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OUTUBRO DE 2012. ANO III. NÚMERO 15
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA
Arrocha
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ MARIO ALVES
Enquanto a cidade dorme
A rotina e as histórias de quem trabalha à noite em Imperatriz
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Arrocha TIRINHA
EDITORIAL - Trabalho na calada da noite Enquanto você dorme ou se diverte na balada noturna, eles estão trabalhando. Nesta edição do Jornal Arrocha os acadêmicos de jornalismo decidiram fazer serão em busca de personagens que cumprem o seu ofício no período da noite. Aquele dono de bar de bairro e o músico que tenta viver da renda de seus shows. Taxistas, que encontram e transportam tantas outras histórias noturnas. A morte evitada por pouco por paramédicos. O medo de lidar com a segurança nas vielas do Mercadinho ou como policial militar. Outros tantos que garantem a sua alimentação, do espetinho à panelada. E o combustível para o carro, no mesmo posto em que o cliente pode comprar uma cerveja na conveniência. Os futuros jornalistas tinham por missão garantir visibilidade para profissionais que,
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KELLY SARAIVA
muitas vezes, passam despercebidos. Como a linda história da gari que trabalha com limpeza pública e é chamada de “Margarida”. Humanizar uma reportagem significa entender o que fica marcado como humano em uma situação, mesmo as mais banais do cotidiano. Compreender o outro a partir de uma alteração do próprio olhar. Só a convivência com outros cotidianos é capaz de revelar para os jornalistas detalhes antes muitas vezes ocultos dos seus personagens. Ainda mais quando se trata de trabalhadores noturnos. Boa leitura. Arrocha: É uma expressão típica da região tocantina e também é um ritmo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.
Ensaio Fotográfico MARIO ALVES
MARIO ALVES
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MARIO ALVES
EXPEDIENTE Jornal Arrocha. Ano III. Número 15. Outubro de 2012 Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade. Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor Prótempore do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Marcelo Soares | Coordenadora Pró-tempore do Curso de Jornalismo - Profa. M. Marcelli Alves.
Professores: M. Alexandre Maciel (Jornalismo Impresso), M. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual), M. Li Chang Shuen Cristina (Fotojornalismo). Revisão: Dr. Marcos Fábio Belo Matos. Reportagem: Amanda Oliveira, Adriano Ferreira, Ana Carla Rio, Antônio Carlos Freitas, Caroline Mateus, Edynara Vieira, Hêider Menezes, Hilton Marcos Ferreira, Janyana Franco, Jany Sousa, Jefferson de Sousa, Keylla Nazaré, Millena Marinho, Mônica Brandão, Pedro Barjonas, Rebeca Avelar, Raynan Pinheiro.
Diagramação: Adriana Dias da Silva, Andre Ricardo Guimaraes Cadete, Andreza Vital da Silva Pinto, Angela Maria Laurindo da Silva, Aurikelly Renata Saraiva, Breno Rafael Alves Franco, Camila de Sousa Silva, Cicero Fernando Pereira Alves, Diego da Silva Carreiro, Dionnatha da Conceicao Silva, Erica Fernanda Silva Ferreira, Flavia Brito Silva, Flavia Luciana Magalhaes Novais, Francisca Sheila Rodrigues da Costa, Giovana Cordeiro Cardoso, Israel Shamir Mendes Chaves, Jhonatha Pereira dos Santos, Jorzennilio Alves Junior, Lanna Luiza Silva Bezerra, Luanda Vieira de Oliveira, Maria Rhemylla Oliveira, Marina Pereira Cardoso, Railson de Andrade Carvalho, Railson Silva Lima,
Samia Said Mulky, Samoel Pereira de Freitas, Sueda Marilia Silva Borges, Yanny Dorea Moscovits.
Fotografia: Adriano Ferreira, Amanda Oliveira, Antônio Carlos Freitas, Caroline Mateus, Dayane Sousa, Hêider Menezes, Hilton Marcos Ferreira, Janyana Franco, Jefferson de Sousa, Keylla Nazaré, Mônica Brandão, Millena Marinho, Rebeca Avelar, Rômulo Fernandes, e Karla Carvalho (Tratamento de imagens).
Acadêmicos: André Wallyson, Fernando Costa e Paula de Társsia. Tiriha: Kelly Saraiva
Contatos: Fan Page: www.facebook.com/JornalArrocha www.imperatriznoticias.com.br | Fone: (99) 3221-7625 Email: contato@imperatriznoticias.com.br
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CULTURA Arte como trabalho movimenta as noites imperatrizences com música dançante e que garante opção diferenciada de entretenimento na cidade
Swingueira marca as noites de Imperatriz HÊIDER MENEZES
Temístocles, baixista da banda Tadim de Nóis e jiu-jiteiro nas horas vagas, trabalha há quatro anos na noite de Imperatriz. Das noitadas, sai o auxílio para melhorar sua qualidade de vida HÊIDER MENEZES
O contrabaixo é ligado à caixa de som. Uma sessão ritmada de compassos apressados e escalas musicais dá início ao show da banda Tadim de Nóis. O baixista é Temís-
tocles da Silva Jr., que desde 2008 tira das noites o dinheiro para o pão comprado de manhã. O tipo de música que o grupo faz fica em algum lugar entre o pagode e o axé. Mas Temístocles garante que o nome oficial é swingueira.
“Na Bahia chama-se pagodeira. No carnaval de lá é assim. Mas aqui é swingueira mesmo”. A denominação do estilo é o que menos importa na hora que o groove começa. As músicas têm letras com fortes insinuações sexuais
e cada uma conta com sua própria coreografia. E o público conhece todas de cor. “Minha prima trabalhava numa firma chamada Voceta/ não era carteira assinada/ o bagulho era tudo na treta”, cantou em uníssono a plateia no começo do show.
Mas não é fácil esse tipo de trabalho. Não se trata apenas de swingueira e ferormônios. Temístocles lembra, por exemplo, que logo na sua primeira noite como músico profissional foi vítima da truculência policial. Ele conta que os policiais queriam abrir a passagem da rua, que naquela hora já estava tomada pelas pessoas que queriam assistir ao show. “O jeito que eles acharam foi jogar spray de pimenta nos ventiladores e expulsar todo mundo”. Mas não é só esse tipo de problema que esses trabalhadores enfrentam. Kelvin Andrew, 22 anos, é tecladista free lancer, e entende bem as dificuldades dos músicos na região. “Uma vez um cara chamado ‘Bigodinho’ me passou a perna numa tocada lá em Açailândia”. Ele ri da história, mas sabe que isso é comum e trágico. Kelvin já tentou por duas vezes se profissionalizar com uma banda. Na última e mais promissora tentativa, no grupo Sr. Nietzsche, chegou até a gravar algumas músicas e aparecer na TV para divulgar o seu trabalho. A falta de curso superior de música ou um conservatório em Imperatriz torna difícil a profissionalização nesse ramo. Além disso, poucos estabelecimentos estão dispostos a pagar por esse tipo de serviço. Temístocles e Kelvin tem o mesmo ritual após o show: guardar os instrumentos com um cuidado religioso, receber o pagamento e tomar o rumo de casa. Nesse caminho, em ruas vazias e escuras, ambos só querem dormir as quatro horas de sono a que tem direito e tirar forças para pegar no batente novamente ao levantar do sol.
Quais são as vantagens e desvantagens de ser um dono de bar? CAROLINE MATEUS CAROLINE MATEUS
“De janeiro pra fevereiro do ano que vem quero vender meu bar e voltar pra minha terra”. José Gomes de Oliveira, 69 anos, nascido no Rio Grande do Norte, vestindo blusa listrada, bermuda e chinelo nos pés, muito carismático, conta que há 20 anos está no mesmo ponto comercial. “Aqui já foi sacolão, açougue e há 15 anos é bar”. O Bar do Café (apelido dado ao dono por ter trabalhado no Centro do Café em São Domingos) é de uma estrutura simples, pintada de amarelo ouro e vinho. No ambiente interno também possui uma sinuca. “O bar é de gente pobre, tem cachaça, cerveja e sinuca”. José conta que mesmo gostando de atender os clientes, quer voltar para o seu estado, pois está muito cansado de ser dono de bar e trabalhar bastante. “Tem que ter paciência de cozinhar pedra, pra mexer com bar”. Surdez - De blusa branca, bermuda, chinelos nos pés, óculos, e cabelos penteados para trás, esse
José Gomes de Oliveira, entre noites, risos e muita dedicação pela trabalho que faz, explica que é preciso ter muita paciência para ser dono de bar
é João Mariano Sobrinho, de 60 anos. “Já fui açougueiro por uns 23 anos, no supermercado Real e no Variedades. Em 2000 montei um
bar porque fiquei surdo”. Sua surdez foi causada pela diabetes e, desde então, trabalha com bar e afirma que gosta mui-
to dessa profissão. “Gosto muito, tem muita pessoa. Minha vida foi só atendendo o pessoal”. Perigos- José afirma que não
existe perigo em trabalhar a noite, pois a polícia sempre passa na rua onde fica o bar. “Sempre que eles passam por aqui dou um refrigerante, bato um papo, depois eles seguem”. João, por sua vez, relata que aconteceu uma morte na calçada de seu bar, quando alguns moradores do bairro Nova Imperatriz vendiam drogas nas proximidades do estabelecimento. “Fiquei muito assustado, mas depois desse tempo não teve mais confusão”. Em dias de jogos de futebol, João liga quatro televisores no bar, dois dentro e dois fora. No pequeno ambiente, pintado de amarelo ouro e vinho, alguns frízeres encostados nas paredes dividem espaço com os muitos torcedores e consumidores. “Ligo muitas sim, pra chamar clientes. Eles ficam animados e consomem mais”. João, apesar de surdo, entende por leitura labial, palavras escritas no papel, e alguns gestos, mas nunca fez um curso de Libras. Em seu bar todos o entendem muito bem.
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TAXISTAS Motoristas que se arriscam na madrugada de Imperatriz relatam suas rotinas e destacam as diferenças entre o passageiro do dia e da noite
Corrida diária dos volantes noturnos JANYANA FRANCO
Assim como Daniel Mendes e Luís Carlos (a esquerda e direita respectivamente) os taxistas procuram trabalhar segundo os conformes,isto é, bem apessoados, para transmitirem aos passageiros uma imagem de maior credibilidade JANYANA FRANCO
“Trim! Trim!” O telefone toca insistentemente. “Alô! Pois não?... Ok. Daqui a alguns minutinhos já estou aí”. É assim que começa mais uma noite para Djalma Rodrigues da Silva, “o Djalminha”. O apelido carinhoso foi dado pelos colegas de profissão do posto de táxi Castelo Branco. Sua rotina não é diferente dos outros tantos taxistas que se aventuram na penumbra da noite enquanto Imperatriz dorme.
Já no ponto de Nossa Senhora de Fátima, um dos mais conhecidos, fileiras de carros lotam o quarteirão com taxistas à espera de passageiros. Os motoristas aguardam o chamado dos clientes tentando se distrair para que o tédio não os incomode tanto. Alguns ficam em frente à TV colocada em um apoio na parede dentro do posto, de olho nas notícias do canal 10. Outros permanecem sentados na praça em frente à banca de jornal, que ainda está aberta, batendo papo com os colegas.
Os chamados começam. A noite promete, seja no telefone central ou celulares de motoristas. “Quem liga no celular são os passageiros fixos”, conta Luis Carlos, 36 anos, que há quatro trabalha como taxista. Antes de ser motorista morava na Europa. Passou dois anos em Valência na promessa de subir de vida, mas o futuro foi traiçoeiro e Luis acabou retornando a Imperatriz. Com o pouco dinheiro que conseguiu, comprou um taxi. O taxista procura trabalhar segun-
do os conformes. Sempre bem apessoado, usa farda (camiseta azul, calça e sapatos pretos) para transmitir aos passageiros uma imagem de credibilidade. Quando perguntado qual a diferença entre o passageiro do dia e o noturno, a resposta foi quase sempre a mesma. Segundo eles, o do dia é mais imprevisível e geralmente pega o táxi para fazer viagens curtas, enquanto que o passageiro da noite é aquele dos bares e baladas.
Daniel destaca que os dias mais lucrativos para os taxistas são os sábados e domingos, já que muitos saem para se divertir e, também, nos períodos chuvosos. Enquanto isso, no ponto da Praça de Fátima os taxistas aos poucos vão se dispersando e o local, que antes estava lotado de táxis vai se esvaziando no decorrer da noite. Levando esses motoristas a novas aventuras até o amanhecer, quando finalmente encerram o expediente.
Casos e acasos dos taxistas que se aventuram na corriqueira e inusitada madrugada de Imperatriz JANYANA FRANCO JANYANA FRANCO
Vida de taxista noturno não é fácil. Além do perigo rotineiro, os motoristas ainda têm que lidar com situações inusitadas e às vezes constrangedoras, como já passou Daniel Mendes dos Santos, 57 anos. “Peguei quatro passageiros na Beira Rio e levei eles na Vila Nova. Ao chegar na Vila, os cabras abriram a porta de uma vez e saíram correndo sem pagarem a conta. E eu fiquei só olhando, não tive reação”, conta, rindo muito ao lembrar da cena. Bêbados também dão o ar da graça nessas situações. “Eles gritam muito”, revela Daniel. “Mu-
lher? Aí nem se fala. Teve uma que esqueceu até a blusa”, lembra o taxista Luis Carlos. Outras histórias um tanto curiosas não são privilégio só de taxistas. Um mototaxista como Francisco Gonçalves está repleto de aventuras. Ele parou de trabalhar na madrugada há quatro meses, mas não se esquece da vez que carregou um passageiro bêbado, que nem o capacete sabia colocar e que acabou indo com ele ao contrário. “Quando chegamos ao destino desejado, o amigo do cara perguntou como tinha sido a viagem e ele meio que cambaleando respondeu: Olha, a viagem foi boa, o único problema é que eu não enxerguei nada”.
Baiano Adão Sousa, em momento de descontração busca em sua “caixa“ de memórias as experiências e recordações do passado vivido em família Histórias incomuns e inusitadas são frequentes para os que se arriscam na noite de Imperatriz, principalmente quem trabalha atrás do volante
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RONDA Rotina de policiais militares e bombeiros nas noites de Imperatriz é tensa. A cada minuto os centros de operações registram dezenas de ligações
Para garantir segurança, eles não dormem ANTÔNIO CARLOS FREITAS
Viaturas que fazem ronda durante a noite recebem informações por meio de rádio. Os dados repassados a cada patrulha permitem que os agentes cheguem rápido até ao local da ocorrência e realizem todos os procedimentos recomendados ANTÔNIO CARLOS FREITAS
“Boa noite senhora... diga senhora... me dê o endereço senhora... Rua Santiago do Chile, qual o bairro?... Aí tem ponto de referência?...Tá ok mais tarde chegaremos aí”. O soldado Françueldo Félix de Oliveira só precisa fazer essas básicas perguntas para que um caso se torne policial. Ele trabalha no Centro de Operações (Copom) do 3º Batalhão de Polícia Militar do Maranhão, em Imperatriz. Na ocasião em que foi feita esta entrevista, sua rotina era
atender ligações realizadas via 190. Ele trabalha 24 horas e folga 48. “Na Polícia Militar existe uma coisa chamada instabilidade. Eu trabalhava na portaria e hoje estou aqui, amanhã eu não sei, só o comandante sabe. O que me resta é virar a noite cumprindo o que me foi dado”. Engana-se quem pensa que Françueldo tem vida mansa. A expressão que mais se pronuncia no Copom é “Polícia Militar de Imperatriz, boa noite”. O telefone não dá trégua, é colocar no gancho e ele toca de novo. Entretanto, isso não significa dizer que cada ligação seja uma
ocorrência. “De 30 ligações 31 são trotes”, brinca Françueldo. Não existe um levantamento de quantos trotes a polícia recebe por dia, mas nos primeiros cinco minutos de entrevista para esta reportagem, o telefone tocou 15 vezes. Apenas uma ligação era de uma pessoa que realmente precisava do auxílio da polícia. O Copom de Imperatriz é uma sala não muito grande, mas também não tão pequena. Conta com três linhas telefônicas e um rádio que serve para a comunicação entre as viaturas. As informações repassadas
a cada patrulha permitem que os policiais cheguem rápido até o local da ocorrência. As noites no 3º Grupamento de Bombeiros Militar são menos turbulentas que na PM. Geralmente sete homens são escalados para ficarem de plantão, caso ocorram imprevistos. Em 15 maio de 2010, o plantão do cabo Hazan Campos já estava terminando. O dia estava nascendo, quando pelo 193 chegou a informação que um acidente com ônibus tinha vitimado dez pessoas na “curva da morte” na BR-222, entre os municípios de Açailândia e Bom Jesus das
Selvas. “Aqui você tem que esperar por qualquer coisa do mais simples até o mais grave”, enfatiza Hazan. Hazan Campos é bombeiro há 16 anos. Antes era professor, mas viu na profissão atual uma oportunidade financeira. Hoje se considera apaixonado pelo trabalho. “Não foi aquele sonho, pois não queria ser bombeiro não, mas com o tempo você acaba gostando do faz”. A prova desse gostar está, segundo ele, em situações que crianças necessitam de socorro. “Fico com o coração na mão! Só penso que são meus filhos”.
Vigilantes enfrentam o temor e a solidão na calada de cada noite MILLENA MARINHO MILLENA MARINHO
São 22h e lá está o vigilante de 52 anos em mais uma longa e noturna jornada de trabalho. Seu olhar é calmo e cansado, acompanhado de vagarosas gesticulações. Manoel Ramos faz parte da empresa de segurança Vip e presta serviços à Receita Estadual do Maranhão, em Imperatriz. Seu expediente é das 19h às 7h. Ele diz que gosta de sua profissão, porém sente dificuldades a partir das 5h, pois tem medo da violência, principalmente no percurso de casa. “Ando armado, mas o medo continua. Também teve uma vez que tentaram quebrar o vidro daqui”. Antes de fazer parte da Vip, Manoel trabalhou em uma metalúrgica no estado de São Paulo e também como cobrador de ônibus, em Imperatriz. “Foi por meio de um amigo, que na época era inspetor dessa Vip, que eu fiz um curso e consegui o emprego”. Apesar dos atritos, ele diz que a noite é melhor para trabalhar. “Eu
Manoel da Silva caminha durante toda a sua jornada de trabalho, permanecendo sempre atento a cada detalhe que ocorre no Camelódromo
penso em me aposentar daqui a cinco anos”, conta, mostrando seu sorriso envergonhado. Assim como Manoel Ramos, há também inúmeros pais de família
que trocam o dia pela noite, espalhados região afora. É o caso do jovem de 28 anos, que trabalha há quatro como vigilante do Camelódromo. . Manoel da Silva, que a noite guar-
da um dos centros comerciais mais conhecidos de Imperatriz, trabalha das 17h às 6h, sendo que durante o dia ainda é vendedor ambulante. Em meio à solidão e vazio daquele
lugar, o caminho que o ponteiro do relógio percorre até as seis da matina parece que chega com dificuldade, fazendo com que a madrugada permaneça longa. Apesar disso, Manoel da Silva diz que está satisfeito com o seu trabalho e não pensa em sair dali tão cedo. “Consegui esse emprego através de uma amiga, que me chamou pra ficar aqui, e tô gostando. Só que tenho muito medo de vagabundos. O local aqui é aberto e eu não ando armado”. Manoel permanece circulando por entre as vielas do Camelódromo durante toda a noite. “Um dia vi uma pessoa tentando roubar uma das barracas. A gente conta com o apoio da polícia, mas na hora ela falha”. O vigilante tenta receber o seu salário dos proprietários de cada estabelecimento comercial que atuam no Camelódromo. No final do expediente, sai arrecadando em cada barraca. Uns pagam R$ 15, R$ 20, R$ 30, porém não são todos que concordam em colaborar.
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FARMÁCIAS Enxaqueca, reação alérgica ou um mal-estar repentino. Motivações para se procurar uma farmácia de plantão podem ser as mais variadas
Histórias de quem passa noites de plantão JANY SOUSA
Funcionários da farmácia Big Ben em mais uma noite de plantão. Esses “corujões” da emergência demonstram dedicação e empenho no atendimento durante sua extenuante jornada de trabalho JANY SOUSA
“Uma senhora aparentemente normal entrou na farmácia. Ao se deparar com a vitrine de perfumes parou em frente e ficou estática durante um tempo considerável. Ela parecia hipnotizada. Era como se o
mundo à sua volta tivesse deixado de existir. A princípio ficamos sem ação. Preocupados com aquela situação, chamamos o Samu, que a levou para o hospital”. Cristina Corrêa, gerente da farmácia Big Ben, disse que nos seis anos de trabalho nesta empresa,
este episódio marcou sua memória. “Nós, seres humanos, somos uma caixinha de surpresas”. Rose Pinheiro, gerente e proprietária da Farmasul, está nesta profissão há 11 anos. Ela adverte que esta atividade requer grande responsabilidade.
“Fiz uma injeção numa cliente e logo em seguida ela desmaiou. Felizmente, pouco tempo depois ela retornou do desmaio para a minha tranquilidade. Todo cuidado é pouco. Precisamos ser éticos. Um pequeno erro ou uma medicação mal
administrada pode trazer grandes consequências”. O ritmo de trabalho na farmácia Pague Menos é frenético. A todo instante uma receita, e meia dúzia de palavras entre atendentes e clientes sobre os medicamentos. Dâmires Lima, entre um atendimento ou uma arrumação de prateleiras me concedeu alguns minutos de sua atenção. Ela não para. Quando lhe perguntei qual o maior desafio de sua profissão, revelou: “Atendemos a todos os tipos de pessoas. Há clientes que querem comprar medicamentos controlados sem receitas médicas, o que não é permitido. Diante de nossa recusa, muitos não compreendem, chegando a nos ofender com palavras”. O balconista Reginaldo Cardoso, também funcionário desta mesma instituição, compartilhou um pouco de suas experiências. Está há dez nesta profissão. Sobre os inconvenientes dos plantões de trabalho, destacou: “As horas durante o plantão demoram a passar, o movimento é muito pouco. Há pouca divulgação dos plantões. Então ‘matamos’ o tempo conversando, assistindo televisão, comendo. Quando há mercadorias para arrumar, aproveitamos esse tempo ‘ocioso’ para limpar e organizar as prateleiras. Por plantão, somos dois, um vendedor e um caixa”. Na farmácia Extrafarma, o atendente Wellington Carvalho, há 23 anos nesta profissão, se diz satisfeito com o seu trabalho. Ao falar sobre os plantões, disse que os executa sem grandes esforços. “Já estou acostumado. Como somos muitos vendedores, somente a cada três meses é que cada vendedor está de plantão. Um cafezinho, conversas e a TV ajudam a passar o tempo. Quando chegam mercadorias aproveitamos esse tempo para organizá-las nas prateleiras”.
Vigilância Sanitária elabora calendário de plantões das farmácias JANY SOUSA
Enxaqueca, reação alérgica ou um mal-estar repentino. As motivações para se procurar uma farmácia de plantão são variadas. Afinal, a doença não escolhe dia, nem horário. Daí, a necessidade desse serviço 24 horas. A Lei Federal nº. 5.991/73 em seu artigo 56 e a portaria estadual de nº. 07/87 dispõem sobre os plantões de farmácias de Imperatriz. Esta Lei estabelece às farmácias registradas a realização de um plantão de 24h uma vez por mês, que inicia às 22h e encerra às 7h30. O calendário dos plantões é elaborado pela Divisão de Vigilância Sanitária do município. Luíz Ricardo, farmacêutico e fiscal do Conselho Regional de Farmácia, salientou que em
Imperatriz há 116 delas registradas e 266 farmacêuticos credenciados. Este órgão fiscaliza a presença do farmacêutico nos estabelecimentos durante o expediente de funcionamento e verifica se a documentação necessária está em ordem. Valdenira Nunes, lotada no setor de atendimento da Divisão de Vigilância Sanitária, declarou que a elaboração do calendário dos plantões de farmácias do ano subsequente é realizada todos os anos, durante o mês de dezembro. Esta instituição fiscaliza os plantões aleatoriamente. Se descumpridas, as sanções variam de multas ao fechamento do estabelecimento. “O calendário é pensado a partir de três grandes bairros: Centro, Vila Lobão e Bom Sucesso. Neles, diariamente, deve haver uma farmácia de plantão”.
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A agenda de plantões das farmácias de Imperatriz é pensada a partir de três bairros polarizadores: Vila Lobão, Bom Sucesso e Centro
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SAÚDE Principalmente nos finais de semana, quando aumenta o número de vítimas alcoolizadas, rotina de médicos e enfermeiros depende de paciência e atenção
Trabalho em pronto-socorro exige dedicação REBECA AVELAR REBECA AVELAR
Gente por toda parte. Alguns escorados nas paredes desgastadas pelo tempo, outros sentados à espera de assistência. Os mais combalidos desconfortavelmente se acomodam em macas que já carregaram outras doenças. Eis que aparece, então, a presença mais aguardada da noite: o médico. Mas, diferente dos abatidos ali presentes, o doutor boa praça circula por entre as pessoas com sorriso no rosto. Acena para um, conversa com outro adiante e segue para mais um plantão na emergência do Hospital Municipal de Imperatriz. “Sábado é dia de bebinho!”, antecipa a técnica de enfermagem na entrada da sala do pronto-socorro. De fato. Havia um homem visivelmente alcoolizado, exigindo o atendimento. A balbúrdia criada pelo indivíduo não causa espanto ao cirurgião geral Edson Santos, que entra na sala sem preocupação. Segundo o médico, que há seis anos atende no Socorrão, a maioria dos pacientes que chegam à emergência está alcoolizada. Muitos deles envolvidos também em acidentes de trânsito. O setor administrativo do hospital mensura que cerca de 70% dos casos atendidos por dia pelo pronto-socorro seja desta natureza. As horas avançam, e a madrugada traz consigo mais feridos. Os esfaqueados e baleados não surpreendem mais a experiente equipe, formada por dois técnicos de enfermagem e pelo médico. As mãos manuseiam com precisão os instrumentos de metal. Com olhos atentos, Edson não perde de vista o paciente, que urra de dor, ao sentir sua pele sendo literalmente costurada. Dilemas - Quando o entra e sai de pessoas parece cessar, surge pelo corredor adentro um homem desacordado sobre a maca trazida pelo Samu.
Acostumados a lidar com os casos mais difíceis, trabalhadores do campo da saúde, principalmente a do pronto-atedimento, tem que estar preparados para conviver com diversos tipos de emoções
Rapidamente o cirurgião convoca reforços de outros setores. Os técnicos a postos organizam o material necessário para o procedimento que irá definir o destino daquela vida. Por vezes desorientada, a equipe teme o óbito do paciente, que chega
Funerárias lidam com dor JEFFERSON DE SOUSA
Irene Maria Martins, 59 anos, conta que nos seus mais de 20 comandando uma funerária, já presenciou inúmeras histórias inusitadas. “Não é um dos melhores trabalhos do mundo. É um caminho de pedras e espinhos para trilhar, compartilhamos da dor e da solidariedade humana. A única coisa que não conseguimos desviar é da malvada morte”, constata, com um olhar triste e uma voz trêmula de quem já presenciou inúmeras perdas. O que mais deixou dona Irene chocada em todos esses anos foi o caso de uma criança que foi morta por um tipo de verme. “Criança e morte violenta dói mais no ser humano”. Cercada de caixões, em um lugar pouco iluminado, Irene comenta que é difícil lidar com a perda de um ente querido. “Eu não quero e nunca vou me acostumar com a morte. Já perdi pai, mãe, marido. É uma dor que a gente não suporta”. Como também trabalha em turnos noturnos, uma das poucas mulheres nesse ramo funerário diz que por mais que essas variadas situações aconteçam, ela tenta passar para seus “clientes” o sentimento de compaixão para
tentar aproximar-se deles. “Nos mais diversos tipos de acontecimentos, sejam eles brutais ou não, temos que ter coragem e não engravatar um sangue frio dentro de nós, tentar passar conforto e carinho a quem precisa”. Economia - Ganhar a vida com o falecimento de outras pessoas na cidade tornou-se uma forma sustentável de conseguir manter a casa. Irene foi umas das primeiras pessoas que abriu uma agência funerária em Imperatriz e hoje é presidente do Sindicato das Funerárias da cidade (Asefimp). “Com a fundação do sindicato, os associados tiraram esse digladiamento entre vivos e mortos que aconteciam nos hospitais”. Os profissionais que trabalham em agências fúnebres (tanatopraxistas), geralmente são estereotipados de frios e até “açougueiros” por exercerem uma profissão pouco conhecida pela população. O que Irene tenta afirmar é que são seres humanos assim como nós, capazes de chorar e de sentir a perda de uma pessoa: “Eu já vi muitas coisas nesse ramo, pessoas de todas as maneiras, mas mesmo assim, não perco a minha sensibilidade diante de tais acontecimentos”.
à emergência com o corpo completamente ensanguentado, as mãos quebradas, a cabeça esfaqueada e o crânio parcialmente fragmentado. Para enfermeira Poliana Natália, que há nove anos está na profissão, “é um impacto ver o sofrimento da famí-
lia, do paciente.” E confessa: “Meu coração ainda é mole para essas coisas”. Natália nos conta sobre a rotina estressante da maratona noturna. “Se eu fosse casada não trabalharia a noite. Daqui um tempo quero deixar esse horário. Imagina acordar de noi-
te com este barulho?”. A enfermeira aponta para sirene, que toca ao avisar sobre uma nova ocorrência. O médico Edson Santos, que desde as 19h do dia anterior estava de plantão, às 5 h é um homem exausto, que anseia por boas horas de sono.
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Presentes em um momento complicado para as famílias, profissionais de agências funerárias precisam garantir a paz nestes lugares para confortá-las
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MOTÉIS Funcionária que trabalha há cinco anos no local é responsável pela parte interna do motel e diz que sempre ouve vários gritos e barulho nos quartos
Prazer e trabalho depois da meia-noite KEYLLA NAZARÉ
Muitos funcionários preferem trabalhar nos motéis, pois a jornada de trabalho é de 12 horas trabalhadas e 36 de folga. Assim, relatam eles que têm um tempo livre para realizar outras atividades no seu dia-a-dia, sem atrapalhar o trabalho no estabelecimento KEYLLA NAZARÉ
Um lugar de passagem que proporciona às pessoas prazeres, emoções e momentos inesquecíveis., Os motéis são considerados locais de encontros secretos para uns e fetiches para outros. Nesse ambiente passam diversas pessoas para ficar algumas horas ou permanecer uma noite.
“Temos 62 quartos, com 75 funcionários, é aberto 24 horas e nosso diferencial é a limpeza, o bom atendimento e as inovações que temos nos quartos. Nosso cliente pode encontrar do mais simples com preços acessíveis e conforto, até o mais luxuoso”, anuncia a administradora do estabelecimento, que preferiu não se identificar. Regiane, uma funcionária que
trabalha há seis anos no local, é responsável pela parte interna do motel. Atende os clientes diretamente no interfone, anotando seus pedidos e às vezes “salvando algumas mulheres de apanhar mais”, conforme brinca. Ela relata que já aconteceram vários episódios engraçados. Como fica circulando nos corredores, Regiane escuta muitos gri-
tos e gemidos. Em uma noite teve que intervir dentro do quarto, pois o companheiro de uma cliente estava batendo nela e, para não chamar a polícia, teve que interfonar para o quarto pedindo para ele se acalmar. “Alguns clientes do motel entram e na hora de pagar a conta, deixam alguns objetos de valor
empenhados”. Esses tipos de casos acontecem constantemente, segundo a funcionária. Quando o objeto oferecido não é suficiente, a policia é chamada e os clientes são levados para a delegacia até que a conta seja quitada. “Com isso, o motel nunca tem prejuízo”, explica Regiane, com sorriso no rosto.
Luxo e emoção são combinações perfeitas para momentos intensos KEYLLA NAZARÉ KEYLLA NAZARÉ
Zena é uma funcionária que já tem uma longa vivência no motel, pois trabalha como recepcionista desde que este foi construído, há 25 anos. Pergunto quais são as vantagens que ela vê em trabalhar nesse lugar. Ela me confirma que gosta, porque os horários são bons, os turnos são de folgas alternadas e tem salário fixo com carteira assinada. Seu turno é de 12h e a folga é 36h, o que faz com que ela possa ter tempo suficiente para realizar outras atividades em sua casa. Pelo menos uma história foi inesquecível para ela nesses 25 anos de serviço. “Parecia mais uma noite normal de trampo. Uma senhora chegou em um carro, pediu a chave de um quarto, entrou e, minutos depois, o segurança que estava de plantão na noite foi na recepção perguntar que barulho era aquele que vinha de um dos quartos”. Zena conta que foi verificar o que estava acontecendo. A senhora do carro estava gritando, totalmente nua, em frente da porta do quarto que o marido estava com outra mulher. “Imagine! O barraco foi grande.
Motéis da cidade de Imperatriz têm um grande investimento para satisfazer seus clientes e lhes proporcionar momentos de prazer e conforto com preços variados, desde o mais simples até o luxuoso
Eu e os meus colegas tivemos que tirar a amante do cliente por dentro do motel enquanto ele tentava
acalmar sua esposa”. Zena confessa que, na hora, “bateu” um desespero, “Naquele
momento me coloquei no lugar da esposa traída. Afinal de contas ninguém gosta de uma traição.
Mas agora eu conto como uma história muita engraçada de todas que já presenciei”.
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ENTREVISTA Advogada e professora Anne Harlle Lima da Silva
Trabalho noturno pode ocasionar danos Quando se fala em Direito Trabalhista logo associamos ao salário, décimo terceiro e férias mas poucos procuram saber de fato seus reais benfícios.
Principalmente para quem trabalha à noite, questões como o adicional noturno, insalubridade, hora extra, entre outros, interessam bastante.
Com o objetivo de esclarecer algumas de nossas dúvidas mais frequentes convidamos a advogada e professora Anne Harlle Lima da Silva, especialista em Direito do
Trabalho e Direito Processual do Trabalho pela Universidade para Desenvolvimento da Região do Pantanal – (Uniderp, Rede de Ensino Luis Flavio Gomes). DAYANE SOUSA
PEDRO BARJONAS EDYNARA VIEIRA
O que é jornada de trabalho e qual o seu objetivo? É o tempo em que o empregado se coloca à disposição do empregador em virtude de um contrato de trabalho que os vincula. A fixação da jornada de trabalho revela-se de suma importância por vários aspectos. Em primeiro lugar, por meio dela pode ser aferido o salário do trabalhador. Em segundo lugar é essencial para preservar a saúde do trabalhador, pois o trabalho excessivo é gerador de doenças profissionais e acidentes de trabalho.
Quanto à empregada noturna gestante, seu horário de trabalho continua o mesmo? O trabalho noturno da gestante é regido pela regra geral da jornada noturna. Se a jornada de trabalho habitual for diurna, mas excepcionalmente ele foi convocado para exercer o trabalho no período noturno, ele recebe o adicional referente a todo período trabalhado? Recebe normalmente e pelo período laborado no período noturno.
Quanto ao período do dia em que é prestado o serviço, existe uma diferenciação aos que trabalham durante o dia e à noite? A Constituição Federal fixa em seu art. 7º, IX um adicional, denominado adicional noturno para pessoas que laboram a noite.
O trabalhador noturno tem direito ao intervalo para o descanso como trabalhador diurno? A mesma regra se aplica aos dois? Embora a hora noturna seja reduzida, o intervalo intrajornada realizado durante o trabalho noturno não sofre qualquer alteração. Ou seja, se a jornada for superior a seis horas, o intervalo para o repouso e alimentação
tação Jurisprudencial-97- SDI1 - o adicional noturno integra a base de cálculo das horas extras prestadas no período noturno. A idade minima de admissão para prestação de trabalho é com 16 anos desde que siga algumas condições especiais. Existe a possibilidade deste maior de 16 e menor de 18 se tornar um trabalhador noturno nessa idade? A idade mínima de admissão para prestação de trabalho é com 16 anos, desde de que siga algumas condições especiais.
Quanto à duração, como se classifica essa jornada e por quê ela é dividida? A Constituição Federal fixou a jornada diária em 8 horas, e a semanal em 44, facultando a compensação de horários ou a redução mediante acordo ou convenção coletiva. Divide-se para evitar trabalhos excessivos em cargas horárias que extrapolem a legal.
No campo as pessoas costumam acordar mais cedo para sua jornada de trabalho, diferente de quem trabalha na área urbana. Como a justiça do trabalho vê isso? Com relação aos trabalhadores rurais, a legislação trabalhista, bem com a Carta Magna protege. O art. 7º, caput da Constituição Federal e parágrafo único da Lei 5.889/73, fixam um adicional noturno ao trabalhador rural de 25%, sendo que o trabalhador urbano é de apenas 20%. É considerada hora noturna ao trabalhador da lavoura das 21h às 5h e a hora do trabalhador rural de pecuária das 20h às 4h.
Nesta entrevista ela explica os principais direitos e deveres dos trabalhadores que, por trabalharem à noite, contam com diferenciais no mecanismo legal.
Qual o período máximo ininterrupto que um trabalhador noturno pode trabalhar legalmente falando? Conforme preceitua o art. 7, XIV da Constituição Federal uma jornada de 6 horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva. será de, no mínimo, uma hora. O que se deve entender como adicional noturno? Adicional noturno é a importância que se acresce à remuneração do empregado que realiza trabalho noturno. A razão deste adicional é compensar o natural desgaste físico maior do trabalhador, em horário normalmente destinado ao repouso. Os trabalhadores noturnos são regidos por lei especial? São regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e pela Constituição Federal. O que é adicional de insalubridade? É uma importância que se acresce à remuneração de trabalhadores que laboram em atividades ou operações insalubres. As atividades insalubres são aquelas que, por sua natureza,
condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição a seus efeitos.
“É inquestionável que o trabalho noturno traz danos ao trabalhador, seja na esfera familiar, social, como na sua própria saúde” Quem trabalha à noite tem o direito a esse adicional? Em que situação o trabalhador noturno tem direito a esse adicional de insalubridade? Todos os trabalhadores que laboram em atividades ou operações insalubres tem direito. No entanto, a insalubridade
será eliminada ou neutralizada com a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância e o fornecimento de equipamento de proteção individual. O trabalhador noturno pode fazer hora extra? A hora normal tem a duração de 60 (sessenta) minutos e a hora noturna, por disposição legal, nas atividades urbanas, é computada como sendo de 52 minutos e 30 segundos. Ou seja, cada hora noturna sofre a redução de 7 minutos e 30 segundos ou ainda 12,5% sobre o valor da hora diurna. Sendo assim, jornadas superiores a esta, são computadas como hora extra. O adicional noturno integra a base de calculo das horas extras prestadas no período noturno? Conforme estabelece a orien-
Como a Justiça do Trabalho vê a necessidade de sono e as necessidades humanas básicas do trabalhador noturno? O trabalho noturno é fruto da necessidade de produção e funcionamento contínuo de nossa sociedade. O turno de trabalho noturno de 8 ou 12 horas é aceito legalmente e ocorre em todo o mundo industrializado. E para senhora qual impacto esse trabalho noturno pode causar na vida social e familiar do empregado? É inquestionável que o trabalho noturno traz danos ao trabalhador, seja na esfera familiar, social, como na sua própria saúde. No entanto, nos dias atuais, ele torna-se inevitável. Necessário é que se conceda um mínimo de condições para que este trabalhador tenha um ambiente saudável e que o empregador respeite a jornada preceituada na legislação, evitando jornadas extraordinárias.
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BATALHA Francisco Jonas enfrenta, toda noite, os perigos das ruas da cidade. Ele é responsável pela publicidade, por meio de faixas, de mais de 70 empresas
Ofício de colocar faixas veio de família MÔNICA BRANDÃO MÔNICA BRANDÃO
Quarta-feira chuvosa. A semana toda foi assim. O administrador de empresas Jan Ricardo está impaciente na frente do computador. “Essa arte está demorando muito pra ficar pronta. Temos pressa! Ainda teremos que esperar a gráfica, a chuva passar e o Jonas ter tempo para colocar as faixas”. De fato foi um desafio. Três dias tentando. “Alô! Jonas, devo pegar o material hoje. Você pode vir buscar? Ok, ok, eu espero, mas faça um esforço. Precisamos delas nas ruas o mais rápido possível. Aguardo!” É o fim de mais uma tentativa frustrada de conseguir a valiosa prestação de serviço. Mas, no dia seguinte, eis que vem a oportunidade. O homem super tímido, jovem, mas com algumas marcas no rosto deixadas pelas noites sem dormir, chega. Vestido em uma camisa laranja, um short azul, que estavam encharcados pela chuva que ainda caía, e calçado em um chinelo, com um capacete na mão. “Seu Jean está aí?”, procurou por Jan Ricardo. “Oi, Jonas, as faixas estão aqui. Coloque todas nos locais habituais e o mais rápido possível!”. O colocador de faixas e o administrador fecharam mais um acordo. E lá foi Francisco Jonas Ribeiro de Menezes iniciar mais uma noite de trabalho. O serviço é complicado. Sobe no poste, tira a faixa antiga, desce, pega a nova e coloca no lugar. A mesma atividade é feita em média 20 vezes por noite. História – O colocador de faixas
Em uma noite chuvosa, ele recolheu o material de trabalho e partiu para as ruas de Imperatriz. Jonas quer dar uma boa vida aos filhos. “Eu gosto do meu trabalho. É o que eu sei fazer”, diz
tem 35 anos e há 21 presta o serviço. O trabalho vem de berço, o pai de Jonas sustentou a família durante muitos anos com o dinheiro conseguido com colocação de faixas publicitárias. O filho logo entrou no ramo. Os estudos ficaram de lado, mas, disto, ele prefere não comentar muito. “Eu comecei com as faixas do Paraíba, aí depois peguei mais em-
presas”. Agora já são mais de 70, dos mais variados ramos, desde publicidade para casas de shows ao anúncio de cultos evangélicos. Jonas é casado e tem três filhos. “Tem noite que eu saio e só volto no outro dia. Minha mulher já acostumou. Às vezes levo os minino, mas é difícil porque eles estuda”. Ele incentiva a educação dos filhos.
Mesmo dormindo pouco, o serviço continua durante o dia. Jonas paga as taxas municipais, cobradas para a colocação dos anúncios, e verifica se está tudo certo com a estrutura das faixas. Isso é feito de manhã e à tarde. “Se o cliente quiser, ele me dá o dinheiro e eu pago tudo. Não gosto de ficar dormindo o dia todo”.
E Jonas é mesmo de confiança “Faz tempo que conheço o trabalho dele. Sempre foi honesto”, elogia Jan Ricardo que, há pelo menos 12 anos conhece o serviço de Jonas. “Eu gosto do meu trabalho. É o que sei fazer”, confessou, com voz e cabeça baixas, não por vergonha, mas pela timidez, que é uma das suas características.
Ser frentista a noite em Imperatriz é mais confortável pelo clima RÔMULO FERNANDES ANA CARLA RIO
Estava frio, o vento começava soprar. Decerto, uma mudança no tempo. O frio passava por eles agora. Olhou para o lado surpreso, poucas estrelas no céu, que naquele instante tinha outra coloração: estava vermelho, sinal de muita chuva. O frentista Claudemir Rodrigues, casado, dois filhos, 39 anos, é um dos trabalhadores noturnos do Posto Avenida. “Essa é uma profissão tranquila a noite, pois é mais frio. De dia o sol castiga demais. Não acho perigoso, nunca aconteceu nada comigo. Aqui me sinto como se estivesse na festa. Tem a loja de conveniência e fica bastante gente bebendo uma cervejinha, ouvindo música”. O ambiente mais parece uma loja de conveniência que tem um posto de gasolina. As luzes são intensas, coloridas. Ao longe se avistam as bebidas. Elas também tem cores vibrantes, chamam atenção de quem passa. Em dias de chuva tem whisky na promoção.“Vejo de tudo, de mulher nua a cara mostrando as partes. Penso ser o efeito da bebida. Muitas vezes o som é alto demais. Depois que tudo quanto é festa acaba, todos os bêbados da cidade resolvem perturbar nosso sossego”, conta o frentista Pedro Jefferson Gomes de Oliveira, 30 anos, que está na profissão há oito anos.
Muitos trabalhadores noturnos dos postos ultrapassam os limites de horário permitido por lei e desconhecem os seus direitos trabalhistas
“Boa noite. Irmãozinho, abre aí meu peixe. E aí, como que é? 20 reais aí, o de sempre pô”. Manoel Roberto Cardoso, 34 anos, trabalha há seis anos como frentista e comenta que gosta da profissão, pois, traba-
lha um dia sim e outro não. Acrescenta que a quantidade de clientes diminui a noite. Ele sente falta da presença de uma loja de conveniência, pois tudo fica muito deserto e as chan-
ces de assalto são maiores. “O chato de trabalhar a noite é que, quando você está quase descansando, chega um cliente e diz: Coloca dois reais, e ainda reclama do preço. Às vezes tô cochilando e acordo pra
colocar um real, já aconteceu várias vezes. E o medo de passar os centavos? Quando é pouco sempre passa”, conta, com uma risada larga. “Quem trabalha de dia tem que estar aqui todos os dias. De noite não, é um dia sim e outro não”, informa o frentista Josiel Pereira da Silva Roma, 29 anos, casado. Ele conta que gosta de trabalhar a noite porque ganha mais. A Constituição Federal, no seu artigo 7º, inciso IX, estabelece que são direitos dos trabalhadores, além de outros, remuneração do trabalho noturno superior à do diurno. A hora normal tem a duração de 60 minutos e a hora noturna, por disposição legal, nas atividades urbanas, é computada como sendo de 52 minutos e 30 segundos. Ou seja, cada hora noturna sofre a redução de sete minutos e 30 segundos. Jornadas de trabalho excedentes a seis horas tem que ser intercaladas por intervalos de, no mínimo, uma hora e, no máximo, duas horas. “Trabalhamos 12 horas direto, não temos intervalo não. O único companheiro é o cafezinho. E outra, se faltar no caixa o patrão desconta”. Os frentistas não sabem ao certo seus direitos, apenas observam que ganham um pouco mais que os trabalhadores diurnos, e sentem-se honrados por isso.
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LIMPEZA Mulheres e homens que trabalham como garis nas noites imperatrizenses contam como é a rotina e a “maratona” de quem limpa as ruas da cidade
“Turno da noite é mais frio e tranquilo” ADRIANO FERREIRA
ADRIANO FERREIRA
Gari Jonas Pereira trabalha de segunda à sábado fazendo uma verdadeira “maratona” para poder dar conta da limpeza ADRIANO FERREIRA
Margaridas são flores delicadas que geralmente abrem seus sorrisos sob a luz do sol durante todo o dia e se deliciam com o orvalho da noite. Roseana Sampaio é de uma espécie mais resistente e de hábitos noturnos, isso porque as mulheres garis são chamadas carinhosamente de “margaridas”. A rotina de trabalho de Roseana inclui sábados, domingos e dias santos. Os horários se estendem de 19h às 2h de uma fria e calada noite em que a “margarida” dança lentamente com suas ferramentas de trabalho: vassoura, lixeira, coturnos, e uma sacolinha que utiliza como guarda
mantimentos, seu lanche. Atrás dela um rastro de limpeza vai ficando. “Faz um ano que estou na empresa. Desde que comecei escolhi o turno da noite. É mais frio e tranquilo”. Fome ela diz que não passa, pois os vigilantes noturnos, donos de lanchonetes e restaurantes sempre dão algo para comer. Antes de iniciar os trabalhos a empresa também disponibiliza uma singela refeição a todos que trabalham à noite. Roseana tem 31 anos e veio morar em Imperatriz por volta dos cinco, quando sua mãe adotiva se mudou de Barra do Corda. Com certa naturalidade e com ar de quem não viveu as doçuras de infância, a flor diz que não conheceu seus pais biológicos, pois muito cedo ela foi entregue aos
Além de trabalhar como gari, Roseaana faz bicos como faxineira durante o dia todo para sustentar os filhos
cuidados de Valdenice Sampaio, que “fez o que podia para criá-la.” O jardim da “margarida” fica a aproximadamente 20 quilômetros do seu local de trabalho, Parque Senharol, e depois de uma rotina de “bicos” – pequenas faxinas que faz durante o dia – ela pedala até a garagem da empresa para de lá ser levada ao trabalho. “Os filhos (três) ficam em casa com uma menina que cuida deles pra mim. Durante o dia eles tem escola”. Roseana é mãe solteira, mas tem namorado e faz questão de avisar logo para os colegas que não gosta de desrespeito: “Quando eu cheguei na firma eu já disse logo que não era mulher de brincadeira. Tem que respeitar!” A “margarida” sonha em ter “uma
casa boa e montar um restaurante”. A coisa que mais gosta de fazer “e faz bem feito”, segundo ela, é comida, “principalmente se tiver companhia”. Apesar da necessidade que gerou a motivação para trabalhar como gari, Roseana diz que é uma rotina dura que prejudica seu corpo, pois “com chuva, com frio, perigoso ou não”, ela tem que deixar limpa uma área cheia de becos e ruelas sombrias, como o Mercadinho, de aproximadamente 2 mil metros quadrados, em quatro horas de trabalho. Correria - Da mesma forma que Roseana, Jonas Pereira já trabalha há quatro anos como gari, “sempre à noite, todos os dias, geralmente até quatro horas da manhã, com folga aos domingos”. Ele diz que o mais di-
fícil “é sair correndo atrás do carro com os sacos de lixo na mão”. Jonas tem 31 anos e gosta de trabalhar como gari. Por causa da pressa do trabalho as respostas curtas e secas vão se apressando mais ainda com a iminência da chuva. “Temos capa de proteção, não podemos parar”. Ele conta também que come na rua quando alguém lhe dá e quando o trabalho acaba. Apesar de não ter físico de atleta, tem fôlego de aço pra suportar a maratona noturna por dentro do bairro Bacuri. Uma distância que vai desde a feirinha do Bacuri até as proximidades do bairro da Caema, sentido rio Tocantins e, sentido Brasília, até as proximidades da saída de Imperatriz.
“Valeu, dotôr“: flanelinha Scoob vive rotina atribulada nas noites RAYNAN PINHEIRO
Eram cerca de 22h quando um homem me chamou a atenção. Ele tinha uma expressão forte, meio ranzinza, mas um olhar que muito me cativou. Em uma das inúmeras casas de shows de Imperatriz, surge o flanelinha Wellyton da Silva, 32 anos, mais conhecido como Scoob – apelido dado pelos amigos de serviço pelo jeito desajeitado como ele anda. “Boa noite, dotôr, pode deixar com nóis que eu olho o carro”, pro-
pôs, apontando para um automóvel modelo New City na cor preta, de onde saiu um jovem “mauricinho” com um ar de arrogância cuja face era claramente refletida no brilho do seu possante recém-lavado e polido. “Eles são sempre assim”, afirmou Scoob, se referindo ao jovem que saiu sem dizer uma única palavra. “Eu sempre quis estudar, sempre tentei dar o melhor para os meus filhos e sei que o melhor que eu posso deixar pra eles é o estudo”. O homem a minha frente, que até agora
pouco parecia ser o ser humano mais ranzinza da Terra, mudou totalmente sua expressão, assumindo uma posição mais desarmada. “Fui obrigado pela minha mãe a largar os estudos e ter que trabalhar no garimpo. Olha que eu só tinha 11 anos e era responsável por uma família, já que fui criado sem um pai”. Scoob trabalha como flanelinha há mais de sete anos e já passou por muitas situações, desde ser assaltado até ser confundido com um bandido. “Foi com o dinheiro que ganho
sendo flanelinha que comprei o primeiro buquê de rosas para minha esposa no dia do nosso aniversário de casamento”. Wellyton muda de assunto como se as situações e os perigos que está sujeito todas as noites não o preocupassem. Tento voltar ao assunto sobre o assalto que ele sofreu e sou interrompido rapidamente: “Prefiro sair de casa com a sensação de que pela manhã eu ainda possa beijar e dizer bom dia para minha esposa e meus filhos”. Agora sei por que os olhos daquele humilde flanelinha me cha-
maram tanta atenção: por fora um homem rígido e firme, enquanto seus olhos, cuja infância foi roubada pela responsabilidade de manter uma família, ainda conservam os mesmos medos e inocência de quando tinha 11 anos. “Eu gosto do que faço”, diz com firmeza, caminhando em direção a outro carro que estacionava. “Valeu, dotôr”, encerra nossa conversa, me fazendo pensar que enquanto metade da cidade dorme ainda tem muita gente lutando pelo pão de cada dia.
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ALIMENTAÇÃO De domingo à domingo, os churrasqueiros da noite seguem sua rotina “religiosa” para oferecer ao imperatrizense o espetinho que complementa o jantar
Espetinho vira “pão nosso” de cada noite
HILTON MARCOS FERREIRA
Vendedores de espetinho estão presentes em todos os bairros de Imperatriz, oferecendo um cardápio composto por carne bovina, suína, aves e linguiça. Vizinhos e universitários formam a clientela fiel desses trabalhadores noturnos HILTON MARCOS FERREIRA
Quando cai a noite em Imperatriz, os Dog’s da Praça de Fátima e a panelada das Quatro Bocas levam vantagem na atenção das pessoas no quesito alimentação. Afinal, todos sabem que poderão encontrar esses estabelecimentos abertos até o raiar do dia. Mas, nas horas pioneiras da noite é o vendedor de espetinho
que faz a diferença. Presentes em quase todos os bairros, esses trabalhadores possuem o perfil de Maria do Socorro Barbosa, 58 anos. Cinco deles dedicado à arte de assar churrasquinhos e oferecer como acompanhamento um prato com arroz, um “punhado” de farinha amarela, dois pedaços de macaxeira cozida, salada de tomate e pepino e a metade de um limão.
Os churrasqueiros atendem uma clientela que é basicamente formada pelos moradores vizinhos, estudantes universitários e trabalhadores livres, de passagem por Imperatriz. Dona Socorro conhece essa realidade: “Meu filho também vive assim, ele trabalha em uma firma e mora atualmente em Campo Grande (MS). Come todos os dias fora, num espetinho lá per-
to da casa dele”. José Silva, 54 anos, também compartilha esse modo de vida. Vizinho de Socorro, todas as noites está por lá. A rotina de Socorro começa às 10h, quando começa a cortar e a temperar as carnes e, pouco antes das 19 horas, pré-assar os espetos para deixar todos “no ponto”. Depois de postos na churrasqueira, demora no máximo dez minutos para servir. O prato cus-
ta em média de R$ 7. “O bom do espetinho é que ele é barato, rápido e sempre tem um perto de casa”, afirma Alan Ribeiro, 17 anos, um dos fregueses que recorrem aos serviços de Socorro. Todos os dias, de domingo a domingo, Socorro e outras dezenas de vendedores de espeto seguem a sua rotina religiosa para oferecer ao povo de Imperatriz o “pão” nosso de cada noite.
Dedicação à arte de servir caracteriza vida de garçom em Imperatriz AMANDA OLIVEIRA
O relógio marca 19h. Pontual, João Marcos Silva Sousa, 29 anos, chega para iniciar seu turno, que só terminará às 7h do dia seguinte, em um bar no centro da cidade. “Com o fim de semana se aproximando a noite promete”, anuncia, com um largo sorriso. Próximo dali, em um restaurante na rua Barão do Rio Branco, Artur Carlos Santos, 22 anos, já iniciara há duas horas seu expediente, que seguirá até 1 hora da madrugada. “Eu gosto de ser garçom, pois o serviço não é pesado. Eu já atuei em outros ramos, como vendedor externo e secretário, mas o salário era muito baixo”, conta Artur, que está no ramo há quatro anos. “Eu trabalhava como segurança pessoal e patrimonial, é a área que sou capacitado. Trabalho como garçom há pouco tempo. Estou tendo essa experiência por questões financeiras. Fui obrigado”, desabafa João Marcos, agora, sem o sorriso no rosto. O telefone toca. Muito educado, ele dá informações para o cliente do outro lado da linha. Durante a conversa, pessoas entravam e saíam do bar. Uns pegavam uma cerveja e sentavam, outros partiam rapidamente, sem nada consumir. O olhar do ex-segurança não parava quieto, parecia procurar algo.
Talvez uma mão estendida em alguma mesa ou será mesmo a força do hábito adquirido em sua antiga profissão? Mas é Artur que explica o motivo de tanta atenção. “Se acontece algo que é de minha responsabilidade, como por exemplo, calcular a conta do cliente errada, eu tenho que arcar com o prejuízo. Descontam do meu bolso”. João Marcos conta que em uma noite de bastante movimento, ele chega a atender 500 pessoas. “Por ser apenas um garçom por turno, eu preciso ser bastante dedicado para dar conta do serviço”. Já Artur atende, em média, 150 clientes em noites de muito movimento no restaurante. Apesar de ter expectativas de voltar a trabalhar como segurança, João Marcos garante que o salário de garçom é suficiente para sustentar a esposa e suas duas filhas. “Aqui não é carteira assinada, mas o proprietário é muito gente boa. Sempre que preciso, ele me dá alguma gratificação”. Artur mora com os pais, mas trabalha para ter sua independência financeira. Ele conta, orgulhoso, que trabalhando como garçom já comprou sua moto e está fazendo suas economias para pagar o tão sonhado curso de psicologia, que ele espera ser ofertado em breve por alguma das faculdades existentes em Imperatriz.
AMANDA OLIVEIRA
Em Imperatriz, trabalho de garçom consiste em servir os clientes, fazer cálculos, fechar a conta e ouvir atentamente as suas aventuras e desventuras