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outuBRO de 2011. Ano ii. Número 7
Distribuição Gratuita - Venda Proibida
Arrocha
jornal LABORATÓRIO do curso de comunicação social/jornalismo da ufma, campus de imperatriz CARLA REJANE
Sexualidade revelada
Gravidez na adolescência Orgasmo e fantasias Masturbação AIDS e DSTs Prostituição Virgindade Pedofilia
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Arrocha CHARGE
EDITORIAL - Sexualidade sem tabus Quando os acadêmicos e professores pensaram no tema desta edição do Arrocha, sexualidade, a reação de alguns foi principalmente de temor de não encontrar personagens comuns do cotidiano que dessem entrevista sobre temas ainda cercados de tabu, como masturbação, orgasmo ou mesmo pedofilia e abuso sexual. Outra grande dúvida que pairava entre os futuros repórteres ao preparar esta edição, uma das mais complexas já produzidas, era como registrar fotografias sobre esses assuntos, já que muitas fontes até aceitavam falar, mas sem terem o seu nome ou imagem revelados. Diante dos desafios, os acadêmicos de Fotojornalismo, Jornalismo Impresso e Planejamento Gráfico e Visual perderam o medo e foram às ruas investigar o que o imperatrizense
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pensa sobre sua sexualidade. Complementam as histórias curiosas, tristes, engraçadas, corajosas, coletadas nesta edição, entrevistas esclarecedoras e didáticas com especialistas como o sexólogo e ginecologista Pedro Mário Lemos da Silva. A regra estabelecida para a coleta das informações e das fotografias foi tentar abordar os assuntos com total liberdade. Algumas fotografias, por exemplo, são situações criadas em estúdio. Outros personagens aparecem na penumbra para preservar suas identidades. Boa leitura sem preconceito! Arrocha: É uma expressão típica da região tocantina e também é um ritmo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.
Ensaio Fotográfico MAYANE LIMA MAURíCIO SOUSA
WELBERT QUEIROZ THAISIA rocha
Expediente Jornal Arrocha. Ano II. Número 7. Outubro de 2011 Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade. Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Jefferson Moreno | Coordenadora do Curso de Jornalismo - Profa. M.. Roseane Arcanjo Pinheiro.
Professores: M. Alexandre Maciel (Jornalismo Impresso), M. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual), M. Marcus Túlio Lavarda (Fotojornalismo). Revisão: Dr. Marcos Fábio Belo Matos. Reportagem: Adriano Almeida, Alan Milhomem, Ângela Barros, Allana Cristina, Erisvan Bone, Gleiciane Ferraz, Grasiele Gomes,Hemerson Pinto, James Pimentel, Joaquim Rodrigues, Kalyne Cunha, Kalyne Figueredo, Lara Nascimento, Leonardo Varão, Letícia Maciel, Maria Almeida, Mauricio Sousa, Narcisio Ferreira, Thaisia Rocha e Welbert Queiroz.
Diagramação: Allanna Chrystyne Rocha Menezes Sanches, Ana Alice Mendes dos Santos, Anderson Silva de Araújo, Antonio Wagner Silva Aurélio, Cleber Carlos Simoes Júnior, Diana Cardoso Costa, Edigeny Soares Barros, Elen Cristina Silva Santos, Evando Raizio Silva Maciel, Flávia Brito Silva, Flávia Luciana Magalhães Novais, Genyedi Soares Barros, Gleziane Sobrinho de Oliveira, Isabela Crema Tavares, Jéssica Roseane Fernandes Gomes, José Augusto Dias da Silva, Karla Mendes Santos, Karlanny Costa Farias, Kellen Nilceya dos Santos Almeida, Layane do Nascimento Ribeiro, Luan Rogerio Pereira Lima, Maiely Cabral Dos Santos, Marcela
de Souza Silva, Maria Félix Pereira Calixto, Mariana Ferreira Campos, Marilan Reis dos Santos, Marta Nunes de Oliveira, Mikaelle Katússia Martins Carvalho, Pamella Bandeira Santana, Raísa Farias Araújo Salles, Ramisa Farias Araújo Salles, Rayane Silva de Carvalho, Raynan Ferreira Pinheiro, Rômulo Santos Fernandes, Safira Vieira Pinho, Samoel Pereira de Freitas, Sara Cristina Costa Batalha, Sararuth Andrade Chagas, Saron Paulo Fell Alencar de Albuquerque, Silas Waldemir Souza Chaves, Taya Santana da Silva, Thayse de Sousa Barros, Valdiane Costa de Santana, Walison Silva Reis, Wenia Hyana Reis Silva, Yanny Dorea Moscovits.
Fotografia: Alan Milhomem, Ângela Barros, Carla Rejane, Diego Leonardo, Dyego Wilson, Hemerson Pinto, James Pimentel, Juliana Guimarães, Layane Ribeiro, Leonardo Varão, Maurício Sousa, Narcísio Ferreira, Suzaira Oliveira, Thaisia Rocha, Welbert Queiroz e Karla Carvalho (Tratamento de imagens). Contatos: www.imperatriznoticias.com.br | Fone: (99) 3221-7625 Email: contato@imperatriznoticias.com.br
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Inesperado Personagem desta história ficou grávida aos 14 anos, enfrentou um drama familiar com a situação e relata as angústias e incertezas da gravidez na adolescência
“Eu, dentro de casa, cuidando de menino?” CARLA REJANE
K.M.N. recebeu propostas de abortar a filha que estava concebendo aos 14 anos e assumiu que não estava preparada para uma gravidez prematura. Sabia que sua mãe é quem ia acabar cuidando de N. quando ela nascesse e previa muitas mudanças na sua rotina
Kalyne Cunha
Estudante da oitava série, L.M.N. começou a namorar aos oito anos de idade, aos 13 perdeu a virgindade e com 14 anos estava grávida de sete meses na ocasião dessa reportagem. Consequência de uma relação sexual sem meios contraceptivos. Esta é mais uma história que surge de repente em meio à sociedade moderna. Independente de ser casada ou solteira, a jovem não estava preparada para uma gravidez prematura e com L.M.N. não seria diferente. “Quando a N. nascer quem vai cuidar dela é a minha mãe, porque eu não sei nem cuidar de mim!” A jovem, que antes ia sempre para festas no fim de semana com as amigas e os tios, se via agora preocupada sobre como seria sua vida após a gravidez. “Penso eu só dentro de casa, presa, cuidando de menino”. Mãe solteira, manteve um relacionamento afetivo com T.C., pai de seu bebê, 16 anos, durante mais de um ano. Filha de funcionária pública e um policial militar, a mãe da jovem percebe que no percurso de vida da filha a sua história volta a se repetir. Mesmo grávida, a garota parecia não acreditar nos fatos. A menstruação atrasada há um mês e as primeiras mudanças começaram a aparecer. Com faro aguçado, a mãe M.K questionou o porquê de a filha não menstruar. Preocupada, a garota comentou sobre a possibilidade de estar grávida. Os pais de T.C. a aconselharam
a tomar anticoncepcional durante uma semana para poder menstruar, mas nada aconteceu. A dúvida ainda rondava os pensamentos. De acordo com L.M.N., os pais de T.C. sugeriram um aborto e, por medo, ela hesitou e não tomou o remédio. O tempo era o inimigo invisível da adolescente. Chegando aos três meses de gestação, na ida à escola, sem levantar suspeita da família, comprou um teste de gravidez na farmácia e guardou na bolsa. À noite a mãe, em vez de ligar, resolveu ir ao
“Quando a Nicole nascer quem vai cuidar dela é minha mãe, porque eu não sei nem cuidar de mim”
encontro da filha, que havia saído para lanchar com as amigas e pediu para ela entrar no carro. Naquele instante sua mente era bombardeada por infindos pensamentos, mas um a trouxe de volta para a realidade. “Meu Deus! A mãe viu o teste de gravidez na minha bolsa”. E maquinava o que diria à mãe se fosse questionada sobre a compra do teste.
Surpresa- Ao chegar em casa a surpresa foi maior do que esperava. L.M.N fora traída por uma tecnologia
facilmente dominada pelos jovens: a internet. Por meio de um registro de conversa on-line em seu computador, sua mãe descobriu o que o tempo ameaçava revelar. No desabafo com o namorado pelo MSN, teve seu segredo desvendado. Em meio à turbulenta descoberta os pais do namorado também apresentaram a ideia do aborto como solução. . A jovem resolveu fazer o teste de farmácia e constatou o resultado positivo. Ainda sem acreditar na possibilidade de ser mãe, foi levada, aos cuidados dos “sogros” e da mãe, a fazer um teste de sangue no dia seguinte. L.M.N. foi despertada de seu sono por sua mãe, com uma notícia que mais parecia um pesadelo: estava grávida! Mesmo diante do exame laboratorial, a jovem parecia não acreditar e na certeza das evidências o pai e a família da adolescente passaram a saber da gravidez. A proposta de um aborto agora saía da boca do namorado, um dos fatores que a levaram a terminar a relação. Arrependido, o rapaz voltou atrás, mas L.M.N. não lhe quer mais ao seu lado como companheiro. “Eu disse a ele que não tiraria só porque ele queria! Pois o meu pai iria me ajudar”. Passados meses da entrevista, L.M.N. já teve sua filha que nasceu saudável e continua ativa nas redes sociais. Recentemente, em agosto, postou para os amigos que N. “é a coisa mais linda do mundo” e anunciou que a menina já estava engatinhando.
Mãe precoce vive dilemas que precisam de diálogo Kalyne Cunha
Por que, apesar de parecer tão normal e às vezes até maçante, é importante falar da problemática da gravidez na adolescência? A psicóloga Jaqueline Lopes Teixeira explica o sentimento de super-herói que o jovem possui. “O adolescente tem a sensação de que nunca vai acontecer nada com ele e por mais que saiba da existência da camisinha, do anticoncepcional, ele acaba não usando. É a questão da proibição, do impedimento, do transgredir e isso é excitante para o jovem”. Como para uma adolescente é mais difícil saber observar o crescimento e o desenvolvimento de uma criança, o fato pode trazer erros no futuro. A falta de limite e paciência, excesso de liberdade e a questão da própria educação foram pontos destacados pela especialista sobre o comportamento de uma mãe precoce. A adolescência, segundo a psicóloga, “é uma fase não só
biológica, mas comportamental e a descoberta dos hormônios gera a questão do sexo que precisa de proteção”. E como garantir essa proteção se os pais não sabem na maioria das vezes que os filhos têm uma vida sexual ativa? “O sexo é natural e vai acontecer em qualquer momento”, ressalta Jaqueline. Uns mais cedo e outros mais tarde. Os pais muitas vezes esquecem que já foram adolescentes um dia e que provavelmente escondiam coisas dos seus próprios pais. E os filhos um dia vão transar independente da vontade dos pais. A falta de naturalização sobre o sexo afeta a sociedade e amplia a questão da gravidez na adolescência. O que precisa ser conscientizado é a preservação a saúde”, destaca a psicóloga. Ela se diz preocupada com a falta de diálogo entre pais e filhos. E a culpa, afinal de contas, é de quem? A especialista atenta que “os pais esquecem que não são motivos de impedirem os filhos de errar” e, se há culpados, não cabe julgarmos.
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AIDS Grupo de Adesão de Portadores de HIV/AIDS foi fundado há mais de 10 anos e é responsável pela acolhida e aconselhamento dos portadores do vírus na região
Grupo ajuda soropositivos a desabafar ÂNGELA BARROS Ângela Barros
A história não é de hoje e continua assustadora. No Brasil, a primeira notificação da AIDS foi em 1985 e desde então já foram constatados aproximadamente 600 mil casos. Em Imperatriz, a atualização desses dados também é acompanhada pelo Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA). Os números mostram que, desde 1985 até junho de 2011, foram registrados 658 casos de AIDS na cidade e 1.102 no Maranhão. Existem ainda dados de 165 gestantes infectadas ao longo do período em Imperatriz, sendo 79 desde 2004. É importante ressaltar que 68 das crianças já foram negativadas. Ou seja, foi comprovado por teste que elas não foram infectadas pela mãe. Isso graças à conscientização da gestante em fazer o tratamento. Lismarly Amorin, assistente da Vigilância Epistemológica do Centro, relatou que a conclusão desses dados das gestantes, assim como dos soropositivos, é difícil, pois alguns começam o tratamento, mas desistem, ou até mesmo vão embora da cidade. “Nó os pro-
curamos em outros municípios onde existe acompanhamento para saber como estão, se precisam de alguma coisa. Mas não há registro do paciente”.
Auxílio - Distante do centro da cidade, o Complexo de Saúde do Parque Anhanguera conta com estrutura psicológica e laboratorial para o tratamento. Além disso, abriga o Grupo de Adesão de Portadores de HIV/AIDS, fundado há mais de 10 anos por uma psicóloga e um paciente. Este núcleo é responsável pela acolhida e aconselhamento dos soropositivos da região, sendo mantido por recursos do Plano de Ações e Metas (PAM) do Ministério da Saúde. O grupo serve tanto de apoio psicológico quanto de auxílio à alimentação, vales-transporte e ainda busca convênios para tratamento dentário. Conta com o apoio das Faculdades de Imperatriz, que oferecem palestras de: Direito e Cidadania, prevenção, cuidados que se deve tomar sendo portador. No momento de interatividade é servido café da manhã, quando os presentes trocam experiên-
Quem procura o grupo geralmente está vivenciando momentos de crise e a intenção dos profissionais é estimular essas pessoas a manter o tratamento
cias e também podem conversar com a psicóloga. “O grupo é o que podemos chamar de processo de recupera-
ção aos que estão em crise, pois aqui, todos juntos, buscamos estimulá-los a fazer o tratamento, tomar o remédio diariamente
e manutenção para os que estão bem consigo mesmos”, explica o agente facilitador do grupo, Edson Miranda.
“Única pergunta que me permitia fazer era: como aconteceu comigo?” Ângela Barros
Portador e casado com uma soropositivo, ambos com cinco anos de descoberta da doença, F.S. tem dois filhos saudáveis, que não contraíram o vírus. Ele argumenta que é difícil aceitar a notícia de que se tem AIDS. “Descobri quando minha esposa estava grávida de três meses do nosso primeiro filho, pois ela fez o teste e deu positivo. Liga-
ram para que eu fosse até o hospital conversar e me aconselharam a também fazer o teste. Fiz e deu positivo. Não quis acreditar, a única pergunta que me permitia fazer era: como aconteceu isso comigo?” Isso às vezes ainda perturba a consciência, conforme relata F.S.. “Vez ou outra me pego pensando nisso, sou evangélico e minha esposa também. Mesmo quando era solteiro não costumava fre-
quentar festinhas onde rolasse sexo e não me relacionava com qualquer pessoa. Desconfio, frequentemente, que fui infectado em um hospital, pois uma época aconteceu um acidente comigo e passei mais de um mês internado e sem memória”.
Preconceito - “Sem duvida o grupo é importante para nossa luta contra o preconceito. Perdi todos os meus amigos”, afirma K.M.,
portadora mãe de cinco filhos, quatro do primeiro casamento e um bebê de dois anos, fruto da segunda união. Ela foi abandonada pelo segundo companheiro por ser soropositivo e ele não. Conta que teve que mudar de rua no bairro em que mora, pois a notícia se espalhou pela vizinhança e a apontavam na rua. Mas, para alguns portadores, não é só o preconceito que causa sofrimento. V.S., 67 anos, soltei-
ro e portador há 14, conta que a solidão também é difícil. “Passei por momentos de muita solidão, sempre vivi só, nunca quis me casar. Já fiquei tão sozinho que o médico me incentivou a criar um animal e então resolvi criar um gato”. Ele ainda fala da fase debilitada do tratamento, quando chegou a dividir os seus dias com pacientes de um hospital. “Passava 15 dias do mês em casa e o restante no hospital”.
Educação sexual nas escolas está na lei, mas jovens ainda têm dúvidas WELBERT QUEIROZ
graças à família. Mas isso é uma minoria, principalmente nas escolas de ensino médio”, assegura a diretora do CEEFM Newton Barjonas Lobão CAIC, Sônia Maria Lira.
Welbert Queiroz
“Aprendo mais sobre sexo na escola, com minhas colegas, porque na sala de aula os professores só falam sobre prevenção. Mas os assuntos interessantes conversamos apenas entre amigos”, garante Suelen Morais, adolescente aluna do 1° ano do ensino médio da escola CEEFM Newton Barjonas Lobão (CAIC). A educação sexual busca ensinar e esclarecer questões relacionadas ao sexo, livre de preconceito e tabus. Antigamente e ainda hoje, falar sobre sexo provoca certos constrangimentos em algumas pessoas, mas o tema é de extrema importância, pois esclarece dúvidas sobre preservativos, doenças sexualmente transmissíveis, orgasmo masculino e feminino, anticoncepcionais e gravidez. A Lei n.º60/2009, de 6 de agosto, estabelece o regime de
Apesar das iniciativas de educação sexual nas escolas, jovens admitem aprender mais com os amigos
aplicação da educação sexual em meio escolar. Uma das finalidades é buscar a valorização da sexualidade e afetividade entre as pessoas no desenvolvimento individual, respeitando o pluralismo das con-
cepções existentes na sociedade. Mas a real situação do ambiente escolar é outra. “Nas escolas há uma interrogação, mas na família há também. E a escola é o reflexo da família e essa resistência existe
Aprendizado - O objetivo principal da educação é preparar os adolescentes para a vida sexual de forma segura, chamando-os à responsabilidade de cuidar de seu próprio corpo para que não ocorram situações futuras indesejadas, como contrair alguma doença ou mesmo a gravidez precoce e indesejada. Infelizmente o ser humano tende a acreditar que o perigo sempre está ao lado de outras pessoas e que nada irá acontecer com ele mesmo, o que o coloca vulnerável a tais situações conforme reconhece a estudante Raysia Rodrigues. “O assunto sexo na escola já está mais liberado, mas na fa-
mília...Não, não, não, sem chance”, diz, rindo. Ela acredita ainda que a educação, tanto pela família quanto pela escola, deveria abordar assuntos mais interessantes, como falar como fazer. “Essas coisas que a gente só aprende com as amigas”. Questionada se aprendeu sexo corretamente com as amigas, Raysia disse que não, pois acabou tendo um filho. “Na prática é tudo muito diferente do que nas aulas, sei lá...Deveriam falar sobre pensamento, porque na hora H a gente pensa... ahhh...isso não vai acontecer comigo”. O que muita gente não sabe é que, quando se implanta a educação sexual em uma escola, a tendência é o jovem sanar suas dúvidas com mais paciência. Em consequência, não sai tão afoito à procura de qualquer experiência sexual para saber como é e tirar suas dúvidas.
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Consciência Ao serem questionados sobre o uso da camisinha, muitos ainda afirmam que não utilizam o preservativo pela suposta diminuição do prazer no ato sexual
Uso de camisinha ainda é tabu para muitos Leonardo Varão
A expressão “doença venérea” refere-se a qualquer enfermidade que seja transmitida pelo contato sexual. As mais conhecidas são a sífilis e a gonorreia. Além dessas, existem outras menos conhecidas, como o cancro mole, glaucoma inguinal e linfogranuloma venéreo. Todas elas necessitam de tratamento médico. Apesar de haver milhares de campanhas para conscientização sobre os cuidados a serem tomados para se evitar esse tipo de doença, é comum ouvir comentários, principalmente entre a população masculina da cidade, de que transa sem camisinha. Na tentativa de justificar o ato “inseguro”, foram entrevistadas 11 pessoas, sendo que cinco se identificaram claramente como homossexuais, gays e bissexuais e três casais heterossexuais, que preferem a prática do sexo sem camisinha. Para todos foram feitas as mesmas perguntas e suas respostas não foram diferentes. Todos afirmam que transar com camisinha diminui a sensibilidade na penetração e consequentemente o prazer, que foi colocado acima do risco. “O medo vem depois do prazer, correr o risco às vezes é metade da excitação”, afirma J.P., de 18 anos. R.R. conclui dizendo que “em geral, só se transa sem camisinha se for com alguém de costume, nunca com um louco qualquer. Com um louco faz-se
com”. Somente um dos entrevistados assumiu já ter adquirido gonorreia, mas em poucas semanas, depois de um tratamento, estava totalmente curado. Entre os heterossexuais ficou claro que ambos preferem sem camisinha, mas que a iniciativa de não usar partiu dos companheiros. E como, até então, não houve nenhum problema, não há motivos para se preocuparem. R.Q., de 17 anos, diz que a única grande preocupação é com uma possível gravidez indesejada, mas que felizmente nunca aconteceu. É bom deixar claro que o fato de as pessoas acima transarem sem caminha e não adquirirem qualquer doença não significa que outros terão a mesma sorte. É sempre necessário que, em qualquer circunstância relacionada ao sexo, haja a prevenção e confiança entre os que participarem. Muitas vezes ocorre o fato de que o portador, ao contrair a doença, não tenha condições para procurar um serviço médico. Ou, mesmo por vergonha, acaba por aceitar conselhos de amigos para tomar um antibiótico qualquer podendo, assim, agravar a sua situação. Hoje em dia as doenças venéreas são absolutamente curáveis. Quanto mais cedo o tratamento médico for iniciado, mais certa é a cura. São proibidas as relações sexuais, dada a possibilidade da transmissão da doença. É importante deixar claro que
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Fato de alguns transarem sem camisinha e não adquirirem nenhuma doença não deve servir de exemplo para o abandono do uso do preservativo essencial
a proteção pelo uso da camisinha é relativa nas doenças em que não ocorrem secreções genitais, como herpes, HPV, sífilis e cancro mole, uma vez que o agente transmissor pode estar localizado fora da área
protegida pelo preservativo. O problema é geral, o que todos os médicos em todo o mundo indicam é que sempre se use a tal “camisa de vênus”, seja o sexo genital, anal e, por incrível que
pareça, também no oral, o sabor você escolhe, tem para todo gosto. Confiança é necessário entre casais que mantêm uma relação sexual contínua, mas, por via das dúvidas, use sempre camisinha.
Evento religioso celebra a virgindade e distribui anéis de compromisso ALAN MILHOMEM
Em Imperatriz, 320 pessoas participaram de seminário religioso sobre importância da virgindade e 150 receberam uma aliança de compromisso de “pureza” Alan Milhomem
A virgindade durante muitos anos foi tida como honra e dignidade. Hoje, em tempos modernos, os
conceitos são outros e esse tipo de visão e/ou exigência é muito menos comum. Imperatriz não ficou à parte desse processo. Mas, há ainda jovens que optam
pela virgindade até o casamento e simbolizam a promessa usando o anel da pureza, da virgindade ou a aliança de prata, como acontece na cidade. “Essa aliança é um pacto que se
faz com Deus e com a Igreja de se manter puro sexualmente. É um símbolo de que você está fazendo um compromisso de a partir de agora se manter virgem, puro”, relata Lauran Lins, 28 anos, advogado, presidente da União da Mocidade da Assembleia de Deus de Imperatriz (Umadi) e virgem. Lauran foi um dos organizadores do Seminário Atitude 434, realizado nos dias 30 e 31 de outubro de 2010. Cerca de 320 pessoas participaram do evento que defende a pureza sexual e, destas, 150 receberam a aliança em público. O restante fez pedido do anel. Como a Igreja trata o sexo como algo espiritual, e não apenas biológico, as pessoas que já tiveram relação podem fazer esse pacto também e, a partir daí, se abster do sexo até o casamento. Alexandro Gomes da Silva, 28 anos, já teve relações sexuais, participou do evento e fez o pacto. “Não sou mais virgem, mas ganhei a virgindade espiritual, e pretendo mantê-la até o casamento”. Para a universitária Juliana Silva Oliveira, não é fácil para o jovem ser virgem e assumir, pois há uma pressão do próprio grupo. “Você hoje chegar num local e dizer que é virgem é uma vergonha. Jovem gosta de estar incluído, ser aceito, e hoje em dia quem é virgem não é aceito”. Segundo o pedagogo, psicanalista e mestre em Psicologia da Educação, Doriedson de Freitas Cintra, a virgindade é considerada vergonha
porque “a sexualidade é o maior orgulho do homem”. A televisão e a internet todos os dias oferecem um turbilhão de informações sobre a sexualidade para os jovens e, por isso, são apontadas como as principais incentivadoras para a perda da virgindade antes do casamento. “Os jovens estão sendo motivados à sexualidade pela TV, internet, descuido dos pais e pela falta de educação sexual em casa”, relata o psicanalista. Mesmo com toda essa tentação, Lauran Lins garante que é possível resistir. “Basta ter uma mente sadia e fugir disso. A pureza é possível”. Para Doriedson, o resgate dos valores sociais, morais, da autoestima e do respeito a si mesmo está levando os jovens a se manterem virgens, além de encarem esse fato com outros olhos. Para as pessoas que fazem o pacto de se absterem de sexo até o casamento, a virgindade significa a pureza do corpo e do espírito, além da santidade. A pessoa virgem não se sente ainda preparada para encarar a primeira relação sexual com a maturidade que esse momento merece. Algumas pessoas guardam esse símbolo de pureza para entregar ao parceiro certo, especial. Outros para perderem depois do casamento. Na aliança de prata usada por quem fez pacto da virgindade, há a inscrição I Ts 4 3-4, ou seja, o livro bíblico primeiro Tessalonicense capítulo quatro versículos três e quatro. Segundo os seguidores é a justificativa para se manterem puros até o casamento.
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Prostituição Tanto na rua quanto em boates,, mulheres que vendem o corpo como forma de trabalho contam histórias diversas sobre perigos, vida financeira e sonhos
Garotas de programa levam vida nada fácil JULIANA GUIMARÃES Lara Nascimento
Ela diz que posto que não tem mulher não dá movimento. “Não é que os caminhoneiros são sem vergonha, mas eles passam de 40 dias sem ir em casa, e tu acha que o homem vai ficar esse horror de tempo sem pegar uma mulher? Meio dificil né?’’
M.A, solteira, 35 anos, um filho de 15, trabalha há dois anos de segunda a sexta nas imediações de um posto de gasolina localizado na BR-222. Baixa estatura, cabelo molhado e preso, de short e blusa e muito bem humorada, ela diz ainda não se Shows – Bairro Vila Nova, Imperatrocar por nenhuma menina de 20 triz (MA), rua calma, porém com anos. um atrativo diferente. Neste ponto Está nessa vida que ela acredi- localiza-se uma casa de shows basta não ser fácil há dez anos, e alega tante conhecida na cidade. No amque a questão finanbiente interno, ceira é a grande rameia luz, pole zão para trabalhar na (dança “Não é porque eu tô aqui dance prostituição. em torno de “Um salário pra para ganhar dinheiro, um bastão prequem mora de aluno centro do que me chamam para so guel não dá de sobrepalco), música viver, pagar água, luz, qualquer coisa que eu alta, mesas e sustentar filho, dar cadeiras à espetopo. É tudo no meu colégio pra filho, não ra de clientes. A dá’’. Entre um cigarro dona do recinlimite” e outro ela conta que to recepciona, a vida de prostituilogo traz algução é perigosa e tem mas cervejas e que se cuidar muito. “Sem preserva- chama Tamires, também conhecida tivo jamais. Eu olho para quem eu como Tamy. me aproximo. Não é por que eu tô Ela vem cheia de simpatia. aqui pra ganhar meu dinheiro, que Morena, vestida com top vermeme chamam pra qualquer coisa que lho, calça jeans, salto alto e lentes eu topo não. É tudo no meu limite. azuis. “E aí, vamos beber uísque?” Se não for, eu dispenso com toda sugere e acrescenta: “Eu não gosto boa vontade’’. de cerveja, me dá sono. Eu gosto de Quando a semana é movimen- uísque porque me dá energia’’. tada, M.A. tira um salário mínimo. Entre uma conversa e outra, Ela cobra 30 reais no posto e de 50 Tamy revela que está nessa vida há a 100 reais se for com algum co- pouco tempo. “Tenho 21 anos e nem nhecido no motel, dependendo do venho todo dia. Eu tenho namoratempo. Admite ter alguns clientes do e ele não sabe que faço isso”. preferidos, mas nunca se apaixo- Cursando o terceiro ano do ensino nou por nenhum. “Tem alguns que médio, ela diz que pretende fazer eu sinto um certo carinho, mas um curso superior e não pensa em eu sou assim: comeu, pagou e não ter filhos tão cedo. “Filho dá trabadeve nem favor’’. lho, tira a liberdade da gente”.
Garotas que se prostituem falam de busca de solução para dificuldades financeiras, perigos da profissão como a contaminação por doenças e futuro incerto
Prostituição masculina em Imperatriz representa sigilo e lucros instáveis MAURíCIO SOUSA
Joaquim Rodrigues
Em mais uma noite na BR 010 no posto Santa Teresa, maquiagem feita, roupa escolhida e o cabelo impecável para atrair a clientela masculina. Tudo comum se essa pessoa não fosse um homem. Esse é o local de maior ponto de prostituição desse gênero. “Comecei a me prostituir aos 15 anos. Quando saí de casa, meus pais não aceitavam a minha condição sexual. Então resolvi me prostituir para sobreviver, também para melhores condições de vida”, conta o garoto de programa L.S.S., 20 anos. Ele informa que é do interior do Tocantins, do conhecido Bico do Papagaio e veio para Imperatriz com incentivo de amigos que já trabalham na área na cidade, com o propósito de se manter. “Então comecei a trabalhar à noite nos postos de gasolina às margens da Belém-Brasília, onde há um grande fluxo de caminhões e os caminhoneiros que nos pagam para ter uma companhia. Muitos optam por mulheres, mas há aqueles que jogam no meu mes-
Kit de maquiagem, roupas, peruca compõem os acessórios necessários para atrair a clientela masculina que procura sexo pago principalmete na BR-010
mo time”, revela. Seu “nome de guerra” é Dia-
na. Ele conta que às vezes chega a ficar com três homens em uma
noite. “A média que eu cobro é entre 30 e 50 reais, dependendo
do cliente e do que eu tenho que fazer para ele. Mas há noite que eu não consigo um cliente, pois, além de ter que concorrer com outros homens, ainda têm as mulheres”. Encontrar um homem para fazer o serviço masculino de fato não é fácil nas ruas da cidade, como foi no exemplo anterior. Mas eles atendem aos anúncios publicados nos jornais e na internet. Muitos dizem trabalhar de forma independente, ou seja, sem a intermediação de um cafetão. Diferentemente da situação dos homens, que afirmam ganhar até 100 reais em uma noite, os travestis que se prostituem ganham bem menos. A reportagem ligou para mais de cinco homens, mas só um aceitou falar. Ele é do Tocantins e diz estar em Imperatriz há menos de um ano, mas em três meses espera parar com esse serviço sexual. “Conseguimos em média 100 reais por noite, não compensa levar uma vida assim. Vou parar aqui, não tenho vontade para trabalhar e não posso buscar um emprego”.
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autoconhecimento Terapeuta sexual Lena Ayres fala dos mitos que envolvem a prática e imperatrizenses contam suas relações diferentes com o sexo solitário
“Masturbação é absolutamente natural” THAISIA ROCHA
Thaisia Rocha
No quarto, no banheiro ou na frente do computador. O importante é se sentir confortável. Não há padrões quanto à frequência, ou às fantasias: durante a masturbação o prazer é que comanda. Ao contrário do que se pensa, a masturbação não representa nenhum distúrbio psicológico, afirma a terapeuta sexual Lena Maria Noleto Ayres Guimarães. “É absolutamente natural a automasturbação. A sociedade é que é cercada de preconceitos e acaba enxergando o sexo como uma coisa suja”. Poliana Vieira, 26 anos, é divorciada e tem um filho. Segundo ela, o desejo sexual varia de acordo com a sua rotina e humor. Normalmente se masturba todos os dias e afirma que só assim ela pôde descobrir o que realmente lhe dá prazer. “Agora que conheço o meu corpo, posso auxiliar o meu parceiro a me levar ao clímax mais rapidamente”. Wanderson Araújo, 24 anos, solteiro, recorre ao chamado prazer solitário no mínimo quatro vezes por dia. Ele afirma que, apesar de uma vida sexual individual bem badalada, isso não afeta os seus relacionamentos a dois. “Solteiro sim, sozinho nunca. Ainda assim, tenho vontade de bater uma ‘punhetinha’”. Quando falamos sobre preferências ele é preciso ao dizer: “As melhores são aquelas quando eu estou de ressaca. Parece que eu vou explodir. Sai mais sêmen. Nossa, é muito gostoso!”. Em contraponto às afirmações de Wanderson, encontra-se Whallassy Oliveira, 31 anos, comprometido, que diz não se masturbar por achar nojento. “Eu não me masturbo, acho nojento, além de desnecessário. Parece que sou incapaz de conquistar alguém. Quando sinto desejo procuro meu namorado. Quando ele não está disponível, seguro a onda até ele chegar”.
Entrevistados na cidade têm relações diferentes com a ideia da masturbação: alguns consideram natural e ideal para conhecer o próprio corpo , outros admitem medo de tentar e há quem ache nojento e inútil
A terapeuta Lena Ayres diz que a pessoa tem que se sentir à vontade consigo mesmo. “Não há fórmula, limite ou local específico. Agora, pode ser considerado prejudicial quando a pessoa deixa de se relacionar com as outras pra viver somente o prazer único e individual. A pessoa acredita que ela somente se basta. Que não precisa de mais ninguém pra viver sua sexualidade. Neste ponto, a automasturbação
poderia ser um risco”. Raylene Costa, 20 anos, solteira, confessa nunca ter chegado ao orgasmo e diz que por várias vezes pensou em recorrer à masturbação. Como a maioria das mulheres, Raylene sente-se envergonhada e teme falar com um profissional sobre isso. “Fico muito preocupada com o que o outro vai achar de mim, daí nunca consigo relaxar. Já tive vontade de me masturbar, mas, como
sempre, falta a coragem”. Lena Ayres revela que a masturbação é uma prática saudável, porém recriminada. Para as mulheres, o preconceito é ainda mais acentuado. “Os mitos em torno da masturbação são muitos, mas todos originados do preconceito popular. Não existe essa coisa de crescer pêlos nas mãos, de ficar com a mão amarela, ou ficar louco. Essas histórias foram criadas para reprimir
a sexualidade por volta do século XVII, ou XVIII”. Apesar das divergências, a maioria concorda: Masturbação só é tabu quando você não conhece e não pratica. “Viver a sexualidade plena não significa fazer apenas o tradicional, mas usar técnicas extras pra apimentar o relacionamento a dois. A masturbação sem dúvida está incluída nesse processo”, conclui a especialista.
Histórias sobre aquela tão falada primeira vez envolvem receio e prazer SUZAIRA Oliveira
Erisvan Bone
Existem muitos mitos em relação à sexualidade, mas hoje nem mesmo as crianças pequenas acreditam na lenda da cegonha. Todo adolescente fica com aquele certo receio: como será a primeira vez? Como devo fazer? É impossível estipular regras de como agir nesta ocasião. K.R.C., com 21 anos, já carrega na vida a luta de cuidar de uma criança. Mãe de uma menina de dois anos, teve sua primeira vez com 15 anos. Por uma simples curiosidade de saber como acabar com “aquele fogo” que a incomodava, certo dia resolveu sair com amigas para a balada. Lá, conheceu um rapaz com aparência de 24 anos e, papo vai papo vem, cervejinha gelada, som muito bom, acabou indo parar na casa dele. “Fiquei com vergonha dos apertos e amassos, mas também não comentei nada a ele. Não falei que eu era virgem, mas minha vontade era de pegar ele de jeito,
Todo adolescente vive certa ansiedade: como será a primeira vez? Como devo agir? Difícil criar regras
e acabou rolando”. K.R.C. conta que apesar de sentir um desejo incontrolável, não sabia direito o que fazer. “Não sabia de nada e na hora H ele me ensinou tudo.
Foi muito bom, ao terminarmos fui para casa. Eu achei estranho, fiquei sem graça de falar com ele no outro dia”. K.R.C. teve a sensação estranha de que todos sabiam
do acontecido, mas sente saudade das sensações que vivenciou naquele momento Já para Adriano Ketlen, 19 anos, homossexual, sua primeira vez foi “a coisa mais linda” que aconteceu na sua vida. “Eu tinha 16 anos na época e conheci ele em uma festa de amigos. Logo me chamou atenção: alto, branco, bonito, magro, com um sorriso encantador”, descreve e continua: “Daê, meu filho, foi babado. Peguei mesmo”. O que mais chamou atenção de Adriano foi quando acabou a festa. “Ele perguntou: e aí, vai ficar só nos beijos ou pode rolar algo mais na minha casa? Fiquei super sem graça, nunca tinha transado antes, mas aceitei o convite”. Antes de ir, no entanto, pediu “uns toques para um amigo”. Ficou nervoso, apreensivo, tímido enquanto era acariciado. “Ele me arrastou para o seu quarto e eu morrendo de vergonha de tirar a roupa. Daí para animar, ele co-
locou um filme pornô. Pronto: fiquei mais excitado ainda e não teve outra: acabou rolando”. Anderson conta que o parceiro insistiu em não usar a camisinha, mas ele fez o companheiro comprar o acessório na farmácia da esquina. “Foi estranho e doeu muito, mas eu gostei”. Hoje ele é casado, pai de dois filhos e não tem mais contato com homens. “Mas foi uma transa inesquecível”. Bianca de Mello, aos 20 anos completados recentemente, teve sua primeira relação aos 19. “Eu estava bêbada, conheci um cara em uma balada. Era muito gato, queria sair com ele, mas, tipo, eu não queria transar com ele, não tava a fim”. Quando o parceiro partiu para carícias mais ousadas, contou que era virgem. “Que vergonha. Eu, morta de bêbada. Quando falei isso aí que ele ficou doido mesmo. Acabei transando, foi ótimo, ele foi muito carinhoso comigo. Só que eu nunca mais o vi depois dessa noite”.
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prazer Algumas mulheres confundem uma relação sexual muito prazerosa com a sensação do orgasmo, que costuma ser mais intensa, segundo explica ginecologista
Orgasmo: tema que desperta dúvidas HEMERSON PINTO Hemerson Pinto
Nos pés, na testa, orelha ou pescoço? Onde fica o ponto G? Um tesouro que muitos homens ainda não encontraram em suas parceiras. Elas quando o descobrem, têm verdadeiro prazer em conhecê-lo. A maior concentração de terminações nervosas capazes de provocar excitação no homem ao serem tocadas está na ponta do pênis. Já entre as mulheres, a maioria é “ligada” para o prazer, por meio da raiz do clitóris. É um ponto que fica dentro da vagina, na parede anterior/superior e serve como um correspondente, localizado do lado de fora. Para encontrá-la é só introduzir o dedo e movimentá-lo como se chamando alguém. Logo será possível sentir um “botãozinho” no local indicado. Esse é o ponto G. A continuação do movimento aciona o “botão mágico” capaz de levá-la ao tão desejado orgasmo. Mas o que é isso mesmo? O sexólogo e ginecologista Pedro Mário diz que “é uma resposta neurológica a um estimulo das células nervosas”. Ele afirma que elas têm um limiar de estimulação. Quanto mais estimuladas, sofrem descargas funcionais ou psicoemocionais, que liberam endorfina e adrenalina e assim, os músculos se contraem. Mas sempre que alguém alcan-
Definição de orgasmo pode ser aplicada a qualquer função de prazer extremo, até mesmo com atividades físicas, mas o consenso cultural o relaciona com sexo
çou prazer teve orgasmo? A mulher pode ter relação confortável, por isso prazerosa, mas não quer dizer que ela teve orgasmo. Especialistas dizem que quando ele chega é arrebatador, as pernas tremem e vem acompanhado da vontade de querer
parar por ali. O médico explica ainda que essa palavra deveria ser aplicada a qualquer função, até mesmo às atividades físicas, desde que capazes de apresentar sensação de prazer e satisfação. “Mas o consenso cultu-
ral acaba direcionando isso para a função sexual”.
Histórias - O jornal Arrocha encontrou uma conhecedora desse clímax. A funcionária pública tem 47 anos e, como não quis ser identifi-
cada, aqui será chamada de Olinda. Perdeu a virgindade aos 13 e com o mesmo homem ficou casada por oito anos. Segundo ela, com relações inesquecíveis e a maioria com orgasmos múltiplos. Aos 12 chegou lá pela primeira vez, só com estímulos, sem penetração. Após romper com o parceiro, ficou três anos “sem a menor vontade” e quando tinha não conseguia atingir o clímax. “Ela não conhecia o próprio corpo”, afirma Pedro Mário. Olinda diz ter sido orientada por médicos a buscar esse conhecimento e o reencontrou na masturbação. Logo a alegria voltou. Era de orgasmos que ela precisava. Casou mais uma vez e já estava apta a comandar a situação. Hoje é solteira e tem vida sexual ativa, com prazer que ela mesma garante. “Porque a mulher conhecendo seu corpo sabe a posição, o jeito que se satisfaz”. A supervisora de atendimento e estudante K. tem 21 anos. “Minhas relações são prazerosas, mas acho que nunca tive orgasmo. Tenho vontade de sentir essa coisa que todo mundo fala”. Solteira, há quatro anos faz sexo pelo menos duas vezes por semana, além de se estimular à frente do computador e por telefone, mas nunca chegou lá. Mesmo depois de várias tentativas a estudante K., até o fechamento dessa matéria, não havia chegado ao clímax. Já Olinda, prazer pra que te quero?!
Com hormônios em ebulição, jovens tentam entender melhor o sexo WELBERT QUEIROZ Allana Cristina
Alguns pais acreditam que conhecem bastante sobre o comportamento sexual dos seus filhos, mas os jovens revelam situações que não comentam em casa
A puberdade chegou. E agora, como conter os desejos desenfreados pelo sexo oposto? Esta é uma pergunta que não sai da cabeça dos jovens, até que consigam dominar os instintos. E a enxurrada de informações dos meios de comunicação, principalmente, pode ser mais um estímulo para iniciar mais cedo as atividades sexuais. Independente da forma como foram orientadas sobre o sexo, as crianças, para tornaremse adultas, passam pelo processo de amadurecimento que envolve a adolescência. Mariana, 16 anos, mora no bairro Nova Imperatriz e sempre foi instruída pelos pais, cristãos, que o sexo antes do casamento é pecado. Para a garota, que tomou isso como verdade, não era difícil defender a tese. Mas quando a fase adolescente chegou e junto veio a explosão de hormônios, Mariana teve problemas em se segurar. “Eu fico muito curiosa para saber qual é a sensação, o prazer que se tem quando transa”. Ela ressalta que nas conversas com as amigas do colégio, quando o assunto é a última transa, fica apenas ouvindo, contando as horas de também falar sobre sua a experiência. Lucas, 16 anos, estudante de uma escola particular, conta que o sexo é assunto pouco discutido em casa. A mãe é professora, o
pai trabalha em uma multinacional e só vê a família uma vez por mês. O playboy, como é chamado pelos colegas, acha que esse é o grande motivo de não receber instruções da família. “Meus amigos mais velhos me dão altas dicas de como pegar a mulherada”. Lucas garante que não faz sexo por influência dos colegas ou até mesmo para mostrar que faz parte do grupo daqueles que não são virgens. Nessa faixa etária é vergonha ainda não ter transado. Os pais de Mariana afirmam que a filha é tranquila quando o assunto é relação sexual. “Parece que minha menininha ainda não despertou para o sexo”, acredita dona Mariza. Ela lembra que nas conversas que teve com o pastor da igreja que frequenta, ouviu-o aconselhar que os pais deveriam ter cuidado e orientar bem a filha. Ela não vive apenas no “mundinho” espiritual, da igreja para casa, tem uma vida social, tem amizades no colégio e isso pode mudar totalmente a cabeça de Mariana. A professora Carmem, mãe do Lucas, confessa que tem certeza que o filho já transa há muito tempo. Ela não o condena e até agradece à escola por estar instruindo o garoto a não ter relação sexual sem preservativo. Sabe que ele usa por nunca ter, ao vistoriar as peças intimas “vestígios de Doenças Sexualmente Tramissiveís (DSTs)”, como cuecas sujas de secreções.
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EnTREvIsTA Ginecologista Pedro Mário Lemos da Silva
“Todo mundo tem uma fantasia sexual” O médico Pedro Mário Lemos da Silva, que atua nas áreas de ginecologia, educação sexual e obstetrícia recebeu a equipe do jornal Arrocha em sua clínica para uma en-
trevista. Ele aborda assuntos de extrema importância para a compreensão dos mecanismos e tabus que envolvem a sexualidade humana, como, por exemplo, os caminhos
para muitos ainda misteriosos do orgasmo. Pedro também tratou de questões que continuam polêmicas, como a prática da masturbação e os cuidados necessários na
hora de praticar sexo anal e oral. Fantasias sexuais e seus tabus, brinquedos eróticos para estimular a relação a dois e mitos que perduram ainda sobre a sexualidade, como
a relação entre menstruação e gravidez também são desvendados de forma didática pelo especialista nesta entrevista para o Arrocha. .
NarcÍsio FERREIRA
células vermelhas e brancas estão saindo, então ela fica mais vulnerável.
NarcÍsio Ferreira Maria Almeida
Qual a explicação da medicina para o orgasmo? O que provoca essa sensação de prazer extremo? Todas as células nervosas dos neurônios têm um limiar de saturação de estimulação. Você estimula, estimula, estimula e ela vai ficando hiperestimulada até que ela tem uma resolução, uma descarga elétrica que pode ser boa ou ruim. Quando essa descarga se traduz como satisfação, prazer máximo, a gente chama de orgasmo. Deveria ser aplicado para qualquer satisfação em qualquer função, mas o consenso cultural termina direcionando o nome orgasmo enquanto prazer satisfatório para a função sexual. É comum entre as mulheres com vida sexual ativa não saber o que significa ter orgasmo? De alguma forma a mulher não tem certeza, tem certa dúvida. Ela confunde e com toda propriedade, porque o homem também confunde. Ele chama de orgasmo o prazer que está tendo durante a relação sexual. E a mulher, muita das vezes, está sentindo prazer. A relação não é desconfortável, é prazerosa. Para a mulher isso pode representar o orgasmo quando nem sempre é. Entretanto, quando a gente traduz o orgasmo com o nome popular, a mulher percebe melhor o que é esse orgasmo que a gente está investigando. Nem todo gozo é orgasmo, mas, de um modo geral, quando você tem orgasmo diz que gozou. Ou seja: gozou daquela satisfação, daquele prazer maior. A mulher que muitas vezes diz que teve orgasmo está se referindo ao prazer que ela tem durante a relação sexual. Preliminares são realmente importantes para se chegar ao orgasmo? Para a grande maioria é fundamental. As preliminares podem ser importantes num relacionamento, mas você pode ter orgasmo simplesmente pensando em uma pessoa. Se você tem uma pessoa presencialmente, e a sua mente estiver distante, é como se ela não estivesse ali, e você não vai ter orgasmo. É mais importante que essa pessoa esteja na sua mente do que ao seu lado para que você tenha orgasmo. A questão da resposta não se realiza no corpo como todo, mas na mente. O que é anorgasmia? Na mulher poderia ser considerada frigidez? É a falta de orgasmo, que pode ser: Primária - a pessoa que nunca teve, secundária – a pessoa que tinha e deixou de ter, ou circunstancial – pessoas que não têm em determinadas circunstâncias. Não é uma doença não, no máximo pode ser uma disfunção. E não se trata de frigidez porque frigidez está mais relacionada com desejo do que com orgasmo. A mulher que não sente desejo é
Relação sexual durante a gravidez faz bem? Faz bem para os três, para a mãe, para o pai e para o bebê, desde que a relação seja desejada. Isso em qualquer situação: grávida ou não. O que determina é a preparação do organismo para o coito. Masturbação em excesso pode ser prejudicial à saúde? Tudo em excesso é prejudicial à saúde. A masturbação se torna excesso quando substitui uma função necessária. Então vamos imaginar que a pessoa está se masturbando uma única vez na hora de almoçar, isso é excesso, pois ela está substituindo uma função importante para se masturbar. Mas vamos supor que ela esteja se masturbando dez vezes por dia, mas não substituiu nada. Ela estava sem fazer nada de perna para o ar e estava se masturbando. Então não é excesso. Agora, a partir do momento em que ela deixou de jogar futebol para se masturbar, deixou de estudar para se masturbar, aí é excesso.
que é chamada de frígida e não a que não tem orgasmo. No homem o orgasmo exige menos estímulo do que na mulher? Exige, mas em termos. Exemplo: o homem tem como órgão copulador um só, que é o pênis e felizmente para ele na extremidade do pênis está localizado um núme-
“Todo mundo tem uma fantasia, mas nem todos a desenvolvem. É um pensamento que pode ser próximo, mas nunca igual ao real”
ro muito grande de terminações sensitivas. Ou seja, ele recebe estímulos facilmente tocando a cabeça do pênis em qualquer lugar. Esse estímulo vai para o sistema nervoso central através da medula. Ele recebe, racionaliza, sensibiliza-se, e dá a resposta, que pode ser uma ereção. E se continua aceitando este estímulo ele vai ficar muito excitado e vai terminar tendo um orgasmo. A dificuldade da mulher em atingir o orgasmo está relacionada à questão cultural? Plenamente cultural, porque biologicamente ela é preparada para ter orgasmo. Uma pesquisa, feita em 2004 por Jonas Margolli, mostra que 87% das mulheres só
terão orgasmo se forem manipuladas no clitóris. Dessas 87%, apenas 50% aproximadamente gostam de sentir o pênis dentro da vagina. Não porque ele a estimule a ponto de ter orgasmo. Mas porque no momento do orgasmo, no momento que a vagina está contraindo, ela gosta de ter alguma coisa na vagina para se sentir cheia, para se sentir plena. Mas não que o pênis tivesse causado isso. Segundo a pesquisa de Margoli, dentre os mecanismos que mais estimulam as mulheres, primeiramente está a língua, em segundo lugar dedo, e em terceiro vibrador. E isso é uma coisa que as mulheres não têm conhecimento, por que a nossa cultura ainda cerceia esse conhecimento. Você acha necessária a utilização de produtos eróticos para manter a relação apimentada? Necessário eu não diria. Eu diria útil. Por que tudo aquilo que não é traduzido ao nível de aceitação mental não resulta em nada. Um objeto, seja ele qual for, erótico ou não, se você rejeitá-lo e olhar com maus olhos ele não tem o mesmo efeito que tem para uma pessoa que tem uma fantasia. De modo que ele termina tornandose um fetiche, ou seja, um instrumento estimulador extracorpóreo e que pode ser muito utilizado. Todas as pessoas têm uma fantasia sexual? Todo mundo tem uma fantasia, mas nem todo mundo desenvolve e utiliza. Porém, para você ter um bom estímulo, precisa de uma imaginação, de uma fantasia. A fantasia é um pensamento que não é igual ao real, pode ser pró-
ximo, mas nunca é igual ao real. Então, de repente, você, para se estimular, mesmo que o namorado esteja presente, precisa pensar que ele vai te beijar, te pegar assim e tal. Quais os mitos que ainda perduram em relação à sexualidade? A mulher menstruada pode engravidar e ficar mais suscetível para contrair DSTs? Durante a menstruação é o momento em que mulher não engravida. Precisamos diferenciar menstruação de sangramento genital. Nem todo sangramento é menstruação. Por exemplo, no período fértil ela pode ter pequenos sangramentos e nesse momento ela engravida, pois ela está em um mo-
“A masturbação se torna excesso quando substitui uma função necessária. Se deixou de jogar futebol, estudar, para se masturbar, aí é excesso”
mento fértil. E a mulher menstruada fica mais suscetível, sim, para contrair DST´s. Principalmente as doenças veiculadas por sangue, tipo sífilis, hepatite B, hepatite C, e HIV, pois está em contato direto com o sangue. O pênis está mergulhado no sangue. A mulher fica mais vulnerável, pois ela está perdendo sangue. As defesas dela, as
Quais os riscos e implicações do sexo anal e oral? A boca a gente pode dizer que é um lugar de introdução. Já o ânus é um lugar de eliminação, mas tanto faz como tanto fez, desde que sejam preservados os devidos cuidados. Como no sexo vaginal, não existe nenhum problema. Agora, quais são esses cuidados? Saber, ou melhor, ter cuidado com a pessoa que você está introduzindo e respeitar o determinado órgão. Então, existe essa limitação. O ânus, embora não tenha dente, como a boca, tem uma proteção natural, que é uma grande massa muscular. Se a pessoa não quiser que você introduza, você não introduz. É necessário que a pessoa permita e que esteja excitada. Mesmo assim, o ânus é diferente da boca e da vagina. A boca não precisa ser excitada, pois é sempre úmida, mas o ânus precisa. Porém, mesmo que a pessoa esteja excitada o ânus não lubrifica e aí vem os outros problemas, que é um risco para o dono do ânus e para quem está introduzindo. A hora em que você toca qualquer músculo a resposta dele é contrair. Se você forçar, ele não tem lubrificação, termina o pênis indo e a camisinha fica. O risco de rasgar uma camisinha em uma relação anal é muito grande. Então, para você ter uma relação confortável e sem riscos, além da camisinha é necessário usar lubrificante. Se durante a relação sexual a pessoa engolir o esperma, existe algum risco? Nenhum, o esperma é proteína e glicose, serviria até de alimento... Na África, talvez, onde em algumas regiões as pessoas comem terra com sal, um banco de esperma seria muito mais nutritivo.
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violência Conselho Titular de Imperatriz, um dos órgãos responsáveis pelo combate à pedofilia na cidade, recebe cinco a seis denúncias diárias, muitas da zona rural
Pedofilia é fantasma que ronda as famílias DYEGO WILSON Grasiele Gomes
Por dia, cerca de cinco a seis denúncias de abuso sexual são registradas em Imperatriz, segundo informa o conselheiro titular José dos Reis Macedo Gomes. Mas, no período das praias o índice torna-se maior. Ele ressalta que a maior parte dessas denúncias é proveniente de zonas rurais. “Todos os dias recebemos denúncias. A maioria das vezes não houve consumação dos fatos, mas a criança foi aliciada, acariciada. Sendo frequentemente em cidades vizinhas, havendo um grande número de violência sexual”, destaca o conselheiro. O Conselho Tutelar de Imperatriz, um dos órgãos responsáveis pelo combate à pedofilia, atende à população nas áreas I e II, sendo a primeira destinada ao centro e a segunda aos bairros da margem esquerda da BR-010. Com sede em Brasília, o disque 100 encaminha as denúncias para o Juiz da Vara da Infância e da Juventude, que concede ao Ministério Público a liberação da investigação dos fatos. Exercendo um trabalho pouco mais investigativo, após a concretização dos atos criminosos, o Conselho Tutelar acolhe crianças de 0 a 18 anos. Para a Casa de Passagem, são encaminhadas crianças que foram aliciadas, podendo retornar para suas famílias. Já na Casa Lar as crianças abusadas sexualmente permanecem no local, até que o juiz tome providências sobre os casos.
“O primeiro momento é a introspecção. A criança sente-se tímida, isola-se das outras. Temos casos em que a criança fala abertamente da primeira vez, enquanto outras ficam com vergonha”, conta especialista
Acompanhamento - Já o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) realiza atendimento às famílias e às vítimas, viabilizando a ressocialização das crianças. A instituição conta com a participação de profissionais de áreas diversas como: psicólogo, assistente social e pedagogo. Toda semana acontecem en-
contros dos profissionais com a família e também com a vítima. Mas, de acordo com as informações prestadas, a maioria das famílias não comparece, até mesmo por receio, ou medo de uma desestruturação familiar. Isso porque muitas vezes os agressores são companheiros das mães das vítimas. Um ambiente colorido, ro-
deado de brinquedos, bonecas no armário é o cenário utilizado para fazer com que as crianças sintam-se distraídas e por um instante longe de frustrações. Para a assistente social do Creas, Karla Maysa, as brincadeiras facilitam o vínculo com a vítima, pois algumas crianças chegam a relatar fatos já em um primeiro momento. Porém, existem outras
que se mantêm em silêncio. “O primeiro momento é a introspecção. A criança sentese tímida, isola-se das outras. Temos casos aqui que a criança fala abertamente da primeira vez, enquanto outras não falam com vergonha. Tem até uma que estamos tendo dificuldades em convencê-la, pois ela não quer falar”, relata Karla Maysa.
Acusados de violência sexual em geral são conhecidos das suas vítimas LAYANE RIBEIRO Gleiciane Ferraz
Estatísticas indicam que, de cada dez casos registrados, em oito o abusador é um conhecido da vítima
Amanda Fontes, 30 anos, olhar centrado, lembra como foi encantadora a infância e as brincadeiras que ficaram na memória. Mas, com as mãos suadas e sempre muito nervosa, conta, sem rodeios, que foi violentada pelo primo dos 15 aos 18 anos. Ele batia e a violentava de todas as formas. Amanda não o denunciou porque ele ameaçava sua vida e a dos seus pais e a queria só pra ele. Negra, cabelos crespos e lábios grossos, filha de uma doméstica e um lavrador e nascida em Grajaú, no interior do Maranhão, ela lembra da participação de J. em sua vida. O primo e vizinho tinha a mesma idade e os dois viveram muitas aventuras. É uma dessas situações que Amanda prefere lembrar como passado e por isso mesmo não se intimida em contar. Religiosa, Amanda afirma que depois de tudo que passou Deus é seu refugio há vários anos e seu guia sempre. Conclui dizendo que não pode mais demorar. “Eu era bonita e ele me humilhava porque minha família morou um tempo de favor em sua casa”. Ninguém nunca desconfiou dos atos de violência e um dia ela foi embora. “Quando os abusos sexuais ocorrem na família, a pessoa pode
ter muito medo da ira do parente agressor. Medo das possibilidades de vingança ou da vergonha dos outros membros da família. Ou, pior ainda, pode temer que a família se revolte”, explica Carolina Cardoso, que já foi Delegada Es-
Tudo começa com as pressões psicológicas, pois os agressores geram intimidação nas vitimas. A criança que sofre esse tipo de abuso sexual em geral desenvolve uma perda violenta da autoestima, tem a sensação de que não vale nada e adquire uma representação anormal da sexualidade.
Dados - De cada 10 casos registra-
“Quando os abusos sexuais ocorrem na família, a pessoa pode ter muita ira do parente agressor, medo das possibilidades de vingança ou da vergonha dos outros membros”
pecial da Mulher em Imperatriz. Ela lembra que as grandes metrópoles não se diferenciam das menores, pois a violência sexual acontece com muito mais frequência e, na maioria das vezes, nas próprias famílias os pais são os molestadores. Os agressores agem não só com a penetração. Com um simples toque já estão cometendo um crime.
dos, em oito o abusador é conhecido da vítima. Esta pessoa, em geral, é alguma figura de quem ela gosta e em quem confia. Por isso, quase sempre acaba convencendo o menor a participar desses tipos de atos por meio de persuasão, recompensas ou ameaças. Com relação aos serviços de atendimento, 54% acham que estes não funcionam. Esta percepção é maior na periferia das cidades maiores (59%). Os dados foram informados pela Delegacia da Mulher. Carolina Cardoso informa que há vários casos de denúncia, mas a dependência maior é o problema social. As periferias são grandes e a falta de emprego maior ainda. Tudo isso reflete em uma situação comum. A rotina diária é de instauração de boletins de ocorrência e abertura do processo, mas a finalização é quase sempre a mesma: quem denuncia acaba pedindo a retratação no decorrer do processo.
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PRECONCEITO Homens que se vestem de mulher lutam para ter sua orientação sexual respeitada pela sociedade, mas mencionam os perigos da prostituição e do preconceito
“Ser travesti é colocar para fora o que sinto” MaurÍcio Sousa
É uma manhã de sábado. Wanessa está penteando o cabelo castanho escuro. Os olhos atentos na própria imagem no espelho começam a ser realçados com um lápis básico, um batom suave “pra não chamar atenção”, uns acessórios aqui, uma retocada ali... e pronto! Wanessa é manicure e vai à casa de uma amiga exercer a profissão. No caminho são evidentes os olhares e até o espanto de algumas pessoas. Realmente ela está bem arrumada, mas provavelmente o que mais chama atenção (e essa nem era a intenção dela, concluímos pela escolha do batom) é o fato de Wanessa ser uma travesti. Peruca, salto alto, roupas femininas, batom, base, corretivo, pó compacto, lápis de olho. Esses são alguns acessórios usados pelas travestis para que a grande transformação aconteça. Mas afinal, o que é uma travesti? “Travesti, pra mim, não é só me vestir como mulher, é eu colocar pra fora o que sou por den-
tro”, diz a manicure Wanessa, 23, que há dois anos tem essa identidade. Segundo o sexólogo Pedro Mario, o sentido original para a palavra travesti é de uma pessoa que se veste como o sexo oposto. Independente da condição sexual, já que muitas pessoas se travestem por vários objetivos, como o artístico, por exemplo. Entretanto, é hábito do senso comum utilizar a palavra para se referir aos homossexuais que possuem tal comportamento. “O travesti masculino se apresenta como mulher, mas não quer deixar de ser homem”.
Significado - Independente do sentido da palavra, o ato de se travestir não é uma novidade dos tempos modernos. Existem diversos registros da prática em várias culturas e épocas diferentes. O Kama Sutra, escrito entre 1,5 mil a.C a 600 d.C, por exemplo, faz referências aos hiijas (terceiro sexo). No entanto, o preconceito dificulta bastante a vida das travestis em vários aspectos, no traba-
lho, na escola e na família enfim, na sociedade. “Eu sei que muita gente não entende a gente, por isso o preconceito. Mas eu também não entendo por que é tão difícil aceitar que as pessoas são diferentes?”, desabafa em tom reflexivo e questionador Regina, 25, também travesti. A dificuldade em manter-se na escola por causa do preconceito, a rejeição dos familiares e outras situações desagradáveis para os travestis condicionam-nas a buscar sobrevivência de forma alternativa: prostituindo-se. “Não vou dizer que toda travesti se prostitui, mas, às vezes, não temos opção: ou é isso ou morre de fome!”, comenta Regina, que começou a se prostituir aos 19 anos. “Eu não vou pra BR, mas não tenho nada contra quem vai. Meu bem, a vida não é fácil, mas pra se prostituir tem que ter coragem!”, afirma Wanessa, com uma certeza de quem já viu muita gente ir por esse caminho. No Brasil, segundo o movimento GLBT, 150 homossexuais, travestis e transexuais morrem
MAURÍCIO SOUSA
Transformação envolve peruca, salto alto, roupas femininas, batom, base...e coragem contra reações
por ano vítimas de homofobia. Em imperatriz, faltam projetos educacionais para corrigir essa
deficiência ideológica. “Eu espero que um dia o povo veja nós como gente”, deseja Wanessa.
Registros de assédio em Colecionador faz de tudo por uma Playboy Imperatriz são bem raros JAMES PIMENTEL
No entanto, isso raramente ocorre quando se trata de asséO assédio sexual é crime dio sexual: em quatro anos, o previsto em lei. O artigo 216-A MTE não recebeu queixas desse do Código Penal Brasileiro o de- tipo. Na Delegacia da Mulher de fine como o ato de constranger alguém com a intenção de obter Imperatriz, a estatística também vantagem sexual, aproveitando- é quase irrisória. Em quase dois se de sua posição hierárquica. anos, foi registrada apenas uma Dessa forma, o assédio sexual denúncia. Samuel não atribui os está diretamente ligado ao am- baixos índices à inexistência de biente de trabalho, quando um casos, mas ao medo das vítimas chefe faz uso de sua condição em se manifestarem: “As pessoas são ameade superior çadas e senpara forçar tem medo de relações com perder o emum suborprego. Além dinado, que “Diferente da violência disso, há geralmente é sexual, na qual se usa a muita difiameaçado de culdade para demissão. força física para obter se conseguir “Diferensexo, no assédio a arma provas”. Por te da violênessa razão, é cia sexual, na utilizada é o poder, a comum que qual se usa chantagem” os casos acaa força físibem em proca para obter cessos, que sexo; no assão julgados sédio a arma pela Justiça utilizada é o do Trabalho. poder, a chanPara entrar com uma ação tagem”, explica Samuel Gomes, chefe de fiscalização do Mi- na justiça, aconselha-se à vínistério do Trabalho e do Em- tima que reúna o máximo de prego de Imperatriz. O órgão provas que puder, desde testeé responsável pela fiscalização munhas – colegas de trabalho e punição de instituições que que possam depor – e gravações apresentem irregularidades tra- dos momentos em que o assébalhistas mediante denúncias. dio ocorreu.
Letícia Maciel
“Eu não sei de onde surgiu essa paixão louca por mulheres nuas”. Railton já pegou revistas até no lixo James Pimentel
Railton Araújo mora em um pequeno apartamento no centro da cidade. Trabalha como professor de aulas de reforço em domicílio e é auxiliar em restaurante. Seu hobby: colecionar revistas playboy. Ao entrar em sua residência já de cara temos a impressão de estar em um estúdio de fotos. Em todas as paredes, sem exceção, a capa de uma revista enfeita uma pequena moldura formando um vasto painel com beldades seminuas. “Eu morro de ciúmes. Não empresto, não dou”, conta Railton mostrando com orgulho sua grande coleção. “Eu tenho uma paixão tão louca por essa revista que já fico vasculhando quem será a
próxima capa, até de dois meses antes. Eu preciso é estar informado”. Mesmo afirmando ser homossexual bem resolvido afirma: “Eu não sei de onde surgiu essa paixão louca por mulheres nuas. Eu compro a revista Sexy quando a capa é interessante, mas a minha verdadeira paixão é a Playboy”. A primeira revista de sua coleção foi com a capa da atriz Paloma Duarte, em 1994. Desde então passou a comprar todas. “Peguei algumas que o meu pai tinha, eram quase 50. Eu tenho muitos amigos em bancas, vasculho internet, me disfarço de qualquer coisa para conseguir uma Playboy”. Até revista encontrada em cesto de lixo já foi parar em sua coleção. Além de publicações mas-
culinas, em seu acervo constam alguns exemplares da revista G Magazine. Sua admiração pela nudez é tão grande que a porta da sua geladeira é uma foto gigante de um dos modelos dessa revista. Porém “se me derem de presente uma Playboy e dez revistas de homem nu que eu não tenho em minha coleção, eu fico só com a Playboy”.
Coleção - Em suas inúmeras histórias pela corrida atrás de um exemplar, relata o que chega a sentir quando uma nova revista chega às bancas: “A dona do lugar já sabe como eu sou. Sempre vou no dia certo da chegada. Já me oferecem 300 reais em uma de minhas revistas, é o preço do meu aluguel, mas eu não vendo nenhuma”. Diferente da maioria dos admiradores que buscam esse produto para estímulo sexual, Railton deixa claro que essa não é a sua intenção. “Tudo me interessa na Playboy. Quem será a mulher da capa, a negociação do cachê, o fotógrafo, o lugar para onde as beldades viajam, mas o que me impressiona mesmo é a beleza da foto”. Segundo ele, todo o investimento em produtos de nudez foi somente para matar a curiosidade de quem deseja ver uma celebridade nua. “Eu acho bonito ver uma mulher pelada. As revistas pra mim não são um amuleto pornográfico, não só porque sou gay, mas se fosse hetero também não pensaria assim. Eu gosto é do lado artístico da coisa”.
Jornal
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Arrocha
Ano Ii. Número 7 iMPERATRIZ, OUTUBRO de 2011
acessórios Estabelecimento mais antigo de Imperatriz na venda de artigos sexuais tem seis anos, mas vem enfrentando concorrência com novos comerciantes do ramo JULIANA GUIMARÃES
Sex shops são espaços para soltar a fantasia
LAYANE RIBEIRO
Logistas precisam apostar na força da imaginação de seus clientes, oferecendo fantasias das mais inusitadas ou roupas íntimas que fogem do convencional Adriano Almeida
“Sexo é imaginação, fantasia”. Esse trecho da música “Amor e Sexo” de Rita Lee e Arnaldo Jabor expressa bem a relação existente entre a libido sexual e as fantasias eróticas. Os sex shops surgem nesse contexto como templos do prazer, onde a imaginação ganha asas e as mais variadas fantasias podem se tornar realidade. O estabelecimento mais antigo da cidade tem aproximadamente seis anos de existência. Localizado nos fundos de uma loja de bijuterias em frente ao Timbira Shopping, recebe todos os dias muitos compradores. Mas o pioneiro ganhou nos últimos anos alguns concorrentes. Hoje a maioria das lojas de moda íntima possui uma seção de sex shop. “Ultimamente, isso virou uma febre. Todo mundo que traba-
lha com peça íntima tá vendendo coisas de sex shop”, analisa Helane Miranda, vendedora de um desses novos estabelecimentos. As mulheres são as que mais compram. Em sua maioria são casadas e buscam apetrechos para “apimentar” a relação. Mas, há mulheres solteiras e bem resolvidas que se aventuram em novas experiências, como Katty, balconista, 21 anos, que há dois compra com frequência nesses locais. Em uma casa simples na periferia de Imperatriz, em meio a um clima de muita descontração, ela nos mostra a coleção que possui. Que vai desde uniformes de colegial, passando por enfermeira, garçonete até uma fantasia de oncinha, com direito a rabo e orelhinhas. Tudo, claro, muito minúsculo, transparente e provocante. Ela também é adepta de lubrificantes, óleos e produtos comes-
tíveis. Cada fantasia custa em média 30 reais. Katty está esperando chegar em 10 fantasias para fazer
Mulheres, em sua maioria casadas, são as que mais compram acessórios sexuais. Mas há solteiras que se aventuram em novas experiências
um book de fotos. “Eu gosto de me vestir, me sinto bem comigo mesma. Quero fazer fotos com elas num estúdio”.
Visibilidade das lojas, antes localizadas em locais pequenos, começa a ser mais presente em Imperatriz
Ela agora se prepara para convencer o namorado a se fantasiar de garçom e explica que entre quatros paredes tudo é válido. “É como diz o ditado: lá fora a mulher tem que ser santa, mas na cama...”. O entusiasmo de Katty acabou animando a amiga Natália, 23 anos, professora primária, mãe solteira de uma menina de dois anos de idade. Há quatro meses ela comprou sua primeira fantasia, mas até o momento da entrevista ainda não tinha usado. Ao que tudo indica a fantasia não trouxe muita sorte para a moça, pois pouco tempo depois de comprar Natália terminou o romance de seis meses com o namorado. Agora ela espera alguém para finalmente usar o adereço. A moça já usou óleos e lubrificantes entre outros acessórios, que custam entre 5 a 10 reais e não descarta a hipótese de um dia
usar uma prótese de pênis, objeto que chega a custar 180 reais. Ela se mostra uma mulher de mente aberta e conta que já fez sexo a três a pedido do namorado. “Eu gosto de inovar, incrementar a relação para não ficar muito monótona. Quando eu gosto, faço de tudo pela pessoa”. Muitos ainda veem a prática de comprar em sex shop como perversão, mas os sexólogos afirmam se tratar de um hábito saudável, que ajuda a homens e mulheres a terem mais prazer nas relações sexuais, estimulando o imaginário dos amantes. Havendo cumplicidade entre o casal, tudo é válido. Ficou na vontade? Para os mais tímidos esses locais disponibilizam muita privacidade e profissionais sigilosos, aí é só deixar a imaginação te levar e usufruir dos benefícios que os produtos oferecem.
Movimento GLBT promove socialização e combate preconceito Kalyne Figueredo
Noite de sábado. Nas ruas movimentadas de Imperatriz, bares e casas de shows vão ficando lotados. Uns preferem locais badalados, outros, os mais recatados. No entanto, há aqueles que fazem uma mistura e vão à procura de um espaço reservado para viverem os seus agitos. Gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros, reunidos em uma festa GLBT fogem dos olhares preconceituosos da sociedade. Tecidos pretos, música eletrônica, mesas e cadeiras vermelhas
decoram o ambiente. Amarelas, brancas, rosas, azuis, as luzes piscam e misturam-se ao colorido das bebidas. Na pista de dança o contraste entre claro e escuro deixa até os mais tímidos à vontade. Elas se abraçam e se beijam, enquanto outros extravasam na coreografia. Alguns apenas olham, mas todos se divertem. Em uma mão e outra até mesmo os copos e as latinhas de cerveja entram no ritmo. O travesti próximo à mesa de som chama a atenção de todos com seu rebolado. Cabelos loiros, pernas longas e finas, entre um passo e outro sua roupa extrava-
gante atrai olhares curiosos. “Eu sempre vou às festas GLBT, pois o repertório é melhor que o das festas ditas normais. As pessoas são bem animadas, o ambiente é acolhedor, ninguém se importa com o outro, tudo isso faz com me divirta mais”, comenta Diego Fernandes, participante frequente. O movimento GLBT vem ganhando espaço no país. Eles têm cobrado das autoridades e da sociedade que seus direitos sejam respeitados. Promovem eventos de grande repercussão como as Paradas Gays. Imperatriz se limita apenas às festas, porém é um avanço
em comparação as outras cidades do estado. Os eventos geralmente são organizados por grupos como a Glitter, que desde julho de 2007 promove festas na cidade. Rafael Pinto foi um dos criadores do grupo e confessa que houve grandes mudanças no conceito de festas GLBT em Imperatriz. “Em 2007, após uma viagem, tive a ideia de montar a Glitter com mais quatro amigos. No começo foi tudo muito reservado, fazíamos uma listagem e só podiam participar convidados, até a cor da roupa era definida. Porém,
fomos nos tornando conhecidos e ganhando simpatia. Atualmente as pessoas possuem uma visão mais aberta sobre festas GLBT. Elas sempre estão lotadas e muitos ingressos são vendidos antecipadamente”, afirma Rafael. O organizador de eventos ainda comenta que os imperatrizenses estão mais soltos em relação à sua sexualidade. No entanto, quando questionado sobre a possibilidade de uma Parada Gay em nossa cidade, ele responde: “Apesar de todos os avanços eu acredito que Imperatriz ainda não está preparada para um evento desses”.