomando um café”, conta Raimundo.
Excentricidade - Fugir do calor é uma tentativa diária dos moradores
de Imperatriz. Por isso, Edgar Pereira da Silva, 65 anos, morador do bairro Santa Rita, adquiriu um hábito um tanto estranho, para não dizer mórbido. Edgar senta-se todas as tardes na porta do camitério Campo da Saudade do qual é vizinho. O motivo? O cemitério fica do lado da sombra, é coberto por árvores e há um grande
fluxo de pessoas. “Toda tardezinha eu venho pra cá, trago um banquinho e sento aqui com uns amigos. A gente fica falando dos tempos antigos e olhando o movimento”. Quando pergunto se ele não se incomoda com o movimento das pessoas que vêm ao cemitério ele diz que já acostumou. “Isso é da vida e
morando aqui em frente há tanto tempo, isso aí pra mim não é mais nem novidade”. Em Imperatriz, namorar na porta é questão de honra. Alguns pais admitem que para “preservar” a filha, exigem que a moça namore na porta de casa. Terezinha Gomes, 59 anos, moradora do Bacuri, é a favor dessa ideia e diz que sua filha só namora se for assim. “Moça de família namora é na porta de casa, se não os vizinhos ficam falando e moça falada não casa”. Maria Madalena Sena, 39 anos, também do Bacuri, diz não acreditar na eficácia dessa norma exigida por Terezinha. Por isso, dá liberdade à filha Glasyene, 15 anos, e para o namorado dela, Maxsandro, 24 anos, de escolherem o lugar que melhor agrade para namorar. “Não tem como impedir que ela namore, então é melhor estabelecer um laço de confiança. Eu confio neles e vice-versa”. O casal agradece, mas ainda assim dizem gostar de namorar na porta. “O tempo tá muito quente, por isso sempre sentamos na porta pra ‘pegar um vento’, ver o movimento e namorar, lógico ”, diz Maxsandro. Na busca pelo vento no rosto com esse calorão, ou para encontrar os amigos, risos e desabafos, definitivamente sentar na porta é a melhor opção. Neste caso, a porta da rua é serventia da casa.
Jornal
12
Arrocha
Ano Ii. Número 5 iMPERATRIZ, junho de 2011
pADRõEs Em busca de um corpo perfeito e de uma aparência invejável, homens e mulheres utilizam os mais diversos artifícios, como as já populares cirurgias plásticas Pollyana Galvão
Vaidade é saudável, mas beleza vem do interior Pollyana Galvão
Homens e mulheres estão cada dia mais em busca do corpo prefeito. Por causa da vaidade, malham, usam cosméticos, fazem dietas absurdas e muitas cirurgias plásticas. Comportamentos vaidosos são comuns desde a mitologia grega, como o famoso “mito de Narciso”, um belo e jovem rapaz que se apaixonou pela sua própria imagem refletida em um lago. Após Narciso descobrir o quanto era belo, passou a admirar seu reflexo na água pelo resto da vida. Com o passar do tempo, esqueceu de beber e de alimentar-se, então o seu corpo definhou. Ricardo Moreira, 24 anos, estudante de administração, diz que não se considera vaidoso, as pessoas é que falam isso dele.
Apenas gosta de ser do jeito que é, usar cremes e roupas boas. “Eu uso maquiagem, apesar do preconceito das pessoas. É claro que eu não me pinto, mas eu faço correção. Até agora eu só me deparei com elogios em relação à minha vaidade”. Algumas pessoas vão além dos tratamentos de beleza e preferem fazer cirurgias plásticas. Sandra da Paz, 30 anos, dona de uma loja de roupas, fez essa escolha ao colocar silicone. Sandra colocou 300 mililitros de silicone nos seios porque os achava pequenos. “Era o meu sonho desde adolescente, estou muito feliz. Não me arrependi, mesmo após a dor”. De acordo com o psicólogo Tácio Montes, a busca constante por um padrão pode afetar a individualidade das pessoas e a
Fanáticos por baladas param pouco em casa Ângela Barros
Boates, shows, bares, festas tradicionais. Sair para se divertir e encontrar com os amigos, sem dúvida, é uma das frases repetidas pelos baladeiros de plantão em Imperatriz. Edson S., estudante de 25 anos, conta que nas noitadas que frequenta acontece de tudo. “Já fiz coisas que acho superinteressantes”. Uma que marcou muito Edson foi quando estava com dois amigos em um bar de Imperatriz e chegaram quatro mulheres. “Começamos a conversar, nos apresentamos e acabamos em um motel”. Com ou sem esse final, Edson diz que suas noites sempre acabam mesmo depois de fazer um bom lanche “nas peixarias ou lanchonetes da cidade”. Ele ainda ressalta o cuidado com as drogas: “Em nenhum momento eu usei drogas em minha vida. Óbvio que já me ofereceram, mas a única droga que consumo é bebida alcoólica. Quando saio para beber é beber de verdade, sem fazer cerimônias. É como dizem: se eles vendessem só o ‘tontin’, seria muito bom. Mas não, por isso eu bebo!” Edson espera que os produtores de eventos invistam mais em atrações musicais, pois para ir a um show diferenciado como de música popular brasileira (MPB) é preciso locomover-se para as capitais mais próximas.
Inquieta - A estudante Diulia Sousa conta que gosta de todos os ritmos. Ela sai toda semana e prefere visitar diversas baladas na mesma noite. “Se o lugar está ruim, eu e meus amigos vamos para outro, porque o que queremos é nos divertir. Mas na maioria das vezes ficamos na teoria de que, quem faz a festa somos nós”. Mesmo os dois dias de agito
aceitação de que muito da beleza vem de dentro. “É saudável ter vaidade. Temos desejo de nos sentirmos bem, de ser admirado. Isso demonstra que cuidamos do nosso corpo e que nos preocupamos com ele”. Rosenir Alves, 50 anos, dona de casa, perdeu 47 quilos em 11 meses, após ter feito uma cirurgia de redução de estômago. Ela pretende ainda fazer uma operação plástica reparadora. Ao contrário do que muitos pensam, Rosenir não fez a cirurgia por vaidade, mas por necessidade. Ela estava acima do peso e tinha muitos problemas de pressão alta. Rosenir ressalta os benefícios do procedimento médico: “Hoje me sinto cem por cento saudável, estou muito feliz. Antes eu sorria, mas era uma pessoa triste porque não tinha muita saúde”.
Ricardo Moreira, 24 anos, não se acha vaidoso e afirma que as pessoas é que o consideram assim
Compulsão sexual envolve fatores culturais
Jairo moraes
do Maranhão Forró Fest 2010 não foram suficientes para Diulia satisfazer a vontade de foliar. Sua preferência é por festas com o ritmo do momento: o sertanejo universitário. Ela afirma que não fica apenas em baladas no roteiro da cidade. Embarca, também, para outros municípios vizinhos, pois gosta de conhecer gente nova. “Aqui está ficando escasso. Saio para vários lugares em uma mesma noite e vejo as mesmas pessoas”. Diulia não consegue mesmo ficar em casa. “Basta me ligar, não resisto. Às vezes falo que não vou sair, mas se me ligam a demora é me arrumar. Meu dinheiro é praticamente para baladas”.
Preferências - Para Fábio Guerra, gerente da principal boate da cidade, as festas produzidas no local estão entre as maiores da região. Hoje a casa noturna proporciona shows de vários ritmos musicais e toca muita música eletrônica. Tem diversão para todos os gostos. Fábio revela as principais causas que fazem com que a casa noturna se torne a principal de Imperatriz: os investimentos em atrações musicais, estrutura e segurança. Ele quer que seus clientes se sintam seguros no ambiente que escolheram para se divertir. Fábio lembra de situações interessantes que já aconteceram e que atraíram público, como a presença do Ceará, artista do programa Pânico na TV. “Ele chegou e de repente a casa estava lotada. Todos os que estavam na boate ligaram para amigos, vizinhos, conhecidos. Foi engraçado. Depois, começou a dar autógrafos e fazer fotos com fãs”. A boate vai passar por algumas reformas, conforme afirma o gerente. Já existe um projeto para a criação de um boteco, que será um anexo.
Cenário de uma sex shop da cidade com alguns artigos: como a cultura incentiva muito o sexo, fica difícil, segundo os especialistas, detectar situações de vício Nonato Pereira
Especialistas dizem que quando as relações sexuais começam a atrapalhar outros campos da vida, como relacionamento, família, trabalho e estudos, isso pode ser um quadro de compulsão sexual. O médico ginecologista e fisioterapeuta sexual, Pedro Mário, afirma que qualquer atitude que extrapole ou cause descontrole na pessoa pode ser considerada compulsão ou vício, não considerado hereditário. Mas pode ser uma questão circunstancial, ou sociocultural. Ele acrescenta que a maior parte das situações de compulsão são oriundas de traumas de infância e passam a se manifestar de forma ostensiva e perturbadora na adolescência. O que determina a compulsão ou vício é a falta de controle. “Quando o assunto de uma pessoa é só sobre sexo ou ela vai para a internet e só consegue ver assunto relacionado a isso, são sinais de que a frequência está muito alta”, alerta a psicóloga Zaira Carandimelo. Ela ressalta a dificuldade que as pessoas têm
de procurar ajuda e lembra que pelo fato de a cultura incentivar muito o sexo fica difícil admitir a compulsão. Em visita a uma loja de acessórios sexuais a vendedora diz que a maioria de seus clientes são pessoas a partir dos 23 anos. As mulheres casadas são as que mais procuram esses complementos, geralmente por causa da monotonia no casamento. Já as solteiras porque querem fazer algo diferente, criando fantasias para o parceiro.
Experiente - Suely Costa da Silva Mazafera, 28 anos, simpática e com voz meio rouca, foi casada durante sete anos e tem dois filhos que não moram com ela. Faz programas em alguns bares de Imperatriz durante o dia e também à noite e finais de semana. “Faço programa toda hora sem parar, só paro quando não tem mesmo. Eu gosto muito de fazer sexo anal, para mim não tem frescura não, na cama eu faço de tudo. E se não puder pagar a chave, o motel; aqui tem um lugarzim especial, um matim ali”. Em uma de suas experiências conheceu um rapaz “doidão”, saiu com
ele e passaram a noite transando. “Ele veio era sete horas da noite. E aí eu fui jantar, quando foi oito e meia a gente começou e só foi parar cinco e meia da manhã. O homem é viciado em sexo!” Suely já fez sexo até de cabeça para baixo. “A gente vai fazer uma carambela. A gente joga as mãos, é assim... Aí o cara apara, aí pronto, tá de cabeça para baixo”. Sua mãe às vezes vem do Pará tentar tirá-la dessa vida. Mas ela nunca quis ir. “Tá certo, às vezes a gente não sente orgasmo, mas só que é uma curtição, entendeu? Já tentei, já saí uns dias, mas termino sempre voltando”. Nem sempre é por causa do dinheiro, mas pelo prazer de fazer sexo. “É um prazer grande, satisfação imensa. Eu acho gostoso, me acostumei. Tô viciada em sexo, eu sou viciada, sou, eu sou!”. A compulsão sexual tem tratamento, mas é preciso que a pessoa ou alguém próximo dela perceba o quadro de necessidade e procure ajuda. O problema pode ser solucionado por meio de fisioterapia sexual e com o auxílio de medicamentos.