Arrocha 18 - Mulheres

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MARÇO DE 2013. ANO III. NÚMERO 18

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA

Arrocha

JORNAL -LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ RAMISA FARIAS

Mulheres Comportamento, carreira, vaidade, desejos e sonhos


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2 EDITORIAL - CIDADE DAS MULHERES O Censo 2010 apontou uma Imperatriz de quase 130 mil mulheres em um universo de 247.505 habitantes. Levando-se em conta a população masculina de pouco mais de 119.227, pode-se afirmar, sem medo, que Imperatriz é a cidade das mulheres. Basta caminhar pelas ruas para perceber crianças, jovens, adultas e idosas de todas as idades, estudando, brincando, trabalhando, ou, já “cansadas de tanta guerra”, sentadas nas portas, contemplando o ambiente. Esta edição do Arrocha é toda dedicada ao sexo feminino. Aliás, foi feita por uma maioria absoluta de repórteres mulheres, que souberam, na apuração das informações; nas entrevistas, que procuram investigar histórias de vida

ANO III. NÚMERO 18 IMPERATRIZ, MARÇO DE 2013

CHARGE RHAYSA NOVAKOSKI

e na produção e revisão dos textos, impregnar todo processo de aguda sensibilidade. Jornalistas mulheres tem esse dom raro. Como sempre, preferimos focar as histórias de vida. Mulheres que querem ser mães; outras que não nutrem esse sonho; vítimas de violência e prontas a denunciar; que ocupam postos de trabalho antes exclusivamente masculinos; que, enfim, amam sua vida e luta. Esperamos ter conseguido chegar próximos dessas realidades. Boa leitura. Arrocha: É uma expressão típica da região tocantina e também um ritmo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular “desembucha”. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.

Ensaio Fotográfico BRUNA VIVEIROS

RAMISA FARIAS

WALISON REIS

WALISON REIS

EXPEDIENTE Jornal Arrocha. Ano III. Número 18. Março de 2013 Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da universidade.

Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor Prótempore do campus de Imperatriz - Prof. Dr. Marcelo Soares dos Santos | Coordenadora do Curso de Jornalismo - Profa. M. Marcelli Alves.

Reportagens: Breno Franco, Bruna Viveiros, Mariana Castro, Mirían Gomes, Paula de Tássia

Professores: M. Alexandre Maciel (Jornalismo Impresso), M. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual), M. Marcus Túlio Lavarda (Fotojornalismo). e Revisão: M. Alexandre Maciel.

Fotografias: Breno Franco, Bruna Viveiros, Mariana Castro, Paula de Tássia, Ramisa Farias, Saron Alencar

Diagramação: Aessia Reis, Aline Velenca, André Alexandre Costa, Cleiciane Oliveira, Daniel Sena, Daniela Batista, Denise Cristina Salomão, Denise Falcão, Deybion Ribeiro, Deylane da Silva, Dioned de Araújo, Domingos Alves, Francisca Kássia da Silva, Francisco de Sousa Berreza, Giovani Cordeiro, Idayane da Silva, Jackeline Teixeira, Janaina Silva, Jhene Silva de Assis, João Paulo Azevedo, Juliana de Jesus, Juliana Ferreira, Julieli Jasmini Soares, Juscelino Oliveira da Silva, Laudecy Bilio Reis

Maria Marcocine, Mikael de Souza, Natalia Moura, Nilo Pereira, Rebeca Jenifer Viana, Rosiane Feitosa, Saulo Rodrigues, Thiago da Silva, Tuanny Santos, Tyessa Silva Estágiarias: Adriana de Sá, Hyana Reis, Maria Felix Contatos: www.imperatriznoticias.com.br | Fone: (99) 3221-7627 Email: contato@imperatriznoticias.com.br


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MULHER Nas últimas décadas, com os avanços mercadológicos, as mulheres têm ganhado cada vez mais espaço em profissões conhecidas pela masculinidade

Trânsito também ganha toque feminino BRUNA VIVEIROS

Ela é de uma época em que coletes, mangas e capacetes não eram obrigatórios, até cinco pessoas podiam andar sobre a garupa de uma moto e a passagem para os bairros distantes custava apenas R$ 2. Mesmo período em que a mulher ainda não era reconhecida para o mercado de trabalho, e que para ser mototaxi bastava ter uma moto e um ponto para trabalhar. Cláudia Oliveira, 38 anos, uma das primeiras e, atualmente, a única mulher mototaxista de Imperatriz já tem seus 16 anos na carreira de “profissional do trânsito”. Trabalhou quase metade de sua vida nesta profissão conhecida pela masculinidade. “Sempre o meu patrão foi Deus e mexer com gente é difícil, mas tem seu lado positivo: há sempre pessoas novas, destinos e jeitos diferentes”. Para Cláudia, o cotidiano dos seus passageiros é sempre seu aliado. Depois dela, pouco mais de 25 mulheres também tentaram iniciar carreira no mototáxi, mas não continuaram. “Algumas desistiram por assalto, acidentes fatais. Outras quiseram mudar de profissão: casaram e o marido não permitiu mais”, explica com a firmeza que sempre exibe“. Algumas se tornaram cabelereiras e outras profissões mais femininas”.

BRUNA VIVEIROS

Sua vida é literalmente “corrida”. Diz gostar da profissão que escolheu, pois ama trabalhar no trânsito. “Então de qualquer modo eu estou sempre no trânsito”. Claudia tem duas filhas, é solteira e, além de mototáxi, leciona há mais de oito anos em autoescolas. A jornada dupla exige que Cláudia, acima de tudo, seja uma mãe presente. “Não é fácil, somos elas duas, eu e Deus”. Mas ainda assim, não tem em seus planos casar-se e viver a dois. Zela muito pela privacidade das filhas de 14 e 10 anos, e pelas 500 plantas no quintal, além das 20 colocadas carinhosamente em pontos da casa.

Preconceito - “Qualquer colega de trabalho, se uma mulher começar hoje, vai olhar de forma...”, fez cara ruim e nem soltou o adjetivo. “O usuário geralmente me para e ainda pergunta ‘é mulher?’” Não se incomoda com a pouca vaidade feminina que a profissão exige. “Não gosto muito da vaidade, eu evito ela”. Veste roupas rústicas e diz que usar muito rosa, ou muito colorido, só serve pra espantar passageiro. Hoje ela não tem ponto fixo, fica aqui e acolá. “Podem ter oito mototáxistas em um ponto. Se tiver uma mulher muita gente vai preferir ir com a mulher”. A profissional do sexo feminino não é vista como “mulher” no mototáxi e sim como concorrente.

Cláudia Oliveira foi uma das primeiras mulheres a entrar no serviço de mototáxi e é, atualmente, a única da categoria nas ruas de Imperatriz

Nas forças armadas as mulheres ocupam patentes que eram apenas masculinas BRUNA VIVEIROS

um sotaque inconfundível. “Depois dí mí casar, resolvi morar aqui”. Após um ano trabalhando na cidade como dentista, a atual tenente comanda o Setor de Comunicação do 50 Bis.

Feminilidade - Grávida de oito meses,

Por trás dos portões de quartéis, tenente Priscilla é exemplo de feminilidade em meio ao masculino BRUNA VIVEIROS

Entre os coronéis, os generais e os soldados, podemos encontrar também as coronéis, as generais e as soldados. Nas forças armadas as patentes não mudam do masculino para o feminino. General sempre será general, seja homem ou mulher. Essa é uma verdade da língua portuguesa que é levada à pratica para dentro dos batalhões. Mesmo que conhecidos pela resistência física e a força brutal masculina, as forças armadas dividem homens e mulheres em uma hierarquia seguida com muito respeito. Priscilla Kathellen, 24 anos, é dentista, mas por trás dos portões do Batalhão 50 Bis, de Imperatriz (MA), é uma respeitada tenente. A vida militar

começou ano passado ao ingressar pela seletiva e pelo teste de aptidão física. “Eu sempre tive interesse, e achei bacana. Sempre achei a mulher forte pra isso. Gosto da parte militar, até pela minha criação”. A doce moça de olhos verdes e pele morena explica que muito da sua disciplina e do seu desejo de fazer parte do exército já é bem familiar. “Meu pai não é militar, mas a criação lá em casa sempre foi tudo dentro das regras”. Quando se sai do meio civil e vai para o militar, as concepções de mundo mudam. “A gente acaba se tornando cidadãos melhores”. Viver dentro das regras e das linhas de serviço possibilita uma forma renovada de guiar a vida. Priscilla é de Pernambuco, e tem

ela agora não pode fazer suas atividades normais. Todos os dias o treinamento físico militar é puxado, mas os abdominais e flexões estão temporariamente dispensados para a tenente Priscilla. Mesmo nesse período delicado, ela deixa claro que não há tanta diferença entre a influência masculina da feminina no Exército. “Até agora não vi nada que só o homem possa fazer e eu não. Não é só força física: atirar, correr, é tudo bem igual”, explica entre risos. O seu uniforme mudou. As botas, calças e coturno foram substituídos pelo vestido, que permite o crescimento livre da barriga. Não gosta muito de maquiagem, mas acredita na vaidade feminina. “Antes esse vestido era bem mais folgado, e pedi pra que apertassem mais. Daí me veio o coronel: Já está apertado? Respondi: mas o senhor quer que eu fique andando igual a um balão, por aqui?!”,conta a brincadeira com muitos risadas.“E isso é coisa de vaidade”. Diz achar graça, pois lá fora as pessoas pensam que “somos mulheres de aço”. “Não precisa ser bruta, pode ser doce e estar aqui. Militar é militar, aqui dentro todo mundo é igual”. Afinal, essa é só mais uma função que a mulher tem ganhado espaço.

Profissão de pedreira é nova e ganha mercado MÍRIAN GOMES

problemas. O curso ensinou o básico, mas o “grosso” como ela se refere às ações mais complexas do seu serviço, isso teve que aprender sozinha.

Quem disse que construção civil é coisa de homem? É cada vez mais frequente a presença feminina nas grandes construções. Elas invadem áreas e fun- Preconceito - Antônia confessa ções das obras, antes ocupa- que não teve o apoio do maridas por representantes do sexo do. “Ele não aceitava. Obra não masculino. Serventes, pedreiras, é lugar de mulher, ele dizia. Tem ajudantes de limpeza, todas dis- muito homem e também, ninputam o espaço antes marcado guém ia me dar trabalho”. Além do preconceito do compela virilidade, com a graça da panheiro, Antônia sofreu duranfeminilidade. te os três meses de experiência, É o caso da pedreira Antôcom críticas por parte de alguns nia Alves dos Santos, 28 anos. serventes. “Eu Casada e sem não entendia o filhos, há dois anos ela dei- “Eu recebia os mesmos que eles falavam. A linguaxou o serviço trabalhos dos homens, gem da obra é de empregada diferente, e por doméstica que neste ponto sempre não entender, exercia, para houve igualdade” diziam que eu aprender o ofínão sabia de cio de trabanada”. Período lhar em obras. difícil, que a fez pensar em deHá um ano e meio Antônia sistir, muitas vezes chorando. vem exercendo o cargo, e disse Porém, quando foi admitida que foi a primeira contratada da oficialmente como pedreira, as construção, a princípio por uma coisas começaram a mudar, pois questão de curiosidade. “Eles logo foi eleita para o cargo de queriam ver como uma mulher fiscal da obras pela Comissão ia se sair”. Mas garante que nunInterna de Prevenção de Acidenca teve regalias por ser mulher. tes (Cipa), indicada pelos pró“Eu recebo os mesmos trabalhos prios colegas de trabalho. Hoje dos homens, neste ponto sempre se sente realizada por não ter houve igualdade”. A dificuldade na adaptação desistido: “Foi um desafio para foi o que a levou a ter vários mim e consegui vencer”.


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LAR Mulheres que optaram por se dedicar ao lar exercem várias funções no âmbito familiar, mas não têm o reconhecimento merecido por parte da sociedade

Profissão: dona de casa MARIANA CASTRO

Elas desempenham um papel fundamental no desenvolvimento familiar. Trabalham duro, aprendem com o dia-a-dia, sem tempo para treinamento ou cursos especializantes. Não têm carteira assinada, remuneração financeira, férias, muito menos décimo terceiro. Têm o dom de cuidar da casa, do marido, dos filhos, e ainda conseguem um tempo para cuidar de si, se relacionar com os amigos e outros familiares. Maria de Lourdes Amorim, 54 anos e Ivânia Leal, 33 anos, têm muitos desses dons em comum, mas histórias bastante distintas. Ivânia casou aos 18 anos. Morava em Sítio Novo do Tocantins, município a apenas 20 quilômetros de

Imperatriz, onde veio a constituir família. Ainda não tinha o ensino médio completo, então nos planos estava concluir, fazer cursos e conseguir um emprego. “Quando casei, fiz algumas entrevistas de emprego e ia até fazer um curso, mas logo engravidei e tive que cuidar da gravidez e do filho”. Com os planos alterados, passou então à profissão do lar. Hoje tem dois filhos, João Pedro, o mais velho, de 11 anos e Ícaro, de 5 anos, aos quais dedica o seu tempo, ajudando nas tarefas escolares, curso de inglês, futebol. Nas horas livres dos meninos, prepara os lanchinhos da tarde. Sem esquecer que nem só dos filhos se ocupa. Há ainda os cuida-

dos pessoais, a casa e o marido. Organizar a residência em que mora parece um ato prazeroso, pois é comum ver Ivânia cantarolando enquanto lustra os móveis, limpa a geladeira e lava os espaços cada vez mais brancos da casa, que está sempre em ordem. Ivânia ainda dedica tempo ao zelo com o marido, de quem faz questão de deixar as camisas sempre bem ajustadas e a comida pronta no horário, para que ele não se atrase. Assim, cada um cumpre o horário de seus deveres. Ah! E não dá para esquecer o cuidado consigo. Às 17h o uniforme é trocado. Ivânia veste uma roupa mais justa, calça o tênis, dá as regras de comportamento aos filhos e parte para a caminhada, quase diária, no aeroporto.

MARIANA CASTRO

Dona de casa Ivânia optou por se dedicar à educação dos filhos e ter mais tempo para o marido

Superando os desafios da terceira idade, Lourdes faz planos futuros bado”, diz, se referindo ao marido. A filha já mora em outra casa Lourdes não teve as mesmas op- com o companheiro, mas os netos ções que Ivânia. Desde cedo traba- continuam sendo criados por Lourlhou fora de casa como auxiliar de des, que apesar de não reclamar e serviços gerais. Ao casar, precisou depositar amor e carinho aos necontinuar o trabalho para ajudar tos, deixa a dica: “Agora, quem tiver no orçamento familiar. seus filhos, que vá cuidar, oh!”. Hoje, com os quatro filhos criaLourdes tem no currículo muidos, ela lembra as dificuldades que tas outras conquistas. Já idosa, enfrentou para chegar onde che- concluiu o curso de Gestão de Quagou. “Era uma luta. Eu levantava lidade de Vida na Faculdade da Tercedo, colocava as três bênçãos na ceira Idade e, audaciosa, completa: bicicleta e levava pra escola. De- “Eu ainda quero fazer a especializapois tinha que sair do serviço mais ção e com fé em Deus eu vou fazer”. cedo, pegar, colocar de novo na biLíder do Círculo de Oração, cicleta, e à tarde do Culto da Sede novo”. nhora e à frente Assim como dos eventos da acontece com igreja evangéli“Era uma luta. Eu a maioria das ca que congrega, mães que de- levantava cedo, colocava Lourdes pediu sempenham atidemissão dessas as três bençãos na vidades fora de atividades para casa, é preciso a bicicleta e levava para a se dedicar aos ajuda de pessoestudos. “Eu sou escola” as de confiança dona de casa, para a criação mas quero estudos filhos. Lourdar. Agora que des contou com meus netos creso auxílio, por exemplo, da mãe e da ceram, eu posso”. irmã. “Eles ficavam em casa com a Ainda conta os planos de esvó Tontonha, minha mãe e com a tudos e concursos públicos que Rosa, minha irmã. Depois tive que pretende fazer. “Como minha arte pagar uma menina, pois minha mãe mesmo é cozinhar, eu quero fazer já não dava conta. E ainda vieram um concurso de merendeira, mas outras”. também pode ser de agente de saúEm 1996, Lourdes teve que dei- de”, diz ela, aos risos, fazendo os xar o emprego. Não por causa dos planos de entrar em um cursinho. filhos, mas pela mãe, que chegou a “Sei que sou uma vencedora”, afiruma idade avançada e precisava de ma Lourdes, que reconhece as vitócuidados especiais. Depois do fale- rias conquistadas, apesar de todas cimento da mãe, vieram os netos. as dificuldades enfrentadas em sua “Ainda tinha que cuidar de um bê- vida.

MARIANA CASTRO

MARIANA CASTRO

Desde cedo, Maria de Lourdes trabalhou fora de casa como auxiliar de serviços gerais, mas teve que abrir mão para cuidar do marido, filhos e netos

Novas diretrizes asseguram direitos previdenciários às donas de casa MARIANA CASTRO

Indagadas sobre a profissão que exerciam, meio desconcertadas, muitas mulheres respondiam: “ Nada. Eu só cuido da casa, meu marido é advogado”. Tempo em que as mulheres tomavam conta do lar, do marido e dos filhos e ainda eram colocadas atrás dos companheiros, e nunca ao lado.

O tempo passou. Hoje, com muito orgulho, elas são donas de casa – ou do lar – e ai daqueles que disserem que elas não trabalham! O ofício é árduo, não tem intervalos, férias ou remuneração financeira, mas recentemente, elas tiveram os direitos e proteções da Previdência Social ampliados e facilitados.

No Brasil, a profissão de dona de casa é regulamentada pela Lei 8.212 desde 1991. No entanto, as condições de acesso aos benefícios eram difíceis de ser alcançadas. À época de aprovação da Lei, a contribuição mensal ao INSS era 20% de um salário mínimo. Hoje, o valor não passa de 5%. A Lei 12.470, válida desde ou-

tubro de 2011, permite que as donas de casa que não exerçam outras atividades, tenham direito à aposentadoria por idade ou invalidez, além de benefícios tais como salário-maternidade e auxílio doença.

Beneficio- É necessário comprovar renda igual ou inferior a dois salários mínimos e inscrição no

Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico). A inscrição no programa da Previdência Social pode ser feita em qualquer agência da Previdência, por meio da Central de Atendimento, pelo telefone 135 ou no seguinte endereço eletrônico: http://www1.dataprev.gov.br/cadint/cadint.html


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VIOLÊNCIA O número dos casos que chegam a virar inquéritos policiais e medidas de proteção é variável. A maioria é relacionada a estupros e lesões corporais graves

“A Lei Maria da Penha é perfeita no papel” BRENO FRANCO BRENO FRANCO

Vestido elegante, unhas bem arrumadas. Um penteado conforme os cabelos curtos exigem. O estilo sargentão, de poucos amigos e voz firme não se encaixa ao de Pollyanne Costa. A atual delegada adjunta da Mulher, por dois anos foi titular no cargo em Imperatriz e convive com casos de violência e maus-tratos diariamente. “A profissão exige que eu tenha meus cuidados. Não gosto de aparecer. Motivos pessoais me obrigam a isso”, afirma Pollyanne. Ela dispensa quase sempre o tratamento de doutora quando está trabalhando. Em média, 120 ocorrências são atendidas por mês na delegacia. O número de casos que chegam a virar inquéritos policiais e medidas de proteção é variável, a maioria de estupros e lesões corporais. Em situações de injúrias e ameaças, a delegacia orienta que a vítima procure um advogado ou a Defensoria Pública. “Aqui a gente procura atender todos os casos da maneira mais eficiente e tranquila possível. Essas mulheres chegam em situação de sofrimento e estresse”. Em meio a um ambiente de cores sóbrias e sem muitos adere- Em média, 120 ocorrências são registradas por mês na delegacia. Em casos de injúrias e ameaças, a orientação é procurar a Defensoria Pública

Mulheres contam com justiça social BRENO FRANCO

A Vara Especializada da Mulher em Imperatriz existe desde 2007. A média de inquéritos que viram medidas protetivas de urgência decisões da justiça que impedem qualquer contato do agressor com a vítima - é de um por dia. Até agora são mais de 100 mulheres cadastradas que participam de projetos desenvolvidos pela justiça. Um deles é o Projeto Justiça Social - Além dos Limites Processuais, que realiza atividades de divulgação da Lei Maria da Penha, prevenção, denúncia e sensibilização da sociedade para a problemática da violência doméstica e familiar contra a mulher. Também ocorrem doações e cursos profissionalizantes, que têm o objetivo de assegurar a independência financeira das mulheres agredidas. Um dos principais obstáculos para a punição do agressor é a relação de dependência econômica das vítimas com seus maridos ou companheiros. A vara conta com o Departamento de Assistência Social, que atualmente é formado por duas assistentes sociais e uma psicóloga. O trabalho preventivo e de encaminhamento à Promotoria da Mulher tem sido importante para diminuir a impunidade e garantir mais acesso das mulheres às denúncias formais e ao acompanhamento adequado em casos mais graves. Os números de telefone da Vara da Mulher são: 2101-4511 e 2101 4510.

ços, a delegada nos aponta algumas dificuldades de se cumprir a lei no que diz respeito à punição dos agressores. “A Lei Maria da Penha é perfeita no papel. Para aumentarmos as punições aos infratores teríamos que ter um complexo de atendimento à mulher agredida, que não é exatamente o que acontece”. As punições possíveis, a quem pratica a violência contra a mulher, variam desde a restrição de direitos, passando por multas, até a prisão, com pena máxima de três anos. Sobre casos mais graves, a delegada lembra que em 2009 uma mulher foi ferida com um tiro e hoje é obrigada a viver em uma cadeira de rodas. O marido, que não aceitava a separação foi julgado e cumpre pena. “Em casos de reincidência e risco iminente à vida da vítima, sempre pedimos prisão preventiva do acusado”, relata Pollyanne, que alerta sobre a pouca estrutura do Estado para aplicar a Lei Maria da Penha. “Quando existe alguma campanha, a gente tira um tempo para ministrar palestras em eventos que a rede de proteção à mulher realiza. O importante é sempre conscientizarmos a todos sobre os direitos da mulher, aumentando as denúncias e diminuindo a impunidade”.

“Estou em paz para viver um novo relacionamento”, diz dona de casa que agora pede apenas a separação de bens FOTOS : BRENO FRANCO BRENO FRANCO

Ao abrir a porta da recepção em pleno calor do meio-dia, o ar condicionado funcionando causa uma boa impressão. O ambiente parece ser o mais confortável das delegacias que funcionam na Regional de Segurança. Mas isso, não impede o ar pesado no clima que envolve a sala de espera de quem precisa prestar queixa de uma agressão, muitas vezes, submetida pelo próprio companheiro. “Meu marido é alcoólatra, nunca foi um bom pai e agora inventou de me bater”, diz dona Juvenília Nunes da Costa, uma faxineira de 60 anos. Mãe de três filhos vivos, ela mora com o marido, um carpinteiro desempregado, e mais três netos na periferia de Impera-

triz. As mãos trêmulas e o olhar sofrido exigem a companhia da filha mais nova, uma professora de 30 anos que diz ser testemunha das agressões físicas e psicológicas. “Não quero que prendam ele, quero só que conversem com ele e que ele saia de casa”, conta dona Juvenília na Delegacia da Mulher, à espera da vez dela de registrar um Boletim de Ocorrência contra o marido. Juvenília foi agredida pela primeira vez, um ano após o casamento. Desde então, sempre passou por situações de insegurança e medo. “Vivi para os meus filhos, há muito tempo não durmo com ele. O que ele quer é que eu saia de casa sem nada e isso eu não vou fazer.” Um rubor no rosto que ela Vítima mostra agressão sofrida pelo marido de socos e unhadas por não aceitar a separação

aponta com o dedo sugere a agressão, que é pior nas feridas psicológicas do que físicas, segundo ela.

Separação-Durante o registro de

É a terceira vez que ela é agredida pelo marido e a violência está marcada no corpo cheio de hematomas

ocorrência de dona Juvenília, outro caso de agressão pelo marido podia ser acompanhado na recepção da delegacia. Maria Antônia de Conceição Freitas, uma dona de casa de 39 anos que havia sido espancada na noite anterior, chegava para prestar queixa. Mostrando as marcas da violência no braço e no pescoço, ela conta que levou socos e unhadas

do marido porque ele não aceita a separação e nem a partilha pacífica dos bens. “Eu não tenho mais nada com ele. Tenho até um namorado, mas ele não me dá a separação e nem deixa eu levar minhas coisas”. Antônia afirma que já é a terceira vez que sofre agressão física e que agora quer que uma audiência jurídica, seja marcada para resolver logo a situação dela. No dedo anelar da mão esquerda, ela carrega uma aliança com o nome do filho mais velho. O que Antonia mais quer agora é paz para viver um relacionamento feliz.


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POLÍTICA A luta diária das mulheres na Câmara é para conquistar espaços tradicionalmente masculinos, conciliando com a família e os deveres pessoais

Mulheres quebram barreiras no Legislativo MARIANA CASTRO MARIANA CASTRO

Quarta-feira, dia de audiência na Câmara Municipal de Imperatriz. Entre os 21 gabinetes, apenas três ostentam nomes femininos nas placas fixadas nas portas: Fátima Avelino (PMDB), Terezinha Soares (PSDB) e Caetana Frazão (PSDB). As três, além de motivos a comemorar, têm vários quesitos em comum, como o fato de serem mulheres, mães e batalhadoras. Há menos de um ano, o número era ainda menor em Imperatriz, contando apenas com a vereadora Fátima Avelino, que ocupa o cargo desde 2001. Terezinha Soares é membro da casa pela segunda vez, já tendo exercido o mandato de 2006 a 2009. Já Caetana, foi eleita para o pleito de 2013 a 2016 com muita surpresa, pois era sua quinta tentativa de eleição. Caetana, mulher, negra, líder comunitária do bairro Cafeteira, foi trabalhadora doméstica dos 13 aos 21 anos, tem três filhos e hoje é pedagoga e vereadora. Terezinha, que da infância à adolescência foi vendedora de frutas e hortaliças na feira, tem cinco filhos, e antes de ser vereadora era dona de casa. Fátima Avelino entrou na política graças à sua atuação em grupos de igreja católica e seu engajamento social em Imperatriz, tendo sido ela a responsável pela implantação da segunda creche do município. É mãe de cinco filhos e tem cinco netos.

Além da efetiva participação da mulher na política, a vereadora Fátima Avelino conta que vem lutando pela quebra de barreiras na Câmara

Entre as três vereadoras, Fátima é quem está há mais tempo na casa. Reconhecida como a mãezona da turma até mesmo durante os discursos, ela se orgulha da relação que construiu ao longo dos anos. “Sempre me preocupo com as coisas da Câmara, converso com os funcionários para saber se está tudo certo, se estão bem. Quando é época de decoração, eu que tomo a frente e envolvo os funcionários”.

Rotina -Ao me receber em seu gabinete, Fátima de imediato pegou o celular, não para atender alguma chamada de emergência, mas para mostrar, com

um sorriso largo, o prazer de ser avó. “Olha aqui minhas netinhas, as três querendo fazer a noite do pijama lá em casa”. E assim foi por um longo tempo, falando sobre as netas, os bolinhos fritos, o crescimento do cachorro, e nada lhe parecia ser tão agradável quanto as peripécias dos pequenos. Fátima é presidente do PMDB Mulher de Imperatriz, órgão criado em 2002 para incentivar o acolhimento e a participação da mulher na política. Para ela, apesar de não haver preconceito, é preciso quebrar barreiras, pois a mulher deve ocupar mais espaços não só na Câmara, como na política

em geral. Conforme o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as mulheres ficam bem atrás dos homens no número de candidaturas para uma vaga de vereador. São 76.899 candidatas contra 271.695 de candidatos. Durante a entrevista, um senhor pede licença e lhe entrega um grande volume de cheques para serem assinados. Ela aproveita para explicar uma das barreiras quebradas. “Olha aqui! Isso sempre foi coisa de homem, a Tesouraria. É assim que vamos conquistando os espaços e mostrando que somos capazes”. Para Fátima, um dos grandes di-

lemas de ser mulher, mãe, avó e vereadora é saber conciliar todas as atividades. “O que eu aprendi que é importante e até converso com algumas mulheres é que a política é passageira, a família não, tem que estar em primeiro lugar. É preciso saber dividir as coisas”, explica, calmamente, com a experiência de 12 anos no Legislativo. Além da efetiva participação da mulher na política, Fátima conta que vem lutando pela quebra de barreiras na Câmara. Entre elas, a presidência em Comissões, que são grupos de vereadores divididos por temáticas, que têm competência para examinar projetos do Executivo ou da própria Câmara Municipal. “Só eles (os homens) querem ser presidentes de Comissão. Dizem: Não, vamos deixar a Educação e Assistência Social para as mulheres. Eu disse, não! Eu quero a Comissão de Constituição, Direito, Justiça, Cultura e Turismo”, explica. Fátima, que antes de ser vereadora já ocupou quatro secretarias municipais, diz que durante todo o tempo de vida pública, nunca houve nenhum caso de preconceito, existindo, na sua opinião, muito respeito entre os membros da casa. A luta diária das mulheres na Câmara faz parte dos objetivos de conquistar espaços que antes eram tradicionalmente masculinos. “Aos poucos, vamos conquistando os espaços que antes não tínhamos alcançado”.

Imperatriz se destaca em políticas públicas voltadas para mulheres MARIANA CASTRO

MARIANA CASTRO

Conceição Amorim, presidentre do Fórum das Mulheres e Conceição Formiga, secretária municipal de Políticas para as Mulheres MARIANA CASTRO

Em Imperatriz, o quadro de mulheres que ocupam a chefia de secretarias municipais conta atualmente com Conceição Madeira, esposa do prefeito Sebastião Madeira, Miriam Reis, Conceição Formiga, Filomena Maria Braga e Denise Magalhães Brige. Juntas, somam cerca de 21% do secretariado, o que não é um grande número, já que as mulheres são maioria na cidade e no eleitorado brasileiro. Mas confirmam-se os dados da Organização das Nações Unidas (ONU), que em matéria de participação das

mulheres na política, coloca o Brasil na posição 141, entre 188 países. Conceição Medeiros Formiga é uma destas mulheres que desafia as estatísticas e está em meio às políticas sociais há mais de 40 anos, quando iniciou o processo de organização feminina em Imperatriz. Tudo começou em 1971, quando recebeu o convite de uma freira para organizar um Clube de Mães em Imperatriz, voltado à organização das mulheres sob quatro eixos: cidadania, lazer, trabalho e espiritualidade. Mas a visão política, segundo Conceição, veio depois de muitos anos,

Conceição Formiga (ao centro) é uma das maiores responsáveis pela implantação da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres

com o Movimento Fagulha. “O movimento fortaleceu em nós a visão política da organização das mulheres em Imperatriz”. No seu auge, foram implantados a Delegacia da Mulher, Conselho Municipal da Mulher e o Fórum de Mulheres de Imperatriz. Conceição também tem longa trajetória na política tradicional. É uma das fundadoras do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) em Imperatriz, legenda pela qual foi vereadora por três mandatos e também vice candidata a prefeita. É ela uma das maiores responsáveis pela implantação da Secretaria de Políticas

Públicas para as Mulheres, da qual ocupa o cargo de chefia desde 2009, ano de criação da pasta.

Como conciliar? - Ser mãe de três filhos, “sendo uma de coração”, avó de sete netos, amiga, conselheira, líder religiosa atuante, secretária municipal e dirigente de movimentos não é tarefa fácil. “O meu segredo é uma agenda e dormir um pouco mais tarde”. Conceição é organizada, mantém em seu gabinete álbum de fotos com toda a trajetória no cargo, e ao longo da conversa, ia desfazendo cada cantinho do ambiente, recheado de

documentos, fotografias, quadros, folhetos e o que mais pudesse nos fazer lembrar momentos históricos que viveu. Apesar da tentativa, há falhas. Conceição admite que deixa a desejar quando se trata da família. “Eu não sou aquela mãe e nem aquela avó que possa paparicar muitos os filhos e os netos”. Mas considera que o reconhecimento da família e da sociedade supera as dificuldades. “A maioria das mulheres tem maior sensibilidade, são mais zelosas, cuidam mais e são mais humanas”.


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QUERO SER MÃE Apesar de ser instintivo, o desejo de gerar filhos é uma questão muito pensada pelas mulheres, pois requer extrema atenção e cuidados especiais

Maternidade é uma forma de aprendizado BRUNA VIVEIROS BRUNA VIVEIROS

Desde pequenas, as meninas aprendem como se tornarem mulheres de modo bem inocente. Brincar de casinha e fazer comidinhas com terra são algumas das diversões. Aprendendo a cuidar, limpar, zelar e amar sua boneca na infância, as futuras mulheres refletem seu amor pela maternidade e, na maioria das vezes, desejam concretizá-la. Apesar de instintivo, o desejo de ter filhos é uma questão muito refletida pelas mulheres, pois requer uma atenção e um cuidado especial. Exige limitação de horários, organização e muito planejamento. Sarita Sabbag, médica, 27 anos, é solteira e conseguiu obter total independência financeira. Vê a maternidade não como uma forma de se privar, mas uma maneira de melhorar sua vida. “Eu quero melhorar quanto a atitudes, temperamentos, autocontrole e vejo que são coisas que vou alcançar com a maternidade”. E completa sorrindo: “É um aprendizado muito grande”. Como uma mulher religiosa, ela acredita que o ato de gerar filhos é, acima de tudo, divino. Por isso diz não se preocupar com questões de organização, pois um filho vai ajudá-la nessa missão. “Vejo muita gente dizer ‘ah, não vou poder mais chegar tarde em casa’, mas dentro de mim não é assim. É lindo saber que tem uma pessoa te esperando, que precisa de você, do seu colo, e do seu cuidado”. A moça, que mantém em seu pescoço um cordão de Nossa Senhora, considerada pelos católicos a mãe de todos os seres, esboça nos gestos a delicadeza da ânsia de ser mãe.

Traumas - Pesar maior vive a mulher que deseja ter filhos e tem problemas para gerá-los, ou não recebe o apoio do marido. Elas se sentem sozinhas e, às vezes, resolvem tomar as medi-

das por conta própria, para realizar seu sonho. “Me sinto muito mal. Na primeira gravidez eu tinha que ficar escondendo minha barriga. Era ela crescendo e eu me esguiando pra ele não ver”, conta, entre lágrimas, a administradora Cirneide Oliveira, 37 anos. A gravidez foi interrompida em duas ocasiões e ela não conta com o apoio do marido na decisão de ter filhos. O primeiro aborto foi em 2002, há dez anos, quando a criança já estava no quinto mês de gestação. Seu nome seria Victória. Depois de muito tempo de espera pelo segundo bebê, que se chamaria Marina, ele acabou morrendo no útero com apenas três meses de existência. “O segundo foi muito pior, porque estava ainda mais preparada. Eu esperava esse bebê com todo o amor do mundo. Durante a curetagem eu sentia que tiravam um pedaço do meu coração. Foi a pior sensação que já tive em toda a vida”. Cirneide sente dificuldades de superar a perda dos bebês e chora sempre que começa a falar deles. Em meio a expressões tristonhas, explica que sente a necessidade de dar amor a um ser que ela mesma gerou e que quer tanto educar da mesma forma que sua mãe. “Sabe, não tenho inveja da felicidade de ninguém, só tenho inveja de quem tem um útero saudável. É a única coisa que eu quero ter e não posso”, confessa. O marido não dá abertura a Cirneide para conversar sobre o assunto. Por isso, ela já pensou muitas vezes em separação. Explica que nem ao menos contava quanto custavam os exames, consultas e tratamentos. Evitava ao máximo que o neném fosse um peso para a sua relação e, por isso, cuidava das despesas sozinha. A frustração aumenta quando pensa em como elas seriam hoje. “Eu cantava pra ela e dizia: fica aí que a mamãe quer muito você”. BRUNA VIVEIROS

Médica Sarita Sabbag, 27 anos, vê na maternidade uma maneira de crescimento religioso, pessoal e até profissional e, por isso, deseja ser mãe

Realização com a carreira profissional deixa a maternidade em segundo plano BRUNA VIVEIROS

Por conta dos estudos e da formação profissional, muitas mulheres optam por não ter filhos

A chegada dos contraceptivos no mundo moderno, fez toda a diferença na vida daquelas que sempre foram vistas na função de procriar e cuidar do lar. Cumprir estes papéis tornou-se hoje uma questão de opção e oportunidades. A contemporaneidade, a vida corrida e a ascensão na carreira profissional motivaram muitas mulheres a esperar ou renunciar totalmente a maternidade. “Porque você precisa parar, ter um lugar fixo pra morar, precisa mudar completamente. Não são só nove meses, mas uma vida inteira”, defende Andressa (nome fictício, pois ela preferiu não se identificar), a profissional de marketing de 32 anos que não pretende formar família. “Já tive um relacionamento longo, que eu poderia ter tido filhos, mas eu não quis. Eu me sinto egoísta”. As mulheres que optam por não ter filhos costumam passar por preconceitos. Isso acontece por motivos

sociais, religiosos e também familiares. Algumas se importam em como o corpo muda, outras com a vida sexual minimizada, ou com o medo de não ser boa mãe. A grande maioria, porém, apenas deseja a independência financeira, o que implica diretamente na sua liberdade. Para elas, ter filhos é uma questão emocional. “Não acho que ter filhos seria um fardo, só que eu não quis.

“Não acho que ter filhos seria um fardo, só que eu não quis” É uma opção, eu prefiro investir na carreira”, confirma Andressa em meio a computadores, planilhas, agendas e programas de design. Existe ainda uma parcela das mulheres que apenas deixaram o tempo passar sem perceber. “Por eu traba-

lhar e me dedicar mais à família, fui esquecendo esse lado”, responde Maria Luiza, 55 anos, funcionária pública, solteira e sem filhos. Simpática e sorridente, ela explica que “se tiver alguém pra mim, ele vai aparecer. Se não tiver, não adianta”. Recebeu seu primeiro pedido de casamento aos 20 anos, mas em sua “modernidade particular”, preferiu estudar e trabalhar. Com brincos perolados e cabelos bem cuidados, as suas feições de “quarentinha” apenas dizem que gostaria de ser avó, mas não aconteceu. “Não me sinto frustrada, eu só penso que preciso ser feliz”. Ela para um pouco, pensa e continua: “Sabe, o primeiro marido da mulher é o seu emprego”. É assim: nem tristes, nem arrependidas. Elas se sentem resolvidas! “E por incrível que pareça eu acredito que o meu príncipe ainda está por aí. Não tenho pressa”, resume Luíza, exibindo toda a certeza e a jovialidade da mulher da terceira idade.


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CEDO DEMAIS A puberdade é sempre uma fase importante para o autoconhecimento e, sem instruções, as meninas geram seu primeiro filho antes dos 18 anos de idade

Adolescente tem problemas com gravidez BRUNA VIVEIROS BRUNA VIVEIROS

Quase sempre é assim. Depois de uma paixão arrebatadora, e de uma vontade de conhecer os prazeres, as meninas se entregam ao primeiro amor. Ou talvez ao segundo. A adolescência é uma fase decisiva para o autoconhecimento e, geralmente, sem instruções as meninas começam a gerar seu primeiro filho antes dos 18 anos de idade. Bia, que preferiu não se identificar com o nome verdadeiro, esperava formar uma família e também casar-se com o namorado aos 14 anos. Seu desejo foi realizado, mas não por completo. Por consentimento cedeu sua virgindade ao futuro marido. “Quando engravidei a primeira vez eu era muito nova, e ele fez a minha cabeça. A gente engravidou pra poder casar”. Contar aos pais foi uma tarefa difícil, mas, mais complexo ainda foi eles compreenderem porque a filha, que ainda era uma criança, estava à espera de outra. Tiveram uma menina, formaram sua família, casaram-se, mas os planos não seguiram em frente.

Segunda Filha - Quando não esperava que sua vida pudesse mudar mais que isso, um rebuliço maior ainda aconteceu. Pouco tempo depois, já aos 15, Bia conheceu seu novo namorado por meio de uma amiga. Com ele começou o tormento que ela ainda não conhecia. “Quando eu comecei a namorar com ele eu não sabia desse lado”. O rapaz era um homicida. Ao descobrir, ela disse ao novo companheiro que não o queria, e então começaram as ameaças com armas e espancamentos, apenas algumas das formas de convencê-la a se render ao “amor”. Ele ainda dizia: “Quando tu morar comigo eu vou parar com isso, porque eu te

Com apenas 14 anos de idade, Bia engravidou pela primeira vez. Pressionada pelo namorado, ela pensou no aborto e até em suicídio. Para esquecer todos os problemas, passava as noites no seu computador

amo”. O medo de Bia crescia, e com ela seu instinto de mãe. “O que me dava mais medo não era, tipo, ‘nossa ele vai me matar’, eu nem me importo tanto com isso, porque até eu mesma tentei me matar, ó”. Neste momento Bia estende os pulsos, exibindo as marcas ainda não cicatrizadas. “O meu medo era que ele matasse a minha filha, além de que já tinha ameaçado fazer não só comigo, mas com ela”. Naquele momento, o parceiro mexera com seu ponto fraco: sua filha.

Colocando uma arma na cabeça dela, o rapaz cometera o “estupro induzido”. Foi, então, que Bia engravidou a segunda vez.

Pesadelo - A jovialidade estava à flor da pele, sua vida mal começara e ela própria já tentava a retirar. Com uma forte depressão, e preferindo ver a morte que ao companheiro, Bia era vigiada e perseguida por ele em todos os lugares. A angústia e o medo a dominavam, o que a levou a tomar remédios antidepressivos de tarja preta.

“Eu tomava uma cartela de Rivotril, com 25 comprimidos, de uma única vez”. A única coisa que interessava para aquela jovem mãe era se desfazer do que a vida tinha lhe dado. “A única pessoa que pensava era na C. (sua primeira filha), mas a angústia era bem maior que eu”. A menina já havia tentado de tudo. “Me enforquei, mutilei meu rosto, tomei remédio, veneno, cortei meus pulsos, meu pescoço. Já tomei até água sanitária!”. Tudo isso devido à gravidez indesejada, somada à carga de já ter uma filha,

BRUNA VIVEIROS

Após sofrimento, Bia busca novas oportunidades para refazer a sua vida BRUNA VIVEIROS

A segunda filha de Bia nasceu e trouxe novas esperanças à menina. A mãe, que antes queria abortar ou abandonar o bebê no hospital, agora tinha duas pequenas criaturas que moviam o amor dentro de si. Nascida com sete meses C.A. – a segunda filha – a fez pensar. “Ela era bem pequeninha, e tão linda, bem branquinha, que eu fiquei imaginando: meu Deus, como que ia ficar o meu coração por ter tentado matar ela?” Seus pais, diferente de algumas famílias, acolheram ela e as duas filhas com muito carinho. As filhas de Bia são o seu maior orgulho e o seu conceito de ser mãe amadureceu como nunca. “Nenhum amor é o mesmo amor que eu sinto por minhas filhas. Sabe, assim, aquele amor muito maior, aquela proteção muito maior? Eu amo muito

meu pai e minha mãe, mas as minhas filhas? Bicho, supera”. Seus pais sustentam, cuidam e dão uma boa vida às meninas. Bia diz que não queria que as filhas tivessem sido criadas como ela: mimada e tendo tudo o que queria na hora que desejava. “Talvez assim elas não tenham a mesma rebeldia que eu tive”.

Vida Social - Bia não deixou de frequentar a escola e seu sonho, agora, é se formar em medicina. Diz que hoje não tem amigos e que seus companheiros são as pessoas com quem joga os games online, e com os quais Bia vira a madrugada. Afirma também não se importar com o que as pessoas pensam. “Na rua perguntam se são minhas irmãs. Sei que é vergonhoso, mas eu tenho orgulho de dizer que ‘não, são minhas filhas”! Ela ainda conclui: “O pessoal de fora sempre pensa: ‘ah porque ela é puta, ah porque ela é

piriguete’. Mas só eu sei o que eu realmente passei”. Para Bia, nada é mais confortante que o amor das filhas. Diz que prefere ter duas pessoas para cuidar e que a amam de verdade, que não as ter e viver em um mundo de mentiras. Depois de tudo o que passou, ela diz que pensa muito antes de acreditar em qualquer pessoa, por melhor que ela seja, e por isso evita sair de casa e conviver. Bia olha pra trás e explica que não se arrepende de ter engravidado desde a primeira vez. Ela acredita que sem a gravidez não teria amadurecido e nem conhecido o amor de verdade. Mesmo com os estudos atrasados e sua vida mudada completamente, para ela tudo o que aconteceu tem um motivo divino. Atualmente o seu ex-marido, pai da primeira filha, ajuda com as despesas e dá a pensão da menina regularmente. Quanto ao segundo “não

às perseguições do ex-namorado e o medo de ver a filha ser morta por ele. Isso tudo com apenas 16 anos. Ela ainda passa o dia dormindo para não o ver passar. Dormir é a forma de evitar seus pensamentos sobre tudo que aconteceu. A noite ela fica longo tempo diante do computador, sabendo que o sono só vem no outro dia às 10h ou 12h da manhã. “Foi tudo um choque tão grande que eu queria me esconder, e aquela foi a forma”, conta ela com um certo constrangimento na voz.

Depois de várias tentativas de suicídio, Bia sente incentivo para seu futuro após segunda gravidez

quero ver ele nunca mais na minha vida. Nem quero que ajude com a C.A., prefiro apenas a ajuda dos meus pais”, conta, demonstrando total desprezo ao ex-namorado.

Aos 17 anos, Bia conclui que só vai conseguir ser realmente feliz e esquecer seu o passado e presente quando se formar e poder “dar tudo o que minhas filhas precisarem”.


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ENTREVISTA Secretária Municipal de Politicas para Mulher, Conceição Formiga

“Foram mais de 600 casos atendidos” Em março de 2009, o poder executivo municipal inaugurava a primeira secretaria especializada em políticas para a mulher.

Um avanço no auxílio à proteção da saúde e integridade física e psicológica de mulheres que necessitam de intervenção básica do Estado diante de situ-

ações de risco como violência doméstica e sexual, além de dependência química e alcoolismo. Sobre as ações e os resultados de

quatro anos da implantação da Secretaria Municipal de Políticas para Mulher, conversamos com a secretária da Mulher em Imperatriz, Conceição Formiga,

que nos cedeu esta entrevista para falar sobre a atuação da secretaria ao longo desse tempo de funcionamento e os projetos para o futuro. SARON ALENCAR

BRENO FRANCO

A senhora é professora, e é uma das representantes da luta pela valorização do papel da mulher na sociedade. Como a Secretaria tem contribuído nessa luta? Eu tenho vida pública há mais de 20 anos. Fui vereadora e sempre estive em manifestações de apoio à mulher da nossa cidade. Nosso trabalho conta com programas e projetos que mostram a importância de praticar ações públicas de valorização da mulher. Sempre fazemos questão de mostrar a história de luta de várias mulheres que viveram e vivem aqui. A Secretaria é um órgão da administração pública municipal responsável pela formulação, coordenação e articulação de políticas públicas em favor das mulheres e promover a interação social delas. Temos o objetivo de ampliar a defesa dos direitos da mulher e garantir cidadania com o apoio da sociedade civil e órgãos públicos e privados. Existe uma rede especializada no atendimento à mulher em Imperatriz... Sim, ela é formada pela Delegacia Especializada da Mulher, a Vara Especial da Mulher, a Promotoria Especializada da Mulher, a Secretaria Municipal de Políticas para Mulher, Casa Abrigo, Centro de Referência em Atendimento à

Mulher, Centro de Referência da Assistência Social, Centro de Referência Especializada de Assistência Social, Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher, além do Conselho Municipal da Mulher e do Fórum de Mulheres de Imperatriz.

“A gente encaminha casos de justiça à delegacia e ao Ministério Público e auxilia mulheres que nos procuram pedindo ajuda”

São muitos órgãos envolvidos. Mesmo assim a violência contra a mulher continua sendo um desafio. Como tem sido esse combate com essa rede de atendimento? A Secretaria da Mulher foi criada em 2009, a Vara da Mulher em 2007, a Lei Maria da Penha que prevê punições mais severas aos agressores também é recente. Essas articulações aqui na cidade tem dado resultado porque a cooperação e integração desses órgãos é maior no sentido de cobrar do poder público e judiciário, o cumprimento da lei. A criação da

secretaria veio justamente atender ao Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher e desafogar a Secretaria de Desenvolvimento Social. A gente encaminha casos de justiça à Delegacia da Mulher e ao Ministério Público e auxilia mulheres que nos procuram pedindo ajuda para se afastar de situações de risco, que geralmente estão relacionadas à violência sofrida em casa pelas mulheres por meio das agressões do marido. Como ocorre essa ajuda? Por meio dos atendimentos no Centro de Defesa de Direitos Humanos, no Centro de Referência em Atendimento à Mulher e na Casa Abrigo. Uma equipe formada por psicóloga, assistente social, pedagoga e advogada prestam esse serviço de acompanhamento às mulheres em situação de risco. Todos esses atendimentos são relacionados à violência doméstica. Os casos mais graves são enviados para a Casa Abrigo Dra. Ruth Noleto, onde vivem, no máximo, por três meses em regime de internato e se for necessário, recebendo medicamentos pagos pelo município. Quais os casos mais graves atendidos pela Secretaria? Os casos mais graves são relacionados à violência sexual. Maus-tratos por parte do marido

ou companheiro agressor também representam grande parte das denúncias. Até agora foram mais de 600 casos atendidos. Casos que envolvem até mesmo os filhos da mulher atendida, que também ficam sob os cuidados do município. Houve uma denúncia de uma mulher que foi queimada com ferro elétrico e teve os mamilos arrancados pelo marido. Demos todo o auxílio para a mulher agredida e hoje o homem não está preso, mas existe uma medida protetiva em que o agressor não pode

“Houve uma denúncia de uma mulher que foi queimada com ferro elétrico e teve os mamilos arrancados pelo marido”

chegar perto da vítima. Quantas mulheres estão sendo atendidas atualmente? São dez mulheres atendidas atualmente. Todas agredidas pelo companheiro. Um detalhe importante é que dessas dez, sete são evangélicas. Ou seja, a agressão está presente nessas famílias mes-

mo quando a religião faz parte da vida delas. Qual a contribuição da secretaria na formulação dessas políticas públicas em favor das mulheres? Participamos sempre de reuniões em Brasília e no Fórum da Mulher com sugestões sobre o assunto. Os debates trazem novas discussões que reforçam a sensibilização e o combate à violência. Na Câmara Municipal temos tido apoio de alguns parlamentares e até agora o balanço é positivo. Quais as atividades de conscientização do órgão sobre o tema violência? A gente trabalha sempre com informativos sobre os direitos da mulher. Participamos recentemente dos 16 dias de ativismo no mês de novembro, com palestras e visitas às escolas municipais e apresentamos ao público o Memorial da Mulher, que oferece informações sobre os personagens da luta pelos direitos da mulher. Livretos sobre a Lei Maria da Penha são distribuídos gratuitamente. Além do mais, o Dia Internacional da Mulher é bastante comemorado com atividades de conscientização. Outro avanço é a Ronda Domiciliar, que tem o apoio da Polícia Militar e prioriza o atendimento das ocorrências de violência à mulher.


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VAIDADE Não importa a idade, a maioria das mulheres não dispensa o prazer de cuidar de si mesmas, o que reflete não só em seus corpos, mas também em suas mentes

Cuidar da aparência faz parte da rotina atenção. E quando o filho de 15 anos chega, toda orgulhosa ela comenta Toda mulher quer se sentir boni- rindo: “Não pareço ser mãe deste rata e atraente aos olhos alheios. Seja pagão hein?! Sou jovem demais”. Mapor uma simples ida ao salão de ca- roneide decidiu não ter mais filhos e beleireiro, uma maquiagem ou ainda isso facilitou a conservação do seu pelos cuidados diários com uma ali- corpo. mentação saudável. Um pouco mais jovem, porém A vaidade feminina não tem ida- não menos vaidosa, a exuberante esde, e as mulheres querem estar bem, tudante Nathália Carvalho, 14 anos, por isso a preocupação com o corpo definiu a vaidade como algo merae a mente, esta sempre em evidência. mente normal. “É natural da mulher São estes aspectos que tornam os ser vaidosa, mas eu não me acho não, mundos da dona de casa Maronei- as pessoas é que me acham”. de de Oliveira e da Ainda que estudante Nathalia esta vaidade Carvalho, tão ligaseja apenas “A mulher tem que se dos. uma mera pasMaroneide vai cuidar, principalmente as sada de batom todo mês ao cabee um lápis no casadas. O meu marido leireiro para deixar olho, antes de as madeixas sedoadora me ver arrumada” sair de casa. “Eu sas e brilhantes. São nunca saio de horas no salão e ela casa sem isso, garante: “Não dá traé para disfarçar balho, porque diariamente tenho a as olheiras, sabe?! Tenho muita... E o dedicação de estar mantendo os cui- batom é para me deixar mais corada”. dados, que começam aqui no salão”. Nathália pode não se dar conta, Ela, que tem 35 anos, é casada há mas a aparente modéstia não está 15 e diz que se sente renovada a cada evidente nos longos cabelos bem visita ao centro de estética. “A mulher tratados, nas unhas impecáveis com tem que se cuidar, principalmente as desenhos e na pele de pêssego com casadas. O meu marido adora me ver aparência daquelas estampadas em arrumada, e ele que me incentiva a fi- campanhas publicitárias. Tamanha car assim, até mesmo quando estou vaidade já lhe rendeu um convite em casa”. para um ensaio fotográfico como Enquanto falava, Maroneide des- modelo. filava pelos espaços de sua casa. Os cuidados com o físico vieram Nas vezes em que passava diante do desde cedo. Nathália recorda que a espelho, olhava-se admirando, sem- mãe nunca a deixava comer porcapre com porte altivo, autoconfiança. rias. “Comer frutas e verduras, sem“Desde muito jovem gostei de estar pre foi regra lá de casa. Faz bem para arrumadinha”. pele e eu mantenho, se for para ficar A loira de olhos verdes chama bonita vale”.

RAMISA FARIAS

RAMISA FARIAS

MÍRIAN GOMES

Dedicada, Maroneide Pereira procura ir todo mês ao cabeleireiro

Nathalia Carvalho, vaidosa, nunca sai de casa sem se maquiar antes

Trajetória sofrida e repleta de aventuras marca vida de aposentada RAMISA FARIAS

Com o olhar distante, Julieta Maria da Silva relembra vários momentos marcantes de sua vida

MÍRIAN GOMES

“Julieta, quem não pode não se meta!”. É assim que a aposentada se apresenta. A princípio a voz mansa, e a serenidade escondem uma personalidade forte. Marcas de uma trajetória sofrida, escolhas nem sempre assertivas. “Eu era cabeça de peixe, ligava para nada”. Aos 72 anos, Julieta Maria da Silva Sousa, ou como é popularmente chamada, dona Júlia, diz-se cansada desta vida. “Bem que eu podia seguir minha viagem, mas a Silvinha tem que ir comigo”, disse rindo, se referindo à filha que

mora com ela e é portadora de Fibrodisplasia Ossificante Progressiva (Fop). Nascida na cidade de Picos, no Piauí, veio para o Maranhão ainda jovem, acompanhada dos pais e do marido. Ficou viúva e então passou a viver na promiscuidade para conseguir dinheiro. Relembrou as viagens que fazia nesta época. “Quando os homens me chamavam para andar de avião, eu desabava”. Desta vida de aventuras, resultaram 11 filhos, dos quais a maioria ela teve que dar. Neste momento abaixou a cabeça e com um olhar distante falou dos filhos, ci-

tando um a um, os nomes. “Fazemos tanta besteira, não é muié?!”. O lamento veio acompanhado de um longo suspiro. “Ficar com um e outro não é bom não”. Após ficar viúva pela segunda vez, passou um período difícil. Sem moradia e com a descoberta da doença da filha, não restou outra opção a não ser pedir esmolas para custear o tratamento. Durante dois anos esta foi a rotina de Julieta A vida de rua trouxe muitos auxílios, conhecidos, mas também incontáveis dissabores. “Não me arrependo, mas hoje não faria. O ser humano não parece tão solidário de perto”.

Mulheres passam a se conhecer melhor, aflorando sua sexualidade MÍRIAN GOMES

Uma das maiores conquistas das mulheres foi a liberdade sexual. Durante séculos ela foi vista apenas como objeto para reprodução. O prazer feminino era reprimido ao extremo. Com todo o acesso às informações, o sexo passou a fazer parte do cotidiano de muitas delas com um significado diferente. A liberdade sexual trouxe consigo autoestima e sentimento de valorização. A mulher moderna procura

satisfação plena durante o sexo e tem se sentido mais livre para buscá-lo de todas as formas possíveis. O sexo casual, antes privilégio dos homens, hoje faz parte do “cardápio” de opções de várias mulheres. “Quando rola um clima, porque não, né?! Sexo é sempre bom”, declara Patrícia, 24 anos, universitária, que preferiu ser identificada com esse outro nome. Ela confessa que quando era mais jovem tinha a cabeça “meio conservadora”. Fazer sexo casual

era algo inconcebível e mulher que

“Hoje eu me sinto mais mulher porque eu me permito experimentar mais coisas”

se relacionava desta maneira, na sua opinião, “não prestava”.

Atualmente Patrícia diz que já provou de tudo em termos sexuais e não se arrepende. “Hoje eu me sinto mais mulher, porque eu me permito experimentar mais coisas”. A masturbação, por exemplo, é uma constante na sua vida. “Eu acho que toda mulher faz, mas ninguém fala”. Já Ana, 30 anos, outra que preferiu não se identificar com o nome verdadeiro, acredita que o preconceito permanece um tabu nos dias atuais. “A vida sexual da mulher

ainda é meio escondida”. Para ela, a sociedade nega que a mulher se exponha de tal maneira que se iguale aos homens. “Nenhuma mulher assume esta liberalidade, tem medo de ser taxada de fácil”. Ela conta que passou alguns anos na Europa e teve que trabalhar como prostituta durante alguns meses para sobreviver. “Em termos sexuais foi muita rica a experiência, mas eu não aconselho, aprendam de outra forma”, comentou dando risada.


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COMPORTAMENTO Desde cedo, Maria de Lourdes sentia que não era como as garotas de sua idade. É líder comunitária dos povoados da Estrada do Arroz há mais de 40 anos

Liderança comunitária: em defesa da zona rural MARIANA CASTRO

Elas são voz, ouvido e a essência da mulher mãe, mas não apenas dos seus filhos. Essas são características de líderes comunitárias, mulheres que são verdadeiras mães adotivas, tomando para si os problemas da comunidade em que vivem. Natural de Buriti Bravo, a líder comunitária Maria de Lourdes Silva foi criada em Gonçalves Dias. Aos 18 anos chegou a Imperatriz, indo morar na zona rural com os tios. Depois de seis meses, casou-se com o primo, com quem tem 12 filhos, todos adotados. Desde cedo, Maria de Lourdes sentia que não era como as outras meninas de sua idade. “Eu era diferente das minhas primas, da comunidade. As pessoas ficavam surpresas com meu jeito”. Filha de trabalhadores rurais, Lourdes teve a maturidade antecipada por conta das necessidades. Aos sete anos, cuidava de dois irmãos mais novos; estudava, trabalhava e zelava pela casa na ausência dos pais. “Com 13 anos nem era moça de regra, mas já tinha o pensamento de hoje”.

Religiosidade-

Lourdes, assim como grande parte das lideranças comunitárias e políticas da época, aprendeu a olhar o próximo com

outros olhos a partir de sermões da Igreja Católica. Fundou a igreja da comunidade, foi catequista, ministra da eucaristia, vice-coordenadora e coordenadora da comunidade por 35 anos. Depois de anos de oração, Lourdes percebeu que os padres não estavam seguindo aquilo que os mandamentos do Evangelho pedem, e desafiou os fiéis e coordenadores da igreja: “Se não lutarmos por essa estrada, eu não vou mais rezar. Com tudo isso, nós não vamos pro céu. Nem mesmo o senhor, padre!” Atualmente, Lourdes é presidente do Fórum da Estrada do Arroz. Trata-se de uma entidade criada com o objetivo de defender o desenvolvimento e os direitos socioeconômicos dessa área rural de Imperatriz, composta por representantes de mais de uma dezena de povoados que sofrem com o descaso do poder público. Moradora do povoado Olho d’Água dos Martins (MA) há 40 anos, Lourdes foi quem fundou a primeira escola, hoje chamada Tomé de Souza, onde foi professora. O posto de saúde pioneiro, no qual foi enfermeira. A primeira igrejinha, que por falta de padre, ajudava as pessoas nas orações: “Eu era professora, enfermeira, era quem rezava com o povo, era tudo o que precisasse”.

MARIANA CASTRO

Lourdes lamenta que as maiores dificuldades do trabalho que desempenha estão relacionadas aos políticos, que impedem suas ações e tentam a todo custo comprar o seu silêncio. “Tentaram me comprar, não me compraram e me demitiram. Ofereceram dinheiro, ofereceram tudo. Pra isso tem dinheiro, não tem é pra fazer as coisas”.

Esperança - Hoje, depois de 40 anos liderando os povoados, Lourdes segue na luta, sempre acompanhada do padre da comunidade. Com uma máquina fotográfica, com a qual faz todos os registros da precariedade dos povoados, e uma pastinha com documentos em mãos, os dois, ainda com muita esperança, continuam a bater nas portas de gabinetes de gestores da administração pública, em busca de soluções. Apesar dos muitos “nãos” que tem recebido, não pensa em desistir, pelo contrário, quer seguir firme “até seus últimos dias”: “Deus não manda a gente pra cá pra viver pra gente, mas pra viver pra alguém. Esse alguém é qualquer pessoa que tiver necessidade”, explica, com muito orgulho, “Dona Lourdes”, mulher calma, mas muito batalhadora, que leva e ensina, na prática, o maior mandamento de Cristo.

PAULA DE TÁRSSIA

Líder comunitária Lourdes declara que apesar dos “nãos” que tem recebido, não vai desistir da luta

Maria Leuda assegura que ama sua profissão PAULA DE TÁRSSIA

Às 6h, Maria Leuda já está de pé. Faz o café da manhã, arruma as filhas e as leva à escola. Volta, limpa casa, e logo “senta no pé da máquina”

Em uma rua estreita de Imperatriz, sem pavimentação ou rede de esgoto, mora Maria Leuda, 45 anos. Casada, mãe de três filhas e costureira, ela nunca trabalhou de carteira assinada e faz parte do significativo mercado informal da cidade, que, segundo estimativas da Associação Comercial, envolve cerca de 10% da população. Às 6h está de pé. Faz o café da manhã, arruma as filhas e as leva à escola. Volta, limpa casa, “senta ao pé da máquina” e então, começa o intenso dia de costura Espera aí, costureira? Sim. Para aqueles que acham que a indústria têxtil tinha eliminado todas elas, estão enganados. Leuda, como é conhecida na rua onde mora, trabalha há 14 anos para ajudar no orçamento familiar. Não precisou de muito para começar o negócio, apenas determinação, uma máquina simples e a sala da casa. Por dia ela faz cerca de três peças de roupas, fora as que ela opera ajustes, como: apertar, fazer bainha, colocar zíper. Hoje ela trabalha com três máquinas: uma Facilita (costura simples), Overlock (máquina que corta e costura ao mesmo tempo) e Galoneira (usada para colocar viés em roupas). O dia é dividido entre a costura e os afazeres domésticos, correria que não tira o prazer de praticar o ofício.

Rendimentos - Com brilho no olhar de quem está apaixonada pela primeira vez, não cansa de incentivar a profissão. “Gosto muito do que faço. Tenho paixão pela costura. Toda pessoa deveria aprender a costurar, nem que seja só para aprender mesmo”. Com esse trabalho ela ajudou na construção da casa, que antes era de madeira. Por mês ganha em média, R$ 900, um dinheiro que ajuda muito na renda doméstica. Os anos de experiência com a costura lhe ensinaram a ter habilidade com as despesas de casa. Corta aqui, costura ali e assim vai administrando o orçamento da família.

“ Gosto muito do que faço. Tenho paixão pela costura” Maria Leuda é a prova que o mercado da costura ainda está bem em Imperatriz e que algumas pessoas, como Lucilly Silva, 22 anos, não abrem mão de uma roupa sob medida. “Eu gosto de mandar fazer minhas roupas. Por que é difícil encontrar roupa para mim. Mandando fazer cada detalhe é do jeito que quero. Sem contar que algumas vezes sai mais em conta mandar fazer do que comprar”.


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POLÍTICAS SOCIAIS No acampamento Cipó Cortado, área de intenso conflito fundiário, mulheres do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra lideram manifestações

Mulheres se destacam em áreas de conflito MARIANA CASTRO

MARIANA CASTRO

São 16h47. Chegamos de uma viagem divertida e feminista, na qual o assunto foi desde a receita de uma galinha caipira, até a total independência das mulheres sobre os relacionamentos, passando pelo corpo e as concepções que mantemos sobre ele. Um carro, um homem e seis mulheres. A soma é certa, mas não é correta. Ríamos ao constatar o excesso de massa corpórea e instintos femininos dentro do veículo. O destino era o acampamento Cipó Cortado, localizado a cerca de 110 quilômetros de Imperatriz, de onde partimos. O local é uma gleba de terra, próxima ao município de Senador La Roque, ocupada por membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) há seis anos, e hoje, área de intenso conflito fundiário, inclusive armado. No dia de nossa chegada, comemorava-se a suspensão de uma ordem de despejo que deixaria 250 famílias desabrigadas, e em razão disso, foi o lugar escolhido para que Gilvânia Ferreira, a Vânia, recebesse homenagem do Centro de Promoção da Cidadania e Defesa dos Direitos Humanos Pe. Josimo (CDDH), por sua luta pela reforma agrária e apoio em defesa dos acampados da região. Ao chegarmos, tomamos dimensão da liderança que Vânia

a aguardavam para resolver problemas, contar uma novidade, pedir um palpite sobre uma decisão do grupo, e assim se passou mais de uma hora. Eles perceberam que o tempo já se adiantava. “Mas é assim mesmo, a Vânia sempre vem aqui é pra comer pepino”, alguém disse entre gargalhadas.

Infância - Paraibana de Canafisto-

Dirigente estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Gilvânia Ferreira se destaca nas lutas sociais por terra na região

representa no movimento. Eram homens, mulheres, crianças e idosos à sua espera. Estavam todos organizados para as cerimônias que

aconteceriam logo mais à noite. As crianças com cabelos enfeitados, os homens com as camisetas vermelhas e as mulheres erguendo os

gritos de luta, pois “lugar de mulher é na revolução”. Logo que descemos do carro Vânia foi rodeada por militantes que

la, pequena comunidade de pouco mais de três mil habitantes, Vânia conviveu desde pequena com conflitos de terra, pois essa era uma região cercada por cana de açúcar e onde já atuava um combativo sindicato de trabalhadores rurais. Católica praticante, desde pequena ajudava nas reuniões da igreja. Era animadora da comunidade e a partir dos 14 anos, tornou-se membro da Pastoral da Juventude onde iniciou seu processo de engajamento político. Vânia ficava encantada com os sermões de padres italianos da comunidade membros da Comissão Pastoral da Terra (CPT), tanto que nunca esqueceu os nomes, que eram Cristiano e Luís. Eles ensinavam que a Bíblia fala da vida das pessoas e pregavam a necessidade de batalhar pelos seus direitos. “Foi aí que despertei para a necessidade da luta por terra, pois na minha comunidade, eram poucos os que tinham um pedaço para morar e produzir”.

Terra nas mãos de poucos estimula luta “Me sinto parte da história por Reforma Agrária, diz dirigente do MST do Movimento Sem Terra” MARIANA CASTRO

MARIANA CASTRO

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De forma curiosa, aos 14 anos Vânia do MST já participava das greves dos canavieiros. “Me encantava a forma como as mulheres ficavam à frente das lutas. Não entendia muito bem, mas já achava que eles estavam certas por lutar”. Aos 14 anos se tornou professora na escola onde foi alfabetizada, lia literatura de cordel para os moradores, fazia teatro na igreja e redigia cartas. As pessoas da comunidade de analfabetos nem sabiam ao certo o que queriam dizer, mas pediam que Vânia contasse as novidades da região aos amigos e familiares distantes. Com 16 se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT) e se inspirou em mulheres atuantes de sua comunidade como Margarida e Maria da Penha. À última, Vânia credita uma época importante em sua vida, pois foi ela quem lhe ofereceu o livro “As mulheres da Nicarágua- Estamos todas espertas”, de Margaret Randall, que fala sobre a guerrilha e a revolução lideradas por aquelas personalidades femininas. Na época, Vânia fazia o primeiro ano do ensino médio. “Eu lia e chorava, nem entendia porque chorava tanto. Foi um livro que marcou a minha vida”.

MST - A história no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) veio depois, a partir de um convite para participar do Jornal

Inspirada em mulheres de sua comunidade, Vânia percebeu a necessidade de lutar ainda aos 14 anos

Sem Terra, onde passou a ser correspondente. “Eu escrevia o que acontecia na comunidade e enviava ao jornal, depois o distribuía na escola. Foi quando começaram a me chamar de comunista”, conta Vânia, aos risos. Em 1989, ao concluir o ensino médio, participou de um encontro nacional do MST, que viria a marcar definitivamente sua filiação ao mo-

vimento, pois foi o momento em que deixou suas outras atividades na Paraíba e passou a se dedicar somente à luta agrária. De imediato, Vânia foi participar de sua primeira ocupação de terra. “Foi quando eu decidi que realmente era importante fazer a luta, pois antes, entendia o conflito, mas não tinha vivido na pele”.

“Eu me sinto parte da construção dos 27 anos do MST, tenho 22 anos de luta e muito orgulho do grão de areia que coloquei na obra”. Gilvânia Ferreira, a Vânia do MST, se recorda das dificuldades que enfrentou para levar as suas decisões à frente. “Eu dizia à minha mãe que ia a um encontro da igreja, mas de lá ia pra ocupação. Fiz todo o trabalho de base escondida da família. Foi a forma que encontrei pra participar.” Vânia, junto a outros dois amigos militantes, liderou uma ocupação em Pernambuco e a fundação do movimento no estado. Logo foi convidada para a Escola de Mulheres, encontro que acontece em Cuba e discute a participação das representantes do sexo feminino nas lutas sociais. Na época, Vânia era ainda muito nova e precisava da assinatura dos pais. Com apenas 19 anos, precisou ser emancipada. “Minha mãe não assinou não, quem assinou foi meu pai. Ela negou”. Retornou em 1990 para a Paraíba, onde organizou outras ocupações e a convite, veio em

2 de junho de 1992 para Imperatriz, “pois era onde ficava a secretaria estadual do MST”. Depois participou de praticamente todas as ocupações na baixada maranhense. Vânia tem duas filhas, sendo uma nascida em 1995 e outra em 2005. “É de dez em dez que tenho filhos”, brinca ao perceber que pelas contas, já está quase na hora de ter mais um. Ela não tem esposo, estabilidade financeira, nem mesmo moradia que possa dizer ser fixa, pois raramente é possível lhe encontrar por lá. Inclusive, os relacionamentos aconteceram dessa forma, “no meio do caminho, entre as lutas”. Sobre a falta de esposo, Vânia conta que foi uma opção. “Eu decidi ser mãe, mesmo sem esposo e sem estabilidade financeira. Eu tenho um núcleo familiar muito grande, não biológico, o núcleo do MST, onde criei meus dois filhos”. Como o guerrilheiro Che Guevara, acredita que é preciso ter pulso firme, mas sem perder a ternura. “Dizem que a luta embrutece, mas é no enfrentamento que vemos a crueldade e nos sensibilizamos com os desiguais. A luta me fez ver outra dimensão da vida e ser mais sensível”.


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