Jornal Arrocha – Edição 28 – Patrimônios de Imperatriz

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SETEMBRO de 2016. Ano VIi. Número 28

Distribuição Gratuita - Venda Proibida

Arrocha

jornal-LABORATÓRIO do curso de comunicação social/jornalismo da ufma, campus de imperatriz BEATRIZ FARIAS

MELHOR JORNAL LABORATÓRIO

Patrimônios de Imperatriz

Rio Tocantins e suas praias Páginas 4 e 5

Locais, pessoas e histórias Páginas 8 ,9 e 10


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Ano VIi. Número 28 iMPERATRIZ, setembro de 2016

EDITORIAL

Jornal Arrocha. Ano VII. Número 28. Setembro de 2016. Publicação laboratorial interdis­ ciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Univer­ sidade.

CHARGE

ratrizenses conhecidos; a visão dos moradores da cidade em relação aos legados culturais; o cuidado, a preservação e muito mais. Explorar temas tão peculiares foi a grande missão desses estudantes, que trazem nesta edição o lado histórico e cultural de Imperatriz. A abordagem faz referência às influências do patrimônio em suas várias vertentes para o crescimento e desenvolvimento da cidade e as influências deste mesmo conjunto de bens para o embelezamento e atração turística, abordando o estado atual de conservação e as oportunidades de melhoria pontuadas pela própria população.

POR RHAYSA NOVAKOSKI

Boa leitura! Arrocha: É uma expressão típica da região tocantina e também é um ritmo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.

Reitora - Nair Portela Silva Coutinho | Diretor do Campus de Imperatriz - Daniel Duarte Costa | Coordenador do Curso de Jornalismo - Carlos Alberto Claudino Silva. Professores: Leila Sousa (Laboratório de Jornalismo Impresso) e Jordana Fonseca (Laboratório de Programação Visual) e Miguel Angel Lomillos (Laboratório de Fotojornalismo). Monitoras de Programação Visual: Julie Anne dos Reis Paz, Suzete Gaia de Sousa

Diagramação: Adriana da Silva e Silva, Aline da Silva Castro, Ariel Santos da Rocha, Daniel de Vasconcelos Paiva, Eugenia Barros da Silva Nascimento, Frida Barbara Leite Medeiros, Gessiela Nascimento da Silva, Gilmar Carvalho Chaves, Ilberty de Oliveira Silva, Karla Cristina da Silva Rodrigues, Kellen Ayana Alves Ceretta, Leide Mayara Sousa Cruz, Lucas Vale Moreira, Luciana Sousa Bastos, Maiane Nascimento da Silva Maciel, Morgana Albuquerque Sousa, Nataly Alencar Trovão, Nayara Nascimento de Sousa, Neroilton Raimundo Araújo do Nascimento Junior, Quezia da Silva Alencar, Ruan Jefferson Dias dos Santos, Sara Kalinne Mendes, Sarah Dantas do Rego Silva, Thayná da Silva Freire, Yasmin Maria Eunice Rocha Costa.

Reportagem: Bárbara Fernandes, Beatriz Farias Elane Sousa, Erika Nogueira, Gustavo Araujo, Helene Santos, Hidalgo Nava, Jaysa Karla Gomes, Jorge Pereira, Lara Borralho, Leonardo Castro Araújo. Leticia Holanda , Luziel Carvalho, Mariana de Paula Medeiros, Maron Ramos, Suzete Gaia. Fotos: Bárbara Leône, Beatriz Farias, Brigithy Canuto, Elane Sousa, Erika Nogueira, Even Grazielly, Gustavo Araujo, Lara Borralho, Leonardo Castro Araújo, Máxima Santos, Letícia Holanda, Luziel Carvalho, Mariana de Paula Medeiros, Maron Ramos, Raquel Reis, Reginaldo Santos, Suzete Gaia.

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Pensar em Imperatriz exige reflexão sobre a sua própria identidade. Como muitas cidades, tem alguns “bocados” de patrimônios. E o que realmente seria patrimônio? Prédios ou ruas? Rios e praias? Pontes, praças ou até mesmo pessoas? Conjunto de bens materiais e imaterias que contam a história da cidade e de seus habitantes. São essas as características dos bens pertencentes ao acervo patrimonial do município de Imperatriz/MA e base da proposta de trabalho da 28ª Edição do Jornal do Arrocha. É para demonstrar e esclarecer os patrimônios da cidade, que esta edição do Arrocha aborda o tema patrimônios de Imperatriz. Nesta publicação, os acadêmicos de jornalismo da UFMA, decidiram explorar sobre os patrimônios materiais e imateriais, com o objetivo de informar sobre a importância, trazendo a versão de moradores e profissionais do município. Nesta edição, o leitor vai encontrar histórias de comerciantes impe-

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Contatos: Acesse o jornal em: www.imperatriznoticias.com.br Fone: (99) 3221-7625 Email: contato@imperatriznoticias.com.br


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RECONHECIMENTO Desconhecidos e mal preservados pela maioria da população, Imperatriz possui inúmeros patrimônios materiais e imateriais que ajudam a preservar a história e a memória da cidade

Afinal, o que é patrimônio? NILO PEREIRA

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Igreja de Santa Teresa D´Àvila construída em homenagem à padroeira de Imperatriz, é considerada principal simbolo da arquitetura e da fé cristã. LEONARDO CASTRO ARAÚJO

À

s 07h15min da manhã o dia está apenas começando para quem visita o Mercado Municipal Bom Jesus, na rua XV de novembro. Na chegada uma voz aborda quem passa pela calçada do mercado: “Olha o cheiro-verde meu filho”, diz a comerciante em sua barraquinha colorida por legumes. Ao entrar, uma fumaça chama a atenção trazendo um singelo sorriso naquela fila formada por sete pessoas. Rosimar Barbosa, 55, vai levando para o balcão a refeição que comercializa todas as manhãs, o cuscuz de arroz. Enquanto isso, alerta: “aproveita que está quentinho!”. Há 27 anos vendendo café da manhã no mercado, Rosimar Barbosa relata que é o cuscuz o favorito da sua clientela, “hoje vendo vários tipos de bolos, mas o que mais sai é o cuscuz”. Questionando o porquê de tantas perguntas a vendedora respira, sorri, se senta deixando de lado toda sua timidez e logo começa a voltar ao passado ajudada pelo cenário que remete à Imperatriz dos anos 80, contrastando com os carros de última geração que estacionam do lado de fora. Tudo começou em 1989 vendendo cuscuz que sua vizinha fazia, chegou ao local que permanece até hoje disputando a freguesia com outros dois vendedores, fato que hoje não ocorre mais. Se orgulha de ter criado seus filhos com a venda do prato característico do café da manhã e que sempre traz de volta os “filhos da terra” para a experimentar os sabores locais. “Muita gente leva o cuscuz para seus novos estados como uma forma de matar a saudade daqui”, conta a comerciante que já vendeu cuscuz inteiros para turistas de Curitiba, São Paulo, Rio. O que é patrimônio? A 28ª edição do Jornal Arrocha saiu às ruas da cidade e ouviu estudiosos e populares para identificar quais patrimônios representam a cultura e história do município. Os 165 anos da cidade são contados por recordações dos locais, histórias e causos que constroem a identidade dos sujeitos Imperatrizenses.

Carta de Imperatriz - De acordo com a constituição brasileira de 1988, artigo 216, se constituem patrimônio cultural brasileiro “os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. Afinal quais são os patrimônios históricos e culturais de Imperatriz? Em 2010, a sociedade civil contando com a participação de alunos e professores elaboram a chamada “Carta de Imperatriz”, que tinha o objetivo de esclarecer para o poder público e para a sociedade a importância de desenvolver ações de proteção do patrimônio cultural e histórico do município. Estão presentes na carta, patrimônios materiais que guardam em suas construções histórias da cidade como Praça da Meteorologia; Igreja de Santa Teresa D’Ávila; Imóvel de propriedade particular da Família Ribeiro; Praça da Cultura e Avenida Beira–Rio. Bens imateriais as Festas do Divino e do Lindô, além da culinária contando com pratos típicos como panelada, chá de burro, cuscuz de arroz com azeite de coco babaçu e orelha (bolo frito feito de arroz).

por Imperatriz nos anos 60 é hoje a residência de Jonas Ribeiro, 56, colunista social. Morador há 54 anos, Ribeiro guarda entre as paredes da casa com mais de 100 anos que hoje sofre com infiltrações e goteiras, as lembranças dos avós, amigos e as historias familiares que ocorrem em grande parte naquele local. Nas proximidades da Praça da Cultura, a casa da família Ribeiro está presente na “Carta”, o único documento já feito em Imperatriz para a elaboração de uma política de preservação e manutenção dos patrimônios históricos e culturais projeto que continua no campo das ideias. “Não há interesse em preservar a história de Imperatriz, desde os anos 2000 sempre fui procurado para participar de projetos que não saíram do papel”, relata o colunista. Com alto custo na manutenção, Ribeiro lamenta mas vê com única saída a mudança em decorrência a venda da residência.Perguntado sobre qual seria o desejo para o futuro da centenária estrutura, o proprietário gostaria que o local

fosse utilizado pela iniciativa pública para atender a população com implantação do museu municipal ou a criação de uma biblioteca. Poder Público - Responsável pela preservação do patrimônio histórico e cultural do município, a Fundação Cultural de Imperatriz presidida por Lucena Filho diz não ter conhecimento enquanto ao conteúdo e os bens contidos na Carta de Imperatriz. Chegando ao fim de sua gestão sem ter elaborado nenhum projeto que catalogue os patrimônios da cidade, políticas voltadas para tombamentos históricos já foram debatidas, mas não seguiram a diante pelo alto custo que teriam as indenizações. “Essas políticas só podem ser efetivadas em conjunto dos governos do Estado e do município, pois assim seria viável o pagamento das indenizações para os possíveis tombamentos, parceria que ocorreu em São Luís”, conta o presidente. Nascido em Imperatriz Lucena Filho destaca a variedade de povos que influenciaram a cultura, a história da cidade seja desde as construções dos prédios até a o modo de falar, o mesmo alerta sobre preservação dos bens da cidade uma vez que, Imperatriz vem sofrendo mudanças em sua arquitetura e a importância da parceria entre população e prefeitura para cultivar a cultura que identifica a população Imperatrizense.

“Os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”.

Antes e depois - Em uma roda de conversa entre amigos debaixo das sombras produzidas pelas árvores que amenizam o calor. É assim que o taxista Domingos Alves de Sousa,

57, espera passageiros que desejam se deslocar para qualquer canto da cidade. Há 22 anos com o ponto de táxi na praça da cultura o paraibano que chegou à cidade em 1972, lamenta o estado que se encontra um dos principais patrimônios da cidade, “eu já vi essa praça muito bonita, bem diferente de hoje”, apontando e contando onde se encontravam as flores que embelezavam o lugar. Andando pela praça indo em direção ao coreto abandonado, Domingos descreve com saudade os tempos em que os fins de semana eram embalados pela fanfarra municipal: “Aos sábados a banda vinha e usava o coreto como palco e tocava as marchinhas. Hoje, infelizmente, está assim abandonado servindo de abrigo para moradores de rua”. Em tom de nostalgia, o taxista espera que os bons tempos da praça na cidade voltem a fazer parte do lazer local e que as promessas muitas vezes feitas por vários prefeitos sobre uma revitalização, seja finalmente realizada Museu - Ainda no ano de 2016 será inaugurado um museu em imperatriz. O Centro de Pesquisa em Arqueologia e História Timbiras, da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) é um projeto idealizado em parceria da UEMA, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e a multinacional instalada na cidade. O museu localizado no campus da Universidade não vai contar com patrimônios que são familiares para a população de Imperatriz, mas sim, servirá para expor os patrimônios materiais e imateriais do povo timbira (etnia indígena que viveu na região tocantina) com o objetivo voltado para pesquisas acadêmicas. Escolhido pelo departamento de Geografia e História da UEMA para coordenar o projeto, o professor de História da Universidade Estadual do Maranhão, Siney Ferraz relata a falta de interesse da sociedade em conservar os bens históricos e culturais. Ferraz é enfático ao dizer, “Vivemos em uma cultura do esquecimento, não se há o interesse em contar a história de imperatriz. Pois a mesma contém temas que desagrada a alta sociedade”. LEONARDO CASTRO araújo

“Essas políticas só podem ser efetivadas em conjunto dos governos do Estado e do município, pois assim seria viável o pagamento das indenizações para os possíveis tombamentos, parceria que ocorreu em São Luís”

Preservação Patrimonial - No antigo armazém da família Ribeiro que servia como uma espécie de pousada para os viajantes que passavam

Praça da Cultura, conhecida assim após a criação da Academia Imperatrizense de Letras, é utilizada frequentimente para exposições culturais e artísticas.


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Novo Patrimônio

Além de possuir a feira que já foi considerada a maior do estado, a segunda maior cidade do Maranhão, abriga mais de cinco pontos do comércio popular e informal espalhadas por diferentes bairros

Redescobrindo as feiras imperatrizenses MARIANA DE PAULA MEDEIROS

MARIANA DE PAULA MEDEIROS

Q

uem nunca foi a uma feira? Você já parou para pensar quantas vezes ao ano vai a uma ou porque a procura? Essas perguntas podem causar estranhamento à primeira vista. Ir à feira em Imperatriz talvez seja tão comum que se questionar sobre isso pareça inusitado. Por outro lado, remete ao valor cultural das feiras em uma cidade. Então, elas podem ser consideradas patrimônio? Dona Maria Raimunda Sousa Arraz, 75, moradora do bairro Centro, franze a testa, “Se eu costumo ir à feira?” repete a pergunta. “Sim, a senhora vai?”, é questionada novamente. Ela diz que vai à feira há muitos anos, mas só uma vez a cada semana. Situada na Praça de Fátima, a feira frequentada por dona Maria Raimunda só acontece às quartafeiras e aos sábados. Por não ser permanente, nem tão grande e antiga, também não é muito conhecida. Mas, a freguesa afirma que sempre volta por causa dos alimentos, como frutas e verduras, que os feirantes asseguram serem orgânicos. “Além de ser mais perto da minha casa, gosto das coisas de lá porque eles dizem que não tem agrotóxico”, justifica. Mas, antes de descobrir a pequena Feira da Praça, dona Maria Raimunda frequentava a conhecida Feira do Mercadinho, uma das mais tradicionais da cidade. A feira do Mercadinho surgiu por volta da década de 1960, quando foi construído um prédio que tinha por intenção comportar os feirantes. O grande balcão levou o nome de Mercado Central e os principais produtos de comércio eram os típicos orgânicos. Mas logo o número de comerciantes ultrapassou as paredes do alojamento e os mesmos passaram a ocupar as ruas com suas barracas. Segundo a monografia do curso de História da UEMA intitulada “As feiras livres e vendedores ambulantes na cidade de Imperatriz”, da professora Lídia Barretto, o Mercadinho é conhecido por ser considerado

A feira da Praça de Fátima vende orgânicos e é montada apenas às quartas feiras e sábados, funcionando pelo período da manhã um polo de distribuição para as principais feiras da cidade e para municípios vizinhos, além de comerciantes de pequenos negócios. O abastecimento da feira em questão é feito tanto por hortifrutigranjeiros de outros estados quanto do próprio Maranhão. O senhor João Pereira de Sá, 82, por exemplo, nasceu em Grajaú, mashá 50 anos mora em Imperatriz e trabalha no Mercadinho. “Trabalhei muito tempo no interior, com roça, mas quando formei família mudei pra cá, criei meus filhos só com meu trabalho aqui”, conta Pereira. Muito ativo, com seu carrinho de legumes e verduras, o Sr. João Pereira muda de lugar na mesma rua com frequência, mas não muda de feira. Acorda às 5 horas da manhã para deixar tudo pronto e às 6 horas iniciar as vendas. Começar o dia cedo é um dos pontos em comum de quem trabalha na feira. O Sr. José Filho que trabalha no “Sacolão MARIANA DE PAULA MEDEIROS

As frutas estão entre os alimentos mais procurados em qualquer feira da cidade

“Desde minha infância trabalho. Antes era na rua, faz pouco tempo que passei a vender no sacolão, mas sempre acordei cedo pra isso, nunca quis ser empregado de alguém” do bacuri”, situado na feira do Mercadinho,acorda às 3 horas porque tem que comprar a mercadoria nos depósitos e organizar cada coisa em seu devido lugar. Começou a trabalhar com os pais, quando ainda era criança e hoje se sente feliz com sua ocupação. “Desde minha infância trabalho. Antes era na rua, faz pouco tempo que passei a vender no sacolão, mas sempre acordei cedo pra isso, nunca quis ser empregado de alguém”, assinala Filho.Ele garante que dá para ter uma renda superior a um salário mínimo. Dentre os alimentos mais vendidos no seu ponto, estão a banana, a laranja e o tomate. Já o sustento de Arlindo Ferreira Alves, técnico em agrimensura, resulta da comercialização de outros tipos de produtos. A Casa das Raízes, localizada na Feira do Bacuri, foi aberta há 18 anos. Antes disso, o técnico já trabalhava com uma barraca na rua. Hoje, é um espaço amplo, numa área até escondida, entre ruas estreitas, porém, bastante procurado. Para quem não conhece, um olhar rápido na direção, talvez cause espanto. Pendurados no teto, cabaços, couro de tamanduá, de jacaré, de cobra, entre outros, são alguns dos elementos que compõem a ornamentação da Casa. Além disso, as cores terrosas e acinzentadas que preenchem o lugar colaboram para seu aspecto rústico, dando a tudo um toque de mistério. Como o nome sugere, lá se vende raízes, ervas, grãos, engarrafados

como mel, azeite de mamona, mocotó, andiroba, cada coisa com sua finalidade. “O mais procurado aqui são remédios para emagrecer e para curar inflamações”, revela o comerciante. O Sr. Arlindo Alves conta que aprendeu a lidar com certos tipos de plantas quando trabalhava no Exército, viajando entre Estados brasileiros. “Trabalhava muito na estrada, passei pelo sertão da Bahia, Ceará, Alagoas, Pernambuco. Procurava saber com os mais velhoso que era e para que servia, aí colocava num saquinho com uma etiqueta. Meus colegas do batalhão sempre diziam ‘Arlindo, quando tu sair daqui vai ser um raizeiro’. E foi o que aconteceu, meu primeiro plano era abrir uma farmácia tradicional, mas depois vi que não era o que eu queria. Queria uma natural”, relembra. Segundo o Sr. Arlindo, as vendas caem aos domingos principalmente por causa da concorrência, embora seja o dia de maior movimento na Feira do Bacuri. O mesmo ocorre para os

barraqueiros fixos da Feira do Bom Sucesso, uma das maiores e mais frequentadas da cidade. Tanto o feirante Damião Soares dos Santos, que trabalha lá há 20 anos, quanto Maria Deusimar da Silva, que trabalha há apenas 3, afirmam “no domingo o movimento é maior, mas não vende tanto, porque a concorrência é grande”. A Feira do Bom Sucesso existe desde 1987, quando foi fundada por Pedro Ambrósio. A área ocupada aos domingos soma mais de 1 quilômetro. A feira comercializa de legumes, verduras e frutas, até roupas e acessórios femininos e masculinos. Contudo, a principal atração do local talvez seja a chamada Rua do Peixe, destinada à venda das mais variadas espécies do pescado. Para a professora de História Lídia Barretto, “uma feira é de extrema importância social para uma cidade porque atende às necessidades básicas de consumo da comunidade. Além disso, elas são construídas pelas pessoas, então, por que não dizer que fazem parte do patrimônio cultural? Elas são patrimônios por causa do valor histórico coletivo e pessoal que levam em si”, finaliza Barretto.

Onde e quando encontrar as feiras? Feira da Praça - Localizada na Praça de Fátima, no Centro. Dias de quarta-feiras e sábados, das 7 horas às 11h30min mais ou menos. Feira do Mercadinho - Entre as ruas Ceará e Aquiles Lisboa. Todos os dias com grande movimentação. Feira do Bacuri - Predominantemente entre as ruas Leôncio Pires Dourado com General Gurjão. Funciona todos os dias, tendo maior movimentação aos domingos. Feira do Bom Sucesso - Abrange as ruas Quintino Bocaiúva, Dom Evaristo Arns, Bom Jesus, Raimundo de Morais e São Vicente de Paula. Funciona a semana inteira.

MARIANA DE PAULA MEDEIROS

As visitas regulares dos consumidores às feiras fazem delas patrimônios culturais


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CULTURA O jeito imperatrizense de falar e a capacidade compartilhada de transmitir a cultura e o comportamento local através da fala e das expressões, despertam a curiosidade de quem passa por aqui

Por aqui se fala assim MARON RAMOS

“N

o começo tinha dificuldade de entender alguns alunos que falavam muito rápido. Mas logo me apaixonei por expressões como Arrocha, que virou, de cara, o nome do jornal”. A dificuldade, na qual o professor que chegava na cidade pela primeira vez em meados de 2009, motivado pela chance de integrar o corpo docente daUniversidade Federal do Maranhão -UFMA, Alexandre Maciel, relata ter passado, se apresenta como uma espécie de ritual para aqueles que chegam a Imperatriz. Não é apenas o Arrocha, também tem o “acolá”, “binhí” “kidicarne””é discritim” entre tantas outras expressões, que, além de indicar uma forma dos imperatrizenses se apropriarem da língua, trata-se também de um fenômeno construído a partir de fatores geográficos e socioculturais. Mas o que no início pode causar estranhamento, logo acaba se tornando uma parte divertida do dia a dia. “Também adorei, de cara, o agora binhí, com todas as suas dificuldades de explicação do que diabos significa isso. Quando explico para amigos de fora eles não entendem a profundidade dessa expressão, que, para mim, tem a ver com uma expressão de dúvida, chacota: agora binhí! Mas tem variações, como pegue para mim aquele caderno binhí, que acho ótimas também, pois seria como, está tão perto de você, não custa

nada. Organizar o Arrocha e também os livros-reportagens que orientei me permitiu conhecer muito mais a história da cidade e seus costumes.” Para o professor, nessas expressões pode-se encontrar uma fusão de linguagens derivadas de diferentes regiões “Adoro essa fusão de influências lingüísticas do Pará, Tocantins e sul do Maranhão. Adoro o fato de a cidade não se parecer com São Luís. Essa independência lingüística e cultural é fascinante” Maciel lembra que o mesmo estranhamento é notado também pelos imperatrizenses que recebem pessoas de outras regiões, como no seu caso “meu r puxado (que não é de minha terra natal, Corumbá, que puxa o s e, sim, da capital Campo Grande, na qual morei muito tempo) também causava estranhamento”. Mas afinal, estranhezas a parte: qual é o jeitinho imperatrizense de se comunicar? Para a Jornalista, recém formada, Idayane Ferreira, responsável pela seção “Palavreado” do Zine “Sibita”, produzido por acadêmicos do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, “Maranhenses, em geral, sempre dizem não possuírem sotaque, que é algo que marca muito o jeito de falar de uma região. No entanto, nós temos esse jeito todo especial de falar que é só nosso, de juntar palavras e formar um só tipo kidicarne (quilo de carne)”. A revista, de produção simples, feita artesanalmente, que já circulou por outras regiões do país como Natal – RN, traz, além do

divertimento proporcionado pela grafia das palavras, uma forma de identificar uma parte da cultura imperatrizense, e também uma oportunidade de apropriação de tal identidade. Mas como nem tudo são flores, a seção também problematiza o uso de expressões com conotações negativas, excluindo-as das edições, um verdadeiro convite para a reflexão.”Evito colocar palavras preconceituosas que a gente usa. Lembro que na letra B tinha “Baitola”, por exemplo, mas não coloquei no palavreado. Procuro escolher palavras que são usadas com frequência, para coisas do cotidiano. O fato de eu não colocar no sibita as palavras preconceituosas, ocorre porque seria uma forma de perpetuá-las. As pessoas apenas ririam sem se dar conta de que estão sendo infalivelmente preconceituosas”. Mudando um pouco o ponto de vista, não poderia faltar a história em que o jeitinho imperatrizense de falar tivesse sido o protagonista. Recepcionista por 6 anos do antigo Hotel Advance, o único da Praça de Fátima, Agostinha Franco (56), uma mulher pequena em estatura mas gigante em carisma, conta dentre vários casos, embalados por muitos sorrisos, a história de quando conheceu um escritor Norte-Americano que se apaixonou pela palavra: “quibebe”. “Me perguntaram o que eu sabia fazer de bom para comer, respondi quibebe, explicando do que se tratava, como era feito e então ele se apaixonou pela for-

MARON RAMOS

As peculariedades do modo de falar como fenômeno atemporal e que se mantém vivas há gerações

ma como a grafia e como palavra soava, por um longo período após nos conhecermos ele costumava me ligar às duas da madrugada para conversar”. Tal encantamento ocorre divido, segundo a poeta e pesquisadora Lília Diniz, pelo fato de determinadas palavras proporcionarem

PROCURE BINHÍ Divirta-se procurando palavras do cotidiano imperatrizense Z D U F M A N M E R M A L V X Z H W Y J R G O P C F A X H A K I C X B C E R O P A S K I D I C A R N E U I L O L P E D NAM D A C U O R E N T E L F P W E R TU Y I O P X Z W E N M N O P W H X R I B A O E I R U R Y U T K I K L O W Q M S T B B G W E I A C U M A D E A W E R H J I R U F R G B H N P O A H U J G R T U V X D Z L K E U A S B i n h i T S O I N M R J R Y I N R I B A U T Y O X E N T E U L Ç P O E R T L M H I H G E I H K L R G R B V X Y A F E I V U T B I O P Z Q A C O W E R J Y B D V T H K L B C X Z S Q F I A Ç C Z R A M Nam; Mermã; Kidicarne, Binhí, Cumade; Oxente; Fia; Inriba

Pontos antigos de Imperatriz ajudaram a escrever a história da cidade JORGE PEREIRA

N

o começo da história, Imperatriz passou por vários ciclos econômicos e industriais importantes para o desenvolvimento. Um deles foi o ciclo do arroz, as usinas de beneficiamento dos grãos foram as mais antigas e importantes da cidade. Várias empresas se instalaram e ajudaram no crescimento populacional e econômico da cidade.“ Veio gente de todo canto para trabalhar nas usinas, gente do Pará, Tocantins, Piauí”, afirma o Sr. Raimundo Nonato, mais conhecido como “Raimundo fofo “que trabalhou durante 38 anos em várias dessas empresas. “Aqui rolava muito dinheiro era muito arroz que a gente pilava, era caminhão chegando dia e noite”, relatou. A maioria das empresas ficava localizada no centro da cidade, no setor mais conhecido como “farra velha”, onde também funcionavam os bordéis da cidade. Alguns prédios ainda hoje trabalham com arroz, dos nove que existiam no local apenas três estão funcionando, alguns estão abandonados ou abrigam outros empreendimento comerciais. O jornalista e historiador Wilton Alves, fala que um dos pioneiros no beneficiamento do arroz, foi o investidor Miguel De Sousa Rezende, que

veio para a cidade na década de 1960 e se estabilizou no bairro Maranhão Novo, outro ponto da cidade que tinha várias empresas beneficiadoras dos grãos. Outro prédio que a população local pouco conhece, mas que é de grande relevância na cidade é o da Igreja Evangélica mais antiga de Imperatriz, fundada em 18 de Dezembro de 1930. A Igreja Cristã Evangélica (AICEB) recebeu recentemente uma homenagem da Câmara Municipal de Imperatriz, reconhecendo o seu valor histórico para a cidade. “Fiquei muito feliz com essa homenagem, sou membro dessa Igreja desde criança, passamos por muitas tribulações, mas Deus sempre esteve ao nosso lado para nos ajudar nos momentos mais difíceis” disse João Cardoso (48). De acordo com as pesquisas feitas pelo historiador Wilton Alves, a Igreja teve seu primeiro templo na rua XV de Novembro e foram três missionários vindos de Barra Do Corda, berço da igreja, os responsáveis por iniciar o trabalho na cidade. A igreja vai comemorar 85 anos em 2016. O primeiro dirigente foi o José Joaquim Pereira. Hoje o local é dirigido pelo Pastor Ramalho Dantas, que continua o trabalho que a igreja vem desempenhando durante todos esses anos. Atualmente a igreja conta com mais de 300 membros batizados e com um moderno templo, que fica localizado na Rua Simplício Moreira

mais do que a simples comunicação, mas sim, uma experiência fonética. “Algumas palavras tem uma sonoridade poética insubstituível, deliciosa como por exemplo: Labacéu, Mumunhar, estoporar, breada, balceiro, cangular... são tesouros linguisticos e fonéticos do nosso jeito de ser”.

LEONARDO CASTRO ARAUJO

esquina com a Rua São Domingos. Primeiro Hospital - Em 1962, com a cidade de Imperatriz ainda em formação, a população não contava com nenhuma estrutura na área da saúde. Então o farmacêutico Raimundo Sousa, tomou a iniciativa de criar o primeiro Hospital de Imperatriz, com o nome de “Hospital Ebenézer”. O primeiro médico foi o Dr. Laet Braga, que chegou a Imperatriz em 8 de agosto de 1962, o mesmo ano da criação do hospital, e o arrendou. O “hospital do Dr. Laet” como era popularmente conhecido, durou poucos anos. No local não existe nem mesmo o prédio, foi demolido e hoje é uma residência. Era localizado na Rua Magalhães de Almeida entre as Ruas 15 de Novembro e Coronel Manoel Bandeira. . “Tive 11 filhos e nenhum foi nascido nesse hospital, era só pra quem tinha dinheiro,” disse Juvenal Dias Barros (91), vizinho do hospital. Ele conta ainda que o hospital era pouco aparelhado, não tinha quase nada de equipamentos e por diversas vezes carregou em seus braços vários pacientes. “O hospital não tinha nem macas, eu ajudei varias vezes o povo a descer da carroça para ser atendido”, relatou Dias.

No local já havia várias lojas nos diversos ramos de atividades comerciais, principalmente tecidos, e já era um local de grande movimento de pessoas. O Governo Municipal começou uma reforma em 1979, e gerou grandes discussões. Wilton Alves revela que inicialmente os comerciantes não gostaram da ideia de uma reforma. “Aquela obra era uma utopia para os comerciantes da época, que chegaram a declarar que a obra seria a falência da maior e mais importante avenida da cidade, principalmente no trecho onde estava sendo construído”. Ainda segundo Alves, a obra foi feita pela Canol - construtora nordeste LTDA.

Calçadão - Referência comercial de Imperatriz, o Calçadão foi construído no final da década de 70.

Valorização - Ao contrário do que os comerciantes esperavam após o Calçadão ser concluído,

A casa da família Ribeiro é um dos prédios mais antigos de Imperatriz que se mantém conservado.

houve uma grande valorização imobiliária e o local se tornou referência no comércio varejista de toda Região Tocantina. “Hoje o calçadão tem associadas 63 lojas e um movimento diário de 4 a 6 mil pessoas em dias normais, e pode chegar até 15 mil em datas comemorativas,” informou Manoel Marcone, Presidente da Associação dos Lojistas do Calçadão - ALC.

‘‘Tive 11 filhos e nenhum foi nascido nesse hospital, era só pra quem tinha dinheiro,” disse Juvenal Dias Barros (91), vizinho do hospital.


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PATRIMÔNIO NATURAL Apesar dos problemas ambientais e sociais que ele enfrenta, continua fluindo e oferecendo diversas condições de sobrevivência e divertimento para os moradores da cidade de Imperatriz

Rio Tocantins: muito além de suas águas BEATRIZ FARIAS

BEATRIZ FARIAS

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mperatriz é uma cidade localizada à beira do segundo maior rio totalmente brasileiro, chamado Tocantins. O rio Tocantins é um atrativo para os moradores da região, turistas e, claro, para os que gostam de apreciar a natureza e sua tranquilidade. Embora não esteja como antigamente, devido às intervenções humanas, o rio ainda é visto com muito apreço pelos imperatrizenses. Sônia Pereira, 46, há oito anos trabalha na Beira Rio vendendo crepes e refrescos em Imperatriz, costuma falar com alegria sobre seu trabalho e enfatiza que o rio é um importante espaço de lazer para a cidade. “As pessoas fazem caminhada, se divertem, fazem exercícios. As crianças vivem aqui brincando. Eu amo esse rio e esse lugar”, ressalta. Dona Sônia, comenta ainda sobre o papel do rio para economia local, já que é dele que ela e outras famílias retiram o sustento. “Eu me sinto muito bem. Como a minha renda é só desse quiosque, passo a maior parte do tempo aqui. É um lugar que eu gosto bastante. Sempre é movimentado, conheço pessoas diferentes todos os dias, é muito gratificante”, explica. A autônoma fala ainda da sua preocupação com o meio ambiente e se lamenta pelo fato de nem todos terem cuidado com a natureza. “Fico muito triste por ver e saber que algumas pessoas não preservam a natureza. Pra quem trabalha aqui sabe realmente qual é o valor desse rio’’, revela. Segundo a geógrafa da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Francisca Gonçalves, Imperatriz está diretamente ligada ao rio Tocantins. Além disso, considera-o como um patrimônio natural da cidade. “Quando fazemos essa correlação entre Imperatriz e o rio Tocantins, o que podemos concluir é que Imperatriz não existiria sem esse majestoso rio, já que foi ele o motivo da fundação

Rio Tocantins e Beira Rio são considerados como patrimônios naturais na cidade, embora enfrentem situações delicadas, a população desfruta de suas lindas paisagens, fazem caminhada e se divertem.

da cidade. Ao longo de cem anos foi o único canal de acesso a outras partes do país”, explica. O rio Tocantins é uma fronteira geográfica por natureza, que reflete principalmente na economia dos estados que ele abrange, incluindo o Maranhão e o Tocantins. Ainda de acordo com a geógrafa, apesar da intervenção humana no fluxo normal do rio, como a construção de hidrelétricas que ao longo dos anos vem causando grandes impactos naturais e sociais, não se pode deixar de mencionar o que o rio tem proporcionado à população. “É uma fonte de lazer importantíssima. Nos mantêm em contato com a natureza, através de suas praias fluviais e de suas belíssimas cachoeiras, que encantam e tem atraído turistas de todos os cantos do Brasil e do mundo. Aumentando assim o ecoturismo”, explica. Magno Brandão, 26, trabalha há 10 anos como vendedor de

cama, mesa e banho, transitando pelo Maranhão e o Tocantins frequentemente. O autônomo fala da importância do ligamento dos estados através do rio. “É um ligamento importantíssimo tanto para economia da cidade quanto para o estado vizinho. Muitos dependem desse ligamento para trabalhar, viajar, para se divertir também. Eu passo pela ponte Dom Afonso Felipe Gregory mais de dez vezes por mês, já criei sentimentos por ela. Além de permitir que eu viaje em busca do sustento da minha família, permite isso para outras famílias também”, reflete. Magno Brandão, além de ser um vendedor viajante, conhece bem o estado do Maranhão e do Tocantins. Se considera um verdadeiro fã do rio Tocantins, e se importa bastante com a sua preservação. “Fico triste com algumas atitudes, pessoas maltratando o rio. Um exemplo é na época de praias. É um lugar para se divertir, tomar aquele banho de rio. Mas o que eu vejo é gente jogando lixo nele, ou coisas piores”, lembra com tristeza. Ao ser perguntando sobre o que ele considera patrimônio na cidade, enumera dizendo que são três. “A ponte Dom Afonso Filipe

Gregory, a balsa, e as praias são as marcas de Imperatriz, sem dúvidas”, esclarece. De acordo com a Coordenadora da Vigilância do Meio Ambiente, Conceição Luz, há uma década é feito um trabalho de conscientização com barraqueiros e barraqueiras das praias de Imperatriz. “Trabalhamos com barraqueiros e barraqueiras com a questão do lixo, para não jogar no leito do rio. A gente distribui hipoclorito, porque é uma época que consumem muita alimentação fora de suas residências e tem um alto índice de infecção intestinal. Isso porque eles manuseiam e preparam o alimento com a própria água do rio. O trabalho é feito em parceira com a Defesa Civil, para tentar fazer um serviço de mais segurança, embora seja um desafio a cada ano”, explica.

“Fico muito triste por ver e saber que algumas pessoas não preservam a natureza. Pra quem trabalha aqui sabe realmente qual é o valor desse rio.”

BEATRIZ FARIAS

Criança soltando pipa na beira do rio em frente ao pôr do sol, que atrai centenas de imperatrizenses e pessoas que visitam a cidade de Imperatriz

Muito mais que economia - A população imperatrizense desfruta dos diversos atributos que o rio Tocantins oferece. Seja o pôr do sol na Beira Rio, que serve de inspiração para os artistas locais, sejam eles escritores e compositores. As praias que são uma opção de lazer, e por último e não menos importante, a pesca que é a fonte de renda aos pescadores. A importância do rio para uma sociedade vai além do uso da sua produção, segue para sua

permanência onde vive, pela qualidade de vida que respira, e pelo futuro. Segundo Magno Brandão, o rio Tocantins além de representar uma parcela da economia local, também é vida. “Pelo menos para mim representa vida. Água é vida! Me sinto maravilhado em poder olhar pra ele. Não esqueço das coisas boas que ele trouxe pra mim, minha família e, claro, para o povo de Imperatriz. Ele é importante justamente por causa disso, por permitir que pessoas trabalhem”, finaliza. A aposentada Ozília Marinho, 73 anos, admite que o rio Tocantins vai muito além que um conjunto de águas. Nascida e criada em Imperatriz, mora atualmente em um povoado chamado Mangueira, no Tocantins. “Eu nasci e me criei aqui. Mas pelas dificuldades que encontrei ao longo da minha vida, tive que me mudar para o Tocantins. Tenho filhos que moram aqui em Imperatriz e sempre venho pra cá. Sempre passo pelo rio lembrando de tudo que vivi. Ele é mais que água, é como se fosse uma pessoa que me conhecesse por toda a vida”, confessa.

Saiba como preservar nosso patrimônio natural: - Evite produtos descartáveis, assim o risco de poluir os rios e o Meio Ambiente diminuirá; - Procure meios de economizar água; Menos é mais; - Denuncie vazamentos, acúmulo de lixo indevido; - Dê preferência à produtos que gerem menos lixo.


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lazer As prais de Imperatriz recebem semanalmente inúmeros visitantes, inclusive de outras cidades e Estados. Para os banhistas e barraqueiros, as praias são patrimônio da cidade e devem ser preservadas

Princesa do Tocantins e suas praias EVEN GRAZIELLY

BÁRBARA FERNANDES

P

eixe frito. Água fresca. Música. Todos os anos, na segunda quinzena do mês de julho é aberto o período oficial de veraneio em Imperatriz, para muitos uma época única de pura diversão. Isso porque para ir à praia você não paga entrada, pode levar sua comida, bebida e ainda se refrescar nas águas do Rio Tocantins. Esses são os principais motivos que levam a administradora de empresas, Patrícia Oliveira, 34, a frequentar as praias de Imperatriz, “todos os anos eu venho com minha família, porque é uma forma acessível de se divertir e se refrescar desse calorão”, conta. A consultora de beleza Marcela Carvalho, 32, levou seu filho Heitor Gabriel, 1 ano e 8 meses, pela primeira vez na Praia do Cacau, “sempre vou com meus familiares e amigos e, esse ano, com o Heitor. Gosto de estar no rio, comer um peixe frio e é interessante valorizar o que a gente tem na cidade”, explica. Imperatriz possui duas dessas praias, a do Cacau, que fica à margem direita do Rio Tocantins, e a do Meio, que é uma ilha localizada bem no meio do rio. Segundo a Defesa Civil, todos os anos cerca de 80 mil pessoas visitam as duas praias durante os 60 dias de veraneio oficial. “A procura é maior durante os domingos e feriados”, segundo o superintendente municipal de Proteção e Defesa Civil, Francisco das Chagas Silva, o “Chico Planalto”, 47. Enquanto a maior parte do país é marcada pelo inverno no mês de julho, a região tocantina é marcada pelo sol intenso. Isso acontece por conta do período de estiagem, onde os níveis de água dos rios diminuem e aparecem os bancos de areia formando as praias de água doce. Além de ser a principal fonte de abastecimento de água de Imperatriz, o Rio Tocantins proporciona também lazer à população, isso porque já é tradição a partir de julho, os bancos de areia atraírem banhistas e barraqueiros. Não se sabe ao certo como essa cultura foi iniciada, porém quando se fala

O colorido das praias de Imperatriz encanta e chama a atenção, atraindo vários banhistas em busca de lazer, diversão e comodidade

em Imperatriz, muitas pessoas já remetem logo à imagem das praias de água doce. As praias de Imperatriz são frequentadas há anos por banhistas da cidade e também por turistas de outros estados, como é o caso da secretária Sueli Becker, 48, de Santa Catarina, que visitou a cidade ano passado e ficou com vontade até de comprar uma casa nas proximidades da Praia do Cacau. “Foi a primeira vez que fui, a experiência foi incrível e diferente do que estou acostumada, pretendo voltar outras vezes”, contou saudosa. Já a aposentada Rosa Santos, 76, frequenta todos os anos as praias de Imperatriz: “a gente vai sempre de manhã e almoçamos um peixinho frito, vou com meus filhos e netos. Acho o ambiente bem gostoso”, afirma. Porém, nem todo mundo gosta desse ambiente, como é o caso do empresário Francisco César, 43, que já foi às praias de Imperatriz, mas hoje não frequenta mais. “Falta

organização, sinalização, limpeza e, principalmente, falta segurança para os frequentadores que estão ali para se divertir, por isso procuro lugares mais afastados”, explica.

“Gosto de estar no rio, comer um peixe frito e é interessante valorizar o que a gente tem na cidade”, Marcela Carvalho Por outro lado, Chico Planalto explica que “a Prefeitura oferece iluminação, guarda vidas nos finais de semana e feriados, além de demarcar a área de banho, limpar diariamente, controlar o trânsito aos finais de semana”.

Raimundo Araújo é barraqueiro há 23 anos e há dezesseis é presidente da Associação de Barraqueiros da Praia do Meio. Quando o período de veraneio acaba, ele toma conta do seu espetinho e também trabalha como pescador, mesmo assim não pensa em parar de trabalhar como barraqueiro. “A oportunidade de largar era agora, porque eu perdi minha esposa, aí o cara fica chateado pra caramba. Vivi com ela 42 anos, mas a vida continua e isso aqui faz parte da minha vida, é meu trabalho e é onde eu fico a vontade”, conta emocionado. Esse traço cultural é bem comum na bacia do Tocantins-Araguaia, porém não é uma característica somente da região, como explica o geógrafo Allison Oliveira. “Não acredito que seja uma expressão cultural iniciada especificamente em Imperatriz. Tradicionalmente os grupos sociais que se instalam às margens dos rios utilizam os recursos locais para atividades de lazer, não só aqui no Brasil”, explica. E completa, “as praias já

existiam antes da barragem, como processo natural potencializado pela ação humana, e provavelmente não existiam em quantidade e extensão como existem atualmente”. Preservação – A atividade das dragas – embarcações usadas para retirada de areia – é muito comum no Rio Tocantins. Essa atividade é legalizada, porém precisa ser feita com cautela e fiscalização, isso porque após a retirada da areia, alguns buracos são formados. Esses poços são perigosos para os banhistas, que ao caírem em algum, dificilmente conseguem sair. O geógrafo Allison Oliveira explica que infelizmente, a prática de visitar praias pode chegar ao fim, isso por conta do trabalho desenfreado que vem sendo feito pelas dragas no Rio Tocantins. “Esta é uma atividade muito danosa, pelo fato que a retirada desenfreada altera toda a dinâmica natural do rio. As alterações resultantes desta atividade contribuem também para tornar o banho impróprio”, alerta. A extração de areia fora dos locais autorizados podem causar danos ao meio ambiente. Para que isso não ocorra é preciso que os órgãos públicos fiscalizem mais fortemente a extração de areia no Rio Tocantins, através de vistorias intensas e conversas com os extratores. Chico Planalto explica que “a retirada de areia no Rio Tocantins e suas licenças são dadas pelo Departamento Nacional de Produto Mineral (DNPM) e a Secretaria de Meio Ambiente”. E completa que “a Defesa Civil entende que não existe nenhum mal ou dano ao meio ambiente, se a retirada de areia não for realizada nas margens do Rio Tocantins e nem em cima das praias”. Cuidados - Segundo Chico Planalto alguns cuidados devem ser tomados para evitar acidentes nos locais, “é importante não descumprir as regras, como: não ingerir bebidas alcóolicas exageradamente, não adentrar a água acima do nível da cintura, respeitar as demarcações de banho, e se estiver com crianças, ficar sempre atento e não deixá-las banhar desacompanhadas”. EVEN GRAZIELLY

As praias são uma ótima alternativa para fugir do calor e estar em contato direto com a natureza. Os banhistas de toda a região têm nas praias do Meio e do Cacau uma oportunidade para encontrar amigos e se divertir com a família.


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Legado A história de Imperatriz é conectada ao rio e ao conhecimento de personagens como Luís Alves. O fabricante de canoas é fruto tradição cultural da cidade que tem o rio Tocantins como inspiração

O artesão de canoas e a herança cultural da cidade

LUZIEL CARVALHO

Muitas pessoas dependem do rio Tocantins para tirar seu sustento, um exemplo é Luís Alves que trabalha há oito anos produzindo canoas. O artesão chega a fabricar até quatro canoas por mês e é uma referência na produção do transporte, em Imperatriz e região. Luziel Carvalho

O

ribeirinho resiste sob o trânsito leve e calmo do rio. Convive a todo instante com essa beleza, mas nunca se deixa ser consumido pela rotina de vê-la, nem insensível ao ponto de não ceder a seu encanto. É um indivíduo profundamente grato à natureza, e tenta resistir junto a ela aos desequilíbrios, bem como, tem a vida afetada por eles na mesma medida. Para os povos ribeirinhos o rio alicerça a economia, a subsistência e as interações culturais, que se manifestam a partir da relação harmônica entre homem e natureza. Há claramente um entendimento advindo desse povo, de que toda sua rotina depende da circunstância e da compreensão compartilhada de uma geração a outra, de que a preservação do rio é garantia de vida, manutenção cultural e proteção do grupo.

Em Imperatriz, ao longo de toda essa “estrada” de águas (Rio Tocantins), as canoas trafegam como obras de arte que resistiram ao tempo. Nascidas das mãos de artesãos como Luís Alves de Souza, 49, que cuidadosamente disciplina e articula as curvas da madeira, alternando olhares criteriosos em várias posições, corrigindo os possíveis desvios métricos. É um labor que exige muita atenção e rigor no equilíbrio da forma. É um constante reposicionamento, entre amarrações, distribuição de peso para fixar uma posição, dimensionamento de aberturas e proporções. É um jogo matemático entre curvas e medidas, que a prática abstrata e concreta do artesão resolve. Nascido em Itaguatins - TO, Alves iniciou por vontade própria há exatos dez anos, a fabricação de canoas no fundo do quintal de sua casa, ainda como ofício que complementava a renda familiar. LUZIEL CARVALHO

A fabrição das canoas exige muita atenção em cada detalhe para o perfeito equilíbrio da embarção.

Um elemento muito presente no cotidiano do ribeirinho é a canoa. Por serem muito práticas, acabaram servindo como transporte de colonizadores, missionários e bandeirantes para exploração de zonas de difícil acesso no país, numa época onde a ausência de estradas fazia dos rios e seus afluentes as principais vias para transporte e deslocamento.

Na época em que começara, sua atividade profissional de maior retorno era como operador de máquinas numa cerâmica local em Imperatriz, onde vive há quarenta anos. Luis Alves é ajudado por sua esposa Izanete Rodriguez de Souza, desde o início na fabricação para sustentar os quatro filhos.

Com o tempo, a profissão principal de Alves se desgastou, e o retorno salarial já não era suficiente. Ao fazer uma tentativa de pedir aumento para poder manterse, teve seu pedido negado, depois de 25 anos trabalhados. “Isso me deixou desgostoso, meu salário foi reduzindo, reduzindo, até que eu não dava mais conta. Aquilo não era mais suficiente. Meus meninos ainda eram pequenos. Eu sofri muito trabalhando para os outros. Para mim que eu perdi a minha vida trabalhando naquele negócio, não tive reconhecimento algum. Hoje, graças a Deus, eu tenho essa profissão que eu sinto prazer e me dá o sustento.” Luís Alves, há oito anos dedicase completamente à fabricação de canoas, produz quatro delas mensalmente. Cada uma é avaliada e negociada de acordo com o tamanho. O fabricante explica que atualmente em relação à época que começara, a demanda por fabricação aumentou, e que a grande dificuldade hoje é por conta da escassez da madeira. Não houve, segundo ele, redução no uso. Boa parcela dos seus clientes são ribeirinhos pescadores e pessoas que compraram propriedades às margens ao longo do rio. Outro detalhe que enfatiza, é que a canoa continua contribuindo para a mobilidade dos pequenos agricultores, produtores e criadores de animais que vivem às margens do rio e negociam seus produtos em Imperatriz,e que com a popularização da rabeta (motor adaptado para a canoa) facilitou ainda mais a movimentação e a renda dessas pessoas. De acordo com o ribeirinho Elias Santana de Oliveira, 59, nascido e criado na beira do rio, presente no momento da entrevista, a canoa que antes tinha uma finalidade mais voltada para a pesca e para uma movimentação mais limitada. A partir do uso da rabeta, esse fim se amplia. Impulsiona-se a diversificação das atividades econômicas do ribeirinho, dos pescadores e fabricantes de canoa. Pois, todos eles no verão transportam pessoas para as praias e também fazem pequenos fretes durante o ano inteiro. James Pimentel, 25, jornalista, escreveu um livro-reportagem sobre a realidade social de quem sobre-

vive da pesca na Avenida Beira-Rio, cujo título é “História de Pescadores”. Em sua pesquisa confirma o fato de que há essa diversificação de atividades. Embora esteja mais relacionado ao ofício dos pescadores, pode-se notar que a problemática tem uma dimensão política e econômica advinda da fraqueza de assistência do Estado para com a classe. O efeito em si generaliza-se à todos que exercem atividades características do povo ribeirinho. Alves,da mesma forma, tendo a produção de canoas como principal atividade, dividi-se entre outras para complementar a renda.”Muitos têm a pesca como atividade principal de renda, mas, ainda assim, fazem bicos para se sustentar. Então aquela ideia de que o pescador fica o dia inteiro na praia é algo apenas das novelas. Em Imperatriz eles precisam se virar para pescar, tratar o peixe e vender, sem as mínimas condições proporcionais ao comércio desse ramo.” De acordo com o historiador Alcindo Holanda, os calafates, como eram conhecidas as pessoas com habilidades de construção e reparos navais, têm sido cada vez menores. A profissão já não é mais passada de pai para filho desde que a região sofreu os impactos da inserção primária do capitalismo moderno na segunda metade do século passado. Isso contribuiu para que esse costume, a partir de então, se de-

teriorasse gradativamente. “Dessa forma, todos os modos tradicionais de pesca ou produção de barcos e canoas são fragilizados junto à memória e a relação histórica desses indivíduos em nosso contexto atual”. Hoje, as famílias tendem orientar os filhos para seguirem outras vias profissionais. Holanda encerra dizendo que esses trabalhadores do ramo naval têm um peso histórico porque já que conheciam muito sobre todo o processo de utilização do rio. E uma vez que, a ocupação dessa região se deu de forma fluvial, isso indica uma ligação de extrema importância dessas pessoas para o desenvolvimento e expansão local. “Portanto, todo esse conjunto de conhecimentos acumulados pelos calafates, são um patrimônio, porque tem relação histórica com o rio, com o lugar, com a fundação da cidade e com o rompimento do vazio demográfico da região, numa época onde o rio era a principal via de transporte.” Imperatriz necessita reconhecer seus entes históricos, não somente revisitando o passado, mas (re)significando essa herança cultural, para compreender suas raízes históricas no momento presente. É preciso deixar o hábito anestésico de sentir somente a falta das coisas quando elas somem do cotidiano e entram para a história. LUZIEL CARVALHO

O artesão Luís Alves explica os detalhes de cada etapa do processo de fabricação das conoas.


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arte local As manifestações culturais da cidade é um assunto muito discutido e nela estão inseridos os patrimônios, sejam eles materiais ou imateriais e por meio deles é criada a identidade do local e dos moradores

Artistas fazem de Imperatriz o berço da cultura popular REGINALDO santos

Helene Lavigne

“T

oda manifestação cultural é parte do nosso patrimônio, se considerarmos o seu valor enquanto valor identitário de nossa nação” afirma Lilía Diniz, escritora e ativista cultural. Ela conta que Imperatriz é uma cidade repleta de diversidade cultural, dada a miscigenação da população. Isso gera uma grande riqueza e exige, ao

mesmo tempo, uma política cultural séria e comprometida em valorizar, difundir e impulsionar tal característica. A cultura de Imperatriz é um assunto muito discutido e nela estão inseridos os patrimônios, sejam eles materiais ou imateriais. Através deles é criada a identidade do local e das pessoas que habitam na cidade. Imperatriz possui um misto de artistas e músicas. Isso torna a cidade mais encantadora, além de atrair inúmeros artistas. Destinado para a realização de atividades culturais, o bairro Beira Rio é considerado um ponto de encontro dos Imperatrizenses e visitantes. É o local onde acontecem vários eventos da cidade e, dentre eles, as apresentações do coral de Imperatriz, “Os Timbiras”.

Fundado em 2001, com mais de 90 integrantes, o grupo se apresenta durante o ano com vários temas. Em entrevista, o maestro Giovanni Pietrinni, enfatiza que durante o ano eles preparam uma apresentação com temas musicais chamados “espelho das águas”, “canta minha terra” “canta minha cidade” e dentro desses temas desenvolvem a programação. O grupo tem repertório diversificado que vai do erudito ao popular, do sagrado ao profano. “Acredito que o coral seja um patrimônio da cidade, pois além de ganhar diversos prêmios na região, fomos considerados o melhor coral popular por onde passamos” , afirma o maestro que está há quinze anos a frente do coral. Os Grupos de teatro também são destaque entre os artistas locais, dentre eles está o grupo Cia CEB - Centro Educacional Bezerra, que utiliza técnicas da artes cênicas aplicadas na comunicação do conhecimento. “Acreditamos que o jogo teatral é um poderoso meio para gravar na memória um determinado tema, ou para levá-lo, através do impacto emocional, a refletir sobre determinada questão moral”, esclarece o professor e diretor Lucas Alves. Ele enfatiza que as memórias coletivas e sociais da cidade se encontram no contato entre

os textos trabalhados e a realidade mais próxima dos alunos. “Há um compartilhamento de vivências no fazer teatral”, finaliza. Romantismo, amor fraterno, igualdade, respeito e paz são temas que fazem parte do repertório de músicas da primeira banda de reggae de Imperatriz chamada “Senzala”. Mesmo com pouco tempo de estrada eles se sentem honrados por terem um cd autoral tocando nas rádios locais, em outros estados e também em rádios especializadas em reggae no exterior. O vocalista Jean Rios conta que a ideia de formar uma banda de reggae iniciou em 2012 quando ele e o amigo Aziz Bahury sentiram a necessidade de criar algo novo, uma banda diferente dos estilos de músicas que a cidade de Imperatriz oferecia. Ele diz que apesar das dificuldades, o grupo se sente privilegiado por ter “conquistado o carinho e respeito do público de Imperatriz e região” e que a prova disso é a participação da banda nos maiores eventos da cidade. Olhos e ouvidos bem atentos. Bastaram apenas três minutos para a população de Imperatriz saber a razão do sucesso das quadrilhas juninas da cidade. Nos olhos de cada dançarino, a alegria de viver e de se expressar com a dança cultural. Tradição no mês de Junho, os grupos de quadrilhas juninas celebram a cultura do povo nordestino. E dentre elas está a Quadrilha “Arrasta Pé”, que iniciou seus ensaios e apresentações em 1999, a partir de uma quadrilha de uma escola municipal. A princípio, recebeu o nome “Arrasta pé do

Juçara” remetendo ao bairro que os organizadores moravam. Depois de algumas participações em grandes concursos, passou a ser chamada pelo nome atual. O grupo é composto por 43 pares de brincantes e uma equipe de 130 pessoas envolvidas. O coreógrafo Laedson Brito, destaca que as quadrilhas juninas, sejam elas de Imperatriz e região, tem a capacidade de unir estilo e tradição “tudo isso enriquece a cultura da cidade, embeleza os eventos juninos. Então, não podemos deixar morrer essa prática”, ressalta. Quem circula por Imperatriz já deve ter visto o malabarista Cleiton Viana, que pratica malabares nos sinais da cidade com “A Trupe de Habilidades Circenses”, grupo que ele participa desde 2008. Os movimentos precisos e criativos feitos com objetos circenses viram um show de arte. O grupo transforma as faixas de pedestres da cidade em palco. Para Viana, essa é a maneira de expressar sua arte e também vencer a timidez. Ele conta que em suas apresentações buscam mostrar um pouco da cultura de imperatriz misturado com os aprendizados do circo. “Aprendi os movimentos circenses com amigos e começamos a desenvolver as atividades através de viagens e pesquisas”, afirma. O grupo impressiona pela capacidade de manipulação dos objetos. A criatividade do malabarista deixa aquele momento do “Pare” mais interessante até a hora da partida condutor. Sendo assim, os artistas da cidade fazem dos seus manifestos culturais fonte de entretenimento e diversão.

Serestas: um resgate de memórias e sentimentos do presente e do passado Suzete Gaia

A

legre e sorridente, brincalhão e com grande entusiasmo, é assim que seu Wallace Bernardino, 70 anos, bancário aposentado, chega na "Calçada da Fama", bar no centro de Imperatriz em que acontece seresta todas as sextas feiras. No local se reúne com os amigos para uma noite de muita música, com letras românticas e dançantes, afim de ouvir a sua música preferida, "La Cumparsita", tango de autoria do Uruguaio Gerardo Matos Rodríguez. É com brilho no olhar que "seu Wallace" descreve o quanto sente saudades da juventude, “a gente tinha uma radiola de seis pilhas, LP, eu levava a radiola, um levava as pilhas, outro levava o disco. Nessa época a energia era só até as dez da noite. Depois desse horário era na base da lanterna e tinha toque de recolher, mas a gente conversava com os guardas noturnos e assim ficava até as duas da manhã na porta da namorada”, enfatiza Wallace Bernardino. Para Margarida Chaves, professora do Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, essa concepção de seresta corresponde a representações realizadas através de serenatas. Era a prática realizada por namorados depois da meia noite, quando se reuniam com os amigos e iam cantar nas janelas das namoradas

ou das pretendentes. Essa era a forma de corte, com isso eles alimentavam o ego da amada e demonstravam o amor. No primeiro momento, as mulheres não estavam nas serestas. Elas ouviam as músicas cantadas, porém não se colocavam nas janelas. Com o tempo, essas manifestações tomaram uma nova forma. As pessoas passaram a se reunir para ouvir músicas românticas do presente e do passado em festas que aconteciam em clubes espalhados por Imperatriz. Esses clubes sociais eram frequentados por famílias reconhecidas na cidade. As moças quando queriam participar dessas festas tinham que preencher uma ficha ou proposta, com foto e dados, que era entregue através de algum dos sócios. A diretoria dos clubes recebia essa proposta e fazia a seleção para autorizar ou não a entrada das moças na festa. Na época, era evidente a divisão de classes. Em Imperatriz, na década de 1960 e 1970 existiam as festas mais popularizadas que aconteciam aos domingos à tarde. Eram conhecidas como o "Vesperal" e as "Tertúlias". Existiam também vários clubes espalhados pela cidade, como o Itatocan, Balaio, Tocantins, Juçara e outros. “O Cacauzinho, não pode deixar de ser citado, pelas histórias e personagens que frequentaram o local. Ícones tais como Dorgival Pinheiro de Sousa, Fiquene, Carlos

Amorim, o pai do "Carlinhos Amorim" e outros, eram companheiros de seresta da "Lenda", como também é conhecido meu pai”, conta Wallace Júnior, 24 anos, acadêmico de Direito, filho de Wallace Bernardino. O Patrimônio Cultural Brasileiro foi regulado pelo Decreto-lei de 1937 e ampliado pela Constituição Federal de 1988. Tal lei conceitua no Artigo 216 patrimônio cultural como bens que fazem referência à identidade e memória de grupos e suas formas de expressão. Sendo assim, a seresta faz parte da herança cultural de Imperatriz. Nesse sentido, Margarida Chaves, conta que a seresta é uma “manifestação de povos de todas as classes”, diz ainda que “é o local aonde as pessoas vão para rememorar épocas do passado”. Wallace Júnior relata que sempre acompanhou o pai em serestas, “antigamente as serestas eram festas de fechar quarteirão, mobilizavam praticamente a cidade toda”. Para ele, a seresta “é uma forma de expressão. Uma maneira de reunir pessoas com o mesmo interesse, que não vão só para curtir, mas para se confraternizar". O senhor Genuíno Candido "Genú", 74 anos, músico, fez parte de umas das primeiras bandas de música de Imperatriz, a "Bossa Show" e tocou em muitas serestas locais. Ele conta que na época as músicas mais tocadas eram as mais românticas.

Entre os cantores que embalavam os corações nas festas, destacam-se: Altemar Dutra, Roberto Carlos, Waldick Soriano, Aldair José entre outros. Genú conta ainda que, “naquela época as músicas que pediam eram músicas com sentimento. A pessoa queria curtir aquela dor de cotovelo mesmo”. Como a cidade de Imperatriz é um eixo que liga o Maranhão ao Pará e o Tocantins, acaba por sofrer influências de outros estados. Em consequência disso, a seresta passou por algumas alterações. “Hoje em dia

mudou, não é mais aquele bolero que tocava como antigamente, com músicas românticas. Quando começamos a tocar as pessoas logo pedem um forró pé de serra, sertanejo, arrocha” diz Genú. Apesar das alterações que sofreu ao longo do tempo, a cultura da seresta ainda é muito forte na cidade. As pessoas vão a essas festas em busca de diversão com amigos e familiares, mas tem aquelas que estão à procura de romantismo que encontram através de músicas clássicas que não faltam no repertório. Suzete Gaia

Artistas locais se apresentam frequentemente nas serestas espalhadas em locais tradicionais da cidade.


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10 LEONARDO CASTRO ARAUJO

Arrocha

Ano VIi. Número 28 iMPERATRIZ, setembro de 2016

NILO PEREIRA

MARIANA DE PAULA MEDEIROS

MARON RAMOS

EVEN GRAZIELLY

EN SA IO


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Ano VIi. Número 28 iMPERATRIZ, setembro de 2016

Arrocha

11 BREATRIZ FARIAS

EN SA IO REGINALDO SANTOS

GUSTAVO ARAUJO

MARIANA DE PAULA MEDEIROS

ERIKA NOGUEIRA


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Arrocha

Ano VIi. Número 28 iMPERATRIZ, setembro de 2016

um ponto histórico Um percurso histórico contado através de uma rua, XV de Novembro, patrimônio de Imperatriz, que traz um passado rico em história e momentos marcantes desde a fundação do município

A rua que conta a história de uma cidade

Raquel Reis

Entrada da rua XV de Novembro, partindo da praça da meteorologia, seguindo sentido da rua Dom Pedro II. Mostrando que é a rua mais arborizada da cidade e um dos cartões postais. Por isso é considerada área nobre de Imperatriz Hidalgo NAVA

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mpossível falar dos patrimônios de Imperatriz e não mencionar a rua mais antiga da cidade. Tratase da Avenida Frei Manuel Procópio, antiga rua XV de Novembro. Rua que representa muito, tanto no contexto político quanto histórico de Imperatriz. Por isso não se trata apenas de uma simples rua, mas sim, um patrimônio. A Rua, que surgiu junto com o nascimento da cidade, teve como primeiro nome o de “Rua Grande”. Alguns anos depois, passou a ser chamada de “Rua de Dentro” e com a Proclamação da Republica em 15 de novembro de 1889, recebeu o nome de “XV de Novembro”, como forma de homenagem ao novo regime adotado. Vale também ressaltar, que apesar da rua ser chamada por nomes diferentes em alguns trechos, como rua Teresa Cristina e rua Frei Manoel Procópio, em outubro de 2002, foi sancionado um Decreto Legislativo que deu a rua o

nome único de Avenida Frei Manoel Procópio, como relata o jornalista e escritor Wilton Alves em seu livro “Pelas ruas e avenidas da cidade”, que conta a história das principais ruas e avenidas de Imperatriz. Já o professor, escritor e membro da Academia Imperatrisense de Letras, Domingos Cesar,menciona sobre a importância histórica, politica e econômica que a rua tem para Imperatriz.De acordo com o professor, a importância política e econômica aconteceu por conta dela ser a primeira e única rua existente na época, e como todo o comércio feito com as outras cidades era através do rio,já que a maioria das cidades referências da época também estavam localizadas as margens do rio Tocantins, fez com que a rua fosse se tornando conhecida também em outras cidades.“Olha todas as cidades mais importantes naquela época surgiram às margens do rio, cidades como: Marabá e Tucuruí no Pará, Tocantinópolis no Tocantins, Porto

Franco e Carolina no Maranhão,que faziam suas rotas comerciais através de Imperatriz”. De acordo com o professor Domingos César essa grande rota comercial foi um dos principais fatores que fizeram a rua tão importante, pois, todo tipo de mercadoria ao chegar a Imperatriz, entrava logo pela rua XV de Novembro, onde estava localizado o centro comercial na época.“Então, como todo comércio era feito através do rio, daí a importância da XV de Novembro. Era a primeira rua localizada logo acima do porto e nela se formou o grande centro comercial, onde estavam localizadas as grandes lojas e os comércios de secos e molhados, além das farmácias e igrejas. E também era moradia das pessoas importantes,como políticos e grandes comerciantes”, afirma o professor. A verdade é que a rua surgiu com o nascimento da cidade, teve papel fundamental em sua estruturação e crescimento, era o cartão Máxima santos

Rua XV de Novembro, que além de ser considerada por seus moradores como um excenlente lugar para se viver, é ponto de encontro dos jovens.

de entrada na Vila, considerada área nobre, onde poucos tinham o privilegio de morar.Hoje a rua é considerada a mais arborizada da cidade e transmite por si só uma sensação de conforto e qualidade de vida para seus moradores. Alguns deles com mais de 70 anos vivendo ali. É o caso da professora Domingas Paixão, de 72 anos, que nasceu e vive lá até hoje.Ela conta que no início qualquer coisa que viesse para a vila, vinha de barco, até mesmo grandes mudanças vindas de outros estados. De acordo com a professora Paixão as embarcações traziam de tudo, desde alimentos até medicamentos. Dona Paixão lembra dos tempos em que arua não tinha nenhum tipo de calçamento. Apenas a poeira predominava, e no final de cada tarde,os moradores se juntavam com baldes de água para molhar a rua, no intuito de amenizar o calor e a poeira. Foi quando as mulheres começaram a plantar mudas de árvores, iniciando ali o cultivo das primeiras plantas que formam hoje o canteiro central da rua mais arborizada da cidade. A Catedral - Outro fator que a professora Paixão faz questão de mencionar é a Catedral de Santa Teresa D’Avila que também nasceu junto com a cidade. Quando sua imagem foi trazida para a vila pelo próprio Frei Manuel Procópio, em 16 de julho de 1852,ela se tornou a padroeira da cidade,e tem seu dia comemorado no dia 15 de outubro, quando uma grande procissão e missa são realizados contando com a participação de milhares de devotos. “Para mim, mesmo depois de tantos anos, cada procissão, cada missa é como se fosse a primeira, sinto minha fé totalmente renovada”, relata a professora. É fácil encontrar um morador dos mais antigos que ainda vivem ali e lembram com tom nostálgicotudo o que viveram no decorrer dos anos, assim como o senhor Manoel Beltrão, de 78 anos, comerciante, que há mais de 60 mora e trabalha ali. Para “seu Beltrão” era fácil as pessoas se conhecerem, trabalha-

vam juntas no dia a dia a maioria delas no mercado Bom Jesus, outro ponto bastante conhecido da rua. Aos domingos se encontravam na missa, e além disso eram comuns as visitas na vizinhança no começo da noite,onde ficavam sentados à porta conversando até tarde. De acordo com Beltrão o progresso na rua só trouxe benefícios, como:o calçamento, o saneamento básico e com isso o grande movimento, fundamental para quem vive no ramo do comércio.”Mesmo sendo idoso, não vou ficar preso ao passado, é muito bom lembrar daquela época em que a gente podia até dormir com as portas abertas que nada acontecia. Mas passou, hoje os tempos são outros, nós temos que nos adequar a ele”, afirma. Hoje “seu Beltrão”diz que é muito bom ver a juventude se divertindo a noite nas mais diversas opções que a rua oferece, entre bares, restaurantes e boates. E que mesmo com tanta agitação ainda dá pra se ter uma boa noite de sono. Projetos Futuros- Atualmente a rua tem um aspecto bonito. É limpa e conservada, por isso, a Secretaria de Infraestrutura - SINFRA - através do subsecretário de Obras, Francisco das Chagas, diz que por enquanto não existe nenhum tipo de projeto em relação a revitalização ou reforma da mesma, e que apenas a iluminação será substituída. De acordo o subsecretário, as lâmpadas atuais que são de vapor de sódio darão lugar as de led, mas, ainda sem uma data especifica para realização da troca.“Olha, projeto em relação ao calçamento ou camada asfáltica, por enquanto não tem.Nós vamos apenas trocar a iluminação em breve. Vamos tirar aquelas lâmpadas que são de vapor de sódio e colocar umas de led. No mais, nós estamos fazendo a limpeza e conservação. E Quando necessário fazemos alguns reparos emergenciais”, concluiu Chagas. E assim segue a rua mais antiga da cidade, com seu passado rico em história e um futuro cheio de expectativas.


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convivência Mais do que um espaço público, as praças são também locais que estimulam sociabilidade e lazer entre as pessoas que as frequentam. Estas também guardam características do desenvolvimento da cidade LARA BORRALHO

Praças: locais de encontros e histórias LARA BORRALHO

Praça Mané Garricha, marcada pelo esporte tem seu público segmentado, a maioria skatistas. LARA BORRALHO

Praça da Cultura, fundada na década de 60, conhecida por suas manifestações culturais. Praça de Fátima, fundada no final década de 50, situada no centro da cidade perto de grandes estabelecimentos logísticos e da Catedral de Fátima. LARA BORRALHO

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reas abertas são um refresco para a rotina estressante ao favorecer o contato com a natureza e com a simplicidade. São nesses espaços públicos que as pessoas estreitam laços. Árvores, canteiros de flores e um banco na sombra. A imagem de uma praça na cabeça de uma criança, adulto ou idoso não será muito diferente disso. Incentivar o contato das pessoas com esses espaços públicos traz a esperança de uma nova realidade. Esse direito à cidade faz bem. Porém, as praças não guardam traços marcantes apenas para o crescimento, desenvolvimento ou para o próprio folclore da cidade. O professor doutor em sociologia, Jesus Marmanillo Pereira, em projeto intitulado “Interações Fotoetnográficas: O “eu” e o “outro” na Praça de Fátima - ITZ”, discorre acerca das relações interpessoais estabelecidas nas praças. Segundo relato, “é mais fácil falar da praça como resultado. O impacto da praça para a memória coletiva e sociabilidade das pessoas. O contato que as pessoas têm com a cidade. Elas apreendem a cidade através das praças. Famílias, crianças, por exemplo, na Praça de Fátima, lá quando tem missa ou algum tipo de festividade da igreja, famílias vão lá, confraternizam e sociabilizam. Há também as manifestações políticas que acontecem muito por lá. Na praça Brasil ocorre também, mas não com tanta frequência. Então assim o primeiro impacto da praça que eu vejo, particularmente também por conta da formação, são as relações humanas, relações interpessoais e sociais”, explica. As praças de Imperatriz são marcadas por muitas histórias e recordações. “Tudo começou, na verdade, com uma praça. A cidade

de Imperatriz/MA tem nisso o seu nascedouro, a Praça da Meteorologia – A praça era chamada largo da matriz. Era um local de festividades religiosas e culturais. Quando Frei Manoel Procópio fundou a cidade, ele estreou a capela de Santa Tereza e foi o início daquela praça, batizada com o nome “Praça da Meteorologia”, em razão dos serviços de meteorologia que existiam ali. Foi o ponto de partida. Daí em diante iniciou-se um processo de expansão territorial contínua, pois até então havia apenas a rua XV de Novembro”. É esta a afirmação do professor e historiador Adalberto Franklin sobre a origem das praças em Imperatriz. De acordo com o relato histórico, o surgimento das praças de Imperatriz reflete na própria identidade da cidade. Com o nascimento da primeira praça e da expansão, o município foi palco de inaugurações de novas praças. Tal como a Praça de Fátima, fundada no final da década de 50, considerada fundamental para o crescimento local.

“É mais fácil falar das praças como resultado. O impacto da praça para a memória coletiva e sociabilidade das pessoas”. As praças públicas, além das peculiaridades e do histórico de expansão territorial, estimulam também a economia da cidade. Embora esse aspecto não se revele explicitamente em todas, a característica econômica é mais marcante na Praça de Fátima. Criada após a inauguração da

capela de Fátima por Frei Epifânio D’Abadia - segundo os relatos, o espaço onde hoje é a praça consistia num extenso espaço sem uso cedido pela prefeitura - a Praça de Fátima está situada no centro da cidade e é seguramente um dos grandes centros de ligação comercial e trabalho. No seu entorno estão estabelecidas lojas, restaurantes, lanchonetes, bancas de revistas, pontos de táxi, etc. Além destes, há os vendedores do comércio informal em número obviamente incalculável. A autônoma, Francisca da Silva, de 48 anos, conta orgulhosa que trabalha há 9 anos vendendo comidas típicas na Praça de Fátima: “Meus fregueses são fiéis, gostam muito do sabor da minha comida. Bode no leite de coco é o que mais sai. Sou muito feliz trabalhando com o que gosto”, explica. E também relata o quanto a praça significa para ela: “Esta praça representa muito para mim, até porque sou fiel a Nossa Senhora de Fátima, venho todos os domingos à missa com minhas duas filhas”, afirma com alegria. Já a Praça Brasil, também situada no centro da cidade, fundada na década de 60, coincidentemente no mesmo período que estava sendo construído o também conhecido setor de feira livre “Mercadinho”, por sua vez, sofreu a mesma influência religiosa que a Praça de Fátima. Construída em função da Igreja de São Francisco, é hoje tida predominantemente como um espaço de intenso trânsito de pessoas que ali estão apenas de passagem, à medida que a própria estrutura não se mostra acolhedora ou atrativa para a população. Seguindo a mesma via religiosa tem-se a Praça da Bíblia, fundada na década de 70, embora o título não retrate as características de criação. Inicialmente conhecida por “Praça dos Imigrantes”, em

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Praça Brasil, fundada na década de 60, conhecida por ser ponto de referência dos transeuntes.

função do crescente número de pessoas acolhidas pela cidade, sua criação não foi necessariamente condicionada ao aspecto cristão e se deu mais por força das circunstâncias, sobretudo após a implantação do Quartel da Polícia Militar. O espaço onde originariamente havia um campo de futebol foi transformado em praça e batizado posteriormente com o título que hoje carrega, agora sim, em decorrência dos eventos religiosos. Representando uma carga de manifestações que o nome possa indicar, a Praça da Cultura ainda abriga eventos com a referida denotação. Construída muito mais com vista a embelezar e preencher espaço na área do antigo prédio sede da Prefeitura Municipal, que hoje sedia a Academia Imperatrizense de Letras, a antiga Praça Castelo Branco – assim conhecida na década de 60, e a partir da década de 80 batizada com o nome que ainda ostenta – é hoje um centro discreto de manifestação cultural, principalmente feiras de artes com frequência anual. Ainda assim, possui grande potencial para alavancar projetos culturais ao estar estrategicamente próxima à beira -rio, local de vida noturna agitada.

Por fim, a Praça Mané Garrincha, como o simbolismo do próprio nome já leva a crer, consiste em um estímulo aos esportistas. Próxima ao estádio municipal, a praça foi originalmente um espaço de estacionamento e posteriormente evoluiu ao status atual, mas não é muito receptiva quando pensado em termos de convivência. É hoje frequentada por skatistas e jogadores de futebol de areia, que acabaram moldando a estrutura à sua maneira, tornando um espaço muito mais propenso à prática esportiva. O vendedor ambulante, Antônio Morais da Silva, de 71 anos, imperatrizense e frequentador da Praça Mané Garrincha há 25 anos, fala com carinho o quanto gosta da praça: “Ela é muito importante pra mim. Além de eu gostar muito da praça é daqui que tiro o extra para o meu sustento. Eu moro bem aqui pertinho, na rua Sousa Lima, há 25 anos trabalho aqui, já sou acostumado. Só vendo meu cachorro-quente aqui. Todos que frequentam a praça me conhecem, porque também passei 4 anos sendo vigia todas as noites, já sou adaptado. Aqui ninguém mexe comigo”, afirma.


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tradição da fé

Festejos se tornam expressão cultural. As festividades agregam dimensão religiosa e atrativos externos, com venda de comidas típicas e apresentações diversificada

Festejos: de manifestação religiosa a expessão cultural elane sousa

Festejo em honra a Nossa Senhora do Carmo: venda de comidas típicas é um grande atrativo nas festividades, prática que virou tradição

elane sousa

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processo de identificação de um local é marcado por suas transformações políticas, sociais, econômicas e culturais. Identidade que se constroi, reconstroi e ganha novos significados. De acordo com o professor de história Antônio Laer Lima, os festejos surgiram na Grécia Antiga com o politeísmo, dentro da mitologia grega de culto aos deuses. A partir da benção recebida por esses deuses as pessoas passavam a festejá-los. “Essa forma de festejo é agregada depois pela igreja católica e passa a ser uma festa religiosa. A igreja cria inúmeros santos e cada cidade passa a ter um santo protetor, e em homenagem a ele, se festeja. A festa que é primordialmente religiosa começa a ganhar notoriedade popular e abrange uma população diversa, mesmo a população que não é tão frequente na igreja”, informa.

Essa manifestação, segundo Lima, foi inserida ainda no Brasil colônia pelos Jesuítas. “Existia uma predominância católica na formação do Brasil colônia, então as cidades, vilas ou povoados passaram a ter nome de santo, um santo protetor, em Imperatriz temos Santa Tereza de Ávila”, acrescenta o professor. Dessa forma, os festejos ganharam destaque no calendário de cada localidade. De acordo com a Diocese de Imperatriz existem 28 paróquias no município, todas subdivididas em comunidades, isto é, igrejas menores. Todas as igrejas possuem dias determinados em que ocorrem os festejos. Pode-se afirmar que, aproximadamente, 112 festejos são realizados por ano em Imperatriz e regiões cobertas pela Diocese. Na sala de confissões da igreja Santa Rita de Cássia, o padre Cristiano Borges, 31, atende prontamente as perguntas da reportagem, que ali estava não para falar sobre o pecado, mas sobre festejo

em seu âmbito religioso e cultural. “O festejo tem duas características, uma religiosa e uma da festa em si, a festa externa. A centralidade do festejo tem que ser espiritual religioso, ele tem que ser voltado, primeiramente, para a vivência do santo, e a partir dele retirar toda centralidade espiritual, que é a pessoa de Jesus Cristo. Qual a importância que ele tem para vida do santo e desse santo para a sociedade”, explica Borges. A festa externa, outra característica do festejo, composta por show de prêmios, apresentações e comidas típicas regionais, é bem mais abrangente, pois não atrai somente os fiéis, mas visitantes que vêm exclusivamente para os atrativos da festa. Assim, o festejo tornou-se uma expressão cultural, uma vez que saindo do âmbito religioso, ganha dimensões externas. Os festejos juninos são os mais esperados a cada ano, em junho são festejados Santo Antônio, São

João e São Pedro, dias 13, 24 e 29, respectivamente. Em Imperatriz a paróquia do primeiro santo festejado em junho, Santo Antônio, localizada na rua Ceará, bairro Nova imperatriz, foi e continua sendo cenário de várias histórias que envolvem o santo e seus devotos. No início, a igreja era apenas uma comunidade pertencente a Paróquia Nossa Senhora do Perpetuo socorro. Kerolen Silva, 21, acadêmica de pedagogia, conta que se tornou devota por influência das avós. "Quem me apresentou a paróquia foi minha avó que já faleceu, as minhas duas avós sempre participaram. Eu comecei a participar do coral, da liturgia e do teatro, isso foi fazendo com que eu me engajasse na igreja, me encantei pela história de Santo Antônio e pela humildade ". Silvia Moura, Coordenadora do festejo 2016 da Paróquia de Santo Antônio de Pádua, conta que a devoção pelo santo começou há mais de 23 anos, sendo que o desejo pelo trabalho na igreja surgiu ao participar de uma formação para catequistas. Porém, o engajamento nesse trabalho não seria possível, uma vez que mesma morava distante da paróquia.

“O festejo tem duas características, uma religiosa e uma da festa em si, a festa externa”. A primeira providência de Santo Antônio, segundo Sílvia Moura, se deu nesse contexto. “Saí dessa formação e fui para casa, logo que entrei bateram no meu portão. Era minha cunhada em uma moto, dizendo – 'vim deixar para você, porque comprei outra, e como você tem muito trabalho na igreja, vim trazer esse presente' – Eu sorri

e disse: "Oh Santo Antônio, não precisava ser tão rápido a resposta, eu até brinquei". De acordo com a coordenadora, o público que frequenta os festejos é bem variado. São devotos paroquianos, devotos de outras cidades do Maranhão e até de outros Estados como Pará e Tocantins. Além desse público, há ainda aqueles que participam pela curiosidade ou para saborear a culinária regional que vai desde a panelada ao arroz de cuchá. Moura comenta, que já presenciou muitas histórias sobre o Santo. “Tem a história da Carmem, que é uma jovem, hoje casada, mas ela dizia: 'todos casam, menos eu, eu não consigo um namorado.' A patroa dela disse – 'pega a oração de Santo Antônio, faz todas as noites que você vai conseguir um namorado' – ela fez e conseguiu, hoje ela está casada, justamente com esse namorado”. A coordenadora relata ainda que o festejo sempre foi animado, aspecto que não mudou. A mudança ocorrida se relaciona à estrutura que o mesmo dispõe hoje, melhoria alcançada por pessoas que trabalham em prol do mesmo. Para Moura a presença da comunidade em geral sempre foi muito forte. O professor de história Antônio Lima afirma que a manifestação religiosa dos festejos também se tornou cultural. “Hoje se observa que a festa religiosa ganhou âmbito cultural. É uma festa religiosa, mas com abrangência cultural muito grande. Em Imperatriz, o festejo de Santa Tereza D’Ávila que culmina com o feriado do dia da santa, está no calendário da cidade desde a sua fundação, e é um evento regional”. A igreja católica desenvolve os festejos desde sua concepção como uma forma de congregar e confraternizar seus fiéis. Para Lima, os festejos podem ser considerados uma característica identitária de Imperatriz, uma vez que as festividades religiosas se tornaram tradicionais. elane sousa

Movimentação dos visitantes do festejo em honra a Nossa Senhora do Carmo, uma tradição do bairro Juçara. Os festejos são uma oportunidade para congregar e confraternizar os fieis e também toda a comunidade do entorno da partóquia.


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esquecimento Para conservar a rotina de ler na biblioteca e o conhecimento que ela disponibiliza, é importante ter zelo com a estrutura, atualização dos livros e variedade de títulos para atender ao público

O valor da biblioteca como patrimônio

JAYSA KARLA GOMES

S

e você procura um lugar tranquilo para estudar, fazer pesquisas, ou até mesmo para ler aquele livro que tanto gosta, que tal usufruir de uma das diversas bibliotecas da cidade? Imperatriz, conta com várias bibliotecas, como as universitárias estadual e federal, algumas particulares, o Farol da Educação, a Biblioteca Municipal, a biblioteca da Academia Imperatrizense de Letras, algumas em escolas estaduais e também as comunitárias da Zona Rural. Reconhecida como um “polo universitário”, a cidade possui bibliotecas que visam atender às expectativas de seus usuários. O Farol da Educação Roseana Sarney Murad é uma biblioteca pública, fundada em cinco de outubro de 1999. Fornece ao público cerca de onze mil livros, inclusive acervo com jornais da cidade. Além de um espaço silencioso, o leitor fica à vontade para estudar no prédio, no jardim ou embaixo das árvores. “(Somos) Nós quem (que) damos vida à biblioteca!” diz Ariadna Chaves, coordenadora do Farol da Educação. Depois de contar algumas histórias da biblioteca, a luta de usuários e servidores para mantê-la, a coordenadora faz um convite ao público para frequentar, participar e levar projetos para o Farol, e afirma: “Nós sobrevivemos porque nós somos o farol, certo? Amamos aquilo que fazemos!”. Na luta pelo sonho de passar em medicina, o estudante Lucas Sousa, de 20 anos, passa as manhãs no Farol, e relata que deveriam dar mais atenção, melhorar a estrutura do local. Exemplos que ele cita, são as cadeiras que não oferecem muito conforto, também a falta de algo para amenizar o calor, pois se não fosse isso, estudaria à tarde no Farol pelo fato de ser mais próximo a sua casa, ao invés de ir ao curso vestibular. “Por questão do calor, vou a tarde pro cursinho, porque aqui não tem central e nem ventilador e lá tem, e aqui seria melhor pra mim, porque moro perto.” A Biblioteca Municipal Professor Osvaldo Ferreira de Carvalho tem no seu acervo mais ou menos vinte e sete mil livros. É a primeira biblioteca estabelecida na cidade de Imperatriz, fundada em cinco de junho de 1974. A coordenadora do local, Maria Ivanilde, fala sobre projetos de leitura realizados durante o ano, um deles ocorre em outubro na semana nacional do livro. “No ano passado foi muito bacana. Uma coisa que sempre tive muita vontade de fazer: trabalhar com as pessoas com deficiência, a inclusão. A gente fez um material acessível às pessoas com deficiência visual. Eles gostaram muito!” Usuário frequente da Biblioteca Municipal, Pedro Maia, acadêmico de Direito, da Universidade Federal do Maranhão-UFMA, disse que a biblioteca é um patrimônio cultural muito importante e lamenta por não ser reconhecida pelo público. “Acho uma pena que poucas pessoas saibam que existe, e que esteja tão sucateada. A biblioteca é um ambiente propício a descobrir coisas, tem tudo a ver com conhecimento.” A biblioteca do campus Centro da Universidade Federal do Maranhão -UFMA, segundo a bibliotecária do local, Nádia Lusiane é frequentada tanto por acadêmicos quanto por

BÁRBARA LEÔNE E BRIGITHY CANUTO

quem não tem vínculo com a instituição. “Esse período de horário de aula tem muitas pessoas estudando pra concurso, que vem de outra instituição para fazer pesquisa, mesmo com essa demanda que não é tanta, ainda assim, as pessoas vêm para cá.” O fotógrafo e acadêmico de Ciências da Computação do Instituto Federal do Maranhão-IFMA, José Vicente Garros, é assíduo na biblioteca da UFMA em razão de seus estudos, pois o local oferece conteúdos de seu interesse. Ele acredita que a leitura deve ser um hábito, por esse motivo a biblioteca deve ser preservada. “A questão de leitura tem que ser uma cultura, um hábito nosso. Os livros também são fonte de conhecimento. Com a internet, deu uma aquietada nos livros, mas ainda acho que esses livros mais antigos, a leitura física é uma coisa que não deve morrer.”. O professor do Curso de Ciências Humanas, Alexandre Nogueira, entende que para a biblioteca ser apropriada, o público deve usá-la diariamente. “Apropriação da biblioteca tem que ser feita diariamente. A gente tem que ocupar de fato a biblioteca, até para criar uma demanda, porque no momento em que a gente não se apropria, não ocupa, não utiliza os livros, a própria gestão pode se utilizar disso e dizer ‘olha, a gente não precisa mandar livro, porque vocês não se apropriam da biblioteca’. E ao mesmo tempo em que se cobra novos livros, tem que se criar essa demanda e ela vem de você pedir livros emprestados, solicitar outros, usar o espaço.” O professor afirma ainda que, toda biblioteca é um patrimônio cultural. “Todo espaço que prima pela formação e preservação do conhecimento, e aí entra a cultura, ideologia, formação profissional e a formação do ser, é um patrimônio cultural. Isso é uma questão da natureza. Eu vejo a biblioteca e qualquer instrumento que contribua para isso, como um patrimônio cultural.” Assim como a biblioteca da UFMA, a biblioteca João do Vale da Universidade Estadual do Maranhão-UEMA é frequentada tanto por acadêmicos e por aqueles sem vínculo com a instituição. Além de disponibilizar livros de diversas áreas e internet, pode-se ter acesso às monografias e outros trabalhos acadêmicos.

“Todo espaço que prima pela formação e preservação do conhecimento, e aí entra a cultura, ideologia, formação profissional e a formação do ser, é um patrimônio cultural.” Professor Alexandre Nogueira. Arlene Holanda, professora do curso de Pedagogia da UEMA, expôs que com o uso da internet, a biblioteca se transformou numa sala de estudos e os livros ficaram em segundo plano. “Com o advento da tecnologia, tenho observado que os acadêmicos não buscam tanto as bibliotecas como no passado. Ela tornou-se um lugar para estudos, mas sempre com o uso da internet. Os livros ficam em segundo plano.” No entanto, a professora complementa dizendo que a internet diminuiu a distância com o conhecimento. “Hoje vivemos em uma era globalizada, a informação está cada vez mais perto das pessoas.

O hábito de ler na biblioteca é prazeroso que deve ser estimulado, pois o local é como uma ponte entre os leitores e o conhecimento.

A internet diminuiu a distância entre acadêmicos e o conhecimento. Os estudantes só têm a ganhar com a facilidade de acessar bibliotecas virtuais e visitar outros espaços em qualquer lugar do mundo.” Mudanças que aconteceram ou não em quatro anos... Na edição 11, ano de 2012, o Jornal Arrocha fez uma denúncia sobre as dificuldades de funcionamento das quatro bibliotecas públicas da cidade devido à falta de atenção do poder público. Em 2016, algumas situações não mudaram. Coisas em comum nas bibliotecas municipal e o Farol da Educação, é que não há bibliotecários nelas. Quem trabalha lá tem cursos breves, incompletos ou aprenderam o ofício com colegas. Outro fator em comum é a falta de segurança. Não há um vigia, mesmo tendo cerca elétrica na biblioteca municipal, ainda assim nem todos se sentem seguros. Quanto à climatização, na biblioteca municipal há apenas uma sala de estudos climatizada, enquanto no Farol não há ventilador. Segundo Marinalva da Silva, secretária municipal de Educação de Imperatriz, há planos para climatização de todas as salas. “Temos planos para climatizar a biblioteca municipal até o final do ano, mas estamos aguardando recursos.” Quanto ao Farol da Educação, houve tentativa de contato, mas até o momento em que essa reportagem estava sendo concluída, não tivemos resposta da Unidade Regional de Educação. A biblioteca do campus Centro da UFMA é climatizada, oferece acesso à internet, tem um acervo diversificado, porém não atualizado. Ainda continua tendo apenas uma sala de leitura, mas que está dividida com dois espaços de estudos em grupo e algumas cabines de estudo individual. Porém, o espaço continua não atendendo a demanda de usuários. O diretor de centro, professor Daniel Duarte, afirmou que até o momento

estão tentando aumentar o tempo de funcionamento da biblioteca. “De imediato estamos tentando resolver um problema, principalmente na biblioteca do Centro, é a questão do não funcionamento no turno da manhã. Então já conversei com o pessoal da biblioteca, para que em agosto a biblioteca funcione também pela manhã. Estou requerendo junto à reitoria novas bibliotecárias, para ficar aqui e outra no Bom Jesus, para que aumente esse horário de funcionamento. Em termo de estrutura, a gente frequentemente está solicitando em São Luís, acervo bibliográfico e sempre que é possível eles vem atendendo essa demanda, mas essa parte depende exclusivamente dos recursos financeiros da instituição.” Na biblioteca da UEMA houve melhorias. O local não é mais um “depósito de cadeiras e outros artigos” como foi citado na matéria de 2012. O modo de locação de livros ainda é manual, mas segundo a assistente da bibliotecária, Herlandia Brito, estão informatizando os livros. “Até o final do ano, todos os livros estarão informatizados, mas por enquanto a gente tá fazendo empréstimo manu-

al.” Sobre a atualização dos livros, há uma emenda parlamentar em trâmite na Assembléia Legislativa, no qual foi liberada uma verba para pedido de aquisição de novos livros. “Serão adquiridos 400 títulos. Já foi enviada a lista com o nome de livros solicitados, agora aguardamos a chegada,” complementa Herlândia Brito. O assistente da direção da UEMA, Luís Carlos Araújo, falou que essa mesma emenda também contempla a aquisição de computadores para a biblioteca e o projeto de reforma do local. “Nessa emenda foram comprado computadores aqui para o Centro e provavelmente será disponibilizado para os alunos fazerem pesquisas, consultas dentro da biblioteca. E também tem um projeto que partiu de uma proposta dessa emenda para a questão de reforma. Esse processo está sendo feito o estudo, por parte da prefeitura da UEMA de São Luís, em que vai ser feito todo o desenho técnico, toda a estrutura de como será feita essa reforma. Não temos uma data de quando isso vai acontecer, mas por ser uma emenda parlamentar, isso provavelmente aconteça esse ano”.

Endereços e horários de funcionamento das bibliotecas – Academia Imperatrizense de Letras - Rua Urbano Santos - Centro - Em frente a Praça da Cultura Segunda a sexta 13:30 às 17:30 – Biblioteca da Escola Estadual Dorgival Pinheiro de Sousa - Rua Simplício Moreira – Centro – próximo ao Colégio Estadual Graça Aranha – Segunda a sexta 07:30 às 11:30/13:30 as 17:40 – Biblioteca do Colégio Estadual Graça Aranha - Rua 13 de Maio, entre Rua Simplício Moreira e Rua Y – Centro – próximo a Escola Estadual Dorgival Pinheiro de Sousa 07:30 às 11:45/13:30 as 17:00(não abre na sexta) – Biblioteca Municipal - Rua São Domingos, n° 10, entre ruas Dom Pedro II e Tereza Cristina - Beira-Rio - próximo ao IBAMA. - 08:00 às 18:00 – Farol da Educação - Rua Coriolano Milhomem, próximo a Rua Henrique Dias - São José do Egito. 08:00 às 12:00/14:00 às 22:00 – Pitágoras - Rua Godofredo Viana, entre Monte Castelo e Tamandaré – Centro – Em frente à UEMA. - 08:00 às 12:00/15:00 às 23:00 – UEMA - Rua Godofredo Viana, entre Monte Castelo e Tamandaré– Centro.08:00 às 22:00 – UFMA/Campus Centro - Rua Urbano Santos – Centro – Próxima à Câmara de Vereadores. - 12:00 ás 21:00 – Unisulma - Rua São Pedro- Jardim Cristo Rei – Segunda á sexta 07:30 ás 22:30, sábado 08:00 ás 12:00.


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CULINÁRIA As descobertas de sabores pelas ruas, refletem o encontro de culturas que formam o povo imperatrizense. E mostra que a cozinha de um modo geral é vida e cultura ao mesmo tempo

Nem só de panelada vive o imperatrizense GUSTAVO ARAÚJO

GUSTAVO ARAÚJO

A

resposta para a pergunta “que prato representa a culinária imperatrizense”, certamente seria “a panelada”. Pensando nisso, o que norteou essa reportagem foi uma busca incessante pelos sabores de Imperatriz, muitas vezes desconhecidos. De Vatapá vegetariano à Talharim a moda nordestina, a gastronomia da cidade está recheada de surpresas agradáveis, vindas de todo canto do país e do mundo. Isso se torna mais visível quando se olha para as várias cozinhas de onde partem as comidas que alimentam os cidadãos imperatrizenses. O povo de Imperatriz é multicultural. Cada grupo traz consigo hábitos alimentares que se misturam com outros gostos, formando assim, a identidade cultural da cidade, diversificada. É daí que surgem receitas da região. A antropóloga Emilene Sousa explica que a identidade social de um povo se define por uma série de sinais, e que nunca pode ser reduzido a um elemento ou a um desses sinais apenas. Isso significa que não se restringe uma identidade cultural a um prato por exemplo. “Penso que o consumo de frutos típicos da região, como bacuri e cupuaçu também definem a dieta alimentar local. Os espetos espalhados por quase toda a cidade podem ser considerados mais um elemento da culinária imperatrizense.” Com razão, a antropóloga coloca em evidência o que as ruas de Imperatriz têm de mais comum quando o assunto é comida, os espetinhos. Não é difícil se deparar com o cheiro de carne assada espalhada pelas ruas, na maioria das calçadas tem um ponto de venda. Mas podemos considerar o churrasquinho de rua como patrimônio imaterial da cidade, já que não teve origem aqui? Certamente que sim, responde a Antropóloga. “Não importa muito a origem se tudo pode ser tomado de empréstimo de qualquer outra cultura, especialmente na globalização. Aqui o que importa mais é o modo como o prato é feito.” Assim, cada cultura se apropria de um elemento e o modifica, tendo o próprio modo de fazer. Isso expressa a identidade social de um povo, não só pelo conteúdo, mas sim pela forma como faz. Ainda segundo a antropóloga, os espetinhos no estado da Paraíba são servidos apenas com farofa e vinagrete, ou seja, os paraibanos têm o churrasquinho como tira gosto e não como refeição, como é

Vendedor de cachorro-quente no calçadão de Imperatriz. A decoração do carro e a vestimenta ajudam a atrair clientes para o local

o caso de Imperatriz. Raramente o arroz entra como complemento, já que o feijão é o principal ingrediente da dieta de lá. Diz mais ainda, que não é algo a ser servido em qualquer lugar das ruas da cidade do estado. Isso torna claro, que a ocupação dos vendedores de comida pelas ruas de Imperatriz, é um fator que contribui para a constru-

“Não importa muito a origem se tudo pode ser tomado de empréstimo de qualquer outra cultura, especialmente na globalização. Aqui o que importa mais é o modo como o prato é feito.” ção da identidade social da cidade. O casal de autônomos Priscila Sousa Garros e Carlos Sousa Garros, se conheceram através da venda de espetinhos. “Meu marido morou 12 anos em São Paulo. Por causa de um problema de saúde que o pai dele teve, largou tudo e voltou para dar assistência.” Como aqui não tinha nenhuma empresa do ramo em que Carlos trabalhava lá fora, foi encorajado pela irmã a montar um espetinho. Hoje, o conhecido Espetinho do Carlinhos. Um mês depois de montado o espeto, Priscila conheceu Carlos e GUSTAVO ARAÚJO

Cozinheiras do restaurante Tio Sam preparam bife ao molho que acompnha arroz e feijão

meses depois se casaram. Hoje vivem da renda que é gerada das vendas. O espetinho de medalhão é o carro chefe da casa e não pode faltar três ingredientes: o purê, macaxei wra e baião de dois, explica Priscila Garros, enquanto um cliente se aproxima da churrasqueira e vira o próprio espeto. O lugar é aconchegante e bem decorado. O cardápio é a pura expressão de boa parte da comida maranhense, arroz de cuxá e baião de dois. “O prato de todos, de todos mesmo, eu acho que é o baião de dois e carne assada. O pessoal gosta muito do baião de dois, se faltar, o povo reclama”, afirma Priscila Garros, quando perguntada sobre que prato considera a marca de Imperatriz. O arroz - Sem sombra de dúvida, o arroz é o elemento principal da culinária imperatrizense, fazendo justiça ao estado que pertence. Sousa analisa: “Em estados como a Paraíba, voltando a minha terra, o primeiro e mais importante alimento é o feijão, razão pela qual ele é sempre servido primeiro e em maior quantidade. Os diversos modos de fazer e servir o arroz em Imperatriz revelam essa paixão. O jeito peculiar como o imperatrizense deixa o arroz ‘pegar’ à panela e come o que chama do ‘pegado’ é mais uma demonstração de que o arroz é o alimento preferido do imperatrizense. ”E falando em paixão, o açaí, já mencionado pela antropóloga, está na alimentação de boa parte da população. Assim como os espetinhos espalhados por toda a cidade, pontos de vendas de açaí também estão distribuídos em grande quantidade. E as receitas de preparo da fruta possui vasta influência da culinária indígena nos sabores de Imperatriz. Pode ser servida com farinha branca, de puba e tapioca; outras frutas como banana e granola entram também nessa mistura. Há 40 anos em Imperatriz o autônomo Ernando Timóteo, 61, natural de Caxias no oeste do Maranhão, declara que o açaí é um dos seus pratos prediletos. A paixão é tanta, que a açaiteria leva o próprio nome, “Açaí do Timóteo”. O cardápio do Timóteo revela entre um prato e outro os benefícios de comer açaí, “Açaí o fruto rejuvenescedor da pele”, “redutor de colesterol”, “fonte de energia”, “afrodisíaco”,

são alguns exemplos. Até convence quem não é “muito chegado” na fruta a pedir um. Perguntado sobre o que considera prato símbolo da culinária imperatrizense, responde: “Olha, todo mundo vai dizer que é a panelada. Mas eu não acho que se resume a isso. Imperatriz tem um povo miscigenado, existem outros pratos como a galinha caipira, buchada de bode, etc.” Esses outros pratos que Timóteo se refere mostram um dos conceitos da cozinha imperatrizense que outro autônomo chama de “delícias da roça”. Etevaldo Lima, 48, nascido em Codó, trabalha há 20 anos com encomendas de comida caseira. O carro chefe da sua cozinha é o Capote a cabidela, conhecida também como “cocá ao molho pardo”.“Imperatriz, por ser localizada na região sul do estado, tem muita influência da comida do interior”, argumenta Lima. E diz considerar a comida de roça como identidade da culinária da cidade. A nutricionista Elaine Duarte confirma o que a antropóloga já havia dito anteriormente, concorda com Timóteo e Lima ao dizer que “não há um único prato que resuma a identidade de Imperatriz. Tem gente de todos os lugares, é uma mistura. Mas a comida, que com certeza, reflete o povo daqui, é o que chamamos de comida caseira, comida interiorana. Aí cabe a galinha caipira, panelada, buchada de bode, chambari, etc. Novo mercado - A culinária vegetariana tem conquistado espaço em Imperatriz e contabiliza dois restaurantes especializados para esse tipo de cardápio, o “Espaço Natural” e o “Restaurante e Lanchonete Bia”. No entanto, embora esse mercado esteja em expansão ainda é insuficiente para atender a demanda da população imperatrizense. Esses espaços funcionam somente durante o dia, e encontrar uma opção de comida vegetariana durante a noite é uma missão árdua em Imperatriz. Tentando driblar essa falta de opção, a psicóloga Nadja Duarte decidiu cozinhar e fazer encomendas de comida vegetariana. Tudo começou quando Duarte participou de um retiro de meditação em 2011, foi o primeiro contato com esse tipo de cardápio. “Eu tinha uma alimentação pobre em nutrientes, só

comia arroz e carne. Fiquei muito atraída pela variedade de alimentos. Decidi mudar de hábito.” Antes disso, a psicóloga não cozinhava de maneira alguma, foi a paixão pela variedade de nutrientes que a levou a se aventurar pela cozinha. A intenção da psicóloga é tornar a comida vegetariana em Imperatriz mais popular. A proposta, assim como o “Espetinho do Carlinhos”, é adaptar o cardápio para vender nas ruas da cidade, resgatar comidas regionais para práticas vegetarianas, ou seja, fazer uma releitura de vários pratos tradicionais voltado para o estilo. A especialidade de Nadja Duarte é o vatapá vegetariano, acompanhado de arroz vermelho e couve frito. Além, é claro, de pratos tradicionais árabes como faláfel acompanhado de saladas. Outra surpresa é a do Chef Murilo de Bonis, ele adapta pratos clássicos italianos com ingredientes comumente consumidos na região, como abóbora, carne de sol e bacon. Uns dos pratos principais é conhecido como “Talharim a moda nordestina”. A massa é preparada pelo próprio chef e leva temperos comuns da região nordestina, por exemplo, cheiro-verde, pimenta do reino, pimenta de cheiro, molho sugo (“molho de tomate caseiro”) e carne de sol. É uma explosão de sabores. Outro prato comum são os hambúrgueres artesanais, que inclusive a população imperatrizense aprecia bastante. É comum as lanchonetes servirem creme de leite para acompanhar os sanduíches, que é uma característica peculiar da região. A professora Thaisa Bueno, natural de Guaraniaçu no Paraná, conta que quando começou a conhecer um pouco a comida da cidade, achou a prática alimentar de colocar o creme de leite, como se fosse ketchup ou maionese, algo curioso. “Não é tão comum de onde venho”, declara a professora.

“Não há um único prato que resuma a identidade de Imperatriz. Tem gente de todos os lugares, é uma mistura.” Fim de festa - Nos finais das festanças da cidade, é quase um “ritual” as pessoas se dirigirem para alguns pontos de vendas de comida da cidade, as lanchonetes 24 horas ou a famosa “quatro bocas”, um dos setores de vendas de panelada, e outras comidas típicas em Imperatriz. Esse costume, não deixa a cozinha imperatrizense “dormir”, sempre em movimento, sempre mudando, sempre viva. Aliás, a culinária de um modo geral é vida e cultura. Ao mesmo tempo em que alimenta um corpo biologicamente, também alimenta um povo culturalmente. A antropóloga Maria Eunice no artigo “Uma cozinha à brasileira” enfatiza que as cozinhas “estão sujeitas a constantes transformações, a uma contínua recriação. Assim, uma cozinha não pode ser reduzida a um inventário, a um repertório de ingredientes, nem convertida em fórmulas ou combinações de elementos cristalizados no tempo e no espaço.” Se o povo de Imperatriz é formado por diversas culturas, a sua gastronomia não poderia ser diferente. Nem só de panelada vive o imperatrizense.


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ENTREVISTA

“Precisamos ser zeladores dos patrimônios culturais“ LETÍCIA HOLANDA

LETÍCIA HOLANDA

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ós somos os guardiões dos patrimônios culturais”. Em entrevista, a historiadora e professora da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Maristane de Sousa Rosa Sauimbo, ressalta a importância da preservação dos bens culturais a partir da conscientização da população. Maristane Sauimbo tornou-se especialista em patrimônio cultural, história da África, Cultura e Identidades, fundadora do Núcleo de Estudos Afro Indígena (NEAI). Completou 20 anos de profissão na área de história, coordenadora dos projetos de pesquisa, “Arqueologia e Etnohistória da Região Tocantina” e “Variedades de História Cultural no Cerrado Maranhense”. A pesquisadora é uma das idealizadoras do projeto do primeiro Museu da Pessoa em Imperatriz e atualmente é a presidente do Museu. A professora acredita que a população precisa ter uma tomada de consciência para valorização e preservação dos patrimônios culturais. Em que consiste o conceito de patrimônio cultural? São considerados bens de ordem material e imaterial. É o conjunto de bens que contam a história do nosso povo e sua relação com o meio ambiente. Consiste em determinar a preservação dos objetos, que podem ser edificados, mobiliários, obras de artes, edificações, edifícios coloniais, modernistas e outros patrimônios de ordem material. Depois tem o de ordem imaterial, as subjetivas, que são danças, folguedos, saberes, culinária e comportamentos. O patrimônio cultural é definido em duas vertentes, e o grande conceito é a preservação. O cuidado dos bens para que eles não desapareçam, tanto os físicos como os de aspectos subjetivos. O grande conceito de patrimônio é despertar nas pessoas o senso de preservação, cuidado e zelo por um bem público. Ter o olhar apurado, poético sobre os bens de natureza material e imaterial. Cuidar daquilo que respeita a cultura e a sociedade. O que você considera em Imperatriz como patrimônio cultural? A primeira coisa que eu identifico como patrimônios imateriais são os nossos sabores. Imperatriz é conhecida como Portal da Amazônia. Então os sabores dessa região são os nossos patrimônios. Temos como identidade regional, o coco babaçu, uma tradição bastante forte das quebradeiras de coco. Os sabores, gostos e cheiros próprios dos imperatrizenses, como o cupuaçu, buriti, bacuri e pequisão elementos fundamentais da nossa gastronomia e identidade. Outro aspecto imaterial que podemos destacar é a nossa tradicional panelada. É um patrimônio que precisa ser registrado e tombado como um bem imaterial da cidade. Agora do ponto de vista do patrimônio material, fala-se na Igreja Santa Teresa D´avilla e Beira Rio, são lugares de maior prestígio da cidade. Existem outros aspectos materiais que precisam da devida importância, como o rio Tocantins, a mais antiga igreja da Assembleia de Deus, a Praça da Cultura com o seu coreto, a Capelinha do Bom Jesus, na Rua 15 de novembro, o “Beco Gilmário Café”, mais conhecido como escadaria da Beira Rio. E como marco da identidade cultural de Imperatriz, o “Mercadinho”. O Mercadinho é o grande centro de

Historiadora e pesquisadora fala sobre os patrimônios culturais e como a sociedade pode contribuir para preservação dessas memórias coletiva.

referência da nossa cultura material e imaterial da cidade.O mercadinho é um espaço físico que todos passam por ali. Como a identidade de Imperatriz reflete nos patrimônios culturais? No ponto de vista material a nossa cidade está muito abandonada. Então se fosse nesse sentido a identidade de Imperatriz também está esvaziada. Nós estamos com tudo por fazer. Imperatriz é uma cidade jovem, que não tem nem 200 anos. A cidade foi construída de forma muito desordenada, e por isso que reflete o descaso do poder público e a própria população que não tem a consciência, mas a identidade de Imperatriz é muito presente. A identidade só vai se refletir melhor nos patrimônios edificados, quando tivermos uma política de preservação. Restaurar os ambientes e colocar a cultura material e imaterial em evidência, para que as pessoas olhem e se reconheçam. A identidade imaterial de imperatriz ainda está ofuscada por falta de discussões e amadurecimentos em relação aos patrimônios do município. Quando construirmos os espaços de museus e colocarmos a cultura identitária da cidade em evidência, as pessoas irão se reconhecer. Qual a importância dos patrimônios culturais para recriação e reconstrução da memória coletiva de uma população? É indispensável à memória cultural de uma população. Ela [a memória] é requisitada a partir das manifestações, das danças, comidas, dos modos de fazer, comportamentos. É através dos bens culturais que se consolidam as lembranças do passado. Se nós não tivermos os patrimônios culturais, fica difícil de manter a identidade. O que Imperatriz passa atualmente é um momento de massificação. Querer anular os traços antigos na pretensão de se modernizar, viver o auge da modernidade. Todas essas lembranças culturais correm o risco de serem suplantadas pela modernidade. É preciso cuidar das lembranças do passado para fortalecer a memória da nossa identidade. Continuar tendo nosso doce de buriti embalado na palmeira do buriti, essas maneiras de fazer, consumir, tra-

zem à tona e guardam as lembranças dos nossos ancestrais. Não podemos deixar se perder os bens culturais, pois eles mostram nossa verdadeira identidade. A própria cultura popular não deixa a identidade se perder, porque está sempre passando de geração para geração.

“Os sabores, gostos e cheiros próprios dos imperatrizenses são elementos fundamentais da nossa gastronomia e identidade” Qual o papel da população e do município para se efetivar uma cultura de preservação dos bens culturais de Imperatriz? Precisa haver uma sensibilização das autoridades e da população no sentido da preservação dos bens culturais. Construir uma política municipal de preservação e depois de tombamento de alguns espaços. Ensinar as pessoas a valorizar e preservar nosso patrimônio imaterial e material. Isso só vai acontecer através da educação patrimonial. A população precisa conhecer e começar a ter zelo pela nossa identidade, para os nossos bens culturais, onde está registrado o que verdadeiramente somos. O papel da população é primordial, é a população que se mobiliza para exigir do poder público. Como será o processo de abertura do primeiro museu em Imperatriz? Teremos exposição de arqueologia e etnologia com materiais indígenas e da cultura imaterial da cidade. Faremos em formato de audiovisuais, entrevistas, documentários, sobre as fazedoras de panelada, feirantes, pescadores, isso tudo são exposições que devem ser contempladas no espaço. Será um acervo construído com as identidades de Imperatriz. O planejamento do museu começou

em 2010, com o projeto “Variedades de história cultural no Cerrado Maranhense” e vai contemplar registro de documentos históricos sobre a escravidão e a presença indígena na região. O museu terá espaço etnológico e arqueológico. E o que podemos chamar de seis “saberes tradicionais de Imperatriz”, que já temos mapeados: os zeladores de túmulos, pescadores, garis, e toda pilha documental, de correspondências oficiais da cidade. Com a abertura do museu a previsão é que tenha um cineclube para exibir documentários, filmes alternativos, fugindo do circuito comercial que tem na cidade. Os bens culturais privados podem ser considerados patrimônio público? O patrimônio só pode ser interferido, seja público ou privado, através do reconhecimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Existe uma legislação que preserva, mas para que ela seja aplicada é preciso que o município tenha essa discussão. Imperatriz não tem. Primeiro faz se um levantamento e cria-se um documento redigido com tudo que a cidade possui de bens culturais. Enquanto Imperatriz não tiver uma legislação, um documento, nada pode ser feito. É preciso que se identifique e crie uma lei de preservação e de tombamento dos patrimônios para depois ser reconhecida pelo IPHAN. Em 2003 foi iniciada na Uema, a redação da “carta da cidade”, que apontava todos os patrimônios materiais e imateriais, incluindo as edificações particulares de Imperatriz, só que ainda não está finalizada. Na carta contém todos os patrimônios materiais e imateriais da cidade. Quais os patrimônios culturais privados existentes em Imperatriz? E como é discutido o processo de preservação e valorização dos bens na cidade? Os patrimônios particulares que devem ser preservados estão nas imediações da praça da cultura: é a Academia Imperatrizense de Letras, a residência dos Ribeiros, um prédio que fica em frente à igreja Santa Teresa, e a Capela Bom Jesus na Rua 15

de novembro, que permanentemente está fechada. São esses quatro patrimônios que eu identifico como sendo particulares. E eles não estão sendo discutidos ou no rol da preservação. Porque não existe um estatuto sobre o patrimônio em Imperatriz. Então para que haja uma mobilização é preciso que a gente faça um relatório dizendo da importância dos bens e levar ao IPHAN. Como será feita a Educação Patrimonial na vida dos imperatrizense? Precisamos saber o que nós temos como identidade. A população de Imperatriz precisa saber identificar os patrimônios, tanto material como imaterial. A educação patrimonial é fundamental. É a partir dela que a população vai saber valorizar os saberes dos mais velhos: memórias, fotografias, manifestações culturais, gostos, costumes e os objetos que identifiquem nossa cultura. A educação patrimonial passa pelo processo de ensinar a população imperatrizense a como lidar com os patrimônios. Ensinar as pessoas a valorizar e a identificar um patrimônio, dando a devida importância e destino ao patrimônio cultural. Hoje, com toda a experiência que você acumulou sobre patrimônio, que mensagem deixaria em relação à preservação? Preservar o patrimônio cultural é algo de enorme importância para o crescimento social e cultural de um povo. Os bens culturais retêm todo um conjunto de informações. Eles podem refletir crenças, ideias e costumes, além de demonstrar um determinado gosto estético ou algum tipo de conhecimento tecnológico, e servir como documento das condições sócio-políticas e mesmo da economia das civilizações. Precisamos conhecer para valorizar, ter um olhar sensível e apurado. Ouvir que as identidades são belas, que os saberes são importantes para identificar quem somos. É preciso que conheçamos os bens culturais para termos uma consciência de valorização e preservação. Nós só valorizamos aquilo que conhecemos. Preservar e cuidar da manutenção do patrimônio cultural é um grande desafio da atualidade. A comunidade é a verdadeira responsável e guardiã dos valores culturais. Precisamos ser zeladores e guardiões dos patrimônios culturais.

Esclarecimento A fundação cultural de Imperatriz afirma que a preservação do patrimônio cultural não é uma função exclusivamente de uma entidade, mas é de responsabilidade social: população, universidades, estado, município governo federal. A fundação cultural ressalta que fica muito limitada nas ações de patrimônios, não podendo fazer o trabalho de tombamento desses bens culturais. O estatuto da fundação cultural, diz que a fundação tem por função participar dos eventos e debates relacionados ao patrimônio cultural, mas não diz nada sobre tombamento. Quem tem autoridade e faz esse processo de tombamento dos bens culturais, é o governo do estado juntamente com IPHAN, em São Luís.


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identidades O que os três chicos tem em comum? Ambos não são de Imperatriz, mas foram acolhidos e hoje se constistuem como figuras importantes do patrimônio imaterial da cidade

Os Chicos mais famosos de Imperatriz

ÈRIKA NOGUEIRA

O

dia começa bem cedo para o Box 22. “Seu chico” acorda todos os dias, às 4h da manhã, prepara seu tempero especial e sai para o trabalho. Não é preciso anúncios ou propagandas diferentes. O carrinho de cor prata já é famoso na feira. Com mesas e cadeiras expostas, os primeiros clientes vêm deliciar-se com o que dizem ser o “melhor cachorro quente da cidade”. Logo vem um, dois, três e outros inúmeros clientes. O espaço cedido já não suporta tantos compradores “famintos”, que ficam em pé ao redor do carrinho. “Se você comer um, pede bis”, diz a cliente que apresenta o cachorro quente ao amigo que veio de Porto Franco. A propaganda de “boca em boca”, levou “Seu chico” a construir o “império do cachorro quente”, que já está passando para sua próxima geração.Manoel Lima Mendes, nome de batismo, 68, demonstra-se tímido e receoso. Sem olhar nos olhos responde às perguntas com pressa, mas com muita convicção. Vindo de São Luís, trabalha há 41 anos na feira do mercadinho vendendo o cachorro quente mais conhecido de Imperatriz, recentemente ganhador do concurso gastronômico realizado no shopping Imperial. No quarto beco, lá está ele, com seu carrinho à porta e as vendedoras de plantão, suas filhas. “Seu chico” diz que o negócio pertence à família, trabalha com as filhas, genros e futuramente com os netos. Ele conta que o diferencial do seu produto não está no tempero, mas no amor colocado em cada um. Depois de tanto tempo trabalhando no mesmo ponto, ele conta que não sente vontade de sair da feira, o seu desejo é que o negócio continue vivo, por muito tempo. “Sou satisfeito com o que ganho, não coloco na cabeça que quero enricar, desejo continuar espalhando o sabor, até quando Deus permitir”, diz o comerciante. Toda a sua “fama” foi conquistada através do sabor diferenciado, apresentado no cachorro quente. Ao chegar à cidade sem opções de trabalho, decidiu montar o próprio negócio, hoje

Seu chico é conhecido não só pelos habitantes locais, mas também por visitantesque passam pela cidade. Chico das Panelas - Na última barraca do beco, na feira de Nova Imperatriz, há um hospital. Construído e gerenciado por Francisco das Chagas Gomes Nunes, o senhor de 66 anos, mais conhecido como “Chico das Panelas”.Diferentemente do primeiro Chico aqui apresentado, este se revela animado, com ar de artista. Mostra todo o seu trabalho com muita empolgação e demonstra sentir prazer no que faz. São tantas panelas que não dá para contar. O espaço já não cabe tanta criatividade e sabedoria. Seu chico trabalha há 28 anos na mesma feira. Ele não é “formado em medicina”, e tudo que sabe aprendeu sozinho. Seus pacientes de alumínio, vidro ou inox foram o que levou este senhor a sustentar uma família com seis filhos. Vindo do Piauí, após uma vida de roça e sofrimento, ele conta que em sua antiga “bodega”, o movimento havia caído, e foi este o fator que o levou a consertar panelas. A venda de produtos alimentícios já não era a mesma. Muitos feirantes decidiram sair da feira a procura de um novo espaço. Porém, Francisco decidiu continuar ali e diz não faltar serviço. “Não há dias com mais ou menos movimento, sempre tenho clientes com panelas para consertar”, diz o “doutor”. Francisco usava de suas próprias ferramentas, encontradas no local onde trabalhava para consertar as panelas, “Tudo servia para o conserto, até mesmo as pedras”, afirma. As técnicas rudimentares aos poucos foram deixadas de lado. O número de panelas quebradas aumentou, e as pe-

“A maior riqueza de uma cidade são as pessoas, e quando estas pessoas se destacam por suas habilidades e suas características, merecem ser preservadas”

ÈRIKA NOGUEIRA

Francisco das chagas, conhecido nacionalmente como “chico das panelas”, trabalha há 28 anos na feira da Nova Imperatriz.

dras começaram a sair de cena. Hoje o “doutor” possui um maquinário diferenciado para realizar as “operações”, com mais qualidade e precisão. O trabalho desempenhado por ele passou a ser reconhecido pelos moradores de Imperatriz, mas sua história não parou só por aqui. Programas como “Mais você” (Globo) e “Achamos no Brasil” (Record), já mostraram seu trabalho. Chico conta que a única dificuldade encontrada em seu trabalho, é ter panela para consertar, e gaba-se por ter aprendido tudo que sabe sozinho. Imperativo, mostra que seu tempo livre é gasto com muita criatividade, o pequeno local de trabalho, se tornou um laboratório de produção e testes. De panelas a cortadores, Chico demonstra que o que ele gosta mesmo é de desafios. “Trabalhava pesado na roça, e o lucro era pequeno, com seis filhos para sustentar, tive que usar da criatividade,” diz. Hoje ÈRIKA NOGUEIRA

A barraca do “Chico do Bode” encontranda na Praçca de Fátima é conhecida por apresentar uma das melhores culinárias caseiras de Imperatriz.

trabalha apenas pela manhã. O doutor revela que a idade já não contribui, e o serviço se torna cansativo, por isso o “hospital” está recebendo novos doutores, “os filhos de Francisco”. Chico do Bode - A segunda refeição do dia já está pronta. Já é chegada a hora de ir à praça. Monta barraca, distribui as mesas e apresenta as panelas. Esta é a rotina de Edvaldo Oliveira da Silva, 58, trabalha de domingo a domingo na Praça de Fátima, há 13 anos. Extrovertido e engraçado, demonstra bom humor ao servir cada cliente. O movimento inicia às 11h. Não demora muito, e logo as mesas estão ocupadas. O expediente só acaba ás 14h quando “Chico do bode” finalmente “bate as panelas”. O sarapatel de bode destacou-se entre os pratos mais servidos da barraca, e deu origem ao codinome de Edvaldo. Em uma bancada improvisada, lá está ele com suas panelas e mesas expostas. O local vira ponto de encontro para colegas de trabalho que buscam uma refeição rápida e gostosa. Enquanto serve, Chico faz piadas e conversa com os clientes. Demonstra-se bastante atencioso e afirma gostar do que faz. Antes de compor pratos culinários, Edvaldo trabalhava com a venda de ouro, mas a falta de segurança, o fez a sair do ramo. Ao perceber seu talento culinário ele resolveu abrir o seu próprio restaurante de rua, que conquistou o paladar dos imperatrizenses. A barraca do bode ficou tão conhecida por suas refeições deliciosas, que até as autoridades da cidade costumam provar o tempero especial de Chico do bode. Mas, um horário apenas não seria o suficiente para tanto sabor, por isso a barraca mais famosa da praça funciona também em período noturno.Para quem busca uma comida caseira, e conversar com os amigos após um dia de trabalho, o local é uma boa pedida.Ariana Vasconcelos Perei-

ra, 28, enfermeira, diz frequentar a barraca de ambos os chicos. Ela fala sobre a importância destas personalidades de Imperatriz que marcam e influenciam as pessoas, freiam o estrangeirismo e elevam o capital cultural da cidade. “A gentileza e a humildade com a qual cada um trata seus clientes, torna o ambiente bem mais agradável e familiar”, diz a enfermeira. A simplicidade destes personagens foi o que os tornaram grandes diante da cidade. É notório como estas figuras modificam o espaço em que se encontram. Personalidades que apesar de não serem frutos de imperatriz, constroem uma identidade, caracterizada pela mistura de culturas. “A riqueza de uma nação, ela é obtida através da soma de todos os patrimônios adquiridos. Sendo este, material ou imaterial”, diz Ricardo Honorato. O professor de história, conta que na região Tocantina, não há muitos registros de patrimônios físicos. Porém, Imperatriz é reconhecida pelas identidades que agregam valores e culturas diferenciadas. Honorato fala sobre a dificuldade de manter esses patrimônios vivos, diante de uma sociedade que não está interessada em realizar estudos históricos para relatar os fatos marcantes das sociedades. “O nosso problema é que nós não estabelecemos a devida importância, e assim, esses valores se perdem ao longo do espaço”, lamenta. O professor ainda lembra que são atribuídos valores ao que vem de fora, e esquecidas as riquezas que vem de dentro da cidade. Há preocupação em divulgar sempre o novo, seja um lanche ou qualquer marca de importância nacional. São apenas propagandas supérfluas sem nenhum conteúdo histórico. “A maior riqueza de uma cidade são as pessoas, e quando estas pessoas se destacam por suas habilidades e suas características, merecem ser preservadas”, complementou.


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