Jornal Arrocha 03 - Música

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DEZEMBRO de 2010. Ano I. Número 3

Distribuição Gratuita - Venda Proibida

Arrocha

jornal laboratório do curso de comunicação social/jornalismo da ufma, campus de imperatriz

Música prova sua diversidade em Imperatriz ANDRÉ WALLYSON

Crescimento da popularidade e de mais espaço nos bares para bandas de rock como a Pilantropia demonstra claramente como Imperatriz é marcada pela diversidade do gosto musical e prova que o rumo é justamente aceitar essas diferenças

Qual o ritmo musical que define Imperatriz? Forró, sertanejo, MPB, tecnobrega, rock, gospel, seresta...? Se você ficou indeciso ou pensou por horas para tentar chegar a uma resposta, não fique preocupado. Assim como é formada por uma população plural, proveniente de vários lugares

do Brasil, a cidade mais importante da região tocantina também acolhe múltiplas variedades musicais. Nesta edição especial sobre música, os repórteres foram a campo ouvir representantes de todas as vertentes citadas acima e entender como está sendo desenvolvida cada cena

musical na cidade. Das inegavelmente mais populares, como o sertanejo, o forró e a seresta, às que ainda sofrem com maior ou menor grau de preconceito, como o reggae e o pagode. Outros detalhes do universo musical estão presentes, como a realidade dos estúdios de gravação, a

rotina dos professores de música e a implantação do ensino musical nas escolas. Não ficaram de fora questões como a realidade dos estúdios de gravação e as dificuldades de trazer um grande espetáculo musical para Imperatriz. E os espaços, entre alternativos e badalados, como tem

trabalhado as atrações musicais para conciliar o bom atendimento com a atração de público? Se você ainda tem dúvidas sobre a diversidade musical presente na cidade e na região, leia as próximas páginas com atenção. Tem estilo para todos os gostos.

Sertanejo e forró aceitam influências e continuam atraindo o público ISABELLA PLÁCIDO

Juliano Reis e Jordão estão entre as duplas mais aclamadas de uma geração que busca inovar

THAYS ASSUNÇÃO

Ritmos amados em Imperatriz, o sertanejo e o forró, embora procurem manter as raízes, não deixam de beber nas novas fontes, como a vertente universitária. Assim, os vários representantes dessas tendências musicais na cidade estão abertos a incorporar novos instrumentos e sonoridades sem preconceitos. Nas matérias sobre esses e outros ritmos nesta edição a preocupação dos repórteres foi a de mostrar a força da música como um dos elementos culturais que mais encontra manifestações variadas na região tocantina. Mesmo assim, não ficaram de fora os relatos de dificuldades de espaço, profissionalização, registro em CDs e divulgação.

Balanço suingado da banda Cabrobó mostra que o arrasta-pé do forró acolhe outras vertentes


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EDITORIAL - Caldo Musical A variedade de ritmos musicais que Imperatriz abriga é resultado direto do seu processo de formação populacional e de sua localização geográfica. Agrupando gerações que vieram de vários lugares do Brasil e estrategicamente posicionada na proximidade do Pará e do Tocantins, era de se esperar que a música também fosse múltipla, aceitando diversas influências. Nesta terceira edição do Arrocha os acadêmicos de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo foram investigar os principais ritmos e tendências musicais que chamam atenção em Imperatriz, como o sertanejo, seresta, gospel, forró, tecnobrega, samba e rock.

Ano I. Número 3 iMPERATRIZ, DEZEMBRO de 2010

CHARGE

Todo o universo que circunda a música também serviu de base para as reportagens. Para gravar um CD em Imperatriz, quais são os passos? Um produtor que queira trazer um grande nome nacional passa por quais dificuldades? Mais uma vez, o Arrocha traz um tema subdividido em várias abordagens, a melhor forma de entendê-lo e promover a reflexão.

JADIEL BARBOSA REIS

Arrocha: É uma expressão típi-

ca da região tocantina e também é um ritmo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.

Ensaio Fotográfico RAILDO PORTELA

ANDRÉ WALLYSON

FERNANDO COSTA

Joyce Magalhães

MARILIA OTERO

Expediente Jornal Arrocha. Ano I. Número 3. Dezembro de 2010 Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade. Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Jefferson Moreno | Coordenadora do Curso de Jornalismo - Profª. MSc. Roseane Arcanjo Pinheiro.

Professores: MSc. Alexandre Maciel (Jornalismo Impresso), MSc. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual), MSc. Marcus Túlio Lavarda (Fotojornalismo). Revisão: Dr. Marcos Fábio B. Matos e a acadêmica Nilzeth Alves Oliveira. Reportagem: Adriana de Sá, Carine Ribeiro, Ayra Carvalho, Claudyo Jackson, Dailane Santana, Delma de Assunção, Dilmara Tavares, Diulia Sousa, Dyego Wilson, Ellyne Barbosa, Fernando Costa, Francisco Lima, Jadiel Reis, Jairo Moraes, João Batista Guimarães, Zé Luis Costa, Pedro Jader, Raildo Portela, Rayza Machado, Raphael Giannotti, Renata Fonseca, Ricardo Magno, Sabrina Chamorro e Wyviann Costa.

Diagramação: Adenilson S. de Oliveira, Adva A. Barros, Alan Milhomem, Alessandra F. da Rocha, Allana Cristina P. Marques, Ana Carla C. Rio, Azaías Lima Souza, Carla Kassis C. Farias, Chrystiane M. Sousa, Clésio M. Costa, Deijeane G. Morais, Eva F. de Souza, Fernando de Aquino Santos, Gilmara L. Teixeira, Gleiciane F. de Sousa, Grasiele G. da Silva, Hemerson P. da Silva, Jael M. de Sales, James P. Araújo, Jefferson de S. Moraes, Jessica Ruane S. Lima, Joaquim Nazaré R. de Mendonça, Kellyane B. de Sousa, Leonardo Varão, Letícia M. do Vale, Maria do Socorro F. de Castro, Mariana de S. Silva, Marta de O. Xavier, Mauricio A. Sousa, Max Dimes R. e Santos, Mirian G. de Oliveira, Mônica Brandão, Narcísio F. Cruz, Nilzeth A. Oliveira, Nubia Ângela C.

do Nascimento, Paula de Tarssia de S.Santos, Paulo Edson de M. Oliveira, Renata S. Costa, Raphael Giannotti, Ronie Petterson S. de Araújo, Rosana F. Barros, Roseane C.de Sousa, Simone M.Marinho, Thalyta O. Dias, Thuany Watina F. Silva, Wallikson Diniz B. dos Santos e Welbert de S. Queiroz. Fotografia: Adelaide S. Rodrigues, Adriana de Sá Sousa, André Wallyson F. da Silva, Ayra Carlane de O. Carvalho, Dailane S. Santana, Delma de Assunção Mota, Douglas Da S. Aguiar, Ellyne A. Barbosa, Fernando C. da Silva, Fernando Ralfer de J. Oliveira, Francisco L. de Almeida, Geovana C. Frasão, Gerusa Carla P. Cabral, Gizelle de J. Macedo, Isabella S. Plácido, Jadiel Barbosa Reis, Jenifer O. Pessoa, João Batista F.

Guimaraes, Joyce Theotônia Benigno Magalhães, Lara de Paula Nascimento Oliveira, Larissa Fernanda Santana Rolim, Larissa Pereira Santos, Leide Silva Oliveira, Lierbeth da Silva Sa, Luana Barros Alves dos Santos, Luisa Maria M. Cirqueira, Maria José C. Vieira, Maria Talita N. Bessa Câmara, Marilia Otero de Alencar, Mario Clemilson A. da Silva, Nayane Cristina R. de Brito, Nícia de O. Santos, Pricila Aranha Gama, Raildo dos S. de Jesus, Raimundo Nonato de O. Pereira, Rayza M. de Morais, Renata R. da Fonseca, Rodrigo N. Reis, Thays Silva Assunção, Victor Aurélio Batista P. de Sousa, Vinicius L. Beserra, William Castro e Wyviann C. Silva. Contatos: www.imperatriznoticias.com.br | Fone: (99) 3221-7627 Email: contato@imperatriznoticias.com.br


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educação Professores argumentam que os alunos ficam mais disciplinados e abertos a amizades quando vivenciam o aprendizado musical no ambiente escolar

Escolas implementam ensino de música FRANCISCO LIMA

Francisco de Lima

Em Imperatriz, alguns estabelecimentos de ensino já vêm apresentando projetos que inserem a música no cotidiano dos alunos. Um exemplo é o Dom Bosco. “A música não está incluída na grade curricular como disciplina, não é conteúdo obrigatório, mas está presente na escola há vários anos”, afirma a orientadora educacional Rosanira Cangussú. As atividades musicais são desenvolvidas pelos próprios alunos, mas ela concorda que a lei é confusa. Rosanira garante que a escola tenta seguir as propostas da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), promovendo a música por meio das aulas de violão e teclado na disciplina de artes. O auxiliar de coordenação do Complexo Educacional Dombosquinho, Antonio Gilson Dias Corrêa, relata que deu início às atividades idealizadas pela diretoria da escola. Ele trabalha com música há quase 20 anos e argumenta sobre os benefícios. “Os alunos ficam mais disciplinados e atentos. Ajuda na coordenação motora, fazendo o aluno ter um relacionamento mais aberto com os demais colegas”. O coordenador, que não tem formação acadêmica em música, mas é instrumentista e compositor, reconhece que para um ensino musical de qualidade é necessário qualificação profissional. “Existem vários alunos talentosos e com boa voz que podem seguir mais adiante. Vemos também grandes talentos tocando violão”.

DOUGLAS AGUIAR

Educadores acreditam que para dar cumprimento à lei serão necessários mais debates e estudos

Aplicação de lei gera dúvidas Francisco de Almeida

Promoção de atividades ligadas a música nas escolas ajuda na descoberta dos novos talentos

A diretora da escola estadual Governador Acher, Maria Ivanilde Oliveira Santos, também destaca a ‘tradição desse estabelecimento no campo musical. “A música nesta escola sempre esteve presente na disciplina de arte, ao lado de

oficinas de dança, costura, capoeira e libras”. Ela lembra que a escola desenvolvia um projeto musical em parceria com o governo do estado, mas, atualmente, os eventos culturais são mantidos somente por voluntários.

O ensino obrigatório de música nas escolas públicas e privadas brasileiras é definido por vários profissionais como o início de uma mudança cultural, mas a sua aplicação ainda gera dúvidas. A Lei 11.769/2008 torna a música obrigatória no ensino fundamental e médio e altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), sendo inserida na grade escolar de todo país a partir de 2011. A subsecretária de Educação de Imperatriz, Marinalva da Silva, informa que a lei, por ser uma emenda da legislação anterior provida pela LDB, não esclarece se a música deve tornar-se disciplina ou conteúdo ou se há necessidade de formação superior para ministrá-la.

Marinalva destaca que para dar cumprimento, tudo vai depender de muita discussão e estudo. O texto estabelece que a música deverá ser conteúdo obrigatório no ensino, no entanto, não especifica se está referindo-se ao infantil, fundamental, médio ou superior. Tampouco deixa claro como, onde e quando a lei deverá ser cumprida. “Para a música passar a ser uma disciplina, será necessário reduzir ou excluir a carga horária de outra disciplina”. A princípio, de acordo com a subsecretária, a grade curricular das escolas municipais não será alterada. Até o momento o município não tem condições de cumprir a lei. Marinalva defende que será necessário estabelecer uma diretriz pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) para tornar o texto mais claro.

Estúdios de gravação ampliam estruturas e conquistam clientes MARILIA OTERO

MARILIA OTERO

Produtor musical Filho Pessoa diz que faltam músicos profissionais em Imperatriz Custo varia de 3 a 7 mil reais com direito a até mil cópias das gravações efetuadas Raphael GIANNOTTI

Nunca se procurou tanto estúdios de gravação como hoje em Imperatriz. A diversidade é grande e não fica muito atrás dos grandes centros na área. Desde uma simples gravação de jingles, até o processo mais demorado e trabalhoso que é o registro de um CD. Os meios utilizados dependem de como o músico deseja gravar. Os mais

comuns são: individual (cada instrumentista grava sua parte por vez) e em grupo (como em um ensaio, todos tocam juntos enquanto o produtor grava simultaneamente). As gravadoras têm seus próprios instrumentos, desde um simples violino até uma grande bateria, mas fica a critério do músico cliente usá-los ou não. O custo gira em torno de 3 a 7 mil reais, com direito a até mil cópias das gravações feitas. O mercado é dis-

putado por profissionais e amadores, sendo estes os mais procurados devido ao baixo custo e facilidade de gravação. Porém, nem sempre é um bom negócio, pois nem todos são experientes na área ou têm alguma formação. Segundo Filho Pessoa, produtor musical há dois anos, a maior dificuldade na hora da gravação se dá “pela falta de músicos profissionais”. Nem sempre os instrumentistas profissionais de palco (os que geralmente

LARISSA PEREIRA

Estúdios caseiros e profissionais disputam um mercado fonográfico que se amplia

procuram as gravadoras) conseguem ter um bom desempenho no estúdio, devido à dificuldade que é gravar um instrumento seguindo todos os passos impostos pelos produtores musicais. As gravadoras são procuradas pelos músicos dos mais diversos estilos, mas quem lidera o ranking de gravações de discos são os forrozeiros e os sertanejos. Logo atrás vêm os músicos gospels, que têm tido seu espaço nas gravadoras crescendo cada vez mais.

Embora esse cenário de registro de discos venha crescendo muito rapidamente, Carlito Santos, músico e produtor musical profissional há mais de 20 anos, afirma que “os músicos daqui são muito ‘mente fechadas’, limitando, assim, a capacidade de se produzir mais e melhor”. Apesar disso, Imperatriz tem tudo para virar um grande polo na indústria da música na região tocantina ou, quem sabe, nacional.


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OPÇão Estabelecimentos atraem público bem diferenciado fugindo dos valores consumistas e valorizando a companhia, boa música e atmosfera prazerosa

Bares alternativos celebram a liberdade LARISSA ROLIM

trumento de corda contraposto à guitarra, “choca algumas pessoas”, conforme relata Reginaldo dos Santos, cantor mais conhecido como Parente, frequentador e atuante em ambos os locais.

Ricardo Magno

Fugindo dos modismos da balada clássica, opções alternativas de bares em Imperatriz servem de válvulas de escape dos valores consumistas. Na hora de responder qual é o maior retorno, os proprietários não têm dúvida: a companhia, as fofocas e a atmosfera prazerosa das grandes amizades. O bar do Claudeci, situado atrás da Faculdade Atenas Maranhense (Fama) e reduto dos alunos da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) conta com os laços fraternais da clientela. Lá, o atendimento é self-service. A caixa de som e o violão ficam à disposição. “Do contrário, é só entrar na fila do DVD”, explica Claudeci Conceição dos Santos, proprietário. No bar toca de tudo, desde Engenho Cívil (banda de rock local) até festa de vinil em tributo a Raul Seixas. Dúvida? “É só olhar no Orkut do bar feito pelos clientes em homenagem ao local”, completa o proprietário. Localizado no beco ao lado do teatro Ferreira Gullar, o visual regionalista faz da galeria João Cortez (antigo Beco) um dos cartões de visita do município. Seguindo

Pub nordestino - No domingo,

Instumentos clássicos do forró se harmonizam em confraternização organizada em pleno domingo de manhã no forró do Felipão da Simplício Moreira

a mesma linha cheia de personalidade tradicional, no coração da cidade e “às margens” da avenida Dorgival Pinheiro de Souza, a Blitz

Instrumentos em oferta Raildo Portela

O centro comercial da música de Imperatriz está distribuído, principalmente, na rua Luís Domingues, que abriga oito lojas especializadas na venda de instrumentos musicais e na Getúlio Vargas, com mais uma. São espaços repletos de variedades que vão desde os menores acessórios até os maiores aparatos para mega shows e eventos. Thiago Santos, que é vendedor de instrumentos, diz que atende músicos das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. “Os clientes de outros estados afirmam que as lojas de Imperatriz não perdem em nada para os grandes centros do comércio musical do Brasil”. Há um ano no ramo de instrumentos musicais, Deilson Valero revela que o mais vendido é o violão. “E aqui nós temos de todos os preços, de 150 re-

ais até cinco mil. Esses mais caros nós sempre vendemos”. Se o seu violão quebrar ou se você quiser uma guitarra exclusiva do jeito que sempre sonhou existe um profissional de nome estranho que se encarrega disso. Luthier é o trabalhador que faz a madeira virar música. Assis Andrade, que é luthier há 16 anos, considera o que faz uma arte e um dom. “Agradeço a Deus pelo dom que ele me deu, sou muito grato pela minha profissão”. Nem tudo são flores. Andrade se queixa da dificuldade de achar matéria prima para poder cumprir com o prazo de entrega dos instrumentos, fazendo com que atrase o serviço. Mesmo assim, o profissional pretende ampliar sua oficina porque com o crescimento da venda de instrumentos em Imperatriz o número de clientes dobrou e precisa de mais espaço para atender a todos. GIZELLE MACEDO

Mercado de instrumentos atende aos clientes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste

Choperia transforma o ambiente austero da arquitetura urbana em um descolado estacionamento das boas canções.

A música brasileira, o rock, as músicas da terra e até o blues estão no repertório seletivo desses ambientes. O contra-baixo, ins-

por volta das 10 da manhã, ao longo da rua Simplício Moreira se ouvem o triângulo, a sanfona e o zabumba nas canções de Luis Gonzaga, Pinduca, Demônios da Garoa e Jackson do Pandeiro. Com início às 9h e término lá pelas 13h, Felipe Rodrigues Barros, o Felipão, faz do salão de sua bodega e garagem do seu fusca, o modesto, porém encantador palco dos sanfoneiros da Simplício Moreira, o conhecido forró do Felipão. Recinto onde simpáticos “rapazes da terceira idade” há três anos se reúnem para celebrar a vida com um ar de nostalgia típico da velha guarda. Tem dias que chega a ter até dez sanfoneiros. Os entrevistados também se lembram com saudade do bar da Academia, recanto de intelectuais que ficava na praça da Cultura, de nome sugestivo. Bares que contribuem com o diferencial em tempos de avalanche de rebolations, sertanejo e Lady Gaga.

Qualidade é o grande segredo do negócio GERUSA CARLA Sabrina Chamorro

Quem vê tanta animação e sucesso nos bares badalados de Imperatriz não tem ideia de como é difícil manter esses locais. De acordo com a Associação dos Proprietários de Bares, Restaurantes, Eventos e Similares (Asbares), cerca de 20 estabelecimentos são abertos por ano na cidade. No entanto, somente 10 a 15 sobrevivem mais de um ano. “O ponto influencia. Mas o grande problema eu acredito que seja a administração, que muitas vezes não se importa com melhorias nos serviços que oferece”, opina o presidente da entidade, Manoel Messias. Outro agravante é a carga tributária. “Os impostos variam de acordo com o tamanho do negócio e com o tipo de tributo”. Mas o fator que faz toda a diferença é a qualidade da música. Ricardo Lima, cantor de pagode há 15 anos em Imperatriz, afirma que muitas vezes grupos bons são trocados por outros mais baratos. “Além de não optar por um bom som também tem a desorganização. Coloca um grupo no domingo e no seguinte já chama outro que seja mais barato. Aí vira bagunça e os clientes param de vir”. Para Samir Nagib Sabbag, dono do Texana, um dos bares mais conhecidos em Imperatriz, um fator indispensável é a experiência de quem trabalha nesse ramo. Ele atribui muito do sucesso da sua casa ao conheci-

Apesar dos obstáculos constantes, bares buscam proporcionar inovações para agradar aos clientes

mento do assunto que adquiriu na vida noturna e à sua sensibilidade para perceber quando não está agradando uma pessoa. “Geralmente fico no meio do salão e presto atenção na reação das pessoas quando a música está tocando. Quando elas estão sendo atendidas: o que está acontecendo, se a banda que está tocando está agradando ou não”. O empresário complementa dizendo: “É difícil agradar gregos e troianos, ainda mais da forma que a gente trabalha. Essas casas geralmente são febres. Dá a febre e depois você toma remédio e ela passa. Depois que ela passou, acabou a casa, não tem como chorar pelo leite derramado”. Vitor de Lima, estudante de ciências contábeis na Universidade Federal do Maranhão (UFMA),

que há dois anos trabalha em um escritório local, explica que como qualquer empresa, um bar deve primeiro estar regularizado junto aos órgãos de registro do comércio. “Bares com música ao vivo têm uma situação especial, porque devem obter licenças de funcionamento da Secretaria do Meio Ambiente, do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil e polícias Civil e Militar, os famosos alvarás. Além, é claro, do alvará de funcionamento da prefeitura municipal”. O estudante complementa dizendo que manter esse tipo de negócio é difícil por causa dos impostos extremamente caros e da baixa qualidade apresentada por muitos desses estabelecimentos. “No entanto, os que têm qualidade conseguem prosperar mesmo com todos esses empecilhos”, acredita.


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trajetória Gravação do primeiro DVD do intérprete popular, em abril de 2010, contou com a participação de mais de 20 mil pessoas, considerado um número recorde RASANA BARROS

Stênio leva a seresta para novos rumos e públicos Batista Guimarães

Stênio e Ostérnio. Pelo nome, eles até que poderiam se tornar uma dupla sertaneja. Então, o que esses dois têm em comum além de um nome parecido, a voz empostada e forte, morarem no mesmo bairro e, coincidentemente, no mesmo quarteirão? A resposta é simples: ambos ganham a vida como seresteiros nas noites de Imperatriz e região. Stênio é natural de Caxias (MA) e veio morar em Imperatriz quando ainda era muito jovem. Gostava de ir às festas para dançar e ficou encantado quando observou pela primeira vez um músico tocando teclado. Foi quando resolveu pegar algumas aulas e passou a cantar como segunda voz do seresteiro Leão, muito conhecido nas noites da cidade nos anos 1990. Durante uma apresentação o seresteiro estava rouco e pediu para Stênio cantar algumas músicas sozinho. Foi quando ele descobriu que ti-

nha aptidão para o ofício e decidiu seguir carreira solo. “Quando resolvi cantar sozinho foi muito difícil, pois tinha apresentação que não pagava nem o frete dos instrumentos que eu utilizava. Já passei muitas dificuldades. Houve uma festa em que o contratante me pagou e no mesmo instante veio um assaltante, colocou a arma em mim e levou todo o dinheiro. Mas tudo faz parte de um aprendizado e a gente vai crescendo com esses percalços que aparecem”. O seresteiro se diz emocionado quando lembra de tudo o que já conseguiu por meio da música. “Hoje tenho uma casa boa, uma família estruturada e pelo menos dez famílias que dependem de mim, além de uma legião de fãs que me acompanham em quase todos os shows que faço”.

Fãs - A popularidade do cantor pode ser comprovada durante seus

shows que, por sinal, não são poucos, uma média de 20 apresentações mensais. Nossa equipe pôde acompanhar pelo menos duas delas em casas de shows que o contratam toda semana. O Terraço, na vila Lobão, às quintas-feiras e o Freitas Park, aos domingos, ambas lotadas. Stênio faz questão de agradecer aos presentes e cita alguns nomes de pessoas que sempre o prestigiam. Na plateia, uma das fãs chama atenção. Trata-se da médica anestesista, Ilma Assunção. Ela está presente nas duas noites e dança com o marido Charles durante toda a apresentação, sempre trocando de roupa, como se fosse uma dançarina oficial que anima os convidados. A gravação do primeiro DVD de Stênio, realizada no dia 20 de abril de 2010 na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), contou com a participação de mais de 20 mil pessoas, um recorde de público para o espaço e também para o show

Ostérnio prefere os ritmos tradicionais RAIMUNDO NONATO

Depois de ter passado por dificuldades, Ostérnio afirma que hoje consegue manter carreira estável e sustentar a sua família com a renda dos shows

Batista Guimarães

O cantor Ostérnio também não é natural de Imperatriz. Nasceu em Santa Inês e sempre morou na roça. Veio para cá quando era muito jovem e descobriu que tinha jeito para a música quando começou a ficar rapaz. Assim como Stênio já transpôs muitas barreiras para conseguir chegar onde está hoje.

O seresteiro sente-se realizado como músico. “Já comi o pão que o diabo amassou, mas hoje tenho uma carreira estável e sobrevivo exclusivamente da música. Tenho filhos maravilhosos e pago até a faculdade da minha filha com o que ganho nas noites. Quer dizer, não só eu, como outras famílias também dependem da minha voz”. Os dois cantores optaram por

ritmos diferentes. Enquanto o show de Stênio é mais dançante, com o ritmo arrocha prevalecendo durante boa parte do tempo, as músicas tocadas por Ostérnio são mais tradicionais e românticas. “Gosto de tocar no coração das pessoas. Tem gente que vai aos meus shows para dançar, outros para bater um bom papo e alguns para afogarem suas mágoas”.

“Viver de música é ser um herói”, acredita Stênio, que faz 20 apresentações mensais na região

de um cantor da cidade. “Nunca tivemos uma apresentação de um artista local com um público desses. Isso demonstra que estamos no caminho certo e que todo o nosso

esforço valeu a pena. Hoje estamos fazendo shows em todo estado do Maranhão, além do Tocantins e do Pará. Viver de música é ser um herói e com muita fé em Deus”.

Pará traz várias influências Dyego Wilson

Nem só de forró e sertanejo vive a musicalidade imperatrizense. O que mais tem chamado a atenção nas ruas da cidade, em carros de som e principalmente nas rádios é uma invasão musical paraense: o “brega” em suas versões acústica e tecnobrega. Desde o início, Imperatriz foi embalada com a explosão do movimento. Surgiram várias bandas que adotaram o ritmo por influência do estado vizinho. A Vendaval, uma das pioneiras, surgiu na cidade em 2002 e foi idealizada pelo cantor Luciano Guimarães. Após retornar de Belém do Pará, ele se apaixonou pelo ritmo calypso. “No início, a ideia era levar o ritmo pop paraense, uma mistura de percussão e conteúdo romântico, para todo o país”, explica Renata Cirqueira, dançarina que teve uma pequena passagem pela banda. Ela lembra que a Vendaval possuía uma estrutura enorme. Era formada por uma equipe de 26 integrantes entre baterista, guitarristas, baixista, percussionista, trombonista, trompetista, saxofonis-

ta, tecladista e casais de bailarinos. Chegaram a ultrapassar a vendagem de 310 mil CDs, com o sucesso da música “Patricinha” e frequentaram os programas Domingo Legal, Raul Gil e Festa do Mallandro. “Naquela época, a banda Vendaval ganhou um enorme prestígio junto ao povo de Tocantins. Fizemos várias turnês por lá. E forte aceitação em seus shows realizados por todo o Brasil”.

Explosão - Há cerca de uma década, artistas paraenses começaram a mesclar o popular romântico, dos anos 1970, nas vozes de Odair José e Fernando Mendes, com estilos caribenhos como o calypso e o merengue, populares na região do Pará. A esse coquetel acrescentaram, ainda, ritmos regionais amazônicos, como o carimbó. Na ocasião, o brega ganhou uma nova identidade com a aceleração das batidas e a introdução de guitarras, surgindo, então, o calypso. O sucesso desse ritmo foi ultrapassando as fronteiras da região Norte e acabou chegando à grande mídia a partir do sucesso da banda Calypso, em meados dos anos 2000.

Tecnobrega utiliza formas alternativas de divulgação musical Dyego Wilson

O brega e o calypso passaram por uma espécie de adaptação. A mais nova sensação na cidade é o “brega e DJs”. A combinação deu certo na periferia de Belém e chegou ao Maranhão. O estilo musical tecnobrega nasceu da fusão da música eletrônica com o brega tradicional. Em qualquer parte da cidade, o público escuta sucessos do tecnobrega, tecnomelody, gêneros da espécie brega.

Dona de casa amante do ritmo, Rita Lima Bispo se diz apaixonada pelas músicas do Pará. “Nosso estado é muito rico, não só pelas nossas bandas, mas pela beleza natural e a gastronomia local. Valorizar essas riquezas é ter orgulho de ser do Pará. Fico feliz em saber que existem muitas pessoas do país inteiro valorizando a cultura do nosso estado”. A música também acompanhou o desenvolvimento tecnológico. Para a vocalista da banda Alta

Classe, Meg Barcellos, as melodias paraenses vieram para conquistar o público brasileiro e internacional. “O povo paraense deve se orgulhar de pertencer a esta cultura musical mesclada, que vem desde o carimbó ao tecnomelody”. O sucesso das bandas do novo brega cresce de forma alternativa na região graças aos circuitos de shows nas periferias. Outro fator motivador é um sistema de distribuição e venda direta dos CDs dos artistas locais para

os seus fãs. A logística conta com vendedores ambulantes e camelôs. Jhonatha Mota, dono de estúdio, explica que o “tecnobrega não encara a pirataria como inimiga mortal” e argumenta que o trabalho dos vendedores de rua tem influência positiva nas carreiras dos artistas. As bandas e DJs gravam de uma a quatro músicas em um estúdio, normalmente caseiro. Mandam as canções para rádios. Os camelôs compilam os registros de maior su-

cesso em um CD e vendem nas ruas. O disco custa entre 3 e 4 reais e um DVD completo, 10. “Quanto mais a música é ouvida, mais esses artistas são contratados para fazer shows. É assim que funciona aqui”, explica Mota. Com o desenvolvimento deste mercado alternativo, os shows de brega, calypso e tecnobrega se profissionalizaram de forma impressionante, com estruturas grandiosas de luz, som e figurinos.


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espetáculos Pensar em cada detalhe e nos acontecimentos imprevisíveis são atitudes essenciais para quem se aventura a trazer artistas de renome para Imperatriz ELLYNE BARBOSA

Organização de eventos exige muita dedicação Ellyne Barbosa

Quem vai a shows em busca de entretenimento, cultura ou por simples prazer não imagina que organizar um evento requer muito planejamento, estratégia e tática. É preciso pensar em cada detalhe, estar preparado para imprevistos. Falhas técnicas sempre podem ocorrer, mesmo com a mais eficaz das organizações. “No início do show da Claudinha Leite, logo depois que anunciei sua entrada, aconteceu de pisarem no fio do teclado, que caiu e desconfigurou, causando um atraso de mais 40 minutos”, afirma o promotor de eventos Jan Ricardo. O que ressalta a necessidade da existência de um plano de ação, pois mesmo não conseguindo reconfigurar o instrumento o problema foi solucionado: o músico tocou com o teclado de mão e o show foi um sucesso. A jornada dos organizadores começa com a tentativa de se fazer o contato com os artistas, geralmente um que está em evidência nos meios de comunicação. “Imperatriz recebe

show que está na mídia. Quer queira ou não, quem está em evidência tem preferência”, explica o produtor. Entretanto, nem sempre o espetáculo desse artista garante lucratividade, mas pode dar retorno. Exemplo dessa situação foi o show do Chiclete com Banana no Parque de Exposições no ano passado, que deu prejuízo financeiro de 90 mil reais. “Em contrapartida, projetou o nome da rádio que promovia, pois é uma atração disputada por diversos promoters, o que aumenta ainda mais a credibilidade da emissora”, argumenta Jan Ricardo.

Pensando em tudo - O trabalho é mais complexo do que parece. É preciso escolher o local adequado, a melhor data, entrar em contato com outras empresas do ramo (para que não haja conflito de datas), a melhor iluminação, som de qualidade, que geralmente é trazido de fora, quando é exigido, e buscar patrocinadores. Além de tudo isso, é necessário pagar impostos e acionar os órgãos competentes, como Corpo de Bom-

beiros, Defesa Civil e Secretaria de Meio Ambiente e de Segurança, entre tantos outros detalhes que, para leigos no assunto, são totalmente imperceptíveis. Jan explica que a melhor maneira de se conseguir o menor preço dos artistas é via contato com os empresários da região. “Geralmente eles compram o pacote de três dias. Ou seja, o cantor pode falar que não tem data, mas na verdade as datas existem, mas estão amarradas nas mãos dos empresários e podem ser negociadas por um preço menor”. Algumas atrações são consideradas “coringas” em Imperatriz, segundo Jan. É o caso de bandas de forró e sertanejo universitário, fenômenos midiáticos que já estão na boca do povo. Além de serem mais fáceis de trabalhar em conjunto, geralmente entram em forma de parceria, compartilhando o lucro e o prejuízo. Sem contar que são mais humildes e menos exigentes, na opinião do produtor. Uma grande prova disso foi o que aconteceu no show da dupla Jorge

Promotor de eventos Jan Ricardo tem muitas histórias para contar sobre o mundo de espetáculos

e Matheus. Para se ter uma ideia, no dia do apresentação o engarrafamento foi muito grande e ficou inviável que o Jorge chegasse ao Parque de Exposição de carro. A única possibi-

lidade de chegar com maior rapidez seria de moto. “A ideia foi sugerida e Jorge aceitou sem muita ’frescura’. Então o colocamos em um mototáxi e ele fez todo o trajeto até a arena”.

Trabalhar com artistas de MPB e rock é mais difícil, diz promotor Ellyne Barbosa

Hoje, em Imperatriz, trabalhar com músicos de estilos como música popular brasileira e rock é complicado. Segundo o promotor Jan Ricardo, o cachê é alto e geralmente esses artistas não fazem parcerias, o que dificulta ainda mais a contratação. Sem contar que a dificuldade de entrar em contato é imensa, tornando menos viável a presença dessas atrações na cidade. “É um tiro no escuro. Um show já começa no vermelho e toda empresa visa lucro”. Jan exemplificou que trazer Milton Nascimento para Imperatriz iria

requerer muito trabalho. Na região tocantina não se ouve o artista, que não está na mídia. “É preciso massificar por meio do site, das faixas, tocar na rádio, informar quem foi, quem é. Mesmo com tudo isso o sucesso não é garantido, tendo um público bastante reduzido, geralmente a classe A e pouquíssimos da classe B, não sendo suficiente para arcar com as despesas do show”, comenta Jan. O custo de uma apresentação desta magnitude não sai por menos de 300 mil reais.

Exigências - Jan ainda revela as dificuldades de se trabalhar com alguns artistas que fazem inúmeras exigên-

cias que aumentam o preço do show. Ele menciona o caso de Ivete Sangalo, que exigiu um trio da Bahia. “Trazer um trio de lá custa em média 90 mil reais, enquanto se pode alugar um de São Luís por um valor bem inferior: 18 mil reais”. Outra ressalva é a questão dos hotéis, que não estão preparados para atender a esse público alvo. “Ivete sempre pede que tenha uma academia no seu quarto. E aí, que hotel da cidade nos oferece esse serviço? São esses pequenos detalhes que podem influenciar na contratação e até mesmo no bem-estar do artista”. É na preparação do contrato que

são definidos todos os pormenores, desde alimentação até o transporte. Amado Batista e Luís Carlos, vocalista do Raça Negra, por exemplo, só aceitam fazer o traslado de São Luis a Imperatriz com um carro do ano. Jan comenta ainda que com relação às exigências feitas pelos artistas pode-se concluir que, “manda quem pode, e obedece quem tem juízo”.

Opções e perigos - Em contraposição, existe possibilidade de se realizarem shows com preços bem razoáveis e conseguir ótimos resultados, como foi o caso do cantor Stênio, um prata da casa que lotou a Associação Atlética Banco do Brasil

(AABB) e rendeu lucro para todos os envolvidos. “Inclusive foi este o show que deu a maior lucratividade para a empresa que eu represento nos últimos anos. Provando que nem sempre é preciso importar as atrações, elas podem ser encontradas aqui mesmo”. É importante lembrar, segundo o promotor, que o sucesso e o fracasso de um evento pode ser definido pelo “marketing viral”. O celular pode ser uma faca de dois gumes, ajuda ou prejudica totalmente o produtor. Pois quem já está no local pode informar se o show está bom ou ruim, influenciando os demais a comparecerem ou não.

Emissoras de rádio de Imperatriz apostam nos mais diversos ritmos Joyce Magalhães Dilmara Tavares

Rádio continua sendo o espaço ideal para aqueles músicos que estão iniciando suas carreiras

Axé é o ritmo preferido de Adriana Silva, por isso todas as tardes ela liga o rádio e ouve suas músicas favoritas enquanto cuida das tarefas de casa. Sempre que pode, telefona e colabora com a programação. Assim como Adriana, milhares de imperatrizenses acessam todos os dias as rádios da cidade na busca de programas diversificados que reúnam ritmos e músicas que estão no auge. Rock, forró, sertanejo, axé, gospel, pagode, é possível encontrar todos esses estilos nas cinco emissoras de Imperatriz. O critério utilizado para a programação é o que o ouvinte quer e gosta de ouvir. Por isso em vários programas ele tem a oportunidade de interagir com os locutores por meio da Internet ou telefone. E para aqueles que estão inician-

do a carreira de músico ou lançando um CD, a rádio é um espaço ideal para divulgação de trabalhos musicais. Quando o assunto são as bandas e cantores de sucesso, o artista entra em contato com a equipe da rádio que oficializa um contrato e especifica um valor dentro de um prazo determinado. No caso de eventos como shows, as rádios estabelecem uma pequena porcentagem na bilheteria. As rádios têm acesso às músicas por meio das gravadoras, que mandam as faixas carro-chefe dos seus músicos e, quando isso não acontece, os próprios locutores baixam as músicas na internet. O espaço para música regional ainda é pequeno nas rádios de Imperatriz. Ésio de Moura, locutor da rádio Mirante, afirma que isso acontece porque o público quase não pede cantores locais. A preferência

é por cantores e bandas nacionais e, como quem manda é o público, estas predominam. “A música regional não tem aceitação.Neném Bragança, Zeca Tocantins não fazem parte da programação porque ninguém pede. Muitas pessoas pensam que é porque não tocamos, mas já tentamos tocar esse tipo de música na programação. Mas há mais críticas do que pedidos”, afirma Ésio. Como não existe uma pesquisa de opinião, os radialistas utilizam-se da frequência de pedidos musicais, de enquetes por meio do site das rádios e por telefone e das conversas que têm pessoalmente com os ouvintes para avaliarem o potencial da sua programação. Para os radialistas o público é o termômetro da rádio e, por isso, o ouvinte tem espaço integral por meio do MSN, do telefone e do site das rádios.


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som automotivo Apreciadores negam que vivam um clima de competição com suas máquinas poderosas, preferindo afirmar que a intenção é interligar todos os sons

Quando sobe a batida...ninguém fica parado FERNANDO RALFER

FERNANDO RALFER

Máquinas turbinadas, gente bonita e um som “infernal” atraem as centenas de frequentadores das baladas automotivas

Jadiel Reyes

Pouca agitação, movimento fraco e um som tão “baixo” que se podia até mesmo ouvir a própria voz. Não parece, mas assim é o começo de uma das mais badaladas swingueiras da cidade, que ocorre na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) na noite de sexta-feira. Para os que não conhecem, o termo não se refere àquilo que alguns casais exóticos costumam fazer entre quatro paredes. Trata–se de uma denominação para as baladas anônimas, organizadas por populares. Neste caso, a atração da sexta à noite na AABB fica por conta dos carros de som automotivo. Pouco a pouco, as pessoas chegam ao local a fim de curtir as batidas eletrônicas emanadas pelas máquinas. De moto até picapes, não importa o tipo de veículo, basta chegar com seu possante e parti-

cipar da disputa de som automotivo. Francivan Pereira, dono da Biz Saradona, explica que a disputa de som nada tem a ver com uma competição. “São vários sons interligados, tocando a mesma música”. Ainda segundo ele, para equipar uma moto é preciso desembolsar na faixa de 700 a 800 reais.

Marias gasolina - Por volta das 21h30 o cenário já é completamente oposto ao que encontramos no início. Havia diversas pessoas, muitas dançando ao som das batidas infernais de máquinas diabólicas como o corsa Meteoro Racha Chão, gol Star Car, S-10 Tubarão entre muitas outras ali presentes. Algumas dançavam de forma tão frenética que pareciam estar possuídas por forças além da nossa compreensão. Próximo a um gol vermelho, encontravamse duas mulheres. Vestidas à la piriguetes (shortinho curto valori-

Quem acompanha um evento de som automotivo desde o início percebe como o volume vai aumentando, impactando o ar

zando o corpo, blusa tomara que caia e salto alto de ponta fina) mexiam seus quadris de forma que os marmanjos ali presentes paravam para se deliciar com a cena. Afinal, não é todo dia que

Algumas dançavam de forma tão frenética que pareciam estar possuídas por forças além da compreensão

vemos duas garotas requebrar em cima de uma pilha de latinhas de cerveja. Andressa Vasconcellos, voz doce e vestida a caráter, explica quando perguntamos qual a diferença entre Maria Gasolina

e pirigueti. “A Piriguete é mais ‘cachorra’ e a Maria Gasolina só pega quem tem carro”. Quando pergunto se ela se considera pirigueti ou Maria gasolina, a resposta é seca. “Não!” Jéssica Alves, morena, trajando um vestido preto super curto e dona de um corpo escultural, sai em defesa das Maria Gasolinas. “Eu não sou contra elas não, pelo contrário, acho até que faço parte do grupo porque gosto dos homens que têm carro”. Ela ainda ressalta qual o charme dos donos dessas máquinas. “Bem, eles são bonitos porque têm carro, aí você sabe, né? Dá vontade de pegar e tal... Acho que é mais por causa do carro mesmo”. Andando mais um pouco, encontramos uma tenda eletrônica com mais sons interligados e um DJ para animar a festa. Tentamos, mas não conseguimos falar com ele até porque o barulho era intenso. Diferente do começo, já

não se podia ouvir sequer nossos próprios pensamentos. A fumaça artificial volta e meia subia para deixar a festa com mais ar de balada e o jogo de luz fazia mesmo quem nunca dançou na vida virar um hábil dançarino. Marcílio Carvalho diz o que mais chama sua atenção na swingueira da AABB: “a diversão... A interação da galera, esse tipo de coisa”. Já seu amigo Sebastião Filho fala sobre a importância do volume do som para curtir a festa. “Rapaz... o bom aqui é o barulho, o som aqui tem que tá no máximo”. Era mais de meia-noite quando o barulho emitido pelos sons potentes ficou ainda mais intenso, pois algumas picapes mostraram toda a força, fazendo até o ar “estremecer”. Já havia visto pela TV maremoto e terremoto, mas não “aeromoto”. Essa é uma prova de que o ser humano pode causar impacto na natureza. Mas esse é um abalo que muitos adoram.

Eventos mais distantes da cidade permitem ligar o som bem mais alto WILLIAN CASTRO Jadiel Reyes

Outro evento de som automotivo que rola em Imperatriz é o Fest Car Verão, que acontece todos os domingos no parque de exposições Lourenço Vieira da Silva. O que chama atenção é que esse local é famoso pela feira agropecuária da cidade e uma das mais expressivas do Maranhão, a Expoimp. Será que até as vacas e bois iriam curtir as infernais batidas automotivas? Definitivamente, não. O evento ocorre em uma área mais distante das demais. O Fest Car tem início sempre às 17 horas, mas como já é de praxe, pouquíssimas pessoas chegam neste horário. Lá, apenas o gol Macaco Loco demonstra seu poder sonoro, pois foi um dos raros que chegaram antes do início. Uma coisa que pode se notar é a forma como as pessoas se vestem e se comportam, como se estivessem em casa. Também po-

Para equipar uma máquina com um som poderoso é preciso fazer um investimento considerável

demos observar que a entrada é liberada para todos os públicos, pois havia crianças de dez e 12

anos no local. Por volta das 18h a agitação era mais forte. Já se encontravam

ali máquinas como saveiro Sctuba, gol Cachorro Doido e outras potências do som automotivo. O estudante de administração Tiago Reis diz ser sua primeira vez no Fest Car. “Na verdade é a primeira vez que venho aqui. De vez em quando eu vou na AABB”. Como é de costume, as piriguetes e as Marias gasolina também marcam presença neste evento. Dono de carro de som automotivo, Wilian Pereira fala do orgulho de ser um dos responsáveis pela diversão das pessoas. “É uma satisfação muito grande fazer a alegria do povo com o som automotivo, qualquer um pode tá participando”. E as mulheres?. “O assédio é muito grande sim. Teve uma vez que uma chegou a tirar a roupa em frente ao carro”. Wilian nos explica quanto custa para manter uma máquina com som automotivo. “Custa cerca de uns 400, 500 reais por mês”.

Personagens - Andando um pou-

co pelo evento, notamos que a presença de crianças no local aumentava com o passar das horas. Graças ao fotógrafo Fernando Ralfer, descobrimos algo bem curioso. Juvenal de Medeiros, dono da equipe Trovão do Som, costuma levar seu filho sempre que vai tocar em algum local. “Olha, realmente eu acho isso bastante interessante, por uma razão muito simples. Pra mim não, tenho 39 anos. Mas, o meu filho, que tem apenas 14, acha uma diversão legal. Por essa razão eu automaticamente passo a gostar porque faço companhia a ele e pra mim é muito satisfatório”. Já eram 19h quando iniciou um pequeno chuvisco, que fez com que as pessoas fossem embora aos poucos. Acabara uma boa diversão, ficaram apenas as máquinas, seus donos e as vacas ao longe, em seus currais cobertos de telha. Talvez se elas pudessem falar, diriam: “Já acabou?”


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evolução A primeira banda de Imperatriz de que se tem notícia, a Porém Rogai, surgiu no final dos anos 1980, mas o espaço só foi consolidado no início do século XXI

Cenário de rock de Imperatriz tem história ANDRÉ WALLYSON

Banda Pilantropia representa bem a atual geração do rock em Imperatriz, aliando a sobrevivência econômica dos seus integrantes com apresentações de músicas cover em bares badalados com a produção paralela de um som mais pesado e autoral Jairo Moraes

O cenário do rock em Imperatriz cresceu e se consolidou em meados de 2001, quando foram formadas bandas com variados estilos. A primeira banda da cidade, segundo os precursores, foi a Porém Rogai, tendo sua formação no final dos anos 1980. “Naquela época, era muito doido. A gente tocava rock and roll mermo, no Fly Back (antiga danceteria localizada na Beira-Rio) e outros clubes que não existem mais. Todo mundo pirava!”, lembra o empolgadíssimo Nane Viei-

ra, vocalista da antiga banda, que depois seguiu carreira solo. O início do ano de 2001 foi fundamental para o rock na cidade, pois nessa época um bar, próximo à praça da Cultura, chamado TNT Cocktails, abria seu espaço para as várias bandas em ascensão. Nessa período surgiriam, então, a barulhenta Noise Verm, com seu som rápido e cheio de protestos, capturando a essência de bandas como a Ameaça Moral, que tinha como estilo o anarco-punk e incrementando elementos do metal pesado. Também nasceu nesse contex-

to a Mortos, com seu death-metal. Vale ressaltar, aqui, a peculiar formação só de mulheres chamada Code, tocando um metal agressivo. Todas essas bandas costumavam reunir-se para se apresentar na praça da Cultura. Mais tarde, um importante dinossauro do rock local, chamado Samuel Souza, que já produzia nos anos 1990 rasgava o ar com um metal extremo, liderando bandas como a Mystc e, hoje, a pesada Unborn. Em meio a tantos barulhos emergentes, perambulava, solitário, a figura mais folclórica do rock local com suas correntes,

coturnos e moicano vermelho: o eterno punk Gilsão.

Cenário - O TNT foi um divisor de águas no quadro do rock em Imperatriz, pois abraçava todos esses renegados com material a mostrar. Mas, não durou muito. Entrou em falência e fechou. Muitas dessas bandas acabaram por falta de apoio. Hoje, o cenário do rock na cidade é diferente. Não existem mais as apresentações nas praças, nem um espaço específico. O que se encontra são bandas fazendo covers de baladas em bares elitizados, que é o caso da Freedom e da Pilantropia.

Apesar de tocar músicas de parâmetros acessíveis, esta última produz, paralelamente, seu som pesado e autoral. Os problemas são constantes quando se trata de um estilo marginalizado. Um deles é a falta de estúdios para ensaiar e gravar um material próprio. “A gente não tem apoio de nada. Às vezes a gente tem que tirar do nosso próprio bolso pra fazer acontecer algo aqui. Local pra ensaiar tem que se virar pra encontrar. Uma vez, roubaram parte do nosso equipamento por não ter local seguro pra ensaiar”, lamenta Bruno Aguiar, baterista da Mortos.

Reaggae, som que estimula a paz, busca superar preconceitos na cidade Zé Luís Costa

Entre os ritmos que balançam o povo imperatrizense está o reggae. Mas, sua imagem é carregada de preconceito no centro da cidade. O lugar em que está mais presente é mesmo na periferia, oposto do que ocorre em São Luís, capital do Maranhão. O reggae é tocado, sobretudo, nos bares de elite da “Ilha”, como é percebido por todos que visitam a capital, por conta disso apelidada de “Jamaica brasileira”. Nas festas que acontecem no centro de Imperatriz, nas universidades, bares e praças pouco se ouve o ritmo jamaicano, apenas quando é um bar específico para o gênero. “As brigas que acontecem em festas de reggae nos bairros de Imperatriz são normais e podem ocorrer em qualquer outro evento, quando o dono da festa não se preocupa muito com a segurança”, argumenta o DJ e cantor do estilo, “Masco Reggae”, morador do bairro Vila Redenção, periferia de Imperatriz. Raimundo Nonato Inácio da Silva, 55 anos, o famoso “Papagaio” é um dos poucos empresários do reggae na cidade resistindo ao preconceito.

Quando o assunto é a violência nas festas ele tem uma opinião clara. “Um segurança de um dos bares de elite da cidade foi morto no exercício de seu trabalho. Mas a mídia nunca disse que foi por causa do tipo de música que tocava no local.”

Reggae é paz! - Com essa pequena frase, Odair José Gomes da Silva, o “DJ Odair”, como é conhecido no mundo do reggae, inicia nossa conversa. É um Disc Jockey ou para muitos, um animador de festas, profissão que exerce há 20 anos e há 11 com a equipe de som “Land Mix”, propriedade do Papagaio. DJ Odair, uma pessoa humilde e simpático, que sempre morou em bairros pobres da cidade disse, em tom de brincadeira, que tudo que ele tem deve ao reggae: uma mulher, quatro filhos e uma moto. Ele argumenta sobre os preconceitos que um regueiro sofre em uma cidade grande como Imperatriz. “Muita gente não conhece o reggae e por isso discrimina quem gosta. Porque a maioria dos que gostam vivem nos lugares mais pobres”. Adepto do “Reggae Eletrônico”, uma das subdivisões que existem no

gênero musical, o DJ classifica o estilo. “Carrega como aspecto principal a transformação de letras de músicas internacionais mixadas com arranjos eletrônicos, com batidas e o compasso de um para dois”. Entre as subdivisões ainda existe o “reggae roots”, mais presente em São Luís. Segundo Odair, esse apresenta uma batida mais cadenciada, com presença maior dos instrumentos de percussão, do baixo, guitarra e a voz chorosa. E por último, o “reggae roots nacional”, sempre com letras questionadoras às injustiças sociais. Como o reggae veio da Jamaica, é muito próximo da religião rastafari. As letras são sempre louvores a Jah, como é chamado Deus. “Se tocar um reggae roots nas festas de Imperatriz o público vai embora. Poucos gostam”, complementa o DJ. Apesar das diferenças na formação do ritmo desde os anos de 1960, quando foi criado por Bob Marley, o preconceito social está presente e forte. Entretanto, a mística de dançar só ou agarradinho e de olhos fechados é mais forte.

DIEGO LEONARDO

DJ e cantor Masco Reggae defende que brigas eventuais ocorrem em eventos de qualquer tipo


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entrevista Zeca Tocantins, defendendo o campo da MPB e o maestro Giovanni Pietrinni, divulgador da música clássica, falam sobre o histórico da música na cidade

Popular e erudito lutam por reconhecimento José Bonifácio Cezar Ribeiro, mais conhecido como Zeca Tocantins, tem 52 anos. É poeta, compositor e cantor. Criou seu próprio estilo baseado em uma maneira única de ser. Tem mais de 50 músicas gravadas. Elas vão do chorinho e do bolero até o baião. Na po-

esia retrata vários elementos, dentre eles o rio Tocantins, paisagem pela qual o músico não esconde sua paixão. Zeca foi responsável pela criação de projetos como a Semana do Livro e a Semana da Música Imperatrizense. Depois de ter se afastado alguns meses dos pal-

cos por problemas de saúde, atualmente Zeca está na coordenação da Fundação Cultural de Imperatriz, de onde comanda projetos de interação com a arte. Aqui ele conta como é desempenhar esses trabalhos e explica como é trabalhar com cultura em Imperatriz.

Forró, tecnobrega, sertanejo, seresta, reggae, pagode, axé. A cidade de Imperatriz é dotada de intensa variedade de gostos e estilos musicais. Isso por causa da forte influência advinda de estados vizinhos,

principalmente do Pará. A música faz parte do dia a dia de grande parte das pessoas. Porém, o modo como ela é tratada vai determiná-la, de forma positiva ou negativa, para quem a consome. Em entrevista, o ma-

DIULIA SOUZA

Zeca Tocantins: “Imperatriz sempre foi efervescente, sempre teve variedade, multiplicidade de ritmos que acho bacana” Ayra Carvalho Diulia Sousa

Como foi desbravar a MPB em Imperatriz nos anos 1980? Na verdade éramos eu, Neném (Bragança) e Dudu. Às vezes chamávamos Iramar, um músico de Natal e o outro era o Conrado. Juntos, formamos o Trio de Barro. Quando nos juntamos foi realmente com o propósito de construir e compor músicas para trabalhar. A receptividade que o grupo tinha era muito boa, mas partia das pessoas de fora. A população imperatrizense nunca valorizou muito o estilo. No meio da década de 1980 participamos de festivais de música em Imperatriz, ganhamos o primeiro e o segundo lugares com esse trabalho. Depois disso, o Trio de Barro foi perdendo força e acabou se dispersando. Eu e Neném continuamos juntos nesta luta, porém não mais no Trio de Barro. Ele foi um dos meus parceiros de estrada e de cantorias. Como era o cenário musical na época? Imperatriz sempre foi efervescente, sempre teve uma variedade, uma multiplicidade de ritmos. Inclusive quando cheguei aqui já tinha uma influência forte de bumba meu boi e esta diversidade é algo que particularmente eu acho muito bacana. Mas o processo de fazer e compor a música, de mostrar um trabalho próprio vem do Trio de Barro. Até porque Imperatriz teve e ainda tem uma resistência muito grande, que chega ao ponto de não ouvir. Uma coisa é você ouvir e não gostar, é direito de cada pessoa, mas não

olhar, não ter curiosidade de conhecer o trabalho... Como era gravar um vinil em Imperatriz? E hoje é diferente para registrar um trabalho? Meu primeiro disco foi o “Cio do Homem”. Nesta época ainda era LP. Na verdade esta área é meio perversa, pois agora mesmo estou tentando gravar um disco e às vezes você tem que vender as próprias roupas para pagar estúdio, músicos dentre outros e não sente o retorno das pessoas. Meu último trabalho, o “Mestiço”, gastei muito e é incrível, não vende. Para uma boa qualidade na música os custos são muito altos. E comparando os dias de hoje com a época em que gravei meu primeiro LP, posso dizer que as coisas pioraram. Existia um carinho das pessoas,

Em comparação com outras cidades por onde andei, Imperatriz apresenta elementos culturais completamente diferentes. uma espécie de fidelidade com os artistas e hoje eu sinto essa necessidade. Existem, sim, pessoas que gostam do estilo, porém elas não estão junto do artista nesse processo. Quais as dificuldades encontradas ao longo da carreira? A principal delas é a aceitação do público em Im-

peratriz. Em comparação a outras cidades por onde andei, os elementos culturais são completamente diferentes. A arte deveria ser vista como necessidade seja de ver um espetáculo, ler um livro ouvir uma boa música e, infelizmente, isso não acontece e acaba se tornando uma grande barreira diante de nosso trabalho. Existe também um descaso enorme do poder público e às vezes até mesmo do universo político como um todo. Como é fazer músicas que falam de Imperatriz? Bem, na verdade tem 45 anos que moro nessa região, comecei a morar em Imperatriz aos cinco anos de idade. O que escrevo e canto é o que vivencio. Culturalmente ela é forte e sua localização é privilegiada, mas a cidade em si não é minha musa inspiradora (risos). Eu escrevo pouca coisa sobre ela. Apenas leio muito, gosto de assistir espetáculos e esses elementos, juntamente com aquilo que sinto, me dão impulso para escrever. O que definiria Imperatriz diante de tantas influências musicais? Creio que não tenha um ritmo que defina Imperatriz, pois há uma diversidade muito grande. Até mesmo o brega, que é um ritmo bem quisto, tem suas variações. Na verdade é uma cidade que vai mais pelo que está na moda. Ou seja: o que estiver sendo veiculado na mídia. Falta uma educação cultural nas pessoas para que haja também uma identidade musical que nos defina.

estro Giovanni Pietrinni fala da música como elemento social e analisa como a questão está sendo tratada em Imperatriz. Ele acredita que a música não é só entretenimento, mas, também, “formadora de personalidade”. RAIZA MACHADO

Maestro Giovanni Pietrinni: “Por enquanto nós só consumimos. Não produzimos. Precisamos ter a escola de formação” Delma Assunção Rayza Machado

O que você diz dessa mistura de ritmos musicais na cidade de Imperatriz? É um ponto positivo ou negativo? Quando cheguei a Imperatriz em 1978, já se ouvia aqui o que podemos chamar de lixo da música. Isso o que nós musicólogos chamamos em termos profissionais. São aquelas que as pessoas consomem sem pensar no seu conteúdo. Nessa época, aqui já se consumia a mesma música ouvida no garimpo da Serra Pelada. Ou seja, a influência musical por parte do Nordeste, do Piauí, Ceará e Pará já contaminava Imperatriz. Principalmente o carimbó e o sirimbó, que são ritmos próprios e peculiares do Pará. Com o passar do tempo isso piorou por causa da falta de incentivo de políticas voltadas para o campo da música. Qual a importância da educação musical e como ela pode ser desenvolvida nas escolas? Em 2001, quando voltei com minha formação musical para Imperatriz, percebi a falta de incentivo cultural na área da música por parte de quem deveria estar incentivando. Daí, me propus a explorar a educação musical trabalhando com a base, que é exatamente esta das escolas do ensino secundário e fundamental. Procurei a Diretoria de Educação do Estado e apresentei um projeto, o “Encanto de Natal”, que foi apresentado na praça de Fátima. A proposta era de fazer um coral com cinco escolas, em caráter experimental com os alunos. E com 1,5 mil crianças formamos um coral. Isso só era uma das vertentes do meu projeto de

educação musical para a cidade de Imperatriz, onde buscava sensibilizar os gestores, as pessoas que fazem a política e formam opinião. E isso só é possível com a escola de música, que aqui não existia. Como ocorre a divulgação da música erudita em Imperatriz? Por enquanto, só é divulgada por meio do coral de Imperatriz, pois não temos ainda um conservatório nem projeto de orquestra. Isso ainda vai demorar muito porque para o coral se tornar sinfônico requer formação específica. Mas já estamos trabalhando com a possibilidade do conservatório de Imperatriz.

A cidade ainda não produz um bem musical que tenha identidade própria. Como a diversidade de estilos ajuda a definir uma identidade musical múltipla da cidade? Por enquanto, infelizmente, pelo mau gosto dos estilos que são colocados de fora para dentro, Imperatriz ainda não tem uma produção dela identificada. Em Goiânia temse o sertanejo, no Pará, o brega. E em Imperatriz tem-se a diversidade de estilos. A diversidade que vem de fora. Ou seja, por enquanto nós só consumimos. Não produzimos. Por isso, volto à questão anterior: precisamos ter a escola de formação para podermos produzir e exportar. Assim, mudamos a nossa diversidade, que por en-

quanto é apenas introjetada. A cidade ainda não produz um bem musical que tenha a identidade própria. De que forma a música pode ser vista como elemento social e formadora de caráter? No momento em que ela for tratada como objeto de educação de massa e quando a sociedade passar a consumir a música produzida por ela mesma. Quando eu, imperatrizense, consumir o próprio bem que produzo também vou dar esse alimento para outro, formando uma cadeia de consumo em cima desse produto local. As crianças estão dançando essas músicas. As meninas, desde pequenas, já estão explorando sua sensualidade, aprendendo a usar pouca roupa e despertando o lado monstro que o ser humano tem. Assim, provocando outra questão social: estupros familiares, pedofilia, entre outros fatores. Com a formação musical, futuramente, as pessoas vão dar preferência a músicas de qualidade. Porque não conseguirão conceber essas músicas “quaisquer” como um bem cultural, mas, sim, como exploração meramente comercial. O que você acha dos eventos musicais promovidos aqui? Pelo fato de estarem relacionados ao lixo da música, os eventos acabam por interferir ainda mais na formação de uma identidade musical. As pessoas vão apenas para fazer as vontades da carne. Nem raciocinam sobre o que estão fazendo. Dentro do próprio sistema governamental, eles se importam em trazer cantores eruditos porque estes músicos não agregam multidões.


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individual Com o fone de ouvido em alto volume, CDs originais, piratas ou baixados da internet: as opções de quem aprecia música em Imperatriz são múltiplas

Cada qual com a sua preferência musical LUANA BARROS Dailane Santana

Fone de ouvido é essencial para quem não quer atrapalhar, mas há sempre o vizinho barulhento

“Silent disco” é o sonho de todo morador de condomínio. Para quem ainda não sabe, esse é o nome dado à festa do silêncio, onde todos que a frequentam usam fones de ouvido no lugar do som ensurdecedor das caixas amplificadas. Veio da Europa e está virando onda no Brasil. Foi assim que me senti ao dar uma volta pelo shopping. Por onde passava via jovens e crianças com seus fones conectados aos celulares. As formas como as pessoas ouvem música são diversas, mas há sempre aqueles que gostam de inovar. Fabrício Costa faz sua própria seleção musical e garante que é a sensação entre os amigos. “Todos os sábados eu e meus amigos nos reunimos para ouvir música e bater papo, e o celular que sempre fica tocando é o meu. Acho que é porque eu sempre escolho as melhores músicas”. E para garantir essa parada de sucessos, Fabrício conta com um programa especifico para baixá-las pela internet. Essa é outra opção que não falta na vida dos apaixonados por música. Com a massificação da internet o consumo ficou cada vez mais favorável para aqueles que não têm condições de comprar CDs originais. “Eu tenho um ótimo programa para baixar músicas. Sempre quando tem uma novidade eu

Bumba boi mantém charme e tradição Pedro Jader

Passa das 22 horas e lá vem o batalhão. A toada começa. Ao som da orquestra, os brincantes entram no cordão de isolamento. As crianças ficam sentadas no chão, com seus olhos arregalados e os anciãos nas cadeiras, acompanhando atentamente cada coreografia. Os jovens estão em pé e, a cada toada, todos batem palmas. O boi desfila sua imponência entre as fileiras de índias que, com seus cocares de penas coloridas e suas lanças, mostram seu bailado. Os vaqueiros vão brincando com alegria até terminar a apresentação. É o Boi da Gameleira no Arraiá da Catequese, na cidade de João Lisboa. A música folclórica maranhense tem um charme especial nas festas juninas. Mas nada é tão marcante como o bumba boi, cultura popular exclusivamente maranhense que encanta o Brasil e o mundo. São três os sotaques principais: matraca, zabumba e orquestra. O sotaque de orquestra nasceu na região do rio Munim, na porção extremo leste do Maranhão, e se identifica como de origem branca. Acredita-se que o filho mais novo do boi-bumbá nasceu quando os instrumentistas, encantados com a festa, ouviam as músicas e acompanhavam com seus instrumentos. Na região tocantina há uma

predominância desse sotaque que se caracteriza por toadas com instrumentos de sopro como saxofone, clarinete, banjo, piston, além do tamborde-onça, sanfona, bombo, maracás, que também são utilizados em alguns grupos. “Lá vai, lá vai, lá vai, meu boi levantando poeira. Dançando pra frente e pra trás, lá vai o boi da gameleira.” Assim diz a toada, enfatizando o

Gingado das índias, as indumentárias e as coreografias encenadas têm uma ligação direta com o ritmo musical, que fascina o público a cada apresentação

amor pela terra querida. As letras são de autoria do próprio fundador, nas quais se percebe o culto à natureza, às raízes da terra, às alegorias da festa, ao sentimento pela amada, fazendo uma referência direta às origens da lenda que criou a brincadeira.

Gameleira - O Boi da Gameleira surgiu em 1998, no mandato do então prefeito e fundador do boi, Sálvio Dino. “Quando eu era prefeito, senti

que faltava na cidade a maior manifestação folclórica do Maranhão, que é um bumba meu boi”, destaca ele. Ao ser questionado sobre a escolha do sotaque, Sálvio diz que um dos objetivos da escolha é valorizar a beleza da mulher da região tocantina. A festa começa quando o público percebe o colorido dos brincantes. O gingado das índias, as indumentárias, as coreografias encenadas têm uma ligação direta com o ritmo musical, que fascina o público a cada apresentação. “Os valores, os costumes, as raízes são retratados em forma de música, dança e coreografia. A música folclórica é o símbolo do povo maranhense”, comenta José Cunha, espectador que acompanhava a brincadeira no Arraiá da Catequese, tradicional festa junina realizada na paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na cidade de João Lisboa. Wilia Barbosa, vaqueiro-brincante, explica um pouco da dança. “Quando começa, a gente vai quicando, depois começa a bailar”. Ele se refere aos termos genéricos que constituem o acompanhamento da música e coreografia pelos componentes da brincadeira. Os apitos do índio-guerreiro ditam os passos a serem seguidos, em sintonia com a música. E assim a festa vai ganhando seus contornos, contagiando o público, levantando aplausos por onde passa.

logo consigo baixar. Ficou mais fácil porque não é sempre que tenho dinheiro para comprar CD original e eles estragam muito fácil”, explica Fabrício. Joyce Magalhães também adora ouvir música. Tem sua própria seleção, mas também é uma ouvinte de rádio. “Prefiro a minha própria seleção, pois são as músicas que realmente gosto, e é bom porque posso ouvir a mesma várias vezes. Faço isso sempre. Quando abuso da minha seleção, passo para o rádio. Acho chato os comerciais, mas são necessários”. Joyce se diz apaixonada por música e quando ouve geralmente é com o fone de ouvido, o que a faz passar por alguns constrangimentos. “Quase todo dia minha tia me chama e eu não ouço por causa do fone. Daí ela vem e puxa. Outras vezes não tem ninguém me chamando e acho que estão”.

Original e pirata - O fone de ouvido é essencial para quem não quer atrapalhar, mas sempre tem aquele vizinho que gosta de ouvir música no último volume. Esse é o caso de Francisco Lima, que acha mais prazeroso ouvir canções em volume alto, mas não é qualquer uma. “Romântica eu ouço baixa. Pop e rock alto”. O próprio Francisco reconhece que os vizinhos não gostam quando ele se inspira e coloca o som no último volume. “Reclamar eles reclamam, não acham bom,

mas ninguém ainda chamou a polícia”. Francisco também é um grande colecionador de CDs. Tem cerca de 300, todos dos grandes nomes do pop e rock nacionais e internacionais dos anos 1970 e 1980. “Já fui chamado de louco, dizem que é dinheiro jogado fora. Mas sempre gostei de música. Um dia disse que ia ter todos os CDs que queria. E hoje tenho”. Colecionador há 12 anos, Francisco sempre os ouve com frequência e garante que sua coleção é invendável, pois já chegou muitas vezes a gastar metade do salário para realizar o sonho e o desejo de ter a seleção de CDs preferidos na estante. Outra forma de consumo musical muito comum são os CDs piratas. Encontrados em cada esquina por preços acessíveis, estão virando a moda da coleção descartável. Cláudia Lopes sabe bem disso. Compradora assídua desses produtos, garante que já tem sua coleção. “Eu tenho uns 100 CDs piratas, mas é porque compro toda semana e é direto da mão do fornecedor, pra mim fica mais barato ainda”. Mesmo sabendo que a venda de CDs pirata é ilegal, Claudia não se intimida em comprar e diz que essa é a única forma que ela tem para ouvir suas músicas preferidas. “Sei que mesmo sendo apenas compradora não estou certa, mas não tenho condições de comprar CD original”.

Grupo divulga o ritmo em vários municípios Pedro Jader

Hoje o grupo Boi da Gameleira conta com quase 30 membros, que viajam por toda a região tocantina. Em 2010, eles foram convidados para se apresentar em algumas cidades como Estreito, Vila Nova dos Martírios, Lago do Pote, e ainda Imperatriz, Amarante, Sítio Novo, Riachão, Porto Franco, Montes Altos, conquistando prêmios e se tornando referência da cultura local e regional. A falta de incentivo às manifestações folclóricas ainda é um empecilho. No início, foram contratados técnicos para ministrar aulas. As roupas e apetrechos são confeccionados em oficina familiar, na casa do próprio fundador. As músicas são gravadas pela orquestra contratada e ouvidas em CDs, nas apresentações e nos ensaios, pois a escassez de recursos, aliada à falta de incentivo do poder público ainda são problemas. “É fácil realizar a brincadeira

quando há um apoio do governo”, completa Iolete Dino, cofundadora do boi da gameleira. Nesse sentido, Sálvio afirma que é lamentável o poder público não ajudar a brincadeira da maneira que merece. “A beleza, o ritmo contagiante e a alegria que traz chama a atenção.” Assim ele valoriza as manifestações folclóricas e (re) cria em nossa região o interesse pela cultura popular. Além de contribuir decisivamente para formação cultural desses jovens e retirá-los de problemas sociais, como as drogas e o crime. O boi de orquestra tem na sua música um retrato fiel das origens da lenda. E é assim que a brincadeira renova o seu brilho a cada ano, evoluindo e incorporando novas influências musicais e costumes. A sonoridade do sotaque é um fator determinante para o fascínio do público, com melodias leves, juntando-se às cores e alegria da festa.


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ziriguidum Embora esses ritmos sejam de sucesso inquestionável em alguns bares de Imperatriz, é incomum que grupos consigam registrar suas composições

Abram alas para o pagode e samba de raiz

FERNANDO COSTA

Fernando Costa

É noite. O bar ainda está vazio e os músicos já começam a dar vida aos instrumentos. A perfeita sintonia entre o pandeiro, reco-reco, meia-lua, tan-tan, violão e cavaquinho dá origem ao samba de raiz. A música é ouvida de longe e antes que se perceba o salão está cheio. Todos os sábados o samba do grupo “Só Diretoria” faz do “Frangão da Hora” o lugar mais badalado do grande Bacuri. O proprietário do bar, Valmir Rodrigues, diz que o ritmo sempre foi bem aceito pelos fregueses e que há um ano e meio o estabelecimento é conhecido por toda a cidade como um dos melhores locais para ouvir e, principalmente, dançar o samba. Em outro canto da cidade se encontra o “Rancho 10”, mais um ponto de encontro daqueles que veem no pagode uma ótima opção de diversão. Embora a música seja quase a mesma da tocada no bairro Bacuri, aqui as pessoas estão mais bem arrumadas e menos interessadas no que está rolando de som. É o que garante Cleverton Alves, 24, universitário e funcionário público. Ele informou que frequenta os dois locais

citados e reforça as diferenças entre ambos: “No Frangão da Hora as pessoas vão realmente por causa da música. Lá se toca o samba de raiz e as pessoas não se preocupam tanto com a roupa. Aqui no Rancho 10 o estilo musical é o pagode moderno. Toca muitas músicas do momento, várias pessoas vêm por modismo, para ver amigos e azarar.” Além dos tradicionais bares noturnos que promovem o pagode e o samba de raiz, existem também outros eventos que sempre apostam no ritmo como feijoadas, festejos e até mesmo festas particulares. Dentre os grupos mais requisitados para tocar em Imperatriz está o “Só Diretoria” que, com pouco mais de um ano, já faz sucesso em toda a cidade. O grupo de amigos, que no início tinha o propósito apenas de diversão, viu tudo ficar muito sério. Segundo Evandro Silva, um dos seis integrantes do grupo, hoje eles são autores de mais de 30 músicas e pretendem gravar um CD em breve. “O grupo é novo, mas os integrantes são pessoas experientes que sempre estiveram dentro do mundo do samba, nunca nem precisamos ensaiar”, ressalta, orgulhoso, Norberto Dias, outro

Dentre os grupos mais requisitados para tocar em Imperatriz está o “Só Diretoria”, que tem um pouco mais de um ano mas já agita o circuito local

componente do “Só Diretoria.” Embora o pagode e o samba sejam sucesso inquestionável em Imperatriz é

incomum ver os grupos desses ritmos gravando CD’s com músicas de autoria própria. A expectativa é de que o ritmo

cresça ainda mais e que os grupos consigam lançar os trabalhos também nas gravadoras.

Músicos relatam que compor letras exige inspiração e dedicação Renata Fonseca

De Zeca Tocantins a Erasmo Dibell, Imperatriz é sonoramente lembrada. Das tantas músicas que escreveu, a que define melhor a personalidade de Dibell é a intitulada “Parceiro”, uma composição inédita. “O amor nenhum mal faria/ a ser algum e digo mais/ quanto mais a nós que dormimos com a solidão do dia/ o dia feliz quando você vem a mim na veia do coração”. Natural de Carolina (MA), cantor e compositor autoditada, iniciou a sua carreira no grupo de jovens da igreja Santa Teresa D’Ávila, na segunda metade dos anos 1970. Em 1979 fundou o grupo Natu-

reza, juntamente com Celin Galhães, Marlin Pontes, Nonato e Zezé Marconcine. Participaram do primeiro festival da Rádio Imperatriz, na qual ganharam o primeiro lugar. Logo depois foram gravar um disco em Belém que acabou não sendo prensado, mas foram aproveitados alguns registros desses trabalhos que são todos autorais. Erasmo já compôs aproximadamente 500 músicas, tendo muitas destacadas em vozes de diversos cantores brasileiros, dentre eles: Rita Ribeiro, Elba Ramalho, Alcione, Gil, Mauricio Mattar, Patrícia Costa, Mayra Barros, Maria Preá, Carlinhos Veloz, Chiquinho França, Betto Pereira e Papete.

A maioria das composições musicais de Dibell simplesmente acontece. “Às vezes isso ocorre numa mesa de bar, como foi o caso da música Vidente, onde sentado com os amigos alguém falou: meu amigo, minha dor eu deixo na mesa de bar”. Ficou assim: “todo amor vale um risco do choro e do riso/deixarei minha dor numa mesa de bar”. Devido à influência musical que carrega, propõe-se a criar por encomenda composições de qualquer natureza. “Com esses anos de experiência se eu sentar para escrever uma música de farinha de puba, eu consigo escrever. Ele aponta Braguinha Barroso, um “artista independente”, como uma das influências

Todas idades arrastam pé com o forró THAYS ASSUNÇÃO

Adriana de Sá

Uma das bandas de forró de Imperatriz mais conceituadas do momento é a Baetz. A ‘’poderosa do forró’’, como é conhecida pelo seu ritmo quente e envolvente, reúne um público empolgado em suas apresentações. A ideia de chamar a formação de Baetz veio da semelhança com o nome de um médico da cidade, que foi o primeiro empresário. “Adoro ir aos shows da banda Baetz. As músicas são muito dançantes e alegres’’, afirma Débora Dias. Erasmo Costa, Raimundo Paulino e suas meninas também fazem parte de bandas de forró locais, principalmente pelo fato de serem do gênero forró pé de serra, que agrada pessoas de idade mais avançada. “Toda vez que sei que Raimundo Paulino vai tocar em algum lugar, eu vou, gosto muito. O forró que ele toca é mais lento e tem letra”, comenta Maria das Graças Oliveira da Silva. O trio Cabrobró, por sua vez, canta músicas como as que dona Maria das Graças prefere. O nome do trio é uma referência à terra natal do vocalista, Adriano

mais importantes que teve o prazer de receber em Imperatriz. “Sem contar com esses grandes caldeirões da música brasileira como Caetano Veloso, Djavan, Chico Buarque e Brito Guerra, o meu favorito deles”. Apesar de tocar muito pouco em Imperatriz, desde o início a cidade sempre foi sua base e o ponto de captação dessas informações musicais. “Canta Imperatriz”, expressa: “minha cidade é linda de se ver/ Imperatriz melhor ainda é pra se viver/ Quem vive aqui diz pra toda gente que habita no coração/ Imperatriz tu és preferida do Maranhão”. Erasmo tem seu trabalho registrado em importantes coletâneas musicais de projetos cul-

Projetos sociais ou professores são o melhor caminho para aprender a tocar Carine Ribeiro

Ritmo comum nos bares badalados, o forró tem como principais defensores a Baetz e Cabrobó (foto)

Cabrobó, mas a formação teve início em Imperatriz. O trio vem destacandose em todo Norte e Nordeste, resgatando raízes fortes de Luiz Gonzaga e outros no cenário do forró, que é o que anima a galera por onde eles passam. Além de ser uma banda bem moderna pelo seu jeito descontraído de se vestir, eles tocam divinamente bem clássicos

do forró pé de serra de Luiz Gonzaga a Dominguinhos, o que faz seus shows lotarem. “É bem inovador esse jeito de tocar esse gênero de forró, porque além de serem músicas que já fizeram muito sucesso antes, hoje em dia eles tocam as mesmas e fazem com que elas se tornem um sucesso hoje tambem’’, afirma Andressa Lopes da Silva.

turais do Maranhão, tais como Santo de Casa (1987), Segunda de Arte (1992) e Canta Imperatriz (1995). O primeiro disco solo, Sarará, recebeu da crítica especializada do “Correio Brasiliense” o melhor comentário dentre os discos produzidos no Maranhão e apresentados a esse jornal em 1994. Já o compositor, cantor e poeta José Bonifácio Cezar Ribeiro, o Zeca Tocantins, diz que suas letras não são repentinas. “Não acho que é da pombinha chegar e botar na cabeça. Você cria uma ideia e eu sou muito cuidadoso: leio, sou minimalista. Essa capacidade de reduzir as coisas. Vou cortando, escrevendo, esse é o meu processo de trabalho.”

Para aprender a tocar um instrumento musical em Imperatriz, o interessado pode procurar professores particulares ou se envolver em projetos sociais. Segundo o professor de violão, Marcílio Júnior, alguns professores já assumiram a falta de conhecimentos e foram participar de cursos em outra região. Ele prevê para o futuro musical da cidade uma possível atualização instrumental. Por outro lado, há professores que preferem se utilizar de meios recicláveis, como é o caso do projeto social Mama África, que reaproveita objetos que possivelmente seriam jogados fora. Reconhecido nacionalmente e também no exterior, o Mama África busca jovens simples e responsáveis para ensinar a música afro. O idealizador do projeto, Chico Brown, tem dificuldades para manter

o espaço, pois não tem nenhum apoio do poder público e das empresas privadas. O projeto segue com a solidariedade da comunidade e da proprietária do prédio alugado onde acontecem as atividades. Chico Brown, considerado um dos dez melhores percussionistas do país, cursou faculdade de música-conservatório, no Rio de Janeiro. “Eu era um lixo e hoje eu sou um luxo” diz, com um sorriso estonteante. Brown ensina, disciplina o conhecimento para seus alunos, propondo uma ampliação de possibilidades de desenvolvimento humano. A seleção de alunos para entrar no Mama África é rigorosa, pois é imprescindível que eles tenham boas notas na escola. “O projeto Mama África não recebe todas as pessoas. Tem que ter notas boas na escola e pessoas que estão lapidadas para encarar a realidade, temos disciplina”.


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moda Duplas como César e Matheus e Juliano Reis e Jordão são algumas revelações que ajudam a disseminar o estilo musical, mas ainda resiste a tradição de raiz

Sertanejo cai no gosto do imperatrizense LARA DE PAULA

Algumas pessoas usam da música sertaneja para poder expressar-se melhor, como uma forma de “quebrar o gelo” e fazer novas amizades. Duplas atuais que lotam os bares ajudam a manter esse clima e fazem a ponte entre o tradicional e o novo Wyvian Costa

Inicialmente a música sertaneja foi espalhada pelos quatro cantos do país por duplas “caipiras” e suas violas e violões. Na cidade de Imperatriz não foi diferente. Aos poucos, esse ritmo foi conquistando o seu espaço na cidade e no gosto do imperatrizense. Duplas como César e Matheus, Juliano Reis e Jordão entre outras começam a disseminar esse estilo musical na cidade. Um dos principais símbolos dessa vertente musical é a viola, com-

panheira inseparável do cantor Sebastião de Sousa, o Bem-te-vi, de 62 anos. “Nóis tocamo por um tempo, mais num tivemo esse negócio de patrocínio não”, afirma referindo-se às dificuldades encontradas por ele e seu companheiro, que desistiu da dupla de sertanejo de raiz. “Era muito complicado pra nóis ter que sair de casa às vezes só pra ganhar uma dose de pinga ou uma galinha. Por isso acabamos com a canturia”, declarou Antônio Bastião Ferreira, 64 anos, hoje em dia agricultor. Em Imperatriz, uma dupla

que se tornou destaque no cenário do sertanejo é Juliano Reis e Jordão. Com uma formação de quatro anos eles estão a cada dia conquistando mais adeptos do chamado sertanejo universitário. Acabaram de gravar o seu primeiro DVD, formato que a dupla considera uma necessidade para os artistas, intitulado “Paixão ou Loucura”. “Hoje em dia as pessoas precisam ver você cantar, além de ouvir a sua voz”, comenta Jordão. A escolha do repertório foi bem eclética, segundo contou Juliano Reis. “Foi feita uma linha do tempo para agradarmos a todos”.

Jordão tem músicas de sua autoria no repertório de seus CDs e do seu primeiro DVD. “Tentamos agradar as pessoas com as músicas que elas gostam”.

Paixão - Algumas pessoas usam a música sertaneja para expressarse melhor. “É meio que uma forma de quebrar o gelo entre duas pessoas [risos] e nada melhor do que a música sertaneja que fala de amores possíveis ou não”, conta Edson de Oliveira Holanda, 22 anos, zootecnista e fã da dupla. “É um estilo que eu gosto muito. Afinal de contas ela relata

nas suas letras as muitas histórias de nossas vidas, sejam elas dos amores às aventuras vividas por cada um de nós uma vez na vida”, enfatiza Andressa Soares Ferreira, 20 anos, estudante. Para muitos, a música sertaneja é uma só, mas existem algumas diferenças. “No estilo de raiz é muito usada a viola. Já no universitário o violão está muito presente, soando assim com um toque diferenciado, trazendo junto à ele a bateria, entre outros instrumentos”, explica Ricardo Luiz de Assunção, 23 anos, que estuda música há três.

Música também serve para louvar, apostando em estilos variados Claudyo Jackson

Ambiente lotado, som em uma altura média, público bem definido e vestindo, em sua maioria, roupas sociais. Essas são as características encontradas em uma igreja evangélica em Imperatriz. Logo no início do culto, uma banda começa a tocar despertando os presentes, que estão em alto nível de reverência. Uma senhora de idade avançada rompe o silêncio e grita: “Glória a Deus”, enquanto um cantor faz sua apresentação. Baterista e cantor da banda Renascer, Johnatan Linjonradson afirma que sente muita alegria em cantar músicas gospel e ouvir a adoração a Deus dos que frequen-

tam a igreja enquanto canta. Ao ser entoado um hino intitulado “Nada além do sangue”, um jovem que está no segundo banco da igreja chora ao cantálo. “Quem recebe dinheiro pra cantar em igrejas de Imperatriz são os cantores e bandas conhecidas e de renome nacional. Dificilmente os artistas locais são reconhecidos”, afirma Johnatan. A hora avança e o culto já está no meio quando outro louvor é anunciado, desta vez um hino mais agitado. Alguns pulam. Outros, menos tímidos, até ensaiam uma dança meio sem jeito. O homem que está na direção do culto diz para cada um ficar à vontade e adorar a Deus segundo o seu coração, podendo até mes-

mo dançar. “Os ritmos na música gospel vêm sempre se adequando com os novos estilos. Antes as igrejas eram mais conservadoras, mas hoje vemos um tipo de banalização quanto aos hinos cantados até dentro de nossos templos”, destaca o cantor Ismael Alves. Pagode, funk, rock e reggae são muito comuns em igrejas hoje em dia, mas ainda há aquelas bem conservadoras que não admitem esses novos ritmos. O culto chega ao seu final com todos os membros da igreja e visitantes reunidos na frente do púlpito para fazer uma última oração. Logo depois cantam um hino de confraternização e, enquanto isso, todos se abraçam e se cumprimentam antes de sair.

JENIFER PESSOA

Nas celebrações tudo é permitido: dançar, pular, ficar mais contido. A música ajuda na oração


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