Jornal Arrocha - 33 - O Pior e o Melhor de Imperatriz

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Jornal

MARÇO DE 2018. ANO IX NÚMERO 33

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA

Arrocha

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ

O MELHOR

IMPERATRIZ E O PIOR


Jornal

Arrocha

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Nota sobre a edição

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nformamos que esta edição corresponde ao jornal que foi produzido pelas turmas de Laboratórios de Jornalismo Impresso, Fotojornalismo e Programação Vi-

sual, no primeiro semestre de 2017. Por conta disso, as histórias contadas, os dados e as fontes refletem e dizem respeito ao período em que o jornal foi produzido.

ANO IX. EDIÇÃO 33 IMPERATRIZ, MARÇO DE 2018

- - ENSAIO - -

O MELHOR E O PIOR DE IMPERATRIZ GABRIEL HENRIQUE

Editorial

N

o ano em que o curso de Comunicação Social – habilitação Jornalismo - da UFMA em Imperatriz comemorou seus 10 anos de existência, o Jornal Arrocha completou 30 edições desenvolvidas e presta, aqui, uma homenagem aos alunos e professores que participaram da produção do jornal e fazem parte desta história. Esta edição traz em sua última página as imagens das 30 capas do jornal, que nasceu em 2010 e segue servindo como prática laboratorial de jornalismo nas disciplinas de Laboratório Jornalismo Impresso, Laboratório de Programação Visual e Laboratório de Fotojornalismo. Esta foi a forma encontrada para fazer menção ao trabalho coletivo que envolveu diversos professores e algumas centenas de alunos nos últimos nove anos. Nesta edição emblemática, três turmas de Jornalismo de 2017 foram desafiadas a representar “o melhor e o pior de Imperatriz”, tema definido como norteador das diversas pautas jornalísticas que viessem a demonstrar o que a se-

gunda maior cidade do Maranhão tem melhor e de pior. As temáticas apresentadas nas páginas a seguir tratam da formação e do desenvolvimento econômico do município, da sua representatividade para a região, de seu grande crescimento nas últimas décadas, das possibilidades proporcionadas pelo Rio Tocantins e, também, do povo imperatrizense e seus costumes. Há, por outro lado, reportagens que demonstram quanto a cidade sofre com problemas oriundos da fraca infraestrutura urbana, no trânsito, na saúde e em diversos outros segmentos, bem como revelam como a população dá pouca atenção ambiental ao Rio Tocantins, que vem sendo castigado nos últimos anos. Assim, a presente edição do Arrocha buscou mapear o que de mais representativo a cidade tem quanto a suas qualidades e quanto a seus defeitos. Portanto, aproveite a leitura e que o conteúdo possa servir de reflexão coletiva quanto ao que pode ainda ser melhorado em Imperatriz.

Exp e die nte

FERNANDA PILLAR

LUIDIANNY CARVALHO

Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade. Jornal Arrocha. Ano IX. Número 33. Março de 2018 Reitora - Prof. Dra. Nair Portela Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Daniel Duarte Coordenador do Curso de Jornalismo - Prof. MSc. Carlos Alberto Claudino. Professores: Dr. Marco Antônio Gehlen (Jornalismo Impresso), Dr. Lucas Reino (Programação Visual) e Dr. Thiago Falcão (Fotojornalismo Visual).

Alunos de Jornalismo Impresso: Adriana da Silva e Silva Fernanda Pillar Nogueira Fernandes Gabriel Henrique Ferreira Severino Gilmar Carvalho Chaves Giuliana Rodrigues Nascimento Pianco Ilberty de Oliveira Silva Jaciane Barreira Oliveira Janaina dos Santos Cunha Silva Joao Pedro Santos Costa Julio Araujo da Costa Lianna Carolina Arraes Oliveira Lorenna Silva Sousa Lucas Vale Moreira Luidianny Lima Carvalho Maria de Fatima Nascimento da Silva Santos Mariana Fernandes da Silva Mayra Mariana Sousa da Luz Michele da Costa Souza Paulla Monteiro Soares Paulo Rogerio Pereira dos Santos Pedro Henrique Barbosa Teixeira Thais Correia Marinho Thaise Marques da Silva Torres Thalys Vinicius Oliveira de Sousa Valeria Cristina Rodrigues da Silva

Alunos de Programação Visual: Amanda Leticia Pires Feitosa Amanda Machado Cardoso dos Santos Bruno Silva dos Santos Daniele Silva Lima Danielle Carolina dos Santos Costa

Eliza Machado Cardoso Hery Werner Rebelo da Conceicao Isabela de Oliveira Jacqueline dos Reis Silva Janaina da Silva Oliveira Joao Paulo Camelo Costa Keila Regina Gadelha Lima da Silva Lorena Lacerda Lima Luana Fonseca Silva Lucas Milhomem da Silva Lucas Oliveira Sousa Luciana Franco Nascimento Rafaela do Nascimento Gomes Talison Ferreira Fernandes

Alunos de Fotojornalismo: Adriana da Silva e Silva Ana Alice Mendes dos Santos Caroline Duarte Nepomuceno Marinho Fausta Goiama dos Santos Silva Fernanda Pillar Nogueira Fernandes Gabriel Henrique Ferreira Severino Giuliana Rodrigues Nascimento Pianco Ilberty de Oliveira Silva Jaciane Barreira Oliveira Janaina dos Santos Cunha Silva Joao Pedro Santos Costa Julie Anne dos Reis Paz Julio Araujo da Costa Lianna Carolina Arraes Oliveira Lorenna Silva Sousa Luidianny Lima Carvalho Maria de Fatima Nascimento da Silva Santos Mariana Fernandes da Silva Matheus Lopes dos Santos Mayra Mariana Sousa da Luz Michele da Costa Souza Monica Dias Monteiro da Silva Paulla Monteiro Soares Pedro Henrique Barbosa Teixeira Thais Correia Marinho Thaise Marques da Silva Torres Thalys Vinicius Oliveira de Sousa Thayna da Silva Freire Valeria Cristina Rodrigues da Silva Capa: Gabriel Henrique (superior) e Janaína dos Santos (inferior). Criação: Daniele Silva Lima.

ARQUIVO DOS JORNAIS ARROCHA

www.imperatriznoticias.com.br/jornal-arrocha

JOÃO PEDRO


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3 ILBERTY OLIVEIRA

De Sibéria Maranhense a polo econômico TEXTO: JANAINA DOS SANTOS DIAGRAMAÇÃO: LUCIANA FRANCO

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s relatos históricos de Imperatriz revelam como a cidade, que chegou a ser conhecida por “Sibéria Maranhense”, tornou-se o principal município do sul do Maranhão e a segunda mais importante do estado em crescimento econômico. O jornalista e pesquisador maranhense Adalberto Frankilin, relata em seu livro “Apontamentos e fontes para a história econômica de Imperatriz” que, no início dos anos 50, a cidade era isolada, não havia estradas que ligassem Imperatriz aos municípios vizinhos. Curiosamente, o nome Sibéria Maranhense, nasceu nesse período, fazendo referência à região da Rússia e decorrente do isolamento de Imperatriz na época. O município possui uma localização privilegiada. Além das cidades em seu entorno, está localizado na divisa com o estado do Tocantins. No comércio, a cidade oferece diversos “produtos e atividades que vão desde o fornecimento de mercadorias em atacado até a prestação de serviços relacionados, sobretudo, à educação e à saúde, além de significativa rede bancária e de prestação de serviços na área financeira, razoável rede hoteleira e multimodalidade de transportes”, evidencia o escritor e jornalista Edimilson Sanches. Com a construção da Rodovia Belém-Brasília na década de 1960, a cidade começou a ampliar sua influência. “A construção da BR-010 ou Rodovia Belém-Brasília e sua inauguração, praticamente, refundaram a cidade de Imperatriz, que, antes disso, era um município com menos de 10 mil habitantes e pouco procurado como local de trabalho ou de investimentos”, relata Sanches. Com muita vontade de trabalhar e a primeira carteira de trabalho em mãos, o serralheiro Raimundo Alves de Sousa, 63 anos, conta que, com apenas 18 anos recém completados, vindo de Itapecuru Mirim, também município do estado do Maranhão, ouvia falar de Imperatriz como a oportunidade de um futuro próximo. “Ouvíamos sobre Imperatriz, a cidade passou a ser falada no Maranhão todo”.

Chegou em 1972, época em que a rodovia recebia o asfaltamento, trabalhou por quatro ou cinco meses, depois de terminada a obra, decidiu retornar para sua cidade natal. Já no ano 1982, dez anos após a primeira vez que veio a cidade, seu Raimundo conta: “estive novamente aqui na época que estavam construindo a Ferrovia dos Carajás, o impulso maior que Imperatriz teve foi na época da Ferrovia dos Carajás, na construção da Belém-Brasília e, principalmente, no garimpo de Serra Pelada. Trabalhei por uns cinco meses aqui e depois voltei mais uma vez pra minha cidade, foi outra aventura”. Porém, em 1989, já com esposa e os filhos, seu Raimundo volta a Imperatriz e decide ficar de vez, conta que desde a primeira vez em que veio à cidade até hoje, viu muitas mudanças positivas em relação ao desenvolvimento. “Vemos que cidades até mais antigas que Imperatriz não se desenvolveram. Tudo isso - garimpo da Serra Pelada, Ferrovia dos Carajás, Belém-Brasília e, ainda, o rio que é um atrativo bom - incentivou o crescimento de Imperatriz e a cidade virou um polo. Quando cheguei em 1989 a cidade já estava possante”, conta ao frisar que não se arrepende de ter vindo para Imperatriz, pois aqui conseguiu estabilidade e criou seus filhos. “Meu pai sempre me dizia que família se arruma é onde a gente chega e a vida foi assim até hoje, não tenho do que reclamar”. Localização que atrai progresso - Imperatriz atende um polo de aproximadamente 40 municípios. Além das transações comerciais, a cidade possui o único aeroporto da região que recebe aeronaves de porte mediano da aviação regular, o que também favorece o crescimento local e a passagem de mais pessoas no município. O professor e doutor em Geografia, Jailson de Macedo, aponta que a localização é um dos elementos que favorecem a “centralidade de Imperatriz”. “Todo esse desenvolvimento começou com os ciclos. O ciclo do arroz que foi muito importante entre as décadas de 50 a 60, o ciclo madeireiro na década de 70 e, posteriormente, o investimento dos capitais que foram gerados

se deslocaram para o setor terciário (relativos a comércio de bens e à prestação de serviços). “Tivemos ainda no final da década de 70 o ciclo da mineração no sul do Pará que acaba influenciando, porque Imperatriz era o principal centro de abastecimento da região e já tinha um comércio que era bem mais expressivo que Marabá, por exemplo. Essa população acabou vindo para cá”, relata o professor. O crescimento econômico da cidade é evidenciado com a instalação de indústrias, como a Suzano Papel e Celulose, e o fortalecimento do comércio atacadista. Ao passo da modernização, a cidade conta com três shoppings centers e dois centros comerciais, um mercado competitivo e crescente. “A modernização das atividades comerciais se confirma a partir da implementação das plataformas modernas do comércio, que são os chamados shoppings centers, além deles, as lojas de atacado, que trabalham principalmente com gêneros alimentícios e que visam atender não só o mercado interno, mas o mercado regional”, destaca o professor Macedo. O especialista em desenvolvimento sustentável, Cristy Handerson Pereira dos Santos, lembra ainda que Imperatriz possui recursos humanos e naturais que são outros atrativos para grandes empresas. “Isso também foi determinante para a instalação da Suzano Papel e Celulose e será para a instalação de outras indústrias de grande porte”, destaca o especialista. A cidade desfruta também de recursos naturais de forma abundante, mas Cristy dos Santos alerta que é preciso agir de forma consciente para não perder isso no futuro. De fato, a princesa do Tocantins, como Imperatriz também é conhecida, precisa de atenção e cuidado enquanto continua crescendo. Nas últimas décadas, é o município que mais se desenvolveu na região e, por outro lado, também figura entre as que mais precisam de cuidados. Em busca de empregos - “Eu estive em Imperatriz a passeio, mas disse para minha cunhada: se você conseguir um emprego aqui, eu venho embora. Então, ela me levou até um médico responsável por uma clínica, conversamos e ele me ofereceu um

emprego”. Foi assim que a técnica em enfermagem Maria Telma Rocha, 55 anos, chegou em Imperatriz na década 90, com a promessa de trabalhar na antiga Clínica Psiquiátrica da cidade. “Não foi fácil decidir, porque eu tinha uma farmácia em Codó, mas, mesmo assim, deixei tudo e vim. E vim justamente pelo desenvolvimento. Achei que era uma cidade bem próspera e nesses 30 anos que estou aqui a cidade se desenvolveu em todos os âmbitos”. Maria Rocha trabalhou também no hospital Santa Isabel, e no PSF da Vila Cafeteira. “Sempre conciliei os dois empregos, trabalhei na

clínica psiquiátrica por 23 anos, só parei em 2008, porque tive que me aposentar por um problema de saúde”, conta. Aqui, foi bem acolhida por todos, mas chegou a pensar em voltar para Codó, por conta da saudade que sentia das pessoas. Porém, segundo ela, foi apenas um pensamento: “sinto que essa é a minha cidade, onde vim para ficar, tanto que não tem mais como voltar, Deus tem me abençoado. O que mais gosto é da convivência, do trabalho social que tenho desenvolvido e que gosto muito. Para mim, a cidade tem oferecido bênçãos, tanto que hoje sou vereadora”, finaliza.

Crescimento econômico de Imperatriz beneficia mais de 30 cidades vizinhas TEXTO: LORENNA SILVA

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desenvolvimento de Imperatriz tem posicionado a cidade como um polo comercial para a região. Estima-se que 34 localidades se abasteçam hoje dos produtos imperatrizenses. Porém, nem sempre foi assim. O crescimento ocorreu a partir da inauguração da rodovia Belém – Brasília em (31 de janeiro de 1960), então a cidade passou a registrar um aumento na população graças à ampliação do fluxo de pessoas que transitavam na região. Nesse período, Imperatriz se torna um polo econômico-comercial. Atualmente, Imperatriz abastece localidades em um raio de 200 km e uma população de mais de um milhão e meio de habitantes. Graças a sua localização geográfica, possui ligações com cidades do Maranhão, sul do Pará e Piauí e norte do Tocantins. No Estado, importantes cidades vizinhas, como Açailândia e Balsas, também têm Imperatriz para abastecimento em alguns segmentos. Em função dessa demanda, a cidade desenvolveu um comércio atacadista amplo e diversificado. Os produtos mais solicitados são os de circulação rápida, como alimentos. A estimativa dos empresários locais é que 8,5 mil microempreendedores individuais, do conjunto de cidades

que se abastecem em Imperatriz, façam compras no município. Segundo o secretário Eduardo Soares, da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), todos os setores econômicos da cidade são fortes, entretanto a indústria tem se destacado nos últimos anos. “Em 2016, a indústria foi o setor que mais colaborou para o aumento do Produto Interior Bruto (PIB)”, explica ao frisar que Imperatriz é uma cidade extremamente promissora, pois cresce rapidamente. Apesar da participação das indústrias na geração de riquezas, o setor de serviços foi o mais colaborou para o aumento do PIB no ano em 2014, segundo o IBGE, e aquele que gerou a maior quantidade de empregos. Esse desempenho trouxe benefícios para a cidade e para as populações vizinhas. O município, ao ser uma fonte de abastecimento de produtos, colabora com o aumento dos negócios no setor de comércio local e favorece as negociações também nos municípios vizinhos. Na prática, a relação comercial com os demais municípios melhorou o fluxo de capital municipal, o que proporcionou que a cidade tenha o maior mercado atacadista da região. Além disso, as entidades governamentais trabalham para melhorar o atendimento a esses compradores e realizam atividades que fomentam o empreendedorismo.


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DESORGANIZAÇÃO Trânsito e Vigilância Sanitária são apenas alguns dos exemplos de setores públicos que precisam melhorar sua atuação para combater as irregularidades na cidade de Imperatriz

Cidade sofre com fiscalizações precárias JOÃO PEDRO TEXTO: VALÉRIA CRISTINA DIAGRAMAÇÃO: DANIELLE CAROLINA

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s problemas de uma cidade afetam diretamente a vida da sua população. Quando os órgãos responsáveis pelas fiscalizações ou soluções desses problemas não cumprem o seu papel, os serviços e ambientes urbanos tornam-se desorganizados, prejudicando toda a sociedade. Em Imperatriz são várias as reclamações da população em relação a atuação de alguns órgãos, principalmente, relacionadas ao trânsito. Mas há deficiências nas fiscalizações também em outros setores menos visíveis, como aqueles ligados a questões sanitárias dos estabelecimentos da cidade. Enquanto no trânsito a desorganização e o desrespeito são mencionados como as principais consequências da falta de uma fiscalização mais rigorosa, o mau cheiro, a presença de lixos e esgotos dividindo o mesmo ambiente com a venda de alimentos provam que o papel da vigilância sanitária em Imperatriz também precisa melhorar. “Acredito que falta mais acompanhamento dos órgãos responsáveis. Se houvesse uma fiscalização mais rigorosa esses problemas não aconteceriam ou pelo menos seriam amenizados”, comenta o vendedor kelvem Smith Santos Ferraz. A opinião da universitária Laryssa Sena Miranda é parecida. Para ela faltam fiscalizações nos bairros. “Acho que estão trabalhando um

Desrespeito da população na utilização dos locais públicos piora a dinâmica social e prejudica a qualidade de vida de todos

pouco mais atualmente, porém só no centro, não vejo nenhum movimento de fiscalização nas periferias”. Em relação ao trânsito, o supervisor da Secretaria Municipal de Trânsito (Setran), Alcione Buenos de Sousa, afirma que as fiscalizações no trânsito de Imperatriz estão sendo realizadas e que nos quatro primeiros meses de 2017 foram apreendidos 787 veículos na cidade, sendo 393 motocicletas e 173 automóveis. No entanto, reconhece que o número

de agentes é pequeno para o número de veículos que a cidade possui, são 45 agentes no total, divididos em três turnos. “Nosso contingente é pequeno para a quantidade de veículos da cidade, por isso damos prioridade aos eventos que vão acontecendo, não podemos deixar de cobrir um acidente de trânsito para fiscalizar. Nós temos que dar prioridade à segurança do trânsito e à fluidez para, posteriormente, pensar na autuação”, afirma.

O supervisor defende a necessidade de ampliar o número de fiscais para a realização de um trabalho mais efetivo e que, para isso, a gestão municipal já teria convocado dez novos agentes com foco no reforço das fiscalizações. Ainda assim, ressalta que também é preciso haver maior conscientização por parte dos condutores quanto às normas de trânsito. A situação da fiscalização sanitária não é muito diferente da Setran. A chefe do núcleo de fiscalização do

Trânsito faz mais de 2 mil vítimas por ano TEXTO: LUCAS VALE MOREIRA DIAGRAMAÇÃO: ELIZA MACHADO

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uracos, fiscalização deficiente e imprudência estão entre os principais motivos do trânsito caótico de Imperatriz, que possui a segunda maior frota de automóveis do Maranhão, totalizando aproximadamente 135 mil veículos, de acordo com o IBGE. A cada ano, são registrados mais de 2 mil acidentes de trânsito na cidade. Em 2016, foram 2.817 vítimas com idades entre 11 e 60 anos, como mostram dados adquiridos com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Em entrevista concedida ao jornalista Arimatéia Júnior, no programa “Rádio Alternativo”, da Nativa, no dia 16 de maio, o prefeito de Imperatriz, Assis Ramos, comenta sobre o problema: “percebo que o trânsito de Imperatriz é desorganizado. A rua do Arame na Vilinha, por exemplo, vai ter sentido único, para organizar o tráfego na via e, sobretudo, para proporcionar mais segurança às pessoas que ali transitam”. Em relação ao Mercadinho, local apontado como mais problemático em horários de pico segundo motoristas, pedestres e trabalhadores locais, o prefeito afirmou que o objetivo não é tirar a renda, nem o trabalho das pessoas, mas há um compromisso de organizar o local. Nos primeiros meses do atual governo de Imperatriz, foram realizadas algumas mudanças emergências como alteração de sentido de vias e fiscalizações mais intensifica-

das, principalmente, sobre os meios de transporte clandestinos. Outras ações, segundo o diretor executivo da Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte (Setran), Rader Brito, devem ser implantadas ainda no segundo semestre de 2017, como a formação do Grupo Tático de Trânsito (GTT) que será responsável por levantamentos periciais em casos de acidentes; a implantação do número emergencial 156, idealizado a fim de facilitar o contato do cidadão com a secretaria de trânsito - que atualmente é feito através do número (99) 99230-1001 - e a criação do sistema de estacionamento rotativo no centro da cidade, que deverá beneficiar todos os condutores e fazendo valer, principalmente, os direitos dos idosos e deficientes às vagas preferenciais. Para Rader, as maiores preocupações da Setran são as vidas dos pedestres e condutores e, posteriormente, a melhor trafegabilidade com mais segurança e fluidez nas ruas do município. “Iniciamos com algumas operações de trânsito no início de 2017 que funcionaram como um teste, mas que serão aplicadas de fato no segundo semestre mediante convênios com as esferas federal e estadual”. De acordo com o diretor executivo, Imperatriz não possui um plano de mobilidade urbana, fundamental para a modernização das vias públicas, direcionando investimentos na melhoria da trafegabilidade. Segundo informações da Setran, esse projeto foi iniciado com a

exercício profissional da vigilância sanitária, Márcia Marly Santos Figueiredo, explica que apesar de existir um cronograma para as ações do órgão e as fiscalizações acontecerem todos os dias, o número de fiscais da vigilância sanitária também não é suficiente para a demanda da cidade, que atualmente possui apenas oito fiscais e seis chefes de inspeção. “O número de estabelecimentos alimentícios, como por exemplos, lanchonetes, pizzarias, cresceu muito em Imperatriz. O nosso número de fiscais é muito pequeno para a demanda”, diz. Em relação aos problemas sanitários do mercadinho, Márcia afirma que é preciso ser realizada com urgência uma ação conjunta e que a Vigilância Sanitária já conversou com o secretário de Planejamento Urbano para o Desenvolvimento sobre uma medida. Ela afirma que o serviço de fiscalização de fato precisa melhorar, mas para que isso ocorra é preciso ter um número maior de agentes e mais capacitação, o que já foi solicitado à Vigilância Sanitária do Estado. Embora os problemas na atuação da Setran e da Vigilância Sanitária sejam mais visíveis, eles não são os únicos órgãos deficientes que não executam com qualidade as fiscalizações na cidade. Há muitos outros segmentos com atuação precária que sequer procuram solucionar questões como a falta de fiscais. Os prejuízos continuam a recair sobre os cidadãos, que enfrentam, no dia a dia, o mau funcionamento de alguns setores em Imperatriz.

JOÃO PEDRO

atual administração municipal e já está em andamento sob a tutela de um engenheiro de trânsito, devendo ser finalizado ainda este ano. Educação e o trânsito - Alguns populares, quando questionados, confirmam a frustração e o medo com o trânsito de Imperatriz, mas admitem que devido à pressa, acabam cometendo uma ou outra infração, como parar em fila dupla ou realizar estacionamentos indevidos. É o caso do caminhoneiro entrevistado, que não quis se identificar, mas assume cometer irregularidades sempre que realiza carga ou descarga no setor mercadinho, como forma de cumprir os prazos curtos impostos por seu empregador. Visando a conscientização dos atuais e futuros condutores, a Setran, por meio da coordenação de educação para o trânsito, promove desde 2014, palestras e blitz educativas, principalmente durante datas comemorativas como o carnaval. E, também, durante todo o mês de maio, com a campanha maio amarelo, que busca alertar a sociedade sobre a importância da mudança de comportamento no trânsito. Esses eventos acontecem prioritariamente nas escolas e instituições públicas, mas, quando solicitado, podem ser realizados em empresas, escolas e universidades particulares. Dados fornecidos pelo Samu apontam que a quantidade de mortes diminuiu de 15 óbitos, em 2015, para 11, em 2016. Por outro lado, a quantidade de acidentes aumentou

Descumprimentos da lei de trânsito, como as paradas em fila dupla, são frequentes na cidade.

em pouco mais de 4%. Para o vendedor, Antônio Carlos, que residiu em São Paulo (SP) por quase duas décadas, o trânsito de Imperatriz começa a se assemelhar ao trânsito paulistano quando se trata da quantidade e fluxo de veículos em relação à malha viária disponível. Adicionando isso à fiscalização precária, ele afirma ter que se adaptar a uma grande variedade de situações diárias, que, na capital paulista, facilmente acarretariam em multas graves ou, até, em acidentes. Conforme a coordenadora de educação para o trânsito da Setran, Terezinha Miranda, “a violência no trânsito de Imperatriz tem diminuído, tornando-se perceptível que as

ações de educação para o trânsito têm feito tanto pedestres, quanto condutores, tomarem conhecimento de que a Setran possui um plano de ação e fiscalização. Falta apenas a compreensão e colaboração da sociedade como um todo para que tenhamos paz e segurança no trânsito”, afirma. Ao questionar, porém, a população sobre os efeitos benéficos das blitz e palestras educativas no trânsito imperatrizense, apenas pequena parcela das pessoas entrevistadas afirma ter percebido ou presenciado tais ações promovidas pela Secretaria de Trânsito e a avaliação do trânsito municipal continua amplamente negativa.


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AVANÇO Além das obras públicas, a iniciativa privada têm contribuido com a mudança visual no cenário urbano de Imperatriz, deixando a cidade mais bonita a cada ano que passa

Obras modernizam a infraestrutura urbana MARIA DE FÁTIMA NASCIMENTO TEXTO: JOÃO PEDRO DIAGRAMAÇÃO: LUCAS OLIVEIRA

problemas estruturais. O novo terminal desafogou o conturbado trânsito da cidade e tem proporcionado mais qualidade para os ônibus e passageiros.

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instalação de grandes empreendimentos públicos e privados está diversificando a economia de Imperatriz, a segunda maior cidade maranhense, e modernizando alguns de seus setores. Os investimentos realizados nos últimos anos no município, têm resultado na melhoria gradativa da infraestrutura urbana, com novos empreendimentos como a construção de shopping centers, praças, hotéis, edifícios residenciais, comerciais, fábricas e indústrias. Um dos investimentos de destaque é a revitalização da Beira-Rio, um dos maiores pontos turísticos da cidade. O local fica às margens do Rio Tocantins, o segundo maior rio de extensão do Brasil, que banha as cidades que compõem a Região Tocantina. Com uma nova “cara” o principal cartão-postal da cidade é palco de muita diversão, fonte de renda para comerciantes e possibilita a prática de exercícios físicos. Desde 1994, a avenida nunca havia recebido uma intervenção tão estruturante. Para o autônomo Humberto Silva, que todos os dias faz caminhada na Beira-rio, a cidade só tem a ganhar com investimentos desse porte. “Quando você não tem um ambiente de lazer, as crianças, os jovens e adultos, eles ficam muito ociosos, não têm o que fazer. Então, uma praça proporciona um ambiente cultural e de lazer, porque aqui a gente conhece pessoas de várias culturas, religiões e crédulos, e aqui a gente pode interagir. A cidade ganha com a questão cultural e atrativa”, declara. Imperatriz conta com um comércio forte, consolidado e que abastece vários municípios do Maranhão, Tocantins e do Pará. Mesmo com o Produto Interno Bruto (PIB) sendo um dos maiores do estado, a infraestru-

Algun novos investimentos realizados na cidade, como na Praça Mary de Pinho, centro de Imperatriz, melhoram o aspecto urbano.

tura da cidade – principalmente dos locais públicos – é ainda muito precária. Algumas exceções podem ser verificadas e fazem parte desse cenário de novos investimentos da cidade, como a Praça Mary de Pinho, no centro de Imperatriz. O local foi construído recentemente e quem passa por perto se surpreende com o tipo de paisagem ainda pouco comum na cidade. O verde das gramas, o chafariz, o espaço para prática de caminhada e os brinquedos para a diversão das crianças chamam a atenção e entusiasmam quem passa pelo local. O instrutor Leo da Silva Alves frequenta a praça com a família e considera o local como um ambiente agradável e no qual se pode desfrutar do lazer com os familiares. “Deveria haver praças desse tipo em todos os bairros da cidade. Até porque a gente precisa de um ambiente para as crianças brincarem e interagirem. Isso tira o jovem da rua e das drogas”. Outro local que está atraindo

muitos visitantes é o complexo esportivo Barjonas Lobão, o antigo Fiqueninho, situado na avenida Bernardo Sayão, que depois de reformado passou a contar com piscina olímpica, quadra poliesportiva com arquibancada, pista de Cooper, pista de caminhada, rampa de skate, campo de futebol society e academia de saúde. De acordo com o secretário municipal de Infraestrutura de Imperatriz (Sinfra), Francisco de Assis Amaro Pinheiro, essas obras que formam os cartões portais da cidade, dão o ar de cidade moderna e há outros projetos para revitalização de outras praças. “Assinamos um convênio com a Caixa Econômica Federal, o dinheiro já está garantido, e estamos preparando o processo de licitação junto ao banco. Em breve serão licitadas mais quatro praças: Praça da Cultura, Praça da União, Praça da Vilinha e Praça da Bíblia. Serão obras de revitalização que vão beneficiar a cidade, deixando-a mais moderna e bonita”, afirma.

Segundo o secretário, a cidade de Imperatriz em breve ganhará, ainda, um novo ponto turístico. “Estamos fazendo algumas ações, montado processos de licitação. Já temos alguns projetos em estudos, como por exemplo, o Panelódramo, que já conta com um projeto pronto. Só estamos tentando viabilizar com o Exército Brasileiro para ver se eles conseguem uma permuta naquela área da Avenida Bernardo Saião esquina com a Rua Alagoas. É uma obra bem interessante e que já está no ponto”. A Ponte Dom Affonso Felipe Gregory é outro ponto que deixou a cidade mais bonita. Esse importante ponto turístico que liga os estados do Maranhão e Tocantins, recentemente, recebeu iluminação artística nas cores azul, verde e vermelho, o que pode ser visto de longe à noite, tanto pela beira do Rio Tocantins, quanto dos pontos altos da cidade. Uma nova rodoviária também substituiu a antiga, que sofria com

LIANNA ARRAES

Grandes eventos movimentam a rede horteleira de Imperatriz TEXTO: MARIANA FERNANDES DIAGRAMAÇÃO: LUCAS OLIVEIRA

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cidade de Imperatriz sedia eventos de grande porte e de caráter regional, como a Feira do Comércio e Indústria (Fecoimp) e a Exposição agropecuária de Imperatriz (Expoim). Juntas, estas feiras se aproximam de quase 70 edições realizadas e despertam o interesse na cidade para outros eventos de caráter nacional, como o Encontro Nacional de Motociclismo de Imperatriz. A realização de tais eventos movimenta a rede hoteleira da cidade aumentando consideravelmente o fluxo de hospedagens durante o período em que acontecem. Hoje, Imperatriz já sedia grandes eventos que movimentam expressivo capital financeiro no Nordeste e transformam a cidade em um polo turístico de negócios. “Com um fluxo maior de compra e venda das micro e pequenas empresas, consequentemente, cresce o fluxo de turismo de negócios, o modelo turístico com maior demanda na cidade, já que não conta com uma estrutura ecológica e ambiental que consiga fortalecer o turismo eco-

lógico local”, diz o secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Eduardo Soares. O turismo de negócios é um segmento recente que estimula a economia turística no país. Em Imperatriz não é diferente, tendo grande importância para movimentação e crescimento financeiro. O turista usufrui de serviços simultâneos na viagem, como hospedagem, alimentação e lazer, além do seu objetivo básico de estabelecer parcerias, negociar, criar redes de contatos e conhecer novas tecnologias. A realização de eventos em Imperatriz é mais evidente no segundo semestre de cada ano, quando acontecem os maiores eventos de negócios da cidade: a Fecoimp, a Expoimp, o Motoimp e o Salimp (Salão do Livro). Estes são os eventos de maior público, onde parte dos comércios da cidade, de uma forma ou outra, se beneficia.. A Feira do Comércio e Indústria está em sua 18º edição, organizada pela Associação Comercial e Industrial (ACII) em parceria com entidades públicas e privadas. Em sua última edição, a feira incentivou o crescimento e desenvolvimento comercial de Imperatriz por meio das

startup’s, que é o ato de começar algo e inovar no mercado. Conforme Hélio Rodrigues, presidente da ACII, “a corrida de startup’s se consolidou na feira. Hoje, existe uma diretoria de tecnologia para tratar do assunto na associação”. “O principal facilitador da grande movimentação de público e de negócios durante os eventos é a localização geográfica privilegiada da cidade, recebendo toda a região tocantina”, aponta Leonardo Leocádio, coordenador da Fecoimp. O diretor de Turismo da Fecoimp, Luiz Henrique, completa afirmando que a cidade tem potencial para abranger todos os campos do turismo, tanto evoluir no setor turístico de negócios como ampliar para o turismo ecológico, de sol, praia e gastronômico. O presidente do Sindicato Rural de Imperatriz (Sinrural), Renato Pereira, afirma que no caso do turismo de negócios, a rede hoteleira durante as edições da Fecoimp alcança sua maior taxa de ocupação na época do evento. Os transportes públicos municipais (ônibus, táxi, moto táxi e vans) tem também no período um movimento muito superior ao normal, assim como os barese restaurantes.

Outros investimentos - A iniciativa privada também tem contribuído com a mudança visual no cenário urbano de Imperatriz. Entre inúmeros empreendimentos na cidade, os shoppings centers se destacam. Construídos nos últimos anos, eles são modernos, altos e inovaram a cidade com vastas praças de alimentação, locais para apresentação cultural e fonte de renda para a população, o que força o comércio central a também qualificar seus estabelecimentos. O Timbira Shopping é o mais antigo da cidade e o Imperial Shopping e o Tocantins Shopping são os mais atuais e modernos. Para o gerente de Marketing do Imperial Shopping, Bruno Carvalho, o empreendimento contribuiu para que a cidade de Imperatriz ficasse mais bonita. “Imperatriz é uma cidade de notório progresso e crescimento. O Imperial não poderia ir contra o fluxo, o empreendimento deveria seguir a tendência naturalmente imposta pela própria cidade”, declara. Carvalho acrescenta que a chegada do Shopping trouxe vários pontos positivos para o município, como serviços, restaurantes, cinema e lazer, que agregam valor ao cotidiano dos imperatrizenses, enriquecendo sua experiência e ampliando as opções de entretenimento. Para aqueles que visitam Imperatriz, vale conhecer as opções que hoje a cidade já oferece. É consenso que ainda há muito a ser incrementado quanto à infraestrutura urbana em geral, mas, quem já passou pela cidade há alguns anos e retorna, pode testemunhar os avanços estruturais que a cidade vem sofrendo nos últimos anos.

Turismo de negócios tem fomentado a ampliação da rede de hotéis

Analisando o site reconhecido mundialmente como um guia para viajantes, o Tripadvisor, pode-se ver os hotéis bem avaliados pelos usuários e os leitos disponíveis. Hoje, o Ibis Imperatriz Hotel, de categoria econômica, oferece 132 leitos, com preço acessível visando receber executivos, principalmente durante o período de grandes eventos voltados para o setor de negócios. O

Residence Hotel oferece 158 apartamentos, com cinco estilos diferenciados de escolha: Casal Standard , Solteiro Standard, Suítes luxos, Suítes Master e Suíte Premium, além do Imperial Hotel que foi lançados há poucos anos e possui boa localização na BR-010 ao lado do Imperial Shopping. Assim, a cidade conta com uma rede hoteleira em plena expansão e qualificação.


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MULTICULTURALISMO Segundo o IBGE, apenas 5,34% dos habitantes nasceram na cidade de Imperatriz, sendo que a grande maioria dos moradores atuais é procedente de outros estados e países

Imperatriz: a cidade que abriga o mundo MARIANA FERNANDES TEXTO: MAYRA LUZ DIAGRAMAÇÃO: TALISON FERNANDES

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mperatriz tem uma localização que facilita o seu desenvolvimento. Há pessoas de várias regiões do Brasil e de outros países, cada uma tem seus motivos, uns em busca de trabalho, outros por estudo. A diversidade cultural está presente nas ruas da cidade, vai desde o “oxente” do nordestino, o “tchê” do gaúcho e até mesmo nas palavras faladas em outros idiomas. Imperatriz sem dúvidas não é só um pouco do Nordeste é uma mistura de todo Brasil, com um pouco do mundo. O Multiculturalismo é o termo utilizado para descrever a presença de várias culturas em uma região e Imperatriz, mesmo sendo uma cidade do interior, apresenta uma grande variedade de culturas, pois apenas 5,34% dos habitantes nasceram na cidade e a grande maioria dos moradores atuais é procedente de outros estados e países de acordo com o senso de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ghania Yassine, 67 anos, nasceu no Líbano, país localizado na Ásia Ocidental e é uma entre tantas pessoas de fora que residem em Imperatriz. Ela conta que chegou no Brasil em 1963, primeiramente morou na cidade de Cáceres, no Mato Grosso, e logo depois, no ano de 1968, após seu marido arrumar emprego na cidade, mudou-se para Imperatriz. Ela mantém um estabelecimento que abriu com o filho, a esfiharia do Tio Ali, onde são feitas comidas

Já tendo morando em diversas cidades do Brasil, o Chinês Lu Micky, de 27 anos, está há 15 anos no país e escolheu se ficar em Imperatriz, por considerar o comércio local muito bom.

da culinária árabe. “No começo foi difícil acostumar com o idioma, mas logo logo a gente aprende. Ainda assim, continuamos repassando nossa cultura para os filhos e meus netos, que já falam árabe”. O Chinês Lu Micky, 27 anos, conta que está há 15 anos no Brasil. Ele tem uma lanchonete na avenida Getúlio Vargas com o nome “Lanchonete Chinês”, muito conhecida por ter pastéis de frango com catupiry deliciosos. O asiático já morou em várias cidades do Brasil antes de

vir para Imperatriz, como São Paulo, Rio de Janeiro, São Luís, entre outras. “Vim para Imperatriz porque tenho muitos amigos chineses aqui. O comércio é bom, eu gosto”, explicando o motivo de se fixar na cidade. Marina Valim, 28 anos, é de Ituporanga, uma cidade de Santa Catarina. Ela conta que o que culminou na sua ida para Imperatriz, em janeiro de 2015, foi uma proposta da empresa que ela trabalha. Quanto à adaptação com o clima, costumes e

O povo do pé rachado LUIDIANNY LIMA

Imperatriz, bem como a região Nordeste, é famosa por seu multiculturalismo, pela receptividade e pela simplicidade das pessoas da cidade. TEXTO: PAULLA MONTEIRO SOARES DIAGRAMAÇÃO: TALISON FERNANDES

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comum associar pessoas a lugares, pois elas transformam e representam o ambiente em que vivem. Um país como o Brasil, berço da miscigenação racial e cultural, é enraizado pela diversidade entre o seu povo; e isso é a maior riqueza que um lugar deve deixar de legado, o povo. A região Nordeste é famosa por seu multiculturalismo,

pela receptividade e principalmente pela simplicidade, e as pessoas da cidade de Imperatriz também carregam essa fama. Sim, as pessoas fazem parte do que a cidade tem de melhor a oferecer. A diversidade é o que chama a atenção pelas ruas: gente de todas as etnias, lugares e classes; todos juntos, sobrevivendo no mesmo espaço. O calor característico não é perceptível apenas no clima, pois os habitantes também o oferecem com

a mesma disposição e aconchego. O comércio local também é atrativo, o que faz com que imigrantes de inúmeras regiões estabeleçam vínculos na cidade. E o jeito Imperatrizense, visto por alguns turistas como “grosseiro”, é por aqui também entendido como parte da simplicidade de pessoas que receberam uma educação diferente, acolhedora e humilde, desde o sotaque até a hospitalidade. A estudante de 18 anos, Yananda Reis conta uma situação simples

cultura musical, ela declara que é tudo “muito diferente” do Sul. “Não tem inverno aqui, que é uma coisa que eu gosto .Na questão de comida, o “coentro” a gente não costumava comer muito e aqui é bem comum. O costume é bem diferente, o gosto musical aqui tem a predominância de música sertaneja e lá no sul eu tinha a oportunidade de ir a bares de outros estilos. Aqui em Imperatriz há mais esse estilo sertanejo mesmo”, comenta sobre seu processo de adaptação na cidade.

Marina assegura que acompanhava a evolução do município desde 2011 e percebeu que a construção civil aflorou com a construção do shopping. Ela descreve que Imperatriz foi uma cidade que hospedou ela muito bem. Quando recebeu a proposta de vir, ela tinha a opção de continuar na Bahia (local que trabalhava anteriormente) e resolveu vir para Imperatriz. Assim, ela se juntou a tantos outros trabalhadores que deixaram suas regiões e hoje escolheram morar na cidade.

vivida na cidade e que representou o “cuidado” que só percebeu na região, “Morei em Imperatriz por oito anos, uma coisa que me marcou na cidade foi a receptividade. Por exemplo, um dia, quando fui dormir na casa de uma amiga, ela me cedeu sua cama, não se incomodou em dormir em um colchão no chão. Um gesto simples que representa muito”.

reador da cidade, Edmilson Sanches, que reside e pesquisa sobre Imperatriz há vários anos. Segundo dados de 2015 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade abriga mais de 250 mil habitantes e, na maior parte, o carisma, a interação, esforço, a simplicidade e o acolhimento nutrem as pessoas todos os dias, com calos nas mãos e o sorriso no rosto. O Imperatrizense dá aulas de como fazer amizade das mais diferentes formas, desde um banheiro comercial ou em filas públicas. Do pé rachado ou não, nativo ou imigrante, o povo é um grande legado da região e faz parte das melhores riquezas a oferecer a quem chega.

“Abraços Grátis” – Esta era a frase estampada em inúmeros cartazes que um grupo de jovens carregava na Beira-Rio na tarde do dia 20 de Maio. É comum vermos iniciativas de igrejas ou grupos privados nas ruas distribuindo comidas, roupas, kit-higiênico ou até mesmo um simples abraço a quem precisa. A intenção de integração social vinculada ao toque físico é rotineiro no “maranhense do pé rachado” ou entre quem “já bebeu das águas do Rio Tocantins”, termos usados para quem é nascido na cidade ou veio e ficou; e já aprendeu o segredo de como se relacionar com o jeito simples de levar a vida e com a disposição em ajudar. “É um povo cuja maioria não nasceu imperatrizense -- fez-se. Havendo gente de todos os lugares do Maranhão, brasileiros dos diversos estados do Brasil e estrangeiros dos vários continentes do mundo... A cidade se tornou uma São Paulo na pré-Amazônia. A variedade de origens, a multiplicidade de histórias, a diversidade de objetivos tornaram Imperatriz uma cidade onde, sendo casa de todos, todos se sentem em casa (...) O povo de Imperatriz é o seu melhor e o seu pior. É seu próprio verdugo, mas também sua própria salvação”, relata o escritor e ex-ve-

Um olhar de fora - “Quando cheguei em Imperatriz realmente fui muito bem recebida pelas pessoas. E isso é uma coisa que me causa um certo estranhamento, porque morei muitos anos no sul, onde as pessoas são muito mais fechadas em comparação com as daqui. No Nordeste, em geral, eu sei que as pessoas são mais receptíveis, sempre disponíveis para conversar, se cumprimentar. Há uma diferença muito grande e notável. Principalmente pra quem é de fora, o povo daqui é prestativo e proativo nesse sentido de como receber bem. Realmente, tem a ver com os moradores que se acostumam com essa rotina, com esse cotidiano e isso acaba passando também pra quem não é Imperatrizense, mas que convive com as pessoas da região”, relata a professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Michele Goulart Massuchin.


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Rio tocantins ainda é meio de sobrevivência TEXTO: THAÍS CORREIA MARINHO DESIGN: LUANA FONSECA E THAYNARA LEITE

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mperatriz tem uma grande relação com a pesca por ser às margens do Rio Tocantins. A cidade vive o rio e esse compõe a história da cidade, com muitas famílias que sobreviveram e sobrevivem da pesca. É importante lembrar queos ribeirinhos são muito relevantes na formação da população imperatrizense, aqueles povos que moram nos arredores do rio e têm a pesca como principal atividade de sobrevivência. Estes, foram reconhecidos pelo Decreto Presidencial nº 6.040, assinado em sete de fevereiro de 2007. Nele, o Governo Federal passou a reconhecer a existência formal de todas as chamadas populações tradicionais. No município, a pesca é um hábito que muitas vezes foi passado de pai para filho e se perpetuou até os dias atuais. Eles pescam para alimentar as famílias e/ou para vender e garantir seu sustento. O melhor período para pesca em Imperatriz é de outubro a abril, tempo chuvoso na cidade e época em que o rio está cheio. De maio para setembro, o rio seca e a abundância diminui. Quando se trata de horário, o amanhecer ou o anoitecer é ideal, quando as águas se acalmam, os peixes circulam mais livremente. Estes pescadores utilizam varas, redes, tarrafas e às vezes até uma simples linha de nylon, com anzol e isca. Na região, costuma-se usar como isca minhocas, angu (feito com farinha e algodão), e milho. Adalton Trajano, 42 anos, morador de Bela Vista, no estado do Tocantins, pescou por muito tempo, desde criança, junto com seus irmãos, costume aprendido com o pai. Na adolescência ajudava sua mãe com as vendas. “Era um tempo diferente, as coisas eram mais difíceis, se é que me entende, eu precisava ajudar meus pais de alguma forma, já que eram 12 filhos pra eles sustentarem”, conta. Parou de pescar quando apareceu uma oportunidade de emprego que lhe garantiu uma melhor qualidade de vida. Já Aguinaldo Góes, 35 anos, cresceu também às margens do Rio To-

cantins, ainda reside na cidade, e pesca até os dias atuais, mas a necessidade também lhe faz barqueiro para travessia de estudantes e trabalhadores de Imperatriz para Bela Vista, cidade vizinha, ou vice e versa. Segundo ele, a renda aumenta no período de veraneio, quando o fluxo de passageiros é maior e há ida para as praias, de maio a setembro. “É melhor pra mim no tempo das praias, o movimento é grande, até no meio da semana, dá pra gente ganhar um dinheirinho bom”, explica ele que ainda tem o rio como sustento. Cheias - Muitas vezes quando o rio enche, os ribeirinhos ficam desabrigados e desalojados, por conta de suas casas ficarem inundadas. Para a Defesa Civil, desabrigados são aquelas famílias que tiveram a casa invadida pela água e foram para os abrigos, enquanto os desa-

lojados são aqueles que, também, foram expulsos de casa pela água, mas foram para a casa de parentes. A Defesa Civil de Imperatriz garante uma infraestrutura para atendimento dos ribeirinhos quando ficam desabrigados. Arcam com caminhões para fazer a remoção das famílias até o Parque de Exposições Lourenço Vieira da Silva, onde se localiza o alojamento, e também ajudam com entrega de cestas básicas. Segundo dados fornecidos pelo superintendente da Defesa Civil, Francisco das Chagas, na última vez que o rio transbordou em janeiro de 2016, foram removidas cerca de 660 famílias que moram em áreas ribeirinhas, consideradas áreas de risco diante da alta do rio que atinge grande vazão e afeta os bairros: Vila Leandra, Bairro da Caema, Beira Rio, Porto da Balsa, e curtume.

Piracema - A Piracema em imperatriz se inicia em 1° de novembro e vai até 30 de janeiro. Trata-se do período no qual os cardumes fazem movimento contra a correnteza, nadando rio acima, para alcançar as cabeceiras e as nascentes dos rios para desova de ovos. É um período importante para a reprodução dos peixes e deve ser respeitado. Se os peixes tiverem dificuldades para se reproduzir, muitas espécies podem ser extintas e não terá nada para a pesca. Além disso, a extinção de qualquer espécie é um risco para o equilíbrio ambiental da região. Por esse motivo, a pesca durante o período de Piracema é proibida. O período da piracema acaba coincidindo com a melhor época para a pesca, o que acaba ocasionando problemas. Se alguém for pego pescando durante a Piracema, poderá pagar uma multa mínima de R$ 700, responder judicial-

mente por crime ambiental e ter todo seu material apreendido. O órgão responsável por essa inspeção nessa fase é a Polícia Militar Ambiental. O que é permitido na Piracema - a pesca pode ocorrer em área não restrita somente utilizando linha de mão e na modalidade desembarcada, caniço simples, vara de pescar com carretilha ou molinete. Pescadores recebem o benefício do seguro-defeso durante a piracema. A Concessão e a habilitação cabem ao INSS e a gestão ao ministério do trabalho e emprego. O benefício tem o valor de um salário mínimo mensal e é pago enquanto durar o período, até o limite de cinco meses. A duração da piracema é estipulada pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), de acordo com a época de reprodução de cada espécie. PEDRO TEIXEIRA

Ciclos das águas do Rio Tocantins afetam a pesca, mas ribeirinhos ainda retiram do rio o sustento para suas famílias


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ANO IX. EDIÇÃO 33 IMPERATRIZ, MARÇO DE 2018 GABRIEL HENRIQUE

Orla do rio: palco de lazer e diversidade TEXTO: GIULIANA PIANCÓ DIAGRAMAÇÃAO: RAFAELA DO N. GOMES

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pôr do sol nos instantes anteriores ao entardecer é o enquadramento perfeito para o cartão postal da cidade. Imperatriz é cortada pelo segundo maior rio totalmente brasileiro, que nasce na Serra Dourada em Goiás e passa pelos estados do Tocantins, Maranhão e Pará, até a sua foz no golfo Amazônico. Fonte de renda dos trabalhadores locais e repleto de belezas, o rio traz consigo inúmeras opções de lazer para quem passa por sua orla, a Beira-Rio. Observando de longe de suas margens a calmaria do rio contrasta com a correria da vida urbana presente na segunda maior cidade do estado. O local abriga grande diversidade e grupos multiculturais que usam o espaço público para a prática de muitas atividades: jogadores de futebol, patinadores, ciclistas, corredores, grupos de oração e piqueniques. Barraquinhas de tacacá, vatapá, churros, restaurantes, sushi bar e até as tradicionais peixarias na avenida, todos dividindo o mesmo espaço. O local é escolhido para sediar diversos eventos, como ocorreu no primeiro final de semana de maio. Enquanto um professor utilizava a Academia da Saúde, localizada na Beira-Rio, para aulas com capoeiristas, algumas pessoas se aproximavam ali ao lado, sentavam-se na grama com seus livros e aguardavam a montagem de um som. Era a organização para o Sarau Versos ao Vento, que aconteceu no dia 6 de maio. Amanda Vitória Fonseca, uma das idealizadoras do evento, conta que a ideia do sarau surgiu com a necessidade de um momento e espaço para que as pessoas mostrem a sua arte. “Às vezes quem produz arte sente que ela não se encaixa em um lugar mais formal. Esse é um momento de expressão”. Amanda conta que a Beira-Rio foi o primeiro lugar em que pensou: “Tinha que ser a aqui. Esse não é o primeiro sarau que acontece, mas a gente queria fazer uma coisa diferenciada e democrática”. O evento foi pensado para que as pessoas que estivessem passando pudessem parar observar e ir embora. “O melhor lugar pra isso acontecer é a Beira-Rio, é o primeiro lugar em que as pessoas pensam quando pensam em

lazer”, completa. A avenida Beira-Rio também é palco de histórias de gente que constrói a identidade de Imperatriz, gente como a dona Vicenza Silva Lima de 51 anos, casada, mãe de três filhos e com seis netos, de riso frouxo e braços calorosos conta que criou todos ali. Ela trabalha vendendo lanches há quase 20 anos, e lá tem de tudo: batata-frita, crepe, guaraná da Amazônia, água de coco e refrigerantes. Sua barraquinha fica bem perto da beira do rio e ela conta que a vista que têm enquanto trabalha é como um presente. “Aqui vem gente de todo lugar: rico, pobre, de todo jeito. O mais diferente é quando vêm os turistas no mês de julho, eles ficam olhando o rio, esse rio que a gente vê todo dia, mas que pra eles é novidade”, explica ao comentar sobre o que mais gosta do local. Praias - Em julho, além das férias escolares, é o período oficial de veraneio da cidade. Desde maio, olhando o outro lado do rio é possível observar a movimentação de canoas, mesas e cadeiras, alguns banhistas e ambulantes. Francisco das Chagas (Chico do Planalto), superintendente da Defesa Civil, afirma que ainda não tinha visto o rio tão baixo como está esse ano. “O rio secou mais rápido e está em uma

metragem que nós ainda não tínhamos conhecimento. A previsão é que teremos condições para que a temporada de praias seja aberta oficialmente na primeira quinzena de julho”, adiantou. De acordo com o superintendente, as praias mais procuradas ainda são as conhecidas Praia do Cacau e Praia do Meio: “Quando elas abrem, derrubam todas as outras em número de pessoas, principalmente após a infraestrutura que foi oferecida. A iluminação que você recebe no centro da cidade é a mesma que essas praias recebem”. Chico menciona que as praias são frequentadas também à noite, recebem pessoas

“Aqui vem gente de todo lugar, de todo jeito. Os turistas no mês de julho ficam olhando o rio, esse mesmo rio que a gente vê todo dia, pra eles é novo”. de toda parte do Brasil e até estrangeiros. “Aos domingos chegam a circular 15 mil pessoas na Praia do Cacau e 4 mil, na Praia do Meio”.

A estrutura oferecida vai de postes de iluminação, banheiros químicos, objetos de demarcação e até guarda-vidas. Um seletivo está em processo inicial para contratar 30 profissionais guarda-vidas para o período de praias. “Não temos afogamento com vitimas fatais desde 2009”, lembrou. Dona Vicenza Silva também elogia as mudanças dos últimos meses, segundo ela, o policiamento e o cuidado com a Beira-Rio, a população e o Rio Tocantins estão melhorando: “Antes não era assim, mas agora melhorou: a gente vê a polícia sempre por aqui, as coisas estão engatinhando”. Além do reforço na segurança, que era uma das reclamações mais incidentes por parte da população, a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semmarh), por meio do Núcleo de Educação Ambiental, também está realizando ações a fim de efetivar melhorias. O projeto desenvolvido no local teve início em fevereiro desse ano. A diretora do setor de educação ambiental da Semmarh, Bárbara Barbosa, comenta que foi feito um trabalho de conscientização com os trabalhadores do local sobre como acondicionar seu lixo. “A falta de lixeiras foi uma reclamação dos próprios trabalhadores, que também GABRIEL HENRIQUE

A orla do Rio Tocantins, Beira-Rio, não é só um local de lazer para o imperatrizense, mas também de onde vem o sustento de muitas pessoas.

sentem o incômodo causado pelos detritos jogados no local”. Após o momento educativo foram instaladas as lixeiras. “Conseguimos essas lixeiras por meio de doações e as instalamos no mês de abril”, conta Bárbara. “Temos uma programação para o dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, quando será feita a arborização e revitalização nas margens do rio, bem como trabalhos educativos com os alunos do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e da Escola Municipal Frei Manoel Procópio”, lembrou. Em obras - A revitalização da avenida Beira-Rio, anunciada no início de 2015 pelo secretário de Estado de Infraestrutura, Clayton Noleto, chegou a ser embargada em 2016 por não ter licença ambiental, mas saiu do papel. O Governo do Estado do Maranhão, por meio da Secretaria de Infraestrutura (Sinfra), lançou a nova Beira-Rio em 2017. Orçada em R$ 3,1 milhões, a primeira etapa consistiu no aterro de uma lagoa artificial para a construção de uma praça de eventos e a contenção da erosão da margem do rio Tocantins. O projeto completo conta com jardins descortinados, a Praça do Sol; estacionamento com mais de 400 vagas; feiras populares; espaço de lazer infantil e uma passarela na lagoa, além de um espaço de apoio destinado a administração local, postos policiais e de primeiros socorros e sanitários públicos. A reforma na Beira-Rio era um sonho antigo dos moradores e trabalhadores locais. Juliana Silva, estudante que em seu tempo livre ajuda a avó na venda de lanches, apostava na construção e lançamento: “chegaram a parar diversas vezes”, conta. Agora, porém, a praça já pode ser visitada pela população. Hoje, as novas instalações fazem a alegria daqueles que frequentam a orla do rio e veem o patrimônio imaterial da cidade valorizado e lembrado de forma efetiva, como um espaço de cultura, poetas e canções, como dizem os versos de “Imperador Tocantins”, de Carlinhos Veloz: “e os nobres filhos da princesa, frutos da mãe natureza cheios de beleza vão pro Tocantins, a tarde cai e o sol se vai, ó Deus do céu, abençoai o Imperador da Imperatriz do Tocantins”.


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MEIO AMBIENTE

Seca castiga e Rio Tocantins pede socorro Em consequência do baixo nível do rio, Imperatriz pode passar por constantes rodízios de abastecimento de água. O aproveitamento ilegal da pesca e a poluição agravam o cenário. FOTOS: JANAÍNA SANTOS TEXTO: FERNANDA PILLAR DIAGRAMAÇÃO: JACQUELINE REIS

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or efeito da retenção de água pela usina hidrelétrica de Estreito e pelo baixo regime de chuvas, o Rio Tocantins pode secar novamente este ano, e com mais agressividade que o ocorrido em 2016 - segundo o superintendente da Defesa Civil, Francisco das Chagas. A consequência é o possível rodízio de abastecimento de água pelos bairros da cidade. Mas esse não é o único dano que o rio Tocantins é obrigado a enfrentar neste momento: antes ele era o único meio de sobrevivência dos pescadores; agora, o rio não oferece pelo menos cinco das espécies de peixes que em outra época oferecia (piabanha, jaraqui, pacu manteiga, surubim e caranha). Hoje, é impossível sobreviver exclusivamente da pesca em Imperatriz e uma das principais causas são os riachos poluídos com esgotos que desaguam indevidamente no rio. Em setembro de 2016, o Rio Tocantins alcançou o quadro mais alarmante da sua história: a água baixou a ponto de dificultar a passagem de embarcações. O nível do rio chegou a 3,34 metros abaixo do nível normal. Em 2017, os bancos de areia surgiram precocemente em maio, como antes não ocorria. Em temporadas de chuvas anteriores, o rio Tocantins alcançava de seis metros a oito metros acima de zero. Em 2017, ele não ultrapassou quatro metros e meio – mesmo com o aumento de 40% do índice de chuvas em relação ao ano passado. Se esse cenário continuar, Imperatriz terá que passar por constantes rodízios de abastecimento de água – porque, de acordo com Francisco das Chagas, o baixo nível de água dificulta a sucção pela bomba de captação da Caema. Isso significa que pode não ter água suficiente no reservatório para abastecer todos os bairros de uma única vez. “O futuro do rio é duvidoso, é um rio que está na UTI; se as pessoas não olharem para ele, nossas futuras gerações vão pagar o preço”, alerta o superintendente. Usina hidrelétrica de Estreito - O regime de chuvas e a retenção de água pela usina hidrelétrica de Estreito (MA) determinam o nível da água do Tocantins. Em 2016, no dia 29 de setembro – quando o nível da água foi o menor da história do rio –, a vazão da usina foi também a mais baixa desde o início do seu funcionamento: 754 m³ de água por segundo. De acordo com o geógrafo Davison Nascimento, quando os índices fluviais caem nas regiões próximas à hidrelétrica, a água é represada e fica retida para garantir a produção de energia. Bancos de areia surgem, portanto, mais evidentes que em seu estado natural e a vazão do rio permanece baixa no decorrer do ano. “Ou seja: eles vão reter em nome do interesse econômico, e aí o restante do curso do rio acaba sofrendo todo o impacto”, denuncia o geógrafo. Outro prejuízo é que, com o alagamento de regiões próximas à hidrelétrica, agricultores que subsistiam do rio foram forçados a migrar para outras regiões a custo de indenização. “O medo que a gente tem é do

A pesca para subsistência é comum no local de desaguamento do Riacho Bacuri. Os peixes são atraídos pela concentração de matéria orgânica.

A poluição que compromete o Riacho Bacuri acaba prejudicando o Rio Tocantins quando as águas desaguam.

rio secar e acabar o peixe”, confessa o pescador José de Ribamar, ao explicar a necessidade de o rio encher para alcançar lugares aonde os peixes possam liberar os ovos. O geógrafo Davison lembra que a represa do rio e o alagamento das regiões em torno da hidrelétrica modificam as características de bioma: toda a dinâmica que interage com o rio é alterada. “Já foi comprovado que uma grande quantidade de peixes foi extinta, por exemplo, no curso de Imperatriz; e muitos outros peixes já morreram na região de Estreito em função dessas alterações”, ressalta. Fim da pesca como único meio de sobrevivência - “Tanto gasta a gasolina como gasta a gente”, desabafa seu Adão, que tem 78 anos e começou a pesca profissional com 22 – mas há dez anos não pesca mais. Segundo ele, o valor que é investido no combustível é inferior aos lucros trazidos pela pesca. Seu Adão viu os tempos de fartura do rio Tocantins, quando “o boto andava com a barriga cheia e passava distante da rede uns 10 metros”. Hoje em dia, o animal anda tão faminto que arranca o mandi-terra de dentro da rede – antigamente ele nem gostava

de mandi-terra. “Tinha peixe para comer e vender”, conta. Segundo Luís Alves, também pescador, só duas espécies de peixes subiram para o rio que margeia Imperatriz esse ano: branquinha e avoador. “É difícil, a gente tem que caçar outros meios de vida”, desabafa. “Se a gente for viver só do peixe, a gente passa fome”. Além das modificações de bioma trazidas pela usina hidrelétrica

“As pessoas transformaram esses riachos em uma cisterna”. de Estreito, outros fatores estão extinguindo as espécies de peixes no rio Tocantins. Um deles é o desmatamento da mata ciliar - que gera impactos na vegetação e leva os detritos para dentro do rio (assoreamento). Outro fator é a utilização ilegal de redes de malha pequena, chamadas “redes de arrasto”, que capturam esses animais em grande quantidade independente do tamanho – os menores apodrecem e são

descartados antes de se reproduzirem. A pesca ilegal no período da piracema (1° de novembro a 28 de fevereiro) – quando o rio está enchendo e os peixes sobem em direção às águas mais calmas a fim de se reproduzir – também é um agravante, pois impede a perpetuação das espécies. De acordo com os pescadores, há falta de fiscalização por parte do Ibama e uma consequente desobediência à lei. “O Ibama tinha que proibir o arrasto e a Piracema. Na Piracema, o tempo todinho o povo pesca”, relata seu Adão. “Depois disso, o esgoto acaba com o resto: eu tô acostumado a ver: quando o rio tá enchendo, o peixe chega na boca dos esgotos e começa a comer aquelas coisas, a beber aquela água... Daqui a pouco tão virando, morrendo”. Não é história de pescador: os efluentes (riachos que desaguam no rio) dentro da área urbana também ocasionam a escassez do pescado. O rio vítima dos riachos - Segundo Segundo o biólogo especializado em meio ambiente, Pedro Queiroz, a qualidade da água do rio Tocantins tem piorado ao longo do tempo – com mais rapidez nos últimos dois

anos – e pode chegar a um momento em que será quase insuportável aproveitá-la, como é o caso da água dos riachos Capivara e Bacuri. De acordo com o biólogo, se a situação atual se estabilizar e não houver atitude por parte dos governantes, em 20 anos o rio pode se assemelhar a esses córregos, e as empresas de tratamento de água terão que se utilizar de recursos cada vez mais extremos de purificação. O quadro ainda não está insuportável devido à vasta extensão do rio e ao regime de chuvas. Ao todo, são seis pontos de esgotos domésticos e sete riachos maranhenses que correm ao encontro do Rio Tocantins: Cacau, Córrego Agamenon, José de Alencar, Capivara, Bacuri, Santa Tereza e Riacho do Meio. Pedro Queiroz realizou análises da água na margem direita do Rio Tocantins, onde fica localizado o município de Imperatriz, que revelaram um pH ácido (em torno de 5.4) em alguns pontos, e um pH alcalino (em torno de 8) em outros. Na margem esquerda, onde fica o estado do Tocantins, esse número é neutro: em torno de 6.8 e 7.1. Isso significa que a margem do estado do Tocantins é menos poluída. “É uma agressão constante e veloz contra o próprio rio”, comenta o superintendente Francisco das Chagas ao se referir ao lixo que é depositado nos riachos de Imperatriz: “as pessoas transformaram esses riachos em uma cisterna”. A presença de matéria orgânica (vegetais e animais em estado de decomposição), no entanto, atrai peixes e, consequentemente, pescadores aos pontos do rio onde desaguam os riachos. Isso significa que em decorrência da escassez de peixes no restante do rio, não é incomum pescadores se alimentarem de animais infectados por substâncias químicas presentes nos esgotos. Órgãos responsáveis - Por se tratar de um rio federal, os órgãos municipais não se responsabilizam diretamente pelo Rio Tocantins – e sim pelos riachos que cortam o perímetro urbano. Segundo o gerente executivo do Ibama, Marco Antônio Coelho, a hidrelétrica de Estreito foi licenciada pela superintendência do Tocantins após obedecer a uma série de critérios. O que o Instituto pode fazer, portanto, é receber queixas apenas quanto ao lago que se formou nas margens da usina. As principais denúncias recebidas pelo Ibama com relação ao Rio Tocantins são sobre o desmatamento da mata ciliar e a pesca predatória. Segundo ele, essas denúncias são colocadas em um cronograma e atendidas mediante sua urgência. Apesar dos pescadores relatarem a ausência de vigilância no rio, Marco Coelho afirma que há fiscalização dentro e fora do período da Piracema. A secretária municipal do meio ambiente e recursos hídricos (SEMMARH), Rosa Arruda, afirma que a Secretaria está realizando um trabalho de revitalização do rio por meio da identificação dos afluentes, suas nascentes, e possível restauração. “A ideia é revitalizar todos os afluentes do rio Tocantins em quatro anos”, promete.


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Culinária local amplia sua diversidade Inúmeros estabelecimentos imperatrizenses apostam em diferentes iguarias para atrair novos públicos e, assim, a cidade tem diversificado o seu mercado gastronômico TEXTO: THAISE TORRES DIAGRAMAÇÃO: LUCAS MILLHOMEM

THAÍS MARINHO

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mperatriz registrou um crescimento de 22% no seu Produto Interno Bruto (PIB) – calculado pela soma de todas as riquezas produzidas no município - nos últimos dez anos, índice impulsionado por indústrias e empresas que abastecem a cidade. Com maior número de cidadãos, empresas e seus funcionários, a alta na oferta gastronômica se tornou essencial para o consumo diário. Atualmente, segundo dados da Associação Comercial e Industrial de Imperatriz (ACII), a cidade conta com 597 bares, 234 restaurantes e 139 lanchonetes, um crescimento acentuado na última década, consolidando um mercado diversificado e que continua a ser ampliado a cada dia. A culinária é parte da cultura local, contando hoje com diversas opções alimentícias que coexistem com as comidas típicas populares. Essas têm se mantido como pratos amplamente consumidos dentro e fora dos estabelecimentos: panelada, carne de sol, caranguejo, espetinho, sarapatel, assado na panela e, de preferência, acompanhadas por arroz de cuxá. Tradição na mesa - Pelos bairros, existem locais conhecidos por oferecer a refeição mais popular que o município possui. Junto ao longo da concorrência fixa, as paneladas podem ser encontradas facilmente no Entroncamento, no Camelódromo, na antiga rodoviária e nas mais famosas barracas espalhadas pela avenida Bernardo Sayão, nas “Quatro Bocas”, onde esse

A culinária de Imperatriz é parte da cultura local. A cidade conta hoje com diversas opções alimentícias que surgiram e coexistem com as comidas típicas populares da região.

serviço é ofertado há mais de 20 anos. As paneladas têm se mantido no hábito alimentar de muitos imperatrizenses e se tornado referencial de tradição. Podendo ser apreciada “de costas pra rua” as refeições podem ser adquiridas por valores baixos, ao alcance de todo o público. A carne de sol também é encontrada por preço atraentes, com opções de espetinhos ou maiores porções que acabam por ser o preferido dentro das escolhas tradicionais do público. “O costume de ter refeições que incluem o arroz faz com que esses pratos ainda sejam os mais procurados”, afirma André Wallyson, moderador da página Ex-

perimente ITZ, que avalia o desempenho de opções gastronômicas em Imperatriz. Hoje, porém, as opções gastronômicas se diversificaram. Entre as diversas opções disponíveis na cida-

“Fica difícil escolher tanta opção dentro de praças e quiosques de refeições, para se alimentar por tão pouco e em horários tão alternativos”

de, passou a ser comum encontrar lanches, refeições completas e muita variedade de açucarados. Nos últimos cinco anos, o que vem chamando a atenção na rotina dos imperatrizenses são os fast-foods, em geral de famosas franquias norte-americanas, impulsionados principalmente com a chegada dos shoppings na cidade. Nestes centros comerciais, fica difícil escolher tanta opção dentro de praças e quiosques de refeições, com possibilidade de se alimentar por valores relativamente baixos e em horários tão alternativos. Mas, não só os Estados Unidos trouxeram sua cultura culinária. Alimentos típicos de

países como a Síria, a China, o Japão, entre outros, já são populares pelo centro da cidade também. Assim, as comidas típicas ganham espaços privilegiados nos hábitos alimentares da população, mas dividem sua atenção com as novidades que chegam e despertam a curiosidade dos consumidores. Frente à disputa pelos clientes, a modernização dos pratos oferecidos é um fator que influencia o contínuo crescimento dos restaurantes, uma vez que “os típicos nunca perdem a majestade por aqui”, explicam os empresários Claudete e Luís Carlos Torres, proprietários de um restaurante da cidade. Segundo eles, há gosto para todos os públicos. “O número de opções cresce juntamente à sugestão da clientela. Mas, com o tempo, nós nos adequamos à preferência dos consumidores, mesmo que seja modernizando o famoso ‘arroz e feijão’, pois procuram provar sempre uma novidade”, afirmam os empresários. Quanto aos deliverys (comida entregue em casa), opções de hambúrgueres cresceram muitos nos últimos anos na cidade, mas disputam a preferência dos clientes com outros pratos. Já é possível encontrar todos os tipos de refeições com esses serviços de entrega, desde massas, leguminosas ou sobremesas para festividades, unindo os sabores às facilidades que o serviço oferece. Assim, o crescimento econômico de Imperatriz tem impactado positivamente na culinária local. O crescimento do setor é contínuo e a cidade espera abraçar as próximas novidades recheadas de muito sabor.

Mercadinho: variedades que vão das frutas aos eletrônicos FERNANDA PILLAR TEXTO: THALYS VINICIUS OLIVEIRA DE SOUSA

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ariedade. Esta é a palavra que melhor define o grande setor mercadinho em Imperatriz. Nem mesmo a presença de vários supermercados com setores de hortifruti ou grandes feiras de bairros como a feira do Bom Sucesso, Quatro Bocas, Bacuri e Vila Lobão, faz o setor comercial perder seu enorme público. A cidade já reconhece o mercadinho como um dos pontos de referência na compra de frutas e legumes dos mais variados tipos. Graças ao tamanho da feira e à grande variedade, o setor consolidou a fama de “aqui, tem de tudo um pouco”. Mais do que proporcionar rapidez nas compras, o setor também é responsável por gerar empregos. São vários pontos de vendas formais e informais espalhados no local, dando forma a este grande centro comercial. Mesmo a cidade contando com outras feiras conhecidas e supermercados, as pessoas se deslocam para fazer suas compras no mercadinho, como relata Antonio Mesquita, feirante que trabalha no local há 24 anos. Ele conta que vários fatores contribuem para atrair as pessoas ao local, como a variedade, os preços baixos dos produtos, o contato direto entre cliente e vendedor e a praticidade para as compras. Esses são alguns dos diferenciais apontados como vantagem na comparação com os supermercados, por exemplo. “Aqui

você pode fazer suas compras com mais rapidez, como geralmente é sempre no dinheiro, não gasta tempo passando cartão, não precisa enfrentar filas de caixa e pode sempre pedir um desconto para o vendedor”. Sobre a variedade, Mesquita brinca que “no mercadinho você encontra até bainha de foice”. Outra característica do local é o seu trânsito caótico. Para José Sobrinho, comerciante no setor há cerca de 13 anos, essa é uma consequência do crescimento do local e populacional, situação na qual as pessoas têm que se acostumar. “Até por conta da localização, para chegar em vários outros lugares tem que passar por aqui, o que faz com que o tráfego fique sempre cheio e amontoado”, explica. O comerciante também aponta a variedade como vantagem sobre as outras feiras e supermercados. “A gente pode pensar que o mercadinho não tem boa estrutura, mas isso pode ser visto, por outro lado, como um ponto positivo, pois os produtos ficam expostos e todos próximos uns dos outros, os clientes chegam aqui em busca de uma coisa e acabam vendo outras logo ali do lado e compram também”, completa. O mercadinho também é visto por muitos como oportunidade de empregos e novas atividades, pois o lugar é propício para quem procura dar início ao próprio negócio. Vitória Falcão, que há dois anos começou a trabalhar em um armazém da família, aponta a diversidade como responsável pelo sucesso

Imperatriz identifica o mercadinho como um dos pontos de referência para a população local na compra de frutas e legumes dos mais variados tipos.

do mercadinho e o que proporciona liberdade para abrir um negócio próprio. Segundo ela, o mercadinho é um ótimo lugar para as compras por fazer as pessoas se sentirem à vontade, contando com grande variedade de frutas nas feiras, de modo que o cliente se sente livre para comparar preços e qualidade do produto nas diferentes bancas. A lojista Deusirene de Souza, que trabalha no mercadinho há 28 anos, confirma a variedade como ponto forte, já que existe maior facilidade para se encontrar, num lugar só, praticamente tudo o que se busca. Ela conta que o mercadinho sempre teve um comércio diversificado: “sempre tiveram as feiras,

as lojas de roupas e de calçados divididas por setores, mas o local se ampliou e ficou essa mistura”. A fama do mercadinho se espalha a outras cidades circunvizinhas e até estados. Constantemente, revendedores de outras partes da região realizam compras nas feiras e armazéns do mercadinho. Segundo a nutricionista Luanna Lima, não há problema no consumo das frutas e verduras que são vendidas nas feiras livres, desde que elas sejam devidamente lavadas com hipoclorito de sódio próprio para alimentos. Ela, que também conhece o mercadinho, confirma a variedade de frutas como um grande diferencial do setor, já que “pode-se achar frutas

regionais e nutritivas a preços justos, o que contribui para desmistificação de que alimentação saudável custa caro”. Quem tem o hábito de fazer compras no mercadinho confirma a representatividade que o setor adquiriu, pela extensa variedade de produtos, pelas oportunidades de empregos e pela praticidade nas compras. Há consenso de que há pontos negativos reconhecidos do setor que precisam ser melhorados, como o trânsito e o lixo jogado nas ruas, mas o lugar representa parte importante da cidade, seja como opção para compras de produtos alimentícios, seja como local consolidado no imaginário da cidade de Imperatriz.


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ATENDIMENTO REGIONAL

Alta demanda é a grande vilã do Socorrão

Imperatriz possui cerca de 250 mil habitantes, mas o número de carteiras do SUS excede os 800 mil na cidade, em função da vinda de pacientes de outras cidades em busca de atendimento TEXTO: GABRIEL HENRIQUE DIAGRAMAÇÃO: WYLDIANY OLIVEIRA

GIULIANA PIANCÓ

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Hospital Municipal de Imperatriz (HMI), ou “Socorrão” como é popularmente conhecido, atende municípios do Maranhão, Tocantins e Pará. Cerca de 70% dos pacientes que dão entrada no hospital para realização de cirurgias são de cidades próximas. Com a grande demanda, a saúde pública da cidade enfrenta dificuldades, agravada pela falta de investimentos. Como consequência os atendimentos ficam comprometidos, um problema para a cidade que mais recebe pacientes na região. Nos bancos de espera do Socorrão é possível observar o fluxo frenético de enfermeiros e pacientes em um dos maiores centros de promoção de saúde macrorregionais. Nos quartos de observação, cada paciente leva o ventilador de casa, visto que a circulação de ar é mínima e o calor torna-se insuportável. Nas macas, os acompanhantes dividem espaço com os pacientes. Júlia*, 45 anos, acompanhava o filho Lucas* de 19 anos e conta que algumas pessoas passam dois dias na observação, pois não há espaço na UTI. “Hoje até que está bom! Tem dias que o pessoal tem que ficar em pé porque não tem espaço”, disse. Antônio*, 25 anos, é morador de São Pedro dos Crentes, município no interior do Maranhão. O jovem foi encaminhado para o hospital municipal de Imperatriz depois de fraturar uma perna. A tia de Antônio, dona Ana*, 50 anos, conta que foi difícil marcar uma cirurgia, pois ele não foi enviado pelo município através do encaminhamento padrão. Chegado o dia da cirurgia, oito dias depois do acidente, o procedimento não foi realizado. “Eu perguntei: doutor tem muita gente marcando cirurgias, não corre o risco de a gente vir e não dar certo? Mas ele disse que podíamos confiar. No final, Antônio foi operado três meses depois”. Ana diz que, Antônio chegou a vestir a roupa cirúrgica, mas foi mandando embora momentos antes de entrar na sala de cirurgia. Após tentarem marcar novamente, sem sucesso, a família foi até Balsas, burlando o sistema de encaminhamento e ainda assim Antônio não foi operado, apenas medicado. Depois de três meses a cirurgia foi aconteceu. “Às vezes ele reclama: ‘tia ainda dói’”, conta.

Alta demanda impõe dificuldades à saúde pública da cidade. A falta de investimentos agrava a situação e compromete os atendimentos.

Em março de 2017, o hospital municipal, através do Núcleo de Regulamentação Integrado (NIR), adotou políticas para o recebimento de pacientes de outros municípios, com o intuito de aperfeiçoar o trabalho no hospital. A assessora dos auditores do Centro de Especialidades Médicas de Imperatriz (Cemi), Joelma Araújo, conta que na cidade é implantado o Programa de Pactuação Integrado (PPI), onde Imperatriz recebe as pessoas de outros municípios por meio de enca-

minhamento especializado, e o recurso é destinado à cidade de Imperatriz depois do atendimento. “Quando um paciente chega para a emergência, e ele é de outro estado ou município, deve ser atendido, mas quando precisar de outro atendimento como o retorno, é preciso vir pelo PPI”, conta. Segundo a assistência do NIR, a coordenadoria esteve em reunião com o Ministério da Saúde e o município, pautando a regulação da chegada de pacientes de outras cidades.

Atendimento a outros municípios - Na primeira semana de janeiro de 2017, foram realizadas 114 cirurgias das mais diversas especialidades dentro do Socorrão. Dessas, somente 43 foram em moradores de Imperatriz. 30 leitos foram solicitados e ocupados, apenas nove deles eram de moradores da cidade. A assessora da Secretaria Municipal de Saúde (Semus), Maria Almeida, explica que a atenção básica ou procedimentos eletivos só podem

ser realizados para quem é morador da cidade. Ela pontua que o último senso do IBGE aponta que Imperatriz possui cerca de 250 mil habitantes, contudo o número de carteiras do Sistema Único de Saúde (SUS) registradas na Semus excede os 800 mil. “O que acontece é que quando as medidas de regulação foram tomadas, as pessoas começaram a burlar o sistema transferindo o cartão SUS para Imperatriz. Por exemplo, o paciente faz o cartão usando o comprovante de residência de algum parente daqui, ou até mesmo conhecido. É o que mais acontece. Quando ele chega ao atendimento, não tem como funcionário refutar a origem do paciente, realizando assim o atendimento”, explica. Estrutura - Dados levantados pela Secretaria Municipal de Saúde estimam que o HMI atende uma população de um milhão de habitantes. Mensalmente, realiza uma média 15 mil atendimentos, incluindo consultas, cirurgias e internações e atendimentos ambulatoriais. Hoje. Imperatriz conta com 27 especialidades. O Socorrão funciona há anos em um prédio locado pela Prefeitura. Diante da demanda de pacientes, é necessário que haja ampliação no hospital, porém, com a estrutura comprometida, isso não é viável. O prédio é úmido e com baixa circulação de ar e luz, principalmente nos quartos de observação. Mesmo com as novas políticas de regulamentação, o problema é enraizado diretamente na qualidade do serviço prestado pelo hospital. Em 2013, foi lançada uma portaria que amparava a criação de leitos clínicos e de retaguarda destinados à população de outros municípios. Na época, Imperatriz cadastrou e informou que existiam 54 leitos criados a partir dessa portaria, contudo, depois da vistoria do Ministério da Saúde, em julho de 2016, foi constatado que esses leitos não existiam e o hospital foi notificado quanto a sua estrutura. As irregularidades não foram resolvidas dentro do prazo e, em maio de 2017, o Mistério da Saúde suspendeu o repasse de R$ 7 milhões em verbas para a saúde pública da cidade, notificando novamente a Prefeitura para a resolução dos problemas. Porém, o prédio do Socorrão está superlotado e não comporta a criação de mais 54 leitos.

Crescimento desordenado define infraestrutura urbana de Imperatriz MICHELE SOUZA TEXTO: JULIO ARAUJO

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cidade de Imperatriz tem sido caracterizada pelos problemas de infraestrutura que prejudicam os moradores - construções irregulares, terrenos invadidos que se tornaram bairros, falta de saneamento básico, alagamentos, buracos e etc – e com o crescimento desordenado, esses transtornos vem aumentando consideravelmente. Todos os anos são recorrentes os problemas com os buracos nas vias da cidade, trazendo prejuízos para os usuários (moradores). Peças são danificadas, pneus estourados, acidentes e trânsito lento. Em período de inverno tem lama, no verão a poeira, prejudicando quem tem doenças respiratórias e sujando as residências.

Com as chuvas, os buracos se proliferam pela da cidade e, quando chega o verão a Prefeitura junto a Secretária de Infraestrutura deflagram a operação “Tapa Buraco”, com isso, irremediavelmente o roteiro se repete. Essa operação consiste em apenas tapar os buracos e não realmente recuperar e revitalizar as vias para resolver o problema - nessa operação, as ruas ficam em níveis desiguais e cheias de ondulações. Segundo o eletricista José Cardoso Filho, 32, tem ruas que são intrafegáveis e, por causa de buracos, ele conta que já sofreu acidentes. Nessa época de inverno surgem novos problemas - alagamentos nos bairros periféricos e no centro de Imperatriz, pessoas ilhadas em carros, motos e em casas, riachos transbordando etc. Etes são eventos recorrentes no período chuvoso. Bueiros

que são insuficientes para o volume de água, muitas vezes são entupidos pelo lixo, podendo trazer doenças para a população. Segundo o morador do bairro Santa Rita, Flávio Araújo, 33, já perdeu tudo em sua casa devido aos alagamentos que ocorrem na cidade, principalmente nas casas perto de riachos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE de 2010, no Brasil cerca de 30% das viagens cotidianas são realizadas a pé. Um problema bastante frequente é a dificuldade dos idosos, deficientes físicos e visuais de se locomoverem em Imperatriz. Devido às calçadas não serem padronizadas, elas acabam se tornando verdadeiros obstáculos no dia a dia. Elas são de responsabilidade primária do Município quanto à sua feitura, manutenção e adaptação

Ruas sem alfalto, calçadas sem nivelamento ou padronização e alagamentos castigam os moradores.

para fins de acessibilidade. A aposentada Lurdes Sousa, 80, explica que sair de casa para realizar qualquer atividade é uma aventura perigosa e que por causa do desnível das calçadas, já até tropeçou e caiu. A segunda maior cidade do estado do Maranhão tem vários pro-

blemas de infraestrutura a serem solucionados. Diante desse quadro caótico entramos em contato com o Secretário de Infraestrutura do Município, Francisco Pinheiro, que não comentou sobre o assunto, tão pouco apresentou projetos desenvolvidos pela Secretária.


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Má qualidade de atendimento é recorrente Imperatrizenses sofrem com a baixa qualificação dos funcionários na prestação de serviços e no comércio em geral. Em resposta, prometem não voltar a comprar em tais estabelecimentos. THAYNÁ FREIRE TEXTO: JACIANE DOS SANTOS DIAGRAMAÇÃO: WILLIAN FERREIRA

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mperatriz é conhecida por ser um polo comercial e de serviços. Esses setores impulsionam a economia local e atraem os consumidores do Sul do Maranhão, do norte do Tocantins e do sul do Pará. A má qualidade no atendimento, porém, é uma marca desses dois segmentos na cidade, de acordo com o Instituto de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) do município. Frequentemente há casos de consumidores que foram mal atendidos ou se sentiram lesados numa transação comercial ou negociação. Um desses casos ocorreu com a dona de casa Amanda Sousa. Ela comenta que já se sentiu constrangida ao entrar numa loja em Imperatriz. “Entrei na loja de calçados no centro da cidade, dei boa tarde e a atendente visualizou minha roupa, perguntou o que eu queria de forma grosseira e deu pouca atenção no atendimento”. Apesar de não ter sido bem atendida pela funcionária da loja, Amanda adquiriu o produto, por não ter disponibilidade de procurar o calçado em outras lojas naquele dia. Entretanto, afirma que nunca mais voltou a comprar produtos no mesmo estabelecimento. A autônoma Laudiceia Moura também passou por situação parecida numa loja de vestuário. Ela comenta que tentou adquirir um cartão do estabelecimento, mas a funcionária colocou vários empecilhos. Laudiceia acredita que a atendente não queria fazer seu cartão em função de pré-julgar sua vestimenta, supondo que a consumidora não teria condições de possuir um cartão da loja. Ela conta que não é a pri-

É recorrente encontrar casos de consumidores que foram mal atendidos ou se sentiram lesados numa transação comercial ou negociação.

meira vez que é mal atendida: “já fui mal atendida em companhias telefônicas, em outras lojas de vestuários e de calçados. Depois desses ocorridos, faço o possível para não voltar a esses locais”. Apesar das clientes Amanda e Laudiceia terem sofrido constrangimento devido ao mau atendimento, elas não procuraram órgãos responsáveis para fazer denúncias sobre os fatos. Uma alternativa seria recorrer ao Procon, que tem o objetivo principal de orientar, educar, proteger e defender os consumidores contra abusos praticados pelos fornecedores de bens e serviços nas relações de consumo. Nele, é possível realizar uma denúncia por meio do telefone de atendimento ou presencialmente no estabelecimento da entidade.

A partir da reclamação, a empresa é chamada, toma conhecimento do problema e promove-se um processo deconciliação entre a organização e o cliente. A coordenadora do Procon municipal, Josimeire de Sousa, explica a importância de registrar os casos de mau atendimento: “é importante fazer a denúncia, pois as empresas que realizam um mau atendimento passam a ter uma preocupação e a pensar em melhorias. Se não houver mudança de comportamento, a empresa pode vir a ter processos judiciais, multas e vários tipos de sanções”. Hoje, segundo a coordenadora, as principais causas de mau atendimento em Imperatriz são frutos de funcionários poucos qualificados, ou seja, que não possuem treinamentos

adequados e buscam exclusivamente vender o produto, sem se preocuparem com a qualidade e a humanização do trabalho. Qualificação - Para melhorar o atendimento nas empresas da cidade existem instituições que oferecem cursos, consultorias, oficinas e palestras. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Instituto Euvaldo Lodie (IEL) e empresas de consultorias privadas são alguns dos órgãos que prestam esses serviços. No caso do Sebrae, o gestor de projetos Allyson Santos comenta que o órgão oferece um curso padrão de atendimento ao cliente e um atendimento conhecido por “cliente oculto”. “O curso padrão

do Sebrae de atendimento ao cliente apresenta uma metodologia que é utilizada em Imperatriz e em todo o Brasil. Geralmente, são ofertadas de seis a oito turmas, dependendo da demanda, a cada seis meses. Já no serviço de cliente oculto, o consultor vai à loja e se passa por cliente, com o objetivo de avaliar como está o atendimento. Depois, conversa com o empresário avaliando a qualidade do atendimento e indicando o que deve ser melhorado na empresa”. O consultor diz, ainda, que é primordial haver o reconhecimento das empresas sobre o problema de mau atendimento, para depois buscar os órgãos responsáveis em auxiliar na melhoria do atendimento ao cliente. Para isso, é preciso disciplina tanto do empresário, quanto dos funcionários. Essa preocupação com o atendimento é observada na empresa da vendedora de óculos, Ana Carolina Lima. “Quando entrei na loja passei por um treinamento de três meses. Fui instruída, principalmente, a saber dar a atenção necessária ao cliente, a como apresentar o produto e a tratar o cliente de forma educada”. Ela conta, ainda, que duas vezes por mês é realizado um aperfeiçoamento dos funcionários. “É uma revisão de tudo que foi aprendido no começo do serviço e realizado pela gerente ou pelo vendedor mais experiente”. A vendedora garante que o atendimento é primordial para sobrevivência das empresas. “Os funcionários e empresários devem ter consciência da importância do bom atendimento. Se não houver, a empresa corre o risco de não fechar as vendas, perder clientes e, ainda, ficar com a imagem ruim diante do mercado”.

Imperatriz: falta de educação e de consciência ainda persistem Hábitos como o de jogar lixo nas ruas, furar filas e desrespeitar o trânsito, ainda são comuns na cidade e reflexos são sentidos por toda a população no dia a dia VALÉRIA CRISTINA TEXTO: PEDRO HENRIQUE DIAGRAMAÇÃO: WILLIAN FERREIRA

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mau comportamento das pessoas em diversos setores da sociedade ainda é muito aparente. Isso é bem perceptível em relação ao descarte de lixo nas ruas na cidade de Imperatriz. Mesmo tendo pessoas todos os dias trabalhando para manter a cidade limpa, muitas outras continuam a sujar. Furar a fila num banco, estacionar em vagas para deficientes ou idosos, avançar o sinal vermelho, descartar lixo no chão, entre outros, são alguns exemplos da falta de educação e de consciência dos cidadãos que se vê constantemente por onde se passa. Mas um dos delitos mais recorrentes e evidentes é o de soltar o lixo em qualquer lugar, desde um simples papel da bala a uma garrafa pet. Sempre com a desculpa de não encontrar pela cidade cestas pra descarte do seu lixo, sem imaginar ou se questionar se aquela atitude está correta ou não. Há quatro anos dona Maria limpa praças e ruas na cidade de Imperatriz. Trabalhando como gari na cidade, ela afirma já ter desistido de esperar boas ações dos cidadãos nas ruas. “Já aconteceu de eu ainda está varrendo aqui, acabando de catar uma embalagem do chão e ver um indivíduo soltar lixo aqui de novo, na minha presença. Acho que eles não respeitam a gente que limpa aqui”, diz. Ações como esta que dona Maria

relata geram alguns questionamentos, entre eles, o porque das pessoas se comportarem desta maneira. As ruas que são um lugar comum, onde ninguém é dono de nada e onde todo mundo é dono, acabam se tornando um espaço insignificante para muitos. As pessoas estão acostumadas a esperar sempre pelo poder público, sujam os lugares, por sempre pensarem que existem pessoas que são pagas para limpar o que é público, como é o trabalho de dona Maria há quatro anos, limpar a sujeira do outro. Dona Maria diz que as pessoas acham que os garis não devem reclamar de ter sujeira nas ruas, pois, se não tiver lixo no chão, eles perdem o emprego. “Já ouvi muitas vezes as pessoas falando que a gente é paga pra isso. Que se eles não sujarem não teremos o que fazer”, afirma. A população está acostumada ou mal acostumada, pode-se dizer, há não se importar com o ambiente em que frequenta e achar que o dever de deixar tudo o que é público limpo e organizado por conta do poder público. “A cultura é essa, de pensar que a municipalidade é responsável por tudo”, afirma a Secretária Municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMMARH), Rosa Arruda Coelho. Segundo ela, a Secretaria está tentando acabar com esse comportamento dos cidadãos de Imperatriz, com implantações de cestas de lixo

A população está acostumada a esperar ações do poder público, mas esquece a corresponsabilidade de cada um para manter a cidade organizada.

em pontos de maior aglomeração de pessoas, como a Beira Rio, Quatro Bocas e em outros pontos estratégicos da cidade. “Fazendo também um incansável trabalho de conscientização, pra ver se a gente consegue mudar essa cultura, para manter a cidade limpa. A ideia é manter as praças sempre arrumadas”, complementa. Hábitos como esses não são apenas dos imperatrizenses, mas infelizmente de grande parte de toda a população mundial. Claro que a intensidade em que isso ocorre varia de uma região para outra. Existem cidades que já evoluíram muito nessa questão da reeducação das pessoas quanto ao lixo e no que diz respeito a

manter a cidade limpa, pois já investiram em educação e conscientização ambiental. “Nós não fomos formados por uma educação ambiental, pra ter essa consciência. A gente sempre pensa que só o meu papelzinho de bala é mínimo, ele é pequeno, nada prejudicial, insignificante”, comenta a antropóloga Emilene Leite de Sousa. Para ela, essas atitudes vêm desde a nossa educação na primeira infância, da educação que vem de casa. “Os adultos de hoje não foram criados e ensinados a limpar a própria sujeira e acabamos levando isso para outros setores à medida que vamos crescendo. Mas as escolas estão agora tentando modificar isso com a ideia da educação ambien-

tal. Todo mundo tem feito um trabalho pra modificar isso”, complementa. O fato é que ainda há muito que se evoluir em relação às atitudes dos cidadãos inseridos em uma sociedade em que todos são responsáveis pelo que se faz e pelo que não se faz. Sempre seguir regras simples de uma boa convivência, como esperar a vez sem furar a fila e jogar o lixo no destino correto mesmo que ninguém esteja vendo. É preciso que os cidadãos enxerguem a responsabilidade de cada um na sociedade e se eduque as próximas gerações para se alcançar o sonho de uma sociedade mais educada.


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Terrenos baldios viram lixões a céu aberto Nos quatro primeiros meses de 2017, a Secretaria de Planejamento Urbano intensificou a fiscalização emitindo 68 notificações para proprietários de lotes abandonados na cidade de Imperatriz. CAROLINE DUARTE TEXTO: LIANA ARRAES DIAGRAMAÇÃO: KEILA GADELHA

também ao dono cercar seu terreno e murá-lo com altura mínima de 1,50 metros. Em casos de descumprimento da lei, o proprietário é notificado para construir o muro dentro do prazo de quinze dias. Passado esse período e não cumprida a notificação, o dono pode vir a perder o bem. É aplicada ainda uma multa que vai de R$ 5 mil a R$ 50 milhões para quem é flagrado lançando lixo em local inapropriado, podendo responder por crime ambiental com detenção de seis meses a um ano de acordo com a Lei 9605. A Secretaria de Planejamento Urbano (Seplu) é o órgão responsável pela fiscalização. De janeiro a junho de 2016, 20 terrenos foram limpos e murados. Nos quatro primeiros meses de 2017, foram realizadas 68 notificações. O trabalho de fiscalização envolve três questões básicas: o aspecto urbano, segurança pública e a questão ambiental.

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ugar de lixo é no lixo! Todos já proferiram ou ouviram tais palavras. Para dar vasão a essa realidade, em agosto de 2010 foi sancionada as regras da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). As determinações são para a extinção dos lixões no país, tendo como prazo para adequação o período de quatro anos. Todavia, mais de sete anos depois, ainda não são perceptíveis, no município de Imperatriz, quaisquer obras para melhorias físicas no lixão ou para construção de um aterro sanitário. De acordo com o secretário municipal de Infraestrutura, Amaro Pinheiro, nos próximos dois anos serão feitas melhorias no lixão que será desativado aos poucos, enquanto o aterro sanitário é executado. Um breve passeio pelas ruas da cidade de Imperatriz já é suficiente para observar a triste realidade do lixo espalhado pelas calçadas, logradouros e, sobretudo, em terrenos baldios. Os resíduos são responsáveis não só pelo mau cheiro, como também por entupir bueiros, causando enchentes nos períodos chuvosos. São culpados, ainda, por afetar o aspecto urbano, ao criar paisagens nada agradáveis para os moradores. Além disso, os locais com essas características são propícios para esconderijo de marginais. A Secretaria Municipal de Infraestrutura (Sinfra) trabalha para a realização da limpeza da cidade com as práticas da varrição de rua, coleta diária de resíduos sólidos, equipe padrão para limpeza variada e a coleta de lixo aplicada próximo

Terreno à venda na rua Dom Pedro II, no bairro Bacuri, após anos servindo como depósito de lixo de moradores.

aos lotes baldios. Entretanto, todos esses métodos não são suficientes, de acordo com secretário Pinheiro, pois o depósito irregular dos detritos é fruto também de uma questão cultural dos cidadãos. “Falta educação para ter uma cidade limpa, a Prefeitura realiza um trabalho de limpeza e no outro dia já é provável que alguém tenha jogando lixo”, diz. O secretário afirma ainda que para reverter a situação é necessário um trabalho de conscientização, com divulgação panfletária sobre o depósito correto dos resíduos. O aposentado José Novaes da Silva mora no bairro Bacuri há dez anos. Ao lado da sua casa há um ter-

reno que exala forte cheiro provocado pelo riacho poluído que corta a área e pelos restos de lixo depositados no local. O morador afir-

“Falta educação para ter uma cidade limpa. A Prefeitura realiza um trabalho de limpeza e no outro dia já é provável que alguém tenha jogando lixo”. ma que o dono do terreno realiza limpezas, mas os moradores continuam jogando seus lixos no lote, o

que levou o proprietário a colocar o terreno a venda. A estudante Izaira Magalhães, moradora do Parque Anhanguera, lamenta que devido ao lixo no terreno próximo a sua residência, “a aparência da rua fica triste”. De acordo com ela, os vizinhos realizaram a limpeza do terreno baldio, onde era possível encontrar até sofás velhos, e o transformaram em um campo de futebol. De acordo com a Lei Municipal nº 850 de 1997, que dispõe sobre a higiene pública, os terrenos devem ser mantidos livres de lixo, mato e detritos, sendo o proprietário obrigado a conservar a limpeza. Cabe

Fique atento - Vizinhos e moradores que se sentem incomodados por terrenos nessa situação podem e devem denunciar entrando em contato com a Secretária de Planejamento Urbano (Seplu) pelo número (99) 99198-4620. Quanto ao lixo de construções, a Lei Municipal nº 850 de 1997 proíbe o depósito de materiais de construção em vias públicas. A remoção desses resíduos deve ser feita pelo proprietário do lote. Um opção é contratar empresas que forneçam caçambas para depósitos de entulho, o que facilita o trabalho e garante a limpeza em frente às obras.

Falta de arborização reflete descaso dos moradores e da gestão pública JESUS MARMANILLO TEXTO: LUIDIANNY CARVALHO

Imperatriz vem registrando grandes transformações físicas e econômicas, principalmente nos últimos 10 anos. Novas construções são vistas e iniciadas a todo momento. Ao virar a esquina, lá está um novo empreendimento. São residenciais, comércios, praças e espaços para o público. A manutenção de áreas verdes e de árvores, no entanto, não tem tido atenção equivalente ao crescimento na cidade. Espaços com árvores são cada vez mais raros, o que impacta diretamente na qualidade de vida dos moradores. Em paralelo ao crescimento urbano, atitudes que degradam o meio ambiente são mais visíveis, como corte de árvores e lixo em canteiros, que começam a prejudicar natureza e, por consequência, os cidadãos e até a estética de Imperatriz. São avanços que geram uma falsa ideia de desenvolvimento. No ano de 2011, a Câmara de Vereadores aprovou a Lei municipal ordinária Nº 1424/2011 que

contém nos seus artigos um posicionamento severo e exige atitudes éticas e sustentáveis de qualquer projeto que atinja fisicamente e ambientalmente a cidade. Mas, o que se verifica é o não cumprimento por nenhuma das partes: nem do poder público que deveria fiscalizar, nem do próprio cidadão. O engenheiro ambiental Dalton Ângelo afirma: “possuímos uma lei, mas é uma lei carente. Temos visto a construção de novos bairros sem a preocupação com a arborização, porque falta uma exigência dos órgãos competente. As consequências são ruas que parecem vielas, calçadas estreitas e árvores cortadas sem nenhum planejamento”. Mas o problema não é de responsabilidade exclusiva da gestão. Os moradores são unânimes em concordar com a necessidade do plantio de árvores na cidade, partindo de atitudes individuais. Assim como reconhece a moradora Catiane Lima, que reside há 25 anos na cidade: “é preciso, sim, mais ‘verde’. Você anda na rua e não tem sombra, não tem um ar puro. É sol e calor por todo lado”. Se de um lado os moradores sentem falta de árvores, por outro, são

muitos aqueles que não têm essa preocupação em manter a natureza. A ideia de que o verde da cidade depende apenas do poder público ainda é comum entre os moradores. Nem todos estão dispostos em manter as árvores que existem ou em fazer novos plantios. Um exemplo é Dona Cândida Azevedo, 48, que quando questionada se gostaria de ter uma árvore na sua casa ou quintal, argumentou: “árvore nesse bairro está servindo só para juntar ladrão. Tinha uma na minha porta que rachou todo o chão. Pedi pra cortar. Aumentou o calor aqui na minha porta, mas não tem mais sujeira e nem perigo”. Casos assim levam o engenheiro Dalton a defender uma retificação na lei para punir quem corta árvores e quem faz construções irregulares. “Isso geraria um fundo ambiental, amenizando os problemas com a falta de verbas. Mas não temos isso. Cada um faz o que quer. A população ainda precisa de educação ambiental: ensinar as crianças como fazer e os adultos, como manter. Deve haver uma consciência do cidadão que ande junto com um poder atuante”. E essa educação ambiental com o que ainda existe é

Manutenção de áreas verdes e de árvores não acompanha crescimento na cidade.

tão importante quanto a plantação de novas árvores. A secretária municipal de Meio Ambiente, Rosa Arruda Coelho, explica que a pasta está trabalhando com a educação do cidadão sobre o lixo e também sobre o meio ambiente. “Contamos com a ajuda de uma paisagista, que irá mudar o aspecto de locais, que hoje servem apenas de lixão, aqui na cidade”, revelou. Embora novos empreendimentos

continuem cometendo os mesmos erros, Imperatriz não deixa de ter um potencial de abrigar um parque ambiental ou de contar com iniciativas de arborização. O foco principal é cobrar das autoridades um olhar mais atento para esse problema de falta de árvores, ainda invisível às políticas públicas, mas que poderia refletir na melhoria da qualidade de vida dos imperatrizenses.


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ANO IX. EDIÇÃO 33 IMPERATRIZ, MARÇO DE 2018

Falta de segurança assusta imperatrizenses O grande número de assaltos tem modificado a rotina dos imperatrizenses e alguns comerciantes chegam a fechar os estabelecimentos mais cedo com medo de serem novas vítimas. AUTOR: GILMAR CARVALHO DIAGRAMAÇÃO:: AMANDA MACHADO

THAÍSE TORRES

M

oradores dos bairros Santa Inês, Caema e Bacuri, em Imperatriz, têm buscado alternativas contra os assaltos, roubos e outros tipos de crimes praticados nas ruas e residências. Alguns cidadãos ampliam os cuidados nas ruas e instalam câmeras e cercas elétricas nas casas para evitarem serem as novas vítimas. Os comerciantes chegam a modificar seus horários de expediente, fechando as lojas mais cedo, para evitarem surpresas. A dona de casa Maria Santos Pinheiro, 42 anos, moradora há 10 anos na rua Beta do bairro Bacuri, relata que, nos últimos seis meses, foi assaltada duas vezes. “Hoje, sou obrigada a fechar a porta de minha residência mais cedo para proteger minha família de possíveis assaltos. No último, eles me ameaçaram com um revólver, mas, graças a Deus, só levaram um celular. É um perigo viver aqui, pois o policiamento é muito fraco”, relata. Nazaré Lima Araújo, 48 anos, também moradora do bairro Bacuri, descreve que as duas filhas foram assaltadas na porta do colégio em menos de um ano. “Mesmo indo e vindo de ônibus, elas foram assaltadas próximo a porta da escola. Agora, para entrar e sair, andam com grupo de amigas para que nada aconteça. É um absurdo, não termos segurança nem na porta de uma instituição de ensino”, lamenta. Dados registrados pela Polícia Civil de Imperatriz e do 3º Batalhão da Polícia Militar (BPM) apontam, porém, que os casos de roubo diminuíram em alguns bairros. Em

O Maranhão tem um policial para cada 739 pessoas. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a recomendação é um policial para cada grupo de 450 habitantes.

2016, foram registrados 2.940 boletins de ocorrência com denúncias de roubo e, de janeiro a 30 de abril de 2017, foram registrados 878 casos de roubo. Outro comparativo, mostra que nos três primeiros meses de 2016 foram registrados 25 homicídios, número que caiu para nove, em 2017. Hoje, no Maranhão mais de 6.315 pessoas cumprem medidas de reclusão. Deste total, 57% são presos provisórios, sendo a maioria composta por jovens negros entre 18 e 29 anos. O delegado da Polícia Civil de Imperatriz, Carlos Cézar de Andrade, ressalta que a polícia está sem-

pre atuando nas ruas da cidade para a diminuição das infrações. “Hoje temos policiais fardados presentes nas ruas, com seus veículos que devem sempre estar caracterizados, como viatura policial, evitando e repreendendo vigorosamente a criminalidade. A polícia ostensiva, sobretudo, inibe o infrator menos discreto, como o assaltante de rua e de comércio, assim como o de banco”, esclarece Andrade sobre a atuação da polícia. Eduardo Galvão, delegado regional, elucida que nem todos os crimes praticados são solucionados. “Infelizmente, não deveria haver,

mais existe um princípio em direito penal chamado princípio da seletividade. Nem todos os roubos e furtos, que são os maiores números de crimes registrados, são resolvidos. Dos crimes relatados à Delegacia, esses possuem a menor atenção da polícia”, disse. Novos policiais - O policiamento no Estado do Maranhão ganhou um reforço, com a formação de cerca de 1,3 mil policiais militares. Em Imperatriz, foram inclusos 305 desses policias, os quais passaram a atuar no policiamento do município e imediações. O evento de posse,

aconteceu no mês março de 2017, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão, somando 647 policiais militares que servem Imperatriz. Em todo o Maranhão, são mais de 9,4 mil militares. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2016), a população do estado do Maranhão é de quase sete milhões, o que equivale a um policial para aproximadamente 739 pessoas. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a recomendação mínima é um policial atue para cada grupo de 450 habitantes.

Falta de acessibilidade nas calçadas afeta pedestres em Imperatriz Pedestres e veículos disputam o espaço das ruas por não ter calçadas adequadas para a acessibilidade das pessoas. Desníveis das vias prejudicam principalmente quem tem dificuldaddes de locomoção TEXTO: MARIA DE FÁTIMA NASCIMENTO

E

m meio ao trânsito caótico de Imperatriz, os cidadãos se deparam com a falta de espaço nas ruas. Os veículos disputam lugar com os pedestres e, a cada dia, a situação piora. Em muitos trechos da cidade, calçadas que deveriam servir de passagem para os pedestres, na verdade, não existem. Aquelas que restam possuem placas, barracas ou entulhos impedindo o trânsito das pessoas e, em muitos casos, são mal planejadas, com grandes desníveis, não oferecendo possibilidade de tráfego. Sem espaços adequados, os pedestres são obrigados a ocupar os

locais destinados aos veículos nas ruas, o que acaba piorando a situação do trânsito. A Lei Ordinária Municipal nº 1.642/2016, aprovada em 2015 artigo 8, estabelece que as calçadas são de propriedade dos pedestres e não dos proprietários das casas ou comércios a que elas estejam ligadas. Apesar disso, cabe aos donos dos estabelecimentos cuidarem das suas calçadas, não obstruindo a passagem das pessoas, nem pela falta de manutenção ou pela colocação de algum tipo de ponto comercial, tais como cavaletes, barracas, caixa de som, entre outros. O arquiteto da Secretaria Munici-

pal de Infraestrutura, Marcos Damásio, confirma que a cidade sofre bastante com a falta das calçadas. “É um problema que vem de muito tempo e, hoje em dia, planejamos as calçadas em todos os nossos projetos”. O descaso com a acessibilidade nas calçadas afeta, principalmente, aqueles que possuem alguma dificuldade de locomoção. É o caso da dona de casa Ilma dos Santos, 46 anos, deficiente física e cadeirante, que sofre diariamente para trafegar por Imperatriz. Ela conta que sair de casa é um problema, pois arrisca sua vida em meio aos carros, já que quase não encontra calçadas ajustadas para cadeirantes. “Se na cidade

TALLYS VINICIUS

houvesse fiscalização ou conscientização das pessoas, eu seria mais feliz”, afirma. Um exemplo do descaso com as calçadas é a avenida Dorgival Pinheiro de Sousa, uma das ruas mais movimentadas de Imperatriz, e onde não há nivelamento entre as calçadas. A maioria delas possui diferença de altura entre uma e outra, em geral feitas com cerâmicas de revestimento, que deveriam ser antiderrapantes, mas são quase todas lisas e, portanto, inapropriadas. Tais modelos representam um risco de quedas para os pedestres. Outro motivo de preocupação dos pedestres é com a questão dos

vendedores ambulantes que “obstruem as calçadas e impedem o tráfego das pessoas”, como lembra a dona de casa Maria Emília. Porém, a Prefeitura e os proprietários das casas ou dos pontos comerciais, são responsabilizados caso algum pedestre venha a sofrer acidente nas calçadas. Há, ainda, a possibilidade de registrar reclamação junto a Secretaria Municipal de Infraestrutura. Serviço - Se um pedestre sentir seus direitos violados, pode recorrer à Secretaria Municipal de Infraestrutura pelos fones: (99) 3214-1120 / 32141127 / 3214-1128 THALLYS VINICIUS

Sair de casa é um problema, pois arrisca sua vida em meio aos carros, já que quase não encontra calçadas ajustadas para cadeirantes Calçadas com autos desníveis que impedem o tráfego dos pedestres, no centro comercial da cidade.

Excessos de lixo sobre as calçadas no centro comercial, que dificultam a locomoção dos pedestres.


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VOCAÇÃO

Imperatriz: polo universitário para a região Cidade é considerada um polo pelo número de alunos, de cursos e de universidades públicas e particulares existentes, além dos imóveis destinados a estudantes e das várias opções de cursinhos. JULIO ARAUJO TEXTO PAULO ROGÉRIO DIAGRAMAÇÃO: LORENA LACERDA

P

rivilegiada pelo posicionamento geográfico, Imperatriz tem sido apontada como polo universitário há algum tempo. Especialmente nos últimos anos, a cidade tem mostrado essa vocação, com os seus mais de 20 mil alunos nos cursos presenciais e um número significativo de matriculados nas faculdades à distância – semipresenciais ou totalmente online, modalidade que os alunos estudam em suas cidades e vêm apenas realizar as avaliações. Atualmente, Imperatriz conta com cerca de 20 faculdades, sendo três públicas (UFMA, UEMA-SUL e IFMA) e as demais particulares, divididas entre as locais e as vindas de outras partes do Brasil, como a internacional DeVry/Facimp. Do ponto de vista da oferta, a cidade de Imperatriz já pode ser considerada um polo universitário, quando se trata do oferecimento de oportunidades acadêmicas, no que diz respeito à graduação e ao oferecimento de vagas para alunos vindos de várias cidades dos estados do Tocantins, Pará, Sul do Maranhão e de outras regiões do Brasil. É o caso de Mayane Oliveira, 25, de Canaã dos Karajás, PA, cursando o 8º período de Engenharia Florestal, na Uemasul, que afirma ter feito uma boa escolha ao decidir por Imperatriz. “Eu não me arrependo de ter vindo para Imperatriz, pois foi a realização do meu sonho pessoal, a minha qualificação. Espero conseguir alguma coisa aqui em Imperatriz, talvez um concurso ou um trabalho de preferência na minha área, é claro”. As universidades sediadas em Im-

Questões de infraestrutura, habitação, internet e outras ainda precisam de atenção para ser um polo estudantil completo

peratriz oferecem uma variedade de cursos, fato que privilegia a cidade, mas ainda há problemas, como o transporte público, objeto de reclamação da maioria dos estudantes que depende desse recurso para alcançarem seus objetivos estudantis. “Há muita dificuldade pela frota reduzida, pelas questões das paradas dos ônibus e pelos horários. A questão de moradia também é um pouco complicada aqui próximo, pois o local é ermo, tem pouco movimento e torna-se um local de alta periculosidade”, diz a maranhense Luana Nepomu-

ceno, 18, cursando o 3º período de Direito e originária de Jenipapo dos Vieiras, que fica a 288,5 km de Imperatriz. Adaylma Rocha de Sousa, 26, formada em 2015 em Jornalismo pela UFMA, questiona a existência de um polo universitário em Imperatriz: “Apesar do número expressivo de instituições de ensino superior, eu não a consideraria como um polo universitário. Ainda não temos cidades universitárias, nem casa do estudante para amparar as pessoas que vêm de outras cidades ou estados. Acredito

que quando ao menos essas necessidades forem sanadas, seremos sim um polo universitário”. Certificação x formação - Com as mudanças das leis que regem a educação, no que diz respeito à formação dos professores, os governos municipais e estaduais passaram a investir obrigatoriamente na formação dos docentes, por força da demanda, gerando uma procura pela profissionalização, como destaca a diretora acadêmica da Universidade do Sul do Maranhão (Unisulma), Raquel de Morais Azeve-

do, 40. “Existe uma necessidade que precisa ser atendida, e não podemos fugir a essa responsabilidade; é uma questão muito importante que não pode ser desconsiderada”, reforça. Segundo Raquel, “muitos buscam apenas a certificação, quando deveriam almejar também uma melhor formação”. O que se pode constatar é que, em se tratando das características comuns a um polo universitário, a cidade de Imperatriz ainda tem muito espaço a percorrer, porém muito pode ser festejado diante da diversidade de cursos e universidades em pleno funcionamento, como afirma Ivaneide de Oliveira Nascimento, 48, professora adjunta da UEMA-SUL: “Imperatriz é considerada um polo universitário pelo número de universidades públicas e particulares existentes na cidade; aliada a essa realidade, tem crescido o setor imobiliário com a construção de prédios, condomínios e quitinetes para fins de aluguel, principalmente destinados a estudantes oriundos de outras cidades, bem como o surgimento de diversos cursinhos preparatórios para o vestibular”. Muitas questões ainda poderão ser levantadas, como infraestrutura, habitação, internet e outras relacionadas a aspectos básicos requeridos de um polo, mas já se pode reconhecer a vocação da cidade, especialmente quando se confirmarem as promessas dos cursos das áreas médicas e das engenharias, o que tornará a região um farto celeiro de formação universitária do meio norte do Brasil.

Dificuldades e estímulos: o que faz um artista viver da arte em Imperatriz? MATHEUS LOPES TEXTO MICHELE DA COSTA SOUSA

I

mperatriz funciona como uma espécie de “entroncamento” da região tocantina e é muito influente no comércio do sul do estado. Com isso, atrai todos os anos artistas diferenciados que veem na cidade uma ótima oportunidade para crescer na carreira. Além do alto investimento de pessoas de fora, na cidade há encontros e movimentos culturais que conseguem entreter a população, como por exemplo, o Salimp, a Expoimp, o Sonora, o Animasul, e etc. Têm Atores, cantores, autores literários e artistas plásticos para todos os gostos e públicos. Esse encontro de personalidades dá à cidade a característica de cidade multicultural, e isso faz com que a população imperatrizense não tenha uma preferência que influencie no consumo de somente um destes eventos ou estilos artísticos. Embora a cidade proporcione tudo isso, quem decide viver como artista em Imperatriz precisa, além de força de vontade, enfrentar as diversas dificuldades que surgem. Apesar de ser influente, Imperatriz não consegue atender a essa pequena parcela da classe artística regional, não divulgada pelas mídias, que contribui e muito a este acervo multicultural. Para esses artistas “menores”,

às vezes um simples sorriso já paga todo aquele esforço que visa acrescentar à cultura imperatrizense a chamada diversidade. Há também a necessidade de embasamentos teóricos (faculdades) e até mesmo da profissionalização (legalização da classe trabalhadora), fazendo com que a desvalorização desses trabalhadores aumente. Esse cenário causa desânimo para quem se apaixona pela arte, mas mesmo com todas essas objeções, Cleiton Viana e Evaldo Lima são exemplos de que quando se tem amor pelo que faz, você consegue construir uma bela história para que esses problemas encontrados, sejam apenas momentos passageiros. Cleiton Viana de Almeida, de 30 anos, de Imperatriz, começou sua vida artística na cidade como malabarista em semáforos nas principais ruas do centro da cidade. Teve seu primeiro contato com a arte em 2008, com ocupações artísticas que aconteceram no antigo prédio da Biblioteca Municipal, hoje Fundação Cultural de Imperatriz (FCI), e,por meio de oficinas e cursos voltados para a arte circense como o artesanato, os malabares e as típicas palhaçadas, Cleiton se apaixonou pelos artifícios do circo. Hoje sua família já aceita a sua opção de trabalho, mas no começo, ele relata, foi muito difícil que pudessem entender a sua vocação. Além dis-

Artistas de rua dizem que a gratidão de um sorriso já é incentivo para o trabalho com arte.

so, Cleiton fala que não tem apoio por parte dos órgãos públicos de Imperatriz. E que, especificamente ao seu trabalho como circense, ele nunca encontrou incentivo da Prefeitura. Uma das críticas que faz é ao que ele chama de “Afundação” Cultural (Fundação Cultural de Imperatriz), onde ele diz que sempre cria e leva projetos a ela, mas nunca conseguiu ter a aprovação dos mesmos por falta de verba. Mesmo sem o apoio, Cleiton fala que, ao “receber das pessoas gratidão pelo seu trabalho em dinheiro ou até mesmo com um sorriso, já o incentiva a continuar com seu trabalho, com a sua arte”. Fala também que ainda tem a esperança de que as políticas públicas perceberão algum dia, que a diversidade na Cultura é necessá-

ria para a sociedade, que a cultura de Imperatriznão é só a música, é preciso valorizar toda manifestação de arte. Evaldo Lima natural de Zé Doca veio para Imperatriz quando criança. Teve uma infância normal, começou a trabalhar aos 15 anos como vendedor e depois como auxiliar administrativo. O seu primeiro contato com a arte veio através da Fundação Cultural de Imperatriz com a criação de um coral na cidade. Fez a inscrição para participar e foi selecionado para cantar. Após a proximidade com o teatro e amigos atores, conseguiu desenvolver mais ainda o que ele chama de “dom” de encenar e montou vários espetáculos infantis e a sua própria Companhia de teatro. Depois de um

tempo adquirindo experiência, foi convidado a participar da Companhia Okazajo. O fato de Imperatriz não possuir cursos de graduação em Artes Cênicas, fez com que Evaldo se formasse em Administração. Mas a sua vocação falava mais alto e quando apareceu um curso a distância de Educação Artística, não pensou duas vezes e se matriculou. Depois disso foi informado de que em São Luis teria uma pós-graduação em Artes Cênicas. Evaldo falaque seus colegas se admiravam pelo fato de residir em Imperatriz e ter a força de vontade de viajar todo fim de semana para estudar na capital. Atualmente, ele está terminando essa pós-graduação e ano que vem termina o curso de Educação Artística e pretende fazer também um mestrado na área das Artes Cênicas. Evaldo fala que, hoje, o consumo de teatro aumentou e muito. Ele conta que isso aconteceu porque “o teatro imperatrizense deixou de ser uma coisa ‘elitizada’ para ser popular”. Isso faz com que “as pessoas se identifiquem mais com o que veem sendo representado pelos atores nas peças”, acrescenta. E diz que nunca teve problema com o seu público. “Eles sempre nos recebem muito bem”. Evaldo conta que essa proximidade e o carinho de seu público faz com que ele “refine” seus shows incentivando o seu público a absorver o “melhor” da arte.


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