Arrocha - Vida de Artista

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MARÇO DE 2013. ANO III. NÚMERO 19

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA

Arrocha

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ BRUNA VIVEIROS

Vida de artista


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2 EDITORIAL - VOCAÇÃO PARA A ARTE “E o tal ditado como é/festa acabada/músicos a pé”, brinca o compositor Chico Buarque no refrão da música “Cantando no toró”. A crítica é por conta da visão que muitos ainda têm na sociedade a respeito do ofício de artista. Nesta edição do Jornal Arrocha os acadêmicos de Jornalismo da UFMA de Imperatriz buscaram representar, resgatando histórias de vida, um pouco do que é viver de arte na segunda maior cidade do Maranhão. O leitor vai encontrar o depoimento emocionante de amor à arte nas palavras do artista Ton Neves, que abrilhanta a nossa capa. As visões conflitantes entre o representante do poder público e um intelectual na página de entrevistas. O universo do hip hop dos bairros,

ANO III. NÚMERO 19 IMPERATRIZ, MARÇO DE 2013

CHARGE RHAYSA NOVAKOSKI

louco para se expandir. A galera que prega um circo mais social e humanizador. Escritores, promotores culturais de todas as épocas, representantes do cinema, da fotografia e outras tantas manifestações artísticas. Como já ficou claro na edição sobre formação cultural, Imperatriz é uma cidade com múltiplas influências, o que confere a possibilidade dos seus agentes culturais lidarem com referências variadas. Vamos conhecer a vida dos artistas? Arrocha: É uma expressão típica da região tocantina e também um ritmo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.

Ensaio Fotográfico BRUNA VIVEIROS

WALISON REIS

SARON ALENCAR

BRUNA VIVEIROS

EXPEDIENTE Jornal Arrocha. Ano III. Número 19. Março de 2013 Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da universidade.

Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor Prótempore do campus de Imperatriz - Prof. Dr. Marcelo Soares dos Santos | Coordenadora do Curso de Jornalismo - Prof. M. Marcelli Alves.

Reportagens: Adriana de Sá, Breno Franco, Bruna Viveiros, Hyana Reis, Maria Felix, Mariana Castro, Mirían Gomes, Paula de Tássia

Professores: M. Alexandre Maciel (Jornalismo Impresso), M. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual), M. Marcus Túlio Lavarda (Fotojornalismo). e Revisão: M. Alexandre Maciel.

Fotografias: Breno Franco, Bruna Viveiros, Mariana Castro, Paula de Tássia, Ramisa Farias, Saron Alencar, Walison Reis

Diagramação: Aessia Reis, Aline Velenca, André Alexandre Costa, Cleiciane Oliveira, Daniel Sena, Daniela Batista, Denise Cristina Salomão, Denise Falcão, Deybion Ribeiro, Deylane da Silva, Dioned de Araújo, Domingos Alves, Francisca Kássia da Silva, Francisco de Sousa Berreza, Giovani Cordeiro, Idayane da Silva, Jackeline Teixeira, Janaina Silva, Jhene Silva de Assis, João Paulo Azevedo, Juliana de Jesus, Juliana Ferreira, Julieli Jasmini Soares, Juscelino Oliveira da Silva, Laudecy Bilio Reis

Maria Marcocine, Mikael de Souza, Natalia Moura, Nilo Pereira, Rebeca Jenifer Viana, Rosiane Feitosa, Saulo Rodrigues, Thiago da Silva, Tuanny Santos, Tyessa Silva Estágiarias: Adriana de Sá, Hyana Reis, Maria Felix Contatos: www.imperatriznoticias.com.br | Fone: (99) 3221-7627 Email: contato@imperatriznoticias.com.br


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MÚSICA Vários estilos musicais estão conquistando cada dia mais um público assíduo em suas apresentações na cidade de Imperatriz e também em João Lisboa SARON ALENCAR

Cruz Gago comanda a seresta em João Lisboa MARIA FELIX

José da Cruz Rodrigues, conhecido no mundo musical como Cruz Gago, ganhou esse apelido por ter uma gagueira que, segundo ele, não dificulta na hora de cantar. Com 42 anos, é uma pessoa feliz, que exibe um sorriso contagiante. Brasileiro do sul do Maranhão, Cruz Gago nasceu em uma família humilde e teve que trabalhar cedo para ajudar os pais. Esse fato não lhe impediu de buscar melhoras na vida. Hoje reside em boa casa, construída no alto de um morro, onde se tem a vista de boa parte da pequena cidade de João Lisboa (MA). Lá, o seresteiro costuma compor suas músicas e descansar das noites de apresentações. Com 24 anos de carreira, Cruz Gago começou a cantar por volta de 1988, em uma antiga casa de festa, chamada Taboca, em João Lisboa. “Eu frequentava o lugar e ficava observando as bandas tocando animadas e foi daí que nasceu o meu gosto pela música’’.

Trajetória - Mesmo passando por

algumas dificuldades, o seresteiro não desanimou. Tentou ser mecânico, passou um ano no Exército, fez curso de formação de cabo, mas logo percebeu que não se identificava com essas funções. “Não me via sem a música, porque eu gosto mesmo é de cantar”. Mas, para conseguir entrar no mundo da música trilhou vários caminhos, cantando em bandas fora da região. Esteve em Porto Nacional, onde se apresentou com grupos conhecidos como Sintonia, Alta Tensão e Degraus. Morou alguns anos em Ribeirão Preto (SP), onde trabalhou com a banda Roda Viva e depois voltou, em 1994, para cantar, pelos próximos oito anos, na banda Sintonia, do Maranhão. Até que formou o Coisa Boa, sua banda atual. O grupo faz sucesso por toda a região tocantina e também no resto do Brasil. Cruz afirma, com boas risadas, que esse conjunto hoje ganhou nome, por tocar canções de ritmos variados. “Costumo cantar músicas do cotidiano. No momento, o que a região prefere é o arrocha, o tecnobrega e o forró’’. Ressalta ainda, que teve de supe-

rar desafios, pois as noites de festa são muito cansativas e estressantes. Em alguns casos nem se recebe o dinheiro e, além disso, o nível de concorrência com outros seresteiros, também famosos, às vezes dificulta a carreira. “Mas, no final, tudo acaba dando certo. Entre o pop e o rock e principalmente as românticas, Cruz Gago agrada o público nos bailes e festas, sempre iniciando suas apresentações com a música “Deus” dos Fevers. Garante que a canção é uma espécie de talismã. Geralmente, costuma interpretar músicas brasileiras e internacionais, porém as mais solicitadas são as românticas. “As pessoas gostam de pedir ‘Meiga Senhorita’ de Zé Geraldo, músicas do Fagner, e o próprio arrocha é muito pedido. Enfim...Tocamos de acordo com gosto popular’’.

Sucesso - Sua carreira deu uma guinada quando compôs a música “Tentei te Esquecer”, que se tornou seu maior sucesso, regravada por vários cantores famosos como Mato Grosso e Matias, Leonardo e César Menotti e Fabiano. “Foi muito tocada e

José Rodrigues, o Cruz Gago, em sua casa, onde ele busca inspiração para compor suas músicas

fez as pessoas cantarem. Foi então o momento mais gratificante da minha carreira’’. Com esse sucesso, o grupo Coisa Boa aumentou os seus contratos e passou a abrir shows, sendo reconhecido fora da região. Cruz destaca que gostaria de ter

a oportunidade de estudar. Um dos seus sonhos é se tornar um repórter correspondente internacional e viajar pelo mundo, mas a música continua sendo a prioridade. “Eu canto porque gosto. A música me dá a sensação de liberdade”.

Melquiades Dissonante: a Mistura de rock e cristianismo vem conquistando um público diferenciado nova identidade do rock HYANA REIS

O som pesado da guitarra, bateria e baixo acompanha a mensagem de fé: “Teu amor me mostrou, Senhor, que ainda posso lutar e ser feliz”. O ritmo é cantado por um rapaz que tem nas mãos, um violão e uma pulseira pendurara com a face de Jesus e Maria e, no peito, uma cruz. A voz é de Alex Araújo, roqueiro católico. Ele é vocalista da Banda Ófeq, (horizonte, em hebraico), que promove uma rara mistura de rock e cristianismo e foi fundada em 2008 por ele e mais três amigos. “Eu tive uma inspiração de Deus, a gente rezou e estamos aí até hoje”. Mas, o amor pela música surgiu muito antes. “Desde que eu ganhei meu primeiro violão com 10 anos, sempre alimentei um sonho de fazer da música mais que um hobby”. Com o passar do tempo, ele notou que para realizar esse sonho, tinha um longo caminho a percorrer. Hoje, com 25 anos, Alex conta que cantar músicas que falem de Deus é a maior dificuldade que enfrenta. “As pessoas acham que música cristã não é legal de se ouvir”. Ser católico dificulta ainda mais, pois a música de sua igreja é associada a um “som mais tradicional” e ao fazer algo diferente, como o rock, “as pessoas tem a tendência de imaginar que você é evangélico”. Mesmo com o preconceito que sofre, Alex é enfático “Eu fui cria-

do na igreja católica, me sinto no dever de respeitar as minhas raízes”. Aos poucos o rock cristão da Ófeq foi conquistando reconhecimento e um público que chegou a ser difícil em outros momentos. “Uma vez tocamos na Assembleia de Deus, que não tem costume de dançar, mas ao nos ouvir eles dançaram e bateram palmas”. Feliz, ele garante que não faz diferença qual a religião: “nossa evangelização não tem limites”. Com a banda Ófeq, Alex Araújo chegou à quinta colocação entre as canções

mais curtidas da Jornada Mundial da Juventude. Foram eleitos revelação católica do Maranhão pela MCC Produções e representaram Imperatriz em um festival de música em São Paulo. Recentemente comemorou mais uma vitória: passou no vestibular e começou a cursar a faculdade de música. Com o que aprenderá pretende se tornar um músico melhor e fazer com que sua mensagem chegue a mais pessoas. “Todo músico quer ter sucesso. Mas não confundo sucesso com fama. Para mim, sucesso é tocar alguém com a nossa canção”. SARON ALENCAR

ADRIANA DE SÁ

Imperatriz possui várias bandas com estilos musicais diferentes que vão do sertanejo universitário ao rock. Quem se lembra da extinta banda Projeto B? Para quem se recorda a banda ainda existe, só que agora se chama Melquíades Dissonante. “O nome da banda foi escolhido em alusão a um dos personagens de Gabriel Garcia Marquez no épico livro ‘100 anos de solidão’, explica o guitarrista e vocalista Anderson Lima. A primeira apresentação da banda foi em uma calourada na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), festa que acontece a cada nova turma que adentra na universidade. “Tudo começou como uma brincadeira, que foi se tornando cada vez mais frequente. As pessoas fo-

ram gostando e hoje a banda está tocando em vários pontos da cidade’’. Começaram a se apresentar no extinto Boteco do Frei como Projeto B e hoje tocam em vários outros locais, como República Bistrô e Birosca da Madre, já com o novo nome. O público da banda consiste de universitários, adolescentes e até os mais velhos, pelo fato do grupo apresentar novas roupagens para antigas canções. O Melquiades Dissonante foge do estilo rotulado, colocando sua própria identidade a cada apresentação, dando ao público o prazer de ouvi-los com uma interpretação única. O repertório é executado pelos integrantes, Alexandre Ribeiro no baixo, Sergio Vantuller na bateria, e por Anderson Lima na guitarra e no vocal. A banda foi formada com a intenção de explorar um estilo musical diferenciado e de qualidade, introduzindo a identidade musical do rock. SARON ALENCAR

Alex Araújo é vocalista e guitarrista da Banda Ófeq, que toca músicas cristãs em ritmo de rock

Banda Melquiades Dissonante em uma apresentação: introduzindo uma nova identidade musical


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TEATRO Diretor de teatro Rogério Benício desde criança acreditava no poder da interpretação. Hoje as comédias do seu grupo lotam o Teatro Ferreira Gullar

“Okazajo é uma parte de mim”, diz Rogério BRUNA VIVEIROS

Antes da formação de sua companhia de teatro na cidade, a realidade era outra. As pessoas, até então, ainda acreditavam que teatro era ambiente de gente rica, que a cultura nunca seria discutida nas esquinas e que não havia muito motivo para rir. Dirigido por Rogério Benicio, 27 anos, o Okasajo é a mais conhecida companhia de teatro de Imperatriz (MA). Trouxe novos hábitos ao público, assim como risos, devido ao humor irreverente dos seus espetáculos. Desde a infância, Rogério percebeu que representar era a sua arte. “Minha mãe ficava assistindo as novelas e eu decorava o texto facilmente, gostava de ficar interpretando o que via”. Daí em diante começou a

escrever sua própria novela. “Acho que tinha uns 10 ou 11 anos de idade”. Logo percebeu, também, a aptidão para escrever roteiros. Sua primeira peça foi para o grupo de oração da igreja, na qual fez o papel do arcanjo Gabriel. Escrevia as peças da escola, e com elas ganhou pequenas premiações. Atualmente a recompensa de Rogério é receber o Teatro Ferreira Gullar lotado, com quase 240 pessoas enfrentando filas que chegam a virar a esquina, para ver o seu talento e de seus amigos no palco. Como as pessoas costumam comprar os ingressos antecipadamente, as sessões lotam antes da estreia, e quem deixa para levar o ingresso na hora, certamente, não conseguirá compartilhar do riso. Mas, nem tudo sempre foram flores. “Tinha que pagar a pauta do

teatro, pagar figurino e muitas vezes eu tive que tirar do meu salário pra poder realizar isso”. Sem o apoio da mãe, ele teve que enfrentar não só a ela, mas também o baixíssimo incentivo cultural que a cidade proporciona. “Pra mim cultura não é só fazer carnaval e São João, é primeiramente valorizar o artista”, conta, sempre expressivo e gesticulando. “Acho que a maior dificuldade pra os artistas é não ter um apoio público. Às vezes as pessoas veem o teatro lotado e acham que você tá ganhando rios do dinheiro. Mas na verdade é como se você nem existisse no cenário cultural”. Rogério já recebeu propostas irrecusáveis para sair de Imperatriz, e até do estado. Questiono porque então o artista resume sua atuação à realidade cultural da cidade. “Até

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Rogério Benicio até imagina fazer trabalhos fora de Imperatriz, mas jamais sem o Okazajo

me imagino fazendo trabalhos fora daqui, mas jamais sem o Okazajo. É uma parte de mim”. Com oito anos de direção e 16 espetáculos no currículo, Rogério re-

vela que não se vê como um artista famoso, mas, sim, realizado. “Meu sonho é chegar a um Teatro Municipal de uma grande cidade. E escrever um filme”.

Jornada tripla dificulta Atendente de fast food impressiona o sonho de ser bailarina com atuação no palco do Ferreira Gullar BRUNA VIVEIROS

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Desafio e a força constante na dança clássica ensinaram Fally Lima a superar os desafios diários BRUNA VIVEIROS

Com collant e meia-calça escondidos pelas vestes de trabalho, Fally Lima, 22 anos, começa sua turbulenta rotina. Trabalha oito horas por dia, vai do trabalho ao balé e depois segue para a universidade. “Eu não paro, minha vida é muito corrida”, é assim que ela, rapidamente, resume seu cotidiano. Por conta da desvalorização da dança clássica no cenário nacional, os bailarinos geralmente tem que deixar sua arte em segundo plano para se subsidiar. Assim, acabam tendo de entrar na faculdade a procura de uma carreira profissional e em busca de um emprego para garantir o sustento. Ela já pensou em deixar o trabalho para se dedicar à carreira artística e aos estudos. “Mas a primeira coisa que eu penso é: como eu vou pagar o balé? Os planos param logo por aí”. E continua: “Produtos de balé são muito caros. Sapatilha de ponta, collant, meia... Você precisa de

dinheiro pra essas coisas e tem que tirar de algum lugar”. Fally entrou na dança por questões de saúde, mas hoje é uma paixão irremediável. Na dança ela encontra a “válvula de escape” para os problemas. “Não existe outro lugar no mundo que me faça sentir tão bem quanto me sinto no balé”, esclarece, entre sinceros sorrisos, ao falar de sua arte. A estudante de contabilidade está no último semestre do curso e já adiou a monografia, pois não consegue se afastar da dança. Por causa da vida artística atribulada, sente dificuldade de cumprir as metas de estudo. “No balé você aprende a ser mais forte, paciente, e entende que cada passo é um passo, cada dia é uma nova meta”. Como uma pessoa que tem desafios constantes em seu cotidiano, Fally diz que a dança lhe disciplinou a gostar de driblar os obstáculos. E ainda ressalva: “A questão é que se fossemos mais incentivados e tivéssemos oportunidades, não seria necessário viver essa jornada para poder fazer cultura”.

Desde o ensino médio, nas aulas de literatura, Ricardo Freitas percebia o talento para a arte do teatro. Fica feliz com o apoio da família BRUNA VIVEIROS

Seu cotidiano varia entre batatas fritas, hambúrgueres e bacon. O jovem rapaz atendente de fast food tem uma paixão que poucos ainda conhecem. Ricardo Freitas, 20 anos, sobe nos palcos quando não está em seu trabalho. Poucos imaginam que debaixo das listras vermelhas e calça azul existe um rapaz determinado a conquistar seus sonhos e os de sua companhia de teatro. Tudo começou no ensino médio, quando a matéria de literatura lhe fez despertar o interesse pela interpretação dos personagens de livros. Os alunos representavam romances, dramas e comédias. Dentre eles estava Ricardo, que fez três peças nesse período. Depois do ensino médio resolveu procurar grupos de teatro que pudessem lhe ajudar a conquistar esse sonho. Conheceu a Cia. Repes de Teatro, onde ficou por um ano. Atualmente na Cia de Teatro ArtBack, de

Imperatriz (MA), ele e seus amigos estão há um ano em busca da conquista de público. “A gente pretende ir conquistando o sucesso na medida do possível, quem sabe um dia até saímos do Maranhão. Começamos muito bem, o nosso público infantil nos ajudou muito”. Ele explica que o grupo sempre fez humor para crianças. “Tentamos fazer uma comédia adulta, mas

“Eu fiquei emocionado quando apresentei o Cabaret” acabamos errando. Acho que o pessoal não conhecia bem a nossa forma de trabalho”. Diferente de muitos artistas, a família de Ricardo o incentiva bastante. Sempre estão nos espetáculos e acreditam nas conquistas do ator. Ele conta que isso o ajuda muito a

seguir em frente, pois nas peças é só abrir a boca e os familiares gritam, assoviam e riem de tudo o que faz. Na maioria das vezes, a plateia não entende porque tantos gritos, mas são apenas seus parentes apreciando o que ele ama fazer. “Eu fiquei muito emocionado, quando apresentei o Cabaret. Tive que me vestir de mulher e quando entrei, ao invés de me criticar, minha família riu bastante. Só minha mãe que ficou estranha no início e pensei, ‘meu Deus do Céu, eu vou apanhar’!”. Entre muitos gracejos ele continua: “Depois ela entendeu e deu várias gargalhadas, no fim ficou tudo bem”. Atualmente, além de ator, é diretor de finanças da ArtBack, e sente de perto as dificuldades de recursos para os espetáculos. Ricardo relata que apesar da motivação de alguns patrocinadores e da sua família, o incentivo que realmente está em falta é o da cultura local, pois não adianta a busca pela profissionalização se o reconhecimento é tardio.


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ARTE Artista plástico era lutador antes de iniciar no mundo da pintura. Para ele, fazer telas é indescritível, pois mexe com a sensibilidade do mundo ao redor

O conhecimento autodidata de Ton Neves BRUNA VIVEIROS

José Antônio Neves da Silva, 49 anos, é como um filósofo da arte e da vida. Ton Neves é pintor e hoje um dos mais reconhecidos artistas da região. Nascido em Pedreiras (MA), veio para Imperatriz em 1969. Há 44 anos, a cidade cultivava um homem de sensibilidade no olhar, na fala e especialmente nas mãos. Com clareza, desvelou o seu conhecimento autodidata. “O meu estudo em Belas Artes foi pegar uma caneta, um caderno e anotar o tom que cada cor dava. Fazia e refazia até encontrar a mistura e o contorno certo”. Desde criança adorava rabiscar tudo, sempre acreditando no poder que as cores possuem. Não sabe bem ao certo quantas telas já fez, mas contabiliza uma média de 1,2 mil registradas na memória, sendo que algumas têm lugar especial. Ton leva de oito horas a dois meses para finalizar suas obras, produzidas no ateliê que fica no fundo do seu quintal. Já expôs em diversos lugares, inclusive na Europa, mas não pôde estar lá, pois leva uma vida muito simples, junto com a sua esposa, quatro filhos e netos. Hoje é colaborador na Fundação Cultural de Imperatriz e sente de perto as limitações de apoio à cultura regional. “Subsistir como artista num mundo escasso de material, incentivo e escolas é difícil. Meus grandes mestres são as páginas dos livros”.

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Para o pintor, seu trabalho mais complexo foi uma tela em miniatura. Com o tamanho de 5x3 centímetros, ela é sua obra-prima. Pintou uma paisagem completa com uma lupa e fiapos de pincel. Ele confessa que prefere colorir um quarteirão inteiro a um quadro minúsculo.

Sensibilidade- Ton vê na arte uma maneira única de ensinamento sobre a existência. “A arte tem que se transformar em hábito na vida das pessoas. Assim elas podem ter mais sensibilidade como ser humano”, conta, em expressões sempre calmas, com o olhar fixo e um leve sorriso de canto. Seu estilo hoje permeia entre barroco, classicismo e impressionismo. Atualmente está investindo na aprendizagem do hiper-realismo, expressado em uma tigela de cajus repousados perfeitamente na tela da parede. Com um semblante de quem sempre tem muito que dizer, ele explica que, em sua ótica, a pintura é uma das formas das pessoas verem a alma das coisas de modo mais direto. “É a qualidade máxima da aplicação de qualquer coisa na vida”, define, sintetizando o que mais o fascina na sua paixão pelas artes plásticas’’. Pelo quadro pendurado na entrada de sua casa, que exibe um franzino senhor do sertão, vê-se o quanto Ton é regionalista. Ele ex-

Ton Neves já expôs em diversos lugares, inclusive na Europa, mas não pôde estar lá. Sua vida é muito simples com a esposa, filhos e netos

plica que detesta qualquer tipo de opressão e, em sua visão, a escravidão foi o pior tipo de prática desse desrespeito. Por esse motivo suas telas mais famosas retratam o homem sertanejo, o índio e o negro. “Hoje eu sinto mais as dores dos outros, compreendi a dor da fome sem nunca ter passado por

ela na vida. Se a maçã é vermelha, eu dou o vermelho que ela pede. Não tenho vontade própria, sou feito pelo que sinto ao meu redor, isso é pintar”. Expressivo, ele conta como se a fome lhe perturbasse no momento e como se analisasse uma maçã em suas mãos.

Ton já foi professor de artes marciais, mas, sua atual arte exige sensibilidade nas mãos. “Lutar era divertido, mas pintar é indescritível. Gosto de amar, de tratar bem as pessoas, sou um incentivador. Gosto de ver as pessoas alcançando seus objetivos, pois quando eu não desisti consegui sempre”.

Desenhista gostaria de ter o seu talento mais reconhecido na cidade BRUNA VIVEIROS BRUNA VIVEIROS

Edney sempre teve influência do pai e do padrinho Ton Neves, que despertou seu gosto pela arte

Seu pai lhe criou e educou em meio ao lápis, papel e tintas e o seu padrinho de batismo é o pintor Ton Neves. Cresceu entre artistas e teve influências da pintura muito fortes em sua vida. “Minha paixão por desenho era tão grande, que quando eu era criança, eu não gostava de brinquedo não. O que pedia pra minha mãe era caderno de desenho, tinta guache, essas coisas”, conta ele, com toda sua simplicidade e simpatia. Pouco conhecido pelos próprios imperatrizenses, mas com quadros na Suíça e Amsterdã, o rapaz de 31 anos, que tem como paixão as cores, chama-se Edney Areia. O desenhista e pintor mora em um bairro afastado e com sinais de abandono do poder público. Como muitos artistas, a falta de

mais recursos financeiros acontece devido à desvalorização do trabalho. Edney conta que tem de realizar prestação de serviços para empresas e só assim é possível tirar renda para cuidar da família e comprar o seu material artístico. “As pessoas poderiam admirar mais a arte, seria muito bom que elas se fizessem mais presentes em exposições. Não é somente comprar, é poder conhecer a arte também”. Para ele, a arte deve ser sentida, e, às vezes, entendida. O apadrinhamento de Ton Neves o ajudou não só em experiência, mas também a levar o gosto pelos pincéis a frente. Ton lhe presenteia, sempre que possível, com material artístico. “Você vê essa tela aqui?”, aponta pra trás de si, e exibe o grande quadro ainda em branco. “Foi o ele que me deu. Não seria possível eu tirar o ali-

mento da minha família pra comprar uma dessas, por exemplo”. Então passa a observar o quadro que fez de sua filha e esposa, ambas com sorrisos de encher o rosto. Edney acredita que muito dessa realidade, se deva também à era digital. Já aconteceu de um quadro do artista ser encomendado e no momento do acerto o cliente desistir, preferindo fazer a impressão da imagem. “À mão você leva dias e dias em um trabalho, e no meio digital são minutos. Não tem como ser o mesmo valor e nem a mesma beleza”. Ele não sabe explicar o porquê do seu amor pelo papel e pelas telas. Bem pensativo, o que soube dizer foi que “o ser humano é único, cada detalhe seu é importante, e isso deve ser mostrado”. É o que pensa o rapaz que gosta de desenhar os astros internacionais Will Smith e Leonardo di Caprio.

Presidente da Associação de Artesãos de Imperatriz expõe os principais desafios da sua profissão BRUNA VIVEIROS

Em meio a uma reunião de associados, de repente se ouve ao longe: “Mas o que eu disse é que temos que ter força, e temos que ser valorizados”. A voz indignada e contundente que ressoa com eco, no Centro de Artesanato é a de Maria das Graças Oliveira.

Conhecida como Dona Graça, a senhora de 52 anos é presidente da Associação de Artesãos de Imperatriz há seis. Mas sua verdadeira profissão está bem acima de ser “presidenta”, ela é artesã. Sua forma de artesanato é o crochê, o qual aprendeu com a irmã desde muito nova. Começou a fazer pela beleza das peças.

“Se fosse depender de dinheiro eu não faria artesanato, faço porque gosto, fico feliz quando alguém compra uma peça minha. Se fosse pra viver, já tinha morrido”. Apesar de muito séria, ela faz piada da situação. Graça explica que as pessoas costumam achar as peças caras, e que geralmente os únicos com-

pradores são os turistas. “Imperatriz não incentiva os artesãos em nada. Somos muitos, mas ninguém sabe, ninguém se interessa”. Ela acrescenta que o único incentivo que recebe de verdade é do próprio marido. Não pensa em parar de produzir suas peças, pois elas são

seu maior orgulho e sua forma de terapia. Graça conta que é só colocar seus sentimentos no que produz, não tem outro segredo. “Graças a Deus que chegou meu último mandato de presidência”, agradece, erguendo as mãos para o céu. Mas, para ela, o seu artesanato tem governo vitalício.


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CIRCO Diferente do que algumas pessoas pensam, palhaços não usam máscaras. Pelo contrário, se despem de preconceitos e estigmas sociais, acredita Jô Santos

Peteleco adormeceu, transformou na Tia Jô MARIANA CASTRO

MARIANA CASTRO

Diferente do que algumas pessoas pensam, palhaços não usam máscaras. Pelo contrário, se despem de preconceitos e estigmas sociais. Fazem aquilo que nós, por timidez ou medo, não teríamos audácia de praticar: ser quem realmente somos. Em tempos de controle, frieza, orgulho e arrogância, os palhaços distribuem sorrisos sinceros e espontâneos. Jô Santos, ou Jô Peteleco, como é mais conhecida, teve o primeiro contato com o mundo das artes em grupos de teatro de igreja, em Imperatriz (MA). Mas, com a morte da mãe deixou a cidade e foi morar em Caxias (MA). “Quando minha mãe faleceu, eu disse que não queria mais saber de igreja, ia me distanciar um pouco. Minha irmã fez minha inscrição em um curso de teatro em outra cidade e fui morar lá”. Em Caxias, Jô fez cursos com “feras do teatro maranhense”, entre eles, Aldo Leite, Bill de Jesus e Tasso Borralho. A partir das oficinas, foi que a cortina se abriu para os grandes espetáculos, surgindo então o Grupo Teatral Sombra, que viajava para festivais nacionais apresentando espetáculos como “A Feira” e “Jesus Homem”. De volta a Imperatriz, Jô buscou a trupe teatral da cidade, que à época era o Grupo Teatral Oásis. “Procurei eles e comecei a participar de festivais de poesia, as pessoas per-

Atriz Jô Santos transformou o palhaço Peteleco em um “palhaço-boneca”, mas garante sentir saudades dos arcos, boca pintada e a careca

guntavam: Meu Deus, quem é essa menina? Ela é muito boa!”. O palhaço veio depois, por acaso e aos poucos. “Em um espetáculo que nós escrevemos, o ‘Meteora, aqui vou eu’, foi que surgiu o Peteleco. Mais ou menos em 88 ou 89”. O espetáculo contava com a participação de três palhaços, o Peteleco, Chique-Lengue e Bregue-Lengue. “Um dia fomos ao aniversário da sobrinha do (professor e autor teatral) Gilberto Freire, e tinha uma

senhora que disse: Ah, eu quero vocês na minha festa! E fomos. Chegando lá, outras pessoas diziam: Ah, eu quero vocês na minha também!”. Os outros dois palhaços não gostaram muito, então o Peteleco foi se apresentando sozinho e se aperfeiçoando aos poucos, com dicas que Jô recebia das pessoas. Com o número de festas aumentando, Jô sentiu a necessidade de se profissionalizar. Buscou cursos que pudessem melhorar o palhaço. Hoje já o considera uma “palhaça

Trupe de Habilidades Circenses incentiva práticas culturais e procura mais apoio MARIANA CASTRO

Em meio a claves e bolinhas de praticar malabares, tentávamos começar uma conversa. Tarefa difícil manter todos sentados no gramado. “Nós vamo brincando aqui, mas conversa também, sem problema”, dizia um dos malabaristas da Trupe de Habilidades Circenses (THC). Ao todo, são sete malabaristas no grupo, que se apresentam em festas particulares, projetos sociais e treinam uma vez por semana na Beira Rio. A Trupe de Habilidades Circenses ainda é um movimento em fase de construção, mas que já rende bons frutos. Surgiu em meio a conversas entre praticantes de artes como malabares, pirofagia, palhaçaria e artesãos, como explica Luciano Monteiro, mais conhecido entre a turma como Corvo. “A trupe surgiu em meio à conversa, aí bateu a ideia e até o nome. Foi pra difundir o malabares em oficinas e fazer com que a gente aprendesse mais”. A maioria dos praticantes se encantou pelos malabares durante oficinas do Movimento Ocuparte, que era formado por entidades e artistas de Imperatriz que tinham como principal objetivo a promoção e fomento à cultura, ocupando espaços públicos do município. “Começamos no Ocuparte. O malabares foi uma das oficinas de

lá... aprendi com o Jetro, um artista de São Paulo”, explicou Corvo.

Conscientização - O movimento mantinha um espaço que incentivava diversas práticas culturais. As oficinas eram gratuitas e aqueles que já dominassem determinada arte, eram incentivados a ensinar outras pessoas, estabelecendo,

“Começamos no Ocuparte. O malabares foi uma das oficinas de lá... aprendi com o Jetro, um artista de São Paulo”

assim, uma troca de habilidades. “Já, nós, aprendemos com o André, o Cabeça... que também passou por lá [pelo Ocuparte]. Ele que ensinou o Jetro e outras pessoas. Foi assim que ficou um espaço bacana. Lá as pessoas aprendiam malabares, escultura, macramê, capoeira, pintura...”, lembra Leonardo Pires, que entre os membros da Trupe, é o Negão. Inicialmente, os malabares eram um passatempo para os meninos. Durante as oficinas, não pensavam em tirar dali, algum retorno financeiro. Somente depois, com a aproximação de outros artistas, como a palhaça Jô Peteleco, as coisas mudaram. “Quando co-

nheci mais pessoas malabaristas, e também a Jô, tudo conciliou. Ela trabalha com animação de festas, essas coisas... Então ela costuma chamar a gente pra fazer malabares enquanto brinca com as crianças. Ficou algo mais profissional, mas não deixamos de nos divertir”, contou Corvo, ainda de olho nas bolinhas. Mesmo com os convites particulares, os meninos mantêm o espírito do extinto Movimento Ocuparte, que pregava a troca de habilidades e doação. Geralmente se apresentam para crianças carentes e auxiliam em projetos sociais sem cobrar pelas apresentações. O que segundo eles, é muito prazeroso. “Também nos apresentamos em bairros carentes, ajudando em projetos sociais. Já fomos ao Conjunto Vitória, no Lar São Francisco de Assis, em projetos do curso de Enfermagem da UFMA, e no que nos convidarem”, explica Leonardo. A arte encanta crianças e adultos, mas infelizmente ainda não tem o incentivo que merece. Toda quarta-feira o grupo costuma se reunir na Beira Rio para treinar, mas as condições não favorecem. “Se na Beira Rio tivesse estrutura melhor, dava pra fazer mais modalidades. Aqui o pessoal usa esse espaço maior de estacionamento privado. Na quadra não dá, na pista sempre tá ocupado. A gente fica sem espaço”.

boneca”, e não o Peteleco. “O Peteleco adormeceu. Hoje é a Tia Jô. Eu tenho saudades dele com aqueles arcos, boca pintada, careca, mas eu tive que melhorar ele”.

Formação - Jô Santos sonhava cursar Artes Cênicas, hoje é formada em Letras e Educação Física e especialista em Teoria da Literatura Contemporânea. É professora, brinquedista, contadora de histórias, artesã, palhaça e mãe. Vivemos um tempo de conver-

gência, quando é preciso saber aliar todos os dons em torno de uma atividade. O trabalho do palhaço não é somente animar, ele também precisa educar as crianças. Para que isso seja possível, Jô utiliza ao máximo as técnicas pedagógicas no seu trabalho. Como palhaça, na verdade, Jô faz malabarismo para administrar o tempo e sustentar a família. “Olha, se eu te contar o que eu ganho como palhaço...”, comenta, rindo, para logo depois acrescentar: “Em termos de grana é muito pouco, mas o amor e o prazer são enormes”. Como as outras pessoas, os palhaços também sentem as dores do dia a dia, mas diferente de nós, das desgraças fazem o riso, o remédio, o “milagre”. “As minhas animações são meus momentos de prazer, de alegria. Envolvo-me tanto com as crianças que esqueço os meus problemas, eu me entrego de verdade”. O palhaço é sincero, aceita os próprios problemas, assim como ri dos defeitos. Esse é o segredo de grandes mestres da palhaçaria. Ser quem realmente somos, aceitando o ridículo e rindo dos próprios defeitos, possibilitando manter vivo o espírito libertário de criança. “Eu quero que o palhaço se torne vivo na vida da criança, não quero que ele morra”, explica Jô diante das dificuldades de manter no imaginário das pessoas o espírito de “ser palhaço”.

MARIANA CASTRO

Com origem no movimento Ocuparte, Trupe é formada por malabaristas, palhaços e pirofagia


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ANO III. NÚMERO 19 IMPERATRIZ, MARÇO DE 2013

IMAGEM Vanusa Babaçu adota esse nome porque considera um dos seus principais trabalhos o retrato da rotina das quebradeiras de coco do interior do Maranhão

Fotógrafa é premiada por trabalho social BRENO FRANCO

A pele morena de traços afros representados pelo encaracolado dos cabelos quase sempre armados esbanjando espontaneidade, é o cartão de visita de Vanusa Babaçu. Ela é pedagoga, maranhense e em maio de 2010 começou a expor suas fotografias oficialmente. Foi nesse período que Imperatriz viu nascer um dos maiores talentos da fotografia nos últimos anos na cidade. Mãe de dois filhos, um de 24 e outra de 15, Vanusa já é avó. Tem uma netinha de quatro anos, filha do filho mais velho. Os dois filhos já exibem uma predileção pela fotografia como expressão artística e também seguem os passos da mãe, expondo suas próprias imagens e concorrendo a prêmios. Atenciosa e comunicativa, Vanusa costuma mostrar seus trabalhos também na internet, por meio do blog e redes sociais. “O Facebook é uma boa ferramenta e sempre me traz algum retorno. O blog é legal, mas o Face tem reconhecimento imediato”. A relação de Vanusa com a foto-

grafia começou há dez anos, quando veio o interesse de registrar o cotidiano das quebradeiras de coco. Interesse que foi recompensado por meio de um recurso fornecido pela Fundação Nacional de Artes, que possibilitou o desenvolvimento de um trabalho de exposição de foto-

“Senti-me emocionada ao ver muita gente de todo o país elegiando meu trabalho”

grafias em Cidelândia, no interior do Maranhão, a 60 quilômetros de Imperatriz. Um dos maiores trunfos de Vanusa foi ter participado do Festival Internacional de Bonecos, em Brasília, em novembro de 2012. A exposição de fotos, intitulada “Universo Quebradeiras”, retratava a vida e o ambiente das quebradeiras de coco do Maranhão. “Senti-me emocionada ao ver muita gente de

todo o país elogiando meu trabalho. Foi uma boa vitrine, me senti lisonjeada”. Outro orgulho da fotógrafa, que tem a pedagogia como a profissão principal, foi ter conseguido o terceiro lugar entre quase mil fotos, em um concurso de fotografia promovido na cidade de Campinas, no estado de São Paulo. O tema era a cultura negra e a foto está sendo exibida no Museu da Imagem e do Som na cidade paulista. “Não me acho uma fotógrafa profissional. Apenas gosto do que faço e procuro fazer bem o que proponho”, explica Vanusa, que acredita estar vivendo um reconhecimento considerável. “As pessoas me param na rua, no ônibus e lembram dos meus materiais, dizendo que me viram em tal programa de televisão. Fico feliz com isso”. Sobre ganhar dinheiro com essa arte, ela conta que já ministrou seis cursos no Senac que levam o nome dela. “Trabalhar indiretamente com a fotografia, tem me rendido bem, mas atuar na pedagogia é que paga as minhas contas”.

ROSANA BARROS

Vanusa Babaçu, além de pedagoga é fotógrafa premiada nacionalmente e pretende ir mais longe

Gildásio: ele faz cinema Cia Sotaque reaviva tradições culturais BRENO FRANCO

BRENO FRANCO

Gildásio Amorim, em sua sala de edição e vídeo, produzindo o comercial de um supermercado BRENO FRANCO

Na sala de edição de vídeo da agência de publicidade onde trabalha, Gildásio Amorim produz mais um comercial de TV no estilo varejo, para a maior rede de supermercados da cidade. O som dos cliques no mouse do computador, aos poucos dá lugar às músicas e à locução, utilizadas no material que está prestes a ficar pronto para a veiculação. O tempo para se dedicar às produções audiovisuais independentes veio sob uma ótica religiosa. Evangélico da Assembleia de Deus, Gildásio dirigiu e editou as imagens do primeiro longa-metragem genuinamente imperatrizense. O filme “Renúncia” foi lançado em 2012 e atualmente tem a distribuição sob responsabilidade das assembleias de Deus. A película já vendeu mais de dez mil cópias e é um dos maiores sucessos do cinema independente do Brasil. A pequena estatura e o jeito tímido só não superam o orgulho de Gildásio ao comentar sobre o sucesso do filme: “Foi uma surpresa. O reconhecimento foi extraordinário. Hoje o cinema em Imperatriz é mais respeitado”. Os recursos para o filme vieram

de patrocínios e ajuda da igreja. No total foram gastos R$ 60 mil, custo baixo, porque nenhum dos atores cobrou cachê. “A história é uma trama que envolve um dilema entre jovens sobre a vida mundana e a vida com Cristo”. Apesar de não ter contato com produtores de curtas de Imperatriz e nem fazer parte do Núcleo Independente de Cinema Experimental (Nice), Gildásio brinda um momento que ele considera único para a cidade no campo do audiovisual. “Estamos abrindo um caminho mais profissional para essas produções. Já estamos planejando mais filmes como esse para serem apresentados nas salas de projeção pelo Brasil”. Em comemoração aos 400 anos de São Luís, um longa-metragem chamado “Marilha” , foi lançado no fim de 2012. Gildásio foi o responsável pela filmagem e direção de fotografia. Para os próximos meses, é esperado o segundo longa imperatrizense, intitulado “Renascer”, do qual ele também responde pela direção. “Esse filme tem um orçamento maior. As filmagens foram feitas não só aqui na cidade, mas também na Bolívia e Suriname. Vale a pena conferir”.

Há 11 anos vivendo em Imperatriz, Osório Neto se considera um embaixador da cultura do Bumba Meu Boi na cidade. Com estatura baixa e voz rouca – resultado de vários anos de uso da voz em apresentações de dança e canto da cultura maranhense - ele se dedica a gerenciar um centro de cultura situado na Rua 15 de Novembro, no centro histórico da cidade. É nesse local que dezenas de dançarinos praticam e ensaiam danças como o Cacuriá, Tambor de Crioula e outras, típicas do Maranhão. “Na nossa região, nem sempre as pessoas valorizam a cultura maranhense. No geral, acham que tudo é coisa de São Luís. Meu trabalho é aproximar isso de modo que a valorização seja maior”.

Para facilitar os apoios governamentais e planificar as atuações do projeto Sotaque de Rua, do qual Osório é responsável, todos os anos, em determinadas épocas, o projeto assume uma cara diferente. “No Natal temos a cantata, na festa

“Na nossa região, nem sempre as pessoas valorizam a cultura maranhense” junina temos um grupo específico para apresentações e no Carnaval, o projeto Bicho Papão, que resgata as festas tradicionais com as marchinhas”. Osório também explica que existem mais de 40 dançarinos e mú-

sicos profissionais que integram o projeto Sotaque de Rua. “Temos aceitação de quem assiste às apresentações. O poder público também ajuda e o projeto acontece”. São pelo menos duas grandes apresentações do Sotaque na região nos meses entre o Carnaval, Natal ou Festa Junina. Geralmente bairros da periferia conferem essas apresentações de perto. A sede do Sotaque de Rua é um prédio alugado no setor da Beira Rio. Local estratégico, que reforça o tom festivo dos ensaios. A contratação de parte das atividades do Sotaque garante a sustentação do projeto. “Por enquanto a gente depende de doações e de iniciativas do poder público em investir nas festividades do calendário de eventos. Mas a nossa iniciativa tem uma importância cultural enorme”. ROSANA BARROS

Osório Neto, considerado o grande embaixador da cultura popular maranhense na região tocantina, posa ao lado do Bumba meu Boi e alegorias


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ANO III. NÚMERO 19 IMPERATRIZ, MARÇO DE 2013

LITERATURA Especialista em linguística, Liratelma foi professora de língua portuguesa por mais de 30 anos na UEMA e demonstra muito respeito pela arte de escrever

Escritora dedica tempo à família e aos livros MARIANA CASTRO MARIANA CASTRO

Natural de Cajazeiras, pequeno município do sertão paraibano, Liratelma Cerqueira garante que não foi fácil alcançar o conhecimento que tem hoje. Acolhedora, de voz mansa, parece escolher as palavras com carinho. Membro da Academia Imperatrizense de Letras, é apaixonada pela linguística e foi professora de língua portuguesa durante 36 anos. Mãe de quatro filhos e avó de quatro netos, hoje aposentada, Liratelma dedica o tempo à família. É formada em letras. especialista em didática do ensino superior e em linguística aplicada ao ensino da língua portuguesa, tendo lecionado na UEMA e na Fama. Trabalho que lhe estimulou a escrever os primeiros textos. “Sempre achei incoerente um professor que não escreve. Principalmente professor de português, como eu era”. Mesmo sendo filha de professora, não era fácil ter acesso a livros. A mãe não tinha formação,

a condição financeira era pouca e por morar no sertão, não encontrava bibliotecas por perto. “Meu pai chegava da cidade com os remédios e eu pegava as bulas. Não sabia ler, mas deitava no chão de terra batida e simulava a leitura... inventava historinhas. Penso que já nasci gostando de ler”. Desde o exercício da profissão, Liratelma já se envolvia em diversas atividades da área cultural. “Não sou apaixonada apenas pela literatura, mas pela cultura em geral. Adoro teatro, pintura, música, artesanato”. Com a ajuda de alunos e dos teatrólogos Pedro Hanay e Mauro Soh, fundou o Grupo Teatral Universitário (Grutu), nas dependências da Universidade Estadual do Maranhão.

Paixão - Liratelma não tem livros publicados, mas uma vida dedicada aos textos, tanto que, por puro prazer, hoje revisa monografias e livros sem cobrar pelo serviço. “Eu sou muito tímida e crítica com os textos. Não consigo escrever...e

jogar. Ninguém nasce escritor, o escritor se faz. O texto é uma construção do autor, requer muita paciência. É algo de tijolinho a tijolinho. Tenho muito material guardado, talvez publique”. O ingresso na Academia de Letras foi por acaso, era uma época corrida da sua vida. “Foi meio por acaso, não me achava com perfil. Até hoje não sei quem me indicou, mas meu nome foi aceito por unanimidade de votos, o que muito me orgulha”. Para Liratelma, “só um bom leitor pode se tornar um bom escritor”. Especialista na área, afirma que antes do acesso a qualquer gramática, se alguém deseja escrever bem, é fundamental que tenha a leitura não como um ato, mas como hábito. “Quem não gosta de leitura, jamais vai escrever alguma coisa na vida. Ao longo desses anos, muitos alunos me perguntavam o que fazer para escrever bem. Minha resposta continua a mesma: Você precisa de três coisas: ler, ler e ler”.

Apesar de não ter livro publicado, Liratelma é membro da Academia Imperatrizense de Letras

Gilmar Pereira é autor premiado na área da literatura infanto-juvenil MARIANA CASTRO MARIANA CASTRO

Escritor Gilmar Pereira teve como grande incentivador o professor e teólogo italiano Vito Milesi

Tímido, cabelos brancos, voz baixa e escuta atenta. É coisa de escritor, com um mundo próprio, mas tendo que aprender a lidar com o nosso meio. Gilmar Pereira, com oito livros publicados, casado, pai de dois filhos, microempresário e membro da Academia Imperatrizense de Letras (AIL), deixa claro que a timidez foi o seu maior empecilho. Gilmar, como muitos escritores, começou a despertar para a literatura bem cedo. Apesar de, na época, não gostar de ler muito, escrevia inúmeras poesias no rodapé de cadernos escolares. “Mas eu escrevia só pra mim, e não para os outros”. Com formação em letras e literatura brasileira, reconhece que a timidez lhe tirou a possibilidade de

aproveitar melhor os cursos. “Não gosto de aparecer, nem de falar em público. Na época da escola escrevia trabalhos belíssimos, mas nunca apresentava bem e tirava notas baixas”. Gilmar começou a ganhar destaque na cidade como escritor de literatura infanto-juvenil, o que aconteceu naturalmente, com o convívio familiar. “As histórias infantis vieram por acaso, quando tive meus filhos. Deparei-me com aquelas perguntas que não tinham respostas e pensei: Poxa, se colocar isso na escrita, vai ficar muito bom”. Um grande incentivador e eterno professor de Gilmar é o teólogo e filósofo Vito Milesi, que também foi membro da AIL e faleceu em 2005. “O professor Vito dizia que eu devia escrever fábulas e eu não acredita-

va. Um ano depois da sua morte, continuava ouvindo sua voz: ‘Gilmar, trabalha a questão da fábula’. Com a primeira que escrevi, ganhei um prêmio de melhor escritor maranhense”. Foi também Vito Milesi que o convidou para ser membro da AIL, que na verdade exige eleição entre os candidatos, mas com Gilmar foi diferente. “Até hoje não sei como se procedeu a minha eleição, mas a convite dele, já sou membro há 22 anos”. Apesar de toda essa cobertura de timidez, Gilmar garante que é escritor, por pura vaidade e pela vontade de se mostrar. “Se alguém perguntar por que escrevo, vou responder que é porque sou vaidoso. Não gosto de divulgar a minha imagem, mas o meu nome sim”.

Duelando com o sertanejo, repentistas vivem momentos difíceis MARIANA CASTRO MARIANA CASTRO

Cantador de viola e repentista, João da Cruz, aos 71 anos, nunca desanimou diante das dificuldades. Delas, vêm as suas rimas e o seu sustento. Duelando com o sertanejo e as batidas de músicas eletrônicas, mantém as cordas da viola afinadas para os que ainda apreciam a poesia e o improviso. Trabalhando na roça desde pequeno, João da Cruz aprendeu a fazer rimas com os mais velhos, mas não se atrevia a cantar. “Quando menino eu sentia que tinha poesia, mas eu ficava naquele pensamento que minha voz não era boa pra cantar”. Foi somente aos 29 anos que comprou a primeira viola, mas por falta de tempo e medo de perder o

serviço na roça, ainda se apresentava timidamente. As coisas mudaram quando percebeu que, dali, poderia ganhar um bom dinheiro. “Uma vez eu fiz uma cantoria com um companheiro, por nome Damião. O povo gostou muito. Foi aí que perdemos o medo e ganhemos até um dinheiro de admirar. Foi 9 mil naquela época”, lembrou, aos risos, como quem aproveitou bem a fase de auge dos repentistas. Em 1971, João da Cruz saiu da roça e passou a fazer viagens a Imperatriz, cidade em fase de crescimento, onde encontrou boas oportunidades para a vida de cantador e resolveu morar. Mas os dias ruins logo vieram e foi necessário fazer outros trabalhos. “Fiz quatro anos de profissão, e eu parava de vez em quando pra

trabalhar de feira, de garimpo... e a cantiga acabava ficando menos. Mas eu não largava a viola, né? Pra onde eu ia, achava um repentista

“Uma vez eu fiz uma cantoria com um companheiro, por nome Damião. Foi 9 mil naquela época” e a gente cantava. A vantagem do repentista é essa, nós canta com qualquer um”. Hoje, João da Cruz passa as noites de mesa em mesa, nas choupanas de peixarias da Beira Rio, aonde as coisas não vão tão

bem. “Antes o povo gostava mais”, eles eram bem aceitos e recebiam vários convites. Agora, “com os acontecimentos do mundo, as pessoas gostam de mais zoada. Mas o cantador ficou, pois ainda tem gente que gosta”. A alegria dos cantadores João e seu novo parceiro, Manoel, com uma cantoria improvisada junto à mesinha de um bar, chamou a atenção dos garçons, que ainda organizavam o ambiente. A repórter acabou virando tema. “Já cantei em São Paulo, já cantei em São Luís. E hoje, pra Mariana, eu canto na Imperatriz. Já cantei em São Luís, cantei na Buritirana, cantei em Fortaleza, cantei lá em terra goiana. Mas só vim ver tanta beleza, no rosto de Mariana”.

Beira Rio é o lugar onde João mais se apresenta


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ENTREVISTA O atual e o ex-presidente da Fundação Cultural de Imperatriz: Lucena Filho e Gilberto Freire

Aspectos culturais da cidade em debate RAMISA SOARES

RAMISA SOARES

Lucena Filho é presidente da Fundação Cultural de Imperatriz, e, em entrevista ao Arrocha,

debate assuntos relacionados aos aspectos culturais do município, principalmente no que diz res-

peito à promoção de cultura sem uma organização adequada por parte dos artistas.

Gilberto Freire, jornalista, dramaturgo, professor doutor do curso de letras da Universidade

Estadual do Maranhão (UEMA), ex-presidente da Fundação Cultural de Imperatriz, em entrevista

ao Arrocha debate assuntos sobre este novo momento cultural que a cidade vive.

MIRIAN GOMES

Temos atuado em praticamente todos os segmentos. Nas artes plásticas reformamos e reativamos a galeria, já fizemos várias exposições na área musical. Criamos espaços na questão literária, já “confec-

Fundação Cultural. Uma vez por semana levamos um autor da Academia Imperatrizense de Letras, para que os estudantes conheçam os escritores e, além disso, doamos os livros para que passem a valorizar a literatura de Imperatriz. Afinal, só é valorizado quem é conhecido.

MÍRIAN GOMES

arte para ser consumida, é para se consumir e jogar fora, não tem continuidade e deveria ter. Todo processo que tivemos há um tempo, foi um movimento de guerrilha, de luta. Hoje, você reunir três artistas é muito difícil.

“Os nossos espaços culturais não atendem mais as demandas que se está exigindo por parte da população”

cionamos” mais de quatro mil livros. As demandas vão aparecendo e aqueles que vão sendo viabilizados, vamos executando, mas temos trabalhado nas diversas áreas da cultura.

De que forma a Fundação Cultural tem se posiciona� do em relação ao projeto da criação de um novo espaço para cultura no bairro da Ca� ema? Este projeto partiu da sociedade civil. Nossos espaços culturais não atendem mais as demandas que se está exigindo. O nosso teatro não entra no circuito nacional por ser de porte pequeno e qualquer evento hoje, como o São João é uma dificuldade para se encontrar um espaço.

criação de um novo espaço cultural no bairro da Caema? Será que realmente seria ne� cessário? Não estão dando conta do teatro Ferreira Gullar como associação e querem mais um espaço? A questão não está em espaço. Por exemplo: nós tínhamos uma galeria de arte ao lado da fundação, que, aliás, tem uma localização excelente. A galeria está lá, nem existe mais. Tínhamos que primeiro tomar conta dos espaços existentes. O grande problema de Imperatriz é fazer com o que o poder público e os próprios artistas tenham compromisso com a questão cultural.

Como a Fundação Cultural tem conseguido atingir a classe estudantil? Com o projeto “Nossa arte na escola”, que já está no seu terceiro ano. Já atingimos mais de 20 mil crianças e adolescentes diretamente. O projeto é coordenado pelo músico Zeca Tocantins, em uma parceria junto ao Juizado da Infância e da Juventude e uma ação da

Porque as políticas públicas de cultura não funcionam em Imperatriz? É por esta razão que não dá mais para se fazer cultura sem organização. Por isso vamos implantar um sistema municipal de cultura, com a presença de um conselho, para que possamos atender estas demandas financeiras necessárias à execução dos projetos.

Q������������������������� ual papel a Fundação Cul� tural desempenha enquanto órgão público? A Fundação Cultural de Imperatriz representa como se fosse a Secretaria de Cultura do município. Sobretudo ela serve para dar apoio aos movimentos culturais. Para atender as demandas, promover o calendário cultural da cidade e as atividades culturais de todo os seus segmentos. Imperatriz é muito deficiente em projetos culturais. A que isso se deve? Porque demo� ram tanto para serem viabi� lizados? Toda ação de cultura é uma ação bilateral, tanto dos promotores no que diz respeito aos projetos, quanto da instituição. Para se viabilizar um projeto junto ao Ministério da Cultura é necessário uma série de documentos em dia. Isso é dificultado, muito em função dos fazedores de cultura que não procuram se organizar juridicamente. A Fundação Cultural tem conseguido atender e atuar em todos os segmentos no que diz respeito à culturali� zação?

Como é que você vê este novo panorama da cultura impera� trizense? Eu seria injusto se tecesse grandes comentários. Mas, quando eu entrei à frente da fundação, eu queria mostrar que era possível fazer e executar bons projetos, com custo baixo. Este movimento artístico cultural nas ultimas décadas tem caído muito. Por exemplo, este teatro que anda se fazendo em Imperatriz não me interessa, eu prefiro nem ver, não é teatro. A qualidade artística tem deixado muito a desejar. Aquilo que está sendo produzido é muito descartável. Porque o poder público não trata a cultura como política de cultura? Grande parte disso se deve aos próprios artistas. O poder público, na maior parte do Brasil e os grandes políticos imperatrizenses não se interessam pela questão cultural, sempre foi assim. A grande questão é que certa época a sociedade tratava destes assuntos. Hoje, ela é consumista, individualista, egoísta e isso reflete no processo cultural. E em relação ao projeto da

“Este teatro que anda se fazendo na cidade, eu prefiro nem ver, não é teatro” Existe um movimento efetivo de cultura em Imperatriz? Muito desorganizado, por sinal. Seria necessário que todos os segmentos culturais tivessem uma participação ativa nas políticas públicas de cultura. Hoje a arte que se produz, é para o mercado e quem faz

Quais as barreiras objetivas que o senhor enxerga para o fomento à cultura local? O problema de Imperatriz, como eu disse antes, não são os novos espaços. É simplesmente renovação, organização dos espaços já existentes e do meio artístico. Porque este teatro que tenho tido notícias, não é teatro. A música local então, com artistas da década de 1980, ultrapassada, eu tô cansado dela. Artes plásticas eu ainda não vi, e artesanato, pelo amor de Deus! Aquilo que se cria aqui é cópia de outros que existem no Brasil. De que modo Imperatriz pode sair do marasmo que domina a cultura local? Nós temos o culto da mediocridade. Artistas fazem arte que não é arte, juntamente com uma população condicionada. Esta é a realidade. Quando os próprios artistas se propuserem a isso, abriremos um novo nicho cultural.


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PERIFERIA Entre tantos ritmos manifestados na cidade de Imperatriz, o rap e o hip hop vem revelando a realidade de quem mora nas periferias da cidade

“O hip hop é a nossa vida”, diz dupla de rap HYANA REIS

“Com pouca opção ia lá pro Calçadão, tirava CD da mochila e fazia promoção. O pouco que vendia, vendia micharia, estava preocupado com o pão de cada dia”. A canção quase falada ao som da batida pesada e compassada revelam a realidade de um morador da periferia de Imperatriz. O trecho é da letra “Lamentos”, dos Mc’s Fábio Bonfim e Marcos Fly, adeptos do rap, um segmento do movimento hip hop. Bonfim foi o primeiro a se tornar um MC. A sua empreitada no rap começou em 1990, por meio do funk. Do preconceito e da rixa com a polícia é que surgiu o grupo do qual faz parte. “Um grupo de amigos curtia ouvir rap, mas por sermos da periferia, ouvindo esse tipo de música, sempre que a polícia passava nos revistava”. A revolta deu origem ao nome do grupo: “1° DP”, “queria dizer ‘dane-se a policia”, comenta rindo. Com o passar do tempo o nome mudou, mas a sigla continua a mesma. “Agora somos o Depoimento Pessoal, porque quando você vai à delegacia tem que prestar depoimento”.

SARON ALENCAR

Hoje, com 20 anos de existência e membros dos quatro segmentos: rap, DJ, B-Boy e grafite, Bonfim garante que o objetivo é denunciar a realidade da cidade, em especial das periferias. “É o nosso jeito de fazer alguma coisa, denunciar por meio da música”. Compartilhando desta mesma vontade, surgiu a parceria com Marcos Fly. “Eu não gostava de hip hop, achava feio, tinha preconceito. Conheci o grupo e estamos juntos há muitos anos”, revela o MC. A grande paixão é o rap, mas para sobreviver Bonfim trabalha como agente de endemias. “Nada a ver com o hip hop?”, questiono. “Você se engana”, afirma Bonfim. “Nesse trabalho eu ando por toda cidade e conheço a realidade de muitos lugares. É daí que surge a minha inspiração”.

Conquistas - Na luta pelo reconhecimento do movimento em Imperatriz, o grupo Depoimento Pessoal já obteve muitas conquistas. “Ganhamos a categoria aclamação popular no Festival de Música de Imperatriz (FMI)”, conta Bonfim. “Também já fizemos abertura de show para os Racionais”, adiciona Fly.

Na foto, Fábio Bonfim (camisa Zona Sul) e Marcos Fly (boné branco). Os rappers formam uma dupla nas composições das letras críticas do hip hop

Apesar das conquistas, a dupla afirma que ainda há um grande caminho a percorrer. “Temos um sonho de lançar um CD, de viver do

rap, mas falta apoio principalmente da Fundação Cultural”, reclama Bonfim. E mesmo com as dificuldades e o

preconceito, são enfáticos ao dizer que o que vale é a luta pelos movimentos. Bonfim confirma: “o hip hop é nossa vida”.

Por meio da dança, o B-Boy Junior encontrou inspiração e confiança MARIA FELIX

Jovem de Imperatriz, o B-Boy Junior, como é conhecido na dança, é um dos quatro elementos que compõe o movimento de hip hop do grupo Gospel Dance. Com 30 anos de idade, relata com satisfação seu envolvimento com a arte de dançar. Mesmo em poucas palavras e um breve sorriso, expressa a certeza do que gosta de fazer: “Gosto de dançar porque é algo que me liberta. A dança me inspira quando sinto a batida”. Com 18 anos de experiência, começou os seus primeiros movimentos em praças públicas da cidade, formando um grupo de amigos e passando a se apresentar em campeonatos. Desde então, B-Boy Junior organiza eventos e progra-

mas que reúnem todos os elementos do hip hop, como o grafite, o DJ, o MC e o B-Boy. Revela que um dos momentos mais marcantes no hip hop foi quando se apresentou no campeonato de Balsas (MA), onde

“Gosto de dançar porque é algo que me liberta. A dança me inspira quando sinto a batida” se reuniu uma grande multidão de pessoas assistindo a apresentação. “Foi lá que nós conseguimos ganhar um campeonato realizando todos os movimentos que treinamos”. Atualmente está no ministério Gospel Dance, composto por oito

integrantes, em que participa de palestras e congressos. Costuma se apresentar em igrejas, universidades e locais públicos. Destaca que o objetivo do grupo é promover a união de todos, participando de uma só festa, sem brigas e sem rivalidades. Garante que a dança, além de passar saúde, determina a vontade de vencer. Relata ainda, que pessoas foram libertas por meio do hip hop, pois deixaram de usar drogas motivadas pelo movimento da dança. Argumenta que tem a dança não só como hobby, mas como profissão. B-Boy Junior prestigia seu trabalho como algo saudável para vida. Para ele, o ritmo da dança transforma tristeza em alegria. “O hip hop me tirou da vida que eu vivia e me deu uma família’’.

SARON ALENCAR

Na dança, o B-Boy Junior encontrou inspiração para ter uma vida saudável com a sua família

SARON ALENCAR

Grafite: a arte que transforma o espaço ADRIANA DE SÁ

Admirando sua arte, na Praça Mané Garrinha, o grafiteiro Rubão conta que já fez vários trabalhos

“Comecei aos 25 anos na profissão e na arte do grafite. Eu trabalhava em uma fábrica, personalizando bonés. Foi aí que me despertou o interesse pela arte’’. O depoimento é do artista do grafite Rubén Augusto Montanha, natural do Paraná e há sete anos em Imperatriz. A arte do grafite é uma forma que os artistas encontram de manifestar sua visão de mundo em espaços públicos. Está ligada bem diretamente, a vários movimentos, em especial, ao hip hop. Antes, a arte do grafite era vista como um ato de vandalismo, ou até poluição visual. Porém, hoje é caracterizada como uma qualida-

de artística. “No primeiro ano foi muito complicado. Eu não tinha muitos clientes. Mas, a clientela começou a surgir e as coisas foram melhorando, já tive como me manter’’, lembra-se Rubén a respeito das dificuldades do início de sua profissão. Quando chegou à cidade acompanhou por um ano e meio Tony, outro artista. Com o passar do tempo se desvinculou do amigo e passou a seguir por si só em sua carreira. “Um trabalho que antes eu demorava todo um dia, hoje faço em duas horas. O serviço é bem mais rápido devido à experiência. Já fiz trabalhos em muros de faculdades, praças, lojas e vários outros locais’’.

Olhos claros, cabelos longos e com uma aparência despojada, Rubén Augusto faz geralmente trabalhos externos, mas o espaço em sua casa também serve para soltar a criatividade. Pinturas em geral, desenhos, decorações de ambientes, faixas e até trabalhos artísticos em espaços públicos, como o que se encontra em uma praça de Imperatriz, fazem Rubén Augusto ser o artista que é. A arte do grafite deixou de ser encarada como vandalismo e hoje é vista como qualidade artística. Os materiais utilizados pelos grafiteiros vão desde latas de spray até o látex e além é, claro, da criatividade. A cidade agradece esses profissionais da arte.


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CRIAÇÃO Profissões já esquecidas no atual mundo moderno, resistem ao tempo trazendo de volta velhas brincadeiras e atividades antes consideradas ultrapassadas

Eró Cunha e a arte de se contar histórias RAMISA FARIAS

Educadora e também atriz, Eró Cunha há 15 anos transformou a arte de contar histórias em uma de suas profissões. Ela utiliza bonecos de mão e outros artificios para chamar a atenção de seus ouvintes. Para ela, este metódo torna mais facil a aprendizagem MÍRIAN GOMES

A figura do contador de histórias reapareceu com grande vigor, encantando e trazendo magia ao mundo, com os contos e as fantasias. A arte de contar histórias torna o contador venerado pelos seus semelhantes. Ele é admirado pelo prazer que espalha por meio dos seus relatos. Escolas os convidam para a “hora do conto”, como forma de incentivar a leitura e ofertar um momento de lazer aos alunos. Nesses casos, então, o contador de histórias seria um “mediador de leitura” ou “agente de leitura”? Sendo assim, ele seria um “artista performático”?

“Contar histórias merece, então, o status de “arte”? A educadora Eró Cunha há 15 anos tornou a descontração de contar histórias uma profissão. “Este mundo das histórias sempre me fascinou, contava aos amigos, à família”, afirma. A literatura de cordel fez parte da infância e a influenciou bastante no despertar desta profissão. Mas foi a participação em grupos de teatro que representou a porta de entrada para o mercado de contadora. Entre as atividades de rua, em praças, associações, que apresentavam, os integrantes do grupo passaram a fazer eventos infantis. Contar histórias segundo Eró, é mais do que

fazer teatro, porque há uma participação efetiva do ouvinte. “Contar histórias é uma arte milenar, de ensinar por meio dos contos. De conseguir transformar algo abstrato em concreto, através dos gestos e do uso do corpo”. Para a artista, esta forma de ensinar torna mais fácil o aprendizado. Por isso, a caracterização é tão importante. “Há contadores que não gostam de caracterizar-se, mas como eu venho do teatro de palco, eu uso muito do visual e do sonoro. Utilizei as técnicas para fazer parte dos eventos que apresento”.

Liberdade - Alias, é quase impossível ver um contador de história e

contos sem um personagem, com seus efeitos e suas roupas chamativas, que despertam o imaginário e trazem as pessoas para dentro do texto que se está ouvindo. Todo contador se sente livre para fazer sua própria encenação. “Por isso que contar histórias é uma arte livre, cada um tem seu jeito próprio de fazer”. Os textos adaptados são encenados sempre com muitos gestos e objetos. Principalmente quando se trata de crianças há um apelo maior, uma vez que com adultos não são necessários tantos artifícios. “As crianças precisam de elementos concretos, para assimilar aquilo que elas estão ouvindo”.

A participação ativa no Centro de Cultura Negra trouxe um apelo maior para suas histórias. “Vi uma necessidade de se falar das histórias afro-brasileiras, para que as crianças pudessem conhecer um pouco da cultura negra”. Este é um projeto junto às redes municipais e creches, que está se expandindo em toda região. A arte de contar é uma atividade atraente e gostosa para quem se disponibiliza, pois torna o ser humano melhor. “Eu me sinto mais aberta e tenho aprendido muito sobre a arte de escutar e ter retorno das demais pessoas. Não se faz histórias sem escutar”.

Em suas mãos está o dom de confeccionar instrumentos musicais MÍRIAN GOMES

De prosaicas tábuas de compensado ou madeira, a arte caminha a seu tempo na fabricação artesanal de instrumentos musicais. O trabalho minucioso a partir de mãos habilidosas e ferramentas semelhantes aos usados por luthiers em tempos imemoriais mantém uma tradição secular. É atividade, bandeira inimiga da pressa formal das escalas industriais e suas séries de instrumentos fabricados por máquinas sem vida ou personalidade. No produto confeccionado pelo luthier há os segredos da mão, o despejo dos sentimentos na madeira e a arte esculpida e reproduzida em acordes e dedilhados, tempos depois, pelos instrumentistas compadres, unidos na arte musical. Assis, 51 anos, possui 17 anos de experiência em lutheria. É especializado em instrumentos de cordas, tais como guitarras, violões, violas. Aprendeu o ofício com o irmão, que também é luthier. “O luthier trata do instrumento musical de corda. Do

menor ao maior, do mais simples ao mais complexo. Na realidade ele é um cirurgião plástico, e o artista é quem o toca”. Os instrumentos são feitos sob encomenda. Ele se encarrega, sozinho, da produção artesanal de cada objeto, dando atenção exclusiva aos detalhes e tornando cada peça uma

“Nós temos segredos que não devem ser revelados. O cliente só vê após algum tempo de criação” obra de arte. “O tempo é lento de construção, pois é um material muito especifico, depende mais do cliente do que do luthier”.

Restrições - Há umas décadas o trabalho de luthieria vem sendo restrito por conta da competição com as indústrias, que fabricam os instrumentos em grandes escalas. Enquanto no mercado se pode

encontrar instrumentos de corda por preços baixos, um original feito por um luthier chega a custar, dependendo do produto, de R$ 2 mil a R$ 8 mil. “Para nós não está compensando mais fazer este tipo de serviço. Sai cara a construção. Além da competição, a industria faz 300 enquanto nós fazemos um ou dois por meses”. O trabalho de luthier, embora possa ser a primeiro momento considerado artesanal, o profissional garante que vai mais além. “É um trabalho muito específico. O artesanato pode se modificar a forma dele, o nosso não”. Na construção dos instrumentos ele diz que é fundamental a participação do cliente, mas tem limite. “Nós temos segredos que não devem ser revelados. Tanto que só deixo o cliente ver após algum tempo de criação”. Segundo ele, a profissão de luthier não tem nada de arte. É um ofício como outro qualquer. “Eu só quero ter a sensação de dever cumprido quando escutar o cliente tocar o instrumento. Na realidade, é um filho que vai embora e não é mais meu”.

RAMISA FARIAS

Assis é luthier há 17 anos. Apesar da modernidade, a profissão resiste ao tempo com dedicação


Arrocha

Jornal

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ANO III. NÚMERO 19 IMPERATRIZ, MARÇO DE 2013

DIVERSÃO Promotores de eventos ganham espaço e dizem que a profissão exige responsabilidade e faro para escolher as músicas que o público gosta de ouvir

Promotores de eventos ganham público BRENO FRANCO BRENO FRANCO

Há 20 anos, o radialista Zé Filho começou a promover eventos em Imperatriz. A parceira em quase todo esse tempo foi a Rádio Terra FM, que trabalhava a divulgação da maior parte dos shows musicais trazidos por ele para a cidade. Baixinho, estilo vozeirão, Zé Filho franze as sobrancelhas grossas ao comentar sobre as atrações que já trouxe para as casas noturnas e arenas de shows de Imperatriz. “Zé Ramalho, Ivete Sangalo, Fagner, Eric Donaldson, são artistas que trouxemos e que fizeram bastante sucesso nas bilheterias daqui”. Mesmo sendo um admirador de música alternativa, Zé Filho não mistura negócios com seu gosto pessoal. “Eu gosto de muita coisa diferente. Uma MPB, um Kid Abelha, mas eu não posso deixar de levar ao grande público o que ele quer ver. Coisas mais populares, entende?” Entre os trabalhos do promotor de eventos, está o contato com a produção dos artistas para possibilitar a realização dos shows no local solicitado. Feita a negociação, há um acordo com os veículos de comunicação, que vão divulgar o espetáculo.” O lucro desses shows é calculado por porcentagem e, no fim, cada um leva o que foi combinado. O má-

guisse maconha pra ele. No fim das contas, ele cantou só metade do que tava no contrato porque não tinha maconha”.

Futuro- O promoter está em uma

Zé Filho já teve a oportunidade de trazer várias celebridades para Imperatriz. Dentre os mas famosos estão Ivete Sangalo e Chiclete com Banana

ximo que eu já vi alguém lucrar com um show por aqui foi R$ 100 mil”. Das exigências mais pitorescas

feitas por um artista trazido por ele, Zé Filho nos revela que foi na apresentação do cantor de reggae, o

jamaicano Eric Donaldson. “Ao chegar à cidade o Eric me disse que só subia no palco se a produção conse-

nova fase na carreira. Confirmou que vai trabalhar com a coordenação de evento de outra emissora de rádio e que agora é sócio da Levada Elétrica, a maior agência de eventos da cidade. Empolgado, o radialista que, em um show da banda baiana Chiclete com Banana, reuniu um público de 20 mil pessoas, afirma que vai diversificar as atrações. Além do sertanejo, pop, forró e calypso, vai investir também na axé music e pagode. “Espero que a cidade aprove. Uso as redes sociais como termômetro para descobrir o que o povo quer ver nos palcos. Geralmente a gente acerta”. O segredo, segundo Zé Filho, é ter credibilidade e sempre acertar no gosto da maioria. “Tem que ter faro e investir no que dá público. Porque não é barato trazer artista de nível nacional”. Zé Filho mostra um catálogo com nomes que são metas para as próximas festas que pretende organizar. Mas, ressalta que a preferência é de quem lidera o que toca nas rádios do Brasil. Essa é a principal garantia de que a plateia vai corresponder.

Empresário e músico agita Radialista investe nos artistas e busca o mundo do heavy metal aventura no ramo de produção de shows BRENO FRANCO

mente são espaços pequenos e com pelo menos três bandas se Empresário do ramo madei- apresentando uma atrás da outra reiro, Bruno Aguiar realiza pelo no palco. “Eu e minha esposa nos apremenos duas edições do “Metal sentamos separadamente com Caos Festival” todos os anos, desas nossas bandas. Vivemos uma de 2002. Na 19ª edição, uma banvida social sem recalques e semda canadense foi a principal atrapre sendo nós mesmos”, desabação do evento. Os cabelos longos e as tatuagens no braço e pernas fa Bruno, que passa a maior parsão características do headbanger. te do tempo trabalhando em um É como são chamados os apre- escritório da família na cidade de Dom Eliseu, ciadores das no estado do várias verten“Eu e minha esposa Pará. Ele atua tes do heavy na área de commetal, que fanos apresentamos pra e transporte zem questão separadamente com as de madeira para de balançar Imperatriz. as cabeças nossas bandas” Como forquando o ma de manter o som é convipúblico informado sobre os shodativo para tal ato. ws, Bruno e mais três integrantes “A gente aprecia o som e faz os eventos porque gosta de tocar e da banda Mortos, da qual ele é trazer o pessoal pra uma espécie baterista e líder, lançam mão de de intercâmbio, porque dinheiro propagandas patrocinadas no mesmo não dá”. Sobre o metal rádio e na TV. “Não temos grana mais pesado, Bruno é enfático: pra investir em propaganda. Por “Temos que nos unir e garantir a isso a gente pede patrocínio para sobrevivência do metal, nem que os cartazes com os pais de amiseja tocando sempre para um pú- gos que curtem o ritmo e para os blico pequeno. O que nos conso- amigos que trabalham nos meios la é que todos que acompanham de comunicação. Assim, a gente consegue alguma coisa de divula gente são nossos amigos”. Como parte da música alter- gação”. Sobre o dinheiro arrecadanativa em Imperatriz, o heavy medo na bilheteria e com a venda tal tem algumas centenas de aprede bebidas, Bruno comenta que ciadores na cidade. Em eventos tudo se reverte em benefícios como o Metal Caos, uma média para as bandas se aparelharem e de 300 pessoas costuma compacontinuarem as apresentações. recer nos locais de shows. GeralBRENO FRANCO

BRENO FRANCO

Em um estúdio de áudio do centro da cidade, a fala calma, mas nem por isso compassada, se dirige ao operador de áudio. É preciso gravar mais rápido para encaixar a locução ao tempo que o texto exige na propaganda de 30 segundos de um dos shows de artistas regionais em uma cidade vizinha. Wacy Freitas tem experiência de 14 anos em realizar espetáculos de vários estilos musicais nas cidades da região. A vestimenta formal de um corpo franzino corrobora com a combinação de imagem marqueteira e esforço quase que de porta em porta, na busca por patrocínio para os shows que ele promove. Do brega ao gospel, o radialista e apresentador de televisão dispõe de tempo extra para investir em shows dos cantores de apresentações de pequeno e médio porte. “Eu costumo analisar o preço do show do artista, vejo o potencial dele e tento trabalhar em cima da publicidade pra ver se dá público”, explica Wacy sobre o processo de trabalho na promoção dos shows. Ele ainda conta que quando o artista consegue sucesso em determinada região, as chances de ganhar muito dinheiro em algumas cidades é certa. “Tem show em que a gente fatura até mais de dez mil. Mas tem alguns que a gente fica devendo até o aluguel do equipamento de som. Depende de quanta gente vai dar no show”. O número de casas de espetáculos aumentou na última década em Imperatriz. Os locais de grandes sho-

O radialista e apresentador Wacy Freitas canta e encanta público variando do brega ao gospel

ws não são mais viáveis por causa dos gastos em manter estes espaços. Atualmente, apenas o Parque de Exposições Lourenço Vieira da Silva recebe grandes eventos. Por isso, casas noturnas lucram com a venda de ingressos para apresentações de artistas regionais que produzem hits do momento, os quais

acabam caindo no gosto popular. Algumas rádios locais contribuem para a divulgação e massificação de artistas populares. Não são raras as parcerias entre promoters e emissoras de rádio para a realização de turnês que objetivam boas vendas de ingressos e shows lotados de fãs..


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